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Material de Apoio – Leitura Necessária e Obrigatória


Teologia de Umbanda Sagrada – EAD – Curso Virtual
Ministrado por Alexandre Cumino

Texto 020

Sincretismo Umbandista
por Alexandre Cumino

É verdade que o sincretismo entre santos católicos e divindades serviu para "encobrir" o culto de
Orixás (e também de inquices, voduns e tatas) por escravos que não tinham a liberdade de professar sua
religião, o que foi fundamental para a sobrevivência do culto de nação (Cultos Afros), que gerou o
Candomblé (Culto Afro-brasileiro), este é o marco de nascimento do sincretismo em nossa cultura. Até
hoje no Candomblé há duas vertentes, uma que defende o santo (o falecido Professor Oluó
Agenor Miranda era ferrenho defensor, pois muitos dos antigos realmente se consideravam católicos que
tinham no Candomblé uma prática ou "seita", sabemos que não é seita e sim uma religião, mas assim se
pronunciavam os antigos), e uma vertente que defende a separação do santo e do Orixá com o "slogan" -
"Santa Bárbara não é Iansã”.

Mas e a Umbanda?
A Umbanda não nasceu em meio à escravidão se aceitarmos a data de 15 de Novembro de
1908, logo nunca precisou esconder nada da figura do "Sinhozinho".
A primeira Tenda de Umbanda do Brasil se chama "Tenda Espírita de Umbanda Nossa Senhora da
Piedade" (Poucos sabem, mas o termo "Espírita" permanece no nome até hoje), e a família de Zélio de
Moraes era muito católica, na tenda encontramos a imagem de Santo Expedito que não sincretiza com
nenhum Orixá. Digo isto para colocar uma questão, a de que na Tenda Mãe não é apenas uma questão
de sincretismo, se reza para os santos católicos também, em algumas vezes fica dúbia e controversa a
simbiose, santo e orixá, para muitos antigos "Jesus é Oxalá", "São Jorge é Ogum" tamanha a
simbiose. E não é aqui uma questão de cultura e sim uma questão de fé.

Existem outras Tendas, antigas também com visões diferentes:


A Tenda Espirita Mirim foi fundada em 1924 e, que eu saiba, é a primeira tenda de umbanda a não
aceitar os santos católicos com exceção de Jesus Cristo.
A Tenda Espírita Mirim foi fundada por Benjamim Figueiredo e é mantida até hoje por seu filho
carnal e espiritual, Mirim Paulini. Tive a oportunidade de estar junto do "Mirinzinho" como é
carinhosamente chamado o Sr. Pauline que em público, para entrevista e homenagem feita pelo
instituto Icapra de nosso irmão Marcelo Fritz, disse que na Tenda Mirim não se reza para Santo porque
“eles foram gente como a gente e muitos nem foram santos, até matavam pessoas”.
Da Tenda Mirim nasceu o Primado de Umbanda e muitas outras tendas que até hoje não usam o
sincretismo e são Tendas de Umbanda, foi aí na Tenda Mirim e Primado de Umbanda que nasceu o que
no futuro seria conhecido como "Umbanda Esotérica" e "Umbanda Iniciática”.

Uma questão de opinião


Assim entendo que ter ou usar o sincretismo é uma questão de opinião e/ou afinidade.
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Embora seja certo que mais de 90% das tendas aceitam o sincretismo entre Santos Católicos e
Orixás.

Outros casos
Muitos anos atrás o autor e sacerdote Umbandista Decelso escreveu um livro chamado "Umbanda
de Caboclos" - 1967, que tive a oportunidade de ler e estudar, neste livro há uma comparação entre
Orixás e divindades indígenas, o que poderia de forma clara e lógica criar um culto Umbandista voltado
para estas divindades, já que também temos igual influência indígena assim como a Africana. Mais
interessante, que soma e enriquece neste contexto, é que o Prefácio da Primeira Edição é feito por
ninguém menos que Benjamim Figueiredo.
Vejamos a citação do livro, pág. 68:

Os "deuses"
Segundo Heraldo Menezes a similitude existente entre o Panteão Aborígine e o Africano está
assim entendido:
IARA - Divindade ou "deusa" das águas = Iemanjá;
TUPI - Divindade ou "deus" do Fogo = Erê;
CARAMURU - Divindade do Trovão = Xangô;
URUBATÃO - Divindade ou "deus" = Ogum;
AIMORÉ - Divindade ou "deus" da caça = Oxóssi
JUREMA - Divindade das matas, cachoeira = Oxum;
JANDIRA - Divindade dos grandes rios = Nanã
MITÃ - Divindade criança = Ibeji;
IURUPARI - Divindade do mal = Elebá ou Exu;
ANHANGÁ - Divindade da peste = Omulu.
Seguem-se os "Semideuses" ou divindades de segunda ordem, aquelas cujo poder é inferior ou
está abaixo das acima mencionadas. Vejamos os "Semideuses".
Semideuses
GUARACI - Divindade representativa do Sol = ORUM;
JACI - Divindade da Lua = OXU;
PERUDÁ - Divindade do Amor = OBA;
CAAPÓRA - Divindade protetora dos animais = OSSONHE (Ossãe);
CURUPIRA - Divindade dos Campos = CORICO-TÔ;
IMBOITATÁ - Divindade dos Montes = OKÊ;
TUPÃ - Divindade Suprema, pode ser identificada como Oxalá, ou melhor, Obatalá ou Zambi.

Bem, não iremos questionar nem avaliar esta relação, apenas entender que é algo possível e
passível de ser feito e/ou realizado dentro dos terreiros de Umbanda.
Conheço terreiros que trabalham sem Orixá apenas com os Santos Católicos, inclusive alguns que
nem nos cantos não se canta para Orixás, há o cuidado de entoar apenas pontos que sejam exclusivos
aos Santos.
Há terreiros onde a presença de Anjos é maior, o terreiro onde trabalha um irmão e amigo chama-
se Tenda de Umbanda Arcanjo Miguel, Gabriel e Rafael.
Assim entendo que sempre será uma questão de afinidade o culto aos santos e/ou ao sincretismo,
que entendo podem ser duas coisas diferentes, eu mesmo cultuo ao santo, mas não apenas por
sincretismo, rezo para São Jorge e para Ogum também, diferente do sincretismo puro onde São Jorge
representa Ogum ou se tornam algo uno São Jorge - Ogum. Entendo que Santo é Santo e Orixá é Orixá,
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no entanto entendo também que São Jorge tem a energia de Ogum, assim como Arcanjo Miguel também
tem a energia de Ogum, sendo três "entidades" diferentes que vibram na mesma frequência, porém com
intensidade diferente, já que o Orixá enquanto Divindade e Trono de Deus está acima do Santo, no meu
entender claro, estando muito próximo do Arcanjo, porém com sutilezas que os distinguem.
Sendo assim continuo rezando para o Orixá, para o Santo e também para os Arcanjos, já que é
uma questão de opção, a minha está feita, se há forças ou poderes, entidades ou Orixás que possam me
ajudar, conto com todos.
A Umbanda não precisa nem nunca precisou do sincretismo, nós é que podemos ou não precisar
dele, depende de cada um. Para muitos posso ter blasfemado mas para outros talvez tenha confortado
suas dúvidas, uma coisa é certa, minhas palavras não mudam o que é feito com tanto amor, fé e
dedicação na casa de cada um, mas espero que lhes ajude a entender o que já fazem.
Se tenho mais algo a dizer é que vindo de uma família espírita (como vinha Benjamim Figueiredo)
nunca acreditei em santos, para mim eram apenas homens e mulheres com uma história de fé (ou
não), também não acreditava em divindades, nem Orixás muito menos em anjos (apenas que fossem
espíritos evoluídos). E posso dizer que aprendi a venerar os santos e os anjos dentro da Umbanda com
os Guias que me instruíam a rezar para este ou aquele, e com eles também aprendi a adorar os Orixás
como manifestações vivas de Deus.

Que Oxalá, Cristo e Rafael nos abençoe a todos, com o amparo de nossos guias e mentores.
Um grande abraço de vosso irmão na Fé.
Alexandre Cumino

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