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Semiótica Televisiva*
Adenil Alfeu DOMINGOS (Unesp/Bauru)
Jean Cristtus PORTELA (G - Unesp/Bauru)
Maria Lúcia Vissotto Paiva DINIZ (Unesp/Bauru) - Coordenadora
Valdenildo dos SANTOS (PG - Unesp/Assis)
ABSTRACT: The greimasian semiotics is a safe device to analyse sincretic texts. This
paper intends to explain the meaning effect and the discoursive organization of the
television publicity by the deconstruction of the enunciation, fiduciary contract, thymic
category and the relations between sincretic semiotics.
1. Apresentação
2. Anatomia da enunciação
Esse enunciador-coletivo exerce, por sua vez, vários papéis actanciais, cognitivos,
pragmáticos e/ou tímicos: informador do saber, focalizador e mostrador da enunciado,
manipulador (por sedução, intimidação, provocação ou tentação) do seu enunciatário.
Desse modo, o enunciado produzido torna-se um objeto de uso do enunciador, cujo
objetivo é levar seu enunciatário a crer no que diz. Entre ambos, trama-se, portanto, um
contratado fiduciário, que só será sancionado positivamente pelo enunciador-judicator
se este /crer/ for efetivado pelo enunciatário.
Foi dentro desse prisma que enfocamos o processo de enunciação como o programa
narrativo (PN) de base do discurso publicitário. É na relação enunciador/enunciatário
que se encontra o /querer/, o /poder/, o /saber/ e o /dever/ fazer do enunciador sobre
seu enunciatário (dependendo, também, do /crer/ ou /não-crer/ por parte deste), para
que o discurso publicitário possa ser sancionado como um programa narrativo
completo. Basta a quebra do /querer-crer/ por parte da entidade enunciatária para que
esse processo se desfaça. O enunciado, em si mesmo, torna-se, assim, o meio
interativo dessas duas entidades da enunciação.
4. Ecografia do tímico
Segundo Greimas (1979: 462-3), a categoria tímica é motivada pelo sentido da palavra
timia (cf. grego thymós, "disposição afetiva fundamental") e "serve para articular o
semantismo diretamente ligado à percepção que o homem tem de seu próprio corpo",
articulando-se como eufórica (grande prazer) ou disfórica (grande dor), tendo a aforia
(estado de inconsciência) como termo neutro e a foria (estado de consciência) como
elemento complexo. Greimas chama a categoria tímica de "primitiva", proprioceptiva,
verificadora da sensação e reação do destinatário, como ser vivo que, integrado num
contexto, se transforma num sistema de atrações e repulsões, diante de determinada
mensagem. Quando o telespectador sente-se atraído pelo anúncio televisivo, seu
estado é de euforia pela sensação de prazer, com o enunciado. Todavia, a sua não-
atração pode conduzi-lo à repulsão, situação de disforia, não assinando aquele
contrato apelativo com os destinadores do texto. Assim, o jogo euforia/disforia assume,
não apenas valores descritivos, mas também axiológicos, pela firmação do contrato de
aceitação da mensagem por esses enunciatários. Uma ecografia do tímico é
importante, portanto, não só sob o prisma de sua aplicação sobre o descritivo, mas
também para explicar as tensões vividas pelos sujeitos em relação ao objeto, porque
essa timia revela, sob o processo modal, as paixões dos sujeitos que, sem refletir
direito, acabam atendendo o apelo dos profissionais do "marketing", comprando uma
idéia que nem sempre é verdadeira, nem tão sincera assim.
Claude Zilberberg em Essai sur les modalités tensives (1981), partindo do pressuposto
que o sema varia entre os estados de tensão e relaxamento, elabora o quadrado
semiótico das modalidades tensivas: /tensão/ /relaxamento/ (termos contrários)
/distensão/ /intensão/ (como termos contraditórios). É por meio deste quadrado que
Zilberberg procura melhor explicitar o sentido. A categoria /tensão/ vs. /relaxamento/ é
apresentada como oposição matriz, instalando-se o processo de descontinuidade na
continuidade sistêmica do sema, verificando-se, assim, a unidade sêmica e, ao mesmo
tempo, seu esvaziamento, podendo-se enxergar sua forma em oposição à sua
substância, posto que as modalidades tensivas funcionariam como modalizadoras das
categorias semânticas, estando sob toda unidade de sentido. Greimas, por sua vez,
atribui esse papel à categoria tímica em termos de estruturas fundamentais, sendo,
portanto, reveladora não mais apenas da positividade em oposição à negatividade,
mas também da maior ou menor tensão e relaxamento do sujeito diante da cena que
assiste.
Estes estados passionais podem ser vistos no enunciado, nos vários programas de
uso que convergem ao programa narrativo de base. Contudo, sob o ângulo dos atores
discursivos e mesmo no nível dos enunciatários do discurso, são relativizados, por
uma questão de valores. No primeiro take, o depósito para o depositante, em princípio,
é positivo. Ao ser informado pelo actante-sujeito "caixa", que o Banco está "quebra-
é positivo. Ao ser informado pelo actante-sujeito "caixa", que o Banco está "quebra-
não-quebra" e encorajado a retirar tudo que tem, num processo de manipulação
intimidatória, passa por um estado de tensão aumentada, diminuindo,
conseqüentemente, o relaxamento. No segundo take, o assalto, para o actante-sujeito-
coletivo ladrão, é, em princípio, eufórico. Esta euforia, registrada no modo como entram
na agência bancária, na ânsia do dinheiro, passa a uma situação disfórica pela não-
conjunção com o seu objeto de busca. Entre um estado e outro, temos a frustração
como reveladora de elementos passionais. O terceiro take mostra a metamorfose do
actante-sujeito "caixa", que passa a trabalhar no jornal, devido a sua suposta
sinceridade para com o depositante, para com os ladrões, para com os
telespectadores. É a figura do ator discursivo que sintetiza e procura representar a
todos que têm sede de justiça, diante das falcatruas e o alto nível de corrupção em
algumas instituições. O seu programa narrativo de base começa num processo de
manipulação por intimidação, em relação ao cliente, demonstrando uma "sinceridade"
questionável, porque a caixa foi insincera com sua instituição.
5. Sutura do Sincrético
O narrador do take 3, que fala em nome da Folha de S. Paulo, assume também o papel
de observador, estratégia que faz o espectador identificar-se com ele. Ao captar o
sentido pretendido do texto fílmico (interpretar a ação da caixa como demonstração de
sinceridade), esse narrador-observador realiza a persuasão-manipulação do
espectador.
Nos dois takes iniciais, as atitudes da caixa aparentam a ruptura dos padrões
estabelecidos socialmente: ela rompe o contrato com o banco para premiar o cliente e
punir o ladrão. Esse estranhamento provoca a espera no espectador que será satisfeito
ao vê-la logo a seguir, trabalhando no jornal. Portanto o pretendido pela publicidade é
fazer o espectador passar da ansiedade à satisfação. O que aparenta ser uma ruptura
("a sinceridade acima de tudo" dessa jovem), na realidade, é a manutenção dos
valores pré-estabelecidos se considerarmos o tratamento dado ao cliente e ao ladrão.
Por isso, o esquema pretendido : camuflado :: ruptura : manutenção sinaliza, não a
transparência do texto publicitário, mas o simulacro que manipula o espectador.
ANEXO
TRANCRIÇÃO DO COMERCIAL DE TV
FOLHA DE S. PAULO - Série "Sinceridade acima de tudo"
Agência: ALMAP. Direção: Fernando Meirelles
1. Take 1
Cliente: Por favor (++) quero fazer um depósito,Caixa: DEPÓSITO " (++) NESTE
BANCO " (++) meu senhor (+) isto aqui está quebra não quebra.
Caixa: Nesse banco" (+) saca logo que desse fim de semana não passa.
2. Take 2
3. Take 3
(A caixa do banco, numa tomada mais próxima e em meia tela, está frente a um
monitor numa redação de jornal, ao mesmo que tempo em que surge a voz do
narrador...)
Narrador: Algumas pessoas são TÃO sinceras (+) que só existe UM trabalho para
elas (++) escrever na Folha de S. Paulo (++).
O logotipo da Folha aparece no vídeo: "Folha de S. Paulo não dá pra não ler" e,
ao mesmo tempo:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS