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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

UNIDADE ACADÊMICA DE LETRAS


PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM E ENSINO
DISCIPLINA: TEORIAS LINGUÍSTICAS – BASES E PERSPECTIVAS
PROF.ª: Drª MARIA AUGUSTA GONÇALVES DE MACEDO REINALDO
ALUNA: ARIANE SILVA DA COSTA SAMPAIO

REGISTRO DE LEITURA: A FORMAÇÃO DO ESPÍRITO


CIENTÍFICO – GASTON BACHELARD

CAMPINA GRANDE - PB

SETEMBRO 2018
EM QUE CONSISTE A FORMAÇÃO DO ESPÍRITO CIENTIFICO NA VISÃO DE
GASTON BACHELARD (1996)

Em seu livro “A formação do espírito científico” Gaston Bachelard irá abordar


os obstáculos e processos que irão perfazer esse espírito cientifico. Para iniciar seu texto,
no Capítulo II, o autor coloca como o primeiro obstáculo a experiência primeira colocada
antes da crítica. Para o autor há inúmeras provas da fragilidade desse conhecimento,
colocando em cheque tudo que seja resultado de um dado claro, nítido e seguro, baseada
numa filosofia romanceada.

A tese levantada pelo autor logo no início é: “o espirito cientifico deve formar-
se contra a Natureza, contra o que é, em nós e fora de nós o impulso e a informação da
Natureza, contra o arrebatamento natural, contra o fato colorido e corriqueiro.”
(BACHELARD, 1996, p. 29) Sendo assim, “o espírito cientifico deve se formar enquanto
se reforma”. (BACHELARD, 1996, p. 29) Assim, só se pode aprender com a natureza se
purificar as substâncias naturais pondo-as em ordem.

Segundo o autor, entre a natureza e o observador, a educação cientifica elementar


tenta impor livros “muito corretos, muito bem apresentados” (p. 30) e a partir daí ele traça
um panorama histórico sobre os livros, tecendo algumas críticas, como o fato de o livro
de ciências, que no período pré-científico, século XVIII não era regulado pelo ensino
oficial e tinha como ponto de partida a natureza, a vida cotidiana, colocando autor e leitor
pensando no mesmo nível. Os livros de ensino cientifico moderno trazem uma ciência
ligada a uma teoria geral e seu caráter orgânico é evidente, de modo que é impossível
pular um capítulo sem o risco de se perder. O diálogo leitor-autor é quebrado e a
referência ao público passa a ser uma chamada de atenção ao aluno que está diante da
obra.

Bachelard (1996) afirma que autores do século XVIII tem uma aproximação do
leitor de seus livros, ele dialoga como um conferencista, adotando os interesses de
preocupações naturais, fazendo com que a posição social dos seus leitores influencie o
tom desse livro pré-científico. A ciência moderna afasta a erudição e a história das ideias
científicas, fazendo com que em meio acadêmico seja privilegiado obras literárias e
históricas de valores reduzidos em detrimento de outras obras mais herméticas e de valor
mais utilitário.

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A ideia de fazer esse panorama sobre o livro e sua discussão sobre a ciência, tem
o intuito, como nos afirma o filosofo, de mostrar a diferença entre o primeiro contado
científicos dos dois períodos que o autor irá tratar em seu texto. (BACHELARD, 1996,
p. 35 e 36) Em tempo, o pensamento pré-científico não é regular como o cientifico
ensinado em laboratórios oficiais e codificados nos livros escolares.

Uma segunda tese levantada pelo autor incide no fato de que a satisfação
imediata oferecida por intermédio da curiosidade, em vez de benéfico pode travar um
obstáculo para a cultura cientifica, uma vez que a uma substituição do conhecimento pela
admiração, fazendo com que os problemas, segundo o autor a “mola do progresso”, sejam
retirados do pensamento cientifico numa ideia de implantação da facilidade.
(BACHELARD, 1996, p. 36)

O pensamento pré-científico não se fecha no estudo de um fenômeno bem


circunscrito. Não procura a variação, mas sim a variedade. E essa é uma
característica bem específica: a busca da variedade leva o espirito de um objeto
para outro, sem método; o espirito procura apenas ampliar conceitos; a busca
da variação liga-se a um fenômeno particular, tenta objetivar-lhe todas as
variáveis, testar a sensibilidade das variáveis. Enriquece a compreensão do
conceito e prepara para a matematização da experiência. (BACHELARD,
1996, p. 38 e 39)
Assim, durante esse período o que importava não era uma propriedade geral e
sim as propriedade excepcional ligada as substancias mais diversas, assim cada um
poderia fazer sua colaboração, ou nas palavras Bachelard, “cada qual poderia trazer sua
pedra” (1996, p. 39) Trazendo ainda essa analogia com a curiosidade, o autor ainda afirma
que no percurso do desenvolvimento cientifico as descobertas do campo eram
apresentadas como espetáculo de curiosidades, o que hoje em dia, no caso na época do
seu texto, não é mais visto e travando uma batalha de diferenciação entre o especialista e
o charlatão.

No século XVIII, a ciência interessa a todos os homens cultos. A ideia geral é


que um gabinete de história natural e um laboratório são montados como uma
biblioteca, pouco a pouco; todos confiam: esperam que o acaso estabeleça as
ligações entre os achados individuais. (BACHELARD, 1996, p. 40)

De um modo geral, a ciência do século XVIII nem é vida nem ofício, e por vezes
na comparação com outras áreas é tido como inferior, pois lhes faltam reconhecimento.
No entanto, a vertente escolar da ciência é uma carreira hierarquizada, permitindo assim
a identificação do aluno e do mestre de modos mais pontuais e fazendo com que o aquele
tem uma ideia de ingratidão que está diante. (BACHELARD, 1996, p. 42)

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Em outro ponto, o autor nos diz que os livros desse século não deixam escapar
o desejo de “abalar a razão diante do misterioso abismo daquilo que não se conhece”
(1996, p. 44), trazendo assim o fascínio que serve de atrativo. Contudo, deve-se ter
cuidado, pois as ficções científicas podem ser verdadeiras regressões infantis, que
divertem mais não instruem, e diante disso Bachelard afirma que compete ao espírito
científico lutar contra as imagens, analogias e metáforas, já que essas, no curso elementar,
causam desastres.

No ensino elementar os jovens ficam cada vez mais atraídos pelas experiências
concretas aos quais são expostos em laboratórios, cheias de imagens, essas experiências
são falsos centros de interesse, conforme o filosofo, já é indispensável a abstração desse
concreto, de modo que o professor deve ir a lousa sempre na ideia de extrair essa
abstração, para que na volta os aspectos orgânicos sejam distinguidos no fenômeno, uma
vez que a experiência é feita para demonstrar uma teoria. (BACHELARD, 1996, p. 50)

As reformas do ensino secundário na França, nos últimos dez anos, ao diminuir


a dificuldade dos problemas de física, ao implantar, em certos casos, até um
ensino de física sem problemas, feito só de perguntas orais, desconhecem o
real sentido do espírito científico. Mais vale a ignorância total do que um
conhecimento esvaziado de seu princípio fundamental. (BACHELARD, 1996,
p. 50)

Seguindo o texto, o teórico vai tratar da racionalização da experiência,


mostrando que não basta encontrar uma razão para o fato, é preciso colocar a crítica ao
conhecimento em contanto com as condições que lhe originaram, voltar ao “estado
nascente”, voltar ao momento da resposta do problema. (BACHELARD, 1996, p. 51)
Com isso, conseguir encontrar a medida da justaposição entre empirismo e racionalismo,
de modo que não basta considerar o fato, é imprescindível na ciência, na visão do autor,
que esse seja considerado, definido e situado, mas que passe por algum grau de
interpretação, uma vez que um fato fechado em si, pode levar esse a séculos sem frutos,
sem suscitar experiências de variação.

Sendo assim, seria erro grave, colocar o conhecimento empírico no plano da


assertividade, “limitando-se à simples afirmação dos fatos.” (BACHELARD, 1996, p. 52)
Utilizando as afirmações de Buffon, Bachelard exponho sua opinião sobre essa
problemática da base empírica muito estreita, mostrando que é necessário manter a
suspensão do espírito para um estudo mais reflexivo e assim fugir das falsas combinações,
nos raciocínios apressados e no estabelecimento das relações precoces que afetam esse
conhecimento reflexivo. (BACHELARD, 1996, p. 56)

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No capítulo três da obra, intitulado de “O conhecimento geral como obstáculo
ao conhecimento cientifico”, Bachelard vem mostrar como a doutrina do geral prejudicou
o progresso do conhecimento científico, mostrando que as generalidades apressadas
levam às generalidades mal colocadas. Colocando os filósofos como adversários, o autor
continua a desenvolver seu raciocínio afirmando que esses acreditam ser as generalidades
o fundamento das ciências e assim, os livros pré-científicos do século XVIII, assim como
os de sociologia do XX, seguem nesse esforço de definição e generalização para
esclarecer as doutrinas abordadas. (BACHELARD, 1996, p. 70)

O autor não rechaça a eficácia dessas leis gerais durante um tempo, contudo na
atualidade não o são mais, fazendo assim um bloqueio as ideias, travando respostas muito
rápidas, tornando na identificação do processo rápido tudo claro. O que na opinião do
autor, “quanto mais breve for o processo de identificação, mais fraco será o pensamento
experimental.” (BACHELARD, 1996, p. 71)

Prosseguindo seu raciocínio, Bachelard mostra a verdadeira atitude do


pensamento cientifico moderno na formação dos conceitos. Para o autor está, sobretudo,
na união entre a teoria e sua aplicação, uma vez que a incorporação das condições de
aplicação de um conceito na teoria mostra as novas bases do racionalismo na visão do
teórico.

Como a aplicação está sujeita a sucessivas aproximações, pode-se afirmar que


o conceito científico correspondente a um fenômeno particular é o
agrupamento das aproximações sucessivas bem ordenadas. A conceitualização
científica precisa de uma série de conceitos em via de aperfeiçoamento para
chegar à dinâmica que pretendemos, para formar um eixo de pensamentos
inventivos. (BACHELARD, 1996, p. 76)

Posterior a explanação do tema de fermentação, tentando travar uma análise


sob a luz do pré-científico e do cientifico, Bachelard mostra que nenhuma observação do
século XVIII deu origem a uma técnica do século XIX. Sendo que o pensamento
cientifico moderno “empenha-se para especificar, limitar, purificar as substâncias e seus
fenômenos.” (BACHELARD, 1996, p. 89) Assim, procurando a objetividade e não o
universalismo presente no pré-científico, mostrando que o pensamento dever ser objetivo,
e a universalidade será possível se a realidade do estudo permitir, deixando assim de ser
um fim, “Essa objetividade é determinada pela exatidão e pela coerência dos atributos, e
não pela reunião de objetos mais ou menos análogos.” (BACHELARD, 1996, p. 89) E
todo conceito deve vir ligado ao seu anteconceito, pois nas palavras do autor, se tudo
fermenta, o fenômeno da fermentação perderia sua importância, é importante definir

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assim, o que fermenta e o que não fermenta. Percebendo assim, na ciência moderna, uma
tendência maior na redução das unidades observadas, para que a precisão seja o foco e as
técnicas e equipamentos melhorados.

O ideal de limitação predomina. O conhecimento a que falta precisão, ou


melhor, o conhecimento que não é apresentado junto com as condições de sua
determinação precisa, não é conhecimento científico. O conhecimento geral é
quase fatalmente conhecimento vago. (BACHELARD, 1996, p. 90)

Para encerrar essa breve exposição sobre a formação do espírito científico na


visão de Bachelard, cabe observarmos que durante seu texto o autor faz uma paralelo
entre pré-científico, a ciência feita nos séculos XVIII e XIX e no científico, ciência da
atualidade, como forma de mostrar a evolução desde de a ideia de conceitos universais
que regeria a ciência na sua fase pré-formação, até a ideia de objetividade, centrada na
ideia de aplicação e teoria conjuntas, abordando a importância do empirismo e do
racionalismo no desenvolvimento científico. O autor ainda abarcar a importância de não
se ater a visões e conclusões precipitadas, causando assim a anulação do fazer científico,
uma vez que o torna vago e inexato. Cabe ainda observar que Bachelard traz ainda a
importância de se considerar a objetividade ao universalismo, e ponderação das
diferenças que ocorrem nos fenômenos estudos, no intuito de mostrar seu valor científico
e justificar seu estudo.

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REFERÊNCIAS

BACHELARD, G. A formação do espírito cientifico – contribuição para uma


psicanalise do conhecimento. Trad. Estela dos Santos Abreu. 1.ed. 5ª reimpressão. – Rio
de janeiro: Contraponto, 1996.

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