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1 Introdução
No que se refere à sujeição passiva tributária, são, no Brasil, poucas as obras que
trataram especificamente do tema. Duas delas, da década de oitenta, de autoria de
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Arnaldo Borges e Marçal Justen Filho. É importante ressaltar, entretanto, que, antes
disso, outros autores trataram do tema, mas não em obras específicas. O tema era
analisado no bojo de cursos ou manuais de direito tributário, a exemplo da obra de
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Rubens Gomes de Sousa. Posteriormente, quase doze anos após a publicação da obra
de Marçal Justen Filho, Luís Cesar Souza de Queiroz publicou o seu “ Sujeição passiva
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tributária”. Dois anos depois, veio a lume a obra de Renato Lopes Becho, intitulada “
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Sujeição passiva e responsabilidade tributária”. Nessa obra, Renato Lopes Becho parte
da distinção entre “tributos discriminados” e “tributos não discriminados”, sustentando
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que, na elaboração dos últimos, o legislador teria maior liberdade. É bem verdade que
há recentes obras que tratam de parcelas do assunto, por exemplo, os casos de
responsabilidade tributária, como bem o fizeram Maria Rita Ferragut e, mais
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recentemente, Andréa Darzé e Daniel Monteiro Peixoto. Há, ainda, artigos científicos
que tratam de parte do tema, na maioria das vezes, sem a profundidade desejável. Esse
alerta foi trazido por Ives Gandra da Silva Martins, no limiar de seu prefácio ao “Sujeição
passiva tributária ”, de Marçal Justen Filho. E, ainda, o alerta do próprio Marçal Justen
Filho, sobre o que ele chama de “... descaso ...” da doutrina brasileira com o tema. Além
disso, ressalte-se que o próprio Marçal Justen Filho, no preâmbulo da sua obra sobre o
assunto, esclarece que não teve a pretensão de esgotar o tema. Mais à frente, afirma,
inclusive, que, deliberadamente, deixou de examinar questões controversas que
envolvem o estudo da sujeição passiva tributária.
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A disposição geral sobre a responsabilidade tributária no
Código Tributário Nacional
Mas, afinal, o que é sujeição passiva tributária? Por sujeição passiva tributária, adverte
Marçal Justen Filho, podemos indicar “... uma pluralidade bastante grande de conceitos”.
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Quanto ao tema, diz Paulo de Barros Carvalho que Rubens Gomes de Sousa foi “ ...
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quem mais aprofundou a investigação científica nesse campo”.
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A disposição geral sobre a responsabilidade tributária no
Código Tributário Nacional
E, em obra mais atual, tece críticas à teorização de Rubens Gomes de Sousa. Em seu “
Curso de direito tributário”, Paulo de Barros Carvalho afirma que é descabida a divisão
dos sujeitos passivos em diretos e indiretos, a qual toma por base as vantagens
experimentadas pelos partícipes do fato. No seu entender, interessa, para o jurista,
apenas aquele que integra o vínculo obrigacional tributário no polo passivo. Afirma,
ainda, que “ O grau de relacionamento econômico da pessoa escolhida pelo legislador
com a ocorrência que faz brotar o liame fiscal, é alguma coisa que escapa da cogitação
do Direito, alojando-se no campo de indagação da Economia ou da Ciência das Finanças
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”.
Mas suas críticas não cessam aí. Mais adiante, percebemos que Paulo de Barros Carvalho
identifica, nessa construção teórica, influências daquilo que se passa no momento
político, ou seja, naquele instante por ele denominado de “pré-legislativo”,
principalmente quando observa os casos – da nominada, por Rubens Gomes de Sousa,
de “substituição”. Afirma que, nesses casos “ ... o legislador nada substitui, somente
institui”. Com razão, nesse particular, uma vez que, antes da introdução, no sistema de
direito positivo, dos enunciados prescritivos que tratam da sujeição passiva, não havia o
que substituir, e, mesmo que houvesse, estaria isso fora do âmbito de investigação
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científica do cientista do direito em sentido estrito.
Após a crítica, Paulo de Barros Carvalho formula, partindo das prescrições do Código
Tributário Nacional, sua própria teorização acerca da sujeição passiva tributária,
identificando duas figuras: o contribuinte e o responsável tributário. É bem verdade,
ainda, que identifica uma terceira figura. Paulo de Barros Carvalho considera
“contribuinte” aquele que, nos termos do art. 121, I, do Código Tributário Nacional, “...
tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador”.
Será, assim, aquele que, possuindo personalidade jurídica, realizar o fato abstratamente
descrito na hipótese de incidência tributária. Lembremo-nos também de que o Código
Tributário Nacional, no inc. II do mesmo artigo, prescreve que o sujeito passivo será
considerado responsável “ ... quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua
obrigação decorra de disposição expressa de lei ”. O art. 128 do Código Tributário
Nacional, por sua vez, prescreve, estabelecendo uma “disposição geral” para a
responsabilidade tributária que “ ... a lei pode atribuir de modo expresso a
responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da
respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte e atribuindo-a a este
em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação”.
Marçal Justen Filho desenvolve teoria interessante sobre a sujeição passiva tributária.
Em seu clássico “Sujeição passiva tributária”, antes de iniciar o tratamento da sujeição
tributária propriamente dita, lança duas premissas. Nas suas “colocações prévias”,
estabelece, de saída, que não compactua com a postura daqueles teóricos que
confundem o direito posto com o direito proposto, praticando as lições de que “ ...
formular teoria acerca de sujeitos passivos tributários é inviável se ignorarmos o direito
posto”. Essa é a sua primeira “colocação prévia”. A segunda, por sua vez, diz respeito à
sua opção filosófica. Ao aderir, convictamente, como diz, à concepção nominalista,
Marçal Justen Filho repudia a confusão entre “palavras” e “essências”. Palavras são
rótulos. Em sua visão, “... não têm um sentido único, nem um sentido fechado”. Buscar,
então, a essência de “responsabilidade” ou “substituição”, por exemplo, a partir do
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estudo da significação das palavras conduzirá a resultados trágicos. Ao ingressar no
tópico específico da sujeição passiva tributária, Marçal Justen Filho, novamente, lança
mão de algumas reflexões importantes para a compreensão da teoria dele. Há vários
casos de sujeição passiva. Nelas, o sujeito estará em “... situação desfavorável perante o
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direito ”, isso porque deverá adotar determinada conduta prescrita pelo direito. Diz-se
“tributária” a sujeição passiva que se submete, direta ou indiretamente, ao regime
jurídico tributário, que é caracterizado, fundamentalmente, pela (i) destinação,
considerada como forma de suprir os cofres públicos; (ii) relevância econômica das
situações eleitas como pressuposto normativo para qualquer dever de pagar ao Estado,
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que, segundo ele, não se confunde com o princípio da capacidade contributiva; e, por
fim, (iii) observância ao princípio da estrita legalidade. Curioso é que até o chamado
“credor”, numa acepção ampla da sujeição passiva tributária, poderia ser encarado como
uma espécie de sujeito passivo. Diz Marçal Justen Filho que o credor “... encontra na lei
não apenas um limite máximo para a sua pretensão como a imposição de inúmeros
deveres ”. Assim, o próprio Estado seria, numa determinada acepção, sujeito passivo
tributário ou, nas palavras do autor, “... atingiria o próprio Fisco...”, uma vez que a lei
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lhe impõe uma série de deveres, como, por exemplo, a observância de formalidades.
Entretanto, não é essa leitura tão ampla à qual se dedica Marçal Justen Filho.
Preocupa-se, sim, com a situação jurídica daquele que deve levar dinheiro aos cofres
públicos ou realizar condutas outras. Seu foco direciona-se àquele titular do polo passivo
da relação jurídica sujeita ao regime jurídico tributário. Ao tratar, especificamente,
daqueles que podem ocupar o polo passivo da relação jurídica tributária, Marçal Justen
Filho menciona a divisão, correntemente realizada pela doutrina, entre a “sujeição
passiva direta” e a “sujeição passiva indireta”, reconhecendo, de saída, ser inadequada
esta última expressão, que engloba conceitos jurídicos distintos e inconfundíveis. À
frente, inclusive, é absolutamente enfático, ao defender o afastamento da utilização de
tais expressões. Para ele, existem apenas as figuras do “ ... destinatário constitucional
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tributário”, do “substituto tributário” e do “responsável tributário”. Expliquemo-las.
Após tais esclarecimentos, Marçal Justen Filho avisa que, em sua visão, a mais perfeita
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construção doutrinária sobre o tema foi realizada por Andrea Parlato. Nesta concepção,
existem duas normas. Uma delas, denominada “norma tributária normal” prescreve o “
... relacionamento típico e normal”, enquanto a outra, chamada de “norma secundária”
ou “integrativa”, vincula-se à primeira, para, elegendo elementos específicos, produzir o
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A disposição geral sobre a responsabilidade tributária no
Código Tributário Nacional
Por tais argumentos, a “solução sancionadora” não lhe parece satisfatória. Decide por
seguir o pensamento tradicional, encarando o responsável tributário como, de fato,
sujeito passivo tributário. Diz Marçal Justen Filho que, na responsabilidade tributária, há,
de fato, um ato ilícito tributário. Nesses casos, entretanto, a sanção não poderia ser
distinguida do tributo, e isso porque ela se confunde com uma prestação tributária já
existente. A sanção seria, então, alguém se tornar obrigado juntamente com os
devedores de uma relação jurídica tributária já existente. Analisemos a estrutura
normativa do fenômeno da responsabilidade tributária.
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A disposição geral sobre a responsabilidade tributária no
Código Tributário Nacional
Cria-se uma nova relação jurídica tributária, anexa à já existente, que é como que um
“espelho”, na medida em que “ ... todos os dados objetivos acerca da relação jurídica
nascida são aqueles da relação jurídica tributária já existente ”. Há, apenas, um sujeito
passivo novo, sustenta Marçal Justen Filho. Dessa forma, satisfeita a prestação, seja
pelos sujeitos passivos da relação jurídica principal, seja pelos sujeitos passivos da
relação jurídica prescrita pela norma de responsabilidade tributária, desaparecerão
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ambas as relações.
denominado sujeito passivo, que terá o ‘dever jurídico’ (obrigação) de entregar a outrem
parcela da riqueza de que é titular”; aquele, por sua vez, diz respeito à descrição de um
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sujeito de direito titular de uma riqueza. Por fim, conclui que apenas o sujeito
mencionado no critério pessoal do antecedente poderá ser indicado como sujeito
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passivo, que se denomina “contribuinte”. Caso outra pessoa esteja indicada no polo
passivo da relação jurídica, que não o contribuinte, adverte Queiroz, a norma
“necessariamente” terá natureza diversa da tributária. E isso ocorre nos casos em que
estivermos diante do “responsável”. De acordo com Queiroz, a norma que dispõe sobre a
responsabilidade não tem natureza “impositiva tributária” – que, em sua visão, é aquela
que vincula um antecedente, no qual encontramos a descrição de um fato lícito, a um
consequente, que prescreve uma relação jurídica entre dois sujeitos de direito em torno
de uma determinada prestação, consistente na entrega, por parte de um, de uma
quantia em dinheiro para o outro – e sim de “norma primária principal não tributária” ou
de “norma primária punitiva”. Essas duas normas são relativas, respectivamente, à
responsabilidade por sub-rogação subjetiva total, como nos casos dos arts. 131, I e II e
132, “caput”, em que há a descrição de um evento lícito no antecedente normativo; e à
responsabilidade por punição, presente nos demais casos de responsabilidade previstos
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pelo Código Tributário Nacional. Por fim, e para encerramos o exame da opinião de
Queiroz sobre o tema, resta tratar dos casos de “substituição”. Ao tratar do tema,
Queiroz parte da correta premissa de que o conceito de substituição não se confunde
com o de contribuinte e tampouco com o de responsável e, diante disso, cabe a seguinte
indagação: “ ... se a norma que dispõe sobre a substituição não possui natureza
tributária, se tal norma se distingue da que dispõe sobre a responsabilidade tributária,
que espécie de norma regula a conduta do ‘substituto’ tributário? ”. Ao enfrentar esse
questionamento, Queiroz não hesita em apontar como norma meramente administrativa,
para atender aos interesses da Administração Pública. Três seriam, a seu ver, as
justificativas que autorizam o regime da substituição tributária: (i) dificuldade em
fiscalizar um número grande de contribuintes, (ii) necessidade de evitar a evasão fiscal
ilícita e (iii) agilizar a arrecadação, acelerando a disponibilidade de recursos. Observemos
que, aqui, cabe até mesmo a indagação sobre a conveniência de se tratar o tema da
substituição como se fosse relativo à sujeição passiva. Lembremo-nos que, nas palavras
do próprio Queiroz, a relação entre o Estado e o substituto tem cunho meramente
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administrativo, “... funcionando (o substituto) como um mero agente arrecadador”.
Adiantamos, aqui e desde já, nossa opinião. Parece-nos que há duas espécies de sujeitos
passivos, que são justamente os mencionados nos incisos do parágrafo único do art. 121
do Código Tributário Nacional, quais sejam, os “contribuintes” e os “responsáveis”. Como
mencionamos anteriormente, o inc. I do parágrafo único do art. 121 do Código Tributário
Nacional, define como “contribuinte” a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou
penalidade pecuniária que tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o
respectivo “fato gerador”. Arnaldo Borges bem observa que, apesar de ser amplamente
reconhecida a essencialidade dessa “relação” para a conceituação de contribuinte, “ ...
não se chegou, ainda, a precisar aquilo em que ela consiste ”. Parece-nos, então, que
será contribuinte aquele que, manifestando capacidade contributiva, realizar a ação
reveladora dessa capacidade, prevista na hipótese de incidência. A figura do substituto
não é enquadrada por nós como espécie autônoma de sujeito passivo. Parece-nos que
nos casos de substituição tributária, estaremos diante de um sujeito desempenhando, ao
menos, dois papéis. O primeiro, o próprio de “contribuinte” e, o segundo, próprio de
“agente de arrecadação”, a fim de auxiliar o Estado na fiscalização e na arrecadação
tributárias.
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A disposição geral sobre a responsabilidade tributária no
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Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a
responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da
respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este
em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação.
Esse enunciado prescritivo fomenta uma série de discussões e críticas. Nem todas elas,
entretanto, contundentes como a de Marçal Justen Filho que, ao tratar do art. 128,
escreve:
“Sua nenhuma utilidade não pode sequer ser suprida por invocações de sua natureza
‘didática’. A referência à necessidade de um vínculo entre o terceiro e a materialidade da
hipótese de incidência – usualmente apontada como aspecto de grande relevo – é
totalmente ineficaz, na medida em que o legislador externou-se de modo tão impreciso e
genérico que a regra se tornou imprestável. Se, ao menos, houvesse sido definida a
natureza da relação necessária, a vincular terceiro e a materialidade da hipótese de
incidência, para que instituível fosse a substituição – então, sim, passaria a ser
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didaticamente aplaudível a norma.”
A primeira delas diz respeito a ser ou não relativa à sujeição passiva tributária.
Observemos, por exemplo, o entendimento de Octavio Bulcão Nascimento, para quem o
art. 128, de fato, “ ... transmite um princípio genérico que ajuda a compreensão das
demais seções ”, ressaltando que o enunciado não condiciona à instituição da
responsabilidade, qualquer vinculação com o “fato jurídico tributário” (“fato gerador”).
Em suas próprias palavras: “Notem que este enunciado, ao contrário do que muitos
pensam, não vincula a validade de norma da responsabilidade a terceiro vinculado ao
fato gerador. Isso porque, ao se estabelecer que a lei pode atribuir a responsabilidade
pelo crédito tributário a terceira pessoa, ressalva expressamente: ‘sem prejuízo ao
disposto neste Capítulo’. A expressão ‘sem prejuízo do disposto neste Capítulo’ dá a
entender o que realmente acontece: em nenhuma das seções deste Capítulo, há um
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sujeito passivo vinculado ao fato gerador, são todos desvinculados” . Isso não quer
dizer que ele entenda irrelevante qualquer vinculação. Vinculação deve haver, claro. Mas
essa não será entre o responsável e o fato jurídico tributário, que, para ele, de pouco
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importa, e sim entre o responsável e o contribuinte.
‘disposição geral’ sobre o tema. Sua ideia central é a de que, para que haja
responsabilização, o sujeito a ser responsabilizado deve estar indiretamente vinculado ao
fato gerador da obrigação tributária. Já vimos acima que esse vínculo indireto nada mais
é do que um vínculo negocial com outra pessoa, o contribuinte, do qual decorre a prática
do fato jurídico tributário. A situação típica é a responsabilidade da fonte pagadora. Se,
todavia, observarmos todas as situações subsequentes, vale dizer, as descritas nos arts.
129 a 138 do CTN (LGL\1966\26), veremos que em nenhuma delas há este tipo de
vínculo indireto, sendo manifesta a constatação de que: (a) em muitas das hipóteses o
fato jurídico tributário aconteceu antes mesmo do fato jurídico responsabilizador, não
havendo como se conceber algum tipo de participação neste fato; (b) não
necessariamente há, por parte do responsabilizado, algum tipo de manifestação de
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capacidade contributiva, conexa à situação econômica do fato jurídico tributário.
Antes disso, Monteiro Peixoto já havia tratado do tema, ocasião na qual afirmou que “O
afastamento do artigo 128 enquanto premissa geral da responsabilidade tributária, e,
com ele, da ideia de que sempre deverá haver vínculo com o fato gerador da obrigação
tributária (ou seja, proximidade à situação econômica de manifestação de capacidade
contributiva) para que haja responsabilidade, é esclarecedor no sentido de propiciar uma
melhor observação dos seus reais fundamentos, de acordo com o Código Tributário
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Nacional”.
[...]
essa é chamada pelo nome de “contribuinte”, mesmo que, muitas vezes, por nada
contribua. Sem embargo, haverá de ser colhida, obrigatoriamente, dentro da moldura do
sucesso descrito pela norma. É o que determina o legislador. As duas orientações para a
indicação da responsabilidade pelo crédito tributário abrem, para o intérprete, uma série
de especulações. Comecemos pela terceira pessoa, vinculada ao fato jurídico tributário.
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Dois são os argumentos que nos levam a crer que as concepções, tanto de Paulo de
Barros Carvalho quanto de Daniel Monteiro Peixoto, sobre o tema, merecem reparos.
Adiantamos, aqui, que nosso entendimento é o de que o enunciado prescritivo do art.
128 não se refere aos casos de responsabilidade tributária dispostos expressamente nos
arts. 129 a 138 do Código Tributário Nacional, mas tão somente a novas estipulações –
futuras, obviamente – de responsabilidade tributária, por parte do legislador.
Explicamos.
Iniciemos pelo primeiro argumento, que está diretamente ligado à cláusula “ Sem
prejuízo do disposto neste capítulo... ” Essa cláusula específica, parece-nos, excepciona
expressamente a aplicação das condições do artigo 128 aos casos de responsabilidade
tributária dispostos nos arts. 129 a 138. Somos da opinião de que esse “sem prejuízo” é
sinônimo de “independentemente”. A redação do artigo é melhor compreendida caso
façamos essa substituição:
“Sem causar detrimento ao” disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo
expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato
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A disposição geral sobre a responsabilidade tributária no
Código Tributário Nacional
Percebemos que, de fato, as disposições previstas no art. 128, pela cláusula “sem
prejuízo”, não são aplicáveis aos casos dispostos nos arts. 129 a 138 do Código
Tributário Nacional. A “disposição geral”, portanto, é disposição geral que,
expressamente, não deverá ser aplicada a esses casos. Resta a dúvida, então: a quais
casos diz respeito a “disposição geral”?
Encontramos a resposta no próprio enunciado do art. 128, quando ele dispõe que “... a
lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira
pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade
do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou
parcial da referida obrigação”. O que nos interessa, aqui, é a cláusula “ ... a lei pode
atribuir...”. Aqui, o Código Tributário Nacional estabeleceu uma permissão positiva para
o legislador, se desejar, instituir novos casos de responsabilidade que não os previstos
expressamente nos arts. 129 a 138. Observemos que, apesar de o verbo “poder” estar
no presente do indicativo, faz, sem sombra de dúvidas, menção a ações futuras. O
legislador, em verdade, “ ... ‘poderá’ atribuir de modo expresso a responsabilidade... ”
(adaptamos). Uma ação futura! Não há sentido, parece-nos, em interpretar que a lei
pode atribuir a responsabilidade aos casos em que a responsabilidade já foi atribuída,
como é o caso das situações previstas nos arts. 129 a 138 do Código Tributário Nacional.
Em síntese: a “disposição geral” do art. 128 é, de fato, uma disposição geral “voltada
aos novos casos de responsabilidade tributária”, os quais poderão, no futuro, ser
instituídos pelo legislador, e não aos casos de responsabilidade tributária já instituídos
pelo Código Tributário Nacional, aos quais, por expressa determinação do art. 128,
manifestada pela cláusula “sem prejuízo”, é inaplicável! Dessa forma, somos da opinião
de que as responsabilidades previstas nos arts. 129 a 138 do Código Tributário Nacional
são, de fato, “tributárias”, e não “sancionadoras”, como defende Paulo de Barros
Carvalho, na medida em que a condição “vinculação indireta do responsável com o fato”
é necessária apenas para os novos casos de responsabilidade e, não para aqueles já
dispostos pelo Código Tributário Nacional.
4 Conclusão
Ao final deste artigo, alcançamos não apenas uma, e sim três conclusões.
A primeira delas é a de que o critério eleito pelo legislador, para diferençar os sujeitos
passivos em “contribuintes” e “responsáveis”, é a existência ou não de relação pessoal e
direta com o fato jurídico tributário, denominado pelo Código Tributário Nacional de “fato
gerador”.
Em segundo lugar, a de que há duas espécies de sujeitos passivos, que são justamente
os mencionados nos incisos do parágrafo único do art. 121 do Código Tributário
Nacional, quais sejam, os “contribuintes” e os “responsáveis”. A figura do substituto não
é espécie autônoma de sujeito passivo. Nos casos de substituição tributária estamos
diante de um sujeito desempenhando, ao menos, dois papéis. O primeiro, o próprio de
“contribuinte” e, o segundo, próprio de agente de arrecadação, a fim de auxiliar o Estado
na fiscalização e na arrecadação tributárias. Será contribuinte aquele que, manifestando
capacidade contributiva, realizar a sua ação reveladora, prevista na hipótese de
incidência.
Por fim, a terceira e, em nossa opinião, a mais importante delas, é a de que o enunciado
prescritivo do art. 128 não se refere aos casos de responsabilidade tributária dispostos
expressamente nos arts. 129 a 138 do Código Tributário Nacional, mas tão-somente a
novas estipulações – futuras, obviamente – de responsabilidade tributária, por parte do
legislador. A “disposição geral” do art. 128 é, de fato, uma disposição geral “voltada para
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14 Ibidem, p. 41-44.
22 Ibidem, p. 92.
23 Ibidem, p. 93.
24 Ibidem, p. 92-93.
27 Ibidem, p. 374.
28 Ibidem, p. 390.
29 Ibidem, p. 392-393.
32 Punishment and responsibility: essays in the philosophy of law. 2. ed. New York:
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36 Idem, p. 60-62.
37 Idem, p. 65.
38 Idem, p. 62-63.
40 Idem, p. 64.
43 Idem, p. 219-228.
44 “E não vislumbramos, por outro lado, fundamento para distinguir a sujeição passiva
em direta e indireta. Nem se trata de discordar sobre palavras (afinal, por que utilizar as
expressões ‘direta’ e ‘indireta’?). Mas e que não há utilidade nem justificativa para tentar
agrupar as três espécies tributárias nesses termos. Não há ponto em comum que
aproxime tanto responsabilidade e substituição e que as afaste tanto do contribuinte,
para permitir a distinção” – Idem, p. 302.
47 Idem, p. 265.
expressões ‘substituição’ e ‘substituto’, isso não nos induz a conceber que o fenômeno
enfocado tenha necessariamente a ver com as referências semânticas vulgarmente
associadas a ditas palavras. Mais ainda, nem mesmo as referências semânticas
técnico-jurídicas para ‘substituição’ e ‘substituto’ têm qualquer influência obrigatória
sobre os conceitos de que se trata. [...] A segunda preliminar relevante é a de que não
se pode confundir o conceito lógico-jurídico de ‘substituição’ com os conceitos
jurídico-positivos indicados legislativamente pela mesma expressão. É comum a doutrina
incorrer em tal equívoco. Basta uma lei valer-se da expressão ‘substituto’ ou
‘substituição’ para que muitos doutrinadores dediquem-se a construir o conceito de
‘substituição’ – o que seria válido se tivessem em vista que o resultado atingido seria
correto e apropriado apenas para aquele caso examinado. Esse desvio científico há de
ser reprimido. É que o conceito lógico-jurídico de ‘substituição’ não pode ser imposto ao
legislador, nem é possível, opostamente, trocar o conceito lógico-jurídico pelo conceito
legal. Assim, é possível que, faticamente, seja verificado que o legislador instituiu um
devedor e previu, posteriormente, que outrem assumiria a posição passiva. Ou, até, que
o legislador elaborou uma norma viciada pela incompatibilidade entre mandamento e
hipótese de incidência. A partir dessas constatações não se pode é afirmar que
substituição corresponde a isso ou aquilo. O máximo admissível seria a proposição de
que determinada lei denominou substituição a fenômeno com certas peculiaridades.
Nada impede, inclusive, que outra lei denomine substituição a fenômeno radicalmente
diverso” – Idem, p. 266-267.
49 Idem, p. 268-287.
50 Idem, p. 271-272.
51 Idem, p. 275-278.
52 Idem, p. 278-279.
53 Idem, p. 288-289.
55 Idem, p. 295.
56 Idem, p. 296.
57 Idem, p. 296.
58 Idem, p. 298.
60 Idem, p. 163.
61 Idem.
62 Idem, p. 164-181.
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A disposição geral sobre a responsabilidade tributária no
Código Tributário Nacional
63 Idem, p. 179-180.
64 Idem, p. 185-194.
65 Idem, p. 194-201.
71 Idem, p. 156-157.
74 Idem, p. 389-396.
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