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Trabalho de Filosofia do Direito

Professor: Francisco Quintanilha


Grupo: Arthur, Lucas, Luiz, Luiza e Victória

1. Introdução

Devido a sua magnitude, a filosofia do direito se mostra um objeto particularmente


difícil de ser estudado de maneira aprofundada. Todavia, é um mecanismo fundamental para a
compreensão de como o fenômeno jurídico se manifesta hoje em dia e como se construiu ao
longo da história.
Diversas perspectivas contribuem para essa empreitada. Temos os fenômenos antigos,
onde o direito e a lei eram pensados à luz de uma razão de justiça como vemos em Aristóteles.
Também vemos o constante embate entre o direito natural e o direito positivo, tendo continuado
até os dias de hoje.
Afinal, o direito deve servir aqueles que o instituem ou a um ideal de justiça? Questões
como esta possuem diversas facetas e seus dois pólos mudam constantemente de acordo com
a razão predominante em cada época. Na antiguidade, por exemplo, a justiça era interpretada
através de uma racionalidade filosófica e utilizada para criticar as leis vigentes. Se formos para
a idade média tal ideal de justiça assume um caráter extremamente religioso, mas o debate
permanece. É este constante dilema entre o objetivo, ou melhor, a razão de ser do direito que
torna esse estudo tão imprescindível.
Neste trabalho buscamos sintetizar o pensamento de algumas das maiores mentes que
pensaram o direito ao longo da história. O objetivo é conscientizar os futuros operadores do
direito das teorias que historicamente deram substrato a sua profissão. Afinal, sem uma linha
teórica consistente, não haveria sentido em buscar exercer o direito puramente pela prática.
Logo, é muito gratificante poder introduzir o pensamento de tantos autores com tantas
perspectivas diferente através da obra de Danilo Marcondes Filho.

2. Desenvolvimento
Sófocles foi um importante dramaturgo da Grécia Antiga. É considerado um dos
grandes representantes do teatro grego antigo, tendo sua obra Édipo Rei considerada por
Aristóteles em Poética uma das mais plenas tragédias. Outra obra que merece destaque é
Antígona, a tragédia que dá sequência a Édipo Rei e Édipo em Colono.Antígona, filha
incestuosa de Édipo e sua mãe Jocasta, enfrenta as leis e o governo de seu tio Creonte para
respeitar os mandamentos divinos e morais e assim enterrar seu irmão Polinice, considerado
um traidor por ter se levantado em armas contra Atenas e assim, deveria ser deixado aos cães
e abutres.A desobediência de Antígona cria uma discussão entre a lealdade entre a família e o
respeito e submissão às leis da cidade.
Fundador da Academia de Atenas, aluno de Sócrates e professor de Aristóteles, Platão
levou a filosofia a sua maturidade.Teve como primeiro impulso a condenação de Sócrates, a
qual considerou uma injustiça cometida pela democracia de Atenas e assim, em sua obra A
República,propõe um modelo de cidade ideal.Em seus diálogos, o filósofo não dissocia
questões morais e práticas nas discussões.Outro ponto relevante para Platão é que para se tomar
uma decisão justa, deve-se primeiro ter o entendimento do que seria justiça, sua natureza e
essência para posteriormente ter a decisão correta.
Na obra Críton, Sócrates está em sua cela esperando pelo seu fim, quando chegam
discípulos liderados por Críton, que oferta-lhe ajuda para fugir de Atenas, expondo que até que
quem o teria condenado estava de acordo com sua fuga.Porém Sócrates responde-lhes que
morrera como cidadão de Atenas obedecendo suas leis e que não entende como os acusadores
de sua conduta desrespeitosas às leis e tradições de Atenas agora queriam que ele fizesse
exatamente aquilo.
Em Protágoras, um Sofista (Protágoras) se utiliza do mito da criação para defender
seu pensamento.No decorrer da narrativa, Protagoras explica como às espécies foram criadas,
cada uma com sua peculiaridade na medida para se manter o equilíbrio, porém para a espécie
humana não seria suficiente apenas o que haviam dado às outras espécies, mas sim um fator
divino: a habilidade política e o senso e justiça para todos, caso contrário, o homem nunca
conseguiria viver em sociedade.Com base nesse ponto, defende a participação popular na
política já que todos seriam dotados dessa virtude ,um direito natural vindo dos deuses.
Por fim, em A República, texto mais extenso do autor, é onde se encontra a sua crítica
à democracia ateniense e propõe uma alternativa para resolvê-la baseada na ideia do que seria
justiça para estabelecer o modelo de cidade com um papel normativo e justa.Essa idealização
seria governada por guardiães, por representarem a encarnação da pura racionalidade. Os
interesses pessoais estariam abaixo do social, o que é reconhecido pelo próprio autor como um
utópico projeto político.A República começa com um sofista, Trasímaco, que expõe que a força
é um direito, e que a justiça é o interesse do mais forte, sendo assim, o governo faria leis visando
seus interesses, e assim determinando o que é justo, punindo como injusto aquele que
transgredir suas regras.Platão salienta que a justiça é uma relação entre indivíduos, e depende
da organização social, não sendo parte de um contrato, pois seria um fator natural ao homem.
Aristóteles, por sua vez, nasceu em Estagira, na Macedônia, em 384 a.C. Com 17 anos,
partiu para Atenas e começou a frequentar a Academia de Platão.Com a morte de Platão, em
347 a.C, Aristóteles funda sua própria escola, o Liceu, que era frequentada por Alexandre, o
Grande, e elabora o seu próprio sistema filosófico que ficou conhecida como “escola
peripatética”.Foi um grande crítico de seu professor em questões políticas e jurídicas . Na
Retórica, Aristóteles discute sobre a importância da linguagem persuasiva nas leis que
poderiam ser específicas (as que estão escritas) e as gerais e também comenta sobre A Antígona
com suas leis gerais e particulares.Na Ética a Nicômaco é abordada uma distinção entre dois
tipo de ciência política, a que seria a política propriamente dita (decisões administrativas da
cidade) e a que diz respeito às leis (saber deliberar de forma justa).Para Aristóteles, se os
homens fossem naturalmente justos, não haveria necessidade de um sistema jurídico, também
desenvolve a noção de justiça e injustiça quando diz que tudo que é de acordo com a lei para
manter a sociedade seria justo, o homem que segue as leis e seria o único animal dotado de
senso de justiça e que viveria em sociedade.
Grande representante romano, o aristocrata Marco Túlio Cícero foi um defensor avido
da república e das leis escritas inclusive indo contra César e Marco Aurélio, por os considerar
tiranos tendo sido vítima de assassinato por motivos políticos durante a crise que se seguiu para
a morte de César.Foi influenciado por diversas correntes, como a platônica, aristotélica e
estoicista.Em Sobre as Leis, desenvolve sua concepção de que haveria uma racionalidade inata
em todos os homens e a fonte do direito natural estaria na racionalidade da natureza do próprio
homem, independente de suas vivências.Porém a lei, a verdadeira origem do dever e a
jurisprudência viriam de um poder superior, para assim termos a lei universal e dela os homens
de determinado local a utilizam para desenvolver seu próprio regramento, a “lei civil”.
São Tomás de Aquino foi o autor da “Suma Teológica”, obra de grande importância
para a Filosofia e seu desenvolvimento. Fez uma síntese entre o pensamento de Aristóteles e o
Cristianismo, permitindo que a igreja olhasse com outros olhos para a ciência natural, pois
como este autor mesmo definiu, ela nada mais é do que a investigação da obra de Deus. As
fontes do direito e sua legitimidade são buscadas por São Tomás de Aquino na racionalidade
humana – criada por Deus. Sua visão permitia que conhecimento e religião tivessem sua busca
integrada, desta maneira o Tomismo foi utilizado como base para a contrarreforma.
Sua grande obra, a “Suma Teológica”, restou inacabada. Ela divide-se em 3 tratados,
sendo o primeiro sobre Deus, o segundo sobre a Criação e o terceiro sobre Cristo e a Salvação.
Nesta obra, São Tomás de Aquino trabalha de forma dialética, onde formulava perguntas
possíveis respostas de maneira argumentativa. Para São Tomás a lei natural é a mesma para
todos os homens, ou seja, a razão humana governa (ou deveria) todas as inclinações naturais e
forças do homem, porém coloca esta lei natural como subordinada à lex aeterna – a lei divina.
Hugo Grotius, por sua vez, foi um jurista, filósofo e teólogo, nascido na Holanda em
1583. É considerado o pai do direito internacional, surgindo o seu interesse por esse tema com
um episódio histórico, onde um navio holandês apreendeu em 1603 uma embarcação
portuguesa, apropriando-se da carga. Neste período, Holanda e Portugal estavam em guerra,
Grotius deu um parecer favorável à captura, dando origem ao princípio do mar como território
internacional. Para Grotius, o Direito é tudo aquilo que não é injusto, além disso, o Direito
Natural – em sua concepção – se origina na natureza humana racional, ainda que o homem seja
criado à imagem e semelhança de Deus. Sua grande obra é “O Direito da Guerra e da Paz”,
publicada em 1625.
Montesquieu foi um teórico da política e do Estado moderno, era francês e viveu de
1689 até 1755. Em 1748 publicou “O Espírito das Leis” obra que influenciou a formação dos
Estados modernos e deu origem a independência dos 3 poderes. Nesta obra, Montesquieu faz
um estudo do surgimento das leis em um contexto amplo, buscando levar em consideração
aspectos históricos, religiosos, geográficos e climáticos. Fala também a respeito da
Constituição Inglesa, utilizando como base o pensamento de John Locke. Em sua obra utilizou
uma postura enciclopedista, ou seja, buscando escrever de com conteúdo claro e acessível.
Teve grande influência na Revolução Francesa.
Para Montesquieu, apesar de existirem 3 âmbitos de leis entre os homens, ainda assim
existiriam as leis da natureza, sendo anteriores a estas outras leis e manifestando-se sobre o
homem em um período anterior ao surgimento da sociedade. Para ele a lei da natureza mais
importante, apesar de não ser a primeira, é a de que existe um criador e que o homem deve
buscá-lo. A primeira lei diz que o homem deve buscar a sua própria conservação através da
paz, esta lei deriva da vulnerabilidade humana frente às ameaças da natureza, a segunda diz
respeito a busca pela comida, a terceira lei da natureza seria a da sedução natural e mútua,
enquanto a quarta diz que o homem tem o desejo de viver em sociedade. Discorda, então, de
Hobbes, pois acredita que este cometeu um equívoco ao dizer que o estado da natureza seria
um estado de guerra de todos contra todos, pois para Montesquieu neste momento já estava
formada a sociedade humana.
O marquês de Beccaria era um homem italiano, foi um jurista, filósofo, economista e
pensador político com grande influência e contribuição ao Direito Penal, opondo-se à tortura e
à pena de morte em sua grande obra “Dos Delitos e das Penas”, publicada em 1764. Seu
pensamento foi fortemente influenciado pelo pensamento de Montesquieu, além disso buscou
influenciar os conflitos que ocorriam na região de Milão, e obteve sucesso na região da
Toscana, sendo esta o primeiro estado moderno a abolir a pena de morte.
Para Beccaria a justiça é desassociada de princípios religiosos, busca desvincular o
crime da noção de pecado, rejeitando um caráter punitivista da norma penal. Em seu
entendimento o princípio fundamental da justiça é a sua utilidade social, sendo neste sentido
um precursor do utilitarismo. As penas, para Beccaria, deveriam ser derivadas da necessidade,
pois segundo Montesquieu, qualquer pena que não fosse imposta dessa maneira seria
considerada tirânica. O estabelecimento de penas, por sua vez, pressupõe a existência de um
Estado de Direito, onde as penas previamente estabelecidas inibem o comportamento e
auxiliam a controlar as paixões humanas, além de dificultar a arbitrariedade do julgamento de
um terceiro supostamente imparcial.
A política moral deve guiar-se pelos sentimentos humanos relacionados ao direito do
soberano de aplicar uma determinada punição, pois acredita que em seu interior os homens
sabem quando uma determinada punição é injusta ou justa, tirânica ou não. As consequências
dos princípios da política moral seriam: as leis postas por um legislador competente, onde as
penas surgiriam de uma necessidade; um terceiro imparcial apto a julgar uma determinada
causa (magistrado) e a não atrocidade das penas. Faz então uma forte crítica às interpretações
extensivas dos juízes que ao consultar o espírito da lei, fazem como querem fazer.
Rosseau foi um filósofo e pensador suíço nascido em Genebra, no século XVIII. Seu
grande legado foi, inegavelmente, voltado para o âmbito da filosofia e da política, difundido
mundialmente com seu livro “O Contrato Social”. Nele, Rosseau se posiciona enquanto um
defensor da liberdade e crítico da autonomia das instituições, servindo como inspiração para
movimentos de grande relevância histórica, como a Revolução Francesa.
Sua reflexão tem como ponto de partida a natureza do homem, que a princípio não
possui virtude, vivendo pacificamente e buscando apenas saciar seus caprichos, apetites e
paixões. Em dado momento, contudo, vem a necessidade da socialização, o que desvirtua o
homem por conta da desigualdade que se impõe pela lei do mais forte e revela a maior parte
dos “vícios” humanos, como a vaidade e o egoísmo. Esse contexto culmina em uma guerra de
todos contra todos, que para Rosseau é o retrato da sociedade civil, devendo ser corrigida
através de um Contrato Social, por meio do qual os cidadãos renunciam a sua idiotia para
viverem em uma República, a qual será pautada na lei da razão e na vontade geral.
Immanuel Kant, por sua vez, foi um filósofo moderno associado ao Iluminismo, e,
portanto, à razão. Kant acreditava que a razão seria o principal meio emancipador do homem,
e apenas através dela seria possível atingir a plena liberdade, pois o ser humano, ao se descobrir
enquanto um ser racional, descobre-se livre. Daí depreende-se a noção de justo, que seria toda
ação que não constitui um obstáculo à liberdade do arbítrio de todos. Nesse sentido, Kant
defenderá uma perspectiva do direito racionalista, enxergando-o como uma força coatora forte
o bastante para anular esses obstáculos e capaz de adequar a conduta àquilo que a norma
prescreve. Uma vez adequada, os homens estarão livres e vivendo de acordo com a sua própria
vontade, pois esta consiste em nada mais do que na submissão à lei de todos.
Merece citação, ainda, o “imperativo categórico” kantiano, que consiste basicamente
em um princípio de reciprocidade, agir de forma tal que a ação possa ser considerada como lei
universal. Em outras palavras, devemos agir com os outros como aceitaríamos que agissem
conosco.
Já Hegel foi um filósofo alemão de grande influência do século XIX, considerado como
parte do movimento idealista pós-kantiano. Embora grande apreciador da obra de Kant, Hegel
acreditava na existência de lacunas na obra de seu compatriota, sobretudo no que tange a
ausência de considerações quanto a formação da consciência humana. Hegel entendia que essa
se dava a partir da interação com a realidade e o contexto em que se está inserido. Em suma,
acreditava na história como grande influenciador na racionalização humana e na constituição
da subjetividade. A partir das experiências negativas, ele dizia, o homem seria capaz de
alcançar novas etapas de desenvolvimento, através da incorporação e reelaboração dessas
situações. Esse modo de pensar pautou seu idealismo histórico-dialético, que estabelecia o
homem como capaz de desenvolver a si mesmo, através das experiências adquiridas e de suas
próprias ideias.
Austin foi um estudioso inglês que, curiosamente, teve sua obra amplamente
reconhecida apenas depois de sua morte. Seu legado, em grande medida contido no livro The
Province of Jurisprudence Determined, pode ser concentrado em quatro pontos principais. O
primeiro deles consiste abordagem jurídica de reelaboração de conceitos, os quais
permaneciam, até então, praticamente imutáveis. Austin trouxe uma nova interpretação e
elucidou algumas questões, pautadas na sua própria visão do direito. Além disso, destacou-se
por elaborar uma teorização do direito “de cima para baixo”, ou seja, sua imposição pela força
por quem detinha o poder. Em terceiro lugar, separou o direito da moral, defendendo a
possibilidade de algo ser injusto, mas ainda assim ser direito. Por fim, pautou-se nessa visão
para apresentar sua teoria do comando, ligada à imposição de uma sanção àquele que
desrespeitar a norma jurídica.
Principal positivista jurídico do século XX para os países de língua inglesa, H.L.A.
Hart, assim como Kelsen, defendia a separação entre direito e moral. Em sua obra de mais
destaque, O conceito de direito, o autor propõe que, para compreender a ciência jurídica de
forma efetiva, é necessária uma distinção entre regras primárias e secundárias: aquelas
consistem basicamente em obrigações, enquanto as últimas são normas que facultam, atribuem,
criam e alteram direitos e liberdades e reconhecem outras normas válidas, ou seja, tratam das
normas primárias.
Além disso, Hart hipotetiza uma sociedade primitiva, na qual só existiriam regras
primárias, e a partir daí discorre sobre os problemas que surgiriam nesse contexto, quais sejam:
incerteza (dúvidas na aplicação das regras e ausência de uma autoridade competente para
solucioná-las), estática (demora no reconhecimento das regras), e ineficácia (poder de punição
difuso). Para o autor, assim, os “remédios” para os problemas das regras primárias são as regras
secundárias, respectivamente: normas de reconhecimento, normas de modificação e, por fim,
normas de julgamento. Com estas, supera-se uma qualidade de conjunto de normas e passa-se
a obter um sistema jurídico.
Lon Luvois Fuller, por sua vez, que travou discussões filosóficas com Hart, deve sua
fama à sua renomada obra O caso dos exploradores de caverna, ficção baseada em fatos reais
que discute impasses acerca do conceito de direito da interpretação jurídica. Nesse contexto,
Fuller se opõe a Hart ao rejeitar a separação entre direito e moral, defendida pelo último.
Suas reflexões sobre o positivismo são manifestadas de forma mais expressa na obra A
moralidade do direito, na qual apresenta oito propriedades - constituintes do que o autor chama
de “moralidade interna do direito” - que visam orientar, por meio de regras, as atitudes
humanas.
Já em 2012, a filosofia do direito recebe grande contribuição do australiano Jonathan
Crowe, que em sua importante obra Elucidação da tese do direito natural argumenta que o
direito é, indispensavelmente, uma forma de conduta racional. Isto é, toda norma que não tiver
como objeto uma conduta racional é, portanto, imperfeita no que se tratando de direito. Vale
ressaltar, ainda, que Crowe discorda de Fuller ao defender que, para que um sistema jurídico
falhe, não basta que apenas uma norma seja defeituosa, mas sim que seja um defeito total.
Merece destaque, ainda, a contribuição de Mark C. Murphy à filosofia do direito, um
dos principais estudiosos do jusnaturalismo na discussão contemporânea da área. Como tal,
afirma que o direito e a ação estão conectados por razões decisivas, ou seja, razoáveis. Assim,
argumenta-se que o direito é quem fornece a razão para a prática de ações que visam o bem
comum. Neste sentido, portanto, o direito pode ser visto como uma prática social.
Alexy vai defender uma ideia de justiça inerente ao direito. Para ele não pode haver
direito sem um objetivo justo que o guia. A manifestação desse objetivo é o que ele chama de
pretensão de correção. Essa pretensão pode ser vista de duas maneiras diferentes: na
perspectiva do observador externo que só se interessa pelo direito como fenômeno social; e na
perspectiva interna (participante), onde há um interesse por um resultado justo. Alexy vai
privilegiar em sua abordagem a perspectiva do participante, pois esta é a que sofre maior
impacto quando o direito se manifesta.
Crowe classifica Alexy como um jusnaturalista, pois ao tentar institucionalizar a razão
mediante princípios, ele estaria necessariamente estaria ligando uma normatividade moral ao
direito fático. Em sua teoria, Alexy explica como se dá essa relação, ao propor que a norma
formalmente articulada é o aspecto fático e o ideal de justiça que a guia é o aspecto crítico.
Para ele essa relação é fundamental para que a pretensão de correção seja atingida em seus dois
conteúdos: formal e moral. Normas que não tenham respaldo mínimo nos dois âmbitos seriam
defeituosas ou inválidas.
Raz, em sua linha positivista forte, vai fazer uma crítica a esta teoria ao dizer que o que
caracteriza o direito não é esta pretensão de correção, mas sim uma manifestação de autoridade.
Ou seja, por se pretender uma autoridade sobre os demais (tomando a linha de um fato social)
o direito soberanamente colocado ainda seria direito mesmo que fosse moralmente falho. Essa
discordância não é meramente sobre a inserção da moral no sistema jurídico, mas sim de uma
contraposição entre duas linhas fortemente opostas que discordam naquilo que caracteriza o
direito em si.
O texto ainda traz a discussão do limite máximo do direito entre Kelsen e Radbruch,
onde o primeiro afirma que a simples norma colocada sobre os outros é direito e o segundo
discorda, pois injustiça extrema não pode ser considerada direito. Alexy vai concordar com
Radbruch e oferecer os princípios como meio de garantia da justiça no direito. Diferente das
normas não são mandamentos definitivos para serem subsumidos, mas sim mandamentos de
otimização a serem ponderados em cada caso concreto.
Por fim, Alexy vai defender sua teoria elaborando um sistema jurídico para sua
aplicação: para ele o sistema jurídico erige uma pretensão de correção com o intuito de se
atualizar constantemente; essa pretensão é necessária para evitar o mero poder absoluto de
alguns; e o conteúdo dessa pretensão é a fundamentabilidade, tanto na norma quanto na moral.
Waluchow polemiza ao defender um controle de constitucionalidade judicial baseado
em uma carta de direitos. É amplamente criticado por sua teoria abrir brechas para
arbitrariedade judicial, todavia responde essas críticas ao afirmar que esse controle judicial não
parte da mera vontade do juiz, mas com uma consulta à moralidade comunitária.
Critica Hart por este não levar em conta os princípios. Afinal, como Dworkin já havia
manifestado, os princípios não existem para satisfazer a regra de reconhecimento Hartiana, mas
sim para suprir um ideal de justiça que a mera subsunção do fato a norma não necessariamente
cumpre. Com isso Waluchow vai concordar e defender uma aplicação do direito à luz da moral.
Raz vai tecer duras críticas à essa ideia, ao afirmar que tal introdução da moral vai
solapar a autoridade do direito. Afinal, na prática, essa introdução não fará com que o juiz
corrija o direito através de princípios morais, mas sim que ele tenha o poder de ignorar a norma
em detrimento de sua moralidade pessoal no caso concreto. Raz teoriza que o direito surge
justamente para que não tenhamos que recorrer a nossa moralidade e inserir nossa moralidade
no direito seria o caminho inverso do que queremos.
Waluchow vai rebater essa crítica ao afirmar que nossa moralidade pessoal não é
necessariamente a mesma moralidade que será aplicada no caso concreto. Por estar consagrada
em uma carta de direitos fundamentais é garantido que essa moral a ser aplicada passa por um
crivo social forte e não consegue se manifestar como um mero arbítrio.
Schauer vai defender um positivismo hartiano avesso aos princípios. Para ele a regra
de reconhecimento vai determinar aquilo que é válido enquanto direito. Justifica isso por três
perspectivas: do ponto de vista conceitual o direito deve se diferenciar de outras normas (como
a moralidade); do ponto de vista descritivo o direito realmente é um domínio limitado de
normas; e do ponto de vista normativo, as normas visam estabelecer regras e evitar erros que a
moralidade traria. Neste último reside a maior parte de sua teoria e sua maior contribuição.
Schauer vai focar nas regras prescritivas e defini-las generalizações simplificadas de
considerações normativas mais profundas. Em outras palavras, uma resistência entre um
predicado fático e sua justificação subjacente.
Para ele, quando instituímos uma regra temos um motivo maior para cria-la e esse
motivo que define o conteúdo fático dessa norma. No exemplo de placas proibindo a entrada
de cães em restaurantes, a justificação do dono não é um preconceito contra cães, mas sim uma
tentativa de criar um ambiente tranquilo para os clientes.
Schauer vai dizer que essas regras costumam ter problemas de sobreinclusão e
subinclusão. A primeira quando abarcam mais do que deveria e a segunda quando abarca
menos. Continuando no exemplo supracitado, a regra do restaurante sobreincluiu os cães guias,
que não necessariamente causariam problemas, mas foram proibidos. Da mesma maneira ela
subincluiu pessoas bêbadas, que causariam problemas mas não estão proibidas de entrar.
Ambas as inclusões, a mais ou a menos, não estavam contidas na justificação, mas derivam
dessa regra.
Todavia, Schauer vai falar que mesmo com esses problemas ainda escolhemos as regras,
pois elas servem para afastar o erro dos magistrados. Assim, abrimos mão de decisões perfeitas
para garantir o máximo de acerto possível dentro de um sistema falho.
Por fim, Feinberg vai tratar dos limites e justificações da aplicação da lei penal na vida
das pessoas por parte do Estado. Para ele existem quatro motivos que poderiam justificar essa
aplicação: o dano, onde uma pessoa foi lesada por outra e busca reparação e prevenção; ofensa,
quando não há um dano de fato, mas a pessoa ofendida exige a presença da seara penal;
paternalismo, quando a pessoa não pode ser confiada para cuidar de si mesma e o Estado
tomaria essa responsabilidade; e moralismo legal, onde o Estado vem para garantir que a moral
de uma comunidade não seja abalada.
Feinberg segue a justificativa liberal de John Stuart Mill ao admitir que o dano justifica
a entrada do direito penal e estende esse entendimento para as ofensas também, coisa que Mill
não admitia. Para isso estabelece critérios de ponderação da ofensa, garantindo assim que não
haja uma desproporção entre a ação do Estado e a ofensa cometida.

3. Conclusão

Inferimos, pois, que essa vasta gama de autores, cujo estudo nos foi possibilitado e, em
grande medida, facilitado pela excelente obra de Danilo Marcondes Filho, trouxe grande
impacto para nosso pensamento crítico acerca de questões filosóficas, políticas e jurídicas,
além de por vezes demonstrar o quão tênue é a linha que separa tais ciências. Além disso, essa
diversidade de pensadores, e por conseguinte, de vertentes defendidas, contribuiu na
consolidação de nosso entendimento e posicionamento sobre temáticas centrais do direito
moderno, sobretudo no que tange ao embate entre o direito natural e o direito positivo,
discussão de notável relevância ainda nos dias atuais.

BIBLIOGRAFIA:
SOUZA FILHO, Danilo Marcondes de. Textos básicos de Filosofia do Direito. Rio de
Janeiro: Zahar, 2015.

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