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ALUÍZIO B O R É M

Engenheiro Agrónomo, M. Sc. Ph. D.

GLAUCO VIEIRA MIRANDA


Engenheiro Agrónomo, M. S c , D. Sc.

Universidade Federal de Viçosa


Reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares

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V EdiTORA

UFV
Universitárias de América Latina y el Caribe
Universidade Federal de Viçosa
2013
© 1997 by Aluízio Borém
1» edição: 1997; 2 edição: 1998; 3 edição; 2 0 0 1
a a

4 edição: 2005 — com a inclusão do segundo autor


a

l reimpressão: 2007
f l

5 edição: 2009; 6 edição: 2013


a a

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Borém, Aluízio, 1959-


B731m Melhoramento de p l a n t a s / Aluízio Borém, Glauco V i e i r a
2013 M i r a n d a . 6. ed. r e v . e a m p l . - Viçosa, M G : E d . U F V , 2 0 1 3 .
523 p. : i l . ; 22 c m .

I S B N 978-85-7269-466-7

I n c l u i bibliografia.

1. P l a n t a s - Melhoramento genético. 2. Interação genótipo-


ambiente. 3. Biotecnologia vegetal. I . M i r a n d a , Glauco V i e i r a , 1967-.
I I . Título.

C D D 22. ed. 631.53


C a p a : Miro S a r a i v a

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"O melhoramento de plantas exige que os procedimentos
José Roberto da S i l v a L a n a
sejam cada vez mais rápidos, com menores custos e cada vez
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mais eficientes, A t u a l m e n t e , o m e l h o r a m e n t o é a r t e , ciência
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2 z
AGRADECIMENTOS

Ao Professor Tuneo Sediyama, da Universidade


F e d e r a l de Viçosa, por ter-me iniciado no estudo e n a prática
de melhoramento de plantas (Borém).
Ao Professor Walter R . F e h r , da Universidade
E s t a d u a l de I o w a - E U A , pelos ensinamentos e pela visão
dinâmica do melhoramento de plantas moderno e ousado
(Borém).
Ao Professor Donald C. Rasmusson, da Universidade
de M i n n e s o t a - E U A , pela visão prática, contextualizada e
racional do desenvolvimento de cultivares (Borém).
Ao Professor Clibas V i e i r a , da U F V (in memoriam),
eterno Mestre, pelos ensinamentos (Borém e Glauco).
Ao D r . Plínio I t a m a r de Mello do Souza e à equipe de
Me-lhoramento de Soja d a E M B R A P A / C P A C - 1989/1990
(Glauco).
Aos meus estudantes de graduação e pós-graduação,
em especial ao Leandro Vagno de Souza (Glauco).
Aos membros do Programa Milho U F V , em especial
aos Professores João Carlos Cardoso Galvão e José Roberto
A s s i s De B e m (Glauco).
SUMÁRIO

Prefácio à 6 Edição
a 15
Prefácio à I Edição
a 17
Introdução 19

1 Desafios d a Produção Agrícola 21


Referências 24

2 Importância do M e l h o r a m e n t o de Plantai* 27
Produtividade 30
Resistência às doenças 32
Resistência a insetos 33
Qualidade nutricional 33
Tolerância às condições adversas de clima e HOID 34
Introdução de caracteres exóticos 34
P l a n t a s ornamentais 35
Biocombustíveis 35
Melhoramento em algumas espóciíw agronómicas 36
Milho 36
Soja 37
Feijão 37
Arroz • 38
Aveia 39
Algodão 40
Girassol 40
Maçã 40
Referências 41
\

3 Planejamento do P r o g r a m a de Melhoramento 43 A lgumas sugestões práticas p a r a a interação genótipo x


A oportunidade de negócios com a pequena empresa de ambiente 141
melhoramento de plantas 47 Referências 141
Referências 49
10 Adaptabilidade e E s t a b i l i d a d e de Comportamento 145
4 P r o c e s s o s do P r o g r a m a de M e l h o r a m e n t o 51 Homeostase 146
Referências 54 Tipos de estabilidade 148
Métodos de análise da estabilidade 149
5 S i s t e m a s R e p r o d u t i v o s d a s Espécies C u l t i v a d a s 56 E s t i m a n d o a adaptabilidade e estabilidade 159
Reprodução sexual 57 Melhoramento visando à estabilidade 160
Reprodução a s s e x u a i 61 Referências 161
Referências 63
11 Seleção de G e n i t o r e s 165
6 R e c u r s o s Genéticos 65 Tipos de cruzamento • 166
Centros de diversidade das plantas cultivadas 66 Importância d a seleção de genitores 168
Uso e manutenção de germoplasma 72 Genitores potenciais 169
Referências 84 Filosofias de seleção de genitores 171
Métodos de seleção de genitores 173
7 V a r i a b i l i d a d e Genética de novo 86
Referências 182
Mutações 86
Agentes mutagênicos 88 12 C u l t i v a r e s 187
Indução de mutações no melhoramento de plantas 91 Tipos de cultivares 188
Transformação gênica 92 Referências 194
Variação somaclonal 94
Referências 95 13 Introdução de G e r m o p l a s m a 196
Uso da introdução de germoplnsma 197
8 Herdabilidade 98 Referências 199
Componentes da herdabilidade 98
Fatores que afetam a herdabilidade 101 14 Seleção no M e l h o r a m e n t o do P l a n t a s 200
Métodos p a r a estimação da herdabilidade 105 T e o r i a das l i n h a s pur as 201
Considerações finais 123 Seleção genealógica 203
Referências 128 Seleção m a s s a l 205
Referências ^08
9 Interação Genótipo x A m b i e n t e 131
Principais causas da interação genótipo x ambiente 134
Uso das informações sobre a interação genótipo x ambiente.... 135
15 Hibridação no M e l h o r a m e n t o de P l a n t a s 211 Retrocruzamentos em espécies alógamas 293
Tipos de população 214 Considerações finais 293
Número de cruzamentos 217 Referências 294
Referências 220
21 Populações Alógamas 298
16 Método d a População 223 Definição de populações alógamas 298
Descrição do método 224 Equilíbrio de Hardy-Weinberg 301
Princípio do método da população 227 E s t r u t u r a s de populações alógamas 308
Modificações no método d a população 229 Comparação de e s t r u t u r a genética 309
Referências 234 Seleção 310
Referências 316
17 Método Genealógico 237
Descrição do método 238 22 Seleção R e c o r r e n t e 317
Princípio do método genealógico 240 Métodos de seleção recorrente 320
Seleção durante as gerações segregantes 241 Métodos intrapopulacionais 324
Modificações no método genealógico 246 Referências 341
Considerações finais 255
23 E n d o g a m i a e H e t e r o s e 344
Referências 255
Endogamia 344
18 Método D e s c e n d e n t e de U m a Única S e m e n t e 257 Heterose 350
Descrição do método -. 260 Referências 363
Princípios do método S S D 261
24 C u l t i v a r e s Híbridos 3 6 7

Seleção durante as gerações segregantes 262


Híbridos comerciais 370
Modificações no método S S D 263
Capacidade de combinação 372
Considerações finais 265
Topcross 373
Referências 266
Escolha dos testadores 373
19 T e s t e de Geração P r e c o c e 268 Predição de comportamento de h í h r i r i o H duplos 376
Descrição do teste 269 Produção comercial de híbridoH 378
Referências 272 Tecnologia S P T (Seed Production Tecnology) 380
Referências 381
20 Método dos R e t r o c r u z a m e n t o s 274
T e o r i a dos retrocruzamentos 276 25 M e l h o r a m e n t o V i s a n d o à Reaistência a Doenças 383
Estratégias para transferência de várias características 285 Fontes de resistência 385
Potencial de sucesso do método 287 Interação patógeno x hospedeiro 388
Retrocruzamentos p a r a introgressão de germoplasma 288 Base molecular da interação patógeno x hospedeiro 390
Procedimentos 288 Raças fisiológicas 396
Tipos de resistência 398
Estratégias de melhoramento 403
Referências 405

26 M e l h o r a m e n t o p o r Meio de Ideótipos 413 PREFÁCIO À 6 EDIÇÃO 9

Fundamentos para o melhoramento por meio de ideótipos ...414


Procedimento 415 O melhoramento de plantas vem adicionando novas
Fatores que l i m i t a m o progresso genético 417 técnicas e conceitos da agricultura sustentável aos
Ideótipo de trigo 419 tradicionais métodos de seleção praticados nos últimos 100
Ideótipo de milho 421 anos e que foram responsáveis p a r a quo a s previsões
Ideótipo de feijoeiro 423 catastróficas de M a l t h u s não se realizassem.
Ideótipo de cevada 423 A s novas técnicas de melhoramento gonótico estão
Referências 426 relacionadas ao uso da biotecnologia, como OH marcadores
moleculares, o sequenciamento de D N A , a e n g e n h a r i a
27 M e l h o r a m e n t o de Espécies A s s e x u a d a m e n t e genética, os transgênicos, o fluxo gênico, a bioHHugurança,
Propagadas 430 entre outros. E s s e s assuntos são tratadon no livro do forma
Referências 435 simples e objetiva p a r a os diversos leitores.
A agricultura sustentável, bummdn nos aspectos
28 Produção de D i - H a p l o i d e s 437 económicos, sociais e agroecológicoH, oxucuta o p r i o r i z a os
Di-haploides no melhoramento de plantas 440 diversos aspectos da seleção de plnntUH associados com a
C u l t u r a de anteras 442 preservação do ambiente, da variabilidade genética e d a
Cruzamentos interespecíficos 444 interação com o homem e s u a s condições sociais, c u l t u r a i s e
Referências 446 económicas, tudo isso p a r a nu montar a distribuição de
riqueza e conhecimento, do forma ecologicamente
29 P e r s p e c t i v a s do M e l h o r a m e n t o de P l a n t a s 449 responsável.
I n i c i a t i v a p r i v a d a x setor público 452 Durante o preparo deste livro, tivemos cuidado especial
E m p r e s a s da i n i c i a t i v a p r i v a d a 453 com a apresentação dos fundamentos teóricos do melhoramento
Referências 457 de plantas e sua aplicação. A integração da teoria com os
aspectos práticos é essencial para o melhorista de sucesso.
30 R e g i s t r o e Proteção de C u l t i v a r e s 459
Assim, esta obra foi escrita com o objetivo de tornar acessíveis
Proteção de cultivares 465
os conhecimentos atualizados do melhoramento de plantas aos
Referências 470 estudantes de graduação em Agronomia e pós-graduação cm
Genética e Melhoramento, Fitotecnia e Fitopatologia, bem como
Glossário 473
aos profissionais das áreas de Melhoramento de Plantas e
Referências 523
Produção de Sementes. Além disso, extensa e atualizada
bibliografia foi incluída no final de cada capítulo, visando
estimular os leitores que desejarem aprofundar-se em qualquer
tópico abordado.
Escrevemos este livro como parte de nossa modesta
contribuição à formação intelectual daqueles que se dedicam
ao desenvolvimento de novos cultivares. Mesmo tendo sido PREFÁCIO À 1* EDIÇÃO
tarefa dura e desgastante, esta obra foi realizada com o (FOREWORD)
entusiasmo de u m melhorista, que, ao registrar u m cultivar,
pretende encontrar nele o produto do seu trabalho e s u a
contribuição para a melhoria do bem-estar da população. I take pleasure in writing the foreword for this plant
E s t a sexta edição foi acrescida de novos capítulos, vários breeding book because plant breeding offers outstanding
outros receberam acréscimos e muitos foram atualizados, à luz opportunities to contributo to the well being of mankind. T h e
de novos paradigmas dos cenários científico e económico. Além contribution to mankind comes about when new varieties of
disso, seis capítulos foram eliminados em razão de outras obras food, feed, and fiber crops are developed that increase
dos autores já abordarem, com mais detalhes, os seus productivity and reliability. Such varieties have become
conteúdos. available and are being grown by large as well as small
Esperamos que esta obra estimule os jovens farmers. Ultimately the improved performance benefits society
melhoristas e s i r v a de referência aos mais experientes n a tão as a whole. Furthermoro, good opportunities exist to increase
nobre e empolgante atividade de melhoramento de plantas. contributions i n the futuro through plant breeding. I n the
major crops many traits such as resistaneo to disease and
insects deserve moro attention, and in small acreage crops
plant breeding programs aro dosorving a groater offort.
Viçosa, janeiro de 2013.
D r . Borém*H first oxpoHuro to plant breeding w a s at
Universidade Federal do Viçosa whoru ho w a s inspired by
Borém e Glauco gifted teachers Huch as Drs. Tunuo Hodiyama a n d Clibas
V i e i r a (in memoriam), Ho subsoquontly studied a t two of the
largest and most prostigious plant breeding graduate
centers i n North America, i.e., at lowa State U n i v e r s i t y and
the U n i v e r s i t y of Minnesota. These programs are noted for
providing excellont in-depth coursos i n applied a n d basic
subjects a n d for a rich resoarch experience. A t these
institutions, D r . Borém had the benefit of associating w i t h
and taking coursos from such prominent plant
breeder/geneticists as Walter Fehr, A r n e l l Hallauer, a n d
Ronald Philips. I t w a s my ploasure to serve as h i s advisor
for h i s doctorate program at the U n i v e r s i t y of Minnesota,
T h i s book w a s w r i t t e n to provide a broad integrated
treatment of the subject of plant breeding a n d relies heavily
on information gleaned by D r . Borém during h i s study of
plant breeding at Iowa State U n i v e r s i t y a n d the U n i v e r s i t y
of Minnesota. F u n d a m e n t a l principies about plant breeding INTRODUÇÃO
and genetics, background information needed i n m a k i n g
plant breeding decisions a n d methods of breeding are O melhoramento de plantas é a mais valiosa
emphasized. Information from related fields of knowledge estratégia p a r a o aumento da produtividade de forma
such as plant pathology, plant physiology, agronomy, sustentável e ecologicamente equilibrada. Inicialmente e r a
experimental design, cytogenetics, quantitative a n d u m a arte, pois desde a época dos primeiros agricultores as
molecular genetics is incorporated i n selected chapters. T h e sementes dos tipos mais desejáveis e r a m separadas p a r a a
first several chapters provide introductory a n d background propagação da espécie. Atualmente, os vastos conhecimentos
information. Chapters 13 - 20 focus on selection a n d
científicos têm conduzido o melhorista a resultados
breeding methods. T h e later chapters, 2 1 - 27, concentrate
previsíveis, acompanhando a evolução tecnológica e
on special techniques a n d newer technologies.
contribuindo p a r a o bem-estar da humanidade.
The book is intended to be used by beginning and Estima-se que metade do incremento da produtividade
advanced students, as well as to serve as a reference for those das principais espécies agronómicas nos últimos 50 anos seja
interested i n independent study of plant breeding. Instructors atribuída ao melhoramento genético. Km face da crescente
using this book are encouraged to select specific chapters to preocupação com a ética ecológica e valorização da agricultura
meet classroom needs depending on the desired levei of sustentável, o melhorista assume ainda maior responsabilidade
instruction and the time available. Some readers w i l l benefit na elevação da produção mundial de alimentos, buscando
from the list of references that accompany each chapter. reduzir a quantidade dos insumoM utilizados.
F i n a l l y , I would l i k e to t h a n k D r . Borém for accepting O melhoramento do plantas é u m a ciência biológica, o
the challenge of w r i t i n g this book. I t is not a surprise t h a t he
que significa quo não oxuttom métodos únicos p a r a se
would undertake such a t a s k as D r . Borém w a s a n
atingirem objotivos específicos, ou seja, não há receita que
u n u s u a l l y attentive and h a r d working student.
possa sor generalizadamente prescrita para o desenvolvi-
mento do novos cultivares. O melhorista deve, de forma
crítica, avaliar cada situação e otimizar os recursos
disponíveis para alcançar os objetivos dentro da melhor
relação eusto-benofíeio.
O mercado atua] exige melhoristas ecléticos e dinâmicos
Donald C. R a s m u s s o n
e com afinidade para o trabalho em equipe; por isso, o
U n i v e r s i t y of M i n n e s o t a
melhorista moderno necessita de sólida formação em vasto e
inesgotável campo científico. Além disso, com as novas
tecnologias nas áreas de genética molecular, cultura de tecidos
e bioquímica, dentre outras, o melhorista do terceiro milénio
precisa estar apto para avaliar os novos recursos e adotar
aqueles que contribuirão para o aumento do ganho genético a
u m custo aceitável.

Aluízio Borém
Glauco V . M i r a n d a
Desafios da
Produção
Agrícola
r
]E perturbador saber que cerca de 840 milhões de
pessoas se encontram famintas ou subnutridas. São também
impressionantes os fatos do que a população mundial de 7,3
bilhões alcançará 9 bilhões no ano de 2050 e que a produção
agrícola precisa aumentar em 6 0 % p a r a atender a essa
demanda de alimentos em apenas ÍÍH anos. Isso significa a
quantidade adicional por ano de um bilhão de tonelada de
cereais e 200 milhões de toneladas de carne.
Muitos desafios tom que sor superados por todos os
atores do setor agrícola. Kntro esses desafios pode-se
destacar que o crescimento populacional tem ocorrido de
forma mais acelerada nos países em desenvolvimento que
não possuem ciência, tecnologia e recursos adequados para
atender a essas necessidades de mais alimentos; a área de
expansão agrícola é limitada, podendo ser aumentada em
apenas 5 % (69 milhões de hectares); o aumento da
produtividade agrícola precisa ser pelo menos o mesmo dos
últimos 5 0 anos, inclusive p a r a conter o preço dos alimentos,
22 Borém e Miranda Desafios da produção agrícola 23

restringindo ainda mais o acesso para os países em Importantes mudanças ambientais têm sido
desenvolvimento; a necessidade de produção de não observadas, como a diminuição da cobertura de gelo, o
alimentos concorre por área com alimentos; há a necessidade aumento do nível do mar e as alterações dos padrões
de aumentar a sustentabilidade da produção agrícola com climáticos. Essas mudanças podem influenciar não só as
melhor aproveitamento do uso da água, florestas e atividades humanas relacionadas à agricultura e
biodiversidade; por volta de 25% da área agricultável está povoamento de regiões, mas também aos ecossistemas
degradada; em muitos países há falta de água; e estão fazendo com que algumas espécies podem ser forçadas a sair
ocorrendo mudanças climáticas e eventos climáticos dos seus habitats com possibilidade de extinção enquanto
extremos. outras podem espalhar-se, invadindo outros ecossistemas.
A fome não é fato novo na história mundial. O risco de Os desafios da agricultura têm proporcionado
o crescimento populacional não ser acompanhado pelo oportunidades para um conjunto de ações públicas e técnicas
aumento da produção de alimentos foi estudado pelo de diferentes áreas para mitigar os efeitos, entre as quais:
economista inglês Thomas Robert Malthus (1768-1834) há melhores práticas agronómicas; inovações na pesquisa,
aproximadamente 200 anos. As ousadas previsões de ensino, extensão e infraestrutura; e medidas de redução de
Malthus não se concretizaram até o presente, em virtude do perda de alimentos e lixo. Como se poderá constatar, o
surgimento de novas fronteiras agrícolas e da inclusão de melhoramento de plantas é uma das ciências que têm
novas técnicas e insumos no sistema produtivo. A agricultura mostrado resultados para aumentar a produção e a
mecanizada, com uso de insumos e de novos cultivares, produtividade agrícola com a obtenção de novos cultivares
resultou em produtividade que Malthus não pôde prever. adaptados às diferentes necessidades locais, de ambiente e
Embora atualmente exista produção de alimentos em excesso mercado, aumentando a segurança alimentar local.
em vários países, diversas regiões do mundo ainda se
Podem-se formular algumas questões motivadoras
encontram subjugadas à fome e à desnutrição.
para serem respondidas pelos atuais e futuros melhoristas:
Devido aos efeitos potenciais na saúde humana, Como a produção de alimentos poderá ser aumentada em
economia e ambiente, outro fenómeno que está ocorrendo e quantidade suficiente para atender à demanda mundial?
pode levar a população humana a questionar diversas Como aumentar a segurança alimentar local em regiões com
atitudes em relação ao ambiente é o aquecimento global. A baixo índice de desenvolvimento humano? Como obter
temperatura média da superfície da Terra vem aumentando plantas com ótimo desempenho produtivo diante das
nos últimos 150 anos, e as prováveis causas para isso são as mudanças climáticas que estão ocorrendo e as que ocorrerão?
naturais e as provocadas pelo homem devido ao aumento de Como associar a viabilidade económica das culturas com o
gases de efeito estufa e outras alterações, como os maiores respeito ao ambiente e à justiça social? Como equilibrar as
usos de águas subterrâneas e de solo na agricultura relações entre agricultura, ambiente e homem? Como
intensiva com maior consumo energético e a poluição. No desenvolver cultivares para criar novas demandas pelo
Brasil, as principais causas da agricultura na emissão de consumidor ou para atender as existentes?
gases de efeito estufa são as queimadas.
24 Borérn e Miranda Desafios da produção agrícola 25

A partir dos próximos capítulos será apresentada a r^REY, K . J . Improving crop yields through plant breeding. [S.l.]:
ciência do melhoramento de plantas e os seus métodos que Amer. Soe. Agron. p. 15-57,1971. (Spec. Publ. 20).
estão contribuindo para mitigar a fome e a pobreza causada F R I T S C H - N E T O . R.; BORÉM, A, Melhoramento de plantas para
pela falta de alimentos e para disponibilizar mais alimentos, c o n d i ç ã o de estresses abióticos. 2012. Visconde do Rio Branco:
fibras, biocombustíveis, biofármacos, ornamentação e Suprema Editora. 240p.
despoluição ambiental para as próximas décadas. F R I T S C H - N E T O , R.; BORÉM, A. Melhoramento de plantas para
c o n d i ç ã o de estresses bióticos. 2011. Visconde do Rio Branco: Suprema
Referências Editora. 250p.
JOHNSON, V A . What makes a successful plant breeder? J . Agron. E d u c ,
BORÉM, A.; G U I D I C E , M.P. Benefícios sociais do melhoramento de plantas.
v. 10, p. 85-86, 1981.
Ciência Hoje, v. 28, p. 71-73, 2000.
JONES, M.J. Pointers to profitable wheat. [S.l.]: England Imperial
BORÉM. A.; GUIMARÃES, E.P.; FEDERIZZT, L.C.; TOLEDO, J . F . F . From
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Importância do melhoramento de plantas 27

evolucionário das espécies cultivadas. Com a descoberta da


reprodução sexual no reino vegetal, a hibridação entre
acessos contrastantes foi incorporada às técnicas de
melhoramento. Todavia, foram os clássicos experimentos de
Mendel que forneceram as bases para o entendimento e a
manipulação da hereditariedade, do melhoramento e do

Importância do desenvolvimento de cultivares. Muitos dos primeiros


melhoristas eram agricultores com aguçado instinto de

Melhoramento
observação, que, ao detectarem plantas atípicas no campo,
colhiam-nas para a obtenção de sementes realizando o
melhoramento como arte. Atualmente, o melhoramento de
de Plantas plantas é uma ciência que estabelece hipóteses e as avalia
pelo método científico com base no conhecimento em:
Genética: os conhecimentos dos princípios das
segregações gênicas e cromossômicas, do grau de parentesco
entre indivíduos e da identificação e expressão dos genes
uitas definições de melhoramento de plantas têm permitem a escolha dos mais eficientes métodos de
sido apresentadas por diferentes autores, como: i) melhoramento, bem como do tipo de cultivar a ser
melhoramento é a evolução conduzida pelo homem comercializado.
(VAVTLOV, 1935); ii) a adaptação genética das plantas a Biologia molecular: o conhecimento do DNA, RNA e
serviço do homem ( F R A N K E L , 1958); iii) um exercício de proteínas permitem identificar, construir e transferir o gene
exploração de sistemas genéticos das plantas (WILLIAMS, para diferentes organismos.
1964); iv) a ciência e arte da manipulação genética das
plantas para torná-las mais úteis ao homem ( A L L A R D , Bioquímica: o conhecimento das relações entre
1977); v) a aplicação de técnicas para se explorar o potencial enzimas, proteínas e outras moléculas permite a seleção de
genético das plantas (STOSKOPF et aL, 1993); vi) a arte, plantas com melhor qualidade nutricional ou sabor.
ciência e negócio de alteração genética das plantas para Fisiologia: a compreensão do processo de
benefício do homem (BERNARDO, 2002). crescimento e desenvolvimento das plantas facilita a seleção
A seleção de plantas, ou melhoramento, como arte, de tipos mais adaptáveis a diferentes latitudes, tipos de solos
vem sendo realizada desde os primórdios da agricultura, e clima.
quando os agricultores iniciaram a adaptação das plantas, Estatística: a avaliação do desempenho relativo de
selecionundo as espécies e variedades mais desejáveis. Esse centenas ou milhares de plantas geneticamente distintas só
melhoramento realizado de forma empírica resultou nas se tornou possível com o desenvolvimento de técnicas
primeiras mudanças alélicas dirigidas. Os resultados desses experimentais e de análises genético-estatísticas, que
esforços contribuíram de forma decisiva para o processo permitem afirmar, com dada probabilidade de certeza, que
28 Borém e Miranda Importância do melhoramento de plantas 29

determinados indivíduos são superiores geneticamente aos melhoramento de plantas é a forma mais ecologicamente
demais. responsável de se aumentar a produção de alimentos com a
Botânica: o conhecimento de botânica permite adaptação da planta ao ambiente e não do ambiente à
entender a anatomia, a taxonomia e o sistema reprodutivos planta. Com o aumento do potencial produtivo das espécies
das espécies e assim permitir que somente os indivíduos cultivadas, diminui-se a pressão por inclusão de novas áreas
superiores agronomicamente deixem descendentes. cultivadas no sistema produtivo.
Fitopatologia: o conhecimento da etiologia dos O melhoramento de plantas é uma atividade contínua
patógenos é fundamental para identificar possíveis porque a população global continua a crescer; as
resistências das plantas. circunstâncias naturais e económicas mudam constante-
mente; e as necessidades e as preferências do consumidor se
Entomologia: o conhecimento das relações praga-
hospedeiro-ambiente é fundamental para identificar a alteram. A continuidade dos programas de melhoramento de
resistência aos insetos. plantas é a única forma de assegurar que os cultivares
estejam prontamente disponíveis quando necessitados e de
Agronomia: o conhecimento da planta e de seu acordo com as mudanças climáticas ou comportamentais que
sistema produtivo e das demandas dos produtores, vêm ocorrem sutilmente através dos anos.
consumidores e indústria é fundamental para o
desenvolvimento de cultivares com alta aceitação. O melhoramento de plantas é o principal sustentáculo
para que a agricultura possa disponibilizar alimentos, fibras,
Dependendo do objetivo do melhoramento de plantas, energia e lazer para a sociedade. O melhoramento de plantas
outras ciências são fundamentais como citogenética, nutrição é a base para a alimentação humana, fornecendo frutas,
humana ou animal, ciência do solo, sem necessidade de o verduras, cereais e oleaginosas. Na alimentação animal,
melhorista ser especialista em todas elas, obviamente. A melhora as forrageiras que mantêm a produção de carnes,
maneira adotada, então, em vários programas de leite e ovos. Na energia, o melhoramento de plantas trabalha
melhoramento, para o domínio de diversas áreas, é o com muitas espécies fornecedoras de etanol e biodiesel. No
trabalho em equipes multidisciplinares. futuro breve, com os avanços científicos, o melhoramento de
Se tivesse sido realizado o melhoramento de plantas plantas produzirá alimentos funcionais (nutracêuticos) para
no último século, os cultivares disponíveis somente a manutenção da saúde humana e animal e espécies vegetais
suportariam a população de alguns milhões de pessoas e a para produção de fármacos e biopolímeros.
população mundial jamais teria atingido os 7,3 bilhões.
O melhoramento de plantas permite o desenvolvimento
O melhoramento de plantas integra os avanços na de cultivares resistentes ou tolerantes a pragas, doenças e a
ciência com as questões ambientais e sociais para obter estresses climáticos. Além disso, o desenvolvimento de
produtos que trazem benefícios ambientais, como despoluição cultivares adaptados a regiões específicas aumenta a segurança
de solo e melhoraria da qualidade da água e do ar e justiça alimentar local, tornando aquela localidade menos dependente
social com a produção de alimentos onde ocorre fome e de importação de alimentos principalmente em épocas de crises
permite que se reduza a pressão em recursos naturais. O mundiais.
30 Borém e Miranda Importância do melhoramento de plantas 31

O melhoramento de plantas permite que regiões ambiente. Nota-se, portanto, a importância do melhoramento
desenvolvam sistemas produtivos eficientes para competir na de plantas para aumentar a produção global de alimentos.
economia global, bem como para atender a nichos específicos de As estratégias para aumentar a produção de
mercado, proporcionando diferencial competitivo para países, alimentos são o aumento da produtividade ou da área
regiões ou empresas. Com o melhoramento de plantas pode-se cultivada.
criar novos produtos com valor agregado. O melhoramento de
O aumento da produtividade, considerado de máxima
plantas é a forma mais eficiente de levar diretamente as
importância, tem sido alcançado por meio de melhoria do
descobertas dos laboratórios de pesquisa para o agricultor,
manejo cultural, ou seja, com o uso de insumos e práticas
consumidor e demais integrantes dos arranjos produtivos por
agronómicas adequadas e, pelo uso de cultivares melhorados.
meio da comercialização de mudas e sementes melhorados.
E m diversas culturas, como soja, milho, arroz, trigo, algodão,
Esta ciência também viabiliza a produção de energia renovável,
entre outras, têm-se conseguido aumentos de produtividade
de alimentos seguros e de biofábricas com o surgimento de
anuais por volta de 2% nos últimos anos. No entanto, os
novos negócios.
recordes de produtividades em pequena escala ainda estão
De maneira geral, o melhoramento contribui para a muito distantes de serem atingidos em lavouras comerciais,
segurança alimentar, para a saúde e a nutrição da devido às dificuldades de manejos agronómicos em grandes
população, bem como cria oportunidades de agregação de áreas em relação às condições experimentais.
renda para as populações rurais, harmonizando a relação
Talvez a contribuição mais reconhecida do
agricultura/ambiente/homem.
melhoramento de plantas para aumentar a produtividade
O melhoramento de plantas tem sido conduzido com tenha sido realizada pelo melhorista americano Norman
alguns objetivos específicos, como: aumentar ou estabilizar a Ernest Borlaug, Prémio Nobel da Paz em 1970. Durante a
produtividade; aumentar a qualidade ou a quantidade de metade do século X X , Borlaug desenvolveu cultivares de
proteínas, óleos, vitaminas, minerais, conservação pós- trigos semianãos com alta capacidade produtiva no México,
colheita; obter cultivares resistentes às doenças e às pragas; Paquistão e índia. Como resultado, o México se tornou o
aumentar a tolerância às condições adversas de clima ou maior exportador de trigo em 1963 e de 1965 a 1970; a
solo; e introduzir caracteres exóticos, ou seja, características produção desta espécie dobrou no Paquistão e na índia,
inexistentes nas espécies, como a produção de biofármacos, garantindo a segurança alimentar local. Duas razões foram
resistência a herbicidas etc. apontadas para as produtividades recordes dos cultivares
semianãos de trigos: a maior eficiência fisiológica para
Produtividade absorver nitrogénio e a não apresentação do acamamento
típico das plantas sob elevadas doses de nitrogénio, que
A produtividade agrícola, de maneira geral, está em inviabiliza a colheita. Esses cultivares associados ao
função dn genética, do ambiente e da interação genética x aumento de produção foram os primeiros passos da
ambiente. O melhoramento de plantas trata de duas das "Revolução Verde" nos anos 1950. "Revolução Verde" é a
CIUIHUH da produtividade, a genética e a interação genética x terminologia usada para descrever a transformação
32 Borém e Miranda Importância do melhoramento de plantas 33

tecnológica da agricultura em muitos países em Resistência a insetos


desenvolvimento e que permitiu significativos aumentos na Um exemplo de sucesso no melhoramento de plantas
produção de alimentos. A expressão foi primeiramente usada para a resistência aos insetos são os cultivares transgênicos
em 1968 pelo Diretor da United States Agency for com o gene Bt (Bacillus thuringiensis). O primeiro cultivar
International Development (USAID) Willian Gaud. Com isso, transgênico Bt foi lançado em 1995 nos E U A , uma batata
o melhoramento de plantas anulou uma das mais temidas expressando a proteína cry3A para controle da broca
ameaças que pairavam sobre a humanidade no século XX: a (DATTA, 2007). Com isso, houve a redução de 40% do uso de
fome em massa devido à escassez de alimentos. inseticidas químicos nessa cultura. Posteriormente, o gene
foi introduzido em algodão e milho. E m 2011, 160 milhões de
Resistência às doenças hectares foram ocupados com cultivares geneticamente
modificados (GM) em diferentes países.
Uma das mais significativas contribuições dos
melhoristas de cevada foi à introdução do gene T, que confere
resistência vertical à ferrugem-do-colmo nos cultivares Qualidade nutricional
desenvolvidos nos últimos 50 anos. Novas raças virulentas do Aproximadamente três bilhões de pessoas sofrem com
patógeno Puccnia graminis Pers. f. sp. Tritici têm-se os efeitos da deficiência de micronutrientes porque não têm
desenvolvido esporadicamente, porém a cultura da cevada condições financeiras para adquirir carne vermelha, frango,
tem sido preservada de perdas económicas causadas por esse peixe, frutas, legumes e hortaliças em quantidades
patógeno nas últimas décadas, em virtude da resistência suficientes. As principais deficiências na população humana
conferida pelo gene T. são de ferro, vitamina A, iodo e zinco.
Outro exemplo é o caso da papaicultura no Havaí, O melhoramento de plantas contribui para reduzir
EUA, devido à virose mancha anelar ( Y E H et al., 1992). Com essa situação constrangedora, desenvolvendo cultivares que
a introdução dessa doença no Havaí, as plantações de mamão apresentem maior conteúdo de minerais e vitaminas de
papaia foram comprometidas devido à natureza epidêmica maneira sustentável e de baixo custo, alcançando as
que a virose assumiu, comprometendo a qualidade dos frutos populações com limitado acesso aos alimentos enriquecidos
e inviabilizando a papaicultura local. Não existem acessos com vitaminas e outros nutrientes.
resistentes a esta virose na própria espécie ou em espécies
Atualmente existe uma iniciativa internacional para
relacionadas. A solução a este desafio foi à introdução de um
se desenvolverem cultivares biofortificados que produzam
gene exótico à espécie, via biotecnologia, fazendo com que o
alimentos enriquecidos com vitaminas e micronutrientes,
mamão papaia se tornasse resistente. Fritsche-Neto e Borém
denominado Harvest Plus. Essa iniciativa tem desenvolvido
(2012) relatam muitos outros exemplos da contribuição do
cultivares biofortificados para atender às regiões mais
melhoramento no desenvolvimento de cultivares resistentes
afetadas pela deficiência nutricionais. As espécies
cm divormiH espécies.
priorizadas por esse projeto são feijão, mandioca, milho,
arroz, batata-doce e trigo.
34 Borém e Miranda Importância do melhoramento de plantas 35

Diversos outros projetos foram executados para a plantas abriu novas perspectivas para o melhoramento das
melhoria da qualidade nutricional. Por exemplo, o milho com plantas, tornando possível transferir genes entre espécies ou
alta qualidade proteica (QPM) que apresenta teores de géneros, disponibilizando novas características relacionadas
triptofano e lisina 33% acima do normalmente encontrado aos estresses bióticos ou abióticos (clima e solo). Os sistemas
nos cultivares de milho. de transformação para as principais espécies de interesse
Outro exemplo de cultivar com alta qualidade agrícola estão se tornando rotineiros em diversos
nutricional é o arroz Golden Rice, desenvolvido via laboratórios. Desde 1994, os Estados Unidos vêm plantando
cultivares transgênicos de diferentes espécies e com
biotecnologia e com elevado conteúdo de (3-caroteno, um
diferentes características. E m 2011, 29 países utilizavam
precursor da vitamina A.
esses cultivares, inclusive o Brasil, que já possui a segunda
maior área cultivada com OGMs.
Tolerância às condições adversas de clima e
solo Plantas ornamentais
O melhor exemplo da contribuição do melhoramento
de plantas na adaptação de uma espécie às condições O melhoramento de plantas tem atuado também na
adversas de clima ocorreu com a soja no Brasil. Na década de obtenção de plantas ornamentais e flores com resultados
1970, cultivares dessa espécie floresciam muito muito expressivos. Diversas espécies apresentam híbridos
precocemente quando plantada na região central do Brasil e com beleza e aroma exuberantes que cativam o consumidor.
consequentemente a produtividade de grãos era muito baixa Merecem destaques as flores de corte: rosas, crisântemos,
e economicamente inviável. Com esforços de diversas lírios, gipsófilas, gladíolos, antúrios, estrelítzias, gérberas,
instituições brasileiras de pesquisa, conseguiu-se heliconias e cravos; flores de vaso: violetas, prímulas,
gloxínias, orquídeas, bromélias, azáleas, begónias; arbustos
desenvolver variedades de soja com período juvenil longo, a
de vaso: fícus, difenbachias, asplênios, cipestres, dracenas,
partir de uma variedade exótica que não florescia
fitonias, espatifilos, peperônias, filodendros, samambaias e
precocemente. Essas variedades permitiram que a
singonium; e plantas para paisagismo: palmeiras,
sojicultura pudesse expandir para as regiões de baixa
primaveras, hibiscus, cicas, tuias, sálvias, tagetis, impatiens,
latitude no Brasil, sendo plantada hoje até nos estados no
gerânios, petúnias e cravinas.
extremo norte. Fritsche-Neto e Borém (2011) descrevem
inúmeros exemplos do melhoramento para estresses
abióticos. Biocombustíveis
O melhoramento de plantas tem obtido diversos
Introdução de caracteres exóticos cultivares para a produção de combustível a partir da cana-
O melhoramento convencional de plantas é de-açúcar, sorgo, beterraba açucareira, milho, sorgo sacarino,
frequentemente limitado às barreiras reprodutivas entre as soja e mamona. Novas espécies começaram a ser exploradas,
(«HpécioM. O desenvolvimento da transformação genética de como as palmáceas de um modo geral (dendê, macaúba) e o
pinhão-manso, todos no Brasil, além do miscantus nos E U A .
36 Borém e Miranda
Importância do melhoramento de plantas 37

No Brasil, diversos programas para bioenergia e para plantas e à melhoria no manejo cultural. Esse aumento
biocombustíveis estão sendo estabelecidos, principalmente somente ocorreu graças à interação do melhoramento com o
pela iniciativa privada. Com as espécies florestais, alguns manejo cultural, já que, individualmente, nenhuma das duas
programas de melhoramento vêm enfatizando alterações na ciências poderia obter tal sucesso. As características que
qualidade da madeira para torná-las mais eficientes para a proporcionaram tal incremento foram a tolerância aos
produção bioenergia: carvão, álcool etc. estresses abióticos (seca) e a resistência aos bióticos (doenças
e pragas); além disso, mudanças morfológicas e fisiológicas
Melhoramento em algumas espécies aumentaram a eficiência no crescimento, desenvolvimento e
agronómicas partição dos fotoassimilados. Algumas características não
foram alteradas em razão do interesse dos melhoristas em
No Brasil, diversas instituições têm-se dedicado ao
mantê-las, a exemplo do ciclo dos cultivares. Embora os
melhoramento genético das plantas, como as universidades, as
melhoristas sempre tenham objetivado o aumento da
empresas estaduais de pesquisa, a Empresa Brasileira de
produtividade de grãos, a necessidade de selecionar também
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e várias empresas privadas.
para adaptação geral, os híbridos passaram a apresentar
aumento de tolerância aos estresses abióticos. Duvick (2005)
Milho relatou progresso genético de 78 kg/ha/ano nos EUA.
O progresso genético obtido com a cultura do milho
nos E U A , de 1930 a 2000, foi avaliado por Duvick (2005). Os Soja
cultivares de polinização aberta foram os primeiros a serem
No final dos anos 1970, a cultura da soja possuía
utilizados e foram predominantes até 1930. A partir daí os
apenas 5 milhões de hectares cultivados no Brasil;
híbridos se tornaram mais utilizados pelos agricultores,
atualmente, devido ao melhoramento de plantas com a
ressaltando-se que até 1960 prevaleciam os híbridos duplos.
seleção de cultivares com período juvenil longo para
Na década de 1960, os híbridos simples modificados e os
florescimento, o cultivo da soja ocupa cerca de 27 milhões de
triplos cresceram em popularidade. De 1970 até 1995, os
hectares no País.
híbridos simples se tornaram quase totalidade dos cultivares
plantados. A partir de 1995, os híbridos simples transgênicos O progresso genético médio anual com a cultura da
se estabeleceram, com predomínio de híbridos Bt para a soja foi de 0,89% nos cultivares de ciclo precoce, de 0,38%) nos
resistência à broca europeia do milho (Ostrinia nubilalis de ciclo semiprecoce e de -0,28% nos de ciclo, médio no
Hubner). Associado à mudança dos tipos de híbridos, o período de 1985/86 a 1989/90, no Estado do Paraná. Tais
manejo cultural também foi bastante alterado, com destaque valores foram menores que os obtidos nos cultivares precoce
para a redução do espaçamento entre linhas de plantio, o e semiprecoce nos cinco anos anteriores.
aumento do número de plantas por hectare com
predominância de densidade populacional de cerca de 80 mil Feijão
e aumento na utilização de adubos. E m média, 50% do
aumento da produção de milho deveu-se ao melhoramento de O progresso genético para produtividade de grãos
para o melhoramento do feijoeiro foi estimado com quatro
38 Borém e Miranda Importância do melhoramento de plantas 39

ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU), na região da Houve acréscimo médio de dez dias no ciclo, no grupo de
depressão central do Rio Grande do Sul, durante os anos de cultivares precoce, e decréscimo de 13 dias no grupo tardio.
1998 a 2002 ( R I B E I R O et ai., 2003). O progresso genético E m Minas Gerais, o progresso genético do arroz de
para produtividade de grãos foi estimado em 0,88%, o que sequeiro (Oryza sativa L . ) foi avaliado no período de 1974/75
corresponde a 18,07 kg h a ano . Outras estimativas dos
1 1
a 1994/95, utilizando-se os dados dos ensaios comparativos
progressos genéticos para a produtividade de grãos do de cultivares e linhagens de arroz de sequeiro conduzidos no
feijoeiro estão registradas na literatura: 1,90% em Minas referido período. Os resultados mostraram que ocorreu o
Gerais ( A B R E U et aL, 1994), 1,21% em Santa Catarina progresso genético médio anual de 1,26% para os cultivares
( E L I A S et al., 1999), 0,74% no Rio Grande do Sul de ciclo precoce e de 3,37% para os de ciclo médio.
( A N T U N E S et al., 2000), 1,99% para o grupo preto e 1,02%
para o grupo de cores no P a r a n á (FONSECA JÚNIOR et al., Os cultivares híbridos de arroz se mostraram
1996a, b). importantes para os Estados Unidos da América e China na
última década, superando as variedades. Esses tipos de
Esses progressos genéticos representam um cultivares aumentaram a produtividade das lavouras em
incremento significativo no valor económico da cultura. pelo menos 20% e forneceram alimentos para mais de 70
Considerando o progresso genético médio estimado por milhões de chineses anualmente. Atualmente, mais de 50%
Abreu et al. (1994), de 17,46 kg h a ano , tem-se o
1 1
da área orizícola dos E U A e da China é plantada com
crescimento de 58,3 milhões de kg de grãos por ano, tendo híbridos. No Brasil, os híbridos de arroz começaram a ser
em vista a área plantada de 3,4 milhões de hectares. O preço comercializados a partir de 2003, porém ainda não possuem
médio recebido pelos agricultores, no período de 1990 a 1997, grande área de cultivo.
foi de R$ 0,79 k g (AGRIANUAL, 1998). Com isso, tem-se o
1

incremento na renda anual dos agricultores superior a R$ 43


milhões (VENCOVSKY; RAMALHO, 2000), só com a adoção
Aveia
dos novos cultivares. Os cultivares de aveia-branca {Avena sativa L . )
cultivados no, sul do Brasil até princípios da década de 1980
Arroz eram provenientes do Uruguai e da Argentina, apresentando
problemas de adaptação ao ambiente de cultivo. A partir dos
O progresso genético obtido pelo melhoramento anos 1970, programas de melhoramento começaram a
genético na cultura do arroz de terras altas no período de 1950 desenvolver suas próprias populações segregantes,
a 2001 foi avaliado em experimentos com 25 cultivares, possibilitando o lançamento em escala comercial de dezenas
desenvolvidos no período do estudo. Os progressos genéticos de cultivares. O progresso genético nos programas de
para a produtividade de grãos foram de 0,3 e 2,09% ao ano, melhoramento de aveia-branca do Brasil foi avaliado com
nos cultivares de ciclo precoce e tardio, respectivamente. A experimentos envolvendo 15 cultivares lançados em
altura média das plantas dos cultivares foi reduzida em 21 cm diferentes épocas. Os resultados obtidos indicaram progresso
no grupo precoce e em 38 cm no tardio, no período avaliado. genético de 44 kg h a ano para produtividade de grãos,
1 1

correspondendo a 22% em 40 anos.


40 Borém e Miranda Importância do melhoramento de plantas 41

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-1 -1

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condição de estresses bióticos. 2011. Visconde do Rio Branco: Suprema plantas, deve-se fazer seu planejamento. Uma das primeiras
Editora. 250p. etapas é a definição específica dos objetivos nos curto, médio
e longo prazos, o que facilitará o planejamento das etapas
POMPEU, A.S. Feijão. In: FURLANI, A.M.C.; VIEGAS, G.P. O
subsequentes e a sincronia com outras atividades associadas
melhoramento de plantas no Instituto Agronómico. São Paulo:
e tão importantes, como a produção de sementes dos
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1993. p. 111-156.
genitores ou dos híbridos; os ensaios de valor de cultivo e
R I B E I R O , N. S.; POSSEBON, S. B.; STORCK, L . Genetic gain in uso; as unidades de demonstração para os agricultores; e o
agronomic traits i n common bean breeding. Cienc. Rural. v. 33, n. 4, p. registro e proteção dos cultivares e lançamento comercial.
629-633, 2003.
Entre os objetivos mais comuns nos programas de
VENCOVSKY, R.; RAMALHO, M.A.P. Contribuição do melhoramento melhoramento estão o desenvolvimento de cultivares
genético de plantas no Brasil. I n : PATERNIANI, E . (Ed.). Agricultura adaptados a determinada região geográfica, desenvolvimento
brasileira e pesquisa agropecuária. Brasília: EMBRAPA, 2000. p. 57-89. de cultivares para determinado nicho de mercado, maior
Y E H , S.D.; J A N , F . J . ; CHIANG, C.H.; DOONG, T . J . ; C H E N , M.C.; tolerância às principais doenças da espécie, tolerância ao
CHUNG, P.H.; R A U , H . J . . Complete nucleotide sequence and genetic alumínio, melhor qualidade nutricional, precocidade de
organizntion of papaya ringspot virus RNA. Journal of General plantas etc.
ViroloRy, v. 73, p. 2531-2541, 1992.
Planejamento do programa de melhoramento 45
44 Borém e Miranda

conduzir um estudo preliminar para identificá-los. Deve-se,


Para o estabelecimento dos objetivos do
melhoramento de plantas, é necessário considerar todos os ainda, conhecer a herança das características em seleção e a
possíveis clientes, isto é, o produtor, a indústria e o influência do ambiente na expressão do genótipo.
consumidor. Por exemplo, a receptividade do novo cultivar de Alguns dos obstáculos que o melhorista enfrenta na
feijão pelo consumidor é mais importante do que a de um condução do programa de melhoramento incluem: recursos
cultivar de milho com finalidade de produzir grãos, porque económicos limitados, falta de área ou campos experimentais,
neste não há rejeição do consumidor quanto à cor do grão ou mudança nas normas e nos requerimentos para lançamento de
à qualidade de cozimento. novos cultivares e vantagem ou diferença de mercado dos
O programa de melhoramento deve apresentar cultivares em relação às outras empresas e que sejam
processos flexíveis para permitir ajustes para novos objetivos amplamente plantadas.
de acordo com novas oportunidades de mercado e para a Com base nos objetivos e nos recursos disponíveis, o
utilização de novas ferramentas tecnológicas que aumentam melhorista deve selecionar o germoplasma-elite para o
a eficiência de seleção de plantas superiores. Neste desenvolvimento do cultivar e, provavelmente, um
particular, é preciso ter senso crítico e antever as tendências germoplasma suplementar para ser utilizado como fonte de
de demanda para o futuro, uma vez que o tempo médio para variabilidade genética adicional. Neste germoplasma, devem-se
o desenvolvimento de um novo cultivar frequentemente é observar as características resistência às doenças, variabilidade
superior a cinco anos. Assim, por ocasião do planejamento do genética para ciclo, altura de planta, composição química dos
desenvolvimento do novo cultivar, precisa-se considerar que grãos, entre outras. Um germoplasma suplementar com essas
o produto deverá atender à demanda do mercado e que esta características em níveis compensadores em geral possui
pode ser diferente daquela do início do desenvolvimento do limitações quanto a uma ou mais características e, por isso,
cultivar. Se diversos objetivos forem estabelecidos, é deve ser manipulado separadamente do germoplasma
prudente classificá-los em níveis de prioridade. principal.
Antes de iniciar um programa de melhoramento, o No planejamento do programa, é necessário escolher
melhorista deve observar outros programas e visitar os locais para avaliação dos genótipos desenvolvidos. A
produtores de sementes e instituições de pesquisa, com o região de avaliação desses cultivares experimentais deve
objetivo de conhecer o germoplasma disponível. Também representar a área à qual o novo cultivar se destina. Para
uma revisão bibliográfica incluindo o levantamento de que seja avaliada a interação genótipo x ambiente, as
projetos correlatos, consulta de cultivares disponíveis no linhagens ou os híbridos experimentais devem ser avaliados
mercado e entrevistas com possíveis clientes pode resultar por mais de um ano e em diversas localidades.
em significativa economia de tempo e de esforços para quem Nas avaliações preliminares de produtividade e
planeja o programa de melhoramento de plantas. características agronómicas, quando o número das linhagens
Quando as informações sobre o modo de reprodução e ou híbridos experimentais é grande, a escolha de uma ou
a taxa de fecundação cruzada não estiverem disponíveis, duas localidades pode ser suficiente. Depois de a maioria das
como nos casos de espécies exóticas ou silvestres, deve-se linhagens inferiores ser eliminada, o melhorista deve elevar
46 Borém e Miranda Planejamento do programa de melhoramento 47

o número de localidades para teste. Para avaliação de anos agrícolas 1975/76 e 1976/77. Todavia, nos anos agrícolas
produtividade das linhagens ou híbridos experimentais no 1973/74 a 1976/77, essa linhagem foi superada pela U F V - 1
segundo ano, três ou quatro localidades podem ser em produção de grãos. E m 1979, ela foi lançada como UFV-3.
suficientes; nas avaliações finais, recomendam-se de cinco a As responsabilidades do melhorista não se encerram
sete, ou mais. com o lançamento do cultivar, pois ele ainda deve se envolver
Embora o custo no aumento do número de localidades na produção e manutenção da semente genética para sua
para teste seja significativamente maior que o do aumento do contínua distribuição.
número de repetições, só assim serão obtidas informações Antes do lançamento é obrigatório cadastrar o futuro
sobre a adaptabilidade das linhagens e híbridos cultivar no Registro de Cultivares do Ministério da
experimentais, a magnitude da interação genótipo x Agricultura, pois diversas exigências devem ser atendidas
ambiente e as exigências da lei que trata sobre o valor de como obter o Valor de Cultivo e Uso (VCU). Caso haja o
cultivo e uso de cada espécie. interesse na proteção de cultivares, os testes de
Os métodos de melhoramento têm sido exaustiva- Distinguibilidade, Homogeneidade e Estabilidade (testes de
mente comparados quanto ao progresso genético. Hallauer D H E ) devem ser realizados para a identificação dos
e Miranda (1988) relataram que os efeitos gênicos aditivos descritores do cultivar e o registro do mesmo no Serviço de
predominam sobre os efeitos epistáticos e de dominância Proteção de Cultivares do Ministério da Agricultura.
na maioria das espécies agronómicas e que todos os
métodos de melhoramento capitalizam tais efeitos. Esses
autores demonstraram que, frequentemente, a escolha do
A oportunidade de negócios com a pequena
método de melhoramento tem menor efeito no progresso
empresa de melhoramento de plantas
genético do que se estima. Por exemplo, as falhas Nos últimos anos, a quase totalidade dos programas
atribuídas ao método "espiga por fileira" em milho são, em de melhoramento de plantas em empresas ou instituições
geral, o resultado do uso inadequado dos delineamentos públicas que comercializam cultivares de espécies de alto
experimentais. U m a abordagem mais completa dos valor económico foi interrompida ou tem tido pequena
principais métodos de melhoramento será apresentada nos participação no mercado pela incapacidade do setor público
capítulos posteriores. de competir comercialmente com empresas de melhoramento
de plantas da iniciativa privada.
Na maioria das vezes, a decisão de lançar o cultivar
não é fácil. A situação mais comum é aquela em que o Os cultivares são comercializados por meio de suas
melhorista tem confiança na superioridade da linhagem ou sementes e mudas, e, partir daí, uma série de atividades é
híbrido experimental em diversos aspectos, mas tem dúvidas desencadeada e relacionada com atividades paralelas ao
em relação a outros. Por exemplo, a linhagem de soja U F V melhoramento que não necessariamente estão sob
72-4 superou as testemunhas U F V - 1 e Santa Rosa em responsabilidade do melhorista. No entanto, as atividades do
produtividade e qualidade de sementes nos ensaios melhoramento de plantas devem estar conectadas com todas as
experimentais conduzidos no norte de Minas Gerais, nos atividades relacionadas com a empresa de sementes ou mudas.
48 Borém e Miranda Planejamento do programa de melhoramento 49

O melhorista deve estar consciente de que está Para atingir o sucesso, comportamentos e ações
desenvolvendo cultivares ou planejando um programa de empreendedoras são imprescindíveis, como planejar, ter metas,
melhoramento, ou seja, uma parte das atividades da compromisso, persistência, buscar informações, ter exigência de
empresa de sementes ou melhoramento. qualidade e eficiência, ter iniciativa, ser autoconfiante u
Para programas de melhoramento que visam ao independente, ter rede de relações e correr riscos calculados.
competitivo mercado de sementes e mudas, deve-se entender
que o desenvolvimento de cultivares não é o suficiente para Referências
estabelecer uma empresa no mercado, pois existem muitas
informações que necessitam ser identificadas e ser ALLEN, F.L.; COMSTOCK, R.E.; RASMUSSON, D.C. Optimul
conhecidas ou estabelecidas, a saber: environments for yield testing. Crop Sei., v.18, p.747-751, 1978.

• Produção e registros legais de sementes de genitores em CIANZIO, S.R. Off-season nurseries enhance soybean breeding and
suas diferentes categorias e suas purezas genéticas. genetic programs. I n : S H I B L E S , R. (Ed.). World Soybean Conference,
v. 3, 1985. p. 329-336.
• Pesquisa de produção do híbrido ou da variedade.
COMSTOCK, R . E . Quantitative genetics and the design of breeding
• Produção comercial das sementes.
programs. I n : P O L L A C K , E . ; K E M P T H O R N E , O.; B A I L E Y , T . B . (Eds.).
• Parceria com empresas que detenham patentes de INTERNATIONAL CONFERENCE QUANT. GENET. M., 1977.
transgenes etc. Proceedings... [S.l.]: State University Press, 1977.
• Desenvolvimento do produto e de mercado para identificar F R E Y , K . J . The utility of hill plots in oat research. Euphytica, v. 14, p.196-
vantagens e desvantagens da interação do cultivar com o 208, 1965.
ambiente.
GARLAND, M.L.; F E H R , W.R. Selection for agronomic characters in hill
• Estratégias de comercialização, de marketing, de preços e and row plots of soybcans. Crop Sei., v. 21, p.591-595, 1981.
de distribuição de sementes.
G O U L D E N , C . H . Problems in plant selection. I n : B U R N E T T , R.C. (Ed.).
• Assistência pós-venda. INTERNATIONAL GENET. CONGRESS, 7.. 1939, Cambridge.
• Identificação dos concorrentes e suas vantagens e Proceedings... Cambridge: Cambridge University Press, 1939. p. 132-
desvantagens. 133.

• Identificação de fornecedores. G R A F I U S , J . E . Short cuts in plant breeding. Crop Sei., v. 5, p. 377, 1965.

• Todas as questões de gestão empresarial associadas ao H A L L A U E R , A.R.; MIRANDA, J . B . Quantitative genetics in maize
negócio. breeding. 2. ed. Ames: Iowa State University Press, 1988. 468 p.

Além disso, o empresário ou o melhorista proprietário do HOOGENBOOM, G.; W H I T E , J.W.; J O N E S , J.W.; BOOTE, K J . Beangro:
negócio precisa ter sólida formação técnico-científica e ser bom a process-oriented dry bean model with a versatile uscr interface. Agron.
gestor, tomar decisões, ter capacidade de planejar, controlar, J., v. 86, p. 182-190, 1994.
orientar e executar planos.
50 Borém e Miranda

HORNER. T. W.; F R E Y , K . J . Methods of determining natural áreas of


varietal recommendations. Agron. J . , v. 49, p.313-315,1957.
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Sons, 1988. p. 676.
P I X L E Y , K.V.; BJARNASON, M.S. Combining ability for yield and protein

Processos do
quality among modified-endosperm opaque-2 tropical maize inbreds. Crop
Sei., v. 33, p. 1229-1234, 1993.

Programa de
RASMUSSON, D.C. A plant breeder's experience with ideotype breeding.
Field Crops Res., v. 26, p. 191-200, 1991.

Melhoramento
RASMUSSON, D.C. Selection procedure based on cross and line
performance. Crop Sei., v. 31, p.1074-1075, 1991.
RASMUSSON, D.C.; L A M B E R T S , J.W. Plot types for preliminary yield
tests of barley. Crop S e i , v. 1, p. 419-420, 1961.
S P R A G U E , G.F. The challenge to agriculture. African Soils., v. 11, p. 23-
29, 1966.
SR1NIVASAN, G.; H E R R E R A , R. Microcomputer-based software system JD^eterminados os objetivos do programa de
to facilitate mechanical planting for agricultural experimenta. Agron. J . , melhoramento de plantas, é fundamental que os principais
v. 85, p.959-962, 1993. processos de melhoramento estejam estabelecidos e
S U B E R , C.W. Mating designs, field nursery layouts, and breeding records. coordenados com as outras atividades associadas com a
In: F E H R , W.R.; H A D L E Y , H . H . (Ed.). Hybridization of crop plants. produção de sementes das diferentes classes e com as leis de
Madison: Am. Soe, 1980. p. 83-104. comercialização de cultivares para que não seja atrasada a
comercialização de sementes.
WILCOX, J . R . Response of soybeans to end-trimming at various growth
stages. Crop Sei., v. 10, p. 555-557, 1970. É fundamental que o lançamento do novo cultivar seja
feito o mais rápido possível, porém não se devem dispensar
os anos necessários de ensaios de produtividade para
identificar a interação genótipo x ambiente.
Na Tabela 4.1 estão apresentados de maneira
simplificada os processos associados ao programa de
obtenção de milho híbrido para exemplificar a definição dos
processos. Para outras culturas, é necessária a adaptação de
algumas atividades. Esses processos são iniciados
anualmente.
52 Borém e Miranda Processos do programa de melhoramento de plantas 53

Tabela 4.1 - Processos para obtenção de híbridos de milho Algumas importantes atividades relacionadas com a
produção de sementes e o programa de melhoramento que
Estações Atividades de melhoramento
precisam ser realizadas simultaneamente são descritas na
Ano 1 - Inverno Autofecundação de plantas F i . Tabela 4.2.
Autofecundação de 1.000 plantas F 2 (So) com
Ano 1 - Verão
eliminação de plantas não sadias.
Tabela 4.2 - Atividades da produção de sementes de híbridos
Autofecundação de 500 plantas F 3 (Si) com
Ano 2 - Inverno Estação Atividades de p r o d u ç ã o de sementes
eliminação de plantas não sadias.
Cruzamento de 250 plantas F 4 (S2) com testador. Multiplicação de sementes das linhagens pela
Ano 2 - Verão Ano 4 - Inverno autofecundação de plantas S 5 selecionadas e
Autofecundação de plantas F 4 .
avaliação de pureza genética.
Ano 3 - Inverno Autofecundação de 250 plantas Fs (Sa).
Nova multiplicação de sementes das plantas S B
Avaliação dos 250 test crosses de F 4 .
Ano 3 - Verão selecionadas e avaliação de pureza genética e
Autofecundação de plantas Fe (S4).
Ano 4 - Verão potencialidade como genitora de híbridos e dias de
Cruzamentos entre as 10 linhagens F6 florescimento para sincronia entre linhagens
Ano 4 - Inverno
selecionadas no test cross. machas e fêmeas.
Avaliação dos 45 híbridos obtidos com as linhagens Multiplicação de sementes genéticas obtidas da
associadas em diversas localidades para 0 ano I do Ano 5 - Verão mistura de plantas homozigotas. Testes de D H E
Ano 4 — Verão ensaio de Valor de Cultivo e Uso (VCU). para proteção legal das linhagens, ano 1.
Informação dos ensaios de V C U ao Ministério da
Multiplicação de sementes básicas. Obtenção
Agricultura.
experimental de sementes do híbrido.
Avaliação dos 20 híbridos superiores do ano I de Ano 6 - Verão Determinação de rendimento de sementes para os
Ano 5 - Verão V C U . Ano 2 do V C U . Informação dos ensaios do diferentes tipos de peneira. Testes de D H E para
V C U ao Ministério da Agricultura. proteção legal das linhagens, ano 1.
Definição do pacote tecnológico para os híbridos Ano 7 - Verão Multiplicação de sementes certificadas.
superiores, como população e espaçamento de
Ano 8 - Verão Obtenção de sementes de híbridos comerciais.
plantas, adtibação de plantio e cobertura,
Ano 6 - Verão Lançamento comercial dos híbridos. Informe ao
fitotoxicidade de herbicidas e outros produtos.
Adaptabilidade e estabilidade comparativa com Ano 9 - Verão Zoneamento Agrícola da recomendação de plantio
híbridos do mercado. do novo híbrido.

Repetição dos processos anteriores e realização de


Ano 7 - Verão Nota-se que os processos são complexos e possuem
ensaios em fazendas na futura região de cultivo.
enorme quantidade de detalhes que precisam ser definidos
antes de realizados e podem demorar vários anos.
54 Borém e Miranda Pr o cessos do programa de melhoramento de plan tas 55

Referências RASMUSSON, D.C. A plant breeder's experience with ideotype breeding.


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varietal recommendations. Agron. J . , v. 49, p. 313-315, 1957.
J E N S E N , N.F. Plant breeding methodology. New York: John Wiley &
Sons, 1988. p. 676.
P I X L E Y , K.V.; BJARNASON, M.S. Combining ability for yield and protein
quality among modified-endosperm opaque-2 tropical maize inbreds. Crop
Sei., v. 33, p. 1229-1234, 1993.
Sistemas reprodutivos das espécies cultivadas 57

produtiva se beneficiam com sementes de qualidade genética


e fisiológica necessária para o sucesso de uma lavoura
comercial de grãos.
Os exemplos anteriores ilustram a importância do
sistema reprodutivo das espécies na definição do tipo do

Sistemas cultivar mais apropriado para cada caso ou situação: para a


soja, são as linhas puras ou linhagens homozigotas; para o

Reprodutivos das
milho, os híbridos; e para a cana-de-açúcar, os cultivares

5
clonais.

Espécies
O conhecimento das particularidades da polinização
da espécie que está sendo melhorada facilitará a produção de

Cultivadas
sementes híbridas para gerar variabilidade genética para a
seleção, a produção comercial de sementes, a escolha de
métodos de melhoramento aplicáveis à espécie e o tipo de
cultivar a ser comercializado ou disponibilizado aos
agricultores.

o modo de reprodução da espécie pode definir os Reprodução sexual


métodos de melhoramento que serão usados no
desenvolvimento dos cultivares e o tipo de cultivar. E baseada no processo meiótico de divisão celular, em
que o número de cromossomos das células reprodutivas é
Para algumas espécies, os cultivares podem ser reduzido à metade para formar os gâmetas: oosfera e grãos
propagados sem alteração de sua constituição genética, como de pólen. O processo meiótico encontra-se detalhadamente
a soja e a cana-de-açúcar. Nesses casos, os direitos de descrito na literatura de biologia geral e citologia.
melhorista, protegidos pela Lei 9.456, de 25 de abril de 1997,
podem não ser respeitados e ocorrer prejuízos para todos na A divisão meiótica é de fundamental importância para
cadeia produtiva com a produção de sementes não a geração de variabilidade genética por meio da divisão
certificadas ou não fiscalizadas. reducional e independente dos cromossomos e dos crossing
over. O número de gâmetas possíveis com n pares de
E m espécies em que híbridos são comercializados, cromossomos é dado por 2". Durante a fase do paquíteno, na
como milho, girassol, sorgo, arroz, tomate, entre outros, a divisão meiótica, os cromossomos homólogos pareados trocam
produção dos híbridos somente pode ser realizada pelos partes entre si, aumentando consideravelmente a
cruzamentos dos genitores que dão origem ao híbrido; dessa variabilidade genética. Diversos autores classificam as
forma, não é possível a multiplicação de sementes por espécies cultivadas que se reproduzem por via sexual em três
terceiros. Assim, o direito de melhorista e todos da cadeia grupos: autógamas, alógamas e autógamas com frequente
58 Barém e Miranda Sistemas reprodutivos das espécies cultivadas 59

alogamia. Essa classificação não é perfeita, uma vez que as viabilizar a produção de híbridos por meio da esterilidade
espécies cultivadas apresentam grande variação na taxa de masculina, como ocorre no arroz e tomate. Na grande maioria
autofecundação. das espécies autógamas, não é possível ter cultivares híbridos
pela inviabilidade económica de obter sementes com baixo custo
Espécies autógamas e em quantidade suficiente para o plantio de grandes áreas.

A autopolinização, que é a transferência do pólen de


uma antera para o estigma da mesma flor ou de outra flor da Tabela 5.1 - Algumas espécies autógamas de importância
mesma planta, resulta na ausência de incompatibilidade em económica
autofecundação.
Alface Berinjela Guar Pêssego
Diversos fenómenos podem favorecer a autopoli-
Amendoim Cevada Lentilha Soja
nização, e o mais clássico é a cleistogamia, na qual a
polinização se dá antes da antese. Um exemplo típico de Arroz Crotalaria Linho Tomate
cleistogamia ocorre na soja, quando os grãos de pólen Aveia Ervilha Mucuna Trigo
atingem a maturidade e polinizam o estigma antes da
Batata Feijão Nectarina
abertura do botão floral. A autogamia é também favorecida
por outros fenómenos, como estigma e estames envoltos por
estruturas florais. Espécies alógamas
Uma pequena taxa de alogamia pode ocorrer nas O número de espécies alógamas é superior ao de espécies
espécies autógamas em razão da atividade de insetos autógamas. Isso pode ser entendido sob a perspectiva da
visitando flores de diferentes plantas. Essa taxa de evolução e da domesticação das espécies pelo homem.
fecundação cruzada é, geralmente, inferior a 1 % no caso da Diversos mecanismos podem prevenir a autogamia ou
soja. Variações nas condições ambientais também podem favorecer a alogamia. O caso mais clássico é o da dioicia, em
afetar a taxa de alogamia de forma expressiva. que alguns indivíduos produzem apenas flores masculinas e
As espécies autógamas são constituídas por uma outros, somente flores femininas, como a palma, o mamão, o
mistura de linhas homozigotas. Mesmo quando a fecundação espinafre e a tâmara. Estas espécies se reproduzem
cruzada ocorre na população, a heterozigose desaparece com exclusivamente por alogamia, à semelhança dos animais.
as sucessivas autofecundações. Há evidências evolucionárias Outros mecanismos, como a monoicia, autoincompatibilidade,
de que as espécies autógamas se originaram de ancestrais protandria, protoginia e obstrução mecânica da autopoli-
alógamos (JAIN, 1976). Uma lista de algumas espécies nização, favorecem a fecundação cruzada.
autógamas é apresentada na Tabela 5 . 1 . Quando o vento é o agente de polinização, como ocorre
Os mais comuns cultivares de espécies autógamas são no milho, os grãos de pólen são em geral abundantes. Por
as linhagens puras ou homozigotas. Deve-se considerar que, exemplo, um pendão de milho produz cerca de 2 5 milhões de
apesar de a espécie ser autógama, em algumas delas pode-se grãos de pólen, que podem percorrer distâncias superiores n
60 Borém e Miranda Sistemas reprodutivos das espécies cultivadas 61

100 m em condições normais de vento. Entretanto, mais de autógamas e das alógamas, estabelecendo-se como um grupo
90% do pólen de milho é depositado a uma distância de até à parte. Essas espécies em geral não apresentam perda de
5 m da sua origem. Essa espécie apresenta uma taxa de vigor com a endogamia.
alogamia de aproximadamente 95%. Uma lista parcial das espécies autógamas com
Ao contrário das espécies autógamas, as populações frequente alogamia é apresentada na Tabela 5.3.
de espécies alógamas são caracterizadas pela grande
heterogeneidade. Cada indivíduo na população é altamente
Tabela 5.3 - Algumas espécies autógamas com frequente
heterozigótico e distinto dos demais. As populações
alogamia
naturais alógamas são consideradas mais flexíveis, por
gradativamente otimizarem sua frequência gênica para o Espécie T a x a de Alogamia
ambiente onde são cultivadas. Outro aspecto distinto das
(%)
alógamas é a significativa perda de vigor com a
endogamia. Uma lista de algumas espécies alógamas é Algodão 5 a 50
apresentada na Tabela 5.2. Berinjela 0a48

E m espécies alógamas, o tipo de cultivar mais Canola 0a30


comum é o híbrido; no entanto, outros tipos também são Fava >25
viáveis, como os cultivares de polinização aberta.
Quiabo 4 a 19

Sorgo 6
Tabela 5.2 - Algumas espécies alógamas de importância
económica
Os métodos de melhoramento utilizados em espécies
Abacate Cana-de-açúcar Mamão autógamas com frequente alogamia não podem ser
Abóbora Cebola Mamona classificados facilmente, pois variam de acordo com a espécie.
Alfafa Cenoura Mandioca Os cultivares mais comuns para espécies autógamas
Batata-doce Centeio Manga com frequente alogamia são híbridos ou populações de
polinização aberta.
Beterraba Eucalipto Milho
Brócolis Goiaba Pêra
Reprodução assexuai
Cacau Maçã Uva
Algumas espécies cultivadas são perpetuadas por
propagação vegetativa, por causa da baixa produção de
Espécies autógamas com frequente alogamia sementes ou da manifestação de variabilidade genética
Algumas espécies apresentam a taxa natural de indesejável quando multiplicadas por sementes. E m outras
fecundação cruzada intermediária em relação às das espécies
62 Borém e Miranda Sistemas reprodutivos das espécies cultivadas 63

espécies, as sementes são formadas sem a sequência normal Tabela 5.5 - Frequência de utilização de alguns métodos de
da gametogênese e fecundação. Nesse caso, as sementes melhoramento de espécies autógamas, alógamas e
resultam de reprodução assexuai, denominada apomixia, de reprodução assexuai
como ocorre com os citros. Método Espécie Espécie Reprodução
A reprodução assexuai pode ocorrer por intermédio A u toga ma Alógama Assexuada
de bulbos, ramas, tubérculos, rizomas, folhas e caules, I n t r o d u ç ã o de plantas Rara Rara Frequente
além da cultura de tecidos. U m grupo de plantas
Seleção m assai Rara Frequente Rara
originárias de uma única planta, por reprodução
assexuada, constitui um clone. Plantas do mesmo clone Genealógico Frequente Frequente Rara
são idênticas entre si e à planta que lhes deu origem. A SSD Frequente Ocasional Rara
reprodução assexuada pode facilitar o trabalho do Frequente Ocasional Rara
Retrocruzamentos
melhorista, pois, identificado um tipo superior, este pode
Seleção recorrente Ocasional Frequente Rara
ser perpetuado, mantendo a sua identidade genética.
População Ocasional Rara Rara
Algumas espécies de reprodução assexuai são
apresentadas na Tabela 5.4. Mutações Ocasional Rara Ocasional

Tabela 5.4 - Algumas espécies de reprodução assexuai de Referências


importância económica BASHAW, E . C . Apomixis and its application in crop improvement. In:
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p. 312-317, 1993.
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melhoramento no desenvolvimento de cultivares de espécies American Society of Agronomy, 1980. p. 765.
autógamas, alógamas e de reprodução assexuada está listada FRANKEL, R. Pollination mechanisms, reproduction and plant
na Tabela 5.5. Conforme essa tabela, embora a maioria dos breeding. New York: Springer-Verlag, 1977.
métodos possa ser utilizada nos três grupos de plantas, FRANKEL, R.; GALUN, E . Pollination mechanisms, reproduction, and
plant breeding. Berlin: Springer-Verlag, 1977. v. 2. (Monographs on
alguns deles são mais frequentemente usados em um grupo theoretical and applied genetics).
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336,1992. descoberta do Novo Mundo e a consequente
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Reinhold, 1966. cevada destacam-se na Alemanha e em outros países
VASIL, I . K The newbiology of pollen. Naturwiss, v. 60, p. 247-253,1973. europeus e, no entanto, s ã o o r i g i n á r i a s de outras n a ç õ e s .
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W E I S , L M . , HERMANUTZ, L . A . Pollination dynamics of artic dwarf birch
{Betula glandulosa; Betulaceae) and its role i n the loss of seed production. melhorista; sem ela, n ã o s e r i a p o s s í v e l o melhoramento de
Am. J . Bot., v. 80, p. 1021-1027, 1993. plantas. Cabe ao melhorista determinar a p r o p o r ç ã o da a ç ã o
gênica e do ambiente n a e x p r e s s ã o das c a r a c t e r í s t i c a s de
interesse, para, e n t ã o , fazer p r e d i ç ã o do progresso ou ganho
g e n é t i c o esperado.

A discussão dos métodos de melhoramento nos


c a p í t u l o s seguintes e v i d e n c i a r á o profundo efeito da seleção
sobre a variabilidade g e n é t i c a das e s p é c i e s .
66 Borém e Miranda Recursos genéticos 67

Centros de diversidade das plantas cultivadas e s t ã o separados por desertos, montanhas ou mares, e sua
á r e a total equivale a u m q u a d r a g é s i m o da T e r r a . A l g u m a s
Cabem ao geneticista russo Nicolai Ivanovich Vavilov
espécies originaram-se fora desses centros, como o girassol,
os créditos do primeiro e mais importante trabalho sobre
que é oriundo da A m é r i c a do Norte, e a m a c a d â m i a , da
quantificação e d i s t r i b u i ç ã o da diversidade das espécies no
A u s t r á l i a . D a s espécies que Vavilov classificou, aproxima-
mundo. Realizando expedições de levantamento e coleta, esse
damente 640 s ã o o r i g i n á r i a s do Velho Mundo e outras 100,
pesquisador amostrou diversas regiões do mundo, o que
do Novo Mundo.
resultou na obra intitulada "Teoreticheski osnovi sellekcii
rastenii" ( A origem, v a r i a ç ã o , imunidade e melhoramento Frequentemente, u m a espécie identificada em u m
das plantas cultivadas) ( V A V I L O V , 1926), n a qual ele centro é encontrada t a m b é m em outro. Quando isso ocorre,
descreve diversas espécies cultivadas e seus parentes os tipos em cada u m s ã o distintos. Vavilov reconheceu
silvestres. Vavilov identificou algumas regiões do mundo centros p r i m á r i o s onde se encontrava a maior diversidade de
isoladas por montanhas, p l a n í c i e s ou desertos, nas quais espécies. Os centros s e c u n d á r i o s s u r g i r a m de tipos que
observou grande diversidade de determinadas espécies, m i g r a r a m do centro p r i m á r i o . U m exemplo é o milho, cujo
denominando-as centros de origem de plantas cultivadas. centro p r i m á r i o é o México e o s e c u n d á r i o , a C h i n a .

Após o trabalho de Vavilov, i n ú m e r a s expedições


foram organizadas, cobrindo os cinco continentes. E n t r e 1928
e 1980, mais de 20 expedições foram realizadas, com o
objetivo de estudar a variabilidade do g é n e r o Solanum. Esses
pesquisadores provaram que estava correta a h i p ó t e s e de
Vavilov de que "o interior do centro de origem de u m a espécie
é caracterizado pelo a c ú m u l o de alelos dominantes, enquanto
o a c ú m u l o de alelos recessivos ocorre preferencialmente n a
periferia dos centros". Outros autores evidenciaram que o
centro de diversidade de algumas espécies n ã o coincide com o
centro de origem. Por exemplo, sabe-se que os centros de
diversidade da cevada silvestre s ã o a Á s i a e a A m é r i c a do S u l
e n ã o a Europa, inicialmente considerada seu centro de
origem.

Vavilov identificou oito centros de origem de espécies, F i g u r a 6.1 - Localização dos centros de origem das espécies
alguns dos quais foram assim divididos: 1- C h i n ê s ; 2- cultivadas.
Indiano; 2a- Indo-Malaio; 3- Asiático Central; 4- Oriente
P r ó x i m o ; 5- M e d i t e r r â n e o ; 6- Abissínio ou Etíope; 7-
Mexicano do S u l e Centro-Americano; 8- Sul-Americano; 8a- Outros evolucionistas t ê m indicado que é mais
Chiloé; e 8b- B r a s i l e P a r a g u a i ( F i g u r a 6.1). E s s e s centros apropriado o termo "centro de diversidade" do que "centro de
68 Borém e Miranda Recursos genéticos 69

origem" ( H A R L A N , 1951; H A R L A N ; Z O H A R Y , 1966; Tabela 6.1 Cont.


B O R O J E V I C , 1990). H a r l a n (1971) relatou que as espécies Espécie Centro Principal Espécie Centro Principal
atuais sofreram profundas modificações durante o período de Linho Etiópia Figo Asia Menor
pós-domesticaçao, aumentando a d i s t â n c i a g e n é t i c a entre si Asia Menor Uva Ásia Central
e seus parentes s i l v e s t r e s . Por exemplo, o trigo hexaploide
Mandioca Brasil/Paraguai
foi desenvolvido a partir da h i b r i d a ç ã o de Aegilops squarrosa
Cidra Sudeste Asiático
e o trigo tetraploide. Dessa forma, é mais correto dizer que a Aveia Asia Menor Limão Índia/Birmânia
origem das plantas cultivadas ocorreu de m a n e i r a difusa e Mediterrâneo Melão Ásia Central
gradativa no tempo e espaço. Arroz Africa Ocidental Índia/Birmânia
Índia/Miam ar Manga Índia/Birmânia
De acordo com estudo conduzido pela Academia Sudeste Asiático Azeitona Mediterrâneo
A m e r i c a n a de Ciências, de aproximadamente 3.000 espécies Centeio Ásia Menor Ásia Menor
u t i l i z á v e i s , somente 20-30 constituem a base agrícola da Trigo Etiópia Laranja China
humanidade. E s p é c i e s como amaranto e jojoba apresentam Ásia Menor índia
c a r a c t e r í s t i c a s de alto valor económico e, por isso, t ê m sido Birmânia
Olerícolas Mamão Sudeste Asiático
citadas como espécies que merecem maior a t e n ç ã o dos Aspargo Mediterrâneo América Central
melhoristas de plantas, para que sejam eliminadas Beterraba Ásia Menor Pêssego China
características indesejáveis que inviabilizem a sua Fava Ásia Central Pêra Ásia Menor
e x p l o r a ç ã o em escala maior. Couve Ásia Menor Romã Ásia Menor
Mediterrâneo Cabaça América Central
N a T a b e l a 6.1 são apresentadas algumas espécies Cenoura Ásia Central America do Sul
a g r o n ó m i c a s com os respectivos centros de origem. Ásia Menor Abacaxi América Central
Couve-flor Mediterrâneo Br a s il/Par aguai
Feijão-comum América Central
Tabela 6.1 - Centro de origem de algumas espécies de Pepino India/Miamar
China/África Gergelim Etiópia
importância agronómica
Alho Ásia Central Ásia Central
Espécie Centro Principal Espécie Centro Principal Ásia Menor Morango Sul do Chile
Agronómica Fruteiras e outras Alface Mediterrâneo Argentina
Alfafa Ásia Menor Banana Etiópia Feijão-de-lima América Central
Cebola Etiópia
Amendoim Brasil/P ar aguai
Ásia Central
Cisvada Ásia Menor Sudeste Asiático
Grão-de-bico Ásia Menor Melancia Ásia Central
Etiópia Castanha-do-pará Amazónia
Ásia Central
Cereja Ásia Menor
Batata Andes Cacau América Central
Tri^o-mourisco China China/Japão Rabanete China Café Etiópia
Milho América Central Coco Sudeste Asiático Tomate América Central
Andes Tâmara Ásia Menor Andes
Continua... Nabo Mediterrâneo
70 Borém e Miranda Recursos genéticos 71

Erosão genética Verde, restaurou o equilíbrio entre a oferta e a demanda


dessa espécie no mundo, mas significou a perda de
A t é a d é c a d a de 1940, os centros de origem e r a m
germoplasma local em diversas regiões do planeta. A r á p i d a
considerados fontes ilimitadas de variabilidade genética,
d i s s e m i n a ç ã o desses cultivares n a í n d i a e no P a q u i s t ã o
mas, a p ó s a Segunda G u e r r a M u n d i a l , a agricultura de
promoveu a s u b s t i t u i ç ã o de u m grande grupo de cultivares
p a í s e s em desenvolvimento sofreu profundas m u d a n ç a s .
por outro relativamente pequeno em u m a á r e a superior a 10
O desenvolvimento de cultivares com elevado potencial m i l h õ e s de hectares. E s s a s u b s t i t u i ç ã o resultou no imediato
genético tem resultado n a gradativa substituição dos antigos aumento da produtividade, mas a t r a i u a a t e n ç ã o de alguns
cultivares. O fato de novos cultivares apresentarem, em geral, geneticistas e ecologistas que se mostraram preocupados com
base genética muito estreita, isto é, serem muito aparentados a a l t a uniformidade g e n é t i c a e a consequente vulnerabili-
entre si, e a p r e d o m i n â n c i a de u m restrito n ú m e r o destes dade a epidemias de d o e n ç a s e insetos.
ocupando grandes á r e a s de plantio t ê m sido considerados riscos
para a agricultura, o que é denominado vulnerabilidade Alguns autores a f i r m a r a m que h á r a z õ e s para se
genética. N ã o h á , n a literatura, exemplos de epidemia preocupar com a r e d u ç ã o n a variabilidade genética, citando
comprovadamente causada por essa vulnerabilidade. Alguns fatos históricos:
autores argumentam que a escolha de genitores produtivos B a t a t a : a fome n a I r l a n d a , em 1840, em r a z ã o da epidemia
para os blocos de cruzamentos resulta n a seleção inconsciente da requeima (Phytophthora infestans) nos batatais.
de características como resistência a doenças. Dessa forma, T r i g o : a epidemia da ferrugem-do-colmo-do-trigo (Puccinia
acumulam-se genes de resistência a doenças nos novos graminis) nos Estados Unidos, em 1947.
cultivares, e estes, mesmo sendo -mais uniformes, tornam-se
Milho: a d i z i m a ç ã o dos campos de milho híbrido, em alguns
mais resistentes a u m a gama de patógenos do que as n ã o
p a í s e s , portador do citoplasma T de macho-esterilidade, em
melhoradas ou mais antigas. A e x p a n s ã o das fronteiras
1970/71, em virtude da helmintosporiose (Exserohilum
agrícolas t a m b é m contribuiu para o desaparecimento dos
turcicum).
parentes silvestres das espécies cultivadas.
Embora, seja justificável enfatizar os riscos da redução
da variabilidade genética, em virtude do desenvolvimento de
Vulnerabilidade genética cultivares altamente produtivos e uniformes, n ã o h á evidências
Os centros de diversidade e os bancos de de que a agricultura atual seja mais vulnerável do que a
germoplasma possibilitam ao melhorista introduzir praticada no início do século X X . Os novos cultivares são
c a r a c t e r í s t i c a s no germoplasma ativo. A i m p o r t â n c i a dos responsáveis, em parte, pelo aumento da oferta de alimentos.
centros de diversidade torna-se mais evidente com a Deve t a m b é m ser mencionado que, em relação à resistência à s
s u b s t i t u i ç ã o das variedades nativas pelos cultivares. Os doenças, as variedades crioulas n ã o oferecem qualquer
ú l t i m o s , geneticamente mais uniformes que as nativas, são vantagem sobre os cultivares. A expectativa é de que os novos
desenvolvidos visando à a p t i d ã o para m e c a n i z a ç ã o e cultivares possuam maior resistência horizontal aos patógenos
monocultivo. O desenvolvimento dos cultivares semianaos de do que as nativas, em virtude de, durante a seleção de genitores
trigo pelo C I M M Y T , u m dos r e s p o n s á v e i s pela Revolução para seu desenvolvimento, o melhorista, muitas V C / C H
72 Borém e Miranda Recursos genéticos 73

inconscientemente, selecionar germoplasma resistente aos deixando espaço para o que e s t á por ser entendido. Conforme
principais patógenos, ao incluir os cultivares superiores em seu relatou Witt (1985), embora de forma imprecisa, germoplasma
bloco de cruzamentos ( H E I S E R , 1988). tem sido definido como todo o material h e r e d i t á r i o de uma
O risco de epidemias n ã o se deve intrinsecamente espécie ou, ainda, todo o patrimônio genético de uma espécie.
apenas à falta de diversidade entre os cultivares no mercado, O espectro dos recursos genéticos pode ser
mas t a m b é m à decisão do produtor de plantar u m n ú m e r o estabelecido em seis categorias p a r a cada espécie, indicando
restrito de cultivares em uma região. Embora deva ser a ligação e v o l u c i o n á r i a e ecológica dos tipos domésticos
objetivo dos programas de melhoramento desenvolver atuais com tipos silvestres, como mostrado a seguir
diversificado e grande n ú m e r o de cultivares produtivos, à ( C H A N G , 1985):
medida que se aumentam as exigências para o l a n ç a m e n t o
de novos cultivares com r e s i s t ê n c i a a d o e n ç a s , esse n ú m e r o é a. Espécies silvestres do mesmo g é n e r o da cultivada; g é n e r o s
reduzido, contribuindo para o incremento da vulnerabilidade encontrados em regiões dos centros de origem p r i m á r i o s
genética. ou s e c u n d á r i o s .
b. Variedades nativas ou crioulas e tipos especiais ou
estoques genéticos.
Uso e manutenção de germoplasma
c. L i n h a s puras e cultivares de polinização aberta oriundos
A p r i m e i r a tentativa de definir o termo germoplasma de á r e a s onde o nível tecnológico se manteve
ocorreu n a Conferência sobre E x p l o r a ç ã o , U t i l i z a ç ã o e relativamente constante nos ú l t i m o s 50 anos.
C o n s e r v a ç ã o de Recursos G e n é t i c o s Vegetais, patrocinada
d. Cultivares obsoletos, encontrados apenas em bancos de
pela F A O , em 1967, em Roma. F r a n k e l e Bennett (1970)
germoplasma.
relataram:
e. Cultivares em uso desenvolvidos por melhoramento
"Para o pesquisador de um amplo campo de estudos,
da evolução à genética e da fisiologia à bioquímica, genético e utilizadas em á r e a de agricultura intensiva.
uma completa representação da variação genética f. Outros produtos dos programas de melhoramento ou
das espécies domesticadas e seus tipos silvestres é estudos genéticos.
uma necessidade. Como Harlan sugere, a evolução de
uma única espécie ainda não é completamente
conhecida. O que já se conhece não somente explica Bancos de germoplasma
os caminhos da origem das civilizações, mas também
enriquece o entendimento do processo de Banco de germoplasma é u m a coleção v i v a de todo o
domesticação e estende a capacidade de p a t r i m ô n i o genético de u m a espécie, incluindo acessos dos
desenvolver novos cultivares." itens a a /, anteriormente listados.
H á dois métodos básicos para a conservação de
germoplasma: conservação ex situ e in situ. Os bancos de
O termo "germoplasma" é considerado vago e impreciso,
germoplasma funcionam como conservação ex situ, em que u m »
mas abrange algumas das questões da hereditariedade,
amostra da variabilidade genética de determinada espécie é
74 Borém e Miranda Recursos genéticos 75

conservada em condições artificiais, fora do habitat da espécie. acessos d i s t r i b u í d o s pelo banco de germoplasma. A coleção-
E m geral, o armazenamento de sementes se faz em base, contendo o maior n ú m e r o possível de acessos, deve ser
temperatura e umidade baixas. Nessas condições, a viabilidade utilizada quando a coleção a t i v a n ã o apresentar acessos com
das sementes pode ser preservada por décadas. Todas as as c a r a c t e r í s t i c a s desejadas.
sementes do tipo ortodoxo adaptam-se bem ao armazenamento,
A s sementes armazenadas em c â m a r a s frias, nos
e a longevidade do material armazenado aumenta, de forma
bancos de germoplasma, s ã o mantidas em condições e s t á t i c a s
logarítmica, com a redução da temperatura e umidade. A s
quanto ao aspecto evolucionário, conforme interesse do
sementes recalcitrantes n ã o são conservadas por este método,
melhorista. Todavia, a i n t e r r u p ç ã o do processo evolucionário
uma vez que a redução da umidade para abaixo de
dos acessos em bancos de germoplasma deve ser vista com
determinados valores lhes causa danos fisiológicos, a exemplo
critério, posto que a d i s t â n c i a g e n é t i c a entre esses acessos e
de sementes de cacau e café. Dados adicionais sobre aspectos
os cultivares em uso tendem a aumentar nessa s i t u a ç ã o .
fisiológicos e tecnológicos de sementes e o gerenciamento dos
bancos de germoplasma são discutidos por Hanson (1985). Nas coleções in situ, o germoplasma é pi'eservado no
seu habitat n a t u r a l , em reservas cujo ambiente é s i m i l a r ao
São atividades dos bancos de germoplasma: da espécie. Muitos desses bancos de germoplasma in situ n ã o
levantamento, aquisição, e x p l o r a ç ã o e coleção; m a n u t e n ç ã o , s ã o reconhecidos como t a l , principalmente pela terminologia
multiplicação e rejuvenescimento; e caracterização, que recebem (exemplo: reserva biológica, parque n a t u r a l
a v a l i a ç ã o , d o c u m e n t a ç ã o , d i s t r i b u i ç ã o e i n t e r c â m b i o do e t c ) . Obviamente, nem todos os parques n a t u r a i s s ã o bancos
maior n ú m e r o possível de amostras do germoplasma dentro de germoplasma, u m a vez que a p r e s e r v a ç ã o de seus
das l i m i t a ç õ e s físico-econômicas. O curador do banco de recursos n ã o é monitorada. U m exemplo típico de banco de
germoplasma deve estabelecer prioridades de coleta, em germoplasma in situ localiza-se no oeste mexicano, onde
função do grau de i m p o r t â n c i a , da diversidade e do risco de aproximadamente 140.000 h a da S e r r a de M a n a n t l a n foram
e x t i n ç ã o de acessos. A F i g u r a 6.2 i l u s t r a u m a e s t r a t é g i a de designados como r e s e r v a biológica de Zea diploperennis
gerenciamento de banco de germoplasma para espécies (teosinto diploide perene), u m parente s i l v e s t r e do milho,
autógamas. cuja p o p u l a ç ã o é periodicamente monitorada com a
Os bancos de germoplasma devem possuir duas finalidade de verificar o risco de e x t i n ç ã o de acessos.
coleções: coleção-base, preservada no longo prazo, e coleção A preservação de germoplasma in vitro é
ativa, preservada no médio prazo.
especialmente a p r o p r i a d a p a r a as e s p é c i e s propagadas
A coleção ativa, t a m b é m denominada coleção-núcleo vegetativamente e para aquelas de sementes
(core collectiori), deve possuir reduzido n ú m e r o de acessos, r e c a l c i t r a n t e s . C o m o a v a n ç o das t é c n i c a s de biologia
em geral inferior a 2.000, bem caracterizados agronomica- molecular, a p r e s e r v a ç ã o de genes ou do genoma completo
mente. E s t a coleção deve ser representativa da coleção-base, de u m a e s p é c i e em bancos gênicos de D N A p o d e r á ser u m a
incluindo ampla variabilidade genética; sua função p r i m á r i a alternativa.
é constituir-se n a p r i m e i r a fonte de variabilidade p a r a os
programas de melhoramento, de onde s a i r á a maioria dos
76 Borém e Miranda Recursos genéticos 77

• Associação da África Ocidental para Desenvolvimento do


lt\JNCO U E G E R M O P I Arroz ( W A R D A ) - Bouake, Costa do Marfim.
• Banco de Germoplasma da Batata - Braunschweig,
AQUISIÇÃO Alemanha.
• Banco de Germoplasma Nórdico - L u n d , Suécia.
COLEÇÃO LINHAGENS
EXPEDIÇÃO NACIONAL MELHORADAS
• Centro Internacional de Agricultura para Á r e a s S e m i á r i d a s
( I C A R D A ) - Aleppo, Síria.
MULTIPLICAÇÃO
• Centro Internacional de Agricultura Tropical ( C I A T ) - Cali,
QUARENTENA
Colômbia.
• Centro Internacional de l a Papa ( C I P ) - L i m a , Peru.
CASA D E VEGETAÇÃO
• Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo
CAMPO
( C I M M Y T ) - E l Batan, México.

MULTIPLICAÇÃO
• Centro Internacional para Melhoramento da B a n a n a e

Plantano ( I N I B A P ) - Montferrier-sur-lez, F r a n ç a .
CARACTERIZAÇÃO CAMPO
• Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia
( C E N A R G E N ) - Brasília, B r a s i l .
CONSERVAÇÃO REJUVENESCIMENTO
• Instituto de Melhoramento de Plantas - Cambridge,
COLEÇÃO-BASE
Inglaterra.
C O L E ÇÃO
ATI VA
-* TESTES DE
PRESERVAÇÃO
VIABILIDADE • Instituto de Produção de Plantas Vavilov - St. Petersburgo,
Rússia.
DISTRIBUIÇÃO
BANCO DE DADOS
" Instituto Internacional de Agricultura Tropical ( I I T A ) -
SEMENTES/CATÁLOGO
Ibadan, Nigéria.
• Instituto Internacional de Pesquisa dos Trópicos Semiáridos
PROGRAMA DE OUTROS
( I C R I S A T ) - Hyderabad, í n d i a .
MELHORAMEIVTO BANCOS • Instituto Internacional de Pesquisa em Arroz ( I R R I ) -
Manila, Filipinas.
F i g u r a 6.2 - E s t r a t é g i a de gerenciamento de banco de
germoplasma para espécies a u t ó g a m a s . • Instituto Internacional de Recursos Genéticos Vegetais
( I P G R I ) - Roma, I t á l i a .
• J a r d i m Botânico R e a l — K e w , Inglaterra.
A seguir, e s t ã o listados alguns dos mais importantes
bancos de germoplasma em diferentes p a í s e s :
78 Borém e Miranda Recursos genéticos 79

• L a b o r a t ó r i o Nacional de Sementes - U S D A - Fort Collins,


Colorado, E U A .
• Serviço de Pesquisa A g r o p e c u á r i a - U S D A — Beltsville,
Maryland, E U A .

E s s a s e muitas outras instituições n ã o mencionadas


acumulam mais de 1.000.000 de acessos das mais importantes
espécies.

Banco mundial de germoplasma Svalbard


Situado n a i l h a Spitsbergen, p r ó x i m o à cidade de
Longyearbyen, no remoto a r q u i p é l a g o Artico Svalbard, n a
Noruega, este banco de germoplasma é u m repositório com a
maior segurança já construído para armazenar
germoplasma. A i l h a Spitsbergen e s t á a cerca de 1.120 k m do
polo Norte. Criado para preservar ampla amostra do
germoplasma em u m a caverna c o n s t r u í d a no subsolo, e s t á
constantemente sob u m a espessa camada de gelo. E s s e banco
possui duplicatas de acessos de outros bancos de
germoplasma, com o objetivo de garantir disponibilidade de
recursos genéticos mesmo n a ocorrência de perdas em outros
bancos, ou mesmo em casos de u m a c a t á s t r o f e global.

O banco de germoplasma Svalbard ( F i g u r a s 6.3 e 6.4)


e s t á funcionando sob a responsabilidade do governo
n o r u e g u ê s , do Fundo Global p a r a Diversidade das Espécies F i g u r a 6.4. - Foto da entrada do banco de germoplasma de
Cultivadas (Global Crop Diversity T r u s t ) e do Centro de Svalbard.
Recursos G e n é t i c o s da Noruega. A c o n s t r u ç ã o desse banco de
germoplasma custou U S $ 45 m i l h õ e s e foi patrocinado pelo
N a T a b e l a 6,2 apresenta-se u m a amostra dos acessos
governo n o r u e g u ê s ; no entanto, para s u a m a n u t e n ç ã o ,
preservados em bancos de germoplasma de diversas espécies.
recursos de v á r i o s p a í s e s s ã o alocados, inclusive do B r a s i l .
Convencionalmente, o germoplasma é mantido na
forma de sementes, em r a z ã o da facilidade de manuseio, do
pequeno espaço requerido e da longevidade quando em
condições ideais de armazenamento. O custo de m a n u t e n ç ã o
80 Borém e Miranda Recursos genéticos 81

de viveiros de germoplasma de espécies que se propagam desnecessidade de q u a r e n t e n a por o c a s i ã o do i n t e r c â m b i o


vegetativamente é m u i t í s s i m o elevado. i n t e r n a c i o n a l de germoplasma. U m a das possíveis
l i m i t a ç õ e s dessa p r e s e r v a ç ã o , no entanto, é a v a r i a ç ã o
somaclonal, que ocorre entre i n d i v í d u o s regenerados de
Tabela 6.2 - N ú m e r o estimado de acessos de algumas
c u l t u r a de tecidos, podendo ser fisiológica, e p i g e n é t i c a ou
espécies em bancos de germoplasma
genética, como resultado do processo de cultivo in vitro. E m
Número Percentagem Total geral, os tipos decorrentes da v a r i a ç ã o somaclonal, com os
cultivos in vitro, s ã o inferiores ao m a t e r i a l que lhe deu
Espécies de Acessos Cultivares Espécies Silvestres
origem, à s e m e l h a n ç a do que ocorre com as m u t a ç õ e s .
Algodão 30.000 75 20
H á duas opções para a p r e s e r v a ç ã o de germoplasmas
Arroz 215.000 75 10 in vitro: congelamento e c â m a r a s frias. N a p r e s e r v a ç ã o por
Batata 42.000 95 40 congelamento, o m a t e r i a l é mantido n a temperatura do
* * nitrogénio líquido, aproximadamente -196 °C. Nesta
Cacau 5.000
temperatura, as células permanecem completamente
Ca na-de-açúcar 23.000 70 5 inativas. Esse m é t o d o j á é utilizado, h á v á r i a s d é c a d a s , para
Cevada 280.000 85 20 p r e s e r v a ç ã o de s é m e n a n i m a l para i n s e m i n a ç ã o artificial.
Feijão 105.000 50 10 O germoplasma t a m b é m pode ser preservado em
Mandioca 14.000 35
baixas temperaturas (de 1 a 9 °C). Nestas, o envelhecimento
5
do m a t e r i a l é reduzido, mas n ã o completamente bloqueado,
Milho 100.000 95 15 como no congelamento. Consequentemente, a repicagem de
Soja 100.000 60 30 meios de c u l t u r a só é n e c e s s á r i a esporadicamente.
Tomate 32.000 90 70
Trigo 410.000 95 60 Utilização da diversidade genética dos bancos de
germoplasma
* Dados não disponíveis.
P a r a que a diversidade g e n é t i c a disponível nos bancos
de germoplasma seja utilizada, é n e c e s s á r i o que os acessos
A possibilidade de r e g e n e r a ç ã o de plantas a p a r t i r sejam caracterizados e documentados de forma que o
de c é l u l a s s o m á t i c a s , ou g a m é t i c a s , e m e r i s t e m a s é u m a melhorista possa identificar os potencialmente ú t e i s p a r a seu
a l t e r n a t i v a a t r a t i v a n a p r e s e r v a ç ã o de germoplasma. A s programa de melhoramento. Alguns bancos de germoplasma
vantagens associadas à p r e s e r v a ç ã o in vitro incluem: i) d i s p õ e m dessa i n f o r m a ç ã o em catálogos, enquanto outros
pequeno e s p a ç o p a r a m a n u t e n ç ã o de grande n ú m e r o de apresentam-na em bancos de dados informatizados, que
acessos; ii) m a n u t e n ç ã o de acessos l i v r e s de pragas e permitem a identificação de acesso com c a r a c t e r í s t i c a s
d o e n ç a s ; iii) n ã o requerimento de podas; iv) potencial p a r a específicas, como r e a ç ã o a doenças, teor de óleo e p r o t e í n a s ,
r á p i d a p r o d u ç ã o de grande n ú m e r o de plantas; e v)
82 Borém e Miranda Recursos genéticos 83

atributos morfológicos e fisiológicos, grupos de m a t u r a ç ã o e cromossômico durante a meiose é anormal e os híbridos


ciclo. tendem a ser estéreis.
O Departamento de A g r i c u l t u r a Americano ( U S D A ) c. G r u p o gênico terciário: abrange os acessos
criou o Germplasm Resources Information Network (GRIN)> geneticamente mais distantes da espécie de interesse. A
u m a rede de i n s t i t u i ç õ e s com melhoristas dedicados à t r a n s f e r ê n c i a de c a r a c t e r í s t i c a s de espécies deste grupo
p r e s e r v a ç ã o da variabilidade genética. O G R I N possui u m p a r a as espécies cultivadas requer t é c n i c a s especiais, como
banco de dados informatizado com d o c u m e n t a ç ã o disponível o resgate de e m b r i õ e s em meio de c u l t u r a . Se for possível
sobre o germoplasma de diversas espécies. Nesse banco de obter o híbrido, provavelmente este s e r á e s t é r i l e t é c n i c a s
dados, o melhorista pode localizar acessos com de enxertia ou c u l t u r a de tecidos s e r ã o n e c e s s á r i a s p a r a a
c a r a c t e r í s t i c a s específicas e solicitá-los ao L a b o r a t ó r i o o b t e n ç ã o de plantas desejáveis.
Nacional de Sementes - U S D A , em F o r t Collins, Colorado,
E U A . O banco de dados do G R I N e s t á disponível n a v e r s ã o
P a r a o desenvolvimento de c u l t i v a r e s , o melhorista
para microcomputadores ( p c G R I N ) , que pode ser obtida por
u t i l i z a como genitores, em p r i m e i r a i n s t â n c i a , c u l t i v a r e s e
melhoristas, cientistas ou o r g a n i z a ç õ e s de pesquisa,
linhagens adaptadas à r e g i ã o a que se destinam. Muitos
gratuitamente, no seguinte e n d e r e ç o :
melhoristas preferem os cruzamentos dos tipos c u l t i v a r
The Database Manager adaptado x c u l t i v a r adaptado ou c u l t i v a r superior x
G R I N Database Management U n i t cultivar superior, para garantir que as progénies
10300 Baltimore B l v d . apresentem maior probabilidade de a d a p t a ç ã o e maior
Room 330, Bldg. 003, B A R C - W e s t número de características agronómicas em níveis
Beltsville, M D 20705 satisfatórios. Quando a variabilidade g e n é t i c a desse m a t e r i a l
http ://w w w . ar s - grin. go v/ aboutgrin. h t m l n ã o é s a t i s f a t ó r i a , o melhorista l a n ç a m ã o de genótipos
exóticos ou acessos provenientes dos bancos de germoplasma,
H a r l a n (1975) p r o p ô s a d i v i s ã o do g e r m o p l a s m a dando p r e f e r ê n c i a aos do grupo gênico p r i m á r i o . A s espécies
de u m a e s p é c i e em t r ê s grupos g ê n i c o s : silvestres frequentemente apresentam c a r a c t e r í s t i c a s que
a. G r u p o g ê n i c o p r i m á r i o : i n c l u i as e s p é c i e s c u l t i v a d a s c u l t i v a r e s n ã o devem possuir, como deiscência de vagem,
e as s i l v e s t r e s que apresentam características acamamento, d o r m ê n c i a de sementes e sementes de tamanho
potencialmente úteis e podem ser transferidas pequeno. O desenvolvimento de u m c u l t i v a r a partir de tipos
i m e d i a t a m e n t e p a r a u m p r o g r a m a de desenvolvimento silvestres envolve v á r i o s ciclos de seleção ou a u t i l i z a ç ã o de
de c u l t i v a r e s . E s s a s e s p é c i e s devem-se i n t e r c r u z a r retrocruzamentos.
facilmente, produzindo p r o g é n i e s v i á v e i s . O grupo gênico s e c u n d á r i o e, com maiores r a z õ e s , o
b. G r u p o g ê n i c o s e c u n d á r i o : inclui as espécies silvestres que gênico t e r c i á r i o n ã o s ã o , em geral, considerados fonte de
podem doar genes para as espécies cultivadas, dentro de genes para o desenvolvimento direto de novos c u l t i v a r e s , a
certas restrições. Os cruzamentos interespecíficos em geral n ã o ser que as c a r a c t e r í s t i c a s desejáveis n ã o estejam
resultam em híbridos raquíticos, em que o emparelhamento presentes no grupo gênico p r i m á r i o . O melhorista que deseja
84 Borém e Miranda Recursos genéticos 85

utilizar genes presentes nos grupos gênicos s e c u n d á r i o e HANSON, J . Praticai manuais for genebanks, 1. Procedures for
t e r c i á r i o deve estudar a viabilidade da aplicação de recursos Handling Seeds in Genebanks. Rome. Internacional Board for Plant
e tempo n a t r a n s f e r ê n c i a gênica e da e l i m i n a ç ã o das Genetic Resources, 1985.
características indesejáveis.
HARLAN, J . R . Agricultura! originis: Centers and noncenters. Science,
A insuficiente diversidade g e n é t i c a entre os genitores v. 174, p. 468-474, 1971.
utilizados em cruzamentos reduz a variabilidade g e n é t i c a
H A R L A N , J . R . Crops and man. Madison, W I : American Society of
dos caracteres quantitativos. E m r a z ã o disso, o progresso
Agronomy, 1975.
genético do melhoramento com as características
selecionadas pode ser limitado. H A R L A N , J.R,; ZOHARY, Y . D . Distribution of wild wheats and bas leys.
Science, v. 153, p. 1074-1080, 196fi.
É difícil avaliar se o p l a t ô para produtividade foi
atingido em u m a espécie ou mesmo em u m germoplasma, H A R L A N , J.R. Amatomy of gene centers. Am. Bat. v. 85, p. 97-103, 1951.
porque os incrementos de produtividade n ã o ocorrem c m H E I S E R , C.B. Aspectus of unconscions selection and the evolution of
t a x a constante. Os programas de melhoramento que domesticated planta. Euphytica, v. 115, p. 1034-1037, 1988.
enfatizam v á r i a s c a r a c t e r í s t i c a s , a l é m da p r o d u ç ã o de g r ã o s ,
V A V I L O V , N.T. Studies on the origin of cultivated plants. Leningrad:
podem criar u m p l a t ô v i r t u a l , em r a z ã o das r e s t r i ç õ e s
Institute of Applied Botany and Plant Breeding, 1926
impostas a outros grupos de c a r a c t e r í s t i c a s . Todavia, n ã o
existem e v i d ê n c i a s de que u m p l a t ô de produtividade tenha W I T T , S.C. Biotechnology and genetic diversity. Cal. Agric. Lands Proj.,
sido atingido ou que isso esteja prestes a acontecer nas 1985. 145p,

principais espécies cultivadas ( D U V I C K , 1990).

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study. Iowa State J . Res. v. 59, p. 425-455, 1985.
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1990. p. 557-570. In: A T T I . Vol. I I , I I NATIONAL MAIZE C O N F E R E N C E
RESEARCH, ECONOMY, E N V I R O N M E N T GRADO (GO) - ITALY.
September 19-20-21, 1990, Bologna. Centro Regionale per la
Sperimentazione agraria pozzuolo dei friule edagiocoli s.p.d.
Proceedings... Bologna, Italy.
F R A N K E L , O.H., B E N N E T T , E . Genetic resources in plants: their
exploration and conservation. Oxford: BJackwell, 1970. p. 469-89.
Variabilidade genética de novo 87

trabalho vários anos antes que as leis de Mendel fossem


redescobertas. Trabalhando com minuana (Oenothera
lamarkiana), uma planta campestre de pétalas amarelas, da
família das Enoteráceas, ele demonstrou que essa espécie
produzia mudanças hereditárias que refletiam em profundas
alterações morfológicas, as quais denominou de mutações. A
Variabilidade partir do seu trabalho, diversos outros surgiram.
O material genético dos organismos superiores é o
Genética de novo ácido desoxirribonucleico (DNA), que é altamente diverso e
contém milhões de diferentes combinações de bases púrieas e
pirimídicas. Mutações podem ocorrer espontânea e
aleatoriamente na natureza ou em razão de fatores
ambientais. Mudanças nos nucleotídeos do DNA causam
variações no código que sinaliza para o mRNA.
A variabilidade genética é um dos princípios da Consequentemente, durante a síntese proteica, um
vida, e o reino vegetal, com sua vasta complexidade, não aminoácido diferente pode ser ligado à cadeia proteica que se
teria se desenvolvido na sua ausência. Pode-se adicionar forma. Essas mudanças podem também ser causadas por
uma nova variabilidade genética de novo ao germoplasma aberrações cromossômicas (deleçâo, duplicação, inversão ou
por meio de mutações crossing over desigual, transformação translocação).
via técnicas do DNA recombinante e mutações somaclonais.
Novos genes mutantes podem ser então incorporados ao A frequência com que as mutações ocorrem
genoma dos cultivares melhorados. U m bom exemplo para espontaneamente em nível gênico é de aproximadamente IO" 6

isso é o gene mutante de tolerância à imidazolinona, uma por geração, a qual pode ser elevada para IO" quando o
3

molécula herbicida, utilizada na cultura do arroz. Cultivares material genético é submetido a agentes químicos, a
de arroz que possuem esse gene são tolerantes a esse tratamentos físicos etc. Há ainda a tendência de alguns
herbicida, e o arroz-vermelho, importante invasora e da genes mutarem mais frequentemente que outros.
mesma espécie do arroz, pode ser controlado. Esse gene é da De acordo com sua utilidade, as mutações podem ser
espécie e pode ser patenteado, não sendo considerado um úteis, detrimentais ou neutras. Como o seu processo é
transgênico. aleatório, a maioria delas é neutra. Quando o alelo mutante
se encontra em homozigose, as mutações podem ocorrer e
resultar em uma característica favorável. Muitas das
Mutações
mutações detrimentais são eliminadas por seleção natural ou
O termo mutação foi cunhado pelo botânico holandês artificial.
Hugo de Vires. Entre 1901 e 1903, ele publicou duas E m 1927, Muller demonstrou que raios X induzem
monografias sobre a teoria da mutação. Vires iniciou seu mutações em Drosophila sp. No ano seguinte, Stadler
88 Borém e Miranda Variabilidade genética, de novo 89

verificou que raios X e também raios gama induziam radiação, porque podem ser irradiadas em muitos ambientes,
mutações em cevada. Desde então, grande número de onde, talvez, não sobrevivessem outras partes de plantas;
estudos tem sido realizado envolvendo os efeitos das podem ser secas, umedecidas, aquecidas ou congeladas; e ser
radiações, tanto do ponto de vista básico como do aplicado. mantidas por extensos períodos em vácuo quase livre de
oxigénio ou outros gases, além de serem fáceis de manusear
e transportar.
Agentes mutagênicos
A frequência de mutações é proporcional à dose de
Os mutagênicos físicos são basicamente os raios raios gama, isto é, com o aumento da irradiação ocorre
ultravioleta e as radiações ionizantes, principalmente raios X elevação do número de mutações gênicas e de aberrações
e raios gama, partículas alfa e beta, prótons e nêutrons. cromossômicas, além de efeitos fisiológicos mais severos, que
Cada um desses mutagênicos tem características próprias, podem levar à morte dos órgãos irradiados. Assim, com
que devem ser consideradas quando eles são utilizados. dosagens elevadas, o número de mutações observado é
Evidências experimentais indicam que os mutagênicos físicos reduzido consideravelmente e a frequência deixa de
são mais eficientes na obtenção de mutantes. aumentar linearmente.
Raios gama são radiações eletromagnéticas Entre os vários fatores que influenciam a radiossensi-
ionizantes, que podem penetrar muitos centímetros nos bilidade das sementes, destacam-se: conteúdo hídrico das
tecidos. Podem ser obtidos por radioisótopos (núcleos sementes, oxigénio e temperatura.
instáveis que emitem radiações) ou de reatores em reacões
Auerbach e Robson, em 1942, foram os primeiros a
nucleares. Seu uso é semelhante ao dos raios X, tendo a
demonstrar que drogas químicas poderiam ser utilizadas
vantagem de serem utilizados para tratamentos prolongados
para induzir mutações. Tratando machos de Drosophila sp.
e em casa de vegetação ou em campo (as plantas ficam
com gás mostarda, esses autores observaram mutações letais
expostas aos raios gama durante o seu desenvolvimento). O
e viáveis nos descendentes, idênticas às induzidas por raios
cobalto 60 e o césio 137 são as principais fontes de raios
X. A partir daí, intensificaram-se as pesquisas nesse campo,
gama utilizadas em trabalhos de radiobiologia. O césio 137 é
e hoje há uma série de produtos capazes de induzir mutações
usado em muitas instituições de pesquisa, pois tem meia-
em plantas. Desses, somente alguns são realmente úteis aos
vida maior (30 anos) que a do cobalto 60 (5,3 anos). A
programas de indução de mutações. Os agentes alquilantes
maioria das fontes de raios gama utilizada para estudos
são os mais importantes mutagênicos químicos para indução
genéticos e botânicos encontra-se em casas de vegetação,
de mutações em plantas cultivadas, pois têm um ou mais
câmaras controladas de crescimento ou em câmaras de
grupos alquilas reativos que podem ser transferidos para
irradiação com proteção adequada.
outras moléculas em posições com densidade de elétrons
Todas as partes das plantas podem ser irradiadas, suficientemente alta. Todas essas substâncias reagem com o
mas algumas são mais fáceis do que as outras. Por exemplo, DNA por meio da alquilação de grupos fosfatados, bem como
sementes e pólen são de fácil manipulação. As sementes são de purinas e pirimidinas. A Figura 7.1 ilustra o esquema do
preferidas em muitos trabalhos de indução de mutações por mecanismo de ação dos agentes alquilantes. Entre ossos
90 Borém e Miranda Variabilidade genética de novo 91

agentes, podem ser citados o gás mostarda, a etilenimina, o diretamente originárias do tratamento de sementes M i , são
dimetilsulfato, o dietilsulfato, o etilmetanos sulfonato (EMS) consideradas da geração M i e produzem sementes M 2 . As
e o "myleran". plantas provenientes de sementes M 2 são da geração M 2 e
produzem sementes M 3 , e assim por diante.
Alquilante O tratamento com mutagênicos físicos ou químicos, de
especial interesse no melhoramento de plantas, resulta em
G <=> G' A alterações fisiológicas, mutações gênicas e aberrações
cromossômicas. Os danos fisiológicos são restritos à geração M i ,
III I I I I
enquanto as mutações gênicas e aberrações cromossômicas
C T-=>T podem ser transferidas da geração M i para as seguintes. Para
Figura 7.1 - Adição de etil ou metil à guanina, por ação de fins práticos, os danos fisiológicos mais importantes são a
alquilantes, durante a replicação do DNA. retardação do crescimento e a morte. A triagem deve ser
iniciada a partir da geração M2, em razão dos efeitos fisiológicos
produzidos na geração M i , da natureza quimérica das plantas
A adição do radical etil ou metil à guanina (G), por ação M i e de as mutações induzidas, em sua maior parte, serem
de agentes alquilantes, durante a replicação do DNA, resulta recessivas.
em pareamento da guanina alquilada (G') com timina (T). A
base guanina alquilada pode-se desprender do DNA, deixando
espaço que pode ser preenchido por outra base, a exemplo da Indução de mutações no melhoramento
adenina (A). de plantas
E m trabalhos com mutagênicos químicos, há que se As mutações têm sido utilizadas no desenvolvimento
levar em consideração alguns parâmetros, sendo os principais a de cultivares de soja, feijão, arroz, trigo, cevada, alface,
concentração, a duração do tratamento e a temperatura. Além tomate e citros, além de outras espécies. Embora a aplicação
desses, vários fatores podem ocorrer antes, durante ou após o prática de agentes mutagênicos no desenvolvimento de
tratamento, alterando a ação dos mutagênicos, a exemplo do cultivares esteja bem demonstrada, o número de cultivares
teor de umidade das sementes. desenvolvidos por meio de indução da mutação é muito
pequeno quando comparado ao obtido por hibridação e
Quanto à escolha do mutagênico a ser utilizado, embora
seleção. A mutagênese recebeu muita atenção durante as
alguns possam ser considerados mais eficientes do que outros,
décadas de 1950 e 1960, quando alguns pesquisadores
muitas vezes o pesquisador é limitado pela disponibilidade e
defendiam que o uso de agentes mutagênicos revolucionaria
facilidade no local do trabalho. Na maioria dos melhoramentos
o melhoramento de plantas. Nessas décadas de intensa
usa-se a radiação gama ou EMS.
atividade nessa área, demonstrou-se o valor limitado da
Realizado o tratamento mutagênico, a etapa seguinte mutagênese no melhoramento de plantas, especialmente
é a obtenção do material no qual será feita a triagem à para os caracteres quantitativos.
procura dos mutantes. As plantas de propagação sexuada,
92 Borém e Miranda Variabilidade genética de novo 93

Atualmente, as mutações têm sido mais indicadas partir dessas células, bem como da estabilidade do DNA
para os casos em que a característica procurada não existe incorporado no genoma da planta receptora.
no germoplasma da espécie e não se deseja utilizar eventos Cromossomo
transgênicos no cultivar. Têm-se utilizado mutagênicos para
obter genes mutantes e não mais para produzir um cultivar.
Depois de obtido o mutante em uma planta não comercial, Agrobacterium
transfere-se esse gene por retrocruzamento para o cultivar
ou para um dos genitores no caso de híbridos. Plasmídio Ti

Transformação gênica
A partir da década de 1970, a biologia molecular
desenvolveu-se a ponto de se poder isolar genes de um
organismo, cloná-los e introduzi-los em outros organismos. A
técnica do DNA recombinante, em princípio, preconiza o
isolamento de um gene de um organismo, sua clonagem e,
posteriormente, sua transferência para o organismo receptor
por intermédio de um vetor, conforme ilustrado na Figura 7.2.
A transferência de genes por meio de transformação
gênica tem sido facilitada por um sistema natural presente Figura 7.2 - Princípio da transformação gênica mediada por
em Agrobacterium tumefaciens, uma bactéria que possui o Agrobacterium tumefaciens.
plasmídio T i e que infecta muitas espécies de interesse
agronómico, induzindo-as à formação de tumor na região
hipocotiledonar, onde se processa a transformação. Sistemas alternativos utilizados para transformação
gênica incluem biobalística, eletroporação e microinjeção.
O processo de transformação envolve a introdução
do gene a ser transferido no genoma circular do plasmídio O sistema de biobalística envolve a aceleração de
T i . Durante a infecção promovida por Agrobacterium na micropartículas impregnadas de DNA, que penetram nas
espécie a ser transformada, um segmento do plasmídio T i , células de tecidos intactos. Os microprojéteis podem ser
denominado T-DNA, é incorporado ao genoma nuclear da acelerados uma descarga de gás hélio comprimido ou
espécie receptora. descarga elétrica. O DNA aderido às micropartículas é
solubilizado no interior das células e incorporado ao DNA da
A eficiência da transformação depende da habilidade planta receptora.
de Agrobacterium em transformar células do tecido do
receptor, da disponibilidade de um sistema de seleção de A eletroporação abrange a formação de poros
células transformadas e de um sistema de regeneração a temporários nas membranas celulares através de descargas
94 Borém e Miranda Variabilidade genética de novo 95

elétricas. Moléculas de DNA podem-se difundir pelos poros O mais frequente tipo de variante somaclonal são as
criados. Tipicamente, protoplastos são usados neste sistema. deficiências de clorofila. Para a maioria das espécies
A técnica do DNA recombinante abre ao melhorista o agronómicas, as variações somaclonais não têm valor,
acesso a um novo e variado conjunto de genes, inacessível entretanto para algumas espécies ornamentais podem ser
com as técnicas convencionais. A transformação gênica é interessantes. O segundo tipo de variante mais frequente
rotineira em tabaco, milho, alfafa, algodão, tomate, mamão, relaciona-se com a alteração do número de cromossomos e
trigo, sorgo, soja e outras espécies. sua estrutura. Esses tipos podem ter valor principalmente
para as espécies propagadas vegetativamente.
Se alguma variação somaclonal desejável for
Variação somaclonal
detectada, ela poderá ser utilizada, desde que seja estável.
E m princípio, plantas regeneradas de culturas in vitro
são fenotípica e geneticamente idênticas à que lhes deu origem.
Entretanto, dependendo do meio de cultura, da idade das Referências
células, do genótipo, do efeito de luz e da temperatura, um ARIAS, J . ; F R E Y , K . J . Grain yield mutationa induced hy ethyl
surpreendente número de tipos diferentes pode ser observado. methanesulfonate treatment of oat seeds. Radial. Bot., v. 13, p. 73-85,
Larkin e Scowcraft (1981) cunharam o termo "variação 1973.
somaclonal" para descrever este tipo de variabilidade
A U E R B A C H , C. The chemical production of mutationa. Science, v. 158, p.
proveniente do cultivo in vitro. 1141-1147, 1967.
A variabilidade apresentada em plantas regeneradas A U E R B A C H , C ; ROBSON, L M . Report to the Ministry of supply.
de cultura de tecidos pode ser de natureza fisiológica, [S.l. : s.n.], 1942.
epigenética ou genética. As variações fisiológicas são as que
BORÉM, A.; A L M E I D A G. Plantas geneticamente modificadas. 2011.
ocorrem em resposta a dado estímulo, mas que desaparecem
Visconde do Rio Branco: Suprema Editora. 390 p.
quando este é removido. As variações epigenéticas estão
relacionadas com a regulação gênica e persistem mesmo após BORÉM, A.; F R I T S C H - N E T O , R. Biotecnologia aplicada ao
a remoção do estímulo, mas não são herdadas pela progénie melhoramento de plantas. 2013. Visconde do Rio Branco: Suprema
de origem sexual. As variações genéticas são herdáveis e Editora. 336p.

constituem material de interesse para o melhorista. BROCK, R.D. Mutagenesis and crop improvement. I n : CARLSON. P. S.
(Ed.). The biology of crop productivity. New York: Academic Press,
Entre as possíveis causas das variações somaclonais,
1980.
destacam-se crossing over somático entre cromátides-irmãs,
ativação de transposons, amplificação gênica, aberrações CHOUDHARY, D.K.; K A Y L , B . L . Gamma rays induced carly flowering
cromossômicas e alteração do cariótipo da espécie. Embora a mutant of celery (Apium graveolens L . var. Dulce). Mut. Breed.
origem da maioria das variações somaclonais seja Newsletter, v. 40, p. 8-9. 1993.
desconhecida, elas podem constituir importante fonte de C H R I S T O N , P.; FORD, T . L . ; KOFRON, M. Production of transgenic rice
variabilidade em casos específicos. (Oryza sativa L . ) plants from agronomically important Indica and
96 Borém e Miranda Variabilidade genética de novo 97

Japonica varicties via cletric discharge particle acceleration of exogenous L A R K I N , P . J . ; SCOWCROFT, W.R. Somaclonal variation: a novel source
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Herdabilidade 99

Pj= M +g +e i i + (ge) i

em que: P fenótipo observado;


i:

//: média geral;


g{. efeito do genótipo;

Herdabilidade e{. efeito do ambiente; e


(gé)f. efeito da interação genótipo x ambiente.

O conhecimento da magnitude do efeito do ambiente é


importante, u m a vez que o melhorista nem sempre pode prever
suas variações.
As diferenças nos valores fenotípicos são
A proporção genética da variabilidade total é deno-
condicionadas por fatores genéticos e a m b i e n t a i s e p e l a
m i n a d a h e r d a b i l i d a d e . No sentido r e s t r i t o , h e r d a b i l i d a d e i n t e r a ç ã o entre genótipos e ambiente. A s s i m , o v a l o r
é a proporção da v a r i a b i l i d a d e observada e m razão dos fenotípico é variável e seus componentes podem ser
efeitos aditivos dos genes. determinados por a n á l i s e de v a r i â n c i a , fazendo-se:
O conhecimento da v a r i a b i l i d a d e fenotípica,
r e s u l t a d o da ação conjunta dos efeitos genéticos e de _2 _ _ 2 , „2 , „2
ambiente, é de grande importância p a r a o m e l h o r i s t a n a a -ap e + a + <r
ê ge

escolha dos métodos de melhoramento, dos locais p a r a


condução dos testes de avaliação da produtividade e do O componente de variância u\ u m a medida das fontes
número de repetições, bem como n a predição dos ganhos
de variação não controláveis. Esse componente é geralmente
de seleção. O b v i a m e n t e , as variações de ambiente
denominado erro experimental ou variância de ambiente. O
ofuscam as de n a t u r e z a genética. Quanto maior for à
componente de variância <7g representa as diferenças entre
e
proporção da v a r i a b i l i d a d e decorrente do ambiente e m
relação à v a r i a b i l i d a d e total, m a i s difícil s e r á selecionar fenótipos causadas pela interação genótipo x ambiente. O
genótipos de f o r m a e f e t i v a . componente de variância a é causado pelas diferenças2g

genéticas entre os indivíduos. Se os genes expressam efeitos


Componentes da herdabilidade aditivos, o valor genotípico da característica em questão pode
ser aumentado ou reduzido pela substituição de u m alelo. Por
O fenótipo é o resultado da expressão gênica modificada exemplo, se A 1 A 1 apresenta altura de 60 cm, A 2 A 2 de 80 cm e
pelo ambiente. Algebricamente, o fenótipo pode ser expresso A 1 A 2 de 70 cm, isso significa que a presença de A 2 resulta em
por: uma alteração de 10 cm. Alguns genes expressam o efeito
100 Borém e Miranda Herdabilidade

dominante de forma que a presença de u m alelo resulta no proporção a d i t i v a da v a r i â n c i a genética, que pode ser
aumento do valor genotípico. Nesse caso, A 1 A 2 terá o valor de t r a n s m i t i d a p a r a a próxima geração.
80 cm em vez de 70 cm. Ainda pode ocorrer interação entre A herdabilidade v a r i a de acordo com as diversas
diferentes genes, o que se denomina epistasia. Por exemplo, características agronómicas. U m a das teorias é que as
A1A2 expressa efeito aditivo n a presença de B i B i , ou seja, 70, características que se desenvolvem em u m curto período
mas expressa efeito dominante diante de B 2 B 2 , ou seja, 80. estariam menos sujeitas ao ambiente e, dessa forma,
A s s i m , a variância genotípica (cr ,) pode ser subdividida em
2
apresentariam maior herdabilidade do que as sujeitas a maior
variâncias aditiva (cr^), de dominância (cr ) e epistática (cr ).
2D 2
período. Considere-se, por exemplo, a fenologia da aveia
apresentada n a F i g u r a 8.1.
Os valores de cada componente de variância podem ser
estimados experimentalmente: E n q u a n t o a produção de grãos é afetada pelo
ambiente d u r a n t e todo o ciclo da c u l t u r a , seu diâmetro é
Op = cr\ CT- + a] + c] +
D a2
determinado durante 25 a 30 dias e o comprimento, em
apenas oito dias. E s s a teoria advoga que, quanto menor o
No sentido amplo, a herdabilidac e ( H ou h ) pode 2
período fenológico de desenvolvimento de uma
2
ser definida como a razão da variância genotípica (a ) Ag
característica, maior é a herdabilidade. D e s s a forma, o
pela fenotípica (cr ), 2 isto é: comprimento do grão a p r e s e n t a r i a maior v a l o r de
herdabilidade do que o diâmetro, e este, maior do que a
produção de grãos.

| Produção de grãos I
95 dias
[Perfilhamentoi 1 Florescimento | |Peso de sementes;
No sentido r e s t r i t o , a h e r d a b i l i d a d e pode ser 14 dias 21 a 40 dias 30 dias
definida como a razão da v a r i â n c i a a d i t i v a pela l A l t u r a das plantas 1
fenotípica: 20 dias
I Comprimento do grão 1
8 dias
I Diâmetro do grão 1
25 a 30 dias
F i g u r a 8.1 - D i a g r a m a do ciclo fenológico da a v e i a .

Fatores que afetam a herdabilidade


A s estimativas de herdabilidade v a r i a m com: i) a
A h e r d a b i l i d a d e no sentido r e s t r i t o é m a i s útil,
característica; i i ) o método de estimação; i i i ) a diversidade na
uma vez que q u a n t i f i c a a importância r e l a t i v a d a
população; iv) o nível de endogamia da população; v) o
102 Borém e Miranda Herdabilidade 103

tamanho da amostra avaliada; vi) o número e tipo de O número de ambientes afeta a estimação da
ambiente considerados; v i i ) a unidade experimental herdabilidade, em razão da interação genótipo x ambiente.
considerada; e viii) a precisão n a condução do experimento e Além disso, a intensidade do estresse dos ambientes é
da coleta de dados. E n t r e os métodos de cálculo da importante. E s t i m a t i v a s obtidas em ambientes com
herdabilidade, alguns calculam-na no sentido restrito e condições adversas são diferentes daquelas calculadas em
outros, no sentido amplo. Entretanto, alguns geram condições ideais. Alguns melhoristas a f i r m a m que avaliações
estimativas intermediárias entre as duas. Populações conduzidas em ambiente com o mínimo de estresse permitem
formadas a partir de cruzamento de genitores divergentes a máxima manifestação da variabilidade genética e,
apresentam maior variabilidade e, consequentemente, maior consequentemente, a obtenção de maiores estimativas de
herdabilidade. E s s e grupo a f i r m a que os melhores genótipos
variância genotípica, tendendo a mostrar maiores valores de
em condições ideais também seriam superiores em ambiente
herdabilidade do que aquelas com menor variabilidade
com estresse. Outros acreditam que os melhores genótipos
( F i g u r a 8.2).
para u m ambiente com estresse não são os mesmos p a r a u m
ambiente de condições ideais, pois o controle genético é
diferenciado nas duas situações. Há evidências que suportam
ambas as teorias, embora sejam contrastantes. R a s m u s s o n e
G l a s s (1967) i l u s t r a r a m o efeito do número de repetições, ano
e localidade nas estimativas de herdabilidade de duas
características de cevada (Tabela 8.1).

N a T a b e l a 8 . 1 , observa-se que há b a i x a variabilidade


do conteúdo de nitrogénio n a população 2 e que o teste com
três repetições em dois locais permite ganho genético
satisfatório p a r a produtividade, enquanto três repetições em
u m local e u m ano são suficientes p a r a o conteúdo de
nitrogénio. E s s e s dados demonstram que a herdabilidade não
i— i i r i i—i r
é u m a característica estática, porém v a r i a conforme u m a
1 2 3 4 5 6 7 8 9
série de fatores, entre eles a população, a geração
F i g u r a 8.2 - Relação entre h e r d a b i l i d a d e , e x p r e s s a em
considerada, o ambiente, a unidade experimental n a qual os
desvio-padrão, e v a r i â n c i a genética p a r a
dados p a r a se estimar a herdabilidade são coletados etc.
d i a s de florescimento de l i n h a g e n s de a v e i a
de 22 c r u z a m e n t o s . A herdabilidade pode ser estimada com base em dados
de u m a única planta, em u m a parcela, ou com base n a média
A s estimativas de herdabilidade são feitas em da parcela. Por exemplo, a herdabilidade para acamamento
amostras da população, portanto seu tamanho e representa- em soja é extremamente b a i x a quando estimada em dados de
tividade afetam os valores obtidos. u m a planta e alta com base n a média das parcelas.
104 Borém e Miranda Herdabilidade 105

Tabela 8.1 - E s t i m a t i v a s de herdabilidade p a r a a produtivi- Analisando o numerador e o denominador da fórmula,


dade de grãos e conteúdo de nitrogénio em duas verifica-se que o elevado número de ambientes e repetições
populações de cevada, testadas em seis diferen- contribui para o aumento dos valores estimados da
tes situações herdabilidade.

Produtividade de Nitrogénio
Tipo de Teste População
Grãos (bushel/acre) (%) Métodos para estimação da herdabilidade
1 repetição e 1 local 1 17,2 47,9
A escolha do método de cálculo da herdabilidade
2 17,6 4,7
depende dos recursos genéticos disponíveis e da finalidade da
2 repetições e 1 local 1 26,7 57,9 estimativa. E n t r e os principais, podem-se citar: método da
2 26,1 7,6 herdabilidade realizada, método da regressão pai-filho,
3 repetições e 1 local 1 32,8 62,3 método dos componentes de variância, método de estimação
2 31,1 9,5 indireta da variação de ambiente e método de estimativa por
3 repetições e 2 locais 1 47,7 75,4 retrocruzamento. E m b o r a outros métodos estejam descritos
2 42,7 13,7 na l i t e r a t u r a , seu emprego dá-se em situações específicas.

3 repetições e 2 anos 1 49,4 75,3


2 44,4 16,3 Método da herdabilidade realizada
3 repetições, 2 anos e 1 64,6 84,9 Frequentemente, o melhorista trabalha com
2 locais 2 57,3 22.5 populações selecionadas para diversos caracteres.
Fonte: R A S M U S S O N : G L A S S , 1967. E x p e r i m e n t o s com seleção, conduzidos em u m a a m o s t r a
r e p r e s e n t a t i v a de ambientes, podem fornecer informações
A condução criteriosa da avaliação da população resulta p a r a estimação da herdabilidade.
em menor erro experimental e, por conseguinte, em maior
A herdabilidade de u m a característica pode ser
herdabilidade. De igual forma, a precisão n a coleta dos dados
estimada com base n a proporção do ganho genético em
refletirá n a magnitude das estimativas de herdabilidade.
relação ao diferencial de seleção:
A h e r d a b i l i d a d e c a l c u l a d a com base n a média das
p a r c e l a s pode ser obtida pela fórmula:

em que:
R: resposta à seleção ou ao ganho genético; e
D: d i f e r e n c i a l de seleção.

em que:
O diferencial de seleção (D) é a diferença entre a
r: r e p r e s e n t a o número de repetições; e
média dos indivíduos selecionados e a média da população.
1: o número de ambientes.
106 Borém e Miranda Herdabilidade 107

A T a b e l a 8.2 i l u s t r a o uso do método da


em que:
h e r d a b i l i d a d e com a seleção r e a l i z a d a em soja p a r a a l t u r a
F4: média de a l t u r a da p r i m e i r a v a g e m de todas
da p r i m e i r a v a g e m n a geração F3 e a resposta à seleção
as p l a n t a s n a geração F4; e
n a geração F4.
F4s: média de a l t u r a da p r i m e i r a v a g e m das
p l a n t a s o r i u n d a s do grupo selecionado em Fa.
T a b e l a 8.2 - Médias de a l t u r a d a p r i m e i r a v a g e m (cm) em
duas populações de soja, n a s gerações F.i e A h e r d a b i l i d a d e r e a l i z a d a pode ser e s t i m a d a como
F4, obtidas nos anos agrícolas 1992/93 e se segue:
1993/94
R_
F* F 4 D
População N n População Seleção População Seleção S u b s t i t u i n d o R e S, tem-se:
Cristalina x Doko 90 15 10 15 11 13
Uberaba x Paraná 90 15 9 13 10 12 "F
h 2= 4S F
4

F 3 S "F 3

V e r i f i c a - s e n a T a b e l a 8.2 que o d i f e r e n c i a l de
seleção n a geração F.T é: P a r a a população do c r u z a m e n t o C r i s t a l i n a x Doko,
tem-se:
D= Fss-Fn
h 2 = ^ 0 , 4 0
15-10
em que:
P a r a a população do cruzamento Uberaba x
Fs: média de a l t u r a d a p r i m e i r a v a g e m de todas as
P a r a n á , tem-se:
p l a n t a s n a geração F,i; e
F3S: média de a l t u r a da p r i m e i r a v a g e m dos 15
indivíduos selecionados. 12- 10
0,50
O ganho genético, ou resposta à seleção R, é 13- 9
estimado por:
A herdabilidade pode t a m b é m ser c a l c u l a d a em
experimentos de seleção divergente, em que se selecionam
R = F4S-F4
os dois extremos da distribuição da população. A
herdabilidade r e a l i z a d a é c a l c u l a d a pela diferença de
médias entre os grupos selecionados em u m a geração,
108 Borém e Miranda Herdabilidade 109

d i v i d i d a pela diferença de médias entre os grupos r 4BAIXO : média de a l t u r a da p r i m e i r a vagem n a


geração F4 das progénies do subgrupo baixo
selecionados da geração anterior.
n a geração F3;
Considere-se a seleção p a r a a l t u r a da p r i m e i r a vagem
F3ALTO: média de a l t u r a da p r i m e i r a v a g e m n a
em soja, cujos dados experimentais estão apresentados n a
geração F3 das plantas com maiores valores; e
Tabela 8.3. E m cada população, foram formados dois grupos:
grupo alto, de plantas com maior a l t u r a da p r i m e i r a vagem; F3BAIXO: média de a l t u r a da p r i m e i r a v a g e m n a
geração F3 das p l a n t a s com menores
e grupo baixo, de plantas com menor a l t u r a da p r i m e i r a
valores.
vagem.

Tabela 8.3 - Médias da a l t u r a da p r i m e i r a vagem (cm) de U m a das limitações p a r a a obtenção da herdabilidade


duas populações de soja, nas gerações F3 e F4, é a necessidade de avaliação dos genótipos em dois anos
obtidas nos anos agrícolas 1992/93 c 1993/94, agrícolas, além de, n a maioria dos casos, os dados disponíveis
no município de Viçosa, M G se referirem a u m a única localidade, não permitindo o
expurgo da interação genótipo x ambiente.
F 3 F 4

Diferencial de Seleção Ganho Genético Método da regressão pai-filho


População N n Grupo Grupo Grupo Grupo
Baixo Alto Baixo Alto A e s t i m a ç ã o d a h e r d a b i l i d a d e pela regressão dos
dados dos filhos sobre os dados dos genitores é
Cristalina x Doko 90 35 2,5 8,0 1,4 1,3
r e l a t i v a m e n t e s i m p l e s : consiste em a v a l i a r as c a r a c t e r í s -
Uberaba x Paraná 90 35 2,3 7,0 1,2 1,0 t i c a s em u m grupo de p l a n t a s de u m a geração e depois
n: n ú m e r o de p l a n t a s nos subgrupos alto e baixo, n a s g e r a ç õ e s F 3 e F 4 . avaliá-las n a geração seguinte. C a l c u l a - s e , então, o g r a u
de associação entre as c a r a c t e r í s t i c a s a v a l i a d a s nos
Pelos dados da t a b e l a a n t e r i o r , pode-se c a l c u l a r a genitores e n a s progénies correspondentes, u t i l i z a n d o
análise e s t a t í s t i c a do tipo regressão ( F i g u r a 8.3).
h e r d a b i l i d a d e da seguinte f o r m a :
125
u2 _ F4ALTO F4 B A I X O
100 -
11
^3ALTO "ABAIXO '5 75 -
'ao 50 -
£
0,
25 « ^ " ^
em que: EH
0

F4AI,TO: média da a l t u r a da p r i m e i r a v a g e m n a 1 2 3 4
Xi (Genitor)
geração F4 das progénies do subgrupo alto
n a geração F3;
F i g u r a 8.3 - R e g r e s s ã o dos descendentes, em relação aos
genitores, quanto à a l t u r a de p l a n t a .
110 Borém e Miranda Herdabilidade 111

O modelo l i n e a r que r e p r e s e n t a a associação entre K i n m a n (1965). N a Tabela 8.4 se apresentam, de forma


as c a r a c t e r í s t i c a s n a s duas gerações é dado por: resumida, os fatores de correção do coeficiente de regressão
para algumas gerações de autofecundaçao.
Yi = a + bXi + e i ~

em que: Tabela 8.4 - Fatores de correção do coeficiente de regressão


YÍ: valor da característica n a progénie do p a i i (b) p a r a gerações de autofecundaçao
(variável dependente); 2
Geração Pai-Filho Fator de Correção
a: valor médio de todos os pais p a r a a característica; h Corrigida
b: coeficiente d a regressão; Fi -F2 1 lb

X Í : valor da característica no p a i i (variável F2-F3 2/3 (2/3)b

independente); e F3-F4 4/7 (4/7)b


F4-F5 8/15 (8/15)b
ei: erro experimental associado ao Y i .
Fs-Fs 16/31 (16/31)b

S X Y _ £(Xi-X)(Yi-Y) _ ô
IX I(Xi-X) ò
E m u m a população de plantas alógamas, acasaladas ao
2 2

acaso, o genitor masculino é a própria população e, portanto,


não pode ser avaliado. A regressão, nesse caso, é realizada
_ COV(X,Y)
com as características das progénies meias-irmãs com os
b

V(X) valores das características do genitor feminino. A s s i m , pelo


coeficiente de regressão, estima-se a metade da herdabilidade,
Os genitores avaliados devem c o n s t i t u i r u m a
ou seja, b = ¥2 h . P a r a se estimar a herdabilidade, ou seja,
2
a m o s t r a r e p r e s e n t a t i v a d a população total, p a r a que as
b = h , os dados são coletados de ambos os genitores, por meio
2
e s t i m a t i v a s t e n h a m significado como u m todo.
da regressão da progénie sobre o p a i médio. A s progénies
P a r a a maioria das espécies autógamas, os procedi- avaliadas nesse caso são irmãs completas, u m a vez que os
mentos mais frequentes são a avaliação de u m a amostra de genitores são acasalados aleatoriamente n a população.
linhagens de determinada geração, a obtenção de sementes Apenas as variâncias genética aditiva e epistática aditiva são
resultantes da autofecundaçao e o plantio destas para obtenção incluídas n a covariância pai-filho; dessa forma, a estimativa
e avaliação das progénies. Pelo valor do coeficiente de regressão obtida representará a herdabilidade no sentido restrito se a
(b), estima-se a herdabilidade (h ), isto é: b = h . Estimativas
2 2
variância epistática for desprezível.
obtidas dessa forma, especialmente nas gerações F 2 e F 3 , são
A s estimativas obtidas com esse método consideram: i)
consideradas de sentido amplo, em virtude de a covariância pai-
herança diploide mendeliana; ii) população em equilíbrio de
filho incluir componentes de variância aditivos, de dominância
ligação; iii) genitores não endogâmicos; i v ) ausência de
e epistáticos.
correlação de ambiente entre genitores e progénies; e v)
A s estimativas obtidas com genitores endogâmicos acasalamento ao acaso.
superestimam a herdabilidade, como demonstraram S m i t h e
112 Borém e Miranda Herdabilidade 113

Rasmusson et a l . (1964), que estudaram o acúmulo de r e c o m e n d a r a m a estandardização dos dados p a r a a


estrôncio (Sr) em cevada nas gerações F 2 e F 3 , apresentaram eliminação do problema de e s c a l a e p r o p u s e r a m que os
u m exemplo do cálculo da herdabilidade com base n a dados fossem expressos em u n i d a d e s de desvio-padrão.
regressão pai-filho.
Cento e dezenove plantas F 2 resultantes do
Método dos componentes de variância
cruzamento entre os c u l t i v a r e s de cevada K e n y a 117A e
Cadet foram analisadas quanto ao conteúdo de estrôncio ( S r ) . A estimação da herdabilidade com base nos
Apenas u m a amostra dos dados é apresentada n a Tabela 8.5. componentes de variância é u m método que permite ao
melhorista a utilização de dados normalmente disponíveis
Tabela 8.5 - Conteúdo de estrôncio em grãos de c e v a d a da em u m programa de melhoramento, como os dados das
população K e n y a 117A x C a d e t linhagens de u m cruzamento que se encontram em avanços
de geração. E s s e método permite também que o melhorista
F 2 Fa 1 F 2 F 3
estime os componentes de variância por intermédio de u m
110 117 134 122 dos delineamentos de acasalamento. Cada delineamento
112 109 124 92 difere quanto ao m a t e r i a l genético avaliado, o que determina
148 128 116 93 os tipos de variância que podem ser estimados.
99 107 137 121 Três exemplos serão utilizados p a r a i l u s t r a r a
127 97 133 112 obtenção de estimativas de herdabilidade com espécies
87 78 95 104 autógamas em diferentes situações:
106 93 102 87
E x e m p l o 1 - Experimento em blocos ao acaso envolvendo
95 87 69 92 genótipos avaliados em u m a localidade, com repetições
1 Média de quatro plantas. (Tabela 8.6).
Observando os dados da t a b e l a a n t e r i o r , tem-se:
Tabela 8.6 - Análise de variância de experimento
COV(F ,F )
2 3
envolvendo l i n h a g e n s a v a l i a d a s em u m a
V(F )2 localidade, com repetições

b = 0,30 «=> h 2 =30% Fontes de Variação GL QM E (QM)


Blocos (B) b-1 - -
Quando os genitores são a v a l i a d o s em u m a geração
Genótipos (G) (g-D QM3 2 2
e a s u a progénie em o u t r a , as diferenças de ambiente
entre as duas épocas de plantio podem a l t e r a r a Repetição (R) (r-1) 2 2
a m p l i t u d e de variação da progénie em relação à Resíduo (G x R) (g-l)(r-l) QMi
a p r e s e n t a d a pelos genitores. Quando isso acontece,
valores de b maiores do que a unidade podem ocorrer, o Analisando os componentes de variância
que não tem sentido biológico. F r e y e H o r n e r (1957) pertinentes, chega-se às expressões seguintes:
114 Borém e Miranda Herdabilidade 115

à\ Q M i i 2 _QM -QM
3 2

a; = QM t Ô
ar
a
* r _2 QM - QM 2 :

E n t ã o , pode-se obter a e s t i m a t i v a da h e r d a b i l i d a d e :

a) com base n a s p a r c e l a s Pode-se e s t i m a r a h e r d a b i l i d a d e da seguinte f o r m a :


i.2

a) com base nas p a r c e l a s

b) com base n a média dos genótipos


h 2 =

b) com base n a média de genótipos

E x e m p l o 2 - E x p e r i m e n t o em blocos ao acaso envolvendo


genótipos, ambientes e repetições ( T a b e l a 8.7).

T a b e l a 8.7 - Análise de variância de experimento envolvendo E x e m p l o 3 - Avaliação de 95 linhagens de feijão


linhagens, localidades e repetições (genótipos) n a geração F4, provenientes do c r u z a m e n t o de
duas v a r i e d a d e s homozigóticas a v a l i a d a s em duas
Fontes de Variação GL QM E (QM) localidades, d u r a n t e dois anos, em delineamento ao acaso,
com duas repetições (Tabela 8.8).
Ambientes (A) (a-1) QM 5

Blocos/A a(r-l) QM 4
A n a l i s a n d o os componentes de v a r i â n c i a perti-
Genótipos (G) nentes, chega-se a:
(g-D QMs c^+rc£+ara*
G xA (g-D(a-l) QM 2 .2 _QM -QM 4 5

Resíduo (g-D(r-l)a QMi


A G L A " 7,05

*2 Q
VM^ 3 - QM,
3

2,32
_
<*GL

A n a l i s a n d o os componentes de v a r i â n c i a p e r t i n e n - ra
tes, chega-se a:
QM -QM, 2

'GA 1,65
ri
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T a b e l a 8.8 - Análise de variância de produtividade de grãos em u m a população de feijão
Fontes de Variação GL QM E(QM)
(B/A) L aZ(r-l) =1 -
Ano (A) (a-1) =1 - ^ 2 + ^GLA gOB rga^+rla5 + + A +rgla^
Localidade ( L ) (l-l) =1 - A 2 + R ^GLA g^B rgO"L + + + R A ^GL +mot
Genótipos (G) (g-1) =94 Q M i = 81,74 °l + r O LA
G + r | 0 A
G + R A ° " G L + R A L ^ G
AxL (a-l)(M)=l -
GxA ( g - l ) ( a - l ) =94 QM 2 = 36,22 o-e ^GLA rla + + G A
GxL (g-l)(M)=94 QMs = 33,54 <*e <*GLA raC7c
+R + L
G x L x A ( g - l ) ( M ) ( a - l ) =94 QM 4 = 42,82
Resíduo aZ(g-l)(r-l) =375 QMn = 28,72 a 2
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T a b e l a 8.9 - Análise de variância de dialelo meia-tabela, incluindo somente os F i
E(QM)
Fontes de Variação GL E(QM)
Expressa em Covariância entre
Parentes
Repetição (r-1)
Cruzamentos [n(n-l)/2]-l
CGC* (n-1) a e + r ^ C E C + r ( n " 2)ac G C o* + r[cov(IC)-2cov(MI)]+r(n-
2)cov(MI)
CEC n(n-3)/2 o^+ r[cov(IC)-2 cov(MI)]
°e rOCEC+
Resíduo (r-l){[n(n-l)/2]-l} o
C G C : c a p a c i d a d e g e r a l d e combinação e C E C : c a p a c i d a d e específica d e combinação.
T a b e l a 8.10 - Análise de variância de dialelo meia-tabela, incluindo F i e recíprocos
Fontes de Variação GL E(QM)
Repetição (r-1)
Cruzamentos n(n-l) - 1
CGC* (n-1) a +2io
2e 2ChC +2r(n-2)o 2CGC
CEC n(n-3)/2 °e + 2 r a CEC
Efeito recíproco n(n-l)/2 o +2vo
2e 2R
Resíduo (r-l)[n(n-l)-l]
* C G C : capacidade geral de combinação e C E C : capacidade específica de combinação.
Tabela 8.11 - Análise de variância de dialelo completo, mcluindo-se F]_'s recíprocos e genitores
Fontes de Variação GL E(QM)
Repetição (r-1)
Genótipos (n -l)
2
Genitores (P) (n-1) o-e +roi
2
Cruzamentos (C) n(n-l)-l
PxC 1
2 2(ll-l) 2 2
CGC (n-1)
N
+ 0"cEC + 2 n a CGC
2 ^ 2 ( n - n + l) „
% 2
CEC n(n-3)/2
n
Efeito recíproco (n-l)(n-2)/2
Resíduo (r-l)(n -l)2
* C G C : capacidade geral de combinação e C E C : capacidade específica de combinação.
122 Barém e Miranda Herdabilidade 123

Método de estimação indireta da variação de M a h m u d e K r a m e r (1951) t a m b é m d e s c r e v e r a m


ambiente u m método s i m i l a r de estimação da v a r i â n c i a de
ambiente, sugerindo a utilização da média geométrica das
A h e r d a b i l i d a d e pode ser e s t i m a d a quando se
v a r i â n c i a s dos genitores e indivíduos F i .
q u a n t i f i c a m a variação de ambiente e a variação genética.
E m 1975, K e l l y e B l i s s d e s c r e v e r a m u m método p a r a
e s t i m a t i v a d a variação de ambiente por meio da avaliação Método de estimativa por retrocruzamentos
dos genitores e da geração F i . Os dados u t i l i z a d o s por E s t e método, proposto por W a r n e r (1952), estima a
esses autores são apresentados n a Tabela 8.12. E s t e herda-bilidade no sentido restrito, conforme o esquema a
método e s t i m a a h e r d a b i l i d a d e no sentido amplo. E m seguir:
g e r a l , esta e s t i m a t i v a é s u p e r e s t i m a d a , em v i r t u d e da
a u s ê n c i a de diferentes ambientes d u r a n t e as avaliações. Pi x P 2

i
Tabela 8.12 - Conteúdo proteico do feijão
Pi x Fi x P 2

Número de
1 l* i
Genótipos % de Proteína A-2
Plantas RCi F 2 RCi

B B L 240 48 28,1 2,86


-2a F i -a R C l -a R C 2

P I 207 227 23 21,5 0,91


Fi 23 24,7 1,63
F 2 146 25,8 5,82 em que:
Fonte: K E L L Y ; B L I S S , 1975. ôp,: variâncias entre indivíduos F 2 ; e
ô RCi e ôp : variâncias
C] entre indivíduos R C i , dos
Observando o quadro a n t e r i o r , v e r i f i c a - s e que:
r e t r o c r u z a m e n t o s do híbrido F i com os
£ 2 _ Õ"BBL240 + frpi207227 + QPL _ 5^4 genitores P i e P2.
3 3
A l i t e r a t u r a científica r e p o r t a vários outros
àl = 1,8
métodos para estimação da herdabilidade, que
i.2 _ A 2 , -2 a p r e s e n t a m c a r a c t e r í s t i c a s que os t o r n a m indicados p a r a
o> - cr + a
2 e g
situações específicas, os quais, portanto, não serão
discutidos neste capítulo.
P a r a e s t i m a r a h e r d a b i l i d a d e , faz-se então:
oí-ot 4,02
2 . — °> 6 9
Considerações finais
A s e s t i m a t i v a s de herdabilidade e de componentes
Op s 5> 8 2

h = 69%
a de variância podem orientar o m e l h o r i s t a d u r a n t e as três
fases p r i n c i p a i s de u m programa de melhoramento: i)
124 Borém e Miranda Herdabilidade 125

criação da v a r i a b i l i d a d e genética; ii) seleção de indivíduos contribua p a r a a obtenção de estimativas que se aproximem
superiores n a população segregante; e i i i ) utilização dos do valor real.
indivíduos selecionados no programa.
E igualmente importante r e s s a l t a r que os compo-
E m geral, u m a das p r i m e i r a s preocupações do
nentes de variância e herdabilidade estimados somente se
melhorista é a existência de v a r i a b i l i d a d e genética no
a p l i c a m à população que lhes deu origem e às condições de
germoplasma. Posteriormente, ele p r e c i s a i d e n t i f i c a r o
ambiente estudadas. Q u a l q u e r generalização além desses
germoplasma com maior potencial p a r a o desenvolvimento
l i m i t e s pode r e s u l t a r em erro. A s s i m , experimentos com a
de novos c u l t i v a r e s , o tipo de c u l t i v a r (híbrido, l i n h a p u r a ,
finalidade de obter e s t i m a t i v a s de herdabilidade devem
sintético, m u l t i l i n h a ) e o método de melhoramento m a i s
ser conduzidos em u m a amostra de ambiente, no q u a l as
indicado de acordo com o objetivo do trabalho. A escolha do
e s t i m a t i v a s serão aplicadas. Neste caso, as e s t i m a t i v a s da
germoplasma p a r a início do programa de melhoramento
variância genética não serão inflacionadas pelos
em geral é baseada em testes regionais de competição de
componentes da variância em v i r t u d e da interação G x A ,
c u l t i v a r e s . Obviamente, o m e l h o r i s t a e s t a r á interessado
em t r a b a l h a r com m a t e r i a l genético que apresenta componentes que estarão incluídos n a variância fenotípica.
v a r i a b i l i d a d e e alto desempenho. E s s e problema é facilmente v i s u a l i z a d o nas Tabelas 8.13 e
8.14. Se u m único ano e local fossem utilizados, n a
A escolha do método de melhoramento m a i s estimação da variância genética seriam inclusos
apropriado e do tipo de c u l t i v a r a ser lançado depende do O " G L A ' CT| e cr| , além de a
l A . 2G

modo de reprodução da espécie e da magnitude r e l a t i v a


das variâncias genéticas a d i t i v a e não a d i t i v a . Pode-se c a l c u l a r a e s t i m a t i v a de herdabilidade,
P a r a separação das variâncias a d i t i v a , dominante e utilizando vários anos e locais, pela equação a seguir:
epistática, é necessária a utilização de delineamentos de
acasalamento apropriados. Os delineamentos I , I I e I I I de
Comstock e Robinson (1952) e o dialelo podem ser
utilizados p a r a partição das variâncias a d i t i v a e não
aditiva.
Frequentemente, o melhorista encontra valores nega-
tivos, sem significado estatístico ou biológico, quando estima A estimativa da herdabilidade p a r a predição de ganho
os componentes de variância. E s s e s valores geralmente genético, utilizando-se u m único ano e local, com base em
ocorrem quando se estima u m componente de variância de duas repetições, pode ser computada como se segue:
pequena magnitude associado a grande erro experimental. O
valor mais aproximado de u m componente de variância é i.2 • * 2 ,*2 , * 2

conseguido por meio da média de diversas estimativas p a r a a h 2 = aG °(;LA °GL °GA


+ + +

+à2GA+ò2J2
A 2 , * 2 . * 2
característica em estudo, obtidas em repetidos experimentos. °G <*GLÂ OGL
+ +

E m b o r a u m a estimativa negativa não tenha significado, ela


deve ser reportada p a r a que o acúmulo de informações
126 Borém e Miranda Herdabilidade 127

T a b e l a 8.13 - Análise de variância p a r c i a l p a r a experimen- A magnitude dos componentes de variância também


to conduzido em vários anos e locais pode servir de orientação quanto ao tipo de c u l t i v a r a ser
lançado. Quando a razão da variância de dominância em
Fontes de Variação GL E (QM) relação à variância aditiva for superior à unidade ou quando
altos valores dos componentes de variância epistática
° ' vl rok* °GA GL c
envolvendo dominância forem obtidos, os c u l t i v a r e s híbridos
C e n Ó t Í p (g 1} + + r l + raa + r a l a

Genótipo x Local (g-l)(M) 0 * + ^ + T S L a ^


devem ser os preferidos. Todavia, a decisão f i n a l quanto ao
Genótipo x Ano (g-D(a-l) Q 2 + R < J 2 ^ + D ( J 2 ^
uso de c u l t i v a r e s híbridos baseia-se no grau de heterose
presente n a espécie e no custo de produção da semente
Ano híbrida.
Resíduo (r-l)(n-l)Za A 2 A escolha do método de melhoramento deve ser
r: n ú m e r o de r e p e t i ç õ e s ; g: n ú m e r o de genótipos; l; n ú m e r o de localidades; e a: fundamentada no ganho genético, por unidade de tempo e
n ú m e r o de anos. recursos.
A fórmula geral p a r a predição de ganho genético é
Tabela 8.14 - Análise de variância p a r c i a l p a r a e x p e r i - apresentada como se segue:
mento conduzido em u m único ano e local

Fontes de GL E (QM) G = ia h
p 2

Variação
Genótipo fe-l) em que:
Resíduo (r-D(g-l) G : ganho esperado;
i : i n t e n s i d a d e de seleção em desvio-padrão;
r: número de repetições e g: número de genótipos. a : desvio-padrão fenotípico; e
P

h := herdabilidade.
2

O numerador da equação anterior encontra-se


superestimado pelos fatores ^ G L A ^ G L ^GA> que não podem + +
F i n a l m e n t e , deve-se considerar a seguinte questão: a
herdabilidade deve ser estimada? A resposta m a i s segura
ser separados de ÔQ quando o experimento é conduzido em u m p a r a esta questão é "depende", pois há inúmeras situações
único ano e local. em que a herdabilidade precisa ser estimada, como no caso
E m b o r a o melhorista em geral faça a seleção com base de u m a nova característica sobre a q u a l não se dispõe de
em dados de u m ano e u m local, é necessário que utilize mais informações. Quando as características agronómicas j á são
do que u m ano e u m local p a r a estimar a herdabilidade, se a conhecidas pelos melhoristas e as e s t i m a t i v a s j á estão n a
interação G x A for significativa. Conclui-se, portanto, que as l i t e r a t u r a , em geral não se e s t i m a m tais parâmetros.
estimativas de herdabilidade devem ser, tanto quanto Nos casos de se reportarem estimativas de
possível, expurgadas da interação G x A e que a herdabilidade, os valores devem ser acompanhados da
herdabilidade deve ser computada p a r a a unidade de seleção descrição da população, dos ambientes e da unidade de seleção
(planta, parcela ou média de parcelas). (planta, parcela ou média das parcelas) a que as estimativas se
aplicam. Herdabilidades baseadas em grande númeríi de
128 Borém e Miranda Herdabilidade 129

ambientes e repetições têm pouca utilidade, uma vez que FALCONER, D.S. Introdução à genética quantitativa. Viçosa, MG:
UFV, Impr. Univ., 1981. p. 279.
estimativas próximas da unidade são obtidas, para a maioria
das características agronómicas, por meio de extensivo uso de F R E Y , K J . ; HORNER, T. Heritability in standard units. Agron. Jour..
v. 49, p. 59-62, 1957.
ambientes, anos e repetições.
G I L I O L I , J.L..; SEDTYAMA, T.; SILVA, J . C . ; THIÈBAUT, J . T . L . ; R E I S ,
M.S. Estimativas de herdabilidade e de correlações fenotípicas para alguns
caracteres, em quatro m utentes naturais em soja. Pesq. Agropec. Bras.,
Referências Brasília, v. 15, p.379-384, 1979.

B A K E R , R . J . Issues in diallel analysis Crop Sei., v. 18, p. 533-536, 1978. G R I F F I N G , B. Concept of general and specific combining ability in relation
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Interação
Genótipo x Ambiente

A s condições edafoclimáticas, associadas a práticas


culturais, à ocorrência de patógenos e outras variáveis que
afetam o desenvolvimento das plantas, são coletivamente
denominadas ambiente. E m outras palavras, o ambiente é
constituído de todos os fatores que afetam o desenvolvimento
das plantas que não são de origem genética.
Historicamente, a agricultura tem evoluído para uma
situação de maior controle das condições de ambiente. A
agricultura moderna apoia-se no uso de fertilizantes, no
controle de plantas daninhas e de insetos, na suplementação
de irrigação e, em alguns casos, no uso de casa de vegetação
climatizada. Embora alguns dos fatores climáticos variem
inconsistentemente, como temperatura, chuva, umidade
relativa e nebulosidade, há possibilidade de se preverem
essas variáveis no curto e médio prazos.
É óbvio que um cultivar de soja com alto potencial de
produção de grãos na região central do Brasil não seria tão
produtivo em condições de clima temperado, como na região
central da Argentina. Cultivares recomendados em
diferentes ambientes podem ter desempenhos relativos
distintos, isto é, um cultivar pode ser extremamente
132 Borém e Miranda Interação genótipo x ambiente 133

produtivo em um ambiente, enquanto um segundo cultivar se preferir situações de pequena interação G x E e, no


mais adaptado a outro ambiente não sobressai neste. Por segundo, de grande interação G x E . Se um cultivar é
exemplo, o crescimento de uma espécie em solos de alta superior em ambientes muito específicos, mas apresenta
fertilidade pode ser limitado pela capacidade de absorção do comportamento medíocre em outros, ele será de pequeno
sistema radicular, ao passo que em condições de baixa valor se as condições especiais por ele requeridos não forem
fertilidade o crescimento pode ser atribuído à eficiência na prevalecentes.
utilização dos nutrientes, o que resulta no desempenho Duas plantas na mesma parcela experimental, nas
diferenciado dos genótipos. mais uniformes condições, estão sujeitas a diferentes
A alteração no desempenho relativo dos genótipos, em ambientes, denominados microambientes. O termo
virtude de diferenças de ambiente, denomina-se interação macroambiente é utilizado para distinguir ambientes de
genótipo x ambiente (G x E ) . A Figura 9.1 apresenta três duas regiões ou de dois anos agrícolas. O macroambiente é,
situações que permitem ilustrar a ocorrência da interação G na verdade, constituído por uma população de
x E . Na situação 1, não ocorre interação G x E , uma vez que o microambientes. A complexidade do ambiente é ainda mais
ambiente promove a mesma alteração nos cultivares A e B. evidente quando se considera que apenas uma parte da
Nas situações 2 e 3, a variação no comportamento dos interação G x E pode ser atribuída a fatores de ambientes
cultivares A e B foi diferente com a alteração de ambientes, conhecidos.
caracterizando a ocorrência da interação G x E . A interação G x E é um importante e desafiante
fenómeno para melhoristas e agrónomos que atuam nos
situação 1 situação 2 situação 3 testes comparativos e na recomendação de cultivares.
Quanto maior a diversidade genética entre os genótipos e
entre os ambientes, de maior importância será essa
interação.
Bradshaw (1965) descreveu as respostas diferenciais
de genótipos a diferentes ambientes por meio da plasticidade
fenotípica. As plantas podem-se ajustar à variação no seu
I II I II I II ambiente pela' plasticidade fenotípica, que é inversamente
Figura 9.1 - Comportamento hipotético dos cultivares A e B, proporcional a sua heterozigose. De acordo com essa
nos ambientes I e I I , em três situações distintas. afirmação, elas podem apresentar o efeito "tamponante" em
duas situações: i) quando o cultivar é composto por um
número de genótipos e cada um deles é adaptado a um
A resposta fenotípica de cada genótipo às variações de microambiente em particular; e ii) quando os indivíduos são
ambiente é, em geral, diferente e reduz a correlação entre o "tamponados" de forma que cada membro da população se
fenótipo e o genótipo. A primeira preocupação que se deve ter adapte bem a vários ambientes.
uo iniciar um programa de melhoramento é definir se o
objetivo é o desenvolvimento de cultivares produtivos em um A avaliação de genótipos em diferentes anos e
amplo espectro de ambientes ou de um cultivar altamente localidades, com relação à maioria das características
adaptado H ambientes específicos. No primeiro caso, devem- agronómicas, frequentemente evidencia interações genótipo
134 Borém e Miranda Interação genótipo x ambiente 135

x localidade (G x L ) , genótipo x ano (G x A) e genótipo x Fatores imprevisíveis


localidade x ano (G x L x A). Para certas características,
como dias para o florescimento, a importância das interações • Distribuição pluviométrica
G x A em relação ao efeito genotípico é em geral menor. Com • Umidade relativa do ar
frequência, G x A é maior que G x L , embora a diferença em • Temperatura atmosférica e do solo
magnitude entre as duas dependa dos efeitos que contribuem
para G x L . Parece lógico que a interação G x L , se as • Patógenos
localidades estão restritas a uma região menor, seja menos • Insetos
importante que a interação G x A. E m diversas situações, a
interação G x A é maior que G x L e G x L x A .
Uso das informações sobre a interação
Se a interação G x E for significativa, o melhorista
precisa adotar critérios para a interpretação dos dados, pois
genótipo x ambiente
é especialmente importante saber se a interação resultou da Alocação de recursos nos ensaios comparativos
alteração na ordem de mérito dos genótipos de um ambiente
para outro ou de uma simples alteração na magnitude das Os testes de avaliação de produtividade constituem
diferenças entre os genótipos. uma das fases mais onerosa dos programas de
melhoramento. O alto custo desses testes tem levado os
Principais causas da interação melhoristas a buscar maneiras de maximizar a eficiência de
avaliação, e uma delas é a otimização da alocação dos
genótipo x ambiente recursos.
Conforme mencionado, a lista de fatores de ambiente Para essa otimização, devem-se estimar os valores de
que podem afetar o desenvolvimento fenológico das plantas é 2 2 2 2
extremamente vasta. Dentre esses fatores, os mais comuns < T e' c r GLA>P C Te i o da avaliação de um grupo de
GL e a G A » o r m

causadores da interação G x E são os seguintes: genótipos representativos do seu germoplasma em quatro ou


mais localidades, por dois ou mais anos, utilizando o
Fatores previsíveis delineamento estatístico normalmente usado em avaliações,
com três ou mais repetições.
• Fotoperíodo A otimização da alocação do número de repetições, de
• Tipo de solo localidades e de anos de avaliação é baseada na importância
• Fertilidade do solo relativa das interações genótipo x localidade, genótipo x ano
e genótipo x localidade x ano.
• Toxicidade por alumínio
O poder de detecção de diferenças significativas entre
• Época de semeadura genótipos aumenta com a redução da variância da média dos
• Práticas agrícolas genótipos e, consequentemente, da diferença mínima
significativa (DMS).
136 Borém e Miranda Interação genótipo x ambiente 137

A variância da média dos genótipos é dada por: da redução do tempo gasto no desenvolvimento de novos
cultivares.
Embora cada programa deva utilizar a melhor
V(x) = /ria + Ò ir + a^/ar + ò JÚ
combinação de R, L e A, muitos programas de melhoramento
2GLA 2GA

de plantas autógamas usam R = 3, L = 4-5 e A = 2-3. E m


programas de melhoramento de milho utiliza-se R = 2, L = 3
DMS = tV2V(x) (mínimo) e A = 2. Empresas privadas tendem a utilizar
menor número de repetições (r = 2) e maior de localidades,
Com base em dados coletados, o melhorista deve não só pelas vantagens do aumento do poder de detecção de
procurar a melhor combinação de repetições (r), localidades diferenças significativas, mas também pelas vantagens de
(1) e anos (a) para a obtenção do mínimo valor de DMS para maior número de ensaios constituir fator de marketing.
certo nível de probabilidade.
Se a interação de primeira ordem G x L for de Determinação de microrregiões para teste e
pequena importância, talvez seja mais prudente utilizar
recomendação de cultivares
apenas uma ou duas localidades. Porém, se a interação de
primeira ordem G x A for de pequena importância, o Estatisticamente, a interação G x L é, com frequência,
melhorista pode se sentir menos obrigado a testar os significante em avaliações de um grupo de cultivares em
genótipos por mais de um ano. várias localidades. A importância relativa dessa interação
Caso o erro experimental seja relativamente mais varia de acordo com a espécie e as características
importante do que as interações G x E . a melhor opção pode agronómicas avaliadas e a extensão da região. E m geral, a
ser o aumento do número de repetições, pois variações desse interação é menos importante para características mono e
número não causam impacto nos componentes da interação oligogênicas, regiões mais homogéneas e espécies perenes do
G x E , conforme se observa na equação V(x). que para características poligênicas, regiões heterogéneas e
espécies anuais.
Durante a otimização dos recursos, os custos
operacionais devem ser considerados. Por exemplo, o E m quase todas as circunstâncias, a probabilidade
aumento do número de repetições (r) é menos oneroso do que de desenvolvimento de um cultivar superior em uma
o do número de localidades (L) e este, menos do que o do região muito extensa é muito pequena. As variações de
número de anos de avaliação (A). Algumas vezes, localidades ambiente tendem a se acentuar nessas regiões. Visando à
podem ser usadas, em parte, para substituir anos de recomendação de cultivares em regiões mais uniformes,
avaliação. Por exemplo, os efeitos de localidade ocorrem onde a interação G x E é de menor importância, tem sido
principalmente em razão das diferenças de solo e da sugerida a subdivisão das regiões extensas em
distribuição pluviométrica, enquanto os efeitos de ano são microrregiões mais homogéneas.
principalmente de natureza climática. Se for possível
Horner e Frey (1957) examinaram a possibilidade
escolher as localidades em regiões climaticamente distintas,
os efeitos climáticos poderão ser maiores. Sempre que de se subdividir o Estado de Iowa, E U A , para
possível, deve-se substituir ano por localidade, em benefício recomendação de cultivares de aveia. Dados relativos n
138 Borém e Miranda Interação genótipo x ambiente 139

produção de grãos de 18 cultivares avaliados em nove Temperatura


localidades, durante cinco anos, em Iowa, foram
considerados neste estudo. A interação G x L foi estimada
para cada ano e subdividida em dois componentes, entre
microrregiões e dentro delas, para as diferentes
combinações de localidades. As diversas combinações de
localidades resultaram em duas, três, quatro e cinco
microrregiões. A interação G x L foi então determinada
dentro de cada microrregião para cada uma das
subdivisões. A Tabela 9.1 apresenta parte dos resultados
obtidos por aqueles autores, os quais evidenciaram que há
redução da interação G x L com o aumento do número de
microrregiões.

Precipitação Pluviométrica
Tabela 9.1 - Avaliação da interação genótipo x localidade nas
sub-regiões do estado de Iowa, para recomen- Figura 9.2 - Subdivisão do estado de Iowa em quatro
dação de cultivares de aveia microrregiões, com a localização das nove
estações experimentais e os gradientes de
Número de Microrregiões Redução na Interação G x L (%) temperatura e precipitação pluviométrica
2 11 Fonte: HO RN ER; F R E Y , 1957.
3 21
4 30
Escolha de campos experimentais
5 40
E m condições ideais, deve-se utilizar um campo
Os referidos autores concluíram que o estado deveria experimental para cada nicho, dentro da região para a qual
ser subdividido em quatro microrregiões (Figura 9.2). se desenvolvem cultivares.
Outro exemplo clássico de subdivisão de uma A localidade de condução dos ensaios comparativos de
região é apresentado por Liang et a l . (1966), em que produtividade deve favorecer a expressão máxima do potencial
sugerem a subdivisão do estado de Kansas, Estados relativo dos genótipos. Todavia, a escolha é, muitas vezes,
Unidos da América, em quatro microrregiões para arbitrária, em razão de áreas previamente alocadas para
recomendação de cultivares de trigo. E s t a estratégia vem instituições de pesquisa. Tem sido relatado que ambientes com
sendo adotada com sucesso nas recomendações de condições para máxima produtividade são os melhores para a
cultivares em diversos países. Entretanto, deve-se seleção de genótipos altamente produtivos ( F R E Y , 1964;
reconhecer que a medida que o número de cultivares WHITEHEAD; A L L E N , 1990). Esses ambientes são
recomendados aumenta os custos de produção das comumente descritos como favoráveis, de baixo estresse ou
sementes torna-se maior. ideais.
140 Borém e Miranda Interação genótipo x ambiente 141

Outros autores argumentam que os ambientes apropriados para a avaliação de genótipos, resultados obtidos
favoráveis, em geral, são pouco representativos das condições por Whitehead e Allen (1990) e Ceccarelli e Grando (1991)
comerciais e que a seleção deveria ser conduzida em localidades indicam o contrário.
semelhantes àquelas onde o futuro cultivar será plantado
(HANSON, 1970; A T L I N ; F R E Y , 1990). Outros autores
afirmam que as proposições anteriores estão incorretas e que a Algumas sugestões práticas para a interação
melhor opção é definir os atributos de uma localidade ideal e, genótipo x ambiente
então, tentar encontrá-la (HAMBLIN et ai., 1980). O ambiente
ideal para avaliação de genótipos, segundo Hamblin, deve: a) Obter estimativas da magnitude da interação G x E ,
principalmente se a região de plantio dos cultivares for
a) favorecer a expressão do potencial dos genótipos;
muito extensa e se os genótipos testados apresentarem
b) maximizar a variância genética; ampla variabilidade genética.
c) minimizar a variância de ambiente e da interação G x E ; b) Usar informações sobre a interação G x E antes de se
d) ter características consistentes de ano para ano; definir a região para recomendação de cultivares.
e) proporcionar aos genótipos selecionados condição para que c) Usar informações sobre a interação G x E para otimizar a
se desenvolvam bem e para que seu comportamento seja o alocação de recursos.
mesmo quando cultivados nos ambientes a que se
destinam; e d) Determinar as principais causas da interação G x E .
f) ser acessível. e) Considerar a possibilidade de se introduzirem no germo-
plasma características que resultem na redução da
Allen, Comstock e Rasmusson (1978) fizeram uma interação G x E .
abordagem acerca da escolha da região para teste de
genótipos, utilizando dados de testes regionais de competição
de cultivares de cinco espécies. Para cada espécie, os dados Referências
de produtividade média foram computados e os ambientes A L L A R D , R.W.; BRADSHAW, A.D. Implications of genotype-environmental
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environments for selecting superior soybean lines. Crop Sei., v. 30, p. 912-
918, 1990.
W R I C K E , G. Die Erfassung der wechselwirkung zwischen genotype und
umwelt bei quantitativen. Eigenschaften Journal of Plant Breeding. v. 53,
p. 266-343, 1965.

adaptabilidade de u m cultivar refere-se à sua


capacidade de aproveitar vantajosamente as v a r i a ç õ e s do
ambiente. A estabilidade de comportamento refere-se à sua
capacidade de apresentar-se altamente previsível mesmo
com as v a r i a ç õ e s ambientais.
A adaptabilidade e a estabilidade de u m c u l t i v a r
dependem da s u a c o n s t i t u i ç ã o g e n é t i c a , isto é, do n ú m e r o de
genótipos que a constitui e da heterozigose dos genótipos.
São c a r a c t e r í s t i c a s do c u l t i v a r e lhe permitem responder aos
fatores limitantes do ambiente e usufruir dos fatores
favoráveis.
U m c u l t i v a r deve apresentar, em diferentes condições
de ambiente, a l t a produtividade, e s u a superioridade deve
ser e s t á v e l . Os melhoristas e s t ã o de acordo sobre a
i m p o r t â n c i a da estabilidade da alta produtividade, mas
divergem quanto à mais apropriada definição de estabilidade
e aos m é t o d o s p a r a quantificá-la.
Diversas r e v i s õ e s sobre os temas adaptabilidade e
estabilidade j á foram publicadas. Comstock e Moll (196.1)
146 Borétn e Miranda Adaptabilidade e estabilidade de comportamento 147

apresentam u m a abordagem e s t a t í s t i c a das i n t e r a ç õ e s G x E , propriedade de a p o p u l a ç ã o equilibrar sua composição


que fornece os fundamentos p a r a o melhor entendimento do g e n é t i c a e r e s i s t i r a m u d a n ç a s bruscas no ambiente; é
f e n ó m e n o da estabilidade. t a m b é m descrita como poder tamponante da p o p u l a ç ã o . A
F r e e m a n (1973), revisando trabalhos sobre i n t e r a ç ã o , maioria das populações n ã o melhoradas é h e t e r o g é n e a e
t a m b é m discutiu a estabilidade. E m s u a pesquisa, ele faz consiste em u m a série de genótipos otimamente adaptados a
referência a quase 100 artigos sobre esse assunto. Talvez a diferentes aspectos do ambiente. Talvez a melhor
mais substancial r e v i s ã o publicada sobre as aplicações das terminologia para este tipo seja a homeostase populacional.
a n á l i s e s de estabilidade no melhoramento de plantas seja a J á a hom.eostase de desenvolvimento é baseada n a habilidade
de Becker e Leon (1988). Revendo 110 artigos sobre o do i n d i v í d u o para responder a v a r i a ç õ e s de ambiente por
assunto, verificou-se que o trabalho desses autores aborda, meio de m u d a n ç a s fisiológicas ou estruturais. Tendo em v i s t a
de u m a forma clara, objetiva e interessante, os mais que os i n d i v í d u o s apresentam flexibilidade durante o seu
importantes aspectos da adaptabilidade e estabilidade. desenvolvimento, eles podem desenvolver fenótipos
diferentes em ambientes diferentes, todos bem adaptados ao
No seminário realizado em 1990, em Banton Rouge,
ambiente a que foram condicionados. E s t e f e n ó m e n o t a m b é m
Louisiana, E U A , sob a presidência do D r . Kang, as maiores
é descrito como homeostase individual.
autoridades mundiais n a á r e a de adaptabilidade e estabilidade
discutiram exaustivamente o assunto, publicando ao final da Os genótipos que interagem com o ambiente, de forma
r e u n i ã o o resumo: Genoiype by environment interaction and que u m a relativa uniformidade ou estabilidade seja mantida,
plant breeding. s ã o considerados tamponados.
A heterozigose por s i pode n ã o ser essencial p a r a a
Homeostase homeostase, mas suspeita-se de que combinações
h e t e r o z i g ó t i c a s favoráveis existam como resultado da
Por meio de estudos da i n t e r a ç ã o G x E , foi coevolução dos cromossomos homólogos nas espécies
introduzido u m novo conceito de estabilidade r e l a t i v a de alógamas.
diferentes genótipos. A l l a r d e B r a d s h a w (1964), que t r a t a m a homeostase
Como a c o n t r i b u i ç ã o de cada cultivar para a i n t e r a ç ã o como poder tamponante da p o p u l a ç ã o e do i n d i v í d u o ,
G x E n ã o era conhecida, Canonon (1932), em suas afirmam que p o p u l a ç õ e s h e t e r o z i g ó t i c a s e h e t e r o g é n e a s
pesquisas, evidenciou o fenómeno da homeostase quando parecem oferecer maior oportunidade para a p r o d u ç ã o de
afirmou que "um organismo h o m e o s t á t i c o é aquele que cultivares que mostram pequena i n t e r a ç ã o G x E .
m a n t é m certos aspectos de sua fisiologia constantes,
E m b o r a a homeostase seja u m a c a r a c t e r í s t i c a
independentemente das forças de ambiente que tendem a desejável, ela n ã o tem valor se n ã o estiver associada à a l t a
alterar sua constância". O conceito a t u a l de homeostase produtividade. U m cultivar pouco produtivo n ã o é aceitável,
refere-se à propriedade de os organismos se adaptarem à s independentemente da sua estabilidade de comportamento.
v a r i a ç õ e s de ambiente, isto é, mecanismos autor-reguladores
Algumas c a r a c t e r í s t i c a s a g r o n ó m i c a s podem contribuir
dos organismos que permitem a sua e s t a b i l i z a ç ã o em
para a homeostase individual. Por exemplo, a prolificidade
ambientes flutuantes. H á dois tipos de homeostase: a
pode conferir ao milho maior flexibilidade a m u d a n ç a s de
g e n é t i c a e a de desenvolvimento. A homeostase genética é a
148 Borém e Miranda Adaptabilidade e estabilidade de comportamento 149

ambiente, como no caso de desuniformidade n a distribuição de das variações do ambiente, e n ã o apresenta qualquer desvio em
plantas. Prior e Russell (1975), estudando quatro grupos de relação a seu desempenho. Estatisticamente, sua variância em
híbridos de milho em diferentes densidades de plantio, diferentes ambientes é zero. A estabilidade estática, t a m b é m
concluíram que os h í b r i d o s prolíficos apresentam capacidade denominada estabilidade biológica, foi inicialmente
de se ajustarem ao ambiente, porque podem produzir mais de quantificada por Roemer (1917) pela variância ambiental dos
uma espiga por planta em situações de baixa competição. genótipos. E s s a v a r i â n c i a mede todos os desvios c m relação à
Alguns cultivares de soja são reconhecidamente portadores de m é d i a geral de cada genótipo. Este tipo de estabilidade é mais
alta capacidade de compensação, enquanto outros apresentam desejável para características como resistência a doenças,
habilidade para e m i s s ã o de novas flores quando a primeira indeiscência de vagens e resistência ao acamamento.
florada foi estressada.
E s t a b i l i d a d e d i n â m i c a : u m cultivar com esta estabilidade
Cultivares de soja de h á b i t o de crescimento indetermi- responde à v a r i a ç ã o de ambiente de forma previsível, ou seja,
nado, semideterminado e determinado diferem-se p r i m a r i a - somente os desvios relacionados com a r e a ç ã o geral do
mente n a época de p a r a l i s a ç ã o de crescimento da haste genótipo contribuem para a instabilidade. P a r a a maioria
principal. E s s a diferença afeta a a l t u r a da planta, a das c a r a c t e r í s t i c a s quantitativas, os genótipos respondem à s
r e s i s t ê n c i a ao acamamento e o comprimento das fases v a r i a ç õ e s de ambiente com v a r i a ç õ e s no fenótipo.
vegetativas e reprodutivas da espécie. Beaver e Johnson
Os m é t o d o s n ã o p a r a m é t r i c o s de a n á l i s e de
(1981) r e l a t a r a m que os g e n ó t i p o s de h á b i t o de crescimento
estabilidade e os baseados n a i n t e r a ç ã o G x E quantificam a
semideterminado podem apresentar menor estabilidade de
estabilidade d i n â m i c a , t a m b é m denominada estabilidade
comportamento do que os de crescimento indeterminado.
a g r o n ó m i c a , em contraste com a estabilidade biológica.
Recentes resultados indicam que genótipos dos t r ê s tipos de
h á b i t o de crescimento apresentam valores c o m p a r á v e i s da
i n t e r a ç ã o genótipo x ambiente. P o r é m , pela a n á l i s e de Métodos de análise da estabilidade
estabilidade, observou-se que h á maior n ú m e r o de genótipos
semideterminados com menor estabilidade do que de h á b i t o A a n á l i s e de v a r i â n c i a de u m grupo de cultivares
de crescimento indeterminado ( A B L E T T et a l . , 1994). avaliado em u m a s é r i e de ensaios, envolvendo localidades e
anos, fornece i n f o r m a ç ã o sobre a i n t e r a ç ã o G x E . Por
exemplo, se a i n t e r a ç ã o G x E é significativa, o melhorista
Tipos de estabilidade precisa saber se os genótipos contribuem com a mesma
A estabilidade tem sido definida de diferentes intensidade para essa i n t e r a ç ã o . T a l i n f o r m a ç ã o n ã o é obtida
maneiras, dependendo da forma que os melhoristas desejam pela a n á l i s e de v a r i â n c i a rotineira.
enfocar este fenómeno. Conforme mencionado, a maioria dos Diversos tipos de a n á l i s e s e s t a t í s t i c a s foram desenvol-
melhoristas compartilha a opinião de que a estabilidade é vidos p a r a caracterizar a estabilidade de diferentes
desejável, mas discorda da forma de e s t i m á - l a . genótipos. A l g u n s s ã o relativamente simples, enquanto
H á dois tipos de estabilidade: e s t á t i c a e d i n â m i c a . outros s ã o mais sofisticados e complexos. É óbvio que o
m é t o d o adotado pelo melhorista deve ser simples e fornecer
E s t a b i l i d a d e e s t á t i c a : u m cultivar com esta estabilidade dados de fácil i n t e r p r e t a ç ã o .
apresenta comportamento constante, independentemente
150 Borém e Miranda Adaptabilidade e estabilidade de comportamento 151

A n á l i s e de v a r i â n c i a : para cada par de genótipos, em todas M é t o d o de F i n l a y e W i l k i n s o n : estes m e l h o r i s t a s


as localidades, em dado ano, esta análise fornece informação de a u s t r a l i a n o s u t i l i z a r a m 277 g e n ó t i p o s de cevada de
estabilidade relativa para os genótipos individualmente. A diversas origens, avaliados em t r ê s localidades, durante
m é d i a õjl derivada
L a e t o dcombinações que envolvem
a s a s t r ê s anos. No procedimento proposto, esses autores
determinado genótipo estima a sua estabilidade ( W E S T C O T T , c a l c u l a r a m a resposta p a r a cada c u l t i v a r em r e l a ç ã o a u m
1986). í n d i c e de ambiente obtido pela m é d i a de todos os g e n ó t i p o s
em dado ambiente. O coeficiente de r e g r e s s ã o b é u m a
M é t o d o d a e c o v a l ê n c i a : proposto por Wricke (1965), este
e s t i m a t i v a da estabilidade do g e n ó t i p o . Segundo esses
m é t o d o é relativamente simples e bastante difundido entre
os melhoristas europeus. Por ele, a estabilidade é estimada autores, b = 1 representa estabilidade m é d i a ; b > 1,
pelo quadrado da soma da i n t e r a ç ã o G x E para cada estabilidade menor que a m é d i a ; e b = 0 é completamente
genótipo em todos os ambientes. e s t á v e l . Cultivares que a p r e s e n t a m b = 0 t ê m o mesmo
desempenho, independentemente das variações de
Wi - £ ( Y i j - Y i . - Y . j + Y..]f ambiente, possuindo, portanto, estabilidade e s t á t i c a ou
biológica ( F i g u r a 10.1).
em que:
Wi: ecovalência de Wricke p a r a o genótipo i em
Produtividade
r e l a ç ã o à i n t e r a ç ã o G x E total;
Y i j : valor da c a r a c t e r í s t i c a no genótipo i e ambiente j ;
Provost(b = 2,10)
Y i . : m é d i a geral do genótipo i; b = 1,00
Y . j : m é d i a geral do ambiente j ; e
Y . . : m é d i a geral de todos os g e n ó t i p o s e ambientes.
Atlas (b = 0,90)
A ecovalência de Wricke mede a c o n t r i b u i ç ã o de cada
genótipo para a i n t e r a ç ã o G x E total. U m cultivar e s t á v e l
seria aquele com W i = 0, que s e r i a descrito como possuidor
de a l t a ecovalência.
M é t o d o d a a n á l i s e de r e g r e s s ã o : a a n á l i s e de r e g r e s s ã o Bankuti (b = 0,14)
das c a r a c t e r í s t i c a s de u m cultivar em r e l a ç ã o a u m índice de
ambiente tem sido usada p a r a caracterizar a estabilidade de ^Ambiente (log x)
genótipos (STRINGFIELD; SALTER, 1934; YATES;
COCHRAN, 1938; FINLAY; WILKINSON, 1963; F i g u r a 10.1 - R e p r e s e n t a ç ã o esquemática do cultivar
E B E R H A R T ; R U S S E L L , 1966). B a n k u t i , completamente e s t á v e l ; do A t l a s , com
Os trabalhos de F i n l a y e W i l k i n s o n (1963) e de estabilidade m é d i a ; e do Provost, com estabi-
E b e r h a r t e R u s s e l l (1966) forneceram os princípios básicos lidade abaixo da m é d i a .
que norteiam a maioria dos estudos que se sucederam.
152 Borém e Miranda Adaptabilidade e estabilidade de comportamento 153

E m b o r a F i n l a y e W i l k i n s o n t e n h a m c o n t r i b u í d o de ii) Fatores edafoclimáticos p a r a i n d e x a ç ã o de ambientes,


forma significativa, pesquisando a estabilidade g e n o t í p i c a como p r e c i p i t a ç ã o p l u v i o m é t r i c a , fotoperíodo, temperatura,
nas ú l t i m a s d é c a d a s , o trabalho original deles e s t á sujeito umidade relativa, fertilidade do solo e, provavelmente,
a d i v e r s a s c r í t i c a s . P r o v a v e l m e n t e , a m a i s s é r i a seja a que muitos outros poderiam constituir u m índice. E s t e seria u m
diz respeito ao germoplasma utilizado. E s s e s autores p a r â m e t r o independente e, portanto, satisfaria à s exigências
u t i l i z a r a m u m a a m o s t r a extensa e diversa, que i n c l u í a para a a n á l i s e de r e g r e s s ã o , mas a dificuldade para e s t i m á - l o
genótipos completamente inadaptados à região de tem restringido seu uso.
a v a l i a ç ã o . Por exemplo, o cultivar B a n k u t i , que foi
considerado e s t á v e l , n ã o se adaptou à s condições N a maioria dos estudos de estabilidade, o índice de
e d a f o c l i m á t i c a s a u s t r a l i a n a s e apresentou produtividade ambiente, plotado no eixo das abscissas (X), é obtido pela média
de g r ã o s muito abaixo daquele obtido com os g e n ó t i p o s dos genótipos avaliados no ambiente. O desempenho de cada
locais. genótipo é plotado similarmente no eixo das ordenadas ( Y ) . A
linha de regressão linear para todos os cultivares utilizados n a
O u t r a c r í t i c a , n ã o só pertinente a este m é t o d o , é que
indexação dos ambientes t e r á o coeficiente de regressão p = 1.
o í n d i c e de ambiente n ã o é independente dos dados
P a r a cada genótipo, calculam-se os valores de regressão em
analisados, u m a vez que s ã o e x t r a í d o s do conjunto total de
relação aos índices de ambiente. Dessa forma, obtêm-se
dados, violando u m a das c o n s i d e r a ç õ e s p a r a validade da
p a r â m e t r o s para cada genótipo:
a n á l i s e de r e g r e s s ã o .
a) Desempenho médio, considerando todos os ambientes.
M é t o d o de E b e r h a r t e R u s s e l l : E b e r h a r t desenvolveu o
m é t o d o descrito no artigo " P a r â m e t r o s de estabilidade b) Coeficiente de r e g r e s s ã o ( P i ) . O desvio deste coeficiente em
p a r a c o m p a r a ç ã o de cultivares" ( E B E R H A R T ; R U S S E L L , r e l a ç ã o a p i = 1, bem como a diferença entre os valores de
1966), com os dados obtidos por-Russell. E s s e s autores n ã o b para cada genótipo, pode ser estatisticamente testado.
h a v i a m tomado conhecimento do trabalho de F i n l a y e c) Desvio da r e g r e s s ã o (Õ»).
W i l k i n s o n quando p u b l i c a r a m seus resultados ( R U S S E L L ,
C o m u n i c a ç ã o Pessoal). O modelo estatístico para uma regressão linear inclui:

E s s e m é t o d o fornece informações sobre o desempenho


relativo de cada genótipo em r e l a ç ã o à s m é d i a s dos
em que:
ambientes, bem como em r e l a ç ã o a sua resposta linear. Cada
ambiente é indexado pela m é d i a dos seus genótipos, o que YÍJ: m é d i a do genótipo i no ambiente j \
viola u m a das exigências para que a a n á l i s e de r e g r e s s ã o poi: m é d i a do genótipo i, considerando todos os
seja válida. ambientes;
Alguns índices alternativos para q u a n t i f i c a ç ã o do pn: coeficiente de r e g r e s s ã o p a r a o genótipo i;
ambiente t ê m sido propostos: ly. índice do ambiente j , obtido pela m é d i a de todos os
i) U m grupo de genótipos adaptados como indexadores dos g e n ó t i p o s no ambiente j s u b t r a í d a da m é d i a geral;
ambientes deve ser incluído para que os efeitos das v a r i a ç õ e s ôij: desvio da regressão para o genótipo i no ambiente j ; e
peculiares de cada i n d i v í d u o sejam minimizados no índice. Ê-: erro experimental médio.
154 Borêm e Miranda Adaptabilidade e estabilidade de comportamento 155

coeficiente de regressão igual a zero ou próximo dele. Dessa


Os desvios da regressão âS=£8?/(a-2) nao ex- forma, genótipos com P1 < 1 t a m b é m t ê m sido incluídos nessa
categoria.
plicados pelo modelo linear medem a estabilidade do
genótipo, em r e l a ç ã o a sua resposta linear ( F i g u r a 10.2).
Classificação dos genótipos quanto à estabilidade
P <1 P >1 a) G e n ó t i p o s de a l t a estabilidade: =0

Alta Estabilidade b) G e n ó t i p o s de baixa estabilidade: * 0


a -o
á
Pequeno cm
Um cultivar ideal, n a concepção de Eberhart e
Adaptados a ambientes Adaptados a ambientes Russell, apresenta alto comportamento médio, = 1, pois,
desfavoráveis favoráveis
dessa forma, seu desempenho melhora em resposta a
condições de ambiente favoráveis, e = 0, ou seja, possui
Grande OD
u m comportamento altamente previsível.
^2
<J > 0 No trabalho desenvolvido por Eberhart e Russell foram
Baixa Estabilidade utilizados 55 híbridos simples, provenientes de u m dialelo que
envolveu 11 linhagens de milho adaptadas à região de
avaliação. Os valores de b obtidos por esses autores v a r i a r a m
F i g u r a 10.2 - I n t e r p r e t a ç ã o dos p a r â m e t r o s de estabilidade
de 0,88 a 1,15, e os correspondentes, obtidos por F i n l a y e
pelo m é t o d o de E b e r h a r t e Russell (1966).
Wilkinson (1963), oscilaram entre 0,14 e 2,10. Esses resultados
confirmam que coeficientes de regressão próximos de zero
Classificação dos genótipos quanto à adaptabilidade podem ser obtidos quando se inclui germoplasma exótico
(inadaptado) n a região.
a) G e n ó t i p o de ampla adaptabilidade: = 1. Se o genótipo
Alguns autores t ê m criticado dois aspectos do m é t o d o
apresenta desempenho acima da m é d i a , é o tipo desejável de E b e r h a r t e Russell:
nos ambientes com muitas v a r i a ç õ e s i m p r e v i s í v e i s
1. A m a n e i r a como os graus de liberdade para ambiente e a
(adaptado a ambientes médios).
i n t e r a ç ã o genótipo x ambiente s ã o subdivididos em
b) Genótipo de adaptabilidade restrita a ambientes favoráveis: ambiente (linear), genótipo x ambiente e desvios da
P,M. Se as condições de ambiente pudessem ser r e g r e s s ã o . A l g u n s autores argumentam que a soma de
"controladas" para alta performance, este seria o tipo quadrados de ambiente (linear) n ã o é igual à soma total
desejável. de quadrados de ambientes e s i m à parte dela.
Provavelmente, a m a n e i r a mais correta seja agrupar os
c) Genótipo de adaptabilidade restrita a ambientes desfavo-
graus de liberdade dos desvios em ( g - l ) ( n - l ) em vez de
r á v e l : (3, • 0. Dentre os genótipos adaptados a uma região,
g(n-2).
muito dificilmente encontram-se tipos que apresentam um
156 Borêm e. Miranda Adaptabilidade e estabilidade de comportamento 157

2. Uso da m é d i a dos g e n ó t i p o s como índice de ambiente, d e s f a v o r á v e i s menor do que a unidade e maior nos
violando u m a das p r e s s u p o s i ç õ e s da a n á l i s e de r e g r e s s ã o . favoráveis, a l é m de desvio de r e g r e s s ã o igual a zero.
E m b o r a essa seja u m a objeção v á l i d a , h á autores que
acreditam que essa violação n ã o acarreta sérios problemas
nessa a n á l i s e , se n ã o forem incluídos genótipos
Método de Cruz, Torres e Vencovsky (1989)
inadaptados entre os estudados.
Y i ] = Po+p I +f3
1 1 ] 2 i T(I,)+ ò v + tv
Diversos estudos posteriores ao de E b e r h a r t e R u s s e l l
(1966) introduziram modificações no procedimento
originalmente proposto. em que:
E m b o r a E b e r h a r t e R u s s e l l n ã o tenham distinguido Y ^ : m é d i a do g e n ó t i p o i no ambiente j ;
estabilidade de adaptabilidade, atualmente a maioria dos
po: m é d i a geral do g e n ó t i p o i;
melhoristas considera p um indicador da a d a p t a ç ã o do
0

p : coeficiente l i n e a r de r e g r e s s ã o p a r a o g e n ó t i p o i
t i

genótipo. O desvio da r e g r e s s ã o (o ^) é u m p a r â m e t r o mais


2

nos ambientes d e s f a v o r á v e i s ;
lógico de estabilidade, u m a vez que se relaciona com
predibilidade e repetibilidade de desempenho. L: índice ambiental;

O uso do coeficiente de d e t e r m i n a ç ã o em substituição ao p : coeficiente l i n e a r de r e g r e s s ã o p a r a o g e n ó t i p o i


9i

desvio da r e g r e s s ã o tem sido sugerido por alguns autores. O nos ambientes f a v o r á v e i s ;


coeficiente de d e t e r m i n a ç ã o ( r ) , facilmente calculado e
2 T ( L ) : v a r i á v e l independente, definida como
interpretado, é independente das unidades, e as diferenças
T(Ij) = 0 se Ij < 0
entre r podem ser estatisticamente testadas. Valores de r = 1
2 2

indicam que o genótipo apresentou pequeno desvio em T(Ij) - I , - I se Ij > 0;


r e l a ç ã o à resposta linear. L a n g e r et a i . (1979) estudaram a cV: desvio da r e g r e s s ã o ; e
a s s o c i a ç ã o de diferentes índices de estabilidade em aveia e
: erro e x p e r i m e n t a l m é d i o .
c o n c l u í r a m que r é positivo e altamente correlacionado com
2

(<J^), indicando que esses dois p a r â m e t r o s medem


M é t o d o d a s d i f e r e n ç a s do rank: m é t o d o n ã o p a r a m é -
essencialmente a mesma coisa.
trico, proposto por H ú h n (1979). U t i l i z a as a l t e r a ç õ e s de
ordem (rank) de u m g e n ó t i p o p a r a quantificar a s u a
M é t o d o de C r u z : adotado por v á r i a s i n s t i t u i ç õ e s de
estabilidade de desempenho.
melhoramento no B r a s i l e no exterior, a v a l i a separadamente
o comportamento dos genótipos em ambientes d e s f a v o r á v e i s A ordem dos g e n ó t i p o s i n c l u í d o s no estudo é
e favoráveis. A a n á l i s e de r e g r e s s ã o bissegmentada utilizada estabelecida p a r a cada ambiente separadamente. A s v a r i a -
neste m é t o d o permite a c a r a c t e r i z a ç ã o dos g e n ó t i p o s em ções de ordem de u m g e n ó t i p o é que estabelecem a s u a
estabilidade. Por exemplo, v ê - s e n a F i g u r a 10.3 que o
ambientes favoráveis e d e s f a v o r á v e i s . Conforme descrito por
cultivar A apresentou maior produtividade nos t r ê s
C r u z et a i . (1989), o g e n ó t i p o ideal apresenta alta
ambientes considerados e, portanto, ficou em primoiro
produtividade, coeficiente de r e g r e s s ã o nos ambientes
158 Borem e Miranda Adaptabilidade e estabilidade de comportamento 159

l u g a r nos ranks dos t r ê s ambientes. O cultivar B foi o base na homogeneidade de estabilidade. Dentro de cada
segundo no rank nos ambientes E i e E 3 e o terceiro em E 2 . subgrupo, os g e n ó t i p o s n ã o apresentam i n t e r a ç ã o genótipo x
De m a n e i r a s i m i l a r , o cultivar C foi o terceiro no rank nos ambiente, enquanto as diferenças entre subgrupos ocorrem
ambientes E i e E a e o segundo em E 2 ( F i g u r a 10.3). Por em virtude das i n t e r a ç õ e s G x E .
este m é t o d o , o cultivar A apresentou maior estabilidade de B a s f o r d et a l . (1990) u t i l i z a r a m a a n á l i s e de
desempenho, u m a vez que s u a colocação no rank n ã o agrupamento p a r a e s t i m a ç ã o da estabilidade de 25
mudou com a v a r i a ç ã o de ambientes. l i n h a g e n s de a l g o d ã o a v a l i a d a s em oito localidades e
Se o m é t o d o de E b e r h a r t e Russell fosse utilizado, os c o n c l u í r a m ser e s s a a n á l i s e eficiente.
cultivares B e Ç seriam mais e s t á v e i s do que o cultivar A . A l i t e r a t u r a c i e n t í f i c a r e p o r t a outros m é t o d o s p a r a
Algumas modificações no procedimento original a n á l i s e de estabilidade, como a a n á l i s e do componente
proposto por H ú h n (1979) foram apresentadas, como a p r i n c i p a l e a a n á l i s e g e o m é t r i c a ( K A N G , 1990). E n t r e os
correção dos valores das c a r a c t e r í s t i c a s dos genótipos pela v á r i o s m é t o d o s de a n á l i s e da estabilidade, aqueles que
m é d i a de ambiente proposta por Leon (1985). fazem uso da r e g r e s s ã o , como proposto por E b e r h a r t e
R u s s e l l (1966), s ã o os m a i s a c e i t á v e i s .
A i n t e r p r e t a ç ã o da a n á l i s e de estabilidade precisa ser
criteriosa. Nos casos em que um cultivar de soja precoce é
avaliado com outros cultivares tardios, o precoce pode
apresentar grande desvio de r e g r e s s ã o , o que n ã o significa
necessariamente "instabilidade" e sim que aquele cultivar
responde de maneira marcante a determinado ambiente
quando comparado com os demais cultivares tardios.
U m a das principais limitações das a n á l i s e s de
estabilidade é o seu c a r á t e r relativo. A s estimativas de
estabilidade obtidas só possuem significado para os genótipos
F i g u r a 10.3 - E s q u e m a da v a r i a ç ã o de rank de t r ê s cultivares testados.
em t r ê s ambientes.

Método das variâncias de Rank: método não Estimando a adaptabilidade e estabilidade


p a r a m é t r i c o , s i m i l a r ao das d i f e r e n ç a s de rank. Neste
procedimento, u t i l i z a m - s e as v a r i â n c i a s de rank de u m Diversos pacotes e s t a t í s t i c o s permitem a n á l i s e s de
genótipo para quantificar a sua estabilidade de estabilidade e adaptabilidade, como o S A S e o S A E G . Outro
desempenho. D e t a l h e s adicionais a respeito deste m é t o d o software interessante, que atende ao profissional da á r e a de
s ã o discutidos por N a s s a r e H ú h n (1987) e H ú h n (1990). g e n é t i c a e melhoramento, é o Programa G E N E S , que conta
com uma s é r i e de procedimentos para a n á l i s e da estabilidade
M é t o d o d a a n á l i s e de a g r u p a m e n t o : m é t o d o de a n á l i s e e adaptabilidade. Nesse Programa e s t ã o disponíveis diversas
m u l t i v a r i a d a que v i s a agrupar genótipos em subgrupos, com metodologias classificadas quanto aos princípios e s t a t í s t i c o s
160 Borêm e Miranda Adaptabilidade e estabilidade de comportamento 161

envolvidos, quais sejam: m é t o d o s baseados n a a n á l i s e de


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proporcionam informações complementares, permitindo BACUSMO, J . L . ; C O L L I N S , W.W.; J O N E S . A. Comparison of methods of
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outras que os melhoristas selecionam. Obviamente, a sua phenotypic stability. Euphytica, v. 30, p. 835-840, 1981.
natureza r e l a t i v a e complexa é fator complicador para s u a B E C K E R , H.C.; L E O N , J . Stability analysis in plant breeding. Plant
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do que os homozigóticos e populações h e t e r o g é n e a s possuem environments in the determination of an objective strategy for the
maior poder tamponante do que as h o m o g é n e a s . Embora a evaluation of the.relative yield of wheat cultivars. Euphytica, v. 34,
teoria e os resultados experimentais favoreçam tipos de p. 397-408, 1985.
cultivares mais heterozigóticos e heterogéneos, o melhorista B Y T H , D . E . ; W E B E R , C R . Effects of genetic heterogenity within two
deve considerar t a m b é m o compor-tamento "per se" dos soybean populations. I . Variability within environments and stability
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homogéneo altamente produtivo é maior do que a de encontrar C AR V E R , B . F . ; S M I T H , E . L . ; ENGLAND, H.O. Rcgression and cluster
analysis of environmental responses of hybrid and pureline winter wheat
uma mistura (cultivar heterogéneo) altamente produtiva. E m
cultivars. Crop Sei., v. 27, p. 659-664, 1987.
razão da pouca repetibilidade dos dados de estabilidade, a
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solução para essa característica é de baixa eficiência. 205.
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avaliações, m é t o d o s de melhoramento e germoplasma. A
escolha inadequada de qualquer u m desses componentes
l i m i t a o progresso do programa, mas a escolha inapropriada
do germoplasma talvez seja o fator mais crítico e limitante.
Mesmo que o germoplasma possa ser s u b s t i t u í d o em u m
programa, esse procedimento, em geral, resulta em
substancial perda de tempo e recursos.
Talvez u m dos maiores dilemas dos melhoristas seja
como escolher corretamente os genitores para u m programa de
desenvolvimento de cultivares, pois, embora de i m p o r t â n c i a
indis-cutível, muito pouco foi elucidado sobre as bases
científicas da seleção do germoplasma. A literatura científica
166 Borém e Miranda Seleção de genitores 167

e s t á repleta de estudos sobre métodos de melhoramento e apresentam s é r i a s l i m i t a ç õ e s quanto à s c a r a c t e r í s t i c a s


seleção, mas sobre a escolha de genitores pouco se encontra "essenciais" dos novos cultivares. Os objetivos destes
publicado. cruzamentos incluem a a d a p t a ç ã o de germoplasma exótico e
A escolha de genitores deve obedecer a dois critérios: a i n t r o d u ç ã o de caracteres dos acessos dos bancos de
ser feita com base em informações e procedimentos germoplasma ou de outras espécies. Os objetivos deste grupo
científicos, visando m a x i m i z a r a chance de o b t e n ç ã o de em geral s ã o a l c a n ç a d o s a longo prazo e envolvem vários
cultivares superiores; e considerar aspectos legais ao utilizar ciclos de melhoramento.
o germoplasma desenvolvido por outras i n s t i t u i ç õ e s . O livre E s t u d o s g e n é t i c o s : o melhorista deve agrupar os cruza-
i n t e r c â m b i o de germoplasma para as espécies a u t ó g a m a s mentos realizados para o estudo dos aspectos genéticos da
tornou-se limitado no B r a s i l , com a homologação da L e i de espécie com que t r a b a l h a (por exemplo, estudar a h e r a n ç a do
P r o t e ç ã o de Cultivares, apesar de o uso de germoplasma tipo semianao ou estimar o n ú m e r o de genes envolvidos n a
p a r a pesquisa ter ficado isento da p r é v i a a u t o r i z a ç ã o da r e s i s t ê n c i a de u m a doença). Os genitores d e v e r ã o ser
i n s t i t u i ç ã o de origem. bastante divergentes quanto à s c a r a c t e r í s t i c a s em estudo.
A classificação dos cruzamentos quanto à diversidade
Tipos de cruzamento g e n é t i c a dos genitores é frequentemente adotada pelos
melhoristas e bastante ú t i l para a definição dos cruzamentos
Usualmente, os melhoristas r e a l i z a m cruzamentos mais promissores para o desenvolvimento de cultivares.
com diferentes objetivos. Os critérios de escolha de genitores, Nessa classificação, incluem-se duas categorias:
bem como a metodologia de c o n d u ç ã o das populações
segregantes, v a r i a m com os diversos objetivos dos C r u z a m e n t o s convergentes (narrow cross): referem-se aos
cruzamentos. cruzamentos em que a d i s t â n c i a genética entre os genitores é
pequena, ou seja, os genitores s ã o aparentados. A s populações
E m u m programa de melhoramento, recomenda-se
segregantes o r i g i n á r i a s deste cruzamento apresentam de
que os cruzamentos sejam agrupados conforme a finalidade, moderada a baixa v a r i â n c i a genética, em geral associada à
como se segue: alta produtividade m é d i a . Geralmente envolvem cultivares
D e s e n v o l v i m e n t o de c u l t i v a r e s : neste grupo devem estal- superiores, dò mesmo grupo de m a t u r a ç ã o e h á b i t o de
os cruzamentos cujo objetivo é o desenvolvimento de novos crescimento. Espera-se que, nestes cruzamentos, as
cultivares. Os genitores escolhidos p a r a estes cruzamentos combinações alélicas favoráveis sejam preservadas e que os
devem ser agronomicamente superiores e adaptados à r e g i ã o pequenos ganhos genéticos, obtidos n a população com alto
de cultivo, pois cruzamentos envolvendo germoplasma desempenho médio, representem u m incremento r e a l em
exótico ou inadaptado em geral dificultam ou a t r a s a m a relação ao do melhor genitor. E s t e cruzamento inclui, por
o b t e n ç ã o de cultivares superiores. exemplo:
Desenvolvimento de germoplasma (pré-melhora- a) cultivar adaptado x cultivar adaptado;
mento): neste grupo devem ser incluídos os genitores
b) cultivar adaptado x linhagem-elite; e
portadoren de c a r a c t e r í s t i c a s que se deseja introduzir no
programa de desenvolvimento de cultivares, mas que c) linhagem-elite x linhagem-elite.
168 Borém e Miranda Seleção de genitores 169

C r u z a m e n t o s d i v e r g e n t e s (wide cross): referem-se aos aumentem a probabilidade de o b t e n ç ã o de cada c a r a c t e r í s -


cruzamentos em que h á grande d i s t â n c i a genética entre os tica n a p o p u l a ç ã o segregante. Alternativamente, a escolha de
genitores. A s populações segregantes o r i g i n á r i a s destes ambos os genitores com r e s i s t ê n c i a ao cancro-da-haste pode
cruzamentos apresentam grande variabilidade g e n é t i c a e resultar em u m a p o p u l a ç ã o n ã o segregante para esta
baixo ou moderado desempenho. Neste tipo de cruzamento, c a r a c t e r í s t i c a , aumentando a probabilidade de o b t e n ç ã o do
genitores n ã o adaptados à r e g i ã o do cultivo podem ser futuro cultivar de 1/40.960 para 1/2.560.
incluídos por apresentarem c a r a c t e r í s t i c a s inexistentes no P a r a a d e t e r m i n a ç ã o das c a r a c t e r í s t i c a s essenciais
germoplasma local. Deve-se, entretanto, reduzir a contri- dos futuros cultivares, devem-se conhecer as prioridades
b u i ç ã o genética dos tipos inadaptados por meio de u m ou estabelecidas pelos agricultores. Embora a p r o d u ç ã o de g r ã o s
mais retrocruzamentos com os tipos adaptados. seja de a l t a prioridade p a r a os produtores de cevada,
cultivares de p u b e s c ê n c i a longa são considerados i n a c e i t á -

Importância da seleção de genitores


veis, em virtude do desconforto alérgico que essa
c a r a c t e r í s t i c a produz durante a colheita.
A probabilidade de obtenção de genótipos contendo as Durante a fase de escolha de genitores, o molhorista
características-objeto de u m programa pode ser calculada deve considerar tanto a a t u a l demanda dos eoriHumidores
pela m u l t i p l i c a ç ã o das probabilidades de o b t e n ç ã o de cada quanto a t e n d ê n c i a do mercado para o futuro próximo. Isso
característica na população segregante. Muitas das representa grande desafio, u m a vez que o l a n ç a m e n t o de u m
c a r a c t e r í s t i c a s consideradas e s t ã o ligadas, e a probabilidade cultivar pode ocorrer em cerca de 5 a 10 anos apÓH a escolha
r e a l difere da calculada. Quando c a r a c t e r í s t i c a s i n d e s e j á v e i s e o cruzamento dos genitores.
se encontram ligadas a c a r a c t e r í s t i c a s desejáveis, a
A soja no B r a s i l ilustra muito bem a importância de se
probabilidade de obtenção de i n d i v í d u o s superiores depende
planejarem os cruzamentos. Com a expanHão da fronteira
de crossing overs específicos. Considere-se a soja com as
agrícola nas regiões de baixa latitude, a demanda por cultivares
seguintes c a r a c t e r í s t i c a s e probabilidades:
de período juvenil longo aumentou de forma expressiva.
a) i n d e i s c ê n c i a de vagem: 1/4;
Visando atender a essa demanda, o Programa de
b) r e s i s t ê n c i a ao cancro-da-haste: 1/16; Melhoramento de Soja da U F V iniciou cruzamentos com os
c) semente de tegumento claro: 1/20; cultivares Doko, I A C - 8 e Savana, de período juvenil longo. A s
d) h á b i t o de crescimento determinado: 1/4; e linhagens desenvolvidas a partir desses genitores
apresentaram boa a d a p t a ç ã o e potencial para serem utilizadas
e) ciclo precoce: 1/8.
na e x p a n s ã o da sojicultura no norte do Brasil.
A probabilidade de o b t e n ç ã o de um genótipo reunindo
as cinco c a r a c t e r í s t i c a s é de 1/40.960.
Genitores potenciais
P a r a que os novos cultivares apresentem u m a série de
cnrncterÍHticas essenciais, é preciso optar pela c o n d u ç ã o de C u l t i v a r e s e m uso: os cultivares em desenvolvimento
gnindeH populações segregantes e, nestas, selecionar os tipos v i s a m s u b s t i t u i r aqueles em uso. E m c o n s e q u ê n c i a , os
desejáveis ou escolher criteriosamente genitores que cultivares em uso devem constituir a p r i m e i r a opção como
170 Borém e Miranda Seleção de genitores 171

fonte de genitores. Os cultivares em uso agregam a m a i o r i a desenvolvimento. No site do Ministério da Agricultura t a m b é m


das c a r a c t e r í s t i c a s exigidas pelo mercado e apresentam estão disponíveis os cultivares registrados para comercialização
boa produtividade, associada a outras c a r a c t e r í s t i c a s de no Brasil.
i m p o r t â n c i a a g r o n ó m i c a . A probabilidade de se obterem A c e s s o s de b a n c o s de g e r m o p l a s m a : os bancos de
linhagens superiores em cruzamentos entre cultivares é germoplasma s ã o excelentes fontes de v a r i a b i l i d a d e . Os
r e l a t i v a m e n t e a l t a . U m a r á p i d a consulta à s e ç ã o de acessos desses bancos em geral s ã o catalogados e podem
registro de c u l t i v a r e s em p e r i ó d i c o s especializados ser requisitados p a r a pesquisa ou melhoramento. O
r e v e l a r á que a m a i o r i a dos genitores dos novos cultivares é melhorista deve ter c a u t e l a adicional ao usar acessos de
c o n s t i t u í d a pelos c u l t i v a r e s em uso. bancos de germoplasma no programa de desenvolvimento
de cultivar, u m a vez que a m a i o r i a dos acessos apresenta
u m a ou m a i s c a r a c t e r í s t i c a s i n d e s e j á v e i s aos cultivares. Os
L i n h a g e n s - e l i t e : podem-se agregar vantagens compara-
acessos P I 4 0 8 2 5 1 , P I 86023 e Ichigowase foram utilizados
tivas ao programa de melhoramento ao incluir, nos
n a U F V no programa de desenvolvimento de cultivares de
cruzamentos, as principais linhagens em fase final de
soja com melhor sabor p a r a a a l i m e n t a ç ã o h u m a n a . Esses
a v a l i a ç ã o , visando ao desenvolvimento de cultivares. A acessos apresentam d i v e r s a s l i m i t a ç õ e s a g r o n ó m i c a s que
i n c l u s ã o de linhagens nos blocos de cruzamentos antes de se impedem seu uso como novos cultivares.
completar a s u a a v a l i a ç ã o final pode resultar n a e l i m i n a ç ã o
de populações segregantes, caso algum aspecto limitante seja
detectado n a linhagem envolvida. Todavia, é p r á t i c a comum Filosofias de seleção de genitores
entre os melhoristas o uso de linhagens como genitores, com Muitos programas de desenvolvimento de cultivares
posterior e l i m i n a ç ã o dos cruzamentos cuja superioridade é conduzem grande n ú m e r o de cruzamentos n a expectativa de
questionável. que u m deles resulte em u m a c o m b i n a ç ã o gênica superior,
que possa ser selecionada e l a n ç a d a como novo cultivar. No
L i n h a g e n s com c a r a c t e r í s t i c a s e s p e c í f i c a s : muitas vezes, programa de melhoramento de trigo do Centro Internacional
registra-se uma linhagem que n ã o possui bom desempenho de Melhoramento de Milho e Trigo ( C I M M Y T ) , no México,
geral, mas é portadora de uma ou mais características de s ã o realizados cerca de 2.000 cruzamentos por ano p a r a
interesse específico. Por exemplo, a Universidade Estadual de atender ao seu programa internacional. Com u m m é t o d o
Kentucky, E U A , lançou a linhagem de fumo K Y 171 para fins eficaz p a r a a escolha de genitores, o n ú m e r o de cruzamentos
experimentais ou para uso nos programas de melhoramento. poderia ser reduzido consideravelmente. Diversos m é t o d o s
E s s a linhagem apresenta baixos teores de nicotina e folhas
de seleção de genitores foram desenvolvidos com base em
verde-escuras, características de interesse para a i n d ú s t r i a
duas filosofias a n t a g ó n i c a s : i) m a x i m i z a ç ã o do ganho
tabagista, porém n ã o foi lançado como novo cultivar, em r a z ã o
genético e ii) m a x i m i z a ç ã o do desempenho da p o p u l a ç ã o .
da baixa estabilidade de produção. Os periódicos Crop Science e
Crop Breeding and Apllied Biotechnology listam, no último P a r a abordagem das duas filosofias, considere u m
n ú m e r o de cada ano, os registros de linhagens e cultivares de programa de melhoramento em que o objetivo p r i n c i p a l é o
v á r i a s espécies, com as principais características de cada desenvolvimento de u m cultivar altamente produtivo. A
genótipo vi os métodos de melhoramento utilizados no seu primeira filosofia enfatiza a m a x i m i z a ç ã o do ganho genético
172 Borém e Miranda Seleção de genitores 173

como a a l t e r n a t i v a para o b t e n ç ã o do novo cultivar. O ganho Com base n a e q u a ç ã o anterior, o ganho genético é
genético pode ser estimado pela seguinte e q u a ç ã o : apenas u m dos componentes que influenciam a m é d i a dos
G =h D 2
i n d i v í d u o s selecionados. Os melhoristas que seguem a
filosofia da m a x i m i z a ç ã o do desempenho da p o p u l a ç ã o
em que: enfatizam cruzamentos convergentes envolvendo genitores
G : representa o ganho genético; altamente produtivos. Nessa s i t u a ç ã o , o ganho genético s e r á
h , : herdabilidade; e
2
limitado, p o r é m a m é d i a da p o p u l a ç ã o s e r á alta, resultando
em elevada m é d i a dos i n d i v í d u o s selecionados.
D: diferencial de seleção.

Para m a x i m i z a r o ganho genético, devem-se Métodos de seleção de genitores


m a x i m i z a r o diferencial de seleção (D) e a herdabilidade para C o m p o r t a m e n t o p o r s i dos genitores: de acordo com
a característica-objetivo da seleção ( h ) . P a r a aumentar o
2
este c r i t é r i o , o melhor cruzamento é aquele que envolve os
valor de D, deve-se selecionar u m menor n ú m e r o de dois melhores cultivares e que a m é d i a dos genitores
i n d i v í d u o s superiores n a p o p u l a ç ã o . E x i s t e m duas formas de e s t a b e l e ç a o desempenho da p r o g é n i e . E s t e é o caso quando
se elevar a herdabilidade: a p r i m e i r a é a r e d u ç ã o da a maior parte da v a r i â n c i a g e n é t i c a é aditiva, n ã o sendo
v a r i â n c i a de ambiente por meio da u t i l i z a ç ã o de ambientes aplicado n a m a i o r i a das e s p é c i e s a l ó g a m a s , principalmente
mais uniformes, e a segunda é o aumento da v a r i â n c i a o milho. Matzinger et a l . (1976) i n d i c a r a m a p r e d o m i n â n c i a
genética, por meio de genitores n ã o aparentados. Os da v a r i â n c i a g e n é t i c a a d i t i v a entre a m a i o r i a dos caracteres
melhoristas que seguem a filosofia da m a x i m i z a ç ã o dos a g r o n ó m i c o s em diversas a u t ó g a m a s . Muitos outros autores
ganhos genéticos, quando s e l e c i ò n a m genitores, enfatizam os concordam com esta teoria e recomendam o uso dos
cruzamentos divergentes. A segunda filosofia considera a melhores g e n ó t i p o s como genitores. A escolha de genitores
m a x i m i z a ç ã o do desempenho per se como a a l t e r n a t i v a p a r a baseada no comportamento por s i é suportada pela
o desenvolvimento do novo cultivar. O desempenho dos e x p e r i ê n c i a dos melhoristas, isto é, g e n ó t i p o s com alto
i n d i v í d u o s selecionados n a p o p u l a ç ã o pode ser estimado pela desempenho tendem a gerar progénies com alto
seguinte e q u a ç ã o : desempenho. B a k e r (1981) reportou e v i d ê n c i a s de que
cruzamentos entre genitores com alto desempenho e
X N + 1 =X +G
reduzida distância genética apresentam maior
probabilidade de originar cultivares agronomicamente
em que:
superiores no curto prazo. O que tem sido mais utilizado?
X N + 1 : m é d i a da p r o g é n i e dos i n d i v í d u o s selecionados, E m geral, os melhoristas c r u z a m os melhores g e n ó t i p o s
na g e r a ç ã o seguinte; entre s i . U m r á p i d o levantamento de genitores n a seção de
X : m é d i a da p o p u l a ç ã o ; e registro de c u l t i v a r e s do Crop Science e outros periódicos
G: ganho genético. revela que este c r i t é r i o é o m a i s utilizado. N e m sempre bons
cultivares apresentam bom comportamento como genitores.
O cultivar de trigo G a i n e s , primeiro cultivar s e m i a n ã o n
174 Borém e Miranda Seleção de genitores 175

contribuir p a r a a R e v o l u ç ã o Verde de N o r m a n Borlaug, foi cultivar. Caso o comportamento por s i fosse utilizado n a
obtido a p a r t i r de u m genitor m e d í o c r e , Norim 10. seleção de genitores, Norin 10 n ã o seria escolhido. E s s e
cultivar foi incluído em v á r i o s cruzamentos, por apresentar
F e n ó t i p o p a r a c a r a c t e r í s t i c a s importantes: este m é t o d o pequena a l t u r a de planta.
enfatiza a complementaridade entre os genitores para H i s t ó r i c o do genitor: este talvez seja o mais importante
c a r a c t e r í s t i c a s correlacionadas com a c a r a c t e r í s t i c a principal critério para a escolha de genitores p a r a o melhoramento
do programa. Nesse caso, procura-se otimizar as a n i m a l . O velocista da r a ç a quarto-de-milha, Signed to Fly,
c a r a c t e r í s t i c a s correlacionadas à característica-objeto do
pai de outros reconhecidos equinos c a m p e õ e s , teve em 1996
programa.
suas coberturas avaliadas em cerca de U $ 8.000,00, em r a z ã o
Quando a seleção para a c a r a c t e r í s t i c a de interesse é da sua comprovada habilidade de transferir aos
relativamente difícil, pode-se fazer a seleção indireta, isto é, descendentes ó t i m a s c a r a c t e r í s t i c a s . E s s e critério enfatiza a
por meio de outras c a r a c t e r í s t i c a s correlacionadas com a i m p o r t â n c i a da capacidade de c o m b i n a ç ã o . Neste m é t o d o , a
primeira. E s t e critério t a m b é m tem sido adotado p a r a a escolha de genitores baseia-se em informações sobre o
escolha de genitores. P a r a a seleção de genitores com o histórico dos genótipos como genitores. Caso este m é t o d o seja
objetivo de desenvolver u m cultivar altamente produtivo, adotado, os cultivares mais novos n ã o s e r ã o incluídos nos
podem-se considerar outras c a r a c t e r í s t i c a s a g r o n ó m i c a s blocos de cruzamentos, pois o histórico do seu
correlacionadas com a produtividade. Grande n ú m e r o de comportamento como genitores só s e r á conhecido alguns
c a r a c t e r í s t i c a s tem sido correlacionado com produtividade de anos a p ó s seu l a n ç a m e n t o . Alguns cultivares tornaram-se
g r ã o s : índice de á r e a foliar, â n g u l o de i n s e r ç ã o foliar, índice conhecidos como bons genitores. O cultivar de soja U F V 1,
de colheita, n ú m e r o de sementes, tamanho de sementes, por exemplo, foi utilizado em diversos cruzamentos durante
capacidade de perfilhamento ou ramificação, eficiência no muitos anos e, por seu potencial, tornou-se genitor de v á r i o s
uso da á g u a e t a x a fotossintética ( G R A F I U S , 1988). Com outros cultivares.
base neste método, o melhorista deve escolher genitores que se
P e d i g r e e do genitor: este critério, t a m b é m muito utilizado
complementam. A p r e s e n ç a de características desejáveis em
no melhoramento a n i m a l , enfatiza a i m p o r t â n c i a da
ambos os genitores pode resultar n a r e u n i ã o destas em u m
diversidade g e n é t i c a . Tanto no melhoramento a n i m a l quanto
único indivíduo, portanto superior aos seus genitores.
no de espécies a l ó g a m a s , a diversidade genética encontra-se
E v i d ê n c i a s experimentais mostram que, em muitos correlacionada com a heterose, o que justifica a c o n s i d e r a ç ã o
casos, o aumento de produtividade foi a l c a n ç a d o com o uso de deste critério n a seleção de genitores. Cox et a l . (1985)
genitores com outras características importantes, sugeriram que a eficiência dos programas de melhoramento
provavelmente porque a maioria destas n ã o estava no seu poderia ser elevada se utilizasse maior diversidade genética.
nível ótimo, mesmo nos melhores cultivares. A escolha de
A d i s t â n c i a genética entre os potenciais genitores
genitores visando otimizar as c a r a c t e r í s t i c a s correlacionadas
pode ser a v a l i a d a com base nas c a r a c t e r í s t i c a s a g r o n ó m i c a s ,
com a produtividade pode resultar em aumentos substanciais
no grau de parentesco entre os genótipos ou mesmo no nível
na produtividade, como aconteceu com o cultivar de trigo
de polimorfismo molecular.
Gaines. Norin 10, u m dos genitores de Gaines, apresentou
produtividade medíocre no estado de Washington e, mesmo A seleção de genitores com base n a d i s t â n c i a genética
assim, foi usado no cruzamento que deu origem a esse deve ser sempre ponderada pela a v a l i a ç ã o do comportamento
176 Borém e Miranda Seleção de genitores 111

por s i dos genótipos envolvidos, u m a vez que existe t e n d ê n c i a originada, enquanto em outros os genomas envolvidos parecem
de os genótipos muito divergentes apresentarem l i m i t a ç õ e s complementar-se perfeitamente.
a g r o n ó m i c a s em r e l a ç ã o a u m a ou mais c a r a c t e r í s t i c a s . E m espécies alógamas, principalmente o milho, esse é o
principal critério de escolha de genitores para obtenção de
T e s t e de g e r a ç ã o precoce: Cregan e B u s c h (1977)
híbridos comerciais.
a v a l i a r a m o uso deste teste p a r a identificação de
cruzamentos promissores em trigo. Utilizando oito genitores, Dois tipos de capacidade de c o m b i n a ç ã o podem ser
esses autores estudaram 28 cruzamentos. A p a r t i r da distinguidos: a Capacidade G e r a l de C o m b i n a ç ã o ( C G C ) , que
g e r a ç ã o F2, cada p o p u l a ç ã o segregante foi conduzida pelos se refere à habilidade de u m genitor produzir p r o g é n i e s com
m é t o d o s bulk e S S D . E n t r e os v á r i o s critérios p a r a dado comportamento quando cruzado com uma série de
outros genitores; e a Capacidade Específica de C o m b i n a ç ã o
identificação de cruzamentos superiores, esses autores
( C E C ) , que se refere ao comportamento de u m a c o m b i n a ç ã o
c o n c l u í r a m que o desempenho da g e r a ç ã o F2, o melhor dos
específica. A i m p o r t â n c i a da capacidade de c o m b i n a ç ã o n a
critérios, apresenta apenas moderado valor preditivo e o da
escolha de genitores é maior quando h á efeitos genéticos n ã o
g e r a ç ã o F i , baixo valor preditivo. E m b o r a Cregan e B u s c h
aditivos.
tenham encontrado m é r i t o no teste de bulk em gerações
precoces, outros autores r e l a t a r a m resultados contradi- P a r a a v a l i a r as capacidades de c o m b i n a ç ã o de u m a
tórios no uso deste m é t o d o ( F O W L E R ; H E Y N E , 1955; s é r i e de genitores potenciais, podem-se utilizar os
A T K I N S ; M U R P H Y , 1949). O pequeno n ú m e r o de evidências cruzamentos dialélicos. O comportamento dos h í b r i d o s F i
como suporte a este m é t o d o , associado ao custo adicional n a estima a capacidade dos genótipos envolvidos.
c o n d u ç ã o dos testes de g e r a ç ã o precoce, reduziu o interesse M é t o d o de D u d l e y : J o h n Dudley, geneticista aposentado da
de seu uso para a p r e d i ç ã o de cruzamentos promissores. Universidade de Illinois, E U A , desenvolveu teorias e
m é t o d o s para identificação de germoplasma portador de
M é t o d o d a capacidade c o m b i n a t ó r i a : Evidências experi-
alelos favoráveis ( D U D L E Y , 1984; 1987). Trabalhando com
mentais t ê m indicado que mesmo cruzamentos envolvendo milho, esse autor procurou responder à s seguintes q u e s t õ e s :
genitores com comportamento mediano podem resultar em 1) Quais h í b r i d o s podem ser obtidos? 2) Quais linhagens
progénies com elevado potencial. O cultivar de cevada Morex, devem ser utilizadas como doadoras de alelos favoráveis? e 3)
lançado em 1987 em Minnesota, E U A , foi desenvolvido a partir Quais linhagens devem ser melhoradas?
do cruzamento Cree x Bonanza. Esses genitores apresentavam
produtividade de grãos e teor de extrato de malte abaixo da Considerando o genótipo P , portador de alelos
w

média. Entretanto, Morex, após o seu l a n ç a m e n t o , tornou-se o favoráveis e ausentes nos g e n ó t i p o s P i e P2, montou-se o
cultivar de maior sucesso no meio-oeste americano, em r a z ã o esquema da Tabela 1 1 . 1 .
da sua elevada produtividade e do seu mais alto teor de extrato
de malte entre os cultivares disponíveis na época. Esse
exemplo e muitos outros indicam que a capacidade de
combinação entre os genitores pode ser determinante n a
escolha de genitores. Alguns cruzamentos tendem a causar
desorganização na estrutura gênica do germoplasma, com
significativa redução no comportamento geral da população
Borém e Miranda Seleção de genitores 179
178

Tabela 11.1 - Possíveis classes de loci para três genótipos M é t o d o dos m a r c a d o r e s m o l e c u l a r e s : nos casos em que a
homozigóticos diversidade genética é importante, como nos cultivares
h í b r i d o s , os marcadores moleculares podem ser utilizados
Classe PI* P2 Pw p a r a e s t i m a ç ã o da d i s t â n c i a g e n é t i c a entre genótipos e p a r a
A + + + o r i e n t a ç ã o do melhorista n a escolha de genitores.
B + + -
A identificação de linhagens e n d o g â m i c a s de milho
C + - +
com alto desempenho em combinações h í b r i d a s é u m a etapa
D + - -

+ + onerosa dos programas de melhoramento. Por causa dos


E -

F - + - efeitos de d o m i n â n c i a na produtividade do milho, o


G - - + comportamento do h í b r i d o n ã o pode ser predito a p a r t i r do
H - - - comportamento das linhagens e n d o g â m i c a s por si ( S M I T H ;
* + homozigoto p a r a alelo favorável; - homozigoto p a r a alelo d e s f a v o r á v e l . S M I T H , 1986). D e s s a forma, é n e c e s s á r i o obter os h í b r i d o s e
avaliá-los em testes comparativos de p r o d u ç ã o . H í b r i d o s
comerciais de milho s ã o geralmente obtidos do cruzamento
O n ú m e r o relativo de loci em Pw com alelos favoráveis
de linhagens de grupos h e t e r ó t i c o s diferentes. O uso de
ausentes em P i e P2 é dado por:
marcadores moleculares tem sido recomendado para: i)
determinar grupos h e t e r ó t i c o s ; e i i ) fazer a p r e d i ç ã o do
[(PixP ) + ( P x P ) + P - P - P - ( P x P ) ]
w 2 w 1 2 w 1 2
comportamento dos h í b r i d o s com base n a d i s t â n c i a g e n é t i c a
entre os genitores.

Diversos autores comprovaram a utilidade dos


A identificação da linhagem doadora (Pw) é baseada
marcadores moleculares na d e t e r m i n a ç ã o de grupos heteróticos
no n ú m e r o relativo de loci do doador com alelos favoráveis ( S M I T H et a i , 1990; M E L C H I N G E R et a i , 1990; D U D L E Y et
ausentes em P i e P2 ( | i c ) . L i n h a g e n s com maiores valores de al., 1992). Todavia, a utilidade desses marcadores para
[XG apresentam maior potencial de contribuição para predição do comportamento de híbridos tem sido questionada
o b t e n ç ã o do h í b r i d o em q u e s t ã o . em virtude das baixas correlações encontradas. Bernardo
(1994) demonstrou a viabilidade da utilização dos marcadores
A l g u m a s c r í t i c a s t ê m sido feitas ao m é t o d o , d e n t r e
moleculares para predição de híbridos quando dados de
elas: i ) o modelo g e n é t i c o é m u i t o s i m p l i f i c a d o ; i i ) o
produtividade de u m subgrupo de híbridos relacionados se
método considera dominância completa para a
encontram disponíveis. Nesse caso, a predição é baseada no
c a r a c t e r í s t i c a , o que n ã o deve ser r e a l í s t i c o ; e i i i ) o
procedimento B L U P (Best Linear Unbiased Prediction), que
m é t o d o deve ser testado m a i s vezes n a p r á t i c a .
adota u m modelo genético aditivo e intrapopulacional.
Metz (1994) fez u m a a v a l i a ç ã o do m é t o d o proposto por
E m programas de retrocruzamentos, marcadores
Dudley e apresentou algumas modificações. Bernardo (1994)
moleculares podem facilitar a escolha de genitores doadores
apresentou u m procedimento alternativo ao de Dudley, mais
com a pequena distância genética do genitor recorrente.
simplificado.
Borém e Miranda Seleção de genitores 181
180

Método da estimativa m + a ocorrência de linhagens superiores. P a r a seu emprego,


considera-se que a m é d i a das linhagens em F2 é igual à das
A estimativa de m + a avalia o potencial da p o p u l a ç ã o linhagens n a g e r a ç ã o Foo que a v a r i â n c i a g e n é t i c a dessa
e

segregante em r e l a ç ã o aos locos fixados. Dessa forma, u m a g e r a ç ã o c o n t é m 2 o ^ = o , em que o


2GL é a v a r i â n c i a entre
2GL

p o p u l a ç ã o com maior e s t i m a t i v a d e m + a possui, em r e l a ç ã o genótipos e locais.


à outra, maior ocorrência de locos com alelos favoráveis em
homozigose. Esse m é t o d o somente deve ser aplicado em Donald Rasmusson, da Universidade de Minnesota,
apresentou as seguintes s u g e s t õ e s p a r a a seleção de
espécies a u t ó g a m a s .
genitores em espécies a u t ó g a m a s :
P a r a o emprego desta metodologia, devem-se a v a l i a r
as populações segregantes em duas gerações consecutivas, F i
I . E s t r a t é g i a s p a r a o planejamento dos cruzamentos, com o
e F2 ou F2 e Fa, por exemplo.
objetivo de desenvolver cultivares altamente produtivos:
O princípio deste m é t o d o e s t á no fato de que a m é d i a
• Identificar o g e r m o p l a s m a - n ú c l e o que, consistentemente,
da g e r a ç ã o F i , proveniente de u m cruzamento simples, é
apresenta bom desempenho e gera boas p r o g é n i e s .
m + a + i a d a F é m + a + l/2d; e a da Fa, m+ a + l/4d,
2
• E n f a t i z a r o uso desse g e r m o p l a s m a - n ú c l e o .
em que a representa a soma a l g é b r i c a dos locos fixados com
• M a n t e r e melhorar o g e r m o p l a s m a - n ú c l e o , usando-se
alelos favoráveis ou desfavoráveis nos dois genitores e d, a cruzamentos convergentes.
soma a l g é b r i c a dos efeitos dos locos em heterozigose. D e s s a • Conduzir u m subprograma dentro do programa p r i n c i p a l
forma, m + a pode ser estimado pela e x p r e s s ã o 2F2-F1 ou 2F3- p a r a cada c a r a c t e r í s t i c a importante.
F2. N a geração Foo, quando a homozigose completa for
atingida, a m é d i a das linhagens s e r á m +a; os efeitos dos I I . Procedimentos inadequados no planejamento de
homozigotos se anulam, pois, nos locos que e s t ã o segregando. cruzamentos com o objetivo de desenvolver cultivares
A s s i m , a m é d i a das n linhagens possíveis i r á depender altamente produtivos:
apenas dos locos que estão fixados nos genitores. • F a z e r seleção com base em n ú m e r o excessivo de objetivos
m ú l t i p l o s , isto é, qualidade nutricional, r e s i s t ê n c i a a
d o e n ç a s , acamamento, produtividade, a l t u r a de planta
Método de Jinks e Pooni (1976)
etc.
Este m é t o d o permite estimar o potencial de u m • U s a r grande n ú m e r o de cruzamentos com genitores
cruzamento nas gerações iniciais utilizando-se m é d i a s e escolhidos aleatoriamente.
v a r i â n c i a s . Desse modo, possibilita o descarte de p o p u l a ç õ e s
• D a r ênfase a cruzamentos divergentes.
inferiores ou de menor potencial.
• U s a r genitores cujo desempenho n ã o é conhecido.
O princípio desse m é t o d o é que, p a r a c a r a c t e r í s t i c a s
quantitativas com seis ou mais genes, a d i s t r i b u i ç ã o • Considerar em demasia ou desconsiderar o germoplasma
fenotípica das linhagens em Foo, desenvolvidas sem seleção de outros programas de melhoramento.
em um cruzamento entre genitores homozigóticos, segue a O uso de germoplasma de outros programas de
d i s t r i b u i ç ã o normal. Utilizando-se das propriedades de u m a melhoramento deve ser criterioso. Alguns melhoristas s ã o
d i s t r i b u i ç ã o normal, é possível estimar a probabilidade de
Barém e Miranda Seleção de genitores 183
182

muito independentes e raramente u s a m germoplasma de C R E G A N , P . B . ; B U S C H , R . H . E a r l y generation b u l k h y b r i d yield testing


of adapted h a r d red w i n t e r w h e a t crosses. C r o p Sei., v. 17, p. 887-891
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Cultivares

C u l t i v a r é u m grupo de indivíduos de qualquer género


ou espécie vegetal superior que seja claramente distinguível de
outros por uma margem m í n i m a de descritores e que possua
denominação própria, homogeneidade e estabilidade quanto aos
descritores em sucessivas gerações. Os descritores e
características agronómicas que conferem identidade aos
cultivares podem ser: ciclo, cor das sementes, caracteres
morfológicos, reação a doenças, produção de grãos e p a d r õ e s
isoenzimáticos ou de ácidos nucleicos. A estabilidade do
cultivar é importante para sua identificação, geração após
geração.
O termo cultivar foi cunhado a partir da c o n t r a ç ã o das
palavras inglesas cultivated variety (variedade cultivada).
H á d i s c u s s ã o sobre o g é n e r o do termo cultivar. Alguns
periódicos científicos nacionais consideram-no feminino,
como a Revista da Pesquisa A g r o p e c u á r i a B r a s i l e i r a , P A B ,
enquanto a R e v i s t a Ceres considera-o masculino.
N a maioria das vezes, quando o melhorista inicia u m
programa de melhoramento, o tipo de cultivar a ser
desenvolvido já e s t á definido. E m alguns casos, como na cultura
188 Borém e Miranda Cultivares 189

do milho, a substituição dos cultivares de polinização aberta u m a linhagem geneticamente p u r a de aveia n ã o permanece
pelos híbridos ocorreu em r a z ã o da descoberta do vigor híbrido nessa s i t u a ç ã o com a r e p r o d u ç ã o sexual, em virtude das
ou da heterose. Mais recentemente, os produtores de tomate m u t a ç õ e s , m i s t u r a s m e c â n i c a s , polinizações cruzadas e
t a m b é m v ê m substituindo os cultivares de linha pura pelos segregações tardias; as l i n h a s puras, n a p r á t i c a , apresentam
híbridos F i . heterogenia.
Compete aos melhoristas a n a l i s a r as vantagens de A estabilidade de comportamento das l i n h a s puras
cada tipo de cultivar e suas implicações g e n é t i c a s antes de depende quase exclusivamente da sua plasticidade
recomendar a m u d a n ç a do tipo de cultivar em u m sistema de fenotípica. A s l i n h a s puras de soja, com grande capacidade
p r o d u ç ã o j á estabelecido. Isso raramente acontece. E m se de ramificação, apresentam maior plasticidade e tendem a
tratando de novas culturas, compete ao melhorista compensar a desuniformidade de d i s t r i b u i ç ã o de plantas no
apresentar s u g e s t õ e s dos tipos de cultivares a serem campo.
comercializados.
Os m é t o d o s de melhoramento a serem utilizados em Multilinhas
uma espécie v ã o depender, em parte, do tipo de cultivar a ser
desenvolvido. Por exemplo, os m é t o d o s que envolvem A s m u l t i l i n h a s s ã o c o n s t i t u í d a s pela m i s t u r a de
a u t o f e c u n d a ç ã o s ã o indicados p a r a a o b t e n ç ã o de cultivares l i n h a s isogênicas ou quase isogênicas, que diferem entre s i
de espécies a u t ó g a m a s e de linhagens e n d o g â m i c a s em quanto a alelos de r e s i s t ê n c i a a determinado p a t ó g e n o . E l a s
espécies a l ó g a m a s , mas n ã o t ê m valor para a seleção de são homozigóticas, porém heterogéneas. S ã o usadas
clones. primariamente em espécies a u t ó g a m a s como e s t r a t é g i a de
r e s i s t ê n c i a a d o e n ç a s . Alguns melhoristas t a m b é m r e l a t a m o
seu uso em condições de estresse climático i m p r e v i s í v e l .
Tipos de cultivares
A o p e r a c i o n a l i z a ç ã o da p r o d u ç ã o de sementes das
Linhas puras multilinhas é relativamente onerosa quando comparada com
a das l i n h a s puras. A s m u l t i l i n h a s são formadas pela
A s l i n h a s puras s ã o c o n s t i t u í d a s por u m grupo de
p r o d u ç ã o , separada de cada u m dos seus constituintes, que
i n d i v í d u o s descendentes de u m a ú n i c a planta em homozigose
são misturados nas proporções desejadas. E s t a composição
e, portanto, apresentam basicamente a mesma c o n s t i t u i ç ã o
pode mudar de ano para ano, conforme as v a r i a ç õ e s das
genética, o que as torna h o m o z i g ó t i c a s e h o m o g é n e a s .
r a ç a s fisiológicas dos p a t ó g e n o s prevalecentes no campo. O
Estatisticamente, Kempthorne (1957) definiu u m a l i n h a
uso das multilinhas prevê o beneficiamento e a
pura como u m grupo de i n d i v í d u o s homozigóticos com u m
armazenagem de cada componente de forma isolada.
coeficiente de parentesco superior ou igual a 0,87.
Teoricamente, deveriam produzir diversas linhas isogênicas
As linhas puras s ã o especialmente importantes e m i s t u r a r apenas aquelas apropriadas, conforme indicado
quando a uniformidade do cultivar é essencial. F r e y e pelo levantamento de r a ç a s fisiológicas prevalecentes na
C h a n d h a n a m u t t a (1975) demonstraram que a t a x a de região, mas isso é inviável economicamente.
m u t a ç ã o em aveia hexaploide é de 0,32%, o que significa que
190 Borém e Miranda Cultivares 191

U m a vez que as multilinhas favorecem a estabilização h í b r i d o s simples de milho j á ocupam 45% do mercado de
das r a ç a s fisiológicas do patógeno, os genes de resistência das sementes comercializadas dessa espécie.
plantas tendem a reter com elas a sua habilidade de proteção e U m a possível vantagem dos h í b r i d o s duplos é a s u a
muitas r a ç a s fisiológicas do patógeno t ê m a oportunidade de maior heterogeneidade, associada à maior estabilidade de
sobreviver, diminuindo a probabilidade de desenvolvimento de comportamento. E b e r h a r t e R u s s e l l (1969), investigando a
novas r a ç a s . estabilidade dos diferentes tipos de híbrido, observaram que
Atualmente, pela natureza d i n â m i c a do mercado de diversos h í b r i d o s simples apresentaram maior produtividade
sementes e em r a z ã o da pequena vida ú t i l dos cultivares, as do que o melhor h í b r i d o duplo e que alguns são t ã o e s t á v e i s
multilinhas t ê m sido consideradas uma alternativa quanto os h í b r i d o s duplos mais e s t á v e i s .
conservadora e de mercado restrito.

Sintéticos
Híbridos
Os híbridos sintéticos são obtidos do intercruzamento de
Os h í b r i d o s s ã o resultantes do cruzamento entre um grupo de linhagens ou clones selecionados com base n a
i n d i v í d u o s geneticamente distintos, visando à u t i l i z a ç ã o capacidade de combinação; são heterozigóticos e heterogéneos.
p r á t i c a da heterose. S ã o heterozigóticos e h o m o g é n e o s e Esses cultivares são primariamente utilizados em espécies
primariamente utilizados em espécies a l ó g a m a s . H í b r i d o s de a l ó g a m a s ou espécies de reprodução assexuada. N a s espécies
algumas espécies a u t ó g a m a s , como tomate, arroz e berinjela a u t ó g a m a s que apresentam mecanismos que maximizam a
e, de forma menos representativa, trigo e cevada, e s t ã o fecundação cruzada, como a macho-esterilidade ou
disponíveis em diferentes p a í s e s ( C A R L S S O N ; L E I J O N , autoincompatibilidade, t a m b é m é possível a obtenção de
1986; L E H M A N N , 1986). cultivares sintéticos.
Os h í b r i d o s podem ser obtidos do cruzamento de duas C u l t i v a r e s s i n t é t i c o s de m u i t a s e s p é c i e s forrageiras
linhagens e n d o g â m i c a s ( P i x P2), h í b r i d o simples; de t r ê s s ã o utilizados em diversas r e g i õ e s . Dentre as vantagens
linhagens e n d o g â m i c a s [ ( P i x P2) x P 3 ] , h í b r i d o triplo; ou de desses cultivares, incluem-se: i) a r e d u ç ã o da perda do vigor
quatro linhagens e n d o g â m i c a s [ ( P i x Pz) x (Pa x P 4 ) ] , h í b r i d o nas g e r a ç õ e s a v a n ç a d a s do s i n t é t i c o é menor do que a
duplo. A l é m das linhagens e n d o g â m i c a s , podem-se u t i l i z a r manifestada em h í b r i d o s ; ii) a p r o p a g a ç ã o do s i n t é t i c o
cultivares de polinização aberta ou clones n a o b t e n ç ã o dos durante sucessivas g e r a ç õ e s n a r e g i ã o de cultivo r e s u l t a em
híbridos. melhor a d a p t a ç ã o ao ambiente; e iii) o s i n t é t i c o tem a l t a
plasticidade, em virtude da heterogeneidade.
O h í b r i d o simples é, em geral, mais produtivo do que o
h í b r i d o duplo ou triplo. Weatherspoon (1970) avaliou 36 Os cultivares sintéticos, no sentido restrito, t ê m sido
h í b r i d o s simples, 36 triplos e 36 duplos obtidos de nove utilizados de forma bastante limitada. Entretanto, as
g e r a ç õ e s a v a n ç a d a s t ê m sido empregadas mais comumente.
linhagens e n d o g â m i c a s de milho. A s produtividades m é d i a s
de híbridos simples, triplos e duplos, respectivamente, foram
de 6.500, 6.200 e 6.000 kg/ha. Atualmente nos U S A somente
s ã o plantados h í b r i d o s simples de milho. No B r a s i l , os
192 Borém e Miranda Cultivares 193

Geração avançada de sintéticos Cultivares de polinização aberta


A p r i m e i r a g e r a ç ã o do i n t c r c r u z a m e n t o dos clones Os cultivares de polinização aberta ou livre s ã o
selecionados é denominada s i n t é t i c o ou S I N - 1 . A l t e r n a t i v a - obtidos pela livre polinização ou acasalamento ao acaso de
mente, as g e r a ç õ e s posteriores ao S I N - 1 podem ser u m grupo de i n d i v í d u o s selecionados. S ã o conhecidos
u t i l i z a d a s comercialmente. A g e r a ç ã o S I N - 2 é obtida pela t a m b é m como variedades. E s t e s cultivares, heterozigóticos e
p o l i n i z a ç ã o aberta das p l a n t a s obtidas com as sementes h e t e r o g é n e o s , s ã o u m a a l t e r n a t i v a ao uso dos híbridos. A
S I N - 1 , enquanto a g e r a ç ã o S I N - 3 é produzida pela E m b r a p a , a Universidade F e d e r a l de Viçosa e a
p o l i n i z a ç ã o aberta das plantas obtidas com as sementes Coordenadoria de A s s i s t ê n c i a Técnica Integral ( C A T I ) v ê m
S I N - 2 , e a s s i m sucessivamente. desenvolvendo cultivares de polinização aberta de milho para
Obviamente, a cada g e r a ç ã o ocorre u m a r e d u ç ã o no produtores que preferem adquirir sementes de custo mais
potencial de p r o d u ç ã o , que pode ser estimada pela seguinte baixo e u t i l i z a m o sistema produtivo com poucos insumos.
fórmula:

Composto
XSIN-2 = XsiN-i - [(XsiN-i - X)/n]
P o p u l a ç õ e s ou cultivares compostos s ã o obtidos do
cruzamento de diversos genitores. E s t e s cultivares s ã o
em que:
X g I N 2 : m é d i a do sintético SIN-2; h e t e r o g é n e o s ; p o r é m , se a macho-esterilidade for introduzida
n a p o p u l a ç ã o , os cultivares s ã o mantidos em heterozigose.
X g I N ^ m é d i a do sintético S I N - 1 ;
Os cruzamentos compostos foram i n i c i a l m e n t e
X : m é d i a dos genitores de S I N - 1 ; e
N : n ú m e r o de genitores do S I N - 1 . propostos por H a r l a n et a l . (1940), com o objetivo de r e u n i r
c a r a c t e r í s t i c a s de diversos genitores em u m a só p o p u l a ç ã o ,
sendo esta submetida à s e l e ç ã o n a t u r a l n a r e g i ã o de
Clone
a d a p t a ç ã o durante v á r i a s g e r a ç õ e s . Teoricamente, os
O clone é c o n s t i t u í d o por u m grupo de i n d i v í d u o s que cultivares compostos t e n d e r i a m a apresentar m á x i m a
descendem, por p r o p a g a ç ã o assexuada, de u m ú n i c o genitor. adaptabilidade a essa r e g i ã o . A t u a l m e n t e , os compostos
Os clones s ã o heterozigóticos em geral e h o m o g é n e o s . Os s ã o utilizados no p r é - m e l h o r a m e n t o .
i n d i v í d u o s de u m mesmo clone s ã o geneticamente idênticos.
Nas espécies de p r o p a g a ç ã o assexuada, h á u m a Cultivar transgênico
correlação positiva entre grau de heterozigose e vigor. Por
isso, os cultivares clonais s ã o em geral altamente T a m b é m conhecido como cultivar geneticamente
heterozigóticos. modificado, é aquele que recebeu gene e x ó g e n o v i a
t r a n s f o r m a ç ã o g ê n i c a , isto é por meio da e n g e n h a r i a
genética.
194 Borém e Miranda Cultivares 19o

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((ISSA publicação especial, 17).
Introdução de germoplasma 197

1493, sementes das mais importantes espécies a g r o n ó m i c a s


nativas das A m é r i c a s foram levadas para a E s p a n h a .
Os colonizadores do B r a s i l trouxeram cana-de-açúcar,
trigo, arroz, cevada, pimenta, citros e diversas outras fruteiras
e espécies olerícolas. Das A m é r i c a s , os colonizadores levaram

-j Q Introdução de
milho, mandioca, batata, tomate, feijão, amendoim e outras
espécies.

J_ O Germoplasma
A soja é u m ó t i m o exemplo da i m p o r t â n c i a da
i n t r o d u ç ã o de germoplasma n a agricultura brasileira.
Introduzida em 1882, n a B a h i a , a soja n ã o teve o seu valor
reconhecido a t é que, em 1914, F . C . C r a i g a introduziu no
Rio Grande do S u l . Desde e n t ã o , essa leguminosa passou a
participar, mesmo de forma modesta, da agricultura sul-rio-
-grandense e, a partir de 1947, tornou-se economicamente
importante no s u l do B r a s i l . Após 1954, a soja iniciou u m
E m b o r a a i n t r o d u ç ã o de germoplasma seja mais
processo m i g r a t ó r i o rumo ao norte do P a í s , persistindo a t é
conhecida como i n t r o d u ç ã o de plantas, esta terminologia n ã o hoje. Atualmente, o B r a s i l é o segundo maior produtor e
é t ã o abrangente quanto a primeira, que inclui a i n t r o d u ç ã o exportador dessa leguminosa, ficando mesmo à frente da
de sementes, partes vegetativas, g r ã o s de pólen, células e China, que é o centro de origem dessa espécie. E m 2008
DNA. foram plantados aproximadamente 23 m i l h õ e s de hectares
A m i g r a ç ã o das espécies cultivadas tem sido u m dos no B r a s i l .
mais importantes fatores de desenvolvimento da agricultura É interessante notar que as principais espécies
mundial. A i n t r o d u ç ã o de cultivares de outras regiões pode cultivadas em u m p a í s são, frequentemente, o r i g i n á r i a s de
resultar n a disponibilidade imediata de tipos superiores, à outras regiões do mundo. Atualmente, a i n t r o d u ç ã o de
s e m e l h a n ç a daqueles desenvolvidos em programas de germoplasma continua desempenhando importante papel n a
melhoramento. agricultura, n a identificação de novas espécies a g r o n ó m i c a s e
A curiosidade e o interesse do homem pelas espécies n a o b t e n ç ã o de germoplasma para desenvolvimento de
r e s u l t a r a m no i n t e r c â m b i o de germoplasma entre as regiões. cultivares.
Com as grandes expedições comerciais estabelecidas
inicialmente entre E u r o p a Ocidental, África e Á s i a e, n u m a
segunda fase, entre estas e as A m é r i c a s , durante o século Uso da introdução de germoplasma
X V I , houve substancial aumento no i n t e r c â m b i o de espécies Podem-se introduzir espécies, cultivares ou acessos
cultivadas. A i n t r o d u ç ã o de espécies das A m é r i c a s n a E u r o p a com c a r a c t e r í s t i c a s especiais p a r a serem usados no
e Ásia, e vice-versa, provocou profundas m u d a n ç a s n a desenvolvimento de cultivares.
agricultura e nos h á b i t o s alimentares dos povos desses
A i n t r o d u ç ã o de espécies exóticas em u m a região pode
continentes. Na viagem de Cristóvão Colombo à s í n d i a s , em
Hignificar novas alternativas económicas para os produtores
198 Borém e Miranda Introdução de germoplasma 199

e permitir a u t i l i z a ç ã o de á r e a s marginais para cultivo de obtenção de características nutricionais ou organolépticas.


espécies mais exigentes. O amaranto e a canola, Nesse caso, o melhorista tem interesse em u m gene ou u m
recentemente introduzidos no B r a s i l , despertaram interesse grupo de genes presente no germoplasma e n ã o no genoma
económico em algumas regiões do P a í s e hoje s ã o cultivados como u m todo.
comercialmente. Com a i n t r o d u ç ã o de cultivares de outras regiões,
Cultivares de diversas espécies s ã o levados constan- atingem-se resultados semelhantes aos de u m programa de
temente p a r a outras regiões. E m regiões ou p a í s e s com melhoramento, e essa i n t r o d u ç ã o pode ser também
condições edafoclimáticas semelhantes, pode-se, muitas considerada u m m é t o d o de melhoramento ( A L L A R D , 1960).
vezes, estabelecer i n t e r c â m b i o de cultivares de forma Todavia, para os programas de melhoramento que j á
mutuamente proveitosa. Cultivares de soja desenvolvidos atingiram a maturidade, a i m p o r t â n c i a desse m é t o d o é
para regiões de mesma latitude t ê m maiores chances de relativamente pequena, u m a vez que a maioria dos
sucesso do que aqueles originários de regiões de latitudes cruzamentos para desenvolvimento de cultivares envolve
diferentes. g e n ó t i p o s adaptados à r e g i ã o de destino e, portanto, com
maiores chances de desenvolvimento de cultivares
Quando cultivares ou novas espécies s ã o introduzidos,
superiores.
o melhorista pode fazer uso direto do germoplasma
introduzido ou selecionar linhagens.
O cultivar de feijão Rico-23, o r i g i n á r i o da Costa R i c a , Referências
foi introduzido no B r a s i l , em 1954, pelo professor Clibas
A L L A R D , R.W. P r i n c í p i o s do melhoramento de plantas. New York:
V i e i r a , e avaliado em testes comparativos de produtividade John Wiley & Sons, 1960. 485p.
com outros cultivares locais.. Por suas c a r a c t e r í s t i c a s
MANSUR, L . M . Resistance to iron-deficiency chlorosis in PT 437654
a g r o n ó m i c a s terem-se destacado, esse cultivar foi l a n ç a d o e soybean. Crop Sei., v. 32, p. 1137-1138, 1992.
d i s t r i b u í d o aos produtores em 1959, constituindo u m
P F E I F F E R , T.W.; S U R Y A T I , D.; E G L I , D.B. Soybean plant introductions
exemplo de uso direto do germoplasma introduzido. selected for seed filling period or yield: performance as parents. Crop Sei.,
E m 1969, o Programa de Melhoramento de Soja da v. 31, p. 1418-1421, 1991.
U F V l a n ç o u o cultivar Mineira, selecionado dentro de u m a SHANDS, H . L . ; W I E S N E R , L . E . Use of plant introductions in cultivar
p o p u l a ç ã o h e t e r o g é n e a originada nos Estados Unidos. Por development. In: Proceedings of the Plant Breeding in the 90's
Symposium. Madison, Wis., USA. Crop Sei. Society of America, 1991.
apresentar maior produtividade de g r ã o s que Hardee e
outros cultivares da época, o cultivar M i n e i r a foi S I L V A , S.O.; I G L E S I A S , C.A.; F U K U D A , W.M.G. Intercâmbio de
germoplasma de mandioca. I n : P A N A M E R I C A N M E E T I N G OF
recomendado para a Região S u l do B r a s i l , constituindo u m CASSAVA B R E E D E R S , 2., 1992. Proceedings... [S.l.]: CIAT, 1992
exemplo de u m a seleção dentro do germoplasma introduzido. p. 119-129.
Com a consolidação dos programas de melhoramento USDA. Seeds for our future. Washington: The U.S. National Plant
no B r a s i l , a i n t r o d u ç ã o de germoplasma para uso direto Germplasm System., 1990. 20p.
passou a ter menor i m p o r t â n c i a do que para uso como
genitores para obtenção de populações segregantes.
Pode-se, com a introdução de germoplasma, visar à
resistência a doenças, à insensibilidade ao fotoperíodo ou à
Seleção no melhoramento de plantas 201

a l c a n ç a d a a p ó s cinco a oito gerações de a u t o f e c u n d a ç ã o para


a maioria das c a r a c t e r í s t i c a s a g r o n ó m i c a s .
Conforme mencionado, as a u t o f e c u n d a ç õ e s conduzem
à homozigose, mas n ã o à homogeneidade, pois r e s u l t a m n a
formação de 2 l i n h a s n a população, em que n é o n ú m e r o de
a

Seleção no
genes segregantes.
A p r o p o r ç ã o de i n d i v í d u o s homozigóticos, após

Melhoramento
determinado n ú m e r o de gerações de a u t o f e c u n d a ç ã o , pode
ser calculada de acordo com a seguinte fórmula:

de Plantas
V ^ J

em que:
I H : p r o p o r ç ã o de i n d i v í d u o s homozigóticos;
maior desafio do melhorista é desenvolver m: n ú m e r o de gerações de a u t o f e c u n d a ç ã o ; e
cultivares superiores aos que j á se encontram no mercado. n: n ú m e r o de genes segregantes.
Neste c a p í t u l o s e r ã o discutidos m é t o d o s de seleção aplicados
à o b t e n ç ã o de cultivares. Teoria das linhas puras
P a r a entender os resultados da seleção em u m a A teoria das linhas puras foi desenvolvida pelo
p o p u l a ç ã o , é n e c e s s á r i o conhecer a sua estrutura genética. botânico d i n a m a r q u ê s W. L . Johannsen, em 1903, que
Nas espécies a u t ó g a m a s , os indivíduos, em geral, encontram- conduziu uma série de experimentos com o cultivar de feijão
se em homozigose, u m a vez que os i n d i v í d u o s homozigóticos Princess. Johannsen utilizou u m lote de sementes de
(AA ou a a ) , com a a u t o f e c u n d a ç ã o , produzem p r o g é n i e s diferentes tamanhos, no qual investigou o efeito da seleção
homozigóticas, enquanto i n d i v í d u o s heterozigóticos (Aa) sobre o peso médio das sementes nas progénies. E l e classificou
segregam p r o g é n i e s homozigóticas e h e t e r o z i g ó t i c a s em igual e selecionou, no lote original, sementes grandes e pequenas,
proporção. que foram semeadas e produziram novas sementes. E s t a s
Após v á r i a s gerações de a u t o f e c u n d a ç ã o , a p r o p o r ç ã o foram classificadas em cada planta, individualmente. Este
de i n d i v í d u o s heterozigóticos n a p o p u l a ç ã o é substancial- processo de seleção de tamanho de sementes, semeadura e
mente reduzida. Embora a homozigose completa classificação das sementes produzidas pelas progénies foi
teoricamente nunca seja atingida com as sucessivas repetido por seis gerações. Johannsen verificou que, no
a u t o f e c u n d a ç õ e s , n a p r á t i c a a uniformidade fenotípica é primeiro ciclo de seleção, as progénies derivadas das sementes
maiores produziram, em geral, sementes maiores do que as
p r o g é n i e s provenientes das sementes menores, o que indicou
202 Borém e Miranda Seleção no melhoramento de plantas 203

que a seleção h a v i a sido eficiente para separar sementes com


diferente constituição genética. Como o feijoeiro é u m a espécie
a u t ó g a m a , as sementes utilizadas por Johannsen eram
homozigotas quanto aos genes que controlam o seu tamanho.
N a busca da eficiência da seleção nos ciclos subsequen-
tes, Johannsen selecionou novamente sementes grandes e
pequenas em 19 linhas estabelecidas a partir de progénies
derivadas de 19 diferentes sementes do lote original (Figura
14.1). Cada linha apresentava sementes com peso médio
característico, embora o peso de cada uma variasse. Durante os
seis ciclos, cada linha foi submetida à seleção de sementes
grandes e pequenas. A partir do segundo ciclo, as progénies de
sementes grandes e pequenas derivadas de u m a linha pura
v a r i a r a m de tamanho, mas o tamanho médio de sementes de
Figura 14.1 - R e p r e s e n t a ç ã o do trabalho conduzido por
uma progénie originada de sementes grandes era similar ao
J o h a n n s e n (1903).
das originadas de sementes pequenas. Os resultados dos ciclos
de seleção subsequentes indicaram que o peso médio das
sementes de cada linha permanecia constante, geração após Seleção genealógica
geração. Johannsen concluiu que a seleção em uma população
As populações das espécies autógamas são
heterogénea pode ser efetiva para isolar linhas distintas entre
frequentemente constituídas pela mistura de plantas
si e a seleção nestas linhas é ineficiente. O lote original de
homozigóticas, muitas vezes fenotipicamente semelhantes. Os
sementes utilizado por Johannsen apresentava variações de
natureza genética e de ambiente em relação ao tamanho das cultivares que estão em cultivo h á longo tempo, mesmo aqueles
sementes. A s linhas, a partir do segundo ciclo de seleção, eram que se originam de u m a única linha pura, vão pouco a pouco
geneticamente uniformes e toda a variação presente era perdendo a pureza genética, em r a z ã o de: i) mistura acidental
proveniente de causas ambientais, exclusivamente. Johannsen com sementes de outros cultivares; ii) mutações; e iii)
estabeleceu t r ê s princípios com os seus estudos: i) h á variações cruzamentos naturais com outros cultivares. Nessas populações
h e r d á v e i s e variações causadas pelo ambiente; ii) a seleção só é geneticamente h e t e r o g é n e a s , podem-se isolar diversas linhas
eficiente se recair sobre diferenças h e r d á v e i s ; e iii) a seleção puras por seleção. U m a vez selecionada uma linha pura, a
não gera variação. A p a r t i r dos trabalhos de W. L . Johannsen, continuação do processo de seleção nela é trabalho
o termo Unha pura foi definido como toda a d e s c e n d ê n c i a , por inteiramente inútil.
a u t o f e c u n d a ç ã o , de u m ú n i c o indivíduo homozigoto. O método da seleção de linhas puras, t a m b é m conhecido
por Seleção Genealógica, baseia-se n a seleção individual de
plantas, feita n a população original, seguida da observação de
suas descendências, para fins de avaliação. Nenhum genótipo é
criado por esse processo; apenas procura-se isolar os melhores
204 Borém e Miranda Seleção no melhoramento de plantas 205

genótipos na população heterogénea. Esse método é muito


utilizado em espécies a u t ó g a m a s com frequente alogamia.
O procedimento geral para se realizar a seleção de P o p u l a ç ã o original
linhas puras está esquematizado na Figura 14.2. Começa-se
semeando a população original, cujo tamanho depende de sua
heterogeneidade genética e dos meios materiais de que dispõe o P r o g é n i e s selecionadas
melhorista. E m seguida, quando chegar a época apropriada,
examina-se cuidadosamente cada planta em busca dos
melhores fenótipos. Escolhem-se em geral de 200 a 1.000
plantas e colhem-se separadamente as sementes de cada uma. P r o g é n i e s resselocionadas
Essas sementes são semeadas separadamente, em linhas ou em
pequenas parcelas iguais, na estação de plantio seguinte.
Observam-se as progénies das plantas selecionadas e
aproveitam-se apenas as linhas ou parcelas que se mostrarem Ensaios comparativos
superiores e uniformes; as sementes são colhidas,
separadamente, por progénie. A descendência de cada planta Ri RII RIU
originalmente selecionada passa, então, a constituir uma linha
experimental ou seleção. Essas linhas, no plantio seguinte, são Multiplicação
novamente examinadas no campo, p o r é m com critério mais
rigoroso e com repetição, aproveitando-se apenas as melhores.
Paralelamente, podem-se realizar outros testes das linhas,
como o de resistência a doenças, o de qualidade etc. Distribuição

Com o n ú m e r o de l i n h a s bastante reduzido, o F i g u r a 14.2 - M é t o d o da seleção genealógica ou i n d i v i d u a l de


melhorista n ã o pode mais j u l g á - l a s apenas por o b s e r v a ç ã o , plantas com teste de p r o g é n i e .
sendo preciso colocá-las em ensaios comparativos de
p r o d u ç ã o , nos quais s ã o t a m b é m incluídos alguns dos
melhores cultivares utilizados pelos agricultores. Esses Seleção massal
ensaios s ã o realizados em apenas u m ano e, à medida que se
Este m é t o d o consiste na seleção de grande n ú m e r o de
aumenta a disponibilidade de sementes de cada linha,
i n d i v í d u o s com c a r a c t e r í s t i c a s fenotípicas semelhantes, que
estendem-se por diferentes localidades da á r e a onde se
são colhidos em conjunto para constituir a geração seguinte.
pretende l a n ç a r o possível novo cultivar. Finalmente, a l i n h a
ou as linhas que s o b r e s s a í r e m s ã o multiplicadas, nomeadas e A seleção m a s s a l é u m dos mais antigos m é t o d o s de
distribuídas. melhoramento de plantas. A p r e s e r v a ç ã o das plantas mais
atraentes ou produtivas pelos primeiros agricultores resultou
n a elevação da f r e q u ê n c i a de alelos favoráveis. E p r o v á v e l
206 Borém e Miranda Seleção no melhoramento de plantas 207

que os primeiros cultivares tenham sido desenvolvidos por A seleção m a s s a l é geralmente pouco utilizada para as
esse m é t o d o . A seleção m a s s a l só é eficiente se recair em c a r a c t e r í s t i c a s de baixa herdabilidade. A eficiência dessa
p o p u l a ç õ e s h e t e r o g é n e a s , c o n s t i t u í d a s por m i s t u r a de linhas seleção é influenciada pelo modo de r e p r o d u ç ã o da espécie, se
puras, no caso das espécies a u t ó g a m a s , ou por i n d i v í d u o s a u t ó g a m a ou a l ó g a m a . N a s espécies a l ó g a m a s , quando a
heterozigóticos, no caso de a l ó g a m a s e em c a r a c t e r í s t i c a s seleção de ambos os genitores antecede o florescimento, h á
com a l t a herdabilidade. maior ganho genético do que quando é posterior. E s s e
m é t o d o é t a m b é m mais eficiente com caracteres recessivos do
A ideia principal da seleção m a s s a l é, por meio da
que com os dominantes.
escolha dos melhores fenótipos, aumentar a m é d i a geral da
p o p u l a ç ã o com a r e u n i ã o dos seus fenótipos superiores. Atualmente, a seleção m a s s a l é mais utilizada p a r a a
purificação de cultivares de espécies a u t ó g a m a s . O
H á dois tipos de seleção massal: a positiva e a procedimento n o r m a l consiste n a seleção de aproxima-
negativa. A p r i m e i r a é conduzida para se selecionarem os damente 200 i n d i v í d u o s típicos do cultivar, que s ã o trilhados
tipos desejáveis e a segunda p a r a se eliminarem os tipos
em conjunto para a r e c u p e r a ç ã o dos descritores do cultivar.
i n d e s e j á v e i s em u m campo, preservando os remanescentes.
Nas espécies a l ó g a m a s , essa seleção tem sido u t i l i z a d a para
Na seleção massal, plantas individuais s ã o aumentar a uniformidade do ciclo de cenoura e beterraba.
selecionadas fenotipicamente, isto é, somente informações H a l l a u e r e M i r a n d a (1988) r e l a t a r a m o uso da seleção
sobre o fenótipo dos i n d i v í d u o s s ã o consideradas critério de m a s s a l em milho para diversas c a r a c t e r í s t i c a s .
seleção. Como os i n d i v í d u o s com fenótipos semelhantes Quando a seleção m a s s a l é usada em espécies
podem apresentar c o n s t i t u i ç ã o g e n é t i c a distinta, a seleção a u t ó g a m a s , quatro limitações s ã o evidentes:
nem sempre é efetiva.
a) N ã o é possível saber se as plantas selecionadas s ã o
N a seleção m a s s a l positiva, procuram-se identificar
homozigotas. Se indivíduos heterozigotos forem
i n d i v í d u o s com o fenótipo desejado ( F i g u r a 14.3) e os
selecionados, novos ciclos de seleção s e r ã o n e c e s s á r i o s .
i n d i v í d u o s selecionados s ã o agrupados para formar a nova
p o p u l a ç ã o ou cultivar. Os campos de seleção das espécies b) N ã o é possível saber se as plantas selecionadas foram
a l ó g a m a s devem ficar isolados de outros campos da mesma superiores por causa de s u a c o n s t i t u i ç ã o g e n é t i c a ou do
espécie p a r a se prevenir a polinização indesejável, mantendo ambiente.
a d i s t â n c i a de 200 a 300 m das espécies polinizadas por c) A seleção massal só pode ser utilizada em ambientes onde as
insetos e 500 m daquelas polinizadas pelo vento. características se expressam. Isso exclui o uso desse método
para populações conduzidas fora do ambiente convencional
de plantio.
d) A seleção m a s s a l apresenta pouca eficiência p a r a caracte-
r í s t i c a s com baixa herdabilidade.

A s principais vantagens da seleção m a s s a l s ã o a


facilidade de c o n d u ç ã o e o baixo custo operacional.

F i g u r a 14.3 - E s q u e m a do m é t o d o da seleção m a s s a l positiva.


208 Borém e Miranda Seleção no melhoramento de plantas 209

O trabalho sobre teor de óleo e p r o t e í n a em milho B E N I T E Z , I . ; RODRIGUEZ, J . E . ; SERRANO, L . M . Stratified mass


iniciado em 1896 n a U n i v e r s i d a d e de I l l i n o i s é o m a i s selection for grain yield and length of spike in wheat. I . Genetic advances.
clássico e citado programa de seleção m a s s a l em plantas. A Rev. Fitot. Mex., v. 15, p. 30-39, 1992.
p a r t i r de 163 espigas de milho do c u l t i v a r de p o l i n i z a ç ã o CRAMER, M.M.; K A N N E N B E R G , L.W. Fíve years of HOPE: the
aberta B u r r foram inicialmente selecionadas 24 espigas com hierarchical open-ended corn breeding system. Crop Sei., v. 32, p. 163-
alto c o n t e ú d o de óleo e 12 com baixo c o n t e ú d o . Independen- 1171, 1992.
temente, selecionaram-se 24 espigas com alto c o n t e ú d o de D U D L E Y , J.W.; L A M B E R T , R.J. Ninety cicies of selection for oil e protein
p r o t e í n a e 12 com baixo c o n t e ú d o . Os subgrupos selecionados in maize. Maydica, v. 37, p. 1-7, 1992.
foram trilhados e conduzidos individualmente, repetindo-se o ESCURO, P.B.; SENTZ, J.C.; M Y E R S , W.M. Effective selection in F of 2

mesmo procedimento durante m a i s de 90 g e r a ç õ e s , conforme crosses among related and unrelated lines of oats. Crop Sei., v. 3, p. 319-
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demonstrado n a T a b e l a 14.1.
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T a b e l a 14.1 - C o n t e ú d o m é d i o de óleo e p r o t e í n a (%) em
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i n t r í n s e c a s desse programa de melhoramento podem ser
HODGE, G.R.; SCHMIDT, R.A.; W H I T E , T . L . Substantial realized gains
indicadas como fatores do sucesso da seleção massal: a
from mass selection of fusiform rust-free trees in highly infected stands of
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heterozigóticos para um ou mais loci. Após a hibridação, o
objetivo do melhoramento de espécies autógamas é obter
indivíduos homozigóticos por sucessivas gerações de
autofecundação. Indivíduos com as características desejáveis
de ambos os genitores são selecionados na população
segregante, e as linhagens originadas de indivíduos
selecionados são avaliadas em testes comparativos de
produtividade (teste de valor de cultivo e uso), sendo as
comprovadamente superiores lançadas como cultivares.
Na hibridação de espécies autógamas, os genitores são
cruzados artificialmente. A hibridação artificial é
relativamente simples nas espécies com grandes partes
florais. A técnica de cruzamento consiste na emasculação da
flor a ser utilizada no genitor feminino antes que as anteras
iniciem a derriça do pólen. Coleta-se o pólen do genitor
masculino, que é aplicado sobre o estigma da flor
emasculada. Obviamente, o procedimento varia de acordo
212 Borém e Miranda Hibridação no melhoramento de plantas 213

com as espécies. Por exemplo, na soja, a remoção das anteras é de 25% AA: 50% Aa: 25% aa. A proporção de homozigotos (AA
das flores do genitor feminino a serem polinizadas é e aa) para heterozigotos (Aa) é de 50%: 50%. O nível de
desnecessária. homozigose atinge 50% na primeira geração de autofecundação.
Conforme mencionado no capítulo anterior, a Com as sucessivas gerações de autofecundação, os indivíduos
seleção massal foi um dos principais métodos de homozigóticos produzirão progénies homozigóticas, enquanto os
melhoramento. Os primeiros cultivares das espécies heterozigóticos produzirão tanto genótipos homozigóticos
autógamas foram obtidos por seleção em populações quanto heterozigóticos. Após quatro gerações de autofecun-
heterogéneas. Com a exaustão da variabilidade natural dação, ou seja, na geração F , haverá 93,75% de indivíduos
5

nessas populações, os melhoristas buscaram outros homozigóticos, em média.


métodos de melhoramento que permitissem a liberação de
variabilidade genética em que a seleção pudesse ser Ganhos Relativos de
realizada eficientemente. Frey (1976) relatou que os Produtividade de Grãos
melhoristas das décadas de 1920 e 1930 sentiram a 100
necessidade de criar mais variabilidade em que pudessem
praticar a seleção. Para criar essa variabilidade, os 90 - Introdução Seleção de Linhas Puras Hibridação
melhoristas vêm recorrendo à hibridação de genitores com
características desejáveis, visando reuni-las em um 80
cultivar pela recombinação genética.
Sprague (1967) ilustrou, de forma objetiva, a impor- 70
tância da hibridação no melhoramento de aveia, relatando
que o período de melhoramento desta espécie, de 1906 a 60
1963, pode ser dividido da seguinte maneira: introdução de
plantas, seleção de linhas puras e utilização de métodos que
envolvem a hibridação. Sprague demonstrou que os ganhos 50 h
genéticos em produtividade de grãos após o início da
utilização dos métodos que usam a hibridação foram maiores
que aqueles obtidos nos dois outros métodos (Figura 15.1).
-Anos
E m espécies autógamas, a homozigose é atingida 1906 1918 1942 1963
pelas sucessivas gerações de autofecundação. Considere-se
o exemplo em que os dois genitores são contrastantes para Figura 15.1 - Regressão das produtividades máximas de
um locus, conforme ilustrado na Figura 15.2. aveia (Avena saliva), em diferentes anos, e
Todos os indivíduos na geração F i são heterozigotos. métodos de melhoramento utilizados em três
Conformo acontece nas espécies autógamas, a autofecundação fases de obtenção de cultivares, durante o
ocorri! naturalmente em cada flor e a segregação na geração F2
período de 1906 a 1963, nos Estados Unidos.
214 Borém e Miranda Hibridação no melhoramento de plantas 215

A Figura 15.2 refere-se ao cruzamento entre Cruzamento simples


genitores que contrastam em apenas um locus. Se os
Este é o mais utilizado método de formação de
genitores diferem entre si em relação a um grande
populações segregantes nos programas de obtenção de
n ú m e r o de loci, a homozigose será atingida após maior
cultivares das espécies autógamas. O procedimento consiste
n ú m e r o de gerações de autofecundação.
no cruzamento entre dois genitores, P i x P2.
P-L P2 % Heterozigose
AA x aa C r u z a m e n t o duplo
Geração j O cruzamento duplo envolve a hibridação entre dois
híbridos originários de cruzamentos simples [(Pi x P2) x ( P 3 x
Fl Aa 100
P 4 ) ] . A contribuição média de cada genitor para a população é
de 25%.

i
'25%AA 50% Aa 25% aa 50

i
F2 1

|® C r u z a m e n t o triplo

F3 I25%AA 12,5%AA 25% Aa 12,5% aa 25% aal 25 Neste caso, a população é formada pelo cruzamento

i / |® XI entre dois genitores, resultando no híbrido F i , que é cruzado


com um terceiro genitor [ ( P i x P2) x P 3 ] . A participação dos
genitores P i e P2 na constituição da população é de 25% cada
F4 l37,5%AA 6,25%AA 12,5% Aa 6,25% aa 37,5% aa' 12,5 um, enquanto a contribuição de P3 é de 50%. Essa diferença

i / X i de contribuição dos genitores permite ao melhorista incluir


cultivares que apresentem características indesejáveis na
formação da população, sem grande comprometimento da
F5 '43,75% AA3,125%AA 6,25% Aa 3,125%aa 43,75% aa' 6,25
sua média.
Figura 15.2 - Proporção de indivíduos homozigóticos e
heterozigóticos em uma população submetida a Retrocruzamento
sucessivas gerações de autofecundação.
O cruzamento entre o híbrido F i e um dos seus
Tipos de população genitores é denominado retrocruzamento. Neste método de
obtenção da população segregante, a contribuição dos dois
Os mais variados tipos de população são utilizados genitores envolvidos é diferente. Por exemplo, quando
nos diversos programas de melhoramento das espécies apenas um retrocruzamento é feito, ( P i x P2) x P i , o genitor
cultivadas. Alguns melhoristas preferem as populações P i contribui, em média, com 75% dos alelos da população. Se
originadas de cruzamentos simples, enquanto outros optam mais de um retrocruzamento é realizado, [ ( P i x P2) x P J x P i ,
por cruzamentos complexos, em que a genealogia da a contribuição de P i é de 87,5%, em média, na formação da
população inclui diversas linhagens e cultivares, envolvendo população segregante.
desde cruzamentos simples até retrocruzamentos.
216 Borém e Miranda Hibridação no melhoramento de plantas 217

Diversos melhoristas optam pelo uso de em viveiros de policruzamentos apresenta mais de 40


retroeruzamentos na formação das populações quando é genitores, a exemplo da alfafa A V 89-14B (ERWIN; K H A N ,
introduzido germoplasma exótico ou não adaptado à região. 1993).
Dessa forma, pode-se reduzir a sua contribuição na
população formada.
Número de cruzamentos
C r u z a m e n t o s complexos O sucesso na obtenção de cultivares depende da
escolha correta dos genitores; como a segregação genética se
São aqueles que envolvem mais de quatro genitores. inicia na geração F2, o tamanho desta população deve ser
O uso deste método tem sido restrito a condições criteriosamente definido.
especiais ou a programas específicos. O programa de Durante a definição dos cruzamentos, os primeiros
melhoramento de feijão do Centro Internacional de pontos a serem considerados são: i) quais cultivares ou
Agricultura Tropical - CIAT, em geral, tem complexas linhagens incluir no bloco de cruzamentos; ii) em que
genealogias em suas populações. Por exemplo, em 1995 o combinações elas devem ser cruzadas; e iii) quantas
CIAT distribuiu a seguinte população: {EMP250 x [(Carioca x polinizações devem ser realizadas em cada cruzamento.
A429) x (FEB200 x XANT159)]}, que reúne as seguintes
Muitos melhoristas optam pela condução de centenas
características: tipo comercial carioca e preto, resistência ao
de cruzamentos por ano, enquanto alguns preferem conduzir
cancro-bacteriano, resistência ao vírus do mosaico-dourado e
menor número deles, cuidadosamente planejados, associados
hábito de crescimento ereto. EMP250 é uma linhagem da ao maior tamanho das populações.
raça Mesoamérica, com grãos do tipo carioca; resistente à
cigarrinha-verde e com porte ereto. O cultivar Carioca, da Baker (1984), estimando o número ideal de
raça Mesoamérica, apresenta diversas características cruzamentos para maximização da obtenção de linhagens
agronómicas de importância, como tolerância à baixa superiores, considerou apenas uma única característica
fertilidade do solo. A linhagem A429, da raça Durango, quantitativa, desprezando a epistasia e a ligação gênica.
apresenta resistência ao mosaico-dourado e a FEB200, da Esse autor recomenda 50 cruzamentos cuidadosamente
raça Mesoamérica, porte ereto, grãos do tipo carioca e planejados para obtenção de cultivares autógamos.
resistência múltipla à antracnose, mancha-angular e Yonezawa e Yamagata (1982) apresentaram um
ferrugem. A linhagem XANT159, da raça Nova Granada, é modelo matemático para a identificação de cruzamentos com
resistente à bacteriose-comum. alta probabilidade de geração de linhagens promissoras.
A inclusão de diversos genitores na genealogia de uma Esses autores consideraram mais vantajosa a manipulação
população resulta em maior número de diferentes alelos para de grande número de cruzamentos que a utilização de menos
cada locus na população, havendo maior probabilidade de cruzamentos com grandes populações.
ocorrer heterozigose. E com base neste princípio que os
cultivares sintéticos, em geral, são constituídos por vários Ainda hoje existem divergências entre os melhoristas
genitores. Busbice e colaboradores (1972) acreditam que com relação à melhor estratégia no binómio número de
sintéticos de alfafa devam ser formados por 16 genitores. Na cruzamentos e tamanho de população a ser utilizada.
prática, a maioria dos cultivares sintéticos de alfafa obtidos
218 Borém e Miranda Hibridação no melhoramento de plantas 219

T a m a n h o d a s populações segregantes prática e por garantia, esses números devem ser


multiplicados por quatro, isto é, 1.684 indivíduos na geração
Quando dois genitores são cruzados, o maior número
F2. Dessa forma, conclui-se que é extremamente difícil
de diferentes combinações alélicas é obtido na geração F2. No encontrar uma planta com todos os alelos desejáveis após a
caso das espécies autógamas, a frequência de indivíduos geração F 2 . Sneep ainda relatou que, se as plantas F 2
homozi- selecionadas forem homozigóticas para sete alelos desejáveis
góticos aumenta com o avanço de gerações. e heterozigóticas para os demais 14, as linhas F a devem ser
O número de flores a serem polinizadas para cada constituídas de, no mínimo, 57 plantas para se garantir uma
combinação de genitores deve ser planejado. Por exemplo, chance de obtenção de um indivíduo desejável. Novamente,
para uma população de 500 plantas F 2 de soja, são por segurança, ele voltou a recomendar a avaliação de quatro
necessárias cerca de cinco sementes F i . Para o cálculo do vezes esse valor, ou seja, 228 plantas por linha F3.
número de flores a serem cruzadas, devem-se considerar a
eficiência do operador e que parte das sementes pode ser Tabela 15.1 - Variabilidade na geração F2 para genitores con-
oriunda de autofecundação. trastando em n loci
Se os genitores diferem entre si em dois loci, quatro
Número de Número de Número de Número Mínimo
tipos distintos de gâmetas serão formados na geração F i ,
número obtido pela expressão 2 , em que n é o número de loci
n
Genes Gâmetas na Genótipos na de Indivíduos
para os quais os genitores diferem. Considerando o mesmo Segregando Geração F i Geração F2 na Geração F2
caso, o número de diferentes genótipos que pode ser obtido na N 2n 3 n n4
geração F2 é dado por 3 , ou seja, AA, Aa e aa. Para que todos os
n 1 2 3 4
genótipos pudessem expressar-se na geração F2, seria 2 4 9 16
necessária uma população mínima de quatro indivíduos, 3 8 27 64
número obtido pela expressão 4 . A Tabela 15.1 ilustra a
n
4 16 81 256
rapidez do aumento da população mínima na geração F2 com o 5 32 243 1.024
incremento do número de genes segregantes.
10 1.024 59.049 1,1x10 a

Se o locus em consideração possui vários alelos, o 20 1.084.576 3,5 xlO 9 1,1 xlO12

número de recombinações gênicas e de genótipos aumenta


consideravelmente, requerendo uma população F2 substancial- Baker (1984) apresentou uma avaliação do assunto
mente maior. em outra perspectiva, usando a terminologia "máximo valor
Sneep (1977), ao trabalhar com a cultura do trigo e genotípico esperado" para caracterizar o máximo valor que
considerando a segregação para 21 loci independentes, será observado em 50% das amostras de dado tamanho. Ele
concluiu que a chance de obtenção de uma planta com todos concluiu que populações F 2 de 500 a 1.000 indivíduos são
OH altílofl favoráveis (em homozigose ou heterozigose) é de adequadas para os programas de melhoramento com
1/421 na geração F2, ou de 1/19.343 na geração F3 ou, ainda, objetivos no curto prazo.
de 1 / 1 7 ( 1 7 7 8 nu geração F4. Esse autor recomendou que, na
220 Borém e Miranda Hibridação no melhoramento de plantas 221

Rasmusson (1991) recomendou o uso de populações F2 BRAVO, J.A.; F E H R , W.R.; CIANZIO. S.R. Use of small-seeded soybean
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demanda de mão de obra. E m virtude das desvantagens ou and hybridization. I n : J O I N T FAO/IAEA D I V . OF N U C L E A R
limitações dos métodos originais, várias modificações foram T E C H N I Q U E S I N FOOD AND A G R I C U L T U R E . Plant mutation breeding
introduzidas e outros métodos desenvolvidos, visando tornar for crop improvement, 1., 1991. Proceedings... [S.l.]: I A E A . 1991. p. 439-
443,
a condução das gerações segregantes mais simples e rápida.
KISON, H.U.; NEUMANN, M. Hybridization between hexaploid triticale
Nos capítulos subsequentes serão apresentados e and Triticum monocoecum L . , 1: Programic reaction. Hereditas, v. 116,
discutidos os principais métodos de melhoramento que p. 285-289, 1992.
envolvem a hibridação. KISON, H.U.; NEUMANN, M. The introgression of genetic information
from Triticum monocoecum L . into hexaploid triticale by hybridization
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Método da
População

método da população, também conhecido como


método bulk, foi inicialmente proposto por Nilsson-Ehle, em
1908, quando desenvolvia seus trabalhos no Instituto Svalõf, na
Suécia. Quatro anos mais tarde, Newman (1912 citado por
F L O R E L L , 1929), descreveu o recém-criado método em uma
reunião de melhoristas no Canadá. E m seu artigo, Florell
(1929) apresentou as principais vantagens do método da
população. Esse autor discutiu as bases teóricas para
determinar o número de gerações necessárias antes de se
iniciar a seleção de plantas. Outros melhoristas incorporaram o
método da população em seus programas de melhoramento de
espécies autógamas (HARLAN; MARTINi, 1937; MAC K E Y ,
1962; QUALSET; VOGT, 1980).
O método da população tem sido utilizado no
melhoramento de plantas de forma limitada. Por exemplo,
em 1985 ele foi responsável pelo desenvolvimento de apenas
4% das linhagens de soja nos Estados Unidos. Não existem
estatísticas do uso desse método no Brasil, porém estima-se
que sua utilização seja restrita. Com o feijão, ele é
relativamente mais utilizado.
224 Borém e Miranda Método da população 225

Descrição do método representativas daquelas em que o futuro cultivar será


plantado. As fileiras que se apresentarem promissoras e
O desenvolvimento do método da população inicia-se uniformes para as principais características agronómicas são
com o cruzamento de dois genitores selecionados conforme o colhidas em bulk e avaliadas no ensaio preliminar de linhagem
objetivo do programa. As plantas F i são conduzidas de forma a (EPL). Aquelas que ainda manifestarem segregação ou
se obter grande número de sementes. Todas as sementes F2 desuniformidade podem ser objeto de seleção individual, se
colhidas nas plantas F i são agrupadas e utilizadas para a promissoras, ou ser descartadas, se de pequeno mérito.
obtenção da geração F2. A geração F2 deve ser conduzida na A x b
região à qual o futuro cultivar se destina ou em condições
edafoclimáticas representativas daquelas onde o novo cultivar
será plantado. De igual forma, as práticas agrícolas também
devem ser representativas.
Por ocasião da maturação, as plantas F2 são colhidas em
conjunto (bulk) e uma amostra das sementes F 3 é utilizada
para obtenção da geração F3, que é conduzida à semelhança da
F2 (Figura 16.1). Este procedimento é repetido até que o nível
de homozigose desejado seja obtido. O número de gerações
conduzidas em bulk depende do tipo de cruzamento, ou seja, do
grau de divergência genética entre os genitores e dos padrões
estabelecidos para lançamento de cultivares.
Para algumas espécies, exige-se alto grau de unifor- Selceionar plantas superiores

midade e que as populações sejam conduzidas até as gerações


F7 ou Fs. E m outras situações, a condução da população até F4
ou F5 pode ser satisfatória. Embora o método, conforme
inicialmente descrito, não preconize a eliminação de tipos
nitidamente inferiores, o melhorista pode, e deve, introduzir
essa modificação sempre que for conveniente (VAN D E R EPL
K L E Y , 1955).
A geração subsequente à última colhida em bulk é
conduzida com o plantio mais espaçado entre as plantas. Nessa
EIL, RFL, V C U
geração, o melhorista inicia a seleção, identificando os tipos
desejáveis com base no fenótipo das plantas. Os indivíduos
selecionados são colhidos e trilhados separadamente. Cada
planta selecionada é plantada em uma fileira na geração li
seguinte para teste de progénie. A semelhança das gerações Lançamento de variedades
anteriores, esses indivíduos devem ser conduzidos em condições
Figura 16.1 - Esquema do método da população.
226 Borém e Miranda Método da população 227

O E P L é o primeiro teste comparativo de produtividade. certificadas que são utilizadas pelos agricultores por ocasião da
Suas características variam de acordo com cada espécie e semeadura. O melhorista deve também manter um estoque da
programa de melhoramento. O Programa de Melhoramento de semente genética dos cultivares enquanto for recomendado
Soja da U F V conduz o E P L em uma localidade, em para plantio. Também pode competir ao melhorista divulgar o
delineamento de blocos casualizados, com duas repetições. A cultivar entre agricultores e extensionistas, por intermédio de
parcela é constituída de uma fileira de 6,0 m de comprimento, dias de campo, encontros técnicos e da literatura científica.
com espaçamento de 1,0 m entre fileiras. Cada ensaio consiste
Decidido o lançamento de uma linhagem como novo
de dois cultivares-testemunha e 23 linhagens. Nesses ensaios
cultivar, o melhorista escolhe um nome e, ou, uma sigla para
são avaliados: dias para a floração e maturação, cor da flor e da
sua identificação, devendo procurar nomes que tenham
pubescência, altura da primeira vagem, altura de planta,
significado para o agricultor e que sejam de fácil memorização.
hábito de crescimento, produtividade de grãos e resistência às
Nomes compostos, complexos ou de difícil pronúncia devem ser
doenças. Após coleta dos dados e análise estatística, as
evitados, pois, embora as características mais importantes do
linhagens mais promissoras são selecionadas para uma
cultivar sejam as agronómicas, o nome pode ser fator decisivo
avaliação mais rigorosa no ensaio intermediário de avaliação de
para a sua ampla aceitação no mercado.
linhagens (EIL).
O E I L é conduzido em duas ou três localidades, em
delineamento de blocos casualizados, com três repetições. A Princípio do método da população
parcela é constituída de quatro fileiras de 5,0 m, com Este método procura tirar vantagem da seleção natural
espaçamento de 50 cm entre fileiras e densidade de plantio de para a identificação de tipos superiores. Portanto, baseia-se na
22 plantas por metro. Cada ensaio consiste de dois cultivares- associação entre a capacidade de competição dos indivíduos e a
testemunha e 14 linhagens. As características avaliadas são produtividade em uma população heterogénea. As gerações
semelhantes às do ensaio E P L . segregantes conduzidas pelo método da população submetem os
De forma análoga, procede-se à análise estatística e à seus integrantes a uma competição, em virtude da pressão da
seleção das melhores linhagens para avaliação no ensaio final seleção natural. A capacidade de competição dos indivíduos
de avaliação de linhagens ( E F L ) . O E F L é conduzido em cinco relaciona-se com a habilidade de sobrevivência de cada
ou mais localidades representativas da região à qual o futuro genótipo, e esta depende do número de descendentes que cada
cultivar se destina. O delineamento experimental, os detalhes indivíduo deixa para a geração seguinte. Indivíduos que
das parcelas e as características avaliadas são semelhantes aos produzem maior número de sementes viáveis tendem a
do E I L . Após a avaliação das linhagens em testes comparativos contribuir de forma mais expressiva para a constituição da
de produtividade durante dois anos e estabelecimento do valor próxima geração.
de cultivo e uso (VCU), as linhagens superiores podem ser No método da população, a capacidade de sobrevivência
registradas, protegidas e lançadas. em competição deve estar correlacionada positivamente com a
As atividades do melhorista não se encerram com o adaptabilidade e produtividade. O melhorista deve escolher
lançamento de um cultivar. Compete a ele providenciar um criteriosamente o ambiente que maximiza essa correlação, ou
estoque de sementes genéticas para serem distribuídas aos seja, aquele onde a seleção natural favoreça os indivíduos
produtores de sementes básicas por ocasião do lançamento. desejáveis. Para as espécies cujo produto comercial são as
Estas werão comercializadas com os produtores de sementes sementes, a capacidade de sobrevivência pode estar relacionada
228 Borém e Miranda Método da população 229

com a produtividade. Para aquelas cujo produto comercial é o Diversos outros estudos de misturas de cultivares foram
colmo, folhas, inflorescências, raízes ou frutos, a possibilidade conduzidos a partir do trabalho de Harlan e Martini. Os
de haver correlação positiva é praticamente nula. resultados relatados na literatura são de alguma forma
Harlan e Martini (1937), trabalhando com a competição contraditórios (TAYLOR; A T K I N S , 1954; SUNESON, 1956;
em misturas de cultivares, forneceram fortes subsídios para a MUMAW; W E B E R , 1957). Alguns autores encontraram forte
adoção do método da população. Uma mistura de 10 cultivares
correlação entre a capacidade de sobrevivência ou agressividade
de cevada foi avaliada durante 12 anos, em diversas
e a produtividade, enquanto os resultados de outros autores
localidades. Esses autores concluíram que alguns cultivares
considerados mais competitivos dominaram os demais na indicaram falta de consistência nessa correlação.
mistura e apresentaram maiores produtividades quando
avaliados separadamente (Figura 16.2). V a n t a g e n s e d e s v a n t a g e n s d o método d a p o p u l a ç ã o

- Vantagens

— • Economia de mão de obra na condução da população


— segregante.
• Possibilidade de condução de grande número de
— populações com maior facilidade.
/ • Aumento da proporção de indivíduos mais adaptados e

//
— competitivos.

- r —
Desvantagens

/ • E inadequado para espécies cujo produto comercial não


/ são as sementes.
— —- ...
• Impossibilita o uso de casas de vegetação e a condução de

mais de uma geração por ano.
— *— • Não permite o uso da população para estudos de
herdabilidade.
--^ • Apresenta risco de perda de genótipos desejáveis com baixa
capacidade de competição, a exemplo do tipo semianão.
7
Modificações no método da população
0 0 1 '•! S 4 5 <i 7 8 í) 10 1 L l i '.S 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Anos

Método Bulk dentro de progénies derivadas em F 2


^igura 16.2 - Efeito da seleção natural em uma mistura de
igual número de sementes de 10 cultivares de Este método possibilita melhor amostragem da
cevada (HARLAN; MARTIN, 1937). população segregante nas gerações iniciais (Figura 1 6 . 3 ) .
230 Borém e Miranda Método da população 231

Tem como princípio a colheita de plantas individuais nas frio,^ incidência de doenças etc, permitindo que os
gerações F 2 ou F3, em que cada planta dá origem a uma genótipos resistentes sobressaiam.
progénie e as sementes provenientes de cada progénie são
colhidas em bulk (misturadas) e utilizadas para obtenção da
geração seguinte. O efeito da seleção natural ocorre apenas A x B
dentro das progénies, sendo mantida a variação existente
entre as plantas F2. Este método foi inicialmente descrito por
Frey (1954), e várias modificações foram sugeridas
posteriormente. Na Universidade Federal de Lavras, onde é
bastante utilizado no melhoramento do feijoeiro, as o -o Seleção dc plantas
superiores para constituir
progénies são avaliadas em testes precoces de produtividade
com repetição, normalmente a partir da geração F2.3. Após os •0 . as progénies

vários ciclos de avaliação e por meio de uma análise


estatística conjunta, procede-se à seleção entre progénies,
especialmente as que apresentam melhor comportamento ao F Testes de produtividade
2:

longo das várias gerações. com repetições


(Análise conjunta das
O esquema básico relatado por Ramalho, Santos e gerações)
Zimmermann (1993) e por Ramalho, Abreu e Santos (2001) é
apresentado na Figura 16.3. A desvantagem desse método é
a necessidade de avaliação em todas as etapas. Contudo, a
seleção é realizada em função do desempenho após vários F , 2 :
Seleção de plantas
ciclos seletivos, o que evidentemente é uma grande
dentro de progénies
vantagem. Diversos cultivares de feijão foram desenvolvidas
por essa metodologia.
4:5

Método d e Harrington

Visando agrupar as vantagens do método da


população com o método genealógico, Harrington (1937) F&6, F4:7 e F4: Avaliações da produtividade
propôs modificações na metodologia original: a população
segregante é conduzida pelo método da população até que
Ri Rn Rm
condições favoráveis permitam a expressão de caracteres
importantes quando se faz a seleção de plantas individuais Figura 16.3 - Esquema do bulk dentro de progénies derivadas
e, daí em diante, conduz-se o material pelo método em F2.
genealógico. Segundo esse autor, as condições favoráveis à
seleção correspondem à falta ou ao excesso de umidade e
232 Borém e Miranda Método da população 233

Segundo Harrington, este método apresenta as população favorece os indivíduos de menor potencial
seguintes vantagens em relação ao genealógico: i) é flexível produtivo. Esses autores propuseram o desbaste antes do
e o teste de progénies é empregado eficientemente quando florescimento e a eliminação de plantas altas antes da
as condições ambientais são favoráveis à seleção; e ii) maturação.
permite avaliar maior quantidade de material.
Método e v o l u c i o n á r i o
Método d e E m p i g e F e h r Em 1956, Suneson apresentou à comunidade
Ao estudar diversos cruzamentos entre cultivares de científica o método que o tornaria conhecido internacional-
soja de diferentes grupos de maturação, Empig e Fehr (1971) mente e que lhe garantiria o prémio Crop Science Annual
propuseram a condução do método da população por grupo de Award, conferido pela Sociedade Americana de Agronomia,
maturação. Esse procedimento consiste em subdividir a publicando o artigo intitulado "Um método de melhoramento
de plantas evolucionário".
população segregante em grupos com épocas de maturação
diferentes, e cada subpopulação é conduzida pelo procedimento Esse método consiste em conduzir uma população
original até a geração F5, de onde se extraem, aleatoriamente, segregante, obtida pelo cruzamento de vários genitores
linhas para o ensaio E P L . Essa modificação visa eliminar a durante grande número de gerações, pelo método da
competição entre indivíduos com ciclos diferentes e, portanto, população. E m seu trabalho, Suneson incluiu 28 genitores de
com diferentes habilidades de competição. cevada, com os quais obteve 378 híbridos. Igual número de
sementes de todos os cruzamentos foi agrupado, constituindo
um cruzamento composto, que foi conduzido por 12 a 29
Método d e V a n d e r Kley gerações, dando oportunidade para que a seleção natural
eliminasse os indivíduos com baixa capacidade de
Van der Kley (1955) propôs o uso da seleção massal competição. Esse autor afirmou que, utilizando esse método,
negativa gradual, visando à eliminação de características foi possível encontrar genótipos que produzissem 56% a mais
indesejáveis na população. do que o cultivar Atlas-46, considerado produtivo naquela
Nesse método é utilizada uma pequena pressão de ocasião. Entretanto, o programa de melhoramento de cevada
seleção na geração F2, a qual é elevada gradativamente até a da Universidade da Califórnia, em Davis, sob a liderança de
geração F4 ou F5. Segundo esse autor, este método faz com Suneson, jamais lançou os referidos genótipos como novos
que a probabilidade de sucesso durante a abertura de linhas cultivares. Gradativamente, os melhoristas perderam o
nas gerações avançadas seja aumentada. interesse por esse método, em virtude da falta de evidências
a respeito de sua eficiência e do longo tempo requerido para
a obtenção de cultivares.
Método d e J e n n i n g s e A q u i n o
Jennings e Aquino (1968) verificaram que as plantas
de arroz mais altas e vigorosas são geralmente pouco Referências
produtivas e as baixas, quando em condições de competição A T K I N S , R . E . Rffect o f selection upon bulk hybrid barley populatiniiH.

com as altas, apresentam pequena produção de grãos em Agron. J . , v. 45, p. 311-314, 1953.
virtude do sombreamento. Nessas condições, o método da
234 Borém e Miranda Método da população 235

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R E S E A R C H W O R K E R S C O N F E R E N C E , 8, 1974. Workers... [S.I.: s.n.t.l, melhoramento de espécies a u t ó g a m a s quanto no de a l ó g a m a s .
1974. 17p. E s t e m é t o d o foi o mais popular p a r a o desenvolvi-
W I L L I A M S , J . T . A bibliography of plant genetic resources. Roma:
mento de linhagens de e s p é c i e s a u t ó g a m a s a t é meados d a
[s.n.], 1976. (AGPE/IBPGR, 76).
década de 1970. mas, a p a r t i r de e n t ã o , ele vem sendo
s u b s t i t u í d o . E m 1985, 18% das linhagens americanas de soja
foram desen-volvidas pelo método genealógico, sendo
superado apenas pelo m é t o d o S S D .

O método genealógico baseia-se n a seleção individual de


plantas n a população segregante com a avaliação de cada
progénie separadamente. O m é r i t o dos indivíduos selecionados
é avaliado pelo teste de progénie. Dessa forma, a seleção é
praticada com base no genótipo dos indivíduos, ao c o n t r á r i o da
seleção massal, que se baseia apenas no fenótipo das phmtiih
238 Borém e Miranda Método genealógico 239

selecionadas. A diferença entre esses dois métodos é evidente se A x B


se considerar uma população de soja segregando para a I
habilidade de nodulação. Indivíduos com genótipos RjlRjl ou
Rjlrjl apresentam nodulação normal, enquanto os com
genótipos rjlrjl n ã o mostram capacidade de nodulação. Se
indivíduos n ã o nodulantes (rjlrjl) são eliminados em uma
população F2 pela seleção massal negativa, plantas não-
nodulantes ainda aparecerão nas gerações seguintes. Se . y. j . \o de plantas superiores
progénies F.s são testadas, podem-se eliminar os indivíduos
segregantes da população. 7/V\
Avaliação de progénies
Descrição do método
A p r i m e i r a descrição completa e detalhada do m é t o d o
genealógico foi apresentada por Love (1927), que o priorizou Avaliação de progénies
nos v á r i o s programas de melhoramento que coordenava n a
Universidade de Cornell. Conforme descreveu esse autor, a
g e r a ç ã o F2 deve ser conduzida em condições representativas
de cultivo, utilizando, p o r é m , u m e s p a ç a m e n t o ligeiramente
T
maior, p a r a possibilitar a a v a l i a ç ã o individual de plantas. A s Avaliação de progénies
5-6
plantas fenotipicamente superiores s ã o selecionadas e
colhidas separadamente ( F i g u r a 17.1). C a d a planta F2
selecionada é conduzida em u m a fileira n a g e r a ç ã o F 3 . A s
l i n h a s F2:3 s ã o avaliadas durante o ciclo da espécie e aquelas
EPL
consideradas superiores, submetidas à seleção i n d i v i d u a l de
plantas por ocasião da m a t u r a ç ã o . Cada planta F 3 Ri RII
selecionada é conduzida em u m a fileira n a g e r a ç ã o F4 e, à
s e m e l h a n ç a do procedimento n a g e r a ç ã o anterior, as l i n h a s EIL, E F L , VCU
8 - 10
F:i:4 consideradas superiores s ã o submetidas à seleção
individual. E s s e procedimento de seleção das melhores Ri RII RUI
linhas e, dentro destas, das melhores plantas é repetido nas
gerações seguintes a t é que o nível de homozigose desejado
seja obtido. Cada g e r a ç ã o deve ser conduzida em r e g i ã o e L a n ç a m e n t o de cultivares
época de plantio representativas do ambiente onde se F i g u r a 17.1 - E s q u e m a do m é t o d o genealógico.
p l a n t a r á o novo cultivar.
240 Borém e Miranda Método genealógico 241

A g e r a ç ã o F.i é a p r i m e i r a a p ó s a h i b r i d a ç ã o em que o grau de parentesco entre as l i n h a s selecionadas. O registro


linhas c o m e ç a m a ser obtidas. A s s i m , a seleção a p a r t i r de F3
inicia-se com a n u m e r a ç ã o de cada planta F2 selecionada.
baseia-se n a a v a l i a ç ã o da p r o g é n i e dos i n d i v í d u o s F2 e em
Cada seleção individual dentro de u m a p r o g é n i e F2:3 recebe
plantas individuais.
u m n ú m e r o que é adicionado à d e s i g n a ç ã o daquela p r o g é n i e .
N a g e r a ç ã o F4, o nível de homozigose m é d i o atinge
E s s e procedimento é repetido durante as gerações seguintes
87,5% e grande n ú m e r o de p r o g é n i e s expressa uniformidade
a t é a g e r a ç ã o anterior à do E P L ( F i g u r a 17.1).
de diversos caracteres morfológicos. A seleção n a geração F4 e
nas subsequentes deve ser baseada principalmente no
comportamento das p r o g é n i e s em vez de se fundamentar n a Nomenclatura d a genealogia
a v a l i a ç ã o individual de plantas, visto que a seleção dentro
das linhas é pouco eficiente. No exemplo apresentado na Figura 17.2, o
cruzamento Inox x P r i m a v e r a - 1 foi denominado V X 1 0 2 8 ,
As linhas promissoras e uniformes devem ser colhidas
em m a s s a e destinadas ao ensaio preliminar de indicando que esse foi o 1028° cruzamento de soja realizado
produtividade ( E P L ) . A s linhagens promissoras com em Viçosa, n a o b t e n ç ã o de cultivares. A geração F i recebeu
i n a c e i t á v e l grau de s e g r e g a ç ã o devem ser submetidas i d ê n t i c a d e n o m i n a ç ã o , V X 1 0 2 8 , u m a vez que ela n ã o foi
novamente à seleção individual de plantas, com a v a l i a ç ã o de submetida à seleção. Se 100 plantas F2 tivessem sido
p r o g é n i e n a g e r a ç ã o seguinte, ou descartadas. selecionadas, elas receberiam as designações V X 1 0 2 8 - 1 ,
Os ensaios preliminares de produtividade ( E P L ) , VX1028-2, VX1028-100. Supondo que duas plantas sejam
ensaios i n t e r m e d i á r i o s de a v a l i a ç ã o de linhagens ( E I L ) , selecionadas dentro da p r o g é n i e VX1028-3, elas seriam
ensaios finais de a v a l i a ç ã o de linhagens ( E F L ) e chamadas de VX1028-3-1 e VX1028-3-2, e assim
estabelecimento do V C U , apresentados n a F i g u r a 17.1, s ã o sucessivamente.
conduzidos da forma descrita para o m é t o d o de p o p u l a ç ã o . Outros sistemas de nomenclatura t ê m sido adotados
em diferentes programas de melhoramento. S e m a adoção de
Princípio do método genealógico u m sistema lógico, a c o n d u ç ã o de dado programa s e r á
grandemente dificultada, podendo contribuir p a r a o
O p r i n c í p i o deste m é t o d o é que a seleção com teste de surgimento de erros grosseiros.
p r o g é n i e e o conhecimento da genealogia dos tipos
selecionados permitem a m a x i m i z a ç ã o da eficiência da Seleção durante as gerações segregantes
seleção. Por exemplo, a p ó s as linhagens atingirem elevado As seleções praticadas durante as gerações
g r a u de homozigose, aquelas que apresentam a n c e s t r a l segregantes s ã o baseadas no fenótipo e genótipo dos
comum a u m a ou duas g e r a ç õ e s anteriores devem ser i n d i v í d u o s , o que confere a este m é t o d o alta eficiência para a
consideradas geneticamente semelhantes e apenas u m a seleção de caracteres mono ou oligogênicos.
delas deve ser preservada p a r a a v a l i a ç õ e s futuras. O m é t o d o genealógico foi adotado pela maioria dos
programas de melhoramento de leguminosas e cereais
Uma das principais c a r a c t e r í s t i c a s deste m é t o d o é o
autógamos. Recentemente, este método vem sendo
registro da genealogia de cada linha, que permite estabelecer
s u b s t i t u í d o por outros que permitem maior rapidez, na
242 Borém e Miranda Método genealógico 243

o b t e n ç ã o de cultivares. E l e t a m b é m se aplica à s espécies E s t e m é t o d o permite ao melhorista exercitar sua


a l ó g a m a s , sendo inclusive o mais popular p a r a o b t e n ç ã o de habilidade de seleção em grau mais elevado do que seria
linhagens e n d o g â m i c a s de milho atualmente. possível em qualquer dos demais m é t o d o s de melhoramento
usados em espécies a u t ó g a m a s , sendo por isso mesmo
Genealogia Designação excelente a l t e r n a t i v a para jovens melhoristas.

Inox x P r i m a v e r a (VX1028)
V a r i a b i l i d a d e genética
i
A variabilidade g e n é t i c a n a p o p u l a ç ã o segregante
(VX1028)
modifica-se com as gerações de a u t o f e c u n d a ç ã o . A v a r i â n c i a
g e n é t i c a aditiva em uma p o p u l a ç ã o sem seleção aumenta
entre linhas, sendo, contudo, reduzida dentro das linhas
(Tabela 17.1).
(VX1028)
A v a r i â n c i a g e n é t i c a aditiva, em termos relativos,
entre plantas F2 e entre linhas F2:3 é igual à unidade. E s s a
v a r i â n c i a entre linhas é maior que a v a r i â n c i a g e n é t i c a
(VX1028-3) aditiva dentro das linhas, conforme mostrado na Tabela 17.1.
Quanto maior a variabilidade genética, maior é o progresso
com a seleção e, por isso, deve-se avaliar e selecionar grande
n ú m e r o de plantas F2.

i: (VX1028-3-1)
Tabela 17.1 - V a r i â n c i a g e n é t i c a relativa entre e dentro de
*• (VX1028-3-2) linhas em uma p o p u l a ç ã o conduzida sem
seleção
(VX1028-3-2-1)
Variância Genética
Geração Aditiva Dominância
Entre Dentro Entre Dentro
F 2 : 3 1 1/2 1/4 1/2
F3:4 3/2 1/4 3/16 1/4
F :54 7/4 1/8 7/64 1/8
F :65 15/8 1/16 15/256 1/16
Figura 17.2 - Exemplo de sistema de nomenclatura da genealo-
gia no método genealógico (ver Figura 17.1). F :76 31/16 1/32 31/1024 1/32
F«, 2 0 0 0
Borém e Miranda Método genealógico 245
244

A seleção entre fileiras é mais eficiente do que dentro, atividades de campo, o que pode ser considerado uma
onde a variabilidade g e n é t i c a é menor. Com o a v a n ç o das l i m i t a ç ã o na p r á t i c a .
gerações, a variabilidade genética aditiva é gradativamente O uso de técnicas especiais, na maioria das vezes,
exaurida dentro das linhas e a seleção dentro destas torna-se facilita a seleção de tipos desejáveis. Por exemplo, para a
mais ineficiente. U m a das principais r a z õ e s p a r a o registro seleção de indivíduos resistentes a u m patógeno, pode-se
da genealogia das seleções no m é t o d o genealógico é permitir inocular artificialmente a população e, com criatividade, ainda
ao melhorista a m a x i m i z a ç ã o da diversidade entre as linhas estabelecer outras técnicas que facilitem a identificação de tipos
selecionadas. A seleção dentro de fileiras é justificável superiores.
somente nas primeiras gerações de a u t o f e c u n d a ç ã o , quando
a variabilidade genética é ainda r a z o á v e l .
Características selecionadas
O n ú m e r o de g e r a ç õ e s de a u t o f e c u n d a ç ã o a ser
conduzido pelo m é t o d o genealógico v a i depender do n í v e l da A maioria das definições de melhoramento inclui os
uniformidade g e n é t i c a desejada e da diversidade dos termos "ciência e arte*'. A avaliação visual e a seleção com base
genitores utilizados. E m cruzamentos convergentes (narrow na inspeção de indivíduos estão mais associadas à "arte" do que
crosses) e s i t u a ç õ e s em que pequena desuniformidade n ã o à "ciência" do melhoramento. Diversos autores usam o termo
i n v i a b i l i z a o l a n ç a m e n t o de u m cultivar, a c o n d u ç ã o do "olho clínico" para caracterizar a habilidade do melhorista na
m é t o d o genealógico a t é F4 pode ser s a t i s f a t ó r i a . E m outros avaliação fenotípica.
casos, pode ser n e c e s s á r i a a c o n d u ç ã o desse m é t o d o a t é Fs N a g e r a ç ã o F2, o nível de heterozigose ainda é alto, e
ou g e r a ç õ e s posteriores, antes de se i n i c i a r e m os testes
muitos indivíduos expressam vigor híbrido. Esta
comparativos de produtividade.
m a n i f e s t a ç ã o de vigor h í b r i d o ou heterose pode induzir à
P a r a o treinamento dos melhoristas, o m é t o d o seleção de tipos mais heterozigóticos, o que constitui u m
genealógico é bastante p r á t i c o , pois d á a eles a problema.
oportunidade de selecionar plantas i n d i v i d u a i s e l i n h a s .
D u r a n t e as primeiras gerações de s e g r e g a ç ã o , devem-
À q u e l e s que se i n i c i a m nessa atividade o m é t o d o permite o
se selecionar, principalmente, i n d i v í d u o s com base nos
desenvolvimento da habilidade p a r a selecionar tipos
superiores. caracteres mono ou oligogênicos. Com o a v a n ç o das gerações,
a ê n f a s e pode ser dada à s c a r a c t e r í s t i c a s u m pouco mais
O m é t o d o genealógico p r e v ê a seleção e a trilhagem
complexas. Produtividade, entretanto, deve ser avaliada
de plantas separadamente e o cultivo destas em fileiras
somente a p a r t i r da g e r a ç ã o em que as linhagens
individuais. A l é m desse procedimento, o melhorista deve
expressarem uniformidade genética. U m a p r á t i c a útil é
fazer u m registro genealógico das principais c a r a c t e r í s t i c a s
colocar fileiras de cultivares-testemunha entre as p r o g é n i e s
a g r o n ó m i c a s de cada seleção. O m é r i t o das l i n h a s e das
em a v a l i a ç ã o . Com base nesses cultivares-testemunha, o
plantas individuais é estabelecido com base em a v a l i a ç õ e s
melhorista pode conferir u m índice fenotípico, que reflete o
visuais. Portanto, o melhorista precisa conhecer
m é r i t o geral de cada p r o g é n i e . N a composição desse índice,
profundamente a c u l t u r a e ter em mente o tipo ideal de
cultivar, ou seja, o ideótipo. E s s e m é t o d o demanda grande podem-se incluir r e s i s t ê n c i a ao acamamento, a l t u r a de
d e d i c a ç ã o do melhorista e acompanhamento direto das plantas, r e s i s t ê n c i a a d o e n ç a s , ciclo e arquitetura díis
plantas etc. A adoção desse índice permite que o melhorista
246 Borém e Miranda Método genealógico 247

tenha em mente o cultivar ideal, facilitando a seleção de Método Bulk dentro d e p r o g é n i e s


tipos desejáveis.
A k e r m a n e Mackey (1948) propuseram modificações
Conforme relatou A l l a r d (1971), é necessário rigor no
no m é t o d o genealógico visando m i n i m i z a r a influência do
processo de seleção. Precisa-se afastar a hipótese de que, entre as
vigor h í b r i d o durante a seleção. Conforme procedimento
plantas eliminadas, poderia estar aquela que conduziria ao novo
proposto, plantas com c a r a c t e r í s t i c a s fenotípicas desejáveis
cultivar ou em pouco tempo haveria sobrecarga de linhagens
são selecionadas n a geração F2. A s p r o g é n i e s de cada planta
não eliminadas, comprometendo a eficiência do programa.
F2 selecionada s ã o cultivadas em fileiras individuais n a
g e r a ç ã o F 3 . Todas as fileiras são colhidas, separadamente,
V a n t a g e n s e d e s v a n t a g e n s d o método g e n e a l ó g i c o em massa, p a r a plantio da g e r a ç ã o F 4 . Novamente, todas as
fileiras s ã o colhidas em massa, sem seleção, e destinadas ao
Vantagens ensaio preliminar de produtividade ( E P L ) . Os testes
• permite o controle do grau de parentesco entre as seleções; comparativos de produtividade s ã o repetidos nas gerações FG,
• p e r m i t e o descarte de indivíduos inferiores em sem qualquer seleção.
g e r a ç õ e s precoces; Como a seleção de plantas individuais é realizada
• permite a u t i l i z a ç ã o de dados obtidos para estudos somente n a g e r a ç ã o F2, as linhagens n a g e r a ç ã o Fe
genéticos; e apresentam elevado grau de homozigose, p o r é m com a l t a
heterogenia.
• p o s s i b i l i t a o t r e i n a m e n t o de jovens m e l h o r i s t a s . Após a seleção das melhores linhagens Fe, com base nos
testes comparativos de produtividade, inicia-se a seleção de
plantas individuais. Os i n d i v í d u o s selecionados s ã o
Desvantagens novamente submetidos a testes comparativos de
• só permite a condução de u m a ú n i c a g e r a ç ã o por ano, produtividade, quando, então, se decide sobre o l a n ç a m e n t o de
tornando o m é t o d o moroso; um novo cultivar (Figura 17.3).
• exige elevada demanda de m ã o de obra e campo expe- O princípio dessa modificação introduzida por A k e r m a n
rimental; e e Mackey e s t á n a suposição de que as gerações de
• requer pessoal qualificado p a r a selecionar tipos dese- autofecundação dissipam a variância genética devido à
jáveis. dominância, que tende a confundir a seleção em gerações
precoces. U m a das sérias desvantagens dessa modificação é a
Modificações no método genealógico avaliação de linhagens geneticamente h e t e r o g é n e a s em ensaios
comparativos de produtividade. Outra limitação e s t á no
Diversas modificações neste método t ê m sido
elevado n ú m e r o de indivíduos que devem constituir cada linha
propostas por v á r i o s melhoristas, visando contornar suas
a partir da geração F 3 , visando à preservação da variabilidade
limitações, conforme descrito a seguir.
genética dentro das linhas. O melhorista que optar por este
método deve considerar essa limitação e suas vantagens.
248 Borém e Miranda Método genealógico 249

Método d a s e l e ç ã o g a m é t i c a

I
A x B

0 m é t o d o de melhoramento seleção g a m é t i c a foi


inicialmente teorizado por Stadler (1944), quando t r a b a l h a v a
com u m a espécie a l ó g a m a , o milho. H a l l a u e r (1970) avaliou a
seleção zigótica p a r a o b t e n ç ã o de h í b r i d o s em milho e
concluiu que este m é t o d o pode ser utilizado com sucesso no
melhoramento dessa g r a m í n e a .
Seleção de plantas
superiores E m 1994, S i n g h descreveu o m é t o d o da seleção
g a m é t i c a p a r a o melhoramento de c a r a c t e r í s t i c a s m ú l t i p l a s
em feijão. O m é t o d o baseia-se nas seguintes premissas: i) os
cruzamentos complexos ou m ú l t i p l o s s ã o n e c e s s á r i o s p a r a o
melhoramento de c a r a c t e r í s t i c a s m ú l t i p l a s ; i i ) o genitor
masculino do ú l t i m o cruzamento é heterozigótico, heteroga-
mético e h e t e r o g é n e o ; e i i i ) o teste de g e r a ç ã o precoce é
essencial p a r a a seleção de c a r a c t e r í s t i c a s m ú l t i p l a s .
Cruzamentos múltiplos são frequentemente
n e c e s s á r i o s quando dois genitores potenciais n ã o r e ú n e m
ã todas as c a r a c t e r í s t i c a s desejáveis de novo cultivar. Nesses
casos, os cruzamentos m ú l t i p l o s envolvendo v á r i o s genitores
são essenciais p a r a se combinarem os caracteres desejáveis
EPL
em u m a ú n i c a p o p u l a ç ã o .
P a r a melhor explicar esse método, s e r á utilizado u m
exemplo envolvendo o seguinte cruzamento entre cinco
EIL
genitores: EMP250///Carioca/A429//FEB200/XANT159. Os
genitores para esse cruzamento foram selecionados com o
objetivo de desenvolver um cultivar de feijão com as
características: grão tipo carioca; resistência à mancha-angular,
à antracnose, à ferrugem, à bacteriose-comum, ao mosaico-
dourado e à cigarrinha-verde; ciclo precoce; porte ereto; e alta
EFL produtividade. E M P 2 5 0 é u m a linhagem melhorada, com grãos
do tipo carioca resistentes à cigarrinha-verde, de porte ereto e
Ri RII RUI que pertence à r a ç a M . O cultivar Carioca é agronomicamente
Figura 17..'i - Método genealógico modificado por A k e r m a n e superior e apresenta tolerância à baixa fertilidade dos solos. A
Mackey. linhagem A429 é resistente ao mosaico-dourado e pertence à
250 Barém e Miranda Método genealógico 251

r a ç a D . Pertencente à r a ç a M , a linhagem F E B 2 0 0 apresenta avaliação de produtividade de grãos e outras


grãos do tipo carioca, h á b i t o de crescimento do tipo I I , porte c a r a c t e r í s t i c a s , descartando-se as inferiores. A intensidade
ereto e resistência múltipla à antracnose, mancha-angular e da s e l e ç ã o entre p o p u l a ç õ e s é v a r i á v e l e, em geral, 30 a
ferrugem. A linhagem X A N T 1 5 9 , da r a ç a N , é resistente à 50% destas podem ser descartadas. A s p r o g é n i e s F i : 3 das
bacteriose-comum, tem hábito de crescimento do tipo I e porte p o p u l a ç õ e s superiores s ã o a v a l i a d a s nesta g e r a ç ã o em
ereto. Esses genitores apresentam genes de interesse, que, se ensaios replicados p a r a identificação de progénies
agregados em u m único indivíduo, podem resultar no cultivar- superiores. C a d a parcela é c o n s t i t u í d a por u m a ú n i c a
objeto do cruzamento realizado. p r o g é n i e F i : 3 . A s parcelas s ã o colhidas em bulk p a r a
c o n s t i t u í r e m as p r o g é n i e s Fi:4. Selecionam-se as p r o g é n i e s
Fi:4 superiores com base em produtividade de g r ã o s e em
Descrição do método
outras c a r a c t e r í s t i c a s a g r o n ó m i c a s . P l a n t a m - s e , de forma
A s e l e ç ã o g a m é t i c a inicia-se com a d e f i n i ç ã o do e s p a ç a d a , as p r o g é n i e s Fi:õ selecionadas e seleciona-se o
cruzamento f i n a l a ser realizado. O primeiro passo é a maior n ú m e r o de plantas F I Õ i n d i v i d u a l m e n t e . E s s e
:

o b t e n ç ã o dos cruzamentos simples. No exemplo tomado, os procedimento objetiva explorar a v a r i a b i l i d a d e g e n é t i c a


genitores Carioca e A 4 2 9 e F E B 2 0 0 e X A N T 1 5 9 s ã o dentro de cada p r o g é n i e . N e s s a g e r a ç ã o , as p r o g é n i e s F 1 5
cruzados. O b t ê m - s e sementes F i de ambos os cruzamentos, s ã o altamente h o m o z i g ó t i c a s e h e t e r o g é n e a s . Descartam-se
que s ã o plantadas p a r a o b t e n ç ã o das p l a n t a s F i , que s ã o i n d i v í d u o s com caracteres morfológicos i n d e s e j á v e i s , como
cruzadas em pares p a r a se conseguirem cruzamentos tipo comercial de g r ã o s , h á b i t o de crescimento, ciclo etc.
duplos. C a d a p l a n t a o r i g i n á r i a dos cruzamentos duplos é N a g e r a ç ã o Fe, faz-se o teste de p r o g é n i e com as p l a n t a s
c r u z a d a com u m a outra do genitor feminino E M P 2 5 0 , selecionadas n a g e r a ç ã o F5. Descartam-se as p r o g é n i e s Fs:6
constituindo a p o p u l a ç ã o F i f i n a l . A s sementes F i do inferiores e as segregantes. A g e r a ç ã o F 7 é u t i l i z a d a p a r a
cruzamento f i n a l s ã o semeadas em parcelas c o n s t i t u í d a s avaliação das progénies Fa:? selecionadas e para
de covas e s p a ç a d a s (hill plots) e submetidas à s e l e ç ã o p a r a m u l t i p l i c a ç ã o das sementes. A s g e r a ç õ e s subsequentes s ã o
caracteres dominantes e co-dominantes f a v o r á v e i s . empregadas n a a v a l i a ç ã o de produtividade e a d a p t a ç ã o
das linhagens selecionadas antes do l a n ç a m e n t o de algum
A s p l a n t a s F i selecionadas s ã o colhidas i n d i v i d u a l -
g e n ó t i p o superior.
mente p a r a c o n s t i t u í r e m as p r o g é n i e s Fi:2 (progénies F2
derivadas de F i ) . A s p r o g é n i e s F12 s ã o a v a l i a d a s em No esquema apresentado na Figura 17.4 são utilizadas
ensaios com r e p e t i ç õ e s , em dois ambientes contrastantes, algumas informações n u m é r i c a s apenas para facilitar o
agrupando, ao acaso, quatro p r o g é n i e s Fi:2 por parcela. entendimento da metodologia. Obviamente, tamanho das popu-
C a d a p a r c e l a é c o n s t i t u í d a por quatro p r o g é n i e s Fi:2 lações, parcelas, intensidade de seleção, delineamentos
diferentes, p o r é m da m e s m a p o p u l a ç ã o . C a d a f i l e i r a F12 de estatísticos e n ú m e r o de repetições v a r i a r a m de acordo com a
cada parcela é colhida i n d i v i d u a l m e n t e em bulk, e a espécie e com as condições existentes.
p r o d u ç ã o de g r ã o s das quatro fileiras da parcela é
u t i l i z a d a p a r a e s t i m a r a s u a m é d i a . Identificam-se as
p o p u l a ç õ e s ou cruzamentos superiores com base n a
252 Borém e Miranda Método genealógico 253

Geração Esquema Procedimento Procedimento alternativo


N a g e r a ç ã o Fi:2 selecionam-se visualmente as
Progenitores (Carioca x A429) (FEB200 x XANT159) melhores p o p u l a ç õ e s ou os melhores cruzamentos e, dentro
1 destes, as melhores p r o g é n i e s , das quais são escolhidas 5 a
x o Obtenção de 10 plantas superiores, que s ã o colhidas em bulk e utilizadas
x o cruzamentos para c o n s t i t u í r e m as p r o g é n i e s FIA, plantadas em fileiras
X o duplos
individuais. N a geração F i a selecionam-se t a m b é m as
:

1 melhores p r o g é n i e s , que s ã o colhidas em bulk, gerando


EMP250 x o Obtenção de sementes suficientes para u m a a v a l i a ç ã o de produtividade,
EMP250 x o cruzamentos finais com r e p e t i ç õ e s n a g e r a ç ã o F4. Nesta geração selecionam-se as
EMP250 x o p r o g é n i e s superiores e, dentro destas, colhem-se plantas
i
individuais. A s plantas colhidas individualmente, Fi:5, são
Plantio espaçado submetidas a um teste de progénie n a geração Fe. A s fileiras
FÕ:6 uniformes e superiores são colhidas em bulk. A geração F 7 é
utilizada para multiplicação de sementes em u m viveiro de
observação. A s p r o g é n i e s F s s são avaliadas em u m teste de
Seleção produtividade. N a geração Fg e Fsao as p r o g é n i e s selecionadas
são reavaliadas e as superiores, l a n ç a d a s como novos
Sei. de populações cultivares.

Ensaio de rendimento Método genealógico modificado por Lupton e Whitehouse

L u p t o n e Whitehouse (1957) descreveram u m a s é r i e


de esquemas de melhoramento, em que s ã o selecionados
Plantio espaçado das F 1:S
aproximadamente 10% de plantas fenotipicamente
superiores em u m a p o p u l a ç ã o de 2.000 a 3.000 i n d i v í d u o s .
INI II Teste de progénie F . 5 6 Cada i n d i v í d u o selecionado é plantado em u m a fileira,
separadamente, n a g e r a ç ã o F 3 . A s melhores p r o g é n i e s F 3 s ã o
III Avaliação e multiplicação selecionadas e, dentro delas, as melhores plantas. A s plantas
selecionadas são conduzidas em fileiras, n a g e r a ç ã o F4. U m a
fileira F4, ou duas, de cada p r o g é n i e promissora continua a
Ensaios de rendimento
ser submetida à seleção individual de plantas ( F i g u r a 17.5).
Figura 17.4 - Método da seleção gamética em progénies A s demais fileiras das p r o g é n i e s promissoras s ã o
derivadas da geração F i , utilizando-se como colhidas em m a s s a p a r a condução do ensaio E P L .
exemplo o cruzamento EMP250///Carioca/
A-189//FEB200/ X A N T 1 5 9 .
254 Borém e Miranda 255

A x B sendo as superiores submetidas aos ensaios comparativos de


produtividades convencionais.
1
Considerações finais
| (8) I n ú m e r a s outras modificações do método genealógico
foram publicadas na literatura especializada. Estima-se que
um n ú m e r o ainda maior de variações tenha sido desenvolvido
por melhoristas que utilizavam originalmente esse método.
F
r 2 i j O melhorista deve estar sempre disposto a a v a l i a r

1 I 1 possibilidades de modificar as metodologias utilizadas,


visando t o r n á - l a s mais adequadas a sua s i t u a ç ã o .

f -43
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256

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T O R R I E , J . H . A comparison of the pedigree and Bulk methods of breeding m a i s conhecido como S S D (do i n g l ê s single seed descent)
soybeans. Agron. J . , v. 50, p. 198-200, 1958. entre os melhoristas no B r a s i l e, por essa r a z ã o , esta s e r á a
V A L E N T I N E , J . Accelerated pedigree selection: an alternative to terminologia u t i l i z a d a neste livro.
individual plant selection in the normal pedigree method i n the self-
pollinated cereais. Euphytica, v. 33, p. 943-951, 1984. A p r i m e i r a r e f e r ê n c i a ao p r i n c í p i o deste m é t o d o data
de 1939, quando Goulden p r o p ô s a m a x i m i z a ç ã o do n ú m e r o
de linhagens em homozigose descendentes de diferentes
i n d i v í d u o s da g e r a ç ã o F2. E s t e procedimento garante que
cada l i n h a g e m h o m o z i g ó t i c a n a p o p u l a ç ã o final corresponda
a u m a p l a n t a F2, o que, entretanto, n ã o significa que todas
as p l a n t a s F2 e s t a r ã o representadas n a p o p u l a ç ã o final. De
fato, o tamanho da p o p u l a ç ã o é reduzido a cada g e r a ç ã o , em
virtude da incapacidade de g e r m i n a ç ã o das sementes e de
algumas plantas n ã o completarem o ciclo.

E m 1961, K a u f m a n n p r o p ô s o " m é t o d o a l e a t ó r i o " para


melhoramento de aveia, utilizando os mesmos princípioH
258 Borêm e Miranda Método descendente de uma única semente 259

empregados por Goulden (1939). E s s e autor sugeriu que os gerações, por ano, quantas se desejarem. A c o n d u ç ã o de mais
a v a n ç o s de g e r a ç ã o a p a r t i r da F2 fossem realizados de forma de uma g e r a ç ã o por ano n ã o é viável com os m é t o d o s
a l e a t ó r i a , separando esta fase da etapa de seleção. genealógico e da p o p u l a ç ã o , u m a vez que a seleção precisa
E m b o r a os princípios do m é t o d o S S D tenham sido ser realizada em condições representativas e, em geral, estas
originalmente reportados n a l i t e r a t u r a por Goulden (1939), o só ocorrem uma ú n i c a vez por ano.
seu desenvolvimento é frequentemente creditado a B r i m Como apenas uma única semente por planta é utilizada
(1966). para constituir a geração seguinte, eliminando a seleção
Segundo Charles B r i m , o m é t o d o consiste em a v a n ç a r natural, os indivíduos podem ser conduzidos em casa de
as gerações segregantes a t é u m nível s a t i s f a t ó r i o de vegetação ou em ambientes marginais para cultivo da espécie.
homozigose, tomando u m a ú n i c a semente de cada i n d i v í d u o A m a n i p u l a ç ã o das condições de ambiente, visando à
de u m a g e r a ç ã o para estabelecer a g e r a ç ã o subsequente. r e d u ç ã o do ciclo das plantas, tem sido p r á t i c a comum entre
B r i m sugeriu a semeadura de duas ou t r ê s sementes de cada aqueles que utilizam este m é t o d o . P a r a as espécies fotos-
planta F2 em covas individuais para assegurar a s e n s í v e i s como a soja, a c o n d u ç ã o das p o p u l a ç õ e s em regiões
g e r m i n a ç ã o . Após a e m e r g ê n c i a , u m a ú n i c a planta é de baixa latitude ou em casa de v e g e t a ç ã o , com longa
preservada e as demais são desbastadas. T a l procedimento é d u r a ç ã o do período escuro, resulta n a a c e l e r a ç ã o do ciclo das
repetido nas gerações seguintes a t é que o nível de plantas. Condições nutricionais pobres t a m b é m contribuem
homozigose desejado seja obtido. Dessa forma, cada p a r a a r e d u ç ã o do ciclo ( G R A F I U S , 1965). A l t a densidade de
linhagem corresponde a u m genitor F2 diferente. plantio é utilizada com o mesmo propósito.
Após a clara descrição feita por B r i m (1966) e com o Diversos autores estudaram os efeitos do S S D nas
crescente interesse por m é t o d o s de melhoramento que c a r a c t e r í s t i c a s das linhagens obtidas. Snape e Riggs (1975)
permitem rápido desenvolvimento de linhagens e x a m i n a r a m as c o n s e q u ê n c i a s do S S D sobre caracteres
homozigóticas, o S S D foi, gradativamente, substituindo quantitativos, v i a s i m u l a ç ã o em computador. U m a das
outros m é t o d o s . H u r d (1977) reportou que, antes do décimo principais conclusões deste estudo é que, n a a u s ê n c i a de
a n i v e r s á r i o da p u b l i c a ç ã o do artigo de B r i m (1966), o S S D j á d o m i n â n c i a , a d i s t r i b u i ç ã o de m é d i a s das linhagens n a
h a v i a conquistado mais de u m t e r ç o dos melhoristas de g e r a ç ã o Fe é s i m i l a r à d i s t r i b u i ç ã o g e n o t í p i c a dos i n d i v í d u o s
cevada no C a n a d á . Conforme relatou F e h r (1987), 65% das F2; no entanto, n a p r e s e n ç a de d o m i n â n c i a , as linhagens Fe
linhas puras de soja desenvolvidas pelos melhoristas nos apresentam-se abaixo das expectativas.
Estados Unidos, em 1985, foram obtidas pelo S S D , indicando
M a r t i n et al. (1978) pesquisaram o efeito da alta
a grande p r e f e r ê n c i a por este m é t o d o .
mortalidade de plantas de soja, quando conduzidas pelo S S D ,
A principal c a r a c t e r í s t i c a do S S D é a r e d u ç ã o do nas frequências gênicas de diferentes características
tempo requerido para o b t e n ç ã o de linhagens h o m o z i g ó t i c a s . agronómicas. Utilizando alta densidade populacional, esses
Considerando que neste m é t o d o os processos de a v a l i a ç ã o e autores induziram a perda de diversos indivíduos. Os
seleção de genótipos só se i n i c i a m a p ó s a o b t e n ç ã o das resultados indicaram que as linhagens provenientes de
linhagens em homozigose, podem-se conduzir tantas populações conduzidas em alta densidade de plantio eram mais
260 Borém e Miranda Método descendente de uma única semente 261

tardias, mais altas e mais suscetíveis ao acamamento do que as B


provenientes de populações conduzidas em baixa densidade de
plantio. Esses autores concluíram que as altas densidades de
plantio que resultam em mortalidade de plantas podem alterar
as frequências gênicas de alguns caracteres agronómicos.
1 ^
Descrição do método
W 9* <ft
Conforme publicado por B r i m (1966) na revista
científica Crop Science, o método prevê que uma semente F3 de F 3

cada indivíduo F2 da população seja colhida aleatoriamente e «si


agrupada para constituir a geração F3.

A s sementes F3 agrupadas s ã o p l a n t a d a s , e u m a >8


F5
semente F4 de cada i n d i v í d u o F3 é colhida na é p o c a da
m a t u r a ç ã o . E s s e procedimento é repetido a t é a g e r a ç ã o
FÕ, n a q u a l se selecionam p l a n t a s i n d i v i d u a i s , que s ã o
submetidas ao teste de p r o g é n i e . A s p r o g é n i e s FÕ:6 que se
mostrarem uniformes e superiores são colhidas
i n d i v i d u a l m e n t e em bulk e a v a l i a d a s no ensaio p r e l i m i n a r
de a v a l i a ç ã o de l i n h a g e n s ( E P L ) ( F i g u r a 18.1). A p a r t i r EPL
dessa etapa, os procedimentos s ã o comuns aos outros
m é t o d o s de melhoramento como M é t o d o G e n e a l ó g i c o e Ri R,
Método da População, envolvendo as avaliações F i g u r a 18.1 - E s q u e m a do m é t o d o S S D .
i n t e r m e d i á r i a s , finais, regionais e valor de cultivo e uso
das linhagens, antes de se decidir sobre o l a n ç a m e n t o de
u m novo c u l t i v a r . Princípios do método SSD
E m seu trabalho com soja, B r i m (1966) s u g e r i u a U m a das principais c a r a c t e r í s t i c a s deste m é t o d o é a
colheita de u m a vagem com duas ou t r ê s sementes, sendo s e p a r a ç ã o da fase de aumento da homozigose da fase de
u m a u t i l i z a d a p a r a c o n s t i t u i r a g e r a ç ã o seguinte e as s e l e ç ã o . D e s s a forma, as p o p u l a ç õ e s segregantes n ã o
outras m a n t i d a s como r e s e r v a . precisam ser conduzidas no ambiente s i m i l a r ao qual o
futuro cultivar s e r á plantado. O m é t o d o S S D adapta-se
E s t e s procedimentos s ã o simples e r á p i d o s de
bem à casa de v e g e t a ç ã o e viveiros fora da r e g i ã o e de
serem realizados em c o n d i ç õ e s de campo, o que t a m b é m
tem c o n t r i b u í d o p a r a a a m p l a a d o ç ã o deste m é t o d o . é p o c a s t í p i c a s de cultivo da e s p é c i e , permitindo que mais
de u m a g e r a ç ã o seja obtida por ano.
262 Borém e Miranda Método descendente de uma única semente 263

Seleção duranie as gerações segregantes Modificações no método SSD


Conforme mencionado, a a u s ê n c i a de s e l e ç ã o
Método d e s c e n d e n t e d e u m a ú n i c a v a g e m (SPD)
durante o a v a n ç o de g e r a ç õ e s é c a r a c t e r í s t i c a peculiar
deste m é t o d o . Todavia, a m a i o r i a dos melhoristas i m p õ e Este método é t a m b é m conhecido como S P D , do inglês
single pod descent. E s t a variação no S S D foi implementada por
modificações no m é t o d o original, visando a d e q u á - l o a
melhoristas de leguminosas, que perceberam o dispêndio de
objetivos específicos. Por exemplo, B r a v o et a l . (1980)
m ã o de obra e o tempo desnecessário que o S S D acarretava com
s u g e r i r a m a seleção de tamanho de sementes durante as
a colheita de uma vagem por planta nas gerações segregantes e
g e r a ç õ e s segregantes, enquanto outros recomendaram a
ainda a necessidade de separar uma única semente de cada
e l i m i n a ç ã o de i n d i v í d u o s com sintoma de d o e n ç a .
uma dessas vagens. No caso da soja, em que a maioria das
A seleção com base em u m a ú n i c a planta deve ser vagens possui duas ou t r ê s sementes, a utilização dessas
criteriosamente a v a l i a d a antes da s u a adoção como p r á t i c a vagens resultaria em economia de tempo e m ã o de obra, além
rotineira em u m programa de melhoramento, obviamente de assegurar a m a n u t e n ç ã o do tamanho da população, o que é
porque apresenta baixa eficiência. fato incomum no S S D em virtude da n ã o germinação de
algumas das sementes.
V a n t a g e n s e d e s v a n t a g e n s d o método S S D Embora o método S S D seja frequentemente citado como
a metodologia utilizada no desenvolvimento de linhagens em
diversos programas de melhoramento de soja, verifica-se que
Vantagens
grande parte dos melhoristas utiliza o método S P D .
• fornece m á x i m a v a r i â n c i a g e n é t i c a entre linhagens n a
Com o uso do S P D , muitas das linhagens n a população
p o p u l a ç ã o final;
final correspondem a uma mesma planta F2. E s s a característica
• atinge rapidamente o nível desejado de homozigose;
resulta em menor variabilidade genética n a população final.
• é de fácil condução;
O c u l t i v a r de soja U F V - 1 9 foi desenvolvido n a U F V ,
• n ã o exige registro das genealogias;
utilizando-se este método.
• pode ser conduzido fora da r e g i ã o de a d a p t a ç ã o ; e
• requer pequena demanda de á r e a e m ã o de obra.
Descrição do método
U m a vagem de cada planta F2 é colhida para
Desvantagens
constituir a g e r a ç ã o F3. A s vagens colhidas s ã o agrupadas e
• apresenta pequena oportunidade de seleção nas gerações trilhadas em conjunto. A s sementes a s s i m obtidas s ã o
precoces; e utilizadas p a r a plantio da g e r a ç ã o F3. O procedimento é
• n ã o se beneficia da seleção n a t u r a l quando esta é repetido a t é que u m nível de homozigose s a t i s f a t ó r i o seja
favorável. a l c a n ç a d o . A p a r t i r de e n t ã o , este m é t o d o torna-ne
semelhante ao S S D .
264 Borém e Miranda Método descendente de uma única semente 265

Muitos melhoristas de soja adotam a t é c n i c a de se Considerações finais


trabalhar com dois recipientes n a época da colheita das
A v a r i â n c i a genética a d i t i v a entre plantas nas
vagens. E m u m deles são colocadas as vagens a serem
p o p u l a ç õ e s segregantes aumenta à r a z ã o de (1+F)O~ A, em que
2

utilizadas para a c o n d u ç ã o da g e r a ç ã o seguinte e, no outro,


F é o coeficiente de endogamia n a g e r a ç ã o considerada. A
as que s e r ã o mantidas como reserva. N a eventualidade da
seleção de i n d i v í d u o s em gerações a v a n ç a d a s , como ocorre
perda da p o p u l a ç ã o por r a z õ e s c l i m á t i c a s ou outras, poder-
neste m é t o d o , beneficia-se da maior v a r i â n c i a g e n é t i c a
se-á reconstituir a p o p u l a ç ã o segregante com as sementes
aditiva presente.
em reserva.
Como cada linhagem na p o p u l a ç ã o final corresponde
E p r á t i c a comum entre os m e l h o r i s t a s de soja a
a u m a planta F2 diferente, a v a r i â n c i a g e n é t i c a é
colheita apenas de vagens com duas sementes ou, em
maximizada.
outros casos, com t r ê s , visando à m a n u t e n ç ã o do t a m a n h o
A v a r i â n c i a g e n é t i c a na p o p u l a ç ã o pode ser reduzida se mais
populacional o m a i s e s t á v e l p o s s í v e l . de u m a linhagem na p o p u l a ç ã o final corresponder a u m a
mesma planta F2.
Método d e s c e n d e n t e de u m a única semente com E m contraste com o m é t o d o da p o p u l a ç ã o , a seleção
plantio e m c o v a s n a t u r a l n ã o atua nas p o p u l a ç õ e s segregantes, a menos que o
Neste m é t o d o , u m a v a g e m de cada p l a n t a da ambiente afete o poder germinativo das sementes ou a
g e r a ç ã o F2 é colhida p a r a c o n s t i t u i r a g e r a ç ã o F3. A s capacidade dos i n d i v í d u o s p a r a produzir u m a semente
sementes de cada vagem colhida n a g e r a ç ã o F2 s ã o viável. A s d i f e r e n ç a s de capacidade competitiva dos
p l a n t a d a s em covas i n d i v i d u a i s . A p ó s a g e r m i n a ç ã o e o g e n ó t i p o s (esta é expressa no n ú m e r o de sementes
desenvolvimento i n i c i a l das p l â n t u l a s , faz-se o desbaste, produzidas) n ã o apresentam qualquer efeito sobre a
deixando apenas u m a p l a n t a por cova. E s s e procedimento frequência gênica durante o a v a n ç o de g e r a ç ã o , u m a vez que
é repetido a t é que se a t i n j a a homozigose d e s e j á v e l , cada i n d i v í d u o deixa u m único descendente p a r a a g e r a ç ã o
garantindo que c a d a p l a n t a F2 p o s s u i r á u m descendente seguinte.
na população final. U m a das l i m i t a ç õ e s do m é t o d o S S D é a reduzida
E m b o r a este m é t o d o demande m a i s m ã o de obra e x p l o r a ç ã o da variabilidade n a g e r a ç ã o F2. E m b o r a cada
p a r a s u a e x e c u ç ã o , deve ser o preferido p a r a estudos de planta nessa g e r a ç ã o seja amostrada, apenas u m a semente
e s t i m a ç ã o de componentes de v a r i â n c i a g e n é t i c a . representa toda a variabilidade de cada indivíduo Fi. Sneep
No caso das espécies n ã o leguminosas que n ã o (1977) avaliou essa l i m i t a ç ã o e concluiu que a perda de
produzem vagens, algumas sementes de cada planta s ã o genes, em r a z ã o da amostragem, representava u m custo
colhidas e semeadas em covas. P a r a cada i n d i v í d u o em muito alto para justificar a u t i l i z a ç ã o do m é t o d o S S D . A
determinada g e r a ç ã o deve haver u m a cova na g e r a ç ã o d ú v i d a conduz à seguinte q u e s t ã o : seria u m a ú n i c a semente
seguinte. por planta suficiente? A resposta obviamente v a r i a com o
tipo de cruzamento realizado. Nos cruzamentos
convergentes, em que a d i s t â n c i a g e n é t i c a entre os genitoruH
é limitada, o grau de parentesco entre os i n d i v í d u o s FJ ó
relativamente alto e, consequentemente, a variabilidade
266 Borém e Miranda Método descendente de uma única semente 267

entre sementes Fs provenientes do mesmo i n d i v í d u o F2 é F E H R , W.R. Soybeans. I n : F E H R , W.R. (Ed.). Principies of cultivar
relativamente b a i x a . Nessa s i t u a ç ã o , é p r o v á v e l que u m a development - crop species. [S.I.: s.n.],1987. v 2. 761 p.
única semente seja suficiente para representar a G O U L D E N , C.H. 1939. Problems i n plant selection. I n : Burnett, R. C.
(Ed.). I N T E R N A T I O N A L G E N E T I C S CONGRESS, 7, 1939, Edinburgh.
variabilidade de cada i n d i v í d u o F2; entretanto, nos Proceedings... Edinburgh: Cambridge University Press, 1939. p. 132-
cruzamentos divergentes, por certo n ã o o s e r á . 133.
Conforme mencionado, a n ã o ser que o melhorista G R A F I U S , J . E . Short cuts in plant breeding. Crop Sei., v. 5, p. 377, 1965.
afaste o receio de que entre os i n d i v í d u o s n ã o selecionados HURD, E.A. Trends in wheat breeding methods. Can. J . Plant Sei., v. 57,
esteja aquele que o conduziria ao c u l t i v a r , em pouco tempo p. 313, 1977.
ele e s t a r á sobrecarregado de linhagens a serem avaliadas, K A U F M A N N , M.L. A proposed method of oat breeding for central Alberta.
comprometendo a eficiência do melhoramento. Cereal News, v. 6, p. 15-18, 1961.
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631. 1993.
Teste de geração precoce 269

Descrição do teste
Fehr (1978) sugeriu o uso do teste de geração precoce em
linhagens F24 para produção de grãos. Conforme descreveu esse
autor, o método consiste no plantio de sementes F 2 oriundas das
plantas F i , originando indivíduos F 2 . Sementes F.i de cada

Teste de planta F 2 selecionadas são semeadas em linhas separadas. A s


linhas F2:3 com características agronómicas nitidamente
inferiores são descartadas. A s sementes F2:4 das linhas ¥2$
Geração Precoce remanescentes são colhidas e usadas em testes de
produtividade, com repetição (Figura 19.1). A s linhas F 2 4 ,
identificadas como superiores no ensaio de competição, são
cultivadas separadamente n a geração F5. Por ocasião da
maturação, selecionam-se individualmente plantas F5 para
constituir a geração F6. Nessa geração, as linhas são cultivadas
o teste de geração precoce foi proposto por I m m e r isoladamente em fileiras. A s linhas que se mostrarem
(1941) como metodologia p a r a identificar os genitores de uniformes serão colhidas em bulk e submetidas aos ensaios
valor p a r a cruzamentos e, em cada u m deles, selecionar as preliminares de produtividade ( E P L ) .
l i n h a s com maior potencialidade p a r a produtividade de Cregan e Busch (1977), trabalhando com trigo,
grãos em gerações avançadas. A s s i m , neste teste procura- avaliaram o teste de geração precoce associado ao método da
se a u m e n t a r a percentagem de l i n h a s com a l t a população para predição do potencial de diferentes
produtividade em gerações precoces, que serão submetidas cruzamentos. Dentre as várias opções de teste de geração
precoce estudadas. Eles relataram que a avaliação dos bulks ¥2
a testes extensivos em gerações m a i s avançadas. Com a
e F3 fornece informações satisfatórias para a predição de
identificação de cruzamentos e progénies menos
populações com linhagens superiores em gerações avançadas.
promissores, que são descartados, o melhorista pode
Esses autores descreveram a seguinte metodologia:
concentrar recursos na avaliação de linhagens
diversos cruzamentos entre genitores selecionados são realizados,
remanescentes, aumentando a eficiência do seu programa.
sendo cada u m conduzido separadamente. Plantas F i de cada
O teste de geração precoce pode ser empregado em cruzamento são cultivadas espaçadamente para se obter uma
populações conduzidas com o método genealógico ou com o população F 2 suficientemente grande; as populações segregantes
da população. E s t e teste despertou o interesse de muitos F 2 de todos os cruzamentos são avaliadas em u m teste
molhoristas durante as décadas de 1960 a 1980, quando foi comparativo de produtividade; por ocasião da maturação, cada
uivo de diversos estudos. população F 2 é colhida separadamente em bulk e avaliada na
geração F3 juntamente com as demais (Figura 19.2); e, com base
O c u l t i v a r de soja U F V - 1 5 (Uberlândia) foi desenvol- no comportamento médio de cada população, isto é, bulks ¥2 o F i ,
vido, ut ilizando-se o teste de geração precoce n a identificam-se as mais promissoras, que serão conduzidas 110
UniverHidnde Federal de Viçosa.
270 Borém e Miranda Teste de geração precoce 271

programa até que se consiga um nível satisfatório de homozigose,


quando, então, serão extraídas linhagens para avaliação no
ensaio preliminar de produtividade de grãos.
A x B
i

F 2 0*0 Seleção de plantas


. 0. superiores Teste de bulks F?

2:3 Avaliação de progénies


Prosseguir com as
populações superiores

Figura 19.2 - E s q u e m a do teste de geração precoce,


'2:4 Teste de produtividade utilizando-se bulks F 2 e F 3 .
precoce
E m razão da pequena disponibilidade de sementes nas
gerações precoces, por exemplo F 2 , os testes comparativos de
bulks geralmente restringem-se a avaliações em u m único
F :í
2
Seleção de plantas local e com reduzido número de repetições, comprometendo a
sua eficácia.
E m stia revisão, O l i v e i r a (1985) citou diversos
exemplos do uso do teste de geração precoce. E m b o r a muitos
5:6
Teste de progénie autores tenham obtido resultados positivos com esse método,
a l i t e r a t u r a r e l a t a diversos resultados desencorajadores.
Quanto aos caracteres de b a i x a herdabilidade, os
testes comparativos em gerações precoces podem ser pouco
Fifi:7 EPL informativos. As possíveis causas dos resultados
contraditórios encontrados n a l i t e r a t u r a são:
Rj RTT
• efeito de dominância em gerações precoces, dificultando a
Kiguni 19.1 - Esquema do teste de geração precoce, utili- identificação de l i n h a s superiores;
zando-se l i n h a s F :4.
2
272 Borém e Miranda Teste de geração precoce 273

B U S C H , R . H . ; J A N K E , J . C . ; F R O H B E R G , R . C . Evaluation of crosses among


• diferença de tipo de interação entre plantas nas
high and low yielding parents of spring wheat (Triticum aestivum L.) and Bulk
populações heterogéneas, podendo ser de natureza prediction of line performance. C r o p Sei., v. 14, p. 47-50, 1974.
complementaria, antagonística ou sinergística; C R E G A N , P . B . ; B U S C H , R . H . E a r l y generation Bulk h y b r i d yield testing
• diversidade genética das populações dos vários estudos; of adapted h a r d r e d s p r i n g wheat crosses. C r o p S e i . , v. p. 887-891, 1977.
F E H R , X . R . Breeding. I n : N O R M A , A . G . ( E d . ) . S o y b e a n p h i s i o l o g y
• interação genótipo x ambiente; e a g r o n o m y a n d u t i l i z a t i o n . New Y o r k : Academic P r e s s , 1978. p. 119-
• avaliação inadequada das populações nos testes precoces. 155.
H A M B L 1 N , J . ; E V A N S , A . M . The estimation of cross yield using early
generation and parental yields i n dry beans (Phaseolus vulgaris L . ) . E u p h y t i c a ,
Vantagem e desvantagens do teste de geração v. 25, p. 515-520, 1976.

precoce I M M E R , F . R . R e l a t i o n between yielding h a b i l i t y a n d homozygosity i n


b a r l e y crosses. J . A m . Soe. A g r o n . , v. 33,p. 200-206, 1941.
K N O T T , D . R . ; K U M A R , J . Comparison of e a r l y generation y i e l d testing
Vantagem and a single seed descent procedure i n w h e a t breeding. C r o p S e i . , v. 15,
p. 295-299. 1975.
• descarte de cruzamentos ou l i n h a s inferiores em gerações
N T A R E , B.R.; A K E N ' O V A , M.E.; R E D D E N , R . J . ; S I N G H , B . B . The
precoces, permitindo a concentração dos recursos n a effectiveness of e a r l y generation (Fu) y i e l d testing a n d the single descent
condução de genótipos mais promissores. procedures i n two cowpea (Vigna unguiculata ( L . ) W a l p . ) crosses.
E u p h y t i c a , v . 33, p. 539-547, 1984.

Desvantagens O E V E R E N , A . J . ; S T A M , P . C o m p a r a t i v e s i m u l a t i o n studies on the effeets


of selection for q u a n t i t a t i v e t r a i t s i n autogamous crops: e a r l y selection
• comprometimento de parte dos recursos p a r a avaliação de v e r s u s single seed descent. H e r e d i t y , v. 69, p. 342-351, 1992.
populações em gerações precoces, com l i m i t a d a garantia O L I V E I R A , A . B . E s t i m a t i v a s de h e r d a b i l i d a d e e de c o r r e l a ç õ e s e m
l i n h a g e n s de s o j a (Glycine max ( L . ) M e r r i l l ) d e r i v a d a s pelo teste de
da eficiência do procedimento;
g e r a ç ã o p r e c o c e . 1985. 98 f. Tese (Mestrado) - U n i v e r s i d a d e F e d e r a l de
• limitação do número de gerações que podem ser Viçosa, Viçosa, M G .
avançadas por ano, representando atraso no O L I V E I R A , A . B . ; S E D I Y A M A , T.; S E D I Y A M A , C.S.; R E I S , M.S.; S I L V A ,
desenvolvimento das linhagens homozigóticas; e J . C . Avaliação do teste de geração precoce no desenvolvimento de
• pouca eficiência em casos de características com b a i x a genótipos de soja com características agronómicas específicas. R e v .
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hexaploid t r i t i c a l e s . A u s t . A g r i . R e s . , v . 45, p. 51-64, 1994.
Método dos retrocruzamentos 275

reduzindo a sua contribuição genética n a formação das


populações segregantes.
O método dos retrocruzamentos envolve u m a série
de cruzamentos da progénie de dois c u l t i v a r e s , com u m dos
genitores, por exemplo, [ ( A x B ) x A ] , O c u l t i v a r que p a r t i c i p a

Método dos
apenas do cruzamento i n i c i a l , no caso o c u l t i v a r B , é
denominado genitor doador ou não recorrente e o que é
utilizado nos cruzamentos repetidos, no exemplo o c u l t i v a r
Retrocruzamentos A , genitor recorrente. O termo recorrente i n d i c a que o
c u l t i v a r é utilizado repetidas vezes durante o p r o g r a m a .
O objetivo do método dos retrocruzamentos é recuperar
o genótipo do genitor recorrente - exceto p a r a u m a ou poucas
características consideradas insatisfatórias, que o melhorista
procura transferir a partir do genitor doador. O esquema
J H Í a r l a n e Pope (1922), percebendo o potencial do
clássico desse método envolve a seleção de dois cultivares,
método dos retrocruzamentos p a r a o melhoramento de sendo u m deles em geral adaptado e produtivo, apresentando,
plantas, demonstraram s u a aplicação ao desenvolver u m a porém, alguma característica indesejável que não existe no
nova versão do cultivar de cevada Manchúria, com duas outro. O cruzamento entre os dois cultivares é realizado e o
aristas lisas. A p a r t i r daí, este método foi adotado em híbrido F i , retrocruzado com o genitor recorrente em sucessivas
diversos programas de melhoramento. O Programa de gerações.
Melhoramento de Cereais da Universidade da Califórnia, sob Após u m número suficiente de retrocruzamentos, as
a liderança do D r . Frederick N . Briggs, refletiu a progénies serão heterozigotas p a r a os alelos em
importância que t a l método a s s u m i u nas décadas de 1930 a transferência, m a s homozigotas p a r a todos os demais.
1950, quando esse pesquisador o estudou extensivamente. Uma geração de autofecundação após o último
Por meio desse método, diversos c u l t i v a r e s de trigo foram retrocruzamento produzirá u m a progénie homozigótica
desenvolvidos p a r a a Califórnia, E U A . p a r a todos os genes em transferência, originando u m a
Mac K e y (1986), discutindo os métodos de melhora- nova versão do c u l t i v a r utilizado como genitor recorrente,
mento utilizados pela Associação Sueca dos Produtores de n a q u a l a característica indesejável, objeto do programa, é
Sementes, enfatizou a importância dos retrocruzamentos como substituída pela característica do genitor doador. Por
metodologia complementar de outros métodos clássicos de exemplo, quando u m novo patótipo infecta u m c u l t i v a r
melhoramento, afirmando que este método é comumente amplamente aceito em u m a região e coloca em risco a s u a
empregado em cruzamentos divergentes, visando elevar a utilização pelos produtores, pode-se u t i l i z a r o método de
frequência de genes favoráveis n a população. E s t e método tem retrocruzamentos, pois é necessário incorporar ao c u l t i v a r
sido também aplicado n a adaptação de germoplasma exótico, a resistência à nova r a ç a fisiológica prevalecente na
276 Borém e Miranda Método dos retrocruzamentos 277

região, isto é, simplesmente melhorar o c u l t i v a r já Características" ( M A N S U R ; H A S H I D I , 1990), apresentam o


existente e não desenvolver u m completamente novo. número de progénies necessário para se obter determinada
quantidade de indivíduos com a característica em
transferência, em dois níveis de probabilidade.
Teoria dos retrocruzamentos
Se, por exemplo, em u m programa de melhoramento
Número de alelos em transferência de soja, o melhorista deseja remover o sabor característico da
soja por meio da eliminação genética da produção de
A recuperação do genitor recorrente, exceto em
lipoxigenase, u m programa de retrocruzamentos pode ser
relação aos alelos em transferência, é o objetivo do método
indicado ( F i g u r a 20.1). Considerando que a característica
dos retrocruzamentos. Características com alta
ausência de lipoxigenase em soja é controlada por alelos
herdabilidade, controladas por u m ou poucos genes, são mais
recessivos em três loci do cruzamento inicial entre o genitor
facilmente transferidas por esse método. A transferência de
alelos dominantes é realizada mais diretamente que a de recorrente C r i s t a l i n a ( L x L x L x L x L x . L x ) e triplo nulo
1 i 2 2 ( ;t

alelos recessivos, em razão de os indivíduos heterozigotos ( l x l x l x l x l x l x ) , proveniente dos genitores P I 408251 e


1 1 2 2 3 3

revelarem apenas o fenótipo característico dos alelos Ichigowase, obtém-se o híbrido F i com a constituição L X j l x ,
dominantes. Se o alelo em transferência for recessivo, a L x l x L x l x . Quando as plantas F i são retrocruzadas com
2 2 3 3

autofecundação torna-se essencial p a r a a s u a manifestação. C r i s t a l i n a , são necessárias 37 progénies p a r a se ter certeza,


Quando o número de genes envolvidos no programa de 95% de probabilidade, de que duas p l a n t a s terão os três
retrocruzamentos é elevado, é necessária a manipulação de alelos recessivos. A frequência de gâmetas lXjlx^lx,, das
grandes populações. Dessa forma, este método torna-se plantas F i é de 1/8, neste exemplo hipotético. Nessa situação,
complexo para a transferência de características consultando a Tabela 20.1, com os valoreH du p = 0,95, q = 1/8
quantitativas controladas por grande número de genes. e r = 2, vê-se que o número de plantaH R C i requerido é 37.
Knott e T a l u k d a r (1971) u t i l i z a r a m o método dos Caso o melhorista deseje t r a b a l h a r com maior margem de
retrocruzamentos p a r a transferir peso de sementes de trigo, segurança, com 99% de probabilidade, no mesmo exemplo,
que é u m a característica quantitativa de a l t a herdabilidade consultando a T a b e l a 20.2, com os valores de p = 0,99, q = 1/8
quando avaliada em ambientes uniformes. E s s e s autores e r = 2, o número total de plantas R C i requerido será 5 1 .
obtiveram sucesso parcial no programa. Todavia, são pouco O melhorista deve considerur o poder de germinação
frequentes os casos em que esse método é utilizado p a r a p a r a estimar o número de sementes R C i p a r a a obtenção de
obter características quantitativas. determinado número de plantas R C i . No exemplo
apresentado, em que são necessárias 37 plantas R C i , se o
poder de germinação for de 90%, precisa-se de 42 sementes
Número de indivíduos a serem obtidos
R C i . Considerando que de cada cruzamento c o m sucesso c
A probabilidade de recuperação dos genes em possível obter, em média, 2,5 sementes e que a percentagem
transferência depende da frequência esperada dos indivíduos de sucesso c o m operadores experientes é de 80%, seria
desejadoH e do número de plantas a ser obtido. A s Tabelas 20.1 necessário r e a l i z a r 21 polinizações de retrocruzamento
e 20.2, elaboradas por meio do programa "Recuperação de [42/(2,5x0,80)].
278 Borém e Miranda Métodos dos retrocruzamentos 279

Cristalina x Triplo Nulo O


O
m
H
C l H 3 0 H '^1
KJ H N Na
H H H CO © ( M K J
Lx Lx Lx Lx Lx Lx
1 1 2 2 3 3 | lx lx: l x l x l x l x
1 1 2 2 3 3 r-i oq

CO-d-ffiCOaJCOCDCONlO
O J i C i N t C C D O t O t O X '
© 1

Lx lx L x j x
1 1 2 Lx lx
3 3 x Cristalina >-< <M IO O rH CN Uti O i-H

i 03
O
w r- c a ; r- a i M »
RCi
T J , Q
C C K I O t ^ t - O H T f C f l C C
H !N
+3 H N T f CO t -

O
F i g u r a 20.1 - Transferência da característica ausência de B ( E t C I M O O J J C O a D O J
lipoxigenase, controlada por três alelos o f-i CM T f CO r- IN T f 00
fn
recessivos, pelo método dos retrocruzamentos. CD
CO
o3
cn
Sedcole (1977) estudou diversos métodos p a r a se § H CC O
I M C C T f l D t - O Í C C r - N
CÇ í C
estimar o tamanho das populações a serem conduzidas
CN
• rH
T3

durante as gerações de retrocruzamentos. O método que hH


Cl

confere maior acurácia às estimativas gerou a seguinte -d


H r - n N N T f Q C ( C C O I ~ Tf
W M T f H O l C O H i a T C N
to C D C i a i a o i>
fórmula, que permite ao melhorista calcular o tamanho das
oi co i c
—i CO <C H M m

populações p a r a situações não cobertas pelas Tabelas 20.1 e


20.2:
t O O N C O i O U l H t O C O i o
( M C O ^ l Q C C C O C O C O C O t -
H W KJ H CO Tf

n = [2(r-0,5) + Z (1-q) + Z [ Z ( l - q ) + 4 ( l - q ) ( r - 0 , 5 ) ]
2 2 2 1/2

l O O l O i O N T f M h t - O
2q i - i T - i C N C N ^ C N - ^ O l
H CN T J
rH N N I O t D CO I - fl< O í O )
H m co co

-ri
em que: O l-> H i O [•- CO O ) O H T T

n : número total de plantas necessárias; N M C O i D i O N C D i N D


H CO C D

r: número de plantas desejadas com o gene;


q: frequência de plantas com o gene em transferência; i O i O X > - i c o a O t > i O O ( N CO M I O i D X ) L O T f CM 0 0 ffii
w

2
es
" °
H O) I - IO O i-l !M M CO T f L O M O O H

p: probabilidade de recuperação do número desejado


H H
TH c a H m co

de plantas com o gene em transferência; e


o o
Z: valor que é função da probabilidade (p). Z é igual a IH c«i T h a i a i r-i
o n r o i O H O N c c o
c M C M C O T f i i n i l r - T f C X i a D

^
o
o
r H CM I O
1,645 p a r a p = 0,95 e igual a 2.326 p a r a p = 0,99.
T f C O N C O C O T ) l [ O C O M T ) ' T3 T3
CO N H m H H H
BB
-C X '
CS C5

£ £
O. Qf

fV.f
280 Borém e Miranda Método dos retrocruzamentos 281

i— i Q i O 3 5 i O t D ! C C C O
N N M T p i O h - i O H - t C O
H
IO

P 3 CD CM
o r - o o i o o i c o o t - i - i
i Q i O a j H M C D t O O l N
H H H CO t - T f CO
Número de gerações de retrocruzamentos
0 retrocruzamento em espécies autógamas é baseado
o i n w i o í q o c r t f l i - c o

T—i CM L O i—i
'O
Tf
H
CO CO CM
31 O
CM CD N T f
O
r H CO no fato de o híbrido F i retrocruzado com o genitor recorrente
i-í CM tornar-se geneticamente mais próximo do genótipo do genitor
CM X LO IO T f CO O recorrente. A recuperação do genitor recorrente é assegurada
Tf a W l > i(5 H
oc-coaiHcn^ncM
H N IÍ3 H
T T L O l — a o c N T P O i - i C O
após u m número suficiente de retrocruzamentos.
<-> CM i O O O
r H CM
A proporção de genes do genitor doador é reduzida à
co 05 ^ i c i o CD 3 5 r :
c o c o L O C - o o ^ n r o x i > L O
H
metade após cada geração de retrocruzamentos, como
li5 O
ilustrado n a F i g u r a 20.2. N a ausência de seleção e ligamento
H ^) H f q ^ i 05 O)

fatorial, a equação p a r a a média de recuperação do genitor


CO
i—i
3 5 CM 3 5
CM í£> CM
C M L > C M C M C M < - i 3 1 C 0 C M O
C O C O I 0 1 > X H ^ | C O C O C -
recorrente é 1 - ( í ^ ) , em que m é o número de
m+1
i-i CM - T f 3 1 O ) • ? C5

retrocruzamentos realizados. Por exemplo, indivíduos n a


H X

geração R C a apresentam, em média, 93,75% = [ l - p / 2 ) ] do4


W 1(5 M r- iO 05 H CD t o I O
r-ciocmcocccnraHco
genoma do genitor recorrente. 0 termo média de recuperação
r r N M K l - O O H C C I
H N \ CO H C C f f i i C t C ' l > O H H 5 J X
r H CM T f 0 0 O

é adotado porque, em cada geração de retrocruzamentos,


C C O í f - H C O o i C N C G O )
H r H N C C t f C O C O t D C C !
lO
!C
Tf rH X
t" O O
CM o
N 113
cn
O
existe u m a variação, entre indivíduos, quanto ao número de
H CO I * CM T f GO l >
genes do genitor recorrente que eles possuem. O uso de
marcadores moleculares pode acelerar os programas de

_CJ retrocruzamentos, ao permitir a identificação gráfica dos
O) H t~ n t - i- h x x o f - C M i O C M - i C C W C M C í í O H
• H H I M C v l C C h l C i - T t
i - i CO c c
C M C O T f c O C ^ O l C v J O O t N
i- T f 00 CD ,5í-i
9 indivíduos com maior proporção do genoma do genitor
recorrente.
CD

«ctj
Conforme relataram Openshaw et a l . (1994), o uso de
5H
CCS
C O O Í T f C T l C M - H T f t N C C L O C O O N O l L - H O C r - C- O

marcadores moleculares para a identificação de indivíduos que


C N C O T f i O C O C Í X C C C D T t CS
H CM IO r H CO [ > L O
So
o apresentam maior proporção do genoma do genitor recorrente
C/J d
o o
-4H
pode reduzir o número de retrocmzamentos requeridos para
I . - H T f O
sua recuperação.
LO CO T f C O O O C O C C c O O i C C C
CM CN T f L O CD CO l - <C O l i C !D
rt f l
>
H IO O H (M "E
CM T -H CO t - T f o>
J-J

CS
SH
O número de retrocruzamentos necessários depende do
grau de recuperação desejado do genitor recorrente, do mérito
cS
(J
Tí d
• ^ i O t - O C M I > L Q C M Í D C O C M C D O O C M O l H t - C J l C O H
H H H CO T f 05 CM CM CO O L O C C ' C CO X
H CO CD CO
L> O
«cS
TS
ccJ
agrícola do genitor doador, da intensidade de seleção das
O CJ
a
características do genitor recorrente durante o programa e de
ligação gênica entre o gene em transferência e outros
<cu
^
CJ O
T t C O C M C O c O T T C O C P C N T t T j i C O C M C O C O T f c O C D C M T f
O
ri
O
O indesejáveis.
O 4)

Quando são utilizados genitores doadores com baixo


TS rd
o
-d -tí
KJ
Tf
cS
T-J mérito agrícola, como em geral ocorre com os acessos de bancos
JH
.3
CS CS
de germoplasma ou tipos silvestres, é necessário realizar
o O
SH
grande número de retrocruzamentos. Entretanto, se c u l t i v a r e s
agronomicamente superiores são utilizados como genitores
P ,

cr
282 Borém- e Miranda Método dos retrocruzamentos 283

doadores, pode não haver necessidade de recuperação integral n


do genitor recorrente. Nessa situação, dois ou três 2 m - l
retrocruzamentos são suficientes. Proporção de indivíduos homozigóticos =
\
Genitor Recorrente x Genitor Doador

em que:
m: número de retrocruzamentos; e
Geração % Recorrente n: é o número de genes contrastantes entre os
genitores. Por exemplo, se os genitores diferem
50 W r ~ i x entre si em seis genes, após quatro
retrocruzamentos, n a ausência de seleção,

RCi 75 67,89% = 2 -1 dos indivíduos serão homozi-

RC;
gotos idênticos ao genitor recorrente nos seis
87,5
genes considerados.

RC; 93,75
Efeito da ligação gênica
A ligação gênica ocorre quando dois genes se encontram
RC< 96,875 no mesmo cromossomo e a u m a distância inferior a 50 cM.
Quando determinado gene se encontra ligado a u m outro em
F i g u r a 20.2 - Recuperação média do genitor recorrente após transferência, ambos tendem a ser transferidos
diversas gerações de retrocruzamentos. simultaneamente em programas de retrocruzamentos. O
problema se estabelece quando a distância entre o gene em
Progénies de programas de retrocruzamentos com transferência e outros genes indesejáveis é muito pequena,
elevada recuperação do genitor recorrente não requerem os reduzindo a probabilidade de que somente o gene de interesse
extensivos testes comparativos de comportamento antes de seja transferido, e u m destes genes é indesejado.
serem lançadas, porque a quase totalidade dos seus genes é O método dos retrocruzamentos oferece boa
do genitor recorrente, cujo comportamento é conhecido. oportunidade p a r a a quebra d a ligação gênica por meio de
Entretanto, recomenda-se que pelo menos u m a avaliação do crossing overs. Por exemplo, se o gene da resistência a
comportamento agronómico dessas progénies seja realizada Phytophthora megasperma (P) se encontra ligado ao gene de
antes da s u a distribuição aos produtores.
deiscência de vagem (v) em u m genitor doador e o genitor
A proporção de indivíduos homozigóticos em recorrente apresenta o genótipo (pV), p a r a obtenção de
determinada geração pode ser estimada pela seguinte indivíduos resistentes a P. megasperma e com indeiscência
equação: de vagem (PV), é necessário u m crossing over nos indivíduos
heterozigotos p a r a a quebra da ligação de P e v. A cada
284 Método dos retrocruzamentos 285
Borém e Miranda

geração de retrocruzamentos, gâmetas pV do genitor Além da ligação gênica, a epistasia e a pleiotropia


recorrente são associados a gâmetas Pv das progénies de podem constituir limitações para o uso do método dos
retrocruzamentos. No caso da epistasia, o gene em
retrocruzamentos, dando origem a indivíduos pV/Pv, nos
transferência pode não se expressar de forma satisfatória em
quais u m crossing over pode resultar gâmetas P V , que
outro conjunto gênico. Porém, se o gene de interesse também
produzem indivíduos com as duas características desejáveis. controla u m a outra característica indesejável, caso da
A transferência de D N A adicional ligado ao gene de pleiotropia, a transferência desse gene pode não ser vantajosa.
interesse e em transferência denomina-se arrasto devido à
ligação (linkage drag). Quando o genitor doador é agronomi-
Estratégias para transferência de várias
camcnte inferior, a probabilidade de que genes indesejáveis
estejam ligados ao gene de interesse é alta. Nessas situações, características
o programa de retrocruzamentos torna-se mais laborioso. É O método dos retrocruzamentos tem sido utilizado
possível também que dois genes desejáveis estejam ligados, o principalmente para transferência de u m a característica
que constituirá u m a vantagem p a r a o melhorista. monogênica por vez. Existem situações em que se pode ter o
interesse de transferir duas ou mais características para u m
S t a m e Zeven (1981) e Zeven et a l . (1983)
mesmo genitor recorrente. A medida que o número de
quantificaram o linkage drag em nível molecular e
características a ser transferido aumenta, a complexidade e o
concluíram que, embora a recuperação das características do tempo requeridos para condução do programa crescem
genitor recorrente ocorra de forma satisfatória em muitos exponencialmente.
programas de retrocruzamentos, a quantidade de D N A Quando o objetivo é a transferência de duas ou mais
indesejável que acompanha o gene em transferência é características, três estratégias têm sido consideradas: a
relativamente grande, conforme mostrado n a T a b e l a 20.3. sequencial, a paralela e a simultânea ( F i g u r a 20.3).
No programa sequencial, transfere-se u m gene ou u m a
Tabela 20.3 - A r r a s t o de D N A em virtude da ligação gênica, característica de cada vez. Após a transferência da primeira
após várias gerações de retrocruzamentos característica, inicia-se a da segunda. Esse procedimento,
embora bastante simplificado, requer u m longo período para
Geração Proporção do A r r a s t o de D N A do sua conclusão, tornando-se u m obstáculo a sua adoção.
Genitor Recorrente Genitor Doador A estratégia do programa paralelo é a condução de
(%) (cM) dois subprogramas, em que cada característica é transferida
Fi 50,0000 _ independentemente. Após a transferência em ambos os
RCi 75,0000 59 subprogramas, as progénies finais constituem duas
RC 2 87,5000 . linhagens quase isogênicas, que, se cruzadas, permitirão a
RC;i 93,7500 38 seleção de indivíduos com ambas as características.
RC 96,8750 32 No programa simultâneo, as duas características são
"Cr, 98,4375 28 transferidas de u m a só vez. E s s a estratégia requer o uso de
RC<> 99,2188 22 grandes populações, e o tamanho destas é calculado com base
RCio 99,9512 nas Tabelas 20.1 e 20.2. A complexidade e o tamanho das
18
populações aumentam exponencialmente com o número de
KC*. 99,9999 10
características envolvidas.
Kiính-: S T A M ; Z K V K N , 1981.
Método dos retrocruzamentos 287

Potencial de sucesso do método


P a r a realizar u m eficiente programa de retrocruza-
mentos, o melhorista deve utilizar u m genitor recorrente
superior, com expectativa de longa vida útil, u m a vez que o
produto final deste método é u m genótipo com as mesmas
características do genitor recorrente, exceto a característica
em transferência.
A característica em transferência deve ser de fácil
identificação, isto é, de herança simples. O u t r a exigência é
que seja realizado u m número satisfatório de retrocruza-
mentos. Caso u m , ou m a i s , dos requisitos anteriormente
mencionados não seja atendido, o programa de
retrocruzamentos pode não ter sucesso.
Se, por ocasião do final do programa, o c u l t i v a r
utilizado como genitor recorrente não for mais competitivo em
relação aos demais c u l t i v a r e s no mercado, o sucesso da nova
versão pode estar comprometido. Com o aumento da eficiência
e do número de programas de melhoramento, a expectativa de
vida útil dos cultivares tem sido reduzido drasticamente.
Enquanto nas décadas de 1960 e 1970 o lançamento de
cultivares de soja no mercado de sementes era esporádico,
atualmente são lançados diversos cultivares a cada ano no
B r a s i l Central. Deve-se preocupar com a competitividade ou
não dessa nova versão do genitor recorrente, após o término
do programa de retrocruzamentos, no mercado de sementes.
Durante as gerações de retrocruzamentos, selecionam-
se os indivíduos que apresentam a característica em
transferência, sendo imprescindível que esta se manifeste
durante o programa. Características com alta herdabilidade são
mais facilmente transferidas por retrocruzamentos.
Não é necessário que o programa de retrocruzamentos
seja conduzido no ambiente a que o genitor recorrente está
adaptado. A única exigência é que a característica em
transferência possa ser expressa. U m a vez que a seleção
durante o programa é realizada apenas para a característica
em transferência, a incorporação das demais características do
genitor recorrente ocorre automaticamente durante o
288 Borém e Miranda Método dos retrocruzamentos 289

procedimento, permitindo que o melhorista conduza tantas R C i , que, por sua vez, segregarão os tipos Aa, resistentes à
gerações de retrocruzamentos por ano quanto possível. doença, e aa*, suscetíveis à doença. Com inoculação artificial,
os indivíduos aa* podem ser identificados e descartados. Os
Retrocruzamentos para introgressão de indivíduos remanescentes, Aa, são retrocruzados com o genitor
germoplasma recorrente. Esse procedimento é repetido até que o nível de
recuperação desejado do genitor recorrente seja atingido.
O método dos retrocruzamentos tem sido utilizado Posteriormente, submete-se a progénie do último retrocruza-
quase exclusivamente p a r a transferir genes de genitores mento à autofecundação e faz-se o teste de progénie com os
doadores p a r a recorrentes; entretanto, a sua utilidade p a r a a
indivíduos resistentes para identificai' os não segregantes.
introgressão de germoplasma exótico no germoplasma-elite
Estes indivíduos são multiplicados e distribuídos como nova
também tem sido comprovada por diversos autores
versão do genitor recorrente.
(LAWRENCE; FREY, 1975; EATON et ai, 1986;
C A R P E N T E R ; F E H R , 1986; S I N G H et a i , 1993). Recorrente Doador
Eaton et al. (1986) avaliaram três estratégias para a aa x AA
introgressão de germoplasma exótico em trigo e concluíram que
os retrocruzamentos e os cruzamentos triplos são superiores Geração
aos cruzamentos simples. Fi Aa x aa
Carpenter e Fehr (1986) cruzaram dois cultivares de
soja (Glycine max) com dois acessos silvestres (Glycine soja) e RCi
1
[aa* : Aa[ x aa
retrocruzaram os híbridos F i com os respectivos genitores
recorrentes da espécie G. max. Foram obtidas populações com
RC2 a a * : A a | x aa

1
até cinco retrocruzamentos. Esses autores concluíram que dois
ou três retrocruzamentos foram suficientes para elevar o nível
das populações sem perder demasiadamente as características RC 3
1 a a * : A a I x aa
dos tipos silvestres.
RC aa* : Aa|
Procedimentos [®
Transferência de alelo dominante 1 A A : 2Aa : l a a
A transferência de alelo dominante v i a retrocru- | ® J®
zamentos é relativamente simples, conforme ilustrado n a Fileiras Não Fileiras
Segregantes Segregantes
Figura 18.4. Nesse exemplo, o genitor recorrente é suscetível a
uma doença bacteriana e o genitor doador apresenta o gene que F i g u r a 20.4 - Transferência de u m alelo dominante pelo
confere resistência à referida doença. Após o cruzamento entre método dos retrocruzamentos. Indivíduos
os dois genitores e a obtenção dos híbridos F i , estes são marcados com asterisco são descartados após
r e t r o c r u z n d o H com o genitor recorrente, gerando indivíduos a inoculação com o patógeno.
290 Borém e Miranda Método dos retrocruzamentos 291

Transferência de alelo recessivo Recorrente Doador


AA x aa
A transferência de alelos recessivos via
retrocruzamentos também é relativamente simples, conforme
ilustrado nas F i g u r a s 20.5 e 20.6. Os procedimentos
apresentados nessas figuras são baseados no mesmo caso Geração
hipotético mostrado na F i g u r a 20.4, em que o genitor Fi Aa x AA
recorrente é suscetível a u m a doença fúngica e o genitor
doador exibe o alelo que confere resistência à referida 1
doença. A F i g u r a 20.5 apresenta u m esquema mais RCi AA : Aa
conservador, em que o tempo requerido para o
desenvolvimento da nova versão do genitor recorrente é mais
longo.
Inicia-se o desenvolvimento do método com o cruzamento RCiF 2 AA* |lAA*:2Aa*:laa , x A A
entre os dois genitores e a obtenção dos híbridos F i . Estes são
retrocruzados com o genitor recorrente, gerando indivíduos R C i .
1
Todos os indivíduos R C i , A A e A a apresentam o mesmo fenótipo
RC2 Aa x AA
suscetível à doença e são submetidos a u m a geração de
autofecundação para identificação daqueles portadores de alelos RCs AA : Aa
a, que conferem resistência à doença. Após a autofecundação, os
indivíduos suscetíveis, AA* e Aa*,- são descartados com base n a
inoculação artificial do patógeno e n a manifestação de sintomas
RC3 F 2
AA* l A A * : 2 A a * : l a a x A A
da doença. Os indivíduos resistentes aa são retrocruzados com o
genitor recorrente, gerando indivíduos R C 2 com o genótipo Aa.
Esses indivíduos são diretamente retrocruzados com o genitor RC, Aa
recorrente, gerando indivíduos RC3, isto é, AA e Aa. T a l
procedimento é repetido até que o nível de recuperação desejado
do genitor recorrente seja atingido. Como se pode observar n a RC F
4 2 lAA*:2Aa*:laa
Figura 20.5, as progénies de retrocruzamentos de ordem ímpar
( R C i , RC3, RC5 etc.) devem ser submetidas a u m a geração de
I
Nova versão do
autofecundação antes de se proceder ao retrocruzamento cultivar
seguinte. Progénies heterozigotas do último retrocruzamento são
Figura 20.5 Transferência de u m alelo recessivo pelo
H i i b m e t i d a s a uma geração de autofecundação para se obterem
método dos retrocruzamentos. Indivíduos
indivíduos resistentes, aa, os quais são multiplicados e
marcados por asterisco são descartados após
dintrilniídos como nova versão do genitor recorrente.
inoculados com o patógeno.
Borém e Miranda Método dos retrocruzamentos 293
292

Recorrente Doador indivíduos portadores de alelos a, enquanto as de


A\ aa retrocruzamentos, provenientes dos mesmos indivíduos
identificados como portadores de alelos a, são utilizadas para dar
Geração [ sequência ao programa de retrocruzamentos. Este procedimento
Fi Aa x AA de submeter, simultaneamente, as progénies de retrocruzamento
1 a autofecundações e retrocruzamento é repetido até que o nível
satisfatório de recuperação do genitor recorrente seja atingido.
RCi AA x AA:Aa x AA
I i® I® \ A s progénies do último retrocruzamento são submetidas a u m a
1 NS S | geração de autofecundação para obtenção dos indivíduos
RC2 D A A x AA:Aa x AA resistentes, aa, que são multiplicados e distribuídos como nova
/ | ®i® versão do genitor recorrente.
/ NS S | A transferência de genes ocorrerá mais rapidamente, se
RC 3 D AA x AA A a x AA se utilizar o esquema ilustrado n a Figura 20.6, Deve-se avaliar
1 |® i®\ a relação custo/benefício antes da adoçao desse procedimento.
NS S\
D C Retrocruzamentos em espécies alógamas
Figura 20.6 - Esquema ilustrando a transferência rápida de u m O método dos retrocruzamentos é aplicável tanto a
alelo recessivo pelo método dos retrocruzamentos. espécies autógamas quanto a alógamas. P a r a linhagens
Indivíduos marcados com asterisco são endogâmicas de espécies alógamas, o desenvolvimento desse
descartados após a inoculação com o patógeno. S método é basicamente o mesmo empregado para espécies
e N S = progénies segregante e não segregante, autógamas. Obviamente, se a característica de interesse é
respectivamente. D e C = progénies descartada e controlada por u m alelo recessivo, este deve ser introduzido em
utilizada para dar continuidade ao programa, todas as linhagens que serão utilizadas para produção de
respectivamente. híbridos, com o objetivo de assegurar a expressão da
característica.
Utilizando o mesmo exemplo hipotético da Figura 20.5, o A endogamia e a perda de vigor acompanham o
procedimento rápido ilustrado n a Figura 20.6 inicia-se com o aumento da homozigose em espécies alógamas. P a r a
cruzamento entre os dois genitores e a obtenção dos híbridos F i . minimização da perda de heterose em programas de
Os indivíduos F i são retrocruzados com o genitor recorrente, retrocruzamentos em espécies alógamas é necessário que se
gerando indivíduos R C i com genótipo AA e Aa. Algumas das utilize grande número de indivíduos, de forma a preservar a
flores de cada indivíduo são utilizadas para se realizarem os variabilidade do genitor recorrente.
retrocruzamentos com o genitor recorrente e outras são
H i i b m e t i d a s à autofecundação. É necessário adotar u m sistema
de anotações para se estabelecer a correspondência entre as Considerações finais
s e m e n t e H de autofecundação e as de retrocruzamentos. A s de
O método de retrocruzamentos é geneticamente
autoCecundação são utilizadas para se identificarem os preciso, mas deve ser considerado como u m a ferramenta de
294 Borém e Miranda Método dos retrocruzamentos 295

uso ocasional. É também conservador, levando-se em conta B R I G G S , F . N . T h e use od the backeross i n plant breeding. I n :
INTERNATIONAL GENETICS CONGR ESS, 7, 1941, Edinburg.
que novas combinações gênicas não são geradas com o seu P r o c e e d i n g s . . . Edinburg: [s.n.], 1941. p. 81-82.
uso. Somente se outros métodos que c r i a m recombinações B R I G G S , F . N . T h e u s e of t h e b a c k e r o s s i n crop i m p r o v e m e n t . A m .
gênicas forem empregados no programa de melhoramento, o N a t u r . , v . 72, p. 2 8 5 - 2 9 2 , 1 9 3 8 .
potencial de progresso no longo prazo será garantido. B R I G G S , F . N . ; A L L A R D , R . W . T h e eurrent status of backeross method of
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O uso de retrocruzamentos visando estabelecer
C A R P E N T E R , J A ; F E H R , W . R . Genetic variability for desirable agronomic
proporções desejáveis de diferentes genótipos n a população traits i n populations containing Glycine max germplasm. C r o p Sei., v. 26, p.
segregante oferece grande potencial para a utilização de 681-686,1986.
germoplasma exótico. E A T O N , D . L . ; B U S C H , R . H . ; Y O U N G S , V X . Introgression of unadapted
O método dos retrocruzamentos é indicado p a r a a germplasm intro adapted spring wheat. C r o p Sei., v. 26, p. 473-478, 1986.

introdução de resistência vertical, isto é, introgressão de F U T I N O , A . M . ; S A L L E S F I L H O , S. A biotecnologia n a a g r i c u l t u r a


b r a s i l e i r a : a indústria de defensivos agrícolas e o controle biológico. A g r i c .
genes maiores em cultivares suscetíveis. A s u a utilidade S ã o P a u l o , v. 38, p. 45-88, 1991.
p a r a transferência de resistência horizontal não é tão boa,
H A R L A N , H . V . ; P O P E , M . N . T h e use a n d v a l u e of backeross i n s m a l l -
u m a vez que grande número de genes está envolvido. g r a i n breeding. J . H e r e d . , v . 13, p. 319-322, 1922.
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Populações alógamas 299

indivíduos da espécie alógama é tratado como população.


Podem-se também definir populações alógamas por:
1) Grupo de plantas que potencialmente podem se
interacasalar livremente.
2) Comunidade reprodutiva composta de organismos de
Populações fertilização cruzada, os quais participam de um mesmo
conjunto gênico (DOBZHANSKY, 1951).

Alógamas 3) Conjunto de genes compartilhados por indivíduos, sendo a


população seu reservatório genético.
O melhoramento de espécies alógamas baseia-se no
modo de reprodução e na história evolutiva da espécie, que
originaram a estrutura genética integrada da população, e
que pode ser avaliada por meio das frequências genéticas e
o s objetivos deste capítulo são definir populações
alélicas. Essas frequências estão relacionadas diretamente
alógamas; entender o Equilíbrio de Hardy-Weinberg;
com a média genética da população.
conhecer as estruturas genéticas das espécies alógamas e
compará-las com as espécies autógamas; explicar a seleção O modo de reprodução das espécies alógamas
para características quantitativas e conhecer termos caracteriza-se por fecundação cruzada ou acasalamento ao
associados; e entender a importância das progénies acaso, pois o pólen de uma planta tem a mesma chance de
utilizadas no melhoramento de alógamas. fecundar o óvulo de qualquer outra planta da população.
Devido ao modo de reprodução, as espécies alógamas são
constituídas por uma mistura de genótipos (heterogeneidade),
Definição de populações alógamas os quais, na sua maioria, são heterozigotos (heterozigose) para
As populações alógamas são definidas como grupo de a maioria dos locos. Entre os mecanismos que promovem a
indivíduos que constituem um conjunto de genes e são fecundação cruzada destacam-se protogenia, protandria,
mantidas por meio da fecundação cruzada em um mesmo monoicia e dioicia. Na maioria das espécies alógamas, os
local e época. A sua estrutura baseia-se nos alelos, que são cruzamentos entre indivíduos aparentados, principalmente a
considerados a unidade básica dos estudos genéticos das autofecundação, causam diminuição do vigor (depressão
populações. Portanto, as populações possuem propriedades endogâmica), devido à presença de alelos desfavoráveis em
que transcendem às dos membros que as compõem, homozigose. No entanto, os cruzamentos entre indivíduos não
apresentando uma coesão genética entre si e um conjunto de aparentados causam vigor híbrido (heterose), em virtude da
tfonuH organizados, com propriedades complexas e presença de alelos favoráveis na maioria dos locos que
integradas. Diante dessas características, o grupo de controlam a característica em consideração. A depressão
endogâmica e a heterose constituem os fenómenos mais
300 Borém e Miranda Populações alógamas 301

importantes que ocorrem em populações alógamas, com grande suas sementes não originarão apenas indivíduos semelhantes a
aplicabilidade prática para o melhoramento de plantas. ele, caso seja multiplicado por sementes. Esse fato estabelece
A história evolutiva da espécie alógama, principal- um desafio especial para os melhoristas de espécies alógamas.
mente em relação ao tamanho efetivo da população e ao Portanto, ficam as perguntas: Como os genótipos superiores
cruzamento entre indivíduos mais ou menos aparentados, serão mantidos? A população poderá ser considerada superior
influencia o número de descendentes e a eliminação ou do ponto de vista agronómico ou evolutivo?
manutenção de genes na população. Um exemplo interessante
ocorreu com as abóboras, que possuem populações com poucos Aa X Aa (genitores superiores)
indivíduos. A seleção, no decorrer de sua história evolutiva, fez
com que os indivíduos que possuíam alelos recessivos em
homozigose com efeitos deletérios fossem eliminados.
Consequentemente, a frequência desses alelos nas gerações
seguintes foi reduzida. Nas populações atuais de abóbora há
l/4 A A
l Vi Aa (descendentes)
reduzida perda de vigor no cruzamento de indivíduos
aparentados, fato pouco comum em espécies alógamas.
Figura 21.1 - Esquema de cruzamento entre dois indivíduos
Os indivíduos de uma espécie alógama cruzam-se
heterozigotos e sua descendência.
aleatoriamente com qualquer outro, dentro ou fora da
população, modo de reprodução conhecido como fecundação
cruzada ou acasalamento ao acaso. Devido a esse modo de Equilíbrio de Hardy-Weinberg
reprodução, ao selecionar quaisquer indivíduos na população Um dos mais interessantes e importantes fenómenos no
alógama, é de se esperar que estes sejam heterozigotos para o
modo de reprodução de populações alógamas é o Equilíbrio ou
loco sob seleção, e, utilizando dois deles em cruzamento, a
Lei de Hardy-Weinberg, que foi deduzido independentemente
geração descendente originará três genótipos diferentes, com
por Hardy na Inglaterra, em 1908, e Weinberg na Alemanha,
média inferior aos pais (Figura 21.1). Considerando-se que as
em 1909.
médias genéticas de AA, Aa e aa sejam 20, 25 e 15,
respectivamente, na próxima geração, com os cruzamentos O Equilíbrio de Hardy-Weinberg pode ser assim definido:
entre genitores heterozigotos (Aa), a média genética da Numa população alógama infinitamente
descendência será M x 20 + Vi x 25 + A x 15 - 21,25, inferior à
X grande, as frequências genéticas e alélicas
encontrada para os genitores, que é de 25. Assim, nota-se que a permanecerão constantes, a não ser que
média da descendência é menor do que a dos genitores, haja alteração devido à seleção,
acasalamento não ao acaso, migração
i ortanto, ao se identificar ou selecionar um indivíduo com diferencial de genes ou mutação.
genótipo superior, este não originará descendentes genetica-
mente superiores. Dessa forma, se a planta apresentar um
fruto com formato, cor e qualidades organolépticas superiores, Do ponto de vista prático, o Equilíbrio de Hardy-
Weinberg é importante nos processos de multiplicação de
302 Barém e Miranda Populações alógamas 303

populações melhoradas ou naturais de populações alógamas Por sua vez, as frequências alélicas podem ser
de interesse comercial e proporciona as bases necessárias calculadas das seguintes formas:
para estudar as alterações nas frequências alélicas causadas
pela seleção para melhorar a população. Frequência do alelo A = Freq(A) = (2D'+ H')/2N ou
A seleção em populações alógamas será mais eficiente = (D'+ Á H')/N ou
X

caso suas propriedades genéticas sejam identificadas. Essas = Freq(AA) + H Freq(Aa) = p


propriedades são as frequências genéticas e alélicas que Frequência do alelo a = Freq(a) = (H'+ /2R')/2N u 0

determinam a variabilidade, as correlações e as médias das


= (V H ' + R')/N ou
2
características de interesse agronómico. Quando a população
apresenta grande número de indivíduos, as propriedades - Vá Freq(Aa) + Freq(aa) = q
genéticas são estudadas por meio de amostragens. O exemplo apresenta:
Frequência do alelo A = Freq(A) = p = (D' + A H')/N = (100 + X

Determinação de frequências genéticas e alélicas 1.000/2)/2.000 = 0,3

E m populações alógamas, as frequências genéticas e Frequência do alelo a = Freq(a) = q = (R + V& H')/N = (900 +
f

alélicas determinam as propriedades das populações e,


1.000/2)/2.000 = 0,7
consequentemente, o ganho esperado com a seleção, a sua
média e variância genética.
As frequências genéticas são conhecidas também Demonstrações do Equilíbrio de Hardy-Weinberg
como genotípicas ou zigóticas (indivíduos AA, A a e aa) e as Demonstração 1
alélicas, como gaméticas (alelo A ou a). Numa população de indivíduos diploides em
Pode-se considerar, como exemplo, uma população acasalamento ao acaso, considerando um gene com dois
hipotética de espécie alógama em que são encontradas 100 alelos (A e a), que não ocorra mutação, migração e seleção e
plantas AA (D'), 1.000 plantas A a (H ) e 900 plantas aa (R').
( que as gerações sejam mantidas por fecundação cruzada de
O número total de plantas é de 2.000 (N). um número representativo de indivíduos, tem-se:
A frequência genética (Freq.) pode ser obtida da AA Aa aa Total
seguinte forma:
Número de plantas D' H' R' N
P = número de indivíduos com o genótipo de interesse Frequência dos
número total de indivíduos genótipos (Freq.) D = D '/N H = H7N R = R7N 1

Krcquôncia do genótipo A A = Freq(AA) = D*/N = 100/2.000 = 0,05


Frequência do genótipo Aa = Freq(Aa) =HVN=1.000/2.000 = 0,50
]<Yequênein do genótipo aa = Freq(aa) = R7N 900/2.000 = 0,45
304 Borém e Miranda Populações alógamas 305

Geração Zero Geração 2


Nessa geração, considerando-se as restrições citadas Para originar essa geração, os indivíduos da geração
anteriormente, os dois alelos por loco apresentarão a 1, na proporção (p ) A A : (2pq) Aa : (q ) aa e com a frequência
2 2

frequência p e q. A frequência dos genótipos não pode de ser alélica Freq(A) = p e Freq(a) = q, cruzam-se ao acaso:
identificada e será considerada como valores não definidos x,
y e z , para AA, Aa e aa, respectivamente.
Machos
Para originar a geração seguinte, os indivíduos,
Ãfo) a(q)
independen-tcmente da frequência e do sexo, produzem
somente o alelo A ou a. Fêmeas A (p) AA (p ) 2 Aa (pq)
a (q) Aa (pq) Aa (q ) 2

Geração 1
Machos A frequência genética é, portanto, (p ) AA : (2pq) Aa :
2

Ãfo) a~(a5 (q ) aa.


2

Fêmeas A (p) AA (p ) 2 Aa (pq) A frequência alélica é a seguinte:


a (q) A a (pq) Aa (q ) 2 Freq(A) = D + A Hl

= p + Á (2pq)
2 l

Assim, a frequência genética é (p ) A A : (2pq) A a : (q )


2 2
= P (P + O)

aa. = p, pois p + q = 1; e
A frequência alélica é a seguinte: Freq(a) = R + y H 2

Freq(A) = D + Y H ou Freq(AA) + Vz Freq(Aa)


2
= q + H (2pq)
2

= p + y (2pq)
2 2
= q (q + P)
= q, pois q + p = 1
= p (p + q)
As frequências alélicas e genéticas, portanto, não se
= p, pois p + q = 1; e
alteram de uma geração para a seguinte.
Freq(a) = R + A H ou Freq(aa) + / Freq(Aa)
X L 2

-q +Y (2pq)2
Demonstração 2
2

= q (q + p)
Ocorrendo acasalamento ao acaso na população
= q, pois q + p = 1
(geração 0), as frequências dos diversos tipos possíveis de
cruzamentos serão as seguintes:
306 Borém e Miranda Populações alógamas 307

Genótipos AA Aa aa Na geração 1, Freq(A) = p e Freq(a) = q, sendo igual à


Frequências D H R geração zero. Portanto, o Equilíbrio de Hardy-Weinberg é
atingido em uma só geração, na proporção (p ) AA : (2pq) Aa :
2

AA D D DH DR
(q ) aa, ao se considerar somente um gene, qualquer que seja
2
2

Aa H DH H 2 HR a estrutura inicial da população alógama. Dessa forma,


aa R DR RH R 2 mesmo a população alógama apresentando variabilidade
genética significativa e as plantas cruzando-se aleatoria-
mente, as suas frequências genéticas ou alélicas não se
As frequências de cruzamentos nesta população são:
alteram. Essas frequências, em termos agronómicos, podem
ser entendidas como as médias genéticas das características
Cruzamento Descendentes (Geração 1) agronómicas de interesse que se mantêm constantes de uma
Frequência
do AA Aa aa geração para outra, em campos de multiplicação isolados e
cruzamento com amostragem adequada.
Os processos que alteram o Equilíbrio de Hardy-
AA X AA D 2 D 2 - -
Weinberg são:
AA X Aa 2DH DH DH
• a seleção, que é a reprodução diferencial dos genótipos;

AaXAa H 2 V H Á H 2 VA H
• o acasalamento não ao acaso, que ocorre ao privilegiar o
4 2 L 2

AAXaa 2DR - 2DR -


cruzamento de determinado grupo de indivíduos dentro da
Aa X aa 2HR HR HR população;
aa X aa R 2 - - R 2
• a migração diferencial de genes, que ocorre devido ao
Total 1,00 (D + ^ H ) 2 2(D+HH)(R+^H) (R+Í4H) 2 deslocamento de pólen de uma população para outra; e
• a mutação, que é a modificação de um alelo para outra
forma alternativa.
Mas, p = (D + y H ) ; 2pq = 2 (D + y H) (R + V* H); e
2 3 2 2

q 2 = (R + y H ) 2 2
As forças que alteram o Equilíbrio de Hardy-
Weinberg em termos agronómicos podem ser evitadas com o
A frequência genética nessa geração é:
isolamento das lavouras (migração diferencial de genes), a
(p ) AA : (2pq) Aa : (q ) aa
2 2
amostragem representativa (acasalamento não ao acaso) e a
A frequência alélica nessa geração é: ausência da seleção. A mutação em nível de campo pode ser
Freq(A) = p + V (2pq) = p + pq = p (p + q) = p
2 2 2
considerada com restrição, pois não é tão comum e, na
maioria das vezes, não é facilmente identificada ou
(considerando p + q = 1)
diferenciada de cruzamentos naturais.
Freq(a) = q + H (2pq) = q + pq = q (p + q) = q
2 2
O Equilíbrio de Hardy-Weinberg é, entretanto,
(considerando p + q = 1)
constantemente alterado no processo de seleção, visando ao
308 Borém e Miranda Populações alógamas 309

melhoramento da população, mas, posteriormente, é restabe- Com base na teoria do Equilíbrio de Hardy-Weinberg,
lecido, recuperando a homogeneidade e estabilidade da basta uma geração de acasalamento ao acaso para que
população para fins comerciais. progénies S i ou posteriores originem populações So,
As populações alógamas em Equilíbrio de Hardy- considerando-se características controladas por genes com
Weinberg, em termos comerciais, são os cultivares de apenas duas formas alélicas.
polinização aberta, ou, como conhecidas na cultura do Os híbridos de linhagens obtidos do cruzamento entre
milho, as variedades. duas linhagens endogâmicas são conhecidos como F i e não
possuem variância genética, pois todos os descendentes das
linhagens apresentam o mesmo genótipo. No entanto, híbridos
Estruturas de populações alógamas
obtidos dos cruzamentos de F i x Fi, F i x linhagem, cultivar de
As populações possuem diversas estruturas genéticas, polinização aberta (CPA) x linhagem e CPA x CPA possuem
podendo ser mantidas agronomicamente por diferentes variância genética entre os indivíduos da geração descendente
modos de reprodução, como fecundação cruzada, e, portanto, podem ser submetidos à seleção.
autofecundação e propagação vegetativa. A fecundação
cruzada e a autofecundação são utilizadas em programas de
melhoramento de milho, sorgo, girassol, entre outros. A Comparação de estrutura genética
propagação vegetativa é utilizada para cana-de-açúcar, E m espécies alógamas, genitores homozigotos são
fruteiras em geral, mandioca, plantas ornamentais etc. Esses obtidos por meio de sucessivas autofecundações artificiais. O
modos de reprodução vão definir o tipo de cultivar e o método cruzamento artificial entre eles origina a geração F i , que
de seleção a serem utilizados no programa de melhoramento. apresenta vigor híbrido. De maneira geral, em plantas
As populações naturais e os cultivares de polinização autógamas os genitores são homozigotos, e os cruzamentos
aberta, que são mantidos por meio da fecundação cruzada ou artificiais entre eles originam a geração F i , que,
acasalamento ao acaso, apresentam-se em Equilíbrio de Hardy- normalmente, não apresenta vigor híbrido. A partir da
Weinberg com as frequências (p ) AA : (2pq) A a : (q ) aa para
2 2
geração F i , as espécies se multiplicarão pelo modo de
cada um dos genes envolvidos no controle da característica. reprodução comum na espécie, ou seja, nas autógamas,
Essas populações e gerações sucessivas de populações alógamas autofecundação (Fi-> F2 -> Fa -> ... -> Fn); e nas alógamas,
em acasalamento ao acaso são também conhecidas como So. acasalamento ao acaso (Fi -> So -• So ...
> So). Assim, na
geração F2, as autógamas e as alógamas apresentarão a
Plantas da geração So autofecundadas uma única vez
proporção VA AA : V2 Aa : VA aa. Na geração F3, a população
são conhecidas como progénies ou famílias So:i ou S i . As
autógama apresentará a proporção 3/8 AA : 2/8 Aa : 3/8 aa e
progénies S2 ou S13 são as plantas que se originam da
a população alógama manterá a mesma proporção genética
autofecundação de plantas individuais Si. A geração S -i:n ou
da geração anterior, VA AA : V2 Aa : VA aa. Portanto, observa-
n

Si, são aa progénies originadas por autofecundação da


se que a proporção genética é mantida constante nas
geração n-1. A partir da geração S4, as progénies são
alógamas, enquanto a proporção dos heterozigotos (Aa) em
consideradas linhagens endogâmicas.
cada geração de autofecundação nas autógamas é redu/idu
310 Borém e Miranda Populações alógamas 311

pela metade. As frequências alélicas são mantidas O processo seletivo apresenta as seguintes
constantes em todas as gerações das espécies alógamas e características:
autógamas, se não houver seleção. • é eficiente para características comuns na população e
As diferenças das estruturas genéticas entre ineficiente para características raras;
populações alógamas e plantas autógamas estão esquema- • é eficiente para reduzir drasticamente os alelos recessivos
tizadas na Figura 21.2. indesejáveis, mas é ineficiente para eliminá-los completamente;
Autógamas Alógamas • os cruzamentos endogâmicos podem eliminar os alelos
AA X aa AA X aa recessivos;
• quando praticado para uma característica controlada por
Cruzamento artificial muitos genes de ação aditiva, progride lenta e
Cruzamento artificial
Fi Aa (sem vigor híbrido) Aa (com vigor híbrido) continuadamente durante muitas gerações;
• faz com que uma população alcance o limite da resposta
quando todos os alelos favoráveis ficarem fixados na
Acasalamento ao acaso população; e
Autofecundaç ão
Fa !4 AA % Aa VA aa So VA AA Vt Aa !4 aa • a probabilidade de esgotar a variabilidade genética é
F(A) - 0,5; F(a) = 0,5 F(A) = 0,5; F(a) = 0,5
mínima, quando está envolvido grande número de genes ou
ações não aditivas.
Autofecundação Acasalamento ao acaso
F 3 3/8 AA 2/8 Aa 3/8 aa So VA AA V2 Aa % aa
F(A) = 0,5; F(a) = 0,5 F(A) = 0,5; F(a) = 0,5 Tipos de seleção
Na prática, os tipos de seleção ocorrem entre e dentro de
Figura 21.2 - Esquema comparativo entre a estrutura populações. A seleção entre populações consiste na primeira
genética de plantas autógamas e populações etapa desse processo, pois se espera que, ao trabalhar com
alógamas, sem seleção. populações que apresentem altas médias e ampla variabilidade
genética para as características de interesse agronómico, os
ganhos com a seleção sejam expressivos. Para isso, são usadas
Seleção
diversas técnicas genético-estatísticas, como divergência
Seleção é o principal processo para aumentar a genética, capacidade de combinação, predição de compostos etc.
frequência dos alelos favoráveis nas populações. As formas A seleção dentro das populações visa selecionar grupos de
utilizadas para melhorar geneticamente as populações indivíduos ou progénies superiores e consequentemente
alógamas são os sistemas de cruzamento entre indivíduos ou aumentar a média da população.
populações, a seleção de grupos de indivíduos superiores com
Na Tabela 21.1, observa-se o número possível de plantas
alelos favoráveis e a introdução de genes de outras espécies
com alelos favoráveis encontrado em uma população com 10 mil
por moio de biotecnologia.
indivíduos. Note que, na frequência de 0,20 do alelo favorável,
312 Borém e Miranda Populações alógamas 313

para cada um dos cinco genes envolvidos no controle da Teoria de seleção


característica de interesse somente 60 indivíduos entre 10.000 A seleção nas espécies alógamas é fundamentada na
apresentarão o genótipo ideal A_B_C_D_E (_ indica a presença substituição dos alelos menos favoráveis pelos mais
ou ausência do alelo). Entretanto, com a frequência de 0,70 e os favoráveis naquele ambiente. Assim, as populações seriam
mesmos cinco genes envolvidos no controle, poderão ser formadas por indivíduos heterozigotos na maioria dos locos e
encontrados 6.240 indivíduos com o genótipo desejado. Diante por uma minoria de locos homozigotos. O número de espécies
disso, a probabilidade de se selecionarem indivíduos superiores alógamas na natureza é muito maior que o de autógamas. As
dentro da população é muito maior quando as frequências são causas da existência de variabilidade genética entre os
superiores. Ainda na frequência 0,70 nota-se que, quando 40 indivíduos de uma espécie, fundamentais para que ocorra
genes estão envolvidos no controle da característica, o número eficiência da seleção artificial, são a presença dos alelos
de indivíduos superiores na população é somente de 230, responsáveis por fenótipos com valor neutro de adaptação,
mostrando que quanto maior o número de genes envolvidos no ligeiramente vantajoso ou desvantajoso conforme o ambiente;
controle das características, mais difícil se torna a seleção de o aparecimento de mutantes prejudiciais em frequências
indivíduos superiores. baixas; o polimorfismo balanceado, devido aos alelos
múltiplos mantidos na população pelas flutuações do
Tabela 21.1 - Número possível de plantas encontradas com ambiente; e os mutantes benéficos e raros que não tiveram
locos em homozigose ou heterozigose com alelo tempo de desalojar outros alelos (FUTUYAMA, 1992).
favorável, considerando que a característica é A seleção de plantas em populações alógamas não
controlada por n genes em uma população com está limitada à fixação dos genes, mas tende a afetar toda a
10.000 indivíduos de uma espécie diploide população por meio de reorganização do conjunto gênico.
( P A T E R N I A N I , 1978) Assim, a superioridade de indivíduos fica subordinada à
prosperidade da população como um todo. Nesse sistema
Frequência do Número de genes (n)
organizado (população) há a capacidade de autorregulação
alelo favorável 5 10 20 40 exercendo grande resistência contra qualquer modificação de
0,20 60 0 0 0 características isoladas provocadas por uma seleção que
0,30 345 12 0 0 destrua o equilíbrio geral, conhecido como homeostase
genética ( L E R N E R , 1954).
0,40 1.074 115 1 0
0,50 2.373 563 32 0 As plantas apresentam características qualitativas e
quantitativas. As qualitativas são aquelas que podem ter
0,60 4.182 1.749 306 9
classes fenotípicas distintas, e sua expressão é pouco
0,70 6.240 3.894 1.516 230 influenciada pelo ambiente. Normalmente, são controladas
0,80 8.154 6.648 4.420 1.954 por poucos genes e seu estudo é feito pela porcentagem de
0,90 9.510 9.044 8.179 6.690 indivíduos nas classes. Por essas razões, apresentam alta
correlação entre genótipo e fenótipo e, consequentemente,
314 Borém e Miranda Populações alógamas 315

respostas rápidas à seleção, sendo facilmente fixadas. As mesmo nível de adubação, a superioridade de grupos de
características quantitativas apresentam distribuição indivíduos pode ser de natureza genética.
contínua dos indivíduos, isto é, entre os mais extremos As médias das características de interesses
surgem inúmeros fenótipos intermediários, são muito agronómicos, ou fenótipo, podem ser então compreendidas
influenciadas pelo ambiente e controladas por muitos genes, como o resultado da ação do genótipo, do ambiente e da
cujo efeito individual é muito pequeno. Os estudos genéticos interação de ambos.
dessas características se baseiam em médias, variâncias e
Devido à influência do ambiente na expressão do
covariâncias genéticas, fenotípicas e ambientais. A maioria
genótipo, a seleção individual de plantas nem sempre é a
das características de interesse económico é quantitativa,
maneira mais adequada de melhorar as suas populações.
como produção, ciclo vegetativo, alturas das plantas, entre
Para minimizar a influência do ambiente e, como
outras. As respostas à seleção para essas características são
consequência, aumentar a herdabilidade e o ganho de
lentas e continuadas por muitas gerações.
seleção, a utilização de progénies em vez de plantas
As metodologias de melhoramento para características individuais é um processo comum no melhoramento de
quantitativas têm sua base científica na genética de alógamas e compreende vários métodos de melhoramento.
populações, genética quantitativa, teoria da probabilidade e
As progénies (descendentes) são as unidades de
estatística. A genética de populações estuda o equilíbrio e o
seleção dos métodos de melhoramento populacional, uma vez
desequilíbrio (oscilação) das frequências alélicas e genéticas na
que são selecionadas e intercruzadas para originar a próxima
população. A genética quantitativa focaliza os efeitos dos genes
geração. As progénies superiores são aquelas que possuem
e genótipos e suas interações com as condições ambientais. As
maiores frequências genéticas e alélicas favoráveis,
duas ciências são aplicações da teoria de probabilidade na
responsáveis pelo controle genético das características de
genética, por meio de derivações de distribuições
interesse. Os testes de progénies são comuns no
probabilísticas, valores esperados e variâncias. A estatística é
melhoramento de plantas e, de maneira geral, de 100 a 400
aplicada nos delineamentos experimentais, para comparar
progénies são avaliadas em ensaios com repetição, sendo
germoplasma e estimar as médias, variâncias e covariâncias
normalmente.selecionadas de 10 a 30%.
genéticas e nos métodos paramétricos, para quantificar e
ajustar a variação ambiental. No melhoramento animal, os testes de progénies
também são bastante comuns. Animais que possuem testes
A seleção deve ser baseada na variação entre plantas
de progénies, conhecidos como "testados", são aqueles que
causada por razões genéticas, pois, caso contrário, a seleção
tiveram suas filhas, irmãs ou parentes avaliados para a
de grupos de indivíduos superiores não originará
produção de leite, por exemplo. Essa é a forma de selecionar
descendência superior. Por exemplo, a diferença na
touros para alta produção leiteira. Outra questão associada
superioridade da produção de uma lavoura de espécie
ao teste de progénie é que este serve para avaliar os pais e
alógama que foi mais adubada do que outra não é razão para
não a progénie, apesar de a avaliação ser feita nesta última,
o molhorista selecionar plantas da lavoura mais adubada,
como na seleção de touros para originar vacas leiteiras com
pois o motivo da superioridade é de natureza ambiental, a
alta produtividade.
adubação. Entretanto, se as duas lavouras receberam o
316 Borérn e Miranda

O que é mais eficiente, seleção com base no indivíduo ou


no teste de progénie? A solução é simples: se a característica
apresentar alta herdabilidade, deve-se preferir a seleção
individual; caso contrário, os métodos de melhoramento em que
é usado o teste de progénie são mais adequados.

Referências Seleção
A L L A R D , R,W. Princípios do melhoramento de planta. New York: John
Wiley & Sons, 1960. 485 p. Recorrente
CROW, J . F . ; KEMURA, M. An introduction to population geneties theory. In:
DOBZHANSKY, T.H. Geneties and origin of species. New York: Columbia
University Press, 1951. 364 p.
DOBZHANSKY, T. Geneties and the origin of species. 3 . Edition. New York:.
rd

Columbia University Press, 1951. 364 p.


FUTUYAMA, D.J. Biologia evolutiva. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira iSeleção recorrente é qualquer sistema designado
de Genética, 1992. 646 p.
para aumentar gradativamente a frequência de alelos
H A L L A U E R , A.R.; MIRANDA FILHO, J . B . Quantitative geneties in maize
desejáveis p a r a c a r a c t e r í s t i c a s quantitativas, por meio de
breeding. Ames: lowa State University Press, 1981.468 p.
repetidos ciclos de seleção, sem reduzir a variabilidade
L E R N E R , L M . Genetie homeostasis. Edinburgh: Oliver & Boyd, 1954.134 p.
PATERNIAN1, E . Melhoramento e produção do milho no Brasil. g e n é t i c a da p o p u l a ç ã o . E s t e m é t o d o envolve t r ê s etapas: i )
Piracicaba. SP: ESALQ, Marprint, 1978. 650 p. o b t e n ç ã o de p r o g é n i e s ; i i ) a v a l i a ç ã o de p r o g é n i e s ; e i i i )
PATERNIANI, E . Melhoramento e produção do milho no Brasil. r e c o m b i n a ç ã o das p r o g é n i e s superiores para formar a
Piracicaba, SP: ESALQ, Marprint, 1978. 650 p. g e r a ç ã o seguinte.
PATERNIANI, E . Milho. In: BORÉM, A. (Ed.). Melhoramento de espécies A maior parte dos conhecimentos sobre a seleção
cultivadas. Viçosa: Editora UFV, 1999. 816 p.
recorrente foi gerada com o milho, u m a espécie a l ó g a m a .
SPRAGUE, G.F.; DUDLEY, J.W. Corn and corn improvement. Madison: Atualmente, este m é t o d o v e m sendo empregado tanto em
American Society of Agronomy, T 988. 986 p.
espécies a l ó g a m a s quanto em a u t ó g a m a s . Alguns programas
de melhoramento de espécies a u t ó g a m a s fundamentados em
seleção recorrente utilizam a macho-esterilidade g e n é t i c a
p a r a facilitar a r e c o m b i n a ç ã o gênica.
Richey (1927) é considerado o criador do conceito de
seleção recorrente. E s s e pesquisador propôs o melhoramento
convergente, por meio da seleção recorrente, para aumentar
o vigor de duas populações, sem alterar a sua capacidade de
combinação.
318 Borém e Miranda Seleção recorrente 319

Cabe a H u l l (1945) a p r i m e i r a citação da terminologia mente proposta h á mais de 70 anos por J e n k i n s (1940), a sua
que, mais tarde, veio a ser universalmente adotada para se adoção pelos melhoristas de plantas a u t ó g a m a s tem ocorrido de
descrever o m é t o d o da seleção recorrente. forma limitada, em parte porque os objetivos da maioria dos
A F i g u r a 22.1 i l u s t r a o progresso de u m a p o p u l a ç ã o programas de melhoramento são de curto prazo. E s s a seleção
submetida à seleção recorrente, sem a r e d u ç ã o da s u a tem sido mais usada com as espécies alógamas, com as quais os
variabilidade. Os ciclos podem ser repetidos tantas vezes cruzamentos são relativamente fáceis de ser obtidos. Com as
quanto n e c e s s á r i o para a elevação da frequência de alelos espécies a u t ó g a m a s , em consequência das dificuldades n a
favoráveis n a p o p u l a ç ã o . obtenção das sementes híbridas, a adoção deste método
depende da disponibilidade da macho-esterilidade ou de outros
sistemas que facilitam os cruzamentos. O uso de gameticidas,
produtos químicos que inviabilizam os grãos de pólen, pode
facilitar a execução da seleção recorrente nessas espécies.

X 0 X : X

Figura 22.1 - Progresso genético da população original com dois


ciclos de seleção recorrente (x >X > X ),
2 : 0

mantendo a sua variabilidade genética

A seleção recorrente é u m m é t o d o de melhoramento


cíclico em que as t r ê s etapas s ã o conduzidas repetidamente
a t é que a frequência de alelos favoráveis n a p o p u l a ç ã o atinja
níveis satisfatórios ( F i g u r a 22.2). A maior f r e q u ê n c i a de
alelos favoráveis na população resulta em maior
probabilidade de sucesso n a e x t r a ç ã o de linhagens
F i g u r a 22.2 - M é t o d o da seleção recorrente com os ciclos de
superiores. Após a melhoria da população, esta pode ser
utilizada diretamente como novo c u l t i v a r ou como fonte de seleção a p a r t i r da p o p u l a ç ã o i n i c i a l Co.
linhagens superiores. Nesse particular, este m é t o d o pode ser
utilizado n a a d a p t a ç ã o do germoplasma exótico à s condições A seleção recorrente tem sido avaliada em diversas
locais. espécies e para as mais variadas características agronómicas,
tendo a sua eficiência sido comprovada por muitos
Os métodos de seleção recorrente, em geral, são mais pesquisadores. Alguns programas de melhoramento têm-so
apropriados para objetivos no longo prazo e para características destacado pelo seu uso. Alguns exemplos são listados na Tabela
quantitativas. Embora a seleção recorrente tenha sido original- 22.1.
320 Borém e Miranda Seleção recorrente 321

Tabela 22.1 - Algumas i n s t i t u i ç õ e s que conduzem programas essa e outras r a z õ e s , são mais comumente utilizados do que
de melhoramento com seleção recorrente os interpopulacionais.

Espécie País Instituição Quando o objetivo da seleção recorrente é a melhoria


s i m u l t â n e a de duas populações, visando ao desenvolvimento
Alo gamas
de linhagens com alta capacidade de c o m b i n a ç ã o para
Milho Brasil Universidade Federal de Viçosa
o b t e n ç ã o de h í b r i d o s , a seleção interpopulacional é a mais
Milho Brasil Escola Superior de Agricultura Luiz de
indicada, embora seja m a i s complexa e demande mais m ã o
Queiroz de obra durante a sua condução.
Milho USA Universidade Estadual de Iowa
A Tabela 22.2 apresenta um resumo dos principais
Centeio Alemanha Universidade de Hohenheim métodos de seleção recorrente intrapopulacional e interpo-
pulacional.
Autógamas
Arroz Brasil Embrapa Arroz e Feijão
Tabela 22.2 - Principais m é t o d o s de seleção recorrente
Feijão Brasil Universidades Federais de Lavras e Viçosa
Soja Brasil Embrapa — Soja Métodos Referência
Cevada Canadá Universidade de Guelph Intrapopulacional
Aveia USA Universidade de Minnesota
Fenotípica Jonhson e Elbanna (1957)
Fenotípica estratificada Gardner (1961)
A população inicial, denominada população-base, a ser
submetida à seleção recorrente. pode ser c o n s t i t u í d a de Meios-irmãos Compton e Comstock (1976)
cultivares de polinização aberta, cultivares sintéticos ou Meios-irmãos modificados Hull (1945)
gerações a v a n ç a d a s de híbridos. Irmãos completos
A população deve apresentar elevado comportamento Irmãos completos modificados Hallauer e Miranda (1988)
médio e suficiente variabilidade genética para assegurar
Linhagens endogâmicas ( S S J
i ;

contínuo progresso nos vários ciclos de seleção. Entretanto,


Linhagens endogâmicas modificadas Dhillon e Khehra (1989)
pode ser difícil atender a essas duas condições simultanea-
mente, uma vez que os genótipos com melhor comportamento Interpopulacional
em geral são aparentados. Recíproca Comstock et al. (1949)
Recíproca com linhagem testadora Russell e Eberhart (1975)

Métodos de seleção recorrente Recíproca de meios-irmãos modificada I Paterniani e Vencovsky (1977)


Recíproca de meios-irmãos modificada I I Paterniani e Vencovsky (1977)
A seleção recorrente pode ser conduzida para
Recíproca de irmãos completos Hallauer e Eberhart (1970)
melhoria do comportamento de u m a ú n i c a p o p u l a ç ã o , sendo,
nesse caso, denominada intrapopulacional. Os m é t o d o s
intrapopulacionais, em geral, são de mais fácil execução e A escolha do método de seleção recorrente depende da
aplicáveis à maioria das c a r a c t e r í s t i c a s a g r o n ó m i c a s e, por característica-objeto do programa, do tipo de ação gênica que o
322 Borém e Miranda Seleção recorrente 323

melhorista deseja enfatizar, da finalidade das progénies relação entre as plantas ou sementes utilizadas para identificar
selecionadas e dos recursos disponíveis. Por exemplo, se as progénies superiores (unidade de seleção) e as plantas ou
híbridos são preferencialmente utilizados pelos produtores, os sementes utilizadas para recombinação (unidade de
métodos mterpopulacionais, que capitalizam a heterose, podem recombinação).
ser mais apropriados. Quando o objetivo é adaptar O controle parental é igual a 0,5 quando a unidade de
germoplasma exótico ou melhorar produtividade de cultivares seleção e a de r e c o m b i n a ç ã o s ã o as mesmas e somente o
e a ação gênica predominante é aditiva, recomendam-se os genitor feminino é selecionado, isto é, quando os genitores
métodos intrapopulacionais. A escolha do método de seleção femininos selecionados s ã o polinizados tanto por i n d i v í d u o s
recorrente deve, entretanto, ser baseada no ganho genético
selecionados quanto por n ã o selecionados da p o p u l a ç ã o .
estimado, conforme se segue:
O controle parental é igual a 1 quando a unidade de
seleção e de recombinação é a mesma e ambos os genitores são
selecionados.
O controle parental é igual a 2 quando a unidade de
em que:
G S : ganho genético por ciclo de seleção; seleção e de r e c o m b i n a ç ã o s ã o diferentes e ambos os
K : diferencial de seleção em d e s v i o - p a d r ã o (Tabela genitores s ã o selecionados (Tabela 22.4).
22.3);
C: coeficiente de controle parental; Tabela 22.4 - Componentes utilizados nas f ó r m u l a s p a r a esti-
m a ç ã o dos ganhos genéticos em diferentes
: v a r i â n c i a genética; e
m é t o d o s de seleção recorrente
o"p : v a r i â n c i a fenotípica. '
Controle 2
Seleção Recorrente Estações
Parental
4 °WG
Tabela 22.3 - Diferencial de seleção em d e s v i o - p a d r ã o (k) 2 2 2 2
CTA G D ° A ° D

Intensidade de Seleção (%) k Fenotípica


Apenas genitor selecionado 1 1/2 1 1 0 0
1 2.64
• Ambos os genitores 1 1 1 1 0 0
2 2.42
selecionados antes do
5 2.06
florescimento
10 1.75
* Genitores autofecundados 2 1 1 1 0 0
15 1.55
selecionados
20 1.40
Meios-irmãos
Espiga por fileira modificado
Controle parental • U m genitor selecionado 1 172 174 0 3/4 1
antes do florescimento
A variância genética aditiva é influenciada pelo controle Continua.
parental (c) exercido n a recombinação dos indivíduos
selecionados. O controle parental n a seleção recorrente é a
324 Borém e Miranda Seleção recorrente 325

Tabela 22.4 - Cont. A seleção é baseada exclusivamente no fenótipo dos


Controle 2
0"WG
i n d i v í d u o s da população, isto é, nenhuma informação do
Seleção Recorrente Estações
Parental g e n ó t i p o é utilizada como critério de seleção.
5 2 2 2
° A CTD U * Neste método, a população original é avaliada fenoti-
Ambos os genitores 2 1 1/4 0 3/4 1
picamente e os melhores indivíduos são selecionados. Igual
selecionados antes do
n ú m e r o de sementes de cada indivíduo selecionado é agrupado
florescimento
para constituir a população a ser submetida ao segundo ciclo de
População como testadora
seleção (Figura 22.3). Esse procedimento é repetido a t é que a
Recombinação com •2 1 1/4 0 3/4 1
população atinja u m nível satisfatório de comportamento ou
sementes remanescentes
Recombinação com 3 2 1/4 0 3/4 1
que o método n ã o apresente resposta adequada à seleção.
sementes de
autofecundação

Irmãos Completos 2 1 1/2 1/4 1/2 3/4

Progénies Endogâmicas
• Sai 3 1 1 1/4 1/2 1/2

• Sl2 4 1 3/2 3/16 1/4 1/4

• Saa 5 1 7/4 7/64 1/8 1/8

- SM 6 1 15/8 157256 1/16 1/16 Ci


(Tç : v a r i â n c i a g e n é t i c a entre p r o g é n i e s .
F i g u r a 22.3 - M é t o d o da seleção recorrente fenotípica.
^WG ' v a r i â n c i a g e n é t i c a dentro de p r o g é n i e s .

O ganho genético por ciclo de seleção é dado pela fórmula:


Métodos intrapopulacionais
Seleção recorrente fenotípica
A p r i m e i r a referência ao termo seleção recorrente
fenotípica foi feita por Johnson e E l b a n n a em 1957. E s t e é, em que:
provavelmente, o mais antigo m é t o d o de melhoramento G S : ganho genético por ciclo de seleção;
utilizado em espécies a l ó g a m a s , pois, quando os primeiros K : diferencial de seleção em d e s v i o - p a d r ã o (Tabela
agricultores selecionavam as melhores plantas de milho p a r a 22.3);
ser utilizadas como fonte de semente para a safra seguinte, C: coeficiente de controle parental;
estavam realizando a seleção recorrente fenotípica
o : v a r i â n c i a g e n é t i c a aditiva;
2A

inconscientemente. E t a m b é m denominada seleção m a s s a l


recorrente (sentido amplo), seleção recorrente simples e a : v a r i â n c i a genética devida ao desvio da dominância;
2 D

seleção recorrente fenotípica restrita. a : variância


w de ambiente dentro das parcelas
(microambiente);
326 Borém e Miranda Seleção recorrente 327

0"b: v a r i â n c i a de ambiente entre as parcelas O ganho genético por ciclo de seleção é dado pela fórmula:

(macroambiente);
2 * • 2 2 2
o : v a r i â n c i a devido ao erro o = a + a ;
z e w b

a : v a r i â n c i a da i n t e r a ç ã o aditiva com o ambiente; e


2 A E

a 2 D E : v a r i â n c i a em r a z ã o da i n t e r a ç ã o da d o m i n â n c i a Os diversos componentes da e q u a ç ã o anterior e s t ã o


descritos n a f ó r m u l a do ganho g e n é t i c o n a s e l e ç ã o
com o ambiente.
recorrente f e n o t í p i c a .
E s t e m é t o d o possui maior potencial para c a r a c t e r í s - O benefício da estratificação do campo experimental
ticas de a l t a herdabilidade e tem sido utilizado com maior em sub-blocos pode ser detectado pela a u s ê n c i a do
frequência em espécies forrageiras e nos e s t á d i o s iniciais de componente de v a r i â n c i a a , n a e q u a ç ã o do ganho genético
2

a d a p t a ç ã o de germoplasma exótico, isto é, no p r é -


melhoramento. por seleção, em contraste com a e q u a ç ã o do m é t o d o da
seleção recorrente fenotípica simples.

Seleção recorrente fenotípica estratificada


E m 1961, Gardner p r o p ô s u m a modificação n a Seleção recorrente entre progénies de meios-irmãos
metodologia clássica de seleção recorrente fenotípica, visando A seleção com base no comportamento das p r o g é n i e s
reduzir a v a r i â n c i a ambiental. E l e afirmava que as v a r i a ç õ e s ( t a m b é m conhecidas como famílias) é mais eficiente do que a
do ambiente, em virtude principalmente das diferenças de realizada apenas com base no fenótipo dos i n d i v í d u o s . Esse
fertilidade e umidade, dificultavam a a v a l i a ç ã o e seleção de princípio, i n s t i t u í d o por L o u i s de V i l m o r i n no final do século
plantas. E s s e autor p r o p ô s a estratificação do campo X I X , talvez seja u m dos mais importantes estabelecidos no
experimental em sub-blocos, selecionando u m n ú m e r o melhoramento de plantas.
previamente definido de i n d i v í d u o s por sub-blocos, evitando
A seleção baseada n a a v a l i a ç ã o de algum tipo de
que maior n ú m e r o de plantas fosse selecionado em á r e a s com
p r o g é n i e permite que o melhorista faça as avaliações em
u m ambiente mais favorável ( F i g u r a 22.4).
testes com r e p e t i ç õ e s conduzidas em diferentes ambientes.
Dessa forma, as m é d i a s das p r o g é n i e s expressam menor
v a r i â n c i a fenotípica do que as estimativas p a r a plantas
individuais, ou seja, aquelas apresentam maior a c u r á c i a do
que estas. A r e d u ç ã o da v a r i â n c i a fenotípica contribui p a r a
maior ganho genético esperado.
E x i s t e m diversos m é t o d o s de seleção recorrente entre
p r o g é n i e s de m e i o s - i r m ã o s . A seguir, s e r ã o apresentados
alguns dos procedimentos de valor histórico.

Figura 22.4 - Método da seleção recorrente fenotípica estra-


tificada.
328 Borém e Miranda 329

E s p i g a p o r f i l e i r a s - E s t e m é t o d o foi proposto por Hopkins


(1899) na Universidade de Illinois, E U A , visando à a l t e r a ç ã o
\ Seleção das melhores
do c o n t e ú d o de óleo e p r o t e í n a dos g r ã o s de milho ( F i g u r a
22.5). A . A A plantas (obtenção de
progénies)

Seleção das melhores plantas


(obtenção de progénies)

Avaliação e recombina-
ção das progénies
Plantio de cada espiga
selecionada em uma fileira
Ri Rn Rui
Figura 22.6 Método da seleção espiga por fileira modificado. O
F i g u r a 22.5 - M é t o d o da seleção espiga por fileira. bloco de recombinação é plantado em isolamento.
Plantas individuais são selecionadas no bloco de
Selecionam-se em u m a p o p u l a ç ã o plantas individuais recombinação e indicadas por o. F i l e i r a (• ••)
e colhem-se suas espigas. A s sementes de cada espiga são constituída pelo bulk de todas as progénies
semeadas em fileiras individuais em u m ú n i c o local e sem (polinizador). Fileiras (—) progénies de meios-
repetições. A s plantas intercruzam-se aleatoriamente e, por i r m ã o s (despendoadas).
ocasião da m a t u r a ç ã o , colhe-se . a espiga de cada planta
selecionada, iniciando novo ciclo de seleção ( F i g u r a 22.5). Nesse método, a seleção entre progénies é baseada na
U m a vez que o genitor masculino é a p r ó p r i a p o p u l a ç ã o , as comparação das m é d i a s das progénies de meios-irmãos. A
p r o g é n i e s s ã o de m e i o s - i r m ã o s maternos. seleção dentro das progénies é realizada no bloco de
O ganho genético esperado por seleção neste m é t o d o recombinação gênica (Riv), em que todas as progénies são
pode ser estimado pela seguinte fórmula: plantadas individualmente para serem utilizadas como
genitores femininos. Nesse bloco, u m bulk constituído por igual
n ú m e r o de sementes de todas as progénies é semeado,
alternadamente, para polinizar os genitores femininos.
Com base nos dados obtidos na avaliação das progénies,
selecionam-se as melhores progénies e u m n ú m e r o de plantas
dentro de cada progénie de meios-irmãos no bloco de
E s p i g a por f i l e i r a modificado - Lonnquist (1964) recombinação. A s sementes das plantas selecionadas nas
introduziu, no m é t o d o proposto por Hopkins (1899), o uso de melhores progénies são utilizadas para iniciar novo ciclo de
repetições, locais e a seleção entre e dentro de p r o g é n i e s de seleção.
m e i o s - i r m ã o s (Figura 22.6). E s t e m é t o d o é conhecido como
s e l e ç ã o entre e d e n t r o de p r o g é n i e s de m e i o s - i r m ã o s .
330 Borém e Miranda Seleção recorrente 331

O ganho genético esperado pode ser estimado por:


Seleção recorrente entre progénies de meios-irmãos
K Vi A aj
X k Vi % g\
2
para capacidade de combinação
E x i s t e m i n ú m e r a s v a r i a ç õ e s do m é t o d o original que
incluem uso de diferentes tipos de testadores, a exemplo da
p r ó p r i a p o p u l a ç ã o , u m a linhagem e n d o g â m i c a , u m cultivar
em que: sintético ou mesmo u m cultivar de polinização aberta (Figura
k : diferencial de seleção em d e s v i o - p a d r ã o ,
2 entre 22.7). Nesses casos, alguns autores preferem designar este
m é t o d o de seleção recorrente p a r a capacidade específica ou
progénies de m e i o s - i r m ã o s ;
geral de c o m b i n a ç ã o . O u t r a v a r i a ç ã o observada com
k : diferencial de seleção em d e s v i o - p a d r ã o , dentro de
2 f r e q u ê n c i a entre os diferentes esquemas deste m é t o d o é a
progénies de m e i o s - i r m ã o s ; unidade de r e c o m b i n a ç ã o utilizada. Alguns melhoristas
empregam sementes remanescentes das p r o g ê - n i e s em
a\ v a r i â n c i a devido ao erro, equivalente a (o , + o~ )^-2 2
a v a l i a ç ã o , outros preferem sementes de a u t o f e c u n d a ç ã o .
r: n ú m e r o de repetições; e A seguir s e r á descrito o m é t o d o em que u m a linhagem
/: n ú m e r o de localidades. e n d o g â m i c a é utilizada como testadora e a r e c o m b i n a ç ã o é
realizada com sementes remanescentes das p r o g é n i e s de
Obs.: Os demais componentes foram anteriormente definidos. m e i o s - i r m ã o s selecionadas.

Testador
Método proposto por Compton e Comstock (1976) t
A . A ... A Obtenção de progénies
Compton e Comstock . (1976) sugeriram u m a
modificação n a metodologia de Lonnquist (1964), isto é,
*\
apenas as p r o g é n i e s selecionadas seriam utilizadas no bloco
de r e c o m b i n a ç ã o . Esse bloco deve, portanto, ser plantado
a p ó s a n á l i s e dos dados e seleção das melhores p r o g é n i e s , com
base nas repetições R i a R m . Avaliação das progénies

E s s a modificação contribui para maior ganho genético


esperado, em virtude da elevação do coeficiente de controle
dos genitores de 0,5 para 1,0.

O ganho genético esperado no m é t o d o espiga por Recombinação das


fileira, modificado por Compton e Comstock, pode ser progénies com sementes
calculado como se segue: remanescentes

Figura 22.7 - Método da seleção recorrente entre progénies de


k, 'Á ai k 2 % o\ meios-irmãos, utilizando-se a população como tes-
tadora e sementes remanescentes das progénies
selecionadas para a recombinação gênica.
332 Borém e Miranda Seleção recorrente 333

E m campo isolado, a p o p u l a ç ã o original é despen- por cruzamentos controlados e por a u t o f e c u n d a ç ã o . No caso


doada e a polinização é realizada pelas fileiras da linhagem de p o p u l a ç õ e s com plantas n ã o prolíficas, em geral, n ã o se
testadora plantada de maneira intercalada n a p o p u l a ç ã o . realiza a a u t o f e c u n d a ç ã o . A s p r o g é n i e s de i r m ã o s completos
Seleciona-se determinado n ú m e r o de plantas. Cada indivíduo s ã o avaliadas em testes comparativos p a r a identificação dos
selecionado d e v e r á ter u m a espiga, resultado de livre i n d i v í d u o s superiores. A r e c o m b i n a ç ã o e formação da
cruzamento, colhida separadamente. A s sementes de livre p o p u l a ç ã o a ser submetida a novo ciclo de seleção s ã o
polinização s ã o utilizadas para a v a l i a ç ã o das p r o g é n i e s de realizadas, utilizando-se as sementes de a u t o f e c u n d a ç ã o , que
m e i o s - i r m ã o s , sendo parte delas armazenada p a r a posterior correspondem aos genitores dos irmãos completos
r e c o m b i n a ç ã o entre as p r o g é n i e s selecionadas. A a v a l i a ç ã o selecionados. E m u m campo isolado, esses genitores s ã o
das p r o g é n i e s é conduzida em u m teste comparativo, semeados em fileiras alternadas com o polinizador
conforme os procedimentos e s t a t í s t i c o s apro-priados. Após c o n s t i t u í d o por u m a m i s t u r a dos i n d i v í d u o s selecionados. Os
coleta e a n á l i s e dos dados, selecionam-se as melhores cruzamentos controlados, envolvendo todas as possíveis
progénies. Utilizando sementes remanescentes que combinações entre os genitores, geram as p r o g é n i e s de
correspondem à s p r o g é n i e s de m e i o s - i r m ã o s selecionadas, i r m ã o s completos, que p o d e r ã o ser avaliadas no novo ciclo de
efetua-se a r e c o m b i n a ç ã o gênica, reconstituindo a p o p u l a ç ã o seleção ( F i g u r a 22.8).
que p o d e r á ser submetida a novo ciclo de seleção.
O ganho genético esperado neste m é t o d o pode ser
estimado pela seguinte fórmula:

Obtenção de progénies

/r/) + ( V 4 ^ / / ) + i / ^
E 4

Seleção recorrente entre progénies de irmãos


Avaliação das progénies
completos (germanos)
E x i s t e m i n ú m e r a s v a r i a ç õ e s deste esquema de seleção Ri RII RUI
recorrente, que é t a m b é m denominado seleção recorrente
entre progénies de i r m ã o s germanos. N a metodologia
tradicional, as p r o g é n i e s de i r m ã o s completos s ã o obtidas do Recombinação das progénies
cruzamento entre pares de plantas selecionadas n a superiores
p o p u l a ç ã o . Dessa forma, a seleção de plantas deve ser
alizada antes do florescimento. Os i n d i v í d u o s selecionados F i g u r a 22.8 - M é t o d o da seleção recorrente entre progénies de
s ã o cruzados em pares e, simultaneamente, submetidos à i r m ã o s completos (germanos).
autofecundação.
A prolificidade, c a r a c t e r í s t i c a da planta que produz Hallauer e Miranda (1988) descrevem uma metodologia
mais de uma espiga, é importante n a o b t e n ç ã o de sementes de condução da seleção recorrente entre progénies de irmãos
334 Borém e Miranda Seleção recorrente

completos em que a fase de recombinação das progénies N a seleção recorrente com p r o g é n i e s S 2 , faz-se a
selecionadas e a de obtenção de progénies para o ciclo de seleção seleção de i n d i v í d u o s fenotipicamente superiores n a
seguinte são realizadas simultaneamente, semeando-se os p o p u l a ç ã o original, submetendo-os à a u t o f e c u n d a ç ã o para
genitores selecionados em fileiras emparelhadas. Os o b t e n ç ã o de p r o g é n i e s S i . Dentro de cada progénie, plantas
cruzamentos controlados, envolvendo todas as possíveis são selecionadas e autofecundadas para o b t e n ç ã o das
combinações entre genitores, geram as progénies que poderão p r o g é n i e s S 2 . P a r t e das sementes S 2 de cada p r o g é n i e é
ser avaliadas no ciclo de seleção seguinte. E s s a modificação utilizada para a v a l i a ç ã o e parte é preservada p a r a a
resulta em menor tempo para conclusão de um ciclo de seleção r e c o m b i n a ç ã o gênica. Após a avaliação, as p r o g é n i e s
do que a metodologia tradicional. superiores s ã o identificadas. Utilizando as sementes
A seleção recorrente entre progénies de irmãos remanescentes, que correspondem a p r o g é n i e s selecionadas,
completos tem sido utilizada com menor frequência que os procede-se à r e c o m b i n a ç ã o gênica ( F i g u r a 22.9). E s s e m é t o d o
demais métodos intrapopulacionais. tem se mostrado eficiente p a r a a melhoria do nível geral da
p o p u l a ç ã o por s i e do comportamento de p r o g é n i e s
O ganho genético esperado na seleção entre progénies
selecionadas nesta.
de i r m ã o s completos com r e c o m b i n a ç ã o de progénies autofe-
cundadas pode ser estimado por:
Obtenção de progénies S i
G S k 2

V(<*í / ri) + (Vio ^ / /) + ( V ^


2 DE 11) + Vài + V40I

O ganho genético esperado na seleção entre progénies


de i r m ã o s completos de populações n ã o prolíficos pode ser Obtenção de progénies S2 em
plantas selecionadas em cada
estimado pela seguinte fórmula:
fileira

GS= k l Á o 2 *
Avaliação das progénies S2 em
ensaios com repetição
Ri Rn Riu
Seleção recorrente entre progénies endogâmicas
Recombinação das progénies com
A s p r o g é n i e s S i ou S 2 , resultantes, respectivamente, sementes remanescentes S2 em
de u m a e duas autofecundaçÕes de i n d i v í d u o s selecionados, campos isolados
t ê m sido utilizadas no melhoramento de espécies a u t ó g a m a s
e a l ó g a m a s . A s p r o g é n i e s e n d o g â m i c a s s ã o empregadas para
F i g u r a 22.9 - M é t o d o da seleção recorrente entre p r o g é n i e s
a v a l i a ç ã o das plantas selecionadas. Identificadas as plantas
endogâmicas S2.
superiores, sementes remanescentes das plantas S i : 2 s ã o
utilizadas para promover a r e c o m b i n a ç ã o gênica.
336 Borém e Miranda. Seleção recorrente 337

P r o g é n i e s selecionadas de populações submetidas à


seleção recorrente entre p r o g é n i e s e n d o g â m i c a s t ê m GS
apresentado menor perda de vigor quando submetidas à 16 u D
autofecundação.
N a seleção recorrente entre p r o g é n i e s e n d o g â m i c a s , a
v a r i â n c i a genética aditiva é determinada pela e q u a ç ã o (1+F) O ganho genético esperado com a seleção recorrente
entre p r o g é n i e s So:i pode ser estimado pela seguinte
a , em que F e o coeficiente de endogamia. O efeito da
A
fórmula:
endogamia n a v a r i â n c i a g e n é t i c a aditiva é apresentado n a
Tabela 22.5.
O melhorista deve a v a l i a r a r e l a ç ã o custo-benefício n a
o b t e n ç ã o de p r o g é n i e s e n d o g â m i c a s . E m b o r a o ganho
genético esperado com estes m é t o d o s seja maior, o tempo
adicional requerido para obtenção das progénies
Diversas v a r i a ç õ e s da seleção recorrente entre
e n d o g â m i c a s deve ser considerado. E m programas de
p r o g é n i e s e n d o g â m i c a s t ê m sido propostas. Dhillon e K h e h r a
melhoramento aplicados, o ganho genético por ano é u m a das
(1989) apresentaram u m a modificação interessante, em que
melhores maneiras de a v a l i a r a eficiência dos métodos
as fases de a v a l i a ç ã o e r e c o m b i n a ç ã o de p r o g é n i e s são
empregados.
agrupadas. Com essa modificação, u m ciclo de seleção entre
p r o g é n i e s Soi pode ser completado em duas estações de
T a b e l a 22.5 - Coeficiente de endogamia e v a r i â n c i a s g e n é t i c a plantio em vez das t r ê s comumente requeridas. Espera-se
aditiva e de d o m i n â n c i a entre e dentro de que o ganho genético por ano com essa modificação seja
progénies endogâmicas maior que quando se empregam outros m é t o d o s de seleção
recorrente intrapopulacionais.
Coeficiente de Entre Dentro
Endogamia ( F )
Métodos interpopulacionais
Geração 2 2 2 2
a A ff A °D
So:l 0 1 1/4 1/2 1/2 Quando o objetivo do programa de melhoramento é o
Sl:2 3/2 3/16 1/4 1/4 desenvolvimento de h í b r i d o s , os m é t o d o s interpopulacionais
S2:3 % 7/4 7/64 1/8 1/8 ou de seleção recorrente recíproca podem ser mais
S3:4 7/8 15/8 15/256 1/16 1/16
apropriados, porque capitalizam os efeitos aditivos e de
S-l:5 15/16 31/16 31/1024 1/32 1/32
dominância.
O ganho genético esperado com a seleção recorrente Inicialmente propostos por Comstock et al. (1949), estes
entre p r o g é n i e s Si:2 pode ser estimado pela seguinte fórmula: métodos visam ao melhoramento de duas populações
s i m u l t â n e a - m e n t e , por meio de modificações de suas
frequências gênicas, de forma complementar, mantendo-as
geneticamente distintas.
338 Borém e Miranda Seleção recorrente 339

Nestes m é t o d o s de seleção recorrente, u m a p o p u l a ç ã o Seleção recorrente recíproca entre meios-irmãos


é utilizada como testadora da outra, o que lhes confere a modificada I
vantagem de aumento da resposta h e t e r ó t i c a .
Neste m é t o d o s ã o e x t r a í d o s p r o g é n i e s de meios-
i r m ã o s em dois campos isolados correspondendo cada u m a
Seleção recorrente recíproca entre meios-irmãos u m a p o p u l a ç ã o ( F i g u r a 22.11). C a d a p r o g é n i e da p o p u l a ç ã o
Neste método, duas populações são utilizadas A é plantada em espiga por fileira intercalada com plantas
simultaneamente: indivíduos (genitores masculinos) da doadoras de p ó l e n da outra p o p u l a ç ã o B . A s p r o g é n i e s da
população A são cruzados com 5 a 10 indivíduos (genitores p o p u l a ç ã o A devem ser despendoadas. O inverso t a m b é m
femininos) da população B , que atuam como testadores (Figura deve ser feito, isto é, plantam-se as p r o g é n i e s da p o p u l a ç ã o B
22.10). Os indivíduos utilizados como genitores masculinos em espigas por fileiras e, como polinizador fileiras da
(polinizadores) são simultaneamente autofecundados. Esse população A.
mesmo procedimento é conduzido no sentido oposto, utilizando- Os híbridos interpopulacionais A x B e B x A são avaliados
se indivíduos da população B como genitores masculinos e da em experimentos com repetições em vários locais.
população A como genitores femininos. A s progénies de meios- A s sementes remanescentes de cada população das
i r m ã o s obtidas são avaliadas em testes comparativos de progénies de M I , correspondentes aos melhores híbridos
produção. A s sementes de autofecundação, correspondentes aos interpopulacionais, são utilizadas para dar sequência ao
genitores masculinos das progénies superiores, são utilizadas método.
para a recombinação gênica.
Ohtençãn do progénie
B de MI em campos
isolados

f
-— *
Testadores
03
m

4*4*4
o Obtenção de
uS progénies de meios- Plantio espiga por
irmãos e S i fileira com testador
o da outra população

Avaliação das 0-9 9 ? d $ $ $ d


progénies de meios-
Avaliação das
irmãos
progénies
Ri R I I RUI RI R n RUI intervarietais AXB
Recombinação das
progénies S i superiores
: III 1 II IIII
: : I I II -II I -I IIl
: Recombinação das
em campos isolados • : : : : melhores progénies
• : : : i : dentro de cada
população
Figura 22,10 - M é t o d o da seleção recorrente recíproca.
F i g u r a 22.11 - M é t o d o da seleção recorrente recíproca de
m e i o s - i r m ã o s modificado I .
340 Borém e Miranda Seleção recorrente 341

Seleção recorrente recíproca entre progénies de irmãos Referências


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Endogamia e heterose 345

Trabalhando em pesquisa básica no Instituto Carnegie


em Cold Spring Harbor, Nova York, Shull demonstrou, de
forma elegante, a aplicação prática de seus estudos básicos
sobre endogamia. Como resultado de seu trabalho original e de
seus métodos de melhoramento que se sucederam, milhares de

Endogamia e
toneladas de milho foram adicionadas à produção mundial.
O bioquímico East (1908) também desenvolveu a base
científica da endogamia, mas as publicações de Shull

Heterose chamaram mais a atenção da comunidade científica por serem


claras e mais abrangentes. Shull, estudando herdabilidade de
altura de planta, número de fileiras de grãos por espiga e
produtividade, publicou o célebre artigo "A composição de um
campo de milho" (American Breeders Association, 1908). Nesse
artigo, ele relata que "um campo de milho é composto por
muitos híbridos complexos, os quais perdem vigor com a
Endogamia endogamia", e que o melhorista deve procurar manter as
melhores "combinações híbridas".
Endogamia é decorrente de sistemas de acasalamento
Desenvolvendo suas pesquisas na Estação
que aumentam a homozigose, como os cruzamentos entre
Experimental de Connecticut, East chegou a conclusões
indivíduos aparentados (Figura 23.1). Os efeitos prejudiciais da semelhantes às de Shull, as quais proporcionaram maior
endogamia em plantas e animais são conhecidos pelo homem credibilidade aos resultados publicados.
há vários séculos. Desde a mais remota história, o casamento
É evidente que o aumento da homozigose pode
entre pessoas com estreito grau de parentesco era resultar de cruzamentos entre irmãos completos, meios-
desestimulado, com base nas observações de nascimentos de irmãos e pais-filhos, além da autofecundação.
crianças com defeitos congénitos. Na Figura 23.1 estão esquematizados os sistemas de
Durante o século X V I , quando diversas raças bovinas emdogamia mais comuns, enquanto na Tabela 23.1 mostram-se
eram purificadas, os melhoristas de animais encontraram os coeficientes de endogamia desses sistemas em diferentes
sérios problemas relativos à fertilidade quando cruzamentos gerações.
entre indivíduos aparentados eram rotineiros. A xB AxB A ^ - ^ B A B C
Koelrenter (1776), notável biólogo alemão, foi um dos
primeiros a observar o vigor híbrido originário de cruzamentos i 1 1 1 1 / v
Fi FixA C ^ x ^ D D x E
entre indivíduos não aparentados. Diversos outros biólogos
estudaram a endogamia nos cem anos que sucederam os 1® i i i
F-A RCi População População
trabalhos de Koelrenter, mas os primeiros estudos Autofecundação Ketrocruzamcnto Irmãos Completos Meios-Irmãos
cientificamente embasados sobre o conceito atual de endogamia Figura 23.1 - Sistemas de endogamia mais comuns.
e de heterose são creditados ao geneticista George H . Shull.
346 Barém e Miranda 347
Endogamia e heterose

o
As espécies autógamas não expressam depressão em
-+J
virtude da endogamia, como ocorre nas alógamas. Nas
'&
espécies alógamas, a manifestação da perda de vigor não é
a uniforme. Cebola, cucurbitáceas, centeio e girassol são
o O o o o 00 as
O iO CO OS (M IO espécies consideradas tolerantes à endogamia quando
n o t>
CO o
LO as as
ÍD
o o »o t- 00 00
o" o" o" o" o" o" o" cT o" o" comparadas ao milho ou alfafa, que expressam grande perda
e de vigor. Nas espécies alógamas portadoras de mecanismos
de autoincompatibilidade, a autofecundação é
completamente excluída do modo de reprodução.

Consequências da endogamia

1. Aumento progressivo da homozigose, em razão das


o LO os IO 1—1 00 as <M O sucessivas gerações de acasalamento endogâmico, fixando
o Oí I—<
o 00 o CD 1—< LO
i-H CO CO LO LO
o CS CD CC
os caracteres.
o" o" o o" o" o" o" o" o" o"
2. Frequência genotípica alterada, embora a frequência
alélica não se altere.
3. Aparecimento de características indesejáveis ou anormali-
dades nas espécies alógamas. As mais frequentes são as
a deficiências de clorofila, que geram plantas albinas ou
O o LO 00 OS Tf CD CO os
N o
LO
LO
[> CO CO
00 CS OS
as os estriadas. Outras anomalias que podem ocorrer são
00 os as as as OS as OS
U
O
o" o' o" o" o" o" d cT o" o" formação de sementes no pendão, esterilidade e nanismo.
-to
Q)
tf
4. Perda de vigor generalizada (ou depressão por endogamia)
e redução da produtividade. E m geral, as espécies sofrem
O
redução da altura e do tamanho de espiga e atraso no
O
ciclo.
a o o
IO
LO X
CO
as
CD
CD 00 as
o
LO t> 00 as as as as
00 as as os as as as os 5. Formação de 2 linhas uniformes com o aumento da
n
d" o" o" o" o" o" o" o" o" o"
O
homozigose, sendo n o número de genes segregantes na
3 população.
6. Redistribuição da variância genética com o aumento da
x
<D
'O
homozigose. Aumento da variância genética entre linhas e
O

2 CO Tf* LO CO
00 OS redução dentro delas.rf

ê A intensidade da perda de vigor varia de acordo com a


espécie, e essa perda persiste até a fixação de suas caracte-
348 Borém e Miranda Endogamia e heterose 349

rísticas. Por exemplo, a altura de planta em milho é fixada diploides, em virtude da segregação dissômica em
com aproximadamente cinco gerações de autofecundação, contraste com a segregação polissômica, e a segregação de
enquanto para produção de grãos se necessita, em média, de cromossomos e cromátides pode ocorrer de forma
25 gerações. polissômica. Como consequência, a redução de vigor
observada pode ser intermediária entre a esperada de
Quantificação d a endogamia diploides e a de poliploides, com herança polissômica
A endogamia de uma população foi definida, por completa.
Wright (1922), como a correlação dos valores genéticos Na Figura 23.2 apresenta-se, de forma esquemática, a
entre membros da população. Para Malecot (1948), redução de vigor em razão do coeficiente de endogamia para
endogamia é a probabilidade de dois alelos de um locus espécies diploides e tetraploides.
terem origens idênticas.
Vigor
Good e Hallauer (1977) demonstraram que a
depressão causada pela endogamia não ocorre em razão do 100 -

sistema de acasalamento, mas, sim, do coeficiente de


endogamia.
50 — Tetraploide

E n d o g a m i a e m poliploides Diploidu

A redução do vigor em diploides é diretamente •Geração de autofecundação


proporcional à do número de loci em heterozigose, isto é, F i =
Aa, F2 = 1 AA: 2 Aa: 1 aa, com 50% de redução na
heterozigose. E m tetraploides, espécies com quatro alelos em Figura 23.2 - Redução do vigor híbrido em indivíduos
cada locus, a taxa de redução da heterozigose ocorre diploides e tetraploides.
lentamente com as gerações de autofecundação. O resultado
de uma autofecundação em um duplex (Aaaa) é dado por
(AA+4Aa+aa) , e o desenvolvimento algébrico dessa equação Dewey (1966), estudando diferentes ploidias em
resulta em: 1AAAA + SAAAa + 18AAaa + 8Aaaa + 1 aaaa, espécies forrageiras, concluiu, com base em gerações de
isto é, um indivíduo completamente recessivo, nuliplex, em autofecundação, que diploides sofrem a maior redução de
38. A medida que a ploidia aumenta, a heterozigose é vigor quando comparados com tetraploides e hexaploides,
reduzida ainda mais lentamente com as autofecundações. enquanto os hexaploides apresentam a menor redução. Nesse
Knquanto em indivíduos F 1 diploides uma geração de estudo, Dewey comparou número de gerações de
nutofocundação reduz a heterozigose em 50%, em autofecundação e não coeficiente de endogamia. Com uma
tetraploides essa taxa é de somente 5,6%. geração de autofecundação, o coeficiente de endogamia será
mínimo para os hexaploides e máximo para os diploides.
Km geral, a redução do vigor em autopoliploides Esse autor afirmou que os poliploides acumulam maior
pode não nuguir um padrão definido, como observado em
350 Borém e Miranda Endogamia e heterose 351

número de aberrações cromossômicas do que os diploides, em Um dos primeiros passos para o entendimento da
razão de sua maior capacidade de mantê-las acobertadas. heterose é reconhecer que esta e a endogamia são as duas
faces de um só fenómeno.
A seleção gamética pode eliminar a maioria das
aberrações cromossômicas em diploides, enquanto o efeito
M a n i f e s t a ç ã o d a heterose
tamponante de um ou mais genomas em autopoliploides
dificulta a eliminação de tais aberrações. Dewey relatou ainda A heterose tem sido observada na maioria das
que a perda de vigor em diploides é condicionada espécies, incluindo as autógamas.
primariamente por alelos recessivos deletérios e que, em A manifestação do vigor híbrido pode ser observada
autopoliploides, a depressão causada pela endogamia é na área foliar, no desenvolvimento do sistema radicular, na
resultado não só desses alelos, mas também das aberrações altura de planta, na produtividade, na taxa fotossintética, no
cromossômicas. metabolismo celular, no tamanho de célula, no tamanho de
fruto, na cor de fruto, na sua precocidade etc.
Resultados experimentais mostram que a perda de vigor
Para o melhorista de espécies olerícolas ou frutíferas,
em poliploides é maior do que em diploides para o mesmo
o aspecto visual e o tamanho de fruto são muitas vezes mais
coeficiente de endogamia, sendo também maior nestes para o importantes do que a própria produtividade. Por exemplo, o
mesmo número de autofecundações (BUSBICE; W I L S I E , 1966; mercado do mamão-havaí valoriza frutos com peso médio de
DUNBIER; BINGHAM, 1975; L A M K E Y ; D U D L E Y , 1984). 200 a 250 gramas. Porém, a heterose tornar-se-á indesejável
se a sua manifestação resultar em frutos com peso acima
Heterose desses valores.

Heterose ou vigor híbrido é o aumento do vigor, da B a s e s genéticas d a heterose


altura de planta, do conteúdo de carboidratos, da produtividade
e da intensidade de outros fenómenos fisiológicos, decorrente do As principais hipóteses explicativas da heterose e
cruzamento entre indivíduos contrastantes. Do ponto de vista endogamia datam do início do século X X , quando esses
académico, o híbrido expressa heterose quando é superior à fenómenos foram descobertos. Durante as décadas que se
média dos genitores e, do ponto de vista comercial, quando é sucederam, centenas de estudos foram conduzidos visando ao
superior ao melhor genitor. melhor entendimento dos princípios genéticos que controlam
a heterose.
Três semanas antes do início da Primeira Guerra
Mundial, George A. Shull cunhou o termo heterose, em uma
palestra em Berlim, com as seguintes palavras: "Para evitar Hipótese da dominância
a implicação de que todas as diferenças genotípicas que
Davenport (1908) publicou os primeiros dados acerca
estimulam a divisão celular, o crescimento e outros
fenómenos fisiológicos sejam de natureza mendeliana e do assunto, os quais, dois anos mais tarde, resultaram na
também para ser mais sucinto, eu sugiro que, em vez da formulação da hipótese da dominância.
terminologia estímulo da heterozigose, o termo heterose seja E m 1910, Andrew B . Bruce apresentou a primeira
tido ta do." explicação genética da heterose com base nas interações de
dominância ( R I C H E Y , 1946). Essencialmente, a explicação de
352 Borém e Miranda Endogamia e heterose 353

Bruce é que, em um cruzamento de duas linhagens, o número O conceito que muitos melhoristas têm de que o ganho
médio de loci de homozigotos recessivos é menor que o de cada genético resultante do processo de endogamia e subsequente
uma das linhagens. Bruce afirma: "Se assumirmos que a hibridação é devido à eliminação de alelos indesejáveis está
dominância está positivamente correlacionada com vigor, o fundamentado na hipótese da dominância.
cruzamento de duas linhagens endogâmicas resultará em Nos primeiros anos após a proposição das principais
maior vigor que o das linhagens em conjunto." Esse autor hipóteses explicativas da heterose, estas foram muito
postulou a existência de uma correlação positiva entre alelos questionadas em vários periódicos especializados. A hipótese
recessivos e efeitos deletérios. Com base nessa hipótese, Bruce
da dominância sofreu quatro objeções nos fóruns de debate.
considera as alógamas como portadoras de genes deletérios
A primeira é que alguns pesquisadores a consideravam
recessivos, que, em muitos casos, permanecem acobertados
muito simplista e não explicativa. A segunda refere-se à
pelos alelos dominantes.
distribuição na geração F2, que deveria ser assimétrica, do
Com as sucessivas gerações de autofecundação, a tipo (3A_ + l a a ) , para n genes que afetam a característica
n

depressão causada pela endogamia é o resultado do em questão (Figura 23.3). E m 1921, Collins demonstrou que,
aumento da homozigose, quando a expressão dos com um grande número de genes, independentemente das
recessivos deletérios reduz o vigor dos indivíduos. A
ligações fatoriais, a assimetria na distribuição em F2
depressão causada pela endogamia poderia ser explicada
desaparece. A terceira objeção questionava a necessidade de
pela expressão dos alelos deletérios recessivos. O
heterozigose para a expressão do vigor. Argumentou-se que,
cruzamento entre linhagens endogâmicas selecionadas
se esta hipótese estivesse correta, seria possível obter um
resulta em híbridos, nos quais os alelos recessivos de um
genitor estão acobertados pelos dominantes do outro. indivíduo igualmente vigoroso como híbrido F i e
Algumas linhagens apresentam boa complementaridade, em homozigótico com relação aos genes dominantes favoráveis.
razão da presença de alelos favoráveis dominantes em um Todavia, nunca foi encontrado um indivíduo tão vigoroso
dos dois genitores para cada um dos loci de importância quanto o F i que não segregasse. E m 1917, Jones introduziu o
agronómica. Quando duas linhagens se complementam de conceito de ligação fatorial nos debates sobre a heterose e
forma satisfatória, é porque possuem boa capacidade afirmou que o vigor híbrido era função da interaçâo de alelos
específica de combinação e o híbrido produzido pelo seu favoráveis dominantes ou parcialmente dominantes,
cruzamento apresenta alto vigor, por conter maior número provenientes de ambos os genitores. Também argumentou
de alelos dominantes favoráveis do que ambos os genitores que, se grande número de alelos estivesse envolvido na
isoladamente. O exemplo subsequente ilustra a hipótese da manifestação do vigor, eles estariam ligados e seria
dominância: em um modelo genético de cruzamento em que extremamente difícil obter todos os alelos favoráveis em um
os alelos dominantes A, B e C igualmente contribuem para a único indivíduo homozigoto. Seria necessária a ocorrência de
heterose, enquanto os alelos recessivos a, b e ç são deletérios, crossing overs específicos para reunir em um só indivíduo os
o genitor AAbbcc possui valor relativo igual a 1 e o genitor alelos dominantes, o que reduziria a probabilidade de
aaBBCC, igual a 2. O híbrido F l , AaBbCc, desse cruzamento obtenção de um indivíduo tão vigoroso quanto o híbrido F i
apresenta valor igual a 3, portanto superior ao de ambos os em homozigose.
genitores.
354 Borém e Miranda Endogamia e heterose 355

Observado Esperado } Mesmo desconhecendo o mecanismo genético da


| heterose, os melhoristas continuam a explorá-la em beneficio
1 da humanidade.
Em 1946, Hebert K . Hayes, da Universidade de
Minnesota, apresentou o seguinte resumo das causas da
aa Aa AA aa A_ heterose: i) dominância parcial de genes ligados; ii) ação
gênica complementar; iii) eliminação dos efeitos deletérios
Figura 23.3 - Distribuições esperada e observada de heterose dos genes recessivos pela introdução do seu alelo dominante;
na geração F2. e iv) aumento do estímulo fisiológico com alelos múltiplos
que podem possuir efeitos fisiológicos diferentes. A maioria
A quarta objeção a esta hipótese baseia-se na falta de dos pesquisadores acredita que todas essas causas estejam
evidências de dominância na expressão das características atuando na manifestação do vigor híbrido. A importância
quantitativas. Essa crítica foi imediatamente afastada das relativa de uma em relação às demais provavelmente varia
com as diferentes espécies em consideração.
discussões, em razão dos resultados experimentais que
indicavam a dominância parcial ou completa como principal
modo de herança das características quantitativas. Hipótese da epistasia

Interações epistáticas ocorrem em virtude da


Hipótese da sobredominância - /"» complexa interação de produtos gênicos em diferentes loci.
Evidências experimentais indicam que essas interações são
Esta hipótese é também conhecida como
alteradas em cruzamentos entre tipos contrastantes,
superdominância, interação alélica, estímulo fisiológico ou f causando redução dos efeitos epistáticos na heterose
heterozigosidade. Proposta por Shull (1908) e expandida ( G E I G E R , 1988). Embora a maioria dos resultados
por East (1936), ela supõe a existência de um estímulo ; experimentais indique que a epistasia contribui de forma
fisiológico em indivíduos heterozigóticos: a presença de modesta para a variabilidade genética, em certos
alelos contrastantes em cada locus provocaria a ativação cruzamentos as interações epistáticas contribuem para a
de rotas bioquímicas, que, somadas, resultariam em heterose ( S T U B E R ; MOLL, 1971).
desempenho superior à daqueles indivíduos que A epistasia pode explicar a heterose nas seguintes
apresentam um único tipo alélico em cada locus. E m 1936, situações:
East expandiu as bases da sua hipótese original, incluindo
as séries alélicas na explicação da heterose: cada alelo 1. Ação g ê n i c a complementar. Considerando que os
possuiria funções distintas e a condição heterozigota seria i genitores A_bb e aaB_ apresentam valor relativo igual a
favorável em relação à homozigota. zero, o híbrido AaBb do cruzamento destes genitores poderá
Nesse século de estudos da heterose, não foi possível expressar heterose com valor relativo igual a 2. A segregação
provar sequer uma dessas hipóteses. Pela complexidade da i gênica de dois genes complementares, como a dos
herança das características quantitativas, é possível que as anteriormente descritos, é de 9:7, na geração F2. Essa
duas hipóteses se complementem para uma explicação mesma ideia é estendida aos caracteres quantitativos, isto é,
completa da heterose.
356 Borêm e Miranda Endogamia e heterose 357

há necessidade de alelos favoráveis de todos os loci para a Tabela 23.2 - Heterose para número total de sementes de
manifestação da heterose. milho em razão da soma multiplicativa das
2. R e a ç ã o limitante. Considerando que o vigor ocorra em características número de fileira de sementes e
razão de uma série de reações que podem ser limitantes: número de sementes por fileira
Genótipo N°de N° de Sementes/ N° Total de
6
H»Z Fileiras Fileira Sementes
Linhagem A: X > Y Linhagem A 10 50 500
>Z Linhagem B 16 30 480
Linhagem B: X ^—> Y Híbrido F i 13 40 520
->z
Fonte: Mayo (1980).
Híbrido F i : X > Y
Nas linhagens A e B são produzidas apenas duas
unidades do produto Z, em virtude da limitação imposta em E v i d ê n c i a s e x p e r i m e n t a i s s o b r e a s hipóteses
uma das etapas da reação (X Y -> Z), enquanto no híbrido, explicativas d a h e t e r o s e
por causa da ação epistática dos genes, são produzidas seis Os clássicos experimentos apresentados nos tópicos
unidades de Z. Esta hipótese foi apresentada por Hegeman, subsequentes fornecem suporte às hipóteses explicativas da
Leng e Dudley, em 1967, no artigo "Um enfoque bioquímico heterose.
no melhoramento do milho".
3. Soma m u l t i p l i c a t i v a . Considerando a produção total de Se/eção recorrente de Russel, Eberhart e Vega (1973) para
sementes de milho com o resultado do número de fileiras capacidade específica de combinação
de sementes e o número de sementes por fileira na espiga, Trabalhando com milho, esses autores utilizaram a va-
considerando também que número de fileiras e número de riedade de polinização aberta Alph e a geração F2 do
sementes/fileira são características completamente cruzamento das linhagens W F 9 x B7. Utilizando a linhagem
aditivas, o híbrido F i apresentará valores intermediários B14 como testadora, eles conduziram cinco ciclos de seleção
aos dos genitores para número de fileiras e de para capacidade específica de combinação e fizeram as
sementes/fileira, mas manifestará heterose quanto ao seguintes pressuposições:
número total de sementes (Tabela 23.2). Essa explicação
da heterose com base na soma multiplicativa entre a) Se a hipótese da sobredominância fosse importante, após
características aditivas foi apresentada por Mayo (1980). os cinco ciclos de seleção:
• as duas populações se tornariam uma imagem
complementar do testador B14;
• as duas populações se tornariam mais semelhantes;
358 Borém e Miranda Endogamia e heterose 359

• a performance do cruzamento Alph x (WF9 x B7) não dominância fosse importante, o híbrido P i ' x P2 apresentaria
melhoraria, uma vez que as populações se tornariam mais maior heterose do que o híbrido original P i x P2.
semelhantes; e Os resultados experimentais de Richey c Sprague
• cruzamentos das duas populações com um testador de (1931) sustentam a hipótese da dominância, uma vez que o
ampla base genética não melhorariam, pois a seleção é híbrido P i ' x P2 foi superior ao híbrido original P i x P2.
para capacidade específica de combinação.
Estimação do grau de dominância por Gardner (1963)
b) Se a hipótese da dominância fosse importante, após os
cinco ciclos de seleção: Gardner, utilizando o delineamento I I I , estimou o
• o desempenho das populações per se deveria melhorar; grau de dominância em várias gerações de acasalamento ao
• os cruzamentos entre as duas populações deveriam acaso e concluiu que a "sobredominância" observada nas
gerações F i c F2 é devida a genes ligados na fase de repulsão
melhorar;
e não à ação gênica de sobredominância per se.
• o desempenho dos cruzamentos com B14 deveria melhorar; e
• os cruzamentos das duas populações com um testador de Outros experimentos estimando os componentes
epistáticos da variância genética foram conduzidos por
ampla base genética deveriam melhorar.
diversos autores. Alguns deles detectaram epistasia em casos
Os resultados experimentais evidenciaram: i) ganhos específicos (SILVA; H A L L A U E R , 1975; S T U B E R ; MOLL,
para as capacidades específica e geral de combinação; ii) 1969). Todavia, os componentes epistáticos são, em geral, de
melhoria do desempenho per se das populações; e ih) maiores pequena importância.
ganhos para cruzamentos entre as duas populações. Os autores
O u t r a s possíveis explicações d a heterose
concluíram que esses resultados favorecem a hipótese da
dominância. Nestes últimos cem anos, os geneticistas têm-se
interessado pelas hipóteses da heterose e, mais
Estudos de melhoramento convergente de Richey e Sprague recentemente, este fenómeno tem sido também assunto de
(1931) interesse de fisiologistas, biólogos moleculares e outros
cientistas.
O objetivo deste estudo foi desenvolver versões de
linhagens convergentes para o tipo de híbrido com o qual elas Rood et al. (1988) investigaram as causas fisiológicas
seriam utilizadas na produção de sementes comerciais de da heterose da altura de planta de milho. Relataram que as
híbridos. giberelinas podem estar envolvidas na explicação da
A versão P i ' foi desenvolvida por meio de retrocruza- heterose, com base nos seguintes resultados: i) linhagens
mentos do genitor recorrente P i e do doador P2. endogâmicas respondem de forma marcante a aplicações de
Pressupondo-se que P i é portador de genes de P2, se a
!
giberelinas; ii) híbridos não respondem a aplicações de
hipótese da sobredominância fosse importante, o híbrido P i x giberelinas; iii) híbridos apresentam maiores níveis endógenos
1\ expressaria maior heterose do que Pi* x P2, uma vez que P i de giberelina; e iv) híbridos contêm alto vigor durante a
é mais divergente de P2 do que de P i ' ; se a hipótese da germinação e o desenvolvimento inicial das plantas, com
níveis altos de giberelina.
360 Borém e Miranda Endogamia e heterose 361

Os referidos autores afirmaram que a depressão O conceito de grupos heteróticos ainda não se
causada pela endogamia no milho é, em parte, devida à encontra descrito de forma concisa e completa. Neste
deficiência de giberelina e que os maiores níveis desta trabalho será usada a definição proposta por Hallauer:
substância em híbridos podem ser o resultado de uma "Germoplasma (linhagens, sintéticos, populações etc.) que,
biossíntese mais intensa, em razão do polimorfismo das quando avaliado como híbrido F i , geralmente exibe níveis
enzimas envolvidas. consistentes de alta heterose". Membros de grupos
Durante o workshop sobre heterose realizado na heteróticos distintos são, em geral, mais contrastantes do
que os pertencentes ao mesmo grupo. Tsotsis (1972),
Universidade de Minnesota em 1991, Steward Rood relatou
trabalhando com milho, determinou grupos heteróticos
que seria praticamente impossível restaurar de forma
entre cultivares de polinização aberta, com o objetivo de
completa o vigor pela aplicação de giberelinas, pois, com essa
maximizar a resposta heterótica em cruzamentos de
aplicação, as linhagens endogâmicas manifestaram
linhagens endogâmicas. Os grupos heteróticos mais
recuperação de vigor para altura de plantas, mas a produção
explorados no milho americano são Reid Yellow Dent e
de grãos não foi alterada. Segundo Rood, a giberelina talvez
Lancaster Sure Crop, ambos de endosperma dentado e
seja o sinal de ativação gênica que resulta na heterose.
originários da raça Com Beli Dent (BROWN; GOODMAN,
Angus Hepburn, da Universidade de Illinois (citado 1977). A raça Com Belt Dent é o produto de cruzamentos de
por P H I L L I P S et aL, 1991), procurando uma explicação da Southern Dents com Northern Flints, lowa Stiff Stock
heterose em nível molecular, investigou a importância da Synthetic (BSSS), um dos componentes do grupo Reid
metilação do DNA na expressão gênica e na heterose. Esse Yellow Dent, foi obtido por Sprague, em 1933, do
autor concluiu que a base nucleotídica citosina se encontra cruzamento de 16 linhagens endogâmicas. Essa população
frequentemente metilada (õ-metihcitosina) e que a metilação apresenta resistência ao acamamento, bom tamanho da
do DNA está negativamente correlacionada com a expressão espiga e, especialmente, alta capacidade de combinação.
gênica. Por exemplo, o cromossoma X inativo em humanos é Lancaster Sure Crop originou-se de uma seleção praticada
altamente mctilado. Esse autor investiga também se a por um agricultor entre espigas previamente colhidas, do
heterocromatina se encontra mais condensada em linhagens cultivar WF9, que possui endosperma dentado. A linhagem
endogâmicas e se, nos híbridos, ela se estenderia, facilitando B73 foi extraída da população B S S S , enquanto a linhagem
a transcrição e a expressão gênica. Mol7 o foi do grupo Lancaster Sure Crop. Essas duas
linhagens constituíram o híbrido simples de maior sucesso
na história da cultura do milho nos Estados Unidos.
G r u p o s heteróticos
No Brasil, dois grupos heteróticos são frequentemente
Cruzamentos entre linhagens de diferentes conjuntos referidos na literatura: o grupo Dentado, originário do cultivar
gênicos são, em geral, superiores àqueles que envolvem de polinização aberta Tuxpeno, e o grupo Duro, resultante do
linhagens do mesmo germoplasma, porque a heterose é cultivar de polinização aberta Cateto. A maioria dos híbridos
função das diferenças de frequência alélica entre as comerciais no Brasil envolveu cruzamentos entre linhagens
linhagens o do nível de dominância dos alelos que controlam desses dois grupos heteróticos.
a característica.
O primeiro híbrido de milho lançado no Brasil, em 1945,
foi desenvolvido pela Agroceres, utilizando linhagens
362 Borém e Miranda Endogamia e heterose 363

desenvolvidas pela U F V . Este híbrido simples designado 133 O primeiro híbrido comercial de cevada foi Hembar,
CS, proveniente do cruzamento entre Cateto 81-208-568 e desenvolvido utilizando-se o sistema balanceado da macho-
Tuxpeno 1020-801, apresentava as seguintes características: esterilidade com um cromossomo terciário. Esse sistema foi
altura de planta = 3,10 m; altura de espiga = 1,90 m; número denominado Trissômico Terciário Balanceado — B T T
de espiga por planta = 1,44; e potencial de produtividade = (RAMAGE, 1965). O híbrido Hembar não apresentou
5.824 kg/ha. vantagem comparativa de produtividade em relação aos
cultivares homozigóticos lançados na mesma época e,
Heterose e m e s p é c i e s a u t ó g a m a s
portanto, nunca foi plantado em larga escala.
Híbridos de tomate têm sido extensivamente comercia-
A principal vantagem dos cultivares híbridos é o lizados em diversos países. A heterose em tomate manifesta-se
aumento da produtividade em razão da heterose. Os com o aumento do número de frutos por planta, resultando em
cultivares híbridos também asseguram à empresa o controle aumentos de produtividade entre 20 e 30%, quando comparado
da produção de sementes, possibilitando-lhe retorno com o número de frutos por plantas dos cultivares
económico.
homozigóticos. Embora o tomate seja uma espécie autógama e
Embora a heterose se manifeste em grande número cada flor precise ser emasculada e polinizada, o sistema é
de espécies autógamas, apenas em um número muito economicamente viável, porque cada fruto contém grande
restrito dessas espécies ela é explorada comercialmente. A número de sementes. Outras espécies autógamas, à
principal razão são as dificuldades inerentes à produção semelhança do tomate, são exploradas na forma de cultivares
dos híbridos nessas espécies. Para a produção comercial de híbridos, como é o caso do arroz. Na China, cerca de 20% das
sementes híbridas, a macho-esterilidade genética lavouras são plantadas com híbridos de arroz.
citoplasmática tem sido utilizada em diversas culturas
autógamas, incluindo cevada, arroz e trigo.
O uso de gametocidas ou agentes químicos de Referências
hibridação vem recebendo mais atenção por parte dos B A I L E Y Jr„ T.B.; QUALSET, C.O.; COX, D.F. Predicting heterosis in wheat.
melhoristas. Há diversas indústrias desenvolvendo esses Crop Sei., v. 20, p. 339-342, 1980.
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and theis S l progeny. Crop. Sei., v. 9, p. 124-127, 1969. das espécies alógamas, procura-se explorar a natureza
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em híbridos intervarietais de milho (Zea mays L.). 1972. 106 f.
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dentro do conjunto gênico, a probabilidade de dois indivíduos
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WRIGHTS, S. Coefficients of inbreeding and relationship. Am. Natur., v. 56, autógamas, é dada maior atenção aos aspectos quantitativos da
p. 333-338, 1922. população. E m razão da heterozigose nas espécies alógamas,
estas tendem a ser menos uniformes do que as autógamas.
368 Borém e Miranda Cultivares híbridos 369

Cultivar híbrido, lato sensu, é a progénie produzida Obtenção de Linhagens


pelo cruzamento entre dois genitores geneticamente
diferentes. Na prática, o desenvolvimento de um cultivar
So A
híbrido é muito mais complexo do que a definição anterior
sugere. Após dez d é c a d a s de experiência com o
desenvolvimento de cultivares híbridos de milho, essa 2
atividade passou a apresentar inúmeras ramificações,
envolvendo bilhões de dólares anualmente.
Após seu trabalho sobre endogamia e heterose em
milho, Shull (1908) propôs o uso comercial dos híbridos simples L, \
de milho. Embora os princípios básicos da exploração da
vi
heterose fossem conhecidos, os híbridos simples não con-
quistaram de imediato o mercado de sementes (Figura 24.1). S 2

Três foram os principais motivos do insucesso da


adoção dos híbridos simples pelos produtores: 1) As sementes
híbridas eram de custo excessivamente elevado. Dois
aspectos contribuíram para esse elevado custo: um terço do
7 \
Linhagens
campo de produção da semente híbrida era ocupado com a endogâmicas
linhagem polinizadora, genitor masculino; e em virtude do
baixo vigor e, por conseguinte, da reduzida capacidade de L,
produção e dispersão de pólen, a proporção de genitores
Produção do Híbrido Simples
masculinos para femininos era de aproximadamente 1:1 ou
1:2, e o genitor feminino com baixo vigor produzia reduzido
número de sementes híbridas. 2) As sementes híbridas
apresentavam endosperma reduzido e tegumento rugoso, Campo isolado
sendo, portanto, de aspecto visual ruim. Essas características
eram decorrentes do fato de serem produzidas no genitor
feminino pouco vigoroso. 3) O vigor manifestado pelos
híbridos disponíveis não era compatível com o maior custo
das sementes híbridas, em virtude da inadequação dos
procedimentos para avaliação da capacidade de combinação
entre linhagens e do fato de as linhagens pertencerem a um
HS3x54
mesmo grupo heterótico. Dessa forma, as linhagens cruzadas
entre si não manifestavam elevado grau de heterose. Figura 24.1 - Esquema de produção de híbridos simples
proposto por Shull, 1908.
370 Borém e Miranda Cultivares híbridos 371

Uma solução para os problemas enfrentados pelo Tabela 24.1 - Diferentes tipos de cultivares de milho utilizados
híbrido simples foi proposta por Jones (1918), que sugeriu a no Brasil, no período de 1998 a 2006 (%)
utilização comercial dos híbridos duplos. O procedimento
proposto por ele incluía o cruzamento inicial entre quatro Tipo de Cultivar 1998/99 2002/03 2004/05 2005/06 2008/09
linhagens, tomadas duas a duas, produzindo-se dois híbridos Cultivar de
simples (AxB) e (CxD) para a obtenção do híbrido duplo. As Polinização Aberta 9,2 5,9 11,0 8,0 9,2
sementes comercializadas pelos produtores (híbrido duplo) Híbrido Duplo 42,8 30,6 23,0 26,0 19,7
eram obtidas de plantas vigorosas (híbrido simples). Além de
Híbrido Triplo 27,6 35,0 29,0 26,0 24,5
custo menor, essas sementes apresentavam melhor aspecto
visual. Desde o lançamento do primeiro híbrido simples até o Híbrido Simples 20,4 22,3 37,0 40,0 46,6
do primeiro híbrido duplo, os melhoristas desenvolveram
procedimentos para melhor avaliação da capacidade de E m 2008/9, quatro híbridos triplos e 15 híbridos
combinação e, portanto, maior expressão do vigor híbrido. simples começaram a ser comercializados com o gene Bt,
Sete anos após a publicação dos trabalhos de Jones sendo a primeira safra em que o Brasil comercializa milho
(1918), criava-se a empresa que viria a ser a maior geneticamente modificado. E m 2013 já havia 18 eventos
instituição de desenvolvimento e produção de sementes transgênicos sendo utilizados nos diversos híbridos de milho
híbridas no mundo, a Pioneer Hi-Bred Corn Company, com no Brasil.
sede em Johnston, Iowa, E U A . No Brasil, o primeiro híbrido As maiores empresas produtoras de sementes
duplo de milho foi lançado pela Agroceres, em 1945, híbridas de milho no Brasil são Monsanto, Pioneer,
utilizando linhagens desenvolvidas pela Universidade Syngenta, Dow AgroSciences, Embrapa e Agromen.
Federal de Viçosa. Com os avanços nas técnicas de produção de sementes
e melhores híbridos, o custo de produção dos híbridos simples
Híbridos comerciais foi drasticamente reduzido ( E B E R H A R T , 1969), tornando-os
mais competitivos e levando-os a conquistar o mercado de
Diferentes tipos de híbridos têm sido desenvolvidos. sementes de milho nos Estados Unidos. A superioridade em
Por exemplo, o híbrido triplo [(AxB)xC] é obtido do produtividade de grãos desses híbridos em relação aos
cruzamento entre o híbrido (AxB), como genitor feminino, e a híbridos duplos foi constatada por diversos pesquisadores
linhagem C. O híbrido simples modificado envolve o ( E B E R H A R T ; R U S S E L L , 1969; W E A T H E R S P O O N , 1970).
cruzamento entre duas linhagens muito próximas entre si Os dados experimentais são contraditórios em relação à
(AxA'), e é utilizado como genitor feminino do híbrido estabilidade de comportamento dos vários tipos de híbridos.
[(AxA')xB]. Sprague e Federer (1951) observaram que os híbridos
Atualmente, no Brasil, 46,6% dos híbridos de milho simples são mais sensíveis às variações de ambiente do que
comercializados são simples (Tabela 24.1). O uso desses os duplos e triplos. Entretanto, outros estudos indicam que é
híbridos de milho no País está crescendo rapidamente. Nos possível desenvolver híbridos simples tão estáveis quanto os
Estados Unidos, mais de 95% das sementes híbridas melhores híbridos duplos ( E B E R H A R T ; R U S S E L L , 1969).
comercializadas são de híbridos simples.
372 Borém e Miranda Cultivares híbridos 373

C a p a c i d a d e de c o m b i n a ç ã o Topcross
Para avaliar a capacidade de combinação de uma Davis (1929) desenvolveu a metodologia do topcross
série de genitores potenciais, podem-se utilizar os (Figura 24.2) para avaliação da capacidade de combinação de
cruzamentos dialélicos, em que todos os possíveis linhagens. Ele propôs que as linhagens a serem avaliadas
cruzamentos simples são realizados. T a l procedimento não é fossem cruzadas com um testador comum, para obtenção de
viável para os programas comerciais de obtenção de informações preliminares. O topcross deve ser realizado em
cultivares híbridos, em que grande número de genitores um campo isolado, no qual apenas o testador é a fonte de
precisa ser avaliado. O número de combinações híbridas pólen. As demais linhagens são despendoadas. As progénies
simples com n genitores é igual a [n(n-l)/2]. Por exemplo: de cada linhagem, meios-irmãos, são avaliadas no ano
para avaliação de 500 linhagens em todas as possíveis seguinte, em campo, para se estimar a CGC.
combinações, 124.750 híbridos [500(500-1)/2] teriam de ser
produzidos para testes, o que seria impossível na prática. Dessa forma, as diferenças de comportamento entre
os meios-irmãos refletem diferenças na capacidade de
A obtenção de uma linhagem superior é caso raro. E combinação das linhagens; as linhagens que apresentam
comum se desenvolverem milhares de linhagens na mais alta capacidade de combinação podem ser testadas
expectativa de encontrar uma linhagem superior. Estima-se mais minuciosamente em ensaios comparativos de
que, durante os primeiros 50 anos de pesquisas e produtividade.
desenvolvimento de híbridos comerciais de milho nos
Estados Unidos, 100.000 linhagens foram desenvolvidas e
avaliadas ( K I E S S E L B A C H , 1951). Testador

O comportamento dos híbridos é função da heterose


expressa no cruzamento entre os genitores selecionados.
Linhagens despendoadas
A heterose geralmente é aumentada em função da distância
genética entre os genitores. O objetivo no desenvolvimento de
híbridos é identificar linhagens que, quando cruzadas entre
si, expressam alto vigor por combinarem bem. Dois tipos de Experimentos
habilidade de combinação podem ser distinguidos. A
capacidade geral de combinação (CGC) refere-se à habilidade
de um genótipo em produzir progénies com dado Figura 24.2 - Esquema de topcross.
comportamento, quando cruzado com uma série de outros
genitores. A capacidade específica de combinação ( C E C )
refere-se ao comportamento de uma combinação específica,
Escolha dos testadores
que pode desviar do comportamento esperado com base na Um bom testador é aquele que classifica corretamente
coe. os genótipos avaliados, discriminando-os com nitidez e com o
mínimo de avaliações. A teoria e os resultados experimentais
indicam que linhagens altamente produtivas são considerada*
374 Borém e Miranda Cultivares híbridos 375

testadores ruins, porque contêm grande número de alelos


dominantes que tendem a mascarar o potencial genético dos
genótipos em avaliação.
Hallauer (1975) relatou que a variância genética
entre topcrosses depende da frequência genética e do nível de
dominância do testador. Na ausência de dominância, a
variância genética é igual para todas as frequências gênicas.
Quando houver dominância, essa variância será maior para
os testadores com menor frequência de genes favoráveis
(Figura 24.3).
Testadores heterogéneos permitem a estimativa da
CGC. Quando um grupo de linhagens é avaliado em
combinações híbridas com um testador heterogéneo, as
diferenças entre topcrosses podem ser devidas a: i) diferenças
entre as linhagens em avaliação; ii) diferenças entre os gâmetas
produzidos pelo testador, isto é, erro de amostragem do
testador; e iii) interação G x E .
Figura 24.3 - Variância genética entre topcrosses (a\) para
Os primeiros testadores utilizados para determinar a
CGC eram cultivares de polinização aberta, cultivares testadores com três diferentes frequências de
alelos favoráveis (r), em diferentes níveis de
sintéticos ou populações dotadas de ampla base genética. O
dominância (d).
mérito desses testadores estava na variabilidade, pois poderiam
representar as mais variadas possibilidades de combinações
híbridas que as linhagens pudessem apresentar. O início do uso de testadores de base genética estreita
Hallauer e Miranda (1988) relataram que, até a década para estimação da CGC deu-se durante a década de 1970.
de 1960, somente os testadores com ampla base genética eram Russell, Eberhart e Vega (1973) observaram que linhagens
utilizados para estimar a CGC. Considerava-se, até então, que homozigóticas utilizadas como testadores permitiam a
um testador com base genética estreita, por exemplo uma estimação da C E C e da CGC. Russell e Eberhart (1975)
linhagem homozigótica, permitia somente a estimação da recomendaram o uso de linhagens extraídas das populações sob
C E C . Uma linhagem homozigótica utilizada como testador seleção para serem utilizadas como testadores para populações
possibilita melhor estimação da C E C , porque cada gameta do envolvidas em seleção recorrente recíproca. Zambezi et al.
testador indica a capacidade das linhagens em teste de (1986) apresentaram duas razões práticas para uso de
produzir progénies superiores. testadores de base genética estreita, em relação aos de ampla
base genética: i) há uma redução do erro de amostragem de
gâmetas, a menos que grandes amostras do testador com ampla
base genética sejam utilizadas; e ii) o uso de linhagens como
376 Borém e Miranda Cultivares híbridos 377

testadores pode permitir a utilização mais rápida das novas quatro híbridos simples não utilizados na composição do
linhagens em híbridos comerciais, especialmente se o testador híbrido duplo, comumente conhecido como "Método B de
for uma linhagem de uso comercial. Jenkins", referindo-se à letra do segundo método avaliado
Quando um testador de ampla base genética é por esse cientista, passou a ser amplamente utilizado para
utilizado na fase inicial de um programa para estimar a identificar as combinações de linhagens com maior potencial,
capacidade de combinação, há clara distinção entre os testes as quais são obtidas e avaliadas em campo.
de C G C e os testes de CÉC. Entretanto, quando testadores
de base genética estreita são utilizados desde a fase inicial do
Método B de Jenkins
programa, a distinção entre as avaliações de CGC e C E C não
é tão evidente. O comportamento do híbrido duplo HD(Axii) * <cxn) pode
ser estimado, neste método, por meio da seguinte fórmula:
Predição de comportamento de HD(AxB) = 1/4 [(AxC)+(AxD)+(BxC)+(BxD)]
híbridos duplos
(Cxi»

A etapa final de seleção das linhagens envolve a em que (AxC), (AxD), (BxC) e (BxD) são quatro dos seis
escolha daquelas que em uma combinação específica possíveis híbridos simples entre as quatro linhagens
produzirão o melhor híbrido. O número de híbridos duplos a envolvidas. Conforme pode ser observado, os híbridos simples
serem obtidos com um número n de linhagens pode ser que compõem o híbrido duplo em consideração não são
calculado pela seguinte equação: [n(n-l)(n-2)(n-S)/8]. Com incluídos na fórmula de predição.
apenas 30 linhagens, podem-se obter 82.215 híbridos duplos Utilizando este método, pode-se estimar o
distintos, um número inviável para obtenção e avaliação
comportamento de grande número de híbridos duplos.
práticas.
Aqueles com estimativa de comportamento mais promissor
Jenkins (1934) desenvolveu um método de predição do podem ser obtidos e avaliados em campo. A predição de
comportamento dos possíveis híbridos duplos a partir de comportamento não elimina a necessidade das avaliações em
dados obtidos em híbridos simples, envolvendo as linhagens diferentes locais e por mais de um ano para identificação do
em avaliação. E m sua investigação, Jenkins estudou 53 dos híbrido realmente superior.
55 possíveis híbridos simples, envolvendo 11 linhagens de Na composição de um híbrido, em geral, considera-se
milho e 42 dos 990 possíveis híbridos duplos. Quatro métodos a inclusão de linhagens de diferentes grupos heteróticos,
foram avaliados, baseando-se no comportamento das uma vez que o comportamento do híbrido depende da
linhagens de: (a) seis possíveis híbridos simples, entre as expressão da heterose entre as linhagens selecionadas. A
quatro linhagens do híbrido duplo; (b) quatro híbridos heterose geralmente aumenta com a distância genética entre
simples não utilizados na composição do híbrido duplo; (c) as linhagens. Os melhoristas de milho, no Brasil, trabalham
cruzamentos dialélicos; e (d) topcrosses. As correlações entre principalmente com os dois grupos heteróticos: Cateto e
as estimativas de comportamento preditas e as obtidas nos Tuxpeno. Nos Estados Unidos, os grupos heteróticos Iowa
42 híbridos duplos, utilizando-se os quatro métodos, foram de Stiff Stock Synthetic e Lancaster Sure Crop têm originado os
0,75; 0,76; 0,73; e 0,61, respectivamente. Com base nesses híbridos de milho de maior sucesso.
resultados, o procedimento baseado no comportamento dos
378 Borém e Miranda Cultivares híbridos 379

Produção comercial d e híbridos masculino com a maturação dos estigmas nas espigas do
genitor feminino.
Uma vez identificadas as linhagens superiores, elas se
tornam os estoques genéticos para produção dos híbridos. Esses A A A C C C
estoques podem ser multiplicados por autopolinização ou por
polini-zação aberta em campos isolados. Durante o ciclo de
multiplicação dos estoques genéticos, os indivíduos com
Primeira estação
fenótipo atípico são eliminados para se manter a uniformidade
genética do cultivar.
A produção das sementes híbridas é uma operação
com caráter industrial. O melhorista deve procurar BB BB DD DD
maximizar a produtividade da linhagem utilizada como
genitora feminina. Alguns aspectos agronómicos
HSAB HSAB
considerados incluem:
• densidade populacional de 50.000 plantas/ha;
• elevação da proporção do genitor feminino em relação ao
Segunda estação
genitor masculino;
• eliminação da competição entre os genitores masculinos e
femininos após a polinização, por meio da destruição
daqueles; e HSCD
• redução do risco de mistura mecânica de sementes de
autofecundação com as híbridas. Figura 24.4 - Esquema para produção de híbridos duplos de
Para a produção de híbridos duplos, o padrão de milho em campo isolado. Sementes do HDABCD
distribuição de duas fileiras do genitor masculino para seis são colhidas nas plantas H S C D na segunda
do genitor feminino (Figura 24.3) é frequentemente utilizado. estação.
Para produção de híbridos simples, sendo o genitor
masculino uma linhagem endógama de baixo vigor e, Para se garantir que o único pólen presente no campo
portanto, com baixo potencial de produção e dispersão de de produção das sementes híbridas seja proveniente de genitor
pólen, o padrão de intercalamento de uma fileira do genitor masculino, o campo deve ter um isolamento de no mínimo 300
masculino para duas do feminino (Figura 24.4) ou, ainda, o m de qualquer outro campo de produção de milho, e os pendões
padrão de distribuição de genitores masculinos para dos genitores femininos devem ser removidos ainda imaturos.
femininos (1:2:1:3) têm sido utilizados. Esse procedimento, denominado despendoamento, requer uso
Diferenças de ciclo entre genitores envolvidos podem intensivo de mão de obra. Com a identificação da macho-
exigir o plantio escalonado para se assegurar coincidência do esterilidade genético-citoplasmática na Estação Experimental
período de maturação e dispersão dos grãos de pólen do genitor do Texas, E U A (ROGERS; EDWARDSON, 1952), amplamente
conhecida como citoplasma T, o despendoamento manual
380 Cultivares híbridos 381
Borém e Miranda

perdeu sua importância na produção de sementes híbridas. A Referências


macho-esterilidade genético-citoplasmática foi utilizada
DAVIS, R . L . Report of the plant breeder. Annual report of Puerto Rico
durante cerca de 20 anos na produção de híbridos. Com a desco-
Experimental Station for 1927. Rio das Pedras: Puerto Rico Experiment
berta de que as plantas com citoplasma T são suscetíveis à
Station, 1929. p. 14-15.
helmintosporiose (Helmintosporium maydis) e com a epidemia
deste patógeno no início da década de 1970, a utilização da D U V I C K , D.N. The use of cytoplasmic male-sterility in hibrid seed
macho-esterilidade genético-citoplasmática foi novamente production. Botany, v. 8, p. 167-179, 1959.
substituída pelo despendoamento manual. Todavia algumas E B E R H A R T , S.A. Yield stability of single cross genotypes. In: A N N U A L
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gene zmaal é endógeno do milho e codifica a produção da ZM-
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construção inserida e férteis devido à expressão do gene MS45.
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382 Borém e Miranda

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384 Borém e Miranda 385

A r e s i s t ê n c i a a d o e n ç a s constitui u m dos principais significa o seu p r ó p r i o fim. I n d i v í d u o s imunes exercem


objetivos dos programas de melhoramento da maioria das p r e s s ã o seletiva muito grande sobre o parasita, levando-o ao
espécies a g r o n ó m i c a s e olerícolas. Os sucessos obtidos nessa desenvolvimento da v i r u l ê n c i a ou, em caso c o n t r á r i o , à
á r e a t ê m sido de grande i m p o r t â n c i a para a e s t a b i l i z a ç ã o da extinção.
produtividade das culturas de safra p a r a safra. E s t i m a - s e
O melhoramento visando à resistência a doenças
que 25% dos recursos destinados ao melhoramento
evidencia a importância do trabalho de equipes multidisci-
convencional sejam utilizados no desenvolvimento de
c u l t i v a r e s resistentes a d o e n ç a s . A despeito da intensa plinares. P a r a o desenvolvimento de c u l t i v a r e s resistentes são
atividade dos melhoristas nesse sentido, o uso de produtos necessários conhecimentos e habilidades em á r e a s específicas, o
químicos para o controle das d o e n ç a s movimenta m i l h õ e s de que toma praticamente impossível a realização do trabalho sem
d ó l a r e s anualmente, contribuindo para a elevação do custo a cooperação entre melhoristas e fitopatologistas.
da p r o d u ç ã o e para o d e s e q u i l í b r i o e a poluição do meio
ambiente.
Fontes de resistência
Tabela 25.1 - E s t i m a t i v a s de r e d u ç ã o da produtividade n a A l g u n s ecologistas a c r e d i t a m que o melhoramento
cultura do feijoeiro, em virtude da ocorrência p a r a a l t a produtividade e s t á correlacionado com o
de diversas espécies de patogenos aumento da suscetibilidade a d o e n ç a s e que as v a r i e d a d e s
antigas s ã o m a i s r e s i s t e n t e s do que as a t u a i s , o que n ã o
Redução de corresponde à r e a l i d a d e . A l g u n s estudos foram realizados
Agente Etiológico Referência
Produtividade (%) visando esclarecer este d i l e m a . Cox et a l . (1988)
Colletotrichum 55 Vieira (1964) a v a l i a r a m c u l t i v a r e s de trigo desenvolvidos no p e r í o d o de
lindemuthianum 1874 a 1987 e v e r i f i c a r a m aumento m é d i o a n u a l de 16,2
Meloidogyne sp. 67 Freire e Ferraz (1977) k g / h a n a produtividade. Os c u l t i v a r e s testados n ã o foram
Phaeoisariopsis griseola 1-41 Santos Filho et ai. (1978) submetidos a a p l i c a ç õ e s de fungicidas, o que p e r m i t i u aos
Uromyces phaseoli var. 21-42 Nasser (1976) autores c o m p a r a r a v a l i a ç õ e s r e a l i z a d a s em c o n d i ç õ e s
typica
e p i d ê m i c a s da ferrugem-do-colmo do trigo (Puccinia
graminis) e e v i d e n c i a r o progresso g e n é t i c o da c u l t u r a
Vírus do mosaico-dourado 43-73 Almeida et al. (1979)
quanto à r e s i s t ê n c i a a e s t a d o e n ç a (Tabela 25.2). E m
Vírus do mosaico-dourado 100 Caner et al. (1981)
geral, os m a i s novos c u l t i v a r e s de trigo mostram-se m a i s
r e s i s t e n t e s à ferrugem-do-colmo. R e s u l t a d o s semelhantes
Fungos, b a c t é r i a s , v í r u s e nematoides são os mais foram encontrados por A u s t i n et a l . (1988).
frequentes patogenos das plantas. D u r a n t e o processo
evolutivo, a coexistência de p a r a s i t a e hospedeiro Heiser (1988) desenvolveu a teoria da seleção
desenvolveu-se de t a l modo que p e r m i t i u a sobrevivência de inconsciente no melhoramento de plantas e defmiu-a como a
ambos. P a r a muitos autores, isso quer dizer que as forças realizada pelo melhorista de forma n ã o intencional. Quando o
evolutivas n ã o favoreceram os patogenos extremamente melhorista escolhe genitores para dar início a u m novo ciclo de
virulentos nem as plantas altamente resistentes. Patogenos melhoramento visando à elevada produtividade, cultivares com
extremamente virulentos destroem o hospedeiro, o que alta produtividade são selecionados. Inconscientemente, o
386 Borém e Miranda Melhoramento visando à resistência a doenças 387

melhorista e s t á selecionando genótipos que apresentam tendem a ser resistentes à s r a ç a s fisiológicas de


características correlacionadas com a produtividade, como Phaeoisariopsts griseola o r i g i n á r i o s do Centro Mesoame-
resistência a doenças. Isso explica o fato de os cultivares atuais ricano e vice-versa ( P A S T O R - C O R R A L E S ; J A R A , 1995).
serem mais resistentes que os pioneiros.
A t u a l m e n t e , p a r a registro e p r o t e ç ã o de novos
c u l t i v a r e s é n e c e s s á r i o a d e s c r i ç ã o de suas c a r a c t e r í s t i c a s .
Tabela 25.2 - Ano de l a n ç a m e n t o , m é d i a de produtividade e Com base em r e l a t ó r i o s de comportamento de c u l t i v a r e s de
a l t u r a de planta de 10 c u l t i v a r e s de trigo u m a espécie, é p o s s í v e l identificar aqueles que podem ser
l a n ç a d o s de 1874 a 1987 empregados como fonte de r e s i s t ê n c i a . U m a r e v i s ã o de
l i t e r a t u r a pode t a m b é m evidenciar fontes de r e s i s t ê n c i a no
Cultivar Ano de Média de Altura de
germoplasma exótico à r e g i ã o a que se destina. Caso
de Trigo Lançamento Produtividade Planta
e x i s t a m fontes s a t i s f a t ó r i a s de r e s i s t ê n c i a nos c u l t i v a r e s
(kg/ha) (cm)
adaptados a esse local, estes devem ser preferidos por
Turkey 1874 1.609 117
apresentarem maior probabilidade de serem portadores de
Cheyenne 1933 1.547 110
outros genes d e s e j á v e i s . Quando os c u l t i v a r e s locais ou
Comanche 1942 1.823 112
exóticos n ã o apresentam n í v e l s a t i s f a t ó r i o de r e s i s t ê n c i a , o
Bison 1956 1.944 111
melhorista deve recorrer à s coleções m u n d i a i s nos bancos
Lancer 1963 1.857 110
de germoplasma. U m a das dificuldades n a u t i l i z a ç ã o de
Sturdy 1967 2.239 77
acessos desses bancos é a frequente p r e s e n ç a de caracteres
Mustang 1984 2.389 83
1985 2.727 83 i n d e s e j á v e i s n a m a i o r i a dos g e n ó t i p o s . A u t i l i z a ç ã o de
T A M 107
Victory 1985 . 2.733 89 acessos de bancos de germoplasma com c a r a c t e r í s t i c a s
Century 1986 2.982 87 como d e i s c ê n c i a de vagem, h á b i t o de crescimento
Fonte: COX et al., 1987. prostrado, desuniformidade de maturação e baixa
produtividade dificulta o processo de i n t r o g r e s s ã o gênica,
em c o n s e q u ê n c i a do arrasto de l i g a ç ã o (linkage drag).
D u r a n t e o seu processo de d o m e s t i c a ç ã o , as e s p é c i e s
cultivadas e os patogenos desenvolveram mecanismos de N a eventualidade de n ã o existirem fontes de resistência
sobrevivência m ú t u a . A seleçâo n a t u r a l , que favorece no germoplasma da espécie, pode-se ainda avaliar a utilização
i n d i v í d u o s com genes de r e s i s t ê n c i a e patogenos com genes de cruzamentos interespecííicos ou mesmo intergenéricos. A s
de v i r u l ê n c i a , estabeleceu u m processo de coevolução do dificuldades nos casos de cruzamentos interespecííicos v a r i a m
hospedeiro e p a t ó g e n o . O melhorista pode usufruir da desde a completa inviabilidade do híbrido a t é situações em que
coevolução ocorrida em regiões geograficamente isoladas a sua obtenção é simples.
para o desenvolvimento de c u l t i v a r e s resistentes. U m F i n a l m e n t e , o uso de agentes m u t a g ê n i c o s v i s a n d o
exemplo ocorre com o feijão. A d o m e s t i c a ç ã o dessa espécie à o b t e n ç ã o de genes de r e s i s t ê n c i a pode ser u m a
ocorreu simultaneamente em duas regiões geograficamente a l t e r n a t i v a . A s e l e ç ã o in vitro t a m b é m t e m sido
isoladas: s u l do México e A m é r i c a C e n t r a l (Centro apresentada como a l t e r n a t i v a p a r a a o b t e n ç ã o de
Mesoamericano) e P e r u e Bolívia (Centro Andino). Por causa cultivares resistentes a doenças (HAMMERSCHLAG,
da coevolução do p a t ó g e n o e hospedeiro, feijões andinos 1990; L I T Z et a l . , 1991).
388 Borêm e Miranda Melhoramento visando à resistência a doenças 389

Atualmente, alguns autores preferem considerar a


Interação patógeno x hospedeiro teoria gene a gene u m a simplificação da complexa i n t e r a ç ã o
Biffin (1905) foi o primeiro a demonstrar que a hospedeiro x p a t ó g e n o . A maioria dos pesquisadores afirma
r e s i s t ê n c i a a u m a doença é herdada de acordo com as leis de que a teoria gene a gene se aplica somente aos casos de
Mendel. Grande parte da vida profissional de H . H . Flor foi r e s i s t ê n c i a vertical.
dedicada à coleta e identificação de r a ç a s da ferrugem-do-
O tipo mais frequente de h e r a n ç a da r e s i s t ê n c i a a
linho (Melampsora Uni). Flor (1955, 1956), estudando a
patogenos parece ser simples, com apenas u n i ou dois genes
ferrugem-do-linho na Universidade E s t a d u a l de D a k o t a do
Norte, nos Estados Unidos, foi o primeiro cientista a envolvidos. A h e r a n ç a pode ser tanto dominante quanto
determinar a i n t e r a ç ã o entre o hospedeiro e o p a t ó g e n o , recessiva, entretanto h á p r e d o m i n â n c i a de genes de
demonstrando que p a r a cada gene de r e s i s t ê n c i a no r e s i s t ê n c i a dominantes. Obviamente, existem i n ú m e r o s
hospedeiro existe u m que corresponde à v i r u l ê n c i a no casos em que a h e r a n ç a da r e s i s t ê n c i a é complexa e envolve
p a t ó g e n o . E s s a i n t e r a ç ã o é conhecida como teoria da muitos genes. U m complicador no entendimento da r e l a ç ã o
i n t e r a ç ã o gene a gene. F l o r teorizou que, se existe u m gene hospedeiro x p a t ó g e n o é a i n t e r a ç ã o desse sistema com o
de r e s i s t ê n c i a no hospedeiro, específico para determinada ambiente ( F i g u r a 25.2). E n t r e a imunidade e a completa
r a ç a fisiológica do p a t ó g e n o , esta n ã o s e r á capaz de lhe suscetibilidade, os i n d i v í d u o s podem manifestar r e a ç õ e s
causar infecção, pois o c u l t i v a r é resistente à q u e l a r a ç a i n t e r m e d i á r i a s . Diversos programas de melhoramento
específica do p a t ó g e n o e este, por sua vez, é avirulento. u t i l i z a m a escala de 1 a 9 p a r a classificar as r e a ç õ e s dos
No exemplo mostrado n a F i g u r a 2 5 . 1 , o gene L L do g e n ó t i p o s aos patogenos, sendo a nota 1 correspondente à
c u l t i v a r A proporciona r e s i s t ê n c i a à r a ç a 1, que apresenta o imunidade e a 9, à r e a ç ã o de completa suscetibilidade.
gene A l A l , e suscetibilidade à r a ç a 2. O c u l t i v a r B n ã o
possui genes de r e s i s t ê n c i a , sendo, portanto, s u s c e t í v e l a Patógeno
ambas as r a ç a s do p a t ó g e n o . A p r o p o r ç ã o 3 s u s c e t í v e l : 1
resistente, apresentada n a F i g u r a 2 5 . 1 , evidencia a
e x i s t ê n c i a de apenas u m gene.

Hospedeiro Patógeno

Cultivar A (LL) R Raça 1 (A A )


L L
Hospedeiro Ambiente

F i g u r a 25.2 - I n t e r a ç ã o p a t ó g e n o x hospedeiro x ambiente n a


m a n i f e s t a ç ã o da doença.
C u l t i v a r B (11)

Figura 25.1 - I n t e r a ç ã o gene a gene e as respectivas r e a ç õ e s


de r e s i s t ê n c i a (R, resistente; S, suscetível).
Borém e Miranda Melhoramento visando à resistência a doenças 391

Base molecular da interação resultados semelhantes t ê m sido obtidos em outros


patógeno x hospedeiro patossistemas, envolvendo parasitas biotróficos e
hemibiotróficos, incluindo fungos, bactérias, vírus e
Nos ú l t i m o s anos, a biologia molecular a v a n ç o u nematoides ( G A B R I E L ; R O L F E , 1990; D E W I T , 1997;
rapidamente com o isolamento e a clonagem de muitos genes A G R I O S , 1997).
de r e s i s t ê n c i a em diversas espécies de interesse a g r o n ó m i c o
O modelo da i n t e r a ç ã o gene a gene a s s u m e a
( B A K E R et a l . , 1997; H A M M O N D - K O S A C K ; J O N E S , 1996).
e x i s t ê n c i a de u m a i n t e r a ç ã o do tipo receptor x elicitor, no
T e m sido observado que as p r o t e í n a s codificadas por esses
qual o gene de r e s i s t ê n c i a no hospedeiro é r e s p o n s á v e l
genes possuem muitas c a r a c t e r í s t i c a s em comum, sugerindo
pela s í n t e s e de p r o t e í n a s receptoras que reconhecem e
que os mecanismos de ação podem ser similares.
reagem especificamente com u m a m o l é c u l a e l i c i t o r a
A s plantas reagem à infecção causada pelo p a t ó g e n o produzida pelo p a t ó g e n o ( C A M A R G O , 1995). Os genes Avr
com respostas de rotas b i o q u í m i c a s específicas. E m b o r a codificam p a r a a n t í g e n o s que i n t e r a g e m especificamente
relativamente pouco seja entendido sobre os mecanismos de com o produto dos genes de r e s i s t ê n c i a ( R ) , levando à
r e s i s t ê n c i a molecular, a hipersensibilidade e a r e s i s t ê n c i a incompatibilidade ( a u s ê n c i a de d o e n ç a ) . G e r a l m e n t e e s s a
s i s t é m i c a adquiridas, que agem de forma generalizada em resposta de defesa se d á pela a t i v a ç ã o da r e a ç ã o de
diferentes patogenos, e s t ã o bem caracterizadas ( D I X O N ; h i p e r s e n s i b i l i d a d e ( H R ) , que consiste n a morte r á p i d a de
P A I V A , 1995). u m n ú m e r o l i m i t a d o de c é l u l a s em torno do s í t i o i n i c i a l de
O marco i n i c i a l nos estudos genéticos das i n t e r a ç õ e s infecção. Por outro lado, se o p a t ó g e n o n ã o possuir u m
p a t ó g e n o x hospedeiro ocorreu logo após a redescoberta das gene de a v i r u l ê n c i a , este n ã o s e r á reconhecido pela p l a n t a
leis de Mendel. E m 1905, Biffin postulou a e x i s t ê n c i a de u m hospedeira, resultando numa interação compatível
gene recessivo de r e s i s t ê n c i a à ferrugem-amarela do trigo, ( p r e s e n ç a da d o e n ç a ) ( J O H A L et a l . , 1995).
causada por Puccinia striiformis, o qual segregava em u m a F u n c i o n a l m e n t e , a H R por s i é suficiente p a r a
p r o p o r ç ã o de 1:3 ( r e s i s t e n t e . s u s c e t í v e l ) na p o p u l a ç ã o F 2 r e s t r i n g i r o crescimento de patogenos biotróficos, os quais
resultante do cruzamento entre plantas resistentes susce- r e q u e r e m c é l u l a s v i v a s p a r a crescer no seu hospedeiro.
tíveis. Desde e n t ã o , muitos estudos i n d i c a r a m que T o d a v i a , p a r a conter patogenos n e c r o t r ó f i c o s (aqueles que
r e s i s t ê n c i a versus suscetibilidade era controlada por fatores colonizam apenas c é l u l a s m o r t a s ) , a H R a t u a por meio de
genéticos. outros mecanismos (JOHAL; RAHE, 1990). Esses
O primeiro modelo de i n t e r a ç ã o p a t ó g e n o x hospedeiro mecanismos podem funcionar ú n i c a ou s i n e r g i s t i c a m e n t e
foi proposto por Flor (1947), como resultado de seus estudos e i n c l u e m a c ú m u l o de f i t o a l e x i n a s , f e n ó i s e P R p r o t e í n a s -
com o patossistema linho x Melampsora Uni, agente c a u s a l p r o t e í n a s relacionadas com a p a t o g ê n e s e ( q u i t i n a s e s e
da ferrugem-do-linho. A p a r t i r dos seus resultados, o autor glucanases, por exemplo), a l é m da e l a b o r a ç ã o de b a r r e i r a s
formulou a s u a famosa teoria gene a gene, n a qual a e s t r u t u r a i s n a s c é l u l a s v i z i n h a s ao sítio de infecção,
r e s i s t ê n c i a de determinado cultivar de linho a u m a r a ç a do incluindo l i g n i f i c a ç ã o , d e p o s i ç ã o de calose e silício e a
fungo é o resultado da i n t e r a ç ã o entre u m gene de p r o d u ç ã o de g l i c o p r o t e í n a s r i c a s em h i d r o x i p r o l i n a
a v i r u l ê n c i a dominante (Aur) no p a t ó g e n o e u m gene de ( J O H A L et a l . , 1995).
r e s i s t ê n c i a correspondente (R), t a m b é m dominante, n a De acordo com esse modelo, a r e s i s t ê n c i a ao
planta hospedeira. Após o pioneiro trabalho de Flor, p a t ó g e n o é h e r d a d a de forma dominante e a v i r u l ê n c i a no
392 Borém e Miranda Melhoramento visando à resistência a doenças 393

p a t ó g e n o , como u m a c a r a c t e r í s t i c a r e c e s s i v a . Conforme Portanto, genes de compatibilidade controlam a p r o d u ç ã o de


verificado n a F i g u r a 2 5 . 1 , a r e s i s t ê n c i a à d o e n ç a só u m fator de compatibilidade, que s ã o m o l é c u l a s que alteram
o c o r r e r á quando o p a t ó g e n o a p r e s e n t a r o gene de A v r e o a fisiologia dos hospedeiros, permitindo sua colonização pelo
hospedeiro, o gene de r e s i s t ê n c i a R correspondente. p a t ó g e n o ( B R I G G S ; J O H A L , 1994; J O H A L et a l . , 1995).
Q u a l q u e r o u t r a s i t u a ç ã o r e s u l t a em suscetibilidade. Nesses casos, a v i r u l ê n c i a é dominante sobre a a v i r u l ê n c i a e
Quando u m cultivar tem dois genes ou mais para a r e s i s t ê n c i a pode ser dominante ou recessiva. A r e s i s t ê n c i a
resistência ( R I , R 2 , ...) contra u m patógeno particular, cada u m dominante pode ser devida à p r o d u ç ã o de u m a enzima que
desses genes corresponde a u m ou mais genes para formar degrada o fator de compatibilidade e a recessiva, à a u s ê n c i a
virulência/avirulência no patógeno ( a l , a2, . . . ) . Estes, uma vez de u m produto sobre o qual o fator de compatibilidade atua.
reconhecidos por u m dos genes para resistência no hospedeiro, P a r a responderem ao ataque desses dois grupos de
funcionam como genes de avirulência no patógeno ( A G R I O S , patogenos, as plantas desenvolveram e s t r a t é g i a s distintas.
1997). A combinação dos genes e os tipos de reações do P a r a as i n t e r a ç õ e s do tipo gene a gene, geralmente a
hospedeiro e do patógeno são mostrados na Figura 25.3. resposta de defesa se d á pela a t i v a ç ã o de H R , enquanto a
r e s i s t ê n c i a p a r a patogenos que produzem fatores de
Patógeno avirulento Planta hospedeira Patógeno avirulento Plantu hospedeira
compatibilidade geralmente é d e c o r r ê n c i a da insensibilidade
^ — Genes de
>
' "\ /
Genes de
^
ou d e g r a d a ç ã o desse fator.
piitugcnkidudc palogenicidade
Resislènriti Suscetibilidade
Cenerie __
* Gene R
Gene de _
Gene r
Tabela 25.3 - I n t e r a ç ã o complementar de dois genes do
avirulência avirulência
V J J V. J hospedeiro para r e s i s t ê n c i a e dois genes
correspondentes no p a t ó g e n o para v i r u l ê n c i a e
seus tipos de r e a ç õ e s a d o e n ç a s

Genes de avirulência Genes de resistência (R) ou de suscetibilidade


Patógeno virulento Planta hospedeira Patógeno virulento Planta hospedeira
(A) ou virulência (a) (r) no hospedeiro
' \
no patógeno R1R2 Rirs riRa
Suscetibilidade Suscetibilidade
Genes de _ +
patogeniciriade
Genes de A1A2
patugenic idade
Gene r
Aia2 - - + +
aiA2 - + - +
F i g u r a 25.3 - Possíveis interações p a t ó g e n o x hospedeiro, + + + +
segun-do a teoria gene a gene. + Interação compatível (doença).
- Interação incompatível (HR).
O segundo modelo genético de interação
p a t ó g e n o x hospedeiro (Tabela 25.3) foi descoberto por P a r a se tornar u m p a t ó g e n o , u m saprófita precisou
Scheffcr et a l . (1967) e diferencia-se da i n t e r a ç ã o gene a gene adquirir a habilidade de penetrar, crescer e reproduzir no
pelo fato de um produto produzido pelo p a t ó g e n o direcionar hospedeiro. A l g u m a s modificações podem ser simples, ao
a i n t e r a ç ã o para a compatibilidade e n ã o para a incompa- passo que outras s ã o bem mais complexas ( K N O G G E , 1996).
tibilidade, como no modelo de F l o r ( B R I G G S ; J O H A L , 1994). Portanto, inicialmente o p a t ó g e n o precisou desenvolver u m a
394 Borém e Miranda Melhoramento visando à resistência a doenças 395

r e l a ç ã o de compatibilidade b á s i c a . Posteriormente, a planta s u p r e s s ã o da morte celular precisa atuar n u m a etapa


passou a reconhecer determinado produto do p a t ó g e n o , posterior à a t i v a ç ã o da H R pelo elicitor. P a r a o hospedeiro,
tornando-se resistente. Essa pressão de seleção ainda resta u m a oportunidade de defesa, que é o
provavelmente selecionou genótipos do p a t ó g e n o que n ã o reconhecimento do produto do gene Avr n u m a etapa
produzia aquele produto que estava sendo reconhecido pelo posterior ao bloqueio da H R pelo fator de compatibilidade
hospedeiro, surgindo, e n t ã o , u m a nova r a ç a . Novamente, ( J O H A L et a l . , 1995). Portanto, a p r o d u ç ã o de u m fator de
u m a planta, ou algumas, dentro daquela p o p u l a ç ã o passou a incompatibilidade (produto de u m gene Avr) se i m p õ e à
reconhecer u m outro produto produzido pela nova r a ç a , p r o d u ç ã o de u m fator de compatibilidade ( B R I G G S ; J O H A L ,
forçando e n t ã o mais u m a modificação do p a t ó g e n o ( B R I G G S ; 1994) .
J O H A L , 1994; K N O G G E , 1996). De acordo com essa l i n h a
Do ponto de vista da r e s i s t ê n c i a , acredita-se que
de raciocínio, desenvolveu-se u m a i n t e r a ç ã o gene a gene
aquela baseada n a insensibilidade aos fatores de
entre o p a t ó g e n o e o hospedeiro. E s s e modelo de
compatibilidade pode ser mais e s t á v e l que a r e s i s t ê n c i a gene
reconhecimento é muito complexo. Por exemplo, em aveia,
a gene, porque, enquanto a p r i m e i r a requer o ganho de u m a
maia de 90 genes de r e s i s t ê n c i a contra as ferrugens P.
função pelo p a r a s i t a para vencer a r e s i s t ê n c i a , ou seja, a
striiformis, P. recôndita, P. graminis e contra o oídio
p r o d u ç ã o de u m novo fator de compatibilidade, a segunda
(Erysiphe graminis) são conhecidos ( C R U T E ; P I N K , 1996).
pode ser vencida pela perda de u m a função no p a t ó g e n o ,
O modelo da compatibilidade b á s i c a prediz que u m a resultado da m u t a ç ã o de u m gene de incompatibilidade
i n t e r a ç ã o gene a gene se desenvolve como u m a resposta à ( P R Y O R ; E L L I S , 1993; J O H A L et a l . , 1995). Todavia, pode
p r e s s ã o de seleção sobre o hospedeiro a p ó s o p a t ó g e n o n ã o ser sempre fácil p a r a o p a t ó g e n o perder essa função,
a l c a n ç a r a compatibilidade b á s i c a v i a p r o d u ç ã o de fatores de particularmente se o gene de Avr é requerido p a r a a
patogenicidade. A p r e s s ã o de seleção r e s u l t a n a evolução de adaptabilidade (KEARNEY; STASKAWICS, 1990;
uma resistência hiper sensitiva raça-específica, após S T A S K A W I C S et a l . , 1995). Nesses casos, a r e s i s t ê n c i a
i n t e r a ç ã o com o receptor, produto de u m gene de r e s i s t ê n c i a d u r á v e l tem sido a l c a n ç a d a . No entanto, frequentemente, a
( D E W I T , 1992). Portanto, o primeiro nível de i n t e r a ç ã o r e s i s t ê n c i a gene a gene dura apenas poucos anos, ao passo
entre p a t ó g e n o e hospedeiro envolve o estabelecimento de que a r e s i s t ê n c i a a fatores de compatibilidade b á s i c a
r e l a ç ã o c o m p a t í v e l . Nessa i n t e r a ç ã o duas coisas s ã o geralmente é mais duradoura. Por exemplo, a r e s i s t ê n c i a da
requeridas: o p a r a s i t a ter que produzir o fator de aveia a Cochliobollus vitcoriae j á dura mais de 50 anos,
compatibilidade e o hospedeiro ser s e n s í v e l a esse fator enquanto a r e s i s t ê n c i a ao C. carbonum em milho só foi
( B R I G G S ; J O H A L , 1994). "vencida" n a d é c a d a de 1970, quando a r a ç a 3 do p a t ó g e n o
No caso dos patogenos que seguem u m a r e l a ç ã o gene foi primeiramente observada. E m conclusão, parece que u m a
a gene com o hospedeiro, u m a possível função do fator de grande ê n f a s e à c o m p r e e n s ã o da base da compatibilidade
compatibilidade b á s i c a é s u p r i m i r a morte celular, em pode ser u m a e s t r a t é g i a mais efetiva para introduzir
c o n s e q u ê n c i a da H R , engatilhada por u m elicitor inespecífico r e s i s t ê n c i a d u r á v e l contra fitopatógenos ( J O H A L et a l . ,
liberado durante a tentativa de i n v a s ã o . O fator de 1995) .
compatibilidade pode, portanto, bloquear direta ou
indiretamente a v i a que conduz à H R . Nesse caso, a
396 Borém e Miranda Melhoramento visando à resistência a doenças 397

Raças fisiológicas considerado excepcional fonte de r e s i s t ê n c i a à Cercospora


sojina. Com o surgimento da nova r a ç a de C. sojina (raça Cs-
Alguns autores preferem fazer d i s t i n ç ã o entre os
15), p a t o g ê n i c a p a r a o cultivar S a n t a Rosa e para os
termos r a ç a fisiológica, r a ç a fitopatogênica, p a t ó t i p o e
c u l t i v a r e s originados de cruzamento com ele, como o B R 27
biótipo. O termo genérico r a ç a fisiológica vem sendo
( Y O R I N O R I et a l . , 1989), a r e s i s t ê n c i a foi "quebrada". O
utilizado para descrever os patogenos da mesma espécie,
cultivar E m b r a p a 33, resistente à r a ç a Cs-15, foi
morfologicamente semelhantes e com mesma v i r u l ê n c i a .
desenvolvido a p a r t i r do cruzamento B R 27 x C r i s t a l i n a p a r a
Patogenos de distintas r a ç a s fisiológicas apresentam
contornar esta s i t u a ç ã o .
diferentes níveis de v i r u l ê n c i a .
Com a d i s s e m i n a ç ã o do uso de c u l t i v a r e s resistentes
plantados em monocultivos em grandes á r e a s , a p r e s s ã o de Identificação de raças fisiológicas
seleção sobre as populações de microrganismos I n ú m e r o s genes de r e s i s t ê n c i a t ê m sido identificados
fitopatogênicos aumentou substancialmente. A p ó s alguns em hospedeiros pelo teste da s é r i e diferenciadora com
anos de plantio de u m cultivar resistente, a elevada p r e s s ã o diversos isolados. P a r a que os resultados sejam c o m p a r á v e i s ,
de seleção sobre os patogenos da r e g i ã o pode r e s u l t a r n a u m sistema internacional de identificação de genes de
"quebra" da r e s i s t ê n c i a , por causa do surgimento de u m a resistência e de raças fisiológicas foi estabelecido
nova r a ç a fisiológica, v i r u l e n t a p a r a o c u l t i v a r em plantio. ( B O S K O V I C , 1980). Por exemplo, Menezes e Dianese (1988),
U m novo ciclo de desenvolvimento de c u l t i v a r e s resistentes trabalhando com isolados provenientes de 16 estados
iniciado poderá ser neutralizado pelo subsequente brasileiros, identificaram nove r a ç a s fisiológicas do agente
surgimento de outra r a ç a v i r u l e n t a . Quando o microrga- causador da antracnose-do-feijoeiro (Colletotrichum
nismo possui u m a fase sexual, o-surgimento de u m a r a ç a lindemuthianum).
pode ser resultado de h i b r i d a ç ã o e s e g r e g a ç ã o entre tipos
geneticamente diferentes. A s m u t a ç õ e s , embora r a r a s , A Tabela 25.4 apresenta a série de c u l t i v a r e s diferen-
podem t a m b é m contribuir p a r a o aparecimento de novas ciadores e as nove r a ç a s fisiológicas, designadas pelo alfabeto
r a ç a s fisiológicas. O n ú m e r o de esporos de u m p a t ó g e n o em grego.
u m a c u l t u r a é extremamente grande, aumentando a chance Trabalhando t a m b é m com a antracnose-do-feijoeiro,
de ocorrência desse f e n ó m e n o . A heterocariose, isto é, a Pastor-Corrales (1991) p r o p ô s o sistema b i n á r i o de Habgood
fusão de hifas plurinucleadas com a permuta de núcleos (1970) para a nomenclatura das r a ç a s fisiológicas do
distintos, pode gerar variabilidade. O parassexualismo, p a t ó g e n o dessa doença com base em séries diferenciadoras
fusão de hifas haploides que d á origem à fase diploide do padronizadas (Tabela 25.5), em s u b s t i t u i ç ã o ao sistema
fungo, é t a m b é m importante fonte de variabilidade de utilizado por Menezes e Dianese (1988). C a d a cultivar da
s é r i e diferenciadora recebe valores ( 2 ) , de acordo com o
n
alguns microrganismos.
n í v e l de suscetibilidade, em que n v a r i a de zero ao n ú m e r o
U m exemplo da quebra de r e s i s t ê n c i a foi observado de c u l t i v a r e s incluídos na série diferenciadora menos 1. Por
no listado do Mato Grosso, com o c u l t i v a r de soja B R 27 exemplo, para a s é r i e diferenciadora utilizada para
( C a r i r i ) , oriundo do cruzamento [Bragg x I A C 76-2736] x identificar r a ç a s de C. lindemuthianum, os valores são os
[Bragg x S a n t a Rosa]. O c u l t i v a r S a n t a Rosa era a t é e n t ã o seguintes: Michelite ( 2 = 1), Michigan D a r k Red K i d n e y (2
o 1

= 2), P e r r y M a r r o w ( 2 = 4), Cornell 49-242 ( 2 = 8), Widusa


2 3
398 Borém e Miranda Melhoramento visando à resistência a doenças 399

( 2 = 16), Kaboon ( 2 = 32), México 222 ( 2 = 64), P I 207262


4 5 e Tabela 25.5 - Exemplos de nomenclatura de raças
(2? = 128), T O ( 2 = 256), T U ( 2 - 512), A B 136 ( 2 = 1024) e
8 9 1 0
fisiológicas de Colletotrichum lindemuthianum
G 2333 ( 2 = 2048). Conforme exemplificado na Tabela 25.4,
1 1
pelo sistema b i n á r i o proposto por Pastor-
se u m isolado A infecta apenas os c u l t i v a r e s Michelite, Corrales (1991)
Cornell 49-242 e T U , ele recebe a d e s i g n a ç ã o de R a ç a 521,
que é a soma de 1 + 8 + 512. O n ú m e r o identificador da r a ç a Cultivares Valor no Sistema Isolados
fisiológica é t a m b é m u m indicativo da sua agressividade. E m Diferenciadores Binário A B C
geral, as r a ç a s fisiológicas com valores elevados são mais S S S
Michelite 1
agressivas que as de valores menores.
Michigan D R K 2
Perry Marrow 4 s
Tabela 25.4 - Raças fisiológicas de Colletotrichum lindemuthianum Cornell 49-242 8 s
identificadas por Menezes e Dianese (1988) Widusa 16
Kaboon 32
Cultivares Raças 1

México 222 64
Diferenciadore s alfa 2 delta epsílon zeta eta teta capa lambda mu
P I 207262 128
Michelite S S S S S S S S S TO 256 s S
Aiguille Vert s S s S S S s s S TU 512 s s
Michigan DRK R s R R R s s s S A B 136 1024
Widusa S s R S S R s s s G 2333 2048 s
Imuna R s R S R s s s s Nomenclatura 521 261 2817
BO 22 R R R R R s R s R S: Suscetível.
Sanilac R S R S R s S s s
Cornell 49-242 R R R R R R S
Tipos de resistência
R R
Kaboon R R R R R s R s R
TO E R R S R R R R R Algumas fontes de resistência são reconhecidas por causa
PI 207262 R R R S R R R R R do amplo espectro de r a ç a s fisiológicas contra as quais fornecem
México 222 R R R R S S R R S proteção. Outras fontes de resistência são, entretanto,
1R, resistente; S, suscetível. específicas a uma ou a poucas r a ç a s fisiológicas. A observação
2Raça mais comum no Brasil.
desse fenómeno culminou com a formulação da teoria das
resistências vertical e horizontal, proposta por V a n der Plank
(1963).
V a n der P l a n k definiu r e s i s t ê n c i a vertical como aquela
efetiva contra u m a ou algumas r a ç a s , mas n ã o contra outras,
e r e s i s t ê n c i a horizontal como a efetiva contra todas as r a ç a s
de determinado p a t ó g e n o . A r e s i s t ê n c i a horizontal é t a m b é m
conhecida como r e s i s t ê n c i a de r a ç a inespecífica ou
400 Borém e Miranda Melhoramento visando à resistência a doenças 401

generalizada e ocorre por meio da r e d u ç ã o tanto do n ú m e r o Nessa figura, ambos os cultivares mostram r e s i s t ê n c i a
de lesões formadas quanto da t a x a de desenvolvimento das vertical à s r a ç a s (0), (2), (3), (4), (1,4), (3,4) e (2,3,4). A
lesões e da quantidade de esporos produzidos por lesão. V a n r e s i s t ê n c i a à s r a ç a s (1), (1,2), (1,3), (2,4), (1,2,3), (1,2,4),
der Plank afirmou ainda que, em m é d i a , existe menor nível (1,3,4) e (1,2,3,4) é horizontal, ressaltando-se que o cultivar
de r e s i s t ê n c i a horizontal quando h á r e s i s t ê n c i a vertical. de batata Kennebec a expressa em menor nível.
Entretanto, n ã o h á dados experimentais que suportam Diversos trabalhos sucederam os de V a n der P l a n k , e
claramente t a l conclusão. A maioria dos programas de outras terminologias foram incorporadas à literatura, com o
i n t r o g r e s s ã o de genes de r e s i s t ê n c i a é baseada em objetivo de descrever esses tipos de r e s i s t ê n c i a . F o r a m
retrocruzamentos. Nesses programas, a r e s i s t ê n c i a hori- incluídos no j a r g ã o científico, no caso da r e s i s t ê n c i a
zontal presente no genitor recorrente e outras caracte- horizontal, termos como r e s i s t ê n c i a de campo, d u r á v e l ,
r í s t i c a s são preservadas, a menos que exista associação lateral, generalizada, n ã o específica e quantitativa e, no de
negativa entre os genes introduzidos e essa r e s i s t ê n c i a . A r e s i s t ê n c i a vertical, os termos r e s i s t ê n c i a específica,
F i g u r a 25.4 apresenta o diagrama proposto por V a n der perpendicular, m o n o g ê n i c a e qualitativa, por exemplo.
P l a n k p a r a i l u s t r a r os tipos de r e s i s t ê n c i a . Obviamente, a s e p a r a ç ã o s e m â n t i c a que esses termos
apresentam n ã o corresponde completamente ao tipo de
Maritta r e s i s t ê n c i a , mas tem certo m é r i t o nas comunicações
Resistente científicas.
A Tabela 25.6 apresenta algumas das d i f e r e n ç a s entre
a r e s i s t ê n c i a vertical e a horizontal.

Tabela 25.6 - A l g u m a s diferenças entre a r e s i s t ê n c i a vertical


Suscetível
e a horizontal
Kennebec
Características Resistência Resistência
Resistente n
Vertical Horizontal
Reação a raças fisiológicas Específica Não específica
Herança Mono/oligogênica Poligênica
Nível dc resistência Alto Moderado
Reação nas séries diferenciadoras Qualitativa Quantitativa
Suscetível
O H CO ^ W CO Nelson et a l . (1970) apresentaram e v i d ê n c i a s de que
rH c-í CO c í c-í CO CO CO
i—T T-T T-T cí n ã o deveria haver diferença entre a r e s i s t ê n c i a vertical e a
horizontal e de que devem ser utilizados todos os genes que
Kigum 25.4 - R e s i s t ê n c i a de dois c u l t i v a r e s de batata a possam ser introduzidos no novo c u l t i v a r para vencer o
diversas r a ç a s de Phytophthora infestans. p a t ó g e n o . Todavia, a maioria dos pesquisadores classifica a
r e s i s t ê n c i a em vertical e horizontal.
402 Borém e Miranda Melhoramento visando à resistência a doenças 403

Robinson (1979) questionou a i m p o r t â n c i a da resistência Embora seja consenso que a r e s i s t ê n c i a vertical possa
vertical no desenvolvimento de resistência duradoura e ser "quebrada", e s t á claramente demonstrado que ela j á
recomendou o uso exclusivo da resistência horizontal. Esse contribuiu, e continua contribuindo, p a r a a r e d u ç ã o de
pesquisador recomendou t a m b é m que se evite o uso das "boas" perdas n a produtividade de g r ã o s , em diversas culturas, em
fontes de resistência e que os programas de melhoramento r a z ã o do ataque de d o e n ç a s .
sejam iniciados com indivíduos com moderado nível de infecção,
em detrimento das fontes com alto nível de resistência.
Entretanto, como h á i n ú m e r a s restrições a esta estratégia, ela Estratégias de melhoramento
nunca foi amplamente adotada. Alguns exemplos de resistência A e s t r a t é g i a de melhoramento visando à r e s i s t ê n c i a a
vertical que conferiu proteção duradoura ao cultivar são d o e n ç a s é relativamente simples quando se objetiva a
apresentados n a Tabela 25.7. i n t r o d u ç ã o de apenas u m ú n i c o gene que confere r e s i s t ê n c i a
vertical. O procedimento mais indicado é o uso do m é t o d o
Tabela 25.7 - Exemplos de genes de r e s i s t ê n c i a vertical que dos retrocruzamentos combinado com a inoculação artificial
conferiram p r o t e ç ã o duradoura a alguns p a r a seleção de i n d i v í d u o s resistentes. Os c u l t i v a r e s de soja
cultivares Doko R C , resistente a Cercospora sojina, desenvolvido pela
E m b r a p a , e C r i s t a l i n a R C , resistente ao cancro-da-haste,
Doença Cultura Gene Proteção
desenvolvido pela F T Pesquisas e Sementes em parceria com
Ferrugem Cevada T 1940-1992
a U F V , foram obtidos por retrocruzamentos.
Ferrugem Linho Ni (B1528) desde 1943
Ferrugem Feijão (Rico Baio) 1965-1990 Antes de iniciar u m programa para o desenvolvi-
Murcha-de-fusarium Ervilha ... 1929-1973 mento de c u l t i v a r e s resistentes a d o e n ç a s , devem-se a v a l i a r :
Podridão-da-haste Soja Ps desde 1955
desde 1952 • danos económicos ocasionados pela doença;
Requeima Batata R3
• fontes de r e s i s t ê n c i a ;
• m é r i t o agrícola da fonte de r e s i s t ê n c i a ;
A Tabela 25.8 apresenta nomes de algumas d o e n ç a s • complexidade da h e r a n ç a da r e s i s t ê n c i a ;
que foram controladas satisfatoriamente com a i n t r o g r e s s ã o • facilidade de m a n i p u l a ç ã o do p a t ó g e n o ;
de u m único gene. • perspectiva de durabilidade da r e s i s t ê n c i a ; e
- frequência, p r e v a l ê n c i a e d i s t r i b u i ç ã o de r a ç a s fisiológicas
T a b e l a 25.8 - Exemplos de d o e n ç a s controladas com a intro- n a região.
g r e s s ã o de u m único gene

Doença Cultura Com base nesse tipo de a v a l i a ç ã o , deve-se, e n t ã o ,


estabelecer u m programa, utilizando os m é t o d o s de melho-
Ferrugem Aveia
ramento d i s p o n í v e i s .
Ferrugem Trigo
Míldio Cevada A principal e s t r a t é g i a para u t i l i z a ç ã o da r e s i s t ê n c i a
Murcha-de-fusarium Tomate vertical é a p i r a m i d a ç ã o , novo termo empregado p a r a
caracterizar a i n t r o g r e s s ã o de v á r i o s genes de r e s i s t ê n c i a em
Requeima Batata
um único c u l t i v a r . A p i r a m i d a ç ã o pode ser estabelecida com
404 Borém e Miranda Melhoramento visando à resistência a doenças 405

a i n t r o d u ç ã o de genes maiores e menores, genes específicos e A s e l e ç ã o de c u l t i v a r e s a l t a m e n t e produtivos,


n ã o específicos, ou qualquer outro tipo de gene que confira avaliados em experimentos conduzidos com alta
r e s i s t ê n c i a ao p a t ó g e n o ( P E D E R S E N ; L E A T H , 1988). i n c i d ê n c i a de d o e n ç a s , p a r a serem u t i l i z a d o s como
Combinar t r ê s ou quatro genes, por exemplo, em u m ú n i c o genitores, n ã o é g a r a n t i a de que e s t ã o sendo selecionados
c u l t i v a r e manter outras c a r a c t e r í s t i c a s superiores n ã o é u m i n d i v í d u o s portadores de r e s i s t ê n c i a do tipo h o r i z o n t a l ,
trabalho simples. embora alguns autores recomendem tal estratégia
A e s t r a t é g i a para uso da r e s i s t ê n c i a horizontal como ( F R I T S C H - N E T O ; B O R É M 2012).
principal meio de controle das d o e n ç a s é diferente daquela O nível de r e s i s t ê n c i a horizontal só pode ser
usada quando o objetivo é u t i l i z a r a r e s i s t ê n c i a vertical. E s t a realmente avaliado a p ó s o germoplasma perder sua
vem sendo empregada n a grande maioria dos programas de r e s i s t ê n c i a vertical, u m a vez que a r e s i s t ê n c i a remanescente
melhoramento, em r a z ã o da sua facilidade de m a n i p u l a ç ã o . a p ó s a quebra da r e s i s t ê n c i a vertical é genuinamente
A seleção assistida por marcadores moleculares horizontal. Infelizmente, n ã o existe u m a metodologia
apresenta grande potencial de u t i l i z a ç ã o para a p i r a m i d a ç ã o comprovadamente eficiente p a r a o desenvolvimento de
de genes de r e s i s t ê n c i a . cultivares com elevado nível de r e s i s t ê n c i a horizontal.
E m r a z ã o da complexidade da h e r a n ç a da resistência Finalmente, é n e c e s s á r i o que se faça r e f e r ê n c i a à
horizontal, muitos autores a consideram resultado da e s t r a t é g i a de uso das m u l t i l i n h a s no controle das d o e n ç a s .
combinação de u m grande n ú m e r o de genes com pequenos A s m u l t i l i n h a s s ã o misturas, em proporções previamente
efeitos. estabelecidas, de linhagens fenotipicamente semelhantes,
que, entretanto, diferem entre s i quanto a u m a ou mais
U m a das e s t r a t é g i a s s u g e r i d a s p a r a a i n t r o d u ç ã o
c a r a c t e r í s t i c a s , como a p r e s e n ç a de diferentes genes de
de genes de resistência -horizontal em espécies
r e s i s t ê n c i a . A s m u l t i l i n h a s foram sugeridas por Borlaug
a u t ó g a m a s t e m sido o estabelecimento dos c r u z a m e n t o s
(1959) como u m a a l t e r n a t i v a p a r a m i n i m i z a ç ã o das perdas
compostos a p a r t i r de grande n ú m e r o de c r u z a m e n t o s
decorrentes de d o e n ç a s causadas por patogenos que
s i m p l e s . Os c r u z a m e n t o s compostos s ã o submetidos à
apresentam r a ç a s fisiológicas, cuja p r e v a l ê n c i a se modifica
a ç ã o dos patogenos, que promovem u m a s e l e ç ã o m a s s a l
de ano para ano. E s s e uso de m u l t i l i n h a s nunca se
n e g a t i v a , e l i m i n a n d o os i n d i v í d u o s com reduzido n í v e l de estabeleceu como u m a p r á t i c a rotineira. O tempo requerido
r e s i s t ê n c i a h o r i z o n t a l . A e f i c á c i a desse m é t o d o a i n d a no desenvolvimento das linhagens a serem combinadas, o
deve ser comprovada a n t e s da s u a recomendação elevado custo de p r o d u ç ã o das sementes certificadas
g e n e r a l i z a d a , em r a z ã o do longo p e r í o d o requerido p a r a o envolvidas nas m u l t i l i n h a s e a necessidade de monitora-
desenvolvimento de u m novo cultivar, m u i t a s v e z e s mento constante das r a ç a s fisiológicas prevalecentes n a
i n a c e i t á v e l nos dias a t u a i s . r e g i ã o e as e x i g ê n c i a s da L e i de Sementes ( L e i 10.711 de
A utilização de c u l t i v a r e s com r e a ç õ e s i n t e r m e d i á r i a s 05.08.2003) l i m i t a r a m a s u a u t i l i z a ç ã o .
ao p a t ó g e n o , a exemplo dos c u l t i v a r e s com p r e s e n ç a de
pequenas lesões, em detrimento de outros que apresentam
r e a ç ã o de imunidade, n ã o é a t r a t i v a . Referências
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por Meio de
Ideótipos

maioria dos programas de melhoramento que


objetivam o aumento da produtividade tem pelo menos uma
destas três filosofias: i) eliminação de defeitos nas
culturas; ii) aumento do potencial de produção por si; e iii)
otimização das características morfofisiológicas das plantas.
A eliminação de defeitos na cultura compreende a
introgressão de genes de resistência a fatores bióticos e
abióticos ou a introdução de características que facilitam a
colheita mecanizada.
Nos programas que visam aumentar o potencial de
produção por si não há preocupação com determinadas
características que podem estar correlacionadas com a
produtividade. Nesses programas são cruzados os genitores
com características complementares e, nas populações
segregantes, selecionados genótipos altamente produtivos.
Quando o objetivo é a exploração do vigor híbrido, procura-se
cruzar genitores que apresentam boa capacidade de
combinação.
Na terceira filosofia, isto é, otimização individual da
produtividade pela manipulação de diversas características
414 Borém e Miranda Malhoramento por meio de ideótipos 415

morfofisiológicas da planta, define-se previamente um principais argumentos é o de que a produtividade tem sido
fenótipo-modelo para as características de interesse. aumentada por meio da seleção de características com ela
Os melhoristas têm procurado elevar a relacionadas. Cultivares semianãs de trigo e de arroz com
produtividade das culturas por meio da seleção de carac- folhas eretas são exemplos contundentes, conforme
terísticas individuais desde o início do melhoramento. Os mencionado anteriormente (JENNINGS, 1964; REITZ;
melhores exemplos ocorreram com trigo, arroz e cevada. SALMON, 1968). A elevação dos componentes de produção e
Durante a década de 1950, os melhoristas de trigo e arroz do índice de colheita é considerada a base para aumento da
desenvolveram cultivares com porte baixo e, no caso do produtividade em diversas culturas (GRAFIUS, 1978;
arroz, além do porte baixo, folhas eretas (JENNINGS, AUSTIN et al., 1980; GYMER, 1981; HAMID; GRAFIUS,
1964; REITZ; SALMON, 1968). Uma nova dimensão foi 1978). A alteração no ciclo e período juvenil da soja e a
dada a essa filosofia quando Donald (1968) a caracterizou reduzida altura de plantas de sorgo têm influenciado a área
e recomendou o "melhoramento" por meio de modelos de de adaptação e a produtividade dessas espécies no Brasil.
plantas ou, simplesmente, ideótipos. Tipos ideais ou Uma terceira razão para enfatizar as características
ideótipos têm sido descritos para trigo, milho, cevada, individuais em um programa de melhoramento é a de que os
arroz, entre outras espécies. cultivares atuais, provavelmente, não apresentam as
Ideótipo é um modelo hipotético com características características morfofisiológicas em um nível ótimo, uma vez
correlacionadas com a produtividade. Melhoramento por que apenas uma pequena amostra da variabilidade do
meio de ideótipos é o método que procura elevar o potencial germoplasma tem sido utilizada ao longo dos anos.
genético da produtividade mediante a modificação individual Finalmente, o melhoramento por meio de ideótipos estimula
de características, em que o objetivo (fenótipo) de cada uma é hipóteses sobre a produção, bem como a definição clara dos
especificado. Um melhorista, ao utilizar este método, objetivos do programa de melhoramento, o que, em última
provavelmente dará prioridade a características morfo- instância, conduz a estratégias mais eficientes. Todo
fisiológicas individuais do que quando utiliza métodos melhorista que lida com o processo de seleção de progénies
convencionais. ou seleção entre genitores, consciente ou inconscientemente,
considera as características morfofisiológicas dos genótipos.
A definição, clara dos objetivos da utilização das
Fundamentos para o melhoramento características mais importantes, ou seja, a definição do
por meio de ideótipos ideótipo, torna o processo de seleção mais elaborado e
consciente.
Enquanto Donald (1968) concentrou sua descrição de
ideótipos em características morfológicas, Rasmusson (1987)
expandiu esse conceito, adicionando-lhe características Procedimento
fisiológicas, bioquímicas, anatómicas e fenológicas. O melhoramento por meio de ideótipos deve iniciar-se
Existem fortes argumentos que suportam o melhora- com a escolha das características que serão utilizadas no
mento por meio de ideótipos, isto é, há bases científicas para programa e com a definição do fenótipo ideal para cada uma.
identificação de características de valor para seleção e Nessa fase, devem-se coletar informações a respeito da
especificação do fenótipo desejado para cada uma. Um dos influência de cada característica na determinação da
416 Borém e Miranda Melhoramento por meio de ideótipos Ali

produção. Parte dessas informações pode ser encontrada na delineamento dos modelos de alta produtividade.
literatura especializada, entretanto o melhorista Infelizmente, para a maioria das espécies cultivadas, esses
provavelmente necessitará desenvolver estudo dos dados conhecimentos são ainda insuficientes. Em segundo lugar,
aplicáveis ao seu germoplasma. Características de fácil deve existir adequada diversidade genética, a fim de
avaliação, em geral, são inicialmente consideradas. Outras de possibilitar a identificação e o uso das características
difícil mensuração ou de mais elevado custo de avaliação não morfológicas e fisiológicas relacionadas com a produtividade.
devem, entretanto, ser ignoradas, porque podem causar
substancial impacto na produção. Esse procedimento tem sido usado pelos melhoristas
por meio da incorporação, nos cultivares, de "características
Definidas as características que integrarão o ideótipo, ideais". Assim, em cercais, folhagem ereta é característica
deve-se avaliar a diversidade genética disponível e selecionar, que tem merecido atenção, pois, em plantios densos, ela
dentro do germoplasma, as principais fontes para cada permite adequada iluminação de maior área da superfície
característica. A diversidade pode estar presente no foliar. Quando as folhas são horizontais ou tombadas, as
germoplasma melhorado ou exclusivamente em acessos superiores sombreiam as inferiores. Os melhoristas de arroz
agronomicamente inferiores. Se os genes desejáveis para a têm verificado que maior resposta à alta fertilidade do solo e
característica considerada estão apenas nesses acessos à alta densidade de plantio é obtida com plantas baixas, de
inferiores, o progresso genético da produtividade pode ficar caules firmes e folhas eretas.
limitado por causa dos demais genes indesejáveis ligados
As características-modelo da planta, especialmente as
àqueles. Nesses casos, uma etapa intermediária de
mais frequentemente utilizadas em estudos fisiológicos, têm
transferência dos genes desejáveis para o germoplasma-núcleo
sido empregadas nos trabalhos de melhoramento de plantas por
pode ser necessária.
meio de ideótipos. Possivelmente, a maioria dos ideótipos é
Uma vez constituído o germoplasma-núcleo, procede-se desenvolvida de forma progressiva com a adoção de
à introgressão dos genes desejáveis, visando obter uma características-modelo individuais até o estabelecimento do
população que segregue todos os caracteres considerados. modelo completo. De qualquer forma, o ideótipo de uma espécie
Diversos ciclos de seleção podem ser necessários para elevar a para determinado local deve ser considerado como um atributo
probabilidade de se obterem progénies com características dinâmico, que evolui com as mudanças nas práticas agrícolas.
múltiplas desejáveis. No entanto, o melhorista deve estar
predisposto a introduzir genes desejáveis em diferentes
conjuntos gênicos, uma vez que, em razão dos efeitos Fatores que limitam o progresso genético
epistáticos, eles podem se expressar em níveis não satisfatórios.
Para uma consideração pragmática do melhoramento
A decisão sobre o valor deste método, à semelhança por meio de ideótipos, devem-se reconhecer a complexidade
dos demais, é tomada com base no mérito dos genótipos das relações entre as características neles incluídas e a sua
desenvolvidos com essa técnica quando avaliados nos campos produtividade.
comerciais dos produtores. Para um trabalho dessa
Exemplos de três fatores ou tipos de associação entre
natureza, duas condições precisam ser satisfeitas.
características que podem limitar o progresso de melhora-
Inicialmente, deve haver profundo conhecimento sobre a
mento por meio de ideótipos são apresentados nos tópicos
morfologia e a fisiologia da espécie, de sorte a permitir o
subsequentes.
418 Borém e Miranda Melhoramento por meio de ideótipos 419

Harmonia no tamanho das partes da planta Outro exemplo do efeito de compensação foi apresentado
por Miskin e Rasmusson (1970), ao verificarem que genótipos
Donald (1968) propôs um ideótipo de trigo que
de cevada com estômatos grandes, em geral, apresentam menor
apresentava folhas pequenas, estreitas e eretas e uma espiga
densidade de estômatos nas folhas. Essas duas características,
grande e ereta. Embora tais características isoladamente sejam
tamanho e densidade, são negativamente correlacionadas.
desejáveis, elas não podem ser associadas em um único
indivíduo, por limitações morfogenéticas. Grafius (1978) Embora o peso desses argumentos seja reconhecido,
demonstrou que as plantas tendem a apresentar elevado grau acredita-se que eles não invalidam a ideia de que melhores
de proporcionalidade entre diferentes órgãos. Esse autor tipos de plantas possam ser desenvolvidos.
relatou ainda que a plasticidade ou habilidade de manipulação Exemplos de ideótipos de quatro espécies
de características é inversamente proporcional à proximidade agronómicas são a seguir apresentados.
ontogenética, isto é, que as características que se desenvolvem
próximo ou simultaneamente a partir do mesmo meristema são
de difícil manipulação independente.
Ideótipo de trigo
Donald (1968) apresentou um modelo de planta de
trigo (Figura 26.1) destinado à alta produção de grãos. Todos
Pleiotropia
os atributos do ideótipo proposto são características
A característica arista múltipla em cevada morfológicas, mas baseados em considerações fisiológicas.
exemplifica a limitação que a pleiotropia pode exercer em Ao conceber o modelo, Donald não considerou os
um programa baseado em ideótipos. Johnson et ai. (1975) indivíduos que apresentam altas produtividades em
relataram que genótipos de cevada portadores de aristas consequência de bom perfilhamento, de produção de muitas
múltiplas apresentam maior taxa fotossintética do que espigas, espiguetas ou grãos, porque tais características se
genótipos monoaristados. Entretanto, os genótipos referem a plantas que crescem isoladas. Ao contrário, ele
multiaristados tendem a apresentar menor número de grãos definiu um tipo de planta para monocultura em alta
por espiga, menor peso médio do grão e, consequentemente, densidade populacional. Quando estabelecido no campo, em
menor produtividade. Enquanto elevada taxa fotossintética é altas densidades, este modelo deve possibilitar a obtenção de
desejável, o menor número de grãos por espiga e o menor grandes produções por unidade de área.
peso médio de grãos, associados à primeira característica, Segundo Donald, no campo, cada planta poderá
inviabilizam-na para uso em um programa aplicado. manifestar sua capacidade de produção de forma mais
completa se for mínima a interferência das plantas vizinhas,
que devem ser competidoras fracas. Assim, se a cultura é
Efeito de compensação
formada de indivíduos com o mesmo genótipo, o ideótipo deve
Um típico efeito de compensação em cereais e legumi- ser de baixa capacidade competidora, a fim de reduzir a um
nosas ocorre com os componentes da produção. Por exemplo, mínimo a competição entre as plantas na densa cultura de
um aumento do número de grãos por vagem, em geral, está campo.
associado a uma redução do peso médio destes.
420 Borém e Miranda Melhoramento por meio de ideótipos 421

eretas, as últimas apresentam as vantagens de permitir


Ans tas Espiga grande (muitas adequada iluminação de maior área de superfície foliar e de
flores por unidade de possibilitar o aumento da densidade de plantio com menor
matéria seca) competição mútua.
Espiga ereta
Os conhecimentos a respeito dos processos fisiológicos
Planta baixa ainda são insuficientes para uma definição clara do ideótipo
Poucas folhas
pequenas
para uma espécie e um ambiente. Por exemplo, especula-se
sobre a importância do número de folhas por planta para a
produtividade de grãos, mas existem evidências de que
maior número de colmos em trigo favorece altas produções.
Caule forte Folhas eretas
Todavia, caso as folhas já sejam suficientes para interceptar
toda a luz, não há vantagem em aumentar o número de
colmos. A espiga grande permite maior número de flores por
unidade de matéria seca total, garantindo à espiga
capacidade suficiente para aceitar todos os fotossintetizados,
Alta proporção de tanto de suas próprias superfícies verdes quanto de outras
raízes primárias
partes da planta. Espigas eretas são mais facilmente
iluminadas de todos os lados. A presença de aristas significa
Figura 26.1 - Ideótipo básico de trigo, conforme a concepção superfície fotossintetizante adicional, que contribui
de Donald (1968). modestamente para o incremento da fotossíntese na espiga,
concorrendo diretamente para o aumento da produtividade
Numa comunidade dessa natureza, a produção agrícola. Um único colmo evita a competição interna entre a
eficiente de matéria seca dependerá da capacidade de cada espiga em desenvolvimento e as brotações jovens, como
indivíduo para fazer o máximo uso dos recursos à sua ocorre em plantas que perfilham. Algumas dessas brotações
disposição no limitado ambiente onde vive, invadindo o são estéreis, mas nem por isso deixam de usar recursos do
mínimo possível o ambiente de seus vizinhos. Embora cada ambiente. Eni plantas de um só colmo, as raízes primárias
indivíduo tenha baixa demanda de recursos para atender às adquirem maior importância.
suas necessidades, a comunidade, como um todo, deverá O modelo proposto por Donald não apresenta boa
tê-la em grau máximo, pois somente assim haverá plena capacidade de competição com as ervas daninhas, por isso a
produção. utilização de ideótipo requer maior atenção no controle
Conforme mostrado na Figura 26.1, o ideótipo de trigo daquelas plantas.
delineado por Donald tem o seguinte aspecto morfológico:
caule baixo e forte; poucas folhas, pequenas e eretas; espiga Ideótipo de milho
grande o ereta; aristas; e colmo único.
O caule baixo e forte protege contra o acamamento de Mock e Pearce (1975) afirmaram que, para o "Corn
plantas. Quanto à disposição das folhas, horizontais ou Belt" americano se beneficiar ao máximo de um ideótipo, o
422 Borém e Miranda Melhoramento por meio de ideótipos 423

ambiente de produção deve apresentar: i) umidade imprescindíveis aos cultivares, como resistência a pragas e
adequada; doenças, grãos de qualidade aceitável etc.
ii) temperaturas favoráveis durante todo o ciclo da
cultura; iii) adequada fertilidade do solo; iv) altas densidades
de plantio; v) espaçamentos estreitos entre fileiras; e vi) Ideótipo de feijoeiro
semeaduras realizadas bem cedo. Os três primeiros fatores Adams (1973, 1982) apresentou suas ideias sobre o
são, obviamente, necessários para que as plantas alcancem tipo ideal de feijoeiro para o sistema de monocultura em
crescimento ótimo. Os três outros fatores influenciarão a condições favoráveis de umidade, luz, nutrientes e
máxima utilização da radiação solar. Altas densidades de temperatura: período de 100 dias, plantas espaçadas de 35
plantio e espaçamentos estreitos entre fileiras permitirão cm entre fileiras e 6 cm dentro das fileiras, ou seja, cerca de
aumento do índice da área foliar (área foliar por unidade de 500.000 plantas por hectare. O ideótipo que ele propôs foi
superfície do solo), possibilitando excelente intercepção da descrito com base nas seguintes características morfológicas:
luz solar. O plantio do milho, se realizado cedo, permitirá hábito de crescimento determinado, estreito, ereto; eixo
que a formação dos grãos, na espiga, comece precocemente, central formado por um só caule ou com o mínimo de ramas
coincidindo com o período de máxima energia luminosa. No eretas; grosso e vigoroso, com numerosos nós; taxa de
momento, é difícil para o homem controlar a umidade, crescimento que permita rápida acumulação de área foliar
sobretudo a temperatura. Os outros fatores, entretanto, são ótima; folhas numerosas, pequenas, capazes de orientar-se
facilmente manejáveis. verticalmente; racimos axilares em cada nó, com muitas
flores; vagens longas, com muitas sementes; sementes de
O ideótipo de milho para a máxima produção no tamanho maior possível, dentro dos limites da sua classe
referido ambiente de produção deveria apresentar as comercial; taxa fotossintética alta e constante em todas as
seguintes características: i) folhas verticais acima da espiga folhas; e alta taxa de translocação dos produtos da
(abaixo, as folhas devem assumir a posição horizontal); ii) fotossíntese das folhas para os órgãos de utilização.
máxima eficiência fotossintética; iii) translocação eficiente
de fotossintetizados para os grãos; iv) curto intervalo entre a No caso de cultivares destinados ao consórcio com
soltura do pólen e a emergência dos estilo-estigmas nas milho, Adams recomendou o seguinte tipo: de crescimento
espigas; v) prolificidade de espigas; vi) pendão de pequeno indeterminado com longos entrenós, muitas ramas, folhas
tamanho; vii) insensibilidade ao fotoperíodo; viii) tolerância médias a pequenas; grande número de flores por racimo;
ao frio pelas sementes em germinação e pelas plantas jovens grande número de vagens por planta; grande número de
(para os genótipos a serem cultivados em áreas em que o sementes por vagem; ciclo vegetativo longo; alta eficiência
plantio é realizado em baixas temperaturas); ix) período de fotossintética; alta capacidade de translocação dos produtos
enchimento dos grãos o mais longo possível; e x) senescência de fotossíntese para o órgão utilizador; e alto índice de
colheita.
foliar vagarosa.
Conforme mostrado na Figura 26.2, o ideótipo de
Além de todas as características citadas, evidente- feijoeiro para monocultivo proposto por Adams (1973, 1982)
mente o ideótipo deve apresentar as qualidades agronómicas apresenta as seguintes características: hábito de
crescimento determinado, folhas pequenas, ausência de
424 Borém e Miranda Melhoramento por meio de ideótipos 425

ramos laterais, porte ereto, elevado número de nós na Tabela 26.1 - Ideótipo de cevada de seis fileiras para o meio-
haste principal e vagens e hipocótilo longos. oeste americano
Característica Fenótipo Nível Atual Fenótipo
Atual 1 Preferido Sugerido
Colmo
Número de perfilhos/m 2 450 X
Diâmetro (mm) 5,0 5,2
Comprimento (cm) 86 80
Espiga
Número/m 2 350 X
Grãos/espiga (número) 54 60
Peso médio dos grãos (mg) 34 40
Comprimento da arista (mm) 13 X
Folha (penúltima)
Comprimento (cm) 20 X
Largura (mm) 16 18
Angulo - semiereto
Ciclo
Enchimento de grãos (dias) 30 32
Figura 26.2 - Ideótipo básico de feijoeiro para monocultivo,
Período vegetativo (dias) 52 54
conforme a concepção de Adams (1973, 1982).
Outros
Biomassa (Mg/ha) 4,5 5,2
Ideótipo de cevada índice de colheita (%) 47 X
Com base cm dois cultivares-padrão.
Rasmusson (1987) definiu um ideótipo de cevada para 1

Fonte: RASMUSSON, 1987.


as condições do meio-oeste americano, com base em
experiência própria e em estudos conduzidos naquela região. Colmos de grande diâmetro, folhas largas e grande
Das 27 características estudadas por ele, ao longo de 20 anos biomassa, preconizados no ideótipo de cevada estabelecido por
de pesquisa com ideótipos, 14 foram eleitas para caracterizar Rasmusson, são características que conflitam com o ponto de
o ideótipo de cevada (Tabela 26.1). Dessas, duas são vista de Donald (1968). Segundo este, os campos de produção
características fenológicas e as demais, morfológicas. de trigo devem ser constituídos por fracos competidores com
Rasmusson relatou que o atual nível das características folhas pequenas e estreitas. Já Rasmusson questiona se
número de perfilhos e de espigas deve permanecer, em razão colmos com diâmetro pequeno e pequena biomassa são mais
do antecipado efeito negativo de compensação. Maiores desejáveis do que o oposto. Conforme se pode observar,
tamanho o número de grãos por espiga foram recomendados conhecimentos mais detalhados da fisiologia vegetal poderão
por esse autor.
426 Borém e Miranda Melhoramento por meio de ideótipos 427

ajudar a estabelecer o tipo ideal de planta, considerando o C A B A L L E R O , R.; R E B O L E , A.; BARRO, C ; A L Z U E T A , C ; T R E V I N O , J . ;


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p. 1 140-1 Mfí. 1987.
Melhoramento de espécies assexuadamente propagadas 431

perenes também apresentam produção cíclica envolvendo


reduzida produtividade alternada com produtividade
normal, o que dificulta a avaliação dos genótipos.
Embora muitas das espécies perenes possam perma-
necer produtivas durante anos consecutivos, elas necessitam

Melhoramento
ser mantidas livres de doenças sistémicas causadas por vírus,
micoplasmas e fungos principalmente. Com as técnicas da
cultura de tecidos, muitas das espécies propagadas

de Espécies assexuadamente podem ser exploradas como espécies anuais,

27 Assexuadamente
uma vez que a produção de propágulos clonais pode ser atingida
rapidamente e de maneira uniforme, permitindo a renovação
das lavouras anualmente. De forma análoga, algumas espécies
de propagação sexual, como o eucalipto, estão sendo propagadas

Propagadas de forma vegetativa, com a obtenção dos propágulos via cultura


de meristemas, permitindo a obtenção de viveiros clonais
uniformes.
A maioria das espécies de propagação clonal é
alógama e, portanto, apresenta elevada heterozigose, além
de manifestar acentuada perda de vigor com a endogamia. O
Significante número de espécies de importância vigor híbrido nessas espécies está associado à heterozigose.
económica é propagado assexuadamente, como a cana-de- A mais comum estratégia no melhoramento dessas espécies
açúcar, batata, batata-doce, mandioca e inúmeras fruteiras, tem sido realizar o cruzamento entre dois clones superiores e
ornamen-tais e forrageiras. Embora algumas dessas espécies avaliar a geração F i segregante (Figura 2 7 . 1 ) . A maioria dos
indivíduos na geração F i tende a ser inferior a ambos os
se reproduzam exclusivamente por propagação vegetativa,
genitores. Aparentemente, a recombinação mesmo entre dois
como a bananeira, muitas apresentam alternativamente a clones superiores gera, principalmente, indivíduos inferiores,
reprodução sexual. Entre as que apresentam os dois modos provavelmente porque as combinações gênicas superiores
de reprodução, podem ser encontradas espécies que se dos genitores é alterada. Entretanto, se um único indivíduo
reproduzem por autofecundação e por fecundação cruzada. superior for identificado na população segregante, ele pode
Muitas das espécies propagadas assexuadamente, ser multiplicado assexuadamente, avaliado em testes
como batata, alfafa e morango, são poliploides e apresentam, comparativos e distribuído como novo clone. Nesse parti-
portanto, segregação complexa, mesmo para caracteres cular, o melhoramento dessas espécies pode ser considerado
pouco influenciados pelo ambiente. menos laborioso e mais rápido que o das espécies propagadas
sexualmente.
Outro aspecto importante de muitas dessas espécies é
o longo período juvenil. Os citros, por exemplo, não atingem O melhoramento das espécies consiste, portanto, em
a maturidade antes de cinco anos. Muitas dessas espécies obter uma população segregante por hibridação entre
432 Borém e Miranda Melhoramento de espécies assexuadamente propagadas 433

genitores selecionados ou mesmo por autofecundação e A x B

1
seleção de indivíduos superiores. Como o genoma dos
indivíduos é fixado por meio da propagação clonal, a seleção Seleção de clones com
pode ser conduzida durante alguns anos e em diferentes base na avaliação de
ambientes sem a descaracterização genômica dos indivíduos plantas individuais
selecionados. Durante a seleção dos clones superiores, as
avaliações devem ser realizadas à semelhança daquelas Seleção com base em
feitas no melhoramento de espécies de propagação sexual, fileiras
envolvendo unidades experimentais com vários indivíduos,
com repetições e outras exigências estatísticas. Uma das
diferenças do melhoramento das espécies de propagação Seleção com base em
clonal do melhoramento das autógamas é que o potencial parcelas repetidas
genético dos clones em avaliação é fixado desde a sua
obtenção, enquanto no caso das linhagens, nas espécies Ri Rn Rui
autógamas, o seu potencial genético muda a cada geração,
conforme o aumento da homozigose. No caso das autógamas,
a avaliação de características quantitativas é postergada até Seleção com base em
que elevado grau de homozigose seja atingido pelas parcelas repetidas
linhagens, o que normalmente ocorre após F 4 ou F 5 . No caso (2 ano)
o

Ri RII Rm
das espécies de propagação vegetativa, não há necessidade
de adiar essas avaliações, uma vez que o genoma dos clones
é fixado. Lançamento de novo
clone
Na primeira geração após o cruzamento, a seleção
normalmente é realizada com base na avaliação de plantas Figura 27.1 - Esquema do desenvolvimento de cultivares
clonais.
individuais e, portanto, deve ser conduzida principalmente
para caracteres com alta herdabilidade. Nas gerações
seguintes, quando maior número de indivíduos constitui Embora o teste de geração precoce tenha sido
cada clone, a seleção é também praticada para caracteres exaustivamente estudado apenas com as espécies de
com menor herdabilidade. Nesta fase, os clones nitidamente reprodução sexual, as mesmas considerações podem ser
inferiores ou portadores de características desqualificantes aplicadas às espécies de propagação assexuada, isto é, embora o
já deverão ter sido descartados, permitindo ao melhorista teste de geração precoce possa auxiliar na eliminação de clones
concentrar os recursos físicos e humanos em uma avaliação inferiores nas fases iniciais do desenvolvimento do novo
mais criteriosa de menor número de clones. cultivar, o elevado custo a ele associado e a baixa eficiência
para características quantitativas têm desestimulado seu uso.
434 Borém e Miranda Melhoramento de espécies assexuadamente propagadas 435

A propagação vegetativa apresenta uma série de Portanto, os indivíduos selecionados na primeira geração,
desvantagens quando comparada com a reprodução sexual. após o cruzamento dos genitores, são submetidos à
Tome-se o caso da batata como exemplo. O plantio da batata autofecundação em sucessivas gerações, até o restabelecimento
por tubérculos é uma operação muito mais cara que a da homozigose. Desenvolvidas as linhagens, estas são avaliadas
semeadura da soja ou milho. Não só a batata-semente é quanto à capacidade de combinação, semelhantemente ao que
proporcionalmente muito mais cara do que as sementes de ocorre com o milho, para identificação da melhor combinação a
soja, como o plantio é intrinsecamente mais caro, em razão ser utilizada na produção do híbrido. Duas alternativas são
de demandar mais mão de obra e, frequentemente, possíveis na comercialização do cultivar híbrido: i)
equipamentos mais sofisticados. Outra desvantagem da comercialização da semente híbrida, para plantio comercial, à
propagação clonal é a disseminação de pragas e doenças, que semelhança do que ocorre com o milho, ou ii) comercialização de
é muito mais intensa quando se utilizam partes vegetativas. propágulos vegetativos removidos do híbrido. Neste caso, o
A reprodução via sementes elimina, ou pelo menos reduz, a acúmulo de doenças sistémicas só acontecerá a partir das
transmissão de muitos vírus e fungos sistémicos. Dessa plantas híbridas.
forma, a longevidade de lavouras de espécies perenes,
Alguns pesquisadores têm também envisionado o
propagadas assexuadamente, tende a ser menor que
desenvolvimento do cultivar híbrido e posterior introdução nele
daquelas propagadas via sementes. A degenerescência dos
de um sistema de indução de apomixia, em que as sementes
cultivares clonais, devido ao acúmulo de patógenos
geradas são de natureza assexuai e, portanto, portadoras
sistémicos, tem sido uma grande limitação desse tipo de
exclusivamente da constituição genética da planta-mãe. Esse
cultivares.
sistema permitirá a fixação genética do vigor híbrido presente
Em razão das desvantagens que os cultivares clonais no cultivar híbrido, associado aos benefícios da propagação por
apresentam, os melhoristas têm sido estimulados a considerar o sementes, além de excluir as desvantagens da degenerescência,
desenvolvimento de cultivares híbridos para as espécies que devido ao acúmulo de doenças sistémicas. O sistema de
apresentam produção satisfatória de sementes, como no caso da apomixia, presente em citros, com seus embriões nucelares e,
alcachofra. também, em diversas espécies forrageiras, poderá,
eventualmente, ser transferido para as espécies de interesse,
A alcachofra era exclusivamente, até há algumas
via transformação gênica.
décadas, propagada vegetativamente para fins comerciais.
Os cultivares plantados eram clones melhorados,
selecionados por melhoristas ou por produtores. Mais
Referências
recentemente, alguns programas de melhoramento vêm
desenvolvendo cultivares híbridos para plantio via sementes. A P P E L S , R.; MORRIS, R.; G I L L , B.S.; MAY, C E . Chromosome biology.
Nestes casos, as espécies de propagação vegetativa são Boston: Kluwer Academic Publishers, 1998. 401 p.
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238 p.
apresentam no tecido s o m á t i c o o n ú m e r o n de cromossomos
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típicos dos g â m e t a s do organismo.
while conservating genetic diversity. Uppsala: Swedish University of
Agricultural Sciences Press. 1999. 344 p.. A e x i s t ê n c i a de haploides em plantas é conhecida de
longa data, mas a t é recentemente n ã o t i n h a m sido
considerados pelos melhoristas por falta de t é c n i c a s p a r a
produzi-los em grande n ú m e r o e de forma previsível.
I n d i v í d u o s haploides com o n ú m e r o de cromossomos
duplicado s ã o denominados di-haploides e s ã o distintos dos
diploides quanto à pureza genética. Enquanto os i n d i v í d u o s
diploides apresentam graus variados de heterozigose, os di-
haploides s ã o completamente homozigóticos.
I n d i v í d u o s haploides n ã o t ê m aplicação direta no
melhoramento, mas podem ser integrados aos programas de
desenvolvimento de c u l t i v a r e s se tiverem os seus
cromossomos duplicados.
O objetivo do melhoramento de espécies a u t ó g a m a s ,
a p ó s a h i b r i d a ç ã o entre dois ou mais genitores, é a p r o d u ç ã o
de linhagens homozigóticas. Com os m é t o d o s convencionais
de melhoramento (genealógico, da p o p u l a ç ã o etc.)> o
438 Borém e Miranda Produção de di-haploides 439

procedimento p a r a a o b t e n ç ã o dessas linhagens com a l t a quebradas por crossing over. G e r a ç õ e s de a u t o f e c u n d a ç ã o


pureza g e n é t i c a requer v á r i a s gerações de a u t o f e c u n d a ç ã o . O oferecem oportunidades para a quebra das ligações g ê n i c a s .
tempo gasto no a v a n ç o de gerações, a t é que o nível de
Genitor A x Genitor B
homozigose desejado seja atingido, pode compreender cinco a
oito anos, no caso das espécies anuais. A p r o d u ç ã o de 1
Fi x Hordeum bulbosum
linhagens h o m o z i g ó t i c a s por meio de di-haploides pode
| Cultura de embrião
reduzir esse tempo para u m m á x i m o de u m a dois anos. A
F i g u r a 28.1 mostra a i n t e g r a ç ã o de di-haploides em u m
programa aplicado de melhoramento. . . . Di-haploides
O M é t o d o B u l b o s u m , descrito a seguir, foi utilizado
como i l u s t r a ç ã o . U m programa de melhoramento baseado
EPL
em di-haploides inicia-se, à s e m e l h a n ç a dos m é t o d o s
convencionais, com a s e l e ç ã o de genitores p a r a os
Ri RII
cruzamentos. A p ó s a r e a l i z a ç ã o dos cruzamentos, plantas
F i s ã o c u l t i v a d a s e u t i l i z a d a s como fonte de variabilidade.
Dependendo do m é t o d o de p r o d u ç ã o de di-haploides, as EIL
plantas F i s ã o cruzadas com i n d i v í d u o s de outras e s p é c i e s
ou de outros g é n e r o s da m e s m a família, como no m é t o d o Ri Rn RITI
dos cruzamentos i n t e r e s p e c í f i c o s . E s s a s plantas podem
t a m b é m ser u t i l i z a d a s como fonte de óvulos, anteras ou
m i c r ó s p o r o s , p a r a , por meio da c u l t u r a de tecidos, produzir EFL
di-haploides. E s t e s podem ser e x t r a í d o s de g e r a ç õ e s m a i s
a v a n ç a d a s , mas os g â m e t a s da g e r a ç ã o F i constituem u m a RT RII RIU
amostra da v a r i a b i l i d a d e g e n é t i c a que se e x p r e s s a r i a n a
g e r a ç ã o F2. O n ú m e r o de di-haploides n e c e s s á r i o s p a r a
constituir u m a amostra r e p r e s e n t a t i v a de determinado ERL, VCU
cruzamento é menor que o utilizado pelo m é t o d o
genealógico ou da p o p u l a ç ã o , porque os g â m e t a s F i s ã o RI Rn Riu
amostrados em vez dos i n d i v í d u o s F2. O n ú m e r o de F i g u r a 28.1 - I n t e g r a ç ã o de di-haploides em u m programa de
g â m e t a s de plantas F i n e c e s s á r i o p a r a constituir u m a melhoramento de cevada, utilizando-se o
amostra pode ser estimado pela r a i z quadrada do tamanho M é t o d o Bulbosum.
da p o p u l a ç ã o que, normalmente, s e r i a requerida.

U m a das críticas ao uso de di-haploides obtidos a Os estudos de s i m u l a ç ã o e s t a t í s t i c a conduzidos por


partir de plantas F i e s t á relacionada com o limitado n ú m e r o Y o n e z a w a et a i . (1987) i n d i c a r a m que o m é t o d o de di-
de oportunidades para que estreitas ligações g ê n i c a s sejam haploides a p a r t i r de i n d i v í d u o s F2 pode ser mais eficiente.
Nesse caso, como a p o p u l a ç ã o F2 segrega diferentes tipos,
440 Borém e Miranda Produção de di-haploides 441

podem-se selecionar i n d i v í d u o s F2 p a r a a p r o d u ç ã o dos di- espécies. Por exemplo, o m é t o d o da c u l t u r a de anteras é


haploides. O u t r a vantagem é a oportunidade adicional de relativamente eficiente em cevada, trigo, b r á s s i c a s e outras
quebra das ligações gênicas com a geração de espécies, mas ainda n ã o apresenta potencial p a r a soja, feijão
a u t o f e c u n d a ç ã o de F i p a r a F2. Deve-se a v a l i a r o custo do e aveia.
atraso para a o b t e n ç ã o dos di-haploides a partir de
O m é t o d o da c u l t u r a de anteras é economicamente
i n d i v í d u o s F2 em r e l a ç ã o aos benefícios das vantagens
competitivo quando comparado com os convencionais de
citadas.
o b t e n ç ã o de linhagens homozigóticas em cevada. E m b o r a
Os indivíduos di-haploides podem ser diretamente esse m é t o d o seja utilizado para desenvolvimento de novos
submetidos à avaliação. Todavia, deve-se preferencialmente c u l t i v a r e s de cevada de inverno na A l e m a n h a ( F O R O U G H I -
submeter as progénies desses indivíduos ao processo de seleção. W E H R , 1984), o seu uso com o germoplasma de cevada de
Os indivíduos di-haploides de primeira geração podem p r i m a v e r a ainda é limitado em virtude da i n t e r a ç ã o genótipo
manifestar variações epigenéticas, em r a z ã o dos efeitos x m é t o d o . Alguns c u l t i v a r e s europeus de cevada de inverno,
fisiológicos adversos de agentes químicos utilizados para a como o Igri, e de primavera, como o S a b a r l i s , s ã o altamente
duplicação cromossômica ou do meio nutritivo da cultura de responsivos ao cultivo in vitro, enquanto outros, como o
tecidos. Morex, c u l t i v a r americano de primavera, respondem de
forma medíocre à c u l t u r a de anteras ( O L I V E I R A et a l . ,

Di-haploides no melhoramento de plantas 1992).

Diversos estudos t ê m sido conduzidos para a v a l i a r o


P a r a adoção generalizada do m é t o d o de di-haploides comportamento médio de di-haploides em r e l a ç ã o à s
em programas aplicados de melhoramento de plantas, é linhagens obtidas pelos métodos convencionais de
n e c e s s á r i o atender aos seguintes requisitos: melhoramento. Foroughi-Wehr e F r i e d t (1984) comprovaram
• que possibilite a p r o d u ç ã o de grande n ú m e r o de di- que, em pelo menos algumas c i r c u n s t â n c i a s , o cultivo in
haploides de forma económica e tecnicamente c o m p a t í v e l vitro durante a p r o d u ç ã o de di-haploides promoveria a
com os recursos físicos e humanos disponíveis; seleção g a m é t i c a . Diversos outros autores reportaram que os
• que seja s a t i s f a t ó r i o p a r a todo o germoplasma trabalhado di-haploides obtidos por meio da c u l t u r a de anteras ou
( a u s ê n c i a de i n t e r a ç ã o genótipo x método); cruzamentos interespecíficos representam u m a amostra dos
• que os di-haploides produzidos constituam u m a amostra g â m e t a s produzidos pelos indiví-duos de que se originam
da variabilidade g e n é t i c a dos i n d i v í d u o s de que se ( L E G G ; C O L L I N S , 1978; M U R I G N E U X et a l , 1993;
originaram, n ã o permitindo que ocorra seleção g a m é t i c a ; C O U R T O S I S , 1993; M I T C H E L L et a l . , 1992; K A S H A et a l . ,
e 1990). D e s s a forma, linhagens obtidas v i a cultura de anteras
apresentam o mesmo potencial genético daquelas
• que exista u m sistema para d u p l i c a ç ã o do n ú m e r o de
desenvolvidas pelos m é t o d o s clássicos de melhoramento.
cromossomos dos haploides.
E x i s t e m diversos m é t o d o s para o b t e n ç ã o de di- D u r a n t e o processo de r e g e n e r a ç ã o de plantas a p a r t i r
haploides, e a eficiência de cada u m v a r i a de acordo com as do cultivo de anteras de cevada, a duplicação c r o m o s s ô m i c a
442 Borém e Miranda Produção de di-haploides 443

ocorre espontaneamente. Conforme relatou H a n s o n (1984), ( g a m e t o g ê n e s e ) e levada a se desenvolver como u m a célula


i n d i v í d u o s haploides constituem exceção n a c u l t u r a de s o m á t i c a ( e m b r i o g ê n e s e ou o r g a n o g ê n e s e ) propicia a
anteras de cevada. A p r o p o r ç ã o de i n d i v í d u o s di-haploides f o r m a ç ã o de haploides ou di-haploides.
espontaneamente formados é superior a 92%. E x i s t e m duas rotas para r e g e n e r a ç ã o de plantas a
Com o m é t o d o de cruzamentos interespecíficos em p a r t i r da c u l t u r a de anteras: e m b r i o g ê n e s e g a m é t i c a e
cevada (Método Bulbosum), a duplicação c r o m o s s ô m i c a é o r g a n o g ê n e s e ( F i g u r a 28.2). N a e m b r i o g ê n e s e g a m é t i c a , o
obtida com o tratamento dos meristemas apicais com uma micrósporo, ou g r ã o de pólen imaturo cultivado em meio
solução de colchicina 0 , 1 % , por cinco horas ( W A L S H , 1974). nutritivo, divide - se repetidamente, formando embrioide s.
Cinco são os métodos para produção de di-haploides: Com o crescimento, os embrioides desenvolvem, em meio
i) gene indutor da haploidia (I), ii) cruzamentos interespecíficos nutritivo com adequado b a l a n ç o de reguladores de
divergentes, iii) cultura de óvulos, iv) cultura de micrósporos e crescimento, a parte a é r e a e o sistema radicular, podendo
v) cultura de anteras ( S H A N N O N ct al., 1985), mas apenas ser aclimatados e transplantados p a r a casa de v e g e t a ç ã o
dois, considerados principais, serão apresentados: cultura de ( F i g u r a 28.3). N a v i a o r g a n o g ê n i c a , os m i c r ó s p o r o s
anteras e cruzamentos interespecíficos. diferenciam-se e, com s u a divisão, formam u m a m a s s a
amorfa denominada calo, que pode ser induzida à
r e g e n e r a ç ã o de parte a é r e a e, posteriormente, do sistema
Cultura de anteras radicular, processo denominado o r g a n o g ê n e s e ( F i g u r a 28.4)
( H E N S H A W et a l . , 1982). U m completo protocolo para
A t o t i p o t ê n c i a celular foi i n i c i a l m e n t e teorizada em
p r o d u ç ã o de di-haploides v i a c u l t u r a de anteras é descrito
meados do século X I X , baseada em o b s e r v a ç õ e s da elevada
por Bjornstad (1989). E s s e procedimento tem sido utilizado
capacidade de r e g e n e r a ç ã o das plantas. E m 1953, M u i r
comercialmente p a r a p r o d u ç ã o de linhagens de trigo, cevada
(citado por H E N S H A W et a l . , 1982), conseguiu regenerar
e outras espécies n a I t á l i a e n a C h i n a .
plantas a p a r t i r de c é l u l a s isoladas, demonstrando a teoria
da t o t i p o t ê n c i a . G h u a e M a h e s h w a r i (1964) r e g e n e r a r a m as A p r o d u ç ã o de di-haploides v i a c u l t u r a de anteras
p r i m e i r a s plantas a p a r t i r da c u l t u r a de a n t e r a s de Datura encontra-se i l u s t r a d a n a F i g u r a 28.4.
innoxia M i l l . Posteriormente, m u i t a s outras e s p é c i e s foram
adicionadas à l i s t a daquelas que respondem à c u l t u r a de embriogênese
anteras. A t é 1974, h a v i a m sido obtidos di-haploides em 23
e s p é c i e s , v i a c u l t u r a de a n t e r a s ( C H A S E , 1974). E s s e l • embrioide • plântula —»• di-haploides
n ú m e r o foi estendido p a r a aproximadamente 150 e s p é c i e s
em 1981 ( H E N R Y ; B U Y E R , 1981). E m 1986, o n ú m e r o de Micrósporo
e s p é c i e s p a r a as quais j á se h a v i a m obtido haploides ou di-
haploides u l t r a p a s s a v a 200 ( D U N W E L L , 1986; H U , 1985). \ calo —• órgão plântula di-haploides
O processo pelo qual u m a c é l u l a g a m é t i c a i m a t u r a é organogênese
desviada da sua rota normal de desenvolvimento Figura 28.2 - Rotas embriogênica e organogênica para produção
de di-haploides v i a cultura de anteras.
444 Produção de di-haploides 445
Borém e Miranda

espécies, como batata, alfafa, b r á s s i c a s , trigo, aveia, triticale


e morango, dentre outras ( R I E R A - L I Z A R A Z U ; M U J E E B -
K A Z I , 1993). E s t a meto-dologia tem sido referida n a
l i t e r a t u r a como Cruzamentos Divergentes.
O desenvolvimento de u m organismo a p a r t i r de
óvulos não-fertilizados é denominado partenogênese.
Frequentemente, a p a r t e n o g ê n e s e ocorre in vivo e, nesse

^^^^^ caso, é designada poliembrionia, como em citros. Sementes


de citros, em geral, apresentam e m b r i õ e s nucelares e
zigóticos.

Eliminação cromossômica

IÉI
Após a fertilização dupla, se o desenvolvimento do
endosperma é bloqueado em r a z ã o da incompatibilidade dos
genomas dos genitores, a semente em desenvolvimento pode
abortar. Entretanto, a excisão do embrião imediatamente após
a fertilização e seu cultivo em meio nutritivo podem assegurar a
sua viabilidade. A s funções do endosperma anormal são,
F i g u r a 28.3 - E m b r i o g ê n e s e s o m á t i c a em cevada: a) anteras portanto, s u b s t i t u í d a s pelo meio de cultura, o que permite o
no meio nutritivo, b) embrioides, c) p l â n t u i a s e desenvolvimento do embrião. Dependendo do grau de
d) planta completamente regenerada. incompatibilidade do genoma dos genitores, híbridos diploides
podem ser formados ou ainda u m dos genomas pode ser parcial
ou completamente eliminado. Se o genoma masculino é
completamente eliminado, u m e m b r i ã o haploide é formado em
processo similar ao da p a r t e n o g ê n e s e . A p a r t e n o g ê n e s e
haploide por eliminação cromossômica, após o cruzamento
interespecífico de Hordeum vulgare, cevada cultivada, com H.
Figura 28.4 - P r o d u ç ã o de di-haploides v i a c u l t u r a de bulbosum, cevada silvestre, e a subsequente eliminação do
anteras. genoma de H. bulbosum t ê m sido utilizadas para produção de
di-haploides na espécie cultivada (Figura 28.5.) Esse método é
t a m b é m conhecido como eliminação cromossômica.
Cruzamentos interespecíficos
Alguns autores preferem n ã o classificar o M é t o d o
Cruzamentos interespecíficos com o objetivo de Bulbosum como p a r t e n o g ê n e s e , u m a vez que os g â m e t a s de
produzir di-haploides t ê m tido sucesso entre diversas
H. bulbosum fertilizam os óvulos de H. vulgare, sendo o
446 Borém e Miranda Produção de di-haploides 447

genoma de H. bulbosum posteriormente eliminado. U m a das DAY, P. Plant breeding: the next ten years. I n : S T A L K E R , H.T.;
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D.R. Effect of anther orientation on microsporc-callus production i n cereais passou de 800 milhões para dois bilhões de
barley (Hordeum vulgare). P l a n t Celi T i s s u e O r g a n Cult., v. 4, toneladas, sendo m a i s de 80% desse incremento devido a
p. 271-280, 1985. maiores produtividades. Acredita-se que metade desse
SINGH, R . J . ; H Y M O W I T E , T . Cytogenctics of a synthesized aumento seja decorrente do desenvolvimento e da u t i l i z a ç ã o
allopentaploid (2n=5x=100) i n the genus Glycine subgenus Glycine. de c u l t i v a r e s geneticamente superiores.
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melhoramento de plantas para o futuro. A Tabela 29.1
YONEZAWA, K.O.; NOMURA, T.; SASAKT, Y . Conditions favouring
apresenta algumas das principais descobertas que t i v e r a m
doubled haploid breeding over conventional breeding of self-fertilizing
impacto no melhoramento de plantas. Embora exista
cru\iH. Euphytica, v. 36, p. 441-453, 1987.
superposição entre alguns períodos em que esses
desenvolvimentos ocorreram, eles foram convenientemente
separados por d é c a d a s . U m a das conclusões que pode ser
450 Borém e Miranda Perspectivas do melhoramento de plantas 451

tirada dessas informações é que o tempo n e c e s s á r i o entre o c u l t i v a r e s a serem l a n ç a d o s nos p r ó x i m o s dez anos s ã o o
desenvolvimento de u m a nova tecnologia e a sua aplicação resultado de cruzamentos j á realizados ou em fase de
vem sendo reduzido gradativamente. Alguns dos r e a l i z a ç ã o . A expectativa é que o melhoramento de plantas
desenvolvimentos científicos listados nesse quadro c r i a r a m continue evoluindo de forma significativa. A fonte de genes
expectativas muito maiores do que foram as suas reais mais u t i l i z a d a no desenvolvimento de c u l t i v a r e s s e r á o
contribuições para o melhoramento, enquanto outros g e r m o p l a s m a - n ú c l e o das e s p é c i e s cultivadas. Os principais
realmente o revolucionaram. Por exemplo, houve u m a m é t o d o s p a r a o desenvol-vimento de novos c u l t i v a r e s s e r ã o
euforia muito grande com o a v a n ç o dos conhecimentos nas aqueles que u t i l i z a m a h i b r i d a ç ã o . A mais onerosa etapa no
á r e a s de fisiologia e morfologia. Diversos programas de desenvolvimento de c u l t i v a r e s c o n t i n u a r á a ser a a v a l i a ç ã o
melhoramento desenvolveram linhas de pesquisa visando ao de campo das c a r a c t e r í s t i c a s quantitativas, e a necessidade
aumento da produtividade v i a c a r a c t e r í s t i c a s morfológicas e do trabalho em equipe multidisciplinar t o r n a r - s e - á mais
fisiológicas, como plantas com folhas eretas ou com a l t a evidente. A biotecnologia s e r á gradativamente incorporada à
eficiência de uso da á g u a . Outro exemplo foi a descoberta da rotina do melhoramento como instrumento p a r a desenvolver
possibilidade de i n d u ç ã o a m u t a ç õ e s como e s t r a t é g i a de novos c u l t i v a r e s , tornando o melhoramento genético mais
melhoramento de plantas. A c o n t r i b u i ç ã o dessas descobertas preciso. Dois dos seus objetivos s ã o d i m i n u i r o tempo para
no desenvolvimento de novos c u l t i v a r e s foi l i m i t a d a . o b t e n ç ã o de novos c u l t i v a r e s e expandir o conjunto gênico
disponível p a r a cada programa de melhoramento.

Tabela 29.1 - Alguns dos principais marcos científicos, que A l é m do desenvolvimento tecnológico, a globalização,
tiveram impacto no melhoramento de plantas as q u e s t õ e s sociais e a c o n s c i e n t i z a ç ã o ecológica e s t ã o tendo
profundo impacto nos objetivos do melhoramento vegetal.
Década Desenvolvimento Científico
Atualmente, o principal objetivo da maioria dos programas
1900 Redescoberta das leis de Mendel de melhoramento é aumentar a produtividade, mesmo em
1910 Heterose países onde existe p r o d u ç ã o em excesso. Com a
1920 Métodos de melhoramento c o n s c i e n t i z a ç ã o ecológica, e s t á sendo cobrado dos programas
1930 Mutagênese, métodos estatísticos de melhoramento o desenvolvimento de cultivares para
1940 Genética quantitativa sistemas de agricultura s u s t e n t á v e l . Nesse sentido, s e r ã o
1950 Fisiologia e morfologia exploradas c a r a c t e r í s t i c a s como habilidade de fixação de
1960 Bioquímica e informática n i t r o g é n i o ; a l t a capacidade de c o m p e t i ç ã o com plantas
1970 Cultura de tecidos daninhas; r e s i s t ê n c i a a d o e n ç a s e insetos; resposta a baixas
1980 Biologia celular doses de fertilização; qualidade nutricional; e
1990 Genética molecular desenvolvimento de cultivar com m ú l t i p l a s qualidades.
2000 Transgênicos

O desenvolvimento de u m novo c u l t i v a r em geral


demanda longo tempo, cerca de dez anos ou mais. Os
452 Barém e Miranda Perspectivas do melhoramento de plantas 453

Iniciativa privada x setor público prevista para a pesquisa permite que cultivares protegidos
possam ser utilizados como genitores em cruzamentos, sem
O melhoramento de plantas é conduzido pelos setores
necessidade de permissão ou pagamento de royalties ao criador
público e privado no Brasil. Os programas suportados com
do cultivar. A exceção prevista para os pequenos agricultores
recursos públicos encontram-se nas universidades, na
permite a troca de sementes de cultivares protegidos pela LPC.
Embrapa, nos institutos e nas empresas de pesquisa
Cultivares protegidos pela Lei das Patentes não apresentam
estaduais. A contribuição dessas instituições para a
tais exceções.
agricultura nacional pode ser avaliada na elevação da
produtividade de diversas espécies e na qualidade dos
produtos agrícolas observada nos últimos anos. Empresas da iniciativa privada
A iniciativa privada começou suas atividades de As empresas de melhoramento de plantas de diversos
melhoramento de plantas no Brasil h á aproximadamente países estão mudando de mãos. E m decorrência da demanda
meio século, de forma diferenciada, com as principais de elevados investimentos no desenvolvimento de novos
espécies agronómicas. Para as espécies cujas sementes são processos e produtos na área da biotecnologia, não
adquiridas a cada safra, como os híbridos de milho, as suportável pelas empresas de melhoramento de plantas,
empresas privadas desenvolveram programas mais estas têm estabelecido joint-ventures ou sido adquiridas por
extensivos e proeminentes do que para as outras cujos grãos grandes corporações que atuam na área da biotecnologia, em
são usados como sementes para plantio da safra seguinte. geral empresas da área de defensivos químicos e de
É por meio da venda de sementes dos cultivares que os fármacos.
programas de melhoramento ' privados recuperam o A Figura 29.1 apresenta o esquema da estrutura
investimento no desenvolvimento de cultivares. Empresas dinâmica envolvendo dois dos principais grupos mundiais de
como Monsanto, Pioneer e Syngenta desenvolveram programas melhoramento de plantas.
de melhoramento para grande número de espécies no Brasil.
Após a aquisição de inúmeras empresas e várias fusões
Entretanto, para as espécies autógamas, a maioria dos
(joint-venture), três grandes conglomerados destacam-se no
cultivares lançados no mercado foi desenvolvido pelo setor
cenário mundial no melhoramento de plantas: Monsanto,
público.
Du-Pont e Syngenta. Outros grupos isolados ainda procuram
Na Europa, a iniciativa privada também se encontra a melhor forma de se alinharem para enfrentar a economia
envolvida no melhoramento das espécies autógamas, atraída globalizada. Durante os anos de 1997 a 2000, a Monsanto
pelo direito de exclusividade na comercialização dos cultivares adquiriu grande número de empresas de melhoramento, de
desenvolvidos. E m 1980, a Suprema Corte dos Estados Unidos produção de sementes e de atuação nas áreas de genética e
declarou que organismos vivos poderiam ser protegidos pela Lei de biotecnologia em vários países. Posteriormente, essa
das Patentes. Uma das diferenças entre a Lei de Proteção de multinacional foi adquirida pela American Home Products
Cultivares (LPC) no Brasil e a Lei das Patentes em vigor nos (AHP). Recentemente, a A H P decidiu voltar o foco de suas
Estudos Unidos é que aquela abre exceções para pesquisa e atividades para a área farmacêutica.
intercâmbio direto entre pequenos agricultores. A exceção
454 Borém e Miranda Perspectivas do melhoramento de plantas 455

A s t r ê s grandes empresas que dominam o mercado de


sementes atualmente s ã o Monsanto, Dupont e Syngenta. A
c o n c e n t r a ç ã o da i n d ú s t r i a de sementes tem sido de interesse
da sociedade c i v i l e das o r g a n i z a ç õ e s de agricultores e as
implicações desse fato na segurança alimentar e
biodiversidade levou esse assunto a ser discutido n a F A O e
n a C o n v e n ç ã o de Biodiversidade das Nações U n i d a s em
2006.

Tabela 29.2 - A s dez maiores empresas de melhoramento de


plantas que comercializam sementes em 2004

Empresas Vendas
(milhões de dólares)
Monsanto ( E U A ) 2.803
Pioneer ( E U A ) 2.600
Syngenta (Suíça) 1.239
Groupe L i m a g r a i n ( F r a n ç a ) 1.044
K W S Saat A G (Alemanha) 622
Land 0'Lakes (EUA) 438
S a k a t a (Japão) 416
M a y e r Crop Science (Alemanha) 387
T a i k i i (Japão) 366
D L F Trifolium (Dinamarca) 320
Delta Pine L a n d ( E U A ) 315
F i g u r a 29.1 - E s t r u t u r a corporativa d i n â m i c a de dois
grandes grupos que atuam no melhoramento
de plantas. A Agroceres Sementes, a maior empresa de
melhoramento de plantas do hemisfério sul, foi adquirida
Atualmente, as 10 maiores empresas de melhoramento pela Monsanto no final de 1997, pelo valor estimado de U S $
controlam metade das vendas de sementes no mundo 70 m i l h õ e s . Maior complexo m u n d i a l de pesquisa e aplicação
correspondendo ao valor aproximado de $ 2 1 b i l h õ e s de de produtos desenvolvidos por biotecnologia e detentora de
d ó l a r e s por ano (Tabela 29.2). E s s e valor é inferior ao diversos genes obtidos v i a t r a n s f o r m a ç ã o gênica, a Monsanto
mercado de defensivos, de aproximadamente $ 34,4 bilhões, reduziu diversas etapas no processo de comercialização de
e modesto em r e l a ç ã o à s vendas f a r m a c ê u t i c a s , de $ 466
seus produtos t r a n s g ê n i c o s ao adquirir a Agroceres, haja
bilhões.
v i s t a o longo período envolvido no melhoramento e
456 Borém e Miranda Perspectivas do melhoramento de plantas 457

desenvolvimento de c u l t i v a r e s adaptados a u m a específica Acredita-se que uma linha de produtos mais


localidade. A Monsanto j á h a v i a adquirido, no B r a s i l , a F T diversificada, originários da agricultura, será o resultado da
Pesquisa e Sementes, dando origem à Monsoy, empresa de associação entre o melhoramento e a biotecnologia.
melhoramento de plantas que desenvolve c u l t i v a r e s de
espécies a u t ó g a m a s , como a soja e o feijão. Nos E U A , a
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B r a s i l se ele estiver cadastrado no Registro Nacional de
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C u l t i v a r e s ( R N C ) do M i n i s t é r i o da A g r i c u l t u r a . O R N C é,
portanto, o cadastro de cultivares habilitados para p r o d u ç ã o
e c o m e r c i a l i z a ç ã o de sementes e mudas certificadas e
fiscalizadas, em todo o t e r r i t ó r i o nacional. S e u objetivo é
ordenar o mercado para proteger o agricultor da venda
indiscriminada de sementes e mudas de cultivares n ã o
avaliados nas condições brasileiras.

O M i n i s t é r i o da A g r i c u l t u r a e do Abastecimento, por
i n t e r m é d i o do Serviço Nacional de P r o t e ç ã o de C u l t i v a r e s ,
da Secretaria de' Desenvolvimento R u r a l , estabeleceu os
mecanismos e instrumentos n e c e s s á r i o s à i n s c r i ç ã o de
cultivares no R N C .
Os objetivos do R N C foram substituir os antigos
sistemas de a v a l i a ç ã o e r e c o m e n d a ç ã o e de registro de
cultivares, por meio da i m p l a n t a ç ã o de sistema de
informações cadastrais fornecidas pelo obtentor ou detentor
460 Borém e Miranda Registro e proteção de cultivares 461

dos direitos de exploração do cultivar; promover a inscrição determinar o desempenho do cultivar; delineamento
prévia de cultivares nacionais e estrangeiros, habilitando-se experimental; tamanho da parcela; número de repetições e
para a produção e comercialização de sementes e mudas testemunhas experimentais; coeficiente de variação
certificadas e outras classes, no País; implementar a experimental; descritores (características) a serem
elaboração da listagem atualizada das espécies e cultivares avaliados; características agronómicas; reação a doenças;
disponíveis no mercado, o cadastramento de informações características especiais relacionadas às pragas; estresses
sobre o Valor de Cultivo e Uso (VCU) dos cultivares e a edafoclimáticos; resistência a herbicidas e descrição
publicação periódica da Listagem Nacional de Cultivares molecular, avaliação da produtividade; e qualidade
Registrados; e ordenar o mercado, impedindo a comer- tecnológica e industrial.
cialização de sementes e mudas certificadas e fiscalizadas de A título de exemplo apresentam-se a seguir os
cultivares não registrados.
requisitos mínimos para determinação do V C U de milho
Os cultivares que podem ser registrados são aqueles para inscrição de novos cultivares no Registro Nacional de
que demonstrarem qualidade condizente com as exigências Cultivares:
de mercado. Para isso, são estabelecidos os critérios mínimos
a serem observados nos ensaios de determinação do valor
I - Ensaios
intrínseco de combinação das características agronómicas do
cultivar com as suas propriedades de uso em atividades A) Número de locais: três locais por região edafoclimática de
agrícolas, industriais, comerciais e, ou, de consumo in importância para o cultivar, por ano.
natura. B) Período mínimo de realização: dois anos e, ou, duas
A pessoa física ou jurídica que seja obtentora de um estações de cultivo.
novo cultivar ou detentora dos direitos de exploração No caso de cultivar já registrado e modificado via
comercial do cultivar pode solicitar a inscrição no Registro transformação genética (OGM), será necessária a
Nacional de Cultivares. Os procedimentos para registro apresentação de dados de pelo menos um ano de ensaios.
estão relacionados às informações da identidade, do
desempenho prévio do cultivar em relação ao seu valor de I I - Delineamento experimental
cultivo e de uso, avaliado pelo obtentor ou pelo detentor dos
A) Blocos: critério do pesquisador responsável. Tratando-se
direitos comerciais, ou por terceiro, de comprovada
capacidade e qualificação, por meio de formulário específico de blocos casualizados, limitar o número de entradas por
fornecido pelo SNPC. ensaio em no máximo 50.
B) Tamanho da parcela: as parcelas úteis deverão ter no
O V C U é específico para cada espécie agronómica e
mínimo duas fileiras de 4,0 m de comprimento, com
deve ser consultado no site do Ministério da Agricultura
espaçamento e densidade usuais na região de realização
(www.agricultura.gov.br). Os requisitos mínimos para
do(s) teste(s) e na dependência do(s) cultivar(es)
determinação do Valor de Cultivo e Uso estão relacionados
testado(s).
com o número de locais, épocas e anos de experimentos para
462 Borém e Miranda Registro e proteção de cultivares 463

C) Número de repetições: no mínimo duas por local. a) Florescimento masculino: somatório do número de
D) Testemunhas: devem ser utilizados no mínimo dois dias da germinação até 50% das plantas liberando
cultivares inscritos no RNC, identificados entre aqueles pólen.
mais representativos na região de realização dos testes, b) Florescimento feminino: somatório do número de
sendo pelo menos um da mesma categoria do cultivar dias da germinação até 50% das plantas exibindo
objeto de registro. estilo-estigmas.
E) Somente serão válidos ensaios com Coeficiente de Obs.: Faculta-se aos requerentes apresentar, a título de
Variação (CV) de até 20%. informações adicionais aos itens supracitados, o
número de graus/dia, devendo utilizar para isso a
I I I - Características a serem avaliadas fórmula:

A ) Descritores
GD = Z (T.max + T.min - 10)
a) Forma da ponta da primeira folha: pontiaguda,
2
pontiaguda/arredondada, arredondada, arredondada/
espatulada, espatulada. em que: GD: graus/dia;
b) Angulo entre a lâmina foliar e o caule, medido logo T.max: temperatura máxima em °C; e
acima da espiga superior: pequeno, médio, grande. T.min: temperatura mínima em °C.
c) Comportamento da lâmina foliar acima da espiga
superior: reta, recurvada, fortemente recurvada. Deve-se considerar temperatura mínima inferior a
d) Comprimento da haste principal do pendão, medido 10 °C como 10 e temperatura máxima superior a 30 °C como
entre o ponto de origem e o ápice da haste central: 30.
curto, médio, longo.
e) Ângulo entre a haste principal do pendão e a c) Altura da planta: altura média da planta na parcela
ramificação lateral, no terço inferior do pendão: medindo sempre do nível do solo até a inserção da
pequeno, médio, grande. folha bandeira.
f) Coloração do estigma pela antocianina: ausente, d) Altura da espiga: altura média da espiga na parcela
presente. medindo sempre do nível do solo até a inserção da
g) Tipo de grão, medido no terço médio da espiga: duro, primeira espiga (espiga superior).
semiduro, semidentado, dentado, doce, pipoca, e) "Stand" final: número de plantas por ocasião da
farináceo, opaco, ceroso. colheita.
B) Características agronómicas f) Comprimento médio das espigas.
g) Diâmetro médio das espigas.
464 Borém e Miranda Registro e proteção de cultivares 465

h) Número de fileiras de grãos. c) Reação a herbicidas/pesticidas.


i) Textura dos grãos, d) Descrição em nível molecular.
j) Coloração dos grãos,
k) Empalhamento. E) Avaliação da produtividade
1) Peso de 1.000 sementes, a) Peso de grãos e, ou, espigas espalhadas, em kg/ha,
m) Peso hectolítrico. ajustado para 13% de umidade, do cultivar de milho a
ser inscrito no RNC e dos cultivares - testemunha
C) Reação a doenças avaliados, por região edafoclimática, local e ano;
b) Umidade dos grãos na colheita - percentagem de
a) Antracnose de colmo - Colletotrichum graminicola.
umidade dos grãos (% de umidade base úmida).
b) Ferrugem comum - Puccinia sorghi.
c) Mancha foliar de Helminthosporium - Exserohilum F) Avaliação da qualidade tecnológica/industrial: apresentar
tursicum. informações sobre qualidades nutricionais: no caso de
d) Pinta branca - Phaeosphaeria maydis. milhos especiais, deverão ser apresentados indicadores de
e) Ferrugem polisora - Puccinia polysora. caracteres qualitativos/quantitativos de interesse (teor de
f) Ferrugem branca - Physopella zeae. óleo, proteínas, amido, produção de massa seca, produção
de massa verde).
g) Complexo enfezamento do milho "Corn stunt".
h) Diplodia maydis. I V - Atualização de informações: novas informações sobre o
cultivar, como mudanças na região de adaptação, reação a
i) Fusariose - Fusarium moniliforme. pragas, doenças, limitações etc, devem ser enviadas, nos
j) Gibberella zeae. mesmos modelos do V C U , para serem anexadas ao
k) Outras doenças. documento de inscrição.

D) Características especiais: para fins de melhor identifi- Proteção de cultivares


cação do cultivar, poderão ser apresentadas, a critério do
obtentor/ detentor, informações sobre: A L e i de Proteção de Cultivares - L P C (Lei 9.456, de
25 de abril de 1997) reconhece o direito de propriedade dos
a) Reação a pragas: apresentar indicadores de novos cultivares vegetais desenvolvidos pelos programas de
resistência/tolerância (ex.: Spodoptera, Elasmopalpus, melhoramento genético. As espécies agrícolas passíveis de
Diatraea etc.). proteção são aquelas cuja proteção possua descritores
b) Reação a adversidades: apresentar indicadores de previamente definidos pelo Ministério da Agricultura e cujas
tolerância (ex.: seca, salinidade, toxidade de plantas tenham sido submetidas à domesticação e à seleção.
alumínio, frio etc).
466 Borém e Miranda Registro e proteção de cultivares 467

A L e i de Proteção de Cultivares e a L e i de O cultivar é uma variedade de qualquer género


Propriedade Industrial (Lei de Patentes) são mecanismos vegetal claramente distinta de outros cultivares conhecidos
distintos de proteção à propriedade intelectual. A L P C e que resulta do melhoramento genético realizado pelo
dispõe sobre a proteção dos direitos intelectuais do melhorista. Poderão ser protegidos todos os cultivares que
melhorista ao desenvolver um novo cultivar, conferindo sejam distintos, homogéneos e estáveis e que integrem a
direitos de exclusividade na comercialização. Essa lei não lista oficial de cultivares passíveis de proteção elaborada
impede o uso, pela pesquisa, do cultivar protegido na pelo Ministério da Agricultura. O cultivar é distinto
obtenção de um novo cultivar por terceiros, mesmo sem a quando possui características claras que permitam
autorização do detentor do direito. A L e i de Patentes, no identificá-lo como diferente dos demais por margem
entanto, confere direito de propriedade intelectual sobre mínima de descritores. E homogéneo quando todas as suas
genes construídos por processos biotecnológicos. A L e i de plantas apresentam a mesma expressão da característica.
Patentes, muito mais restritiva, protege os direitos E estável quando os seus descritores se m a n t ê m ao longo
intelectuais do detentor da patente mesmo para fins de das gerações. Por exemplo, se o cultivar de milho apresenta
pesquisa, não podendo, portanto, um cultivar transgênico ser a forma da ponta da primeira folha arredondada na safra
utilizado para o desenvolvimento de novos cultivares sem deste ano, as sementes desse cultivar e plantadas nas
autorização prévia do detentor da patente. safras seguintes deverão também apresentar a forma da
A L P C constitui-se, para todos os efeitos legais, na ponta da primeira folha arredondada.
única forma de proteção de cultivares e de direito, que A produção e comercialização de um cultivar
poderá obstar a livre utilização de plantas ou de suas partes protegido somente poderão ser realizadas com os prévios
de reprodução ou de multiplicação vegetativa no País. Antes licenciamentos com o detentor dos direitos intelectuais. E m
dessa lei, não havia maneira legal de as instituições de geral, o detentor desses direitos exige o pagamento de
pesquisa recuperarem o investimento financeiro, exceto pela royalties - taxas que podem incidir sobre o valor das
venda da semente inicial de multiplicação de um novo sementes ou da produção. Entretanto, a L P C permite o uso
cultivar, pelo fato de, na ausência da L P C , o cultivar ficar dos cultivares protegidos, sem incidência de royalties nos
em domínio público assim que era lançado e poder ser seguintes casos:
multiplicado por qualquer pessoa. Assim, era permitido aos
a) Para o agricultor que reserva e planta sementes para uso
multiplicadores privados de semente angariar os lucros da
próprio, em seu estabelecimento, ou em estabelecimento
sua venda, sem que qualquer benefício retornasse para o
de terceiros, cuja posse detenha.
melhorista ou sua instituição obtentora do cultivar. A nova
lei fornece, finalmente, os mecanismos legais que b) Para o agricultor que usa ou vende como alimento ou
possibilitam a recuperação razoável dos investimentos matéria-prima o produto obtido do seu plantio, exceto
realizados e, ainda, motivam melhoristas e instituições a para fins reprodutivos.
continuarem com o proces-so criativo, com a possibilidade de c) Para o melhorista que utiliza o cultivar como fonte de
reinvestimento na pesquisa. variação no melhoramento genético ou na pesquisa
científica.
468 Borém e Miranda Registro e proteção de cultivares 469

d) Para o agricultor que multiplica material vegetativo de Algumas das espécies passíveis de proteção são
cana-de-açúcar destinado à produção para fins de listadas a seguir:
processamento industrial, em áreas de até quatro
módulos fiscais.
E s p é c i e s agrícolas
e) Para o pequeno produtor rural que multiplica sementes
Algodão (Gossypium hirsutum L . ) , arroz (Oryza
para doação ou troca, exclusivamente para outros
sativa L . ) , aveia (Avena spp.), batata (Solanum tuberosum
pequenos produtores rurais, no âmbito de programas de
financiamento e de apoio a pequenos produtores rurais, L . ) , café (Coffea spp.), cana-de-açúcar (Saccharum sp.),
conduzidos por órgãos públicos ou organizações não cevada (Hordeum vulgare L . sensu lato), feijão (Phaseolus
governamentais, autorizadas pelo Poder Público. vulgaris L . ) , milho (Zea mays L . ) , soja (Glycine max (L.)
Merrill), sorgo (Sorghum spp.), trigo (Triticum aestivum L . )
Os cultivares protegidos permitem exclusividade de e triticale (x Triticosecale Witt).
produção e exploração a seu detentor por um período
determinado na L P C caso a caso, tornando-se de domínio
público a partir de então. A proteção tem validade de 15 E s p é c i e s florestais
anos, excetuando-se as videiras, as árvores frutíferas, as Eucalipto (género: Eucalyptus — subgênero: Symphyo-
árvores florestais e as árvores ornamentais, para as quais a myrthus — seções: Transversaria, Exsertaria, Maidenaria)
duração é de 18 anos. Após esses prazos, o cultivar pode ser
utilizado sem a prévia autorização dos seus detentores.
Espécies forrageiras
Pode ser titular da proteção de cultivares qualquer Brachiaria brizantha, B. decumbens, B. ruzizienses e
pessoa física ou jurídica que detiver um novo cultivar híbridos Brachiaria humidicola, B. dictyonera e híbridos,
cumprindo o conjunto de exigências do Ministério da capim-colonião (Panicum maximum Jacq.), capim-elefante
Agricultura. No caso de pedido de proteção de cultivar (Pennisetum purpureum Schum. e híbridos interespecíficos
proveniente do exterior, somente será deferido para as com Pennisetum spp.), guandu (Cajanus cajan (L.) Millsp.),
pessoas domiciliadas em país que tenha proteção assegurada macrotyloma (Macrotyloma axillare ( E . Mey) Verde.
por tratado em vigor no Brasil e que garanta aos brasileiros Sinonímia: Dolichos axillare E . Mey) e milheto (Pennisetum
a reciprocidade de direitos iguais ou equivalentes. glaucum L . R. BR.).
O Brasil segue leis internacionais em relação à
proteção de cultivares de acordo com a UPOV (União
Internacional para Proteção das Obtenções Vegetais), E s p é c i e s frutíferas
organização internacional com sede em Genebra (Suíça), Abacaxi (Ananás comosus (L.)Merrill), bananeira (Musa
responsável pela implementação da Convenção Internacional spp.), macieira frutífera (Malus spp.), macieira porta-enxerto
de Proteção de Novas Variedades de Plantas, cuja primeira (Malus spp.), mangueira (Mangifera indica L . ) , pereira
versão data de 1961 e sofreu três revisões: em 1972, 1978 e europeia frutífera (Pyrus communis L.), pereira porta-enxerto
1991. Com a L P C , o Brasil aderiu à Convenção UPOV/78. (Pyrus L.), tangerina (Citrus L.) e videira (Vitis spp.).
470 Borém e Miranda Registro e proteção de cultivares 471

E s p é c i e s olerícolas CARVALHO, V.M. Produção e comercialização de sementes


(inspeção e fiscalização). Belo Horizonte: Instituto Mineiro de
Abóbora (Cucurbita spp.), alface (Lactuca sativa L . ) ,
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(Daucus carola L . ) , ervilha (Pisum sativum L . ) , morango DELOUCHE, J.C.; POTTS, H.C. Programa de sementes:
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L . ) , crisântemo (Chrysanthemun spp.), estatice (Limonium 105.
Mill., Goniolimon Boiss. e Psylliostachys (Jaub.& Spach) KRZYZANOWSKI, F.C.; GILIOLI, J.L.; MIRANDA, L.C. Produção de
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472 Borém e Miranda

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Aberração cromossômica: anormalidade da estrutura ou


do número cromossômico.
Abiótico: relativo a fatores físicos e químicos do ambiente;
que não possuem condições de adaptabilidade, como água,
temperatura, solo etc.
Abscisão: separação de uma das partes da planta (exemplo:
folhas, flores, vagens etc).
Acamamento: tombamento das plantas, devido à sua fragili-
dade, sem a ruptura das hastes.
Ação gênica: maneira pela qual o gene ou os genes
controlam a expressão de uma característica.
Acasalamento ao acaso: tipo de acasalamento em que
todos os indivíduos de uma população possuem a mesma
chance de polinizar e de serem polinizados.
Acesso: amostra de germoplasma representativa de um
indivíduo ou de vários indivíduos da população. E m
caráter mais geral, qualquer registro individual constante
de uma coleção de germoplasma (exemplo: uma plântula,
uma maniva etc).
Ácido abscísico (ABA): hormônio com propriedades
inibitórias do crescimento celular, isto é, inibição da
síntese proteica e de ácidos nucleicos. Está associado à
474 Borém e Miranda Glossário 475

dormência, dominância apical, abscisão de folhas e frutos Alelo neutro: aquele que permanece na população com alta
e ao fechamento da abertura estomatal. frequência, independentemente de diversas condições ambi-
Aclimatização: processo de adaptação do indivíduo às entais.
condições ambientais antes do transplantio da planta Alelo raro: aquele que aparece na população em uma
cultivada in vitro para a casa de vegetação ou para o frequência inferior a 5%. Nesse caso, são requeridas
campo. grandes amostras para a permanência desse alelo na nova
Adaptação: processo pelo qual indivíduos, populações ou população.
espécies mudam de forma ou função para sobrevivência Alelos codominantes: alelos que contribuem para o
em determinadas condições de ambiente. fenótipo, porém sem a dominância de um sobre o outro.
Aditividade: somatório dos efeitos dos genes. Alelos múltiplos: mais de duas formas alternativas de um
Adventício: órgão vegetal formado em posição diferente gene; chamados também de série alélica.
daquela onde se forma no desenvolvimento natural (por Alogamia: fertilização cruzada; numa população pan-mítica é o
exemplo: folhas a partir de raiz e folhas a partir de calos). transporte e a fusão do gameta masculino de um indivíduo
A F L P (Amplified Fragment Length Polymorphism): com o gameta feminino de outro indivíduo; tipo de
polimorfismo de fragmentos de DNA amplificados via reprodução sexual com mais de 40% de polinização cruzada.
reação da polimerase em cadeia (PCR), com iniciadores Ver autofertibzação; autogamia; fertilização cruzada;
oligonucleo- polinização cruzada.
tídicos de sequência curta. Alopoliploide: poliploide que contém conjuntos de
Agar: polissacarídio gelatinoso obtido da alga vermelha cromossomos geneticamente diferentes de duas ou mais
Gelidium corneum. E utilizado como agente de gelifícação espécies.
do meio nutritivo; solidifica-se a 44 °C e funde-se a 100 °C. Alostérico: alteração no comportamento de uma proteína,
Agrobacterium rhizogenes: espécie de bactéria do solo, em razão da mudança na sua conformação, induzida pelo
gram-negativa, que frequentemente contém plasmídios ligamento de uma pequena molécula em um sítio não
Ri, podendo, nesse caso, causar o sintoma da raiz em ativo.
cabeleira. E utilizada em transformação gênica. Ambiente: soma total de todas as condições externas que
Agrobacterium tumefaciens: bactéria gram-negativa, afetam o crescimento e o desenvolvimento de um
nativa do solo, portadora do plasmídio T i , causadora de organismo.
tumores em plantas e utilizada em transformação gênica. Aminoácido: composto orgânico que contém radical
Albino: indivíduo com ausência de pigmentação normal. carboxílico e grupos amino.
Alelo: forma alternativa do gene. Amplificação: processo pelo qual o número de cópias de um
gene ou plasmídio é aumentado.
476 Borém e Miranda Glossário Ali

Ânáfase: fase da divisão meiótica em que os centrômeros se Antibiose: associação antagonística, em que um organismo
separam e migram para poios opostos. causa efeito prejudicial ao crescimento ou
desenvolvimento de um outro.
Análise de trilha ipath coefficient analysis): mede a
influência direta de uma variável sobre outra, Anticódon: sequência de três ribonucleotídeos na molécula
independentemente das demais, no contexto das relações do tRNA, que se emparelham com três nucleotídeos
causa e efeito, permitindo-se desdobrar os coeficientes de complementares do códon no mRNA.
correlações simples em seus efeitos diretos e indiretos. Anticorpo: proteína altamente específica, produzida por
Análise de variância: técnica estatística para separação da mamíferos em resposta a um antígeno introduzido no seu
variância total de uma característica em diferentes fontes corpo.
de variação. Antígeno: substância que, quando introduzida no corpo de
Ancestral: em evolução, é a espécie nativa que deu origem mamíferos, induz uma resposta imunológica, formando
ao estoque a partir do qual se domesticou a cultura hoje um anticorpo.
integrante da agricultura. Espécies ancestrais podem Ápice caulinar: segmento do ápice do caule, composto pelo
ainda existir na natureza ou ser consideradas extintas. meristema apical juntamente com os primórdios foliares e
Ver cultígeno; domesticação. com as folhas em desenvolvimento.
Androgênese: desenvolvimento do embrião a partir do Apogamia: tipo de agamospermia em que há
micrósporo ou pólen. desenvolvimento de um esporófito a partir de qualquer
Aneuploide: poliploide cujo número cromossômico somático célula do gametófito não reduzido (saco embrionário) em
não é múltiplo do número haploide. vez da oosfera; as células do saco embrionário são 2n e não
n, porque não foram obtidas por meiose.
Anfidiploide: poliploide cujo complemento cromossômico é
constituído por dois complementos somáticos completos de Apomixia: reprodução em que os órgãos sexuais participam
duas espécies. do processo, não ocorrendo, porém, a fertilização
(natureza assexuada).
Anfimixia: processo normal de reprodução em que há formação
de sementes através de fertilização dupla, ou seja, há fusão Apoptose: processo pelo qual, quando funcionando
de gâmetas. E a união de dois germoplasmas distintos normalmente, programa-se a morte celular. Se o processo
(singamia). de apoptose estiver defeituoso, a divisão celular pode
ocorrer desordenadamente e resultar em câncer.
Antese: abertura floral.
Aptidão genética: contribuição para a próxima geração de
ASA (Amplifica Specific Amplicon): marcadores
um genótipo numa população, relativa às contribuições de
moleculares revelados por amplificação do DNA, também
outros genótipos. E um processo de seleção natural que
denominados minissatélites.
tende a favorecer os genótipos com maior aptidão genética.
Asséptico: ausência de microrganismos vivos.
478 Borém e Miranda Glossário 479

Ativador: proteína que se liga a um sítio do DNA, Autorradiografia: técnica que usa filmes de raio X para
permitindo ou estimulando a transcrição gênica. visualizar moléculas radioativas; usada na análise do
Autofecundação: união dos gâmetas masculino e feminino comprimento e número de fragmentos de DNA após sua
do mesmo indivíduo. separação por eletroforese.

Autofertilização: 1) fecundação do óvulo pelo grão de pólen Autotrófico: indivíduo capaz de sintetizar os compostos
de uma mesma flor ou de flores distintas de um mesmo necessários para o seu crescimento e desenvolvimento.
indivíduo, dando origem ao zigoto; 2) união de dois núcleos Auxinas (AIA, ANA): classe de hormônio produzido nos
de um mesmo indivíduo. Ver alogamia; autogamia; ápices caulinares e na extremidade das raízes; estão
fertilização cruzada; polinização cruzada. envolvidas na dominância apical, na iniciação da
formação de raízes, no estímulo da divisão, no
Autógama: espécie que se reproduz por autofecundação.
alongamento celular e na produção de calos em cultura de
Autogamia: 1) autofertilização; numa população pan-mítica é tecidos. Soluções de auxinas em geral são armazenadas
a fusão do gameta masculino com o gameta feminino do sob refrigeração e na ausência de luz, para prolongada
mesmo indivíduo. No caso de plantas monoicas conservação.
hermafroditas ou monoclinas (exemplo: goiabeira), a flor
reúne os dois sexos e a fertilização se dá entre pólen e óvulo Auxotrófíco: indivíduo que não se desenvolve em meio
da mesma flor. No caso de plantas monoicas com flores nutritivo que não contém os nutrientes essenciais para o
unissexuais ou diclinas (exemplo: mandioca), o indivíduo crescimento de tipos selvagens.
apresenta flores masculinas e femininas separadas, Avirulento: patógeno incapaz de infectar e causar doença no
chamando-se de geitonogamiã este tipo particular de hospedeiro.
polinização autógama; 2) tipo de reprodução sexual em que BAC (Bactéria Articial Chromosomè): cromossomo
existem menos de 5% de polinização cruzada. As plantas artificial bacteriano usado para clonar fragmentos de DNA
que se reproduzem por autofecundação são quase ou de até 400 kb.
completamente homozigóticas. Ver alogamia;
autofertilização; autopolinização; fertilização cruzada; Bacteriófago: vírus que infecta bactéria.
polinização cruzada. Banco de germoplasma: coleção de todo o patrimônio
genético de uma espécie, mantido com a finalidade de
Autoincompatibilidade: impedimento fisiológico genetica-
preservar a sua variabilidade.
mente controlado para a autofecundação. Pode ser homo-
mórfica ou heteromórfica (esporofítica ou gametofítica). Bandeamento: técnica para identificação cromossômica
baseada na capacidade de coloração diferencial em
Autopolinização: transporte do grão de pólen para o
padrões de zonas claras e escuras.
estigma da mesma flor.
Base genética: total da variação genética presente em um
Autopoliploide: poliploide resultante da multiplicação do
material genético. E m princípio, quanto maior a amplitude
genomu completo de uma única espécie (exemplo: autote-
da variação genética, maior a capacidade de a população
traploide possui quatro conjuntos idênticos de cromossomos).
480 Borém e Miranda Glossário 481

fazer frente às flutuações ambientais, em benefício de sua Biotecnologia: desenvolvimento de produtos por
perpetuação. processos biológicos, utilizando-se a tecnologia do DNA
Biblioteca gênica (gene bank): coleção de fragmentos de recombinante, cultura de tecidos etc; uso industrial de
DNA clonado, que, idealmente, representam todas as processos de fermentação de leveduras para produção
sequências de um genoma. de álcool ou cultura de tecidos para extração de
produtos secundários.
Biodiversidade: no sentido mais geral, é o somatório de
formas de vida que habitam o planeta. Atualmente, h á Biótipo: grupo de indivíduos com o mesmo genótipo.
dois pontos de vista sobre essa definição: 1) o conceito bp: pares de bases, unidade utilizada no sequenciamento
amplo afirma que é o total de organismos vivos existentes, cromossômico.
sua variação genética e os complexos ecológicos por eles Bivalente: par de cromossomos homólogos, unidos na
habitados; a diversidade considerada abrange aquela primeira divisão meiótica.
dentro da espécie, entre espécies e entre ecossistemas; 2) o
conceito restrito considera que é a multitude de bioformas, Calo: massa de células indiferenciadas que se proliferam de
em todas as suas categorias taxonômicas e ecológicas, que forma desorganizada em meio nutritivo.
habitam a biosfera; a inclusão de fatores abióticos não é Caminhamento de cromossomo (chromosome
essencial para a formulação do conceito, pois o que walking): isolamento sequencial de clones portadores de
importa é descrever um fenómeno natural, que não é sequências de DNA com superposição, permitindo que
dependente, para sua visualização, da inclusão de fatores grandes regiões do cromossomo sejam cobertas para
físicos e químicos do ambiente., identificação de clones do banco gênico.
Bioinformática: ciência da computação aplicada à pesquisa Candivar: linhagem-elite, candidata a lançamento como
biológica. Informática é a manipulação e análise de dados novo cultivar; termo cunhado por Jensen (1988).
usando técnicas avançadas de computação. Bioinformática Capacidade Específica de Combinação (CEC): desvio do
é especialmente importante em pesquisas genômicas, por comportamento esperado de um genótipo, tomando como
causa da complexidade dos dados gerados. base a sua capacidade geral de combinação.
Biolística: processo de introdução de DNA exógeno em Capacidade Geral de Combinação (CGC): comporta-
células ou tecidos, pela aceleração de micropartículas de mento médio de um genótipo em uma série de
ouro ou tungsténio recobertas pela construção gênica que cruzamentos.
são atiradas no tecido ou células receptoras. E também
Capacidade Média de Combinação (CMC): performance
denominada aceleração de micropartículas ou bombardeio
relativa de uma linha homozigota quando cruzada com um
de micropartículas. grande número de testadores homozigotos de base
Biossegurança: estudo dos riscos de impactos, decorrentes genética restrita. Quando o número de testadores é muito
do uso da biotecnologia, no meio ambiente. grande, aproxima-se da capacidade de combinação geral.
482 Borém e Miranda Glossário 483

Caráter: atributo de um organismo que é resultado da Centro de domesticação: região geográfica onde se
interação de um gene ou genes com o ambiente. domesticou determinada espécie. Muitas espécies (exemplo:
Caráter qualitativo: caráter em que a variação é seringueira) foram domesticadas, independentemente, por
descontínua. vários grupos humanos, em épocas e áreas diferentes, como
decorrência da sua grande distribuição geográfica. Esta
Caráter quantitativo: caráter em que a variação é origem é chamada de acêntrica. Outras espécies (exemplo:
contínua, de tal forma que não é possível sua classificação tomate) foram domesticadas fora da área de ocorrência
em categorias discretas. natural do ancestral silvestre.
Carbono ativado: carbono submetido a tratamento para Centro de origem: região onde o ancestral silvestre de uma
remoção de hidrocarbonos, de forma a aumentar suas espécie distribui-se em estado nativo. Na concepção de
propriedades de adsorção; é geralmente utilizado nos Vavilov, o centro de origem de uma espécie equivalia à
meios de cultura para remoção de substâncias inibitórias. região onde o ancestral silvestre exibia a maior
Cariótipo: número, tamanho e formato (bandas) dos diversidade genética para um número seleto de
cromossomos de uma célula somática. características, diminuindo a variabilidade à medida que
cDNA (DNA complementar): fita simples do DNA, se deslocava para a periferia da distribuição. O
complementar à molécula do RNA. E sintetizado in vitro, conhecimento atual raramente valida a proposição de que
a partir de RNA, pela enzima transcriptase reversa. o centro de origem de uma cultura coincide com a região
em que esta mostra maior diversidade genética,
Célula germinativa: célula espermática ou óvulo e seus possivelmente porque a relação entre ambos foi enunciada
precursores. As células germinativas são haploides e de maneira equivocada.
possuem somente um conjunto de cromossomas típicos da
espécie. Centro de recursos genéticos: instituição incumbida de
conservar e promover a utilização do germoplasma de
Celulase: enzima ou complexo enzimático que degrada a
espécies domesticadas ou de potencial económico.
celulose e libera açúcares.
Centrômero: região cromossômica que interage com as
Células stem (stem cells): células indiferenciadas com a
fibras do fuso; está associado à movimentação dos
capacidade de multiplicar-se e diferenciar-se em células
cromossomos durante a divisão celular.
especializadas. Podem ser mantidas em cultura in vitro
indefinidamente. No homem, são encontradas na medula Cíbrido: célula híbrida com o núcleo de um indivíduo e
óssea. Alguns pesquisadores a designam como células- organelas de outro. E obtido da fusão de dois protoplastos,
tronco. sendo um deles submetido à radiação, a fim de eliminar os
genes nucleares.
Centro de diversidade: região geográfica que contém uma
concentração da diversidade genética de uma ou mais Circularização: processo em que um fragmento de DNA é
espécies. Anteriormente designado centro de origem. produzido por digestão com uma endonuclease de
restrição para produzir extremidades 5' e 3' complemen-
tares, permitindo anelamento.
484 Borém e Miranda
Glossário 485

Cístron: unidade funcional da hereditariedade. Nos eucariotos, é Coeficiente de parentesco: medida da distância genética
definido pelos fenótipos de um heterozigoto portador de duas entre dois indivíduos ou variedades.
mutações recessivas, proveniente de diferentes genitores. Se o
fenótipo 6 mutante, os genes pertencem ao mesmo cístron; se Coeficiente de regressão: medida numérica da
intensidade de mudança da variável dependente com
normal, a diferentes cístrons.
relação à independente.
Citocinina (BAP, BA): classe de hormônio envolvido na
divisão, no crescimento celular e na diferenciação de Colchicina: alcalóide que impede a formação das fibras do
órgãos quando em presença de auxinas. E m cultura de fuso e, consequentemente, a não disjunção dos
tecidos, é utilizada para indução da formação da parte cromossomos-filhos. E m células meióticas, pode resultar
aérea. A sua remoção do meio de cultura induz à formação em duplicação cromossômica.
do sistema radicular; apresenta função fisiológica Coleção ativa: coleção de acessos rotineiramente usada
semelhante à das cinetinas. para propósitos de pesquisa, caracterização, avaliação e
Cleistogamia: polinização antes da antese. utilização de materiais. E multiplicada de acordo com a
demanda e regenerada periodicamente. O caráter
Clonagem: processo assexuai de produção de um grupo de dinâmico da coleção ativa é indicado pelo fato de que
células ou indivíduos (clone), todos geneticamente acessos entram e saem de seu inventário, conforme
idênticos, a partir de um único indivíduo. Na tecnologia do decisões gerenciais. No caso de eliminação de acessos,
DNA recombinante, é o uso da manipulação do DNA para estes podem (ou não) vir a integrar a coleção-base, que é
produzir múltiplas cópias de um único gene ou fragmento maior em escopo. A coleção ativa, geralmente, funciona em
de DNA. dois ciclos: plantas vivas crescendo no campo e sementes
Clone: grupo de indivíduos que descendem, por reprodução armazenadas para regeneração ou multiplicação de
assexuada, de um único indivíduo. materiais. Deve corresponder a um subconjunto da
Código genético: combinações triplas de bases orgânicas coleção-base.
contidas no DNA, que resultam na formação de enzima Coleção-base: coleção abrangente de acessos conservada no
específica. longo prazo. A coleção-base ideal deve conter amostras
Codominância: expressão de ambos alelos no indivíduo representativas de todo o germoplasma da espécie. É vista
heterozigoto. como uma estratégia de segurança, abrigando em seu
acervo a coleção ativa duplicada. Seus acessos não são
Códon: trinca de bases no DNA ou RNA, que codifica um
utilizados para intercâmbio. As coleções-base existentes
aminoácido. são todas compostas de sementes ortodoxas.
Coeficiente de endogamia: 1) medida quantitativa da
Coleção de campo: coleção de plantas mantidas para
intensidade de endogamia; 2) probabilidade mínima de
conservação, pesquisa etc. Plantas com as quais se
que dois alelos de um indivíduo sejam idênticos por
pretende promover cruzamentos controlados ou
ascendência. Ver endogamia.
multiplicação de sementes. Espécies perenes, como
486 Borém e Miranda Glossário 487

frutíferas e florestais, são preferencialmente mantidas de fácil seleção e outro um gene que não pode ser
nestas condições. identificado por seleção direta.
Coleção de trabalho: coleção de germoplasmas com acessos Criopreservação: conservação de materiais em baixas
avaliados, mantida para propósitos específicos do tempe-
melhorista. A coleção é sempre de tamanho limitado e raturas, normalmente próximas à temperatura do
geralmente composta por germoplasmas-elite. nitrogénio líquido (-196 °C).
Coleóptilo: nas gramíneas, bainha que envolve o meristema cRNA (RNA complementar): R N A produzido pela
apical com os seus primórdios foliares no embrião. transcrição de uma fita simples do DNA molde.
Interpretado também como primeira folha. Cromatídio: um dos filamentos do DNA resultante da repli-
Complementação: ação gênica complementaria em um cação cromossômica.
único citoplasma, que permite a expressão do gene. Cromatina: parte da substância nuclear que forma a parte
Conservação in sitw. ação de conservar plantas e animais mais proeminente da malha nuclear e dos cromossomos. É
em suas comunidades naturais. As unidades operacionais chamada assim por causa da rapidez com que ela fica
são várias, destacando-se parques nacionais, reservas corada com o uso de certos corantes.
biológicas, reservas genéticas, estações ecológicas, Cromômero: menor partícula identificável do cromossomo,
santuários de vida silvestre etc. Acredita-se que o material pelas suas características, tamanho e posição nos fios
vivendo nessas condições está sob influência direta das cromossomais. Subdivisão minúscula de cromatina
forças seletivas da natureza e, portanto, em contínua arranjada em forma linear (como um colar) no
evolução e adaptação ao ambiente, desfrutando de uma cromossomo.
vantagem seletiva em relação ao material que cresce ou é
Cromonema: um único fio de material cromático dentro do
conservado ex situ.
cromossomo distinguido oticamente.
Constitutivo: um tecido é assim denominado quando uma
Cromossomo: estrutura nuclear constituída de uma hélice
substância é produzida continuamente em quaisquer
dupla de DNA que contém os genes.
condições de ambiente.
Cromossomos homoeólogos: são aqueles parcialmente
Construção gênica: plasmídio contendo promotor,
homólogos.
sequência codificadora e terminação que é inserido no
hospedeiro, via biolística ou Agrobacterium, para Crossing over: permuta de material genético entre cromos-
promover a transformação gênica. somos homólogos.
Contigs: grupos de clones representando regiões com Cruzamento composto: mistura de genótipos de diferentes
sobrepo- cruzamentos, mantida em conjunto por várias gerações.
sição do genoma. Cruzamento convergente (narrow cross): hibridação
Cotransformação: técnica em que uma célula receptora é entre genitores aparentados entre si, em geral genótipos
incubada com dois plasmídios, um contendo um marcador agronomicamente superiores.
488 Borém e Miranda Glossário 489

Cruzamento dialélico: cruzamento de todas as possíveis Depressão endogâmica: perda de vigor como uma
combinações de uma série de genótipos. consequência da autofecundação ou de acasalamentos
Cruzamento divergente (wide cross): hibridação entre endogâmicos em espécies alógamas.
genitores com grande distância genética entre si. Os Deriva genética: oscilação ao acaso de frequências gênicas em
genitores podem pertencer à mesma espécie ou a uma população devido à ação de fatores casuais em vez da
diferentes espécies. O comportamento médio esperado das seleção natural. O fenómeno é mais visível em populações
populações originadas desses cruzamentos é inferior ao pequenas e isoladas.
das originadas de cruzamentos convergentes entre Descritor: característica mensurável ou subjetiva de um
genitores superiores. acesso, como altura da planta, cor da flor, comprimento do
Cruzamento recíproco: é aquele em que se invertem os pecíolo, forma da folha etc. Os descritores são agrupados na
gâmetas masculinos e femininos. forma de lista para cada espécie em particular e são aferidos
Cruzamento-teste: cruzamento de um heterozigoto duplo através do estado do descritor, ou seja, as categorias
ou múltiplo com o correspondente recessivo duplo ou reconhecidas como válidas para aquele descritor (exemplo:
múltiplo, para comprovar a homozigose ou ligação. cor da flor: roxa, branca, violácea; cor de pecíolo: verde,
verde-avermelhada, vermelho-esverdeada). Descritores são
Cultivar: variedade cultivada; grupo de indivíduos de uma aplicados na caracterização e avaliação de coleções de
espécie que se relaciona por ascendência e se apresenta germoplasma para tornar suas propriedades agronómicas
uniforme quanto às características fenotípicas. conhecidas.
Cultura de meristema: cultura in vitro da estrutura
Desequilíbrio de ligação: combinação de alelos de genes
meristemática dos ápices caulinares ou das brotações.
ligados, com frequência diferente daquela esperada em
Cultura de tecidos: termo usado em cultivo in vitro de combinações ao acaso.
células, tecidos ou órgãos, em condições assépticas, em um
Desinfestação: eliminação de microrganismos superficiais em
meio nutritivo.
um explante.
Cultura em suspensão: tipo de cultura em que as células
Desnaturação: quebra das estruturas secundária e terciária
ou os agregados de células se multiplicam quando
das proteínas ou dos ácidos nucleicos por agentes físicos ou
suspensos em meio líquido.
químicos.
D A F (DNA Amplification Fingerprinting): estratégia
Despendoamento: emasculação por meio da retirada do
para detecção de diferenças genéticas entre organismos
pendão (inflorescência masculina) da espécie, como ocorre no
por meio da amplificação enzimática de DNA genômico,
milho.
utilizando-se um único oligonucleotídeo iniciador de
Hoquência arbitrária. Desvio-padrão: medida de variabilidade. Matematicamente, é
a distância da média até o ponto de inflexão da curva
Deficiência: ausência ou deleção de um segmento
normal no eixo das abscissas.
cromoHsômico.
490 Borém e Miranda Glossário 491

Digestão completa: tratamento do DNA com enzimas de DNA complementar (cDNA): DNA que é sintetizado a
restrição por um período suficiente para que todos os partir de um molde de RNA mensageiro (mRNA) pela
sítios de restrição sejam clivados. transcriptase reversa; a fita simples que é sintetizada é
Di-haploide: indivíduo completamente homozigótico, obtido frequentemente usada como sonda em mapeamento.
pela duplicação do número cromossômico a partir de um DNA recombinante: aquele constituído pela agregação de
haploide. segmentos naturais ou sintéticos de DNA com outras
Dioica: planta em que flores masculinas e femininas estão moléculas de DNA capazes de se replicar em células vivas.
em indivíduos diferentes. Dogma central da genética: teoria que postula que a
Diploide: organismo com dois cromossomos de cada classe. informação genética pode ser transferida somente a partir
de ácidos nucleicos para ácidos nucleicos ou a partir de
Direitos de propriedade intelectual: proteção de uma
ácidos nucleicos para proteína, isto é, de DNA para DNA
invenção por meio do uso de instrumentos legais (exemplo:
ou RNA e de RNA para proteína.
patentes, direitos do autor, direitos do melhorista, direitos
do agricultor, marcas e segredos comerciais, proteção de Domesticação: conjunto de atividades que visa incorporar
variedades vegetais etc). uma planta silvestre ao acervo de plantas disponíveis
para uso e consumo pelo homem. As atividades incluem
Direitos do melhorista: poderes legais garantidos ao criador
uma série de técnicas cognitivas (exemplo: modo de
de uma variedade de planta ou direito exclusivo de sua
reprodução da espécie, sistemas de cruzamento, manejo
comercialização durante tempo determinado. As variedades
etc) que pode tornar a espécie inteiramente dependente
protegidas por esse tipo de legislação podem ser usadas por
do ser humano para sua propagação, perdendo a
outros melhoristas para o desenvolvimento de outras
capacidade de sobreviver na natureza. Atingindo esse
atividades.
estádio, uma espécie domesticada tem evolução
Diversidade: variabilidade; existência de diferentes formas determinada pela seleção natural e seleção artificial,
em qualquer nível ou categoria. Há uma tendência de tornando o homem um agente seletivo de maior força que
associar diversidade com o nível macro (exemplo: os tradicionais agentes (exemplo: mutação, recombinação)
diversidade de espécies ou diversidade de flores). da seleção natural. Ver ancestral; cultígeno.
Diversidade biológica: engloba todas as espécies de Dominância: interação intra-alélica que faz com que um
plantas, animais e microrganismos, além dos ecossistemas alelo se expresse quando em heterozigose, excluindo a
e processos ecológicos dos quais fazem parte. manifestação do seu alelo alternativo.
DNA: ácido desoxirribonucleico; hélice dupla de bases Dominante: característica que se expressa em indivíduos
purinas (adenina e guanina) e bases pirimidinas (citosina heterozigóticos em relação a um par de alelos específicos.
o timina), mantidas emparelhadas por ligações do tipo Dominância parcial ou incompleta, expressa-se na forma
fbsfàto-desoxirribose. reduzida ou intermediária em indivíduos heterozigóticos,
em relação a um par de alelos específicos.
Glossário 493
492 Borém e Miranda

voltagem; é utilizado para introduzir macromoléculas,


Dominante: 1) alelo que se expressa quando o outro membro
do par (alelo recessivo) está no cromossomo homólogo; como o DNA, em um protoplasto.
2) dominância parcial ou incompleta que se expressa na Eliminação cromossômica: eliminação selctiva de uma
forma reduzida ou intermediária em indivíduos parte ou de todo o genoma em gerações subsequentes após
heterozigóticos em relação a um par de alelos específicos. um cruzamento divergente.
Ver epistasia; recessivo; variância genética. E L I S A (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay): teste
Duplex: ver nuliplex. imunológico com dois anticorpos. O primeiro é específico
Duplicação: ocorrência dupla de um segmento de para o antígeno de interesse, e o segundo é uma
cromossomo no conjunto haploide. antiglobulina a que uma enzima se fixa. O primeiro
anticorpo liga-se ao antígeno e, então, a antiglobulina, ao
Efeito aditivo: ação gênica em que os efeitos de uma anticorpo primário.
característica genética sofrem alteração de cada alelo
adicional introduzido. Elite: linhagem agronomicamente superior, com elevada
produtividade.
Efeito de dose: influência do número de vezes que o mesmo
alelo é encontrado na manifestação fenotípica. Emasculação: remoção das anteras ou dos gâmetas
masculinos de uma flor.
Efeito dominante: ação gênica que ocorre em razão dos
desvios do efeito aditivo, como na situação em que o Embriogênese: processo de formação de embrião por
heterozigoto é mais semelhante a um dos genitores. meios sexuais ou assexuais. Na embriogênese assexuada, os
embriões formam-se diretamente do explante ou de calos.
Efeito-fundação: referindo-se -à evolução, designa a
modificação na estrutura da variabilidade genética EMS: etilmetanossulfanato. É um agente mutagênico.
quando alguns indivíduos deixam a população original e Endogamia: cruzamento entre indivíduos aparentados.
formam outra. Esses indivíduos, portadores de parte da Endomitose: processo de duplicação cromossômica dentro
variabilidade genética original, continuam o processo de da membrana nuclear intacta, não seguido de citocinese,
evolução de forma diferente em relação à população resultando em células.
original.
Endonuclease: enzima que cliva uma cadeia
Eficiência de plaqueamento: porcentagem de células polinucleotídica em posições não terminais.
plaqueadas que dão origem a colónias.
Engenharia genética: transferência de DNA de um
Eletroforese: separação de moléculas que se diferem em indivíduo doador para outro receptor, por meio da
tamanho e carga, com base na sua mobilidade, quando tecnologia do DNA recombinante.
submetidas a um campo elétrico em meio gelatinoso.
Enzima: proteína que age como catalisador em reaçÕes
Elotroporação: método que permite a formação de poros biológicas.
reversíveis na membrana plasmática, por meio da
Enzimas de restrição: são aquelas com capacidade de
aplicação de pulsos elétricos de curta duração e alta
clivar o DNA em sítios específicos.
494 Borém e Miranda Glossário 495

Epidemia: expansão ininterrupta de uma doença. Espécie: unidade de classificação taxonômica em que os géneros
Epistase: dominância de um gene sobre outro não alélico. 0 estão subdivididos. Grupo de indivíduos similares que difere de
gene que tem seu efeito suprimido chama-se hipostático. outros conjuntos semelhantes de indivíduos. E m organismos
Geralmente, este termo é usado para descrever todos os que se reproduzem sexuadamente, é o grupo de máximo
tipos de interação não alélica em que qualquer intercruzamento que se encontra isolado de outras espécies,
manifestação que ocorre em um loco é afetada por alelos por esterilidade ou incapacidade reprodutiva.
de qualquer um dos demais loci. Espécie alóctone (exótica): espécie que é introduzida em
Equilíbrio de Hardy-Weinberg: condição em que, numa uma área onde não existia originalmente. Várias espécies
grande população, com acasalamentos ao acaso e na de importância económica caem nessa categoria (exemplo:
ausência de seleção, mutação ou migração, tanto as introdução da soja nas Américas, Europa e Africa, da
frequências gênicas como as genotípicas se mantêm seringueira na Malásia ou do caju na Africa Oriental e
constantes. índia).

Equilíbrio genético: condição em que gerações sucessivas Espécie autóctone: espécie nativa, indígena, que ocorre
de uma população contêm as mesmas frequências como componente natural da vegetação de um país. As
genotípicas, nas mesmas proporções ou combinações de espécies desta categoria são de origem exclusiva e não
genes. apresentam populações ancestrais em territórios
estrangeiros (exemplo: milho, com origem no México).
Erosão genética: perda da variabilidade genética de uma
espécie. A perda pode atingir populações ou um genótipo Espécie domesticada: espécie silvestre manipulada pelo
particular, com a supressão de genes e, ou, séries alélicas homem, que influencia e direciona seu processo evolutivo
do reservatório gênico da espécie. para atender às necessidades de sobrevivência da
humanidade. As espécies domesticadas são cultivadas para
Erro-padrão: estatística correspondente ao valor estimado uma variedade de propósitos, daí os grupos de plantas
do desvio-padrão (parâmetro). medicinais ornamentais etc. Destaca-se o grupo utilizado em
Escherichia coli: bactéria comum que tem sido agricultura com os nomes de cultura, cultivo agrícola,
exaustivamente estudada por geneticistas em razão do produto ou "commodities" (geralmente cereais ou grãos com
seu pequeno genoma e que normalmente não apresenta cotação em bolsas de mercadorias).
patogenicidade. E de fácil cultivo em laboratório e tem
Espécie endémica: espécie com distribuição geográfica
sido usada em manipulação gênica.
restrita a determinada área.
Especiação: processo de diversificação genética de
Espécie feral: espécie domesticada que foi reintegrada na
populações e de multiplicação de espécies. Na prática, é
natureza e encontra-se em processo oposto ao de
usada para monitorar o fenómeno da evolução. Há várias
domesticação.
modalidades de especiação, com destaque para a
HÍmpátrica e a alopátrica. Ver evolução; espécie; simpatria; Espécie silvestre: espécie que ocorre em estado selvagem
alopatriu. na natureza e que não passou pelo processo de
496 Borém e Miranda Glossário 497

domesticação. Uma espécie silvestre pode apresentar terapias permitirá o desenvolvimento de medicamentos
grande distribuição geográfica e ocorrer em vários países mais eficientes.
simultaneamente. Fase de aproximação: fase de ligamento de heterozigotos
Estabilidade genética: 1) manutenção de determinado duplos em dois loci ligados, que receberam os alelos
índice de equilíbrio genético no indivíduo ou na população; dominantes de um genitor e os alelos recessivos de outro.
2) capacidade dos organismos de se reproduzirem ou se Fase de repulsão: fase de ligamento de heterozigotos
modificarem sem grandes alterações. duplos em dois loci ligados, que receberam um alelo
Esterilidade somatoplástica: degenerescência dos zigotos dominante e um alelo recessivo de cada genitor.
durante os estados embrionários, em virtude das Fenótipo: aparência de um indivíduo sem referência à sua
alterações nas relações endosperma-embrião. composição genética ou ao genótipo; é também utilizado
Eugenia: ciência que ganhou importância no início do século para designar um grupo de indivíduos com aparência
XX, a qual advogava a manipulação do genoma humano, semelhante, porém não necessariamente com idênticos
por meio da seleção artificial, visando identificar genótipos.
indivíduos com características consideradas superiores. Fertilidade: capacidade de produzir descendência viável.
Exon: região gênica que é transcrita e representada no Fertilização: fusão dos núcleos dos gâmetas masculino e
mRNA. feminino.
Exonuclease: enzima que remove (cliva) um nucleotídeo de Fertilização dupla: união dos núcleos espermáticos com a
cada vez, a partir das extremidades de 3' ou 5' de uma oosfera e com os núcleos polares para a formação do zigoto
cadeia polinucleotídica. (2n) e do endosperma (3n).
Explante: tecido tomado de seu sítio original e transferido para F I S H (Fluorescence in Situ Hybridization): mapa físico
um meio de cultura para crescimento ou manutenção. que utiliza fluorescência para detectar sondas
Expressividade: grau de manifestação de uma caracterís- hihridizadas com cromossomos em metáfase ou com
tica genética. cromossomos em interfase, porém menos condensados.
F i : primeira geração filial de um cruzamento. Frequência gênica: proporção em que aparecem, em uma
F2: segunda geração filial obtida por autofecundação, ou população, os alelos alternativos de um gene.
cruzamento entre si, de indivíduos F i . Friabilidade: termo utilizado em cultura de tecidos, referindo-
F 3 : progénie obtida por autofecundação de indivíduos F2. se à tendência de as células vegetais se separarem.
Farmacogenômica: ciência que estuda a correlação entre a Gameta: célula sexuada e haploide dos organismos vivos,
constituição genética do indivíduo e sua resposta à droga encarregada da reprodução mediante a fecundação e a
iiHíida no tratamento de doenças. Algumas drogas fusão nuclear.
funcionam bem em certas pessoas, mas não em outras. O
estudo da base gênica da resposta do paciente a diferentes
498 Borém e Miranda Glossário 499

Ganho ou progresso de seleção: obtido quando se genes de resistência a antibióticos neomicina


melhora para a característica em seleção de uma geração fosfotransferase e higromicina fosfotransferase e de
para a outra. tolerância a herbicida, como fosfinotricina acetil
Geitonogamia: polinização por flores vizinhas, porém do transferase (Bar).
mesmo indivíduo. Gene modificador: aquele que afeta a expressão de outro
GMO (Genetically Modified Organism): qualquer gene ou de genes não alélicos.
organismo vivo modificado pelas técnicas do DNA Gene quimérico: gene recombinante que contém
recombinante, isto é, organismo transgênico. sequências de mais de uma fonte de material genético.
Gene: unidade física e funcional da hereditariedade que codifica Gene regulador: aquele que sintetiza uma substância
uma proteína funcional ou molécula de RNA; segmento repressora, que, sozinha ou com um correpressor, previne
cromossômico, plasmídio ou molécula de DNA que contém a transcrição de um "operon" específico. Genes
regiões precedendo e seguindo a região codificadora. reguladores afetam a expressão de genes estruturais.
Gene antisenso: gene sintetizado na orientação inversa à do Gene repórter: gene inserido no cassete de transformação
promotor, que, quando transcrito, produz um visando permitir a identificação visual de células, tecidos
polinucleotídeo complementar ao do gene com a orientação ou indivíduos transformados. Exemplo: genes que
original. codificam para glucaronidase (GUS), luciferase ou
Gene estrutural: aquele cuja sequência determina a proteína verde fluorescente (GFP).
estrutura primária de seu produto. Se o produto é um Genética de populações: estudo quantitativo e mensurável
polipeptídio, a estrutura primária é sua sequência de de populações mediante metodologia e critérios
aminoácidos. estatísticos.
Gene marcador: gene que governa uma característica que Genética molecular: estudo da função gênica no controle
pode ser utilizada para identificação da progénie oriunda de atividades celulares e da sua organização física dentro
dos cruzamentos artificiais e de autofecundação. Os genes dos genomas.
marcadores mais utilizados são aqueles que governam Genética quantitativa: estudo da hereditariedade
características facilmente observáveis, a exemplo da cor mediante o emprego de análise estatística e da teoria de
da flor e da pubescência, da resistência a doenças, do probabilidade matemática. Ver poligenes; variação
hábito de crescimento etc. contínua.
Gene marcador de seleção: gene que governa uma Genética reversa: na genética direta, o mapeamento gênico
característica que pode ser utilizada para seleção de é realizado a partir do fenótipo. Na genética reversa, a
indivíduos transformados (bactéria ou plantas). Os genes associação entre genes e fenótipo é estabelecida pela
marcadores de seleção mais utilizados em bactérias são manipulação do gene e observação de alterações
aqueles que codificam para resistência a antibióticos, ocasionadas no fenótipo. A clonagem de genes a partir de
nomo canamicina e ampicilina. E m plantas são usados marcação com transpósons é um exemplo de genética
500 Borém e Miranda Glossário 501

reversa. Nesse caso, quando um transpóson se integra no Haploide: célula ou organismo com número (n) de
gene, sua expressão resulta em um fenótipo alterado ou cromossomos dos gâmetas.
mutante, permitindo o isolamento do gene.
Hemizigoto: indivíduo diploide portador de apenas um alelo
Genitor: aquele que gera, procriador, pai, ascendente. de dado gene.
Genitor doador: é aquele que doa genes ao genitor Herança citoplasmática: transmissão de caracteres
recorrente em um melhoramento por retrocruzamentos. hereditários pelo citoplasma, em contraste com a
Geralmente, o número de genes transferidos é pequeno. transmissão por meio dos genes nucleares. Herança
Genitor recorrente: é aquele que é utilizado repetidas extracromossômica.
vezes nos retrocruzamentos, visando à restauração das Herdabilidade: medida da relação entre o fenótipo e o
suas características. genótipo. No sentido restrito, é a relação entre a variância
Genoma: grupo de cromossomos correspondente ao conjunto genética aditiva e a variância fenotípica. No sentido amplo,
haploide de uma espécie. é a relação entre a variância genética e a fenotípica.
Genômica: estudo da sequência, função e inter- Herdabilidade: proporção da variabilidade observada em razão
relacionamento de todos os genes em um organismo. A da herança. Mais estritamente, proporção da variabilidade
genômica tem permitido a manipulação gênica envolvendo observada em virtude dos efeitos aditivos dos genes.
organismos de diferentes espécies. Os recentes avanços Heterocarion: refere-se a células distintas fundidas e
em genômica têm permitido o desenvolvimento de multinucleadas.
medicamentos inovadores na maneira de tratar doenças.
Heterocariose: presença de dois ou mais núcleos
Genômica estrutural: estuda a forma de distribuição e geneticamente diferentes dentro de uma única célula.
arranjo dos genes no genoma de um organismo.
Heterose: vigor híbrido que ocorre quando o híbrido F i se
Genômica funcional: estuda a definição da função de todos situa acima da média de seus genitores. Geralmente, este
os genes em um organismo. termo se aplica a tamanho, velocidade de crescimento ou
Genótipo: constituição genética total de um organismo. caracterís-
ticas agronómicas.
Germoplasma: soma do material hereditário de uma espécie.
Heterozigoto: indivíduo ou organismo com alelos diferentes
Giberelinas (GA): classe de hormônio envolvido no
em um, ou mais, locus de cromossomos homólogos. Um
alongamento caulinar e no florescimento. E m cultura de
organismo pode ser heterozigoto em um, em vários ou em
tecidos, as giberelinas são utilizadas para induzir a
todos os loci.
formação da parte aérea.
Hexaploide: poliploide com seis conjuntos básicos de
Grupo de ligação: conjunto de genes interligados.
cromossomos.
Halopoliploide: poliploide que contém conjuntos de cromos-
Hibridação somática: fusão de dois protoplastos genetica-
somos de diferentes origens genéticas.
mente diferentes.
502 Borém e Miranda Glossário 503

Hibridização: pareamento de fitas complementares de DNA por um coeficiente. O objetivo deste índice é atribuir um
ou R N A para produzir hélices duplas do tipo DNA-DNA valor global aos indivíduos com base na avaliação de
ou DNA-RNA. diversas características simultaneamente.
Hibridização in situ: uso de sondas de DNA ou RNA para Iniciador iprimer): pequena sequência de polinucleotídeo à
detectar, em células, a presença de uma sequência qual desoxirribonucleotídeos podem ser adicionados pela
complementar do DNA. DNA polimerase.
Híbrido: produto do cruzamento de dois ou mais genitores Inserto (insert): fragmento de DNA exótico introduzido em
um vetor.
geneticamente distintos.
Integração: inserção de uma pequena molécula de DNA por
Híbrido duplo: cruzamento de dois híbridos simples F i .
recombinação, a exemplo de um vírus, no cromossomo de
Híbrido triplo: cruzamento de híbrido simples F i com uma uma célula receptora.
linhagem endogâmica.
Interação gênica não alélica: modificação da ação de um
Hibridoma: célula produzida pela fusão de duas outras de
gene por gene(s) não alélico(s).
diferentes origens.
Interferência: fenómeno em que a presença de
Homologia: similaridades na sequência do DNA ou de
recombinação em uma região do cromossomo afeta a
proteína entre indivíduos da mesma espécie ou de
recombinação em outra.
diferentes espécies.
Introgressão: pequena quantidade de informação genética
Homozigoto: indivíduo ou organismo que tem alelos iguais
transferida de um acesso, espécie ou género para outro.
em loci correspondentes de cromossomos homólogos. U m
organismo pode ser homozigoto em um, em vários ou em Intron: sequência de DNA dentro do gene, transcrita e
todos os loci. removida do mRNA durante seu processamento.
Ideótipo: modelo hipotético de uma espécie que define Inversão: rearranjo de um segmento de um cromossomo, de
características morfofisiológicas positivamente correlacio- forma que os genes fiquem em ordem linear invertida.
nadas com a produção económica; modelo ideal de uma In vitro: literalmente "no vidro"; termo aplicado para
espécie, estabelecido com base em correlações entre designar crescimento de células, tecidos ou órgãos
características morfofisiológicas e produção económica. vegetais em meio de cultura, em condições assépticas.
Indexação: processo de detecção de patógenos em plantas In vivo: literalmente "em vida"; refere-se a fenómenos que
ou culturas, visando à identificação de plantas sadias, ocorrem nas células ou em organismos vivos.
especialmente no caso de vírus.
Irmãos germanos: descendentes dos mesmos genitores
índice de colheita: proporção entre a produção económica e que provêm de diferentes gâmetas; meios-irmãos.
a produção biológica total. Isoenzimas: formas diferentes da mesma enzima que
índice de seleção: função linear dos valores fenotípicos de ocorrem num mesmo organismo com afinidade para um
diferentes características, em que cada uma é ponderada mesmo substrato.
504 Borém e Miranda Glossário 505

kb: abreviatura para pares de quilobase (1.000 bp). clones e dos gémeos idênticos, que apresentam todos os
Lei de biossegurança: lei que estabelece normas de loci com os mesmos alelos.
segurança e mecanismos de fiscalização no uso das Liofilização: desidratação no estado sólido (congelado), no
técnicas de engenharia genética na construção, no cultivo, vácuo.
na manipulação, no transporte, na comercialização, no Loco, locus: posição ocupada por um gene em um
consumo, na liberação e no descarte de organismo cromossomo.
geneticamente modificado, visando proteger a vida e a
saúde do homem, dos animais e das plantas, bem como o Mi, M2, M 3 : símbolos utilizados para designar a primeira, a
meio ambiente. segunda e a terceira geração, após o tratamento com um
agente mutagênico.
Ligação: associação entre caracteres hereditários, em
Macho-esterilidade: ausência ou inviabilidade dos grãos de
virtude da localização de genes no mesmo cromossomo.
pólen em plantas.
Linhagem: grupos de indivíduos que têm uma ascendência
Mapa cromossômico: localização dos genes nos cromossomos,
comum.
determinada pelas relações de recombinação.
Linhagem A: aquela com citoplasma macho-estéril sem
Mapa de ligação: diagrama que representa a ordem linear
genes restauradores da fertilidade no núcleo. Utilizada
e a posição dos genes pertencentes ao mesmo grupo de
como genitor feminino na produção de sementes híbridas
ligação.
e em geral representada por (E) rfrf.
Marcador genético: alelo usado para identificar um gene,
Linhagem B: mantenedora das linhagens A e portadora de
segmento cromossômico ou cromossomo.
citoplasma normal sem genes restauradores da fertilidade no
núcleo. Geralmente, é representada por (N)rfrf. Marcador molecular: segmento cromossômico que pode ser
utilizado para detectar diferenças entre dois ou mais
Linhagem endógama: produzida por endogamia continuada; é
indivíduos.
uma linhagem quase homozigótica, desenvolvida por
sucessivas autofecundações, acompanhadas de seleção. Meio de c u l t u r a : solução nutritiva, quimicamente definida,
utilizada para o crescimento de células, tecidos ou órgãos
Linhagem pura: linhagem homozigótica em todos os loci,
in vitro.
obtida geralmente por autofecundações sucessivas no
melhoramento genético de plantas. Meiose: dupla divisão nuclear sucessiva que ocorre na
reprodução sexual e resulta na produção de gâmetas com
Linhagem R: portadora de genes restauradores da
número haploide (n) de cromossomos.
fertilidade; é utilizada para produção de sementes
híbridas quando cruzada com uma linhagem A. E m geral, Melhoramento genealógico: sistema em que se
é representada por (N) Rf Rf. selecionam plantas individuais nas gerações segregantes
de um cruzamento, tomando como base suas
Linhagens isogênicas: duas ou mais linhagens que diferem
características agronómicas, julgadas individualmente, e
geneticamente entre si em um só loco. Distinguem-se dos
sua genealogia.
506 Borém e Miranda Glossário 507

Meristema: tecido composto de células não diferenciadas e Morfogênese: surgimento de qualquer órgão em células ou
envolvido com a síntese protoplasmática e formação de tecidos.
novas células por divisão mitótica, nos ápices caulinares e mRNA (RNA mensageiro): RNA transcrito de um gene que
da raiz.
especifica a síntese de uma proteína.
Metáfase: estado da meiose ou da mitose em que os MS: abreviatura do meio de cultura desenvolvido por
cromossomos estão na placa equatorial. Murashige e Skoog (1962). É o meio nutritivo mais
Metaxenia: influência do pólen sobre os tecidos maternos do utilizado em cultura de tecidos de diversas espécies
fruto (ver xenia). vegetais; apresenta, em relação aos outros meios, níveis
Método da população (Bulk): cultivo de conjunto de mais altos de nitrogénio, potássio e cálcio.
plantas autógamas, geneticamente diferentes, sob a ação Multivar: termo cunhado por Zeven (1990), utilizado para
da seleção promovida pelo meio ambiente. descrever uma variedade multilinha.
Método dos retrocruzamentos: sistema de melhoramento Mutação: variação herdável de um gene ou de uma
genético em que se efetuam retrocruzamentos com um dos estrutura de um cromossomo.
genitores de um híbrido, seguido de seleção de um ou
Nuliplex: condição na qual um poliploide apresenta apenas
mais caracteres.
alelos recessivos para um gene. Simplex denota
Micoplasma: organismo procarioto causador de doenças em recessividade para todos os loci, exceto um; duplex, dois;
plantas; é o menor microrganismo de vida livre com triplex, três; quadruplex, quatro etc.
ribossomas DNA e RNA.
Nulissômico: indivíduo sem os dois membros de um par de
Micropropagação: propagação de plantas em ambiente cromossomos específicos no conjunto diploide, tendo,
artificial controlado, utilizando-se meio de cultura nutritivo. portanto, (2n - 2) cromossomos.
Mitose: processo pelo qual o núcleo é dividido em dois O G M (Organismo Geneticamente Modificado): qualquer
núcleos-irmãos com complementos cromossômicos organismo vivo modificado por técnicas do DNA
equivalentes, geralmente seguido da divisão da célula que recombinante, isto é, organismo transgênico.
contém o núcleo.
Oncogene: gene associado ao câncer. Muitos oncogenes
Monoicia: produção de flores masculinas e femininas estão envolvidos, direta ou indiretamente, no controle da
separadamente na mesma planta. taxa de divisão celular.
Monoploide: organismo com número básico (x) de Operon: bloco gênico que afeta diferentes fases de uma via
cromossomos (ver haploide). metabólica. E regulado por uma unidade integrada.
Monossômico: organismo que não tem um cromossomo no Organogênese: processo de neoformaçâo de órgãos (brotos e
complemento diploide, tendo, portanto, a fórmula (2n - 1) raízes) a partir de células ou tecidos.
cromossomos.
508 Borém e Miranda Glossário 509

Oscilação genética: mudanças na frequência gênica e Pleiotropia: condição em que mais de uma característica é
genotípica de populações pequenas em razão de um afetada por um único gene.
processo de amostragem. Pluripotente: com a capacidade de regenerar a maior parte
Pan-mixia: cruzamento ao acaso, ou seja, sem restrição. dos tecidos de um organismo. Ver também totipotente.
Paquíteno: estado da meiose em que os filamentos são Policross: polinização aberta de um grupo de genótipos
duplos. (geralmente selecionados), isolados de outros genótipos
compatíveis, de tal forma que se promova o seu
P arâmetr o: quantidade numéri ca que especifica a
intereruzamento.
população no que diz respeito a alguma característica.
Poligenes: genes cujos efeitos são demasiadamente
Partenogênese: desenvolvimento de um organismo a partir
pequenos para serem identificados individualmente; com
de uma célula sexual, porém sem fertilização.
efeitos semelhantes e suplementares, podem ter
Patente: título outorgado por instituição governamental, a importância na variabilidade total.
cujo detentor confere o direito de excluir outros de utilizar,
Polimerase: grupo de enzimas que catalisam a formação do
produzir ou comercializar o produto ou processo objeto da
patente. E m muitos países, incluindo o Brasil, a patente DNA ou R N A a partir de precursores, na presença de
confere proteção a partir da data em que foi outorgada por moldes de DNA ou RNA.
20 anos. Polimorfismo: ocorrência, em uma mesma população, de
duas ou mais formas distintas.
Patógeno: agente causal de uma doença.
Poliploide: organismo com um número de conjuntos de
Patótipo: ver raça fisiológica.
cromossomos distintos do conjunto básico (por exemplo,
P C R (Polymerase Chain Reaction): reação in vitro de monoploide, triploide, tetraploide e vários aneuploides).
amplificação do DNA por ação da DNA polimerase na
População: grupo de indivíduos que compartilham de um
presença de iniciadores e moldes de DNA.
mesmo grupo de genes.
Penetrância: frequência com que um gene produz efeito
População heterogénea: aquela constituída por indivíduos
distinguível nos indivíduos que o contêm.
com diferentes genótipos.
Piramidação: termo cunhado por melhoristas para definir a
População homogénea: população constituída por
incorporação, em uma variedade, de dois ou mais genes
indivíduos com mesmo genótipo, podendo estes estar em
maiores para resistência específica a um patógeno.
homozigose ou heterozigose.
Plasmídio: pequena molécula de DNA circular, capaz de
Prepotência: capacidade de um genitor de transferir
autor- -replicação, que pode transportar genes a outro
características a seu descendente, de maneira que
indivíduo. Os plasmídios são utilizados como vetor em
ambos sejam mais semelhantes que o esperado.
transformação mediada por Agrobacterium tumefaciens.
Prevalência: frequência de certa doença em uma população
Plasmídio Ti: classe de plasmídios que facilmente se
ou região.
conjugam, encontrados no Agrobacterium tumefaciens.
510 Borém e Miranda Glossário 511

Primer: ver iniciador. Q u i m e r a : indivíduo com duas ou mais linhagens de células


Projeto Genoma Humano: iniciativa internacional que geneticamente distintas.
objetiva a elucidação da sequência completa de bases do R a ç a ecológica: população ou conjunto de populações com
genoma humano. distribuição restrita e que está estritamente adaptada às
Promotor: sequência de DNA localizada em frente ao gene, condições de um habitat local. Na prática, pode ser difícil
que contém o sítio, onde as enzimas envolvidas na caracterizar uma população como ecótipo ou raça
transcrição se ligam e iniciam o processo de transcrição. ecológica, especialmente na ausência de testes de cultivo
Os promotores são críticos no processo de regulação experimental.
gênica. R a ç a edáfica: população adaptada para as condições físicas
Promotor constitutivo: aquele que promove a expressão e químicas do solo local. Raças edáficas são uma
gênica durante todo o ciclo de vida do indivíduo. O modalidade de raça ecológica, cujos indivíduos geralmente
promotor CaMV 35S é um exemplo de um forte promotor apresentam características morfológicas peculiares. A
constitutivo frequentemente utilizado em engenharia especiação edáfica é vista hoje como proeminente no
genética. grupo das angiospermas.

Promotor tecido específico: aquele que promove a Raça fisiológica: patógenos da mesma espécie com
expressão gênica apenas em determinados tecidos ou morfologia similar ou idêntica, mas com diferentes níveis
órgãos do indivíduo. O promotor vicilina é um exemplo de de virulência. E também denominada raça patogênica ou
promotor de expressão exclusiva nas sementes. patótipo.

Protandria: maturação das anteras antes do pistilo. R a ç a g e o g r á f i c a : população ou populações de uma espécie
que ocorrem em determinada região geográfica da
Proteômica: estuda a definição da sequência, função e
distribuição da espécie. Geralmente são populações
inter-relacionamento de todas as proteínas estruturais e
alopátricas isoladas que mostram uma diferenciação
funcionais de um organismo.
fenotípica para um ou mais caracteres e se habilitam
Protogenia: maturação do pistilo antes das anteras. como categoria taxonômica formal. A subespécie em
Protoplasto: célula vegetal desprovida da parede celular. botânica corresponde, em geral, à raça geográfica em
zoologia.
Quadrivalente: ver univalente.
R a ç a local: 1) forma antiga e primitiva de uma espécie
Quadruplex: ver nuliplex.
agrícola, cultivada em sistemas agrícolas tradicionais por
Quarentena: período em que ficam submetidos a isolamento agricultores indígenas e populações rurais, cuja evolução
indivíduos ou tecidos vegetais, para verificação da é principalmente direcionada pela seleção artificial que o
presença de insetos ou agentes patogênicos. homem lhe impõe; 2) variedade crioula ou landrace.
Quiasma: troca de partes entre cromatídios emparelhados R A P D (Random Amplified Polymorphic DNA): procedi-
na primeira divisão da meiose. mento em que se utiliza a técnica P C R para amplificação
512 Borém e Miranda Glossário 513

de regiões cromossômicas, usando iniciadores com RNA antissenso: polinucleotídeo produzido a partir de um
sequência nucleotídica aleatória, o que permite a gene antissenso. O RNA antissenso é complementar ao
detecção de polimorfismo. polinucleotídeo normal (alvo), codificador do gene
Recessivo: alelo que não se expressa na presença do alelo considerado. A complementariedade permite a formação
dominante. de uma fita dupla do tipo RNA-RNA, entre os
polinucleotídeos antissenso e o alvo, interferindo com a
Recombinação: formação de combinações de genes como
expressão do gene-alvo.
resultado da segregação em cruzamentos de genitores
geneticamente distintos. E também o rearranjo de genes Roguing: remoção dos indivíduos indesejáveis para purificar
ligados em virtude da permuta (crossing over). uma população.
Regeneração: formação de partes aéreas ou embriões num rRNA (ribossomal RNA): R N A que transporta os
calo ou em suspensão de células não organizadas, aminoácidos na síntese proteica.
permitindo a recuperação de uma planta completa. Satélite: segmento distai do cromossomo separado do resto
Repicagem: ato de subdividir o material vegetal em cultivo do cromossomo por um fino filamento denominado
em vários explantes e de transferi-los para um novo meio constrição secundária.
nutritivo para subcultura. Si, S2, S 3 : símbolos para determinar as gerações de
Reprodução assexuai: reprodução que não envolve a união autofecun-
de gâmetas. dação (primeira, segunda, terceira etc.) a partir de uma
planta original (So).
Resistência cruzada: fenómeno, no qual tecidos infectados
por uma estirpe de um vírus tornam-se protegidos contra SCARs (Sequence Characterized Amplified Regions):
a infecção por outras estirpes desse mesmo vírus. marcadores que representam loci únicos, geneticamente
definidos, identificados por amplificação de DNA
Resistência horizontal: resistência efetiva contra todas as
genômico (PCR) com o uso de pares de iniciadores
raças de um patógeno. Também denominada resistência
específicos.
geral, de campo, não específica ou quantitativa.
Segregação: separação dos cromossomos paternos e
Resistência vertical: resistência efetiva contra raças
maternos na meiose e consequente separação dos genes, o
especí-
que torna possível a recombinação da descendência.
ficas de um patógeno. E também denominada resistência
específica ou qualitativa. Segregação transgressiva: aparecimento, em gerações
segregantes, de indivíduos que estão fora do intervalo dos
Retrocruzamento: cruzamento de um híbrido F l com
genitores, quanto a alguma característica.
qualquer um de seus genitores.
Seleção: discriminação entre indivíduos quanto ao número
RKIJP (Restriction Fragment Length Polymorphism):
de descendentes que são preservados para a geração
polimorfismo do comprimento dos fragmentos polinucleo-
seguinte; favorecimento de determinados indivíduos em
tídicos, produzidos por enzimas de restrição.
relação a outros.
514 Borém e Miranda Glossário 515

Seleção natural: seleção (pressão seletiva) exercida pelo relativamente alto. Essa categoria é também sensível a
conjunto de fatores ambientais bióticos e abióticos sobre o baixas temperaturas.
indivíduo. A seleção natural atua sobre o fenótipo de
Semente registrada: aquela originada da multiplicação de
maneira discriminativa. H á três tipos principais de
sementes básicas e cultivada normalmente para produzir
seleção natural: 1) seleção estabilizadora; 2) seleção
a semente certificada. Os campos de produção desta
direcional; 3) seleção disruptiva.
categoria de semente precisam ser registrados na
Seleção visual: identificação visual de genótipos desejáveis. Secretaria de Agricultura do Estado.
Semente básica: aquela produzida a partir da semente Sequência codificadora: porção do gene que, diretamente,
genética, por produtor credenciado. E a origem da especifica a sequência de aminoácidos do seu produto. As
semente certificada, seja diretamente, seja por meio da sequências não codificadoras incluem introns e regiões de
semente registrada. controle, como promotores, operadores e terminadores.
Semente certificada: aquela utilizada para produção Sequência conservada: sequência de bases em uma
comercial da espécie produzida a partir da semente molécula de DNA (ou sequência de aminoácidos em uma
básica. É registrada segundo o regulamento de uma proteína) que permaneceu essencialmente sem se alterar
agência legalmente constituída. durante o processo de evolução.
Semente fiscalizada: aquela produzida a partir de semente Sequência expressa marcada (Expressed Seffltence
básica, por um produtor credenciado, sob a fiscalização da Tag - EST): curta fita de DNA com aproximadamente
Secretaria de Agricultura do Estado. 200 bp, a qual é parte de um cDNA específico. Uma vez
Semente genética: aquela produzida pela agência que que E S T é específica a um cDNA particular e cDNAs
desenvolveu a variedade. E utilizada para produzir a correspondem a genes específicos no genoma, E S T pode
semente básica. ser usada para identificar genes desconhecidos e mapear
sua posição no genoma.
Semente ortodoxa: aquela que é tolerante ao dessecamento
em baixos teores de umidade (variável de espécie para Sequenciamento: determinação da ordem dos nucleotídeos
espécie), sem danos em sua viabilidade. Essa categoria é na molécula do DNA ou RNA, ou determinação da ordem
normalmente tolerante a temperatura subzero em de aminoácidos em proteínas.
armazenamento a longo prazo (exemplo: arroz, feijão, Sequenciamento gênico: determinação da sequência
milho, soja e trigo). gênica pelas técnicas in vitro.
Semente recalcitrante: aquela que não sofre a Sequência em Tandem Repetida (STR): múltiplas cópias
desidratação durante a maturação; quando é liberada da de uma mesma sequência de bases em um cromossomo,
planta-mãe, apresenta altos teores de umidade. E sensível em geral utilizadas como marcadores em mapeamento
no dessecamento e morre se o conteúdo de umidade for físico.
reduzido abaixo do ponto crítico, usualmente um valor
Silenciamento: redução ou eliminação da atividade gênica,
associada a fenómenos de homologia. O silenciamento de
516 Borém e Miranda Glossário 517

transgenes tem sido creditado a diferentes eventos em To, Ti, T2: símbolos utilizados para designar o indivíduo
nível molecular: metilação, efeito de posição, mecanismos transformado e sua primeira e segunda gerações filiais,
transcricionais e mecanismos pós-transcricionais. respectivamente.
Sinapse: conjugação de cromossomos homólogos no zigóteno Tamanho efetivo da população: número de indivíduos
e paquíteno. que contribuem igualmente para formar a próxima
geração.
Sintenia: fenómeno em que dois ou mais genes ocorrem na
mesma ordem em diferentes partes do genoma ou em tDNA (Transfer DNA): segmento de DNA do plastídio T i
diferentes genomas. Dois genes que ocorrem no mesmo que é transferido do Agrobacterium para o genoma da
cromossomo são sinfónicos, entretanto genes sintênicos planta receptora, causando formação de tumor.
podem estar ou não ligados. Telófase: último estado da divisão celular antes que o
Sítio com sequência marcada (Sequence Tagged Site - núcleo volte à condição de repouso.
STS): pequena sequência de DNA (200 a 500 p) que tem Tendência: desvio consistente ou falso de uma estatística
uma única ocorrência no genoma e cujas localização e em relação a seu próprio valor.
sequência são conhecidas. Localizam-se por reações P C R e
Terapia gênica: substituição de genes defeituosos por genes
são úteis para localização e orientação de mapeamento
normais, de forma que o organismo possa produzir a
realizados por diferentes laboratórios. Servem como
proteína correta e consequentemente eliminar a causa da
âncora no desenvolvimento de mapas físicos.
doença. A perspectiva de uso da terapia gênica para
Sobredominância: superioridade do heterozigoto; em um doenças como diabete, Alzheimer e outras de fundo
locus com dois alelos, o heterozigoto é mais adaptado que genético é bastante promissora.
ambos os homozigotos.
Terapia gênica de célula germinativa: envolve a
Somaclonal: clonagem de células somáticas. inserção de genes normais em células germinativas ou
Somático: termo que se refere a células ou tecidos dos óvulos fertilizados com o objetivo de criar uma mudança
indivíduos não envolvidos com os gâmetas. genética benéfica que pode ser transmitida aos
descendentes (por exemplo, corrigir uma doença genética).
Sonda de D N A (DNA Probe): molécula de DNA marcada
(frequentemente P , ^ S ou biotina), utilizada para
3 2 Terminador: sítio da sequência do DNA na qual a
detectar moléculas de ácido nucleico com sequência transcrição e replicação do DNA são paralisadas.
complementar por meio da hibridização. Teste de progénie: teste do valor de um genótipo com base
SSR (Single Sequence Repeats): marcadores no comportamento de sua descendência.
microssatélites derivados de pequenas sequências Tetraploide: organismo com quatro conjuntos básicos (x) de
ropetidas arranjadas em tandem. cromossomos.
Subcultivo: transferência de células de um meio nutritivo Tolerância: habilidade de uma planta em suportar o ataque
puni outro. de um patógeno sem expressiva redução da produtividade.
\

518 Borém e Miranda Glossário 519

Topcross: cruzamento entre seleções, linhagens ou clones e membrana ou filtro de nitrocelulose. Fitas simples de
um genitor comum masculino, que pode ser variedade, DNA se ligam ao filtro de nitrocelulose e podem ser,
linhas endógamas, cruzamento simples etc. O genitor assim, hibridizadas com sondas radioativas. As moléculas
comum masculino é denominado testador. hibridizadas são detectadas por autorradiografia.
Totipotência: potencial de uma célula indiferenciada para se Transferência Western (Western Blot): processo de transfe-
regenerar como uma planta completa, quando cultivada in rência de proteínas, após sua separação em gel de poliacrila-
vitro. mida, para uma membrana. As proteínas aderidas à
Totipotente: com capacidade ilimitada. Células totipotentes membrana podem ser testadas com anticorpos para sua
possuem a capacidade para se diferenciarem em tecidos identificação.
extra-embriogênicos, isto é, embriões e todo tipo de Transformação: alteração herdável e estável no fenótipo de
tecidos e órgãos embriogênicos. Ver também pluripotente. um indivíduo, promovida por genes introduzidos v i a DNA
Tradução: síntese de um polipeptídio cuja sequência de recombinante.
aminoácidos é estabelecida pelo códon do mRNA correspon- Transgênica: 1) célula, planta ou progénie que possui um
dente. gene exótico introduzido por meio de um dos vários
Transcrição: processo pelo qual a informação genética é métodos de transformação; 2) organismo cujo genoma foi
transmitida do DNA para o mRNA. alterado pela introdução de DNA exógeno. O DNA exógeno
pode ser derivado de outros indivíduos da mesma espécie
Transcriptase reversa: enzima usada pelo retrovírus para
ou de uma outra espécie completamente diferente. O
produzir uma sequência de DNA complementar (cDNA) a material genético pode ser inclusive artificial, isto é,
partir de um molde de RNA. sintetizado em laboratório.
Transferência de núcleo de célula somática:
Translocação: mudança na posição de um segmento em um
transferência do núcleo de uma célula somática (2n) para
mesmo cromossomo ou deslocamento para outro.
um óvulo cujo núcleo foi removido. Este é um
procedimento básico utilizado em clonagem de animais. Transpóson (transposable element): termo geral
utilizado para uma unidade genética que se pode inserir
Transferência Northern (Northern Blot): transferência
ou translocar em diferentes regiões cromossômicas; é
de RNA de um gel eletroforético para um filtro, de forma
tipicamente flanqueado por uma sequência de bases
que ele pode hibridizar-se com uma sonda de ácido
repetidas na ordem inversa e contém genes
nucleico. codificadores para o processo de transposição.
Transferência Southern (Southern Blot): técnica criada
Transversão: mutação causada pela substituição de uma
por E . M. Southern que combina o poder de resolução da
purina por uma pirimidina e vice-versa, no DNA ou RNA.
eletroforese com a sensibilidade da hibridização com
ácidos nucleicos. Fragmentos de DNA separados em gel Triplex: ver nuliplex.
de agarose por meio da eletroforese são desnaturados e, Triploide: organismo com três conjuntos básicos (x) de
então, transferidos pela capilaridade do gel para uma cromossomos.
520 Borém e Miranda Glossário 521

Trissômico: organismo diploide, exceto para uma classe de Variação: diferenças entre indivíduos devido a diferenças
cromossomos em que está triplicado; possui (2n + 1) em sua composição genética ou ao meio em que se
cromossomos. desenvolvem.
Triticale: alopoliploide obtido pela combinação de Variação epigenética: variação transitória induzida pelo
cromossomas do trigo com os do centeio, constituindo uma ambiente no fenótipo; é perpetuada por propagação
nova espécie. assexuada sem envolver mudanças permanentes
tRNA: classe de uma pequena molécula de RNA que se liga a (herdáveis) no genótipo.
aminoácidos específicos, que são transferidos no processo Variação fisiológica: variação entre indivíduos em virtude
de tradução do mRNA. dos estímulos de ambiente; desaparece com a remoção da
Valor fenotípico - valor da expressão do genótipo. causa. Variação não persistente (não herdável).

Valor genético - valor do indivíduo devido aos seus genes, Variação genética: variação de natureza herdável, que se
resultante das interações alélicas e não alélicas. perpetua com a reprodução sexuada nas gerações subse-
quentes.
Valor genético aditivo: um dos tipos de interação alélica,
que consiste na diferença entre os genótipos homozigotos, Variação somaclonal: variação entre indivíduos
ou seja, são os valores da contribuição dos alelos favoráveis regenerados de cultura de tecidos, a qual pode ser
de todos os locos envolvidos no controle da característica. fisiológica, epigenética ou genética, como resultado do
Somente este valor ou efeito poderá ser transmitido de uma processo de cultivo in vitro.
geração para a seguinte, pois exclusivamente o alelo passa Variância: média dos quadrados dos desvios de uma
entre gerações. Com predominância do efeito aditivo, a variável em relação a sua média; é o quadrado do desvio-
descendência de um indivíduo ou população apresentará a padrão.
mesma média do valor genético aditivo do indivíduo ou Variância fenotípica: variação dos valores fenotípicos dos
população. indivíduos da população.
Valor genético devido aos desvios da dominância: tipo Variância genética: variação dos valores genéticos dos
de interação alélica que consiste no valor devido ao desvio indivíduos da população.
do heterozigoto, em relação à média dos homozigotos, para
Variância genética aditiva: variação dos valores genéticos
todos os genes envolvidos no controle da característica.
Com predominância de dominância ou sobredominância, a aditivos dos indivíduos da população.
descendência de um indivíduo apresentará a média inferior Variância genética dominante: variação dos valores
à do valor genético do indivíduo ou do grupo de indivíduos. genéticos devido aos desvios da dominância dos indivíduos da
população.
Valor genético epistático: valor obtido em virtude das
interações interalélicas de diferentes genes. Variância genética epistática: variação dos valores
genéticos epistáticos.
Variável: simples observação ou medida.
522 Borém e Miranda Glossário 523

Variedade: subdivisão de uma espécie, ou grupo de Referências


indivíduos dentro de uma espécie, que se distingue de
ALLARD, R.W. Princípios do melhoramento genético das plantas.
outra por sua forma ou função.
Rio de Janeiro: Edgard Blucher, 1971. 381 p.
Variedade crioula (Landrace): variedade não melhorada,
BHOJWANT, S.S.; RAZDAN, M.K. Plant tissue culture: theory and
cultivada por produtores locais, originária de populações
practice. New York: Elsevier, 1983. 502 p.
silvestres.
BORÉM, A. Glossário agronómico. 3. ed. Visconde do Rio Branco:
Variedade sintética: variedade produzida pelo intercru-
Suprema. 2005. 117p.
zamento de um grupo de clones, linhagens ou
indivíduos selecionados para alta capacidade de BORÉM, A.; VIEIRA, M.L.C. Glossário de biotecnologia. Viçosa:
combinação. Editora Folha de Viçosa, 2005. 126 p.

Variegado: indivíduos que apresentam diferentes cores, por BORINGER, D.; HONDELMANN, W.; STOY, V.; TATLIOGLU, T..
exemplo: verde e albino, em um mesmo órgão. Fundaments of plant breeding. New York: Springer-Veria g, 1991. 236 p.

Vetor: veículo, a exemplo de plasmídios ou vírus, usado para DENNIS, E.S.; LIEWELLYN, D.J. Molecular approaches to crop
introdução de DNA recombinante em uma célula ou em improvement. New York: Springer-Verlag, 1991.166 p.
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Virulência: capacidade de um patógeno para induzir uma Portland: Dioscórides Press, 1988. 141 p.
doença; patogenicidade. FALCONER, D.S. Introdução à genética quantitativa. Viçosa: UFV,
Vírus: segmento de ácido nucleico envolto por uma cápsula Impr. Univ., 1981.279 p.
proteica. Só se reproduz após infectar uma célula e usar seu FEHR, W.R. Principies of cultivar development: theory and
mecanismo celular de replicação. Pode causar doenças em technique. New York: Macmillan, 1987. v.l. 536 p.
plantas e animais, mas também ser usado como vetor em FERREIRA, AB.H. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio
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JENSEN, N.F. Plant breeding methodology. New York. John Wiley &
Xênia: efeito hereditário do pólen no endosperma. Sons, 1988. 676 p.
YAC (Cromossomo Artificial de Levedura ou Yeast KING, R.C.; STAMS FIELD, W.D. Dictionary of genetics. 3. ed. New
Artificial Chromosome): vetor usado para clonar York: Oxford Univ. Press, 1985.
fragmentos de DNA de até 400 kb; é construído a partir
de sequências teloméricas ou centroméricas e um centro POEHLMAN, J.M. Breeding field crops. New York: AVI, 1987. 724 p.
de replicação. RIEGER, R.; MICHAELIS, A ; GREEN, M.M. Glossary of genetics and
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Zigóteno: estado da prófase meiótica em que se emparelham
os filamentos cromossômicos. ZEVEN, A.C. Multivar and candicrop: two new specialist terms.
Euphytica, v. 45, p. 201-202, 1990.
Zigoto: célula formada pela união de dois gâmetas.

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