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A educação carcerária chegou ao Brasil por volta de 1950, com o intuito de ser
um instrumento de ressocialização para os privados de liberdade, e teve como
incentivador o Estado de São Paulo, percebendo na educação a possibilidade
concreta de inserção e inclusão na sociedade. A educação nas cadeias passaria a ser
a condição de possibilidade de diminuir a violência (SILVA; ALBUQUERQUE, 2016,
n.p).
Essa educação surgiu com o objetivo de reintegrar as pessoas que se
encontravam fora do convívio social, sem nenhuma perspectiva de vida, pois
foi através de ações dos órgãos governamentais junto com as secretarias
estaduais de educação, que essa iniciativa de expandiu em muitos estados
com a finalidade de ressocialização dos detentos através da Educação (Ibid.).
Foucault (2008, p. 45), nesse sentido, ratifica essa ideia ao afirmar que: “A
educação do detento é, por parte do poder público, ao mesmo tempo uma precaução
indispensável no interesse da sociedade e uma obrigação para com o detento”. Às
vezes no senso comum é tido a ideia de que o detento é um ser destituído de direito
e como tal deve apenas cumprir com a execução penal.
Pereira (2011, p. 45) chama a atenção para essa ideia quando afirma que a
educação é vista, por muitos, como uma esmola para o detento, e não como um
processo de possiblidades e transformações. “A educação é vista então como uma
“esmola” do Estado e da sociedade para o preso, uma esmola cara porque desvia
verbas da educação para atender quem está à margem da sociedade por uma opção,
não por uma determinação das condições materiais postas por um sistema”.
Talvez por causa dessa representação, a educação que vem acontecendo
nas prisões ainda seja muito tímida em termos pedagógicos, muito parecida
com a que acontece na escola regular, e diversas vezes ela é pautada no
ensino de regras para o bom comportamento do preso (Ibid., p. 46).
Dessa forma, pode-se dizer que a educação assume duas áreas distintas no
sistema carcerário que nem sempre é clara para aqueles que defendem arduamente
uma educação nas carceragens. São áreas distintas, porém, com sutilezas nas suas
apresentações, a saber: Educação carcerária e educação no cárcere. Aparentemente
pode parecer uma coisa só, no entanto, as diferenças são enormes. Uma está no
âmbito daquilo que é o ideal, daquilo que a Lei pede e daquilo que as organizações
apresentam como direito (educação carcerária). A outra está na prática da execução
daquilo que se pede ou do que deveria ser (educação no cárcere). A prática se mostra
muito aquém do Plano de Execução Penal.
A educação no sistema carcerário não pode ser atendida como um privilégio
ou benefício para os internos e nem para obter a redução de pena pelos
estudos, ele tem que ser vista como uma forma de reintegrar as classes
desfavorecidas da sociedade que são os que se encontram fora do convívio
social (SILVA; ALBUQUERQUE, 2016, n.p).
Dessa maneira, além de leis citadas acima, uma gama de documentos1 e outras
políticas2 enfatizam o direito incondicional que a pessoa encarcerada tem à educação.
Portanto, afirmar que a “educação é um fenômeno próprio dos seres humanos
significa afirmar que ela é, ao mesmo tempo, uma exigência do e para o processo de
desenvolvimento humano e da cidadania, bem como processo de trabalho” (SAVIANI,
2008 apud PEREIRA, 2011, p. 46).
4 Projeções futuras
Segundo o Infopen (junho de 2014), hoje o Brasil tem uma população carcerária
que é a 4ª maior do mundo, com 607.731 presos. Fica atrás somente dos Estados
Unidos, China e Rússia. Tem um déficit de 231 mil vagas, e uma taxa de ocupação
de 161%, ou seja, há superlotação em todas as penitenciárias e em todos os estados.
A maioria dos presos vem de uma situação de pobreza, são negros,
analfabetos ou com o Ensino Fundamental incompleto, e com idade de 18 a 34 anos.
É uma realidade difícil e que só aumenta a cada ano, pois a reincidência é muito alta
e o preso quando saí se vê sem possibilidades de inserção.
Uma possível saída seria a aplicação da Lei de forma efetiva, possibilitando
educação para todos e possibilitando que pessoas privadas da liberdade tenham
condições de se inserirem efetivamente na sociedade após o cumprimento da pena.
A prisão serve não só para punir, mas para possibilitar um caminho diferente, assim
pelo menos deveria ser.
A Educação no Cárcere nessa via seria um processo de acessar
conhecimentos para aquelas pessoas que estão presas, desenvolvendo-as
cognitiva e socialmente para que possam se reintegrar à sociedade. Essa
educação é tanto para a sua escolarização (formação dentro do sistema
oficial de ensino) e profissionalização (formação para o mundo do trabalho)
(PEREIRA, 2011, p. 46).
Portanto, Freire (1995) vai afirmar que o melhor alcance da pratica educativa
frente aos limites a que se submete é a seguinte: não podendo tudo, a prática
educativa pode fazer alguma coisa. Sendo assim, pensar a educação do homem
preso é considerar que o ser humano é inacabado, incompleto, que se constitui ao
longo da própria história, é pensar que o cárcere não é a definição daquele que está
preso, mas pode se tornar lugar de um novo recomeço e de uma nova postura.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 9.394. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF:
MEC, 1996. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>.
Acesso em 26 out. 2017.
______. Lei 7.210. Lei de Execução Penal. Brasília, DF: MJ, 1984. Disponível
em: < http://portal.mj.gov.br/main.asp?View={B0287B7C-BA8B-45BD-
B627DC67B0AE176A>. Acesso em 26 out. 2017.
______. Lei 10.172. Plano Nacional de Educação. Brasília, DF: MEC, 2001.
Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm>.
Acesso em 26 out. 2017.