EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE
DIREITO DA VARA DO TRABALHO DA COMARCA DE ALTAMIRA/PA
LUIZ LOPES DE SOUZA, brasileiro, solteiro, desempregado
(operador de motosserra), portador de RG nº 283.257, inscrito no CPF sob o nº 005.813.071-35, residente e domiciliado à Rua Porto Alegre, nº 50, Qd. 15, Vila Tucuruí, no município de Novo Repartimento/PA, por seus advogados in fine signatários (procuração anexa), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, ajuizar a presente:
RECLAMATÓRIA TRABALHISTA PELO RITO
ORDINÁRIO
Em face de JOACY MOTO COSTA, brasileiro, fazendeiro, residente e
domiciliado à Vila Mocotó, no município de Altamira/PA, pelas razões de fato e fundamentos de direito a seguir escandidos: I – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
O Autor, por ser pessoa pobre na forma da lei, não detém
quaisquer condições de arcar com o ônus das custas processuais, fato este notadamente evidenciado pelas razões de direito que serão a seguir demonstradas.
E mais, o Autor, inclusive, se encontra recebendo benefício
previdenciário em virtude de acidente de trabalho, sendo esta sua única renda.
Nestes termos, pugna o Autor pelo deferimento dos benefícios
da Justiça Gratuita, nos moldes do art. 98 e seguintes do Código de Processo Civil.
II – BREVE RELATO DOS FATOS
O Reclamante trabalhou por 30 (trinta) dias ininterruptos na
fazenda do Reclamado, localizada no município de Altamira/PA, de 26 de agosto de 2018 até 26 de setembro daquele mesmo ano, exercendo a função de operador de motosserra e realizando serviços de acordo com os interesses e necessidades de seu ex-empregador.
Durante todo o período em que esteve trabalhando nas terras
do Reclamado, o Reclamante recebeu seus pagamentos através de diária, e laborava a semana inteira, de domingo a sexta, com folgas aos sábados. Inclusive, o Reclamante anexa aos autos todos os comprovantes das viagens realizadas à Altamira, que foram feitas unicamente com o propósito laboral, dado que o Autor reside na cidade de Novo Repartimento/PA.
O horário de trabalho eram de 12 (doze) horas diárias, com 02
(duas) horas para almoço, com início às 06 (seis) da manhã todos os dias.
Ocorre que, durante o exercício da sua função, mais
precisamente no dia 26 de setembro de 2018, o Reclamante sofreu gravíssimo acidente de trabalho, que resultou na amputação de seu pé esquerdo e na perda de movimentos do seu braço, já que quando estava cortando uma árvore, esta caiu sobre o seu pé e na mesma hora esmagou o membro e separou-o de seu corpo.
O acidente somente ocorreu devido à falta de segurança e dos
instrumentos necessários para o exercício dessa atividade, que é extremamente arriscada e que constantemente deixa vítimas nesta região.
E mais, os relatórios médicos anexos são suficientes para
atestar a gravidade da lesão sofrida, ao atestar claramente que o Reclamante se encontra INCAPACITADO DEFINITIVAMENTE para o trabalho.
Note-se que o Reclamante sofreu a perda de um membro, de
tal maneira que necessita constantemente do auxílio de muletas ou cadeira de rodas para se locomover e, nesta toada, não possui mais quaisquer condições de exercer atividade laboral. Ademais, destaque-se que o Reclamante tentou contato com o Reclamado buscando resolver a situação e uma ajuda de custo com as despesas médicas, contudo, para sua surpresa, deparou-se com a negativa do Reclamado em oferecer qualquer suporte financeiro.
Nesse desiderato, a única solução visível no caso concreto é o
intento jurisdicional que aqui se perfaz.
III – DO DIREITO
III.a – Da Competência da Justiça do Trabalho
O art. 114, VI, da Constituição Federal, destaca a competência
da Justiça do Trabalho para julgar ações de indenização por dano moral ou patrimonial decorrentes das relações de trabalho.
In casu, a competência para julgamento da presente demanda
é da Justiça Especializada, dado que trata-se de ação que pleiteia o ressarcimento indenizatório por direitos de cunho extrapatrimonial, danos morais e estéticos, oriundos de acidente ocorrido em virtude de relações trabalhistas.
III.b – Do Acidente de Trabalho
O art. 19, caput, da Lei nº 8.213/91, ao tratar da definição do
acidente de trabalho, colaciona, in verbis, que:
Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício
do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
Desta forma, a situação do Reclamante amolda-se
perfeitamente àquela descrita acima, dado que o acidente que resultou na amputação do pé esquerdo do Demandante ocorreu ao prestar serviços de natureza rural, através da operação de motosserra, ao Reclamado.
Neste interim, o art. 11, V, “g”, ainda da Lei nº 8213/91, ao
dispor os segurados obrigatórios da Previdência social, afirma que:
Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social
as seguintes pessoas físicas:
[...]
V - como contribuinte individual:
[...]
g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural,
em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego;
Destarte, resta claro que a presente demanda está amparada
pela legislação responsável, de tal maneira que os acidentes de trabalho ocorridos neste caso, ainda que sem relação formal de emprego, são de responsabilidade do Reclamando, fazendo jus o Autor à justa reparação pelos gravíssimos danos sofridos.
III.c – Do Direito à Reparação Civil pelos danos sofridos
Os arts. 949 e 950 do Código Civil, que normatiza a reparação pelos danos sofridos em caráter de acidentes trabalhistas, dispõe, in verbis, que:
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o
ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido
não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá
exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.
Nesse desiderato, é direito do Reclamante o recebimento de
indenização pelos danos sofridos, ainda mais porque as ofensas causadas pelo Reclamado, que negligenciou sua obrigação de garantir segurança aos seus trabalhadores no curso das relações trabalhistas aqui discutidas, causaram ao Demandante danos irreversíveis, incapacitando-o permanentemente para o exercício de qualquer função laboral.
Dito isso, é importante ressaltar que existe um nexo de
causalidade entre o desrespeito às normas de segurança de trabalho por parte do Reclamado e o acidente, com a consequente amputação do pé esquerdo, sofrido pelo Reclamante. Todos os danos aqui especificados se relacionam única e exclusivamente com o evento acidentário descrito.
Da mensuração da pensão prevista pelo art. 950 do CC
A pensão estipulada pelo diploma legal supra expendido deve
levar em conta a vida útil trabalhista restante ao Reclamante, quando for o caso de incapacidade definitiva para o trabalho.
Saliente-se mais uma vez que o Reclamante, neste caso,
sofreu AMPUTAÇÃO DO PÉ ESQUERDO, restando impossibilitado de exercer quaisquer atividades laborais para as quais possui ofício, visto que necessita do auxílio de muletas ou cadeira de rodas para o resto da vida.
Desta forma, para a determinação do valor de pensão a ser
estipulado, o Requerente elege, como termo a quo, o mês de dezembro de 2018, posterior ao sofrimento do acidente e quando não mais percebia quaisquer verbas remuneratórias.
Para o termo ad quem, o Reclamante entende que deve ser
levada em conta a expectativa de vida mínima para os homens, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, conforme se encontra previsto no Decreto 3.266/99, em seus arts. 1º e 2º:
Art. 1o Para efeito do disposto no § 7º do art. 29 da
Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, com a redação dada pela Lei no 9.876, de 26 de novembro de 1999, a expectativa de sobrevida do segurado na idade da aposentadoria será obtida a partir da tábua completa de mortalidade para o total da população brasileira, construída pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, considerando-se a média nacional única para ambos os sexos.
Art. 2o Compete ao IBGE publicar, anualmente, até o
dia primeiro de dezembro, no Diário Oficial da União, a tábua completa de mortalidade para o total da população brasileira referente ao ano anterior.
Desta maneira, pela última tábua de vida publicada pelo
IBGE, no ano de 2018, referente ao ano de 2017, a expectativa de vida do homem de 57 anos, ao atingir esta idade, é de 22,7 anos (aproximadamente 22 anos e 08 meses).
Destarte, o parâmetro para estipulação do valor monetário de
pensão aqui determinado é o de número de meses de expectativa de vida, calculados à monta de 01 (um) salário mínimo por mês, sem prejuízo dos juros e correção monetária, exigidos em parcela única, conforme a prerrogativa estabelecida pelo art. 950, parágrafo único, do Código Civil.
Ademais, o valor salarial a ser considerado para o cálculo em
questão é de 50% do valor estabelecido pelo Cadastra de Empregados e Desempregados (CAGED), órgão vinculado atualmente ao Ministério da Economia, responsável pela pasta do Trabalho.
O valor médio de salário de um operador de motosserra é de
R$ 1.296,98 (mil duzentos e noventa e seis reais e noventa e oito centavos), de tal forma que 50% (cinquenta por cento) deste valor corresponde a R$ 648,49 (seiscentos e quarenta e oito reais e quarenta e nove centavos). O cálculo, então, fica estabelecido da seguinte forma: 22 anos x 12 meses + 8 meses, totalizando 272 (duzentos e setenta e dois) meses de expectativa de vida útil trabalhista.
Nesta seara, calcula-se a importância total de R$ 176.389,28
(cento e setenta e seis mil trezentos e oitenta e nove reais e vinte e oito centavos) a título de PENSÃO POR INCAPACIDADE TOTAL, a serem pagos em parcela única pelo Reclamado ao Reclamante.
III.d – Dos Danos Morais e Estéticos
Tratando agora dos danos de cunho extrapatrimonial, àqueles
de natureza moral e estética, o Código Civil, em seu art. 944, prevê que a indenização deve ser mensurada de acordo com a extensão do dano sofrido.
O dano moral trata-se de dano de foro íntimo, que deve ser
analisado à luz do sentimento de sofrimento imputado pelo Reclamado ou Autor, que se deparou repentinamente com a perda de um membro do seu corpo, visto que sofreu amputação do pé esquerdo.
Tal modalidade é dividida em dano moral indireto, quando
ocorre alguma lesão a um bem material específico, incluindo-se, neste caso, a integridade corporal; e em dano moral direto, que atinge diretamente à intimidade do cliente.
Desta forma, pugna o Autor pela estipulação do valor que este
Juízo entenda necessário a título de danos morais e estéticos, mensurando tais danos na importância exemplificativa de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), valor que o Reclamante entende justo em virtude dos danos por ele sofridos.
IV – DO LOCAL PARA A CITAÇÃO DO REQUERIDO
Destaque-se neste tópico que o local onde o Reclamante
prestava serviços era na Fazenda do Reclamado, que se localiza na Vila Mocotó, no município de Altamira/PA.
Ainda que o Reclamante não conheça exatamente o endereço
do Reclamado, insta dizer que o Reclamado e seus irmãos possuem residência na Vila Mocotó, e que trata-se de vila de pequeno porte, onde todos se conhecem e o Demandado possui residência naquela vila.
E mais, caso não seja encontrado lá, o Reclamante desde já
informa que o Reclamado também possui residência na Vila União das Quatro Bocas, no município de Marabá/PA. Nesta vila, inclusive, existe um estabelecimento chamado “Casa da Roça”, do qual o Reclamado e seus irmãos são clientes costumeiros e assíduos e que possuem o endereço do Reclamado.
Desta forma, as informações supracitadas vêm para garantir o
direito do trabalhador de ter acesso à justiça e, assim, que sejam reparados os danos sofridos por este, dada a gravidade da situação exposta.
V – DOS PEDIDOS
ANTE O EXPOSTO, o Reclamante REQUER:
a) Que seja deferido os benefícios da Justiça Gratuita em seu favor, por ser pessoa hipossuficiente, incapacitado permanentemente para o trabalho, e sem quaisquer condições de arcar com o ônus das custas e despesas processuais;
b) A citação do Reclamado, nos endereços supracitados, para,
querendo, contestar a presente Reclamação, no prazo estipulado por lei;
c) A CONDENAÇÃO DAS RECLAMADAS NO VALOR TOTAL
DE R$ 226.389,28 (duzentos e vinte e seis mil trezentos e oitenta e nove reais e vinte e oito centavos), a título de pensão vitalícia do art. 950 do Código Civil e de danos morais e estéticos;
d) A condenação do Reclamado ao pagamento das custas
processuais, bem como honorários advocatícios sucumbenciais no valor de 15% (quinze por cento) sobre o montante da condeção;
e) Seja JULGADA TOLTAMENTE PROCEDENTE a presente
Reclamação Trabalhista;
Dá-se à causa o valor de R$ 226.398,28 (duzentos e vinte e
seis mil trezentos e noventa e oito reais e vinte e oito centavos).