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Gustavo Gomes Pilli Nº 11247211

FLC0112 - 2º horário

Recepção de Dionísio em Apúlia


A palestra “In Pursuit of the God Dionysos in Ancient Apulia”, pelo Dr. Thomas Carpenter, tem como
objetivo explicar, utilizando da iconografia clássica, a recepção de Dionísio e a percepção que a região de
Apúlia tinha do deus grego. Para isso, Carpenter estabelece que as imagens constituem uma linguagem
própria a ser decifrada, e que simplesmente vê-las não é o bastante para compreendê-las. O mesmo vale
para os mitos, cuja sobrevivência depende da comunicação de temas considerados relevantes.
Dionísio era representado como deus do vinho e do teatro na cerâmica ateniense a partir do século
VI a.C, mas a julgar pela quantidade desses itens encontrada na própria cidade de Atenas, é possível
concluir que esses eram itens de exportação. O domínio sobre esse mercado foi perdido no século seguinte
para pintores e artistas de Apúlia, na Itália, e por muito tempo acreditou-se que a única cidade grega habitada
por gregos naquela região, Taranto, era onde se concentrava a produção dos vasos. Contudo foi
demonstrado, na verdade, que eram as populações não-gregas de Apúlia, muito mal-vistas pelos gregos,
que produziam a maior parte desses itens, comumente encontrados dentro de tumbas e feitos sob medida,
implicando que, diferentemente de Atenas, não eram bens de exportação. Essa descoberta abriu a
possibilidade de se compreender a percepção daqueles povos de Apúlia que não utilizavam a escrita e cuja
história pode ser reconstruída principalmente através das imagens, além de desbancar uma concepção
tradicionalmente aceita sobre o papel dos gregos naquele período e evidenciar a problemática da atribuição
das obras.
Em uma demonstração do que pode-s apreender com a análise da cerâmica, Carpenter usa vasos
para indicar o nome do artista, bem como a presença, por exemplo, de um ramo de planta típica daquela
região na Itália. Em um vaso encontrado em Atenas no século V a.C, a representação física do deus se
assemelha à das peças de Apúlia e se distancia do antigo modelo ateniense do século anterior. Nessas
peças também escondem-se informações a respeito da visão que os apulianos tinham do pós-vida; a
hipótese de que a presença dos vasos em tumbas apulianas implicaria uma relação entre Dionísio e o
submundo, para aquelas pessoas, só pôde ser confirmada graças a um “elo perdido” da cerâmica de Apúlia,
o Vaso de Toledo, que mostra Dionísio na presença de Hades e Perséfone. Essa peça também retrata um
jovem dentro de uma estrutura, uma tumba, algo que praticamente não existia no contexto grego de acordo
com as outras obras, permitindo assim estimar com maior precisão o local onde foi feita. As diferenças de
representação na Grécia e em Apúlia evidenciam a pluralidade de narrativas e discursos desse cenário
religioso, e essa multiplicidade, assim como na tradição oral de Homero, indica a relevância de determinados
tópicos para determinados locais. Ademais, a cerâmica apuliana carrega referências intertextuais a outros
mitos de origem grega, por exemplo Sísifo e Héracles. A comparação entre obras fica evidenciada como
método essencial para expandir a compreensão sobre a produção artística da Antiguidade Clássica, tanto
para fragmentos de poesia sáfica em papiros quanto para imagens gravadas na cerâmica de Darius.

Referência:
AMERICAN ACADEMY OF ROME : “In Pursuit of the God Dionysos in Ancient Apulia”, 2019,
disponível em https://livestream.com/aarome/events/8673481/videos/191021463

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