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L Línguas
L Clássicas
C e Vernácula
V
Estudos Crioulos
Universidade de Brasília
A QUESTÃO DA
PRODUTIVIDADE
MORFOLÓGICA NO
GUINEENSE
Maria Aparecida Curupaná da Rocha de Mello
Orientação
P rof . Dr. Hild o Hon ó rio do Co ut o
Brasília – DF
Fevereiro - 2007
UnB – LIV – Departamento de Lingüística, Línguas Clássicas
e Vernácula da Universidade de Brasília
Estudos Crioulos
A QUESTÃO DA
PRODUTIVIDADE
MORFOLÓGICA NO
GUINEENSE
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Lingüística da Universidade de
Brasília, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Doutor em Lingüística.
Orientação
P rof . Dr. Hild o Hon ó rio do Co ut o
Brasília – DF
Fevereiro - 2007
ii
MELLO, Mar ia Aparecida Curupaná da Rocha de
Mello. A questão da produtividade m orfológica no
guineense. Brasíl ia: UnB, Depar tamento de
Lingüística Línguas Clássicas e Vernácula. Mimeo.
Tese de Doutorado em Lingüíst ica. Brasília: Unb, 2007.
Banca Examinadora
___________________________________
Prof essor Doutor Hildo Honório do Couto - UnB – Orient ador
___________________________________
Prof essor Doutor José Olímpio de Magalhães - UFMG
___________________________________
Prof essora Doutora Margarida Maria Taddoni Petter - USP
___________________________________
Prof essora Doutora Norma da Silva Lopes – UNEB
___________________________________
Prof essora Doutora Daniele Marcelle Grannier - UnB
___________________________________
Prof essora Doutora Orlene Lúcia de Sabóia Car valho – UnB - suplente
___________________________________
Prof essora Doutora Enilde Leite de Jesus Faulstich- UnB - suplente
___________________________________
Prof essor Doutor Ar yon Dall’Igna Rodr igues- UnB - suplente
iii
Ao Jehfersão, por demonstrar
continuamente que a paciência, a
coragem e o amor são os recursos
mais produtivos da pessoa humana.
iv
AGR ADECIMENTOS
Aos meus bebês, Júnior, Líg ia e Beatriz, que me conf irmam a todo o momento que
a luta diár ia vale a pena.
À minha prof essora e am iga Heloísa Salles, com quem aprendi que a
solidariedade humana e o amor são requisitos tão básicos quanto o conhecimento
da Teoria Gerat iva. Muito Obrigada.
Aos meus prof essor es da Pós-Graduação em Lingüíst ica do LIV. Com todos eles,
sem exceção, aprendi a enxergar muito além do que me era possível. Muit o
obrigada a todos.
À Jacinta (Jajá) pela paciência com que nos atende nos dias mais atribulados no
departamento da Pós-Graduação em Lingüística na UnB.
Aos meus colegas da Pós, pela troca de conhecimento e pelas horas de alegria e
risadas. Em especial ao Fábio José, à Mary Lourdes, ao Paulo Medeiros, à Leia, à
Débor a e muitos outr os.
v
Aos meus colegas e am igos da ABECS – Associação Br asileira de Estudos
Crioulos e Similares - por transf ormar nossos encontros acadêmicos em encontros
de alegria e amizade. Em especial à Norma Lopes, ao Ant ônio Lopes, à Tânia
Resende, à Terezinha Resende (Teca), à Margarida Petter, à Mar y Careno e
tantos outros.
À minha amiga- irmã e colega Ulisdete Rodrigues - a Uli - com quem passo horas
discutindo sobre Lingüística e lingüistas. Em discussões regadas a muitas r isadas
e bom-humor.
Aos meus tradutores Júnior e Marcus, os santos (de casa) que f azem milagres.
vi
RESUMO
vii
ABSTR ACT
This thesis const itut es a study of the Guinea creole's morphological product ivity
based on linguist ic corpus. Basing on the theoret ical models of Halle (1973),
Aronof f (1976) and Kiparsky (1982), and using data analysis, it has been possible
to def ine the inventory of productive morphological processes of this specif ic
Creole, as well as the grammatical items with compound the morphological system
that generates the Guinean words. Throughout this work we are supposed t o
analyze the contrast and distribut ion relat ions manif ested t hroughout notions of
blocking, product ivit y and pr oduct ion conditions, speaker's acknowledgement of
the lexical or grammatical statute of the linguist ic f orms and the f ormalizat ion of
the W FR (W ord Formation Rules). From the acknowledgement of the properties
inscr ibed into the m orphological system s of languages, manif ested in the Guinean
Creole, it has been possible t o conclude that recursivit y and creativit y are present
in this creole .
viii
“Áf rica tudo o que sof reu
Porto de desesperança e lágrima
Dor de solidão
Reza pr a teus or ixás
Guarda o toque do t ambor
Pra saudar tua beleza
Na volta da razão
Pele negra, quente e meiga
Teu corpo e o suor
Para a dança da alegria
E mil asas pra voar
Que haverão de vir um dia
E Áf rica, em nome de deus
Cala a boca desse m undo
E caminha, até nunca mais
A canção segue a torcer por nós”
ix
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO _____________________________________________________________ 3
1. A GUINÉ-BISSAU ________________________________________________________ 7
3. METODOLOGIA _________________________________________________________ 87
INTRODUÇÃO
1. A GUINÉ-BISS AU
http://www.globe-images.com/africa-image.htm
1
Com 4.200 km de extensão, é o terceiro maior rio da África. Hoje, o Rio Níger faz a divisa entre o Benin e o
Níger e a sua bacia é responsável, em grande parte, pela fecundidade do solo nigeriano.
8
questão de tempo. Havia também m uito ouro e, mesm o resist indo a
investidas de inimigos como os berberes 2, por volta de 1076, os Ganas
sucumbiram diant e dos almorávidas e tiveram sua capit al, Kumbi Saleh
saqueada e tomada pelos árabes. Os almorávidas lut aram sob o signo de
“guerra santa” contr a os “ inf iéis” e a luta durou menos de cinqüenta anos.
Muitos povos f ugiram da guerra santa rumo ao oest e e se instalaram na
região onde hoje se encontra a Guiné-Bissau. É a época do Império Mali,
f ormado pelo povo mandinga, povo est e que até ent ão era dominado pelo
Império de Gana. Os mandingas já er am muçulmanos e a conversão ao
islamismo f oi conseqüência das relações com os árabes. A histór ia registra,
inclusive, peregrinações à Meca no séc. XIV
“ Co nt a- s e q ue em 13 2 4- 1 3 2 5, em pr e e nd e u ( o im per a dor )
um a per e gr in aç ão a Mec a , f a ze n do ac om pa n ha r - s e de
c er c a de s es s e n ta m il p es s oas , e nt r e as q u a is
qu i n he nt os es c r a v os c ar r eg a dos de o ur o e m bar r a e em
pó” .
(Carreira, 1947, p. 15)
http://www.ricardocosta.com/pub/imperiosnegros2.htm
Os dois números em vermelho marcam dois textos. São eles: 1. “Toda esta parte tem gentes
que ocultam a boca; só se vêem seus olhos. Vivem em tendas e têm caravanas de camelos.
Também possuem animais de cujas peles fazem excelentes escudos”. 2. “Este senhor negro é
aquele muito melhor senhor dos negros de Guiné. Este rei é o mais rico e o mais nobre senhor
de toda esta parte, com abundância de ouro na sua terra” (tradução literal). Observe que
embaixo do globo de ouro que o imperador Mansa Musa segura na mão direita está a
representação da cidade de Tumbuctu. In: DAVIDSON, Basil. “Os Impérios Africanos”, História
em Revista (1300-1400). A Era da Calamidade. Rio de Janeiro: Abril Livros / Time-Life, 1992,
p. 149.
2
Etnia nômade que vive no norte da África
9
http://www.ricardocosta.com/pub/imperiosnegros2.htm
Segundo Lopes (1987, p.26) “o povo que mais inf luenciou a área que
corresponde à Guiné-Bissau atual f oi, sem dúvida, o mandinga ”, pois a
super ior idade política do Mali atingiu um vast o territór io.
“ c a por c er t o n om s e po d e n eg ar q ue a c i d ad e d e Ce p ta
no n s ej a c h a v e d e t od o o m ar M e d yo t er r en o . N a qu a l
c on q u is t a es t e p r í nc i pe f oe c a p it am de m u y g r a n de e
m u y po d er os a f r o ta , e c om o va l le n te c a va l l e ir o tr a b a lh o u
por s ua p es s o a no d ya q u e f o e f i lh a da a os M our os .. .”
Azurara (p. 25 e 26)
.
O inf ante era membro da Ordem dos Cavaleiros de Cr isto, uma
organização remanescente dos Cavaleiros Templár ios, cujos membros,
sempre homens, er am abnegados e consagrados à tradição e def esa da
religião cr istã contra os “inf iéis” muçulmanos. Dom Henr ique f oi Governador
da Ordem e, em seu apogeu, garantiu à Ordem a hegemonia sobre o
12
conhecimento das navegações. Os cavaleiros, por sua vez, entravam com o
poder io econôm ico, sendo a Ordem a grande f inanciador a dos
descobrimentos portugueses. Além de dom inar a tecnologia das
navegações da época, a Ordem era também possuidor a dos mapas com as
rotas mar ítimas. Conta-se que Gil Eanes, Vasco da Gama e Pedro Álvares
Cabral er am membros da Ordem dos Cavaleiros de Cr isto. Estes f atos são
interessantes na medida em que apontam para a importância dos Cavaleiros
de Cr isto para os descobrimentos portugueses e também justif ica o
interesse na ocupação da Áf rica para bloquear o avanço do islamismo que
se representava na figura dos almorávidas. A Bandeira da Ordem podia ser
notada nas naus que partiam rumo a novos descobr imentos juntamente com
a bandeir a do reino:
http://map.africa-atlas.com/
- -
13
Ainda em Ceuta, Dom Henrique ouviu, pela primeira vez, f alar sobre
a Áf rica e o ouro da Guiné . Na época das grandes descobertas, havia o
pensamento constante, por parte dos administradores, sobre busca de novas
f rentes expansionistas e novos produtos comerciais. A ganância de
expansão comercial e a pilhagem era um a const ante nesse per íodo. A Índia,
f amosa por suas especiar ias e riquezas em metais, era a aspiração de
diversos navegadores da época. Mas, chegar até à Índia representava um
desaf io, os obst áculos eram muitos. Por terra era inviável, além de
demorado, representava muit os per igos aos per egrinos. O caminho
mar ítimo conhecido pelos navegadores passava pelo Mar Mediterrâneo e
pelo Mar Vermelho. Estes dois mares estavam sob o dom ínio dos mour os,
dos genoveses e dos venezianos. Vale lembrar que, essa aliança com os
árabes representava a riqueza de Gênova e Veneza, quando do comércio
das especiarias orig inár ias do oriente e estes, por sua vez, monopolizavam
o comércio com a Í ndia. Por est es motivos, os portugueses buscavam um
caminho alternat ivo (representado em vermelho no mapa abaixo). Cam inho
este que desviasse dos mouros e dos italianos
Fonte: http://www2.worldbook.com/wc/popup?path=features/explorers&page=html/age_sailing.html&direct=yes
“ E es ta g e nt e d es t a t er r a v er d e , he t o da n egr a , e p or em
he c ham a da t er r a d o s Ne gr os , o u t er r a d e G ui n ee , p or
c uj o aa zo os h om ees e m olh er es d e l la s o m c ham ados
G u in e us , q u e q uer t a n to d i ze r c om o ne gr os .”
(Azurara, 1841, p. 278)
Carreira (1972) af irma que os document os que se ref erem aos Rios da
Guiné de Cabo Ver de não possuem uma unidade geográf ica. No começo do
Séc. XVI, a área entre o rio Senegal e o rio Orange (hoje a Nam íbia) er a
uma f aixa ainda indef inida no cont inent e, embora demarcada na costa. Não
havia um conhecimento mais acur ado da costa af ricana que permitisse uma
demarcação mais coerente e certeira. A delimit ação f oi consolidada soment e
a partir de 1600, quando “as gent es” e os r ios passaram a ser mais
conhecidos.
“ a in ex is t ê nc ia d e u m pode r ef e t i vo e d ur a d o ur o d a
m inor i a d os im ig r a nt es c ul t ur a lm en t e m ais e vo l uí d os
s obr e a m a ior i a af r ic an a – q ue v i v eu s em pr e
i nd e pe n de nt e e l i vr e , m ant en d o i nt ac t os t od os os s e us
v a lor es c u l tur a is , em es p ec i al as lí n gu as m at er nas ”
Carreira (1972, p. 31 e 32)
Fonte: http://exploringafrica.matrix.msu.edu/curriculum/lm6/activityfive.htm
3
Não há um consenso entre os estudiosos em relação ao grau de resistência dos moradores de Farim, Cacheu e
Bissau.
20
outro lado, “as ilhas de Cabo Ver de desabitadas, começaram a ser
utili zadas como ponto de apoio do com ércio tr iangular: os seus habitantes
actuais são sobret udo escravos vindos da Guiné. ” (Lopes, 87, p. 21).
Quando Portugal consolidou o seu pr ivilégio exclusivo com o comércio
escravo nos “ Rios da Guiné”, a região que ia desde o sul da Serra Leoa até
o norte do Senegal era conhecida como a Costa dos Escr avos. Importante
ressaltar que o interesse comercial e extrativista era tão f orte nas relações
com a Áf rica que, em várias regiões, o nome representava o tipo de
mercador ia ret irada dos af ricanos para o comércio na Europa. Alguns nomes
se mant iveram através dos tempos, como Cost a do Marf im, por exemplo.
Outros nomes, após a partição da Áf rica e a consolidação das nações no
séc. XIX, f icaram somente na histór ia, como Costa do Ouro e a própr ia
Costa dos Escr avos.
Fonte: http://www.elnidodelescorpion.com/N22/mundo-africa.htm
1.1.4 A Guiné-Bissau
Mesmo com a tentat iva de democr atizar o país com eleições, não f oi
possível desf rutar de um per íodo de calmaria polít ica. Tudo indicava que a
luta chegara ao f im, mas não f oi o que ocorreu. Em 2000 houve a
inter venção dos Observadores da Paz da Áf rica Ocidental e a realização de
novas eleições. Neste pleito, Kumba Yalá é eleito e recebe nas mãos um
país com uma grande dívida exter na e a dependência da ajuda estrangeira.
Mas, em setembro de 2003, um novo golpe m ilitar derruba o gover no de
Yala. O empr esár io Henrique Rosa f oi então escolhido como presidente
inter ino pelos milit ares e Chef e de Estado até a realização de novas
eleições. Rosa relutou em aceitar o carg o de president e, mas f oi convencido
pelo bispo de Bissau, José Camnate, chef e da com issão nomeada pelo
militares para o r estabeleciment o da ordem civil na Guiné. Rosa é
considerado de “raça-mista”, o que o coloca apartado das questões de
ordem étnicas para a disputa do poder na Guiné.
4
Há estudos que afirmam que, devido às secas dos anos 70, este período abarca agora os meses de junho a
outubro. Fonte: SANCHES, CITTADINO e ARTUSI.
24
população é de cer ca de 1, 5 milhões de habitantes (2003) 5 divididos em
diversas etnias.
A Guiné- Bissau tam bém é uma das mais pobr es nações do m undo, e a
ajuda humanitár ia é de suma importância àquele país. A principal f onte de
emprego está na agricultura, com isso, a mão de obr a no campo abarca
cerca de 80% dos trabalhadores braçais. O cult ivo de arr oz, algodão e
castanha de caju são as cult uras pr incipais na produção agrícola do país.
Há também o cultivo de amendoim, milho, camarão, f eijão ent re outros.
5
http://www.ipad.mne.gov.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=53&Itemid=84
25
um cenário t ípico nas grandes cidades em países pobres ou mesmo em
desenvolvimento.
“ O c onj u nt o d as i l h a s e as p o v oaç õ es d os c h am ad os
‘R i os d a G ui n é ’ p as s ar am a c o ns t i tu ir u m a uni d ad e
adm i n is tr at i v a s o b a des i g naç ã o d e ‘ C ap i ta n ia das i lh as
de C a bo V er d e ’ c om s ed e n a R ib e ir a G r a n de ... ”
Carreira (1983, p. 39 e 40)
Com uma caract er ística demográf ica def inida a partir da invasão d e
portugueses e negros advindos da Costa da Guiné, começa, no séc. XVIII, a
migração dos caboverdeanos para a Guiné. O clim a passou por
transf ormações que f avorecia o surgimento de longos per íodos de est iagem
decorrent e da destruição das f lorestas para o cult ivo da terra.
27
fonte: www.tchando.com/gui1.html
“ Hoj e em d ia é c a d a v e z m ai or a i nc id ê nc i a d e f a l an tes
do c r io u lo c om o pr i m eir a – e m es m o ú n ic a – l ín g ua ,
s obr e tu d o e nt r e os m ais j o ve ns e pr i nc i pa lm en t e n os
c en tr os ur b an os . A pe r te nç a é tn ic a s e d il u i ‘ na pr aç a ’ e
gr a n d e p ar te d as c r ia nç as e d os j o v e ns d e s c on h ec e as
lí n gu as anc es tr a is , n ã o c h eg am nem m es m o a apr e nd er
o p or t u gu ês , t en d o o gu i n ee ns e c om o s e u ú n ic o m ei o de
ex pr es s ã o. ” (Augel, 2000, p. 6)
Mesmo com uma sit uação lingüíst ica complexa, na Guiné f orma uma
Comunidade de Fala (cf .2.3.1) uma vez que há uma integridade que perm ite
a comunicação entre os vários povos com suas dif erenças lingüísticas.
30
1.2 A FORM AÇÃO DA LÍNGUA
6
Fonte: Houaiss
31
per m a nec er am ape g a dos às s u as c r e nç a s an im is t as ,
f or tem e nt e e nr a i za d a s ex c e p tu a nd o- s e a p en as a lg u ns
r ég u l os is l am i za dos .”
7
Linguagem utlizada por adultos para se comunicar com crianças
8
linguagem utilizada para se comunicar com estrangeiros
32
(segunda língua) por adultos 9, ocorrendo, nesse processo a redução da
morf ologia f lexional no ambiente de contato. Rougé levanta a questão a
partir da idéia de um “português aproximativo”. Par a ele “t alvez se deva
também imaginar a existência de um mandinga, de um pepel e de um
manjaku aproximativo”. Por outro lado, é bem provável que na f ala
empregada entre os negros, ou mesmo entre eles, os grumetes e os
lançados, havia muitas f ormas reduzidas. Este português aproximat ivo f oi,
por sua vez, transmitido a outros af ricanos.
“ As pr im eir as em ba r c aç õ es p or t u g ues as q u e c h eg ar am à
Cos ta da Áf r ic a o c i de n ta l em m eados d o s éc u lo X V
enc o ntr ar am po v os c om lí ng u as e c os tum es d if e r e nt es
en tr e s i. Um a d as pr inc i p ais t ar ef as qu e os r ec ém -
c he g ad os a tr ib u ír am a s i , a lém da pr oc ur a pe lo ou r o e
tr áf ic o dos pr im eir os es c r a v os , f oi d e c o n h ec er a r eg i ão
e os p o vos qu e a h a b it a vam .”
9
Holm (2005) apresenta a hipótese de que a perda flexional deve-se a tipologia das línguas de substrato e
superstrato que participaram do processo de crioulização (cf. 6.2.3)
33
1.2.2 Hipóteses Insular, Monogenética e Ambigenética
“ em pr ol de N ar o de v e s er d i to qu e e le f e z um a
pes q u is a in t ens a em ar q u i v os d e P or tu g al e a l hur es , o
qu e j us t if ic a a lar g a d i vu l gaç ã o q ue s e u t r ab a l ho t e v e
em tod o o m un do , n o en t an to , n o q u e c o nc e r ne a o l óc us
de f or m aç ão d es s a l i ng u ag em , e l e es tá c o m plet am en te
er r ad o.” Couto (1996, p. 193)
Para Rougé, não se pode imaginar que homens rudes como eram os
lançados f reqüentassem as escolas da polít ica de Dom Henrique para se
prepararem pr of issionalmente antes de se “lançarem” nas novas terras.
“ va i b as e ar a u n i d ad e G u in é /C a bo V er de n ão n os
pr inc íp i os de c o es ã o p e qu e no - b ur gu es e s , m as na
s em el ha nç a h is tó r i a e c u l tu r a l dos do is p o vos .
Ch am am os , p or ex em p lo , a a te nç ão p ar a a e x ist ên ci a
d e u m a lín g u a co m u m, o K r i o l, as s i n a la d o d es de o s éc .
X VI” (Lopes,1987, p.31- negrit os nossos)
Uma dist inção bast ante inter essante para esta discussão está na
divisão entre língua e dialeto. Esta dif erenciação, bast ante complicada, tem
sido objeto de pesquisa e f omentado discussões, uma vez que a descrição é
f ortemente prejudicada diante da ambigüidade na utilização dos termos, ou,
plagiando Haugen (1972), trata-se de uma dicotomia muito simples
represent ando uma situação muito complexa, uma vez que
“ Naç ã o e l ín g ua s e t or n ar am i nd is s o lu v e lm ent e
en tr el aç a dos . T o d a n aç ão q u e s e re sp ei t e tem
que t er uma lí n g u a. N ão só um me io de
co m u n i c aç ão , u m a ‘v er n á cu la ' o u u m ‘d ia let o ' ,
m as um a lín g ua c o m plet am en te d es e n v o l vi d a.
Q u al q ue r c o is a m en o s q ue is s o é um a m ar c a de
s ub d es e n v o l vim e nt o.”
Não houve ruptura com as línguas Na formação da sociedade, houve uma ruptura
africanas, tampouco com o português. com o português e com as línguas africanas.
No continente, a crioulização
representou o aparecimento de mais um Nas ilhas, a formação da nação
grupo étnico que acontecia nas praças, caboverdeana se deu mediante a
um grupo crioulizado com a sua crioulização da sociedade e da língua
respectiva língua.
“ .. . a CF po d e s er m ult il í ng ü e. A G u i n é - B is s au , p or
ex em p lo , a d es p e it o d o f at o de q ue em s eu i nt er io r s ej am
f al ad as q u as e 20 lí n g uas é um a CF . E o q ue é m ais , é
um a CF i nd e pe n de nt e d a CF s e n eg a les a , em bor a n a
r eg i ã o s u l d o S e ne g a l ( Cas am ans a) s e f a le a m es m a
lí n gu a , ou s ej a , o c r i ou l o p or t u gu ês . O q u e ac o n tec e é
qu e G u in é- B is s au e Cas am ans a c o ns ti t ue m um a ún ic a
CL , m as nã o um a CF . O s c as am ans en s es i nt er ag em
m uito m a is c om os r e s ta nt es s en e ga l es es d o q u e c om os
gu i n ee ns es .”
(Couto, 2005)
“ ( .. .) nã o s e c on h ec e ne n hum c as o de a l gu m gui n ee ns e
qu e nã o t e nh a c ons e gu i d o s e c om un ic ar c om qua l q uer
ou tr o gu i n ee ns e p or f al ta d e um a l ín g ua c om um . A lém
d is s o , t em os o c r i o u lo , c uj o d om íni o a um ent a d i a a
d ia” . (Couto, 1994, p. 46)
2
1 P 1 - PL = Português Lusitano
PA 2 - PA = Português Acrioulado
P
PL
4 3 - CA = Crioulo Aportuguesado
3 CT
C 4 - CT = Crioulo Tradicional
C
CA 5 - C = Crioulo Nativizado
CA
6 6 - LN = Línguas Nativas
5 L
LN
C
CN
10 É importante lembrar que considera-se aqui o conceito clássico de descrioulização, aquele cujo ciclo vital de
uma língua crioula é o processo de aproximação com a língua lexificadora deste crioulo
43
apresenta para uma descrição. Afinal, “que crioulo descrever?”, diante da
emaranhada situação das variantes no guineense e “Na Guiné-Bissau as
coisas se complicam ainda mais porque ‘abaixo’ do basileto temos as
línguas nativas africanas, em vez de um pidgin” (Couto, 1994, p. 53)
(Rougé, 1988)
Pint o Bull ( 1989, p. 82) af irma que “há no cr ioulo dessa região
(Casamansa) muit as interf erências lingüísticas do f rancês” citando exemplos
como: timbar, timbre, em vez de selu ou selo ou ainda poste para correio.
11
Do álbum “Velô - Caetano e a Banda Nova” - de 1984 – Gravadora: Polygram
45
12
Diglossia, in Word, 15, pp. 325-340, 1974
46
de uma sobre a outra não é aleatór ia, mas obedece a valorização atribuída
pelos f alantes, ou seja,
Esta autor idade, ou melhor, este prest ígio atr ibuído à língua H é
mantido, segundo Ferguson, mesmo por aqueles que não dom inam
plenamente a língua H, mas a consideram “mais certa” ou “mais bonita” e
“mais capacit ada à expressão” que a(s) língua(s) L. Ferguson enumera mais
oito f atores lingüíst ico-sociais que f avor ecem o f enômeno da diglossia. Para
esta discussão, o pr est ígio é bastante signif icativo na situação lingüística da
Guiné, pelo f ato de ser o português considerado a língua de prest íg io entre
os f alantes do crioulo e das línguas étnicas. Mesmo com a f unção de ser a
língua veicular entre indivíduos de etnias diversas, os quais se reconhecem
como guineenses, o crioulo não é a língua de prest íg io na Guiné. Por ser a
língua of icial, a língua do ensino e a língua do dominador, os f alantes
atribuem julgamento posit ivo ao português e ao mesmo tempo, promovem a
sua super valor ização ante as demais línguas, entre elas, o própr io cr ioulo.
Não se pode dissociar tal prát ica das relações de poder e pr est ígio, uma vez
que ref lete o conjunto de opiniões que f oram consagradas pelo senso
comum, independent emente de ser bom ou ruim par a o grupo.
“ T oda lí n gu a t em um a s e de . O p o v o q ue a f al a,
per t enc e a um a r aç a ( ou a c er to núm er o d e r aç as ) ,
is t o é, a um gr u po d e h om ens q ue s e de s tac a de
ou tr os gr u pos po r c ar ac t er es f ís ic os . P or o u tr o l ad o,
a l í ng u a n ã o ex is te is o la d a d e um a c u l tu r a , is t o é ,
47
de um c onj un t o s oc i a lm ent e h er d a do d e pr át ic as e
c r enç as q u e d et er m in a m a tr am a d as n os s as v i das ”
(Sapir, 1972, p.205)
Essa trama tem sua exist ência em uma dada comunidade. A noção de
comunidade engloba um povo ( P) vivendo em terr itório comum (T) e que tem
sua interação mediada por meio de um a língua (L). Fato que Cout o vem
chamando de Ecologia Fundamental de Língua. Nessa perspect iva, o
equilíbio do modelo da Comunidade (C) é mantido pela existência de cada
uma das partes int egrantes deste modelo, que são: língua (L), povo (P) e
território (T) (cf . 2.1.2).
“A un i da d e da c om un id a de vai se ar t ic u l ar
pr im or d ia lm en t e em tor n o d e um a lí n gu a n ac io n al e, n o
c as o d e n aç õ es m ul ti é tn ic as e p lur i l ín g ü es , a l í ng u a
nac i o na l p o d e o u n ão c or r es p o nd er à ‘ lí n gu a m ater n a ’ d e
um a e tn i a i n te gr an t e d a c om un i da d e nac i o na l”
(Signorini, 2002, p.99)
“ j un tam e nt e c om as m udanç as l i n gü ís t ic as q ue r es u lt am
num a lí n gu a c r i ou l a, a c r i ou l i za ç ã o tam bém im pl ic a
i n var i a v elm e nt e um pr oc es s o de m u d anç a c u lt ur al
r es u l ta n te d e um in t r ic ad o f lux o d e va l or es , pr át ic as ,
s ab er es , c r e nç as e s í m bol os q u e d á lu z a um a en t id a de
s oc ia l ter c e ir a: um a un i d ad e in t er n am en te he t er o g ên e a
qu e em er g e do c o m pr om is s o s oc i a l e l i ng üís t ic o
a lc a nç ad o pe l as s oc ie d ad es qu e p ar t ic ip ar am do
enc o ntr o or i g in a l” . (Trajano Filho, 2004)
Informação L1 L2 L3 total
1979 0 2% 3% 5%
1991 1% 3% 5% 9%
Fonte: Scantamburlo, 1999
Há qu a tr o ní v e is d o c r i ou l o g u in e ens e
en tr e o s up er s tr a t o ( por t ug u ês ) e o
s ubs tr at o ( lí n gu as na t i v as ) (cf.
CO UT O , 19 9 4) . Es t es ní v e is
d is tr i bu em - s e em um c ont i nu u m,
s en d o o c r i ou l o n a ti v i za d o o m ais
pr óx im o d as lí n gu as na t i vas . E o
por t ug u ês ac r i o u la d o m ais pr óx im o
do p or t u gu ês . O c on t at o c om a
lí n gu a l ex if ic ad or a e o pr es t íg i o des ta
j un to aos gu i n ee ns e s f av or ec em a
apr ox im aç ã o do c r i o u l o à s u a l ín g ua
l ex if ic a d or a. É a des c r i o u li za ç ão ,
r ep r es e nt an d o a et ap a f i n al d o c ic l o
Sabe-se que as decisões de polít ica de língua têm por base questões,
como já diz o nome, polít icas. Scantambur lo lembra que depois da
independência, o guineense ganhou o estatuto de língua nacional e de
52
símbolo nacional, tanto que, em programas de rádio e pr ogramas polít icos do
governo, as emissoras utilizam o guineense por reconhecer sua abrangência
e compreensão entr e a população. O autor def ende também a of icialização
do guineense ao lado do português na Guiné, o que implicaria a ut ilização do
mesmo como língua do ensino f ormal. Para isso, ser ia necessár ia a
padronização do sistema gráf ico, uma vez que não há uma padronização na
escrita. Em 1987 houve uma propost a de graf ização adotada pela Direcção
Geral de Cultur a, a Propost a de Unif icação da Escrita do Crioulo, baseada
em uma escrita f onét ica.
13
Fonte: IPAD – Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento - http://www.ipad.mne.gov.pt
53
puristas e legisladores lingüísticos, os quais acredit am na dicionar ização
como um dos sustentáculos lingüíst icos que apontam para a padronização e
of icialização de uma língua, desconhecendo outros valor es envolvidos nesta
questão. Trata-se de um discurso bast ante dif undido entr e leigos, aquele
que acredita que a língua é o que prega o dicionár io, ou, em outras palavras,
o dicionário é o guardião da língua. Esta é, sem dúvida, uma resolução
polít ica e os argumentos lingüísticos são “invisíveis” aos legislador es.
Porém, como def ensor da idéia do ensino bilíngüe, o autor dá aos
legisladores, aquilo que eles querem: gramática e dicionár io.
“ A pr ópr i a es c ol a q ue pr et e nd e af ir m ar o Po rt u g u ê s é
u m d o s ma io r es d if u so r es d o G u in e en s e, p or qu e, d e
f ac to , to d as as c r i a n ç as e j o ve ns , qu e f r eq ü en t am a
es c o l a, c om u nic am e ntr e s i em G u i ne e n s e, d i ár ia e
s is t em at ic am e nt e.”
(Scantamburlo, 1999, p. 61 – negritos nossos)
54
2. OS ESTUDOS CRIOULOS
2.1 A CRIOULÍSTICA
“c h am am os a att e n ç ão d os n os s os c o n s oc ios e do
pu b l ic o par a as f ór m as di a l ec t a es par t i c u lar es que
a lg um as l in g uas eur o pê as e p ar t ic u l ar m en t e o f r anc e z, o
hes p an h o l e o p or t u g ue z, t in h am tom ad o n as c o lo n i as e
c on q u is t as d a Af r ic a , As i a e Am er ic a. Es s es d ia l ec t os
tê em até h oj e atr a h i do m u it o p o uc o a a tt enç ã o d os
l in g u is t as , nã o ex is t i nd o a i n da ne n h um tr ab a l ho ger a l
s obr e e l les . .. . Er a n o s s o des ej o r e u n ir os m ater ia is p ar a
um tr a ba l ho es p ec ia l s obr e os d ia l ec tos p or tu g ue ze s , em
um tr a ba l h o g er a l c o m par at i v o em qu e t en t as s emo s
d et er mi n a r a s l ei s d e f o rm aç ão d es s es d ia le ct o s”
(Coelho, 1880, p.4 – negritos nossos)
Fonte:
http://purl.pt/24/1/pp-28-3-v/index-HTML/M_index.html
“ um a l ín g u a d e em e r gê nc i a, qu e s u r g e q ua n do
po v os f a la n tes de l ín g uas m ut ua m ente
i ni n te l i gí v e is e ntr e s i en tr am em c ont at o es tr e i to .
P or d ef i n iç ã o, el a nã o é lí n gu a m ater na de
n in g uém , um a v e z qu e s ó é us a da n a s i tu a ç ão d e
c on t at o” Couto (2002, p.7)
58
Na acepção acima, o autor evidencia a condição socioling üíst ica do
contato marcada pela não inteligibilidade dos f alant es envolvidos neste
contato.
i. Núm er o r ed u zi d o d e f o nem as ;
i i. Re d uç ã o d e pr oc es s os d er i vac i o na is ;
i i i. A us ê nc i a de pr oc es s o s f l ex i o na is ;
i v. Re d uç ã o d o l éx ic o ao m ínim o n ec es s á r i o à s it u aç ã o d e c o nt at o ;
v. Pr ef er ênc i a p e la s í l ab a ót im a ( C V) ;
v i. F u nç õ es s i nt á t ic as in d ic ad as p e la o r d em s i nt agm át ic a.
“ s e os c r i ou l os f or am des e n vo l v i d os p or c r i anç as ,
e les s er i am lí n gu as q ue p er m an ec er am n a f as e d e
des e n vo l v im en to . A a lt er n a ti v a é q ue e l es ( os
c r i ou l os ) t er iam a dq u ir id o es tr u t ur a a d ul t a qu a nd o
as c r ia nç as s e t or n a r am adu l tos , o q ue c r ia a
per g u nt a: po r q u e s e u s pa is ter i am s id o inc ap a ze s
de d es e n vo l v er ta is e s tr u tu r as d ur an t e a f as e d e
p id g in .”
Couto (2002, p. 34) indica t ambém as caracter íst icas das situações de
contato que f avorecem o aparecimento e os caminhos de um crioulo depois
de f ormado. São elas:
i. S it u aç õ es d e m u lt i l in gü is m o c om um c on t at o c o nt i nu a do en tr e os
po v os ;
i i. O m ais c om um é o c o nt at o ac o n tec er em ter r it ór i o d as L Ss ( lí ng u a s de
s ubs tr at o) o u em ter r i t ór io n e utr o ;
i i i. G er alm e nt e, a L L ( l í ng u a l ex if ic ad or a) f o r nec e o léx ic o e as L Ss
f or n ec em p ar te d a gr a m átic a ;
i v. Há c as os d e r e l ex if ic aç ã o , q ue é a s u bs t i t u iç ã o d o l éx ic o por o utr a
lí n gu a d if er e nt e d a L L;
v. De p ois d e f or m ad o u m c r iou lo p od e c am inh ar par a o pr oc es s o d e
des c r i o u li za ç ão , o u s e j a, um a r e a pr ox im aç ã o d a LL .
- As s i m , o m o d e l o p r e v ê q u e C = P + T + L .
A EFL prevê que em uma comunidade o seu povo interage por meio de
sua língua em um determinado terr itór io. As situações de contato podem se
apresentar, segundo Couto (2002), de quatro f ormas dif erentes, o que
implica resultados lingüísticos também dif erentes. Neste caso,
contrariamente às noções lógicas da matemática, a or dem dos f atores
inf luencia o result ado lingüístico-social do processo, uma vez que a mudança
da estrutur a da EFL desencadeia conseqüências lingüíst icas dif erentes dos
padrões de cont ato considerados com uns. São situações inusitadas, nas
quais sempre há a f alta de, pelo menos, um dos sustentáculos da EFL, ou
seja, f alta ora um povo, ora uma língua, ora um terr itório. A tendência
natural é o preenchimento da lacuna que está em aberto, seja ela uma nova
língua, um novo povo ou mesmo a ocupação de um novo ter ritório para este
povo com sua língua.
“ O pr ot o- p id g in da T eor i a d a M o no g ên es e é em
h ip ót es e o p i d gi n p o r tu g uês do s éc . X V o q ua l
po d e t er s id o um a r e lí qu i a d o s ab ir , a l ín g ua
f r anc a m edi e va l q u e ac r e d it a v am s er a lí n g ua dos
c r u za d os e a l ín g ua c om um no c o m ér c io
m edit er r â ne o” .
A teor ia da língua Mista está inser ida no âmbito m aior da relexif icação,
assim como a Monogenética, pois traz a noção do léxico do superstrato na
gramática do substr ato. DeCamp (1977) em The Development of Pidgin and
72
Creole Studies lembra que para Schuchard - no início da crioulíst ica -
alguns cr ioulos mudam sua f iliação e são tão mesclados que desaf iam
qualquer classif icação (DeCamp, 1977, p. 10). Como opositor dos
neogramáticos, Schuchardt viu nos pidgins e cr ioulos um f orte argumento a
seu f avor, dada a imprevisibilidade de se relexif icar com uma língua
dif erente da lexif icadora atual. Há línguas que passaram por relexif icação,
como o chamorro, falado nas ilha de G uam e nas Mar ianas, nas Filipinas.
Os lingüist as consideram o chamorro uma língua malaio-polinésia que teve
seu léxico substituído quase que t otalmente pelo espanhol. Porém, do pont o
de vist a sócio-histór ico, a f ormação do povo e da língua não caracter iza o
chamorro como um crioulo. Mesmo quando se leva em consideração o f ato
de a substituição lexical apresentar um caráter sócio-polít ico. É sabido que,
quando há implicações de poder de uma língua sobre outra, no caso da
relexif icação, sempr e a relexif icada está em piores condições sociais e
polít ica em relação à língua doadora. Trata-se, portanto, de uma dominação
cultural. A grande quantidade de americanismo presente no léxico do
português brasileiro, e em outras línguas, exemplif ica a relação de
dominação e poderio dos Estados Unidos no mundo atual.
Enf im, o que tem a ser ressalt ado é que qualquer crioulo pode ser
classif icado como uma língua m ista, porém, a recíproca nem sempre é
ver dadeir a.
- A or dem s i n tá t ic a m en os m ar c ad a, is s o é, a S V O ( s uj e i to – v er b o –
obj et o) . Al ém de s er f ix a é t am bém a r e gr a g er a l, p ois , a a tr ib u iç ão d e
Cas o e pr e p os iç õ es nã o f a z p ar t e da s i nt ax e c r i o u la . As f u nç ões s ã o
m ar c ad as pe l a or dem n a s e nt enç a . Es t a , por s ua ve z c o ns ti t u i , par a
B ic k er t on , um d os u ni v er s a is d a c r io u l i zaç ã o.
- A u ti l i za ç ão d a f or m a adj et i v a l n a f u nç ão de v er b o, p or ex em pl o:
I li n p u k or s o n b a
‘ele já foi uma pessoa de bom caráter’.
Para este trabalho, as caract er íst icas morf ológicas são as mais
relevantes. Sabe- se que na crioulística os estudos acerca da morf ologia são
poucos, uma vez que a idéia de que “um dos dados mais conspícuos dos
crioulos e, é claro, dos pidgins é a ausência quase t otal de morf oloig a
derivacional e f lexional” ( Couto, 1996, p. 48). Alguns cr ioulos emergem como
exceção e apresentam processos morf ológicos. A composição é um processo
74
bastante produtivo nos cr ioulos, a derivação apresenta uma redução, ao
passo que a f lexão pode ser tratada com raridade. Como diz Couto
(comunicação pessoal) “concordância já é ‘luxo’”. Esse assunto será tratado
mais detalhadament e no capítulo 5.
A noção de que aqueles que er am dif erentes dos brancos eram seres
inf eriores levava a pensar que seu discurso também era inf erior. Assim, os
traços dif erentes das línguas crioulas em relação às não crioulas er am
tomados como traços inf eriores e ref letiam, portanto, a idéia da inf erioridade
de seus f alantes. Esses traços não são considerados em relação às
condições sócio-históricas de f ormação dos cr ioulos, o que leva ao
julgamento da incapacidade cognit iva dos f alantes das línguas crioulas.
Existe, ainda hoje, na crença popular e, por vezes, acadêm ica, a idéia
de que os crioulos são uma classe distinta de línguas. Esta idéia está
inserida na velha crença de que os crioulos são t ambém línguas
degeneradas e inf eriores em relação às línguas não-crioulas. Essa
discussão tem sido largamente combatida por Michel DeG raff , Ingo Plag,
Silvia Kouwenberg, na chamada ACE – Against Creole exceptionalism. A
noção de excepcionalismo, por sua vez, apresenta um traço de segregação,
segundo o qual os crioulos:
i. S ão d es c e nd e nt es d eg en er a dos d as l í ng u as anc es tr a is e ur op é i as ;
i i. S ão lí ng u as q ue e m er gir am de um br eak de tr ans m is s i on ou
tr a ns m is s ã o a no r m al a br u p ta ;
i i i. S ão f ós s eis l in g üís t ic o s ;
i v. S ão h í br id os es pec i a is c om um a ge n ea l o g ia ex c e pc i on a l.
Segundo Seuren e McW horter, por serem muito novos nas línguas, o s
af ixos der ivacionais dos crioulos, além de serem produtos de
gramaticalizações, são também novos na qualidade de forma livr e, pois
eram f ormas presas nas línguas de input. Por sua condição ”jovem”, os
af ixos conser vam a transparência semântica da língua doadora, o que
implica que as línguas crioulas não têm lexicalizações idiossincrát icas como
nas línguas “mais velhas”.
Para Plag (2004), “ uma revisão sér ia na lit eratura sobr e os crioulos
também ref uta a asserção da pouca morf ologia nessas línguas”. O autor
af irma, ref utando a tese da pobreza de morf ologia, que “f ica estabelecido
desde agora o f ato de que os crioulos têm morf ologia de uma f orma não
desprezível”
A relação entre f orma e signif icado nos crioulos está sempr e ligada à
questão da transparência semânt ica e da iconicidade no seu sistema
morf ológico. Segundo um pensament o f reqüente, quando acontecem os
processo morf ológicos, estes são transparentes na sua totalidade. A noção
de transparência quer dizer que o signif icado de uma palavr a complexa é a
soma de signif icado de suas partes. Essa idéia, par a McW horter, tem a ver
79
com a condição de língua ainda jovem dos cr ioulos, pois, as irregularidades
semânticas surgem de um processo inevitável de deslizamento semântico e
inf erência metaf órica que ocorre com o tempo. Para McW horter, esse
mecanismo é o único que determ ina os processos não-transparentes nas
línguas e está, ainda, inativo nos crioulos.
Ingo Plag (2000) combate essa idéia, tomada como uma generalização
para os crioulos. Em “ T h e n at ur e os d er iv a ti o na l mo r p h ol o gy i n c r eo l es a n d n o n-
c r eo l es ” , o autor af irma que a opacidade semânt ica br ota de outros
mecanismos, pr incipalmente entre os empréstimos, o que signif ica ser este
um mecanismo bast ante comum em situações de contato. Portanto, não é
uma condição exclusiva das situações crioulizantes. É de se esperar que
em situações de contato de línguas haja empréstimos de f ormas
consideradas mais complexas, às vezes, com reanálises. Porém, nem
sempre é isso o que acontece e após desenvolvimento e ut ilização na língua
pode levar a idiossincrasias. Por exemplo, no guineense o suf ixo – dur,
originário do português - dor . Esse suf ixo f orma substant ivos a part ir de
ver bos, na maior ia das vezes indicando ocupação. Por exemplo:
- m on t ia mo n ti a d ur
‘caçar’ ‘caçador’
- ba j a ba j a dur
‘dançar’ ‘dançarino’
- t ar b a j a tar b aj a d ur
‘trabalhar’ ‘trabalhador’
Nos dados acima, o suf ixo – dur, or iginário do português veio para o
crioulo, sem reanálise semânt ica ou morf ológica, som ente f onológica.
Entretanto, os dados em -dur apresent am também uma f orma em – dur,
idiossincrática e opaca, como em
- p ek a d u pek a du r
‘pecado’ ‘pessoa, gente’
ex : l a ga r t u k u ns i t ud u n o mi d i pek a du r
‘o crocodilo conhece o nome de todas as pessoas’
- mame mamesiñu
‘mãe’ ‘madrasta’
- bentu bentusiñu
‘vento’ ‘brisa’
80
Nos exemplos com o suf ixo -siñu, não há uma relação de
transparência total, tampouco de regular idade no uso do suf ixo, porém,
houve r eanálise semântica, pois o uso não é o mesmo do português.
Importante salientar que a reanálise, ou reint erpretação semânt ica,
acontece nas línguas independentemente de suas classif icações como
crioulas ou não crioulas. Ela ocorre quando um f alante interpr eta uma
determinada estrutur a de modo dif erente de sua f orma original e pode incidir
nos diversos níveis gramaticais. Por exem plo, no latim, o suf ixo –ula-ae,
que f ormava os diminut ivos lat inos ovicula-ae e acucula-ae,
respect ivament e, ovelha e agulha, sof reram uma reinterpr etação
morf ológica dos f alantes através dos t empos e o suf ixo f oi incorporado à
palavra-base, o que leva a uma interpr etação do f alante como um palavra
simples e não mais uma f orma complexa. Vê- se que, dif erentemente dos
exemplos com af ixos vivos na língua (como o pref ixo re- ) , o af ixo lat ino –ula
não é parte do inventário de suf ixos vivos do português, ou seja, ele não f oi
transposto como it em gramatical no português, mas sim como parte
integrante do lexem a das palavras que o tinham como suf ixo no latim. Outro
exemplo do português é o artigo neutr o do árabe al que f oi incorporado
como parte do r adical das palavras her dadas do árabe no português, como
almoxarife, almofada e alfa zema. Um exemplo no crioulo guineense é a
palavra iagu ‘água’. A reinterpret ação ocorreu mediante os dados f onéticos
de input , que, no português europeu, são atualizados com uma ditongação
antes das vogais altas. Essa exposição aos dados f onéticos levou à
interpr etação dos guineenses de que essa dit ongação er a parte int egrante
do signif icante.
- garafa garafon
‘garrafa’ ‘botija’
- Amontua amonton
‘acumular’ ‘preguiçoso’ ‘negligente’
- porta porton
‘porta’ ‘entrada maior’
- kalma kalmon
‘cabaça, concha’ ‘cabaça com asa, colher de abóbora’
Embora semanticamente opacos, com irr egular idade e com uma regra
não produt iva - do ponto de vista diacrônico - o f alante percebe a
recorrência do suf ixo -on em gar afon, amonton porton e kalmon, da mesma
f orma que reconhecemos o des- em desmanchar. Não é necessár ia uma
análise prof unda para notar que não há transpar ência, tampouco
regularidade nas f ormações em –on nos dados. Af inal, qual a carga
semântica do suf ixo -on no guineense? Poder íamos pensar que a f orma –ão,
do português f oi reinterpr etada, mas como dar conta da irregular idade?
Embora f ortemente marcados pela opacidade, os der ivados com o suf ixo - on
não deixam de ser formações complexas, acionadas a partir de uma regra
de f ormação de palavra não mais produtiva na língua.
- bai bai-bai
‘comprar’ ‘comprado’
- Ñeme Ñeme-ñeme
‘comer’ ‘comer muito’
- Gosi gosi-gosi
‘agora’ ‘agora mesmo’
- Kinti kinti-kinti
‘quente’ ‘muito rápido’
85
De acordo com Couto (1994), pode-se distinguir, no cr ioulo
guineense, três níveis de transparência nas composições, o que ref orça a
noção do cont inuum entre o mais transparente e o menos transparente.
bida-magru ‘emagrecer’
‘virar’ ‘magro’
• Transparentes kau-di-sinta
‘lugar’ ‘sentar’
‘assento’
laba-kurpu ‘lavar-se’
‘lavar’ ‘corpo’
mata si kabesa ‘suicidar-se’
‘matar’ ‘reflexivo’ ‘cabeça’
• Parcialmente transparentes susu korson ‘mau-caráter’
‘sujo’ ‘coração’
mama di bunda ‘nádegas’
‘mamilo’ ‘bunda’
raka-tara ‘namorar’
‘rachar’ ‘ráfia’
• Opacas iran-segu ‘espécie de jibóia’
‘demônio’ ‘cego’
mara-panu ‘deflorar’
‘amarrar’ ‘pano’
3. METODOLOGIA
3.1 O CORPUS
3.1.1 As fontes
i. A or i gem d os d a dos d e f or m a a ut ê nt ic a;
i i. A f in a l id a d e de s er v ir c om o o bj et o d e es t u do l i n gü ís t ic o;
i i i. A c om pos iç ão , c om c r i tér i os n a es c ol h a d os c on t eú d os ;
i v. A f or m ataç ã o l eg í v el p ar a a ex ec uç ã o em s of tw ar es em m áqu in as ;
v. A r e pr es e nt a t i vi d ad e p ar a a lí n g ua a s er es t u da d a;
v i. A ex te ns ão , q ue de v e s er s uf ic i e nt em ent e r e pr es e nt at i v a .
4. FU N D AM E N TOS TE ÓR I C OS
“ Res ta - n os ex am in ar aq u i lo qu e e l a ( a p al a vr a ) t em d e
es p ir i tu a l, q ue a t or na um a das m ai or es va n ta g ens qu e o
hom em tem s obr e t o d os os o utr os a nim a is e q u e é um a
das gr a n des pr o v as da r a zã o : é o us o q ue d e l a ( da
pa l a vr a) f a zem os p ar a ex p r es s ar n os s os p ens am en tos .
( .. .) a gr a nd e d is ti nç ã o d aq u i lo qu e s e p as s a em nos s o
es p ír it o é d i zer q ue s e p od e c ons i d er á- l o o o bj e to de
nos s o p e ns am en t o, a f or m a ou a m ane i r a d e n os s o
pe ns am ent o , a pr inc i p a l do qu a l é o j u l gam e nt o ( .. .) ”
(Arnauld e Lancelot, pp.27 e 28)
O t er m o m o r f o l o g i a ve i o p a r a o s e s t u d o s d a f o r m a d a s p a l a vr a s
s o m e n t e n o s é c. X I X , à l u z d a T e o r ia d a E vo l u ç ã o d a s E s p é c i e s c o m
A u g u st S c h l e i c h e r . O s e st u d i o s o s d a é p o c a e n t e n d e r am q u e o e st u d o d a
e vo l u ç ã o das p a l a vr a s poderia lançar luz sobre o entendimento da
e vo l u ç ã o d a s l ín g u a s , d a m e sm a f o r m a q u e o e s t u d o d a s f o r m a s d e
organismos p o d e r ia e xp l i c a r a e vo l u ç ã o das e s p éc i e s na biologia
( K a t am b a , 2 0 0 4 ) . Er a a é p oc a em q u e a T e o r i a E vo l u c i o n i s t a d e D a r wi n
r e vo l u c i o n a o p e n s a m e n t o c i e n t íf i c o . N o s e s t u d o s d a l i n g u ag em n ã o f o i
d i f er e n t e.
14
Concebida em um mosteiro com o mesmo nome na França do séc. XVII. Seus autores foram Lancelot e
Arnaud (1660).
97
Foi t ambém nesse per íodo que Schleicher, com sua ótica dar winiana,
percebe que as “as línguas podem ser agrupadas de acor do com seu tipo
morf ológico, isto é , com a maneira como os principais traços gramaticais
são expr essos morf ologicamente” (Cr owley, 1977, p. 129) . A classif icação
tipológica de Schleicher f oi acurada e resultou na seguinte classif icação:
15
Já no séc. XVIII, William Jones postulara a existência do proto-indo-europeu.
98
T IPO C AR ACT ER Í ST IC AS M O RF O L Ó G IC AS E X EM PL O S
I S O L AN T E S Línguas com pouca morfologia, com multiplicidade chinês
em monomorfêmicos.
*a classificação das línguas polissintéticas, posterior às três primeiras classicações (isolantes, aglutinantes e
fl exi onai s), foi proposta em 1921 por S api r.
E m b o r a a lg u n s m or f ó l og o s t e n h am um o l h a r b a s t a nt e c r ít i c o s o b r e a
d i v i s ã o p r o p o s t a p o r S c h l e i c h e r , ( cf . S p e n c e r , 1 9 9 1 , p . 3 7 - 3 9 ) , s u a
t i p o l o g i a m o r f o l ó g i ca é a i n d a b as t a nt e u t i l i za d a n a m o r f o l og i a at u a l .
No séc. XX, Bloomf ield e Sapir, apoiados nas idéias estrutur alistas de
Saussure e no cham ado Estruturalismo Norte-Amer icano, realizaram estudos
de descr ição das línguas indíg enas americanas. Neste per íodo, o
pensamento lingüíst ico estava voltado para os estudos da f onologia, com a
descoberta dos pr incípios f onêmicos e da noção de f onema. Esta noção de
f onema, como unidade m ínima de som de um sistema lingüíst ico f oi assim
estendido também para a noção de morf ema, como a unidade m ínima
dist int iva nos estudos da morf ologia e na composição das palavras. A
segmentação e classif icação dos morf emas f oi crucial na descrição das
línguas indígenas americanas, uma vez que, somente a noção de palavr a
não era suf iciente para dar conta dos processos de com paração entre as
línguas. Assim, os estruturalistas norte-americanos f oram além do
descr itivismo e chegaram ao conceit o de morf ema como a unidade m ínima de
signif icado e de som com o arcabouço estruturalista. Esta unidade m ínima de
signif icação é dada pela inter-relação com os outros membros do sistema. A
noção de morf ema tornou-se o cent ro dos estudos m orf ológicos da
lingüíst ica de Bloomf ield e Sapir. Neste per íodo, f oram f eitas as
classif icações e a segmentação dos m orf emas em f ormas livres e f ormas
presas 16.
16
Mattoso Câmara implementou a segmentação acrescentando a noção de forma dependente.
99
“ .. . F o i um m ode l o es s e nc i alm e nt e c o nc at e na t i vo , em
qu e a an á l is e se c ons t it u iu no es t ab e l ec im ent o de
un i d ad es ir r ed u tí v e is , or d e n ad as l in e ar m ent e, e na b us c a
dos pa dr ões qu e r e g ia m a s u a c om bi n aç ã o "
(Rosa, 2002, p.38)
“ A h ip ót es e lex ic a l is t a d ef e n de q ue a f or m aç ão de um a
pa l a vr a por m ei o da d er i vaç ã o oc or r e n o l é x ic o e n ã o na
s i nt ax e e af ir m a q ue u m item l ex ic a l c om o ‘ d es tr oy ’ en tr a
no l éx ic o in d if er e nt em ent e c om o ver b o ou nom e,
pos t er i or m en t e, r ec e b e o s uf ix o n om in a l i z ad or – i o n n a
f on ol o g ia e f or m a a n o m ina l i zaç ã o ‘ des tr uc t i on ’ .”
(Oliveira, 2004)
A Morf ologia Distribuída (DM) , propost a por Halle & Marantz (1993)
também é um modelo com base na sint axe e f oi mais longe em sua negação
à proposta lexicalist a, pois no modelo da Morf ologia Distribuída, além de não
exist ir um componente morf ológico separado, o léxico mental também não
existe. A proposta de Halle & Marant z (1993) tem pontos comuns com a
proposta de Lieber (1992). Para a DM, as oper ações m orf ológicas estão
distr ibuídas entre os componentes da gramática sendo, principalment e a
sintaxe aquela que manipula os morf emas na construção da estrutura da
palavra. Há uma hierarquia entre os elementos, como uma estrutura de
constit uintes e a f ormação das palavr as resulta de combinações sintáticas. A
ordem das palavras nas orações é construída antes da pr esença dos itens
lexicais e estes são inseridos somente depois de completadas todas as
operações da sintaxe. Até que as operações sint áticas se encerrem, as
categorias são apenas traços morf ossint áticos, pois a f orma f onológica ter á
sua inserção tardia, ou seja, será inserida depois da sintaxe.
A base teór ica dest a pesquisa está baseada nos modelos de Halle
(1973), Aronof f (1976) e Kiparsky ( 1982). A escolhas se justif ica pelo f ato
de se tratar de dois modelos com base de palavras, Aronoff e Kipasr sky,
sendo Aronof f o precursor dos modelos de morf ologia de palavr as e também
porque seu modelo é bastante voltado a questões ref erentes à produtividade.
Quanto à Kiparsky, a noção de níveis hier árquicos no léxico é interessant e
com vistas nos dados do guineense. Quanto ao modelo de Halle, a escolha
deveu-se, além f ato de sua teor ia ser a precursor a na utilização das RFP(s)
na morf ologia pós-r emarks, também porque seu modelo de “f iltro”, embora
postulado há mais de trinta anos, vem sendo resgatado nos modelos mais
recentes, como é o caso de Russell (1997). A despeito das propostas
apresentarem posicionamentos dif erentes quanto ao tipo de morf ologia - de
palavras e de morf emas - esta disparidade está ajustada aos objetivos desta
pesquisa, quando verif icaremos a aplicabilidade de ambas na morf ologia de
uma língua crioula.
Halle propõe que cabe à morf ologia dar conta dos f atos já sabidos pelos
f alantes em relação às palavras de sua língua, como:
i. Rec o nh ec im ent os d as pa l a vr as s im pl es ;
i i. Rec o nh ec im ent o d e q ue há p ar tes qu e c om põ em as p a la vr as c om p lex as ;
i i i. Co n hec im en to dos f a l an t es d e um a or dem h ier ár qu ic a n os c om p on e nt es
das pa l a vr as .
17
Halle não fala em comp etência lexical, porém sua prop osta nos leva a essa noção.
111
i v. A lis t a d e m or f em as é a b er t a, po is ga n ha m os e per dem os it en s c om o
pas s ar dos tem p os ; t a m bém apr e nd em os n o v os m or f em as e es qu ec em os
ou tr os ta nt os ;
v. A lém da l is t a, os f a la n tes t êm c on hec im en to de c om o as r e gr as g o v er n am
c ad a um d os i te ns l ex i c a is .
1º ca so : - i d ios s i nc r a s i a s em ânt ic a, q u a nd o n em s em pr e o r es u lt a do f i n al da
s uf ix aç ã o c o n di z c om a s om a d os s ig n if ic ad os d a bas e + af ix o;
Ex : ma nc ha d es ma n c ha
2º c as o : I d i os s i nc r as i a f on é tic a ou f o n o ló g i c a, qu a nd o di z q ue o s uf ix o – i ty
s e lec i on a b as es tr is s í l ab as ;
Ex - s er e n e s er e ni t y ,
3º c aso : as c ham ad a s pa l a vr as pe r d i das : a r e gr a tem o tr aç o [- i ns er ç ão
l ex ic a l] . Es s as pa l a vr as f or am ger a das pe l as RF Ps , m as não es t ão s uj e i tas
( a in d a) à i ns er ç ã o l e x ic al , por t an to , nã o s ão a tes ta d as n a lí n g ua , em bor a
s ej am gr am at ic a is .
Ex – qu e br a- q u ei x o q ue br a- qu e ix e ir o
Fonologia Sintaxe
Há palavras que apr esentam mais de uma camada de af ixo. Para dar
conta destas palavr as, Halle post ula um “looping” ligando as RFPs com o
dicionário, par a que as RFPs possam acr escentar os af ixos a estas palavras,
pois, como há dois t ipos de regras, as que regras são acionadas a part ir das
bases que são r aízes e outras que são acionadas com palavras pront as da
língua.
Ex: X + -fer
i. Qual o significado de “-fer”?
Ref e r ( r ef er ir )
ii. Por que “-fer” não é forma livre?
Def e r ( a d iar )
iii. Qual a relação semântica entre referir, preferir e adiar?
Pr ef e r ( p r e fe r ir )
I. A la r g ar a def in iç ã o d e m or f em a, po is a l é m de s er um a f or m a c ons ta nt e ,
ar b i tr ar i am en te li g ad a e c om s i g nif ic a d o c o ns t an t e, tam b ém i nc lu i um a
op er aç ão f o no l ó gic a . Des ta f or m a, um m or f em a é um a c ad e ia f o né t ic a qu e
po d e s er c o nec t ad a a en t id a des l i ng ü ís t ic as qu e es t ã o f or a d es s a c ad e i a. O
m ais im por ta n te n ão é o s i gn if ic a d o d o m or f em a, m as o r ec on h e c im ent o do
f al an t e das s uas a r b i tr ar ie d ad es , ou im pr e v i s i bi l i da d es ;
II. A ex is t ê nc ia d e e nt i d ad es m or f ol óg ic as q u e p ar ec em ter um tr a ç o s i nt át ic o
c om en tr a d a n o l éx ic o. Im por ta n te lem br a r q ue o m od e lo d e A r on of f t em
c om o bas e a c or r e nt e d a W eak Lex ic a l is t Hy p ot h es is , p or ta n to , e l e n ão
des c ar ta as i n ter aç õ es en tr e m or f ol o g ia e s in t ax e em a l gu ns f en ôm en os
m or f oló g ic os ;
IV . Q u e a b as e de um a t eor i a m or f ol óg ic a n ã o po de d e p en d er c r uc i a lm ent e d o
m or f em a c om o bas e d e s i gn if ic a do . N es t e pr o p os t a, Ar on of f b us c a j us t if ic ar
s eu m od e lo d e m or f ol o g ia d e p a la v r as .
Por outro lado, há também palavras que, depois de der ivadas, resultam
em signif icação dif erente do previsto pela regra, por exemplo: acabamento
(acabar -mento), embora seja esta a f orma nominalizada do verbo acabar,
não se pode dizer que seu signif icado esteja reduzido somente ao ato de
acabar, mas também aos materiais que serão utilizados no procedimento
f inal de uma construção, como os azulejos, as torneir as etc. Em suma, o
signif icado f inal do processo não se reduz à junção das partes de signif icado
envolvidas no processo de f ormação.
I. O c onj u nt o d e pa l a vr a s c om as qu a is p o de s e o p er ar , c h am ad a d e “ b as e
da r egr a” ;
II. Um a m ar c a s i nt át ic a o u d e s ubc a te g or i zaç ã o c om a p a la v r a r es u l ta nt e;
III . Um a ú n ic a op er aç ã o f on o l óg ic a n a s u a bas e ;
IV . A c ar g a s em ânt ic a a p ar t ir d a s em ân t ic a da bas e d a r e gr a.
Há também traços r estritos aos morf emas e que são sensíveis às RFPs,
se a af ixação aconteceu adjacente ao morf ema. Um exemplo do português é
o -vel -bil /___dade, por exemplo: amável amabilidade.
18
Cf. Salles e Mello, ( 2005)
116
4.7 KIP ARSKY E A M ORFOLOGI A LEXICAL
NÃO NEUTROS
(afetam a base) opose → oposite
ESTRATO
input output
1 • Base → raiz (input do S1) a ser afixada
• Mais perto da raiz da palavra (camada interna)
AFIXOS NEUTROS E COMPOSIÇÃO oposite→ opositeness
ESTRATO (não afetam a base) input output
2
• Base → raiz + afixo do S1 (input do S2 )
Fonologia do estrato N
Morfologia do estrato N
i. Com as c l as s es d as b as es a s er em af et ad as ;
i i. O af ix o a s er ut i l i za d o ;
i i i. O n de s e dar á o pr oc es s o d e af et aç ão ( pr ef ix o, s uf ix o ou inf ix o) ;
i v. A c l as s e da pa l a vr a q ue s er á o pr o d ut o d a RF P;
v. O es tr a t o do af ix o ( p r op r i e da d es ge r a is ) e o es t r a to a o q ua l e s tá
at a do .
i. Co n d iç ão d e Cí r cu l o E st r it o - CC E
Com o es t ão c o nf i n ad a s a c a da c am ad a d e d er i vaç ã o ( no pr ó pr io e s tr a to ) , as
r eg r as n ã o p od em af e t ar es t r u tur as q u e s ã o c ons tr uí das f or a d e s e u es tr a to .
EX : ab l au t / i / → / æ / ( s i n g → s a ng) s ó af e ta it ens do S1
As r e gr as e os ef e it os c a us a d os p or e l a s f ic am c onf in a do s n os pr óp r i os
es tr at os .
120
ii. El s ew h e re C o n d it io n - E C
Ha v e nd o m ais d e um a r e gr a a s er a p lic a da , qu a l s er i a o c r it ér io a s er
ut i l i za d o na s e l eç ão e ntr e as s u as r egr as ? Com eç a- s e c om o pr o c es s o m ais
r es tr i to àq u el a r e gr a e o [ + g er a l ] s er á a pl i c ad o em “ e ls e wh er e” - a lh ur es .
Em ou tr as p a l a vr as , c as o n ã o haj a um a r e g r a m ais es p ec íf ic a , a m ais g er al
s er á ap l ic ad a .
iii . Blo q u e io - BL
Dif er e nt em en te da E C e d a CC E , o b l oq ue i o e n vo l v e r e gr as de es tr at os
d if er e n tes qu e s ã o [ + s em ânt ic a] e [- f on o l ó g ic a ]. N a d er i v aç ã o e na f l ex ão ,
qu a nt o m ais a l to o es tr a to , as id i os s i nc r as i as s ão m a ior es em r e l aç ã o aos
s i gn if ic a dos d os es tr a tos m a is b a ix os . S e há a p os s i b i l id a de d e s e ap l ic ar
af ix os d e S1 e S 2 à m esm a bas e h á t am bém di ve r g ê nc i as s em ân t ic as q ue
per m i tem a c ons tr uç ã o at r a v és d as RF Ps , ou s ej a , h á um tr aç o s em ânt ic o
qu e va i p er m it ir q u e s e ac io n em as d uas r e g r as .
Br o t h er s – S2 – ir mã o s
Br et h r en – S1 – ir mã o ( c o nf r ar i a)
iv . Co n d iç ão d e Ap a g am en t o d o s Co lc h et e s - C AC
A o f i na l d e c ad a es tr a to d e d er i v aç ão o s c o lc h e tes s ã o ap a ga d os . O
r es u l ta d o é um out p ut q ue é um a p a la vr a i n te ir a na e ntr a da d o no v o es tr at o.
Des ta f or m a, a r e gr a de ix a d e enx er g ar a e s tr u tu r a i n ter n a da pa l a vr a e el a
s er á tr at a da c om o u m todo n o i n p ut do n o vo es tr a to , j us t if ic a n do as s im o
es t at u to d e m or f ol og i a b as ea d a em pa l a vr a d a te or i a.
“ ( …) no pr oc es s o de r ef i nar n os s a c om pr ee ns ão s o br e
pr o d ut i v i da d e, de v e m os c ons id er ar a d im ens ão de
tem po . V am os as s um ir qu e um pr oc es s o d e f or m aç ão d e
pa l a vr a é pr o du t i vo s e es t i ve r a t ua lm e nt e em us o.
Pr oc es s o c o n ge l ad o ou atr of i a d o ( …) p od e s er
c ons i d er a d o, p ar a p r o pós i tos pr á tic os , c om o v ir tu a lm ent e
im pr o du t i vo c on tem p or an e am ent e .”
“ Co nt e o núm er o d e pa l a vr as q u e po d e m os im agi n ar
c om o ou tp u t d e um a da d a RF P . C on te o núm er o d e
pa l a vr as q ue es t ão r ea lm en t e oc o r r e n do f or m ad as p or
es t a r egr a , t om e a p r op or ç ã o d as du as e c om par e as
du as c om a m es m a p r op or ç ã o a go r a c om o utr a RFP.
Re a lm ent e , por m ei o des te m ét od o, po d e m os c heg ar a
um índ ic e in g ên u o d a pr o d ut i v id a de d e c ad a RF P: a
pr o p or ç ão p os s í v e l par a se a t ua l i za r d as p a l a vr as
l is t a das ”
124
Deve-se consider ar a relação entre produtividade e pr obabilidade. Uma
regra pode até produzir muito, mas a pr obabilidade nem sempre condiz com a
produt ividade. Um exem plo do inglês são os suf ixos –ness e –ity, ambos
f ormadores de adjet ivos a partir de nomes, por exemplo: felicity e happyness.
À primeira vista, ambos têm a mesma produtividade, mas a ocorrência de –
ness é cinco vezes maior em relação às ocorrências em –it y 19. As restrições
impostas pelas bases determ inam a dif erença de ocorrência, pois a RFP
solicita bases latinas para a f ormação em –ity. Aronoff (1976, p.51) declar a
que
“ T odas as p a la vr as c om o m or f em a –i ty , por ex em pl o,
s ão l at i nas . Is s o a p o nt a p ar a o f a to d e q ue to d as as
pa l a vr as c om a f orm aç ão X - i c i t y ( l u br ic it y, f e lic i t y) s of r em
‘ v el ar s of te n i ng ’ , q ue , c onf or m e o bs er v ad o, s om ent e s e
ap l ic a às f or m as l a ti n a s ”
19
Fonte : WALTER, 1936 – apud ARONOFF (1976:36)
125
S1 [- transparentes] - ous (significado vago) - herbivorous, glamourous
S2 [+transparentes] -less (significado evidente) - homeless, shameless
Isso aponta para o fato de que o f alante tem sempre a certeza do que
está sendo gerado no acionamento da regra. Este dispositivo impossibilit a
um resultado semântico vago e vai ao encontro da morf ologia de palavr as
que diz que as regras oper am a part ir do signif icado das palavr as. Pode-se
af irmar que, para o f alante, a transparência semântica tem uma grande
represent atividade no reconhecimento do léxico, uma vez que um processo
produt ivo não result a em um item semanticamente vago. Conseqüentemente,
a coerência semântica é um traço de extrema importância para a
produt ividade.
5. A MORFOLOGIA DO GUINEENSE
A morf ologia “lida com palavras potenciais: para dar conta de regras
produt ivas” (Rosa, 2002, p. 89), o que vai apontar para a pr odutividade das
RFPs (regra de f ormação de palavr as). Por sua vez, f alar em produtividade
remete ao escopo maior da criatividade humana, quando é possível que
dados limitados possam, por meio da competência do f alant e, gerar inf initas
possibilidades de realização. Essa propriedade inscrit a nos sistemas
lingüíst icos não poderia deixar de se m anif estar também em sistemas que
resultar am de uma situação inusitada de contato lingüístico, que é o caso
das línguas crioulas.
Contudo, a morf ologia não tem sido objeto de est udo muito f reqüente
na Crioulística, pois muitos estudiosos a consideram escassa nos crioulos
(cf . 2.3.3). Entretanto, alguns pesquisadores já tiveram o cuidado de olhar
para o guineense de f orma a perceber que as produções morf ológicas não
estão circunscritas às f ormas portuguesas (cf . Peck 1989; Couto 1994, 1996,
1999b, 2000, 2002c; Kihm 1994; Scant amburlo 1999 e 2002). Embor a os
trabalhos de Peck e Kihm estejam voltados para a sintaxe da língua, há
pontos de ref erência à morf ologia do guineense, especialmente o trabalho de
Kihm, que descreve a estrut ura de alguns compostos e algumas der ivações
guineenses (Kihm, pp. 125 – 140). Scantambur lo publicou dois volumes
int itulados “Dicionário do Guineense”, sendo o pr imeiro deles um apanhado
de notas gramaticais sobre o crioulo. O capít ulo dedicado à morf ologia ocupa
58 das 218 páginas da obra. Trata-se de notas descrit ivas que justif icam
seus estudos técnicos que resultaram no segundo volum e da obr a, um
dicionário bilíngüe de proporções inéditas no crioulo da Guiné-Bissau
(cf .1.3). Couto (1994) f az uma descrição detalhada dos processos
morf ológicos do guineense mostrando o inventár io dos af ixos e suas
manif estações nas produções guineenses. O autor também descreve os
processos composicionais que se manif estam dentro de um padrão cultural
bastante int eressante. Há ainda outros trabalhos, do mesmo autor,
dedicados à morf ologia como de 1999, 2000, 2002 e 2003. Enf im, esses
precursor es dos estudos da morf ologia do guineense demonstram que essa
língua vem produzindo novas palavr as com recursos morf ológicos resultados
do processo de gramaticalização do guineense.
127
5.1 COMPOSIÇÃO
5.1.1 Conceituação
português
- gu ar d a- r o u pa e g u ar d a m u it a r o u pa
guineense
- o mi gar a nd i e om i mu i tu g ar a nd i
'sábio' ‘homem’ ‘muito’ ‘grande’
português
- m e i a- c a lç a ou c a lç a- m e ia
guineense
- minjer-omi
' h o m o s s e xu a l f e m i n i n o '
'mulher' 'homem' (literal)
português
- tr e m- b al a
Guineense
- f i ju - f e m ia 'filha mulher'
'filho' 'fêmea' (literal)
AP
V PP
pasa
A NP
Prep NP
ku susu N
N
mon
korson
129
NP VP
N PP V SN
kusa beija
Prep NP
di flor
N
minjer
português
- c op o d e l e it e ( f l or ) e c o p o d e l ei t e ( c o po c om le i te)
(Colher copo-de- leite) e ( B e b e r u m c o p o d e l e i t e 20)
guineense
- do n ak as a ' p r i m e i r a m u l h e r d o p o l í g a m o ’ e d on a k as a ‘ p r o p r i e t á r i a ’
(kuma ku bu donak asa comadu?) e (Kuma ku dona kasa comadu?)
‘Como se chama sua primeira mulher?’ ‘Com o se cham a a dona da casa?’
20
O exemplo se refere à fala, quando o hífen não marca a diferença.
130
f ixas que se estabeleceram na língua como signo, o que as caracteriza como
lexemas. Sandmann (1977, p. 33 e 34) ar gumenta a f avor da semântica como
o melhor dos cr itérios de identif icação na dist inção dessas construções. Par a
ele, as composições “são ent idades est abelecidas em nossa cultura, como
que esteriot ipadas, com nomes permanentes” (Sandmann, 1997, p. 33). As
lexias complexas, que ele chama de “grupo sintát ico paralelo” “são
sintagmas da f rase produzidos ad hoc” e que outros lexemas podem ocupar a
posição dos componentes do grupo a qualquer o momento, o que vai gerar
outros grupos com a mesma estrutura sintát ica e uma relação semânt ica
entre o grupo novo e o antigo. Talvez f osse melhor f alar em distribuição
paradigmática dessas lexias. Obser ve-se os exemplos abaixo.
português
- tê n is d e m es a
- tê n is d e c a m po
- tê n is d e d u p la
guineense
fis o n fr ad i ‘ t i p o d e f e i j ã o ’
fis o n k o n go ‘ t i p o d e f e i j ã o ’
fis o n m a nk a ñ a ‘ t i p o d e f e i j ã o ’
português
- Cas a d e c h á
- Cas a d a s o gr a
- Cas a d a m ãe jo a na
guineense
- Kau di s i nt a ‘ a s s e n t o ’
‘local’ ‘sentar’ (literal)
- kau di l a ma ‘ l a m a ç a l ’
‘local’ ‘lama’ (literal)
- kau di c ur ‘lugar de prestar condolências, velório’
‘local’ ‘chorar’ (literal)
Duas caract er íst icas básicas dos compostos surgem dos ar gumentos
discutidos acima: i) semelhança com os processos sintáticos; ii) estrutura de
constit uintes, cuja construção f rasal det ermina a realização do compost o.
a) [ [ J ú n i o r ] [ a r r u m o u u m a m i g o c a c h o r r o ] ]
b) [[Júnior] [arrumou um [amigo cachorro]]]
No ex em pl o ( a) , c ac h or r o se r ef er e a um a e nt i da d e es pec íf ic a,
d if er e n tem en t e de ( b) , q u e n ão t em r e f er ê nc i a es p ec íf ic a .
i i i. In te gr i da d e lex ic a l, qu e n ão p er m it e pr oc es s os s i nt át ic os n os
c ons t it u in t es , m as na ín te gr a d o c om pos to , um a ve z qu e s e u c om por t am ent o
s i nt át ic o n ão d if e r e d o c om por t am ent o d e u m a pa l a vr a da lí n gu a .
A distinção com base no signif icado dos grupos sintát icos em relação
às composições pode obscurecer o estatuto lexicológico das f ormações. No
Dicionár io do Guineense ( Scant amburlo, 2002, p. 311 e 312) muitas entradas
são, claramente, grupos sintáticos:
- k ob a d i g u ja ‘ b u r a c o d e a g u l h a ’
‘buraco’ ‘agulha’ (litreral)
- K ob a d i n ar is ‘f os s a n as a l ’
‘buraco’ ‘nariz’ (literal)
21
Cobra grande que equivale a sucuri brasileira, porém maior.
135
divide a composição em aglutinação e justaposição. Na aglutinação há
supressão de f onemas de um dos elementos, ao passo que, na justaposição,
os elementos constituintes se mantêm intactos na f ormação composta.
Talvez o cr itério utilizado na descr ição f onológica dos compostos esteja mais
ligado à diacronia, pois, sabe-se que as palavras sof rem desgastes f onéticos
ao longo de sua histór ia na língua. A própr ia GT costuma usar com
f reqüência o exemplo de filho de algo, que passou, com o tempo e o uso, a
ser fidalgo e aguar dente, que f oi água ardente, em tempos remotos da
língua. Cabe questionar se, sincronicamente, essas composições ( ainda)
existem na mente do f alante, ou se ele as interpreta como uma f orma
simples. Essa discussão será retomada em 5.1.4. Outra questão a ser
levantada no trat amento da GT é a ut ilização de processos que acontecem
na f onologia para a caracter ização morf ológica dos compost os, que é o caso
da aglut inação e da justaposição.
São bastante recorr entes nos dados f ormações que apr esentam uma
carga cultural lexicalizada na signif icação do composto, o que aumenta sua
condição de opacidade, como se pode ver na tabela abaixo.
- alma beafada
[ [ [ a l m a ] N [ b e a f a d a ] N ]SIGNIFICADO CULTURAL] N
De acor do com Aranha & Martins (2003) , quando se diz que o contato do
mundo com o ser humano é intermediado pelo símbolo, a cultura é o
conjunto de símbolos elaborado por um povo. Na aquisição de língua, a
criança é imersa em dados e valores culturais já estabelecidos em sua
comunidade e a apreensão dos sím bolos vem marcada com os valores
sociolingüíst icos sociais e culturais. A carga cultural, no exemplo acima,
veicula a crença de que o pássaro alma beafada é portador da alma dos
antepassados da et nia beaf ada. Quando da morte de um ‘omi-garandi ’, com
uma conduta respeitável entre os membros da comunidade, a alma do
f alecido passa a viver no corpo do pássaro. Há também gestos com
signif icados culturais costumeiros que são realizados lexicalmente, como a
doação de uma cabaça com presentes à f amília da pr etendente no moment o
do pedido de casamento. Essa prática social gerou a carga cultural em
manda kabas ‘mandar cabaça’. Outro exemplo é a crença de que, quando
nasce um elef ante, mesmo que haja chuva, o sol aparece. O componente
cultural se manif esta na carga semânt ica de padi di lif anti, que literalmente é
‘parto de elef ante’, mas como entrada de dicionár io signif ica ‘chuva com sol’.
139
Quanto à pref erência estrutural das f ormações compostas guineenses,
a distr ibuição dos dados se deu da seguinte f orma:
Preferência Estrutural
2
12
140
VN
120
100
80
15
õ es
46
60
aç
NA
39
N
o rm
NP
ai s F
40
17
14
14
De m
NN
NA
VA
5
4
N
5
20
xc
VP
NV
Ve
0
VN 122 NA 46 TOTAL NPN 39
NN 17 NA 14 VA 14
NV 5 VPN 5 Vexc 4
Demais Formações 15
22
Legenda
Sem
Preposição
232
83%
Com
Preposição
49
17%
22
Legenda: N – Nome; V – Verbo; P – Preposição; A – Adjetivo; Num – Numeral; Exc – Partícula Exclusiva
140
- [[dur]N [[di]P[kutuvelu]]N]N
COMPOSTO SIGNIFICADO
'embebedar-se a ponto de revelar seus
bibi di jikindur segredos'
pasa ku mon ‘abusar’
tira na mama 'desmamar'
pasa ku sonu 'adormecer'
fala ku sintidu 'pensar'
A f ormalização das estruturas dos dados acima não é dif erente das
estruturas portuguesas também pr eposicionadas. Esse tipo de combinações
sintagmáticas, de cunho descr itivo, é recorrente no português. Tanto para
composto como para grupos sintát icos paralelos, principalmente aqueles que
podem par ecer f rases relat ivas, como folha de papel, que equivale à folha
que é de papel. No português são f reqüentes denom inações com este s
grupos sintát icos, no qual o segundo elemento é especif icador do pr imeir o,
em uma relação de núcleo e especif icador.
COMPOSTO SIGNIFICADO
COMPOSTO SIGNIFICADO
23
232 formas sem preposição e 49 com preposição
142
karta-lica 'lixa'
omi minjer 'homossexual'
aju-poru 'alho poró'
amaña-parmaña 'a manhã do dia seguinte'
radiu-ovinti 'ouvinte de rádio'
sol noti 'anoitecer'
falta rispitu 'insultar'
COMPOSTO SIGNIFICADO
COMPOSTO SIGNIFICADO
arku-iris 'arco-íris'
aju-poru 'alho poró'
apara-lapis 'apontador'
arami-farpadu 'arame com farpas'
bas-sinadu 'abaixo-assinado'
batata-dos 'batata doce'
ben-aventuradu 'muito feliz'
ben-idukadu 'cortês'
143
jardin infantil 'escola de crianças'
kala boka 'silenciar'
kiri mal 'detestar'
para lápis 'apontador'
ama-seku 'pessoa que cuida de criança'
astru-rei 'sol'
beja-flur 'beija-flor'
COMPOSTO SIGNIFICADO
Dois traços f ormais dividem as classes lexicais, que são: [±N] e [±V].
Enquanto a preposição é negativa par a os dois traços, o que a coloca no
escopo das classes f uncionais, e não das lexicais, o adjetivo é positivo para os
dois traços, ou seja, é [+V] e [+N]. Tant o que “a separação entre substant ivos
e adjetivos é tão pouco marcada que há razões para duvidar da existência de
duas classes dist int as” (Per ini, 2003, p. 321). A existência dos traços que não
são coincidentes entre as duas classes aponta para uma redistribuição
categorial e a existência de subclasses de adjetivos e substant ivos. Essas
subclasses são divididas, f uncionalmente, dentro de alg uns cr itérios, em
especial, ao crit ério de padrão de f uncionalidade. No guineense muitas
palavras podem se posicionar como núcleo de sintagma nominal [+NSN], que é
a caracter ística maior dos nomes, mas também podem ocupar a posição de
modif icadores [+ Mod]24.
24
No português também há essa marcação nos nomes e adjetivos, embora no guineense seja mais comum.
145
Há outros traços sig nif icat ivos que caracterizam cada uma das categorias
lexicais em uma distr ibuição dif erente. Cabe invest igar a int erpretação
categorial dada pelo f alante guineense em cada uma das classes lexicais,
especialmente nos nomes e nos adjetivos, o que vai indicar os traços que
marcam suas posições lexicais e f uncionais no léxico guineense. Quanto aos
compostos, alguns dados são bastant e categóricos e indicadores da f ragilidade
f ronteiriça entre os adjetivos e os nomes, como os dados na t abela abaixo.
COMPOSTO SIGNIFICADO
Nos dados acima, vê-se que a posição em relação à estrutura não é indicadora
das f unções de modif icadores e núcleo. Quant itativament e, a estrutura NA
parece ser a pref erida do guineense, pois se apr esent ou 3, 2 vezes maior que
os dados de estrut uração adjet ivo+nome – NA. Essa estrutura é também a
menos marcada no português, que, além de ser a língua lexif icadora, tem o
prest ígio e o ensino escolar como ref orçadores de seus traços.
ka + bali kabali
'partícula negativa' 'vale' 'sem valor'
i. tem - s e d uas e n tr a d as de in p ut : k a e b a l i;
i i i. k ab a l i é um a no v a en tr ad a l ex ic al , p o is a c o n d iç ã o d e a pa gam en t o d e
c o lc h et es ( C A C) é ac i on a da , o qu e r es u l ta em um out p ut q u e é u m a pal a vr a
i nt e ir a . D es t a f or m a, a r egr a d e ix a d e e nx er g ar a es tr ut ur a i nt er na da
pa l a vr a e es t a, p or s e u t ur n o , s e c om por t a c om o um a no v a en tr ad a, um no vo
i np ut par a o es tr at o o nd e s er á ac i on a da a r egr a d e d er i vaç ã o c om - n d ad i ;
5.2 REDUPLICAÇÃO
Spencer (1991, p. 13) considera com o uma f orma de af ixação dif erent e
do padr ão de pref ixação e suf ixação, pois a parte que é repetida pode s e
posicionar à direita, à esquerda ou mesmo no interior da base.
i. O m ater i a l d u p l ic a d o nã o tem ex is tê nc ia f or a da b as e qu e o g er o u, o u s ej a ,
151
nã o t em ex is t ênc i a f on o ló g ic a a nã o s er af ix ad o à s u a b as e;
i i. E le f oi g er ad o a p ar t ir do m at er ia l f o n o ló g ic o d a b as e, à “ s ua i m agem e
s em el ha nç a” e, n o c a s o do g u i ne e ns e , a m a ior i a dos r ed u pl ic a do s é a f or m a
f on ét ic a c om pl et a d a b as e , o u s ej a , o c o ns t i t u in te da p a l a vr a ;
i v. A r egr a da r e d up l ic aç ão im pl ic a a a d iç ão d e m ater i a l m or f of on o ló g ic o p ar a a
ad iç ã o de s ig n if ic a dos à b as e;
v. O r e d up l ic ad o é p ar te m ater i a l qu e p er m it e o pr oc es s am en to f o no l óg ic o q ue
aj us tar á s in tá t ic a e d i s c ur s i vam en t e a b as e da r egr a ;
v i. Há tr aç os d et er m in a d os a p ar ti r d o ac io n a m ento da r eg r a : n os v er b os , a
noç ã o d e “ i t er a t i v id a de no tem po e n o es p aç o” ( Ki hm , 94 , p. 25) ; n os
adj et i v os a n oç ão s em ân t ic a d e in te ns if ic aç ã o, o q u e n ã o d es c ar t a a p or ç ão
it er at i v a n a c ar g a s e m ântic a d o r e du p l ic a do c om n oç ão d e i nt ens if ic aç ã o.
Es s a du p l a c ar ga s em ân t ic a en v o l v id a n a g er aç ã o d e f or m as p e l o pr oc es s o
r ed u p l ic a t i vo , l e vo u K i hm ( 19 9 4) a c h am ar a noç ã o s em ânt ic a d o r e du p l ic a d o
gu i n ee ns e d e “ i nc r e m entaç ã o” ( inc r e m en t at i on) . P ar a e l e, it er at i v i da d e e
i nt ens if ic aç ã o s ã o d o is l ad os d e um m es m o c onc e it o e “ c om o el e é ,
ob v i am en te , ( as s im c om o ic o nic am en te ) r el ac io n ad o à h ab i l i da d e c og n it i v a
de a d ic io n ar m ais um it em a um a s ér ie o u m ais um de gr a u a u m a es c a la ”
( i dem p .2 5) .
Qualquer processo morf ológico que venha a pr oduzir novas f ormas que
se adéqüem ao contexto sintát ico ou comunicacional envolve art iculações
gramaticais recursivas disponíveis e parametrizadas na língua em que
ocorre. Isso implica a existência de uma gramática def inida na mente de
sujeito f alante. No caso dos crioulos, que se desenvolver am a partir de
pidgins despr ovidos de gramática, há processos que podem apontar para
articulações pr imár ias, ou seja, mais originais, no sent ido de serem mais
próximas da or igem. No caso da reduplicação, no guineense e nos cr ioulos
em geral, a produt ividade e a r ecorrência “representa a sobrevivência de
processos evolutivamente iniciais” (Couto, 1999, p. 47). No contexto de
iniciação das bases recursivas da morfologia do cr ioulo, nada mais normal
que a utilização dos processos mais simples e mais econôm icos para
represent ar noções gramaticais (Sapir, 1971). A evolução no processo de
gramaticalização, no sentido de const rução da gramática, na morf ologia
153
partiu da repetição, passou pela reduplicação e composição, em seguida
pela derivação, considerada como uma inovação gramatical e, f inalmente
chegou à f lexão, “um luxo tardio que muitas línguas dispensam” (Couto,
1999, 46).
Nos exemplos acima, três dados vêm acrescido do morf ema –du, que,
no dicionário de Scantambur lo (2004, p. 180) é “suf ixo acrescentado nos
ver bos transit ivos ou causativos na f orma de passivo”. Porém, no caso dos
156
reduplicados, ele é acrescentado para uma regra de f ormação de adjet ivo,
pois todos os dados com -du são adjet ivos der ivados com o acréscimo do
suf ixo. Isso aponta para a lexicalização da f orma reduplicada que, inclusive,
já produz novas f ormas tendo o reduplicado como base de regra, como se
pode ver abaixo.
[[[pindrai]V-COPi]-du]A
O caso de jur- jur i, que muda a f orma da raiz pode ser explicado por
ser uma f ormação onomatopaica, cuja motivação icônica está na sonor idade
do signo. O que produz a alternância vocálica da base e do reduplicado. Da
mesma f orma ocorre com kokin-kokiu, cuja sonoridade determina sua f orma
f onética.
Advérbios 6%
Adjetivos 8%
Nom es 16%
Verbos 70%
A pref erência das reduplicações são os ver bos, nos quais o morf ema
reduplicat ivo veicula noções aspectuais e intensif icadora, ou seja,
incrementador a (Kihm, 1989).
Nos ver bos, à exceção de febri-febr i ‘est ar com muita f ebre’, todos os
ver bos resultados de reduplicações, a partir de base livr e, têm as bases
também ver bais. Em todos esses dados, o reduplicado veicula a idéia de
intensif icação e de iteratividade. Essas noções, por sua vez, são acrescidas
na semântica da ação ou do processo representado na base de regra,
conf orme pode ser notado nos dados abaixo.
25
Os advérbios derivados no português tem como base de regras os adjetivos.
160
Nos dados acima, é possível obser var que todos os advérbios têm o traço
[+increment ador] e nenhum deles é de origem onomatopaica. Apenas um,
muku-muku 26, tem a base presa.
26
Variante mukur-mukur
161
gramatical deste cr ioulo. Esse mecanismo morf ológico, constituído mediante
um processo de est ruturação lingüíst ica sui gener is, em relação às línguas
não cr ioulas, não se revela menos r ecur sivo em decorrência da crioulização.
Apenas tem, na sua histór ia sociolingüística, marcas aspectuais
caracter ísticas de sua condição crioulizada.
“ Es tr u tu r aç ã o d e um v oc áb u lo , na b as e de o utr o p or
m eio de um m or f em a que não c or r es po n de a um
v oc á b u lo e in tr od u z n o s em an t em a um a i dé i a ac es s ór ia
qu e n ã o m ud a a s i g n if i c aç ã o f un d am ent a l”
( M at tos o C âm ar a, 1 9 9 8, p . 9 2)
As bases detêm a essência de uma estrut ura morf ológica “sobre a qual
um processo atua para a f ormação da palavra” (Basílio, 2002, p. 90). Os
af ixos estão sempr e juntos às bases morf ológicas, independentemente de
suas condições f lexionais ou derivacionais.
Os af ixos são morf emas que ocorrem somente atados a outro morf ema
o que, por def inição, os classif ica como morf emas presos. Esses morf emas
presos, na condição de af ixos, dividem-se em duas grandes classes: os
af ixos derivacionais e f lexionais. A distinção entre eles está na produção o u
não de novos lexem as. Enquanto os der ivacionais criam novas palavras, os
163
f lexionais apenas modif icam a f orma de uma palavra por questões de
acomodação sintática de sua base. É bastante f reqüente a troca de classe
de palavra por meio da adjunção de af ixos der ivacionais, o que não é
possível com os suf ixos f lexionais. Contudo, nem sempre esse critér io é
válido par a a dist inção entre os af ixos, dado que há pr ocessos der ivacionais
no âmbito da subcat egorização. Portanto, o processo da adjunção de af ixos
derivacionais produz:
- garafa garafon
‘garrafa’ ‘botija’
164
- porta porton
‘porta’ ‘portão’
- kalma kalmon
‘cabaça’ ‘cabaça usada como colher’
Nos exemplos acima há um traço especif icador que vai além da noção
semântica de aumentativo, como uma espécie que contém a semântica da
base da regra, mas com uma especif icação dif erente. Esse traço
especif icador da r egra também está presente no exemplo em –ão do
português – garraf ão - que é algo além de simplesmente uma garraf a grande,
mas uma espécie de recipiente no campo semânt ico das garraf as que vai
além de ser uma garraf a aumentada. Nos exemplos guineenses acontece o
mesmo e são exemplos com dados vindos do português. Por ém, no exem lo
de kalmon, f ormado pela morf ologia guineense, a regra se aplicou com essa
nuance de traço que vai além do aument ativo para o dado guineense.
Couto (1994) e Roug é (1988) reconhecem apenas o pref ixo –dis ( vindo
do des- português). Scantamburlo lista mais 4 pref ixos, que são: anti-, ba-,
gan- e ka-. No caso de anti-, não houve nenhuma ocorrência no banco de
dados do guineense. Para as part ículas ba- e gan-, embora Rougé, no Pet it
Dict ionnaire Etymologique du Kr iol, os classif ique como pref ixos, sendo o
gan- (p.67) f ormador de topônimos e o ba- (p.29) como um pref ixo de classe
marcador da noção de coletividade, eles não aparecem no invent ário dos
af ixos do mesmo autor (p. 15-18). Quanto à part ícula ka-, marcadora de
negativo, trata-se de uma f orma dependente (no sentido de Câmara, 1970), o
que invalida a análise da mesma como af ixo.
A distinção entre f lexão e der ivação dat a de tempos remot os, Varrão
(116-27 a.C.) (cf . 4.1) decompôs o problema da separação em termos
cognitivos, com a derivação sujeita à vontade do f alante, que ele chamou de
derivatio volunt aria e a f lexão imposta pelos padrões sintáticos, chamada de
derivatio naturalis. Dessa f orma, a derivação depende da vontade do f alante
e a f lexão está marcada na dist inção gramatical, independentement e da
vontade do f alante. Ela é acionada pelas articulações gramaticais da língua.
Teoricamente essa dist inção traz a vantagem da generalização e impõe
lim ites f ronteiriços bastante rijos entre os processos. Na pr ática, porém, nem
sempre resiste à análise com base em dados. No caso do português, podem-
se esquematizar as dif erenças da seguinte f orma:
Flexão Derivação
- De riva tio N a tu ra l i s - De riva tio V o lu n ta ria
- E mp r e ga a me s ma p a la v r a - Fo r ma u ma no va p al a vr a
- P ar ad i g ma co e so , r e g ul a r id ad e - Não te m p a r ad i g ma, ir r e g ul ar id ad e
lixo # lixa
p o lít ico # p o lít ica
b o lso # b o lsa
ma to # ma ta
b a r ra co # b a r ra ca
167
Ainda em relação à regular idade, sabe- se da existência das lacunas
ver bais, nos verbos chamados def ectivos, o que representa contra-exemplos
na regular idade f lexional dos verbos.
Por outro lado, Holm (2005), em um texto sobre a f lexão dos crioulos,
propõe “uma mudança de paradigma da lingüíst ica cr ioula” (Holm, 2005)
negando a idéia até então dif undida de que o processo de cr ioulização leva à
perda de morf emas f lexionais. De acordo com a proposta de Holm (2005), a
crença na f alta de morf ologia f lexional é resultado de estudos sobre os
crioulos (os mais estudados) que têm línguas lexif icador as parcialmente
f lexionais e substratos largamente não f lexionais. Nessa junção t ipológica
entre substrato e superstrato e sob as condições de crioulização “é
realmente improvável que se produzam crioulos que retêm quaisquer
f lexões” (Holm, 2005). Isso que dizer que, para Holm, a perda de morf ologia
f lexional tem a ver com caracter ísticas da tipologia morf ológica das línguas
que entraram na f ormação do crioulo. Com isso, torna- se discut ível a
questão de ser ou não ser, a ausência da f lexão, uma herança do processo
de crioulização.
27
repetiçãoreduplicaçãocomposiçãoderivaçãoflexão (Couto, 1999)
169
muitos escr avos af ricanos trazidos ao Brasil, o númer o é marcado por
pref ixos nos substantivos e adjet ivos e a atenção voltada nos pref ixos levou
os aloglotas a negligenciarem “os morf emas gramaticais dos nomes
portugueses, por se encontrarem no fim das palavras” (Resende, 2006,
p.100). Par a Luchesi (2000), a situação de contato f oi r esponsável pela
redução das marcas de número nas var iedades não padrão. O que é
interessante à discussão é o f ato de que, tanto no português quanto nos
crioulos, o contato é relevante na questão acerca da redução dos processos
de f lexão de número.
i. Us ar n or m a lm ent e o /- s / qu a nd o a p a l a vr a t e r m inar em vo g al , c om o em
- l i m ar ia l im ar i a s
‘animal’ ‘animais’
- d if un t u d if u nt u s
‘defunto’ ‘defuntos’
- t ab a nk a ta b ank as
‘vilarejo’ ‘vilarejos’
- omi / m i n jer
‘homem’ ‘mulher’
- r a p as / b aj u da
‘rapaz’ ‘moça’
- ga l u / ga l i ña
‘galo’ ‘galinha’
A questão que se coloca nos dados acima, mais uma vez, é até que
ponto podem ser considerados como dados de f lexão. Ou seja, como dados
de uma mesma palavra que f lectiu, por um pr ocesso de af ixação de
morf emas gramaticais, modif icando a f orma e acrescentando conteúdo. No
caso da f lexão dos substant ivos, o que se vê em rapas/bajuda e omi/minjer
são f ormas dif erent es de palavras que representam o espécime do sexo
masculino ou f eminino. Em galu/galiña, ocorre um processo lexicalizado,
donde o morf ema –ña não é, no crioulo ou mesmo no portug uês, a marca do
gênero f eminino. T em-se ent ão, uma distinção de sexo marcada com
entradas própr ias no léxico e não uma m arcação gramatical de gênero.
5.3.4 Sufixação
28
Há uma discussão quanto ao estatuto morfológico do gênero dos substantivos em português que avalia sua
condição como derivação ou flexão (cf. Câmara Jr, 1970; Sandmann, 1993, Rocha, 1999)
29
Há a presença de palavras portuguesas derivadas com outros afixos portugueses, porém, são dados de
empréstimos e que não é possível afirmar sobre a análise estrutural desses dados por parte do falante guineense.
De acordo com a metodologia empregada neste trabalho, são dados indecomponíveis e totalmente opacos
morfologicamente para o falante guineese. Diante disso, não figuram no inventário dos afixos guineenses.
174
SUFIXO EXEMPLO
-ada kunsa ‘cansar’ kunsadu ‘cansado
VN kabanta ‘acabar’ kabantada ‘acabado’
-asku pretu ‘preto’ pretasku ‘qualidade do que é preto’
A N bunitu ‘bonito’bunitasku ‘qualidade do que é bonito’
-dur
montia ‘caçar’ montiadur ‘caçador’
V
tarbaja ‘tarbalhar’tarbajadur ‘trabalhador’
N(profissão)
-eru
feru ’ferro’ fereru ‘ferreiro’
N N
kalabus ‘cadeia’ kalabuseru ‘presidiário’
(profissão.)
-esa faima ’fome’ faimadesa ‘estado de faminto’
A/N N-abst bajuda ‘moça’ bajudesa ‘estado de juventude feminina’
-ia pinti ‘pente’ pintia ‘pentear’
N V munduku ‘pau’mundukia ‘bater com o pau’
-menti lebsi ‘afrontar’’lebsimenti ’afrontamento’
V N kasa ‘casar’ kasamenti ‘casamento’
-ndadi amigu ‘amigo’ amigundadi ‘amizade’
A/N N-abst macu ‘macho’ macuandadi’macheza e pênis’’
-dia kodardi ‘covarde’ kobardia ‘covardia’
A N kamarada ‘camarada’ kamaradia ‘camaradagem’
ciga ‘chegar’ ciganta ‘aproximar’
-ndV / -ntV
sinta ‘sentar’’sintanda ‘fazer sentar’
causativo
firbi ‘fever’ firbinti ‘fazer fever’
inci ‘encher’ inchinti ‘fazer encher’
-siñu mame ‘mãe’ mamesiñu ‘madrasta’
NN bentu ‘vento’ bentusiñu ‘brisa’
-si pretu ‘preto’ pretusi ‘pretear’
A/NV beju ‘velho’ bejusi ‘envelhecer’
-uda fartu ‘farto’ fartuda ‘fartura’
A N-abst forti ‘forte’ fortuda ‘força’
-nsa fian’confiar’ fiansa ‘confiança’
V N-abst kanba ‘atravessar’ kanbansa ‘travessia’
-on porta ‘porta’ porton ‘portão’
NN kalma ‘cabaça’ kalmon ‘colherzinha de cabaça’
PREFIXO EXEMPLO
papia ‘conversar’ dispapia ‘‘mentir’
dis- mara ‘amarrar’ dismara ‘desamarrar’
Sabe-se que produtividade não pode ser medida apenas pela maior ou
menor ocorrência de um dado it em lexical ou af ixo, mas pelas palavras que
este é capaz de produzir ou mesmo que já está produzindo na língua.
Portanto, ao estudo da morf ologia cabe a taref a de reconhecer as novas
f ormas morf ológicas que emergem ou são passíveis de em ergir mediant e a
competência lexical do f alante.
No que diz respeito à morf ologia das línguas crioulas, e tendo em vista
que estas der ivam seu vocabulário da língua de superstrato, Lef èbvre (2003)
indica critér ios que identif icam se um dado af ixo, que é nativo da língua de
superstrato, pode ou não ter status similar na língua crioula. Entre esses
critérios, há aquele que propõe que um af ixo seja potencialmente nativo na
língua crioula se:
i) Af ix a do a um a b as e es tr a n ha à lí n gu a d e s u p er s tr a to ;
i i) Us a d o c om um a b as e de r i v a da d a lí n gu a l ex if ic ad or a o n d e, po r ém ,
nã o c om b in a c om o af i x o em qu es tã o ;
i i i) As pr opr i e da d es s em ân t ic as e s i nt á tic as da p a la v r a d er i va d a s ão
d if er e n tes das p a l a vr a c or r es po n de n te n a le x if ic a dor a .
30
Um exemplo para o Português são formações como “incrível” com a RFP em X-vel: no Português atual “a aplicação
da regra mencionada privilegia verbos transitivos, preferencialmente transitivos diretos que admitem apassivação. A
regra V A + -vel pode ser comparada ao processo de apassivação, em que há transposição de argumentos: o
argumento interno passa a externo, e o argumento externo pode ser omitido”(Salles e Mello, 2006). Existem duas
formas de se pensar o assunto: uma forma é considerar que nem sempre esse parâmetro foi marcado na RFP, houve
épocas em que ele não restringia a transitividade da base, o que gerou formas como “incrível”. A outra é uma
possível reanálise da transitividade da base sincronicamente. De qualquer forma admite-se que os parâmetros
marcados no léxico são passíveis de reanálise pelo falante.
176
Contudo, esses critérios não são suf icientes para atestar a
produt ividade de um af ixo. A disponibilidade para os f alantes f ormarem
novas palavr as depende de cr itérios que indicam a pr evisibilidade das
f ormações com o af ixo em questão. Nesse caso, exemplos de uma dada
f orma devem:
i) Com par t i lh ar tr aç os s i nt át ic os e s i g n if ic ad o;
i i) C om par t i l ha r um c onj un t o c oer e nt e d e pr o p r i ed a des de s e l eç ão ;
i i i) O r es u lt a do d a c onc at e naç ã o d e um a d a da f or m a c om um a b as e
par t ic u l ar d e v e s er pr e v is í v e l.
i) Nív e l 3 ( N 3)
- F or m aç õ es der i v a das c om o c or r es po n de n te p or t u gu ês , c om a
m esm a b as e , m es m o af ix o e a m es m a c ar g a s em ân t ic a ;
- f e lis i d ad i
‘felicidade’
ii) Nív e l 2 ( N 2)
- F or m aç õ es g u i ne e ns e s qu e nã o apr es en t am um c or r es po n de nt e
por t ug u ês d er i v a d o c o m o s uf ix o em q u es t ão ;
- d is eñ a du r < d is e ñ u + - d ur
‘desenhista’ ‘desenho’
- F or m aç õ es q ue ap r es e n tam es p ec if ic aç õ es s em ân tic as ou
s i nt át ic as d if er en tes d aq u e las da RF P c om o s uf ix o
c or r es p o nd e nt e n o p or tu g uês ;
- c al er a < c a +- e r a
‘recipiente para água’ ‘chá’
iii ) Nív e l 1 ( N 1)
- F or m aç õ es c om pa l a vr as - b as es nã o p or t u gu es as ,
pos s i v e lm ent e c om o l ín g uas d e s ubs tr at o ou f or m ad as n o
pr ó pr i o g ui n e ens e.
- m uf u nes a < m uf u na + - es a
‘má-sorte’ ‘desgraça’
177
5 . 3 .4 . 1 (X ) N [(X ) N + nda di ] N [ + a b s t r a t o ]
N1 N2 N3 N1 N2 N3
31
Foram descartadas ocorrências em que o -dadi era parte integrante da raiz da palavra, considerados como
dados indecomponíveis, como sidadi, koldadi, kudadi, idadi etc.
178
Os dados N3, embora em maior númer o, não atestam a produt ividade do
suf ixo. Conf orme critério de Lef èbvre ( 2003), um af ixo nativo da língua de
superstrato não tem necessar iamente o mesmo status no crioulo. Assim, os
dados classif icados como N3 não são f ormas produzidas no guineense, são
f ormas prontas, vindas do português, como as que podem ser obser vadas na
tabela abaixo 32 com dados do suf ixo –ndadi.
32
Guia de leitura da tabela: NÍVEL – estratificação dos dados quanto à produtividade e a proximidade do
português; DADO – dado recolhido do banco de dados (BD) e/ou Scantamburlo; TIPO: variantes do dado no
BD; OCOR.: quantidade de ocorrência desse dado no banco de dados; BASE: palavra-base da qual se originou o
dado; OCOR: ocorrência da base no BD; COGNATOS: existência de outros derivados a partir da mesma base.
179
Os dados N3 (Nível 3) ser vem à análise no que diz respeito à
interpr etação dada pelo f alante às unidades que se incorporaram ao léxico.
Considerando os per íodos analít ico e sintético de Sandmann (1991) 33, pode-
se consider ar que, no caso do suf ixo -dade e -ndadi, a f orma -dade,
originária do portug uês, f oi a f orma de entrada de -ndadi, suf ixo guineense.
Nesse sent ido, as f ormas terminadas em -dadi, recorrent es nos dados N3, e
respect ivas bases, conf iguram o per íodo em que há possivelmente
34
percepção por parte do f alante da estrutura interna da palavra .
33
Sandmann (1991) distingue dois períodos distintos relacionados à interpretação do falante às unidades da
língua: i. Período analítico - quando ocorre a análise e percepção do falante a respeito da estrutura interna da
palavra; ii. Período sintético - desencadeado pelo primeiro e caracterizado pela produtividade do item lexical
com a utilização do conhecimento morfológico adquirido no período analítico.
34
Em termos de regras, tais formas acionariam a emergência da RAE, Regra de Análise Estrutural, (Basílio,
1980), que, por sua vez, desencadearia o mecanismo morfológico para a RFP, Regra de Formação de Palavras.
35
“Parmi ces emprunts au Portugais, deux seulement peuvent aparaître clairement pour créolophone comme dês
dérivations: bondade et cristandade. On peut donc poser comme hypothèse que le suffixe –ndadi vient de ces
deux termes qui auraient été intérprétés come: bom + ndade et cristan + ndade.” (Rougé,1988: 16).
36
A palavra maldadi é também atestada com a forma maundadi, na qual ocorre a pré-nasalização, inexistente na
correspondente maldade em Português.
37
Jintiuandadi (guineense) ‘falta de gentileza’; gentilidade (português) ‘paganismo’.
180
semântico e f uncional 38. Considerando-se a ocorrência m ínim a de palavr as
em N3 com a term inação –ndadi, derivadas de palavras do português sem a
nasalização, cabe postular a mudança da f orma f onológica de –dadi para –
ndadi. Supõe-se, assim que a f orma –dadi precede a entr ada de -ndadi no
guineense. Após a percepção do suf ixo pelo usuár io, ocorr e uma mudança
morf of onológica com a pré-nasalização. Como se verá nos dados abaixo, a
f orma –ndadi é recorrente, mesmo com a existência de poucos dados
nasalizados do português.
2
mansebunda maneira de ser
2 3 mansebu
di mulherengo
2
muntrundad ato de mentiroso,
1 2 muntrus 5
i intriga
costume de mouro;
2 murundadi arte da medicina muru
muçulmana
maneira de agir do
2 regulundadi régulo
1 2 regulu 42
Como caracter íst ia de dados N2, as palavr as têm bases por tuguesas,
porém, com derivações não atestadas no português. Nos dados com –ndadi,
tal como amigundadi f ormado a partir de amigu, der ivam de bases que têm
correspondentes em português (amigo), embora não exista em português
amigo + dade.
38
Não foram considerada como objeto de observação as questões referentes aos empréstimos portugueses
alimentados pelo fluxo de informações da televisão ou mesmo pela rede mundial de computadores. Certamente
este fato tem muito a dizer sobre questões de empréstimos, prestígio e descrioulização na Guiné.
181
Há, nos dados com –ndadi, e outros suf ixos classif icados como N2,
f ormações bloqueadas (Aronof f , 1976) no português por outras f ormas. O
que ref orça a idéia de que não f azem parte do inventário lexical da língua
lexif icadora. A f orma amigo+dade, por exemplo, é bloqueada por am i zade.
Da mesma f orma, futsindadi, cujo correspondente em português é feit içar ia,
bloqueia a emergência de feit iço+dade. Outras f ormas, como ministrundadi,
constant e como entr ada de dicionár io em Scantambur lo (2002), por exemplo,
não têm, ainda, equivalente em português, no entanto, estando em inércia
morf ológica, podem receber o traço de [+inserção lexical] (Halle, 1973) a
qualquer momento.
A traço mais marcado por caracter íst icas notadamente cr ioula nos
dados N2 e N1, com o suf ixo –ndadi é a pr é-nasalização. Todos os dados
apresentam a f orma f onética do af ixo em –ndadi, ou seja, já com a f orma
nasalizada do af ixo. Isso ref orça a hipót ese da apr eensão do –dade como –
ndadi e a inscr ição desse traço dir etamente na RFP, pois todas as
produções consideradas genuinamente cr ioulas apresentam a f orma -ndadi.
o que era n d passou a ֊+d (Couto, 1994; Rougé, 1988). Outra hipótese é de
que a pré-nasalização seja um traço restrito da RFP, gerado como resíduo
morf of onêmico das línguas de substrato. Conf orme Ar onof f 39 (1976) a RF P
especif ica uma base, assim como alguma oper ação na base que resulta em
uma nova palavra, que geralmente terá algum ref lexo f onológico. Assim a
RFP especif ica a f orma f onológica do af ixo e o seu lugar em relação à base.
Pode-se ainda conjecturar, embora com certo cuidado, pois ainda não f oi
investigado com af inco, que o compart ilhamento de traço [+coronal] do “ i”
do –idadi e do “n” de –ndadi, pode ter acarretado um processo assimilat ório
na direção da nasal. Com isso, ocorreu uma convergência, o “i” perdeu seus
traços vocálicos e assumiu uma posição articulatór ia mais posterior izada, em
direção à velar ização. Porém, o movimento de assimilação entraria como um
f ator condicionante, não det erminante, para a nasalização do –ndadi.
39
“(…) a WFR specifies a base, as well as some operation on the base which results in a new word. This
operation will usually have some phonological reflex, some morpheme which is added to the base. We will call
this operation the phonological operation of the WFR.
The operation is generally quite simple, and consists of the addition of some affix to the base. The WFR
specifies the phonological form of the affix and its place in relation to the base.” (ARONOFF, 1976, p. 63).
40
Ou kabalidu (SCANTAMBURLO: 1999)
41
Poder-se-ia incluir nesse grupo kadjabrandadi ‘comportamento de alguém que busca sempre novos parceiros
sexuais’ cuja base não foi identificada.
183
comportamento de fasi
alguém que busca kajabrandrad
1 kadjabrandadi sempre novos i = cometer
parceiros sexuais; má adultério,
vida. Sin. paka-paka
enganar, 210
agrupamento de
1 manjuandadi pessoas da mesma 4 59 manjua 1
faixa etária
Total de 5 formação em –ndadi N1 totalizando 66 ocorrências
5 . 3 .4 . 2 (X ) N [(X ) N + e s a ] N [ + a b s t r a t o ]
Em relação de concorrência suf ixal com o suf ixo –ndadi, o suf ixo –esa,
42
também deriva subst antivos abstrat os a partir de nomes/ adjet ivos . De acordo
com Scantambur lo (2002, p.202 e 424) –esa é “suf . nom.; suf ixo que entra na
f ormação de substantivos, expr imindo a idéia de qualidade ou estado”. Da mesma
f orma que o suf ixo –ndadi, que “entra na f ormação dos substantivos, expr imindo a
idéia de estado, qualidade”.
- O ac i o nam en t o d a RF P a ba ix o es t á b l oq u ea d o p el a r e gr a ac im a
*
X adj [ ( X a d j ) - n d a d i] N ou b aj u d a adj [ ( b a ju d a a d j ) - n d ad i] bajudandadi
42
No guineense, os substantivos abstratos têm 4 terminações diferentes: -ndadi, -esa, uda e –nsa.
185
Foram extraídas 110 ocorrências com o suf ixo –esa no banco de dados. Foram
empregados os mesmos critérios de delimitação especif icados para os dados. O
corpus contou com 20 f ormas f onéticas de der ivados a partir -esa. Os dados de
input, dispostos abaixo, são os dados de N3 que totalizar am 8. Assim como os
dados de N3 do –ndadi, são dados vindos da língua lexif icadora, ou seja, são
palavras f ormadas no português, portanto, não relevantes à análise da
produt ividade do guineense.
O suf ixo –esa se mostrou menos recorrente e com menos dados extr aídos
em relação ao –ndadi. Depois de analisados, as f ormações der ivadas dispost as
nos níveis N1 e N2 – os níveis produtivos - totalizaram 10 f ormações, enquant o
os derivados dos mesmos níveis de –ndadi somaram 17. Quanto às ocorr ências
de N1 e N2, o –ndadi apresentou 113 dados, contra 74 do –esa. Por ém, 67% do
total das f ormações em –esa, const ante nos dados, f oram produzidas no
guineense. A mesma relação percentual entre total de ocorrências e f ormas
produzidas na língua para o –ndadi f oi de 47%. Eis os dados N2 e N1 com o
suf ixo –esa.
186
43
A proximidade do afixo em relação à base e a transparência semântica, previstas pela teoria, não foram
observados nos dados.
187
Seu principal concor rente, o suf ixo –ndadi está estrat if icado nos níveis
mais baixos da hierarquia no modelo teór ico da Morf ologia Lexical. Isso se deve
ao f ato de ser f onologicamente neutro no acionamento da regra, não causando,
qualquer tipo de alt eração f onológica signif icat iva em sua base de regra - o que
responde por sua condição produt iva. Por sua vez, o suf ixo–esa dispara, no
momento do acionamento da regra, processos f onológicos de elisão e epêntese.
Essa condição o coloca em uma posição hier árquica mais alt a, em relação à
regra do –ndadi, no modelo de kiparsk y (1982), o que ref lete nas condições de
produt ividade do af ixo, pois, quanto mais alto na escala hier árquica, menos
produt iva a regra (ou o af ixo).
Faima faimadesa
‘fome’ ‘estado de faminto’ epêntese
Bajuda bajudesa -
‘moça’ ‘estado juventude’
Malkriadu malkriadesa
‘malcriado’ ‘estado de malcriado elisão
dudu dudesa
‘doido’ ‘loucura’
koitadu koitadesa
‘coitado’’ ‘estado de malcriado’
Basílio ( 2004, p.80) af irma que, mesmo ocorrendo com substant ivo ou
adjetivo, trata-se de duas classes e duas palavras dist intas. A autora
exemplif ica com a palavra doce que, quando substant ivo, não permite a
intensif icação como o “doce” adjetivo. Semant icament e, há restrições de uso
para o adjetivo doce em produtos comest íveis (nem tudo pode ser predicável
como doce) e, nem todo produto predicável como o adjetivo doce pode ser
designado como “doce”.
- j o vem e n di n he ir a do
- f o g o a mi g o
Há também palavras que podem ser [+ Mod] (modif icador), mas não
podem f uncionar como [+NSN]. Esses são classif icados tradicionalmente como
adjetivos. Abaixo temos exemplos dessas palavras.
- c o nt a ex at a
- c ar g o g er e nc i al
Existem ainda palavras que só atuam como [+NSN] e não têm o traço de
[+Mod], conf orme os exemplos:
- E l a c he g ou bem
- J oa n a é f r anc es a
Perini af irma que nenhuma dessas f unções é “mais básica” que a outra.
Também que não se trata simplesmente de uma transposição cat egorial,
quando um substant ivo passa para a classe adjetiva, mas sim de uma palavra
que apresenta tanto o traço [+NSN], quanto o [+Mod]. 44 Outro traço
signif icat ivo utilizado na descr ição de Perini diz respeito à condição de poder
atuar como complementador de predicado, preenchido, geralmente com SNs.
Enf im, o autor conclui que os substantivos apr esentam o traço de
complementadores de predicados sem poder at uar como modif icadores ou
predicat ivos. Já os adjetivos podem ser complementos de predicado,
modif icadores e também predicativos. Portanto, o ponto de int erpenetração
f uncional entre adj etivo e substantivo ocorre como com plementador es de
predicados.
As bases lexicais das RFPs do guineense que utilizam subst antivos e/ou
adjetivos como base regra, parecem articular-se indist intamente par a os
44
O autor expõe ainda mais 4 traços de natureza sintática, e um morfológico. São eles:
Ocorrer como pré-núcleo – [+PN]; Ocorrer como complemento de predicado [+CP]; Ocorrer junto com outro
termo no SN [+T,SN]; Desempenhar função de predicativo [+Pv]; Coocorrer com o sufixo superlativo –íssimo e
suas variantes (morfológica) –rimo e –imo.
189
adjetivos e/ ou subst antivos. Assim, as bases lexicais dos dados em N1 e N2
apresentam os três traços acima, ou seja, todas são [+NSN], [+ Mod] e [+CP].
A conf luência de traços das bases lexicais apontam par a o f ato que a
seleção da regra não enxerga, ou não é sensível às nuances categoriais das
bases pelo f ato de que a língua não estabelece essa distinção categorial, como
se pode obser var na tabela a seguir.
- Kabron
‘pessoa de má índole’
- Kolega
‘colega’
- Kumadri
‘comadre’
- Kuñadu
‘cunhado’
- Mame
‘mãe’
- Ministru
‘ministro’
190
Considerando que essas bases pertencem ao conjunt o de bases do –
ndadi. Em uma relação comparat iva com as bases do –esa, cujo conjunto de
bases adjetivais tem caracter íst icas qualitat ivas, pode-se conjecturar que a
RFP em –esa tem uma restrição de acionamento com adjet ivos com maior grau
de qualif icador. Essa restr ição é sensível somente nas especif icações
semânticas da base lexical. As especif icações sintát icas não são signif icativas
para as regras em relação às escolhas adjetivais. Mesmo porque os traços
sintát icos se apresentam indist intamente para todos os dados de ambas as
regras.
Essas r estrições e pref erências mantidas pela RFP vão se ref letir na
produt ividade da regra. Dentro do quadro teórico, aponta-se então que, além de
comportar-se como um af ixo não neutro no processo de af ixação,
desencadeando modif icações nas bases com elisão e epênt ese, a suf ixação
com –esa também é mais selet iva, o que restringe suas possibilidades de
acionament o com os adjetivos do guineense. Por sua vez, o –ndadi , comporta-
se mais produt ivo quando não r estringe suas bases e t ambém não dispara
nenhum tipo de processo f onológico na estrutura da base, conf orme previsto
pela Morf olog ia Lexical de Kiparsk y.
5 . 3 .4 . 3 (X ) N [(X ) N + e r u ] N / A
Segundo Scant amburlo, o suf ixo -eru é o “suf ixo que entra na f ormação
de substantivos, expr imindo a idéia de prof issão, ocupação ou noção
coletiva” (Scantamburlo, 2002, p. 202). Corresponde ao suf ixo português –
eiro que, de acordo com Rocha (1999, p. 140), tem como car acter ística
produt iva no português um traço pejor ativo, como em noveleiro, biscateir o,
muambeir o, cambalacheiro etc, com isso, “criações novas (com o suf ixo –
eiro) não f arão parte de discursos neut ros, técnicos ou cient íf icos (Rocha,
1999, p. 140). Porém, a despeito desse traço que se inseriu na r egra, há
muita recorrência de f ormas em uso na língua sem a caracter ística da
pejoratividade. Em uma tomada de busca no Houaiss ( 2001), pode-se
constatar 2599 f ormas dicionar izadas. Em sua maioria, são f ormas que
apresentam o mesm o context o de uso dos dados que se apr esentaram no N3
no guineense. Couto (1994) r essalta que a produtividade de –eru é reduzida
em relação à pr odutividade do –dur, que também é f ormador de
substant ivos/adjet ivos com idéia de pr ofissão. Embor a as regras apresent em
191
uma ident idade no produto de r egra em relação à semântica da palavra,
estes suf ixos não são concorrentes pelo f ato de selecionarem classes
dif erentes de bases para se art icularem: a do –eru é (X)N [(X)N + eru]N/A,
enquanto a do –dur é (X)V [(X)V + dur]N/A., ou seja, esta seleciona os nomes
e/ou adjet ivos, enquanto a regra do –dur pref ere os verbos, conf orme poderá
ser notado nas páginas seguint es.
3 enfermeru enfermeiro 1 1
3 erderus herdeiros 1 2
3 njeñeru engenheiro 1 2
3 karpinteru carpinteiro 2 7
3 pasajeru passageiro 2 3 -
3 solteru solteiro 1 5
3 kunpañeru companheiro 2 5
Total de 19 formações em –eru N3 totalizando 97 ocorrências
1 saklateru Saklatadur
Criador de confusão 1 1 saklata 1
saklatadu
Total de 5 formações em –eru N1 totalizando 21 ocorrências
Como se pode notar nos dados acima, os dados N1 e N2 do suf ixo –er a
apontam para f ormações dentro de uma componente mais particularizado nas
condições de f ormação e sob um contexto menos específ ico que as
condições morf of onológicas. Caleira, por exemplo, que é um dado N2 do –
era, vem de chaleira do português ( Scantamburlo, p. 550) e f oi reestruturado
semanticamente, apresentando agor a uma semânt ica apropriada às
condições de uso dos guineenses, ou sej a, trata-se apenas de um recipiente
de água, não específ ico para se f erver essa água, como no português.
Bidera já f oi discutido nos parágraf os anteriores. Por f im, kabasera, que
represent a o dado mais recorrente (60 ocorrências) é o nome do f ruto do
baobá (uma ár vore) . O nome “der iva do nome caracter íst ico de seu f ruto,
semelhante à cabaça ou abóbor a pequena” (Scantanburlo, p. 276). Assim, é
mais prudente pensar em f ormações idiossincrát icas altamente inf luenciadas
pelo português a se af irmar a existência de um processo de alomorf ia.
5 . 3 .4 . 4 (X ) V [(X) v + dur ] N / A
Assim como o suf ixo –dor, do português, o suf ixo –dur indica a
prof issão ou agente e sua RFP se aciona a part ir de ver bos. No português,
segundo Basílio ( 2004, p. 46), o –dor, j untamente como –nt e, é o pr incipal
f ormador de agente e instrumentais a partir de verbos. No g uineese, o - dur
também tem esse papel na morf ologia. T rata-se de um suf ixo categorial, que
muda a classe gramatical da palavra a qual é af ixado. O processo de
f ormação de nominalizador ser ve par a “caracterizar um indivíduo (agente) ou
objeto ( instrument o) pelo exercício da ação ou f unção expr essa pelo verbo
que serve de base à f ormação “ (Basílio, 2002, p. 71). Trata-se de um
processo que utiliza a noção expr essa pela ação verbal para denotar seres
(Basílio, 2004, p. 44), com uma motivação não soment e nos padrões
sintát icos (a mudança categor ial), mas também semânt ico, uma vez que
nominaliza a partir da ação do verbo.
N1 N2 N3 N1 N2 N3
- A nt on , n unk a b u o j a p ek a d ur p ad i g a tu ?
‘Então você nunca viu uma pessoa dar luz a um gato?’
- A nt on nu nk a b u o ja p e k ad ur p a d i k ac ur ?
‘Então você nunca viu uma pessoa dar luz a um cachorro?’
- Mi n i n u b in k ir s i , m a i k a p ud i p a pi a s u m a p ek ad ur
‘Menino cresceu, ‘mas ele não pode falar como uma pessoa’
Pekadur, assim como outros dados de outros suf ixos que f oram
reestruturados semanticamente, passou por um processo de idiomatização
após sua entrada na língua. Assim, o que signif icava apenas uma pessoa
que comete pecados, passou a ter uma semântica mais generalizada com o
signif icado de ‘seres humanos em geral’, ocasionada por f atores
metoním icos (são seres que cometem erros, que têm def eitos). Esse
percurso da reestruturação semânt ica t eve início na entrada de pekadur
como N3, tendo como conteúdo signif icativo sua semântica portuguesa
original. Como t odos os outros dados da categor ia N3, além de não ser
considerado como f ruto de produt ividade, nesse est ágio, pekadur é também
monomorf êmico (para o f alante guineense). Em um segundo momento, f oi
reanalisado morf ologicamente e r econhecido no paradigma do suf ixo –dur,
com o traço de agente do verbo pecar. O conteúdo semântico reestrutur ado
f oi adquirido de f orma sobreposta ao pr imeiro e tem com ele uma relação de
contigüidade metonímica. Cabe analisar as relações culturais que se
manif estam nessa reestruturação.
O s dados de N3, tomados como input s, tinham como car acter íst ica
morf ológica, para o f alante guineense, a condição de ser uma entrada que
não apresentava est rutura interna na int erpretação. Com a análise estrutural
dos dados recorrent es com o suf ixo –dor do português (ou –dur), o que era
uma parte do todo lexical, desmembrou-se como um morf ema gramatical.
199
Nesse percurso da gramaticalização do –dur, a interpretação f onética do
f alante dos dados de input era de que a vogal núcleo da sílaba recorrente
era a alta post erior . Consider ando o enf raquecimento e o alçamento das
átonas f inais condições f onéticas t ípicas do português, a per cepção auditiva
se f ez como –dur em lugar de –dor. Com isso, houve uma reestruturação
f onológica do suf ixo e, no estado atual da morf ologia guineense, a
produt ividade da reg ra se f az dentro desse padrão reestrutur ado. Com isso,
é possível af irmar que, como dado de N3 (sua f orma de entrada), o –dur
tinha um estatuto f onético, enquanto par a os dados em N1 e N2, já passa a
ter um estatuto f onológico.
5 . 3 .4 . 5 (X ) N [(X ) V + a da ] N e (X ) V [(X ) V + a da ] N
Conf orme pode ser notado na tabela de dados N3, com exceção da
regra com o traço pejorativo (iii), todas as outras f ormações com –ada se
manif estaram nos dados N3.
202
kasada kasamenti
3 casada 1 1 kasa 367
kasadur
3 kesada mandíbula 1 1 keso 24
3 nboskada emboscada 1 1 - -
pasada história,
2 acontecimento
2 36 pasa (V) 203
5 . 3 .4 . 6 (X ) N [(X ) N + i a ] V [ + a ç ã o ]
N1 N2 N3 N1 N2 N3
Dif erentemente dos outros suf ixos até agora analisados, o –ia f oi o
suf ixo em que os dados de f ormações N2 tiveram uma dif erença
quantitativa r elativamente pequena em relação aos dados de N3 (18
f ormações de N2 e 21 de N3). A dif erença entre eles f oi de apenas 3
palavras. Porém, somando-se N2 e N1, tem-se 22 f ormações, o que supera
as palavras vindas de emprést imo da língua lexif icadora, que são as de N3.
Eis os dados classif icados em N3:
206
3 montia caçar 50
3 geria guerrear 46 gera 65
3 bisia vigiar 2 25
3 purfia discutir 21
3 pintia pentear 17 pinti 8
diskonfia Konfiadu.fiansa
3 desconfiar 14
konfiadu
3 sumia semear 10 simeadur
3 rodia rodear 6 roda 31
konfia konfiansa,
fiansadu,
3 confiar 2 7 fia 78
konfiadu,
diskonfia
3 nogosia negociar 4 negosiu 1
3 nfastia enfastiar 1 fastiu 1
3 numia nomear 1 nomi 273
3 tarpasia trapacear 1 tarpasa 2
3 bria brilhar 1
3 kanpian proocurar 1
3 malkiria Fazerr malcriadez 1
Um aspecto aparent e par a os dados em –ia, que ref orça a idéia dos
dados N3 como dados de input sem estrutura inter na, é a ausência das
bases em 52% dos dados. Essas bases também não têm entrada no
dicionário do guineense ( Scantamburlo, 2002). Isso quer dizer que a suposta
base de regra não se revelou no banco de dados de Luigi Scantamburlo,
tampouco no banco que se utiliza para a extração de dados neste trabalho, o
que apont a para a noção indecomponível desses dados. Outro aspecto di z
respeito à terminação dos verbos no português. Todos os dados que
aparecem com –ia, nos dados N3, são ver bos t erminados em –ar no
português. Mesmo considerando a pref erência ver bal da líng ua, sendo mais
recorrente em relação aos terminados em –er e -ir, pode-se questionar se a
vogal ‘a’, do suf ixo –ia, não é uma manif estação da vogal temática do
português que se neutralizou na percepção do guineense e que,
posteriormente, veio a se gramaticalizar como um suf ixo f ormador de verbos
a partir de substantivos. As f ormas derivadas em –ia de N2 podem ser
obser vadas abaixo.
207
O que se destaca nos dados com o suf ixo –ia é a f ato de esses ver bos
serem de ação e com tendência à iteratividade. Essas caracter ísticas
também se impõem nos dados de N1, como pode ser obser vado abaixo. Essa
caracter ística f oi inserida como um traço na RFP e herdada da percepção do
f alante dos traços do af ixo no momento de análise estrutural. Considerando
o caráter das relações inser idas nos produtos da regra determinado pela
inserção do traço da it eratividade, que se transpôs de uma para a outra
regra, é justif icada a interpretação de cunho gramatical que se atr ibuía ao
af ixo que se desprendia do todo lexical. Eis os dados N1 da regra (X)N [(X)N
+ ia]V.
208
Enf im, a regra (X)N [(X)N + ia]V pode ser considerada como uma regra
que se manif esta produtivamente no guineense. Consider ando ser est a a
única regra que f orma verbos a part ir de substant ivos (ou nomes) na língua,
tem sua produt ividade garantida, pois não há regra que se posicione como
sua concorrente. Soma-se a isso o f ato de que, embora apresent e
particularidades nos traços de seus produtos de regra, o suf ixo –ia não é
seletivo com as bases, podendo se articular com substant ivos
indist intament e, o que contribui sensivelmente para a sua condição
produt iva.
5 . 3 .4 . 7 (X ) V [(X ) V + ns a ] N
Nos dados classif icados como N3, pode- se notar que, à exceção de doer
e desavir-se, todos as outras bases são terminadas em –ar. Importante
ressaltar que o verbo desavir-se, além de pronominal, é bastante irregular.
Já o ver bo doer, embora dentro de um paradigma de regularidade, é um
ver bo def ectivo, tendo manif estações somente nas terceiras pessoas do
singular e plural. Portanto, considerando que a imprevisibilidade da r egra
tenha um hist órico que vem desde as idiossincrasias das bases, não é
estranha que esta tenha se manif estado também nos produtos da regra.
209
Contudo, o que inter essa para a análise são as f ormas que entraram como
dados de input para o guineense, independentemente do percurso histórico
dessas f ormações no português. O que é interessante é a f orma f onética
apresentada para o guineense, assim como a análise e percepção dessa
f orma como dado de input. Assim, a f orma reestrururada m orf ologicament e
tinha como f orma recorrente as terminações em –nsa, independentemente
das restr ições impostas no português. Essa f oi a f orma de entrada analisada
estruturalmente par a o f alante. Eis os dados extraídos do banco de dados
em N3.
Uma regular idade q ue pode ser notada nos dados diz respeito a uma
imposição f onológica das f ormações que são tr issilábicas e com o acento
acontecendo na sílaba imediat amente anterior ao suf ixo, ou seja, o
210
acionament o da regra leva ao deslocamento do acento para a sílaba anter ior
ao suf ixo. Por exem plo:
- ’m o r a mo’ransa
‘morar’ ‘conjunto de casas’
- ’r e i n a rei’nansa
‘reinar’ ‘ato de reinar’
5 . 3 .4 . 8 (X ) N [(X) N + s i ñu ] N
Dif erentemente do suf ixo –inho/ zinho português, o –siñu como suf ixo
guineense tem uma trajetória bastante particular izada. No português, o uso
de um ou outro suf ixo obedece a im posições dialetais, como painho e
pai zinho, ou mesmo idioletais, como devagar zinho e divagar inho. Entretanto,
restrições impostas pela f onologia são f avoráveis à utilização de – zinho:
quando a palavr a base é oxítona, terminada em consoante ou ditongo, como
em:
- c af é c a fe zi n h o e *c a f ei n h o
- pa r pa r zi n ho e * p ar in h o
- c ão c ão zi n h o e *c ão i n ho
Como se pode not ar, há alt ernância mórf ica do -inho e –zinho no
português. Morf of onologicamente, esses morf es parecem estar em relação
de distr ibuição complementar, por ém, em termos sociolingüísticos, eles
estão em relação de concorrência e co- ocorrência. No ambiente de contat o
lingüíst ico, na f ormação do guineense, esses contrastes f oram
neutralizados e somente o -siñu se manteve. Mesmo em f ormações
portuguesas, nas quais o conteúdo sem ântico f oi conser vado do português
ao crioulo, o -inho f oi subst ituído pelo –siñu.
Considerado como o mais guineenses dos suf ixos por Couto (1994), o
suf ixo -ntV/ndV transf orma a ação de verbos em ações causativas. Trata-se,
portanto, de um af ixo que marca a dist inção entre o uso do verbo como
causat ivo, denotanto uma ação em que uma causa pr oduz um determinado
resultado, como se pode not ar nos exemplos abaixo.
- c i ga c i ga nt a
‘ chegar’ ‘fazer chegar’
- fir b i f ir b in t i
‘ferver’ ‘fazer ferver’
Para Rougé (1988, p.17), esse suf ixo r esulta da junção ent re o suf ixo
português –antar e o suf ixo mandinga –ndi. Realmente a terminação -antar
aparece em verbos da 1ª conjugação no português com a caracter ística de
serem sempre verbos regulares. Por ém, não se considera ‘antar ’ um suf ixo,
uma vez que a ter minação desses ver bos é –ar, com o “a” como vogal
temática da 1ª conjugação e o “r” como marca de inf init ivo. O “ant ” de
a n t a r é parte integrante da base. Além do quê, não há regularidade no
processo, ou seja, embora esses verbos terminados em antar sejam todos
regulares, a recípr oca não é verdadeira. Nem todos os verbos regulares em
–ar terminam em –antar, por exemplo, os verbos velejar, mamar e falar, são
regulares e da 1ª conjugação e não terminados em –antar.
i) Har m on i a v oc á l ic a - a v og a l d o s uf ix o s e ar t i c u la n o m es m o po nt o qu e
a úl t im a v o ga l d a bas e, o u s ej a , vo g a l m éd i a ba ix a na b as e, a v og a l
do s uf ix o s e r e al i za c om o – a ( ciga ciganta ) ; vo g al al t a e a nt er ior
na b as e , d is par a o a c i on am en to de – i n a vo g a l d o s uf ix o ( f ir bi
firbinti ) ;
i i) Dis s im i laç ã o – s e a c ons o an t e d o ac l i v e d a ú l tim a s í l a ba da b a s e é
um a p a l at a l v o ze a da , a c o ns oa n te im ed ia t a à n as a l d o s uf ix o s er á
des v o ze a d a ( f irbi firbinti ) ; .
215
Contrar iament e à idéia da simplicidade e da pref erência pelas f ormas
lexicais na estrutura sint ática, o processo de f ormação desses verbos utiliza
um morf ema gramatical em uma f ormação em que o correspondente
português utiliza uma locução com 2 f ormas lexicais, como fa zer chegar
(ciganta no guineense), pôr na cama ( ditanda no guineense) etc. Há ainda
poucas f ormas que apresentam correspodente português com f ormações
derivadas, como: mamanta ‘amament ar’ ou ainda fir binti ‘af erventar’. Porém,
essa correspondência não é semanticamente exata. Isso quer dizer que,
embora tenham uma equivalência bastante aproximada, a distribuição de uso
pelo f alante não é a mesma. Amament ar não é somente a ação de f azer o
bebê m amar, em um a ação perf ectiva, como no crioulo. Mas o processo pelo
qual uma criança se alimenta, dentro de um determinado per íodo, no seio da
mãe, portant o, mais habitual. Para uma correspondência mais f iel em uma
tradução do cr ioulo para o português, para esses ver bos causat ivos com -
ntV/ndV, ser ia necessár io a ut ilização de locuções verbais, como, fa zer
+Verbo. Isto porque a morf ologia do português não dispõe de marcas de
processos para a marcação de verbos causativos. Eis os dados com a regra
(X)V [(X)V + ntV/ndV]V[+causatividade] extraídos do banco de dados:
216
Todos os dados podem ser classif icados como dados de N2, isto é,
produzidos no guineense, mas com bases portuguesas. São, portando,
resultados de um est ado produtivo da RFP (X)V [(X)V + ntV/ndV]V[+causatividade].
Todos os dados derivados com -ntV/ ndV extraídos têm bases que são
palavras r ecorrent es no guineense. A m enos r ecorrente delas se r ealizou 5
vezes no bando de dados, que é o caso de fria ‘esf riar’ e ciga ‘chegar’. A
mais recorrente das bases no banco somou 1185 ocorrências. Isso aponta
para o reconhecimento e a análise da estrutura da palavr a com o suf ixo -
ntV/ndV pelo f alante guineense.
5 . 3 .4 . 10 (X ) N [(X ) V + m e nti ] N
O suf ixo -menti guineense equivale ao suf ixo português - mento 45. No
português, -mento é um nominalizador bastante produtivo, ao lado de seu
principal concorrent e, o suf ixo –ção, cuj o correspondente no guineense é o -
son. Tanto -son quanto -menti não se f izeram nominalizadores produtivos no
guineense, pelo menos por enquanto. Os dados com -son, que somaram 164
ocorrências em 47 palavr as dif erentes, são todos dados de empréstimo
classif icados em N3, o que não just if ica sua inclusão como af ixo do
guineense.
45
Há também a existência de palavras terminadas –menti equivalente ao –mente do português, ou seja, são
advérbios que se originaram de adjetivos. Porém, todos os dados com essa terminação e com uso adjetival no
banco de dados são dados N3 – empréstimos do português. Portanto, esses dados não são relevantes à
discussão acerca da produtividade no guineense, uma vez que não se pode inferir acerca do reconhecimento
gramatical do –menti como formador de advérbios para o guineense.
218
5 . 3 .4 . 11 (X ) N [(X ) N + di a ] N [ +abstrato]
Outro suf ixo não produt ivo no guineense é o suf ixo –dia, cuja
f ormalização da RFP é (X)N [(X)N + dia]N[+abstrato]. Formador de substant ivos
abstratos a partir de outro adjet ivo/substantivo, o suf ixo -dia tem como
concorrentes os suf ixos pr odut ivos -esa e -ndadi. Embora pouco recorrente,
219
com apenas 5 f ormações dif erentes nos dados, o –dia tem estatuto de suf ixo
próprio do guineense, pois 3 dos 5 dados não ocorrem no português, e estão
classif icados como dados N2. Porém, não se pode atestar a produt ividade da
regra (X)N [(X)N + dia]N[+abstrato] por dois motivos. Pr imeiramente, os dados
sugerem que a regra impõe restr ições semânticas e f onológicas às suas
bases, o que vai interf erir na produção de novos itens a part ir da regra. Além
disso, a pouca ocorrência de f ormações com o suf ixo -dia conf irma a
escassa produtividade causada pelas r estrições. Em bora poucos os dados
produt ivos, todos os três dados f oram produzidos dentro de um padrão
próprio da RFP guineense. Esses dados N2 tem como base de regra palavr as
iniciadas com oclusiva palatal surda sempre com a presença de uma vogal
nasal (kunbosa) ou nasalizada (kamar ada e kuñada) no núcleo da sílaba
inicial. Há também o f ator semânt ico a ser obser vado como restrição. Todas
as bases designam seres com o traço [+humano]. São dados obser váveis
que, embora poucos para o total do banco de dados do guineense,
represent am a t otalidade para as f ormações produzidas pela regra (X)N
[(X)N + dia]N[+abstrato], conf orme pode ser observado na tabela abaixo.
kuñadadia kuñadaria
2 ato de parentesco 2 2 kuñadu 21
kuñadundadi
kunbosadia relação de ciúme
2 entre co-esposas
2 5 kunbosa 9 kunboseria
5 . 3 .4 . 12 (X ) A [( X ) A + uda ] N [ + a b s t r a t o ]
3 bekuda barrakuda SC SC 15
Semânt ica e morf ologicamente, o suf ixo guineense –uda apresenta ainda
traços sim ilares com -udo português. A noção semânt ica de exagero é um
traço semânt ico relevante para os 4 dados, pois -udo é suf ixo com a idéia de
abundância, excesso, caracter ística aumentada. No momento produtivo
atual, a RFP do –udo em português carrega um traço de pejoratividade,
como em narigudo, cabeçudo, cadeirudo etc. Esse traço não é percebido na
regra (X)A [(X)A + uda]N guineense, porém, o que chama atenção é o f ato de
no português a noção de abundância ser uma traço do adjet ivo f ormado pela
regra, com element os semânt icos vindos do subst antivo que f oi a base da
RFP. No guineense acontece de f orma oposta, pois o substantivo que é
produto da RFP vem carregado com traços qualitativos dados de f orma
abundante pelo qualitativo (ou adjetivo) que ser viu de base.
p o rt u g u ês
- n ar i z n ar ig u da
(a noção de abundância está no adjetivo nariguda, com elementos do substantivo nariz)
g u i n e en s e
- f or t i - for t ud a
'forte' 'acidez' (literal)
(a noção de abundância se mantém da base ao produto da regra)
σ σ
A R A R
f a r t u
f o r t i
l a r g u
Por sua vez, o núcleo da sílaba a qual será atado o suf ixo é sempre
uma vogal alta tendo como ataque também uma oclusiva.
5 . 3 .4 . 13 (X ) N [(X ) N + on ] N
Outro suf ixo não pr odutivo no guineese é o suf ixo -on, originário do
aumentat ivo -ão port uguês. Dif erentemente da semânt ica quantitativa que se
impõe na regra de -ão no português, as f ormas que se apresentaram são
f ormas em que há ir regularidade da regra no português. Essa irregularidade
diz respeito ao signif icado da palavra derivada, pois esta não se limita à
223
noção intensif icador a do suf ixo, e comporta uma semânt ica que vai além do
aumentat ivo, como se pode notar nos dados N3 abaixo.
Embora com uma produt ividade dim inuta em relação aos suf ixos
produt ivos, os 3 dados N2 e N1, gerados a part ir da regra (X)N [(X)N + -on]N,
não herdaram a semântica aument ativa da regra portuguesa, como se pode
obser var nas tabelas abaixo.
Esses dados, pinton ‘pint inho de galinha’ e kalmon ‘colher zinha f eita
de cabaça’, cuja f orma do ref erente levar ia a ut ilização do dim inutivo no
português, f oram f ormados a part ir de um suf ixo de or igem do aumentat ivo
português. Essas f ormações atest am a percepção do f alant e da semântica
dos dados de input, de N3, cuja noção aumentativa f oi neutr alizada.
5 . 3 .4 . 14 (X ) A
[(X ) A + a s k u ] N [ + a b s t r a t o ]
2 pusturasku elegância 1 1
rapasku rapasiñu
2 juventude 1 2 rapas 211
rapasisi
Total de 10 formações em –asku de N2 totalizando 28 ocorrências
No português, o suf ixo –asco tem como alomorf es -isco, -esco, como
em chuvisco e parentesco. Essa alomorf ia, segundo Houaiss ( 2001), é
motivada por f atores f onéticos, em um movimento de harm onia vocálica. O
f ato é que a interpr etação dada pelo f alante para suf ixos não produt ivos na
língua é sempre contestával. Ou seja, seria mesmo uma f orma complexa
para o f alante? Esse é o caso do suf ixo –asco no portug uês. Um dado
importante é que, mesmo sendo um suf ixo não produtivo atualmente, a
datação sugere uma produtividade nos séculos XV e XIV 46, época de grande
importância a f ormação do cr ioulo guineense, o que pode ter impulsionado o
reconhecim ento do f alante cr ioulo da est rutura interna das f ormas em –asco
nas palavr as do port uguês. A ocorrência nos dados guineenses sempr e em
N2 at esta que o estatuto gramatical do –asku no guineense é parte d o
conhecimento do f alante. A percepção f onética do suf ixo teve como
46
Basco, séc. XIV; casco, séc. XIV; penhasco, séc. XV; carrasco, séc. XVI
226
ref erência o alçamento da vogal átona f inal, de asco asku, que assum iu
uma identidade f onética própria no guineense com a regra (X)A [(X)A + asku]N.
- D en b as iñ u i k a d i s a Ba F o d e k a b a nt a k un b er s a.. ..
‘Denbasiñu não deixa os familiares de Fode dar um fim à conversa’
- I t en b a u n m o nt i ad ur n a G a n F o d e b a , mo n ti a d or s u ma i k a t en .. .
‘Havia um caçador na terra do Fodeba, um caçador como não havia outro igual’
Kihm (1994, p. 129) também af irma que gan está lexicalizado e sua
ocorrência aparece nessas f ormas lexicalizadas, não sendo, portanto
produt ivo na língua. Diante da lexicalização, a condição de morf ema
gramatical não é mais válida para a argumentação acerca de seu estatuto de
af ixo. Quanto ao ba e ao gan, o conteúdo semântico os insere mais no
campo dos morf emas lexicais, porém seu comportamento m orf ológico é de
f orma livr e. Cont udo, esse comportamento parece apontar mais para uma
f orma dependente que para uma f orma presa, visto que não se pr endem
f onologicamente às suas bases. Outro argumento é de que não
desempenham apenas uma f unção gramatical, mas há aí uma conjunção de
signif icados lexicais, o que aponta par a um processo mais no campo da
composição que da der ivação pr opr iamente dita. Talvez essa condição
lexical de ba e gan estar ia se neutralizando, em f avor de um a
gramaticalização como pref ixo e essa discussão se deve ao f ato desses
processos se encont rarem em um estado de transição no continuum entre a
composição e a der ivação.
A outra part ícula r econhecida como pr ef ixo por Scantambur lo, mas não
por Kihm (1994) e Couto (1994, 2002) é a negativa ka. Segundo Kihm (1994,
228
p. 47) o ka or iginou-se da f orma reduzida de nunca do português. Essa
f orma teria apagado a primeira sílaba, que era a sílaba tônica, (nun) e
mantido a segunda sílaba átona na f ormação (ka). Essa part ícula tem
estatudo de f orma livr e no guineense. Sua ocorrência como um pref ixo
aparent e se dá em kabali ‘sem valor ’ e seus respect ivos derivados, como:
kabalindadi e kabalidu. Trata-se de uma f orma lexicalizada, na qual se pode
questionar a análise dessa f orma como complexa, isto é, até que ponto o
f alante reconhece o processo de composição na estrutur a dessa palavra?
2 43
5% 1 11% 50
3% 13%
35 307
92% 76%
N1 N2 N3 N1 N2 N3
3 disabidu desavisado 4
3 disalmadu desalmado 1 alma? 79
3 disanima desanimar 2 anima 1 disanimadur
3 disaparsi desaparecer 5 parsi 72
3 disasosegu desassossego 1
3 disavensa desavença 2 3
3 diskontrola descontrolar 2 kontrola 3
3 disenpeña desempenar 1
3 disenvolvi desenvolve 4 involvi SC
3 disgustu desgosto 2 18
3 disarma desarmar 1 arms 22
3 disinganal desenganar 1 ngana 32
3 disingata desengatar 1 ngata 11
3 disinkamiñadu desencaminhado 2
3 disinpeña desempena 1
3 disintendimentu desentendimento 2 intendimentu 4
3 disintera desenterrar 2 ntera 27
3 disintindi desentender 1 ntindi 63
3 diskansa descansar 4 55 kansa 157
3 diskarga descarregar 3 10 karga 107 karganta
3 diskarna descarnar 1
diskasa Kasmaenti,
3 descasar 1 Kasa 813
kasada
3 diskaska descascar 1 kaska 27
3 diskorado descorar 1
3 diskuda descuidar 33 kuda 101
3 diskulpa desculpar 19 kulpa 8
3 diskunfia desconfiar 3 18 kunfia 1 diskunfiansa
3 diskunusidu desconhecido 2 Kuñusidur SC
3 disligadu desligado 1 ligadu 1
3 dismanca desmancha 7 53
3 dismara desamarrar 3 19 mara 118
3 dismeresi desmerecer 1 meresi 2 meresimentu
3 disparsi desaparecer 2 4 parsi 72
3 dispindra despendurar 4 7 prinda 11
3 distapa destampar 2 4 tapa 19
Total de 35 palavras em dis- N3 totalizando 307 ocorrências
2 diskisi esquecer 50
Apenas 1 palavra em dis- N1 com 50 ocorrências
No único dado classif icado como N2 pode-se obser var uma noção clara
da semânt ica do dis-. Embora tenha um a base de regra que não acont ece
com palavra no guineense, tampouco no português, mas f oneticamente é a
mesma base pr esa que o correspondente português esquecer . Como explicar
que esse dado não é um dado N3 que veio emprestado do português? Kihm
(1994, p. 271) considera como or iginár io de esquecer do por tuguês que teve
a primeira sílaba “ remotivada”. Pode-se entender essa remotivação como
uma reestrururação f onética, cont udo, não se pode negar que ela “remot ivou-
se” no sentido de m arcar a semânt ica de “desf azimento” com a pref ixação do
dis-. Essa análise é relevante na medida em que aponta para o
reconhecim ento da noção gramatical e da f ormulação da regra para o
f alante. Tanto que pode gerar também os dados de N1, expostos abaixo.
232
AFIXOS GUINEENSES
mais derivacional
-siñu (X)N [(X)N + -siñu]N produtivo
que flexional
único que não veio
-ntV/ndV (X)V [(X)V + -ntV/ndV]V[+causatividade] produtivo
do português
sem semântica de
-on (X)N [(X)N + -on]N não produtivo
aumentativo
único prefixo
dis- (X)V/N [dis- +(x) V/N]V/N não produtivo
CONCLUSÃO
REF E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S
AD A M , Luc i e n. L es id i o me s n é g r o - a r ye n et ma lé o - a r ye n : E s sa i d 'h ib ri d o l o g i e
lin g u i st i q u e. Par is : M a is o n ne u v e, 1 8 83 .
A LM A D A, An dr é Á l v ar es . T rat ad o Br ev e d o s ri o s d e G u in é d o C ab o Ve rd e,
L is b o a: E d i tor i a l L. l . A. M. , 1 96 4.
AN DR É .H i l de br a nd o. G r am át i c a ilu st r ad a. 4 e d. S ã o P a ul o : M od e r na . 1 99 0 .
AR A NH A , M ar ia Luc i a de Ar r ud a, M ART IN S , Ma r i a H e le n a P ir es . F i lo s o f a n d o :
in t ro d u ç ão à f i lo so f i a. 3 ed . S ão P au l o: M od er n a, 2 0 03 .
AR N AU L D, A nt o i ne . L AN C ELO T C l a ud e. G r am át ic a d e Po rt - R o yal: g r am át ic a
g e ra l e r az o ad a. 1 ed . ( br as i le ir a) . S ão Pa u l o: M ar t ins F on tes , 1 9 9 2.
AR O NO F F , M ar k . W o r d f o rm at io n in g en er at iv e g r am ma r . Cam b r i dg e: T h e MIT
Pr es s , 1 9 76 .
AU G EL , M oem a P ar en te . No k a p ad i t ap a s o l ku mo n : o cr io u lo g u in e en se co mo
lín g u a l it er á ri a. i n: P A PI A , 1 0. B r as í li a : E d i tor a U n B / T h es a ur us , 20 0 0. p p . 5- 22 .
AZ E R EDO , J os é Car l o s d e. F u n d a m en t o s d e g r am át ic a d o p o rt u g u ê s. R i o d e
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