Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da GS&MD – Gouvêa
de Souza
O Food Service, setor que engloba todas as atividades que envolvem
transformação, preparação e serviço de alimentos prontos para consumo fora ou dentro do lar, deverá atingir um faturamento de R$ 181,1 bilhões em 2010, que significa um crescimento de 88% em relação a 2005. Com mais de 140 mil estabelecimentos, é um dos setores com maior expansão de negócios no varejo brasileiro. E muito acima da média mundial. Esse setor já representa mais de 31% do total das despesas com alimentos dos brasileiros, segundo os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE. Nas principais capitais da região Sudeste, porém, se aproxima dos 40%, número próximo do mercado norte-americano, o maior do mundo, com mais de um milhão de estabelecimentos e faturamento previsto de US$ 584 bilhões em 2010, segundo dados da Technomic, principal empresa de estudos e pesquisas do setor naquele país. O Food Service, equivocadamente, sempre foi caracterizado no Brasil como o setor que cuidava do abastecimento dos transformadores, que inclui restaurantes, empresas de catering, bares, lanchonetes, fast food, dogueiros ou similares, delivery etc. No mercado internacional, o conceito de Food Service é mais amplo, para incluir também as atividades desses transformadores, porém de forma ampliada, para incorporar tudo o que é preparado fora do lar para ser consumido fora ou dentro das residências. Nesse contexto, tudo que é oferecido nos super e hipermercados, nas suas delicatessen e nas lojas de conveniência, deveria ser também incluído, o que não acontece no cálculo do setor no Brasil. Essas atividades deverão crescer muito nos próximos anos, por conta de uma crescente demanda do mercado. As maiores motivações para o crescimento recente do setor no Brasil estão ligadas a questões econômicas e sociais. De natureza econômica é a evolução do emprego e da renda, que colocou mais dinheiro no mercado e fez aumentar a parcela de alimentos comprados prontos ou semiprontos para consumo externo ou nas residências. No período de 2005 a 2010 só a renda per capita dos consumidores aumentou 31%, como resultado da forte expansão econômica vivida pelo país. Mas o forte crescimento da massa salarial trouxe uma profunda transformação na pirâmide sócio-econômica, com a expansão das classes médias emergentes, os segmentos B2/C, que representavam 50% da população em 2003 e agora, em 2010, passaram a representar 68,1%. No mesmo período, a classe D, que representava 31% da população, teve sua participação reduzida para 17%. Essa migração de classes trouxe consigo a migração de hábitos e atitudes, que, conjugadas com o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho (já representam quase que 41% do total); mais tempo despendido fora de casa, em especial nas grandes cidades; e uma forte demanda por mais conveniência, estão redesenhando todo o negócio de compra e consumo de alimentos no Brasil. Ao mesmo tempo em que crescia e mudava a demanda, a oferta do mercado se reestruturava, como causa e consequência desse processo. Aumentava a área de alimentos preparados nos super e hipermercados; nos hotéis e também nas lojas de conveniência; novas redes e novos estabelecimentos; bares, restaurantes, lanchonetes e fast food se incorporavam ao mercado. Aumentam a profissionalização e a formalização do setor. Novos operadores internacionais chegaram ao mercado. Iniciou-se um processo de consolidação, como resultado da formalização e profissionalização, além da entrada de novos players vindos do mercado financeiro, como é o caso da Advent com aquisição do Grupo Viena, da RA e seus projetos de expansão. A recente aquisição mundial da rede Burger King por um grupo de empresários e investidores brasileiros, é apenas mais um elemento nesse processo de transformação. Concomitantemente, os fornecedores de produtos e serviços para o Food Service também reestruturaram seus negócios para atender a demanda que batia à porta, como acontece com a Martin Brower, no setor de logística e abastecimento; com a Ecolab na área de higiene e limpeza; com as empresas de software e sistemas de vendas e controle; com as empresas de arquitetura e design; bem como agências de comunicação. A realidade é que o setor vive um processo revolucionário de transformação que está ainda muito longe de sua maturidade em seu ciclo de vida. Não é por outra razão que, no mercado internacional, mais supermercados estão migrando para incorporar a operação de redes de restaurantes e ampliando significativamente em suas lojas o espaço destinado aos alimentos prontos. E, de outro lado, redes de restaurantes ampliam os serviços de delivery e catering. Nos próximos anos, veremos uma maior migração da compra de alimentos e produtos para preparo em caso para outros, já prontos ou semiprontos, para consumo no lar, escritório, hotéis, hospitais, escolas, empresas de foram geral e nos pontos de tráfego, como estações rodoviárias e ferroviárias, metrô, aeroportos etc, redesenhando de forma estrutural e marcante o mercado. Não há muito tempo a perder para quem quer estar no setor e muito menos para quem já está no setor. Nenhum segmento cresce 88% em receitas em apenas seis anos impunemente.