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- O que deseja, jovem Rei?

– disse A Vidente, que era conhecida por servir a corte real de


Jasmim por muitas gerações, jamais errando suas predições.

- Os ossos não lhe disseram? – Riu ele, O Rei. Vestia suas roupas reais, como todo Senhor de
grandes terras. A coroa de prata com três pedras entalhas em sua fronte era sinal de que era o
terceiro ao trono, pois em Jasmim, a sucessão andava até o terceiro Senhor e após sua morte,
seu filho ganhava o título de Rei Primeiro, até ao terceiro, como dizia os costumes.

A Velha sentava ao chão, em cima de uma pele de cordeiro, com ossos. Ao seu lado esquerdo,
tábuas com inscrições em línguas antigas, desconhecidas ao povo comum. A sua direita,
poções, das mais diversas cores e propósitos. Alguns diziam que ela fizera um de seus servos
virar um corvo, quando este pediu por uma graça especial. A Vidente não era apenas uma
adivinha, mas uma feiticeira poderosa. Tudo isto sustentado em sua velha casa, as poções em
prateleiras de madeira, as tábuas pregadas na parede.

- Os ossos não, mas as bocas fofoqueiras sim – riu ela. A Vidente e o Rei eram amigos, mas a
forma de se comunicar era formal e ás vezes, sarcástica.

- Vi seu corvo espreitando os palácios reais, fofoqueiro mesmo, como o corvo do Caolho – ele
se sentou no chão, colocando seu manto ao lado. Ele retirou de seu bolso um longo tubo de
vidro, com uma pena dentro e deu-lhe a feiticeira. – Pena de um pássaro aquático, retirado do
vale espiritual do Reino de Ran. Não foi fácil conseguir, mas é seu.

- Finalmente! É difícil conseguir isto pelo mercado comum. – Ela se levantou, examinou a pena,
cheirou-a e a retirou do tubo com um gesto gentil no ar e a pena levitou até o caldeirão de
ferro, fervilhante, entre a fogueira que o aquecia. Mas o fogo não era vermelho, era azul.

- O que o Rei não pode negociar, não é? – olhou ele, atento ao que ela fazia no caldeirão. – Pra
que usa esse cúrio? As bruxas da cidade natal usam pena de unicórnio pra quase tudo, até pra
maldições. E olha que unicórnios são os seres mais puros do reino.

- Um pássaro aquático tem a essência Dela, e isso adiciona muito mais poder as minhas
poções. Está mesmo que está vendo, será para um cliente. Metamorfose para entrar nos
reinos escondidos. Com a essência Dela os guardiões não o percebem, Senhora do Oculto. –
Ela piscou pra Ele, voltando ao seu lugar, depois de mexer o caldeirão enquanto explicava. Ran
era a Deusa dos oceanos e do oculto, dizia as lendas que era Senhora da Morte e que
controlava as tempestades e a magia do mar. Todos os animais marinhos e seres mágicos
obedeciam a Ela. Amiga de Sedna, alguns diziam. A Feiticeira nunca dizia seu nome, poderia
atrair a atenção da Deusa, afinal, ela morava perto do mar.

Ela pegará os ossos, mas estes eram diferentes. Eram brancos, mas pareciam reluzir. Trouxe
também de uma das prateleiras um baralho de cartas, cada um com uma figura diferente.
Primeiro ela pegou os ossos, enquanto os chacoalhava, passou sobre as mãos do Rei e lançou a
sua frente. Os ossos formaram um padrão comum, como quando se atira um amontoado de
coisa, mas para ela, aquilo era uma resposta direta. Atenta aos resultados, séria, pegou seu
baralho e embaralhou, soprou três vezes e retirou três cartas, nas bordas, escrito em cada
carta: Alta Sacerdotisa, Morte e quatro de espadas.
- Os ossos o alertam de que Jasmim não está devidamente protegida, seus encantos irão
passar facilmente por Ele, a não ser que use magia ancestral. – O rei apenas ouvia – Mostram
além, muitos irão dar as costas para você, mas que amigos poderosos irão se aliar a ti. As
cartas revelam que Ele irá acordar em breve, com todos seus poderes estabelecidos e a
maldição quebrada. A Morte virá com ele, roubando o que tanto ama. Não há o que fazer
mais, você demorou.

- Tem certeza? Todo tempo é precioso. Não poderia saber que um ser ancestral de milhões de
anos poderia acordar agora. Ele estava sob maldições da Senhora da Névoa, não há o que fazer
para quebrar e ele está dormindo, isso não faz sentido.

- As maldições, amigos, duram até certo ponto, até eu sei disso. Milhões de anos, ela
certamente está fraca. Se um de vocês for até seu local e reestabelecerem a maldição maldita,
suas chances melhoram. Mas é arriscado demais fazer isso, ele está vivo e consciente. – A
Vidente, pegou todos os ossos e guardou, mas de seu bolso pegou um outro jogo de ossos,
mas desta vez, eles eram negros, como a noite. Ela murmurou algo em cima deles e os jogou
com força ao chão.

- Reforce sua maldição com uma cerimônia a distância, com magia de tempo, irá dar na
mesma. Aviso que as chances de dar errado são grandes, mas caso consiga, ele poderá ser
amaldiçoado por milhões e milhões de anos, agora que Jasmim está em todo seu poder. Assim
como ele, você precisa resgatar os poderes que sua linhagem tem.

- Pelo que sei, isso são lendas. Todo o poder é passado pela coroação, ao novo Rei

- Jovem Rei, eu servi a muitos senhores e sei que quando os ossos dizem, não a outra verdade.
Um dos Reis de sua linhagem, me revelou que a linhagem real tem um grande poder a nível
ancestral, que foi guardo por um ser mágico criado apenas para este propósito. Por ser tão
grande e por não haver mais guerra, não havia necessidade de usá-lo e por isso ele fora
guardado. Encontre e recupere. Tana, a Deusa da riqueza e do conhecimento sabe aonde está,
converse com ela.

- Irei procurar sobre isso. Ela certamente não irá revelar de primeira, mas...

- Não é uma brincadeira o que iremos enfrentar. Até os jogos de Tana tem limite, Senhor. Em
meio a essas revelações, acho melhor voltar a Jasmim e ao palácio real. Está ilha é cercada de
muitos feitiços, mas não me arrisco, aqui há muita coisa para dar ainda mais poder e
conhecimento para O Sem Face. Posso ajudá-lo com a busca.

- Certo, voltaremos a Jasmim e iremos falar com Tana, assim que possível.

- Então, vamos. – E A Vidente ao traçar um símbolo com seus dedos, abriu um grande portal,
pegou algumas coisas e retornou ao velho lugar que conhecia. Mas o curioso fora que, os
ossos negros, após serem jogados com força ao chão, não se espalharam, mas formaram a
tênue figura de um rosto, marcado com densas cicatrizes.

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