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Aula 5: Questões e processos incidentes ......................................................................................

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Introdução ............................................................................................................................. 2
Conteúdo................................................................................................................................ 3
Os incidentes processuais: conceito e espécies.......................................................... 3
As questões prejudiciais ................................................................................................... 4
A primeira classificação das questões prejudiciais ..................................................... 4
Dos processos incidentes................................................................................................. 7
Das exceções ...................................................................................................................... 7
Espécies de exceções ........................................................................................................ 8
Exceção de incompetência .............................................................................................. 9
Exceção de litispendência .............................................................................................. 10
Exceção de coisa julgada ............................................................................................... 11
Exceção de ilegitimidade de parte ............................................................................... 13
As questões de natureza acautelatória ....................................................................... 14
As questões tipicamente probatórias .......................................................................... 18
Incidente de insanidade mental ................................................................................... 19
Atividade proposta .......................................................................................................... 22
Referências........................................................................................................................... 24
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 24
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 30
Aula 5..................................................................................................................................... 30
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 30

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 1


Introdução
Nesta aula, no contexto de um sistema processual garantista, serão estudadas
as situações de natureza tipicamente preliminar, acautelatória e probatória,
suscitadas no curso da ação penal, de modo a diferenciar as questões
preliminares, que impedem ou impossibilitam a decisão sobre a questão
principal, e as questões prejudiciais, que, ao contrário, não impedem, mas
condicionam o conteúdo da questão principal.

Tal estudo terá por balizas o respeito aos princípios informadores do processo
penal, a garantia das partes e do justo processo mediante o reconhecimento da
indisponibilidade dos direitos e garantias processuais do acusado.

Objetivo:
1. Identificar o que são questões e processos incidentes no processo penal.
2. Estudar quais são as questões e processos incidentes no processo penal.

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Conteúdo

Os incidentes processuais: conceito e espécies


Antes de adentrarmos no estudo mais detalhado e pormenorizado das questões
prejudiciais e dos processos incidentes, devemos trabalhar um conceito de
incidente processual.

De forma bastante resumida, podemos conceituar os incidentes processuais


como sendo todas aquelas controvérsias que, eventualmente, esporadicamente,
podem surgir no curso de uma ação penal e que, forçosamente, deverão ser
enfrentadas/decididas pelo juiz antes da causa principal. Os incidentes
processuais serão aqueles eventos que provocarão necessariamente alguma
alteração no trâmite do processo, ou seja, afetarão a normalidade
procedimental.

Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (2012, p. 315) explicam que


questão incidente vem a ser um fato que pode acontecer no curso do
procedimento e que deve ser decidido pelo juiz antes de enfrentar o mérito da
causa. Por força disso, diz-se que se trata de uma questão prévia, pois o exame
do mérito depende do seu desfecho. As questões incidentes são eventuais e
não obrigatórias, ou seja, não necessariamente aparecerão em qualquer
processo.

Os incidentes processuais, em nosso ordenamento jurídico, são os seguintes: as


questões prejudiciais (Artigos 92 a 94 do CPP), as exceções (Artigos 95 a 111
do CPP), as incompatibilidades e impedimentos (Artigo 112 do CPP), o conflito
de jurisdição (Artigos 113 a 117 do CPP), a restituição de coisas apreendidas
(Artigos 118 a 124 do CPP), as medidas assecuratórias (Artigos 125 a 144 do
CPP), a arguição de falsidade documental (Artigos 145 a 148 do CPP) e a
insanidade mental do imputado (Artigos 149 a 154 do CPP).

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As questões prejudiciais
O que são as questões prejudiciais?
São todas aquelas questões de valoração jurídica, seja de direito penal, seja
extrapenal, que devem ser decididas antes da questão principal (chamada de
prejudicada), cuja decisão depende a solução da questão principal posta em
juízo. São características das questões prejudiciais:

A anterioridade, posto que a questão prejudicial deve ser julgada antes da


prejudicada, isto é, da questão principal. Ela é um antecedente da prejudicada,
ou “não haveria falar em prejuízo”.

Atenção
A necessariedade, o que significa que, sem a decisão da questão
prejudicial, não é possível resolver a questão principal.

A autonomia, isto é, seu conteúdo pode ser objeto de ação autônoma.

A primeira classificação das questões prejudiciais


As questões prejudiciais apresentam algumas classificações que serão por nós
agora estudadas. A primeira classificação é quanto ao mérito ou natureza da
questão. Por esta classificação, as questões prejudiciais são chamadas de
homogêneas (comuns ou perfeitas) ou heterogêneas (perfeitas ou
jurisdicionais).

Homogêneas
As homogêneas são aquelas que pertencem ao mesmo ramo do direito da
questão principal ou prejudicada, que é penal e, portanto, necessariamente
serão decididas por um juiz criminal. Exemplo de questão prejudicial
homogênea é a decisão acerca da exceção da verdade em crime de calúnia, ou

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a decisão acerca de um crime contra o patrimônio como antecedente do crime
de receptação.

Heterogêneas
As heterogêneas vinculam-se a outras áreas do direito que não o penal,
devendo ser decidida por outro juízo, v.g., decisão sobre posse, na esfera cível,
antes de decidir a respeito do crime de esbulho possessório. Outro exemplo
seria a alegação como defesa na ação penal por crime contra a propriedade
imaterial, da nulidade da patente ou do registro em que se fundar a aludida
demanda.

Atenção
A segunda classificação das questões prejudiciais que vamos
estudar é quanto ao efeito e, sobre este aspecto, falaremos em
questões prejudiciais obrigatórias ou necessárias e questões
prejudiciais facultativas.

As prejudiciais obrigatórias ou necessárias, previstas no Artigo 92 do CPP, são


aquelas que versam sobre estado civil das pessoas e, necessariamente,
provocam a suspensão do processo principal até o trânsito em julgado de sua
decisão.

Já as prejudiciais facultativas, previstas no Artigo 93 do CPP, são aquelas que


versam sobre matéria extrapenal, mas que não seja estado civil das pessoas,
gerando para o julgador da causa principal uma mera faculdade de suspensão
do feito, segundo seu prudente arbítrio.

A terceira e última classificação que estudaremos é aquela elaborada em função


do juízo competente para resolver a questão prejudicial, e que se apresenta da
seguinte forma:

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(i) Questões prejudiciais devolutivas absolutas: são aquelas que somente
podem ser solucionadas por órgãos jurisdicionais civis. O juiz penal é
obrigado a remeter a prejudicial à jurisdição cível e somente dará
prosseguimento à ação penal depois que a questão tenha sido resolvida
em caráter definitivo.
(ii) Questões prejudiciais devolutivas relativas: são aquelas que podem ser
solucionadas no juízo extrapenal, de acordo com a discricionariedade do
juiz penal.
(iii) Questões prejudiciais não devolutivas: são aquelas que necessariamente
devem ser solucionadas pelo próprio juiz criminal.

Importante destacarmos, de acordo com o disposto no Artigo 116 do CP, que


enquanto pendente a decisão da questão prejudicial, não corre o prazo
prescricional da pretensão punitiva.

Em se tratando de questão prejudicial obrigatória, na hipótese de as partes se


desinteressarem pelo andamento da ação no juízo cível, paralisando o processo
penal por bastante tempo, contrariando princípios de política criminal,
assegura-se ao Ministério Público (desde que se trate de crime de ação penal
pública), legitimidade extraordinária para promover a ação civil ou prosseguirá
na que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados. Esta regra está
prevista no parágrafo único do Artigo 92 do CPP.

Caso se trate de questão prejudicial facultativa, na hipótese de as partes se


desinteressarem pelo andamento da ação no juízo cível, paralisando o processo
penal por bastante tempo, contrariando princípios de política criminal,
assegura-se ao Ministério Público (desde que se trate de crime de ação penal
pública), legitimidade extraordinária para prosseguir na ação que já tiver sido
iniciada. Esta é a regra do Artigo 93, §3º, do CPP.

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Dos processos incidentes
Seguindo as lições do eminente Eugênio Pacelli de Oliveira, podemos classificar
os processos incidentes consoante se discuta:

“Questões tipicamente preliminares (exceção de suspeição, incompatibilidade e


impedimento, exceções de incompetência do juízo, de litispendência, de
ilegitimidade de parte e de coisa julgada, e o conflito de jurisdição), que devem
ser resolvidos antes do exame do mérito da ação penal”;

“Questões de natureza acautelatória, de cunho patrimonial, sem maiores


interferências na solução do caso penal (restituição de coisas apreendidas,
medidas assecuratórias – sequestro, arresto e inscrição da hipoteca legal)”;

“Questões tipicamente probatórias, seja no âmbito da aferição da culpabilidade


(incidente de insanidade mental), seja no da materialidade do delito (incidente
de falsidade documental)”.

Das exceções
A exceção, em sentido amplo, compreende o direito público subjetivo do
acusado em se defender, ora combatendo diretamente a pretensão do autor,
ora deduzindo matéria que impede o conhecimento do mérito, ou, ao menos,
enseja a prorrogação do curso do processo. Em sentido estrito, a exceção pode
ser conceituada como o meio pelo qual o acusado busca a extinção do processo
sem o conhecimento do mérito, ou tampouco um atraso no seu andamento.

As exceções são tidas como as defesas indiretas apresentadas por qualquer das
partes, como o intuito de prolongar o trâmite processual, até que uma questão
processual relevante seja resolvida, bem como com a finalidade de estancar,
definitivamente, o seu curso, porque processualmente incabível o
prosseguimento da ação.

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No processo penal brasileiro, as exceções podem ser peremptórias, que são
aquelas que, quando acolhidas, põem termo à causa, extinguindo o processo
(exemplos: exceções de coisa julgada e litispendência), ou dilatórias, que são
aquelas que, quando acolhidas, acarretam única e exclusivamente a
prorrogação no curso do processo, procrastinando-o, retardando-o ou
transferindo o seu exercício (exemplos: a suspeição e a incompetência).

O rol das exceções está previsto no Artigo 95 do Código de Processo Penal: a)


suspeição; b) incompetência do juízo; c) litispendência; d) ilegitimidade de
parte; e) coisa julgada. Tais exceções, que, a partir de agora, serão objeto de
nosso estudo, são, em verdade, mecanismos que obstaculizam o transcurso
normal do processo, paralisando-o provisoriamente ou encerrando-o por
definitivo.

Espécies de exceções
Exceção de suspeição – Artigos 96/107 do CPP: seu fundamento é a falta
de imparcialidade do juiz, ou seja, diz respeito a fatos e circunstâncias
subjetivas, que, de alguma forma, poderão afetar a imparcialidade do julgador
na apreciação do caso concreto.

Em nosso ordenamento jurídico, considera-se o juiz suspeito nas hipóteses


previstas no Artigo 254 do CPP. Devemos observar, contudo, que, embora a
matéria seja de direito estrito, somente podendo ser invocadas as hipóteses
previstas na lei, admite-se, tranquilamente, que o juiz criminal se dê por
suspeito também por motivo de foro íntimo, muito embora esta hipótese não
esteja prevista no CPP. Na verdade, para chegarmos a tal entendimento, deve
ser feita uma aplicação por extensão da norma do parágrafo único do Artigo
135 do CPC, consoante regra do Artigo 3º do CPP.

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Atenção
A suspeição pode ser reconhecida de ofício pelo próprio
magistrado (Artigo 97 do CPP) ou suscitada por qualquer das
partes sob a forma de exceção, observando-se o procedimento
previsto entre os Artigos 98 a 101 do CPP, sendo que esta
sempre deve preceder às demais, nos termos do Artigo 96 do
CPP, salvo quando superveniente.
Devemos observar que podem ser exceptos os magistrados, os
membros do Parquet, os peritos, intérpretes, funcionários da
justiça, serventuários e os jurados. Não se admite, entretanto,
exceção de suspeição contra as autoridades policiais.

Exceção de incompetência
A exceção de incompetência (exceptio incompetentiae ou declinatoria fori),
reconhecida também como defesa indireta, é aquela em que a parte pode
interpor contra o juízo, alegando sua incompetência para julgar o feito,
fundamentada no princípio constitucional do juiz natural.

Devemos lembrar que, embora todo magistrado possua jurisdição, a


delimitação do seu exercício é dada pelas regras de competência, sejam
constitucionais ou legais, que devem ser respeitadas. Não fosse assim, qualquer
juiz decidiria qualquer matéria, infringindo-se o espírito da Constituição, que
garantiu expressamente a divisão dos órgãos judiciários, cada qual atuando na
sua esfera de competência.

A competência pode ser absoluta ou relativa. Em se tratando de incompetência


relativa, esta, se não reconhecida de ofício pelo magistrado, deve ser alegada
no prazo da defesa inicial, sob pena de preclusão e prorrogação da
competência. No entanto, em relação à incompetência absoluta, poderá ser
arguida a qualquer tempo.

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A exceção poderá ser oposta pelo réu, querelado e Ministério Público, quando
este atue como fiscal da lei. Todavia, segundo a melhor doutrina, não pode ser
arguida pelo autor da ação.

O procedimento da exceção corre da seguinte forma: é oposta junto ao próprio


juiz da causa; pode ser arguida verbalmente (reduzida a termo) ou por escrito;
o juiz mandará autuar em apartado; o Parquet deve ser ouvido a respeito da
exceção, contanto que não seja ele o proponente; posteriormente, o
magistrado julga a exceção. Sendo esta julgada procedente, os autos são
remetidos ao juiz competente e, sendo julgada improcedente, o magistrado
continuará atuando no feito.

Caso juiz acolha os argumentos do excipiente, remeterá os autos do juízo


considerado competente. Se este não acolher os motivos do magistrado que lhe
encaminhou os autos, suscitará conflito negativo de competência. Todavia, se
aceitar, deverá renovar os atos decisórios porventura praticados, ratificando os
demais e determinando o prosseguimento do feito.

O acolhimento da exceção, ou seja, considerando-se incompetente o juiz,


propicia a qualquer das partes a utilização de recurso em sentido estrito, com
base no Artigo 581, II, do CPP. A não aceitação faz com que o juiz seja mantido
no processo, entendendo-se, majoritariamente cabível, nesta hipótese, a
de habeas corpus, na medida em que configuraria constrangimento ilegal ao
réu ser julgado por magistrado incompetente. Outra solução, ao invés do
habeas corpus, seria deixar a alegação para ser discutida como preliminar de
futura e eventual apelação.

Exceção de litispendência
A litispendência se verifica quando duas ações estão em curso ao mesmo
tempo, tratando da mesma causa de pedir e tendo mesma parte ré. A
litispendência é uma exceção peremptória, extinguindo o processo sem
julgamento meritório (absolvição de instância), e o ponto fundamental a ser

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indagado para seu reconhecimento são os fatos atribuídos ao réu, pouco
importando a qualificação jurídica dada a eles.

Assim, no processo penal, a litispendência se verifica sempre que a imputação


atribuir ao acusado, mais de uma vez, em processos diferentes, a mesma
conduta delituosa. Fundamenta-se no princípio de que ninguém pode ser
julgado duas vezes pelo mesmo fato: princípio do non bis in idem.

Podem as partes impetrar a exceção de litispendência a qualquer tempo, pois,


como ocorre no caso de incompetência absoluta, a matéria não preclui, diante
do interesse público envolvido.

Atenção
Há, também, possibilidade de declaração de ofício pelo juiz,
evitando-se que o réu enfrente duas ações idênticas
simultaneamente. Para a escolha de qual deve prevalecer, são
levados em consideração os critérios da prevenção ou da
distribuição.
O procedimento a ser observado na exceção de litispendência é
o seguinte: em petição à parte, argui-se a exceção, podendo
fazê-lo qualquer das partes, sempre determinando o juiz a oitiva
da outra. Admite-se a suscitação verbalmente, também, embora
seja raro. Cabe recurso em sentido estrito quando o juiz a
acolher, mas não quando julgá-la improcedente. Entretanto, por
configurar nítido constrangimento ilegal o andamento
concomitante de duas ações penais, é cabível o habeas corpus
para trancar uma delas.

Exceção de coisa julgada


É a defesa indireta contra o processo visando à sua extinção, tendo em vista
que idêntica causa já foi definitivamente julgada em outro foro. Ninguém pode

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ser punido ou processado duas vezes pelo mesmo fato, razão pela qual,
havendo nova ação, tendo por base idêntica imputação de anterior já decidida,
cabe a arguição de exceção de coisa julgada. Assim como na litispendência, seu
fundamento repousa no princípio do non bis in idem.

A coisa julgada, que nada mais é que a tradução da expressão latina res
judicata, trata-se de uma qualidade dos efeitos da decisão final, marcada pela
imutabilidade e irrecorribilidade. Podem ser diferenciadas a coisa julgada formal
e a coisa julgada material.

A coisa julgada formal reflete a imutabilidade da sentença no processo onde foi


proferida, que encerra o processo sem julgamento do mérito; tem efeito
preclusivo, impedindo nova discussão sobre o fato no mesmo processo. Na
coisa julgada material, em que ocorre o julgamento do mérito, existe a
imutabilidade da sentença que se projeta fora do processo, obrigando o juiz de
outro processo a acatar tal decisão, ou seja, veda-se a discussão dentro e fora
do processo em que foi proferida a decisão.

A exceção de coisa julgada não é apropriada para pugnar pela ocorrência de


coisa julgada formal. Com efeito, o objetivo da exceção é concretizar a eficácia
da coisa julgada material, impedindo o seguimento de processo idêntico a outro
já findo. Tendo em vista que a coisa julgada formal não impede novo
ajuizamento da ação, não há sentido em admiti-la nessa hipótese.

Tem cabimento a exceção de coisa julgada quando verificar-se a identidade da


demanda entre a ação proposta e outra já decidida por sentença transitada em
julgado. Para que se acolha a exceção de coisa julgada, é necessário que a
mesma coisa seja novamente pedida pelo mesmo autor contra o mesmo réu e
sob o mesmo fundamento jurídico do fato.

O procedimento a ser observado na exceção de coisa julgada é o seguinte:


pode ser arguida verbalmente ou por escrito, em qualquer fase do processo e

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em qualquer instância. O juiz deve ouvir a outra parte e o Ministério Público,
caso este tenha sido o autor da alegação. A exceção deve ser autuada em
separado. Se o juiz julga procedente, a ação principal será extinta, e, desta
decisão, cabe recurso em sentido estrito. Se o juiz julga improcedente, a ação
principal continua, e, desta decisão, não cabe recurso específico, mas o
interessado pode impetrar habeas corpus.

Exceção de ilegitimidade de parte


Via de regra, a parte legítima para ajuizar a ação é a detentora da relação
jurídica de direito material. Destarte, o que normalmente se verifica é que
somente quem é titular de um direito pode estar em juízo para defendê-lo, quer
no polo ativo, quer no polo passivo.

A inobservância de tal requisito leva à ilegitimidade de parte, que abrande a


ilegitimidade ad causam (condição da ação) e a ilegitimidade ad
processum (pressuposto processual).

Uma vez reconhecida a ilegitimidade ad causam, o processo é anulado ab initio.


Reconhecida a ilegitimidade ad processum, a nulidade pode ser sanada a
qualquer tempo, mediante ratificação dos atos processuais já praticados.

O procedimento a ser observado na exceção de ilegitimidade de parte é o


seguinte: em petição à parte, argui-se a exceção, podendo fazê-lo qualquer das
partes, sempre determinando o juiz a oitiva da outra. Admite-se a suscitação
verbalmente, embora incomum. Cabe recurso em sentido estrito, quando o juiz
a acolher, mas não quando julgá-la improcedente. Entretanto, por configurar
nítido constrangimento ilegal, o andamento de ação penal, com parte ilegítima,
pode ser impetrado habeas corpus.

O juiz pode, ainda, determinar a exclusão de certo réu, prosseguindo a ação


contra os demais. Em todos esses casos, se anulado o processo desde o início,

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com relação a um ou mais réus, cabe recurso em sentido estrito, pois é o
equivalente a ter sido rejeitada a denúncia ou queixa.

Concluímos, pois, que a exceção de ilegitimidade da parte visa retirar do polo


ativo ou passivo aquele que não apresenta atribuição para tanto. Assim, a título
de exemplo, podemos afirmar que seja o órgão ministerial ao atuar fora de sua
funções legalmente estabelecidas, ou o réu, ao ser-lhe imputado crime nas
hipóteses não cabíveis, é aplicável a exceção de ilegitimidade de parte.

As questões de natureza acautelatória


Dividiremos o estudo das questões de natureza acautelatória em dois
subtópicos: (i) a restituição de coisas apreendidas; (ii) as medidas
assecuratórias. Observe:

(i) Restituição de coisas apreendidas


Como sabemos uma das primeiras atribuições da autoridade policial durante o
inquérito é apreender os objetos que tenham relação com o fato criminoso
(Artigo 6°, II, do CPP). De outro bordo, há também, durante o processo, a
medida cautelar de busca e apreensão (Artigo 240 do CPP). O objetivo desses
procedimentos é, por certo, auxiliar na elucidação do crime. Todavia, uma vez
apreendidos, há que analisar qual destino se dará a esses bens. É desse
assunto que tratam os Artigos 118 a 124 do CPP.

Dentre as coisas apreendidas, poderão ser restituídas, antes de transitar em


julgado a sentença condenatória, aqueles objetos que não interessarem ao
processo. (Artigo 118 do CPP).

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Atenção
Nos outros casos, a restituição se dará apenas com o trânsito em
julgado da sentença (Artigo 119 do CPP), a não ser que se trate
dos chamados bens confiscáveis, nos termos do Artigo 91, II, do
CP, quais sejam: (a) instrumentos do crime, cujo uso, porte ou
fabricação, seja considerado ilícito; (b) produto do crime ou
qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo
agente com a prática do crime. Mesmo nesses casos, a
restituição pode ser feita se os objetos pertencerem ao lesado
ou terceiro de boa-fé.

(ii) Medidas assecuratórias


São providências previstas no CPP, que podem ser adotados no curso do
processo (em algumas hipóteses, até no curso do inquérito policial), que podem
objetivar, em suma: (a) assegurar o direito à indenização da vítima do crime;
(b) o pagamento de eventual pena pecuniária e custas processuais; (c) evitar
que o acusado obtenha lucro com a atividade criminosa.

O sequestro de imóveis ou móveis, a hipoteca legal e o arresto são medidas


assecuratórias adotadas no nosso diploma processual penal. Do sequestro de
imóveis, cuidam os Artigos 125 e ss. do CPP. Mesmo que tais bens se hajam
transferido a terceiros, pouco importando se de boa ou má-fé, ainda assim
podem ser sequestrados. Necessário se torna que sejam os bens adquiridos
com os proventos do crime.

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Atenção
Se alguém comete um crime e, com os seus proventos, adquire
bens imóveis, estes podem ser sequestrados. Falando o Artigo
125 em indiciado, e este só existe na fase do inquérito, dúvida
não há de que tal medida poderá ser tomada mesmo na fase do
procedimento preparatório da ação penal, que é o inquérito
policial. E tanto é verdade que, mais adiante, na segunda parte
do Artigo 127, salienta o legislador que o sequestro poderá ser
ordenado "em qualquer fase do processo ou ainda antes de
oferecida a denúncia ou queixa".

SEQUESTRO: Artigo 125 do CPP. Supõe, necessariamente, que o imóvel ou


imóveis hajam sido adquiridos pelo pretenso culpado com os proventos do
crime, vale dizer, produtos diretos ou indiretos da infração penal. Havendo
indícios veementes da proveniência ilícita do ou dos imóveis do pretenso
culpado, é o quantum satis para autorizar a medida coercitiva de natureza real
consistente no sequestro, que, por óbvio, somente pode ser determinado por
juiz.

Nos termos do Artigo 127 do CPP, a legitimidade para requerer o sequestro é


atribuída ao órgão do Ministério Público, à vítima do crime e à autoridade
policial que estiver à frente do inquérito. Pode, ainda, o juiz,
independentemente de provocação de quem quer que seja, ordenar o
sequestro e desde que já tenha sido instaurada ação penal, sob pena de grave
afronta ao sistema acusatório.

Destacamos que, contra a medida do sequestro, admite-se que possam ser


opostos embargos, meios de defesa que a Lei Processual Penal brasileira
conferiu a terceiro senhor e possuidor (Artigo 130 do CPP) e ao indiciado ou réu
ou ao terceiro de boa-fé (Artigo 131 do CPP).

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Finalmente, de acordo com o disposto no Artigo 133 do CPP, uma vez
transitada em julgado da sentença condenatória, o juiz (penal), de ofício, ou a
requerimento do interessado, determinará a avaliação e a venda dos bens em
leilão público, recolhendo-se do dinheiro apurado – ao Tesouro Nacional, o que
não couber ao lesado ou terceiro de boa-fé.

Hipoteca legal: Esta medida é um instrumento protetivo que incide sobre os


bens imóveis do indiciado ou acusado, devendo ser requerida pelo ofendido,
em qualquer fase, o procedimento denominado de especialização, detalhado no
Artigo 135 do CPP para satisfação do dano causado pelo delito e pagamento
das despesas judiciais.

A especialização da hipoteca legal ocorre mediante requerimento, em que a


parte estimará o valor da responsabilidade civil, e designará e estimará o imóvel
ou imóveis que terão de ficar especialmente hipotecados. Recebido o pedido, o
juiz mandará logo proceder ao arbitramento do valor da responsabilidade e à
avaliação do imóvel ou imóveis.

O juiz ouvirá as partes em dois dias, e em que pese à previsão de que o curso
do mesmo ocorrerá em cartório. Ao final, será proferida decisão, autorizando
somente a inscrição da hipoteca do imóvel ou imóveis necessários à garantia da
responsabilidade.

Arresto: Artigo 137 do CPP. Trata-se de medida assecuratória que recai sobre
bens móveis para a garantia de indenização e despesas, isto é, para que, ao
final do processo, possa ser ressarcido o prejuízo oriundo do dano deflagrado
pelo réu ou por outrem, desde que o acusado não disponha de imóveis
suficientes para garantir a indenização. Por esta razão, podemos dizer que o
arresto é medida de caráter subsidiário e complementar, sendo prioridade a
hipoteca legal sobre bens imóveis, e desde que haja prova do crime e indícios
de autoria.

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As questões tipicamente probatórias
No processo penal brasileiro, são dois os processos incidentes de natureza
tipicamente probatória: o incidente de falsidade documental e o incidente de
insanidade mental do acusado. Começaremos pelo primeiro tópico, observe:

Incidente de falsidade documental


Artigos 145 a 148 do CPP: no caso de haver controvérsia sobre a autenticidade
de um documento, far-se-á um procedimento à parte para constatar a sua
veracidade ou não. Esse procedimento é denominado incidente de falsidade.

Arguida a falsidade documental, o juiz ou relator determinará a autuação em


apartado, com suspensão do processo principal e prazo de quarenta e oito
horas para o oferecimento de resposta da parte contrária.

A falsidade pode ser levantada de ofício pelo juiz ou a requerimento das partes.
Quando feita por procurador, depende de poderes especiais. Tal necessidade é
evidenciada, especialmente, porque o incidente pode apresentar indícios de
crime de quem apresentou o documento e a contrario senso, se improcedente,
pode indicar delito cometido pelo arguente.

Logo em seguida, abre-se o prazo sucessivo de três dias para as partes


produzirem provas, após o que o juiz ordenará as diligências necessárias,
normalmente perícia, e depois sentenciará sobre a falsidade arguida. O
Ministério Público é sempre ouvido, ainda que atue como custos legis.

Caberá ao juiz declarar, na decisão que julgar o incidente de falsidade, se o


documento é falso ou verdadeiro. Caso declare a falsidade do documento,
deverá mandar desentranhá-lo dos autos e remeter cópia do processo incidente
ao Ministério Público.

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Caso declarada a autenticidade do documento, por óbvio, este permanecerá
nos autos do processo. Contra qualquer dessas decisões, é cabível recurso em
sentido estrito.

Destacamos que a decisão que reconhecer a falsidade documental não fará


coisa julgada em prejuízo de ulterior processo penal ou civil, nos termos do
Artigo 148 do CPP. Por conseguinte, um documento pode ser reconhecido falso
em incidente de falsidade, e o réu restar absolvido no processo que se instaurar
em razão do crime de falsidade material ou ideológica.

Por derradeiro, uma última observação acerca desse incidente: se reconhecida


a falsidade do documento, desentranha-se este e determina-se a apuração do
falso, em outro processo, conforme afirmamos acima.

É possível, no entanto, que, ao final, seja na esfera criminal, seja na cível,


verifique-se a inadequação da primeira decisão, entendendo-se ser verdadeiro o
que antes foi acoimado de falso. Se tal ocorrer, nada impede futura revisão
criminal, caso tenha havido prejuízo para o réu.

Entretanto, se o prejuízo tiver sido da acusação, tendo havido o trânsito em


julgado da decisão proferida no processo de onde se extraiu o documento,
nada mais se pode fazer, pois não há revisão pro societate.

Incidente de insanidade mental


Incidente de insanidade mental – Artigos 149 a 154 do CPP: a
culpabilidade, que é o que neste momento nos interessa, se compõe de
imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa e potencial conhecimento da
ilicitude. Pode-se afirmar, em suma, que a imputabilidade é a capacidade de ser
o agente responsabilizado por determinado crime. Para ser imputável, alguém
deve ser capaz de compreender o ilícito e de se comportar de acordo com essa
compreensão.

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 19


A pessoa que não tem esse discernimento e/ou essa liberdade é inimputável, e
a causa dessa inimputabilidade pode advir de doença mental, desenvolvimento
mental incompleto ou retardado (CP, Artigo 26) ou da menoridade (CP, Artigo
28). Este último caso não nos interessa, pois o menor de 18 anos e maior de 12
que cometa crime (chamado de ato infracional) é julgado de acordo com o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o menor de 12 anos não é
responsabilizado.

A pessoa portadora de insanidade mental não pode ser punida, nem


condenada, pois não tem capacidade de se responsabilizar pelos próprios atos.
Pode, porém, ser processada, e, caso o juiz considere que o réu cometeu um
fato típico e ilícito, lhe aplicará uma medida de segurança, espécie de sanção
voltada para a sua cura e tratamento.

Quanto ao semi-imputável, apurado o estado de perturbação da saúde mental,


que lhe retira parcialmente o entendimento do ilícito ou da determinação de
agir, de acordo com esse entendimento, poderá haver condenação, devendo,
no entanto, o juiz reduzir a pena. Eventualmente, também ao semi-imputável,
pode ser aplicada medida de segurança, se for o melhor caminho para tratá-lo.

Podemos, portanto, afirmar que o incidente de insanidade mental é instaurado


quando há dúvidas acerca da integridade mental do autor de um crime. Tal
incidente pode ser instaurado em qualquer fase da persecução, seja durante a
ação penal, seja no inquérito policial.

Acerca do aludido incidente, constatando situação de dúvida sobre a


integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do
Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão
ou cônjuge do acusado, que este seja submetido a exame médico-legal.

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 20


A instauração do incidente pode ter lugar também em virtude de representação
da autoridade policial, além dos legitimados acima, desde que haja fundada
dúvida sobre a sanidade mental de um acusado (ou indiciado).

O procedimento do incidente de sanidade mental ocorre primeiramente com a


determinação pelo juiz da instauração do incidente através de uma portaria,
oportunidade em que o magistrado nomeará um curador ao réu ou indiciado.

O incidente será processado em apartado, e, após a juntada do laudo


conclusivo dos peritos, será apensado aos autos principais. Na forma do Artigo
149, §2º, do Código de Processo Penal, o juiz ordenará a suspensão da ação
principal, ressalvada à possibilidade de realização de atos processuais que
possam ser eventualmente prejudicados. Durante essa suspensão, o prazo
prescricional flui normalmente. Se o incidente é instaurado durante o inquérito
policial em face da ausência de previsão legal, ele não terá o seu curso
suspenso.

As partes serão obrigatoriamente intimadas para que apresentem quesitos ao


perito; porém, seu oferecimento é facultativo. Os peritos médicos realizam os
exames. O prazo para a realização destes é de quarenta e cinco dias,
prorrogável pelo juiz a pedido dos peritos.

Uma vez juntado o laudo, que apresentará as conclusões dos peritos, caso
estes tenham concluído que o réu era inimputável ou semi-imputável em razão
de doença mental, ao tempo da ação ou omissão, o processo principal retomará
o seu curso normal, só que com a presença do curador. Se os peritos
concluírem que o réu adquiriu a doença mental após a prática do crime, o
processo ficará suspenso, retomando a sua marcha caso o réu ou indiciado se
restabeleça antes do prazo prescricional, o qual continua fluindo normalmente.

Se a insanidade mental sobrevier no curso da execução da pena, será


determinada a perícia médica, e, reconhecida, será o réu internado em

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 21


manicômio judiciário, ou, à falta, em outro estabelecimento adequado, onde lhe
seja assegurada a custódia, nos termos dos Artigos 154 do CPP e 183 da Lei de
Execução Penal (Lei nº 7.210/84).

Atividade proposta
Caio, integrante das Forças Armadas, estava sendo investigado por
determinado crime. Uma vez concluído o inquérito, entendeu o membro do
Ministério Público Estadual por requerer o arquivamento do feito, entendendo
ser atípica a conduta de Caio, tendo o juiz acolhido o entendimento ministerial
e determinando o arquivamento. Posteriormente, um membro do Ministério
Público Militar, entendendo que, em verdade, a competência para julgar Caio
por aquele determinado crime era da Justiça Militar, oferece nova denúncia em
face de Caio pelo mesmo fato, justificando sua atitude com o fato de a decisão
de arquivamento anterior ter sido proferida por juízo absolutamente
incompetente.

Caio, então, impetra habeas corpus objetivando trancar a ação oferecida no


âmbito da Justiça Especializada. Analisando o caso sob a ótica das exceções
processuais, diga se a ordem de habeas corpus deve ou não ser concedida.

Chave de resposta: O entendimento pacífico nas cortes superiores de nosso


país é no sentido de que o arquivamento do inquérito policial por atipicidade do
fato produz os efeitos da coisa julgada material, impedindo, via de
consequência, que seja ajuizada ação penal versando sobre os mesmos fatos
que foram objeto da investigação anterior.

O que deve ser observado é que o Estado-juiz já se manifestou sobre aquele


fato, reconhecendo-o como atípico. O fato de essa decisão de arquivamento ter
sido proferida por um juízo absolutamente incompetente é desinfluente para a
questão, devendo prevalecer os princípios do favor rei, favor libertatis e ne bis
in idem.

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 22


Destarte, no caso apresentado, assiste razão a Caio, devendo ser concedida a
ordem de habeas corpus por ele impetrada. Nesse sentido, vide recente decisão
proferida em sede de habeas corpus proferida pelo Superior Tribunal de
Justiça:

“DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO


PENAL. ARQUIVAMENTO DO FEITO. RECONHECIMENTO DE ATIPICIDADE DO
FATO. DECISÃO PROFERIDA POR JUÍZO ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE.
PERSECUÇÃO PENAL NA JUSTIÇA MILITAR POR FATO ANALISADO NA JUSTIÇA
COMUM. IMPOSSIBILIDADE:

CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. INSTAURAÇÃO DE AÇÃO


PENAL PERANTE O JUÍZO COMPETENTE. IMPOSSIBILIDADE. COISA JULGADA.
PRECEDENTES. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.

1. A teor do entendimento pacífico desta Corte, o trancamento da ação penal


pela via de habeas corpus é medida de exceção, admissível quando emerge dos
autos, de forma inequívoca, entre outras hipóteses, a atipicidade do fato.
2. A decisão de arquivamento do inquérito policial no âmbito da Justiça
Comum, em virtude de promoção ministerial no sentido da atipicidade do fato e
da incidência de causa excludente de ilicitude, impossibilita a instauração de
ação penal perante a Justiça Especializada, uma vez que o Estado-Juiz já se
manifestou sobre o fato, dando-o por atípico (precedentes). Ainda que se trate
de decisão proferida por juízo absolutamente incompetente, deve-se
reconhecer a prevalência dos princípios do favor rei, favor libertatis e ne bis in
idem, de modo a preservar a segurança jurídica que o ordenamento jurídico
demanda. Precedentes.
4. Ordem concedida, acolhido o parecer ministerial, para trancar a Ação Penal
n.º 484-00.2008.921.0004, em trâmite perante a Auditoria Militar de Passo
Fundo/RS.”

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 23


(HC 173397/RS – Relator: Min. Maria Thereza de Assis Moura – Órgão
Julgador: 6ª Turma – Data do Julgamento: 17/03/2011 – Data da
Publicação/Fonte: Dje 11/04/2011).

Referências
BADARÓ, Gustavo Henrique. Direito Processual Penal: Tomo I. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008.
LOPES Jr., Aury. Direito Processual Penal e sua Conformidade
Constitucional. Volume I, 7ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
NICOLITT, Andre. Manual de Processo Penal. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal, 9ª edição. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008.
TAVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito
Processual Penal. 7ªed. Bahia: 2012
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. V. 2. 31ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2009.

Exercícios de fixação
Questão 1
No que se refere às questões prejudiciais, aos processos incidentes, às
exceções e às medidas assecuratórias, assinale a opção correta.
a) A restituição de coisas apreendidas pode ser intentada a qualquer
tempo, antes de transitar em julgado a sentença penal, e deve ser
ordenada pela autoridade policial ou juiz, mediante termo nos autos,
ainda que as coisas estejam em poder de terceiros de boa-fé; após essa
fase, haverá a perda em favor da União.
b) No que diz respeito ao incidente de falsidade documental, pode o juiz, de
ofício, ordenar a verificação de idoneidade de documento, com autuação
em autos apartados; não fará a decisão, ao final, coisa julgada em
ulterior processo, penal ou civil. Em situações excepcionais, pode ocorrer

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 24


a suspensão do processo principal, salvo quanto às provas de natureza
urgente.
c) As exceções e os incidentes são procedimentos de natureza
eminentemente processual, porque dizem respeito à validade, e, ao
regular desenvolvimento do processo, necessitam, como regra, de
pronunciamento prévio do juízo; além disso, processam-se em autos
apartados, apensos à ação penal, no próprio juízo criminal, e não
suspendem o curso da ação.
d) Nas questões prejudiciais heterogêneas obrigatórias, há imperativa
suspensão do processo ou inquérito para dirimir controvérsia acerca do
estado civil da pessoa, de modo que não haja repercussão na própria
existência do crime ou de circunstância agravante; igualmente se
suspende o prazo prescricional enquanto não resolvida a questão no
juízo cível.
e) Para a decretação do sequestro de bens imóveis, basta a existência de
indícios veementes da proveniência ilícita dos bens, adquiridos com os
proventos da infração, ainda que já transferidos a terceiro, admitindo-se
embargos; em nenhuma hipótese poderá ser pronunciada decisão antes
de transitada em julgado a sentença da ação penal.

Questão 2
Durante operação policial na qual Cabelo de Anjo foi investigado e denunciado
por crimes previstos no Artigo 157, §2º, do Código Penal, fora apreendido, em
virtude de mandado de busca e apreensão e de sequestro de bens móveis, um
veículo registrado em nome da empresa X, cujo representante legal é Tripa
Seca, uma vez que existiam indícios veementes de que o objeto seria produto
da atividade criminosa de Cabelo de Anjo e de que este seria o proprietário de
fato do bem. Nesse caso, tem-se que:
a) Segundo o Código de Processo Penal, a restituição, neste caso, poderá
ser ordenada pelo magistrado, membro do Ministério Público ou pela
autoridade policial, mediante termo nos autos, desde que não exista
dúvida quanto ao direito do representante da empresa.

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 25


b) O juiz poderá determinar, segundo o Código de Processo Penal, a
alienação antecipada para preservação de seu valor, ante a possibilidade
de deterioração e consequente desvalorização do veículo, depositando o
montante, até o final do processo, em conta vinculada ao juízo.
c) O bem deve ser devolvido ao representante legal da empresa, uma vez
que o Código de Processo Penal prevê expressamente que as coisas
apreendidas, mesmo quando interessam ao processo, serão restituídas,
permanecendo com o representante da empresa até o trânsito em
julgado da sentença.
d) Em caso de dúvida sobre quem seja o verdadeiro proprietário do bem, o
juiz, segundo o Código de Processo Penal, manterá os autos do pedido
de devolução do bem no juízo criminal, determinando o acautelamento
do veículo à autoridade policial ou ao Ministério Público, com a
necessária afetação provisória penal.

Questão 3
Assinale o item incorreto.
a) Nenhum pedido de restituição de bens apreendidos será conhecido pelo
juiz sem o comparecimento pessoal do acusado da prática de crimes
previstos na Lei nº 11.343/2006.
b) O sequestro de bens do investigado pela prática de crimes de lavagem
de dinheiro será levantado se a ação penal não for iniciada no prazo de
cento e vinte dias, contados da data em que ficar concluída a diligência.
c) Admite-se a realização de interrogatório de réu preso por
videoconferência se a medida for necessária para responder à gravíssima
questão de ordem pública.
d) Para a especialização da hipoteca legal, faz-se necessário comprovar que
o bem imóvel tenha sido adquirido com proveito do crime.
e) Os bens apreendidos que sejam produto ou proveito dos crimes previstos
na Lei nº 11.343/2006 poderão ser utilizados pelas entidades que atuam
na prevenção do uso indevido de drogas após autorização do juízo
competente.

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Questão 4
Sobre o sequestro de bens imóveis adquiridos pelo indiciado com proventos da
infração, previsto no Código de Processo Penal, considere:
I. O sequestro será possível se o bem ainda estiver na propriedade do
indiciado, não cabendo se ele o tiver transferido para terceiros.
II. Para a decretação do sequestro, bastará a existência de indícios veementes
da proveniência ilícita dos bens.
III. O pedido de sequestro será atuado em separado e seguirá o procedimento
previsto para a penhora.
IV. Concedido ou não o sequestro, da decisão cabe o recurso em sentido
estrito.
V. O sequestro pode ser embargado pelo acusado nos autos do processo penal
sob qualquer fundamento e não admite embargos de terceiros.
Está correto o que consta somente em:
a) I e II
b) II e III
c) II, III e IV
d) III, IV e V
e) I, IV e V

Questão 5
A decisão irrecorrível, cujo efeito se irradia para fora do processo, impedindo,
no futuro, nova decisão sobre a mesma lide, denomina-se:
a) Questão prejudicial
b) Coisa julgada formal
c) Coisa julgada material
d) Preclusão consumativa
e) Preclusão temporal

Questão 6
As medidas assecuratórias possuem uma natureza acautelatória. Buscam
proteger a efetividade do procedimento ou garantir o ressarcimento ou

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 27


reparação civil do dano causado pela infração penal. A esse respeito, assinale a
afirmativa correta.
a) De acordo com o CPP, a restituição de coisas apreendidas poderá ser
feita pela autoridade policial quando não existir dúvida acerca do direito
do reclamante, ainda que as coisas sejam apreendidas em poder de
terceiro de boa-fé.
b) Não poderá ser feito o sequestro de bens imóveis adquiridos com
proveito do crime quando transferidos para terceiros.
c) A hipoteca legal, que poderá ser requerida pelo ofendido em qualquer
fase do processo, exige a certeza da infração e indícios suficientes da
autoria.
d) O mandado que autoriza realização de busca e apreensão em
determinada favela, sem especificar as casas atingidas, pode ser
considerado válido.
e) A autoridade policial poderá adentrar na residência de determinada
pessoa, a qualquer hora do dia ou da noite, se houver consentimento do
morador, flagrante delito, situação de desastre ou mandado judicial.

Questão 7
À luz do CPP, assinale a opção correta a respeito de questões e processos
incidentes.
a) Para a decretação da medida assecuratória do sequestro, basta a
existência de indícios veementes da proveniência ilícita dos bens
sequestrados.
b) A exceção por incompetência de juízo precede a qualquer outra.
c) O juiz deve declarar-se suspeito no processo em que parente
consanguíneo seu for parte interessada.
d) Em processo penal por crime contra a propriedade imaterial, a
declaração da nulidade de registro ou patente é classificada como
questão prejudicial homogênea.

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 28


e) O terceiro, cujos bens imóveis tenham sido transferidos a título oneroso
ou gratuito, pode embargar o sequestro dos bens sob o fundamento de
tê-los adquirido de boa-fé.

Questão 8
Assinale a opção correta com referência a questões e processos incidentes.
a) Considera-se questão prejudicial homogênea a exceção da verdade no
crime de calúnia.
b) A medida assecuratória de sequestro tem como finalidade precípua a
garantia de ressarcimento dos danos causados pela infração penal à
vítima, do pagamento das penas pecuniárias e das despesas do
processo, recaindo sobre qualquer bem do réu, móveis ou imóveis.
c) O incidente de falsidade tem por escopo exclusivo o exame de falsidade
material e, qualquer que seja a decisão, não fará coisa julgada em
prejuízo de ulterior processo penal ou civil.
d) Constitui requisito essencial de admissibilidade de incidente de
insanidade mental a dúvida manifesta acerca da integridade mental do
acusado ou réu, podendo ser instaurado em qualquer fase da persecução
penal, ensejando a suspensão do processo e do prazo prescricional.
e) As questões prejudiciais, controvérsias que se apresentam tanto na fase
investigativa quanto na etapa processual e das quais depende a
existência do crime, demandam solução antecipada.

Questão 9
Acerca de incidente de insanidade mental do acusado, assinale a opção correta.
a) Caso seja comprovada a insanidade mental do acusado, ao tempo da
infração penal, o processo deverá ser imediatamente extinto,
decretando-se a extinção da punibilidade do réu.
b) Para efeito do exame, o acusado acometido de insanidade mental, se
estiver preso, deverá ser imediatamente libertado para que a família o
conduza para a análise clínica em estabelecimento que entenda
adequado.

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 29


c) Não se admite a instauração de exame de sanidade mental do acusado
após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, uma vez que
a medida não terá mais eficácia.
d) O exame de avaliação da saúde mental do acusado poderá ser ordenado
na fase do inquérito mediante representação da autoridade policial ao
juiz competente.

Questão 10
Sobre o incidente de insanidade mental do acusado, aponte a alternativa
incorreta:
a) É possível a realização de oitiva de uma testemunha, gravemente
enferma, em processo suspenso para fins de constatação da insanidade
mental do acusado decorrente de moléstia posterior ao crime.
b) O irmão ou o cônjuge do réu são legitimados para requerer a realização
de exame médico-legal, para fins de comprovação da insanidade mental
do acusado, no curso da ação penal.
c) Verificando-se no curso do inquérito policial que o indiciado é portador
de grave moléstia mental que o incapacita, incumbe ao delegado
requisitar do órgão de perícias a realização de exame médico-legal de
insanidade mental.
d) Até que se efetive exame médico-legal para fins de comprovação de
insanidade mental do acusado, pela lei processual, suspende-se o
processo, mas não o curso do prazo prescricional.
e) Durante a ação penal, a instauração pelo juízo de incidente de
insanidade mental, por doença superveniente ao crime, reclama a
suspensão do processo até que o acusado se reestabeleça.

Aula 5
Exercícios de fixação
Questão 1 - B

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 30


Justificativa: Trata-se de aplicação do Artigo 112 do CPP.

Questão 2 - B
Justificativa: “Artigo 144-A do CPP: O juiz determinará a alienação antecipada
para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer
grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua
manutenção.
(...)
§3º O produto da alienação ficará depositado em conta vinculada ao juízo até a
decisão final do processo, procedendo-se à sua conversão em renda para a
União, Estado ou Distrito Federal, no caso de condenação, ou, no caso de
absolvição, à sua devolução ao acusado.”

Questão 3 - D
Justificativa: O pedido de marcação é da alternativa incorreta. Sendo assim, o
Artigo 134 do CPP estabelece que a hipoteca legal sobre os imóveis do indiciado
poderá ser requerida pelo ofendido em qualquer fase do processo, desde que
haja certeza da infração e indícios suficientes da autoria.

Questão 4 - B
Justificativa: Trata-se do que dispõe os Artigos 126 e 129 do CPP.

Questão 5 - C
Justificativa: No processo penal, existe uma exceção que é a de coisa julgada,
que serve para que seja alegada a existência de julgamento anterior relativo à
questão.

Questão 6 - C
Justificativa: Trata-se de previsão do expressa do Artigo 134 do CPP que
estabelece o seguinte: Artigo 134. A hipoteca legal sobre os imóveis do
indiciado poderá ser requerida pelo ofendido em qualquer fase do processo,
desde que haja certeza da infração e indícios suficientes da autoria.

SISTEMA PROCESSUAL PENAL 31


Questão 7 - A
Justificativa: Trata-se de previsão expressa do Artigo 126 do CPP.

Questão 8 - A
Justificativa: Questão prejudicial é aquela que deverá ser decidida antes da
sentença, mas que é capaz de influir nessa. A questão da exceção da verdade é
uma prejudicial homogênea uma vez que decidida pelo mesmo juízo que
proferirá a decisão principal.

Questão 9 - D
Justificativa: Isso ocorre porque se for verificado que o réu era portador de
doença mental ao tempo do crime, o processo deverá prosseguir com a
presença de um curador e o juiz ao final irá prolatar uma sentença penal
absolutória impropria.

Questão 10 - C
Justificativa: Artigo 149, § 1° O exame poderá ser ordenado ainda na fase do
inquérito, mediante representação da autoridade policial ao juiz competente.

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