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FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU

CURSO DE PSICOLOGIA

WELLINGTON ALEIXO LUCAS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO


TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E HIPNOSE:
INTERFACES NA ATUALIDADE

FORTALEZA – CEARÁ

2018
WELLINGTON ALEIXO LUCAS

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E HIPNOSE:


INTERFACES NA ATUALIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial
para conclusão do Curso de
Graduação em Psicologia da
Faculdade Maurício de Nassau, sob a
orientação da prof. Esp. Tatiana
Vasconcelos.

FORTALEZA – CEARÁ
2018
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E HIPNOSE:
INTERFACES NA ATUALIDADE

Wellington Aleixo Lucas*


Tatiana Vasconcelos**

Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de promover um levantamento


histórico da hipnose e suas aplicações clínicas, com ênfase na interface entre a
mesma e a Terapia Cognitivo-Comportamental, a TCC, a qual preconiza que
mudanças cognitivas desencadeiam mudanças emocionais e comportamentais.
Ao longo dos anos, a hipnose teve várias definições, passou por
conceitualizações metafísicas, até chegar ao olhar científico, quando foi
descoberta como ferramenta auxiliar nos processos terapêuticos utilizados nas
clínicas de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Nesse contexto, surge a
Hipnoterapia Cognitiva, em que a hipnose e a TCC são associadas no setting
terapêutico para potencializar o tratamento dos mais variados transtornos
mentais. A Hipnoterapia Cognitiva trabalha, então, para produzir e ensinar
estados mentais e emocionais ideais que possam produzir mudanças
comportamentais saudáveis e melhor adaptativas. Neste estudo baseado em
livros que resgatam a história da hipnose e sua interação com a TCC utilizando as
técnicas mais modernas de hipnoterapia cognitiva, conclui-se que, em conjunto, é
possível ter uma potencialização da eficácia terapêutica na ressignificação das
causas dos problemas.

Palavras-chave: hipnose, TCC, interface, técnicas, comportamento, hipnoterapia


cognitiva.

Abstract: This article promotes an historical perspective study of hypnosis and its
application on clinical psychotherapy CBT. The study will emphasize hypnosis’
relation with Cognitive Behavioral Therapy, as known as CBT. CBT states that
cognitive changes develop emotional and behavioral changes. Hypnosis had
several definitions along years, it had metaphysical definitions and finally was
discovered as a tool for clinical psychoteraphy, specially for CBT. By this union,
we can talk about Cognitive Hypnotherapy, which associates hypnosis and CBT
on a therapeutic setting in order to booster mental health illnesses treatment.
Finally we can say that Cognitive Hypnotherapy produces and teaches mental
states and emotional ideas that may lead to behavioral changes, healthier and
more adaptive changes. In this study based in books that brings back the hypnosis
history and its interaction with CBT using the most modern cognitive hypnotherapy
techniques, it is concluded that, together, it is possible to have a potentialization in
the therapeutic efficiency in the redetermination of the problems causes.

Key words: hipnose, CBT, interface, técnicas, comportamento, hipnoterapia


cognitiva.

*Graduando em Psicologia pela Faculdade Maurício de Nassau. Contato: ton_lucas@hotmail.com


**Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pela USP. Docente da Uninassau. E-mail:
terapiatcc@gmail.com
1 INTRODUÇÃO

A hipnose teve diversos usos e conceitos ao longo dos anos; foi


amplamente estudada e debatida como método de tratamento para transtornos
mentais, bem como foi alvo de diversas críticas e preconceitos. Apesar de ainda
haver divergências, pode-se conceituar a hipnose como um conjunto de técnicas
e procedimentos que, utilizando-se de sugestões e atenção focalizada, pode
potencializar uma gama de capacidades preexistentes no indivíduo (FERREIRA,
2013). Com o uso da hipnose, pode-se modificar percepções, emoções,
pensamentos e, consequentemente, comportamentos. Nesse ínterim, a hipnose é
cada vez mais utilizada como recurso nas mais diversas abordagens
psicoterapêuticas, seja para acelerar o processo, por colocar o paciente em
contato direto com causas e determinantes comportamentais que nem sempre
são de fácil acesso à consciência, seja através de sugestões que acentuam e
potencializam as habilidades do paciente.
A hipnose evoluiu historicamente e hoje pode ser utilizada como ferramenta
útil dentro de diversas abordagens psicoterápicas, dentre elas a terapia de base
cognitivo-comportamental. A TCC, como é chamada, atualmente é uma das
abordagens mais utilizadas no que diz respeito ao tratamento de transtornos
psiquiátricos, tendo um amplo respaldo de pesquisas científicas que comprovam
sua eficácia. Dentre as técnicas utilizadas nessa abordagem, destaca-se a
identificação de autoimagens negativas que influenciam diretamente as
formulações cognitivo-comportamentais. Pode-se então afirmar que as cognições
exercem influência direta sobre emoções e comportamentos, e estes, por sua vez,
afetam os padrões de pensamento e também as emoções (WRITGH, 2008).
O presente artigo tem o objetivo de promover um levantamento histórico da
hipnose, a evolução do seu significado, passando por conceitos metafísicos até
chegar ao olhar científico, quando finalmente foi resgatada como ferramenta
auxiliar nos processos terapêuticos utilizados nas clínicas de Terapia Cognitivo-
Comportamental (TCC). Nesse contexto, surge a Hipnoterapia Cognitiva, em que
a hipnose e a TCC são associadas no setting terapêutico para potencializar o
tratamento dos mais variados transtornos mentais.
2 MATERIAIS E MÉTODOS

Esta seção consiste em expor, de forma sistemática, o planejamento e a


viabilidade teórica e prática de um estudo. Discute-se como o objeto é abordado,
procurando destacar o percurso escolhido pelo pesquisador em cada etapa do
processo. Neste tópico, apresentam-se então as questões práticas referentes a
esta pesquisa, basicamente definindo instrumentos, procedimentos e técnicas de
coleta e análise dos dados, procurando vincular teoria e prática ou, como aponta
Minayo (2004), pensamento e ação.
A partir da problematização exposta, propõe-se um estudo acerca da
interface entre hipnose e TCC, bem como a viabilidade da aplicação prática dessa
aproximação, vista na Hipnoterapia Cognitiva. A partir de tal objeto, este estudo
adquire caráter exploratório e investigativo, buscando nas bases da história da
hipnose e da TCC teorias que justifiquem as aproximações aqui realizadas.
Ressalta-se ainda que, apesar de se utilizar fontes de obras escritas há mais de
dez anos, é de extrema importância que estas sejam aqui mencionadas, por se
tratar de obras clássicas, como as de Freud, e trechos a respeito da história da
hipnose, uma vez que a mesma não se altera independentemente do ano da
publicação. As demais fontes foram livros publicados recentemente, onde são
abordadas as técnicas mais utilizadas atualmente, no que se refere à prática da
hipnose e da Terapia Cognitivo-Comportamental.
As pesquisas foram realizadas nas plataformas digitais SciELO (Scientific
Electronic Library Online) e Google Acadêmico através de termos como
“hipnoterapia cognitiva” e “hipnose na TCC”, onde não resultaram em nenhum
artigo relevante para o tema deste trabalho.
A partir dos dados obtidos, propõe-se então uma análise dos mesmos
segundo os referenciais teóricos já expostos. Com esse cruzamento de
informações, espera-se obter maior entendimento sobre a problemática abordada
a fim de subsidiar possíveis contribuições para aproximações e intervenções
realizadas na atualidade.
3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Conceito de Hipnose e Breve Levantamento Histórico

A hipnose constitui um fenômeno psíquico completamente natural e


inerente ao ser humano que possui um grande valor terapêutico no auxílio aos
processos de psicoterapia. Ela, por si só, não é uma terapia, mas pode ser
incorporada em qualquer situação terapêutica (CABALLO, 1996). De acordo com
a Associação Americana de Psicologia (APA, 2016), hipnose é um procedimento
durante o qual um profissional de saúde ou pesquisador sugere a um cliente,
paciente ou sujeito que vivencie mudanças em sensações, percepções,
pensamentos ou comportamentos.
Desde seus primórdios, essas técnicas não foram bem aceitas por uma
parte da população, principalmente acadêmica, por se tratar de algo até então
pouco conhecido e normalmente relacionado a misticismo e religião. Os principais
registros de que se tem conhecimento foram os feitos pelo médico austríaco
Franz Anton Mesmer (1734-1815), que estudou os fenômenos hipnóticos sob a
alegação de que ocorriam devido a fluidos invisíveis emanados dos astros que
afetam o organismo, consolidando a teoria que chamou de magnetismo animal.
Mesmer ficou conhecido na região onde morava por promover curas colocando as
mãos sobre as pessoas ao utilizar barras de cobre ou ímãs para ‘remagnetizar’ e
gerar uma melhora nas patologias (WEISMANN, 1958).
Apesar de seus resultados, em 1784, o então rei da França, Luis XVI,
nomeou uma comissão de sábios composta por Benjamin Franklin, Jean-Sylvain
Bailly, Joseph-Ignace Guillotin e Antoine-Laurent Lavoisier para investigar as
técnicas de Mesmer (ANDREWS, 2017). A hipnose veio a ser recuperada de
forma mais científica por James Braid, cirurgião escocês que, em 1841, cunhou o
termo e trouxe mais crédito ao tema (WEISMANN, 1958).
Em 1885, Freud, pai da Psicanálise, teve contato com os fenômenos
hipnóticos no hospital de Salpêtrière, em Paris, local onde Jean Martin Charcot
realizou seus estudos sobre histeria (ROZA, 1996). Nesse contexto, Freud se
encantou com o que via e iniciou seus estudos sobre o inconsciente, vindo a
iniciar sua carreira de terapeuta se utilizando da hipnose em seus atendimentos.
Porém, em razão de uma série de questões envolvendo fundamentações teóricas
e dos resultados obtidos, resolveu abandoná-la com o passar do tempo.
Freud acreditava que a hipnose era capaz de remover apenas um
sintoma, mas não a causa do sofrimento (ROZA, 1996). Outra crítica que fez foi
em relação a memórias falsas, as quais, caso um terapeuta inexperiente desse
alguma sugestão baseada em sua opinião, poderiam levar o paciente a criar a
lembrança de uma cena que não existiu de fato. Segundo ele, na sugestão, é
“despertada no cérebro de outra pessoa uma ideia que não é examinada quanto à
sua origem, mas que é aceita como originada espontaneamente no cérebro dessa
pessoa” (FREUD, 1996b, p. 103). No final de sua vida, Freud voltou a falar a
respeito, como se vê no livro “Construções em análise”, de 1937, em que afirma:
“O perigo de desencaminharmos um paciente por sugestão, persuadindo-o a
aceitar coisa em que nós próprios acreditamos, mas que ele não deveria aceitar,
decerto foi enormemente exagerado” (FREUD, 1996m, p. 296).
A partir dos escritos deixados por Freud, as gerações de psicanalistas
que surgiram geralmente carregavam um discurso diferenciado sobre hipnose,
baseado apenas no que o criador da Psicanálise achava a respeito. Eles
afirmavam que o método hipnótico passa por cima das resistências, deixando o
terapeuta e o próprio paciente sem o conhecimento dos motivos pelos quais
determinados eventos são considerados pelo psiquismo como ‘altamente
perigosos’, ou seja, não eram capazes de detectar a resistência, assim como
afirma Freud, a hipnose não permitiria “identificar a resistência com que os
doentes se aferram à sua doença, chegando, até mesmo, a lutar contra sua
própria recuperação” (FREUD, 1996d, p. 245). Sob a crítica de que as sugestões
hipnóticas se dissolviam e o sintoma ou algo que substitua voltava, Freud
abandonou o uso da hipnose, não vendo como se utilizar dela no contexto
psicoterapêutico. Ele concluiu que “o tratamento hipnótico procura encobrir e
dissimular algo existente na vida mental; o tratamento analítico visa a expor e
eliminar algo. O primeiro age como cosmético, o segundo, como cirurgia.”
(FREUD, 1996c, p. 526-527)
Porém, os novos expoentes da hipnoterapia que surgiram na era pós-
Freud trariam novos discursos sobre a utilização da hipnose. Em 1900, nos EUA,
nasce Dave Elman, que viria revolucionar as técnicas de hipnoterapia conhecidas
até então. As técnicas desenvolvidas por ele só passaram a ser ensinadas em
1949, quando os doutores da Associação Médica Americana, na região de Nova
Jersey, participaram de um espetáculo de hipnose de palco que Dave apresentara
e solicitaram-no que ministrasse cursos para ensiná-los suas técnicas
(ANDREWS, 2017). Na mesma época, em 1901, também nos EUA, nascia Milton
Hyland Erickson, psiquiatra especializado em hipnose médica e terapia familiar
que se tornou um dos maiores nomes da hipnoterapia no século XX, em virtude
de sua forma singular de fazer terapia. Erickson teve poliomielite na adolescência
e desenvolveu muito bem sua capacidade de observação e comunicação na
forma de metáforas e sugestões indiretas com linguagem hipnótica de forma
conversacional (DELL’ISOLA, 2016).
Ao trazer essas técnicas e conceitos modernos para a atualidade,
principalmente os materiais desenvolvidos por Elman e Erickson, pode-se
modificar o discurso presente na psicologia de que a hipnose é ineficaz. Desde 20
de dezembro de 2000, a resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 013/00
resolve que “o uso da Hipnose inclui-se como recurso auxiliar de trabalho do
psicólogo, quando se fizer necessário, dentro dos padrões éticos, garantidos a
segurança e o bem estar da pessoa atendida”. Mesmo com essa resolução
assinada pela então Conselheira-Presidente do CFP, Ana Mercês Bahia Bock,
muitos psicólogos desconhecem o reconhecimento científico e o respaldo que a
hipnose tem nas práticas terapêuticas.
Atualmente, com os avanços da hipnoterapia, não se busca eliminar os
sintomas, mas ir à causa do problema. Hipnose nada mais é do que uma forma
de comunicação efetiva, capaz de promover um estado de foco e concentração
semelhante àquele em que se entra várias vezes ao dia quando se lê um livro, se
assiste a um filme ou se ouve uma música e se perde a noção de tempo-espaço
em que se está, adentrando-se na experiência e provocando alterações
emocionais. Ferreira (2011, p. 4) afirma que:

A hipnose na vida diária ocorre mais frequentemente do que


imaginamos, e contribui para a compreensão de que não é necessária a
indução formal para obtermos a hipnose. No consultório do profissional
médico, odontólogo ou psicólogo, faz-se a indução formal da hipnose
para obtê-la no momento desejado e com finalidades específicas.
Durante o processo, o sujeito hipnotizado não perde a noção do que está
fazendo, não fica inconsciente, não reage de forma que vá de encontro a suas
crenças, valores e princípios. Tampouco acontece de alguém ficar preso no
estado de transe sem conseguir retornar ao estado de vigília. Para Ferreira (2013,
p. 16):

As respostas de um paciente à hipnose podem variar com:


1. O tipo de experiência sugerida.
2. O modo como é transmitida a sugestão dessa experiência.
3. O que o paciente espera acontecer durante a hipnose.
4. As condições do paciente em relação ao tipo de experiência solicitada.
5. Diferentes clínicos, e a intensidade do rapport.
6. O ambiente do local onde ocorre a hipnose.

Independentemente da abordagem psicoterápica, o uso da hipnose pode


reduzir o tempo de tratamento e é eficaz em casos de ansiedade, fobias,
depressão, pânico, falta de motivação, traumas e diversas outras demandas;
inclusive para melhorar a percepção sobre os fatos ocorridos no ambiente,
elemento bem importante durante para a Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC) (GOMES, 2013).

3.2 Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem psicológica


baseada em princípios científicos com comprovações empíricas. Foi criada por
Aaron Beck no início da década de 60, quando realizava um estudo com
pacientes depressivos. A TCC baseia-se no modelo cognitivo, que defende que
emoções e comportamentos humanos são influenciados não pelos fatos que
ocorrem, mas pelas interpretações que cada um fornece aos eventos (GOMES,
2013).
A TCC é uma abordagem que tem como características a identificação de
cognições, emoções e comportamentos através da escuta e de técnicas
específicas, com o objetivo de atender à demanda do paciente, sendo que para
cada demanda há um direcionamento específico. De acordo com Beck, existem
três proposições fundamentais: 1) a atividade cognitiva influencia o
comportamento; 2) a atividade cognitiva pode ser monitorada e controlada e 3) o
comportamento desejado pode ser influenciado mediante mudança cognitiva.
(WRIGHT, 2008)
A TCC é considerada uma abordagem terapêutica do aqui-e-agora, focada
no problema atual, de curto prazo, mas sensível a uma perspectiva de longa
duração dependendo do caso do paciente. No entanto, não deixa de considerar
os aspectos da infância, bem como aspectos genéticos, fisiológicos e relativos a
histórico familiar, relações sociais, traumas e vida profissional, pois todos esses
fatores são importantes na elaboração do tratamento (WRIGHT, 2008).
A TCC é umas das formas de psicoterapia mais utilizadas no que se refere
ao tratamento de transtornos psiquiátricos. Essa abordagem baseia-se
principalmente no controle de emoções e comportamentos via funções cognitivas
(FERREIRA, 2013). Identificando padrões distintivos de pensamentos
automáticos e crenças distorcidas presentes em diferentes transtornos
psiquiátricos, é possível então modificar estilos de pensamento e,
consequentemente, reduzir significativamente os sintomas.

3.3 Hipnoterapia e TCC

A hipnoterapia consiste no uso da hipnose como ferramenta auxiliar em


psicoterapia. Quando a abordagem psicológica utilizada nesse processo é a TCC,
tem-se então a Hipnoterapia Cognitiva. Para Gomes (2013, p. 170),

Os conceitos da terapia cognitiva, por meio de seus estudos empíricos,


abriram novas possibilidades para a utilização das abordagens
hipnoterápicas e proporcionaram o surgimento da hipnoterapia cognitiva,
que é protocolizada, e que pelas técnicas específicas permite ao
inconsciente eliciar conteúdos encobertos.

A Hipnoterapia Cognitiva utiliza técnicas como relaxamento, sugestão,


repetição de estímulos, ativação emocional intensa e ressignificação de memórias
no intuito de tratar sintomas específicos. Utiliza ainda imagens mentais para levar
o paciente a confrontar crenças disfuncionais e a desenvolver estratégias
adaptativas mais eficazes. Para Silberfarb (2011, p. 32-33),

A psicoterapia cognitivo-comportamental é hoje a abordagem que


oferece o campo mais fértil para a utilização da hipnose no âmbito
clínico, pela combinação clássica com técnicas comportamentais, como
o uso de relaxamento no tratamento dos sintomas nos transtornos de
ansiedade e fobias, no espectro ansiogênico da depressão, no uso de
imagens na forma de memórias carregadas de conteúdo emocional. Tem
espaço como técnica em vários ensaios cognitivos na evocação de
memórias, no uso dos sentidos para ativação emocional, nas técnicas
vivenciais tão contemporâneas hoje na TCC. Tudo isto é matéria-prima
da Hipnose.

Uma das principais etapas da TCC é a identificação de pensamentos


automáticos, os quais surgem espontaneamente ao longo do dia, geralmente
associados a situações importantes. Esses pensamentos podem ser palavras,
imagens ou figuras imaginárias (GREENBERGER, 2017). O acesso a esses
pensamentos e o processo de tomada de consciência dos mesmos são
essenciais para o processo de mudança e resolução dos problemas.
Na Hipnoterapia Cognitiva, o paciente pode ter acesso mais facilmente a
tais emoções que eliciam memórias e, dessa forma, assimilar mais facilmente os
pensamentos automáticos. A hipnose contribui na formação de imagens mentais,
as quais constituem um ótimo exercício para também identificar pensamentos
automáticos. Em estado hipnótico, o paciente consegue entrar em contato direto
com esses pensamentos, e não apenas com as reações emocionais
desencadeadas pelos mesmos, já que o paciente é convidado a reviver em sua
mente as cenas que desencadeiam expressões emocionais e intensas, isso tudo
em um ambiente seguro e confiável, propiciado pelo terapeuta (SILBERFARB,
2011).
Identificando pensamentos automáticos, o paciente tem acesso às crenças
subjacentes aos mesmos, as quais nem sempre são de fácil acesso ao paciente,
mas que muitas vezes encontram-se na base de seu comportamento. Ao acessar
as crenças que estão por trás dos pensamentos automáticos disfuncionais, o
paciente tem a possibilidade de ressignificar memórias e gerar novas respostas
comportamentais (SILBERFARB, 2011).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após anos de estudos, observa-se como a hipnose pode ser incorporada à


TCC, potencializando esse tipo de terapia, pois tanto a hipnose quanto a TCC
utilizam técnicas e ferramentas terapêuticas facilmente aproximáveis.
A hipnose associada à TCC auxilia na exclusão das causas dos sintomas,
o que segundo a terapia cognitiva está na estrutura cognitiva, composta por um
sistema de crenças nucleares, inflexíveis e que por isso dão origem a
perturbações psicológicas (GOMES, 2013). A Hipnoterapia Cognitiva, através da
reestruturação cognitiva, modifica pensamentos e emoções que estejam
interferindo negativando no processo terapêutico. A Hipnoterapia Cognitiva
trabalha, então, para produzir e ensinar estados mentais e emocionais ideais que
causem mudanças comportamentais saudáveis e melhor adaptativas.

REFERÊNCIAS

ANDREWS, S. M. Street hypnosis. Belo Horizonte: Hi-Brain Institute, 2017.

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<https://www.apa.org/>. Acesso em: 14 nov. 2017.

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DELL’ISOLA, A. Mentes fantásticas. São Paulo: Universo dos Livros, 2016.

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