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Josef
Scheeben P.
Fr. Fuchs
SVD
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O ESPIRITO SANTO
CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte
Câmara Brasileira do Livro, SP
77-1344 CDD—231.3
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MATTHIAS JOSEF SCHEEBEN
O ESPÍRITO SANTO
O estudo de Scheeben
simplificado e sistematizado
por Pe. Fr. Fuchs, SVD
EDIÇÕES LOYOLA
SÃo P a u lo
1977
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Título do original a lem ã o:
DER HEILIGE GEIST
Verlag: St.-Josephs-Druckerei, Wangen im Allgäu, 2.* ed. 1971
T radução:
Dr. GASTAO DE CARVALHO SOUZA
Rio de Janeiro
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SIGLAS
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PRÓLOGO À PRIMEIRA EDIÇÃO ALEMÃ
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de ação glorifica a Deus em Cristo, mediante ele e com ele,
e nisto encontra finalidade, sentido e dignidade. Esta visão
há de ser conseguida, aprofundada e ampliada com um tra
balho sério (X V III).
Em seus trabalhos, Scheeben se apóia sempre na sagrada
escritura, nos santos padres e nos teólogos acreditados na
Igreja desde há muito tempo, especialmente em Santo To
más e São Boaventura. Scheeben prefere, entre os santos
padres, aos gregos, e assim nos oferece a vantagem de
poder ouvir algo deles e de seus sublimes pensamentos”
(Herrlichkeiten der Göttlichen Gnade, 2; cf. Dogmatik, 1,
X X X II).
Scheeben tinha recopiado citações dos padres gregos e
com elas encheu em Roma toda uma maleta, levando-a con
sigo para Colônia e a utilizou com esmero. Pôs assim a
nosso alcance os padres gregos com seus magníficos sím
bolos e maneiras de pensar, e neste sentido pode ser consi
derado com o um precursor do ecumenismo. Precisamente
em nosso livro encontramos esses símbolos sobre o Espírito
Santo, que já não esqueceremos, uma vez que tenhamos pen
sado e refletido sobre eles. Tornaremos a recordar depois.
TJmas palavras mais de Hôfer para os sacerdotes e m es
tres: "Para o teólogo e o sacerdote, as obras de Scheeben
serão sobretudo uma fonte inesgotável de alegria e elevação
sobrenaturais, que brotam do conhecimento e amor de Deus
trino e uno. O com ércio entre um profundo estudo de teolo
gia, a doutrina sagrada e uma autêntica piedade e vida inte
rior cristã e sacerdotal, levam ao coração do sacerdote os
ardores do amor de Jesus Cristo e de sua Igreja, que em ocio
nam depois e entusiasmam aos fiéis em uma cura de almas
concebida e fecundada de um modo sobrenatural” .
Juntamos ainda algumas palavras de Scheeben (Herrli
chkeiten der Göttlichen Gnade, 3): “A finalidade prática é,
em particular. .. fazer que os cristãos cheguem a sentir-se
satisfeitos de sua fé, porque a beleza e o orgulho da fé cató
lica consiste precisamente em que esta fé nos oferece, dentro
dos mistérios da graça, uma elevação altíssima de nossa na
tureza e uma inefável união interior com Deus” .
Scheeben já não pôde abordar em sua dogmática a
doutrina da Igreja, dos sacramentos e da escatologia.
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Este livro se esforça por apresentar, com uma linguagem
simples, a doutrina sobre o Espírito Santo, que Scheeben
conseguiu em suas obras. Serviu como base para o mesmo,
os oito volumes de seus Gesammslte Schriften, preparados
por Josef Hõfer, em Roma, e publicados pela Herder, de
Friburgo, de 1949 a 1967.
Já o índice mesmo dos distintos volumes mostra que
Scheeben fala do Espírito Santo em muitas passagens; de
vez em quando há diversas indicações breves que não po
diam ser desatendidas.
Como Scheeben trabalhou na teologia dogmática duran
te toda sua atividade docente, não faltam as repetições, que
não tem sido possível eliminar. Aparecem com freqüência
novos resplendores e novas relações; por isso o leitor não
pode tomar a mal que se repitam alguns pensamentos.
Ajunte-se que a atuação do Espírito Santo no âmbito exter
no, a expõe e explica sempre o grande teólogo, partindo dos
mistérios da Santíssima Trindade.
Como aqui não temos nenhuma pretensão científica,
senão som ente a de chegar a conhecer melhor ao “ doce hós
pede de nossa alma” para amá-lo com maior intimidade, não
se fala no texto de questões disputadas, senão que se têm
retransmitido da melhor maneira possível os pensamentos
de Scheeben em sua pureza e sem falseamento. Os títulos
das distintas secções os têm redatado o compilador.
Sobre os Mistérios, há que notar que, ainda que sejam
a primeira obra de Scheeben, contudo manifestam também
a opinião que ele tinha em sua velhice, já que Hõfer encon
trou o manuscrito dos Mistérios, que estava já emendado
e a ponto de uma nova edição. Não se levou a cabo esta
publicação, porque Scheeben morreu. Hõfer incluiu estas
correções nos Gesammelte Schriften. (O compilador tinha
já publicado anteriormente um extrato dos Mistérios: “ Mat-
thias Josef Scheeben, Die Mysterien des Christentums, zu-
sammenfassend für weitere Kreise” , exposto por Friedrich
Fuchs, SVD, Editora Steyl. Foi traduzido para o francês,
italiano e espanhol.)
Não foram indicados os lugares onde se encontram as
passagens dos santos padres, cita Scheeben, já que ditas
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indicações tivessem, excedido o tamanho do livro. Podem
encontrar-se no texto original.
O estilo das explicações varia muito amiúde, por
que Scheében escreveu para. diferentes leitores e trabar
lhou em seus originais durante 28 anos. Sua obra consta
de umas 4000 páginas, em grande parte com letra pequena.
O compilador esforçou-se por formar frases breves e claras
e por evitar tanto quanto possível as palavras estrangeiras
e os termos técnicos.
Em Rickenbach, Floresta Negra, festa de Santo Arnaldo,
18 de julho de 1970.
P e. F r. F u c h s , S V D
P. F r. F.
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O ESPIRITO SANTO
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3. Ele irradia sobre nós seu amor e sua vida. Faz com
que as verdades da fé cintilem em nós cálida e vitalmente
e procura que nos adaptemos a elas. Compreendemo-las
com maior facilidade, já que podemos experimentar e com
provar sua realidade. A vida que brota da fé, por intermé
dio do Espírito Santo, vivifica em nós o que esta fé significa
para nosso espírito e para toda nossa vida.
Esta fé viva e amante nos une especialmente com as
verdades, nas quais Deus se mostra infinitamente bom e
amável. Abraçamos a verdade amada e penetramos nela.
A razão é arrastada no vôo do coração. Sua vista se aclara
e aumenta com o desejo do coração de possuir o bem infi
nito, que brilha para nós na verdade. A fé atrai o coração;
o gozo e a alegria que nos produz cada raio de sua beleza
nos atestam com quanta magnificência, mas também com
quanta efetividade, nos oferece a vida sobrenatural.
O amor infundido pelo Espírito Santo assemelha-se à
verdade da fé; a verdade se reflete em nosso coração que
crê. Tornamo-nos semelhantes especialmente ao amor ex
celso e à bondade divinos. Estes são fundamento e raiz de
todos os mistérios, por meio dos quais Deus, o supremo
bem, quer comunicar-se a nós. A quem compreende isto
com vivacidade, resultam mais inteligíveis e claros os mis
térios mais excelsos e sublimes. Experimenta em si a força
e a graça deste amor divino, porque este amor é infundido
nele pelo Espírito Santo. Deste modo, em certo sentido, nos
transformamos em Deus e adivinhamos o amor que Cristo
sente por nós (cf. as cartas de São Paulo). Ser-nos-á muito
mais fácil entender de que forma o Pai, que é infinitamente
bom, comunica sua natureza ao Filho e ao Espírito Santo,
como enviou seu Filho ao mundo e com o pôde conduzi-lo
à morte mais infame e dolorosa.
Desta fé se desenvolve toda a vida sobrenatural que o
Espírito Santo nos inspira. Imprimimos dentro de nós mes
m os suas leis e procuramos reformar nossa vida segundo
elas. Então nossa vida da graça manifestará e provará ainda
mais as verdades que cremos. A forca sobrenatural e a
calma espiritual, que tiramos desta manifestação, nos outor
gam uma existência segundo a fé. Esta vida se ajusta admi
ravelmente às nossas necessidades espirituais e aos nobres
impulsos da natureza. Resulta daí um cristianismo mais
compreensível e atraente para o próximo, em virtude do
exemplq de nossa vida cristã, porquanto os mistérios do
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cristianismo são conduzidos de uma distância longínqua pa
ra uma presença próxima e íntima.
4. Quando o Espírito Santo irradia em nossa inteligên
cia as verdades da fé de um m odo tão intuitivo, não desapa
rece por isso a fé ou resulta supérflua, uma vez que continua
sendo a raiz de nossa vida sobrenatural. Sem a âncora da
fé, nosso coração nos poderia induzir ao erro; seu impulso
e seus sentimentos poderiam deformar a verdade e reduzi-la
a uma mera colocação solitária. A voz do coração nunca
pode substituir a luz da revelação. Só a luz interior não
nos faz contemplar as verdades da fé; estas degenerariam
em uma ilusão sentimental sem um testemunho externo obje
tivo. Ainda que o Espírito Santo nos conceda a graça de
uma luz interior, esta somente se manifesta com o se fosse
meia luz na noite da razão, a aurora do dia celestial que nos
conduz com segurança, desde que adiramos com fé a nosso
guia divino que nos presta a informação sobre o que se vê.
A fé é somente substituída no céu pela luz da contemplação
glorificada de Deus, em virtude de Deus derramar sobre nós
de um m odo muito mais efetivo ainda sua luz interior, de
cuja plenitude ele fala e nos acolhe em seu seio, fonte e cen
tro de todos os mistérios.
5. Os dons do Espírito Santo, especialmente o entendi
mento e a sabedoria, nos permitem crer vitalmente e com
amor. Nossa vista toma-se penetrante, acima de nossa inte
ligência para poder penetrar nas verdades acreditadas e as
sim compreendê-las com clareza e precisão. O amor que se
nos outorga faz que o sobrenatural seja para nós doce e
saboroso.
Estes dois dons são a causa de que as almas sem instru
ção, porém simples, puras e amantes de Deus, respondam
claramente e com segurança a altas questões de teologia,
maravilhando assim aos eruditos. Porém estes dons condu
zem os teólogos, inclusive com a maior rapidez e segurança,
a usar de sua razão, devida e sobrenaturalmente.
Então seus pensamentos e palavras ficam impregnados
daquela unção celestial que outorga luz e gosto aos santos
mestres, para deixar maravilhados com vigor e persuasão a
vista e o coração de seus discípulos.1
1. M/108; D I 778ss.
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Vem, Espírito Criador,
visita a mente de teus fiéis.
Enche com excelsa graça
as almas que tu criaste.
Hino de pentecostes
2 — 0 MISTÉRIO DA FÉ
2. M /2; D I 861SS.
3. M /l; D I 34 ad 2.
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nosso interior um maravilhoso amanhecer, e vemos a aurora
de um mundo celestial. Já então não nos damos conta da
escuridão que nos rodeava e que ainda nos rodeia; porque
um só raio da luz superior que nos ilumina, é bastante pode
roso para pôr-nos em um êxtase indescritível.4
4. Damos graças a Deus, ao Espírito Santo, porque nos
revela os mistérios da fé, que ultrapassam de muito a nossa
razão; são incomparavelmente mais excelsos, sublimes e valio
sos que os mais altos resultados da ciência humana.
Ainda que Deus levante só um pouco o véu de sua ma
jestade, isto é para nós uma graça não merecida que temos
de apreciar e estimar em alto grau.5
4. M /l; D I 35ss.
5. M/3; D I 28ss.
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2
1. D II 770.
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sa glória, já que possui a mesma santidade divina. Pode
morar no mais íntimo de nosso espírito, porque somente
com o Deus é simples e imenso. Nossa vida sobrenatural se
mostra com o divina e espiritual, porque é dom do Espírito
Santo.2
3. O Espírito Santo tem também que ser Deus, já
que se diz dele no Credo: “falou pelos profetas” . Segundo
a escritura, o Espírito Santo penetra tudo, por isso também es
quadrinha e examina todos os mistérios das criaturas, inclu
sive seus desejos mais íntimos e tudo o que resolvem ou
decidem para o tempo futuro. Porém, ao mesmo tempo co
nhece também os mistérios que estão latentes nas profunde
zas de Deus, com o se diz em muitas passagens da escritura.
Conhece-os em sua última origem e nos pode comunicá-los.
Está em nós com o somente Deus pode estar em si mesmo.5
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4 — A PROCEDÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO
6. D II 784-788: Gál 4,1; Rom 8,9; 1 Pdr 1,11; Flp 1,19; Jo 16,13-15;
14,16; 26; 15,26; 16,7.
7. D II 875; 883.
8. M/19; D II 849ss.
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4. Os santos padres comparam a origem que o Espí
rito tem do Pai por meio do Filho, com a formação que Eva
teve de Adão.
Adão foi criado imediatamente por Deus, com o o Filho
foi engendrado imediatamente pelo Pai. Porém, Deus for
mou a Eva valendo-se de Adão; portanto, Eva procedeu de
Deus e de Adão, como o Espírito Santo procede do Pai e do
Filho. Adão aparece com o imagem do Pai, por isso é seme
lhante ao Filho, que também procede com o figura do Pai.
Eva, no entanto, é uma figura do Espírito, já que foi criada
por Deus por meio de Adão, com o o Espírito Santo procede
do Pai por meio do Filho.
A coragem e sabedoria da palavra divina se refletem
em Adão, o homem, enquanto que em Eva, a mulher, encar
nam a doçura e bondade do Espírito Santo.
O símil corresponde mais à doutrina dos gregos, e mos
tra, de um m odo muito belo, como Deus nos põe sua ima
gem ante os olhos na natureza humana.9
5. Eva se parece também com o Espírito Santo, por
que este é efusão e foco do Amor do Pai ao Filho e do Filho
ao Pai. Eva é a mãe do gênero humano, e vem do Pai por
meio de seu marido Adão. Não é engendrada por Adão,
senão que é tomada de seu coração. Adão lhe dá com amor
a origem, porém somente da parte de Deus, que dá a vida
a ele e a ela. O Espírito Santo tampouco é engendrado pelo
Pai, como o é o Filho, senão que flui dele por meio do Filho.
O nome de Eva significa vida irradiante, mãe de todos os vi
ventes, ela é a alma mãe (mater alma), a mãe vivificante. Não
chamamos também ao Espírito Santo o Espírito vivificador,
o Spiritus almus, o Espírito vivificante?
6. Esta comparação nós a podemos estender ao segun
do Adão, Cristo. Fluiu de seu coração sangue vivo, quando
ele pendia da cruz, e deu a vida à sua esposa virginal, a
Igreja. Com o sangue do coração do redentor fluiu também
seu Espírito, por meio do qual a Igreja obsequia com seu
amor ao esposo divino. Como o sangue flui do coração e
com ele o Espírito, assim na divindade o alento divino flui
do Pai ao Filho e com o alento o Espírito Santo, no qual o
Filho faz refluir o amor ao P ai.10
9. D III 375.
10. D II 1019-1024: especialmente 1019, nota 6.
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5 — COMUNICAÇÃO DE VIDA EM DEUS
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de Deus, uma prenda e um dom pelo qual Deus ama a cria
tura e a une consigo.
4. É distinta a expressão interna do conhecimento em
Deus e no homem.
Quando conhecemos uma coisa, esta se grava em primei
ro lugar em nossa alma com o imagem; depois, esta imagem,
por meio do conhecimento, se estampa em uma palavra da
inteligência, que é distinta do conhecimento.
Em Deus não há transição do conhecimento ao desco
nhecido, ou vice-versa; Deus é imutável e onisciente. Como
Deus é simples, seu conhecimento tampouco pode ser distinto
de sua sabedoria. Seu conhecimento tampouco pode ter ori
gem no tempo, já que Deus é eterno. Não se podem distin
guir Deus com o conhecedor e a palavra ou imagem conheci
da de Deus.
Deus tampouco pode criar sua palavra ou imagem para
conhecê-la, senão somente porque se conhece com a plenitu
de e realidade exuberantes de seu conhecimento infinitamente
fecundo, que por isso somente o pode expressar de uma for
ma perfeitamente adequada uma palavra que permanece no
seio de Deus. Esta palavra é o Filho de Deus. Isto não nos
ensina nossa razão, senão a fé. A sagrada escritura fala do
Filho do Pai com o palavra, imagem, figura ou caráter do
Pai, com o a nítida emanação da claridade do Deus Todo-Po-
deroso, com o o fulgor da luz eterna, com o o espelho imacula
do da divina majestade, com o a imagem de sua bondade.
5. Entre nós, os homens, só com grandes dificuldades
se pode distinguir do amor a expressão interna do mesmo.
No entanto, todos sabemos que se distinguem da alma com
clareza e evidência.
Em Deus não há nenhum momento no qual não ame;
o amor de Deus é Ele mesmo em sua realidade mais pura.
O amor de Deus não é menos fecundo que o divino conheci
mento, porque é ubérrimo e eterno. Não se faz brotar como
pessoa o mesmo amor, senão a exalação do amor: o Espíri
to Santo. Ele é a chama, a exalação, o penhor, a dádiva, a
união, o abraço, o vínculo, a unidade, por meio dos quais
o Pai e o Filho estão unidos em uma paz imperturbável.11
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6. As comunicações de vida em Deus são eternas com o
o mesmo Deus; não têm princípio nem fim, com o o têm
a criação ou o conhecimento e o amor nos homens. Nem o
Espírito Santo, nem a palavra têm em algum lugar sua
causa em Deus por meio de algum movimento que começa
ou passa. Pernetuamente são produzidos e perpetuamente
têm sua origem em Deus. São eternos; o Pai é eterno, o
Filho é eterno e o Espírito Santo é eterno, com o a vida de
Deus é eterna: igualmente eternos — igualmente divinos.12
7. A palavra e o Espírito Santo procedem natural e
imediatamente da natureza de Deus; a palavra, com a mais
clara consciência do entendimento divino; o Espírito Santo,
com a suma complacência da vontade divina.15
8. Se fazemos algo, aperfeiçoamo-nos; porém, se Deus
comunica sua vida às pessoas, não pode deste m odo aper
feiçoar-se, posto que as comunidades de vida já pertencem
essencialmente às pessoas respectivas; mais ainda, são as
mesmas pessoas. Portanto, no fundo somente são relações
sem as quais as pessoas não existiriam. O Pai não pode
existir sem o Filho, e o Filho não pode existir sem o Pai,
como o Espírito Santo tampouco pode existir sem o Pai e o
Filho, e estes não podem existir sem o Espírito Santo.14
9. Por isso fica inteiramente excluído que o Espírito
Santo seja menos que o Pai e o Filho, exatamente com o o
Filho não pode estar abaixo do Pai. O Pai não pode existir
sem o Filho, assim como tampouco podemos pensar no Pai
e no Filho sem o Espírito Santo; sempre estão mutuamente
relacionados, já que as comunicações de vida não existem
em Deus com discrição, senão natural, perene e perpetua
mente. 10
10. Em Deus, nenhuma pessoa tem uma dignidade su
perior às outras; todo o ser de cada pessoa existe essencial
mente para as outras; as três são Deus em sua origem. O
Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. Cada
pessoa possui essencialmente a divindade que as vincula
entre si na dignidade e igualdade suprem a.16
12. D II 981.
13. D II 983.
14. D II 984.
15. D II 990.
16. D II 991.
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2. Palavra e imagem. Prenda e dom.
1. A palavra designa a expressão do conhecimento e a
imagem do objeto conhecido. Em Deus, o conhecimento e o
objeto são iguais: sua divina essência. A palavra e a ima
gem são irradiação e clarão de luz divina, porque Deus é
luz; já que Ele é a verdade permanente, reúne o cognoscível
e o conhecimento em um sd ser: na divina essência.17
2. Na segunda comunicação de vida, Deus ativa seu
amor perfeito, e o resultado deste amor é o Espírito Santo.
Por isso na escritura se chama hálito, dom ou prenda. É
próprio do conhecimento buscar uma expressão de si mes
mo; no entanto, é próprio do amor verter-se em outro ser.
Se duas pessoas humanas se amam, o amor que levam em
seus corações o derramam um no outro, e se tornam mútuos
regalos com o prendas de seu amor. A prenda forma então
um laço entre os amantes.
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Entre o Pai e o Filho não há em Deus nada externo que
seja suficientemente grande para expressar seu amor mútuo.
A efusão de seu amor somente pode ser um hálito interno,
uma prenda interna: a terceira pessoa da divindade, ou seja,
o Espírito Santo.18
Deus é a suma bondade e a mais perfeita beleza. Deus
não pode proceder de outra maneira, há de amar-se, há de
ter uma interna complacência em si mesmo, na palavra que
expressa esta beleza. O Pai e o Filho têm que amar-se,
porque gozam da posse comunitária desta única bondade e
beleza. O Pai exala de certo m odo seu amor ao Filho e
confirma assim sua viva solidariedade. O Pai exala na pala
vra o ardor e a força de seu amor. O Pai sela conjuntamente
seu amor e o amor do Filho.
Este hálito, este suspiro form a o laço que os une, con
verte-se na prenda deste laço de amor. Nele, o amante se
oferece em posse ao amado, e o amado ao amante. Este laço
se converte no beijo entre o Pai e o Filho. Ambas as pessoas
se abraçam no Espírito Santo; esta é a prenda, o laço, o
beijo, o abraço com que se unem o Pai e o Filho.
Deus, o bem infinito, só pode comunicar-se de uma ma
neira infinita. Como seu amor se manifesta com o doação e
efusão de amor, o fruto desta liberalidade se chama dom.
Também este nome é próprio do Espírito Santo. Contudo, a
palavra dom é equívoca, já que pode designar também a co
municação externa da bondade de Deus.
O amor divino flui entre o Pai e o Filho com infinito
gozo e bem-aventurança, com o um arroio que esparge gozo
e doçura de Deus, com o um fogo com o qual arde a chama,
com o um fogão cheio de brasas, do qual procede o calor do
alento. Este simboliza, com o um beijo, a união com o ama
do e a entrega a e le .19
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3. Verdade. Santidade.
1. Tem de ser distinguido em Deus o conhecimento da
palavra, que é a expressão do conhecimento, com o também
a efusão do amor, o Espírito Santo, do mesmo amor; porém
tampouco se lhes pode separar nem desligar um do outro,
como se fossem muito diferentes, já que têm lugar em Deus
com o comunicações de vida e também encontram seu termo
em Deus, o simples e imutável. Nos pensamentos de Deus
resplandece e vive o conhecimento divino, com o é em si pró
prio: ele mesmo é colocado com o essência de Deus em sua
expressão, a palavra.
A efusão do amor de Deus tampouco é somente a força
ativa deste amor, senão que o mesmo amor se inflama e
cresce com o essência de Deus no Espírito Santo. 20
2. A palavra e o hálito de amor são muito perfeitos e
reais, já que estão inteiramente em Deus. A palavra está no
mais íntimo de Deus, vitalmente e em infinita transcendência.
A efusão de amor, o Espírito Santo, também está no mais
íntimo de Deus, com perfeita santidade e indescritível gozo.
Como o conhecimento de Deus não só é um débil reflexo
da verdade, senão a verdade permanente, que pode subsistir
em si mesma, também a palavra tem que ser a verdade mes
ma. E com o o hálito de Deus é a santidade permanente
do mesmo Deus, também o Espírito Santo tem que ser a
santidade mesma.
Dado que o conhecimento e o amor estão arraigados na
essência de Deus, a verdade e a santidade, a palavra e o
espírito são idênticos à substância do Pai, com a única dife
rença de que participam da substância de Deus de distinta
maneira.
3. O coração de Deus verte toda sua força vital e toda
sua substância em seu alento, o Espírito Santo. Nesta pren
da de amor, o Pai e o Filho estão unidos e fundidos entre
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si, não só simbolicamente, senão de acordo com toda sua
substância. Toda sua vida e toda sua bondade estão essen
cialmente contidas nessa prenda de amor. Neste fruto da
generosidade vive a vontade liberal de Deus, essencialmente
unida com toda sua riqueza e sua infinita bondade.21
1. O conceito de “pessoa” .
1. Depois que a Igreja foi perseguida nos três primei
ros séculos, teve que se haver, enquanto pôde gozar de liber
dade, com as heresias que tinham brotado em seu próprio
seio. Via-se obrigada a designar a unidade de Deus com o
unidade de essência e de natureza, e ao mesmo tempo tam
bém devia encontrar para os três participantes desta natu
reza um nome comunitário que os designasse com o possui
dores da natureza e os distinguisse também entre si. Já
Tertuliano (t 220) utilizou para este fim o nome de “ pes
soa” , que se impôs paulatinamente com grande dificuldade
e amiúde sem ser com preendido.22
2. A pessoa é possuidora digna e potente de uma natu
reza intelectual; apresenta-se ante outros possuidores de dita
natureza sem fundir-se com eles e tem que ser apreciada por
esses com o ela se aprecia a si mesma. Tudo isto diz respeito
às três pessoas divinas, Pai, Filho e Espírito Santo.
As pessoas criadas não são totalmente independentes,
porque têm sobre si a Deus como origem e último fim.
Ademais, sua natureza é criada de novo em cada pessoa par
ticular; diferenciam-se portanto entre si por parte da natu
reza. Não procedem da mesma natureza e tampouco se têm
que apreciar e amar necessariamente, senão seguindo o man
damento moral do amor ao próximo.
Como as pessoas divinas são partícipes da infinita natu
reza divina, possuem uma dignidade e uma perfeição abso
lutamente supremas e só se distinguem entre si como pes
soas, porém não na natureza. O Pai tem a natureza divina
primordialmente, o Filho a recebe do Pai, e o Espírito Santo
a recebe do Pai e do Filho. Esta relação de origem é eterna
21. D II 956ss.
22. D II 893s.
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e vincula essencialmente as três pessoas entre si, de tal for
ma que, necessariamente, se têm de apreciar e am ar.23
3. Em uma pessoa criada somente pode haver uma na
tureza, que faz da pessoa uma substância particular, porém
a natureza divina é tão rica e poderosa que pode subsistir
em uma forma tripla e aparece em três pessoas.
Cada uma das três pessoas possui desde toda a eterni
dade a natureza divina para si, porém só enquanto simulta
neamente a possui também para as outras duas pessoas ou
a obtém delas: assim, pois, estão necessariamente relaciona
das entre si por meio de seu caráter pessoal; cada uma re
presenta de distinto m odo a natureza divina com o perten
cente a si mesma. Os nomes das pessoas expressam estas
relações: o Pai gera ao Filho, e ambos exalam ao Espírito
Santo.24
4. Deus não passa, com o as criaturas, de não-ser a ser,
de não-atuar a atuar, do imperfeito ao perfeito. Deus é o
ser, a mais pura realidade, a perfeição ilimitada; por isso
somente Ele pode comunicar toda sua essência indivisa. O
receptor possui também a natureza inteligente de Deus; é
pessoa divina. Por conseguinte, os resultados das comuni
cações da vida de Deus, de seu conhecimento e de seu amor,
são verdadeiras pessoas que só se diferenciam das outras
na maneira com o possuem a natureza divina.25
2. As pessoas divinas.
1. Em Deus tem que haver um portador e possuidor
original da natureza divina, uma pessoa não produzida. A
esta chamamos Pai. Tem o conhecimento divino original
mente, conhece-se a si mesmo e sua substância. É a origem
da palavra, na qual se expressa este conhecimento.
Por meio desta palavra anterior, não somente se comu
nica um pensamento, senão que esta palavra acolhe em si
também simultaneamente o conteúdo do pensamento que não
é mais que a essência de Deus, que assim também fica conti
da na palavra. O Pai não somente fala por meio da palavra,
senão que fala também a ela.
23. D II 901s.
24. D II 904; 909s.
25. D II 910; M/13.
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2. O Pai e o Filho são infinitamente bondosos e amá
veis; têm que amar-se mutuamente. O prazer com que o
Pai e o Filho amam e possuem a mesma natureza, e gozam
dela, é ubérrima e somente se se pode expressar de tal form a
que o Pai e o Filho façam fluir esta natureza para uma ter
ceira pessoa que acolhem em sua comunidade. O que pos
suem os dois, sem perdê-lo, comunicam inteiramente ao Espí
rito Santo.
O Espírito Santo é a prenda que o Pai e o Filho permu
tam êm seu amor. O Espírito Santo coroa este amor, não
de m odo impessoal, com o um regalo que se dão aos homens,
senão que uma terceira pessoa que se reúne com as duas e
vive entre elas. É o hálito e o beijo, no qual o Pai e o Filho,
com a absoluta unidade e plenitude de seu coração comuni
tário, demonstram seu amor com uma eficácia infinita, aco
lhendo nesta unidade à terceira pessoa. O Pai, o Filho e o
Espírito Santo são em verdade e com plenitude um coração
e uma alma.
Em Deus não pode produzir-se uma quarta pessoa, já
que a natureza espiritual não pode ter mais que conhecimen
to e amor. A palavra como pessoa representa a divina sabe
doria; o espírito corresponde à fecundidade do amor divino.
3. Companheiro do amor.
1. A palavra de Deus, não somente é uma palavra por
meio da qual Deus fala, senão que é uma pessoa à qual
Deus-Pai fala, comunicando sua sabedoria; esta pessoa tam
bém pensa e fala. Pode ser enviada ao mundo e representa
ao Pai.
29
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Assim mesmo, a efusão do amor divino, o Espírito San
to, não somente é hálito ou prenda do amor entre o Pai e o
Pilho, senão que é também uma pessoa que é acolhida na
aliança do Pai e do Filho, é amante e assim mesmo amada,
e aparece com o companheiro do a m or.27
2. A vida que provém da natureza de Deus se comu
nica com o um ato de conhecimento à palavra divina.
O Espírito Santo obtém a vida por meio da decisão da
vontade do Pai e do Filho, de acolhê-lo em sua comunidade
com o terceira pessoa e companheiro. Ele recebe do amor
divino a vida divina.28
3. A ordem de sucessão: Pai, Filho e Espírito Santo,
é fixa e inamovível. O conhecimento supõe uma pessoa co
nhecedora, que expressa a palavra e a quer também amar.
O amor, por meio do qual o Espírito Santo é exaltado, supõe
essencialmente duas pessoas, já que o amor tem sua origem
no conhecimento fecundo entre o Pai e sua viva imagem, a
palavra, e por isso é essencialmente amor recíproco. Por
meio deste amor, o Pai e o Filho se entregam ao Espírito
Santo.29
30
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Na escritura, não se chama tão claramente à terceira
pessoa da divindade com nomes determinados, porém nunca
se a atribui ao conhecimento de Deus, de tal forma que sua
vida somente pode estar comunicada por meio da vontade
de Deus. Atribuem-se ao Espírito Santo muitas coisas pelas
quais ele representa o amor divino. Quando no século IV
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teve que ser defendida a divindade do Espírito Santo contra
os hereges, os padres gregos falaram dele com o de santida
de vivente no amor mais luminoso e puro. No ocidente se
designava mais com o amor recíproco, com o amor de comu
nidade e unidade do Pai e do Filho. Este amor se apresenta
por sua maneira de ser com o amor santo.31
2. As outras duas pessoas também poderiam chamar-
-se Espírito ou Espírito Santo, porque elas possuem a natu
reza de Deus, que é espiritual e santa em sumo grau.
Poder-se-ia designar ao Espírito Santo com o procedên
cia, porém também o Filho procede do Pai; além disso, tam
bém se pode conceber esta palavra de um m odo impessoal.
O nome de entrega tampouco nos dá uma imagem clara da
origem da terceira pessoa, porque qualquer ser espiritual
pode entregar-se a Deus.
Se se explicam mais estas expressões, se logra uma ima
gem viva da terceira pessoa da divindade, que nos reflete
o Espírito Santo com bastante clareza. O melhor é consi
derar conjuntamente as duas expressões: Espírito e pro
cedência.
Também se usa a palavra espírito para designar o alen
to ou o hálito. Em Deus notamos a efusão de sua vida no
hálito de seu coração. Como no engendramento do Filho,
vemos nesta efusão a procedência de uma pessoa.
Se duas pessoas estão unidas, são de “ um mesmo espí
rito” ; simpatizam entre si amorosamente, vivem uma para a
outra e uma em outra. Tudo fazem uma para a outra, com o
se fizessem para si mesma; tudo o que uma sofre e experi
menta, a outra o acolhe com o se o houvesse sucedido a si
própria. Desejam com ardor ser uma só coisa, viver uma
com a outra; ficam dominadas pelo êxtase do amor. Este
desejo de ser uma só coisa com o amado, aspira natural e
poderosamente a unir-se com ele também em realidade. Os
amantes procuram fundir suas vidas.
Quando o amor tem seu fundamento mais natural e efe
tivo, e se dá a conhecer da maneira mais pura e delicada,
o anelo tem também sua máxima força. A mãe levou sob
seu coração ao menino que agora descansa em seu seio, o
menino recebeu dela sua vida e ainda tira vida e vigor do
31. D II 939.
32
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peito materno. Como manifestará o menino com mais viva
cidade seu amor interno, senão pelo beijo que imprime na
boca da mãe? E que outra coisa exige o coração materno,
senão dar uma vez mais sua vida ao fruto de seu seio por
meio de um beijo? O alento vital de ambos se fusiona em
um, seus corações concordam em uma vida, suas almas em
um espírito.
3. O hálito, com o alento vital, facilita a unidade preten
dida pelo amor no beijo e expressa esta unidade. Assim o
beijo vem a ser para nós um símbolo gráfico e vivente da
terceira pessoa da divindade. São Bernardo, com os Santos
Padres, chama ao Espírito Santo o “ beijo do Pai e do Filho,
o beijo mais doce e misterioso” . Porém em Deus não há
duas vidas que anseiem fundir-se, aqui somente há um alen
to, um coração, uma vida. E o beijo não somente expressa
este anelo, senão que é portador da vida. O Pai e o Filho
exalam o alento vital na terceira pessoa com o ardor vivo
de seu coração comum. Este alento é o Espírito Santo.
Porque os amantes comunicam com o alento a própria vida:
o Espírito Santo vem a ser receptor, portador e possuidor
desta vida, por conseguinte é uma pessoa, com o também o
são o Pai e o Filho. Como o Filho aparece engendrado por
meio da unidade da palavra e da imagem, assim também o
Espírito Santo é uma substância independente, viva, por meio
da unidade do alento vital. A corrente de vida não flui atra
vés de alento, senão que penetra no alento do Pai e do Filho,
para descansar e concluir neste alento, porque o Pai e o
Filho são uma só coisa em sua vida. Assim, pois, o alento
de Deus é portador da vida, e, com o é imat-srial, também
é uma pessoa.
Não é, pois, o espírito ou o alento do Pai e do Filho o
nome mais rico, vivente e expressivo para a terceira pessoa
da divindade?
Ainda que tomemos a exalação com o respiração, pode
mos dar um sentido mais profundo a esta expressão. A ins
piração é a força motora, a expiração é a efusão da vida.
No alento flutua e voga a vida. Na expiração vemos suscinta
e substancialmente o transbordamento de toda a vida. Tam
bém neste sentido o nome de exalação nos põe ante os olhos
a verdadeira mediação de vida e a procedência pessoal que
o Espírito Santo tem do Pai e do Filho (cf. Gên 2,7 e Ez 37,4).
33
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4. Porém, também a palavra procedência tem um senti
do mais profundo (cf. Jo 15,26).
A impressão da essência paterna, a irradiação do conhe
cimento divino na palavra é tranqüila e completa. O Pai e
o Filho se acham face a face, conhecendo-se e contemplando-
-se; porém, ao produzir ao Espírito Santo, se relacionam
mutuamente, se juntam, vivem um no outro. Há um eterno
sair, uma entrega e aceitação, um vivo hálito ilimitadamente
poderoso que procede de ambos, uma vigorosa pulsação do
coração infinitamente dilatado de Deus. Este coração arde
nas mais sublimes brasas da vida afetiva com o chama incan
descente de um fogo universal do amor. Neste amor que
se verte e é rápido e ativo, a substância do Pai e do Filho se
comunica ao Espírito Santo. Por isso também soprou a forte
rajada de vento que sacudiu, no dia de pentecostes, a casa dos
apóstolos; por isso apareceram as móveis línguas de fogo
sobre os apóstolos; por isso o Salvador compara também
o Espírito Santo com uma fonte espumante de água viva
(Jo 7,38).
Não se perturba deste m odo a dominante e eterna
serenidade de Deus. Em Deus reina a paz mais absoluta, a
bem-aventurança mais inalterável. As pessoas divinas não se
movem para buscar algo, já têm tudo; possuem, saboreiam
e abraçam o Espírito Santo com uma paz não perturbada
desde toda e para toda a eternidade.
5. Diz Santo Agostinho mui acertada e engenhosamen
te: “ O Espírito Santo não procede com o nascido, senão com o
dado” . O Espírito Santo não é gerado, senão dado, porque
o Pai e o Filho entregam ao Espírito Santo sua natureza por
meio do amor e se fazem também mutuamente doação do
Espírito Santo com o prenda de seu amor; e assim o possuem
em comum. O fato de que o Espírito Santo nos seja enviado,
é de certo m odo a continuação da sempiterna entrega, na
qual ele mesmo tem sua origem e que se realiza nele. O Espí
rito Santo é oferecido a nós com o dom livre, porém em Deus
o Espírito Santo é tão necessário com o o amor é essencial
em Deus. Assim, pois, é próprio do Espírito Santo ser o
primeiro e supremo dom em Deus e ao mesmo tempo fonte
e finalidade de todos os dons que Deus nos dá por amor
livre e propício. Deus nos oferece, antes de tudo, o dom de
poder amá-lo, com o qual Ele também nos faz doação da
prenda infinita que está colocada neste amor, ou seja, o
Espírito Santo. Deste m odo, a torrente de transbordante
34
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amor divino também sai de si, a fim de inundar-nos com a
riqueza de seus dons. Este prodígio ocorre especialmente
por meio da graça, pela qual participamos do amor de Deus,
e, unidos sobrenaturalmente com Ele, podemos desfrutar da
doçura e bem-aventurança que o Pai e o Filho possuem no
Espírito Santo, e gozar delas.
6. Como espírito, com o alento de Deus, o Espírito San
to sai do coração de Deus e entra no nosso, formando um
laço vivo ao redor de ambos: o criador e a criatura.
Como espírito, nos impregna de seu calor amoroso e
nos enche de prazer inefável.
Como espírito, nos comunica seu amor e introduz em
nós centelhas luminosas desde a luz do Filho, convertendo-as
em chama radiante para que conheçamos mais e mais a
Deus.
Como espírito, nos embebe, a nós, suas criaturas, de
sua força vital, nos livra da morte e da putrefação e nos
enche de amor imorredouro a Deus.
Por seu espírito, o vemos com o o beijo mais doce, com
o qual Deus sela sua aliança de amor conosco, suas criaturas
agraciadas. Como alento de vida, o Espírito Santo, com seu
calor benéfico e sua frescura restauradora, é a floração mais
pura no amor divino: nós podemos fazer alguma idéia de
com o o Espírito Santo é em Deus “ a fruição, a felicidade, a
bem-aventurança, a doçura do engendrador e do engendrado”
(Santo Agostinho).
O Espírito Santo, que é o paráclito, o consolador, sara
nossas feridas com seu hálito benéfico e eleva nossa alma
deprimida com o um forte vento. O coração paternal e amo
roso de Deus palpita no Espírito Santo e apresenta nosso
coração receioso ao abraço paterno.
b) Santo
1. A terceira pessoa da divindade não se chama sim
plesmente Espírito, senão Espírito Santo. Ainda que o Pai
e o Filho sejam santos, ou mais precisamente porque o Pai
e o Filho são santos, o Espírito que exalam é santo de um
m odo muito particular.
O amor e a unidade entre o Pai e o Filho são divinos;
não deve ser sua prenda de infinito valor? Não tem pois que
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ser sacrossanto e sagrado o vínculo que os enlaça? Não tem
que ser puro e genuíno seu selo? E, resumindo, em poucas
palavras, não tem que ser seu Espírito a mesma santidade?
O santo significa para nós o bem mais excelso, adorável
e preciso. Santos são para nós os laços mais fortes e invio
láveis, santa é também a fidelidade inquebrantável com que
dites laços são mantidos e terminados. Santo é, para nós,
o nítido, o imaculado que nada pode turvar ou alterar. Espe
cialmente santo é para nós o amor não contaminado por
egoísmo algum ou pela sexualidade.
2. Quando chamamos santo ao Espírito do Pai e do
Filho, este espírito nos parece com o um diamante de imen
so valor, cristalizado pelo hálito de amor e de vida do Pai
e do Filho. Parece-nos com o um diamante de solidez inque
brantável e de pureza muito acendrada. Com uma sublimi
dade notável, o Pai e o Filho empunham seu amor no Espí
rito Santo, selam nele sua aliança e afiançam e coroam sua
felicidade.
O Filho é igual ao Pai, e o Espírito Santo é santo em
ambos.
c) Espirito Santo
À terceira pessoa da divindade, a Igreja sempre a chama
Espírito Santo, e ao chamá-la assim, procede acertada e
profundamente. O Espírito Santo é infinitamente mais per
feito e santo do que os homens podemos expressar neste mun
do. Que riqueza, que profundidade há nestas palavras! Espí
rito e santo. O que aqui neste mundo vemos sobre estes
dois conceitos é só remotamente semelhante; só podemos
falar do Espírito Santo com expressões análogas. E, no
entanto, nos parece já tão rico, tão vital, tão acertado. Ainda
que só logremos considerar e entender um pouquinho estas
expressões, o mistério do Espírito Santo está já diante da
nossa vista clara e expressamente.
O Pai, o Filho e o Espírito Santo nos têm revelado
estas verdades e demonstrado uma vez mais com que
infinita sabedoria e bondade se acomodam a nós, que
somos pobres membros da humanidade.32
36
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5. Símbolos do Espírito Santo.
a) Fragrância da flor
Quando respiramos, exalamos nosso próprio eu; quan
do a flor exala, solta uma fragrância. O bálsamo, o incenso,
o mel, o óleo e o vinho fazem sair o aroma da planta. O aro
ma se difunde com o o éter, o ar se enche do aroma de for
ma límpida e invisível. A fragrância é o mais delicado e
nobre da flor, que derrama na fragrância o mais íntimo que
rijos (SI 134,7; Jer 10,13). Chama-os de seus mensageiros e executores
de suas obras (SI 103,4).
O vento vivifica ao recém-nascido (indugermanos)... A alma é
um hálito de ar. (indugermanos, mongóis, persas).
Antes do batismo, sopra-se sobre o que há de ser batizado. O
alento purifica.
"Vento, tens safdo cedo!
Ainda trazes o alento úmido
e fecundo da noite.
Porém ao mesmo tempo te rebelas
em vastas regiões
e desgarras aguerrido
o vento morno ao esplendor da aurora,
e fazes soar a alma
como um golpe metálico.
Penetra bem em mim,
Faze que meu coração seja tua vela,
empurra-a, enche-a, infla-a,
impulsiona meu barco para mui distantes costas,
a costas azuis, brilhantes, do infinito.
Ou melhor, lança-te contra a vela, faze-a em pedaços,
rompe o mastro, rebenta a quilha,
e nos lustrosos arrecifes de coral,
que chanfram as eternas ondas com vigor,
arroja os escombros com um jogo espumante.
Vem efusão urgente,
vem, corrente vermelha de fogo,
vem, espirito criador.”
(Bergengruen IK II 9ss.)
A santidade é o conceito central dos pensamentos sobre o culto
e da religião em geral.
A idéia da santidade procede da experiência. Em cada mani
festação de força, em cada caso fortuito e em cada catástrofe, o
homem primitivo vê a atuação de poderes excelsos. O homem
se vê impotente ante este império de poderes superiores... Por
meio do rito se supera a flutuação entre o temor e a esperança...
O rito é simultaneamente entrega e afirmação de si mesmo. Supera
a situação de estagnação. Atreve se a esbarrar com o avassalador
por meio da ação. O homem, fascinado pela vista do mistério, se
move do lugar e se dirige para o inexplorável... A santidade é um
conceito de limite e distância... A palavra latina sacer significa o
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tem, sua alma. Sua fragrância nos fala de pureza, saúde e
frescura com que a flor se abre. A fragrância conduz a
abelha para a violeta, a fim de recrear-se no cálice de sua
flor e preparar o mel aromático. A flor aromática também
se dirige a nossos sentimentos; a alegria, ou também a tris
teza, penetra em nossa alma. A fragrância emana também
do Espírito Santo, porém não com o dom sem alma, senão
com o amor divino, pessoal, que no coração do Pai e do
Filho somente causa gozo, um gozo infinito, eterno, em uma
convivência ditosa. Sua fragrância é bondade natural, santi
dade suprema e gozo indivisível, tão inspirada que aperfei
çoa a vida divina e a faz refulgir na Trindade bem-aventu
rada. Sua fragrância se dirige para dentro, ao Filho como
a flor, e ao Pai como raiz e tronco; somente assim podem
ser uma só substância e estar unidos em sua essência.33
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b) óleo confortante
Também o óleo brota da planta, também o óleo emite
aroma, especialmente se está misturado com o bálsamo per
fumado. É o símbolo da bondade, da santidade e do gozo
do Espírito Santo. O bálsamo também é considerado com o
imagem do Espírito Santo, porque a fragrância emana espe
cialmente do bálsamo. Também nós, os homens, somos un
gidos na confirmação com o bálsamo da salvação, para que
o Espírito Santo nos restaure e fortaleça (veja-se também:
III. O Espírito Santo em C risto).34
c) Vinho restaurador
De um m odo semelhante à fragrância, o vinho também
reanima e restaura nossa vida afetiva. É a “ alma da uva” .
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Que grande correspondência tem também com o Espírito
Santo! Em primeiro lugar, quando o vinho se transforma
no sangue de Cristo. Com o sangue do Senhor, fluiu tam
bém o Espírito Santo à esposa imaculada do Filho, a Igreja
(cf. III, 1 0).”
d) Beijo do amor
Pode-se comparar a maneira com o o Filho procede do
Pai, com a procriação de um ser humano, e a maneira como
o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, com o beijo
que une a dois amantes. O beijo é o alento que emana do
coração e representa no homem o desejo de comunicar a
própria vida a outra pessoa. O que no homem não passa
de ser uma respiração importante, em Deus é muito eficaz.
A interna emanação do alento divino, o beijo que une ao Pai
e ao Filho, é uma comunicação de vida que desde toda a
eternidade é verdadeira e real. O alento de Deus não emana
de dois corações separados, com o sucede entre os homens;
procede de um coração único que o Pai e o Filho possuem
em comum; por isso seu alento manifesta e confirma a uni
dade de vida mais própria e verdadeira. Como o alento de
Deus é espiritual e vivo, tem que produzir também um espí
rito vivo, a terceira pessoa da divindade, o Espírito Santo.
O símbolo do beijo é ao mesmo tempo espiritual e gráfico,
já que o alento provém de partes psíquicas e espirituais do
homem, especialmente se se expressa pura e castamente no
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beijo de duas pessoas que se amam. O beijo está junto com
o amor que emana imediatamente do coração.36
O Pai e o Filho podem ser representados na arte com o
seres humanos, porém não o Espírito Santo, porque é sim
bolizado com o espírito por meio do alento invisível. Contu
do, também se poderia dizer do Pai e do Filho que são espí
rito, porém tem que se ajuntar: o Espírito Santo é de certo
m odo a alma comum de ambas as pessoas que estão unidas
no amor, por isso a ele se chama com maior razão Espírito
da Trindade. Estes pensamentos foram especialmente con
siderados por São Cirilo de Alexandria ( f 4 4 4 ).37
e) A pomba
Na Bíblia se representa o Espírito Santo com o sím
bolo de uma pomba, como depois da criação do mundo e no
batismo de Jesus no Jordão. Em geral, a pom ba é conside
rada com o símbolo do amor e da fidelidade, especialmente
do amor casto, terno, paciente, inofensivo.
A pom ba nos representa também o Espírito Santo co
m o Espírito de Deus, tal com o procede do Pai e do Filho.
O Espírito Santo sai do coração de Deus com o uma pomba,
enquanto o Pai e o Filho o exalam; com o uma pomba, voa
com as asas estendidas com uma móvel tranqüilidade e uma
tranqüila mobilidade sobre eles; o Espírito Santo coroa,
aperfeiçoa a aliança do Pai e do Filho, proclama, por meio
de um suspiro, a infinita bem-aventurança e santidade do
amor do Pai e do Filho; também aparece sob a representação
de uma pom ba com o o beijo, abraço e suspiro de amor do
Pai e do Filho; para eles é simultaneamente virgem e es
posa. 38
Por isso a pom ba é também símbolo do Espírito Santo
porque, por ser uma ave, está relacionada com o ar, o vento,
o hálito e o alento; move-se no ar, deixa-se levar por ele
em rápido vôo. Parece que é o ar mesmo, o alento vivo
com form a corpórea.
Não se pode comparar o Espírito Santo com um cor
deiro, com o faz São João Batista falando do Salvador, po-
36. D II 1015.
37. D II 1016-1018.
38. D II 1025.
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rém, sim, se o pode comparar com uma águia vigorosa e
valente. Esta comparação não tem nenhum ponto de apoio
na sagrada escritura. O Espírito Santo se nos apresenta
com o a graça amorosa e doce de Deus. Contudo seriam sím
bolos acertados, que manifestariam simultaneamente pólos
opostos:
Cristo: cordeiro e leão
Espírito Santo: pom ba e águia 59
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3
7 — CRISTO, O UNGIDO
1. D II 1001; 1006-1008.
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cede para fora, não só atribuímos ao Pai a encarnação,
senão a toda a Trindade.
A palavra flui tão intimamente para a humanidade de
Cristo, que esta passa a ser uma só pessoa com a palavra,
a pessoa da palavra. Como o Espírito Santo não pode ser
separado da palavra, também o Espírito mora com a palavra
na humanidade de Cristo. Se comparamos o Pai com a
oliveira, o Filho com o fruto e o Espírito Santo com o óleo
que sai do fruto e serve aos homens para conforto e unção,
temos um símbolo muito oportuno para a unção de Cristo
por meio do Espírito Santo:
A oliveira produz O Pai produz
por meio do fruto por meio do Filho
o óleo ao Espírito Santo
para os homens para a humanidade de Cristo.
Assim Cristo é realmente um filho do óleo, com o se
chama em Zac 4,14 aos protótipos Zorobabel e Josué, segun
do a tradução de Nácar-Colunga.
Posto que o Filho de Deus tampouco pode separar-se do
Pai — que é a última causa que tudo domina — , também
o Pai com o Filho e o Espírito Santo mora em Cristo.2
3. O fato de que Cristo esteja ungido pelo Espírito
Santo, significa mais ainda que a mera inerência do Espírito
Santo em Cristo. Os santos padres atribuem também ao
Espírito Santo a encarnação, e o fazem pelas seguintes ra
zões:
A encarnação procede do livre e superabundante amor
de Deus, que quase sempre é atribuído ao Espírito Santo.
O Espírito Santo procede também" do’ Filho.’- Não é
nenhum sinal de indigência que o Filho seja unido pelo Espí
rito Santo com a humanidade, senão que a palavra toma
carne graças à plenitude de vida e força que ela mesmo
manifesta no Espírito Santo.
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O Espírito Santo procede do Pai e do Filho; portanto,
é conveniente que precisamente ele una Deus com o homem.
Assim com o ele é o laço coroador entre o Pai e o Filho,
também é o laço de amor entre Deus e a criatura; neste
caso a humanidade de Cristo.
Assim com o no homem a palavra de seu espírito se une
com a palavra de sua boca por meio da respiração, de um
m odo similar a palavra divina se une com a humanidade
de Cristo e se tom a visível na terra. Assim com o em nós
a respiração leva para fora a palavra interior, assim também
o alento de Deus, o Espírito Santo, que une a palavra eterna
com a humanidade de Cristo, e nos faz visível.
Deus uniu alma e corpo no primeiro homem, soprando
sobre ele com o alento sua vida divina. Assim também
Deus exalou a palavra eterna na humanidade de Cristo. Que
outra coisa é o alento, o hálito de Deus, senão o Espírito
Santo?
Mediante a encarnação, Deus se comunicou na forma
mais sublime a uma criatura, a quem divinizou, santificou
e agraciou em sumo grau. Não são sempre atribuídas ao
Espírito Santo tais ações de Deus? 3
4. Se no santo batismo é infundido o Espírito Santo
em um homem normal, é ungido também com o Espírito
Santo; contudo, esta unção se diferencia fundamentalmente
da unção de Cristo. Deus se comunica a ambos para aperfei
çoar sobrenaturalmente sua natureza espiritual. Em nenhum
dos dois a unção é essencial ou necessária, senão uma graça
de Deus livremente outorgada. Porém quando a humanida
de de Cristo foi ungida, toda a humanidade de Cristo foi
aperfeiçoada em uma medida tal, que a natureza humana de
Cristo divinizada form a com a natureza divina da palavra
etema somente uma pessoa, a pessoa da palavra. 4
3. D V 387-391; 511-515.
4. D V 523.
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desta fonte ao Espírito Santo que ele possui com o seu pró
prio espírito. Contudo, Cristo é Filho de Deus, que recebeu
do Pai o Espírito para comunicá-lo a n ó s.5
5. D v 395.
6. D V 1030; 1038.
7. M/62.
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9 — ESPIRITO E SANGUE
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Por isso a devoção ao sacratíssimo coração de Jesus,
ao altar do amor divino, está estreitamente enlaçada com
a devoção ao Espírito Santo com o representante divino deste
amor. Penetremos profundamente no mistério do coração di
vino e do Espírito Santo, especialmente em nosso tempo in
diferente e frívolo.
0 sangue do coração de Cristo é assim o laço entre Deus
e o mundo, no qual se juntam o céu e a terra, com o na
Trindade o Espírito Santo, por ser a emanação da mútua
entrega do Pai e do Filho, é o eterno laço que une ao Pai e
ao Filho entre si e também com as criaturas.8
2. O derramamento do sangue de Cristo e a vinda do
Espírito Santo são apresentados na sagrada escritura de uma
forma muito similar. Comparem-se somente os seguintes
textos da sagrada escritura:
Hbr 12,22.24: "Vós haveis ch eg a do... a Jesus, mediador
de uma aliança nova, e da aspersão daquele sangue que fala
melhor que o de Abel” , e Rom 8,26: “ .. .o espírito mesmo
advoga por nós com suspiros inenarráveis” .
Em muitos textos: " . . . o sangue da aliança e da heran
ç a . . . ” e em E f 1,14: " . . . o Espírito é prenda de nossa
herança” .
1 Pdr 1,2: " . ..e l e it o s ... para, mediante a santificação
do Espírito . . . serem aspergidos com o sangue de Jesus
Cristo” , ou Ef 1,13: " . . . haveis sido selados com o selo do
Espírito Santo prometido” .
Jo 6,55: " . . .meu sangue é verdadeira bebida” , e 1 Cor
12,13: " . . . a todos se nos tem dado a beber um mesmo
espírito” .
Ef 2,13: “Porém agora, incorporados a Cristo Jesus...
fostes aproximados pelo sangue de Cristo” , e Ef 2,18: " . . .
por meio dele temos os dois (judeus e pagãos) acesso ao
Pai em um só espírito” .
Hbr 9,22: " . . .sem efusão de sangue, não há remissão” ,
ou Apc 22,14: "Bem-aventurados os que lavam suas túnicas”
(no sangue do cordeiro), e 1 Cor 6,11: “ fostes lavados...
pelo espírito de nosso Deus” .
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O sangue de Cristo é o sangue do cordeiro; é doce, puro,
mui suave e agradável a Deus, porque nele mora o Espírito
Santo com o a pura pom ba que desceu sobre ele para mostrá-
-lo ao mundo com o cordeiro de Deus.
A pom ba divina inspira no sangue do cordeiro aquela
maravilhosa suavidade e grande valor, por meio dos quais
o sangue do cordeiro se converte no bálsamo que nos traz
graça e paz.
3. O simbolismo da sagrada escritura nos põe sempre
ante os olhos, de uma maneira substanciosa e conseqüente,
as idéias mais profundas e ricas de nossa redenção e santi
ficação. 9
10 — ESPIRITO E SACRIFÍCIO
9. M/65, nota 19. Sobre isto observa Hõfer: "A última frase é
importante para a adequada inteligência da doutrina teológica cientí
fica de Scheeben".
10. M/71.
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fício da cruz e funde a Igreja imolante com o eterno holo
causto do cord eiro.11
2. No sacrifício da eucaristia, o espírito de Deus que
mora em nós, e que também é o espírito de Cristo, nos une
em um só espírito. Porém, com o o espírito de Cristo sopra
em seu corpo, temo-nos de unificar com este corpo para re
ceber nele o espírito e a virtude que nele vive e atua.12
11. M/72.
12. M/73.
13. M/73.
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uva divina. Este vinho-sangue é espremido do coração hu
mano do Salvador com a força de seu amor na cruz, é der
ramado sobre todo o mundo e é infundido nos corações de
todos nós.
O Espírito Santo, com o hálito amoroso do Pilho, impul
siona ao Filho a entregar-se na encarnação e na eucaristia.
O Corpo de Cristo dimanado do fogo do Espírito Santo com o
um dom espiritual, é oferecido a nós por Deus-Pai, e o apre
sentamos de novo com o sacrifício. Este corpo o penetra,
transfigura e espiritualiza o Espírito Santo de tal forma que
ambos — com o o fogo e o carvão — parecem ser uma só
coisa. Este corpo extravasa de Espírito Santo, cuja fra
grância solta este corpo no sacrifício e cuja força vital a
derrama em nós, se se nos oferece com o comida.
O nome de “ eucaristia” — o bom dom — também assi
nala ao Espírito Santo, o qual está dando a existência e
produzindo o supremo dom. Todos estes pensamentos mis
teriosos estão indicados de um modo esquisito na forma
do peristerium (sacrário) da antiga Igreja, que como sím
bolo do Espírito Santo, tinha a forma de pomba. Nele
estava contida a eucaristia entre os atos de culto. u
11 — ESPIRITO E TESTEMUNHO
14. M/75.
15. D V 151. Para os textos da escritura a este respeito, cf.
V, 14,3: Testemunho da verdade.
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demonstra que o envia com uma solidariedade total com o
Pai. O Espírito Santo pode testemunhar que Cristo vive e
atua para sempre. Também nos prepara para as graças que
necessitamos com o discípulos separados ainda de Cristo aqui
neste mundo. Estas graças, delas necessitamos para tender
ao céu e ser presos ao Cristo com am or celeste e espiritual,
a fim de que mais tarde, juntamente com Ele, desfrutemos
no céu do triunfo e esplendor da eterna glória .10
16. D V 1234.
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4
1. D V 547-549; 553.
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Espírito Santo, somente podia ser preparado no fogo de um
tal espírito. Esta carne espiritualizada foi concebida em
Maria e nasceu com o um espírito.2
3. Por isso veneramos com razão a Maria com o a espo
sa do Espírito Santo. O Espírito Santo mora em Maria com o
em um templo, inclusive depois do nascimento de Jesus
alcança e aperfeiçoa com sua graça a vida sobrenatural de
Maria.
Este esposo de Maria se dá a conhecer na sagrada escri
tura com o pomba. Também podemos chamar com razão
pomba de Deus a sua esposa, a sua imagem. Ela, com o sua
esposa, é uma pessoa jurídica com o ele, de tal forma que
ele também pode designá-la com seu nome.
E ainda que sejamos templo do Espírito Santo, agracia
dos e vivificados por ele, a sua esposa, a doce, a bondosa,
com segurança e cheios de confiança, também a podemos
chamar “mãe da graça” e “ mãe nossa” .
A palavra divina diviniza a Jesus Cristo, que é um ho
mem. Chama-se o cordeiro de Deus, porque se imolou por
nós.
O Espírito Santo traz uma vida nova e sobrenatural a
uma mulher por ser esposa sua e sua viva imagem. Ela, co
mo ele, se nos apresenta com o pomba.
O cordeiro e a pomba unidos harmoniosamente na obra
da redenção de Deus.
Sacrifício e graça, maravilhosamente preparados para
nós.
“ Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ten
de piedade de nós.”
“ Pomba minha, deixa-me contemplar-te e ouvir-te. Tua
voz é suave, e é amável teu rosto” (Cânt 2,14).3
2. D V 546.
3. D V 771; 1545ss; 1610ss; 1618. Sem estudar as explicações
profundas e também muito acertadas de Scheeben sobre a "sponsa
Verbi" — máxime quando também se chama a Maria no mesmo texto
"soror Verbi” —, poderia alguém ficar confundido se junto à expres
são "sponsa Spiritus Sancti” aparecesse a designação de "sponsa Verbi”.
Por isso omitimos os respectivos textos de Scheeben. Cf. C. Peckes,
Die bräutliche G ottesm utter, Herder 1936.
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13 — MARIA, ÓRGAO DO ESPÍRITO SANTO
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Honra em grau sumo ao Paí Celestial que Maria preste
serviços maternais ao Pilho de Deus e à sua Igreja; e quando
ela (o ) sacrificou a Cristo sob sua cruz com o vítima, coope
rou na redenção; o Espírito Santo, com este fim também,
havia infundido nela ricas e eminentes graças sobrenaturais.
4. Sua dignidade pessoal mais característica correspon
de a Maria por ser a esposa, o templo e o órgão do Espírito
Santo. Desta dignidade emanam os méritos de Maria e o
valor de suas virtudes. Nós, os cristãos, já somos templos do
Espírito Santo, que ora em nós com gemidos inenarráveis;
porém isto pode dizer-se muito mais de Maria, sua esposa,
nosso modelo e a mãe da Igreja. A Igreja ora e canta de
contínuo os louvores de Deus, porém Maria também ora e
outorga a sua liturgia, força e dignidade sobrenaturais, por
que o Espírito Santo em ambas, em Maria e na Igreja, glo
rifica ao Pai por meio do F ilho.4
4. D V 1705-1767.
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5
14 — ALMA DA IGREJA
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e por meio de Cristo, o Espírito Santo habita no meio de
nós; é de certo m odo a alma da Igreja .1
2. Segundo o plano de Deus feito homem, a Igreja é
realmente mãe de seus filhos, já que é a esposa de Cristo.
Por isso, Cristo, por meio do sinal indelével do sacramento
da ordenação sacerdotal, desposa com seus sacerdotes, os
órgãos da Igreja; põe as graças místicas de sua Igreja em
mãos de sacerdotes e os cobre de sombra com o especial
poder do Espírito Santo, para que dêem a luz de Cristo para
seus filhos, em nome da Igreja, unindo-os com Cristo. O
sacerdote serve de mediador entre Cristo e seus filhos, com o
uma mãe entre o pai e os filhos. Como Maria foi coberta
de uma nuvem pelo Espírito Santo e ofereceu ao mundo o
Filho de Deus, assim também o sacerdote, quando pronun
cia as palavras da consagração, pelo poder do mesmo Espí
rito Santo recebe ao Filho eucarístico de Deus para oferecê-
-lo à Igreja. O sacerdote, graças ao Espírito Santo, reproduz
a maternidade misteriosa de Maria e a torna extensiva à
Igreja.2
2. Espírito e sacramento.
1. O corpo místico de Cristo, a Igreja, é visível, pelo
qual os méritos de Cristo nos são aplicados por meio de
sinais e ordenações externas e nos é oferecida a filiação de
Deus.
2. Como os sacramentos são instrumentos de Cristo,
também são instrumentos do Espírito Santo, já que ele nos
transmite uma força divina por meio da santa humanidade.
Cristo, em virtude do Espírito, fez seus milagres no
mundo através de palavras e ações externas. Em sua Igreja,
os sinais externos dos sacramentos tampouco são unicamen
te prendas, senão portadores reais do poder que por meio
do Espírito flui do chefe divino e humano para os membros
do corpo místico. Para nós continua sendo um mistério co
mo acontece isto, porque é tão sobrenatural com o a mesma
encarnação, pela qual nos acompanham estas graças.
3. A relação dos sacramentos com o Espírito Santo
aparece com a máxima clareza na eucaristia. Nela está con
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tido o Espírito Santo, incluso pessoalmente, com seu recon
fortante poder na carne vivificante da palavra divina que se
oculta nas formas eucarísticas. Nos demais sacramentos,
não está contido o Espírito Santo, já que ditos sacramentos
são ações; neles somente seu poder é eficiente.3
4. Os administradores dos sacramentos, os sacerdotes,
são membros da Igreja, que foram chamados por Deus e
estão unidos irrevogavelmente com Deus feito homem como
o chefe do corpo místico e o verdadeiro dispensador dos
sacramentos. Em virtude de uma causa especial, que so
mente pode ser sobrenatural, os sacramentos têm que san
tificar os membros da Igreja e conduzi-los a Cristo pelo
poder do Espírito Santo.4
5. Por meio do caráter do batismo, confirmação e orde
nação sacerdotal, são ligados os membros do corpo místico,
para serem unidos com o chefe. Como a alma humana for
ma e vivifica os membros do corpo, assim também o Espí
rito Santo imprime nos membros de Cristo o cunho de seu
chefe e lhes leva a vida divina da graça. Por isso o caráter
sacramental também se lhe chama selo do Espírito Santo;
está unido, tão intimamente quanto possível, com a graça
e o amor, no qual está estampada a essência do Espírito
Santo, o ardor de sua vida e de seu amor. O caráter com o
selo indelével e a graça como vida sobrenatural da filiação
de D eus.5
3. Testemunho da verdade.
Os relatos finais dos evangelistas delineiam um quadro
rico e harmônico de com o Cristo instituiu o magistério da
Igreja. Já antes havia preparado aos apóstolos e os havia
instruído de com o o Senhor prometeu o Espírito Santo com o
testemunho da verdade.
Lc 24,47s: "V ós sois testemunhas destes fatos. E eis
que eu mando sobre vós o Prometido por meu Pai” .
At 1,8: “ Recebereis a fortaleza do Espírito Santo que
descerá sobre vós; e assegurareis a verdade de minha dou
trina e de minhas obras em Jerusalém, em toda Judéia e
Samaria e até as extremidades da terra” .
3. M/82.
4. M/83.
5. M/84,
59
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Jo 14,16s: "E eu pedirei ao Pai, e ele vos dará outro
advogado, para que esteja no meio de vós para sempre.
Ele é o espírito da verdade” .
Jo 15,26s: "Quando vier o advogado, que lhes enviarei
da parte do Pai, o espírito da verdade, que procede do Pai,
ele mesmo falará em meu favor. Também vós sereis teste
munhas, porque desde o com eço estais com igo” .
Jo 16,13: “ Quando vier aquele, o espírito da verdade, os
conduzirá à verdade completa. Porque não falará por conta
própria, senão que lhes dirá quanto se lhe comunique e lhes
anunciará as coisas futuras” .
Estas promessas estavam dirigidas evidentemente aos
apóstolos, para que testemunhassem e anunciassem as pala
vras e ações de Cristo com o testemunhas de vista e ouvido.
Cristo fala com muita insistência do Espírito Santo com o o
espírito da verdade, que procede da verdade eterna e pes
soal, a palavra divina, e por isso transmite somente a ver
dade aos homens. Cristo descreve o Espírito Santo como
mestre e testemunho; ele conduz à verdade e também custo
dia esta verdade na Igreja. Somente assim e por isso os
apóstolos e seus sucessores proclamam a doutrina de Cristo
perfeita e infalivelmente. 6
6. D I 94.
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Assim, pois, os apóstolos e seus sucessores têm uma
dupla relação: a da graça com respeito ao Espírito Santo
com o alma da Igreja, e a da obediência a Cristo com o cabeça
da Igreja.7
5. Os dotados do Espírito.
Muitos membros da Igreja têm conseguido o Espírito
Santo com o graça especial (carisma), estão dotados sobre
natural e naturalmente para recolher, elaborar e transmitir
a doutrina eclesiástica com pureza e clareza em todos os
aspectos e com segurança. Podem imprimir, apoiar com
razões, difundir a doutrina, sobretudo por meio da palavra
e da escrita; secundam o poder de ensinar, orientando com
seu conselho e ação. Não necessitam ser ordenados ou envia
dos por homens; estão chamados e capacitados pelo mesmo
Espírito Santo para indagar e ensinar. O Espírito Santo os
oferece à sua Igreja. Por isso têm uma eficácia especial
e um alto prestígio. São luz e facho para sacerdotes e se
culares. Porém têm que estar reconhecidos, autorizados e
recomendados pelo magistério eclesiástico, para que sempre
e em todas as partes permaneçam organicamente unidos
com a Igreja. Hão de ser focos que façam fluir a luz do Espí
rito Santo. Nunca podem trabalhar contra o magistério ecle
siástico, opor-se a ele nem ensinar contra ele. Ajudam-no e
servem-no em qualquer coisa que empreendam. Se defendem
a doutrina eclesiástica, que aceita toda a Igreja, e estão reco
nhecidos nesta tarefa pelo magistério eclesiástico, então seu
testemunho vale com o testemunho infalível do Espírito San
to, e confirmam de novo o juízo do magistério e o iluminam
com nova luz. Os profetas e evangelistas que se mencionam
em Ef 4,11 eram homens assim dotados. Posteriormente o
foram os santos padres e teólogos, que não foram ilumina
dos imediatamente pelo Espírito Santo com o os apóstolos,
porém, no entanto, estavam enviados por ele para manifes
tar clara e distintamente determinados dogmas da Igreja.
Poder-se-ia chamá-los um magistério extraordinário, que
sempre tinha que ser confirmado pelo magistério ordinário.
Uma proclamação independente do magistério seria o
princípio de uma heresia, com o já escreveu Tertuliano ( f
220): “Demonstramos a fé por meio de algum homem ou
conhecemos ao homem por meio de sua fé?” . Vicente de
7. D I 112.
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Lerins (t antes do ano 450) disse: “ Temos de aceitar ao
mestre com a Igreja, porém não temos de abandonar a
Igreja com o mestre” . 8
15 — MESTRE DA IGREJA
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tura somente com instrumentos do Espírito Santo, que os
dirigiu (inspirou), de uma forma semelhante a que os se
cretários escrevem um ditado de seu patrão, porém são livres
para exprimir à sua maneira as idéias do mesmo. Os escri
tores sagrados falaram com o profetas de Deus, impulsiona
dos e sustentados pelo Espírito Santo. “ Nenhuma profecia
foi proferida jamais por vontade de homem algum, senão
que falaram da parte de Deus homens que eram movidos pelo
Espírito Santo” , disse São Pedro em sua segunda carta
(1,21). Segundo a opinião geral, este texto não somente pode
aplicar-se aos profetas propriamente ditos, senão a todos os
que têm escrito a palavra de D eus.10
2. As formas externas não têm sido inspiradas ao
autor da escritura pelo Espírito Santo, com o as idéias expres
sas por ditas formas; a eleição das expressões tem sido
deixada em maior ou menor grau à discrição dos autores.
Somente se fazia necessário fossem retransmitidas de uma
forma unívoca as idéias que o Espírito Santo queria que
estivessem escritas. Por isso não se trata da língua ou esti
lo, que nunca podem notar-se com absoluta fidelidade nas
traduções. O Espírito Santo não está ligado a uma expressão;
incluso poderia tomar-se inteligível sem nenhuma expressão,
dado que é E spírito.11
3. Daí que as palavras da escritura não somente têm
o sentido literal, senão que com muita freqüência têm tam
bém um sentido espiritual, mais profundo, que procede assim
mesmo do Espírito Santo. Segundo a intenção do Espírito
Santo, que tudo abarca e domina, os fatos, instituições, apa
rições e imagens expressadas com palavras estão destinadas
a modelar, indicar, confirmar ou ilustrar ainda outras coisas.
Por isso temos de atribuir ao sentido literal das palavras,
precisamente porque são instrumentos do Espírito Santo,
uma importância muito superior e um alcance maior do que
teriam em mãos de um homem normal. As palavras são usa
das amiúde de uma form a mais adequada e convenien
te, e muitas frases, segundo a intenção do Espírito Santo, ex
pressam algo que de ordinário não significariam. A isto se
chama o sentido mediato; é muito mais importante que em
meros escritos humanos, já que o conhecido pelo homem
mediante comparações e conseqüências é reunido pelo Espí
10. D I 215-217.
11. D I 233.
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rito Santo em uma só visão, e também pode ser compen
diado em uma só expressão. Por isso é um equívoco tratar
a sagrada escritura como um mero livro humano, especial
mente quando fala o mesmo Jesus Cristo, Filho de Deus.
Um belo exemplo de sentido mediato da escritura é a aplica
ção litúrgica de Prov 8 e Ecl 4 à Santíssima Virgem. As
passagens tratam da origem, as propriedades, a aparição e
a eficácia da eterna sabedoria. Maria, com o Mãe de Cristo,
é inseparável e tem uma íntima união com a sabedoria en
carnada; por isso é o espelho das perfeições, com o também
a aurora da sabedoria eterna, e com o tal a teve presente o
Espírito Santo, quando descreveu a sabedoria. Quando este
sentido mediato é reconhecido com o tal pelo magistério ecle
siástico, tem plena força probatória, ainda que colocado atrás
do sentido literal, enquanto só se manifesta indiretamente.
4. A sagrada escritura é também uma obra de arte,
de uma maneira parecida com o livro da natureza, porém
tem uma importância muito maior e um sentido muito mais
profundo. É posta ante nossos olhos com o um quadro pin
tado pelo Espírito Santo, ou nos é apresentada com o um
drama composto pela sabedoria divina. Deste m odo o Espí
rito Santo nos quer estimular a que meditemos na escritura
para conhecer melhor e amar mais intensamente o mundo
espiritual e sobrenatural, ilustrado de m odos tão diversos.
A poesia do Espírito Santo não pode trocar-se com a
arte poética humana, e as palavras da escritura não podem
converter-se em meras fábulas. Tampouco queremos ler a
escritura com excessiva sobriedade, nem quedar-nos atrás
de sua profundidade e abundância. Há que precaver-se an
tes de tudo de dedicar-se somente à crítica e à filologia, sem
tomar muito em consideração a força das verdades reve
ladas pelo Espírito Santo.12
2. A tradição eclesiástica.
1. A tradição eclesiástica não se realiza por meio de
quaisquer pessoas, senão somente através dos membros efe
tivos da Igreja fundada por Cristo. As verdades divinas
no-las transmite a Igreja com o uma instituição orgânica,
formada pelo mesmo Deus e vivificada e dirigida por seu
Espírito, com o uma instituição que continua vivendo sem
cessar. Por conseguinte, seu testemunho não é um mero
12. D l 237-242.
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testemunho humano, senão um testemunho do Espírito. É
tanto mais valioso quanto os portadores deste testemunho
têm no organismo da Igreja uma categoria e importância
mais especiais em relação com o Espírito Santo. A infalibi
lidade deste testemunho permanece inalterável em qualquer
época, ainda que esteja muito distante do princípio da reve
lação, porque o Espírito Santo preserva de erro a Igreja
em todos os tem pos.13
2. Os santos padres e doutores da Igreja são especial
mente os olhos por meio dos quais a Igreja consegue pene
trar na verdade revelada, e também são a boca por meio da
qual o Espírito Santo fala à Igreja e a seus filhos. Por isso
os escritos dos santos padres são fianças do caráter divino
de seu conteúdo.14
3. Apesar de que os teólogos, que até hoje e segura
mente também no tempo futuro escrevem e às vezes dispu
tam sobre o tesouro da fé, não têm nenhuma promessa
direta do Espírito Santo, gozam, sem dúvida, de sua assis
tência que os preserva de erro em seu conjunto, porque, do
contrário, a Igreja que confia neles e os segue seria natural
mente conduzida ao erro, pois muitos teólogos mais cedo
ou mais tarde são chamados ao magistério.“
3. A infalibilidade do papa.
Se o papa, com o representante imediato e efetivo de
Deus, pronuncia um juízo definitivo sobre a fé ou a moral,
este juízo tem de ser necessária e absolutamente intangível
e irrevogável, e tem de impor a obrigação de assentir inte
rior e exteriormente a este juízo. Um tal juízo expõe infali
velmente o juízo do Espírito Santo, e por conseguinte não
pode ser falso. Por isso, nunca nem de nenhum m odo pode
ser anulado ou essencialmente mudado pelo papa. Ctomo
o Espírito Santo interveio eficazmente neste juízo, tampouco
se pode alegar que o juízo se tem levado a termo com um
processo ilegal, porque então já não seria um juízo definitivo.
Teria que haver então uma instância ulterior que abolisse
este juízo; porém não pode haver uma tal instância. Daqui
se deduz que a fórmula: "Porque pareceu bem ao Espírito
13. D I 309.
14. D I 376.
15. D I 391.
65
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Santo e a n ó s . . (At 15,28), tem de ser interpretada no
sentido mais estrito.16
4. Fundamentos da teologia.
1. Nosso conhecimento espiritual depende de nossos sen
tidos, e, em conseqüência do pecado original, está sujeito a
prejuízos desconcertantes, paixões, maus sentimentos e in
clusive aos espíritos malignos. Este é muito mais certo nas
verdades que cremos, especialmente no mistério da cruz,
já que a fé é muito mais excelsa que todas as idéias naturais.
Isto o expressa São Paulo na primeira carta aos coríntios
(2,14), com as seguintes palavras: “ O homem em quem não
reside o espírito de Deus, não compreende as verdades
que ensina o espírito” . Ainda que nossa inteligência na
tural teria que crer em Deus confiando em suas pala
vras, tão logo com o haja conhecido claramente que Deus
tem falado, isto lhe resulta contudo praticamente im
possível. O Espírito Santo tem que influir em nós, purifi
car-nos e transfigurar-nos, para que nossa razão se dedique
de uma maneira proveitosa e realista a entender o conteúdo
da fé e a conseguir um conhecimento vivo e frutuoso. Há
que entender uma tal iluminação sempre que a sagrada escri
tura fala da graça da fé, com o quando diz São Paulo: “ Quei
ra o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória,
conceder os dons da sabedoria e da revelação, para que
chegueis à ‘superciência’ de Deus. Assim, iluminados os olhos
de vosso espírito, sabereis qual é a esperança de sua Igreja,
quais as riquezas da glória de sua herança em comunhão
com os santos, e que sublime grandeza desenvolve seu poder
em nós, os que cremos, segundo a eficácia de sua onipotente
virtude” (Ef 1, 17-19). A esta iluminação que nos instrui em
tudo, São João acertadamente chama também uma unção
para o coração e para a vista (1 Jo 2, 27). O ensinamento
erudito, o próprio esforço e o desenvolvimento natural são
assim apoiados, completados, em parte inclusive substituídos
sobrenaturalmente.17
2. O orgulho e a sensualidade procuram dominar-nos,
estendem-se em nosso coração e sufocam bons germes. Isto
vem a ser muito pior, se estamos educados em sentido con
trário, influenciados pelo demônio ou ofuscados pelo peca-
16. D I 473s.
17. D I 997-999; cf. 806s.
66
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do em nossa faculdade de julgar. Para resistir a estas más
influências, o Espírito Santo nos faz doação das graças da
humildade e da pureza, da ciência e do entendimento.18
3. A pureza e a humildade capacitam nosso coração
a receber as verdades da fé. Logo são necessárias para
julgar e proceder com o é devido no âmbito da moralidade
natural. Se o Espírito Santo não atua sobre nds com essas
virtudes, não nos deixamos influenciar serenamente pela gra
ça. Já o livro da Sabedoria (1,4) fala disto: “ Em alma
maliciosa não entrará a sabedoria, nem morará no corpo
escravo do pecado” . Quando Cristo diz: “ Tens descoberto
aos pequenos estas coisas que escondestes aos sábios e pru
dentes” , isto se refere em primeiro lugar à visão de Deus;
porém também pode aplicar-se já aqui neste mundo, para que
se possa conhecer sobrenaturalmente a Deus. Com olhos pu
ros contemplamos mais facilmente a luz transfigurante e pu
rificadora da graça. Os meninos e os simples fiéis, os dotados
do Espírito Santo e os santos compreendem com freqüência
os mais sublimes mistérios com mais clareza e pureza que
os orgulhosos filósofos, cuja faculdade mental está formada
no grau máximo. O Espírito Santo atua por meio do dom
da piedade. Este dom é com o um sol que dá pleno desenvol
vimento à vida da fé em n ó s .19
4. Nossa fé logra plenitude de força e uma vida cinti
lante, se floresce em nossa alma a vida sobrenatural que
emana do Espírito Santo. Somente esta fé nos une intima
mente com os mistérios da fé, grava em nosso interior a
viva imagem destes mistérios, faz-nos saborear e sentir, nos
tom a afins e familiares. A raiz e a floração desta vida são
o amor de Deus. Este amor faz que nossa fé seja viva e
fecunda em boas obras; faz que nosso conhecimento seja
vital, íntimo, agradável, delicioso, e configura em nosso pró
prio eu a sabedoria perfeita, representando-nos os mistérios
de Deus de tal forma que estes mistérios se convertam
para nós no gosto antecipado da futura visão. Um ho
mem assim dotado pode gozar aqui já de Deus na con
templação mística. Aqui atua o Espírito Santo por meio
da graça da sabedoria, o mais excelso dos sete dons. Quando
aqui falamos de contemplação mística, expressamos simul
taneamente quão luminosa é a luz da fé, porém expressamos
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com o, apesar dela, a fé é tão obscura que se diferencia da
visão de Deus na eternidade, como o dia da noite. Esta sabe
doria não se obtém, senão que nos é regulada, somos ilumi
nados e agraciados por Deus. Um homem assim se mantém
passivo, recebe. Sua inteligência, por assim dizer, descansa.
Tão logo faz esforços e medita, a contemplação já não é
passiva, senão adquirida.
5. Um homem que não tem nenhuma formação teoló
gica, pode ser também agraciado com a contemplação pas
siva. Contudo ordinariamente esta contemplação se prepara
e favorece com a própria diligência. A contemplação passiva
vivifica a ciência teológica, a faz mais íntima, rica e perfeita;
teria que ser, portanto, o objetivo de todos os teólogos, e
ainda de todos os cristãos. As pessoas contemplativas conhe
cem a Deus e seus mistérios muito mais fácil e profunda
mente que um investigador, que sobressai por sua inteligên
cia, busca incansavelmente a verdade, porém que se apóia
unicamente em seus próprios talentos.
6. A contemplação passiva ou a experiência interior da
alma não podem substituir a certeza da fé, porém podem fazer
que esta certeza seja mais íntima, alegre e afiançada. Se
fossem decisivas para a segurança da fé, ficaríamos expostos
a um entusiasmo enganoso e sentimental. Arriscaríamos a
revelação exatamente com se fosse uma ciência, que é inde
pendente da fé sobrenatural. Às vezes a falsa mística é ainda
mais nociva que a falsa ciência.20
7. O Espírito Santo influi muito intensamente nos co
nhecimentos teológicos, os aperfeiçoa e sela, os santifica em
sua origem, conteúdo e finalidade. Por isso estes conheci
mentos também são santos em si mesmos. Da mesma forma
a teologia mesma tem que ser colocada, como a fé de uma
maneira muito particular sob a tutela e a direção da Igreja,
que é o órgão do Espírito Santo, porque a teologia de ne
nhum m odo é uma ciência profana. Enquanto as ciências
profanas só têm de ser examinadas indiretamente pela Igre
ja, para ver se a verdadeira fé fica em risco através delas,
a teologia, com o um tesouro santo e eclesiástico, com o meio
muito importante e influente para conservar a fé, tem que
ser custodiada e dirigida imediata e decisivamente pela Igreja.
Por sua maneira de ser, a Igreja está destinada a fomentar
cientificamente a disciplina teológica. Só a Igreja possui o
20. D I 1002-1007.
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poder de autorizar e regular a exposição pública. O cultivo
proveitoso da teologia somente é possível no seio da Igreja,
na adesão mais ajustada à sua autoridade e a seus recursos.
Somente assim a Igreja e os teólogos podem manter-se se
guros da influência benéfica e infalível do espírito da verda
de, sem o qual a Igreja e os teólogos não sabem absoluta
mente nada da ciência sobrenatural. Portanto, nem os cien
tistas nem o estado podem explicar a teologia com o uma
ciência meramente natural. De nenhum modo depende deles,
e por isso tampouco pode ser dirigida por eles. Se fosse
possível tal dependência, o matrimônio seria, por exemplo,
somente um contrato social e um bem jurídico que depen
deria unicamente do estado. Assim se profanaria o que é
santo e se poderia ver ordenado o “ sacerdócio da ciência” . 21
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16 — AS APROPRIAÇÕES EM DEUS
71
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No Pai estão contidos os mistérios de Deus, a palavra
nos comunica-os; por isso ao Filho se chama também a face,
a boca do Pai que nos inicia nos mistérios íntimos de Deus.
O Espírito Santo nos inspira as verdades de Deus, nos im
pulsiona a seguir proclamando-as; por isso é o vivo, móvel,
ardente, cálido e amoroso alento de Deus, que exala o amor
até o fundo de nosso coração; também é a língua de Deus,
que nos capacita para proclamar o amor de Deus e seus
atos amorosos; torna eloqüentes nossas línguas. Uma rajada
de vento e umas línguas de fogo fazem sair aos angustiados
apóstolos diante da multidão, para informar valorosamente
do maior milagre amoroso de Deus e para testemunhá-lo.1
Deus-Pai, por meio de sua sabedoria, manifesta seu poder
em seu amor.
Digamos ainda com mais precisão: Deus-Pai, o repre
sentante do poder divino, por meio de seu Filho, que é a
expressão de sua sabedoria, obra no Espírito Santo, que é
a efusão do seu a m or.2
17 — OS ENVIOS
1. Conceito de envio.
1. A Trindade das diversas pessoas estende para fora
os ramos de sua estrutura interna. Continuam as eternas
procedências e se enviam as pessoas à criatura agraciada.
A sagrada escritura e os santos padres falam sem cessar de
que o Filho se hospeda em nós, com o que o Filho renasce
em nós, e também falam de que a palavra centelha em nós,
com o que o Pai é revelado pelo Filho.
Com freqüência se menciona também que o Espírito
Santo se verte nas criaturas, pelo que mora em nós e nos
une com o Pai e o Filho, dos quais proced e.3
2. A sagrada escritura somente diz do Filho e do Espí
rito Santo que são enviados; do Pai diz que envia ao Filho
e ao Espírito Santo. O Filho é enviado pelo Pai, e com o
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Pai envia ao Espírito Santo. No entanto o Espírito Santo
somente é enviado.
Quando as divinas pessoas vêm a nós para atuar em
nós, então Deus nos visita. Assim se diz sem cessar na sa
grada escritura. Quando, por exemplo, o Espírito de Deus
atua em nós, então Deus nos consola e nos inicia em toda
verdade, como nos promete o Salvador.4
3. Quando Deus cria o homem, lhe faz doação de gra
ças auxiliares, concede graças ao sacerdote para que possa
ajudar a seu próximo; assim não vai unido a esta concessão
nenhum envio. O Espírito Santo somente é enviado a nosso
coração na graça santificante; é gravado em nós com o um
selo, é reproduzido em nós com o uma imagem. Esta imagem
ou este selo vivem, estão unidos com a pessoa, não são uma
emanação de sua força. A não ser que a divina pessoa não
estivesse presente em nós, em virtude do envio teria que
estar com o o selo em sua impressão. O selo material se
afasta depois de estar em contato com a reprodução, porém
o Espírito Santo permanece em nós, porque sua imagem
somente pode existir nele e tirar sua existência dele.5
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2. Raiz dos envios.
1. O envio do Espírito Santo a nós tem seu fundamento
e seu modelo na procedência que este Espírito tem do Pai
e do Filho. Quando o Espírito Santo vem a nós, passamos
a ser filhos de Deus, porém não por uma procriação natu
ral, mas sim mediante o amor, o dom, a liberalidade de
Deus. O fruto mais perfeito do amor, ou seja, o Espírito
Santo, no qual o Pai e o Filho se abraçam com amor, é
germe e raiz de todos os frutos que Deus produz em nós
por este seu amor. O amor do Pai pelo Filho, que já se
revelou no Espírito Santo de uma maneira tão imensa
mente fecunda e deliciosa, deve também revelar-se em
nós, suas criaturas, fora da vida interna de Deus.
2. A natureza divina se comunica a nós por uma raiz
de dupla fibra. Esta raiz está contida na Santíssima Trinda
de. Assim com o o Filho procede do Pai à maneira de um
menino, assim também é concebível que nós possamos com
parecer ante Deus-Pai como irmãos do Filho. Isto resulta
possível porque o Pai e o Filho comunicam seu amor ao
Espírito Santo, que nos regala, enquanto nós com o criaturas
som os capazes de tal regalo. O Espírito Santo, que é o resul
tado da unidade do Pai e do Filho, procura que nos possa
mos unir com Deus.
Se refletimos sobre estes mistérios, compreendemos que
era absolutamente necessário para nossa vida sobrenatural
fazer-nos saber algo da geração do Filho, da procedência do
Espírito Santo e de-toda riqueza da Santíssima Trindade,
porque do contrário nunca poderíamos vislumbrar como
Deus trino e uno nos ama e nos cumula de graças.
3. Não é tão só o Espírito Santo quem nos vivifica por
meio da graça e mora em nós; toda a Santíssima Trindade
nos agracia e nos tom a partícipes da natureza divina. Porém,
não obstante a sagrada escritura não nos chama templos do
Pai ou do Filho. A infusão da vida divina ressalta com a
máxima clareza na pessoa que é o alento pessoal desta vida.
Por isso o Pai aparece com o o que nos gera como filhos seus,
o Espírito Santo, exalado pelo Pai e o Filho, infunde-nos a
vida divina. O Filho não é para nós nem o criador nem o
5) Hõfer diz terminantemente: "a melhor maneira de julgar im
parcialmente a Scheeben, é que o leitor não indague tanto as que se
chamam ‘doutrinas próprias’ de Scheeben, senão que com solícita dili
gência procure fazer-se cargo do conjunto como conjunto. Aquelas
doutrinas logram sua importância no conjunto e pelo conjunto. Os
investigadores poderiam ser hoje em dia mais numerosos que nos
decênios passados" (M VIII).
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viviíicador, senão que começa a viver novamente em nós.
Renasce do Pai em nós, por meio do Espírito Santo, vem a
nós com o palavra, com o imagem do Pai. Também se pode
ria dizer do Pai e do Espírito Santo que começam a viver
em nós, porém não se poderia dizer que renascem em nós,
porque não têm sua própria vida divina e seu próprio ser
divino por engendramento com o o F ilho.6
4. O Espírito Santo desce do coração de Deus a nós
com o beijo, com o abraço; traz a nosso coração o amor divi
no e nos enriquece com seus dons. Penetra-nos e nos infla
ma com seu fervor, vivifica-nos e reanima-nos com seu amor
casto. Mantém a mais íntima relação entre Deus e nós. É
para nós a prenda do amor de Deus. Desce a nosso coração
com o a seu templo. Por meio dele, nossa alma se converte na
esposa virginal de Deus, e ainda na mãe virginal que pode e
deve suscitar de novo a vida divina em seus irmãos e irmãs.
Maria, a esposa ideal e genuína do Espírito Santo, é o m o
delo, proteção e ajuda de nossa alma.
Podemos falar assim, porque somos filhos da Igreja;
todos, com o consagrados a Deus, somos também símbolos do
Espírito Santo, pombas agraciadas em seu vôo para Deus.7
5. Como o Espírito Santo é um só Deus com o Pai e o
Filho, e as três pessoas, por causa de sua unidade na subs
tância, estão inseparavelmente unidas entre si, o Pai, o Filho
e o Espírito Santo vêm a nosso coração, ainda que com di
ferente apropriação. Para nós, esta honra é infinitamente
grande, porque somos infinitamente pequenos ante o Deus
Infinito. E, no entanto, para Ele é uma delícia estar conos
co, os filhos dos homens, apesar de que a nossa pequenez
ainda ajunte à nossa propensão o pecado (cf. Prov 8,31).
Disse Santo Agostinho: O Pai, o Filho e o Espírito San
to vêm a nós, se nós vamos a Eles; Eles Vêm, ajudando-
-nos — nós vamos, obedecendo; Eles Vêm, iluminando-nos
— nós vamos conhecendo; Eles Vêm, enchendo-nos — nós
vamos, recebendo.
Seu olhar não seja para nós exterior — senão interior.
Sua morada não seja passageira — senão eterna.8
3. Finalidade dos envios.
O Espírito Santo é enviado a nós para que cheguemos
a ser partícipes da natureza divina e deste m odo consigamos
6. M/25; HG 70-75; D II 1065-1073.
7. D II 1025; cf. o símbolo da antiga Igreja; as pombas bebem
da ânfora.
8. HG 67-70.
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a companhia do Filho de Deus, que renasce em nós. Por
conseguinte, acercamo-nos com o irmãos de Cristo, de seu
Pai, que também é nosso Pai. Assim, pois, o Filho e o Espí
rito Santo nos conduzem a nosso último fim: com o filhos
do Pai divino som os conduzidos a Ele para ser unidos com
Ele.
Som os acolhidos sem reserva no seio do Pai, quando o
Filho de Deus renasce em nós com sua total e completa
glória, e vemos ao Pai com o Filho face a face — na eterni
dade. Aqui está o último fim de todos os envios. Aqui neste
mundo, somos ainda conduzidos; na eternidade, estaremos
unidos: o Pai se nos oferece na Paz da divina Trindade
para dar-nos um gozo sem piterno.9
9. M/31; D II 1074-1077.
10. M/28; a este respeito veja-se Rom 5,5; cf. 1 Jo 4,13; Rom 8,9ss;
1 Cor 2,12.
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3. O Espírito Santo vem a nós como o presente incria-
do, pessoal; é protótipo e ao mesmo tempo é móvel deste
obséquio que nos comunica o amor divino. Entre nós, os
homens, o dom é o sinal do amor, porém o amor mesmo
não está no dom. Deus nos dedica seu amor paterno no
Espírito Santo, e este amor o possuímos em seu natural m o
do de ser e em sua emanação pessoal. O Filho disse ao Pai:
“Para que o amor com que me tens amado, esteja neles”
(Jo 17,26). São Pedro nos disse: “ . . . o espírito de Deus
repousa em nós” (1 Pdr 4,14).
4. Como beijo e prenda, o Espírito Santo é nosso pro
tetor, nosso consolador, nosso paráclito que nos tem prome
tido o Filho de Deus e que a Igreja venera afetuosamente.
Que nos consola e ajuda mais que o saber que somos amados
por Deus com amor paterno no Espírito Santo, e que pos
suímos os dons nos quais este amor paterno se nos comuni
ca? Este amor verte em nós a fonte do amor filial, o Espí
rito do Pai e do F ilh o.11
5. Assim com o o Espírito Santo é o ósculo com que o
Pai nos adota com o filhos, assim também é o ósculo do Filho
com que nossa alma vem a ser sua esposa. ‘‘Beije-me com
beijos de sua boca!” , roga a alma agraciada no Cântico dos
Cânticos, para que, por meio do beijo espiritual do Filho, a
alma fique unida com Ele em seu Espírito. “ Quem se une
ao Senhor é um espírito com Ele” (1 Cor 6,17). Assim tam
bém nos unimos com o Filho de Deus no Espírito Santo.
O Filho suscita em nós o alento de vida, por meio do qual nos
fundimos com Ele: uma chama acende a segunda, e ambas
vêm a ser uma labareda. O espírito do esposo mora em sua
esposa, une-os a ambos no matrimônio espiritual. No ma
trimônio humano, este está representado pela unidade corpo
ral, que é ambicionada pelo amor recíproco entre o esposo
e a esposa. São Bernardo escreve: “ Reconhece que sois
filha do Pai e esposa do Filho no Espírito do Filho: ‘Vem
a meu jardim, irmã minha, esposa’ (Cânt 5,1). Irmã, porque
procede de iam Pai; esposa, porque procede de um Espírito” . 12
O Espírito Santo é algo assim com o o beijo da palavra,
o hálito vital que procede do Pai, e com o esposa da pala
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vra vivifica nossa alma, inspirando em seu rosto a vida di
vina. 1}
O Espírito Santo, outorgando-nos a nobreza divina, nos
eleva à mesma nobreza que o Filho de Deus e nos faz dignos
de sua boda. Comunica à nossa alma aquela beleza e atra
tivos celestiais que embelezam de tal m odo ao Filho de Deus,
que desce de seu trono divino para abraçar-nos e conduzir-
-nos ao Pai. O Espírito Santo, o laço do amor divino, é
padrinho de boda, prenda e anel nupcial de nosso casamento
com a palavra divina. Dá-nos a audaz confiança, com o a
esposa no Cântico dos Cânticos, de pedir a nosso esposo
celeste o beijo de sua boca, e — ó maravilha! — este beijo é
precisamente o Espírito que o Filho de Deus nos inspira,
para fazer-nos receber seu amor e sua mais íntima presença.
O Espírito Santo nos introduz na glória da palavra e coloca
nossa alma no trono, para que “ à direita esteja a rainha,
ouro de Ofir” (SI 44,10). Que outra coisa nos resta por
fazer, senão cantar cheios de amor e profundo respeito: “Meu
amado é para mim e eu sou para ele. Eu sou para meu
amado, e a mim tendem todos seus desejos” ? (Cânt 2,16;
7,10).14
6. Não é esta a participação do Espírito Santo, da qual
fala São Paulo em suas cartas? (2 Cor 13,13; Flp 2,1). E não
dourado do Espírito Santo. “ Sede solícitos por conservar
com todos os que estão juntos, unidos por meio do vínculo
dourado do Espírito Santo. “ Sede solícitos por conservar
a unidade do espírito, mediante o vínculo da paz” (Ef 4,3).
Esta unidade é o mesmo Espírito Santo. É o vínculo da paz
que nos entrelaça a todos nós. Nele somos todos “ um corpo
e um espírito" (Ef 4,4). Assim como o Pai e o Filho se exa
lam no beijo eterno com o prenda irrevogável do Espírito
Santo, assim também nós devemos estar e permanecer uni
dos no beijo deste Espírito por toda a Eternidade.15
b) Luz e vida
1. O Espírito Santo é comunicado a nós com o espírito
que nos dá nova vida, que nos ilumina. O Espírito Santo
para nossa inteligência é farol, para nosso coração é vida.
Não só ilumina a partir de longe, como o sol irradia a luz
13. D VI 28.
14. HG 113.
15. M/30.
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à terra, senão que desce e é derramado em nós; nele estamos
batizados, submergidos, com ele estamos ungidos.16
2. O Espírito Santo reina em nós, com o o sol no firma
mento ilumina, transfigura e embeleza a terra. O bosque e
16. D VI 27.
Guardini escreve em Licht und Glut: ali está o círio, leva uma
chama radiante. Nossos olhos vêem sua luz, a acolhem em si, mistu
ram-se com ela e, contudo, não a tocam. A chama permanece em si,
e os olhos também, e, contudo, se leva a cabo uma unificação; uma
união com profundo respeito e honestidade, se poderia dizer, sem
que se toquem nem juntem, meramente na contemplação. Uma pro
funda semelhança daquela união que se efetua entre Deus e a alma
no conhecimento.
Na chama há também uma união por meio de seu calor. Perce
bemos a chama no rosto, na mão; notamos como nos penetra aque
cendo, e contudo a chama está intacta em si mesma. Assim é o amor:
uma unificação com a chama de Deus por meio do ardor, e, contudo,
nada toca a chama de Deus. Porque Deus é bom, e para quem ama
o bem, este vive no espírito. O bem é meu, enquanto o amo.
Conhecer e amar a Deus é unir-se com Ele. Por isso a eterna
bem-aventurança será contemplar e amar. E isto não significa estar
adiante com fome, senão estar no mais profundo do interior; satisfa
ção e saciedade (HZ 41s).
Kirchgássner descreve o simbolo do s o l: o sol é centro e causa
primitiva do céu. É a luz e a saída de todas as luzes. Sem o sol,
não há vida nem crescimento. Capacita o olho para receber o con
torno e a cor. Regula o dia e o ano. Um exemplo eloqüente da im
portância religiosa deste símbolo é a orientação de templos e sepul
cros egipcios, babilónicos, semitas e dos primeiros séculos do cris
tianismo. É um costume geral orar olhando para o oriente. O dia
de aniversário dos romanos era dia do “sol invicto’’ e foi transforma
do no dia do nascimento cristão; ... sinais solares (um círculo com
raios de luz, cruz cramponada etc.) se encontram freqüentemente en
tre as figuras da época glacial e entre os homens (casas sepulcrais de
pedras colocadas em sentido vertical, com uma pedra que cobre). Em
uma figura rupestre do Saara, que tem uma antigüidade de mais
de cinco mil anos, um carneiro leva o disco solar em seus chifres.
Em Seeland encontrou-se um disco de ouro colocado em um carro
brônzeo de cavalos. A coroa de raios e a roda são assim mesmo
representações do sol e por isso simbolizam uma dignidade celestial
(MZ 112).
A cham a é uma centelha solar e por isso é um símbolo do s o l...
A "chama mordaz” se nutre de vítimas e se converte assim na imagem
da divindade, que se manifesta robusta por meio de sacrifícios...
Não é só um elemento aniquilador, senão também um elemento que
libera de poderes sombrios e glorifica. A liturgia cristã também
conhece o fogo do sacrifício no incenso e no círio ardente, do qual se
diz no canto de consagração: "o sacrifício vespertino deste círio
ardente". Segundo a lei romana, não se podia preparar nenhum
sacrifício sem fogo. Ardem lâmpadas diante dos altares e imagens
santas. O candelabro de sete braços no templo; a luz eterna; círios
na celebração da missa; círio meteorológico etc. (MZ 112ss).
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o prado, a montanha e o vale resplandecem com mais clari
dade e beleza à luz do sol, que na névoa sombria. Porém,
o mesmo sol não penetra na flor, não cresce com a folha na
árvore, não produz por si mesmo uma nova vida. O sol do
Espírito Santo penetra em nós e traz a nossas almas a nova
vida do filho de D eus.17
3. Em nossa procriação corporal, Deus nos faz doação
da vida natural que vivifica o corpo, move-o, o faz sentir.
Provê a nossa alma de razão e livre vontade, para que possa
conhecer e amar a verdade, o bem e a beleza. Assim já so
m os vivas imagens de Deus.
Porém esta vida natural apenas é uma sombra da vida
divina que Deus nos regala no batismo. É tão pequena, tão
débil, tão limitada, que está mais morta que viva, se se com
para com a vida sobrenatural que o Espírito Santo suscita
em nós.
O Espírito Santo, com o alento da vida divina, fertiliza
o solo de nossa alma com o germe da vida celeste. Antiga
mente, na criação, o Espírito Santo pairava sobre as águas
e vivificava a terra morta com germes vitais das plantas,
animais e homens. Porém quando a água batismal flui sobre
o batizado, o Espírito Santo fecunda a alma morta com
germe de vida divina e faz germinar e brotar nela as virtu
des divinas da fé, da esperança e da caridade. O profeta
Eliseu se debruçou sobre o menino, pondo sua boca sobre
a boca do menino, seus olhos sobre os do menino e suas
mãos sobre as mãos do menino (2 Rs 4,34). Assim também
o Espírito Santo se inclina sobre nossa alma com afeto e
amor. Sua boca inspira em nossa boca o alento de sua vida
divina; seu beijo traz ao nosso coração o espírito de seu
amor; ilumina os olhos de nosso espírito com seus olhos
oniscientes, faz que se derrame em nós o vigor sobrenatural
para que vivamos em Deus e Ele viva em nós.
Eliseu abandonou o menino depois de havê-lo ressuscita
do, porém o Espírito Santo tem que permanecer conosco;
sem ele não podemos conservar em nosso peito a vida divi
na. Permanece em nós com o nossa alma em nosso corpo e
17. D III 901. Hoje sabemos que o sol produz e consegue uma
nova vida na planta. A quantidade de luz que vem do sol penetra
na folha e por melo da clorofila dissocia o anidrido carbônico
(da planta), o carbono e oxigênio; o carbono nutre a planta dando-lhe
vigor e o oxigênio toma ao ar.
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nos vivifica com vida sobrenatural. Enxerta o divino rebento
de sua vida em nosso débil e enfermiço espírito para que,
ao contrário do que sucede na natureza (Rom 11,24), este re
novo aperfeiçoe o tronco, transforme nossa vida na sua. O
Espírito divino penetra em nós para que, nutridos por sua
luz, possamos dar impulso a florações celestes e, cheios de
fervor divino, possamos produzir frutos de amor espiritual,
que não desapareçam em toda a eternidade.
4. A vida natural é tão valiosa, que inclusive o menor e
mais desprezado verme tem mais valor que o sol, sem o
qual o verme não pode viver. O sol não vive, não pode sele
cionar matéria para crescer com o o verme; somente diminui
em forças quanto mais irradia sua luz.
O que vive, se move de dentro para fora, sem necessitar
de um empurrão externo. As plantas vivem, desenvolvendo-se
desde a semente, absorvendo com sua raiz matéria inanima
da, juntando-a a seu corpo vivo e com pondo assim sua confi
guração para produzir flores e frutos. Porém as plantas não
podem mover-se do lugar com o o animal, que além disso
pode também ver, ouvir, farejar, gostar e comer. Assim,
pois, o animal é muito mais rico que a planta. O homem,
com sua razão, busca, ele mesmo, os meios para conservar
sua vida; inclusive pode penetrar no interior das casas, pode
investigar sua maneira de ser; pode caminhar pelo terreno
do possível, e compreender e investigar coisas e verdades
sensíveis e inclusive abstratas, espirituais. Desde a profundi
dade, levanta seu olhar para as alturas nas quais reina o infi
nito. Porém, enquanto o Espírito de Deus não vem a nós
com sua graça sobrenatural, nossa alma jaz de certo modo
no solo, semelhante a uma pedra que não pode conter a luz
do sol nem desfrutar dela. Como um verme, aderimo-nos ao
solo e somente com esforço reconhecemos as criaturas com o
pegadas de DEUS, estamos simplesmente mortos para os
sobrenaturais. Porém se a vida sobrenatural nos invade, ele
vamo-nos às alturas imensas da divindade. Então o Espírito
Santo sopra em nós com seu poderoso hálito e nos leva até
o trono do Pai celestial: o Espírito Santo — nossa luz e vida.
5. Nossa vida natural não pode durar eternamente,
avança cada dia para a morte, cujo germe já leva em si desde
o dia em que foi engendrada. Para subtrair-nos à morte,
ainda que só seja por um par de dias, tomamos os mais
amargos medicamentos e sofremos as mais difíceis opera
ções. Que grande bem é para nós a vida natural! Quanto
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mais há de ser a vida divina que o Espírito S 'n to nos regala!
Também hoje vale a sentença do Salvador: “ Quem ama sua
vida, perde-a; e quem odeia neste mundo sua vida, guardá-
-lará para a vida eterna” (Jo 12,25).18
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desenvolver-se vigorosamente, já que ele está unido conosco
mais intimamente que o coração vivo e protetor da mãe
com a vida do filho que leva em seu seio.21
Quando o fogo penetra no ferro, já não podemos distin
guir o que é fogo e o que é ferro e, no entanto, ambos con
tinuam separados em sua natureza. O ferro resplandece
com o fogo e no entanto antes era negro, escuro; torna-se
flexível e se submete docilmente ao martelo do ferreiro. A
massa compacta de ferro pode ser transformada, inclusive
em obras de arte, as quais fazem que o ferro se converta
fácil e suavemente em grades já montadas. O fogo transfi
gura e anima o ferro que passa a ser calor e luz. Assim
também o Espírito Santo vivifica nossa alma morta por meio
de sua luz e sua vida, e a transfigura em glória celestial.22
3. Os santos padres chamam também ao Espírito San
to semente do Pai, porque é plantado com o uma semente
em nosso coração para vivificá-lo, dar-lhe alento, robuste
cê-lo, a fim de que cresça e dê frutos para a vida eterna.23
Como Espírito do Pai, nos gera fazendo-nos filhos de
Deus, que devemos herdar a bem-aventurança eterna no céu.
Como Espírito do amor paterno, desce a nós para pro
teger-nos e cuidar-nos, a fim de que seja cada vez mais a
alma de nossa alma.
Como Espírito do Filho, nosso chefe e esposo, nos faz
semelhantes ao Filho (cf. Gál 4,6), porque nos ama de uma
forma inefável na palavra divina. Quando ao Espírito Santo
o chamamos também “ Espírito da Graça” , “Espírito da Vi
da” , “ Espírito da Santidade” , “ Espírito do qual e pelo qual
vivemos” , estes nomes podem designar também a graça cria
da, e significam então emanação, reflexo ou órgão da graça
incriada. Assim reunimos organicamente a graça criada e
a incriada. Algo parecido sucede na alma humana: é um
espírito e pode existir também de per si, porém envia suas
correntes aos nervos do corpo que movem os músculos e
21. D IV 27
22. D III 901. Aqui a física nos oferece uma comparação acer
tada: a corrente elétrica flui pelo fio na lâmpada elétrica, e o fio se
torna incandescente. Assim também o Espirito Santo se aloja na
alma, que em seguida se inflama com o brilho natural da graça.
23. D VI 28; cf. D V 545ss; IV, 11.
83
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por meio dos nervos podemos ver, apalpar, ouvir e ter sensa
ções. 24
4. Nosso espírito não somente deve viver segundo as
inclinações naturais, senão que está animado pela natureza
divina, que é plantada em nosso espírito no batismo (cf. 2
Pdr 1,4). Comunica-se-nos o Espírito Santo que é a alma de
nossa alma. Ser espiritual no amor ou levar uma vida espi
ritual no sentido cristão, não se opõe somente a nossa vida
instintiva que foi deteriorada pelo pecado original, senão
que estamos capacitados e somos conduzidos por meio do
Espírito Santo para amar a Deus e fazer o bem. Somos
cheios da alma e do amor do Espírito Santo. Com ele nos
movemos e vivemos no amor divino que brota então de nos
so coração com o de uma fonte. Não amamos já tanto as
coisas terrenas, ainda que sejam espirituais, senão sobretu
do ao espírito mais puro, ao mesmo Deus, e assim somos
transfigurados e divinizados.
O apóstolo Paulo, na carta aos romanos, contrapõe esta
espiritualidade à concupiscência da carne; esta espiritualida
de nos pertence com o filhos de Deus, nos faz donos do espí
rito de Cristo, o Filho de Deus. Como Cristo vive, assim
também vivemos nós; de tal form a que vimos a ser um espí
rito com o espírito do Filho (cf. 1 Cor 2).
Assim podemos vencer e dominar a luxúria, o que na
ordem natural com grande dificuldade o poderíamos conse
guir, porém agora, quando levamos uma vida no espírito,
este nos ajuda a obter a vitória.
“ E nós não temos recebido o espírito do mundo, senão
o espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que
Deus nos tem dado graciosamente. Disto falamos não com
palavras que possam ensinar a humana sabedoria, senão com
linguagem aprendida do espírito; e àqueles nos quais resi
de o espírito, expomos as verdades que nos ensina ele mes
mo. O homem no qual não reside o espírito de Deus, não
compreende as verdades que ensina o espírito; são uma ne
cessidade para ele; e não pode compreendê-las porque só se
compreendem com ajuda do espírito. No entanto, o homem
que o possui pode conhecê-lo todo sem que ele possa ser
conhecido por nenhum outro. Porque: quem conhece a men
24. D VI 28.
84
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te do Senhor, e quem pode instruir-lhe? Nós sim temos a
mente de Cristo” (1 Cor 2,12-26).26
Cristo seja nossa comida,
nossa bebida seja a fé:
bebamos alegres
a sóbria profusão do espírito!
(Lauães de 2^-feira)
d) Imagem e selo
1. Os santos padres gregos designam ao Espírito Santo
com o imagem do Filho, porque manifesta em si toda a vita
lidade da palavra, de tal form a que esta vitalidade nos faz
semelhantes à imagem de Nosso Senhor. Como um selo no
qual está representada a imagem do Filho, o Espírito Santo
é gravado em nosso espírito. Deste m odo, ele nos adorna
com o se aformoseia um anel com uma jóia . 26 Esta metáfo
25. NG 112-114; cf. todo o capítulo: ü b em atü rliche Geistigkeit,
no qual Scheeben mostra a indiferença entre espiritualidade natural
e sobrenatural.
26. D III 1011; D III 853. Não se inventa nem se acha a imagem,
senão por intuição ou meditação se descobre em uma experiência
inspiradora um rasgo que é imitável, e portanto é compreensível pelos
próprios meios. Formando a imagem, tem-se o conjunto ainda que
somente seja um trecho ou inclusive só uma idéia da totalidade do que
se tem experimentado, porque a parte participa no conjunto. Ali
onde está a imagem, o espaço se tem condensado por meio de forças
invisíveis. A potência da primitiva imagem tem conseguido neste lugar
um posto que ela mantém contra outros poderes. A imagem refulge e
se faz presente de um novo modo. Impõe-se a comparação com
ondas etéreas que invadem o universo e são captadas por instrumen
tos e transformadas em sons. A origem da imagem é uma repetição
da cosmogênia. Assim, pois, as imagens são muito mais que ajudas
para recordar ou formas de comunicação (entre as quais há que
contar a escritura hieroglífica).
Quando na perseguição japonesa dos cristãos se exigia que se
pisassem as imagens santas, perseguidores e perseguidos estavam
inteiramente de acordo com o juizo de um tal ato: o que se fazia
com a imagem, afetava a realidade representada, era mais que um
desprezo externo; a intenção, pelo menos, era destruir o santo.
As imagens do culto são "ritos externos que nunca cessam de
manter ativas as forças salvadoras" (tempo sobre as imagens das
catacumbas). . . A força da forma exemplar da imagem primitiva
sobressai, constitui uma esfera que está governada pelo “pneuma"
da imagem primitiva... O homem que se acerca em atitude de vene
rar, é incluído na existência superior e dai se o provê de novas for
ças... As pinturas rupestres... não tiveram sua origem na inclina
ção a configurar, senão na fé, na necessidade... Nossa expressão
“fixada (ou reproduzida) na imagem", manifesta com muita precisão
o que queria dizer primitivamente a imagem. A imagem participa
no original e deve proporcionar as forças deste... (MZ 142ss).
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ra da imagem e o selo está firmemente arraigada na Escri
tura:
2 Cor 1,21: "Deus nos dá fortaleza em Cristo, e co
nosco a dá a vós; ele nos ungiu e ele nos marcou com seu
selo, depositando em nossos corações o penhor do Espí
rito” .
Ef l,13s: . .Tendes sido selados com o selo do Espí
rito Santo prometido, Espírito que é penhor de nossa he
rança . . . ”
Ef 4,30: "E não provoqueis o Espírito Santo de Deus,
com o qual fostes marcados para o dia da redenção” .
2. O selo, enlaçado com a prenda, nos outorga um título
de propriedade sobre o pleno gozo de Deus, e com este títu
lo somos acolhidos na família de Deus. Somos exaltados na
comunidade com o que concede a herança, ou seja, com
Deus-Pai. No selo do Espírito Santo somos unidos com
Deus e possuímos o penhor de que já aqui neste mundo so
m os transformados cada vez mais segundo a imagem do
P ilho.27
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O Espírito Santo, o mais sublime penhor do amor do
Pai, clama em nós: “ Oh Pai!” . Dá este brado com o filial e
confiado amor ao Pai, que tem derramado em nós. Dá este
brado em nós, porque nos aproxima do Pai e nos infunde a
mais afetuosa confiança nele. “ P orque... tem os... acesso ao
Pai mediante um só Espírito” (E f 2,18). Chegamos a ser
dignos de toda a afeição do Pai, porque o Espírito Santo
habita em nós. Reclama seu amor e seus benefícios em
favor de nós (cf. Rom 8,26). Oramos e suspiramos com o
Espírito Santo para que a glória dos filhos de Deus se ma
nifeste plenamente a nós. Deus “vivificará também vossos
corpos mortais por obra de seu Espírito que habita em vós”
(Rom 8,11). Deus nos ressuscitará a uma vida gloriosa,
imortal, para glorificar-nos com o filhos de Deus com Jesus
Cristo, nosso irmão maior.
O Espírito Santo se hospeda em nós como laço e selo,
para que sejamos unidos com Deus com o filhos, assim com o
ele também é laço e selo da mais estreita unidade do Pai e
do Filho. Ouvimos orar ao Filho de Deus: "Eu te rogo que,
assim com o tu, Pai, estás em mim e eu estou em ti, sejam
eles uma coisa em nós” (Jo 17,20ss).28
2. Como filhos de Deus, som os irmãos e irmãs do
Filho; participamos em seu amor ao Pai, em sua vida no
Pai e em sua glória com o Pai. Ele é seu Filho, porque está
engendrado pelo Pai e por isso é essencialmente uma só
substância com ele. A nós se nos regala a dignidade de filhos
somente pela adoção; também estamos unidos com Deus,
porém esta unidade só é semelhante à que existe entre o
Pai e o Filho desde toda eternidade; contudo esta unidade
é efetiva, e Jesus, no cenáculo, disse diante de seus discí
pulos: “ Eu te ro g o . . . que, assim com o tu, Pai, estás em
mim e eu estou em ti, sejam eles uma coisa em n ó s ...
Eu dei-lhes a glória que tu me deste, para que sejam consu
mados na unidade, e para que o mundo conheça que tu me
enviaste e que os amaste, com o amaste também a mim. Pai,
quero que onde eu estou, estejam também comigo aqueles
que me deste, para que vejam a glória, a glória que me des
te, porque me amaste antes da criação do m undo. . . Eu fiz-
-lhes e far-lhes-ei conhecer o teu nome, a fim de que o amor
com que me amaste esteja neles e eu neles” (Jo 17,22-26).
28. M/30.
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O apóstolo continua as palavras de Jesus, quando diz:
“ Deus nos marcou com seu selo, depositando em nossos cora
ções o penhor do Espírito Santo” (2 Cor 1,21). Também fala
de que “o Espírito do Filho” nos é enviado, porque somos
filhos de Deus (Gál 4,5). “ A participação do Espírito Santo”
(2 Cor 13,13) é a expressão mais acertada para “nossa co
munhão com o Filho” (1 Jo 1,3) e também para nossa filia
ção de D eus.29
3. No eterno engendramento, o alento do Pai é exala
do ao Filho com o substância de Deus, e a natureza espiritual,
viva, do Pai e do Filho, emanada por ambos, se verte no
Espírito Santo. Portanto este alento, esta natureza divina
é também própria do Espírito Santo, que por esta razão é
também a imagem do Pai e do Filho. Por isso o Espírito
Santo é considerado com o a natureza divina segundo a ma
neira com que se comunica às criaturas: a semente espiri
tual, viva, vivificante de Deus para engendrar filhos de Deus
e enxertar neles a natureza divina.
O Espírito Santo não nos gera como filhos de Deus se
gundo a maneira com o o Pai engendra o Filho: necessária
e eternamente, na vida interna de Deus, senão com amor
livre, no tempo, no exterior. Não obstante, é uma verdadeira
imagem do benevolente e paternal amor e bondade de Deus,
que está disposto a comunicar-nos seus bens. Vimos a ser
filhos de Deus e irmãos de Cristo. Contudo, isto ainda não
é suficiente. O mesmo Espírito Santo, com o o alento vivifi
cante de Deus, entra em nós juntamente com a graça criada,
de tal forma que não só venhamos a ser filhos de Deus,
senão também templos do Espírito Santo.30
4. Somos divinizados, quando som os adotados por
Deus com o filhos: nossas aptidões naturais não são simples
mente aperfeiçoadas, desenvolvidas e saciadas, senão que são
elevadas, transfiguradas e glorificadas sobrenaturalmente
para “poder parecer-nos a Deus” , de tal m odo que chegamos
a ser semelhantes a Deus em sua glória, bem-aventurança e
santidade. Somos elevados até o seio de Deus, de onde ve
remos face a face a Deus trino e uno. O Espírito Santo é
princípio e fonte de todas estas graças; a palavra divina é
causa das m esm as.31
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5. “Este mesmo espirito se une a nós para testemunhar
que somos filhos de Deus; e, se filhos, também herdeiros
de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rom 8,17). E o discí
pulo amado nos instrui dizendo: “ Considerais que amor nos
mostrou o Pai que nos chama seus filhos. E o somos de
verdade” (1 Jo 3,1). Na oração do Senhor, a Deus chama
mos Pai Nosso e nos designamos com o seus filhos. De longe
é para nós indiferente o que significa isto. Não fazemos
idéia a que altura nos podemos elevar, acima de todas as
criaturas até o seio de Deus Todo-Poderoso. São Pedro Cri
sólogo ( f 451) nos adverte: “ O mesmo Deus nos ensina a
orar: ‘Pai Nosso’. Impele-nos a rezar assim e nos manda.
Por isso seguimos a graça que nos chama, seguimos o amor
que nos arrasta, seguimos o carinho que nos convida. Que
Deus é nosso pai sente-o nosso coração, confessa-o nossa
alma, proclama-o nossa língua; e tudo o que há em nós cor
responde à graça e não ao temor. Porque quem de juiz
passou a ser nosso pai, quer ser amado, não temido” .
6. Nós os homens não somos propriamente filhos de
Deus, senão seus servos. Estamos em um nível muito mais
baixo que os anjos, que também são tão só seus servos.
Somos criaturas de Deus, obras de suas mãos, estamos
submetidos a Ele absolutamente em tudo, pertence-lhe tudo
o que somos e temos, estamos estritamente obrigados a ser
vi-lo, que é Nosso Senhor, e a adorá-lo. Se o olharmos
de nós mesmos, Deus nunca pode ser nem chegar a ser nosso
pai. Ele nos tem criado e nos conserva na existência, dis
pensa-nos muitos benefícios, não com o um tirano, senão co
mo um senhor bondoso e benigno; com o nosso criador é
mais pai do que pode sê-lo um pai corporal.
Porém entre Deus e nós há um abismo infinito. Nunca
estamos tão perto de Deus com o um menino está perto de
seu pai aqui neste mundo. Ainda que sejamos uma viva
imagem natural de Deus, somos somente criados, porém não
engendrados por Deus. Somente o Pilho de Deus, a palavra
divina, é engendrado pelo Pai, e por isso ele forma com o
Pai uma só natureza. É a imagem da essência do Pai, a
palavra de seu conhecimento; procede do Pai com o luz de
luz, com o Deus de Deus, é o mesmo Deus e um só Deus com
o Pai. — O chegar a ser seus irmãos não é uma espoliação
que fazemos a Deus? Não lhe arrebatamos seu direito mais
excelente, isto é, o direito de ser Filho de Deus? Pode cada
um de nós pôr-se a seu lado, a fim de ser acolhido com ele
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no seio do Pai, compartir o amor e a herança do Pai eterno,
a fim de ser um com o Pai, com o o Pilho é um com o Pai?
7. Podemos chegar a ser irmãos e co-herdeiros de Cris
to? Pelo que depende de nós, isto é impossível; porém, por
parte de Deus, é possível. O que não podemos pretender
nos regala o Deus infinitamente dadivoso. Temos de chegar
a ser seus filhos por meio da graça, irmãos e irmãs de Cristo,
e co-herdeiros do reino celeste. O mesmo obteve a vida dos
filhos de Deus por meio de seu sangue; fez-se carne para
“ dar aos que crêem em seu nome o poder de chegarem a ser
filhos de Deus” (Jo 1,14). Ele quer “ ser o primogênito de
todos os irmãos” (Rom 8,29). Fala de Deus com o de seu
Pai e nosso Pai, e nos ensina a rezar o Pai Nosso.
Isto se refere a nós, que por natureza estamos infinita
mente mais por baixo de Deus do que um súdito pode estar
com respeito a seu rei terreno. Ainda que o último escravo
fosse adotado por um rei, isto nunca se poderia comparar
com o que Deus nos oferece, se nos adota como seus filhos.
8. De forma alguma nos temos tornado dignos desta
suprema honra; diante de Deus somos única e somente de
vedores e pecadores; ofendemo-lo inclusive quando já temos
chegado a ser seus filhos, perdemos a filiação e a herança
do céu, e nos tornamos dignos da eterna condenação. E, no
entanto, Jesus Cristo, o Filho de Deus, se sacrifica por nós
para tornar-nos novamente dignos da filiação de Deus por
meio de seus sofrimentos e méritos, enquanto estamos neste
mundo, e para adotar-nos novamente com o seus irmãos.
Há um amor maior? *2
9. Não somente nos chama filhos, senão que também
o somos. Devemos “ reproduzir a imagem do Filho, para que
este seja o primogênito de todos os irmãos” (Rom 8,29).
Nosso irmão primogênito nos garante que somos filhos
de Deus por meio do Espírito Santo: “ Sede perfeitos, com o
é perfeito vosso Pai celestial” . A nós, os filhos de Deus, não
nos basta aperfeiçoar-nos com o pretendem fazê-lo os homens
ordinários; cônscios de nossa excelsa dignidade, tomamos
por modelo ao niesmo grande Deus, nosso Pai. O mesmo nos
chama por meio da fé e amor para que procedamos assim.
Se já somos filhos de Deus por meio do Espírito Santo, tam
bém temos que nos deixar guiar por Ele (cf. Rom 8,14).
32. H G 76-81.
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Porém o Espírito de Deus é o amor, amor puro, amor ardente
a Deus e aos homens; Ele é a luz temida por todas as trevas
do pecado; é o fogo ardente que destrói manchas e vícios.
Na sua luz queremos caminhar, acreditar-nos com o filhos
da luz e não tornar-nos nunca às trevas. Nunca nos entre
garemos a estes poderes sombrios, de cuja servidão nos tem
liberado a graça do Espírito Santo. “ Demos graças a Deus-
-Pai, por me?o de seu Filho no Espírito Santo, que se apiede
de nós pelo grande amor com que nos tem amado, e quando
estávamos mortos pelo pecado, nos tem vivificado em Cristo
e com Cristo” (São Leão Magno, f 4 61 ).”
33. HG 82-88.
34. M/30.
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ele, participamos também de sua santa dignidade e devemos
levar uma vida santa que corresponda a sua santidade. Esta
mos santificados, estamos cheios do Espírito Santo, somos
templos do Espírito Santo. Este templo, ele o enche de san
tidade. “ Não sabeis que sois templo de Deus, e que o Espí
rito de Deus habita em vós?’’ (1 Cor 3,16). Estamos enobre
cidos e consagrados. Chegamos a ser partícipes da nature
za divina. A glória de Deus e o amor do Espírito Santo nos
levantam, homens indigentes, muito acima de nossa fragilida
de, para que passemos a ser filhos santos do P ai.35
3. O Novo Testamento nos ensina em muitas passagens,
que o Espírito Santo habita e atua em nós com o doce hós
pede.
Gál 4,6: “ E a prova de que sois filhos é que Deus tem
enviado a nossos corações o espírito de seu Filho, que clama:
Abba, Pai!” .
O Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, é co
municado a nós, de tal forma que nos corresponde de um
modo parecido a como corresponde ao Filho e ao Pai.
Rom 5,5: “ O amor que Deus nos tem se derramou
em nossos corações pela ação do Espírito Santo que se nos
tem dado” .
0 Espírito Santo é infundido já em nós antes que os
sete dons, inclusive antes que a caridade, de uma forma pare
cida a como a alma tem que ser infundida primeiro no cor
p o para que possa mover os membros.
1 Cor 3,16: “ Não sabeis que sois templos de Deus, e
que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém violar o
templo de Deus, Deus o destruirá. Porque é santo o templo
de Deus, que sois vós” . Como o Espírito Santo habita em
nós, som os santos até nos membros de nosso corpo. O Espí
rito infinitamente santo penetra em nós, nos adom a e coroa,
nos enche e nos impregna, ainda que, por ser Deus espírito
puríssimo, nunca pode penetrar em nós de tal forma que
chegue a ser uma substância conosco (cf. também 1 Tes
4,3-8).
Rom 8,11: “ E se o Espírito daquele que ressuscitou a
Jesus dentre os mortos, habita em vós, o mesmo que ressus-
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citou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também
vossos corpos mortais, por obra de seu Espírito que habita
em vós” .
Também nosso corpo é templo do Espírito Santo, e por
isso também ressuscitará. O mesmo Espírito Santo lhe dá
o direito e a força para chegar a ser imortal depois da morte
e para viver por toda a eternidade.
Rom 8,26: “Da mesma maneira, também o Espírito co
labora conosco ajudando nossa fragilidade, porque não sa
bemos o que é pedir com o convém; e o Espírito mesmo
advoga por nós com suspiros inenarráveis” .
0 Espírito Santo obra em nós, clama, roga. Perten
ce-nos. Guia nossa mão, com mais suavidade e firmeza que
o mestre guia a mão do menino que ainda não sabe escrever.
A nós só nos está encomendado seguir ao Espírito sem ofere
cer resistência.
1 Tes 5,23: “ Que o mesmo Deus da paz os santifique
inteiramente, e que todo vosso ser, o espírito, a alma e o
corpo, se conservem sem mancha para a parusia de Jesus
Cristo, Nosso Senhor” .
“ Vosso espírito” designa aqui ao Espírito Santo com o
nosso princípio de vida sobrenatural. Deve ser conservado
incólume, enquanto mantemos irrepreensíveis a alma e o
co r p o .36
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o Espírito Santo. Os dons do Espírito Santo são os obsé
quios que ele traz consigo, quando vem a n ós.37
2. Deus pode atuar em um homem de um m odo mera
mente externo, admoestando-o por meio de outros homens
ou influenciando em suas aspirações morais por meio de
coisas. Porém é da exclusiva incumbência divina que o Espí
rito Santo nos arraste ou obrigue interiormente, nos suste
nha ou emocione, nos guarde ou ampare. A sagrada escritura
descreve muito nitidamente com o o Espírito Santo nos faz
doação de graças ou influi em nossa vontade. Ele exerce
seu poder divino sobre o espírito criado. Converte-se em
manancial vivo que obtém, pela força de seu poder, que
queiramos o bem. Sua força nos impulsiona e produz o
bem. Engendra vida sobrenatural em nossos corações. Sem
violar nossa liberdade, o Espírito Santo obra vigorosa e in
tensamente em nossos corações. O jorro desta fonte de salva
ção penetra em mim tão poderosamente, que outorga à mi
nha vontade debilíssima a força de efetuar tudo o que hei
de fazer segundo a vontade de Deus; também afasta da fren
te tudo o que estorva.38
O Espírito Santo nos comove e inflama, nos estimula e
sustenta; Ele é a fonte que realmente vivifica. Oferece e
engendra nossa filiação sobrenatural. Nutre-nos e infunde-
-nos abundância de sangue. "Todos quantos se deixam guiar
pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus” (Rom 8,14).
3. Às vezes esta fonte de graça nos inspira afetos e
desejos para os quais não estamos preparados e nos quais
não havíamos pensado. Estas águas vitais também empa-
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pam nossa vida de oração e o fundo de nossa alma. Esta
água se transforma no alento ardente da força do amor do
Espírito Santo e se apodera de nós com ímpeto irresistível.
Veja-se “ o amor de Deus que se tem derramado em nossos
corações” (cf. Rom 5 ,5 ).39
4. O Espírito Santo leva e nos procura a força vital
que depende do Cristo. Ele a faz brotar com o uma fonte.
Muitos textos da sagrada escritura falam dessa fonte de
graças. Veneramos ao Espírito Santo com o a “ fonte viva”
(véspera de pentecostes), cuja água nos dá vida e nos san
tifica. 40
5. Alguns desses pensamentos já ressoam no Antigo
Testamento.
Na bênção da água batismal, na vigília pascal, se chama
ao Espírito Santo “ mãe da graça” (cf. Sab 16,25). Ele é a
fonte de graça, que no manancial do batismo nos dá vida,
nos engendra e santifica com o nascentes filhos de Deus.
Mãe da graça corresponde à mãe de todos os viventes,
ou seja, a Eva, cujo nome significa vida, força vital ou sopro
de vida; veio a ser fonte de vida do gênero humano, cuja
vida ela faz palpitar e reinar. Por esta água, ela é também
símbolo do Espírito Santo.41
Os israelitas, no deserto, receberam o batismo em Moisés
na nuvem que resplandecia para eles durante a noite e os
precedia, inclusive no Mar Vermelho, do qual foram salvos.
Esta nuvem luminosa (cf. Êx 13,22; 1 Cor 10,2ss) também
39. D VI 27.
40. D VI 27; 326. Na psicologia da profundidade de C. G. Jung,
se prescinde por completo do "sobrenatural” ; ainda que Jung "conhe
ce a Deus como arquétipo e diz que cada homem que envelhece se
comunica com ele, mais ainda, há de comunicar-se”, contudo, disse
também: "No desenvolvimento do problema de Deus, não se trata
em primeiro lugar nem da fé nem da ciência, senão da coincidência
de nosso pensamento com os originais de nosso inconsciente... e um
destes pensamentos primitivos é a idéia da vida para além da morte"
(citação de Goldbrunner, Individuación, Fax, Madrid 1962; cf. também
a critica de Helwig na pág. 130 deste livro).
41. D VI 94-97; 102; os parágrafos 285-288 são uma antropologia
da graça, que ainda há de dizer muitas coisas aos modernos psicólo
gos, já que na psicologia um não se ocupa de ordinário do "transcen
dental”, tampouco de fenômenos que na vida da alma se manifestam
claramente, porém que são causados pelo sobrenatural; cf. nota em
D VI 37, entre outras passagens.
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nos faz sombra, nos cobre de orvalho e nos ilumina: o Espí
rito Santo nos satura de graças, a nuvem se converte na
fonte de água viva, na vida eterna (cf. Jo 4,14; 7,39). Em
J1 3,1 se prediz que o Espírito de Deus será derramado
sobre os homens: “ Depois disto, derramarei meu espírito
sobre toda a carne” (cf. também Is 32,14s; 44,3 e Ez 36 25-27).
De uma maneira muito parecida ao que se diz do Espí
rito Santo no Novo Testamento, também se diz da sabedoria
que deve nascer de Deus, ser enviada e derramada sobre nós
(Sab 7,7; 22; 9,17).
Sirac, no capítulo 24, fala de com o a água da graça, que
deve fecundar-nos e forma uma fonte fecunda de água em
nosso coração, há que vincular-se com a nuvem luminosa que
desce.
A fonte também é símbolo da maternidade, já que en
gendra a água da mãe terra. A eficácia maternal da graça
do Espírito Santo é comparada com a água mãe do cântico
que Moisés cantou antes de morrer, para despedir-se do
seu povo:
Como a águia que estimula sua ninhada,
esvoaça sobre seus filhotes,
assim ele estendeu suas asas e os colheu,
e os levou sobre suas plumas.
Só Javé o guiava (ao povo);
e não estava com ele nenhum deus estranho.
(Dt 32,1 ls )
Na linguagem da escritura se complementa mutuamente
o sol vivificante e a ave maternal. A luz do sol simultanea
mente irradia e voa pelo éter. As asas do sol irradiante so
correm maternalmente as flores que se abrem, e lhes outor
ga força vegetativa e impulsora para desenvolverem-se: a luz
do sol vem a ser vida para a planta, fonte de luz e de vida.
Malaquias faz alusão às asas do sol da justiça que hão
de curar-nos (Mal 3,20).
Também Zacarias, ao final da antiga aliança, fala em
seu cântico (Lc 1,78) da vida do alto, a qual deve fazer que
Deus apareça aos que jazem submersos nas trevas da morte.
Deste modo se nos apresenta a imagem da águia mãe, de uma
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maneira ainda muito mais íntima, viva e sobrenatural: o
filho do homem é ressuscitado da morte e conduzido ao sol
eterno. Ai
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Deus, o Senhor, é o ilimitado: no mais íntimo é firme
e robusto; é o mesmo bem; todos os defeitos estão longe
dele. Temos que reconhecer a esse Deus com o senhor su
premo, temos de respeitá-lo e amá-lo.
Porém Deus tem que amar-se também a si mesmo, por
que sua natureza se eleva acima de tudo, é inviolável e santa.
Deus é santo em sua natureza e santo em seu amor. Ama
sua natureza santa com amor santo. A natureza santa de
Deus reina e existe no Pai e no Filho. O amor santo entre
eles corresponde ao Espírito Santo.
3. A santidade inviolável somente é própria de Deus.
Uma criatura é santa, se está unida de algum m odo com
Deus, seja exteriormente como um templo com seus utensí
lios de culto, ou interiormente com o um homem que ama
e honra a Deus. Logo que um homem seja batizado é santo,
já que o Espírito Santo lhe faz doação da vida santa que
participa da natureza santa de Deus. O apóstolo chama san
tos a todos os cristãos, porque seu Pai celestial é santo.
Somos elevados de uma maneira invejável até ele, e unidos
com ele por intermédio do Espírito Santo para participar
de sua santidade. Em todos os cristãos se pode reconhecer
na fé esta consagração digna de respeito. Recebemos a luz
da santidade divina, como um espelho puro que reflete a luz
e a plena glória do Senhor com uma beleza admirável e uma
claridade celestial.
Se conseguirmos contDmnlar a Deus no céu. esta santi
dade será inviolável e absolutamente firme; jamais será
contaminada nem destruída. O Espírito Santo penetrará tam
bém em nós e com uma intimidade ainda muito maior nos
encherá de seu amor santo que brilha com fulgores celestes,
de tal forma que não possamos amar algo que se oponha a
esta santidade.
Contudo, aqui, neste mundo, aonde ainda vivemos com
a luz da fé, podemos amortecer e suprimir nossa santidade
e nossa vida sobrenatural. Por isso esta ação perversa e
maligna se chama também com razão pecado mortal.
4. Nunca podemos entender a santidade sobrenatural
sem esta dignidade superior e santa do homem. Porém como
muitos — inclusive cristãos — o tentam, tampouco entendem
nem estimam a moral cristã, e consideram uma necessidade
seguir o caminho dos mandamentos de Deus e deixar-se guiar
pelo Espírito Santo. Assim, pois, a santidade cristã tem
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que se retirar ante a justiça e a honradez meramente huma
nas. No humanismo de orientação antiga e moderna, inclu
sive a mais recente, esta doutrina herética sempre faz brotar
novas flores venenosas.
Porém, se meditamos e experimentamos interiormente
estes ensinamentos sublimes da santidade cristã, esta se con
verte para nós no estímulo poderoso que nos impulsiona a
uma nova e entusiástica vida religiosa.43
5. Uma alma é bela, se Deus a santifica e a adorna
com um vestido bordado em ouro, isto é, o vestido precioso
das virtudes. Porém a alma é bela em um duplo aspecto
pela beleza incriada do Espírito Santo, se este pôs seu santo
trono na alma adornada com a graça. O palácio já adorna
do adquire, por meio do Espírito Santo, seu ornamento mais
sublime, o templo santo e suntuoso da alma, seu santuário,
seu altar. A alma santificada é com o um anel dourado no
qual está engastada a pedra mais preciosa, o Espírito Santo.
O ouro e a pedra preciosa formam um conjunto, uma beleza.
O Espírito e a alma parecem ser tão só uma santidade. A
alma se assemelha a um vaso de cristal iluminado por fora
pelo fulgor das virtudes, radiante por dentro através do
sol do Espírito Santo: a glória da filha do rei está no inte
rior (SI 44,14). Ante a suprema beleza e santidade do Espí
rito Santo, toda a harmonia criada natural e sobrenatural,
todo brilho, todo vigor vital são somente sombra e treva.
Todo o brilho, vida e encanto que há em nós, se assemelham
a um esplêndido arco-íris que se form a por meio do sol do
Espírito Santo, e sem ele desaparece. i6
18 — A VERDADEIRA MÍSTICA
45. NG 123-132.
46. HG 108S.
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Porém o que nos "instrui em todas as coisas” não é
nossa inteligência nem nossa reflexão, senão a "unção” do
Espírito Santo (1 Jo 2,27). Ele nos mostra o que é necessá
rio, ensina-nos a pensar e proceder de um m odo sobrenatu
ral. A inteligência e a vontade não causam de per si a vida
sobrenatural de nossa alma. Se seguimos a luz interna e o
impulso sobrenatural do Espírito Santo, ele forma em nós
as virtudes divinas.
Não temos que refletir sobre cada ação que levamos
a cabo, nem temos que representar com todas as relações.
Isto para nós é completamente impossível. Um jovem
que ama sua noiva não necessita, para poder amar, estudar
primeiro livros grossos e científicos.
O que menos compreendemos é nossa mais profunda
e íntima vida da alma. As virtudes infusas são movimentos
sobrenaturais de nossa alma, estão colocadas com suma sim
plicidade sobre o solo natural da mesma. Só ternos que
manter aberto nosso coração para as inspirações do Espírito
Santo. Deus obra em nós. Crer em Deus — esperar em
Deus — amar a Deus sobre todas as coisas.
Só e unicamente estas virtudes equivalem à nossa
vida sobrenatural. Elas apóiam, interior e exteriormente,
toda nossa conduta moral. Por conseguinte, se a moral não
se apóia no dogma, toma-se pouco natural, deformada e in
consistente.
Se estimulamos as três virtudes teologais, interior, deli
berada e livremente e se também as experimentamos pessoal
mente na medida do possível, já nos movemos na verdadeira
mística. É graça de Deus que Ele nos faça experimentar fun
damentalmente a fé e a caridade. Por isso não há nenhuma di
ferença essencial entre diversos “ altos graus da mística” (co
mo sói expressar-se a teologia mística). Temos que escutar
ao Espírito Santo com atenção e rapidez; não temos de
dirigir nossos olhares a nós, senão ao guia divino. 47
2. Por isso, para amar a Deus, de nenhum m odo é
necessário estudar muito nem refletir profundamente. Muito
menos auxilia ainda angustiar-se e fazer esforços, buscar
100
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palavras amorosas. Se isto tem de fazer uma noiva, sabe
m os que não ama deveras seu noivo. É muito mais impor
tante pedir ao Espírito Santo sua graça com humildade e
confiança. Aqui também podem aplicar-se as palavras do
Salvador: “ Não estejas com cuidado de que m odo respon
dereis, ou que direis, porque o Espírito Santo vos ensinará
naquele mesmo momento o que deveis fazer” (Lc 12,12).
Para um professor de teologia ou de religião é natural
mente uma obrigação refletir também sobre a fé e o amor
e estudar o que os mestres e santos têm dito sobre estes
temas. Tudo isto é matéria da inteligência, é ciência, porém
em si mesmo não é uma virtude teologal. Um pregador,
em suas palavras mais eloqüentes, pode permanecer frio,
enquanto seus ouvintes são inflamados pelo amor de Deus.
A luz do Espírito Santo tem que nos iluminar, e seu
amor tem que nos conduzir a Deus. Por meio dos dons do
Espírito Santo, as almas simples são tão iluminadas e inspi
radas por seu fogo, levantam-se tanto para Deus e se unem
com Ele, que nem elas nem teólogos eruditos podem com
preender com o uma alma pode unir-se tão intimamente com
Deus. Ela trata com seu criador e senhor íntima e confiada-
mente, livre e elevadamente. Se o Espírito Santo não nos
ilumina, não entendemos muitos hinos amorosos ditos ou
escritos por almas santas extasiadas no amor de Deus. Te
nhamos cuidado de não condená-las. Para o que não ama.
a linguagem do amor é “ necessidade da cruz” (1 Cor 1,18).
3. Somente se amamos a Deus, somos elevados acima
de nossa natureza de tal forma que participamos da nature
za divina (2 Pdr 1,4). Recebemos do Espírito Santo uma
nova vida que somente se move ao redor do amado, vive no
amado; estamos mais ativos por meio dele que por meio de
nós; atuamos para ele mais do que pensamos em nós; pro
priamente, só nos amamos porque pertencemos ao amado.
Nenhuma criatura nos pode separar de nosso amado (Rom
8). Nosso amor somente pode sossegar-se em Deus com o o
bem excelso e divino, que desejamos ver no céu com plena
claridade e possuí-lo amorosamente.48
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2. As virtudes teologais — nossa mísiica.
As virtudes que nos são infundidas por Deus, ou seja,
a fé, a esperança e a caridade, dão vigor e transfiguram nossa
inteligência e vontade, e nos orientam sobrenaturalmente.
Facilita e assegura a vida divina em nossa alma. Somos ilu
minados e robustecidos no bem. As virtudes teologais nos
capacitam para todas as demais virtudes, podem ultrapassar
muito nossas forças naturais; semeiam um novo germe em
nosso coração; colocam um rebento mais nobre em nossa
natureza deteriorada para que sejamos divinizados: nosso
conhecimento vem a ser fé sobrenatural, e nosso querer vem
a ser amor sobrenatural.
As virtudes teologais dependem completamente do Espí
rito Santo e estão unidas com ele, já que não podem ter
nenhum fundamento natural e de nenhum m odo têm sua
origem em coisas criadas. Participam da vitalidade que é
presenteada ao Espírito Santo pelo Pai e o Filho. Só nosso
doce hóspede pode plantar estas virtudes em nosso coração
e causar em nós os atos da fé e do amor. Sua luz nos ilumi
na e nos dá calor até o fundo do coração, do qual, com o de
uma raiz, crescem e brotam ramos, flores e frutos da fé e do
amor. Nossa alma comunica ao corpo a vida natural; o
Espírito Santo nos faz doação da vida sobrenatural. ^
.102
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Isaías descreve os sete dons: “E brotará uma vara do
tronco de Jessé e uma flor brotará de sua raiz. E repousará
sobre ele o Espírito do Senhor, espírito de sabedoria e de
entendimento; espírito de conselho e de fortaleza; espírito
de ciência e de piedade; e será cheio do espírito de temor
do Senhor. E pronunciará seus decretos no temor de Javé”
(11,1-3. Segundo o texto original, a última frase diz assim:
“ Deus lhe fará respirar com o espírito do temor de Javé” ).
Com estes dons deve ser marcado o futuro grande re
bento de Jessé, que simultânea e primeiramente é o rebento
de Javé. Nós, os sarmentos nesta vinha de Deus, participa
mos dos dons que lhe foram outorgados pelo Pai; mediante
o Espírito Santo ficamos aderidos a Cristo e vimos a ser
seus irmãos póstumos.
a) O candelabro de ouro
O número sete dos dons corresponde ao candelabro de
sete braços no templo de Jerusalém, cujas chamas lumino
sas, alimentadas com óleo, são os símbolos expressivos des
tes dons. O profeta Zacarias o contempla em sua mente:
“ Vejo um candeeiro, todo de ouro, com um vaso em cima e
suas sete lâmpadas, e sete tubos desde as lâmpadas ao vaso
que está em cima" (Zac 4,2). Também o vidente de Pat-
mos contempla sete lâmpadas ardentes diante do trono, as
quais representam os sete espíritos de Deus (Apc 4,5). São
João escreve às sete comunidades e lhes deseja graça de
parte dos sete espíritos que estão diante do trono (Apc 1,4).
Os sete espíritos também são interpretados com o os sete
dons que enchem a Cristo e que ele irradia ao mundo. Tam
bém se podem comparar às sete chamas com as línguas de
fogo na festa de pentecostes. Nas sete chamas há riqueza
e variedade de luz espiritual, na qual a vida do povo de Deus,
santificado por meio de Cristo (a chama primitiva), brilha
ante a presença de Deus e proclama seu louvor. Para nós
também aqui é um símbolo o arco-íris de sete cores. O úni
co sol emite luz sétupla e a reflete em sete cores para que
possa ser vista pelos homens em sua mediação entre o céu
e a terra, com o já sucedeu em tempos de Noé. O número
sete também encontramos na escala de sete intervalos, que
mostra um sistema fechado de som, um sistema que se des
dobra em sete acordes.
Em hebreu, em sexto e em sétimo lugar está sempre
a mesma expressão: “ temor do Senhor” ; contudo, em último
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teim o se acrescenta que este temor respira no rebento de
Javé, penetra-o por completo e o irradia para fora. Com
tal motivo se fala de um duplo distintivo do profundo res
peito diante de Deus, em primeiro lugar o respeito da cria
tura racional diante de Deus com o seu Pai, seu máximo
benfeitor, a quem ela tudo tem que agradecer, a quem está
reconhecida, afeta e submissa com o um filho; a este dom
chamamos também piedade, porém logo será também o
respeito que se outorga a Deus, a suprema e infinita majes
tade, porque a criatura diante de Deus nada é e experimenta
a sensação de nada ser. Submete-se em tudo inteiramente a
Deus e procura cumprir com presteza sua vontade. Consa
gra toda sua vida ao serviço de Deus com o sacrifício e se
oferece também realmente com sacrifício a Deus no Espíri
to Santo, à maneira de aroma amoroso (cf. Hbr 9,14). Neste
sentido, o temor do Senhor inclui todos os outros dons e
resplandece no centro muito acima dos demais, com o a cha
ma mais elevada no candelabro de ouro, brilhando de uma
forma sublime e única.
Em qualquer caso, o temor do Senhor é mais que o
mero medo de ofender a Deus pelo terror de ser condenado
por Ele. Essa atitude da alma é impossível em Cristo, ao
qual se refere esta passagem, já que ele é santo com exclusão
de condições e mudanças. Cristo, com o Deus, odeia o peca
do, abomina-o por sua mais íntima e santa essência.
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com os quais ele vê seguramente realizada em Cristo a sabe
doria de que fala Isaías. Na primeira carta aos coríntios
(1,24), São Paulo também alude a Sab 8,1, donde a sabedo
ria penetra na criação de um extremo ao outro e ordena o
universo com sumo amor. Segundo a sagrada escritura, a
sabedoria abarca e aprofunda a verdade e o bem, pelo qual
o conselho e a força sempre estão unidos com ela. O pru
dente soberano ideal é o rei que sempre pode dar os melhores
conselhos a seus súditos e ao mesmo tempo é bastante forte
para ajudar a todos e resistir a qualquer inimigo.
Estes quatro dons nos mostram a Cristo com o o homem
moralmente mais perfeito; antes de tudo, Cristo se subordina
a Deus, o reconhece com o bem supremo e o ama com sumo
ardor. Isaías o descreve assim: “ Não julgará pelo que se
manifesta exteriormente à vista, nem condenará somente pelo
que ouve dizer; mas julgará os pobres com justiça e tomará
com eqüidade a defesa dos humildes da terra, e ferirá a terra
com a vara da sua boca e matará o ím pio com o sopro dos
seus lábios. E a justiça será o cinto dos seus lombos e a fé
o talabarte dos seus rins” (Is 11,3-5).
Nos três últimos dons o tem or de Deus e a piedade fa
zem com que Cristo com o homem se subordine por completo
ao Criador e lhe seja juntado com reconhecimento. A ciência
já é referida ao Redentor em Is 53,11: “ O justo, meu
servo, justificará a muitos” . Em Oséas (6,6; 4,1; etc.), esta
ciência quase é equiparada ao cumprimento de uma obriga
ção religiosa: considera-se e presta-se atenção cuidadosamen
te aos deveres santos impostos a alguém por Deus, para que
os cumpra com fidelidade, porque dependemos dele. Assim,
pois, a ciência se converte no claro conhecimento, na cons
ciência: conhecemos prática, viva e conscientemente o que
quer de nós a vontade de Deus. Este dom capacitou a alma
de Cristo para cumprir sempre perfeitamente a vontade do
Pai. Como “ servo de Deus” , Cristo pode dizer de si mesmo:
"Meu alimento é fazer a vontade do que me enviou", ou seja,
a vontade do Pai (Jo 4,34).
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dos outros; e tendo com o temos carismas diferentes, segundo
a graça que Deus nos tem dado” (Rom 12,6).
Cristo está unido muito intimamente com Deus, e por
isso também o conhece e ama de tal m odo que sua vida espi
ritual está sumamente desenvolvida. Por esta razão, o dom
não está nele adormecido ou em germe, senão muito cons
ciente e na base da alma; portanto, os sete dons não podem
nem fomentar nem complementar a vida espiritual de Cris
to; tampouco podem crescer ou aumentar. Porém nos são
oferecidos com o germes que brotam interiormente por meio
do Espírito Santo e se manifestam exteriormente. À alma
atenta e submissa, o Espírito Santo lhe faz doação de uma
luz sempre nova e de vigor mais robusto. Os dons nos con
duzem à abundância da idade plena de Cristo. Iluminam-nos
e estimulam a seguir ao Espírito Santo, de tal form a que
também chegue a ser nosso alimento fazer a vontade do Pai
celestial. A fé, a esperança e a caridade são despertadas em
nós e florescem por meio de cada um destes dons.
Os dons não tinham necessidade de proteger a Cristo
contra o pecado ou fortificá-lo contra as paixões; Cristo
estava pessoalmente unido com a palavra divina e por isso
era imune contra a tentação e o pecado. Porém os dons nos
devem assegurar contra qualquer paixão e nos devem aler
tar no bem.
O temor do Senhor, em Cristo, não era o princípio da
sabedoria nem o afastou do pecado, senão que representou
o fruto de todos os demais; com o fragrância do Espírito
Santo impregnou toda a humanidade de Cristo. No entanto,
para nós é o antídoto contra qualquer pecado. A sabedoria
começa em nós com o temor de Deus. Por meio dele, apren
demos a dar-nos conta de com o provocamos a ira e o des
gosto de Deus com o pecado e com o então nos retira suas
graças e nos castiga irado. Somos preparados para começar
uma vida semelhante a de Deus.
O temor do Senhor não nos proporciona, com o em Cris
to, o máximo da adoração de Deus, que é aperfeiçoada e
sustentada por meio do amor filial, senão que aprendemos
a ser diligentes e a ocupar-nos em com o podemos honrar e
amar a Deus, enquanto Ele o reclama de nossas débeis for
ças. Deus nos promete inclusive uma recompensa, se utili
zamos bem este dom, e ameaça castigar-nos, se o rechaça
mos conscientemente e por livre decisão.
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O temor do Senhor vem a ser assim para nós um dom
precioso e eficaz. Atravessa nosso coração com o uma espa
da penetrante; todos os vínculos que de algum m odo nos
prendem por meio do amor pecaminoso, corta-os o temor
de Deus com santo ímpeto e se eleva continuamente sobre
nossa cabeça, até que nos refugiemos sob o manto da graça
e nos coloquemos a salvo no seio do Pai. Se quisermos em
pregar este dom em nós sem que estejamos vivendo inflexí
vel e obstinadamente em nossos pecados, tampouco escuta
mos dessa forma as exortações do Espírito Santo e não nos
preocupamos pelos tremendos castigos que Deus inflingirá
aos que depreciam os dons de sua graça.
d) Dom e virtude
Os sete dons estão unidos entre si e se comparam às
cores do arco-íris nas suas mudanças.
Os sete dons influem na nossa vida espiritual de di
versas maneiras, que com freqüência se lhes pode compa
rar, quando não equiparar, com as virtudes que menciona
a escritura. Na carta aos Gálatas (5,22-24) se podem con
frontar distintas virtudes com os dons: a caridade, afabili
dade e bondade com o conselho e a fortaleza; a fidelidade,
mansidão e temperança com a ciência e piedade; a conclusão
de “ crucificar a carne com suas paixões e tendências” com
o temor do Senhor.
Também se podem comparar as sete primeiras bem-aven-
turanças ou os sete pedidos do Pai Nosso com os sete dons,
o qual oferece abundante matéria para a meditação.
Porém não se podem equiparar simplesmente os dons
e as virtudes. As virtudes fazem que o homem coopere, en
quanto os dons do Espírito Santo iluminam, movem, impul
sionam e sustentam de uma form a muito mais imediata. As
virtudes são com o remos que pomos na água com as mãos;
os dons são com o velas que, infladas pelo vento, impelem o
barco, com o o ar que sustem a águia quando traça seus
círculos no céu sem mover as asas: suas asas inflam, en
chem e apóiam com o vento, de tal forma que voa com facili
dade e sem esforço. Sopra para nós o Espírito Santo, o
alento de Deus, por meio de seus sete dons, de tal m odo
que nos movemos com o por iniciativa própria no caminho
da virtude, e a vida espiritual nos parece simples e fácil.
Neste caso, não somos com o discípulos que têm de resolver
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sós um problema difícil por si mesmos e sem recursos, senão
que seguimos a um mestre eminente que nos instrui e diri
ge praticamente, evita-nos muita fadiga e trabalho, de modo
que, sem esforçar-nos, crescemos para Cristo e somos dóceis
com ele em todo tempo ao Pai celestial.
Por exemplo, a virtude da prudência nos faz refletir e
aplicar princípios gerais a um caso determinado, para poder
julgar objetivamente e com clareza. Porém o dom do con
selho nos aconselha; para nós é um farol que nos aponta
o verdadeiro caminho. Santa Apolônia, impulsionada pelo
Espírito Santo, salta ao fogo em seu martírio.
A virtude da fortaleza nos capacita para decidir-nos com
firmeza e para perseverar apesar das dificuldades. Consi
deramos as razões que hão de ajudar-nos a pensar e proce
der com valentia. Porém o dom da fortaleza faz com que
Santa Felicidade triunfe facilmente em seu martírio, enquan
to que com o mãe só com gemidos pode suportar as dores
do parto.
O dom da piedade nos tom a ditosos em Deus e nos dá
uma viva e íntima disposição piedosa de ânimo, enquanto
que, se exercitarmos a virtude da religião, talvez, molestados
pela secura, apenas possamos rezar devotamente um Pai
Nosso.
Quando o Espírito Santo nos oferece seus dons, nosso
coração fala assim: “O Senhor me abriu os ouvidos, e eu
não resisto. O Senhor me deu asas e me ungiu, e não me
opus a Ele. Entreguei-me ao Senhor, com o o pássaro ajusta
suas penas ao vento e a flor se volta para o sol” (cf. Is 50,5).
Se mediante os dons “ experimentamos coisas divinas” , isto
é, nos assemelhamos a Cristo, também devemos tomar então
sobre nós o divino de uma maneira divina, para honrar a
Deus, com o também nos ensina a oitava bem-aventurança.
Todos os dons do Espírito Santo fomentam, apóiam e
complementam as virtudes, ajudam-nos a fazer-nos mais per
feitos; por meio deles, exercitamos as virtudes com maior
pureza e sublimidade; tendemos à perfeição mais fácil, segu
ra e decididamente, e afastamos da frente muito mais facil
mente os obstáculos que se nos opõem. Para nós, os sete
dons são chamas do Espírito e espíritos luminosos, são re
galos de Deus; reinam sobre virtudes morais, servem à fé
e inflamam a caridade.
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Os dons nos são inclusive necessários para poder exer
citar as virtudes, Já que nossas forças sobrenaturais têm
que ser muito mais impulsionadas por Deus que nossas apti
dões naturais. As conseqüências do pecado original, que
são com o sintomas de enfermidades de nossa vida sobrena
tural, são muito mais facilmente vencidas por meio dos dons,
de m odo que podemos dominar as dificuldades para fazer
o bem, e fazer frente aos perigos que nos induzem ao pecado.
O amor de Deus, mãe e alma de todas as virtudes, tam
bém engloba todos os dons; é o supremo dom de Deus e
nos faz participar da essência e vida do Espírito Santo com
a maior perfeição possível. Por meio deste amor, o Espírito
Santo com ove nosso coração com a máxima eficácia, para
que possa crer e amar de uma form a sobrenatural e divina.
O amor nos une com o Espírito Santo para que sigamos o
que ele também quer de nós. Os sete dons correspondem à
caridade com o a sua fonte, são irradiados e exalados por ela.
A caridade vivifica nossa alma por meio dos dons (São Fran
cisco de Sales). Porém tudo isto não é próprio do amor
divino em germe, tal com o é infundido a um menino de
menor idade por meio do santo batismo, senão que é pró
prio somente dos atos de amor que suscitamos em nós de
um m odo íntimo e consciente.
Por outra parte, a sabedoria e o entendimento também
repercutem na caridade, iluminando nossa razão, estimulan
do com maior intensidade a luz de nossa fé, inflamando e
avivando com mais rapidez e intimidade os atos de amor.
Também aperfeiçoam a caridade até chegar ao feliz gozo
da contemplação. Refletem-se em nós a sabedoria e o enten
dimento de Cristo, que o fazem contemplar amorosamente
a Deus. A caridade e a sabedoria são o núcleo da plenitude
de vida de Cristo e por isso são a fonte de todos os dons de
seu espírito, com os quais ama e goza a Deus, seu Pai. A fé
e a esperança não têm cabimento nele.
A sabedoria e o entendimento aperfeiçoam em nós, em
primeiro lugar, a fé e a esperança, para que possamos chegar
a conhecer os mistérios de Deus e crescer assim no amor a
Ele. Porém já aqui neste mundo estamos chamados também,
por meio dos sete dons, a experimentar de vez em quando
a Deus de tal maneira que pensemos que já o contempla
mos. 50
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19 — 0 PECADO E A GRAÇA
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O pecador é também uma ignomínia para todos os ho
mens, nos quais o Espírito Santo habita e aos que ele san
tifica por meio da fé e do a m or.51
2. Por meio do pecado mortal, o homem se desonra
e desfigura. O homem mancha-se como se se sujasse com barro.
O fulgor de sua alma bela e agraciada fica obscurecido, e
se lhe tira a dignidade da filiação de Deus. O mesmo homem
está comprometido e é responsável por esta culpa que
carrega sobre si com o pecado: inclusive o justo se faz
pecador. O Espírito Santo tem de odiar e aborrecer ao que
cometeu pecados mortais, enoja-se dele com uma espantosa
animadversão divina. Abandona as indecorosas ruínas que
antes eram seu templo magnífico; o que pecou gravemente,
não pode continuar sendo seu templo, porque o filho de
Deus, que ele engendrou, passou a ser um filho de
Satanás, um inimigo de Deus. “ O que destrói o templo de
Deus, será destruído por Deus; porque o templo de Deus é
santo e esse templo sois vds” (1 Cor 3 ,17).52
3. A alma não só se torna deformada pelo pecado mor
tal, com o vê sua vida destruída, que provém do Espírito
Santo, e assim de um ponto de vista sobrenatural, é trans
formada em um defunto. O Espírito Santo, a alma de nossa
alma, nos abandona, no caso de a termos ofendido grave
mente. Isto ocorre como castigo de Deus, porém é também
causado diretamente pelo pecado mortal.
Antes do pecado mortal, éramos santos e muito agraciá
veis a Deus, porém agora somos diabólicos e estamos degra
dados. Temo-nos fechado à luz do Espírito Santo, e agora
neste mundo estamos já sepultados em trevas infernais, as
sim com o o corpo está m orto quando o coração é transpas-
sado com uma espada. É impossível deixar um defunto
entre os vivos, tem de ser tirado e sepultado. É impossível
deixar assim mesmo na comunidade dos santos ao que caiu
em pecado mortal. Neste mundo, isto é ainda invisível,
porém esse pecador tem que sair do céu de uma form a
vel a todos. Ele se excluiu da vida eterna.
Hl
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Ainda que a fé e a esperança não fiquem completamente
destruídas pelo pecado mortal, no entanto o pecador se des
pojou da caridade divina e da graça santificante. Também
se tom ou indigno dos sete dons do Espírito Santo.53
4. Como o pecado mortal destrói a natureza sobrena
tural da alma até o fundo dela e se nos rejeitam muitas gra
ças, nossa natureza fica mais deteriorada ainda do que já
se encontra pelo pecado original. Inclusive se pode chegar
ao pecado contra o Espírito Santo, quando se despreza for
malmente a verdade e a graça. Então o olho do espírito fica
deslumbrado, a razão perde inclusive algo de sua luz natural,
corrompem-se os frutos da vida divina. “ Por isso lhes digo:
perdoar-se-á aos homens qualquer pecado ou blasfêmia; po
rém a blasfêmia contra o Espírito Santo não se lhes perdoar
rá. Quem falar contra o Filho do Homem, poderá obter
perdão; porém quem falar contra o Espírito Santo, não o
obterá nem neste mundo nem no outro” (Mt 12,31 s ). Este
pecado tom a o homem insensível ao amor do Pai, porque
atenta diretamente contra a graça. O homem opõe obstina
ção e desdém à graça que o impulsiona para o arrependi
mento. Por isso Deus tampouco pode perdoar este pecado;
teria que intervir de uma form a singular e absolutamente
extraordinária, a fim de levar ao arrependimento esse pe
cador. 54
2. Templo da morte.
1. Quando São Pedro fala de escravos da perdição e
São Paulo de escravos do pecado, se referem ao demônio
que escraviza e subjuga ao pecador. Este homem miserável
está reprovado juntamente com o demônio, porque pecou
gravemente. É condenado pelo mesmo demônio ao castigo
do inferno; o demônio o fez cair em pecado com a única
finalidade de causar-lhe a perdição. Já aqui, neste mundo,
o pecador vem a ser cativo e escravo de Satanás. Este sem
pre o empurra para novos pecados e o aflige também com
diversos sofrimentos no corpo e na alma, para fazê-lo deses
perar. Contudo, o demônio nunca pode influir diretamente
na livre vontade do homem; o homem é que se submete
voluntariamente ao demônio, o inimigo declarado de Deus.
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2. O demônio, de certo m odo, Inclusive prende a pessoa
do pecador e habita nele. No sacramental do exorcismo,
ao demônio se admoesta que abandone ao possuído e se
retire dele. O pecador é possuído pelo espírito maligno, de
uma maneira semelhante à que o justo é possuído pelo
Espírito Santo. Contudo, não se pode pensar que o de
m ônio pudesse habitar também com o pessoa no corpo ou
inclusive na alma do pecador; o demônio influi no pecador,
de fora, porém com uma proximidade imediata, e somente
pode oprimi-lo com o um homem forte pode vencer a um
homem débil. Por isso seria melhor falar somente de uma
coabitação do demônio. De todos os m odos o demônio subs
titui ao Espírito Santo, e sua intenção e sua atividade se
parecem às do Espírito Santo, porém com uma finalidade
contrária: em vez de ir a Deus, aparta-se de Deus. Lutero
disse um dia que a vontade do pecador é com o um cavalo
montado pelo demônio; o cavalo sempre tem força para
derrubar o ginete, porém um ginete destro com o o demônio
pode também manter dócil o cavalo. No entanto, o pecador
vendeu voluntariamente sua alma ao demônio, de tal forma
que em realidade já não pertence ao Espírito Santo, senão
a Satanás, e voluntariamente veio a ser seu escravo. “ Não
provoqueis mais ao Espírito Santo” (E f 4,30).”
3. Perdão.
1. Nosso arrependimento nunca pode ser bastante gran
de para contrabalançar, ainda que só seja um pecado grave.
Se o mérito infinito de Cristo não nos ajudasse, jamais po
deríamos dar satisfação a Deus-Pai. O que somos capazes de
fazer é quase nulo, e permaneceria nulo se a graça do Espí
rito Santo não o fizesse esplêndido e valioso.56
É verdade que somos livres, porém também somos de
masiado fracos para poder ir ao encontro de nosso esposo
celeste; o Espírito Santo tem que nos fortificar e sustentar;
sua luz tem que iluminar nosso coração para que nos
possamos elevar e possamos caminhar de novo para D eus.57
2. O que podemos fazer para sermos libertados da mi
séria do pecado' vemo-lo no coração da mais pura esposa do
Espírito Santo: Maria podia esforçar-se com o ela queria; por
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muito humilde que fosse, podia pedir engendrar em seu seio
a Deus feito homem, ainda que isso fosse para ela simples
mente impossível. Só com a oração e as boas obras podia
preparar-se para conceber do Espírito Santo ao homem-Deus.
Nós jamais podemos criar ou recuperar dentro de nós a graça
da filiação, a imagem da natureza divina.5S
Quando o Espírito Santo nos torna a mimosear sua gra
ça, desce então à nossa alma, como desce ao seio de Maria
para regalar-lhe um fruto celeste; engendra então espiritual
mente ao Filho de Deus em nós. Somos interior e sobrena
turalmente renovados tão só mediante a graça obsequiosa
do Espírito Santo.59
3. O Espírito Santo expulsa o pecado, com o a luz ex
pulsa as trevas, o fogo a ferrugem, a água a sujeira (cf. Mal
3,2). São João Batista fala do fogo batismal do Espírito
Santo (Mt 3,11). Este fogo do Espírito extingue nossos pe
cados, já que com ele é infundido o mesmo Espírito Santo.
O pecado não pode propagar-se no coração que coincide com
o Espírito Santo. Tão logo o Espírito Santo habita nova
mente em nós, tornamos a ser filhos de Deus, santos, sobre
naturais, divinos, liberados da culpa, unidos com Deus. O
Pai celestial nos reconhece outra vez com o filhos seus. Já
não somos pecadores, senão santos, em cujo coração o Espí
rito Santo tom a a reinar. Deus “ nos traz a saúde. . . por
pura misericórdia sua, mediante o banho batismal de rege
neração e renovação que obra o Espírito Santo. Ele derra
m ou com toda profusão sobre nós este Espírito por Cristo
Jesus, nosso Salvador. Assim, justificados pela graça de
Cristo, obtemos a esperança de possuir em herança a vida
eterna” (Ti 3,5-7).00
58. M/89.
59. HG 52.
60. M/86.
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ao homem, senão também a Deus, que atua nele. O próximo
também é um templo santo e venerável, no qual o Espírito
Santo montou seu trono, e ao qual por esta razão temos que
respeitar e amar. Podemo-nos considerar ditosos, se pudermos
adorar este santuário, seja na família ou bem na escola. Os
santos se punham de joelhos ante o próximo, se viam que
estava desamparado ou enfermo, e lhe serviam com amor e
respeito. No fundo, tinham compreendido que é excelso e
santo ajudar na renovação de um templo do Espírito Santo.
Deus, inclusive, o trata com benignidade e indulgência (Sab
12,18), como um recipiente precioso, e vê nele seu próprio
Espírito. Se amamos o Espírito Santo no próximo, toma-
mo-nos dignos de acolher em nós ao doce hóspede de nossa
alma com um amor sempre crescente e nos tomamos dignos
de ser cheios eternamente de sua glória.61
2. Nossos primeiros pais no paraíso, como imagens do
Espírito Santo, eram ambos santos e inteiramente íntegros,
porque antes do pecado original, com o órgãos do Espírito
Santo, não só eram pai e mãe da vida natural dos homens,
senão que também deviam chegar a sê-lo da vida sobrenatu
ral. Enquanto Adão e Eva permaneceram em estado de gra
ça, o Espírito Santo os assistia com sua fecundidade sobre
natural, que os filhos gerados por eles tinham que começar
a existir sem a menor dificuldade, não só com o filhos de
homens, senão também com o filhos de Deus. Contraindo
entre si sua aliança, também a contraíram com o Espírito
Santo, com o o princípio da graça sobrenatural, para que o
Espírito Santo atuasse nele, não só com seu poder cria
dor, senão, também com seu divino poder de procriar. O Es
pírito Santo veio a ser a fonte de bênção sobrenatural e ao
mesmo tempo penhor e selo da união de nossos primeiros
pais.
No matrimônio cristão, a criança não começa a existir
com a graça do Espírito Santo, e, no entanto, a união matri
monial é mais excelsa que a de nossos primeiros pais no
paraíso. No batismo, os pais foram inseridos no corpo mís
tico de Cristo e lhe pertencem com corpo e alma. Quando
se unem ao matrimônio, juntam-se dois membros consagrados
do corpo de Cristo para consagrar-se à ampliação deste cor
po. Somente podem conceber a seu filho para Cristo, ao
qual eles mesmos pertencem, de tal m odo que o filho, como
eles mesmos, está destinado a pertencer ao corpo de Cristo
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e a participar na vida divina do mesmo. Os pais somente
podem proceder em nome do chefe divino, seu filho já não
é sua carne, mas carne de Cristo, da qual só podem dispor
segundo a vontade de Cristo. “ Não sabeis que vossos corpos
são membros de Cristo — que vossos membros são templo
do Espírito Santo e que não pertenceis a vós mesmos?” (1
Cor 6,15-20; cf. a próxima secção sobre o corpo místico). O
pecado introduziu uma cunha entre o homem e a mulher;
já não eram filhos de Deus e templos do Espírito Santo,
que por sua vez deviam engendrar filhos de Deus. A desor
dem e a desavença, o ódio e a morte se introduziram na
família, causando desgraças e desventuras.
Entre os homens redimidos, o matrimônio deve vir a ser
de novo uma viva imagem e reflexo de Cristo e da Igreja,
ainda que os casados, por causa das conseqüências do peca
do original, já não possam viver com tanta pureza e santidade
como no paraíso à luz do sol do Espírito Santo. Porém, se
o homem cristão ama a sua mulher e esta a seu marido,
com o templos do Espírito Santo, então vivem juntos com o
santos que realmente imitam em seu matrimônio a Cristo
e à Igreja. Cristo é o mais santo entre os filhos dos homens
e na cruz contraiu matrimônio místico com sua Igreja. A
mãe virginal de Cristo se deu em posse exclusiva ao Espí
rito Santo. Cristo e sua mãe virginal foram postos diante
da vista dos casados com o perfeita imagem do matrimônio
cristão.
Cristo, o segundo Adão, e Maria, a segunda E va.6-
3. O mesmo Espírito Santo, o vínculo entre o Pai e o
Pilho, nos entrelaça também a todos nós que somos os inimi
gos de Deus, a escória desta comunhão, e os santos por m eio
do batismo, e nos une intimamente uns com os outros, como
a alma une os membros do corpo (1 Cor 12,12ss). Forjamos
juntamente com o Pai e o Filho, consigo mesmo, com a Mãe
de Deus, com todos os coros de anjos bem-aventurados, com
o grupo dos apóstolos, as legiões de todos os santos mártires,
confessores e virgens, e todas as almas agraciadas no mundo
inteiro, para form ar uma cadeia de ouro.
Pertencemos a esta comunhão imensa íntima, dos santos, e
por isso toda a glória e bem-aventurança das inumeráveis mul
tidões de santos, a possuímos juntamente com eles. Em um cor
po, cada membro tem suas preferências especiais, no entanto
todos os membros pertencem também ao conjunto, e portanto
62. D III 441-444; 375; M/85.
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pertencem assim mesmo a todos os demais membros. Assim,
pois, nós nos alegramos também da sabedoria dos querubins,
do ardente amor dos serafins, da dignidade dos apóstolos, da
valentia dos mártires, da perspicácia dos profetas, dos prodí
gios dos confessores, da pureza das virgens, dos méritos e
graças de nossos próximos, que vivem conosco, com o se tudo
fosse próprio nosso. Tudo procede do mesmo Espírito que
também habita em nós.
É imensamente triste que uma alma se separe desta
venerável, sublime, amorosa comunhão, para unir-se com
monstros do inferno. Esta alma desgraçada era um precio
so anel na mão de Deus, de quem havia recebido seu valor
e brilho; agora jaz no mais profundo barro e sujeira, está
corrompida e podre. Era um membro primoroso, elabora
do pelo mesmo Deus na cadeia de ouro dos santos; unido
com os outros membros completou seu próprio grande valor
com maior brilho. Agora está forjado juntamente com o
fratricida Caim e o traidor Judas, em uma ígnea cadeia de
ferro que une com o demônio, que em outro tempo também
tinha sido um elo reluzente da santa cadeia. A alma era uma
pedra preciosa na coroa que embeleza a cabeça de Deus, e
agora tomou-se um despojo de Satanás, que a tem juntada,
manchada e aviltada, como sinal candente de vitória, a sua
horrível coroa diabólica.
Porém os santos que neste mundo se opuseram ao do
mínio deste poder infernal, contemplarão todos juntos a
Deus e se alegrarão, porque estão perfeitamente unidos com
todos e cada um dos bem-aventurados do céu: todos adoram
ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, e amam sobremaneira
a Deus trino e uno. Todos se amam reciprocamente; desco
nhecem o ódio e a inveja. A sorte de um fica duplicada pela
sorte de outros. Todos se alegram, porque todos estão bem.
Sua alegria é perfeita, e ainda mais que perfeita. A alegria
não vem a seu coração, senão que são totalmente absorvidos
pela alegria, que não é mais que Deus.63
63. H G 130-132.
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Certamente aumenta um valor novo, mais ainda infinito,
isto é, que o Espírito Santo, com o Espírito de Cristo, nossa
cabeça, também é assimilado em pessoa, de uma maneira
muito especial, a todos os membros do corpo místico. Como
cristãos, não só possuímos a santidade causada pelo Espíri
to Santo, senão também a santidade que ele mesmo possui,
e isso sucede por uma nova razão: o Espírito Santo vem a
nós como Espírito de Cristo.61
2. Ser santuário de Deus significa estar unido na vida
e no amor com Deus-Pai e o Filho, por meio do Espírito
Santo. Esta unção é de índole única e admirável. Para
homens que sejam amigos, um amor tal é um objeto inexe
quível. Suas almas e corações nunca podem compenetrar-
-se. Porém com o filhos de Deus, unimo-nos tão intimamente
entre nós, que nosso amor mútuo chega a ser tuna imagem
do amor e da unidade das três divinas pessoas entre si,
com o nos assegura o Salvador: “ Para que sejam um, como
nós som os um” . Como Igreja, não representamos nenhuma
assembléia matizada, senão que, com o membros de Cristo,
somos um conjunto fechado, orgânico. “ Por conseguinte já
não sois estrangeiros, nem simples hóspedes, senão conci
dadãos dos santos e membros da casa de Deus. Sois pedras
do edifício que tem por base aos apóstolos e profetas, e por
pedra angular a Cristo Jesus. Bem ajustado e harmonica-
mente unido a ele, todo o edifício vai crescendo para formar
um templo santo no Senhor. Nele também vós (os pagãos)
passais com eles a formar parte da construção, para morada
de Deus pelo Espírito” (Ef 2,19-22; cf. 1 Pdr 2,4ss). Aqui,
com o Igreja de Deus, somos comparados com um templo do
Espírito Santo, senão que nos fixamos no plano de Deus
sobre o mundo, com o toda a ordenação sobrenatural do
mundo culmina em que Deus em sua criação nos elege para
construir sua Igreja com o santuário e a enche do Espírito
Santo para que seja o corpo místico e a esposa do Filho,
e com sua abundância ubérrima de graças glorifica a Deus-
-Pai por meio do Filho no Espírito Santo.os
3. Por meio da graça da filiação, o Espírito Santo em
pessoa é dado com o selo desta nossa excelsa dignidade de
ser Igreja de Cristo. O Espírito Santo logo na encarnação
veio a ser propriedade nossa com o Espírito de nossa cabeça.
Agora já estamos junto ao Filho unigénito com o Filho de
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Deus, senão que estamos nele por meio de seu Espírito. O
Espírito Santo vem a ser propriedade nossa com o penhor
do amor paterno, com o qual o Pai nos ama com o membros
de seu Filho unigénito, porém também com o penhor do
amor de Cristo ao Pai e d.o amor de todo o corpo místico.
O Espírito de Cristo habita em nós, o Espírito Santo em
pessoa. Ainda que não habitasse em nós por meio da graça,
viria pessoalmente a nós por meio da encarnação da pala
vra. O fundamento da coroa de nossa filiação por meio do
Espírito Santo está nas palavras: Espírito de Cristo —
Cristo — membros de Cristo — filhos do Pai. O Espírito
Santo procede da pessoa do Filho e vem pessoalmente ao
corpo real e místico de Cristo; assim prossegue para fora
sua eterna procedência. A Igreja de Cristo o possui, desde
que Cristo, inclusive segundo a carne, apareceu como glorioso
Filho de Deus, e na festa de pentecostes veio a ser a cabeça
de sua Igreja.66
4. Como o Filho de Deus em seu corpo humano e mís
tico traz o Espírito Santo, o gênero humano tem direito a
que este Espírito habite nele e atue tal com o viveu e atuou
no Espírito de Cristo, de uma form a que também é maravi
lhosa e inefável. Assim, pois, o Espírito Santo habita em
nós, não só com o filhos adotivos do Pai, senão também com o
membros do corpo místico de Cristo. Ele é a seiva que flui
na vida através dos sarmentos. É o sangue vital que emana
do coração divino do Redentor.
Vinho e sangue — espírito e vida,
Que profundo mistério! 61
66. M/57.
67. M/58; D VI 28. O vinho é bebida, melhor dito: não somente
é bebida que mata a sede; isso faz a água. Do vinho diz o salmo
da criação que "alegra o coração do homem” (SI 103,15). O evange
lho de São João conta que o Senhor o presenteou com abundância,
mediante um milagre, aos que se haviam reunido para a festa da
boda (Jo 2); e na visão apocalíptica da abertura dos sete selos (a visão
dá a conhecer a desventura vindoura) diz a voz: “o azeite (as azei
tonas) e o vinho, nem tocá-los” (Apc 6,6). Cremos que aqui não se
fala de uma falta de moderação, senão que o vinho aqui é uma ima
gem de vida abundante, de aroma e de força, que tudo aumenta e
transforma. Sob a forma do vinho, Cristo nos dá seu sangue divino.
Não como porção excelente e razoável, senão como excesso de grande
valor divino. "Sangue de Cristo, embriaga-me”, diz-se na oração de
Santo Inácio de Loyola, o homem que tinha o coração cavalheiro e
ardente; e Santa Inês fala do sangue de Cristo como de um mistério
de amor e beleza: “Seu sangue adornou minhas faces” , diz-se nas
orações de sua festa... “Vinho” significa largura e concessão sem
limites, alegria sobre toda medida terrena (HZ 45s).
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7
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tóteles (t 322 a.C.) escreve que o Universo tem sido criado
pela bondade dos deuses. Também o Pseudo-Dionísio (em
torno de 500) escreve que o amor divino não pode existir
sem germe de vida.
Como o Espírito Santo procede do Pai segundo a ma
neira com o Deus se ama a si próprio, atribuem-se-lhe certas
relações com o universo.
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na, lhe faz doação de forças que são necessárias para esta
ou aquela criatura. Conduz os sóis por seus caminhos,
assim" com o também a pedra no arroio, a qual avança um
pouco a cada impulso da água.
Disse Jó: “ O Espírito de Deus me criou” (33,4), e o sal
mista exclama: “ Teu espírito é bom, leve-me por caminho
reto” (142,10).
Porém se o Espírito Santo dirige e guia, conduz e gover
na a cada uma das criaturas, então também é o senhor do
universo. “ O Senhor é espírito” , disse o apóstolo (2 Cor
3,17), e na profissão de fé dizemos: “ Creio no Espírito Santo,
senhor” .
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tomou posse por meio do Espírito Santo. Toda a criação lo
gra, por meio de Cristo, a mais excelsa consagração, ao des
cer sobre ela a unção da cabeça por meio do Espírito Santo.
Deste m odo, também, ela vem a ser o mais admirável templo
do Espírito Santo.
O orbe canta um hino infinito em honra de Deus-Pai.
Sua palavra se adere ao Espírito Santo neste cântico de
louvor e junta todas as vozes formando um harmônico canto
de júbilo. 4
2. O universo está unido organicamente com o corpo
que tomou o homem-Deus. Portanto se converteu tam
bém no templo do homem-Deus. Cristo, o primogêni
to de todo ser criado, ressuscitou e foi glorificado, por isso
também o cosm os será levantado muito por cima de sua
natureza e por meio do Espírito de Cristo é renovado e trans
figurado. O universo será incluído no mais alto céu, mais
ainda, no seio de Deus, por meio do Filho de Deus no Espí
rito Santo. Despojar-se-á de sua natureza terrena e tomará
outra celestial.5
1. O primeiro homem.
1. Quando Deus inspirou em Adão o alento de vida,
uniu ao Espírito Santo a alma de Adão, por meio da
graça, de tal form a que o Espírito Santo veio a ser a alma
de Adão. Adão foi espiritualizado e divinizado até o fundo
mais profundo da alma. Até as últimas fibras do seu corpo,
veio a ser um santuário perfeito e digno deste Espírito de
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Deus, de tal m odo que passou a ser sobrenatural no corpo
e na alma, foi santificado e glorificado. Seu espírito era
puro e soberano, quase com o um anjo; seu corpo lhe estava
submetido por completo, cuidava e o dominava em todos os
seus membros.
Adão, por meio do Espírito Santo, estava elevado ao
seio de Deus, revestido da nobreza divina, chamado a ser o
herdeiro de Deus. Que lhe podia convir mais que chegar a
ser espiritual e celeste até à medula?
2. Primeira e fundamentalmente, a alma do homem
foi agraciada por meio do Espírito Santo, porque era ao
m esmo tempo o cume mais alto e a raiz mais profunda do
orbe. A graça devia estender-se de um m odo natural desde
a alma por todo o cosmos, que não podia nem muito menos
alcançar a coroa da criação. O plano magnífico de Deus era
que a graça da alma e a integridade do corpo deviam passar
a todos os membros, e destes também ao universo. 6
O Espírito Santo, que tinha descido ao espírito do ho
mem mediante a graça, para inspirar em sua própria vida.
penetrou em todo o homem com sua força divina para pre
servá-lo de toda desordem, de toda moléstia e da morte.
Logo esta integridade e imortalidade deviam também pro-
pagar-se desde o homem a todo o universo.7
2. Os descendentes de Adão.
1. As criaturas sem alma nem espírito, segundo o uni
versal plano divino (que tem validez para todo o cosm os),
estão também relacionadas com os descendentes de Adão,
os homens caídos, com o a sua cabeça natural, porque o ho
mem consta de corpo e alma. Todo o orbe, pedras, plantas,
animais e homens devem ajudar-nos a alcançar nosso fim
natural e sobrenatural. Devemos servir-nos de tudo para glo
rificar assim a Deus. Utilizamos especialmente as coisas da
terra, com o profetas e sacerdotes das mesmas; servimo-nos
delas para conhecer e amar a Deus.
Se o universo está destinado a ser a vivenda do homem
glorificado, agora é já um templo do Espírito Santo, que
será também glorificado com o corpo do homem. Aqui já
não se designa como templo do Espírito Santo a alma indi
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vidual, senão todo o cosmos. Neste caso, as distintas almas po
dem ser comparadas com as pedras escolhidas, com as quais
está construído o templo, ou bem todas as almas agraciadas
compõem o altar em que descansa a glória do Espírito Santo,
ou, digamo-lo de uma forma ainda mais bela: se o cosmos
é o escabelo de Deus, que oculta a orla de seus vestidos, as
almas agraciadas são então o trono de Deus, inteiramente
cheio da glória do Pai, do Pilho e do Espírito Santo. Estas
comparações as ouvimos dos lábios do apóstolo: “ As criatu
ras todas ficaram submetidas à desordem, não porque a ela
tendessem por si mesmas, senão pela culpa do homem que
as submeteu. E abrigam a esperança de ficarem elas por
sua vez livres da escravidão da corrupção, para tomar parte
na liberdade que com a glória tem de receber os filhos de
Deus. A criação inteira, com o o sabemos muito bem, vai
suspirando e gemendo, e toda ela até o momento está com o
que em dores dé parto” (Rom 8,19-22). No último dia, o
mundo será transformado em um novo céu e em uma nova
terra, em uma cidade imorredoura, muito suntuosa, em um
templo do Espírito Santo, no qual se reflita a glória de Deus
de uma maneira maravilhosa, e o homem habitará feliz e
ditoso, tranqüilo e glorificado. O paraíso já deu a nossos
primeiros pais um gosto antecipado desta transformação,
de um m odo que ainda era natural, porém já muito mais
elevado que toda a beleza corrompida do mundo atual.8
2. O homem, por sua inteligência e vontade, é a ima
gem de Deus no mundo; porém, com o filho de Deus, ainda
se parece muito mais a seu Pai celestial, para poder mani
festar ao cosmos a glória de Deus. O homem também é de
uma forma muito adequada o templo do Espírito Santo, já
que este, não somente mora na alma do homem, senão tam
bém no corpo, e o enche do seu amor. Pelo que faz ao ho
mem, o Espírito de Deus ainda vem a ser muito mais prin
cípio, senhor e vida do m undo.9
3. Ao estar Deus tão intimamente unido conosco, tería
mos que estar já agora glorificados. Porém, com o ainda
estamos em caminho, não podemos ser exaltados todavia de
uma forma imediata, senão que a luz da eterna bem-aventu-
rança nos ilumina na eternidade só depois da morte e da
ressurreição.10
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Se o poder da glorificação se manifesta já às vezes na
terra, com o nos milagres dos santos, a estes não podemos
considerar simplesmente na ordem natural, psicológica e fi
siológica, senão que temos de julgá-los na ordem espiritual,
dinâmica e sobrenatural. Os santos se deixam conduzir pelo
Espírito Santo, desde o fundo mais profundo da sua alma,
muito mais que os homens comuns, e por isso já aqui
neste mundo o Espírito Santo penetra neles e os capacita
para fazerem obras extraordinárias.11
4. Não podemos desprezar nosso corpo, senão que te
m os que amá-lo natural e sobrenaturalmente com o a nossa
alma, porque nosso corpo é uma parte do cosmos, e ainda
muito mais porque está habitado pelo Espírito Santo e está
destinado à glorificação. E não só temos de amar nosso
corpo, mas também o corpo de nossos próximos. Almas
esclarecidas cuidam dos pobres e enfermos com mais cari
nho que as mães cuidam de seus filhos e os servem em suas
necessidades. Eles entregam sua fortuna, sua saúde, sua
vida, para alimentar aos famintos, vestir aos nus, curar aos
enfermos. Ainda que não façam nenhum milagre, ainda que
não multipliquem os pães como o Salvador, realizam, no
entanto, maravilhas de entrega, de altruísmo e amor, mara
vilhas que fluem do maravilhoso poder do Espírito Santo.12
5. O Espírito Santo, que nos conduz, ilumina e
robustece por meio de seus dons, nos esclarece sem cessar
que temos de ser abertos para fora, para o cosmos e espe
cialmente para nosso próximo. Toda nossa vida, a interior
e a exterior, a social e a pessoal, tem de estar dominada
e penetrada pela lei de sua graça. Não nos pertencemos a
nós mesmos. “ Não sabeis que vosso corpo é templo do
Espírito Santo?. . . O haveis recebido de Deus, e portanto
não pertenceis a vós mesmos” (1 Cor 6,19). Estas frases
condenam com grande energia o liberalismo, que impugnou
a soberania de Deus e a graça do Espírito Santo na socieda
de humana e no indivíduo. Porém é um ousado sacrilégio
combater a Igreja, porque esta, em nome do Espírito San
to, há de conseguir uma influência legítima sobre a vida na
tural do espírito e da sociedade. **
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6. A nova terra é transformada em uma cidade impe
recível e magnífica, na qual se reflete a infinitude de Deus
de maneira maravilhosa. Nós devemos habitar ali com o
homens glorificados. Deus estará conosco com o nosso Pai
mais bondoso. O Espírito Santo enxugará toda lágrima, c
já não haverá mais morte, nem desgraça, nem lamento, nem
trabalho, porque o primeiro mundo desapareceu (Apc 21.4).
Não conheceremos a angústia nem o temor, só conhecere
m os o amor, o Espírito Santo.14
7. Por m eio da luz da glória, com a qual nossa alma
contemplará o rosto de Deus, também nosso corpo se tornará
mais belo, vivo e robusto. Quando aqui, neste mundo, os
santos têm um êxtase, seu corpo fica também espirituali
zado. Na nova terra, nosso corpo será circundado e impregna
do de uma luz sobrenatural, que lhe dará o mais intenso ful
gor e a máxima força. Esta luz ultrapassa toda luz terrena e
natural, e é inteiramente inacessível para nossa débil vista
atual. Porém, então, o corpo glorificado será semelhante à
alma; juntamente com ela irradiará para fora sua glória
interna: o ardor divino do Espírito Santo.
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APÊNDICE
O SÍMBOLO
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Coisas conhecidas venham a ser novas para nós. Trata-
-se de coisas conhecidas durante muito tempo, são coisas
vistas cem vezes, e agora as temos considerado da maneira
adequada, e elas se têm aberto e têm começado a falar.
Com palavras que já temos ouvido muitas vezes, encontra
mo-nos como em casa, compenetramo-nos delas. Isto é
uma grande descoberta. Temos de adquirir o que já temos
desde há muito tempo, para que chegue a ser próprio nosso.
Temos que aprender a ver, ouvir, fazer de uma maneira ade
quada. Enquanto não suceda assim, tudo permanece obscuro
e silencioso. Porém se temos êxito, abre-se então seu inte
rior e desde ali, desde sua essência, se configura seu exterior.
Precisamente as coisas evidentes, as ações cotidianas ocultam
o mais profundo. No mais simples está o maior mistério
(p. 25s).
Ante todas as coisas a alma tem esta sensação: eu sou
distinta. No mais íntimo é alheia a tudo, só é semelhante a
Deus. E contudo, a alma tem semelhança com todas as
coisas. Em todas elas a alma está de certo m odo com o em
sua casa. Tudo fala à alma, cada forma, cada movimento e
gesto. Procura indecisa manifestar-se a si mesma nelas, con
vertê-las em símbolo de sua própria vida.
Sempre que a alma encontre tuna forma forte, encontra
revelado nela algo da própria essência. Aqui está o fundamen
to da essência de toda comparação. A alma, alheia no fundo a
qualquer coisa, lhe fala assim: eu não sou assim. E, por
outra parte, misteriosamente semelhante a tudo, experimenta
as coisas e acontecimentos com o imagens de seu próprio ser
(p. 30s).
Em seu livro, Romano Guardini fala logo de “ O sinal da
Cruz” — “ A m ão” — “ O adiantamento” — “ O portão” —
"O círio” — “ A chama” etc. (cf. as notas de nossos livros).
ISO:
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não pode fazer-se gráfico de outra maneira. E, sem plenitu
de gráfica, qualquer conceito, com o se sabe, continua sendo
vazio.
b ) De um m odo muito lindo o comprendia K. Jaspers
(.Psychopathologie, 276): “ Os símbolos são históricos a priori,
porém sua verdade comove, com o eterna, no tempo. Orde
nam-se em etapas enormes, são explicados em mitos, filoso
fias e teorias, são gráficos no jogo da fantasia, vieram a ser
facultativos na contemplação ascética, são reprimentes e ca
tegóricos em situações extremas, são direção oculta de qual
quer vida valiosa.
c ) A Freud devemos o conhecimento de que se dão a
conhecer tendências (especialmente sexuais) da profunda
capa biológica do homem em múltiplos disfarces (por exem
plo, no sono). A estes disfarces, Freud também os chamou
“ símbolos” . Este é um conceito de sím bolo que não pode
mudar-se com o conceito do autêntico sím bolo. . . Em Freud,
algo intuitivo e real corresponde a outra coisa assim mesmo
intuitiva e real. No entanto no símbolo autêntico, o que o
símbolo simboliza não pode ser compreendido intuitivamen
te sem símbolo.
d ) A geração anterior a Klages estava orgulhosa de po
der desencantar com o superstição, soberba e mera fantasia
tudo o que se quer significar no mito, a arte e a religião por
meio de símbolos (com o algo real). Com freqüência se empre
gou também a maneira utilitária de explicar (redução a valo
res práticos). Por exemplo, de necessidades higiênicas se origi
naram ritos religiosos. Além disso, tais fins utilitários têm
existido sem dúvida em muitos casos. Isto não faz variar
em nada o fato de que o autêntico símbolo significava primi
tivamente algo muito distinto, algo real que não é intuitivo.
Klages (1872-1956) mostrou: 1) que a alma do homem
moderno tampouco pode fazer nada produtivo sem estes sím
bolos: 2) que os símbolos são figuras primárias da vida
(“ Imagens primitivas” , de Burghardt), que não podem ser
achadas com o desvio racionalista ou utilitário.
A imagem é anterior ao conceito. Este se baseia na ima
gem. Todo o conhecimento que chega ao fundo, aparece pri
meiramente com o imagem, com o gesto gráfico, com o símbo
lo. E se podem conceber e expressar muitos conhecimentos
somente como símbolo. Perdem todo seu conteúdo, se ten
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tamos transformá-los em conceitos abstratos. A religião vive
com símbolos, e assim também a arte.
Assim, pois, neste sentido a imagem tem uma autêntica
realidade — uma autêntica “ capacidade de agir” . Assim
com o a vida produz as imagens, ãssim também é guiada por
elas. As imagens movem nossa alma e a dirigem. Movem
as grandes correntes historicamente decisivas das culturas,
formam o conteúdo interno das “ idéias” religiosas, nacionais,
sociais, culturais, pelas quais os homens se oferecem em
sacrifício.
Esta doutrina das imagens e de sua força criadora foi
exposta por Klages com grande autoridade ideológica e tem
repercutido com particular fecundidade na psicologia analí
tica, que foi elaborada por G. R. Heyer e seus adeptos. (Foi
uma ulterior evolução de pensamentos de C. G. Jung e Ba-
chofen.) Nesta parte da obra filosófica de Klages, fala o
intuicionista e não o racionalista, e, quando se dá o caso,
Klages conduz a uma autêntica profundidade (p. 182ss).
e) C. G. Jung (1875-1961) foi discípulo e colaborador
de Freud. Como tal, teve parte importante no desenvolvi
mento da psicanálise. Quando deu à doutrina um giro com
o que Freud não esteve de acordo, separaram-se um do ou
t r o . .. Jung aceita toda a doutrina de Freud sem mudar
muitos pormenores, porém a expõe de outro ponto de vista,
e a conduz assim a algo que em grande parte é n ov o. . .
(Helwig, o.c., 255).
Freud considera o palpável e concreto com o o “próprio” ,
que se tem disfarçado nos símbolos, só com o máscaras. Para
Jung (e ainda mais claramente em Heyer), o concretamente
sexual é assim mesmo um (autêntico) símbolo de polaridades
gerais da vida, que em realidade aparecem continuamente só
como tendências concretas (muito freqüentemente também
como tendências sexuais), que como gerais antagonismos da
vida são algo distintos e algo mais que estas concretas mani
festações (p. 256).
Jung distingue duas classes de símbolos; uma se refere
a uma pessoa e a outra a uma geral tensão ainda subsistente
de v id a ... As formas simbólicas, que no caso posterior
passam pelos sonhos, têm um caráter marcadamente “ ar
caico” . O mito e a fábula ressoam neles: dragões, deuses,
anjos — aparecem animais da água e da terra — emergem
paisagens mitológicas, abismos, vales e montanhas, templos
132
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e mosteiros, cavidades e rios tenebrosos — os elementos:
fogo, água, ar, terra — o sol em sua oposição à lua — etc.
Jung vê neles símbolos que não pertencem ao plano indivi
dual, senão ao homem em si — a humanidade. Designa o
sedimento existente em nós, do qual procedem estas figuras,
o sedimento coletivo — inclusive os símbolos “ arquétipos” .
Também as pessoas da primeira classe podem ser ainda
símbolos de algo geral. Assim a mãe pode ser também re
presentante do princípio maternal. Nesta suposição se ma
nifesta então de per si o desejo de segurança, refúgio no qual
está salvaguardada a v id a ... O pai, em sua reclamação de
força e virilidade, é a encarnação do pólo oposto. Ele recla
ma a continuidade e a responsabilidade própria. É a vetus
ta oposição mitológica: deus solar — deusa lunar, dia claro
— noite escura, duros contornos — branda unidade que se
desvanece: água, pântano, noite (serpentes luminosas e som
brias). Jung, com estas figuras, interpreta antes de tudo as
principais tarefas da vida, que o indivíduo tem em comum
com toda a humanidade e que nele se atualizam de uma
forma insolúvel para ele (pense-se em nossas fábulas).
Assim, pois, o homem tem que conhecer arquétipos, os
símbolos da vida genuína, com o símbolos de sua vida. Tem
que sentir neles o de “ Tua res agitur” (trata-se de um assun
to teu). O homem, acolhendo conscientemente estes símbo
los em sua vida e desempenhando a tarefa de unificar os
antagonismos polares, distancia-se ao mesmo tempo destas
faculdades de sua inconsciência (as quais exigem seu direito
à vida) e anula sua ação perturbadora.
Fazendo uma crítica dos anteriores pensamentos de
Jung, escreve Paul Helwig: o problemático em Jung é a
formação de seus conceitos. O uso de imagens em lugar de
conceitos exatos é inevitável na psicologia. O pior não é que
Jung empregue imagens, senão como as usa — a saber, com
falta de clareza sobre o que está concebido metaforicamente,
o que está concebido direta e literalmente. . . Um exemplo
típico é o conceito de Jung sobre o “ sedimento dos arquéti
pos” ou “ estrato coletivo” .
Que deve dizer-se quando, por exemplo, Jung diz: “ Ela
(a libido) submerge no mais profundo da inconsciência e
ali vivifica o que desde há muitíssimo tempo dormitava” ?
Tem-se de perguntar: onde dormitava? — em nós? — Não.
O indivíduo só tem a idade que é própria sua, e não se lhe
pode juntar nem um ano mais. O que Jung expressa com
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esta imagem poética, traduzido da linguagem literária ao
científico, só pode significar que nos homens do tempo pre
sente ainda existem atualmente certas tensões polares e
atuam, nem mais nem menos, como nos homens de há vá
rios milênios. Isto é evidente. Muitos processos de nossa
vida transcorrem ainda igual como nos homens de prece
dentes milênios. Nossa comida e bebida, nossa digestão —
a circulação do sangue — a procriação e o parto e muitas
outras coisas têm mudado pouco desde então. No homem
atual, ainda funciona em parte exatamente com o no animal.
Porém se se interpreta assim a doutrina dos arquétipos, desa
parecem subitamente todos "os abrigos do arcaico” . Assim,
pois, o estado coletivo é somente uma imagem simbólica de
uma determinada classe de tensões. Aceitar literalmente os
símbolos conduz à superstição e ao romantismo de fantas
mas (p. 262).
Esta é a restrição crítica que há de fazer-se frente à
importante obra da vida de C. G. Jung. A moderna psicolo
gia da profundidade se baseia em sua máxima parte em
Jung. A psicoterapia recebeu decisivos estímulos e ajudas
de J u n g ... As idéias da psicologia da Asia oriental, Jung as
recolhe e as torna úteis à mentalidade ocidental, sem come
ter a falta de reduzir-se a “ transplantá-las” (p. 264). Até
aqui se tem tratado de Helwig.
3. Josef Goldbrunner escreveu uma série de livros, nos
quais ele quer aproveitar a psicologia da profundidade, so
bretudo a de C. G. Jung, para a moderna cura de almas.
Por exemplo, em Sala de consulta s confessionário (Verbo
Divino, Estella 1968), Goldbrunner escreve o seguinte: para
a confissão (dos pecadores), o confessor naturalmente tem
que exigir o ato formulado, o sucesso pecaminoso, o pecado
— e, à diferença do terapeuta, decidir-se inclusive — porém,
na conversação mantida durante a confissão, o confessor
procura não vê-los isolados, senão de um modo biográfico
— no conjunto, no contexto da vida (p. 76).
Também Goldbrunner aborda uma outra vez o tema do
símbolo, especialmente no livro que está dedicado à doutrina
de C. G. Jung: Individualização, Fax, Madrid 1962.
Olhando-o do lado psicológico, temos de atribuir grande
importância aos símbolos, inclusive no âmbito religioso.
Diz-se muitas vezes: “ Sem símbolos, não há fé” .
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4. Alfons Kirchgássner tratou dos símbolos, do ponto
de vista antropológico, no O simbolismo sagrado na liturgia,
Fax, Madrid 1963. Da superabundância de material somente
podemos apresentar palavras orientadoras.
Sobre o conceito do símbolo, escreve Kirchgássner (pp.
81-96):
O símbolo é a palavra primitiva do homem.
O mundo do culto está construído por símbolos.
O simbolismo está orientado para o conhecimento, me
lhor dito, para o reconhecimento. O objetivo da ação sim
bólica é o restabelecimento: fórmulas, documentos, instru
ções, insígnias, mistérios, sacramentos, palavras curativas,
signos e sinais distintivos.
Sem a figura, o conteúdo não resulta compreensível. O
Apoio délfico não fala nem encobre, dá sinais (Heráclito,
500 a.C.).
A realidade do símbolo se apresenta por meio de irradia
ção (iluminação), de simples compreensão (intuição); não
há nele nenhum pensamento conclusivo. O símbolo impres
siona o espírito por meio dos sentidos e não o mantém fixo
nestes.
O símbolo só produz seu efeito por meio da presença.
O símbolo é representação, não tese; é figura, não sis
tema.
Os símbolos cósm icos queridos por Deus estão subtraí
dos à arbitrariedade. São elevados, cabais, válidos, não se
lhes pode passar por alto nem substituir. Foram reconheci
dos em todos os tempos, assim com o também em todo o
mundo, por que estão estabelecidos na natureza humana
que experimenta o mesmo e produz o mesmo.
O símbolo “ indica, não expõe” (Nietzsche). A interpreta
ção sempre é arriscada. É atravessar borboletas com uma lan
ça. Continua sendo necessário um resíduo intransferível. É
uma tarefa difícil, na maioria dos casos inextrincável. tentar
reduzir tudo a um denominador. A busca de palavras certas
é a procura de novas séries de símbolos, que nunca corres
pondem exatamente ao que se pensa, mas que apenas se
aproximam. Nos pensamentos lógicos tudo depende de con
ceitos exatos da correção do argumento; os sentidos são so
mente estação de captação que em seguida transmitem. No
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entanto, na apreensão de símbolos, os sentidos estão em
autêntica e duradoura companhia do espírito.
Somente o símbolo consegue unir as coisas mais distin
tas, dando uma impressão unitária de conjunto.
O símbolo pertence à categoria dos sinais que têm re
lação com o inexpressivo.
O símbolo é a expressão dos sentidos. A língua, a atitu
de corporal, os gestos, o movimento deis mãos têm caráter
simbólico: porém somente se são expressivos e não são figu
ras tendenciosas. De ordinário, o retrato do passaporte da
mãe não é um símbolo, porém o é o retrato colocado na habi
tação.
O símbolo não é uma imitação como, por exemplo, a
tumba, os bastidores, as representações cênicas, as imagens
vivas. Estas querem dar ilusões, às quais renuncia o símbolo.
O símbolo reclama uma espiritual e sensível vivacidade e
atividade. Uma cifra suscita associações e as ocasiona; con
tudo, há transições dignas de consideração, como a estiliza-
ção de um símbolo até a mais simples depuração: o sinal
da cruz, o disco, a roda, o círculo com o símbolo do sol, a
espiral como símbolo da força, a foice e o chifre para a lua
etc. Também se elevam cifras à categoria de símbolos.
Podem converter-se em símbolos as letras X e R; o M com
uma cruz em cima etc.; figuras-chave como insígnias, ar
mas etc.
O símbolo nunca é calculador, ou calcula e está acima
de fins didáticos e pedagógicos. Somente se trata da relação
de form a e conteúdo.
Atribuem-se ao símbolo forças superiores. Sua venera
ção não se baseia somente em sua conexão com o mundo
superior, senão em que aqui se manifesta e realiza a potência.
O símbolo tem sua origem em uma comunidade e para
a mesma. Une, sugerindo idéias semelhantes e sensações,
levando à mesma dependência e veneração que reúne linhas
de muitos. O caso extremo deste é o animal totem, que é
venerado com o avô, fundamento da vida e personificação de
toda uma tribo.
No símbolo, sempre é trágico que a figura permaneça
situada por trás da essência. Muitos símbolos são mutáveis:
as imagens dos santos nos ícones e no renascimento. Que
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uma Madona esteja no museu ou na capela do Santíssimo da
Catedral de Colônia. Um rito realizado com dignidade ou
com negligência. O símbolo está profundamente introduzido
na desgraça de um mundo deteriorado. Não há um fogo de
per si, senão somente esta chama do círio, aquele feixe de
lenha ardente... Pode pensar simplesmente na água ou na
quele manancial da predaria, rodeado de alto bosque, no qual
experimentei isto ou aquilo. . .
Um símbolo sempre é tão só análogo, isto é, semelhante
e portanto desigual à coisa representada, e, no entanto, igual
em outro aspecto. Por conseguinte, o símbolo não pode ter
nenhuma sobrecarga. Se tende para o material evapora-se
o conteúdo e passa ao materialismo; se o espiritual tem um
valor absoluto, domina então o espiritualismo.
Também há um desaparecimento da tendência aos sím
bolos. O que está adiante, o robusto, o proveitoso conquista
esforços e cuidados e transforma ao final os símbolos em
objetos de valor que se arrancam ou com os quais se passa
o tempo. As imagens santas vão parar no gabinete de arte,
as casas de Deus se convertem em museus, as funções sagra
das satisfazem a curiosidade.
Se assim fica descrito um grave traço característico dos
tempos modernos, tampouco se pode passar por alto a mudan
ça que se prepara. Se lhe pode designar com o "renascimen
to das imagens” . . . O simbolismo, o expressionismo, o sur
realismo e a representação abstrata, assim com o também a
psicologia da profundidade e a moderna pedagogia são teste
munhos desta mudança.
Os símbolos levam uma vida tenaz, enquanto que se vai
extinguindo o espírito que os tem produzido e tem ardido
neles. Quanto mais inteligíveis se tom am as imagens, tanto
mais escrupulosamente se caminha aferrado a elas, tornam-
-se soberanas, estereotípicas, e com isso perdem sua força.
Começa o domínio do legalismo e formalismo. No transmi
tido, o homem já não está em casa. A dogmática se orienta
no sentido de justificar o que veio a ser estranho, porém de
um ponto de vista que está longe das origens. (Nota: O gran
de mérito de Scheeben está precisamente em que não o afeta
esta reprovação; através dos símbolos, Scheeben nos conduz
ao conteúdo interno, mantendo sempre o equilíbrio entre
forma e conteúdo, matéria e espírito).
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Depois, Kirchgássner traz abundantes símbolos de todos
os países e tempos. O homem com o símbolo, símbolos cós
micos, símbolos animais, símbolos vegetativos, número, figu
ra, cor, imagem.
Após, Kirchgássner fala ainda em cinco capítulos de:
categorias (correspondência, participação, força, santi
dade, pureza);
formas elementares (palavra, mito, rito, sacrifício, fogo
e culto, magia e culto);
espaço e tempo (lugar, limite e balizamento, centro,
tempo, festa);
princípio e fim (introdução ritual, terminação ritual,
ciclo, repetição);
ritos particulares (procissões, acordo, mistura, tato,
ocultação, descoberta, unção, purificação).
Todos os que “ já não querem nenhum rito” , desejariam
embrenhar-se neste livro, não somente com a lógica da aguda
inteligência, senão com a meditação de todo o homem, com
a tranqüilidade e franqueza, referindo-se a “si mesmo, a ti,
a nós e a Deus” (Goldbrunner), logo se “ acabaria” com muita
prudência, e nos familiarizaríamos muito mais com os ritos e
os presenciaríamos muito mais.
5. Hugo Rahner dispõe seu livro acerca da Igreja inteira
mente sobre o pensamento simbólico (Symbole der Kircke.
A eclesiologia dos santos padres, Otto Müller, Salzburg
1964). Reproduzimos aqui alguns parágrafos do prólogo:
H oje em dia é preciso investigar a dogmática dos santos
padres sobre a Igreja, de tal forma que possamos medir
nossa maneira de pensar e falar dentro da mesma. A teolo
gia patrística dos símbolos da Igreja obtém em nossos dias
uma importância inteiramente nova já que, segundo o dese
jo do concílio, cheios de esperança dirigimos nosso olhar à
Igreja do Oriente. A Igreja usa na teologia palavras inteira
mente novas. A Igreja se manifesta como “ sacramento primi
tivo” . As relações da Igreja com Cristo e sua cruz, a Igreja e
a parusia, a teologia ponderada do símbolo, tudo isto indica
uma direção única: a rica teologia simbólica (descoberta de há
pou co) dos santos padres.
Queremos averiguar as relações dos primitivos símbolos
cristãos da Igreja com a antigüidade helenista, para compre
ender a doutrina dogmática dos santos padres em seu puro
cristianism o... Perfilando esta teologia figurada do tempo
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primitivo, prestamos simultaneamente uma contribuição ao
que hoje em dia também se procura tornar a descobrir, para
a exegese pneumática, isto é, para a interpretação escriturís-
tica dos santos padres e dos primeiros tempos da Idade
Média. Esta interpretação não queria ser exegese em nosso
sentido moderno, senão somente uma dogmática coberta de
imagens bíblicas.
Em continuação, tentamos expor com quatro imagens
fundamentais esta antiga teologia cristã da relação da Igreja
com Cristo e com sua cruz: a Igreja com o seio materno da
vida de Cristo na terra; a Igreja como virgem na lua
em sua relação nupcial com o Filho Cristo; a Igreja
com o fonte de água viva que brota da ferida do lado de
Cristo; e finalmente, a Igreja, com o a nave da salvação, que,
em virtude da cruz, tem empreendido a viagem às costas do
fim dos tempos.
Sempre que os santos padres desenvolvem sua teologia
envolta em imagens, descobrimos uma riqueza de símbolos
de verdades revestidas de símbolos, os quais poderiam vita
lizar mais nossas atuais declarações dogmáticas, quiçá de
masiado determinadas pela apologética e o direito canônico.
O mundo m etafórico dos símbolos da Igreja, que nos tem
conservado a teologia do primeiro milênio, poderia configu
rar de novo nossas idéias sobre a Igreja, que dogmaticamen
te se têm tomado estéreis em amplos setores (p. 7s).
Ajuntamos ainda um parágrafo da introdução ao “ Mys-
terium Lunae"( mistério da lua): para expor tais pensamen
tos, a antiga teologia eclesiástica lançou mão de imagens e com
parações que eram tomadas da ingênua contemplação da
natureza e muito mais ainda da ciência e da piedade do
ambiente do helenismo tardio. A antiga teologia eclesiástica
lançou mão destas imagens e comparações com o vigor (se
guro de si mesmo e por isso despreocupado) da convicção
de sua fé derivada da escritura e da tradição apostólica.
Não podemos chegar a conhecer plenamente a força simbó
lica e o significado de ditas imagens e comparações, se não
nos atrevemos a tentar reconstruir este mundo de es
tímulos, com o qual o pensamento teológico da antiga
Igreja de certo modo tocou e assim se inflamou (São Gregó-
rio Magno) (p. 91s). Começaremos a “ entrar” dentro de n^s
(não a “ manifestar-nos” ), ainda que somente leiamos os tí
tulos dos capítulos da terceira parte: "Antenna crucis” (cha
mava-se antenna ou antemna, a “ verga” , a travessa na parte
alta do mastro do barco, que forma uma çruz çom o m astro):
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Ulisses no mastro — O mar do mundo — O barco de
madeira — A cruz, com o mastro e antena — A mística
tau (letra grega, parecida a nosso T e semelhante a
uma cruz) — O naufrágio e a tábua de salvação — A
barquinha de Pedro — A arca de Noé com o barco de
salvação. (O estudo deste livro requer conhecimentos
prévios teológicos e lingüísticos.)
6. Photina Rech, de Herstelle, dá um simbolismo da
criação, em que o Cristo aparece como imagem do cosmos,
e onde também transluz a igreja e o tempo final. (Photina
Rech, Iribild des Kosmos, 2 t., Otto Müller, Salzburg 1966.)
Seria difícü dar uma olhada no livro com breves observa
ções; portanto, aqui somente damos uma sinopse sobre o
conteúdo:
Estabelecimento do símbolo na história da salvação.
Da essência do símbolo.
Onipresença do simbólico.
O sím bolo no culto.
Símbolo e palavra.
Símbolo e vida.
Na parte principal, trata-se em separado dos símbolos
de Cristo. Estão sobre o tapete sete ciclos de símbolos:
I — leão — águia — cervo — cordeiro — pomba
— abelha;
II — terra — árvore — raiz — flor e aroma;
III — cruz e cosmos;
IV — vento e respiração — fogo — sol — lua —
estrela-d’alva;
V — pérola;
VI — sal — mel — leite;
VII — água — vinho — pão — azeite.
O livro oferece também uma ampla bibliografia.
2. Símbolo e meditação.
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tar-se no diálogo, que para ele quiçá consiste em uma pala
vra ou uma frase que se repete; simultaneamente liberta o
coração e o faz transbordar de amor. Para conseguir a ple
nitude do coração, temos que excluir todos os pensamentos,
imagens etc., que pudessem penetrar em nosso interior e o
turvassem: não pensar no que se chama concentração ne
gativa.
1. Friso Melzer, missionário protestante na índia, cha
ma à meditação “ recolher-se” , em oposição a “manifestar” ,
ainda que ele dê ao livro o título: Anleitung zur Meditation
(Evangelisches Verlagswerk, Stuttgart 2 1959).
Na meditação, não se faz uma separação rigorosa entre
imagem e símbolo; também os conceitos e conclusões podem
comparecer claramente ante a alma no curso do recolhimen
to. Porém se poderia dizer que cada imagem que contem
plamos obtém linhas cada vez mais nítidas, se tom a também
mais simples, até que finalmente se converte no símbolo e
eleva nosso interior (não somente a inteligência, senão todo
o homem), ao qual a imagem simboliza.
Melzer informa de exercícios nos quais os participantes
penetraram no sentido de imagens e símbolos da natureza,
arte e religião, e também deram testemunho dele. Os temas
são: Portão (do jardim ) — Caminho (no parque) — Uma
figura do manancial — As “ mãos orantes” , de Durero —
"Jerônimo no nicho” , de Durero — Cristo com o globo ter
restre na mão — O círio ardente — A cruz — A cruz no glo
bo terrestre. «
Depois continua falando ainda de sentidos internos de
palavras da Bíblia — Perigos do recolhimento e sua defesa —
Métodos de meditação no ocidente e no oriente.
Aqui ainda se pode nomear a dois autores, cujos livros
podem ser muito úteis aos que querem levar vida interior,
com uma leitura diligente, porém sossegada:
2. Johannes B. Lotz, Meditation im Alltag, Josef Kne-
cht, Frankfurt 3 1963, e Einilbung ins Meditieren am Neuen
Testament, J. Knecht, Frankfurt 1965.
3. Philipp Dessauer, Die naturale Meditation, Kõsel,
Diisseldorf 1968 (composto depois de sua morte por Irm-
gard Wild, à base de muitos esboços e bosquejos do fi
nado).
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4. Para concluir, ajuntamos uma pequena “ realidade” .
Um camponês ia muito cedo com sua filha pequena para
segar o trevo. No caminho, colhe uma flor da margem de
um bosque, mostra-a à menina e lhe diz: "Olha, Maria, a isto
chamamos de má erva, porém nenhum de nós pode fazer
algo semelhante, só Deus pode fazê-lo” . Aos sessenta anos
de idade, Maria ainda contemplava este símbolo: flor —
DEUS.
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ÍNDICE
Siglas ....................................................................................... 5
Prólogo à primeira edição a le m ã ...................................... 7
I — O ESPÍRITO SANTO
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IV — O ESPÍRITO SANTO EM MARIA
16 — As apropriações em D e u s .................................. 71
17 — Os envios ............................................................. 72
18 — A verdadeira m ís t ic a .......................................... 99
19 — O pecado e a graça .......................................... 110
20 — Comunhão dos santos ...................................... 114
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