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Fendilhadas
Engenharia Civil
Júri
Outubro 2016
Agradecimentos
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Prof. Camara, por ter aceite orientar este trabalho,
demonstrando sempre acessibilidade e disponibilidade para o esclarecimento de dúvidas,
procurando sempre o enquadramento do tema no contexto da engenharia de estruturas.
Gostaria de agradecer também aos meus amigos e colegas de curso, pela amizade e pela ajuda
ao longo do meu percurso académico.
Queria também agradecer a toda a minha família, em especial aos meus pais, pelo apoio ao
longo de toda a minha formação e me terem dado todas as condições para poder estudar, e à
minha avó Firmina, por me ter recebido em Lisboa.
Resumo
Realiza-se uma análise de secções genéricas, correntemente usadas em paredes e pilares (em
estruturas de betão), determinando a rigidez no ponto de cedência, para diferentes valores de
esforço axial reduzido e percentagem de armadura e comparando os valores obtidos com o
proposto no EC8.
i
ii
Abstract
The aim of this work is to study the seismic design of reinforced concrete buildings using different
values of cracked stiffness in each resistant element. Eurocode 8 indicates that the stiffness of
concrete members used in analysis should correspond to the initiation of yielding of the
reinforcement, and should take into account the effect of cracking. Eurocode 8 also states that it
is permitted to take that stiffness as equal to 50% of the uncracked stiffness, in every member of
the structure. However, since the cracked stiffness of a certain concrete member is influenced by
the axial force and reinforcement ratios, it is safe to assume that the loss of stiffness should not
be considered uniform in every concrete member. Moreover, it is known that the loss of stiffness
due to cracking should be higher than 50% of the corresponding stiffness of the uncracked
member.
iii
iv
Índice
v
2.8.6. Coeficiente de comportamento ........................................................................... 30
2.8.7. Condição de ductilidade local .............................................................................. 30
2.8.8. Cálculo de capacidades resistentes para a classe DCM .................................... 31
3. Cálculo da Rigidez na Cedência: Análise de Secções ....................................................... 33
3.1. Introdução .................................................................................................................... 33
vi
4.9. Dimensionamento Estrutural ....................................................................................... 61
5. Conclusões .......................................................................................................................... 79
6. Referências Bibliográficas ................................................................................................... 81
Anexos ......................................................................................................................................... 83
Anexo A.1 Tabelas usadas no traçado dos gráficos do Capítulo 3 ........................................ 83
vii
viii
Lista de Tabelas
ix
x
Lista de Figuras
xi
Figura 3.10 - Perda de rigidez no Pilar B. ................................................................................... 42
Figura 3.11 - Perda de rigidez no Pilar C. ................................................................................... 42
Figura 3.12- Comparação da perda de rigidez nos pilares, para o mesmo valor de esforço axial
reduzido. ...................................................................................................................................... 43
Figura 3.13 – Paredes testadas. ................................................................................................. 44
Figura 3.14 - Perda de rigidez na Parede A. ............................................................................... 45
Figura 3.15 - Perda de rigidez na Parede B. ............................................................................... 46
Figura 3.16 - Perda de rigidez na Parede C. .............................................................................. 46
Figura 3.17 - Estimativa da perda de rigidez na Parede A obtida através do Gala e do EC8-2. 48
Figura 3.18 - Estimativa da perda de rigidez na Parede A obtida através do Gala e do EC8-2. 49
Figura 4.1 - Planta da estrutura................................................................................................... 52
Figura 4.2 - Fachada do edifício: Direcção X (à esquerda) e direcção Y (à direita). .................. 52
Figura 4.3 - Espectro de resposta. .............................................................................................. 57
Figura 4.4 - Envolvente de momento flector na Parede PR. ...................................................... 62
Figura 4.5 - Envolvente de esforço transverso na Parede PA. ................................................... 62
Figura 4.6 - Confinamento dos elementos de extremidade da Parede PA, na Análise 1
(esquerda) e na Análise 2 (direita). ............................................................................................. 66
Figura 4.7 - Momentos flectores na Viga V1. .............................................................................. 67
Figura 4.8 e 4.9 - Diagramas de esforço axial de dimensionamento e esforço transverso
segundo X, resultantes da análise para a combinação sísmica, no Pilar P1. ............................ 72
Figura 4.10 e 4.11 - Diagramas de momentos segundo Y e X, resultantes da análise para a
combinação sísmica, no Pilar P1. ............................................................................................... 72
Figura 4.12 e 4.13 - Diagramas de esforço axial de dimensionamento e esforço transverso
segundo X, resultantes da análise para a combinação sísmica, no Pilar P2. ............................ 73
Figura 4.14 e 4.15 - Diagramas de momentos segundo Y e X, resultantes da análise para a
combinação sísmica, no Pilar P2. ............................................................................................... 73
xii
Simbologia
1/R curvatura
1/R1 curvatura em estado I
1/R2 curvatura em estado II
1/Rm curvatura média
1/Ry curvatura correspondente ao início da cedência das armaduras
A acção de acidente
A área da secção transversal
Ac área da secção transversal de betão
Ac,ef área efectiva de betão
As área de armadura para betão armado
As,min área mínima de armadura
Asv área total da armadura vertical de alma de uma parede
Asw área de armaduras de esforço transverso
AEd valor de cálculo da acção sísmica (=γIAEk)
AEk valor característico da acção sísmica
E efeito de uma acção
Ec módulo de elasticidade do betão
Ecm módulo de elasticidade secante do betão
Ed valor de cálculo do efeito das acções
EE efeito da acção sísmica
EEdx, EEdy valores de cálculo dos efeitos devidos às componentes horizontais (x e y) da
acção sísmica
Es módulo de elasticidade do aço
EI rigidez à flexão
Fb força de corte basal
G acção permanente
Gd valor de cálculo de uma acção permanente
Gk valor característico da acção permanente
H altura do edifício desde a fundação
I momento de inércia
Ic momento de inércia da secção de betão em estado I, sem armaduras
I1 momento de inércia da secção de betão em estado I, com armaduras
I2 momento de inércia da secção de betão em estado II
M momento flector
Mi,d momento no extremo de uma viga ou de um ou de um pilar para o cálculo de
esforço transverso pela capacidade real
xiii
My momento de cedência
MEd valor de cálculo do momento flector actuante
MRb,i valor de cálculo do momento resistente de uma viga na extremidade i
MRc,i valor de cálculo do momento resistente de um pilar na extremidade i
MRD valor de cálculo do momento flector resistente
N esforço normal
NEd valor de cálculo do esforço normal actuante (tracção ou compressão)
Pk valor característico de pré-esfroço
Q acção variável
Qd valor característico de uma acção variável
Qk valor característico de uma acção variável
R resistência
Rd valor de cálculo da resistência
S coeficiente de solo
Sd (T) espectro de cálculo (para análise elástica)
T período de vibração de um sistema linear com um grau de liberdade
T1 período fundamental do edifício na direcção horizontal considerada
TB limite inferior do período no patamar de aceleração espectral constante
TC limite superior do período no patamar de aceleração espectral constante
TD valor que define no espectro o início do ramo de deslocamento constante
V esforço transverso
VEd valor de cálculo do esforço transverso actuante
VRd valor de cálculo do esforço transverso resistente
VRD,máx valor de cálculo do esforço transverso resistente máximo
xiv
Letras minúsculas latinas:
xv
qd coeficiente de comportamento em deslocamento
q0 valor básico do coeficiente de comportamento
s espaçamento entre armaduras longitudinais ou transversais
x profundidade do eixo neutro
z braço do binário das forças interiores
xvi
Letras minúsculas gregas:
xvii
σc tensão no betão
σs tensão no aço
ϕ diâmetro de um varão
τ coeficiente de repartição para a determinação da curvatura média
φ factor de redução pertencente a ψE
ψE coeficiente de combinação para uma acção variável, a utilizar no cálculo dos
esforços sísmicos de cálculo.
Ψ0 coeficiente para a determinação do valor de combinação de uma acção variável
Ψ1 coeficiente de combinação para o valor frequente de uma acção variável
Ψ2 coeficiente para a determinação do valor quase-permanente de uma acção
variável
ω taxa mecânica de armadura
ωRD taxa mecânica de armadura resistente
ωtot taxa mecânica total de armadura
ωv taxa mecânica de armadura vertical de alma
ωwd taxa mecânica volumétrica de armadura de confinamento
ωwd,min taxa mecânica volumétrica mínima de armadura de confinamento
xviii
1. Introdução
Este trabalho tem como objectivo estudar as implicações que a consideração de diferentes
valores de rigidez nos vários elementos estruturais terá na análise sísmica, por comparação com
a hipótese simplificativa sugerida na EN 1998-1 [1], que consiste em assumir uma perda de
rigidez uniforme em toda a estrutura e igual a metade da rigidez não fendilhada. Sabe-se,
antecipadamente, que a perda de rigidez não deverá ser equivalente em toda a estrutura e que
esta deverá ser maior que 50% da rigidez não fendilhada. Pretende-se então estudar de que
maneira a rigidez de um elemento estrutural deve ser calculada e que parâmetros a influenciam.
Também se pretende avaliar em que casos a simplificação sugerida no EC8 constitui uma boa
estimativa para a perda de rigidez de determinado elemento, que dificuldades adicionais surgem
caso se decida considerar uma perda de rigidez não uniforme e se é possível tirar partido da
consideração de uma menor rigidez no dimensionamento sísmico.
Como se sabe, o betão é um material com pouca capacidade para resistir a tensões de tracção.
Assim, as tensões de tracção desenvolvidas num elemento de betão armado submetido à flexão
(ou tracção simples), atingem o valor de rotura para baixos valores de momento flector. Quando
a tensão de rotura à tracção é atingida, o elemento de betão fendilha. O momento flector que
provoca esta tensão designa-se por momento de fendilhação. Após a fendilhação da secção de
betão, as tensões de compressão passam a ser equilibradas através de tensões de tracção que
se desenvolvem nas armaduras. A perda do contributo do betão da zona traccionada da secção,
provoca uma súbita diminuição da rigidez da secção. Tendo em conta que os momentos flectores
desenvolvidos num edifício durante a actuação do sismo, serão superiores ao momento de
fendilhação, a EN 1998-1 prevê que a fendilhação deverá ser considerada na avaliação da
rigidez.
O EC8 estipula que a rigidez a considerar na análise sísmica deve ser a correspondente ao início
da cedência das armaduras longitudinais. Um dos objectivos desta dissertação passa por
perceber que parâmetros influenciam a rigidez no início da cedência. Para já, refere-se apenas
que, além dos materiais, as dimensões geométricas da secção, esforço axial e armadura
longitudinal, são os principais parâmetros que condicionam o valor da inércia em Estado II e que
serão discutidos no desenvolvimento desta dissertação.
É então expectável que a rigidez a considerar na análise seja variável entre elementos
estruturais. Simplificadamente, o EC8 considera a perda de rigidez provocada pela fendilhação
através da redução em 50% da rigidez de flexão e corte, de uma forma uniforme, em todos os
elementos do edifício. Esta é a hipótese sugerida pelo EC8, caso não se efectue uma análise
mais detalhada, e que actualmente corresponde a uma opção bastante adoptada na prática. No
1
entanto, e como defendem vários autores [2] esta simplificação é, geralmente, demasiado
conservativa, resultando em esforços mais elevados.
O objectivo desta dissertação passa por avaliar as diferenças que a consideração de uma perda
de rigidez superior, mais próxima da rigidez correspondente ao início da cedência, tem na análise
sísmica, em relação à abordagem mais simples e conservativa sugerida pelo EC8. Para cumprir
este objectivo, será estudado um caso prático, de um edifício com uma solução estrutural
simples, que será analisado e dimensionado para duas análises. Na primeira análise, considerar-
se-á a hipótese simplificativa do EC8. Na segunda análise, irá adoptar-se diferentes perdas de
rigidez nos diferentes elementos estruturais.
Para perceber que valores de rigidez se irão adoptar na análise, e para compreender que
aspectos a condicionam, efectua-se primeiro uma análise de secções, estimando-se a perda de
rigidez em cada uma delas, para diferentes valores de esforço axial e taxa de armadura. As
secções analisadas serão secções correspondentes a pilares e a paredes, de dimensões
comuns, tipicamente adoptadas na prática.
2
2. Características da Resposta de uma Estrutura de
Betão Armado à Acção Sísmica
A ocorrência de um sismo consiste na passagem de ondas de vibração pelo solo. Estas ondas
geram acelerações na estrutura e, consequentemente, deformações que geram forças de
inércia. Em regiões sísmicas, estas forças poderão ser bastante elevadas, o que conduz a que,
em muitos casos, a acção sísmica seja a acção condicionante dos elementos verticais da
estrutura, como pilares e paredes.
3
A força de inércia é devida à aceleração na massa, 𝑥̈ , e dada pela 2ª lei de Newton. A força de
restituição elástica (que depende da rigidez, k), tende a anular o deslocamento da massa m,
relativamente à base do pilar. A força de amortecimento está relacionada com a capacidade que
a estrutura apresenta para dissipar a energia imposta pelo movimento do solo. O coeficiente c
representa o coeficiente de amortecimento viscoso. Esta força deve-se ao comportamento
viscoso dos materiais e a outros fenómenos de dissipação, onde se inclui o comportamento
histerético dos materiais, no caso de respostas não lineares [5].
𝑚𝑎 + 𝑘𝛿 = 0 (2.6)
Com,
𝑎 = 𝑥̈ e 𝛿 = 𝑑
Quando o deslocamento no topo do pilar atingir o valor máximo, a aceleração será também
máxima, e de sinal oposto ao deslocamento. A aceleração máxima a que a massa está sujeita é
dada pela expressão:
𝑘
𝑎𝑚𝑎𝑥 = − 𝛿 (2.7)
𝑚 𝑚𝑎𝑥
A acção sísmica pode ser representada graficamente, através de um acelerograma, que ilustra
a aceleração do solo, em função do tempo. O acelerograma permite determinar o valor de pico
da aceleração, o conteúdo de frequências de vibração e a duração do sismo, parâmetros que
têm influência relevante no efeito da acção sísmica em estruturas.
4
da multiplicação da massa pela aceleração máxima do solo, define-se pelo factor de amplificação
dinâmica, β1. Este factor é função da relação entre a frequência de vibração do solo e da
frequência própria da estrutura, além do nível de amortecimento, como se ilustra na Figura 2.2.
Ao analisar a Figura 2.2 , constata-se que a resposta da estrutura é máxima quando a frequência
da acção iguala a frequência própria da estrutura. Este fenómeno designa-se de ressonância, e
deve ser evitado, controlando a frequência própria da estrutura, f, que é função da massa e
rigidez e é dada por:
1 𝑘
𝑓= √ (2.8)
2𝜋 𝑚
O gráfico representado na Figura 2.2 pode levar à interpretação errada de que as frequências da
acção e da estrutura são constantes no tempo. Contudo, a realidade mostra que, não só a
frequência e valores de pico da acção sísmica são variáveis, como a frequência própria da
estrutura varia no tempo, diminuindo devido à perda de rigidez da estrutura por fendilhação. Na
prática, interessa apenas conhecer os valores máximos de um determinado parâmetro
(deslocamento, velocidade ou aceleração) durante a acção do sismo.
A forma mais usual de representar o efeito da acção sísmica nas estruturas, para os parâmetros
referidos, é através da definição de um espectro de resposta. O espectro de reposta é obtido
submetendo ao mesmo acelerograma, uma série de osciladores com períodos de vibração
fundamental crescentes (e amortecimento igual), determinando-se a resposta máxima ao longo
do tempo. Obtém-se então um gráfico, que representa o espectro, como se ilustra na Figura 2.3
(neste caso o espectro de resposta de aceleração).
5
Figura 2.3 - Espectro de resposta de aceleração [4]
Um aspecto importante e que vale a pena referir, é que os espectros de resposta referem-se a
um oscilador com comportamento elástico. A exploração do comportamento não linear é
tipicamente considerada através da redução dos resultados obtidos através de uma análise
elástica linear baseada em forças, de acordo com um coeficiente de comportamento q, escolhido
em função do grau em que se pretende explorar a ductilidade. Este é o método previsto na
EN 1998-1, e será referido posteriormente.
Resumidamente, pode dizer-se que a resposta estrutural face à acção sísmica depende
essencialmente de:
O Eurocódigo 0 [7] define a acção sísmica como sendo uma acção provocada pelos movimentos
do solo durante um sismo. Assim, é importante conhecer as características do solo para melhor
definir a acção sísmica. Deverão ser efectuados estudos de modo a classificar o solo de acordo
com as categorias definidas na EN 1998-1 no Quadro 3.1 do parágrafo § 3.1.2.
6
O parágrafo § 3.2.1 estabelece que os territórios nacionais devem ser divididos em zonas, de
acordo com a sismicidade do local. Em Portugal, a definição da acção sísmica é feita para dois
tipos de sismos: a acção sísmica do Tipo 1 (para sismos afastados) e a acção sísmica do Tipo 2
(para sismos próximos). Assim, o zonamento sísmico do território está definido em separado
para a acção sísmica do Tipo 1 e Tipo 2.
Como já foi referido, uma vez que as estruturas são capazes de resistir à acção sísmica exibindo
um comportamento não linear, a EN 1998-1 permite que o seu cálculo seja efectuado para
resistirem a forças sísmicas inferiores às que resultariam de uma análise elástica. De modo a
evitar uma utilização explícita de uma análise não linear, a capacidade de dissipação de energia
da estrutura é considerada efectuando-se uma análise elástica baseada num espectro de
resposta, obtido da redução do espectro de resposta elástica através do coeficiente de
comportamento, que será abordado posteriormente neste trabalho. Este espectro é designado
por “espectro de cálculo”.
2 𝑇 2.5 2
0 ≤ 𝑇 ≤ 𝑇𝐵 ∶ 𝑆𝑑 (𝑇) = 𝑎𝑔 ∙ 𝑆 ∙ [ + ∙ ( − )] (2.9)
3 𝑇𝐵 𝑞 3
2.5
𝑇𝐵 ≤ 𝑇 ≤ 𝑇𝐶 ∶ 𝑆𝑑 (𝑇) = 𝑎𝑔 ∙ 𝑆 ∙ (2.10)
𝑞
2.5 𝑇𝐶
= 𝑎𝑔 ∙ 𝑆 ∙ ∙[ ]
𝑇𝐶 ≤ 𝑇 ≤ 𝑇𝐷 ∶ 𝑆𝑑 (𝑇) { 𝑞 𝑇 (2.11)
≥ 𝛽 ∙ 𝑎𝑔
2.5 𝑇𝐶 𝑇𝐷
= 𝑎𝑔 ∙ 𝑆 ∙ ∙[ 2 ]
𝑇𝐷 ≤ 𝑇 ∶ 𝑆𝑑 (𝑇) { 𝑞 𝑇 (2.12)
≥ 𝛽 ∙ 𝑎𝑔
Com:
𝑆 coeficiente de solo;
7
𝑇 período de vibração de um sistema linear com um grau de liberdade;
𝑇𝐵 limite inferior do período no patamar de aceleração espectral constante;
𝑇𝐶 limite superior do período no patamar de aceleração espectral constante;
𝑇𝐷 valor que define no espectro o início do ramo de deslocamento constante;
𝑞 coeficiente de comportamento;
𝛽 coeficiente que corresponde ao limite inferior do espectro de calculo horizontal.
O parágrafo § 3.2.4 da EN 1998-1, indica que o valor de cálculo, 𝐸𝑑 , dos esforços na situação de
projecto sísmica deve ser determinado recorrendo à seguinte expressão, indicada no
Eurocódigo 0:
∑ 𝐺𝑘,𝑗 " + " 𝐴𝐸𝑑 " + "𝑃𝐾 " + " ∑ 𝜓2,𝑖 ∙ 𝑄𝑘,𝑖 (2.13)
𝑗≥1 𝑖≥1
Com:
𝐺𝑘,𝑗 valor característico da acção permanente 𝑗;
Com:
-𝜓𝐸,𝑖 = 𝜑 ∙ 𝜓2,𝑖
8
2.3. Filosofia EC8
Deste modo, é necessário conferir ductilidade aos elementos resistentes, para que não haja risco
de rotura súbita, quando a capacidade resistente do elemento é atingida. Em particular, em zonas
de sismicidade média ou alta, é importante assegurar um comportamento dúctil, que passa por
projectar o edifício de forma a que este apresente condições para dissipar a energia transmitida
pelo sismo.
O segundo requisito visa reduzir o impacto económico do sismo, através da limitação de danos
em elementos estruturais e não estruturais, para sismos considerados frequentes. Apesar de se
admitir alguns danos em elementos não estruturais, desde que estes não ponham em causa a
operacionalidade da estrutura, é importante garantir que os elementos resistentes mantenham a
sua capacidade resistente e configuração indeformada. Este requisito é cumprido através da
limitação de deformações laterais que não ponham em causa a integridade de todos os
elementos do edifício, em especial dos elementos não estruturais. Este requisito deve ser
cumprido para sismos com probabilidade de ocorrência de 10% de ser excedido em 10 anos.
Para que uma estrutura exiba um comportamento adequado face à acção sísmica, esta deve
apresentar determinadas características que possibilitem uma resposta estrutural simples e
9
clara. Estas características facilitam a análise estrutural do edifício e devem ser consideradas
desde o início do projecto, isto é, na fase de concepção da estrutura. Assim, a EN 1998-1
apresenta no parágrafo § 4.2.1 algumas indicações que devem ser consideradas na fase de
concepção da estrutura, de modo a que o sistema estrutural obtido satisfaça, com custos
aceitáveis, os requisitos fundamentais de desempenho (exigência de não colapso e de limitação
de danos):
1. Simplicidade estrutural
2. Uniformidade, simetria e redundância
3. Resistência e rigidez em ambas as direcções
4. Resistência e rigidez à torção
5. Acção de diafragma ao nível dos pisos
6. Fundação adequada
Para que um conjunto de elementos seja classificado como secundário, a sua contribuição para
a rigidez lateral do edifício não deverá ser superior a 15% da de todos os elementos sísmicos
primários. A escolha do conjunto de elementos secundários não pode alterar a classificação da
estrutura quanto à regularidade estrutural.
2.5.1. Introdução
As características da resposta global de uma estrutura à acção sísmica podem ser controladas
durante a fase de dimensionamento. Embora seja possível dimensionar uma estrutura para que
responda em regime dito elástico (isto é, com fendilhação do betão, mas sem cedência das
armaduras), tal procedimento seria pouco económico e desnecessário. Apesar do estado limite
último ser tipicamente verificado através de uma análise baseada em forças, a realidade é que
os danos causados em estruturas pela acção sísmica, devem-se a deslocamentos e
deformações [2].
10
O EC8 permite a exploração do comportamento não linear da estrutura, desde que as
deformações inelásticas não ponham em causa a integridade dos elementos estruturais. Ao
explorar esta característica, procura-se que a estrutura dissipe grande parte da energia
transmitida pelo sismo, em vez de explorar apenas a sua resistência. Ao contrário das
deformações impostas e cargas gravíticas, uma boa resposta à acção sísmica passa pela
exploração simultânea da ductilidade e resistência da estrutura.
A utilização de modelos não lineares, além de exigir um grande esforço de cálculo, requer que
se realize um dimensionamento iterativo que obriga, em cada análise, o conhecimento da
distribuição de armaduras nos elementos resistentes. Assim, o mais usual é recorrer-se a
análises lineares. O comportamento não linear é considerado, indirectamente e
simplificadamente, através de uma redução dos resultados obtidos, por um coeficiente de
comportamento, q, função do nível de ductilidade a explorar. O coeficiente de comportamento
representa a razão entre os esforços a que a estrutura estaria sujeita caso a sua resposta fosse
elástica e os esforços associados a uma resposta elasto-plástica. A estruturas com menor
ductilidade, isto é, que exibem um comportamento mais próximo do linear, está associado um
menor coeficiente de comportamento.
Neste parágrafo abordam-se alguns dos fenómenos responsáveis pela não linearidade da
resposta estrutural de edifícios de betão à acção sísmica, antes e depois da cedência das
armaduras, e faz-se referência à filosofia de dimensionamento por capacidade real, prevista no
EC8, e que assenta na exploração da não linearidade da resposta estrutural.
11
2.5.2. Comportamento mecânico do betão
O módulo de elasticidade do betão, Ec, corresponde ao módulo secante obtido para um valor de
tensão de 0.4fcm. Até esse ponto, o betão exibe um comportamento muito próximo do elástico
linear. Para valores superiores de tensão, observa-se um comportamento não linear até se atingir
a tensão de rotura fck, à qual está associada uma extensão εc. Uma vez atingida fck, ocorre uma
diminuição de tensão até se atingir a extensão última do betão à compressão, εcu.
2.5.3. Fendilhação
12
preciso considerar também o efeito da fluência do betão). Neste parágrafo procura-se estudar o
processo de formação de fendas, com o objectivo de perceber que parâmetros conferem o
comportamento não linear a este fenómeno.
Quando a tensão no betão, σc, for igual a fct, forma-se a primeira fenda, numa dada secção do
elemento. Nessa secção, as tensões de tracção serão transferidas para as armaduras, que
sofrem um súbito aumento de tensão, e que poderá provocar a cedência das armaduras. Este
aumento será inversamente proporcional à quantidade de armadura adoptada. É, então,
necessário definir uma percentagem de armadura mínima, ρmin, de modo a que as tensões
transferidas para o aço não precipitem uma rotura frágil do tirante.
Figura 2.7 - Distância, s, necessária para reestabelecer um estado de tensão capaz de formar uma
nova fenda [8]
13
O aumento da tracção aplicada levará à formação de novas fendas, até que a distância entre
estas seja insuficiente para desenvolver tensões de tracção iguais à resistência à tracção do
betão. Nesta fase, diz-se que se atingiu a fendilhação estabilizada, em que um aumento da força
de tracção apenas provocará a abertura das fendas existentes, em vez da formação de novas
fendas.
Além da distância entre fendas, a caracterização da fendilhação passa também por determinar
a sua abertura. Este parâmetro corresponde à diferença de alongamento entre a armadura e o
betão, na zona de influência da fenda. A natureza não linear dos diagramas de tensões no aço
e no betão, como se mostra na Figura 2.8, implica que se considere extensões médias para o
aço e betão, para simplificar o modelo de avaliação de fendas.
Figura 2.8 - Tensões e deformações nas armaduras e no betão, na fase estabilizada [8]
Como se pode ver, o betão tem capacidade de reter tensões de tracção entre fendas, tornando
mais rígida a resposta após a fendilhação. Este fenómeno é designado por efeito de tension
stiffening, e não é uma característica do comportamento do aço ou do betão, mas sim do betão
armado, enquanto material compósito. Este aumento de rigidez é devido à participação do betão
e, por um lado, diminui a extensão do aço fora das secções fendilhadas, por outro, a extensão
do betão contribui para diminuir a abertura da fenda [8]. Como se pode ver na Figura 2.8, nas
zonas fendilhadas, a tensão no betão é nula e máxima no aço. Entre fendas, a contribuição do
betão aumenta não linearmente, até a uma distância correspondente à metade da distância entre
fendas. Na Figura 2.9, apresenta-se a relação entre o esforço axial e extensão no aço. Como se
pode ver, a extensão média no aço é inferior à extensão em estado II, devido à participação do
betão entre fendas. A contribuição do betão vai diminuindo à medida que N aumenta, e a
fendilhação se propaga, tendendo o comportamento do betão para o estado II puro.
14
Figura 2.9 - Relação entre o esforço axial e a deformação de um tirante [8]
Em casos de flexão simples, como em vigas, a evolução da fendilhação baseia-se nos mesmo
princípios descritos para a tracção simples. A deformação resultante de um elemento sujeito a
flexão é a curvatura. Assim, o comportamento de um elemento estrutural submetido a flexão é
caracterizado pela relação momento-curvatura. Como se verá mais à frente, esta relação pode
ser utilizada para determinar a rigidez de elementos em estado II. A Figura 2.10 apresenta a
evolução da relação momento-curvatura nas fases descritas anteriormente (fase elástica,
formação de fendas e fendilhação estabilizada) até à rotura.
Figura 2.10 - Relação momento curvatura para flexão simples, desde a fase elástica à rotura [9]
A fissuração de uma secção, embora seja um fenómeno localizado, tem como consequência o
aumento global da curvatura do elemento, como se ilustra na Figura 2.11. É então necessário
considerar um comportamento médio, que tenha em consideração as secções do elemento que
não estejam fendilhadas, definindo a curvatura média. Esta, resulta da interpolação da curvatura
nos estados I e II, como se ilustra na Figura 2.12.
15
Figura 2.11 e 2.12 - Aumento de curvatura provocado pela fendilhação (esquerda) e relação
momento-curvatura média (direita) [8]
As expressões 2.15 e 2.16, propostas por Jacoud e Favre, permitem determinar a curvatura
média:
1 1 1
= (1 − ζ) + ζ (2.15)
𝑅𝑚 𝑅1 𝑅2
𝑀𝑐𝑟 2
𝜁 = 1 − 𝛽1 𝛽2 ( ) (2.16)
𝑀
Em que:
1 1
As curvaturas em estado I, , e estado II, , são dadas por:
𝑅1 𝑅2
1 𝑀
= (2.17)
𝑅1 𝐸𝐼1
1 𝑀
= (2.18)
𝑅2 𝐸𝐼2
16
2.5.4. Dissipação de energia e ductilidade
O conceito de ductilidade pode ser definido como a capacidade de deformação que um elemento
de betão apresenta, para além do comportamento elástico (ponto de cedência), suportando
vários ciclos de carga, sem perda de rigidez e capacidade de carga.
Num elemento de betão submetido à flexão simples, a ductilidade pode ser directamente avaliada
recorrendo ao coeficiente de ductilidade de determinada grandeza cinemática (rotação,
curvatura, etc.) definido através da razão entre o valor máximo que essa grandeza assume
durante o comportamento não linear e o valor no ponto de cedência.
A força resistente 𝐹𝑖 , diminui com a redução da taxa de armadura que tem como consequência
a perda de rigidez do pilar, resultando num aumento do deslocamento no topo do pilar. Como se
pode observar, quanto menor for a força resistente do pilar, maior terá que ser o deslocamento
inelástico (com a formação de uma rótula plástica na base do pilar), isto é, maior terá que ser a
sua ductilidade, para que a energia absorvida na deformação seja equivalente.
A capacidade de dissipação por histerese da energia transmitida pela acção sísmica é o factor
determinante para um bom comportamento estrutural face a um sismo de forte intensidade.
Refira-se que, apesar de relacionados, os conceitos de ductilidade e capacidade de dissipação
de energia não são totalmente equivalentes. A capacidade de dissipar energia pode ser ilustrada
recorrendo a gráficos força/deslocamento, de uma estrutura submetida a uma história de
carregamento cíclico (com inversão de carga), como é o caso da acção sísmica [10]. A Figura
2.14 mostra a relação carga deslocamento para dois osciladores com a mesma ductilidade, mas
diferentes capacidades de dissipação de energia.
17
Figura 2.14 - Relações constitutivas de osciladores com a mesma ductilidade e diferentes
capacidades de dissipação de energia. [11]
Em ambos os casos, o valor da força e deslocamento de cedência são os mesmos, bem como a
rigidez pós-cedência. Se ambos os osciladores forem submetidos a um carregamento cíclico de
modo a que o deslocamento máximo, e portanto, a ductilidade, seja igual em ambos os casos, o
oscilador da direita dissiparia mais energia que o da esquerda [11]. A capacidade de dissipar
energia é representada pela área interior dos ciclos. Quanto maior for essa área, melhor serão
as características de dissipação. Portanto, para níveis superiores de ductilidade, maior será o
deslocamento máximo num ciclo de carga e consequentemente, a sua área. Por outro lado,
quanto mais envolvente forem os ciclos melhor será a eficiência na absorção de energia.
Uma vez que a extensão última do betão é muito inferior à do aço, a ductilidade é tipicamente
condicionada pelo betão. Deste modo, uma outra forma de aumentar a ductilidade de elementos
de betão passa por aumentar a ductilidade do próprio betão. Este aumento consegue-se à custa
do incremento da extensão última do betão, através do confinamento do betão, colocando
armaduras transversais à secção, que envolvam a armadura longitudinal.
Tendo em conta que o recobrimento do betão não é abrangido pelo confinamento, a sua
extensão última é inferior à do betão confinado entrando em rotura para extensões pouco
superiores à extensão associada à plastificação das armaduras. Assim, é preciso especial
cuidado com a amarração das cintas (idealmente, devem ser amarradas para o interior do pilar),
para que a perda do recobrimento não provoque a diminuição da sua aderência e a perda do
confinamento do betão.
18
2.5.5. Dimensionamento por capacidade real
A entrada em regime não linear é um processo que ocorre, não simultaneamente em toda a
estrutura, mas sim em zonas localizadas. Estas zonas, designadas de zonas críticas, são
responsáveis pela dissipação histerética de grande parte da energia transmitida pela acção
sísmica. Um bom comportamento sísmico passa por uma selecção estratégica destas zonas,
desenvolvendo um mecanismo capaz de dissipar a energia transmitida pelo sismo, sem que
ocorra a rotura frágil dos elementos resistentes.
É então necessário seleccionar estas zonas, forçando a formação de rótulas plásticas por flexão
(evitando comportamentos frágeis) assegurando a sua ductilidade e capacidade de dissipação
de acordo com o valor adoptado para o coeficiente de comportamento [2], mantendo as restantes
zonas da estrutura em regime dito elástico, isto é, sem a plastificação das armaduras. O controlo
da localização da formação de rótulas plásticas faz-se aumentando a resistência das zonas que
devem permanecer em regime elástico e garantindo a ductilidade das zonas plásticas [11].
19
Como se pode observar, no exemplo da esquerda, são necessárias apenas oito rótulas plásticas
para que se forme um mecanismo, enquanto no exemplo da direita, são precisas vinte e oito
(vinte e quatro nas vigas e quatro junto às fundações). Caso as rótulas plásticas se formem nos
pilares, pode ocorrer a rotura de piso flexível (soft storey). Esta rotura deve ser evitada, pois
aumenta muito as exigências de ductilidade local, havendo o risco de a ductilidade disponível
nas rótulas ser excedida. Além disso, tendo em conta o número reduzido de rótulas plásticas, a
capacidade de dissipação deste tipo de rotura é bastante limitada.
Tipicamente, as rótulas plásticas em vigas formam-se nas extremidades, local onde ocorre o
momento máximo devido à acção sísmica. Para que a rótula se forme na viga e não no pilar, é
necessário que o momento resistente da viga seja inferior ao momento resistente do pilar. Assim,
em cada nó, é preciso que a soma dos momentos resistentes dos pilares seja superior à soma
dos momentos resistentes das vigas.
É também importante evitar a rotura por esforço transverso em vigas ou pilares. As rótulas
plásticas devem formar-se por cedência das armaduras em flexão para que a dissipação de
energia ocorra de forma estável [11]. De modo a evitar a rotura por esforço transverso, procura-
se que o seu valor de cálculo seja superior ao máximo que se pode desenvolver na viga durante
a formação das rótulas plásticas nas extremidades dos elementos resistentes (vigas ou pilares).
Uma das vantagens desta abordagem é ser baseada em considerações de equilíbrio, evitando
assim, a rotura por esforço transverso para qualquer tipo de sismo [10].
Uma das principais vantagens da utilização de paredes de betão armado para resistir à acção
sísmica está relacionada com o controlo que estas permitem dos deslocamentos da estrutura,
devido à sua elevada rigidez. Em edifícios de estrutura mista, com sistemas porticados e
paredes, e devido à rigidez axial dos pisos estruturais, os deslocamentos assumem valores
semelhantes nas paredes e pilares. Atendendo às maiores dimensões das secções transversais
das paredes, as extensões nas armaduras longitudinais nas extremidades da parede tendem a
ser superiores às dos pilares. Assim, em edifícios de estrutura mista, as primeiras rótulas
plásticas formam-se, tipicamente, nas paredes, podendo a rótula localizar-se na zona de
momento máximo, em zonas de dispensa de armaduras ou lintéis de ligação, caso se adopte
paredes acopladas.
Para garantir um bom comportamento sísmico, a rótula deve formar-se na base da parede
garantindo que as secções acima do piso térreo permanecem em regime elástico, controlando
de forma mais eficaz os deslocamentos globais e entre pisos, bem como efeitos de segunda
ordem e danos em elementos não estruturais.
Para que apenas se forme uma rótula plástica na parte inferior da parede, é preciso
sobredimensionar a zona que deve permanecer em regime elástico. A formação de uma rótula
20
plástica acima da base implica que as exigências de ductilidade aumentem uma vez que, para
um mesmo deslocamento no topo, são necessárias maiores rotações e curvaturas na base.
A aplicação dos princípios do capacity design a estruturas com paredes de betão armado exige,
novamente, que a rótula plástica se forme por flexão e não por esforço transverso. Para que a
rotura ocorra por flexão, é então necessário dimensionar a parede para resistir ao valor do
máximo esforço transverso que se desenvolve na parede durante a formação da rótula plástica.
O EC8 indica que os esforços devido à combinação das componentes horizontais da acção
sísmica podem ser determinados, simplificadamente, usando as expressões:
Caso se efectue uma análise linear, os deslocamentos provocados pela acção sísmica de
cálculo, num determinado ponto da estrutura, deverão ser calculados com base nas deformações
elásticas do sistema estrutural, utilizando a expressão:
𝑑𝑠 = 𝑞𝑑 ∙ 𝑑𝑒 (2.21)
21
Com:
2.7.1. Introdução
Como tem sido referido, um dos principais factores que influencia o comportamento sísmico é a
rigidez da estrutura que deve ser considerada na análise sísmica. Além de influenciar o valor dos
deslocamentos da estrutura, condiciona a frequência de vibração e, consequentemente, o valor
espectral da acção. De modo a considerar a perda de rigidez por fendilhação durante a acção
sísmica, deve reduzir-se a rigidez dos elementos resistentes no modelo estrutural.
22
dimensionada. Este conceito está associado ao facto do betão, como material, para acções muito
rápidas, responder com um módulo de elasticidade superior. No entanto, esta hipótese é
claramente irrealista, atendendo ao comportamento do betão considerando a fendilhação. Além
disso, a consideração de uma maior rigidez subestima os deslocamentos impostos, importantes
na avaliação dos efeitos de 2ª ordem, bem como na verificação dos estados limite de serviço.
1 |𝜀𝑐 |+|𝜀𝑠 |
= : (2.22)
𝑅 𝑑
Com:
𝜀𝑐 extensão na fibra mais comprimida do betão;
𝜀𝑠 extensão na fibra mais traccionada do aço;
𝑑 altura útil da secção.
A relação entre a extensão no betão e a extensão no aço é dada em função da posição da linha
neutra, x, de acordo com:
𝜀𝑐 𝑥
= (2.23)
𝜀𝑆 𝑑 − 𝑥
Em flexão composta, é possível analisar duas situações distintas. A primeira é para um esforço
axial variável, de modo a que se desenvolva uma excentricidade, e=M/N, constante. Neste caso,
a posição da linha neutra continuaria constante, como na flexão simples. No entanto, o caso mais
comum é o de flexão composta com esforço axial de compressão constante. Nesta situação,
gera-se uma excentricidade variável e=M/N e a posição da linha neutra deixa de ser constante
23
[13]. Como se mostra na Figura 2.16, a posição da linha neutra vai subindo à medida que o
momento flector aumenta, diminuindo a rigidez da secção.
Figura 2.16 - Excentricidade variável devido a esforço axial constante. Adaptado de [14]
A equação que permite determinar a posição da linha neutra em estado II para esforço axial
constante é algo complexa. Além disso, a relação momento-curvatura média deve ser obtida por
interpolação entre os estados I e II, para cada nível de momento flector [13]. É então bastante
conveniente recorrer a programas de cálculo numérico para determinar esta relação de forma
expedita. Na Figura 2.17, apresenta-se a relação momento-momento curvatura para esforço
axial constante, onde é possível observar o andamento não linear da curvatura em estado II.
Figura 2.17 - Relação momento-curvatura média de um elemento em flexão composta, com esforço
axial constante [15]
𝑀𝑦
𝐾𝑦 = (2.24)
(1⁄𝑅)𝑦
Com:
𝑀𝑦 Momento de cedência;
24
1
( ) Curvatura correspondente ao início de cedência
𝑅 𝑦
Figura 2.18 - Perda de rigidez entre estados I e II, em função da quantidade de armadura, para
tracção e flexão simples, para uma determinada secção [16]
A presença de esforço axial pode aumentar ou diminuir a rigidez em estado II, consoante este
seja de compressão ou de tracção. Tipicamente, um pilar apresenta uma maior rigidez em
estado II que uma viga devido à presença de esforço axial de compressão. Apesar da rigidez em
estado I não ser afectada pelo esforço axial, o momento de fissuração aumenta caso esse
esforço seja de compressão. Comparam-se as relações momento-curvatura para as situações
de flexão simples e composta na Figura 2.19. Também se apresenta a situação de flexão
composta com tracção, que reduz a rigidez do elemento em estado II em relação à flexão
simples.
25
Figura 2.19 - Comparação entre as relações momento-curvatura para as situações de flexão
simples (esquerda) e flexão composta com tracção (à direita, a vermelho) e compressão (à direita,
a azul) [15]
O aumento de rigidez em estado II devido ao esforço axial, é tanto maior quanto menor for a área
da secção transversal do elemento resistente. Em edifícios, o esforço axial actuante em
determinado elemento vertical está relacionado com a área de influência desse elemento vertical.
Apesar da área de influência de uma parede ser superior à de um pilar (e, portanto, o esforço
axial de compressão será maior), este aumento não será proporcional ao aumento de área. É
então expectável que o esforço axial reduzido, ν, seja menor em paredes que em pilares. Deste
modo, num pilar, as perdas de rigidez resultantes da fendilhação serão menos acentuadas que
nas paredes que têm um comportamento mais próximo da flexão simples. Apesar do esforço
normal contribuir positivamente para a limitação da abertura de fendas, a maior rigidez em
estado II resultará num aumento dos valores dos esforços de flexão por efeito da acção sísmica.
A EN 1998-2 propõe uma abordagem alternativa, que contempla dois métodos aproximados e
que permitem determinar a rigidez fendilhada de uma forma simplificada. Estes métodos serão
abordados no Capítulo 3.
26
2.8.1.1. Condições de resistência
A cláusula § 4.4.2.2 (1)P estabelece que, em todos os elementos estruturais, se deve verificar a
seguinte condição:
𝐸𝑑 ≤ 𝑅𝑑 (2.25)
Com:
De acordo com a cláusula § 4.4.2.2 (2) os efeitos de segunda ordem, P-Δ, podem não ser
considerados, caso a seguinte condição seja verificada em todos os pisos:
𝑃𝑡𝑜𝑡∙𝑑𝑟
𝜃= ≤ 0.10 (2.26)
𝑉𝑡𝑜𝑡 ∙ℎ
Com,
No parágrafo § 4.4.2.3 estabelece-se que, quer os elementos estruturais, quer a estrutura no seu
todo, devem exibir um comportamento dúctil, de forma a aproveitar a ductilidade associada ao
sistema estrutural escolhido e de acordo com o coeficiente de comportamento adoptado. Em
edifícios de betão armado, será necessário seguir as disposições indicadas na secção 5 da
EN 1998-1, incluindo regras de cálculo pela capacidade real, de modo a garantir a definição de
uma hierarquia de resistências dos diversos componentes estruturais, requerida para assegurar
que as rótulas plásticas se formam nas secções pretendidas, enquanto as restantes secções
permanecem em regime elástico. Deste modo, é necessário garantir que estas zonas tenham
capacidade de deformação inelástica e dissipação histerética de energia.
O parágrafo § 4.4.2.3 (4) indica que a formação de um mecanismo plástico de piso flexível (soft
storey, Figura 2.15), que conduz a exigências de ductilidade excessivas para os pilares do piso
27
flexível, pode ser evitada em edifícios com estrutura porticada (incluindo sistemas equivalentes
a pórtico) caso se verifique a expressão 2.24, em todos os nós das vigas sísmicas primárias ou
secundárias com os pilares sísmicos primários:
Com:
∑ 𝑀𝑅𝑐 soma dos valores de cálculo dos momentos resistentes dos pilares ligados ao
nó;
∑ 𝑀𝑅𝑏 soma dos valores de cálculo dos momentos resistentes das vigas ligadas ao nó;
Esta condição visa assegurar o cumprimento do princípio “coluna forte/viga fraca”, já discutido
no parágrafo § 2.5 deste trabalho, forçando a formação de rótulas plásticas nas extremidades
das vigas e não nos pilares.
𝑑𝑟 𝜈 ≤ 0.005ℎ (2.28)
2. Para edifícios com elementos não estruturais dúcteis:
𝑑𝑟 𝜈 ≤ 0.0075ℎ (2.29)
3. Para edifícios com elementos não estruturais fixos de forma a não interferir com as
deformações estruturais ou sem elementos não estruturais:
𝑑𝑟 𝜈 ≤ 0.010ℎ (2.30)
Com:
-ℎ altura entre pisos;
28
indicado em § 5.1.1 (3)P, as disposições previstas na EN1998-1, são adicionais às regras
indicadas na EN 1992-1-1.
Nesta mesma secção da EN 1998-1, refere-se que edifícios que adoptem soluções de laje
fungiforme como elementos sísmicos primários não estão totalmente abrangidos por esta norma.
O parágrafo § 5.2.1 (1)P indica que nas zonas críticas, os requisitos de deformação não linear
deverão ser compatíveis com a ductilidade global assumida nos cálculos, além de uma
resistência adequada em todos os elementos resistentes. As regras indicadas na EN 1998-1
condicionam a pormenorização das zonas críticas, de modo a que estas estejam preparadas
para acomodar a ductilidade adoptada no dimensionamento e modelos de análise. Em regiões
não críticas, deve observar-se as regras indicadas na EN 1992-1-1.
O EC8 permite classificar a estrutura em diferentes tipos de sistema estrutural, sendo os sistemas
de pórtico, parede e misto, os mais usuais. A menos que o edifício seja classificado como
torsionalmente flexível, é possível classificar um edifício de betão segundo um tipo estrutural
diferente em cada direcção horizontal.
Um sistema é classificado como torsionalmente flexível quando não apresenta uma resistência
mínima à torção. Esta condição é satisfeita caso o primeiro modo de vibração de torção
apresente um período inferior aos períodos de vibração dos dois modos de translação nas
direcções principais da estrutura.
29
2.8.6. Coeficiente de comportamento
O requisito de ductilidade global exige que as zonas de potencial formação de rótulas plásticas
devem possuir elevada capacidade de deformação plástica. Este requisito é cumprido caso se
verifiquem as seguintes disposições:
Na ausência de dados mais precisos, o parágrafo § 5.2.3.4 (3) prevê que as disposições
anteriores são cumpridas caso o factor de ductilidade em curvatura, 𝜇𝜙 , seja pelo menos igual a
um dos seguintes valores:
𝜇𝜙 = 2 ∙ 𝑞0 − 1, 𝑠𝑒 𝑇1 ≥ 𝑇𝐶 (2.31)
𝑇𝐶
𝜇 𝜙 = 1 + 2 ∙ ( 𝑞 0 − 1) ∙ , 𝑠𝑒 𝑇1 < 𝑇𝐶 (2.32)
𝑇1
30
2.8.8. Cálculo de capacidades resistentes para a classe DCM
Segundo os parágrafos § 5.4.3.1.1 (1), § 5.4.3.2.1 (1), § 5.4.3.4.1 (1) e § 5.4.3.5.1 (1), do EC8, a
resistência à flexão e esforço transverso dos elementos estruturais (vigas, pilares e paredes)
devem ser determinados de acordo com a EN 1992-1-1.
Deste modo, devem observar.se as seguintes disposições para garantir a segurança à flexão
desviada e ao esforço transverso.
A verificação à flexão desviada pode ser feita de dois modos. No entanto, neste trabalho apenas
se considera o primeiro. Este método passa por verificar a flexão uni-axial, garantindo que, em
cada direcção, a relação entre o momento flector actuante, 𝑀𝐸𝑑 , e o momento flector resistente,
𝑀𝑅𝑑 , respeite as condições:
𝑀𝐸𝑑,𝑥
≤ 1.0 (2.33)
𝑀𝑅𝑑,𝑥
𝑀𝐸𝑑,𝑦
≤ 1.0 (2.34)
𝑀𝑅𝑑,𝑦
O parágrafo § 5.4.3.2.1 (2) da EN 1998-1, indica que em pilares sísmicos primários, os momentos
resistentes em ambas as direcções devem ser reduzidos em 30%.
A segurança ao esforço transverso é garantida caso o esforço transverso actuante seja inferior
ao esforço transverso resistente. Em elementos que necessitem de armaduras de esforço
transverso, constituída por estribos verticais, o § 6.2.3 (3) da EN 1992-1-1 estipula que o esforço
transverso resistente, 𝑉𝑅𝑑 , é igual ao menor dos valores obtidos através das seguintes
expressões:
𝐴𝑠𝑤
𝑉𝑅𝑑,𝑠 = ∙ 𝑧 ∙ 𝑓𝑦𝑤𝑑 ∙ 𝑐𝑜𝑡(𝜃) (2.35)
𝑠
𝜈1 ∙ 𝑓𝑐𝑑 ∙ 𝑧 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝛼𝑐𝑤
𝑉𝑅𝑑,𝑚𝑎𝑥 = (2.36)
𝑐𝑜𝑡(𝜃) + 𝑡𝑎𝑛(𝜃)
Com:
31
𝑓𝑦𝑤𝑑 valor de cálculo da tensão de cedência das armaduras de esforço transverso;
32
3. Cálculo da Rigidez na Cedência: Análise de Secções
3.1. Introdução
Nesta fase do trabalho analisam-se diferentes secções, avaliando a perda de rigidez em função
da percentagem de armadura e esforço axial reduzido. Na modelação de estruturas de betão, a
consideração da perda de rigidez por fendilhação passa por simplificadamente, reduzir o módulo
de elasticidade do betão. Na verdade, a perda de rigidez tem origem na redução da inércia,
devido à perda do betão traccionado após a fendilhação. Como na modelação de estruturas, a
perda de rigidez é considerada uniforme, e igual a 50% da rigidez não fendilhada, em todos os
elementos, é mais simples reduzir o módulo de elasticidade do betão do que modificar a inércia
de cada elemento. Assim, na modelação, a redução da rigidez é considerada em relação à rigidez
em estado I. Deste modo, neste capítulo, quando se compara a perda de rigidez entre diferentes
elementos, é sempre tendo em conta a perda de rigidez relativamente à rigidez em estado I dos
elementos em análise.
Como referido no EC8, a rigidez a considerar na análise sísmica deve ser a rigidez secante no
ponto de cedência das armaduras. Viu-se anteriormente que a rigidez depende de factores como
o esforço axial actuante, percentagem de armadura adoptada e geometria da secção.
Além de servir de base ao dimensionamento sísmico que será abordado no capítulo 4, o estudo
da perda de rigidez, que será realizado neste capítulo, tem o objectivo de perceber de que modo
o esforço axial e percentagem de armadura afectam a perda de rigidez de determinada secção.
Serão traçados gráficos, para cada secção, que mostrarão a evolução da perda de rigidez em
função da percentagem de armadura adoptada, para determinado valor de esforço axial
reduzido.
Outro objectivo passa por comparar os resultados obtidos para a perda de rigidez, com a
simplificação sugerida no EC8. Tendo em consideração os parâmetros que afectam a rigidez em
estado II não deverão ser iguais em todo o tipo de elementos sísmicos primários, é expectável
que a perda de rigidez não seja uniforme em toda a estrutura. Neste capítulo pretende estimar-
se a perda de rigidez em função destes parâmetros, para perceber em que casos, considerar
uma perda de rigidez de 50%, como sugerido no EC8, se aproxima mais da realidade.
A perda de rigidez pode ser avaliada através do quociente entre a rigidez em estado II e em
estado I. Em estado I, a rigidez é de fácil determinação, uma vez que só depende das
propriedades da secção. A determinação da rigidez em estado II é um processo algo complexo
principalmente quando a secção está submetida a flexão composta com esforço axial constante,
situação em que a posição da linha neutra deixa de ser uma propriedade da secção. Em edifícios,
o esforço axial é, sobretudo, provocado pelas cargas permanentes. Assim, a situação mais
comum é precisamente a que é mais difícil de calcular.
33
A rigidez em estado II pode ser determinada a partir da relação momento-curvatura. Tendo em
conta que o cálculo da rigidez em estado II, além de ser um processo complexo, será realizado
um grande número de vezes para traçar os gráficos, é particularmente útil recorrer-se a
programas de cálculo automático. Neste trabalho utiliza-se o Gala Reinforcement, um software
de análise de secções, que permite determinar a relação momento-curvatura, identificando o
ponto de cedência. Este programa também permite considerar diferentes relações tensão-
extensão para os materiais. No entanto, a relação momento-curvatura calculada pelo Gala é
relativa à curvatura em estado II, e não à curvatura média, que devia ser considerada no cálculo
de perda de rigidez. Considerando que o cálculo da curvatura média é um processo complexo,
e que não se espera que o betão traccionado contribua de forma significativa para o aumento da
rigidez na cedência, opta-se por calcular a perda de rigidez em função da curvatura em estado
II.
As relações constitutivas dos materiais traduzem a relação entre a tensão normal, σ, provocada
por uma deformação (extensão) ε. Os diagramas que se utilizam são diagramas simplificados,
uma vez que estes dependem de diversos factores (temperatura, história de carga,
confinamento, no caso do betão, entre outros).
3.2.1. Betão
34
Tabela 3.1 - Valores de εc1 e εcu1 para o betão C30/37.
C30/37
εc1[‰] 2.2
εcu1 [‰] 3.5
3.2.2. Aço
Para o aço utilizou-se uma relação elasto-plástica como indicado na Figura 3.2. Caso não se
considere fenómenos de instabilidade, o comportamento à tracção e à compressão é
equivalente. Não se considerou nenhum incremento de resistência a partir da cedência.
Para este estudo, adoptou-se betão C30/37 e aço A500NR. As propriedades destes materiais
apresentam-se na Tabela 3.2.
C30/37 A500NR
fck [MPa] 30 fyk [MPa] 500
fcd [MPa] 20 fyd [MPa] 435
fctm [MPa] 2.9 εyd 2.175 E-3
Ec,28 [GPa] 33 Es [GPa] 200
35
3.4. Procedimento para Determinar a Rigidez na Cedência
Nesta fase, o processo consiste em calcular a rigidez das secções em estado I e estado II. No
estado I a rigidez, Kc, é calculada sem a participação das armaduras como é, em geral, razoável,
de acordo com a seguinte expressão:
𝑏𝑐 ∙ ℎ𝑐 3
𝐾𝑐 = 𝐸𝑐 𝐼𝑐 𝐼𝑐 = (3.1)
12
Onde:
𝐼𝑐 inércia da secção, em estado I, sem a a participação das armaduras;
𝑏𝑐 largura da secção de betão;
ℎ𝑐 altura da secção de betão.
Como referido anteriormente, a rigidez em estado II pode ser calculada através da relação
momento-curvatura, que pode ser obtida recorrendo ao Gala Reinforcement. Neste caso
interessa obter os valores do momento e curvatura no ponto de cedência, My e (1/R)y, para
determinar a rigidez no ponto de cedência, Ky, dada pela equação 2.30.
Para cada secção fixa-se determinados valores de esforço axial e, para cada um deles, faz-se
variar a área de armadura longitudinal para obter as curvas correspondentes à perda de rigidez
dessa secção. Os valores de esforço axial foram escolhidos tendo em conta o esforço normal
reduzido, e, portanto, são diferentes para cada secção.
Antes de se proceder ao traçado dos ábacos, efectuou-se uma análise de uma secção genérica
de um pilar recorrendo ao programa e a tabelas de cálculo de tensões em estado fendilhado
submetidas a flexão composta, com o objectivo de, por comparação, aumentar o grau de
confiança nos resultados obtidos através do programa. Aproveita-se, também, para demonstrar
como foram obtidas as relações momento-curvatura, através do Gala Reinforcement. As
características da secção analisada e materiais utilizados apresentam-se na Tabela 3.3, tal como
os esforços considerados.
Uma vez que as tabelas utilizadas admitem uma relação tensão-extensão linear para o betão,
será esta a relação introduzida no programa para a primeira comparação. Na Figura 3.3 , mostra-
se a relação tensão-extensão utilizada para o betão e o aço.
36
Figura 3.3 - Propriedades dos materiais introduzidas no Gala Reinforcement.
Figura 3.4 - Tensões e extensões obtidas através do Gala Reinforcement para uma relação tensão-
extensão linear para o betão.
Parâmetros Tensões
CS 5.016 σs+ [MPa] 113.91
CC 4.534 σs- [MPa] -81.10
x [m] 0.309 σc [MPa] -16.99
Como se pode verificar, os resultados obtidos através de ambos os métodos são bastante
semelhantes. O programa também permite a consideração de uma relação tensão-extensão não
linear, como se apresenta na Figura 3.5.
37
Figura 3.5 - Relação tensão-extensão não linear, adoptada no programa.
Figura 3.6 - Tensões e extensões obtidas através do Gala Reinforcement, considerando a não
linearidade da relação tensão-extensão do betão.
Como seria de esperar, para uma relação não linear do betão, observa-se a diminuição da tensão
no betão, acompanhada por um aumento de tensão nas armaduras de tracção, devido à
diminuição do braço.
38
O par momento-curvatura na cedência obtém.se de forma expedita, através da análise do gráfico,
como se ilustra na Figura 3.7. O ponto de cedência pode ser identificado quando a extensão na
armadura de tracção for igual a εsy. Em alguns casos, o Gala não traça nenhum ponto próximo
do de cedência. Nesses casos, o ponto de cedência é obtido por interpolação linear entre os
pontos mais próximos.
O EC8-2 propõe dois métodos que, na ausência de um cálculo mais detalhado, permitem obter
uma estimativa aproximada da rigidez secante no ponto de cedência.
3.5.1. Método 1
3.5.2. Método 2
O segundo método tem uma aplicação mais generalizada e estipula que a rigidez efectiva de um
pilar fendilhado pode ser estimada segundo:
𝜈𝑀𝑅𝑑
𝐸𝑐 𝐼𝑒𝑓𝑓 = (3.2)
(1⁄𝑅 )𝑦
Onde:
𝜀𝑠𝑦 − 𝜀𝑐𝑦
(1⁄𝑅 )𝑦 = (3.3)
𝑑𝑠
Em que:
𝜀𝑠𝑦 extensão de cedência do aço
39
𝜀𝑐𝑦 extensão de compressão do betão na cedência
O método 2 permite uma estimativa expedita da rigidez na cedência, uma vez que o momento
resistente é o único parâmetro que não é de determinação imediata. Para a sua determinação
pode recorrer-se a tabelas de dimensionamento para os pilares ou a fórmulas aproximadas para
as paredes, como a que se apresenta na expressão 3.6 [5], dispensando-se assim o recurso a
programas de cálculo.
𝑙𝑤 𝑁
𝑀𝑅𝑑 = 𝐴𝑆 ∙ 𝑓𝑦𝑑 ∙ 𝑧 + 𝑁 ∙ ( − ) (3.6)
2 2 ∙ 𝑏 ∙ 𝑓𝑐𝑑
Os pilares testados foram escolhidos tendo em conta as disposições do EC8 e EC2. Procurou-
se também que os pilares tivessem dimensões comuns, mas variadas, de modo a tentar
compreender a influência da geometria na perda de rigidez.
Na Figura 3.8 apresentam-se os pilares que serão estudados. Procurou-se que as secções
escolhidas fossem correntemente utilizadas em zonas sísmicas. Optou-se por estudar três
secções, uma quadrada e duas rectangulares.
No traçado dos gráficos, teve-se em consideração que, em pilares, os valores de esforço axial
reduzido são bastante variáveis. Nos pilares as secções de pilares são escolhidas para que o
esforço axial reduzido assuma um valor entre 0.5 e 0.65. No entanto, em pilares situados no
bordo ou nos cantos, o esforço axial reduzido pode ser inferior. Assim, opta-se por determinar a
perda de rigidez para uma gama mais alargada de esforço axial reduzido. Relativamente à taxa
de armadura, teve-se em conta os valores indicado no EC8.
40
Figura 3.8 - Pilares estudados.
Os gráficos, obtidos através do Gala Reinforcement, que traduzem a perda de rigidez por
fendilhação nos pilares estudados, apresentam-se nas Figuras 3.9 a 3.11. Em anexo, apresenta-
se as tabelas utilizadas no traçado das curvas. Os valores de ρ indicados nos gráficos
representam a taxa de armadura como indicado na seguinte expressão:
𝐴𝑠1 + 𝐴𝑠2
𝜌1 + 𝜌2 = (3.7)
𝑏𝑐 ℎ𝑐
Em pilares, a taxa de armadura é tipicamente calculada tendo em conta toda a área de armadura
longitudinal, tal como os valores indicados no EC8. No entanto, neste trabalho estima-se a perda
de rigidez em função de ρ1+ ρ2 uma vez que no Gala Reinforcement apenas é possível introduzir
armaduras em duas camadas.
Pilar A
0.80
0.70
0.60
0.50
I2/Ic
0.40
v=0.8
0.30 v=0.7
v=0.4≈0.5≈0.6
0.20
v=0.2
0.10 v=0.1
0.00
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50
ρ1+ρ2 [%]
41
Pilar B
0.80
0.70
0.60
0.50
I2/Ic
0.40
v=0.8
0.30 v=0.7
v=0.4≈0.5≈0.6
0.20
v=0.2
0.10
v=0.1
0.00
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50
ρ1+ρ2 [%]
Pilar C
0.80
0.70
0.60
0.50
I2/Ic
0.40
v=0.8
0.30 v=0.7
v=0.4≈0.5≈0.6
0.20
v=0.2
0.10 v=0.1
0.00
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50
ρ1+ρ2 [%]
42
A análise dos gráficos confirma o que se tinha referido no Capítulo 2, em relação ao aumento da
rigidez em estado II provocado pela presença de esforço axial de compressão. O aumento de N,
provoca a descida da linha neutra, aumentando a área de betão em compressão. Para valores
de esforço axial reduzido até 0.4, as extensões nas armaduras de tracção atingem a extensão
de cedência.
Para valores de esforço axial reduzido situados entre 0.4 e 0.6, ocorre a situação de
balanceamento de cargas, em que teoricamente, a extensão de cedência e rotura é atingida nas
armaduras e no betão. Para um valor de esforço axial reduzido próximo de 0.6, a linha neutra
situa-se ligeiramente abaixo do centro da secção, passando a rotura a dar-se pelo betão, sem
as armaduras de tracção entrarem em cedência. Para estes valores de esforço axial reduzido, a
linha neutra situa-se muito próxima do centro da secção, o que se traduz em valores de rigidez
em estado II muito semelhantes. Para valores de maiores que 0.6, a linha neutra continua a
descer, a rotura continua a dar-se pelo betão, e a extensão nas armaduras de tracção é cada
vez menor.
v=0.2 v=0.7
Pilar A Pilar B Pilar C Pilar A Pilar B Pilar C
1 1
0.8 0.8
0.6 0.6
I2/Ic
I2/Ic
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
ρ1+ρ2 [%] ρ1+ρ2 [%]
Figura 3.12- Comparação da perda de rigidez nos pilares, para o mesmo valor de esforço axial
reduzido.
A Figura 3.12, mostra que a perda de rigidez é igual na secção A e C. Esta verificação é
consistente com o gráfico apresentado na Figura 2.18, que ilustra que a perda de rigidez, em
relação à rigidez inicial, não é afectada pela largura da base da secção. Na secção B, a perda
43
de rigidez é ligeiramente inferior, uma vez que altura desta secção é maior que a altura das
secções A e C. Esta diferença deve-se ao facto de na secção B, a distância entre a linha neutra
e as armaduras ser superior. Como se pode ver na Figura 3.12, as diferenças na perda de inércia
entre as secções B e as outras, aumentam com o aumento de ρ, sendo praticamente
equivalentes para valores correntes de ρ.
Tal como nos pilares, as paredes estudadas foram escolhidas tendo em conta as disposições
previstas na EN 1998-1, relativas às dimensões das secções (incluindo elementos de
extremidade), taxa de armadura e esforço axial admissível.
De acordo com o EC8, nas paredes a armadura longitudinal deve ser colocada nas extremidades
das paredes, em elementos de comprimento dado por:
Nas paredes, espera-se que o esforço axial reduzido seja consideravelmente mais baixo,
próximo de valores entre 0.05 e 0.10. Assim, nos gráficos apresentam-se a perda de rigidez para
valores de ν mais reduzidos, até 0.4, o máximo admissível em paredes de acordo com o EC8.
44
É importante referir que, nas paredes, é usual calcular-se a taxa de armadura, ρEE, como se
mostra na seguinte expressão:
𝐴𝑠1
𝜌𝐸𝐸 = (3.9)
𝑏𝑤 𝑙𝑐𝑟
A área de armadura introduzida no programa, foi calculada para valores de ρEE compreendidos
entre 0.5% e 4%. No entanto, para efeitos de comparação com os pilares, apresenta-se a taxa
de armadura relativa a toda a secção, ρ, optando-se por representar ρEE em eixo secundário. A
taxa de armadura é dada de acordo com a seguinte expressão:
𝐴𝑠1 + 𝐴𝑠2
𝜌= (3.10)
𝑏𝑤 𝑙𝑤
A perda de rigidez nas paredes testadas apresenta-se nas Figuras 3.14 a 3.16.
Parede A
ρEE [%]
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4
0.45
0.40
0.35
0.30
0.25
I2/Ic
0.20
v=0.4
0.15 v=0.3
v=0.2
0.10
v=0.1
0.05 v=0.05
0.00
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20
ρ [%]
45
Parede B
ρEE [%]
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4
0.45
0.40
0.35
0.30
0.25
I2/Ic
0.20
v=0.4
0.15 v=0.3
v=0.2
0.10
v=0.1
0.05 v=0.05
0.00
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40
ρ [%]
Parede C
ρEE [%]
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4
0.45
0.40
0.35
0.30
0.25
I2/Ic
0.20
v=0.4
0.15 v=0.3
v=0.2
0.10
v=0.1
0.05 v=0.05
0.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00 2.25
ρ [%]
46
A perda de rigidez nas paredes apresenta uma evolução parecida aos pilares, com a parede C
(que tem as secções mais reduzidas) a apresentar o comportamento mais semelhante ao dos
pilares. As considerações tecidas em relação à importância do esforço axial, em função da taxa
de armadura, continuam a verificar-se nas paredes. Contudo, observa-se que com o aumento do
comprimento da secção, lw, a importância do esforço axial continua relevante com o aumento de
ρ. Como se referiu, nas paredes a armadura é concentrada nos elementos de extremidade. É
comum calcular-se a percentagem de armadura adoptada, relativa às dimensões destes
elementos. Assim, obtém-se valores muito baixos de taxa de armadura, considerando a
armadura presente nas extremidades em relação a toda a secção. A título de exemplo, na
Parede A, ao valor de ρEE=4% está associada uma armadura na extremidade de 90 cm 2. Mesmo
considerando que se adoptam 90 cm2 em ambas as extremidades, o valor de ρ, relativamente
às dimensões de toda a secção, seria apenas de 1.2%. Assim, nas paredes, é expectável que a
influência do esforço axial para elevados valores de ρ, se assemelhe à influência nos pilares,
para valores mais baixos de ρ. Esta tendência é mais acentuada quanto menor for a dimensão
dos elementos de extremidade relativamente às dimensões da secção.
Vale a pena referir que o EC8-2 considera a participação do betão entre fendas. Este fenómeno
é tido em conta na expressão 3.3, através do coeficiente ν, que aumenta a rigidez em 20%. Como
a rigidez calculada através do programa de cálculo é a rigidez em estado II (sem considerar a
curvatura média), optou-se por não se considerar o coeficiente ν nesta comparação. As Figuras
3.17 e 3.18 mostram comparam a perda de rigidez no Pilar B e na Parede A, obtida com o Gala
e o Método 2.
47
Pilar B
v=0.2 v=0.4
0.90 0.90
0.80 0.80
0.70 0.70
0.60 0.60
0.50 0.50
I2/Ic
I2/Ic
0.40 0.40
0.30 0.30
0.20 Gala 0.20 Gala
v=0.5 v=0.6
0.90 0.90
0.80 0.80
0.70 0.70
0.60 0.60
0.50 0.50
I2/Ic
I2/Ic
0.40 0.40
0.30 0.30
0.20 Gala 0.20 Gala
v=0.7 v=0.8
0.80 0.90
0.70 0.80
0.60 0.70
0.60
0.50
0.50
I2/Ic
I2/Ic
0.40
0.40
0.30
0.30
0.20 Gala 0.20 Gala
0.10 EC8-2 0.10 EC8-2
0.00 0.00
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00
ρ1+ρ2 [%] ρ1+ρ2 [%]
Figura 3.17 - Estimativa da perda de rigidez no Pilar B obtida através do Gala e do EC8-2.
48
Parede A
v=0.05 v=0.1
ρEE [%] ρEE [%]
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4
0.45 0.45
0.40 0.40
0.35 0.35
0.30 0.30
0.25 0.25
I2/Ic
I2/Ic
0.20 0.20
0.15 0.15
0.10 Gala 0.10 Gala
0.05 EC8-2 0.05 EC8-2
0.00 0.00
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20
ρ [%] ρ [%]
v=0.2 v=0.4
ρEE [%] ρEE [%]
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4
0.45 0.45
0.40 0.40
0.35 0.35
0.30 0.30
0.25 0.25
I2/Ic
I2/Ic
0.20 0.20
0.15 0.15
0.10 Gala 0.10 Gala
0.05 EC8-2 0.05 EC8-2
0.00 0.00
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20
ρ [%] ρ [%]
Figura 3.18 - Estimativa da perda de rigidez na Parede A obtida através do Gala e do EC8-2.
A análise dos gráficos mostra que, no geral, a rigidez obtida com o Gala é superior à rigidez
obtida com o Método 2. As fórmulas que permitem determinar a rigidez efectiva apresentaram-
se anteriormente. A expressão 3.5, para o cálculo da curvatura de cedência, considera que as
armaduras dos dois elementos de extremidade da parede encontram-se em cedência. A
curvatura de cedência dada pela expressão 3.5 do método 2, assume um valor constante, que
só depende da altura útil da secção, d, e do aço adoptado. Na verdade, a curvatura de cedência
varia com o aumento da quantidade de armadura e esforço axial de compressão.
Ao analisar as Figuras 3.17 e 3.18, constata-se que a rigidez em estado II determinada pelo
método 2 aproxima-se dos valores obtidos com o Gala para valores de esforço axial reduzido
compreendidos entre 0.4 e 0.6. No Capítulo 2, mencionou-se que para este nível de esforço axial,
ocorre, em teoria, o balanceamento de cargas. Nesta situação, as extensões de cedência das
49
armaduras e rotura do betão ocorrem simultaneamente, e, portanto, para estes valores de
esforço axial, a curvatura de cedência tende a ser maior.
Para os restantes valores de esforço axial reduzido, a curvatura de cedência será menor que na
situação descrita atrás. Deste modo, observa-se que a perda de rigidez determinada a partir do
Método 2 do EC8-2 é significativamente inferior às perdas calculadas com o Gala.
3.9. Considerações
Analisando os gráficos, pode concluir-se que, de um modo geral, a perda de rigidez varia pouco
com as dimensões da secção, caso a percentagem de armadura e esforço axial reduzido
assumam valores iguais. Assim, o facto de se poder considerar menores rigidezes em maiores
secções, não é uma consequência directa do aumento da secção, mas sim por a este aumento
estar associada uma diminuição do esforço axial reduzido (e eventualmente da percentagem de
armadura).
Considerando que, tipicamente, as dimensões de um pilar são escolhidas tendo em vista a que
o esforço axial reduzido devido às cargas verticais assuma um valor entre 0.5 e 0.65, e que a
taxa de armadura adoptada deverá ser um pouco superior a 0.75% (considerando a taxa de
armadura como se indicou no parágrafo § 3.6), verifica-se, que a rigidez da secção fendilhada
deverá situar-se entre 30% a 45% da rigidez da secção não fendilhada. Se se considerar o
aumento de rigidez devido à participação do betão entre fendas pode concluir-se que, para
pilares, assumir uma perda de rigidez equivalente a 50% da rigidez não fendilhada constitui uma
boa simplificação, principalmente em pilares submetidos a esforços normais de compressão
elevados. Em pilares submetidos a menores esforços de compressão, como em pilares de canto,
poderá, eventualmente, considerar-se uma menor rigidez, mais próxima de 0.30 EcIc.
50
4. Análise e Dimensionamento Estrutural
4.1. Introdução
Neste capítulo estuda-se um caso prático para perceber de que modo a consideração de
diferentes rigidezes fendilhadas afecta a resposta de uma estrutura quando submetida à acção
sísmica. Este objectivo pode ser conseguido analisando a estrutura recorrendo a dois modelos.
Num dos modelos considera-se a perda de rigidez do betão por fendilhação, como indicado no
EC8, através da consideração de um módulo de elasticidade reduzido em 50%, para todos os
elementos da estrutura. No segundo modelo, a perda de rigidez por fendilhação é determinada
para cada elemento estrutural.
Como se referiu nos capítulos anteriores, a perda de rigidez por fendilhação depende das
características geométricas da secção, da taxa de armadura e do esforço normal de compressão
actuante. O esforço axial actuante nos elementos estruturais é, sobretudo, devido às forças
verticais aplicadas na estrutura (peso próprio, restantes cargas permanentes e sobrecargas). A
taxa de armadura depende dos esforços obtidos através da verificação dos estados limite, sendo,
portanto, obtida após a análise sísmica. Neste trabalho, a análise em que se considera diferentes
rigidezes é efectuada após a análise considerando a simplificação do EC8.Foi então possível
considerar uma rigidez fendilhada, com base numa estimativa obtida a partir das percentagens
de armadura adoptada na análise simplificada.
Numa situação em que não se realizasse uma primeira análise, e se pretendesse adoptar
diferentes rigidezes fendilhadas, a estimativa da perda de rigidez numa determinada secção
poderia basear-se no valor do esforço axial actuante, que pode ser determinado antes de
considerar a fendilhação no modelo, e na consideração de um valor corrente de percentagem de
armadura, tendo em conta o tipo de elemento considerado, como se fez no parágrafo 3.9.
No segundo modelo, considera-se a perda de rigidez relativa ao estado II, sem considerar a
participação do betão entre fendas. Esta opção baseia-se, por um lado, no facto de não se
esperar diferenças significativas a nível do dimensionamento sísmico por se considerar
diferentes rigidezes fendilhadas, por outro, não se espera que a consideração de uma rigidez
média contribua significativamente para o aumento da rigidez. Assim, esta consideração, além
de possibilitar um cálculo mais simples da rigidez fendilhada, permite a melhor exploração de
uma menor rigidez, no dimensionamento sísmico, que é um dos objectivo deste trabalho.
Analisar-se-á um modelo de uma estrutura em betão armado regular, localizado em Lisboa, com
uma ocupação de escritórios. O edifício tem 30m de comprimento, 18 m de largura e 5 pisos
acima do solo. A estrutura apresenta-se nas Figuras 4.1 e 4.2.
51
Figura 4.1 - Planta da estrutura.
Como se pode observar nas figuras, as paredes foram dispostas segundo a menor direcção,
colocadas nas extremidades do edifício com o objectivo de aumentar a sua rigidez à torção. Na
outra direcção, adoptou-se uma solução porticada. O objectivo passou por estudar, em cada
direcção, as implicações da consideração de diferentes rigidezes em estruturas do tipo pórtico e
parede, que são as mais utilizadas.
Para a definição da acção sísmica, considerar-se-á que o edifício está localizado em Lisboa,
implantado num solo do Tipo B (areia muito compacta).
4.3. Materiais
Na estrutura adoptou-se um betão C30/37 e um aço A500 NR SD. Estes materiais são os
mesmos que se adoptaram na análise de secções e as suas características apresentam-se na
Tabela 3.2.
52
4.4. Acções
O peso próprio da estrutura será determinado de acordo com as dimensões adoptadas para os
elementos estruturais do edifício. De acordo com a EN 1991-1-1 o peso volúmico para o betão
armado é igual a 25 kN/m 3.
4.4.2.1. Sobrecarga
Como referido no parágrafo 2.2, a EN 1998-1 indica que devem ser considerados dois tipos de
sismo: a acção sísmica do Tipo 1, para os sismos afastados, e a acção sísmica do Tipo 2, para
os sismos próximos. O sismo considerado condicionante é aquele cujo espectro de resposta
apresenta valores mais elevados. Como se referiu, considerou-se que o edifício está implantado
em Lisboa, num solo do Tipo B. Os valores necessários para a definição da acção sísmica
apresentam-se na Tabela 4.1.
Tabela 4.1 - Valores a considerar para os parâmetros que definem o espectro de resposta elástico
horizontal.
53
4.5. Combinações
Com:
𝛾𝐺,𝑗 = 1.35 coeficiente parcial relativo à acção permanente 𝑗;
4.6. Modelação
Foi necessário fazer dois modelos, um em que se considera a perda de rigidez por fendilhação
uniforme em toda a estrutura e igual a 50% da rigidez não fendilhada, e outro onde se tem em
54
conta a perda de rigidez em cada elemento, utilizando os gráficos traçados no Capítulo 3 para a
quantificação desta perda.
Elemento ρ ν I2/Ic
0.7
Parede 0.08 0.25
(ρEE=2.25)
Pilar P1 1.3 0.15 0.4
Pilar P2 1.1 0.25 0.4
Viga 0.7 0 0.20
Uma vez que a avaliação da resposta dinâmica de uma estrutura não é imediata, são necessários
métodos de cálculo para decompor a resposta estrutural. Deste modo, a análise dinâmica pode
ser feita a partir da determinação dos vários modos de vibração, que representam configurações
deformadas da estrutura. Os modos de vibração da estrutura dependem unicamente das suas
características geométricas e materiais. A cada modo de vibração está associada uma
frequência de vibração, que aumentará com o aumento da rigidez da estrutura à deformação
associada a esse modo. Ao primeiro modo de vibração corresponde a menor frequência, a que
se dá o nome de “frequência fundamental da estrutura”, por estar associada ao modo que ocorre
com mais facilidade, isto é, ao que requer menor energia de deformação.
Recorrendo ao SAP 2000 é possível efectuar a análise modal do edifício, que permite determinar
as frequências próprias e modos de vibração da estrutura. Os resultados da análise apresentam-
se na Tabela 4.3.
55
Tabela 4.3 - Frequências, períodos e factores de participação de massa em ambas as análises.
Análise 1 Análise 2
Período Freq Ux Uy Rz Período Freq Ux Uy Rz
Modo
[Seg] [Hz] [%] [%] [%] [Seg] [Hz] [%] [%] [%]
1 1.086 0.921 81.8 0.0 15.5 1.274 0.785 82.8 0.0 15.7
2 0.570 1.753 0.0 71.7 37.7 0.738 1.354 0.0 73.8 38.8
3 0.429 2.331 0.0 0.0 20.1 0.553 1.809 0.0 0.0 20.6
4 0.337 2.967 10.9 0.0 2.1 0.397 2.518 10.5 0.0 2.0
5 0.182 5.508 4.5 0.0 0.8 0.307 3.259 4.2 0.0 0.8
6 0.163 6.119 0.0 0.0 0.0 0.277 3.615 0.0 18.7 9.8
7 0.162 6.159 0.0 0.0 0.0 0.231 4.326 0.0 0.0 0.0
8 0.159 6.282 0.0 0.0 0.0 0.214 4.670 0.0 0.0 0.0
9 0.155 6.433 0.0 0.0 0.0 0.192 5.200 0.0 0.0 0.0
10 0.148 6.748 0.0 20.2 10.6 0.192 5.206 0.0 0.0 5.6
11 0.136 7.367 0.0 0.0 0.0 0.188 5.317 0.0 0.0 0.0
12 0.133 7.518 0.0 0.0 0.0 0.179 5.580 1.9 0.0 0.4
Σ 97.2 91.9 86.8 Σ 99.4 92.5 93.7
Definiram-se como relevantes os 10 primeiros modos de vibração, uma vez que a o somatório
das percentagens de participação de massa, em ambas as direcções horizontais, é superior a
90%. Aos dois primeiros modos de vibração estão associadas translações na direcção X e Y.
Tendo em conta que as paredes resistentes estão dispostas segundo a direcção Y, a direcção X
apresenta uma rigidez bastante inferior à direcção Y, atendendo à diferença entre as frequências
de ambos os modos.
Como se esperava, uma vez que na análise 2 foram considerados elementos resistentes mais
flexíveis, as frequências de vibração são inferiores em todos os modos. Na direcção X a diferença
entre as frequências de ambas as análises não é tão significativa como na direcção Y. Esta
diferença era expectável, atendendo que a resistência da direcção Y é garantida sobretudo pelas
paredes resistentes, e que estas foram alvo de uma redução de rigidez maior (0.5 para 0.25E cIc)
que os pórticos (0.4 para 0.5 EcIc), que sãos os elementos que garantem a maior parte da rigidez
na direcção X.
Tendo em conta a simetria da estrutura, nas duas direcções, e que esta não apresenta
descontinuidades em altura, o edifício classifica-se como regular, em altura e em planta.
56
A aceleração espectral é um dos parâmetros que afectam o valor da força de corte basal. Como
se viu, a menor rigidez adoptada na análise 2 resultou numa resposta globalmente mais flexível,
e, deste modo, é expectável que a força de corte basal diminua. Caso se considerasse diferentes
rigidezes, mas a aceleração espectral continuasse a ser a aceleração correspondente ao ramo
máximo, a força de corte basal continuava a ser a mesma, observando-se uma redistribuição de
esforços entre os diferentes elementos. O espectro de resposta, assinalado com os períodos de
vibração dos dois primeiros modos de vibração para ambas as análises, apresenta-se na Figura
4.3.
Espectro de resposta
1.8 (0.57; 1.625)
1.6
1.4 (0.74; 1.318)
1.2 Espectro 1
Sd m.s-2
(1.09; 0.894)
1.0
(1.27; 0.768) T1 A1 (Translacção X)
0.8
T1 A2 (Translacção X)
0.6
0.4 T2 A1 (Translacção Y)
0.2 T2 A2 (Translacção Y)
0.0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5
T [s]
Recorrendo ao SAP 2000, efectuou-se uma análise com base no espectro de resposta
correspondente ao sismo afastado previsto no EC8, nas direcções X e Y. Esta análise permite
estimar a participação de cada elemento na rigidez horizontal do edifício, através da
determinação da força basal em cada elemento. Os resultados apresentam-se na Tabela 4.4.
57
primários. Neste exemplo, os pilares pertencentes ao sistema de laje fungiforme são passíveis
de serem considerados secundários. Tendo em consideração os valores apresentados na Tabela
4.4, determina-se a contribuição dos pilares centrais do edifício, face à contribuição dos pórticos
e paredes. Estes resultados apresentam-se na Figura 4.5.
Tabela 4.5 - Avaliação da contribuição dos pilares pertencentes ao sistema de laje fungiforme.
Fparede+Fportico Fpilar
Análise Direcção Fpilar/(Fparede+Fportico)
[kN] [kN]
x 2075 288 0.139
1
y 3588 168 0.047
x 1932 114 0.059
2
y 3121 89 0.029
𝑞 = 𝑞0 𝑘𝑤
Relativamente ao factor kw, este assume o valor de 1.0 para sistemas porticados. Para sistemas
de parede, deve usar-se a expressão:
∑ ℎ𝑤𝑖 15 (1 + 𝛼0 ) 4
𝛼0 = = = 3.0 𝑘𝑤 = = → 𝑘𝑤 = 1.0
∑ 𝑙𝑤𝑖 5 3 3
58
4.8. Verificações Preliminares
O requisito de limitação de danos está associado à verificação dos Estados Limites de Serviço.
É necessário que os deslocamentos entre pisos sejam limitados de modo a que a integridade de
todos os elementos estruturais e não estruturais seja assegurada. Esta verificação ganha
especial relevância na segunda análise, onde a rigidez dos elementos resistentes é mais
reduzida, e, portanto, espera-se que os deslocamentos entre pisos sejam maiores.
Para edifícios que possuam elementos não estruturais frágeis fixos à estrutura, é necessário
respeitar a expressão 2.27:
O coeficiente de redução é, neste caso, igual a 0.4, uma vez que o sismo condicionante é o do
Tipo 1. O deslocamento horizontal obtido a partir do modelo deve ser multiplicado pelo coeficiente
de comportamento, como descrito no parágrafo § 2.6.3. A Tabela 4.7, apresenta a verificação
da expressão 2.27, em todos os pisos e para ambas as análises.
Pode então dizer-se que em sistemas de pórtico, que são geralmente mais flexíveis, a exploração
da perda de rigidez fendilhada deve ser feita com algum cuidado, sendo aconselhável verificar
os deslocamentos entre pisos, antes de se proceder ao dimensionamento dos elementos
estruturais. Tendo em conta que uma das principais funções das paredes é limitar o
59
deslocamento entre pisos, não surpreende que os deslocamentos continuem a ser reduzidos, na
direcção Y, sendo, portanto, mais vantajoso adoptar rigidezes mais baixas nas paredes.
Análise Piso Ptot [kN] Vx [kN] Vy[kN] drx [mm] dry [mm] θx θy
1 29512.5 2334.0 3754.0 18.7 5.3 0.079 0.014
2 23610.0 2117.9 3549.1 29.5 10.4 0.110 0.023
1 3 17707.5 1721.8 3086.5 26.9 13.2 0.092 0.025
4 11805.0 1314.7 2409.6 20.3 14.2 0.061 0.023
5 5902.5 701.8 1435.9 12.4 13.7 0.035 0.019
1 29512.5 2045.9 3210.3 22.4 8.1 0.108 0.025
2 23610.0 1872.0 3015.1 34.7 15.0 0.146 0.039
2 3 17707.5 1589.4 2603.6 31.4 18.5 0.116 0.042
4 11805.0 1236.1 2044.1 23.7 19.4 0.075 0.037
5 5902.5 754.3 1259.3 14.6 18.5 0.038 0.029
A menor rigidez dos elementos verticais adoptados na segunda análise conduz a deslocamentos
mais elevados, entre pisos, e a menores forças de corte em cada piso. Assim, o coeficiente de
sensibilidade ao deslocamento relativo entre pisos é maior na Análise 2.
Na direcção Y, não é necessário considerar os efeitos de segunda ordem, uma vez que os
deslocamentos estão restringidos pela parede, resultando em baixos valores para o coeficiente
de sensibilidade, em ambas as análises.
O cálculo de 1/(1-θ) apresenta-se na Tabela 4.9 com os valores de θ obtidos a partir da Tabela
4.8.
Análise θ 1/(1-θ)
1 0.110 1.124
2 0.146 1.171
60
4.9. Dimensionamento Estrutural
mas,
2 ∙ 𝑙𝑤 = 2 ∗ 5 = 10
ℎ𝑐𝑟 ≤ { → ℎ𝑐𝑟 = 2.8 𝑚
ℎ𝑠 = 2.8 𝑚
Uma vez obtidos os esforços elásticos, através da análise sísmica para a combinação
condicionante, que neste caso é para o sismo do tipo 1 na direcção Y, aplicaram-se os
procedimentos descritos no EC8, para obter as envolventes de esforços utilizadas no
dimensionamento da parede.
A filosofia de dimensionamento por capacidade prevê a formação de uma rótula plástica na base
da parede, mantendo as restantes secções em regime elástico. A definição de uma envolvente
de esforços permite aplicar este conceito, através do sobredimensionamento das secções que
devem permanecer em regime elástico. O diagrama de momentos flectores resulta de uma
translação vertical de uma envolvente de momentos linear. Esta translação deve estar de acordo
com a inclinação considerada para as bielas comprimidas no dimensionamento ao esforço
transverso (adopta-se 45º). Considera-se este deslocamento igual à altura do piso.
A envolvente de momento flector e esforço transverso, apresentam-se nas Figuras 4.4 e 4.5.
61
MEd na Parede PR
15 Manálise A1
Envolvente Linear A1
12 Med EC8 A1
Manálise A2
Envolvente Linear A2
9
Cota [m]
Med EC8 A2
0
0 2500 5000 7500 10000 12500 15000 17500
MEd [kN.m]
VEd na Parede PR
15
Vanalise A2
Vanálise A1
Ved A2
Ved A1
10
Cota [m]
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
VEd [kN]
Como seria de esperar, os momentos e esforços transverso ao longo da parede são inferiores
na Análise 2, tendo em conta que a rigidez adoptada para a parede é significativamente inferior
(0.5Ec para 0.25Ec).
62
Como se pode observar nas Figuras 4.4 e 4.5, os maiores valores de esforços ocorrem na base
da parede, sendo esta secção a condicionante para o dimensionamento das armaduras
longitudinais . A Tabela 4.10, apresenta os valores dos esforços usados no dimensionamento.
MEd
Análise NEd [kN] VEd [kN]
[kN.m]
1 -2429.5 14934.4 2583.1
2 -2817.9 11055.7 2189.2
A armadura longitudinal deve estar concentrada junto às extremidades da parede, nos elementos
de extremidade. O comprimento mínimo destes elementos é dado por:
Após a determinação dos esforços simplificados, é possível calcular a área de armadura, através
das expressões:
𝑁𝑇 𝐴𝑠,𝑣,𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟 𝑓𝑖𝑐𝑡í𝑐𝑖𝑜
𝐴𝑠,𝑣,𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟𝑓𝑖𝑐𝑡í𝑐𝑖𝑜 = 𝜌𝑣,𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟 𝑓𝑖𝑐𝑡í𝑐𝑖𝑜 =
𝑓𝑠𝑦𝑑 𝐿𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟 𝑓𝑖𝑐𝑡í𝑐𝑖𝑜 ∙ 𝑒𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒
Tabela 4.11 - Esforços de tracção e compressão calculados com o método dos pilares fictícios.
NEd MEd NC NT
Análise νEd<0.4
[kN] [kN.m] [kN] [kN]
1 2505 14934 -4571 2066 0.084
2 2889 11056 -3901 1012 0.096
De forma a garantir uma ductilidade adequada, é necessário controlar o valor do esforço axial
reduzido, que deve ser inferior a 0.4.
Para as zonas não críticas a EN1992-1 estabelece em § 9.6.2 (1) que a armadura vertical
adoptada (em toda a secção) deve estar dentro dos limites máximo, As,v,max, e mínimo, As,v,min,
de acordo com:
63
Com:
𝐴𝑐 área de betão.
Tabela 4.12 - Armadura vertical adoptada nos elementos de extremidade e momento resistente.
As,v,min As,v,max
As,v ρv
Análise (0.002Ac) (0.04Ac)
[cm2] [%]
[cm2] [cm2]
1 51.05*2+7.86*3.5=129.6 0.86
30 600
2 30.81*2+7.86*3.5=89.1 0.59
A verificação ao esforço transverso deve ser feita tendo em conta a envolvente de esforço
transverso descrita anteriormente. O valor do esforço transverso resistente deverá ser o menor
dos valores resultantes das expressões 2.35 e 2.36, que correspondem, respectivamente, à
resistência à rotura dos estribos e à resistência ao esmagamento do betão.
64
A EN1992-1-1 apresenta algumas condicionantes que devem ser verificadas em toda a altura da
parede resistente, em zonas críticas e não críticas. O parágrafo § 9.6.3 (1) indica que a armadura
horizontal mínima, As,h,min, deve ser igual a 25% da armadura longitudinal ou 0.001𝐴𝑐 , caso este
valor seja superior.
0.25∗129.6
𝐴𝑠,ℎ,𝑚𝑖𝑛 = 𝑚𝑎𝑥{0.25 ∙ 𝐴𝑠,𝑣 ; 0.001 ∙ 𝐴𝑐 } = 𝑚𝑎𝑥 { ; 0.001 ∗ 30} = 6.48 𝑐𝑚2 /𝑚, para a
5
análise 1
0.25∗89.1
𝐴𝑠,ℎ,𝑚𝑖𝑛 = 𝑚𝑎𝑥{0.25 ∙ 𝐴𝑠,𝑣 ; 0.001 ∙ 𝐴𝑐 } = 𝑚𝑎𝑥 { ; 0.001 ∗ 30} = 4.46 𝑐𝑚2 /𝑚, para a
5
análise 2
O parágrafo § 9.6.4 (1) prescreve que em qualquer parte da parede em que a armadura vertical
seja superior a 0.02Ac deve dispor-se armadura transversal de acordo com os requisitos relativos
aos pilares. O espaçamento entre estribos ao longo da parede não deverá exceder scl,tmax
𝑠𝑐𝑙,𝑡𝑚𝑎𝑥 = {20 ∙ 𝜙𝑙,𝑚𝑒𝑛𝑜𝑟 ; 𝑏𝑚𝑖𝑛 ; 400 𝑚𝑚} = {20 ∗ 20; 300; 400} = 300𝑚𝑚, para a análise
1
𝑠𝑐𝑙,𝑡𝑚𝑎𝑥 = {20 ∙ 𝜙𝑙,𝑚𝑒𝑛𝑜𝑟 ; 𝑏𝑚𝑖𝑛 ; 400 𝑚𝑚} = {20 ∗ 16; 300; 400} = 300𝑚𝑚, para a análise
2
Em zonas localizadas a uma distância igual a 4bw (1.2 metros) acima ou abaixo de uma viga ou
laje, scl,tmax, deve ser reduzido por um factor igual a 0.6. Assim:
O espaçamento das cintas, s, nas zonas confinadas pertencentes à zona crítica da parede, deve
respeitar a seguinte condição:
𝑏 230
𝑠 = 𝑚𝑖𝑛 { 0 , 175, 8 ∙ 𝑑𝑏𝐿 } = 𝑚𝑖𝑛 { , 175,8 ∗ 20} = 115 𝑚𝑚, para a análise 1
2 2
65
𝑏 230
𝑠 = 𝑚𝑖𝑛 { 0 , 175, 8 ∙ 𝑑𝑏𝐿 } = 𝑚𝑖𝑛 { , 175,8 ∗ 16} = 115 𝑚𝑚, para a análise 2
2 2
Figura 4.6 - Confinamento dos elementos de extremidade da Parede PA, na Análise 1 (esquerda) e
na Análise 2 (direita).
A viga seleccionada corresponde a uma viga disposta segundo Y, pertencente ao segundo piso
do edifício. Procurou-se dimensionar a viga que estivesse submetida aos maiores valores de
momento flector, adoptando a mesma solução para as vigas dos outros pisos. Dimensiona-se
um tramo de viga correspondente a um tramo de extremidade. Tal como as restantes vigas do
edifício, esta viga tem 0.30 m de largura e 0.5 m de altura. A viga foi dimensionada de acordo
com as disposições dos parágrafos § 5.4.1.2.1, § 5.4.2.2, § 5.4.3.1 do EC8 e § 9.2 do EC2.
Define-se como zona crítica, a região da viga medida a partir de ambas as extremidades da viga
até a uma distância lcr, calculada de acordo com:
𝑙𝑐𝑟 = ℎ𝑤 = 0.5 𝑚
Os valores para o momento flector foram obtidos a partir da envolvente máxima de momentos
na viga, definida tendo em conta as diversas combinações de acções. É também necessário ter
em consideração os efeitos de 2ª ordem, multiplicando os valores obtidos para o momento flector
pelo factor 1/(1-θ), determinado na Tabela 4.9. O diagrama de momentos flectores de cálculo
apresenta-se na Figura 4.7.
66
Momentos na Viga
MIN A1 Min A2 Max A1 Max A2
-200
-150
-100
MEd (kN .m)
-50
-0
0 6 12 18 24 30
50
100
150
Distância (m)
Os valores de esforço transverso em zonas críticas devem ser obtidos com base no equilíbrio da
viga sob a acção da carga transversal na situação de projecto sísmica e dos momentos
resistentes nas extremidades da viga. O valor do esforço transverso, Ved, é dado por:
− +
𝑀𝑅𝑑,𝑏𝑖 + 𝑀𝑅𝑑,𝑏𝑗
𝑉𝑒𝑑 = 𝛾𝑅𝑑 + 𝑉(𝑔+𝜑2 ∙𝑞),𝑖
𝑙𝑐𝑙
Com:
𝛾𝑅𝑑 = 1.0;
− +
𝑀𝑅𝑑,𝑏𝑖 e 𝑀𝑅𝑑,𝑏𝑗 momento resistente na extremidade da viga, considerando direcções
opostas;
𝑙𝑐𝑙 comprimento livre da viga;
𝑉(𝑔+𝜑2∙𝑞),𝑖 esforço transverso devido às cargas gravíticas na combinação sísmica.
Através da análise da Figura 4.7, verifica-se que os esforços obtidos na análise 2 são
significativamente inferiores aos valores obtidos na análise 1, na zona dos apoios. A meio vão,
os momentos são reduzidos, e é expectável que nestas zonas se adopte a armadura mínima em
ambas as análises.
67
𝑀𝐸𝑑 1 − √1 − 2.42𝜇 𝑓𝑐𝑑
𝜇= 𝜔= 𝐴𝑠 = 𝜔 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝑑 ∙
𝑏𝑤 ∙ 𝑑 2 ∙ 𝑓𝑐𝑑 1.21 𝑓𝑠𝑦𝑑
Tabela 4.15 - Cálculo da armadura longitudinal para a tramo AB da Viga 1, para as análises 1 e 2.
Para que 𝑀𝑅𝑑 ≥ 𝑀𝐸𝑑 , a armadura adoptada deverá ser maior que o valor apresentado na Tabela
4.15. No entanto, a EN1992-1 e a EN1998-1 apresentam algumas disposições adicionais que
devem ser verificadas, e se apresentam de seguida.
A armadura longitudinal de tracção mínima para a viga em análise é dada pela EN 1992-1-1:
𝑓𝑐𝑡𝑚
𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 = 𝑚𝑎𝑥 (0.26 ∙ ∙ 𝑏 ∙ 𝑑 ; 0.0013 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝑑) = 2.34 𝑐𝑚2
𝑓𝑠𝑦𝑘 𝑤
A EN1998-1 apresenta ainda uma disposição adicional que deve ser verificada ao longo de todas
as vigas primárias, relativa à taxa mínima de armadura nas zonas traccionadas:
𝑓𝑐𝑡𝑚 2.9
𝜌𝑚𝑖𝑛 = 0.5 ( ) = 0.5 ∗ = 0.0033
𝑓𝑦𝑘 435
A esta taxa mínima de armadura está associada uma área de armadura de 4.5 𝑐𝑚2 , que deve
ser adoptada em todas as zonas traccionadas da viga.
A Tabela 4.16 apresenta, de forma resumida, a armadura longitudinal adoptada em cada secção
da viga no tramo AB. A secção A corresponde a um apoio de extremidade e a secção B a um
apoio intermédio. Tendo em conta que os valores de momento flector nos apoios intermédios
68
são da mesma ordem de grandeza, irá adoptar-se a mesma armadura que se adopta em B. Nos
apoios de extremidade adopta-se a armadura da secção A.
Os valores de cálculo do esforço transverso foram obtidos através do equilíbrio de cargas, como
descrito anteriormente. Os valores obtidos para o tramo AB, apresentam-se na Tabela 4.17.
Conservativamente, considerou-se uma inclinação de 45º para as bielas comprimidas.
69
Onde α é a inclinação das armaduras de esforço transverso.
A percentagem de armadura transversal não deverá ser inferior ao valor indicado por:
Nas zonas críticas, o espaçamento deve ser respeitar, o valor definido na EN 1998-1:
Na análise 1, uma vez que os momentos resistentes da viga são relativamente elevados, e as
disposições relativas ao espaçamento nas zonas críticas pouco restritas, foi possível adoptar
uma armadura transversal próxima da necessária. Considerando que o valor de VEd varia pouco
ao longo do tramo em análise, optou-se por não efectuar dispensa de armadura.
Na análise 2, os momentos resistentes nas extremidades da viga são menores que na análise 1,
resultando em menores valores de esforço transverso. No entanto, os requisitos de espaçamento
de armaduras transversais nas zonas críticas, impostos pelo EC8, são mais restritos que na
primeira análise. Deste modo, é necessário utilizar nas zonas críticas, uma armadura transversal
superior à necessária para garantir o confinamento da viga. Assim, apenas se adopta a armadura
transversal apresentada na Tabela 4.18, dentro das zonas críticas, optando por se aumentar o
espaçamento entre estribos em toda a zona não crítica. Estes cálculos apresentam-se
resumidamente na Tabela 4.19.
(MRb-
Secção Vg+ψ2q VEd Asw/s Asw,adopt/s ρw Vrd
Análise +MRb+)/lcl
dispensa [kN] [kN] [cm2] [cm2] [%] [kN.m]
[kN]
1 - - - - - - - -
2 0.85 a 5.15 8.10 36.1 44.2 2.51 2R6//0.2 (2.82) 0.47 49.68
70
4.9.3. Dimensionamento dos pilares P1 e P2
Nesta secção analisam-se dois pilares diferentes: um pilar de canto e um pilar pertencente ao
pórtico da fachada. No dimensionamento dos pilares observou-se as disposições dos parágrafos
§ 5.4.1.2.2, § 5.4.2.3 e § 5.4.3.2 do EC8 e § 9.5 do EC2.
As zonas críticas são definidas a partir das zonas de extremidade do pilar até um comprimento
lcr, definido por.
3 − 2 ∗ 0.1
𝑙𝑐𝑟 = 𝑚𝑎𝑥{ℎ𝑐 ; 𝑙𝑐𝑙 ⁄6 ; 0.45} = 𝑚𝑎𝑥 {0.7; ; 0.45} = 0.7 𝑚
6
Na definição dos esforços de cálculo de um pilar primário, é necessário considerar, além dos
resultados obtidos através da análise sísmica (considerando eventuais efeitos de segunda
ordem), as disposições adicionais da EN1998-1.
− +
𝑀𝑅𝑑,𝑐,𝑖 + 𝑀𝑅𝑑,𝑐𝑗 ∑ 𝑀𝑅𝑏
𝑉𝑒𝑑 = 𝛾𝑅𝑑 ∙
𝑙𝑐𝑙 ∑ 𝑀𝑅𝑐
𝛾𝑅𝑑 = 1.1;
− +
𝑀𝑅𝑑,𝑐𝑖 e 𝑀𝑅𝑑,𝑐𝑗 momento resistente na extremidade do pilar, considerando direcções
opostas;
𝑙𝑐𝑙 comprimento livre do pilar;
∑ 𝑀𝑅𝑏 𝑒 ∑ 𝑀𝑅𝑐 somatório dos momentos resistentes das vigas e pilares no nó em
análise, respectivamente.
Nas Figuras 4.8 a 4.15, apresenta-se os esforços obtidos na análise sísmica, para os pilares em
análise.
71
Cota [m] Cota [m]
15 15
Max A1 Max A1
Max A2
Max A2
12 12 Min A1
Min A1
Min A2
Min A2
9 9
6 6
3 3
0 0
-1200 -1000 -800 -600 -400 -200 0 -150 -100 -50 0 50 100 150
N [kN] Vanalise,x [kN]
Figura 4.8 e 4.9 - Diagramas de esforço axial de dimensionamento e esforço transverso segundo X,
resultantes da análise para a combinação sísmica, no Pilar P1.
9 9
6 6
Max A1
3 Max A2 3
Min A1
Min A2
0 0
-150 -100 -50 0 50 100 -400 -200 0 200 400
Manalise,y [kN] Manalise,x [kN]
72
Cota [m] Cota [m]
15 15
Max A1 Max A1
Max A2 Max A2
12 12 Min A1
Min A1
Min A2
Min A2
9 9
6 6
3 3
0 0
-2000 -1500 -1000 -500 0 -200 -100 0 100 200
N [kN] Vanalise,x [kN]
Figura 4.12 e 4.13 - Diagramas de esforço axial de dimensionamento e esforço transverso segundo
X, resultantes da análise para a combinação sísmica, no Pilar P2.
9 9
6 6
3 3
0 0
-150 -100 -50 0 50 100 150 -400 -200 0 200 400
Manalise,y [kN] Manalise,x [kN]
Na direcção X, os valores obtidos para o momento flector são equivalentes, uma vez que a
redução de esforços que seria expectável devido à redução do valor da acção espectral é
atenuada pelo aumento de esforços devido à passagem de esforços das vigas para os pilares,
73
tendo em conta que na segunda análise se considerou nas vigas uma rigidez equivalente a 20%
da rigidez não fendilhada e nos pilares equivalente a 40%.
Na direcção Y, por se ter adoptado uma rigidez significativamente inferior para as paredes
resistentes, os pilares do pórtico têm uma participação mais relevante na rigidez da estrutura
nesta direcção. Assim, os momentos segundo Y, aumentam na segunda análise.
Os pilares serão dimensionados apenas para um piso, não se efectuando dispensas em todo o
desenvolvimento do pilar. A excepção é a secção da base, que como se pode observar nas
figuras, está submetida a valores de momento flector consideravelmente maiores que as
restantes secções do pilar.
A Tabela 4.20, apresenta os valores de momento flector resistentes mínimos nas extremidades
do pilar, para a verificação do princípio “coluna forte/viga fraca”. O momento total no nó é
distribuído 55% para o pilar inferior e 45% para o superior, como sugerido por [2]. A viga disposta
na direcção Y, que cruza com o pilar de canto P1, apresenta esforços reduzidos, sendo possível
adoptar a armadura mínima para verificar a condição de resistência, e à qual está associado um
momento resistente de 84.6 kN.m.
Tabela 4.20 - Momentos resistentes mínimos para os pilares, para garantir o princípio “coluna
forte/viga fraca”.
Mc,min Mc,min
Mrb,esq Mrb,dir Σ1.3Mrb Pilar Pilar
Análise Pilar Direcção
[kN.m] [kN.m] [kN.m] inferior superior
(55%) (45%)
x --- 205 217.1 119.4 97.7
P1
1 y 84.6 --- 124.8 68.6 56.2
P2 x 145 167 405.6 223.1 182.5
x --- 95.8 124.5 68.5 56.0
P1
2 y 84.6 --- 110.0 60.5 49.5
P2 x 95.8 95.8 249.1 137.0 112.1
Uma vez que os esforços na base dos pilares do pórtico são consideravelmente maiores que nas
restantes secções, considerou-se razoável efectuar dispensa de armadura a partir do primeiro
piso elevado. As armaduras foram calculadas considerando o dimensionamento uniaxial, tendo
em conta, para cada direcção, a secção do pilar mais condicionante. As Tabelas 4.21 e 4.22,
74
apresentam de forma resumida a determinação das armaduras adoptadas, no primeiro e nos
restantes pisos, para ambas as análises.
Primeiro piso:
Tabela 4.21 - Armaduras adoptadas e momentos resistentes nos pilares, no primeiro piso.
Restantes pisos:
Tabela 4.22 - Armaduras adoptadas e momentos resistentes nos pilares, nos restantes pisos.
Deste modo, e tendo em conta que em cada pilar a armadura longitudinal adoptada é diferente
no piso térreo, os valores de esforço transverso também serão diferentes nesse piso. A
determinação do esforço transverso de cálculo apresenta-se na Tabela 4.23, para as ambas as
análises.
75
Tabela 4.23 - Determinação do esforço transverso de cálculo
𝑠𝑚𝑎𝑥 = {20𝜙𝑙,𝑚𝑒𝑛𝑜𝑟 ; 𝑏𝑚𝑖𝑛 ; 400 𝑚𝑚} = {20 ∗ 12; 300; 400} = 240 𝑚𝑚
Nesta equação, ϕlmenor, representa o menor diâmetro dos varões longitudinais do pilar (12 mm
em todos os pilares em ambas as análises), e bmin a menor dimensão do pilar (300 mm em todos
os pilares). Em § 9.5.3 (4) refere-se que, em secções adjacentes a vigas ou lajes numa extensão
inferior à maior dimensão da secção do pilar, o espaçamento deve ser reduzido a:
O EC8 especifica em § 5.4.3.2.2 (12), que as disposições relativas poderão ser ignoradas caso
o esforço axial reduzido seja inferior a 0.2 e o coeficiente de comportamento não superior a 2.0.
Uma vez que o coeficiente de comportamento adoptado é igual a 3.0, é necessário considerar
as disposições do EC8 relativas ao confinamento.
Em zonas críticas, o espaçamento entre varões horizontais deve ser inferior ao valor indicado
por:
300 − 30 ∗ 2 − 10
𝑠𝑚𝑎𝑥 = {𝑏0 /2; 175; 8𝑑𝑏𝐿 } = { ; 300; 8 ∗ 12} = 96 𝑚𝑚
2
76
Tabela 4.24 - Dimensionamento ao esforço transverso.
No piso 0, foi adoptada uma armadura transversal igual em todo o piso, uma vez que os valores
do esforço transverso de cálculo são relativamente elevados. Nas zonas críticas dos restantes
pisos, o esforço transverso de cálculo é bastante reduzido, sendo a armadura horizontal nas
zonas críticas condicionada pelas disposições relativas ao confinamento indicadas no EC8.
4.10. Considerações
77
uma rigidez mais reduzida nas paredes por comparação com a rigidez adoptada nos pilares, os
deslocamentos entre pisos aumentaram, mas mantiveram-se reduzidos, ao ponto do estado
limite de serviço ser verificado folgadamente e os efeitos de segunda ordem continuarem
irrelevantes.
Na direcção Y, os pilares do pórtico têm uma maior participação na rigidez do edifício, na análise
2, tendo em conta que a perda de rigidez considerada nestes elementos não é tão significativa
como nas paredes. Assim, os momentos flectores provocados pelo sismo na direcção Y são,
geralmente, maiores na análise 2. Na direcção X, os esforços são ligeiramente inferiores na
análise 2. No entanto, essa diferença é atenuada atendendo à maior relevância dos efeitos de
segunda ordem nesta direcção. Deste modo a diferença entre as armaduras longitudinais
adoptadas é pouco relevante, e não necessariamente inferior na segunda análise. Relativamente
ao esforço transverso, tal como nas vigas, foi determinado por equilíbrio dos momentos flectores
resistente nas extremidades dos pilares. Os valores calculados foram ligeiramente inferiores na
análise 2, mas não o suficiente para se traduzir numa armadura transversal mais reduzida em
zonas críticas. Fora das zonas críticas, foi possível adoptar uma armadura transversal mais
afastada, nos pisos elevados.
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5. Conclusões
O principal objectivo deste trabalho consistia no estudo das implicações que a consideração de
diferentes rigidezes fendilhadas tem ao nível da resposta sísmica, por comparação com a
hipótese simplificativa indicada no EC8, e que é geralmente utilizada na prática. Sabia-se,
antecipadamente, que a perda de rigidez por fendilhação, nos diferentes elementos, não deveria
ser uniforme. Esperava-se que nas secções com menor nível de esforço axial de compressão,
como em paredes, a perda de rigidez fosse maior que 50%. Assim, também foi estabelecido
como objectivo desta tese a análise da perda de rigidez em diferentes tipos de secção, para
averiguar, em função de valores correntes de esforço axial reduzido e percentagem de armadura,
que perda de rigidez deve ser considerada na análise sísmica, e se a consideração de metade
da rigidez não fendilhada constitui uma boa aproximação.
Relativamente à rigidez que deve ser utilizada na análise, referiu-se que se deve considerar a
rigidez secante no ponto de cedência, uma vez que os princípios do capacity design idealizam,
para a resposta sísmica, um comportamento bilinear, próximo de uma relação elástica-
perfeitamente plástica, e que o comportamento do troço elástico é controlado pela rigidez
considerada na análise. A rigidez considerada na análise deve ter em conta a perda de rigidez
por fendilhação, sendo que esta é condicionada pelo nível de esforço axial, e pela percentagem
de armadura adoptada. O esforço axial, consoante este seja de compressão ou tracção, aumenta
ou diminui a área de betão comprimida, o que resulta num aumento ou redução da rigidez em
estado II. O aumento da taxa de armadura resulta no aumento da inércia em estado II, e, portanto,
reduz a perda de rigidez devido à fendilhação. Viu-se que uma das formas de calcular a rigidez
fendilhada de determinado elemento de betão armado submetido à flexão, simples ou composta,
é através do quociente entre o momento flector e a curvatura. O cálculo da rigidez secante no
ponto de cedência passa por traçar a relação momento-curvatura para determinado valor de
esforço axial e percentagem de armadura. Obtida esta relação, a determinação da rigidez em
estado II, e da perda de rigidez relativamente à rigidez não fendilhada é quase imediata.
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Verificou-se, como esperado, que a perda de rigidez tende a diminuir com o aumento do esforço
axial de compressão e percentagem de armadura, e que a influência do esforço axial tende a
diminuir com o aumento da percentagem de armadura. No geral, para valores comuns de esforço
axial reduzido e percentagem de armadura, a perda de rigidez por fendilhação é menor do que
o indicado por Fardis [2] (0.25 a 0.3 EcIc) . A perda de rigidez sugerida pelo EC8 (0.5EcIc), constitui
uma aproximação um pouco conservativa em pilares, que estão normalmente sujeitos a maiores
valores de esforço axial reduzido. Caso se opte por considerar uma rigidez inferior em pilares, ,
é necessário atender aos deslocamentos entre pisos, que podem condicionar a consideração de
uma menor rigidez, principalmente se não se adoptar paredes resistentes.
Em paredes resistentes, viu-se que a perda de rigidez está condicionada pelo seu comprimento.
Para maiores paredes, os valores de ν e ρ tendem a ser mais reduzidos, sendo possível
considerar perdas de rigidez superiores. A redução do comprimento da parede, resulta numa
menor perda de rigidez, mais próxima dos pilares. Relativamente à hipótese sugerida no EC8
pode dizer-se que esta é demasiado conservativa para as paredes. Apesar de ser possível
considerar uma rigidez inferior nas paredes, é necessário ter em atenção que reduzir a rigidez
nas paredes incrementa os esforços nos pilares, o que pode condicionar a rigidez a adoptar nas
paredes.
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6. Referências Bibliográficas
[1] CEN – “Eurocódigo 8 – Projecto de Estruturas para Resistência aos Sismos – Parte 1:
Regras Gerais, Acções Sísmicas e Regras para Edifícios”, EN 1998-1:2004;
[2] Fardis, Michael; Carvalho, Eduardo; Elnashai, Amr; Faccioli, Ezio; Pinto, Paolo; Plumier,
Andre – “Designers’ Guide to EN 1998-1 and EN 1998-1”, Thomas Telford, 2005;
[3] CEN – “Eurocode 8 – Design of structures for earthquake resistance – Part 2: Bridges”,
EN 1998-2:2004;
[8] DECivil – “Estruturas de Betão I – Folhas de Apoio às Aulas”, Instituto Superior Técnico,
2013;
[12] CEN – “Eurocódigo 2 – Projecto de Estruturas de Betão – Parte 1-1: Regras Gerais e
Regras para Edifícios”, EN 1992-1-1:2004;
[13] Camara, José – “Análise Não Linear de Estruturas de Betão Armado nas Condições de
Serviço”, Instituto Superior Técnico, 1990;
81
[16] Camara, José; Luís, Ricardo – “Structural Response and Design Criteria for Imposed
Deformations Superimposed to Vertical Loads”, The Second FIB Congress, Naples, 2006;
[17] CEN – “Eurocódigo 1 – Acções em Estruturas – Parte 1-1: Acções Gerais – Pesos
Volúmicos, Pesos Próprios, Sobrecargas em Edifícios”, EN 1991-1-1:2002;
[18] Costa, António – “Projecto de Estruturas para Resistência aos Sismos – EC8-1 –
Exemplo de Aplicação 1”, Ordem dos Engenheiros, 2011;
[19] Costa, António – “Projecto de Estruturas para Resistência aos Sismos – EC8-1 –
Exemplo de Aplicação 2”, Ordem dos Engenheiros, 2011;
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Anexos
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Tabela A.2- Perda de rigidez no Pilar B
84
Tabela A.3- Perda de rigidez no Pilar C
85
Tabela A.4- Perda de rigidez na Parede A
86
Tabela A.5- Perda de rigidez na Parede B
87
Tabela A.6- Perda de rigidez na Parede C
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