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Celtas RPG

Celtas
1a edição

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Celtas RPG

Celtas
Criação: Hatalíbio Almeida

Índice
Capa: Cairo Gouveia
Arte Interna: Cláudio Henrique, Arthur
Rackham, Gustavo Dore, Hatalíbio Almeida.
Diagramação: Hatalíbio Almeida
Agradecimentos: Um agradecimento especial Introdução 03
para o desenhista Cláudio Henrique (contato: Conto 04
c.henrique.rr@gmail.com), à Marcelo Del Mapa de Arcádia 08
Debbio que permitiu a licença aberta do
História 09
Sistema Daemon, Antônio Augusto “Shaftiel”
Regras 26
que permitiu o uso de alguns termos de seus
livros, bem como o apoio dos fãs do meu Tuatha Dé Danann 27
trabalho das redes sociais e os apoiadores Fir Bolg 30
Alex Pina, Lobo Lancaster, Leishmaniose, Bresiano 32
Alexander Siqueira, Tadeu Rodrigues, Fada 34
Bernard Coutinho, Ricardo Moreira de Ávila, Fomoriano 41
Felipe “Shingo” Ferreira de Oliveira, Raul Mapa de Tir Na Nog 44
Diógenes, Henrique Santos, Pedro Ribeiro, Kits 45
Marcus Martins e todos os outros que não Poderes 62
pude mencionar aqui, obrigado pessoal! Fraquezas 79
Milagres da Fé 82
Magia 85
Desaconselhável para menores de 14 anos. Ilusões 92
Aprimoramentos 98
Itens Mágicos 111
Divindades e Ameaças 114

Se tiver qualquer dúvida ou sugestão, enviar


email para:

hatalibioalmeida@hotmail.com
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Introdução
Primeiramente quero agradecer aqui todo o apoio dos fãs de TREVAS e do Sistema Daemon em geral para a pro-
dução desse livro. Sério, sem vocês eu nunca chegaria tão longe. Gradualmente estamos produzindo material de
qualidade cada vez melhor, tanto em material, quanto em produção e em organização, sempre tentando conciliar
os mitos com a diversão do RPG.
Não menos importante, mas é algo crucial informar para os leitores acerca do conteúdo desse livro: vocês não vão
encontrar aqui a história dos povos celtas, nem as invasões vikings, e o que se deu sobre a Terra durante as mesmas.
Esse livro é sobre deuses, demônios, espíritos e fadas. O período de barbárie, ignorância, violência e corrupção em
que se passa a maior parte desse livro é apenas o pano de fundo de toda essa história. Vocês encontrarão aqui nar-
rativas sobre as raças sobrenaturais envoltas no mito celta, e como as mesmas perseveraram até hoje, e como estão
lutando a boa luta contra seus inimigos.
Por fim, espero que gostem desse livro. Eu comecei a escrevê-lo em Julho de 2013 e foi uma experiência fantástica
desvendar os vários mitos em torno dessa fabulosa mitologia, e como a mesma se mistura com tantas outras. Conto
com vocês para se divertirem com esse livro tanto quanto eu o fiz em trazê-lo para vocês.

O Autor

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Trapaceiros
–Você não acha que está exagerando, no cais enevoado. Seu rosto parecia frágil
camarada? – disse Zacoros já com seu e indeciso, mas ainda assim fazia um
sorriso de pirata, esticando a mão dentro esforço hercúleo para parecer resoluto.
do velho casaco de couro gasto e puxando Ela mesma se prontificou para lidar
um cantil prateado. – Afinal, a noite com as negociações com o Fomoriano. De
pode ser longa! – sorrindo entre um gole e fato, ela sempre se prontificava para
outro do que pelo cheiro indicava ser um tudo. Ela queria mostrar – as vezes,
uísque forte e barato. desesperadamente – que sua lealdade
–Shhh, seu fauno estúpido. Eles podem estava do lado dos Daoine Sidhe.
nos ouvir. – murmurou o rapaz que não O frio do cais eriçava a pele da Bresiana,
parecia mais de 20 e poucos anos, pele que se penalizava por ir parar ali sem
alva, olhos esmeralda e cabelos vermelhos um único casaco, apenas com um vestido
que pareciam iluminar-se, mesmo à leve e botas. Eis que um roncar ao longe,
noite, em um moicano rastafári. Dáine ficando cada vez mais perto, denunciava
era um deus jovem. Sua experiência era a chegada de seu convidado. Ele vinha
o resultado de não mais de dois séculos, em um Marquis 72 preto. O carro abriu
a metade deles passados em Arcádia, e a uma porta e expeliu o que parecia ser um
segunda metade fora do sidhe de seu pai, homem na casa dos 50 anos, muito alto,
na Terra. Nesse século ele viu Woodstock, muito gordo. Vestia um terno preto simples
nazismo, guerras mundiais, máquinas que parecia ter sido feito sob medida, dada
voadoras e salsicha no palito. Ele estava a desproporção gordurosa de seu corpo.
pronto. Seu estilo de se vestir, achava –Então. – disse o gorducho, se aproximando
Zacoros, parecia haver parado nos anos da garota com passos desajeitados. Ele
80, usando uma jaqueta de couro preta, tocou o cabelo de Erie com a ponta dos
camiseta branca de banda de rockabilly e dedos, coisa que a deixou extremamente
um jeans rasgado. – Se formos descobertos, enojada. – Essa é a pequena florzinha de
Erie que vai se foder. Dagda que decidiu virar casaca, é?
Erie era uma Bresiana, uma filha híbrida –Por favor, tire essas salsichas imundas
de um Daoine Sidhe e uma Fomoriana, da minha cara antes que eu faça você
uma vergonha pros dois povos. – Ah, ela comê-las.
sabe se virar. – murmurou Zacoros, em O gorducho espantou-se com a rispidez da
dúvida se ele mesmo acreditava nisso. menina, e logo abriu uma carranca. –
A garota não parecia mais que uma Ora, sua pirralha petulante de sangue
pequena ruiva de 16 anos coberta de sardas fino! Eu deveria rasgá-la aqui mesmo!
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–E pra quê? Seus chefes não vão ficar guerra e sorte.


nada felizes. – disse Erie, acalmando “Desculpem o atraso” ouviram todos no
a voz e empinando o nariz em tom de fundo de suas mentes. Aquela voz psiônica
zombaria. – Afinal, eu sou a filha de era de Ragnar. Ele estava a 3 quarteirões
Dagda. Mas não vou fácil. Trouxe meu de distância dali e corria sobre os prédios
preço? pra encontrar seus companheiros. Ragnar
–Aqui, Bresiana. – o gorducho se era um Tuatha Dé Danann puro, criado
acalmara mais, ainda respirando em Tir Na Nog. Era o Deus do Primeiro
pesado, impressionado com a atitude da Sangue, aquele que jorra primeiro
garota. Ele pega uma maleta do carro e na batalha. Pelo menos, era o que ele
dela tira um frasco cristalino em forma estava tentando ser, ainda não havia
de chifre preenchido com uma substância desenvolvido poderes que condissessem
alaranjada. – A poção Olho de Balor. com seu título, tampouco adoradores. Ele
Uma especialidade de meu povo. Com possuía um porte avantajado de puro
essa coisa, qualquer lâmina matará músculo, tatuagens rodeando todo seu
instantaneamente, homem ou deus, corpo, uma longa cabeleira e barba loira,
anjo ou demônio. olhos sem íris e ainda assim brilhantes.
–Ótimo. – sorriu a menina, que arrancou Recentemente vindo à Terra, ainda
telecineticamente a poção dos dedos precisava de muito pra se adaptar por
oleosos do gorducho indo até os seus. Dáine completo. Ele vira sua colega em perigo
não pôde expressar seus sentimentos em e, mesmo de tamanha distância, sacou
totalidade no meio segundo que teve, e a arma de seu cinto, retesou os músculos,
sua mente apenas pôde traduzir tudo em calculou a distância e arremessou a
um único “fodeu”. Na verdade, aquela machadinha que singrou centenas de
palavra expressou muito bem seus metros sem um único desvio ou mostras
sentimentos naquela hora. Muito bem de desacelerar sua velocidade até cravar
mesmo. Erie estava distante demais pra perfeitamente entre os olhos do inimigo.
ele salvá-la. –Porco. – a menina empurrou o rosto
O gordo já partia pra cima da ruiva ensanguentado do cadáver no chão com
esbaforidamente quando ouviu-se um sua bota. – Mais fácil impossível.
sibilo cortando o ar, um esguichar, e Eis que imediatamente o ar pareceu
apenas a cabeça do inimigo separada tremeluzir, e surgiram 3 indivíduos
ao meio pelo que parecia um pequeno trajando ternos. Um deles era alto, de
machado. Apenas um filete de sangue rosto endurecido como pedra, de traços
negro correu entre seus olhos enquanto germânicos. O outro tinha a cabeça
sua face de confusão caía no chão. Erie raspada e uma longa tatuagem parecida
olhou a arma, era uma lâmina bem com um dragão atravessando o lado direito
trabalhada em metal cromado, muito de seu rosto, descendo pelo pescoço e a gola
brilhante, mas também muito afiada. da camisa. Seus olhos pareciam ter íris
O cabo, em uma madeira sólida e leve, prateadas, mas que brotavam ganância
tinha esculpido fundo algumas runas de para qualquer um que os encarasse. O
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último, mais estranho de todos, tinha um uma disputa de força, muito semelhante
aspecto doentio, Erie jurava que era meio à uma luta greco-romana. Aos poucos
verde, cabelo desengonçado como se tivesse o germânico parecia ficar... maior.
dormido em uma lixeira. A boca tinha Suas roupas rasgavam-se das costuras,
dentes faltando, e os olhos eram leitosos seus óculos escuros partiram-se ao meio
como os de um cego. enquanto sua cabeça crescia mais e mais,
–Er... bem, talvez não tão fácil! – deformando-se em algo não mamífero e
desesperou-se a garota. Zacoros ergueu- mais anfíbio. Sua pele assumia um tom
se naquela visão e pareceu sem ação, acinzentado, escamas pareciam surgir,
levando as mãos a cabeça ainda segurando olhos separavam-se até se tornarem quase
o cantil. Ele olhou pras sombras ao redor. laterais. E uma piscadela horizontal de
–O que estão esperando, porra?! Vão olhos agora esbugalhados revelaram o que
ajudar ela! – e imediatamente sombras aquilo era: um verdadeiro Fomoriano. A
de chaminés industriais e as dele próprio criatura começou a esmagar os braços de
descolaram-se das superfícies e deslizaram Ragnar, que esforçava-se ao máximo,
pelo ar da noite. Um silvo estranho ficando tão vermelho que parecia prestes
parecia vir delas enquanto pareciam a explodir. O homem tatuado agora
tomar formas assustadoras, agora que gesticulava apontando para Dáine
não eram escravas de formas materiais. o que parecia ser um cetro esculpido
Os novos espectros da noite desceram sobre em um fêmur humano. Uma névoa
os três homens, atacando-os com garras e esverdeada brotou do cetro, perseguindo
formas terríveis, mas não podiam tocar a boca, olhos e narinas do Daoine Sidhe,
nem fazer mal a eles, afinal, ainda eram que parecia sufocá-lo enquanto sua pele
apenas sombras. Porém, o contratempo empalidecia.
deu para Dáine descer o galpão e chegar –Ei, monte de estrume! – gritou o sátiro
até sua amiga. O estampido repentino chegando repentinamente por trás,
cortou o ar uma, duas, três vezes, em pulando de cima do carro com seus cascos
cada um dos oponentes, levando-os ao nas costas do mago, desmantelando-o por
chão enquanto as sombras se desfaziam. completo no chão. Um segundo coice na
O Daoine Sidhe não brincava em serviço, nuca serviu para esmagar seu rosto contra
e estourara o peito de seus oponentes com o concreto, desacordando-o em uma poça
tiros de sua escopeta. – Sai daí, Erie! – de sangue que brotava de um supercílio
gritou ele para a menina. Sabia que rasgado e alguns ossos da face quebrados.
aquilo não iria detê-los por muito tempo. Com o mago fora de combate, a ilusão
O germânico já estava se levantando, que cobria o terceiro homem se desfez,
como se fosse um tipo de robô implacável, revelando uma criatura abominável
e já era seguido pelos outros dois, mais de dois metros e trinta de altura, pele
lentamente. Ragnar chegara em uma verde e escamosa, cabeça de peixe e longos
carga destruidora sobre o maior dos três, e afiados dentes. Era um Deep One, uma
atracando mãos com as mãos do seu das horrendas crias do monstro-demônio
inimigo, encarando-o frente à frente em Dagon.
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Erie percebeu que, naquela situação, agarrando a cabeça do Tuatha com uma
se não pensasse muito rápido, ela e seus mão só e esmagando-a contra o chão.
amigos com certeza morreriam. Então, Ragnar quase desmaia, mas mantém-
cerrou os olhos e os punhos, concentrou-se e se acordado, sangrando por olhos, nariz
evocou o poder do controle das águas, uma e boca. Quando o inimigo ergue o pé
capacidade mágica permitida apenas pra esmagar a cabeça do Tuatha uma
pelo sangue fomoriano em suas veias. O última vez contra o asfalto, o deus celta
bueiro próximo daquela luta explodiu gira seu corpo e rapidamente se levanta,
sua tampa vários metros acima do solo, distanciando-se do oponente. O sangue em
expelindo uma gigantesca língua de seus olhos não era a única coisa nublando
água poluída de todo tipo de dejetos. A sua visão agora. A fúria celta em seu
imensa serpente de água amarronzada interior crepitava em uma enorme pira
desceu diretamente sobre o Deep One em seu coração, que precisava sair o mais
como se o devorasse, erguendo-o no ar e rápido possível. Ragnar avançou para
arrastando-o de volta pra sua toca. A o fomoriano com um ódio devastador,
criatura, entretanto, era grande demais sem importar-se com qualquer defesa,
para um bueiro. Os breves momentos que era agora ou nunca, e golpeou a cabeça
se seguiram ouviu-se vários estalados, da criatura com tanta força que pôde-
urros, esguichos, e mais estalados ainda. se ouvir os ossos do crânio da criatura se
Os ossos dos ombros e costelas da criatura partindo num estalo grotesco e um dos
foram partidos enquanto a serpente de olhos saltando pra fora do rosto dada a
água arrastava-o pela cabeça para violência massiva do golpe. A criatura
dentro do bueiro aos rosnados inumanos, imediatamente foi ao chão, ainda
mediante pancada seguida de mais grunhindo suas lamúrias de morte antes
pancada contra o asfalto e as bordas de ficar totalmente inerte.
do bueiro. Por fim, a tromba de água –Que noite... – disse Zacoros, dando um
venceu a luta, arrastando um Deep One gole no uísque barato enquanto sentava
trucidado e mutilado para os esgotos como no meio fio. – Que noite.
um crocodilo que arrasta a presa para a
água.
–Não! – disse Ragnar, mostrando a mão
para que Dáine se afastasse, enquanto
limpava o sangue da boca. O Fomoriano
golpeara lhe o queixo com mais força do
que ele era acertado em séculos, mas não
iria fraquejar por ajuda. Ragnar era
um deus jovem, mas orgulhoso. O golpe
em seu queixo atiçou sua fúria interior,
mas ele deixou-a esquentando. O maldito
não sabia o que estava provocando. O
demônio então avançou novamente,
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História
“Olhe ao seu redor. O que você vê?
Faerie. Sabe, o lugar onde todas as fadas vivem.
E como ela se parece pra você?
Quê? As partes verdes ou as incendiadas?
Não ridicularize sua visão, criança da Terra. Diga-me o que você vê.
É lindo. Tão lindo que é quase assustador.”
—Tim Hunter, Livros da Magia #37.

A Ilha Verde Fadas


A Ilha Verde foi um reino como nenhum As Fadas dividiram-se em cortes apenas
outro na Terra, e nenhum foi tão disputado durante a Idade Média. Antes disso não
pelas raças mágicas e sobrenaturais. Tempos possuíam uma sociedade civilizada, seus
depois batizada de Ériu em homenagem à povos viviam entre a vida solitária, pequenas
Tuatha Dé Danann de mesmo nome e logo comunidades e a tribal. Por volta do século V
após de Irlanda, foi um reino do Povo Belo, d.C., os muitos portais arcadianos trouxeram
como as Fadas eram chamadas, durante uma miscigenação de cultura entre as fadas e
milênios até a sua extinção desse mundo. Elas os homens, e elas organizaram-se entre a corte
eram naturais de Arcádia, seres longevos, Seelie, que preza o tradicionalismo, os valores
quase imortais, que não se preocupavam morais, tendem a conservarem o que há de
com datações, passado e futuro, mas na bom em todos os espíritos, humanos e não-
experimentação, no aqui e agora, apesar de humanos, sendo os mantenedores da paz das
seus sentimentos poderem lembrar-se de uma florestas das fadas e dos reinos arcadianos, e a
ofensa ou um amor por séculos. Elas viviam corte Unseliee, a corte sombria, que escarneia
cercadas com suas próprias tramas, peças e das tradições das Fadas, ferramentas do
intrigas nas florestas da Ilha Verde. Em algum caos e liberdade ilimitada, mesmo que isso
momento elas tiveram contato com a profana signifique crueldade e sangüinolência (o que
raça de Dagon e Kthulhu que emergiu do acaba fazendo parte da visão de muitas delas).
mar, seus Deep Ones e híbridos do que viria Fadas Unseliee são as menos raras na Terra
a ser chamado de a Ordem de Dagon. Mas nos tempos modernos, vendo-a como uma
essas Fadas não quiseram aceitar as bênçãos miríade de possibilidades para expressar seus
abismais que essas criaturas ofereciam, e sentimentos de mudança e (falta de) valores.
expulsaram-nas de seu reino pela força e Elas são a maior fonte das lendas sobre fadas
sua poderosa magia da natureza. Porém, a sombrias e peças mortais aplicadas por esses
Ordem não desistiu daquele reino repleto de seres.
magia e poderosas Linhas de Ley, conjurou Existem incontáveis raças de fadas, embora
um exército para destruir as fadas: e assim algumas sejam mais presentes na Irlanda que
ergueram-se os Fomorianos, cruéis monstros o restante, estas se encontram espalhadas por
marinhos que podiam caminhar pela terra. todo o resto do mundo.

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sua única filha, Ethlinn, presa em uma torre
Fomorianos na ilha Tory. Ela acabou sendo desposada e
Fomorianos são uma raça demoníaca de deu a luz secretamente a Lugh, que acabou
Arkanun que vieram para os mares próximos por se tornar uma divindade bresiana entre
da Irlanda após sobreviverem à decadência de os Tuatha.
seu próprio mundo, trazendo consigo apenas
poucos guerreiros e algumas fêmeas para
reprodução. Os Fomorianos eram bárbaros Noé e Cessair
e monstros que pouco se interessavam pela A época do Dilúvio, visões alertaram Noé para
magia, apesar de terem arquimagos entre seu construir uma arca para salvar sua família e
próprio povo, os verdadeiros responsáveis um par de cada animal. Entretanto, as mesmas
pela salvação da raça. Os Fomorianos visões o obrigaram à não salvar Bith, seu
viveram nas costas da Irlanda durante quarto filho e sua família, que se entregaram
séculos, alimentando-se de caça marinha. para a feitiçaria, unindo-se aos discípulos da
Essa situação apenas mudou quando eles Escola de Yamesh. A filha de Bith, Cessair,
tiveram contato com outros invasores cujos decidiu que não iria ser subjugada pela ira
quais foram chamados de Nemedianos. divina e salvar sua própria família. Auxiliada
pelas visões proféticas de um druida sobre
uma ilha intocada pelo Dilúvio que viria, ela
Balor então partiu em três navios, passando pelo
Balor do Olho Maldito era o rei dos Egito, mar Cáspio, mar Negro,
Fomorianos, possuía um único olho cujo qual Ásia Menor, Alpes e Espanh
Espanha
ficava sempre fechado; caso ele o abrisse, até chegar finalmente à Irlanda.
poderia matar qualquer inimigo apenas Porém, a tripulação fora muito
com seu olhar. Balor possuiu, castigada durante a viagem,
secretamente, uma Geas que restando apenas um homem
dizia que só poderia ser entre eles, o druida Fintan
Fintan,
morto por seu neto. marido de Cessair, a própria, e
Fato este que o 50 donzelas (muitas delas
fez manter próprias, membros d da
Escola de Yamesh). Ficou
a cargo de Fintan
Finta

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desposar todas as donzelas e povoar a ilha, Fir Bolg assumiram o nome de Nemedianos,
tarefa a qual o intimidou o suficiente para glorificando seu salvador. Lá eles construíram
que após algum tempo ele transformar- embarcações e projetaram-se no mar com
se num salmão e fugir da ilha. Sem meios destino às terras vislumbradas por aqueles
para prosperarem, Cessair abandonou as que vieram antes deles.
outras mulheres para aprender os segredos Sua invasão à Irlanda, porém, foi derrotada por
da magia druídica. As donzelas logo foram seus predecessores, os Fomorianos. Os poucos
encontradas, estupradas e mortas pelos sobreviventes escaparam para a Grécia, onde
Fomorianos. A Irlanda então ficou desabitada foram tomados como monstros e crias de
por 312 anos. Lamia, sendo expulsos para o Submundo
onde ficaram trabalhando em minas para
produzir metais preciosos, joias espirituais e
Partholon armas para Hefestos. Ficaram nessa condição
Partolomus, ou Partholon, foi o líder da por 230 anos, quando então os descendentes
segunda invasão à Ilha Verde. Ele partira para de Nemed fugiram e seguiram para sua terra
a Irlanda em fuga após assassinar seu pai, prometida, a Irlanda, assumindo finalmente
levando consigo parte de sua comunidade, o nome de Fir Bolgs, abraçando sua herança
que até então não acreditavam nos “rumores” arkanita, onde por divergências, se separaram
sobre a morte de seu antigo líder. Dentre em 3 grupos distintos, Fir Bolg, Fir Domnann
aqueles que o seguiram houve muitos druidas e os Fir Gálioin. Firmaram-se na Irlanda por
que trataram de abrir vários rios e lagos no apenas 37 anos até a chegada dos Tuatha
novo reino. A chegada dos novos homens Dé Danann. Durante sua escravidão, os Fir
não deixou de ser notada pelos Fomorianos, Bolg aprenderam a arte da forja de matéria
que logo trataram de atacá-los, sendo então espiritual e outros mistérios do Submundo.
rechaçados pela magia druídica. Balor
percebeu que deveria procurar uma saída
mais vil nesse caso, lançando uma maldição Guerra em Paradísia
virulenta, uma magia arkanita que matou Houve uma época em que Paradísia teve sua
todos em apenas uma semana. Essa magia própria e primeira guerra mundial. Ela se
foi roubada séculos depois pelos Magos deu quando o edhênico Jeovah atravessou
Corrosivos. O único sobrevivente da praga a barreira dos planos de existência e criou
foi o Nefelim Tuan, que nessa encarnação seu reino em Paradísia. Ele incumbiu uma
era filho de Starn, irmão de Partolomus, de suas criações, Lúcifer, o primeiro regente
reencarnando anos depois como Cairell, no da Cidade de Prata, de derrotar os outros
século VI. povos para governarem supremos por aquele
mundo. E assim o Portador da Luz o fez,
deflagrando guerras milenares contra todos
Nemedianos e Fir Bolg aqueles povos. Muitos caíram, outros foram
Logo após a partida dos Fomorianos de exterminados, e alguns ainda continuaram
Arkanun, o restante de sua civilização lutando por milênios. Um desses povos foram
dispersou, espalhando os poucos os Tuatha Dé Danann, que conhecedores dos
remanescentes daquela raça por aquele antigos segredos de seu mundo, ganhavam
mundo decadente. Suas ruínas foram, vantagem estratégica sobre os anjos enquanto
entretanto, encontradas por uma raça estes os venciam em número e poder.
arkanita chamada Fir Bolg, lideradas por um Porém, a guerra massacrou Tir Na Nog. Os
mago chamado Nemed. O mago estudou os castelos e cidades queimaram. Existiam mais
restantes daquela civilização até descobrir cabeças decepadas de Tuatha que pedras nas
os meios à qual seu povo tomaria para partir ruas. O sangue paradisiano vertia pelas ruelas
para um mundo mais promissor. como córregos. Vários deuses morreram. Sua
Chegando à Terra, na região da Cítia (Irã), os
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frota foi completamente massacrada, restando- Seguindo os conselhos de Dagda, o rei buscou
lhes apenas alguns barcos. Inúmeros líderes uma aliança com os Fomorianos para então
ascenderam e se foram durante a guerra, depois enfrentar os Fir Bolg. Para consolidar
sendo substituídos por seus filhos e netos essa aliança, foi feito um casamento entre
tão rapidamente que alguns sequer saíam da Cian, filho de Diancecht e Eithe, filha de
infância para suportarem o peso da liderança. Balor, movimento este que repudiou o rei dos
Quando os horrores da guerra chegaram no Tuatha.
seu ápice, o último rei, Nuada, percebeu que
seu povo não iria sobreviver aquela guerra
e ordenou uma retirada. Entraram em seus Primeira Batalha de
Moytura
últimos barcos e navegaram para portais
secretos, desconhecidos pelos anjos.
Moytura é uma planície irlandesa, e onde
ocorreu a primeira batalha entre Tuatha Dé
A Chegada dos Deuses Danann e Fir Bolg. Nuada primeiramente
O reino dos Fir Bolg durou até a chegada dos havia enviado um negociador, que foi
filhos de Danu, imersos em névoas misteriosas duramente rechaçado (e quase morto) por
e barcos de madeira branca. Convencidos de Eochtrai, rei dos Fir Bolg na época. Ogma
que ali seria seu novo lar, Nuada ordenou a e Dagda foram encarregados da estratégia
queima de seus barcos. Foram recebidos pelas de combate, inflando os corações dos
Fadas como deuses que eram, tidos como seus guerreiros com scelaige em cânticos, druidas
salvadores, informando-os logo do terror fortalecendo-os com suas magias e até mesmo
que os Fomorianos estavam trazendo para corajosas Fadas erguendo armas de corte.
seu povo e os Fir Bolg que se instalaram ali. A batalha foi sangrenta para ambos os lados.

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A fúria no coração dos Tuatha esmagava os fulminante.
arkanitas, que retornavam os golpes com
força e peso. Os demônios tinham a vantagem
naquele embate: eles já viviam há muito tempo A Queda de um Rei
em Ériu, conheciam o terreno e estavam em Os Tuatha Dé Danann são uma raça guerreira
maior número. Ao final do primeiro dia, a e endeusam a batalha, mas respeitam
sorte parecia favorecer os Fir Bolg. O deus igualmente a saúde e beleza física. Para eles,
Diancecht e seus seguidores curaram as um governante que não pudesse erguer
feridas dos sobreviventes enquanto Dagda o cetro de um rei, não poderia governar.
mergulhava os corpos dos mortos em seu Nuada estava mutilado. Bres, o meio-Tuatha,
caldeirão mágico, restituindo-lhes a vida meio-Fomoriano, apressou-se em colocar-se
(exceto para os decepados, que era impossível como acusador para destronar Nuada, que
tal feito). majestosamente cedeu seu trono para Bres.
Na manhã do novo combate, o exército Fir Bolg Ele entendeu que os arkanitas eram inimigos
parecia igualmente renovado: suas próprias ferrenhos, e que os Fomorianos poderiam
fileiras possuíam vários bruxos e curandeiros. acabar por aproveitar-se da fraqueza atual de
Ao terceiro dia, já melhor habituados ao seu povo para expulsá-los de vez de Ériu. Bres,
terreno, os Tuatha equilibraram a luta, e no que também era em parte Tuatha, parecia-lhe
quarto dia praticamente os haviam vencido. a melhor escolha para selar permanentemente
No cair da noite, Nuada foi visitado em sua um acordo entre arkanitas e paradisianos.
tenda por Morrigan, a deusa da morte e das Não podia ele estar mais errado.
batalhas, cuja qual abençoaria a batalha do
A Mão de Prata
próximo dia se o deus-rei lhe desposasse,
pedido esse que Nuada ficou mais do que
disposto, visto o corpo escultural da deusa. Um reinado sombrio recaiu sobre os Tuatha
No quinto dia, os exércitos partiram durante um longo tempo. Bres logo deixou
novamente para o combate. Nuada, entretanto, claro seu lado fomoriano, e oprimiu os
convencido da benção de Morrigan (que Tuatha com pesados deveres indignos de
sobrevoava o campo de batalha em sua forma divindades, chegando até mesmo a obrigar
de corvo), desafiou o próprio Eochtrai para Dagda a escavar trincheiras ao redor de
um duelo e ambos acabarem a guerra, desafio suas fortificações. O arquimago Ogma foi
esse aceito pelo rei dos Fir Bolg. Ambos humilhado em deveres de catador de lenha,
engalfinharam-se em uma batalha tão furiosa fato esse que o fez arquitetar a queda de seu
que suas espadas queimavam com o poder rei mestiço. Ele enviou seu filho Caipré, um
divino e arkanita que imantava de suas armas. Scelaige de excelência, armado com versos
Tomados pelo desejo de batalha, ambos os oghâmicos de poderosa magia, para escarniar
exércitos seguiram seus reis e chocaram-se seu governante em sua corte. E o resultado não
em um novo banho de sangue, encharcando poderia ter sido melhor: quando se enfureceu
novamente a planície de Moytura. com as chacotas dos poemas de Caipré, a magia
Nuada estava tão ensandecido pela batalha, celta daqueles versos se ativou e desfigurou
ainda mais instilado pelas palavras da deusa o rosto de Bres com horrendas pústulas
das batalhas em sua mente, que chegou a somente vistas em Fomorianos. As demais
destruir a espada de Eochtrai em um furioso divindades logo pediram uma audiência e
golpe, enterrando em seguida sua lâmina exigiram que o rei mestiço abdicasse de seu
escaldante que chiou no sangue do peito do trono pelos mesmos motivos que ele havia
adversário. Convencido que a batalha havia destronado Nuada, que retornara triunfante
encontrado seu fim, Nuada não percebeu nessa mesma audiência ornando uma perfeita
que o general Fir Bolg, Sreng, aproximou-se mão mágica feita de prata, mais forte e mais
e lhe arrancou a mão direita com um golpe ágil que sua própria mão original, forjada por
Diancecht com os Anões. Humilhado, Bres
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a batalha ainda não havia começado, Dagda
foi pacificamente encontrar com os exércitos
Fomorianos que estavam acampados na costa
da Irlanda, secretamente procurando saber a
quantidade de soldados, armas e força de seu
inimigo. Ele foi recebido por Balor, que logo o
expulsaria de lá, se Dagda não evocasse a lei
da hospitalidade, que o obrigava a lhe dar ao
menos uma refeição. Balor, ardilosamente, lhe
preparou um baquete suntuoso, e disse-lhe
que não deveria deixar nada, senão sentir-se-
ia insultado e o mataria por isso! Dagda então
comeu todo o banquete sozinho, até o último
pedaço. Balor então mandou seus cozinheiros
prepararem tonéis da cerveja mais amarga
para Dagda, que as bebeu todas, sem deixar
uma gota. Quando então foi descansar na
praia (e fingindo estar bêbado), foi seguido
por soldados Fomorianos que pretendiam
matá-lo assim que adormecesse. Porém, os
feitos gastronômicos de Dagda apaixonaram
uma druida Fomoriana chamada Elen, que foi
avisar-lhe da emboscada. Dagda enfeitiçou os
guardas que logo adormeceram, e fez amor
com a Fomoriana na areia da praia, logo
retornando para Lugh com as informações de
seus inimigos e uma amante fomoriana.

não vi
viu outra alternativa
al iv que não cederde seu
Segunda Batalha de
trono e partiu para o exílio das profundezas Moytura
marinhas, reino de sua verdadeira estirpe. A batalha entre Tuatha Dé Danann e
Fomorianos se deu novamente na planície de
Espionagem de Dagda Moytura, local onde os Tuatha enfrentaram
os arkanitas Fir Bolg para tomarem Eriú. A
Bres não se deu por vencido após seu exílio. batalha foi tão sangrenta quanto a primeira:
Convencendo Balor de que os seus poderiam os dois exércitos se engalfinharam numa luta
alcançar o poder, o Rei Fomoriano começou a sangrenta de morte e fúria, ambos os lados tão
preparar os seus para enfrentar os Tuatha. Sete brutais quanto ferozes. Ao fim do primeiro
anos se prepararam, enquanto que os Tuatha dia de batalha, ambos recuaram para seus
também armaram e treinaram seus guerreiros acampamentos, mais para reorganizarem-
para esse embate, que foi descoberto logo no se do que para descansar. Diancecht, o deus
princípio por espiões elementais da água. Lugh da cura, trouxe novamente os soldados
Mãolonga, neto de Balor, que a essa época Tuatha de volta à vida, e no segundo dia
havia se reunido ao panteão celta, ganhou de batalha os Fomorianos viram o exército
a confiança dos Tuatha e foi incumbido de inimigo quase intacto, inclusive suas próprias
ser o líder militar dessa batalha. Ele enviou armas, que foram reforjadas por Gobniu, o
o deus Dagda para espionar os inimigos, que deus ferreiro. Balor então enviou Ruadan,
prontamente aceitou sua missão. Uma vez que filho de Bres, para espionar os inimigos, e
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Celtas RPG
acabou descobrindo o segredo. Tentou matar
Gobniu, mas acabou assassinado pela própria
arma. Outros espiões descobriram o segredo
das ressurreições de Diancecht, que dependia
de um veio de água para surtir efeito, fonte
essa que os Fomorianos destruíram antes do
próximo embate, o qual lançaram rapidamente
para impedir que os Tuatha recuperassem
a fonte. Lugh Mãolonga, enfurecido com o
ato de seus inimigos, e ciente da Geas que o
destinara a derrotar Balor, o desafiou para um
combate um-a-um. Balor, talvez esquecido
de seu próprio destino negro, aceitou a
batalha. Enquanto abria seu terrível olho
desintegrador, Lugh empunhou sua funda
e lançou um tathlum – seixo mágico feito
do sangue endurecido de leões e ursos. Ele
acertou em cheio o olho do Fomoriano, com
tanta força que a órbita foi arrancada do rosto
do rei e atirada aos pés de seu exército. O
olho maligno ainda reteve suas propriedades
mesmo depois de arrancado, para o terror dos
soldados deformados, que foram dizimados
aos milhares. E com grande desvantagem
numérica, os Fomorianos foram massacrados.
Os poucos que sobreviveram (incluindo
Bres, Balor e seu filho, Balkor) fugiram para
os mares, largando suas armas pra trás. O
Olho de Balor ainda é um poderoso artefato
até os dias de hoje, guardado pelo rei Balkor
em uma urna esférica e utilizado apenas nas
piores batalhas.

A Queda de Balor
A cegueira do olho maldito de Balor e sua
derrota nas mãos dos Tuatha foi um impacto
terrível para os fomorianos, que liderados
pelo seu filho, Balkor, o destronaram e o
expulsaram de seu povo. Balor, derrotado e
enfraquecido, vagou pelas terras humanas até
encontrar um lugar nos Magos Vermelhos,
onde passou a praticar magias que lhe
permitiram enxergar o calor dos corpos, uma
vantagem que não lhe era tão imprescindível
quanto agora, sem seu terrível trunfo. Balor
rapidamente ascendeu nas fileiras da Ordem
com poder e brutalidade, afinal, ele não
havia se tornado rei de sua raça apenas por

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