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MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS

Renato Brasileiro de Lima


Direito Processual Penal
Aula 05

ROTEIRO DE AULA

AÇÃO PENAL III + COMPETÊNCIA CRIMINAL

AÇÃO PENAL III

7. REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO.
7.1. Conceito.
É a manifestação do ofendido ou de seu representante legal no sentido de que possui interesse na persecução
penal do fato delituoso.

STJ: “(...) É firme o entendimento desta Corte, nas hipóteses de crimes sexuais, que a representação da ofendida
ou de seu representante legal prescinde de rigor formal, sendo suficiente a demonstração inequívoca da parte
interessada de que seja apurada e processada. In casu, tal como anotado no parecer ministerial, a narração da
violência sexual efetuada pela vítima à autoridade policial e reproduzida em juízo, ostentando riqueza de
detalhes, bem se presta a substituir a reclamada representação, que deve ter aqui relevada a sua
indispensabilidade”. (STJ, 5ª Turma, HC 89.475/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 28/08/2008, DJe
22/09/2008).

7.2. Natureza Jurídica.


Em regra, trata-se de condição de procedibilidade. Todavia, se o processo estiver em andamento e a lei passar a
condicionar seu prosseguimento à representação, a natureza jurídica será de condição de prosseguibilidade.

7.3. Retratação da Representação.


Retratar significa voltar atrás, arrepender-se. Logo, na retratação da representação, a pessoa que já exercitou o seu
direito, após maior reflexão, entendeu por bem voltar atrás. E, de acordo com o CPP, a representação será
irretratável depois de oferecida a denúncia - não confundir oferecimento com recebimento, momentos processuais
distintos -. A contrario sensu, será retratável até o oferecimento da denúncia.
A maioria da doutrina entende possível a retratação da retratação da representação, desde que efetivada antes do
decurso do prazo decadencial - 6 meses a contar do conhecimento da autoria do fato delituoso -.

CPP
CPP, Art. 25. A representação será irretratável depois de oferecida a denúncia.

- Retratação da representação na Lei Maria da Penha


Renunciar significa abrir mão de um direito que jamais foi exercido.
Embora o art. 16 da Lei Maria da Penha faça uso do termo renúncia, deve ser lido como retratação, uma vez que, no
caso concreto, a vítima representou, motivo pelo qual o MP foi autorizado ao oferecimento da denúncia. Mas, com
o seu posterior arrependimento, pretende voltar atrás, ou seja, retratar-se.

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A peculiaridade da Lei Maria da Penha, portanto, diz respeito à possibilidade de a retração ocorrer até o
recebimento da denúncia. Porém, para que produza efeitos, deve a retratação ocorrer perante o juiz em audiência
especialmente designada para tal fim, com o fito de que seja aferida a voluntariedade do ato. Esta audiência
somente será realizada se a vítima manifestar previamente interesse em se retratar.

Lei 11.340/06
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade,
antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

STJ: “(...) A audiência de que trata o art. 16, da Lei n.º 11.340/06, não deve ser realizada ex officio, como condição
da abertura da ação penal, sob pena de constrangimento ilegal à mulher, vítima de violência doméstica e familiar,
pois configuraria ato de 'ratificação' da representação, inadmissível na espécie. A realização da referida audiência
deve ser precedida de manifestação de vontade da ofendida, se assim ela o desejar, em retratar-se da
representação anteriormente registrada, cabendo ao magistrado verificar a espontaneidade e a liberdade na
prática do referido ato”. (STJ, 5ª Turma, RMS 34.607/MS, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu, j. 13/09/2011).

7.4. Eficácia Objetiva da Representação.


Feita a representação em relação a um fato delituoso, todos os coautores e partícipes desse fato poderão ser
denunciados. Porém, feita a representação em relação a um único fato delituoso, não pode o MP oferecer denúncia
em relação a outros fatos delituosos.

STF: “(...) O fato que constitui objeto da representação oferecida pelo ofendido (ou, quando for o caso, por seu
representante legal) traduz limitação material ao poder persecutório do Ministério Público, que não poderá,
agindo "ultra vires", proceder a uma indevida ampliação objetiva da "delatio criminis" postulatória, para, desse
modo, incluir, na denúncia, outros delitos cuja perseguibilidade, embora dependente de representação, não foi
nesta pleiteada por aquele que a formulou. (...) Hipótese em que o Ministério Público ofereceu denúncia por
suposta prática dos crimes de calúnia, difamação e injúria, não obstante pleiteada, unicamente, pelo magistrado
autor da delação postulatória (representação), instauração de "persecutio criminis" pelo delito de injúria.
Inadmissibilidade dessa ampliação objetiva da acusação penal”. (STF, 2ª Turma, HC 98.237/SP, Rel. Min. Celso de
Mello, j. 15/12/2009).

8. REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA.

8.1. Conceito.
É a manifestação do Ministro da Justiça demonstrando interesse na persecução penal. Ex.: crimes contra a honra do
Presidente da República e contra Chefe de Estado Estrangeiro.
ATENÇÃO: Não é sinônimo de ordem, mas autorização para atuação do MP, o qual continua sendo titular da ação
penal pública.

8.2. Natureza Jurídica.


Em regra, trata-se de condição de procedibilidade. Todavia, se o processo estiver em andamento e a lei passar a
condicionar seu prosseguimento à representação, a natureza jurídica será de condição de prosseguibilidade.

8.3. Retratação da requisição.


A maioria dos autores admitem a retração da requisição, à semelhança do que ocorre com a representação,
devendo se dar até o oferecimento da denúncia.

8.4. Inexistência de prazo decadencial.


Prevalece o entendimento que a requisição do Ministro da Justiça não está sujeita à decadência - perda do direito de
ação penal privada ou do direito de representação em virtude da inércia do ofendido -. Não obstante, o crime está sujeito à
prescrição.

9. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA (AÇÃO PENAL ACIDENTALMENTE PRIVADA/SUPLETIVA).

CF/88.
Art. 5º (...) .
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;

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9.1. Cabimento.
O pressuposto básico é a inércia do MP. Alguns autores asseveram que a inércia pode decorrer do aparelho estatal
como um todo, não apenas do MP. Ex.: se a polícia não investigar.
Anote-se que a inércia deve ser total, absoluta, não se configurando se o MP tiver solicitado o arquivamento dos
autos ou requisitado diligências, por exemplo.
ATENÇÃO: O surgimento do direito de ação penal privada subsidiária da pública, em virtude da inércia do MP, não
transforma a natureza da ação penal pública.

STF: “(...) A ação penal relativa aos crimes tipificados nos artigos 171 e 177 do Código Penal é pública
incondicionada. A ação penal privada subsidiária da pública, prevista no artigo 29 do Código de Processo Penal, só
tem cabimento quando há inércia do Ministério Público, o que não ocorreu no caso sob exame. Hipótese em que
o parecer do Ministério Público, no sentido da rejeição da queixa-crime, por atipicidade, equivale, na verdade, à
requisição de arquivamento do feito”. (STF, Pleno, Inq. 2.242 AgR/DF, Rel. Min. Eros Grau, j. 07/06/2006, DJ
25/08/2006).

- Necessidade de vítima determinada.

- Exceções:
a) Crimes contra as relações de consumo (Lei 8.078/90);
b) Crimes falimentares (Lei 11.101/05).

Lei 8.078/90 (CDC).


Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como a outros crimes e contravenções
que envolvam relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do Ministério Público, os legitimados
indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor ação penal subsidiária, se a denúncia não
for oferecida no prazo legal.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: (Redação dada pela Lei nº
9.008, de 21.3.1995)
(...)
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica,
especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.

Lei 11.101/05
Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1º, sem que o representante do Ministério Público
ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá oferecer ação penal privada
subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses.

9.2. Prazo decadencial (decadência imprópria).

Decorrido o prazo de 6 meses, haverá decadência, mas não haverá a extinção da punibilidade. Denomina-se
decadência imprópria porque não tem o condão de extinguir a punibilidade.

CPP.
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de
representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o
autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos
casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.

- Termo inicial para contagem do prazo decadencial:


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Prevê o artigo 38 que o prazo decadencial terá dois marcos iniciais: 1. O momento do conhecimento da autoria,
como regra; 2. No caso da ação penal privada subsidiária, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da
denúncia. Neste segundo caso, deve ser considerada a data em que caracterizada a inércia do MP.

9.3. Poderes do MP na ação penal privada subsidiária da pública.

CPP.
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo
ao Ministério Público aditar a queixa (1), repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva (2), intervir em todos os
termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso (3) e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal.

(1) Aditar para acrescentar elementos essenciais e acidentais. Considerando que o crime sempre continuará sendo
de ação penal pública e, portanto, de titularidade do MP, pode haver inclusão de novos crimes, novos acusados,
assim como para inclusão de dados referentes ao tempo/modo/forma do delito.

(2) Repudiar significa descartar e, segundo alguns doutrinadores, poderá fazê-lo mesmo que inexistente qualquer
defeito na queixa subsidiária. Porém, repudiada, deverá obrigatoriamente o MP ofertar denúncia substitutiva. Se
assim não fosse, haveria negação ao direito à ação penal subsidiária.
Assim, podemos conceituar denúncia substitutiva como a denúncia oferecida pelo MP para substituir uma queixa
crime subsidiária por ele repudiada.

(3) A participação do MP é obrigatória, e ao contrário do que ocorre na ação penal exclusivamente privada, a não
intervenção é causa de nulidade absoluta.

(4) A negligência do querelante nos autos da ação penal privada subsidiária da pública obriga o MP a retomá-la
como parte principal, não induzindo à perempção - esta só atinge os crimes de ação penal exclusivamente privada e os crimes de
ação penal privada personalíssima, nos termos do artigo 60 do CPP -. Segundo a doutrina, trata-se de hipótese de ação penal
indireta.

10. AÇÃO PENAL NOS CRIMES DE LESÃO LEVE PRATICADOS COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER.

- Conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher:


Conceitua-se a partir da conjugação do artigo 5º e do artigo 7º da Lei n. 11.340/06.

Lei 11.340/06.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou
sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
(...)
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

- Formas de violência doméstica e familiar contra a mulher:

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

Art. 7º (...)
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da
autoestima ou que lhe prejudique. e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,

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isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação;

Art. 7º (...)
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar
de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

Art. 7º (...)
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

Art. 7º (...)
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria

- Ação penal nos crimes de lesão corporal leve e lesão culposa:

Lei 9.099/95.
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal
relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.

Lei 11.340/06
Art. 41. Aos crimes* praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena
prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

*Segundo entendimento do STF, aos crimes e às contravenções - ex.: vias de fato -.

STF: “(...) AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO CORPORAL – NATUREZA. A ação
penal relativa a lesão corporal - LEVE - resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada –
considerações”. (STF, Pleno, ADI 4.424/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012).

STF: “(...) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS MASCULINO E FEMININO – TRATAMENTO
DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado entre os gêneros
– mulher e homem –, harmônica com a Constituição Federal, no que necessária a proteção ante as peculiaridades
física e moral da mulher e a cultura brasileira. COMPETÊNCIA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 –
JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no que
revela a conveniência de criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, não implica
usurpação da competência normativa dos estados quanto à própria organização judiciária. VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95 – AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº
11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em
consonância com o disposto no § 8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado
adotar mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações familiares”. (STF, Pleno, ADC 19/DF, Rel. Min.
Marco Aurélio, j. 09/02/2012).

Súmula n. 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo (1) e a transação penal (2) não se aplicam na hipótese
de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”.

(1) (2): São institutos previstos na Lei n. 9.099/95, nos artigos 89 e 76, respectivamente, logo não se aplicam aos
casos de violência doméstica.

Súmula n. 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica e
familiar contra a mulher é pública incondicionada”.
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QUESTIONA-SE: Qual a espécie de ação penal nos crimes de lesão corporal leve, grave e gravíssima, praticada com
violência doméstica ou familiar contra a mulher? AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA. E para os crimes de
lesão corporal culposa? AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA.

ATENÇÃO: Lesão corporal culposa não entra no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher. A Lei
Maria da Penha trata de uma violência de gênero, por meio da qual o agente se aproveita da situação de
vulnerabilidade da vítima. Logo, as disposições da Lei Maria da Penha só incidem sobre delitos dolosos.

11. PEÇA ACUSATÓRIA.

AÇÃO PENAL PÚBLICA - qualquer que seja a espécie, a inicial acusatória é denominada DENÚNCIA.
AÇÃO PENAL PRIVADA - qualquer que seja a espécie, a inicial acusatória é denominada QUEIXA-CRIME.

- É possível haver um único processo com duas peças acusatórias (denúncia + queixa)?
Sim, perfeitamente possível o simultaneus processus, se houver conexão ou continência entre crimes de ação penal
pública e crimes de ação penal privada.

11.1. Requisitos da peça acusatória

CPP.
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando
necessário, o rol das testemunhas.

Alguns doutrinadores acrescentarão outros requisitos a esse rol, como por exemplo que a denúncia ou queixa deve
ser subscrita pelo promotor de justiça ou pelo advogado ou defensor do ofendido, com o fito de conferir
autenticidade à peça acusatória; outros que a redação deve ser redigida em vernáculo.

a) Exposição do fato delituoso:


- Imputação: atribuição, a alguém, da prática de determinada infração penal, funcionando como ato processual
por meio do qual se formula a pretensão penal.

- Roteiro da denúncia:
O que aconteceu?
Quando?
Por que?
Como?
Contra quem?

- Agravantes e atenuantes:

CPP.
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público
tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.

STF: “(...) As agravantes, ao contrário das qualificadoras, sequer precisam constar da denúncia para serem
reconhecidas pelo Juiz. É suficiente, para que incidam no cálculo da pena, a existência nos autos de elementos
que as identifiquem. No caso sob exame, consta na sentença que a paciente organizou a cooperação no crime,
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dirigindo a atividade criminosa. Ordem denegada”. (STF, 2ª Turma, HC 93.211/DF, j. 12/02/2008).

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STJ: “(...) A denúncia é inepta, pois não descreveu qual a conduta praticada pelo paciente, que decorreria de
negligência, imprudência ou perícia, a qual teria ocasionado a produção do resultado naturalístico. O fato de o
paciente ter perdido o "controle da direção" e ter, em consequência, invadido a contramão, não é típico. A
tipicidade, se houvesse, estaria na causa da perda do controle do veículo. Essa, entretanto, não é mencionada na
peça acusatória”. (STJ, 6ª Turma, HC 188.023/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 1º/09/2011).

- Denúncia genérica:

STF: “(...) Nos crimes contra a ordem tributária a ação penal é pública. Quando se trata de crime societário, a
denúncia não pode ser genérica. Ela deve estabelecer o vínculo do administrador ao ato ilícito que lhe está sendo
imputado. É necessário que descreva, de forma direta e objetiva, a ação ou omissão da paciente. Do contrário,
ofende os requisitos do CPP, art. 41 e os Tratados Internacionais sobre o tema. Igualmente, os princípios
constitucionais da ampla defesa e do contraditório. Denúncia que imputa co-responsabilidade e não descreve a
responsabilidade de cada agente, é inepta. O princípio da responsabilidade penal adotado pelo sistema jurídico
brasileiro é o pessoal (subjetivo). A autorização pretoriana de denúncia genérica para os crimes de autoria
coletiva não pode servir de escudo retórico para a não descrição mínima da participação de cada agente na
conduta delitiva. Uma coisa é a desnecessidade de pormenorizar. Outra, é a ausência absoluta de vínculo do fato
descrito com a pessoa do denunciado. Habeas deferido”. (STF, 2ª Turma, HC 80.549/SP, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ
24/08/2001).

b) Qualificação do acusado:

- Recusa do réu em fornecer sua identidade civil:

CPP.
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da
pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado
imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

CPP.
Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não
retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo, do julgamento
ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo, nos autos, sem
prejuízo da validade dos atos precedentes.

c) Classificação do crime:
Classificar corresponde à indicação do diploma normativo, artigos, qualificadoras e privilégios.
Eventual equívoco quanto à classificação, porém, não autoriza a rejeição da peça acusatória.

d) Rol de testemunhas:
Em tese, a não apresentação do rol de testemunhas na inicial acusatória dá ensejo à preclusão temporal - processo é
marcha para frente. Não obstante, em julgado recente, no RHC 37.587, a 5ª Turma do STJ entendeu possível a
aplicação analógica do artigo 321 do novo CPC. Isto é, havendo vício na petição inicial, pode o juiz intimar a parte
para emendar ou completar no prazo de 15 dias. Observe-se ainda que a 6ª Turma do STJ não concorda com esse
posicionamento, sob o fundamento de que ao juiz não é permitido determinar a intimação do MP para emendar a
inicial, sob pena de ofensa ao princípio da imparcialidade, o qual deve pautar a sua atuação.

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STJ: “(...) O limite máximo de 8 (oito) testemunhas descrito no art. 401, do Código de Processo Penal, deve ser
interpretado em consonância com a norma constitucional que garante a ampla defesa no processo penal (art. 5º,
LV, da CF/88). Para cada fato delituoso imputado ao acusado, não só a defesa, mas também a acusação, poderá
arrolar até 8 (oito) testemunhas, levando-se em conta o princípio da razoabilidade e proporcionalidade”. (STJ, 5ª
Turma, HC 55.702/ES, Rel. Min. Honildo Amaral de Mello Castro, j. 05/10/2010).

e) Procuração da queixa-crime;
Deve a procuração conter poderes especiais, o nome do querelado - não do querelante como equivocadamente escrito no
artigo 44 do CPP -, menção ao fato delituoso.
Quanto ao item menção do fato delituoso, alguns autores afirmam ser suficiente a indicação do delito, outros
exigem a descrição do fato delituoso.

CPP
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do
mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de
diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.

- Vícios da Procuração:
Eventuais vícios da procuração podem ser supridos se o querelante também assinar a queixa, bem como após o
decurso do prazo decadencial, para alguns autores.

CPP.
Art. 568. A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo sanada, mediante
ratificação dos atos processuais.

STJ: “(...) A procuração outorgada pelo querelante ao seu advogado para fins de ingresso com queixa-crime não
requer a descrição pormenorizada do fato criminoso”. (STJ, 3ª Seção, Rcl 5.478/DF, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, j. 14/09/2011).

STF: “(...) O defeito da procuração outorgada pelas querelantes ao seu advogado, para requerer abertura de
inquérito policial, sem menção do fato criminoso, constitui hipótese de ilegitimidade do representante da parte,
que, a teor do art. 568 C.Pr.Pen., "poderá ser a todo o tempo sanada, mediante ratificação dos atos processuais"
(RHC 65.879, Célio Borja); Na espécie, a presença das querelantes em audiências realizadas depois de findo o
prazo decadencial basta a suprir o defeito da procuração”. (STF, 1ª Turma, HC 84.397/DF, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, j. 21/09/2004, DJ 12/11/2004).

11.2. Prazo para Oferecimento da Peça Acusatória.

CPP.
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Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o
órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou

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afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da
data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.
(...)

Art. 46 (...)
§ 1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-
se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação
§ 2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público
receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que aditar,
prosseguindo-se nos demais termos do processo.

COMPETÊNCIA
CRIMINAL

1. Jurisdição.
Função do Estado exercida precipuamente pelo Poder Judiciário objetivando a aplicação do direito objetivo ao caso
concreto.

2. Princípio do juiz natural (juiz constitucional para alguns autores).

a) Conceito:

Consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade jurisdicional que irá
processar e julgá-lo caso venha a praticar um fato delituoso.

b) Previsão constitucional:

CF/88
Art. 5º (...)
(...)
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
(...)

CF/88
Art. 5º (...)
(...)
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
(...)

- Justiças “Especiais”: não podem ser consideradas “Tribunais de Exceção”. Isso porque os Tribunais ou Juízos
Especiais são criados antes da prática dos fatos que irão julgar, e têm competência determinada por regras gerais
.
e abstratas, com base em critérios objetivos, e não para um caso particular ou individualmente considerado,
escolhido segundo critérios discriminatórios.

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- Regras de proteção que derivam do juiz natural:
- Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição;
- Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;
- Entre os Juízos pré-constituídos vigora ordem taxativa de competências que exclui qualquer alternativa
deferida à discricionariedade de quem quer que seja;

3. COMPETÊNCIA.

3.1. Conceito.
É a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão jurisdicional poderá aplicar o direito objetivo ao caso
concreto.

3.1. Espécies de Competência.

a) Ratione materiae: competência estabelecida em razão da natureza do delito. Ex.: crimes militares - Justiça
Militar; crimes eleitorais - Justiça Eleitoral; crimes contra a vida - Tribunal do Júri etc.

b) Ratione personae (funcionae): competência estabelecida em razão da pessoa.

c) Ratione loci: competência territorial, determinada pelo local da consumação do delito como regra, nos termos do
artigo 70 do CPP. Se tentado, local do último ato de execução.

d) Competência funcional:

i. Por fase do processo: um órgão jurisdicional diverso exercerá a competência de acordo com a fase do
processo. Ex.: procedimento escalonado do Tribunal do Júri;
ii. Por objeto do juízo: cada órgão jurisdicional exercerá competência em relação a determinadas questões a
serem decididas. Ex: julgamento do acusado pelo Júri;
iii. Por grau de jurisdição: divide os órgãos jurisdicionais em superiores e inferiores, não apenas para fins
recursais, mas também porque algumas autoridades detêm o direito de serem julgadas originariamente
pelos tribunais.

Há ainda doutrinadores que a dividem em:


 Competência funcional horizontal: os órgãos jurisdicionais estão no mesmo grau hierárquico,
como na competência funcional por fase do processo e na competência funcional por objeto do
juízo.
 Competência funcional vertical: os órgãos jurisdicionais estão em graus hierárquicos diversos,
como na competência funcional por grau de jurisdição.

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