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Manuel J.

Gandra

ORDENS LUSO-BRASILEIRAS
E SUAS INSÍGNIAS

Mafra – Rio de Janeiro


2017
Editores: Instituto Mukharajj Brasilan & Centro Ernesto Soares de Iconografia e
Simbólica-Cesdies
Est. da Grota Funda, 2440 – Guaratiba
Rio de Janeiro/RJ – CEP 22785-330
Tel.: +5521 9399-0997
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Site: www.imub.org

Título: ORDENS LUSO-BRASILEIRAS E SUAS INSÍGNIAS


Autor: Manuel J. Gandra
Cordemação Editorial: Loryel Rocha [loryel@brasilan.com.br]
Projeto Gráfico: Diogo Gandra
Design da Capa: Diogo Gandra

Copyright: ©Manuel J. Gandra/Instituto Mukharajj Edições


Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada por escrito, do autor ou
do Instituto Mukharajj Brasilan, no todo ou em parte, por quaisquer que sejam os
meios, constitui violação das leis em vigor.

Fale com o Autor: manueljgandra@gmail.com

1ª Edição Luso-Brasileira: Junho de 2017 – 102 exemplares, todos numerados e


assinados pelo autor; e-book.- impresso a pedido.
ÍNDICE

Preâmbulo 5

ORDENS MÍTICAS
Ordem de Mariz 15
Ordem da Asa de São Miguel 23
Ordem da Espada 31

ORDENS EFÉMERAS
Ordem da Madressilva 41
Ala dos Namorados 43
Ordem da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo 45

ORDENS MILITARES
Ordem de S. Bento de Avis 57
Ordem de Santiago da Espada 65
Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e divisa de São Sebastião 77

ORDENS HONORÍFICAS
Ordem da Torre e Espada 107
Grã-Cruz das Três Ordem Militares 133
Duas Ordens Militares de Cristo e Avis 153
Duas Ordens Militares de Cristo e Santiago da Espada 155
Ordem de Nossa Senhora da Conceição 157
Real Ordem de Santa Isabel 173
Imperial Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo 183
Imperial Ordem de S. Bento de Avis 189
Imperial Ordem de Santiago da Espada 193
Três Ordens Militares – Brasil 197
Banda das Três Ordens 199
Banda das Duas Ordens 201

ORDEM TEMPLÁRIA DE PORTUGAL 205

ORDENS ANTIMAÇÓNICAS
Nobre Ordem do Apostolado dos Cavaleiros de Santa Cruz 231
Ordem de São Miguel da Ala 233

ADENDA
Lei Orgânica das Ordens Honoríficas Portuguesas 243

3
Acrónimos

ACL = Academia das Ciências de Lisboa


AHME = Arquivo Histórico do Ministério do Exército
AHMF =Arquivo Histórico do Ministério das Finanças
AHNRJ = Arquivo Histórico Nacional do Rio de Janeiro
ANTT = Arquivo Nacional da Torre do Tombo
BA = Biblioteca da Ajuda
BAC = Biblioteca da Academia das Ciências
BANBA = Biblioteca da Academia Nacional de Belas Artes
BFC = Biblioteca da Faculdade de Ciências
BN = Biblioteca Nacional
BNRJ = Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
BPÉv = Biblioteca Pública de Évora
BPNM = Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
BSRoque = Biblioteca de São Roque
BUC = Biblioteca da Universidade de Coimbra
PNA = Palácio Nacional da Ajuda
PNQ = Palácio Nacional de Queluz

4
PREÂMBULO

A partir de D. Manuel I os monarcas portugueses ao serem


aclamados assumiam automaticamente o Grão-mestrado de todas as
Ordens nacionais, prerrogativa que havia de ser homologada in
perpetuum, à Coroa portuguesa, pela bula Praeclara Charissimi, de 30
de Novembro de 1551, do Papa Júlio III.
Proclamada a República, foram, por decreto de 15 de Outubro de
1910, extintas todas as antigas ordens nobiliárquicas, mantendo-se
apenas a Ordem Militar da Torre e Espada, cujo quadro seria revisto
para irradiação de todos os respectivos dignitários que não tivessem
sido agraciados por actos de valor militar em defesa da Pátria.
E, por Decreto de 23 do mesmo mês, foi também abolido o
Juramento da Imaculada Conceição 1.
Só o Decreto n. 5030, de 1 de Dezembro de 1918, acabaria
finalmente por restabelecer as Ordens de Cristo, de Santiago da
Espada e de S. Bento de Avis, com os graus tradicionais de Grã-cruzes,
Comendadores e Cavaleiros, e também a Banda das Três Ordens,
privativa do Presidente da República, enquanto Grão-mestre de todas
elas. Finalmente, com a publicação do Decreto n. 6205, de 8 de
Novembro de 1919, havia de ser promulgado o Regulamento das
Ordens Militares Portuguesas (Torre e Espada, Cristo, Avis e S. Tiago
da Espada) que com algumas alterações e aditamentos ulteriores se
encontra em vigor 2.

1 A Lei nº 635 de 28 de Setembro de 1916 veio permitir que os feitos cívicos e os actos
militares pudessem ser galardoados com ordens honoríficas, condecorações ou diplomas
especiais, sendo restaurada pelo Decreto n. 3384, de 25 de Setembro de 1917, a Ordem
de Avis, e restabelecida pelo Decreto n. 3386, do seguinte dia 26, a Ordem da Torre e
Espada, mas com os graus respectivos escalonados em classes.
2 Para uma apreciação global da questão, além da legislação a seu tempo citada e

transcrita, consulte-se: Aleixo Tavano e José Augusto da Silva, Notícia Histórica das
Ordens Militares e Civis Portuguesas e Legislação respectiva desde 1789, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1881; Regulamento para a cobrança dos emolumentos pelo registo
de cartas de mercês honoríficas...: aprovado por decreto de 24 de Dezembro de 1901,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1902 [BN: SC 11357 (19º) P]; Álvaro Augusto da Fonseca e
João de Macedo e Chaves, Ordens Honoríficas Portuguesas, Lisboa, Imprensa
Nacional-Livraria Sá da Costa, 1964, 2 vols.; Ordens honoríficas portuguesas:

5
*

Transferida a Corte para o Brasil, no ano de 1808, D. João VI


continuou a conceder condecorações, na sua maioria, impostas a
súbditos residentes em Portugal, ou no Brasil, entre emigrados e
brasileiros, particularmente a magistrados e a militares, que tinham,
com excepção dos recipiendários do grau da Grã-Cruz da Ordem de
Avis 3, de adquirir as respectivas insígnias aos fabricantes locais.
O aumento exponencial de agraciados nas antigas Ordens
Militares, bem como nas novas Ordens criadas no Brasil (Real Ordem
da Torre e Espada, em 1808 e Ordem Militar de Nossa Senhora da
Conceição de Vila Viçosa, em 1818), durante a permanência da Corte
no Rio de Janeiro 4, infere-se das notícias consignadas na Gazeta do
Rio de Janeiro, tendo a consequente procura de insígnias originado
um assinalável fluxo de importações por agentes dos fornecedores
portugueses e estrangeiros, especialmente franceses (com destaque
para Durand & Comp.ª), como denotam os anúncios publicados no
supracitado periódico pelo comerciante Carlos Durand e C.ª, com
armazém na rua Direita n. 9 5.

decretos-lei nº 44721, 45281, 45480 e 45498, Lisboa, [s.n.], 1964 [BN: SC 23704 V];
Ordens Honoríficas Portuguesas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1968 [BN: SC 32106 V],
Diário da República, I série, n. 287 (15 Dez. 1986), Lei Orgânica das Ordens
Honoríficas Portuguesas (Decreto-Lei n. 414-A/86, de 15 de Dezembro), Regulamento
das Ordens Honoríficas Portuguesas (Decreto Regulamentar n. 71-A/86 de 15 de
Dezembro, Diário da República, I série, n. 58 de 10 Mar. 1988), Lei das Ordens
Honoríficas Portuguesas, n. 5/2011 (Diário da República, I série, n. 43 de 2 Mar. 2011).
3 Com efeito, a carta de nomeação era acompanhada pela entrega da medalha (com ou

sem a banda de seda), cujo custo era suportado pelo Erário Régio. A medalha teria de
ser devolvida, por morte do dignitário, para ser entregue ao próximo nomeado. Algumas
destas devoluções acham-se documentadas em assentos coevos e em livros de registo
pertencentes ao acervo do ANTT.
4 Artidoro Xavier Pinheiro publicou a estatística das condecorações concedidas por D.

João VI no Brasil, bem como, a estatística completa e anual das insígnias concedidas
por D. Pedro I e por D. Pedro II nas diferentes Ordens Honoríficas do Império, com
base nos livros de registo das condecorações brasileiras existentes no ANTT. Cf.
Organização das Ordens Honoríficas do Império do Brasil, São Paulo, 1884. Tal
estatística seria depois alargada até à implantação da República, em 1889, por Luis
Marques Poliano, Ordens Honoríficas do Brasil (História, Organização, Padrões,
Legislação), Rio de Janeiro, 1943.
5 Cf. Gazeta do Rio de Janeiro, n. 11 (6 Fev. 1819), n. 27 (3 Mar. 1819), n. 84 (20 Out.

1819), n. 9 (29 Jan. 1820), n. 23 (21 Mar. 1820), etc. A casa Durand & Comp.ª cessou a
sua actividade no Rio de Janeiro. em Julho de 1821.

6
A 22 de Abril de 1820, dias antes de regressar à metrópole, D.
João VI delegou no primogénito o governo geral e a administração do
Reino do Brasil, outorgando-lhe os títulos de Príncipe Regente e de
seu Lugar-Tenente, “deixando-o amparado com as Instruções” por que
devia reger-se, publicadas em anexo ao real decreto dessa data, onde
ficou expresso que:

“[...] poderá o Príncipe conferir, como Graças honoríficas, os Hábitos


das Três Ordens Militares, de Cristo, S. Bento de Avis, e S. Tiago da
Espada, às pessoas, que julgar dignas dessa distinção; podendo
conceder-lhes logo o uso da Insígnia, e as dispensas do estilo para a
Profissão [...]” 6.

Durante este período da sua regência, D. Pedro conferiu as


primeiras insígnias no dia do aniversário do rei, a 13 de Maio de 1821,
continuando a fazer uso da faculdade de despachar os hábitos das
antigas Ordens Militares de Portugal durante todo o ano de 1822.
Na Carta-Patente, que antecedeu a assinatura do Tratado de
Paz e Aliança entre Portugal e o Brasil (29 de Agosto de 1825),
mediante a qual o Brasil se emancipou do Reino de Portugal,
transferindo para D. Pedro o pleno exercício da soberania do novo
Império, ao mesmo tempo que lhe conservava o título de Príncipe Real
de Portugal e Algarves, D. João VI recorda, expressamente, o que aos
negócios concernentes às antigas Ordens Militares dizia respeito:

“[...]. Sou também servido, como Grão-Mestre, Governador e perpétuo


Administrador dos Mestrados, Cavalaria e Ordens de Nosso Senhor
Jesus Cristo, de S. Bento de Avis e de S. Tiago da Espada, delegar,
como delego, no dito filho, Imperador do Brasil e Príncipe Real de
Portugal e Algarves, toda a comprida jurisdição e poder para conferir
os benefícios da primeira Ordem e os hábitos de todas elas no dito
Império [...]” 7.

6
Gazeta Extraordinária do Rio de Janeiro, n. 8 (26 Abr. 1821).
7 Esta Carta-Patente foi assinada em Queluz, por ocasião do derradeiro aniversário
natalício de D. João VI. Publicada por António Vianna, A Emancipação do Brasil
1808–1825, Lisboa, Anuário Comercial, 1922, doc. n. 7, p. 519.

7
A morte de D. João VI, em Março de 1826, e a aclamação do
Imperador do Brasil como Rei de Portugal e dos Algarves, apesar de
efémera, elevou, transitoriamente, D. Pedro à dignidade de Grão-
Mestre das Ordens Militares e Honoríficas Portuguesas, e veio
suscitar a necessidade de resolver a questão pendente da definição dos
termos da posse e gozo pelo Império do Brasil, de todos os direitos e
privilégios anteriormente concedidos pela Santa Sé ao reis de Portugal,
enquanto administradores do Grão-Mestrado das Ordens Militares de
Cristo, Avis e Santiago.
D. Pedro solicitou ao Papa Leão XII a concessão de tais direitos
e privilégios, dele tendo obtido a bula Praeclara Portugalliae
Algarbiorumque Regum, remetida de Roma, aos 15 de Maio de 1827,
mediante a qual foi criado no Brasil um novo Grão-Mestrado das
Ordens Militares de Cristo, de São Bento de Avis e de Santiago da
Espada, independente do Grão-Mestrado das Ordens Militares de
Portugal. Além disso, concedia à Ordem de Cristo brasileira o
padroado das igrejas e benefícios do Império, transformando os
Imperadores do Brasil em seus Grão-Mestres perpétuos.
No entanto, tal bula uma vez submetida ao escrutínio do poder
legislativo brasileiro, seria liminarmente rejeitada pela Câmara dos
Deputados, em Outubro de 1827, como “manifestamente ofensiva à
Constituição e aos direitos de Sua Majestade o Imperador”.
As antigas Ordens Militares Portuguesas deixaram de existir
desde então no Brasil, tendo sido substituídas por outras com a
mesma denominação, mas reformuladas nas suas insígnias.
Foi, de facto, nesse período, entre 1825 e 1827, que D. Pedro I
modificou as insígnias brasileiras, para que se distinguissem
claramente das portuguesas, nelas introduzindo emblemática nova,
específica do Império do Brasil, apesar de inspirada na Legião de
Honra francesa:

- a estrela de cinco braços bifurcados que forma o resplendor das


insígnias da Ordem Imperial do Cruzeiro;
- inclusão da coroa imperial brasileira nos hábitos das Ordens, cujo
uso já vinha do Primeiro Reinado;
- a estrela do Cruzeiro, assente numa coroa de ramos de café e de fumo
e suspensa da coroa imperial;
- manutenção na cabeceira da placa raiada do emblema do Sagrado
Coração, em vez da coroa imperial que figura nas placas do Cruzeiro.

8
Tão prematura introdução das novas insígnias das Imperiais
Ordens de Cristo, de Avis e de Santiago 8 é, de resto, atestada por dois
óleos iconografando D. Pedro e D. Maria da Glória (futura D. Maria
II), que integram a galeria dos retratos dos senhores Reis de Portugal
da Real Companhia Velha (Vila Nova de Gaia), onde ambos já as
ostentam em data anterior à abdicação do Imperador 9.

D. Pedro, Imperador do Brasil, ostentando uma placa da Banda


das Três Ordens Militares, de cunho brasileiro
Óleo atribuído ao pintor João Baptista Ribeiro (c. 1830), pertencente
à colecção da Real Companhia Velha (Vila Nova de Gaia)

8 Marques Poliano chamou a atenção para o facto de não existir na legislação brasileira
qualquer disposição anterior a 1843, que autorize a modificação das tradicionais
insígnias das antigas Ordens portuguesas – que eram, uma cruz singela esmaltada na
cor da Ordem, para os Cavaleiros; uma cruz pendente do emblema do Sagrado Coração
de Jesus, para os Comendadores; e uma medalha oval pendente da Banda dos Grã-
Cruzes, juntamente com a placa de resplendor estrelado em raios de prata concêntricos,
tendo ao centro a cruz da Ordem e na cabeceira o mesmo emblema do Sagrado Coração.
Cf. Ob. cit., p. 81.
9 Trata-se de duas pinturas anónimas e sem data, atribuídas ao pintor portuense João

Baptista Ribeiro (1790-1868), cerca de 1830. Cf. Stanislaw Herstal, Dom Pedro. Estudo
Iconográfico, v. 3, São Paulo–Lisboa, 1972, p. 220-221, n. 627.

9
A abdicação de D. Pedro I abriu um longo período de regência,
que se prolongou de Abril de 1831 até à declaração da maioridade de
D. Pedro II, em 1840, e durante o qual não foram concedidas mercês
honoríficas.
A nacionalização das Ordens Militares Portuguesas por D.
Pedro II, doravante, consideradas Ordens Imperiais Brasileiras,
meramente civis e políticas 10, bem assim como a concessão dos seus
graus no Império do Brasil seria final e definitivamente regularizada e
regulamentada pelo Decreto n.º 321, de 9 de Setembro em 1843, cujos
três primeiros artigos estabeleciam:

“Art. 1.º - As Ordens Militares de Cristo, São Bento de Avis e São Tiago
da Espada ficam de ora em diante tidas e consideradas como
meramente civis e políticas, destinadas para remunerar serviços feitos
ao Estado, tanto pelos súbditos do Império como por estrangeiros
beneméritos.
Art. 2.º - Cada uma destas Ordens constará de Cavaleiros e
Comendadores, sem número determinado, e de 12 Grã-Cruzes; não
compreendidos neste número os Príncipes da Família Imperial e os
estrangeiros, que serão reputados supranumerários.
Art. 3.º - Os Cavaleiros, Comendadores e Grã-Cruzes das três Ordens
continuarão a usar das mesmas insígnias de que até agora têm usado,
e com as fitas das mesmas cores; sendo, porém as das Ordens de
Cristo e S. Tiago orladas de azul, e a da Ordem de S Bento de Avis
orlada de encarnado”.

Quanto à placa, constata-se que, além dos incontáveis exemplos


de fabrico local 11, existiram dois modelos distintos dessas placas, um
“português” e outro “brasileiro”, adoptados pelos fabricantes franceses
para satisfazer as encomendas das Ordens Militares, de ambas as
proveniências.
O modelo francês para o Brasil segue a tipologia adoptada desde
finais do Primeiro Reinado, eventualmente antes:

10 A identidade emblemática específica das insígnias brasileiras das três antigas Ordens
Militares Portuguesas foi objecto de duas comunicações apresentadas por António
Miguel Trigueiros ao I e ao II Congresso Luso-Brasileiro de Numismática (Rio de
Janeiro, 2000 e Brasília, 2002, respectivamente).
11 As placas de fabrico local revelam no reverso um fecho duplo em U recto invertido,

particularidade que não ocorre nas congéneres portuguesas.

10
placa de 22 raios perfurados, abrilhantados com pérolas ou
pequenas esferas, com elementos de ligação do mesmo tipo entre os
raios, sem interrupção ou interstícios; na cabeceira, o emblema do
Sagrado Coração com as fieiras de espinhos entrelaçadas de recorte
nítido; ao centro, um festão duplo prateado e dourado, perolado,
emoldura o círculo de esmalte branco onde repousa a cruz da Ordem.
No reverso, a placa mostra os raios perfurados.

O modelo francês para Portugal, pelo contrário, obedece ao


padrão dos fabricantes lisboetas dessa época:

11
placa de 24 raios perfurados (as placas portuguesas têm
normalmente 22 raios), abrilhantados com pontas de diamante, com
uma ponte de ligação entre os raios, separados entre si; na cabeceira, o
mesmo emblema do Sagrado Coração; ao centro, um festão dourado
ornamentado com 5 grupos de flores esmaltadas (nas placas de fabrico
português, este festão só tem normalmente 4 grupos de flores). No
reverso, a placa mostra os interstícios entre os raios perfurados.

A casa Lemaitre abasteceu o mercado de insígnias de Portugal e do


Brasil durante mais de 8 décadas, motivo por que muitas placas consignam o
nome do fabricante no reverso. Cerca de 1870, foi nomeada fornecedor oficial
das condecorações do Império do Brasil

12
ORDENS MÍTICAS
Ordem de Mariz

Indubitavelmente, a mais secreta e misteriosa das Ordens


iniciáticas com actividade recenseada em território português, cujo
magistério terá, alegadamente, tutelado o devir da Pátria lusíada desde
a sua génese.
São devidas ao Professor Henrique José de Sousa (1883-1963),
fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose, as primeiras e
brevíssimas notas publicitadas a respeito desta autêntica Ordem do
Subsolo, as quais o ilustre pedagogo editou sob a epígrafe O Mistério
da Ordem de Aviz, na revista Dharana, órgão daquela instituição
espiritualista:

"[…] a Ordem de Aviz (São Bento de Aviz), por sua vez, Ordem
militar e religiosa, ou melhor, com o mesmo cunho exotérico e
esotérico das verdadeiramente iniciáticas, foi instituída por Dom
Afonso Henriques, em 1162. Depois da conquista de Évora, os freires
habitaram uma parte dessa cidade, ainda hoje chamada Freiria;
passaram depois a Aviz. Em 1789, Dona Maria I secularizou esta
Ordem, cujos estatutos e insígnias foram modificados por Dom Carlos.
Suas Cruz e fita eram verdes.
Tal Ordem, entretanto, servia de escudo (ou "cobertura
exterior", Círculo de Resistência, etc.) a uma outra intitulada "Ordem
de Mariz", pouco importa que a História a desconheça por completo.
Seus raros filiados espalhavam-se por toda a parte do mundo, como
"Membros do Culto de Melquisedeque", sendo que o nome "Mariz",
que aliás inúmeras famílias nobres de Portugal o possuíram, tem por
origem: Morias, Mouros, Marús, etc., etc. Os mais antigos se reuniram
nas proximidades de certo lugar, que ainda hoje traz o nome de S.
Lourenço dos Anciães.
No distrito de Bragança, e concelho de Anciães, fica a 6
quilómetros desta vila a aldeia de Pombal, distando 104 quilómetros
para NE de Braga e 360 para N de Lisboa. No fundo de extenso
"monte", descendo para o rio Tua, brotam aí duas nascentes num local

15
denominado São Lourenço, por se achar o tanque que as recebe
construído em uma casa, que em outros tempos foi a capela dedicada
ao referido santo... Tão modesto balneário foi mandado construir em
1730 pelo Padre António de Seixas, talvez membro da referida Ordem...

O Homem Vermelho, S. Lourenço, iconografado na abóbada da igreja que o


tem por padroeiro, cujo intrigante programa pictórico se crê concebido pelo
Padre António de Seixas (Pombal de Anciães, Carrazeda de Anciães, Bragança)

16
Igreja de São Lourenço de Anciães

17
O balneário de S. Lourenço, edificado pelo Padre António de Seixas
(Caldas de Anciães, Carrazeda de Anciães, Bragança)

Uma das nascentes é muito abundante, e ambas são


conhecidas pelos nomes: Pombal dos Anciães, São Lourenço e Caldas
dos Anciães. Outrora, porém, ninguém sabe a razão, chamavam-se às
duas Fontes, Henrique e Helena... A água jorrava de duas bocas,
representadas por dois golfinhos. E por cima, Castor e Pollux. […] era
aí, como se disse, onde se reuniam, em tempos mui distantes de hoje,
os preclaros Membros da Ordem de Mariz. Santos e Sábios Homens,
muito influíram na grandeza do velho Portugal, e também na do Brasil.
A Ordem de Mariz tinha as suas insígnias (cruz e fita) Verde e
encarnado, isto é, o Verde que veio a usar depois a de Aviz, e o
Encarnado da de Cristo. Interessante que são as mesmas cores da
respeitável Bandeira de Portugal [...]" 12.

12 Cf. Henrique José de Sousa, Cagliosto e São Germano, in Dhâranâ (1941), p. 77-78.

18
O interior do balneário das Caldas de Anciães, em três ocasiões distintas

19
A Casa dos Marizes, na localidade de Amedo
(Carrazeda de Anciães, Bragança)

Em escritos ulteriores (1963), o mesmo autor deixaria exarados


informes complementares, susceptíveis de desmistificar e estancar o
desatino que tomou conta de inúmeros embusteiros, com os quais, sob
a capa de auto-pseudo-iniciados (leia-se anti-iniciados!) nos cruzamos
diariamente na rua, com especial enfâse para aqueles que, durante a
década de 1990, tiveram a peregrina ideia (para não lhe chamar
desfaçatez!) de registar notarialmente, a seu favor, a denominação
Ordem de Mariz, convictos de que, mercê de tal expediente,
garantiriam para si títulos e prerrogativas iniciáticas!
Destaco dos aludidos contributos do Professor Henrique José de
Sousa, os excertos mais elucidativos:

“[…] A Ordem de Mariz não se dissolveu e sim bifurcou-se


exotericamente nas de Avis (fita verde) e de Cristo (fita vermelha),
essas que eram as suas duas cores. E hoje unidas figuram na Bandeira

20
de Portugal. […]. S. Lourenço de Anciães ligava-se, outrora,
subterraneamente, com os Mundos de Duat. […]. […] a Ordem de
Mariz [reunia-se] em S. Lourenço de Anciães, sob a chancela do Barão
Henrique Antunes da Silva Neves, que adoptava outro nome secreto.

Escudo das Quinas


Pormenor do frontal de altar da capela da Casa dos Marizes,
dedicada a São Silvestre, o Homem Verde

21
[…]. Conforme já foi dito, a Ordem de Mariz não existe mais. Por
isso mesmo não pode nem deve ser reorganizada, pois todo o
Movimento Esotérico obedece a determinado Ciclo. […] Está cerrada
para o século ou ciclo profano, praticamente desde os finais do reinado
de D. João I e o desaparecimento do Condestável Santo, Nuno Álvares
Pereira, reencarnação anterior do Barão Henrique Álvares Antunes da
Silva Neves, de nome esotérico Malaquias, Dharani de 1ª classe, Grão-
Chefe dos Cavaleiros de Mariz, relacionados à 5ª cidade de Laizin ou
Laisin, as Três Chamas, Luzes ou Lumes do Candelabro Universal.
Daí para cá, ou agem fraca e abertamente só em Baixo, em
Badagas-Duat, ou então agem junto de Jivas isolados com Missão
Divina sobre a Terra, como agiram como Encobertos ou Encapuçados
através da Ordens de Avis (Fohat) e de Cristo (Kundalini), cuja fusão
cromática dá o Púrpura de Kala-Shista, Kurat-Ararat ou Sintra”.

Não é a ocasião para explanar a complexa doutrina em apreço, a


qual, hodiernamente, consubstancia um dos eixos estruturantes da
Obra espiritualista que dá pelo nome de Eubiose, porém, é
incontestável que ela ecoa muito para além, quer da paralaxe dos
franco-atiradores, quer das inauditas especulações (com o nome de
revelações!) a seu respeito abusivamente protagonizadas, desde há
cerca de meio século, por sucessivas gerações de profissionais do
oculto.

22
Ordem da Asa de São Miguel

A Ordem da Asa de São Miguel passa por ser a mais remota das
Ordens de cavalaria de origem portuguesa, supostamente criada por
Afonso Henriques, em data incerta, entre 1165 e 1171, em memória da
aparição e auxílio do braço alado e armado de S. Miguel Arcanjo,
quando da tomada de Santarém (1147).
Uma imagem de vulto, em pedra, outrora colocada na muralha
de Santarém, que retrata o primeiro Afonso, e se crê que constitua o
único monumento do género que subsiste contemporâneo do fundador
da monarquia portuguesa, tem sido muitas vezes invocada como
indício seguro da existência desta Ordem. No supedâneo da escultura,
que ora se acha no Museu da Associação de Arqueólogos [Convento do
Carmo, em Lisboa], lê-se: “El Rei D. Afonso Henriques, que esta vila
[Santarém] tomou aos Mouros em dia de São Miguel, 8 de Maio de
1147”.

23
Consta por tradição que a instituição desta Ordem equestre,
cuja missão consistia em escoltar o rei e custodiar o estandarte real,
ocorreu numa ermida de Alfange (localidade da freguesia de Santa Iria
da Ribeira de Santarém) fundada por Afonso Henriques e dedicada a S.
Bartolomeu dos Cavaleiros. Diz-se que nela foram sepultados muitos
cavaleiros da milícia e, igualmente da Ordem do Templo, a cuja posse a
capela havia de passar antes de transitar para a de Cristo, da qual foi
comenda nova. Em 1750, do edifício já só restavam os alicerces.
Não se mostra adepto desta opinião Frei Bernardo de Brito, o
qual transcreve no capítulo XIX, da sua Crónica de Cister (1597 -1602),
“o modo da instituição, e as Leis, e Regra que haviam de guardar os
Cavaleiros”, cujo teor em vernáculo é o seguinte:

“Em nome de Deus, do arcanjo S. Miguel e do Anjo-Custódio.


E porque é coisa decente recompensar em serviços as mercês do
Omnipotente Deus. Portanto, eu, D. Afonso, pela graça do mesmo
Senhor, Rei dos Portugueses, querendo e desejando reconhecer o favor
Divino, conforme a minha curta possibilidade e para que os meus
descendentes se lembrem de suas maravilhas, por meio das quais
estabeleceu o nosso Reino na terra; de prudente conselho e madura
deliberação de bons Varões, que o Senhor escolheu para si, como
foram Martinho, abade de Alcobaça, e Ranulfo, Mestre nas Divinas
Letras, e outros muitos Religiosos do próprio Mosteiro, que se acharam
presentes, e os Governadores do nosso Conselho, instituímos uma
certa Irmandade de Cavaleiros em louvor e honra de Nosso Senhor
Jesus Cristo e da virgem Maria sua Mãe e, em especial, debaixo da
invocação do Arcanjo S. Miguel e do meu Anjo da Guarda. E a razão de
instituir esta Ordem é a seguinte. Estando eu em Santarém, veio contra
mim Albaraque, Rei de Sevilha, com tão grande cópia de soldados que
cobriam com a sua multidão as terras do meu Reino e assentou o seu
arraial junto da Vila onde eu estava encerrado com alguns poucos dos
meus, esperando novo socorro. Neste tempo me chegou um correio
com novas de que El-Rei de Leão, meu sobrinho, entrava em meu
Reino e porque entre nós havia suspeitas de agravo me temi dele,
persuadido vinha em favor de meus contrários, por cujo motivo me
determinei a dar batalha a El-Rei Albaraque antes que ele chegasse.
Mandei prevenir a minha gente e pô-la cm ordem para o dia seguinte.
E posto em oração, roguei ao meu Anjo, o qual Deus por sua
misericórdia me deu por defensor e companheiro, e ao Bem-

24
aventurado Arcanjo S. Miguel, que viessem em meu socorro e me
livrassem da mão de meus inimigos, como na verdade e com efeito
sucedeu. Porque sendo na guerra quase ganhado o meu Guião pelos
meus inimigos, saltei do carro em que ia para o defender e neste
grande aperto e pelejando a pé (caso digno de toda a admiração) eis
que vi junto de mim, miserável pecador, um braço que pelejava e me
favorecia, o qual (segundo meus olhos puderam julgar) andava
armado, cujo remate cobriam umas asas, como de Anjo. Não vi porém
o corpo que o governava, nem outra pessoa alguma, sendo que muitos
Mouros viram aquela prodigiosa mão, como depois de cativos
confessaram alguns deles. Vendo eu tal mão, esforçado dentro de mim
e interiormente animado, me lancei sobre os inimigos e com tanta
felicidade que ao meu lado caiam mil e dez mil à minha mão direita,
sem que me tocasse ou ferisse golpe algum. Ficou o inimigo vencido e
nós gozámos dos seus despojos e vimos prostrada nos campos de
Santarém aquela bárbara mas valorosa multidão, que tanto nos
perseguira e cantámos louvores a nosso Deus e Senhor por sua
bondade e por sua infinita misericórdia. Depois deste sucesso,
preparando-me eu para dar batalha a El-Rei de Leão, soube que tinha
vindo em meu socorro e se tomara em paz. E alegre e gozoso com tão
boas notícias, caminhei para o Mosteiro de Alcobaça a dar louvores a
meu Senhor Jesus Cristo. Neste Mosteiro me detive trinta e três dias
servindo a Deus e meditando nas coisas da Bem-aventurança. E por
que se não ponha em esquecimento o auxílio de S. Miguel e do meu
Anjo, de Conselho dos sobreditos determinei de fazer uma Ordem e
Companhia de Soldados que tragam sobre o peito uma asa de cor
encarnada, esmaltada com perfil de ouro, assim como se figurou à
minha vista ser aquela que vi na batalha. As condições que hão-de
guardar os Cavaleiros desta Ordem e Companhia e o que hão-de jurar
quando receberem o Hábito da Asa são as seguintes:

1. Aquele que não for Fidalgo da nossa Casa e Corte não poderá
trazer Asa, nem ser admitido à nossa Cavalaria;
2. Todos aqueles, que pelejarem na batalha sobre defenderem o
meu Guião, serão admitidos a esta cavalaria e poderão trazer Asa;
3. Aquele que for admitido a esta Companhia andará nas
batalhas junto de El-Rei ou do seu Guião, o qual não poderá levar
aquele que não for Cavaleiro da Asa;

25
4. Aquele a quem se der a Asa jurará nas mãos do Abade de
Alcobaça e prometerá fidelidade a deus, ao Pontífice Romano e a El-
Rei. E ninguém poderá lançar a insígnia da Asa senão for o Abade de
Alcobaça;
5. Os cavaleiros desta Ordem dirão cada dia o número de
Orações que costumam rezar os Conversos da Ordem de Cister, ou
estejam em paz, ou andem na guerra;
6. Quando algum receber esta Ordem, pagará cinquenta soldos
para reparar o altar de S. Miguel que está no Mosteiro de Alcobaça;
7. Todos os Irmãos desta Cavalaria irão ao Mosteiro de Alcobaça
em véspera de S. Miguel e ouvirão as Vésperas, Matinas e Missa do dia,
na qual comungarão da mão do Abade, vestidos com capas brancas, na
forma que trazemos Irmãos Conversos;
8. O Abade de Alcobaça terá jurisdição sobre os Cavaleiros e os
poderá excomungar, se viverem mal e constrangê-los a que se apartem
de mancebas e devida desonesta;
9. O Cavaleiro desta Irmandade, se tiver filhos ou filho
herdeiro do primeiro matrimónio, não case segunda vez, mas viva em
continência depois da morte da primeira mulher;
10. Quando entrarem na guerra, levem consigo nos escudos a
divisa da Asa, sem nenhuma outra insígnia e na paz não andem em
algum tempo sem ela;
11. Os Cavaleiros desta Irmandade serão brandos aos humildes,
ásperos aos soberbos e em todas as coisas prontos para dar favor às
mulheres, principalmente nobres, às donzelas e viúvas. Serão
defensores da Fé, guerreiros contra os inimigos e obedientes aos
Superiores;
12. O número de Cavaleiros será conforme El-Rei ordenar, e
aquele que escolher será mandado ao Abade de Alcobaça, o qual lhe
dará a Asa e capa branca com sua bênção e lhe tomará juramento na
forma costumada e lhe lerá estas Ordenações e outras da sua Ordem e
assentará o nome dos Cavaleiros em um livro.
E porque esta é a minha vontade e quero deixar minha
lembrança a meus sucessores do benefício do Senhor S. Miguel e do
meu Anjo da Guarda, constituí eu, El-Rei D. Afonso, esta Cavalaria no
Mosteiro de Alcobaça na Era de César de 1205, que fica sendo no ano
de Cristo de 1167”.

26
Apesar de alguns autores colocarem sérias reservas quanto à
legitimidade e verosimilhança do diploma divulgado pelo alcobacense,
outros dão-lhe crédito, não obstante possam até discordar da maioria
dos pormenores relativos à instituição.
Assim, Manuel Severim de Faria afirma que os primeiros
cavaleiros da milícia se instalaram no convento que o monarca
fundador fizera construir no castelo antigo de Évora, aí permanecendo
até à sua transferência para Avis.
Por seu turno, Frei Leão de S. Tomás afirma que Afonso
Henriques, “depois da vitória, que milagrosamente alcançou, foi-se ao
Real Mosteiro de Alcobaça e aí instituiu como agradecido, uma milícia,
cujos cavaleiros trouxessem por insígnias uma asa vermelha no peito
esquerdo, ornada com uns raios, e resplandores de ouro, como a tinha
visto na batalha”.
Já Frei Francisco de S. Luís assevera que a instituição teria sido
amplamente dotada, sendo constituída pelos mais nobres cavaleiros do
Reino.

Selo rodado de Afonso Henriques, que acompanha doação ao mosteiro de


Alcobaça e suposta insígnia primitiva da Ordem da Asa de S. Miguel,
claramente inspirada nele

27
Retrato de Afonso Henriques oriundo do Mosteiro de Alcobaça
No escudo divisa-se a Asa de S. Miguel. Ao fundo, Santarém

28
Por ter sido a Ordem de Cister a publicar, em 1630, a primeira
Constituição conhecida da Ordem da Asa de São Miguel
(Constitutiones Militum S. Michaelis sive de Ala) há quem sustente
que, até essa data, os cavaleiros da Ordem integravam dois grupos, um
de religiosos e outro de militares, sendo um composto por professos da
própria Ordem de Cister, e o outro por capitães e nobres.

Cavaleiro da Asa, ou da Ala, segundo Helyot

Na obra De Iure Abbatum et Aliorum Praelatorum etc. (1691),


da autoria do Abade Ascanio Tamburinio, encontra-se a transcrição da
Bula de Alexandre III, datada de 4 de Janeiro de 1177, e referente ao
reconhecimento da Ordo Equitum S. Michaelis sive de Ala 13. O mesmo
documento refere 1166 como o ano da fundação da Milícia e avança o
de 1205 (do calendário juliano, correspondente a 1147 no calendário
gregoriano) como o do Milagre ou Aparição do braço armado e alado
de São Miguel, em Santarém.

13 Cf. v. 2, p. 418-419.

29
O Abade Bernardo Giustiniani, na sua Historie Cronologiche
dell'origine degl'Ordini Militari e di tutte le Religioni Cavalleresche
14, disponibiliza um rol de cavaleiros, sustentando ter havido vinte e

três Grão-Mestres (todos eles Reis de Portugal) desde a fundação da


Ordem, em 1165, até à regência de D. Pedro II (1667).
Também Elias Ashmole faz referência à Ordem da Asa de São
Miguel em The Institution, Laws & Ceremonies of the Most Noble
Order of the Garter (1672) 15, afirmando que: "é uma Ordem Religiosa
Portuguesa dedicada a defender a religião Católica, as fronteiras de
Portugal dos Mouros e a levar conforto às viúvas e aos órfãos".
Enfim, a Enciclopédia Católica chega a descrever a suposta
insígnia desta Ordem, a qual seria uma asa de púrpura volante com a
ponta voltada para baixo, assente numa estrela de ouro de oito pontas,
quatro rectangulares formando cruz e quatro terminando em
triângulo, dispostas em aspa. Quis ut Deus fora a divisa adoptada. A
Milícia não dispunha de pendão próprio, elegendo como seu o
estandarte real.
A Ordem da Asa de São Miguel gozou de elevado prestígio na
sequência das lutas que opuseram Liberais e Absolutistas, tendo sido
restaurada por D. Miguel, como organização secreta para defesa da Fé
Católica e da Monarquia “legítima” em Portugal (ver Ordens
antimaçónicas - Ordem de São Miguel da Ala).

14 Veneza, 1692, Parte I, cap. XXVIII: Cavalieri dei Ala di S. Michiele in Portogallo, p.
428-433.
15 Cf. cap. II, p. 70.

30
Ordem da Espada

O primeiro informe postulando a existência deste instituto


militar foi consignado por João de Barros no livro segundo da
Primeira Década da Ásia (1552):

“[…] como todos os príncipes a maior parte da vida gastam nas


obras de sua inclinação, veio el-Rei Dom Afonso [V] a se descuidar das
coisas deste descobrimento e celebrar muito as da guerra de África,
com a tomada das vilas de Alcácer e Arzila e cidade de Tânger:
(segundo contamos em a nossa África) as vezes que lá passou em
pessoa. Na qual guerra de África teve tanto contentamento, por as boas
venturas que nela houve, que empreendeu (se os negócios do governo
do reino deram lugar) ir tomar por sua pessoa a cidade de Fez e todo o
seu reino, para que tinha ordenado uma Ordem chamada da Espada”.

A notícia da instituição da Ordem da Espada, em data não


consensual, atestada pelo autor quinhentista, o qual acrescenta que D.
Afonso V (1432-1481) encarregara Gomes Eanes de Zurara de relatar
os sucessos da conquista de Fez, a cidade capital da ilha do Ocidente
(Djezire-al-Magreb), no epicentro da decisão régia (factos omissos de
todas as obras do dito cronista), havia de ser acolhida sem qualquer
hesitação por eruditos de nomeada, convictos (ou cientes?) de que a
ambiência lendária que envolvia a Ordem da Espada fora edificada
sobre um fundo mítico, comum à Matéria da Bretanha, tão
acarinhada pelo monarca instituidor dela.
São, entre numerosos outros, os casos de Frei Jerónimo Román
16 e de Alexandre Ferreira 17.

O cronista espanhol da Ordem de Santo Agostinho adiantaria


que:

16 Republica del Mundo, 1575.


17 História das Ordens Militares que houve no Reino de Portugal, 1735.

31
“Auia en la ciudad de Fez grande y poderosa una torre fuerte, y
en la mas principal que era la torre del homenage estava con mucha
arte una espada en la ultima piedra de ella o en la bola que estava por
remate, la qual puso un Moro supersticioso alli diziendo que entonces
vernia a acabarse el reyno de los Moros en Africa quando aquella
espada fuesse quitada por un Christiano. Esto era en aquel tiempo en
que se mirava, y como el rey [D. Afonso V] lo supiesse y deseasse
continuar la conquista de Africa ordeno de criar cierto collar y divisa
que se diesse a cierto numero de cavalleros que trayendola los
encendiesse a conquistar la tierra de los Moros y llegar si pudiesse a
ganar aquela espada”.

Conquista de Arzila por D. Afonso V,


num pormenor das Tapeçarias de Pastrana

32
D. Afonso V (iluminura)

33
Por seu turno, o académico luso admitiria a verosimilhança da
Milícia em apreço ao escrever:

“Seguro já El-Rei [D. Afonso V] de que podia sustentar-se


Alcácer Ceguer, lembrando-se da vantajosa glória de seu avô em Ceuta,
para a imitação, e da desgraça de seu pai em Tânger, para a emenda, ou
para a satisfação, entrou em novas ideias para a conquista de África e
especialmente do que ouvira na primeira passagem por aqueles mares.
Um Cacís Mouro depositou em Fez, na Torre da homenagem uma
espada (a que chamavam fadada) como prognóstico que quando os
cristãos a tirassem, se perderia aquela cidade e o Império Africano se
renderia ao domínio daquele Católico Príncipe que a tirasse. A espada
estava cravada até o meio pelo capitel da torre; este prognóstico e este
vaticínio se conservava nas tradições daquelas gentes e na veneração
por ser um Cacís e a espada na Torre. Entrou El-Rei D. Afonso na
consideração que para ele se guardava esta fortuna e que era ele o
Príncipe vaticinado para esta glória […] instituiu uma nova Ordem
Militar, que chamou da Espada, porque com as suas haviam de
trabalhar por aquela […]. […] para desempenho daquele vaticínio e das
muitas profecias que dão neste Reino o Quinto Império”.

O Espadim, moeda cunhada por D. Afonso V, alegadamente,


para comemorar a instituição da Ordem da Espada

Assunções deste teor, associadas à “prova da espada” (recorrente


nos mitos helénicos de Teseu, Peleus, etc., bem como no Ciclo do
Graal), tornam evidentes os motivos por que Pedro de Azevedo, a

34
quem é devido o inventário e estudo sistemático das fontes impressas e
manuscritas respeitantes à Ordem da Espada até 1918, só podia ter
acolhido displicentemente os relatos de tão distintos cronistas, os
quais crismou, depreciativamente, de lendários.

Rosto da edição inglesa dos Dois Tratados de Alquimia de D. Afonso V

35
Indícios seguros, de resto, de que o monarca cognominado
Africano não foi um homem comum. Com efeito, um significativo
número das suas acções pressupõem uma cosmovisão não
compaginável com a agenda da generalidade da historiografia
convencional hodierna.
Astrólogo, músico, alquimista confirmado, iniciado na Kaballah,
talvez pela arte e pelo engenho de Dom lsaac Abravanel, seu
conselheiro indefectível, almoxarife e rabi-mór de Portugal, Afonso V
dedicou-se de igual modo à exegese bíblica e, sobretudo, aos cálculos
das cronologias e à epilogística, como se deduz do passo seguinte de
uma carta (1503) de Cristóbal Colón aos Reis Católicos:

“Santo Agostinho ensina-nos que o mundo terá fim aos 7000


anos da criação; e tal é também a opinião dos sagrados teólogos e do
cardeal Pedro d'Ailly [...]. Como, segundo o cálculo do rei Afonso, que
deve ser tido pelo mais seguro, passaram já 6845 anos, resta pouco
tempo até ao fim do mundo” 18.

Porém, várias décadas antes de Colón, por carta remetida de


Vila-Viçosa, a dezanove de Outubro de 1468, o 3º duque de Bragança,
Dom Fernando, já aludia às preocupações milenaristas do monarca,
vaticinando-lhe:

“[...]. Se Deus tem al ordenado, não somente havereis o reino de


Castela, mas conquistareis o de Granada e tirareis a espada de Fez e
com ela conquistareis todo o mundo, e uma ou outra não deveis de
errar” 19.

18 Cf. Livro de Profecia. Ver Manuel J. Gandra, Livro das Profecias de Cristóbal Colón,
Mafra, Cesdies, 2013 e Cadernos da Tradição, s. 2, n. 1 (Mafra-Rio de Janeiro, Cesdies-
Instituto Mukharajj, Out. 2013).
19 A este propósito lê-se num folheto intitulado Anti-Sebastianismo, ou Antídoto contra

vários abusos (Lisboa, 1809, p. 22-23): “Vamos a outra profecia a que deu lugar ter-se
criado novamente a Ordem da Torre e Espada. Já dizem que a Espada significa os
Portugueses que hão-de aterrar o Mundo, e a Torre são as cidades do Além-Tejo, onde
há-de vir a morrer Napoleão por mãos de um homem de estatura extraordinária e
barbas compridas e brancas, o qual há-de sair de entre dois montes, os quais se hão-de
abrir para sair este homem. Pode dar-se mais desatino! Se estes sujeitos [sebastianistas]
estivessem certos no que aconteceu em tempo de El-Rei D. Afonso [V], saberiam que
nesse mesmo ano (?) fundou a Ordem da Espada, cuja empresa e divisa era uma Torre
que no alto dela tinha uma espada, metida a terça parte dela pelo capitel, em sinal da

36
Assim sendo, as Tapeçarias de Pastrana 20, poderão mesmo
celebrar o encerramento do primeiro ciclo de existência da Ordem da
Espada, encetado pela cunhagem de uma moeda denominada
Espadim. De facto, as insígnias particulares da milícia ali se observam
reiteradas vezes, irmanadas com o corpo da empresa real bordado nos
guiões: um “rodízio de moinho com gotas de água derrador espargidas
que tomara pela rainha D. Isabel, sua mulher”, o qual tinha, sobreposto
aos eixos, o respectivo mote ou alma, consubstanciado na palavra
JAMAIS.

A Roda das Navalhas espargindo gotas de água (ou línguas de fogo?), divisa
de D. Afonso V, na portaria do convento do Varatojo (Torres Vedras)

conquista de Fez, cabeça da Mauritânia adonde está uma Torre com aquela Espada, e
têm os bárbaros o agouro de que a há-de tirar dali um Príncipe cristão”.
20 António Filipe Pimentel (coord.), A Invenção da Glória: D. Afonso V e as Tapeçarias

de Pastrana, Lisboa, 2010.

37
Afonso V de Portugal nunca logrou apoderar-se de Fez,
extraindo a espada da torre onde se dizia embebida. Sem embargo,
uma crónica anónima, contemporânea, asseverava que havia de
cumprir as profecias de Santo Isidoro, entrando em Castela com o
título de Encoberto (a ele aplicado pela primeira vez, antes das
Germanias e de D. Sebastião!), montado num cavalo de madeira, para
instaurar um reinado de ordem e virtude 21:

“Chegada a hora e cumprindo-se as profecias das desventuras de


Espanha, o rei Dom Afonso de Portugal entrou pela Codosera nos
Reinos de Castela, o qual para que as gentes tivessem motivo de crer
que ele fosse o Encoberto, segundo uma profecia que de Santo Isidoro
se publicava, que o Encoberto havia de entrar em Castela em cavalo de
madeira, este rei, fingindo vir doente, ou porventura sendo certo,
entrou em andas, cuidando muito que aos olhos das gentes as
cerimónias se conformassem o mais possível às profecias; e como a
gente castelhana, habituada à tirânica liberdade, era inimiga de se ver
senhoreada por algum rei, aos inocentes que daquelas encobertas
profecias não tinham conhecimento faziam-lhes crer que pelos sinais
aparecidos, este rei Dom Afonso era o Encoberto, trazendo muito em
prática as suas virtudes e grandezas, e louvando-o de muitas coisas
excelentes, que ele, na verdade, tinha” 22.

Consoante o estipulado pelos estatutos, alegados pela maioria


dos autores, competiria a cada monarca em exercício a função Mestral,
só podendo ser recebidos por professos nesta Ordem, “os mais
avantajados Fidalgos de Portugal, em obras heróicas de valor, ou em
Nobreza e Qualidade”. Todos, sem distinção, deviam usar manto de
damasco branco, com murceta ou capelo de “terciopelo” (veludo de
três pelos) negro, e bonete de “terciopelo” carmesim, acompanhados
pelo hábito, o qual consistia numa venera de ouro, pendente de um
colar do mesmo metal, e nela, sobre uma roda, uma espada
atravessada numa torre.
A festa principal foi fixada, anualmente, no dia de Santiago (25
de Julho), ocasião em que reunia o capítulo, na igreja homónima de
Lisboa.

21 Cf. Manuel J. Gandra, Dicionário do Milénio Lusíada, v. 1, Mafra, 2017.


22 Cronica Incompleta de los Reis Católicos, 1475.

38
ORDENS EFÉMERAS
Ordem da Madressilva

Capitaneada por Antão Vasques de Almada e Nuno Gonçalves de


Ataíde, a Ordem da Madressilva ocupou a ala esquerda da vanguarda do
exército português (sob o comando de D. Nuno Álvares Pereira), na
batalha de Aljubarrota (14 de Agosto de 1385).
A circunstância de não concorrer neste instituto nenhum dos
requisitos canónicos susceptíveis de a tornar autêntica Ordem Religiosa
(observância dos três votos de pobreza, castidade e obediência;
profissão individual; aprovação e confirmação apostólica) não
inviabiliza, no entanto, a sua legitimidade enquanto Ordem Militar,
estatuto também partilhado pela Ala dos Namorados, à qual competiu
formar a ala direita da vanguarda do exército português no mesmo
prélio.
Por insígnia tomou um pendão verde, em cujo campo se abria um
ramo de madressilva florida, distintivo também ostentado por cada um
dos seus cavaleiros. O Doutor Alexandre Ferreira, interrogando-se sobre
o motivo da adopção e significado de tal venera, e tendo consultado
inúmeras autoridades e autores, apurou que:

“[…] a madressilva nasce entre matos e espinhos; e queriam


mostrar estes cavaleiros que sobre os matos incultos dos inimigos e
sobre os espinhos dos riscos e perigos a que se expunham haviam de
florescer triunfantes. […] as flores desta planta sobre cheirosas, são
brancas e vermelhas, a modo de raios; e foi ajustada esta Empresa
destes cavaleiros para mostrarem que haviam de raiar sobre o vermelho
sangue dos inimigos com os raios brancos da Fé à Igreja Romana, ao Rei
e ao Reino, mostrando na flor a suavidade dos votos com que se
obrigavam. […] estas flores caídas as folhas, deixam uns bagos chatos,
moles e ovados que depois de maduros se fazem vermelhos; e quiseram
Empresa em que ainda que lhe caíssem as folhas nos golpes dos
conflitos, sempre lhe ficava um abrasado coração para batalharem até o

41
último alento da vida, porque murchariam as folhas, mas não havia de
desmaiar o seu incendido coração. […] as folhas desta planta nascem
dos nós dos ramos, duas em duas, que exprime união e ordem, precisas
virtudes nas batalhas, e que estas folhas são verdes por cima e alvadias
por baixo. Admirável Empresa desta ordem Militar que na união e na
igualdade estabelecia no verde a firme esperança do triunfo, pelo
cândido a Fé com que à Igreja e ao Reino sacrificavam as vidas. […]
todas as espécies de madressilva compreende o nome de Periclymenon,
composto de peri, que é o mesmo que ao redor, e de Chylio, que é o
mesmo que envolver, porque todas se envolvem e se abraçam com as
plantas vizinhas. Grande razão para esta Empresa, porque abraçados e
unidos estes cavaleiros com as plantas vizinhas da outra Ordem dos
Namorados, se elevavam triunfantes às outras matas da Campanha;
razão por que a esta planta chamam muitos Volucrum maius, porque
excede a todas” 23.

Nuno Gonçalves de Ataíde, que se finou no dia do Corpo de Deus


do ano de 1425 e foi sepultado na capela de Santo António do convento
de S. Francisco de Alenquer, onde o seu epitáfio o referia como
“Cavaleiro e Companheiro dos da Madressilva”, pertenceu ao Conselho
de D. João I, tendo sido governador da Casa do Infante D. Fernando.

Bibliografia

CAMÕES, Luís de, Os Lusíadas, IV, 25


FERREIRA, Alexandre, História das ordens Militares que houve no Reyno de
Portugal, Lisboa, 1735, p. 458-483
VASCONCELOS, Adriano Mendes de, Breve notícia das Ordens-Monástico-militares em
Portugal, Viseu, 1909, p. 145

23Cf. História das Ordens Militares que houve no Reyno de Portugal, Lisboa, 1735, p.
464-466.

42
Ala dos Namorados

Denominação da ala direita da vanguarda do exército português


(sob o comando de D. Nuno Álvares Pereira), na batalha de
Aljubarrota (14 de Agosto de 1385).
Tal “leda companhia”, como é crismada por Fernão Lopes 24, era
constituída por 200 lanças e 100 besteiros, sendo capitaneada pelos
irmãos Mem Rodrigues de Vasconcelos (ulteriormente, grão-mestre da
Ordem de Santiago) e Rui Mendes de Vasconcelos e tendo o alferes
Álvaro Eanes de Cernache (falecido em 1404 e sepultado no convento
do Corpus Christi, em Gaia) por anadel-mor dos besteiros de cavalo.
A Ala dos Namorados, também denominada dos Aventureiros e
dos Cavaleiros Andantes, adoptou um pendão verde por insígnia,
tendo sido consagrada pela literatura (Camões 25, Rodrigues Lobo 26,
etc.) como paradigma do heroísmo juvenil devotado à defesa da pátria.
A circunstância de não concorrer na Ala dos Namorados
nenhum dos requisitos canónicos indispensáveis para ser considerada
autêntica Ordem Religiosa (observância dos três votos de pobreza,
castidade e obediência; profissão individual; aprovação e confirmação
apostólica) não inviabiliza, no entanto, a sua legitimidade enquanto
Ordem Militar, estatuto também partilhado pela Ordem da
Madressilva, à qual competiu formar a ala esquerda da vanguarda do
exército português no mesmo prélio.

Bibliografia

BARBOSA, Vilhena, Estudos Históricos e Archeologicos, v. 1, Lisboa, 1874, p. 247-253


CAMÕES, Luís de, Os Lusíadas, IV, 24
FERREIRA, Alexandre, História das ordens Militares que houve no Reyno de
Portugal, Lisboa, 1735, p. 220-458

24 Chronica de El-Rei D. João I, Lisboa, 1897, cap. XLII, p. 160-168.


25 Os Lusíadas, IV, 24
26 O Condestabre, Lisboa, Pedro Crasbeeck, 1610, XIII

43
LOBO, Rodrigues, O Condestabre, Lisboa, Pedro Crasbeeck, 1610, XIII
LOPES, Fernão, Chronica de El-Rei D. João I, Lisboa, 1897, cap. XLII, p. 160-168
MARTINS, Oliveira, Vida de Nun’Álvares, cap. VI (Aljubarrota)
SOUSA, Frei Luís de, Chronica de S. Domingos, Lisboa, 1623, parte 1, liv. 6, cap. 5
VASCONCELOS, Adriano Mendes de, Breve notícia das Ordens-Monástico-militares
em Portugal, Viseu, 1909, p. 144-145

A Ala dos Namorados (Pavilhão Carlos Lopes, Lisboa)

44
Ordem da Cruz
de Nosso Senhor Jesus Cristo
e divisa de São Sebastião

A Ordem Militar da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo foi


instituída por D. Sebastião, em Março de 1577, achando-se o Desejado
no cabo de S. Vicente (Algarve).
Alguns autores chamam-lhe, impropriamente, Ordem da Flecha
de S. Sebastião e também Ordem da Frecha, pretendendo encontrar
indícios dela nas setas que se observam na igreja de S. Vicente de Fora,
em Lisboa.

Um dos capitéis da igreja de São Vicente de Fora onde se observam as setas,


numa composição idêntica à vinheta que ocorre no frontispício do Manuale
Missalis Romanum (António de Mariz, Coimbra, 1577)

45
O ofício que D. Sebastião enviou ao embaixador em Roma na
ocasião faz luz sobre o evento:

"[...] esta ordem que agora determino publicar é aquela mesma


que tenho instituído e a que então dei princípio com nela entrar a fazer
logo profissão, e que não é a Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo que
alguns podem cuidar que seja por a cruz dela ter muita semelhança
com a que escolhi e ordenei para esta nova ordem, que tenho
assentado que se chame a Ordem da Cruz de Nosso Senhor Jesus
Cristo e divisa de S. Sebastião, pela Seta que com a mesma cruz ao pé
dela trago" 27.

Frontispícios dos
Tombos, bens e jurisdições das Ordens Militares e do Livro das Escrituras da
Ordem de Cristo, do Doutor Pedro Álvares

A estimação do Desejado pelo santo seu homónimo, certamente


originada na circunstância de ter nascido a 20 de Janeiro, no próprio

27 BN: cod. 887, fl. 158r-158v.

46
dia em que se comemora a festa litúrgica de S. Sebastião e,
exactamente, no momento em que a procissão anual realizada pela
cidade de Lisboa em seu louvor chegava às Portas do Sol, diversas
vezes foi evidenciada pelo monarca, designadamente:

1. O tomo segundo da parte terceira dos Tombos, bens e


jurisdições das Ordens Militares (1568), e a parte I do Livro das
Escrituras da Ordem de Cristo [ANTT], ambos organizados pelo
doutor Pedro Álvares, apresentam, de ambos os lados das armas do
Rei, uma seta, com um dístico que principia sobre elas e se desenvolve
no interior de uma moldura quadrangular, no sentido dos ponteiros de
um relógio: Sagittae tuae acutae, populi sub te cadent, in corda
inimicorum Regis;

2. Em 1570 (Cartas de 24 de Fevereiro e 13 de Abril), quando


projectou dedicar um Templo ao mártir, no Terreiro do Paço, para nele
albergar a relíquia do braço de S. Sebastião que Carlos V furtara de
uma igreja de Milão, ao tempo do saque de Roma. Filipe II determinou
a interrupção da construção do templo, tendo sido o mosteiro dos
cónegos regrantes de S. Vicente de Fora o destino da pedraria e
restantes materiais já aplicados ao edifício, projectado por Francisco
de Holanda 28, doravante dedicado ao culto partilhado dos mártires S.
Vicente e S. Sebastião;

3. Em 1571, ao impetrar de Pio V a reforma das três Ordens


Militares de Cristo, Avis e Santiago, concedida pela Bula Ad Regia
Magestatis fastigium (23 de Agosto de 1570), na qual o Pontífice
afirma a dado passo:

“[…] concedemos ao sobredito Rei D. Sebastião, seu


Administrador, que em memória e louvor do Bem-aventurado Mártir
Sebastião, em cujo dia foi o seu nascimento, possa acrescentar uma
seta e com ela compor a antiga Divisa ou Hábito dos Cavaleiros que de
novo forem admitidos e assim o tragam daqui em diante”;

28 Cf. Da Fabrica que falece à Cidade de Lisboa, 1571, fl. 26v-27r [BA: 51-III-9].

47
Projecto da igreja circular dedicada a S. Sebastião, visionada por
Francisco de Holanda (Da Fábrica que falece à Cidade de Lisboa)

48
4. Em 1574 (Fevereiro), em virtude do envio pelo papa Gregório
XIII (Breve Permagnum est, de 8 de Novembro de 1573), de uma seta
embebida no sangue do santo, evento cantado por Luís de Camões na
Oitava III das suas Rhymas 29:

Mui alto Rei, a quem os Céus em sorte


deram o nome Augusto e sublimado
daquele Cavaleiro que, na morte
por Cristo, foi de setas mil passado;
pois dele o fiel peito, casto e forte,
co nome Imperial tendes tomado,
tomai também a seta veneranda
que a vós o sucessor de Pedro manda.
Já por sorte do Céu, que o consentiu,
tendes o braço seu, relíquia cara
defensor contra o gládio que feriu
o povo que David contar mandara.
No qual, pois tudo em vós se permitiu,
presságio temos e esperança clara
que sereis braço forte e soberano
contra o soberbo gládio mauritano.
E o que este presságio agora encerra
nos faz ter por mais certo e verdadeiro
a seta que vos dá quem é na Terra
das relíquias celestes despenseiro;
que as vossas setas são, na justa guerra
agudas; e entrarão por derradeiro,
— caindo a vossos pés povo sem lei —
nos peitos que inimigos são do Rei.
Quando vossas bandeiras despregava
Albuquerque fortíssimo, com glória,
pelas praias da Pérsia, e alcançava
de nações tão remotas a vitória;
as setas embebidas que tirava
o arco Ormusiano é larga história
que no ar, Deus querendo, se viravam,

29Cf. Oitava sobre a Seta que o Santo Padre mandou a El-Rei D. Sebastião, no ano do
Senhor de 1575, in Rhymas de […], Lisboa, 1595, fl. 69r-70v.

49
pregando-se nos peitos que as tiravam.
Ó querido de Deus, por quem peleja
o ar também e o vento conjurado,
ao atambor acode, por que veja
que quem a Deus ama é de Deus amado.
Os contrários, revéis à madre Igreja,
atroarão com o som do Céu irado,
que assim deu já favor maior que humano
a Josué hebreu, a Teodósio hispano.
Pois se as setas, tiradas da inimiga
corda, contra si só nocivas são,
que farão, Rei, as vossas, que têm liga
co’a que já tocou Sebastião?
Tinta vem do seu sangue com que obriga
a levantar a Deus o coração,
crendo que as que vós atirareis
No sangue sarraceno as tingireis.
Ascânio — se trazer-me é concedido,
entre santos exemplos, um profano —,
rei do largo Império conhecido
Romano, e só relíquia do Troiano,
vingou, com seta e ânimo atrevido,
as soberbas palavras de Numano;
e logo foi dali remunerado,
com louvores de Apolo celebrado.
Assim vós, Rei, que fostes segurança
de nossa liberdade, e que nos dais
de grandes bens certíssima esperança;
nos costumes e aspeito que mostrais,
concebemos segura confiança
que Deus, a quem servis e venerais,
vos fará vingador dos seus revéis,
e os prémios vos dará que mereceis.
Estes humildes versos, que pregão
são destes vossos Reinos, com verdade,
recebei com benigna e leda mão,
pois é devida a Reis benignidade.
Tenham — se não merecem galardão —
favor, sequer, da régia Majestade;

50
assim tenhais, de quem já tendes tanto,
com o nome e Relíquia, favor Santo.

5. Em data indeterminada, pelos dois óleos figurando os Passos


do martírio de São Sebastião (800 x 300 mm) de autor desconhecido,
expostos no Paço da vila de Sintra [PNSintra: cat. 337 e 338], num dos
quais D. Sebastião liberta cativos cristãos (ocupando a Caridade o
primeiro plano), enquanto no outro discursa perante o Imperador;

Tábuas do Palácio Nacional de Sintra, iconografando os Passos do


martírio de São Sebastião, em cuja hagiografia é parte o Desejado

6. Cerca de 1580, numa tábua do pintor Gaspar Soares, da


matriz de Évora de Alcobaça, na qual um S. Sebastião-D. Sebastião
resgata cativos cristãos.

51
Tábua de Gaspar Soares da matriz de Évora de Alcobaça

52
Iluminura do Elogio dos Reis de Portugal de Pêro Andrade de Caminha
Repare-se na presença ostensiva das setas, e na repetição
do feixe de setas associadas à coroa

53
A única iconografia conhecida da insígnia desta milícia ocorre
numa iluminura do Elogio dos Reis de Portugal (1578?) de Pêro
Andrade de Caminha, autor que compôs diversas obras em verso em
louvor do Desejado, entre as quais um epigrama (CLXXXVII)
justamente intitulado A El-Rei Nosso Senhor da Setta que traz no
peito:

Com a Santa Seta, de que o peito ornaste,


Grão Rei, de todo os peitos nos abriste;
E o claro amor, que sempre em nós achaste,
Mais firmemente neles esculpiste;
Se a mesma Seta a teu peito voltaste,
E dum amor recíproco o feriste,
Terás cravado sempre todo o peito
D’amor, a teu amor sempre sujeito.

Informa o doutor Alexandre Ferreira que os cordões vermelhos


da orladura da cruz, “eram de ouro e a seta atravessando a cruz [da
Ordem de Cristo]” 30.

Bibliografia

BRUNO, Sampaio, O Encoberto, Porto, 1904, p. 80-97


FERREIRA, Alexandre, História das Ordens Militares que houve no Reyno de
Portugal, Lisboa, 1735, p. 483-504
GANDRA, Manuel J., Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica, Lisboa,
1999, p. 139
Idem, Ordem da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, in Dicionário Histórico das
Ordens e Instituições Afins em Portugal, Lisboa, 2008, p. 876-877
VASCONCELOS, Adriano Mendes de, Breve notícia das Ordens-Monástico-Militares
em Portugal, Viseu, 1909, p. 145-152

A insígnia da Ordem da Espada é referida na Carta de Lei de 19 de Junho de 1789, n.


30

XXIV, pela qual D. Maria I criou a Grã-Cruz das Três Ordens Militares. Ver, infra.

54
ORDENS MILITARES
Ordem de São Bento de Avis

Os alvores da antiga Ordem Militar de S. Bento de Avis


persistem envoltos em lendas, tendentes a demonstrar a sua maior
antiguidade face à Ordem Militar de Calatrava, a cuja observância se
conformou a partir de finais do século XIII.
É, porém, opinião predominante entre os autores modernos,
que a antiga Ordem Militar de Avis terá tido origem numa confraria
de cavaleiros criada, nos anos 1174-1175, por, ou sob a protecção de D.
Afonso Henriques, em data posterior à conquista de Évora (1166), por
Geraldo o “Sem-Pavor”, tendo por finalidade assegurar a defesa da
cidade contra os fossados muçulmanos.
Cerca de 1187, terá recebido Estatutos, os quais a colocaram sob
a dependência da Ordem castelhana de Calatrava, razão por que
passou a denominar-se Milícia de Évora da Ordem de Calatrava. Só

57
cerca de 1223-1224, sob o mestrado de Fernão Rodrigues Monteiro,
transferindo-se os freires de Évora para Avis, o instituto militar havia
de adoptar a designação Ordem Militar de Avis.
As grandes obras militares e conventuais promovidas em Avis
neste período são devidas ao mesmo mestre, tal como a segunda carta
de foral concedida à vila, em 1223.
A partir de então suceder-se-iam as visitações a Avis realizadas
pelo mestre de Calatrava ou por emissários seus.
Em recompensa pela efectiva participação nas campanhas de
expugnação do Algarve, durante o reinado de D. Afonso III, o
património fundiário da instituição cresceu significativamente, vendo-
se drasticamente reduzido por D. Afonso IV em virtude de litígios e
abusos de autoridade exercidos pela Ordem sobre os respectivos
súbditos.
No ano de 1365, D. João, filho bastardo de D. Pedro I, assumiu,
por vontade de seu pai, o cargo de mestre da Ordem de Avis dando
início à nacionalização dela, a qual viria a consumar-se imediatamente
após a crise de 1383-1385. O Cisma do Ocidente foi a circunstância
que desencadeou a ruptura, porquanto enquanto a Ordem de
Calatrava adaptara o partido do antipapa de Avinhão, Clemente VII,
Avis mantivera-se fiel ao papa Urbano VI, de Roma. Consumada a
cisão, em Outubro de 1387, Fernão Rodrigues havia de ser eleito
mestre da Milícia sem que tivesse sido solicitada a presença do mestre
de Calatrava, facto inédito até então.
Com as letras Pastoralis Officii Cura, decretadas por Bonifácio
IX, em 1391, pareceu institucionalizada a independência de Avis face a
Calatrava. Porém, o processo não ficaria encerrado, uma vez que o
mestre de Calatrava diligenciou reiteradamente o regresso de Avis à
sua dependência. A questão voltaria à baila por ocasião do Concílio de
Basileia (1437), no qual interveio o bispo do Porto, enquanto porta-voz
de D. Duarte, na defesa da tese de que Avis se desligara
definitivamente de Calatrava 31.
Nos finais do século XV e inícios do XVI, a Ordem de Avis foi
objecto de alterações estatutárias de enorme repercussão: em 1496,

31O ano de 1438 marcou uma das últimas tentativas de Castela para reafirmar a sua
tutela sobre a Ordem de Avis, mediante o envio de uma embaixada a Portugal, com o
intuito de a posição de Calatrava.

58
por decisão de Alexandre VI, os cavaleiros passaram a poder contrair
matrimónio, mesmo que ligados perenemente à Ordem; em 1505, nova
concessão, desta vez por intermédio de Júlio II, permitiu-lhes
desvincularem-se do voto de pobreza, salvaguardando os seus bens de
raiz e dando-lhes liberdade para transaccionar, herdar e testamentar
esses bens; finalmente, em 1550-1551, os mestrados das Ordens
haviam de ser definitivamente anexados pela Coroa.
No século XVII a Ordem de Avis detinha jurisdição sobre 18
cidades e vilas, 128 igrejas e 49 comendas.

Grã-Cruz da Ordem de Avis

Primitivamente, à semelhança da Ordem de Cristo, tinha duas


classes, as quais foram ampliadas com a criação da Grã-cruz, em 1789,
quando a Ordem foi transformada em Instituição Honorífica.

59
Bernardim Freire de Andrada e Castro
Gravura de G. F. de Queirós

60
Sebastião Drago Valente de Brito Cabreira
Retrato por Francisco A. Silva Oeirense, gravado por J. V. Sales

61
No período compreendido entre 1789 e 1834 os membros da
Ordem estiveram limitados a 3 Grã-Cruzes (6, em 1796), 49
Comendadores e um número ilimitado de Cavaleiros, sendo também
admitido um número limitado de militares estrangeiros.
Em 1834, após a perda das suas possessões e benfeitorias, a
Ordem de Avis tornou-se uma Ordem de Mérito destinada a agraciar
militares, políticos, diplomatas e outros serviços relevantes. Civis
foram também condecorados, até 1894, ano em que a Ordem de Avis
se tornou exclusiva dos Oficiais do Exército e da Marinha 32.
Actualmente, a propositura do agraciamento compete
exclusivamente ao Ministro da Defesa, destinando-se a premiar
serviços militares relevantes e distintos, sendo exclusivamente
reservada a oficiais das Forças Armadas, da Guarda Nacional
Republicana e da Guarda Fiscal (extinta e integrada enquanto brigada
especial na GNR, em 1995) e, ainda, a unidades, órgãos,
estabelecimentos e corpos militares, na redacção dada ao artigo 5° da
Lei Orgânica das Ordens Honoríficas Portuguesas, pelo art. 1° do
Decreto-Lei n. 85/88, de 10 de Março.
A Classe da Ordem concedida depende do posto do recipiente,
consoante as Alterações introduzidas aos artigos 35º, 36º e 37º, pelo
Decreto Regulamentar nº 12/2003, de 29 de Maio (ver Adenda).

Insígnias

Distintivo: uma Cruz florida, de esmalte verde, perfilada de ouro.

Fita: de cor verde.

Banda: fita de seda moiré de cor verde, terminado em forma de laço,


tendo pendente sobre o mesmo, o distintivo, com 50 mm x 40 mm.

Placa: de prata (ou de ouro para os grandes-oficiais e Grã-Cruzes) de


raios abrilhantados, com 85 mm de diâmetro, tendo ao centro um
círculo de esmalte branco, carregado da Cruz da Ordem, filetado de
ouro e circundado de um festão de louro, de ouro.

32Desconhece-se o número dos seus membros de 1834 a 1894, ano em que foram
aprovados novos Estatutos.

62
Insígnias dos vários graus

Cavaleiro: usa o distintivo da Ordem, com 38 mm x 28 mm, pendente


de uma fita, de 30 mm de largura, com fivela dourada.

Comendador da Ordem de Avis

Oficial: usa insígnia do grau de Cavaleiro, mas tendo sobre a fivela


uma roseta da cor da fita, com 10 mm de diâmetro.

Comendador: usa o distintivo da Ordem, com 50 mm x 40 mm,


pendente de uma fita, usada à volta do pescoço e, a placa da Ordem,
em prata.

Grande-Oficial: usa insígnia igual à de comendador (fita com


distintivo pendente, usada à volta do pescoço), acompanhada da placa
de ouro.

63
Grã-Cruz: usa a banda da Ordem posta a tiracolo da direita para a
esquerda e, a placa de ouro, igual à de grande-oficial.

Nos actos solenes (com traje de gala, vestido comprido ou


uniforme correspondente), os oficiais e cavaleiros/damas poderão
usar, além das insígnias do seu grau, o Distintivo da Ordem, de 50 mm
x 40 mm, pendente de uma Fita, à volta do pescoço.

Bibliografia

REGO, D. Francisco Xavier do, Descrição cronológica, histórica e crítica da Vila e Real
Ordem de Avis, Avis, 1985
REGRA DA CAVALARIA e Ordem Militar de São Bento de Avis, Lisboa, Jorge
Rodrigues, 1631

64
Ordem de Santiago da Espada

A Ordem de Santiago da Espada radica na Ordem Militar de


Santiago fundada, em 1170, por Fernando II de Leão (1157-1188), em
Cáceres, e confirmada, em 1175, pelo papa Alexandre III (1159-1181).
O papa Inocêncio III, aprovou-lhe os Estatutos, em 1215,
durante o IV Concílio de Latrão.
Adoptou a regra de Santo Agostinho, instalando a sua sede
mestral em Uclés (Castela).
A presença da Ordem de Santiago em Portugal está
documentada desde cerca de 1172, tendo desempenhado parte activa e
de relevo na Reconquista.
Até à sua autonomização de Castela, no século XIII, o ramo
português da Ordem, constituíu a comenda-mor de Portugal.

65
O reconhecimento da autonomia do ramo português da Ordem
de Santiago da Espada ocorreu em 1288, mercê da bula Pastoralis
Officii, do papa Nicolau IV.
Face aos sucessivos protestos de Castela, outra bula, a Ex
apostolice sedis (1452), do papa Nicolau V, declarou definitiva a
autonomia do ramo português, durante o mestrado do Infante D.
Fernando, duque de Viseu e de Beja.

Edições quinhentistas da Regra e Estatutos da Ordem de Santiago

Entre 1789 e 1834, o número de Grã-Cruzes foi restringido a 3


(6, a partir de 1796) e os Comendadores, a 150.
Os novos Estatutos de 1862 fixaram o limite de novos membros,
quer nacionais, quer estrangeiros.
Em 1834, os bens do ramo português da Ordem foram
confiscados e vendidos em hasta pública. Após isto, enquanto Ordem
Honorífica, passou a agraciar magistrados, ou qualquer outra pessoa
que se distinguisse nos serviços da Administração Pública, ou, ainda, a
militares de segunda linha.
Em 31 de Outubro de 1862, a Ordem de Santiago da Espada
seria completamente reformulada, passando a organizar-se em quatro
Classes e a denominar-se Antiga, Nobiliarquica e Esclarecida Ordem
de Santiago do Mérito Científico, Literário e Artístico.

66
Entrega do guião da Ordem de Santiago da Espada ao mestre
D. Pedro Fernandes: painel do retábulo de Santiago [MNAA]

67
O mestre D. Paio Correia invoca a Virgem em Tentúdia:
painel do retábulo de Santiago [MNAA]

68
Investidura do mestre da Ordem de Santiago da Espada:
painel do retábulo de Santiago [MNAA]

69
Afonso de Albuquerque, cavaleiro de Santiago da Espada

70
Cunho de prata com insígnia da Ordem de Santiago da Espada
[MNAA; 60 x 52 mm], destinado a autenticar os documentos produzidos
pela Mesa da Consciência e Ordens

Actualmente, a Ordem de Santiago da Espada tem por fim


distinguir o Mérito Literário, Científico e Artístico.

Insígnias

Distintivo: Cruz em forma de espada, de esmalte vermelho, perfilada


de ouro, assente sobre duas palmas entrelaçadas, de esmalte verde,
perfiladas de ouro, com a legenda Ciências, Artes e Letras, em letras
maiúsculas, de ouro, sobre listel de esmalte branco.

Fita: é de cor violeta.

71
Grande-Colar: formado por vieiras, com 30 mm x 30 mm, suspensas
em corrente dupla; ao centro, uma vieira, com 35 mm x 35 mm,
ladeada por dois golfinhos; o colar, todo de ouro, tem pendente e
encadeada por uma coroa de louros com os seus frutos, com 25 mm x
32 mm, a cruz da Ordem, de esmalte violeta e perfilada de ouro, com
40 mm x 60 mm, circundada por um festão de folhas de louro com os
seus frutos, atado com fitas cruzadas nos topos e nos lados, também de
ouro, com 52 mm x 65 mm. Nos actos solenes, os agraciados com a
Ordem Militar de Santiago da Espada usá-lo-ão à volta do pescoço
assente sobre os ombros, em prata, para os cavaleiros e, de ouro, para
os demais graus.

Colar: formado, alternadamente, de coroas de louros, de esmalte


verde, perfiladas e frutadas, com 20 mm de diâmetro, e distintivos da
Ordem, de 22 mm x 30 mm, tendo pendente, e encadeado por uma
coroa de louros semelhante às anteriores com 33 mm x 30 mm, o
distintivo, com 65 mm x 50 mm o qual será, como o colar, de prata
esmaltada para os cavaleiros e de ouro esmaltado para os demais
graus.

Banda: Fita de seda da cor da Ordem (com 101 mm de largura)


terminado em forma de laço, tendo pendente do mesmo, o distintivo,
com 65 mm de comprimento.

Placa: em raios (de prata, para os Comendadores e, de ouro para o


Grandes-Oficiais e Grã-Cruzes) com 70 mm de diâmetro, tendo ao
centro um círculo de esmalte branco carregado do distintivo da
Ordem, envolvido por uma coroa circular, de esmalte vermelho,
contida em filetes de ouro, com a legenda “Ciências, Artes e Letras”,
em letras maiúsculas de ouro, tudo circundado por um festão de louro,
de ouro.

Insígnias dos vários graus

Cavaleiro: usa o distintivo, com 22 mm x 30 mm, pendente de uma


coroa de louros de esmalte verde, perfilada e frutada de ouro, com 20
mm x 14 mm, suspenso de fita, de 30 mm, com fivela dourada e, o
colar de prata.

72
Oficial: a mesma insígnia, tendo sobre a fivela uma roseta da cor da
fita, com 10 mm de diâmetro e, o colar de ouro.

Comendador: usa o colar de ouro e, a placa da Ordem, em prata.

Grande-Oficial: usa o colar de ouro e, a mesma placa, mas de ouro.

Grã-Cruz: usa a banda da Ordem, posta a tiracolo da direita para a


esquerda e placa, de ouro, igual à de grande-oficial e, o Colar, de ouro;

Banda da Grã-Cruz

Grande-Colar: usa o Grande-Colar conjuntamente com a banda da


grã-cruz e a placa correspondente onde figurará, nas dimensões
adequadas, a cruz, idêntica à pendente do Grande-Colar. Grau

73
especial, destinado, exclusivamente, a agraciar Chefes de Estado
estrangeiros.

74
Insígnia magistral e Placa para a banda de Grã-Cruz da
Ordem de Santiago de Espada

Bibliografia

AAVV, A Ordem de Santiago: história e arte (catálogo da Exposição), Palmela, 1990


CÂMARA, D. José Manuel da, Discurso sobre o voto de castidade que professão os
Freires Conventuais da Ordem Militar de S. Tiago da Espada […], Lisboa, António
Rodrigues Galhardo, 1817
FERREIRA, António Mega (dir.)
A Ordem de Santiago, in Oceanos, n. 4 (Jul. 1990)
REGRA, ESTATUTOS, DEFINIÇÕES e Reformaçam da Ordem e Cavallaria de
Santiago da Espada, Lisboa, Miguel Manescal, 1694

75
Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo

A Ordem de Cristo foi instituída pela Bula Ad ea ex quibus (14


de Março de 1319), sucedendo à Ordem do Templo em Portugal, da
qual se tornou a universal herdeira 33.
A missão dos exclusivos sucessores legítimos dos templários,
sancionada pela bula Illius qui, de 19 de Dezembro de 1442, compelia-
os a acorrerem todos à conquista e libertação das terras em que
houvesse inimigos da cruz de Cristo, “sub eiusdem Militiae vexillo”
(sob a bandeira da Milícia). Zurara escreve que, cerca de 1444, Gonçalo
Pacheco, Álvaro Gil e o setubalense Mafaldo, “postas as bandeiras da
Ordem de Cristo em seus navios, fizeram sua via caminho do Cabo
Branco” 34. Em 1445, Lançarote de Freitas, tendo informado o Infante
D. Henrique da sua largada de Lagos, este “mandou logo fazer [pintar]
suas bandeiras com a cruz da Ordem de Jesus Cristo, das quais
mandou que levasse cada uma caravela sua” 35.
Numa sequência tradicional, Vasco da Gama (1497) e Pedro
Álvares Cabral (1500) receberiam das mãos de D. Manuel a bandeira
da Ordem de Cristo, como autêntico estandarte da cruzada 36.

33 Cf. Vieira Guimarães, A Ordem de Cristo, Lisboa, 19?? e Manuel J. Gandra, O


Projecto Templário e o Evangelho Português, Rio de Janeiro, 2013.
34 Crónica dos Feitos da Guiné, cap. XXXVII.
35 ibidem, cap. XVIII
36 Sousa Viterbo cita Lourenço Fernandes, o qual se achava em Azamor, no ano de 1517,

onde pintou, além de outras, trinta e duas bandeiras com a cruz de Cristo. Cf. Notícia de
Alguns Pintores, s. 2, Lisboa, 1906, p. 36, n. XXI. Ver ainda: Augusto Cardoso Pinto, As
bandeiras das três Ordens Militares, in Elucidário Nobiliarchico, v. 2, Lisboa, 1929, p.
127-137 (também com o título Subsídios para o estudo das Signas Portuguesas: I. As
Bandeiras das três Ordens Militares, Lisboa, 1932); Vieira Guimarães, A Cruz da
Ordem de Cristo nos navios dos descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1935; [Rocha
Martins?], A Cruz da Ordem de Cristo nas velas dos navios de guerra, in Arquivo
Nacional, a. 8, n. 366 (11 Jan. 1939), p. 28-29; Frazão de Vasconcelos, A Cruz da Ordem
de Cristo na Marinha Portuguesa, in Anais da União dos Amigos dos Monumentos da
Ordem de Cristo, v. 2 (Jun. 1951), p. 248-252.

77
A cruzeta branca interior, que torna a cruz vazada, remete
certamente para S. João (X, 9: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por
mim, será salvo”) ou para S. Mateus (VII, 13: “Entrai pela porta
estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que guia para a
perdição”).
A conduta moral impoluta exigível aos detentores de uma venera
de tão elevada craveira espiritual, nem sempre imperou, como deixa
adivinhar uma célebre tirada do carmelita D. Baltasar Limpo, bispo do
Porto e depois arcebispo de Braga, o qual

“[…] vendo que a muitos homens que serviram grandes cargos,


assim no reino como em Flandres e na Índia, nos quais entrando
pobres saíram ricos, dera el-rei o hábito de Cristo com tença, por eles o
granjearem por meio de privados que lhes houveram os ofícios, disse:
Antigamente punham os ladrões nas cruzes e agora põem as cruzes
nos ladrões” 37.

Sátiras à proliferação e comércio de veneras das Ordens Militares,


especialmente de Cristo (Suplemento burlesco do Patriota, 1847)

37Cf. Ditos portugueses dignos de memória, n. 966, p. 350. Manuel Severim de Faria,
na sua Vida de Diogo do Couto, assevera que o cronista escrevera ao Rei afirmando:
“Eu não peço a Sua Majestade que me faça fidalgo, nem me dê o hábito de Cristo,
porque o mundo está tão cheio deles que ainda hei-de ser conhecido por homem que
não tem hábito”. Ver Alexandre Pinheiro Torres, Velhas receitas para se obter o hábito
da Ordem de Cristo, in JL, a. 1, n. 14 (1 a 14 Set. 1981), p. 18.

78
Também os estrangeiros em trânsito comentaram a proliferação
das insígnias da Ordem de Cristo.
Richard Twiss considerou que recebê-la constituía quase uma
desgraça. Em 1730, Saussure afirmava-se surpreendido por o Rei e os
Príncipes a ostentarem, porquanto “é depreciada devido ao grande
número de pessoas de todas as classes que a possuem”.
O criado do cardeal Cunha chegava a exibi-la ao peito, para
escândalo de muitos, enquanto servia chocolate e água fresca nos
serões palacianos.
A insígnia era oferecida aos agraciados pelos respectivos
padrinhos.
D. João V, 20º Grão-Mestre da Ordem de Cristo, recebeu-a das
mãos de seu pai, em 1696, com sete anos de idade, após ter sido jurado
herdeiro da Coroa. Por seu turno, o Príncipe Regente D. João receberia
o Hábito de Cristo a 25 de Maio de 1785, no Oratório do Palácio da
Ajuda.

Muitos autores consideram a ocorrência de uma cruz pátea


prova inequívoca da presença templária. Todavia, essa cruz não prova
nada disso, porquanto já estava em uso muitos séculos antes de os
templários a terem adoptado, em 1146.

Cruz orbicular na Porta do Sangue (Tomar) e no Foral da Redinha

79
Com efeito, a cruz pátea, também chamada orbicular (Garrett),
espalmada de braços concâvos (Félix Alves Pereira) e de braços
curvilíneos (Abel Viana), tem origem oriental, devendo-se a sua
difusão à propagação do cristianismo ao Império bizantino, bem como
ao Médio-Oriente e Egipto, onde ganhou expressão o cristianismo dito
sírio, caldaico ou copta. Símbolo do reino da Arménia, acabaria por
chegar à China e à Mongólia, por intermédio dos missionários
nestorianos.
Entre diversos outros casos rastreáveis no actual território
Português, podem apontar-se: o epitáfio com circulus in quo crux do
Museu Nacional de Arqueologia (onde é possível observar o ponto que
serviu de apoio ao compasso utilizado para desenhá-la) 38; os epitáfios
de Cyprianus (25 de Agosto de 537) e de Antónia (3 de Agosto de 571),
ambos de Mértola 39; as cabeceiras discóides do cemitério paleocristão
de S. Miguel de Odrinhas (Sintra) 40; algumas pilastras visigóticas de
Sines 41.

Epitáfios de Cyprianus, de Antónia e com circulus in quo crux (Mértola)

38 Cf. Maria Manuela Alves Dias, Três fragmentos de inscrições paleocristãs, p. 314.
39 Cf. Ficheiro Epigráfico.
40 Félix Alves Pereira, Por caminhos da Ericeira, in O Archeologo Portuguez, v. 19

(1914), p. 324-362.
41 D. Fernando de Almeida, Sines Visigótica, in Arquivo de Beja, v. 25-27 (1968-70), p.

17-19.

80
Cruciforme profiláctico constituído
pelo espaço vazado entre os braços da cruz orbicular

De resto, continuaria a ser utilizada posteriormente em


situações absolutamente alheias à actividade da Ordem do Templo (no
adro de S. Francisco de Ponte de Sor, de acordo com Frei Bernardo da
Costa) e, inclusivamente, após a sua suspensão canónica (1834).
Outra afirmação que igualmente carece de fundamento é aquela
que classifica como templário um baixo-relevo cruciforme
representando o espaço vazado entre os braços da cruz orbicular.
Tal como no caso anterior, encontra-se atestada a sua ocorrência
já em contextos paleocristãos (a título de exemplo, recordo a inscrição
funerária do presbítero Possidonius de Mértola, datada de 21 de
Agosto de 512) 42, tendo, quase certamente, desempenhado função
profilática contra as bruxas, tal como ainda hoje acontece na Galiza e
na Catalunha.
Creio que, deste modo, ficarão definitivamente encerradas as
especulações em torno da alegada posse pelo Templo de propriedades
ou localidades, suscitadas pelos inúmeros especímenes dos aludidos
cruciformes ainda subsistentes em igrejas (cruzes de fundação e vias-
sacras) e em cabeceiras de sepultura.

42 Cf. Ficheiro Epigráfico.

81
Quanto à cruz concedida aos cavaleiros de Cristo, uma das mais
antigas, porventura a mais remota das suas representações conhecidas,
patente num emprazamento realizado (1322) pelo mestre Frei João
Lourenço, torna inviável a tese que a considera adaptação da dos
templários, resultante da mera eliminação dos arcos convexos das suas
extremidades.
O assunto é de tal modo controverso que até Leite de
Vasconcelos se equivoca quando descreve estelas discóides do Museu
Nacional de Arqueologia e do Museu de Beja, ao ponto de atribuir a
cruz pátea à Ordem de Cristo43.

1.Medalha de eventual dignitário templário francês (in Atlantis);


2. Selo pendente que acompanha documento subscrito pelo Grão-mestre Frei
Estêvão de Belmonte, em 3 de Janeiro de 1231, relativo à divisão de certos bens
e rendas em Vila Chã da Braciosa entre o Templo e o Hospital;
3. Selo do Mestre de Cristo, Frei João Lourenço (1325).

É mesmo provável que o futuro distintivo da Ordem de Cristo,


embora sem a cruzeta branca, estivesse já difundida como insígnia de
certos dignatários franceses da Ordem do Templo 44, bem como de um

43 Joaquim Leite de Vasconcelos, Cabeceiras de sepulturas christãs, in O Arqueólogo


Português, v. 1, n. 10 (Out. 1895), p. 280.
44 In Atlantis, a. 36, n. 217 (Mai.-Jun. 1963), extra-texto entre p. 334 e 335.

82
português, Frei Estêvão de Belmonte, Grão-Mestre do Templo nos três
Reinos 45, antes de surgir insculpida em discóides de Tomar e Nisa.

Cabeceiras de sepultura de Nisa e Tomar; matriz sigilar de suspensão,


em bronze, de eventual dignitário da Ordem de Cristo (col. particular)

Não creio, portanto, plausível qualquer das soluções evolutivas


propostas, nem sequer a pretensão de lhe ter descoberto a forma
definitiva - segundo Manuel Luciano da Silva, “a partir de 1460” 46 -, o
que, de facto, só haveria de suceder, durante o capítulo que reuniu em
Tomar no ano de 1619 (16 a 18 Outubro), com a sua transformação em
cruz latina (braço inferior alongado), uma vez que algumas das
variantes documentadas da sua forma grega (quatro braços iguais) ora
surgem concomitantemente, ora numa sequência aleatória e
recorrente, em moedas de ouro, prata e cobre de D. Manuel, D. João
III, D. Sebastião, D. Henrique e Governadores do Reino 47, em retratos,

45 Trata-se de um selo pendente, preso por tiras de cabedal [ANTT: gaveta VII, maço 6,
n. 8]. Cf. D. Luís Gonzaga de Lancastre e Távora, Um selo medieval português da
Ordem do Templo, in Revista da Associação dos Cavaleiros Templários de Portugal, n.
0 (Mai. 1981), p. 5-6 e O Estudo da Sigilografia Portuguesa, Lisboa, 1983, p. 162, n.
129.
46 Manuel Luciano da Silva, Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton, Porto,

1974, p. 108-118.
47 Raúl da Costa Couvreur, A Cruz de Cristo na moeda portuguesa e em particular a da

Ordem de Cristo, in Anais da União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo,

83
na cartografia 48, na ourivesaria 49, em edifícios (enquanto nas rosáceas
da Torre de Belém, de cerca de 1520, a cruz é grega, já nos escudos-
ameias o braço inferior é maior que qualquer um dos três restantes!) 50.

Cabeceiras de sepultura de Tomar e Mafra (adro de Santo André)

Porém, as dificuldades tornar-se-ão ainda mais sensíveis se para


estabelecer tal genealogia se optar por recorrer exclusivamente às raras
estelas sepulcrais ostentando a cruz de Cristo, nas quais, segundo tese
de J. M. Cordeiro de Sousa que perfilho, figura "como emblema cristão

v. 1, t. 1 (Fev. 1943), p. 209-219 e A Cruz da Ordem de Cristo em moeda estrangeira,


ibidem, v. 2 (Out. 1943), p. 4-7.
48 A cartografia portuguesa ostenta bandeiras da Ordem de Cristo pelo menos desde a

carta de Pedro Reinel, de 1500. Invariavelmente, a cruz da Milícia ocorre assente em


gironados de azul e branco ou ouro e verde, com os quais se combinam, algumas vezes,
as armas do Reino que se lhe sobrepõem em escudo ou em bandeira: mapa de Pedro
Fernandes de 1525 (bandeira com quina sobreposta à cruz de Cristo, sobre fundo
gironado); mapa de autor anónimo de 1630 (Monomotapa); mapa de João Teixeira
Albernaz de cerca de 1640 (Índia), etc. Numa carta anónima, de cerca de 1550, junto à
costa da China, observa-se uma bandeira na qual surgem conjugados o escudo de
Portugal, a cruz de Cristo e a esfera armilar.
49 Martim de Albuquerque, Uma Grande Jóia: S. Miguel Cavaleiro de Cristo (Ideologia

e Arte), in Oceanos, n. 21 (Jan.-Mar. 1995), p. 112-117.


50 Ver Luís Chaves, A expansão da Cruz de Cristo em Portugal e no Mundo, in Anais da

União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo, v. 2 (Dez. 1948), p. 169-172.

84
e não como distintivo de qualquer Ordem monástica" 51. Dessas
conheço, ao todo, apenas oito: três de Tomar, outras tantas de Ulme
(igreja Santa Marta) 52, uma de Torres Vedras (adro da igreja de S.
Pedro) 53, outra no Museu do Carmo (proveniente do adro da igreja de
S. Pedro de Dois Portos, Torres Vedras) 54 e, finalmente, uma no
Museu Municipal de Mafra, presumivelmente oriunda do adro da
igreja de Santo André da mesma vila 55.

1.Emprazamento da Herdade da Bezelga (1319);


2. Selo do mestre de Cristo, Gonçalo Martins (1314);
3. Selo do Convento de Cristo – mestre João Lourenço (1325)

51 J. M. Cordeiro de Sousa, A Cruz de Cristo nas cabeceiras de sepultura, in Anais da


União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo, v. 1, t. 1 (Jun. 1943), p. 226-
227.
52 Jaime Jorge Marques, Estelas funerárias da vila de Ulme – Chamusca, Chamusca,

1985.
53 José Beleza Moreira, Cabeceiras de sepultura do Museu de Torres Vedras, Torres

Vedras, 1982.
54J. M. Cordeiro de Sousa, Comunicação feita pelo sócio titular […] à Secção de

Arqueologia Histórica na sessão de 9 de Novembro de 1926 àcerca de uma estela


discóide oferecida ao Museu, in Arqueologia e História, v. 5 (Lisboa, 1928), p. 3-4 e A
Cruz de Cristo nas cabeceiras de sepultura, in Anais da União dos Amigos dos
Monumentos da Ordem de Cristo, v. 1, t. 1 (Jun. 1943), p. 226-227. Ver também José
Beleza Moreira, ob. cit. Trata-se de discóide correspondente à sepultura de Maria
Domingues, cujo nome se acha insculpido na face oposta.
55 Manuel J. Gandra, Cabeceiras de sepultura, in Da Vida, da Morte e do Além:

aspectos do Sagrado na região de Mafra, Mafra, 1996, p. 106-109 e 184.

85
Pés da arca tumular de Dom Frei Gonçalo de Sousa (Museu do Carmo. Lisboa)
Cabeceira de sepultura de Maria Domingues (idem)

Pentecostes do Senado de Guimarães

86
Insígnias da Ordem de Cristo - Cruz grega

Insígnia da Ordem de Cristo e Cruz da Roupeta de Professo - Cruz latina

87
88
89
90
91
D. Vasco da Gama, enquanto Vice-Rei da Índia;
D. Sebastião, do Kunsthistorisches Museum de Viena [inv. n. GG 3493]

Insígnias da Ordem de Cristo, oval, losangular e tetralobada

92
Cavaleiros de Cristo: D. Álvaro de Lencastre [Ega] e D. Álvaro da Costa,
pormenor do Casamento de Santo Aleixo, 1538 [S. Roque]

Cruzado de D. Afonso VI, 6 Vinténs de D. Pedro II e Cruzado de D. João VI


A primeira moeda portuguesa a ostentar a Cruz da Ordem de Cristo foi o
Portuguès de ouro, no reinado de D. Manuel I

93
Insígnias nanbam da Ordem de Cristo

94
Marco de Porto Seguro (Brasil)

Bandeiras da Ordem de Cristo na Ilha Brasil


Pormenor da Carta de Lázaro Luís (1563)

95
Cunho de prata com insígnia da Ordem de Cristo
[MNAA; 60 x 52 mm], destinado a autenticar os documentos produzidos
pela Mesa da Consciência e Ordens

96
D. Nuno Álvares Pereira de Melo e D. Luís da Cunha

D. José I e Abade Correia da Serra

97
Grã-Cruz da Ordem de Cristo
Concebida por Ambroise Pollet, durante o terceiro quartel do século XVIII, em
prata, esmalte, brilhantes, granadas, rubis e minas novas. Sabe-se que D.
Pedro III possuiu três destes Hábitos de Cristo, um dos quais era constituído
por 292 brilhantes e 38 rubis.

98
Projecto de Grã-Cruz da Ordem de Cristo, de Joaquim Félix de Carvalho

Hábito e Grã-Cruz da Ordem de Cristo

99
D. Maria I e D. Pedro III (Grã-Cruz da Ordem de Cristo)
Pormenor do retábulo principal do Paço Real Bemposta
A família de D. Maria I por Giusepe Troni

100
2º visconde de Santarém, ostentando a Grã-Cruz da Ordem de Cristo

101
Conde de Novion, com hábito e Grã-Cruz da Ordem de Cristo

Dois modelos de Crachá de Grã-Cruz da Ordem de Cristo


[MNAA: inv. Jóias 870 e 905]

102
Projecto de Diadema, destinado à Princesa Augusta Vitória
(Leitão e Irmão, 1913) [MNAA]

Bibliografia

ANÓNIMO, A cruz de Cristo nas velas dos navios de guerra, in Arquivo Nacional, a. 8,
n. 366 (11 Já. 1939), p. 28-29
COUVREUR, Raul da Costa, A cruz na moeda Portuguesa e em particular a da Ordem
de Cristo, in AUAMOC, v. 1 (Fev. 1943), p. 209
Idem, A cruz da Ordem de Cristo em moeda estrangeira, in AUAMOC, v. 2 (Out. 1943),
p. 4
GUIMARÃES, Vieira, A Cruz da Ordem de Cristo nos navios dos Descobrimentos
Portugueses, in Bol. da Sociedade de Geografia de Lisboa, s. 54, n. 1-2 (Jan.-Fev.
1936), p. 3-14
SILVA, Nuno Vassalo e, Os Polet, joalheiros de D. Maria I, Fundação das Casas de
fronteira e Alorna, Junho 1993 (policopiado)
TAMMANN, Gustav A. / TRIGUEIROS, António Miguel, The Three Portuguese
Military Orders of Knightwood (1789-1910), in O.M.S.A. Medal Notes, n. 1 (Glassboro,
NJ, USA, 1997)
TRIGUEIROS, António Miguel, As Ordens Militares Portuguesas No Império do Brasil
(1822-1889), in Moeda, n. 1 (2011), p. 24-46
Idem, Estudos inéditos de falerística das antigas Ordens Militares portuguesas:
insígnias quinhentistas e seiscentistas com iconografia oriental do espólio da ilustre
Casa de Sousa (Arronches), in Congresso Internacional A Ordem de Cristo e a
Expansão (Lisboa, 24 a 27 de Julho de 2013)
VASCONCELOS, Frazão de, A cruz de Cristo na Marinha Portuguesa, in AUAMOC, v.
2 (Jun. 1951), p. 248
Idem, A cruz de Cristo: Cruz de Portugal, Lisboa, 1960

103
ORDENS HONORÍFICAS
Ordem da Torre e Espada

Por decreto de 13 de Maio de 1808, o Príncipe Regente D. João,


futuro D. João VI, instituiria, a Ordem da Torre e Espada, suposta
continuadora da Ordem da Espada, para comemorar a viagem sem
incidentes da Família Real para o Brasil.
Trata-se da primeira Ordem de Mérito puramente política
criada em Portugal, por Carta de Lei de 29 de Novembro do mesmo
ano.
Inicialmente destinada a galardoar os oficiais da Esquadra da
Marinha de Guerra Britânica que escoltaram a Família Real e a corte
portuguesas até àquela então colónia, os quais, por não serem
católicos, não podiam ser agraciados com nenhuma das antigas Ordens
Militares Portuguesas, depressa começaria também a ser conferida a
altos dignatários da Corte sedeada no Rio de Janeiro.
As primeiras nomeações ocorreram a 17 de Dezembro de 1808,
tendo sido agraciados durante a Regência e Reinado de D. João VI, 45
Grã-Cruzes nacionais e 32 estrangeiros; 97 Comendadores nacionais e
70 estrangeiros 56.
As insígnias originais foram fabricadas entre Maio de 1808 e
Janeiro de 1809, conforme documentação dos arquivos da Casa da
Moeda do Rio de Janeiro 57.
Por Alvará de 23 de Abril de 1810 foi introduzida a cor de
esmalte azul-ferrete na bordadura da legenda VALOR e LEALDADE
nas Placas de Comendador e de Grã-Cruz (2º tipo).
A partir de 1813, a concepção e manufactura foi encomendada
pelo então Príncipe Regente, D. João, ao ourives António Gomes da

56 Para o período entre 1808-1821, Trigueiros fornece os seguintes números: 295


Cavaleiros; 141 Comendadores; 57 Grã-Cruzes.
57 A esta conclusão chegou Marques Poliano, baseado na análise das encomendas de

ouro, realizadas nesse período, destinadas à manufactura das “novas medalhas”. Cf.
Ordens honoríficas do Brasil.

107
Silva, estabelecido no Rio de Janeiro, o qual auferiria 700$000 réis
pelo feitio, sendo referidas na relação das jóias do rei D. João VI feita
pelo seu criado particular em Janeiro de 1825, bem como no posterior
inventário de 1842-1844.
A Ordem achava-se organizada em três classes: Grã-Cruz,
Comendador e Cavaleiro, competindo aos membros da Família Real
portuguesa ocupar os cargos mais elevados e simbólicos: o Príncipe
Regente, tal como já acontecia com as outras Ordens Honoríficas, era
o Grão-Mestre; o Infante D. Pedro, Príncipe da Beira, o Grã-Cruz
Comendador-Mor; o Infante D. Miguel, o Grã-Cruz Claveiro; o
Almirante-General da Armada Real Portuguesa e Infante de Espanha,
D. Pedro Carlos de Bourbón e Bragança, o Grã-Cruz Alferes.
Um dos mais marcantes aspectos da organização desta Ordem
era o facto dos efectivos de algumas das classes estarem limitados.
Originalmente, em 1808, a Ordem admitia 12 Grã-Cruzes, dos quais 6
eram Grã-Cruzes efectivos (que tinham direito a uma tença anual de
100$000) e 6 Honorários. Os Comendadores efectivos eram,, apenas,
8, não existindo limite para os Honorários. De igual modo, não existia
limite para o número de Cavaleiros. No entanto, por Alvará de 5 de
Julho de 1809, com o propósito de evitar abusos e garantir alguma
exclusividade no acesso à Ordem, o número de Comendadores
Honorários foi limitado a 24 e o de Cavaleiros a 100.
Quando da criação desta Ordem, e a exemplo do que acontecia
com as antigas Ordens Militares, estava previsto que os Grã-Cruzes e
Comendadores tivessem direito ao rendimento de Comendas, o que, de
facto, não aconteceu, gerando tal um movimento no sentido de a
desconsiderarem. Nas suas Memórias a Condessa de Linhares, refere
que, por esse motivo, havia quem chamasse, depreciativamente, à
Ordem da Torre e Espada uma "Ordem de petas”, destinada mais aos
círculos estrangeiros "de hereges" do que aos portugueses.
Rapidamente, porém, se havia de tornar popular e cobiçada.
Durante a guerra civil, ambos os campos em conflito (Liberais e
Absolutistas) concederam a Ordem da Torre e Espada. Do lado de D.
Miguel esta somente era concedida a Oficiais, motivo por que foi criada
uma nova insígnia (de bordar no uniforme) chamada Cruz de Valor e
Mérito, destinada a ser concedida às Praças e Oficiais inferiores, mas
que gozava de prestígio idêntico à Torre e Espada.

108
Do lado Liberal assistir-se-ia à concessão de centenas de
insígnias da Ordem, nomeadamente aos inúmeros mercenários
estrangeiros que militavam nas suas fileiras.

Insígnia de bordar da Ordem da Torre e Espada

A 28 de Julho de 1832, havia de ser reformada por Alvará do


Príncipe-Regente D. Pedro, duque de Bragança, com o título de Antiga
e Muito Nobre Ordem da Tôrre e Espada, do Valor, Lealdade e
Mérito, e dividida em cinco classes.
Em 1833, antes do termo da guerra civil, o Duque de Bragança,
decretou que, doravante, os agraciados com a "antiga" Ordem da Torre
e Espada (criada pelo pai) passariam a usar essas condecorações
pendentes de fita de cor azul-ferrete, orlada de amarelo, para as
distinguir das “novas", por ele criadas.

109
No âmbito da Guerra Peninsular, foram muitos os oficiais
britânicos ao serviço do exército português que a receberam, assim
como foi crescente o número de oficiais portugueses condecorados.
Com o termo do conflito e a assinatura da Convenção de Évora-
Monte, D. Maria II estabeleceu o padrão-base da Ordem tal como
ainda hoje é concedida.

Colar da Ordem da Torre e Espada


Azul formado por 14 castelos intercalados por 14 lauréis atravessados por
espadinhas, com montagem em ouro e prata, separadas por 26 rosetas de
ouro, inteiramente cravejado de brilhantes, rubis e esmeraldas; 550 mm

110
Decreto de 13 de Maio de 1808
instaura a nova Ordem da Espada 58

Sendo da mais alta preeminência dos Augustos Soberanos, Reis


e Imperadores, a acção de criar novas Ordens de Cavalaria, com que
possam remunerar os mais relevantes serviços, assim dos seus
vassalos, como de ilustres estrangeiros, que não tiverem outro premio
que lhes seja equivalente senão o da honra; e sendo a referida acção
praticada pelos maiores Príncipes quase sempre nas épocas mais
assignadas; não podendo deixar de se contar entre estas a presente da
minha feliz jornada para estes Estados do Brasil, donde espero hajam
de resultar não só grandes reparos aos danos actualmente
experimentados pelos meus povos no Reino de Portugal, mas também
muitos lucros e sucessos de honra e de gloria devidos á sua fidelidade,
e abundância dos meus tesouros da América, e liberdade de comércio
que fui servido conceder aos seus naturais. E considerando que
nenhuma das três Ordens Militares que actualmente persistem nestes
meus Reinos, por serem juntamente religiosas, se pode aplicar àquelas
pessoas que não tiverem a felicidade de professarem a nossa Santa
Religião, aliás merecedoras das mais distintas honras por armas, ou
por outros quaisquer empregos ou serviços, de cujo merecimento me
seja necessário usar com muita frequência, para as grandes empresas a
que me conduz uma nova ordem de negócios; por estes e por outros
motivos igualmente dignos e ponderosos, tenho resolvido renovar e
aumentar a única Ordem de Cavalaria que se acha ter sido instituída
puramente civil por algum dos Senhores Reis Portugueses, qual a
intitulada Ordem da Espada, que o foi pelo Senhor Rei D. Afonso o V,
de muito ilustre e esclarecida memoria; para cujo fim fui já servido, na
Cidade da Baía, mandar abrir uma medalha com esta letra – Valor e
Lealdade -, e com que tenho gratificado dous beneméritos vassalos do
meu fiel e antigo aliado El-Rei da Grã- Bretanha. E porque não cabe no
tempo determinar o número de Cavaleiros, Grã-Cruzes e
Comendadores, com as sesmarias ou pensões que lhes devem ficar
anexas, e outras mais considerações em favor das pessoas que tão

58BRASIL. Leis etc., Colecção das Leis do Brazil de 1808, Rio de Janeiro, Imprensa
Nacional, 1891, p. 28-29.

111
lealmente me acompanharam e assistiram, sacrificando os seus
próprios interesses ao maior bem da honra e da vassalagem que me é
devida; e por outra parte, não convém demorar mais tempo a
publicação desta tão importante obra, tanto mais estimável, quanto
mais próxima for da sua origem: hei por bem confirmar a sobredita
Ordem de Cavalaria denominada da Espada, que se acha haver sido
instituída por meu Avô de gloriosa memória, o Senhor D. Afonso o V,
chamado o Africano, na era de 1459; para que haja de ter o seu devido
efeito, como se fosse novamente criada por mim, e suscitada logo
depois que cheguei tão felizmente ao Porto da Cidade da Baía. Quero
que sirva este Decreto de base à lei da criação, que mando formar; e
ordeno a D. Fernando José de Portugal, do meu Conselho de Estado,
Ministro Assistente ao Despacho do meu Gabinete e Presidente do Real
Erário, me haja de apresentar os novos Estatutos que houverem de
resultar das conferencias de que o tenho incumbido, e das mais
instruções que for servido dar-lhe. Palácio do Rio de Janeiro em 13 de
Maio de 1808.

Com a rubrica do Príncipe Regente Nosso Senhor.

Carta de Lei de 29 de Novembro de 1808


Instaura e renova a Ordem da Torre e Espada 59

D. João, por graça de Deus, Príncipe Regente de Portugal e dos


Algarves, etc.: Faço saber aos que a presente Carta de Lei virem, que
tendo sido instituídas e criadas as diversas Ordens de Cavalaria em
todas as idades, não só para marcar na posteridade as épocas mais
faustas e assinaladas, em que se obraram acções heroicas, e feitos
gloriosos em proveito e aumento dos Estados, mais também para
premiar distintos serviços militares, políticos e civis, sendo esta moeda
da honra a mais inexaurível, e a de mais subido preço para estímulo de
acções honradas; e havendo sido por estes ponderosos motivos criadas

59BRASIL. Leis etc., Colecção das Leis do Brazil de 1808, Rio de Janeiro, Imprensa
Nacional, 1891, p. 167-171.

112
as que há nesta Monarquia; mas não podendo bastar, porque tendo-
se-lhes unido instituições e cerimónias religiosas, não quadram aos
estrangeiros de diversa crença e comunhão, merecedores de prémios
desta natureza: querendo eu não só assinalar nas eras vindouras esta
memorável época, em que aportei felizmente a esta parte
importantíssima dos meus Estados, os quais por meio deste grande e
extraordinário acontecimento e pela imensa riqueza dos tesouros que
lhes prodigalizou a natureza e pela liberdade e franqueza do Comércio
que fui servido conceder aos seus naturais, hão de elevar-se a um grau
de consideração mui vantajoso: desejando outrossim premiar os
distintos serviços de alguns ilustres estrangeiros, vassalos do meu
amigo e fiel aliado El-Rei da Grã-Bretanha, que me acompanharam
com muito zelo nesta viagem: considerando que a única ordem
puramente politica e de instituição portuguesa é a que foi criada na era
de 1459 pelo Senhor Rei D. Afonso V, de muito ilustre e esclarecida
memoria, denominado o Africano, com o título de Ordem da Espada,
para celebrar o ditoso acontecimento da conquista que empreendera: e
que com a renovação dela se enchem os ponderosos e uteis fins de
assinalar o feliz acontecimento da salvação da Monarquia e da
prosperidade e aumento deste Estado do Brasil, e de premiar também
aqueles meus vassalos, que preferiram a honra de acompanhar-me a
todos os seus interesses, abandonando-os para terem a feliz dita de me
seguirem: fui servido instaurar e renovar a sobredita Ordem da Espada
por Decreto de 13 de Maio do corrente ano, que se publicará com esta
minha Carta de Lei, e para dar-lhe mais estabilidade e esplendor,
tendo ouvido o parecer de pessoas mui doutas, e mui zelosas do meu
real serviço e da felicidade desta Monarquia, hei por bem determinar o
seguinte:
I. A mencionada Ordem ficará designada com o nome da Torre e
Espada, sendo eu o Grão-Mestre dela; e Grã-Cruz Comendador-Mor o
Príncipe da Beira; Grã-Cruz Claveiro o Infante D. Miguel, meus muito
amados e prezados Filhos; e Grã-Cruz Alferes o Infante D. Pedro
Carlos, meu muito prezado sobrinho; e me praz outrossim determinar
que para o futuro serão sempre Grão-Mestres os Senhores Reis desta
Monarquia, e Grã-Cruzes os Príncipes e Infantes, sendo Comendador-
Mor o sucessor presuntivo da Coroa e Claveiro o mais velho dos
Infantes e Alferes o que se lhe seguir.

113
II. Terá a mesma Ordem, além dos sobreditos, mais doze Grãos
Cruzes, seis efectivos e seis honorários, os quais passarão por
antiguidade a efectivos na morte de algum deles. Serão os nomeados
para ela pessoas da maior representação e a quem já competia o
tratamento de Excelência pela graduação em que estiverem; e caso o
não tenham, pela nomeação de Grã-Cruz lhes ficará pertencendo.

III. Poderão ser elevados a esta dignidade aqueles dos meus


vassalos que mais se tiverem avantajado no meu real serviço por acções
de alta valia na carreira militar, tanto no meu Exercito de terra, como
de mar e na politica e civil, ficando reservado ao meu real arbítrio o
avaliar a qualidade de serviços que merecem esta honrosa recompensa.

IV. Haverá oito Comendadores efectivos; e honorários os que eu


houver por bem nomear; os quais irão passando para efectivos quando
vagar alguma comenda por falecimento de algum Comendador,
segundo a antiguidade de suas nomeações. Serão as Comendas
igualmente conferidas por serviços relevantes que me tenham sido
feitos por pessoas distintas por empregos militares e políticos.

V. Os Cavaleiros desta Ordem serão também pessoas de


merecimento relevante e empregadas no meu real serviço; e só se farão
estas mercês em recompensa de serviços, sem que seja licito a alguém
premiado com a Venera desta Ordem renunciar em outro a mercê que
lhe foi feita. Os seis primeiros que forem nomeados Cavaleiros desta
Ordem, terão uma tença de 100$000, e por morte de algum deles
sucederá na tença o que preceder em antiguidade.

VI. A insígnia desta Ordem será uma chapa de ouro redonda que
terá de um lado a minha real efígie e no reverso uma espada com a
letra – Valor e Lealdade – para os simples Cavaleiros: e para os
Comendadores e Grã-Cruzes terá mais uma torre no cimo dela; e
poderão na casaca usar de chapa, em que tenham a espada, a torre e a
legenda acima referida.

VII. As medalhas serão pendentes de fita azul, e os Grã-Cruzes


trarão por cima da casaca ou farda, bandas da mesma cor e um colar
formado de espadas e torres, sobre elas nos dias de Corte e grande
gala; e nos mais dias trarão só as bandas por cima da vestia, como é

114
determinado e praticam os Grã-Cruzes, Comendadores e Cavaleiros
das três Ordens Militares; e os colares e chapas serão conformes aos
padrões que vão desenhados.

VIII. As Grã-Cruzes, por falecimento dos que as tiveram, serão


entregues ao meu Ministro de Estado dos Negócios do Brasil para me
fazer entrega delas; e por ele mesmo serão remetidas àqueles a quem
eu houver por bem conferi-las.

IX. Sendo o fim principal da renovação desta Ordem o premiar as


grandes acções e serviços que se me fizerem, hei por bem estabelecer
seis Comendas para os seis Grã-Cruzes efectivos que hão de consistir
em uma doação de duas léguas de raiz, ou quatro quadradas de terra
cada uma, e oito Comendas de légua e meia de raiz, ou duas e um
quarto quadradas para os Comendadores.

X. Estas Comendas constarão da quantidade do terreno acima dito


que estiver inculto e desaproveitado e absolutamente por cultivar, e em
que nenhum dos meus vassalos tenha domínio ou posse, ou qualquer
outra pretensão.

XI. Por morte dos Comendadores passarão elas para aquele a


quem eu fizer mercê, com todos os aumentos que tiverem; e aos
Comendadores será licito aforarem parte do terreno das Comendas a
colonos brancos para aumento da agricultura e povoação, percebendo
o foro e ficando com todos os direitos e faculdades que têm os senhores
directos em qualquer aforamento.

XII. Vagando alguma Comenda por morte do Comendador, ou


porque seja privado dela por sentença proferida legalmente por delito,
por que a deva perder, o Magistrado do lugar em que ela for situada,
fazendo logo uma legal arrecadação, me dará conta pelo Presidente do
meu Real Erário; e pelo mesmo Magistrado se mandará administrar,
enquanto estiver vaga e até que seja de novo conferida pela maneira
estabelecida pelas minhas Leis e mais reais disposições.

XIII. O total destas Comendas há-de constituir o património da


Ordem; e para se estabelecerem, precederão informações das diversas
Capitanias deste Estado, para se conhecer onde há terrenos incultos e

115
desaproveitados que convenham para esta instituição, cujo regime se
estabelecerá melhor nos Estatutos, que mando formar para esta
ordem.

XIV. Em cada ano no dia 22 de Janeiro, em memoria daquele em


que aportei a estes Estados, se celebrará a festa da Ordem pela maneira
que eu houver por bem regular.

XV. Hei por bem encarregar o exame, decisão e expediente dos


negócios desta Ordem á Mesa da Consciência e Ordens que entenderá
neles pela mesma forma e maneira por que o faz nos das mais ordens.

XVI. Os Cavaleiros, a quem eu fizer mercê da Insígnia desta


Ordem, depois de tirarem as suas Provisões, se apresentarão em uma
das casas do mesmo Tribunal e prestado o juramento de valor e
lealdade, lhes lançará um Cavaleiro, ou Comendador da referida
Ordem, a insígnia com assistência de mais dous, lavrando-se disso
termo em um livro que haverá para este fim.

XVII. Os privilégios desta Ordem serão os mesmos de que gozam


os Grã-Cruzes, Comendadores e Cavaleiros das três ordens militares; e
terão por seu Juiz que se denominará dos Cavaleiros da Ordem da
Torre e Espada, um Magistrado de distinta graduação que deverá ser
comendador, ou Cavaleiro da mesma Ordem.

XVIII. Os Grã-Cruzes devem preceder aos Comendadores, quando


aconteça concorrerem juntos; e entre si serão precedidos pelas
Dignidades, segundo a graduação acima exposta e cada um pela sua
antiguidade na concessão e mercê da Grã-Cruz.

XIX. Devendo ter esta Ordem Estatutos apropriados para o seu


regime e não convindo que se façam senão depois de criadas e
estabelecidas as Comendas; ordeno que pelo meu Ministro e Secretario
de Estado dos Negócios do Brasil se expeçam ordens para os
Governadores das diversas Capitanias deste Estado, a fim de que
informem os terrenos que há nas suas Capitanias baldios e que nunca
fossem possuídos, e com as circunstâncias necessárias para o
estabelecimento destas Comendas: e outrossim que formadas elas e

116
organizado tudo o mais que convém, se formem os Estatutos para
firmeza e bom governo desta Ordem.
E esta se cumprirá, como nela se contém. Pelo que mando á Mesa
do Desembargo do Paço, e da Consciência e Ordens; Presidente do
meu Real Erário; Regedor da Casa da Suplicação do Brasil; Conselho
da minha Real Fazenda; Governador da Relação da Baía;
Governadores e Capitães Generais e mais Governadores do Brasil, e
dos meus Domínios Ultramarinos; e a todos os Ministros de Justiça e
mais pessoas, a quem pertencer o conhecimento e execução desta
Carta de Lei, que a cumpram e guardem e façam inteiramente cumprir
e guardar como nela se contém, não obstante quaisquer Leis, Alvarás,
Regimentos, Decretos ou ordens em contrário; porque todos e todas
hei por derrogados para este efeito somente, como se deles fizesse
expressa e individual menção, aliás ficando sempre em seu vigor; e ao
Doutor Tomás António da Vilanova Portugal, do meu Conselho,
Desembargador do Paço e Chanceler-Mor do Brasil, mando que a faça
publicar na Chancelaria, e que dela se remetam cópias a todos os
Tribunais, cabeças de Comarcas e Vilas deste Estado: registando-se
nos lugares, onde se costumam registrar semelhantes Cartas,
remetendo-se o original para o Real Arquivo, onde se houverem de
guardar os das minhas Leis, Regimentos, Cartas, Alvarás e Ordens.

Dado no Palácio Rio de Janeiro em 29 de Novembro de 1808.


Príncipe com guarda.
D. Fernando José de Portugal.
Para Vossa Alteza Real ver.
Joaquim António Lopes da Costa a fez.

Alvará de 5 de Julho de 1809

Eu o Príncipe Regente Faço saber aos que o presente Alvará com


força de Lei virem: Que havendo instaurado a Ordem da Torre e
Espada pelo Decreto de treze de Maio do ano passado, dando-lhe
forma, e regulamento pela Carta de Lei de vinte e nove de Novembro
do mesmo ano; não só para marcar na posteridade a época, em que
felizmente Aportei a este Estado, e Estabeleci a ampla liberdade do

117
Comércio, franqueando-o a todos os navios Nacionais, e Estrangeiros:
mas também para premiar os ilustres e beneméritos Vassalos de El-Rei
da Grã-Bretanha, Meu Amigo, e Fiel Aliado, que me acompanharam
com muito zelo nesta viagem, e aqueles dos Meus Vassalos, que
antepuseram a honra de seguir-me:
E sendo os Prémios desta natureza os mais capazes de produzir
estímulos de honra, e de virtude, quando são repartidos com
economia, sobriedade de maneira, que se não tornem vulgares, e
percam o seu preço, e valor: Desejando atulhar estes inconvenientes,
que frustrariam o fim, e desígnio da Instituição desta Ordem
meramente Civil e Política e Querendo outro sim regular melhor a
forma, com que se deve lançar a Insígnia àqueles, a quem Eu fizer
Mercê: Hei por bem, em ampliação e declaração do sobredito Decreto,
e Carta de Lei, Determinar seguinte:

I.Não tendo fixado o número dos Comendadores Honorários, e


Cavaleiros, e convindo fazê-lo: Sou Servido Determinar que os
Comendadores Honorários não sejam mais de vinte e quatro; e os
Cavaleiros de cem, não podendo pessoa alguma requerer, nem
devendo conferir-se qualquer destas Mercês, em quanto estiver cheio o
numero acima referido.

II. Sendo estabelecido no § XVI da Carta de Lei de vinte e nove de


Novembro do ano passado que as Insígnias sejam lançadas em uma
das Casas da Mesa da Consciência e Ordens a quem Encarreguei o
exame, decisão e expediente dos negócios da Ordem: Hei por bem, que
só os deputados deste Tribunal possam lançá-las, com assistência de
dois Cavaleiros, ou Comendadores, fazendo-o um em cada mês, e
sendo a Propina depositada para se repartir por todos no fim de cada
mês a qual será igual à que percebem os Priores Mores das Três
Ordens Militares e o Juramento será lavrado pelo Oficial Maior do
Mesmo Tribunal, e assinado pelo Novo Cavaleiro, e pelo que assistirão,
compreendido o que lançou a Insígnia.

III. No expediente dos Alvarás se haverá a Mesa, como se pratica com


os Cavaleiros das Três Ordens Militares, havendo-se por habilitados
todos, a quem Eu fizer a Mercê da Insígnia da Ordem da Torre, e
Espada, sem precisão de Dispensa de habilitação.

118
E este se cumprirá como nele se contem, Pelo que Mando à Mesa do
Desembargo do Paço e da Consciência e Ordem, e a todos os Tribunais
e mais Pessoas a quem haja de pertencer o conhecimento deste Alvará
que o cumpram, e guardem. E valerá como Carta passada pela
Chancelaria, posto que por ela não há-de passar, e que o seu efeito haja
de durar mais de um ano, sem embargo da Lei em contrário.

Dado no Palácio do Rio de Janeiro, em 5 de Julho de 1809


Com a Assinatura do Príncipe Regente, e a do Ministro.

Alvará de 23 de Abril de 1810

Eu o Príncipe Regente Faço saber aos que este Alvará de


declaração virem, que Havendo estabelecido pela Carta de Lei de vinte
e nove de Novembro de mil oitocentos e oito, que os Grã-Cruzes, e
Comendadores da nova Ordem da Torre e Espada usassem na casaca
de uma Chapa na forma do Modelo, que com a mesma Carta de Lei se
imprime: Sou Servido, que da mesma continuam a usar, com a
diferença somente, que a Legenda Valor e Lealdade seja inscrita com
Letras de Ouro em campo azul ferrete: E Determino outrossim, que os
Cavaleiros da dita Ordem usem também da Torre sobre a Medalha, à
maneira dos Comendadores.
Pelo que Mando à Mesa do Desembargo do Paço, e da
Consciência e Ordens: e a todos os Tribunais, e mais Pessoas, a quem
haja de pertencer o conhecimento deste Alvará, que o cumpram e
guardem: E valerá como Carta passada pela Chancelaria, posto que
por ela não há-de de passar, e que o seu efeito haja de durar mais de
um ano, e sem embargo da Lei em contrário.

Dado no Paço do Rio de Janeiro em 23 de Abril de 1810.


Com a Assinatura do Príncipe Regente, e a do Ministro.

119
Decreto de 5 de Maio de 1821

A Regência do Reino, em Nome de El-Rei o Senhor D. João VI,


faz saber que as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da
Nação Portuguesa, tem Decretado o seguinte:

Em Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação


Portuguesa, Considerando a necessidade de reduzir o Exército de
Portugal a uma nova organização, compatível com as circunstâncias
em que a mesma Nação se acha, e sendo incompatível com estas
circunstâncias a conservação dos Oficiais ingleses no mesmo Exército,
Decretam:

1° Os Oficiais Ingleses que serviram no Exército de Portugal, e que


foram retirados do exercício dos seus postos pela Declaração Oficial de
26 de Agosto de 1820, ficam da data deste demitidos com honra e com
agradecimentos da Nação Portuguesa;

2° Os mesmos Oficiais ficam gozando o soldo das suas patentes, por


tanto tempo quanto foi o que serviram durante a guerra. Aqueles que
não tem serviço feito na mesma guerra, ficam recebendo o soldo das
suas patentes, por tempo de um ano. Estas gratificações são pessoais.

3° Aos Brigadeiros, que não têm Comenda da Ordem da Torre e


Espada, lhes fica concedido o poderem usar dessa Insígnia; e aos
Coronéis e Tenentes-coronéis, usarem do Hábito da mesma Ordem
por lhes fazer Graça.

A Regência do Reino o tenha assim entendido e o faça executar.


Paço das Cortes em 5 de Março de 1821.
Manuel Fernandes Tomás, Presidente
José Ferreira Borges, Deputado Secretário
João Baptista Felgueiras, Deputado Secretário

Por tanto Manda a todas as Autoridades a quem competir o


conhecimento e execução do presente Decreto, que assim o tenham
entendido e o cumpram e façam cumprir e executar como nele se
contém; e ao Chanceler Mor do Reino que o faça publicar na

120
Chancelaria e registar nos Livros respectivos, remetendo-se o original
ao Arquivo da Torre do Tombo e cópias a todas as estações do estilo.

Palácio da Regência em 5 de Maio de 1821.


Com as rubricas dos Membros da Regência do Reino.

Edital da Mesa da Consciência e Ordens


(Gazeta de Lisboa, n. 306, 1823)

El-Rei Nosso Senhor Foi Servido Determinar por Aviso da


Secretaria de Estado dos Negócios da Reino de 27 de Outubro último,
e imediata Resolução do 10 do corrente mês de Dezembro, tomada em
Consulta da Mesa da Consciência e Ordens, que os Comendadores e
Cavaleiros das cinco Ordens Militares do Reino Unido, usem das
Insígnias das mesmas Ordens, na conformidade dos modelos
prescritos nos Definitórios, Leis posteriores, e nas da criação das duas
mais modernas de Torre e Espada e de Nossa Senhora da Conceição de
Vila Viçosa, ficando-lhes proibido o uso de Insígnias de forma variada
que se confundem na aparência com as das Ordens Militares
Estrangeiras} devendo os agraciados no prazo de dois meses contados
da data deste desfazer-se das Insígnias que tiverem e de que usarem
contra a forma determinada, com a cominação de as perderem para o
Oficial que lhes fizer a apreensão, e das penas que o mesmo Augusto
Senhor, a quem o dito Tribunal há-de fazer presente as transgressões
das suas Reais Ordens, For servido impor-lhes.
E para que chegue a notícia a todos, se afixou o presente.

Lisboa, 22 de Dezembro de 1823.


Aires Mascarenhas Valdez.

121
Edital da Mesa da Consciência e Ordens
(Gazeta de Lisboa, n. 217, 1824)

Havendo El-Rei Nosso Senhor Determinado por Decreto de 26


de Agosto do corrente ano, que aos agraciados com as Insígnias da
Real Ordem da Torre e Espada, se expeçam na Mesa da Consciência e
Ordens, Diplomas semelhantes aos que se lavram para a Ordem de
Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa: E achando-se instalado já
naquela Real Ordem da Torre e Espada o Deputado Conselheiro
Joaquim José Guião, que ora faz as vezes de Presidente do referido
Tribunal, para com efeito lançar os Hábitos dessa Ordem aos
respectivos agraciados: Se Ordena que os mesmos agraciados
apresentem logo naquele Tribunal as Portarias de Mercê, para se lhes
expedir o competente Diploma, que deverão solicitar e prontificar, a
fim de prestarem em virtude dele, na presença do sobredito
Conselheiro, o juramento de "Valor e Lealdade" pela forma
determinada no § 16 da Carta de Lei de 29 de Outubro de 1808.
E para assim constar, se mandou afixar o presente Edital.

Lisboa, 10 de Setembro de 1824.


Aires Mascarenhas Valdez.

Edital da Mesa da Consciência e Ordens


(Gazeta de Lisboa, n. 62, 1825)

Havendo El-Rei Nosso Senhor Determinado por Decreto de 26


de Agosto de 1824, que aos agraciados com as Insígnias da Real
Ordem da Torre e Espada, se expedissem na Mesa da Consciência e
Ordens Diplomas semelhantes aos que se lavram para os da Ordem de
Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa o que se fez público por
Edital de 10 de Setembro do dito ano, no qual também se Ordenou,
que visto achar-se instalado na dita Real Ordem o Deputado
Conselheiro Joaquim José Guião, que ora faz as vezes de Presidente do
referido Tribunal para com efeito lançar as respectivas Insígnias aos
agraciados, apresentassem estes logo no mesmo Tribunal as Portarias
da Mercê, solicitando a expedição e prontificação do competente

122
Diploma, para em virtude dele prestarem o juramento de "Valor e
Lealdade" pela forma determinada no § 16 da Carta de Lei de 29 de
Novembro de 1808, e achando-se aplanados os obstáculos que
retardaram o pronto cumprimento das Soberanas Determinações,
deverão os agraciados que tiverem prontificados os seus Diplomas,
apresentar-se perante o sobredito Deputado Conselheiro para
receberem e serem instalados na mencionada Ordem, em uma das
Salas do predito Tribunal, na conformidade do Alvará de 5 de Julho de
1809.
E para assim constar, se mandou afixar o presente Edital.

Lisboa, 7 de Março de 1825


Aires Mascarenhas Valdez.

123
Placa da Ordem da Torre e Espada
Seis braços bipartidos, tendo o superior aposto um castelo. Ao centro
apresenta um laurel interceptado por uma espadinha, emoldurado por uma
faixa de esmalte azul-escuro com a inscrição VALOR E LEALDADE. Ouro,
prata, brilhantes, esmeraldas, rubis, esmalte, seda; 116 x 25 mm. A peça que
pertenceu a D. João VI possui 493 brilhantes de diversas dimensões e 88
diamantes rosa.

124
Insígnia da Ordem da Torre e Espada – 1º modelo (1808)
Estrela de 8 braços, em ouro, ligados por um ramo de loureiro atado (77 x 66 x
11 mm). No topo, o braço da estrela é substituído por uma torre, também em
ouro. No anverso, no medalhão central, apresenta a efígie laureada, à direita,
do Príncipe Regente D. João, circundada pela legenda “JOÃO D: G. REG. DE
PORTº PRINCIPE DO BRASIL” (João por Graça de Deus Regente de Portugal
Príncipe do Brasil). No reverso, o medalhão central, apresenta uma espada
(por vezes uma cimitarra, de lâmina curva) envolta por uma coroa de louros,
tudo em ouro, e todo o conjunto circundado pela legenda “VALOR E
LEALDADE”. Banda azul-ferrete.

125
Insígnia – 2º modelo

126
Insígnia – 3º modelo

127
Em dias de gala, os Grã-Cruzes podiam usar um Colar (com elos
na forma de espadas e torres) de onde pendia a insígnia da Ordem.
Os Comendadores usavam a insígnia da Ordem pendente do
pescoço por uma fita de suspensão azul-ferrete e uma Placa de peito
idêntica à dos Grã-Cruzes.
Inicialmente, os Cavaleiros usavam, suspensa no peito, uma
insígnia sem a torre no topo.
Por Alvará de 23 de Abril de 1810, a insígnia da Ordem seria
alterada. A Placa de peito passou a ostentar a legenda "Valor e
Lealdade" inscrita a letras de ouro, em campo azul-ferrete. De igual
forma, a venera dos Cavaleiros da foi alterada, tendo passado a ser
idêntica à das demais classes. O seu pendente de peito passou a
ostentar uma torre em ouro, no topo.
Actualmente, e de acordo com a Lei Orgânica das Ordens
Honoríficas Portuguesas, a Ordem Militar da Torre e Espada pode
ser conferida em três casos:

1. Por méritos excepcionalmente relevantes, demonstrados no exercício


de funções dos cargos supremos que exprimem a actividade dos órgãos
de soberania ou no comando de tropas em campanha;
2. Por feitos de heroísmo militar e cívico;
3. Por actos excepcionais de abnegação e sacrifício pela Pátria e pela
Humanidade.

O Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada foi criado em


1939 (Decreto-Lei nº 29.567, de 2 de Maio) para ser conferido,
exclusivamente, a Chefes de Estado com altos feitos militares e, assim,
foi pela primeira vez concedido ao Generalíssimo Francisco Franco,
Chefe de Estado de Espanha. Pela reforma das Ordens de 1962-63, o
Grande-Colar passou a ser reservado para os antigos Presidentes da
República Portuguesa, regra que se manteve, desde 1986, na legislação
em vigor. Actualmente, é atribuído ex officio, exclusivamente, aos
antigos Presidentes da República eleitos após terem terminado o
mandato, e só neste caso poderá ser usado. Existem actualmente dois
grandes-colares da Ordem da Torre e Espada: o General António
Ramalho Eanes, que foi Presidente da República em dois mandatos
sucessivos (1976-1981 e, de 1981-1986) e, o Dr. Mário Soares, que foi
eleito Presidente da República por dois mandatos sucessivos (1986-
1991 e de 1991-1996).

128
Contudo, a título excepcional e, mediante autorização conferida
por decreto-lei, foram atribuídos grandes-colares da Ordem da Torre e
Espada, ao Presidente da República do Brasil - Emílio Garastazu
Médici, em 1973 e, na vigência da actual Lei Orgânica, a S. M. a Rainha
Isabel II, do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, por
ocasião da visita de Estado àquele país, realizada pelo Presidente da
República Dr. Mário Soares, em Fevereiro de 1993.

Insígnias dos vários graus


Cavaleiro: usa o Distintivo, com 44 mm de diâmetro, suspenso de Fita
com 30 mm, com fivela dourada. O Distintivo é uma Estrela de cinco
pontas, de esmalte branco, perfilada de ouro, assente sobre uma coroa
de carvalho, de esmalte verde, perfilada e frutada de ouro, tendo entre
as duas pontas superiores uma torre, de ouro, e iluminada de azul,
sendo a estrela carregada, ao centro, de um círculo, de ouro, com uma
espada, de esmalte azul, posta em faixa sobre uma coroa de carvalho,
de esmalte verde e realçada de ouro, tudo envolvido por coroa circular,
de esmalte azul filetada de ouro, com a legenda “Valor, Lealdade e
Mérito”, em letras maiúsculas, de ouro; no reverso, ao centro, e em
campo de esmalte azul, o escudo nacional, circundado da legenda
“República Portuguesa”, em letras maiúsculas, de ouro. A Fita é de cor
azul-ferrete.

Oficial: a mesma insígnia, tendo sobre a fivela uma roseta da cor da


fita, com 10 mm de diâmetro;

Comendador: usa a Placa, de prata. A Placa tem forma pentagonal (de


prata, para os Comendadores e, de ouro para o Grande-Oficial e a Grã-
Cruz) com 68 mm x 82 mm, em raios abrilhantados, carregada de uma
estrela da Ordem, com uma torre coberta, de ouro e iluminada de azul,
entre as duas pontas superiores.

Grande-Oficial: usa a Placa, de ouro.

Grã-Cruz: usa a Banda da Ordem, posta a tiracolo da direita para a


esquerda e placa, de ouro, igual à de grande-oficial. A Banda é uma
fita de seda da cor da Ordem (com 101 mm de largura) terminado em

129
forma de laço, tendo pendente do mesmo, o distintivo, com a medida
de 78 mm x 68 mm.

Colar: Nos actos solenes, os agraciados com a Ordem da Torre e


Espada usarão também: o colar, em prata, para os cavaleiros e, de
ouro, para os restantes graus Os colares são usados à volta do pescoço
assentes sobre os ombros. O Colar é formado por espadas, de esmalte
azul, com 25 mm, dispostas sobre coroas de carvalho, de esmalte
verde, perfiladas e frutadas, e torres iluminadas de azul, com 23 mm de
altura por 20 mm de base, encadeadas alternadamente, tendo
pendente o distintivo da ordem, com a torre coberta, com 70 mm de
diâmetro, o qual será, como o Colar, de prata esmaltada para cavaleiro
e de ouro esmaltado para os demais graus.

Grande-Colar: usa o Grande-Colar conjuntamente com a Banda da


grã-cruz e a Placa correspondente. Com o Grande-Colar da Ordem da
Torre e Espada, não é permitido o uso de insígnias de qualquer outra
condecoração, nacional ou estrangeira, dado tratar-se da mais alta
condecoração Portuguesa. O Grande-Colar é formado,
alternadamente, por torres, de ouro e iluminadas de azul, com 28 mm
de altura por 23 mm de base, e espadas de esmalte azul, com 42 mm,
dispostas sobre coroas de carvalho, com 25 mm x 25 mm, de esmalte
verde perfiladas e frutadas de ouro, suspensas em corrente dupla
dourada, e ao centro, sobre duas espadas, de esmalte azul cruzadas,
com 65 mm, e suportada por dois dragões de ouro, uma torre do
mesmo metal, iluminada de azul, com 42 mm de altura por 30 mm de
base; o colar tem pendente o distintivo da Ordem, com a torre coberta,
com 80 mm de diâmetro.

Distintivo especial (colectivo): a outorga da Ordem Militar da Torre e


Espada a unidades militares, por feitos ou serviços relevantes em
combate, importa para os militares que tomaram parte na prática
daquele feito ou serviço, integrados nos efectivos da unidade, formação
ou fracção, o direito ao uso do referido distintivo especial que poderá
ser usado com todos os uniformes. Para o efeito, deverá ser efectuado o
respectivo averbamento nos registos de matrícula, sem o que não
poderá ser usado o distintivo especial. O Distintivo especial é
constituído por cordões encadeados, de 4 mm de diâmetro, da cor da
fita da Ordem, tendo, respectivamente, 0,40 m e 0,60 m de

130
comprimento, suspensos da platina direita, passando o mais comprido
por baixo do braço e indo ambos prender a um botão da farda,
conforme o estabelecido no respectivo plano de uniformes; os cordões,
serão terminados por duas agulhetas de 60 mm de comprimento. Os
cordões e agulhetas serão, respectivamente, de seda e prata dourada
para os oficiais, de algodão e prata para os sargentos e de algodão e
cobre para as praças.

Bibliografia

ANÓNIMO, Notícia Curiosa da Instituição da Nova Ordem Militar de Cavalaria da


Torre e Espada, estabelecida pelo Príncipe Nosso Senhor, Lisboa, Impressão Régia,
1809
ANÓNIMO, Estudo para a Ordem da Torre e Espada - original de Arte (desenho à
pena e aguarela; s. l., 1808?) [BNRJ: Arc-30-Doc. Icon.: I– Anonimo (8) Registro:
1.011.424- AA-2000]
AZEVEDO, Pedro de, D. Afonso V e a Ordem de Torre e Espada, in Boletim de 2ª
Classe da Academia das Ciências de Lisboa, v. 12, n. 2 (Abr.-Jul. 1918), p. 630-741
FERREIRA, Alexandre, História das ordens Militares que houve no Reyno de Portugal,
Lisboa, 1735, p. 77-219
GONÇALVES, Fernando, A Ordem da Espada e as Praças de África (comunicação ao
Congresso Internacional dos Descobrimentos Portugueses e a Época do Renascimento,
198?)
LISBOA, Elysio de Carvalho, As Ordens Honorificas Brasileiras anteriores à
Independência, in Jornal de Ala, a. 3, n. 5 (1941), p. 19-25
SERRANO, Maria Alice Pereira de Lima /SALDANHA, Segismundo do Carmo da
Câmara de, A Ordem Militar Portuguesa da Torre e Espada: subsídios para a sua
história, Lisboa, 1966
VASCONCELOS, Adriano Mendes de, Breve notícia das Ordens-Monástico-militares
em Portugal, Viseu, 1909, p. 138-143

131
Grã-Cruz das Três Ordens Militares

A Grã-Cruz das Três Ordens Militares Portuguesas resultou de


um decreto de D. Maria I, emitido em 1789, pelo qual a soberana
procedeu à reunião numa só insígnia, encimada pelo Sagrado Coração
de Jesus, das Grã-Cruzes das Ordens de Cristo, S. Bento de Avis e
Santiago da Espada. Tal reforma fora inspirada nas propostas de D.
Luís da Cunha, consignadas nas Instruções Inéditas de […] a Marco
António de Azevedo Coutinho 60.

As mais antigas representações da Grã-Cruz das Três Ordens Militares


Portuguesas: Ilustração do rosto das Obras Póstumas de Manuel de
Figueiredo (Lisboa, 1804) e O Príncipe Regente é conduzido pela mão da
Providência – desenho de Domingos Sequeira, gravado por Queiroz, em 1817,
para o livro Direitos Nacionais da Monarquia (Lisboa, 1818)

60Coimbra, 1929. Cf. Paulo Jorge Estrela, As Ordens Militares Portuguesas até ao
Reinado de D. João VI, in Ob. cit., p. 23-25.

133
A génese remota desta distinção honorífica pode ser achada no
facto do Papa Júlio III ter concedido in perpetuum, à Coroa
portuguesa, o grão-mestrado das três Ordens monástico-militares
nacionais, pela bula Praeclara Charissimi, de 30 de Novembro de
1551.
Esta venera foi concebida pelo ourives Ambroise Gottlieb Polet
(1790), tendo sido ordenada por João António Pinto da Silva “para Sua
Majestade a Rainha Nossa Senhora [D. Maria I] Quem Deus Guarde
muitos anos”.

Placa e Insígnia da Grã-Cruz das Três Ordens Militares que pertenceu a D.


Maria I, concebida por Ambroise Gottlieb Polet

É composta por Placa e Insígnia, tendo-se constituído como a


mais elevada distinção honorífica não só para os soberanos
portugueses como para outros chefes de Estado, únicas pessoas, além
do Grão-Mestre da Ordem, a poderem aceder a ela 61.

61Ver José Rosas Júnior, Catálogo das Jóias e Pratas da Coroa, Lisboa, PNA, 1954;
Ouros do Brasil no Palácio da Ajuda, Lisboa, PNA, 1986; D. Luís I Duque do Porto e
Rei de Portugal, Lisboa, PNA, 1990.

134
D. João VI, retratado com a Banda das Três Ordens

135
Medalhão e Placa das Três Ordens Militares do
Tipo IV (1834-c. 1850)

136
No Almanach de Lisboa de 1793, editado pela Academia das
Ciências, é referida como a insígnia, com a Banda tricolor, usada pelos
soberanos (rainha D. Maria I e D. Pedro III), bem como pelo Príncipe
do Brasil (futuro D. João VI), o qual era Comendador-Mor das Três
Ordens.

Placa da Grã-Cruz das Três Ordens pertencente a D. João VI

A Placa (129 x 122 x 22 mm) é formada por um medalhão


central de ouro e prata (contendo três outros de menor diâmetro onde
se incluem os símbolos das Ordens de Cristo, de S. Bento de Avis e de
Santiago da Espada), orlado de raios, dos quais é separado pelo
vazamento do desenho em coroa circular. É composta por mais de 600
brilhantes (com peso estimado em 116,50 quilates, incluídos os 32
maiores que integram os radiantes), rubis e esmeraldas. Os rubis
utilizados no símbolo do Sagrado Coração e nos das Ordens de Cristo e
Santiago totalizam cento e nove, comportando o símbolo da Ordem de
Avis sessenta e seis esmeraldas. A maior parte dos brilhantes utilizados
pertenciam aos bens da Coroa, tendo sido avaliados pelo ourives

137
Ambrósio Gottlieb Polet, autor da peça, em 8.164$500 réis 62. No
recibo de conta, datado de Lisboa (14 de Novembro de 1789), refere
ainda ter utilizado nove brilhantes que recebeu “do Sr. José Dias
Pereira Chaves do espólio de sua Majestade El Rei Dom Pedro Quem
Santa Glória haja”. Mediante esse documento, é possível estimar que,
nessa data, o valor da placa equivalia a 8.913$380 réis 63.

Insígnia da Banda da Grã-Cruz das Três Ordens, pertencente


ao Príncipe Regente, D. João, em 1807 (tipo I – 1789-c. 1823)
(prata, prata dourada e esmaltes, Arsenal Real do Exército)

A Insígnia ou Distintivo (156 x 102 x 20 mm) pende do laço da


Banda, possuindo estrutura oval de ouro e prata muito vazada,
recamada de 224 brilhantes, 129 rubis e 77 esmeraldas (incluindo
algumas gemas de dimensão invulgar, entre as quais 4 brilhantes em
pera, cujos pesos variam entre os 12 e os 26 quilates) que apoiam a

62 Nuno Vassalo e Silva, Os Polet, joalheiros de D. Maria I, Fundação das Casas de


Fronteira e Alorna, Junho 1993 (policopiado).
63 Cf. AHME: cx. 41, n. 6; BANBA (V) Documentos, Lisboa, 1948, p. 85-86.

138
implantação das três cruzes. Encima-o remate de laçaria que acolhe, ao
centro sobre uma estrela, o símbolo do Sagrado Coração de Jesus.
A Placa que pertenceu a D. João VI é citada na relação das jóias
do monarca feita pelo seu criado particular em 1825, no capítulo em
que este nomeia as Ordens e medalhas com as quais o soberano fora
agraciado [PNA: inv. n. 4772], ocorrendo novamente numa relação das
jóias propriedade da Coroa, datada de 1827, onde é avaliada em
81.800$000 réis [PNA: inv. 4777 e 4784].
Desde a sua criação, em 1789, até ao advento do regime
republicano (1910), a Placa das Três Ordens Militares foi objecto de
variações sensíveis, sendo conhecidos sete tipos distintos de insígnias,
a saber: tipo I – 1789-c. 1823; tipo II – c. 1823-1834; tipo III – 1825-
1830; tipo IV – 1834-c. 1850; tipo V – c. 1850-1862; tipo VI – 1862-
1888; tipo VII – 1888-1910.
No período compreendido entre 1789 e 10 de Junho de 1796 as
cores da Banda foram vermelho / verde / vermelho (Cristo / Avis /
Santiago), passando desde então a vermelho / verde / violeta.
De 1789 a 1910 seriam concedidas sessenta e oito destas veneras,
a primeira das quais a Carlos IV de Espanha, em 1796.
No ano de 1824, D. João VI concedê-la-ia aos seguintes
monarcas:

Czar da Rússia, Alexandre I, a 10 de Fevereiro;


Frederico VI da Dinamarca, a 25 de Maio;
Guilherme I dos Países Baixos, a 10 de Outubro;
Frederico III da Prússia, a 17 de Outubro.

139
Carta de Lei pela qual D. Maria I ordena novas
Providências, e Regulamentos para Bem,
Melhoramento, e Dignidade Civil, e Política das três
Ordens militares de Nosso Senhor Jesus Cristo, São
Bento de Avis e São Tiago da Espada. Criando Grã-
Cruzes. Regulando as insígnias e distintivos delas, dos
Comendadores e Cavaleiros e dispondo a este respeito
o mais que nela vai declarado
(19 de Junho de 1789)

Dona Maria por Graça de Deus Rainha de Portugal, e dos


Algarves aquém, e além-mar, em África, Senhora da Guiné, e da
Conquista, Navegação, Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia, e da Índia,
etc. Faço saber a todos os que esta Carta de lei virem: Que
pertencendo-me assim como aos Senhores Reis Meus Augustos
Predecessores, desde o Senhor Rei Dom João III, o Mestrado das Três
Ordens Militares de Cavalaria de Cristo, São Bento de Avis, e São Tiago
da Espada, pela Bula de União do Santo Padre Júlio III, dada em Roma
aos quatro de Janeiro do ano da Encarnação de Nosso Senhor de mil
quinhentos cinquenta e um no segundo ano do seu Pontificado;
Pertencendo-me como Grã-Mestra prover dentro das mesmas Ordens
tudo quanto parecer conveniente, não só à guarda, e observância dos
Estatutos delas, mas o que for próprio ao seu bem, e melhoramento
Espiritual, e Eclesiástico; como o praticaram os sobreditos Senhores,
movidos da mudança, e alteração dos tempos, que faziam necessárias
essas Providências, ou pelo meio dos Capítulos Gerais, ou por outros
praticados com muito acordo, e circunspecção: E pertencendo-me
igualmente como Soberana pelas mesmas razões da mudança, e
alteração dos tempos auxiliar com Providências Civis, e Temporais o
Bem, Melhoramento, e Autoridade das mesmas Ordens. Vendo que de
muitos anos a esta parte se tem de maneira confundido, e perturbado a
Dignidade, e Consideração Civil, e Temporal das ditas Ordens,
principalmente no Provimento dos Cavaleiros delas, que a Eu não
auxiliar com Providências próprias, e acomodadas a tanta desordem, e
relaxação, se chegaria por fim ao ponto extremo de elas não serem,
nem consideradas, nem estimadas, como insígnias de honra, e de
dignidade. Resolvi com o parecer de muitas Pessoas das Ordens, do
Meu Conselho, e outras muito Doutas, e zelosas do Serviço de Deus, e

140
Meu, e da Causa Pública do estado, que nisto se interessa; Ordenar aos
ditos Respeitos, para Bem, Melhoramento, e Dignidade Civil, e Política
das Três Ordens Militares, de Cristo, Avis, e São Tiago da Espada o
seguinte:

I. Sendo prática dos Senhores Reis Grão-Mestres, Meus Augustos


Predecessores usar somente de Venera, e Insígnia da Ordem da
Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, como Eu Mesma até ao
presente tenho praticado. Hei por bem usar daqui em diante
distintamente das Veneras, Medalhas, ou Insígnias de todas Três: não
havendo razão para que sendo Grã-Mestra das Três, pareça pela
Insígnia que o Sou somente de uma; devendo antes honrar, e prezar a
todas. E confio que assim o hão-de observar, e guardar os Senhores
Reis Grão-Mestres Meus Sucessores, pelas mesmas justas, e urgentes
sobreditas, que a Mim me movem, e obrigam.

II. Outro fim hei-de por bem, que o Príncipe Meu Muito Amado, e
Prezado Filho como Herdeiro do Reino, e os que depois dele o forem,
seja Comendador-Mor de todas as Três Ordens, em razão de ser a
Dignidade de Comendador-Mor na Ordem Civil, Temporal, e Política a
primeira depois do grão-mestre; e ser a Pessoa a quem toca pelos
Estatutos governar o Mestrado por falecimento do grão-mestre, como e
expresso no Capítulo 30 das definições do Senhor Rei Dom Manuel,
substanciado no Capítulo 34 &. I. da P. I. dos Estatutos da Ordem de
Cristo.

III. Em consequência hei-de por bem, que o Príncipe Comendador-Mor


use como tal das Veneras, e Insígnias de todas as Três ordens, por ser
de todas Comendador-Mor.

IV. Depois do grão-mestre, e do Comendador-Mor as Dignidades, e


Distinções nas Três Ordens serão gradualmente os Grã-Cruzes, os
Comendadores, e os Cavaleiros.

V. Os Grã-Cruzes, que por esta carta de Lei Sou Servida Criar, serão
Doze, Seis da Ordem de Cristo; Três da Ordem de São Bento de Avis; e
Três da Ordem de São Tiago da Espada.

141
VI. Os Infantes serão Grã-Cruzes da Ordem, ou Ordens em que forem
Providos, sem que se espere pela idade, nem se entenda que entra no
número dos Doze.

VII. À Dignidade de Grã-Cruz somente será promovida Pessoa, que por


qualidade preeminente, ou por Serviços Militares, ou Políticos, se faça
recomendável, e benemérito dela: devendo reservar-se ao Supremo
Arbítrio do grão-mestre o pesar individualmente, e com a maior
circunspecção as circunstâncias dos que se propuser honrar com esta
Distinção, considerando que deixará de ser prezada logo que se
facilitar, sem toda a prudência.

VIII. Ninguém será promovido antes da idade de quarenta anos.

IX. Nunca se dará senão em vida; nem se entenderá feita Mercê de


Grã-Cruz em mais da Vida do Provido, ainda que pelos seus Serviços
relevantes se lhe conceda com os termos mais expressos Mercê de
vidas em todos os Bens das Ordens que tiver.

X. Nenhum será Grã-Cruz sem ser Comendador. Pelo que sendo algum
já Comendador promovido a Grã-Cruz, se conceberá a Mercê
designando-se a Comenda que tem, ou uma das que tem, e
denominando-se por ela Grã-Cruz da Ordem, por exemplo hei-de por
bem elevar a F... Duque, Marquês, Conde, Tenente-General, etc.
Comendador à Dignidade de Grã-Cruz da Ordem na dita Comenda.

XI. Não tendo, porém, Comenda aquele, que por qualidade, Serviços, e
merecimentos se faz digno da honra, e dignidade de Grã-Cruz, deverá
juntamente fazer-se-lhe Mercê de uma Comenda, que lhe sirva como
de Título ou Grão para a promoção.

XII. A Insígnia, ou Venera de Grã-Cruz será mandada pelo Grão-


mestre ao Provido, acompanhada de uma Carta Régia, que lhe servirá
de Título. Por morte do Grã-Cruz, se restituirá a Medalha entregando-
se ao Secretário de Estado dos Negócios do reino, para a apresentar ao
Grão-mestre.

142
XIII. A Insígnia, Venera, ou Medalha de Grã-Cruz, será a mesma em
substância, que por esta Carta deverá ser a dos Comendadores; com a
diferença, porém, aqui declarada.

XIV. Os Grã-Cruzes somente à diferença dos Comendadores, poderão


trazer a Medalha pendente em banda lançada do ombro direito ao lado
esquerdo sobre o vestido. A banda deverá ser da cor distintiva da
Ordem em que cada um for Grão-mestre.

XV. Poderá, contudo, o Grã-Cruz usualmente deixar de trazer a


Medalha em banda sobre o vestido: substituindo-lhe nesse caso a fita
sem Medalha por baixo do vestido, e sobre a véstia lançada no ombro
ao lado, como se pratica em outras Ordens. Deverá, porém, nesse caso
usar do distintivo da Ordem, ou em Medalha pendente ao pescoço, ou
do vestido, ou na chapa, que deverá sempre trazer em público.

XVI. Os Grã-Cruzes terão sempre preferência aos Comendadores,


ainda que eles sejam mais antigos na Ordem.

XVII. Além das prerrogativas, e honras, que como Grã-Cruzes lhe


ficam pertencendo. Sou servida, que se lhe dê Tratamento de
Excelência, quando por outro Título lhe não pertença: bem entendido,
que atenta a qualidade, graduação, merecimentos, e serviços, que
devem verificar-se no Provido, será muito raro que estas circunstâncias
concorram em Pessoa, que não tenha já por outro Título o dito
Tratamento.

XVIII. Querendo conservar na Memória as antigas Dignidades das


Ordens quais eram depois do Comendador-Mor o Claveiro, e o Alferes.
Ordeno que dos Grã-Cruzes um seja o Claveiro, e o outro o Alferes, e
que como tais tenham cada um preferência aos outros Grã-Cruzes.

XIX. Entre as Dignidades, e Grã-Cruzes havendo concorrência, se


observará a ordem seguinte. O Grã-Cruz Claveiro, e depois dele o Grã-
Cruz Alferes, terão preferência aos outros Grã-Cruzes, e a preferência
destes será regulada pela antiguidade da sua criação.

XX. Todos os Grã-Cruzes da Ordem de Cristo, precederão em concurso


aos de Avis, e estes aos de São Tiago: entendendo-se que esta

143
precedência é ordenada em benefício da regularidade, e ordem, sem
que dela se possa concluir, nem pretender, que os Grã-Cruzes de São
Tiago são inferiores aos de Cristo.

XXI. Os Comendadores das Três Ordens, concorrendo como tais,


precederão sem divisão de ordem, segundo a antiguidade de
Comendadores.

XXII. Os Comendadores serão os mesmos que até agora, devendo


distinguir-se dos Grã-Cruzes somente em não poderem trazer a Venera
ou Medalha em banda, mas somente ou pendente do vestido, ou ao
pescoço. Porém tanto os Grã-Cruzes, como os Comendadores deverão
trazer sempre em público a chapa, ou sobreposto bordado sobre o
vestido.

XXIII. As medalhas, ou Veneras dos Grã-Cruzes, ou dos


Comendadores deverão ser diferentes dos Cavaleiros, da maneira
seguinte.

XXIV. Propondo-Me estabelecer, e deixar à Posteridade um


Monumento de Minha particular Devoção ao Santíssimo Coração de
Jesus, trazendo à memória, que o Senhor Rei Dom Sebastião para
demonstração da Sua ao Santo do seu Nome, tinha resoluto ornar a
Ordem de Cristo com a Insígnia de uma seta atravessada sobre a Cruz.
Hei-de por bem, que os Grã-Cruzes, os Comendadores das Três
Ordens, e nenhuns outros Cavaleiros tragam para se distinguirem
sobre a Cruz das suas Veneras um coração, e que também o tragam na
chapa, ou sobreposto bordado no vestido.

XXV. Tanto os Grã-Cruzes, como os Comendadores, que estiveram na


Corte no dia do coração de Jesus assistirão à Festividade, que se faz na
Igreja do Santíssimo Coração de Jesus do Convento da Estrela.

XXVI. Da mesma sorte que os Grã-Cruzes, e Comendadores de cada


uma das Ordens devem assistir à Festividade do seu Orago, como está
mandado nos Estatutos das mesmas Ordens.

XXVII. Os Cavaleiros das Três Ordens guardarão em tudo na


observância, Insígnias, e Veneras o mesmo que até agora.

144
XXVIII. Quanto, porém, à Criação, e Provimento deles, para desterrar
confusões, e restituir quanto for possível estas coisas a melhor ordem
que deve haver: Ordeno o seguinte em Regra.

XXIX. Que o Ordem de São Bento de Avis, seja destinada para premiar,
e ornar o Corpo Militar, de forte que despachando-se os Serviços
Militares, Políticos, ou Civis, em benefício de Militar, que sirva no
Exército de Terra, ou Mar, deverá ser o despacho em lugar de outro
como até agora com o Hábito de São Bento de Avis. Tendo-se
entendido que para este efeito se não devem considerar do Corpo
Militar os Oficiais dos Auxiliares, que não servirem em tempo de
Guerra.

XXX. Em atenção ao Corpo Militar, e aos Serviços Militares hei-de por


bem dispensar a todos os do Corpo Militar, a quem for servida premiar
com o Hábito de Avis de todas, e quaisquer Inquirições, e Habilitações,
que até agora se requeriam pelos Estatutos, que nesta parte hei-de por
revogados.

XXXI. Outro fim em regra, os despachos em benefício de Pessoa que


sirva na Magistratura até o lugar de Desembargador dos Agravos da
Casa da Suplicação inclusive, será o Habito de São Tiago.

XXXII. Além dos Magistrados, serão premiados com esta Ordem


outros serviços, que parecerem dignos dela, segundo a qualidade, e
importância das Pessoas, dos Empregos, e dos Serviços.

XXXIII. Os maiores postos, e cargos Políticos, Militares, e Civis, serão


ornados havendo serviços, com o Hábito da Ordem de Cristo.

XXXIV. Bem entendido, que a qualidade das pessoas, e dos serviços


despachados, e outras particulares circunstâncias que ocorram fazer
excepção, e alterar esta regra.

XXXV. Os Cavaleiros das Três Ordens, não poderão usar do distintivo


do Coração, somente apropriado as Medalhas dos Grã-Cruzes, e
Comendadores.

145
XXXVI. Estabeleço que daqui em diante se não pretenda Mercê de
Hábito das Ordens com Faculdade de renunciar indefinidamente:
Tendo entendido, e resoluto, abolir estas renúncias, como destrutivas
da decência, e dignidade das Ordens: E somente será permitido
imperar o despacho para carta, e determinada pessoa, de cuja
qualidade, e circunstâncias se tome exacto conhecimento antes de se
deferir ao Impetrante.

XXXVII. Declaro que é incontestável o poder, e autoridade do Grão-


mestre para conferir a dignidade de Grã-Cruz ao Comendador, ou
Cavaleiro de outra Ordem, fazendo passar por exemplo um Cavaleiro
da Ordem de Avis a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.

Pelo que mando à mesa do Desembargo do Paço; Mesa da


Conferência, e Ordens; Presidente do Meu Real Erário; Regedor da
Casa da Suplicação; Conselhos da Minha Real Fazenda, e do Ultramar;
Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas, e Navegação destes
Reinos, e seus Domínios; Governador da Relação; e Casa do Porto, ou
quem seu lugar servir; e a todos os Vice-Reis; Capitães Generais;
Governadores do reino, e Domínios Ultramarinos; Desembargadores,
Corregedores, Provedores, Ouvidores, Juízes, e mais Oficiais, a quem o
conhecimento desta Carta de Lei pertença, e haja de pertencer, que a
cumpram, guardem, hajam de cumprir, e guardar tão inteira, e
inviolavelmente, como nela se contém, sem dúvida, ou embargo algum
qualquer que ele seja. E ao Doutor José Ricardo de Pereira de Castro,
do Meu Conselho, Meu Desembargador do Paço, e Chanceler-Mor
destes Reinos, Ordeno que a faça publicar na Chancelaria, passar por
ela, e registar nos livros dela a que tocar, remetendo os Exemplares
dela impressos debaixo do Meu Selo, e seu Sinal a todos os Lugares, e
Estações, a que se costumam remeter semelhantes Cartas de Lei; e
guardando-se o Original desta no Meu Real Arquivo da Torre do
Tombo.

Dada no Palácio de Lisboa em dezanove de Junho de mil


setecentos oitenta e nove.
A Rainha com guarda.
José de Seabra da Silva

146
Decreto de 20 de Julho de 1789

Não sendo praticável que a Carta de Lei de dezanove de Junho


do presente ano, sobre a reformação das Três Ordens Militares, de
Nosso Senhor Jesus Cristo, de São Bento de Avis e de São Tiago da
Espada, possa ter execução imediatamente, que for publicada em razão
de faltarem aos Grã-Cruzes e Comendadores, as Veneras e Insígnias,
de que segundo a Carta devem usar, por isso e para lhes dar o espaço
de tempo necessário, e também por outros justos motivos que tenho
presentes, sou servida ordenar, que a dita Carta não principie a ter
execução antes do mês de Novembro, e no dia que eu houver por bem
insinuar. E para vir à notícia de todos, ordeno que este com a dita
Carta se publique na Chancelaria-Mor do Reino. E que no fim dela se
imprima.

Palácio de Lisboa em vinte de Julho de mil setecentos oitenta e


nove.
Com a rubrica de Sua Majestade

Publicado no dia supra, e registado a fl. 146


Na oficina de António Rodrigues Galhardo.

Carta de Lei de 23 de Julho de 1789

Carta de Lei, pela qual Vossa Majestade há por bem ordenar


novas Providências, e Regulamentos para Bem, Melhoramento, e
Dignidade Civil, e Política das Três Ordens militares de Nosso Senhor
Jesus Cristo, São Bento de Avis e São Tiago da Espada. Criando Grã-
Cruzes. Regulando as insígnias e distintivos delas, dos Comendadores
e Cavaleiros e dispondo a este respeito o mais que nela vai declarado.

Para Vossa Majestade ver.


Francisco José de Oliveira a fez.

Registada nesta Secretaria de Estado dos Negócios do Reino.

147
Publicada na Chancelaria-Mor em 23 de Julho de 1789 e registada a fl.
141 do Livro das Leis.

Alvará com força de lei, pelo qual declara e Ordena que


entre os Doze Grã-Cruzes das Três Ordens Militares de
Cristo, Avis e São Tiago, que foi servida criar, pela
Carta de Lei de dezanove de Junho do presente ano,
haja uma perfeita igualdade, observando-se sobre isto
a regularidade, e etiqueta estabelecida na Corte,
exceptuando-se os casos das Festividades singulares de
cada uma das ditas Ordens, nos quais se determina
outra ordem de precedência
(15 de Setembro de 1789)

Eu a Rainha faço saber aos que este Alvará de Declaração com


força de Lei virem. Que tendo resoluto na Carta de Lei de dezanove de
Junho deste ano, cuja execução deferi pelo Decreto de vinte de Julho
para o mes de Novembro, ou para o dia que eu fosse servida insinuar.
Que entre os Grã-Cruzes das três diferentes ordens de Cristo, Avis e
São Tiago novamente criados se considerasse uma tal igualdade, que os
de uma ordem se não pudessem entender inferiores ou superiores aos
da outra. E tendo outro fim resoluto suscitar as antigas dignidades das
ditas ordens como Claveiro, e Alferes, anexando-as aos ditos Grã-
Cruzes. Sou servida com o mesmo espírito, e sim declarar, e fixar as
ditas resoluções, para que distinta, e precisamente tenham a sua
devida execução no tempo, e dia que eu ensinar, na maneira seguinte.
Hei por bem declarar e ordenar, que entre todos os Doze Grã-Cruzes,
que fui servida criar, pela referida Carta de Lei, haja uma perfeita
igualdade, sem diferença de Ordem, isto é, ou sejam de São Tiago ou de
Cristo ou de Avis, e sejam, ou não sejam decorados com as Dignidades
de Claveiro, ou de Alferes. Devendo-se entender, que nos actos, e
festividades em que concorrem todos como Grã-Cruzes não há-de
haver outra precedência, que não seja a da Corte; observando-se entre
todos os ditos Grã-Cruzes das diferentes ordens a regularidade, e
etiqueta, que na minha Corte em solenidade se guarda, e deve guardar.

148
Nos actos, porém, e festividades, em que represente cada uma das Três
Ordens singularmente, sem concurso necessário das outras, deverá ser
a ordem a preceder a todos o Grã-Cruz Cavaleiro, e depois dele o
Alferes, seguindo-se os Grã-Cruzes ou Grã-Cruz. Aos quais precederam
as ditas dignidades, posto que sejam mais modernas na criação.
Guardando-se nestes casos a regularidade estabelecida nos Estatutos
de cada uma das Ordens a respeito das dignidades delas, e não a
etiqueta, e ordem da Minha Corte.
Pelo que mando à Mesa do Desembargo do Paço, Mesa da
Consciência e Ordens, Presidente do Meu real Erário, Regedor da Casa
da Suplicação, Conselhos da Minha Real fazenda e do Ultramar, Real
Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação destes Reinos e
seus domínios, Governador da Relação e Casa do Porto ou quem seu
lugar servir, E a todos os Vice-reis, Capitães-Generais, Governadores
do Reino, e Domínios Ultramarinos, Desembargadores, Corregedores,
Provedores, Ouvidores, Juízes, e mais Oficiais a quem o conhecimento
deste Alvará com força de Lei pertença, e haja pertencer, que o
cumpram, guardem, hajam de cumprir e guardar tão inteira, e
inviolavelmente, como nele se contém, sem dúvida, ou embargo algum
qualquer que ela seja. E ao Doutor José Ricardo Pereira de castro do
Meu Conselho, Meu Desembargador do Paço, e Chanceler Mor destes
Reinos, Ordeno que o faça publicar na Chancelaria, passar por ela, e
registar nos Livros dela a que tocar, remetendo os exemplares dele
impressos debaixo do Meu Selo, e seu sinal a todos os Lugares e
Estações a que se costumam remeter semelhantes Alvarás, e
guardando-se o Original deste no Meu Real Arquivo da Torre do
Tombo.

Dado no Palácio de Queluz em quinze de Setembro de mil


setecentos e oitenta e nove.
Rainha
José de Seabra da Silva

149
Alvará de 10 de Junho de 1796

Eu a Rainha faço sabor aos que este Alvará de declaração com


força de Lei virem, que, tendo estabelecido na Carta de Lei de 19 de
Junho de 1789, que entre os Grã-Cruzes das três diferentes Ordens de
Cristo, Avis e S. Tiago, novamente criados, se considerasse uma tal
igualdade, que os de uma Ordem se não pudessem entender inferiores
ou superiores aos da outra; e havendo pelo Alvará de 15 de Setembro
do dito ano de 1789 declarado mais expressamente que entre todos os
doze Grã-Cruzes houvesse uma perfeita igualdade sem diferença de
ordem, isto é, ou fossem de S. Tiago, ou de Cristo, ou de Avis, fossem
ou não fossem decorados com as dignidades de Claveiro ou Alferes:
sou informada que a desigualdade do número nas Grã-Cruzes das duas
Ordens de S. Tiago e de S. Bento de Avis havendo em cada uma delas
só três, a respeito da Ordem do Cristo, em que há seis, dava lugar
ainda a questionar-se sobre a igualdade entre as mesmas Ordens; para
terminar estas escrupulosas questões, e por outras considerações mais
ponderosas e dignas da minha real atenção e serviço: hei por bom criar
novamente seis Grã-Cruzes, três na Ordem de S. Tiago da Espada e
três na de S. Bento de Avis, ficando assim cada uma destas Ordens
com seis Grã-Cruzes, como há na Ordem de Cristo.
E porquanto depois de estabelecida a igualdade entre as Grã-
Cruzes, e depois de regulada pela dita Carta de Lei de 19 de Junho de
1789 a distinção entre Grã-Cruzes e Comendadores, tem havido
alguma confusão entre os Comendadores e os Cavaleiros, entendendo-
se mal o disposto principalmente nos § XXII, XXIII e XXIV da Carta
de Lei: hei por bem declarar, se necessário é, que a Chapa ou bordado,
ou qualquer outra coisa que afecte distinção de Ordem, sobreposta no
vestido, somente é mandada e permitida aos Grã-Cruzes e aos
Comendadores na forma ordenada, e proibida aos Cavaleiros debaixo
das penas e multas que, segundo as circunstâncias, deverão aumentar-
se à proporção dos abusos.
Para evitar outra confusão que de mais antigo tempo tem havido
entre a Ordem de S. Tiago e de Cristo, e que de pouco tempo a esta
parte se tem feito mais reparável, em razão de serem uniformes na cor
as bandas e fitas da Ordem do Cristo e da Ordem de S. Tiago: hei por
bem ordenar, para distinção entre estas Ordens, que a cor da Ordem
de S. Tiago seja violeta daqui em diante, e que de fitas e bandas desta

150
cor, segundo os padrões que estão determinados, pendam as medalhas
e veneras.
Pelo que mando à Mesa do Desembargo do Paço, Mesa da
Consciência e Ordens, Presidente do meu Real Erário, Regedor da
Casa da Suplicação, Conselhos da minha Real Fazenda e do Ultramar,
Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação destes
Reinos e seus Domínios, Governador da Relação e Casa do Porto, ou
quem em seu lugar servir, e a todos os Vice-Reis, Capitães-generais,
Governadores do Reino e Domínios Ultramarinos, Desembargadores,
Corregedores, Provedores, Ouvidores, Juízes e mais Oficiais a quem o
conhecimento deste Alvará com força de Lei pertença e haja de per-
tencer, que o cumpram, guardem, hajam de cumprir e guardar tão
inteira c inviolavelmente como nele se contém, sem dúvida ou
embargo algum, qualquer que ele seja. E ao Doutor José Alberto
Leitão, do Meu Conselho, Meu Desembargador do Paço e Chanceler
Mor destes Reinos, ordeno que a faça publicar na Chancelaria, passar
por ela e registar nos livros dela a que tocar, remetendo os exemplares
dela, impressos debaixo do meu selo e seu sinal, a todos os lugares e
estações a que se costumam remeter semelhantes cartas de lei e
guardando-se o original desta no meu Real Arquivo da Torre do
Tombo.

Dado no Palácio de Queluz, em 10 de Junho de 1796.


Com a assinatura do Príncipe com guarda.

151
D. Maria II usando a Banda das Três Ordens Militares

Bibliografia

BRAGANÇA, José Vicente, L’Empereur Napoléon I – Grand Cordon des Trois Ordres
Militaires – du Christ, d’Avis et de St. Jacques, in Catalogue de l’exposition La Berline
de Napoléon, Musée National de la Légion d’honneur, Paris, Albin Michel, 2012, p. 185-
188.
Idem, A evolução da Banda das Três Ordens Militares (1789-1826), in Revista Lusíada
História, n. 8 (2011), p. 259-284
MINISTÉRIO DO REINO
Registo dos Diplomas de Condecorações das Ordens Portuguesas concedidas pêlos
nossos Reis a outros Soberanos e Príncipes, liv. 1 (1789-1865), Ministério do Reino.
Liv. 914
TRIGUEIROS, António Miguel, A Banda das Três Ordens Militares Portuguesas de
Cristo, S. Bento de Avis e Sant’Iago da Espada, in D. João VI e o seu Tempo, Lisboa,
1999, p. 232-233
Idem, O Início da Modernidade Emblemática em Portugal, in Moeda, n. 2 (2000), p.
59-63

152
Duas Ordens Militares de Cristo e Avis

Criada em 1789 para ser concedida aos Infantes portugueses e, a


partir de 1823, a Príncipes reais e Infantes estrangeiros.
São conhecidos cinco tipos distintos desta insígnia: tipo I –
1789-c. 1823; tipo II – c. 1823-1834; tipo III – 1834-c. 1850; tipo IV –
c. 1850-1888; tipo V – 188-1910, mantendo-se inalterada a Banda
bipartida de vermelho e de verde.
Foram impostas cinquenta destas veneras.
A 28 de Novembro de 1823, D. João VI concedeu este distintivo
aos Infantes espanhóis, seus netos.

Grã-Cruz das Duas Ordens Militares de Cristo e de S. Bento de Avis

153
O Infante D. Miguel ostentando diferentes insígnias, entre as quais a
das Duas Ordens Militares de Cristo e Avis

154
Duas Ordens Militares
de Cristo e Santiago da Espada

Terão sido impostas apenas duas destas Grã-Cruzes, motivo por


que se trata de uma condecoração raríssima 64.
Concedida ao Infante D. Miguel de Portugal, em 1825, e ao
Príncipe Maximiliano Maria de Saxónia Real, em 17 de Março do
mesmo ano.

64 Gustav A. Tanmann e António Miguel Trigueiros reproduzem-na in The Three


Portuguese Military Orders of Knightwood (1789-1910), in O.M.S.A. Medal Notes, n. 1
(Glassboro, NJ, USA, 1997), p. 18.

155
Ordem de Nossa Senhora da Conceição

No dia 6 de Fevereiro de 1818, D. João VI, então no Rio de


Janeiro, instituíu a Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de
Vila Viçosa, em reconhecimento pela "protecção eficaz da Padroeira do
reino, mediante a qual o omnipotente tem livrado esta monarquia dos
grandes perigos que a cercam pela geral revolução da Europa" 65.
A instituição dividia-se em três classes (Grã-Cruz, Comendador
e Cavaleiro), tinha carácter puramente honorífico, compatível com
todas as outras Ordens Militares do Reino, sendo independente de
profissão religiosa, pelo que dispensava qualquer processo de
habilitação.
Inicialmente, compunham-na, conforme os Estatutos que a
regulamentaram por Alvará de 10 de Setembro de 1819, além do Grão-
mestre, que era o soberano, doze Grã-Cruzes honorários, quarenta
Comendadores, cem Cavaleiros e sessenta Serventes e congregava,
além destes, os Comendadores e Cavaleiros natos, que seriam
considerados extraordinários.
Todos os membros da Família Real de ambos os sexos eram
Grã-Cruzes efectivos desde o nascimento e o Rei o seu Grão-Mestre. As
diferentes classes só poderiam ser conferidas a quem já tivesse graus
de nobreza: as Grã-Cruzes aos titulares, as Comendas aos fidalgos da
Casa Real e os Cavaleiros aos nobres e empregados que prestassem
serviços dignos dessa honra.
Eram cabeças da Ordem, as Capelas Reais de Nossa Senhora da
Conceição de Vila Viçosa e da corte, e não obstante tratar-se de uma
65Esta nova Ordem era a quarta com a mesma invocação que se criava e distanciava da
primeira precisamente duzentos anos, a Ordine militare ed equestre - Concezione -
instituída pelo Duque Fernando I de Mântua e o Duque de Cléves, Carlos Gonzaga. As
outras foram a Ordem da Imaculada Conceição, restabelecida pelo Duque Carlos da
Baviera, depois Imperador Carlos VII, e a Ordem da Conceição, mais conhecida pelo
nome do seu criador Carlos III, de Bourbon, rei de Nápoles, em 1771.

157
ordem puramente civil, todos os Grã-Cruzes, Comendadores,
Cavaleiros e Serventes eram obrigados a assistir à festividade da
Padroeira da Ordem, no dia a ela consagrado (oito de Dezembro),
desde que se encontrassem à distância de uma légua.
Em tal festividade todos os dignitários, com excepção dos
Serventes, usavam um manto branco com a insígnia bordada no ombro
esquerdo e cordões de cor azul-clara, mas, se pertencessem também a
outra ordem do reino, usariam o manto dessa ordem, apondo-lhe a
insígnia da Conceição.

158
159
Assinados pelo Grão-mestre, os respectivos títulos de nomeação
e registados estes na Chancelaria das Ordens, deviam os galardoados
ir pessoalmente ou mandar seus bastantes procuradores apresentar-se
com eles ao deão da Real Capela de Vila Viçosa, que era comendador
nato da Ordem, jurando em suas mãos defender o mistério da
Imaculada Conceição, matriculando-se seguidamente na Real
Corporação dos Escravos, bem como na dos oficiais da Igreja da
Conceição.
E, como esta tinha sido criada no Brasil, determinava-se
também que deveria existir, na Real Capela da corte, um livro para
nele se matricularem todos os agraciados que tivessem títulos passados
pela Mesa da Consciência e Ordens do Rio de Janeiro, embora
devessem depois prestar juramento perante o deão da real capela de
Vila Viçosa e matricular-se também na Corporação dos Escravos.
Parece, no entanto, que grande parte destas formalidades caíram em
desuso com o tempo 66.
A insígnia da Ordem, desenhada por Debret 67, tinha a
originalidade de ser uniface. Era uma estrela de nove pontas,
esmaltadas de branco, raiadas e perfiladas de ouro, tendo nos
intervalos dos respectivos raios nove estrelas pequenas também
esmaltadas de branco, perfiladas de ouro, mas de cinco pontas. No
centro, em campo de ouro fosco, a saudação angélica na cifra AM (Avé
Maria) entrelaçado, em ouro polido, circundada por uma faixa
esmaltada de azul-claro, tendo escrita, em letras de ouro, a legenda
“Padroeira do Reino”, sendo todo o conjunto decorado, na parte
superior, com a coroa real. Esta insígnia variava de dimensões
conforme os graus, sendo usada com fita de chamalote azul orlada de
branco: os Grã-Cruzes suspensa numa fita larga, traçada do ombro
direito para o lado esquerdo, como nas outras Ordens, os

66 O registo e administração das concessões na Ordem foi, inicialmente, garantido por


um Tribunal dentro da Mesa da Consciência e Ordens. No entanto, existiram duas
Mesas da Consciência e Ordens, uma em Lisboa e outra no Rio de Janeiro, pelo que os
procedimentos processuais da Ordem, pelo menos nos primeiros anos da sua existência,
foram tudo menos lineares.
67 Jean Baptiste Debret (18 de Abril de 1768-18 de Junho de 1848). foi discípulo de

David e, em 1815, integrou a missão artística chamada ao Rio de Janeiro para formar o
Instituto de Belas Artes. Tornar-se-ia o pintor da família imperial do Brasil, onde
permaneceu até 1831.

160
Comendadores numa fita pendente do pescoço, e os Cavaleiros, no
peito, do lado esquerdo, pendente de uma fita das mesmas cores.
A placa com a insígnia era usada pelos Comendadores e pelos
Grã-Cruzes simultâneamente com as veneras próprias do seu grau.
Competia aos Serventes uma insígnia semelhante à dos
Cavaleiros, mas toda de prata e sem qualquer adorno.
Foi interditada qualquer extravagância na uniformidade das
insígnias, sendo apreendidas as que se divergissem do dito padrão,
impondo-se a pena de 40 cruzados e a perda da venera apreendida.
No período compreendido entre 1808 e 1821, foram agraciados
79 Cavaleiros, 38 Comendadores e 11 Grã-Cruzes.
Esta Ordem, que cedo se revelaria uma das mais populares do
Reino, seria extinta em 1910 e restabelecida em 1985.

161
Decreto de 6 de Fevereiro de 1818

Tendo-se celebrado o acto solene da minha aclamação, na


sucessão da coroa destes Reinos, e reconhecendo ser graça de Deus
Omnipotente e uma poderosa protecção da Providência, que depois de
tantos perigos tem salvado a monarquia, e querendo que fique
perpetuada a memória de tão extraordinários sucessos e da devoção
que consagro a Nossa Senhora da Conceição, invocada por Padroeira
deste Reino, pelo Senhor Rei D. João IV, meu predecessor e avô: tenho
determinado instituir uma Ordem Militar da Conceição, de que ficará
sendo cabeça da Ordem a Capela Real de Nossa Senhora da Conceição
de Vila Viçosa, na província do Alentejo; e terá as diferentes ordens de
Grã-Cruzes, Comendadores, Cavaleiros e Serventes, em número
prefixo, como se exporá nos estatutos que lhe hei de dar, sendo as
Grã-Cruzes destinadas para os títulos, as comendas para os que
tiverem filhamento de fidalgos na minha Real Casa, e
semelhantemente as mais condecorações.
A Mesa da Consciência e Ordens o tenha assim entendido, e
formalizando os Estatutos e mais providências precisas para a sua
execução, os faça subir em consulta à minha real presença.

Palácio do Rio de Janeiro, em 6 de Fevereiro de 1818.


Com a rubrica de Sua Majestade.

162
Aguarela de Jean Baptiste Debret – Alegoria à instituição da
Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição [PNQ: inv 755]

163
Aguarela de Jean Baptiste Debret – Estudo para a Alegoria à instituição
da Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição
[Museus Castro Maya – Rio de Janeiro]

164
Alvará com força de Lei, estabelecendo e mandando
observar os Estatutos da Ordem de Mérito de Nossa
Senhora da Conceição de Vila Viçosa, criada por
decreto de 6 de Fevereiro de 1818, no dia da aclamação
de Sua Majestade
(10 de Setembro de 1819) 68

Eu El-Rei faço saber aos que o presente alvará com força de lei
virem, que sendo muito frequentes e conhecidos os benefícios que a
nação portuguesa sempre recebeu do patrocínio da Santíssima Virgem
da Conceição, em todas as épocas arriscadas da monarquia, não têem
sido menos constantes os reconhecimentos e devoção que os
Soberanos de Portugal, meus augustos predecessores, tributaram em
todos os tempos à mesma Virgem, de tal maneira, que El-Rei D. João
IV, por decreto de 24 e carta régia de 25 de Março de 1646, se lhe
constitui feudatário, e a declarou e fez jurar Padroeira do Reino,
determinando por outra carta régia de 30 de Junho de 1654, que este
padroado fosse escripto em lapides na entrada de todas as igrejas dos
seus domínios, para que fosse patente a todos os seus vassalos e ficasse
entregue à memória os séculos, continuando a mesma devoção em El-
Rei D. Pedro II, que em 1694 confirmou a confraria dos escravos da
Senhora da Conceição, erecta na sua igreja de Vila Viçosa, em El-Rei D.
João V, que por sua carta régia de 12 de Novembro de 1717 mandou
celebrar com toda a pompa a festividade da Conceição, em El-Rei D.
Pedro III, meu senhor e pai, que tanto engrandeceu a real capela da
Conceição do palácio de Bemposta, que tinha sido erecta por minha tia
a Sereníssima Rainha da Grã-Bretanha, quando se recolheu a Portugal
por morte de seu marido El-Rei D. Carlos II; e na Rainha D. Maria I, de
boa memória, minha senhora e mãe, que em 1751 se alistou na referida
confraria dos escravos da Conceição.
E, tendo-me eu também alistado na mesma confraria em 1769
havendo herdado com estes meus reinos aquela devoção de meus pais
e avós, e reconhecido a protecção eficaz da Padroeira do Reino,
mediante a qual o Omnipotente tem livrado esta monarquia dos
grandes perigos que a cercam pela geral revolução da Europa, salvando
de todos eles, não só a representação e caracter da mesma monarquia,

68 Lisboa, Impressão Régia, 1819 [BNRJ: 99D, 24,4].

165
mas também a minha real pessoa, até ser aclamado solenemente no
faustoso dia 6 de Fevereiro de 1818, na sucessão da coroa desta reino
unido de Portugal, do Brasil e Algarves, me resolvi a dar testemunho
público e permanente de devoção e reconhecimento à mesma Senhora,
por tantos e tão assinalados benefícios, criando por decreto do mesmo
dia a Ordem militar da Conceição. E tendo mandado formalizar pela
mesa da consciência e ordens do Brasil os estatutos necessários para o
governo desta nova ordem: sou servido conformar-me com o parecer
da referida mesa, na consulta que sobre esta matéria fez subir à minha
real presença, e decretar os mencionados estatutos na maneira
seguinte:

I. Esta nova Ordem será denominada Ordem militar de Nossa


Senhora da Conceição de Vila Viçosa, e composta de Grão-Mestre,
Grã-Cruzes efectivas, e honorárias, comendadores, cavaleiros e
serventes.

II. Desejando eu elevar esta ordem, de que sou fundador, à dignidade e


lustre das mais ordens militares do reino, sou servido tomar para mim,
e para os Reis e Rainhas que se sucederem no trono da monarquia, o
título de seu grão-mestre, o direito inalienável de a conferir às pessoas
que merecerem ser admitidas nela.

III. Pelos mesmos motivos de condecoração da Ordem, e para que o


meu reconhecimento e devoção à Padroeira do reino fiquem
resplandecendo de um modo permanente em toda a minha real
família: hei por bem que todas as pessoas reais de um e outro sexo
sejam sempre Grã-Cruzes efectivas da mesma ordem.

IV. Haverá também nesta ordem o número de doze Grã-Cruzes


honorários, quarenta comendadores, cem cavaleiros e sessenta
Serventes, além dos Comendadores e Cavaleiros natos que eu houver
por bem nomear por serviço da Ordem, que serão reputados
extraordinários. Os números determinados serão prefixos, enquanto
eu, por motivos que me pareçam atendíveis, não for servido excedê-los.

V. As Grã-Cruzes honorárias serão conferidas a pessoas que tiverem


título; as comendas às que tiverem filhamento de fidalgo na minha real

166
casa; e as mercês de cavaleiro aos nobres e empregados que me fizeram
serviços ou merecerem a minha real contemplação.

VI. A insígnia desta ordem será uma estrela grande de nove pontas,
esmaltadas de branco e arraiadas de oiro, com nove estrelas pequenas
do mesmo esmalte, colocadas entre os raios entre cada uma das suas
pontas, e decorada com coroa real sobre a ponta superior. Terá no
centro, em campo de ouro fosco, a saudação angélica em cifra de ouro
polido, e em circunferência, sobre faixa esmaltada de azul claro, estará
escrita com letras de oiro a legenda: Padroeira do Reino.

VII. Esta insígnia será maior ou menor, como se observará do padrão


que com esta baixa. Os Grã-Cruzes e comendadores usarão da maior,
que no mesmo padrão vai designada em número segundo, e poderão
também usar da que vai designada em número terceiro, em dias que
não forem de gala; os cavaleiros usarão da menor, que vai designada
em número quarto, e os serventes trarão a insígnia com os mesmos
caracteres e do tamanho da dos cavaleiros, mas todas de prata, e sem
algum oiro ou jóia.

VIII. A referida insígnia ou venera da ordem andará em fita de


chamalote azul claro, orlada de branco. Os Grã-Cruzes usarão dela em
fita larga, traçada do ombro direito para o lado esquerdo, como as
trazem os Grã-Cruzes das outras Ordens. Os comendadores deverão
trazê-la em fita proporcionada, pendente do pescoço. Os cavaleiros e
serventes usarão dela pendente das casas da casaca ou vestido de que
fizerem uso, do lado esquerdo, como é costume. Os Grã-Cruzes e
comendadores usarão simultâneamente da insígnia designada no
padrão em número primeiro, em chapa de oiro, ou sobreposto bordado
na casaca ou vestido exterior, do lado esquerdo, como se pratica nas
outras Ordens.

IX. Querendo evitar que o abuso e a extravagância perturbem a


uniformidade das insígnias da ordem, proibido absolutamente o uso
das veneras que não forem conformes em tamanho, ornato e carácter
ao padrão que sou servido dar. E mando ao tribunal da mesa da
consciência e ordens que vigie com diligência sobre este artigo, e
mande tirar as veneras aos que aparecerem com elas desconformes ao
dito padrão, impondo-lhes a pena de cem cruzados, metade para o

167
meirinho do tribunal e a outra metade para a fábrica da cabeça da
ordem, além da perda de venera apreendida, que ficará pertencendo ao
meirinho.

X. Os Grã-Cruzes, comendadores e cavaleiros desta ordem de Nossa


Senhora da Conceição de Vila Viçosa gozarão de todas as honras,
homenagens, isenções e privilégios de que gozam os Grã-Cruzes,
comendadores e cavaleiros das outras ordens militares do reino; e sou
servido encarregar às duas mesas da consciência e ordens do reino
unido e manutenção desses privilégios, o conhecimento e decisão dos
negócios da ordem e a vigilância sobre o cumprimento dos seus
estatutos.

XI. Os títulos dos Grã-Cruzes serão expedidos pela secretaria de estado


dos negócios do reino, como sempre se praticou. Os dos comendadores
e cavaleiros consistirão em cartas, e os dos serventes em alvarás
expedidos pela mesa da consciência e ordens, assinados por mim. As
mesas da consciência e ordens de Lisboa e do Rio de Janeiro mandarão
expedir estes títulos aos que apresentarem portarias da mercê
assinadas pelo ministro secretário de estado dos negócios do reino
unido, sem processo algum de habilitações, e pelo cumpra-se somente
das mencionadas portarias. Depois de baixarem da minha real
assinatura os referidos títulos irão passar pela chancelaria das ordens,
onde pagarão à real fazenda os mesmos direitos e honoríficos que
pagam os comendadores e cavaleiros das outras ordens militares. Os
serventes, porém, não pagarão mais que os direitos ordinários do
trânsito dos seus alvarás.

XII. Hei por bem que a real capela de Nossa Senhora da Conceição de
Vila Viçosa, na província do Alentejo, e a minha capela real da corte,
onde estiver, sejam cabeças desta nova Ordem. Em ambas estas reais
capelas deverá celebrar-se anualmente, com pompa, a festividade da
Padroeira da ordem: na de Vila Viçosa no dia oitavo da Conceição.

XIII. Todos os Grã-Cruzes honorários, Comendadores, Cavaleiros e


Serventes, que se acharem em distância de uma légua da cabeça da
ordem, serão obrigados a assistir à festividade da Padroeira. Os que
forem professos em qualquer outra ordem militar do reino assistirão
com o manto da Ordem que professarem, pondo sobre ele a venera

168
desta nova ordem; os que não tiverem outro, assistirão à festividade
com mantos brancos iguais aos das outras ordens, usando uns e outros
de cordões ou cingidouro azul claro e da insígnia bordada sobre o
ombro esquerdo. Os serventes não usarão de manto, nem terão
assento, estando sempre desembaraçados e prestes para o serviço da
ordem.

XIV. Ficarão incorporados nesta ordem as duas reais instituições dos


oficiais e dos escravos, erectas na igreja de Nossa Senhora da
Conceição de Vila Viçosa, continuando as obrigações dos seus
estatutos, e satisfazendo ao mesmo tempo os encargos da ordem. E
concedo que na real corporação dos escravos sejam admitidas, como
até agora, as pessoas que se oferecerem, sendo capazes, e a sua entrada
para a real corporação será motivo de eu as honrar, promovendo-as
aos lugares da ordem quando vagarem.

XV. O deão da minha real capela de Vila Viçosa, seja qual for a
dignidade de que se ache revestido, será comendador nato desta
ordem, e serão cavaleiros igualmente natos os cónegos da mesma real
capela, o prior e beneficiados da igreja de Nossa Senhora da Conceição
e os da mesa da real corporação dos escravos, erecta na mesma igreja,
que forem perpétuos. A mesa da consciência e ordens lhes mandará
passar os seus títulos à vista das suas colações e posses nos
mencionados benefícios e mesa.

XVI. Sendo proibida pelos sagrados cânones e constituições


apostólicas a profissão solene e perpétua em duas diferentes ordens
religiosas ao mesmo tempo, e querendo eu que esta nova ordem seja
compatível com todas as outras militares do reino, determino que ela
seja independente de profissão religiosa.

XVII. Todos os galardoados com esta ordem, tendo obtido os seus


títulos na forma que fica determinado, irão pessoalmente por seus
bastantes procuradores apresentar-se com eles ao deão da minha real
capela de Vila Viçosa, e jurarão nas suas mãos defender o mistério da
Imaculada Conceição da Virgem Maria.
Com certidão deste juramento no reverso dos títulos irão matricular-se
no livro da Real Corporação dos Escravos, que se acha no arquivo da
igreja de Nossa Senhora da Conceição da mesma vila, e contribuirão

169
nesse acto à referida corporação com a oferta do costume. A mesa dos
escravos passará também a competente certidão da matrícula e oferta,
no reverso dos títulos dos Grã-Cruzes honorários, comendadores,
cavaleiros e serventes que se matricularem; e com estas certidões
reconhecidas se haverão por pertencentes à ordem os candidatos e
gozarão das prerrogativas que por ela lhes competirem.

XVIII. Mando que a minha real capela da corte haja também um livro
para nele se matricularem todos os Grã-Cruzes honorários,
comendadores, cavaleiros e serventes que tiverem títulos passados pela
Mesa da Consciência e Ordens do Rio de Janeiro. Esta matrícula será
feita na presença da autoridade que eu for servido nomear, e escrita
pelo escrivão da matrícula das outras ordens militares, e servirá
somente para regular as antiguidades e apontar os que não assistirem à
festividade da ordem. Em tudo isto entenderá a sobredita Mesa da
Consciência e Ordens, dando as providências que lhe parecerem
oportunas, e multando em 40 cruzados, para a fábrica da cabeça da
ordem, os que faltarem sem causa urgente e justificada.

XIX. Todos os matriculados na minha capela real da corte irão depois


jurar nas mãos do deão da minha real capela de Vila Viçosa, e
matricular-se no livro da Real Corporação dos Escravos, como fica
determinado, serão obrigados a presentar aqui à Mesa da Consciência
e Ordens as certidões do juramento e matrícula, dentro de dois anos
contados do dia em que os seus títulos tiverem passado pela
chancelaria. Os que tiverem títulos passados pela Mesa da Consciência
e Ordens de Lisboa, serão obrigados a presentar-lhe as referidas
certidões dentro de seis meses contados da mesma época. Cada uma
das ditas mesas procederá respectivamente à privação das insígnias,
contra os que não apresentarem as mencionadas certidões dentro dos
prazos estabelecidos.

XX. Nas estações encarregadas da expediência dos títulos dos


comendadores, cavaleiros e serventes, levarão os empregados pelas
cartas dos comendadores e cavaleiros os emolumentos que
actualmente levam por semelhantes das outras ordens, e pelos alvarás
dos serventes não levarão mais que o emolumento do feitio e registo
deles.

170
XXI. Estes estatutos serão exactamente observados enquanto eu não
for servido modifica-los ou altera-los por novas providências que me
proponho dar, e as mesas da consciência e ordens terão particular
cuidado na sua observância, como lhes tenho incumbido.

Este se cumprirá como nele se contém. Pelo que mando às


mesas do desembargo do paço e da consciência e ordens, presidente do
meu real erário, regedores das casas da suplicação, conselhos da minha
real fazenda, governadores das relações do Porto e Baía, governadores
e capitães generais, e a todos os ministros de justiça a quem o
conhecimento e execução deste alvará pertencer, que o cumpram e
guardem e façam inteiramente cumprir e guardar como nele se
contém, não obstante quaisquer leis, alvarás, regimentos, decretos ou
ordens em contrário, porque todos e todas hei por derrogados para
este efeito somente, como se deles fizesse expressa menção, ficando
aliás sempre em seu vigor.
E será passado e publicado na chancelaria das ordens militares
deste reino do Brasil, e por ela se remeterão cópias a todas as estações
na forma do estilo.

Dado no Palácio do Rio de Janeiro, aos 10 de Setembro de 1819.


Rei.
Visconde de Vila Nova da Rainha.

Modelo de uma carta de Comendador


dos princípios da Ordem

Dom João, por graça de Deus etc. Faço saber ao Deão da minha
Real Capela na mesma Vila ou quem seu encargo servir, que atendendo
ao que me representou D. Bernardina Teresa Caupers de Sande e
Vasconcelos e aos seus bons serviços feitos no Paço no Foro de Açafata
pelo espaço de muitos anos: Hei por bem fazer mercê ao seu filho
Manuel Maria Holbeche Granate d’Oliveira da Cunha e Silva de o
nomear Comendador Supranumerário da referida Ordem para entrar
em efectivo quando houver vaga. Pelo que vos mando que o dito
Manuel Maria Holbeche Granate de Oliveira da Cunha e Silva ou a a

171
seu bastante procurador tomeis o juramento que deve prestar nas
vossas mãos, na conformidade do § 17 do Alvará de 10 de Setembro de
1819, de defender o Mistério da Imaculada Conceição da Virgem Maria,
de que lhe passareis certidão no verso desta com a qual irá matricular-
se no Livro da Real Corporação dos Escravos que se acha no Arquivo
da Igreja de Nossa Senhora da Conceição desta Vila contribuindo nesse
acto à referida Corporação com a oferta do costume. A Mesa dos
Escravos passará também a competente certidão da matrícula e a
oferta no reverso desta, e com as sobreditas certidões reconhecidas se
haverá o referido Manuel Maria Holbeche Granate de Oliveira da
Cunha e Silva por pertencer à Ordem e gozará das prerrogativas que
por ela lhe competirem sendo obrigado a apresentar no meu Tribunal
da Mesa da Consciência e Ordens as mencionadas certidões dentro de
seis meses contados do dia em que pela Chancelaria das Ordens
Militares transitar esta carta, a qual se cumprirá e guardará como nela
se contém, sendo primeiro registada no registo geral das Mercês e
passada pela referida Chancelaria.

Lisboa 13 de Janeiro 1824 - Rei com guarda - Por decreto de S.


Majestade de 18 de Dezembro de 1823, Portaria do Ministro Secretário
d’Estado dos Negócios do Reino Joaquim Pedro Gomes d’Oliveira de
13 do mesmo mês e ano e cumpra-se da Mesa da Consciência e Ordens
de 10 de Janeiro de 1824 - António Maria de Melo Azevedo Coutinho
Gentil a fez escrever - José Cardoso Ferreira Castel - Joaquim José
Guião - António Gomes Ribeiro - Pg. 4$ réis de selo Lisboa 20 de
Janeiro de 1824 - Sequeira Coutinho - Nesta Secretaria do Registo
geral das Mercês fica registada esta carta Lisboa 24 de Fevereiro 1824 e
pg 5$600 réis - Estêvão Pinto de Morais Sarmento e Olivres - Pg
5$600 e aos offs 6$100 réis - Lisboa 13 de Março de 1824 - João José
Roquete Galvão de Moira.

Bibliografia

FONSECA, Belard da, A Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa,
Lisboa, Fundação da Casa de Bragança, 1955
LISBOA, Elysio de Carvalho, As Ordens Honorificas Brasileiras anteriores à
Independência, in Jornal de Ala, a. 3, n. 5 (1941), p. 25-26

172
Real Ordem de Santa Isabel

Instituída e fundada pelo Príncipe-Regente, D. João, em 4 de


Novembro de 1801, a pedido de sua mulher D. Carlota Joaquina de
Bourbon.

Insígnia da Real Ordem de Santa Isabel (ouro e esmaltes)


Medalhão encimado por coroa real fechada, com frente esmaltada e decorada
com cena do milagre das rosas e legenda Pauperum Solatio; verso com
monograma da Fundadora, um C e um J (Carlota Joaquina), entrelaçados,
tendo em baixo, num listel, a data romana de MDCCCI (1801)

173
Teve estatutos aprovados por Carlota Joaquina, em 25 de Abril
de 1804, tratando-se de uma Ordem Honorífica, de carácter nobiliário,
exclusivamente reservada às Damas Nobres.
Por decreto assinado no Palácio de Queluz, em 17 de Dezembro
do mesmo ano, D. João decretou que competia a D. Carlota Joaquina,
Princesa do Brasil e Infanta de Espanha, a administração da Ordem.
A admissão nela estava limitada a 26 Damas, além das Senhoras
da Família Real.
A recepção das primeiras Damas ocorreu no Palácio de Queluz, a
4 de Julho de 1804.
Durante a regência e reinado de D. João VI foram admitidas 46
damas nacionais e 4 estrangeiras. Até à sua extinção, seriam admitidas
72 Damas nacionais e 136 Damas estrangeiras.

Pendente do Laço de peito da Real Ordem de Santa Isabel, pertencente à


Duquesa de Lafões (1804)

174
Carlota Joaquina
[PNA: inv. 41367]

175
Alvará por que Vossa Alteza Real, usando das
faculdades que lhe são cometidas no decreto de 17
de Dezembro de 1801, há por bem determinar os
estatutos da Real Ordem de Santa Isabel
(25 de Abril de 1804)

Dona Carlota, por graça de Deus, Princesa do Brasil, faço saber


aos que este Alvará virem, que o Príncipe Regente, meu senhor e
marido, me autorizou para dar estatutos à Real Ordem de Santa
Isabel, que se dignou criar e erigir pelo decreto do teor seguinte:

"Havendo instituído e fundado, no dia 4 de Novembro próximo


passado, a Real Ordem de Santa Isabel à instância da Princesa minha
muito amada e prezada mulher (que há-de nomear as damas para ela),
com o plausível motivo da paz e antiga devoção que há nestes meus
reinos à Rainha Santa: sou servido autorizar a Princesa para que
determine as insígnias, o número e a qualidade das damas, as suas
obrigações e as do secretário que escolher, e os mais estatutos que lhe
parecer dar à mesma Ordem, e mando que pontual e inteiramente se
observe tudo quanto a Princesa ordenar a este respeito.

Palácio de Queluz em 17 de Dezembro de 1801.


Com a rubrica do Príncipe Regente nosso Senhor.

E tendo deferido a execução do dito decreto por motivos


urgentes, usando agora das faculdades que nele me são concedidas,
hei por bem determinar os estatutos que se seguem e ordeno que se
observem e guardem as disposições e regras que nele se contêm:

I. Esta Ordem terá por insígnia ou venera uma medalha de ouro com a
imagem de Santa Isabel de uma parte, e a inscrição pauperum solatio,
e da outra com as letras iniciais do meu nome em cifra, e à roda a
inscrição Real Ordem de Santa Isabel; pendendo esta medalha de
uma banda cor-de-rosa, lançada do ombro direito ao lado esquerdo
sobre o vestido e desta forma se usará nas festas da Ordem, nos dias
de gala e em todas as funções públicas e quotidianamente posta ao
peito, da parte esquerda, com o laço de fita mais estreita da mesma
cor.

176
II. Será composta, além da família real e todas as mais pessoas reais,
de vinte e seis damas que eu eleger, não sendo a minha real intenção
aumentar este número, sem considerações muito essenciais e
atendíveis.

III. As damas que houverem de ser admitidas a esta Ordem deverão


ter ou vinte e seis anos completos ou serem casadas.

IV. A recepção de cada uma das damas à Ordem se fará em uma das
salas do Paço e as damas se assentarão em duas fileiras à direita e à
esquerda da minha cadeira, ficando a mais antiga no primeiro assento
à direita e as mais alternativamente, e na sala imediata de fora estará a
que houver de ser recebida na Ordem.

V. A madrinha que eu destinar, sairá a buscá-la e a terá à sua direita


fazendo as três cortesias do estilo. Posta de joelhos na minha presença,
lhe perguntarei: Desejais ser recebida na minha Real Ordem de Santa
Isabel? E depois de responder Desejo, tornarei a perguntar-lhe: Estais
bem instruída dos seus estatutos e pronta a observá-los? E
respondendo Estou, lhe porei a banda com a medalha pendente, e lhe
direi: Eu vos recebo, e recomendo que tenhais sempre muito presente
a honra que deveis à ordem. Então ela me beijará a mão e a das mais
pessoas reais que se acharem presentes, abraçará as outras damas,
começando pela direita, e tomará o último assento, acompanhada
sempre da madrinha, e restituída esta ao seu lugar ficará concluído o
acto.

VI. As insígnias para este acto estarão em bandeja sobre uma mesa
imediata à minha cadeira, e me serão apresentadas pela dama mais
antiga; e o secretário da Ordem entrará na mesma sala do acto para
estar presente ao recebimento, de que há-de fazer assento no livro
competente, e dele dar certidão à dama provida para seu título.

VII. Nos dias de Santa Isabel e S. Carlos honrarei as damas da Ordem


com beija-mão particular, e em forma de capítulo, regulada a sua
precedência pela antiguidade que cada uma tiver na mesma ordem.

177
VIII. As damas desta ordem serão obrigadas a visitar pelo seu turno,
uma vez em cada semana, o hospital dos expostos e a observar os
artigos pertencentes ao regime particular e governo económico do
hospital, e os mais actos de caridade que devem praticar sobre o
tratamento dos expostos, os quais, depois de acabados e postos em
regra, os mandarei unir a estes estatutos.

IX. Todas as damas desta ordem devem mandar celebrar seis missas,
ouvindo uma por alma de cada uma que falecer.

X. No dia de Santa Isabel, protectora desta Ordem, se celebrará festa


na igreja que eu determinar, a que serão obrigadas a assistir todas as
damas que não estiverem impedidas por ausência ou moléstia e nesse
mesmo dia farei a visita geral da casa dos expostos, onde me irão
assistir todas as damas.

XI. O secretário da Ordem, que hei-de nomear, terá a seu cargo o


arquivo dela e tudo o mais que lhe pertencer, dirigindo-se sobre todas
as dependências da Ordem ao meu secretário, de quem receberá as
minhas reais determinações.

XII. Terá outrossim livros para lançar os assentos das recepções e


óbitos das damas, e registar exactamente os provimentos, ordens e
mais providências que se lhe dirigirem; fará os avisos necessários para
a assistência dos actos da ordem, cumprimento dos sufrágios e tudo o
mais que preciso for; guardará as insígnias, procurando pôr em
arrecadação as das damas que falecerem estará presente aos
recebimentos e outros actos de cerimónia da Ordem, e fará tudo o
mais que for próprio do seu emprego e lhe tocar por estes estatutos.

XIII. Estes são os estatutos que por ora mando observar, reservando
para mim ampliá-los, revogá-los e fazer outros de novo, como melhor
convier ao maior lustre, perpetuidade e proveito da Ordem. E mando
que se imprimam, guardando-se o original no arquivo da ordem e
entregando-se um exemplar deles a cada uma das damas que forem
providas com o aviso da sua nomeação, na forma já determinada.

Dado no Palácio de Queluz, em 25 de Abril de 1804.


Princesa.

178
Carlota Joaquina ostentando a Insígnia da Real Ordem de Santa Isabel
Óleo de João Baptista Ribeiro [PNQ: inv. 247A – 1824]

179
180
181
Imperial Ordem de
Nosso Senhor Jesus Cristo

Após a proclamação da independência, o Brasil conservou a


Ordem de Cristo como insígnia religiosa, admitida enquanto Imperial
Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, por lei de 20 de Outubro de
1823, posteriormente regulamentada pelos decretos n. 321, de 9 de
Setembro de 1843, e n. 2853, de 7 de Dezembro de 1861.
Havia, porém, de ser extinta em consequência do advento do
regime republicano, pelo decreto n. 277 do Governo Provisório da
República, de 22 de Março de 1890, de resto, à semelhança de todas as
demais Ordens Honoríficas do Regime Imperial, com excepção das
Ordens de S. Bento de Avis e do Cruzeiro.

183
O Imperador era o seu Grão-Mestre e o Príncipe Imperial o seu
Comendador-mor. A Ordem era composta por três graus:

- 12 Grã-Cruzes efectivos (além dos Príncipes da Família


Imperial e os estrangeiros considerados supra-numerários), cujo título
era obtido por promoção;

- Comendadores (em número ilimitado), cujo título era obtido


por promoção;

- Cavaleiros, também em número ilimitado.

Todos quantos fossem agraciados com as dignidades desta


Ordem, prestavam juramento de fidelidade ao Imperador e à Pátria.
Foi uma das condecorações mais difundidas no Brasil e a mais
distribuída por D. Pedro I, o qual conferiu 2634 títulos, tendo sido
agraciados:

9 Comendadores e 556 Cavaleiros (1821-1824);


10 Grã-Cruzes, 285 Comendadores e 1775 Cavaleiros (1825-
1831).

Por seu turno, D. Pedro II agraciou, entre 1839 e 1889: 35 Grã-


Cruzes, 418 Comendadores e 2543 Cavaleiros 69.
Inicialmente, era igualmente outorgável a nacionais e
estrangeiros, tendo as suas insígnias permanecido iguais às da milícia
portuguesa. Todavia, a partir de 1843, por decreto imperial de 9 de
Setembro, a insígnia havia de tornar-se diferente, passando a fita de
suspensão vermelha a ser orlada de azul.

69 Consoante cálculos de Xavier Pinheiro (1884), Marques Poliano (1943) e António


Trigueiros (2011). Não incluem as condecorações conferidas às pessoas da família
Imperial e a Príncipes, Soberanos, ou Chefes de Estado estrangeiros.

184
O Duque de Caxias ostentando as condecorações de cinco
Ordens Honoríficas Imperiais, entre as quais a de Comendador da
Imperial Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo

185
186
187
Insígnias

Distintivo de Cavaleiro: estrela branca de cinco pontas bifurcadas e


maçanetadas, assente sobre guirlanda de ramos de café e fumo,
pendente de coroa imperial. Ao centro, medalhão redondo branco,
com cruz da Ordem de Cristo, bordada de ouro.

Fita: vermelha, orlada de azul. O Cavaleiro usava a sua venera, enfiada


na respectiva fita, atada em uma das casas do lado esquerdo do casaco,
ou farda.

Distintivo de Comendador: venera suspensa do pescoço, por uma fita


larga, além de uma placa (chapa), ou bordado, com a cruz da Ordem no
lado esquerdo do casaco, ou farda.

Banda: Fita de seda moiré, terminado em forma de laço, tendo


pendente do mesmo, o distintivo, com 55 mm x 43 mm.

Placa de Grã-Cruz: radiada (de prata, para os Comendadores e, de


ouro, para os Grandes-Oficiais e Grã-Cruzes), com 70 mm de diâmetro,
tendo ao centro um círculo, de esmalte branco, carregado da Cruz da
Ordem, perfilado de ouro e circundado de um festão de louro, de ouro.
O Grã-Cruz usava a sua insígnia pendente de uma banda (ou fitão), a
tiracolo, juntamente com a placa (no Brasil denominada chapa) da
Ordem, enquanto Comendador.
Bibliografia

LISBOA, Elysio de Carvalho, As Ordens Honorificas do Brasil Imperial, in Jornal de


Ala, a. 3, n. 5 (1941), p. 31-32
PINHEIRO, Artidoro Xavier, Organização das Ordens Honoríficas do Império do
Brasil, São Paulo, 1884
POLIANO, Luis Marques, Ordens Honoríficas do Brasil (História, Organização,
Padrões, Legislação), Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1943
SCHULZE, H., Cronik der Ritter und Verdienstorden, Berlin 1855, Suplemento 1870
(com as gravuras das insígnias: Brasil, p. 35, estampa V; Portugal, p. 295, estampa
XXXVIII)
TAMMANN, Gustav A. / TRIGUEIROS, António Miguel, The Three Portuguese
Military Orders of Knightwood (1789-1910), in O.M.S.A. Medal Notes, n. 1 (Glassboro,
NJ, USA, 1997)
TRIGUEIROS, António Miguel, As Ordens Militares Portuguesas No Império do Brasil
(1822-1889), in Moeda, n. 1 (2011), p. 24-46

188
Imperial Ordem de São Bento de Avis

Após a proclamação da independência, o Brasil conservou a


Ordem de Avis como insígnia religiosa, admitida enquanto Imperial
Ordem de São Bento de Avis, por lei de 20 de Outubro de 1823,
posteriormente regulamentada pelos decretos n. 321, de 9 de
Setembro de 1843, n. 2853, de 7 de Dezembro de 1861, n. 4144, de 5 de
Abril de 1868, e n. 4203, de 13 de Junho de 1868.
A sua laicização, mediante o decreto de 1843, tornou-a “civil e
política”, destinando-a a galardoar serviços prestados, exclusivamente,
pelo Exército e pela Armada Imperiais.
O Imperador era o seu Grão-Mestre e o Príncipe Imperial o seu
Comendador-mor. A Ordem era composta por três graus:

- 12 Grã-Cruzes efectivos (além dos Príncipes da Família


Imperial e dos estrangeiros considerados supra-numerários), cujo
título era obtido por promoção. A condição para um Tenente-general,
ou um Vice-almirante, obter a Grã-Cruz era ser Comendador;
- Comendadores (em número ilimitado), cujo título era obtido
por promoção. A condição para alcançar este grau era ser Cavaleiro;
- Cavaleiros (também em número ilimitado).

Todos quantos fossem agraciados com as dignidades desta


Ordem, prestavam juramento de fidelidade ao Imperador e à Pátria.
Foi uma das condecorações mais difundidas no Brasil e uma das
mais distribuídas por D. Pedro I, o qual conferiu 590 títulos, tendo
sido agraciados: 1 Comendador e 177 Cavaleiros (1821-1824) e 4 Grã-
Cruzes, 73 Comendadores e 335 Cavaleiros (1825-1831). Por seu turno,
D. Pedro II agraciou, entre 1839 e 1889: 44 Grã-Cruzes, 192
Comendadores e 1904 Cavaleiros 70.

70 Consoante as estimativas de Xavier Pinheiro (1884), Marques Poliano (1943) e


António Trigueiros (2011). Não incluem as condecorações conferidas às pessoas da
família Imperial e a Príncipes, Soberanos, ou Chefes de Estado estrangeiros.

189
Inicialmente, era igualmente outorgável a nacionais e
estrangeiros, tendo as suas insígnias permanecido iguais às da milícia
portuguesa. Todavia, a partir de 1843, por decreto imperial de 9 de
Setembro, a insígnia havia de tornar-se diferente, passando a fita de
suspensão verde a ser orlada de amarelo.

190
191
Insígnias

Distintivo de Cavaleiro: estrela branca de cinco pontas bifurcadas e


maçanetadas, assente sobre guirlanda de ramos de café e fumo,
pendente de coroa imperial. Ao centro, medalhão redondo branco,
com cruz da Ordem de Avis, bordada de ouro.

Fita: verde, orlada de amarelo. O Cavaleiro usava a sua venera, enfiada


na respectiva fita, atada em uma das casas do lado esquerdo do casaco,
ou farda.

Distintivo de Comendador: venera suspensa do pescoço, por uma fita


larga, além de uma placa (chapa), ou bordado, com a cruz da Ordem no
lado esquerdo do casaco, ou farda.

Banda: Fita de seda moiré, terminado em forma de laço, tendo


pendente do mesmo, o distintivo, com 55 mm x 43 mm.

Placa de Grã-Cruz: radiada (de prata, para os Comendadores e, de


ouro, para os Grandes-Oficiais e Grã-Cruzes), com 70 mm de diâmetro,
tendo ao centro um círculo, de esmalte branco, carregado da Cruz da
Ordem, perfilado de ouro e circundado de um festão de louro, de ouro.
O Grã-Cruz usava a sua insígnia pendente de uma banda (ou fitão), a
tiracolo, juntamente com a placa (no Brasil denominada chapa) da
Ordem, como o Comendador.

Ao invés de todas as demais, as Ordens de Avis e do Cruzeiro


não foram extintas, pelo Decreto n. 277 do Governo Provisório da
República, de 22 de Março de 1890, em consequência do advento do
regime republicano.
Bibliografia

LISBOA, Elysio de Carvalho, As Ordens Honorificas do Brasil Imperial, in Jornal de


Ala, a. 3, n. 5 (1941), p. 28-31
PINHEIRO, Artidoro Xavier, Organização das Ordens Honoríficas do Império do
Brasil, São Paulo, 1884
POLIANO, Luis Marques, Ordens Honoríficas do Brasil (História, Organização,
Padrões, Legislação), Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1943
TRIGUEIROS, António Miguel, As Ordens Militares Portuguesas No Império do Brasil
(1822-1889), in Moeda, n. 1 (2011), p. 24-46

192
Imperial Ordem de São Tiago da Espada

Após a proclamação da independência, o Brasil conservou a


Ordem de Santiago como insígnia religiosa, admitida enquanto
Imperial Ordem de São Tiago da Espada, por lei de 20 de Outubro de
1823, posteriormente regulamentada pelo decreto n. 321, de 9 de
Setembro de 1843.
Havia, porém, de ser extinta em consequência do advento do
regime republicano, pelo decreto n. 277 do Governo Provisório da
República, de 22 de Março de 1890, de resto, à semelhança de todas as
demais Ordens Honoríficas do Regime Imperial, com excepção das
Ordens de Avis e do Cruzeiro.

193
194
O Imperador era o seu Grão-Mestre e o Príncipe Imperial o seu
Comendador-mor. A Ordem era composta por três graus:

- 12 Grã-Cruzes efectivos (além dos Príncipes da Família


Imperial e os estrangeiros considerados supra-numerários), cujo título
era obtido por promoção;
- Comendadores (em número ilimitado), cujo título era obtido
por promoção;
- Cavaleiros, também em número ilimitado.

Inicialmente, era igualmente outorgável a nacionais e


estrangeiros, tendo as suas insígnias permanecido iguais às da milícia
portuguesa. Todavia, a partir de 1843, por decreto imperial de 9 de
Setembro, a insígnia havia de tornar-se diferente, passando a fita de
suspensão verde a ser orlada de azul claro.
Todos quantos fossem agraciados com as dignidades desta
Ordem, excepto os Príncipes, juravam fidelidade ao Imperador e à
Pátria.
Das três antigas Ordens Religiosas Portuguesas, foi a menos
distribuída no Brasil. No período compreendido entre 1821 e 1831, D.
Pedro I conferiu 9 títulos, tendo sido agraciados: 4 Cavaleiros (1821-
1824) e 5 Cavaleiros (1825-1831).
Por seu turno, D. Pedro II agraciou: apenas 1 Cavaleiro (1840)
71. Todos os agraciados eram estrangeiros, nenhum brasileiro tendo

sido galardoado com a insígnia desta Ordem.

Insígnias

Distintivo de Cavaleiro: estrela branca de cinco pontas bifurcadas e


maçanetadas, assente sobre guirlanda de ramos de café e fumo,
pendente de coroa imperial. Ao centro, medalhão redondo branco,
com cruz da Ordem de Santiago, em esmalte grenat e perfilada de
ouro, terminando as extremidades dos três braços superiores com
flores de lis e o braço inferior como a ponta de uma espada.

71
Consoante cálculos de Xavier Pinheiro (1884), Marques Poliano (1943) e António
Trigueiros (19??). Não incluem as condecorações conferidas às pessoas da família
Imperial e a Príncipes, Soberanos, ou Chefes de Estado estrangeiros.

195
Fita: violeta, orlada de azul claro. O Cavaleiro usava a sua venera,
enfiada na respectiva fita, atada em uma das casas do lado esquerdo
do casaco, ou farda.

Distintivo de Comendador: usava a respectiva venera suspensa do


pescoço, por uma fita larga, além de uma placa (chapa), ou bordado,
com a cruz da Ordem no lado esquerdo do casaco, ou farda.

Banda: Fita de seda moiré, terminado em forma de laço, tendo


pendente do mesmo, o distintivo, com 55 mm x 43 mm.

Placa de Grã-Cruz: radiada (de prata, para os Comendadores e, de


ouro, para os Grandes-Oficiais e Grã-Cruzes), com 70 mm de diâmetro,
tendo ao centro um círculo, de esmalte branco, carregado da Cruz da
Ordem, perfilado de ouro e circundado de um festão de louro, de ouro.
O Grã-Cruz usava a sua insígnia pendente de uma banda (ou fitão), a
tiracolo, juntamente com a placa (no Brasil denominada chapa) da
Ordem, enquanto Comendador.

Bibliografia

LISBOA, Elysio de Carvalho, As Ordens Honorificas do Brasil Imperial, in Jornal de


Ala, a. 3, n. 5 (1941), p. 32-33
PINHEIRO, Artidoro Xavier, Organização das Ordens Honoríficas do Império do
Brasil, São Paulo, 1884
POLIANO, Luis Marques, Ordens Honoríficas do Brasil (História, Organização,
Padrões, Legislação), Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1943
TRIGUEIROS, António Miguel, As Ordens Militares Portuguesas No Império do Brasil
(1822-1889), in Moeda, n. 1 (2011), p. 24-46

196
Três Ordens militares – Brasil

A Banda das Três Ordens Militares de Cristo, S. Bento de Avis e


Santiago da Espada continuaria a ser usada no Brasil pelo imperador
D. Pedro II, após a reforma dessas Ordens em 1843.
E, por direito de sucessão dinástica, também os pretendentes ao
trono do Brasil ainda hoje usam essa banda tricolor, com a insígnia
oval das Três Ordens Militares pendente da coroa imperial.

Bibliografia

TRIGUEIROS, António Miguel, As Ordens Militares Portuguesas No Império do Brasil


(1822-1889), in Moeda, n. 1 (2011), p. 24-46

197
Pendente da Banda da Imperial Ordem das Três Ordens Militares,
com coroa do Império do Brasil (prata dourada e esmaltes)

198
Banda das Três Ordens

Insígnia que em Portugal continua a ser, como sempre foi, desde


Novembro de 1789, o símbolo emblemático da chefia do Estado e da
mais alta magistratura da Nação.
Após o restabelecimento das antigas Ordens de Cavalaria como
Ordens Honoríficas pela I República (1917-1918) foi criada (à imagem
da Grã-Cruz das Três Ordens Militares) a Banda das Três Ordens
Militares 72, tornando-se específica do Presidente da República, na sua
qualidade de Grão-mestre das Ordens Honoríficas nacionais.
Sidónio Pais seria o primeiro a usá-la.

72 Decreto nº 5030, de 1 de Dezembro de 1918.

199
Até à reforma das Ordens pela Lei Orgânica de 1962, a Banda
das Três Ordens podia ser outorgada a Chefes de Estado estrangeiros,
porém, doravante, tornar-se-ia exclusiva do Presidente da República
Portuguesa, ficando interditado o seu uso fora do exercício desse
cargo. Tal regra havia de ser mantida pela Lei Orgânica de 1986,
persistindo ainda hoje.
A Banda, tripartida, ostenta as cores das Ordens de S. Bento de
Avis, de Cristo e de Santiago da Espada, respectivamente, de verde, de
vermelho e de violeta. O Distintivo pende sobre o laço, o qual é
encadeado por uma coroa de louros, de esmalte verde, perfilada e
frutada de ouro (33 mm x 25 mm).
O Distintivo é um medalhão oval, com motivos decorativos, de
ouro, em recorte aberto e perfilado do mesmo metal, com 50 mm x 65
mm, com três ovais de esmalte branco, carregada cada uma do
distintivo de uma das três Ordens, ficando o de Cristo em chefe, o de
Avis à dextra da ponta e o de Santiago à sinistra da ponta, colocados os
dois últimos, respectivamente, em banda e em barra, envolvida por
coroa circular de esmalte vermelho e bordadura lavrada e perfilada de
ouro, donde partem raios prateados.
A Placa é dourada, em radiantes abrilhantados, de 85 mm de
diâmetro, tendo ao centro e sobre uma superfície circular de esmalte
azul (de 30 mm de diâmetro), lavrada com motivos decorativos de
ouro, três ovais de esmalte branco, carregada cada uma do distintivo
de cada uma das Três Ordens e com uma bordadura de esmalte da
respectiva cor da Ordem, contida em filetes de ouro, conforme a
Ordenação já descrita no que concerne ao Distintivo.
Com a Banda das Três Ordens não poderão ser usadas
quaisquer outras distinções honoríficas.

200
Banda das Duas Ordens

Em 1931, foi criada a Banda das Duas Ordens de Cristo e de


Avis, pelo decreto n. 19.630, de 20 de Abril. Destinava-se a ser usada
pelo Presidente da República, na sua qualidade de Grão-mestre das
Ordens Honoríficas nacionais, e a ser concedida, por iniciativa do
Chefe do Estado, a personalidades estrangeiras eminentes.

201
Esta condecoração, pela primeira vez concedida a S.A.R.
Eduardo, Príncipe de Gales (o futuro rei Eduardo VIII) aquando da sua
visita oficial a Portugal, em Abril de 1931, havia de ser suprimida pela
Lei Orgânica das Ordens Honoríficas promulgada em 1962.

202
ORDEM TEMPLÁRIA
DE PORTUGAL
Ordem Templária de Portugal

Quando o tema são os templários a questão primordial é saber


por que razão essa Ordem Militar, extinta em 22 de Março de 1312 pela
bula Vox in Excelsis de Clemente V, desperta um interesse cada vez
maior num público, também, cada vez mais lato.
Assinalando-o está o impressionante número de títulos a seu
propósito disponíveis no mercado livreiro e a circunstância, não
menos significativa, de numerosas Ordens do Templo, praticamente
todas criadas em data recente, ex nihilo, reivindicarem cada uma para
si a representação (quase sempre exclusiva) da herança templária.
Há muito que a excomunhão deixou de apoquentar esses auto-
proclamados herdeiros dos templários, uma vez que, não obstante a
condenação pela Santa Sé das Ordens de cavalaria privativas
(restauradas e criadas recentemente), divulgada pelo Secretariado de
Estado do Vaticano no Osservatore Romano, em 14 de Dezembro de
1970 73, os cavaleiros que actualmente as integram têm por abolidas ou
revogadas as penas cominadas, na bula Ad Providam pela qual de
Clemente V extinguiu a Ordem do Templo, contra todos quantos se
comportassem como membros daquela milícia ou envergassem o seu
hábito.
De facto, consoante o parecer do Reverendo Doutor António
Leite, professor de Direito Canónico na Universidade Católica de
Lisboa, “se não foram suprimidas antes, foram-no ao menos pela
Constituição Apostólica Apostolicae Sedis, de Pio IX (12 de Outubro
de 1869) que suprimiu todas as penas Latae Sententiae, ou seja, que se
incorrem ipso facto, não contidas na referida Constituição”. Além

73Com esta tomada de posição oficial visou a Santa Sé dar resposta a um problema com
vários séculos de existência. Ver Hidalguia, n. 177 (1983) e Hygenius Eugene Cardinale
(ed. e revisão por Peter Bander van Duren), Orders of Knighthood Awards and the
Holy See, 1985, p. 231-237. Consultem-se ainda: H. C. Zeininger de Borja, Vanitas
Vanitatum, o el trafico de condecoraciones fantasticas, Leysin, 1939; Arnaud
Chaffanjon / Bertrand Galimard Flavigny, Ordres & Contre-Ordres de Chevalerie,
Paris, 1982 e Patrick Chairoff, Faux Chevaliers Vrais Gogos, Paris, 1985.

205
disso também o cânone VI, 5º do Código de Direito Canónico de 1917
declara abolidas ou revogadas todas as penas “latae vel ferendae
sententias”, i. e., a incorrer ipso facto, ou por decreto ou sentença na
autoridade competente, não mencionadas no mesmo código 74.
A dar-se crédito a um artigo de Marius Lapage, director da
revista Le Symbolisme, publicado em 1961, "trezentas Ordens do
Templo autênticas" encontrar-se-iam então em actividade, dedicando-
se a maioria delas ao comércio da iniciação nos "mistérios templários"
75.

A característica comum a praticamente todas elas, mesmo


descontando o problema da sua filiação fantasista, é a de se situarem
exclusivamente ao nível exotérico do quotidiano templário, tal como a
historiografia o tem caracterizado. Umas adoptaram estruturas
organizativas, mais ou menos inspiradas nos Estatutos e na Regra do
Templo, e, algumas vezes, ritos formalmente idênticos, outras não
visam senão promover indagações de índole historiográfica, acções
filantrópicas ou, menos prosaicamente, veicular os valores teúrgicos
da Cavalaria Iniciática no mundo coetâneo, de molde a contribuir para
“a evolução espiritual da humanidade”.
Não sendo único, o exemplo, quiçá, mais paradigmático desta
derradeira categoria é o Instituto de Investigação Templária
(Templar Research Institute - TRI ou CIRCES International, Inc.) 76.
A Espiritualidade templária que propugna, propondo a fusão entre
“uma vida interior monástica de compaixão disciplinada” e “uma vida
externa de serviço e labor”, assenta sobre quatro princípios
fundamentais, a saber:

1. O poder e o ensinamento necessários à concretização da


peregrinação até à Terra Santa da Paz Interior e da Tranquilidade
acham-se já activos e vibrando no imo de cada um;
2. A Espiritualidade consiste simplesmente na expressão de
virtudes tais como a compreensão, a tolerância, a caridade, o perdão, a
simpatia, o altruísmo e o amor em todos os pensamentos, palavras e
acções, sem excepção;

74 Cf. Cruzada, a. 52, n. 6 (Jun. 1982), p. 189-190.


75 Cf. n. 124 (Jul. 1961).
76 Organização educacional e de caridade fraterna, sem fins lucrativos, fundada em 19

de Fevereiro de 1988, por Raymond Bernard, expressão pública do CIRCES (por sua vez
exteriorização da Ordem Soberana do Templo Iniciático ou OSTI).

206
3. Na sua qualidade de ser espiritual, a única responsabilidade
de cada ser humano consiste em buscar e encontrar a melhor forma
possível de exprimir os ideais do amor, compreensão, tolerância, etc.,
nos pensamentos, palavras e acções quotidianos, sem excepção e
independentemente da raça, religião, opção política, género ou estado
social;
4. Aquilo que separa o ser humano do poder e do ensinamento
da natureza espiritual essencial e, consequentemente, interfere na
expressão quotidiana da espiritualidade inata, é a psicologia individual
77.

É, porém, duvidoso que qualquer de tais organizações possa ser


detentora (e qual delas?) do secretum templi.
A tradição esotérica de que se reclamam foi, indubitavelmente,
assumida apenas em Portugal, pela Ordem de Nosso Senhor Jesus
Cristo, ou Ordem Templária de Portugal, como Fernando Pessoa
preferiu apelidá-la, tratando-se da única legítima, de dois modos:

1. foi canonicamente instituída por João XXII, em substituição


da Ordem do Templo, mediante a Bula Ad ea ex quibus cultus
angestur Divinus, expedida em 14 de Março de 1319;
2. terá conservado a sua identidade específica, sem soluções de
continuidade, mesmo após a extinção das Ordens religiosas, decretada
em 30 de Maio de 1834 por Joaquim António de Aguiar.

Não dispondo o Neotemplarismo de tão inequívocos


pergaminhos probatórios, restou-lhe tentar usurpá-los (Ordem de
Cristo fundada em França, dentro da Maçonaria, pelo espanhol
Nunez) ou, como sucedeu mais frequentemente, invocar tradições de
recorte lendário, cuja inverosimilhança, se tem tornado mais
sintomática, não tanto em consequência de não serem de todo
susceptíveis de verificação, mas, justamente, em virtude da

77A missão, métodos e projectos de investigação da instituição acham-se expostos


numa brochura, distribuída gratuitamente, intitulada Uma Introdução à Cavalaria
Espiritual. Um candidato que deseje ser admitido como membro do CIRCE - TRI
(Traditional Esoteric Organizations) tem, obrigatoriamente, de se submeter a um
período probatório, com a duração de três anos, durante os quais é convidado a estudar
o conteúdo de trinta e três cadernos, recebidos por correspondência durante igual
número de meses.

207
sedimentação das contradições a seu respeito suscitadas pelas
singulares exegeses de que têm sido alvo.
Em suma, todas as Ordens que se perfilam como restaurações
históricas do Templo, adoptam uma das seguintes três filiações
consagradas (ou aspectos conjugados de várias delas), a saber 78:

1. Filiação Beaujeu
Alguns dias antes do seu suplício, Jacques de Molay teria pedido
ao conde François de Beaujeu (que não era templário professo), para
descer à cripta do Templo de Paris onde repousavam os restos mortais
dos Grão-mestres da Ordem e recolher do sepulcro do seu tio,
Guillaume de Beaujeu, um estojo em cristal.
Uma vez recuperado o estojo em cristal, supostamente entregue
a Molay, este teria iniciado François de Beaujeu nos mistérios
templários. Confiando-lhe o referido estojo, no qual se conservaria o
index da mão direita de São João Baptista, relíquia oferecida à Ordem
pelo rei Balduíno, entregou-lhe, igualmente, três chaves, revelando-lhe
que no sepulcro sob o qual achara o estojo se encontrava uma caixa em
prata e que, num nicho adjacente, uma outra caixa conservava os anais
do Templo e os principais segredos de que a milícia era guardiã.
Acrescentou ainda que Beaujeu encontraria aí a coroa dos reis de
Jerusalém, o candelabro de ouro de sete braços e os quatro Evangelhos
de ouro que haviam ornado o Santo Sepulcro e se julgavam caídos na
posse dos infiéis. Finalmente, disse-lhe que as duas colunas do coro do
Templo, à entrada da cripta, eram ocas e ocultavam um tesouro que
podia ser resgatado, bastando para o efeito desmontar os capitéis e
retirar-lhes os fundos.
Entretanto, Molay receberia de Beaujeu o juramento de
perpetuar a Ordem, mediante a criação de quatro lojas em Paris,

78
A Ordre des Veilleurs du Temple (Militia Templi ou OVDT), inscrita na lista das
seitas activas em França (organizada pelo Parlamento gaulês), adiantou,
modernamente, uma quarta via: Geofroy de Gonneville, preceptor templário da
Aquitânia, que teria assumido a liderança da Mílicia na Dalmácia, em 1318. Cf. Manuel
J. Gandra, O Neotemplarismo e Subsídio para a constituição do elenco das
Organizações e Ordens de Cavalaria Privativas Neotemplárias, activas e extintas, in
Cadernos da Tradição, n. 1 (Solstício de Verão de 2000), p. 173-213 e José Manuel
Anes, O Imaginário milenarista no Esoterismo Neo-templário contemporâneo, in O
Esoterismo e as Humanidades, Lisboa, 2001, p. 93-116.

208
Edimburgo, Estocolmo e Nápoles, com o objectivo de destruir a
Autoridade Espiritual (Papado) e o Poder Temporal (Monarquia) 79.
Após o suplício do 22º Grão-mestre do Templo (18 de Março de
1314), Beaujeu terá convocado nove outros cavaleiros sobreviventes
para um consistório que reuniu em Paris. Nesse conclave teria ficado
consagrado por um pacto de sangue um programa de actuação
mediante o qual, além de se obrigarem a manter a instituição activa,
no maior segredo, enquanto houvesse no mundo Nove Arquitectos
Perfeitos (denominação que, segundo consta, adoptaram para si
próprios). Duas congregações aparentemente antagónicas, para cuja
organização os presentes supostamente se haviam comprometido
pugnar, seriam as executoras do legado: a Companhia de Jesus e a
Maçonaria. Posteriormente, Beaujeu havia de obter permissão do rei
de França para retirar da cripta do Templo o sepulcro do seu tio,
recuperando, simultaneamente, os tesouros guardados nas duas
colunas e transferindo tudo para Chipre, onde ainda permanecia o
Grande Capítulo da Milícia.
Por morte de Beaujeu, sucedeu-lhe Pierre d’Aumont 80.

2. Filiação Aumont
Surgida no âmbito da Estrita Observância Templária, instituída,
entre 1751 e 1755, por Karl Gotthelf von Hund von Altengrotkau (1722-
1776), barão do Império, senhor de Leipzig e de Colónia, o qual, com o
objectivo de combater o igualitarismo e o racionalismo que
campeavam na maçonaria, introduziu nela o templarismo.
Recusa Pierre d’Aumont como sucessor de François de Beaujeu,
antes fazendo dele o herdeiro de Molay e vigésimo terceiro Grão-
mestre da Ordem do Templo.
Tendo recolhido as cinzas do mártir 81, este Grão-mestre
provincial do Auvergne, ter-se-ia refugiado na ilha escocesa de Mull
com cinco (algumas versões referem nove) outros cavaleiros
templários que haviam feito um voto conjunto de vingança contra os

79 Aditamento proposto pelo ocultista francês Eliphas Levi.


80 G. A. Schiffmann, Die Freimaurerei in Frankreich in erste Hälfte des XVIIe
Jahrhnderts, Leipzig, 1881.
81 Robert Bolle, Le Temple: Ordre initiatique du Moyen Age, Annemasse, 1931.

209
reis capetos e o papado, pela libertação dos povos do seu jugo e pela
constituição de uma República universal 82.
Em Mull encontraram o comendador de Hamptoncourt, George
de Harris, e diversos outros confrades, com quem combinaram a
manutenção da Ordem, no decurso de um capítulo realizado no dia de
S. João do ano de 1312.
Para evitar serem perseguidos, terão começado a intitular-se
pedreiros livres, passando a exercer esse ofício e a adoptar os
respectivos sinais e códigos.
A partir do ano de 1361, a sede da instituição seria transferida
para Aberdeen 83.
A mesma narrativa lendária assevera que estes templários
continentais (maioritariamente franceses e flamengos) terão pegado
em armas para apoiar o rei da Escócia, Robert Bruce, contra os
ingleses, auxiliando-o a alcançar a vitória de Bannockburn, batalha
que asseguraria a independência da Escócia, em 1314. Como
recompensa, o soberano terá criado para os pedreiros livres a Ordem
de Hérodom de Kilwinning 84 e para os templários a Ordem dos
Cavaleiros de Santo André do Cardo, reservando o título de Grão-
mestre para si e seus sucessores. Esta milícia seria extinta em
consequência da Reforma e os seus bens confiscados, tendo sido
restabelecida, em 1685, pelo rei Jacques III Stuart, com o intuito de
torná-la um marco distintivo para os maçons.

3. Carta de Larmenius
Consignada num manuscrito descoberto em Estrasburgo
(datável de 1742 ou 1743, cuja autenticidade é contestada) e remetido
ao príncipe Christian de Hesse pelo duque de Sudermania, futuro
Carlos XIII da Suécia 85.

82 Cadet de Gassicourt, Le Tombeau de Jacques de Molay, ou Histoire Secrète et


abrégée des initiés anciens et modernes […], Paris, ano V (1789). O códice 9833 da BN
de Lisboa consigna a tradução portuguesa desta obra.
83 Cf. Ragon, Orthodoxie Maçonnique, p. 222.
84 Ver Rebold, Histoire générale de la Franc-Maçonnerie, Paris, 1851, p. 116.
85 A um jesuíta, o padre Bonanni, anda creditada a invenção da Carta de Larmenius.

Citado por G. A. Schiffmann, ob. cit. e Die Entstehung der Rittergrade in der
Freimaurerei um die Mitte des XVIII. Jahrhunderts, Leipzig, 1882.

210
Aponta um arménio, primaz da Ordem do Templo e
comendador de Jerusalém, João Marco Larménius, como sucessor
indigitado por Jacques de Molay. Larménius, uma vez instalado como
grão-mestre, teria acusado de desertores os cavaleiros alegadamente
refugiados na Escócia, e decidido estabelecer em Paris a sede da
Ordem (a qual doravante passaria a dispor de quatro tenentes generais
para a Europa, África, Ásia e América).
Tese invocada pela Ordem Soberana e Militar do Templo de
Jerusalém, fundada, em 1808, por Bernard Fabré-Palaprat, sob os
auspícios de Napoleão Bonaparte.

Afirmou o visconde de Almeida Garrett que os Jesuítas foram


“os templários dos tempos modernos” (Viagens na Minha Terra,
1846), no que, em absoluto, não foi inovador, visto que o século das
Luzes divulgara amplamente a alegada confluência, quer de propósitos,
quer de destino, de ambos os grémios, caso, justamente, do cronista da
Ordem de Cristo, Frei Bernardo da Costa (tomo II da I Parte da
Crónica da Ordem de Christo).
O próprio marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e
Melo, chegaria a sugeri-la numa missiva ao Papa, na qual expunha a
conveniência da extinção da Companhia de Jesus: "É necessário
considerar, com toda a atenção que o caso merece, o que a História nos
diz àcerca da severa punição dos templários".
Também Fernando Pessoa ponderaria a questão. Segundo ele a
Companhia de Jesus fora fundada pela Ordem de Cristo “para
transmutação alquímica da Igreja católica”, ou como diria noutro
apontamento, “para quebrar de dentro o poder de Roma e libertar o
mundo pela evaporação (purificar a fé)”.
Por seu turno, António Vieira, ele próprio membro da
Companhia, havia de acentuar tal relação ao descrever (Livro
Anteprimeiro da História do Futuro) uma visão de outro jesuíta,
Marcelo Mastrilli, ao qual São Francisco Xavier aparecera envergando
o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo.
Em outra ocasião o poeta da Mensagem evidenciaria os elos que,
do seu ponto de vista, enlaçavam indelevelmente a Ordem de Cristo e a
Companhia de Jesus:

211
“E é de notar que estando a S[ociedade de] J[esus] dentro da
O[rdem de] C[risto] e fazendo dela parte, os Chefes Secretos de uma e
de outra são todavia diferentes (diversos, distintos). O próprio nome S.
J. não é senão o nome O. C. traduzido para a designação de uma
Ordem do Átrio (Pátio): onde está Ordem em cima está Sociedade em
baixo, onde está Cristo em cima está em baixo Jesus, que é a
incarnação de Cristo” 86.

De resto, subsiste no espólio do poeta um fragmento deveras


revelador da convicção quase generalizada entre hermetistas, e não só
(Mirabeau, Ragon, Findel, Rebold, Emile Peter, Charles Detré, R. F.
Gouldde, etc.), que a motivação dos professos inacianos tem subjacente
um segredo ciosamente guardado:

“[...] Padre Fulano, tem-me causado pasmo, como católico, o


facto de a sua Ordem (Companhia de Jesus) ter um Quarto Voto, e de
esse Quarto Voto ser o de obediência ao Papa. Parece-me que
semelhante voto é totalmente desnecessário num católico, e até deixa
presumir que seria de esperar dele uma falta de obediência. Calculo
por isso que o Voto não seja realmente esse. Diga-me: realmente,
verdadeiramente qual é o Quarto Voto?” 87

Invocavam todos, Pessoa, Pombal e Garrett, a vox populi,


segundo a qual, alguns dias antes do seu suplício, Jacques de Molay
teria pedido ao conde François de Beaujeu (que não era templário
professo), para descer à cripta do Templo de Paris onde repousavam os
restos mortais dos Grão-Mestres da Ordem e recolher do sepulcro de
seu tio, Guillaume de Beaujeu, um estojo em cristal.
Uma vez recuperado o estojo em cristal, supostamente entregue
a Molay, este teria iniciado François de Beaujeu nos mistérios
templários.
Confiando-lhe o referido estojo, no qual se conservaria o index
da mão direita de São João Baptista, relíquia oferecida à Ordem pelo
rei Balduíno, entregou-lhe, igualmente, três chaves, revelando-lhe que
no sepulcro sob o qual achara o estojo se encontrava uma caixa em

86 BN: Esp. 129-76-77.


87 BN: Esp. 53-54

212
prata e que, num nicho adjacente, uma outra caixa conservava os anais
do Templo e os principais segredos de que a milícia era detentora.
Acrescentou ainda que encontraria aí a coroa dos reis de Jerusalém, o
candelabro de ouro de sete braços e os quatro Evangelhos de ouro que
haviam ornado o Santo Sepulcro e se julgavam caídos na posse dos
infiéis. Finalmente, disse-lhe que as duas colunas do coro do Templo, à
entrada da cripta, eram ocas e ocultavam um tesouro que podia ser
resgatado, bastando para o efeito desmontar os capitéis e retirar-lhes
os fundos.
Entretanto, Molay receberia de Beaujeu o juramento de
perpetuar a Ordem, mediante a criação de quatro lojas em Paris,
Edimburgo, Estocolmo e Nápoles, com o objectivo de destruir a
Autoridade Espiritual (Papado) e o Poder Temporal (Monarquia).
Após o suplício do 22º Grão-mestre do Templo (18 de Março de 1314),
Beaujeu convocaria nove outros cavaleiros sobreviventes para um
consistório que reuniu em Paris.
Nesse conclave ficaria consagrado por um pacto de sangue um
programa de actuação mediante o qual, além de se obrigarem a manter
a instituição activa, no maior segredo, enquanto houvesse no mundo
Nove Arquitectos Perfeitos (denominação que, segundo consta,
adoptaram para si próprios). Duas congregações aparentemente
antagónicas, para cuja organização os presentes supostamente se
haviam comprometido pugnar, seriam as executoras do legado: a
Companhia de Jesus e a Maçonaria.
Não deixa de ser curioso que a divisa Ad Majorem Dei Gloriam,
evidente eco da Non nobis, non nobis, sed nomen tuo da Gloria dos
templários, tenha sido partilhada pela Companhia ou Sociedade de
Jesus e pelo grau maçónico do Sublime Príncipe do Real Segredo,
trigésimo-segundo grau do Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA), cuja
designação se reporta ao cume do conhecimento maçónico alcançado
pelo respectivo detentor. No ritual figura um acampamento com nove
tendas e cinco estandartes, onde se reúnem, em exército, os maçons de
todos os graus, prontos para o assalto final que lhes facultará o acesso
e a posse do Templo de Jerusalém, o que tem sido interpretado como a
união de todos os maçons no combate por uma humanidade nova, uma
vez suplantadas a injustiça, a mentira e a superstição.
Apesar de as certezas históricas serem ténues, a hipótese
segundo a qual os jesuítas desempenharam papel nuclear na formação
e propagação da maçonaria escocesa (também denominada escocismo)

213
é sustentada por argumentos consistentes. Um dos mais pertinentes
baseia-se na circunstância de os designados Altos Graus traduzirem
preocupações filosófico-místicas, claramente transcendendo o
catolicismo, stricto sensu.
Atribui-se, geralmente, a Nicolas de Bonneville a divulgação da
supracitada tese, advogando a aliança entre o partido jesuíta (os
Stuarts) e a maçonaria jacobita, incontestável no quadro da política e
plausível no domínio das ideias, ao ponto de a Santa Sé ter mantido
um longo silêncio relativamente à maçonaria enquanto o escocismo
manteve o ascendente sobre as lojas anglicanas (a primeira bula contra
a maçonaria foi publicada por Clemente XII, a 4 de Maio de 1738).
De facto, Bonneville mais não fez que retomar, adicionando-lhes
uns quantos comentários pessoais, as acusações contra os jesuítas,
veiculadas pelos meios maçónicos, designadamente no seio da Estrita
Observância, compelida a sucessivas rectificações, alegadamente em
consequência das interferências constantes dos membros da Sociedade
de Jesus. A infiltração dos jesuítas seria mesmo expressamente
denunciada no convento de Kohlo, em 1772, porém, o mesmo já
sucedera relativamente aos graus ditos templários, nomeadamente
desde a criação do grau de Cavaleiro Kadosh, cerca de 1762.
Glosa invariável de um género literário com público vasto, o
tema encontra-se consignado em tradução portuguesa, anónima e
manuscrita, de uma obra famosa de Cadet-Gassicourt, intitulada O
Túmulo de Jacob Molai ou História Secreta e abreviada dos Iniciados
antigos, e modernos, dos Templários, Franc-Massões, Illuminados:
pesquisas e indagações da sua influência na Revolução Francesa,
seguida da Chave, signaes ou verdadeira intelligencia das lojas. A
relevância do texto, compele-me a transcrever uma esclarecedora
passagem dele:

“[...] a Sociedade Jesuítica era animada de um espírito


revolucionário análogo ao sistema dos Templários, dos Conspiradores
Iniciados, dos Iluminados, dos Perfeitos Franco-Maçons ou
verdadeiros Pedreiros Livres, que é o mesmo. O capitão Jorge Smith
provou na obra já citada (Londres, 1783) por suas sábias e profundas
reflexões que os misteriosos segredos jesuiticos, a sua correspondência
hieroglífica as provas às quais eles expunham os noviços, enfim a sua
Constituição Secreta e tudo quanto havia na Sociedade, tudo eram
práticas e máximas verdadeiras franco-maçónicas. A necessidade de

214
ter uma correspondência que os estranhos não pudessem perceber com
os sócios que habitavam nos diferentes países do mundo lhes fez
inventar a escrita das cifras, como a mais conducente ao Universal
sistema da sua instituição. [...] diz Smith que os jesuítas exprimiam as
letras por um número igual ao lugar que elas têm no alfabeto servindo-
se das letras para exprimir as cifras, vindo a ser por este meio fácil a
correspondência sem que os outros a entendessem ou adivinhassem.
Os graus da Ordem eram os mesmos que são hoje os da Franco-
Maçonaria ou pelo menos correspondem em tudo aos outros, de modo
que as letras iniciais dos títulos que tomavam e os Santos, senhas ou
divisas são as mesmas:

Graus dos Franco-Maçons Graus Jesuíticos

1º Aprendiz - Tubalcain -- T Temporalis - T


2º Companheiro - Sibboleth – S Scolasticus – S [Escolástico]
3º Mestre - Chiblim - C Coadjutor – C [Coadjutor espiritual]
4º Mestre Escocês - Notum - N Noster - N [Professo de 3
votos] + [Professo de 4 votos]

Os jesuítas nas suas obras traduziam as palavras mai-son e


maçon pelas palavras gregas lathomos, lathomia. A primeira significa
propriamente um canteiro de pedra e a segunda um calabouço, uma
prisão ou morada secreta e escandalosa, e por isso chamavam aos
maçons lathomos para significarem homens fechados em lojas [...].
Seria demasiadamente extenso se houvesse de seguir ao capitão Smith
[...] enfim, a história, a constituição dos templários é a mesma, ou pelo
menos em tudo semelhante com a da Companhia chamada de Jesus.
De maneira que todos aqueles que pelo estudo da história estão
convencidos do poder, cobiça e perfídia dos templários igualmente o
estão de que os jesuítas lhes não ficavam atrás e por isso aplaudiram a
sua extinção, mas eles devem saber o que talvez inteiramente ignorem,
isto é, que a bula de Ganganelli não suprimiu mais do que o exterior da
roupeta e do grande chapéu e o poderem eles viver juntos e livremente
com estes exteriores e imposição. Isto é o que fez a bula daquele
Pontífice bem como a de Clemente fez aos templários, porém a
doutrina, os segredos misteriosos, os sistemas maquiavélicos e os laços
da confraternidade tanto de um como dos outros ficaram apesar das
bulas de extinção, subsistindo na Sociedade dos Pedreiros Livres. Há

215
templários e jesuítas por toda a parte, nos privados Conselhos dos
Soberanos, dentro do Directório, nos Tribunais, nas Administrações
Civis, à frente dos Exércitos de todas as nações, nos Parlamentos
Ingleses, no mesmo Vaticano, no..., os Governos os reconhecerão um
dia..., mas pode muito bem ser que já, seja tarde” 88.

Face a este extracto parece no mínimo contraditório o ataque


perpetrado contra a Ordem de Cristo pela Companhia de Jesus durante
a regência do cardeal Dom Henrique (em meados de quinhentos),
porquanto ambas as instituições supostamente se haviam devotado ao
mesmo ideal e objectivo… Apesar das aparências, poder-se-á sempre
argumentar, para justificar o episódio, que a Ordem de Cristo se
desviara do seu rumo original, passando-se para o campo do
adversário, designadamente após a reforma de Frei António de Lisboa,
em 1529.
Seja como for, se o já aludido expediente dos inacianos não
produziu os efeitos desejados no que concerne à Ordem Templária de
Portugal, não deixa de ser menos verdade que em nenhum outro
momento subsequente os segredos, que é fama a continuadora e
sucessora do Templo detinha e lhe granjeavam um prestígio e renome
acrescidos, foram alvo de tão evidente reconhecimento, nem mesmo
por ocasião do confisco e consequente integração no património do
Estado Português, em 1834.
Diversas têm sido as teses aventadas no intuito de esclarecer as
razões de tal desfecho. Assim, os segredos ora teriam sido
desbaratados pela voragem reformadora de frei António de Lisboa ou
não passariam de mera fábula, ora foram saqueados durante a
passagem por Tomar das divisões francesas, ou até interesseiramente
sonegados pelo conde de Tomar e Grão-Mestre da maçonaria, António
Bernardo da Costa Cabral, o qual logrou adquirir parte considerável do
Convento de Cristo para sua residência.
Em suma, argumentos que, além de destituídos de qualquer
força probatória, nem sequer consideram, ainda que remotamente, a
eventualidade de, desde os primórdios da sua instituição por Dom
Dinis, em 1314, terem funcionado concomitante e paralelamente duas
Ordens de Cristo, uma interna, restrita e oclusa e outra
institucionalizada e sujeita às contingências mundanas.

88 BN: cod. 9833.

216
Uma vez, pelo menos, no decurso da longa vigência da
instituição, a Ordem de Cristo interna assumiria visivelmente a sua
liderança, como deixa adivinhar o cronista frei Bernardo da Costa, o
qual assevera que, após a morte de Frei António de Lisboa, em 22 de
Junho de 1551:

“Desprezaram os Freires Conventuais as constituições que lhes


fez o padre frei António de Lisboa e aprovou o Rei e as fizeram
desaparecer; o mesmo as que lhes fez o Cardeal [D. Henrique]; o que
lhes determinou o Papa no Motu proprio. E eles formaram e
inventaram umas constituições à sua vontade, prescrevendo em elas
umas regras e disposições de governo interno, em que não
reconheciam outra obediência que aquela que eles entre si ordenaram,
sem jamais pedirem aprovação delas aos Reis que era só quem lhes
podia dar força e vigor, como Supremo Prelado da Ordem”.

Nessa conformidade, a extinção de 1834 apenas poderia ter tido


efeito sobre a sua vertente eclesiástica. De outro modo não seria viável
a assunção de Fernando Pessoa, segundo o qual “a iniciação na Ordem
de Cristo terá sido a causa da destruição [leia-se suicídio, em 1891!] de
[…] Antero de Quental”.
Convirá, não obstante, inquirir se não se dará o caso de
Fernando Pessoa se referir à Ordem de Cristo, que vale o mesmo que
Ordem Templária de Portugal, pensando na Maçonaria. Em matéria
de que era profundo conhecedor (não apenas, como expressamente,
admite, em resultado da leitura e consulta de livros especializados!), o
poeta da Mensagem, “iniciado na Ordem Templária de Portugal por
comunicação directa de Mestre a discípulo” 89, não se equivocaria:

“[…]. Uma Ordem iniciática é verdadeiramente uma Ordem só


quando está em actividade – isto é, quando tem abertos os seus
templos, ou o seu templo único, e realiza sessões e iniciações em ritual
vivido. Quando em dormência, ou vida latente e simplesmente
transmissa, não é propriamente uma Ordem, mas tão somente um
sistema de iniciação, avanço e completamento. São os três termos que
competem à conferição, por exemplo, dos três Graus Menores da

89 BN: Esp. 129-76.

217
Ordem Templária de Portugal. Por isso eu disse, legitimamente, que
não pertencia a Ordem nenhuma. Não podia legitimamente dizer que
não tinha iniciação. Antes, para quem pudesse entender, insinuei que a
tinha, quando falei de «uma preparação especial, cuja natureza me não
proponho indicar». Essa frase escapou, e ainda mais o seu sentido
possível, aos iledores antimaçónicos. Só posso pois dizer que pertenço
à Ordem Templária de Portugal. Posso dizer, e digo, que sou templário
português. Digo-o devidamente autorizado. E, dito, fica dito. Ora, é à
luz dos conhecimentos que recebi pelos três Graus Menores da Ordem
Templária que pude ler com entendimento livros e rituais maçónicos.
Ausentes esses conhecimentos, estaria lendo às escuras” 90.

A confirmação da convicção de que Pessoa não se equivocaria,


acho-a em outro fragmento do seu espólio, referido a um tal Nunes
que, em 1806, “quis fundar uma Ordem de Cristo dentro da
Maçonaria”, o que estava, conclui Fernando Pessoa, “de antemão
condenado” 91.
O caso acha-se, de resto, consignado no The Masonic Chronicle
de Inglaterra, tendo sido, posteriormente transcrito sob a epígrafe A
Ordem de Cristo, na Secção Literária e Noticiosa do Boletim Oficial do
Grande Oriente Lusitano Unido, Supremo Conselho da Maçonaria
Portuguesa 92, onde se ventila com algum desenvolvimento o caso do
supramencionado médico espanhol Nunez:

“A Ordem de Cristo estava estabelecida em Portugal desde o


período da supressão da Ordem do Templo em 1314, à qual ela
sucedeu; isto é, os estatutos que efectuaram esta mudança de nome
nada mais alteraram que o título, por isso que os primeiros cavaleiros
de Cristo eram na totalidade templários à busca de um asilo em
Portugal, os quais foram obrigados a assumir uma nova denominação
no ano de 1319. Os cavaleiros de Cristo observaram a mesma disciplina
que haviam seguido os do Templo e usavam o mesmo traje com uma
ligeira adição à cruz da Ordem que consistia na inserção de uma cruz
romana branca no centro sobre fundo vermelho. Tornou-se política a
Ordem de Cristo em Portugal. Não obstante continuou na Maçonaria

90 BN: Esp. 129-76-77.


91 BN: Esp. 54/87.
92 A. 19 (1º trimestre 1888), p. 62-63.

218
da nação, sobre cujo grau supremo ela tinha jurisdição ainda em 1804.
Foi nestes termos que os cavaleiros de Cristo conservaram as vestes
dos templários e a cerimónia de iniciação. Na ordem civil passaram os
cavaleiros a distinguir-se somente por trazerem a cruz no traje
ordinário, como sucede com as outras ordens militares da Europa. Um
médico espanhol, por nome Nunez, que fora iniciado na Ordem de
Cristo em Portugal, transplantou-a para França em 1807. Foi
autorizado a estabelecer um ramo da Ordem onde o julgasse
conveniente. Por isso fundou ele um em Paris no qual o marechal
Lefébre, duque de Dantzig, foi eleito Grão-Mestre de França e o lrmão
Nunez Grão-Mestre honorário, reservando este para si o direito de
fundar outro ramo, que todavia seria subordinado ao de Paris,
eetabelecido como cabeça da Ordem. Apresentou-se um projecto para
secularizar a Ordem de Cristo em França, da mesma sorte que o havia
sido em Portugal a com este intento dedicou-se ela inteiramente ao
serviço de Napoleão e da sua dinastia. Mas foi infrutuosa esta adulação
e a Ordem ficou na sua condição primitiva. Em 1809, o Irmão Nunez
visitou Rennes e ali persuadiu a muitos maçons influentes que
aderissem a estabelecer naquela cidade uma casa provincial
metropolitana da Ordem de Cristo. Foi ela criada e o presidente do
Instituto de Rennes assumiu o título de Soberano de Soberanos,
Comendador Metropolitano da Ordem de Cristo. Foi ele reconhecido
como o segundo na hierarquia da Ordem e natural sucessor do Grão-
mestre, duque de Dantzig. A forma que a Ordem tomara e os fins que
lhe imputaram não permitiram que ela se perpetuasse depois da queda
do primeiro Império (1814). Por mútuo acordo resolveram os dois
Grão-mestres de Paris e de Rennes cessar de criar mais cavaleiros e
proibir que de futuro se congregassem os seus Consistórios. Assim se
executou e a maioria dos cavaleiros fundiram-se com outra instituição
de templários, que os tinha havido como rivais, e com esta transacção
se extinguiram as pretensões exclusivas de ambos os lados. Para entrar
no sistema, que terminava com o grau de Cavaleiro de Cristo, era
necessário que o postulante fosse cavaleiro Rosa-Cruz. Entre os graus
subsequentemente conferidos aos candidatos achamos enumerados os
seguintes agora incluídos no Rito Escocês Antigo e Aceite:
Comendador do Templo (27º); Cavaleiro da Águia Branca e Negra,
Cavaleiro Kadosh (30º); Grande Inspector, Inquisidor Comendador
(31º); Grande Inspector Deputado ou Soberano Príncipe do Real

219
Segredo (32º); Grão-mestre (33º), sendo todos governados por um
grande Consistório cujo presidente era um Soberano de Soberanos”.

Diametralmente oposta a esta maçonaria de obediência


claramente ateia, dividida “em muitos graus da iniciação, cujas formas
eram tiradas dos Altos Graus da maçonaria templária” 93 e por essa
mesma razão “de antemão condenada”, uma outra se perfilara em
Tomar, após a reforma de frei António de Lisboa, templária, cristã
(apesar de anti-romana) e rosa-cruz, a dos pastores da Lusitânia
Transformada, constituída por pessoas reais que trocam de nome,
conforme mudam de vida, ou lhes é conferido novo estatuto ou grau
iniciático pelo Maioral (Grão-Pastor, isto é, o Grão-Mestre), perante o
qual respondem.
Durante a década de 1840, presume-se que Rodrigo da Fonseca
Magalhães, derrotado por Costa Cabral nas eleições para Grão-Mestre
do Grande Oriente Lusitano disputadas por ambos, possa ter sido
investido em tal cargo, em circunstâncias ainda hoje envoltas em denso
mistério.
Não será demais recordar que o estilo de vida que os pastores da
Lusitânia Transformada haviam adoptado não foi invenção sua,
porquanto o patriarca Abraão e os seus sucessores seguiam uma vida
pastoril e Moisés e Aarão foram pastores ao serviço do Maioral de
Israel (Javé), nos tempos do Êxodo. O simbolismo do mundo pastoril
acha-se, de resto, manifestado em diversos Salmos: o Bom pastor que
conduz as ovelhas pelos caminhos que levam às fontes da paz e da
alegria impedindo-as de se extraviarem (Salmo XXIII); a importância
da voz do pastor na condução do rebanho (Salmo XCV); de pastor,
David passa a rei de Israel (Salmo LXXVIII); etc. Também o profeta
Ezequiel abordaria amplamente o tema, concluindo com a promessa
messiânica do Pastor ideal (XXXIV, 5-24), enquanto Isaías
sublinharia a convergência entre o pastor e o cordeiro (LIII, 6-7 e 11-
12).
Com Cristo, contudo, a metáfora havia de adquirir contornos de
biografia: Ele será o pastor, por excelência (Bom Pastor), cuja
característica essencial é a atenção aos “pequeninos” (João, X, 1-14), e,
concomitantemente, o "Cordeiro que está no meio do Trono, os

93Irmão Clavel, História Pitoresca da Maçonaria, p. 214 e 216, citado por Miguel
António Dias.

220
apascentará e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida [...]"
(Apocalipse, VII, 17).
O exílio dos pastores da Lusitânia Transformada, autêntica
tribulação, comparável ao Êxodo do povo eleito, é evocada pela
referência à precaridade das choças, nas quais, em virtude da perda da
Tenda-Santuário (o convento de Cristo), onde Deus se fazia ouvir,
vivem como refugiados, dedicando-se à aprendizagem da fidelidade ao
Amor divino.

A Charolinha na Mata dos Sete Montes (Tomar)

Há-de haver quem diga que não tenho como provar


materialmente o que venho afirmando.
Recordo que lá diz o Evangelho que é mais cego o que não quer
ver do que o cego de nascença…
Com efeito, não só não é legítimo negar à Lusitânia
Transformada, obra póstuma de Fernão Álvares de Oriente,
verosimilhança, uma vez que os cenários nela descritos são bem reais e
reconhecíveis, mas, mais do que isso: se o movimento Rosa-Cruz, como
as fontes disponíveis afirmam e reafirmam, não obstante a alegada
paternidade de Christian Rosenkreuz (1378-1481), só teve origem na

221
Alemanha durante o século XVII, como justificar a ocorrência no
Convento de Cristo, já em 1535, dos símbolos que o ramo germânico só
cerca de um século mais tarde havia de adoptar? 94

Rosa-Cruz de Tomar, de Valentin Andrea e de Martinho Lutero

E, derradeira questão, no caso de se descartar a perenidade da


tradição templária em Tomar, a quem aproveitariam os dísticos
notoriamente provocantes e obviamente cifrados que acompanham as
duas matronas (frescos atribuídos a Domingos Vieira Serrão, pintor do
Convento de Cristo desde 1584) postadas na antiga entrada (dirigida a
Oriente) da Charola de Tomar.
Pela sua atitude, a matrona à direita de quem entrava
[Humildade], exige silêncio e respeito a quem acede ao Santo dos
Santos. Acompanha-a uma legenda inspirada no profeta Habacuc (II,
20): “O Eterno está no seu templo sagrado: silêncio diante dele!”:

QUISQUIS EXCELSA TONAS ET MISTICA VERBA PROFARIS


/ HIC AD SANCTA DEI DISCE TACERE PAVENS
Tu, sejas quem fores que clamas palavras altissonantes e
misteriosas, aqui junto do santuário de Deus aprende a permanecer
timidamente silencioso.

94Com efeito, o manifesto anónimo, intitulado Fama Fraternitatis da Insigne Ordem


da Rosa Cruz, impresso em Cassel no ano de 1614, só começou a ser distribuído em
1610, seguindo-se-lhe a Confessio Fraternitatis, em 1615, e As Bodas místicas de
Christian Rosenkreutz, no ano seguinte, todas geralmente creditadas a Johann-
Valentin Andraea (1586-1654).

222
223
224
À esquerda da antiga entrada, a outra matrona [Contemplação
Divina] denota, pela postura do Bom Pastor (braços cruzados sobre o
peito), reverência e submissão. A legenda que lhe respeita inspira-se
em Isaías (XL, 3-4: “Preparai o caminho do Senhor: endireitai, no
ermo, vereda a nosso Deus. Todo o vale será exaltado e todo o monte e
todo o outeiro serão abatidos: e o que está torcido se endireitará, e o
que é áspero se aplainará”) ou em Lucas (III, 4-6: “Preparai o caminho
do Senhor: aplanai os seus sendeiros, todos os vales serão cheios, todas
as montanhas e todas as colinas serão abaixadas e os maus caminhos
tornar-se-ão direitos e os escabrosos planos e todo o homem verá o
Salvador enviado por Deus”):

PLANITIES SURGUNT CECIDERE CACUMINA MONTIS /


ELIGE CONVALLES ALTER OLIMPUS ERIT
As planícies erguem-se; abateu-se o cume do monte. Escolhe os
vales serás um outro Olimpo.

Na patrística cristã o Monte das escrituras, antes reportada ao


Horeb (Sinai) e a Sião (os dois únicos montes de Deus, de acordo com
o Antigo Testamento), assumiu semânticas tão distintas quanto as de:
Povo judaico (São Melitão, Santo Agostinho, Orígenes, Santo Efrem),
Sagrada Escritura (São Melitão, Santo Agostinho, Orígenes, São
Jerónimo), Apóstolos e profetas (São Melitão, Santo Agostinho,
Orígenes, Santo Atanásio, etc.), Salvador (Santo Agostinho, Santo
Hipólito, Orígenes, São Jerónimo, etc.), Mãe de Deus (São João
Damasceno) e Igreja (Santo Agostinho, Clemente de Alexandria,
Orígenes, São Jerónimo, São Cirilo de Jerusalém, Santo Atanásio,
entre inúmeros outros padres).
Por seu turno, João Baptista de Este, judeu converso, baptizado
pelo bispo de Évora, Dom Teotónio de Bragança, assevera que os
rabinos entendem o citado Monte 95 pelo Messias 96. Já António das
Chagas 97 dirá, a propósito de Ezequiel (VI, 3), que os Príncipes são
figurados nos montes e colinas, tal como os Eclesiásticos o são nas
pedras, enquanto os vales, esses constituem o hieróglifo do Povo.

95 Isaías, II, 3-4 e XI, 5-8; Daniel, II, 34; Miqueias, IV, 1-3; Salmos, LXXI, 7; etc.
96 Dialogo entre Discipulo, e Mestre Cathechizante […], Lisboa, 1621, cap. LXV.
97 Obras Espirituais, 1701, tratado II, toque 1, clamor 1, p. 145.

225
A ascensão a um monte escarpado como metáfora da Vida Humana
1. Gravura de Matthaus Merian (1638), que ilustra o diálogo ao estilo
platónico, intitulado Tabula Cebetis (Tábua de Cebes), um dos textos mais
estimados pelos moralistas desde o Renascimento ao Barroco, conjuntamente
com o Enchiridion de Epicteto. O cenário é uma montanha, onde cada figura e
lugar possuem um sentido preciso, amplamente explanado no texto por um
sábio ancião. Citado por Francisco de Holanda (Diálogos de Roma, II, 1548) e
João de Barros (Diálogo com dous filhos sobre Preceitos Moraes, 1548).
2. Tela (finais do séc. XVII) do pintor Bento Coelho da Silveira, figurando o
colóquio entre Cristo e a Alma Staurofila (amante da cruz). Serve-lhe de
legenda um versículo do Êxodo (XXIV, 1) que diz: “Ascende ad me in Monte”
(Sobe até mim, no Monte). Integra um ciclo de oito telas, expressamente
concebidas para aos espaldares dos dois arcazes da sacristia do convento de S.
Pedro de Alcântara (Lisboa), cuja fonte iconográfica é o livro Regia Via Crucis
(Antuérpia, 1625) do beneditino flamengo Jacques van Haeften.

Não traduzirá, justamente este dístico, uma clara alusão à


degradação dos “Mistérios Iniciáticos”, antes conferidos no cume da
montanha, cuja escalada era mister empreender ritualmente para

226
atingir a presença de Deus, ora nos vales, designação que havia de ser,
ulteriormente, adoptada pela maçonaria para aludir às suas lojas?
Pelo seu lado, Fernando Pessoa não se coibirá de sublinhar que
o termo vale comprova “a baixa qualidade da iniciação que ela [a
Ordem] ministra, em relação à alta iniciação, nas Altas Ordens,
referida sempre a uma montanha, seja a de Heredom, seja a de
Abiegno”! Seja a Kâf, seja a do Horeb, seja a do Tabor, seja a do Merú,
seja a de Shamballah, seja a do Parnaso dos poetas laureados.

Bibliografia

BONNEVILLE, Nicolas de, Les Jésuites chassés de la Maçonnerie et leur poignard


brisé par les maçons [Oriente de Londres, 1788]
idem, La Mêmeté des quatre voeux de la Compagnie de saint Ignace et des quatre
grades de la maçonnerie de Saint-Jean [Oriente de Londres, 1788]
idem, La Maçonnerie écossaise comparée avec les trois professions et le secret des
Templiers du XIVe siècle [Oriente de Londres, 1788]
CADET-GASSICOURT, Cadet de, Le Tombeau de Jacques de Molai, ou Histoire Secrète
et abrégée des initiés anciens et modernes […], Paris, ano V [1803 : 2ª ed.]
idem, Les Initiés Anciens et Modernes, suite du Tombeau de Jacques de Molai, Paris,
ano IV [1802]
DIAS, Miguel António, Annaes e Código dos Pedreiros Livres em Portugal, Lisboa,
1853
GANDRA, Manuel J., Os Templários na Literatura, Lisboa, 2000
idem, O Neotemplarismo, in Cadernos da Tradição, a. 1, n.1 (solstício de Verão de
2000), p. 173-213
idem, O Projecto Templário e o Evangelho Português, Rio de Janeiro, 2013
idem, Templários e Templarismo na Literatura de Língua Portuguesa e traduzida
para português (séc. XIV-2013), Mafra, 2013
GRAINHA, M. Borges, História da Franco-Maçonaria em Portugal (1733-1912),
Lisboa, 1913
MARTINS, Rocha, Templários e Jesuítas: quais os maiores culpados?, in Arquivo
Nacional, a. 2, n. 90 (29 Set. 1933), p. 594-595
PETER, Emile, L’Égalité sociale ou les Jésuites et les Franc-Maçons dans le
gouvernement des peuples, depuis leur origine jusqu’à nos jours, 1893

227
ORDENS ANTI-MAÇÓNICAS
Nobre Ordem do Apostolado
dos Cavaleiros de Santa Cruz

Sociedade secreta de cunho paramaçónico criada no Brasil, em 2


de Junho de 1822, por José Bonifácio de Andrada e Silva, mação
monarquista, que tomou por modelo dela a própria Maçonaria e a
Carbonária italiana.
Era seu objectivo neutralizar a influência exercida sobre o
príncipe D. Pedro pela ala radical e republicana da maçonaria, liderada
por Joaquim Gonçalves Ledo.
Os filiados eram denominados camaradas, sendo liderados pelo
Arconte-Rei (D. Pedro) e distribuídos por três Palestras, cada uma
constituída por Decúrias, formadas por doze Apóstolos e um
Presidente.
O próprio D. Pedro a dissolveria, em 15 de Julho de 1823, na
sequência de uma carta anónima que atribuía à organização "planos
tenebrosos" contra o Imperador.

Bibliografia

ASLAN, Nicola, Fastos da Maçonaria Brasileira, Rio de Janeiro, 1980


Idem, José Bonifácio: um Homem além de seu tempo, in A Gazeta Maçónica (1988)

231
Ordem de São Miguel da Ala

Foi após 26 de Maio de 1834 que o monarca exilado, instalando-


se em Roma sob a protecção do Papa Gregório XVI e, depois, com a
anuência de Pio IX, terá gizado a restauração da Ordem de São Miguel
da Ala, “com o fim de trabalhar na gloriosa empresa de alcançar o
restabelecimento do trono legítimo, de recuperar a independência e
glória nacional, à sombra das nossas antigas e venerandas instituições
da pátria […]”.
De acordo com o artigo 1º da sua constituição, tornara-se uma
"Ordem secreta, militante e política", referindo o artigo 2º que o
objectivo da Ordem, já renomeada "Ordem Secreta de São Miguel da
Ala", consistia em "defender a religião Católica Apostólica Romana e
restaurar a legítima sucessão", podendo até os Cavaleiros da Ordem
"levantar armas para cumprimento dos seus fins", de acordo com o
artigo 4°.
O Grão-Mestrado da Ordem pertencia ao Rei D. Miguel I
(segundo o artigo 28°), por direito que era reconhecido pela Santa Sé e,
depois de sua morte ou incapacidade, teria continuidade nos seus
legítimos sucessores na Casa Real Portuguesa. De facto, a herança do
título de "Grão-Mestre Nato da Ordem de São Miguel da Ala" seria
sempre reconhecida à nascença do primogénito dos sucessores de D.
Miguel I.
Para melhor combater como "força política contra o
liberalismo, o modernismo e os outros inimigos da Igreja", a Ordem
mantinha certas semelhanças com as “sociedades secretas anti-
religiosas”, que integravam o governo de Joaquim António de Aguiar,
nas suas cerimónias e no número e graus de seus membros.
Tinha três classes de associados: Noviços, Professos e
Dignitários, possuindo, a primeira, três graus: Aspirante, Pajem e
Escudeiro; a segunda, dois: Cavaleiro e Primeiro cavaleiro; a terceira,
três: Comendador, Grã-Cruz e Mestre.

233
A Ordem admitia nos seus quadros de oitocentos e sessenta e
quatro a mil e oitocentos Noviços; de cento e oito a cento e oitenta
segundos e primeiros Cavaleiros; de trinta e seis a sessenta
Comendadores; de sete a doze Grã-Cruzes; de quatro a nove Mestres e
um Grão-mestre.
Cada grupo de Noviços, com o seu respectivo Cavaleiro, formava
um Colégio; um grupo de Colégios, com o seu respectivo Comendador,
formava um Capítulo; um grupo de Capítulos, com o seu Grã-Cruz,
formava uma Província.

À semelhança dos pedreiros-livres, os membros da Ordem de


São Miguel da Ala também podiam adoptar nomes simbólicos e
secretos de cavaleiros contemporâneos de D. Afonso Henriques,

234
supostamente os dos primeiros membros da Milícia, a saber: D. Egas
Moniz, D. Pedro Afonso, D. Gonçalo Gonçalves, D. Pedro Pais, D.
Gonçalo de Sousa, D. Lourenço Veigas, etc., bem como sinais idênticos
aos dos maçons: aos três pontos em triângulo usado por estes,
preferiam, todavia, quatro pontos em losango (também uma cruz ou as
cinco chagas de Cristo), como atesta a carta de D. Miguel, expedida do
Palácio de Heubech, em 3 de Julho de 1855:

“Meu Egas Moniz – Querendo dar uma nova prova do alto


apreço em que tenho o serviço prestado por aqueles dos meus fiéis
vassalos e leais portugueses que fazem parte da O+ de S+ M+ da A+
por mim restaurada, com o fim de trabalhar na gloriosa empresa de
alcançar o restabelecimento do trono legítimo, de recuperar a
independência e glória nacional, à sombra das antigas e venerandas
instituições da pátria, sendo estes serviços de tanta maior valia quando
praticados a través de perigos, riscos e privações, que somente têm sido
e poderão ser vencidos por efeito da mais firme dedicação e coragem:
entendi ordenar-vos que façais constar a todos e a cada um dos
membros da O+ de S+ M+ da A+ que, conhecedor dos seus nomes e
serviços, nunca aqueles serão por mim esquecidos, nem estes deixados
sem remuneração correspondente à sua grandeza, e muito em especial
a exacta observância dos nossos estatutos e obediência às minhas reais
ordens e às determinações das competentes autoridades por mim
estabelecidas: e outrossim que todos os serviços prestados na O+,
durante a época da luta, pela qual estamos passando, lhes serão
considerados como feitos em qualquer das classes e ramos de serviço
público a que hajam pertencido ou venham a pertencer, serviços
quando juntos ao merecimento e aptidão dos indivíduos, lhes serão
tomados em conta logo que Deus, ajudando os nossos esforços nos dê o
dia da restauração […]”.

O Rei exilado continuaria a dispensar as insígnias da Ordem "a


titulo honorífico, até ao final da sua vida [1866]", mas, como a
Constituição e designação de Secreta nunca chegou a ser revogada,
toda a actividade social, organizada e militante dos Cavaleiros da
Ordem da Ala permaneceria suspensa, a partir da condenação e
suspensão de todas as Ordens e Sociedades Secretas, decretada por Pio
IX, na carta Syllabus de 70 erros (1864), e reiterada por Leão XIII, na
carta Humanum Genus (1884).

235
São Miguel coloca-se ao lado de D. Miguel
no combate ao Demónio (liberalismo)

236
Uma vez que todos os títulos e direitos da Ordem de São Miguel
da Ala eram apanágio exclusivo de D. Miguel, a sua actividade, bem
como a investidura com as suas insígnias, foram suspensas em
Portugal a partir do reinado de D. Maria II, assim permanecendo até
ao de D. Manuel II.

A Ordo Equitum Sancte Michaelis sive de Ala seria


restabelecida por iniciativa de um grupo de monárquicos, por escritura
pública realizada a 4 de Agosto de 1981 98, como Associação Cultural
sem fins lucrativos, tendo por objecto a “defesa do património cultural
tradicional português em geral e em especial os sectores relacionados
com a equitação portuguesa”. No entanto, a actividade da mesma
ficaria permanentemente suspensa por determinação do Duque de
Bragança, Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte Pio João Miguel
Gabriel Rafael de Orléans e Bragança, o qual, por Decreto de 27 de
Outubro de 1986, publicamente reivindicou para si a continuidade

98 DR, s. 3, n. 200, de 1 de Set.

237
legal e moral da OSMA, sustentada no título de Soberano Grão-Mestre
Nato da Ordem de São Miguel da Ala, do qual é o exclusivo detentor.
A validade do mesmo decreto havia de ser reconhecido pela Santa Sé,
que confirmou não haver impedimento Legal ou Canónico para o
reconhecimento da existência contínua da Ordem de São Miguel ou
para o reconhecimento das Condecorações da Ordem conferidas pelo
Chefe da Casa Real.

Grã-Cruz

A 29 de Setembro do Ano Santo e Jubilar 2000, o Duque de


Bragança ordenou a preparação de Estatutos para a criação de uma
Real Irmandade de São Miguel da Ala destinada à “preservação da
memória e tradições da Ordem de São Miguel da Ala”, à “consagração
de Irmãos a São Miguel”, e também para servir de "único complemento
activo e social organizado” para aqueles que tenham sido investidos
com títulos e condecorações honoríficas da mesma Ordem e queiram
integrar a Irmandade como Irmãos.

238
Grã-Colar da Ordem de São Miguel da Ala. É usado pelo Grão-Mestre
Hereditário, O Chanceler-Mor, O Chanceler e Os Dois Vice-Chanceleres

239
Uma vez aprovados por Sua Alteza Real o Duque de Bragança, a
8 de Maio de 2001, os actuais Estatutos, elaborados em conformidade
com o Código de Direito Canónico e aplicáveis às Associações
Privadas de Fiéis, receberam também parecer favorável das
autoridades eclesiásticas competentes.
Doravante, a Ordem de São Miguel da Ala voltaria a integrar o
Livro Oficial de Ordens de Cavalaria, Condecorações da Santa Sé
(Orders of Knighthood, Awards and the Holy See), constando a
respectiva história do suplemento The Cross on the Sword, publicado
desde 1983 por Peter Bander van Duren, com a anuência do Secretário
de Estado do Vaticano.

240
ADENDA
LEI ORGÂNICA
DAS ORDENS HONORÍFICAS PORTUGUESAS
Decreto-Lei n.º 414-A/86 de 15 de Dezembro

As Ordens Honoríficas Portuguesas radicam numa tradição secular,


praticamente desde os alvores da nacionalidade.
Ao longo dos tempos têm servido, essencialmente, para traduzir o
reconhecimento da Nação e do Estado para com os cidadãos que se
distinguem pela sua acção em benefício da comunidade nacional ou mesmo da
Humanidade.
Na sociedade moderna as Ordens Honoríficas deverão, cada vez mais,
constituir um símbolo para estimular o aperfeiçoamento do mérito e virtudes
que visam distinguir.
Conferir prestígio e dignidade às condecorações nacionais é, pois, uma
das formas de manter vivas tradições que têm significado na vida da Nação.
A orgânica das Ordens Honoríficas Portuguesas, apesar de revista em
1985, não chegou a ser regulamentada.
Entende-se, pois, ser agora oportuno rever alguns aspectos da referida
orgânica, tendo em vista adequar cada uma das Ordens às suas finalidades
específicas, nomeadamente no que se refere às nacionais e às de mérito civil.
Por outro lado, as competências para a propositura de agraciamentos
ficam, doravante, claramente definidas em conformidade com a Constituição
da República.
Assim, a reunião em um único diploma de todas as matérias relativas à
orgânica e a consequente publicação do respectivo regulamento permitem
alcançar uma maior uniformidade no tratamento das questões relacionadas
com as Ordens Honoríficas Portuguesas.

Nestes termos:
O Governo decreta, nos termos da alínea a) do n.º.1 do artigo 201.º da
Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º
É aprovada a Lei Orgânica das Ordens Honoríficas Portuguesas, anexa a este
diploma e dele fazendo parte integrante.
Artigo 2.º
1 - Os agraciados com a Ordem do Império ou com graus de outras Ordens
extintos pela presente Lei Orgânica, bem como os agraciados com Ordens ou

243
graus já extintos por legislação anterior, manterão o direito ao uso das
respectivas insígnias.
2 - Em virtude de a Ordem de Mérito passar a designar a Ordem da
Benemerência, os agraciados com esta última serão oficiosamente incluídos
naquela, com todos os seus direitos e obrigações.
Artigo 3.º
1 - As pensões concedidas aos agraciados com a Ordem Militar da Torre e
Espada, do Valor, Lealdade e Mérito ao abrigo da legislação anterior serão
actualizadas nos termos da presente Lei Orgânica, independentemente de
requerimento.
2 - Os herdeiros hábeis dos agraciados com a Ordem Militar da Torre e
Espada, de Valor, Lealdade e Mérito já falecidos à data do presente diploma
poderão requerer a concessão da pensão a que teriam direito nos termos da
Lei Orgânica desde que reúnam as condições na mesma prescritas.
Artigo 4.º
1 - Os processos dos agraciamentos pendentes à data da entrada em vigor
deste diploma só terão seguimento se a proposta for renovada pela entidade
proponente.
2 - No caso de extinção do cargo exercido pela entidade proponente, a
competência para o exercício da medida contemplada no número anterior
passará para o titular do cargo que lhe sucedeu ou, não o havendo, para o
Primeiro-Ministro.
Artigo 5.º
1 - É revogado o Decreto-Lei n.º 132/85, de 30 de Abril.
2 - São igualmente revogados, a partir da entrada em vigor do Regulamento
das Ordens Honoríficas Portuguesas, os Decretos n.ºs. 45.498, 45.786 e
48.285, respectivamente de 31 de Dezembro de 1963, de 23 de Dezembro de
1965 e de 22 de Março de 1968, e o Decreto Regulamentar n.º 27/79, de 24 de
Maio.
Artigo 6.º
O Regulamento das Ordens Honoríficas Portuguesas será aprovado por
decreto regulamentar.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 20 de Novembro de


1986.
Promulgado em 4 de Dezembro de 1986

244
LEI ORGÂNICA
DAS ORDENS HONORÍFICAS PORTUGUESAS

SECÇÃO I
I - Das Ordens honoríficas e seus fins

Artigo 1º
1 - As Ordens honoríficas destinam-se a distinguir, em vida ou a título
póstumo, os cidadãos portugueses que se notabilizarem por méritos pessoais,
por feitos cívicos ou militares ou por serviços prestados ao País.
2 - Poderão também as Ordens honoríficas ser atribuídas a estrangeiros, de
harmonia com os usos internacionais.

Artigo 2º
As Ordens honoríficas portuguesas são as seguintes:
I) Antigas Ordens militares:
a) Da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito;
b) De Cristo;
c) De Avis;
d) De Sant'Iago da Espada;
II) Ordens nacionais:
Do Infante D. Henrique;
b) Da Liberdade;
III) Ordens de mérito civil:
Do mérito;
b) Da Instrução Pública;
c) Do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial.

Artigo 3º
A Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito destina-se a
galardoar:
a) Méritos excepcionalmente relevantes demonstrados no exercício das
funções dos cargos supremos que exprimem a actividade dos órgãos de
soberania ou no comando de tropas em campanha;
b) Feitos de heroísmo militar e cívico;
c) Actos excepcionais de abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade.

Artigo 4º
A Ordem Militar de Cristo será concedida por destacados serviços prestados
ao País no exercício das funções de soberania ou na Administração Pública, em
geral, e na magistratura e diplomacia, em particular, e que mereçam ser
especialmente distinguidos.

245
Artigo 5º
A Ordem Militar de Avis é destinada a premiar altos serviços militares, sendo
exclusivamente reservada a oficiais das Forças Armadas, da Guarda Nacional
Republicana e da Guarda Fiscal e, ainda, a unidades, órgãos, estabelecimentos
e corpos militares.

Artigo 6º
A Ordem Militar de Sant'Iago da Espada tem por objectivo distinguir o mérito
literário, científico e artístico.

Artigo 7º
A Ordem do Infante D. Henrique visa distinguir os que houverem prestado:
a) Serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro;
b) Serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de
Portugal, sua história e seus valores.

Artigo 8º
A Ordem da Liberdade destina-se a distinguir serviços relevantes prestados
em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação do homem e à
causa da liberdade.

Artigo 9º
A ordem do Mérito destina-se a galardoar actos ou serviços meritórios
praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, ou que
revelem desinteresse e abnegação em favor da colectividade.

Artigo 10º
A ordem da Instrução Pública tem o intuito de galardoar altos serviços
prestados à causa da educação e do ensino.

Artigo 11º
1 - A Ordem do Mérito Agrícola Comercial e Industrial tem por fim distinguir
aqueles que hajam prestado serviços relevantes no fomento ou na valorização
por qualquer forma:
a)Da riqueza agrícola, pecuária ou florestal do País ou que para tal hajam
destacadamente contribuído;
b) Do comércio ou dos serviços;
c) Das indústrias;
d) De obras de interesse público.
2 - Esta ordem terá três classes:
Do mérito agrícola;
b) Do mérito comercial;
c) Do mérito industrial.

246
Artigo 12º
Os distintivos e as insígnias das Ordens honoríficas serão os descritos no
respectivo regulamento.

II - Dos graus das Ordens honoríficas e sua concessão

Artigo 13º
1 - Os graus das antigas Ordens militares e das Ordens nacionais são por
ordem ascendente: cavaleiro ou dama, oficial, comendador, grande-oficial e
grã-cruz.
2 - Nas Ordens de mérito civil não haverá o grau de cavaleiro, que será
substituído por medalha.

Artigo 14 º
Nas Ordens Militares da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e de
Sant’Iago da Espada e nas Ordens nacionais haverá, além dos graus
enumerados no artigo anterior, o grande-colar, exclusivamente destinado a
agraciar chefes de Estado, com excepção do correspondente à primeira, que só
será atribuído nos termos do nº 4 do artigo 15º.

Artigo 15º
1 - O Presidente da República Portuguesa, como grão-mestre de todas as
Ordens honoríficas, usará por insígnia da sua função a Banda das Três Ordens.
2 - A Banda das Três Ordens - Cristo, Avis e Sant'Iago da Espada - é privativa
da magistratura presidencial, não podendo ser concedida a nacionais ou
estrangeiros nem usada fora do exercício da Presidência da República; com a
Banda das Três Ordens não deverão ser usadas quaisquer outras insígnias.
3 - O Presidente da República, como grão-mestre de todas as Ordens
honoríficas, poderá usar, isoladamente, as insígnias de grande-colar ou grã-
cruz de qualquer ordem não compreendida na Banda das Três Ordens, sem
prejuízo do disposto no número seguinte.
4 - Aquele que tiver exercido as funções de Presidente da República será,
terminado o mandato para que foi eleito, inscrito, independentemente de acto
de agraciamento, no quadro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor,
Lealdade e Mérito corno seu grande-colar, que só neste caso poderá ser usado.

Artigo 16º
1 - O número máximo de graus de cada uma das Ordens que pode ser
concedido a cidadãos portugueses constará do quadro anexo ao presente
diploma.
2 - Exceptua-se do disposto no número anterior a concessão do grau de
cavaleiro, quando não lhe corresponda a direito ao uso de colar, e a de
medalhas, que pode ser feita em número ilimitado.

247
3 - Em qualquer ordem cada grau só pode ser atribuído uma vez à mesma
individualidade.
4 - Os sucessivos agraciamentos, efectuados nos termos do número anterior,
consideram-se como promoções, contando só o grau mais elevado para os
efeitos do nº 1.

Artigo 17º
1 - A concessão dos graus de todas as Ordens honoríficas é da exclusiva
competência do Presidente da República e revestirá a forma de alvará, a
publicar na 2ª série do Diário da República.
2 - Quando o regulamento das Ordens não dispuser diferentemente, a
publicação do alvará será feita por extracto.
3 - Da concessão da condecoração será passado diploma pela Chancelaria das
Ordens, assinado pelo chanceler respectivo e autenticado com o selo branco da
Chancelaria.
4 - Os diplomas respeitantes ao grau de grande-colar serão também assinados
pelo Presidente da República.

Artigo 18º
A competência do Presidente da República para a concessão das Ordens
honoríficas poderá ser exercida:
a) Por sua iniciativa;
b) Sob proposta do Conselho de Ministros;
c) Sob proposta do Primeiro-Ministro;
d) Sob proposta dos ministros;
e) Sob proposta dos conselhos das Ordens.

Artigo 19º
O Presidente da República poderá, por sua iniciativa, independentemente da
existência de vaga no quadro e de audiência do respectivo conselho das
Ordens, conceder qualquer grau das Ordens honoríficas a cidadãos nacionais
ou estrangeiros dentro da finalidade delas.

Artigo 20º
1 - O Conselho de Ministros e o primeiro-ministro podem propor a concessão
dos graus de qualquer ordem a nacionais e a estrangeiros.
2 - As propostas referidas no número anterior, quando formuladas com nota
de urgência, terão seguimento imediato, ficando dispensadas de audiência do
respectivo conselho das Ordens.

Artigo 21º
1 - Qualquer ministro pode propor que ouvido o conselho das Ordens, sejam
concedidos a cidadãos nacionais ou estrangeiros graus da Ordem de Cristo, da

248
Ordem do Infante D. Henrique, da Ordem da Liberdade e da Ordem do
Mérito.
2 - A proposta da concessão da Ordem de Sant'Iago da Espada e da Ordem da
Instrução Pública é reservada ao Ministro da Educação e ao Ministro que tiver
a seu cargo a área da cultura; a da Ordem do Mérito Agrícola, Comercial e
Industrial, aos Ministros das pastas por onde corram os assuntos económicos,
de obras públicas ou de comunicações.
3 - Só o Ministro da Defesa Nacional, ouvido o Chefe do Estado-Maior-General
das Forças Armadas ou os Chefes dos Estados-Maiores do Exército, da
Armada ou da Força Aérea, pode propor a concessão da Ordem Militar de
Avis.

Artigo 22º
1 - Os conselhos das Ordens, podem propor a concessão de qualquer grau das
respectivas Ordens.
2 - Quando a iniciativa da concessão da ordem esteja reservada a algum
ministro, será este ouvido sobre a proposta; não estando reservada a iniciativa,
será pedida a concordância do Primeiro-Ministro.

Artigo 23º
1 - A concessão de qualquer condecoração a cidadãos estrangeiros, quando não
seja proposta pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, será precedida de
informação deste.
2 - O disposto no nº 2 do artigo 20º aplica-se às propostas do Ministro dos
Negócios Estrangeiros para a concessão de condecorações a cidadãos
estrangeiros.

Artigo 24º
1 - As localidades, colectividades, instituições, corpos militarizados e unidades
e estabelecimentos militares podem ser declarados membros honorários de
qualquer das Ordens, sem indicação de grau.
2 - A concessão do título de membro honorário de uma ordem nos termos
deste artigo, quando não seja feita a corpos militarizados ou a unidades e
estabelecimentos militares, depende dos requisitos seguintes:
a) Ser a entidade proposta pessoa colectiva de direito público ou de utilidade
pública;
b) Ter, pelo menos, 25 anos de existência e oferecer garantias de duração;
c) Ser considerada digna de distinção por parecer do Conselho de Ministros ou
do respectivo conselho das Ordens.

249
III - Da orgânica das Ordens

Artigo 25º
O Presidente da República é o grão-mestre de todas as Ordens honoríficas
portuguesas e nessa qualidade concede todos os graus e superintende na sua
organização, orientação e disciplina, com a colaboração dos chanceleres e dos
conselhos das Ordens.

Artigo 26º
1 - Cada grupo de Ordens terá o seu conselho, composto por oito vogais,
nomeados por alvará do Presidente da República, sob proposta do respectivo
chanceler, de entre as grã-cruzes, grandes-oficiais e comendadores das
respectivas Ordens.
2 - Em cada conselho haverá uma representação tanto quanto possível
equitativa das Ordens que, compõem o respectivo grupo.
3 - Os vogais da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito
poderão ser escolhidos de entre os condecorados com qualquer grau.
4 - Os vogais da Ordem Militar de Avis serão sempre oficiais generais, de
preferência de ramos diferentes
5 - Os vogais dos conselhos serão nomeados por um período de oito anos ou
pelo tempo que falte para preencher o período de exercício do vogal que vão
substituir, devendo proceder-se de quatro em quatro anos à renovação de
metade do número de vogais de cada conselho.
6 - O Presidente da República pode dissolver um conselho, sob proposta do
respectivo chanceler, sempre que por falta de número, seja impossível, por três
vezes seguidas, realizar as reuniões convocadas.
7 - A falta não justificada de um vogal por três vezes seguidas às reuniões para
que tenha sido convocado implica cessação imediata do exercício das
respectivas funções.

Artigo 27º
1 - Haverá três chanceleres das Ordens honoríficas, um para cada grupo de
Ordens.
2 - Os chanceleres serão nomeados, por decreto do Presidente da República,
de entre grã-cruzes de uma das Ordens compreendidas no grupo de que vão
encarregar-se e as suas funções cessam quando, por qualquer motivo, termine
o mandato do Presidente que os nomeou.
3 - No impedimento ou ausência prolongada no estrangeiro de algum dos
chanceleres, o Presidente da República nomeará, também por decreto, de
entre os vogais dos respectivos conselhos um vice-chanceler que o substitua.

Artigo 28º
Compete aos chanceleres das Ordens:

250
a) Convocar e presidir às reuniões dos conselhos das Ordens em que
superintendam;
b) Representar o Presidente da República nas cerimónias respeitantes à
ordem, quando não tenha sido designado outro representante;
c) Assinar os diplomas, de concessão de condecorações das Ordens em
superintendam;
d) Propor a dissolução do conselho das Ordens a seu cargo, nos termos do
artigo 26º;
e) Determinar a instauração de processo disciplinar aos membros das Ordens
que infrinjam os seus deveres para com a Pátria, a sociedade ou a ordem a que
pertencerem;
f) Promover tudo quanto julguem conveniente para a defesa do prestígio das
Ordens que lhes estão confiadas.

Artigo 29º
Compete aos conselhos das Ordens:
a) Dar parecer sobre as propostas de agraciamento com as respectivas
Ordens;
b) Propor, nos termos legais, a concessão de condecorações com as suas
Ordens;
c) Funcionar como tribunal de honra nas questões desta natureza em que
estejam envolvidos dois ou mais membros das Ordens, desde que por qualquer
deles seja solicitada a sua intervenção e entre todos haja acordo nesse sentido;
d) Julgar os processos disciplinares instaurados aos membros das Ordens e
propor ao Presidente da República a irradiação dos mesmos.

IV - Dos membros das Ordens, sua investidora, seus direitos e sua disciplina

Artigo 30º
Os membros das Ordens honoríficas podem pertencer às seguintes categorias:
Titulares;
Supranumerários;
Honorários.

Artigo 31º
Membros titulares são os cidadãos portugueses nomeados para vagas dos
quadros da ordem a que pertençam.

Artigo 32º
Membros supranumerários são os condecorados que, estando nas condições
para serem titulares, excedam os quadros da sua ordem e aguardem vaga
nestes.

251
Artigo 33º
Membros honorários são os cidadãos estrangeiros e as unidades e
estabelecimentos militares os corpos militarizados, as localidades,
colectividades ou instituições pertencentes a uma ordem honorífica.

Artigo 34º
A investidura dos cidadãos portugueses em um grau de qualquer das Ordens
honoríficas depende da assinatura de compromisso de honra de observância
da Constituição e da lei e de respeito pela disciplina das Ordens.

Artigo 35º
A investidura será solene quando o Presidente da República o determinar no
despacho de concessão.

Artigo 36º
1 - A investidura solene terá lugar em acto presidido pelo Presidente da
República ou, por expressa delegação sua, pelo respectivo chanceler, por
membro do Governo, pelo ministro da República nas regiões autónomas, pelo
Governo de Macau, por chefe de estado-maior, pelo embaixador ou ministro
plenipotenciário no país onde a cerimónia for levada a efeito ou por grã-cruz
da mesma ordem especialmente designado.
2 - A solenidade consistirá na leitura da proposta fundamentada e do alvará da
concessão, na prestação do compromisso pelo agraciado e na imposição das
insígnias, feita por quem presidir ao acto.
3 - Quando a condecoração haja sido concedida com palma, a investidura será
feita em formatura de tropas.
4 - Será concedida com palma a condecoração que se destina a premiar feitos
heróicos em campanha.
5 - A solenidade da investidura pode ser simplificada quando as circunstâncias
o aconselharem.

Artigo 37º
Os membros das Ordens honoríficas têm direito ao uso das insígnias do grau
que lhes tiver sido concedido por alvará publicado no Diário da Republica e às
honras e precedências estabelecidos em regulamento.

Artigo 38º
Os militares agraciados com qualquer grau das Ordens Militares da Torre e
Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e de Avis, quando ostentem as respectivas
insígnias, têm direito ao uso do uniforme militar, seja qual for o seu quadro ou
situação e mesmo depois de deixarem a efectividade de serviço.

252
Artigo 39º
1 - Nas cerimónias oficiais presididas pelo Presidente da República poderá ser
reservado lugar para as Ordens honoríficas portuguesas, onde terão assento os
portadores da banda e placa da grã-cruz das Ordens que. não devam ocupar
qualquer outro.
2 - Quando seja feito convite às Ordens honorificas para qualquer solenidade,
a ordem convidada será representada pelo respectivo chanceler, que poderá
delegar essa representação em qualquer membro da ordem.

Artigo 40º
1 - Aos condecorados com qualquer dos graus da Ordem Militar da Torre e
Espada, do Valor, Lealdade e Mérito são garantidas as prerrogativas
actualmente conferidas por lei e, em especial têm:
a)Preferência na admissão em estabelecimentos sociais administrados pelo
Estado;
b) Direito a haver do Estado uma pensão correspondente ao salário mínimo
nacional, nos termos do disposto nos números seguintes.
2 - A pensão a que se refere a alínea b) do número anterior será concedida aos
condecorados que:
a) Sendo militares ou funcionários públicos a requererem, demonstrando
terem deixado a efectividade de serviço;
b) Não sendo militares nem funcionários públicos, a requererem,
demonstrando terem deixado de trabalhar;
3 - O montante da pensão a que se refere a alínea b) do nº 1 não pode sofrer
redução por virtude da existência de quaisquer outras pensões.
4 - O condecorado com mais de um grau desta Ordem só terá direito a
requerer uma pensão ao abrigo deste artigo.

Artigo 41º
1 - Os cônjuges sobrevivos dos condecorados com a Ordem Militar da Torre e
Espada, do Valor, Lealdade e Mérito têm direito:
a) A preferência na admissão em estabelecimentos sociais administrados pelo
Estado;
b) A pensão referida no artigo anterior, nos termos nele previstos.
2 - O disposto na alínea a) do número anterior é extensivo às filhas solteiras
dos condecorados.
3 - Têm igualmente direito à pensão prevista na alínea b) do nº 1 os filhos
menores ou incapazes, bem corno as filhas solteiras dos condecorados, se não
houver cônjuge sobrevivo.
4 - No caso de haver mais de um filho ou filha nas condições do número
anterior, a pensão será por todos eles repartida igualmente.
5 - A concessão ou a transmissão da pensão referida na alínea b) do nº 1 é
isenta de quaisquer emolumentos ou impostos.

253
Artigo 42º
Os órfãos dos condecorados com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor,
Lealdade e Mérito têm preferência absoluta na admissão nos estabelecimentos
de ensino militar, bem como nos estabelecimentos escolares dependentes dos
departamentos militares.

Artigo 43º
1 - As senhoras condecoradas ou as viúvas e filhas de condecorados com a
Ordem Militar de Sant'Iago da Espada têm preferência na admissão no
Recolhimento de Santos-o-Novo.
2 - A admissão no Recolhimento da Encarnação é reservada a viúvas e filhas
de membros da Ordem Militar de Avis.

Artigo 44º
São deveres dos membros das Ordens honoríficas:
a) Defender e prestigiar Portugal em todas as circunstâncias;
b) Regular o seu procedimento, público e privado, pelos ditames da virtude e
da honra;
c) Acatar as determinações e instruções dimanadas dos órgãos directivos da
sua ordem;
d) Procurar dignificar a sua ordem por todos os meios e em todas as
circunstâncias.

Artigo 45º
1 - Sempre que haja conhecimento da violação de qualquer dos deveres
enunciados no artigo anterior, deverá ser instaurado processo disciplinar,
mediante despacho do chanceler do respectivo conselho.
2 - Para instrutor do processo será designado no mesmo despacho um
membro da ordem de grau superior ao do arguido, ou do mesmo grau, se for
grã-cruz.
3 - No processo disciplinar é diligência impreterível a audiência do arguido, ao
qual deverá ser entregue nota de culpa e facultada a apresentação de defesa.
4 - Concluída a instrução, será o processo presente ao respectivo conselho e
nele relatado pelo instrutor, que assistirá à reunião, sem voto.
5 - Se a acusação for julgada procedente, será imposta ao arguido, conforme a
gravidade da falta e do desprestígio causado à ordem, a sua admoestação ou
irradiação.
6 - A admoestação é da competência do chanceler e consiste na repreensão do
infractor, pessoalmente ou por escrito.
7 - A irradiação, que consiste na expulsão do arguido dos quadros da ordem,
com privação do uso da condecoração e perda de todos os direitos a ela
inerentes, é da competência do Presidente da República e será feita por alvará.

254
Artigo 46º
1 - As regras do processo disciplinar previstas no artigo anterior aplicar-se-
ão com as adaptações a seguir indicadas, ao julgamento das questões postas à
consideração dos conselhos das Ordens, nos termos da alínea c) do artigo 29º.
2 - Recebida a petição e acordada a deferência da questão ao conselho, o
respectivo chanceler tentará a conciliação das partes antes de designar
instrutor.
3 - Neste processo a audiência do arguido é substituída pela audiência de
todos os interessados.
4 - A decisão definitiva do processo compete ao respectivo conselho, devendo
ser dela notificadas pessoalmente as partes em litígio.
5 - Os processos e as decisões proferidas nos termos do presente artigo têm
natureza pessoal e confidencial e efeitos meramente internos.
6 - Este processo não dá lugar à aplicação de penas disciplinares, mas, se
através dele for conhecida qualquer infracção, deverá promover-se o
respectivo procedimento.

Artigo 47º
1 - Os membros honorários das Ordens têm unicamente direito ao uso das
insígnias do seu grau e o dever de, não prejudicar, de nenhum modo, os
interesses de Portugal, podendo ser irradiados quando infrinjam esse dever.
2 - Os membros honorários colectivos, a que se refere o artigo 24º, podem
usar as insígnias da ordem no escudo, brasão ou selo que os identifique e,
quando possuam bandeira ou estandarte, laço com as cores da ordem, tendo
pendente o distintivo respectivo.

V - Da aceitação de condecorações estrangeiras

Artigo 48º
1 - Os cidadãos nacionais agraciados com quaisquer condecorações
estrangeiras carecem de autorização do Governo Português para as aceitar.
2 - Consideram-se condecorações estrangeiras as medalhas, Ordens, mercês
honoríficas e condecorações, civis ou militares, concedidas por Estados
soberanos, através dos respectivos órgãos políticos, ou pelas entidades
estrangeiras, singulares ou colectivas, a quem o direito e o costume
internacionais reconheçam competência para o efeito.

Artigo 49º
1 - O pedido de autorização para aceitar condecorações estrangeiras será
apresentado na Chancelaria das Ordens, que o instruirá com a informação do
Ministro dos Negócios Estrangeiros e do ministério de que o requerente
dependa, se for funcionário público ou militar.

255
2 - Depois de instruído, o processo será submetido a despacho do Primeiro-
Ministro ou do ministro em quem aquele delegue a sua competência.

Artigo 50º
O uso de condecoração estrangeira sem autorização, fora dos casos
estabelecidos no regulamento, é considerado, para todos os efeitos, uso ilegal
de condecoração.

VI - Da Chancelaria das Ordens

Artigo 51º
1 - A Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas constitui um serviço
destinado a assegurar o regular funcionamento das Ordens, integrado na
Presidência da República e dirigido pelo respectivo secretário-geral, que, por
inerência, será o secretário-geral das Ordens.
2 - Para apoio administrativo da Chancelaria haverá uma secção da
Chancelaria das Ordens, a cargo de um chefe de secção.

Artigo 52º
Compete ao Secretário-Geral das Ordens:
a) Manter o Presidente da República ao corrente das deliberações dos
conselhos e submeter a seu despacho as propostas que dependerem da sua
resolução;
b) Assistir tecnicamente os conselhos das Ordens;
c) Secretariar, sem voto, as reuniões de todos os conselhos e assistir
os chanceleres na execução das deliberações tornadas, ficando a seu cargo a
redacção e arquivo das actas;
d) Superintender todos os serviços da Chancelaria das Ordens;
e) Promover quaisquer estudos e trabalhos de investigação com vista ao
estabelecimento de assuntos respeitantes às Ordens, nomeadamente a
organização de um arquivo histórico, donde conste o nome e outros elementos
relativos a individualidades agraciadas.

Artigo 53º
1- Compete à Secção da Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas:
a) O expediente relativo às Ordens honoríficas;
b) O registo de todas as condecorações através dela concedida, bem como a
instrução de processos de autorização de aceitação de condecorações
estrangeiras a cidadãos portugueses e o respectivo registo;
c) A organização de publicações no âmbito da sua competência,
nomeadamente o Anuário das Ordens Honoríficas Portuguesas, donde conste
a indicação dos novos agraciamentos e dos membros das Ordens falecidos e
irradiados no decorrer de cada ano;

256
d) O desempenho de todas as tarefas administrativas que assegurem o regular
funcionamento da Chancelaria.
2 - Para os efeitos da última parte da alínea c) e consequente actualização dos
respectivos quadros, todas as autoridades ou funcionários que, por virtude, da
sua função, tenham conhecimento do falecimento de qualquer membro de
uma ordem honorífica deverão participá-lo à Chancelaria.
3 - No âmbito do disposto no número anterior, os conservadores do registo
civil deverão inquirir das entidades participantes dos óbitos se os falecidos
eram ou não agraciados com qualquer ordem e, tendo-o sido, comunicar o
facto à Chancelaria até, ao fim do mês imediato ao da participação.

Artigo 54º
A Chancelaria das Ordens é apoiada administrativamente pelos serviços
competentes da Secretaria-Geral da Presidência da República, cujo quadro
integrará todo o pessoal da Chancelaria.

Secção II
Quadro das Ordens honoríficas portuguesas

O número máximo de graus de cada uma das Ordens honoríficas que pode ser
concedido, consta no quadro anexo ao Dec.-Lei nº 80/91, de 19 de Fevereiro,
que deu nova redacção ao quadro anexo ao Dec.-Lei nº 414-A/86, de 15 de
Dezembro.

257
REGULAMENTO
DAS ORDENS HONORÍFICAS PORTUGUESAS 99

Ao abrigo do disposto no artigo 6º do Decreto-Lei nº 414-A/86, de 15


de Dezembro, o Governo decreta, nos termos da alínea c) do artigo 202º da
Constituição, o seguinte:

PARTE I
Disposições gerais

CAPITULO I
Do processo de agraciamento e da investidura

Artigo 1º
1 - As propostas de concessão de qualquer grau das Ordens honoríficas
deverão ser sempre fundamentadas e assinadas pela entidade proponente.
2 - Os requisitos exigidos para a concessão do título de membro honorário de
uma ordem a localidades, colectividades e instituições deverão ser provados
pela entidade proponente, em documentação anexa à proposta, quando não
constituam factos notórios.

Artigo 2º
1 - Se não houver vaga no quadro para a concessão do agraciamento proposto,
a Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas comunicará à entidade
proponente que, por esse motivo, a proposta não pode ter seguimento.
2 - Quando vier a verificar-se a existência de uma vaga que permita o
andamento do processo, será informada a entidade proponente, para
renovação da sua iniciativa, se assim o entender.

Artigo 3º
1 - Recebida a proposta de agraciamento na Chancelaria das Ordens, será dado
conhecimento ao chanceler, que fará convocar o respectivo conselho, a fim de,
ser ouvido sobre a mesma.
2 - Se o parecer do conselho das Ordens for favorável, será o processo
submetido à apreciação do Presidente da República para decisão final.
3 - Em caso de parecer desfavorável, que será devidamente fundamentado, a
Chancelaria comunicá-lo-á à entidade proponente.
4 - Terão seguimento imediato, ficando dispensadas da audiência do conselho:

99O Regulamento das Ordens Honoríficas Portuguesas foi aprovado pelo Decreto
Regulamentar nº 71-A/86, de 15 de Dezembro, que se transcreve.

258
a) As propostas do Conselho de Ministros e do Primeiro-Ministro formuladas
com nota de urgência;
b) As propostas do Ministro dos Negócios Estrangeiros, para concessão de
condecoração a cidadão estrangeiro, formuladas com nota de urgência.

Artigo 4º
1 - Quando um conselho das Ordens resolver formular uma proposta de
agraciamento, a Chancelaria ouvirá o ministro a quem esteja reservada a
iniciativa da concessão da ordem ou, se a mesma não estiver reservada, o
Primeiro-Ministro.
2 - Se o parecer solicitado for favorável, será a proposta assinada pelo
chanceler e apresentada ao Presidente da República para decisão.
3 - No caso de discordância, será comunicado o facto ao chanceler, que
mandará convocar o conselho, a fim de tomar conhecimento do parecer.

Artigo 5º
Quando a entidade proponente, se não conformar com o parecer acerca da sua
proposta, nas hipóteses previstas no artigo 3º, nº 3, e no artigo 4º, nº 3,
poderá requerer ao Presidente da República que a proposta seja objecto de
decisão.

Artigo 6º
1 - A concessão de qualquer condecoração a cidadãos estrangeiros, quando não
seja proposta pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, será precedida de
informação deste.
2 - A informação deverá ser solicitada antes da audiência do conselho das
Ordens.
3 - Não será publicado o alvará de agraciamento de cidadãos estrangeiros sem
que haja notícia de ter sido concedida a concordância do governo do país do
agraciado.

Artigo 7º
1 - As condições exigidas na regulamentação especial de cada ordem para a
concessão de qualquer dos seus graus não se aplicam aos agraciamentos,
embora sempre dentro das finalidades delas, de cidadãos estrangeiros.
2 - O Ministro dos Negócios Estrangeiros poderá, para os efeitos da alínea b)
do nº 4 do artigo 3º, subscrever qualquer proposta de agraciamento, sem
prejuízo das competências reservadas no artigo 21º da Lei Orgânica das
Ordens.
3 - No caso de reserva de competência, a proposta será conjunta do ministro
especialmente competente para propor o agraciamento e do Ministro dos
Negócios Estrangeiros.

259
Artigo 8º
1 - A concessão dos graus de todas as Ordens honoríficas é da exclusiva
competência do Presidente da República e revestirá a forma de alvará, a
publicar no Diário da República, 2ª série.
2 - Quando o Regulamento das Ordens não dispuser diferentemente, a
publicação do alvará será feita por extracto.
3 - Os alvarás de concessão de qualquer grau da Ordem Militar da Torre e
Espada, do Valor, Lealdade e Mérito especificarão os feitos, actos ou serviços
pelos quais tenha sido concedido.

Artigo 9º
1 - Nos casos em que a investidura não seja solene, a Chancelaria das Ordens,
através da entidade proponente, enviará aos agraciados, para assinatura, um
texto de compromisso de honra, que indicará, em aditamento, os deveres dos
membros das Ordens consignadas na respectiva Lei Orgânica.
2 - Só depois de recebido na Chancelaria o compromisso de honra
devidamente assinado será passado o diploma de agraciamento, que valerá
como título de investidura.

Artigo 10º
1 - Da concessão da condecoração será passado diploma pela Chancelaria das
Ordens, assinado pelo respectivo chanceler e autenticado com o selo branco da
Chancelaria.
2 - Os diplomas relativos à concessão de grandes-colares serão também
assinados pelo Presidente da República.

Artigo 11º
As vagas que ocorrerem nos quadros de cada ordem serão preenchidas pelos
respectivos membros supranumerários por ordem de antiguidade.

CAPITULO II
Do registo das condecorações e da autorização para aceitar
condecorações estrangeiras

[…]

CAPITULO III
Do funcionamento dos conselhos

Artigo 16º

260
As reuniões dos conselhos das Ordens serão convocados pelos respectivos
chanceleres.
Artigo 17º
1 - As resoluções dos conselhos serão tomadas por maioria absoluta de votos
dos vogais que os constituírem.
2 - De todas as reuniões dos conselhos será lavrada acta, a qual, depois de lida
e aprovada, será subscrita pelo secretário-geral e assinada pelo chanceler ou
pelo vogal que houver presidido à reunião.

Artigo 18º
Não estando nomeado vice-chanceler, o chanceler de cada grupo de Ordens,
no caso de impedimento ou ausência, será substituído pelo vogal mais antigo
no conselho e, no caso na igualdade nas Ordens.

CAPITULO IV
Do uso das condecorações

Artigo 19º
Os condecorados com mais de um grau de qualquer das Ordens usarão só a
insígnia correspondente a um dos graus, com excepção do disposto no artigo
29º para os condecorados com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor,
Lealdade e Mérito ou quando as condecorações hajam sido concedidas com
palma.

Artigo 20º
As condecorações concedidas com palma terão sobre a fita uma palma
dourada colocada horizontalmente da esquerda para a direita.

Artigo 21º
1 - Não é permitido o uso simultâneo de duas ou mais bandas.
2 - Também só poderá ser usada uma insígnia pendente do pescoço, qualquer
que seja o grau a que corresponda.
3 - As unidades e estabelecimentos militares e os corpos militarizados aos
quais houver sido conferido uma condecoração usarão sobre o laço da
bandeira de desfile ou estandarte outro laço de fitas da cor da ordem, de 0,1 m
de largura, franjadas de ouro, tendo pendente numa das pontas o respectivo
distintivo.
4 - As localidades, colectividades e instituições que sejam membros honorários
de uma ordem têm direito a usar o laço definido no número anterior na
respectiva bandeira de desfile ou estandarte oficial, quando os possuam, não
devendo os laços das condecorações ser usados cumulativamente com
quaisquer adornos ou com outras insígnias.

261
Artigo 22º
1 - As insígnias das condecorações nacionais precedem sempre as estrangeiras
e as das Ordens honoríficas portuguesas são colocadas, da direita para a
esquerda, no lado esquerdo do peito, pela seguinte ordem de precedência:
Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, Cristo, Avis, Sant'Iago da
Espada, Infante D. Henrique, Liberdade, Mérito, Instrução Pública e Mérito
Agrícola, Comercial e Industrial.
2 - Quando as insígnias das condecorações não se contenham numa só linha, a
ordem de precedência começará pela linha superior.

Artigo 23º
1 - Com trajo civil que não seja de gala, poderão usar: os cavaleiros, as damas e
os detentores de medalhas, uma fita com as cores da ordem; os oficiais, uma
roseta de 8 mm de diâmetro, com as mesmas cores; os comendadores,
grandes-oficiais e grã-cruzes, uma roseta igual com galão de prata para os
comendadores, de ouro e prata para os grandes-oficiais e de ouro para os grã-
cruzes; os grandes-colares, uma roseta de 12 mm de diâmetro, com as cores da
ordem, filetada interiormente de ouro.

2 - Com trajo civil que não seja de gala, as senhoras agraciadas com
condecorações poderão usar, no lado esquerdo do peito: as damas e as
detentoras de medalhas, um laço das cores da ordem, e as possuidoras dos

262
restantes graus, as respectivas rosetas definidas no número anterior, sobre um
pequeno laço das mesmas cores.
3 - Nas cerimónias solenes, os agraciados com diversas condecorações poderão
usar as miniaturas dos respectivos distintivos e fitas, suspensas de uma
corrente ou de uma pequena barra metálica, colocada no topo do peito, do
lado esquerdo dos uniformes ou dos vestidos, ou na lapela esquerda dos trajos
ou uniformes adequados.

Artigo 24º
Nos uniformes em que é permitido o uso de fitas serão elas aplicadas, sem
fivelas, numa ou mais placas metálicas colocadas horizontalmente, sem
intervalo, sobrepondo-se às fitas as rosetas definidas no nº 1 do artigo 23º
para o respectivo grau.

Artigo 25º
Os distintivos e as insígnias das Ordens honoríficas portuguesas são os
descritos no presente regulamento e conforme modelos anexos.

PARTE II
Das Ordens em especial

CAPÍTULO I
Banda das Três Ordens

Artigo 26º
As insígnias da Banda das Três Ordens são constituídas por uma banda com as
cores das Ordens de Avis, Cristo e Sant'Iago da Espada, respectivamente
verde, vermelho e violeta, tendo pendente sobre o laço e encadeado por uma
coroa de louros de esmalte verde perfilada e frutada de ouro, com 33 mm x 25
mm, um medalhão oval, com motivos decorativos de ouro, em recorte aberto e
perfilado do mesmo metal, com 50 mm x 65 mm, com três ovais de esmalte
branco, carregada cada uma do distintivo de uma das três Ordens e com uma
bordadura de esmalte da respectiva cor da ordem, contida em filetes de ouro,
ficando o de Cristo em chefe, o de Avis à dextra da ponta e o de Sant'Iago à
sinistra da ponta, colocados os dois últimos, respectivamente, em banda e em
barra; e uma placa dourada, em raios abrilhantados, de 85 mm de diâmetro,
tendo ao centro e sobre uma superfície circular de esmalte azul, de 30 mm de
diâmetro, lavrada com motivos decorativos de ouro, a Ordenação atrás
descrita para o medalhão envolvida por coroa circular de esmalte vermelho e
bordadura lavrada e perfilada de ouro, donde partem raios prateados.

263
Artigo 27º
1 - Haverá na Chancelaria das Ordens as insígnias da Banda das Três Ordens,
bem como as das Ordens que o Presidente da República pode usar no exercício
do seu cargo.
2 - Com a Banda das Três Ordens não deverão ser usadas quaisquer outras
insígnias.
3 - Quando o Presidente da República for oficial de qualquer ramo das Forças
Armadas, usará normalmente com a farda apenas o distintivo da Banda das
Três Ordens, semelhante ao medalhão descrito no artigo anterior, colocado no
lado esquerdo do peito, sempre que não ostente as respectivas insígnias.
4 - Com trajo civil que não seja de gala, o Presidente da República poderá usar
uma miniatura representativa das insígnias da Banda das Três Ordens, em
forma de oval, com 15 mm X 18 mm, constituída por fita das cores da Banda,
carregada das respectivas cruzes e filetada interiormente de ouro.

CAPÍTULO II
Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito
[…]

CAPÍTULO III
Ordem Militar de Cristo

Artigo 33º
1 - O distintivo da Ordem Militar de Cristo é uma cruz latina, pátea, de esmalte
vermelho, perfilada de ouro, carregada de cruz latina de esmalte branco, e a
fita vermelha.
2 - As insígnias dos diversos graus desta Ordem são:
Para cavaleiro: a cruz singela, com 38 mm x 28 mm, suspensa de fita, de 30
mm, com fivela dourada;
Para oficial: a mesma insígnia, tendo sobre a fivela uma roseta da cor da fita
com 10 mm de diâmetro;
Para comendador: o distintivo da Ordem, com 55 mm x 43 mm, suspenso de
fita pendente do pescoço, e placa de prata em raios, com 70 mm de diâmetro,
tendo ao centro um círculo de esmalte branco carregado da cruz da Ordem,
perfilado de ouro e circundado de um festão de louro de ouro;
Para grande-oficial: insígnias iguais às de comendador, com placa dourada;
Para grã-cruz: banda de seda da cor da Ordem, posta a tiracolo da direita para
a esquerda, tendo pendente sobre o laço o distintivo com as dimensões
indicadas para comendador e placa igual à de grande oficial.

264
Artigo 34º
Nos actos solenes, os cavaleiros e oficiais da Ordem Militar de Cristo poderão
usar pendente do pescoço, por uma fita da cor da Ordem, o respectivo
distintivo com as dimensões indicadas para comendador.

CAPÍTULO IV
Ordem Militar de Avis
(Alterações introduzidas aos artigos 35º, 36º e 37º, pelo
Decreto Regulamentar nº 12/2003, de 29 de Maio)

Artigo 35º
1 - Aos diferentes graus da Ordem Militar de Avis correspondem os
seguintes postos da hierarquia militar:
a) Primeiro-tenente ou Capitão - cavaleiro ou dama;
b) Capitão-tenente ou Major - oficial;
c) Capitão-de-fragata ou tenente-coronel - comendador;
d) Capitão-de-mar-e-guerra ou coronel e contra-almirante ou major-
general - grande-oficial;
e) Vice-almirante ou tenente-general e postos superiores - grã-cruz;
2 - Salvo em casos absolutamente excepcionais, e por iniciativa do
Presidente da República, será obrigatoriamente respeitada a
correspondência estabelecida no nº 1.

Artigo 36º
1 - São condições gerais necessárias, no seu conjunto, para atribuição
de qualquer grau da Ordem Militar de Avis, as seguintes:
a) Ter prestado, pelo menos, sete anos de serviço a contar da data da
graduação ou promoção a oficial;
b) Ter no decurso da carreira militar revelado elevados atributos
morais e profissionais, manifestados através de uma irrepreensível
conduta, reconhecidas qualidades cívicas e virtudes militares;
c) Ter prestado serviços altamente meritórios, reconhecidamente
relevantes e distintos e que tenham contribuído para o prestígio
militar das Forças Armadas ou da Guarda Nacional Republicana, com
especial relevância para os serviços prestados em campanha ou com
risco de vida.
2 - As condições especiais que, salvo nos casos de concessão por
serviços excepcionais prestados em campanha ou com risco de vida,

265
devem ser satisfeitas para atribuição de qualquer grau da Ordem
Militar de Avis são as seguintes:
Cavaleiro ou Dama - ter sido previamente condecorado com a medalha
de mérito militar de 3ª classe;
b) Oficial e Comendador - ter sido previamente condecorado com a
medalha de mérito militar de 2ª classe e com uma medalha de serviços
distintos como oficial superior;
c) Grande-Oficial - ter sido previamente condecorado com a medalha
de mérito militar de 1ª classe e com uma medalha de serviços distintos
no posto correspondente ao grau para que é proposto;
d) Grã-Cruz - ter sido previamente condecorado com a medalha de
mérito militar de 1ª classe e com uma medalha de ouro de serviços
distintos, atribuída enquanto oficial general.
3 - Os chefes de Estado-Maior dos ramos, ouvidos os respectivos
conselhos superiores sobre os oficiais que satisfaçam globalmente aos
requisitos fixados nos números anteriores, propõem ao Ministro de
Defesa Nacional o agraciamento dos oficiais mais dotados do
respectivo ramo, para o efeito do nº 3, do artigo 21º, da Lei Orgânica
das Ordens Honoríficas Portuguesas, aprovada pelo Decreto-Lei nº
414-A/86, de 15 de Dezembro.
4 - Procedimento idêntico ao estabelecido no número anterior,
ajustado à orgânica da Guarda Nacional Republicana, é adoptado pelo
seu comandante-geral, devendo as respectivas propostas ser dirigidas
ao Ministro de Defesa Nacional, por intermédio do Ministro da
Administração Interna.
5 - As propostas de agraciamento devem:
a) Apresentar os fundamentos em que se baseiam, nos termos dos
números 1 e 2, nomeadamente:
i) Os louvores que revelem os elevados atributos morais e
profissionais, bem como a descrição dos serviços altamente meritórios
e reconhecidamente relevantes e distintos;
ii) Indicação de que os louvores referidos não serviram de base para a
concessão de outro grau;
iii) Nota biográfica do oficial proposto, destacando as suas
habilitações, colocações e situações, louvores e condecorações;
b) Conter os pareceres dos órgãos mencionados nos números 3 e 4,
conforme o caso;
c) Conter um juízo global dos serviços prestados à instituição militar
ou à Guarda Nacional Republicana pelos oficiais propostos.

266
6 - Ao oficial que deixar de satisfazer as condições previstas na alínea
b), do nº 1, do presente artigo é aplicável o disposto no artigo 45º, da
Lei Orgânica das Ordens Honoríficas Portuguesas, aprovada pelo
Decreto-lei nº 414-A/86, de 15 de Dezembro.
7 - O disposto nos nºs. 3 e 4 do presente artigo não é aplicável aos
casos em que a atribuição da Ordem Militar de Avis ocorra por
iniciativa do Presidente da República, nos termos do artigo 19º da Lei
Orgânica das Ordens Honoríficas Portuguesas, e à atribuição do grau
de grã-cruz aos almirantes, generais, almirantes da Armada e
marechais.

Artigo 37º
1 - O chanceler das antigas ordens militares, baseado nas vagas
existentes no quadro da Ordem Militar de Avis e em função dos
respectivos efectivos orgânicos em oficiais dos ramos das Forças
Armadas e da Guarda Nacional Republicana, comunica anualmente,
até 31 de Dezembro, aos chefes de estado-maior e ao comandante-
geral da Guarda Nacional Republicana, o número máximo de
propostas, por graus, que podem apresentar.
2 - As propostas de agraciamento deverão dar entrada na Chancelaria
das Ordens Honoríficas Portuguesas, anualmente, até 31 de Março.
3 - A imposição das insígnias da Ordem Militar de Avis é feita em
cerimónia pública, civil ou militar.

Artigo 38º
1 - O distintivo da Ordem Militar de Avis é uma cruz florida, de
esmalte verde, perfilada de ouro, e a fita verde.
2 - As insígnias dos diversos graus desta Ordem são:
Para cavaleiro, a cruz singela, com 38 mm x 28 mm, suspensa de fita,
de 30 mm, com fivela dourada;
Para oficial: a mesma insígnia, tendo sobre a fivela uma roseta da cor
da fita com 10 mm de diâmetro;
Para comendador: o distintivo da Ordem, com 50 mm x 40 mm,
suspenso de fita pendente do pescoço, e placa de prata em raios
abrilhantados, com 85 mm de diâmetro, tendo ao centro um círculo de
esmalte branco carregado da cruz da Ordem, filetado de ouro e
circundado de um festão de louro de ouro;
Para grande-oficial: insígnias iguais às de comendador, com placa
dourada;

267
Para grã-cruz: banda de seda da cor da Ordem, posta a tiracolo da
direita para a esquerda, tendo pendente sobre o laço o distintivo com
as dimensões indicadas para comendador e placa igual à de grande-
oficial.

Artigo 39º
Nos actos solenes, os cavaleiros e oficiais da Ordem Militar de Avis
poderão usar pendente do pescoço, por uma fita da cor da Ordem, o
respectivo distintivo com as dimensões indicados para comendador.

CAPÍTULO V
Ordem Militar de Sant’Iago da Espada

Artigo 40º
1 - O distintivo da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada é uma cruz
em forma de espada, de esmalte vermelho, perfilada de ouro, assente
sobre duas palmas entrelaçados, de esmalte verde, perfiladas de ouro,
com a legenda "Ciências, Letras e Artes", em letras maiúsculas de
ouro, sobre listel de esmalte branco, e a fita violeta.
2 - A insígnias desta Ordem são:
Para os diversos graus:
Cavaleiro: o distintivo acima descrito, com 22 mm x 30 mm, pendente
de uma coroa de louros de esmalte verde perfilada e frutada de ouro,
com 20mm x 14 mm, suspenso de fita, de 30 mm, com fivela dourada;
Oficial: a mesma insígnia, tendo sobre a fivela uma roseta da cor da
fita com 10 mm de diâmetro;
Comendador: placa de prata em raios, com 70 mm de diâmetro, tendo
ao centro um círculo de esmalte branco carregado do distintivo da
Ordem, envolvido por uma coroa circular de esmalte vermelho,
contida em filetes de ouro, com a legenda "Ciências, Letras e Artes",
em letras maiúsculas de ouro, tudo circundado por um festão de louro
de ouro;
Grande-oficial: placa idêntica à de comendador, mas dourada;
Grã-cruz: banda de seda da cor da Ordem, posta a tiracolo da direita
para a esquerda, tendo pendente sobre o laço o distintivo, com 65 mm
de comprimento, e placa igual à de grande-oficial:
Grande-colar: formado por vieiras, com 30 mm x 30 mm, suspensas
em corrente dupla; ao centro, uma vieira, com 35 mm x 35 mm,
ladeada por dois golfinhos; o colar, todo de ouro, tem pendente e

268
encadeado por uma coroa de louros com os seus frutos, com 25 mm x
32 mm, a cruz da Ordem, de esmalte violeta e perfilada de ouro, com
40 mm x 60 mm, circundada por um festão de folhas de louro com os
seus frutos, atado com fitas cruzadas nos topos e nos lados, também de
ouro, com 52 mm x 65 mm.
3 - Com o grande-colar serão usadas simultaneamente, a banda da
grã-cruz e a placa correspondente, onde figurará, nas dimensões
adequadas, a cruz, idêntica à pendente do grande-colar.
4 - Além das insígnias descritas para os diversos graus, os agraciados
usarão nos actos solenes um colar forrado alternadamente de coroas
de louros de esmalte verde perfiladas e frutadas, com 20 mm de
diâmetro, e distintivos da Ordem, de 22 mm x 30 mm, tendo pendente
e encadeado por uma coroa de louros semelhante às anteriores, com
33 mm x 30 mm, o distintivo, com 65 mm x 50 mm, que será, como o
colar, de prata esmaltada para os cavaleiros e de ouro esmaltado para
os demais graus.

CAPÍTULO VI
Ordem do Infante D. Henrique

[…]

CAPÍTULO VII
Ordem da Liberdade

[…]

CAPÍTULO VIII
Ordem do Mérito

[…]

CAPÍTULO IX
Ordem da Instrução Pública

[…]

CAPITULO X
Ordem do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial

[…]

269
Promulgado em 12 de Dezembro de 1986.

ANEXOS

Primeira renovação de metade do número de vogais dos


conselhos das Ordens
Decreto-Lei nº 85/88 de 10 de Março

[…]
Promulgado em 22 de Fevereiro de 1988.

II

Regras de precedência das insígnias da Ordem Militar de Avis face às


medalhas militares
Decreto Regulamentar nº 15/90 de 8 de Junho

Artigo 1º

Art. 2º Na ordem de precedência das diferentes modalidades da medalha


militar, prevista no nº 1 do artigo 92º do decreto nº 566/71, de 20 de
Dezembro, as insígnias da Ordem Militar de Avis são colocadas imediatamente
após as da Ordem Militar de Cristo e as desta a seguir à medalha da cruz de
guerra.
Art. 3º A ordem de precedência estabelecida no artigo anterior só se aplica aos
agraciamentos concedidos a partir da entrada em vigor do presente diploma.
Art. 4º O presente diploma entra em vigor no dia 1 do mês seguinte ao da sua
publicação.

270
LEI DAS
ORDENS HONORÍFICAS PORTUGUESAS
(2011)

Capítulo I - Disposições gerais

Artigo 1.º
Objecto e âmbito de aplicação

1 - A presente lei estabelece o elenco e os fins das Ordens Honoríficas


Portuguesas, define a sua orgânica interna, o processo de concessão e
investidura dos seus membros e respectivos direitos, deveres e disciplina.
2 - A presente lei contém ainda a descrição das insígnias de cada uma das
Ordens Honoríficas Portuguesas e as regras quanto ao uso das mesmas e para
a aceitação de condecorações estrangeiras.
3 - A presente lei prevalece sobre quaisquer normas gerais ou especiais
relativas às Ordens Honoríficas Portuguesas não expressamente revogadas no
artigo 70.º.

Artigo 2.º
Ordens Honoríficas Portuguesas

As Ordens Honoríficas Portuguesas são as seguintes:


a) Antigas Ordens Militares:
– Da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito;
– De Cristo;
– De Avis;
– De Sant’Iago da Espada.
b) Ordens Nacionais:
– Do Infante D. Henrique;
– Da Liberdade.
c) Ordens de Mérito Civil:
– Do Mérito;
– Da Instrução Pública;
– Do Mérito Empresarial.

Artigo 3.º
Finalidade geral das Ordens Honoríficas Portuguesas

1 - As Ordens Honoríficas Portuguesas destinam-se a galardoar ou a


distinguir, em vida ou a título póstumo, os cidadãos nacionais que se

271
notabilizem por méritos pessoais, por feitos militares ou cívicos, por actos e
excepcionais ou por serviços relevantes prestados ao País.
2 - Quando a condecoração se destine a galardoar feitos heróicos em
campanha é concedida com palma.
3 - De harmonia com os usos internacionais, as Ordens Honoríficas
Portuguesas podem ser atribuídas a cidadãos estrangeiros, como membros
honorários de qualquer grau, não se lhes aplicando as condições da sua
concessão a cidadãos nacionais.
4 - Os corpos militarizados e as unidades ou estabelecimentos militares podem
ser declarados membros honorários de qualquer das Ordens Honoríficas
Portuguesas, sem indicação de grau.
5 - As localidades, assim como colectividades e instituições que sejam pessoas
colectivas de direito público ou de utilidade pública há, pelo menos, vinte e
cinco anos, podem também ser declaradas membros honorários de qualquer
das Ordens Honoríficas Portuguesas, sem indicação de grau.
6 - Em todos os casos previstos nos números anteriores, respeitam-se sempre
as finalidades específicas de cada Ordem, conforme resultam da presente lei.

Artigo 4.º
Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas

O Presidente da República é o Grão-Mestre das Ordens Honoríficas


Portuguesas.

Artigo 5.º
Banda das Três Ordens

1 - A condecoração privativa do Presidente da República é a Banda das Três


Ordens.
2 - A Banda das Três Ordens reúne, numa só insígnia, as Grã-Cruzes das
Antigas Ordens Militares de Cristo, de Avis e de Sant’Iago da Espada.
3 - As insígnias da Banda das Três Ordens são assumidas pelo Presidente da
República ao dar entrada no Palácio de Belém, depois da tomada de posse na
Assembleia da República.

Artigo 6.º
Insígnias da Banda das Três Ordens

1 - As insígnias da Banda da Três Ordens são constituídas por uma banda com
as cores das Ordens de Cristo, Avis e Sant'Iago da Espada, respectivamente
vermelho, verde e violeta, tendo pendente sobre o laço e encadeado por uma
coroa de louros de esmalte verde perfilada e frutada de ouro, com 33 mm x 25
mm, um medalhão oval, com motivos decorativos de ouro, em recorte aberto e

272
perfilado do mesmo metal, com 50 mm x 65 mm, com três ovais de esmalte
branco, carregada cada uma do distintivo de uma das três Ordens e com uma
bordadura de esmalte da respectiva cor da ordem, contida em filetes de ouro,
ficando o de Cristo em chefe, o de Avis à dextra da ponta e o de Sant'Iago à
sinistra da ponta, colocados os dois últimos, respectivamente, em banda e em
barra; e uma placa dourada, em raios abrilhantados, de 85 mm de diâmetro,
tendo ao centro e sobre uma superfície circular de esmalte azul, de 30 mm de
diâmetro, lavrada com motivos decorativos de ouro, a Ordenação atrás
descrita para o medalhão envolvida por coroa circular de esmalte vermelho e
bordadura lavrada e perfilada de ouro, donde partem raios prateados.
2 - Quando o Presidente da República for oficial de qualquer ramo das Forças
Armadas, usa normalmente com a farda apenas o distintivo da Banda das Três
Ordens, colocado no lado esquerdo do peito, sempre que não ostente as
respectivas insígnias.
3 - Com traje civil que não seja de gala, o Presidente da República pode usar
uma miniatura representativa das insígnias da Banda das Três Ordens, em
forma de oval, com 15 mm X 18 mm, constituída por fita das cores da Banda,
carregada dos respectivos distintivos.
4 - Com traje civil, o Presidente da República pode ainda usar uma roseta de
12 mm de diâmetro, com as cores da Banda, filetada interiormente de ouro.

Artigo 7.º
Uso de insígnias pelo Presidente da República

1 - A Banda das Três Ordens deve ser usada sempre com a placa descrita no
artigo anterior, que precede sobre as demais placas que o Presidente da
República usar, com excepção do disposto no n.º 3.
2 - O Presidente da República pode usar, com a Banda das Três Ordens,
qualquer Grande-Colar das Ordens Honoríficas Portuguesas, sem a respectiva
Banda do Grande-Colar, devendo nesse caso a placa do Grande-Colar ser
colocada na segunda posição de precedência.
3 - Por ocasião de um encontro diplomático, o Presidente da República pode
usar o Grande-Colar ou Grã-Cruz de uma Ordem estrangeira, precedendo
nesse caso a placa dessa Ordem sobre a placa da Banda das Três Ordens, que
será colocada na segunda posição de precedência.

Capítulo II - Antigas Ordens Militares

Secção I
Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito

[…]

273
Secção II
Ordem Militar de Cristo

Artigo 13.º
Finalidade específica

A Ordem Militar de Cristo destina-se a distinguir destacados serviços


prestados ao País no exercício das funções de soberania.

Artigo 14.º
Graus

Os graus da Ordem Militar de Cristo são os seguintes:


a) Grã-Cruz;
b) Grande-Oficial;
c) Comendador;
d) Oficial;
e) Cavaleiro ou Dama.

Artigo 15.º
Distintivo e insígnias

1 - O distintivo da Ordem Militar de Cristo é uma cruz latina, pátea, de esmalte


vermelho, perfilada de ouro, carregada de cruz latina de esmalte branco, e a
fita vermelha;
2 - As insígnias da Ordem Militar de Cristo são as seguintes:
a) Grã-Cruz: banda de seda da cor da Ordem, com largura de 100 mm para
homem e de 60 mm para senhora, posta a tiracolo da direita para a esquerda,
tendo pendente sobre o laço o distintivo da Ordem, com 55 mm X 43 mm; e
placa dourada em raios, com 70 mm de diâmetro, tendo ao centro um círculo
de esmalte branco carregado da cruz da Ordem, perfilado de ouro e
circundado de um festão de louro de ouro;
b) Grande-Oficial: o distintivo da Ordem, de tamanho idêntico ao da Grã-Cruz,
suspenso de fita pendente do pescoço, com largura de 30 mm, ou de laço, de
40 mm, para as senhoras; e placa igual à de Grã-Cruz;
c) Comendador: insígnia idêntica à de Grande-Oficial, com placa prateada;
d) Oficial: a cruz singela, com 38 mm X 28 mm, suspensa de uma fita, de 30
mm, com fivela dourada, ou de laço, da mesma largura, para as senhoras,
tendo sobre a fivela ou sobre o nó do laço uma roseta, da cor da fita, com 10
mm de diâmetro;
e) Cavaleiro ou Dama: insígnia idêntica à de Oficial, sem roseta.

274
3 - Nos actos solenes, os condecorados com os graus de Oficial e Cavaleiro
podem usar, pendente do pescoço por uma fita da cor da Ordem, o distintivo
com as dimensões indicadas no número anterior para o grau de Comendador.

Secção III
Ordem Militar de Avis

Artigo 16.º
Finalidade específica

A Ordem Militar de Avis destina-se a premiar altos serviços militares,


sendo exclusivamente reservada a oficiais das Forças Armadas e da
Guarda Nacional Republicana, bem como a unidades, órgãos,
estabelecimentos e corpos militares.

Artigo 17.º
Graus e quadro

1 - Os graus da Ordem Militar de Avis são os seguintes:


a) Grã-Cruz;
b) Grande-Oficial;
c) Comendador;
d) Oficial;
e) Cavaleiro ou Dama.
2 - A Ordem Militar de Avis tem um quadro, aprovado por decreto do
Presidente da República, com a disponibilidade máxima de agraciados
em cada momento para cada um dos graus, com excepção do de
cavaleiro ou dama, que pode ser concedido em número ilimitado.
3 - Os cidadãos estrangeiros a quem seja concedida a Ordem Militar de
Avis são considerados membros honorários e não são contabilizados
no número máximo de agraciados do quadro da Ordem.

Artigo 18.º
Distintivo e insígnias

1 - O distintivo da Ordem Militar de Avis é uma cruz florida, de


esmalte verde, perfilada de ouro, e a fita verde.
2 - As insígnias dos diversos graus desta Ordem são as seguintes:

275
a) Grã-Cruz: banda de seda da cor da Ordem, com largura de 100 mm
para homem e de 60 mm para senhora, posta a tiracolo da direita para
a esquerda, tendo pendente sobre o laço o distintivo da Ordem, com
50 mm x 40 mm; e placa dourada em raios abrilhantados, com 85 mm
de diâmetro, tendo ao centro um círculo de esmalte branco carregado
da cruz da Ordem, filetado de ouro e circundado de um festão de louro
de ouro;
b) Grande-Oficial: o distintivo da Ordem, de tamanho idêntico ao de
Grã-Cruz, suspenso de fita pendente do pescoço, e placa igual à de
Grã-Cruz;
c) Comendador: insígnia idêntica à de Grande-Oficial, com placa
prateada;
d) Oficial: cruz singela, com 38 mm X 28 mm, suspensa de uma fita,
de 30 mm, com fivela dourada, tendo sobre a fivela uma roseta, da cor
da fita, com 10 mm de diâmetro;
e) Cavaleiro ou Dama: a insígnia idêntica à de Oficial, sem roseta.
3 - As senhoras agraciadas com a Ordem Militar de Avis podem usar a
insígnia pendente de um laço, que é de 40 mm para as insígnias de
Grande-Oficial ou Comendador e de 30 mm para as de Oficial ou
Dama.
4 - Nos actos solenes, os condecorados com os graus de Oficial e
Cavaleiro podem usar, pendente do pescoço por uma fita da cor da
Ordem, o distintivo com as dimensões indicadas no n.º 2 para o grau
de Comendador.
5 - Na ordem de precedência das diferentes modalidades da medalha
militar, as insígnias da Ordem Militar de Avis são colocadas
imediatamente após as da Ordem Militar de Cristo e as desta a seguir à
medalha de cruz de guerra.

Artigo 19.º
Correspondência à hierarquia militar

1 - Aos diferentes graus da Ordem Militar de Avis correspondem os


seguintes postos da hierarquia militar:
a) Vice-almirante ou tenente-general e postos superiores: Grã-Cruz;
b) Capitão-de-mar-e-guerra ou coronel e contra-almirante ou major-
general: Grande-Oficial;
c) Capitão-de-fragata ou tenente-coronel: Comendador;
d) Capitão-tenente ou major: Oficial;

276
e) Primeiro-tenente ou capitão: Cavaleiro ou Dama.
2 - Salvo em casos absolutamente excepcionais, e por iniciativa do
Presidente da República, é obrigatoriamente respeitada a
correspondência estabelecida no n.º 1.

Artigo 20.º
Condições de atribuição

1 - São condições gerais necessárias, no seu conjunto, para atribuição


de qualquer grau da Ordem Militar de Avis as seguintes:
a) Ter prestado, pelo menos, sete anos de serviço a contar da data da
graduação ou promoção a oficial;
b) Ter no decurso da carreira militar revelado elevados atributos
morais e profissionais, manifestados através de uma irrepreensível
conduta, reconhecidas qualidades cívicas e virtudes militares;
c) Ter prestado serviços altamente meritórios, reconhecidamente
relevantes e distintos e que tenham contribuído para o prestígio
militar das Forças Armadas ou da Guarda Nacional Republicana, com
especial relevância para os serviços prestados em campanha ou com
risco de vida.
2 - As condições especiais que, salvo nos casos de concessão por
serviços excepcionais prestados em campanha ou com risco de vida,
devem ser satisfeitas para atribuição de qualquer grau da Ordem
Militar de Avis são as seguintes:
a) Grã-Cruz: ter sido previamente condecorado com a Grã-Cruz da
Medalha de Mérito Militar ou com a medalha de mérito militar de 1.ª
classe e com uma medalha de ouro de serviços distintos, atribuída
enquanto oficial general;
b) Grande-Oficial: ter sido previamente condecorado com a medalha
de mérito militar de 1.ª classe e com uma medalha de serviços
distintos no posto correspondente ao grau para que é proposto ou, em
alternativa, ter sido previamente condecorado com a medalha de
mérito militar de 2.ª classe e duas medalhas de serviços distintos, uma
das quais no posto correspondente ao grau para que é proposto;
c) Comendador e Oficial: ter sido previamente condecorado com a
medalha de mérito militar de 2.ª classe e com uma medalha de
serviços distintos como oficial superior;

277
d) Cavaleiro ou Dama: ter sido previamente condecorado com a
medalha de mérito militar de 3.ª classe e com uma medalha de
serviços distintos.
3 - O Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, ouvido o
Chefe do Estado-Maior do ramo, ou os Chefes do Estado-Maior dos
ramos, ouvidos os respectivos conselhos superiores, propõem ao
Ministro da Defesa Nacional o agraciamento dos oficiais mais dotados
que satisfaçam globalmente os requisitos fixados nos números
anteriores.
4 - Procedimento análogo ao estabelecido no número anterior,
ajustado à orgânica da Guarda Nacional Republicana, é adoptado pelo
seu comandante-geral, devendo as respectivas propostas ser dirigidas
ao Ministro da Defesa Nacional, por intermédio do Ministro da
Administração Interna.
5 - As propostas de agraciamento devem:
a) Apresentar os fundamentos em que se baseiam, nos termos dos
n.º 1 e 2, nomeadamente:
i) Os louvores que revelam os elevados atributos morais e
profissionais, bem como a descrição dos serviços altamente meritórios
e reconhecidamente relevantes e distintos;
ii) Indicação de que os louvores referidos não serviram de base para a
concessão de outro grau;
iii) Nota biográfica do oficial proposto, destacando as suas
habilitações, colocações e situações, louvores e condecorações;
b) Conter os pareceres dos órgãos mencionados nos n.º 3 e 4,
conforme o caso;
c) Conter um juízo global dos serviços prestados à instituição militar
ou à Guarda Nacional Republicana pelos oficiais propostos.
6 - Ao oficial que deixar de satisfazer as condições previstas na alínea
b) do n.º 1 do presente artigo é aplicável o disposto no artigo 55º da
presente lei.
7 - O disposto nos n.º 3 e 4 do presente artigo não é aplicável aos casos
em que a atribuição da Ordem Militar de Avis ocorra por iniciativa do
Presidente da República e à atribuição do grau de Grã-Cruz aos
almirantes, generais, almirantes da Armada e marechais.

278
Artigo 21.º
Procedimento de concessão

1 - O Chanceler das Antigas Ordens Militares, baseado nas vagas


existentes no quadro da Ordem Militar de Avis e em função dos
respectivos efectivos orgânicos em oficiais dos ramos das Forças
Armadas e da Guarda Nacional Republicana, comunica anualmente,
até 31 de Dezembro, aos Chefes de Estado-Maior dos ramos e ao
Comandante-Geral da Guarda Nacional Republicana o número
máximo de propostas, por graus, que podem apresentar.
2 - As propostas de agraciamento devem dar entrada na Chancelaria
das Ordens Honoríficas Portuguesas, anualmente, até 31 de Março.
3 - A imposição das insígnias da Ordem Militar de Avis é feita em
cerimónia pública, civil ou militar.

Secção IV
Ordem Militar de Sant’Iago da Espada

Artigo 22.º
Finalidade específica

A Ordem Militar de Sant’Iago da Espada destina-se a distinguir o


mérito literário, científico e artístico.

Artigo 23.º
Graus

Os graus da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada são os seguintes:


a) Grande-Colar;
b) Grã-Cruz;
c) Grande-Oficial;
d) Comendador;
e) Oficial;
f) Cavaleiro ou Dama.

279
Artigo 24.º
Distintivo e insígnias
1 - O distintivo da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada é uma cruz
em forma de espada, de esmalte vermelho, perfilada de ouro, assente
sobre duas palmas entrelaçadas, de esmalte verde, perfiladas de ouro,
com a legenda “Ciências, Letras e Artes”, em letras maiúsculas de
ouro, sobre listel de esmalte branco, e a fita violeta.
2 - As insígnias do Grande-Colar da Ordem Militar de Sant'Iago da
Espada são as seguintes:
a) Colar formado por vieiras, com 30 mm x 30 mm, suspensas em
corrente dupla; ao centro, uma vieira, com 35 mm x 35 mm, ladeada
por dois golfinhos; o colar, todo de ouro, tem pendente e encadeado
por uma coroa de louros com os seus frutos, com 25 mm x 32 mm, a
cruz da Ordem, de esmalte violeta e perfilada de ouro, com 40 mm X
60 mm, circundada por um festão de folhas de louro com os seus
frutos, atado com fitas cruzadas nos topos e nos lados, também de
ouro, com 52 mm x 65 mm;
b) Banda de seda da cor da Ordem, com largura de 100 mm para
homem e de 60 mm para senhora, posta a tiracolo da direita para a
esquerda, tendo pendente sobre o laço a cruz idêntica à pendente do
colar, com as dimensões adequadas;
c) Placa dourada em raios, com 70 mm de diâmetro, tendo ao centro a
cruz idêntica à pendente do colar, com as dimensões adequadas.
3 - As insígnias dos restantes graus da Ordem Militar de Sant’Iago da
Espada são as seguintes:
a) Grã-Cruz: banda de seda da cor da Ordem, com largura de 100 mm
para homem e de 60 mm para senhora, posta a tiracolo da direita para
a esquerda, tendo pendente sobre o laço o distintivo, com 65 mm de
comprimento; e placa dourada em raios, com 70 mm de diâmetro,
tendo ao centro um círculo de esmalte branco carregado do distintivo
da Ordem, envolvido por uma coroa circular de esmalte vermelho,
contida em filetes de ouro, com a legenda "Ciências, Letras e Artes",
em letras maiúsculas de ouro, tudo circundado por um festão de louro
de ouro;
b) Grande-Oficial: placa idêntica à de Grã-Cruz;
c) Comendador: placa idêntica à de Grande-Oficial, mas prateada;
d) Oficial: o distintivo da Ordem, com 22 mm X 30 mm, pendente de
uma coroa de louros de esmalte verde perfilada e frutada a ouro, com
20 mm X 14 mm, suspenso de fita, de 30 mm, com fivela dourada, ou

280
de laço, da mesma largura, para as senhoras, e tendo sobre a fivela ou
sobre o nó do laço uma roseta da cor da fita, com 10 mm de diâmetro;
e) Cavaleiro ou Dama: insígnia idêntica à de Oficial, sem roseta.
4 - Além das insígnias descritas no número anterior para os diversos
graus, os agraciados podem usar, nos actos solenes, um colar formado,
alternadamente, de coroas de louros de esmalte verde perfiladas e
frutadas, com 20 mm de diâmetro, e distintivos da Ordem, de 22 mm x
30 mm, tendo pendente e encadeado por uma coroa de louros,
semelhante às anteriores, com 33 mm x 30 mm, o distintivo, com 65
mm x 50 mm, que será, como o colar, de prata esmaltada para o grau
de Cavaleiro ou Dama e de ouro esmaltado para os demais graus.

Capítulo III - Ordens Nacionais

Secção I
Ordem do Infante D. Henrique

[…]

Secção II
Ordem da Liberdade

[…]

Capítulo IV - Ordens de Mérito Civil

Secção I
Ordem do Mérito

[…]

Secção II
Ordem da Instrução Pública

[…]

Secção III
Ordem do Mérito Empresarial

[…]

281
Artigo 40.º
Órgãos das Ordens Honoríficas Portuguesas

1 - O Presidente da República, como Grão-Mestre das Ordens Honoríficas


Portuguesas, superintende na organização, orientação e disciplina das Ordens.
2 - O Grão-Mestre é coadjuvado, no exercício das suas funções, pelos
Chanceleres e pelos Conselhos das Ordens.

Artigo 41.º
Chanceleres

1 - Cada grupo das Ordens Honoríficas Portuguesas dispõe de um Chanceler,


nomeado por decreto do Presidente da República e pelo período do seu
mandato, de entre Grã-Cruzes de uma das Ordens desse grupo.
2 - Os Chanceleres das Ordens tomam posse perante o Presidente da
República.
3 - No impedimento ou ausência prolongada no estrangeiro de um Chanceler,
sob proposta deste o Presidente da República designará, de entre os vogais do
respectivo Conselho, um Vice-Chanceler.

Artigo 42.º
Competência dos Chanceleres

Compete aos Chanceleres das Ordens:


a) Propor ao Presidente da República os membros do respectivo Conselho;
b) Convocar e presidir às reuniões dos Conselhos das Ordens em que
superintendam;
c) Representar o Presidente da República nas cerimónias respeitantes às
mesmas Ordens;
d) Assinar os diplomas de concessão de condecorações das Ordens em que
superintendam;
e) Propor a substituição dos vogais do respectivo Conselho que, por três
faltas seguidas e não justificadas, não compareçam às reuniões para que forem
convocados;
f) Propor a dissolução do Conselho das Ordens a seu cargo sempre que, por
falta de número, seja impossível, por três vezes seguidas, realizar as reuniões
convocadas;
g) Determinar a instauração de processo disciplinar aos membros das Ordens
que infrinjam os seus deveres para com a Pátria, a sociedade ou a Ordem a que
pertencerem;
h) Promover tudo quanto for conveniente para a defesa do prestígio
das Ordens que lhes estão confiadas.

282
Artigo 43.º
Conselho dos Chanceleres

Os Chanceleres das Ordens reúnem em Conselho, secretariado pelo


Secretário-Geral das Ordens, sempre que for conveniente, para coordenarem
tarefas, harmonizarem critérios e procedimentos e tratarem de outros
assuntos de interesse comum às Ordens.

Artigo 44.º
Conselhos das Ordens

1 - Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, cada grupo das Ordens
Honoríficas Portuguesas dispõe de um Conselho, presidido pelo respectivo
Chanceler, e integrado por oito vogais, nomeados por alvará do Presidente da
República e pelo período do seu mandato, de entre Grã-Cruzes, Grande-
Oficiais e Comendadores das respectivas Ordens.
2 - Os vogais da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito
podem ser escolhidos de entre os condecorados com qualquer grau.
3 - Os vogais da Ordem Militar de Avis são sempre oficiais generais, de
preferência de ramos diferentes.
4 - Em cada Conselho há uma representação tanto quanto possível equitativa
das Ordens que compõem o respectivo grupo.
5 - Os membros dos Conselhos das Ordens tomam posse perante o Presidente
da República.
6 - Aos membros dos Conselhos das Ordens, por cada reunião em que
participem, é devido o pagamento das despesas de transporte e estadia
inerentes à deslocação que porventura tenham de fazer.

Artigo 45.º
Competência dos Conselhos das Ordens

Compete aos Conselhos das Ordens:


a) Elaborar os respectivos regimentos;
b) Propor as alterações julgadas necessárias para melhor funcionamento do
respectivo grupo das Ordens;
c) Dar parecer sobre as propostas e solicitações de agraciamento com as
respectivas Ordens;
d) Propor, nos termos da presente lei, a concessão de condecorações com as
suas Ordens;
e) Julgar os processos disciplinares instaurados aos membros das Ordens e
propor ao Presidente da República e Grão-Mestre das Ordens a irradiação dos
mesmos;

283
f) Passar à condição de membro honorário os membros das Ordens que
deixem de ser portugueses nos termos da lei da nacionalidade.
g) Efectivar a irradiação automática dos membros das Ordens que, nos
termos da alínea e), tenham sido irradiados de qualquer Ordem e dos que, por
sentença judicial transitada em julgado, tenham sido condenados pela prática
de crime doloso punido com pena de prisão superior a 3 anos.
Capítulo VI - Concessão das Ordens e Investidura

Artigo 46.º
Competência do Presidente da República

1 - A concessão de qualquer grau das Ordens Honoríficas Portuguesas é da


exclusiva competência do Presidente da República como Grão-Mestre das
Ordens.
2 - A competência referida no número anterior pode ser exercida por iniciativa
própria do Presidente da República ou por proposta das entidades
mencionadas no artigo 47º.
3 - Sem prejuízo do disposto no número seguinte, o grau de Grande-Colar
destina-se a agraciar Chefes de Estado.
4 - O Grande-Colar pode ainda ser concedido, por decreto do Presidente da
República, a antigos Chefes de Estado e a pessoas cujos feitos, de natureza
extraordinária e especial relevância para Portugal, os tornem merecedores
dessa distinção.
5 - O Presidente da República pode conceder o título de membro honorário a
colectividades ou instituições dispensando os requisitos previstos no n.º 5 do
artigo 3.º da presente lei.

Artigo 47.º
Propostas para concessão de Ordens Honoríficas

1 - O Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro podem


propor a concessão dos graus de qualquer Ordem a cidadãos nacionais ou
estrangeiros.
2 - A iniciativa das propostas apresentadas pelo Primeiro-Ministro pode partir
de qualquer dos ministros.
3 - A iniciativa das propostas de concessão da Ordem Militar de Avis é
reservada ao ministro responsável pela Defesa Nacional, ouvido o Chefe do
Estado-Maior-General das Forças Armadas ou os Chefes dos Estados-Maiores
do Exército, da Armada ou da Força Aérea, consoante o ramo a que pertença o
agraciado, sendo formalizada pelo Primeiro-Ministro.
4 - Os Conselhos das Ordens podem propor a concessão de qualquer grau das
respectivas Ordens, por iniciativa de qualquer dos seus membros ou no termo

284
da apreciação das solicitações de agraciamento formuladas por quaisquer
cidadãos ou entidades.
5 - A concessão de qualquer condecoração a cidadãos estrangeiros, quando
não seja da iniciativa do Presidente da República ou por proposta do
Presidente da Assembleia da República ou do Primeiro-Ministro, é precedida
de informação do ministro responsável pelos Negócios Estrangeiros.

Artigo 48.º
Forma e conteúdo das propostas e reserva do direito de acesso

1 - As propostas de concessão de qualquer grau das Ordens Honoríficas


Portuguesas devem ser devidamente fundamentadas e assinadas pela entidade
proponente.
2 - Os fundamentos exigidos para a concessão do título de membro honorário
de uma Ordem a localidades, colectividades e instituições devem ser provados
pela entidade proponente, em documentação anexa à proposta, quando não
constituam factos notórios.
3 - É especialmente obrigado ao dever de sigilo quem aceder, no exercício e
por causa das suas funções, à documentação referida nos números anteriores.

Artigo 49.º
Forma do acto de concessão

1 - A concessão reveste a forma de alvará, a publicar, integralmente ou por


extracto, na 2.ª Série do Diário da República.
2 - Concedida a condecoração, a Chancelaria das Ordens emite o
correspondente diploma, assinado pelo Chanceler da respectiva Ordem e
autenticado com o selo branco da Chancelaria.
3 - Os diplomas respeitantes ao grau de Grande-Colar são também assinados
pelo Presidente da República.

Artigo 50.º
Investidura

1 - A investidura consiste na imposição das insígnias ao agraciado por quem


presidir ao acto cerimonial.
2 - A investidura de cidadãos portugueses é precedida da assinatura do
compromisso de honra de observância da Constituição e da Lei e de respeito
pela disciplina própria das Ordens Honoríficas Portuguesas.
3 - A investidura é solene quando o Presidente da República e Grão-Mestre
das Ordens o determinar no despacho de concessão.
4 - Na investidura solene, a imposição de insígnias é precedida da leitura do
alvará da concessão.

285
5 - A investidura solene tem lugar em acto presidido pelo Presidente da
República.
6 - O Presidente da República pode deferir ao Presidente da Assembleia da
República ou ao Primeiro-Ministro a imposição de insígnias, nomeadamente
em agraciamentos resultantes de proposta dos mesmos.
7 - O Presidente da República pode ainda, por expressa delegação sua,
encarregar da imposição das insígnias os Chanceleres das respectivas Ordens,
os Membros do Governo, os Representantes da República nas Regiões
Autónomas, em actos a realizar nelas, os Chefes de Estado-Maior ou o
Embaixador de Portugal no país onde a cerimónia ocorra.
8 - Nos casos previstos nos números 6 e 7 do presente artigo, é obrigatório que
na cerimónia de imposição de insígnias seja feita a leitura do alvará de
concessão bem como a referência de que a imposição é feita em nome de Sua
Excelência o Presidente da República.
9 - Quando a condecoração haja sido concedida com palma, a investidura tem
lugar em formatura de tropas.
10 - A solenidade da investidura pode ser simplificada em circunstâncias
especiais.

Capítulo VII - Direitos e deveres dos membros das Ordens

Artigo 51.º
Membros das Ordens

1 - São membros das Ordens Honoríficas Portuguesas todos os cidadãos ou


entidades agraciadas nos termos da presente lei.
2 - Os membros das Ordens Honoríficas Portuguesas pertencem a uma das
categorias seguintes:
a) Titulares;
b) Honorários.
3 - Membros titulares são os cidadãos portugueses condecorados com
qualquer grau da Ordem a que pertencem.
4 - Membros honorários são os cidadãos estrangeiros, as unidades e
estabelecimentos militares, os corpos militarizados e as localidades,
colectividades ou instituições condecoradas com qualquer Ordem.

Artigo 52.º
Direitos dos membros das Ordens

1 - Os membros titulares das Ordens Honoríficas Portuguesas têm direito ao


uso das insígnias que lhes tiverem sido concedidas e às honras e precedências
constantes da presente lei.

286
2 - Os membros honorários das Ordens Honoríficas Portuguesas têm
unicamente o direito ao uso das insígnias do seu grau.
3 - Os membros honorários a que se referem os números 4 e 5 do artigo 3.º da
presente lei podem usar as insígnias da Ordem no escudo, brasão ou selo que
os identifique e, quando possuam bandeira ou estandarte, laço com as cores da
Ordem, tendo pendente o distintivo respectivo.

Artigo 53.º
Direitos específicos dos membros de algumas Antigas Ordens Militares

1 - Os militares agraciados com qualquer grau das Ordens Militares da Torre e


Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, e de Avis, quando ostentem as
respectivas insígnias, têm direito ao uso do uniforme militar, seja qual for o
seu quadro ou situação e mesmo depois de deixarem a efectividade de serviço.
2 - Os condecorados com qualquer grau da Ordem Militar da Torre e Espada,
do Valor, Lealdade e Mérito têm preferência na admissão em estabelecimentos
sociais administrados pelo Estado e o direito a uma pensão, correspondente ao
salário mínimo nacional e cumulável com quaisquer outras que lhes sejam
devidas, se carecerem de meios de subsistência suficientes.
3 - A concessão da pensão referida no número anterior e a sua transmissão aos
cônjuges sobrevivos, ou às pessoas que tenham vivido em situação similar à
dos cônjuges, e aos filhos menores é isenta de quaisquer emolumentos ou
impostos.
4 - Em memória dos agraciados com as Ordens Militares da Torre e Espada,
do Valor, Lealdade e Mérito, e de Avis, os seus órfãos têm preferência absoluta
na admissão nos estabelecimentos de ensino militar, bem como nos
estabelecimentos escolares dependentes dos departamentos militares.

Artigo 54.º
Deveres dos membros das Ordens

1 - São deveres dos membros titulares das Ordens Honoríficas Portuguesas:


a) Defender e prestigiar Portugal em todas as circunstâncias;
b) Regular o seu procedimento, público e privado, pelos ditames da virtude e
da honra;
c) Acatar as determinações e instruções do Conselho da respectiva Ordem;
d) Dignificar a sua Ordem por todos os meios e em todas as circunstâncias.
2 - Os membros honorários têm o dever de não prejudicar, de modo algum, os
interesses de Portugal.

287
Artigo 55.º
Disciplina das Ordens

1 - Sempre que haja conhecimento da violação de qualquer dos deveres


enunciados no artigo anterior, deve ser instaurado processo disciplinar,
mediante despacho do Chanceler do respectivo Conselho.
2 - Para instrutor do processo é designado no mesmo despacho um membro
da Ordem de grau superior ao do arguido, ou do mesmo grau, se for Grã-Cruz.
3 - No processo disciplinar é diligência impreterível a audiência do arguido, ao
qual deve ser entregue nota de culpa e facultada a apresentação de defesa.
4 - Concluída a instrução, é o processo presente ao respectivo Conselho e nele
relatado pelo instrutor, que assiste à reunião, sem voto.
5 - Se a acusação for julgada procedente, é imposta ao arguido, conforme a
gravidade da falta e do desprestígio causado à Ordem, a sua admoestação ou
irradiação.
6 - A admoestação é da competência do Chanceler e consiste na repreensão do
infractor, pessoalmente ou por escrito.
7 - A irradiação dos quadros da Ordem tem a mesma forma do acto de
concessão e implica a privação do uso da condecoração e a perda de todos os
direitos a ela inerentes.

Capítulo VIII - Uso das insígnias das Ordens Honoríficas

Artigo 56.º
Uso de distintivos e insígnias nacionais

1 - Os condecorados com mais de um grau de qualquer das Ordens usam só a


insígnia correspondente ao mais elevado, com excepção do disposto no artigo
10.º para os condecorados com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor,
Lealdade e Mérito ou quando as condecorações hajam sido concedidas com
palma.
2 - As condecorações concedidas com palma têm sobre a fita uma palma
dourada colocada horizontalmente da esquerda para a direita.
3 - Não é permitido o uso simultâneo de duas ou mais bandas, e só pode ser
usada uma insígnia pendente do pescoço, qualquer que seja o grau a que
corresponda.
4 - As unidades e estabelecimentos militares e os corpos militarizados aos
quais houver sido conferido uma condecoração usam sobre o laço da bandeira
de desfile ou estandarte outro laço de fitas da cor da ordem, de 0,1 m de
largura, franjadas de ouro, tendo pendente numa das pontas o respectivo
distintivo.
5 - As localidades, colectividades e instituições que sejam membros honorários
de uma Ordem têm direito a usar o laço definido no número anterior na

288
respectiva bandeira de desfile ou estandarte oficial, quando os possuam, não
devendo os laços das condecorações ser usados cumulativamente com
quaisquer adornos ou com outras insígnias.

Artigo 57.º
Uso das insígnias de Grande-Colar

1 - O Grande-Colar pode ser usado em simultâneo com a Banda do Grande-


Colar e é sempre usado com a respectiva placa.
2 - Os agraciados com o Grande-Colar de qualquer das Ordens, podem optar
por usar apenas a Banda do Grande-Colar, desde que acompanhada da placa.

Artigo 58.º
Uso das insígnias de Grã-Cruz

1 - Com a Banda de Grã-Cruz é usada sempre a respectiva placa.


2 - Nos casos da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e
Mérito e da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, os agraciados com a Grã-
Cruz podem usar, em simultâneo, a banda de Grã-Cruz e o colar
correspondente, ou apenas este, mas sempre acompanhado da respectiva
placa.

Artigo 59.º
Uso de distintivos e insígnias nacionais e estrangeiras

1- As insígnias das condecorações nacionais precedem as estrangeiras e as das


Ordens Honoríficas Portuguesas são colocadas, da direita para a esquerda, no
lado esquerdo do peito, pela seguinte ordem de precedência:
– Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito;
– Cristo;
– Avis;
– Sant'Iago da Espada;
– Infante D. Henrique;
– Liberdade;
– Mérito;
– Instrução Pública;
– Mérito Empresarial.
2 - Quando as insígnias das condecorações não se contenham numa só linha, a
ordem de precedência começa pela linha superior.
3 - Por ocasião de um encontro diplomático, o agraciado com condecorações
do país com quem se realiza o encontro pode usá-las em simultâneo com
condecorações nacionais, precedendo nesse caso a condecoração estrangeira.
4 - Com trajo civil que não seja de gala:

289
a) Os detentores do grau de Cavaleiro, podem usar, no lado esquerdo do peito,
uma fita das cores da ordem;
b) Os agraciados com os graus de Oficial, Comendador, Grande-Oficial e Grã-
Cruz podem usar, respectivamente e também no lado esquerdo do peito, uma
roseta de 8 mm de diâmetro, com as cores da respectiva Ordem, a qual tem
galão de prata para os comendadores, de ouro e prata para os grandes-oficiais
e de ouro para os Grã-Cruzes; e os agraciados com o Grande-Colar, uma roseta
de 12 mm de diâmetro, com as cores da Ordem, filetada interiormente de
ouro.
5 - Nas cerimónias solenes, os agraciados com diversas condecorações podem
usar as miniaturas dos respectivos distintivos e fitas suspensas de uma
corrente ou de uma pequena barra metálica, colocada no topo do peito, do
lado esquerdo dos uniformes ou dos vestidos, ou na lapela esquerda dos trajos
ou uniformes adequados.
6 - Nos uniformes em que é permitido o uso de fitas são elas aplicadas, sem
fivelas, numa ou mais placas metálicas colocadas horizontalmente, sem
intervalo, sobrepondo-se às fitas as rosetas definidas na alínea b) do n.º 4 para
o respectivo grau.
7 - As miniaturas das senhoras podem suspender de um pequeno laço das
cores da Ordem.

Capítulo IX - Uso indevido de condecorações

Artigo 60.º
Uso indevido de distintivos e insígnias

1 - Sem prejuízo do disposto no artigo 67.º da presente lei, em todo o território


nacional, nos postos diplomáticos de Portugal e a bordo de aeronaves ou
embarcações de pavilhão nacional é vedado aos cidadãos nacionais o uso de
insígnias das Ordens Honoríficas Portuguesas que não tenham sido conferidas
pelo Presidente da República, ou de Ordens estrangeiras cuja aceitação não
tenha sido autorizada pelo mesmo, quando tal seja legalmente necessário.
2 - Aos cidadãos nacionais e aos estrangeiros em Portugal é também vedado o
uso, em público, de quaisquer insígnias de Ordens honoríficas não instituídas
pela República Portuguesa e pelos Estados e entidades, internacionalmente
reconhecidos, que detenham tal poder.
3 - Nos casos referidos nos números anteriores, os infractores ficam sujeitos à
responsabilidade criminal por abuso de designação, sinal ou uniforme,
prevista no Código Penal.

290
Capítulo X - Aceitação de condecorações estrangeiras

Artigo 61.º
Pedido de autorização

1 - O pedido de autorização para aceitar condecorações estrangeiras é dirigido


ao Presidente da República, com a indicação do nome, profissão e residência
do requerente, bem como dos necessários elementos de identificação do
agraciamento, e apresentado, com o respectivo diploma, na Chancelaria da
Ordem ou a esta endereçado.
2 - O pedido, instruído com as informações necessárias do Ministério dos
Negócios Estrangeiros, é submetido a despacho do Presidente da República.
3 - O despacho de autorização para a aceitação da condecoração estrangeira é
publicado no Diário da República, 2ª série, e comunicado ao interessado e à
Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas para efeitos de registo do
respectivo diploma de agraciamento.

Artigo 62.º
Dispensa do pedido de autorização

1 - Estão dispensados do pedido de autorização para aceitação de


condecorações estrangeiras, sem prejuízo do registo dos respectivos diplomas
de agraciamento, o Presidente da República e o seu cônjuge, os presidentes
dos demais Órgãos de Soberania e dos órgãos de governo próprio das Regiões
Autónomas, os membros do Governo, os chefes dos estados-maiores das
Forças Armadas, bem como o pessoal da Presidência da República e dos
gabinetes das entidades anteriormente referidas, quando agraciados, uns e
outros, nessa qualidade.
2 - O disposto no número anterior é extensivo às entidades integradas nas
comitivas do Presidente da República, do Presidente da Assembleia da
República ou do Primeiro-Ministro em actos oficiais no estrangeiro ou
agraciados por ocasião de encontros de natureza diplomática em Portugal.

Capítulo XI - Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas

Artigo 63.º
Natureza e finalidade

1 - A Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas é o serviço destinado a


assegurar o regular funcionamento das Ordens, integrado na Presidência da
República e dirigido pelo respectivo Secretário-Geral, que, por inerência, será
o Secretário-Geral das Ordens.

291
2 - A Chancelaria das Ordens está a cargo de um coordenador nomeado pelo
Secretário-Geral da Presidência da República de entre o pessoal da Secretaria-
Geral.

Artigo 64.º
Competência do Secretário-Geral das Ordens

Compete ao Secretário-Geral das Ordens:


a) Manter o Presidente da República ao corrente das deliberações dos
Conselhos das Ordens e submeter a seu despacho as propostas que
dependerem da sua resolução;
b) Assistir tecnicamente os Conselhos das Ordens;
c) Secretariar, sem voto, as reuniões de todos os Conselhos e assistir os
chanceleres na execução das deliberações tomadas, ficando a seu cargo a
redacção e arquivo das respectivas actas;
d) Superintender os serviços da Chancelaria das Ordens;
e) Promover quaisquer estudos e trabalhos de investigação com vista ao
esclarecimento de assuntos respeitantes às Ordens, nomeadamente a
organização de um arquivo histórico, donde conste o nome e outros elementos
relativos a individualidades agraciadas.

Artigo 65.º
Competência da Chancelaria das Ordens

Compete à Chancelaria das Ordens:


a) Assegurar o expediente relativo às Ordens Honoríficas;
b) Registar todas as condecorações concedidas, bem como as autorizações de
aceitação de condecorações estrangeiras a cidadãos portugueses e essas
mesmas, quando a autorização seja legalmente dispensada;
c) Promover a organização de publicações no âmbito da sua competência,
nomeadamente o Anuário das Ordens Honoríficas Portuguesas;
d) Promover a divulgação pública da informação relativa às Ordens
Honoríficas Portuguesas, aos agraciamentos e à respectiva base de dados
através do sítio da Internet da Chancelaria das Ordens;
e) Desempenhar as tarefas administrativas necessárias ao regular
funcionamento das Ordens.

Artigo 66.º
Apoio técnico e administrativo

A Chancelaria das Ordens é apoiada técnica e administrativamente pelos


serviços competentes da Secretaria-Geral da Presidência da República.

292
Capítulo XII - Disposições transitórias e finais

Artigo 67.º
Extinta Ordem do Império

Os agraciados com a extinta Ordem do Império mantêm o direito ao uso das


respectivas insígnias.

Artigo 68.º
Esboços das insígnias

Os esboços das insígnias descritas no articulado da presente lei constam do


anexo, que dela faz parte integrante.

Artigo 69.º
Mandatos dos Chanceleres e dos vogais dos Conselhos das Ordens

Os mandatos dos Chanceleres e dos vogais dos Conselhos das Ordens


actualmente em funções cessam com o termo do mandato presidencial em
curso.

Artigo 70.º
Revogações

São revogados:
a)Os Decretos-Leis nºs 414-A/86, de 15 de Dezembro, 85/88, de 10 de Março,
e 80/91, de 19 de Fevereiro;
b) Os Decretos Regulamentares nºs 71-A/86, de 15 de Dezembro, 12/88, de 10
de Março, 18/89, de 6 de Julho, 15/90, de 8 de Junho, 4/91, de 19 de
Fevereiro, e 12/2003, de 29 de Maio.

Artigo 71.º
Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor no dia da posse do Presidente da República eleito


no início do ano em curso.

Aprovado em 21 de Janeiro de 2011


O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA,
(Jaime Gama)

293
294
Regras para o uso das Insígnias das
ORDENS HONORÍFICAS PORTUGUESAS
com traje civil de gala ou uniforme
correspondente

As Insígnias das Ordens Militares Honoríficas Portuguesas são


Insígnias de Grande-modelo (na nomenclatura adoptada pelo Embaixador
Hélder de Mendonça e Cunha 100), também designadas Grandes Insígnias,
expressão utilizada pelo Embaixador José Calvet de Magalhães 101:
As Insígnias de Grande-modelo podem ser usadas apenas em
cerimónias solenes que exijam o uso de traje de gala (uniforme civil, isto é,
farda de gala, grande uniforme ou casaca, usados pelos membros do corpo
diplomático; uniforme militar ou das forças militarizadas; vestido cumprido
ou traje de noite, pelas Senhoras) obedecendo o seu uso a regras específicas,
de acordo com os artigos 19º, 20º e 21º, n. 1 e 2, do Regulamento das Ordens
Honoríficas Portuguesas.

Distintivo

O distintivo é o principal símbolo das Ordens Militares Honoríficas


Portuguesas e assume normalmente a forma de uma Cruz, de uma Estrela, de
cinco ou de nove pontas ou, de uma Jóia. Neste último caso, pode ainda
revestir a forma de um Medalhão 102, ou de duas Palmas entrelaçadas 103.
O distintivo varia normalmente de dimensão, consoante os graus e as Ordens,
correspondendo às diversas modalidades do seu uso:

a) Suspenso de fita ao peito;


b) Suspenso de uma fita (gravata) colocada à volta do pescoço;
c) Suspenso sobre o laço da Banda.

Assim, o Distintivo assume maior dimensão nos Grandes-colares e graus de


Grã-cruz, Grande-oficial e de Comendador e dimensão inferior nos graus de
Oficial, Cavaleiro/Dama, ou medalha, nas Ordens que a possuem.

100 Cf. Manual Diplomático – Direito Diplomático e Prática Diplomática, Lisboa, 1985,
p. 91.
101 Idem, p. 186.
102 É o caso da Ordem da Liberdade.
103 Como no caso da Ordem da Instrução Pública.

295
Fita

As Fitas são de seda, por vezes moiré, numa ou mais cores, e de dimensões
diferentes consoante o grau. Nalguns casos, são partidas ou tripartidas, em
palas, iguais ou desiguais ou, de uma cor, com pala central de cor diferenciada.
Nos graus de Grande-oficial e de Comendador a Fita, tem a forma de gravata,
usada à volta do pescoço, variando entre 37 mm e 55 mm de largura. Em
Portugal, esta medida não se encontra regulamentada, variando consoante as
dimensões do respectivo Distintivo pendente e do critério e bom senso dos
fabricantes.
Nos graus de Oficial, Cavaleiro/Dama e, na medalha, tem, regra geral, 30 mm
de largura, sendo usada ao peito, do lado esquerdo.
Em algumas Ordens, as Fitas usadas como insígnia, ao peito, podem ser
carregadas de distintivos especiais, como uma palma.
Para uso nos uniformes adequados e de acordo com regras próprias, existe
uma insígnia para o peito, a Fita de uniforme, vulgarmente apelidada
medalha, em tudo semelhante às insígnias usadas ao peito pelos graus de
Cavaleiro e Oficial, sendo constituída por uma fita das cores da Ordem (de 30
mm de largura) e tendo pendente o distintivo no formato adequado. Às
referidas Fitas sobrepõem-se as rosetas de acordo com o grau.

Placa

As Placas podem assumir várias formas: pentagonais, de raios abrilhantados


ou não, de cruz ou, de estrela de nove ou cinco pontas. Podem ainda ser de
prata ou de ouro, consoante os graus, e podem ter sobreposto ao centro, o
distintivo da Ordem, contido ou não por listel, acompanhado do mote da
Ordem, ou outra legenda.
As Placas, que são geralmente usadas por Grã-cruzes, Grandes-oficiais e
Comendadores, do lado esquerdo do peito, com traje de gala, têm a sua origem
na Cruz de pano usada pelos cavaleiros das antigas Ordens monástico-
militares e nas Ordens de cavalaria cozida nos seus mantos. A partir do
Renascimento passou a usar-se bordada em seda nas jaquetas ou mantos e,
por vezes, era acrescentada de raios em forma de estrela.

Banda

A Banda é a Fita própria da Grã-cruz, tecida por vezes em seda moiré,


terminando em forma de laço, tendo pendente sobre o mesmo o distintivo da
Ordem, numa dimensão idêntica à adoptada na insígnia do grau de
Comendador. A largura e comprimento da Banda não estão regulamentadas
embora, normalmente, assumam uma largura, que varia entre 100 mm - 101
mm.

296
No caso das Senhoras, porém, é habitual verem-se, sobretudo, no Reino Unido
e na França, Bandas e os respectivos distintivos de dimensões inferiores (de 55
mm de largura e, o distintivo com 60 mm de diâmetro, em vez dos 70 mm
regulamentares), mais consentâneos com a estética e os vestidos cumpridos de
cerimónia, com os quais são usadas estas insígnias.
A Banda é usada a tiracolo, da direita para a esquerda, devendo o distintivo
que pende do respectivo laço, ser colocado sobre a anca esquerda.

Grande-Colar e Colar

As Ordens da Torre e Espada e de Santiago da Espada, têm também o Grande-


Colar, insígnia privativa do grau especial do mesmo nome.
O Grande-Colar, de ouro, tem pendente e encadeado por coroa de louros, ou
outro símbolo, o Distintivo da Ordem.
As Ordens Militares da Torre e Espada e de Santiago da Espada têm ainda um
Colar como insígnia especial para actos solenes, o qual pode ser usado pelos
agraciados em qualquer grau. Este, pode ser de ouro ou prata, consoante os
graus, embora de menores dimensões que o Grande-Colar, tendo também
pendente e encadeado por um símbolo, o respectivo Distintivo, de dimensões
diferentes das do Grande-Colar.
Os colares são usados à volta do pescoço assentes sobre os ombros.

Miniaturas

As Miniaturas reproduzem os distintivos e as fitas das respectivas Ordens,


suspensas de uma corrente ou de uma pequena barra metálica colocada no

297
topo do peito, do lado esquerdo dos uniformes ou dos vestidos, ou na lapela
esquerda da casaca.
O tamanho das Miniaturas varia de país para país e, em Portugal tal não se
encontra também regulamentado.
Nas Miniaturas, às respectivas fitas sobrepõem-se as Rosetas (de tamanho
reduzido proporcional) colocadas sobre um galão - de ouro, de ouro e prata ou,
de prata -, conforme o grau seja, respectivamente, Grã-cruz, Grande-oficial ou
Comendador e, sem galão, para o grau de Oficial. No grau de Cavaleiro/Dama
e na medalha, a miniatura é usada sem Roseta.
As Fitas-miniatura ou barrettes para os uniformes militares adequados
(normalmente, uniforme de passeio) são usadas numa ou mais placas
metálicas, colocadas horizontalmente sem intervalo, sem fivelas e, sem
qualquer distintivo pendente. As dimensões das Fitas-miniatura das Ordens
Honoríficas não se acham regulamentadas embora, sejam fabricadas
normalmente, com cerca de 10 mm de altura x 30mm de largura.
Para além das insígnias de grande modelo, nas cerimónias solenes e com traje
de gala, os agraciados com diversas condecorações poderão usar as respectivas
Miniaturas.
As Miniaturas usam-se suspensas de uma corrente ou de uma pequena barra
metálica, colocada do lado esquerdo dos uniformes ou dos vestidos, ou na
lapela esquerda da casaca, em uma ou duas filas, no máximo.

1. Os condecorados com mais de um grau de qualquer das Ordens, poderão


usar apenas as insígnias correspondentes a um dos graus (geralmente o mais
elevado), excepto, para os condecorados com a Ordem Militar da Torre e
Espada que poderão usar as insígnias dos vários graus que detenham ou,
ainda, quando esta condecoração haja sido outorgada com palma, isto é, para
premiar feitos heróicos em campanha, consoante o art. 36º, n. 3 e 4 da Lei
Orgânica das Ordens Honoríficas Portuguesas.

2. Para os agraciados com o grau de Grã-cruz de duas ou mais Ordens, só é


permitido o uso de uma Banda de Grã-cruz.

3. Também só poderá ser usada uma insígnia pendente do pescoço, qualquer


que seja o grau a que corresponda: Fitas dos graus de Comendador e de
grande-oficial nas Ordens em que tais insígnias existem e, dos graus de
Cavaleiro e Oficial, no caso das Ordens Militares de Cristo e de Avis.

4. Por idênticas razões, só deverá ser usado um Grande-Colar ou, um Colar,


assente sobre os ombros. No caso do Grande-Colar da Ordem Militar da Torre
e Espada, não é permitido o uso de quaisquer outras insígnias.

298
5. De acordo com prática consagrada internacionalmente, a Banda de Grã-
cruz deverá ser usada por cima do colete, quando em cerimónias presididas
pelo grão-mestre da Ordem e, por debaixo do colete nos restantes casos.
Idêntica regra deverá ser adoptada, por cortesia, quando se usar a Banda de
uma ordem estrangeira na presença do respectivo Chefe de Estado.

6. As Placas com traje de gala civil, usam-se (até o máximo de quatro) no lado
esquerdo do peito, colocando-se ao alto a da Ordem mais importante, de
acordo com o seguinte esquema, estabelecido pelo Embaixador H. Mendonça e
Cunha, antigo Chefe do Protocolo do Estado:

Uso de Insígnias por Senhoras com traje de gala

Não existem regras específicas para as insígnias a usar por Senhoras,


com traje de gala (vestido cumprido), no entanto, acham-se consagradas as
seguintes:

No grau de Grã-cruz, a largura da Fita de seda poderá ser encurtada


para cerca de 55 mm x 71 mm, devendo-se reduzir proporcionalmente as
dimensões do distintivo, pendente sobre o laço.
Nos graus de Grande-oficial e Comendador, o pendente de uma Fita da
cor da Ordem, sob a forma de laço, no lado esquerdo do casaco ou vestido, em
substituição da fita suspensa do pescoço;
Nos graus de Oficial e Dama, o Distintivo suspenso de Fita em forma
de laço, pendente ao peito no lado esquerdo do casaco ou vestido.

Precedências

De acordo com o art. 22º, nº 1 da Lei Orgânica das Ordens


Honoríficas Portuguesas, as insígnias das Ordens Honoríficas Portuguesas

299
precedem sempre as estrangeiras, sendo as Fitas (quer na casaca para os graus
de Cavaleiro e Oficial, quer, para todos os demais graus nos uniformes
adequados) e as Miniaturas (em que as respectivas insígnias se colocam por
definição, lado a lado), dispostas da direita para a esquerda, no lado esquerdo
do peito, pela seguinte ordem de precedência: Torre e Espada, Cristo, Avis e
Santiago da Espada.
Às insígnias das Ordens e de outras condecorações portuguesas,
seguem-se as insígnias das Ordens e de outras condecorações estrangeiras de
uso autorizado, devendo adoptar-se a ordem alfabética dos respectivos
Estados, nunca seguindo, como se verifica em outros países, a ordem da
outorga da condecoração ou a data de instituição da respectiva Ordem.
Em cerimónias onde esteja presente um Chefe de Estado ou Chefe do
Governo estrangeiro é de cortesia usar-se em lugar de destaque a
condecoração do respectivo país.

Uso de Insígnias com traje civil que não seja de gala

Com traje de passeio, na botoeira do lado esquerdo dos casacos o


Cavaleiro e os detentores de medalhas usam uma pequena fita com as cores da
Ordem envolvendo a botoeira do lado esquerdo do casaco.

Oficial: usa uma roseta, de 8 mm de diâmetro, com as cores da fita da


Ordem;
Comendador: usa uma roseta igual, com galão de prata.
Grande-Oficial: usa uma roseta igual, com galão de ouro e prata.
Grã-Cruz: usa uma roseta igual, com galão de ouro.
Grande-Colar: usa uma roseta, de 12 mm de diâmetro, com as cores da
Ordem, filetada interiormente de ouro.

Não é permitido, nem recomendável, usar mais de uma roseta na lapela


do casaco ou no vestido, no caso das Senhoras.
Com os sobretudos ou gabardinas e outros agasalhos não devem ser
usadas quaisquer insígnias, dado que os mesmos se destinam a ser usados ao
ar-livre e depositados, quando no interior, em bengaleiros.
Tratando-se, porém, de cerimónias ao ar-livre, para as quais seja necessário
usar sobretudo, são permitidas as respectivas rosetas na botoeira da lapela, do
lado esquerdo.

300
Uso de Rosetas por Senhoras com traje de passeio, do lado
esquerdo do peito

As Rosetas são Fitas com as cores da Ordem (geralmente de 8 mm de


diâmetro) fabricadas de modo a poderem ser colocadas na botoeira da lapela
esquerda dos casacos.
Para além destas, existe outro tipo, de maior dimensão (10 mm), que se
sobrepõe às Fitas usadas pelo grau de Oficial com traje de cerimónia.
Damas e detentoras de Medalhas podem usar um pequeno laço das
cores da Fita da Ordem.
Os restantes graus poderão usar as respectivas Rosetas, sobre um
pequeno laço das mesmas cores.

Uso de Insígnias com casaca (traje de noite)


ou vestido equiparado

Em Portugal, não devem ser usadas quaisquer insígnias com smoking


ou uniforme civil equivalente.
No caso do fraque, uma vez que ele se destina a ser usado em
cerimónias diurnas, não é igualmente autorizado o uso de quaisquer insígnias
embora, seja tolerado o uso de Rosetas na lapela, conforme sustenta o
Embaixador José Calvet de Magalhães.
No entanto, em nenhuma circunstância, se deverão usar Miniaturas
com o fraque, quer na botoeira, quer na lapela.

301
302
Manuel J. Gandra

Natural de Lisboa, nascido em 27 de Outubro de 1953.


Licenciado em Filosofia, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de
Lisboa (1979). Investigador especialista em diversas áreas do conhecimento,
tais como: História e Geografia Míticas de Portugal, Filosofia Hermética,
Iconologia da Arte Portuguesa, Emblemática e Cultura e História Mafrenses.
Leccionou nos Ensinos Preparatório e Secundário, bem como na Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Foi Coordenador
dos Serviços de Cultura da Câmara Municipal de Mafra (entre 1989 e 2003),
Director do Centro de Documentação e Informação de História Local do
Concelho de Mafra (entre 2006 e 2010) e Director Científico da Biblioteca
António Quadros - IADE-U (entre 2000 e 2016). Foi Comissário de diversas
exposições e mostras, designadamente, da Exposição Mafra - do Regicídio ao
5 de Outubro, destinada ao Palácio Nacional de Mafra e integrada nas
Comemorações oficiais do Centenário da Implantação da República (2010).
Presentemente, é Professor no IADE-U, Instituto de Arte, Design e Empresa -
Universitário, bem como colaborador da UNIDCOM (idem) e do CLEPUL
(Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa). Dirige o Centro
Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica (www.imub.org), que fundou no
ano de 1997. É convidado assíduo de diversas séries do Canal História.
Membro do Conselho Consultivo dos periódicos Nova-Águia (Portugal) e Ideo
(Brasil), e co-director do periódico científico Cadernos da Tradição – História
e Identidade dos Povos de Língua Portuguesa, editado no Rio de Janeiro. Tem
colaboração dispersa em vários periódicos, salientando-se: Boletim Cultural
de Mafra, Região Saloia, Idade da Imagem, Nova Águia, Boletim do Centro

303
Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica, Cadernos da Tradição (1ª e 2ª
séries), etc.
É autor de vasta bibliografia, de que se destaca:
Bibliografia crítica das fontes e estudos respeitantes ao Hermetismo em Portugal (1993); Apocalipse
de Esdras nas letras e na arte portuguesas (1994); Icones Symbolicae – contributo para o
conhecimento da recepção e difusão da Cultura Simbólica em Portugal e sua presença na Biblioteca
do Palácio Nacional de Mafra (1996); Cheiros, Sabores e Comeres regionais de Mafra: tradição e
modernidade (1998); Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica (1999); A Cerâmica
tradicional de Mafra (1999); Os Templários na Literatura (2000); Colecção Maçónica Pisani
Burnay (2000); A Cristofania de Ourique: mito e profecia (2002); O Monumento de Mafra de A a Z
– v. 1 (2002); Dicionário do Milénio Lusíada – v. 1 (2003); A Biblioteca do Palácio Nacional de
Mafra (2003); Cartas de Jogar e Tarot em Portugal (2004); Para um elenco das edições impressas
das Trovas do Bandarra, in Newsletter do Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica, n. 17
(Mar. 2004); Para um elenco dos comentários impressos das Trovas do Bandarra, in Newsletter do
Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica, n. 18 (Mar. 2004); Bandarra na Poética
Portuguesa - séc. XVII a XX (2005); Disparates sentenciosos, do Mestiço de Malaca (2005);
Emblemas e Leitura da Imagem Simbólica no Palácio Nacional de Mafra (2005); O Monumento de
Mafra visto por estrangeiros - 1716-1908 (2005); O Projecto Templário e o Evangelho Português
(2006); O Monumento de Mafra de A a Z – v. 2 (2006); Trovas ou Disparates do Pretinho do Japão
(2007); Processo Inquisitorial de Gonçalo Anes Bandarra, sapateiro da Vila de Trancoso, ano de
1541 (2007); A Jerusalém Celeste como paradigma dos Impérios ou Teatros do Divino (2007); Do
Desejado ao Encoberto: roteiro de uma exposição virtual (2007); Colectânea das principais
censuras e interditos visando os Impérios do Divino Espírito Santo (2007); O Anjo Custódio de
Portugal (2007); Cesare Ripa na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra e ecos da sua Iconologia
(Roma, 1603) nas Artes em Portugal (2007); Portugal Sobrenatural – v. 1 (2007); Da Face Oculta
do Rosto da Europa - 2ª ed. revista e ampliada (2009); Astrologia em Portugal: dicionário histórico-
filosófico (2010); Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso – subsídios para a sua
história (2012); Sebástica manuscrita na Biblioteca do Congresso (2012); Templarismo manuscrito
na Biblioteca do Congresso (2012); A Quinta da Regaleira - legado Sebástico-Templarista de
António Augusto Carvalho Monteiro (2012); Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso
– livros maçónicos (2012); O Império do Divino Espírito Santo em Sintra e Cascais (2012);
Iconografia e Iconologia: estudos, notas e fontes de cultura visionária (2012); Livro das Profecias de
Cristóbal Colón (2013); Amuletos da Tradição Luso-Afro-Brasileira (2013); Florilégio de Tradições
do Concelho de Mafra (2013); O Anjo da Saudade: da Hierarquia Celeste e do Custódio de Portugal
(2013); O Projecto Templário e o Evangelho Português (2013), 2ª ed. revista e ampliada; Fernando
Pessoa: Hermetismo, Iniciação, Heteronímia (2013); Mafra, do ocaso da Monarquia, ao advento da
República (2013); Itinerários da Monarquia Constitucional em Mafra (2013); Hagiografia de D.
Sebastião: de Desejado a Encoberto (2014); Cátaros para um Languedoque Português (2014);
António Augusto Carvalho Monteiro: imaginário e legado (2014); Palácio Quintela: Iconologia do
Programa Pictórico (2014); As Ilhas Míticas do Imaginário Luso: fontes e iconografia (2014); Os
Templários na Literatura de Língua Portuguesa (2014); A freguesia da Carvoeira (Mafra), de-lés-a-
lés (2014); Instituições militares no Monumento de Mafra (2014); Estudos de Emblemática I.
(2014); A Vila de Mafra, de-lés-a-lés: história e evolução urbana (2014); Promontório Sagrado:
Finisterra e Fim do Mundo (2015); Guia Templário de Portugal – v. 1 (2015); Fernando Pessoa:
Hermetismo e Iniciação (2015); Festa dos Tabuleiros – Tomar (2015); Guia Templário de Portugal:
Almourol – Cardiga (2015); Guia Templário de Portugal – Literatura Portuguesa (2015); 5 de
Outubro de 1910 – O Embarque da Família Real na Ericeira (2015); Guia Templário de Portugal:
Tomar (2015); Emblemata – estudos 1 (2016); Arte da Memória e Hermética na Biblioteca do
Palácio Nacional de Mafra (2016); São Julião (Carvoeira, Mafra) e Mateus Álvares, Falso D.
Sebastião da Ericeira ( 2016); A Vila de Mafra de lés-a-lés: Quem é quem (2016); Guia Templário de
Portugal – Convento de Cristo (2016); Palácio Nacional de Mafra: Guia (2016); Guia Templário de
Portugal: a Demanda das Ilhas Míticas (2016); Dicionário do Milénio Lusíada – v. 1 (2017); Noese e
Técnica do Símbolo: indagações acerca do imaginário e da cultura simbólica I e II (2017);
Gliptografia Lusitânica: Marcas e Siglas Lapidares (2017); Poética Sebástica (século XX) (2017);
Guia Templário de Portugal – Demanda do Santo Graal (2017); etc.

304

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