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Abominável "Mundo Novo" dos planos de


saúde - Outras Palavras

por Redação

Por Maíra Mathias e Raquel Torres

MAIS:
Esta é a edição de 15 de julho da nossa newsletter diária: um resumo interpretado
das principais notícias sobre saúde do dia. Para recebê-la toda manhã em seu
e-mail, é só clicar aqui.

MUNDO NOVO

No admirável “Mundo Novo” das operadoras de planos e seguros de saúde, a


regulação do mercado é feita por um Estado fraco. Bem fraco. O furo é de Élio
Gaspari, que leu o projeto de 89 artigos que coloca de ponta cabeça a lei 9.656,
sancionada em 1998 e estabelece as regras desse mercado. De acordo com o
colunista, o PL das grandes operadoras recebeu o apelido de “Mundo Novo” e
está, neste momento, “trancado numa sala de um escritório de advocacia de São

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Paulo”. Mas o plano, continua o jornalista, “é levá-lo para o escurinho de


Brasília”, onde seria entregue ao ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e ao
presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Lista Gaspari: “O projeto facilita os reajustes por faixa etária, derruba os prazos
máximos de espera, desidrata a Agência Nacional de Saúde Suplementar e passa
muitas de suas atribuições para um colegiado político, o Conselho de Saúde
Suplementar, composto por ministros e funcionários demissíveis ad nutum. Irá
para o Consu a prerrogativa de decidir os reajustes de planos individuais e
familiares, baseando-se em notas técnicas das operadoras (artigos 85 e 46) e não
nos critérios da ANS. Cria a girafa do reajuste extraordinário, quando as contas
das operadoras estiverem desequilibradas. Uma festa. A ANS perderá também o
poder de definir o rol de procedimentos obrigatórios que as operadoras devem
oferecer. Essa atribuição passa para o Consu, que não tem equipe técnica, mas
pode ter amigos. Desossada, a ANS perderá também o poder de mediação entre
os consumidores e as operadoras. (Tudo isso no artigo 85.) Há uma gracinha no
artigo 43. Ele determina que os hospitais públicos comuniquem ‘imediatamente’
às operadoras qualquer atendimento prestado a seus clientes para um eventual
ressarcimento ao SUS. Exigir isso de uma rede pública que não atende aos
doentes de seus corredores é uma esperteza para não querer pagar à Viúva o que
lhe é devido. O melhor momento do projeto ‘Mundo Novo’ está no artigo 71. Hoje,
se uma pessoa quebrar a perna e não for atendida, a operadora é multada. Feita a
mudança, só serão punidas ‘infrações de natureza coletiva’. Por exemplo, se a
empresa tiver deixado de atender a cem clientes com pernas quebradas. As
operadoras finalmente realizarão seu sonho, criando um teto para a cobrança de
multas. Elas nunca poderão passar de R$ 1,5 milhão. Com isso, estimula-se a
delinquência. No papelório do ‘Mundo Novo’ não há um só artigo capaz de
beneficiar os consumidores.”

Enquanto isso, em pleno Congresso de Medicina de Família e Comunidade…


“A saúde suplementar contou com oficina, mesa redonda e um grupo de trabalho
totalizando 8 horas de exposição (…) Será mesmo que a saúde suplementar é um
tema mais relevante do que o comprometimento do ensino na graduação, que a
questionável formação de programas de residência patrocinados pelo setor
privado ou ainda que a análise do cenário político e as ameaças ao SUS, além de
suas consequências para a Atenção Primária à Saúde (APS)?” A denúncia vem da
carta da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, lançada após o
encerramento.

OS QUE MAIS PRECISAM

A demógrafa Marcia Castro e outros pesquisadores da saúde coletiva assinam


um artigo no Lancet que traça cenários para o SUS a partir de projeções de
financiamento do Sistema na ponta. São quatro possibilidades: no primeiro, a
União envia para os municípios os mesmos recursos de 2015; nos outros três, as
transferências aumentam 1%, 2% ou 3% por ano, a depender do crescimento do
PIB brasileiro. No provável caso de estagnação dos recursos (graças à EC 95)
haveria uma deterioração dos quatro indicadores de saúde considerados na
projeção: mortalidade infantil, atendimento pré-natal às gestantes, acesso a
cuidados médicos primários e número de mortes evitáveis por doenças
cardiovasculares. Mas essa piora não seria distribuída de maneira uniforme pela
população, atingindo as cidades mais pobres e vulneráveis. “Os mais afetados
serão justamente aqueles que precisam mais”, diz o artigo.

PELO DIREITO DE MORRER

Na última sexta, os espanhóis entregaram ao Congresso um abaixo-assinado com

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um milhão de assinaturas para destravar uma lei que descriminaliza a eutanásia.


O projeto do PSOE foi apresentado no ano passado, mas nunca conseguiu sair da
gaveta do Cidadãos, que comenda a Mesa do Congresso. O assunto mobiliza a
sociedade espanhola após casos recentes de pessoas que ajudaram familiares com
doenças degenerativas a morrer. Segundo o El País, na última década, o apoio à
eutanásia manteve uma média de nada menos do que 84% na população da
Espanha.

No Brasil, um homem preso que deseja morrer é capa da Época desta semana.
O detento tem 50 anos e está no sistema prisional desde 1990. “Sei que a
Constituição Federal não permite a pena de morte, mas quero começar essa
discussão. Sou soropositivo há 33 anos, tenho hepatite C. Minha pena é
draconiana, impossível de cumprir. Não estou louco. Tomei essa decisão radical
porque estou cansado”, disse o presidiário à revista que recebeu, primeiro, uma
carta sua em abril.

CASO ESCANDALOSO

A Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo classificou a morte de Thiago de


Jesus Dias, entregador do aplicativo Rappi, como um resumo “do desmonte de
políticas públicas somada, concomitantemente, à ampla fragilização das relações
de trabalho no Brasil”. Thiago, de 33 anos, passou mal quando fazia uma entrega.
Agonizou na calçada por mais de 1h30 à espera de auxílio médico especializado e
foi vítima de uma série de negligências cometidas pelo próprio aplicativo, pela
Polícia Militar, pelo Corpo de Bombeiros e pelo Samu, que não prestaram
atendimento. Thiago só conseguiu sair da calçada quando um amigo chegou de
carro e o levou para o Hospital das Clínicas. Diagnosticado com AVC, morreu no
dia 8 de julho.

ESTÁ NA CARA

O número de moradores de rua cresce em várias capitais do país. No Rio, quase


triplicou de 2013 a 2016, chegando a 14.279 pessoas. Quando assumiu, o prefeito
Marcelo Crivella (PRB) mudou a metodologia e contou menos de cinco mil
pessoas nessa situação — mas especialistas contestam. Em Porto Alegre, a
prefeitura estima em quatro mil pessoas estejam nas ruas, o dobro do registrado
em 2016. Em Curitiba, o avanço foi de 50% em três anos e já são 2.186 pessoas
em 2019. Em Manaus, são duas mil, segundo o governo estadual, e os
venezuelanos representariam 25% dessa população. Em Belém, foram 677
atendimentos da prefeitura para moradores de rua até abril — sendo que ao longo
de 2018 inteiro, o número chegou a 853. Em Salvador, a prefeitura tem
cadastradas 5,9 mil pessoas. Mas segundo a ONG Projeto Axé, em 2017 havia
entre 14 mil e 17 mil. Em Recife, a prefeitura estima que sejam 1.220 pessoas nas
ruas, mas usa informações de 2016. Os dados foram levantados pela Folha.

ELA VOLTOU A CRESCER

Matéria da Folha sobre hanseníase aponta que a doença experimentou um


crescimento de 14% nos últimos dois anos, passando de 25,2 mil casos em 2016
para 28,6 mil casos em 2018. O aumento acontece após mais de uma década de
queda. Para especialistas ouvidos pela reportagem, o Brasil falhou em manter
uma rotina de prevenção nas áreas mais atingidas pela enfermidade e ainda
enfrenta dificuldades para diagnosticar a hanseníase por puro desconhecimento
dos sintomas.

CASAMENTO PERIGOSO

“Já li provas científicas eloquentes de que (vacinas) são úteis e de que são

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perniciosas, e me considero humildemente em dúvida até segunda ordem”: a


frase é antiga, de 2006, e veio do guru bonsonárico Olavo de Carvalho, que não
vacinava os filhos. Dois anos depois, ele se revoltou durante uma campanha de
vacinação contra a rubéola: “Essa vacina, ao que tudo indica, tal como aconteceu
em outros países, tem dentro uma substância esterilizante. Isso é uma campanha
de esterilização em massa”, disse. Também xingou o então o ministro da Saúde de
“vigarista filho da puta”. As lembranças são trazidas por João Filho, numa
matéria do Intercept que trata da perigosa (e comum) relação entre o movimento
antivacina e a extrema direita.

ANTIAQUECIMENTO

É… O Senado vai fazer seminário reunindo cientistas, brasileiros e de outros


países, que contestam a tese de que a ação humana é a principal causadora
das mudanças climáticas.

E uma pesquisa do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), da Uerj,


mapeou quem são os deputados que entre 2015 e 2018 foram a favor da agenda
climática e quais foram contrários a medidas em defesa do meio ambiente.

DIREITOS MAIS OU MENOS HUMANOS

Um documento com compromissos voluntários do Brasil para a candidatura ao


Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas foi debatida no Conselho
Nacional dos Direitos Humanos. Segundo Guilherme Amado, foram duras as
críticas ao texto que não cita os direitos da população LGBT, tampouco fala em
combate à tortura e à pena de morte.

UMA VACINA?

A Johnson & Johnson está na reta final dos testes para o que pode se tornar a
primeira vacina contra o vírus da AIDS. Segundo a Bloomberg, testes com 3,8 mil
homens nos Estados Unidos e na Europa começarão no final do ano. Mas
encontrar vacina universal é um grande desafio, já que o vírus é muito diverso e
uma vacina que funcione em uma parte do mundo pode não servir nada em outra.
Os cientistas estão há 15 anos trabalhando na fórmula, cujo principal componente
é um vírus alterado da gripe que produz uma proteína que eleva a imunização.

E a mesma Bloomberg publicou na sexta um relatório que fez as ações da J&J


caírem 4%. É sobre um escândalo que ronda a gigante farmacêutica há anos e já
apareceu aqui mais de uma vez: a relação entre o uso do seu talco e
desenvolvimento de câncer de ovário, que já fez a empresa responder a mais de 13
mil processos por isso. O relatório divulgado informa que o departamento de
Justiça dos EUA começou uma investigação criminal sobre a J&J, para avaliar se
ela mentiu ao público sobre os possíveis riscos do produto. Um juri foi convocado.

MAIS R$ 1 BI

O relatório do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias apresentado à


Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional propõe um aumento de
gastos com saúde acima do previsto na regra do teto de gastos. Incorporada ao
relatório do deputado Cacá Leão (PP-BA), a proposta corrige o piso de despesas
do setor não só pela inflação, mas também pelo crescimento da população – que
em 2018, ficou em 0,8%. Com isso, o Ministério da Saúde poderia ter quase R$ 1
bilhão a mais no ano que vem. O problema é que em anos anteriores o dispositivo
foi incorporado no relatório, mas o governo sempre vetou.

ATÉ SETEMBRO

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O mês de setembro já tinha sido citado várias vezes pelo presidente do


CNPq, João Luiz Filgueiras de Azevedo, como limite para o pagamento de bolsas
de pesquisa. “Estou cautelosamente otimista de que a gente vai conseguir reverter
isso, porque nosso ministro está muito empenhado nesse sentido, mas ainda não
revertemos. Ou seja, o problema ainda existe”, disse, em março, após os cortes do
governo em pesquisa. Quatro meses depois, o problema segue
existindo. O ministro Marcos Pontes está pedindo que o Congresso libere R$ 310
milhões para as bolsas, mas, até agora, não há nada. “A gente paga até setembro.
Em outubro, ninguém recebe, porque não posso fazer isso com um dinheiro que
não tenho”, disse Azevedo à BBC.

NEGOU

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse ontem no Twitter que as


universidades federais continuarão públicas e que os estudantes não pagarão pela
graduação. Mensagens que circularam na internet informavam que essas medidas
seriam anunciadas na próxima quarta, no âmbito de um programa para as
universidades federais que afetaria a autonomia dessas instituições. A Folha
lembra que, em outras ocasiões, o ministro já defendeu cobrança para alguns
cursos de pós-graduação.

DIDÁTICO

Temos mostrado por aqui como o governo tem ‘vendeu’ emendas parlamentares
para receber apoio para a reforma da Previdência. O Nexo explica bem
didaticamente o que são essas emendas, como funciona sua execução e, mais
especificamente, o aumento gritante dos empenhos em julho.

EXPANSÃO

Foi confirmado um caso de ebola em Goma, cidade da República Democrática do


Congo com mais de dois milhões de pessoas, na fronteira com Ruanda. É um
homem que viajou de ônibus desde Butembo, uma das cidades mais atingidas
pela doença.

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de profundidade: OutrosQuinhentos

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