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ESPANHA QUIS INVADIR PORTUGAL EM 1975

Apoio norte-americano foi solicitado por Madrid

O jornal iberista espanhol «El Pais» controlado pelo grupo PRISA [1] afirmou neste fim
de semana que durante o Verão-quente de 1975 a Espanha tinha planos para ocupar
Portugal e que pediu a colaboração passiva dos Estados Unidos na invasão.

Segundo a mesma fonte o então chefe do governo, o dirigente espanhol Carlos Árias
Navarro, amigo pessoal do ditador Francisco Franco [2] terá contactado o governo de
Washington após o falhado golpe de estado de 11 de Março de 1975 em Portugal,
levado a cabo por António de Spínola.

António de Spínola, um general conservador que tinha sido empossado Presidente da


República, na sequência da revolução de 25 de Abril de 1974, demitiu-se do cargo por
discordar radicalmente da evolução da situação política portuguesa nomeadamente da
entrega apressada e descontrolada das colónias a movimentos apoiados pela União
Soviética.

A influência do Partido Comunista Português em várias das estruturas do exército, levou


Spínola a acreditar que se preparava um golpe comunista apoiado pela União Soviética,
o qual passaria pelo assassínio de várias personalidades contrárias a Moscovo, entre as
quais estava ele próprio.
Essa operação ficou conhecida como «Matança da Páscoa», e é por ter acreditado nela,
que Spínola tenta um golpe mal preparado e mal organizado em 11 de Março de 1975.
A tentativa de golpe, resultou numa radicalização da situação e no controlo do poder em
Lisboa por grupos de pessoas ligados ao Partido Comunista Português e à União
Soviética, interessada especialmente em imobilizar o exército português em África, de
forma a que as suas tropas [3] tomassem posições em Angola.

Spínola foge para Espanha no próprio dia 11 de Março de 1975 e segundo documentos
já publicados há alguns anos, numa investigação do semanário Expresso, solicitou a
intervenção do exército espanhol, invadindo Portugal para evitar que o Partido
Comunista instalasse em Lisboa um regime de inspiração soviética.

Árias Navarro, terá discutido a situação portuguesa com o subsecretário de estado


norte-americano Robert Ingersol, poucos dias depois de Spínola ter contactado o
governo espanhol, ainda nesse mês de Março, logo após ter fugido de Portugal e ter
pedido a intervenção espanhola.
O dirigente espanhol, terá sondado o diplomata norte-americano sobre que posição os
Estados Unidos tomariam no caso de a Espanha invadir Portugal.

O argumento do governo espanhol, era o de que Portugal era uma potencial ameaça
para Espanha, perante a possibilidade de um governo pró soviético se instalar em
Lisboa e deliberadamente começar a desestabilizar Espanha.

Árias Navarro afirmou que temia que Portugal pudesse obter apoio exterior para
desestabilizar Espanha, apoio que só poderia ser apoio soviético [4].

O governo espanhol voltou a contactar políticos norte-americanos de visita à capital


espanhola alguns dias depois, a 7 de Abril de 1975 continuou a insistir junto de
Washington, explicando a posição espanhola e os argumentos justificativos da invasão.

O embaixador norte-americano em Madrid Wells Stabler, enviou em 28 de Maio de 1974


um relatório para Washington afirmando que os militares consideravam que Espanha
teria dificuldades em proteger-se de alegadas acções subversivas portuguesas.

Segundo o embaixador norte-americano em Madrid, o dirigente espanhol parecia


transmitir aos seus pares europeus que a situação em Portugal não podia continuar
como estava e que a Espanha tinha que invadir Portugal para regularizar a situação. O
embaixador achava no entanto que Madrid não sabia como Washington reagiria à
intervenção espanhola em Portugal.

Já em Outubro, o dirigente Espanhol terá voltado a mostrar preocupação com o evoluir


da situação portuguesa e com o facto de o Partido Comunista estar a controlar
completamente o país.

A relação entre os dois países atingiu um nível crítico quando em Setembro de 1975 a
embaixada espanhola em Lisboa foi assaltado por elementos de extrema-esquerda. A
acção é vista por vários sectores como uma tentativa de provocar uma reacção
espanhola, conseguindo assim o apoio popular para a esquerda portuguesa que depois
das eleições de 25 de Abril de 1975 tinha obtido uma representação inferior a 20% dos
votos e precisava de apoio popular para garantir a continuação do processo
revolucionário.

A acção de 25 de Novembro de 1975, removeu os elementos radicais e o Partido


Comunista do poder em Portugal. A União Soviética não estava interessada em tomar
posições no país e naquela altura já estava assegurado o seu objectivo principal: a
instalação de regimes comunistas nas antigas colónias portuguesas.

A morte de Franco, a transição para a democracia em Espanha, e a consolidação da


democracia em Portugal, terão arquivado aquele que terá sido o terceiro plano em um
século para invasão de Portugal por parte da Espanha.

[1] – Normalmente associado ao movimento republicano federalista, que defende o


desaparecimento de Portugal e a sua inclusão numa república federal ibérica de cariz e
cultura castelhana.

[2] – Franco tinha ascendido ao poder em Espanha em 1936 com o apoio directo das
tropas de Adolf Hitler e tinha o regime Nazista alemão como modelo a seguir em
Espanha. A derrota Nazi na guerra forçou o ditador espanhol a iniciar um processo de
metamorfose, onde manteve internamente um sistema de repressão brutal, cópia fiel da
Alemanha Nazi tentando criar uma imagem externa de conservador católico, tendo para
o efeito contado com a colaboração e apoio activo da Igreja Católica de Espanha.

[3] – A intervenção soviética em Angola foi feita através do «aluguer» de soldados


cubanos, pelos quais Fidel Castro recebia uma quantia por peça.
A título de curiosidade há que referir que o sistema de aluguer de cidadãos continua até
hoje. Cuba aluga presentemente médicos e enfermeiros que são colocados no
estrangeiro contra o pagamento de quantias ao governo cubano. Os médicos e
enfermeiros não recebem qualquer bónus adicional.

[4] - O argumento do «medo», invadindo Portugal para evitar a «contaminação» era


curiosamente o mesmo que tinha sido utilizado por Afonso XIII depois da implantação
da República Portuguesa em 1910. Também o ditador hitleriano Francisco Franco tinha
considerado a possibilidade de invasão em 1940-1941, considerando exactamente o
mesmo argumento: Atacar Portugal para evitar eventuais ataques portugueses contra
Espanha.

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