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“La palabra Moncloa no está en el Diccionario”, assim o site da 22ª edição (2001) do
Dicionário da Real Academia Espanhola responde às consultas dos internautas. Não será,
portanto, por tão erudita fonte que o leitor saberá o significado desse termo que
eventualmente freqüenta o noticiário internacional. Moncloa-Aravaca é um distrito de
Madri que tem, entre outros pontos de referência, o Palácio de la Moncloa, construído para
o Duque de Moncloa. Foi uma das mais imponentes propriedades urbanas da nobreza
espanhola até que, durante a Guerra Civil, a luta pela capital reduziu o prédio a escombros.
Reconstruído, a partir de 1977 tornou-se o marco da transição democrática e sede do
Governo da Espanha moderna. É lá onde despacha o Presidente do Governo, como os
espanhóis chamam seu Primeiro Ministro, atualmente José Rodriguez Zapatero (cujo “z” se
pronuncia com som de “s”, de “sapateiro”, mesmo).
Para muitos latino-americanos, entretanto, a palavra Moncloa é motivo de suspiros; um
sonho de consumo político. Isso porque foi lá onde, há pouco mais de 30 anos, uma
Espanha atrasada e perplexa diante do recente falecimento de Francisco Franco, o ditador
que a havia governado por quase 40 anos, negociou e firmou um acordo entre as principais
forças políticas que se tornaria conhecido como os Pactos de la Moncloa. Em meio às
ameaças de golpe militar e diante do desafio representado por uma Europa em processo de
unificação, os dirigentes políticos chegaram a um acordo sobre as condições em que se
dariam as reformas institucionais que permitiriam ao país dar um salto do regime fascista
instalado sob inspiração e com o apoio político e militar de Hitler e Mussolini para a
condição de membro da Comunidade Econômica Européia.
Antecedentes
"Adolfo, ¿qué haces? ¿Quieres venir a tomar café?", perguntou o Rei Juan Carlos ao
telefone.
Adolfo Suárez aceitou o convite sem hesitar, vestiu um terno azul escuro e dirigiu seu
SEAT 127 (versão espanhola do Fiat 147 brasileiro) até o Palácio de La Zarzuela,
residência do Rei, que o recebeu imediatamente e pronunciou outra frase celebremente
pouco protocolar:
“Adolfo, te quiero pedir un favor. Acepta la Presidencia del Gobierno”.
“Ya era hora” - respondeu Suárez, de forma igualmente pouco protocolar.
"Já era hora" porque havia meses circulavam boatos de que Suárez poderia ser nomeado
Primeiro Ministro e porque o então Primeiro Ministro Arias Navarro, nomeado por Franco,
desde a morte deste era considerado um cadáver político.
O escolhido, Adolfo Suárez, tinha sólidos antecedentes franquistas. Com Franco ainda
vivo, fizera parte do Governo Arias Navarro com o cargo de Ministro Secretário-Geral do
Movimiento. Intelectualmente preparado (Doutor em Direito), mas discreto, era
desconhecido da população e ridicularizado pela esquerda, que o via como um típico
“gerente de loja de El Corte Inglês”, numa referência a uma rede de lojas de
departamentos, enquanto os franquistas o tinham como um fantoche a ser devidamente
manipulado. Em meio ao descrédito, Suárez não conseguiu atrair grandes personalidades
para seu Gabinete, que tomou posse perante o Rei no dia 05 de julho de 1976.
A desconfiança, evidentemente, não contribuía para a estabilizar a situação política e
econômica, que se agravava. As medidas econômicas iniciais foram tímidas, mas em
setembro o Governo surpreendeu os espanhóis com um Projeto de Reforma Política que,
entretanto, também foi recebido com descrédito, pois supunha que as Cortes franquistas não
apenas o aprovariam, levando a uma democratização do país, como cometeriam um
suicídio ao se auto-dissolverem.
Para surpresa de muitos, foi o que aconteceu em 18 de novembro, quase 40 anos depois
das últimas eleições democráticas, realizadas em 1939, na Espanha Republicana. Num
processo conduzido por Torcuato Fernández-Miranda, que ainda se imaginava eminência
parda por trás do Rei e de Suárez, mais de dois terços das Cortes aprovaram a Reforma, que
foi confirmada por 94% do eleitorado, em referendo realizado em 15 de dezembro de 1976.
A crise econômica se agravava. Em quatro anos, o governo havia recorrido a oito
“pacotes de medidas” - algo que soaria familiar aos brasileiros, que viveram de pacote-em-
pacote grande parte das décadas de 1980 e 1990 - e se o avanço das reformas permitia que a
oposição reprimida pelo franquismo se expressasse, também permitia a eclosão de um surto
de greves e manifestações, inclusive do nacionalismo em províncias como o País Basco e a
Catalunha, onde até o idioma local havia sido proibido por Franco.
Inicialmente surpreendida pelos acontecimentos, também a direita partiu para o
confronto. Multiplicaram-se os atos de insubordinação militar – inclusive com
pronunciamentos insultuosos ao general liberal Manuel Gutiérrez Mellado, chefe do Estado
Maior do Exército até setembro de 1976, quando assumiu a Primeira Vice-Presidência do
Governo para Assuntos da Defesa. Meses depois, o próprio Fernández-Miranda renunciou,
abandonando seu ex-discípulo e Rei semanas antes das eleições, marcadas para o dia 15 de
junho de 1977, das quais participaria até mesmo o Partido Comunista.
O resultado das eleições foi uma rejeição inapelável ao franquismo (representado
eleitoralmente pela Alianza Popular - AP) por parte da população, o que obviamente não
foi aceito pelos franquistas empedernidos. O centro reformista composto à direita pela
União de Centro Democrático (UCD), um “partido ônibus”, como dizia Ulysses Guimarães
referindo-se ao PMDB, liderada por Suárez, tendo à esquerda o Partido Socialista Operário
Espanhol (PSOE), no qual o jovem dirigente Felipe González afastara as antigas lideranças
partidárias, obteve a maioria absoluta.
Fonte: http://www.vespito.net/historia/transi/resulft.html
Com 45 artigos, a Constituição Espanhola de 1978 foi sancionada pelo Rei no dia 6 de
dezembro, tendo por palavras iniciais a afirmação do primado da soberania popular:
“Don Juan Carlos I, rey de España. A todos los que la presente vieren y entendieren.
Sabed: Que las Cortes han aprobado y el Pueblo Español ratificado la siguiente
Constitución:”
Tão logo foram conhecidos os resultados das eleições, ainda em 1977, Suárez, com uma
legitimidade renovada, formou um Gabinete com um perfil totalmente diverso do anterior.
Nele tinha lugar de destaque Enrique Fuentes Quintana, um economista respeitado, Doutor
Honoris Causa de diversas universidades e ocupante do cargo equivalente ao brasileiro
Secretário da Receita, que foi nomeado Vice-Presidente do Governo para Assuntos
Econômicos e Ministro da Economia. A ele coube elaborar a minuta de um programa
econômico a ser submetido aos diversos segmentos sociais em consultas que começaram
em agosto.
O texto final da proposta de Fuentes Quintana, com as contribuições obtidas durante as
consultas, ficou pronto no início de outubro de 1977, sendo apresentado aos representantes
de todos os partidos com representação parlamentar no final de semana de 8 e 9 do mesmo
mês. Com um misto de reserva e barganha, o documento foi apresentado como “resumo de
trabalho” e entregue a comissões especializadas para discussão de detalhes.
Os Pactos
Os limites do modelo