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A ditadura franquista (1939 – 1975)

Contexto histórico da Espanha

A Guerra Civil Espanhola começou após o golpe perpetrado pelos militares, em 18


de julho de 1936, contra o governo republicano legitimamente eleito pelo povo,
estendendo-se por três anos e apresentando um saldo de mais de 400 mil mortos.
Como acontece com toda guerra civil, foi uma guerra fratricida, que colocou em lados
opostos pessoas de uma mesma família com pensamentos políticos e ideológicos
dicotômicos, criando uma animosidade que ultrapassou o tempo de guerra e adentrou
os anos posteriores.

A Guerra Civil Espanhola prenunciou a aliança de frentes nacionais que ia de conservadores


patriotas a revolucionários sociais, para a derrota do inimigo nacional e simultaneamente para
a regeneração social. Manuel Tuñon de Lara, por sua vez, descreve como foi o dia
imediatamente posterior ao fim da guerra, na nota preliminar de seu livro “España Bajo La
Dictadura Franquista”: “Milhões de espanhóis que haviam lutado nas fileiras republicanas ou
que haviam se enquadrado sem paixão no exército de Franco, todos cansados de mais de três
anos de guerra, assim como suas famílias, [...] terminaram por abraçar uma esperança ingênua
e pensar, ‘depois de tudo, talvez não seja tão mal como tinham pintado’. E acreditavam no
lema, ‘nenhum lugar sem lume, nenhum espanhol sem pão’, palavras do Caudillo que podiam
ser lidas em edifícios, paredes nas ruas e imprensa diária”.

Mudanças na Europa

Em abril 3 de 1939 Francisco Franco faz um discurso no qual conclama: “Espanhóis, alerta!
Espanha segue em guerra contra todo inimigo do interior e do exterior”. A propaganda
utilizada de forma unilateral pelos vencedores contra los rojos∗∗ Pode-se afirmar que foi um
período aproveitado por aqueles que faziam parte do lado vencedor para conseguirem mais
facilmente acesso a cargos públicos e diversas sinecuras. O exílio de intelectuais, de técnicos e
de mão de obra qualificada, resultou da mudança do pessoal da Administração Governamental
e trouxe à Madri núcleos populacionais originários das províncias que haviam sido “zona
franquista” durante a guerra, bem como de outras zonas empobrecidas da Espanha.

Revestiu-se de atitudes revanchistas, que incluíam a delação de qualquer desafeto como


republicano; filhos de rojos não podiam estudar; as mulheres de los rojos tinham os cabelos
raspados nas praças dos pueblos (situação semelhante à observada na França após a derrota
nazista).

Por sua vez, a base do regime franquista foi o “Nacional-Catolicismo” e o anticomunismo,


criando um imaginário místico de uma “cruzada” dirigida pelo General Franco, que faria com
que a Espanha resgatasse seu passado imperial de glória e poder, restituindo-a ao seu lugar de
direito dentro da Europa. Os nomes de Isabel e Fernando, os reis católicos, foram bastante
lembrados como os promotores dessa “era de ouro” do país, primeiramente com a expulsão
dos muçulmanos e com as posteriores descobertas na América. O discurso dos apologistas do
Caudillo vinculava Franco ao retorno desse período de prosperidade ou “idade de ouro”

O Franquismo

 Unipartidarista, totalitário e imperial


 Democracia orgânica: e viam representados os interesses da nação, e não os
interesses egoístas de eleitores individuais.
 Formado por clãs ou famílias, que disputavam a preferência do caudillo e os cargos de
maior relevo e importância na estrutura governamental. Essas famílias compunham-se
de elementos do Exército, de grupos políticos que representavam a Igreja Católica, do
Movimento da Falange (fascista), dos monárquicos franquistas, dos tecnocratas e dos
funcionários do Estado.

A economia

 grande número de baixas pessoais, por morte, exílio ou desaparecimento, provocou


uma queda demográfica que se refletiu na falta de mão de obra nas indústrias e em
um êxodo rural em direção às cidades de uma população de “ex-combatentes.
 1940, ocorreu a organização dos “sindicatos verticais”, com vistas a diminuir disputas
de classe entre empregados e patrões, controlados pela Falange.
 Autarquia, na qual houve uma forte proteção aos produtos internos e o comércio
exterior foi dificultado através de mecanismos distintos.
 A agricultura, na década de 40, era a atividade mais enaltecida pelo regime, devido,
em parte, ao problema de alimentação enfrentado pelos espanhóis.

Política exterior

 A Espanha encontrava-se alquebrada econômica e moralmente após três anos


de guerra e Franco preferiu uma política de apoio ideológico ao Eixo, mas sem
uma participação bélica no conflito, optando pela “neutralidade”.
 No dia imediato à ocupação de Paris pelas tropas nazistas, em 16 de junho de
1940, o “Diário Informaciones”, dirigido por Victor de La Sema, publicou:
“Saudamos a queda de Paris como um golpe mortal dirigido ao regime
democrático”. O fato é que Franco, após a tomada de Paris, mostrava-se
favorável à participação espanhola na guerra e, inclusive, ofereceu tropas a
Hitler, mas, em troca, pediu apoio bélico. Hitler imaginava uma capitulação rápida
da Grã-Bretanha após a queda da França, e não teve interesse na oferta de Franco
nesse momento.
 Dois anos mais tarde, quando as tropas alemãs avançavam sob as cidades
soviéticas, Franco enviou tropas como apoio aos Alemães.
- Após a derrota do eixo

 Esse apoio, mais ideológico do que militar de Franco aos regimes fascistas,
acarretou à Espanha um período de isolamento internacional, marcado pela
sua ausência com relação ao Plano Marshall e pela sua falta de
representação na Organização das Nações Unidas (ONU).
 Fortes mudanças na conjuntura mundial
 Franco tentou uma aproximação com Churchill (estadista britânico), na
expectativa da Espanha ser convidada a intervir numa futura organização
mundial. A ONU condenou o regime de Franco, aconselhando a retirada de
embaixadores do país, em 1946.
 Somente em 1955 a Espanha tornou-se parte da ONU. Já a aproximação
com os Estados Unidos aconteceu antes, em 1953.
 Os meios idealizados por Franco para alcançar a simpatia e a proteção dos
dois países, e as consequentes vantagens dessa aliança, incluíam a
estabilização da institucionalização governamental, inclusive através de
uma “aproximação” com a monarquia exilada. Era preciso, também, que o
“nacional-sindicalismo” fosse esquecido, de modo que essas pequenas
alterações formais fizessem com que o regime fosse apresentável frente às
potências ocidentais.

Políticas internas

 Em 1947, teve início uma propaganda laudatória do regime, com slogans que
promoviam um clima de medo ao comunismo, relembrando sempre os
horrores rojos, além de exaltar as vantagens proporcionadas por Franco aos
comerciantes, proprietários, católicos, mulheres, entre outros.
 No mesmo ano, Franco outorgou a Lei de Sucessão, criando o Conselho do
Reino e o Conselho da Coroa, e regulando o mecanismo de sucessão que, em
definitivo, dependia inteiramente de Franco, que podia, inclusive, retificar o
nome de seu sucessor designado até seu último dia de vida.
 Agosto de 1948 ocorreu um encontro entre Don Juan, herdeiro legítimo do
trono espanhol, e Franco, a bordo do iate “Azor”.
 em novembro de 1948, o futuro rei Juan Carlos retornou para a Espanha para
fazer seus estudos em seu próprio país, sob a tutela de Franco.
 a década de 50, a política espanhola sofreu mudanças, ainda que não
essenciais: as econômicas, com a mudança da burguesia agrária pela burguesia
comercial e financeira como bloco dominante; as sociais, um crescimento
irregular da população, o êxodo rural em direção às cidades adquiriu um
caráter massivo e a diminuição demográfica ocorrida em áreas inteiras, como
Castilla, Aragón, Galícia interior, entre outras. Ocorreu um abismo entre os
salários reais e a condição de vida da população, o que ocasionou greves em
algumas cidades, como Bilbao, no País Basco.

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