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Joseph Pipa - O Dia Mudado, A Obrigação Não Mudada
Joseph Pipa - O Dia Mudado, A Obrigação Não Mudada
(Colossenses 2:16,17)
por
Joseph A. Pipa
O ensino de Paulo
Há outros que sugerem que o apóstolo Paulo repudiou a idéia da observância
do sábado. Esses adversários do sábado neotestamentário baseiam seus
argumentos em três textos. O primeiro é Romanos 14. 5,6:
“Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um
tenha opinião bem definida em sua propriamente. Quem distingue entre dia e
dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças
a Deus, e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus”.
“Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou
lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que
haviam de vir, porém o corpo é de Cristo”.
“...ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro
-segundo os preceitos e doutrinas dos homens ? Pois que todas estas coisas,
com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria,
como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético, todavia,
não têm valor contra a sensualidade” ( CI 2.20-23 ).
No versículo 16 (em Cl 2), Paulo trata do assunto dos dias: “Ninguém vos
julgue por causa de dia de festa, ou lua nova, ou sábados”. Está Paulo
anulando a observância do sábado como tal, ou a observância do sábado do
sétimo dia junto com os outros dias cerimoniais? Encontramos a resposta a
essa pergunta ao examinarmos os três termos que Paulo usa: “dia de festa ou
lua nova ou sábado (ou dias de sábado)”. Esses três termos são usados
freqüentemente no Antigo Testamento para descrever os vários dias
cerimoniais que o povo de Deus era obrigado a observar.
“Também sobre nós pusemos preceitos, impondo-nos cada ano a terça parte
dum siclo para o serviço da casa de nosso Deus: para os pães da proposição,
e para a contínua oferta de manjares, e para o contínuo holocausto dos
sábados e das Festas da Lua Nova, e para as festas fixas, e para as coisas
sagradas...” (Ne 10.32,22).
A tradução grega desses trechos (na chamada Septuaginta) usa exatamente
os três termos que Paulo usa em Colossenses 2.16.
À luz disso, vemos que Paulo usa o termo “dias de sábado” para incluir o
sábado do sétimo dia.
“Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis
descanso solene, memorial, com sonidos de trombetas, santa convocação.
Nenhuma obra servil fareis, mas trareis oferta queimada ao Senhor”.
Paulo tem em mente essa observância quando usa a frase “luas novas”.
Assim, com essas três frases, Paulo está descrevendo os dias cerimoniais e
sábados do Antigo Testamento, e diz que o cristão não fica sob nenhuma
obrigação de observar esses dias.
Depois de seu advento, o templo foi se apagando até perder toda sua
significância e não ser mais necessário (10 4.21-24), porque com todas as
suas festas e sacrifícios era apenas uma sombra.
“Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a
Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (1o 7.37, 38).
A Páscoa o retratava como o Cordeiro de Deus que veio para tirar o pecado do
mundo (Jo 1.29). Junto a essa figura temos a da Festa dos Pães Asmos, um
retrato de sua ressurreição (lCo 15.23). Exatamente na manhã em que o
sacerdote se punha de pé no templo e movia os primeiros pães de cevada (Lv
23.15-17), Cristo surgia dos mortos, como os primeiros frutos, primícias dos
que dormiram.
Israel observava a lua nova com sacrifícios e ritual especial. O primeiro dia do
mês era visto como o sábado semanal. O retorno da lua nova provavelmente
lembrava ao povo a certeza eterna das promessas pactuais de Deus (Gn
8.21,22; Jr 31.35,36; 33.25,26). E porque Cristo cumpriu todas as promessas
do pacto, ele substituirá a luz do sol e da lua (Ap 21.23).
Embora Paulo não mencione o sábado do sétimo ano e o jubileu, eles também
foram cumpridos em Cristo. Como notamos no Capítulo 4, os sábados anuais
não só ensinavam o povo a confiar em Deus para sua subsistência, como
também os ensinavam a ansiar pelo dia quando a dívida do pecado será
remida e os prisioneiros do pecado libertados. Em Lucas 4.18, 19, Jesus,
citando Isaías 61.1, 2, aplica a linguagem do jubileu a si mesmo.
Está claro que a igreja primitiva continuou a observar um dia em sete. Por
que não adotaram outro modelo como cada terceiro dia, ou cada décimo dia?
John Owen responde a essa pergunta:
“E embora fique absolutamente certo que outro dia poderia ter sido fixado sob
o Novo Testamento, e não um em cada revolução hebdomadária (de sete dias),
por seus trabalhos próprios não terem sido bem terminados em seis dias,
contudo esse tempo sendo antes fixado e determinado pela lei da criação.
nenhuma inovação ou alteração seria permitida no assunto”. [3]
Nem existe qualquer prova de que algum intervalo tenha transcorrido entre a
prática do adorar no sétimo dia e o adorar no primeiro dia da semana. A
igreja neotestamentária, mantendo a norma de um dia em sete,
imediatamente começou a adorar no primeiro dia da semana. E mais, a
prática do próprio Paulo confirma que ele não está removendo a observância
de um dia em sete, mas sim os dias cerimoniais judaicos. Em Atos 20.7, ele
adora com a igreja de Trôade no primeiro dia da semana. Em 1 Coríntios
16.1,2 ele dá a entender que mandava todas as igrejas recolherem sua oferta
para os pobres no primeiro dia da semana.
Paulo discute a relação do cristão para com a lei cerimonial judaica também
em Gálatas 4.10. A lista, “dias, e meses, e tempos, e anos” se refere às várias
observâncias cerimoniais do povo da Antiga Aliança, parte daquele velho
sistema ao qual os gálatas foram tentados a se tornar escravos.
“Os fatos com os quais todos estamos de acordo, que explicam o sentido
dessas passagens do Apóstolo, são os seguintes: Depois de estabelecida a
nova dispensação, os cristãos convertidos dentre os judeus geralmente
combinavam a prática do judaísmo com as formas do cristianismo.
Observavam o dia do Senhor; o batismo e a ceia do Senhor; mas continuavam
também a guardar o sétimo dia, a páscoa e a circuncisão. A princípio era
proposto por eles impor esse sistema duplo sobre todos os cristãos gentios,
mas o projeto foi repreendido pela reunião dos apóstolos e presbíteros em
Jerusalém, registrado em Atos 15. No entanto, grande parte dos cristãos
judeus... continuava a observar as formas de ambas as dispensações, e os
espíritos ininquietos dentre as igrejas mistas de convertidos judeus e gentios
estabelecidas por Paulo continuavam a tentar impor I isso também sobre os
gentios; alguns deles juntavam a essa I teoria ebionita a heresia mais grave de
uma justificação por observâncias ritualistas. Assim, nessa época, era esse o
quadro. Nas igrejas mistas da Ásia Menor e do Ocidente, alguns irmãos iam à
sinagoga no sábado e à reunião da igreja no domingo, guardando os dois dias
religiosamente,. enquanto alguns guardavam só o domingo. Alguns se
sentiam obrigados a guardar todas as festas e jejuns judaicos, enquanto
outros não Ihes davam atenção. E aqueles que não tinham luzes cristãs que
Ihes ajudassem a compreender que as observâncias judaicas não eram nada
essenciais, sentiam sua consciência oprimida ou ofendida pela diversidade.
Foi para resolver esse problema que o Apóstolo escreveu essas passagens. Até
aqui estamos de acordo”. [4]
Duas lições
Esses grupos mantêm que a igreja primitiva adorava no sétimo dia e só mais
tarde, sob Constantino e o papado subseqüente o dia de adoração foi mudado
para o primeiro dia da semana.
“O domingo sempre foi o dia do culto pagão. Sempre foi dedicado ao deus do
sol Da prática pagã da adoração do sol temos a palavra “domingo“. [NT]
Falando das abominações sendo praticadas no tempo de Ezequiel, o profeta
disse: 'Levou-me para o átrio de dentro da Casa do Senhor; e eis que estavam
à entrada do templo do Senhor; entre o pórtico e o altar; cerca de vinte e cinco
homens, de costas para o templo do Senhor e com o rosto para o oriente 1.
adoravam o sol, virados para o oriente' (Ez 8.16)”. [5]
A segunda lição é muito importante para toda essa discussão sobre o dia em
que a Igreja deve adorar. Se Paulo revoga o sétimo dia mas não o princípio
moral de um dia em sete, como determinamos qual o dia? Temos duas
opções: ou a Bíblia nos revela qual o dia apropriado, ou a igreja pode escolher
o dia. Muitos, em toda a história da igreja, incluindo Calvino, ensinaram que,
como a igreja deve ter um dia para a adoração, ela pode escolher o dia. A
Igreja apropriadamente escolheu o primeiro dia por causa da ressurreição.
Contudo, fica aí entendido que a igreja está livre para mudar o dia se assim
desejar. Lutero ensinou em seu Catecismo Maior:
“Mas visto que a grande maioria está sobrecarregada com negócios, precisa
haver algum dia da semana para atenção a esses assuntos, Como o costume
inócuo do dia do Senhor conseguiu um consentimento unânime, somente
confusão poderia resultar de uma inovação desnecessária”. [7]
“Embora o sábado tenha sido revogado, ainda nos assiste ocasião: (1)para nos
reunirmos em dias determinados para o ouvir da Palavra, o quebrar do pão
místico e as orações públicas...”; (2) para dar descanso do trabalho a servos e
operários... Porém, estamos usando-o como um recurso, um medicamento
necessário para se manter ordem na igreja... Também devemos observar
juntos a ordem prescrita pela igreja para o ouvir da Palavra, a administração
dos sacramentos e as orações públicas”. [8]
NOTAS:
[1] — Joseph A. Pipa, Jr., Root and Branch (Filadélfia: Great Comission
Publications, 1989), cap. 7-10,
[2] — Ver H.C.G. Moule, Colossians and Philemon Studies (Londres: Pickering
& Inglis Ltd) p. 175.
[5] — Richard Lewis, The Protestant Dilemma (Mountain View, Cal., 1961) pp.
85, 141, citado em Jewett, 113.
[7] — Martin Luther, The Larger Catechism (Filadélfia: Fortress Press, 1959),
20.
[8] — John Calvin, lnstitutes of Christian Religion (Filadélfia: The Westminster
Press, 1967) II, viii, 32, 33, 34, [As lnstitutas: João Calvino]