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Aula 6.

FATO TÍPICO: RELAÇÃO DE CAUSALIDADE e TIPICIDADE


RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

1. Denominação
Embora o Código Penal utilize a expressão relação de causalidade, também se fala em nexo de
causalidade e nexo causal.

2. Conceito
Relação de causalidade é o vínculo que se estabelece entre a conduta e o resultado
naturalístico, e por meio do qual se apura se a conduta foi responsável pela produção do
resultado.
ATENÇÃO: não utilizar a expressão elo de ligação para definir a relação de causalidade, dada
a sua incorreção gramatical.

3. Aplicabilidade
O estudo da relação de causalidade se relaciona apenas aos crimes materiais, nos quais o tipo
penal é formado por conduta e resultado naturalístico, e exige a ocorrência desse resultado
para a consumação.

CP, Artigo 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem
lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Questiona-se, a partir da leitura do artigo 13, caput, 1ª parte, do CP, quais crimes dependem
do resultado para existir? Somente os crimes materiais, uma vez que os formais e os de mera
conduta se aperfeiçoam com a prática da conduta.

4. Teorias

4.1. Teoria da equivalência dos antecedentes/teoria da conditio sine qua non/teoria da


equivalência das condições/teoria da condição simples/teoria da condição generalizadora

CP, Artigo 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem
lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Inicialmente desenvolvida por Glaser, foi aperfeiçoada por Von Buri e Stuart Mill no ano de
1873, e corresponde à regra geral do Código Penal (artigo 13, caput).
Causa é todo e qualquer acontecimento que contribui para a produção do resultado, quando e
como ocorreu, não existindo diferença entre causa, condição e ocasião. Em outros termos, tudo
que concorre de qualquer modo para o resultado final é tido como causa deste.

CRÍTICA: Permitiria o regressus ad infinitum. Se tudo que concorre para o resultado é


considerado causa, poder-se-ia dizer que o casamento dos avós do homicida também é causa
do resultado.
Não obstante, a relação de causalidade não se esgota na mera causalidade física - relação de
causa e efeito entre a conduta e o resultado -, reclamando também a causalidade psíquica -
presença de um dos elementos subjetivos, dolo ou culpa -.
A identificação da causa é realizada pelo método da eliminação hipotética, desenvolvido pelo
sueco Thyrén (1894). A partir da identificação de todos os antecedentes do crime, tais como
compra da arma (1), compra da munição (2), emboscada (3), compra de uma pizza enquanto
aguarda a vítima (4) e o evento morte (5), verifica-se que somente a compra da pizza não se
encontra na linha de desenvolvimento causal do delito de homicídio; todos os demais
acontecimentos funcionam como causa do resultado final.

4.2. Teoria da causalidade adequada ou teoria da condição qualificada ou teoria


individualizadora
Criada por von Kries, assevera que causa é o acontecimento que contribui para o resultado de
forma eficaz, decisiva.
Adotada pelo Código Penal, no artigo 13, § 1º, como exceção.

4.3. Teoria da imputação objetiva


Incorporada no Direito Penal por Claus Roxin no ano de 1970, apresenta-se como uma das
características marcantes do funcionalismo penal, e trabalha com a ideia de risco proibido.
Isto é, para existir relação de causalidade, é necessário que o agente tenha criado o risco
proibido ao bem jurídico ou aumentado um risco proibido já existente.
Embora não encontre previsão legal no nosso ordenamento jurídico, essa teoria já foi adotada
em alguns poucos julgados do STJ, justamente pelo fato de ser mais favorável ao réu.
Essa teoria começou a ser debatida no Brasil apenas no final da década de 1990, enquanto o
CP é de 1940 e a reforma da Parte Geral se deu no ano de 1984. Logo, é equivocada a
afirmação que encontra amparo em nosso ordenamento jurídico.
Em síntese, podemos dizer que a teoria da imputação objetiva é uma proposta doutrinária que
encontra eco em alguns julgados do STJ por ser mais favorável ao réu, ao estabelecer mais um
filtro à imputação penal, isto é, a criação ou o aumento de um risco proibido ao bem jurídico,
além da relação de causalidade e da equivalência dos antecedentes.

Aula 6.2

5. A relevância da omissão
Art. 13 (...), § 2º, do Código Penal - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e
podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

5.1. Aplicabilidade
Tem aplicação unicamente aos crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por
omissão, em relação aos quais o tipo penal descreve uma ação, mas a inércia/omissão do agente
que descumpre seu dever de agir conduz à produção do resultado naturalístico.
Nos crime omissivos próprios ou puros, a omissão vem descrita no próprio tipo penal, e
sempre é relevante.

5.2. Dever de agir: critérios para sua definição

i. Legal: a lei indica expressamente as hipóteses do dever de agir.

ii. Judicial: a critério do magistrado, a partir da análise do caso concreto, realiza-se a


verificação do dever de agir.

iii. Misto: o legislador fornece parâmetros mínimos para que o juiz realize a análise, no caso
concreto, acerca da existência do dever de agir.

O CP brasileiro adotou, no § 2º do artigo 13, o critério legal, ao indicar taxativamente as


hipóteses nas quais se verifica o dever de agir. E o suposto engessamento da atuação do juiz - o
qual deve se limitar à aplicação da lei em seus estritos limites - traz em contrapartida a
segurança jurídica ao sistema.

5.3. Hipóteses do dever de agir


Art. 13, § 2º, do Código Penal: art. 13 (...) § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o
omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

i. Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância


Contempla o chamado dever legal. A lei impõe a determinadas pessoas o dever de impedir a
produção do resultado. Ex.: pais em relação aos filhos menores, tutor em relação ao pupilo,
curador em relação ao curatelado, policial em relação ao cidadão.
No tocante ao termo lei foi utilizada pelo CP a teoria das fontes, segundo a qual lei é qualquer
comando emitido pelo Estado, e não apenas a lei em sentido estrito. Ex.: uma decisão judicial
que nomeia curador ao interdito, nesse caso, tem força de lei - corresponde à aplicação da lei ao
caso concreto.

ii. De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado


De outra forma deve ser entendido por qualquer outro modo distinto da lei. Aqui temos a figura
do garante/garantidor da não produção do resultado. Pode derivar de um contrato entre as
partes, mas esta avença é prescindível. Ex.: babá contratada para cuidar do bebê (há contrato de
trabalho), e banhista que, na praia, se compromete a vigiar os bens do terceiro, que lhe é
estranho, por alguns minutos (não há contrato).

ATENÇÃO: Nas relações de trabalho o dever de agir subsiste enquanto o agente se encontra no
local de trabalho, ainda que encerrado o horário do seu expediente.

Nos delitos omissivos impróprios o agente pode responder a título de dolo ou de culpa, bem
como figurar como autor ou como partícipe. Ex.: policial militar que acompanha a distância a
prática do crime de estupro contra a esposa de um desafeto, pretendendo ver o sofrimento deste
- responde como partícipe do crime de estupro -. Isto porque, detentor do dever de agir, com a
sua omissão concorreu para o resultado final, ajustando-se portanto sua conduta à figura do
partícipe, enquanto o estuprador responde como autor.

iii. Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado


Ingerência é a hipótese do dever de agir prevista no artigo 13, § 2º, “c”, do CP. Aquele que cria
uma situação de perigo tem a obrigação de impedir o resultado. Ex.: por brincadeira, A joga B
na piscina e este, não sabendo nadar, morre afogado.
As cláusulas e termos de adesão que eximem o contratado de qualquer responsabilidade por
danos são nulos para o Direito Penal, pois a criação da situação de perigo gera obrigação de
impedir o resultado. Ex.: contrato com instrutor de mergulho ou de voo livre que o eximem de
qualquer responsabilidade.

5.4. Poder de agir


Para o CP, algumas pessoas têm o dever de enfrentar situações perigosas, mas não pode a lei
obrigar quem quer que seja a uma atitude heroica. Ex.: não é possível obrigar um policial a
sozinho enfrentar uma quadrilha armada durante um roubo a banco. Assim, diante do caso
concreto, deve ser realizada uma interpretação com bom senso.
Em outras palavras, além do dever de agir, também se exige o poder de agir. Essa, em verdade,
constitui a omissão penalmente relevante nos crimes omissivos impróprios, a soma do poder
com o dever de agir.

6. Concausas

6.1. Conceito
É a convergência de uma causa estranha à conduta do agente que colabora para a produção do
resultado. Em outros termos, é a concorrência de causas.

6.2. Espécies

i. Dependentes. São aquelas que não são capazes de produzir, por si sós, o resultado final.
Dependem da conduta do agente para a produção do resultado final.

ii. Independentes. São aquelas capazes de produzir, por si sós, o resultado final. Absolutas ou
relativas, distinguem-se, no entanto, quanto à origem.

a. Absolutas. São desvinculadas, não guardam qualquer relação com a conduta do agente e
podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes.

 Preexistentes são aquelas que antecedem a conduta do agente. Ex.: após ser alvejado com três
tiros por um desafeto, A é encaminhado ao hospital, onde verifica-se que a causa da morte foi a
anterior ingestão de veneno ministrado por sua esposa. Portanto, a causa da morte -
envenenamento - é anterior e absolutamente independente da conduta do agente.

 Concomitantes são aquelas que ocorrem simultaneamente à conduta do agente. Ex.: no


mesmo instante, a vítima é atingida por um disparo de arma de fogo e por um raio recebendo
forte descarga elétrica, sendo esta a causa da morte. Aqui, a causa da morte - a descarga elétrica
- é uma concausa concomitante e absolutamente independente.

 Supervenientes são aquelas que ocorrem após a conduta do agente. Ex.: após ser atingida
por um tiro em alto mar vindo de outra embarcação, a vítima, que estava em um pequeno barco,
morre afogada em decorrência de um tsunami. Trata-se o tsunami de uma concausa
superveniente absolutamente independente à conduta do agente, que por si só causou a morte
do agente.

EFEITO → Todas as concausas absolutamente independentes - preexistentes, concomitantes


ou supervenientes - rompem o nexo causal, fazendo com que o agente responda apenas pelos
atos praticados. Nos exemplos citados, a vítima teria morrido independentemente da conduta
do agente, e a solução legal encontra previsão no artigo 13, caput, do Código Penal (teoria da
equivalência dos antecedentes) → tentativa.

b. Relativas. Origem relacionada à conduta do agente.

 Preexistentes são aquelas que antecedem a conduta do agente. Ex.: agente, conhecedor da
condição de hemofilia da vítima, pretendendo matá-la, a atinge com um tiro de raspão no braço,
vindo a vítima ao óbito. Nesse exemplo, a doença apenas se manifestou em razão da conduta do
agente; a morte não teria ocorrido quando e como ocorreu.

 Concomitantes são aquelas que ocorrem simultaneamente à conduta do agente.


Ex.: agente dispara tiro contra a vítima em local ermo e muito frio, e a perícia aponta que a
causa da morte foi o congelamento dos seus órgãos. A baixa temperatura, isoladamente, não o
teria matado se não estivesse ferido.

EFEITO → As concausas preexistentes e as concomitantes relativamente independentes não


rompem o nexo causal. O agente responde pelo resultado, nos termos do artigo 13, caput, do
Código Penal, eis que, suprimindo a conduta do agente, a morte não teria ocorrido como e
quando ocorreu.

 Supervenientes

i. Que não produzem por si sós o resultado. Ex.: Alvejada por tiro, a vítima é encaminhada ao
hospital e, durante a cirurgia para a remoção do projétil, por imperícia médica, ou após a
cirurgia, por infecção hospitalar, vem a falecer.
Em ambos exemplos temos concausas supervenientes relativamente independentes que não
produzem por si sós o resultado. Tanto a imperícia quanto a infecção hospitalar podem matar,
mas não teriam causado a morte da vítima se o tiro não tivesse sido disparado contra ela.
EFEITO → As concausas supervenientes relativamente independentes não rompem o nexo
causal, respondendo o agente pelo resultado.

Aula 6.4

ii. Concausas supervenientes relativamente independentes que produzem, por si sós, o


resultado, rompem o nexo, não respondendo o agente pelo resultado, mas apenas pelos atos
praticados.
Aplica-se à hipótese a teoria da causalidade adequada - exceção prevista no artigo 13, § 1º,
segundo a qual causa é o que concorre de forma eficaz para o resultado. Essa eficácia é obtida
no Direito Penal com o famoso id quod plerumque accidit – aquilo que normalmente acontece -,
isto é, com as máximas da experiência.
São exemplos comumente apontados pela doutrina o incêndio no hospital e o acidente com a
ambulância. Em tais exemplos, não apenas a pessoa atingida com o projetil é vitimada, mas
também o motorista e os ocupantes do outro carro no caso da ambulância, e demais doentes no
caso do desastre hospitalar.
O penalista Paulo José da Costa Júnior assevera que, por analogia in bonan partem, o artigo
13, § 1º, do CP, também deve ser aplicado às concausas preexistentes e concomitantes
relativamente independentes que por si sós produzirem o resultado. Isso porque embora sejam
relativas, recebem o mesmo tratamento das absolutas. As teorias diversas levam a esse mesmo
resultado.
Art. 13, § 1º, do Código Penal: "A superveniência de causa relativamente independente exclui a
imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se
a quem os praticou".

TIPICIDADE

1. Conceito
Elemento do fato típico presente em todo e qualquer crime, assim como a conduta. O resultado
naturalístico e a relação de causalidade só existem nos crimes materiais consumados.
Atualmente fala-se em tipicidade penal, formada pela soma da tipicidade formal com a
tipicidade material.
Tipicidade formal é o mero juízo de adequação, juízo de subsunção do fato à norma. Deve ser
apurado se o fato praticado na vida real se amolda ao modelo de infração penal descrita na lei
penal.
Tipicidade material é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico.
Princípio da insignificância constitui causa supralegal de exclusão da tipicidade, porque
embora presente a tipicidade formal, inexiste a tipicidade material.

2. Evolução doutrinária

No Direito Romano trabalhava-se com a ideia de corpus delicti, isto é, o crime era entendido a
partir dos vestígios materiais. Inexistia a preocupação de um estudo fragmentado do Direito
Penal.

Muitos anos após, já na Alemanha, em 1906, Ernst von Beling foi o primeiro a abandonar o
corpus delicti, passando a dividir o crime em elementos, na chamada fase da independência do
tipo.

Posteriormente, em 1915, Max Ernst Mayer, aprimorando a teoria de Beling, inaugura a fase
da ratio cognoscendi ou teoria indiciária da tipicidade. A tipicidade passa a ser compreendida
como um indício da ilicitude.
Todo fato típico se presume também ilícito. Entretanto, trata-se de uma presunção relativa –
iuris tantum -, admitindo prova em sentido contrário. Tem essa teoria, como efeito prático, a
inversão do ônus da prova no tocante às excludentes da ilicitude. À acusação cabe apenas a
prova de que o fato é típico, sendo a ilicitude presumida. Ex.: quem mata alguém se presume
que mata de forma ilícita e, se a defesa arguir uma excludente da ilicitude, tem o ônus da prova
de sua alegação. Esta é a teoria preferida desde então até os dia de hoje.

Ainda na Alemanha, no ano de 1931, Edmund Mezger, desenvolveu a teoria da ratio essendi,
identificando a tipicidade como essência da ilicitude. Há o surgimento da ilicitude tipificada,
com a afirmação de que a tipicidade não pode existir sem a ilicitude - ao contrário do afirmado
pela teoria indiciária. Nessa fase, surge a figura do injusto penal, caracterizado pela união entre
fato típico e ilícito.

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3. Teoria dos elementos negativos do tipo


Formulada pelo penalista alemão Hellmuth von Weber, propõe o chamado tipo total de injusto
- representa mais, portanto, do que o injusto penal -, por meio da qual as excludentes da ilicitude
funcionam como elementos negativos do tipo penal. Se adotada, o artigo 121 do CP teria a
seguinte redação: “matar alguém, salvo em legítima defesa, estado de necessidade, no estrito
cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito”.

4. Tipicidade conglobante
Criada pelo penalista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, entende a tipicidade conglobante
como a junção da tipicidade legal - equivalente à nossa tipicidade formal - com a
antinormatividade.
Antinormatividade é a relação de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico
em geral. Assim, não basta a violação da norma, sendo necessária a violação do ordenamento
jurídico como um todo. Ex.: concedida ordem de busca e apreensão pelo juiz, o oficial de
justiça comparece na residência do devedor e apreende o veículo, com posterior entrega a um
depositário. Esse oficial de justiça está praticando o tipo penal do furto, subtraindo para
outrem - credor - uma coisa alheia móvel, porém acobertado por uma excludente da ilicitude -
estrito cumprimento do dever legal -. E, para o referido autor, essa afirmação é inadmissível,
pois não se pode admitir que o oficial de justiça, cumprindo a lei veiculada por meio de uma
ordem judicial, esteja praticando um fato típico porém lícito. Embora possa haver a violação
da norma penal, sua conduta está em conformidade com o restante do ordenamento jurídico.
Aqui está presente a ideia da antinormatividade: não basta violar a norma penal, é preciso
ofender o ordenamento jurídico de forma global. Em outros termos, a teoria da tipicidade
conglobante antecipa a análise da ilicitude para o mesmo instante de verificação da tipicidade.

5. Adequação típica: conceito e espécies


Adequação típica é a tipicidade formal colocada em prática, isto é, a verificação se o fato
praticado se subsume à norma penal.
Pode ser imediata ou mediata.

5.1. Adequação típica imediata ou de subordinação imediata.


O fato praticado pelo agente se encaixa diretamente no tipo penal. Não há necessidade de
utilização de nenhuma outra norma. Ex.: homicídio consumado se encaixa diretamente no
artigo 121 do CP.

5.2. Adequação típica mediata ou de subordinação mediata/por extensão ou por ampliação.


O fato praticado pelo agente não se encaixa diretamente no tipo penal, havendo necessidade de
utilização de uma outra norma. São as chamadas normas de extensão ou complementares da
tipicidade.
Existem no CP três normas complementares da tipicidade.

i. Art. 14, inc. II, do Código Penal: "tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente".
No crime tentado, a conduta do agente não se subsume diretamente ao tipo penal. É preciso
invocar a norma de extensão constante do artigo 14, inciso II, do CP.
Trata-se de norma de extensão temporal da tipicidade, porque permite a aplicação da lei penal a
momento anterior à consumação. E, na denúncia/sentença, devem ser detalhadamente
descritas as circunstâncias alheias à vontade do agente que impediram a consumação do delito.

ii. Art. 29, caput, do Código Penal: "Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide
nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade".
Norma de extensão pessoal da tipicidade aplicável apenas à participação, não à coautoria, eis
que o coautor realiza diretamente o núcleo do tipo penal. É dita pessoal porque permite a
aplicação da lei penal a pessoas diversas dos autores do delito.
Note-se que a participação pode ocorrer por três formas distintas: induzimento e instigação
(ambas participação moral) e auxílio (participação material). Tais formas de participação
devem ser minuciosamente descritas na denúncia e na sentença (forma + descrição da
conduta).

iii. Art. 13 (...) , § 2º, do Código Penal - A omissão é penalmente relevante quando o omitente
devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
Omissão penalmente relevante é norma de extensão da própria conduta, ou seja, para quem
tem o dever de agir, aquela conduta que originariamente só era praticada por ação pode
também ser praticada por omissão. Ex.: a mãe que causa a morte do bebê deixando de
alimentá-lo responde como incursa no artigo 121, caput, combinado com o artigo 13, § 2º,
alínea a, ambos do CP.
Da mesma forma, na denúncia e na sentença devem estar descritos o dever de agir, a omissão
correspondente e o poder de agir, obrigatoriamente.

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