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Cleber Masson
Direito Penal
Aula 17
ROTEIRO DE AULA
PARTE ESPECIAL
HOMICÍDIO
1. Conceito de homicídio
É a eliminação da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa.
Para ser homicídio, a eliminação tem que ser praticada por outra pessoa. Se a pessoa morre em
decorrência de fenômenos da natureza (ex. raios, enchentes etc.) ou por ataques de animais,
não há homicídio.
É importante lembrar que os animais não podem praticar homicídio, mas podem funcionar
como instrumentos do crime. Nesse caso, um ser humano utiliza o animal como instrumento do
crime (ex. sujeito manda seu cão bravo e adestrado atacar alguém).
Primeiro Homicídio: Bíblia (Gênesis, Cap. 4, Versículo 8): Caim contra seu irmão Abel.
2. Objetividade jurídica
O bem jurídico protegido no crime de homicídio é a vida humana extrauterina.
O homicídio pressupõe o nascimento com vida.
No âmbito da teoria constitucional do Direito Penal, o fundamento de validade do homicídio é
o direito à vida (CF, art. 5º, “caput”).
Docimasia respiratória – meio pelo qual se prova o nascimento com vida. Trata-se da
respiração autônoma do nascente.
Protege-se a vida humana extrauterina, independentemente da viabilidade do ser nascente.
Basta que exista a vida.
Direito Romano - Monstrum vel prodigium – mesmo o ser humano com características
monstruosas é protegido pelo Direito Penal.
Com o nascimento com vida começa a personalidade jurídica (CC, art. 2º).
“Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial
ou religioso, como tal:
3.6. Consumação
CRIME MATERIAL OU CAUSAL – o homicídio é crime de resultado, ou seja, a consumação
depende da produção do resultado naturalístico (morte da vítima).
Quando se dá a morte da vítima? Com a MORTE CEREBRAL (art. 3º, “caput”, da Lei
9.434/1997).
Prova da morte – A morte é provada com perícia (exame necroscópico). O homicídio é crime
que deixa vestígios materiais.
Exame necroscópico: é a perícia que prova a morte e sua respectiva causa.
Aula 17.3
Esse dispositivo não autoriza a ortotanásia. O que o dispositivo proíbe são as ações inúteis e
obstinadas, as experiências, as práticas mirabolantes.
d) MISTANÁSIA
É a morte precoce e miserável de alguém provocada pelo descaso e pela maldade de um ser
humano. Pode ocorrer em três situações:
1ª Falta de atendimento médico pelo sistema de saúde.
2ª Erro médico
3ª Má-fé
- Eutanásia social? Não raras vezes a mistanásia é rotulada pela doutrina como “EUTANÁSIA
SOCIAL”, o que parece não estar correto. A mistanásia não tem nada de eutanásia. Não tem
relevante valor moral, não tem compaixão pelo sofrimento. A mistanásia é HOMICÍDIO,
podendo até ser qualificado.
Cuidado: O Código Penal fala em “injusta provocação”, e não em “agressão injusta”. A injusta
provocação caracteriza o homicídio privilegiado. Agressão injusta caracteriza legítima defesa,
não respondendo o agente por crime algum.
c) REAÇÃO IMEDIATA.
“Logo em seguida” – O Código Penal não diz o que é “logo em seguida”. É no caso concreto que
o juiz aferirá se a reação foi logo em seguida à injusta provocação da vítima. A lei NÃO
ADMITE um hiato temporal (um intervalo muito grande entre a injusta provocação e o
homicídio).
Esse requisito deve levar em conta o momento em que o agente teve CONHECIMENTO da
injusta provocação da vítima, pouco importando quando ela ocorreu.
A atenuante genérica é aplicável a qualquer crime, inclusive ao homicídio doloso, quando não
ficar caracterizado o privilégio, uma vez que os requisitos do privilégio são muito mais rígidos.
É muito mais difícil configurar o privilégio do que a atenuante genérica. Talvez, no caso
concreto, não sejam preenchidos os requisitos do privilégio, mas sejam preenchidos os da
atenuante genérica.
Para a caracterização da atenuante genérica, a vítima não precisa ter provocado o agente.
Basta que ela tenha praticado um ATO INJUSTO.
Aula 17.4
5. Homicídio qualificado: art. 121, § 2º
Alteram-se os limites mínimo e máximo da pena em abstrato.
5.2. Inc. I
“§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe.”
O Código Penal se vale da chamada INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA ou “INTRA LEGEM”
(como o legislador não pode prever todas as hipóteses que possam surgir na vida real, ele
apresenta uma fórmula casuística, fechada, seguida de uma fórmula genérica). O legislador já
diz que a paga e a promessa de recompensa são motivos de natureza torpe (fórmula fechada).
Porém, ele deixa claro que a paga e a promessa de recompensa não são os únicos motivos de
natureza torpe (fórmula genérica).
- MOTIVO TORPE
É o motivo abjeto, vil, ignóbil. É aquele que causa repugnância, nojo. Exemplo: matar para
ficar com a vaga da vítima no trabalho, ou para receber sua herança.
A vingança é motivo torpe? Não necessariamente. Depende da sua causa (origem).
E o ciúme, é motivo torpe? Doutrina e jurisprudência entendem que NÃO, pois quem mata por
ciúme, ainda que de forma totalmente equivocada, mata por amor. E o amor não pode ser
considerado repugnante, vil, ignóbil, abjeto.
STJ - Resp 785.122 (Inf. 452): o homicídio qualificado é de competência do Tribunal do Júri.
Se os jurados, no caso concreto, entenderem que é torpe, assim será (soberania dos veredictos).
As qualificadoras do inciso I (paga, promessa, motivo torpe) são de NATUREZA SUBJETIVA
ou PESSOAL, ou seja, NAÕ SE COMUNICAM no concurso de pessoas.
5.3. Inc. II
A qualificadora do inciso II (motivo fútil) é de NATUREZA SUBJETIVA ou PESSOAL. NÃO
se comunica no concurso de pessoas.
Aula 17.5
“§ 2° Se o homicídio é cometido:
(…)
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel,
ou de que possa resultar perigo comum.”
O Código Penal mais uma vez utiliza-se da INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA ou INTRA
LEGEM. Veneno, fogo, explosivo, asfixia e tortura vão se enquadrar em meio insidioso ou
cruel ou meio de que possa resultar PERIGO COMUM.
Portanto, traz uma fórmula casuística/fechada até a palavra “tortura”, e depois uma fórmula
genérica.
Gêneros:
a) MEIO INSIDIOSO: insídia é sinônimo de fraude. Meio insidioso é o meio fraudulento. O
agente se utiliza de uma FRAUDE, estratagema ou engodo para matar a vítima sem que ela o
perceba.
b) MEIO CRUEL: é aquele que causa à vítima um intenso e desnecessário sofrimento físico ou
mental. O agente tinha como matar a vítima de forma menos dolorosa, mas preferiu fazê-la
sofrer, seja no aspecto físico ou mental.
Só incide esta qualificadora quando o meio cruel é utilizado para MATAR A VÍTIMA. O
emprego de meio cruel, sádico e bárbaro após a morte da vítima não caracteriza essa
qualificadora, e sim o crime de DESTRUIÇÃO/VILIPÊNDIO a CADÁVER.
A reiteração de golpes, por si só, caracteriza essa qualificadora? NÃO. Depende do caso
concreto.
c) MEIO DE QUE POSSA RESULTAR PERIGO COUM: perigo comum é a probabilidade de
dano a um NÚMERO INDETERMINADO de pessoas.
A qualificadora se contenta com a possibilidade de perigo comum: “meio de que possa
resultar...”. NÃO EXIGE o EFETIVO PERIGO COMUM. Se ficar comprovado o perigo
comum, o agente vai responder pelo homicídio qualificado por esta qualificadora em
CONCURSO com o CRIME DE PERIGO COMUM(incêndio, desastre, inundação – art. 250
e ss. do Código Penal). NÃO HÁ bis in idem, uma vez que atingem bens jurídicos diversos,
justificando a aplicação da qualificadora com o crime específico de perigo por uma questão de
equidade, de justiça e de bom senso. Para configuração da qualificadora, basta que o meio
possa resultar em perigo comum. E, resultando no caso concreto o perigo comum, justifica-se
tratamento mais rigoroso, por ser um comportamento muito mais temerário e lesivo ao Direito
Penal.
Espécies:
g.2) Tóxica
- uso de gás asfixiante (inalação)
- confinamento**
*Exemplo de imprensamento: a vítima está deitada e o agente coloca um peso em cima do seu
diafragma e esse peso impede a função respiratória até a sua morte.
** Conceito de confinamento: a vítima é trancada em um recinto fechado. A partir de
determinado momento, como não há circulação de ar e entrada de oxigênio naquele local, de
tanto respirar gás carbônico ela vem a óbito.
A asfixia PODE ser meio INSIDIOSO, meio CRUEL ou meio de que possa resultar PERIGO
COMUM.