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MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS

Cleber Masson
Direito Penal
Aula 17
ROTEIRO DE AULA
PARTE ESPECIAL

HOMICÍDIO
1. Conceito de homicídio
É a eliminação da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa.
Para ser homicídio, a eliminação tem que ser praticada por outra pessoa. Se a pessoa morre em
decorrência de fenômenos da natureza (ex. raios, enchentes etc.) ou por ataques de animais,
não há homicídio.
É importante lembrar que os animais não podem praticar homicídio, mas podem funcionar
como instrumentos do crime. Nesse caso, um ser humano utiliza o animal como instrumento do
crime (ex. sujeito manda seu cão bravo e adestrado atacar alguém).
Primeiro Homicídio: Bíblia (Gênesis, Cap. 4, Versículo 8): Caim contra seu irmão Abel.

2. Objetividade jurídica
O bem jurídico protegido no crime de homicídio é a vida humana extrauterina.
O homicídio pressupõe o nascimento com vida.
No âmbito da teoria constitucional do Direito Penal, o fundamento de validade do homicídio é
o direito à vida (CF, art. 5º, “caput”).
Docimasia respiratória – meio pelo qual se prova o nascimento com vida. Trata-se da
respiração autônoma do nascente.
Protege-se a vida humana extrauterina, independentemente da viabilidade do ser nascente.
Basta que exista a vida.
Direito Romano - Monstrum vel prodigium – mesmo o ser humano com características
monstruosas é protegido pelo Direito Penal.
Com o nascimento com vida começa a personalidade jurídica (CC, art. 2º).

3. Homicídio simples: art. 121, caput


“Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.”
É a modalidade básica do crime de homicídio.

3.1. Homicídio simples e Lei dos Crimes Hediondos


O homicídio simples é crime hediondo? Em regra, não.
Quanto à definição de crime hediondo, o Brasil adota um critério legal (CF, art. 5º, inciso
XLIII, e art. 1º da Lei 8.072/1990). Hediondo não é o crime bárbaro, cruel ou repugnante, e
sim aquele que a lei define como tal.
Art. 1º, inc. I, da Lei 8.072/1990:
“Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, CONSUMADOS OU TENTADOS:
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda
que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI
e VII).”
A tentativa não afasta a hediondez do crime. A pena vai ser diminuída, mas o crime continua
sendo hediondo.
O homicídio simples, em regra, não é crime hediondo. Será rotulado pela hediondez, contudo,
quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por um só agente.
3.2. Núcleo do tipo
É o verbo “matar”.
- Crime de forma livre: O homicídio é crime de forma livre (ou de ação livre), pois admite
qualquer meio de execução. Exemplificativamente, pode ser executado por meio de arma de
fogo, faca, paulada, fogo, pedrada, asfixia etc.
- Ação/Omissão: Em regra, o homicídio é praticado por ação, mas também pode ser praticado
por omissão (art. 13, §2º), quando o omitente tinha o dever de agir e podia agir para evitar o
resultado. Ex. mãe que dolosamente deixa o filho de pouca idade morrer de fome.
O meio de execução do homicídio pode caracterizar uma qualificadora. Ex. meio cruel, veneno,
fogo, explosivo, tortura etc.

- Transmissão dolosa do vírus HIV


O vírus HIV pode ser transmitido por relação sexual e por atos libidinosos, e também por
formas diversas.
Ex. sujeito com seringa que contém sangue contaminado. Intencionalmente, dizendo que quer
matar, aplica a seringa em outra pessoa. Questiona-se: nesse caso, há homicídio/tentativa de
homicídio?
Prevalece em DOUTRINA o entendimento de que a transmissão dolosa do vírus HIV
caracteriza homicídio, consumado, se a vítima morreu, ou tentado, se não morreu.
Contudo, o STF entende que a transmissão do vírus HIV, ainda que dolosa, não caracteriza
homicídio (HC. 98.712/SP Inf. 603). O STF decidiu que, no caso concreto, pode ser:
-------------------------- LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA (CP, art. 129, §2º, II), uma vez que
ocasiona uma enfermidade incurável (caso tenha havido a transmissão do vírus).
-------------------------- perigo de contágio venéreo (CP, art. 130) (caso não tenha havido a
transmissão do vírus).

3.3. Sujeito ativo


O homicídio é crime comum ou geral: pode ser praticado por qualquer pessoa.
- E se o crime for praticado por XIPÓFAGOS (irmãos siameses ou indivíduos duplos)?
Euclides Custódio da Silveira – Se um deles dispara a arma e o outro apenas incentiva, o
primeiro será autor e o segundo partícipe. Se os dois portavam armas, ambos atiraram e
mataram a vítima, ambos são autores. Contudo, a dificuldade se encontra no caso em que um
quer matar e o outro não. Apenas o primeiro atira. O segundo tenta, mas não consegue evitar o
homicídio. Nesse caso, inicialmente há que se responder se é possível separá-los. Se for possível,
a solução é condenar um e absolver o outro. Se não for possível separá-los, os dois devem ser
absolvidos.

3.4. Sujeito passivo


Qualquer pessoa que esteja viva, independentemente sexo, da idade, da nacionalidade, da classe
social etc.
Se o sujeito já estava morto quando a outra disparou a arma de fogo, será crime impossível por
impropriedade absoluta do objeto material. Não há “alguém”.
O homicídio é um CRIME BICOMUM (comum em relação ao sujeito ativo e comum no
tocante ao sujeito passivo).
- Crime contra a Segurança Nacional: Art. 29 da Lei 7.170/1983
A conduta de matar alguém pode ter sua tipicidade deslocada do art. 121 do CP para o art. 29
da Lei 7.170/1983 quando a vítima for o Presidente da República, da Câmara dos Deputados, do
Senado Federal ou do STF. Para que haja o deslocamento, é necessário que o crime tenha
motivação política.
O crime contra a Segurança Nacional (Art. 29 da Lei 7.170/1983) não é hediondo, por falta de
previsão legal.
Aula 17.2

- Genocídio e art. 1º, “a”, da Lei 2.889/1956

“Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial
ou religioso, como tal:

a) matar membros do grupo.”


O genocídio não é crime contra a vida, e sim contra a humanidade, contra a diversidade
humana. Logo, o genocídio, isoladamente considerado, não é crime de competência do Tribunal
do Júri. A competência é do juízo singular, Federal ou Estadual, dependendo do caso concreto.

3.5. Elemento subjetivo


É o dolo (“animus necandi” ou “animus occidendi”), direto ou eventual. BASTA o DOLO,
independentemente de qualquer finalidade específica.

-Finalidade específica e qualificadora ou causa de diminuição de pena


Eventual FINALIDADE ESPECÍFICA pode caracterizar qualificadora ou causa de
diminuição de pena. Ex. Homicídio praticado por motivo fútil, motivo torpe ou para assegurar a
execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime (qualificadoras).
Homicídio praticado por motivo de relevante valor moral, relevante valor social (privilégio).
Também se admite a modalidade culposa (CP, art. 121, § 3º).

3.6. Consumação
CRIME MATERIAL OU CAUSAL – o homicídio é crime de resultado, ou seja, a consumação
depende da produção do resultado naturalístico (morte da vítima).
Quando se dá a morte da vítima? Com a MORTE CEREBRAL (art. 3º, “caput”, da Lei
9.434/1997).

Art. 3º, “caput”, da Lei 9.434/1997:


“Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a
transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada
e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante,
mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho
Federal de Medicina.”

No caso de feto anencéfalo, NÃO HÁ ABORTO. O aborto é a eliminação da vida humana


intrauterina. O aborto pressupõe vida. Quem não tem cérebro, juridicamente, nunca viveu.
Assim, não se fala em aborto de anencéfalo, e sim em antecipação do parto (interrupção da
gravidez pela anencefalia).

Prova da morte – A morte é provada com perícia (exame necroscópico). O homicídio é crime
que deixa vestígios materiais.
Exame necroscópico: é a perícia que prova a morte e sua respectiva causa.

- Crime instantâneo ou instantâneo de efeitos permanentes?


Prevalece na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que o homicídio é CRIME
INSTANTÂNEO, ou seja, consuma-se em um momento determinado, sem continuidade no
tempo.
Atenção: Há vozes no sentido de que o homicídio seria crime instantâneo de efeitos
permanentes, ou seja, consuma-se em um momento determinado, mas seus efeitos se
prolongam no tempo, independentemente da vontade do agente.
3.7. Tentativa
É cabível (CRIME PLURISSUBSISTENTE).

Tentativa branca (Incruenta) –a vítima não é atingida.


Tentativa vermelha (cruenta) - a vítima é atingida.

4. Homicídio privilegiado: art. 121, §1º


“§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de um sexto a um terço.”

4.1. Natureza jurídica


- CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA
O nome homicídio “privilegiado” é criação da doutrina, acolhida pela jurisprudência. Na
realidade, não se trata de homicídio “privilegiado”, e sim de causa de diminuição da pena, que
incide, portanto, na terceira fase da dosimetria da pena.
Privilégio? O privilégio, tecnicamente falando, é o contrário da qualificadora. A qualificadora
aumenta os limites mínimo e máximo da pena em abstrato. Ex. homicídio simples, pena de
reclusão de 6 a 20 anos. Homicídio qualificado, pena de reclusão de 12 a 30 anos. O privilégio
seria, por exemplo, a redução da pena do homicídio para 3 a 10 anos.

4.2 Diminuição da pena


O art. 121, §1º dispõe que o juiz “PODE” reduzir a pena...
Na realidade, o juiz “DEVE” reduzir a pena. O que o juiz pode é escolher a quantidade de
diminuição (optar pelo quantum da diminuição) dentro dos parâmetros de 1/6 a 1/3.
O homicídio privilegiado é uma forma de homicídio doloso. Logo, é crime de competência do
Tribunal do Júri. Quem vai dizer se o crime é privilegiado ou não são os jurados e não o juiz.
Os jurados respondem quesitos, os quais vinculam o juiz.

“Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:


(…)
§ 3º Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, devendo ser formulados
quesitos sobre:
I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa.”

4.3. Incomunicabilidade do privilégio


- Circunstância de natureza pessoal ou subjetiva e art. 30 do Código Penal
O privilégio de um dos agentes NÃO SE COMUNICA no concurso de pessoas.
* O privilégio é uma circunstância de natureza pessoal ou subjetiva, incomunicável no
concurso de pessoas.

4.4. Homicídio privilegiado e Lei dos Crimes Hediondos.


O homicídio privilegiado NÃO é crime hediondo, por falta de previsão legal.

4.5. Hipóteses do privilégio


São três (todas de natureza subjetiva):

4.5.1. Motivo de relevante valor social


Diz respeito ao interesse da COLETIVIDADE. Ex. sujeito mata o traidor da pátria.

4.5.2. Motivo de relevante valor moral


Diz respeito ao interesse do AGENTE, aprovado pela moralidade média, pelo senso comum e
considerado nobre e altruísta. Ex. Eutanásia (Item 39 da Exposição de Motivos da Parte Especial
do Código Penal – compaixão ante o irremediável sofrimento da vítima). Sujeito mata a vítima
que sofria em estado terminal. Será homicídio mesmo que a vítima peça para morrer por não
aguentar mais o sofrimento (vida é bem indisponível).

Aula 17.3

O tratamento jurídico da eutanásia:


a) EUTANÁSIA em SENTIDO ESTRITO, homicídio piedoso, compassivo, médico, caritativo
ou consensual
Praticada por AÇÃO. Modo comissivo de abreviar a vida de um doente em estado grave,
terminal, com grande sofrimento e sem previsão de cura.

b) ORTOTANÁSIA, eutanásia por omissão, moral ou terapêutica


Praticada por OMISSÃO. Modo omissivo de abreviar a vida de um doente em estado grave,
terminal, com grande sofrimento e sem previsão de cura.
Tanto a eutanásia em sentido estrito quanto a ortotanásia caracterizam homicídio privilegiado.

Cuidado com o Art. 41 do Código de Ética Médica:


- Art. 41 do Código de Ética Médica (Resolução CFM 1.931/2009): “É vedado ao médico:
Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal.
Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os
cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou
obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua
impossibilidade, a de seu representante legal.”

Esse dispositivo não autoriza a ortotanásia. O que o dispositivo proíbe são as ações inúteis e
obstinadas, as experiências, as práticas mirabolantes.

c) DISTANÁSIA ou obstinação terapêutica


É a morte vagarosa e sofrida prolongada pelos recursos da medicina. O fato é atípico.

d) MISTANÁSIA
É a morte precoce e miserável de alguém provocada pelo descaso e pela maldade de um ser
humano. Pode ocorrer em três situações:
1ª Falta de atendimento médico pelo sistema de saúde.
2ª Erro médico
3ª Má-fé

- Eutanásia social? Não raras vezes a mistanásia é rotulada pela doutrina como “EUTANÁSIA
SOCIAL”, o que parece não estar correto. A mistanásia não tem nada de eutanásia. Não tem
relevante valor moral, não tem compaixão pelo sofrimento. A mistanásia é HOMICÍDIO,
podendo até ser qualificado.

4.5.3. Domínio de violenta emoção


- Requisitos cumulativos:
a) DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO;
Não é qualquer emoção que pode caracterizar o privilégio. Há de ser violenta. O agente deve
estar dominado (controlado) por ela. O domínio da violenta emoção retira do agente a
prudência, o bom senso que ele ordinariamente possui.
Só existe o privilégio para o caso de violenta emoção. NÃO existe, contudo, para a violenta
paixão. O Código só fala em “emoção”. A emoção é passageira, a paixão é duradoura, ou seja, a
paixão é incompatível com o terceiro requisito, qual seja, reação imediata.

b) INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA;


É aquela que o agente não está obrigado a suportar. A injusta provocação pode ser um crime,
mas não precisa caracterizar um delito. Ex: vítima cospe no rosto do agente, ou faz um gracejo
com a mulher ou com a filha dele.
Em regra, a injusta provocação é dirigida ao agente. Mas ela também pode ser dirigida a uma
terceira pessoa. Ex. a vítima provocou injustamente a esposa, a mãe ou a filha do agente. Por
fim, PODE ser dirigida a um animal. Ex. sujeito sai para passear com cachorro. A vítima chuta
o cachorro. Sujeito mata aquele que chutou o cachorro.

Cuidado: O Código Penal fala em “injusta provocação”, e não em “agressão injusta”. A injusta
provocação caracteriza o homicídio privilegiado. Agressão injusta caracteriza legítima defesa,
não respondendo o agente por crime algum.

c) REAÇÃO IMEDIATA.
“Logo em seguida” – O Código Penal não diz o que é “logo em seguida”. É no caso concreto que
o juiz aferirá se a reação foi logo em seguida à injusta provocação da vítima. A lei NÃO
ADMITE um hiato temporal (um intervalo muito grande entre a injusta provocação e o
homicídio).
Esse requisito deve levar em conta o momento em que o agente teve CONHECIMENTO da
injusta provocação da vítima, pouco importando quando ela ocorreu.

- Privilégio e atenuante genérica: distinções

A atenuante genérica é aplicável a qualquer crime, inclusive ao homicídio doloso, quando não
ficar caracterizado o privilégio, uma vez que os requisitos do privilégio são muito mais rígidos.
É muito mais difícil configurar o privilégio do que a atenuante genérica. Talvez, no caso
concreto, não sejam preenchidos os requisitos do privilégio, mas sejam preenchidos os da
atenuante genérica.
Para a caracterização da atenuante genérica, a vítima não precisa ter provocado o agente.
Basta que ela tenha praticado um ATO INJUSTO.

Aula 17.4
5. Homicídio qualificado: art. 121, § 2º
Alteram-se os limites mínimo e máximo da pena em abstrato.

5.1. Lei dos Crimes Hediondos


O homicídio qualificado, qualquer que seja a qualificadora, é CRIME HEDIONDO.

5.2. Inc. I
“§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe.”
O Código Penal se vale da chamada INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA ou “INTRA LEGEM”
(como o legislador não pode prever todas as hipóteses que possam surgir na vida real, ele
apresenta uma fórmula casuística, fechada, seguida de uma fórmula genérica). O legislador já
diz que a paga e a promessa de recompensa são motivos de natureza torpe (fórmula fechada).
Porém, ele deixa claro que a paga e a promessa de recompensa não são os únicos motivos de
natureza torpe (fórmula genérica).

- PAGA E PROMESSA DE RECOMPENSA


Homicídio MERCENÁRIO ou por MANDATO REMUNERADO: a inspiração do agente é a
chamada “cupidez”, a busca exagerada por riqueza.
Crime plurilateral, plurissubjetivo ou de concurso necessário: o tipo penal reclama a presença
de pelo menos DUAS PESSOAS.
A paga é anterior ao crime; na promessa de recompensa, o homicídio é anterior ao pagamento.
Na promessa de recompensa, incide a qualificadora ainda que a recompensa não venha a ser
entregue ao executor. O que interessa é que, quando foi praticar o crime, o executor estava
motivado pela promessa de recompensa.
Na paga e na promessa de recompensa a vantagem entregue ou prometida ao agente pode ser
econômica ou de qualquer outra natureza. Ex. mulher diz que se casa com sujeito caso ele
mate seu esposo (promessa de recompensa).
A qualificadora da paga e da promessa de recompensa incidem EXCLUSIVAMENTE para o
EXECUTOR. Foi o executor que matou motivado pela paga ou pela promessa de recompensa.
Obviamente que o motivo do mandante também pode ser torpe, mas não será o da paga ou
promessa de recompensa. Pode acontecer, inclusive, de o mandante responder por homicídio
privilegiado, e o executor por homicídio qualificado, dependendo do motivo de cada um.

- MOTIVO TORPE
É o motivo abjeto, vil, ignóbil. É aquele que causa repugnância, nojo. Exemplo: matar para
ficar com a vaga da vítima no trabalho, ou para receber sua herança.
A vingança é motivo torpe? Não necessariamente. Depende da sua causa (origem).
E o ciúme, é motivo torpe? Doutrina e jurisprudência entendem que NÃO, pois quem mata por
ciúme, ainda que de forma totalmente equivocada, mata por amor. E o amor não pode ser
considerado repugnante, vil, ignóbil, abjeto.
STJ - Resp 785.122 (Inf. 452): o homicídio qualificado é de competência do Tribunal do Júri.
Se os jurados, no caso concreto, entenderem que é torpe, assim será (soberania dos veredictos).
As qualificadoras do inciso I (paga, promessa, motivo torpe) são de NATUREZA SUBJETIVA
ou PESSOAL, ou seja, NAÕ SE COMUNICAM no concurso de pessoas.

5.3. Inc. II
A qualificadora do inciso II (motivo fútil) é de NATUREZA SUBJETIVA ou PESSOAL. NÃO
se comunica no concurso de pessoas.

“§ 2° Se o homicídio é cometido: (…)


II - por motivo fútil.”
MOTIVO FÚTIL– é o motivo de pouca importância, desproporcional ao resultado produzido
pelo agente. Causa perplexidade. Exemplo: discussão de trânsito ou discussão por time de
futebol.
A ausência de motivo é equiparada ao motivo fútil? A posição amplamente dominante na
doutrina e na jurisprudência é a de que a ausência de motivo NÃO SE EQUIPARA ao
MOTIVO FÚTIL. Não há homicídio sem motivo. O que existe é MOTIVO DESCONHECIDO.
É do MP o ônus da prova com relação ao motivo (STJ: HC 152.584).
Nos concursos do MP, é importante saber que existe posição no sentido de que a ausência de
motivo é equiparada ao motivo fútil. Sustenta-se que, se o motivo de pouca importância é fútil,
a ausência de motivo também é fútil.
O motivo do homicídio NUNCA PODE ser SIMULTANEAMENTE torpe e fútil, pois torpe e
fútil são ANTAGÔNICOS.
Ademais, o motivo do crime é um só.
O ciúme é motivo fútil? Doutrina e jurisprudência entendem que não. Quem mata por ciúme,
ainda que de forma totalmente equivocada, mata por amor. E o amor não pode ser
considerado motivo de pouca ou nenhuma importância.
STJ - Resp 785.122 (Inf. 452): o homicídio qualificado é crime de competência do Tribunal do
Júri. A palavra final é dos jurados. Se os jurados, no caso concreto, entenderem que é fútil, é
fútil (soberania dos veredictos).

Aula 17.5

5.5. Inc. III


Essas qualificadoras dizem respeito aos MEIOS de EXECUÇÃO do homicídio.

“§ 2° Se o homicídio é cometido:
(…)
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel,
ou de que possa resultar perigo comum.”
O Código Penal mais uma vez utiliza-se da INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA ou INTRA
LEGEM. Veneno, fogo, explosivo, asfixia e tortura vão se enquadrar em meio insidioso ou
cruel ou meio de que possa resultar PERIGO COMUM.
Portanto, traz uma fórmula casuística/fechada até a palavra “tortura”, e depois uma fórmula
genérica.

Gêneros:
a) MEIO INSIDIOSO: insídia é sinônimo de fraude. Meio insidioso é o meio fraudulento. O
agente se utiliza de uma FRAUDE, estratagema ou engodo para matar a vítima sem que ela o
perceba.
b) MEIO CRUEL: é aquele que causa à vítima um intenso e desnecessário sofrimento físico ou
mental. O agente tinha como matar a vítima de forma menos dolorosa, mas preferiu fazê-la
sofrer, seja no aspecto físico ou mental.
Só incide esta qualificadora quando o meio cruel é utilizado para MATAR A VÍTIMA. O
emprego de meio cruel, sádico e bárbaro após a morte da vítima não caracteriza essa
qualificadora, e sim o crime de DESTRUIÇÃO/VILIPÊNDIO a CADÁVER.
A reiteração de golpes, por si só, caracteriza essa qualificadora? NÃO. Depende do caso
concreto.
c) MEIO DE QUE POSSA RESULTAR PERIGO COUM: perigo comum é a probabilidade de
dano a um NÚMERO INDETERMINADO de pessoas.
A qualificadora se contenta com a possibilidade de perigo comum: “meio de que possa
resultar...”. NÃO EXIGE o EFETIVO PERIGO COMUM. Se ficar comprovado o perigo
comum, o agente vai responder pelo homicídio qualificado por esta qualificadora em
CONCURSO com o CRIME DE PERIGO COMUM(incêndio, desastre, inundação – art. 250
e ss. do Código Penal). NÃO HÁ bis in idem, uma vez que atingem bens jurídicos diversos,
justificando a aplicação da qualificadora com o crime específico de perigo por uma questão de
equidade, de justiça e de bom senso. Para configuração da qualificadora, basta que o meio
possa resultar em perigo comum. E, resultando no caso concreto o perigo comum, justifica-se
tratamento mais rigoroso, por ser um comportamento muito mais temerário e lesivo ao Direito
Penal.
Espécies:

d) VENENO: é o venefício. A prova dessa qualificadora DEPENDE de perícia (exame


toxicológico), pois deixa vestígios materiais.
O que é veneno? O conceito é fornecido pela química. Trata-se de elemento normativo
extrajurídico. É a substância de origem química ou biológica capaz de produzir a morte
quando introduzida no organismo humano.
Exemplo: Origem química (produzido em laboratório) – veneno para matar ratos e gás sarin.
Origem biológica – plantas, alimentos estragados.
O veneno deve ser identificado no caso concreto. Exemplo: açúcar para uma pessoa que sofre de
diabete elevada/acentuada. Remédio ou anestesia quando a vítima é alérgica aos seus
componentes.
O VENENO PODE ser tanto meio INSIDIOSO, como CRUEL ou de que possa resultar
PERIGO COMUM.
 Meio insidioso: quando ministrado à vítima de forma sub-reptícia, ou seja, sem o
consentimento dela.
 Meio cruel: quando for introduzida no organismo da vítima de forma dolorosa.
 Meio de que possa resultar perigo comum: quando coloca em risco um número
indeterminado de pessoas. Ex → veneno numa caixa d´água

e) FOGO: é o produto da combustão de substâncias inflamáveis, da qual resultam luz e calor.


PODE ser meio CRUEL ou de que possa resultar PERIGO COMUM.

f) EXPLOSIVO: é o produto com capacidade de destruir objetos em geral, mediante


detonação e estrondo.
Via de regra, é qualificadora atinente ao meio de que possa resultar PERIGO COMUM.
Contudo, também pode qualificar o homicídio como MEIO CRUEL.
No homicídio qualificado pelo emprego de fogo ou de explosivo, muitas vezes também existirá
um CRIME DE DANO QUALIFICADO (art. 163, parágrafo único, inciso II do Código Penal).
Contudo, esse delito será ABSORVIDO pelo homicídio qualificado, em face da
SUBSIDIARIEDADE EXPRESSA.

g) ASFIXIA: é a supressão da função respiratória, com origem mecânica ou tóxica.


g.1) mecânica:
- estrangulamento
- esganadura
- sufocação
- afogamento
- enforcamento
- soterramento
- imprensamento (ou sufocação indireta)*

g.2) Tóxica
- uso de gás asfixiante (inalação)
- confinamento**
*Exemplo de imprensamento: a vítima está deitada e o agente coloca um peso em cima do seu
diafragma e esse peso impede a função respiratória até a sua morte.
** Conceito de confinamento: a vítima é trancada em um recinto fechado. A partir de
determinado momento, como não há circulação de ar e entrada de oxigênio naquele local, de
tanto respirar gás carbônico ela vem a óbito.
A asfixia PODE ser meio INSIDIOSO, meio CRUEL ou meio de que possa resultar PERIGO
COMUM.

h) TORTURA: pode ser física ou mental. É meio cruel por excelência.


- Homicídio qualificado pela tortura “versus” tortura qualificada pela morte (Lei 9.455/1997,
art. 1º, § 3º)
Diferenças periféricas:
1ª) O homicídio qualificado pela tortura é crime HEDIONDO. Por outro lado, a tortura
qualificada pela morte é crime EQUIPARADO a hediondo.
2ª) O homicídio qualificado pela tortura é crime de competência do Tribunal do JÚRI (crime
doloso contra a vida).
Por outro lado, a tortura qualificada pela morte é crime de competência do JUÍZO
SINGULAR.
Diferença principal (nuclear):
Elemento subjetivo – no homicídio qualificado pela tortura o elemento subjetivo é o DOLO.
Há um crime doloso, uma vez que o agente quer matar a vítima e se utiliza da tortura como
meio de execução para fazê-lo.
Na tortura qualificada pela morte há um CRIME PRETERDOLOSO. O agente tem o dolo de
torturar, mas por culpa sobrevém a morte. Por isso, a pena é menor.

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