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Recurso extraordinário e reclamação

constitucional: uma análise da linha


jurisprudencial do Supremo Tribunal
Federal1

Gabriel Calil
Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Ex-Bolsista
CNPq.

Nicola Tommasini
Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Ex-Bolsista
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Dimitri Dimoulis
Professor de Direito Constitucional da Escola de Direito de São Paulo da FGV.

Resumo: O presente artigo pretende verificar qual o entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito
do cabimento de reclamação constitucional para “garantir a autoridade” de decisão firmada em recurso
extraordinário com repercussão geral reconhecida. Assim, através da metodologia da “árvore de preceden-
tes”, desenvolvida por Lopez Medina, concluiu-se que o STF afirma que não cabe reclamação constitucional
nesta hipótese, mas o faz de maneira confusa, sendo possível apontar para uma série de deficiências na
linha jurisprudencial da Corte.
Palavras-chave: Precedentes jurisprudenciais. Reclamação constitucional. Recurso extraordinário. Supremo
Tribunal Federal.

Sumário: 1 Introdução – 2 A árvore de precedentes – 3 Opções interpretativas sobre o cabimento de


reclamação em caso de decisão em recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida – 4 A
relevância da Rcl. nº 10.793 – 5 Qualidade argumentativa das decisões analisadas – 6 Decisões do STF
analisadas – Referências

1 Introdução
Diante da crise que afetava (e ainda afeta) o Poder Judiciário brasileiro, especial-
mente no que concerne à lentidão da prestação jurisdicional, em 2004 o Congresso

1
Este trabalho é resultado de um projeto de pesquisa financiado pela FAPESP, Processo nº 2015/05589-8, que
pretende analisar alguns aspectos dos dez anos de reforma do Poder Judiciário. Agradecemos ao Núcleo de
Justiça e Constituição (NJC) da Direito SP (FGV) pelos valiosos comentários à versão anterior deste artigo.

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Nacional editou a Emenda Constitucional nº 45/04 com o declarado propósito de


reformar a estrutura judicial no Brasil. Essa emenda introduziu, entre diversos outros
instrumentos que pretendem imprimir eficiência e valorização dos precedentes das
Cortes superiores, a repercussão geral, que estabelece um filtro subjetivo de admis-
sibilidade do recurso extraordinário no âmbito do Supremo Tribunal Federal, isto é,
sujeita o conhecimento do recurso extraordinário a requisitos de apreciação subjetiva
e não mais requisitos meramente objetivos.
Entre os vários problemas que se relacionam a esse instituto,2 a presente
pesquisa examina uma questão específica: o cabimento ou não de reclamação na
hipótese de descumprimento de decisão firmada em recurso extraordinário com re-
percussão geral reconhecida. Pretendemos verificar qual a orientação jurisprudencial
do STF e as razões oferecidas pelos ministros para embasar esse entendimento, ava-
liando, dessa maneira, a consistência argumentativa, logo a qualidade das decisões
do Tribunal nesse campo.
Para identificar as decisões que formam o corpus do presente estudo, utilizamos
o método desenvolvido por López Medina,3 que investiga a jurisprudência a partir do que
a própria Corte entende como seus precedentes. A partir desse método, elaboramos
uma “árvore de citações”, que constitui o universo da presente pesquisa (tópico 2).
As razões oferecidas pelos ministros dão azo à investigação das linhas argu-
mentativas que desembocam na orientação que se pretende analisar: assim, foram
analisados, dentro do universo de pesquisa que foi delimitado a partir do objeto
principal, (i) o entendimento dos ministros do Supremo acerca do que significa o
efeito vinculante e se a decisão em recurso extraordinário com repercussão geral re-
conhecida possui tal efeito, uma vez que a própria jurisprudência do STF e a doutrina
costumam subordinar o cabimento de reclamação, no caso de afronta à decisão judi-
cial, ao efeito vinculante dessa decisão “paradigma” (tópico 3.1); (ii) o argumento dos
ministros acerca da impossibilidade da reclamação ser sucedâneo recursal (tópico
3.2); e, por último, (iii) que reclamação não serve ao propósito de uniformizar a juris-
prudência (tópico 3.3). Além disso, analisamos pormenorizadamente a Reclamação
nº 10.793/11, uma vez que ela constituiu o caso estruturante da árvore de prece-
dentes (tópico 4). Encerramos o texto apresentando considerações sobre a qualidade
argumentativa das decisões estudadas.

2  A árvore de precedentes
Para compreender o entendimento do STF sobre a relação entre repercussão
geral e reclamação constitucional, mais especificamente no que diz respeito ao

2
Indicações e bibliografia em DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de processo constitucional. São Paulo:
Atlas, 2016. p. 327-339.
3
LÓPEZ MEDINA, Diego Eduardo. El derecho de los jueces. Bogotá: Legis Editores, 2002. p. 69-77.

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cabimento da reclamação contra decisão que descumpre o firmado pelo STF em re-
curso extraordinário com reconhecida repercussão geral, analisaremos alguns casos
julgados pela Corte sobre a temática.
Para estabelecer um corpus de julgados que represente com a maior fidelidade
possível a linha jurisprudencial do STF, utilizaremos a já mencionada técnica desen-
volvida por Diego Eduardo López Medina.4 Essa técnica permite construir uma árvore
de precedentes a partir da análise das citações, para identificar o que a própria Corte
tem para si como precedentes em certa matéria.5
Trata-se de um método para encontrar precedentes relevantes sem precisar
examinar todos os casos julgados pela Corte em determinada matéria. Para construir
a “árvore de precedentes” seleciona-se um recente julgado sobre o tema e observam-­
se as outras decisões citadas por ele. López Medina estabelece dois requisitos para
a seleção do primeiro caso: (i) deve ser o mais recente possível e (ii) ter o padrão
fático do problema submetido à investigação.6 A seguir identificam-se as decisões ci-
tadas nos casos encontrados através do primeiro, até construir uma rede de citações
de maneira retrospectiva, completa e com profundidade temporal.

4
LÓPEZ MEDINA, Diego Eduardo. El derecho de los jueces. Bogotá: Legis Editores, 2002. p. 69-77.
5
Adriana Vojvodic utiliza essa metodologia em sua tese de doutorado para identificar linhas jurisprudenciais no
Supremo Tribunal Federal. A autora chega a resultados interessantes mostrando a confiabilidade do método
desenvolvido por López Medina (VOJVODIC, Adriana. Precedentes e argumentação no Supremo Tribunal Fede-
ral: entre a vinculação ao passado e a sinalização para o futuro. Tese (Doutorado) – Faculdade de Direito, USP,
São Paulo, 2012).
6
LÓPEZ MEDINA, Diego Eduardo. El derecho de los jueces. Bogotá: Legis Editores, 2002. p. 70.

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No nosso tema de cabimento ou não da reclamação em casos que descumprem


o pronunciamento do STF em recurso extraordinário com repercussão geral reconheci-
da, o Agravo Regimental na Rcl. nº 17.914, julgado em 2014, foi o caso mais recente
encontrado que abordou esse problema.7
A partir dele, montamos a seguinte árvore de precedentes:

7
Utilizamos a chave de busca “reclamação e repercussão geral” no campo de pesquisa de jurisprudência do
site do STF (PESQUISA de jurisprudência. Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/
portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28reclama%E7%E3o+e+repercussao+geral%29&base=
baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/kpodaff>. Acesso em: 24 fev. 2015), encontrando 120 acórdãos. O
Agravo Regimental na Rcl. nº 17.914 (Rel. Min. Gilmar Mendes) foi julgado em 26.8.2014. Trata justamente
do não cabimento de reclamação contra decisão que descumpre o posicionamento assentado pelo Supremo
em recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida.

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A árvore de precedentes foi construída da maneira que segue: no primeiro ramo


há a sentença mais recente que trata do problema constitucional a ser investigado e,
em seguida, as três decisões citadas por ela (segundo ramo). Por fim, são indicadas
as decisões citadas pelas três decisões do segundo ramo (terceiro ramo).
São necessárias duas ressalvas metodológicas.
a) Ao utilizar a árvore de precedentes, não se analisa exaustivamente a jurispru-
dência do Tribunal sobre um tema. Há sempre a possibilidade de existirem
casos que versam sobre a matéria investigada que não comporão a árvore,
pois não aparecerem em nenhuma das citações feitas pelos casos utiliza-
dos como fonte de informação. Esse risco é ainda maior em ordenamentos
jurídicos e culturas forenses nas quais a discussão dos precedentes não
é considerada prioritária nem mesmo obrigatória. Além disso, os tribunais
brasileiros costumam evitar a menção de precedentes que divergem da sua
opinião, aumentando as probabilidades de existirem precedentes “ocultos”.
Essa limitação metodológica poderia ser superada se um grupo de estudiosos
realizasse o dispendioso trabalho de examinar todas as reclamações julgadas pelo
Tribunal para identificar todos os precedentes e, em seguida, verificar sua relação
com as decisões que o próprio Tribunal considera como precedentes. Essa opção
traria resultados mais completos, mas correria também o risco do subjetivismo, con-
trapondo a opinião dos magistrados sobre quais são os precedentes e como se
interpretam corretamente àquela dos pesquisadores.
b) A nossa pesquisa jurisprudencial utiliza repositórios disponibilizados pelos
sites dos tribunais. Há sempre o risco de não estarem disponibilizadas algu-
mas decisões e, mesmo, haver indexações equivocadas. O caminho alterna-
tivo seria realizar extensas pesquisas no arquivo do Tribunal para localizar
todas as decisões.8

3  Opções interpretativas sobre o cabimento de reclamação em


caso de decisão em recurso extraordinário com repercussão
geral reconhecida
O art. 102, I, l da Constituição Federal diz ser de competência originária do STF
“a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de
suas decisões”.9 Em paralelo, o STF julga reclamações no caso de descumprimento

8
Cf. a discussão desse problema metodológico em DIMOULIS, Dimitri. Por uma visão mais plural da pesquisa
jurídica. Consultor Jurídico, 30 ago. 2013. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-ago-30/dimitri-
dimoulis-visao-plural-pesquisa-juridica>.
9
“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I -
processar e julgar, originariamente: [...] l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da
autoridade de suas decisões”.

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de súmula vinculante com base no art. 103-A, §3º, da Constituição.10 Para o nosso
tema, interessa apenas a reclamação regulamentada pelo art. 102, I, l.
Surge uma dúvida interpretativa sobre a parte final do art. 102, I, l, que es-
tabelece como objetivo da reclamação a “garantia da autoridade” das decisões do
Tribunal. A abertura semântica do texto constitucional e os riscos decorrentes de uma
compreensão muito ampla do termo “autoridade das decisões” do STF mostram que
é necessário estabelecer critérios e hipóteses que permitam “filtrar” as reclamações
no juízo de admissibilidade. Se o texto constitucional for interpretado de maneira a
indicar que o descumprimento de qualquer decisão proferida pelo Supremo, inclusive
quanto às razões de decidir, é afronta à sua autoridade, o Tribunal nada mais faria a
não ser julgar reclamações.11 Com efeito, uma interpretação que considere que qual-
quer decisão apresenta autoridade para ser “garantida” por meio desse instrumento
não somente multiplicaria os processos, mas poderia aniquilar o sistema recursal
brasileiro.
Por isso afirmou-se que a reclamação cabe contra atos que afrontam decisões
vinculantes do STF,12 sendo utilizado o efeito vinculante como critério para limitar as
reclamações. O caso típico de decisão com efeito vinculante é a proferida no âmbito
do controle abstrato de constitucionalidade,13 admitindo com naturalidade o STF o
cabimento de reclamação.14
No âmbito do controle concreto-incidental, todavia, cabe ao Senado, a partir do
art. 52, X da CF,15 suspender a eficácia da lei, estendendo os efeitos da declaração
de inconstitucionalidade para todos (erga omnes). Isso, para a maioria da doutrina,16
impede a produção de efeito vinculante e, consequentemente, o cabimento da recla-
mação no controle concreto de constitucionalidade. Pergunta-se se a extensão dos

10
“Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula [vinculante] aplicável ou que indevidamente
a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato adminis-
trativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação
da súmula, conforme o caso”. Na doutrina se sustenta que “a reclamação não precisa necessariamente de
previsão em texto normativo, sendo manifestação dos poderes implícitos dos tribunais, que servem para dar
efetividade às próprias decisões e para a defesa de suas competências” (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo
Carneiro da. Curso de direito processual civil. 12. ed. São Paulo: JusPodivm, 2014. p. 448).
11
Nesse sentido, cf. Rcl. nº 4.335 (voto do Min. Teori Zavascki).
12
DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de processo constitucional. São Paulo: Atlas, 2016, p. 336.
13
Cf. Reclamação nº 1.880. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 7.11.2002.
14
Cf., por exemplo, Reclamação nº 1.880. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 7.11.2002. Cf. MENDES, Gilmar Ferreira.
A reclamação constitucional no Brasil. Direito Público, n. 12, abr./jun. 2006. p. 40.
15
“Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: [...] X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei
declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal”.
16
PAULO NETO, Carlos Romero Lauria. Decisão constitucional vinculante. São Paulo: Método, 2011. p. 172 (“o
efeito vinculante somente se justifica e se legitima em processos objetivos de controle de constitucionalidade, em
que o tribunal constitucional, concentradamente, exerce um controle normativo abstrato, visando primariamente
a assegurar a coerência do sistema normativo”). Análise em DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de
processo constitucional. São Paulo: Atlas, 2016. p. 319-320. A maioria dos autores observa que decisão em
sede de controle concreto não apresenta efeitos erga omnes. Cf., por exemplo, TAVARES, André Ramos. Perfil
constitucional do recurso extraordinário. In: TAVARES, André Ramos; ROTHENBURG, Walter Claudius (Org.).
Aspectos atuais do controle de constitucionalidade no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 37.

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efeitos vinculantes não foi afetada pela EC nº 45/04, que introduziu a repercussão
geral, modificando o julgamento e a relevância do recurso extraordinário. A partir da
Emenda nº 45/04, o recurso extraordinário admite-se se o caso apresentar impor-
tância política, econômica, social ou trazer em si qualquer outro interesse relevante
que transcenda aquele caso concreto.17 Na nova sistemática ocorre uma tentativa
de “valorização de precedentes”, estabelecendo um filtro para apreciação do recur-
so extraordinário e dando efeitos muito mais intensos aos recursos extraordinários
decididos no mérito. A EC nº 45 de 2004 procurou valorizar as decisões do STF não
somente para diminuir o volume de processos do próprio STF, como também para
atribuir transcendência às decisões em sede de controle concreto.18
Com o fito de reduzir recursos extraordinários repetitivos e maximizar a “feição
objetiva” e abstrata dos conflitos intersubjetivos, a sistemática da repercussão geral
passa por duas fases. Primeiro, a Corte analisa em abstrato a existência ou não de
repercussão geral do caso pelos critérios já mencionados acima (importância política,
econômica, social etc.). Atestando a existência da repercussão geral, ficam sobres-
tados aqueles processos que tratem da mesma controvérsia, aguardando a decisão
desse caso paradigma pelo Supremo Tribunal Federal.19
Ora, essa tentativa de valorização dos precedentes convive com a mencionada
competência senatorial para suspender a eficácia da lei considerada inconstitucional
no controle concreto. Isso explica a dúvida se cabe reclamação na hipótese de des-
cumprimento de decisão do STF tomada em sede de controle concreto em casos com
repercussão geral reconhecida. Parte da doutrina e dos ministros do STF considerou
que ocorreu uma “mutação constitucional” do art. 52, X,20 no sentido de que as deci-
sões proferidas em controle concreto não mais necessitariam da resolução senatorial
para produzirem efeitos erga omnes, que seriam desde já atribuídos pela simples
decisão do Tribunal, cabendo ao Senado apenas registrar a suspensão da lei após a
decisão (e em razão da decisão) do STF.
A decisão final na Reclamação nº 4.335 em 2014 solidificou o entendimento
de que não cabe reclamação em qualquer hipótese de descumprimento de decisão
do STF em controle concreto, restando vencidos, nesta parte, o Min. Gilmar Mendes
e a tese da mutação constitucional do art. 52, X.21 Não obstante essa orientação ser

17
DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de processo constitucional. São Paulo: Atlas, 2016. p. 306-307.
18
Ver exposição de motivos da EC nº 45/04 em LEGISLAÇÃO Informatizada – Emenda Constitucional nº 45, de
2004 – Exposição de Motivos. Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/
emecon/2004/emendaconstitucional-45-8-dezembro-2004-535274-exposicaodemotivos-149264-pl.html>.
19
Ver esquemas didáticos em ANDRADE, Fábio Martins de. Reforma do Poder Judiciário. Revista de Informação
Legislativa – RIL, Brasília, ano 43, n. 171, jul./set. 2006. p. 184-185.
20
MENDES, Gilmar Ferreira. O papel do Senado Federal no controle de constitucionalidade: um caso clássico de
mutação constitucional. Revista de Informação Legislativa – RIL, Brasília, ano 41, n. 162, p. 149-168, 2004.
Análise dos posicionamentos e argumentos em DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de processo consti-
tucional. São Paulo: Atlas, 2016. p. 389-391.
21
Ver ANDRADE, Fábio Martins de. O papel do Senado Federal no controle difuso na ótica do STF (Rcl. 4.335).
Revista de Informação Legislativa – RIL, Brasília, v. 52, n. 207, p. 105-121, jul./set. 2015.

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facilmente identificável na jurisprudência, a pesquisa revelou problemas em relação à


construção de precedentes do Supremo Tribunal Federal nesse âmbito.
O primeiro problema é que os casos mencionados, nas decisões de primeiro
e segundo ramo, embora decididos após a inauguração do regime da repercussão
geral, dizem respeito a decisões judiciais tomadas antes da entrada em vigor da EC
nº 45 de 2004 (oito das dezenove decisões do terceiro ramo).22 São, portanto, deci-
sões tomadas com base nos dispositivos legais e constitucionais existentes antes da
introdução do filtro da repercussão geral.
Os resultados levam a crer que a sistemática da repercussão geral não afetou
o entendimento da Corte a respeito do cabimento de reclamação, apesar do caráter
inovador do instituto no que diz respeito à vinculatividade dos precedentes.
Ainda que o STF entendesse que os recursos extraordinários na nova sistemáti-
ca são destituídos de efeitos vinculantes, seria necessário justificar sua posição dian-
te das mudanças estruturais ocorridas a partir da EC nº 45/04 e da convergência dos
mecanismos de controle concreto e abstrato. Isso implicaria abandonar a referência
aos casos decididos em outra situação normativa enfrentando a questão do papel de
um Tribunal que atua como instância unificadora e, ao mesmo tempo, deve diminuir
o número de processos por ele julgados.
Um segundo problema que mostrou a elaboração da árvore de precedentes é a
pertinência da indicação de precedentes. Algumas decisões citadas para justificar o
não cabimento de reclamação em caso de descumprimento de decisão firmada em
recurso extraordinário não tratam desta hipótese.
É o caso da Rcl. nº 2.665 de 2005, em que os ministros debatem o cabimento
de reclamação em controle abstrato, hipótese bem diversa da do recurso extraordi-
nário, pelas peculiaridades normativas do controle concreto em relação ao abstrato.
De maneira igualmente problemática, a Rcl. nº 968 de 2001 discute a existência de
efeito vinculante na liminar da ação declaratória de constitucionalidade – situação
que não guarda relação com o nosso tema.

Agravo na Reclamação nº 724. Rel. Min. Octavio Gallotti. Julg. 26.3.1998; Agravo na Reclamação nº 1.639.
22

Rel. Min. Octavio Gallotti. Julg. 21.9.2000; Reclamação nº 1.591. Rel. Min. Ellen Gracie. Julg. 20.2.2003;
Agravo na Reclamação nº 1.852. Rel. Min. Maurício Corrêa. Julg. 18.10.2001; Agravo na Reclamação nº
1.880. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 7.11.2002; Reclamação nº 603. Rel. Min. Carlos Velloso. Julg. 3.6.1998;
Reclamação nº 968. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 19.4.2001; Reclamação nº 2.959. Rel. Min. Ayres Britto.
Julg. 14.12.2004.

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3.1  Não cabimento de reclamação por ausência de efeito


vinculante
3.1.1  Efeito vinculante e reclamação
Como dito, segmentos da doutrina brasileira costumam aliar o efeito vinculante
ao cabimento de reclamação constitucional23 quando interpretam a expressão “au-
toridade da decisão” do art. 102, I, l, da CF. Dessa maneira, as decisões judiciais
que contrariarem orientações do STF firmadas em controle incidental ou súmulas não
vinculantes não podem ser questionadas pela via da reclamação,24 dada a ausência
de efeito vinculante do parâmetro25 invocado.
Essa interpretação a respeito do cabimento de reclamação não decorre da inter-
pretação literal do termo “autoridade da decisão”. É uma interpretação plausível, mas
não a única possível, pois a enunciação do art. 102, I, l, não condiciona a reclamação
ao efeito vinculante do parâmetro invocado. É uma interpretação que necessitaria de
extensa justificação argumentativa.
A esse respeito, o STF costuma mencionar os efeitos vinculantes26 quando
nega sua ocorrência em determinado tipo de decisão. Assim, a Corte traça uma
relação de condicionamento entre cabimento da reclamação e efeito vinculante da
decisão-parâmetro.27 Via de regra, o Supremo afirma que os processos subjetivos
por ele julgados não têm efeitos vinculantes ou erga omnes, razão pela qual seria
incabível reclamação interposta por quem não foi parte do processo original. Como
foi salientado na Reclamação nº 17.914 AgR/14: “Não cabe reclamação fundada
em precedentes sem eficácia geral e vinculante, de cuja relação processual o recla-
mante não tenha feito parte”. A mesma tese encontra-se na Rcl. nº 6.078 AgR/10,
em que o Min. Relator Joaquim Barbosa afirma: “nos termos da orientação firmada
pelo Supremo Tribunal Federal, são legitimados à propositura de reclamação todos

23
Para uma análise empírica, a relação entre efeito vinculante e reclamação na jurisprudência do STF, ver MAUÉS,
Antonio Moreira. O efeito vinculante na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: análise das reclamações
constitucionais n. 11.000 a 13.000. Revista DIREITO GV, n. 24, p. 441-460, 2016.
24
Cf. Reclamação nº 11.235. Rel. Min. Ayres Britto. Julg. 11.4.2011.
25
Sobre a complexa questão da parametricidade na reclamação, cf. DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso
de processo constitucional. São Paulo: Atlas, 2016. p. 336-337.
26
Dos 19 casos analisados, o STF menciona os efeitos vinculantes em 11: Agravo na Reclamação nº 6.078.
Rel. Min. Joaquim Barbosa. Julg. 8.4.2010; Embargos de Declaração na Reclamação nº 5.335. Rel. Min. Cezar
Peluso. Julg. 17.3.2008; Agravo na Reclamação nº 2.959. Rel. Min. Ayres Britto. Julg. 7.7.2005; Agravo na
Reclamação nº 1.880. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 7.11.2002; Agravo na Reclamação nº 17.914. Rel. Min.
Gilmar Mendes. Julg. 26.8.2014; Reclamação nº 10.793. Rel. Min. Ellen Gracie. Julg. 13.4.2011; Agravo
na Reclamação nº 12.600. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Julg. 17.11.2011; Reclamação nº 968. Rel.
Min. Marco Aurélio. Julg. 19.4.2001; Agravo na Reclamação nº 5.130. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Julg.
11.10.2007; Agravo na Reclamação nº 6.534. Rel. Min. Celso de Mello. Julg. 26.9.2008 e Reclamação nº
4.335. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julg. 21.3.2014.
27
Das 11 reclamações citadas acima, somente a Reclamação nº 968 Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 19.4.2001
não traça relação do efeito vinculante com o cabimento de reclamação. Entretanto, saliente-se que tal decisão
não se relaciona com o contexto jurídico em análise e será alvo de críticas em momento posterior.

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aqueles que sejam prejudicados por atos contrários às decisões que possuem eficá-
cia vinculante e geral”.
Já a Rcl. nº 10.793/11 opõe-se a esse entendimento da Corte, atribuindo efei-
tos vinculantes a uma espécie de processo subjetivo, o recurso extraordinário com
repercussão geral reconhecida. Nesse caso, porém, o STF não conheceu da reclama-
ção, considerando que o legislador não atribuiu ao STF a competência de fazer aplicar
diretamente a cada caso concreto seu entendimento. O interessante é que, desta
maneira, acabou por negar a relação de condicionamento entre efeito vinculante e
reclamação. Há efeito vinculante mesmo em processos subjetivos, mas isso não dá
azo à reclamação.
Alguns doutrinadores afirmam a existência de efeito vinculante no caso do con-
trole concreto,28 muito embora essa não seja a posição do Supremo Tribunal Federal.
Podemos atribuir essa confusão à incoerência na linha jurisprudencial que, como
vimos, em algumas decisões admite efeitos vinculantes no controle incidental (Rcl.
nº 10.793 de 2011 e Rcl. nº 12.600 AgR de 2012).

3.1.2  O que o Supremo entende por efeitos vinculantes?


No nosso universo de pesquisa, verifica-se que a Corte não tem posiciona-
mento claro acerca do efeito vinculante e das consequências de sua atribuição a
determinada categoria de julgados.29 Mais do que isso, a jurisprudência apresenta
contradições. Por vezes, os ministros dão a entender que o Tribunal obriga (vincula)
os demais órgãos do Poder Judiciário a seguir o que foi decidido pelo Supremo.30 É o
que vemos na Rcl. nº 10.793/11 (voto da Min. Ellen Gracie, p. 8):

Tudo porque é inerente ao sistema inaugurado pela EC nº 45 que deci-


sões proferidas pelo STF quando do julgamento de recurso extraordinário
com repercussão geral conhecida vinculem os demais órgãos do Poder

28
Cf. CAMPOS, Carlos Alexandre de Azevedo. Dimensões do ativismo judicial no STF. São Paulo: Forense, 2014.
p. 202: “A dotação de efeito vinculante às decisões do Supremo proferidos em sede de recurso extraordinário,
com repercussão geral previamente reconhecida, fica muito clara no seguinte acórdão: STF – Pleno, Rcl.
10.793, Rel. a Min. a Ellen Gracie, DJ de 06.06.2011”. O autor acrescenta que o cabimento de reclamação
nesta hipótese ainda é controverso.
29
“As reclamações constituem fonte privilegiada para o estudo do efeito vinculante, uma vez que, ao julgá-las, o
STF deve confrontar sua jurisprudência com os casos aos quais ela está sendo aplicada, o que lhe confere a
oportunidade de especificar o vínculo que suas decisões impõe ao restante do Judiciário, Assim, esse tipo de
estudo fornece dados empíricos sobre a jurisprudência do STF que podem contribuir para uma interpretação
mais adequada da prática do efeito vinculante em nosso ordenamento” (MAUÉS, Antonio Moreira. O efeito
vinculante na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: análise das reclamações constitucionais n. 11.000
a 13.000. Revista DIREITO GV, n. 24, p. 441-460, 2016. p. 445). Contudo, como já dissemos, o pressuposto
de efeito vinculante para conhecimento da reclamação é construção jurisprudencial (que oscila) e, em alguns
casos, fruto de interpretação doutrinária, não devendo ser tomada como requisito incontestável.
30
Agravo na Reclamação nº 17.914. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julg. 26.8.2014; Reclamação nº 10.793. Rel.
Min. Ellen Gracie. Julg. 13.4.2011; Agravo na Reclamação nº 12.600. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Julg.
17.11.2011 e Reclamação nº 4.335. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julg. 21.3.2014.

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Recurso extraordinário e reclamação constitucional: uma análise da linha jurisprudencial...

Judiciário no que diz respeito à solução, por estes, de outros feitos sobre
idêntica controvérsia.

Contudo, mesmo quando se afirma que tal efeito esteja presente no controle
incidental, o Supremo entende ser incabível reclamação para garantia de sua auto-
ridade nesta hipótese. Isso pode ser visto na Rcl. nº 12.600 AgR/11 (voto do Min.
Ricardo Lewandowski, p. 7):

Como já destaquei, embora o RE 600.885-RG/RS seja um processo afe-


to ao regime da Repercussão geral, a decisão tomada pelo Plenário não
se identifica com aquela proferida nos julgamentos de processos objeti-
vos, ou seja, conquanto o decidido nos recursos Extraordinários subme-
tidos ao regime da Repercussão geral vincule os outros órgãos do Poder
Judiciário, sua aplicação aos demais casos concretos, em observância
a essa nova sistemática instituída pela EC nº 45/2004 e regulamenta-
da pela Lei 11.418/2006, não deverá ser buscada, diretamente, nesta
Suprema Corte.

Assim, se é verdade, como o STF afirmou em outras ocasiões,31 que “a recla-


mação não se presta para impor jurisprudência ou precedente do STF, se não dotado
de efeito vinculante” (Min. Sepúlveda Pertence na Rcl. nº 2.959 AgR/05), a atribuição
de efeito vinculante nas decisões proferidas em recurso extraordinário deveria possi-
bilitar a reclamação, o que não ocorreu na prática jurisprudencial.
Em conclusão, falta ao STF uma visão coerente a respeito do significado pro-
cessual do efeito vinculante.32 Se o efeito vinculante dá azo à reclamação em caso
de descumprimento, então não é possível afirmar que o recurso extraordinário, ainda
que apresente repercussão geral, seja paradigma com efeito vinculante, uma vez que,
no estado atual da jurisprudência do STF, não se admite reclamação para preservar a
autoridade do decisum.

31
Agravo na Reclamação nº 6.078. Rel. Min. Joaquim Barbosa. Julg. 8.4.2010; Embargos de Declaração na
Reclamação nº 5.335. Rel. Min. Cezar Peluso. Julg. 17.3.2008; Agravo na Reclamação nº 2.959. Rel. Min.
Ayres Britto. Julg. 7.7.2005; Agravo na Reclamação nº 1.880. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 7.11.2002; Agravo
na Reclamação nº 5.130. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Julg. 11.10.2007 e Agravo na Reclamação nº 6.534.
Rel. Min. Celso de Mello. Julg. 26.9.2008.
32
“O instituto do efeito vinculante, embora tenha sido introduzido em nosso ordenamento em 1993, ainda
está sujeito a diferentes interpretações e mudanças em sua aplicação” (MAUÉS, Antonio Moreira. O efeito
vinculante na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: análise das reclamações constitucionais n. 11.000
a 13.000. Revista DIREITO GV, n. 24, p. 441-460, 2016. p. 445).

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Gabriel Calil, Nicola Tommasini, Dimitri Dimoulis

3.2  Não cabimento de reclamação como sucedâneo recursal


Para além da tendência de relacionar efeitos vinculantes com cabimento de
reclamação, o STF utiliza outro argumento para justificar o não cabimento do instru-
mento: quando este atuar como “sucedâneo recursal”.33
Essa orientação é perceptível na Rcl. nº 2.959/04, em que a Corte expressa-
mente afirmou que “A Rcl. não pode servir de sucedâneo de recursos e ações cabí-
veis”. Também, no bojo da Rcl. nº 603/98, o STF afirmou que a “Reclamação não
pode ser utilizada como sucedâneo de ação rescisória” e na Rcl. nº 2.933 MC/05: “A
reclamação não é sucedâneo ou substitutivo da ação ou recurso próprios para confe-
rir eficácia à jurisdição invocada nos autos dos recursos extraordinários interpostos
da decisão de mérito e da decisão em ‘execução provisória’”.
O argumento da reclamação como sucedâneo recursal basicamente se reverte
na impossibilidade de utilização da ação se houver outros meios de impugnar a de-
cisão. Tratar-se-ia da proibição do recurso per saltum, no caso de existirem outros
meios aptos a reformar ou anular a decisão sem intervenção do STF.
Essa linha de argumentação, contudo, foi questionada pelo Min. Sepúlveda
Pertence, por ocasião da Rcl. nº 2.959/04, de relatoria do Min. Marco Aurélio. Na
oportunidade, o argumento da proibição do recurso per saltum foi invocada pelo relator:

os recorrentes tencionam obter um pronunciamento jurisdicional per saltum


desta Corte Suprema, antes mesmo do julgamento de mérito do recurso
ordinário em habeas corpus interposto no egrégio Superior Tribunal de Jus-
tiça. Finalidade essa, portanto, absolutamente estranha àquelas previstas
na alínea “l” do inciso I do art. 102 da Carta-cidadã.

Diante do argumento de Marco Aurélio, o Min. Sepúlveda Pertence levanta algu-


mas “dúvidas quanto ao fundamento do voto”. No tema que nos interessa, assenta:
“A reclamação não é impedida nem pelo cabimento nem pela pendência de recur-
so. Ela é, exatamente, um remédio para obter, per saltum, que o Supremo Tribunal
Federal imponha a autoridade de sua decisão”.
Mas deixou claro que “a reclamação não se presta para impor jurisprudência ou
precedente do Supremo Tribunal Federal, se não dotado de efeito vinculante”.

Esse argumento está presente nas seguintes reclamações: Agravo na Reclamação nº 6.078. Rel. Min. Joaquim
33

Barbosa. Julg. 8.4.2010; Agravo na Reclamação nº 724. Rel. Min. Octavio Gallotti. Julg. 26.3.1998; Agravo
na Reclamação nº 2.959. Rel. Min. Ayres Britto. Julg. 7.4.2005; Reclamação nº 1.591. Rel. Min. Ellen Gracie.
Julg. 20.2.2003; Agravo na Reclamação nº 1.852. Rel. Min. Maurício Corrêa. Julg. 18.10.2001; Agravo na
Reclamação nº 1.880. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 7.11.2002; Reclamação nº 603. Rel. Min. Carlos Velloso.
Julg. 3.6.1998; Medida Cautelar na Reclamação nº 2.933. Decisão do Rel. Min. Joaquim Barbosa. Julg.
7.3.2005; Reclamação nº 2.959. Rel. Min. Ayres Britto. Julg. 14.12.2004; Reclamação nº 4.335. Rel. Min.
Gilmar Mendes. Julg. 21.3.2014.

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Recurso extraordinário e reclamação constitucional: uma análise da linha jurisprudencial...

De fato, Sepúlveda Pertence traça o panorama geral da crítica possível em rela-


ção ao não cabimento de reclamação por considerá-la sucedâneo recursal. Trata-se,
afinal de contas, da própria razão de ser da reclamação na hipótese analisada: invo-
car diretamente o Supremo Tribunal Federal para preservação de sua competência.34
Dessa maneira, se o próprio Supremo Tribunal Federal admite a reclamação
independentemente do esgotamento das vias recursais ordinárias na hipótese de
descumprimento de decisão firmada em controle abstrato (ADI, ADC ou ADPF), é con-
traditório dizer-se que não cabe no caso de controle concreto por essa mesma razão.
Ora, a reclamação para garantir a autoridade de decisão é de competência do Tribunal
que proferiu essa decisão, podendo ser per saltum e independendo da decisão que
se pretende reforçar.

3.3  Reclamação e não cabimento por uniformização de


jurisprudência
Por fim, tem-se como argumento para o não cabimento da reclamação o fato
de ela não se prestar para “uniformização de jurisprudência”.35 Segundo tal enten-
dimento, a reclamação não serviria para sanar eventual dissídio jurisprudencial, que
seria de competência do STJ, pelo art. 105, III, c, da Constituição de 1988.36 Isso fica
claro quando, na Rcl. nº 2.665 AgR/05, o Ministro Sepúlveda Pertence assevera: “A
reclamação não se presta a fazer renascer o recurso Extraordinário da velha letra ‘d’
das Constituições anteriores”.
Rememore-se que o Supremo antes de 1988 exercia competências que foram
transferidas ao STJ, entre elas a resolução de dissídio jurisprudencial de lei federal,
na hipótese de ser dada a ela interpretação distinta da que conferira o Superior
Tribunal de Justiça.37
Considerando que o Supremo tende a atrelar o cabimento da reclamação à exis-
tência de efeito vinculante, parece de menor importância se ela eventualmente sa-
nará divergência existente na Corte. Se a decisão-parâmetro for vinculante (o que no
entendimento do STF não ocorre como recurso extraordinário com repercussão geral

34
Cf. discussão das finalidades da reclamação constitucional em DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de
processo constitucional. São Paulo: Atlas, 2016. p. 329-330.
35
Agravo na Reclamação nº 6.078. Rel. Min. Joaquim Barbosa. Julg. 8.4.2010 e Agravo na Reclamação nº 2.665.
Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 23.2.2005.
36
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: [...] III - julgar, em recurso especial, as causas decididas,
em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja
atribuído outro tribunal”.
37
Constituição de 1967: “Art. 114. Compete ao Supremo Tribunal Federal: [...] III - julgar, mediante recurso
Extraordinário, as causas decididas, em única ou última instância, por outros Tribunais, quando a decisão
recorrida: d) dar à lei federal interpretação divergente da que lhe haja dado outro Tribunal ou o próprio Supremo
Tribunal Federal”.

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Gabriel Calil, Nicola Tommasini, Dimitri Dimoulis

reconhecida), caberá reclamação. Assim, mera divergência não autoriza reclamação:


o efeito vinculante é a condição para admissibilidade de reclamação na hipótese que
aqui se trabalha.

4  A relevância da Rcl. nº 10.793


O estudo da linha jurisprudencial do Supremo mostra o papel de destaque con-
ferido à Rcl. nº 10.793/11. O julgado foi o único citado duas vezes na árvore de
precedentes. Isso não necessariamente significa que ela será o que Medina chama
de sentencias hito, isto é, decisões que definem com autoridade uma sub-regra ju-
rídica.38 No entanto, o fato de ela ter sido citada duas vezes indica que a Rcl. nº
10.793/11 desempenha papel estrutural dentro dessa árvore de precedentes.
Ao colocar “10793” no campo de pesquisa de jurisprudência do site do STF,
encontramos 7 outras decisões que se referem à Rcl. nº 10.793/11 como preceden-
te.39 O intuito aqui não é investigar esses casos que não pertencem à nossa árvore
de precedentes, mas somente mostrar que existem outros casos fora dela que consi-
deram importante a Rcl. nº 10.793, o que poderia reforçar sua importância como sen-
tencia hito e ponto estrutural da árvore. Isso justifica seu exame mais aprofundado.

4.1  Argumentação dos ministros na Rcl. nº 10.793


Em seu voto, a relatora Min. Ellen Gracie argumenta que cabe aos juízes e de-
sembargadores o respeito às decisões vinculantes do Supremo, chegando a afirmar,
inclusive, que:

decisões proferidas pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal quando


do julgamento de recursos Extraordinários com Repercussão geral vincu-
lem os demais órgãos do Poder Judiciário no que diz respeito à solução,
por estes, de outros feitos sobre idêntica controvérsia.

No entanto – segundo seu entendimento – o legislador não teria atribuído ao


STF o ônus de aplicar diretamente sua decisão a cada caso concreto.
Logo após, ela afirma que, contra o descumprimento de decisão assentada em
recurso paradigma pelo Supremo por juiz de primeira instância, cabem as vias recur-
sais ordinárias para que o tribunal ad quem aplique o entendimento do STF. Caso o

LÓPEZ MEDINA, Diego Eduardo. El derecho de los jueces. Bogotá: Legis Editores, 2002. p. 73.
38

Agravo na Reclamação nº 12.692. Rel. Min. Luiz Fux. Julg. 27.2.2014; Agravo na Reclamação nº 9.080.
39

Rel. Min. Teori Zavascki. Julg. 27.2.2014; Agravo na Reclamação nº 16.009. Rel. Min. Gilmar Mendes.
Julg. 12.12.2013; Agravo na Reclamação nº 14.989. Rel. Min. Cármen Lúcia. Julg. 8.11.2013; Agravo na
Reclamação nº 12.929. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julg. 7.11.2013; Agravo na Reclamação nº 11.522. Rel.
Min. Cármen Lúcia. Julg. 29.2.2012 e Agravo na Reclamação nº 12.600. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Julg.
17.11.2011 – esta última se encontra na árvore de precedentes.

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Recurso extraordinário e reclamação constitucional: uma análise da linha jurisprudencial...

tribunal assim não faça, é que deve o Supremo atuar, cabendo recurso extraordinário
(e não reclamação).
Nessa linha, a ministra adota a já mencionada tese de que o acesso ao Supremo
não se faz per saltum, não sendo a reclamação uma substituta das vias recursais
ordinárias. Por fim, a relatora propõe que casos como o da presente reclamação
(juiz de primeira instância desrespeitando decisão proferida em recurso extraordiná-
rio com repercussão geral reconhecida) sejam decididos monocraticamente. Termina
seu voto não conhecendo a reclamação.
O Min. Fux defende em seu voto, com muitas referências ao (então) projeto
de Código de Processo Civil, a obrigatoriedade de se seguir a jurisprudência do STF.
Para o fim de prestigiar o direito à razoável duração do processo, argumenta que a
reclamação garantiria a soberania das decisões do STF, como ocorre com as súmulas
vinculantes. Contudo, essas suas alegações foram proferidas, consoante ele mesmo
admite, em obiter dictum:

Quer dizer, aqui é apenas em caráter obiter dictum, porque a reclamação


não deve ser conhecida. Agora, eu tenho dúvidas, peço vênia para ter
dúvidas sobre essa posição de não admitir reclamação contra o descum-
primento de uma decisão adotada em Repercussão geral.

A Min. Ellen Gracie, ante o comentário do Min. Fux, procurou esclarecer seu
posicionamento. Afirmou que o real intuito da EC nº 45 e da nova sistemática introdu-
zida (súmula vinculante e repercussão geral) é a de desafogar o Supremo. Ao admitir
reclamação nessas hipóteses, estar-se-ia a trocar 150 mil processos (como era no
passado) por 150 mil reclamações. Seu argumento, claramente consequencialista,
encontra aceitação no Tribunal.
Em momento posterior, o Min. Fux indaga se o exposto pela relatora não equi-
valeria apenas a trocar reclamação por recurso extraordinário. A ministra responde
defendendo o respeito às vias recursais ordinárias, repelindo que matérias fossem
levadas per saltum ao Supremo. Todos acompanharam seu posicionamento, inclusi-
ve o Min. Fux que, ao mesmo tempo, deu sinais de discordância.

4.2  A contrariedade da Rcl. nº 10.793


O Supremo parece enfrentar um dilema: preservar a força de suas decisões
(que seriam garantidas mediante um efeito vinculante), centralizando partes do pro-
cesso decisório e aumentando seus poderes ou diminuir sua carga processual, ao
deixar de fiscalizar diretamente e rotineiramente as decisões de outros órgãos judi-
cantes. Isso fica claro na solução proposta pela Min. Cármen Lúcia ao conferir efeitos
vinculantes em decisões de controle concreto sem, contudo, admitir a reclamação.

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Gabriel Calil, Nicola Tommasini, Dimitri Dimoulis

Essa orientação não parece levar em conta a linha jurisprudencial da Corte na maté-
ria. A Rcl. nº 10.793/11, seguida pela Rcl. nº 12.600 AgR são as únicas a conferir
efeitos vinculantes no recurso extraordinário na árvore de precedentes. Há inclusive
casos mais recentes – a Rcl. nº 17.914 AgR/14 – que não conferem efeito vinculante
nessa hipótese. Assim sendo, a Rcl. nº 10.793/11 é ponto fora da curva da linha ju-
risprudencial. Tal divergência causa estranhamento, porque embora divirja em alguns
aspectos centrais da linha construída pelo Supremo, a Rcl. nº 10.793/11 parece
ter sido o ponto culminante dela, em que teria sido traçada uma sub-regra jurídica
relevante para o tema.

5  Qualidade argumentativa das decisões analisadas


A linha jurisprudencial sobre a matéria discutida apresenta problemas de co-
erência. Muitas vezes a Corte utiliza casos anteriores à Emenda Constitucional nº
45/2004 para embasar sua argumentação na solução da controvérsia.40 Ocorre que
a sistemática da repercussão geral, que trouxe novas balizas para o recurso extraor-
dinário, nasce com o advento da aludida reforma constitucional, sendo insatisfatória
a mera referência a casos anteriores.
A Corte reconhece em algumas oportunidades41 que a EC nº 45/04 introduziu
nova sistemática, como na Rcl. nº 10.793/11:

Tudo porque é inerente ao sistema inaugurado pela EC nº 45 que deci-


sões proferidas pelo STF quando do julgamento de recurso extraordinário
com repercussão geral conhecida vinculem os demais órgãos do Poder
Judiciário no que diz respeito à solução, por estes, de outros feitos sobre
idêntica controvérsia.

Sendo assim, é curioso que o STF em outros casos ignora a alteração constitu-
cional, reproduzindo a anterior jurisprudência sem adaptações argumentativas. Isso
demonstra fraqueza de sua linha jurisprudencial na temática.
Outro problema de coerência surge da invocação de anteriores decisões do STF
que, na verdade, não tratam da mesma questão. Isso ocorre na Rcl. nº 968/01, em

40
Oito decisões: Agravo na Reclamação nº 724. Rel. Min. Octavio Gallotti. Julg. 26.3.1998; Agravo na
Reclamação nº 1.639. Rel. Min. Octavio Gallotti. Julg. 21.9.2000; Rcl nº 1.591/03; Agravo na Reclamação nº
1.852. Rel. Min. Maurício Corrêa. Julg. 18.10.2001; Agravo na Reclamação nº 1.880. Rel. Min. Marco Aurélio.
Julg. 7.11.2002; Reclamação nº 603. Rel. Min. Carlos Velloso. Julg. 3.6.1998; Reclamação nº 968. Rel. Min.
Marco Aurélio. Julg. 19.4.2001 e Reclamação nº 2.959. Rel. Min. Ayres Britto. Julg. 14.12.2004. Mesmo
sendo tais decisões integrantes do segundo nível de citações da árvore de precedentes, ainda constitui um
problema, uma vez que o primeiro nível da árvore – posterior à EC nº 45 – fez uso de diversos casos anteriores
à sistemática implementada pela reforma constitucional para embasar sua argumentação.
41
Nessas três reclamações, há uma menção expressa ao novo sistema inaugurado pela EC nº 45: Reclamação nº
10.793. Rel. Min. Ellen Gracie. Julg. 13.4.2011; Agravo na Reclamação nº 17.914. Rel. Min. Gilmar Mendes.
Julg. 26.8.2014 e Agravo na Reclamação nº 12.600. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Julg. 17.11.2011.

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Recurso extraordinário e reclamação constitucional: uma análise da linha jurisprudencial...

que se debate a existência de efeito vinculante na liminar da ação declaratória de


constitucionalidade.42
Um terceiro problema deve-se à opção de atrelar o cabimento da reclamação
com a existência de efeitos vinculantes da decisão reclamada. Como constatamos ao
analisar a Rcl. nº 10.793 de 2011, há falta de clareza na definição da extensão e das
consequências do efeito vinculante. Ademais, gera dificuldades o argumento reitera-
do da Corte de que a reclamação não pode servir de sucedâneo recursal, exigindo,
antes da interposição da reclamação, o esgotamento das vias recursais ordinárias (e
extraordinárias?). A reclamação só se justifica se for julgada diretamente pela Corte
que proferiu a decisão paradigma, independentemente da possibilidade de recurso
previsto. Caso contrário, perde sua utilidade. Essa é a orientação do próprio Supremo
Tribunal Federal na hipótese de descumprimento de decisão firmada em controle
abstrato, podendo a parte, a despeito dos eventuais recursos que podem ser cabíveis
ou pendentes, ingressar diretamente com a reclamação no STF.
O argumento de que a reclamação não se presta para uniformização de jurispru-
dência parece desviar da questão central: de que o cabimento de reclamação está
exclusivamente ligado com o efeito vinculante.

6  Decisões do STF analisadas


– Agravo na Reclamação nº 17.914. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julg. 26.8.2014.
– Reclamação nº 603. Rel. Min. Carlos Velloso. Julg. 3.6.1998.
– Agravo na Reclamação nº 724. Rel. Min. Octavio Gallotti. Julg. 26.3.1998
– Agravo na Reclamação nº 1.639. Rel. Min. Octavio Gallotti. Julg. 21.9.2000.
– Agravo na Reclamação nº 1.852. Rel. Min. Maurício Corrêa. Julg. 18.10.2001.
– Reclamação nº 968. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 19.4.2001.
– Reclamação nº 1.880. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 7.11.2002.
– Agravo na Reclamação nº 1.880. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 7.11.2002.
– Reclamação nº 1.591. Rel. Min. Ellen Gracie. Julg. 20.2.2003.
– Agravo na Reclamação nº 2.959. Rel. Min. Ayres Britto. Julg. 7.4.2005.
– Reclamação nº 2.959. Rel. Min. Ayres Britto. Julg. 14.12.2004.
– Medida Cautelar na Reclamação nº 2.933. Decisão do Rel. Min. Joaquim
Barbosa. Julg. 7.3.2005.
– Agravo na Reclamação nº 2.665. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 23.2.2005.
– Agravo na Reclamação nº 5.130. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Julg.
11.10.2007.

As seguintes reclamações podem ser ditas inaptas: Agravo na Reclamação nº 2.665. Rel. Min. Marco Aurélio.
42

Julg. 23.2.2005; Agravo na Reclamação nº 1.639. Rel. Min. Octavio Gallotti. Julg. 21.9.2000 e Reclamação nº
968. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 19.4.2001, dado que não tratam da questão discutida.

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Gabriel Calil, Nicola Tommasini, Dimitri Dimoulis

– Agravo na Reclamação nº 6.534. Rel. Min. Celso de Mello. Julg. 26.9.2008.


– Embargos de Declaração na Reclamação nº 5.335. Rel. Min. Cezar Peluso.
Julg. 17.3.2008.
– Agravo na Reclamação nº 6.078. Rel. Min. Joaquim Barbosa. Julg. 8.4.2010.
– Reclamação nº 10.793. Rel. Min. Ellen Gracie. Julg. 13.4.2011.
– Agravo na Reclamação nº 12.600. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. Julg.
17.11.2011.
– Agravo na Reclamação nº 11.522. Rel. Min. Cármen Lúcia. Julg. 29.2.2012.
– Agravo na Reclamação nº 16.009. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julg. 12.12.2013.
– Agravo na Reclamação nº 14.989. Rel. Min. Cármen Lúcia. Julg. 8.11.2013.
– Agravo na Reclamação nº 12.929. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julg. 7.11.2013.
– Agravo na Reclamação nº 17.914. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julg. 26.8.2014.
– Reclamação nº 4.335. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julg. 21.3.2014.
– Agravo na Reclamação nº 12.692. Rel. Min. Luiz Fux. Julg. 27.2.2014.
– Agravo na Reclamação nº 9.080. Rel. Min. Teori Zavascki. Julg. 27.2.2014.

Abstract: The present article intends to verify the Brazilian Supreme Court’s understanding in respect to the
possibility of a Constitutional Complaint (reclamação constitucional) in order to guarantee the authority of
a decision made in extraordinary appeal with recognized general repercussion (recurso extraordinário com
repercussão geral). By way of the “precedent tree” methodology, developed by Lopez Medina, the article
shows that the Supreme Court asserts the impossibility of the Constitutional Complaint as a remedy in this
case, but does so in a confusing and contradictory way.
Keywords: Constitutional complaint. Extraordinary appeal. Federal Supreme Court (Brazil). Precedents.

São Paulo, 30 de junho de 2016.

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Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

CALIL, Gabriel; TOMMASINI, Nicola; DIMOULIS, Dimitri. Recurso extraordinário e


reclamação constitucional: uma análise da linha jurisprudencial do Supremo Tribunal
Federal. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC, Belo Horizonte, ano
10, n. 34, p. 81-99, jan./abr. 2016.

Recebido em: 30.06.16


Aprovado em: 01.08.16

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