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Quantificação de Biomassa Nativa e Secundária para o Financiamento do Desenvolvimento Regional no Estado do Pará. View project
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Reinaldo Brito
ELEMENTOS PARA UMA ECONOMIA POLÍTICA DA AMAZÔNIA
ECONOMIA POLÍTICA
DA AMAZÔNIA
Historicidade, territorialidade, diversidade, Francisco de Assis Costa nasceu em 1948, em Pedro
Avelino, no Rio Grande do Norte, em cuja Universidade
sustentabilidade Federal graduou-se em Ciências Econômicas em
1971. Após especialização em Matemática (CECINE-
UFPE) e Planejamento (NAEA-UFPA), trabalhou
no Sistema Nacional de Planejamento Agrícola,
sendo coordenador técnico da Comissão Estadual de
Planejamento Agrícola do Pará (1978-1982). Orientado
pela Professora Maria Yedda Linhares obteve título de
Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
pelo Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Agrícola (CPDA) da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro em 1981. Doutorou-se em Economia
pela Freie Universität Berlin em 1988, na Alemanha
Federal. Iniciou carreira docente em 1989 na
Universidade Federal do Pará (UFPA), no Núcleo de
IMAGEM DE FUNDO - FRACTAIS Altos Estudos Amazônicos (NAEA) e no Departamento
O termo fractal foi criado por Benoît Mandelbrot, de História. Foi diretor de planejamento da Agência de
matemático francês nascido na Polónia, que descobriu a Desenvolvimento da Amazônia (2003-2005) e Diretor
geometria fractal, a partir do adjetivo latino fractus, do de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais
verbo frangere, que significa quebrar. Ele usou o termo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA
para descrever um objeto geométrico que nunca perde (2011-2012). É Professor Associado no Programa
a sua estrutura qualquer que seja a distância de visão. de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
São produzidos por meio de equações matemáticas que do Trópico Úmido do NAEA e do Programa de Pós-
podem ser interpretadas por formas e cores a partir de Gradução em Economia da Faculdade de Economia da
aplicativos usados em ambientes virtuais. Sua principal UFPA. É pesquisador ativo da Rede de Pesquisa em
característica é a autossimilaridade. Eles contêm, Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais
dentro de si, cópias menores deles mesmos. Essas (RedeSist, UFRJ) e da Rede Temática de Pesquisa
cópias, por sua vez, contêm cópias ainda menores e em Modelagem Ambiental da Amazônia (Projeto
assim sucessivamente. GEOMA). Bolsista de produtividade em pesquisa
do CNPq, foi Visiting Fellow no Centre for Brazilian
SÉRIE II
FUNDAMENTOS Studies (CBS) da Oxford University, Inglaterra (Hilary
TEÓRICO-
METODOLÓGICOS
e Trinity Terms, 2007). Orientou inúmeras teses e
detém vasta publicação acadêmica. Sua experiência
IMAGENS DA CAPA de pesquisa tem ênfase em economia agrária, história
• Frutas da região amazônica
• Imagem ilustrativa de sistema agrícola amazônico
• Habitação de ribeirinhos
2 SÉRIE II
econômica, desenvolvimento regional e relações entre
economia e sustentabilidade ambiental, destacando
o papel das inovações tecnológicas e institucionais,
• Regatão (barcos típicos do comércio ribeirinho) FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS sobretudo na Amazônia.
Livro 2
Reinaldo Brito
Francisco de Assis Costa nasceu em 1948, em Pedro
Avelino, no Rio Grande do Norte, em cuja Universidade
Federal graduou-se em Ciências Econômicas em
1971. Após especialização em Matemática (CECINE-
UFPE) e Planejamento (NAEA-UFPA), trabalhou
no Sistema Nacional de Planejamento Agrícola,
sendo coordenador técnico da Comissão Estadual de
Planejamento Agrícola do Pará (1978-1982). Orientado
pela Professora Maria Yedda Linhares obteve título de
Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
pelo Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Agrícola (CPDA) da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro em 1981. Doutorou-se em Economia
pela Freie Universität Berlin em 1988, na Alemanha
Federal. Iniciou carreira docente em 1989 na
Universidade Federal do Pará (UFPA), no Núcleo de
Altos Estudos Amazônicos (NAEA) e no Departamento
de História. Foi diretor de planejamento da Agência de
Desenvolvimento da Amazônia (2003-2005) e Diretor
de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA
(2011-2012). É Professor Associado no Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
do Trópico Úmido do NAEA e do Programa de Pós-
Gradução em Economia da Faculdade de Economia da
UFPA. É pesquisador ativo da Rede de Pesquisa em
Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais
(RedeSist, UFRJ) e da Rede Temática de Pesquisa
em Modelagem Ambiental da Amazônia (Projeto
GEOMA). Bolsista de produtividade em pesquisa
do CNPq, foi Visiting Fellow no Centre for Brazilian
Studies (CBS) da Oxford University, Inglaterra (Hilary
e Trinity Terms, 2007). Orientou inúmeras teses e
detém vasta publicação acadêmica. Sua experiência
de pesquisa tem ênfase em economia agrária, história
econômica, desenvolvimento regional e relações entre
economia e sustentabilidade ambiental, destacando
o papel das inovações tecnológicas e institucionais,
sobretudo na Amazônia.
Elementos para uma
Economia Política da Amazônia
Historicidade, territorialidade,
diversidade, sustentabilidade
Belém, 2012
Elementos para uma
Economia Política da Amazônia
Historicidade, territorialidade,
diversidade, sustentabilidade
Patrocinador do Projeto
COPYRIGHT © Francisco de Assis Costa, 2012
Créditos
FUNDAÇÃO FORD
Apoio
REVISÃO
Marly Camargo Vidal
PROJETO GRÁFICO
Rose Pepe Produções e Design
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
S7ven Consultoria
468 p.: il.; 23 cm. – (Coleção Economia Política da Amazônia. Série II-Fundamentos
teórico-metodológicos; v. 2).
Inclui bibliografias
ISBN: 978-85-7143-103-4
10
Regatão (barcos típicos do comércio ribeirinho)
Lista de Gráficos
14
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
15
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
16
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 7.3.1-1 Evolução das necessidades de Áreas Agricultadas em Operação (AO) 207
das diferentes trajetórias do Setor Rural da Região Norte, 1990 a 2006
(médias trianuais)
Gráfico 7.3.1-2 Evolução das necessidades de fundamentos naturais das diferentes 209
trajetórias do Setor Rural da Região Norte, 1990 a 2006 (médias
trianuais)
Gráfico 7.3.1-3 Participação das áreas com floresta originária nos estabelecimentos, 210
por trajetória, Região Norte (1995-1996)
Gráfico 7.3.1-4 Estrutura Fundiária da Região Norte a Partir dos dados do Censo 212
Agropecuário de 1995-96
Gráfico 7.3.1-5 Condição de acesso ao total de recursos fundiários, Estado do Pará 212
(2003)
Gráfico 7.3.1-6 Mercado de terras na Região Norte: evolução e relação dos preços de 216
mata, pasto e terra agrícola, 2001 a 2007 (preços em R$ corrigidos para
2007)
Gráfico 7.3.1-7 Terras desapropriadas pelo INCRA para efeito de reforma agrária na 220
Região Norte (1990 a 2002)
Gráfico 7.3.2-1 Evolução do relação entre o crédito rural e o Valor Bruto da Produção 221
Agropecuária e da Renda Líquida do Setor Rural da Região Norte, 1993
a 2004
Gráfico 7.3.2-2 Evolução do Índice de Densidade Institucional a Partir do Crédito 223
(IDIC) para as diferentes trajetórias do Setor Rural da Região Norte,
1993 a 2004
Gráfico 7.4-1 Características das trajetórias tecnológicas rurais na Região Norte 232
Gráfico 9-1 Composição das Mesorregião por Trajetórias Tecnológicas (Baseada na 277
média do VBPR de 2004 a 2006)
Gráfico 10.1.1-1 Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos 285
camponeses por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009
Gráfico 10.1.1-2 Composição da Renda Líquida do Estabelecimento em 2006, por 286
situação reprodutiva (% da Renda Líquida do Estabelecimento)
Gráfico 10.1.2-1 Renda Média per Capita mensal e proporção no total de estabelecimentos 287
camponeses na Trajetória-Camponesa.T1, por Condição Reprodutiva,
1995 e 2006, R$ de 2009
Gráfico 10.1.2-2 Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos 288
Camponeses na Trajetória-Camponesa.T3, por Condição Reprodutiva,
1995 e 2006, R$ de 2009
Gráfico 10.1.2-3 Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos 289
Camponeses Na Trajetória-Camponesa.T2, por condição reprodutiva,
1995 e 2006, R$ de 2009
17
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 10.2-1 Saldo da mobilidade entre trajetórias nos estabelecimentos que 291
mantiveram a situação reprodutiva entre os censos 1995 e 2006, Região
Norte (Estabelecimento-Domicílio))
Gráfico 10.2-2 Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva 292
consistentemente Acima da Média por Mesorregião, Região Norte, 1995
e 2006 (quantidade, por ordem decrescente em 2006)
Gráfico 10.2-3 Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva 292
consistentemente Remediados e por Mesorregião, Região Norte, 1995 e
2006 (quantidade, por ordem decrescente em 2006)
Gráfico 10.2-4 Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva 293
consistentemente Sob Risco por Mesorregião, Região Norte, 1995 e
2006 (quantidade, por ordem decrescente em 2006)
Gráfico 10.2-5 Grupos nas trajetórias em mobilidade (Número de Estabelecimento- 295
Domicílio)
Gráfico 10.2-6 Estabelecimentos-Domicílios camponeses em Mobilidade Descendente 295
por Mesorregião, 1995 e 2006 (quantidade em 2006)
Gráfico 10.2-7 Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva 296
Mobilidade Ascendente por Mesorregião, Região Norte, 1995 e 2006
(quantidade, por ordem decrescente em 2006)
Gráfico 10.3.2-1 Síntese da mobilidade entre trajetórias e situações reprodutivas 302
Gráfico 10.3.2-2 Relação entre especialização e diversidade, com situação reprodutiva 305
da trajetórias da T1, Região Norte, 2006
Gráfico 10.3.2-3 Evolução do preço do leite na Região Norte, 1995 a 2009, R$ constantes 307
de 2009
Gráfico 10.3.2-4 Proporção da pecuária de corte no VBP dos sistemas da T3, Região 308
Norte
Gráfico 10.3.2-5 Evolução do preço de arroba da carne na Região Norte, 1998 a 2009, 309
R$ de 2009
Gráfico 10.3.4-1 Disposição para mudar nas Trajetórias e Condições Reprodutivas, 1995 312
e 2006 ( Investimentos Totais sobre Renda Líquida, %)
Gráfico 10.3.4-2 Relação da Política de Crédito com os Investimentos nos Estabelecimentos 312
camponeses, por Trajetória e Condição Reprodutiva, 1995 e 2006
Gráfico 10.3.4-3 Relação da Política de Crédito com os Investimentos camponeses, nas 313
Trajetórias e Condições Reprodutivas
Gráfico 10.4.1-1 Renda Média Per Capita Mensal das Famílias dos Assalariados dos 314
Estabelecimentos Patronais por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006,
R$ de 2009
Gráfico 10.4.2-1 Distribuição dos Assalariados nas Mesorregião por Situação Reprodutiva 315
18
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
19
Lista de Tabelas
Tabela 1.2.3-1 Configuração do setor rural na Região Norte por estados e formas de 51
produção em 1995-96
Tabela 1.2.3-2 Características das unidades estruturais que fundamentam a economia de base 52
agrária da Região Norte (distribuição do valor bruto da produção por atividades,
indicadores da produtividade e relação terra/trabalho em 1995-96).
Tabela 3.2.1-1 As diversas formas de capoeira na Região Norte, seu contexto técnico e 88
forma de produção, 1995-96 (Ha)
Tabela 3.2.3-1 Evolução da área plantada com culturas temporárias1 e permanentes2 e 91
do rebanho bovino3 da Região Norte como indexadores dos fundamentos
da economia agrária, 1989-2005 (Índices para 1995 = 1)
Tabela 3.2.3-2 Áreas por usos e modos de produção, inclusive capoeiras, 1990-2005, 92
em ha.
Tabela 3.3-1 Evolução dos componente dos balanços anuais de emissão de carbono 94
na Região Norte por por usos e modos de produção, 1990-2005, em t.
Tabela 6.3-1 Classes dos grupos de produtos e expectativa quanto às formas respectivas 136
de participação nas trajetórias tecnológicas subjacentes
Tabela 6.3.4-1 Coeficientes b das regressões, atributos associados de qualificação 142
dos grupos de produtos, cargas fatoriais das combinações de grupos de
produtos relativos às estruturas camponesas e patronais na Região Norte
Tabela 6.3.5-1 Distribuição geográfica de ocorrência das combinaçãoes C de grupos 147
de produtos observada pela distribuição percentual do VBP por
mesorregiões e estados
Tabela 6.3.5-2 Composição da produção oriunda das combinaçãoes C de grupos de 147
produtos observadas pela distribuição percentual do VBP por grupos de
produtos e atividades
Tabela 6.3.6-1 Índice de densidade institucional1 das combinaçãoes C de grupos de 148
produtos por mesorregiões e estados
Tabela 6.3.7-1 Números Índices da evolução do Produto Real dos grupos de produtos – 150
Região Norte, 1995 a 2004 ( 1995=1)
Tabela 6.4-1 Características das Trajetórias Tecnológicas prevalecentes no setor 153
rural da Região Norte
Tabela 7.1.1-1 Evolução das Trajetórias Tecnológicas no setor rural da Região Norte 189
–Valor Bruto da Produção Rural (VBPR)
Tabela 7.1.1-2 Regimes de Crescimento das Trajetórias – Elementos de sínteses 196
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Tabela 7.2-1 Correlações de Pearson entre os IPs das Trajetórias Tecnológicas no 199
setor rural da Região Norte
Tabela 7.2-2 Indicadores de cooperação, competição e padrão de concorrência das 200
Trajetórias Tecnológicas no setor rural da Região Norte
Tabela 7.3.1-1 Fontes do asservo de terras (AT) das trajetórias tecnológicas em 2006, 214
considerando a posição do estabelecimento em 2006
Tabela 7.3.1-2 Mercado de terras na Região Norte entre os 1995 e em 2006 217
Tabela 7.3.1-3 Participação da Trajetória-Patronal.T4 no Mercado de terras na Região 218
Norte entre os 1995 e em 2006
Tabela 7.3.1-4 Participação da Trajetória-Patronal.T7 no Mercado de terras na Região 219
Norte entre os 1995 e em 2006
Tabela 7.3.3-1 Evolução da produção de P&D agropecuária por temática – 1995 a 2005 229
Tabela 7.3.3-2 Os quadros do sistema Embrapa em 1995 e em 2006 230
Tabela 9-1 Evolução da Estrutura Relativa de Variáveis Fundamentais do Setor 279
Rural por mesorregiões da Região Nortes
Tabela 9-2 Estrutura do Setor Rural da Região Norte considerando as Trajetórias 280
Tecnológicas por Mesorregião (Baseada na média do VBPR de 2004 a 2006)
Tabela 10.2-1 Mobilidade Inter-Trajetórias e condição reprodutiva estabelecimentos- 291
domicílios camponeses entre 1995e 2006 (número absoluto)
Tabela 10.3.1-1 Os determinantes internos da RLPpc: dotação de recursos e capacidades 298
dos grupos de estabelecimentos-domicílios.
Tabela 10.4.2-1 Situação Reprodutiva dos Assalariados por Trajetórias Tecnológica 315
Patronais
Tabela 11.3.2-1 evolução da produção extrativa, agrícola e total de açaí1, por região, 327
1996-2001 (em kg)
Tabela 12.1.2-1 Tabela 12.1.2-1.Variáveis de elevada concentração (Índice de Gini para 350
todos os municípios do Sudeste Paraense
Tabela 12.1.2-2 Coeficiente de Correlação de Pearson das variáveis com Gini superior a 353
0,5 ordenadas pela média dos coeficientes com todas as outras variáveis,
1995-96
Tabela 12.1.2-3 Resultados da regressão do LN da População Urbana como variável 354
dependente do LN das demais variáveis escolhidas
Tabela 12.1.2-4 Resultados da regressão da Pessoal Ocupado na Indústria como variável 355
dependente das demais variáveis escolhidas
Tabela 12.1.2-5 Resultados da regressão do Pessoal Ocupado no Comércio como variável 356
dependente das demais variáveis escolhidas
Tabela 12.1.2-6 O fator principal da análise fatorial das variáveis básicas do Sudeste 358
Paraense
Tabela 12.1.2-7 Scores dos Fatores Polaridade e Ruralidade para o Sudeste Paraense – 359
Massa dos Municípios
Tabela 12.1.2-8 Cargas dos potenciais de atração dos principais centros polarizadores 360
do Sudeste Paraense
22
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Tabela 12.2.2-1 Estrutura da Economia de Base Primária do Sudeste Paraense em 1995. 380
Matriz de Insumo-Produto CSα em R$ 1.000.000 constantes de 2005).
Tabela 12.2.2-2 Estrutura da Economia de base primária do Sudeste Paraense em 2004. 381
Matriz de Insumo-Produto CSα em R$ 1.000.000 constantes de 2005
Tabela 12.2.4-1 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leontief) da Sudeste Paraense com 393
base na Matriz de Insumo-Produto CSα em 1995
Tabela 12.2.4-2 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leontief) da Sudeste Paraense com 394
base na Matriz de Insumo-Produto CSα em 2004
Tabela 12.3-1 Programação de investimentos e ampliação da produção mineral pela 400
CVRD no Sudeste Paraense (R$ 1.000 de 2005)
Tabela 12.3.2-1 Impactos e efeitos dos investimentos e da expansão do produto do setor 405
mineral sobre a economia local do Sudeste Paraense e transbordamentos
para o resto do Estado do Pará e do Brasil: 2004 a 2010 (a preços
constantes de 2004)
Tabela 12.4.1-1 Evolução do Valor Bruto da Produção e das Terras Totais Agricultadas 412
das Trajetória Tecnológicas do Setor Rural no Sudeste Paraense, 1990 a
2006, em R$ de 2007
Tabela 12.4.3-1 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leon-Tief) da Sudeste Paraense 415
com base na Matriz de Insumo-Produto CSα em 2004, incorporando o
mercado de terras.
Tabela 12.4.4-1 Diversas condições de compensação por redução nas emissões de 416
carbono no Sudeste Paraense como variações na demanda final de 2004
(em R$ milhões de 20005)
Tabela 12.4.4-2 Variações nas variáveis-chaves da economia do Sudeste Paraense produzidas 418
por operações de compensação por redução de emissão de CO2
Tabela 12.4.4-3 Estimativa do Mercado de terras no Sudeste Paraense entre 1995 e 2004, 420
a preços de 2007
Tabela 12.5-1 Programação de investimentos e previsão dos custos de operação e 425
receitas para dois ciclos de implantação do ParáFlorestas
Tabela 12.5-2 Estrutura resumida dos custos de produção do ParáFlorestas para os 425
momentos intermediário e final da implantação.
Tabela 12.5.1-1 Estrutura da Economia de Base Agrária da Microrregião Paragominas. 427
Matriz de Insumo-Produto CSα em 2005 – Ano0 do ParáFlorestas, em R$
1.000.000 correntes
Tabela 12.5.3-1 Estrutura da Economia de Base Agrária da Microrregião Paragominas. 430
Matriz de Insumo-Produto CSα no Ano6 do ParáFlorestas, valores de
referência de 2005
Tabela 12.5.4-1 Estrutura da Economia de Base Agrária da Microrregião Paragominas. 431
Matriz de Insumo-Produto CSα no Ano13 do ParáFlorestas, valores de
referência de 2005
Tabela 12.5.5-1 Resumo dos impactos do ParáFlorestas nas variáveis fundamentais 433
da economia de base agrária da Microrregião Paragominas e seus
desdobramentos extra-locais
23
Lista de Figuras
Figura 8.4.3-1 ASPIL e Trajetórias: Trajetórias alfa de base local se relaciona com 257
trajetórias beta, extra local para constituir um ASPIL. Este é a expressão
local de uma trajetória tecnológica de expressão maior que o local.
Figura 8.4.6-1 Trajetórias tecnológicas e cadeias de valor 261
Prefácio �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 31
Prólogo �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 35
Parte I
Introdução à economia rural contemporânea da Amazônia ���� 43
Parte II
Fundamentos estruturais da dinâmica agrária na Amazônia:
Modos de Produção e Trajetórias Tecnológicas ���������������������������� 109
Parte III
Fundamentos da dinâmica espacial na Amazônia: Sistemas
Agrários, Arranjos Produtivos e economias locais ���������������������� 237
Epílogo��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 435
28
Prefácio
no contexto de uso da terra regional. Francisco Costa trás estas dinâmicas para o contexto
atual sobre a economia de carbono e pagamento por serviços ambientais (PES), de importância
crescente na região, sem deixar de lado relações sociais e econômicas nas quais estas discussões
estão inseridas, porém frequentemente ignoradas.
Tendo como base o contexto histórico e ambiental desenvolvido na primeira parte, Francisco
Costa parte para uma análise estrutural e comparativa da evolução dos sistemas produtivos na
região, a formação da diversidade e conflitos sociais e territoriais.
Sua análise de trajetórias tecnológicas concorrentes oferece uma perspectiva única da
realidade agrária amazônica, baseado em um modelo analítico que demonstra as dinâmicas de
apropriação de recursos e incentivos por parte de diferentes grupos sociais, e o papel de pequenos
produtores na organização agrária regional. Seu uso de uma tipologia sócio-tecnológica não
esconde sua atenção às peculiaridades regionais e variabilidade social, ao mesmo tempo em que
permite uma reflexão ao nível macro-regional.
A partir desta estratégia, Francisco Costa reconstitui um dialogo teórico entre dinâmicas
regionais de desenvolvimento e planejamento. Por um lado, e apropriadamente, ele se volta a
preponderância da relação rural-urbano na configuração regional e para as relações (ou falta
delas) entre economia de recursos naturais e economia de transformação industrial. Por outro,
ele discute a economia mineral, particularmente no estado do Pará, para ilustrar os dilemas de
exploração de matéria prima a curto prazo e os desafios regionais face aos problemas sociais e
ambientais que se agregam na região.
Enquanto cada parte do livro, assim como cada capitulo, oferece em si uma análise que
só Francisco Costa poderia oferecer sobre os diferentes aspectos da realidade socioambiental
e agrária da Amazônia, é na apreciação do volume como um todo que podemos compreender
o propósito último da obra: uma contribuição fundamental ao planejamento e compreensão do
desenvolvimento regional. Como mencionado acima, Francisco Costa nos apresenta um ‘tour
de force, só possivel vindo daquele que há décadas combina dedicação a pesquisa, ensino e
treinamento e desenvolvimento institucional sobre e para a Amazônia. O valor transcende
disciplinas e qualquer dicotomia, simplista, entre teoria e pratica.
Esta obra preenche varias lacunas em um momento no qual carecemos de perspectivas mais
abrangentes e sensíveis as particularidades da história sócio-ambiental amazônica, contribuindo
para pensar um futuro voltado para a sustentabilidade e melhorias sociais para a própria região.
Eduardo S. Brondizio
Professor, Department of Anthropology
Indiana University Bloomington
33
Prólogo
Todo conhecimento tem dupla existência: ele é ciência, consciência da razão porque
a coisa é o que é, da forma como é; ele é, também, a consciência da possibilidade de que a
coisa poderia ser diferente mediante a vontade orientada pela ciência. Na primeira condição, o
conhecimento é logo; na segunda, techné.
A brilhante discussão filosófica em torno da crise ecológica associada ao industrialismo
capitalista, que se desenvolveu no final do século XX, expunha como parte do problema uma crise
de paradigmas do conhecimento. Insistia, em consequência, na necessidade teórico-metodológica
do holismo e da complexidade para a observação crítica do mundo ameaçado pelo poder destrutivo
da razão redutora e mecânica potenciada pelo cartesianismo.
O nosso esforço de pesquisa orienta-se pela convicção de que, para além da anuência
ao espírito daquela discussão, cabe a nós, cientistas da sociedade do século XXI, testar o poder
transformador dessa consciência, operando-a, em primeiro lugar, como logo (ciência como
conhecimento) para em seguida controlá-la como techné (ciência transformada em técnica,
poder de intervenção – praxis, política). Como parte do empreendimento, este livro apresenta
aportes teóricos e soluções metodológicas que se mostraram férteis na tarefa de conhecer e indicar
caminhos – de testar a hipótese de que o desenvolvimento com esperança de sustetabilidade é
possível na Amazônia. Trata-se de sublinhar as possibilidades desses approaches no adensamento
de uma economia política da Amazônia, isto é, de um programa de pesquisa que, não obstante ter a
referência privilegiada da dimensão econômica, estabeleça tal determinação mediada por relações
sociais que, de um lado se expressam em conteúdos de poder materializados nas instituições; de
outro, se realizam no trabalho trabalho humano objetivado nas relações – técnicas – com uma
natureza viva particular, o bioma amazônico.
Ao lado da discussão filosófica, e em relação de mútua influência, desenvolveu-se uma
consciência do mundo em relação à Amazônia: a Região foi posta como foco da atenção como
natureza e como sociedade. Ao enquadrá-la na primeira condição, a opinião pública tem colocado
em relevo a importância da maior floresta tropical do planeta enquanto acervo de biodiversidade
e como base de prestação de serviços ambientais para a estabilização do clima global. Na segunda
condição, ressaltam-se os usos da base natural da região, que se fariam pondo em risco tudo o
que se poderia obter de uma utilização mais qualificada das suas características naturais e dos
seus atributos locacionais. A conclusão é a de que a dimensão social da região, incluindo as
intervenções políticas, constitui um paradoxo por realizar-se, destruindo, em nome dos ganhos
presentes de poucos, os mais preciosos trunfos para um futuro melhor para todos.
Parte essencial do esforço que apresentamos adiante pode ser entendido como uma longa
reflexão sobre o realismo e os equívocos contidos nessa proposição. O empenho se justifica
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
porque, tornada senso comum nos países do norte, tal assertiva orienta muitas das ações de
governo e de organizações não governamentais nas relações internacionais do Brasil; tornada
mote na construção de projetos de desenvolvimento nacional, ela orienta ações do estado nacional
e consolida conceitos e preconceitos sobre o papel da região e o desenvolvimento do Brasil.
Esse arroubo da consciência do mundo sobre nós organiza uma problemática própria sobre a
Amazônia e constitui, ele mesmo, um problema a ser tratado por nossas ciências da sociedade.
Questões que abordamos em perspectiva interdisciplinar, em que sobressaem os argumentos de
uma heterodoxia econômica que converge para um programa que se caracteriza por sublinhar o
sentido histórico-estrutural da diversidade – natural e social – que distingue a região. O propósito
é o de alertar para o fato de que qualquer julgamento das sociedades locais exige discernimento
sobre o significado das diferenças e o peso da história na sua constituição. O mesmo se requer
do exercício de perscrutar o devir, indagando sobre as possibilidades futuras e os requisitos
estratégicos para materializá-las.
Esforçamo-nos por demonstrar que, se são reais os riscos ambientais de muitas das
práticas econômicas que se detectam na Amazônia, a par de prejuízos inquestionáveis ou
benefícios sociais discutíveis, é falso considerar irracionais a priori os processos decisórios
privados que fundamentam tais usos, ou sem sentido os cálculos de custo-benefício que nesse
nível se processam. O justo é expor os dilemas aí vivenciados – em perspectiva privada e social
– para tratá-los institucionalmente. Para tanto, é necessário esclarecer, em sua diversidade e
interações, as razões dos agentes e as racionalidades sistêmicas das estruturas que os constrangem,
situando-as ademais em perspectiva dinâmica. Este é o propósito das Parte i e Parte II do livro.
Na primeira, apresentamos de modo sintético, no Capítulo 1, a evolução recente do setor rural na
Região Norte, ao mesmo tempo que introduzimos a noção de diversidade de sujeitos e razões do
desenvolvimento como objeto empírico, ao qual refere um contexto institucional relevante. Os
próximos três capítulos tratam de qualificar essa dinâmica em perspectiva econômica (Capítulo
2) e ambiental (Capítulo 3 e Capítulo 4). Na Parte II, retomamos a temática da diversidade de
agentes, racionalidades e estruturas como ponto de partida para um tratamento da dinâmica
agrária, com base em trajetórias tecnológicas concorrentes. O Capítulo 5 apresenta um modelo
teórico da confrontação dinâmica de trajetórias distintas mediante os efeitos de não linearidade
produzidos por externalidades, que produzem rendimentos crescentes e incertezas.
Uma questão prática de fundo, que justifica o uso da metáfora das trajetórias tecnológicas
concorrentes, é a de saber como as diferentes razões agem mediante a natureza originária da região
– seu ativo mais específico. Pois é verdade, como supõe o senso comum ilustrado, que o bioma
tropical amazônico dá identidade à região. Não se deve, entretanto, minimizar o fato de que tal
integridade comporta características ambientais muito distintas no interior da região. Associadas
a isso, constituíram-se diferentes formações econômico-sociais, por assentamentos simultâneos
36
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
em bases naturais distintas ou sucessão de usos, que corresponderam aos diferentes sentidos que
a heterogeneidade natural ganhou para a reprodução social dos que dela dependeram e dependem.
A perspectiva teórico-metodológica adotada é a de que, uma vez verificada a diversidade de
agentes e suas razões decisórias em amplos modos de produção, objetos do Capítulo 6, os quais,
como “tipos ideais”, permitem uma visão em alto nível de abstração e generalidade, se verifiquem
as formas concretas de utilização dos recursos naturais e institucionais que conformam uma
diversidade territorial atual fundamental, sem a consideração da qual se torna impossível refletir
adequadamente sobre possibilidades futuras. Tais especificidades expressam-se nas distintas
formas como os agentes combinam os meios disponíveis nas delimitações regionais concretas –
naturais e institucionais –, inicialmente, no nível estrutural micro, em sistemas de produção rural,
os quais convergem em trajetórias tecnológicas, cujo delineamento, evolução, territorialidade e
institucionalidade é o objeto do longo Capítulo 7.
Sistemas de produção rural – tecnologias adaptadas em nível micro – convergem para
trajetórias tecnológicas, que, sob os constrangimentos – potencialidades e limites – próprios
que caracterizam uma delimitação territorial e política, articulam-se em sistemas agrários, por
antagonismo, por cooperação ou por cooperação antagônica, contraditória. Os principais sistemas
agrários da Região Norte serão apresentados no Capítulo 8 e tratados no capítulo seguinte como
delimitações privilegiadas para observação do potencial e limites das trajetórias como referência
do desenvolvimento e crise, em particular dos segmentos sociais mais frágeis do contexto rural
da Região.
Duas grandes crises marcam o desenvolvimento atual do capitalismo. Uma crise econômica,
derivada do agigantamento do capital financeiro e sua tensa busca de impossível autonomia, e uma
crise ambiental, derivada da industrialização da agricultura e das tensões sobre as fontes naturais
de recursos da industrialização em geral. Essas crises são sistêmicas, desenvolvem-se em âmbito
mundial com desdobramentos institucionais que nos permitem formular a hipótese que, ao longo
de um lapso de tempo difícil de determinar, se confirmarão como as marcas do século XXI: a) uma
revalorização da economia real em detrimento da economia monetária e, em decorrência disso,
uma revalorização dos ativos reais em detrimento de ativos financeiros; b) entre os ativos reais,
uma valorização daqueles intangíveis associados a conhecimento e cultura, e, intimamente a estes
associados, os ativos reais tangíveis de base natural. Há quem acredite serem essas tendências
indicações da aproximação de uma novo regime ou padrão de desenvolvimento capitalista – estar-
se-ía a caminho de um capitalismo natural.
Trata-se de ideia-força. Como tal, hipótese a ser verificada (logo) ao tempo que referência
para a ação (techné). Importa-nos, nessa última perspectiva, o argumento que para tirar proveito
das oportunidades associadas a essas mudanças, as sociedades brasileira e amazônica terão que
demonstrar capacidade de “converter” a base natural da Região – o bioma, as reservas minerais e,
entre os dois, as terras – em ativos reais, os mais qualificados que lhes sejam possíveis. Para que isso
ocorra é necessário, primeiramente, reverter os usos que já se fazem dessa base natural, dos menos
para os mais nobres. Na forma menos nobre, o bioma transforma-se em matéria prima, consumida
em algum processo produtivo; e a terra, ativo genérico que dá lugar ao bioma, é usada na forma de
capital físico, depreciado em algum processo produtivo. Nas formas mais nobres de capital natural,
o bioma originário poderá ser preservado como produtor de bens requeridos por uma divisão social
do trabalho (ainda em desenvolvimento) e serviços ambientais; e a terra poderá abrigar sistemas
artificiais com capacidade de permanência indeterminada – uma agricultura sustentável. As
trajetórias tecnológicas constituirão referências analíticas privilegiadas na compreensão sistêmica
desses diferentes usos.
38
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Por fim, em um Epílogo, apresentamos elaborações que são, ao mesmo tempo, síntese a
que chegamos e ponto de partida do que indicamos como possibilidades futuras, de pesquisa e
ação. Discutimos, nesse ponto, duas noções bastante arraigadas na opinião pública, aqui e alhures.
Primeiro a de que atores privados, com o suporte de instituições do Estado, têm, historicamente,
aportado à região com matrizes de conhecimento – tanto tecnológico, quanto de gestão e
intervenção social – inadequadas às suas especificidades. Trata-se de uma noção acertada, mas
incompleta por presumir que essa é uma situação cristalizada. A rigor, tal inadequação é social
e historicamente construída – deriva em parte da mentalidade dos operadores imediatos dessas
matrizes, em parte dos efeitos de path dependency incorporados na cultura institucional e política
que as demandam e operam – e, como tal, passível de confrontação por projeto alternativo em devir.
A segunda noção presente na opinião pública como senso comum, a qual interpelamos de diversos
modos, diz respeito ao imobilismo e marginalidade das populações tradicionais. Num caso, como
39
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
no outro, demonstramos que inovações institucionais que reorientem caminhos e culturas das
organizações e induzam os agentes a comportamentos adequados a um desenvolvimento moderno
são necessárias e urgentes.
Uma reversão é necessária no plano tecnológico, posto que os princípios de formação
e utilização de conhecimento desenvolveram-se pelo esforço da ciência moderna em criar
sistemas botânicos homogêneos para maximizar a produção de biomassa por uma lógica de
industrialização da agricultura fortemente assentada em bases mecânico-químicas, com dois
conjuntos de efeitos relevantes. As técnicas daí derivadas, por serem aparatos de padronização,
negam o capital natural contido na diversidade biológica da região. Por seu turno, as mesmas
características ecológicas da Amazônia, que explicam sua gigantesca biodiversidade, negam
essas matrizes, reduzindo dramaticamente os ciclos de vida e a economicidade de suas técnicas.
Por outro lado, essas matrizes não têm se esforçado em entender os biomas, em maximizar
seus usos.
No todo, resulta a consciência de que intervenções estatais fizeram-se corroborando
práticas ambientalmente deletérias, ao lado de aprofundarem mazelas sociais, excluindo os
mais necessitados e confirmando, na região, a assimetria de poder econômico e político que
caracteriza o país. De modo que, reformas que tornem o Estado na Amazônia permeável à
pluralidade de forças que expressam a diversidade de razões imersas na heterogeneidade social,
cultural e econômica da região são necessárias, não obstante as fricções de path dependency.
Em todos os capítulos, expomos um conjunto de sugestões para uma tal mudança.
A tese subjacente é a de que é papel intransferível do Estado garantir o melhor
ajustamento, por adequação virtuosa entre a diversidade estrutural e as peculiaridades,
potencialidades e limites dos diversos territórios que compõem a sociedade regional com
a mediação do conhecimento arregimentado pelas organizações e agentes. Aos processos e
aparatos institucionais que podem produzir essa sinergia chamamos aqui de planejamento –
a razão da institucionalidade que se propõe – entendido como um sistema que pode abrigar
de modo dinâmico as necessidades subjacentes à diversidade antes apresentada, permitindo
a validação de noções de progresso com maior esperança de sustentabilidade. A questão do
planejamento está subjacente a todo o livro. Na parte III, ressalta – ganhando centralidade
num primeiro momento (subcapítulos 8.1 e 8.2) – como tema e mecanismo social em crise,
em parte como produto de contradições que afloraram com seu uso generalizado, em parte
porque negado por um revigorado ethos (neo)liberal que fez prevalecer, com a remida
promessa de emancipação social pelos mercados, a metafísica do laissez faire como mecânica
de convergências automáticas rumo à justiça e à fartura. Num segundo momento do Capítulo
8, o planejamento ressalta como derivação das possibilidades indicadas pelas teorias do
desenvolvimento endógeno (8.3 e 8.4), a serem exploradas nos demais capítulos do livro.
Em tudo, a indicação de que a dimensão cognitiva da diversidade em jogo, dispondo
da institucionalidade adequada para se expressar como ação comunicativa, na perspectiva
da moderna filosofia da ação em Jürgen Habermas, poderá operar produzindo decisões mais
40
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
ajustadas à antevisão de um futuro mais justo e equilibrado – seja em perspectiva social, seja
ecológica. Aposta-se na tese de que, para corresponder à diversidade objetiva da natureza e
da sociedade da região, há que se corroborar com a montagem do palco onde se entrelaçam,
produzindo as grandes decisões, diversidade enquanto diferença cognitiva e diversidade
enquanto diferenças objetivas dos atores. Porque, como bem demonstram os progressos
da pesquisa com base na complexidade, a diversidade cognitiva, em última instância, tem
demonstrado o poder de formar indivíduos mais criativos, melhores empresas, mais dinâmicos
aglomerados e mais equilibradas e promissoras sociedades.
41
Parte I
de fatores da região, caracterizada por abundância de terras e escassez de trabalho e capital (Costa,
2000a). O sujeito do desenvolvimento, em tal equação, o organizador da metafunção de produção,
supunha-se fosse portador dos atributos do agente padrão neoclássico, mobilizado por uma razão
estratégica substantiva (Prado, 1993) pautada em critérios de maximização da produtividade
dos fatores: capital, natureza e trabalho. A objetivação de tal razão supunha-se corresponder aos
sujeitos estereotipados no empresário que vinha protagonizando o desenvolvimento industrial do
sudeste do País. Para tal razão, a combinação a fazer seria de capital físico, a se relacionar com
uma natureza percebida pelas suas partes assim classificadas: mata = madeira; solo = suporte
de agropecuária homogênea; subsolo = minério. O trabalho direto a acionar, desqualificado. O
trabalho de gestão a exercer = industrialista.
Tal estratégia presumia uma redistribuição de ativos públicos, tanto através da concessão
dos recursos financeiros a mobilizar na forma de capital físico, fator particularmente escasso,
quanto no acesso ao ativo considerado abundante, a terra. Demonstramos em outro trabalho que
o volume de recursos captados do FINAM e a extensão da propriedade fundiária do beneficiário
determinavam-se mutuamente (Costa, 2000a), criando e recriando, fazendo prevalecer, pois,
a relação de propriedade latifundiária na região. Integradas a isso, as doutrinas de gestão
pública do período SUDAM previam como formas de percepção e avaliação dos processos de
desenvolvimento as grandezas médias de renda (renda per capita, por exemplo) e as taxas de
incremento do PIB.
Na ação, prevaleceu uma divisão de papéis institucionais na qual à SUDAM,
propriamente, competia, a priori o julgamento de mérito, a escolha do lugar e do sujeito do
“projeto” de desenvolvimento a ser financiado pelo FINAM – o destinatário de ativos públicos
monetários –; a posteriori, o acompanhamento e fiscalização do empreendimento promovido.
A administração técnica do FINAM, tratada como gestão estritamente financeira dos recursos,
competia ao Banco da Amazônia S.A. (BASA) – sem indagar “por que”, sem verificar “por que
sim” ou “por que não”. Ao Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), operador
de campo, competia garantir a relação de propriedade latifundiária. Parte dessa tarefa seria
conter, ou acomodar em projetos de colonização, a fronteira em movimento pela expansão
camponesa. Os ministérios construtores armavam o palco, por vezes algum cenário no qual
se desenrolavam epopeias e dramas – não raro, tragédias debitadas, na comunicação social
mediada por aparatos de uma imprensa censurada, ao progresso. Os governos estaduais,
atuando sob pesada hierarquia, reproduziam em seu nível de gestão a perspectiva e o plano
centralmente estabelecidos. Instituições, como o Serviço Brasileiro de Apoio a Pequenas e
Médias Empresas (SEBRAE), atuavam como coadjuvantes para atender à demanda – entendida
mais como “social” do que “econômica” – de meios para o desenvolvimento provinda das
pequenas empresas, completamente fora do ângulo de todos os grandes instrumentos do
desenvolvimento.
Na reprodução, o arranjo institucional montado nutria-se de ideias defendidas em amplos
fóruns acadêmicos e dispunha de métodos e técnicas (a substância das disciplinas de planejamento
46
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
1 Em sociedades complexas, nas quais os tipos de dominação racional-legal prevalecem, o conhecimento técnico e aqueles que
o detêm (comunidades epistêmicas) cumprem um papel crucial, elucidam as relações de causa e efeito e apontam os resultados
prováveis dos vários cursos de ação alternativos. Além disso, eles ajudam a compreender a natureza das ligações complexas entre as
questões de interesse e a cadeia de causalidade, que podem resultar da inação ou da implementação de uma política pública particular.
E mais: as comunidades epistêmicas ajudam a definir os interesses próprios de um estado ou de facções existentes dentro dele, bem
como a modelar políticas (Haas, 1992:15). Esse argumento está normalmente associado à visão de que as burocracias desfrutam de
relativa autonomia vis-à-vis os interesses sociais (Melo, 2004: 171).
47
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
48
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
objetivo de especificar um padrão de distribuição de riqueza e renda” (North, 1981: 205)2. Com
efeito, a Constituição de 1988, para além do seu propalado atributo de “Constituição Cidadã”,
pelo que formalmente “prometia”, constituiu oportunidade de mudança na medida em que exigia
objetivamente alterações institucionais substantivas, as quais permitiriam presumir consequências
distributivas importantes. Dessas, dois conjuntos de mudanças se destacam para o que nos
interessa: o associado à criação do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Norte (FNO)
e o derivado da maior descentralização das receitas públicas (Rezende, 1995 e Rezende, 1999).
1.2.1 O FNO
O artigo 159, I, c, da Constituição Federal determinou que 3% das receitas da União deveriam
ser aplicados em programas de financiamento de setores produtivos das regiões consideradas as
menos favorecidas do País. A regulamentação pela Lei no. 7.827, de setembro de 1989, estabelece
as proporções de distribuição do Fundo entre as três regiões contempladas: 0,6% para o Norte, 0,6%
para o Centro-Oeste e 1,8% para o Nordeste. O mencionado estatuto estabeleceu, ademais, que os
recursos fossem geridos pelos bancos regionais de desenvolvimento, os quais devem dar preferência
aos mini e pequenos produtores para implementação de sistemas produtivos ecologicamente
adequados. Indica, ao mesmo tempo, um conjunto de regras operacionais que dão autonomia ao
gestor local.
No caso da Amazônia, não constitui novidade a primeira parte da determinação – a que
previa transferência de recursos: desde a Constituição de 1946, há algum tipo de mecanismos para
transferência de recursos de outras regiões para a valorização (como se cogitou no período da
SPVEA) ou para o desenvolvimento (como indicado no período SUDAM) da região. Os dispositivos
seguintes, estes sim, constituem mudança de grande alcance porque, por uma parte tornam o Banco
da Amazônia S.A. (BASA) ator com papel nas decisões de aplicar recursos para o desenvolvimento a
partir de critérios que lhe pareçam apropriados às especificidades locais; por outra, indicam o acesso
privilegiado a esses recursos por atores até então completamente excluídos de mecanismos com tal
envergadura; reconhecem tais atores como sujeitos em possibilidades de desenvolvimento novas
(menção à sustentabilidade ecológica) e obrigam o BASA a responder pela inteireza do Fundo, com
o atenuante da Medida Provisória no. 1.727, de novembro de 1998, que reduziu o risco do Banco para
apenas 50%, atribuindo ao Fundo os 50% restantes (Rezende, 1999:9-10).
De 1989 a 2000, em fluxo regular, dado que os fundos constitucionais não estão sujeitos
à disciplina orçamentária instituída para a política agrícola desde 1988, por montantes médios
anuais de R$ 355 milhões, a Secretaria do Tesouro Nacional repassou R$ 3,9 bilhões para as contas
do Fundo no BASA. De 2000 a 2005, repasses anuais da ordem de R$ 585,2 milhões garantiram
recursos de R$ 2,9 bilhões em cinco anos (BASA, 2001; BASA, 2006).
2 Douglas North atribui mais duas funções primordiais a uma constituição: o de especificar um sistema de proteção em um universo
de estados em competição e o de assentar as bases para um sistema de regras operacionais para reduzir custos de transação no setor
econômico.
49
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
3 Parte da política pombalina, da segunda metade do século XVIII, teve orientação baseada em estruturas que podemos qualificar
de camponesas. A respeito ver Costa (1989 e 2008). Nesta coleção Costa 2012d.
50
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Tabela 1.2.3-1 – Configuração do setor rural na Região Norte por estados e formas de produção
em 1995-96
Total
Unidades federativas Familiares Patronais
% Absoluto
Quantidade de estabelecimentos (U)
Acre 98% 2% 100% 23.788
Amapá 93% 7% 100% 3.275
Amazonas 97% 3% 100% 83.022
Pará 95% 5% 100% 206.199
Rondônia 94% 6% 100% 76.954
Roraima 84% 16% 100% 7.395
Tocantins 71% 29% 100% 42.937
Total 93% 7% 100% 443.570
Área total dos estabelecimentos (ha)
Acre 59% 41% 100% 3.128.805,46
Amapá 28% 72% 100% 676.977,27
Amazonas 53% 47% 100% 3.223.996,74
Pará 37% 63% 100% 21.905.199,86
Rondônia 39% 61% 100% 8.791.682,43
Roraima 21% 79% 100% 2.842.528,83
Tocantins 18% 82% 100% 16.044.415,44
Total 33% 67% 100% 56.613.606,02
Valor Bruto da Produção (R$)1
Acre 87% 13% 100% 107.199.837
Amapá 34% 66% 100% 68.732.517
Amazonas 92% 8% 100% 365.214.121
Pará 66% 34% 100% 1.026.139.630
Rondônia 75% 25% 100% 334.205.033
Roraima 62% 38% 100% 61.699.268
Tocantins 27% 73% 100% 355.112.977
Total 65% 35% 100% 2.318.303.383
Pessoal ocupado (trabalhador/ano)
Acre 96% 4% 100% 95.191
Amapá 74% 26% 100% 18.441
Amazonas 95% 5% 100% 351.455
Pará 89% 11% 100% 906.862
Rondônia 90% 10% 100% 312.960
Roraima 70% 30% 100% 35.366
Tocantins 61% 39% 100% 202.447
Total 87% 13% 100% 1.922.722
Fonte: IBGE. Censo Agropecuário 1995-96, base em CD-ROM. Tabulações especiais do autor.
4 A não ser quando especialmente esclarecido, as estatísticas aqui apresentadas referem-se à região Norte, composta dos estados do
Pará, do Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre, Amapá e Tocantins, à qual nos referiremos em muitas oportunidades como Amazônia.
A designação de Amazônia Legal, por sua vez, inclui, além dos estados listados, aproximadamente o sul de Mato Grosso e o Noroeste
do Maranhão.
5 A numeração de objetos (gráficos, tabelas, figuras e equações) seguirão o mesmo padrão: o primeiro número refere-se ao capítulo
e o segundo à ordem de ocorrência do objeto.
51
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Notas metodológicas:
1. Utilizamos um banco de dados que designaremos daqui por diante de BD-A, com as informações da produção
e de outras 250 variáveis do Censo Agropecuário de 1995 ao nível de estrato de área por microrregião para
toda a Região Norte. Cada estrato de área (s) na microrreigão (r) configura uma caso. Para cada caso, o
g e k
VBPRsr = ∑ ∑ ∑ qsrv . psrv , sendo qsrv e psrv respectivamente a quantidade e o preço do produto v para o caso .
s=1 r =1 v=1
Dado que 64 microrregiões e 15 estratos de área em cada uma, o BD-A tem 960 casos.
2. Seguindo os critérios utilizados no trabalho FAO/INCRA (2000), foram considerados estabelecimentos camponeses
aqueles cuja força de trabalho familiar compõe a capacidade total de trabalho em no mínimo 1/2. Estabelecimentos
patronais são os que contratam trabalho assalariado em montante superior a essa proporção. Calculou-se a força
de trabalho familiar total somando a categoria “Membros Não Remunerados da Família Maiores de 14 Anos” com
a metade da categoria “Membros Não Remunerados da Família Menores de 14 Anos”. Calculou-se a força de
trabalho assalariada total dividindo a soma dos gastos com salários, empreitas e outras modalidades de contratação
de força de trabalho pelo valor médio da diária prevalecente no local, no ano do censo e multiplicando o resultado
por 300 (dias médios de trabalho por ano). Sobre a especificidade da forma camponesa de produção ver Costa
(2012d) e sobre as expressões disso na Amazônia ver Costa (2000).
Com 33% dos 56,6 milhões de hectares de terra apropriados, na região, os estabelecimentos
camponeses produziram, no ano do Censo, 65% do Valor Bruto da Produção do setor e foram
responsáveis por 87% do total de ocupações (para esta e as próximas considerações ver Tabela
1.2.3-2). Também aqui merecem atenção as mais elevadas participações dos estados do Acre,
Amazonas e Rondônia, a baixa participação do Tocantins e a participação destacada, porém
mediana, do Estado do Pará (37% da área, 66% do VBP e 89% do pessoal ocupado), cujo peso,
próximo de 50% do total regional para todas as variáveis, influencia claramente a média regional.
Tabela 1.2.3-2. Características das unidades estruturais que fundamentam a economia de base
agrária da Região Norte (distribuição do valor bruto da produção por atividades, indicadores da
produtividade e relação terra/trabalho em 1995-96).
Produtividade
Valor Bruto (% do total)
(Ha/trabalhador)
Terra/Trabalho
(R$ de 1995)
Produção Animal Produção Vegetal
Bovina Culturas Extrativismo
Trabalho
Estados
Terra
Suínos
Madeira
Madeira
Total
Hort.
Aves
Silv.
Carne
Temp.
Perm.
Leite
Não
Fonte: Censo Agropecuário, 1995-96. Tabulações especiais do autor. Ver notas metodológicas da Tabela 1.2.3-1.
52
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 1.2.4-16 – Evolução da participação dos financiamentos do FNO para pecuária e para
culturas permanentes (Nota Metodológica 1), 1990 a 2000
6 A numeração de objetos (gráficos, tabelas, figuras e equações) seguirão o mesmo padrão: o primeiro conjunto de dígitos separados
por pontos, antes do ífem refere-se ao segmento (capítulo, sub-capítulo, seção) do livro a que pertence e, o número após o ífem, à
ordem de ocorrência do objeto naquele segmento.
54
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 1.2.4-3 – Evolução dos repasses anuais, dos contratos de crédito e do disponível (Nota
Metodológica 3), em comparação com a evolução do valor percentual dos créditos contratados
em relação ao disponível (taxa de eficiência bancária) do FNO, 1990 a 2000
Fontes dos Gráficos 1.2.4-1 a 1.2.4-3: Secretaria do Tesouro Nacional, Relatórios do BASA, BASA/DERUR-DICOP
e Santana, 2000.
Notas metodológicas dos Gráficos 1.2.4-1 a 1.2.4-3
1. As percentagens consideram a soma dos créditos para culturas permanentes e para pecuária como 100%.
Consideramos, para isso, que todos os demais itens de crédito para o setor rural distribuem-se proporcionalmente
a essas duas parcelas: isto é, que as culturas temporárias financiadas foram intercalares para cultura permanente
ou pasto; que os investimentos em infraestrutura e que as aplicações tecnológicas serviram às permanentes ou à
pecuária proporcionalmente aos pesos dos créditos respectivos.
2. Houve variação nos critérios que definiram as categorias de usuários do FNO, ao longo do período, numa flexibilidade
tal que borrou as fronteiras das categorias de mini e pequenos produtores, comumente associadas à produção familiar.
Os critérios de enquadramento variaram para os miniprodutores (até 5 módulos rurais e Valor Bruto da Produção,
VBP, muito alto entre 1989 e 1991; até 2 módulos rurais e VBP reduzido, a partir até 1994, conf. Tura, 2000:39) e,
mais significativamente, para os pequenos produtores. A média dos valores emprestados variou, por isso, fortemente.
Quanto aos miniprodutores, os maiores valores oocorreram no início do período, crescendo de R$ 17.345, em 1989,
para R$ 24.712 em 1990, chegando a R$ 36.539 em 1991. Entre 1992 e 1998, situaram-se abaixo do R$ 10.000, com
os valores mínimos nos dois primeiros anos (R$ 4.684 e R$ 4.243) e o máximo, R$ 9.770, em 1995. A média dos
contratos dos pequenos produtores variou também fortemente, sendo R$ 160.898 por contrato em 1989, R$ 90.211
em 1991, situa-se em torno dos R$ 56.000 nos dois anos subsequentes; entre 1995 e 1997 atinge seus valores mais
baixos, situando-se em torno de R$ 40.000, voltando a crescer fortemente em 1998, para R$ 178.398, atingindo em
2000 R$ 77.528. Face a isso, entendeu-se que não foram em todos os anos que a categoria de pequenos produtores
utilizada pelo BASA poderia ser considerada como parte do universo da produção familiar. Consideramos, assim,
que este seria o caso apenas quando a média dos contratos fosse inferior a R$ 50.000 - quando superasse esse valor a
clientela em questão extrapolava o conjunto dos que poderiam ser tratados como produtores familiares, agregando-se
mais adequadamente aos produtores patronais (fazendas e empresas).
3. Saldo de um ano t-1, mais repasses do ano t, menos contratos de crédito no ano t. As disponibilidades aqui não
consideram, portanto, os retornos de empréstimos passados. Os valores estão em reais, 2001.
em bases patronais, que em 1995 representava 35% do economia rural (conf. Tabela
1.2.3-2), destinaram-se regularmente, ano a ano, em torno de 80% dos recursos do
FNO, dominantemente para a pecuária de corte e seus investimentos acessórios.
•• De 1995 a 1998, a participação relativa dos financiamentos para culturas permanentes,
que com oscilações variara de 10% para 20% nos 5 anos anteriores, chega a 60%,
produzindo uma redução correspondente na participação da pecuária. Nesse período,
a participação da produção familiar cresceu significativamente, chegando, no ponto
alto da série, a inverter os patamares, atingindo os 80%.
•• De 1998 a 2000, cai rapidamente a participação das permanentes para aproximadamente
30%. No mesmo período, a proporção da produção familiar cai acentuadamente,
sendo novamente superada pelos produtores patronais no ano de 2000.
1.2.5 A prática do FNO ao longo dos anos noventa – a rigidez institucional relatada por
perspectivas inversas
No primeiro7, elementos de uma tecnocracia que se entende ciente das necessidades regionais
e solidária com os mais humildes esclarecem sua adesão imediata ao novo tipo de desenvolvimento
preconizado na Lei No. 7.827 e sua satisfação em dispor de instrumentos para contra-arrestar o
modelo depredador e excludente com o qual foi obrigado a pactuar, como coadjuvante, no reinado
da SUDAM. Aduzem, todavia, ser a mudança portadora de enormes riscos, com os quais se teve
(tem) que lidar profissionalmente, maduramente. A preparação das novas regras exigiu cuidados que
demandaram longo tempo de estudos para a adequação dos contratos aos novos clientes e aos novos
produtos e para garantir as salvaguardas das instituições de pesquisa e extensão, indubitavelmente
habilitadas a garantir a eficiência dos sistemas produtivos que garantiriam um novo desenvolvimento.
Enquanto isso, prevaleceram circunstancialmente as velhas regras, confirmadoras do projeto
latifundiário-monocultural. Isso explicaria a primeira fase, de 1990 a 1995. A segunda fase, seria
o momento da mudança, na qual, ao projeto familiar-policultural, mediante contratos justos – com
cláusulas duras, porém obviamente necessárias –, acordados em longas rodadas de negociação, viria
a ser dada prioridade total. Dois fatores, contudo, frearam esse ímpeto: a) o novo cliente mostrou-se
limitado na sua capacidade de absorção de crédito e b) os novos produtos e sistemas de produção
objeto da política apresentaram maior potencial de risco que o previsto. A produção familiar rural
teria se mostrado inábil para a tarefa, garantem, dado seu tradicionalismo (conservadorismo,
apego ao passado) e insuficiente disponibilidade em capital humano e social. Ao mesmo tempo,
desenvolveram-se argumentos que alargaram, às suas vistas, as possibilidades do desenvolvimento
sustentável: não seria condizente com esse novo tipo de desenvolvimento a reforma de pastagens,
dado que se poderia imaginar que isso contenha o avanço sobre a floresta? Não seria condizente com
esse novo tipo de desenvolvimento o financiamento de uma pecuária baseada em animais de alto
rendimento, dado que isso colocaria possibilidades de maior confinamento dos rebanhos e, ipso facto,
menor tensão sobre a floresta? Não podem ser tratados como promotores de sustentabilidade os que
estão dispostos a reformar pastagens e adquirir embriões de um gado hightech? Nessa perspectiva,
os limites dos camponeses como base de um processo de desenvolvimento e a requalificação da
pecuária explicariam a passagem da segunda para a terceira fase.
As representações camponesas, pautadas em um grande número de estudos, narrariam, por
seu turno, o seguinte: a primeira fase do FNO não se caracterizou por ser um preâmbulo para a segunda
fase, como se quer fazer crer. Ela seria, na realidade, a forma como, deixada à sua própria lógica, a
tecnoburocracia do BASA teria absorvido definitivamente as mudanças indicadas pela Constituição.
Essa absorção teria um viés regionalista, sim, que, entretanto, simplesmente substituía um grande
tomador de recursos públicos (os empresários de outras regiões, os principais beneficiários da era
SUDAM) por outro grande tomador de recursos (os fazendeiros regionais, fossem eles empresários
urbanos latifundizados, fossem eles latifundiários tradicionais buscando modernizar-se)8.
A segunda fase se explicaria, a sua vez, por um dado endógeno e outro exógeno ao campo
7 O que segue é um relato estilizado do conteúdo de diversos relatórios do BASA e falas registradas em Farias (2002).
8 Nesse sentido, este seria mais um movimento no processo que chamamos em outro texto (Costa, 1992) de “reoligarquização” do
agrário regional.
57
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
institucional da intervenção federal na região. Endogenamente, o BASA passava por crise profunda,
da qual faziam parte ameaças de fechamento, entre os anos de 1994 e 1995, quando sua clientela
preferencial, os fazendeiros e empresários rurais, tornaram-se massivamente inadimplentes mediante
a perda dos subsídios produzidos pelo plano real, levando, por um lado à criação de um passivo de
elevado risco, de outro à formação de recursos ociosos de meio milhão de dólares (Solyno Sobrinho,
2000). Exogenamente, já desde o início da década de noventa, demonstrava-se uma inusitada
capacidade de mobilização reivindicatória dos camponeses, inicialmente no Estado do Pará e,
depois, por toda região Norte (Tura, 1996; Rogge, 1998; Costa, 2000a). Essa nova presença teria
estabelecido o ideário do desenvolvimento sustentável como orientador de fato das negociações em
torno da aplicação dos recursos do FNO – e, assim, teria feito convergir a prescrição constitucional
com a prática efetiva do BASA. Tal convergência teria sido, contudo, mais formal que real. Uma
convergência formal, porque os recursos teriam fluído contabilmente para a produção familiar rural
em proporções sem precedentes. A alocação real dos recursos, todavia, fez-se orientada por propostas
tecnológicas impositivas, em muitos casos incompatíveis com as necessidades dos sistemas de
produção; fez-se, também, por uma gestão ineficiente no que se refere à congruência e cumprimento
da agenda de liberação dos recursos e à qualidade dos insumos a eles vinculados. Os riscos derivados
de tais procedimentos foram distribuídos contratualmente de modo assimétrico, transferindo ônus de
forma desigual aos camponeses. Sob a ameaça da inadimplência, fragilizam-se as posições recém-
conquistadas.
9 O potencial do FNO derivaria de suas características formais inovadoras, já enunciadas. Em conjunto, elas a) oferecem a
possibilidade de gestão flexível e compartilhada dos recursos do Fundo e, por isso, b) permitem abrigar agendas locais e c) ajustar
com relativa rapidez a processos específicos, para potenciá-los ou contrariá-los.
58
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
59
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
uma parte, configurando, por outra parte, as posições dos agentes e orientando suas estratégias.
Um exercício elucidativo seria o de decompor as relações em torno do FNO em dois tipos: o
da sociedade e estado brasileiros com o Banco da Amazônia e deste com os diversos grupos
e agentes que acessam ou medeiam o acesso ao crédito. Tem-se como dado que, no conjunto,
esses contratos objetivariam uma aceleração do desenvolvimento sustentável da região Norte
comparativamente ao restante do País – pela aceleração do crescimento associado a mudanças
estruturais que pudessem garantir desenvolvimento socialmente equânime e ecologicamente
equilibrado. Para isso, eles deveriam produzir convergência entre as decisões dos atores coletivos
que se fariam obedecendo a resultados de cálculos de custo/benefício social (a percepção coletiva
de que abrir mão dos recursos do FNO foi mais que compensado pelo desenvolvimento da região)
e aquelas decisões dos agentes, para as quais prevaleceriam cálculos de custo/benefício privado,
cujos melhores resultados dependeriam crucialmente da redução de custos, tanto daqueles
associados à produção, quanto dos outros originados nas transações (Williamson, 1985:15-19).
Uma primeira questão, fundamental na relação entre sociedade e estado nacionais e BASA
no contrato FNO, refere-se ao objeto contratado e repousaria na pergunta: que percepção de
“desenvolvimento” orientaria as decisões de maximização dos sujeitos coletivos? Uma segunda
questão, fundamental na relação entre BASA e produtores, diz respeito à pergunta: exatamente
que procedimentos tecnológicos, que sistemas de produção, garantiriam ao mesmo tempo os
anseios dos agentes privados e o desenvolvimento? Uma terceira questão derivaria diretamente
da segunda: onde, exatamente, que sistema é mais eficiente em combinar tais perspectivas?
As respostas precisas, que garantiriam os contratos perfeitos, exigem total clareza
conceitual sobre a dinâmica social e o devir que se cogita – sobre a perspectiva de desenvolvimento
– e o conhecimento operacional preciso no que se refere aos fundamentos materiais, aos sujeitos,
aos lugares e aos processos para isso requeridos. A medida da indisponibilidade dos discernimentos
necessários, do conhecimento para tanto, seja quanto aos fins, seja quanto aos meios e métodos,
produziria uma probabilidade correspondente de erro na delimitação dos contratos, em qualquer
nível. Nisso residem os problemas de mensuração nas relações contratuais que subjazem aos
mecanismos de promoção do desenvolvimento.
A Nova Economia Institucional (NEI) define problemas de mensuração como sendo
as dificuldades postas pela capacidade limitada de conhecer14 e pelo oportunismo – i.e. pelo
conhecimento insuficiente e pela disposição latente nos agentes de não cumprir um contrato se o
custo que se presume derivar da retaliação for menor que o ganho com a ruptura do acordo – para
a formulação do contrato, para o acompanhamento e para controle do processo, do qual emergirá
a utilidade contratada (Williamson, 1985:80).
Aos problemas de mensuração correspondem problemas de controle, de modo que toda
a questão pode ser posta simplesmente assim: como saber o quanto meu contraparte desviou-se
14 A bibliografia da NEI refere-se à racionalidade limitada, uma vez que trabalha com a metáfora do agente portador de uma
subjetividade substantiva.
60
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
do acordado se prevaleceu sua natureza oportunista, dado ser o meu conhecimento limitado para
estabelecer precisamente o que quero e para avaliar com exatidão o que foi feito?
Voltemos, neste ponto, ao que nos ocupa: a aplicação do FNO teria sofrido, isto posto,
por todo o período já analisado problemas seminais de mensuração, na medida em que o
“desenvolvimento sustentável”, seu objeto contratual, comporta diversos significados, gerando,
tal fato, “ambiguidades de atributos e performance” (Williamson, 1985:2) associadas à sua
consecução.
A política do FNO teria sido influenciada, ademais, pelo conhecimento insuficiente do
que se refere aos sujeitos do desenvolvimento e seus fundamentos produtivos: como, e mediante
que procedimentos (de produção e venda), mobilizá-los inovativamente, eis uma questão central
na relação entre organização e clientes.
Nessa perspectiva, os desvios do BASA seriam desvios oportunistas, derivados de
assimetrias de conhecimento, determinados por processos epistêmicos. Todavia, como lembra
Melo (2004: 176), a ênfase na dimensão cognitiva obscurece a dimensão de conflito objetivo que
tende a se acentuar quando a mudança institucional pode implicar redistribuição e concentração
de benefícios.
15 O potencial do FNO derivaria de suas características formais inovadoras, já enunciadas. Em conjunto elas a) oferecem a
possibilidade de gestão flexível e compartilhada dos recursos do Fundo e, por isso, b) permitem abrigar agendas locais e c) ajustar
com relativa rapidez a processos específicos, para potenciá-los ou contrariá-los.
62
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
formam as posturas dos agentes, o poder invisível que faz suas ações convergirem no sentido de
reproduzirem estruturas sociais e econômicas, das quais as organizações são parte.
Não faz sentido pensar, assim, uma organização sem o seu campo (Bourdieu, 1983;
Bourdieu, 1994), isto é, sem as outras instituições, tangíveis ou intangíveis, com as quais se
relaciona na sua prática cotidiana, estruturando o campo de forças sociais de que faz parte.
E, a cada campo corresponde uma “comunidade de pensamento” (Douglas, 1998). Para a
compreensão do que se passa com o FNO, não basta, pois, observar o BASA e suas dificuldades
em cumprir a Lei No. 7.827. Além de espiar para dentro dessa organização (sua definição
estatutária), é forçoso observar o que se passa ao lado (com as outras organizações conexas),
acima (a visão de mundo que a ela transcende, estabelecendo um “… estilo de pensamento…”
– conf. Mary Douglas – sobre o desenvolvimento regional) e abaixo dela (interesses privados
que permeiam suas instâncias).
Olhando para dentro do BASA, perscrutando a sua constituição íntima, deparamo-nos
com uma esquizofrenia importante: uma cisão de personalidade entre banco comercial e banco
de desenvolvimento. Essa tensão foi bem identificada por Farias (2002) e parece ser a principal
responsável por um oportunismo mais propriamente organizacional – a necessidade de uma boa
performance comercial, potenciada pela reforma bancária que impõe elevadas exigências de
produtividade, levaria o Banco a usar os recursos e a imagem que lhe emprestam o FNO (custo
de captação zero, imagem positiva, com selo verde e orientação aos mais fracos) para elevar a
lucratividade de suas operações e produtos e, assim procedendo, tenderia a favorecer atividades
com rentabilidade de curto prazo, como a pecuária em geral e a pecuária de corte em particular.
Ao lado do BASA, encontramos um conjunto de organizações de Ciência e Tecnologia
(C&T), para o qual diagnosticamos, em outro momento, um profundo desenraizamento
em relação às necessidades de um desenvolvimento agrário regional em outras bases, mais
sustentáveis. Verificamos que, por mecanismos próprios do funcionamento do campo da C&T
agropecuária no Brasil e na Amazônia, os esforços de pesquisa têm se feito, historicamente,
pondo em segundo plano o tipo de agricultura de que careceria um desenvolvimento sustentável
(diversa, complexa, de fundamento perene) – privilegiando, por outra parte, a agricultura
homogênea e, particularmente, a pecuária (Costa, 1998a). Por seu turno, as organizações que
têm por fundamento estatutário a extensão rural, a transmissão dos conhecimentos gerados
pela pesquisa agropecuária, além de só disporem daquilo que a pesquisa tem a oferecer, atuam
ministrando fórmulas rígidas. Em qualquer dos casos, constata-se um problema fundamental de
insuficiência de conhecimento no nível das organizações.
Acima do BASA e das demais organizações presentes, vê-se objetivamente redes
hierárquicas que as constrangem ao cumprimento de papéis conflituosos e ambíguos. Sobre elas
paira ademais ‘’…uma visão de mundo, desenvolvendo um estilo de pensamento…” (Douglas,
op. cit.:44) que valoriza os sistemas homogêneos e os procedimentos industrialistas padrão –
do que faz parte uma visão segmentada da realidade social. É isso que aprende o estudante de
agronomia, é isso que pratica seu professor na instituição de pesquisa, é isso que ele fará como
63
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
extensionista. O curso de economia ensina a pensar a base produtiva por funções de produção
de um único produto, assim procede o analista de crédito no banco e o conselheiro de mercado
na instituição de assessoramento. O banco não considera sua a tarefa de pensar a justiça social,
muito menos uma justiça social que incorpore as novas gerações. E assim por diante. Assim,
a visão de mundo comum que permeia, unindo, as mentes (institucionalizadas) corrobora o
desenvolvimento em bases homogêneas e mecânico-químicas, para o qual se espera maior
eficiência das grandes estruturas produtivas. Há, aqui, uma dimensão de racionalidade limitada,
de insuficiência de conhecimento no plano difuso dos indivíduos, enquanto um problema para
a institucionalização, é dizer, para a socialização do ideal de um desenvolvimento sustentável.
Por fim, abaixo das organizações encontram-se os indivíduos com graus de liberdade
tanto em relação à cognição institucionalizada, moralizada, socialmente constrangida, quanto
em relação ao poder das organizações, dos aparatos institucionais. Aqui enquadram-se tanto
as formas mais drásticas quanto as mais brandas de oportunismo por transgressão individual
ou de pequenos grupos, como as muitas formas de desvio de conduta que se fazem em nome
do progresso da ciência e de grandes causas. Entre as formas fortes de oportunismo individual
encontra-se a corrupção. A partir de um modelo formalmente rigoroso, Lopez (2001) atribui
à corrupção sozinha a responsabilidade pela manutenção de um status quo dominado pelos
grandes proprietários latifundiários em toda a América Latina, em que as possibilidades do
desenvolvimento em geral, e de um desenvolvimento de novo tipo, baseado em capital humano
e natural, seriam sistematicamente bloqueadas. Trata-se de evidente exagero. Não obstante,
mostramos em outro estudo (Tura e Costa, 2000) as oportunidades que a operação do FNO
oferece para o fortalecimento desse tipo de obstáculo.
Em resumo: ao lado das dificuldades dos produtores rurais – camponeses e patronais –
o tradicionalismo do ambiente institucional, do qual o FNO é um dado, o fato de se encontrar
como um todo submetido a condições de path dependency, constitui ingrediente fundamental
na consideração dos elementos do ideário do desenvolvimento sustentável presentes nas
disposições constitucionais reguladas pela Lei No. 7.827. Não obstante, todas as organizações
incluírem em seus folders de apresentação e nos discursos de seus dirigentes a disposição
para tal validação, a realidade de suas ações fez-se incorporando estratégias oportunistas e
pautadas em conhecimentos insuficientes e/ou inadequados sobre e para um desenvolvimento
sustentável na Amazônia. A institucionalidade é tradicional, portanto, porque assentada sobre
uma razão técnica incapaz de lidar conceitual e operacionalmente com o “valor” da diversidade
para um desenvolvimento duradouro na região, desaparelhada para tratar com os atores
capazes de gerir a diversidade e com as manifestações e resultados locais dessas capacidades.
Ademais, o tradicionalismo tecnocrático tem estatuto político: alimenta-se, é recompensado e
arregimenta poder, corroborando com o status quo, corroborando com visões de mundo e ações
que mantêm as formas temerárias e iníquas de desenvolvimento. Em ação, tal tradicionalismo
tem criado embaraços de monta para a realização do potencial de mudança que se antevê no
estatuto do FNO. A ele se deve uma longa lista de tropeços da política em questão. O seguintes
64
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Capítulo 2
Dinâmica recente: expressões econômicas e fundamentos
(1990-2007)
16 A Região Norte compreende os estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
17 Os preços correntes foram corrigidos para 2005 pelo IGP da Fundação Getúlio Vargas.
18 As séries apresentadas nos gráficos que seguem são médias trianuais das séries originais.
19 Sobre essas distinções, que aqui serão recorrentes, ver Costa, 2008 e Costa, 2007.
65
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 2-1 – Evolução do Valor Bruto do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2006 (Médias
trianuais)
VBPRasr = ∑ ∑ ∑ ∑( I Q
avs .qasrijv ).( I avs
P
. pasrijv ). Cada caso no banco original gerou 17 casos (o número de anos
a=199
90 s=1 r =1 v=1
considerados), de modo que o novo banco BD-C tem 16.320 casos=linhas.
3. As séries apresentadas no gráfico acima são médias trianuais das séries resultantes da tabulação dos dados do
banco descrito em 2.
4. As taxas de crescimento foram calculadas por regressão linear da transformação logarítmica das médias trianuais
da variável em questão em relação ao tempo.
Há três momentos a considerar nessa dinâmica: de 1990 a 1995, o setor cresceu a 8,5%
a.a., taxa que reduz significativamente para 1,9% a.a. entre 1996 e 2000 e, a partir daí, cresce para
3,8% a.a. Na primeira fase, a produção camponesa cresce bem mais rápido do que a patronal,
66
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
11,7% e 3,5% a.a., respectivamente; na segunda, a produção camponesa cresce lentamente a 0,6%
a.a., enquanto a patronal passa a andar mais rápido a 4,9% a.a. – situação que se acentua no último
período, quando a produção camponesa cresce a 0,9% a.a. e a patronal a 9,3% a.a.20.
67
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 2.1-1 – Evolução das macrovariáveis do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2006
(Médias trianuais)
10.000.000
9.000.000
8.000.000
7.000.000
6.000.000
R$1.000,00
5.000.000
4.000.000
3.000.000
2.000.000
1.000.000
2001
2003
2005
2002
2000
2004
2006
1991
1993
1995
1998
1992
1996
1997
1999
1990
1994
68
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 2.1-2 – Evolução das macrovariáveis do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2006
(Médias trianuais)
18.000.000
16.000.000
14.000.000
12.000.000
10.000.000
R$1.000,00
8.000.000
6.000.000
4.000.000
2.000.000
2001
2003
2005
2002
2000
2004
2006
1991
1993
1995
1998
1997
1992
1994
1996
1999
1990
Em resumo, para uma Renda Líquida dos Produtores Rurais (RLP) média nos três últimos
anos do período reportado, de R$ 6,0 bilhões, agrega-se uma massa de salários rurais de R$ 0,9
bilhões, ao que se soma um valor de R$ 4,3 bilhões gerados nas economias urbanas locais, mais R$
1,8 nas economias estaduais respectivas e, finalmente, mais R$ 3,5 à economia nacional. No total,
gera-se um montante de R$ 16,5 bilhões de Valor Adicionado em toda a extensão das complexas
relações da economia do setor rural da Região Norte. Este o significado de última instância do setor.
69
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
21 A ideia de “constrangimento fundiário” será precisada em 7.3.1. Em termos operacionais, se toma o valor das terras acessadas
pelos estabelecimentos e o considera como um estoque de onde saem as áreas necessárias aos desenvolvimentos que se verificaram
ao longo de todo o período. Em princípio, é como se não existissem novas aquisições. Eventuais incorporações produtivas para além
desse estoque apareceriam como deficit.
70
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 2.2-1 – Evolução do uso do estoque de terras apropriadas até 1995 pelos agentes do Setor
Rural na Região Norte, 1990 a 2006 (Médias trianuais)
60.000.000
50.000.000
40.000.000
Hectare
30.000.000
20.000.000
10.000.000
0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Área em Operação (inclui áreas de pousio na forma de Capoeira Capital)
Área em Operação + Capoeira Reserva
Área Trabalhada Total (inclui Capoeira Sucata)
Área apropriada total (área trabalhada mais Mata)
Por sua vez, a taxa de crescimento médio do pessoal ocupado foi de 0,52% a.a., saindo de
pouco mais de 1,9 para pouco mais de 2 milhões de trabalhadores equivalentes (ver Gráfico 2.2-
2). Nos três períodos tratados, a taxa de crescimento aproximou-se de zero no primeiro (0,02%
a.a.), cresceu até próximo de 1% (0,98% a.a.) no segundo e voltou a quase nula (novamente
0,02% a.a.) no último.
Gráfico 2.2-2 – Evolução do número de trabalhadores no setor rural da Região Norte, 1990 a 2006
(Médias trianuais)
2.040.000
2.020.000
2.000.000
Trabalhadores Equivalentes
1.980.000
1.960.000
1.940.000
1.920.000
1.900.000
1.880.000
1.860.000
1.840.000
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Ocupações no setor rural
72
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
22 Na literatura econômica, essa relação formal é a conhecida metafunção de produção de Hayami, Ruttan (1971).
73
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
5400 300
270
(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha
4500
240
210
3600
(Y/A) em R$/Ha
180
2700 150
120
1800
90
60
900
30
0 0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Valor Bruto da Produção/Por Trabalhador (Y/T): 4,4% a.a.
Renda Líquida dos Produtores/Por Trabalhador (Y/T): 5,9% a.a.
Valor Bruto da Produção/Área Trabalhada (Y/A): 2,20% a.a.
Área Trabalhada/Trabalhador (A/T): 2,0% a.a.
Renda Líquida dos Produtores/Área em Operação (Y/A): 3,7% a.a.
Área em Operação/Trabalhador (A/T): 2,1% a.a.
Uma segunda observação tem a ver com a forma como os agentes avaliam a eficiência de
seus recursos fundamentais. Nesse caso, na relação (2.3-1) Y é Rendimento Líquido dos Produtores
(RLP), A a Área em Operação(AO) e T, como antes, o Número de Trabalhadores equivalentes
alocados na produção. Os resultados estão no Gráfico 2.3-1.
No setor rural da Região Norte, a rentabilidade privada por unidade de trabalho cresceu a
uma taxa média anual de 5,9% ao longo de todo o período, saindo de uma média de R$ 1.559,01
para R$ 2.943,41, a preços constantes de 2005. Isto posto, para cada 1 ponto percentual na taxa de
crescimento da produtividade social do trabalho, sob fundamentos tecnológicos mediante os quais
se requer cada vez mais área por unidade de trabalho, a taxa de rentabilidade privada cresceu 1,3
pontos (5,9 ÷ 4,4=1,3).
Em todos os casos, as variações entre os períodos merecem verificação: 13,1% no
primeiro, 0,1% no segundo e 3,3% a.a. no último dos períodos considerados.
As flutuações na rentabilidade privada por trabalhador resultaram, em parte, das oscilações
na rentabilidade líquida por unidade de área em operação (na qual se inclui apenas a capoeira
capital); em parte, das variações no volume de terras em uso que cada unidade de trabalho foi capaz
de mobilizar ao longo do tempo – i .e. da tecnologia em operação. A rentabilidade por unidade área
cresceu a 3,7% a.a. para todo o período, de uma média de R$ 95,67 nos três primeiros anos para
R$ 135,78 nos três últimos: a 13,3%, -2,4% e a 2,8% a.a., respectivamente, nos intervalos tratados.
A rentabilidade privada da alocação do fator trabalho expandiu também por efeito da
variação da relação estrutural terra/trabalho, que cresceu a 2,1% a.a., de 14,13 para 19,2 hectares
de Área em Operação por Trabalhador Equivalente: a taxas médias de -0,11%, -2,32% e 5,57% na
sequência dos três já mencionados períodos.
Em resumo:
1. Nos 17 anos observados, o Setor Rural na Região Norte cresceu ciclicamente, porém
a taxas médias elevadas de 5% a.a.: o VBPR passou de R$ 5,5 para R$ 9,0 bilhões
reais a preços constantes.
2. O crescimento da economia rural de base camponesa foi a principal responsável pelo
ritmo do período que se estende até 1995 e a economia de base patronal pelo da
segunda fase.
3. Associado ao VBPR médio do final do período, gera-se um valor adicionado total de
R$ 16,5 bilhões: 41% retido no setor rural por camponeses, fazendeiros e assalariados
rurais, 26% pelas economias urbanas locais, 11% pelas economias urbanas estaduais
e, finalmente, 21,5% transbordam para o restante da economia nacional.
4. O crescimento do setor rural na região se faz incrementando a rentabilidade social
e privada por trabalhador. Para cada 1% de crescimento da primeira, 1,9% de
incremento da última.
5. Tal incremento na eficiência do trabalho explica-se equilibradamente, em parte pela
elevação da rentabilidade da terra (que ocorre na primeira fase analisada, quando
75
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Capítulo 3
Dinâmica recente: fundamentos técnicos e expressões
ambientais
Nos capítulos precedentes, apresentamos o setor rural da Amazônia como sendo uma
economia, cujas variáveis fundamentais de valor da produção, valor agregado, uso e remuneração
das disponibilidade de terra e trabalho, comandadas pelas estruturas camponesas e patronais,
vêm evoluindo ciclicamente, com tendências de crescimento. Fizemos considerações, também,
sobre as forças subjacentes, tanto as que se associam aos arranjos institucionais que fazem fluir
recursos sociais para o setor, quanto as associadas à remuneração dos controladores dos processos
produtivos – gestores, camponeses e patronais, e trabalhadores. Este capítulo tratará de relações
substantivas entre tais dinâmicas de naturezas essencialmente econômico-social, e questões
ambientais e de mudanças climáticas. A proposta é contribuir em duas frentes dessa problemática.
Em uma frente, em que estão em jogo questões práticas e imediatas, evoluem os arranjos
para a constituição dos novos mercados de bens e serviços ecosistêmicos, nos quais parecem se
acelerar providências para a formação da demanda de bens e serviços ecosistêmicos a partir de
bases normativas da limitação de emissão de gases poluentes por parte dos agentes. Em outra
frente, aquela em que se constituem os fundamentos institucionais da oferta, a par da esperança no
desenvolvimento de novas fontes de energia limpa e de barateamento das existentes induzidas pela
alteração nos respectivos preços relativos, parece se consolidar uma perspectiva que reconhece
a importância dos biomas florestais originais, sobretudo os tropicais, como fontes de serviços
ecosistêmicos na forma de capacidade de sequestrar carbono (sink de CO2) ou de manutenção da
biodiversidade. Objetivamente, parecem inevitáveis providências para aditar o Protocolo de kyoto
(PK), que, na sua formulação original não prevê nenhum mecanismo de manutenção das florestas
(Ebeling, 2006).
76
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Ganha status, assim, uma visão mais complexa dos sistemas agrícolas. Antes tratados
(quase) exclusivamente do lado da emissão de poluentes e redução da biodiversidade – i.e., do
lado da demanda na formação dos novos mercados de bens e serviços ecosistêmicos, na condição
de formadores de necessidades de sequestro de carbono e reposição da complexidade biológica
do planeta –, um subconjunto de sistemas baseados em culturas perenes e em composições
agroflorestais são reconhecidos pelo recente Stern Review como potencialmente consistentes
com a conservação florestal no contexto de estratégias para reduzir emissões (Stern, 2007: 603-
621). Reconhece-se, assim, que tais atividades, reduzindo a pressão sobre as florestas e criando
mecanismo de absorção líquida de carbono, podem expandir a oferta e, em consequência, baratear
o bem ambiental em si – a estabilização ou reversão das mudanças climáticas – tornando mais
custo-efetivas as estratégias de mitigação.
De modo que é urgente explicitar, no que se refere à Amazônia brasileira e, nela, o
setor rural, os termos do problema e suas expressões quantitativas, de modo que se tenha uma
aproximação do que poderá constituir a oferta e a demanda da região em um segmento fundamental
desses novos mercados: as emissões de CO2.
Por outro lado, por razões teóricas (que se ofereça a mais aderente percepção possível da
realidade em questão) e mediatas (que se possam garantir nas negociações futuras correções de
assimetrias dos atores envolvidos), faremos tais cálculos procurando:
•• Garantir uma visão analítica da interação entre processos econômicos e fundamentos
naturais. Com isso entendemos duas coisas:
»» Os recursos naturais da Amazônia são fatores-chave, fund-elements, de suas
economias, cuja transformação e uso constituem processos entrópicos23 que têm
que ser entendidos e tratados como tal.
»» Visualizar a economia entropicamente permite tratar apropriadamente as
dinâmicas negentrópicas, propriedades antientrópicas dos sistemas vivos abertos
para a entrada de energia, como é o caso sobre o qual nos debruçaremos (Guha e
Martinez-Alier, 2006:175).
•• Distinguir nos processos econômicos (e suas implicações ambientais) a heterogeneidade
de agentes, reconhecível na heterogeneidade de fundamentos (dotações objetivas: de base
natural ou social/institucional) e racionalidades (subjetivas: difusas ou sistematizadas)
e suas interações. Pois a essas diferenças estruturais correspondem assimetrias de
acesso a recursos naturais e sociais que, se espera, reflitam nas formas específicas de
contribuição para a desordem ambiental indicadas nos balanços de emissão de CO2.
Essa expectativa é levantada por Georgescu-Roegen em trabalho pouco conhecido
(Georgescu-Roegen, 1960) e enfaticamente trabalhada por Guha e Martinez-Alier
(2006), para amplos contextos, e por nós para a Amazônia (Costa, 2005a).
23 Porque processo de produção material. “Any material process consists in the transformation of some materials into others (the flaw
elements) by some agents (the fund elements)
...” and “...there is no substitution between flow and fund factors”. (Georgescu-Roegen,
1979:98; 1983: 23 e 28).
77
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
3.1. Uso, não uso e reuso da base natural – desmatamento, preservação e capoeiras: os
sistemas de produção rurais e suas relações técnicas
Áreas de floresta são incorporadas aos processos produtivos como áreas de exploração florestal
de recursos madeireiros e não madeiros, como terras agrícolas e pastagens. Na primeira condição, as
áreas florestais são mantidas, melhor, requeridas por sistemas de produção rural que têm o bioma, no
seu contexto ecossistêmico, como objeto do trabalho. As relações técnicas – relações entre trabalho
objetivado, isto é, consciente, e natureza, mediadas por conhecimento e instrumentos – preservam
a natureza originária. Dito de outro modo, as relações técnicas pressupõem, em seu exercício, a
preservação da floresta e seu ambiente.
As duas últimas condições de incorporação de áreas de floresta pressupõem, ao contrário
da anterior, a retirada da floresta originária – o desmatamento. As mesma áreas, entretanto, podem
voltar à condição de mata, no jargão técnico, áreas com bosques ou florestas secundários. Tais
tratos florestais se associam a sistemas de produção – são inerentes a eles, partes constitutivas de
suas relações técnicas – como o desmatamento que os antecedeu. A depender, pois, do sistema
de produção a que se associam, elas podem assumir as condições de capoeiras, como áreas
temporária ou definitivamente fora do processo de trabalho. Podem também assumir a feição de
tipo especial de agricultura – sistema de produção baseado no reflorestamento.
Compreender essas formas de existência, ou formas de uso das terras, as relações delas
com existências e usos precedentes e a lógica do vir-a-ser é requisito fundamental para entender
a dinâmica do setor rural como economia – como fundamento de existência e desenvolvimento
social – e os processos entrópicos (desestruturadores) e negentrópicos (reestruturadores) a ele
referidos.
Adiante trataremos de sistemas de produção baseados em bioma (ver Capítulo 6). Neste
capítulo nos dedicaremos aos sistemas agropecuários, focando suas capoeiras e o que significam
para a dimensão ambiental do setor rural na Região. Capoeiras são tratos de áreas de variadas
dimensões, os quais se encontram em estágios diferenciados de regeneração espontânea de
cobertura florestal em ecossistemas alterados de modo radical por ação humana. Como tal, são
componentes da paisagem rural de grande significado na Amazônia.
No acompanhamento do desmatamento feito pelo INPE, as capoeiras não têm sido
consideradas. Nesse exercício, que produz a principal contabilidade do desmatamento da
78
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Amazônia, a medida do processo se faz por uma “taxa de desflorestamento bruto”, mediante a
qual são acrescidas ao “passivo ambiental”, a cada ano, as áreas desmatadas em corte raso24. A
avaliação não explicita, em contrarrestação ao “passivo” que incrementa linearmente, um “ativo
ambiental” que, não obstante desconsiderado, existe concretamente. Desse “ativo ambiental”
invisível fazem parte as capoeiras, posto que áreas recuperadas ou em processo de recuperação
ambiental cujos valores, se considerados, permitiriam o cálculo de uma taxa de desflorestamento
líquido. E tais valores são significativos. No Censo Agropecuário realizado em 1995, as áreas de
capoeira perfaziam 4,5 milhões de hectares em toda a região Norte25: o correspondente a 8% de
toda a área apropriada naquele ano na região, a 17% de toda área em uso com pastos naturais ou
plantados, com lavouras permanentes e temporárias e com florestas plantadas e a 14% de toda a
área desmatada.
No bojo das tensões produzidas pela crise ambiental e no calor das discussões em torno
de suas causas e consequências, em que se incluem avaliações sobre as dinâmicas sociais na
Amazônia, têm evoluído duas perspectivas de observação das capoeiras. Uma negativa, em que a
capoeira importa enquanto momento de um processo de negação da floresta originária, do qual faz
parte o fracasso de sua justificativa social – o uso agropecuário. Outra positiva, em que a capoeira
importa porque momento de recomposição das propriedades ecológicas da floresta tropical
como parte de (ou após um) certo uso agropecuário da base natural. Em uma visão, a capoeira
é expressão de um passivo, de um débito patrimonial e ecológico; na outra, ela é um ativo, uma
capacidade, um patrimônio.
Na primeira perspectiva, capoeiras associam-se a usos insustentáveis da base natural. Os
sistemas de derruba e queima, dos quais as capoeiras fazem parte, seriam insustentáveis porque
de baixa eficiência econômica. Tratar-se-ia de usos só justificáveis para (pequenos e passageiros)
agentes econômicos, cujo baixo custo de oportunidade em outras regiões os teria expulsado para
a “fronteira especulativa” em movimento na região Amazônica. Essa é a posição de Schneider
(1995:15-32), encampada por Margulis (2003), para quem, dessa “fronteira especulativa” gerar-
se-ia uma “fronteira consolidada”, economicamente sustentável apenas em áreas com pluviometria
intermediária, própria à formação de uma pecuária altamente rentável e profissional. Em áreas de
pluviometria muito elevada – condição, aliás, dominante na maior parte da região –, a grande
pecuária profissional não se instala, nada sobreviveria na concepção do autor citado. Nessas áreas,
em virtude da elevada umidade que bloquearia a agropecuária mais eficiente, restariam, após o
24 Os cálculos de desflorestamento são processados pela equipe do Projeto de Estimativas de Desflorestamento da Amazônia
(PRODES), do INPE. Sobre a metodologia das estimativas ver Krug (2001:92-93)
25 Voltamos a lembrar que, a não ser quando especialmente esclarecido, as estatísticas aqui apresentadas referem-se à região Norte,
composta dos estados do Pará, do Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre, Amapá e Tocantins, à qual nos referiremos em muitas
oportunidades como Amazônia. A designação de Amazônia Legal, por sua vez, inclui, além dos estados listados, aproximadamente o
sul de Mato Grosso e o Noroeste do Maranhão.
79
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
e a natureza. Trata-se de mediação feita por aparatos tangíveis e intangíveis herdados, por um
lado, de processos de trabalho passados, os quais constituem, por isso, “... órgãos da vontade
humana: o poder do conhecimento objetivado” (conf. Marx, 1953:706); herdados, por outro
lado, como um paradigma, i. e., como estrutura cognitiva, “... como um ‘modelo’ ou um ‘padrão’
de solução de problemas tecnológicos selecionados. (Dosi, 2006:22 e 23)”.
O Censo Agropecuário de 1995-96 traz duas categorias que juntas compõem todas as
terras sobre as quais se encontravam vegetações secundárias – precisamente as capoeiras, tal
como as definimos anteriormente. São elas: “Área Utilizada em Descanso”, que comporta todas
as áreas em pousio até quatro anos e “Áreas Agricultáveis não Utilizadas”, que se referem às áreas
que, no momento do Censo, encontravam-se fora de uso por mais de quatro anos.
5.000.000 120%
4.500.000
100%
4.000.000
3.500.000
80%
Hectares
3.000.000
2.500.000 60%
2.000.000
40%
1.500.000
1.000.000
20%
500.000
0 0%
Sem uso há mais de 4
Em descanso até 4 anos T otal (Ac)
anos
Total Absoluto (Ac) 1.091.1 11 3.405.183 4.496.294
Camponeses 670.864 1.457.087 2.127.951
Patronais 420.247 1.948.096 2.368.343
Total (%) 24% 76% 100%
Camponeses (%) 32% 68% 100%
Patronais (%) 18% 82% 100%
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – Estado do Pará, 1995-96. Tabulações especiais do autor.
Notas metodológicas:
1. Utilizamos o BD-A esclarecido na nota metodológica 1 e 2 da Tabela 1.2.3-1.
82
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
O Gráfico 3.1.3-1 apresenta os valores dessas variáveis na região Norte. No total (valor
que trataremos daqui por diante de Ac), são 4,5 milhões de hectares: 1,1 de terras em descanso
até quatro anos e 3,4 de terras não trabalhadas por mais de quatro anos. Compondo por forma de
produção, os camponeses responderiam por, respectivamente, 0,7 e 1,5 milhões de hectares (32% e
68%) e as unidades de produção patronais por 0,4 e 1,9 milhões de hectares (18% e 82% do total).
por entendermos que a área que se decide manter como capoeira é resultado de uma produção própria da
capoeira, que tanto pode ser de um certo volume de biomassa, como de um certo conjunto de funções,
tais como fornecer lenha, fornecer madeira para tutorar pimenta-do-reino ou para construção civil ou,
83
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
muito importante, para sequestrar carbono e manter a biodiversidade, expressa por Pc total (expressão
da disponibilidade objetiva na capoeira, dos elementos que dela se requer, nos termos do sistema de
produção estabelecido), alcançada gradualmente a partir de uma produtividade anual por hectare pc, e que
tal volume de biomassa ou conjunto de funções é requerido para uma produção agrícola total Pa, obtida
a partir de uma produtividade agrícola hectare/ano de pa, então a relação (3.1.4-2) seria re-escrita, assim:
pa Pc 1/ 2
n = u • (3.1.4-4)
pc Pa
A relação (3.1.4-4) explicita que para uma mesma relação Pc/Pa (i.e., válida a presunção
de que a relação do valor da biomassa da capoeira por unidade de produto agrícola gerado com
base nela é, dado um estado do conhecimento, relativamente constante), a idade da capoeira, isto
é, o tempo necessário para que atinja o estágio de desenvolvimento que permita a realização de
sua finalidade, varia, diretamente, com a produtividade por unidade de área da agricultura e com
o aumento do tempo de plantio em uma mesma área e, inversamente, com a produtividade da
capoeira. Assim, o tempo da capoeira, n, como variável dependente, pode crescer ou como resultado
de mudanças tecnológicas positivas na agricultura (crescimento de pa e aumento de u) ou como
resultado de limitações na capacidade da capoeira (redução de pc). O que encoraja a hipótese de que
parte das Terras Úteis não Utilizadas, do Censo, pode ter função produtiva e derivar de trajetórias
ascendentes (e não decadentes) dos sistemas agrícolas. Uma questão que se coloca a partir daqui é:
em que proporções isso se dá? Em que medida a possibilidade lógica transforma-se em realidade?
26 Não confundir essa noção com a de “intensivas em terra” utilizada pelos economistas para designar funções de produção que usam
relativamente muita terra comparativamente aos outros fatores – trabalho e capital. O que se expressa aqui é a condição de uso da
terra: um sistema “intensivo em trabalho” pode usar a terra intensivamente ou extensivamente – muito trabalho por unidade de área no
primeiro caso e correspondentemente baixo volume de terras, por isso terra-intensivo; no segundo caso, pouco trabalho por unidade
de área e correspondentemente elevado volume de terras, por isso terra-extensivo (Costa, 1996c)
84
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
também, indicando que dela poderá derivar a deterioração contínua da base natural; nas capoeiras-
reserva, por sua vez, as condições de formação permitem pc significativamente diferentes de zero,
permitindo níveis de maturidade e complexificação correspondentes no tempo, podendo levar, no
outro extremo, a formações botânicas muito semelhantes às do bioma originário, às florestas.
3.2.1 Os diversos tipos de capoeiras e os sistemas aos quais se associam, no Censo de 1995-96
27 Nesse estudo, não dispomos dos microdados do IBGE e, portanto, não temos as informações no nível do informante. O que
consideramos aqui são as informações dos 960 estabelecimentos médios correspondentes aos “casos” mencionado na nota 3 e suas
respectivas frequências.
86
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
extensivos para sistemas agrícolas intensivos; as que provêm da passagem de sistemas pecuários
extensivos para intensivos. Para os primeiros, considere-se que áreas com culturas temporárias ou
pasto em um montante A são convertidas em áreas com culturas permanentes ou silvicultura em
um montante AaP e em capoeiras, em um montante AcR , de modo que
A = AcR + AaP (3.2.1-1)
Considerando a condição path efficient para um único agente em contexto de rendimentos
constantes a conversão se fará enquanto
A• p ≤ AaP • paP + AcR • pcr (3.2.1-2)
Isto é, a área total aplicada no uso anterior multiplicado pela rentabilidade desse uso por
unidade de área (p=proxy do payoff da shifting cultivation) é menor ou igual à área aplicada com
permanentes multiplicada pela rentabilidade das permanentes por unidade de área ( paP =proxy
do payoff dos sistemas com culturas permanentes), mais a área com capoeira multiplicada pela
rentabilidade da capoeira ( pcr ). Se substituirmos A em (3.2.1-2) pelo seu valor em (3.2.1-
1), se considerarmos adicionalmente que o valor produzido pela capoeira é irrelevante
(momentaneamente), portanto pcr = 0 e que o processo de conversão se faz até seu limite, onde os
dois termos da inequação se igualam, então:
AcR + AaP paP R P
Tabela 3.2.1-1 As diversas formas de capoeira na Região Norte, seu contexto técnico e forma de
produção, 1995-96 (Ha)
Fundamento Técnico 1: Fundamento Técnico 2: Fundamento Técnico 3:
Baseada em culturas Intensificação com culturas Dominância da pecuária Fundamento
temporárias (FT) permanetes (FP) (FPec) Técnico 4: Total de Terras
Fundamento Área com Área com Existência de
Capoeira Capoeira Área com Capoeira Apropriadas/
Social da Culturas
Capital3
Culturas
Reserva1 Pastos Sucata2
floresta Utilizadas3
Produção Temporárias Permanentes E
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário: todos os estados da Região Norte, 1995-96. Tabulações especiais do autor.
Notas metodológicas:
1. Aplicação da relação (3.2.1-3) com as seguintes restrições: a) se AcR > Ac então AcR = Ac ; b) se AcR < 0 então
AcR = 0; c) considerando p como sendo a renda líquida total por unidade de área aplicada à pecuária e às culturas
temporárias, incluindo nestas as capoeiras necessárias para um pousio de 6 anos e uma utilização de um plantio de
culturas brancas na mesma área por 2 anos.
2. Aplicação da relação (3.2.1-4) com a restrição de que se AcS > ( Ac - AcR ) então AcS = Ac - AcR .
3. Aplicação das relações (3.2.1-5). 3 Todas as terras dadas como utilizadas no Censo. Há uma diferença para o total
das propriedades que inclui áreas alagadas e outras dadas como inaproveitáveis.
As terras em forma de capoeira-reserva, associadas a uma área com culturas permanentes
de 0,73 milhões ha, alcançaram 1,4 milhões ha, dos quais 0,9 milhões dos camponeses (64% do
total) e os demais 0,5 milhões (36%) dos estabelecimentos patronais.
As terras de fato abandonadas, provavelmente imprestáveis, que aqui tratamos como
capoeira-sucata ou capoeira-resíduo, associadas a 14,8 milhões ha de pasto, seriam equivalentes
a 2,3 milhões de ha, dos quais pouco mais de 1/3 associados aos sistemas de produção camponeses
e os demais 2/3 aos sistemas de produção patronais.
As capoeiras-capital, que se constituem em componentes ativos dos sistemas de produção
baseados em 1,2 milhões de ha com culturas temporárias, perfazem um total de 771.562 ha, dos
quais os camponeses participam com 80% e os estabelecimentos patronais com 20%.
3.2.2 A pecuária de corte não intensifica em baixa escala – são irrisórias suas capoeiras reserva
e silvicultura; b) subestimam a capoeira-sucata porque não há meios para calcular sua formação
a partir da shifting-cultivation e c) aos valores das subestimações mencionadas correspondem
superestimações nos valores da capoeira-capital, impossíveis de serem explicitadas.
Qual o significado desses erros? Uma resposta imediata é que serão tanto mais importantes,
quanto mais relevantes forem a intensificação da pecuária e a redução do tempo de rotação das
capoeiras da shifting cultivation. Sobre isso convém as seguintes considerações:
Sobre a intensificação da pecuária e a importância do erro da capoeira-reserva. O Gráfico
3.2.2-1 demonstra, primeiro, que a pecuária de corte não intensifica a produção até a escala média
de 4,3 mil cabeças. Só a partir daí, e numa escala de 12,5 mil cabeças, verifica-se intensificação.
Segundo, que este segmento que se intensifica com a escala representa 1% da atividade.
Mais detalhadamente, em 1995, 48% do rebanho total provinha de estabelecimentos
com rebanhos até 200 cabeças, com média de 19 cabeças. Esse grupo de estabelecimentos toca
a pecuária como parte de sistemas de produção complexos e diversificados, dominantemente
camponeses, pouco especializados, nos quais o valor da produção da pecuária representa apenas
24% do total. Ademais, do valor da produção pecuária bovina, 76% provém da produção de leite
e seus derivados. Tais características dotam esses estabelecimentos de um grau de intensificação
medido pela capacidade de suporte de 0,9 cab/ha – a maior de todas as classes de rebanho (conf.
Gráfico 3.2.2-1).
Gráfico 3.2.2-1 – Proporção (%) do rebanho associada à escala média (cabeças por estabelecimento)
e a intensidade (cabeça por hectare) da pecuária bovina na Região Norte, em 1995
1,0 14.000
12.849
0,9 0,9
12.000
0,8
0,78
0,7 0,6 10.000
0,59 0,56
Cabeças por Hectare
0,6
8.000
0,5
0,4 4.318 6.000
89
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Nas quatro escalas seguintes – 201 a 1.000 cabeças, com média de 392, 1.001 a 3.000
cabeças, com média de 1.455 cabeças, 3001 a 8.000, com média de 4.318 cabeças e mais que
8.000 cabeças, com média de 12.849 cabeças – o grau de especialização em pecuária de corte
aumenta, representando respectivamente 80%, 89%, 94% e 97% do valor da produção pecuária
dos estabelecimentos. O grau de intensificação dos estabelecimentos com rebanhos cai para 0,6
cab/ha e se mantém praticamente o mesmo nas duas classes seguintes – respectivamente 0,59 e
0,56 cab/ha. Só nos estabelecimentos com rebanho acima de 8.000 cabeças é que este parâmetro
aumenta significativamente, para 0,78 cab/ha (ver Gráfico 3.2.2-1). A rentabilidade, por seu turno,
cresce com a escala de produção, não obstante a taxas decrescentes: dá um salto de R$ 1.509 para
R $ 2.503 nos dois primeiros intervalos, cresce para R$ 2.929 no seguinte e para R$ 2.995, no
último. Para 99% da atividade da pecuária de corte, a rentabilidade correlaciona positivamente
com a escala, mas é indiferente à intensidade do uso da terra. O erro, portanto, no que se refere à
formação de capoeira-reserva a ela associada, parece ser irrelevante.
Sobre a formação de capoeira-sucata na shifting cultivation. No formato atual dos dados
do Censo, verificar variações no tempo de rotação da capoeira associada à shifiting cultivation para
determinar em que medida daí poderiam resultar capoeiras-sucata parece impossível. Sobre esse
ponto pode-se, entretanto, indicar que a formação de capoeira-sucata na shifting cultivation se dá a
partir, ou através, da pecuária de corte. Isto é, a agricultura de pousio é, a rigor, um primeiro ponto
em uma trajetória que, mediante crises que alguns analistas têm chamado de “crises da capoeira”,
bifurca-se em sistemas dominados por culturas permanentes (que comportam, em muitas regiões,
uma pecuária de leite) e sistemas dominados por pecuária de corte28. Estes últimos formam as
capoeiras-sucata, as quais foram captadas nas estimativas feitas. Aqui, também, entendemos ser o
erro associado à subestimação mencionada irrelevante.
3.2.3 Formação de capoeiras pela expansão dos seus fundamentos: evolução do uso do solo nos
sistemas de produção fundamentais
Dados os estoques em 1995 dos diversos tipos de capoeiras, dados os seus fundamentos
técnicos e sociais, modelamos a evolução do conjunto, tanto à montante, quanto à jusante desse
ponto. Para tanto consideramos o seguinte:
1. Que se mantenham constantes os coeficientes técnicos das relações entre os diversos
tipos de capoeira e seus fundamentos. Isso implica assumir tecnologia constante, com
consequências sobre as quais discorreremos depois.
2. Que a evolução das áreas plantadas com culturas permanentes e com culturas temporárias
e a expansão do rebanho bovino estimadas pelo IBGE para toda a Região Norte são
indexadores robustos para a evolução dos fundamentos da existência das capoeiras.
28 Ver sobre crises da capoeira a revisão de Hurtienne (2001). Ver também a extensa dedução de trajetórias tecnológicas no setor rural
da Amazônia apresentada em Costa (2006c).
90
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
AcS(1995)
Pec Pec S Pec
F (t ) =A a (t ) +A c (t ) =A a (1995 ) .I Pec .
1+ APec (3.2.3-3)
a (1995 )
Tabela 3.2.3-1 – Evolução da área plantada com culturas temporárias1 e permanentes2 e do rebanho
bovino3 da Região Norte como indexadores dos fundamentos da economia agrária, 1989-2005
(Índices para 1995 = 1)
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Temporárias (IT) 0,76 0,76 0,77 0,90 0,88 0,99 1,00 0,89 0,90 0,97 1,05 1,04 0,92 0,91 1,01 1,13 1,26
Permanentes (IP) 1,00 0,97 0,94 1,01 0,99 0,99 1,00 0,90 0,86 0,88 1,04 1,13 1,17 1,14 1,21 1,12 1,14
Pec uária (IPec) 0,60 0,69 0,80 0,83 0,89 0,94 1,00 0,94 1,01 1,10 1,17 1,28 1,42 1,59 1,77 2,07 2,16
Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal (PAM) e Pesquisa da Pecuária Municpal (PAM). 1. Abacaxi, Algodão
herbáceo, Amendoim, Arroz, Batata – doce, Cana-de-açúcar, Feijão, Fumo, Juta, Malva, Mandioca, Melancia, Melão,
Milho, Soja, Sorgo, Tomate. 2. Abacate, Banana, Borracha, Cacau, Café, Castanha de caju, Coco-da-baía, Dendê,
Goiaba, Guaraná, Laranja, Limão, Mamão, Manga, Maracujá, Palmito, Pimenta-do-reino, Tangerina, Urucum, Uva. 3.
Número total de cabeças do rebanho bovino.
Assumindo, por outra parte, a hipótese de que todo o desenvolvimento agrário do período
se fez com base numa mesma estrutura de propriedade, isto é, que o conjunto de terras apropriadas
em 1995 já constituía o patrimônio fundiário dos agentes do setor rural no início da década de
noventa e continuou sendo o acervo sobre o qual operaram até 2005, de modo que E é constante
(sobre o significado dessa hipótese voltaremos adiante), então teríamos:
A(Mata
t) = E(1995) − F(Tt ) − F( tP) − F( tPec
) (3.2.3-4)
Com isso reconstituímos a evolução das áreas utilizadas no setor nos seus principais
elementos constitutivos, conforme resultados apresentados na Tabela 3.2.3-2.
91
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Tabela 3.2.3-2 – Áreas por usos e modos de produção, inclusive capoeiras, 1990-2005, em ha.
Formas de
Produção
Ano AaT( t ) AcT( t ) AaP( t ) AcR( t ) AaPec
(t ) AcS( t ) A(Mata
t) E( t )
1990 679.998 468.160 527.644 870.772 2.736.876 429.525 11.102.691 16.815.667
1991 685.355 471.847 512.259 845.382 3.157.129 495.479 10.648.215 16.815.667
1992 801.774 551.998 549.313 906.532 3.256.751 511.114 10.238.185 16.815.667
1993 782.174 538.505 535.927 884.441 3.507.538 550.472 10.016.611 16.815.667
1994 878.157 604.586 534.570 882.202 3.692.365 579.479 9.644.309 16.815.667
1995 891.507 613.777 542.594 895.443 3.942.476 618.731 9.311.140 16.815.667
1996 797.203 548.852 487.152 803.948 3.695.749 580.010 9.902.753 16.815.667
Camponeses
92
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
AaP(−t ) AR−
c ( t )
P− C P C R
F( t ) =− ⋅A + ⋅A (3.3-4)
20 a ( t ) 15 c ( t )
F( tPec ( t ) = ( Aa ( t ) − Aa ( t−1) ) .C + 6. Aa ( t )
= AaPec Pec Pec Pec
)
+ +
(3.3-5)
A S−
AaPec − c(t )
C (t )
F( tPec−
= 6. AaPec
(t ) + ⋅ AS (3.3-6)
)
60 c ( t )
F( tMata
)
−
= A(Mata
t)
−
= 0, 45. A(Mata
t) (3.3-7)
T+ T− P+ P− Pec+
E(+−
t ) = F( t ) + F( t ) + F( t ) + F( t ) + F( t ) + F( tPec
)
−
+ F( tM) ata− (3.3-8)
29 Tomamos esses dois trabalhos porque apresentam o estado da arte do conhecimento relativo a essa questão na região. O trabalho de
Fearnside (2000), um famoso pesquisador em ecologia florestal na Amazônia, há anos fazendo contabilidades de variáveis importantes
da questão ambiental para a região, faz uma atualização de levantamento anterior (Fearnside, 1997), e apresenta detalhadamente os
resultados disponíveis na literatura pertinente para cada tema: derruba, queima, floresta originária, etc. O trabalho de Nepstedt (e
associados), também um renomado especialista em ecologia florestal da Amazônia, é menos técnico, mais um esforço de divulgação,
de suma importância, contudo, porque sua avaliação e escolha de parâmetros funciona para nós, leigos, como corroboração qualificada
das suas fontes. Não obstante, se o fato de acatar médias para regiões tão vastas e diversas apresenta seus riscos, dos quais estamos
plenamente conscientes, importa-nos, sobretudo, o exercício da metodologia e a discussão estratégica que seus resultados podem
permitir, mesmo quando sujeitos a considerável (porém aceitável e controlável) margem de erro. Mais um ponto deve ser anotado: a
metodologia que apresentamos permite, como já mencionado, a leitura caso a caso, dos dados do Censo Agropecuário, possibilitando,
assim, o uso de valores regionalizados em nível de município e, mesmo, distrito censitário. Se disponíveis parâmetros de emissão e
sequestro nesse nível, uma contabilidade correspondentemente acurada seria possível.
93
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Tabela 3.3-1 – Evolução dos componente dos balanços anuais de emissão de carbono na Região
Norte por por usos e modos de produção, 1990-2005, em t.
Formas
de Ano AaT(t ) AaT(t ) AcC(t ) AaP(t ) AaP(t ) AcR(t ) AaPec
(t )
AaPec
(t )
AcS(t ) AaMata
(t )
E(+−
t)
rodução
1990 7.305.010 -6.119.986 -4.993.701 0 -5.276.443 -11.610.294 87.097.808 -16.421.258 -1.431.749 -4.996.211 43.553.175
1991 7.362.551 -6.168.193 -5.033.036 0 -5.122.594 -11.271.765 100.471.855 -18.942.776 -1.651.597 -4.791.697 54.852.748
1992 30.643.754 -7.215.963 -5.887.981 0 -5.493.131 -12.087.094 38.867.155 -19.540.507 -1.703.712 -4.607.183 12.975.338
1993 3.260.161 -7.039.567 -5.744.048 0 -5.359.267 -11.792.540 69.697.814 -21.045.227 -1.834.907 -4.507.475 15.634.944
1994 27.257.679 -7.903.411 -6.448.916 0 -5.345.701 -11.762.688 58.010.686 -22.154.190 -1.931.596 -4.339.939 25.381.924
1995 10.853.704 -8.023.562 -6.546.955 0 -5.425.937 -11.939.240 72.176.307 -23.654.854 -2.062.437 -4.190.013 21.187.015
1996 0 -7.174.827 -5.854.416 0 -4.871.523 -10.719.307 0 -22.174.494 -1.933.366 -4.456.239 -57.184.173
Amponeses
1997 8.628.677 -7.231.219 -5.900.430 0 -4.661.892 -10.258.035 76.235.126 -23.796.313 -2.074.770 -4.335.753 26.605.391
1998 19.708.231 -7.761.836 -6.333.395 0 -4.798.310 -10.558.208 97.818.070 -26.016.965 -2.268.386 -4.082.000 55.707.201
1999 23.451.081 -8.430.204 -6.878.761 0 -5.647.914 -12.427.680 80.773.031 -27.659.647 -2.411.610 -3.781.711 36.986.585
2000 6.647.863 -8.346.279 -6.810.281 0 -6.150.980 -13.534.627 113.434.789 -30.232.902 -2.635.968 -3.505.516 48.866.097
2001 0 -7.407.643 -6.044.386 0 -6.339.247 -13.948.889 143.950.182 -33.644.420 -2.933.414 -3.266.287 70.365.897
2002 4.737.325 -7.286.391 -5.945.448 0 -6.197.517 -13.637.026 162.899.086 -37.522.060 -3.271.501 -2.956.962 90.819.507
2003 25.609.374 -8.068.485 -6.583.610 0 -6.547.464 -14.407.051 181.416.778 -41.838.901 -3.647.881 -2.474.624 123.458.137
2004 32.179.594 -9.098.942 -7.424.429 0 -6.091.048 -13.402.753 282.605.514 -49.061.900 -4.277.645 -1.815.320 223.613.071
2005 33.027.256 -10.120.650 -8.258.108 0 -6.187.142 -13.614.198 119.014.725 -51.160.485 -4.460.618 -1.535.508 56.705.271
1990 2.025.182 -2.421.229 -1.283.742 0 -1.801.477 -7.102.205 239.041.218 -45.068.385 -3.847.733 -9.067.377 170.474.252
1991 2.041.134 -2.440.301 -1.293.854 0 -1.748.951 -6.895.122 275.746.487 -51.988.728 -4.438.560 -8.476.562 200.505.544
1992 11.103.726 -2.854.826 -1.513.636 0 -1.875.459 -7.393.871 106.671.479 -53.629.211 -4.578.617 -8.282.094 37.647.490
1993 294.978 -2.785.040 -1.476.635 0 -1.829.755 -7.213.688 191.286.678 -57.758.935 -4.931.194 -7.937.955 107.648.454
1994 9.666.955 -3.126.799 -1.657.837 0 -1.825.123 -7.195.427 159.211.183 -60.802.502 -5.191.040 -7.650.701 81.428.708
1995 3.160.127 -3.174.334 -1.683.040 0 -1.852.517 -7.303.427 198.088.939 -64.921.096 -5.542.667 -7.286.019 109.485.967
1996 0 -2.838.552 -1.505.008 0 -1.663.230 -6.557.174 0 -60.858.225 -5.195.797 -7.695.565 -86.313.551
Patronais
1997 2.391.821 -2.860.862 -1.516.836 0 -1.591.658 -6.275.006 209.228.428 -65.309.331 -5.575.812 -7.321.560 121.169.183
1998 6.700.200 -3.070.788 -1.628.140 0 -1.638.234 -6.458.627 268.463.137 -71.403.945 -6.096.143 -6.770.734 178.096.726
1999 8.086.517 -3.335.212 -1.768.338 0 -1.928.305 -7.602.213 221.682.773 -75.912.310 -6.481.046 -6.309.860 126.432.007
2000 1.450.578 -3.302.010 -1.750.734 0 -2.100.061 -8.279.351 311.323.450 -82.974.644 -7.083.996 -5.670.607 201.612.626
2001 0 -2.930.660 -1.553.843 0 -2.164.339 -8.532.762 395.073.397 -92.337.607 -7.883.363 -4.875.899 274.794.925
2002 844.502 -2.882.690 -1.528.409 0 -2.115.949 -8.341.990 447.078.945 -102.979.847 -8.791.949 -3.967.159 317.315.453
2003 8.991.513 -3.192.107 -1.692.463 0 -2.235.428 -8.813.026 497.901.023 -114.827.482 -9.803.446 -2.898.368 363.430.216
2004 11.445.243 -3.599.783 -1.908.614 0 -2.079.599 -8.198.681 775.615.001 -134.651.108 -11.495.897 -1.181.359 623.945.203
2005 11.636.213 -4.003.998 -2.122.930 0 -2.112.407 -8.328.026 326.637.668 -140.410.704 -11.987.625 -647.912 168.660.278
1990 9.330.192 -8.541.215 -6.277.443 0 -7.077.920 -18.712.499 326.139.026 -61.489.644 -5.279.482 -14.063.588 214.027.427
1991 9.403.685 -8.608.493 -6.326.890 0 -6.871.545 -18.166.887 376.218.342 -70.931.505 -6.090.157 -13.268.259 255.358.292
1992 41.747.480 -10.070.789 -7.401.617 0 -7.368.589 -19.480.965 145.538.634 -73.169.718 -6.282.329 -12.889.277 50.622.828
1993 3.555.139 -9.824.607 -7.220.684 0 -7.189.022 -19.006.228 260.984.492 -78.804.162 -6.766.101 -12.445.430 123.283.398
1994 36.924.634 -11.030.210 -8.106.753 0 -7.170.824 -18.958.115 217.221.869 -82.956.693 -7.122.636 -11.990.639 106.810.632
1995 14.013.831 -11.197.896 -8.229.995 0 -7.278.454 -19.242.667 270.265.246 -88.575.949 -7.605.103 -11.476.032 130.672.982
1996 0 -10.013.380 -7.359.424 0 -6.534.753 -17.276.481 0 -83.032.718 -7.129.163 -12.151.804 -143.497.724
1997 11.020.497 -10.092.081 -7.417.266 0 -6.253.550 -16.533.042 285.463.554 -89.105.643 -7.650.583 -11.657.313 147.774.573
Total
1998 26.408.431 -10.832.624 -7.961.535 0 -6.436.543 -17.016.836 366.281.207 -97.420.910 -8.364.529 -10.852.734 233.803.927
1999 31.537.599 -11.765.416 -8.647.099 0 -7.576.219 -20.029.893 302.455.804 -103.571.957 -8.892.656 -10.091.571 163.418.592
2000 8.098.441 -11.648.289 -8.561.015 0 -8.251.041 -21.813.978 424.758.239 -113.207.546 -9.719.964 -9.176.123 250.478.724
2001 0 -10.338.303 -7.598.229 0 -8.503.586 -22.481.651 539.023.580 -125.982.027 -10.816.777 -8.142.185 345.160.822
2002 5.581.827 -10.169.080 -7.473.858 0 -8.313.466 -21.979.016 609.978.031 -140.501.907 -12.063.450 -6.924.121 408.134.960
2003 34.600.887 -11.260.591 -8.276.073 0 -8.782.892 -23.220.077 679.317.802 -156.666.384 -13.451.327 -5.372.993 486.888.353
2004 43.624.836 -12.698.725 -9.333.043 0 -8.170.647 -21.601.434 1.058.220.515 -183.713.008 -15.773.541 -2.996.680 847.558.274
2005 44.663.468 -14.124.648 -10.381.038 0 -8.299.550 -21.942.224 445.652.393 -191.571.189 -16.448.242 -2.183.421 225.365.549
Fonte: Tabela 3.2.1-1 para o ano de 1995. Os demais, estimativas do autor com base na metodologia apresentada no texto.
94
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
tecnológica (extensivo 0,6 cab/ha; semi-intensiva 0,8 cab/ha; intensiva 1 cab/ha) e duas escalas de
produção diferentes, de 500 e de 5.000 cabeças. Apresentam dois indicadores de rentabilidade: a
rentabilidade sobre o patrimônio total (pay back), e a rentabilidade por unidade de área.
Calculadas as médias para a Amazônia, encontramos os resultados apresentados no
Gráfico 3.3.1-1 para 2003. São as seguintes as conclusões que podemos derivar:
•• Escala de 500 cabeças. A rentabilidade do nível mais extensivo (0,64 cab/ha) é a
maior rentabilidade das unidades produtivas com média de 500 cabeças.
•• Escala de 500 cabeças. À proporção que o nível tecnológico aumenta (passa
para 0,86/cab/ha), as unidades produtivas de menor escala têm menor eficiência
pelos dois indicadores, chegando a proporcionar rendimento negativo no nível
tecnológico mais elevado (1,02/cab/ha).
•• Escala de 5.000 cabeças. Em maior escala, o nível tecnológico mais baixo (0,61 cab/
ha), tem rentabilidade em torno de quatro vezes superior à de menor escala no mesmo
nível tecnológico.
•• Escala de 5.000 cabeças. À proporção que o nível tecnológico eleva-se, a rentabilidade
por unidade de área cresce – apesar do payback reduzir em nível intermediário (0,79
cab/ha) – atingindo um máximo no nível mais alto de intensidade (0,98 cab/ha).
Gráfico 3.3.1-1 –Remuneração do patromônio total (pay backs em %) e rendimento por hectare
(R$/Ha) para diferentes escalas de produção e diferentes níveis tecnológicos para a Amazônia e
para o restante do Brasil, em 2003.
140 6%
120
5%
100 B
4%
80
3%
R$/Ha
60
2%
40
A
1%
20
-20 -1%
-40 -2%
Exten- Semi Exten- Semi
Intensivo Intensivo
sivo Intensivo sivo Intensivo
Cabeças por hectare 0,64 0,86 1,02 0,61 0,79 0,98
R$/Ha 27,9 18,0 -30,7 92,2 1 16,9 132,1
Rentabilidade para a menor 27,9 44,05 60,2 76,35 92,5
capacidade de suporte
Pay Back 1,1% 0,8% -1,6% 4,7% 4,6% 6,0%
fator de negentropia pelo potencial de neutralizar os efeitos deletérios da emissão. A emissão não
neutralizada é indicador de entropia realizada, e, assim, medida objetiva do crescimento dos riscos
para a sustentabilidade – i.e., para as condições de permanência de dada sociedade. Como tal,
trata-se de medida objetiva de uma necessidade: a de neutralização desses riscos. A constituição
dos mercados de bens e serviços ecosistêmicos tem nesse fato seu fundamento de última instância.
Uma medida do estoque líquido (diferenças anuais emissões-sequestro acumuladas) de
carbono derivado da economia agrária da Região Norte é indicador da sua contribuição para a
entropia global. O Gráfico 3.3.2-1 mostra a evolução da grandeza e seus determinantes (lê-se
no eixo da esquerda em toneladas de carbono), bem como as taxas de crescimento do resultado
líquido (lê-se do lado direito em % a cada ano).
Os números absolutos mostram que o saldo acumulado multiplicou por um fator 10 em
15 anos, de uma média de 330,2 Gt nos três primeiros anos para uma média 3.313 Gt nos três
últimos: um resultado impressionante por si, potenciado por um crescimento rápido da emissão.
O vetor de emissão cresce mais rápido, a média dos três primeiros anos sendo multiplicada por
9,6 relativamente aos três últimos. Não obstante, é importante notar que há vetores de sequestro
evoluindo também (fator 8,1), espontaneamente – isto é, movidos pelas lógicas econômicas que
os fundamentam. Isso sugere, para uma heurística de soluções, caminhos estratégicos a explorar,
ao que retornaremos adiante.
Observadas as taxas de crescimento, evidenciam-se duas fases bem definidas: na primeira,
prevalecem taxas, que se iniciam muito altas, mas são decrescentes até aproximadamente 1996. A
partir daí a taxas são crescentes com indicação de queda nos últimos anos da série. Uma associação
imediata com as flutuações conjunturais dos principais produtos envolvidos sugere uma explicação
com base na flutuação dos preços em moeda doméstica da carne e de outras commodities. Mas há a
influência menos notada das políticas públicas de fomento, sobretudo as associadas ao FNO, a partir
das ênfases diferenciadas nessas mesmas fases: na primeira delas marcada por uma reorientação
em favor dos sistemas camponeses baseados em culturas permanentes e a segunda por um retorno
ao privilégio da pecuária de corte praticada pelas fazendas e empresas – como demonstramos no
Capítulo 1. Isso é, aliás, perfeitamente compatível com os ritmos e fundamentos das dinãmicas do
setor rural discutidos no capítulo 2.
Adicionalmente, três pontos merecem destaque:
1. O peso absolutamente fundamental dos sistemas baseados em pecuária de corte,
em particular daquela praticada pelos estabelecimentos patronais, produtores de
capoeiras-sucata, nas emissões de CO2 (Gráfico 3.3.2-2).
2. O peso, também absolutamente fundamental, dos sistemas camponeses baseados
em culturas permanentes, produtores de capoeiras-reserva, no sequestro de carbono
(Gráfico 3.3.2-3).
3. O peso, também importante nessa matéria, dos sistemas patronais de cultura
permanente (Gráfico 3.3.2-3).
4. O peso decrescente da floresta na definição do saldo (Gráfico 3.3.2-3).
98
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 3.3.2-1 – Evolução do balanço líquido entre emissão e sequestro de carbono na economia
agrária da Amazônia, 1990 a 2005
5.000 100%
4.000 80%
3.000 60%
2.000 40%
(Gt)
1.000 20%
0 0%
-1.000 -20%
-2.000 -40%
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Total de Emissão 259 468 541 729 861 1.035 1.035 1.229 1.500 1.693 1.995 2.397 2.865 3.394 4.274 4.517
Total Seqüestro -45 -91 -141 -183 -225 -278 -413 -449 -483 -530 -586 -638 -679 -716 -749 -781
Balanço 214 377 400 546 636 757 622 780 1.017 1.163 1.409 1.759 2.187 2.678 3.525 3.735
Taxa de crescimento do balanço 76% 6% 36% 17% 19% -18% 25% 30% 14% 21% 25% 24% 22% 32% 6%
Gráfico 3.3.2-2 – Evolução dos vetores de emissão de carbono na economia agrária da Amazônia,
1990 a 2005 (valores acumulados)
3.500
3.000
2.500
2.000
(Gt)
1.500
1.000
500
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
99
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 3.3.2-3 – Evolução dos vetores de sequestro de carbono na economia agrária da Amazônia,
1990 a 2005 (valores acumulados)
0
-50
-100
-150
(Gt) -200
-250
-300
-350
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
FTemporárias Camponeses -4 -8 -17 -17 -21 -34 -38 -38 -38 -47 -60 -69 -69 -69 -69 -69
FTemporárias Patronais -2 -6 -6 -10 -10 -11 -16 -18 -18 -18 -21 -26 -29 -29 -29 -29
FPermanentes Camponeses -17 -33 -51 -68 -85 -102 -118 -133 -148 -166 -186 -206 -226 -247 -267 -286
FPermanentes Patronais -9 -18 -27 -36 -45 -54 -63 -71 -79 -88 -99 -109 -120 -131 -141 -151
FPecuária Camponeses 0 0 0 0 0 0 -24 -24 -24 -24 -24 -24 -24 -24 -24 -24
FPecuária Patronais 0 0 0 0 0 0 -66 -66 -66 -66 -66 -66 -66 -66 -66 -66
FMata Camponeses -5 -10 -14 -19 -23 -27 -32 -36 -40 -44 -48 -51 -54 -56 -58 -60
FMata Patronais -9 -17 -25 -33 -41 -48 -56 -63 -70 -76 -82 -87 -91 -94 -95 -96
Não obstante, a pecuária de corte na Amazônia é atividade rentável, tanto mais quanto lhe
favoreçam as conjunturas de mercado, tanto mais, por outra parte, quanto lhe seja possível,
estrutural e sistematicamente, formar capoeira-sucata. Os sistemas patronais voltados às
culturas permanentes e os de pecuária de corte serão objeto de escrutínio, respectivamente, nas
seções 6.7.1 e 6.7.2.
Na dinâmica que produz capoeiras-reserva associadas à intensificação da agricultura
por culturas permanentes encontramos o principal vetor de formação de capacidade de sequestro
de CO2 – e portanto, de basear processos negentrópicos – do setor rural da Amazônia. Na
dinâmica que produz capoeiras-sucata associadas à pecuária de corte, encontramos o principal
vetor de emissão de carbono: o principal vetor de entropia.
Com efeito, entre os anos iniciais da década de noventa e meados do atual decênio, as
emissões de carbono do setor rural na Amazônia (baseado na relação de propriedade encontrada
em 1995) multiplicaram por 9,6, chegando a um total de 3.313 Gt. Contudo, arrastada pelas
dinâmicas que formam copeiras-reserva, a capacidade de sequestro cresceu em ritmo próximos,
atingindo -749 Gt.
Tomados em conjunto, esses resultados permitem indicar, para o que está se configurando
como uma nova economia política associada à institucionalidade em formação em torno das
mudanças climáticas, que há fundamentos, na economia agrária da Amazônia, para uma política
abrangente de contra-arrestação à evolução do balanço líquido de emissão do setor, por dois
encaminhamentos:
mercado cujo poder de compra30 permitisse meros US$ 1,00/t, equivaleria a uma
perda de US$ 4,5 bilhões. Adicionalmente, supondo que o poder de compra do
mercado de carbono eleva o preço da tonelada para US$ 10,00, a perda seria de
US$ 45 bilhões. Explicita-se, aqui, os tradeoffs em relação às alternativas – o custo
de oportunidade social à minimização dessas perdas – orientando a reflexão sobre
condições e necessidades institucionais que poderiam torná-los menos limitantes a
um ideal de sustentabilidade.
•• Na criação de bases para um cálculo que permita visualizar uma injustiça distributiva
de fundamento ambiental e refletir sobre as possibilidades de sua correção. Se,
digamos, vigorasse o preço de US$ 1,00/t de CO2 e os emissores fossem obrigados
a pagar para os que produzem o bem ambiental “sequestro de carbono”, os primeiros
teriam sido obrigados a transferir, nesse meio tempo, US$ 0,749 bilhão para os
segundos. Em uma visão invertida, isso quer dizer que nas condições atuais (em
que existe a necessidade e que ela corresponderia, se existisse o mercado, a US$
1,00 de poder de compra por tonelada de carbono) o fato desse mercado não existir
estaria permitindo um ganho indevido de US$ 0, 749 bilhão por parte dos emissores
e uma perda equivalente por parte dos produtores de bens e serviços ecosistêmicos:
estaria havendo uma transferência de renda destes para aqueles (mediada pelas
relações com a natureza). Ademais, a obrigação de pagar, imputada aos emissores,
garantiria, para além da correção da injustiça em relação aos sequestradores de
carbono, uma formação de recursos sociais de US$ 3,8 bilhões, os quais poderiam,
por exemplo, ser aplicados na mitigação da entropia produzida pelos emissores e na
formação do conhecimento que fortalecesse as atividades sequestradoras.
Esses são pontos que demandam discernimento em todo o seu significado (e, para
tanto, esforços sistemáticos de pesquisa) para que, no bojo das novas institucionalidades em
construção ao redor das mudanças climáticas, estabeleçam-se os fundamentos institucionais
que, garantindo ao agente a liberdade de mudar de posição no que se refere à sua relação com
os fundamentos naturais – da condição de gestor de atividades que emitem para a de gestor de
atividades que sequestram carbono e outros gases deletérios; de atividades que reduzem, para
atividades que elevam biodiversidade – garantam, para todos, novas e mais sustentáveis bases
de desenvolvimento.
30 Tal “poder de compra” é determinante do preço que se venha a formar no mercado de bens e serviços ecosistêmicos, mas é
determinado por decisões não econômicas – políticas e éticas. É esclarecedor, nesse ponto, o comentário de Herman Daly com
relação à formação de preços de bens e serviços ecosistêmicos: “A distiction should be made between ‘price-determined’ and ‘price-
determining’ decisions. The criteria underlying the collective setting of the agregate constraints are ecolgical and ethical. These
ecological and ethical decisions are price-determining, not ‘price-determined’. (Daly, 1999:98).
103
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Capítulo 4
Dinâmica recente: relações economia e natureza - entropia
As extensões de uso, não uso e reuso do solo na produção rural não são suficientes
para explicitar toda relação da economia rural com a natureza envolvida. Cada movimento de
transformação da base natural para a produção implica desmonte de matéria estruturada em
energia dissipada na forma de gases ou matérias degradadas inúteis para produzir trabalho. Como
enunciado geral, parece incontroverso que o processo econômico, em sua dimensão física se
submete às leis da termodinâmica, sendo processo de transformação irreversível de matérias
de baixa entropia em matéria de alta entropia (Georgescu-Roegen, 1971; Furtado, 1974). Na
produção e no consumo, se produz maior ou menor nível de entropia (ε) – maior ou menor
desestruturação e dissipação dos fundamentos da reprodução da vida, isto é, da natureza naquilo
que tange à humanidade. A desestruturação de biomas é parte do processo, implicando, pois, a
noção de entropia, a redução da biodiversidade. Os modelos de análise econômica usuais têm
sonegado a possibilidade de observar mais de perto essa relação.
Gráfico 4-1 – Evolução do estoque de áreas degradadas e de emissão líquida de CO2 do Setor
Rural na Região Norte, 1990 a 2007 (Médias trianuais)
8.000.000
7.000.000
Gt 1,0 e Ha 1.000
6.000.000
5.000.000
4.000.000
3.000.000
2.000.000
1.000.000
0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
104
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 4-2 – Evolução das emissões líquidas acumuladas de CO2 por hectare (Entropia Inerente
Iε a partir do balanço de carbono) e rendimento por tonelada de CO2 (COSε e COPε a partir do
balanço de carbono) no Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2007 (Médias trianuais)
200 1,6
1,4
t
150 1,2
1,0
Gt
100 0,8
0,6
50 0,4
0,2
0 0,0
199 0 199 1 199 2 199 3 199 4 199 5 199 6 199 7 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor conforme metodologia apresentada em notas dos Gráficos 1
ao 7. Taxas de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em
relação ao tempo medido em anos.
Gráfico 4-3 – Evolução da proporção das áreas degradadas (capoeiras-sucata) por área utilizada
(Entropia Inerente Iε a partir da degradação da biodiversidade) e rendimento por áreas degradadas
(COSε e COPε a partir da degradação da biodiversidade) no Setor Rural na Região Norte, 1990 a
2007 (Médias trianuais)
5,0 10%
4,5 9%
4,0 8%
3,5 7%
R$ 1.000,00/Ha
3,0 6%
5%
%
2,5
2,0 4%
1,5 3%
1,0 2%
0,5 1%
0,0 0%
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor conforme metodologia apresentada em notas dos Gráficos 1
ao 7. Taxas de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em
relação ao tempo medido em anos.
105
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
COPCs . Do mesmo modo, temos uma Entropia Inerente ( I ) que pode derivar tanto de Bc (
I Bc
) como de Acs ( I Cs
) – da poluição por emissões e sequestro de CO2 ou da degradação do
ecosistema, um indicador da redução da biodiversidade.
As metodologias apresentadas no Capítulo 3, combinadas com as do Capítulo 2, nos
permitiram modelar como variáveis do BD-C, esclarecido nas notas metodológicas do Gráfico
2-1, a evolução das diversas formas de capoeiras, inclusive as capoeiras sucatas, e o balanço de
carbono para todo o setor rural na Região Norte, entre 1990 e 2006. O estoque de áreas degradadas
(capoeira sucata) cresceu, como mencionado anteriormente, a 1,5% a.a., de 2,4 para 3,0 milhões
de hectares no período. Nos intervalos tratados, as taxas foram de -1,8%, 3,2% e 6,6% a.a. (ver
Gráfico 4-1).
106
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Por seu turno, no mesmo período, o estoque líquido de CO2 associado às atividades rurais
cresceu ao ritmo de 2,1% a.a., de 5,0 mil Gt nos três primeiros, para 7,1 mil Gt, em média nos três
últimos anos da série. Nesse caso, as variações nos três períodos foram de -0,5%, 2,8% e 4,4%
a.a (ver Gráfico 4-1). Observe-se que, diferentemente dos valores apresentados no Capítulo 3,
Tabela 3-4 e Gráfico 3-2, cujo primeiro ponto da série do total acumulado de CO2 era o balanço
líquido do ano de 1990, a partir do qual se formaram nos demais anos os saldos acumulados, esses
resultados incorporam o saldo acumulado naquele primeiro ano da série – de 4,6 mil de Gt.
Apresentamos no Capítulo 2 as expressões empíricas de Y/T no setor rural da Região
Norte, a produtividade e a rentabilidade do trabalho, e também as expressões empíricas da relação
terra/trabalho. Agora, temos no Gráfico 4-2 Entropia Inerente (a partir do balanço de carbono:
I Bc
) - grau de sujeira das tecnologias aplicadas – em relação a duas bases. Se considerarmos a Área
Trabalhada (AT), e, portanto, as capoeiras, inclusive as capoeiras sucatas ou áreas degradadas –
I Bc
se mostra estável em torno de 160; se considerarmos exclusivamente as Áreas em Operação
(AO), em torno de 180 toneladas de CO2 por hectare. Por seu turno, tanto o VBPR, quanto a
RLP por emissão líquida de CO2 vêm crescendo a taxas anuais significativas, respectivamente
a 2,3% e 3,7% a.a., incrementando o COS Bc propiciado pelo setor na Amazônia ao CO2, de R$
1,03/t para R$ 1,27/t no período estudado; o COPBc , por sua vez, saiu de R$ 0,60 para R$ 0,83
107
Parte II
e de organizações de sociedades civis em todo o mundo. A tarefa primordial deste capítulo será
a de dar um passo na qualificação teórica e metodológica da diversidade estrutural já indicada.
Num segundo momento faremos avaliações dos processos em curso na Região, apontando para
atributos parcamente percebidos pela visão reinante.
importantes críticas e mudanças no campo neoclássico que aqui nos importam em geral, mais
particularmente no que se refere ao desenvolvimento de base primária. A isso dedicaremos o
próximo subcapítulo (5.2).
Outro trajeto, com balizamentos teóricos de notável envergadura a compor uma
heterodoxia de importância inegável, persegue a compreensão mais ampla, que inclui a anterior,
das determinações sociais e históricas das razões – i. e. da socialização da subjetividade. Se nessa
objetivação prevalece a alienação que induz à repetição e à rotina que conformam a acomodação
dos fluxos circulares de Schumpeter (1982), mesmo em equilíbrio subótimo (Keynes, 1970),
ou a alienação que conduz à mudança por reação compulsiva da razão mecânica do capitalista
de Marx (1978), se prevalece, pois, o poder das estruturas que configuram o status quo, de
reafirmarem-se em cada ação individual que, por isso objetivada; ou se cada ação virá a ser
objetivada por uma vontade tornada praxis pela consciência que exige a mudança (para Marx,
consciência possível apenas para a vanguarda dos sujeitos subordinados; para Schumpeter e
Keynes, consciência possível apenas para a vanguarda dos sujeitos dirigentes) – eis como se
demarcaram campos e se propuseram soluções.
Criaram-se, nesse processo de convergências, nodulações fortes – que empolgaram
programas de pesquisa significativos e continuados e que disso se nutriram. É o caso do estudo
das inovações e de aglomerações maduras. Não obstante, as teorias que mais de perto nos
interessam são as que enfatizam a historicidade e a territorialidade das formações sociais – pois
nos é exigido, ao expandir os esclarecimentos, radicalizar a consideração das especificidades
das condições de existência dos aglomerados locais na Amazônia, qualquer que seja seu nível
de maturidade e sistematicidade. Aqui ressaltam interstícios de conhecimento a preencher,
parte dos quais serão delineados teoricamente nos subcapítulos 5.3 ao 5.6, deste capítulo, para
tratamento empírico nos capítulos seguintes. O preenchimento de outras lacunas aguardarão a
Parte III do livro.
Sobre inovação, já no início dos anos sessenta, Hicks (1963) apresentou uma perspectiva
ao mesmo tempo nova e antiga. Baseado na ideia de desenvolvimento (processo em que o todo
sofre alteração na qualidade) como resultado da atitude de agentes que buscam maximizar
“cotidianamente” oportunidades de mercado, esse autor reafirmou a prevalência dos sujeitos.
Todavia, distanciava-se da concepção neoclássica tradicional de função de produção, na qual as
possibilidades de substituição entre os fatores de produção seriam contínuas e, por serem ergódicas,
poderiam incorporar instantaneamente novas técnicas escolhidas em um portfólio preexistente
com todas as combinações possíveis. Sua noção de progresso técnico induzido compreendia uma
sequência de procedimentos tecnológicos adotados pelas firmas, resultantes da substituição de
113
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
fatores de produção orientada pelos estímulos derivados de mudanças nos respectivos preços
relativos. Tais sequências se expressariam: a) em alteração no processo produtivo através de
procedimentos e tecnologias que poupam o fator que se tornou escasso (portanto, mais caro) e
intensificam o uso do fator que se tornou relativamente abundante (portanto, mais barato) e b)
através de mudanças na composição da produção das unidades produtivas, sendo substituídos os
produtos para cuja obtenção se requer o fator mais escasso por aqueles cujo fabrico exige mais
intensamente o fator mais abundante. Adicionalmente, como evento paralelo e exógeno, haveria
estímulos à pesquisa de novos métodos produtivos poupadores do fator que se tornou escasso,
nisto consistindo o progresso técnico induzido, propriamente.
Hayami e Ruttan (1971:43-63), impondo a necessidade de tratar a mudança técnica
como endógena ao processo de desenvolvimento da agricultura, criticam esse modelo porque
se restringe às razões das firmas, através das quais diferenças nos preços dos fatores afetam sua
atividade inventiva ou seu comportamento inovativo. Apontam, por outra parte, forte limitações
na perspectiva de Hicks para a compreensão do desenvolvimento agrícola, posto que não logra
explicar endogenamente como as diferenças nas dotações de recursos afetam a alocação dos
esforços de pesquisa no setor público. De modo que se impunha a extensão para o setor público
da teoria da inovação induzida que Hicks desenvolvera para o setor privado. Nas suas próprias
palavras:
1 Para Duncan Foley, proeminente pensador da New School, a perspectiva da teoria da inovação induzida chega a tal resultado porque
é aberta no método mas fechada para as suas consequências. “The theory of induced bias in technical change is a striking example
of the way in which self-organizing tendencies of complex system can manifest themselves in concrete historical developments.
[However] the theory explains observed regularities in capitalist economies without claiming to explain the specific path of technical
innovation, or the particular types of new methods of production that emerge along that path”. (Foley, 2003:54).
115
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Considerando o elevado nível de incerteza que cerca a adoção de tecnologias (no contexto
de uma trajetória específica, os padrões de soluções para a obtenção de um item do conjunto
de necessidades da reprodução social), o ambiente institucional assume particular relevância
na configuração de trajetórias tecnológicas, desde o interesse econômico das organizações,
passando pelas respectivas histórias e acúmulos de expertise, até variáveis institucionais strictu
sensu, como agências públicas e interesses geopolíticos (Dosi, idem: 24-25).
2 Licha (1996) apresentou criativa e didaticamente o modelo de Arthur (1994a) com as incorporações de Heiner (1988) de que
adiante trataremos. Muito devemos aqui aos seus esforços.
118
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
5.5.1. As limitações do modelo diante dos setores agrários – as restrições do espaço e da natureza
3 Seja 2xA= [(1-(nB/n)]+( nA/n) e 2xA = [1+( nA - nB)/n]. Logo, xA = [0,5+( nA - nB)/2n] e xA = 0,5+dn/2n.
119
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
número e da diferenciação dos agentes no que se refere a sua representação como unidade em
n e, segundo, para que as incertezas sejam consideradas.
Haver-se-ia que considerar de algum modo o grau de monopólio de cada agente
– a capacidade respectiva de controle de mercado de insumos ou produto. Com isso,
particularidades cruciais dos setores rurais, como as associadas às relações fundiárias,
poderão ser contempladas. Postas as condições cruciais derivadas da relação de propriedade,
ressaltam as dimensões decisivas das configurações institucionais e das incertezas a que se
referem. Isso tem importância sempre, sendo, porém, como se verá, no caso da Amazônia,
centrais.
Para que expresse melhor os setores rurais se deve estabelecer, de início, o lugar da
natureza na noção de tecnologia que se está operando. Convém tratar tecnologias no sentido
lato utilizado por Arthur, “as pure method or pure information; or they may be embbodied
in physical plant or machinary” (Arthur, 1994b:15), realçando, entretanto, a condição
necessária de que se trata de relação entre trabalho humano, objetivado por um modo de
produção, e seu objeto último, a natureza. Como já mencionado, nos processos industriais, a
natureza está presente, dominantemente, como natureza morta. Na produção rural, todavia,
as atividades produtivas se realizam numa interação da disposição humana com a natureza
viva. Nesse caso, a capacidade produtiva da natureza codetermina o resultado do processo
produtivo. Como matéria-prima, a natureza é objeto inerte do trabalho humano; como uma
força produtiva, capacidade ativa e, como tal, um capital: o capital natural.
A natureza é central, também, como espaço, como res extensa, impondo-se, por um
lado, na definição do esforço logístico associado à circulação dos pressupostos da produção e
reprodução da vida rural; por outro lado, na definição das operações políticas e das fronteiras
da gestão pública, da territorialidade, pois, dos setores agrários.
Isto posto, é necessário que se combine o pressuposto 2 do modelo – segundo o qual
existe um número muito grande (infinito!) de agentes, compatível com a noção, prevalecente
na discussão do desenvolvimento endógeno, da capacidade de crescimento indeterminado
dos setores urbanos, que Krugman (1998, 1995 e 1991), reiteradamente, tem chamado de
setores “sem raízes” – com a condição finita dos recursos não renováveis e da territorialidade
que a isso se associa, em particular em relação à terra e aos recursos que suporta, peculiar aos
setores rurais, “com raízes” porque presos a lugares.
A centralidade do capital natural e a geopolítica da produção rural (Becker, 2007a)
têm implicações nos dois componentes das equações de payoff do modelo: no propriamente
tecnológico e no institucional.
Os componentes tecnológicos, a e b, devem expressar uma necessária relação entre
produtividade e disponibilidade da terra, pois há uma parcela da remuneração aí expressa
resultante da condição de acesso e uso produtivo dos recursos naturais, enquanto fator que
privadamente é usado intensiva ou extensivamente, como se viu no capítulo 3. A avaliação
desses elementos recomenda recorrer a funções de produção do tipo proposto por Hayami e
120
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
R V = aR + r.(nA. WA ) onde
R A R
VB = bR + r.(nB. WB ) onde
aR = RyA. RwA.RLA bR = RyB. RwB.RLB
S V = aS + s.(nA. WA ) onde
S A S
VB = bS + s.(nB. WB ) onde
aS = SyA. SwA.RLA bS = SyB. SwB.RLB
Onde:
2. aR e bR são as parcelas do payoff derivadas estritamente dos procedimentos
tecnológicos, nos quais, RyA e RyB são os retornos por unidade de área e RwA e RyB são
as relações terra/trabalho aplicadas pelos agentes de tipo R nos montantes de trabalho
L e RLB, conforme as ações-tecnologias-procedimentos A ou B, respectivamente.
R A
3. aR > bR, sendo a diferença da medida da preferência de R por A (preferência não
natural, mas condicionada por diferenças na disponibilidade de terras e na capacidade
de controle e aproveitamento dos recursos naturais que elas suportam, com destaque
para o conhecimento tácito e codificado);
4. aS e bS são as parcelas do payoff derivadas estritamente dos procedimentos tecnológicos,
no quais SyA e SyB são os retornos por unidade de área provenientes da aplicação pelos
agentes de tipo S dos montantes de trabalho SLA e SLB sob as condições técnicas
que permitem as relações terra/trabalho SwA eSwB, próprias das ações-tecnologias-
procedimentos A ou B, respectivamente;
5. aS < bS,sendo a diferença da medida da preferência de S por B (preferência não natural,
mas condicionada por diferenças na disponibilidade de terras e na capacidade de
controle e aproveitamento dos recursos naturais que elas suportam, com destaque
para o conhecimento tácito e codificado);
6. Com r > 0 e s > 0 caracterizar-se-ia um ambiente de retornos crescentes para ambos os
procedimentos – o que refletiria as condições em que os ganhos derivados dos efeitos de
aglomeração que a expansão de um procedimento produz, somados aos ganhos que os
aperfeiçoamentos institucionais e organizacionais (ou, simplesmente, o incremento da
capacidade de definição dessas instituições e organizações) resultantes dessa expansão
121
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
superam o incremento dos custos globais da pressão sobre os fatores daí derivada. Com
r = 0 e s = 0 ter-se-ia um ambiente de retornos constantes e com r < 0 e s < 0 um
ambiente de retornos decrescentes.
7. Sejam:
xA = nA.W A / (nA.W A + nB.W B ) a participação da ação A na utilização do total das
disponibilidades de recursos não renováveis (W A a disponibilidade média de cada
agente, nA.W A o total apropriado de terras, WA , pelos que adotam a tecnologia A; W
B
a disponibilidade média, nB.W B o total apropriado de terras, WB , dos que adotam a
tecnologia B) e dn = nA.W A - nB.W B o valor da diferença entre as disponibilidades de
terras orientadas (ou passível de orientação) para as diferentes adoções. Considerando
que a sequência dos dois tipos de agentes é desconhecida dn segue um passeio
aleatório de modo que na n-ésima escolha,
dn
x A = 0, 5 + (5.5.1-1)
2.W
em que W é o total de terras apropriadas por todos os atores.
Uma importante nota final: o que se representou por W, a relação fundiária, pode ser
substituída para outras expressões da relação entre os agentes e seus ambientes de operação.
Por exemplo, W poderá expressar a estrutura de mercado de bens finais observada, por exemplo
por market shares da receita total ou do valor bruto da produção, como faremos em diferentes
momentos adiante. Ou, ainda, W poderá expressar a disponibilidade de mão de obra. Exploraremos
exaustivamente este assunto no Capítulo 7.
Especificado o modelo de modo apropriado, que perspectiva ele nos oferece? Mais
detalhadamente, considerando que os agentes R e S, não obstante suas preferências iniciais
condicionadas por seus atributos e dotações, podem escolher livremente entre as ações/
procedimentos/tecnologias A e B, como será a estrutura final de longo prazo: será dominada por
A ou por B; a dominante, A ou B, é a melhor; ou será dividida entre as duas, em que proporções?
Para responder a isso é necessário esclarecer sob que condições os agentes mudam. Uma
primeira resposta é: os agentes de tipo R, por exemplo, estarão dispostos a mudar sua preferência
de A para B se a adoção de B resulta em payoff final tal que RVB > RVA, o que, substituindo os
valores da tabela anterior, leva a
bR + r. nB. W B > aR + r. nA. W A,
e, portanto, a
122
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
(bR − aR )
dn < (5.5.2-1)
r
Ou seja, há um valor de dn, isto é, da diferença entre a capacidade de controle dos recursos
naturais pelos que adotam A e a capacidade de controle dos recursos naturais pelos que adotam B,
a partir do qual se adotará sistematicamente a tecnologia B.
Por razões equivalente, os agentes de tipo S mudam sua escolha de B para A sistematicamente
se aS + s. nA. W A > bS + s. nB. W B e, portanto,
(bS − aS )
dn > = (5.5.2-2)
s
Os segundos termos das desigualdades (5.5.2-1) e (5.5.2-2) resultam no número de
novas adoções, no primeiro caso, de B, no segundo, de A, necessárias para que os rendimentos
(feed backs) positivos das externalidades, alcançados pelos que adotam, respectivamente,
aquela e esta tecnologias, superem as eventuais vantagens tecnológicas da rival. A partir desse
ponto, uma escolha path efficient será sempre em favor de B e A, respectivamente. Há, assim,
duas barreiras representadas pelas diferenças no número e na capacidade de controle coletivo
dos recursos pelos agentes adotantes das tecnologias e procedimentos em disputa. Aquela
na qual começa a desigualdade descrita em (5.5.2-1) e aquela na qual começa a descrita em
(5.5.2-2). Chamemos esses valores, respectivamente, de DB e DA. Distinguem-se, a partir daí,
três regiões em um plano (dn,n) que representamos na Figura 5-1: há a região II que se situa
abaixo de DB e compreende os pontos da desigualdade (5.5.2-1), a região III que se situa acima
de DA e compreende os pontos da desigualdade (5.5.2-2) e, ainda, há o campo i que fica entre
DA e DB. Nas regiões II e III os valores DA e DB funcionam como barreiras de absorção; no
campo i eles funcionam como barreiras de reflexão de dn.
Se r e s são negativos ou nulos, isto é, se prevalecem rendimentos constantes ou
decrescentes, então dn vagueará pela região I, sem jamais ultrapassar as barreiras DB e DA.
Em tal contexto, considerando a pressuposição enunciada no item 13, a estrutura de longo
prazo seria caracterizada por uma divisão na qual a produção será repartida à base de
50% para cada tecnologia (Arthur, 1994a:22). Nessa circunstância, em que prevalecem os
pressupostos básicos da teoria neoclássica, haveria flexibilidade, de modo que intervenções
de política econômica poderiam corrigir, pela intervenção em r e s, eventuais distorções pela
movimentação das barreiras. Qualquer movimentação, nesse caso, implicaria recolocação dos
parâmetros decisórios, podendo afetar as escolhas. Aqui, posto que a ergodicidade pressuposta
garante path-efficiency nos processos, também se tornaria fácil demonstrar que venceria a
tecnologia mais eficiente ou elas compartimentam a estrutura em condições tais que seus
resultados se igualam.
123
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
No modelo de Arthur, os agentes têm limitado poder de discernimento porque não podem
prever os “pequenos eventos históricos” (Arthur, 1994a:17). Eles são, contudo, bem informados
relativamente aos procedimentos disponíveis para adoção – eles saberiam o que sobre isso
interessa e utilizariam perfeitamente o que sabem. As informações podem ter um custo – uma
vez adquiridas, porém, não apresentariam problema na utilização, não se presumindo erros no
seu emprego. Heiner (1988:148) propõe, em complemento, que a competência do agente de
tomar decisões usando informações não é sempre, necessariamente, suficiente para responder
adequadamente, não importando o grau de dificuldade dos seus problemas decisórios, nem se
há ou não custo de obtenção da informação. Com isso, levanta uma questão que nos interessa de
perto: a de que há uma dimensão especial de incerteza derivada de um gap entre a “competência”
em usar informações e a “dificuldade” própria do seu problema decisório. Crescendo esse gap,
isto é, variando a competência relativamente à dificuldade do problema que envolve a decisão,
o agente tende a se tornar progressivamente conservador, relutando em mudar, mesmo que fosse
para uma posição otimizadora (Heiner, op. cit.:149).
Aumentando o gap de Heiner, crescendo a incerteza associada à confiabilidade e à
dificuldade da informação necessária à mudança, internaliza-se, no processo decisório do agente,
a certeza de que há uma probabilidade de erro diferente de zero. Os erros se expressarão nos
124
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
diferentes payoffs das quatro situações decisórias possíveis para cada agente. Para o tipo de agente
R, já acima apresentado:
a) payoff será aR + r.nA.. W A se ele se mantiver no procedimento A e se verifique a
previsão de que A domine;
b) payoff será bR + r.nB. W B se ele mudar para B e se verifique a previsão de que A
domina;
c) payoff será a’R + r.nA. W A se ele se mantiver no procedimento A e se verifique a
previsão de que B domine;
d) payoff será b’R + r.nB. W B se ele mudar para B e se verifique a previsão de que B
domine.
u B BA .WBA / nB .WB
V = (1− π A ).[qB (bR' + r.nB .WB ) + (1− qB ).(aR' + r.nA .WA ) A ] + π A .[u B (bR + r.nB .WB ) + (1− u B ).(aR + r.nA .WA )]
R B
(5.5.3-3)
R
VB > RVA ou RVB - RVA > 0
quanto mais cresçam uA e uB – quanto mais sejam os casos de conhecimento de insucesso dos
procedimentos sob julgamento.
bS aS
dn
s
DA
D *A
0
Região I
D B*
DB
bR aR
dn
r
Região II em que só B é escolhida
128
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
O modelo discutido deriva a eficiência dos agentes de uma combinação entre ganhos
propiciados pela eficiência produtiva da tecnologia que adota e de externalidades derivadas dessa
adoção. Com tal argumento, enfatiza a apropriação privada de ganhos sistêmicos e as preferências
desses agentes como chave de uma evolução que, sob concorrência orientada por rendimentos
crescentes, poderá eliminar padrões eficientes ao tempo que elege formas subótimas de produção.
Parece-nos razoável mobilizar tal perspectiva para a análise da dinâmica rural na Amazônia,
conduzida que é por distintas razões, cujas propostas podem resguardar hierarquia quando
confrontadas com visões de futuro pautadas em perspectivas sustentáveis de desenvolvimento –
algumas poderão ser defensáveis, pois superiores nessa ótica, outras não.
Não obstante o interessante do enunciado, há questões relevantes para o funcionamento
da metáfora de Athur não totalmente explicitadas em seu modelo. Uma delas diz respeito à
produtividade do ambiente, absorvida pelos agentes como rendimento ou perda; outra diz respeito
aos mecanismos ou regras de apropriação – seja eventualmente por seletividade que habilita certas
unidades produtivas privadas a acessarem ganhos de externalidades inacessíveis a outras, seja por
regras ou mecanismos de proporcionalidade.
Nossa crítica e complementação do modelo atende a essa última questão, uma vez
que traz a possibilidade de considerar distinções dos agentes no que se refere, para além das
“preferências” em relação às tecnologias, traço subjetivo suficiente para Arthur, as dotações
diferenciadas de fatores objetivos: o acesso a elementos da natureza, as disponibilidades
sociais de trabalho, a propriedade de acervos intangíveis de conhecimento, o controle
logístico de fatias de mercado, etc. Nas dotações de recursos fundamentais ou na formação e
manutenção de graus de monopólio em mercados finais ou intermediários se estabeleceriam
as condições de distribuição dos ganhos de externalidades. Quanto à formação destes ganhos,
há a proposição de Kaldor-Verdoorn (Setterfield, 2010), segundo a qual produtividade
crescente deriva de economias de escala dinâmicas. Isto é, formam-se ganhos sistêmicos em
uma economia sempre que sua expansão absoluta permite criar uma capacidade produtiva
nova ou expandir a existente sob condições de maior produtividade do que se verificava
antes – quando se importava o produto ou se o produzia em menor escala. O crescimento em
tamanho aprofundaria a divisão social do trabalho com efeitos sobre a produtividade – em
dinâmica, aliás, já apontada por Adam Smith em A Riqueza das Nações. Kaldor (1966) aduz
como fator de formação de ganhos de externalidade o aprendizado difuso que se faz como
decorrência das oportunidades associadas a uma expansão.
Essses princípios vêm sendo retomados em esforços recentes de tratar a dinâmica econômica
com ênfase em categorias e modelos keynesianos a partir da noção de regime de crescimento,
desenvolvido pela Escola da Regulação Francesa (ERF) (Boyer, 1988; Boyer e Petit, 1991). Pós-
keynesianos sugerem como princípios condicionantes de um regime de crescimento três elementos:
1) o regime de demanda (RD), que descreve os determinantes dos componentes da demanda; 2) o
129
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Capítulo 6
Diversidade estrutural e Trajetórias Tecnológicas:
uma delimitação empírica
Apresentamos até aqui aspectos que entendemos relevantes de uma convergência teórica
particularmente fértil. Já observada para tratamento de múltiplas questões por autores diversos, trata-
se de aproximações entre elementos da tradição schumpeteriana e da tradição keynesiana (apontada
por Possas, 2001), com elementos importantes da tradição marxista, através de Kalecki (também
Possas, bem antes, 1999) e da Escola da Regulação Francesa (Boyer, 1988), com abordagens
da Nova Economia Institucional, do Crescimento Endógeno e do Desenvolvimento Endógeno
(apontados em Castro, 2004; detalhados em Conti, 2002 e Barquero). Os resultados oferecem
perspectivas inteiramente novas na observação da dinâmica das relações ação/agente-estrutura/
agência. Os desenvolvimentos dessa heterodoxia que destacamos acima, de uma perspectiva, ao
considerar endogenamente os constrangimentos institucionais, permitem fugir da racionalidade
padrão e substantiva do agente que fundamenta a tradição neoclássica (Prado, 1993), da qual a crítica
da inovação induzida (ver 5.2) é ligeiro desvio. De outra, ao garantir aos agentes graus de liberdade
que os tornam sujeitos na construção do mundo – na configuração de suas estruturas e manifestações
institucionais – limitam os arroubos teóricos que atribuem poder absoluto às estruturas.
Do esforço, têm emergido programas de pesquisa orientados pelas mesmas hipóteses que
aqui nos norteiam: a conformação de uma dada realidade social tem um momento fundamental
130
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
na combinação dos meios disponíveis para produção e para a gestão da produção em tecnologias
geradas e difundidas em processos nos quais agentes heterogêneos, caracterizados por racionalidades
distintas e limitadas, no sentido (forte) de Simon (1983) e de Vernon Smith (2010), tomam decisões
no interior de estruturas que se movem em ambientes de incerteza, no sentido (radical) de Keynes
(1970), marcados a) por dinâmicas competitivas cujo estado dominante é o do desequilíbrio entre as
forças decisivas e, a ele associado, b) por uma considerável complexidade e diversidade institucional
(Nelson e Winter, 1982). Em tal contexto, c) decisões de mudança e inovação associam-se a processos
de aprendizado que “...podem ser vistos como competição dinâmica entre diferentes hipóteses ou
crenças ou ações” (Arthur, 1994a: 133) – materializadas em trajetórias tecnológicas.
Nos próximos segmentos deste capítulo trataremos operacionalmente enunciados
decisivos nessa construção. Em um primeiro momento, discutindo a operacionalidade do conceito
de diversidade de agentes e heterogeneidade das estruturas que articulam; num segundo, situando
tal distinção na delimitação e qualificação de trajetórias tecnológicas do setor rural na Amazônia.
Accesso a
“Eficiência Terra -
capital
Reprodutiva” Consistência Firme
C Natureza Morta, “Property dinheiro
subordina Inter-temporal
a natureza como Rights” Accesso a
“Eficiência das decisions
m Marginal do matéria prima Garantidos conheci-
(sim/não) Várzea
p Capital” mento
o (decisões codificado
n pautadas e multi- Accesso a
e critério, tradeoff Terra -
capital
média/variança Consistência Firme
s Natureza viva, dinheiro
da renda, da Inter-espacial Status de
e natureza como Accesso a
oferta/segurança das decisões Fronteira
s força produtiva conheci-
alimentar, etc.) (sim/não) Várzea
mento
codificado
Accesso a
Terra -
capital
Consistência Firme
Natureza Morta, “Property dinheiro
P Inter-temporal
Rights”
“Eficiência das decisions natureza como Accesso a
a matéria prima Garantidos
Marginal do (sim/não) conheci-
t Várzea
mento
Capital” (renda
r líquida codificado
o descontada) Accesso a
n subordina Terra -
capital
a “Eficiência Consistência Firme
Natureza viva, dinheiro
i Reprodutiva” Inter-espacial Status de
natureza como Accesso a
s das decisões Fronteira
força produtiva conheci-
(sim/não) Várzea
mento
codificado
amazônica) e nas proporções de uso de capital físico e de trabalho. Aprofundamos essa percepção
no Capítulo 3, quando detalhamos os sistemas de produção próprios de cada modo de produção
e observamos os diferentes impactos entrópicos indicados pelos respectivos balanços de CO2.
Nessas condições, esses dois conjuntos de empresas e seus modos de produção parecem
constituir expressões concretas dos agentes diferenciados por “preferências tecnológicas”
associadas a “dotações distintas de recursos” que, com Arhur, e criticando-o, tratamos teoricamente
nas seções 5.3.1 e 5.3.2. Colocamo-nos, então, duas questões: a) Podemos, com os dados que nos
são disponíveis, decompor tais “projetos” em trajetórias tecnológicas? b) Se logramos delimitar
trajetórias, podemos situá-las na perspectiva mais ampla dos paradigmas tecnológicos que
fundamentam o desenvolvimento do industrialismo capitalista? e c) Podemos imbricar nessas
categorias as questões relevantes de conhecimento e de política? Nos próximos segmentos nos
dedicamos a responder a esses quesitos.
6.2.1 Os dados disponíveis e a noção de trajetória: o ponto, seu entorno, seu trajeto mais provável
Temos dois tipos de dados que cobrem o setor rural da totalidade da Região Norte: os censos
agropecuários, com mais de duas centenas de variáveis sobre relações de propriedade, relações
sociais e técnicas, estruturas de produção e venda, etc. e os acompanhamentos conjunturais, com
periodicidade anual (Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção
Pecuária Municipal, etc.
Os Censos são as mais amplas pesquisas de que dispomos, com metodologia uniforme
em cada edição, e os acompanhamentos anuais, por sua vez, os mais amplos e sistematicamente
levantados indexadores de algumas das variáveis constantes dos censos. Os dados de um censo
referem-se, para cada variável, a pontos de trajetos percorridos pelos estabelecimentos. Sabemos
que tais caminhos são conformados por ajustamentos contínuos naquela variável, processados
no passado, que definirão tendencialmente seus próximos momentos. Mas, para aquela variável
específica, só vemos o ponto. A questão metodologicamente relevante é: podemos dizer algo
mais, além daquilo que vemos no ponto? Podemos dizer algo sobre o caminho do qual este ponto
é uma passagem, como se exige a partir das ideias apresentadas na introdução deste segmento?
A resposta a essa pergunta tem duas partes. A primeira depende do próprio Censo, a
segunda da relação entre o Censo e os acompanhamentos conjunturais. Se Xt é uma variável
do Censo, com t representando o ano de levantamento, do mesmo modo que XPt e XFt o são,
a primeira informando sobre o passado de X e a segunda sobre seu futuro, então podemos
dizer algo sobre a trajetória de X: ele está vindo de um provável Xt-n informado por XPt, e,
passando por Xt, indo para um provável Xt+m, informado por XFt, onde n e m são lapsos de tempo
indefinidos, porém reais. Por outra parte, se Xt, no Censo, tem em xt, levantada em pesquisa
conjuntural, porém sistemática, uma proxy, pode-se considerar – com margem de erro que
depende da qualidade da pesquisa – que Xt-n = Xt.(xt-n/xt) e Xt+n = Xt.(xt+n)/(xt), sendo n um lapso
de tempo definido e real.
Usaremos exaustivamente essas possibilidades metodológicas.
134
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
4 Daqui por diante essa será uma referência recorrente. Com ela pretendemos designar o conteúdo empírico do tipo de informação
relativa à produção disponível no Censo Agropecuário, que é o valor agregado da produção classificada por origem: se produção
animal ou vegetal, e, no interior da primeira, se da pecuária de grande, de médio e pequeno porte; no interior da segunda, se de plantios
de culturas temporárias, permanentes, silvicultura, etc. Não seria errado presumir, desde o início, que debaixo desses conjuntos de
produtos sob essas classificações encontram-se sistemas ou subsistemas de produção – presumimos, portanto, sistematicidades a priori
desses conjuntos de produtos, per si, a serem integradas nos sistemas maiores pelas trajetórias que pretendemos delinear. Todavia, não
explicitaremos tal presunção até darmos outros passos na investigação que nos permitam qualificar melhor os grupos de produtos e,
por essa via, aprender mais sobre natureza e forma dos sistemas que eventualmente representem ou integrem.
135
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
e por essa via a relevância social (para o todo da economia em questão) da trajetória que lhe
é subjacente – seu peso na configuração da divisão social do trabalho. Segundo, a capacidade
de um dado conjunto de produtos de compensar os gestores dos processos produtivos revela
sua eficiência e, em consequência, a eficiência da trajetória de que participa na realização
subjacente dos anseios privados – sua relevância microeconômica privada. Deve-se notar
que esses dois pontos podem guardar relação dinâmica. Terceiro, se um grupo de produtos
revela-se fonte de investimentos, ele é base da capacidade de expansão da trajetória que lhe
é subjacente.
Conhecidas a relevância social e privada dos grupos de produtos, bem como se os mesmos
constituem-se fonte de investimentos, oito combinações lógicas são possíveis, as quais permitem
inferências na qualificação dos modos como participam das trajetórias que as fundamentam, tal
como indicadas na última coluna da Tabela 6.3-1. Essas combinações constituem interesse para
análise em maior detalhe, o que faremos nas próximas seções.
Tabela 6.3-1 – Classes dos grupos de produtos e expectativa quanto às formas respectivas de
participação nas trajetórias tecnológicas subjacentes
Atributos dos grupos de produtos Classe do
produto ou
grupo de Expectativa quanto ao modo de participação
Possibilidades Socialmente Compensação Fonte de produtos na trajetória subjacente
relevante privada positiva investimento quanto aos
seus atributos
Posição principal, influenciando na expansão de
1 Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro G1 modo consistente e com capacidade endógena de
desenvolvimento
Posição principal, influenciando na expansão de modo
2 Verdadeiro Verdadeiro Falso G2 consistente, porém sem capacidade endógena de
desenvolvimento
3 Verdadeiro Falso Falso G3 Posição principal, porém inconsistente e decadente
4 Falso Falso Falso G4 Decadente ou ad hoc ou experimental
Emergente com capacidade endógena de
5 Falso Verdadeiro Verdadeiro G5
desenvolvimento
6 Falso Falso Verdadeiro G6 Subordinado, podendo se constituir financiador
7 Verdadeiro Falso Verdadeiro G7 Principal, inconsistente ou subordinada como financiador
Emergente, sem capacidade endógena de
8 Falso Verdadeiro Falso G8
desenvolvimento
suas disponibilidades (as quais derivam de eventos históricos em que mediações institucionais
outras, que não apenas o mercado, têm fundamental importância) e ofertam, como resultado dessas
configurações, produtos diferentes. As interações trabalho-natureza, mediadas por conhecimentos
e por meios materiais de produção, constituem os fundamentos técnicos das formas de produção.
As diferentes composições de produtos que formam o valor da produção final, por seu turno,
expressam as formas como tais combinações de disponibilidade se justificam socialmente – como
as formas de produção participam da divisão social do trabalho organizada por mercados amplos
– locais, regionais, nacional e mundial.
lineares derivadas de (6.3.1-1) expressas em z-scores, isto é, não no seu valor original, mas sim,
no número de desvios-padrão em torno da média (Bühl e Zöfel, 1996: 197-98; Backhaus et al ,
2000:18-19; Hair et al, 1998: 147).
C
Por exemplo, BPC corresponde ao número de desvios-padrão que BC varia em torno de
C
sua média para uma variação de 1 desvio-padrão em YPC em torno da sua própria média, enquanto
C C
que a soma de todos os coeficientes em YB representaria o número de desvios padrão que
a variável dependente variaria em torno da sua média quando todas as variáveis independentes
C
variassem 1 desvio-padrão. Assim, os podem ser comparados diretamente na explicação do
que ocorre em YBC .
6.3.3 Influência dos grupos de produtos nos investimentos: fontes endógenas e exógenas
5 A rigor, as regressões especificadas pelas funções de tipo (7-1) produzirão betas necessariamente positivos dado que os valores
estatísticos da variável dependente são totalizações das variáveis independentes.
140
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
privada positiva1
do
Compensação
Grupos de produtos:
investimento
Socialmente
Grupo de
C1 C2 C3 C4 C5
relevante1
j Produtos
Fonte de
1 2 3
i
Até agora estudamos grupos de produtos, como fenômenos que nos são apresentados
pelas estatísticas do Censo. Qualificamo-los isoladamente mediante atributos: se têm peso
elevado, se são rentáveis, se fundamentam investimentos, essas são suas qualidades como
142
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
grupos de produto. Como sabemos que esses grupos de produtos são expressões de trajetórias,
inferimos que eles subsidiarão as trajetórias de que fazem parte com esses seus atributos que
nos foram revelados pela análise precedente. Mas isso não é suficiente para reconhecermos
que trajetórias são essas. Isso porque as trajetórias (estruturas em reprodução evolutiva em
contexto econômico e institucional específico, as quais emitem sinais em seu percurso)
podem se expressar em mais de um grupo de produto – podem emitir diferentes sinais de seu
movimento. Isto posto, precisamos verificar se há combinações de sinais que possam, como
um sistema de fenômenos, dizer mais sobre os processos e aparatos produtivos subjacentes:
as trajetórias.
Assim, qualificados os grupos de produto quanto ao papel que podem desempenhar
nas trajetórias de que fazem parte, as questões que se colocam são: em que medida e de que
modo esses produtos ou grupos de produtos relacionam-se entre si? Caracterizam tais relações
interdependência sistemicamente justificáveis, inteligíveis na perspectiva evolucionária que
caracterizam as trajetórias?
Dois tipos de relações podem ocorrer de modo a caracterizar interdependência e,
assim, indicar participação em uma mesma trajetória: relações de sucessão e relações de
concomitância entre grupos de produtos diferentes. No primeiro, um grupo de produtos evolui
nutrindo-se, por assimilação – e, portanto, anulação – do outro; na segunda evolui nutrindo-se,
por sinergismo – e, portanto, mútuo fortalecimento –, do outro. Há uma terceira relação – a
de concorrência, em que um evolui concorrendo pelo espaço (físico ou de mercado) do outro.
Nesse caso, os produtos ou grupo de produtos pertenceriam a trajetórias diferentes.
Verificar a interdependência ou concorrência entre os grupos de produtos e avaliar o
significado no delineamento das trajetórias, propriamente, será a tarefa deste segmento. Para
tanto, é necessário observar as estruturas de correlações existentes entre os dados de produção
dos grupos de produtos. A análise fatorial constitui ferramenta importante para esse tipo de
tarefa. Trata-se de técnica de análise estatística multivariada que visa identificar estruturas
subjacentes em um conjunto de variáveis observadas, permitindo dois tipos de resultados: a
sumarização e a redução de dados (Backhau, Erichson, Plinke,Weiber, 2000:252-327).
Nos processamentos de sumarização, são explicitadas as variáveis latentes (os fatores)
pelos padrões de variabilidade das variáveis manifestas (reais) e as cargas fatoriais de cada
variável em relação ao fator. Um fator é um construto, uma entidade hipotética, uma variável
não observada cuja realidade reside apenas no fato de explicar a variância de variáveis
observadas. As cargas fatoriais obtidas são coeficientes que expressam o quanto uma variável
observada está carregada ou saturada em um fator.
Em processamentos de redução, os fatores podem ser transformados em variáveis
inteiramente novas que podem ser incluídas em análises subsequentes. (Hair, Anderson,
Tatham, Black, 1998:95)
Submetemos à análise fatorial o VBP dos grupos de produtos que se mostraram, na
análise anterior, socialmente relevantes para a produção total: 7 grupos da produção patronal
143
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Para tratar essa questão, as informações relativas ao crédito agropecuário no Censo têm
significado especial, pois expressam bem mais do que recursos de empréstimo. É que, na agricultura,
o crédito é fundamentalmente crédito de fomento e, como tal, mecanismo de política. De modo que,
em torno dele, movimentam-se outras políticas – suas instituições e organizações mediadoras – sendo
as mais notórias as de pesquisa tecnológica e as de assistência técnica (ver capítulo 1, especialmente
as seções 1.2.4 e 1.2.6). Ademais, o crédito reflete o estado geral do ambiente institucional nas áreas
rurais. Pois, onde há políticas de ordenamento territorial, há crédito; onde as relações de propriedade
da terra são dúbias, não há crédito; ou, se existe apesar disso, há algum tipo de organização ou arranjo
institucional que o garante. Desse modo, a variável crédito pode ser vista como proxy das relações
institucionais dos agentes e suas formas produção. Ademais, quando o Censo Agropecuário realizou-
se, em 1995, a política de crédito baseada nos Fundos Constitucionais vigia há sete anos, sendo o
FNO a mais importante política rural em andamento na região (Costa, 2005a e 2008e).
Adotamos, por isso, um Índice de Densidade Institucional (IDI) a partir do crédito, o qual
resulta da divisão entre participação percentual das “Combinações C de Grupos de Produtos” no
crédito (% que acessaram do crédito total) e a participação respectiva no VBP rural (% do VBP
rural). Na Tabela 6.3.6-1, estão os resultados desse procedimento, considerando a ocorrência da
“Combinação C” no espaço. Se o valor do IDI for maior que 1 significa que a combinação C acessou
mais crédito do que sua importância econômica, permitindo inferir que teve um ambiente institucional
que a favoreceu na razão direta do valor do IDI.
Tabela 6.3.6-1 – Índice de densidade institucional1 das combinaçãoes C de grupos de produtos por
mesorregiões e estados
Localização Geográfica Combinações (fatores) por forma de produção:
Patronal Camponês Total
Estado Mesorregião C1 C2 C3 C4 C5 C1 C2 C3 C4 C5
Vale do Acre 0,00 1,27 0,00 0,96 0,68 1,16 0,88
Acre
Vale do Juruá 4,11 1,32 0,02 0,27 0,33
Norte do Amapá 0,67 0,00 0,07 0,26 0,00 0,35
Amapá
Sul do Amapá 0,00 1,02 0,27 0,00 0 , 0 4 0,05 0,03 0,61
Centro Amazonense 0,40 1,00 1,96 15,17 0,23 0,11 0,24 0,14 0,21 0,52
Amazonas Norte Amazonenense 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Sudoeste Amazonenense 0,55 0,36 0,01 0,13 0,15 0,44 0,22
Sul Amazonense 0,00 1,03 0,06 0,00 1,11 0,68 0,55
Baixo Amazonas 3,38 2,44 0,00 0,52 0,39 0,50 0,25 0,22 0,03 0,51
Marajó 0,18 0,31 0,04 0,02 0,08 0,06
Metropolitana de Belém 0,30 - 0,65 0,43 0,26 0,33
Pará
Nordeste Paraense 0,57 1,29 0,03 11,73 0,39 0,57 0,07 0,10 1,12
Sudeste Paraense 0,89 18,44 1,83 0,33 0,89 1,61 0,53 0,59 0,87 1,44
Sudoeste Paraense 1,87 0,78 1,79 0,38 1,90 0,38 0,34 1,62
Leste Rondoniense 0,56 1,14 0,81 0,73 0,61 0,05 0,47 0,16 0,84 0,64
Rondônia
Madeira-Guaporé 1,58 0,57 3,65 6,44 0,77 0,95 0,26 1,86 3,21
Norte de Roraima 2,44 1,44 - 0,63 1,44 0,47 0,65 1,02
Roraima
Sul de Roraima 0,16 1,13 8,11 2,37 1,51 0,57 6,19 2,26
Ocidental do Tocantins 1,77 2,75 4,17 0,22 1,30 1,76
Tocantins
Oriental do Tocantins 2,63 1,92 2,30 2,01 0,68 0,71 1,59
Total 1,39 2,67 0,83 1,75 2,34 0,83 0,43 0,23 0,30 0,67 1,00
Fonte: IBGE-Censo Agropecuário 1995-96. Processamentos especiais do autor. – Participação relativa do crédito 1
148
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
6.3.7 Evolução das “Combinações C dos Grupos de Produtos” por uma década
Tabela 6.3.7-1 – Números Índices da evolução do Produto Real dos grupos de produtos – Região
Norte, 1995 a 2004 ( 1995=1)
Grupos de Produtos 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Pecuária de Corte 1,00 0,96 1,03 1,12 1,19 1,31 1,46 1,62 1,81 2,13
Pecuária Leiteira 1,00 0,70 0,80 0,88 0,93 1,00 1,03 1,28 1,39 1,56
Culturas Permanentes 1,00 0,92 0,85 0,86 1,05 1,09 2,74 3,02 3,16 2,77
Culturas Temporárias 1,00 0,86 0,96 0,96 1,11 1,11 1,15 1,18 1,51 1,50
Produtos Madeireiros 1,00 0,87 0,91 0,90 1,07 1,06 1,03 1,06 1,19 1,23
Produtos Não Madeireiros 1,00 0,83 0,89 0,98 1,04 1,06 1,30 1,34 2,16 1,90
Silvicultura 1,00 0,99 0,87 1,95 1,83 1,82 1,80 1,92 2,12 2,53
Fonte: IBGE, Estatísticas Agrícolas Municipais (PAM), Estatísticas Pecuárias Municipais (EPM), Produção Extrativa
Vegetal, Pesquisa Pecuária Municipal.
Notas metodológicas:
1. Todos os estados da região Norte.
2. Produto Real é o um indicador do movimento de quantidades agregadas obtido pela multiplicação das quantidades
de todos os anos por um vetor de preço fixo, no nosso caso a média dos preços de 1994 a 1996. Para Culturas
Permanentes, Culturas Temporárias, Produtos Madeireiros e Não madeireiros e Silvicultura: consideraramos todos
os produtos acompanhados pelo IBGE nos respectivos grupos. Para Pecuária Leiteira consideramos o número de
vacas ordenhadas. Para Pecuária de Corte, consideramos o rebanho total menos o número de vacas ordenhadas.
150
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 6.3.7-1 – Evolução do Produto Real das combinações C de grupos de produtos da forma
de produção patronal – 1995-2004 (números índices, 1995=100)
3
2,5
Números Índices (1995 = ')
1,5
0,5
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Patronal.C1 (8,7% a.a.) 1 0,91 0,98 1,05 1,13 1,22 1,38 1,54 1,74 1,96
Patronal.C2 (11,0% a.a.) 1 0,92 0,94 0,99 1,1 1,16 1,73 1,88 2,03 2,05
Patronal.C3 (11,1% a.a.) 1 0,99 0,87 1,95 1,83 1,82 1,8 1,92 2,12 2,53
Patronal.C4 (8,0% a.a.) 1 0,89 0,97 1,03 1,12 1,19 1,32 1,45 1,68 1,85
Patronal.C5 (6,6% a.a.) 1 0,92 0,98 1,02 1,11 1,17 1,27 1,37 1,53 1,67
2
Números Índices (1995 = 100)
1,5
0,5
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Camponês.C1 (10,0% a.a.) 1 0,88 0,92 0,95 1,07 1,11 1,53 1,66 1,91 1,92
Camponês.C2 (9,2% a.a.) 1 0,88 0,93 0,95 1,08 1,09 1,46 1,52 1,9 1,82
Camponês.C3 (6,9% a.a.) 1 0,87 0,92 0,94 1,07 1,08 1,26 1,33 1,56 1,58
Camponês.C4 (8,4% a.a.) 1 0,88 0,93 0,97 1,06 1,08 1,36 1,43 1,81 1,75
Camponês.C5 (7,6% a.a.) 1 0,87 0,95 0,98 1,09 1,12 1,29 1,38 1,66 1,7
151
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Tabela 6.4-1 – Características das Trajetórias Tecnológicas prevalecentes no setor rural da Região
Norte
Trajetórias
Trajetórias/
Camponês Patronal
Características
T1 T2 T3 T4 T5 T6 1995
Número de Estabelecimentos 171.292 130.593 109.405 27.831 4.444 3 443.568
Camponês.C1 1.521.615 - - - - - 1.521.615
Camponês.C2 634.457 - - - - 634.457
Camponês.C3 292.826 - - - - - 292.826
Combinações C
Camponês.C4, essa trajetória se faz tendo como base o extrativismo não madeireiro
em combinação com agricultura diversa: cujos resultados são sistemas agroflorestais.
Seria expressão de um paradigma – no qual os processos produtivos pressupõem,
em algum nível, a preservação da natureza originária. Convém informar que essa
trajetória não tem sido captada pelas análises que fizemos nos capítulos precedentes.
»» Seguem essa trajetória 130.593 estabelecimentos camponeses na Região Norte
que controlam 3 milhões de hectares – dos quais apenas 1/5 aplicados em uso
agropecuário – e ocupam 502 mil pessoas.
»» A produtividade monetária por trabalhador em 1995 é a menor de todas as trajetórias
protagonizadas por camponeses, mas a produtividade por área é a maior de todas –
posto que, a relação terra/trabalho é de apenas 5,99 hectares por trabalhador. Esta
trajetória terá protagonismos destacado nas análises do capítulo 10.
a que Pertence”, e atribuímos a cada caso a respectiva trajetória. Para todos os procedimentos
posteriores que resultaram no novo banco de dados BD-C, também esclarecido nas notas
metodológicas do mesmo Gráfico 2-1, mantivemos o atributo da variável “Trajetória Tecnológica
a que Pertence” encontrado no BD-A. De modo que, um estabelecimento encontrado em 1995 na
trajetória X foi mantido nessa mesma trajetória para todos os anos modelados.
Isso feito, pudemos decompor a evolução das grandezas da economia agrária da Região
Norte apresentadas no Capítulo 2 pelas trajetórias tecnológicas reveladas, acima apresentadas.
O Gráfico 6.5-1 apresenta um resultado desse exercício: a evolução da macrovariável VBPR
total da Região Norte, apresentada no Gráfico 2-1, agora definida por estruturas diversas em
evolução no fulcro de trajetórias tecnológicas. Assim, nos é dado observar que o ritmo de
crescimento de 4,6% do VBPR que mostramos no Capítulo 2 resulta de diferentes performances
de crescimento das trajetórias distintas delineadas em 6.4:
Gráfico 6.5-1 – Evolução do Valor Bruto da Produção Rural(VBPR) da Região Norte decomposto
pelas trajetórias tecnológicas fundamentais, 1995-2007, Reais constantes de 2005.
10.000.000
9.000.000
8.000.000
7.000.000
R$ 1.000,00
6.000.000
5.000.000
4.000.000
3.000.000
2.000.000
1.000.000
0
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Ano
158
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Importa agora tratar das condições sob as quais esses diferentes ritmos se justificam
e, explorando as carracterísticas de cada uma das trajetórias, observar as questões relativas à
eficiência econômica e ecológica para indicar o que representam na qualificação da dinâmica
global. É o que faremos nos próximos segmentos.
Sob outra perspectiva, são resultados da colonização dirigida nos anos setenta em Rondônia, em áreas
expressivas onde ocorreram assentamentos de reforma agrária no Sudeste do Pará. Por fim, desde início
dos anos noventa, em todas essas regiões, agora impulsionadas pelo crédito do FNO (ver nesta coleção,
Costa, 2012b). Sobre suas características e evolução recente trata a seção 6.6.1.
De todas as trajetórias, a de origem mais remota no tempo é a Trajetória-Camponesa.T2 , à
qual dedicaremos o subcapítulo 6.6.5. A T2 é baseda em sistemas que convergem para agloflorestania
por dois caminhos: a passagem da (quase) exclusiva valorização de bens e serviços do bioma para
uma economia mista com a incorporação crescente de manejo florestal, agricultura e aquicultura, ou o
contrário, de uma atividade (quase) exclusivamente agrícola que incorpora crescentemente elementos
florestais e resconstitutivos de funções do bioma. No primeiro formato, essa trajetória se instalou na
Região na segunda metade do século XVIII, com as reformas pombalinas (ver Costa, 2010 e 2012d).
Isso explica sua forte presença hodierna nas mesorregiões Norte, Sul e Sudoeste Amazonense, bem como
no Médio Amazonas, na Região Tocantina do Nordeste Paraense e na Região das Ilhas do Pará, lugares
de intensa vida colonial. Nos movimentos expansivos importantes que experimentou em diferentes
ocasiões historicamente relevantes, como na fase que segue ao “ciclo da borracha”, em que seringais
se transformaram em economias camponesas extrativas, ou novas economias – como a da castanha do
Pará – se constituíram, a Trajetória-Camponesa.T2 estabeleceu suas bases ainda hoje importantes no
Vale do Acre e no Sudeste Paraense. Mais recentemente, tanto no Sudeste como no Sudoeste Paraense,
cresce a T2 com a abertura de novas áreas que se formam na esteira de infraestruturas produzidas nas
décadas de sessenta e setenta e, por último, como estratégias conduzidas por um número crescente
de estabelecimento camponeses, de regeneração de áreas agrícolas com maior ou menor grau de
degradação.
A Trajetória-Camponesa.T3, que enfatiza a criação de gado para corte, tem dupla origem. A
mais remota refere-se à pecuária de várzea em regiões de colonização muito antiga da Amazônia, em
territórios onde também se faz presente a T2. É o caso do Centro, Sul e Sudoeste Amazonense, do Baixo
Amazonas e do Vale do Acre (conf. 6.6.5 e 6.6.6). Mais recentemente, ela tem se desenvolvido nas
regiões Sudeste Paraense e Ocidental do Tocantins, um tanto geminada à T4. A simbiose entre a T3 e a
T4 é demonstrada, nas regiões novas, pelos trabalhos de Solyno Sobrinho (2004), Reynol, Muchagata,
Topoll, Hebette (1996) e Américo, Vieira, Santos, Veiga (2010). Dedicaremos às condições de evolução
recente da trajetória T2 , a seção 6.6.6.
As Trajetória-Patronal.T4 e Trajetória-Patronal.T6, objetos, respectivamente, das seções
6.6.1 e 6.6.3, emergiram como resultados das políticas dos anos sessenta e setenta de inserção da
região nas dinâmicas da formação brasileira em processo acelerado de modernização agrícola. A
T4, baseada em pecuária de corte por fazendas, é distinta da criação de gado na várzea e também da
pecuária do Marajó. Tanto que tem presença irrelevante no Marajó e no Baixo Amazonas. Por outro
lado, ela também não é um desenvolvimento das estruturas implantadas pela política de incentivos
fiscais da SUDAM, não obstante está com elas relacionada. A T4, como referência estrutural da
dinâmica rural nos anos noventa e seguintes, tem sua gênese nas fazendas que se formaram em
torno dos projetos da SUDAM, em muitos casos por iniciativas de agentes a eles associados – seus
160
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
gerentes e trabalhadores. A esse fenômeno dedicamos parte do livro já citado (Costa, 2000a). Para
a compreensão da gênese dessa trajetória, dois outros trabalhos são aqui de interesse: Fernandes
(1999) e Américo (2010). A Trajetória-Patronal.T6, por seu turno, não obstante ocupar extensas
áreas e apresentar relevância estatística nas variáveis consideradas, se configura em construção ad
hoc. Sua gênese recente, nos anos setenta, se deve à iniciativa de umas poucas empresas visando aos
incentivos então vigentes para reflorestamento.
A Trajetória-Patronal.T5, de plantation empresarial, teve experimentos importantes bem
distantes no tempo, apesar de recentes quando comparados à T2 . A experiência de Henry Ford
no Tapajós, nos anos vinte do século passado, com o intuito de plantar seringueiras, foi pioneira.
A este marcante evento dedicamos estudo publicado em 1991, reedidato nesta coleção (Costa,
1991 e Costa, 2012x). Experiências posteriores de plantio de dendê e de borracha, por incentivos
da política de governo nos anos sessenta e setenta, foram tratadas por nós em outra obra (Costa,
2000a). Mais recentemente, a T5 vem contando com incentivos creditícios à produção de palmas,
como o dendê, a pupunha e o açaí. Sobre as condições hodiernas da T5 tratará a seção 6.6.2.
O esquema abaixo resume o que concluimos no subcapítulo 6.4 sobre a lógica de formação
e reprodução da Trajetória-Patronal.T4:
como da Trajetória-Patonal.T4, isto é, ao ponto em que poderíamos tê-los como transferidos para outra
trajetória conhecida, porém diferente daquela em que se encontrava em 1995 ou, eventualmente, se
transmutado, de modo a constituir trajetória sequer revelada naquele momento?
Ao observarmos a composição da produção do conjunto dos estabelecimentos assinalados na
Trajetória-Patronal.T4 evidenciaram-se fortes sinais de que esse poderá ter sido o caso: as culturas
temporárias tiveram seu peso praticamente duplicado entre 1995 e 2006, saindo de 14% para 26% na
média de todos os estabelecimentos, ao passo que o extrativismo madeireiro se aproximou de zero
e a pecuária de corte caiu de 59% para 54% no mesmo período. A par disso, o grau de diversidade,
embora baixo, cresceu continuadamente no período – contrariando a expectativa de especialização
(ver Gráfico 6.6.1-1). Alertados por esses sintomas, submetemos todas as linhas do BD-C (cada ano
da atualização de cada caso do BD-A, conf. notas metodológicas do Gráfico 2-1) ao seguinte teste: se
o valor bruto da produção de culturas temporárias for maior que valor bruto da produção de pecuária
de corte, então o caso em tela mudou para outra trajetória, a saber a Trajetória-Patronal.T7, uma nova
trajetória na qual sistemas patronais provavelmente convergiram para culturas temporárias; se menor,
o caso se mantém na Trajetória-Patronal.T4. A emergência do que poderá ser a Trajetória-Patronal.T7
seria compatível com as indicações, por fontes diversas, do crescimento da importância da produção
de grãos, particularmente soja, mas também milho, em diferentes áreas da Região Norte.
Pecuária de carne
Culturas temporárias
Pecuária de leite
Extrativismo madeireiro
Animais de pequeno porte
Culturas permanentes
Extrativismo não madeireiro
Animais de médio porte
Horticultura
0,35 1990
Índice
1995
de 0,372
2000
diversidade 0,383
2006
0,39
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas no Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.
segunda. Ou, novos agentes adentraram o setor rural na Região Norte, substituindo, nos mesmos
terrenos, os agentes da T4 por empreendimentos característicos da T7, ou, estes se expandem nas
regiões daqueles – nas microrregiões onde evoluía tradicionalmente a T4, agora se agregam novos
estabelecimentos da T7. Os resultados apresentados no Gráfico 6.6.1-2 são incisivos a respeito
disso. Com efeito, a força de trabalho reduz a -2,5% e a absorção de terras praticamente estagna
na T4, enquanto esses pressupostos da produção cresceram aceleradamente na outra. O VBPR
da nova trajetória cresceu também rapidamente, atingindo R$ 804.271 mil, a preços de 2005, na
média dos 3 últimos anos, representando nesse momento acima de 1/3 do VBPR de R$ 2.124.065
mil atribuível à Trajetória-Patronal.T4 – sua gênese e concorrente. Por outro lado, observadas
isoladamente no final do período, a T4 apresenta uma alta especialização em pecuária de corte,
cujo peso corresponde a 80% do VBPR; na T7, por seu turno, as culturas temporárias se situam
ao redor de 70% do VBPR respectivo. Esses resultados são convergentes.
A - Trajetória-Patronal.T4 B - Trajetória-Patronal.T7
R$ 1.000,00 e Trabalhador
20.000
Equivalente
4.000
1.500.000
1.000 Ha
1.000 Ha
15.000 500.000 3.000
1.000.000
10.000 2.000
250.000
500.000 5.000 1.000
0 0 0 0
1990
1993
1996
1999
2002
2005
1990
1993
1996
1999
2002
2005
Valor Bruto da Produção (VBP): 2,5% a.a. Valor Bruto da Produção (VBP): 24% a.a.
Rendimento Líquido (RL): 4,3% a.a. Rendimento Líquido (RL): 61,7% a.a.
Trabalhadores Aplicados (T): -2,5% a.a. Trabalhadores Aplicados (T): 18% a.a.
Terra Trabalhada (AT): 0,2% a.a. Terra Trabalhada (AT): 19,5% a.a.
Terra em Operação (AO): 0,4% a.a. Terra em Operação (AO): 19,6% a.a.
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.
163
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
19.000
17.000 140
(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha
15.000
(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha
120
13.000
100
11.000
9.000 80
7.000
60
5.000
3.000 40
1.000
20
-1.000
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
-3.000 0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
-5.000
164
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
200
190
180
170
160
(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha
150
140
130
120
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.
165
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
0,4
200,0
CO2/ha
0,3
R$/CO2
0,2
150,0
0,1
0,0 100,0
1990
1993
1996
1999
2002
2005
1990
1993
1996
1999
2002
2005
-0,1
Trajetória-Patronal.T4 (VBP/CO2): 2,2%a.a. Trajetória-Patronal.T4 (CO2/AT): 0,03% a.a.
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.
No que se refere aos balanços líquidos de CO2, a trajetória emergente T7 foi responsável
por 20% e a T4 80% do balanço líquido total do último triênio considerado. Por outra parte,
166
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
iguais; o COPBc da T7 iniciou abaixo da T4, cresceu porém a taxa muito elevada de modo que
ultrapassou a T4 em 1998, distanciando-se desta desde então. A Entropia Inerente ( I Bc ) da T4,
seja medida em relação à AT ou a AO, é bem superior a da T7, apesar de se verificar uma mudança
de patamar entre 1996 e 2002 (ver parte B do Gráfico 6.6.1-6).
500,0
15%
400,0
R$/Ha de Cs
Cs/A
300,0
10%
200,0
100,0
5%
0,0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
-100,0
0%
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
-200,0
Trajetória-Patronal.T4 (VBP/Cs): 3,3 a.a. Trajetória-Patronal.T4 (Cs/AT): -1,0% a.a.
Trajetória-Patronal.T7 (VBP/Cs): 4,7 a.a. Trajetória-Patronal.T7 (Cs/AT): -1,47% a.a.
Trajetória-Patronal.T4 (RL/Cs): 5,1% a.a. Trajetória-Patronal.T4 (Cs/AO): -1,2% a.a.
Trajetória-Patronal.T7 (RL/Cs): 35.1% a.a. Trajetória-Patronal.T7 (Cs/AO): -1,6% a.a.
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.
balanço de CO2 (conf. Gráfico 6.6.2-1). De modo que o COS Bc é bem mais elevado e a I Bc bem
menor do que os das T4 e T7 (ver partes A e B do Gráfico 6.6.2-1). Também a entropia medida
pelo vetor das áreas degradadas, COSCs e I Cs , mostram esse mesmo padrão – a T5 se mostra
menos deletéria que as duas outras já analisadas (ver parte C e D do Gráfico 6.6.2-1).
200,0
2,5
150,0
CO2/ha
R$/CO2
1,5
100,0
50,0
0,5
0,0
1990
1993
1996
1999
2002
2005
1990
1993
1996
1999
2002
2005
-0,5
4.000,0
0,2
3.000,0
R$/CO2
CO2/ha
0,1
2.000,0
0,1
1.000,0
0,0 0,0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
1990
1993
1996
1999
2002
2005
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.
169
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Seria, assim, compatível com uma perspectiva de desenvolvimento sustentável tê-la como
alternativa às trajetórias patronais com alto impacto entrópico. Ocorre que, os empreendimentos
baseados em culturas permanentes têm assumido na Amazônia características de “plantation” –
grandes extensões de plantio homogêneo. Historicamente, desde as experiências da Ford, da Pirelli,
da Agrisal e outras (ver Costa, 1993 e Costa, 2000a e, nesta coleção, Costa, 2012c e 2012d), tais
tentativas apresentaram recorrente inconsistência em termos de lucratividade, comprometendo
a capacidade de expansão e afirmação da trajetória. Nas estimativas deste estudo, a rentabilidade
apresenta grande volatilidade e mostra-se comparativamente baixa por quase todo o período: a não ser
por um curto período entre 1994 e 1997 (com o ano do Censo no centro do período), a rentabilidade
por trabalhador situa-se em torno da metade da Trajetória-Patronal.T4, com o tempo, parcela cada
vez menor da rentabilidade da Trajetória-Patronal.T7 (conf. Parte A do Gráfico 6.6.2-2).
Compatível com a situação exposta, a Trajetória-Patronal.T5 não se apresenta como
substituta path efficient da T4, alternativamente à T7. Assim, sua taxa de crescimento médio,
medida pelo VBPR, é de 2,5% a.a., equivalente à taxa de crescimento da Trajetória-Patronal.T4
e bem inferior a Trajetória-Patronal.T7 (conf. Gráfico 6.6.2-2).
2.000.000
1.500.000
R$ 1.000,00
1.000.000
500.000
0
2 000
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.
Fonte: IBGE, Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.
(Y/T) em R$ 1.000
700
25.000 600
1.000 Ha
300
20.000 500
15.000 400
50.000 200
300
10.000
100 200
5.000 100
0 0 0 0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
Rendimento Líquido (RL): -11,10% a.a.
(RL/T): -10,90% a.a.
Trabalhadores Aplicados (T): -0,30% a.a. (RL/Ao): -20,20% a.a.
Terra Trabalhada (At): 11,30% a.a. (Ao/T): 11,20% a.a.
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas de
crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao tempo
medido em anos.
Por seu turno, a formação de área degradada é nula; ao passo que o balanço de carbono
é negativo a maior parte do tempo, ou seja, mais sequestra do que emite (Gráfico 6.6.3-2). A
Trajetória-Patronal.T6 ocorre concentradamente no Sul do Amapá (PA), onde se verificam em
torno de 80% do VBPR, e no Baixo Amazonas (PA) (Gráfico 6.6.3-3). Como a T5, a T6 seria
alternativa desejável às trajetórias patronais deletérias. Não obstante, tem assumido um caráter
experimenta, mostrando um comportamento errádico, portador de risco.
172
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
1996
1990
1992
1993
1994
1995
1997
2001
2002
2003
2004
2005
2006
1991
1998
1999
2000
-2.000,0 5
-3.000,0
R$/CO2
CO2/Ha
-4.000,0
0
-5.000,0
-6.000,0
-7.000,0 -5
-8.000,0
-9.000,0
-10.000,0 -10
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.
173
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
A trajetória é liderada por sistemas de produção dominados por, ou orientados para culturas
permanentes e pecuária leiteira, que se constituem ponto de chegada da utilização primária de
produtos florestais madeireiros e de culturas temporárias em formato de shifting cultivation. Apesar
de tender para um grupo definido de produtos, e, assim, evoluir para sistemas de menor diversidade,
os Índices de Diversidade se mantêm elevados: de 0,601 em 1990, passaram para 0,579 em 2006,
com um mínimo de 0,563 em 1995.
Em sistemas produtivos organizados por 171.292 estabelecimentos, com estoque médio
de terra de 54,47 ha em 1995, a trajetória produziu 29% do VBPR e 31% da RLP, utilizando
(apenas) 13% do total da área em operação no setor (conf. Tabela 6.4-1) e explicando 10,2% da
área degradada. Em compensação, produziram nada menos que 37% das capoeiras reservas – i.e.,
das áreas que podem vir a ser florestas secundárias e sequestraram 16% do carbono movimentado
pelo setor – explicando, ao final, 11% do balanço líquido de CO2.
A trajetória expandiu o VBPR de 1990 a 2006 à taxa média de 3,6% a.a., menor que a da
expansão do setor por inteiro e a menor entre todas as trajetórias camponesas (ver Gráfico 6.6.4-1).
3.000.000
2.500.000
2.000.000
R$ 1.000,00
1.500.000
1.000.000
500.000
0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.
Por seu turno, a renda líquida cresceu a ritmo menor ainda, de 2,5% a.a., levando a que a
participação relativa caísse de 29% nos três primeiros anos, para 24% nos três últimos. O volume
de terra trabalhado, por sua vez, cresce a 4,3% a.a. para um incremento na força de trabalho de
0,7%.
174
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
6.000 1.400
1.200
1.000
4.000
800
600
2.000 400
200
0 0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
12
10
0
1990
1991
1992
1993
1994
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
1995
1996
1997
1998
2006
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.
175
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
150,0
15,0
CO2/ha
R$/CO2
10,0 100,0
5,0 50,0
0,0 0,0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.
Controlando, no ano do Censo, 9,3 milhões de hectares, dos quais utilizava pouco mais de
1/3, os estabelecimentos que protagonizam essa trajetória mobilizavam uma força de trabalho de
723 mil trabalhadores equivalentes (38% de toda a força de trabalho aplicada no setor), os quais
apresentavam uma produtividade monetária de R$ 2.509,45 por trabalhador, uma produtividade
por área de R$ 104,48/ha e uma relação terra/trabalho de 12,9 hectares.
Espacialmente, a Trajetória-Camponesa.T1 materializa-se difusamente, com ênfase
todavia no Leste Rondoniense (RO) (estável), no Centro Amazonense (AM) (crescente); no Baixo
Amazonas (PA), no Nordeste Paraense (PA), no Sudoeste Paraense (PA) e no Marajó (decrescente),
no Sudeste Paraense (PA) e Sudoeste Amazonense (AM) (crescente) (ver Gráfico 6.6.4-4).
Gráfico 6.6.4-4 –Ocorrência da trajetória T1. Camponês Permanente e Leite medidada pelo
VBPR, 1995 a 2006
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.
177
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Essa trajetória tem por base o extrativismo não madeireiro, muitas vezes combinado
com a pesca, em harmonização com agricultura diversa, de culturas temporárias e permanentes
(conf. Gráfico 6.6.5-1). Os resultados são sistemas agroflorestais, expressão de um paradigma
tecnológico, no qual os processos produtivos pressupõem, em algum nível, a preservação da
natureza originária – a utilização do bioma e ecosistemas primários (ver Costa, 2009d) ou a
composição de sistemas agroflorestais complexos que imitam a natureza originária.
Culturas temporárias
Ext. não-madeireiro
Culturas permanentes
Ext. madeireiro
Animais de pequeno porte
Horticultura
Pecuária de leite
Pecuária de corte
Animais de médio porte
0,56
Índice
de 0,52
diversidade 0,49
0,512
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.
180
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 6.6.6-2 –Ocorrência da Trajetória-Camponesa.T3: Pecuária de corte medida pelo VBPR, 1995
0% 5% 10% 15 % 2 0% 25 %
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.
Gráfico 6.6.7-1 – Confronto das estruturas relativas do VBPR, baseadas nas trajetórias tecnológicas
do setor rural na Região Norte, resultantes dos dados definitivos do Censo Agropecuário de 2006
e das estimativas
40% 36%
34%
29% 28%
30%
24% 24%
20%
18% 18% 19%
20%
11% 10%
8%
10% 6%
4% 4%
3% 2%
0%
Camp onê sa T2
Pa tronal T7
Camponê sa T3
Pa tronal T4
Pa tronal T5
Pa tronal T6
Camp onê sa T1
1995 Censo
2006 Censo
2006 Estimativa
Fonte: IBGE, Censo de 2006. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.
182
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Capítulo 7
Trajetórias Tecnológicas na Amazônia: Regimes de
Crescimento, Padrões de Concorrência e Institucionalidade
O peso específico importa porque, como aponta o modelo de Arthur (ver Cap. 5), na
concorrência há a possibilidade de uma trajetória prevalecer em tal grau sobre as demais que
aprisiona todo o sistema de trajetórias – estabelece uma situação de lock-in, na qual o seu
poder tende a ser absoluto. Para isso, a trajetória não precisa ser tecnologicamente superior
– ela só precisa apresentar rendimentos superiores e crescentes por um tempo suficiente para
alcançar o patamar a partir do qual não terá mais concorrentes que possam superá-la em
atração aos agentes (ou, visto de ótica mais estrutural, aos fluxos de capitais em movimento
na busca de valorização). E, quanto maior seu peso, mais rapidamente um tal ponto será
atingido.
Os diferenciais de rendimento podem ter fontes diversas, desde atributos locacionais e
especificidades logísticas e transacionais, até ganhos de externalidades difusas associadas aos
lugares onde se desenvolvem as trajetórias. Nisso se incluem as possibilidades oferecidas por
estratégias de cooperação entre trajetórias. A essa complexa relação entre as trajetórias, que
depende ao mesmo tempo das condições de evolução do conjunto e do regime de crescimento
de cada uma delas, os dois processos mediados por fundamento territoriais, chamaremos
padrão de concorrência.
Por um lado, há a possibilidade de trajetórias portadoras de riscos sociais e ambientais
dominarem a dinâmica rural da Região Norte, bastando para isso que elas apresentem regimes
de crescimento com rendimentos crescentes. Nesse caso, vigorariam padrões de concorrência
deletérios na perspectiva do desenvolvimento sustentável, eis que contrariariam esperança
de equidade social, contemporânea e intergerações, e de equilíbrio ambiental. Há, também,
a possibilidade de que trajetórias compatíveis com um desenvolvimento com esperança
de sustentabilidade possam apresentar regimes de crescimento virtuosos por seus méritos
originais ou por resultados derivados do ambiente institucional – da política (ver 5.5.4). Esses
dois possíveis desenvolvimentos tornam esta uma discussão de particular interesse quando se
trata da Amazônia. Exige-se, para o discernimento dos atributos do desenvolvimento, expor
os fundamentos espúrios ou virtuosos dos regimes de crescimento e, por via de consequência,
qualificar os padrões de concorrência que marcam a Região Norte e seus territórios.
Neste capítulo, reuniremos indicações sobre os regimes de crescimento das
trajetórias e seus padrões de concorrência em cinco abordagens. Em uma, serão realçadas as
capacidades de prevalência das trajetórias, avaliadas pelo poder de definição que demonstram
no contexto da concorrência com todas as demais que fazem uma economia, em um dado
período de tempo – essa ótica foca no poder de determinação que a “dimensão” – o tamanho,
a escala – assumida pela trajetória apresenta. Em outra perspectiva, o peso é relativizado para
que se observem, uma a uma, as trajetórias, em seus resultados e fundamentos dinâmicos,
os movimentos condicionados por atributos que definem a “qualidade” da capacidade de
permanência demonstrada – aqui se expressarão seus regimes de crescimento, como se verá
em 7.1. Em uma terceira perspectiva, serão observadas, em 7.2, as indicações que podem
organizar padrões de concorrência, tendo como referência as interações entre as trajetórias
184
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
todas as demais entendidas, agregadamente, como B. Isso posto, a lógica decisória se organizaria
pelo algoritmo
aS + s. nA.W A > bS + s. nB. W B ,tal que,
(bS − aS )
(d n = nA .WA - nB .WB ) > .
s
Com os dados de que dispomos (ver esclarecimentos no Cap. 2) podemos calcular a
evolução dos dn de cada trajetória para t trajetórias, a anos e v fundamentos aqui considerados,
desde que:
t−1 I-I
dnijk = nij .Wijk - ∑ nij .Wijk
> (7.1.1-1)
i=1 s
Em (7.1.1-1) i será a trajetória que se observa em relação a todas as demais, i
representa todas as demais trajetórias do sistema que não i, para cada uma das apresentadas
em 6.6. Os anos considerados serão j, n o número de adesões na trajetória e W a média
do fundamento k em questão nas decisões que levaram àquele conjunto n de adesões; I
é o rendimento líquido médio derivado das tecnologias aplicadas pelas trajetórias i , I a
variável equivalente para a trajetória i e s a renda de externalidades da trajetória i. Sabe-se,
pelas propriedades da relação (5.5.1-2), que os valores fronteira da desigualdade (7.1.1-1) de
dn, os quais, ultrapassando-os, as trajetórias com rendimentos crescentes, individualmente,
poderiam aprisionar o sistema, se situam no campo positivo. Assim estão representados em
todas as seções do Gráfico 7.1.1-1, para W representando o VBPR (partes A e B) ou AT
(partes C e D). Note-se que lá estão como delimitações que sabemos existir, para as quais,
entretanto, não nos foi possível estabelecer os valores, as fronteiras dn. As implicações disso
discutiremos adiante.
Do observado, deve-se reter o seguinte:
•• Para todas as trajetórias e ponderações haverá um valor de dn que, ao ultrapassá-
lo, a trajetória aprisionaria o sistema. Pelas propriedades da relação (5.5.1-2),
esse valor estaria no campo positivo do sistema, de modo que o dn de uma
trajetória, para alcançá-lo, teria que se orientar positivamente (nos componentes
do Gráfico 7.1.1-1, para cima). Quando os estabelecimentos das trajetórias
estudadas foram ponderados por VBPR ou por AT, não se verificaram tendências
de lock-in, dado que os dn deslocam-se para baixo.
•• Há, entretanto, diferenças a sublinhar: com qualquer ponderação a Trajetória-
Patronal.T4 se mostrou em posição mais elevada entre as patronais, com o
adendo de que, quando a ponderação se fez pela proxy do domínio fundiário,
ela apresentou-se em posição alta e positiva, não obstante declinante por todo
período, isto é, se afastando e não se aproximando de uma real fronteira de
risco. Isso quer dizer que a temível Trajetória-Patronal.T4 (dados os atributos
187
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
já discutidos mais de uma vez, aqui, em 6.4 e 6.6.1), tendo a referência da região
por inteiro, não apresentou capacidade de produzir um fechamento da economia
rural em seu favor. Isso, entretanto, pode não ser verdadeiro para determinados
sistemas agrários.
•• Desde a segunda metade dos anos noventa a Trajetória-Patronal.T7 destaca-se
das demais trajetórias patronais, sem, todavia, estabelecer inclinação positiva.
Gráfico 7.1.1-1 – Risco de lock-in das diversas trajetórias do setor rural na Amazônia: dn
ponderado por Valor Bruto da Produção Rural (VBPR) e por Área Total Agricultada (AT), 1990
a 2005, médias trianuais
A - Ponderação (W) pelo Valor Bruto da Produção Rural B - Ponderação (W) pelo Valor Bruto da Produção Rural
(VBPR) (VBPR)
3.500.000 3.500.000,0
2.500.000 2.500.000,0
dn > (b-a)/s dn > (b-a)/s
1.500.000 1.500.000,0
500.000 500.000,0
dn
dn
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
-500.000 -500.000,0
-1.500.000 -1.500.000,0
-2.500.000 -2.500.000,0
40.000
40.000,0
30.000
30.000,0
20.000
dn > (b-a)/s dn > (b-a)/s
20.000,0
10.000
10.000,0
dn
dn
0
0,0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
-10.000
-10.000,0
-20.000
-20.000,0
-30.000
-30.000,0
-40.000 Trajetória-Camponêsa.T1
-40.000,0
Trajetória-Camponêsa.T2
Trajetória-Patronal.T5 Trajetória-Patronal.T6
Trajetória-Camponêsa.T3
Trajetória-Patronal.T4 Trajetória-Patronal.T7
Fonte: 7.1.1-1 .
188
Tabela 7.1.1-1 – Evolução das Trajetórias Tecnológicas no setor rural da Região Norte –Valor Bruto da Produção Rural
(VBPR)
Médias trianuais (ano centro da média)
Trajetórias
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Valor Bruto da Produção Rural (VBPR)
TrajetóriaCamponesa.T1 482.314 467.336 524.787 612.499 668.804 669.548 669.947,10 677.332 675.988 668.726 697.848 750.383 800.076 815.932 813.573,59
Francisco de Assis Costa
TrajetóriaCamponesa.T2 356.829 303.925 341.271 384.085 507.811 571.474 672.979,54 673.681 656.686 643.142 687.696 728.462 727.056 672.178 648.902,90
TrajetóriaCamponesa.T3 322.345 270.225 318.968 374.215 448.137 485.943 538.398,35 565.221 582.588 595.729 608.782 630.253 615.019 627.142 621.155,50
TrajetóriaPatronal.T5 86.013 79.198 84.463 95.161 121.848 138.919 149.223,93 127.794 109.441 96.821 100.498 108.354 117.183 127.017 129.495,01
TrajetóriaPatronal.T6 86.153 89.739 83.036 79.829 47.056 49.976 55.172,52 56.083 51.843 45.205 40.437 39.979 43.980 50.673 55.108,86
TrajetóriaPatronal.T4 563.543 565.292 596.707 620.979 586.326 525.717 494.610,19 510.614 556.214 605.050 675.467 700.981 741.223 781.895 823.370,09
TrajetóriaPatronal.T7 22.511 22.881 25.474 32.688 38.075 41.142 57.284,09 90.915 114.167 133.835 140.377 213.225 289.419 322.141 317.279,02
Total VBP 1.919.707 1.798.594 1.974.706 2.199.456 2.418.057 2.482.719 2.637.615,72 2.701.639 2.746.928 2.788.507 2.951.105 3.171.637 3.333.957 3.396.977 3.408.884,97
Renda Líquida
TrajetóriaCamponesa.T1 325.544 308.772 358.340 436.327 487.297 486.552 484.605 485.809 477.736 464.099 483.454 522.947 558.173 561.704 537.233
TrajetóriaCamponesa.T2 252.760 201.255 235.240 279.297 396.612 457.226 548.131 546.297 527.633 512.930 555.624 593.051 589.572 532.601 525.394
TrajetóriaCamponesa.T3 243.924 192.479 237.817 288.238 357.298 391.806 440.638 463.805 477.362 486.659 496.317 514.010 496.480 504.369 509.469
TrajetóriaPatronal.T5 21.151 13.812 17.440 27.525 50.997 68.169 77.962 58.162 39.320 25.594 27.677 33.631 40.610 48.500 52.494
TrajetóriaPatronal.T6 47.663 51.317 46.257 42.589 17.330 16.899 18.506 17.690 14.466 10.513 7.541 7.059 7.749 10.267 13.309
TrajetóriaPatronal.T4 235.681 231.315 258.502 280.775 257.613 209.193 188.067 204.545 241.580 280.515 330.469 352.954 381.974 407.072 414.392
TrajetóriaPatronal.T7 (8.911) (8.228) (6.409) (2.803) 1.078 3.500 12.784 31.593 48.159 63.088 73.829 123.713 179.788 204.509 178.114
189
Total VBP 1.117.812 990.722 1.147.188 1.351.948 1.568.225 1.633.346 1.770.691 1.807.901 1.826.257 1.843.399 1.974.913 2.147.365 2.254.345 2.269.021 2.230.404
Área Trabalhada Total
TrajetóriaCamponesa.T1 3.096 3.238 3.344 3.477 3.524 3.587 3.653 3.838 4.041 4.247 4.493 4.852 5.304 5.733 5.981
TrajetóriaCamponesa.T2 1.215 1.257 1.285 1.174 1.150 1.123 1.218 1.243 1.289 1.327 1.352 1.392 1.474 1.563 1.622
TrajetóriaCamponesa.T3 3.099 3.153 3.187 3.265 3.264 3.301 3.324 3.430 3.596 3.783 3.975 4.124 4.343 4.542 4.630
TrajetóriaPatronal.T5 797 805 794 778 757 765 783 796 817 861 925 1.003 1.074 1.151 1.208
TrajetóriaPatronal.T6 131 141 156 161 190 256 336 380 376 363 359 382 444 503 545
TrajetóriaPatronal.T4 18.034 18.250 18.139 17.943 17.253 16.576 15.997 15.767 16.096 16.488 17.419 17.350 17.955 18.756 19.836
TrajetóriaPatronal.T7 693 693 704 778 797 1.069 1.651 2.477 2.862 3.173 3.113 4.143 5.094 5.578 5.107
Total VBP 27.066 27.538 27.609 27.575 26.934 26.677 26.963 27.931 29.078 30.242 31.636 33.247 35.689 37.825 38.930
Pessoal Ocupado
TrajetóriaCamponesa.T1 482.314 467.336 524.787 612.499 668.804 669.548 669.947,10 677.332 675.988 668.726 697.848 0,93 0,94 0,95 0,94
TrajetóriaCamponesa.T2 356.829 303.925 341.271 384.085 507.811 571.474 672.979,54 673.681 656.686 643.142 687.696 1,07 1,01 0,92 0,88
TrajetóriaCamponesa.T3 322.345 270.225 318.968 374.215 448.137 485.943 538.398,35 565.221 582.588 595.729 608.782 1,05 0,98 0,98 0,95
TrajetóriaPatronal.T5 86.013 79.198 84.463 95.161 121.848 138.919 149.223,93 127.794 109.441 96.821 100.498 0,78 0,81 0,87 0,80
TrajetóriaPatronal.T6 86.153 89.739 83.036 79.829 47.056 49.976 55.172,52 56.083 51.843 45.205 40.437 0,48 0,52 0,61 0,50
TrajetóriaPatronal.T4 563.543 565.292 596.707 620.979 586.326 525.717 494.610,19 510.614 556.214 605.050 675.467 0,92 0,93 0,96 1,00
TrajetóriaPatronal.T7 22.511 22.881 25.474 32.688 38.075 41.142 57.284,09 90.915 114.167 133.835 140.377 2,34 2,62 2,52 2,18
Total 1.919.707 1.798.594 1.974.706 2.199.456 2.418.057 2.482.719 2.637.615,72 2.701.639 2.746.928 2.788.507 2.951.105
Total VBP 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor. Notas Metodológicas: Ver Gráfico 7-3.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Conhecidos os dn de uma tajetória A, seu significado num sistema de trajetórias será, como
dn
indicado por nós ao ajustar o modelo de Arthur na relação (5.5.1-1), x A = 0, 5 + . Acresce
2.W
que as trajetórias, por serem path depedent, evoluem no tempo representando em cada ponto o
resultado da capacidade de prevalência de cada qual sobre as demais em relação aos fundamentos
W de suas existências. Em cada momento j, cada trajetória i tem o lugar xij na estruturação do
conjunto de trajetórias, no que se refere ao fundamento k. Tal lugar, por um lado expressa a
capacidade evolutiva e adaptativa demonstrada por cada trajetória individualmente, observando-
se a referência do fundamento em foco. No conjunto, tem-se um estado – uma estruturação – do
sistema de trajetórias em relação, ainda, ao fundamento em questão. Um sistema de trajetórias que
fazem um sistema agrário, ou uma economia, poderá ser descrito a partir de (5-1) e sua aplicação
em (7-1), em relação a cada fundamento, como segue:
dnijk
xijk = 0, 5 + (7.1.2-2)
2.Wijk
O sistema descrito em (7.1.2-2) apresenta estruturações referidas a cada objeto k da
concorrência como “camadas” de uma realidade – o sistema agrário –, a qual, todavia, só existe
concretamente como interações entre esses “layers”. Como tratar tais interações, a rigor os
elementos definidores dos Regimes de Crescimento de cada trajetória e dos Sistemas Agrários
onde elas se desenvolvem?
Iniciemos por adotar a perspectiva de que trajetórias em atuação em um território
mobilizam os recursos conjuntos desse terrítório para produzir excedentes também conjuntos,
os quais, todavia, serão distribuídos, considerando as condições da concorrência, a montante
e a juzante dos processos produtivos. Isso posto, o desfecho de última instância das disputas
concorrenciais se daria na apropriação da Renda Líquida (RL). Para essa mirada, será posto
privilegiado de observação do estado da concorrência entre as trajetórias um índice de prevalência
que informa sobre as condições de formação e distribuição do Rendimento Líquido, de modo que,
em (7.1.2-2), k = RL. Com foco no RL, observa-se uma síntese entre as condições de mercado
que comandam a demanda (se esta varia para mais, maiores os preços dos produtos, o valor da
produção total e em consequência as margens de ganho líquido; se varia para menos, verifica-se o
contrário) e os componentes de custo que oscilam igualmente – alguns, mediante maior demanda,
crescem por efeito de rendimentos decrescentes nas respectivas funções de produção; com outros,
por efeito de economias de escala, ocorre o contrário.
Além desses fatores, há outros associados a externalidades, com implicações na RL
proporcionais ao peso da trajetória em relação aos recursos fundamentais locais. Daí o relevo da
disputa em torno dos fundamentos fundiários, bem como da concorrência em relação a outros
recursos decisivos, como o trabalho ou, mesmo, dos conhecimento técnicos. A proeminência da
190
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
relação fundiária resulta, aliás, do fato de que ela determina as condições de funcionamento do
mercado de trabalho (regula a existência do mercado de trabalho assalariado, dado que quanto
maior o grau de concentração da terra, menor a possibilidade de existência de estruturas baseadas
em trabalho familiar autônomo) e o tipo de tecnologia plausível (se mais ou menos exigente em
terra, se mais ou menos dependente de matas, se mais ou menos intensiva em trabalho).
De um modo ou de outro, na variável RL tem-se a expressão do suporte de primeira
instância do Regime de Crescimento por trás da capacidade de permanência. Assim, xijk para
k=RL seria uma síntese da dinâmica de uma trajetória ou sistema agrário. Com esse resultado,
poderemos dar um segundo passo, qual seja o de decompor xijk em seus fundamentos, como segue:
xij ( kRL ) xij ( kAT )
xij ( kRL ) . .x (7.1.2-2)
xij ( kAT ) xij ( kMO ) ij ( kMO )
ou
xij ( k=VBPR ) xij ( k=C ) xij ( k=AT )
xij ( k=RL ) = − . .xij ( k=MO ) (7.1.2-3)
x
ij ( k=AT ) xij ( k=AT )
xij ( k=MO )
xij ( kRL ) : Índice de prevalência com base na Renda Líquida (resultados nas secções “A” do
191
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 7.1.2-1); para xij* ( kRL ) ), resultados nas secções “B” do Gráfico 7.1.2-1;
xijk : Média de xijk até o ano apontado;
xij ( kVBPR ) : Índice de Prevalência com base no Valor Bruto da Produção Rural (resultados nas
secções “A” do Gráfico 7.1.2-1; para xij* ( kVBPR ) , resultados nas seções “B” do Gráfico
7.1.2-1);
xij ( kC ) : Índice de Prevalência com base no Custo (resultados nas seções “A” do Gráfico 7.1.2-
*
1; para xij ( kC ) , resultados nas seções “B” do Gráfico 7.1.2-1);
xij ( kAT ) : Índice de Prevalência com base no Controle da Terra (resultados nas seções “A”
do Gráfico 7.1.2-1; para xij* ( kAT ) , resultados nas seções “B” do Gráfico 7.1.2-1);
resultados nas seções “A” do Gráfico 7.1.2-1
xij ( kMO ) : Índice de Prevalência com base no Controle da Força de Trabalho; para xij* ( kMO ) ,
resultados nas seções “B” do Gráfico 7.1.2-1;
xij ( kRL ) : Evolução da produtividade do trabalho, resultados nas seções “C” do Gráfico 7.1.2-1;
xij ( kMO )
xij ( kRL ) : Evolução da produtividade da terra, resultados nas seções “C” do Gráfico 7.1.2-1;
xij ( kAT )
xij ( kAT )
: Evolução da relação terra/trabalho, resultados nas seções “C” do Gráfico 7.1.2-1;
xij ( kMO )
192
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 7.1.2-1 – Regimes de Crescimento das trajetórias do Setor Rural da Região Norte:
Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais
1,2 1,2
Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
0,3
1,1 1,1
0,2
1,0 1,0
0,1
0,9 0,9
0,0
0,8 0,8
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
IPrl (-2,2% a.a)
IPvbpr (-1% a.a.)
IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPmo (0,2% a.a.) Iprl Ipvbpr
IPta (2% a.a.) IPmo Ipta IPat/IPmo
IPCusto (1% a.a.) IPCusto Linha 7
0,5
1,3 1,3
0,4
Índice de Prevalência
1,2 1,2
Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
0,3
1,1 1,1
0,2
1,0 1,0
0,1
0,9 0,9
0,0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
0,8 0,8
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
IPrl (1,4%a.a)
IPvbpr (1,4%a.a.)
IPmo (0,4%a.a.) IPrl IPvbpr IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPta (-0,6%a.a.) IPmo Ipta IPat/IPmo
IPCusto (0,0% a.a.) IPCusto
A - Trajetória-Camponesa.T3 B - Trajetória-Camponesa.T3
C - Trajetória-Camponesa.T3
0,5
1,3
1,3
0,4
Índice de Prevalência
1,2
Índice de Prevalência
1,2
Índice de Prevalência
0,3
1,1
1,1
0,2
1,0
1,0
0,1
0,9
0,9
0,0
0,8
0,8
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
193
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 7.1.2-1 – Regimes de Crescimento das trajetórias do Setor Rural da Região Norte:
Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais (Continuação)
0,10
2,0 2,0
1,9 1,9
0,08
Índice de Prevalência
1,8 1,8
Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
1,7 1,7
0,06 1,6 1,6
1,5 1,5
1,4 1,4
0,04
1,3 1,3
1,2 1,2
0,02 1,1 1,1
1,0 1,0
0,00 0,9 0,9
0,8 0,8
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
IPrl (-0,6% a.a)
IPvbpr (-2,20% a.a.)
IPmo (1,0% a.a.) IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPrl IPvbpr
IPta (0,4% a.a.) IPmo Ipta IPat/IPmo
IPCusto (-1,3% a.a.) IPCusto
Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
1,5 1,5
0,04
1,0 1,0
0,02
0,5 0,5
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
0,6
1,0 1,0
0,5
0,9 0,9
0,4
0,3 0,8 0,8
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
194
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 7.1.2-1. –Regimes de Crescimento das trajetórias do Setor Rural da Região Norte:
Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais (Continuação)
8,0
Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
7,0
4,0
6,0
0,1 3,0 5,0
4,0
2,0 3,0
2,0
1,0
1,0
0,0 0,0
0,0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
IPrl (37,2% a.a)
IPvbpr (18,40% a.a.) IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPmo (17,40% a.a.) IPrl IPvbpr
IPta (16,40% a.a.) IPmo Ipta IPat/IPmo
IPCusto (8,30% a.a.) IPCusto
Se xij ( kRL ) é crescente, a trajetória i galga, a cada novo ano j, posições no contexto
da concorrência, eis que seu crescimento se faz acima da média do conjunto de trajetórias
que compõem a economia em questão; se o crescimento se faz de tal forma que xij* ( kRL ) > 1,
então a trajetória cresce, superando sua performance histórica (ver relação 7.1.2-6), sua própria
média ao longo do tempo, até o momento presente; se o crescimento se faz de tal modo que
xij* ( kRL ) < 1, então a trajetória está recuperando posições perdidas. Positivamente, o regime de
crescimento dependerá do controle sobre o trabalho (dos movimentos em xij ( kMO ) ) e sobre a terra
(proxy: xij ( kAT ) ). A dinâmica dependerá também positivamente das condições do mercado final,
regime de demanda, expressas no nível e nos movimentos de xij ( kVBPR ) : se xij ( kVBPR ) cresce, será
reforçada, se diminue, deprimida (conf. 7.1.2-5). Manifestam-se, nesse caso, por efeitos expansivos
combinados de escala, da produtividade sistêmica derivada do aprofundamento da divisão social
do trabalho e do aprendizado, a par de ganhos de externalidades do ambiente institucional,
economias de escala dinâmicas que se refletem sobre a rentabilidade dos agentes,validando, por
um lado, a lei Kaldor-Verdoorn; por outro, mediações institucionais como os sistemas regionais
e locais de inovações. Negativamente, o regime de crescimento depende do xij ( kC ) (ver relação
7.1.2-5). Os movimentos em xij ( kC ) são explicados em parte pelos preços dos insumos; em parte,
porém, resultam de movimentos inversos nas variáveis que qualificam o regime de produtividade
da trajetória quanto à intensificação ( xij ( kRL ) / xij ( kAT ) >1) ou extensão do uso da terra pela
mecanização ou outros métodos ( xij ( kAT ) / xij ( kMO ) ).
195
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
xij ( kRL ) xij* ( kRL ) xij ( kVBPR ) xij ( kRL ) xij ( kRL ) xij ( kAT )
xij ( kC ) xij ( kMO )
xij ( kMO ) xij ( kAT ) xij ( kMO )
T1 -2% a.a. Desde 96 <1 Desde 97<1 1% a.a. 0,2% a.a. Desde 2000 <1 Desde 96 <1 Desde 1992>1
T2 1,4% a.a. Entre 95-2003 > 1 Entre 95-2003 > 1 →0% 0,4% a.a. Desde 96>1 Desde 96 >1 Desde 1995<1
T3 0,9% a.a. Entre 93-2002 > 1 Entre 93-2002 > 1 1% a.a. -0,4% a.a Desde 96>1 Desde 92≤1 Desde 1992>1
T4 -1,5% a.a. Entre 94-2002 < 1 Entre 94-2004 < 1 -1,7% a.a. -3% a.a. Desde 96<1 Desde 96<1 Desde 97>1
T5 0,6% a.a. Entre 94-98 > 1 Entre 95-97 > 1 1,3% a.a. 1% a.a. Desde 95>1 Desde 95>1 Desde 1992<1
T6 -17,7% a.a. Desde 93 <1 Desde 93 <1 -2,2% a.a. -0,8% a.a. Desde 94 <1 Desde 93 <1 Desde 93 >1
T7 37% a.a Desde 96 >1 Desde 92 >1 8% a.a. 17%a.a Desde 97>1 Desde 97<1 Desde 92>1
Fonte: Elaboração do autor.
Esse esquema analítico organiza a Tabela 7.1.1-2, da qual podemos extrair os seguintes
resultados:
•• Quatro trajetórias, duas camponesas, a T2 e a T3, e duas patronais, a T5 e a T7,
apresentaram ao longo do período estudado tendência linear positiva na capacidade
de prevalência.
»» As duas primeiras demonstraram ciclos bastante longos de alta performance,
com crescimento acima das respectivas médias históricas. Tais ciclos tiveram
correspondência com os respectivos regimes de demanda e, em ambos, com
rendimentos crescentes do trabalho. Os últimos, por seu turno, tiveram fontes
distintas:
◊◊ A T2 teve custo estável e variações superiores a 1 dos rendimentos por área,
a par de variações inferiores a 1 na relação terra/trabalho, o que em última
instância indica intensificação do uso da terra.
◊◊ A T3 apresentou custo crescente e flutuações menores do que 1 do
rendimentos por área, tendo como fonte última da eficiência relativa do
trabalho variações superiores a 1 na extensão da terra por trabalhador.
»» As trajetárias patronais com capacidade de prevalência crescente, no tempo,
apresentam diferenças em dois tópicos:
◊◊ A T5 apresentou volatilidade elevada, com três ciclos bastante curtos,
claramente definidos pelo regime de demanda. Nos dois últimos ciclos,
todavia, obervaram-se rendimentos crescentes, não obstante oscilantes, do
trabalho e da terra, a par de uma redução relativa da relação terra/trabalho.
◊◊ A T7 elevou seu significado em correspondência com o regime de demanda.
Com custos crescentes a uma taxa elevada, apresentou, entretanto, variações
acima de 1 no rendimento do trabalho. Considerando a redução concomitante
no rendimento da terra, tal performance só se fez possível com o crescimento
da relação terra/trabalho: a elevação da extensividade no uso da terra.
196
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Tabela 7.2-1 – Correlações de Pearson entre os IPs das Trajetórias Tecnológicas no setor rural da
Região Norte
Baseado na Renda Líquida (RL)
Trajetória Camponesa. Camponesa. Camponesa.
Patronal. T5 Patronal. T6 Patronal. T4 Patronal. T7
T1 T2 T3
Camponesa.T1 1 -0,2311 -0,3497 0,3487 0,8080 0,0542 -0,7889
Baseado Camponesa.T2 -0,1138 1 0,8479 0,4682 -0,4012 -0,9361 0,0825
no Valor Camponesa.T3 -0,1686 0,9041 1 0,2301 -0,4015 -0,7891 0,2420
Bruto da Patronal.T5 0,6664 0,444 0,2342 1 0,0709 -0,6818 -0,5367
Produção Patronal.T6 0,5472 -0,4815 -0,4944 0,2520 1 0,2509 -0,4563
(VBPR) Patronal.T4 0,2794 -0,99 -0,8670 -0,3176 0,5453 1 0,0387
Patronal.T7 -0,8288 -0,1793 -0,0944 -0,7215 -0,5817 -0,0962 1
Baseado na Área Trabalhada Total (AT)
Camponesa.T1 1 -0,5982 0,2020 0,5923 0,6474 -0,8873 0,8008
Camponesa.T2 0,8166 1 0,0349 -0,4883 0,0592 0,4237 -0,2173
Baseado
Camponesa.T3 -0,9331 -0,9342 1 -0,4584 0,5223 -0,0642 0,2872
na Mão
Patronal.T5 0,9434 0,9097 -0,9719 1 0,0829 -0,6638 0,4407
de Obra
Patronal.T6 -0,9169 -0,8495 0,9463 -0,9775 1 -0,5882 0,7438
(MO)
Patronal.T4 -0,9325 -0,8069 0,9309 -0,9518 0,9678 1 -0,9451
Patronal.T7 0,9400 0,7801 -0,9253 0,9333 -0,9300 -0,9735 1
Assim, seja rijk os ICP das trajetórias i em relação a todas as outras, j, e consigo mesma,
o potencial de cooperação de i no que trata o fundamento k será
m n n
rkij
(i ≠ j )∧ ( rkij > 0)⇒
Coopki = ∑ ∑ ∑ (7.2-1)
k =1 i=1 j=1
n −1
Esses resultados compõem as células da primeira parte da Tabela 7.2-2. Na segunda parte
encontram-se os indicadores de competição de i, para cada k, calculados assim:
m n n
rkij
(i ≠ j )∧ ( rkij < 0)⇒
Compki = ∑ ∑ ∑ . (7.2-2)
k =1 i=1 j=1
n −1
Um “saldo”, ou “resíduo”, que podemos chamar de indicador do padrão de concorrência
(PadConc), resulta da agregação das correlações positivas e negativas. Se positivo, o PadConc
indica ser a trajetória “dominada por cooperação”; se negativo aponta para a condição de
“dominada pela competição” da trajetória, em relação ao fundamento k em observação. Os
resultados compõem a terceira parte da Tabela 7.2-2 e foram calculados como segue:
m n n
rkij
PadConci , k = ∑ ∑ ∑ = Coopki + Campki
n
k =1 i=1 j=1
(7.2-3)
199
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Uma terceira possibilidade diz respeito ao cálculo de indicadores agregados para uma
única trajetória, considerando todos os fundamentos e para cada fundamento, considerando todas
as trajetórias. Com efeito:
Para cada trajetória i (resultados nas colunas Total de todas as partes da Tabela 7.2-2):
n m n m n m
Compki Coopki Coopki + Coopki
Compi = ∑ ∑ e Coopi = ∑ ∑ e PadConci = ∑ ∑ (7.2-4)
i=1 k =1
m i=1 k =1
m i=1 k =1
m
Para cada atributo k (resultados nas linhas Total de todas as partes da Tabela ):
m n m n m n
Compki Coopki Coopki + Coopki
Compk = ∑ ∑ e Coopk = ∑ ∑ e PadConck = ∑ ∑ (7.2-5).
k =1 i=1
n k =1 i=1
n k =1 i=1
n
Por fim, se poderá ter uma indicação do Padrão de Concorrência de todo um sistema
agrário, uma vez que:
n m
Compi Compk
Comp = ∑ =∑ ; (7.2-6)
i=1
n k =1
m
n m
Coopi Coopk
Coop = ∑ =∑ e
i=1
n k =1
m
200
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
n m
Coopi + Coopi Coopk + Coopk
PadConc = ∑ =∑ (7.2-7)
i=1
n k =1
m
Gráfico 7.2-1. Padrões de Concorrência entre as trajetórias em torno dos fundamentos do Setor
Rural da Região Norte:PadConcki Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais
(Continua)
Patronal.T5
Camponesa.T2
Camponesa.T3
Patronal.T7
Patronal.T4
Patronal.T6
-0,30 -0,30
-0,40 -0,40
-0,50 -0,50
Patronal.T6
Patronal.T7
Patronal.T5
Patronal.T4
Camponesa.T1
Camponesa.T2
Patronal.T5
Patronal.T7
Patronal.T4
Patronal.T6
Camponesa.T3
Camponesa.T1
Camponesa.T3
Camponesa.T2
0,10 0,10
0,00 0,00
-0,10 -0,10
-0,20 -0,20
-0,30 -0,30
-0,40 -0,40
-0,50 -0,50
Patronal.T5
Patronal.T6
Patronal.T7
Patronal.T4
Camponesa.T1
Camponesa.T2
Camponesa.T3
Camponesa.T1
Camponesa.T2
Camponesa.T3
Patronal.T5
Patronal.T6
Patronal.T4
Patronal.T7
202
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 7.2-1. Padrões de Concorrência entre as trajetórias em torno dos fundamentos do Setor
Rural da Região Norte:PadConcki (Continuação)
-0,04 0,00
-0,10
-0,06
-0,20
-0,08
-0,30
-0,10 -0,40
-0,12 -0,50
(VBPR)
Ocupações
Renda Líquida
Valor Bruto da
Produção Rural
Totais (MO)
Renda
Líquida (RL)
Valor Bruto
da Produção
Rural
(VBPR)
Área
Total (AT)
Área Trabalhada
(MO)
(RL)
Total (AT)
Ocupações Totais
Trabalhada
0,10 0,10
0,00 0,00
-0,10 -0,10
-0,20 -0,20
-0,30 -0,30
-0,40 -0,40
-0,50 -0,50
Renda
Bruto da
Totais
Produção
Trabalhada
Líquida
Rural
Área
Área
Renda
Líquida
Bruto da
Produção
Rural
Trabalhada
Valor
Valor
Totais
Ocupações
Ocupações
(MO)
(RL)
Total (AT)
(RL)
Total (AT)
(MO)
Trajetória Patronal T4 Trajetória Patronal T5
0,20 0,20
0,10 0,10
0,00 0,00
-0,10 -0,10
-0,20 -0,20
-0,30 -0,30
-0,40 -0,40
-0,50 -0,50
Ocupações Totais
Valor Bruto da
Bruto da
Produção
Rural
Renda
Líquida
Ocupações
Área
Trabalhada
Valor
(VBPR)
Renda Líquida
(RL)
Área Trabalhada
Total (AT)
(MO)
Produção Rural
Total (AT)
(VBPR)
Totais (MO)
(RL)
203
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 7.2-1. Padrões de Concorrência entre as trajetórias em torno dos fundamentos do Setor
Rural da Região Norte:PadConcki (continuação)
0,20 0,20
0,10 0,10
0,00 0,00
-0,10 -0,10
-0,20 -0,20
-0,30 -0,30
-0,40 -0,40
-0,50 -0,50
Valor Bruto da
Área
Renda
Líquida
Bruto da
Produção
Rural
Totais
Valor
Ocupações
Trabalhada
Total (AT)
(MO)
(RL)
(VBPR)
Total (AT)
(RL)
(VBPR)
(MO)
Produção Rural
Renda Líquida
Ocupações Totais
Área Trabalhada
7.3. Contexto institucional
empréstimo ou não. Trataremos em seguida dos arranjos institucionais que especificam as formas
de acesso das diferentes trajetórias aos recursos da natureza mediado pela apropriação fundiária
(seção 7.3.1), a capital dinheiro pela via do crédito (seção 7.3.2).
Da apropriação dos meios intangíveis faz parte o acesso a conhecimentos, sejam os
mediados pelo ambiente cultural que detém os saberes tácitos sobre as especificidades locais,
sejam os mediados pelo ambiente laboratorial das organizações de produção e distribuição do
conhecimento técnico e de gestão dos processos produtivos, ou ainda, por interfaces entre aqueles
e estes, organizadas na forma de assistência técnica, extensão ou fomento rural, governamental
ou não. Aspectos relevantes dessa questão serão tratadas na seção 7.3.3. Em todas as seções
mencionadas teremos a referência territorial da grande Região Norte. Somente na Parte III do
livro nos debruçaremos sobre as distinções que marcam as trajetórias em plano subregional e
local.
O volume de terras agricultadas em operação (AO) será tomada como uma referência
inicial das necessidades em recursos fundiários: em suas diversas formas de uso pelo conjunto de
trajetórias as áreas nessa condição somavam 27,1 milhões de hectares na média dos três primeiros
anos da década de noventa. Cresceram a 2,6% a.a. desde então até 2005-2007: mais precisamente,
reduziram ligeiramente entre 1990 e 1995 a -0,1% a.a., cresceram a 3,3% nos cinco anos seguintes
e, de 2001 até o final do período aceleraram à taxa de 5,6% a.a. Ao final, considerando a média
dos três últimos anos, algo em torno de 11,9 milhões de hectares, representaram a extensão da
diferença entre a base territorial efetivamente usada, em produção em um momento e no outro
(para estes e os próximos resultados ver Gráfico 7.3.1-1, parte A).
T7 necessitou sozinha de 4,9 milhões de hectares, ao passo que a velha T4 acresceu precisos
1,8 milhões de hectares nas suas áreas em operação. As correspondências fundiárias dessas
necessidades operacionais serão tratadas em seguida. Agora importa fixar que juntas, essas duas
trajetórias geminadas chegaram, nos últimos três anos do período, representando 64% do total das
AO do setor rural na Região Norte. A T4 propriamente, com 51% do total mantém a condição de
dominante – terá perdido, contudo, 18 pontos percentuais em sua participação nessa grandeza.
Por seu turno, a T7, de inexpressiva no início, atinge 13% do total no final do período (para estes
e os próximos resultados ver Gráfico 7.3.1-1, parte A).
A Trajetória-Camponesa.T1 tem sido a segunda mais importante em volume de terras
agricultadas em operação, acresceu 2,9 milhões de hectares à base produtiva, saindo de 3,1 para
praticamente 9 milhões de hectares. Com isso ganhou importância relativa ao longo do tempo
– representava 11% do total no início, 13% por volta do ano do Censo e 15% no final período.
A Trajetória-Camponesa.T3, por seu turno, iniciando com partipação equivalente à da T1 , tem
se mostrado comparativamente a esta, mais lenta, de modo que elevou sua participação de 11%
do total das terras agricultadas em operação para 12%: crescimento a 3,1% a.a.. Já a Trajetória-
Camponesa.T2 reduziu sua participação de 4,5% para 4,3% das terras agricultadas em operação,
posto que a extensão delas cresceu 2% a.a – a menor taxa de todas. As duas menos representativas
trajetórias no que se refere às terras agricultadas em operação são, pela ordem, a Patronal.T5
(2,8%) e a Patronal.T6 (0,7%).
As áreas agricultadas em operação, todavia, não expressam nem o total dos recursos
naturais associados às trajetórias, nem o total de recursos fundiários dos agentes nas trajetórias.
206
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 7.3.1-1 – Evolução das necessidades de Áreas Agricultadas em Operação (AO) das
diferentes trajetórias do Setor Rural da Região Norte, 1990 a 2006 (médias trianuais)
A - Todas as trajetórias
80%
70%
60%
Participação no total
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
TrajetóriaCamponesa.T1 TrajetóriaCamponesa.T2 TrajetóriaCamponesa.T3 TrajetóriaPatronal.T5
TrajetóriaPatronal.T6 TrajetóriaPatronal.T4 TrajetóriaPatronal.T7
0,2 0,8
0,7
Participação no total
Participação no total
0,2 0,6
0,5
0,1 0,4
0,3
0,1 0,2
0,1
0,0 0,0
1990
1993
1996
1999
2002
2005
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
TrajetóriaPatronal.T5
TrajetóriaCamponesa.T1 TrajetóriaPatronal.T6
TrajetóriaCamponesa.T2 TrajetóriaPatronal.T4
TrajetóriaCamponesa.T3 TrajetóriaPatronal.T7
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor. Ver notas metodológicas do Gráfico 2.2-1.
207
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
208
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 7.3.1-2 – Evolução das necessidades de fundamentos naturais das diferentes trajetórias do
Setor Rural da Região Norte, 1990 a 2006 (médias trianuais)
A - Áreas Agricultadas em Operação (AO)
40.000,0
35.000,0
30.000,0
Índice de Prevalência
25.000,0
20.000,0
15.000,0
10.000,0
5.000,0
0,0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
B -Capoeiras Sucata C - Capoeiras Reserva
1.750 1.750
1.500 1.500
Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
1.250 1.250
1.000 1.000
750 750
500 500
250 250
0 0
1990
1993
1996
1999
2002
2005
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
Gráfico 7.3.1-3 – Participação das áreas com floresta originária nos estabelecimentos, por
trajetória, Região Norte (1995-1996)
100%
15% 12% 13%
19% 24%
28%
80% 39% 42%
50% 55%
66%
60%
93%
85% 88% 87%
40% 81% 76%
72%
61% 58%
50% 45%
20% 34%
7%
0%
1995 T1
2006 T1
1995 T2
2006 T2
1995 T3
2006 T3
1995 T4
2006 T4
1995 T5
2006 T5
1995 T6
2006 T7
210
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Para avaliar os recursos fundiários das trajetórias, portanto, é necessário conhecer suas
reservas de mata. Não há, todavia, como estimá-las. Precisaríamos recorrer aos dados do Censo
de 2006 para avaliá-las. Discutimos em 6.7.8 as dificuldades encontradas, dado que se detecta
subnotação particularmente em relação às trajetórias patronal T4 e camponesa T3. Acresce,
ademais, problemas associados a mudanças conceituais na definição das áreas não utilizadas,
as capoeiras, de importância já demonstrada: quando abaixo de quatro anos o novo Censo
considerou essas áreas como incorporadas a base de cultivo a que se refere, e as acima de quatro
anos considerou como “matas”. Uma pena.
Não obstante, como já mencionado, submetemos os dados do Censo de 2006 à
metodologia de delimitação de trajetórias que utilizamos em 6.3 para o Censo de 1995. Com
isso criamos a possibilidade de recorrer comparativamente a estruturas de informações para as
quais os problemas acima mencionados podem ser controlados. No caso da expressão das áreas
com florestas originais nos acervos totais em 2006, a Trajetória-Camponesa.T2 mostrou a maior
proporção, 46%, 20 pontos percentuais menos que em 1995 (ver Gráfico 7.3.1-3); seguida da
Trajetória-Patronal.T5, com 43%, 12 pontos menos de dez anos anos; da Trajetória-Camponesa.
T1 , 33%, 17 pontos menos que no primeiro censo; da PatronalT4, 34% (17 pontos menos) e 42%
da Trajetória-Camponesa.T3 (13 pontos a mais, a única que cresceu nessa variável). Em que
medida, porém, essas grandezas estão comprometidas pela subnotação apontada ou pela mudança
de conceito na quantificação das áreas usadas? Não sabemos.
Gráfico 7.3.1-4 – Estrutura Fundiária da Região Norte a Partir dos dados do Censo Agropecuário
de 1995-96
80%
60%
60%
39%
40% 29% 25%
17%
20% 12%
5% 6% 4% 1% 2% 0%
0%
Trajetória Trajetória Trajetória Trajetória Trajetória Trajetória
Camponês.T1 Camponês.T2 Camponês.T3 Patronal.T4 PatronalI.T5 PatronalI.T6
Gráfico 7.3.1-5 – Condição de acesso ao total de recursos fundiários, Estado do Pará (2003)
100%
80% 30%
65% 50%
60% 75% 67% 80%
40% 70%
20% 35% 50%
25% 33% 20%
0%
TrajetóriaCampon
TrajetóriaCampon
TrajetóriaCampon
TrajetóriaPatronal
TrajetóriaPatronal
TrajetóriaPatronal
ês.T3: Média
ês.T1
ês.T2
I.T5
I.T6
.T4
Proprietários Posse
Fonte: Censo Agropecuário e Fonte: INCRA/SNCR, 2003. Nota metológica: Para a integração do BD com os dados
do Censo e o BD com os dados do SNCR 1) tomamos a base do SNCR que apresenta os dados por 17 estratos de área
para cada microrregião do Pará; 2) Compatibilizamos os 17 estrados de área do INCRA com os 15 do BD da pesquisa
para cada microrregião 3) Integramos os dois BD a partir da variável comum “estrato.microrregião” .
212
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
A Tabela 7.3.1-1 informa sobre importantes aspectos da questão. Notamos que se refere
ao total de 53,5 milhões de hectares considerados na versão final do IBGE e não aos 66,3 milhões
que entendemos ser o total real do acervo, como informado na divulgação preliminar dos resultados
do Censo (ver 6.7.8). É que nos importa aqui verificar não exatamente os valores absolutos, mas a
estrutura dos dados que expõe as relações entre a origem do acervo de terras das trajetórias em 2006,
213
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
considerando as trajetórias, ou as referências das trajetórias a que este acervo pertencia em 1995.
A primeira coluna nomeia as linhas pelas trajetórias existentes em 1995; a última coluna, portanto,
apresenta o total de terras que “passaram” por essas trajetórias. As primeira/segunda linhas nomeiam
as trajetórias em 2006 e a última linha os totais dos seus acervos atuais (em 2006). Na primeira parte da
tabela, estão os valores absolutos (ha), na segunda as proporções de cada célula em relação ao total do
acervo em questão, a terceira relaciona a célula com o total da coluna e a quarta com o total da linha.
Nas duas últimas partes da tabela é possível discernir, respectivamente, na antipenúltima, qual o peso
de cada trajetória de 1995 no “fornecimento” de terra para a trajetória em questão em 2006; e na última
como cada trajetória de 1995 distribuiu seu acervo para as trajetórias em 2006.
Tabela 7.3.1-1- Fontes do asservo de terras (AT) das trajetórias tecnológicas em 2006, considerando
a posição do estabelecimento em 2006
Trajetória onde se Trajetória onde se encontrava o estabelecimento em 2006
encontrava o Camponês. Patronal. Patronal. Patronal.
Camponês.T1 Camponês.T2 Total
estabelecimento em 1995 T3 T4 T5 T7
Volume de terras apropriadas total
Camponesa.T1 5.151.356 2.105.986 1.484.066 161.444 147.577 150.498 9.200.927
Campones T2 1.485.985 1.493.861 487.814 17.002 5.776 313.322 3.803.760
Camponês T3 4.098.180 634.887 1.910.999 153.337 28.232 43.663 6.869.298
Patrona T4 6.870.103 1.146.451 2.854.292 10.023.954 265.425 9.494.991 30.655.216
Patronal T5 582.753 43.381 406.036 600.131 200.186 721.669 2.554.156
Patronal T6 217.074 145.620 42.549 405.243
Total 18.405.451 5.424.566 7.143.207 11.101.488 647.196 10.766.692 53.488.600
Estrutura relativa para total de linhas e colunas = 100%
Camponesa.T1 9,6% 3,9% 2,8% 0,3% 0,3% 0,3% 17,2%
Campones T2 2,8% 2,8% 0,9% 0,0% 0,0% 0,6% 7,1%
Camponês T3 7,7% 1,2% 3,6% 0,3% 0,1% 0,1% 12,8%
Patrona T4 12,8% 2,1% 5,3% 18,7% 0,5% 17,8% 57,3%
Patronal T5 1,1% 0,1% 0,8% 1,1% 0,4% 1,3% 4,8%
Patronal T6 0,4% 0,0% 0,0% 0,3% 0,0% 0,1% 0,8%
Total 34,4% 10,1% 13,4% 20,8% 1,2% 20,1% 100,0%
Estrutura relativa para total de colunas = 100%
Camponesa.T1 28,0% 38,8% 20,8% 1,5% 22,8% 1,4% 17,2%
Campones T2 8,1% 27,5% 6,8% 0,2% 0,9% 2,9% 7,1%
Camponês T3 22,3% 11,7% 26,8% 1,4% 4,4% 0,4% 12,8%
Patrona T4 37,3% 21,1% 40,0% 90,3% 41,0% 88,2% 57,3%
Patronal T5 3,2% 0,8% 5,7% 5,4% 30,9% 6,7% 4,8%
Patronal T6 1,2% 0,0% 0,0% 1,3% 0,0% 0,4% 0,8%
Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Estrutura relativa para total de linhas = 100%
Camponesa.T1 56% 23% 16% 2% 2% 2% 100%
Campones.T2 39% 39% 13% 0% 0% 8% 100%
Camponês.T3 60% 9% 28% 2% 0% 1% 100%
Patrona T4 22% 4% 9% 33% 1% 31% 100%
Patronal T5 23% 2% 16% 23% 8% 28% 100%
Patronal T6 54% 0% 0% 36% 0% 10% 100%
Total 34% 10% 13% 21% 1% 20% 100%
Fonte: IBGE, Censos de 1995 e 2006. Tabulações epeciais do autor.
Nota metodológica:
1. A construção dessa matriz foi possível porque na organização do banco de dados estabelecemos a relação entre um
“estrato de área” e o “município” em que se encontra como a unidade de informação mais elementar de todas as
tabelas. Feita a mesma relação para os dois censos (o que requereu ajustamentos para compatibilizar as diferenças
de estratificação) criamos a chave comum que permitiu estabelecer atributos para variáveis de um censo (com suas
tabelas próprias) com base em variáveis do outro censo: os atributos “trajetória” nas tabelas do Censo de 1995
podem ser atribuídos aos casos das tabelas do Censo de 2006, ao lado de seus próprios atributos “trajetória”, como
atributos “trajetória em 1995”. E vice-versa.
214
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
O maior movimento ocorreu relacinado à T4: ela reteve 1/3 (acima de 90% de tudo que
reteve), distribuiu 1/3 para outras trajetórias patronais (31% para a T7) e 1/3 para trajetórias
componesas (22% para a T1 , 9% para a T3 e 4% para a T2 ). Tratou-se de um processo no qual
ela, como trajetória, perdeu importância relativa de 36,5 pontos percentuais no controle fundiário
da região. Na sua constituição a T7 primordialmente herdou as terras da T4 (88,3% do que dispõe
em 2006 proveio daí) e, secundariamente, da T5, 6,7%, e da Camponesa.T2 (2,9%). Esse resultado
é completamente convergente com a discussão que fizemos em 6.7.1 sobre a gênese dessa nova
trajetória que, de acordo com a segunda parte da Tabela controla em 2006, 20,8% do acervo total
da terras na Região, um pouco acima da sua matriz, a T4.
Das trajetórias camponesas, a T1 duplicou seu significado, de 17,2% para 34,2% das
terras. Individualmente, seria a trajetória com maior acervo de terras na Região.
215
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 7.3.1-6 – Mercado de terras na Região Norte: evolução e relação dos preços de mata,
pasto e terra agrícola, 2001 a 2007 (preços em R$ corrigidos para 2007)
(A) - Preços médios (taxa de cresciment o na legenda)
1.400,00
1.200,00
1.000,00
800,00
R$/Ha
600,00
400,00
200,00
0,00
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2001 a
2007
Mat a: 2,1% a.a. Past agem: 6% a.a. T erra Agrícola: 1,5% a.a.
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2001 a 2007
Fonte: Instituto FNP, Anualpec 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008. Processamento do autor. 1 – O Instituto iFNP
publica desde 2003 preços de terras tipificando-as como “terras com mata”, “pastagens” e “terras agrícolas”, a partir
de pesquisa de campo que cobrem 22 municípios do Acre, 16 municípios do Amapá, 64 do Amazonas e 139 do Pará.
2 – Médias aritméticas simples dos preços corrigidos pelo IGP-DI para 2007 de acordo com tipo de terras. 3 – Taxas
calculadas por regressão das transformações logarítmicas em relação ao tempo.
totais de terras nos estabelecimentos nos dois censos, em condições claramente assinaladas, avulta
14,2 milhões de hectares em toda a Região Norte. Observando a distribuição dessa diferença pelas
variações nos tipos de aplicação, é possível estabelecer que nos 11 anos em questão, os operadores
dos estabelecimentos adquiriram 5,4 milhões de hectares de “Terras para Lavoura”, 8,2 milhões
de “Terras de Pastagem” e, ademais, 0,5 milhão de hectares adicionais aos seus estoques de
“Terras com Mata” (ver Tabela 7.3.1-2).
Esses “produtos” (os dois primeiros itens constituindo parcelas da formação bruta de
capital fixo do setor; o último, uma reserva de contingência) não existiam, na Região, em 1995,
tendo sido, portanto, produzidos ao longo do período aqui tratado.
218
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
É possível concluir com isso, que 7,7 milhões de hectares de “Florestas Originárias” foram
transformados em “terras” para a Trajetória-Patronal.T4 (0,5 milhões destinados a lavouras, 3,9
milhões destinados a pastagens e outros 3,3 milhões, por fim, na forma de “Terras com Mata”). Esse
montante representa nada menos que 54,2% do total observado na Tabela 7.3.1-2, da produção de
terras em toda Região Norte no mesmo período, metamorfose realizada nos mercados, primário
e derivado, de terras. Não obstante a transferência de recursos para a T7, o peso relativo da T4
na estruturação da base fundiária da região continua decisivo, influenciando o estabelecimento
médio com suas características: concentração fundiária e controle, pelos demandantes de “Terras
de Pastagens”, das reservas de “Terras com Mata”.
Utilizando os mesmos critérios, estima-se uma reserva de mata de 1,1 milhão de hectares
na posse dos agentes da emergente T7 em 2006 (ver Tabela 7-13). Disso resulta que 3,96 milhões de
hectares de “Florestas Originárias” foram transformados em “terras” para a Trajetória-Patronal.T7:
0,45 milhões destinadas a lavouras, 2,4 milhões destinados a pastagens e outros 1,1 milhões como
“Terras com Mata”. Esse montante representa nada menos que 34% do total relativo a toda Região
Norte nos mercados de terras, como visto acima. Juntas, a Trajetória-Patronal.T7 e sua matriz, a T4,
absorveram 88% de todas as áreas incorporadas às estruturas do setor através do mercado de terra.
Elas condicionam de modo irrecorrível a estrutura fundiária e as características do desenvolvimento
de base rural na região.
As Trajetória-Patronal.T4 e Trajetória-Patronal.T7 têm condicionantes estruturais à
concentração, por uma parte, porque a pecuária de corte tem dificuldades em intensificar a produção na
região, sua extensividade e produção conexa de terras degradadas (capoeira-sucata – como já discutido
acima) exigindo volumes crescentes de terras que se acrescem ao tamanho dos estabelecimentos;
por outra parte, porque a eficiência econômica dos níveis tecnológicos mais extensivos no uso da
terra cresce com a escala da produção. Demonstramos isso suficientemente em 3.2.2 e 3.3.1, onde
219
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
chegamos a três conclusões: i) a intensificação na pecuária de corte, partindo da escala média dos
estabelecimentos que detêm a metade do rebanho com esse fim, não é path-efficient – não produz uma
trajetória consistente; ii) porém a rentabilidade é crescente com a escala de produção e, portanto, iii) na
atividade se combinam soluções tecnológicas extensivas no uso da terra e rentabilidade crescente com
a escala, produzindo uma forte tensão para incorporação de novas terras.
Por outra parte, a trajetória T7 projeta na Amazônia os fundamentos tecnológicos
intensivos em mecânica e química próprios da cultura da soja no País. Como se verá adiante,
essa trajetória tem ganhos de escala associados à aplicação de recursos mecânicos que dão
eficiência ao uso extensivo da terra. Ademais, se deve anotar novas possibilidades tecnológicas
de desenvolvimento recente que, em última instância, poderá aumentar de modo significativo
sinergias entre a T4 e a T7. Destacam-se os procedimentos conhecidos como “barreirão”, que
alternam uso da terra entre pastagem e grãos, com plantio direto (Valentim e Andrade, 2009).
Gráfico 7.3.1-7 – Terras desapropriadas pelo INCRA para efeito de reforma agrária na Região
Norte (1990 a 2002)
3.000.000 800.000
Hectares acumulados
700.000
2.500.000
600.000
Hectares por ano
2.000.000
2,7 milhões
500.000
1.500.000 400.000
408 mil
1.000.000 300.000
200.000
500.000 100.000
0 0
2002
1990
1991
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
Até 1994
De 1994 a
220
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 7.3.2-1 Evolução do relação entre o crédito rural e o Valor Bruto da Produção Agropecuária
e da Renda Líquida do Setor Rural da Região Norte, 1993 a 2004
50%
45%
40%
Densidade Institucional
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
221
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Notas Metodológicas:
1. Valor de crédito referente à agregação do saldo contábil das operações de crédito para custeio das despesas do
ciclo produtivo realizadas pelas agências das intituições financeiras do município em 31 de dezembro.
2. Os valores de crédito fornecidos pelo Banco Central em quatro grupos – “custeio agricultura”, “custeio pecuária”,
“investimento agricultura”, investimentos pecuária” – foram agregados em dois grupos, “crédito para agricultura”
e “crédito para pecuária”, por microrregião.
3. Esses agregados foram divididos, respectivamente, pelo “valor da produção agrícola” e pelo “valor da produção
pecuária”.
4. Os quocientes resultantes foram multiplicados, no primeiro caso, pela produção agrícola; no segundo caso, pela
produção pecuária de cada caso mencionado na nota 3 do Gráfico 1 para produzir a variável “crédito agropecuário”
do banco de dados que processamos aqui.
Pois bem. Com tudo que significa, a nova política projetou-se sobre uma realidade marcada
pelas trajetórias tecnológicas sob análise, interagindo com elas, condicionando-as e por elas sendo
condicionada.
Anote-se que o volume de crédito alocado no setor tem sido significativo. Em 1995, ano
do Censo, representou 14% do Valor Bruto da Produção Rural (VBPR), 22% da Renda Líquida do
Produtor (RLP) e nada menos 73% do valor dos investimentos totais (ver Tabela 6.4-1). A relação
com as duas primeiras variáveis ao longo do tempo saiu de respectivos 23% e 42% em 1993, atingiu
o ponto mais baixo em 1997, com 10% e 11%, voltando a crescer até 19% e 29%, no final da série
(conf. Gráfico 7.3.2-1).
A relação do crédito com as diversas trajetórias é bastante diversa. Para acompanhá-la,
adotamos um indicador a que chamamos de Índice de Densidade Institucional a Partir do Crédito
(IDIC), o qual resulta da divisão entre participação percentual da trajetória no crédito (% que
acessou do crédito total) e a participação respectiva no VBPR (% do VBPR). Se o valor do IDIC
for maior que 1, a trajetória acessou mais crédito do que sua importância econômica, permitindo
aventar que teve um ambiente institucional que a favoreceu na razão direta do valor do IDIC. No
Gráfico 39, encontram-se os resultados para todas as trajetórias para o conjunto da Região Norte,
entre 1993 e 2004. Destacam-se os seguintes pontos:
•• O IDIC da Trajetória-Patronal.T4 – a especializada em pecuária de corte – apresentou
os maiores valores entre todas: sai de 0,9 em 1993 para 2,2 em 1997, reduz a partir
daí para oscilar em torno de 1,7. 6
•• O IDIC da Trajetória-Patronal.T7 parece desmesurado quando a trajetória tem pouco
significado. À proporção que cresce sua importância, o índice reduz, situando-se
todavia em posição máxima, acima da T4 até 2001. A partir daí cai para posição
intermediária, entre a T4 e a T5.
6 No segmento 2.1.1, indicamos que a eficiência econômica dessa trajetória está associada ao crescimento em escala ou à melhoria
do rebanho. Em qualquer dos casos, tais incrementos exigiram recursos de capital e de conhecimento, o que implica observar as
mediações institucionais no provimento dessas necessidades. Já com os dados do Censo de 1995, a Trajetória T4.Patronal apresentava
um IDIC de 1,63, significando que, para cada 1% de sua participação no VBPR do setor, ela recebeu 1,63% de participação no crédito
total nele alocado. Isso explica, em parte, a elevada taxa de investimento verificada naquele ano de 36% da renda líquida: além dos
investimentos em terras, a trajetória era responsável por 63% de todos os investimentos do setor na aquisição de animais e 55% das
inversões em máquinas (ver Tabela 6.4-1).
222
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 7.3.2-2 –Evolução do Índice de Densidade Institucional a Partir do Crédito (IDIC) para
as diferentes trajetórias do Setor Rural da Região Norte, 1993 a 2004
B - Trajetórias Camponesas C - Trajetórias Patronais
3,0 3,0
2,8 2,8
2,6 2,6
2,4 2,4
2,2 2,2
Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
2,0 2,0
1,8 1,8
1,6 1,6
1,4 1,4
1,2 1,2
1,0 1,0
0,8 0,8
0,6 0,6
0,4 0,4
0,2 0,2
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Fonte: Banco Central, IPEADATA e IBGE. Processamento do autor. Notas Metodológicas: 1 – IDIC é igual à divisão
da participação relativa da trajetória no total de crédito pela participação respectiva no VBP. 2 – VBP obtido conforme
metodologia apresentada em notas dos Gráficos 2-1. 3 – Valor do crédito obtido conforme metodologia apresentada nas
notas 1 a 4 do Gráfico 7.3.2-1.
223
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Em trabalhos anteriores (Costa, 1998a; Costa, 1999; Costa, 2000a), que abarcavam
período findo em 1995, constatávamos para a C&T e P&D agropecuária na Amazônia duas
tendências. Uma relativa à divisão do trabalho entre pecuária e agricultura, mediante a qual foi
verificado um crescente envolvimento com a pecuária de corte; outra no interior da agricultura
propriamente, mediante a qual foi averiguada uma forte e crescente divergência entre a
produção dos pesquisadores e a dinâmica real da produção agrícola.
No primeiro caso, constatava-se que a pecuária de corte, que fora objeto de apenas
3% dos trabalhos produzidos pelos antecessores da EMBRAPA até 1970, passou a representar
20% do que se produziu na segunda metade dos anos setenta, 19% de 1980 a 1985, 28% das
publicações de 1986 a 1990 e 52% na primeira metade da década de noventa. A reorientação
observada no início dos anos setenta acentuou-se de tal forma que, ao final, a metade das
energias do CPATU dirigia-se para a pecuária de grande porte: bovina e bubalina. A qual,
enquanto setor ou atividade produtiva, representava, de acordo com os dados dos Censos
7 Essa hipótese pressupõe que no longo prazo as divergências no timing de funcionamento dos mecanismos “science push” e
“market/demand pull”desaparecem. Tais diferenças fundamentam controvérsias quanto ao poder heurístico de ambos os modelos
na explicação dos processos de inovação tecnológica: uma abordagem “demand pull” produziu a teoria da inovação induzida, conf.
Hayami e Huttam (1971), criticada frequentemente pelos neo-shumpeterianos (ver, p. ex. Sales Filho e Silveira, 1990) que enfatizam
o lado da oferta – as disponibilidades tecnológicas – como fundamento das inovações que resultam dos processos de busca e seleção
por parte das empresas (conf. Nelson e Winter, 1982). A querela, não obstante interessante em outras discussões, não nos ajuda aqui..
225
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
8 Essa é a conclusão das diversas abordagens neoclássicas sobre desenvolvimento agrícola regional. Elas orientam-se pelas
formulações de Haiaymi e Ruttan (1971).
226
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
relevante do desenvolvimento agrícola e industrial brasileiro desde os anos vinte, uma vez
que central no abastecimento de produtos de mercado interno), garantindo mercado para a
intensificação da produção de arroz, milho, feijão e mandioca em áreas antigas. A grande
plantation ( Trajetória-Patronal.T5) poderia cumprir parte da tarefa. Patenteava-se, contudo,
o limite de ser trabalho-intensiva. Estabeleceu-se, a partir daí, como mecanismo central da
intervenção federal na Amazônia, a política de incentivos fiscais à pecuária extensiva que,
em conjunto com uma política de terras favorecedora de grandes apropriações, imprimiu, a
partir da segunda metade dos anos sessenta, características próprias à fronteira agrícola em
desenvolvimento na região (Costa, 1989), tornando-a campo de disputas sem precedentes em
torno do acesso à terra e aos recursos da natureza entre empresas latifundiárias e fazendeiros de
um lado, camponeses agrícolas, extrativos e ribeirinhos de outro, além dos índios, colocados
muitas vezes em oposição a todos os demais.
Tal dinâmica se impôs sobre a C&T agropecuária na Amazônia, configurando-a: de
um lado, levando-a a produzir cada vez mais para resolver os problemas da grande pecuária
de corte, setor associado ao empresário privilegiado pelas políticas da SUDAM que vem
a corresponder ao que tratamos aqui como a Trajetória-Patronal.T4; de outro, tornando-a
insensível (ou incapaz de atender) às necessidades dos demais fundamentos da produção rural
na região, em particular das trajetórias da forma de produção camponesa, mas também dos
empreendimentos que protagonizam as trajetórias patronais T5 e T6.
Os camponeses, tanto nas áreas novas (de fronteira recente, como no Sudeste e
Sudoeste Paraense e no Leste Rondoniense), quanto nas áreas de colonização mais antiga
(nos diversos macrossistemas das várzeas no Sul Amazonas e no Nordeste Paraense, além dos
antigos sistemas de terra firme na Região Bragantina e Guajarina, no Pará) estiveram, nesse
meio tempo, acossados ou relegados nos planos político e econômico. No plano político, pela
luta pela terra e pelo asfixiamento das representações de classe que a política sindical lhes
impunha; no plano econômico, pela falta de infraestrutura e pelo forte poder de controle que
o capital mercantil detinha na região. Tiveram, destarte, tanto a sua capacidade endógena de
inovar, quanto o poder de reivindicar inovações às instituições de C&T totalmente bloqueados,
de par com o bloqueio mais amplo que a própria política de desenvolvimento colocava, em
particular no que tange aos recursos de incentivos fiscais e crédito subsidiado.
De modo que, até meados dos anos oitenta, não se detectam impulsos provindos
das diversas estruturas produtivas no agrário regional, das classes e segmentos de classe aí
presentes, capazes de (ou dispostas a) alterar o investimento local em C&T e P&D, seja no
que se refere aos esforços privados dos diversos agentes – resultantes do grau de disposição
e necessidade, da capacidade de formulação e do respectivo poder reivindicativo –, seja no
que trata das disposições públicas dos estados locais. Sem mecanismos capazes de tornar os
empreendimentos de produção de conhecimento para a agropecuária na região parte efetiva
da maioria das trajetórias tecnológicas nela em desenvolvimento, reinou absoluta a política de
fortalecimento do grande empreendimento agropecuário.
227
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Tabela 7.3.3-1 – Evolução da produção de P&D agropecuária por temática – 1995 a 2005
Pecuária de Pecuária Culturas Culturas Total
SAFS1
Corte1 Leiteira1 Permanentes1 Temporárias1 Acumulado
Produção Acumulada
1995 21 6 48 88 25 187
1996 26 6 64 103 30 228
1997 33 10 92 148 44 327
1998 35 27 122 199 60 442
1999 40 37 165 241 100 583
2000 43 40 200 269 121 673
2001 43 48 236 281 160 768
2002 43 57 325 308 182 915
2003 46 64 388 336 205 1.039
2004 55 72 409 353 217 1.106
2005 56 73 419 358 225 1.131
Incremento anual 9% 28% 23% 14% 24% 19%
Estrutura Relativa da Produção Acumulada
1995 11% 3% 26% 47% 13% 100%
1996 11% 2% 28% 45% 13% 100%
1997 10% 3% 28% 45% 13% 100%
1998 8% 6% 28% 45% 14% 100%
1999 7% 6% 28% 41% 17% 100%
2000 6% 6% 30% 40% 18% 100%
2001 6% 6% 31% 37% 21% 100%
2002 5% 6% 36% 34% 20% 100%
2003 4% 6% 37% 32% 20% 100%
2004 5% 7% 37% 32% 20% 100%
2005 5% 6% 37% 32% 20% 100%
Fonte: Embrapa: Base de Dados da Pesquisa Agropecuária. Notas: 1 – Busca boleana, para cada ano, com os termos
e produtos que caracterizam cada tema em “palavra-chave” e todos os estados da Região Norte em “fonte” e cada ano
da série em ano. 2 – Busca boleana com os termos (“leite”ou “leiteira” ou “laticínio”) e (“pecuária” ou “bovina” ou
“bubalina”) em palavra-chave e (“Amazonas” ou “Pará” ou ... [todos os estados da Região Norte]) em fonte e ([cada
ano da série]) em ano.
229
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
230
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
De 1990 a 2006, o Setor Rural na Amazônia cresceu ciclicamente a taxas médias que,
para todas suas macrovariáveis, situavam-se próximas de 5% a.a.. Nesse ritmo, conforme vimos
no capítulo 2, o Valor Bruto da Produção Rural (VBPR) passou de R$ 5,5 para R$ 9,0 bilhões
de reais, a preços constantes do último ano do período, gerando Valor Adicionado (VA) total
de R$ 16,5 bilhões de reais. Tal dinâmica exigiu terras a um ritmo anual de 2,5% a.a. – esta a
velocidade da transformação do bioma, de sua erradicação para a produção de um estoque de terras
(desmatadas pelo menos uma vez) que cresceu de 31,2 para 42,7 milhões de hectares. Associado
a isso, o estoque de áreas degradadas (capoeira sucata) cresceu, como visto no capítulo 3, a 1,5%
a.a., de 2,4 para 3,0 milhões de hectares, e o estoque líquido (emissão menos sequestro) de CO2
emanado das atividades rurais cresceu ao ritmo de 2,1% a.a., de 5,0 mil Gt, nos três primeiros,
para 7,1 mil Gt nos três últimos anos da série.
Delimitadas para 1995, nos bancos de dados do Censo Agropecuário daquele ano,
as trajetórias tecnológicas rurais, reveladas pela metodologia aplicada no subcapítulo 6.4,
demostraram-se localizáveis no tempo-espaço de suas gêneses e evoluções. Nas origens
históricas apresentadas em 6.6 e nos desenvolvimentos recentes particulares tratados na seção
seguinte, matizam-se as especificidades das trajetórias tecnológicas rurais na Amazônia. Das
diferentes composições de atributos, notamos em 6.7 os seguintes padrões, observáveis no
Gráfico 7.4-1.
1) Trajetórias camponesas, em bloco apresentam baixa produtividade monetária do trabalho e
elevada produtividade monetária da terra; adicionalmente, a par da maior empregabilidade,
baixa emissão líquida de CO2 e elevada diversidade.
2) A baixa produtividade monetária do trabalho dessas trajetórias deve ser encarada
como fundamento de vulnerabilidade a ser tratado em perspectiva de desenvolvimento
sustentável, particularmente quando manifesto em pobreza. Problematizaremos essa
questão no capítulo 10.
3) As trajetórias patronais, em bloco, apresentam relativamente elevada produtividade monetária
do trabalho. A mais importante delas, a T4, se caracteriza por baixa produtividade da terra.
Também é marcante sua baixa empregabilidade e performance ambiental deletéria, tanto no
que se refere ao balanço de CO2, quanto em relação ao impacto na biodiversidade.
4) As trajetórias T5 e a T6 apresentam alta performance ambiental no que se refere ao CO2,
porém se baseam em sistemas homogêneos e de baixa empregabilidade.
5) A recém instalada T7 apresenta performances econômica e ecológica superiores à T4, na
esteira da qual vem se constituindo.
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Ocupação Terra CO2
T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7
4,0 40 6,0 20
3,5 29 5,0
3,0 30
4,0 11
2,5
2,0 20 3,0 10
1,5 9 10 2,0 4
1,0 10
1,0 1
0,5
0,0 0 0,0 0
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(D) % do terra para 1% na ocupação (E) % do VBPR para 1% de CO2
T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7
9,0 10 8,0 980
6,0
5,0 678
5,0
4,0 380
4,0
3 2 3,0
3,0
2,0 2,0 80
1,0 1,0
0,0 0 0,0 -220
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T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 1
0,9
0,7
0,5
0,5
0,3 0
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Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Notas metodológicas:
1. Os marcadores na parte A medem a relação entre a participação relativa da trajetória na variável em questão e sua
importância econômica no setor medida pela participação relativa no VBPR. Os valores são, portanto, o número
de pontos percentuais da participação da trajetória no total da variável em questão para 1 ponto percentual de sua
participação na economia (no VBPR total). Para cada ponto percentual de participação na economia (VBPR), a
T1 contribui, em 1995, com aproximadamente 1,3 pontos percentuais dos empregos (uma outra maneira de ler
é que contribuiu com o emprego 30% acima do que contribuiu com o VBPR; em 1990 essa diferença era maior,
basicamente a mesma que encontramos em 2006); 0,6 pontos na ocupação das terras (exige 40% menos terras do
que sua participação na economia; essa diferença tem se mantido baixa, porém crescente no tempo); e em torno de
0,4 pontos na emissão líquida de CO2 (isto é, seu saldo de emissão de CO2 é 60% inferior à sua participação na
economia, tem se mantido baixa porém ligeiramente crescente no tempo); a T3, para obter o mesmo percentual de
VBPR, ao par de participação similar na ocupação, exige mais em terras (0,66) e apresenta um saldo em poluição
bem superior (0,67) que a T1; a T2 apresenta, para participação na ocupação similar às outras camponesas; para
produzir o mesmo 1% da economia rural, ocupa 1,3% da força de trabalho (basicamente a mesma contribuição
da T1) e 0,2% de terras (metade da exigência da T1, produzindo 0,1% da emissão líquida de CO2 do setor. As
patronais T4 e T7 apresentam múltiplos dos índices camponeses relativos às necessidades de terras e às emissões
líquidadas de CO2, ao mesmo tempo que frações dos índices relativos ao emprego. No entanto, quanto a esses
últimos quesitos, a última se mostra superior à primeira. As patronais T5 e T6 são similares às camponesas quanto
às emissões e similares às demais patraonais no que se refere ao emprego.
2. Variações na leitura dos resultados que compõem a parte A permitem leituras “enviesadas” em favor de relações
entre os significados das variáveis, realçando aspectos que importam à análise. Ao se dividir, por exemplo, a
linha VBPR (todos os pontos iguais a 1 na parte A do Gráfico) pelo valores da variável “ocupação” em cada
ponto teremos uma proxy da produtividade (monetária) do trabalho – indicador da eficiência na aplicação das
disponibilidades de trabalho. Portanto:
a. A parte B apresenta o resultado dessa operação: para cada unidade percentual de participação na
ocupação são gerados, respectivamente, 0,71 ponto percentual de VBPR na T1, 0,78 na T2 e 0,84 na T3,
entre as trajetórias camponesas; entre as patronais, 2,4 na T4, 3,6 na T5 e 10 na T6.
b. Na parte C se tem uma proxy da produtividade monetária da terra, obtito pela divisão da mesma linha
VBPR na parte A do Gráfico pelos valores relativos à variável AT. A intensidade no uso da terra se
expressaria no fato de que para cada 1% de participação da T1 no total de terras utilizadas no setor rural,
haveria uma contrapartidade 2,2% no VBPR; no caso da T2, 5,1; da T3, 1,4; em relação às patronais, 1,6
para a T5. 3,7 para a T6, 0,4 para a T4 e 0,7 para a T7.
c. Na parte D se tem uma proxy do custo de oportunidade das emissões líquidas de CO2: o quanto por
cento se gera de VBPR por 1%¨de participação na geração de emissões líquidas de CO2. A T1 gera
2,5% da economia rural por 1% de emissão líquida de CO2 que produz; a T2 6,7, a T3 1, 5, a T5 1,7 a
T4 0,39 e a T7 0,7.
d. Na parte E do Gráfico E-1, tem-se a capacidade específica de poluição da base técnica da trajetória – a
proporção de emissões líquidas para 1% das terras utilizadas.
3. A parte E apresenta um índice de especialização/inverso de diversidade (Id), a partir da composição do VBPR das
VBPRij 2
7 trajetórias j por 10 grupos i de produtos tal que Id = .
VBPRj
4. O Gráfico E-1 apresenta uma síntese das características principais das trajetórias avaliadas mais de uma vez e por
mais de um modo, no curso do livro, principalmente no capítulo 7, por perspectivas que contemplam ideais de
sustentabilidade na combinação equilibrada entre atributos de eficiência econômica e social e prudência ecológica.
Com efeito, o Gráfico E-1 apresenta índices relacionais entre os pesos relativos das trajetórias tecnológicas que
constituem o rural na Amazônia no que se refere a) ao emprego/ocupação (variável de observação: ocupação
total em trabalhadores equivalentes, T), b) à utilização de terras (variável de observação: terra total agricultada,
TA) e c) ao impacto sobre o meio ambiente através c1) da contribuição para o balanço líquido de CO2 (variável
de observação: emissão menos seqüestro de CO2) ou c2) do impacto sobre a biodiversidade (variável, índice de
especialização ou diversidade).
233
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
papel intransferível do Estado garantir o melhor ajustamento, por adequação virtuosa entre a
diversidade estrutural e as peculiaridades, potencialidades e limites dos diversos territórios
que compõem a sociedade regional com a mediação do conhecimento arregimentado pelas
organizações e agentes. Aos processos e aparatos institucionais que podem produzir essa
sinergia trataremos como planejamento – o objeto central da próxima parte do livro.
235
Parte III
Discutimos até aqui a constituição do setor rural na Amazônia por trajetórias tecnológicas,
observando as características de cada uma delas e as interações entre todas, tendo a referência
espacial da grande Região Norte. Trata-se de exercício em recorte, quando se considera o Brasil e
o mundo. Porém, vista em outra perspectiva, é reflexão de elevado grau de abstração. A referência
da grande região e o nível de abstração que sua análise requereu se justifica pela relativa integridade
que a ela confere o bioma amazônico e a centralidade que este deve assumir na análise.
As especificidades intrarregionais, naturais e histórico-sociais, exigem explicitação. É
que se torna cada vez mais evidente que o desenvolvimento – dinâmica de crescimento com
ampliação de capacidades por alteração qualitativa de um todo social – é resultado de processos
multiescalares e multidimensionais referidos a substratos naturais e culturais específicos. Por
isso, tem na especificidade local uma de suas expressões. Manifesta-se, ademais, o processo de
desenvolvimento, na dependência crescente da reprodução dessa especificidade na generalidade
de um sistema-mundo conformado, de um lado, por realidades extralocais, porém, referidas a
fronteiras nacionais; de outro, como parte da relação entre nacional e global – sob a égide do
capitalismo. Sobre isto trata esta parte do livro: na perspectiva de que a questão amazônica refere-
se a formas de produção e ao desenvolvimento, é mister sublinhar a territorialidade dos processos
a isso afetos.
A abordagem aqui privilegiada colide com a ortodoxia que concebe a economia, i.e. o que
se lê como esfera econômica da sociedade, como sistema único em seu elevado grau de abstração,
cujas regras de operação se aplicam a todos os lugares, em uma globalidade representada como
espaço contínuo, na essência, homogêneo, no qual distinções eventualmente observadas seriam
de forma e grau superáveis, assim, na convergência produzida por forças de mercado, irresistíveis
na equiparação – universalização, homogeneização – de fundamentos, valores e capacidades.
A superação dessa metáfora da sociedade, que a representa como sistema mecânico de
expansão linear, e a exposição dos equívocos que produz quando trata de realidades especiais
como a Amazônia, tem exigido reflexões em três fronts: 1) sobre a descontinuidade espacial como
atributo do desenvolvimento; 2) sobre a heterogeneidade e segmentação estrutural internas aos
elementos espaciais descontínuos e 3) sobre a dinâmica evolutiva – as formas de desenvolvimento
(expansão, retração, superação) dos elementos espaciais descontínuos e suas componentes
estruturais heterogêneas, per se, e como parte de totalidades amplas: locais, regionais, nacionais
e mundial.
O esforço vem produzindo novas metáforas que representam o mundo como convívio
do diverso – onde dominam descontinuidade espacial e heterogeneidade de ordens na regulação
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
do espaço econômico, cuja dinâmica é histórica, isto é, não linear, complexa, aberta, incerta.
Produtos de convergências teóricas diversas, as novas abordagens têm encontrado nas redes e nas
aglomerações produtivas seus meios fundamentais de representação estrutural e na perspectiva
evolucionária dos sistemas complexos o recurso heurístico de tratamento dos respectivos
processos históricos.
As noções de trajetórias tecnológicas, de que nos ocupamos na Parte II do livro, em
relação com categorias que expressam processo de aglomeração, como arranjos produtivos locais,
ganharão destaque daqui por diante, eis que fazem parte desse movimento de ideias. As teremos
como referências privilegiadas por razões que se tornarão claras adiante.
Tais noções vêm ganhando presença no Brasil e no mundo. Todavia, seu trajeto tem
sido marcado, principalmente, não apenas no Brasil, por duas características. Por um lado, tem
sofrido uma orientação dominantemente prática – o acesso às noções parece se fazer, desde o
início, marcado por uma preocupação operacional, levando a que sua consideração se faça sempre
mediante um problema de intervenção – de política. Por outro lado, e como uma decorrência, têm
experimentado abordagens em que operam isoladamente, sem a devida integração com outras
categorias que, com elas, vêm formando uma tradição de pensamento – uma hermenêutica –
heterodoxa, produto das convergências teóricas que introduzimos nas três primeiras seções do
Capítulo 5. A abordagem de arranjos produtivos locais no Brasil, por exemplo, tem quase sempre
mencionado, raramente, porém, considerado, com a organicidade devida, as totalidades que lhes
servem de contexto, ou as estruturações que lhes são subsidiárias. Entendendo que são essas
relações que esclarecem o sentido da presença, a definição da dinâmica e orientação do processo
histórico, nosso receio é o de que, sem tais referências, as noções de APL possam se transformar
em categorias idealizadas a pautar protocolos tecnocráticos e funcionalistas: o objeto da percepção
que entende ser a ação em APL um passo no alcance de uma idealização mimética – imitativa de
uma sociedade autodefinida como ideal.
Não se reividica ser a dimensão “prática” (que desde a introdução vimos tratando como
techné) deva ser despida de significado. Ao contrário. Como veremos adiante, ela deve ser
incorporada como mediação da práxis – isto é, mediação da ação para mudança orientada pela
ciência; da intervenção da volição dos homens em sociedade sobre as forças cegas da evolução
para, controlando-as, orientar sua potência criativa rumo a um devir prenunciado1. A discussão
sobre planejamento que dominará esta parte do livro se ajusta a essa percepção.
Esta parte do livro tem, assim, três pretensões: uma, de discutir, no quadro mesmo do
estabelecimento do problema, os riscos da não demarcação das fronteiras turvas entre conhecimento
que se esforça por ser científico e a utilização da ciência para ação política; outra, a de referir as
noções de trajetória tecnológica e arranjo produtivo local a um quadro teórico operacional para o
tratamento do desenvolvimento – local, regional e nacional; a de apresentar as possibilidades de
1 Eleutério Prado opõe o evolucinismo à dialética. Assim, “... o evolucionismo [é] ciência objetivante das transformações cegas
ou parcialmente cegas e a dialética [...] a ciência crítica inerente à práxis humana que torna possível a transformação consciente da
realidade social” (Prado, 2008:26).
240
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
uma tal construção categorial na construção de uma economia política da Amazônia e, por fim, o
de sugerir formas de instrumentação desse conhecimento em um processo objetivo de mudança
da realidade – na práxis do planejamento.
“... uma política econômica determinada é (...) imposta à economia política [que
assim] perdeu seu status científico e se tornou simples ideologia, cujo fito é persuadir
Estados e povos das vantagens daquilo que passou a ser chamado desenvolvimento:
a venda da ideologia do crescimento aos Estados, a imposição de uma ideologia de
sociedade de consumo às populações” (Santos, 2007:15).
“A posição de B. Berry (1971: 139), para quem ‘o crescimento não pode descentralizar-
se espontaneamente’, não é apenas uma posição intermediaria ou simbiótica entre a
daqueles que vêem a macrocefalia como uma tendência irreversível e a daqueles que
a consideram como uma fase dos processos de crescimento. Para Berry, a reversão
da tendência deve ser desejada e planejada.”(Santos, 2007:80. Grifos meus, FAC).
A “Posição de Berry” não é, indica o autor na citação acima, uma mera solução teórica
de enunciados opostos sobre um mesmo objeto – uma síntese construída na antítese das
posições. Trata-se, na verdade, de um desfecho, em dois atos, da tensão entre as condições logo
e techné do conhecimento acumulado pelas ciências regionais – economia e geografia – sobre o
desenvolvimento.
O primeiro ato implica o reconhecimento de que, não obstante com limites, a reversão
das desigualdades no quadro institucional do capitalismo pode ser produto do desejo, da decisão
e da ação política – do planejamento, da disposição planejada, pois; o segundo ato, por seu
turno, implica o entendimento de que na materialização dessa disposição se recorrerá a todo
conhecimento, tanto o que disseca os mecanismos de irreversibilidade, quanto o que esmiúça
causas de situações revertidas.
Vista por outro prisma, a “Posição de Berry”, com o discernimento, exige práxis – isto é,
ação social orientada pela ciência; como tal, é postura que comanda uma releitura do conhecimento
243
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
acumulado como “ciência regional” (logo) numa perspectiva de ação própria a uma “ciência do
planejamento” (techné). O movimento resultará num quadro em que o conhecimento se legitima
quando apropriado como protocolo da práxis. Nesse ponto, poder-se-á cogitar que a dimensão
logo foi subordinada à dimensão téchne de um programa de conhecimento.
Para Conti e Giaccari, esse processo estabelece uma “razão funcionalista”, para a qual:
“The assumption of an adequate social order cannot be separated from the inspiring
principles of strategies and policies aimed at correcting the mode of functioning of
modern society, which finds cohesion in the efficiency of the state, in the Fordist
corporation and in appropriate economic planning activities.” (Conti, Giaccaria,
2001:97).
“...a lista das causas do subdesenvolvimento e da pobreza no Terceiro Mundo não pode
estar completa antes que se dê a devida ênfase à importância do papel desempenhado
pelo planejamento [...que...] tem sido um instrumento indispensável à manutenção
e ao agravamento do atraso dos países pobres, assim como ao agravamento ou à
exacerbação de disparidades sociais”. (Santos, 2007:13).
No que se refere aos países industriais, a crise iniciada nos anos setenta alongou-se na
década seguinte, revelando de diferentes modos a falência da teoria funcionalista do planejamento.
Para Conti e Gianccari,
245
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
“… it was specially the ‘weakest’ regions which were affected by the general recession
that hit the Western economies [in the seventies]. The outcome of thirty years of
regional policies was clear to the eyes of all: an uninterrupted chain of geographical
and cultural ‘ruptures’ and – from economic point of view – the substantial under use
of the (economic, historical and ecological) potential of the regions involved in the
development programs.” (Conti e Gianccari, 2001:103).
“… growth theory became excessively technical and steadily lost contact with
empirical application. In contrast, development economist, who are required to give
advice to sick countries, retained a applied perspective and tended to use models
that were technically unsophisticated but empirically useful. The fields of economic
development and economic growth drifted apart, and the two areas became almost
completely separated.”. A partir de então “...probably because of its lack of empirical
relevance, growth theory effectively died as an active research field…” (Barro e
Sala-I-Martin, 1995: 12).
Nos anos oitenta, questões do próprio campo científico tiveram importância para a crise
das ciências regionais. Há que considerar, porém, outro ponto de vista: as questões regionais,
ao lado da pesquisa sobre os fundamentos mais profundos e os determinantes de longo prazo
do desenvolvimento, tiveram sua importância empalidecida no período porque tornaram-
se subordinadas às visões globalizantes e abstratas da dinâmica social e econômica que
acompanharam, orientando, o curso das reformas políticas liberais que marcaram as décadas de
oitenta e noventa. Poder-se-ia indicar, nessa perspectiva, que a economia regional foi deslocada
da pauta acadêmica, porque deslocada da pauta política de mais elevado nível estratégico.
Em tal contexto, reafirma-se a perspectiva mecânica do equilíbrio geral, segundo a qual
a existência de regiões é fato teoricamente relevante somente quando diferenças marcadas nas
248
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
variáveis de renda, com implicações na renda per capita, são estatisticamente correlacionáveis
a referências espaciais. Todavia, dado que, pelos mecanismos de mercado, os diferenciais de
renda tenderiam necessariamente a desaparecer, as regiões seriam “momentos”, referências
necessariamente transitórias. De modo que, nesse período, a discussão mais acalorada que se
produziu no âmbito da economia regional foi, sintomaticamente, a relativa à convergência da
renda per capita entre as regiões (Barro e Sala-I-Martinn, 1991). A rigor, a economia regional
assim orientada “discutia” o fim do seu objeto.
Nos últimos anos, contudo, as teorias do desenvolvimento vêm acusando o impacto de
dois conjuntos associados de eventos empíricos e teóricos. Empiricamente, mudanças de padrões
de desenvolvimento com implicações territoriais claras têm demandando, tensamente, abordagem
espacialmente referida. A isso já nos reportamos.
O outro conjunto de eventos relevantes refere-se à novidade que, relacionadas a essas
ocorrências empíricas, afloraram novas perspectivas teóricas instrumentadas nas possibilidades
heurísticas da noção de auto-organização, fundamento dos paradigmas de não linearidade na
evolução dos sistemas complexos. Com utilização crescente pelos cientistas naturais nas últimas
décadas, as abordagens complexas e não lineares têm encontrado emprego entre os economistas
por permitir operar metodologicamente com desembaraço a representação de realidades fora do
equilíbrio – as que, por suposto, abrigam os pressupostos de crescimento e desenvolvimento.
Tanto que não tardou a se constatar que,
“... High development theory [ver 8.1] was right. (...): their emphasis on strategic
complementarity in investment decisions and on the problem of coordination failure
did in fact identify important possibilities that are neglected in competitive equilibrium
models” (p.28). De modo que, “...these ideas have had to be rediscovered..” [and]
only recently have changes in economics made it possible to reconsider what the
development theorist said, and to regain the valuable ideas that have been lost” (p.7).
Por outro lado, ao explorar as possibilidades das abordagens não lineares e complexas
os economistas vêm fornecendo um novo conjunto de ferramentas teóricas que subsidiam uma
verdadeira “geographical revenge” (Conti e Giaccaria, 2001:84), no sentido de estabelecer a
dimensão local, com toda sua concretude, como entidade intermediária necessária à compreensão
do desenvolvimento, a par de situar tal dimensão na amplitude de um mundo em redes. Nessa
tarefa, a separação positivista entre as ciências sociais tem sido sistematicamente superada.
Thrift, 1982, 1983). Assim que, ganham destaque na observação dos modos objetivos de realização
das dinâmicas de desenvolvimento – localmente referido, por suposto –, na esteira e no entorno
da produção em massa, tanto as formas hieraquizadas que assume a produção concatenada e
reflexiva à grande corporação (Scott, 1988 e Storper e Walker, 1989) quanto, para muito além
desta, as formas de produção sob especialização flexível, dominadas por relações horizontais
difusas (Piori e Sabel,1984; Sabel 1989); as formas como concretamente se constituem essas
aglomerações e quais suas faces organizacionais; as lógicas territoriais precisas que subjazem
às economias externas marshalianas e à formação de capital social e como se estabelecem, que
papéis desempenham na reestruturação subjacente ao desenvolvimento (Conti e Julien, 1989);
por fim, como se constituem tais realidades objetivas e diversas como parte de um único sistema,
ou economia-mundo (Conti, 2005).
De tudo, emerge uma discussão do desenvolvimento endógeno caracterizada por
sugerir que a dinâmica das sociedades contemporâneas apresenta características bem distintas
das que se pressupunha para um mundo estático, descritível pela mecânica do equilíbrio geral.
Eis que:
oferece uma representação baseada em dois tipos de redes: redes globais representam
articulações entre agentes por trocas recíprocas numa estratégia de globalização em
um sistema policêntrico, no qual cada centro ou nodo da rede contribui com recursos
específicos; redes locais, por seu turno, representam as relações entre agentes auto-
contidos em um dado lugar entendido como escala geográfica que permite relações face
a face, de reciprocidade e confiança. Com isso, se dispõe de múltiplas possibilidades de
agrupamentos nas interações entre local e global.
A noção de empresa como sistema aberto é seminal a tudo mais na elaboração que
segue. A noção de empresa sem conteúdo interior, como reclamava Edith Penrose, unidade
de um universo homogêneo, ao qual se ajusta organicamente por racionalidade única de
maximização de lucro, ou contida por mecanismo de equilíbrio geral, estacionário (como
formula a tradição neoclássica), ou produtora de uma hierarquia piramidal ditada por
concentração e centralização irrestrita (como dita a tradição marxista), imune aos efeitos do
ambiente, seja natural ou social, consumidora incontida de elementos tecnológicos gerados
em qualquer lugar; esta noção de empresa é substituída, na convergência heterodoxa do
desenvolvimento endógeno, pela empresa protagonista da dinâmica de inovação pela interação
contínua – sistêmica – com o entorno na busca de respostas a necessidades concretas da
reprodução social (obtenção de produtos e serviços objetos da divisão social do trabalho),
mediante problemas, condições e oportunidades que emergem em situações concretas – do
ponto de vista institucional e natural - que muito diferem de um lugar a outro (Penrose,
Chandler, Rosenberg, Porter, apud Conti p. 5). Exercitamos essa noção em nosso programa
de pesquisa, com resultados que podem ser avaliados em Costa (2012a e 2012c).
Neste livro importa estabelecer que, como sistemas abertos empresas ganham sentido
quando referidas a contextos – estruturações – sistêmicos: as trajetórias tecnológicas, as cadeias
produtivas e de valor, os aglomerados locais (arranjos produtivos locais), os aglomerados
regionais – economias locais – e as redes pervasivas que integram tudo. Vejamos, uma a uma,
essas noções, observando suas ontologias comuns e, assim, o modo como podem se integrar
compondo uma teoria.
254
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Como sistemas abertos, firmas ganham sentido quando referidas aos contextos em que se
ajustam “...relações entre empresas e entre estas e as demais instituições [na obtenção de produto
específico] dentro de um espaço geográfico definido” (Cassiolato e Lastres, p. 23). Sistemas
regionais, ou regionalizados, têm aqui seu lugar e, neles estabelecida, a noção de Arranjos e
Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (ASPIL).
A categoria ASPIL oferece possibilidades de visualizar a existência e reprodução
social nas relações que integram a sua esfera “propriamente” econômica, com as esferas social
e política (capital humano: nível de cultura e de habilidade dos cidadãos; capital social: nível
das organizações da sociedade civil e sua capacidade de gerar e aplicar novos conhecimentos),
expressas em totalidades referidas a produtos (lugar sistêmico na divisão social do trabalho) e
localidades (lugar geográfico no sistema social) concretos.
Há perspectivas que entendem ser tais arranjos referências estruturais relevantes nas
condições em que reinam processos de especialização flexível, apenas no quadro das realidades
industriais mais avançadas (Porter, 1989). Em relação a isso, Cassiolato e Lastres (1999 e 2003),
seguidos por uma já vasta literatura produzida por integrantes da RedeSist, oferecem a visão mais
geral de que, em qualquer realidade social do capitalismo, intrinsecamente submetida a tensões
para mudar por força de sua participação na divisão social do trabalho por mediação do mercado,
a dinâmica de ajustamento produtivo e reprodutivo que responde a tais tensões pelo uso das
disponibilidades, sempre locais, de capital humano, de capital físico e capital natural implica, isto
é, requer e cria, interações cooperativas entre as unidades mais irredutíveis (unidades produtivas e
de consumo), canais de acesso dessas unidades ao saber codificado ou tácito necessário à inovação
tecnológica ou social, e de elementos de governança (nódulos estratégicos de coordenação), sejam
eles formais ou informais, maduros ou insipientes.
Sobressaem duas condições do ASPIL: ele é uma emergência que se conforma como
mesorrealidade local dinâmica (emerge e se desenvolve); ele é, ao mesmo tempo, componente de
uma divisão social do trabalho organizada nacional e globalmente.
Um ASPIL situado num lugar qualquer, chamemos j, absorve um conjunto de inputs,
processa-os nos sistemas produtivos de suas empresas dando origem a um produto determinado, i.
256
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Denominemos essa estruturação genérica que produz em j, i, de ASPILj,i. Os inputs são produtos de
trajetórias tecnológicas que se originam ou tangenciam o lugar j. Dessas trajetórias tecnológicas
que fornecem pressupostos da produção dos arranjos tratados, há as que operam requerendo
dominantemente ativos específicos locais (trajetórias α) e as que operam com dominância de
ativos genéricos, de controle supralocal (trajetórias β). Trajetórias a montante, α e β, são trajetórias
constituintes dos arranjos α,βASPILj,i (ver ilustração na Figura 1).
Figura 8.4.3-1 – ASPIL e Trajetórias: Trajetórias alfa de base local se relacionam com trajetórias
beta, extra local para constituir um ASPIL. Este é a expressão local de uma trajetória tecnológica
de expressão maior que o local.
ASPIL de i=l
no lugar j
Constituintes
Trajetórias
Trajetórias
Constituída
(produto i=l
na variante
tecnológica z)
Trajetória Constituinte
ASPIL
Trajetória Constituída
8.4.6 Trajetórias Tecnológicas e Cadeias de Valor: tessituras das redes horizontais e verticais
que articulam ASPILs como nodos de setores das economias regionais e nacional e nodos das
economias locais
260
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
ASPIL de i=l
no lugar j
Constituintes
v2
Trajetórias
Constituída
(produto i=l
v1 na variante
tecnológica z)
Trajetória Constituinte
ASPIL
Trajetória Constituída
Cadeia do valor
Por fim, as cadeias de valor comportam três dimensões: uma estrutura de insumo-produto
articulando um conjunto de produtos e serviços numa sequência de atividades de formação de valor;
uma territorialidade que identifica a dispersão ou concentração geográfica da produção de matérias
primas e produtos acabados, bem como a localização de redes de comercialização e exportação; e
uma estrutura de governança – uma dimensão institucional, estruturada hierarquicamente ou em
rede, que determina como os recursos humanos, materiais e financeiros, bem como o lucro, são
alocados e circulam no interior da cadeia (Appelbaum e Geriffi, 1994ª: 42).
em interações espacialmente contidas, conformam as economias locais. Com isso, temos uma
estrutura categorial que permitiria descrever e analisar as redes que articulam esses diferentes
níveis. O que dizer das possibilidades de avaliação, de verificação da direção e sentido apontado
pela dinâmica do conjunto – do desenvolvimento da economia e sociedade? Trata-se de questão
fundamental.
Um ponto de partida para a discussão seria o de que à condição de desenvolvimento se atribui
um processo de crescimento com produtividade crescente: uma dinâmica extensiva, de elevação
de escala e capacidade produtiva associada, seja como causa, seja como efeito, a uma mudança
de qualidade nos fundamentos produtivos da sociedade que se reflita na elevação continuada da
produtividade. Tanto a proposição de Kaldor (Setterfield, 2010), tratada no subcapítulo 5.6, quanto
os modelos de polarização de Krugman (1985), que discutiremos no capítulo 12, têm suposto que
a produtividade crescente deriva de economias de escala dinâmicas: o crescimento em tamanho
aprofundaria a divisão social do trabalho com efeitos sobre a produtividade. Ambos, Kaldor e
Krugman, supõem como fator de formação de ganhos de externalidade o aprendizado difuso que
se faz como decorrência das oportunidades associadas a uma expansão. Tratar-se-ia, no entanto, de
resultado, mecanicamente alcançado – inferido com linearidade cartesiana – de ganhos de tamanho
combinados, no caso de Krugman, com efeitos locacionais derivados dos custos de transporte.
Há que aduzir a estas percepções, de alcance sistêmico, por certo, porém fortemente
pautadas por raciocínio lógico-formal, a noção de que a produtividade crescente que fundamenta
o desenvolvimento resulta, em perspectiva histórico-estrutural, de capacidades concretas, que
emergem, em processos dependentes de trajetória, históricos, portanto, da interação consistente de
agentes e agências, ações e estruturas que se reproduzem em contextos particulares, constituindo
sistemas complexos de conhecimento, regulações e capacidades culturais que forjam a qualidade
dos territórios. A partir do trabalho seminal de Freeman (1988), revelando essa dimensão em
território nacional como sistema nacional de inovação, desenvolveram-se noções correlatas de
sistemas regionais de inovação (Lundval, 2002; Cooke, Morgan, 1998). As noções de ASPILs, que
fundamentam o programa da RedeSist, incorporam essa dimensão no nível mais elementar de sua
ocorrência (Cassiolato, Lastres, 2003).
Todas essas contribuições tratam a formação dessa dimensão dos sistemas produtivos,
essencialmente, como dinâmicas de emergência. Com efeito, observadas as gêneses, constatam-
se estruturações conformadas em trajetórias, cadeias de valor, arranjos produtivos, etc. É que,
tanto as trajetórias, quanto as cadeias organizam governanças e têm suas dinâmicas condicionadas
por fontes de conhecimento referidas a sistemas de produção e difusão de saber tecnológico ou
gerencial, também de diferentes níveis – locais, regionais e nacionais – laboratoriais ou tácitos.
Assim que, as economias locais, em particular, os seus polos urbanos centrais, são mais que a soma
dos ASPIL(s) que as compõem: sobretudo em seus lugares centrais elas abrigam os sistemas locais
de conhecimento, inovações e serviços produtivos que se formam em torno das cadeias de valor e
trajetórias constituintes dos ASPIL, os quais, por seu turno, mobilizam e contêm conhecimentos e
capacidades derivados das trajetórias respectivas por eles constituídas.
262
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
instância, uma visão teleológica da história. Vimos também a severa crítica que a isso se fez, já
nos anos setenta. Na vanguarda do questionamento, Milton Santos afirmava que entre as causas do
subdensenvolvimento e da pobreza no “terceiro mundo” estaria o planejamento (Santos, 2007:13).
Depois, a posteriori da crise do final da década, debitava-se ao planejamento uma sequência de
rupturas geográficas, culturais e ecológicas nos países industriais do “primeiro mundo” (Conti e
Giaccaria, 2001).
O planejamento pressupõe finalidade (o desenvolvimento: como crescimento, como
capacidade de consumo, como emancipação, como liberdade?), envolve sujeito (a sociedade
em sua dimensão política), objeto (a sociedade em sua dimensão econômica) e processo (ação
e retroação coordenadas e controladas por conhecimento e experiência, orientadas a fins
compatíveis com devir alternativo, pressuposto superior ao destino – seja ele orientado pela
metafísica religiosa, ou pela metafísica do laissez faire. No passado, as críticas se referiam
à temeridade de fins definidos por uma ciência, tida com capacidade iluminista de discernir
razões de última instância, legitimada pela práxis. Sobre isso Santos perguntava: se a práxis
legitima a ciência, quem legitima a práxis? Se a resposta fosse a política, a questão seria como
compatibilizar os objetivos (conhecimento como logo) e regras de campo (Bourdieu: crítica,
autonomia, isenção) da ciência, com os da política (conhecimento como techné: protocolo
de ação forjado sobre compromisso para controlar danos de dissenso). Quanto ao sujeito do
planejamento, as críticas se referiam à dúvida sobre a efetiva condição do Estado de contrariar
as forças econômicas dominantes, da grande corporação e do capital financeiro, de modo a
corrigir iniquidades espaciais e sociais; sobre o objeto. Questionava-se se o planejamento do
desenvolvimento seria capaz de considerar o todo do corpo social, dadas cisões – a realidade
da diversidade da estrutura social e econômica (Santos, 2007:34); por fim, porém não menos
importante, a indagação de se seria possível contar com uma ciência capaz de cumprir seu
dever de bússola na busca de um futuro sem pobreza, livre e harmônico – desenvolvido.
Transcorrido meio século desde as grandes controvérsias, todas as questões sobre o
planejamento voltam a se colocar, iniciando pela mãe de todas elas: os programas de pesquisa
que perseguem as hipóteses de convergência têm corroborado a ideia de que é intrínseca ao
sistema capitalista a capacidade mecânica de eliminação de iniquidades, mesmo a mais absoluta
da pobreza extrema? A rigor, uma questão precede esta: mostra-se o capitalismo liberal, como
organizador do sistema-mundo, capaz de cumprir a promessa da modernidade ocidental – de
liberdade, igualdade e fraternidade para toda a humanidade? Esta é questão seminal porque,
se a resposta é não, e se tem, na visão de futuro, consolidadas ideias-forças transformadoras –
ideias de justiça e capacidade de permanência, princípios modernos de progresso pautado no
ideário do desenvolvimento sustentável, para o qual a sociedade se coloca o dever de equacionar,
sem hierarquia, orientações estratégicas de eficiência econômica, equidade social e equilíbrio
ecológico; se, enfim, se busca “...um futuro sem pobreza, livre e harmônico – desenvolvido”,
como acima formulamos, nos é dado intervir. Cabe, porém, pescrutar sobre os fundamentos de
conhecimento para tanto. A pergunta chave será: o estado do conhecimento sobre a sociedade e
266
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Uma nova institucionalidade deverá ter capacidade de prover direção, compatível com
o sentido estratégico de um novo desenvolvimento, para a ação de agentes privados e dos
diversos níveis de governo, inclusive o local, na Amazônia. Mecanismos de financiamente são
importantes para isso. Não obstante, igualmente importante é a capacidade institucional para
formular propostas de referência, ex ante e ex post dos momentos-chave dos processos decisórios
(antes e depois do ano agrícola, antes e depois das estações de pesca, etc.). De propostas
de referência devem constar diagnósticos e prognósticos que apontem consistentemente
para tendências e oportunidades, os quais embasam planos de ação, com estratégias de
financiamento, e exigências de políticas públicas consistentes. No conjunto, esses instrumentos
podem produzir convergência entre o que se sabe sobre o lugar e a forma das ações das quais se
pode esperar derivar o desenvolvimento com esperança de sustentabilidade e os resultados da
incorporação dinâmica e qualificada das perspectivas de desenvolvimento dos sujeito sociais e
suas críticas do já feito. Uma vez produzidas, essas peças de conhecimento techné deverão se
constituir em parte integrante, em momento particular e ativo, tanto da discussão geral sobre
269
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
2 O melhor aproveitamento dessa possibilidade exige a consideração do sentido da relação concreto-abstrato, isto é, da dialética
da construção do “concreto” como produto do pensamento em contexto historicamente delimitado e, assim, a construção do concreto
como “concreto pensado”, tal como já enunciava Marx em seu mais mais denso texto metodológico (Marx, 1968). A atualidade
metodológica dessa “aventura crítica”, o nível de convergência de suas proposições com as questões de complexidade que hoje
emergem dos esforços no tratamento das relações ação-estrutura, como já indicamos em diferentes momentos (sobretudo no Capítulos
5), em que se incluem os programas heterodoxos da economia e os programas mais avançados da sociologia e de outras ciências da
sociedade, pode ser avaliada em Bensaïd (1999).
271
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
3 “No limite, se quer fazer crer que todas as atividades econômicas podem ser organizadas sob o formato de APLs, o que nos parece
no mínimo um exagero” (Carleial, 2011: 128).
4 “Na verdade, a banalização do conceito de APL fez com que, mediante metodologias simples de identificação de aglomerações
produtivas fossem definidos “APLs”, mesmo que nenhuma outra das condições discutidas [...do Sistema Regional de Inovação
(SRI)...] estejam presentes” (Caleal, 2011:127).
272
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
isso poder-se-á atuar sobre ele, seus elementos e estruturações constituintes e constituídas.
Vejamos isso com mais detalhes.
Capítulo 9
Trajetórias Tecnológicas e Sistemas Agrários
5 As categorias “sistemas agrícolas” e “sistemas agrários” são usadas aqui com conotações semelhantes às empregadas por Mazoyer
(1996), com diferenças metodológicas e teóricas já indicadas em Costa (2006, 2000, 1997, 1998 e 1996) e Hurtienne (2001).
275
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
nos períodos P1=1990 a 1992; P2=1994 a 1996 e P3=2004 a 2006. Proporções próximas a
essas se constatam também em relação a área agricultada, área degradada, emissão líquida de
CO2 e emprego (ver Tabela 9-1). Os cinco mais importantes desses sistemas agrários, por peso
no VBPR, são também expressivos de padrões dominantes nessa variedade.
O sistema agrário da mesorregião Sudeste Paraense apresenta uma configuração de
sistema agrário dominado pela Trajetória-Patronal.T4 (45% do VBPR) que, não obstante,
perde terreno para a T7 e convive com trajetórias camponesas de presença relevante, como
a Trajetória-Camponesa.T3 (17% do VBPR), a Trajetória-Camponesa.T2 (15% do VBPR)
e a Trajetória-Camponesa.T1. A mesorregião Sudeste Paraense, sozinha, representa 21% de
todo o VBP setor rural da Região Norte, constuindo-se, assim, no mais importante sistema
agrário da grande região nesse, como em outros quesitos: representa também 28,7% das terras
desmatadas para a agropecuária, 18,5% das terras degradadas, 30,4% das emissões líquidas de
CO2 e 13,9% do emprego rural naquele período.
O sistema agrário da mesorregião Leste Rondoniense é o segundo mais importante
sistema agrário da Região Norte, caracterizado pela ocupação recente com liderança da
Trajetória-Camponesa.T1, que representando 59% do VBP rural médio de 2004 a 2006
constitui, com folga, a mais importante trajetória ali em evolução. A T4 está presente com 30%
do VBPR, polarizando, desse modo, com a primeira, as duas compondo quase 90% do VBPR.
O Leste Rondoniense, explicando 11% do VBPR da Região Norte, representa 11,9% das terras
desmatadas para a agropecuária, 3,8% das terras degradadas, 12% das emissões líquidas de
CO2 e 13,4% do emprego rural no período considerado.
A mesorregião Centro Amazonense abriga o terceiro mais importante sistema agrário
da Região Norte, marcado por ocupação antiga de várzea sob a liderança da Trajetória-
Camponesa.T2. Esta trajetória, com 35% do VBP, é a mais expressiva do sistema agrário
que se caracteriza por ser dominado por trajetórias camponesas: a Trajetória-Camponesa.T1
detém 33% e a Trajetória-Camponesa.T3 23% do VBPR. Das patronais, apenas a T5, com
5% do VBP, tem alguma expressão. Representando aproximadamente o que pesa o sistema do
Leste Rondoniense, 10,6% do VBPR, o Centro Amazonense representa apenas 1,7% das terras
desmatadas para a agropecuária, 1,5% das terras degradadas, 1,4% das emissões líquidas de
CO2 e 11,5% do emprego rural daquele período.
A mesorregião Ocidental do Tocantins abriga o quarto mais importante sistema agrário
da Região Norte, marcado por ocupação antiga de áreas de terra firme sob a liderança da
Trajetória-Patronal.T4. A Patronal.T4, em cooperação com a Camponesa.T3, tem o domínio
do sistema dado que representando, respectivamente, 63% e 20% dodo VBPR. A T7 vem
ganhando terreno, dado que já representa 14% do VBPR. Resultado de suas características,
o sistema agrário da Ocidental do Tocantins, produzindo 10,3% do VBP, representa 20,2%
das terras desmatadas para a agropecuária, 22,2% das terras degradadas, 21,5% das emissões
líquidas de CO2. Ao lado disso, responde por apenas 5% do emprego rural no período.
276
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 9-1 – Composição das Mesorregião por Trajetórias Tecnológicas (Baseada na média do
VBPR de 2004 a 2006)
60%
70% 60%
50% 50%
50% 40% 40%
20% 20%
10%
10% 10%
-10% 0% 0%
T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7
277
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
278
Tabela 9-1 – Evolução da Estrutura Relativa de Variáveis Fundamentais do Setor Rural por mesorregiões da Região Nortes
Valor Bruto da Pro- Área Área Degradada
Área Trabalhada Balanço de CO2 Emprego
dução priva- (capoeira sucata)
Mesorregiões 90 a 94 a 2004 a tizada 90 a 94 a 2004 a 90 a 94 a 2004 a 90 a 94 a 2004 a 90 a 94 a 2004 a
92 96 2006 em 92 96 2006 92 96 2006 92 96 2006 92 96 2006
1995
16,8% 15,9% 21,0% 20,3% 24,5% 21,2% 28,7% 16,1% 13,7% 18,5% 25,8% 22,1% 30,4% 13,8% 14,1% 13,9%
Francisco de Assis Costa
Leste Rondoniense (RO) 10,8% 11,2% 10,9% 10,7% 8,7% 10,3% 11,9% 2,3% 3,1% 3,8% 8,2% 10,0% 12,0% 14,7% 14,3% 13,4%
Centro Amazonense (AM) 8,6% 11,6% 10,6% 3,2% 1,8% 2,2% 1,7% 2,1% 2,1% 1,5% 1,7% 1,7% 1,4% 9,5% 9,9% 11,5%
Ocidental do Tocantins
12,6% 11,0% 10,3% 19,9% 26,7% 27,5% 20,2% 23,4% 27,5% 22,2% 28,2% 29,2% 21,5% 6,9% 6,3% 5,0%
(TO)
Nordeste Para (PA) 8,5% 9,0% 6,6% 3,7% 3,6% 3,2% 3,3% 9,5% 8,3% 9,6% 2,9% 2,6% 2,7% 14,3% 14,2% 14,5%
Sul Amazonense (AM) 3,9% 4,0% 6,0% 2,0% 0,5% 0,8% 1,1% 0,7% 1,1% 1,7% 0,5% 0,6% 0,9% 3,6% 3,4% 3,0%
Oriental do Tocantins
3,0% 2,6% 4,7% 10,4% 13,4% 13,2% 9,5% 23,8% 23,7% 17,6% 13,9% 13,7% 9,9% 3,7% 3,5% 2,6%
(TO)
Baixo Amazonas (PA) 5,0% 4,7% 3,5% 5,6% 2,6% 2,7% 2,3% 7,1% 6,6% 6,5% 2,4% 2,3% 2,0% 6,5% 6,5% 6,7%
Norte Amazonense (AM) 1,5% 2,7% 3,4% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,2% 0,2% 0,2% 0,0% 0,0% 0,0% 1,3% 1,2% 1,2%
Metropolitana de Belém
279
2,3% 3,2% 3,2% 0,4% 0,5% 0,4% 0,4% 0,7% 0,5% 0,4% 0,4% 0,3% 0,3% 1,8% 1,9% 1,6%
(PA)
Marajó (PA) 8,8% 5,8% 3,2% 4,8% 4,3% 3,9% 2,5% 6,8% 4,5% 2,4% 3,9% 3,6% 2,4% 5,8% 5,8% 5,9%
Sudoeste Pará (PA) 2,9% 3,7% 3,1% 5,6% 2,7% 3,1% 4,4% 1,0% 1,5% 2,7% 2,6% 3,0% 4,5% 5,1% 5,2% 4,9%
Madeira Guaporé (RO) 1,2% 1,3% 2,8% 2,1% 0,8% 1,1% 3,5% 1,6% 2,1% 7,6% 0,7% 1,1% 3,4% 1,4% 1,6% 2,2%
Valedo Acre (AC) 1,8% 2,1% 2,5% 3,9% 1,2% 1,7% 2,5% 0,7% 1,1% 1,7% 1,3% 1,8% 2,7% 2,8% 2,9% 3,3%
Suldo Amapá (AP) 6,0% 4,3% 2,3% 0,6% 1,6% 1,4% 2,1% 1,4% 1,4% 1,4% 0,7% 0,7% 0,5% 0,7% 0,7% 0,6%
Sudoeste Amazonense
2,2% 2,5% 2,2% 0,7% 0,2% 0,3% 0,2% 0,1% 0,2% 0,1% 0,2% 0,2% 0,2% 4,0% 4,2% 5,3%
(AM)
Valedo Juruá (AC) 1,2% 1,6% 1,3% 1,3% 0,4% 0,4% 0,5% 0,3% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4% 0,5% 2,2% 2,2% 2,2%
Norte de Roraima (RR) 1,7% 1,5% 1,2% 3,5% 5,8% 5,6% 4,0% 1,9% 1,6% 1,0% 5,7% 5,6% 4,0% 1,1% 1,0% 1,1%
Sulde Roraima (RR) 0,5% 0,7% 0,7% 1,0% 0,3% 0,4% 0,4% 0,2% 0,3% 0,3% 0,3% 0,4% 0,3% 0,8% 0,7% 0,8%
Nortedo Amapá (AP) 0,4% 0,5% 0,6% 0,4% 0,5% 0,4% 0,4% 0,2% 0,2% 0,2% 0,5% 0,4% 0,3% 0,2% 0,2% 0,3%
Total da Região Norte 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Fonte: Dados básicos do IBGE. Notas metodológicas: ver Gráficos 2-1 ao 2-7.
Tabela 9-2 – Estrutura do Setor Rural da Região Norte considerando as Trajetórias Tecnológicas por Mesorregião (Baseada
na média do VBPR de 2004 a 2006)
% VBPR - Total das colunas = 100% VBPR % - Total das linhas = 100%
Trajetórias Trajetórias
Mesorregião Trajetórias Patronais Trajetórias Patronais
Camponesas Total Camponesas Total
T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7
Sudeste Paraense (PA) 11% 15% 19% 6% 0% 40% 24% 21% 12% 15% 17% 1% 0% 45% 10% 100%
Leste Rondoniense (RO) 27% 1% 3% 13% 0% 10% 10% 11% 59% 2% 5% 5% 0% 22% 8% 100%
Centro Amazonense
15% 19% 13% 13% 0% 1% 0% 11% 33% 35% 23% 5% 0% 3% 0% 100%
(AM)
Ocidental do Tocantins
0% 1% 11% 0% 0% 27% 17% 10% 0% 3% 20% 0% 0% 63% 14% 100%
(TO)
Nordeste Paraense (PA) 7% 15% 3% 12% 0% 4% 0% 7% 24% 44% 9% 7% 0% 16% 0% 100%
Sul Amazonense (AM) 2% 7% 22% 0% 0% 0% 0% 6% 6% 23% 69% 0% 0% 1% 0% 100%
Oriental do Tocantins
0% 1% 6% 0% 0% 0% 38% 5% 2% 4% 23% 0% 0% 1% 68% 100%
(TO
Baixo Amazonas (PA) 9% 1% 2% 8% 16% 1% 2% 4% 58% 5% 9% 9% 8% 6% 5% 100%
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Norte Amazonenense
0% 15% 2% 0% 0% 0% 1% 3% 0% 87% 11% 0% 0% 1% 1% 100%
(AM)
280
Metropolitana de Belém
2% 6% 0% 33% 0% 0% 3% 3% 15% 35% 0% 41% 0% 2% 7% 100%
(PA)
Marajó (PA) 5% 8% 0% 0% 0% 1% 0% 3% 41% 52% 0% 0% 0% 7% 0% 100%
Sudoeste Para (PA) 7% 1% 0% 3% 0% 5% 0% 3% 55% 3% 0% 4% 0% 38% 0% 100%
Madeira Guaporé (RO) 5% 1% 2% 0% 0% 5% 0% 3% 38% 6% 10% 0% 0% 46% 0% 100%
Vale do Acre (AC) 3% 2% 5% 3% 0% 2% 0% 2% 25% 14% 37% 5% 0% 19% 0% 100%
Sul do Amapá (AP) 1% 2% 0% 6% 84% 0% 0% 2% 8% 19% 0% 10% 62% 2% 0% 100%
Sudoeste Amazonenense
4% 2% 3% 0% 0% 0% 2% 2% 41% 22% 28% 0% 0% 2% 7% 100%
(AM)
Vale do Juruá (AC) 0% 0% 6% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 4% 91% 0% 0% 5% 0% 100%
Norte de Roraima (RR) 1% 1% 2% 1% 0% 1% 2% 1% 11% 16% 37% 4% 0% 20% 12% 100%
Sul de Roraima (RR) 2% 0% 0% 1% 0% 0% 0% 1% 70% 4% 4% 6% 0% 16% 0% 100%
Norte do Amapá (AP) 0% 1% 1% 0% 0% 1% 0% 1% 16% 29% 24% 0% 0% 27% 4% 100%
Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 24% 20% 19% 4% 2% 24% 8% 100%
Capítulo 10
Trajetórias Tecnológicas, Sistemas agrários e condições
reprodutivas de estruturas e sujeitos da produção rural
– Um problematização do desenvolvimento endógeno,
sustentável e inclusivo da Amazônia
283
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Entre os Censos de 1995 e 2006, a RLPpc capita/mês média dos, respectivamente, 411.290
e 422.919 estabelecimentos-domicílios camponeses cresceu em torno de 11% a preços constantes
de 2009, de R$ 155,62 para R$ 172,67 reais (ver Gráfico 10.1.1-1, parte A). Confrontadas com a
linha de pobreza usualmente acatada, de R$ 237,50 per capita/mês no ano de 2009, essas cifras
indicam que, na média, não houve a transposição da barreira. Não obstante, há mais a considerar.
Primeiro, a variação foi muito diferente entre as diversas situações reprodutivas: para os Acima da
Média, a renda per capita multiplicou por 3,2, de R$ 202,9 para R$ 652,8; para os Remediados,
o incremento foi de 70%, atingindo valor de R$ 174,82; os Sob Risco, por seu turno, reduziu em
30% a RLPpc per capita, baixando a R$ 31,49. A par disso, o número dos que se situam Acima
da Média decresceu grandemente, de 223 para 96 mil, como decresceu o número dos Remediados
de 167 para 101 mil. Os Sob Risco, por seu turno, multiplicaram por 10, saltando de 21 para
220 mil estabelecimentos. A rigor, o crescimento lento da RLPpc média esconde, ao lado de um
processo que resultou na ampla superação da linha de pobreza por ¼ dos camponeses, uma forte
polarização da situação reprodutiva (ver Gráfico 10.1.1-1, parte B).
À RLPpc soma-se um adicional de Renda Provinda dos Serviços (RPS: salários e ganhos
por empreita fora do estabelecimento, renda de comércio e demais prestação de serviços; para os
próximos resultados ver o Gráfico 10.1.1-2) totalizando a Renda Líquida do Trabalho (RLTb).
Na formação da RLTb, as rendas provindas dos serviços incrementam a RLP em média 24,6%. A
importância do incremento, entretanto, é variável: a RLTb supera a RLPpc em 16,5% no total dos
estabelecimentos-domicílios camponeses do grupo Acima da Média, em 23% do Remediados e
nada menos do que 75% dos Sob Risco.
Há, ainda, as Transferências (T: aposentadorias, renda de seguros e doações) a considerar
na formação da Renda Líquida do Estabelecimento (RLE). Observado por grupo, o incremento de
T sobre a RLTb dos Acima da Média na formação da Renda Líquida do Estabelecimento (RLE) é
não mais que 2,2%. Percentual que é bem superior quando se refere ao grupo Remediados, 9,6%,
e, ainda, mais importante nos estabelecimentos-domicílios Sob Risco reprodutivo: nesse caso
atinge 19,9%. Na média, as Transferências representam 6,5% da RLTb. Vale notar, entretanto, que
os valores absolutos per capita das transferências são maiores para os Remediados (R$ 20,85),
em seguida para os Acima da Média (R$ 16,5%) e, por último, para os Sob Risco (R$ 10,98).
Resumindo: na formação da RLE do grupo Acima da Média (20% do total de trabalhadores
camponeses) nada menos que 84% provieram da produção, 14% de serviços prestados fora do
estabelecimento e meros 2% de transferência de renda por mecanismos diversos de política. Com
isso a RLE do grupo aproxima-se do quádruplo da renda que delimita a fronteira da pobreza. Para
os Remediados, que contam com 19% dos trabalhadores camponeses, 74% da RLE origina-se da
produção, 17% de serviços e os demais 8% de transferências. A RLE, nesse ponto, iguala-se à
linha de referência. De modo que 37% dos 1.279.421 trabalhadores camponeses e suas famílias
encontravam-se, em 2006, em situação igual ou acima da linha de pobreza. A constatação ganha
284
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
relevo quando se sabe que em 1995, todo o grupo encontrava-se abaixo disso. O outro lado
da moeda na polaridade que se configura é que nada menos que 63% encontrava-se Sob Risco
reprodutivo – situação também simétrica, dado que em 1995 os que se encontravam nesse patamar
não passavam de 5% do total.
Gráfico 10.1.1-1 Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos
camponeses por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009
(A)
900
800 R$ 777
700 R$ 760
R$ 652,83
600
R$ de 2009
500
400
300 R$ 216
R$ 237
200 R$ 201,90 R$ 172,67
R$ 174,81 R$ 44,46
R$ 155,62
100 R$ 106,01
R$ 55
R$ 31,49 R$ 66
0
Acima da Média Remediado Sob Risco Média RLP
Renda Per Capita 1995 Renda Per Capita 2006
Renda Líquida do Trabalho 2006 Renda Líquida do Estabelecimento 2006
(B)
250.000 70%
223.120 226.692
62% 60%
200.000 55%
50%
166.964
150.000
40% 40%
100.585
30%
100.000
95.641
19% 20%
18%
50.000
5%
10%
21.206
0 0%
Acima da Média Remediado Sob Risco
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia já
esclarecida.
285
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
70%
60% 36%
50%
84%
40%
74%
30% 75% Renda da Produção
0%
Acima da
Média Remediado
Sob Risco
Média
10.1.2 Evolução da situação reprodutiva e variações nas médias de renda per capita nas
trajetórias camponesas e as implicações gerais sob um ótica de pobreza
Discutimos a situação média para as formas de trabalho – se trabalho direto familiar camponês
ou assalariado nos estabelecimentos patronais. Insistimos que tal situação resulta da evolução das
trajetórias que conformam o setor rural na região. Precisamos, portanto, situar a relação entre as
situações reprodutivas e suas indicações de pobreza nesse contexto. Neste subcapítulo verificaremos
como evoluíram os componentes de renda das famílias rurais no contexto de cada trajetória e o que
podem indicar as diferenças e convergências. Na subcapítulo seguinte, observaremos a mobilidade
entre as trajetórias nas diferentes situações reprodutivas.
A Renda Líquida da Produção per capita (RLPpc) por membro dos domicílios
camponeses da Trajetória-Camponesa.T1 (a que converge para sistemas de produção intensivos,
relativamente especializados) reduziu entre 1995 e 2006, de R$ 158,08 para R$ 106,61, ambos
valores abaixo da linha de pobreza. Para os estabelecimentos-domicílios Acima da Média, a
RLPpc dobrou, de R$ 251,88 para R$ 534,20: uma grande mudança, menor porém do que a média
acima apresentada para o grupo Acima da Média no total de estabelecimentos. Para os domicílios
Remediados, o crescimento foi de meros 18%; para os Sob Risco, por seu turno, uma redução
perto de 50%. A polarização entre as situações extremas expressa-se na redução de 108 para 36
mil estabelecimentos-domicílios na condição Acima da Média, a par de fortíssima ampliação da
frequência da situação Sob Risco reprodutivo – de 4 para 169 mil estabelecimentos-domicílios
(ver Gráfico 10.1.2-1, partes A e B).
286
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 10.1.2-1 – Renda Média per Capita mensal e proporção no total de estabelecimentos
camponeses na Trajetória-Camponesa.T1, por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009
(A)
700
R$ 613
600
R$ 593
R$ 534,20
500
R$ de 2009
400
300 R$ 213
R$ 251,88 R$ 233
200
R$ 172,92 R$ 158,08
R$ 146,37 R$ 47,88
100 R$ 106,61
R$ 43
R$ 23,57 R$ 55
0
Acima da Média Remediado Sob Risco Média
Renda Per Capita 1995 Renda Per Capita 2006
Renda Líquida do Trabalho 2006 Renda Líquida do Estabelecimento 2006
(B)
180.000 70%
169.413
64%
160.000 64%
60%
140.000
50%
120.000
108.331
100.000 40%
34%
80.000 30%
59.266
60.000 58.710
20%
22%
40.000 14%
20.000
36.350 3% 10%
4.251
0 0%
Acima da Média Remediado Sob Risco
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
o crescimento foi semelhante ao da T1, do mesmo modo que a redução para o Sob Risco. Também aqui
uma agudização da polarização entre as situações extremas de renda expressa-se na redução de 63,5
para 10 mil estabelecimentos-domicílios na condição Acima da Média, a par de fortíssima ampliação
da frequência da situação Sob Risco reprodutivo – de 3 para 41 mil estabelecimentos-domicílios (ver
Gráfico 10.1.2-2, partes A e B).
Gráfico 10.1.2-2 – Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos
Camponeses na Trajetória-Camponesa.T3, por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009
(A)
900
800 R$ 780
700 R$ 760
R$ 647,97
600
R$ de 2009
500
400
R$ 250
300 R$ 299,56
R$ 227
200 R$ 165,46 R$ 75,51 R$ 173,28
100 R$ 88 R$ 114,66
R$ 140,53
R$ 46,59 R$ 96
0
Acima da Média Remediado Sob Risco Média
Renda Per Capita 1995 Renda Per Capita 2006
Renda Líquida do Trabalho 2006 Renda Líquida do Estabelecimento 2006
(B)
70.000 80%
63.509
60.000 70%
68%
58% 60%
50.000
42.730 41.325
50%
40.000
39% 40%
30.000
30%
20.000
20%
16% 15%
9.332
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com3%
10.000 metodologia em anexo.
10%
9.930
3.166
0 288 0%
Acima da Média Remediado Sob Risco
Quantidade Estabelecimentos 1995 Quantidade Estabelecimentos 2006
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 10.1.2-3 – Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos
Camponeses Na Trajetória-Camponesa.T2, por condição reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009
900
R$ 760
800 R$ 777
700
R$ 725,57
600
R$ de 2009
500
400 R$ 380,89
300 R$ 216
R$ 273,84
R$ 237
200 R$ 180,46 R$ 60,28
R$ 138,43 R$ 137,54
100
R$ 55
R$ 46,01 R$ 66
0
Acima da Média Remediado Sob Risco Média
Renda Per Capita 1995 Renda Per Capita 2006
Renda Líquida do Trabalho 2006 Renda Líquida do Estabelecimento 2006
70.000 60%
65.524
60.000 51% 50% 50%
51.280
50.000
49.361 40%
40.000 39% 33%
31.987 30%
30.000
16%
20%
20.000 11%
13.789
10%
10.000Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em
Fonte: IBGE, 15.954 anexo.
0 0%
No que tange à Trajetória-Camponesa.T2
Acima da Média (a que converge paraSob
Remediado sistemas
Risco agroflorestais),
verifica-se padrão distinto do que até agora se viu: a RLPpc média cresceu fortemente entre 1995
e 2006, de R$Quantidade
137,54Estabelecimentos
(note-se que se 1995 Quantidade
tratava da menor médiaEstabelecimentos
de RLPpc de2006 todas as trajetórias
naquele ano) para R$ 380,89 (agora a maior RLPpc), valor bem acima da linha 2006
% do Total de Trabalhadores Familiares 1995 % do Total de Trabalhadores Familiares de pobreza.
Para os Acima da Média, a RLPpc quase triplicou, de R$ 273,84 para R$ 725,57. Enquanto
289
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
para os domicílios Remediados, o crescimento foi próximo de 1/3, para os Sob Risco verifica-
se uma relativa estabilização. Por outro lado, são mantidas as proporções de estabelecimentos-
domicílios e trabalhadores nas situações extremas (em torno de 50 mil na melhor, em torno de
15 mil da pior), reduzindo praticamente pela metade na situação intermediária, de 65 para 32 mil
estabelecimentos-domicílios. (ver Gráfico 10.1.2-3, partes A e B).
Remediados e uma terceira (a última na diagonal), do Sob Risco. Essas submatrizes mostram
posições e movimentos consistentes com a Situação Reprodutiva. Ou, por outro prisma, descrevem
situações reprodutivas estáveis ou estruturalmente consistentes.
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
Gráfico 10.2-1 – Saldo da mobilidade entre trajetórias nos estabelecimentos que mantiveram a
situação reprodutiva entre os censos 1995 e 2006, Região Norte (Estabelecimento-Domicílio))
19.073
20.000
15.000
11.183
10.000 7.632
5.000
0
-944
-5.000 -2.851 -2.924
-15.000
-16.149
-20.000
Sob Risco T1
Sob Risco T2
Sob Risco T3
Média T1
Média T2
Média T3
Acima da
Acima da
Acima da
Remediados
Remediados
Remediados
T1
T2
T3
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
291
-6.000
-4.000
-2.000
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
-4.000
-2.000
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
Nordeste Paraense Sudeste Paraense
Ocidental do Tocantins Ocidental do Tocantins
Baixo Amazonas Sudoeste Amazonense
Oriental do Tocantins Vale do Juruá
Leste Rondoniense Sul do Amapá
Vale do Juruá Oriental do Tocantins
Centro Amazonense
Sul Amazonense
Vale do Acre
Centro Amazonense
Metropolitana de Belém
Norte Amazonense
Norte de Roraima
Norte do Amapá
Madeira-Guaporé
Norte de Roraima
Sul Amazonense
Sudoeste Amazonense Madeira-Guaporé
Trajétória Camponês T1
Trajétória Camponês T1
Sul do Amapá Metropolitana de Belém
Marajó Vale do Acre
Sudoeste Paraense Leste Rondoniense
ordem decrescente em 2006)
-4.000
-2.000
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
-2.000
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
Sul de Roraima
Nordeste Paraense
Sudeste Paraense
Baixo Amazonas
Sudoeste Paraense
Centro Amazonense
Leste Rondoniense
Sudoeste Paraense
Vale do Juruá
Vale do Acre
Sul Amazonense
Sudoeste Amazonense
Madeira-Guaporé
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Metropolitana de Belém
Norte de Roraima
Sul Amazonense
Sul do Amapá
Marajó
292
Norte do Amapá
Vale do Juruá
Oriental do Tocantins
Oriental do Tocantins
Vale do Acre
Madeira-Guaporé
Sudoeste Amazonense
Norte de Roraima
Trajétória Camponês T2
Metropolitana de Belém
Trajétória Camponês T2
Sudeste Paraense
Marajó
Ocidental do Tocantins
Centro Amazonense
Norte do Amapá
Baixo Amazonas
Norte Amazonense
Ocidental do Tocantins Leste Rondoniense
Nordeste Paraense Sul do Amapá
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
-8.000
-6.000
-4.000
-2.000
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
-500
-1.000
Marajó
Leste Rondoniense
Centro Amazonense
Baixo Amazonas
Madeira-Guaporé
Metropolitana de Belém
Metropolitana de Belém
Marajó
Norte do Amapá
Norte do Amapá
Sudoeste Paraense
Sul do Amapá
Sul de Roraima
Sul do Amapá Sudoeste Paraense
1995
1995
Vale do Acre
2006
2006
Trajétória Camponês T3
Diferença
Diferença
Centro Amazonense
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
consistentemente Remediados e por Mesorregião, Região Norte, 1995 e 2006 (quantidade, por
Gráfico 10.2-3 – Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
consistentemente Acima da Média por Mesorregião, Região Norte, 1995 e 2006 (quantidade, por
Gráfico 10.2-2 – Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva
Francisco de Assis Costa
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Sul Amazonense
Ocidental do Tocantins
Oriental do Tocantins
Baixo Amazonas
Sul de Roraima
Sul do Amapá
Centro Amazonense
Sul de Roraima
Sul de Roraima
Sul Amazonense
Leste Rondoniense
Sudoeste Amazonense
Norte Amazonense
Vale do Acre
Sudoeste Amazonense
Baixo Amazonas
Marajó
Norte de Roraima
Norte do Amapá
Norte do Amapá
Madeira-Guaporé
Vale do Acre
Centro Amazonense
Madeira-Guaporé
Leste Rondoniense
Norte de Roraima
Norte Amazonense
Ocidental do Tocantins
Oriental do Tocantins
Sul Amazonense
Sul de Roraima
Marajó
Nordeste Paraense
Sudeste Paraense
Sudoeste Paraense
Baixo Amazonas
Ocidental do Tocantins
Nordeste Paraense
Sudoeste Paraense
Sudeste Paraense
Vale do Acre
Oriental do Tocantins
Norte Amazonense
Madeira-Guaporé
Centro Amazonense
Norte de Roraima
Leste Rondoniense
Sudoeste Amazonense
Marajó
Sudeste Paraense
Sudoeste Paraense
Nordeste Paraense
1995 2006 Diferença
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
294
-5.000
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
45.000
Ocidental do Tocantins
Sudeste Paraense
Oriental do Tocantins
0
40.000
60.000
80.000
100.000
-60.000
-40.000
-20.000
Leste Rondoniense
Nordeste Paraense
Sul Amazonense Acima da
Madeira-Guaporé
20.000 8.535
Centro Amazonense
Média T1
Francisco de Assis Costa
Vale do Juruá
Vale do Acre
Norte Amazonense Acima da
1.316
Sudoeste Amazonense
Média T2
Metropolitana de Belém
Norte de Roraima
Sul do Amapá
Trajétória Camponês T1
Norte do Amapá
Acima da
-3.744
Marajó Média T3
Baixo Amazonas
Sul de Roraima
Sudoeste Paraense
Remediado T1
1.048
-10.000
-5.000
0
5.000
10.000
15.000
Vale do Juruá
Sudoeste Paraense
Remediado T2
-5.453
Sudoeste Amazonense
Sul de Roraima
Norte do Amapá
Marajó
Sul Amazonense Remediado T3
-1.702
Norte de Roraima
295
Centro Amazonense
Metropolitana de Belém
Norte Amazonense
Madeira-Guaporé
Trajétória Camponês T2
Oriental do Tocantins
Nordeste Paraense Remediado T1
Leste Rondoniense
Ocidental do Tocantins
-34.763
Sudeste Paraense
Remediado T2
5.000
10.000
15.000
20.000
-10.000
-5.000
0
-9.212
Sudoeste Paraense
Sul de Roraima
Baixo Amazonas
Remediado T3
Saldo da Mobilidade Descendente
Marajó
Metropolitana de Belém
-42.705
Sul do Amapá
Norte Amazonense
Norte do Amapá Sob Risco T1
Norte de Roraima
98.495
Leste Rondoniense
Vale do Acre
1995
Centro Amazonense Sob Risco T2
Madeira-Guaporé
Nordeste Paraense
-20.725
2006
Trajétória Camponês T3
Sudoeste Amazonense
Sudeste Paraense
Vale do Juruá
Sob Risco T3
Oriental do Tocantins
8.910
Sul Amazonense
Diferença
Ocidental do Tocantins
Gráfico 10.2-5 – Grupos nas trajetórias em mobilidade (Número de Estabelecimento-Domicílio)
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
Gráfico 10.2-6 – Estabelecimentos-Domicílios camponeses em Mobilidade Descendente por
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Baixo Amazonas
Ocidental do Tocantins
Oriental do Tocantins
Sul de Roraima
Metropolitana de Belém
Sul do Amapá
Centro Amazonense
Leste Rondoniense
Sudoeste Amazonense
Vale do Acre
Norte Amazonense
Marajó
Madeira-Guaporé
Norte de Roraima
Vale do Juruá
Sudeste Paraense
Norte do Amapá
Sudoeste Paraense
Nordeste Paraense
Sul de Roraima
Sul do Amapá
Sul Amazonense
Metropolitana de Belém
Baixo Amazonas
Sudoeste Amazonense
Centro Amazonense
Norte de Roraima
Vale do Acre
Norte do Amapá
Norte Amazonense
Madeira-Guaporé
Oriental do Tocantins
Leste Rondoniense
Ocidental do Tocantins
Sul do Amapá
Sul Amazonense
Sul de Roraima
Vale do Juruá
Metropolitana de Belém
Sudoeste Paraense
Marajó
Baixo Amazonas
Sudoeste Amazonense
Sudeste Paraense
Nordeste Paraense
Madeira-Guaporé
Vale do Acre
Norte do Amapá
Centro Amazonense
Leste Rondoniense
Norte de Roraima
Norte Amazonense
Ocidental do Tocantins
Oriental do Tocantins
Vale do Juruá
Marajó
Sudeste Paraense
Nordeste Paraense
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
296
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Capital Humano
Capital Humano
por Trabalhador
Trabalhador (A)
Área r=i*k=Y/Á
Renda Líquida
Área Utilizada
Capital I=Y/K
a= ak*kt=Á/T
kt=h*ht=K/T
Renda Total/
Trabalhador
por Unidade
Capital Por
Trabalhdor
Área por
Kh=K/H
Ka=K/A
ht=H/T
Y=Y/T
de
Acima da
Média 0,95 13,45 12,84 0,25 1,40 0,34 0,71 73,73 0,71 52,20 37,28
Consistente
Mobilidade
0,95 8,44 8,03 0,32 1,67 0,54 0,60 33,20 0,75 24,88 14,93
Ascendente
Remediado
0,83 3,70 3,05 0,12 2,30 0,27 0,43 34,77 0,76 26,38 11,47
Consistente
Mobilidade
0,71 1,43 1,01 0,03 1,60 0,04 0,63 72,45 0,53 38,59 24,17
Descendente
Sob-Risco
0,76 0,86 0,65 0,03 1,24 0,04 0,81 34,26 0,67 23,08 18,60
Consistente
Total 0,87 3,52 3,07 0,08 1,58 0,13 0,63 62,19 0,60 37,08 23,50
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
298
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
O que poderia estar na base de tão graves diferenças? A resposta a essa pergunta exige
considerar dois grupos de determinantes, os internos e os externos aos estabelecimentos-
domicílios.
Por determinantes externos nos referimos às condições da natureza circundante e do
campo institucional, com destaque particular para o mercado e a política. A esses nos dedicaremos
na próxima seção. Por agora importa dizer algo sobre os determinantes internos.
Por determinantes internos entendemos os que derivam das relações entre os recursos
necessários à produção, por suposto, dependentes de trajetória e subsidiárias das razões e competências
que as administram. Assim, não basta observar dotações de trabalho, capital produtivo e capital
humano. É necessário tratá-los relacionalmente – nas interações que subjazem à produção. Com
o intuito de explicitar tais relações, operamos no Box 1 uma série de transformações da chamada
“meta função de produção” de Hayami e Huttan (Hayami, Huttan, 1980).
299
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Com essas relações é possível uma leitura detalhada das determinações internas de y
300
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Podemos, agora, averiguar explicações para as amplas distinções no ganho líquido por
trabalhador equivalente (y), a principal variável de resultado da economia camponesa, a que nos
referíamos no início da seção.
200.000
150.000
100.000
50.000
-50.000
-100.000
Remediado T1
Remediado T2
Remediado T3
Sob Risco T1
Sob Risco T2
Sob Risco T3
Acima da Média
Acima da Média
Acima da Média
T1
T2
T3
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
manejos e, mesmo, por plantio (Costa, 2004; Costa, Andrade, Silva, 2006). A esse processo de
desenvolvimento que denominamos Arranjo Produtivo Local de Processamento de Frutas da
Região Nordeste Paraense Polarizada por Belém (APLFrutas-NePa), ao qual dedicaremos o
Capítulo 10, atribuímos importância central para a mudança de situação da mencionada trajetória.
A industrialização dos produtos da T2: processo orientado por ação de governo ou empresas
líderes
Trajetória Camponês T1
45% 180.000
169.413
40% 160.000
Proporção no VBP Total
35% 140.000
30% 120.000
25% 100.000
20% 80.000
15% 59.266 60.000
10% 36.350 40.000
5% 20.000
0% 0
Acima da Média Remediado Sob Risco
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
Intensificação e homogeneização
Não nos surpreende tais resultados. De um modo geral, sistemas rurais homogêneos têm
menor resiliência em duas dimensões fundamentais: a econômica e a biológica. Quanto à primeira,
as questões principais são de duas ordens: uma que tem a ver com as relações mediatas da produção
305
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
rural, aquelas determinadas pela dimensão macrossistêmica, anônima, portanto, dos mercados; a
outra tem a ver com as relações imediatas que se travam entre os produtores e elos assimétricos,
muitas vezes interpessoais, com elevado nível de subordinação, que os conectam aos mercados mais
amplos. Em quaisquer dos casos, prevalece um trade off média/variância dos rendimentos que resulta
do fato de que, ao se tentar incrementar a média dos ganhos por simplificação de carteira (aposta no(s)
iten(s) de maior retorno, em dado momento), o empreendimento torna-se mais vulnerável à flutuação
daqueles poucos, ou daquele único item.
Quanto às questões relativas à natureza, temos reiteradamente chamado a atenção,
com argumentos históricos e estruturais, para as dificuldades gerais de plantios homogêneos,
sobretudo, mas não apenas, de grande escala, na Amazônia (Costa, 1993; Costa, 2005). A ação
dos fundamentos específicos da base natural amazônica tem levado a agricultura, em geral,
à evolução na Região sob o peso de dificuldades de ordem técnica: os sistemas agronômicos
intensivos, de composição botânica homogênea, mediante a fortíssima pressão da biodiversidade
tropical, favorecida pelo clima quente e úmido, sofrem ataques de um sem número de fungos e
bactérias, que elevam a probabilidade de predação, e de um sem número de plantas invasoras,
cuja concorrência limita o desenvolvimento das poucas variedades utilizadas. Tais condicionantes
reduzem os ciclos de vida das culturas, a vida útil dos elementos de capital físico e a resiliência
produtiva do capital natural, encarecendo relativamente ou, mesmo, impossibilitando sistemas
produtivos na razão direta da sua frequência e extensão.
Isto posto, voltemos à questão que nos interessa mais de imediato: os estabelecimentos da
T1 em situação Sob Risco, ou a caminho disso, que se observaram no Censo de 2006, encontravam-
se naquela posição por efeito de flutuação conjuntural de mercado, situação a ser superada já em
momento previsível? Ou se trata de situação duradoura, resultante de crise nos fundamentos de
natureza ou nas relações sociais que caracterizam a trajetória, a prenunciar um estado de carência
e pobreza?
Podemos responder apenas parcialmente a essas questões. Primeiro, tratando-as como
condição conjuntural de flutuação de preço. Os resultados apresentados no Gráfico 10.3.2-
3 indicam que a partir de 1995 o preço do litro de leite caiu acentuadamente até 2002/2003.
Importante anotar que essa tendência mostrou-se mais acentuada na Região Norte – o que indica
condições transacionais locais comparativamente desfavoráveis. Entretanto, a partir de 2002 o
preço voltou a crescer, tanto na Região Norte como no Brasil, mais rápido naquela, do que neste.
Até que em 2006, no ano do Censo Agropecuário, ,os preços, praticamente se igualam, seguindo
par a par até o último ano da série. Não há, ao que parece, uma particularidade conjuntural que
possa explicar a situação da trajetória no ano do Censo. Estaríamos então diante de uma condição
estrutural de um trajeto decadente a indicar um horizonte de pobreza pela via da T1 em seu ramo
especializado?
306
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 10.3.2-3 - Evolução do preço do leite na Região Norte, 1995 a 2009, R$ constantes de 2009
1,2
1
Preço por lt em R$
0,8
0,6
0,4
0,2
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Brasil Norte
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
T1 - Intensificação e diversidade
T3 – Especialização extensiva
Gráfico 10.3.2-4 – Proporção da pecuária de corte no VBP dos sistemas da T3, Região Norte
45% 45.000
40% 41.325 40.000
Proporção no VBP Total
35% 35.000
30% 30.000
25% 25.000
20% 20.000
15% 15.000
10% 9.930 9.332 10.000
5% 5.000
0% 0
Acima da Média Remediado Sob Risco
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
308
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 10.3.2-5 – Evolução do preço de arroba da carne na Região Norte, 1998 a 2009, R$ de
2009
80
70
Preço por arroba em R$
60
50
40
30
20
10
0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Região Norte
total de crédito concedido pela política de crédito e a participação relativa dos recebedores de
crédito no VBP. Exercitamos essas noções, com os resultados apresentados nos Gráficos 10.3.4-1,
10.3.4-2 e 10.3.4-3. De uma leitura combinada podemos destacar os seguintes aspectos:
1. A Parte A do 10.3.4-1 informa que, em 2006, a T1 apresenta, no conjunto, a maior
proporção, 30%, entre o valor dos investimentos e a Renda Líquida do Estabelecimento
(RLE: soma da RLP com os salários ganhos por membros da família fora do
estabelecimento e transferências do governo). A menor é a da T2, com pouco mais
de 3% da RLE. A T3 investe 22% da RLE. Ao mesmo tempo, a Parte A do Gráfico
10.3.4-2 informa proporções inversas na busca do crédito para cobrir o investimento,
50% a T1, 62% a T3 e nada menos que 82% a T2.
2. Ao mesmo tempo, ainda a Parte A do 10.3.4-1 mostra que a proporção da RLE
investida cresce inversamente à condição reprodutiva: na condição Sob Risco, em
todas as trajetórias, encontramos as maiores taxas de investimento; a Acima da
Média, as menores e a Remediado, intermediárias.
3. A Parte B do Gráfico 10.3.4-1 apresenta o investimento como proporção da Renda
Líquida da Produção (RLP), variável que dispomos também para 1995. Os resultados
corroboram os já mencionados, acrescendo a informação de que a disposição ao
investimento de todas as trajetórias em condição Sob Risco cresceu entre os dois
censos. Isso quer dizer que na condição Sob Risco, não apenas há um esforço,
digamos, desesperado, de mudar, como essa disposição cresceu entre os censos. Isso
é perfeitamente compatível com a lógica camponesa de investimento sob tensão
reprodutiva de que tratamos em diversos momentos (Costa, 1995 e 2000).
4. A política de crédito, por seu turno, mostra-se particularmente inclinada a favorecer,
pela ordem, a T1– a proporção da participação no crédito em relação à participação
no VBP que era próxima de 1,07:1 cresceu entre os censos, chegando em 2006 a
1,6:1, conforme nos informa a Parte B do Gráfico 10.3.4-2 – e a T3 (1,2:1). A T2,
não apenas é considerada pela política muito abaixo da sua importância, como o
tratamento tem piorado: de 0,5:1 em 1995 cai para 0,23:1 em 2006.
5. Há, conforme os resultados do Gráfico 10.3.4-3, Parte A, um viés em favor da pecuária
em todas as trajetórias e todas as condições reprodutivas. Em 1995 era, em relação
à T1, de 2,6:1; à T3, de 2,3:1; à T2, a maior de todas, de 5,7:1. Em 2006, o esforço
aumentou consideravelmente para a T2 e reduziu ligeiramente para as demais.
6. Em relação às culturas permanentes (conf. Gráfico 10.3.4-3, Parte B) ocorre o
inverso: o viés era de baixa, 0,4. 0,6 e 0,44, caindo para 0,07, 0,47 e 0,16 para,
respectivamente, a T1, a T2 e a T3
311
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 10.3.4-1 – Disposição para mudar nas Trajetórias e Condições Reprodutivas, 1995 e 2006
( Investimentos Totais sobre Renda Líquida, %)
A: Investimento Total (IT) sobre Renda Líquida Total do Estabelecimento B: Investimento Total (IT) sobre Renda Líquida da Produção (RLP)
(RLE)
200% 191%
90% 180%
82%
80% 160%
70% 140%
60% 120%
50% 100%
79%
38% 80%
40%
30%
30% 60%
21% 22% 21% 42%
36% 34%
20% 17% 40% 28%27% 23% 29% 26%
31%
20% 22% 21%
18%
10% 6% 7% 9% 7% 20% 14%
7% 11% 9% 14%10%
9% 6% 9%
2% 3% 3% 4%
0% 0%
T1 Remediado
T2 Remediado
T3 Remediado
T1 Acima da Média
T2 Acima da Média
T3 Acima da Média
Total Total
T1 Sob Risco
T2 Sob Risco
T3 Sob Risco
T1 Total
T2 Total
T3 Total
T3 Remediado
T1 Remediado
T2 Remediado
Total Total
T1 Acima da Média
T2 Acima da Média
T3 Acima da Média
T3 Sob Risco
T1 Sob Risco
T2 Sob Risco
T3 Total
T1 Total
T2 Total
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
3,00 2,91
100% 96%
2,50 2,35
90% 88%
81%
80%
72% 2,00
70% 64% 66%
63% 62% 1,57
60% 56% 1,50
1,46
1,39
52% 53% 1,29
49% 50% 1,24 1,19
50% 45% 44%
1,19 1,17
42% 1,07 1,00 0,99
39% 0,95
40% 1,00 0,88
30% 28% 30% 30%
30% 26% 24% 26% 26% 27% 0,67
0,55 0,56
0,48
0,47 0,50
0,44
20% 0,50 0,37
0,30
0,23
0,17
10%
0% 0,00
T1 Remediado
T2 Remediado
T3 Remediado
T1 Acima da Média
T2 Acima da Média
T3 Acima da Média
Total Total
T1 Sob Risco
T1 Total
T2 Sob Risco
T2 Total
T3 Sob Risco
T3 Total
T1 Remediado
T2 Remediado
T3 Remediado
T1 Acima da Média
T2 Acima da Média
T3 Acima da Média
Total Total
T1 Sob Risco
T1 Total
T2 Sob Risco
T2 Total
T3 Sob Risco
T3 Total
1995 2006
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
312
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
T1 Remediado
T2 Remediado
T3 Remediado
T1 Acima da Média
T2 Acima da Média
T3 Acima da Média
Total Total
T1 Sob Risco
T2 Sob Risco
T3 Sob Risco
T1 Total
T2 Total
T3 Total
T1 Remediado
T2 Remediado
T3 Remediado
T1 Acima da Média
T2 Acima da Média
T3 Acima da Média
Total Total
T1 Sob Risco
T2 Sob Risco
T3 Sob Risco
T1 Total
T2 Total
T3 Total
1995 2006
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
313
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 10.4.1-1 – Renda Média Per Capita Mensal das Famílias dos Assalariados dos
Estabelecimentos Patronais por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
Dos 129 mil assalariados nos estabelecimentos patronais, 79,6% se encontrava Sob Risco,
14,6% Acima da Média e 5,7% Remediado. Dos Sob Risco, 49,2% encontrava-se, em 2006, na T4
e 28,9% na T7 (conf. Tabela 10.4.2-1). Em termos locacionais, esses estabelecimentos-domicílios
sob risco se distribuem concentradamente na Madeira-Mamoré (32%), no Sudeste Paraense
(29%), na Ocidental do Tocantins (13%), no Nordeste Paraense (3%) e no Leste Rondoniense
(5%), que juntos representam 80% do total (ver Gráfico 10.4.2-1).
314
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Tabela 10.4.2-1 - Situação Reprodutiva dos Assalariados por Trajetórias Tecnológica Patronais
Assalariados Acima da Média Remediado Sob Risco Total
PatronalT4 6.518,29 3.190,23 64.371,41 74.079,93
PatronalT5 5.463,16 2.289,88 1.328,65 9.081,68
PatronalT7 6.979,47 1.928,72 37.370,24 46.278,43
Total 18.960,92 7.408,83 103.070,30 129.440,04
% do Total
PatronalT4 5,0% 2,5% 49,7% 57,2%
PatronalT5 4,2% 1,8% 1,0% 7,0%
PatronalT7 5,4% 1,5% 28,9% 35,8%
Total 14,6% 5,7% 79,6% 100,0%
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
Gráfico 10.4.2-1 – Distribuição dos Assalariados nas Mesorregião por Situação Reprodutiva
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
So m a d
0
b edi a M
R im
e
R ad é
A
Sudoeste Amazonense
Metropolitana de Belém
Centro Amazonense
Leste Rondoniense
Sudoeste Paraense
Vale do Acre
Norte de Roraima
is o d
Oriental do Tocantins
Nordeste Paraense
Sudeste Paraense
Sul de Roraima
Madeira-Guaporé
Baixo Amazonas
Norte do Amapá
Ocidental do Tocantins
Sul Amazonense
Sul do Amapá
Vale do Juruá
Marajó
co ia
Acima da Média Remediado Sob Risco
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
A variação foi muito diferente entre as diversas situações reprodutivas: para os Acima da
Média, a renda per capita multiplicou por 3,2, de R$ 202,9 para R$ 652,8; para os Remediados, o
incremento foi de 70%, atingindo valor de R$ 174,82; os Sob Risco, por seu turno, reduziram em
30% a RLPpc per capita, baixando a R$ 31,49.
O movimento implicou ampla superação da linha de pobreza por ¼ dos camponeses,
a par de uma forte polarização da situação reprodutiva. Considerando toda a RLE, que inclui
salários fora do estabelecimento e transferências, o grupo Acima da Média alcança o quádruplo
da renda que delimita a fronteira da pobreza. Para o grupo Remediado a RLE se iguala a linha
de referência da pobreza. De modo que 37% dos 1.279.421 trabalhadores camponeses e suas
famílias encontravam-se, em 2006, em situação igual ou acima da linha de pobreza, quando em
1995 o grupo sob tal designação se encontrava abaixo disso. Não obstante, o movimento se fez
configurando uma polaridade dado que, no último ano, 63% encontrava-se Sob Risco reprodutivo,
a condição que abriga a pobreza rural na Região; um aspecto notável do processo, eis que em
1995 os que se encontravam nesse patamar não passavam de 5% do total.
A dinâmica que resultou na polaridade divisada se fez por intensa movimentação dos
estabelecimentos-domicílios camponeses entre as situações reprodutivas. Em 2006, havia cinco
conjuntos de estabelecimentos, revelando situações aparentemente estáveis, positivas e negativas,
e grupos que se deslocaram entre as diversas situações. Há grandes e fundamentais diferenças na
eficiência da aplicação dos recursos internos aos estabelecimentos entre os diversos conjuntos,
explicando a hierarquia verificada entre eles no que se refere à Renda Líquida da Produção e seus
rebatimentos sobre carência e pobreza.
A Trajetória-Camponesa.T2 foi a única a apresentar saldo positivo entre as saídas e
entradas na condição Acima da Média entre os anos de 1995 e 2006. Parte do mesmo processo, a
T2 é a única que apresenta saldo negativo na situação Sob Risco. É extraordinária a performance
positiva da T2 no processo de transferência de estabelecimentos camponeses do grupo em situação
Sob Risco, que abriga dominantemente os domicílios em condição de pobreza, para o grupo em
situação Acima da Média – no qual se contabilizam os domicílios provavelmente não pobres. Tal
verificação tem implicações estratégicas que se deve salientar. Em particular, se deve indicar ao
planejamento do desenvolvimento endógeno e sustentável, por suposto, inclusivo, que se enfatize
a formação de conhecimento orientado à T2, cujo acervo de conhecimento laboratorial, como
verificamos no capítulo 7, é incipiente; que se ajuste a política de crédito às necessidades da T2;
que se estabeleça uma assistência técnica para as necessidades tecnológicas e mercantis da T2;
estudos e ações para promover o mercado de serviços ambientais associados às características
dos sistemas camponeses diversos e permanentes. Enfm, que se dê a densidade institucional que
a trajetória carece para avançar em sua performance.
Explica a performance positiva da T2, um dinâmico processo de industrialização de
seus produtos – com efeitos de transferência de renda para o setor rural. Daí que se deve
apontar ao planejamento do desenvolvimento endógeno e sustentável programa de C&T
orientado ao aproveitamento dos produtos da T2; assistência creditícia às indústrias ligadas
316
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Capítulo 11
Trajetórias tecnológicas, Sistemas Agrários e Arranjos
Produtivos Locais: o apl de Processamento de Frutas da
Região Polarizada por Belém
Ao que parece, a agroindustrialização tem sofrido reveses nessas áreas por força de uma
incompatibilidade entre o lugar das frutas nas estratégias de diversificação da produção familiar rural
nessas trajetórias, que lá se verifica há tempos (Costa, 2000a), e a inflexibilidade das plantas industriais,
criando dificuldades estruturais que boicotam as relações entre os produtores agrícolas e empresas
industriais: a diversificação levada a efeito em nível micro, para garantir estabilidade agronômica e
econômica de cada estabelecimento, cria dificuldades de organização da produção na formação dos
volumes necessários às escalas que alçariam as empresas industriais para além dos respectivos break
even points. Por seu turno, as empresas industriais tentam compatibilizar suas elevadas escalas e os
elevados níveis de especialização, privilegiando contratos com produtores maiores e especializados.
De modo que, ao final, a grande produção agrícola diversificada não logra acesso à agroindústria
que, com a relativamente pequena produção conjunta de grandes estabelecimento especializados, não
alcança escala sustentável. Ademais, a produção rural concentrada e homogênea tende a apresentar
produtividade rapidamente decrescente, agravando as dificuldades.
Tem se firmado, assim, a impressão de que o potencial de industrialização, associado ao
processamento de frutas, tem limites graves nas condições da produção rural. Tanto uma trajetória
endógena, que se baseasse na afirmação de produtos locais em mercados nacionais e internacionais,
quanto a fundada no atendimento local de necessidades exógenas veem contestado o potencial de
formação de produtividade crescente nos aglomerados urbanos a que se integram pelas condições
que a natureza peculiar da região impõe ao conjunto do processo produtivo. Na perspectiva das
teorias do desenvolvimento, que discutimos no capítulo 8, ter-se-ia, nesse contexto, a capacidade dos
setores industriais, produtores e dependentes de efeitos de aglomerações, de garantirem rendimentos
crescentes, base do investimento para a mudança, sendo decisivamente limitada pela produtividade
dos setores sujeitos às determinações da natureza. Neste capítulo problematizaremos essa questão
com na configuração urbano-rural caracterizada pelo arranjo produtivo local de processamento de
polpa de frutas do Nordeste Paraense e Região Metropolitana de Belém. Trata-se de aglomeração
constituída pelas trajetórias tecnológicas T1, T2 e T3 e constituinte de trajetória tecnologica que
orienta a industrialização de frutas no país.
11.1 O APLFrutas-NePa
Das 29 empresas analisadas, 18, ou 62% delas, são firmas de sociedade limitada. Firmas
individuais são cinco (17%), cooperativas de produtores rurais, 4 (14%) e apenas duas empresas
(7%) são sociedades anônimas.
320
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
A implantação das empresas tem uma cronologia de dois tempos. Em uma primeira fase,
a fundação de duas das cooperativas marcam pontos isolados no tempo: a Cooperativa Agrícola
Mista de Tomé-Açu – CAMTA, que surge em 1949, no município de Tomé-Açu, no Nordeste
Paraense, e a Cooperativa Agrícola Mista Amazônica Ltda. – COOPAMA, que se forma em 1977
no município de Castanhal, na mesorregião Metropolitana de Belém (Gráfico 11.1.2-1).
7 35
6 30
5 25
4 20
3 15
2 10
1 5
- -
...
...
1949
1977
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
321
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Na segunda fase, já nos anos noventa, surgem rapidamente unidades produtivas. A partir
de 1993, em todos os anos, instalaram-se indústrias processadoras de frutas na região pesquisada,
destacando-se os anos de 1997, 1999 e 2001. Neste último ano, entre as seis indústrias instaladas,
duas cooperativas: a Cooperativa Agroindustrial de Trabalhadores e Produtores Rurais de Igarapé-
Miri – COOPFRUT e a Cooperativa dos Fruticultores de Abaetetuba – COFRUTA.
Se fizermos o exercício de distribuir a capacidade total instalada em 2003, pelos anos
de fundação e pelo número total de empresas existentes em cada ano, teremos uma aproximação
de como se deu a evolução da implantação do APL FRUTAS-NePa. Da década de setenta até
o ano de 1993, foi mantida a capacidade instalada em torno de 6.340 ton. Entre 1993 a 1995
a taxa anual média de crescimento foi de 3,87%, chegando a 6.840 ton. De 1995 em diante, a
capacidade instalada cresce continuamente, porém em ritmo menor do que o número de empresas,
de modo que o tamanho delas diminui até o final da década – passando de 1.368 ton. para 1.252
ton. A partir do ano de 2000, tem-se crescimento acelerado da capacidade instalada, ao ponto do
tamanho médio das empresas se elevar até atingir 1.850 ton. A taxa média de crescimento anual
da capacidade instalada entre 1995 a 2003 foi de impressionantes 27,31%.
Da totalidade das empresas analisadas que compõe o APL, 67% delas se concentram
na mesorregião Metropolitana de Belém; outras 27%, no Nordeste Paraense e apenas 6% das
empresas da amostra localizam-se no Marajó. Na primeira mesorregião, as empresas localizam-
se nos municípios de Belém (com 9 empresas instaladas), no município de Castanhal (com 6
empresas), de Ananindeua (com 2 empresas) e os municípios de Santa Bárbara do Pará e Santa
Izabel do Pará (cada um com 1 empresa instalada).
No Nordeste Paraense, destacam-se os municípios de Tomé-Açu (com 3 empresas),
Igarapé-Miri (com 2 empresas) e os municípios de Abaetetuba, Igarapé-Açu e São Francisco do
Pará (cada um com 1 empresa instalada). No Marajó, as empresas localizam-se nos municípios
de Muaná e São Sebastião da Boa Vista. O total da capacidade instalada das empresas localizadas
na mesorregião Metropolitana de Belém é de 35.010 t/ano, correspondendo a 65,25% do total da
capacidade do APL. O Nordeste Paraense responde por 33,22%, ou 17.826 t/ano, e o Marajó por
1,53%, 820 t/ano, respectivamente, da capacidade total de 53.656 t/ano.
A produção de polpa de frutas no APL foi, em 2002, de 8.815 t e, em 2003, de 12.488 t, com
faturamento aproximado de R$ 16.406.288 e R$ 21.538.282, respectivamente. A primeira observação
a fazer seria quanto às elevadíssimas taxas de incremento representadas por tais evoluções: 41,67%
no volume produzido de polpa de frutas e de 31,28% no faturamento. A segunda observação cabível
322
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 11.2-1 Market share dos diversos tipos e tamanhos das empresas do APL Frutas-NePa (%
do faturamento globa)
40,00%
35,00%
30,00%
25,00% 2002
20,00% 2003
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Soc. Limitada
Individual
Individual
Empresa Soc.
Cooperativas
Sociedades
Anônimas
Empresa
Empresa
Pequena
Limitada
Micro
Pequena
Empresa
Micro
Fonte: Pesquisa de campo. Notas: 1. Nas empresas em que não obtivemos dados para o ano de 2003, consideramos
variação igual a zero. Isso aconteceu com 02 cooperativas, uma micro e outra pequena; com 01 microempresa individual;
com 02 microempresas limitadas e 02 pequenas limitadas.
323
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Voltamos então, à pergunta que levou a essa digressão: indicariam tais elementos uma
situação de mercado em que há uma concorrência predatória entre microempresas individuais e
pequenas empresas de sociedade limitada com as demais, de modo que os desequilíbrios entre
expansão da quantidade vendida e do faturamento, já detectados, indicam agressivo uso da redução
do preço de venda como estratégia competitiva? Difícil responder conclusivamente. É possível,
todavia formular uma hipótese a ser testada por pesquisas posteriores. Há empresas, micro e
pequenas, individuais e de sociedade limitada, em proporções no momento difícil de precisar,
que se lançam no mercado apoiadas dominantemente em sua disposição em aceitar preços que,
em si, comprometeriam a rentabilidade das empresas que não estão dispostas a correrem o risco
inerente à venda de produto de má qualidade. As primeiras, apoiadas nas margens de lucro médio
ainda elevadas permitidas pelo mercado em ascensão, estreitam as margens das últimas, cujos
procedimentos associam-se, quase sempre, a custos de produção e de transação relativamente
mais elevados, e, ampliando o market share, comprometem a rentabilidade e consolidação do
conjunto. Este seria um problema para a consolidação do APLFrutas-NePa, na medida em que
compromete a capacidade de acumulação do conjunto e, portanto, reduz o seu poder de garantir os
pressupostos necessários ao investimento produtivo e inovativo, acabando por inibir a criação de
eficiências coletivas por processos de aprendizagem e difusão dos conhecimentos, por bloquear os
investimentos em novos processos produtivos, o desenvolvimento de novos produtos, e aquisição
de novas máquinas e equipamentos, embalagem e o treinamento e qualificação da mão-de-obra.
No ano de 2003, a capacidade instalada total do conjunto das empresas era de 53,6 mil
toneladas, quando fora 45,4 mil em 2002. Considerados os já mencionados valores da produção
total de polpa, 8.815 t em 2002 e 12.488 t no ano seguinte, chega-se a um grau de utilização
da capacidade de, respectivamente, 19 e 23% - uma capacidade ociosa elevada, não obstante
decrescente: em 2002 ela foi de 81% e, no ano seguinte, de 77%. A capacidade instalada distribuiu-
se, em 2003, por Belém (39%), Igarapé-Miri (22%), Castanhal (14%), Tomé-Açu (10%), Santa
Bárbara do Pará (6%), Santa Isabel e Ananindeua (3% cada). As instalações de Abaetetuba, São
Francisco do Pará e Igarapé-Açu representam menos de 1% cada da capacidade total instalada, o
mesmo em Muaná e São Sebastião da Boa Vista, no Marajó.
O nível de utilização das plantas tem sido também diferente nesses lugares: as mais baixas
em Igarapé-Miri (10%, capacidade ociosa 90%), Santa Bárbara (17%, ociosidade em 83%), Belém e
Castanhal (20%, ociosas em 80% cada), São Sebastião (30%, ociosa em 70%) e Santa Isabel (43%,
ociosa em 57%); as mais altas são, por seu turno, Abaetetuba (100%), Igarapé-Açu (67%, ociosa em
33%), Ananindeua (62%, ociosa em 38%), São Francisco (52% - ociosa em 48%), Muaná (50%,
ociosa em 50%) e Tomé-Açu (47%, ociosa em 53%). Em linhas gerais, as empresas localizadas
em Belém e seu entorno situam-se nos maiores níveis de capacidade ociosa das plantas e as que
atuam no hinterland, nos menores níveis, com três exceções à regra: Igarapé-Miri e São Sebastião
325
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
da Boa Vista, ambas situadas no hinterland, apresentam altíssima capacidade ociosa e Ananindeua,
pertencente a grande Belém, situa-se entre os menores níveis de capacidade ociosa.
Tamanha capacidade ociosa parece não implicar, contudo, crise de rentabilidade. Quando
perguntados a respeito, 14% dos empresários responderam ter taxas de lucro sobre os custos
totais superiores a 20%, 10% deles responderam entre 15 e 20%, 24% entre 10 e 15% e 35% têm
lucratividade entre 5 e 10%. Apenas uma única empresa (3%) mencionou lucro abaixo de 5%
dos custos totais. Por outra parte, 4 empresas não responderam – o que nos faz presumir lucros
positivos e, possivelmente, altos. De modo que não se alega crise.
A ocorrência de capacidade ociosa constitui, de qualquer modo, um problema porque
implica produtividade abaixo do possível e formação subótima de valor adicionado: lucros e salários.
Indagados sobre suas causas, nenhum dos empresários entendeu que o problema estaria na
demanda dos produtos do APL e apenas três viram na concorrência de outras empresas, alegadamente
as do setor informal, fundamento para o problema; no outro extremo, 27 empresários entenderam
ser a escassez de matéria-prima a razão fundamental da ociosidade de suas empresas, agravada pela
falta de capital de giro (indicada por 10 empresários), pelo limite da capacidade de armazenamento
(com 6 respostas) e pelo alto custo da produção (lembrado em 4 respostas). Esse conjunto de
respostas nos dá um roteiro para uma investigação orientada pelas seguintes perguntas-chave: Há
escassez de matéria-prima? Há, associada a isso, uma apreciação do custo de produção? Constitui,
a falta de capital de giro, um problema? Enfim: em que medida as trajetórias constituintes influem
com suas características o APL? Em que medida ele é influenciado pelo ambiente institucional?
Pelas respostas dos empresários, estar-se-ia diante de um APL que, não obstante sua
emergência, já se confronta com uma crise de abastecimento associada ao setor rural. Repetir-
se-iam, aqui, as razões que levaram à falência experiências anteriores de agroindustrialização na
região? Vejamos isso com mais precisão.
Ficou estabelecido até aqui, que a capacidade de processamento de frutas associada ao
conjunto de empresas em estudo vem se formando rapidamente desde a primeira metade dos anos
noventa. Carro chefe da produção, as polpas de açaí representavam, em 2002, 68% do total de
polpas produzidas pelo APL, crescendo para 77% no ano seguinte. De 63%, a participação do açaí
no faturamento total atinge 71% em 2003, o que o coloca como o fundamento principal a explicar
se há limitações de sustentabilidade associadas aos limites de oferta do setor rural no arranjo.
Precisemos esta questão.
De 1996 a 2001, a produção total de açaí do Estado do Pará tem crescido a uma taxa de
6% a.a., saindo de 189, no primeiro ano, para 423 mil toneladas no último. Um crescimento muito
326
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
acelerado, na base do qual se verificam dinâmicas regionais muito diferentes, pois se baseiam em
reordenamentos produtivos expressos tanto em mudanças no ritmo e intensidade da exploração do açaí
extrativo, quanto na alteração dos fundamentos produtivos , uma vez que a produção agrícola tende a
ganhar cada vez mais espaço em processo claro em que as trajetórias tecnológicas T1, T2 e T5, acima
discutidas, concorrem entre si.
Em síntese, observando a Tabela 11.3.2-1, podemos depreender que: 1) estruturalmente, o
acelerado ritmo de crescimento da produção total de açaí no Estado do Pará se deve mais à produção
originada de plantações (crescimento de 12,5% a.a. – conf. 12ª coluna) do que à produção extrativa
(crescimento de 3% a.a.). Precisamente, 73% da variação total explica-se pelo primeiro tipo e 27%
pelo segundo tipo de produção (conf. 11ª coluna); 2) geograficamente, a forte dinâmica se deve bem
mais às áreas tradicionais, do estuário, do que às áreas novas, fora do estuário. Com efeito, em torno
de 80% da variação total explica-se nas primeiras e apenas 18% nas últimas. 3) Detalhadamente, 57%
da variação é explicada pelos plantios de Cametá, 24% pela expansão extrativa no Marajó e 18% pelos
plantios em áreas novas (Costa e Andrade, 2003d).
Tabela 11.3.2-1 – evolução da produção extrativa, agrícola e total de açaí1, por região, 1996-2001
(em kg)
Produção Variação na Produção
Média Annual % da Taxa de
Variação variação Cres-
Extração 1996- 1999-
1996 1997 1998 1999 2000 2001 C= C -cimento
1998 2001 (B-A) ¸ Anual2
(A) (B) SC
Açaí Extrativo
Cametá 54.862 40.347 45.306 40.916 51.704 47.806 46.838 46.809 (30) -0,03% -0,06%
Marajó 49.598 86.237 94.099 100.401 104.055 106.707 76.645 103.721 27.077 23,34% 5,69%
Tomé Açu 30.354 51.556 53.539 44.997 51.937 51.937 45.150 49.624 4.474 3,86% 3,19%
Belém 4.197 945 1.149 1.005 1.361 1.330 2.097 1.232 (865) -0,75% -5,76%
Outros 5.202 5.185 9.060 9.373 5.036 5.573 6.483 6.661 178 0,15% 0,36%
Total Pará 144.213 184.270 203.153 196.692 214.094 213.354 177.212 208.046 30.834 26,58% 2,99%
Plantio
Cametá 19.861 19.861 35.068 81.665 94.443 96.306 24.930 90.805 65.875 56,79% 18,11%
Marajó 5.222 5.222 5.222 4.701 1.691 12.791 5.222 6.394 1.172 1,01% 1,24%
Tomé Açu 7.017 7.017 168 570 581 928 4.734 693 -4.041 -3,48% -18,38%
Belém 128 128 128 193 926 926 128 682 553 0,48% 22,28%
Outros 12.238 60.784 37.036 28.505 47.985 98.352 36.686 58.281 21.595 18,62% 12,44%
Total Pará 44.467 93.012 77.622 115.634 145.625 209.303 71.700 156.854 85.154 73,42% 12,50%
Total
Cametá 74.722 60.207 80.374 122.581 146.147 144.112 71.768 137.613 65.845 56,77% 8,22%
Marajó 54.820 91.459 99.321 105.102 105.746 119.498 81.867 110.115 28.249 24,35% 5,60%
Tomé Açu 37.371 58.573 53.707 45.568 52.518 52.865 49.883 50.317 433 0,37% 1,55%
Belém 4.325 1.074 1.277 1.198 2.287 2.257 2.225 1.914 (312) -0,27% -1,29%
Outros 17.441 65.969 46.096 37.878 53.021 103.925 43.169 64.941 21.772 18,77% 10,54%
Total Pará 188.679 277.282 280.775 312.326 359.719 422.657 248.912 364.900 115.988 100,0% 6,30%
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1995-96. CD-ROM. IBGE, Produção Agrícola Municipal. IBGE, Produção
Extrativa Municipal. Nota: 1 Utilizamos os valores do Censo para o ano de 1996, calculando os demais anos pelos
Números Índices da PAM e PEM, tomando 1996=100. 2 Encontradas por regressão linear, para captar melhor o efeito
das flutuações (Costa, F. de A. e Andrade, W. D. C, 2003d).
327
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
11.3.3 Evolução da produção e dos preços em nível do produtor - interação entre as cedeias de
valor e de produto associadas às trajetórias de produção de açaí
Gráfico 11.3.3-1 - Evolução dos índices de preços pagos aos produtores, da produção extrativa e
de pantio do açaí, 1990-1996 (índices para 1996 = 100)
500
450
400
350
Números Índices
300
250
200
150
100
50
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Anos
Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal e Produção Extrativa Municipal, vários anos.
A estabilidade do preço real pago ao produtor nos últimos anos indica que a produção
(oferta) está se expandindo no passo da demanda. Se estivesse acima dela o preço mostraria tendência
de queda, se estivesse abaixo, mostraria tendência de alta, o que esclarece, economicamente, o
descompasso entre o potencial de produção presumido na capacidade instalada dos plantios e a
expansão efetiva da produção que analisamos.
Estabilidade do preço do açaí e a base da rentabilidade do APL
A estabilidade do preço médio do fruto açaí pago ao produtor tem se mantido nos últimos
anos, girando, entre 1997 e 2001, em torno de R$ 0,26 por kg. Esse nível de preço é base para
afirmar o açaí como o produto do APL de maior potencial de rentabilidade.
Se entendermos como sendo um indicador razoável da capacidade de um produto
fundamentar a rentabilidade do conjunto do APL a divisão entre o faturamento obtido por ele
e o respectivo custo médio da matéria-prima, chegamos aos seguintes resultados: os três tipos
de polpa de açaí apresentam os maiores coeficientes entre faturamento e custo da matéria-prima
(variando entre 2 e 3.5) – representando os produtos com maior potencial de rentabilidade.
Excluindo os produtos do açaí, apresentam coeficientes maior que 1 a polpa de goiaba, a polpa
de acerola, a polpa de graviola e de carambola; os demais produtos, dentre os quais se incluem as
polpas de maracujá, de cupuaçu e de abacaxi apresentaram, para o ano de 2003, coeficiente menor
que 1: apresentam-se, pois, como potenciais geradores de prejuízos.
Fica evidente, assim, não haver uma escassez absoluta a explicar o fenômeno da alta
capacidade ociosa do APL. Há, sim, uma forte sazonalidade do açaí entre os meses de fevereiro
e junho. Em Belém, nesse período, a disponibilidade do produto atinge a 30% da média mensal
verificada para todo o ano. Em contrapartida, o preço se eleva até atingir em maio-junho um valor
160% acima da média anual. Em setembro, outubro, novembro e dezembro ocorre a safra do açaí,
chegando a produção a atingir 170% da média anual, levando o preço ao seu ponto mais baixo – o
que ocorre entre os meses de outubro e novembro.
O arranjo produtivo aqui estudado tem demonstrado agilidade no crescimento e taxas que
parecem elevadas de rentabilidade. Contudo, esse nível de rentabilidade é contido estruturalmente:
1) pelas altas taxas de capacidade ociosa com que atuam as plantas em consequência,
fundamentalmente, da sazonalidade da principal matéria-prima; 2) pelo acirramento da
concorrência entre as empresas do arranjo 2.1) nos mercados extrarregionais e 2.2) nos mercados
locais de produtos e de fatores, entre elas e outras estruturas produtivas ligadas, por suposto,
ao setor tradicional de produção de polpa de açaí; 3) pela baixa capacidade de internalizar o
conhecimento já disponível, ou passível de obtenção na infraestrutura de conhecimento, e de
dinamizar as fontes desse conhecimento.
329
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
A pesquisa reuniu elementos que indicam uma perda de rentabilidade no processo de expansão
do APL, possivelmente associada a práticas competitivas predatórias. Parece haver empresas, em
proporções no momento difíceis de precisar, que se lançam no mercado apoiadas dominantemente
em sua disposição em aceitar preços que, em si, comprometeriam a rentabilidade das empresas que
não estão dispostas a correr o risco (que é a rigor um risco do conjunto das empresas) inerente
à venda de produto de má qualidade. Isso é possível por duas razões: 1) porque o APL não tem
garantido que as regras de padronização de qualidade sejam exercidas igualmente sobre todos quantos
331
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
acessem o mercado no qual atua e, 2) porque as empresas do APL têm sido tomadoras de preço (price
takers) dos agentes que atuam nos mercados consumidores. A superação de ambas as condições exige
mecanismos de regulação.
No primeiro caso, mecanismos que garantam a articulação entre os interesses do conjunto
de empresas e as instituições normativas e fiscalizadoras encarregadas de fazer valer regras comuns,
coibindo os oportunistas (free riders). Aqui são de fundamental importância os organismos
coorporativos e associativos que, ou exerçam eles mesmos as funções de coordenação e controle,
ou possam atuar nas instituições públicas no sentido de que se disponham e façam cumprir as
melhores regras. Essas funções são exercidas pelos sindicatos e associações de produtores.
No segundo caso, mecanismos que relativizem o poder de determinação que, no momento,
o cliente nos principais pontos do mercado nacional tem sobre a processadora do APL. Trata-se,
nesse caso, da constituição de redes horizontais e verticais (a montante), das quais possa emergir
governança capaz de se impor ao poder de determinação vertical (a jusante) da relação atacadista
no mercado nacional-processador de frutas. Várias são as possibilidades que o arranjo apresenta,
várias também são suas limitações nessa matéria.
A primeira, e, ainda, a única instituição dessa natureza, com escopo para coordenação
das relações interempresas, criada a partir das próprias agroindústrias do APL é o Sindicato das
Indústrias de Frutas do Pará – Sindfruta, fundado em 26/12/2000. O Sindfruta surgiu, com
apenas 10 filiadas, em lugar da Associação das Indústrias de Polpa e Sucos de Frutas do Pará –
ASPOLPA (de 1999).
No momento da pesquisa, com 14 associadas, a principal função do Sindicato tem sido a
de discutir caminhos e reivindicar ações de políticas públicas que melhor se ajustem aos interesses
das empresas associadas. Uma das principais reivindicações tem sido o estabelecimento de um
preço mínimo para a polpa de fruta do açaí durante o período da safra, para que ele não seja
aviltado a ponto de inviabilizar as indústrias. Tal como compreendem os membros do Sindicato,
o problema residiria na instalação de batedores de açaí informais durante a safra, que passam
a produzir a polpa de forma improvisada, em “fabriquetas de quintais”, como designam os
empresários. Esses concorrentes clandestinos (seguramente provindos do setor tradicional de
produção de polpa de açaí) venderiam o produto (a preço muito baixo) para os outros estados do
Brasil, sem nenhuma fiscalização fito-sanitária por parte do Governo Estadual e/ou do Governo
Federal. O não cumprimento das exigências fito-sanitárias por parte dessas empresas informais
e clandestinas criaria o diferencial de custos que comprometeria a lucratividade das empresas
com inscrição no Ministério da Agricultura. Ademais, tais atitudes implicariam riscos à saúde
pública, os quais avultariam riscos correspondentes no que se refere à confiança do consumidor
em mercados do resto do Brasil já conquistados.
Não obstante o valor geral das avaliações que fazem seus dirigentes e das ideias que
defendem para fins de ações concretas, os empresários entrevistados parecem não valorizar o
papel do Sindicato. Perguntados sobre sua importância na definição de objetivos comuns para o
arranjo produtivo, na construção de visões de futuro para ação estratégica e na apresentação de
332
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
reivindicações comuns, poucos foram os que lhe atribuíram alta relevância. Faz-se necessário,
entretanto, que se considere as diferenças dos graus atribuídos pelos representantes das pequenas
empresas, bem maiores do que os graus atribuídos pelos representantes das microempresas.
Indicaria isso um viés do Sindicato que não conseguiria incluir em sua perspectiva as necessidades
dos sócios, sobretudo dos menores? Ou indicaria isso um viés dos empresários, cujas estratégias
são incompatíveis com regras e estratégias transcendentes e comuns? Talvez as duas coisas. E,
se assim for, há aqui um obstáculo particularmente difícil de transposição para a consolidação do
arranjo: uma incapacidade para a ação comunicativa concreta.
A dinâmica inovativa do arranjo é baixa. Das pequenas empresas apenas 40% introduziram
inovações de processos e 33% realizaram mudanças organizacionais. Tratando-se da introdução
de novos produtos, realizaram-na 27% das pequenas e 14,3% das microempresas do APL.
Os impactos das inovações implantadas sobre a atividade econômica em geral e sobre as
vendas das empresas analisadas não implicaram mudanças de porte nos padrões de vendas. Mas,
têm sido fundamentais para a manutenção da competitividade das empresas do arranjo, sobretudo
pela melhora na qualidade, elemento chave diante da concorrência de empresas de outros estados,
que passaram a atuar inclusive no Pará, em especial na região Metropolitana de Belém. É esse o
caso da Brasfrut – Frutos do Brasil Ltda., de Feira de Santana (Bahia) e da empresa DAFRUTA
(Ceará), que envasa, em embalagens tetra pack, o açaí comprado de empresas do arranjo pela
exportadora SAMBAZON.
Os produtos novos representaram, em 2002, uma participação de apenas 1 a 5% nas
vendas para exportação de 7% das microempresas pesquisadas. Já 40% das pequenas empresas
realizaram vendas a partir do lançamento de produtos novos ou significativamente aperfeiçoados.
No geral, 24% de todas as empresas pesquisadas apresentaram alguma venda oriunda da inovação
de produtos.
336
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Um quarto ponto crucial é que, associado ao incremento de preços por tensão da demanda,
tem havido transferência de ganhos para o setor rural. A pesquisa de Nacif (2009) observa que
a participação do valor recebido pelos fornecedores rurais, que em 2003 representava 51% da
receita bruta do APLFrutas-NePa, em 2006 passou a representar 55% entre as empresas “antigas”
no APL, entre as empresas novas, 71%. Tais resultados são completamente compatíveis com
o que apresentamos da evolução da renda da T2 no Capítulo 10. São compatíveis, também,
com os resultados de pesquisa primária no plano dos estabelecimentos-domicílios camponeses
da T2 empreendida em 2008 com uma amostra de camponeses típicos dessa trajetória em
Cametá por Soares (2008). Comparando o nível e composição da renda dessa amostra com
os resultados dos mesmos estabelecimentos-domicílios obtidos por nós em pesquisa de 1999
(Costa, 2000), Soares (2008) detectou que, entre uma pesquisa e outra, as variações na renda, a
preços constantes, total e por família, foi de 180% no total do período, em termos reais, 10,9%
a.a. entre 1999 e 2008. Nesse meio tempo, a renda média por família passa de R$ 4.883,66 em
1999 para R$ 13.694,36 em 2008.
Capítulo 12
Sistemas agrários, Arranjos Produtivos e Economia Local:
estrutura e dinâmica do Sudeste Paraense
12.1. Delimitando a economia local do Sudeste Paraense em meados dos anos noventa
339
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Região e polarização
É fato empírico de notável recorrência que, tal como tem ocorrido nas sociedades
contemporâneas, o desenvolvimento é um processo que produz agrupamentos multicêntricos.
340
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Economistas regionais e geógrafos (Reilly, 1929 e Stewart, 1948) há tempos sugerem uma
descrição dessa multipolaridade através da relação entre duas únicas variáveis: a população
dos lugares e a distância entre eles. Por analogia à lei da gravitação universal, sugerem que os
lugares se conformam em centros hierarquizados na razão direta de suas populações, as quais
tratam como “massas” de um sistema gravitacional, e inversa das respectivas distâncias6.
Tal fórmula legitimou-se por oferecer uma leitura, por parcial que fosse, das configurações
espaciais enquanto potencial hierárquico intuído na concentração da população, a variável a
priori da existência social.
Assim proposto, o modelo produz resultados puramente metafóricos e estáticos. Sua
capacidade heurística aumenta, todavia, com a presuposição de Isard (1969) de que seus
resultados estão positivamente correlacionados com as probabilidades com que os lugares,
em um dado momento, produzem atração mútua (intercâmbio) e, assim, com a probalidade
de um lugar ser centro para o outro. Essa probabilidade está correlacionada com a soma das
probabilidades que ambos apresentam, de produzir atração sobre todos os demais lugares do
universo tratado7.
Na formulação de Isard, portanto, os valores obtidos por modelos gravitacionais
indicariam as probabilidades de uma unidade de “massa” do conjunto de aglomerados
orientar-se para um centro diferente de sua origem, quando um desequilíbrio qualquer se
verifica. Tais probabilidades se descreveriam para cada interação pelo valor
Ai . Aj
I ij G (12.1.1-1)
dijb
Em que:
- Iij indica o grau de interação entre o Centro i e o Centro j;
- Ai, Aj são a dimensão dos aglomerados (população) dos Centros i e j;
- dbij é a medida da distância entre i e j;
- G é a constante semelhante à constante gravitacional numérica;
- b é um parâmetro exponencial.
6 A população constitui, nessa perspectiva, massa de atração porque se supõe que quanto maiores os aglomerados humanos maior
deverá ser a comutação entre eles. Por outro lado, pressupõe-se que o custo e o sacrifício de deslocamento no espaço reduz aquela
comutação na razão direta da distância entre os aglomerados (Ferreira, 1989:528).
7 Com isso, segundo Richardson (1969:98), os modelos gravitacionais passaram a se pretenderem não determinísticos, dado não se
proporem à verificação de posições estabelecidas (ótimas) de uma certa configuração espacializada da relação entre fatores, mas sim
a indicarem o que é provável ocorrer no deslocamento desses fatores numa certa configuração espacial. Eles se referem a interações
esperadas – resultam, isto posto, de um teoria das probabilidades e representam aspectos de teorias do comportamento e não da
maximização.
341
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
gravitação, isto é, em um campo de forças, para cuja representação servem tais valores. E tais
posições se revelariam inicialmente em potenciais P, tais que
n n
Ai . Aj
Pi = ∑ I ij = G ⋅∑ (12.1.1-2)
j=1 J =1
dijb
O potencial Pi de interação de um aglomerado i com o seu campo constituído adicionalmente
pelos aglomerados j é, entretanto, uma grandeza dimensional, uma vez que depende dos tamanhos
das aglomerações. Se, todavia, dividirmos este valor pela massa do aglomerado i teremos a
grandeza adimensional P*, potencial por unidade de massa, do aglomerado. Desse modo
n
I ij n
Aj
Pi * = ∑ = G ⋅∑ (12.1.1-3)
J =1
Ai j=1
dij
Assim, como campo de forças, uma região se descreveria por um conjunto de interações
entre aglomerados, cujos fluxos se orientariam provavelmente pelos centros com maiores
potenciais de atração, definidos, esses potenciais, pelas relações próprias à metáfora gravitacional
(formalmente descritas nas equações 12.1.1-1 a 12.1.1-3).
isto é, uma certa interação entre solo e clima. Entre um extremo e outro, há
diversas possibilidades intermediárias. O importante é, em qualquer dos casos, a
condição irredutível de uma especificidade da natureza espacialmente localizável
ser uma força produtiva.
I.2 Como qualidade, a natureza entra nos processos produtivos na condição de
meio de produção mediato, que compõe o acervo do capital social, como um
fundamento infraestrutural. Um bioma que regula ecosistemas e ambientes
edafo-climáticos particulares pode ser pensado nessa condição.
I.3 Como qualidade, ainda, a natureza entra nos processos produtivos na condição
de objeto do trabalho, como matéria-prima. Nesse caso, não é a capacidade
produtiva das relações próprias e localizáveis, mas os componentes dessas
relações individualmente, como matéria-prima, que entram nos processos
produtivos: a madeira que é retirada de um bioma, o solo que se usa como
suporte de uma fórmula química que se integra sob controle com um clima de
estufa, etc. podem ser pensados nessa condição.
I.4 Em suma: como meio de produção a natureza determina a fixação das
atividades econômicas, obedecendo a ditames estritamente geográficos – a
agricultura tende a se organizar espacialmente de acordo com a distribuição das
condições edafo-climáticas e, garantidos os pressupostos da reprodução dessas
condições, essas atividades podem se reproduzir em horizonte de tempo não
delimitado; como objeto de trabalho, a natureza codetermina, juntamente com
as condições que gerem o seu uso, a distribuição espacial das atividades e os
respectivos tempos de duração – ocorrências mineral ou florestal determinam,
junto com a produtividade dos setores que consomem o minério ou madeira, a
distribuição das atividades que durarão precisamente o tempo que durarem as
ocorrências.
II. Pelos ditames produzidos por forças definidas pela natureza enquanto espaço (res
extensa). Nesse caso,
II.1 a natureza manifesta-se enquanto distâncias entre o lócus do processo de trabalho
que utiliza a natureza como meio de produção mediato, imediato ou matéria-
prima e o lócus de realização (utilização) dos seus resultados e
II.2 distâncias entre o lócus do processo de trabalho que utiliza a natureza como meio
de produção imediato ou matéria prima e o lócus da produção das mercadorias
que esse processo de trabalho necessita, ali não disponíveis.
III. Pelos ditames das construções da sociedade – das invenções antrópicas.
III.1 Ditames provindos da esfera propriamente econômica,
III.1.1) como aqueles que definem o acesso aos meios de produção imediatos
que se ajustam à noção de capital físico, isto é, capital produtivo acumulado
na forma de máquinas e equipamentos nas empresas e
343
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Relações estruturantes entre os setores com raízes (dependentes de capital natural) e os setores
sem raízes
8 Alfred Marshall, um dos mais importantes teóricos da mecânica neoclássica, foi também pioneiro em apontar os efeitos positivos da
aglomeração. Para ele, tais efeitos se davam porque a) a concentração de firmas de uma mesma indústria em um mesmo lugar permite
um correspondente agrupamento de trabalhadores com as habilidades especiais por ela particularmente requeridas; b) em um centro
urbano, quanto maior e industrializado seja, mais permite a provisão de insumos não comercializáveis – serviços especializados,
cultura, sistema de assistência social, formação técnica, amenidades urbanas, etc. – o que Fujita, Krugman e Venables (2000: 19)
traduziram como a capacacidade das aglomerações produzirem “excesso de conhecimento’ e que c) as informações sobre inovações de
produto e processo fluem com mais facilidade em curtas distâncias – o acesso a technological spillovers é facilitado pela aglomeração
(Marshall, 1982: 231-38). Seus seguidores, contudo, têm considerado esses fatores na designação comum de externalidades, isto é,
como fatores próprios ao ambiente sócio-cultural e político em que funcionam as empresas, mas estranhos ao processo decisório
propriamente econômico e, presumivelmente, alheio a seus resultados. Isso lhes permitiu preservar a metáfora do equilíbrio geral por
garntirem a hipótese dos rendimentos decrescentes. Ver considerações críticas de Arthur (1996).
344
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
produção e o lugar (de parte) do seu consumo: o capital físico na forma infraestrutural tem o papel
de reduzir essas distâncias.
Tais considerações permitem enunciar que, tanto maior a escala de produção, tanto
maiores as distâncias a serem percorridas pelas mercadorias produzidas e, correspondentemente,
tanto maiores as principais implicações econômicas disso: os custos de transporte. O que leva
Krugman (1991:21) a enunciar que se um lugar i tem ganhos de escala num montante Fi, tal que
Fi = y j − yi (12.1.3-4)
onde yj é o custo total da produção no lugar j, para atender suas próprias necessidades, e yi o
custo de produção das necessidades do lujar j se atendidas pelo lugar i de um dado produto, a
concentração pela ampliação da capacidade produtiva daquelo produto em i continuará enquanto
Fi > S j ⋅ X ⋅T (12.1.1-5.a)
Ademais, é possível a partir daí constituir Ai, a massa dos modelos gravitacionais de Isard,
na ótica do potencial de mercado. Considerando yi o dispêndio total feito em i para a produção
das necessidades de j, portanto sendo yi correspondente ao valor das compras intermediáriaos
(matérias primas e materiais secundários), fundos de reposição do capital físico, remuneração
da gestão e salários, e tomando um conjunto de n lugares j tem-se que: para todos os lugares
j em que a condição 12.1.1-5) for atendida produzir-se-á uma expansão da massa A do lugar i
correspondente a yi.
n
De modo que Ai = A0 + ∑ yi , sendo A0 um valor associado às necessidades iniciais de i.
j=1
345
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
para i e j sendo os lugares, C o custo fixo (depreciação do capital físico e custos de gestão) para
a produção do produto k, m o valor da matéria prima necessária por unidade de produto k, w o
salário pago por umidade de tempo, q a produçãode k por trabalhador por unidade de tempo e
substituindo (12.1.1-6) e (12.1.1-7) em (12.1.1-5) e o resultado em (12.1.1-4) tem-se que:
se
C jk w jk Cik w
+ m jk + > Tij + + mik + ik
(1− Si ). X k q jk Xk qik
então
n m
Ai = A0 + ∑ ∑ yik
j=1 k =1
(12.1.1-8)
As variáveis inclusas em a), aquelas que influem diretamente na concentração, são as forças
centrípetas da polarização, dado que fundamentam o processo enquanto resultado de acumulação
dinâmica, assentada em rendimentos crescentes e, por isso, fenômeno do desenvolvimento. Em
conjunto, essas forças podem produzir o que Vázquez-Bartero (2001:29-30) chama de efeito H
associado a um lugar: uma confluência de capacidades derivadas tanto de elementos extensivos da
sua constituição, como o tamanho do mercado trabalho e de produtos, quanto da qualidade desses
mercados, associada ao nível da divisão social do trabalho e ao capital humano e social nele
presentes . De modo que A=A(H), isto é, a massa de um lugar, na metáfora de Isard, determinante
e resultante do seu poder de atração, na perspectiva do desenvolvimento endógeno resultante de
sua capacidade de acumulação dinâmica, é determinada pelo efeito H, pelo sinergismo das forças
centrípetas da polarização.
As variáveis inclusas em b) se caracterizam por serem forças com capacidade limitada para
favorecer a acumulação dinâmica de um lugar. Já se cogitou, na discussão sobre desenvolvimento,
a possibilidade de desenvolvimento com base nas vantagens derivadas de vantagens locacionais
em relação às matérias-primas e, mesmo, em relação ao custo da força de trabalho. Tais vantagens,
associadas à exportação de staple products altamente rentáveis, poderiam produzir efeitos de
aglomeração pela criação, gradativa, de oportunidades de substituição de importações (conf.
Clemente e Higashi, 2000:135-136). Sem negar completamente essa possibilidade, as discussões
atuais tendem a realçar o fato de que tais vantagens são estruturalmente contestadas por se
associarem a processos produtivos de retorno tendencialmente decrescentes. Discutiremos isso
adiante, no capítulo 12.2.
347
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Setores com raízes e produtividade decrescente. Há uma clara determinação provinda dos
setores com raízes – aqueles atrelados ao capital natural: eles tendem a limitar a produtividade
do conjunto, dado que assentados nos limites absolutos da natureza, seja enquanto espaço
(distâncias), seja enquanto substância. Setores como a mineração ou a agricultura poderiam, nessa
perspectiva, fundamentar capacidades iniciais de processos de desenvolvimento, de acumulação
diferenciada de um lugar, criando para ele ciclos de produtividade crescente, mas tenderiam a
se esgotar como fonte de diferenciação. Para Porter, eles seriam, em contraponto aos fatores
superiores das criações culturais do capital humano e capital social, fatores inferiores na formação
da competitividade de um lugar, do seu desenvolvimento. Há uma falha teórica, aqui, sobre a qual
discutiremos longamente adiante. Por enquanto é suficiente dizer que tal compreensão só procede
em contexto em que a natureza entre nos processos produtivos como objeto da produção, como
uma matéria-prima.
Baixos salários e limites a acumulação. A questão dos salários guarda complexidade
própria, com longo estatuto teórico. Importa, nesse momento, o seguinte: se por um lado baixos w
médios elevam a competitividade de um lugar em relação a certos produtos, por outro limitam o
surgimento de novos produtos, tolhendo, destarte, sua expansão – a ampliação de sua capacidade
de atração Ai - por redução do número de k para os quais se mostra capaz de apresentar, para um
número significativo de lugares, mediante a condição (12.1.3-8) yik>0.
Aplica-se, tal modelo, para a análise do caso do Sudeste paraense? Responder a essa
pergunda exige responder a duas outras:
1. As variáveis mencionadas acima como forças centrípetas manifestam-se na
mesorregião esclarecendo uma conformação multicêntrica?
2. Elas relacionam-se entre si explicando tal conformação como resultado de polaridades
estruturalmente justificáveis e sustentáveis, pois baseada em rendimentos crescentes
e competitividade dinâmica?
349
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
350
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
351
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
352
Tabela 12.1.2-2.Coeficiente de Correlação de Pearson das variáveis com Gini superior a 0,5 ordenadas pela média dos
coeficientes com todas as outras variáveis, 1995-96
Gi-
Variáveis 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
-ni
1.Cab. de família entre 4 e 8 0,53 1,00 0,98 0,98 1,00 0,97 0,97 0,96 0,97 0,98 0,96 0,95 0,94 0,94 0,92 0,92 0,92 0,92 0,89 0,87 0,78 0,76 0,76 0,67 0,66 0,66 0,46 0,38 0,38 0,17 0,23
anos de estudo
2.Cab. de família entre 9 e 11 0,65 0,98 1,00 1,00 0,98 0,99 0,99 0,98 0,96 0,96 0,96 0,95 0,96 0,95 0,94 0,93 0,93 0,90 0,93 0,88 0,71 0,80 0,79 0,59 0,68 0,63 0,49 0,31 0,41 0,15 0,16
anos de estudo
3.Pessoas entre 9 e 11 anos
Francisco de Assis Costa
0,64 0,98 1,00 1,00 0,98 0,99 0,99 0,99 0,96 0,97 0,96 0,95 0,98 0,97 0,96 0,96 0,96 0,93 0,94 0,87 0,73 0,77 0,76 0,63 0,62 0,61 0,46 0,32 0,33 0,16 0,16
de estudo
4.Pessoas entre 4 e 8 anos de 0,51 1,00 0,98 0,98 1,00 0,97 0,97 0,97 0,96 0,98 0,97 0,94 0,94 0,95 0,92 0,93 0,93 0,94 0,89 0,86 0,77 0,75 0,74 0,68 0,61 0,66 0,44 0,37 0,33 0,16 0,23
estudo
5.Pessoas com mais de 14 0,74 0,97 0,99 0,99 0,97 1,00 1,00 0,99 0,96 0,94 0,94 0,95 0,98 0,96 0,96 0,94 0,94 0,89 0,94 0,86 0,68 0,78 0,77 0,60 0,64 0,60 0,49 0,28 0,36 0,12 0,17
anos de estudo
6.Cab. De família com mais 0,74 0,97 0,99 0,99 0,97 1,00 1,00 0,99 0,96 0,94 0,93 0,95 0,97 0,96 0,95 0,93 0,94 0,89 0,93 0,86 0,67 0,79 0,78 0,58 0,65 0,62 0,49 0,26 0,37 0,10 0,17
14 anos de e7.studo
7.Cab. de família entre 12 e 14 0,69 0,96 0,98 0,99 0,97 0,99 0,99 1,00 0,95 0,95 0,93 0,94 0,99 0,97 0,96 0,95 0,94 0,89 0,94 0,86 0,68 0,77 0,76 0,60 0,60 0,57 0,49 0,28 0,31 0,18 0,22
anos de estudo
8.Pessoal Ocupado na Saúde 0,76 0,97 0,96 0,96 0,96 0,96 0,96 0,95 1,00 0,94 0,94 0,94 0,93 0,92 0,92 0,89 0,88 0,88 0,85 0,83 0,77 0,71 0,71 0,70 0,70 0,62 0,48 0,41 0,44 0,16 0,21
9.População Urbana 0,55 0,98 0,96 0,97 0,98 0,94 0,94 0,95 0,94 1,00 0,98 0,93 0,94 0,96 0,93 0,95 0,94 0,96 0,91 0,84 0,82 0,70 0,68 0,73 0,54 0,61 0,37 0,43 0,23 0,23 0,15
10.Pessoal Ocupado no Co- 0,71 0,96 0,96 0,96 0,97 0,94 0,93 0,93 0,94 0,98 1,00 0,93 0,92 0,96 0,93 0,95 0,94 0,96 0,91 0,80 0,84 0,65 0,63 0,75 0,55 0,58 0,40 0,48 0,25 0,22 0,08
mércio
11.Pessoal Ocupado Educa- 0,84 0,95 0,95 0,95 0,94 0,95 0,95 0,94 0,94 0,93 0,93 1,00 0,91 0,90 0,88 0,90 0,91 0,86 0,87 0,79 0,79 0,78 0,77 0,64 0,55 0,73 0,36 0,48 0,33 0,19 0,12
ção
12.Pessoas entre 12 e 14 anos 0,70 0,94 0,96 0,98 0,94 0,98 0,97 0,99 0,93 0,94 0,92 0,91 1,00 0,98 0,98 0,96 0,95 0,89 0,96 0,81 0,67 0,71 0,70 0,62 0,55 0,48 0,48 0,28 0,24 0,19 0,19
de estudo
13.Matrículas no ensino mé- 0,70 0,94 0,95 0,97 0,95 0,96 0,96 0,97 0,92 0,96 0,96 0,90 0,98 1,00 0,99 0,98 0,96 0,94 0,96 0,80 0,72 0,63 0,62 0,68 0,53 0,45 0,47 0,32 0,18 0,17 0,09
dio
14.Professores no ensino 0,65 0,92 0,94 0,96 0,92 0,96 0,95 0,96 0,92 0,93 0,93 0,88 0,98 0,99 1,00 0,97 0,95 0,91 0,97 0,78 0,68 0,62 0,61 0,64 0,54 0,39 0,50 0,30 0,21 0,19 0,10
médio
15.Pessoal Ocupado nos 0,78 0,92 0,93 0,96 0,93 0,94 0,93 0,95 0,89 0,95 0,95 0,90 0,96 0,98 0,97 1,00 0,99 0,96 0,97 0,76 0,74 0,63 0,61 0,69 0,42 0,47 0,40 0,38 0,08 0,23 0,08
353
Bancos
16.Depósitos Bancários 0,80 0,92 0,93 0,96 0,93 0,94 0,94 0,94 0,88 0,94 0,94 0,91 0,95 0,96 0,95 0,99 1,00 0,94 0,97 0,75 0,73 0,68 0,66 0,64 0,42 0,52 0,37 0,39 0,09 0,24 0,07
17.Quantidade de Bancos 0,72 0,92 0,90 0,93 0,94 0,89 0,89 0,89 0,88 0,96 0,96 0,86 0,89 0,94 0,91 0,96 0,94 1,00 0,89 0,79 0,77 0,59 0,57 0,74 0,45 0,53 0,35 0,39 0,12 0,19 0,08
18.Pessoal Ocupado Trans- 0,83 0,89 0,93 0,94 0,89 0,94 0,93 0,94 0,85 0,91 0,91 0,87 0,96 0,96 0,97 0,97 0,97 0,89 1,00 0,75 0,62 0,67 0,65 0,56 0,47 0,43 0,43 0,24 0,13 0,16 0,01
portes
19.Pessoal Ocupado no Servi- 0,67 0,87 0,88 0,87 0,86 0,86 0,86 0,86 0,83 0,84 0,80 0,79 0,81 0,80 0,78 0,76 0,75 0,79 0,75 1,00 0,56 0,82 0,82 0,40 0,72 0,61 0,43 0,12 0,54 0,14 0,24
ço Público
20.Quantidade de Indústrias 0,60 0,78 0,71 0,73 0,77 0,68 0,67 0,68 0,77 0,82 0,84 0,79 0,67 0,72 0,68 0,74 0,73 0,77 0,62 0,56 1,00 0,40 0,39 0,85 0,32 0,50 0,14 0,82 0,14 0,51 0,12
21.Orçamento Público Des- 0,70 0,76 0,80 0,77 0,75 0,78 0,79 0,77 0,71 0,70 0,65 0,78 0,71 0,63 0,62 0,63 0,68 0,59 0,67 0,82 0,40 1,00 1,00 0,16 0,61 0,78 0,38 0,08 0,53 0,11 0,26
pesa
22.Orçamento Público Re- 0,70 0,76 0,79 0,76 0,74 0,77 0,78 0,76 0,71 0,68 0,63 0,77 0,70 0,62 0,61 0,61 0,66 0,57 0,65 0,82 0,39 1,00 1,00 0,15 0,64 0,78 0,39 0,07 0,57 0,10 0,27
ceita
23.Leitos Hospitalares 0,68 0,67 0,59 0,63 0,68 0,60 0,58 0,60 0,70 0,73 0,75 0,64 0,62 0,68 0,64 0,69 0,64 0,74 0,56 0,40 0,85 0,16 0,15 1,00 0,16 0,33 0,12 0,69 (0,10) 0,32 0,10
24.VBP da Horticultura 0,88 0,66 0,68 0,62 0,61 0,64 0,65 0,60 0,70 0,54 0,55 0,55 0,55 0,53 0,54 0,42 0,42 0,45 0,47 0,72 0,32 0,61 0,64 0,16 1,00 0,44 0,58 0,01 0,88 (0,10) 0,23
25.ICMS 0,62 0,66 0,63 0,61 0,66 0,60 0,62 0,57 0,62 0,61 0,58 0,73 0,48 0,45 0,39 0,47 0,52 0,53 0,43 0,61 0,50 0,78 0,78 0,33 0,44 1,00 0,14 0,34 0,41 0,06 0,18
26.Crédito Agrícola 0,55 0,46 0,49 0,46 0,44 0,49 0,49 0,49 0,48 0,37 0,40 0,36 0,48 0,47 0,50 0,40 0,37 0,35 0,43 0,43 0,14 0,38 0,39 0,12 0,58 0,14 1,00 (0,10) 0,41 0,02 0,27
27.Pessoal Ocupado na In- 0,79 0,38 0,31 0,32 0,37 0,28 0,26 0,28 0,41 0,43 0,48 0,48 0,28 0,32 0,30 0,38 0,39 0,39 0,24 0,12 0,82 0,08 0,07 0,69 0,01 0,34 (0,10) 1,00 (0,02) 0,64 0,01
dústria
28.Pessoal Ocupado na Mi- 0,96 0,38 0,41 0,33 0,33 0,36 0,37 0,31 0,44 0,23 0,25 0,33 0,24 0,18 0,21 0,08 0,09 0,12 0,13 0,54 0,14 0,53 0,57 (0,10) 0,88 0,41 0,41 (0,02) 1,00 (0,08) 0,23
neração
29.VBP do extrativismo de 0,70 0,17 0,15 0,16 0,16 0,12 0,10 0,18 0,16 0,23 0,22 0,19 0,19 0,17 0,19 0,23 0,24 0,19 0,16 0,14 0,51 0,11 0,10 0,32 (0,10) 0,06 0,02 0,64 (0,08) 1,00 0,15
aniquilamento
30.VBP das Culturas Perma- 0,52 0,23 0,16 0,16 0,23 0,17 0,17 0,22 0,21 0,15 0,08 0,12 0,19 0,09 0,10 0,08 0,07 0,08 0,01 0,24 0,12 0,26 0,27 0,10 0,23 0,18 0,27 0,01 0,23 0,15 1,00
nentes
MédiaDasCorrelações 0,80 0,80 0,80 0,79 0,79 0,79 0,79 0,79 0,78 0,78 0,77 0,77 0,76 0,75 0,75 0,75 0,74 0,73 0,71 0,63 0,63 0,62 0,53 0,52 0,52 0,39 0,33 0,31 0,20 0,19
Tabelas A.1 a A.4. Processamento do Autor.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Tabela 12.1.2-6. O fator principal da análise fatorial das variáveis básicas do Sudeste Paraense
Coef. De Correlação
Variáveis
com o Fator Principal
População Urbana 0,979
Pessoal Ocupado no Comércio 0,979
Cabeça de família com mais 14 anos de estudo 0,977
Cabeça de família entre 12 e 14 anos de estudo 0,976
Pessoal Ocupado Educação 0,969
Pessoal Ocupado na Saúde 0,967
Depósitos Bancários 0,963
Pessoal Ocupado Transportes 0,934
Pessoal Ocupado na Indústria 0,443
Pessoal Ocupado na Mineração 0,303
VBP da extração de madeira e carvão 0,248
Fonte: Tabelas Dados do IBGE, processamento do autor com SPSS.
Um dos recursos da análise fatorial é verificar em que medida um fator se manifesta para
cada um dos casos estatísticos da análise – os scores do fator para cada unidade de informação.
Em nosso estudo, isso significa que podemos ter uma medida da força da conjunção das variáveis
que fundamentam a polarização dinâmica expressa pelo Fator de Polarização Dinâmica – em
que medida ele se manifesta para cada lugar. Precisamente esse valor poderá ser tomado como
a “massa” A do lugar, na delimitação do campo de forças dos potenciais descritos na relação
(12.1.1-3) – o seu poder estruturante derivado do sinergismo produzido pela interação entre
aquelas variáveis. Tais valores foram encontrados e constam da Tabela 12.1.2-7.
Encontrado o vetor de “massas”, isto é, as grandezas Aj da relação (12.1.1-3),
construimos uma matriz de distâncias correspondente aos 33 municípios, que compõem a
mesorregião Sudeste do Pará. Dividindo cada massa pela distância encontramos a atratividade
de cada par i,j de municípios. O potencial de atração de cada município é a soma da força de
atração desse município em relação a cada um dos outros municípios: o valor do campo de
forças constituído por suas relações. A soma por município do potencial de atração respectiva
em relação a todos os demais é seu potencial de atração. Os cinco municípios de maior potencial
de atração na mesorregião Sudeste paraense, aqueles que potencialmente configuram-se
como seus polos, são, pela ordem de grandeza de P: Marabá (P=6,4), Parauapebas (P=3,35),
Paragominas (P=3,10), Tucuruí (P=2,92), Conceição do Araguaia (P=2,39).
A Tabela 12.1.2-8 apresenta a distribuição das respectivas cargas de atração em relação
a todos os municípios da mesorregião e uma distribuição dos municípios pelas aglomerações
358
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
que apresentaram maior poder de influência. Apresenta, ao final, uma indicação de posição
no polo a partir das cargas potenciais que cada município apresenta em relação aos principais
centros aglutinadores: foi considerado que um município seria tributário de um centro, se o
potencial de atração que apresenta em relação àquele centro fosse maior que o potencial de
atração que apresenta em relação a qualquer centro.
Tabela 12.1.2-7 - Scores dos Fatores Polaridade e Ruralidade para o Sudeste Paraense – Massa
dos Municípios
Scores
Scores
Polaridade
Municípios Polaridade
Dinâmica
Dinâmica
Ajustados
Marabá 4,59379 6,1401
Parauapebas 1,50015 3,0464
São João do Araguaia -0,53269 1,0136
São Domingos do Araguaia -0,48184 1,0644
Itupiranga -0,41601 1,1303
Bom Jesus do Tocantins -0,49303 1,0533
Jacundá -0,07421 1,4721
Tucuruí 1,10113 2,6474
Eldorado dos Carajás -0,49109 1,0552
Curionópolis -0,35782 1,1885
Rondon do Pará 0,11762 1,6639
Abel Figueiredo -0,5124 1,0339
São Geraldo do Araguaia -0,35986 1,1864
Brejo Grande do Araguaia -0,5373 1,0090
Dom Eliseu -0,06088 1,4854
Paragominas 1,37501 2,9213
Breu Branco -0,33886 1,2074
Palestina do Pará -0,52932 1,0170
Goianésia do Pará -0,44176 1,1045
Xinguara 0,01646 1,5627
Redenção 0,74664 2,2929
Água Azul do Norte -0,54628 1,0000
Conceição do Araguaia 0,64112 2,1874
Novo Repartimento -0,42859 1,1177
Ulianópolis -0,37412 1,1722
Rio Maria -0,3376 1,2087
Tucumã -0,22644 1,3198
Ourilândia do Norte -0,40838 1,1379
Pau D’Arco -0,5428 1,0035
Cumaru do Norte -0,52176 1,0245
Santana do Araguaia -0,1672 1,3791
São Félix do Xingu -0,36902 1,1773
Santa Maria das Barreiras -0,54263 1,0037
Fonte: Dados do IBGE, processamento do autor com SPSS. * Tomamos o menor valor igual a 1.
359
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Tabela 12.1.2-8 Cargas dos potenciais de atração dos principais centros polarizadores do Sudeste
Paraense
Distribuição dos municípios pelos respectivos polos de
Municípios com maior potencial de atração:
Município atração (função da maior carga de atração)
Marabá Parauapebas Paragominas Tucuruí Conceição Marabá Parauapebas Paragominas Tucuruí Conceição
Marabá 6,14007 0,05203 0,01436 0,03198 0,01263 Marabá
Parauapebas 0,02582 3,04643 0,00668 0,01145 0,01219 Parauapebas
S. J. Arag. 0,02413 0,00685 0,00321 0,00483 0,00307 Marabá
S. Doming. 0,02129 0,00750 0,00323 0,00471 0,00343 Marabá
Itupiranga 0,01700 0,00912 0,00343 0,00715 0,00327 Marabá
Bom Jesus 0,01505 0,00566 0,00390 0,00560 0,00286 Marabá
Jacundá 0,01502 0,00751 0,00564 0,01389 0,00352 Marabá
Tucuruí 0,01379 0,00995 0,00946 2,64741 0,00521 Tucuruí
Eldorado 0,01319 0,02110 0,00230 0,00409 0,00432 Parauapebas
Curionóp. 0,01238 0,03962 0,00275 0,00450 0,00487 Parauapebas
Rondon 0,01223 0,00666 0,00770 0,00800 0,00396 Marabá
Abel Fig. 0,01124 0,00497 0,00401 0,00527 0,00274 Marabá
S. Geraldo 0,00927 0,00802 0,00289 0,00368 0,00530 Marabá
B. Grande 0,00747 0,00567 0,00310 0,00388 0,00325 Marabá
Dom Eliseu 0,00707 0,00450 0,00952 0,00594 0,00312 Paragominas
Paragomin. 0,00683 0,00641 2,92129 0,01043 0,00462 Paragominas
B. Branco 0,00678 0,00451 0,00457 0,06708 0,00240 Tucuruí
Palestina 0,00678 0,00565 0,00304 0,00371 0,00339 Marabá
Goianésia 0,00650 0,00409 0,00489 0,01726 0,00224 Tucuruí
Xinguara 0,00584 0,01421 0,00284 0,00411 0,01101 Parauapebas
Ulianópolis 0,00350 0,00304 0,01429 0,00469 0,00212 Paragominas
N. Repart. 0,00426 0,00543 0,00339 0,01693 0,00252 Tucuruí
São Félix 0,00193 0,00491 0,00177 0,00286 0,00338 Parauapebas
Ourilândia 0,00244 0,00759 0,00190 0,00308 0,00455 Parauapebas
Água Azul 0,00467 0,01000 0,00181 0,00287 0,00490 Parauapebas
Tucumã 0,00277 0,00815 0,00219 0,00351 0,00508 Parauapebas
Cumarú 0,00210 0,00488 0,00154 0,00223 0,00551 Conceição
RioMaria 0,00336 0,00863 0,00209 0,00299 0,00930 Conceição
Pau D’arco 0,00231 0,00528 0,00162 0,00398 0,01091 Conceição
S. M. Barr. 0,00170 0,00198 0,00142 0,00177 0,01287 Conceição
Santana 0,00200 0,00383 0,00175 0,00219 0,01724 Conceição
Redenção 0,00493 0,01071 0,00356 0,00476 0,02796 Conceição
Conceição 0,00450 0,00875 0,00346 0,00431 2,18740 Conceição
Potenciais
6,4182 3,35 3,05959 2,92 2,39
totais
9 A Mesorregião Sudeste Paraense compõe-se dos seguintes municípios: Marabá, Parauapebas, Curionópolis, Ourilândia do Norte,
Tucumã, Eldorado dos Carajás, Canaã dos Carajás, São Felix do Xingu, São João do Araguaia, Brejo Grande do Araguaia, Bom Jesus
do Tocantins, Palestina do Pará, São Domingos do Araguaia, Pau D’Arco, Redenção, Rio Maria, Xinguara, Conceição do Araguaia,
Paragominas, Tucurui, Jacundá, Itupiranga, São Domingos do Capim, Rondom do Pará, Dom Eliseu, Ulianópolis, Goianésia do Pará,
Novo Repartimento, Breu Branco e Nova Ipixuna.
361
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
10 Conti distingue valorização de desenvolvimento: em processo de valorização o sistema regional (local) é suporte passivo para forças
e processos mais ou menos difusos; no caso do desenvolvimento local há envolvimento direto de forças territorialmente imersas. O
primeiro é um processo reversível, exógeno, dependente e baseado em recursos genéricos; o segundo é endógeno, autônomo e baseado
em ativos específicos (Conf. Conti, 2005:231-238).
362
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
produz “... uma visão única e compreensiva do funcionamento da economia, de como cada setor
torna-se mais ou menos dependente dos outros [...permitindo demonstrar que...] devido a natureza
dessa interdependência todos os setores estão interligados, direta ou indiretamente” (Guilhoto e
Sesso Filho, 2005:21). Nosso esforço será dispor esse potencial descritivo e analítico a serviço de
uma perspectiva que valoriza os aglomerados localizados em economia local, ou, em uma ótica
inversa, que descreva a economia local como resultado de dinâmica de aglomeração fundada
em APLs; que estes sejam observados referidos às trajetórias que os constituem à montante e às
cadeias de valor que se formam à juzante deles.
Os principais resultados das matrizes geradas, no que se refere à estruturação da economia,
são apresentados na seção 12.2.1. Dispondo das descrições anuais, procederemos nas seções
seguintes 12.2.2 e 12.2.3 às análises dinâmicas da evolução da capacidade da economia local
de gerar e de se apropriar de externalidades de escala, de especialização e de complexificação
da economia local. Observaremos dois tipos de efeitos: os refletidos no multiplicador da base de
exportação e os refletidos em indicadores de prevalência das forças centrípetas e centrífugas da
economia local.
Para o primeiro tipo de efeitos, será explorada a teoria do multiplicador da base,
segundo a qual uma economia regional cresce como função linear da sua base de exportação,
cujo coeficiente angular corresponde a um multiplicador keynesiano clássico, determinado
pela proporção do consumo endógeno no total da renda. Seria movida, portanto, por forças
exógenas que se expressariam, numa matriz de insumo-produto, nos componentes exógenos
da demanda final, os quais podem sofrer influência de um sem número de fatores que afetam
a demanda extralocal dos produtos locais (Stimson, Stough, Roberts, 2006:161). Contudo,
como defendem Fujita, Krugman, Venebles (2002:43-45) e Romer (1986, 1990), a partir de
Pred (1966), tais economias crescem também determinadas por fatores endógenos associados
ao crescimento do número e importância das concatenações internas que resultam do próprio
tamanho da economia: à medida que o tamanho da economia regional cresce, torna-se lucrativo
produzir uma maior variedade de produtos e serviços localmente e esta relação poderia pôr em
movimento um processo cumulativo de crescimento regional. Num modelo dinâmico, no qual
o multiplicador da base cresce com a expansão da economia, mediante a hipótese de que os
coeficientes de consumo das empresas, das famílias e das instâncias locais de governo tendem a
crescer com o tamanho do mercado, verificaremos em que medida a interação entre economias
de escala e tamanho do mercado endógeno sustentam processos de aglomeração cumulativo.
Intentaremos tal exercício na seção 12.2.4
Para o segundo tipo de efeitos, serão exploradas as possibilidades que a estrutura de
multiplicadores das matrizes inversas de Leontief oferece para observar efeitos de retenção e
transbordamento de capacidades econômicas e, com isso, indicar a prevalência da forças centrípetas
sobre as centrífugas no estabelecimento da capacidade de retenção local de excedentes. Testarmos tais
requisitos será o propósito da seção 12.2.5.
363
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
O modelo com que trabalharemos baseia-se nos esquemas de Leontief (Leontief, 1983;
Haddad, Ferreira, Boisier, 1989, Guilhoto e Sesso Filho, 2005), os quais permitem fazer a
contabilidade social de uma economia de k produtos e m agentes ou setores em dada unidade
político-administrava ou geográfica. Eles podem servir igualmente para observar as relações que
se produzem na formação da oferta e na geração da renda social derivada de um único produto.
De modo que a contabilidade social de uma economia pode ser operada como o resultado da
agregação da formação da oferta e geração de renda associada a cada um dos k produtos que a
compõem.
Com base nesses princípios, o modelo opera a partir da inter-relação entre cinco tipos de
matrizes: a matriz de relações intermediárias ou de demanda endógena do sistema produtivo (zij),
um vetor-coluna de demanda final ou autônoma (yi), um vetor-coluna de Valor Bruto da Produção
(xi), um vetor-linha Valor Adicionado (wj) e outro vetor-linha de Renda Bruta (yj), para i = j
representando o número de setores do sistema produtivo.
Cada zij do sistema é resultado do produto da quantidade q transacionada entre o agente
ou setor i e com o agente ou setor j e do preço p verificado nessa intermediação. De modo que
zij qij . pij (12.2.1-1)
Cada linha i registra, assim, os valores das vendas do agente i para todos os demais
agentes produtivos e para os consumidores finais (yi); cada coluna j registra as compras do setor
ou agente j, sendo seu somatório o valor dos insumos por ele requeridos. Isto posto, podemos
calcular os demais elementos do modelo pois, sendo
n
xi = yi + ∑ zij (12.2.1-2)
j=1
então
n
w j = xi − ∑ zij (12.2.1-3)
i=1
n
y j = ∑ zij + w j (12.2.1-4)
i=1
n n n
X = ∑ ∑ zij + ∑ yi (12.2.1-5)
i=1 j=1 i=1
n n n
Y = ∑ ∑ zij + ∑ w j (12.2.1-6)
j=1 i=1 j=1
tal que X = Y, para X representado o Valor Bruto da Produção Total e Y a Renda Bruta Total da
economia.
364
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Assumindo que os fluxos intermediários por unidade do produto final são fixos, podemos
derivar o sistema aberto de Leontief, que considera a demanda final exógena ao sistema, como sendo
n
xi = yi + ∑ aij x j (12.2.1-7)
j=1
onde
zij
aij (12.2.1-8)
xi
Cada elemento aij é o coeficiente técnico que indica a quantidade de insumo do setor i
necessário para a produção de uma unidade de produto final do setor j.
Reescrevendo a equação (12.2.1-7) na forma matricial temos:
ax + y = x (12.2.1-9)
Os elementos bij da matriz inversa de Leontief B = (I-A)-1 têm características que carecem
explicitação (Haddad, 1989:110):
1. b ij > aij ou b ij = aij - cada elemento da matriz inversa bij é maior ou igual ao respectivo
elemento da matriz de coeficientes técnico aij, uma vez que o primeiro indica os efeitos diretos
e indiretos sobre as vendas do agente i para atender a R$ 1,00 de demanda final do agente j,
enquanto que o segundo indica apenas os efeitos diretos; a igualdade entre os dois coeficientes
ocorre no caso particular em que os efeitos indiretos são nulos.
2. b ij > 0 ou b ij = 0 - uma expansão na demanda final do agente i irá provocar um efeito positivo
ou nulo sobre as vendas do agente j, nunca um efeito negativo; o efeito nulo surgirá se não
houver interdependência direta ou indireta entre os agentes i e j.
3. b ij > 1 ou b ij = 1, se i=j, isto é, os elementos da diagonal principal da matriz inversa serão
sempre iguais a 1 ou maiores do que 1.
366
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
onde U é a variável em questão (o emprego total, por exemplo) e (uj) é o vetor linha (1xn), contendo
os coeficientes respectivos de cada setor “j”, obtidos pela divisão do valor real da variável no setor
pelo seu valor da produção total; Y é o vetor coluna da variação na demanda efetiva.
Com base nesses princípios, estrutura-se a Contabilidade Social Alfa (CSα) que adiante
utilizaremos: uma metodologia de cálculo ascendente de matrizes de insumo-produto de equilíbrio
computável (ver Costa, 2002; Costa, 2006; Costa e Inhetvin, 2006; Costa, 2008).
Trata-se de metodologia ascendente porque baseada nos parâmetros e indicadores
de cada produto que compõe os setores originários e fundamentais, obtidas as estatísticas de
produção no nível mais irredutível possível de uma economia local. Tais “setores originais”
são tratados como “setores alfa”: ponto inicial, lugar de partida de tudo o mais. Qualquer
configuração estrutural capaz de ser delimitada no banco de dados pode ser estabelecida como
definidora de um setor alfa. Se, por exemplo, podemos estabelecer nas unidades de informação
do Censo Agropecuário o que diferencia os casos relativos aos camponeses dos relativos aos
estabelecimentos patronais, essas duas categorias de estabelecimentos podem constituir “setores
alfa” se isso, como o é neste capítulo, for conveniente à análise.
O método consiste em identificar a produção de cada agente que pode ser agregado nos
“setores alfa” de certa delimitação geográfica e acompanhar os fluxos até sua destinação final. Nesse
trajeto são definidas parametricamente as condições de passagem pelas diversas interseções entre os
setores derivados (quantidades transacionadas em cada ponto e o markup correspondente), tratados
como “Setores Beta”, os quais são ajustados a três níveis (escalas) diferentes: o nível local (ba), o
nível estadual (bb) e o nível nacional (bc). Para cada produto são estabelecidas computacionalmente
as condições de equilíbrio vigentes no total de cada setor b, de modo que quantidades ofertadas e
demandadas se igualam necessariamente, estabelecendo, os preços médios respectivos.
368
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Isto posto, a CSα constitui algoritmo computacional para obtenção dos valores zij e yi
do modelo de insumo-produto acima apresentado em fluxos inter-regionais. Empiricamente
poderíamos, com base no sistema de Leontief, obter toda a contabilidade social de uma economia
de k produtos, cujos fluxos fazem-se por n agentes agrupados em m+1 posições no sistema
produtivo e distributivo, em que a m+1-ésima posição é a da Demanda Final (y), pela equação
m m+1 k
em que v é o produto, j, o setor que o compra e i, o setor que o vende e XÆ a matriz cujos elementos
são os valores totais comprados e vendidos entre si pelos setores produtores e, na coluna j=m+1,
dos valores vendidos por cada um deles para o consumo final das famílias ou do governo.
em que r seria o atributo estrutural (camponeses, fazendas e empresas, como possibilidade do setor rural,
por exemplo) e s, o atributo geográfico.
369
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Na matriz (12.2.2-5), a coluna j=1 e a linha i=1, que descrevem os input-output da produção
total da economia em consideração, podem ser “abertas” mediante os valores das colunas j=1 e
das linhas i=1 das matrizes (12.2.2-3) ou (12.2.2-4), de atributos, os quais passam a designar os
setores alfa do modelo (conf. Costa, 2011).
Para a matriz que será discutida neste capítulo os procedimentos para o cumprimento de
tais necessidades foram os seguintes:
A obtenção das quantidades e dos preços básicos dos produtos dos setores originários.
Essa operação se faz a partir dos dados de duas matrizes empíricas: em uma matriz estão
os dados de produção e preço; em outra, os atributos geográficos (município, microrregião, etc.) e
estruturais (forma de produção, nível tecnológico, etc.). No caso da agricultura, ambas as tabelas têm
suas linhas identificadas pela relação “estrato de área” / “município”, constituindo essa identidade
a variável-chave na comunicação entre as duas. Em relação a outros setores, variáveis-chaves são
estabelecidas (no caso da mineração, as linhas foram identificadas por empreendimentos). De modo
que todas as indicações estruturais possíveis a partir dos dados de Censo ou da pesquisa primária são
imputáveis ou relacionáveis a cada linha da matriz de produção. Mas o contrário não é verdadeiro:
atributos obtidos a partir da matriz de produção não são imputáveis à matriz de dados estruturais.
370
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Essas duas tabelas são o hard-core de um banco de dados (no caso em tela,
BDSudesteParaense), construído com os dados obtidos do CD-ROM do Censo Agropecuário
do Estado do Pará, disponibilizados pelo IBGE (uma tabela de informações estruturais tem 465
(31 municípios X 15 estratos) “casos”, com 210 variáveis, que cobrem o universo do Censo; uma
tabela de 21 variáveis com os dados de produção de cada “caso”, perfazendo 11.269 linhas); com
os dados da produção mineral fornecidos pelos diversos setores pertinentes da CVRD. Isto posto,
foram obtidos os valores q pelo somatório da variável “quantidade vendida” em uma query em
BDSudesteParaense atendendo às restrições r, s e v; e os valores de p são resultado da divisão
do somatório da variável “valor da produção vendida”, obtido para as mesmas restrições, pelos q
respectivos.
Distribuição das quantidades e atribuição do preço nas relações inputs-outputs dos setores
Para a descrição da distribuição das quantidades e da formação dos preços pelos setores,
foram produzidas, por pesquisas primárias desenvolvidas na região, matrizes de coeficientes para
as relações entre 14 setores e para o consumo intermediário e final de 25 dos principais produtos
da produção rural na mesorregião, os quais compõem acima de 95% do valor da produção do
setor, e de todos os produtos em exploração da produção mineral (para metodologia de construção
dessas matrizes, ver Costa et alii, 2002, 2006). Metodologicamente, trata-se de descrever cadeias
de orientação forward, cujo ponto de partida é a produção primária na economia local, e o ponto
de chegada, o consumidor final em qualquer nível de mercado: local, estadual ou nacional.
Para os demais produtos do setor rural, que representavam 5% do VBP em 1995, foram
utilizadas matrizes-padrão. As matrizes-padrão são as que resultam de atribuições relativamente
arbitrárias na descrição dos fluxos dos produtos em função, em alguns poucos casos, da simples
falta de informações; em outros casos, resultam de hipóteses razoáveis ou altamente prováveis na
descrição do fluxo do produto.
No primeiro caso, encontram-se hortigranjeiros sobre os quais não fizemos pesquisa
primária. Pressupomos que suas cadeias são muito simples, provavelmente constituindo fluxo
direto entre os próprios produtores e os consumidores finais. Nesses casos estruturamos uma
matriz-padrão em que 100% do produto é transacionado pelo produtor diretamente ao consumidor
da economia local.
Para certos produtos consideramos razoável a suposição de que, mesmo quando o dado de
base indica vendas, e não autoconsumo, o fluxo se deu para outros produtores que, com elevada
probabilidade, estiveram entre os recenseados; este é o caso, por exemplo, de “pinto de um dia”,
de todos os animais de trabalho e das matrizes bovinas. Para esses casos, foi construída uma
matriz-padrão produtor-produtor.
As matrizes-padrão foram aplicadas, também, a todos os produtos no que se refere àquelas
parcelas da produção claramente indicadas pelo Censo como não levadas ao mercado. Quando
se trata de retenção no estabelecimento para autoconsumo intermediário (produtivo), como o
371
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
caso do milho, das sementes, etc., consideramos que essas parcelas obedecem ao fluxo da matriz-
padrão produtor-produtor; quando se trata de autoconsumo final, como animais abatidos ou frutas,
consideramos a matriz-padrão produtor-consumidor.
Para os 101 produtos da produção rural levantados pelo Censo, o modelo opera matrizes
descritivas dos fluxos de quantidade, Qvij , e da formação dos preços, Pvij. No setor alfa da economia
mineral consideramos a produção de minério da CVRD.
Para todos os casos, os valores q e p foram obtidos de modo que
qsrijv qsrv Qijv (12.2.2-7)
em que Qvij é a matriz dos coeficientes de intermediação e Pvij é a matriz de formação de preço
das relações entre os setores i e j, em relação ao produto v. Os elementos da primeira matriz são
as proporções da quantidade produzida de v que transita pela posição ij, isto é, que se constitui
objeto de transação entre os agentes ou setores ij. Os elementos da segunda matriz são os fatores
que incrementam o preço médio pago aos produtores de v na posição ij, isto é, nas transações
entre os agentes ou setores ij.
As matrizes Qvij têm as seguintes propriedades:
i. Cada Qvij = Vij/∑ V1j , onde ∑V1j é a produção total do produto v distribuída nos setores j e
Vij o volume transacionado em cada relação ij.
ii. A primeira linha Qv1j descreve a alocação setorial direta do setor alfa, de modo que ∑Qv1j
= 1.
iii. Dado que todos os valores são proporções de total dado, todo Qvij < 0 e
iv. Considerando que Qvj a soma das linhas e Qvi a soma das colunas, todo Qvi= Qvj quando
i=j,i variando de 2 a n.
Tais condições garantem que todo produto comprado seja vendido em cada setor e no
conjunto da economia, de modo que as vendas totais sejam precisamente iguais à produção. Nessa
posição, os preços médios setoriais são estabelecidos.
As CSα calibram as matrizes Qvij, para cada ano, a partir de mudanças verificadas na
demanda final local e na demanda intermediária dos setores industriais locais em relação às
variações na produção dos setores alfa. Como segue:
Calibragem a partir de variações na importância relativa no Consumo Final Local. A
cada ano a coluna QviDemandaFinalLocal é incrementada de modo que
372
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
ΨDemandaFinalLocal.QviDemandaFinalLocal (12.2.2-9)
Onde
para φ sendo a taxa de crescimento da população local (proxy utilizada: variação anual da
população total do Sudeste Paraense), є e z, respectivamente, a elasticidade renda da demanda11
e a taxa de incremento da produção do produto em questão, e Y a taxa de crescimento da renda
da população da economia local (proxy: variação no salário médio da economia local obtido a
partir das estatísticas da RAIS editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego). De modo que se
a demanda local de v varia diferentemente da produção local respectiva, entãoΨ ≠ 1. Nesse caso,
a operação determinada por (12.2.2-9) produz desequilíbrios nos setores, levando a que Qvi≠ Qvj.
Para i,j ≠ 1 as diferenças (entre os novos) Qvi- Qvj. são redistribuídas pela coluna j de acordo com
o princípio de coeficientes fixos de Leontief para as funções de produção dos setores, portanto,
proporcionalmente a Qvij/Qvj.. Normatizados os resultados em relação ao total da linha i=1, todas
as propriedades acima descritas se restabelecem para a (nova) matriz Qvij.
ΨIndDeTransfLocal.QviIndDeTransfLocal (12.2.2-12)
11 As elasticidades utilizadas foram obtidas nos trabalhos “Elasticidade Renda dos produtos alimentares no Brasil e Regiões
Metropolitanas: uma aplicação dos microdados da POF 1995/96”, de Tatiana de Menezes, Fernando Gaiger Silveira, Bernardo
Palhares Campolina Diniz, IPEA-USP, São Paulo, e “Análise da Oferta e da Demanda de Frutas Selecionadas no Brasil para o Decênio
206/2015” de Pierre Santos Vilela, Cláudio Wagner de Castro, Sérgio Oswaldo de Carvalho Avellar, FAEMG, Belo Horizonte. Para
o Pará, em “Renda Familiar e Perspectivas de Crescimento da Demanda de Frutas Tropicais em Regiões Metropolitanas do Norte e
Nordeste do Brasil” de Clóvis Oliveira de Almeida; Ranulfo Corrêa Caldas; Daniel Moreira de Oliveira Souza. Embrapa.
373
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
A obtenção do valor dos inputs da produção dos setores alfa e dos seus investimentos.
O consumo dos salários urbanos e rurais foi modelado considerando os dados da Pesquisa
do Orçamento Familiar (POF), feita pelo IBGE em 2003, cujos resultados indicam a composição
dos gastos segundo a situação do domicílio, se rural ou urbano, e para as grandes regiões do
país, valendo para a pesquisa em questão os dados da região Norte. De modo que, para cada
item de despesa foi gerada uma matriz que, como no caso dos insumos produtivos, considerou as
características estruturais da economia local, seja no que se refere à logística alimentar in natura,
seja no que trata da produção industrial.
uma partição funcional do valor adicionado entre salários e margem bruta do capital, utilizando
o seguinte algoritmo:
Æ
Para todo X i , (de acordo com a relação (9.2-20) a receita total do setor i), sendo i a
produtividade monetária do trabalhador aplicado e i o salário médio do setor i, então:
XÆi
Ei = ; (12.2.2-13)
λi
Si = Ei .ωi (12.2.2-14)
Li = VAj=i − Si (12.2.2-15)
Empiricamente, essas grandezas são calculadas na CSα como segue: no caso dos setores
alfa, pelas informações relativas às massas salariais fornecidas pelo Censo Agropecuário para
a produção rural, e pela CVRD, para a produção mineral; no caso dos setores derivados (beta),
utilizamos parâmetros de salários médios obtidos a partir das estatísticas do Ministério do Trabalho
e Emprego, agregadas nos bancos de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS),
disponíveis para todos os anos da pesquisa e todas as delimitações geográficas envolvidas, em
combinação com os parâmetros de receita por trabalhador obtidos a partir das estatísticas da
Pesquisa Anual de Comércio (PAC: dados disponíveis no IBGE para os anos de 1996 a 2004),
na Pesquisa Anual de Serviços (PAS: IBGE, dados disponíveis de 2000 a 2004), na Pesquisa
Industrial Anual (PIA: IBGE, dados disponíveis de 1996 a 2004) e Pesquisa da Indústria da
Construção Civil (PICC: 2001 a 2004).
Impostos
A CSα utiliza para os Setores Alfa as informações relativas aos impostos fornecidas pelo
Censo Agropecuário, no caso de produção rural, e pela CVRD, no caso da produção mineral.
Para os Setores Beta calcula o valor total do impostos ( G j ) considerando a partir do cálculo em
separado dos impostos diretos e indiretos. Os impostos diretos resultam de imputações fiscais
D
sobre Si e Li obtidas a partir das relações (12.2.2-14) e (12.2.2-15). De modo que G ji (total de
impostos indiretos para cada setor) é obtido por
G Dj = g L .Li + g S Si (12.2.2-16)
376
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Os indexadores do modelo
A metodologia das CSα atualiza os dados de base para qualquer ano. No presente estudo, o
setor que requereu atualização foi o setor rural para o ano de 2004, tomado como base de construção
da matriz de insumo-produto. Para o setor mineral foram utilizados os dados fornecidos pela CVRD
para aquele ano.
Atualização da produção para produtos informados pela PAM ou IPEADATA. Para a
atualização do setor rural foram utilizados indexadores de quantidade e preço baseados nas séries
municipais da Produção Agrícola Municipal (PAM), da Produção Extrativa Vegetal (PEV) e
Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), e, em complemento, as séries de preços dos produtos da
pecuária do IPEADATA.
Metodologicamente, há dois tipos de situação: aquela em que o produto em questão é
levantado sistematicamente e faz parte do acervo de estatísticas conjunturais, acima explicitado,
e aquela em que o produto em apreciação não é levantado sistematicamente.
Na primeira situação, os indexadores de quantidade são os números índices do total das
quantidades do produto v para o conjunto dos municípios que atendem à restrição s, tendo, no
caso da agricultura, 1995, no caso da mineração, 2004, como ano base; e os indexadores de preço
os números índices do preço médio do produto v para os municípios que atendem a restrição
geográfica s, tendo 1995 como ano base. Assim, os números índices são:
qsva
Q
I sva (12.2.2-18)
qsvAnoBase
e
P psva
I sva (12.2.2-19)
psvAnoBase
Atualização da produção para produtos sem informação sistemática
377
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Se o produto não for levantado sistematicamente então ele será indexado pela evolução
do conjunto da produção em certa delimitação geográfica. A evolução do conjunto da produção
é observada pelos números índices da evolução do produto real e dos preços implícitos para a
restrição geográfica s.
∑ ∑ ∑q sav . ps1995v
Q s=1 a=1995 v=1
I =
sa g k
(12.2.2-19)
∑
e
∑q s1995 v . ps1995v
s=1 v=1
g 2004 k
∑ ∑ ∑q s1995 v . psav
P s=1 a=1995 v=1
I =
sa g k
(12.2.2-20)
∑∑q s1995 v . ps1995v
s=1 v=1
sendo IQsa a série de números índices da Produto Real para cada ano do período de 1995 a 2005,
com 1995 = 100 e IPsa a série equivalente para os Preços Implícitos.
Algoritmo de indexação
X asrij = ∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑( I Q
avs .qasrijv ).( I avs
P
. pasrijv ) (12.2.2-21)
a=1995 s=1 r=1 i=1 j=1 v=1
ou, se o produto v não dispõe de estatísticas anuais do IBGE ou de outros bancos como os do
IPEADATA e da FNP, por
2004 g e m m+1 k
X asrij = ∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑( I Q
as .qasrijv ).( I asP . pasrijv ) (12.2.2-22)
a=1995 s=1 r=1 i=1 j=1 v=1
378
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Os algoritmos acima são operados pelo programa Netz (Costa, 2002; Costa, 2006; Costa,
2006b). No presente exercício, a economia do Sudeste Paraense foi configurada a partir da
produção de três setores alfa, de produção primária: dois da produção rural e um de produção
mineral.
Como mencionado na introdução, as bases agrárias do Sudeste Paraense resultam de
um processo de apropriação fundiária que se fez por agentes com características sociológicas
distintas, às quais temos associado racionalidades econômicas também diferenciadas (conf. Costa,
2007, Costa, 2005; Costa 2000; Costa, 1995). Tais sujeitos estabeleceram estruturas próprias,
expressas nas trajetórias tecnológicas que discutimos exaustivamente na Parte II do livro. Tais
estruturas resultaram de formas peculiares de privatização da terra e dos recursos da natureza, e
das diferentes relações sociais e técnicas engendradas na exploração da terra e dos recursos da
natureza. De modo que em torno de duas estruturas básicas se organizam a produção e a vida
rurais na região: a unidade de produção camponesa e o estabelecimento patronal.
No que se refere à produção mineral, o banco de dados contém as informações relativas
às plantas da Companhia Vale do Rio Doce, operando na região no ano de 2004 (informações
prestadas pela CVRD).
379
Tabela 12.2.2-1 – Estrutura da Economia de Base Primária do Sudeste Paraense em 1995. Matriz de Insumo-Produto CSα em
R$ 1.000.000 constantes de 2005).
Produção Intermediária Demanda Final
Economia Local Economia do resto do Pará Economia do resto do Brasil
Produção/SetoresAlfa Local
(Setores Alfa)1 Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio
VBP
Total Pará
Total
Resto do
primária
Resto do Brasil7
viços2
viços 2
viços 2
Capital5
Fazendas
Atacado
Atacado
Atacado
Famílias
Mineração
Intermediação
Camponeses
Varejo e ser-
Varejo e ser-
Varejo e ser-
Formação de
Beneficiamento
Transformação4
Transformação 4
Transformação. 4
Beneficiamento 3
Beneficiamento 3
1ª Fazendas 3,8 - - 33,8 112,5 11,3 20,8 55,0 0,3 - 0,4 - - - 0,8 0,0 238,6 168,9 93,9 - - 262,8 501,4
1b.Camponeses - 19,0 - 13,2 57,3 27,6 16,9 37,4 0,5 - 1,8 - - - 4,5 0,0 178,3 220,8 51,3 - - 272,1 450,4
1c. Mineração - - - - 226,8 - - - - - - - 291,4 - - - 518,2 - - - 3.438,2 3.438,2 3.956,3
2.Intermed. Prim. - - - 0,0 193,9 - 5,2 0,0 0,0 - 0,5 0,0 - - 0,0 - 199,6 0,6 - 0,0 - 0,6 200,2
3. IndBenef. - - - - 10,5 28,4 3,0 151,7 0,0 3,8 189,4 92,4 0,0 23,0 146,4 43,3 692,0 2,0 - - 286,0 288,0 980,0
4. IndTransf.
- - - 0,5 - - - 741,5 - - - 5,8 - 38,2 - 35,0 820,9 - - - - - 820,9
Transformação
5. Atacado 1,4 1,7 26,5 0,0 1,1 170,7 11,3 480,5 11,8 3,6 23,6 0,0 2,6 - 14,6 0,0 749,4 3,5 - - - 3,5 752,9
6. Var. e Serv. 60,0 35,1 300,3 0,0 5,1 - 0,5 0,0 - 0,0 0,1 0,0 0,0 - - 0,0 401,1 2.733,5 520,3 0,0 - 3.253,8 3.654,8
7. IndBenef - - - - - - - 1,6 - 107,5 215,5 - - - 0,0 0,0 324,6 - - 0,0 0,0 0,0 324,6
8. IndTransf - - - - - - 32,0 - - - 142,8 37,0 - - 57,6 - 269,5 - - 0,0 0,9 0,9 270,4
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
9. Atacado 1,1 1,1 4,5 0,7 33,2 105,3 283,4 627,2 11,0 6,1 4,9 93,2 0,5 - - - 1.172,3 - - 18,1 274,2 292,3 1.464,6
10. Var. e Serv.
380
- - 44,3 - - - - - - - - - - - - - 44,3 232,2 - 196,6 - 428,8 473,1
Serviços
11. IndBenef. - - - - - - - - - 59,2 - - - 2.255,9 0,0 0,1 2.315,2 - - - 0,2 0,2 2.315,5
12. IndTransf. - - - - - 89,7 57,2 328,3 - - 541,2 115,5 - - 1.377,7 91,2 2.600,7 - - - 416,3 416,3 3.017,0
13. Atacado - - 430,1 - - - 246,7 638,3 - - 130,4 1,8 76,5 102,3 6,2 4,0 1.636,3 27,4 - - 256,3 283,7 1.920,0
14. Var. e Serv. - - - - - - - - - - - - - - - - - 0,0 - - 233,7 233,8 233,8
Total Insumos 66,3 57,0 805,7 48,2 640,4 432,9 677,0 3.061,4 23,6 180,2 1.250,6 345,9 371,0 2.419,3 1.608,0 173,5 12.161,0 3.388,8 665,5 214,7 4.905,8 9.174,8 21.335,9
APLFazendas 435,1 - - 118,5 197,6 55,5 10,0 106,1 26,8 22,8 96,1 43,7 137,5 78,5 92,7 35,8 1.456,6
APLCampones - 393,4 - 33,3 111,1 38,4 25,3 102,4 13,0 9,7 37,9 15,6 59,1 47,9 35,6 24,4 947,3
APLMineral - - 3.150,7 0,2 31,0 294,0 40,6 384,9 261,1 57,7 80,0 67,9 1.747,9 471,3 183,7 - 6.771,0
V. Adicionado6 435,1 393,4 3.150,7 152,1 339,6 387,9 75,8 593,4 301,0 90,2 214,1 127,2 1.944,5 597,6 312,0 60,2 9.174,8
Salários6 119,0 58,6 222,2 7,3 81,1 110,2 27,6 402,0 17,4 36,3 53,7 52,0 118,8 411,6 142,7 38,5 1.899,0
Lucros 6b 307,2 334,1 2.403,1 132,9 225,0 270,6 43,7 107,0 281,0 51,9 12,3 56,9 1.764,3 68,6 27,4 2,8 6.089,0
Impostos 8,9 0,7 525,3 11,8 33,5 7,2 4,5 84,4 2,6 2,0 148,0 18,2 61,4 117,4 141,9 19,0 1.186,9
Renda Bruta (r+s) 501,4 450,4 3.956,3 200,2 980,0 820,9 752,9 3.654,8 324,6 270,4 1.464,6 473,1 2.315,5 3.017,0 1.920,0 233,8 21.335,9
Emprego(1.000) 37,3 134,2 11,3 1,0 11,7 12,8 3,6 29,3 1,8 2,9 5,7 3,5 13,1 22,8 12,5 2,2 305,6
APLFazendas 37,2 0,74 5,87 1,96 0,43 4,12 0,21 0,59 1,45 1,25 0,81 2,02 2,06 1,38 60,14
APLCampon. 134,2 0,23 2,66 1,54 0,42 3,22 0,09 0,24 0,61 0,45 0,36 0,95 0,85 0,84 146,61
APLMineral 11,3 0,00 3,20 9,26 2,78 22,00 1,53 2,05 3,63 1,82 11,93 19,82 9,62 - 98,89
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD,
diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no capítulo 1. 1 Setores originais da CSα.
Com base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2 Inclui todas as formas de serviço. 3 Produção primária e primeiro
beneficiamento. 4 Inclui produção de energia. 5 FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a Incluindo encargos, menos
tributos. 6b incluindo importações, menos tributos. 7 Inclui exportações para o resto do mundo. 8 Em 1.000 ocupações.
Francisco de Assis Costa
Tabela 12.2.2-2 - Estrutura da Economia de base primária do Sudeste Paraense em 2004. Matriz de Insumo-Produto CSα em
R$ 1.000.000 constantes de 2005
Produção Intermediária Demanda Final
Economia Local Economia do resto do Pará Economia do resto do Brasil
Produção/Setore-
sAlfa
Local
(Setores Alfa)1 Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio
Francisco de Assis Costa
VBP
Total Total
Resto do Pará
Resto do Brasil7
Fazendas
Mineração
viços2
viços 2
viços 2
Camponeses
Capital5
Atacado
Atacado
Atacado
Famílias
Intermediação primária
Varejo e ser-
Varejo e ser-
Varejo e ser-
Formação de
Beneficiamento.
Transformação4
Transformação 4
Beneficiamento 3
Beneficiamento 3
Transformação. 4
1ª Fazendas 5,2 - - 9,1 186,9 17,8 40,3 71,2 0,2 - 0,6 - - - 1,6 0,0 332,8 266,4 158,2 - - 424,7 757,5
1b.Camponeses - 25,2 - 10,5 78,7 44,4 32,5 41,7 0,2 - 2,3 - - - 9,1 0,0 244,6 266,5 79,3 - - 345,8 590,4
1c. Mineração - - - - 415,5 - - - - - - - 338,8 - - - 754,3 - - - 4.149,0 4.149,0 4.903,3
2.Intermed.Pri-
- - - 0,0 43,4 - 10,6 0,0 0,0 - 0,8 0,0 - - 0,0 - 54,9 0,3 - 0,0 - 0,4 55,2
mária
3.IndBenef. - - - - 19,7 57,2 4,5 161,0 0,0 7,0 41,0 186,1 0,0 45,7 31,7 87,2 641,1 2,7 - - 491,9 494,5 1.135,6
4.IndTransf. - - - 0,3 - - - 910,5 - - - 9,6 - 76,8 - 57,3 1.054,5 - - - - - 1.054,5
5.Atacado 2,3 2,5 32,8 0,0 1,6 210,6 23,0 589,5 23,8 6,8 51,2 0,0 4,6 - 29,0 0,0 977,7 5,1 - - - 5,1 982,7
6.VarejoeServiços 98,4 50,7 372,1 0,0 9,6 - 0,9 0,0 - 0,0 0,2 0,0 0,0 - - 0,0 532,0 3.238,7 658,5 0,0 - 3.897,2 4.429,2
7.IndBenef - - - - - - - 0,8 - 139,5 261,7 - - - 0,0 0,0 402,0 - - 0,0 0,0 0,0 402,0
8.IndTransf - - - - - - 39,3 - - - 173,0 74,5 - - 70,9 - 357,9 - - 0,0 0,4 0,4 358,3
381
9.Atacado 1,7 1,4 5,6 0,2 38,5 130,4 344,6 778,0 13,6 8,4 5,2 119,5 0,9 - - - 1.448,1 - - 42,0 68,8 110,8 1.558,8
10.VarejoServiços - - 54,9 - - - - - - - - - - - - - 54,9 281,1 - 392,5 - 673,5 728,4
11.IndBenef. - - - - - - - - - 72,8 - - - 2.744,5 0,0 0,2 2.817,4 - - - 0,1 0,1 2.817,5
12.IndTransf. - - - - - 110,1 70,5 408,9 - - 670,9 139,7 - - 1.691,5 181,8 3.273,4 - - - 483,3 483,3 3.756,7
13.Atacado - - 533,0 - - - 301,6 781,4 - - 158,7 2,2 93,0 127,4 6,9 8,0 2.012,3 41,5 - - 79,4 120,9 2.133,3
14.VarejoServiços - - - - - - - - - - - - - - - - - 0,0 - - 448,8 448,8 448,8
Total Insumos 107,6 79,8 998,5 20,1 793,8 570,5 867,9 3.743,0 37,8 234,5 1.365,6 531,7 437,3 2.994,4 1.840,7 334,5 14.957,7 4.102,3 896,1 434,5 5.721,6 11.154,4 26.112,2
APLFazendas 649,9 - - 26,4 182,1 71,1 16,0 108,3 26,2 37,4 59,6 83,6 150,8 114,5 37,7 70,1 1.633,8
APLCampon.ês - 510,6 - 8,5 103,1 49,8 48,6 102,5 15,2 14,8 31,0 29,2 72,6 69,4 29,1 44,2 1.128,6
APLMineral - - 3.904,8 0,2 56,5 363,1 50,3 475,3 322,8 71,6 102,5 83,8 2.156,8 578,4 225,8 - 8.392,0
V. Adicionado6 649,9 510,6 3.904,8 35,1 341,8 484,0 114,8 686,2 364,2 123,8 193,2 196,7 2.380,2 762,3 292,6 114,3 11.154,4
Salários6 174,9 75,0 275,4 2,4 72,0 74,3 42,2 372,1 17,2 25,2 67,0 61,2 95,3 292,2 139,4 54,8 1.840,7
Lucros 6b 462,0 434,6 2.978,3 29,2 223,6 396,7 63,3 208,5 342,8 94,0 68,2 97,8 2.185,6 319,9 93,4 21,0 8.019,1
Impostos 13,0 0,9 651,1 3,5 46,2 13,0 9,2 105,6 4,1 4,5 58,0 37,7 99,3 150,1 59,8 38,5 1.294,6
Renda Bruta (r+s) 757,5 590,4 4.903,3 55,2 1.135,6 1.054,5 982,7 4.429,2 402,0 358,3 1.558,8 728,4 2.817,5 3.756,7 2.133,3 448,8 26.112,2
Emprego(1.000) 51,6 138,4 13,9 0,4 12,0 10,5 7,5 51,8 2,2 3,2 11,1 7,3 12,6 24,5 17,6 5,0 369,7
APLFazendas 51,6 0,27 4,65 1,77 0,92 6,99 0,25 0,78 1,74 3,14 0,70 2,40 1,55 3,20 79,99
APLCamponês 138,4 0,15 2,18 1,40 1,12 5,24 0,12 0,31 1,09 1,10 0,35 1,16 1,03 1,81 155,47
APLMineral 13,9 0,00 5,17 7,33 5,45 39,61 1,81 2,16 8,23 3,01 11,51 20,96 15,06 - 134,25
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD,
diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no capítulo 1. 1 - Setores originais da CSα.
Com base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2 Inclui todas as formas de serviço. 3 - Produção primária e primeiro
beneficiamento. 4 - Inclui produção de energia. 5 - FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a Incluindo encargos, menos
tributos. 6b - incluindo importações, menos tributos. 7 - Inclui exportações para o resto do mundo.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
12.2.3 A economia do Sudeste Paraense: seus setores alfa, base de exportação e multiplicadores
8% do total (ver Gráfico 12.2.3-1, parte B) do VA gerado. Essas proporções têm se mantido
relativamente estáveis, apesar de pequenas diferenças nas taxas de evolução das grandezas
subjacentes.
O valor adicionado apropriado pelos agentes da produção rural cresceu entre 1995 e
2004 a taxas médias elevadas, bem superiores à da Economia Local-SudestePa (conf. Gráfico
12.2.3-1, parte C e 1-B, 5,9% e 2,81% a.a., respectivamente) e, nele, o que se refere à produção
patronal cresceu mais rápido do que a camponesa: 6,9% a.a., no primeiro, e 4,7% a.a., no
segundo caso (conf. Gráfico 12.2.3-1, parte D). O valor adicionada da produção mineral, por
seu turno, cresceu a 2,5% a.a. no período e os setores urbanos de comércio e indústria a 1,7%
a.a. (ver Gráfico 12.2.3-1, parte C e 12.2.3-1, parte D)
De modo que, até 2004, o conjunto da produção rural aumenta sua participação relativa
no VA Economia Local-SudestePa de 14% nos três primeiros anos do período para uma média
de 18% nos três últimos; a produção patronal, aí, passa a representar 10%, quando fora 7% no
início do período, e a camponesa de 7% para 8%. A economia mineral e os setores urbanos
reduzem a participação: no primeiro caso de 59% para 57%; no segundo, de 27% para 25%.
Observando na perspectiva de aglomerados, os APLs baseados na produção das
fazendas geraram 16%, os baseados em produção camponesas 12% e os baseados na produção
mineral 72% do valor adicionado da Economia Local-SudestePa e cresceram às taxas de,
respectivamente, 3,75%, 3,28% e 2,54% a.a. no período considerado (desenvolvimentos
demonstrados no Gráfico 12.2.3-1, parte E e 12.2.3-1, parte F).
A ocupação total, de uma média de 300 mil nos três primeiros anos, cresceu a 2,2%
a.a. ao longo do período, atingindo uma média de 347 mil no final do período. A ocupação da
economia local (média de 238 mil no início e de 273 no final da série) evoluiu a 2,05% a.a., a
da economia estadual (de 13 para 20 mil) a 7,11% e a do restante do Brasil (de 48 para 54 mil) a
1,49% a.a. Na economia local, o emprego na produção rural cresceu a 1,6%, na mineral a 2,52%
e nos setores urbanos a 3,15% a.a. (conf. Gráfico 12.2.3-2, parte A, 12.2.3-2, parte B, 12.2.3-2,
parte C e 12.2.3-2, parte D).
O VA cresce mais rapidamente do que o emprego, de modo que a produtividade por
ocupação apresenta tendência de crescimento para o conjunto (0,55% a.a.), assim como para a
economia local (0,7 % a.a.) e para a nacional (1,2 % a.a.). Para a economia estadual relacionada
com a produção do Sudeste Paraense, todavia, a produtividade por ocupação cai a uma taxa
de -3,9% a.a. Importante anotar que na economia local, crescem de modo significativo os
rendimentos por ocupação da produção rural (4,17% a.a.), puxados pelo incremento verificado
na produtividade da produção camponesa (4,2% a.a.). Os rendimentos por trabalhador da
produção mineral apresentam variações mínimas e os dos setores urbanos de indústria e
comércio reduzem a -1,4% a.a. (conf. Gráfico 12.2.3-3, parte A, 12.2.3-3, parte B, 12.2.3-3,
parte C e 12.2.3-3, parte D).
383
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 12.2.3-1 – Evolução do VBP e VA total (A), do VA por economia (B), do VA por setores
da Economia Local-SudestePa (C), do VA por setores alfa da produção rural (D), do VA por APLs
na Economia Local-SudestePa (E) e da participação respectiva na EBPα-SudestePa (F)
(A) (B)
Em R$ 1.000.000
25.000 0,430
6.000
R$ 1.000.000
20.000 0,429
15.000 0,428 4.000
10.000 0,427
2.000
5.000 0,426
0 0,425 0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
VBP Total (2,86% a.a.) Economia Local (2,81% a.a.)
(C) (D)
4.000 800
3.000 600
2.000 400
1.000 200
0 0 1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
(E) (F)
6.000 80%
Em R$ 1.000.000
5.000
60%
4.000
3.000 40%
2.000
20%
1.000
0 0%
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Fonte: Matrizes de insumo produto geradas pelo autor. Nota metodológica: As taxas de crescimento médio anual foram
calculadas, para cada série, por regressão linear da transformação logarítmica dos valores, em função do tempo. Elas
são os cologaritmos dos coeficientes angulares das regressões, menos a unidade, multiplicados por 100.
384
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Gráfico 12.2.3-2 – Evolução do Emprego total (A), do Emprego por economia (B), do Emprego
por setores da Economia Local-SudestePa (C), do Emprego por setores alfa da produção rural
(D), do Emprego por APLs na Economia Local-SudestePa (E) e da participação respectiva na
EBPα-SudestePa (F)
(A) (B)
400 400
Em 1.000 ocupações
Em 1.000 ocupações
300 300
200 200
100 100
0 0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Economia Local (2,05% a.a.)
(C) (D)
200
Em 1.000 ocupações
0 0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Produção Rural (1,61% a.a.)
Patronal (5,48% a.a.)
ProduçãoMineral (2,52% a.a.)
Com. e Ind. Locais ( 3,15% a.a.) Camponesa (0,50% a.a.)
(E) (F)
200 100%
Em R$ 1.000.000
150 80%
100 60%
50 40%
0 20%
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Fonte: Matrizes de insumo produto geradas pelo autor. Nota metodológica: As taxas de crescimento médio anual foram
calculadas, para cada série, por regressão linear da transformação logarítmica dos valores, em função do tempo. Elas
são os cologaritmos dos coeficientes angulares das regressões, menos a unidade, multiplicados por 100.
385
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 12.2.3-3 – Evolução do Produtividade total (A), do Produtividade por economia (B),
do Produtividade por setores da Economia Local-SudestePa (C), do Produtividade por setores
alfa da produção rural (D), do Produtividade por APLs na Economia Local-SudestePa (E) e da
participação respectiva na EBPα-SudestePa (F)
(A) (B)
Em R$ 1.000/Ocupação
31 80
Em R$ 1.000/Ocupação
30
29 60
28 40
27
26 20
25
24 0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Economia Local (0,7% a.a.)
(C) (D)
40 280,0113 14
Em R$ 1.000/Ocupação
280,0112 12
30
Prod. Rural em R$
280,0111
1.000/Ocupação
1.000/Ocupação
Mineral em R$
10
280,011
20 280,0109 8
10 280,0108 6
280,0107
4
0 280,0106
280,0105 2
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
280,0104 0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Comércio Local (5,3% a.a.)
Produção Mineral (+-0%)
Indústria Local (-5,1% a.a.) Patronal (1,4% a.a.)
Camponesa ( 4,2% a.a.)
Com. e Ind. Locais ( -1,4% a.a.) Produção Rural (4,1% a.a.)
(D) (F)
150 20
130
120%
Prod. Rural em R$
110 15
1.000/Ocupação
1.000/Ocupação
Mineral em R$
90
70%
70 10
50
20%
30 5
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
10
-10 0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Fonte: Matrizes de insumo produto geradas pelo autor. Nota metodológica: As taxas de crescimento médio anual foram
calculadas, para cada série, por regressão linear da transformação logarítmica dos valores, em função do tempo. Elas
são os cologaritmos dos coeficientes angulares das regressões, menos a unidade, multiplicados por 100.
386
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
As hipóteses que estamos investigando são fortemente influenciadas por essa perspectiva:
ao atribuir caráter fortemente enclávico aos setores que fundamentam a economia em última
instância, a literatura mencionada na introdução pressupõe ser o a baixo e constante; ao afirmar
ser uma economia regida por ciclos radicais, se enuncia que toda variância de Y se explica por X
e que este necessariamente se esgota, tende a zero, e com ele a economia local entra em colapso.
De modo que a economia local funcionaria como demonstrado no Gráfico 12.2.3-4, parte A: seu
destino seria totalmente determinado por X, sendo o multiplicador uma mediação estática.
Entretanto, Pred (1966) criticou tal perspectiva, sugerindo que a expansão da escala
da economia conduzida por X, como variável exógena, não seria neutra no que se refere à sua
conformação estrutural, implicando mudança na proporção de absorção endógena de seu próprio
esforço. Mais recentemente essa posição vem sendo reiteradamente reafirmada por Romer (1986,
1990) e Fujita, Krugman, Venebles (2002:43-45). De modo que entendemos ser
at = α Yt−1 (12.2.3-2)
com α>0: a economia tende a aumentar a importância de suas concatenações internas de consumo
e produção intermediária como função linear direta do nível de renda do período imediatamente
anterior.
Substituindo (12.2.3-2) em (12.2.3-1), a relação entre a renda e a base de exportação de
um dado ano seria dada por:
−αY 2 + Y − X = 0 (12.2.3-3)
387
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Esse modelo de base de exportação ampliado (Fujita, Krugman e Venable, 2002), como
o que é apresentado no Gráfico 12.2.3-4, parte B, indica, primeiro, que o crescimento de X
resulta em crescimento mais que proporcional em Y, com equilíbrios altos e baixos. Segundo,
que há um limite crítico dado por ¼α, a partir do qual a economia poderá crescer mesmo que a
base de exportação decresça – com os equilíbrios altos se tornando exeqüíveis pelo crescimento
(descontínuo) do multiplicador.
Contudo, sendo a economia regional necessariamente um sistema aberto, há valores que
estabelecem uma fronteira de a que delimita a região onde os equilíbrios altos fazem sentido: eles
serão significativos abaixo dessa fronteira.
Os valores-fronteira de a que têm sentido econômico são necessariamente históricos,
estabelecidos pelas condições médias que evoluíram ao longo da história da economia em questão.
Pois o valor de a se estabelece com a complexidade da economia: com o número e densidade
tecnológica de suas conexões internas e com a capacidade de consumo de seus membros. Assim,
tais valores expressam níveis alcançados de capacidade estrutural da economia para absorver
externalidades, resultado de uma história de formação de linkages para frente e para trás associados
a fundamentos concretos de produção e consumo, tangíveis e intangíveis.
É necessário, portanto, distinguir duas situações: uma de economias que vão se
formando a partir de “quase nada”, e, por isso, vão construindo seu multiplicador, forjando sua
capacidade estruturalmente delimitada de absorver, na sua própria reprodução, os resultados
do que exporta; outra, de economias, cujas histórias já as levaram a valores de a elevados –
máximos históricos – próximos até da fronteira lógica, a qual a não poderia ultrapassar sem
prejuízos à reprodução do sistema.
Fujita, Krugman e Venebles (2002: 43-48) refletem sobre a superposição desses dois
enredos no modelo apresentado no Gráfico 12.2.3-4, parte C, em que se pode ler o trajeto
como sendo o de uma economia pequena que cresce, ou de uma grande (madura) que decresce.
A primeira ergue-se a partir de zero, em escala, arrastada por sua base de exportação e,
como resultado desse crescimento em extensão, eleva seu mercado endógeno – trata-se de
trajeto permitido pelos equilíbrios baixos da equação (12.2.3-3), pois os equilíbrios altos
são irrelevantes até X = ā(1- ā)/α, uma vez que até aí os valores de Y implicam valores de
a maiores que seu máximo (ā). Entre X = ā(1- ā)/α e X = 1/4α, essa economia poderá ter
três equilíbrios se seu ā for superior ao a implicado em X = 1/4α, na equação (12.2.3-3): os
equilíbrios baixo e alto da equação (12.2.3-3) e o equilíbrio da equação (12.2.3-1) para ā. A
partir de X = 1/4α, ou saltos fortemente descontínuos quando se força o crescimento da base
de exportação, ou contínuos ajustamentos no multiplicador até atingir seu máximo, colocaria
a economia em posição de equilíbrio. A segunda sairia de nível de renda muito alto e, mediada
por seu multiplicador máximo, construído no trajeto primordial de seu crescimento, atinge
um ponto de descontinuidade em X = ā(1- ā)/α.
Não obstante as restrições que se possam a ela formular (Fujita, Krugman, Veneble,
op. cit: 47-48), essa metáfora fornece ideias gerais importantes sobre desenvolvimento regional
388
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
e, na sua primeira versão, a da economia que cresce a partir de condições iniciais muito baixas,
tendendo a zero, indicações úteis sobre as grandes tendências da EBPα-SudestePa:
1. Ideia geral: a economia cresce arrastada pela base de exportação, uma grandeza associada
à outra pelo multiplicador da base, o qual se fundamenta em uma capacidade de absorção
endógena relativamente estável. No caso da EBPα-SudestePa, a regressão linear entre base
de exportação (toda demanda final extralocal em R$ bilhões) como variável independente
e o Valor Adicionado (como proxy da renda, em R$ bilhões) como variável dependente tem
R2 = 0,99922, coeficiente angular (multiplicador da base médio) de 1,81 e correspondente
a = 0,449, significante a 0%.
3. Ideia geral: a dinâmica das economias, nas quais as economias de escala e o tamanho
do mercado interagem tipicamente, envolve a possibilidade de mudanças descontínuas
e um processo cumulativo relativamente autônomo em relação à base de exportação,
quando os parâmetros fundamentais ultrapassam um valor crítico determinado. Ajustada
a equação (12.2.3-3) para a economia EBPα-SudestePa, esse valor crítico se situaria em
torno de uma base de exportações de R$ 4,96 e renda de R$ 9,92 bilhões – nesse ponto o
multiplicador seria equivalente a 2.
4. Ideia geral: tal descontinuidade será tanto mais forte, quanto mais capaz de reter
endogenamente os efeitos do crescimento, o que se expressa em a, sendo seu máximo, ā,
uma medida do limite do processo de concatenação e desenvolvimento da economia em
questão. O multiplicador médio alcançado pela EBPα-SudestePa foi, como já mencionado,
de 1,81, com máximo de 1,82, o que corresponderia a uma proporção de gastos endógenos
de 0,45 do total. Esse valor está abaixo do ponto crítico mencionado em 3, significando
que não há base nem para descontinuidades (saltos) positivas na renda com o crescimento
da base de exportação, nem para crescimento autônomo daquela, na hipótese de que
venha a reduzir a importância dessa última: os impulsos de desenvolvimento seriam
contidos pelo ritmo (lento) do crescimento de a.
389
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
25
30
(A) (B)
25 20
Y=X/(1-a)
20
Y = Renda
15
Y = Renda
15
10 Y=(1± √1-4αX)/2α
10
5
5
1/4α
0 0
0 1 2 3 4 5 6 X 0 1 2 3 4 5 6 X
X = Base de Exportação X = Base de Exportação
30
(C)
25
Y=X/(1-a)
20
Y = Renda
15
Y=(1± √1-4αX)/2α
10
5
a(1-a)/α 1/4α
0
0 1 2 3 4 5 6 X
X = Base de Exportação
(A) 25
(B)
12.000 0,454 20
Y = Renda (VA) em R$
0,452
10.000
0,450
8.000 0,448 15 Y=(1± √1-4αX)/2α
Bilhões
0,446
6.000
0,444
4.000 0,442 10
0,440
2.000 Y=X/(1-a)
0,438
0 0,436 5
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
A análise dos multiplicadores setoriais de produto nos permite responder questões diretas
e simples do tipo: i) Se crescem as vendas do setor mineral em R$ 1, em quanto o produto dos
demais setores alfa será afetado? ii) Se cresce a demanda do setor rural patronal, o setor rural de
base familiar será impactado? iii) E o contrário? iv) Quanto de uma expansão de qualquer desses
setores se transformará em venda na economia local? v) Quanto na economia extralocal?
Pela ordem, as respostas presentes na Tabela 12.2.4-1, para o ano de 1995, e na Tabela
12.2.4-2, para 2004, são as seguintes: i) o produto das Fazendas cresceria, arredondado, em R$
0,09 reais em 1995 e em R$ 0,10 em 2004; o dos Camponeses em R$ 0,08 em 1995 e R$ 0,09
em 2004; ii) Sim, em R$ 0,09 centavos para cada R$ 1,00 de crescimento; iii) Em 2004, se
os camponeses crescem em R$ 1, os patronais crescem em R$ 0,10; iv) R$ 1,34 para cada R$
1,00 dos patronais; R$ 1,32 para cada R$ 1,00 dos camponeses; R$ 1,32 para cada R$ 1,00 da
mineração; v) Para o ano de 2004 de R$ 0,38 e R$ 0,98 respectivamente na economia estadual e
nacional, no que se refere ao setor patronal; de R$ 0,37 e R$ 0,93, no que tange aos camponeses
e de R$ 0,39 e R$ 1,20 no que trata do setor mineral.
391
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Não obstante o interesse próprio a tais resultados, há mais a ser visto através dos
multiplicadores. Acima concluímos que dinâmicas complexas, não lineares, produtoras de
bifurcações, se fazem condicionadas pelo valor máximo de a, o multiplicador agregado ou
global de renda de uma economia, com cumulatividade tanto maior, quanto maior a diferença
entre essa fronteira e o valor de a implicado no ponto de inflexão crítica da relação entre escala
da economia e mercado endógeno (conf. discutido em 12.2.3). Os valores de a, por seu turno,
são grandezas médias, resultados, em cada ano, da composição entre as formas diversas como
cada setor processou as receitas provindas dos setores exógenos. A componente “economia
local” da EBPα-SudestePa, que temos chamado aqui Economia Local-SudestePa, participa do
processo de determinação de a através dos seus setores específicos, que processam os respectivos
inputs de receita, retendo parte para si, cedendo parte para seus fornecedores locais e parte
para seus fornecedores extralocais: de outras regiões, as mesmas que no conjunto explicam
a demanda exógena. A capacidade conjunta de todos os setores da Economia Local-SudesteP
de reter ganhos implicados em venda exógena e de ampliar essa retenção resulta daquilo que
os autores do desenvolvimento endógeno chamam de forças centrípetas das aglomerações
locais. A incapacidade do conjunto desses setores; ou, formulado de outro modo, as exigências
imperiosas que os fazem ceder recursos e ganhos resultam das forças centrífugas que operam
em relação a elas.
Tais forças de atração e repulsão atuam sobre cada setor da economia local e expressam-
se nos valores dos multiplicadores setoriais de produto pela oposição entre suas parcelas
constitutivas: entre a parcela que corresponde à retenção local do produto e a que corresponde
aos transbordamentos para o restante da economia estadual e nacional. Como apresentado na
seção 12.2.2, os multiplicadores setoriais de produtos se compõem de multiplicadores de impacto
setorial (nas Tabelas 12.2.4-1 e 12.2.4-2, assinalados por B.1.1) e dos efeitos de empuxe (B.1.2).
Estes últimos podem ser decompostos em empuxe local (B.1.2.1), empuxe estadual (B.1.2.2),
empuxe nacional (B.1.2.3). Se agregarmos, para os setores da economia local, os respectivos
multiplicadores de impacto setorial e os efeitos de empuxe local, obteremos multiplicadores
setoriais de produto locais (B.2.1), cujas proporções, nos respectivos multiplicadores setoriais
de produto, representam os índices de retenção local (C.1, em % dos multiplicadores setoriais
de produto). Os índices de retenção local são medidas das forças centrípetas da economia local
operantes naqueles setores – nas suas relações diretas, indiretas e induzidas com todos os demais
setores (conforme discutido em 12.2.2). Os valores relativos aos efeitos de empuxe estadual e
empuxe nacional representam as forças centrífugas, cujas proporções nos multiplicadores de
impacto setorial (C5 e C6), somadas, perfazem índices de transbordamento. A divisão entre os
índices de retenção local e os índices de transbordamento produz medidas das contribuições
dos setores à dinâmica de aglomeração e cumulatividade da economia local – ao que chamamos
de índice de aglomeração local (um indicador do saldo das forças centrípetas sobre as forças
centrífugas da economia local) (ver valores nas Tabelas 12.2.4-1 e 12.2.4-2).
392
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Tabela 12.2.4-1 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leontief) da Sudeste Paraense com base
na Matriz de Insumo-Produto CSα em 1995
Economia Local Economia Estadual/Regional Economia Nacional
Produção
(Setores Alfa)1
Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio
Inter-mediação primária
Camp-oneses
Trans-forma-ção.4
Bene-ficia-mento3
Bene-ficiame-nto3
Trans-forma-ção4
Trans-forma-ção4
Minera-ção
Bene-ficiame-nto.
Fazendas
Atacado
Atacado
Atacado
Varejo2
Varejo2
Varejo2
1ª Fazendas 1,0930 0,0838 0,0857 0,2513 0,2346 0,1124 0,1253 0,1215 0,0837 0,0852 0,1047 0,1168 0,0815 0,0832 0,0951 0,1151
1b. Camponeses 0,0816 1,1245 0,0816 0,1476 0,1556 0,1248 0,1117 0,1102 0,0808 0,0809 0,0921 0,0971 0,0785 0,0798 0,0880 0,1001
1c. Mineração 0,0589 0,0563 1,0674 0,0524 0,2932 0,0966 0,1250 0,1200 0,0557 0,0874 0,1343 0,1434 0,1814 0,1539 0,1452 0,1443
2.Intermed. Primária 0,0211 0,0202 0,0226 1,0189 0,2210 0,0349 0,0443 0,0422 0,0201 0,0230 0,0488 0,0653 0,0193 0,0213 0,0363 0,0598
3. Beneficiamento 0,1004 0,0961 0,1081 0,0898 1,1110 0,1632 0,1820 0,2008 0,0947 0,1097 0,2384 0,3234 0,0919 0,1023 0,1776 0,2954
4. Indust. de
0,1630 0,1548 0,1552 0,1453 0,1486 1,1436 0,1473 0,3489 0,1382 0,1388 0,1461 0,1576 0,1401 0,1527 0,1495 0,2961
Transformação
5. Comércio de
0,1512 0,1450 0,1484 0,1315 0,1393 0,3467 1,1606 0,3160 0,1640 0,1561 0,1564 0,1410 0,1298 0,1320 0,1400 0,1639
Atacado
6. Varejo e Serviços 0,7777 0,7380 0,7337 0,6816 0,7038 0,6670 0,6703 1,6689 0,6566 0,6593 0,6668 0,6697 0,6656 0,6639 0,6657 0,6696
7. Beneficiamento 0,0500 0,0478 0,0500 0,0446 0,0527 0,0882 0,1398 0,1016 1,0522 0,4500 0,2363 0,1156 0,0437 0,0445 0,0577 0,0522
8. Ind. de
0,0397 0,0381 0,0428 0,0355 0,0412 0,0683 0,1299 0,0784 0,0409 1,0409 0,1402 0,1364 0,0362 0,0372 0,0679 0,0422
Transformação
9. Comércio de
0,2300 0,2197 0,2218 0,2049 0,2452 0,4132 0,5969 0,4739 0,2424 0,2429 1,2256 0,4149 0,1974 0,1998 0,2065 0,2384
Atacado
10. Varejo e Serviços 0,0460 0,0460 0,0573 0,0459 0,0486 0,0464 0,0467 0,0467 0,0460 0,0463 0,0469 1,0470 0,0474 0,0471 0,0470 0,0470
11. Indust. De Benef. 0,2838 0,2709 0,3367 0,2515 0,2875 0,4671 0,6586 0,5848 0,2686 0,4925 0,6291 0,5449 1,2722 1,0350 0,8269 0,6033
12. In. de
0,3679 0,3511 0,4378 0,3259 0,3724 0,6047 0,8427 0,7591 0,3473 0,3537 0,8003 0,6888 0,3535 1,3732 1,0859 0,7940
Transformação
13. Comércio de
0,2404 0,2292 0,3452 0,2116 0,2507 0,3199 0,6220 0,5025 0,2229 0,2320 0,3460 0,2673 0,2564 0,2809 1,2701 0,2781
Atacado
14. Varejo e Serviços 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 1,0000
Multiplicadores
A. Setoriais de
1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918
Renda
B. Setoriais de
3,7047 3,6215 3,8944 3,6383 4,3053 4,6972 5,6032 5,4753 3,5140 4,1987 5,0120 4,9291 3,5947 4,4070 5,0594 4,8993
Produto A+B+C+D
B11. Impacto
1,0930 1,1245 1,0674 1,0189 1,1110 1,1436 1,1606 1,6689 1,0522 1,0409 1,2256 1,0470 1,2722 1,3732 1,2701 1,0000
Setorial
B12. Empuxe Total 2,6117 2,4970 2,8270 2,6195 3,1943 3,5536 4,4426 3,8064 2,4618 3,1578 3,7865 3,8822 2,3225 3,0337 3,7893 3,8993
B121. Local 1,3540 1,2942 1,3354 1,4996 1,8960 1,5457 1,4060 1,2595 1,2937 1,3404 1,5876 1,7143 1,3880 1,3892 1,4974 1,8442
B122. Estadual 0,3657 0,3516 0,3719 0,3309 0,3877 0,6161 0,9133 0,7006 0,3293 0,7392 0,4234 0,6669 0,3246 0,3286 0,3790 0,3797
B123. Nacional 0,8920 0,8512 1,1197 0,7890 0,9106 1,3918 2,1233 1,8463 0,8389 1,0782 1,7754 1,5010 0,6099 1,3159 1,9128 1,6754
C. Setorial de
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
produto
C1. Retenção Local 66,1% 66,8% 61,7% 69,2% 69,8% 57,3% 45,8% 53,5%
C2. Retenção
39,3% 42,4% 32,9% 34,8%
Estadual
C3. Retenção
52,4% 61,0% 62,9% 54,6%
Nacional
C4. Transb. p/Local 36,8% 31,9% 31,7% 34,8% 38,6% 31,5% 29,6% 37,6%
C5. Transb. p/
9,9% 9,7% 9,5% 9,1% 9,0% 13,1% 16,3% 12,8% 9,0% 7,5% 7,5% 7,8%
Estadual
C6. Transb.
24,1% 23,5% 28,8% 21,7% 21,2% 29,6% 37,9% 33,7% 23,9% 25,7% 35,4% 30,5%
p/.Nacional
Índice de
1,94 2,01 1,61 2,25 2,31 1,34 0,85 1,15
Aglomeração
Fonte: Tabela 12.2.2-1. Nota: B = B11+B12; C = C1+C2+C3+ C4+C5+C6; C1 = (B11 + B121)/B; C2 = (B11 +
B122)/B; C3 = (B11 + B123)/B; C4 = B121/B; C5 = B122/B; C6 = B123/B.
393
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Tabela 12.2.4-2 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leontief) da Sudeste Paraense com base na
Matriz de Insumo-Produto CSα em 2004
Economia Local Economia Estadual/Regional Economia Nacional
Produção
Inter-mediação primária
(Setores Alfa)1 Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio
Trans-forma-ção.4
Bene-ficia-mento3
Bene-ficiame-nto3
Trans-forma-ção4
Trans-forma-ção4
Bene-ficiame-nto.
Camp-oneses
Minera-ção
Fazendas
Atacado
Atacado
Atacado
Varejo2
Varejo2
Varejo2
1ª Fazendas 1,1112 0,1027 0,1036 0,2664 0,2777 0,1378 0,1509 0,1401 0,1026 0,1051 0,1095 0,1481 0,0996 0,1026 0,1062 0,1402
1b. Camponeses 0,0870 1,1303 0,0865 0,2828 0,1670 0,1415 0,1271 0,1169 0,0859 0,0866 0,0911 0,1073 0,0832 0,0855 0,0914 0,1078
1c. Mineração 0,0623 0,0595 1,0696 0,0561 0,4366 0,1058 0,1168 0,1233 0,0588 0,0909 0,1225 0,1863 0,1780 0,1529 0,1403 0,1763
2.Intermed.
0,0046 0,0044 0,0046 1,0041 0,0434 0,0090 0,0167 0,0089 0,0047 0,0053 0,0066 0,0148 0,0040 0,0046 0,0053 0,0125
Primária
3. Beneficiamento 0,0681 0,0652 0,0706 0,0620 1,0851 0,1281 0,0908 0,1289 0,0620 0,0821 0,1003 0,3344 0,0612 0,0754 0,0886 0,2742
4. Indust. de
0,1716 0,1626 0,1620 0,1568 0,1591 1,1522 0,1580 0,3616 0,1442 0,1449 0,1565 0,1673 0,1458 0,1665 0,1623 0,2848
Transformação
5. Comércio de
0,1643 0,1573 0,1598 0,1451 0,1561 0,3564 1,1920 0,3377 0,1989 0,1826 0,1927 0,1593 0,1399 0,1440 0,1585 0,1713
Atacado
6. Varejo e
0,7904 0,7487 0,7359 0,6969 0,7259 0,6726 0,6744 1,6721 0,6590 0,6620 0,6656 0,6787 0,6673 0,6662 0,6663 0,6764
Serviços
7. Beneficiamento 0,0573 0,0547 0,0565 0,0516 0,0616 0,0973 0,1506 0,1150 1,0613 0,4501 0,2701 0,1302 0,0495 0,0508 0,0652 0,0583
8. Ind. de
0,0457 0,0438 0,0488 0,0414 0,0489 0,0749 0,1373 0,0886 0,0486 1,0480 0,1620 0,1662 0,0413 0,0427 0,0771 0,0476
Transformação
9. Comércio de
0,2342 0,2233 0,2228 0,2108 0,2529 0,4050 0,5781 0,4774 0,2516 0,2501 1,2329 0,3896 0,1986 0,2028 0,2091 0,2361
Atacado
10. Varejo e
0,0464 0,0463 0,0576 0,0463 0,0505 0,0468 0,0470 0,0470 0,0463 0,0467 0,0470 1,0477 0,0476 0,0474 0,0472 0,0476
Serviços
11. Indust. De
0,3107 0,2960 0,3636 0,2777 0,3296 0,4905 0,6949 0,6332 0,3006 0,5059 0,7134 0,5322 1,2939 1,0423 0,8976 0,6315
Benef.
12. In. de
0,4125 0,3930 0,4842 0,3686 0,4375 0,6506 0,9130 0,8421 0,3980 0,4011 0,9315 0,6823 0,3908 1,4149 1,2072 0,8507
Transformação
13. Comércio de
0,2524 0,2404 0,3543 0,2243 0,2827 0,3270 0,6192 0,5187 0,2404 0,2462 0,3787 0,2801 0,2640 0,2892 1,2843 0,2905
Atacado
14. Varejo e
0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 1,0000
Serviços
Multiplicadores
A. Setoriais de
1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119
Renda
B. Setoriais
de Produto 3,8185 3,7282 3,9804 3,8910 4,5146 4,7956 5,6666 5,6115 3,6630 4,3076 5,1805 5,0246 3,6647 4,4880 5,2066 5,0058
A+B+C+D
B11. Impacto
Setorial 1,1112 1,1303 1,0696 1,0041 1,0851 1,1522 1,1920 1,6721 1,0613 1,0480 1,2329 1,0477 1,2939 1,4149 1,2843 1,0000
B12. Empuxe
2,7074 2,5979 2,9109 2,8869 3,4295 3,6434 4,4746 3,9393 2,6017 3,2596 3,9476 3,9769 2,3708 3,0731 3,9223 4,0058
Total
B121. Local 1,3482 1,3004 1,3230 1,6661 1,9658 1,5512 1,3345 1,2173 1,3162 1,3595 1,4448 1,7962 1,3790 1,3978 1,4188 1,8434
B122. Estadual 0,3836 0,3682 0,3857 0,3502 0,4139 0,6240 0,9130 0,7280 0,3465 0,7469 0,4791 0,6860 0,3370 0,3437 0,3986 0,3896
B123. Nacional 0,9756 0,9293 1,2021 0,8706 1,0498 1,4681 2,2271 1,9940 0,9390 1,1532 2,0237 1,4947 0,6547 1,3316 2,1048 1,7727
C. Setorial de
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
produto
C1. Retenção
64,4% 65,2% 60,1% 68,6% 67,6% 56,4% 44,6% 51,5%
Local
C2. Retenção
38,4% 41,7% 33,0% 34,5%
Estadual
C3. Retenção
53,2% 61,2% 65,1% 55,4%
Nacional
C4. Transb. p/
35,9% 31,6% 27,9% 35,7% 37,6% 31,1% 27,3% 36,8%
Local
C5. Transb. p/
10,0% 9,9% 9,7% 9,0% 9,2% 13,0% 16,1% 13,0% 9,2% 7,7% 7,7% 7,8%
Estadual
C6. Transb.
25,6% 24,9% 30,2% 22,4% 23,3% 30,6% 39,3% 35,5% 25,6% 26,8% 39,1% 29,7%
p/.Nacional
Índice de
1,81 1,87 1,51 2,18 2,08 1,29 0,81 1,06
aglomeração (IA)
Fonte: Tabela 2.2..2-2. Nota: 1 B = B11+B12; C = C1+C2+C3+ C4+C5+C6; C1 = (B11 + B121)/B; C2 = (B11 +
B122)/B; C3 = (B11 + B123)/B; C4 = B121/B; C5 = B122/B; C6 = B123/B. 2 Índice de Aglomeração IA = C1/(C5+C6).
394
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
395
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Gráfico 12.2.4-1 – Evolução dos Índices Setoriais de Aglomeração e dos Multiplicadores dos
APLs associados à produção primária (A e B), dos setores urbanos (C e D) e do total da economia
local (E e F)
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
APL - Prod. Patronal (-0,39%a.a.) Patronal (0,18% a.a.) Familiar ( 0,20% a.a.)
APL - Prod. Familiar(-0,40%a.a.)
APL - Mineral (-0,37% a.a.) Mineral (0,13% a.a.)
2,20 5,50
2,00
1,80 5,00
1,60
1,40 4,50
1,20
1,00
4,00
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Comércio (-0,18% a.a.) Indústria (-0,2%a.a.) Comércio (0,23% a.a.) Indústria ( 0,24%a.a.)
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Total da Economia Local (-0,25% a.a.) Total da Economia Local (0,22% a.a.)
Fonte: Matrizes de insumo produto geradas pelo autor. Nota metodológica: As taxas de crescimento médio anual foram
calculadas, para cada série, por regressão linear da transformação logarítmica dos valores, em função do tempo. Elas
são os cologaritmos dos coeficientes angulares das regressões, menos a unidade, multiplicados por 100.
396
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
As cadeias desses produtos, por seu turno, sofreram mudanças importantes em favor da
Economia Local-SudestePa: no Gráfico 12.2.4-3, as partes A1 e A2 mostram, respectivamente, a
estrutura da cadeia da pecuária de corte em 1995 e 2004 e a A3 a variação, em pontos percentuais,
ocorrida entre os dois momentos. Notamos que houve um internalização na Economia Local-
SudestePa de processamento industrial antes executado em outros pontos EBPα-SudestePa,
particularmente em outras áreas do Estado do Pará; na parte B3 são observados dois movimentos
397
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
importantes na cadeia do leite – o processamento, antes feito em outras áreas do Estado do Pará,
desloca-se para a Economia Local-SudestePa e, nesta, a transformação industrial torna-se mais
importante do que o simples beneficiamento. Em conjunto, essas variações elevam o índice de
aglomeração.
Gráfico 12.2.4-3 – Variação na estrutura das matrizes Qvij de pecuária de corte e de leite entre
1995 e 2004
70% 70%
60% 60%
50% 50%
40% 40%
30% 30%
20% 13 13
11 20% 11
9 9
10% 7 10% 7
5 5
3 3
0% 1 0% 1
5.Atacado
9.Atacado
1.Produção
3.IndBenef.
4.IndTransf.
6.VarejoeSe
10.VarejoSe
11.IndBenef.
13.Atacado
14.VarejoSe
2.Intermed.P
8.IndTransf
12.IndTransf
7.IndBenef
13.Atacado
11.IndBenef.
14.VarejoSe
1.Produção
3.IndBenef.
4.IndTransf.
5.Atacado
6.VarejoeSe
9.Atacado
10.VarejoSe
2.Intermed.P
8.IndTransf
12.IndTransf
7.IndBenef
(A2) Pecuária de Carne - 2004 (B2) Leite - 2004
70% 70%
60% 60%
50% 50%
40% 40%
30% 30%
20% 13 13
11 20% 11
9 9
10% 7 10% 7
5 5
3 3
0% 1 0% 1
13.Atacado
1.Produção
14.VarejoSe
3.IndBenef.
4.IndTransf.
5.Atacado
6.VarejoeSe
9.Atacado
10.VarejoSe
11.IndBenef.
2.Intermed.P
8.IndTransf
12.IndTransf
7.IndBenef
13.Atacado
11.IndBenef.
14.VarejoSe
1.Produção
3.IndBenef.
4.IndTransf.
5.Atacado
6.VarejoeSe
9.Atacado
10.VarejoSe
2.Intermed.P
8.IndTransf
12.IndTransf
7.IndBenef
6% 6%
4% 4%
2% 2%
0% 0%
-2% -2%
-4% 13 13
11 -4% 11
9 9
-6% 7 -6% 7
5 5
3 3
-8% 1 -8% 1
1.Produção
13.Atacado
14.VarejoSe
3.IndBenef.
4.IndTransf.
5.Atacado
6.VarejoeSe
9.Atacado
10.VarejoSe
11.IndBenef.
2.Intermed.P
12.IndTransf
8.IndTransf
7.IndBenef
13.Atacado
1.Produção
14.VarejoSe
3.IndBenef.
4.IndTransf.
5.Atacado
6.VarejoeSe
9.Atacado
10.VarejoSe
11.IndBenef.
2.Intermed.P
8.IndTransf
12.IndTransf
7.IndBenef
Fonte: Matrizes de base gerados pelo NETZ, correspondentes às cadeias dos produtos nos anos respectivos.
398
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Os objetivos principais deste capítulo são dois: 1) calcular os impactos econômicos que a
programação explicitada na Tabela 12.3-1 terá para a economia local do Sudeste Paraense, na qual
se inserem todos os empreendimentos projetados, bem como os transbordamentos para o restante
do território do Pará e do Brasil; 2) produzir tais cálculos por uma metodologia capaz de explicitar
compreensivamente a diversidade estrutural fundamental da região.
Com isso intentamos, por um lado, oferecer à discussão, sobre o papel dos empreendimentos
da mineração industrial no desenvolvimento da Amazônia, os elementos de uma leitura sistêmica
e complexa de variáveis chaves da economia de uma região crítica. Por outro lado, esperamos
dotar a avaliação da capacidade da mineração industrial impulsionar processos de desenvolvimento,
dominada na literatura por uma ótica que privilegia os “linkages fiscais” e os “linkages para frente”
da mínero-metalurgia nas delimitações espaciais do município ou do estado (Monteiro, 2005 e
2004; Bunker, 2000 e 2004; Silva, 1998; Silva Enriquez, 2007), de novas perspectivas que realcem
os “efeitos-renda” difusos e as “linkages para trás” no espaço funcional da economia local e seus
transbordamentos para a economia envolvente.
400
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Os multiplicadores da economia estudada estão na 12.2.4-2, onde, nas dez últimas linhas
encontram-se, também, pela ordem, o multiplicador agregado de renda (A), os multiplicadores
setoriais de produto (B) e seus componentes, os multiplicadores de impacto setorial (B11) e os de
efeito de empuxe (B12). Este último foi decomposto em empuxe total local (B121), empuxe total
estadual (B122), empuxe total nacional (B123). Se agregarmos, para os setores da economia local,
os respectivos multiplicadores de impacto setorial e de empuxe local, obteremos multiplicadores
setoriais de produto locais (B21: os quais, adicionados aos multiplicadores de empuxe estadual e
nacional, perfazem os multiplicadores setoriais de produto); para os setores da economia estadual, os
de impacto setorial e empuxe estadual, obteremos multiplicadores setoriais de produto estaduais (B22:
os quais, adicionados aos multiplicadores de empuxe locais e nacionais, perfazem os multiplicadores
setoriais de produto); para os setores da economia nacional, os de impacto setorial e de empuxe
nacionais, obteremos multiplicadores setoriais de produto nacionais (B23: os quais, adicionados aos
multiplicadores de empuxe locais e estaduais, perfazem os multiplicadores setoriais de produto).
O multiplicador agregado ou global de renda é R$ 1,8101: injetando R$ 1 na demanda
efetiva, o valor adicionado do sistema como um todo crescerá R$ 1,8101.
Os demais multiplicadores indicam como cada setor intermediará tais entradas e saídas de
recursos no impacto sobre o valor da produção total e, por essa via, sobre as variáveis de renda e
emprego. No que se refere à produção mineral, o multiplicador de produto é de 3,9 – 1,06 de impacto
setorial e 2,9 de empuxe total, cuja parcela estritamente local é de 2,38. No que se refere ao setor
alfa da produção rural camponesa, para cada unidade a mais ou menos na demanda final multiplica
por 3,73 (1,13 de impacto setorial e 2,60 dos efeitos indiretos de empuxe), com uma parcela local de
2,43; da produção rural patronal, o multiplicador de 3,82 (1,11 de impacto setorial e 2,71 de efeitos
indiretos), com parcela de impacto local de 2,46 (conf. Tabela 12.2.4-2 e Gráfico 12.3.1-1).
401
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
6,00
Multiplicador Setorial de Produto
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
11.Beneficiamento
12.Transformação
8.Transformação
9.Atacado
10.Varejo e Serviços
13.Atacado
14.Varejo e Serviços
4.Transformação
5.Atacado
6.Varejo e Serviços
7.Beneficiamento
1a.Fazendas
1b.Camponeses
2.Intermed. Primária
3.Beneficiamento
1c.Mineração
402
Índice de Transbordamento
Índice de Retenção
Francisco de Assis Costa
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
1b.Camponeses 1b.Camponeses
Economia Local
Economia Local
1c.Mineração 1c.Mineração
3.Beneficiamento 3.Beneficiamento
5.Atacado 5.Atacado
403
6.Varejo e Serviços 6.Varejo e Serviços
Economia Estadual
Economia Estadual
7.Beneficiamento 7.Beneficiamento
8.Transformação 8.Transformação
9.Atacado 9.Atacado
11.Beneficiamento 11.Beneficiamento
12.Transformação 12.Transformação
13.Atacado 13.Atacado
Economia Nacional
Economia Nacional
12.3.2 Impactos potenciais das variações no investimento e na produção do setor mineral nos
setores alfa e beta da economia local
404
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Tabela 12.3.2-1 Impactos e efeitos dos investimentos e da expansão do produto do setor mineral
sobre a economia local do Sudeste Paraense e transbordamentos para o resto do Estado do Pará e
do Brasil: 2004 a 2010 (a preços constantes de 2004)
Influência
Valores anuais resultantes dos investimentos Valor considerando
Ano do setor
e da variação do produto mineral só variação do produto
Inicial mineral
2004 Taxa Taxa
2005 2006 2007 2008 2009 2010
Anual1 2010 Anual2 (C)3 (D)4
(A) (B)
Fonte: Tabela 12.3-1, 12.2.2-2 e 12.2.4-2. Notas: 1 Calculado por regressão logarítmica da série entre 2004 e 2010
em relação ao tempo. 2 Taxa geométrica para o intervalo dos valores de 2004 e 2010. 3 Taxa de crescimento do setor
dividida pela taxa do setor mineral na coluna (A). 4 Taxa de crescimento do setor dividida pela taxa do setor mineral
na coluna (B).
405
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Essas perguntas, pontuais, nos levam a indagações mais abrangentes, organizadas pelo
estado atual das discussões sobre desenvolvimento, sustentabilidade e configuração espacial – é
dizer, sobre as relações entre economia, sociedade e natureza na Amazônia, que motivam nossos
esforços neste projeto. A indagação principal é: dado que os esquemas de compensação (por não
produção ou para produção limpa) implicam entrada e saída de recursos em contextos econômicos
amplos e sistêmicos, qual o resultado final desses fluxos sobre as condições gerais de reprodução
das economias, sobre suas variáveis fundamentais de renda e emprego, sobre suas relações com a
base natural que a fundamenta e, portanto, sobre sua capacidade endógena de evoluir, superando
as próprias forças que produzem o desmatamento e as emissões? Mais precisamente: a) como tais
políticas poderão, a partir dos setores rurais, afetar a demanda final efetiva, e por essa via, o valor
da produção e as variáveis de valor adicionado de toda a economia? b) como isso pode afetar
sua produtividade macroeconômica? c) como as variações na economia afetam as formas de uso
da base natural e, portanto, o desmatamento e as emissões a elas associadas? d) como essa base
natural é posta à disposição dos agentes – isto é, como o mercado de terras, enquanto mecanismo
institucional chave, atua nesse contexto?
Adiante procuramos respostas para essas questões a partir da análise da economia da
mesorregião Sudeste Paraense, no Estado do Pará, já acima apresentada. Para tanto, utilizaremos
uma matriz de insumo-produto gerada por metodologia de cálculo já discutida, capaz de captar os
fundamentos da economia agrária que subjaz às emissões de carbono e situá-los no contexto amplo
da economia local de base primária, na qual se inclui a produção mineral, e seus desdobramentos
urbanos – industriais e comerciais, por um lado, regionais e nacionais, por outro. De particular
importância para o tratamento adequado das questões que nos importam é a consideração do
mercado de terras que em última instância fundamenta o modo particular como essa economia
tem evoluído.
para 49% (ela fora, em 1990, 64%) e a T7, em rápida evolução, chegou a representar 15% em
2003; no fim do período, porém, atinge 6% do VBP do setor rural na mesorregião. Note-se o
peso da T4 bem maior que a média da Região Norte, seja em 1995, seja em 2006; a par disso,
a importância relativa de todas as trajetórias camponesas, não obstante a T1 e a T2 mostrarem,
no Sudeste, peso bem menor do que no restante da Região Norte.
Gráfico 12.4.1-1 – Evolução do Valor Bruto da Produção Rural e das Terras Agricultradas Total
das Trajetória Tecnológicas do Setor Rural no Sudeste Paraense
700.000.000 14.000.000
600.000.000 12.000.000
500.000.000 10.000.000
400.000.000 8.000.000
300.000.000 6.000.000
200.000.000 4.000.000
100.000.000 2.000.000
0 0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
Camponesa.T1 (7,0% a.a.) Camponesa.T2 (5,8% a.a.) Camponesa.T1 (11,3% a.a.) Camponesa.T2 (10,3% a.a.)
Camponesa.T3 (8,1% a.a.) Patronal.T5 (-1,4% a.a.) Camponesa.T3 (12,4% a.a.) Patronal.T5 (3,9% a.a.)
Fonte: Tabela 3.
Tabela 12.4.1-1 – Evolução do Valor Bruto da Produção e das Terras Totais Agricultadas das
Trajetória Tecnológicas do Setor Rural no Sudeste Paraense, 1990 a 2006, em R$ de 2007
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
Valor Bruto da Produção (Em R$ 2007)
Camponesa T1 60.219.705 62.862.412 65.548.038 74.569.945 73.289.736 70.475.646 69.912.267 78.946.011 86.126.534
Camponesa T2 43.353.541 43.590.684 48.904.671 55.354.243 56.924.339 36.059.089 33.466.145 33.958.866 38.559.668
Camponesa T3 140.867.566 149.343.496 151.244.201 161.121.627 152.738.911 155.008.815 146.886.378 162.798.174 173.710.987
PatronalI T5I 20.713.819 19.804.761 21.424.541 24.431.792 24.738.586 10.521.626 9.213.873 10.367.430 10.678.025
Patronal T4 978.098.435 1.017.370.961 1.020.764.575 1.010.111.668 956.905.085 772.160.080 709.334.496 788.505.008 906.229.468
Patronal T7 734.618 706.115 13.909.978
Total 1.243.253.066 1.292.972.314 1.307.886.026 1.325.589.275 1.264.596.657 1.044.225.255 969.547.778 1.075.281.604 1.229.214.660
Terra Total Agricultada (inclui terras em descanso em Há)
Camponesa T1 327.451 340.921 360.306 409.944 406.653 383.382 380.187 426.799 464.088
Camponesa T2 315.761 320.030 361.951 411.894 426.805 259.617 240.902 249.468 272.704
Camponesa T3 726.753 770.284 783.104 838.332 800.522 807.537 772.237 852.752 912.897
PatronalI T5I 126.245 124.681 137.029 149.734 150.111 79.440 72.912 77.196 73.994
Patronal T4 4.938.609 5.135.760 5.156.328 5.113.315 4.851.483 3.921.303 3.608.453 4.005.307 4.594.723
Patronal T7 3.957 3.818 71.495
Total 6.434.819 6.691.677 6.798.719 6.923.219 6.635.574 5.451.279 5.078.647 5.615.340 6.389.901
413
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Variação no Valor Adicionado, no emprego e nas variáveis do balanço de carbono como resultado
de alterações no Valor Bruto da Produção
14 Na literatura especializada, encontram-se outros métodos de calcular requerimentos e impactos físicos ambientais da produção
a partir de matrizes Insumo-Produto. Particularmente interessantes e divulgados são os modelos desenvolvidos no Green Design
Institute da Carnegie Mellon University, os quais combinam técnicas de insumo-produto e de análise de ciclo de vida na estimação
endógena de impactos econômicos e ambientais – por matrizes de coeficientes técnicos físico, monetários e mistos operando nas
transações intermediárias, ao invés de coeficientes em relação ao produto final, como fazemos. De modo que encontramos aí uma fonte
de aprimoramento. Não obstante, tais modelos só recentemente vêm sofrendo ajustamento (por partição de matrizes nacionais) para
análises regionais – o forte das nossas CSα. Segundo Georgyi Cicas, cuja tese de doutorado é pioneira nos caminhos de regionalização
da EIOLCA, “While both process LCA and EIO-LCA have been important decision making tools, neither of them have been able do
perform regional and state level analysis accurately and efficiently” (2005:8).
414
Tabela 12.4.3-1 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leon-Tief) da Sudeste Paraense com base na Matriz de Insumo-
Produto CSα em 2004, incorporando o mercado de terras.
Economia Local Economia Estadual/Regional Economia Nacional
Produção
(Setores Alfa)1 Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio
Francisco de Assis Costa
Fazendas
Minera-ção
Varejo2
Varejo2
Varejo2
me-nto.
-mento3
me-nto3
Camp-oneses
ma-ção4
ma-ção4
Atacado
Atacado
Atacado
ma-ção.4
Trans-for-
Trans-for-
Trans-for-
Bene-ficia-
Bene-ficia-
Bene-ficia-
Inter-mediação primária
1ª Fazendas 1,1353300 0,1268527 0,1237630 0,1854017 0,2948654 0,1579823 0,1701231 0,1597578 0,1228056 0,1253092 0,1295289 0,1676018 0,1198724 0,1228244 0,1263666 0,1598045
1b. Camponeses 0,1027311 1,1403727 0,0980953 0,1728777 0,1744692 0,1526309 0,1372206 0,1281715 0,0974698 0,0981042 0,1024062 0,1177608 0,0948316 0,0970848 0,1028536 0,1185173
1c. Mineração 0,0700733 0,0657687 1,0692812 0,0550060 0,4381632 0,1064182 0,1173839 0,1208775 0,0587472 0,0909750 0,1225161 0,1867539 0,1781272 0,1530486 0,1404858 0,1766401
2.Intermed. Primária 0,0225416 0,0210234 0,0186950 1,0172424 0,0579027 0,0221584 0,0298094 0,0403078 0,0173854 0,0180421 0,0194746 0,0280112 0,0168311 0,0174155 0,0181148 0,0256604
3. Beneficiamento 0,0758889 0,0715597 0,0703513 0,0609573 1,0866171 0,1286939 0,0913071 0,1265398 0,0619410 0,0821080 0,1003950 0,3349258 0,0610455 0,0753776 0,0886138 0,2745244
4. Indust. de Transfor-
mação 0,1957362 0,1821157 0,1608885 0,1508931 0,1636173 1,1536378 0,1593488 0,3538551 0,1437955 0,1445267 0,1562806 0,1681613 0,1451902 0,1660646 0,1620327 0,2855492
5. Comércio de Ata-
cado 0,1870723 0,1757160 0,1594258 0,1415177 0,1609195 0,3583889 1,1938245 0,3318006 0,1991735 0,1828068 0,1932272 0,1607254 0,1398854 0,1441322 0,1588286 0,1725181
6. Varejo e Serviços 0,9404532 0,8745521 0,7615658 0,7134805 0,7789605 0,7076248 0,7092027 1,7047118 0,6844845 0,6878290 0,6923298 0,7113852 0,6922648 0,6916342 0,6927376 0,7082832
415
7. Beneficiamento 0,0645587 0,0605642 0,0561721 0,0504378 0,0629936 0,0976970 0,1509513 0,1124813 1,0611485 0,4485430 0,2703545 0,1306266 0,0493142 0,0506263 0,0650658 0,0584859
8. Ind. de Transfor-
mação 0,0510226 0,0480790 0,0484450 0,0404289 0,0498045 0,0750215 0,1372165 0,0865502 0,0484100 1,0478112 0,1615614 0,1663988 0,0410498 0,0425226 0,0769044 0,0476412
9. Comércio de Ata-
cado 0,2647665 0,2479018 0,2211046 0,2055733 0,2584562 0,4065038 0,5794498 0,4666382 0,2508166 0,2492256 1,2323376 0,3915665 0,1974950 0,2018936 0,2084353 0,2367471
10. Varejo e Serviços 0,0463658 0,0463176 0,0575487 0,0461971 0,0504853 0,0467725 0,0468952 0,0469343 0,0462390 0,0465997 0,0469527 1,0476716 0,0475751 0,0472944 0,0471538 0,0475584
11. Indust. De Benef. 0,3509237 0,3283569 0,3611585 0,2712606 0,3367521 0,4921387 0,6965543 0,6186093 0,2993074 0,5054211 0,7115447 0,5326242 1,2922320 1,0407204 0,8963486 0,6320382
12. Ind. De Transfor-
mação 0,4662405 0,4361637 0,4809737 0,3601233 0,4471767 0,6528920 0,9154140 0,8228372 0,3962967 0,3994838 0,9291422 0,6828131 0,3886639 1,4130848 1,2058116 0,8515693
13. Comércio de Ata-
cado 0,2859012 0,2672864 0,3524963 0,2195084 0,2889399 0,3291062 0,6221431 0,5070111 0,2396530 0,2454507 0,3790859 0,2813684 0,2628133 0,2882440 1,2836661 0,2912872
14. Varejo e Serviços 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 1,0000005
Multiplicadores Agregados
De renda 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010
Setorial de Produto 4,259606 4,092631 4,039965 3,690906 4,650124 4,887668 5,756845 5,627084 3,727674 4,372236 5,247138 5,108395 3,727192 4,551969 5,273420 5,086825
De Impacto Setorial 1,135330 1,140373 1,069281 1,017242 1,086617 1,153638 1,193825 1,704712 1,061148 1,047811 1,232338 1,047672 1,292232 1,413085 1,283666 1,000001
Efeito de Empuxe 3,124276 2,952259 2,970684 2,673664 3,563507 3,734030 4,563020 3,922372 2,666526 3,324425 4,014800 4,060724 2,434960 3,138884 3,989754 4,086824
Utilizando a fórmula (12.2.1-14), podemos discutir a questão principal que nos colocamos.
Relembrando: dado que os esquemas de compensação para contenção do desmatamento implicam
entrada e saída de recursos, qual o resultado final desses fluxos sobre as variáveis fundamentais
de renda e emprego, sobre suas relações com a base natural que a fundamenta e, portanto, sobre
as próprias forças que produzem o desmatamento?
Tabela 12.4.4-1 – Diversas condições de compensação por redução nas emissões de carbono no
Sudeste Paraense como variações na demanda final de 2004 (em R$ milhões de 20005)
Exercício 1 Exercício 2 Exercício 3 Exercício 4
1ªFazendas -434,591 0,00 -869,184 -434,591
1b.Camponeses -325,361 0,00 869,184 -325,361
1c.Mineração 0,00 0,00 0,00 6.563,053
6.Varejo e Serviços 442,882 442,882 442,882 442,882
Fonte: Tabela 1. Notas: 1 50% do Valor Bruto da Produção das linhas correspondentes na Tabela 1. 2 50% do valor da
linha “Lucros” nos setores alfa “Camponeses” e “Fazendas”. 3 Informação da CVRD (conf. Ceplan, 2006 ). 4 100%
da produção das “Fazendas”, maior poluidora, passa a ser feita nos moldes camponeses, cujo setor cresce na mesma
proporção.
Quatro exercícios, cujos termos básicos se encontram na Tabela 12.4.4-1, nos ajudarão
a refletir sobre essa indagação. O primeiro procura retratar uma situação em que a política de
compensação se faz em contexto idealizado em que se cumprem contratos e não há pressões de
mercado; o segundo discute o efeito do mercado de terras como mecanismo de pressão exógena;
o terceiro reflete sobre pressões endógenas de demanda por produtos; o quarto aponta para outras
perspectivas de política com vistas a interferir no balanço de carbono.
Idealismo tecnocrático
15 A outra hipótese, a de que os agentes que recebem as compensações mudam para lugares mais amenos, poderá ser explorada em
outro momento.
416
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
12%
10%
% em relação a 2004
% em relação a 2004
0% 10%
-10% 8%
-20% 6%
-30% 4%
-40% Nacional
Nacional 2% Estadual
-50% Estadual Local
Local 0%
-60%
Adicionado
Salários
Emprego
Balanço
Líquido CO2
Lucros
Impostos
Valor
Adicionado
Salários
Emprego
Balanço
Líquido CO2
Lucros
Impostos
Valor
(C) (D)
140% 50%
% em relação a 2004
% em relação a 2004
120%
30%
100%
80% 10%
60% -10%
40% Nacional -30% Nacional
20% Estadual
Local Estadual
0% -50% Local
Adicionado
Salários
Emprego
Balanço
Líquido CO2
Lucros
Impostos
Valor
Adicionado
Salários
Emprego
Balanço
Líquido CO2
Lucros
Impostos
Valor
418
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Considerando as médias dos preços (agora corrigidos para 2007), entre 1995 e 2006,
foram feitas vendas diretas em torno de R$ 15 bilhões de reais em 11 anos – aproximadamente
um VBP de R$ 1,4 bilhão, possibilitando Valor Adicionado de R$ 1,4 bilhão por ano (ver Tabela
7.3.1-2).
Suponhamos que em 1995 tivesse existido uma política para toda a Região Norte de
contenção do desmatamento à base de remuneração dos proprietários de terras com “reservas de
mata” a um justo preço – ao custo de oportunidade –, tal como propusemos na sessão anterior.
Na verdade, esses proprietários seriam os únicos atores presentes, detentores do único objeto
de contração que essa perspectiva de política pode considerar. Consideremos que, em esforço
máximo da sociedade, tivessem sido feitos contratos cobrindo todos os 25,7 milhões de hectares
(pois o propósito teria sido, digamos, o de “desmatamento zero”), a um preço determinado pela
atividade de menor rendimento, a pecuária extensiva – digamos, a R$ 40,00 p/ha. A política
custaria em torno de R$ 1,0 bilhão de reais a cada ano (aproximadamente a disponibilidade média
real do FNO, nesse período, ver 7.3.2). Em 2006 teríamos nada muito diferente do balanço real
apresentado na Tabela 7.3.1-2. A política teria sido eficiente, posto que as reservas contratadas
estariam intactas, até acrescidas, para regozijo dos policy makers, que provavelmente também
estariam felizes porque os “bons empresários” teriam cumprido seus contratos. Mas, ao lado disso,
teríamos os mesmos 11,6 milhões de hectares adicionalmente transformados de acordo com o que
nos apresenta a realidade do Censo. Com uma diferença, entretanto: a sociedade teria despendido
R$ 11,0 bilhões de reais literalmente para nada – ou melhor, para acréscimo do patrimônio dos
proprietários com reserva de “terras com mata”, tanto mais, quanto mais as possuíssem.
Para a economia do Sudeste Paraense, o mercado de terras foi modelado pelas CSα,
considerando os preços dos três tipos de terras vigentes em 2004 nos municípios da mesorregião
incluídos na pesquisa da FNPi, pressupondo que as necessidades de terras, para explicar a expansão
das atividades, foram determinadas pelos parâmetros tecnológicos vigentes em 1995 e atendidas
necessariamente através do mercado – o que garantiu a preservação das reservas de “terras com
mata” dos estabelecimentos em 1995. Os resultados foram internalizados na economia do Sudeste
Paraense, conforme Tabela 12.4.4-1, já comentada, e permitiram, ademais, estruturar agregados
para a mesorregião num balanço semelhante ao da Tabela 7.3.1-2, só que cobrindo o período de
1995 a 2004 (ver Tabela 12.4.4-3).
419
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Tabela 12.4.4-3 – Estimativa do Mercado de terras no Sudeste Paraense entre 1995 e 2004, a
preços de 2007
Passagem das “terras com Mata” para a
Estoque de terras
condição de capital físico: ”terra de pastagem”,
nos estabelecimentos:
”terras para lavoura” e “reserva de mata”
1995 2004 Fluxo Real (Há) Fluxo Monetário (R$)
(A) (B) (B)-(A)=(C) (C)*Preço Médio
Terras para Lavoura 347.082 446.260 99.178 151.206.899,7
Terras de Pastagens 4.829.473 6.490.670 1.661.198 1.522.398.472,2
Reserva de Terras com Matas 4.992.744 4.992.744 0
Total de Terras Apropriadas 10.169.298 11.929.674 1.760.376 1.673.605.372,0
1.760.376
Transformação
Fluxo Real (Ha) (195.597,30
necessária de “floresta
/ano)
originária” em “Terra
638.133.132,0 3.384.818.012,0
com Mata” Fluxo Monetário R$)
(70.903.681,3 /Ano) (307.710.728/Ano)
2.311.738.504,0
Valor total movimentado no mercado de terras (R$)
(256.859.833,8 /Ano)
Fonte: IBGE, Censo de 1995 e 2004. Estimativas das CSα.
Ao lado da manutenção dos 5 milhões de hectares das reservas de “terras com matas”, o
mercado de terras na mesorregião teria produzido, entre 1995 e 2004, 1,7 milhões de novas “terras
para pastagem” (o Censo informa 1,6 milhões até 2006) e 99,2 mil hectares de novas “terras para
lavoura” a partir da conversão de um total de 1,8 milhões de hectares de “floresta originária” em
“terras com mata”. O fluxo primário médio de R$ 256,9 milhões por ano expressou-se, no ano de
2004, em R$ 465,4 milhões de VBP e R$ 185,3 milhões de VA, conforme comentários anteriores.
Essa é a história. Conhecendo-a, parece prudente prospectar o futuro, considerando
uma situação na qual o programa de compensação por redução de emissão sob escrutínio
lograsse reduzir 50% da produção que fundamentava o balanço de carbono verificado em 2004,
compensando produtores estabelecidos no nível verificado de seus ganhos, mas, ao mesmo
tempo, novos produtores que venham a se estabelecer, mediados pelo mercado de terras, para o
qual carrearam poder de compra exógeno, repondo a produção dos setores alfa rurais no nível de
2004. Concretamente, o esquema de compensação remuneraria os agentes gestores da produção
rural em 50% dos lucros anuais, o que implicaria uma entrada de R$ 442,88 milhões por ano
na economia local por compras de bens e serviços e não há redução da produção. O resultado
dessa situação encontra-se na segunda parte da Tabela 12.4.4-2 e na parte (B) do Gráfico 12.4.4-
1: as variáveis da economia local cresceriam todas, o valor adicionado expandiria, em termos
absolutos, R$ 419,2 milhões (5,7%) em relação a 2004; os salários e o emprego cresceriam,
respectivamente, 9,9% e 10,0%; os lucros 5% e os impostos 4%, gerando em consequência
uma expansão das emissões líquidas de carbono de 8,3%. A economia estadual expandiria o
valor adicionado em R$ 89,72 milhões (10,4% em relação a 2004) e a nacional em R$ 341,56
milhões (9,6%). O fracasso da política de contenção corresponderia, nesse caso, a um notável
sucesso econômico.
420
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Como já demonstrado, o Sudeste Paraense constitui economia complexa, com setores não
rurais de grande capacidade expansiva. Importa indagar, pois, o que ocorreria com a economia
e com o balanço de CO2 se um programa de compensação por redução de emissão lograsse
reduzir, em 5 anos, 50% da produção que fundamenta o balanço de carbono verificado em 2004,
por justa compensação aos proprietários dos estabelecimentos rurais no nível verificado de
seus ganhos. Nesse caso, porém, a produção primária não agrícola se expande fortemente. Isso
significa que um esquema de compensação, exatamente como na primeira situação, remunera os
agentes gestores da produção rural em 50% dos lucros anuais. Na hipótese de que esses agentes
continuem no mesmo lugar, haveria uma entrada de R$ 442,88 milhões por ano na economia
local por compras de bens e serviços, em troca da redução em 50% das respectivas produções
– expressas na redução da demanda efetiva dos valores de R$ 434,59 e R$ 325,36 milhões dos
setores alfa camponês e patronal, respectivamente. Porém, como é o caso da economia estudada,
a mineração mais que dobra sua produção anual, acrescendo aproximadamente R$ 6,6 bilhões,
como constam nos planos e na realidade da Companhia Vale do Rio Doce, como observamos no
capítulo precedente. O resultado dessa operação seria uma explosão nas variáveis econômicas
nos montantes absolutos observados na última seção da Tabela 12.4.4-2 e relativos na parte (C)
do Gráfico 12.4.4-1. Todas as variáveis da economia local cresceriam, o valor adicionado e a
massa de lucros na liderança, cabendo obviamente a maior parte ao setor mineral. Não obstante,
o emprego cresce 64,5% e a massa de salários 98,4%, produzindo um impulso independente nos
setores rurais e urbanos da economia local que faz as emissões líquidas de carbono crescerem em
41% em relação a 2004, apesar da redução obtida. Expansão importante se verificaria, também,
na economia estadual e nacional. A dinâmica da economia local autônoma tornou a política de
contenção, nesse caso, inócua.
Um exercício adicional deve ser ponderado, por fim, considerando a seguinte questão.
O que ocorrerá com a economia e com o balanço de CO2, se um programa de redução de
emissão lograr induzir a conversão da base produtiva, dos sistemas que emitem mais, para
os sistemas que emitem menos, de modo que em 5 anos toda produção fosse feita com base
nos sistemas que em 2004 mostraram-se menos emissores? Recursos de R$ 442,88 milhões
por ano fluirão na economia, em parte aplicados em conhecimentos (C&T), bônus e subsídio
de crédito como forma de remuneração de serviços ambientais produzidos pelos sistemas
produtivos em operação, inclusive e principalmente os baseados no “bioma”. Em parte, esses
recursos fluirão também como resultados de ações do estado para coibir a transformação das
“florestas originárias”, que só existem na condição de ativo público, em “terras com mata”,
atacando o principal mecanismo do mercado de terras – a “grilagem” (Benatti, 2008; Costa,
421
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
2008). Os resultados dessa operação podem ser avaliados na quarta parte da Tabela 12.4.4-2
e na parte (D) do Gráfico 12.4.4-1: Todas as variáveis da economia local cresceriam, o valor
adicionado 6,1% e a massa de salários 2,8%, a massa de lucros 7,5%. Isso ao lado da redução
da emissão líquida de CO2 em 31%. Nesse caso, ocorreria uma situação win-win: uma política
de conversão tecnológica logra reduzir as emissões, ao mesmo tempo que produz dinâmica.
16 O exercício contou com a parceria de Wanderlino Castro de Andrade, Economista, Doutorando do PDTU NAEA/UFPa.
424
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Tabela 12.5-1 Programação de investimentos e previsão dos custos de operação e receitas para
dois ciclos de implantação do ParáFlorestas
1º. Ciclo (Ano 0 a 6) 2º. Ciclo (Ano 7 a 13)
Investimento Custo e receita anuais1 Investimento Custo e receita anuais1
Formação de Florestas R$ 406.054.583 1.148.180.191
Arrendamento R$ 54.188.868 96.302.074
Colheita e Replantio R$ 138.289.838 277.046.214
Recuperação de Nativas R$ 36.398.254 75.815.400
Outros custos R$ 32.308.931 54.082.267
Investimento Total R$ 528.950.636 1.374.379.932
Produção(m3)/Receita R$2 3.000.000 m3 R$ 150.000.000 6.292.500 m3 R$ 314.625.000
Área colhida/replantada (Ha) 10.714 21.429
Fonte: 1 Preços de 2005. 2 A preço de R$ 50/m3 (2005) estimado pela FNP, Agrianual, 2006, p. 323.
Tabela 12.5-2 – Estrutura resumida dos custos de produção do ParáFlorestas para os momentos
intermediário e final da implantação.
Itens 1º.Ciclo 2o.Ciclo
Administração e Inf raestrutura 9.448.531 18.897.061
Veículos e equipamento 27.287.364 54.574.728
Combustíveis 607.915 1.215.830
Pessoal 14.952.052 29.904.105
Insumos Químicos 45.251.347 90.502.694
Insumo Minerais 9.437.406 18.874.813
Insumos Biológicos/Botânicos 9.466.955 18.933.910
Serviços e Consultoria 1.180.133 2.360.266
Arrendamento 19.148.616 38.297.232
Impostos 1.509.519 3.485.576
Total 138.289.838 277.046.214
Fonte: Elaboração do autor, com base em preços médios correntes.
425
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Sudeste VBP
Total
Total
Nacional
Benef.
Benef.
Benef.
Trans.
Trans.
Trans.
Varejo
Varejo
Varejo
Varejo Rural
Urbano
Urbano
Urbano
Atacado
Atacado
Atacado
Famílias
Patronal
Formação
de Capital
Camponesa
Estadual/Regional
1a. ProduçãoCampones 0,66 - 0,00 7,70 1,07 11,13 5,73 29,60 0,42 2,50 - 9,26 - 0,01 - 68,07 172,17 18,05 0,30 - 190,52 258,58
1b. ProduçãoPatronal - 0,82 0,00 2,05 0,67 11,48 1,15 5,88 0,44 4,38 - 1,84 0,48 7,84 - 37,04 92,36 5,41 0,12 - 97,88 134,92
2.Varejo Rural - - - 0,39 - 0,00 0,00 - - 0,00 - - - 0,00 - 0,40 - - - - - 0,40
3. Findust. De Benef. - - - 0,20 0,95 2,22 4,91 0,12 0,13 5,92 0,38 2,43 0,11 12,99 0,00 30,33 2,73 - - 2,13 4,86 35,19
4. Indust. de Transf. - - - - - 3,44 37,61 - 0,18 0,13 0,07 - 1,30 0,28 0,73 43,74 1,48 - - - 1,48 45,22
5. Atacado 0,94 0,37 - 0,05 5,20 0,00 19,37 0,03 1,90 1,33 37,17 0,06 5,05 2,18 - 73,65 0,02 - 0,17 2,16 2,34 75,99
6. VarejoUrbano 21,31 8,58 - - - 0,00 - - - 0,00 - 0,00 - - - 29,89 113,81 26,53 - - 140,34 170,23
7. Findust. De Benef. - - - - - - 0,07 - 2,86 7,07 43,87 - - - - 53,87 - - 39,06 - 39,06 92,92
8. Indust. de Transf. - - - - - 1,86 - - - 6,10 1,10 - - 2,85 - 11,91 - - 5,32 4,16 9,48 21,38
427
9. Atacado 0,43 0,35 0,00 1,19 6,01 9,54 35,90 3,15 2,70 0,31 4,75 0,00 - - - 64,33 - - 21,02 8,91 29,93 94,26
10. VarejoUrbano - - - - - - - - - - - - - - - - 7,73 - 157,48 - 165,21 165,21
11. Findust. de Benef. - - - - - - - - 3,72 - - - 48,27 - 26,20 78,19 - - - 1,94 1,94 80,14
12. Indust. De Transf. - - - - 5,20 1,86 5,63 - - 30,58 3,29 - - 34,78 0,09 81,44 - - - 98,67 98,67 180,11
13. Atacado - - - - - 6,58 24,69 - - 4,60 - 2,59 49,11 0,31 0,22 88,10 0,38 - - 7,31 7,69 95,78
14. VarejoUrbano - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 52,92 52,92 52,92
r.Total de Insumos 23,34 10,12 0,01 11,59 19,10 48,09 135,05 38,78 12,35 62,92 90,63 16,18 104,31 61,24 27,25 660,94 390,68 49,99 223,45 178,20 842,32 1.503,26
x.Campones 235,25 - 0,28 19,88 16,76 15,65 25,23 42,13 6,36 17,51 50,68 44,58 40,56 17,06 21,22 553,14
y.Patronal - 124,81 0,11 3,73 9,37 12,25 9,95 12,02 2,68 13,83 23,89 19,38 35,23 17,48 4,45 289,18
s.Val. Adicionado (x+y) 235,25 124,81 0,39 23,60 26,12 27,90 35,18 54,15 9,03 31,34 74,58 63,96 75,80 34,54 25,67 842,32
x.Salários 46,65 24,76 (0,00) 1,29 2,62 2,02 13,28 2,13 1,33 3,02 10,34 1,69 11,01 5,20 5,41 130,74
y.Lucros 184,69 99,85 0,36 18,98 21,52 22,12 15,45 41,07 5,41 11,55 47,39 59,62 36,81 23,17 14,49 602,48
z.Impostos 3,91 0,19 0,04 3,34 1,98 3,76 6,45 10,95 2,30 16,77 16,85 2,65 27,97 6,17 5,77 109,10
Renda Bruta (r+s) 258,58 134,92 0,40 35,19 45,22 75,99 170,23 92,92 21,38 94,26 165,21 80,14 180,11 95,78 52,92 1.503,26
Emprego (em 1.000) 13,23 15,36 0,00 0,50 0,60 0,63 2,25 0,50 0,19 0,67 1,65 0,36 1,18 0,79 0,59 38,48
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD,
diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no primeiro capítulo . 1. Setores originais da
CSα. Com base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2 .Inclui todas as formas de serviço. 3 Produção primária e
primeiro beneficiamento. 4. Inclui produção de energia. 5. FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a. Incluindo encargos,
menos tributos. 6b incluindo importações, menos tributos. 7. Inclui exportações para o resto do mundo.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
Trata-se de uma economia local que gera 32.557 ocupações, das quais 28,5 mil nos
setores rurais, 13,2 mil nas fazendas e empresas e 15,3 mil na produção familiar rural. Os setores
industriais locais envolvidos no beneficiamento e transformação dessa produção abrigam pouco
mais de mil trabalhadores e, os de comércio, o restante dos empregados nos setores urbanos.
Associadas à economia local de base agrária da Microrregião Paragominas, são geradas 3.011
ocupações no restante do Estado do Pará e 2.915 no restante do Brasil, todas em setores urbanos.
A economia local gera (em 2005) R$ 473 milhões de valor adicionado, dos quais R$
90 milhões de salários, R$ 363 milhões em forma de lucro, rendas e remuneração do trabalho
familiar rural (sem abater depreciação, abatidos impostos) e R$ 19,7 milhões de impostos. Outros
R$ 169,0 milhões de valor adicionado, R$ 16,8 milhões de salários, R$ 105,4 milhões de lucros
e R$ 46,9 milhões de impostos são gerados na economia estadual e R$ 200 milhões de valor
adicionado, R$ 23 milhões de salários, R$ 134,1 milhões de lucros e R$ 42,6 milhões de impostos
na economia nacional se associam à economia de base agrária da Microrregião Paragominas.
Estadual/
3
4
3
4
Pará
Vare
Florestas
Capital5
Varejo e
Varejo e
Fazendas
Atacado
Atacado
Atacado
Famílias
serviços2
serviços 2
Camponeses
Formação de
jo e serviços 2
Transformação
Beneficiamento
Beneficiamento
Intermediação primária
Transformação.
Beneficiamento.
Transformação4
1ª Fazendas 0,66 - - 0,00 7,70 1,07 11,13 5,73 29,60 0,42 2,50 - 9,26 - 0,01 - 68,07 172,17 18,05 0,30 - 190,52 258,58
1b.Camponeses - 0,82 - 0,00 2,05 0,67 11,48 1,15 5,88 0,44 4,38 - 1,84 0,48 7,84 - 37,04 92,36 5,41 0,12 - 97,88 134,92
1c. Vale Florestar - - - - - 150,00 - - - - - - - - - - 150,00 - - - - - 150,00
2.Intermed. Primária - - - - 0,39 - 0,00 0,00 - - 0,00 - - - 0,00 - 0,40 - - - - - 0,40
3. Beneficiamento - - - - 0,20 0,95 2,22 4,91 0,12 0,13 5,92 0,38 2,43 0,11 12,99 0,00 30,33 2,73 - - 2,13 4,86 35,19
4. Ind. Transformação - - - - - - 3,44 51,88 - 198,18 0,13 0,07 - 1,30 0,28 0,73 256,00 1,48 - - - 1,48 257,49
5. Comércio Atacado 0,94 0,37 - - 0,05 7,20 0,00 40,48 0,03 1,90 1,33 37,17 0,06 5,05 2,18 - 96,76 0,02 - 0,17 2,16 2,34 99,10
6. Varejo e Serviços 21,31 8,58 100,81 - - - 0,00 - - - 0,00 - 0,00 - - - 130,70 174,40 26,53 - - 200,94 331,64
7. Beneficiamento - - - - - - - 0,07 - 6,94 13,80 43,87 - - - - 64,68 - - 39,06 - 39,06 103,74
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
8. Ind. Transformação
- - - - - - 2,57 - - - 17,65 1,10 - - 4,54 - 25,86 - - 5,32 400,16 405,48 431,34
ao
430
9. Comércio Atacado 0,43 0,35 - 0,00 1,19 14,92 20,63 96,60 3,52 16,30 0,58 8,09 0,00 - - - 162,61 - - 21,02 8,91 29,93 192,54
10. Varejo e Serviços - - 1,87 - - - - - - - - - - - - - 1,87 13,96 - 157,48 - 171,44 173,31
11. Indust. De Benef. - - - - - - - - - 9,36 - - - 103,48 - 26,20 139,04 - - - 1,94 1,94 140,98
12. Ind. Transformação
- - - - - 7,20 4,60 27,75 - - 77,85 6,29 - - 60,08 0,09 183,86 - - - 98,67 98,67 282,53
o
13. Comércio Atacado -
- - - - - 13,62 38,95 - - 9,56 - 4,46 52,58 0,41 0,22 119,81 0,68 - - 7,31 7,99 127,79
14. Varejo e Serviços -
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - 52,92 52,92 52,92
r.Total de Insumos 23,34 10,12 102,68 0,01 11,59 182,00 69,68 267,51 39,14 233,68 133,71 96,96 18,05 162,99 88,32 27,25 1.467,03 457,81 49,99 223,45 574,20 1.305,45 2.772,48
x.Fazendas 235,25 - - 0,28 19,88 16,76 15,65 25,23 42,13 6,36 17,51 50,68 44,58 40,56 17,06 21,22 553,14
y.Camponeses - 124,81 - 0,11 3,73 9,37 12,25 9,95 12,02 2,68 13,83 23,89 19,38 35,23 17,48 4,45 289,18
z. Vale Florestar - - 47,32 - - 49,36 1,52 28,95 10,45 188,63 27,49 1,77 58,98 43,75 4,93 - 463,13
s.Val. Adicionado6 235,25 124,81 47,32 0,39 23,60 75,49 29,41 64,13 64,59 197,66 58,83 76,34 122,94 119,54 39,47 25,67 1.305,45
(x+y)
s.Salários6a 46,65 24,76 14,95 (0,00) 1,29 16,59 3,04 26,02 2,49 22,61 6,91 11,01 2,61 17,38 7,41 5,41 209,12
l.Lucros 6b 184,69 99,85 30,86 0,36 18,98 52,23 22,54 29,41 50,83 83,18 34,05 48,43 115,25 70,47 25,86 14,49 881,48
i.Impostos 3,91 0,19 1,51 0,04 3,34 6,66 3,83 8,70 11,28 91,88 17,87 16,90 5,08 31,70 6,20 5,77 214,85
Renda Bruta (r+s) 258,58 134,92 150,00 0,40 35,19 257,49 99,10 331,64 103,74 431,34 192,54 173,31 140,98 282,53 127,79 52,92 2.772,48
Emprego (em 1.000) 13,23 15,36 2,19 0,00 0,50 3,41 0,82 4,38 0,56 3,91 1,37 1,73 0,63 1,84 1,06 0,59 51,57
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD,
diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no capítulo 1. 1. Setores originais da CSα.
Com base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2. Inclui todas as formas de serviço. 3. Produção primária e primeiro
beneficiamento. 4. Inclui produção de energia. 5. FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a.Incluindo encargos, menos
tributos. 6b. incluindo importações, menos tributos. 7. Inclui exportações para o resto do mundo.
Francisco de Assis Costa
Tabela 12.5.4-1 – Estrutura da Economia de Base Agrária da Microrregião Paragominas. Matriz de Insumo-Produto CSα no
Ano13 do ParáFlorestas, valores de referência de 2005
Produção Intermediária Demanda Final
Economia Estadual/
Economia Local: Economia Nacional
Regional
Produção/Setores Local
Alfa Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio
Francisco de Assis Costa
(Setores Alfa)1
VBP
Total
Fazendas
Camponeneses
Pará
Florestas
Intermediação primária
Beneficiamento.
Transformação4
Atacado
Varejo e
serviços2
Beneficiamento 3
Transformação 4
Atacado
Varejo e serviços
2
Beneficiamento 3
Transformação. 4
Atacado
Varejo e serviços
2
Famílias
Formação de
Capital5
Estadual/
Regional
Nacional7
Total
1ª Fazendas 0,66 - - 0,00 7,70 1,07 11,13 5,73 29,60 0,42 2,50 - 9,26 - 0,01 - 68,07 172,17 18,05 0,30 - 190,52 258,58
1b.Camponeses - 0,82 - 0,00 2,05 0,67 11,48 1,15 5,88 0,44 4,38 - 1,84 0,48 7,84 - 37,04 92,36 5,41 0,12 - 97,88 134,92
1c. ParáFlorestas - - - - - 314,63 - - - - - - - - - - 314,63 - - - - - 314,63
2.Intermed. Primária - - - - 0,39 - 0,00 0,00 - - 0,00 - - - 0,00 - 0,40 - - - - - 0,40
3. Beneficiamento - - - - 0,20 0,95 2,22 4,91 0,12 0,13 5,92 0,38 2,43 0,11 12,99 0,00 30,33 2,73 - - 2,13 4,86 35,19
4. Ind. Transformação - - - - - - 3,44 69,17 - 415,49 0,13 0,07 - 1,30 0,28 0,73 490,59 1,48 - - - 1,48 492,08
5. Comércio Atacado 0,94 0,37 - - 0,05 9,62 0,00 63,84 0,03 1,90 1,33 37,17 0,06 5,05 2,18 - 122,54 0,02 - 0,17 2,16 2,34 124,88
6. Varejo e Serviços 21,31 8,58 201,63 - - - 0,00 - - - 0,00 - 0,00 - - - 231,52 248,06 26,53 - - 274,59 506,11
7. Beneficiamento - - - - - - - 0,07 - 11,55 21,55 43,87 - - - - 77,04 - - 39,06 - 39,06 116,10
431
8. Ind. Transformação ao - - - - - - 3,44 - - - 30,53 1,10 - - 6,39 - 41,45 - - 5,32 834,77 840,09 881,54
9. Comércio Atacado 0,43 0,35 - 0,00 1,19 24,94 33,04 160,55 3,94 31,25 0,87 11,82 0,00 - - - 268,38 - - 21,02 8,91 29,93 298,32
10. Varejo e Serviços - - 3,73 - - - - - - - - - - - - - 3,73 21,50 - 157,48 - 178,98 182,71
11. Indust. De Benef. - - - - - - - - - 15,57 - - - 165,24 - 26,20 207,01 - - - 1,94 1,94 208,95
12. Ind. Transformação o - - - - - 9,62 7,50 49,94 - - 127,88 9,93 - - 89,81 0,09 294,78 - - - 98,67 98,67 393,44
13. Comércio Atacado - - - - - - 21,54 56,29 - - 15,14 - 6,56 56,34 0,52 0,22 156,61 1,05 - - 7,31 8,36 164,97
14. Varejo e Serviços - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 52,92 52,92 52,92
r.Total de Insumos 23,34 10,12 205,36 0,01 11,59 361,49 93,78 411,64 39,56 476,75 210,23 104,34 20,14 228,51 120,01 27,25 2.344,11 539,37 49,99 223,45 1.008,81 1.821,62 4.165,74
x.Fazendas 235,25 - - 0,28 19,88 16,76 15,65 25,23 42,13 6,36 17,51 50,68 44,58 40,56 17,06 21,22 553,14
y.Camponeses - 124,81 - 0,11 3,73 9,37 12,25 9,95 12,02 2,68 13,83 23,89 19,38 35,23 17,48 4,45 289,18
z. ParáFlorestas - - 109,27 - - 104,46 3,21 59,28 22,39 395,76 56,74 3,80 124,85 89,14 10,41 - 979,31
s.Val. Adicionado6 (x+y) 235,25 124,81 109,27 0,39 23,60 130,59 31,10 94,46 76,54 404,79 88,08 78,37 188,81 164,93 44,95 25,67 1.821,62
s.Salários6a 46,65 24,76 29,90 (0,00) 1,29 32,05 4,18 39,90 2,93 45,99 11,14 11,79 3,79 24,44 9,98 5,41 294,20
l.Lucros 6b 184,69 99,85 75,88 0,36 18,98 86,74 23,02 43,63 62,00 168,61 57,97 49,62 177,51 105,07 28,75 14,49 1.197,16
i.Impostos 3,91 0,19 3,49 0,04 3,34 11,80 3,90 10,94 11,61 190,19 18,98 16,96 7,51 35,42 6,23 5,77 330,27
Renda Bruta (r+s) 258,58 134,92 314,63 0,40 35,19 492,08 124,88 506,11 116,10 881,54 298,32 182,71 208,95 393,44 164,97 52,92 4.165,74
Emprego (em 1.000) 13,23 15,36 4,38 0,00 0,50 6,51 1,03 6,69 0,63 7,99 2,12 1,82 0,93 2,57 1,36 0,59 65,70
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD,
diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no capítulo 1. 1. Setores originais da CSα. Com
base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2. Inclui todas as formas de serviço. 3. Produção primária e primeiro
beneficiamento. 4. Inclui produção de energia. 5. FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a. Incluindo encargos, menos
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
tributos. 6b. incluindo importações, menos tributos. 7. Inclui exportações para o resto do mundo.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
432
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Tabela 12.5.5-1 Resumo dos impactos do ParáFlorestas nas variáveis fundamentais da economia
de base agrária da Microrregião Paragominas e seus desdobramentos extra-locais
Nível da Economia
Total
Local Estadual Nacional
Ano0
Valor Adicionado 473.250.537 169.098.187 199.966.770 842.315.494
Salários 90.617.233 16.814.508 23.304.965 130.736.706
Lucros 362.961.126 105.424.234 134.096.516 602.481.876
Impostos 19.672.178 46.859.445 42.565.289 109.096.912
VBP Total 720.539.844 373.777.310 408.942.441 1.503.259.595
Emprego 32.557 3.011 2.915 38.483
Ano6
Valor Adicionado 600.400.014 397.431.418 307.617.875 1.305.449.307
Salários 133.302.981 43.020.715 32.795.002 209.118.697
Lucros 438.921.072 216.481.907 226.073.135 881.476.114
Impostos 28.175.962 137.928.795 48.749.739 214.854.496
VBP Total 1.267.326.718 900.930.083 604.221.841 2.772.478.642
Emprego 39.884 7.563 4.120 51.566
Ano13
Valor Adicionado 749.468.757 647.785.231 424.366.572 1.821.620.561
Salários 178.731.456 71.858.447 43.607.678 294.197.580
Lucros 533.134.719 338.196.852 325.824.706 1.197.156.277
Impostos 37.602.584 237.729.933 54.934.188 330.266.705
VBP Total 1.866.791.498 1.478.665.966 820.278.093 4.165.735.557
Emprego 47.694 12.554 5.454 65.702
433
EPÍLOGO
De 1990 a 2006, o Setor Rural na Amazônia cresceu ciclicamente a taxas médias que,
para todas suas macrovariáveis, situavam-se próximas de 5% a.a.. Nesse ritmo, conforme vimos
no capítulo 2, o Valor Bruto da Produção Rural (VBPR) passou de R$ 5,5 para R$ 9,0 bilhões
de reais, a preços constantes do último ano do período, gerando Valor Adicionado (VA) total
de R$ 16,5 bilhões de reais. Tal dinâmica exigiu terras a um ritmo anual de 2,5% a.a. – esta a
velocidade da transformação do bioma, de sua erradicação para a produção de um estoque de
terras (desmatadas pelo menos uma vez) que cresceu de 31,2 para 42,7 milhões de hectares.
Associado a isso, o estoque de áreas degradadas (capoeira sucata) cresceu, como visto no capítulo
3, a 1,5% a.a., de 2,4 para 3,0 milhões de hectares, e o estoque líquido (emissão menos sequestro)
de CO2 emanado das atividades rurais cresceu ao ritmo de 2,1% a.a., de 5,0 mil Gt, nos três
primeiros, para 7,1 mil Gt nos três últimos anos da série.
No mesmo período verificou-se, como demonstrado no capítulo 1, uma importante
reconfiguração das condições de financiamento do desenvolvimento representada pela redução
da importância e posterior eliminação do Fundo de Financiamento da Amazônica (FINAM), a
institucionalidade comandada pela SUDAM, e a inauguração e consolidação paralela do Fundo
Constitucional de Desenvolvimento do Norte (FNO), como principal fonte de financiamento do
setor rural, e de toda uma nova institucionalidade que, ancorada nesse novo funding, e em torno
do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), se estabelece na Região.
Esses números, e os indicadores correlatos, são lidos e apropriados tecnocraticamente por
amplo espectro de intelectuais, políticos e agentes produtivos, no Brasil e no exterior. A postura
tecnocrática se caracteriza por produzir julgamento da sociedade de um ponto de vista que lhe é
exterior, por critérios que abrigam anseios técnicos, do que seria bom ou mau, melhor ou pior,
com o intuito de sobre ela atuar imputando, mesmo sem a relativização do diálogo – mediação da
compreensão e anuência dos atingidos –, o resultado do julgamento. Tal perspectiva tem levado
a enunciados binários e excludentes sobre a Amazônia e sua relação com o mundo: ou bem as
sociedades amazônicas e as do mundo são igualadas porque agregados de agentes portadores de
razões substantivas e rigorosamente equivalentes, ou são realidades antagônicas porque numas
prevalecem agentes racionais em contraponto inconciliável com os sujeitos irracionais que
compõem as outras.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
últimos, é meio de produção objetivamente percebido como “capital físico”, ativo genérico (NEI)
depreciável e substituível. O uso da “mata”, a qual só conhecem como matéria-prima para a produção
de madeira, é tão somente fase intermediária para chegar à “terra”. Entre essas, há perspectivas e
condições intermediárias que fazem o complexo matiz do agrário na região.
As propostas de remuneração por não desmatamento têm, nesse quadro, significados
correspondentemente diferenciados. Para os gestores da T2, que operam a “floresta em pé”, o custo
de oportunidade do desmatamento (a renda da preservação) não tem lógica: a renda do trabalho já
depende da preservação. Nesse universo, desmatar sem obediência aos critérios técnicos dos sistemas
adaptativamente construídos ao longo de gerações envolve riscos desmesurados, significando,
no limite, a perda do meio de vida. As políticas mencionadas levam, aqui, a uma remuneração
compensatória que não induz a nenhuma inovação – confirmam modos já existentes de produzir na
expectativa de fortalecê-los. Não há, contudo, garantias de que isso venha a acontecer, dado que tais
remunerações podem induzir, antes, a um assistencialismo que transforma produtores em rentistas.
E, assim transmutados, esses agentes, em sua nova dependência, virão a se fragilizar precisamente
no papel de guardiões da floresta, da qual objetivamente se afastarão e simbolicamente se alienarão.
O capítulo 10 revela a capacidade produtiva desses agentes e o momento ascendente que a trajetória
que protagonizam vivencia. Por outro lado, quando se trata dos detentores de “terras com mata”,
carentes de “terra nua” em modalidades legais e ilegais de acesso, os esquemas de compensação
centrados nos agentes e focados na renúncia à produção têm implicações submetidas a escrutínio no
subcapítulo 12.5.4. Mesmo na melhor situação que se pode antever, na qual uma política com esse
escopo pudesse alcançar todos os agentes relevantes e fazê-los cumprir os contratos, os efeitos no
Sudeste Paraense, se tal política lograsse sucesso reduzindo as emissões à metade em cinco anos,
seriam econômica e socialmente indefensáveis. A política seria um sucesso ecológico, ao mesmo
tempo que um rotundo fracasso econômico. Avançando na averiguação, nota-se que, mesmo para
essa que seria a hipótese otimista, a evolução da realidade pode criar contrariedades já por tensões
geradas na própria região. Com efeito, bastaria incorporar na simulação os investimentos da Vale até
2010, seus empreendimentos reais projetados, a dinâmica derivada, ampliando a massa de salários,
de lucros e impostos, e criando concatenações internas por expansão da demanda intermediária,
terminaria por anular os efeitos da política de contenção e expandir o balanço líquido de CO2. Mais
ainda: a situação otimista imaginada sofre contestação das tensões exógenas que se materializam
na região na forma de poder de compra, demandando “terras” que só existem como suporte de
“florestas”. A “produção” de “terras” para corresponder a isso constitui o principal processo por
trás dos desmatamentos, é autônoma, e, por se basear em métodos que se situam à margem da
institucionalidade formal, está fora do alcance de qualquer esquema de “contenção” orientado
à compensação de agentes privados. Funcionando o mercado de terras, serão inexoravelmente
fornecidos os elementos para repor as atividades no nível anterior ao esforço de contenção e, o mais
grave, nas mesmas bases tecnológicas. Nesse caso, não só os efeitos positivos da política seriam
anulados, como cresceriam as emissões líquidas de CO2. Tal fracasso ecológico seria, entretanto,
acompanhado do sucesso econômico, arregimentando vontades e adesões.
439
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa
4) A economia local, como sistema, com seus constitutivos, os APLs como constiuídos
e constituintes de trajetórias (como esclarecido no Capítulo 8), é o ponto de partida para conduzir
uma economia com base em bioma, baseada em novos produtos e serviços ambientais (de
gases prejudiciais ou da biodiversidade), conhecidos ou a descobrir, em que se incluem formas
de compensações por mercados ou por transações institucionais de governos ou de atores da
sociedade civil. Sobre isso versam, por reflexões entremeadas, os capítulos 11 e 12.
5) Permeia todo o capítulo 11 a ideia de que a eficiência, de qualquer dessas iniciativas
para o desenvolvimento, requer ações decisivas em relação a três prioridades de conhecimento:
conhecimento sobre o bioma e acesso direto a seus produtos e serviços; conhecimento para
transformação e regeneração de baixo impacto de cobertura secundária; conhecimento para a
transformação dos produtos do bioma e dos sistemas rurais de baixo impacto em mercadorias de
alto valor.
6) Por fim, as mediações institucionais (a propriedade fundiária e as formas de acesso
a recursos de capital e conhecimento) têm efeito sistêmico a serem adequadamente observados
se o propósito é a reorientação do desenvolvimento no rumo da equidade social e do equilíbrio
ecológico. A par da insistência na adequação dos aparatos produtores de conhecimento às
necessidades de fortalecimento das trajetórias virtuosas (na perspectiva do desenvolvimento
sustentável) e reorientação ou contençao das trajetórias criticáveis, a adequação do crédito a essa
estratégia e a contenção do mercado de terras, tal como observado nos capítulos 7 e 12, tornam-
se elementos cruciais. Paralelamente, estudos e ações para promover o mercado de serviços
ambientais associados às características dos sistemas camponeses diversos e permanentes.
441
Bibliografia
ANGELSON, B., BROWN, S., LPISEL, C., PESKETT, L. STRECK, C., ZARIN, D. (2009).
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the Pacificif Rim: Garment Trade and Manufacturing. In: GERIFFI, G. KORZENIEWICK, M.
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Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia
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Sempre uma boa impressão
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Impresso nas oficinas da GTR Gráfica e Editora,
em papel AP 75 no miolo e Duo Design 250 na capa.
IMAGEM DE FUNDO - FRACTAIS
O termo fractal foi criado por Benoît Mandelbrot,
matemático francês nascido na Polónia, que descobriu a
geometria fractal, a partir do adjetivo latino fractus, do
verbo frangere, que significa quebrar. Ele usou o termo
para descrever um objeto geométrico que nunca perde
a sua estrutura qualquer que seja a distância de visão.
São produzidos por meio de equações matemáticas que
podem ser interpretadas por formas e cores a partir de
aplicativos usados em ambientes virtuais. Sua principal
característica é a autossimilaridade. Eles contêm,
dentro de si, cópias menores deles mesmos. Essas
cópias, por sua vez, contêm cópias ainda menores e
assim sucessivamente.
IMAGENS DA CAPA
• Frutas da região amazônica
• Imagem ilustrativa de sistema agrícola amazônico
• Habitação de ribeirinhos
• Regatão (barcos típicos do comércio ribeirinho)
ELEMENTOS PARA UMA
Reinaldo Brito
ELEMENTOS PARA UMA ECONOMIA POLÍTICA DA AMAZÔNIA
ECONOMIA POLÍTICA
DA AMAZÔNIA
Historicidade, territorialidade, diversidade, Francisco de Assis Costa nasceu em 1948, em Pedro
Avelino, no Rio Grande do Norte, em cuja Universidade
sustentabilidade Federal graduou-se em Ciências Econômicas em
1971. Após especialização em Matemática (CECINE-
UFPE) e Planejamento (NAEA-UFPA), trabalhou
no Sistema Nacional de Planejamento Agrícola,
sendo coordenador técnico da Comissão Estadual de
Planejamento Agrícola do Pará (1978-1982). Orientado
pela Professora Maria Yedda Linhares obteve título de
Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
pelo Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Agrícola (CPDA) da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro em 1981. Doutorou-se em Economia
pela Freie Universität Berlin em 1988, na Alemanha
Federal. Iniciou carreira docente em 1989 na
Universidade Federal do Pará (UFPA), no Núcleo de
IMAGEM DE FUNDO - FRACTAIS Altos Estudos Amazônicos (NAEA) e no Departamento
O termo fractal foi criado por Benoît Mandelbrot, de História. Foi diretor de planejamento da Agência de
matemático francês nascido na Polónia, que descobriu a Desenvolvimento da Amazônia (2003-2005) e Diretor
geometria fractal, a partir do adjetivo latino fractus, do de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais
verbo frangere, que significa quebrar. Ele usou o termo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA
para descrever um objeto geométrico que nunca perde (2011-2012). É Professor Associado no Programa
a sua estrutura qualquer que seja a distância de visão. de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
São produzidos por meio de equações matemáticas que do Trópico Úmido do NAEA e do Programa de Pós-
podem ser interpretadas por formas e cores a partir de Gradução em Economia da Faculdade de Economia da
aplicativos usados em ambientes virtuais. Sua principal UFPA. É pesquisador ativo da Rede de Pesquisa em
característica é a autossimilaridade. Eles contêm, Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais
dentro de si, cópias menores deles mesmos. Essas (RedeSist, UFRJ) e da Rede Temática de Pesquisa
cópias, por sua vez, contêm cópias ainda menores e em Modelagem Ambiental da Amazônia (Projeto
assim sucessivamente. GEOMA). Bolsista de produtividade em pesquisa
do CNPq, foi Visiting Fellow no Centre for Brazilian
SÉRIE II
FUNDAMENTOS Studies (CBS) da Oxford University, Inglaterra (Hilary
TEÓRICO-
METODOLÓGICOS
e Trinity Terms, 2007). Orientou inúmeras teses e
detém vasta publicação acadêmica. Sua experiência
IMAGENS DA CAPA de pesquisa tem ênfase em economia agrária, história
• Frutas da região amazônica
• Imagem ilustrativa de sistema agrícola amazônico
• Habitação de ribeirinhos
2 SÉRIE II
econômica, desenvolvimento regional e relações entre
economia e sustentabilidade ambiental, destacando
o papel das inovações tecnológicas e institucionais,
• Regatão (barcos típicos do comércio ribeirinho) FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS sobretudo na Amazônia.
Livro 2
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