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Elementos para um Economia Política da Amazônia: Historicidade,


territorialidade, diversidade, sustentabilidade

Book · November 2012

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Francisco de Assis Costa


Federal University of Pará
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Quantificação de Biomassa Nativa e Secundária para o Financiamento do Desenvolvimento Regional no Estado do Pará. View project

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ELEMENTOS PARA UMA

Reinaldo Brito
ELEMENTOS PARA UMA ECONOMIA POLÍTICA DA AMAZÔNIA
ECONOMIA POLÍTICA
DA AMAZÔNIA
Historicidade, territorialidade, diversidade, Francisco de Assis Costa nasceu em 1948, em Pedro
Avelino, no Rio Grande do Norte, em cuja Universidade
sustentabilidade Federal graduou-se em Ciências Econômicas em
1971. Após especialização em Matemática (CECINE-
UFPE) e Planejamento (NAEA-UFPA), trabalhou
no Sistema Nacional de Planejamento Agrícola,
sendo coordenador técnico da Comissão Estadual de
Planejamento Agrícola do Pará (1978-1982). Orientado
pela Professora Maria Yedda Linhares obteve título de
Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
pelo Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Agrícola (CPDA) da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro em 1981. Doutorou-se em Economia
pela Freie Universität Berlin em 1988, na Alemanha
Federal. Iniciou carreira docente em 1989 na
Universidade Federal do Pará (UFPA), no Núcleo de
IMAGEM DE FUNDO - FRACTAIS Altos Estudos Amazônicos (NAEA) e no Departamento
O termo fractal foi criado por Benoît Mandelbrot, de História. Foi diretor de planejamento da Agência de
matemático francês nascido na Polónia, que descobriu a Desenvolvimento da Amazônia (2003-2005) e Diretor
geometria fractal, a partir do adjetivo latino fractus, do de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais
verbo frangere, que significa quebrar. Ele usou o termo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA
para descrever um objeto geométrico que nunca perde (2011-2012). É Professor Associado no Programa
a sua estrutura qualquer que seja a distância de visão. de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
São produzidos por meio de equações matemáticas que do Trópico Úmido do NAEA e do Programa de Pós-
podem ser interpretadas por formas e cores a partir de Gradução em Economia da Faculdade de Economia da
aplicativos usados em ambientes virtuais. Sua principal UFPA. É pesquisador ativo da Rede de Pesquisa em
característica é a autossimilaridade. Eles contêm, Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais
dentro de si, cópias menores deles mesmos. Essas (RedeSist, UFRJ) e da Rede Temática de Pesquisa
cópias, por sua vez, contêm cópias ainda menores e em Modelagem Ambiental da Amazônia (Projeto
assim sucessivamente. GEOMA). Bolsista de produtividade em pesquisa
do CNPq, foi Visiting Fellow no Centre for Brazilian
SÉRIE II
FUNDAMENTOS Studies (CBS) da Oxford University, Inglaterra (Hilary
TEÓRICO-
METODOLÓGICOS
e Trinity Terms, 2007). Orientou inúmeras teses e
detém vasta publicação acadêmica. Sua experiência
IMAGENS DA CAPA de pesquisa tem ênfase em economia agrária, história
• Frutas da região amazônica
• Imagem ilustrativa de sistema agrícola amazônico
• Habitação de ribeirinhos
2 SÉRIE II
econômica, desenvolvimento regional e relações entre
economia e sustentabilidade ambiental, destacando
o papel das inovações tecnológicas e institucionais,
• Regatão (barcos típicos do comércio ribeirinho) FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS sobretudo na Amazônia.
Livro 2
Reinaldo Brito
Francisco de Assis Costa nasceu em 1948, em Pedro
Avelino, no Rio Grande do Norte, em cuja Universidade
Federal graduou-se em Ciências Econômicas em
1971. Após especialização em Matemática (CECINE-
UFPE) e Planejamento (NAEA-UFPA), trabalhou
no Sistema Nacional de Planejamento Agrícola,
sendo coordenador técnico da Comissão Estadual de
Planejamento Agrícola do Pará (1978-1982). Orientado
pela Professora Maria Yedda Linhares obteve título de
Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
pelo Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Agrícola (CPDA) da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro em 1981. Doutorou-se em Economia
pela Freie Universität Berlin em 1988, na Alemanha
Federal. Iniciou carreira docente em 1989 na
Universidade Federal do Pará (UFPA), no Núcleo de
Altos Estudos Amazônicos (NAEA) e no Departamento
de História. Foi diretor de planejamento da Agência de
Desenvolvimento da Amazônia (2003-2005) e Diretor
de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA
(2011-2012). É Professor Associado no Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
do Trópico Úmido do NAEA e do Programa de Pós-
Gradução em Economia da Faculdade de Economia da
UFPA. É pesquisador ativo da Rede de Pesquisa em
Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais
(RedeSist, UFRJ) e da Rede Temática de Pesquisa
em Modelagem Ambiental da Amazônia (Projeto
GEOMA). Bolsista de produtividade em pesquisa
do CNPq, foi Visiting Fellow no Centre for Brazilian
Studies (CBS) da Oxford University, Inglaterra (Hilary
e Trinity Terms, 2007). Orientou inúmeras teses e
detém vasta publicação acadêmica. Sua experiência
de pesquisa tem ênfase em economia agrária, história
econômica, desenvolvimento regional e relações entre
economia e sustentabilidade ambiental, destacando
o papel das inovações tecnológicas e institucionais,
sobretudo na Amazônia.
Elementos para uma
Economia Política da Amazônia
Historicidade, territorialidade,
diversidade, sustentabilidade

Francisco de Assis Costa

Belém, 2012
Elementos para uma
Economia Política da Amazônia
Historicidade, territorialidade,
diversidade, sustentabilidade

Francisco de Assis Costa

Patrocinador do Projeto
COPYRIGHT © Francisco de Assis Costa, 2012

Conselho Editorial NAEA


ARMIN MATHIS
EDNA MARIA RAMOS DE CASTRO
FÁBIO CARLOS DA SILVA
JUAREZ CARLOS BRITO PEZZUTI
LUIZ EDUARDO ARÁGON
MARÍLIA FERREIRA EMMI
NIRVIA RAVENA
ORIANA TRINDADE DE ALMEIDA

Créditos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


Carlos Eduardo Maneschy - Reitor

NÚCLEO ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS


Armin Mathis – Diretor
Fábio Carlos da Silva – Vice Diretor
Oriana Trindade de Almeida – Coordenadora do PDTU
Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior – Coordenador PLADES

FUNDAÇÃO FORD
Apoio

AUTORIA DOS TEXTOS


Francisco de Assis Costa

REVISÃO
Marly Camargo Vidal

PROJETO GRÁFICO
Rose Pepe Produções e Design

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
S7ven Consultoria

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Biblioteca do NAEA/UFPA)

Costa, Francisco de Assis


Elementos para uma economia política da Amazônia: historicidade, territorialidade,
diversidade, sustentabilidade / Francisco de Assis Costa. – Belém: NAEA, 2012.

468 p.: il.; 23 cm. – (Coleção Economia Política da Amazônia. Série II-Fundamentos
teórico-metodológicos; v. 2).

Inclui bibliografias
ISBN: 978-85-7143-103-4

1. Economia rural - Amazônia. 2. Produtividade agrícola - Amazônia.


3. Sistemas agrícolas - Amazônia. 4. Desenvolvimento econômico.
5. Desenvolvimento sustentável. I. Título. II. Série.

CDD 22. ed. 338. 9009811


Habitação de ribeirinhos
Para Ioná:
Porto,
Rota,
Razão...
Apresentação

O Grupo de Pesquisa “Dinâmica Agrária e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia”,


do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (GP-DadesaNaea), vem há anos desenvolvendo
estudos que compõem uma ampla abordagem interdisciplinar da Amazônia. No esforço, enfatiza
a diversidade estrutural e as configurações urbano-rurais que caracterizam as economias locais
e realça o papel do conhecimento e da qualidade das instituições no desenvolvimento regional.
Mais recentemente, tem procurado integrar esses elementos com as questões associadas às
mudanças climáticas e aos mercados de commodities ambientais em formação.
Com a ajuda da Fundação Ford, o GP-DadesaNaea começa a organizar sua produção
em cinco séries, cada uma com numeração própria, a saber: Série I “Termos de Referência e
Avaliações”; Série II “Fundamentos Teóricos e Metodológicos”; Série III “Formação Histórica”;
Série IV “Dinâmica Contemporânea” e Série V “Indicações Prospectivas”. O conjunto das séries
conforma a Coleção “Economia Política da Amazônia” (CEPA). São três os propósitos principais
da CEPA: 1) compor a produção do GP, que flui em artigos e em relatórios parciais, em livros
que permitam uma visão mais integral da abordagem coletiva (funções dos livros); 2) compor em
dimensões (teórica, histórica, metodológica) a produção organizada em livros (função das séries);
3) compor uma visão multidimensional do objeto do esforço, o desenvolvimento da região e suas
sociedades (função da coleção). Por sua vez, a Série I tem por fim abrigar textos seminais e de
aprimoramento do trabalho do grupo, de modo que contribuições críticas externas ao grupo ai
terão lugar.
Este é o Livro 2 da Série II “Fundamentos Teóricos e Metodológicos”. O livro tem
três partes, a primeira faz uma introdução à dinâmica agrária na Amazônia, a segunda discute
a propriedade de tratar tal dinâmica, com a diversidade estrutural e situacional que a ela
subjaz, com base na noção de trajetória tecnológica, e a terceira apresenta como a noção de
trajetória em articulação com noções de aglomeração, como arranjos produtivos e economias
locais, permite um leitura territorial de grandes questões do desenvolvimento sustentável
e inclusivo. O trabalho resulta de pesquisas realizadas nos últimos dez anos, no âmago
de diferentes projetos e cooperações. No todo, contamos com a parceria do Ministério do
Meio Ambiente (MMA), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), do Centro
de Estudos e Gestão Estratégica (CGEE) e da Companhia Vale do Rio Doce (VALE). Muito
do que aqui se encontra resultou da nossa participação no projeto Studies on Human Impact
on Forest and Foodplains in the Tropics (Projeto SHIFT), onde atuamos em cooperação com
o programa Tipitamba, da Embrapa, na Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos
e Inovativos Locais (RedeSist, UFRJ) e na colaboração com a Rede Temática de Pesquisa
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

em Modelagem Ambiental da Amazônia (Projeto GEOMA), dos institutos do Ministério de


Ciência e Tecnologia.
Contamos com o apoio permanente do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA-
UFPA), onde, ademais, privamos do convívio, essencial para a maturidade de muitas das discussões
aqui encaminhadas, com os colegas, alunos e orientados do Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido e do Grupo de Pesquisa Dinâmica Agrária e
Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (GP-DadesaNaea), no qual tiveram papéis destacados:
Cleidianne Novais, Danilo Fernandes, Fernanda Moreira, Inailde Almeida, José de Alencar Costa,
Jochen Dürr, Luis Gonzaga Feijão, Karen Nogueira, Maria do Carmo Américo, Nicola Tancredi,
Ricardo Santos, Sebastião Aluízio Solyno e Wanderlino Andrade.
A Fundação Ford garantiu os recursos necessários à publicação, desde o projeto gráfico
até a impressão. O que, todavia, não teria acontecido a bom termo sem a dedicação e competência
de Rose Pepe, Maria Ataíde Malcher e Marly Vidal.

Belém do Pará, outubro de 2012

10
Regatão (barcos típicos do comércio ribeirinho)
Lista de Gráficos

Gráfico 1.2.4-1 Evolução da participação dos financiamentos do FNO para pecuária e 54


para culturas permanentes (Nota Metodológica 1), 1990 a 2000
Gráfico 1.2.4-2 Evolução da participação dos financiamentos do FNO por porte/tipo do 54
beneficiário (Nota Metodológica 2), 1990 a 2000
Gráfico 1.2.4-3 Evolução dos repasses anuais, dos contratos de crédito e do disponível 55
(Nota Metodológica 3), em comparação com a evolução do valor
percentual dos créditos contratados em relação ao disponível (taxa de
eficiência bancária) do FNO, 1990 a 2000
Gráfico 2-1 Evolução do Valor Bruto do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2006 66
(Médias trianuais)
Gráfico 2.1-1 Evolução das macrovariáveis do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 68
2006 (Médias trianuais)
Gráfico 2.1-2 Evolução das macrovariáveis do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 69
2006 (Médias trianuais)
Gráfico 2.2-1 Evolução do uso do estoque de terras apropriadas até 1995 pelos agentes 71
do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2006 (Médias trianuais)
Gráfico 2.2-2 Evolução do número de trabalhadores no setor rural da Região Norte, 72
1990 a 2006 (Médias trianuais)
Gráfico 2.3-1 Evolução de Macrofundamentos do Setor Rural na Região 74
Norte,perspectiva macro, 1990 a 2006 (Médias trianuais, valores em R$
constantes de 2005)
Gráfico 3.1.3-1 Terras Utilizadas em Descanso e Agricultáveis não Utilizadas no Censo 82
Agropecuário, por tipo de agente, 1995-1996
Gráfico 3.2.2-1 Proporção (%) do rebanho associada à escala média (cabeças por 89
estabelecimento) e a intensidade (cabeça por hectare) da pecuária
bovina na Região Norte, em 1995
Gráfico 3.3.1-1 Remuneração do patromônio total (pay backs em %) e rendimento por 97
hectare (R$/Ha) para diferentes escalas de produção e diferentes níveis
tecnológicos para a Amazônia e para o restante do Brasil, em 2003.
Gráfico 3.3.2-1 Evolução do balanço líquido entre emissão e sequestro de carbono na 99
economia agrária da Amazônia, 1990 a 2005
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 3.3.2-2 Evolução dos vetores de emissão de carbono na economia agrária da 99


Amazônia, 1990 a 2005 (valores acumulados)
Gráfico 3.3.2-3 Evolução dos vetores de sequestro de carbono na economia agrária da 100
Amazônia, 1990 a 2005 (valores acumulados)
Gráfico 4-1 Evolução do estoque de áreas degradadas e de emissão líquida de CO2 104
do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2007 (Médias trianuais)
Gráfico 4-2 Evolução das emissões líquidas acumuladas de CO2 por hectare 105
(Entropia Inerente Iε a partir do balanço de carbono) e rendimento por
tonelada de CO2 (COSε e COPε a partir do balanço de carbono) no
Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2007 (Médias trianuais)
Gráfico 4-3 Evolução da proporção das áreas degradadas (capoeiras-sucata) 105
por área utilizada (Entropia Inerente Iε a partir da degradação da
biodiversidade) e rendimento por áreas degradadas (COSε e COPε
a partir da degradação da biodiversidade) no Setor Rural na Região
Norte, 1990 a 2007 (Médias trianuais)
Gráfico 6.3.7-1 Evolução do Produto Real das combinações C de grupos de produtos da 151
forma de produção patronal – 1995-2004 (números índices, 1995=100)
Gráfico 6.3.7-2 Evolução do Produto Real das “Combinações C de Grupos de Produtos” 151
da forma de produção camponesa – 1995-2004 (números índices,
1995=100)
Gráfico 6.5-1 Evolução do Valor Bruto da Produção Rural(VBPR) da Região Norte 158
decomposto pelas trajetórias tecnológicas fundamentais, 1995-2007,
Reais constantes de 2005.
Gráfico 6.6.1-1 Composição da produção dos estabelecimentos Trajetória-Patronal.T4 162
definidos pelos dados do censo de 1995, acomponhada a montante e a
juzante desse ponto: participação relativa dos grupos de produtos no
Valor Bruto da Produção e Índice de Diversidade, 1990 a 2006 (Médias
trianuais)
Gráfico 6.6.1-2 Evolução da Trajetória-Patronal.T4, dominada por pecuária de corte, 163
com emergência do Trajetória-Patronal.T7, dominada pelas culturas
temporárias (com predominância de soja), na Região Norte: (Médias
trianuais, R$ constantes de 2005)
Gráfico 6.6.1-3 Evolução da Trajetória-Patronal.T4, dominada por pecuária de corte, 164
com emergência do Trajetória-Patronal.T7, dominada pelas culturas
temporárias (com predominância de soja): Eficiência dos fatores, 1990
a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)
Gráfico 6.6.1-4 Evolução da Trajetória-Patronal.T4, dominada por pecuária de corte, 165
com emergência do Trajetória-Patronal.T7, dominada pelas culturas
temporárias (com predominância de soja): Relação Terra/Trabalho,
1990 a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)

14
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 6.6.1-5 Evolução da Trajetória-Patronal.T4, dominada por pecuária de corte, 166


com emergência do Trajetória-Patronal.T7, dominada pelas culturas
temporárias (com predominância de soja): Decomposição da eficiência
econômica da terra em custo de oportunidade da entropia (Y/CO2) e
grau de entropia inerente (CO2/A) , 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$
constantes de 2005)
Gráfico 6.6.1-6 Evolução da Trajetória-Patronal.T4, dominada por pecuária de corte, 167
com emergência do Trajetória-Patronal.T7, dominada pelas culturas
temporárias (com predominância de soja): Decomposição da eficiência
econômica da terra em custo de oportunidade da entropia ( Y ACs ) e
grau de entropia inerente ( ACs A ) , 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$
constantes de 2005)
Gráfico 6.6.1-7 Ocorrência territorial da Trajetória-Patronal.T4 e Trajetória-Patronal. 168
T7, medida pela participação relativa no VBPR, 1990 a 2006
Gráfico 6.6.2-1 Evolução do Custo de Oportunidade da Entropia e da Entropia Inerente 169
da Trajetória-Patronal.T5, na Região Norte, comparativamente à T4 e a
T7, 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005
Gráfico 6.6.2-2 Evolução do Valor Bruto da Produção Rural da Trajetória-Patronal.T5, 170
dominada por culturas permanentes, na Região Norte, comparativamente
à T4 e à T7, 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)
Gráfico 6.6.2-3 Ocorrência da Trajetória-Patronal.T5 medida pelo VBPR, R$ constantes 171
de 1995
Gráfico 6.6.3-1 Evolução da Trajetória-Patronal.T6, Silvicultura na Região Norte: 172
Fatores de produção aplicados, Renda Líquida, Remuneração dos
Fatores e Relação Terra/Trabalho, 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$
constantes de 2005)
Gráfico 6.6.3-2 Evolução da Trajetória-Patronal.T6, silvicultura, na Região Norte: 173
decomposição da eficiência econômica da terra em custo de oportunidade
da entropia, 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)
Gráfico 6.6.3-3 Ocorrência da Trajetória-Patronal.T6, silvicultura, medida pelo VBPR, 173
1995
Gráfico 6.6.4-1 Evolução do Valor Bruto da Produção Rural da Trajetória-Camponês. 174
T2, dominada por Sistemas Agroflorestais, na Região Norte,
comparativamente à T1 e a T3, 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$
constantes de 2005)
Gráfico 6.6.4-2 Evolução da Rentabilidade Líquida do Trabalho e da Relação Terra/ 175
Trabalho da de todas as trajetórias camponesas na Região Norte, 1990
a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)

15
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 6.6.4-3 Evolução da Custo de Oportunidade da Entropia e da Entropia Inerente 176


das trajetórias camponesas, na Região Norte, 1990 a 2006 (Médias
trianuais, R$ constantes de 2005
Gráfico 6.6.4-4 Ocorrência da trajetória T1 .Camponês Permanente e Leite medidada 177
pelo VBPR, 1995 a 2006
Gráfico 6.6.5-1 Composição da Trajetória-Camponesa.T2, dominada por sistemas 178
agroflorestais, na Região Norte: participação relativa dos grupos de
produtos do Valor Bruto da Produção e Índice de Diversidade, 1990 a
2006 (Médias trianuais)
Gráfico 6.6.5-2 Ocorrência da Trajetória-Camponesa.T2 Agroflorestal medida pelo 179
VBPR, 1995
Gráfico 6.6.6-1 Composição da Trajetória-Camponesa.T3, convergente para pecuária 180
de corte, na Região Norte: participação relativa dos grupos de produtos
do Valor Bruto da Produção e Índice de Diversidade, 1990 a 2006
(Médias trianuais)
Gráfico 6.6.6-2 Ocorrência da Trajetória-Camponesa.T3: Pecuária de corte medida 181
pelo VBPR, 1995
Gráfico 6.6.7-1 Confronto das estruturas relativas do VBPR, baseadas nas trajetórias 182
tecnológicas do setor rural na Região Norte, resultantes dos dados
definitivos do Censo Agropecuário de 2006 e das estimativas
Gráfico 7.1.1-1 Risco de lock-in das diversas trajetórias do setor rural na Amazônia: dn 188
ponderado por Valor Bruto da Produção Rural (VBPR) e por Área Total
Agricultada (AT), 1990 a 2005, médias trianuais
Gráfico 7.1.2-1 Regimes de Crescimento das trajetórias do Setor Rural da Região Norte: 193
Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais
Gráfico 7.1.2-1 Regimes de Crescimento das trajetórias do Setor Rural da Região 194
Norte: Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais
(Continuação)
Gráfico 7.1.2-1 Regimes de Crescimento das trajetórias do Setor Rural da Região 195
Norte: Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais
(Continuação)
Gráfico 7.2-1 Padrões de Concorrência entre as trajetórias em torno dos fundamentos 202
do Setor Rural da Região Norte:PadConcki Evolução dos determinantes,
1990 a 2006, médias trianuais (Continua)
Gráfico 7.2-1 Padrões de Concorrência entre as trajetórias em torno dos fundamentos 203
do Setor Rural da Região Norte:PadConcki (Continuação)
Gráfico 7.2-1 Padrões de Concorrência entre as trajetórias em torno dos fundamentos 204
do Setor Rural da Região Norte:PadConcki (continuação)

16
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 7.3.1-1 Evolução das necessidades de Áreas Agricultadas em Operação (AO) 207
das diferentes trajetórias do Setor Rural da Região Norte, 1990 a 2006
(médias trianuais)
Gráfico 7.3.1-2 Evolução das necessidades de fundamentos naturais das diferentes 209
trajetórias do Setor Rural da Região Norte, 1990 a 2006 (médias
trianuais)
Gráfico 7.3.1-3 Participação das áreas com floresta originária nos estabelecimentos, 210
por trajetória, Região Norte (1995-1996)
Gráfico 7.3.1-4 Estrutura Fundiária da Região Norte a Partir dos dados do Censo 212
Agropecuário de 1995-96
Gráfico 7.3.1-5 Condição de acesso ao total de recursos fundiários, Estado do Pará 212
(2003)
Gráfico 7.3.1-6 Mercado de terras na Região Norte: evolução e relação dos preços de 216
mata, pasto e terra agrícola, 2001 a 2007 (preços em R$ corrigidos para
2007)
Gráfico 7.3.1-7 Terras desapropriadas pelo INCRA para efeito de reforma agrária na 220
Região Norte (1990 a 2002)
Gráfico 7.3.2-1 Evolução do relação entre o crédito rural e o Valor Bruto da Produção 221
Agropecuária e da Renda Líquida do Setor Rural da Região Norte, 1993
a 2004
Gráfico 7.3.2-2 Evolução do Índice de Densidade Institucional a Partir do Crédito 223
(IDIC) para as diferentes trajetórias do Setor Rural da Região Norte,
1993 a 2004
Gráfico 7.4-1 Características das trajetórias tecnológicas rurais na Região Norte 232
Gráfico 9-1 Composição das Mesorregião por Trajetórias Tecnológicas (Baseada na 277
média do VBPR de 2004 a 2006)
Gráfico 10.1.1-1 Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos 285
camponeses por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009
Gráfico 10.1.1-2 Composição da Renda Líquida do Estabelecimento em 2006, por 286
situação reprodutiva (% da Renda Líquida do Estabelecimento)
Gráfico 10.1.2-1 Renda Média per Capita mensal e proporção no total de estabelecimentos 287
camponeses na Trajetória-Camponesa.T1, por Condição Reprodutiva,
1995 e 2006, R$ de 2009
Gráfico 10.1.2-2 Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos 288
Camponeses na Trajetória-Camponesa.T3, por Condição Reprodutiva,
1995 e 2006, R$ de 2009
Gráfico 10.1.2-3 Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos 289
Camponeses Na Trajetória-Camponesa.T2, por condição reprodutiva,
1995 e 2006, R$ de 2009

17
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 10.2-1 Saldo da mobilidade entre trajetórias nos estabelecimentos que 291
mantiveram a situação reprodutiva entre os censos 1995 e 2006, Região
Norte (Estabelecimento-Domicílio))
Gráfico 10.2-2 Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva 292
consistentemente Acima da Média por Mesorregião, Região Norte, 1995
e 2006 (quantidade, por ordem decrescente em 2006)
Gráfico 10.2-3 Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva 292
consistentemente Remediados e por Mesorregião, Região Norte, 1995 e
2006 (quantidade, por ordem decrescente em 2006)
Gráfico 10.2-4 Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva 293
consistentemente Sob Risco por Mesorregião, Região Norte, 1995 e
2006 (quantidade, por ordem decrescente em 2006)
Gráfico 10.2-5 Grupos nas trajetórias em mobilidade (Número de Estabelecimento- 295
Domicílio)
Gráfico 10.2-6 Estabelecimentos-Domicílios camponeses em Mobilidade Descendente 295
por Mesorregião, 1995 e 2006 (quantidade em 2006)
Gráfico 10.2-7 Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva 296
Mobilidade Ascendente por Mesorregião, Região Norte, 1995 e 2006
(quantidade, por ordem decrescente em 2006)
Gráfico 10.3.2-1 Síntese da mobilidade entre trajetórias e situações reprodutivas 302
Gráfico 10.3.2-2 Relação entre especialização e diversidade, com situação reprodutiva 305
da trajetórias da T1, Região Norte, 2006
Gráfico 10.3.2-3 Evolução do preço do leite na Região Norte, 1995 a 2009, R$ constantes 307
de 2009
Gráfico 10.3.2-4 Proporção da pecuária de corte no VBP dos sistemas da T3, Região 308
Norte
Gráfico 10.3.2-5 Evolução do preço de arroba da carne na Região Norte, 1998 a 2009, 309
R$ de 2009
Gráfico 10.3.4-1 Disposição para mudar nas Trajetórias e Condições Reprodutivas, 1995 312
e 2006 ( Investimentos Totais sobre Renda Líquida, %)
Gráfico 10.3.4-2 Relação da Política de Crédito com os Investimentos nos Estabelecimentos 312
camponeses, por Trajetória e Condição Reprodutiva, 1995 e 2006
Gráfico 10.3.4-3 Relação da Política de Crédito com os Investimentos camponeses, nas 313
Trajetórias e Condições Reprodutivas
Gráfico 10.4.1-1 Renda Média Per Capita Mensal das Famílias dos Assalariados dos 314
Estabelecimentos Patronais por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006,
R$ de 2009
Gráfico 10.4.2-1 Distribuição dos Assalariados nas Mesorregião por Situação Reprodutiva 315

18
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 11.1.2-1 Evolução da implantação das empresas da amostra 321


Gráfico 11.2-1 Market share dos diversos tipos e tamanhos das empresas do APL 323
Frutas-NePa (% do faturamento globa)
Gráfico 11.3.3-1 Evolução dos índices de preços pagos aos produtores, da produção 328
extrativa e de pantio do açaí, 1990-1996 (índices para 1996 = 100)
Gráfico 12.2.3-1 Evolução do VBP e VA total (A), do VA por economia (B), do VA por 384
setores da Economia Local-SudestePa (C), do VA por setores alfa da
produção rural (D), do VA por APLs na Economia Local-SudestePa (E)
e da participação respectiva na EBPα-SudestePa (F)
Gráfico 12.2.3-2 Evolução do Emprego total (A), do Emprego por economia (B), do 385
Emprego por setores da Economia Local-SudestePa (C), do Emprego
por setores alfa da produção rural (D), do Emprego por APLs na
Economia Local-SudestePa (E) e da participação respectiva na EBPα-
SudestePa (F)
Gráfico 12.2.3-3 Evolução do Produtividade total (A), do Produtividade por economia 386
(B), do Produtividade por setores da Economia Local-SudestePa (C), do
Produtividade por setores alfa da produção rural (D), do Produtividade
por APLs na Economia Local-SudestePa (E) e da participação respectiva
na EBPα-SudestePa (F)
Gráfico 12.2.3-4 Modelo de multiplicador da base ampliado 390
Gráfico 12.2.3-5 Evolução do VA, da Propensão a Consumir e da Base de Exportação 391
(A) e equilíbrios entre Base de Exportação e Renda para as equações
ajustadas para da EBPα-SudestePa (B)
Gráfico 12.2.4-1 Evolução dos Índices Setoriais de Aglomeração e dos Multiplicadores 396
dos APLs associados à produção primária (A e B), dos setores urbanos
(C e D) e do total da economia local (E e F)
Gráfico 12.2.4-2 Evolução dos principais produtos do setor rural da EBPα-SudestePa 397
Gráfico 12.2.4-3 Variação na estrutura das matrizes Qvij de pecuária de corte e de leite 398
entre 1995 e 2004
Gráfico 12.3.1-1 Multiplicadores Setoriais de Produto da Economia Alfa do Sudeste 402
Paraense, 2004
Gráfico 12.3.1-2 Retenção (%) dos multiplicadores de impacto setoriais da Economia 403
Alfa do Sudeste Paraense, 2004
Gráfico 12.3.1-3 Efeito de Transbordamento dos multiplicadores setoriais de produto (%) 403
da Economia Alfa do Sudeste Paraense, 2004
Gráfico 12.4.1-1 Evolução do Valor Bruto da Produção Rural e das Terras Agricultradas 411
Total das Trajetória Tecnológicas do Setor Rural no Sudeste Paraense
Gráfico 12.4.4-1 Quatro exercícios de impacto de esquemas de compensação para 418
redução da emissão líquida de CO2 na economia do Sudeste Paraense

19
Lista de Tabelas

Tabela 1.2.3-1 Configuração do setor rural na Região Norte por estados e formas de 51
produção em 1995-96
Tabela 1.2.3-2 Características das unidades estruturais que fundamentam a economia de base 52
agrária da Região Norte (distribuição do valor bruto da produção por atividades,
indicadores da produtividade e relação terra/trabalho em 1995-96).
Tabela 3.2.1-1 As diversas formas de capoeira na Região Norte, seu contexto técnico e 88
forma de produção, 1995-96 (Ha)
Tabela 3.2.3-1 Evolução da área plantada com culturas temporárias1 e permanentes2 e 91
do rebanho bovino3 da Região Norte como indexadores dos fundamentos
da economia agrária, 1989-2005 (Índices para 1995 = 1)
Tabela 3.2.3-2 Áreas por usos e modos de produção, inclusive capoeiras, 1990-2005, 92
em ha.
Tabela 3.3-1 Evolução dos componente dos balanços anuais de emissão de carbono 94
na Região Norte por por usos e modos de produção, 1990-2005, em t.
Tabela 6.3-1 Classes dos grupos de produtos e expectativa quanto às formas respectivas 136
de participação nas trajetórias tecnológicas subjacentes
Tabela 6.3.4-1 Coeficientes b das regressões, atributos associados de qualificação 142
dos grupos de produtos, cargas fatoriais das combinações de grupos de
produtos relativos às estruturas camponesas e patronais na Região Norte
Tabela 6.3.5-1 Distribuição geográfica de ocorrência das combinaçãoes C de grupos 147
de produtos observada pela distribuição percentual do VBP por
mesorregiões e estados
Tabela 6.3.5-2 Composição da produção oriunda das combinaçãoes C de grupos de 147
produtos observadas pela distribuição percentual do VBP por grupos de
produtos e atividades
Tabela 6.3.6-1 Índice de densidade institucional1 das combinaçãoes C de grupos de 148
produtos por mesorregiões e estados
Tabela 6.3.7-1 Números Índices da evolução do Produto Real dos grupos de produtos – 150
Região Norte, 1995 a 2004 ( 1995=1)
Tabela 6.4-1 Características das Trajetórias Tecnológicas prevalecentes no setor 153
rural da Região Norte
Tabela 7.1.1-1 Evolução das Trajetórias Tecnológicas no setor rural da Região Norte 189
–Valor Bruto da Produção Rural (VBPR)
Tabela 7.1.1-2 Regimes de Crescimento das Trajetórias – Elementos de sínteses 196
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 7.2-1 Correlações de Pearson entre os IPs das Trajetórias Tecnológicas no 199
setor rural da Região Norte
Tabela 7.2-2 Indicadores de cooperação, competição e padrão de concorrência das 200
Trajetórias Tecnológicas no setor rural da Região Norte
Tabela 7.3.1-1 Fontes do asservo de terras (AT) das trajetórias tecnológicas em 2006, 214
considerando a posição do estabelecimento em 2006
Tabela 7.3.1-2 Mercado de terras na Região Norte entre os 1995 e em 2006 217
Tabela 7.3.1-3 Participação da Trajetória-Patronal.T4 no Mercado de terras na Região 218
Norte entre os 1995 e em 2006
Tabela 7.3.1-4 Participação da Trajetória-Patronal.T7 no Mercado de terras na Região 219
Norte entre os 1995 e em 2006
Tabela 7.3.3-1 Evolução da produção de P&D agropecuária por temática – 1995 a 2005 229
Tabela 7.3.3-2 Os quadros do sistema Embrapa em 1995 e em 2006 230
Tabela 9-1 Evolução da Estrutura Relativa de Variáveis Fundamentais do Setor 279
Rural por mesorregiões da Região Nortes
Tabela 9-2 Estrutura do Setor Rural da Região Norte considerando as Trajetórias 280
Tecnológicas por Mesorregião (Baseada na média do VBPR de 2004 a 2006)
Tabela 10.2-1 Mobilidade Inter-Trajetórias e condição reprodutiva estabelecimentos- 291
domicílios camponeses entre 1995e 2006 (número absoluto)
Tabela 10.3.1-1 Os determinantes internos da RLPpc: dotação de recursos e capacidades 298
dos grupos de estabelecimentos-domicílios.
Tabela 10.4.2-1 Situação Reprodutiva dos Assalariados por Trajetórias Tecnológica 315
Patronais
Tabela 11.3.2-1 evolução da produção extrativa, agrícola e total de açaí1, por região, 327
1996-2001 (em kg)
Tabela 12.1.2-1 Tabela 12.1.2-1.Variáveis de elevada concentração (Índice de Gini para 350
todos os municípios do Sudeste Paraense
Tabela 12.1.2-2 Coeficiente de Correlação de Pearson das variáveis com Gini superior a 353
0,5 ordenadas pela média dos coeficientes com todas as outras variáveis,
1995-96
Tabela 12.1.2-3 Resultados da regressão do LN da População Urbana como variável 354
dependente do LN das demais variáveis escolhidas
Tabela 12.1.2-4 Resultados da regressão da Pessoal Ocupado na Indústria como variável 355
dependente das demais variáveis escolhidas
Tabela 12.1.2-5 Resultados da regressão do Pessoal Ocupado no Comércio como variável 356
dependente das demais variáveis escolhidas
Tabela 12.1.2-6 O fator principal da análise fatorial das variáveis básicas do Sudeste 358
Paraense
Tabela 12.1.2-7 Scores dos Fatores Polaridade e Ruralidade para o Sudeste Paraense – 359
Massa dos Municípios
Tabela 12.1.2-8 Cargas dos potenciais de atração dos principais centros polarizadores 360
do Sudeste Paraense

22
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Tabela 12.2.2-1 Estrutura da Economia de Base Primária do Sudeste Paraense em 1995. 380
Matriz de Insumo-Produto CSα em R$ 1.000.000 constantes de 2005).
Tabela 12.2.2-2 Estrutura da Economia de base primária do Sudeste Paraense em 2004. 381
Matriz de Insumo-Produto CSα em R$ 1.000.000 constantes de 2005
Tabela 12.2.4-1 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leontief) da Sudeste Paraense com 393
base na Matriz de Insumo-Produto CSα em 1995
Tabela 12.2.4-2 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leontief) da Sudeste Paraense com 394
base na Matriz de Insumo-Produto CSα em 2004
Tabela 12.3-1 Programação de investimentos e ampliação da produção mineral pela 400
CVRD no Sudeste Paraense (R$ 1.000 de 2005)
Tabela 12.3.2-1 Impactos e efeitos dos investimentos e da expansão do produto do setor 405
mineral sobre a economia local do Sudeste Paraense e transbordamentos
para o resto do Estado do Pará e do Brasil: 2004 a 2010 (a preços
constantes de 2004)
Tabela 12.4.1-1 Evolução do Valor Bruto da Produção e das Terras Totais Agricultadas 412
das Trajetória Tecnológicas do Setor Rural no Sudeste Paraense, 1990 a
2006, em R$ de 2007
Tabela 12.4.3-1 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leon-Tief) da Sudeste Paraense 415
com base na Matriz de Insumo-Produto CSα em 2004, incorporando o
mercado de terras.
Tabela 12.4.4-1 Diversas condições de compensação por redução nas emissões de 416
carbono no Sudeste Paraense como variações na demanda final de 2004
(em R$ milhões de 20005)
Tabela 12.4.4-2 Variações nas variáveis-chaves da economia do Sudeste Paraense produzidas 418
por operações de compensação por redução de emissão de CO2
Tabela 12.4.4-3 Estimativa do Mercado de terras no Sudeste Paraense entre 1995 e 2004, 420
a preços de 2007
Tabela 12.5-1 Programação de investimentos e previsão dos custos de operação e 425
receitas para dois ciclos de implantação do ParáFlorestas
Tabela 12.5-2 Estrutura resumida dos custos de produção do ParáFlorestas para os 425
momentos intermediário e final da implantação.
Tabela 12.5.1-1 Estrutura da Economia de Base Agrária da Microrregião Paragominas. 427
Matriz de Insumo-Produto CSα em 2005 – Ano0 do ParáFlorestas, em R$
1.000.000 correntes
Tabela 12.5.3-1 Estrutura da Economia de Base Agrária da Microrregião Paragominas. 430
Matriz de Insumo-Produto CSα no Ano6 do ParáFlorestas, valores de
referência de 2005
Tabela 12.5.4-1 Estrutura da Economia de Base Agrária da Microrregião Paragominas. 431
Matriz de Insumo-Produto CSα no Ano13 do ParáFlorestas, valores de
referência de 2005
Tabela 12.5.5-1 Resumo dos impactos do ParáFlorestas nas variáveis fundamentais 433
da economia de base agrária da Microrregião Paragominas e seus
desdobramentos extra-locais

23
Lista de Figuras

Figura 5.5.3-1 Diferenças na adoção de procedimentos em competição: trajeto aleatório 127


com barreiras de absorção em movimento, em função de r e s
Figura 6.1-1 Fundamentos da diversidade de agentes no setor rural da Amazônia 132

Figura 8.4.3-1 ASPIL e Trajetórias: Trajetórias alfa de base local se relaciona com 257
trajetórias beta, extra local para constituir um ASPIL. Este é a expressão
local de uma trajetória tecnológica de expressão maior que o local.
Figura 8.4.6-1 Trajetórias tecnológicas e cadeias de valor 261

Figura 8.4.7-1 Economias locais e suas transcendências 263


Sumário

Prefácio �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 31

Prólogo �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 35

Parte I
Introdução à economia rural contemporânea da Amazônia ���� 43

Capítulo 1: Formação do contexto institucional e expressões da diversidade de


sujeitos e estruturas ���������������������������������������������������������������������������������������������������� 45

Capítulo 2: Dinâmica recente: expressões econômicas e fundamentos (1990-2007) ������ 65

Capítulo 3: Dinâmica recente: fundamentos técnicos e expressões ambientais �������� 76

Capítulo 4: Dinâmica recente: relações economia e natureza - entropia ���������������� 104

Parte II
Fundamentos estruturais da dinâmica agrária na Amazônia:
Modos de Produção e Trajetórias Tecnológicas ���������������������������� 109

Capítulo 5: Diversidade estrutural, inovação e desenvolvimento���������������������������� 111

Capítulo 6: Diversidade estrutural e trajetórias tecnológicas: uma delimitação


empírica �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 130

Capítulo 7: Trajetórias tecnológicas na Amazônia: regimes de crescimento,


padrões de concorrência e institucionalidade ��������������������������������������������������������� 183
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Parte III
Fundamentos da dinâmica espacial na Amazônia: Sistemas
Agrários, Arranjos Produtivos e economias locais ���������������������� 237

Capítulo 8: A constituição da problemática do espaço na economia: sua dupla


condição de objeto de teorização e de ação, de ciência e de planejamento ������������ 239

Capítulo 9: Trajetórias tecnológicas e sistemas agrários ���������������������������������������� 275

Capítulo 10: Trajetórias tecnológicas, sistemas agrários e condições


reprodutivas de estruturas e sujeitos da produção rural – um problematização do
desenvolvimento endógeno, sustentável e inclusivo da Amazônia ��������������������������� 281

Capítulo 11: Trajetórias tecnológicas, sistemas agrários e arranjos produtivos


locais: o Apl de processamento de frutas da região polarizada por Belém ������������� 318

Capítulo 12: Sistemas agrários, arranjos produtivos e economia local: estrutura e


dinâmica do Sudeste Paraense ��������������������������������������������������������������������������������� 339

Epílogo��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 435

Bibliografia ��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 443

28
Prefácio

Existem muitas maneiras de reconhecer a qualidade e importância de uma obra acadêmica:


arcabouço teórico, base empírica, originalidade da narrativa e inserção na literatura mais ampla.
Em todos estes sentidos, Francisco de Assis Costa nos apresenta um verdadeiro ‘tour de force’
em Elementos para uma Economia Política da Amazônia. Falta-me a mesma eloqüência da sua
narrativa para fazer jus a obra que esta nota antecede.
Como deixa claro desde o início, assim como através da sua carreira, sua preocupação é
pensar, entender e discutir a realidade amazônica visando influenciar a sua transformação, mais
específicamente a transformação da lógica econômica vigente e de políticas públicas influenciando
o futuro da região. Francisco Costa confronta de frente as incoerências frequentes nas discussões
correntes sobre sustentabilidade da Amazônia.
É uma honra poder prefaciar este livro. Francisco Costa pertence a uma categoria própria
de pesquisadores e pensadores da história econômica e das transformações sociais e ambientais
da região amazônica. Em particular, Francisco Costa é referência obrigatória sobre formação
e trajetória da economia agrária e de recursos naturais da região. São estas qualidades que ele
traz neste livro, uma reflexão calcada em um programa de pesquisa de longo prazo, o qual vem
desenvolvendo consistentemente desde os fins dos anos 70. Uso o termo ‘programa’ em um
sentido amplo, referindo-me não somente a sua obra, mas a sua dedicação em construir instituições
regionais de pesquisa de projeção internacional, como o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da
Universidade Federal do Pará, e a formação de toda uma geração de estudantes e profissionais na
própria região. A Fundação Ford está de parabéns pela iniciativa de publicar o conjunto de sua
obra em um momento marcado por visões – pública, civil, acadêmica – contraditórias e simplistas
sobre o futuro da Amazônia. Como bem nota Francisco Costa, uma região na encruzilhada
entre visões que ressaltam de um lado sua natureza e sociodiversidade e de outro seu potencial
econômico como recurso material.
Francisco Costa integra neste volume trabalhos originais e uma reinterpretação de
pesquisas elaboradas em trabalhos anteriores. Em sua dimensão regional, o livro combina riqueza
de dados, rigor analítico de componentes específicos e temáticos e profundidade, características
de quem tem se dedicado ao estudo da evolução social e agrária da Amazônia nos ultimos 30
anos. Enquanto um exercício teórico, ele nos oferece a oportunidade de inserir os dilemas de
desenvolvimento regional e os vieses de políticas públicas em um contexto histórico mais amplo.
Neste sentido, esta é uma obra com varias dimensões que, marcada por profundidade analítica e
alto nível de detalhe empírico, articula uma mensagem central clara, i.e., a importância de pensar
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

o planejamento regional dentro de uma perspectiva histórica e dinâmica de economia política e


atenta à complexidade sócio-ambiental da região.
A análise que nos oferece cobre em detalhe a evolução da economia agrária e do uso dos
recursos naturais da região, discutindo a dinâmica do uso da paisagem, mercados, políticas e
programas de incentivo econômico. Entretanto ao apresentar uma perspectiva histórica e
comparativa, Francisco Costa se mostra não só preocupado com o passado, mas interessado
em contribuir para o futuro da região, i.e., prover bases empíricas e teóricas para subsidiar o
planejamento de políticas públicas da Amazônia.
As três partes do livro constroem progressivamente as bases para a compreensão da
diversidade social, econômica, e da paisagem agrária da Amazônia contemporânea. Nestas três
partes Francisco Costa apresenta e discute as bases institucionais e tecnológicas da evolução agrária
e da economia de recursos naturais na Amazônia. Ele examina a emergência da complexitade sócio-
territorial e suas trajetórias tecnológicas para então refletir sobre suas implicações para a organização
espacial da Amazônia atual. O momento desta publicação é excelente. Sua atenção à história recente
e a políticas públicas específicas (ex. FNO-Fundo Constitucional do Norte) dialoga diretamente
com debates atuais sobre alternativas para o futuro da região. Até que ponto a configuração socio-
territorial histórica (e atual) condiciona possibilidades de um futuro alternativo – quiça sustentável
– para a Amazônia, i.e., menor destruição e desperdício de recursos, maior agregação de valor ao
nível local e mais democracia no desenvolvimento humano regional?
Francisco Costa favorece uma perspectiva histórica e estrutural nas suas interpretações
das dinâmicas sociais e agrárias da região, mas não deixa de dar o espaço necessário a sócio-
diversidade regional, ao poder da ação local e de sua importância na configuração regional. De
maneira analítica, esta dialética se expressa na sua interpretação entre a convergência de sistemas
de uso da terra ao nível local em trajetórias e tipologias de sistemas agrários regionais, o que
chama, apropriadamente, de ‘trajetórias tecnológicas concorrentes’. Francisco Costa oferece uma
análise incisiva sobre a convergência de interesses individuais em grupos sociais que competem
por incentivos e privilégios ao acesso da riqueza regional. Subliminar a esta análise, Francisco
Costa revela uma tensão entre o capital social (a la Bourdieu) representado pela manutenção de
privilégios sociais e políticos de alguns e o capital social (a la Putman e Ostrom) representado
pelo interesse comum, civil e coletivo; uma dinâmica fundamental para entender a região, assim
como as ações e visões sobre o futuro da mesma. Sua intenção, me parece, é mostrar este dilema
como central, em seus aspectos positivos e negativos, ao desenvolvimento regional.
Sua introdução à economia rural contemporânea da Amazônia oferece uma revisão da
formação institucional e política recente da região, do período autoritário, até a promulgação da
nova constituição. Destes resultaram programas, como FNO, que transformaram (e continuam
transformando) a organização sócio-econômica e o uso da terra nos últimos 25 anos. O livro
nos oferece uma análise econômico-institucional sobre a coexistência de ciclos de intensificação
e extensificação no uso da terra e de recursos naturais da região. Francisco Costa dá atenção
especial, eu diria raro do ponto de vista econômico, ao papel da vegetação secundaria (capoeira)
32
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

no contexto de uso da terra regional. Francisco Costa trás estas dinâmicas para o contexto
atual sobre a economia de carbono e pagamento por serviços ambientais (PES), de importância
crescente na região, sem deixar de lado relações sociais e econômicas nas quais estas discussões
estão inseridas, porém frequentemente ignoradas.
Tendo como base o contexto histórico e ambiental desenvolvido na primeira parte, Francisco
Costa parte para uma análise estrutural e comparativa da evolução dos sistemas produtivos na
região, a formação da diversidade e conflitos sociais e territoriais.
Sua análise de trajetórias tecnológicas concorrentes oferece uma perspectiva única da
realidade agrária amazônica, baseado em um modelo analítico que demonstra as dinâmicas de
apropriação de recursos e incentivos por parte de diferentes grupos sociais, e o papel de pequenos
produtores na organização agrária regional. Seu uso de uma tipologia sócio-tecnológica não
esconde sua atenção às peculiaridades regionais e variabilidade social, ao mesmo tempo em que
permite uma reflexão ao nível macro-regional.
A partir desta estratégia, Francisco Costa reconstitui um dialogo teórico entre dinâmicas
regionais de desenvolvimento e planejamento. Por um lado, e apropriadamente, ele se volta a
preponderância da relação rural-urbano na configuração regional e para as relações (ou falta
delas) entre economia de recursos naturais e economia de transformação industrial. Por outro,
ele discute a economia mineral, particularmente no estado do Pará, para ilustrar os dilemas de
exploração de matéria prima a curto prazo e os desafios regionais face aos problemas sociais e
ambientais que se agregam na região.
Enquanto cada parte do livro, assim como cada capitulo, oferece em si uma análise que
só Francisco Costa poderia oferecer sobre os diferentes aspectos da realidade socioambiental
e agrária da Amazônia, é na apreciação do volume como um todo que podemos compreender
o propósito último da obra: uma contribuição fundamental ao planejamento e compreensão do
desenvolvimento regional. Como mencionado acima, Francisco Costa nos apresenta um ‘tour
de force, só possivel vindo daquele que há décadas combina dedicação a pesquisa, ensino e
treinamento e desenvolvimento institucional sobre e para a Amazônia. O valor transcende
disciplinas e qualquer dicotomia, simplista, entre teoria e pratica.
Esta obra preenche varias lacunas em um momento no qual carecemos de perspectivas mais
abrangentes e sensíveis as particularidades da história sócio-ambiental amazônica, contribuindo
para pensar um futuro voltado para a sustentabilidade e melhorias sociais para a própria região.

Eduardo S. Brondizio
Professor, Department of Anthropology
Indiana University Bloomington

33
Prólogo

A Amazônia, a ciência, a consciência do mundo e nós

Todo conhecimento tem dupla existência: ele é ciência, consciência da razão porque
a coisa é o que é, da forma como é; ele é, também, a consciência da possibilidade de que a
coisa poderia ser diferente mediante a vontade orientada pela ciência. Na primeira condição, o
conhecimento é logo; na segunda, techné.
A brilhante discussão filosófica em torno da crise ecológica associada ao industrialismo
capitalista, que se desenvolveu no final do século XX, expunha como parte do problema uma crise
de paradigmas do conhecimento. Insistia, em consequência, na necessidade teórico-metodológica
do holismo e da complexidade para a observação crítica do mundo ameaçado pelo poder destrutivo
da razão redutora e mecânica potenciada pelo cartesianismo.
O nosso esforço de pesquisa orienta-se pela convicção de que, para além da anuência
ao espírito daquela discussão, cabe a nós, cientistas da sociedade do século XXI, testar o poder
transformador dessa consciência, operando-a, em primeiro lugar, como logo (ciência como
conhecimento) para em seguida controlá-la como techné (ciência transformada em técnica,
poder de intervenção – praxis, política). Como parte do empreendimento, este livro apresenta
aportes teóricos e soluções metodológicas que se mostraram férteis na tarefa de conhecer e indicar
caminhos – de testar a hipótese de que o desenvolvimento com esperança de sustetabilidade é
possível na Amazônia. Trata-se de sublinhar as possibilidades desses approaches no adensamento
de uma economia política da Amazônia, isto é, de um programa de pesquisa que, não obstante ter a
referência privilegiada da dimensão econômica, estabeleça tal determinação mediada por relações
sociais que, de um lado se expressam em conteúdos de poder materializados nas instituições; de
outro, se realizam no trabalho trabalho humano objetivado nas relações – técnicas – com uma
natureza viva particular, o bioma amazônico.
Ao lado da discussão filosófica, e em relação de mútua influência, desenvolveu-se uma
consciência do mundo em relação à Amazônia: a Região foi posta como foco da atenção como
natureza e como sociedade. Ao enquadrá-la na primeira condição, a opinião pública tem colocado
em relevo a importância da maior floresta tropical do planeta enquanto acervo de biodiversidade
e como base de prestação de serviços ambientais para a estabilização do clima global. Na segunda
condição, ressaltam-se os usos da base natural da região, que se fariam pondo em risco tudo o
que se poderia obter de uma utilização mais qualificada das suas características naturais e dos
seus atributos locacionais. A conclusão é a de que a dimensão social da região, incluindo as
intervenções políticas, constitui um paradoxo por realizar-se, destruindo, em nome dos ganhos
presentes de poucos, os mais preciosos trunfos para um futuro melhor para todos.
Parte essencial do esforço que apresentamos adiante pode ser entendido como uma longa
reflexão sobre o realismo e os equívocos contidos nessa proposição. O empenho se justifica
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

porque, tornada senso comum nos países do norte, tal assertiva orienta muitas das ações de
governo e de organizações não governamentais nas relações internacionais do Brasil; tornada
mote na construção de projetos de desenvolvimento nacional, ela orienta ações do estado nacional
e consolida conceitos e preconceitos sobre o papel da região e o desenvolvimento do Brasil.
Esse arroubo da consciência do mundo sobre nós organiza uma problemática própria sobre a
Amazônia e constitui, ele mesmo, um problema a ser tratado por nossas ciências da sociedade.
Questões que abordamos em perspectiva interdisciplinar, em que sobressaem os argumentos de
uma heterodoxia econômica que converge para um programa que se caracteriza por sublinhar o
sentido histórico-estrutural da diversidade – natural e social – que distingue a região. O propósito
é o de alertar para o fato de que qualquer julgamento das sociedades locais exige discernimento
sobre o significado das diferenças e o peso da história na sua constituição. O mesmo se requer
do exercício de perscrutar o devir, indagando sobre as possibilidades futuras e os requisitos
estratégicos para materializá-las.

Nossa ciência – a consciência da diversidade estrutural

Esforçamo-nos por demonstrar que, se são reais os riscos ambientais de muitas das
práticas econômicas que se detectam na Amazônia, a par de prejuízos inquestionáveis ou
benefícios sociais discutíveis, é falso considerar irracionais a priori os processos decisórios
privados que fundamentam tais usos, ou sem sentido os cálculos de custo-benefício que nesse
nível se processam. O justo é expor os dilemas aí vivenciados – em perspectiva privada e social
– para tratá-los institucionalmente. Para tanto, é necessário esclarecer, em sua diversidade e
interações, as razões dos agentes e as racionalidades sistêmicas das estruturas que os constrangem,
situando-as ademais em perspectiva dinâmica. Este é o propósito das Parte i e Parte II do livro.
Na primeira, apresentamos de modo sintético, no Capítulo 1, a evolução recente do setor rural na
Região Norte, ao mesmo tempo que introduzimos a noção de diversidade de sujeitos e razões do
desenvolvimento como objeto empírico, ao qual refere um contexto institucional relevante. Os
próximos três capítulos tratam de qualificar essa dinâmica em perspectiva econômica (Capítulo
2) e ambiental (Capítulo 3 e Capítulo 4). Na Parte II, retomamos a temática da diversidade de
agentes, racionalidades e estruturas como ponto de partida para um tratamento da dinâmica
agrária, com base em trajetórias tecnológicas concorrentes. O Capítulo 5 apresenta um modelo
teórico da confrontação dinâmica de trajetórias distintas mediante os efeitos de não linearidade
produzidos por externalidades, que produzem rendimentos crescentes e incertezas.
Uma questão prática de fundo, que justifica o uso da metáfora das trajetórias tecnológicas
concorrentes, é a de saber como as diferentes razões agem mediante a natureza originária da região
– seu ativo mais específico. Pois é verdade, como supõe o senso comum ilustrado, que o bioma
tropical amazônico dá identidade à região. Não se deve, entretanto, minimizar o fato de que tal
integridade comporta características ambientais muito distintas no interior da região. Associadas
a isso, constituíram-se diferentes formações econômico-sociais, por assentamentos simultâneos
36
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

em bases naturais distintas ou sucessão de usos, que corresponderam aos diferentes sentidos que
a heterogeneidade natural ganhou para a reprodução social dos que dela dependeram e dependem.
A perspectiva teórico-metodológica adotada é a de que, uma vez verificada a diversidade de
agentes e suas razões decisórias em amplos modos de produção, objetos do Capítulo 6, os quais,
como “tipos ideais”, permitem uma visão em alto nível de abstração e generalidade, se verifiquem
as formas concretas de utilização dos recursos naturais e institucionais que conformam uma
diversidade territorial atual fundamental, sem a consideração da qual se torna impossível refletir
adequadamente sobre possibilidades futuras. Tais especificidades expressam-se nas distintas
formas como os agentes combinam os meios disponíveis nas delimitações regionais concretas –
naturais e institucionais –, inicialmente, no nível estrutural micro, em sistemas de produção rural,
os quais convergem em trajetórias tecnológicas, cujo delineamento, evolução, territorialidade e
institucionalidade é o objeto do longo Capítulo 7.
Sistemas de produção rural – tecnologias adaptadas em nível micro – convergem para
trajetórias tecnológicas, que, sob os constrangimentos – potencialidades e limites – próprios
que caracterizam uma delimitação territorial e política, articulam-se em sistemas agrários, por
antagonismo, por cooperação ou por cooperação antagônica, contraditória. Os principais sistemas
agrários da Região Norte serão apresentados no Capítulo 8 e tratados no capítulo seguinte como
delimitações privilegiadas para observação do potencial e limites das trajetórias como referência
do desenvolvimento e crise, em particular dos segmentos sociais mais frágeis do contexto rural
da Região.

Nossa ciência – a consciência da diversidade espacial

Sistemas agrários projetam-se sobre sistemas urbanos em configurações urbano-rurais


compreensíveis nos arranjos produtivos locais, cujas redes constituem as economias locais de
base primária. Por seu turno, tais configurações urbano-rurais têm expressões culturais que
podem, por si, organizar arranjos locais de expressão econômica. Esta, a temática da Parte III do
livro.
Uma economia local de base primária, na acepção aqui usada, é uma economia que
depende essencialmente dos seus recursos naturais e culturais originários – daí a possibilidade
de ser assinalada como economia alfa. É necessário sublinhar, entretanto, que não se trata nem
de economia dominada pelo “setor primário”, nem fechada. Pode ter o setor industrial, ou de
serviços, dominante – se esse é o caso, seria primária (ou alfa), se esse domínio baseia-se em
(tem como fator chave) recursos endógenos de base natural ou cultural; ela pode ter uma base de
exportação relevante – o importante é que suas relações externas sejam, claramente, fundamento
de sua capacidade de reprodução interna.
Interligadas, economias locais conformam, em movimentos de transposição de escalas
produzidos pelas redes – cadeias de produto e valor –, as economias regionais e nacional no
contexto de uma divisão social do trabalho estruturada mundialmente.
37
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Essas estruturações – convergências, aglomerações e encadeamentos – conformam o objeto


da reflexão teórica do Capítulo 8, o qual organiza, ao tempo que trata dos avanços nas teorias do
desenvolvimento, um corpo teórico, cuja operação metodológica será objetivo dos capítulos seguintes.
Em dois capítulos, apresentamos os nexos entre os dois dos mais importantes sistemas agrários da
Região Norte e Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – discutimos configurações
urbano-rurais na constituição desses arranjos. O Capítulo 11 expõe essas relações no caso específico
do APL-Frutas-NePa, um Arranjo Produtivo Local resultante da interação entre trajetórias rurais e
um aglomerado industrial de processamento industrial de frutas no Nordeste paraense. No capítulo
12, apresentamos o Sudeste Paraense, sua configuração como economia local de base primária,
seus arranjos produtivos locais, seus sistemas agrários e suas trajetórias tecnológicas.

Nossa ciência – a consciência de um mundo em crise

Duas grandes crises marcam o desenvolvimento atual do capitalismo. Uma crise econômica,
derivada do agigantamento do capital financeiro e sua tensa busca de impossível autonomia, e uma
crise ambiental, derivada da industrialização da agricultura e das tensões sobre as fontes naturais
de recursos da industrialização em geral. Essas crises são sistêmicas, desenvolvem-se em âmbito
mundial com desdobramentos institucionais que nos permitem formular a hipótese que, ao longo
de um lapso de tempo difícil de determinar, se confirmarão como as marcas do século XXI: a) uma
revalorização da economia real em detrimento da economia monetária e, em decorrência disso,
uma revalorização dos ativos reais em detrimento de ativos financeiros; b) entre os ativos reais,
uma valorização daqueles intangíveis associados a conhecimento e cultura, e, intimamente a estes
associados, os ativos reais tangíveis de base natural. Há quem acredite serem essas tendências
indicações da aproximação de uma novo regime ou padrão de desenvolvimento capitalista – estar-
se-ía a caminho de um capitalismo natural.
Trata-se de ideia-força. Como tal, hipótese a ser verificada (logo) ao tempo que referência
para a ação (techné). Importa-nos, nessa última perspectiva, o argumento que para tirar proveito
das oportunidades associadas a essas mudanças, as sociedades brasileira e amazônica terão que
demonstrar capacidade de “converter” a base natural da Região – o bioma, as reservas minerais e,
entre os dois, as terras – em ativos reais, os mais qualificados que lhes sejam possíveis. Para que isso
ocorra é necessário, primeiramente, reverter os usos que já se fazem dessa base natural, dos menos
para os mais nobres. Na forma menos nobre, o bioma transforma-se em matéria prima, consumida
em algum processo produtivo; e a terra, ativo genérico que dá lugar ao bioma, é usada na forma de
capital físico, depreciado em algum processo produtivo. Nas formas mais nobres de capital natural,
o bioma originário poderá ser preservado como produtor de bens requeridos por uma divisão social
do trabalho (ainda em desenvolvimento) e serviços ambientais; e a terra poderá abrigar sistemas
artificiais com capacidade de permanência indeterminada – uma agricultura sustentável. As
trajetórias tecnológicas constituirão referências analíticas privilegiadas na compreensão sistêmica
desses diferentes usos.
38
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

As economias locais de base primária e seus sistemas agrários abrigam as interfaces


imediatas entre sociedade e natureza, constituindo portanto drivers que tanto podem fazer
decair, como ascender a qualidade do uso da base natural e a da reprodução social conexa. O
capítulo 10, em relação com o 11, discute esta questão tendo em consideração a relação entre
pobreza rural, as trajetórias tecnológicas e os sistemas agrários e sua configurações urbano
rurais.
Há perspectiva que vislumbra estratégias de desenvolvimento associadas à exploração
dos recursos minerais na Amazônia, obedecendo a três princípios. Primeiro, que a exploração
das províncias minerais da Região devem vir a significar criação de conhecimento (capital
humano) e capacidade institucional (capital social) para a preservação produtiva do bioma
florestal, a transformação dessa disponibilidade natural ativa e distinta em item nobre da
reprodução social, isto é, em um capital natural de produtividade crescente na razão direta
do que se sabe sobre ele. Segundo, que a exploração enseje a formação de capacidade de
criação e gestão de uma “segunda natureza” (expressão que Alfredo Homma vem usando para
designar capitais físicos dinâmicos na exploração dos sistemas edafo-climáticos) eficiente no
atendimento de necessidades estabelecidas, ali onde o bioma já não mais existe. Terceiro, que
se fortaleçam as condições institucionais que atuam a favor e se interpele aquelas que atuam
contra o cumprimento das necessidades anteriormente mencionadas.
O capítulo 12, o último da parte III, se debruça sobre esses pontos de vista avaliando
questões de grande interesse atual para as políticas de desenvolvimento regional e nacional: os
efeitos da expansão da economia mineral para a produção rural na economia local do Sudeste
paraense, os impactos de políticas para mitigação de problemas de mudança climática,
considerando a economia mineral e o mercado de terras, e as possibilidades de uma política
de reflorestamento.

Nossa ciência – a consciência de alternativas de futuro

Por fim, em um Epílogo, apresentamos elaborações que são, ao mesmo tempo, síntese a
que chegamos e ponto de partida do que indicamos como possibilidades futuras, de pesquisa e
ação. Discutimos, nesse ponto, duas noções bastante arraigadas na opinião pública, aqui e alhures.
Primeiro a de que atores privados, com o suporte de instituições do Estado, têm, historicamente,
aportado à região com matrizes de conhecimento – tanto tecnológico, quanto de gestão e
intervenção social – inadequadas às suas especificidades. Trata-se de uma noção acertada, mas
incompleta por presumir que essa é uma situação cristalizada. A rigor, tal inadequação é social
e historicamente construída – deriva em parte da mentalidade dos operadores imediatos dessas
matrizes, em parte dos efeitos de path dependency incorporados na cultura institucional e política
que as demandam e operam – e, como tal, passível de confrontação por projeto alternativo em devir.
A segunda noção presente na opinião pública como senso comum, a qual interpelamos de diversos
modos, diz respeito ao imobilismo e marginalidade das populações tradicionais. Num caso, como
39
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

no outro, demonstramos que inovações institucionais que reorientem caminhos e culturas das
organizações e induzam os agentes a comportamentos adequados a um desenvolvimento moderno
são necessárias e urgentes.
Uma reversão é necessária no plano tecnológico, posto que os princípios de formação
e utilização de conhecimento desenvolveram-se pelo esforço da ciência moderna em criar
sistemas botânicos homogêneos para maximizar a produção de biomassa por uma lógica de
industrialização da agricultura fortemente assentada em bases mecânico-químicas, com dois
conjuntos de efeitos relevantes. As técnicas daí derivadas, por serem aparatos de padronização,
negam o capital natural contido na diversidade biológica da região. Por seu turno, as mesmas
características ecológicas da Amazônia, que explicam sua gigantesca biodiversidade, negam
essas matrizes, reduzindo dramaticamente os ciclos de vida e a economicidade de suas técnicas.
Por outro lado, essas matrizes não têm se esforçado em entender os biomas, em maximizar
seus usos.
No todo, resulta a consciência de que intervenções estatais fizeram-se corroborando
práticas ambientalmente deletérias, ao lado de aprofundarem mazelas sociais, excluindo os
mais necessitados e confirmando, na região, a assimetria de poder econômico e político que
caracteriza o país. De modo que, reformas que tornem o Estado na Amazônia permeável à
pluralidade de forças que expressam a diversidade de razões imersas na heterogeneidade social,
cultural e econômica da região são necessárias, não obstante as fricções de path dependency.
Em todos os capítulos, expomos um conjunto de sugestões para uma tal mudança.
A tese subjacente é a de que é papel intransferível do Estado garantir o melhor
ajustamento, por adequação virtuosa entre a diversidade estrutural e as peculiaridades,
potencialidades e limites dos diversos territórios que compõem a sociedade regional com
a mediação do conhecimento arregimentado pelas organizações e agentes. Aos processos e
aparatos institucionais que podem produzir essa sinergia chamamos aqui de planejamento –
a razão da institucionalidade que se propõe – entendido como um sistema que pode abrigar
de modo dinâmico as necessidades subjacentes à diversidade antes apresentada, permitindo
a validação de noções de progresso com maior esperança de sustentabilidade. A questão do
planejamento está subjacente a todo o livro. Na parte III, ressalta – ganhando centralidade
num primeiro momento (subcapítulos 8.1 e 8.2) – como tema e mecanismo social em crise,
em parte como produto de contradições que afloraram com seu uso generalizado, em parte
porque negado por um revigorado ethos (neo)liberal que fez prevalecer, com a remida
promessa de emancipação social pelos mercados, a metafísica do laissez faire como mecânica
de convergências automáticas rumo à justiça e à fartura. Num segundo momento do Capítulo
8, o planejamento ressalta como derivação das possibilidades indicadas pelas teorias do
desenvolvimento endógeno (8.3 e 8.4), a serem exploradas nos demais capítulos do livro.
Em tudo, a indicação de que a dimensão cognitiva da diversidade em jogo, dispondo
da institucionalidade adequada para se expressar como ação comunicativa, na perspectiva
da moderna filosofia da ação em Jürgen Habermas, poderá operar produzindo decisões mais
40
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

ajustadas à antevisão de um futuro mais justo e equilibrado – seja em perspectiva social, seja
ecológica. Aposta-se na tese de que, para corresponder à diversidade objetiva da natureza e
da sociedade da região, há que se corroborar com a montagem do palco onde se entrelaçam,
produzindo as grandes decisões, diversidade enquanto diferença cognitiva e diversidade
enquanto diferenças objetivas dos atores. Porque, como bem demonstram os progressos
da pesquisa com base na complexidade, a diversidade cognitiva, em última instância, tem
demonstrado o poder de formar indivíduos mais criativos, melhores empresas, mais dinâmicos
aglomerados e mais equilibradas e promissoras sociedades.

41
Parte I

Introdução à economia rural


contemporânea da Amazônia
Capítulo 1
Formação do contexto institucional e expressões da
diversidade de sujeitos e estruturas

Instituições são conjuntos de regras, procedimentos de controle e normas de coerção do


comportamento individual com vistas ao atendimento de objetivos que transcendem a perspectiva
estritamente estratégica particular de cada um dos componentes de uma relação social. Para
Douglas North, regras “... constituem o filtro entre os indivíduos e o estoque de capital e entre este
e a produção e distribuição de bens, serviços e renda” (North, 1981: 201). “Estoque de capital que
determina a renda a ser distribuída”, esclarece o autor, “é uma função do estoque de capital físico,
de capital humano, de recursos naturais, tecnologia e conhecimento” (North, 1981:4).
Tais “filtros”, resultantes da interação de elementos institucionais, trataremos aqui
como “institucionalidades”. Em contextos histórica e socialmente dados, institucionalidades
constituem-se pelos nexos objetivos que articulam organizações e visões de mundo, estruturas
organizacionais e posturas individuais na configuração dessa mediação. As instituições
apresentam-se em formas concentradas ou difusas, e as sociedades se reproduzem – mantêm-
se, evoluindo – na interação entre essas duas formas de instituição e seus fundamentos. Na
primeira forma, elas são aparatos – privados ou públicos. Como tal, são organizações, estruturas
organizacionais, a parte visível de uma institucionalidade. Na segunda forma, elas manifestam-
se nos valores, nos princípios morais e nas percepções de mundo, as quais não são mais do que
estruturas conceituais que, compartilhadas, formam as posturas dos agentes, o poder invisível
que faz suas ações convergirem no sentido de reproduzirem estruturas sociais e econômicas,
das quais as organizações são partes. A cada institucionalidade corresponde, no plano dos
agentes, uma “comunidade de pensamento” (Douglas, 1998); no plano das organizações, uma
“comunidade epistêmica” (Hass, 1992; Hall, 1993).

1.1 O período autoritário e sua herança

A Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e seu principal


instrumento de intervenção, os incentivos fiscais que compunham o Fundo de Financiamento
da Amazônia (FINAM), catalisaram a institucionalidade da intervenção federal na Amazônia,
no período da ditadura militar que se estendeu de 1964 a 1984, a partir de uma perspectiva de
desenvolvimento que prevaleceu por duas décadas nas relações hierarquicamente – autoritariamente
– organizadas entre estado nacional e sociedades locais.
Na formulação dessas políticas de incorporação da Região no projeto de modernização
dos governos do ciclo autoritário, iniciado em 1964, prevaleceu a orientação estratégica de
maximização de uma macrofunção de produção que se ajustasse ao desequilíbrio peculiar à dotação
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

de fatores da região, caracterizada por abundância de terras e escassez de trabalho e capital (Costa,
2000a). O sujeito do desenvolvimento, em tal equação, o organizador da metafunção de produção,
supunha-se fosse portador dos atributos do agente padrão neoclássico, mobilizado por uma razão
estratégica substantiva (Prado, 1993) pautada em critérios de maximização da produtividade
dos fatores: capital, natureza e trabalho. A objetivação de tal razão supunha-se corresponder aos
sujeitos estereotipados no empresário que vinha protagonizando o desenvolvimento industrial do
sudeste do País. Para tal razão, a combinação a fazer seria de capital físico, a se relacionar com
uma natureza percebida pelas suas partes assim classificadas: mata = madeira; solo = suporte
de agropecuária homogênea; subsolo = minério. O trabalho direto a acionar, desqualificado. O
trabalho de gestão a exercer = industrialista.
Tal estratégia presumia uma redistribuição de ativos públicos, tanto através da concessão
dos recursos financeiros a mobilizar na forma de capital físico, fator particularmente escasso,
quanto no acesso ao ativo considerado abundante, a terra. Demonstramos em outro trabalho que
o volume de recursos captados do FINAM e a extensão da propriedade fundiária do beneficiário
determinavam-se mutuamente (Costa, 2000a), criando e recriando, fazendo prevalecer, pois,
a relação de propriedade latifundiária na região. Integradas a isso, as doutrinas de gestão
pública do período SUDAM previam como formas de percepção e avaliação dos processos de
desenvolvimento as grandezas médias de renda (renda per capita, por exemplo) e as taxas de
incremento do PIB.
Na ação, prevaleceu uma divisão de papéis institucionais na qual à SUDAM,
propriamente, competia, a priori o julgamento de mérito, a escolha do lugar e do sujeito do
“projeto” de desenvolvimento a ser financiado pelo FINAM – o destinatário de ativos públicos
monetários –; a posteriori, o acompanhamento e fiscalização do empreendimento promovido.
A administração técnica do FINAM, tratada como gestão estritamente financeira dos recursos,
competia ao Banco da Amazônia S.A. (BASA) – sem indagar “por que”, sem verificar “por que
sim” ou “por que não”. Ao Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), operador
de campo, competia garantir a relação de propriedade latifundiária. Parte dessa tarefa seria
conter, ou acomodar em projetos de colonização, a fronteira em movimento pela expansão
camponesa. Os ministérios construtores armavam o palco, por vezes algum cenário no qual
se desenrolavam epopeias e dramas – não raro, tragédias debitadas, na comunicação social
mediada por aparatos de uma imprensa censurada, ao progresso. Os governos estaduais,
atuando sob pesada hierarquia, reproduziam em seu nível de gestão a perspectiva e o plano
centralmente estabelecidos. Instituições, como o Serviço Brasileiro de Apoio a Pequenas e
Médias Empresas (SEBRAE), atuavam como coadjuvantes para atender à demanda – entendida
mais como “social” do que “econômica” – de meios para o desenvolvimento provinda das
pequenas empresas, completamente fora do ângulo de todos os grandes instrumentos do
desenvolvimento.
Na reprodução, o arranjo institucional montado nutria-se de ideias defendidas em amplos
fóruns acadêmicos e dispunha de métodos e técnicas (a substância das disciplinas de planejamento
46
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

então largamente difundidas nos departamentos de economia) de operação – dispunha, assim, de


uma comunidade epistêmica que subsidiava a capacidade operacional1.
Tal “comunidade epistêmica” foi posta em xeque com a crise da primeira metade da
década de oitenta, da correlação de forças políticas que garantia o arranjo, sob o efeito de pesadas
críticas às características do processo de desenvolvimento em curso. As análises que observaram
o “desenvolvimento” para além das usuais taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB),
indagando sobre a consistência dos fundamentos estruturais privilegiados pelos subsídios aos
grandes projetos agropecuários, detectaram problemas graves. Evidenciava-se que a rentabilidade
dos projetos, ou por razões de oportunismo (especulações, transferência inter-regional de renda,
etc. – conf. Gasquez e Yokomizo, 1990; Gasquez e Vilaverde, 1991) ou por razões de conhecimento
insuficiente (problemas técnicos e de gestão – conf. Costa, 2000), era negativa, nula ou muito
baixa, apontando, para todo o processo de intervenção, um rotundo fracasso.
Não obstante, sob contestação, ao pensamento que observava o desenvolvimento pelas
taxas de evolução das proxies do PIB foi possível argumentar com uma correspondência entre
propósitos e ação da institucionalidade coordenada pela SUDAM. Tanto na opinião qualificada local
(Monteiro da Costa, 1992), quanto entre relatores externos das vicissitudes do desenvolvimento
regional (Gomes e Vergolino, 1997), prevaleceu o julgamento de que a institucionalidade gerida
pela SUDAM produziu o que prometeu: crescimento rápido do PIB e alguns pressupostos e
derivações infraestruturais; e, considerando que, em última instância, desenvolvimento seria isso,
ou, visto de modo mais ameno, não há desenvolvimento que disso prescinda, o obtido não seria
pouco – na verdade, seria tudo (o que, ao fim e ao cabo, importa).
Na segunda metade dos anos oitenta e na década seguinte, nos diferentes momentos em que
se indagava sobre a validade da institucionalidade gerida pela SUDAM desde os tempos da ditadura
para os propósitos do desenvolvimento, o confronto entre tais argumentos se reeditaram. Para os que
a observavam sob a primeira perspectiva, em que o desenvolvimento requer mudanças estruturais
dificilmente deriváveis de suas estratégias de atuação, tal arranjo institucional deveria ser rompido ou
totalmente refeito, pois sumidouro de recursos públicos; para os que a viam sob a segunda perspectiva,
ela deveria ser mantida, porque indutora de crescimento do PIB (= desenvolvimento).
Os últimos anos da década de oitenta foram particularmente importantes nesse embate. A
recolocação da grave questão das desigualdades sociais (realçada na recorrente menção à “dívida
social” do país que caracterizou os discursos na “Nova República”) e a definitiva introjeção da
questão ambiental nos assuntos amazônicos tornaram insustentável a segunda posição: aquela que
entendia ser o crescimento do PIB uma indicação suficiente do desenvolvimento.

1 Em sociedades complexas, nas quais os tipos de dominação racional-legal prevalecem, o conhecimento técnico e aqueles que
o detêm (comunidades epistêmicas) cumprem um papel crucial, elucidam as relações de causa e efeito e apontam os resultados
prováveis dos vários cursos de ação alternativos. Além disso, eles ajudam a compreender a natureza das ligações complexas entre as
questões de interesse e a cadeia de causalidade, que podem resultar da inação ou da implementação de uma política pública particular.
E mais: as comunidades epistêmicas ajudam a definir os interesses próprios de um estado ou de facções existentes dentro dele, bem
como a modelar políticas (Haas, 1992:15). Esse argumento está normalmente associado à visão de que as burocracias desfrutam de
relativa autonomia vis-à-vis os interesses sociais (Melo, 2004: 171).

47
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

O realce das questões sociais correspondeu ao impacto das demandas reprimidas


ao longo do regime militar. As regiões periféricas do país apresentavam-se, cada vez mais
nitidamente, como expressões fortes, avultadas, da iniquidade geral, não corretamente
perceptível pelas médias de variáveis macroeconômicas.
Quanto ao relevo assumido pela dimensão ecológica do desenvolvimento brasileiro
e amazônico e a sua representação como questão incontornável às discussões sobre
desenvolvimento regional, demonstramos (Costa,1992 e 2000a) uma evolução por dois
movimentos observados ao longo dos anos oitenta. O primeiro movimento, que se inicia na
primeira metade da década e arrefece com a proximidade do seu final, é conduzido por setores
da sociedade civil, críticos em relação aos efeitos deletérios produzidos pelo industrialismo
capitalista no Brasil, na Amazônia e no mundo. As Organizações Não Governamentais (ONGs)
são, aí, os atores proeminentes. O segundo movimento marca a passagem da questão ambiental
do âmbito da sociedade civil e da política pontual para o seio do estado e da grande política – da
política sistemática. O ano de 1988, ano em que diversas gestões de governo puseram o tema
da proteção das florestas tropicais na agenda da reunião do G7, em Paris, data, claramente, o
início dessa nova fase.
De modo que, no final dos anos oitenta e início dos noventa, também para nós no
Brasil, o ideário do “desenvolvimento sustentável” começa a se estabelecer, conceitualmente,
nos atributos de um novo tipo de desenvolvimento – de um desenvolvimento moderno porque
pautado em formulações que consideram as muitas indicações teóricas e históricas de que
processos que resultam em evolução consistente na qualidade da vida material e social requerem
combinações virtuosas de eficiência econômica, equidade social e prudência ecológica (na
síntese de Sachs, 1993). Na Conferência do Clima, organizada pelo ONU em 1992, conhecida
como a Conferânca Rio 92, a Eco 92, consagrou, nesta noção o ideário de um desenvolvimento
que exige eficiência econômica pautada no melhor uso do capital natural e em equidade social
expressa em equilíbrio intra e intergerações.

1.2 A democratização do País, a Constituição de 1988 e seu potencial indutor de


mudanças: uma observação pela evolução do Fundo Constitucional de Desenvolvimento
do Norte (FNO)

Para as regiões periféricas do Brasil, a Constituição de 1988 culminou a primeira fase do


processo de democratização do país iniciada quatro anos antes com a eleição de um presidente
civil. A Assembléia Nacional Constituinte eleita em seguida catalisou a dinâmica política do país
por quatro anos, promulgando a nova carta magna em 1988.
As regras constitucionais são constrangimentos distributivos que, para Douglas North,
representam a “...mais fundamental restrição organizacional do sistema econômico com o

48
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

objetivo de especificar um padrão de distribuição de riqueza e renda” (North, 1981: 205)2. Com
efeito, a Constituição de 1988, para além do seu propalado atributo de “Constituição Cidadã”,
pelo que formalmente “prometia”, constituiu oportunidade de mudança na medida em que exigia
objetivamente alterações institucionais substantivas, as quais permitiriam presumir consequências
distributivas importantes. Dessas, dois conjuntos de mudanças se destacam para o que nos
interessa: o associado à criação do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Norte (FNO)
e o derivado da maior descentralização das receitas públicas (Rezende, 1995 e Rezende, 1999).

1.2.1 O FNO

O artigo 159, I, c, da Constituição Federal determinou que 3% das receitas da União deveriam
ser aplicados em programas de financiamento de setores produtivos das regiões consideradas as
menos favorecidas do País. A regulamentação pela Lei no. 7.827, de setembro de 1989, estabelece
as proporções de distribuição do Fundo entre as três regiões contempladas: 0,6% para o Norte, 0,6%
para o Centro-Oeste e 1,8% para o Nordeste. O mencionado estatuto estabeleceu, ademais, que os
recursos fossem geridos pelos bancos regionais de desenvolvimento, os quais devem dar preferência
aos mini e pequenos produtores para implementação de sistemas produtivos ecologicamente
adequados. Indica, ao mesmo tempo, um conjunto de regras operacionais que dão autonomia ao
gestor local.
No caso da Amazônia, não constitui novidade a primeira parte da determinação – a que
previa transferência de recursos: desde a Constituição de 1946, há algum tipo de mecanismos para
transferência de recursos de outras regiões para a valorização (como se cogitou no período da
SPVEA) ou para o desenvolvimento (como indicado no período SUDAM) da região. Os dispositivos
seguintes, estes sim, constituem mudança de grande alcance porque, por uma parte tornam o Banco
da Amazônia S.A. (BASA) ator com papel nas decisões de aplicar recursos para o desenvolvimento a
partir de critérios que lhe pareçam apropriados às especificidades locais; por outra, indicam o acesso
privilegiado a esses recursos por atores até então completamente excluídos de mecanismos com tal
envergadura; reconhecem tais atores como sujeitos em possibilidades de desenvolvimento novas
(menção à sustentabilidade ecológica) e obrigam o BASA a responder pela inteireza do Fundo, com
o atenuante da Medida Provisória no. 1.727, de novembro de 1998, que reduziu o risco do Banco para
apenas 50%, atribuindo ao Fundo os 50% restantes (Rezende, 1999:9-10).
De 1989 a 2000, em fluxo regular, dado que os fundos constitucionais não estão sujeitos
à disciplina orçamentária instituída para a política agrícola desde 1988, por montantes médios
anuais de R$ 355 milhões, a Secretaria do Tesouro Nacional repassou R$ 3,9 bilhões para as contas
do Fundo no BASA. De 2000 a 2005, repasses anuais da ordem de R$ 585,2 milhões garantiram
recursos de R$ 2,9 bilhões em cinco anos (BASA, 2001; BASA, 2006).

2 Douglas North atribui mais duas funções primordiais a uma constituição: o de especificar um sistema de proteção em um universo
de estados em competição e o de assentar as bases para um sistema de regras operacionais para reduzir custos de transação no setor
econômico.

49
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Esses recursos colocaram o BASA em posição destacada no fomento da produção,


responsável, em 2003, por nada menos que 52% do total de financiamentos da região Norte.
O setor rural recebeu, de 1989 a 2003, 80% das aplicações, constituindo-se centro da política
(Brasil, 2005).

1.2.2 A inovação representada pelo FNO na perspectiva do desenvolvimento regional

As circunstâncias mencionadas produziram uma configuração do FNO que considerava


elementos do ideário do desenvolvimento sustentável. A Lei No. 7.827, como já mencionado,
propugnava sua aplicação orientada à equidade social e às formas de produção ecologicamente
sustentáveis, ao lado de se demonstrarem capazes de garantir retorno positivo, de serem
economicamente viáveis. Observado assim, esse estatuto teria sido um passo na formatação de
um ambiente insti tucional que considerasse o ideal da sustentabilidade, um vez que propugnava
novo tipo de desenvolvimento, a resultar das aplicações do Fundo em sistemas produtivos
diversificados, baseados fundamentalmente em culturas permanentes e, por isso, com maior
esperança de sustentabilidade econômica e ecológica; afigurava-se altamente conveniente que
os gestores de tais sistemas fossem os produtores familiares rurais, dado se reconhecer neles
credores da dívida social da modernização do capitalismo autoritário brasileiro (Velho, 1976),
excluídos que foram da política gerida pela SUDAM.
Isso implicava inversões profundas na orientação da política de desenvolvimento
regional de base agrária: como objeto privilegiado da ação política, no lugar da pecuária de
corte, culturas perenes; no lugar das grandes empresas e fazendas, as unidades familiares de
produção; no lugar de sistemas homogêneos, sistemas diversos. Combinadas com as mudanças
institucionais que previam maior descentralização da receitas públicas e papéis mais ativos nas
instâncias locais de governo, tal proposta convergia com vários dos fundamentos preconizados
pelas recentes teorias do desenvolvimento endógeno (ver uma síntese em Barquero, 2001),
que valorizam as bases locais – as aglomerações, o capital humano e o capital natural como o
cerne de processos duradouros de progresso econômico e social.
Em essência, no que se refere à produção, indicava-se a reconsideração do papel da
unidade estrutural pecuária-grandes beneficiários (ou patronal-monocultural) pela valorização
do binômio sistemas diversos-pequenos beneficiários (ou familiar-policultural) que, pela
primeira vez em séculos3, se colocava no centro de ações relevantes para o desenvolvimento.
E isso, ademais de apontar para um desenvolvimento com raízes mais profundas, indicaria a
possibilidade de tê-lo ecologicamente prudente e com capacidade de formação e distribuição
de renda: eis o pressuposto constitucional, a nova perspectiva de desenvolvimento formalizada
na Lei nº 7.827/89.

3 Parte da política pombalina, da segunda metade do século XVIII, teve orientação baseada em estruturas que podemos qualificar
de camponesas. A respeito ver Costa (1989 e 2008). Nesta coleção Costa 2012d.

50
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

1.2.3 A diversidade de agentes e as estruturas que comandam

A presença e importância econômica, bem como algumas características das estruturas


acima delineadas na Região Norte4 podem ser avaliadas no Censo Agropecuário de 1995-96.
Naquele ano, dos 443.570 estabelecimentos da região, 93% eram estabelecimentos familiares
e 7%, patronais. Há variações entre os estados: a produção familiar apresenta as mais altas
participações no Acre, no Amazonas e em Rondônia e as menores no Tocantins e em Roraima.
No Estado do Pará, a maior economia agrícola da região, a participação é de 95% (estes e os
próximos resultados conforme a Tabela 1.2.3-15).

Tabela 1.2.3-1 – Configuração do setor rural na Região Norte por estados e formas de produção
em 1995-96
Total
Unidades federativas Familiares Patronais
% Absoluto
Quantidade de estabelecimentos (U)
Acre 98% 2% 100% 23.788
Amapá 93% 7% 100% 3.275
Amazonas 97% 3% 100% 83.022
Pará 95% 5% 100% 206.199
Rondônia 94% 6% 100% 76.954
Roraima 84% 16% 100% 7.395
Tocantins 71% 29% 100% 42.937
Total 93% 7% 100% 443.570
Área total dos estabelecimentos (ha)
Acre 59% 41% 100% 3.128.805,46
Amapá 28% 72% 100% 676.977,27
Amazonas 53% 47% 100% 3.223.996,74
Pará 37% 63% 100% 21.905.199,86
Rondônia 39% 61% 100% 8.791.682,43
Roraima 21% 79% 100% 2.842.528,83
Tocantins 18% 82% 100% 16.044.415,44
Total 33% 67% 100% 56.613.606,02
Valor Bruto da Produção (R$)1
Acre 87% 13% 100% 107.199.837
Amapá 34% 66% 100% 68.732.517
Amazonas 92% 8% 100% 365.214.121
Pará 66% 34% 100% 1.026.139.630
Rondônia 75% 25% 100% 334.205.033
Roraima 62% 38% 100% 61.699.268
Tocantins 27% 73% 100% 355.112.977
Total 65% 35% 100% 2.318.303.383
Pessoal ocupado (trabalhador/ano)
Acre 96% 4% 100% 95.191
Amapá 74% 26% 100% 18.441
Amazonas 95% 5% 100% 351.455
Pará 89% 11% 100% 906.862
Rondônia 90% 10% 100% 312.960
Roraima 70% 30% 100% 35.366
Tocantins 61% 39% 100% 202.447
Total 87% 13% 100% 1.922.722
Fonte: IBGE. Censo Agropecuário 1995-96, base em CD-ROM. Tabulações especiais do autor.

4 A não ser quando especialmente esclarecido, as estatísticas aqui apresentadas referem-se à região Norte, composta dos estados do
Pará, do Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre, Amapá e Tocantins, à qual nos referiremos em muitas oportunidades como Amazônia.
A designação de Amazônia Legal, por sua vez, inclui, além dos estados listados, aproximadamente o sul de Mato Grosso e o Noroeste
do Maranhão.
5 A numeração de objetos (gráficos, tabelas, figuras e equações) seguirão o mesmo padrão: o primeiro número refere-se ao capítulo
e o segundo à ordem de ocorrência do objeto.

51
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Notas metodológicas:
1. Utilizamos um banco de dados que designaremos daqui por diante de BD-A, com as informações da produção
e de outras 250 variáveis do Censo Agropecuário de 1995 ao nível de estrato de área por microrregião para
toda a Região Norte. Cada estrato de área (s) na microrreigão (r) configura uma caso. Para cada caso, o
g e k

VBPRsr = ∑ ∑ ∑ qsrv . psrv , sendo qsrv e psrv respectivamente a quantidade e o preço do produto v para o caso .
s=1 r =1 v=1
Dado que 64 microrregiões e 15 estratos de área em cada uma, o BD-A tem 960 casos.
2. Seguindo os critérios utilizados no trabalho FAO/INCRA (2000), foram considerados estabelecimentos camponeses
aqueles cuja força de trabalho familiar compõe a capacidade total de trabalho em no mínimo 1/2. Estabelecimentos
patronais são os que contratam trabalho assalariado em montante superior a essa proporção. Calculou-se a força
de trabalho familiar total somando a categoria “Membros Não Remunerados da Família Maiores de 14 Anos” com
a metade da categoria “Membros Não Remunerados da Família Menores de 14 Anos”. Calculou-se a força de
trabalho assalariada total dividindo a soma dos gastos com salários, empreitas e outras modalidades de contratação
de força de trabalho pelo valor médio da diária prevalecente no local, no ano do censo e multiplicando o resultado
por 300 (dias médios de trabalho por ano). Sobre a especificidade da forma camponesa de produção ver Costa
(2012d) e sobre as expressões disso na Amazônia ver Costa (2000).

Com 33% dos 56,6 milhões de hectares de terra apropriados, na região, os estabelecimentos
camponeses produziram, no ano do Censo, 65% do Valor Bruto da Produção do setor e foram
responsáveis por 87% do total de ocupações (para esta e as próximas considerações ver Tabela
1.2.3-2). Também aqui merecem atenção as mais elevadas participações dos estados do Acre,
Amazonas e Rondônia, a baixa participação do Tocantins e a participação destacada, porém
mediana, do Estado do Pará (37% da área, 66% do VBP e 89% do pessoal ocupado), cujo peso,
próximo de 50% do total regional para todas as variáveis, influencia claramente a média regional.

Tabela 1.2.3-2. Características das unidades estruturais que fundamentam a economia de base
agrária da Região Norte (distribuição do valor bruto da produção por atividades, indicadores da
produtividade e relação terra/trabalho em 1995-96).
Produtividade
Valor Bruto (% do total)

(Ha/trabalhador)
Terra/Trabalho
(R$ de 1995)
Produção Animal Produção Vegetal
Bovina Culturas Extrativismo
Trabalho
Estados

Terra
Suínos

Madeira

Madeira

Total
Hort.
Aves

Silv.
Carne

Temp.
Perm.
Leite

Não

Acre 11 11 7 2 9 52 1 5 0 2 100 1.017 50 20


Amapá 4 10 3 1 19 38 11 5 0 9 100 1.690 123 14
Amazonas 2 3 5 1 17 61 2 7 0 3 100 1.004 198 5
Pará 8 10 7 2 13 34 10 13 0 2 100 836 84 10
Rondônia 13 22 7 3 26 25 1 1 0 2 100 896 73 12
Roraima 12 7 12 2 20 40 1 2 0 4 100 1.555 64 24
Tocantins 35 22 10 3 6 21 0 3 0 1 100 783 33 23
Camponeses 10 11 7 2 16 39 5 8 0 2 100 903 81 11
Acre 65 14 1 1 9 5 3 2 0 0 100 3.715 11 329
Amapá 3 9 0 0 9 1 0 0 77 0 100 9.640 93 103
Amazonas 24 22 17 1 14 13 4 4 0 1 100 1.776 19 96
Pará 46 12 13 1 9 7 7 1 2 0 100 3.556 25 141
Rondônia 63 14 3 1 6 9 4 0 0 0 100 2.540 16 163
Roraima 37 20 5 3 6 26 0 1 0 1 100 2.187 10 211
Tocantins 63 9 2 1 2 21 0 1 0 0 100 3.284 20 167
Patronal 50 12 8 1 6 12 4 1 5 0 100 3.278 21 155
Camponeses 7 7 5 1 10 25 3 5 0 1 65
Patronais 17 4 3 0 2 4 1 0 2 0 35
Total região 24 11 7 2 12 30 5 6 2 2 100 1.206 41 29

Fonte: Censo Agropecuário, 1995-96. Tabulações especiais do autor. Ver notas metodológicas da Tabela 1.2.3-1.

52
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Quanto às características dos sistemas de produção agregados, entendidos como a


composição das atividades produtivas conduzidas pelo total dos estabelecimentos aderentes às
formas de produção, destaque-se que na unidade patronal-monocultural há uma forte especialização
em pecuária bovina (62% do VBP), a qual, em conjunto com as atividades que a antecedem (madeira:
5%; e culturas temporárias na preparação do pasto: 12%), representa em torno de 80% do VBP. A
relação técnica que carateriza a unidade estrutural notabiliza-se por uma relação terra/trabalho de 115
hectares por cada trabalhador. É esse uso extensivo da terra (uma forma específica de apropriação
e uso do capital natural da região) que tem permitido à estrutura patronal-monocultural uma
produtividade por trabalhador mais que três vezes maior que a média das unidades familiares, não
obstante uma produtividade da terra quatro vezes maior nessa última (respectivamente, R$ 3.278,00
para R$ 903,00 por trabalhador e R$ 21,00 para R$ 81,00 por hectare). A estrutura familiar apresenta
uma distribuição mais equânime dos grupos de produtos, explicitando seus sistemas diversos,
exigentes em trabalho numa combinação terra/trabalho de 11 hectares por trabalhador, praticamente
1/10 dos estabelecimentos patronais, em que se destacam, em ocorrências concomitantes, os
produtos das culturas temporárias (39%), das culturas permanentes (16%), da produção de leite e
venda de matrizes (11%), de carne bovina (10%), a produção extrativa não madeireira (8%), as aves
(7%), a produção madeireira (5%) e, finalmente, os suínos (2%). Anote-se, em complemento, que as
composições variam de acordo com os diversos ambientes naturais da região.

1.2.4 A prática do FNO de 1990 a 2000

A Constituição de 1988 representou um constrangimento exógeno no estabelecimento de


novas bases institucionais da intervenção política para o desenvolvimento econômica da Amazônia
compatíveis com o ideário de desenvolvimento endógeno e sustentável – “ideia-força” em processo de
elaboração teórica e fortalecimento político na Europa e nos Estados Unidos, mais naquela que nestes,
diga-se de passagem. A tensão formal representada pelo estatuto legal projetou-se sobre uma realidade
marcada por “projetos” concorrentes no esforço de apropriação e uso dos fundamentos naturais da
região pelas unidades estruturais geridas pelas razões diversas de dois tipos de agentes, patronais e
familiares, e por um ambiente institucional bem estabelecido que corroborava assimetrias distributivas
em favor dos primeiros e, assim, tendia a confirmar seus procedimentos: tecnológicos e políticos.
Isto posto, nos colocamos as questões: a prática que se conformou a partir das
determinações constitucionais produziu a grande mudança pressuposta na Constituição? Como
os constrangimentos locais, a sua vez, atuaram sobre a inovação constitucional? Os arranjos
que se fizeram em torno do Fundo implementaram a preferência pelos “mini e pequenos
produtores rurais”, isto é, pela produção familiar rural e pelos sistemas produtivos a ela inerentes,
ecologicamente mais adequados à região, como preconizava a Lei No. 7.827 de 1989?
Precisamos, para responder a isso, observar a relação do FNO com os “projetos”
concorrentes acima indicados. Para tanto, acompanharemos a evolução de quatro grandezas.
Duas delas, a participação relativa da soma dos recursos alocados em pecuária bovina de corte
53
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

mais os investimentos acessórios a essa atividade e a participação relativa dos empréstimos


de grande porte no total, consideramos proxies do esforço para fortalecer a unidade patronal-
monocultural e seus procedimentos tecnológicos; as duas outras variáveis, a participação relativa
das aplicações em culturas permanentes e investimentos a isso acessórios e a participação relativa
dos empréstimos de pequeno porte, qualificamos proxies do esforço para fortalecer a unidade
estrutural familiar-policultural e os procedimentos tecnológicos a ela peculiares.

Gráfico 1.2.4-16 – Evolução da participação dos financiamentos do FNO para pecuária e para
culturas permanentes (Nota Metodológica 1), 1990 a 2000

Gráfico 1.2.4-2 – Evolução da participação dos financiamentos do FNO por porte/tipo do


beneficiário (Nota Metodológica 2), 1990 a 2000

6 A numeração de objetos (gráficos, tabelas, figuras e equações) seguirão o mesmo padrão: o primeiro conjunto de dígitos separados
por pontos, antes do ífem refere-se ao segmento (capítulo, sub-capítulo, seção) do livro a que pertence e, o número após o ífem, à
ordem de ocorrência do objeto naquele segmento.

54
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 1.2.4-3 – Evolução dos repasses anuais, dos contratos de crédito e do disponível (Nota
Metodológica 3), em comparação com a evolução do valor percentual dos créditos contratados
em relação ao disponível (taxa de eficiência bancária) do FNO, 1990 a 2000

Fontes dos Gráficos 1.2.4-1 a 1.2.4-3: Secretaria do Tesouro Nacional, Relatórios do BASA, BASA/DERUR-DICOP
e Santana, 2000.
Notas metodológicas dos Gráficos 1.2.4-1 a 1.2.4-3
1. As percentagens consideram a soma dos créditos para culturas permanentes e para pecuária como 100%.
Consideramos, para isso, que todos os demais itens de crédito para o setor rural distribuem-se proporcionalmente
a essas duas parcelas: isto é, que as culturas temporárias financiadas foram intercalares para cultura permanente
ou pasto; que os investimentos em infraestrutura e que as aplicações tecnológicas serviram às permanentes ou à
pecuária proporcionalmente aos pesos dos créditos respectivos.
2. Houve variação nos critérios que definiram as categorias de usuários do FNO, ao longo do período, numa flexibilidade
tal que borrou as fronteiras das categorias de mini e pequenos produtores, comumente associadas à produção familiar.
Os critérios de enquadramento variaram para os miniprodutores (até 5 módulos rurais e Valor Bruto da Produção,
VBP, muito alto entre 1989 e 1991; até 2 módulos rurais e VBP reduzido, a partir até 1994, conf. Tura, 2000:39) e,
mais significativamente, para os pequenos produtores. A média dos valores emprestados variou, por isso, fortemente.
Quanto aos miniprodutores, os maiores valores oocorreram no início do período, crescendo de R$ 17.345, em 1989,
para R$ 24.712 em 1990, chegando a R$ 36.539 em 1991. Entre 1992 e 1998, situaram-se abaixo do R$ 10.000, com
os valores mínimos nos dois primeiros anos (R$ 4.684 e R$ 4.243) e o máximo, R$ 9.770, em 1995. A média dos
contratos dos pequenos produtores variou também fortemente, sendo R$ 160.898 por contrato em 1989, R$ 90.211
em 1991, situa-se em torno dos R$ 56.000 nos dois anos subsequentes; entre 1995 e 1997 atinge seus valores mais
baixos, situando-se em torno de R$ 40.000, voltando a crescer fortemente em 1998, para R$ 178.398, atingindo em
2000 R$ 77.528. Face a isso, entendeu-se que não foram em todos os anos que a categoria de pequenos produtores
utilizada pelo BASA poderia ser considerada como parte do universo da produção familiar. Consideramos, assim,
que este seria o caso apenas quando a média dos contratos fosse inferior a R$ 50.000 - quando superasse esse valor a
clientela em questão extrapolava o conjunto dos que poderiam ser tratados como produtores familiares, agregando-se
mais adequadamente aos produtores patronais (fazendas e empresas).
3. Saldo de um ano t-1, mais repasses do ano t, menos contratos de crédito no ano t. As disponibilidades aqui não
consideram, portanto, os retornos de empréstimos passados. Os valores estão em reais, 2001.

As séries relativas às proxies da aplicação do FNO mencionadas mostram que há três


períodos distintos a considerar (ver Gráficos 1.2.4-1 a 1.2.4-2 e suas notas metodológicas):
•• O primeiro período, 1990 a 1995, expõe a dimensão da assimetria distributiva
mediada pelo ambiente institucional em operação e sua inércia. Para a economia
55
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

em bases patronais, que em 1995 representava 35% do economia rural (conf. Tabela
1.2.3-2), destinaram-se regularmente, ano a ano, em torno de 80% dos recursos do
FNO, dominantemente para a pecuária de corte e seus investimentos acessórios.
•• De 1995 a 1998, a participação relativa dos financiamentos para culturas permanentes,
que com oscilações variara de 10% para 20% nos 5 anos anteriores, chega a 60%,
produzindo uma redução correspondente na participação da pecuária. Nesse período,
a participação da produção familiar cresceu significativamente, chegando, no ponto
alto da série, a inverter os patamares, atingindo os 80%.
•• De 1998 a 2000, cai rapidamente a participação das permanentes para aproximadamente
30%. No mesmo período, a proporção da produção familiar cai acentuadamente,
sendo novamente superada pelos produtores patronais no ano de 2000.

A realidade do FNO, pois, não foi a da afirmação veemente de nova base de


desenvolvimento. No primeiro período, prevaleceu a “velha” unidade estrutural pecuária-
grandes emprestadores/patronal-monocultural; no segundo período, aí sim, logrou primazia
a unidade estrutural culturas permanentes-pequenas emprestadores/familiar-policultural
para, no terceiro período, voltar a se afirmar o binômio pecuária-grandes emprestadores
como fundamento destacado da política do FNO.
O exercício das relações concertadas pelo FNO reflete, assim, a tensão que há entre o
modelo do uso extensivo – excludente, concentrador, redutor extremado da biodiversidade – e o
modelo de uso intensivo dos recursos naturais – baseado na diversidade botânica e nas capacidades
difusas do trabalho camponês, vencendo, na maior parte do tempo, o primeiro deles: precisamente
aquele cuja interpelação deveria ser a razão de ser do FNO.
A taxa de eficiência bancária (conf. Gráfico 1.2.4-3) demonstra de modo expressivo essa
tensão na medida em que aumenta quando o modelo a superar prevalece e reduz quando, ao
contrário, é o novo modelo que assume a proeminência. Ela indica, assim, existirem, atuando sobre
o FNO, forças que confirmam o que deveria ser negado e negam o que deveria ser confirmado na
perspectiva de um novo estilo de desenvolvimento para a região.
Trata-se de situação paradoxal produzida por path dependency, por um inércia, cujas
forças subjacentes se esclarecem por rigidez institucional, por problemas de mensuração,
oportunismo e assimetria de poder. Vejamos, primeiro, como esses fatores sobressaem da
perspectiva dos envolvidos.

1.2.5 A prática do FNO ao longo dos anos noventa – a rigidez institucional relatada por
perspectivas inversas

No início da primeira década do presente século, duas perspectivas consideravam os


desenvolvimentos indicados pelos dados acima. Uma interpretação parte de um ponto de vista
interno e a outra externo ao campo institucional.
56
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

No primeiro7, elementos de uma tecnocracia que se entende ciente das necessidades regionais
e solidária com os mais humildes esclarecem sua adesão imediata ao novo tipo de desenvolvimento
preconizado na Lei No. 7.827 e sua satisfação em dispor de instrumentos para contra-arrestar o
modelo depredador e excludente com o qual foi obrigado a pactuar, como coadjuvante, no reinado
da SUDAM. Aduzem, todavia, ser a mudança portadora de enormes riscos, com os quais se teve
(tem) que lidar profissionalmente, maduramente. A preparação das novas regras exigiu cuidados que
demandaram longo tempo de estudos para a adequação dos contratos aos novos clientes e aos novos
produtos e para garantir as salvaguardas das instituições de pesquisa e extensão, indubitavelmente
habilitadas a garantir a eficiência dos sistemas produtivos que garantiriam um novo desenvolvimento.
Enquanto isso, prevaleceram circunstancialmente as velhas regras, confirmadoras do projeto
latifundiário-monocultural. Isso explicaria a primeira fase, de 1990 a 1995. A segunda fase, seria
o momento da mudança, na qual, ao projeto familiar-policultural, mediante contratos justos – com
cláusulas duras, porém obviamente necessárias –, acordados em longas rodadas de negociação, viria
a ser dada prioridade total. Dois fatores, contudo, frearam esse ímpeto: a) o novo cliente mostrou-se
limitado na sua capacidade de absorção de crédito e b) os novos produtos e sistemas de produção
objeto da política apresentaram maior potencial de risco que o previsto. A produção familiar rural
teria se mostrado inábil para a tarefa, garantem, dado seu tradicionalismo (conservadorismo,
apego ao passado) e insuficiente disponibilidade em capital humano e social. Ao mesmo tempo,
desenvolveram-se argumentos que alargaram, às suas vistas, as possibilidades do desenvolvimento
sustentável: não seria condizente com esse novo tipo de desenvolvimento a reforma de pastagens,
dado que se poderia imaginar que isso contenha o avanço sobre a floresta? Não seria condizente com
esse novo tipo de desenvolvimento o financiamento de uma pecuária baseada em animais de alto
rendimento, dado que isso colocaria possibilidades de maior confinamento dos rebanhos e, ipso facto,
menor tensão sobre a floresta? Não podem ser tratados como promotores de sustentabilidade os que
estão dispostos a reformar pastagens e adquirir embriões de um gado hightech? Nessa perspectiva,
os limites dos camponeses como base de um processo de desenvolvimento e a requalificação da
pecuária explicariam a passagem da segunda para a terceira fase.
As representações camponesas, pautadas em um grande número de estudos, narrariam, por
seu turno, o seguinte: a primeira fase do FNO não se caracterizou por ser um preâmbulo para a segunda
fase, como se quer fazer crer. Ela seria, na realidade, a forma como, deixada à sua própria lógica, a
tecnoburocracia do BASA teria absorvido definitivamente as mudanças indicadas pela Constituição.
Essa absorção teria um viés regionalista, sim, que, entretanto, simplesmente substituía um grande
tomador de recursos públicos (os empresários de outras regiões, os principais beneficiários da era
SUDAM) por outro grande tomador de recursos (os fazendeiros regionais, fossem eles empresários
urbanos latifundizados, fossem eles latifundiários tradicionais buscando modernizar-se)8.
A segunda fase se explicaria, a sua vez, por um dado endógeno e outro exógeno ao campo

7 O que segue é um relato estilizado do conteúdo de diversos relatórios do BASA e falas registradas em Farias (2002).
8 Nesse sentido, este seria mais um movimento no processo que chamamos em outro texto (Costa, 1992) de “reoligarquização” do
agrário regional.

57
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

institucional da intervenção federal na região. Endogenamente, o BASA passava por crise profunda,
da qual faziam parte ameaças de fechamento, entre os anos de 1994 e 1995, quando sua clientela
preferencial, os fazendeiros e empresários rurais, tornaram-se massivamente inadimplentes mediante
a perda dos subsídios produzidos pelo plano real, levando, por um lado à criação de um passivo de
elevado risco, de outro à formação de recursos ociosos de meio milhão de dólares (Solyno Sobrinho,
2000). Exogenamente, já desde o início da década de noventa, demonstrava-se uma inusitada
capacidade de mobilização reivindicatória dos camponeses, inicialmente no Estado do Pará e,
depois, por toda região Norte (Tura, 1996; Rogge, 1998; Costa, 2000a). Essa nova presença teria
estabelecido o ideário do desenvolvimento sustentável como orientador de fato das negociações em
torno da aplicação dos recursos do FNO – e, assim, teria feito convergir a prescrição constitucional
com a prática efetiva do BASA. Tal convergência teria sido, contudo, mais formal que real. Uma
convergência formal, porque os recursos teriam fluído contabilmente para a produção familiar rural
em proporções sem precedentes. A alocação real dos recursos, todavia, fez-se orientada por propostas
tecnológicas impositivas, em muitos casos incompatíveis com as necessidades dos sistemas de
produção; fez-se, também, por uma gestão ineficiente no que se refere à congruência e cumprimento
da agenda de liberação dos recursos e à qualidade dos insumos a eles vinculados. Os riscos derivados
de tais procedimentos foram distribuídos contratualmente de modo assimétrico, transferindo ônus de
forma desigual aos camponeses. Sob a ameaça da inadimplência, fragilizam-se as posições recém-
conquistadas.

1.2.6 Os vieses do FNO como “problemas de mensuração”: conhecimento limitado e oportunismo

As perspectivas dos agentes imediatamente envolvidos com a operação do FNO, formadas


a partir das posições estratégicas de cada qual, ressaltam o papel do “outro” nas contrariedades
a esclarecer. Na narrativa tecnocrática, a dificuldade de realização do contratado assentaria
fundamentalmente no fato de que o principal instrumento (oferecido pela Lei 7.827) de ação
estratégica do estado nacional para o desenvolvimento sustentável na região Amazônica teria
uma incorreção de fundo, a saber: aquele ator/agente indicado como preferencial no processo
não teria capacidade para tanto. Assim, para resguardar o principal da política, a promoção do
desenvolvimento (sustentável?), seria necessário encontrar outro protagonista. E a isso o Banco
estaria se dedicando, com sucesso, em processo cujo resultado mais surpreendente seria o
reencontro com velho conhecido seu: o gestor da unidade produtiva patronal-monocultural. Na
base das dificuldades estaria o tradicionalismo dos camponeses – seu pouco capital humano – o
que se constituiria em alguma forma de conservadorismo fundamental responsável pelo baixo
nível de realização do potencial que se antevia no FNO9 para induzir processos dinâmicos, com
possibilidades de corresponder às expectativas de um novo tipo de desenvolvimento.

9 O potencial do FNO derivaria de suas características formais inovadoras, já enunciadas. Em conjunto, elas a) oferecem a
possibilidade de gestão flexível e compartilhada dos recursos do Fundo e, por isso, b) permitem abrigar agendas locais e c) ajustar
com relativa rapidez a processos específicos, para potenciá-los ou contrariá-los.

58
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

A narrativa camponesa enfatiza uma organicidade a priori, um viés em favor dos


fazendeiros e empresários rurais, gestores da unidade patronal-monocultural. Aponta que, ao fim e
ao cabo, na maior parte do tempo, o BASA lança mão de recursos a custo de captação zero porque
predestinados ao desenvolvimento sustentável – de retorno sabidamente modesto e de longo
prazo –, e empresta-os a clientes, os de sempre, aliás, que garantem rápido retorno precisamente
por gerirem sistemas produtivos de avaliação duvidosa na sua capacidade econômica de longo
prazo e nos aspectos sociais e ecológicos. Em nome da eficiência bancária, a organização estaria
negligenciando sua função como agente de desenvolvimento; em nome das suas alianças antigas
– de sua cultura institucional – ela estaria desvirtuando os propósitos constitucionais.
Por outro lado, no curto espaço de tempo em que lidou majoritariamente com camponeses,
o Banco impôs práticas produtivas temerárias, indicadas por instituições oficiais de pesquisa e
extensão agropecuária, chamados a salvaguardar, no papel de autoridade do campo científico-
técnico, a eficiência econômica da intervenção. Aqui um fato inesperado: tais autoridades, por
terem formado seu portfólio de ofertas tecnológicas com vistas aos demandantes latifundiários-
monoculturais, não estavam preparadas para dizer muito sobre o uso sustentável dos recursos
naturais na Amazônia, menos ainda sobre tais usos sob a gestão camponesa. Não obstante, não
se fizeram de rogadas, tais autoridades – disseram muito, demais até – rejeitaram os sistemas que
funcionavam na prática camponesa, estigmatizados como tradicionais, de baixa rentabilidade;
indicaram outros pressupostamente modernos que, todavia não funcionaram10. O saldo final foi
um aumento sistemático da incerteza de todos os envolvidos e, a isso associada, a formação de
custos de transação ex-post em montantes consideráveis sobretudo para os camponeses.
Diante disso, enquanto se observa um rápido e fácil retorno do Banco à sua clientela
“natural”11 – quando se deveria esperar uma renovada e mais completa abordagem dos elementos
que envolvem o novo tipo de desenvolvimento12- os camponeses retornam às formas precárias,
porém próprias, com custos de transação zero, de financiamento de suas estratégias de mudança13.
Para além desse plano, porém, é dado observar que, ao lado da tendência de retorno do
BASA à posição conservadora inicial, há questões que emergem do contexto, transcendendo, por

10 Para uma análise detalhada ver Costa, 2000a e Solyno, 2000.


11 Além das séries apresentadas, a rapidez dos processos é corroborada no caso particular do Estado do Pará e, mais
acentuadamente ainda, no caso da Mesorregião Sudeste paraense – uma área de intenso movimento de fronteira protagonizado por
uma pecuária extensiva, cujo avanço tem produzido fortes tensões sociais. No Pará, a pecuária de corte, que representava 19% dos
financiamentos em 1996, passa a representar 30% no ano de 2000; as permanentes caem no mesmo período de 40% para a 27%. No
Sudeste paraense, por sua vez, a pecuária de corte passou de 26% para 39% e as permanentes de 20% para 13%. Esta mesoregião
será objeto de intenso escrutínio na Parte III do livro, a partir do Capítulo 11.
12 Que incluiria uma necessária ênfase na agroindustrialização, como complementação à fase anterior. Não é o que acontece,
como frisa Santana: “... o desequilíbrio em relação à agroindústria é injustificável ou até mesmo imperdoável, uma vez que (...)
este é um segmento que pode, em curto ou médio prazo, viabilizar a formação de agrupamentos produtivos sinérgicos, nos eixos de
desenvolvimento traçados no Programa Avança Brasil para a Amazônia (Santana, 2000:72). Trataremos desta questão adiante, na
Parte III, capítulos 10 e 11.
13 São ilustrativos, sobre este último ponto, os resultados que obtivemos em pesquisa de campo em parceria com o LASAT, com 310
estabelecimentos familiares na região polarizada por Marabá: o investimento feito em culturas permanentes por esses estabelecimentos
cresceu extraordinariamente, saindo de um índice 100 em 1990 para 128 em 1995 e para 220 em 2000. Dessas inversões, contudo,
apenas 7% foram financiados pelo FNO.

59
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

uma parte, configurando, por outra parte, as posições dos agentes e orientando suas estratégias.
Um exercício elucidativo seria o de decompor as relações em torno do FNO em dois tipos: o
da sociedade e estado brasileiros com o Banco da Amazônia e deste com os diversos grupos
e agentes que acessam ou medeiam o acesso ao crédito. Tem-se como dado que, no conjunto,
esses contratos objetivariam uma aceleração do desenvolvimento sustentável da região Norte
comparativamente ao restante do País – pela aceleração do crescimento associado a mudanças
estruturais que pudessem garantir desenvolvimento socialmente equânime e ecologicamente
equilibrado. Para isso, eles deveriam produzir convergência entre as decisões dos atores coletivos
que se fariam obedecendo a resultados de cálculos de custo/benefício social (a percepção coletiva
de que abrir mão dos recursos do FNO foi mais que compensado pelo desenvolvimento da região)
e aquelas decisões dos agentes, para as quais prevaleceriam cálculos de custo/benefício privado,
cujos melhores resultados dependeriam crucialmente da redução de custos, tanto daqueles
associados à produção, quanto dos outros originados nas transações (Williamson, 1985:15-19).
Uma primeira questão, fundamental na relação entre sociedade e estado nacionais e BASA
no contrato FNO, refere-se ao objeto contratado e repousaria na pergunta: que percepção de
“desenvolvimento” orientaria as decisões de maximização dos sujeitos coletivos? Uma segunda
questão, fundamental na relação entre BASA e produtores, diz respeito à pergunta: exatamente
que procedimentos tecnológicos, que sistemas de produção, garantiriam ao mesmo tempo os
anseios dos agentes privados e o desenvolvimento? Uma terceira questão derivaria diretamente
da segunda: onde, exatamente, que sistema é mais eficiente em combinar tais perspectivas?
As respostas precisas, que garantiriam os contratos perfeitos, exigem total clareza
conceitual sobre a dinâmica social e o devir que se cogita – sobre a perspectiva de desenvolvimento
– e o conhecimento operacional preciso no que se refere aos fundamentos materiais, aos sujeitos,
aos lugares e aos processos para isso requeridos. A medida da indisponibilidade dos discernimentos
necessários, do conhecimento para tanto, seja quanto aos fins, seja quanto aos meios e métodos,
produziria uma probabilidade correspondente de erro na delimitação dos contratos, em qualquer
nível. Nisso residem os problemas de mensuração nas relações contratuais que subjazem aos
mecanismos de promoção do desenvolvimento.
A Nova Economia Institucional (NEI) define problemas de mensuração como sendo
as dificuldades postas pela capacidade limitada de conhecer14 e pelo oportunismo – i.e. pelo
conhecimento insuficiente e pela disposição latente nos agentes de não cumprir um contrato se o
custo que se presume derivar da retaliação for menor que o ganho com a ruptura do acordo – para
a formulação do contrato, para o acompanhamento e para controle do processo, do qual emergirá
a utilidade contratada (Williamson, 1985:80).
Aos problemas de mensuração correspondem problemas de controle, de modo que toda
a questão pode ser posta simplesmente assim: como saber o quanto meu contraparte desviou-se

14 A bibliografia da NEI refere-se à racionalidade limitada, uma vez que trabalha com a metáfora do agente portador de uma
subjetividade substantiva.

60
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

do acordado se prevaleceu sua natureza oportunista, dado ser o meu conhecimento limitado para
estabelecer precisamente o que quero e para avaliar com exatidão o que foi feito?
Voltemos, neste ponto, ao que nos ocupa: a aplicação do FNO teria sofrido, isto posto,
por todo o período já analisado problemas seminais de mensuração, na medida em que o
“desenvolvimento sustentável”, seu objeto contratual, comporta diversos significados, gerando,
tal fato, “ambiguidades de atributos e performance” (Williamson, 1985:2) associadas à sua
consecução.
A política do FNO teria sido influenciada, ademais, pelo conhecimento insuficiente do
que se refere aos sujeitos do desenvolvimento e seus fundamentos produtivos: como, e mediante
que procedimentos (de produção e venda), mobilizá-los inovativamente, eis uma questão central
na relação entre organização e clientes.
Nessa perspectiva, os desvios do BASA seriam desvios oportunistas, derivados de
assimetrias de conhecimento, determinados por processos epistêmicos. Todavia, como lembra
Melo (2004: 176), a ênfase na dimensão cognitiva obscurece a dimensão de conflito objetivo que
tende a se acentuar quando a mudança institucional pode implicar redistribuição e concentração
de benefícios.

1.2.7 Os vieses do FNO como expressão de conflitos e as assimetrias de poder derivadas

As carências de conhecimento no que se refere aos atores e estruturas que gerem,


no âmbito da produção, as combinações de trabalho, capital físico, capital natural e
conhecimentos disponíveis são de duas ordens, ambas expressando dimensões particulares
do conflito estabelecido no plano estrutural.
A primeira diz respeito ao (des)conhecimento sobre os atores fundamentais,
indiscriminadamente tratados por preconceitos: os camponeses como “naturalmente
incapazes”, os fazendeiros e empresas como “naturalmente capazes”; os primeiros como
“marginais”, “resquícios” em extinção, os segundos como as expressões da “modernização”,
dolorosa ou não, da agricultura do país. Tais preconceitos, endossados por segmentos
importantes da academia brasileira, consolidaram-se, é certo, por falta de pesquisa sistemática
e consistente. São, assim, resultados de uma carência epistêmica. Os atributos por eles
criados, contudo, cristalizam posições de domínio e subalternidade antigos e profundos. Mais
que lacunas epistêmicas, eles são a dimensão ideológica de uma oposição de fundo na busca
de controle dos ativos sociais, expressando assim uma assimetria de poder que é anterior à
assimetria de conhecimento e a determina, levando ao extremo o obscurecimento do outro
quando o anula na observação/criação do futuro; quando o incapacita a priori na configuração
de um devir que poderia ser visto como positivo porque em parte produto de sua presença.
A segunda diz respeito à gritante escassez de conhecimento de procedimentos
tecnológicos inovadores e eficientes na perspectiva dos agentes. Demonstramos em outro
texto (Costa, 1998a) que a capacidade institucional para a produção de conhecimento esteve
61
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

dominantemente ligada às necessidades latifundiário-monoculturais; a falta de conhecimento


para a implementação de sistemas eficientes da produção familiar era, assim, uma expressão
do domínio do campo institucional por seus antagônicos – uma expressão do conflito objetivo
entre os projetos concorrentes que em embates sistemáticos disputam os fundamentos
produtivos da região.

1.3. As condições vigentes

A experiência inédita do FNO permitiu uma vivência institucional complexa e única,


fornecendo elementos para avaliar as dificuldades de institucionalização do ideal de um novo
tipo de desenvolvimento na Amazônia, pautado em noções de sustentabilidade e no estímulo de
forças endógenas. Ela nos sugere três questões.
Há dificuldades associadas ao universo da produção, nas quais as características dos
camponeses – a fragilidade econômica e o baixo nível de capital humano – e dos fazendeiros
e empresários rurais – sua capacidade e eficiência econômica diretamente derivadas de uso
agressivo dos recursos naturais – são apontadas como limitantes do potencial que se antevia no
FNO15 para induzir processos dinâmicos, com possibilidades de corresponder às expectativas
de um novo tipo de desenvolvimento, em que, ademais, as relações entre tais características
nos projetos concorrentes em movimento produzem expressões institucionais que esclarecem
relutâncias e contradições.
Há, por outra parte, carências transcendentes aos agentes. E aqui chegamos a um ponto
da questão, o nexo de nossas pesquisas nos últimos anos e dos assuntos tratados neste livro:
trata-se de carência institucional (a ausência de uma comunidade epistêmica com capacidade de
equacionar o sentido, o lugar e o sujeito da política em questão) e organizacional (impropriedade
organizacional, dificuldades de governança e limites de enforcement). Avulta-se a compreensão
de que a institucionalização do ideal de sustentabilidade implica, a rigor, reconstrução da
institucionalidade que medeia a relação do estado com as sociedades regionais, i.e., implica
alteração dos nexos objetivos que articulam organizações e visões de mundo, estruturas
organizacionais e posturas individuais nessa mediação.
As instituições constituem-se formas concentradas ou difusas, e as sociedades
reproduzem-se – mantêm-se e evoluem - na interação entre essas duas formas de instituição e
seus fundamentos. Na primeira forma, elas são aparatos – privados ou públicos. Como tal, são
organizações, estruturas organizacionais, a parte visível de uma institucionalidade. Na segunda
forma, elas manifestam-se nos valores, nos princípios morais e nas percepções de mundo – as
quais não são mais que estruturas conceituais que, compartilhadas (conf. Douglas, 1998:18),

15 O potencial do FNO derivaria de suas características formais inovadoras, já enunciadas. Em conjunto elas a) oferecem a
possibilidade de gestão flexível e compartilhada dos recursos do Fundo e, por isso, b) permitem abrigar agendas locais e c) ajustar
com relativa rapidez a processos específicos, para potenciá-los ou contrariá-los.

62
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

formam as posturas dos agentes, o poder invisível que faz suas ações convergirem no sentido de
reproduzirem estruturas sociais e econômicas, das quais as organizações são parte.
Não faz sentido pensar, assim, uma organização sem o seu campo (Bourdieu, 1983;
Bourdieu, 1994), isto é, sem as outras instituições, tangíveis ou intangíveis, com as quais se
relaciona na sua prática cotidiana, estruturando o campo de forças sociais de que faz parte.
E, a cada campo corresponde uma “comunidade de pensamento” (Douglas, 1998). Para a
compreensão do que se passa com o FNO, não basta, pois, observar o BASA e suas dificuldades
em cumprir a Lei No. 7.827. Além de espiar para dentro dessa organização (sua definição
estatutária), é forçoso observar o que se passa ao lado (com as outras organizações conexas),
acima (a visão de mundo que a ela transcende, estabelecendo um “… estilo de pensamento…”
– conf. Mary Douglas – sobre o desenvolvimento regional) e abaixo dela (interesses privados
que permeiam suas instâncias).
Olhando para dentro do BASA, perscrutando a sua constituição íntima, deparamo-nos
com uma esquizofrenia importante: uma cisão de personalidade entre banco comercial e banco
de desenvolvimento. Essa tensão foi bem identificada por Farias (2002) e parece ser a principal
responsável por um oportunismo mais propriamente organizacional – a necessidade de uma boa
performance comercial, potenciada pela reforma bancária que impõe elevadas exigências de
produtividade, levaria o Banco a usar os recursos e a imagem que lhe emprestam o FNO (custo
de captação zero, imagem positiva, com selo verde e orientação aos mais fracos) para elevar a
lucratividade de suas operações e produtos e, assim procedendo, tenderia a favorecer atividades
com rentabilidade de curto prazo, como a pecuária em geral e a pecuária de corte em particular.
Ao lado do BASA, encontramos um conjunto de organizações de Ciência e Tecnologia
(C&T), para o qual diagnosticamos, em outro momento, um profundo desenraizamento
em relação às necessidades de um desenvolvimento agrário regional em outras bases, mais
sustentáveis. Verificamos que, por mecanismos próprios do funcionamento do campo da C&T
agropecuária no Brasil e na Amazônia, os esforços de pesquisa têm se feito, historicamente,
pondo em segundo plano o tipo de agricultura de que careceria um desenvolvimento sustentável
(diversa, complexa, de fundamento perene) – privilegiando, por outra parte, a agricultura
homogênea e, particularmente, a pecuária (Costa, 1998a). Por seu turno, as organizações que
têm por fundamento estatutário a extensão rural, a transmissão dos conhecimentos gerados
pela pesquisa agropecuária, além de só disporem daquilo que a pesquisa tem a oferecer, atuam
ministrando fórmulas rígidas. Em qualquer dos casos, constata-se um problema fundamental de
insuficiência de conhecimento no nível das organizações.
Acima do BASA e das demais organizações presentes, vê-se objetivamente redes
hierárquicas que as constrangem ao cumprimento de papéis conflituosos e ambíguos. Sobre elas
paira ademais ‘’…uma visão de mundo, desenvolvendo um estilo de pensamento…” (Douglas,
op. cit.:44) que valoriza os sistemas homogêneos e os procedimentos industrialistas padrão –
do que faz parte uma visão segmentada da realidade social. É isso que aprende o estudante de
agronomia, é isso que pratica seu professor na instituição de pesquisa, é isso que ele fará como
63
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

extensionista. O curso de economia ensina a pensar a base produtiva por funções de produção
de um único produto, assim procede o analista de crédito no banco e o conselheiro de mercado
na instituição de assessoramento. O banco não considera sua a tarefa de pensar a justiça social,
muito menos uma justiça social que incorpore as novas gerações. E assim por diante. Assim,
a visão de mundo comum que permeia, unindo, as mentes (institucionalizadas) corrobora o
desenvolvimento em bases homogêneas e mecânico-químicas, para o qual se espera maior
eficiência das grandes estruturas produtivas. Há, aqui, uma dimensão de racionalidade limitada,
de insuficiência de conhecimento no plano difuso dos indivíduos, enquanto um problema para
a institucionalização, é dizer, para a socialização do ideal de um desenvolvimento sustentável.
Por fim, abaixo das organizações encontram-se os indivíduos com graus de liberdade
tanto em relação à cognição institucionalizada, moralizada, socialmente constrangida, quanto
em relação ao poder das organizações, dos aparatos institucionais. Aqui enquadram-se tanto
as formas mais drásticas quanto as mais brandas de oportunismo por transgressão individual
ou de pequenos grupos, como as muitas formas de desvio de conduta que se fazem em nome
do progresso da ciência e de grandes causas. Entre as formas fortes de oportunismo individual
encontra-se a corrupção. A partir de um modelo formalmente rigoroso, Lopez (2001) atribui
à corrupção sozinha a responsabilidade pela manutenção de um status quo dominado pelos
grandes proprietários latifundiários em toda a América Latina, em que as possibilidades do
desenvolvimento em geral, e de um desenvolvimento de novo tipo, baseado em capital humano
e natural, seriam sistematicamente bloqueadas. Trata-se de evidente exagero. Não obstante,
mostramos em outro estudo (Tura e Costa, 2000) as oportunidades que a operação do FNO
oferece para o fortalecimento desse tipo de obstáculo.
Em resumo: ao lado das dificuldades dos produtores rurais – camponeses e patronais –
o tradicionalismo do ambiente institucional, do qual o FNO é um dado, o fato de se encontrar
como um todo submetido a condições de path dependency, constitui ingrediente fundamental
na consideração dos elementos do ideário do desenvolvimento sustentável presentes nas
disposições constitucionais reguladas pela Lei No. 7.827. Não obstante, todas as organizações
incluírem em seus folders de apresentação e nos discursos de seus dirigentes a disposição
para tal validação, a realidade de suas ações fez-se incorporando estratégias oportunistas e
pautadas em conhecimentos insuficientes e/ou inadequados sobre e para um desenvolvimento
sustentável na Amazônia. A institucionalidade é tradicional, portanto, porque assentada sobre
uma razão técnica incapaz de lidar conceitual e operacionalmente com o “valor” da diversidade
para um desenvolvimento duradouro na região, desaparelhada para tratar com os atores
capazes de gerir a diversidade e com as manifestações e resultados locais dessas capacidades.
Ademais, o tradicionalismo tecnocrático tem estatuto político: alimenta-se, é recompensado e
arregimenta poder, corroborando com o status quo, corroborando com visões de mundo e ações
que mantêm as formas temerárias e iníquas de desenvolvimento. Em ação, tal tradicionalismo
tem criado embaraços de monta para a realização do potencial de mudança que se antevê no
estatuto do FNO. A ele se deve uma longa lista de tropeços da política em questão. O seguintes
64
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

pontos se destacam: tutelamento conservador das inovações; financiamento de sistemas


dominantemente homogêneos ou com baixo grau de complexidade e, por isso, com elevado
grau de risco; desconsideração do potencial de capital humano real disponível (preexistente);
baixa influência na formação de capital humano “novo” (capaz de lidar com os pressupostos de
um desenvolvimento endógeno na Amazônia); desconsideração do potencial de valorização do
ecosistema originário; e a producao desnecessária de inadimplência (que chamamos de técnica
porque forçada pelos pacotes de investimento) e risco social (conf. Tura e Costa, 2000).

Capítulo 2
Dinâmica recente: expressões econômicas e fundamentos
(1990-2007)

No capítulo precedente, explicitamos fenômenos e delineamos referências estruturais com


base nos dados do Censo Agropecuário de 1995-96. Tais dados, organizados nas tabelas 1.2.3-1
e 1.2.3-2, permitem estabelecer as características dos fundamentos do setor rural na Região com
alguma riqueza de detalhes ao tratar os atributos médios dos estabelecimentos. A observação é,
contudo, estática – vale para o ano do Censo. O que podemos dizer sobre as dinâmicas próprias
dessas estruturas – ou, por outra perspectiva, o que podemos dizer sobre as participações dessas
distintas estruturas na dinâmica do setor? Como elas caracterizam o seu desenvolvimento?
Neste capítulo apresentamos as soluções metodológicas que nos permitiram encaminhar
respostas a essas questões para um período que se estendia de 1990 a 2006 – o ano do novo Censo
Agropecuário. É importante notar que o último ano da série estudada é precisamente o ano de
realização do novo Censo Agropecuário, cujos resultados, todavia, permaneciam desconhecidos
quando da realização dos exercícios que seguem (Costa, 2009b).
O Valor Bruto da Produção do Setor Rural (VBPR) na Região Norte16 evoluiu a 4,6%
ao ano entre 1990 e 2006. A preços de 200517, de uma média de R$ 5,5 nos três primeiros18 anos
para R$ 9,0 bilhões de reais nos três últimos. A produção camponesa (ou familiar rural) cresceu
em média a 5,1%, e a patronal a 3,9% a.a., no período, a primeira ampliando ligeiramente sua
participação relativa de 60,5% para 62,2% do total do setor com redução correspondente do peso
relativo da segunda de 39,5% para 37,8% (ver Gráfico 2-1)19.

16 A Região Norte compreende os estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
17 Os preços correntes foram corrigidos para 2005 pelo IGP da Fundação Getúlio Vargas.
18 As séries apresentadas nos gráficos que seguem são médias trianuais das séries originais.
19 Sobre essas distinções, que aqui serão recorrentes, ver Costa, 2008 e Costa, 2007.

65
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 2-1 – Evolução do Valor Bruto do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2006 (Médias
trianuais)

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor.


Notas metodológicas:
1. Utilizamos dois bancos de dados: um, o BD-A construído de acordo com os critérios explicitados nas notas
metodológicas 1 e 2 da Tabela 1.2.3-1. Outro conjunto de dados, o BD-B com as informações anuais de preço
e quantidade de cada produto v por microrregião retiradas das séries da Produção Agropecuária Municipal
PAM), Produção Extrativa Municipal (PEM) e Produção Pecuária Municipal (PPM). Com base nessas séries
Q
foram formatados índices de quantidade, I rva , e de preço I rva
P
, para cada ano (a), no período de 1990 a 2006, e
produto (v) na microrregião (r), considerando o ano base o ano de Censo, 1995, tal que I rva Q
 qrva qrv ( a1995) e
P
I sva  psva psv ( a1995) . Observe-se que atualizamos todos os preços com base no IGP-FGV para 2005, de modo que
P
o índice I rva refere-se a preços constantes.
2. Aplicando os índices criados no BD-B para os casos do BD-A formou-se um novo banco de dados,
o BD-C, com cada caso gerando VBPR anuais no período 1990 a 2006 a preços constantes de 2005,
2006 g e k

VBPRasr = ∑ ∑ ∑ ∑( I Q
avs .qasrijv ).( I avs
P
. pasrijv ). Cada caso no banco original gerou 17 casos (o número de anos
a=199
90 s=1 r =1 v=1
considerados), de modo que o novo banco BD-C tem 16.320 casos=linhas.
3. As séries apresentadas no gráfico acima são médias trianuais das séries resultantes da tabulação dos dados do
banco descrito em 2.
4. As taxas de crescimento foram calculadas por regressão linear da transformação logarítmica das médias trianuais
da variável em questão em relação ao tempo.

Há três momentos a considerar nessa dinâmica: de 1990 a 1995, o setor cresceu a 8,5%
a.a., taxa que reduz significativamente para 1,9% a.a. entre 1996 e 2000 e, a partir daí, cresce para
3,8% a.a. Na primeira fase, a produção camponesa cresce bem mais rápido do que a patronal,
66
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

11,7% e 3,5% a.a., respectivamente; na segunda, a produção camponesa cresce lentamente a 0,6%
a.a., enquanto a patronal passa a andar mais rápido a 4,9% a.a. – situação que se acentua no último
período, quando a produção camponesa cresce a 0,9% a.a. e a patronal a 9,3% a.a.20.

2.1. Os macroagregados e sua decomposição funcional

O Valor Bruto da Produção Rural (VBPR) é o somatório da multiplicação da Quantidade


Produzida (qv) de cada produto (v) pelo seu Preço Pago ao Produtor (pv). De modo que o VBPR
compõe-se de uma parcela correspondente aos Custos de Produção (CP) e outra de Rendimento
Líquido do Produtor (RLP) na produção de Qi. A parcela de custos (CP), por sua vez, é a soma de
Salários Rurais (SR) mais Insumos da Produção (IP). Os Salários Rurais (SR) mais os Rendimentos
Líquidos dos Produtores (RLP) compõem o Valor Adicionado Rural (VAR). O valor dos insumos
(IP: bens e serviços necessários à produção rural) representa a Demanda Intermediária do Setor
Rural (DISR), a si próprio, e aos demais setores da economia. De modo que VBPR = ∑qv.pv = SR
+ RLP + DISR = VAR + DISR.
No Gráfico 2.1-1, apresentamos a evolução do VBPR da Região Norte decomposto em
Rendimento Líquido dos Produtores (RLP: dos camponeses, que, passaram de R$ 2,2 para R$ 4,2
bilhões de reais no período considerado, e patronais, que saíram de R$ 0,8 para R$ 1,8 bilhões),
massa de Salários Rurais (SR: que se manteve basicamente a mesma em torno de R$ 0,9 bilhões)
e Demanda Intermediária do Setor Rural (DISR: que cresceu de R$ 1,2 para R$ 2,1 bilhões).
Em média, o RLP camponês cresceu a 6,3% a.a. e o patronal 6,8% a.a. ao longo do período.
Não obstante, o crescimento do RLP dos camponeses concentrou-se na primeira fase, com taxas
anuais em torno de 15% a.a., estagnando a partir daí. O crescimento dos patronais, ao contrário,
apresenta taxas iniciais menores, de 7,5%, incrementando nos demais períodos.
A Demanda Intermediária do Setor Rural (DISR) e o Valor Adicionado Rural (VAR:
a massa de salários pagos pelo setor rural adicionada ao montante de rendimentos líquidos dos
produtores rurais) geram efeitos de concatenação para frente (pelas vendas de produtos finais e
de insumos para cadeias produtivas diversas) e para trás (pelas compras de produtos e serviços
de produção e consumo), formando demandas para os setores urbanos locais e para as economias
extralocais: estadual, regional e nacional. O impacto final depende da estrutura de multiplicadores
em funcionamento. Temos essa estrutura calculada na seção 12.3.1 para a economia local
do Sudeste paraense a partir de sua matriz de insumo-produto. Com base nos parâmetros ali
apresentados, modelamos o valor adicionado resultante da produção rural da Região Norte, de
1990 a 2006, conforme notas metodológicas do Gráfico 2.1-2.

20 Para um detalhamento das duas primeiras fases, ver Costa (2000a).

67
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 2.1-1 – Evolução das macrovariáveis do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2006
(Médias trianuais)

10.000.000

9.000.000

8.000.000

7.000.000

6.000.000
R$1.000,00

5.000.000

4.000.000

3.000.000

2.000.000

1.000.000

2001

2003

2005
2002
2000

2004

2006
1991

1993

1995

1998
1992

1996

1997

1999
1990

1994

Renda Líquida Camponeses: 6,3% a.a.


Renda Líquida dos Produtores (Camponeses + Patronais): 6,4% a.a.
Valor Adicionado Rural (Produtores + Salários): 5,2% a.a.
VBP(VA+ Demanda Intermediária de Insumos e Serviços): 5,0% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor.


Notas metodológicas:
1. Para o cálculo do custo da produção agregamos as informações de custo constantes do banco de dados mencionado
na Nota 1 do Gráfico 2.1-1 em três tipos, “custos afetos à área em operação”, “custos afetos ao rebanho”, “custos
afetos ao volume de trabalho”, “custos afetos ao valor da produção”.
2. Incorporamos os custos no novo banco de dados através dos vetores correspondentes aos grupos de custos
mencionados na nota anterior. Sobre os vetores volume de terra e de trabalho ver notas no Gráfico 2.1-3.
3. Consideraramos os preços dos insumos corrigidos pelo IGP-FGV.
4. Consideramos salários reais constantes, ao nível de 1995, apesar das estatísticas da RAIS indicarem uma queda
para os salários do setor agropecuário. Considerando o baixo nível de emprego formal no setor, preferimos
desconsiderar essa informação.
5. As séries são médias trianuais dos resultados da tabulação dos dados. 6–As taxas de crescimento foram calculadas
por regressão linear da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em questão em relação ao
tempo medido em anos.

68
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 2.1-2 – Evolução das macrovariáveis do Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2006
(Médias trianuais)

18.000.000

16.000.000

14.000.000

12.000.000

10.000.000
R$1.000,00

8.000.000

6.000.000

4.000.000

2.000.000

2001

2003

2005
2002
2000

2004

2006
1991

1993

1995

1998
1997
1992

1994

1996

1999
1990

Renda Líquida dos Produtores


ValorAdicionado Agrícola Local
Valor Adicionado Local (Rural e Urbano)
Valor Adicionado Local e Estadual
Valor Adicionado Total (Local, Estadual e Nacional)

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor.


Notas metodológicas:
1. Usamos a estrutura de multiplicadores da economia local do Sudeste Paraense, conf. seção 9.2.3 deste livro.
2. As séries são médias trianuais dos resultados da tabulação dos dados.
3. As taxas de crescimento foram calculadas por regressão linear da transformação logarítmica das médias trianuais
da variável em questão em relação ao tempo medido em anos.

Em resumo, para uma Renda Líquida dos Produtores Rurais (RLP) média nos três últimos
anos do período reportado, de R$ 6,0 bilhões, agrega-se uma massa de salários rurais de R$ 0,9
bilhões, ao que se soma um valor de R$ 4,3 bilhões gerados nas economias urbanas locais, mais R$
1,8 nas economias estaduais respectivas e, finalmente, mais R$ 3,5 à economia nacional. No total,
gera-se um montante de R$ 16,5 bilhões de Valor Adicionado em toda a extensão das complexas
relações da economia do setor rural da Região Norte. Este o significado de última instância do setor.
69
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

2.2. Os fundamentos de terra e de trabalho

A expansão da economia rural da Região Norte se fez absorvendo terra e trabalho. O


Censo de 1995 apontava um estoque de 55,8 milhões de hectares sob o domínio, nas diversas
modalidades de apropriação, dos diferentes agentes na Região Norte (ver 7.3.1). A dinâmica do
setor rural acima indicada implicou crescimento a um ritmo de 2,5% a.a. da Área Trabalhada
(AT: área em operação e em desuso; corresponde ao que um certo tipo de literatura chama de
área desmatada), que saiu de um montante de 31,2 para 42,7 milhões de hectares no mesmo
período em exame (ver Gráfico 2.2-1, em cujas notas encontra-se a metodologia de estimação).
Considerados os períodos mencionados, verificam-se taxas de crescimento próximas de zero até
2005 (média de -0,3% a.a.), as quais incrementam consideravelmente entre 1996 e 2000 (3,6%
a.a.) e aceleram nos cinco últimos anos (6,1% a.a.). Como resultado, a Área de Mata sob o pálio
dos estabelecimentos, verificada no Censo, um estoque que discutiremos adiante, em 7.3.1, como
“constrangimento fundiário”, caiu pela metade, de uma média de 24,5 milhões de hectares nos
três primeiros anos da série, para uma média de 11,9 milhões nos três últimos21.
A Área Trabalhada compõe-se de Área em Operação (AO), que inclui as áreas de pousio
requeridas pela tecnologia em uso, como é o caso daquele tipo de capoeira que chamamos em
outro texto (Costa, 2008a; Costa, 2009c) de capoeira-capital, porque parte integrante dos sistemas
produtivos da shifting cultivation; mas exclui as áreas transformadas em capoeiras, ou porque
degradadas (capoeira sucata) ou porque tornadas excedentes por uma dinâmica de intensificação
(capoeiras reserva). Adiante, no Capítulo 3, esclareceremos melhor esses conceitos e sua
importância para análise da dinâmica agrária na Amazônia. No momento, importa informar que a
Área em Operação saiu de uma média de 27,1 para 38,9 milhões de hectares, ao passo que as áreas de
Capoeiras Sucata saíram de um montante de 2,4 milhões de hectares no início para 3,0 milhões no
final do período; as Capoeiras Reserva, por seu turno, passaram de 1,7 para 1,9 milhões de hectares no
mesmo intervalo de tempo. Na média, essas duas formas de capoeira cresceram respectivamente a 1,5
e 1,8% a.a. e ambas apresentaram taxas negativas no primeiro período tratado, respectivamente, de
-1,8 e -3,4% a.a. Nos dois últimos períodos, aumentam a taxas crescentes as capoeiras sucatas e as
capoeiras reserva, as primeiras, porém, muito mais rápido (a 3,2% e 6,6% a.a.) do que as últimas
(1,0% e 2,1% a.a.).
A distinção é importante, porque tais áreas, produzidas pela dinâmica do processo
produtivo por razões diferentes, têm dinâmicas de regeneração também diferenciadas, com
implicações econômicas e ecológicas relevantes, como veremos adiante em diferentes momentos.
Por seu turno, considerado o estoque de terras apropriadas em 1995, as matas vêm se reduzindo a
taxas anuais de -4,9% a.a., ritmo que se acelerou no último período para -14,6% a.a.

21 A ideia de “constrangimento fundiário” será precisada em 7.3.1. Em termos operacionais, se toma o valor das terras acessadas
pelos estabelecimentos e o considera como um estoque de onde saem as áreas necessárias aos desenvolvimentos que se verificaram
ao longo de todo o período. Em princípio, é como se não existissem novas aquisições. Eventuais incorporações produtivas para além
desse estoque apareceriam como deficit.

70
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 2.2-1 – Evolução do uso do estoque de terras apropriadas até 1995 pelos agentes do Setor
Rural na Região Norte, 1990 a 2006 (Médias trianuais)

60.000.000

50.000.000

40.000.000
Hectare

30.000.000

20.000.000

10.000.000

0
1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006
Área em Operação (inclui áreas de pousio na forma de Capoeira Capital)
Área em Operação + Capoeira Reserva
Área Trabalhada Total (inclui Capoeira Sucata)
Área apropriada total (área trabalhada mais Mata)

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor.


Notas metodológicas:
1. Para o incremento das áreas usamos como indexadores nas “culturas permanentes” e “culturas temporárias” as
séries de área da Produção Agrícola Municipal (PAM); para a produção extrativa, a Produção Extrativa Municipal
(PEM), para a pecuária, as séries de rebanho bovino da Produção Pecuária Municipal (PPM), com correção do
índice de carga (cabeça por hectare) pelos dados dos Censos de 1985, 1996 e dos resultados preliminares do Censo
de 2006.
2. Para o cálculo das áreas com os diferentes tipos de capoeira utilizamos o modelo desenvolvido em Costa, 2007,
detalhado adiante no Capítulo 3.
3. As séries são médias trianuais dos resultados da tabulação dos dados.
4. As taxas de crescimento foram calculadas por regressão linear da transformação logarítmica das médias trianuais
da variável em questão em relação ao tempo medido em anos.

Historicamente, portanto, cada 1% de incremento no VBPR da Região Norte tem levado


a um incremento de 0,54% na Área em Operação, 0,30% na área de Capoeira Sucata, 0,36% na
Capoeira Reserva e -0,97% na Área de Mata apropriada até 1995. Há diferenças importantes
nos diversos momentos. Entre 1990 a 1995, cada 1% de crescimento do VBPR representava um
incremento próximos de zero de todas essas variáveis; nos períodos subsequentes, as variações
correlatas para a área em operação foram, respectivamente, de 2,07% e 1,65%, para as capoeiras
sucatas de 1,74 e 1,73, e para as capoeiras reserva de 0,54 e 0,55%.
71
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Por sua vez, a taxa de crescimento médio do pessoal ocupado foi de 0,52% a.a., saindo de
pouco mais de 1,9 para pouco mais de 2 milhões de trabalhadores equivalentes (ver Gráfico 2.2-
2). Nos três períodos tratados, a taxa de crescimento aproximou-se de zero no primeiro (0,02%
a.a.), cresceu até próximo de 1% (0,98% a.a.) no segundo e voltou a quase nula (novamente
0,02% a.a.) no último.

Gráfico 2.2-2 – Evolução do número de trabalhadores no setor rural da Região Norte, 1990 a 2006
(Médias trianuais)

2.040.000

2.020.000

2.000.000
Trabalhadores Equivalentes

1.980.000

1.960.000

1.940.000

1.920.000

1.900.000

1.880.000

1.860.000

1.840.000
1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006
Ocupações no setor rural

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor.


Notas metodológicas:
1. Para o incremento das ocupações utilizamos como indexadores os números índices da população rural das
microrregiões de acordo com as Contagens do IBGE de 1990 e 1996 e dos Censos de 2000 e 2007, com interpolação
em todos os casos por taxas geométricas.
2. As séries são médias trianuais dos resultados da tabulação dos dados.
3. As transformações em trabalhadores equivalentes se fez de acordo com Costa, 2002.
4. Os resultados preliminares do Censo de 2006 para a variável “Pessoal Ocupado”, em que o número passa de
1.877.797 em 1996 para 1.663.346 em 2006. Há que considerar, quando se observa diferenças na nossa estimativa,
que incluímos outras formas de trabalho que, no Censo, não aparecem na variável “Pessoal Ocupado”, mas sim
nas variáveis de despesas como trabalho aplicado por “empreitas” e “parcerias”.
5. As taxas de crescimento foram calculadas por regressão linear da transformação logarítmica das médias trianuais
da variável em questão em relação ao tempo medido em anos.

72
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

2.3. A evolução da produtividade

Os diferentes ritmos na evolução das variáveis fundamentais do setor indicam mudanças


nos seus fundamentos de eficiência. Importa analisar três desses fundamentos – o nível de
eficiência de alocação de trabalho, a eficiência de alocação da terra e a mediação técnica que define
a capacidade de mobilização de terras pelo trabalho – e a relação que entre eles se estabelece na
Região Norte. Formalmente, se estabelece que a eficiência do trabalho é uma função da eficiência
da terra e da extensão de terra trabalhada (a qual depende, por seu turno, da tecnologia de
incorporação de terras ao processo produtivo) tal que:
Y Y A
 . (2.3-1)
T A T

para Y sendo o rendimento total do processo, T e A, respectivamente, o número de trabalhadores


equivalentes e as terras aplicadas na obtenção de y22.
Considerados os esclarecimentos já feitos, há diversas leituras de eficiência possíveis a
partir da relação (2.3-1), dependendo das variáveis que venham a assumir o papel de Y e de A:
se Y é valor bruto (VBPR) ou líquido da produção rural (VLP); se A é terra total trabalhada (AT)
ou exclusivamente terra em operação (AO). Dependendo de como se combinam as variáveis,
ressaltam duas perspectivas que interessam à análise: uma macro, que diz respeito à sociedade, a
outra micro, que diz respeito aos agentes privados.
Se tomarmos variáveis indicativas da conjunção entre a esfera da produção e a divisão
social do trabalho – da relação entre a dimensão mais imediata da atividade rural com a dimensão
mediata da economia como um todo, seja local ou extralocal – poremos em perspectiva a
aplicação dos fatores, trabalho, terra e o capital que fundamenta a relação trabalho/terra, como
ato da reprodução social, não obstante, mediado por agentes que controlam o processo decisório
dessa alocação. Se tomarmos, por outro lado, variáveis indicativas do sentido que a atividade
tem para esses agentes especiais, poremos em relevo a aplicação dos fatores, trabalho, terra e
capital, como ato de reprodução privada, embora regulado por mecanismos institucionais (como
o mercado) que transmitem disposições sistêmicas da reprodução social.
A rigor, as duas leituras são necessárias para perscrutar as complexas relações entre ação e
estrutura, entre o micro e o macro, entre as esferas de produção e a de reprodução que configuram
os sistemas sociais. Compreendendo isso, faremos uma primeira observação em perspectiva
social. Para tanto, na relação (2.3-1) Y é Valor Bruto da Produção Rural (VBPR: que inclui
rendimento líquido dos produtores, massa de salários e produção intermediária, como discutimos
em 2.1), A a Área Total Trabalhada (AT: que inclui áreas degradadas na dinâmica do processo,
como discutimos em 2.2) e T o Número de Trabalhadores alocados na produção. Os resultados
estão no Gráfico 2.3-1.

22 Na literatura econômica, essa relação formal é a conhecida metafunção de produção de Hayami, Ruttan (1971).

73
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 2.3-1 – Evolução de Macrofundamentos do Setor Rural na Região Norte,perspectiva


macro, 1990 a 2006 (Médias trianuais, valores em R$ constantes de 2005)

5400 300

270
(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha

4500
240

210
3600

(Y/A) em R$/Ha
180

2700 150

120
1800
90

60
900
30

0 0
1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006
Valor Bruto da Produção/Por Trabalhador (Y/T): 4,4% a.a.
Renda Líquida dos Produtores/Por Trabalhador (Y/T): 5,9% a.a.
Valor Bruto da Produção/Área Trabalhada (Y/A): 2,20% a.a.
Área Trabalhada/Trabalhador (A/T): 2,0% a.a.
Renda Líquida dos Produtores/Área em Operação (Y/A): 3,7% a.a.
Área em Operação/Trabalhador (A/T): 2,1% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor.


Nota metodológica:
1. Esclarecemos todas as variáveis nas notas metodológicas da Tabela 1.2.3-1 e dos Gráficos 2-1 a 2-5.
2. Taxas de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em
relação ao tempo medido em anos.

No setor rural da Região Norte, a produtividade social monetária do trabalho cresceu, a


uma taxa média anual de 4,4% ao longo de todo o período, de R$ 2.677,00 para R$ 4.459,03, a
preços constantes de 2005. Com variações dignas de nota entre os períodos: 8,4% no primeiro,
0,6% no segundo e 3,8% a.a. no último dos períodos considerados. As flutuações na produtividade
do trabalho resultaram, por uma parte, das oscilações na produtividade por unidade de área
trabalhada (que inclui todas as formas de capoeira); por outra, das variações no volume de terras
que cada unidade de trabalho foi capaz de mobilizar ao longo do tempo. Com efeito, no caso em
questão, as variações explicam-se equilibradamente pela rentabilidade por unidade área e pelo
crescimento da relação terra/trabalho. A primeira cresceu a 2,2% a.a. para todo o período, de uma
média de R$ 164,30 nos três primeiros anos para R$ 205,69 nos três últimos: a 8,8%, -1,9% e a
-2,3% a.a., respectivamente, nos intervalos tratados. A relação estrutural terra/trabalho, por sua
vez, cresceu a 2,0 % a.a., de 16,3 para 21,7 hectares por trabalhador: a taxas médias de -0,40%,
2,20% e 5,41% na sequência dos três já mencionados períodos.
74
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Uma segunda observação tem a ver com a forma como os agentes avaliam a eficiência de
seus recursos fundamentais. Nesse caso, na relação (2.3-1) Y é Rendimento Líquido dos Produtores
(RLP), A a Área em Operação(AO) e T, como antes, o Número de Trabalhadores equivalentes
alocados na produção. Os resultados estão no Gráfico 2.3-1.
No setor rural da Região Norte, a rentabilidade privada por unidade de trabalho cresceu a
uma taxa média anual de 5,9% ao longo de todo o período, saindo de uma média de R$ 1.559,01
para R$ 2.943,41, a preços constantes de 2005. Isto posto, para cada 1 ponto percentual na taxa de
crescimento da produtividade social do trabalho, sob fundamentos tecnológicos mediante os quais
se requer cada vez mais área por unidade de trabalho, a taxa de rentabilidade privada cresceu 1,3
pontos (5,9 ÷ 4,4=1,3).
Em todos os casos, as variações entre os períodos merecem verificação: 13,1% no
primeiro, 0,1% no segundo e 3,3% a.a. no último dos períodos considerados.
As flutuações na rentabilidade privada por trabalhador resultaram, em parte, das oscilações
na rentabilidade líquida por unidade de área em operação (na qual se inclui apenas a capoeira
capital); em parte, das variações no volume de terras em uso que cada unidade de trabalho foi capaz
de mobilizar ao longo do tempo – i .e. da tecnologia em operação. A rentabilidade por unidade área
cresceu a 3,7% a.a. para todo o período, de uma média de R$ 95,67 nos três primeiros anos para
R$ 135,78 nos três últimos: a 13,3%, -2,4% e a 2,8% a.a., respectivamente, nos intervalos tratados.
A rentabilidade privada da alocação do fator trabalho expandiu também por efeito da
variação da relação estrutural terra/trabalho, que cresceu a 2,1% a.a., de 14,13 para 19,2 hectares
de Área em Operação por Trabalhador Equivalente: a taxas médias de -0,11%, -2,32% e 5,57% na
sequência dos três já mencionados períodos.

Em resumo:
1. Nos 17 anos observados, o Setor Rural na Região Norte cresceu ciclicamente, porém
a taxas médias elevadas de 5% a.a.: o VBPR passou de R$ 5,5 para R$ 9,0 bilhões
reais a preços constantes.
2. O crescimento da economia rural de base camponesa foi a principal responsável pelo
ritmo do período que se estende até 1995 e a economia de base patronal pelo da
segunda fase.
3. Associado ao VBPR médio do final do período, gera-se um valor adicionado total de
R$ 16,5 bilhões: 41% retido no setor rural por camponeses, fazendeiros e assalariados
rurais, 26% pelas economias urbanas locais, 11% pelas economias urbanas estaduais
e, finalmente, 21,5% transbordam para o restante da economia nacional.
4. O crescimento do setor rural na região se faz incrementando a rentabilidade social
e privada por trabalhador. Para cada 1% de crescimento da primeira, 1,9% de
incremento da última.
5. Tal incremento na eficiência do trabalho explica-se equilibradamente, em parte pela
elevação da rentabilidade da terra (que ocorre na primeira fase analisada, quando
75
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

a dinâmica de crescimento da economia rural explica-se fundamentalmente por


expansão camponesa); em parte pela elevação da relação terra/trabalho (que ocorre
nos dois últimos períodos, quando a dinâmica explica-se fundamentalmente por
expansão patronal).
6. Na primeira fase, quando o crescimento se deve aos camponeses, para 1% de variação
do VBPR, variação próxima de zero no fator terra e na formação de capoeira sucata;
na segunda e terceira fases, a quantidade de terra cresce a, respectivamente, 2,07 e
1,5%; capoeiras sucatas, por seu turno, a 1,74% e 1,75% a.a.
7. O estoque de áreas degradadas cresceu para 4 milhões de hectares.
8. O custo de oportunidade social de CO2 emitido vem crescendo a 2,3% a.a. e o de
oportunidade privada a taxas de 3,7% a.a.

Capítulo 3
Dinâmica recente: fundamentos técnicos e expressões
ambientais

Nos capítulos precedentes, apresentamos o setor rural da Amazônia como sendo uma
economia, cujas variáveis fundamentais de valor da produção, valor agregado, uso e remuneração
das disponibilidade de terra e trabalho, comandadas pelas estruturas camponesas e patronais,
vêm evoluindo ciclicamente, com tendências de crescimento. Fizemos considerações, também,
sobre as forças subjacentes, tanto as que se associam aos arranjos institucionais que fazem fluir
recursos sociais para o setor, quanto as associadas à remuneração dos controladores dos processos
produtivos – gestores, camponeses e patronais, e trabalhadores. Este capítulo tratará de relações
substantivas entre tais dinâmicas de naturezas essencialmente econômico-social, e questões
ambientais e de mudanças climáticas. A proposta é contribuir em duas frentes dessa problemática.
Em uma frente, em que estão em jogo questões práticas e imediatas, evoluem os arranjos
para a constituição dos novos mercados de bens e serviços ecosistêmicos, nos quais parecem se
acelerar providências para a formação da demanda de bens e serviços ecosistêmicos a partir de
bases normativas da limitação de emissão de gases poluentes por parte dos agentes. Em outra
frente, aquela em que se constituem os fundamentos institucionais da oferta, a par da esperança no
desenvolvimento de novas fontes de energia limpa e de barateamento das existentes induzidas pela
alteração nos respectivos preços relativos, parece se consolidar uma perspectiva que reconhece
a importância dos biomas florestais originais, sobretudo os tropicais, como fontes de serviços
ecosistêmicos na forma de capacidade de sequestrar carbono (sink de CO2) ou de manutenção da
biodiversidade. Objetivamente, parecem inevitáveis providências para aditar o Protocolo de kyoto
(PK), que, na sua formulação original não prevê nenhum mecanismo de manutenção das florestas
(Ebeling, 2006).
76
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Ganha status, assim, uma visão mais complexa dos sistemas agrícolas. Antes tratados
(quase) exclusivamente do lado da emissão de poluentes e redução da biodiversidade – i.e., do
lado da demanda na formação dos novos mercados de bens e serviços ecosistêmicos, na condição
de formadores de necessidades de sequestro de carbono e reposição da complexidade biológica
do planeta –, um subconjunto de sistemas baseados em culturas perenes e em composições
agroflorestais são reconhecidos pelo recente Stern Review como potencialmente consistentes
com a conservação florestal no contexto de estratégias para reduzir emissões (Stern, 2007: 603-
621). Reconhece-se, assim, que tais atividades, reduzindo a pressão sobre as florestas e criando
mecanismo de absorção líquida de carbono, podem expandir a oferta e, em consequência, baratear
o bem ambiental em si – a estabilização ou reversão das mudanças climáticas – tornando mais
custo-efetivas as estratégias de mitigação.
De modo que é urgente explicitar, no que se refere à Amazônia brasileira e, nela, o
setor rural, os termos do problema e suas expressões quantitativas, de modo que se tenha uma
aproximação do que poderá constituir a oferta e a demanda da região em um segmento fundamental
desses novos mercados: as emissões de CO2.
Por outro lado, por razões teóricas (que se ofereça a mais aderente percepção possível da
realidade em questão) e mediatas (que se possam garantir nas negociações futuras correções de
assimetrias dos atores envolvidos), faremos tais cálculos procurando:
•• Garantir uma visão analítica da interação entre processos econômicos e fundamentos
naturais. Com isso entendemos duas coisas:
»» Os recursos naturais da Amazônia são fatores-chave, fund-elements, de suas
economias, cuja transformação e uso constituem processos entrópicos23 que têm
que ser entendidos e tratados como tal.
»» Visualizar a economia entropicamente permite tratar apropriadamente as
dinâmicas negentrópicas, propriedades antientrópicas dos sistemas vivos abertos
para a entrada de energia, como é o caso sobre o qual nos debruçaremos (Guha e
Martinez-Alier, 2006:175).
•• Distinguir nos processos econômicos (e suas implicações ambientais) a heterogeneidade
de agentes, reconhecível na heterogeneidade de fundamentos (dotações objetivas: de base
natural ou social/institucional) e racionalidades (subjetivas: difusas ou sistematizadas)
e suas interações. Pois a essas diferenças estruturais correspondem assimetrias de
acesso a recursos naturais e sociais que, se espera, reflitam nas formas específicas de
contribuição para a desordem ambiental indicadas nos balanços de emissão de CO2.
Essa expectativa é levantada por Georgescu-Roegen em trabalho pouco conhecido
(Georgescu-Roegen, 1960) e enfaticamente trabalhada por Guha e Martinez-Alier
(2006), para amplos contextos, e por nós para a Amazônia (Costa, 2005a).

23 Porque processo de produção material. “Any material process consists in the transformation of some materials into others (the flaw
elements) by some agents (the fund elements) …...” and “...there is no substitution between flow and fund factors”. (Georgescu-Roegen,
1979:98; 1983: 23 e 28).

77
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

• Observar implicações distributivas derivadas da constituição desses novos mercados,


pois as formas de uso da natureza associam-se à injustiça distributiva verificável tanto
entre segmentos sociais (Altvater, 1993), quanto entre regiões (Bunker, 1985), com a
acumulação de capacidades fazendo-se geralmente em posições opostas àquelas nas
quais se materializam mais intensamente as manifestações imediatas e localizáveis
de entropia.

3.1. Uso, não uso e reuso da base natural – desmatamento, preservação e capoeiras: os
sistemas de produção rurais e suas relações técnicas

Áreas de floresta são incorporadas aos processos produtivos como áreas de exploração florestal
de recursos madeireiros e não madeiros, como terras agrícolas e pastagens. Na primeira condição, as
áreas florestais são mantidas, melhor, requeridas por sistemas de produção rural que têm o bioma, no
seu contexto ecossistêmico, como objeto do trabalho. As relações técnicas – relações entre trabalho
objetivado, isto é, consciente, e natureza, mediadas por conhecimento e instrumentos – preservam
a natureza originária. Dito de outro modo, as relações técnicas pressupõem, em seu exercício, a
preservação da floresta e seu ambiente.
As duas últimas condições de incorporação de áreas de floresta pressupõem, ao contrário
da anterior, a retirada da floresta originária – o desmatamento. As mesma áreas, entretanto, podem
voltar à condição de mata, no jargão técnico, áreas com bosques ou florestas secundários. Tais
tratos florestais se associam a sistemas de produção – são inerentes a eles, partes constitutivas de
suas relações técnicas – como o desmatamento que os antecedeu. A depender, pois, do sistema
de produção a que se associam, elas podem assumir as condições de capoeiras, como áreas
temporária ou definitivamente fora do processo de trabalho. Podem também assumir a feição de
tipo especial de agricultura – sistema de produção baseado no reflorestamento.
Compreender essas formas de existência, ou formas de uso das terras, as relações delas
com existências e usos precedentes e a lógica do vir-a-ser é requisito fundamental para entender
a dinâmica do setor rural como economia – como fundamento de existência e desenvolvimento
social – e os processos entrópicos (desestruturadores) e negentrópicos (reestruturadores) a ele
referidos.
Adiante trataremos de sistemas de produção baseados em bioma (ver Capítulo 6). Neste
capítulo nos dedicaremos aos sistemas agropecuários, focando suas capoeiras e o que significam
para a dimensão ambiental do setor rural na Região. Capoeiras são tratos de áreas de variadas
dimensões, os quais se encontram em estágios diferenciados de regeneração espontânea de
cobertura florestal em ecossistemas alterados de modo radical por ação humana. Como tal, são
componentes da paisagem rural de grande significado na Amazônia.
No acompanhamento do desmatamento feito pelo INPE, as capoeiras não têm sido
consideradas. Nesse exercício, que produz a principal contabilidade do desmatamento da
78
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Amazônia, a medida do processo se faz por uma “taxa de desflorestamento bruto”, mediante a
qual são acrescidas ao “passivo ambiental”, a cada ano, as áreas desmatadas em corte raso24. A
avaliação não explicita, em contrarrestação ao “passivo” que incrementa linearmente, um “ativo
ambiental” que, não obstante desconsiderado, existe concretamente. Desse “ativo ambiental”
invisível fazem parte as capoeiras, posto que áreas recuperadas ou em processo de recuperação
ambiental cujos valores, se considerados, permitiriam o cálculo de uma taxa de desflorestamento
líquido. E tais valores são significativos. No Censo Agropecuário realizado em 1995, as áreas de
capoeira perfaziam 4,5 milhões de hectares em toda a região Norte25: o correspondente a 8% de
toda a área apropriada naquele ano na região, a 17% de toda área em uso com pastos naturais ou
plantados, com lavouras permanentes e temporárias e com florestas plantadas e a 14% de toda a
área desmatada.

3.1.1 As distintas concepções das capoeiras

No bojo das tensões produzidas pela crise ambiental e no calor das discussões em torno
de suas causas e consequências, em que se incluem avaliações sobre as dinâmicas sociais na
Amazônia, têm evoluído duas perspectivas de observação das capoeiras. Uma negativa, em que a
capoeira importa enquanto momento de um processo de negação da floresta originária, do qual faz
parte o fracasso de sua justificativa social – o uso agropecuário. Outra positiva, em que a capoeira
importa porque momento de recomposição das propriedades ecológicas da floresta tropical
como parte de (ou após um) certo uso agropecuário da base natural. Em uma visão, a capoeira
é expressão de um passivo, de um débito patrimonial e ecológico; na outra, ela é um ativo, uma
capacidade, um patrimônio.
Na primeira perspectiva, capoeiras associam-se a usos insustentáveis da base natural. Os
sistemas de derruba e queima, dos quais as capoeiras fazem parte, seriam insustentáveis porque
de baixa eficiência econômica. Tratar-se-ia de usos só justificáveis para (pequenos e passageiros)
agentes econômicos, cujo baixo custo de oportunidade em outras regiões os teria expulsado para
a “fronteira especulativa” em movimento na região Amazônica. Essa é a posição de Schneider
(1995:15-32), encampada por Margulis (2003), para quem, dessa “fronteira especulativa” gerar-
se-ia uma “fronteira consolidada”, economicamente sustentável apenas em áreas com pluviometria
intermediária, própria à formação de uma pecuária altamente rentável e profissional. Em áreas de
pluviometria muito elevada – condição, aliás, dominante na maior parte da região –, a grande
pecuária profissional não se instala, nada sobreviveria na concepção do autor citado. Nessas áreas,
em virtude da elevada umidade que bloquearia a agropecuária mais eficiente, restariam, após o

24 Os cálculos de desflorestamento são processados pela equipe do Projeto de Estimativas de Desflorestamento da Amazônia
(PRODES), do INPE. Sobre a metodologia das estimativas ver Krug (2001:92-93)
25 Voltamos a lembrar que, a não ser quando especialmente esclarecido, as estatísticas aqui apresentadas referem-se à região Norte,
composta dos estados do Pará, do Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre, Amapá e Tocantins, à qual nos referiremos em muitas
oportunidades como Amazônia. A designação de Amazônia Legal, por sua vez, inclui, além dos estados listados, aproximadamente o
sul de Mato Grosso e o Noroeste do Maranhão.

79
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

inexorável fracasso da shifting cultivation, terras abandonadas: capoeiras. O exemplo da região


Bragantina, no Nordeste paraense, seria paradigmático. Nessa região, Margulis observa, em
consonância com Chomitz e Thomas (2000) e com Schneider, este último agora em associação
com os engenheiros florestais e agrônomos do Imazon (Schneider, Arima, Veríssimo, Barreto,
Souza Jr.:2000), “a evidência irrefutável de que muito poucas atividades econômicas são viáveis
em áreas de alta pluviometria e que praticamente só a atividade madeireira pode fazer sentido.”
(Margulis, 2003:65). A compreensão final, nesse caso, é de que capoeiras novas são componentes
passageiros da paisagem, uma vez que atadas a uma economia ineficiente, e capoeiras velhas
representam terras abandonadas, efetivação da ineficiência prenunciada, indicadores, por isso, de
decadência e incapacidade.
A segunda perspectiva em relação às capoeiras desenvolveu-se com pesquisas botânicas,
biológicas e agronômicas realizadas também na mesma região Bragantina, no Nordeste paraense.
O esforço vem demonstrando as propriedades desses bosques – diversidade de espécies,
complexidade do sistema radicular, densidade de biomassa –, sendo essas propriedades tanto
mais efetivas, quanto menos intenso e mais curto tenha sido o uso da área e mais tempo tenha
decorrido desde a paralisação da atividade agropecuária (Vieira et alii, 1996; Pereira e Viera,
2001; Vielhauer et alii, 1997; Sá et alii, 1997).
Na perspectiva econômica que adotamos, que observa o mundo como uma ontologia
de relações sociais de que fazem parte relações de última instância entre trabalho objetivado
e natureza, esses resultados, obtidos na perspectiva da ecologia, que observa o mundo como
uma ontologia de relações de elementos da natureza, sublinham duas coisas: a) as capoeiras
são soluções tecnologicamente consistentes uma vez que, enquanto sistemas físicos (relações
técnicas) com grande capacidade de deter os efeitos de lixiviação e de manter as propriedades
físicas e mecânicas do solo, são capazes de garantir produção agrícola em uma mesma área
indefinidamente; b) mediante as novas demandas derivadas da premência crescente das questões
ambientais e das mudanças climáticas, as unidades produtivas que as adotam têm a oportunidade
de ampliar seu portfólio de oferta pela prestação dos “serviços ambientais” de manutenção da
biodiversidade, de sequestro de carbono e de manutenção do regime de chuvas, além das sua
produção agrícola tradicional.
Com efeito, em desenvolvimento paralelo, pesquisas econômicas sobre a dinâmica agrária
da mesma região, objeto das observações dos dois grupos de autores citados, demonstraram
que, estatisticamente, em uma perspectiva histórica, não se verificava queda na produtividade
física da shifting cultivation da região – após a redução drástica das colheitas nos anos 30 e
40, houve uma estabilização na produtividade média da região, de modo que as crises cíclicas
de rentabilidade que se observaram na agricultura a partir dos anos 50 foram mais de natureza
socioeconômica do que ecológica (Hurtienne, 2001). Contudo, em observações mais localizadas
e temporalmente delimitadas, verificou-se naquela região diversas trajetórias de intensificação
da agricultura, tanto como resposta a crises da shifting cultivation – sejam elas determinadas por
redução da produtividade física ou por reduções na rentabilidade monetária derivadas dos preços
80
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

e das condições de mercado – quanto como resultado de mudanças no ambiente institucional


e nas políticas públicas de fomento agrícola (Costa, 2000a). Averiguou-se, ademais, que as
soluções dominantes configuraram inovações expressas numa variedade de sistemas de produção
marcados pela diversidade de componentes, nos quais, todavia, tenderiam a ganhar significado
culturas perenes e semi-perenes, como laranja, pimenta-do-reino e maracujá, em substituição à
agricultura de derruba e queima (shifting cultivation), que, assim, vinha perdendo tendencialmente
significado (Costa, 1996a e 1997). O último conjunto de resultados sugere questões importantes
para as duas posições que se referem positiva e negativmente às capoeiras.
À primeira, indica que o aumento da extensão e do tempo das capoeiras pode significar a
outra face de dinâmicas positivas, pode ser sinal de um processo de desenvolvimento ascendente,
em perspectiva econômica. De modo que as capoeiras velhas, tratadas na totalidade como
indicadores de fracasso dos sistemas agrícolas por Margulis, Schneider e associados, podem
derivar de processos de intensificação da agricultura e, assim, de dinâmicas adaptativas em
que uma agricultura economicamente mais eficiente superou sistemas mais extensivos, seus
concorrentes.
À segunda posição, liderada pelos estudos de Vieira, kato, Vielhauer e associados, aponta
para o fato de que as capoeiras têm duas posições em relação à shifiting cultivation: ou elas são
seus produtos que se tornaram partes constitutivas, ou elas são produtos de sua negação. Elas
podem representar, assim, modos distintos de constituição, cuja especificidade não é de modo
nenhum irrelevante em associação com a importância que se lhes atribui como provedora de
equilíbrio ambiental. Exploraremos esse ponto logo adiante, no segmento 3.1.2.

3.1.2 O lugar estrutural das capoeiras: indicações empíricas e teóricas

As capoeiras formam-se, na Amazônia, em contextos econômicos dinâmicos, fortemente


marcados pela heterogeneidade dos agentes, suas formas de produção e fundamentos tecnológicos
(Costa, 2008a, Costa, 2009c). A noção de heterogeneidade que aqui privilegiaremos incorpora
diferenças na natureza dos agentes – especificidades moldadas nos constrangimentos estruturais
de modos de produção, na tradição de Chayanov (1923), Tepicht (1973) e Costa (1989, 1995,
2000a, 2007c) – e diferenças de postura associadas a “...different hypotheses or beliefs or action...”
de agentes de mesma natureza, na indicações de Arthur (1994a e 1994b).
Nessa perspectiva, a dinâmica agrária da Amazônia é observada a partir do movimento
interno e das interações competitivas e cooperativas entre duas formas de produção, a camponesa
(ou familiar) e a patronal. Na primeira, a estrutura básica é a unidade de produção camponesa, na
segunda, há estruturas tradicionais com características de fazenda e outras com características de
grande empresa latifundiária (conf. Costa, 2000a e 2005a).
À heterogeneidade dos agentes e seus modos de produção corresponde uma
heterogeneidade tecnológica. Entendemos tecnologia, aqui, no sentido lato de conjunto de
técnicas e procedimentos que fazem a mediação entre o trabalho humano socialmente objetivado
81
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

e a natureza. Trata-se de mediação feita por aparatos tangíveis e intangíveis herdados, por um
lado, de processos de trabalho passados, os quais constituem, por isso, “... órgãos da vontade
humana: o poder do conhecimento objetivado” (conf. Marx, 1953:706); herdados, por outro
lado, como um paradigma, i. e., como estrutura cognitiva, “... como um ‘modelo’ ou um ‘padrão’
de solução de problemas tecnológicos selecionados. (Dosi, 2006:22 e 23)”.

3.1.3 As capoeiras tal como se apresentam nas estatísticas do Censo

O Censo Agropecuário de 1995-96 traz duas categorias que juntas compõem todas as
terras sobre as quais se encontravam vegetações secundárias – precisamente as capoeiras, tal
como as definimos anteriormente. São elas: “Área Utilizada em Descanso”, que comporta todas
as áreas em pousio até quatro anos e “Áreas Agricultáveis não Utilizadas”, que se referem às áreas
que, no momento do Censo, encontravam-se fora de uso por mais de quatro anos.

Gráfico 3.1.3-1 – Terras Utilizadas em Descanso e Agricultáveis não Utilizadas no Censo


Agropecuário, por tipo de agente, 1995-1996

5.000.000 120%

4.500.000
100%
4.000.000

3.500.000
80%
Hectares

3.000.000

2.500.000 60%

2.000.000
40%
1.500.000

1.000.000
20%
500.000

0 0%
Sem uso há mais de 4
Em descanso até 4 anos T otal (Ac)
anos
Total Absoluto (Ac) 1.091.1 11 3.405.183 4.496.294
Camponeses 670.864 1.457.087 2.127.951
Patronais 420.247 1.948.096 2.368.343
Total (%) 24% 76% 100%
Camponeses (%) 32% 68% 100%
Patronais (%) 18% 82% 100%

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – Estado do Pará, 1995-96. Tabulações especiais do autor.
Notas metodológicas:
1. Utilizamos o BD-A esclarecido na nota metodológica 1 e 2 da Tabela 1.2.3-1.

82
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

O Gráfico 3.1.3-1 apresenta os valores dessas variáveis na região Norte. No total (valor
que trataremos daqui por diante de Ac), são 4,5 milhões de hectares: 1,1 de terras em descanso
até quatro anos e 3,4 de terras não trabalhadas por mais de quatro anos. Compondo por forma de
produção, os camponeses responderiam por, respectivamente, 0,7 e 1,5 milhões de hectares (32% e
68%) e as unidades de produção patronais por 0,4 e 1,9 milhões de hectares (18% e 82% do total).

3.1.4 A Capoeira: tempo e espaço

Os problemas dessa classificação do IBGE são significativos. Estabelecendo um tempo de


pousio – por definição, tempo em que a terra está “parada” porque esta é sua forma de utilização –
limitado a quatro anos e, ademais, tratando as terras já uma vez trabalhadas, porém não aradas por
tempo superior a isso, como “não utilizadas”, ela induz a graves erros na observação da realidade
da maioria dos sistemas de produção que têm a capoeira como um de seus componentes. Chomitz
e Thomas (2000), assumem diretamente que a variável Terras Úteis não Utilizadas, do Censo
Agropecuário do IBGE é precisamente o que indica a semântica da designação: terras sem função,
terras abandonadas, por isso indicadores de sistemas de produção econômica e ecologicamente
insustentáveis. A tese drástica que deriva daí é a de que, consideradas as amplas proporções da
modalidade, todas as formas de uso da terra que com ela correlacionam parecem igualmente
impossíveis (Schneider, Arima, Veríssimo, Barreto, Souza Jr., 2000).
Há razões lógicas para duvidarmos dessa conclusão. Na realidade, o tempo de pousio necessário
aos sistemas é variável que depende de condições diversas. Ponte e Van Dyne (2000:50) propuseram
a explicitação da relação tempo-espaço na agricultura de pousio pela relação de proporcionalidade
A t
 (3.1.4-1).
Aa u
Isto é, a área total necessária ao funcionamento do sistema (A) está para a área plantada
(Aa) assim como o tempo completo de um ciclo de uso e pousio (t) está para o tempo em que é
possível plantar na mesma área (u). Desmembrando a área total do sistema em área agricultada (Aa)
e área de pousio (Ac) e o tempo total em número de anos que se pode plantar com produtividade
aceitável na mesma área (u) e número de anos de formação da capoeira (n), re-escreveríamos a
A + Ac u + n A n
relação (3.1.4-1) de modo que a =  c +1= +1 e, portanto,
Aa u Aa u
Ac
n =u• (3.1.4-2)
Aa
P P
Se formos um pouco adiante e fizermos Ac  c e Aa  a (3.1.4-3)
n. pc u. pa

por entendermos que a área que se decide manter como capoeira é resultado de uma produção própria da
capoeira, que tanto pode ser de um certo volume de biomassa, como de um certo conjunto de funções,
tais como fornecer lenha, fornecer madeira para tutorar pimenta-do-reino ou para construção civil ou,
83
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

muito importante, para sequestrar carbono e manter a biodiversidade, expressa por Pc total (expressão
da disponibilidade objetiva na capoeira, dos elementos que dela se requer, nos termos do sistema de
produção estabelecido), alcançada gradualmente a partir de uma produtividade anual por hectare pc, e que
tal volume de biomassa ou conjunto de funções é requerido para uma produção agrícola total Pa, obtida
a partir de uma produtividade agrícola hectare/ano de pa, então a relação (3.1.4-2) seria re-escrita, assim:
 pa Pc 1/ 2
n = u •  (3.1.4-4)
 pc Pa 
A relação (3.1.4-4) explicita que para uma mesma relação Pc/Pa (i.e., válida a presunção
de que a relação do valor da biomassa da capoeira por unidade de produto agrícola gerado com
base nela é, dado um estado do conhecimento, relativamente constante), a idade da capoeira, isto
é, o tempo necessário para que atinja o estágio de desenvolvimento que permita a realização de
sua finalidade, varia, diretamente, com a produtividade por unidade de área da agricultura e com
o aumento do tempo de plantio em uma mesma área e, inversamente, com a produtividade da
capoeira. Assim, o tempo da capoeira, n, como variável dependente, pode crescer ou como resultado
de mudanças tecnológicas positivas na agricultura (crescimento de pa e aumento de u) ou como
resultado de limitações na capacidade da capoeira (redução de pc). O que encoraja a hipótese de que
parte das Terras Úteis não Utilizadas, do Censo, pode ter função produtiva e derivar de trajetórias
ascendentes (e não decadentes) dos sistemas agrícolas. Uma questão que se coloca a partir daqui é:
em que proporções isso se dá? Em que medida a possibilidade lógica transforma-se em realidade?

3.1.5 A Capoeira: função e disfunção

A existência das capoeiras resulta de três tipos de decisões:


a) As decisões que levam à adoção de técnicas que pressupõem áreas de pousio. Nesse caso,
a capoeira é um componente da relação técnica de uma forma de produção, integrando,
assim, um sistema de produção.
b) As que levam ao abandono de áreas cuja produtividade física média tende a zero na
atividade desenvolvida, a qual, por isso, tende a se repetir continuamente em outras áreas.
Os procedimentos tecnológicos são constantes e as capoeiras, nesse caso, são produtos,
não componentes dos sistemas de produção resultantes, de uma tecnologia.
c) As que levam a alterações tecnológicas, a mudanças de procedimentos a partir das quais
a relação terra/trabalho diminui pela redução absoluta do volume de terras – em outras
palavras, as que levam a adoção de tecnologias terra-intensivas26. As capoeiras são
produtos de mudanças nos procedimentos tecnológicos – são resultados de inovações.

26 Não confundir essa noção com a de “intensivas em terra” utilizada pelos economistas para designar funções de produção que usam
relativamente muita terra comparativamente aos outros fatores – trabalho e capital. O que se expressa aqui é a condição de uso da
terra: um sistema “intensivo em trabalho” pode usar a terra intensivamente ou extensivamente – muito trabalho por unidade de área no
primeiro caso e correspondentemente baixo volume de terras, por isso terra-intensivo; no segundo caso, pouco trabalho por unidade
de área e correspondentemente elevado volume de terras, por isso terra-extensivo (Costa, 1996c)

84
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Na primeira condição, trata-se de capoeira cuja função básica é a formação de biomassa


para aproveitamento na agricultura: a capoeira é, assim, meio de produção, tal qual uma máquina
que produzisse, in loco, nitrogênio, fósforo e outros elementos necessários à agricultura. Por isso,
chamaremos a esse tipo de capoeira de capoeira-capital. O tempo de pousio, nessa perspectiva,
é o tempo de processamento da capoeira-capital: trata-se, por um lado, de um tempo próprio
da natureza, regido por leis primárias dos ecossistemas de que faz parte – o que determina, na
relação (3.1.4-4), pc; por outro lado, é tempo condicionado por variáveis da agricultura (Pa/Pc, pa
e u) resultantes do estágio do seu desenvolvimento como atividade econômica, em dado contexto
que (sempre) supõe mercado. De um modo ou de outro, trata-se de vegetação secundária com
tempo determinado pela lógica do processo produtivo, para sua realização naquilo para o que foi
“criada”, i. e., para sua transformação em inputs do processo agrícola. Respeitado o tempo da
capoeira, todavia, a extensão da capoeira-capital é, também, endogenamente contida, regulada
pela extensão das necessidades da agricultura (conf. a relação 3.1.4-2).
Na segunda condição, a capoeira resulta da deterioração das relações edafo-climáticas de
uma dada área, como resultado do impacto dos procedimentos tecnológicos de certos sistemas
de produção sobre a base natural – solo, água, ar. A capoeira, nesses casos, associa-se a terras
tratadas pelos produtores de um modo que não difere em nada daquele utilizado pela indústria
para tratar os bens já depreciados: as sucatas. Poderíamos designá-la, assim, de capoeira-sucata
ou capoeira-resíduo. Como resultados das razões que levam à existência desse tipo de capoeira,
seu pc e seu Pa são muito pequenos, tendendo a zero e, portanto, seu tempo, n, tende, na relação
(3.1.4-4), ao infinito, independente das demais condições. Com o tempo tendendo ao infinito,
esse tipo de capoeira teria uma extensão que também tende ao infinito (conf. a relação (3.1.4-
2)) – ela não seria, nesses termos, endogenamente contida. Por outra parte, as capoeiras-sucata
nem sempre são sintomas da decadência econômica dos sistemas que as geraram, muito menos
de seus gestores: elas podem ser condição para que a rentabilidade desses sistemas se mantenha,
ou mesmo aumente.
Na terceira condição, tipicamente aquela produzida pela substituição de formas extensivas
por formas relativamente mais intensivas de uso da terra, a substituição, por exemplo, da shifting
cultivation ou da pecuária extensiva por plantio de culturas perenes e semiperenes, a capoeira é o
resultado da adoção de novas técnicas que tornaram a capoeira-capital economicamente obsoleta,
isto é, sem função no sistema de produção, mesmo que sua capacidade física de produção de
biomassa seja elevada, mesmo que ela continue apresentando capacidade de operação. Por isso, tais
capoeiras associam-se a terras no geral vistas como bens ociosos, justificáveis, tão somente, como
reservas de valor. Chamaremos aqui tais áreas de capoeira-reserva. Em função das condições
que levam à formação da capoeira-reserva, Pa (a produção agrícola dependente da capoeira) na
relação (3.1.4-4) é muito pequeno e tende a zero, fazendo com que aqui também se tenha uma
capoeira livre de regulação de tempo para que se transforme em elementos para agricultura. Há,
entretanto, quanto a isso, uma diferença importante em relação às capoeiras-sucata: nestas, o fato
de pc tender a zero faz Pc (isto é, a expressão objetiva da maturidade da capoeira) tender a zero
85
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

também, indicando que dela poderá derivar a deterioração contínua da base natural; nas capoeiras-
reserva, por sua vez, as condições de formação permitem pc significativamente diferentes de zero,
permitindo níveis de maturidade e complexificação correspondentes no tempo, podendo levar, no
outro extremo, a formações botânicas muito semelhantes às do bioma originário, às florestas.

3.2. Agentes heterogêneos, procedimentos tecnológicos e formação de capoeiras

Os argumentos anteriormente trabalhados nos levam a duas perguntas. Dispondo dos


valores totais das capoeiras, o que se pode dizer sobre as proporções que assumem suas diversas
formas? O que se pode dizer, em adição, sobre suas respectivas posições na diversidade estrutural
dos fundamentos produtivos – base tecnológica – e reprodutivos – base social?
Para responder a isso temos que dar dois passos. Primeiro, descer ao nível micro e
verificar, para cada estabelecimento27, como se combinam as informações relativas às capoeiras
e as demais variáveis de alocação de recursos e de obtenção de resultados. Segundo, verificar,
mediante avaliação de consistência dessa relação, as proporções em que ocorre cada tipo de
capoeira.
Consideremos, com Arthur (1994b:13-32), que os agentes tomam decisões path-efficient.
Isto é, em qualquer tempo t, se há duas tecnologias, uma T1, que gera capoeira-sucata, e outra
T2 , que gera capoeira-reserva, por exemplo, uma escolha pela tecnologia T1, que se estabelece
na variante m com payoff P T1 (m), enquanto a tecnologia T2 se situa na variante k<m, se fará
enquanto P T1 (m) ≥ Maxj {P T2 (j)} para k ≤ j ≤ m.
A consistência das decisões dos agentes é dada, assim, pelo grau de aderência que
apresentam em relação a esse postulado. Para o trato metodológico dos dados do censo, isso
implica, para um estabelecimento qualquer, que o tamanho da capoeira-reserva, por exemplo,
seria a parcela do total que ele contabiliza de capoeiras em todas as formas (a Ac respectiva, de
acordo com o explicitado no Gráfico 3.1.3-1) capaz de ser explicada por um cálculo compatível
com uma decisão path-efficient (decisão tomada antes, refletida, porém, no ano do Censo) em
favor de atividades e procedimentos (de fundamentos tecnológicos, pois) que geram capoeira-
reserva. O mesmo raciocínio vale para a determinação da parcela de capoeira-sucata ou de
capoeira-capital.

3.2.1 Os diversos tipos de capoeiras e os sistemas aos quais se associam, no Censo de 1995-96

O raciocínio anterior permite-nos calcular todas as formas de capoeira já indicadas.


Comecemos pelas capoeiras-reserva. Há as que provêm da passagem de sistemas agrícolas

27 Nesse estudo, não dispomos dos microdados do IBGE e, portanto, não temos as informações no nível do informante. O que
consideramos aqui são as informações dos 960 estabelecimentos médios correspondentes aos “casos” mencionado na nota 3 e suas
respectivas frequências.

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Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

extensivos para sistemas agrícolas intensivos; as que provêm da passagem de sistemas pecuários
extensivos para intensivos. Para os primeiros, considere-se que áreas com culturas temporárias ou
pasto em um montante A são convertidas em áreas com culturas permanentes ou silvicultura em
um montante AaP e em capoeiras, em um montante AcR , de modo que
A = AcR + AaP (3.2.1-1)
Considerando a condição path efficient para um único agente em contexto de rendimentos
constantes a conversão se fará enquanto
A• p ≤ AaP • paP + AcR • pcr (3.2.1-2)
Isto é, a área total aplicada no uso anterior multiplicado pela rentabilidade desse uso por
unidade de área (p=proxy do payoff da shifting cultivation) é menor ou igual à área aplicada com
permanentes multiplicada pela rentabilidade das permanentes por unidade de área ( paP =proxy
do payoff dos sistemas com culturas permanentes), mais a área com capoeira multiplicada pela
rentabilidade da capoeira ( pcr ). Se substituirmos A em (3.2.1-2) pelo seu valor em (3.2.1-
1), se considerarmos adicionalmente que o valor produzido pela capoeira é irrelevante
(momentaneamente), portanto pcr = 0 e que o processo de conversão se faz até seu limite, onde os
dois termos da inequação se igualam, então:
AcR + AaP paP R P

P =  AcP +1= pa e, assim,


Aa p Aa p
 pP 
AcR = a −1• AaP (3.2.1-3)
 p 
Temos valores para todas essas variáveis no nosso banco de dados baseado no Censo
Agropecuário, de modo que podemos encontrar a área das capoeiras-reserva para cada caso, com
a ressalva de que, por não termos uma distinção da área com pecuária intensiva em relação com
a de pecuária extensiva, não podemos especificar a relação (3.2.1-1) e, portanto, não sabemos
quanto das capoeiras-reservas provém da intensificação da pecuária.
As capoeiras-sucata ( Acs ), por sua vez, têm dois componentes, o que deriva da pecuária
bovina e o que deriva da shifting cultivation. As que provêm da pecuária são determinadas pela
proporção do solo exigida pela pecuária ( AaPec ) no conjunto das atividades que produzem capoeira
– pecuária ( AaPec ) e culturas temporárias ( AaTemp ). Essa proporção se projeta sobre a área com
R
capoeiras que não é explicada pela formação de capoeiras-reserva ( Ac  Ac ). Assim,
 APec 
AcS = Pec a Temp • ( AC − ACR ) (3.2.1-4)
 Aa + Aa 
Com os dados do Censo podemos facilmente calcular, caso a caso, tais áreas. Já não
temos como calcular, agora, a capoeira-sucata provinda da shifting cultivation.
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Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Finalmente, as capoeiras-capital ( AcK ) seriam obtidas por diferença, de modo que:


AcK = AC − ACR − ACS (3.2.1-5)
Aplicadas essas relações a cada caso do Censo Agropecuário, criam-se as novas variáveis
que representam os três tipos de capoeira em associação (i.e., como parte da mesma unidade de
informação) com as demais variáveis definidoras dos sistemas tecnológicos e formas sociais de
produção, as quais, tabuladas, compõem a Tabela 3.2.1-1, para a região Norte.

Tabela 3.2.1-1 As diversas formas de capoeira na Região Norte, seu contexto técnico e forma de
produção, 1995-96 (Ha)
Fundamento Técnico 1: Fundamento Técnico 2: Fundamento Técnico 3:
Baseada em culturas Intensificação com culturas Dominância da pecuária Fundamento
temporárias (FT) permanetes (FP) (FPec) Técnico 4: Total de Terras
Fundamento Área com Área com Existência de
Capoeira Capoeira Área com Capoeira Apropriadas/
Social da Culturas
Capital3
Culturas
Reserva1 Pastos Sucata2
floresta Utilizadas3
Produção Temporárias Permanentes E

AcK AcR AaPec AcS AaMata


AcT AcP
1.Camponeses 891.507 613.777 542.594 895.443 3.942.476 618.731 9.311.140 16.815.667
2.Patronais 352.704 157.785 185.252 547.757 10.820.183 1.662.800 16.191.153 29.917.633
Região Norte 1.244.211 771.562 727.845 1.443.200 14.762.658 2.281.531 25.502.292 46.733.300

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário: todos os estados da Região Norte, 1995-96. Tabulações especiais do autor.
Notas metodológicas:
1. Aplicação da relação (3.2.1-3) com as seguintes restrições: a) se AcR > Ac então AcR = Ac ; b) se AcR < 0 então
AcR = 0; c) considerando p como sendo a renda líquida total por unidade de área aplicada à pecuária e às culturas
temporárias, incluindo nestas as capoeiras necessárias para um pousio de 6 anos e uma utilização de um plantio de
culturas brancas na mesma área por 2 anos.
2. Aplicação da relação (3.2.1-4) com a restrição de que se AcS > ( Ac - AcR ) então AcS = Ac - AcR .
3. Aplicação das relações (3.2.1-5). 3 Todas as terras dadas como utilizadas no Censo. Há uma diferença para o total
das propriedades que inclui áreas alagadas e outras dadas como inaproveitáveis.
As terras em forma de capoeira-reserva, associadas a uma área com culturas permanentes
de 0,73 milhões ha, alcançaram 1,4 milhões ha, dos quais 0,9 milhões dos camponeses (64% do
total) e os demais 0,5 milhões (36%) dos estabelecimentos patronais.
As terras de fato abandonadas, provavelmente imprestáveis, que aqui tratamos como
capoeira-sucata ou capoeira-resíduo, associadas a 14,8 milhões ha de pasto, seriam equivalentes
a 2,3 milhões de ha, dos quais pouco mais de 1/3 associados aos sistemas de produção camponeses
e os demais 2/3 aos sistemas de produção patronais.
As capoeiras-capital, que se constituem em componentes ativos dos sistemas de produção
baseados em 1,2 milhões de ha com culturas temporárias, perfazem um total de 771.562 ha, dos
quais os camponeses participam com 80% e os estabelecimentos patronais com 20%.

3.2.2 A pecuária de corte não intensifica em baixa escala – são irrisórias suas capoeiras reserva

As estimativas anteriores a) subestimam o valor da capoeira-reserva porque não há meios


para calcular o efeito da intensificação da pecuária – só o efeito da intensificação pela agricultura
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Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

e silvicultura; b) subestimam a capoeira-sucata porque não há meios para calcular sua formação
a partir da shifting-cultivation e c) aos valores das subestimações mencionadas correspondem
superestimações nos valores da capoeira-capital, impossíveis de serem explicitadas.
Qual o significado desses erros? Uma resposta imediata é que serão tanto mais importantes,
quanto mais relevantes forem a intensificação da pecuária e a redução do tempo de rotação das
capoeiras da shifting cultivation. Sobre isso convém as seguintes considerações:
Sobre a intensificação da pecuária e a importância do erro da capoeira-reserva. O Gráfico
3.2.2-1 demonstra, primeiro, que a pecuária de corte não intensifica a produção até a escala média
de 4,3 mil cabeças. Só a partir daí, e numa escala de 12,5 mil cabeças, verifica-se intensificação.
Segundo, que este segmento que se intensifica com a escala representa 1% da atividade.
Mais detalhadamente, em 1995, 48% do rebanho total provinha de estabelecimentos
com rebanhos até 200 cabeças, com média de 19 cabeças. Esse grupo de estabelecimentos toca
a pecuária como parte de sistemas de produção complexos e diversificados, dominantemente
camponeses, pouco especializados, nos quais o valor da produção da pecuária representa apenas
24% do total. Ademais, do valor da produção pecuária bovina, 76% provém da produção de leite
e seus derivados. Tais características dotam esses estabelecimentos de um grau de intensificação
medido pela capacidade de suporte de 0,9 cab/ha – a maior de todas as classes de rebanho (conf.
Gráfico 3.2.2-1).

Gráfico 3.2.2-1 – Proporção (%) do rebanho associada à escala média (cabeças por estabelecimento)
e a intensidade (cabeça por hectare) da pecuária bovina na Região Norte, em 1995

1,0 14.000
12.849
0,9 0,9
12.000
0,8
0,78
0,7 0,6 10.000
0,59 0,56
Cabeças por Hectare

0,6
8.000
0,5
0,4 4.318 6.000

0,3 R$ 2.503,00 R$ 2.929,00 4.000


0,2
R$ 1.509,00
R$ 718,00 2.000
0,1 R$ 2.995,00
392 1.455
19
0,0 0
48% 30% 13% 8% 1%
1 a 200 201 a 1000 1001 a 3000 3.001 a 8.000 Mais que 8.000
cabeças cabeças cabeças cabeças cabeças

Intensidade (Cabeças/Ha) Escala (Cabeças/Estabelecimento)


Peso (% do Rebanho Total) Rentabilidade (R$/Trabalhador)

Fonte: Censo Agropecuário 1995-96. Tabulações especiais do autor.

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Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Nas quatro escalas seguintes – 201 a 1.000 cabeças, com média de 392, 1.001 a 3.000
cabeças, com média de 1.455 cabeças, 3001 a 8.000, com média de 4.318 cabeças e mais que
8.000 cabeças, com média de 12.849 cabeças – o grau de especialização em pecuária de corte
aumenta, representando respectivamente 80%, 89%, 94% e 97% do valor da produção pecuária
dos estabelecimentos. O grau de intensificação dos estabelecimentos com rebanhos cai para 0,6
cab/ha e se mantém praticamente o mesmo nas duas classes seguintes – respectivamente 0,59 e
0,56 cab/ha. Só nos estabelecimentos com rebanho acima de 8.000 cabeças é que este parâmetro
aumenta significativamente, para 0,78 cab/ha (ver Gráfico 3.2.2-1). A rentabilidade, por seu turno,
cresce com a escala de produção, não obstante a taxas decrescentes: dá um salto de R$ 1.509 para
R $ 2.503 nos dois primeiros intervalos, cresce para R$ 2.929 no seguinte e para R$ 2.995, no
último. Para 99% da atividade da pecuária de corte, a rentabilidade correlaciona positivamente
com a escala, mas é indiferente à intensidade do uso da terra. O erro, portanto, no que se refere à
formação de capoeira-reserva a ela associada, parece ser irrelevante.
Sobre a formação de capoeira-sucata na shifting cultivation. No formato atual dos dados
do Censo, verificar variações no tempo de rotação da capoeira associada à shifiting cultivation para
determinar em que medida daí poderiam resultar capoeiras-sucata parece impossível. Sobre esse
ponto pode-se, entretanto, indicar que a formação de capoeira-sucata na shifting cultivation se dá a
partir, ou através, da pecuária de corte. Isto é, a agricultura de pousio é, a rigor, um primeiro ponto
em uma trajetória que, mediante crises que alguns analistas têm chamado de “crises da capoeira”,
bifurca-se em sistemas dominados por culturas permanentes (que comportam, em muitas regiões,
uma pecuária de leite) e sistemas dominados por pecuária de corte28. Estes últimos formam as
capoeiras-sucata, as quais foram captadas nas estimativas feitas. Aqui, também, entendemos ser o
erro associado à subestimação mencionada irrelevante.

3.2.3 Formação de capoeiras pela expansão dos seus fundamentos: evolução do uso do solo nos
sistemas de produção fundamentais

Dados os estoques em 1995 dos diversos tipos de capoeiras, dados os seus fundamentos
técnicos e sociais, modelamos a evolução do conjunto, tanto à montante, quanto à jusante desse
ponto. Para tanto consideramos o seguinte:
1. Que se mantenham constantes os coeficientes técnicos das relações entre os diversos
tipos de capoeira e seus fundamentos. Isso implica assumir tecnologia constante, com
consequências sobre as quais discorreremos depois.
2. Que a evolução das áreas plantadas com culturas permanentes e com culturas temporárias
e a expansão do rebanho bovino estimadas pelo IBGE para toda a Região Norte são
indexadores robustos para a evolução dos fundamentos da existência das capoeiras.

28 Ver sobre crises da capoeira a revisão de Hurtienne (2001). Ver também a extensa dedução de trajetórias tecnológicas no setor rural
da Amazônia apresentada em Costa (2006c).

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Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Com isso poderíamos ter o seguinte:


 AcC(1995) 
T T C T
F =A +A =A .IT .1+ T
  (3.2.3-1)
(t ) a (t ) c (t ) a (1995 )
 Aa (1995) 

 AcR(1995) 
P P R P
F =A +A =A .I P .1+ P
  (3.2.3-2)
(t ) a (t ) c (t ) a (1995 )
 Aa (1995) 

 AcS(1995) 
Pec Pec S Pec
F (t ) =A a (t ) +A c (t ) =A a (1995 ) .I Pec .
1+ APec   (3.2.3-3)
 a (1995 ) 

Para F sendo o fundamento produtivo dominante, i o indexador do fundamento em questão


– se de culturas temporárias (T), se de culturas permanentes (P) ou se de pecuária (Pec), expressos
como índices, respectivamente, da área plantada de culturas temporárias, culturas permanentes
e rebanho bovino das bases de dados da Produção Agrícola Municipal e da Produção Pecuária
Municipal, do IBGE para toda a Região Norte – para qualquer ano t, de 1989 a 2005 (conf. Tabela
3.2.3-1).

Tabela 3.2.3-1 – Evolução da área plantada com culturas temporárias1 e permanentes2 e do rebanho
bovino3 da Região Norte como indexadores dos fundamentos da economia agrária, 1989-2005
(Índices para 1995 = 1)
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Temporárias (IT) 0,76 0,76 0,77 0,90 0,88 0,99 1,00 0,89 0,90 0,97 1,05 1,04 0,92 0,91 1,01 1,13 1,26
Permanentes (IP) 1,00 0,97 0,94 1,01 0,99 0,99 1,00 0,90 0,86 0,88 1,04 1,13 1,17 1,14 1,21 1,12 1,14
Pec uária (IPec) 0,60 0,69 0,80 0,83 0,89 0,94 1,00 0,94 1,01 1,10 1,17 1,28 1,42 1,59 1,77 2,07 2,16
Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal (PAM) e Pesquisa da Pecuária Municpal (PAM). 1. Abacaxi, Algodão
herbáceo, Amendoim, Arroz, Batata – doce, Cana-de-açúcar, Feijão, Fumo, Juta, Malva, Mandioca, Melancia, Melão,
Milho, Soja, Sorgo, Tomate. 2. Abacate, Banana, Borracha, Cacau, Café, Castanha de caju, Coco-da-baía, Dendê,
Goiaba, Guaraná, Laranja, Limão, Mamão, Manga, Maracujá, Palmito, Pimenta-do-reino, Tangerina, Urucum, Uva. 3.
Número total de cabeças do rebanho bovino.

Assumindo, por outra parte, a hipótese de que todo o desenvolvimento agrário do período
se fez com base numa mesma estrutura de propriedade, isto é, que o conjunto de terras apropriadas
em 1995 já constituía o patrimônio fundiário dos agentes do setor rural no início da década de
noventa e continuou sendo o acervo sobre o qual operaram até 2005, de modo que E é constante
(sobre o significado dessa hipótese voltaremos adiante), então teríamos:
A(Mata
t) = E(1995) − F(Tt ) − F( tP) − F( tPec
) (3.2.3-4)

Com isso reconstituímos a evolução das áreas utilizadas no setor nos seus principais
elementos constitutivos, conforme resultados apresentados na Tabela 3.2.3-2.

91
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 3.2.3-2 – Áreas por usos e modos de produção, inclusive capoeiras, 1990-2005, em ha.
Formas de
Produção
Ano AaT( t ) AcT( t ) AaP( t ) AcR( t ) AaPec
(t ) AcS( t ) A(Mata
t) E( t )
1990 679.998 468.160 527.644 870.772 2.736.876 429.525 11.102.691 16.815.667
1991 685.355 471.847 512.259 845.382 3.157.129 495.479 10.648.215 16.815.667
1992 801.774 551.998 549.313 906.532 3.256.751 511.114 10.238.185 16.815.667
1993 782.174 538.505 535.927 884.441 3.507.538 550.472 10.016.611 16.815.667
1994 878.157 604.586 534.570 882.202 3.692.365 579.479 9.644.309 16.815.667
1995 891.507 613.777 542.594 895.443 3.942.476 618.731 9.311.140 16.815.667
1996 797.203 548.852 487.152 803.948 3.695.749 580.010 9.902.753 16.815.667
Camponeses

1997 803.469 553.165 466.189 769.353 3.966.052 622.431 9.635.008 16.815.667


1998 862.426 593.756 479.831 791.866 4.336.161 680.516 9.071.111 16.815.667
1999 936.689 644.884 564.791 932.076 4.609.941 723.483 8.403.802 16.815.667
2000 927.364 638.464 615.098 1.015.097 5.038.817 790.790 7.790.036 16.815.667
2001 823.071 566.661 633.925 1.046.167 5.607.403 880.024 7.258.415 16.815.667
2002 809.599 557.386 619.752 1.022.777 6.253.677 981.450 6.571.027 16.815.667
2003 896.498 617.213 654.746 1.080.529 6.973.150 1.094.364 5.499.165 16.815.667
2004 1.010.994 696.040 609.105 1.005.206 8.176.983 1.283.293 4.034.045 16.815.667
2005 1.124.517 774.198 618.714 1.021.065 8.526.747 1.338.185 3.412.241 16.815.667
1990 269.025 120.351 180.148 532.665 7.511.398 1.154.320 20.149.726 29.917.633
1991 271.145 121.299 174.895 517.134 8.664.788 1.331.568 18.836.804 29.917.633
1992 317.203 141.903 187.546 554.540 8.938.202 1.373.585 18.404.653 29.917.633
1993 309.449 138.435 182.976 541.027 9.626.489 1.479.358 17.639.900 29.917.633
1994 347.422 155.422 182.512 539.657 10.133.750 1.557.312 17.001.557 29.917.633
1995 352.704 157.785 185.252 547.757 10.820.183 1.662.800 16.191.153 29.917.633
1996 315.395 141.094 166.323 491.788 10.143.037 1.558.739 17.101.256 29.917.633
Patronais

1997 317.874 142.203 159.166 470.625 10.884.888 1.672.744 16.270.133 29.917.633


1998 341.199 152.638 163.823 484.397 11.900.657 1.828.843 15.046.075 29.917.633
1999 370.579 165.782 192.830 570.166 12.652.052 1.944.314 14.021.910 29.917.633
2000 366.890 164.131 210.006 620.951 13.829.107 2.125.199 12.601.348 29.917.633
2001 325.629 145.673 216.434 639.957 15.389.601 2.365.009 10.835.330 29.917.633
2002 320.299 143.288 211.595 625.649 17.163.308 2.637.585 8.815.909 29.917.633
2003 354.679 158.668 223.543 660.977 19.137.914 2.941.034 6.440.819 29.917.633
2004 399.976 178.933 207.960 614.901 22.441.851 3.448.769 2.625.243 29.917.633
2005 444.889 199.025 211.241 624.602 23.401.784 3.596.287 1.439.806 29.917.633
1990 949.024 588.510 707.792 1.403.437 10.248.274 1.583.844 31.252.418 46.733.300
1991 956.499 593.146 687.155 1.362.517 11.821.917 1.827.047 29.485.019 46.733.300
1992 1.118.977 693.902 736.859 1.461.072 12.194.953 1.884.699 28.642.838 46.733.300
1993 1.091.623 676.939 718.902 1.425.467 13.134.027 2.029.830 27.656.511 46.733.300
1994 1.225.579 760.008 717.082 1.421.859 13.826.115 2.136.791 26.645.866 46.733.300
1995 1.244.211 771.562 727.845 1.443.200 14.762.658 2.281.531 25.502.292 46.733.300
1996 1.112.598 689.946 653.475 1.295.736 13.838.786 2.138.749 27.004.009 46.733.300
1997 1.121.342 695.369 625.355 1.239.978 14.850.941 2.295.175 25.905.140 46.733.300
Total

1998 1.203.625 746.394 643.654 1.276.263 16.236.818 2.509.359 24.117.187 46.733.300


1999 1.307.268 810.666 757.622 1.502.242 17.261.993 2.667.797 22.425.712 46.733.300
2000 1.294.254 802.595 825.104 1.636.048 18.867.924 2.915.989 20.391.384 46.733.300
2001 1.148.700 712.334 850.359 1.686.124 20.997.004 3.245.033 18.093.746 46.733.300
2002 1.129.898 700.674 831.347 1.648.426 23.416.984 3.619.035 15.386.936 46.733.300
2003 1.251.177 775.882 878.289 1.741.506 26.111.064 4.035.398 11.939.984 46.733.300
2004 1.410.969 874.973 817.065 1.620.108 30.618.835 4.732.062 6.659.288 46.733.300
2005 1.569.405 973.222 829.955 1.645.667 31.928.532 4.934.473 4.852.046 46.733.300
Fonte: Tabela 3.2.1-1 para o ano de 1995. Os demais, estimativas do autor com base na metodologia apresentada no texto.

92
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

3.3. Sistemas de produção e balanço de carbono

A essas áreas aplicaram-se parâmetros de emissão e sequestro de Carbono em conformidade


com Fearnside (2000) e Nepstad, Moreirra, Alencar (1999), respeitando a seguinte metodologia29:
AT+
AaT(+t )  c(t )

 C
C Ac ( t )
F( t ) = C.( Aa ( t ) − Aa ( t−1) ) + 5⋅ ⋅
T+ T T
(3.3-1)
15 5
 
AcC(−t )
 
 AT−
a (t )
C 
 C Ac ( t ) 
F(Tt )− =−9. AaT( t ) + ⋅ (3.3-2)
15 5 

 

 
F( tP)+ = AaP(+t ) +0 (3.3-3)

 AaP(−t ) AR−

  c ( t )
  
P−  C P C R 
F( t ) =− ⋅A + ⋅A (3.3-4)
 20 a ( t ) 15 c ( t ) 
 
 

F( tPec ( t ) = ( Aa ( t ) − Aa ( t−1) ) .C + 6. Aa ( t )
= AaPec Pec Pec Pec
)
+ +
(3.3-5)

A S−
AaPec − c(t )

 C (t )

F( tPec−
= 6. AaPec
(t ) + ⋅ AS (3.3-6)
)
60 c ( t )
F( tMata
)

= A(Mata
t)

= 0, 45. A(Mata
t) (3.3-7)
T+ T− P+ P− Pec+
E(+−
t ) = F( t ) + F( t ) + F( t ) + F( t ) + F( t ) + F( tPec
)

+ F( tM) ata− (3.3-8)

29 Tomamos esses dois trabalhos porque apresentam o estado da arte do conhecimento relativo a essa questão na região. O trabalho de
Fearnside (2000), um famoso pesquisador em ecologia florestal na Amazônia, há anos fazendo contabilidades de variáveis importantes
da questão ambiental para a região, faz uma atualização de levantamento anterior (Fearnside, 1997), e apresenta detalhadamente os
resultados disponíveis na literatura pertinente para cada tema: derruba, queima, floresta originária, etc. O trabalho de Nepstedt (e
associados), também um renomado especialista em ecologia florestal da Amazônia, é menos técnico, mais um esforço de divulgação,
de suma importância, contudo, porque sua avaliação e escolha de parâmetros funciona para nós, leigos, como corroboração qualificada
das suas fontes. Não obstante, se o fato de acatar médias para regiões tão vastas e diversas apresenta seus riscos, dos quais estamos
plenamente conscientes, importa-nos, sobretudo, o exercício da metodologia e a discussão estratégica que seus resultados podem
permitir, mesmo quando sujeitos a considerável (porém aceitável e controlável) margem de erro. Mais um ponto deve ser anotado: a
metodologia que apresentamos permite, como já mencionado, a leitura caso a caso, dos dados do Censo Agropecuário, possibilitando,
assim, o uso de valores regionalizados em nível de município e, mesmo, distrito censitário. Se disponíveis parâmetros de emissão e
sequestro nesse nível, uma contabilidade correspondentemente acurada seria possível.

93
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 3.3-1 – Evolução dos componente dos balanços anuais de emissão de carbono na Região
Norte por por usos e modos de produção, 1990-2005, em t.
Formas
de Ano AaT(t ) AaT(t ) AcC(t ) AaP(t ) AaP(t ) AcR(t ) AaPec
(t )

AaPec
(t )

AcS(t ) AaMata
(t )

E(+−
t)
rodução

1990 7.305.010 -6.119.986 -4.993.701 0 -5.276.443 -11.610.294 87.097.808 -16.421.258 -1.431.749 -4.996.211 43.553.175
1991 7.362.551 -6.168.193 -5.033.036 0 -5.122.594 -11.271.765 100.471.855 -18.942.776 -1.651.597 -4.791.697 54.852.748
1992 30.643.754 -7.215.963 -5.887.981 0 -5.493.131 -12.087.094 38.867.155 -19.540.507 -1.703.712 -4.607.183 12.975.338
1993 3.260.161 -7.039.567 -5.744.048 0 -5.359.267 -11.792.540 69.697.814 -21.045.227 -1.834.907 -4.507.475 15.634.944
1994 27.257.679 -7.903.411 -6.448.916 0 -5.345.701 -11.762.688 58.010.686 -22.154.190 -1.931.596 -4.339.939 25.381.924
1995 10.853.704 -8.023.562 -6.546.955 0 -5.425.937 -11.939.240 72.176.307 -23.654.854 -2.062.437 -4.190.013 21.187.015
1996 0 -7.174.827 -5.854.416 0 -4.871.523 -10.719.307 0 -22.174.494 -1.933.366 -4.456.239 -57.184.173
Amponeses

1997 8.628.677 -7.231.219 -5.900.430 0 -4.661.892 -10.258.035 76.235.126 -23.796.313 -2.074.770 -4.335.753 26.605.391
1998 19.708.231 -7.761.836 -6.333.395 0 -4.798.310 -10.558.208 97.818.070 -26.016.965 -2.268.386 -4.082.000 55.707.201
1999 23.451.081 -8.430.204 -6.878.761 0 -5.647.914 -12.427.680 80.773.031 -27.659.647 -2.411.610 -3.781.711 36.986.585
2000 6.647.863 -8.346.279 -6.810.281 0 -6.150.980 -13.534.627 113.434.789 -30.232.902 -2.635.968 -3.505.516 48.866.097
2001 0 -7.407.643 -6.044.386 0 -6.339.247 -13.948.889 143.950.182 -33.644.420 -2.933.414 -3.266.287 70.365.897
2002 4.737.325 -7.286.391 -5.945.448 0 -6.197.517 -13.637.026 162.899.086 -37.522.060 -3.271.501 -2.956.962 90.819.507
2003 25.609.374 -8.068.485 -6.583.610 0 -6.547.464 -14.407.051 181.416.778 -41.838.901 -3.647.881 -2.474.624 123.458.137
2004 32.179.594 -9.098.942 -7.424.429 0 -6.091.048 -13.402.753 282.605.514 -49.061.900 -4.277.645 -1.815.320 223.613.071
2005 33.027.256 -10.120.650 -8.258.108 0 -6.187.142 -13.614.198 119.014.725 -51.160.485 -4.460.618 -1.535.508 56.705.271
1990 2.025.182 -2.421.229 -1.283.742 0 -1.801.477 -7.102.205 239.041.218 -45.068.385 -3.847.733 -9.067.377 170.474.252
1991 2.041.134 -2.440.301 -1.293.854 0 -1.748.951 -6.895.122 275.746.487 -51.988.728 -4.438.560 -8.476.562 200.505.544
1992 11.103.726 -2.854.826 -1.513.636 0 -1.875.459 -7.393.871 106.671.479 -53.629.211 -4.578.617 -8.282.094 37.647.490
1993 294.978 -2.785.040 -1.476.635 0 -1.829.755 -7.213.688 191.286.678 -57.758.935 -4.931.194 -7.937.955 107.648.454
1994 9.666.955 -3.126.799 -1.657.837 0 -1.825.123 -7.195.427 159.211.183 -60.802.502 -5.191.040 -7.650.701 81.428.708
1995 3.160.127 -3.174.334 -1.683.040 0 -1.852.517 -7.303.427 198.088.939 -64.921.096 -5.542.667 -7.286.019 109.485.967
1996 0 -2.838.552 -1.505.008 0 -1.663.230 -6.557.174 0 -60.858.225 -5.195.797 -7.695.565 -86.313.551
Patronais

1997 2.391.821 -2.860.862 -1.516.836 0 -1.591.658 -6.275.006 209.228.428 -65.309.331 -5.575.812 -7.321.560 121.169.183
1998 6.700.200 -3.070.788 -1.628.140 0 -1.638.234 -6.458.627 268.463.137 -71.403.945 -6.096.143 -6.770.734 178.096.726
1999 8.086.517 -3.335.212 -1.768.338 0 -1.928.305 -7.602.213 221.682.773 -75.912.310 -6.481.046 -6.309.860 126.432.007
2000 1.450.578 -3.302.010 -1.750.734 0 -2.100.061 -8.279.351 311.323.450 -82.974.644 -7.083.996 -5.670.607 201.612.626
2001 0 -2.930.660 -1.553.843 0 -2.164.339 -8.532.762 395.073.397 -92.337.607 -7.883.363 -4.875.899 274.794.925
2002 844.502 -2.882.690 -1.528.409 0 -2.115.949 -8.341.990 447.078.945 -102.979.847 -8.791.949 -3.967.159 317.315.453
2003 8.991.513 -3.192.107 -1.692.463 0 -2.235.428 -8.813.026 497.901.023 -114.827.482 -9.803.446 -2.898.368 363.430.216
2004 11.445.243 -3.599.783 -1.908.614 0 -2.079.599 -8.198.681 775.615.001 -134.651.108 -11.495.897 -1.181.359 623.945.203
2005 11.636.213 -4.003.998 -2.122.930 0 -2.112.407 -8.328.026 326.637.668 -140.410.704 -11.987.625 -647.912 168.660.278
1990 9.330.192 -8.541.215 -6.277.443 0 -7.077.920 -18.712.499 326.139.026 -61.489.644 -5.279.482 -14.063.588 214.027.427
1991 9.403.685 -8.608.493 -6.326.890 0 -6.871.545 -18.166.887 376.218.342 -70.931.505 -6.090.157 -13.268.259 255.358.292
1992 41.747.480 -10.070.789 -7.401.617 0 -7.368.589 -19.480.965 145.538.634 -73.169.718 -6.282.329 -12.889.277 50.622.828
1993 3.555.139 -9.824.607 -7.220.684 0 -7.189.022 -19.006.228 260.984.492 -78.804.162 -6.766.101 -12.445.430 123.283.398
1994 36.924.634 -11.030.210 -8.106.753 0 -7.170.824 -18.958.115 217.221.869 -82.956.693 -7.122.636 -11.990.639 106.810.632
1995 14.013.831 -11.197.896 -8.229.995 0 -7.278.454 -19.242.667 270.265.246 -88.575.949 -7.605.103 -11.476.032 130.672.982
1996 0 -10.013.380 -7.359.424 0 -6.534.753 -17.276.481 0 -83.032.718 -7.129.163 -12.151.804 -143.497.724
1997 11.020.497 -10.092.081 -7.417.266 0 -6.253.550 -16.533.042 285.463.554 -89.105.643 -7.650.583 -11.657.313 147.774.573
Total

1998 26.408.431 -10.832.624 -7.961.535 0 -6.436.543 -17.016.836 366.281.207 -97.420.910 -8.364.529 -10.852.734 233.803.927
1999 31.537.599 -11.765.416 -8.647.099 0 -7.576.219 -20.029.893 302.455.804 -103.571.957 -8.892.656 -10.091.571 163.418.592
2000 8.098.441 -11.648.289 -8.561.015 0 -8.251.041 -21.813.978 424.758.239 -113.207.546 -9.719.964 -9.176.123 250.478.724
2001 0 -10.338.303 -7.598.229 0 -8.503.586 -22.481.651 539.023.580 -125.982.027 -10.816.777 -8.142.185 345.160.822
2002 5.581.827 -10.169.080 -7.473.858 0 -8.313.466 -21.979.016 609.978.031 -140.501.907 -12.063.450 -6.924.121 408.134.960
2003 34.600.887 -11.260.591 -8.276.073 0 -8.782.892 -23.220.077 679.317.802 -156.666.384 -13.451.327 -5.372.993 486.888.353
2004 43.624.836 -12.698.725 -9.333.043 0 -8.170.647 -21.601.434 1.058.220.515 -183.713.008 -15.773.541 -2.996.680 847.558.274
2005 44.663.468 -14.124.648 -10.381.038 0 -8.299.550 -21.942.224 445.652.393 -191.571.189 -16.448.242 -2.183.421 225.365.549

Fonte: Tabela 3.2.1-1 para o ano de 1995. Os demais, estimativas do autor com base na metodologia apresentada no texto.

94
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Nas equações (3.3-1) a (3.3-8) C representa o estoque médio de carbono contido em um


hectare de mata na Amazônia (200 t/ha, de acordo com as fontes indicadas), F o balanço líquido
emissão/sequestro de carbono do fundamento produtivo e E o balanço final do setor em cada ano
t. Os divisores de C são os anos que a vegetação da variável em questão precisaria para atingir o
nível de estoque de carbono da mata (os resultados são, pois, os valores de absorção/liberação em
toneladas de carbano/ha/ano). O divisor da capoeira capital é o tempo de pousio (os resultados são
os volumes de capoeira que entram em operação no ano t). Os demais parâmetros (9 na equação
(3.3-2), 6 nas equações (3.3-4) e (3.3-5) e 0,45 na equação (3.3-6)) são valores derivados das duas
fontes mencionadas de emissão/sequestro em t/ha/ano relativo à variável parametrada.
Os balanços de emissão ano a ano de 1990 a 20005 e seus componentes de emissão e
sequestro por fundamento produtivo e modo de produção, resultantes da aplicação desse método,
estão na Tabela 3.3-1. Discutiremos esses resultados à luz do nosso questionamento inicial no
próximo subcapítulo. Aqui importa anotar que o valor do balanço encontrado para 1990, de 214,1
Gt de CO2 equivalente, é muito diferente, porém não incompatível com o balanço de Fearnside
de 353-359 Gt de CO2 equivalente. A diferença se explicará em grande parte (em montante,
porém, difícil de estabelecer) porque a nossa contabilidade abarca a Região Norte, enquanto a
de Fearnside a Amazônia Legal (Fearnside, 2000: 2) incluindo, além dos sete estados da grande
região, o Mato Grosso e parte do Maranhão, onde, no período em questão importantes fronteiras
desenvolviam-se no Norte de Mato Grosso e no Noroeste do Maranhão. Em menor escala influi
também o fato de que a contabilidade aqui apresentada não inclui, como a de Fearnside, as
emissões associadas às atividades madeireiras.

3.3.1 Os limites da pecuária de corte à intensificação

Nas estimativas do item anterior assumimos que os parâmetros tecnológicos se mantêm


os mesmos ao longo de todo o período estudado. No que se refere à pecuária, o pressuposto requer
discussão, considerando que Margulis (2003), em trabalho amplamente citado, indica como
tendência a formação de uma “fronteira consolidada” na Amazônia baseada em “...uma pecuária
altamente rentável e profissional” – sugerindo, com isso, uma atividade que evolui intensificando
o uso da terra.
O que está demonstrado é que a pecuária de corte na Amazônia conduzida pelas fazendas
e empresas é profissional, no sentido de que é rentável – por suposto. Contudo, isso não implica,
no que se refere ao uso do solo, seja, ou mesmo, esteja tornando-se intensiva. Ao contrário: ser
extensiva parece ser condição para que seja rentável. Demonstramos isso no item 3.2.3 para o ano
de 1995. Vejamos o que se passa em períodos mais recentes, autorizando-nos a pressuposição já
comentada.
Nos anos de 2002 e 2003, a FNP – Consultoria fez pesquisas de custos anuais e
rentabilidade da pecuária de corte, em nível de fazendas, em 7 regiões da Amazônia Legal – 4 em
Mato Grosso, 2 no Pará, 1 em Rondônia e 2 no Tocantins – distinguindo 3 níveis de intensificação
95
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

tecnológica (extensivo 0,6 cab/ha; semi-intensiva 0,8 cab/ha; intensiva 1 cab/ha) e duas escalas de
produção diferentes, de 500 e de 5.000 cabeças. Apresentam dois indicadores de rentabilidade: a
rentabilidade sobre o patrimônio total (pay back), e a rentabilidade por unidade de área.
Calculadas as médias para a Amazônia, encontramos os resultados apresentados no
Gráfico 3.3.1-1 para 2003. São as seguintes as conclusões que podemos derivar:
•• Escala de 500 cabeças. A rentabilidade do nível mais extensivo (0,64 cab/ha) é a
maior rentabilidade das unidades produtivas com média de 500 cabeças.
•• Escala de 500 cabeças. À proporção que o nível tecnológico aumenta (passa
para 0,86/cab/ha), as unidades produtivas de menor escala têm menor eficiência
pelos dois indicadores, chegando a proporcionar rendimento negativo no nível
tecnológico mais elevado (1,02/cab/ha).
•• Escala de 5.000 cabeças. Em maior escala, o nível tecnológico mais baixo (0,61 cab/
ha), tem rentabilidade em torno de quatro vezes superior à de menor escala no mesmo
nível tecnológico.
•• Escala de 5.000 cabeças. À proporção que o nível tecnológico eleva-se, a rentabilidade
por unidade de área cresce – apesar do payback reduzir em nível intermediário (0,79
cab/ha) – atingindo um máximo no nível mais alto de intensidade (0,98 cab/ha).

Tais resultados, completamente compatíveis com as estatísticas do Censo discutidas


em 3.2.2, indicam que a intensificação na pecuária de corte, partindo da escala média dos
estabelecimentos que detêm a metade do rebanho com esse fim, não é path-efficient – não produz
uma trajetória consistente: se os estabelecimentos com rebanho médio de 500 cabeças mudassem
a tecnologia para uma intensidade de 0,86 cab/ha, eles teriam a rentabilidade diminuída em 35%,
aproximadamente; e, se forçassem a adoção de tecnologias que elevassem a intensidade para 1,02
cabeças, a rentabilidade cairia a taxas mais elevadas ainda.
Todavia, a rentabilidade é crescente com a escala, para a mais baixa intensidade de 0,6
cab/ha. Como demonstrado no Gráfico 3.3.1-1, o coeficiente angular de um reta que vai do ponto
A (rentabilidade por unidade de área de R$ 27,9 e escala de 500 cabeças para a menor intensidade
de 0,6 cab/ha) ao ponto B (rentabilidade R$ 92,6 para escala de 5.000 cabeças para a mesma
intensidade de 0,6 cab/ha) seria 0,014, de modo que a cada 100 cabeças a mais no rebanho médio,
acresce R$ 1,40, isto é, 5%, na rentabilidade.
Em suma, na pecuária de corte na Amazônia combinam-se soluções tecnológicas
extensivas no uso da terra, aquelas que geram capoeira-sucata, e rentabilidade crescente com a
escala. Em tal contexto, constatam-se desenvolvimentos tecnológicos que atuam mais sobre os
rebanhos do que sobre as condições das pastagens e o crédito institucionalizado que internaliza
esses avanços, em que se destacam os créditos provenientes do FNO, atuam fortemente no
incremento da escala de produção. Dela emana, correspondentemente, uma enorme tensão de
incorporação de novas terras. Discutiremos as implicações disso em diversos momentos à frente,
particularmente na seção 7.3.1.
96
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 3.3.1-1 –Remuneração do patromônio total (pay backs em %) e rendimento por hectare
(R$/Ha) para diferentes escalas de produção e diferentes níveis tecnológicos para a Amazônia e
para o restante do Brasil, em 2003.

500 Cabeças 5.000 Cabeças


160 7%

140 6%

120
5%

100 B
4%

80
3%
R$/Ha

60

2%
40
A
1%
20

0,64 0,86 1,02 0,61 0,79 0,98 0%


0

-20 -1%

-40 -2%
Exten- Semi Exten- Semi
Intensivo Intensivo
sivo Intensivo sivo Intensivo
Cabeças por hectare 0,64 0,86 1,02 0,61 0,79 0,98
R$/Ha 27,9 18,0 -30,7 92,2 1 16,9 132,1
Rentabilidade para a menor 27,9 44,05 60,2 76,35 92,5
capacidade de suporte
Pay Back 1,1% 0,8% -1,6% 4,7% 4,6% 6,0%

Fonte: FNP, 2003.

3.3.2 Os sistemas de produção e seus balanços de carbono

A economia agrária da Região Amazônica é um aparato físico e um sistema social.


Enquanto sistema social se reproduz em processos entrópicos que transformam a matéria altamente
estruturada da floresta em meios de produção (sistemas agrícolas e pecuários) e dejetos: a energia
dissipada do CO2 e a matéria (relativamente degradada) das capoeiras-sucata. Nos sistemas
agrícolas e nas capoeiras, o processo de absorção de CO2 pela fotossíntese das plantas constitui
97
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

fator de negentropia pelo potencial de neutralizar os efeitos deletérios da emissão. A emissão não
neutralizada é indicador de entropia realizada, e, assim, medida objetiva do crescimento dos riscos
para a sustentabilidade – i.e., para as condições de permanência de dada sociedade. Como tal,
trata-se de medida objetiva de uma necessidade: a de neutralização desses riscos. A constituição
dos mercados de bens e serviços ecosistêmicos tem nesse fato seu fundamento de última instância.
Uma medida do estoque líquido (diferenças anuais emissões-sequestro acumuladas) de
carbono derivado da economia agrária da Região Norte é indicador da sua contribuição para a
entropia global. O Gráfico 3.3.2-1 mostra a evolução da grandeza e seus determinantes (lê-se
no eixo da esquerda em toneladas de carbono), bem como as taxas de crescimento do resultado
líquido (lê-se do lado direito em % a cada ano).
Os números absolutos mostram que o saldo acumulado multiplicou por um fator 10 em
15 anos, de uma média de 330,2 Gt nos três primeiros anos para uma média 3.313 Gt nos três
últimos: um resultado impressionante por si, potenciado por um crescimento rápido da emissão.
O vetor de emissão cresce mais rápido, a média dos três primeiros anos sendo multiplicada por
9,6 relativamente aos três últimos. Não obstante, é importante notar que há vetores de sequestro
evoluindo também (fator 8,1), espontaneamente – isto é, movidos pelas lógicas econômicas que
os fundamentam. Isso sugere, para uma heurística de soluções, caminhos estratégicos a explorar,
ao que retornaremos adiante.
Observadas as taxas de crescimento, evidenciam-se duas fases bem definidas: na primeira,
prevalecem taxas, que se iniciam muito altas, mas são decrescentes até aproximadamente 1996. A
partir daí a taxas são crescentes com indicação de queda nos últimos anos da série. Uma associação
imediata com as flutuações conjunturais dos principais produtos envolvidos sugere uma explicação
com base na flutuação dos preços em moeda doméstica da carne e de outras commodities. Mas há a
influência menos notada das políticas públicas de fomento, sobretudo as associadas ao FNO, a partir
das ênfases diferenciadas nessas mesmas fases: na primeira delas marcada por uma reorientação
em favor dos sistemas camponeses baseados em culturas permanentes e a segunda por um retorno
ao privilégio da pecuária de corte praticada pelas fazendas e empresas – como demonstramos no
Capítulo 1. Isso é, aliás, perfeitamente compatível com os ritmos e fundamentos das dinãmicas do
setor rural discutidos no capítulo 2.
Adicionalmente, três pontos merecem destaque:
1. O peso absolutamente fundamental dos sistemas baseados em pecuária de corte,
em particular daquela praticada pelos estabelecimentos patronais, produtores de
capoeiras-sucata, nas emissões de CO2 (Gráfico 3.3.2-2).
2. O peso, também absolutamente fundamental, dos sistemas camponeses baseados
em culturas permanentes, produtores de capoeiras-reserva, no sequestro de carbono
(Gráfico 3.3.2-3).
3. O peso, também importante nessa matéria, dos sistemas patronais de cultura
permanente (Gráfico 3.3.2-3).
4. O peso decrescente da floresta na definição do saldo (Gráfico 3.3.2-3).
98
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 3.3.2-1 – Evolução do balanço líquido entre emissão e sequestro de carbono na economia
agrária da Amazônia, 1990 a 2005
5.000 100%
4.000 80%
3.000 60%
2.000 40%
(Gt)

1.000 20%
0 0%
-1.000 -20%

-2.000 -40%
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Total de Emissão 259 468 541 729 861 1.035 1.035 1.229 1.500 1.693 1.995 2.397 2.865 3.394 4.274 4.517
Total Seqüestro -45 -91 -141 -183 -225 -278 -413 -449 -483 -530 -586 -638 -679 -716 -749 -781
Balanço 214 377 400 546 636 757 622 780 1.017 1.163 1.409 1.759 2.187 2.678 3.525 3.735
Taxa de crescimento do balanço 76% 6% 36% 17% 19% -18% 25% 30% 14% 21% 25% 24% 22% 32% 6%

Fonte: Tabela 3.3-1.


Notas metodológicas:
1. Os valores anuais foram acumulados.
2. Para o total de emissão somamos, para cada ano, todos os valores com sinal positivo.
3. Para o total de sequestro, somamos todos os valores com sinal negativo.
4. Para o balanço, somamos os resultados das operações indicadas em 2 e 3.
5. Taxas de crescimento anuais.

Gráfico 3.3.2-2 – Evolução dos vetores de emissão de carbono na economia agrária da Amazônia,
1990 a 2005 (valores acumulados)
3.500
3.000
2.500
2.000
(Gt)

1.500
1.000
500
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Cultura Temporárias Camponeses -- -1 31 31 31 31 92 72 72 72 73 85 36 86 8


Culturas Temporárias Patronais -- 77 12 12 12 12 14 17 17 17 17 21 27 32
Pecuária Camponeses 69 149 167 214 247 294 294 344 414 465 545 652 775 91
1 1.140 1.203
Pecuária Patronais 190 319 367 496 589 717 717 855 1.046 1.185 1.406 1.701 2.037 2.410 3.039 3.214

Fonte: Tabela 3.3-1.


Notas metodológicas:
1. Ver notas metodológicas do Gráfico 3.3.2-1.
2. Os valores anuais foram acumulados.
3. Somaram-se, para cada ano, todos os valores com sinal positivo.

99
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 3.3.2-3 – Evolução dos vetores de sequestro de carbono na economia agrária da Amazônia,
1990 a 2005 (valores acumulados)
0

-50

-100

-150

(Gt) -200

-250

-300

-350
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
FTemporárias Camponeses -4 -8 -17 -17 -21 -34 -38 -38 -38 -47 -60 -69 -69 -69 -69 -69
FTemporárias Patronais -2 -6 -6 -10 -10 -11 -16 -18 -18 -18 -21 -26 -29 -29 -29 -29
FPermanentes Camponeses -17 -33 -51 -68 -85 -102 -118 -133 -148 -166 -186 -206 -226 -247 -267 -286
FPermanentes Patronais -9 -18 -27 -36 -45 -54 -63 -71 -79 -88 -99 -109 -120 -131 -141 -151
FPecuária Camponeses 0 0 0 0 0 0 -24 -24 -24 -24 -24 -24 -24 -24 -24 -24
FPecuária Patronais 0 0 0 0 0 0 -66 -66 -66 -66 -66 -66 -66 -66 -66 -66
FMata Camponeses -5 -10 -14 -19 -23 -27 -32 -36 -40 -44 -48 -51 -54 -56 -58 -60
FMata Patronais -9 -17 -25 -33 -41 -48 -56 -63 -70 -76 -82 -87 -91 -94 -95 -96

Fonte: Tabela 3.3-1.


Notas metodológicas:
1. Os valores anuais foram acumulados.
2. Para o total de emissão somamos, para cada ano, todos os valores com sinal positivo.
3. Para o total de seqüestro, somamos todos os valores com sinal negativo.
4. Para o balanço, somamos os resultados das operações anteriores 2 e 3.
5. Taxas de crescimento anuais.

3.4. Diversidade produtiva, formação de capoeiras e balanço de carbono

As capoeiras são componentes da paisagem rural de grande significado na realidade


agrária da Amazônia, contabilizando 4,5 milhões de hectares no ano de 1995. O modo como se
percebe essas áreas é fundamental para uma contabilidade que delimite o potencial de oferta e
demanda de bens e serviços ecosistêmicos associados à economia de base agrária na Amazônia.
No bojo das discussões sobre sustentabilidade econômica e ecológica da agricultura na região,
autores relevantes assumem que a parcela desse valor correspondente à variável designada
Terras Úteis não Utilizadas, no Censo Agropecuário do IBGE, são terras sem função porque
associadas a sistemas de produção agrícolas, econômica e ecologicamente insustentáveis. Por
essa ótica, a variável do Censo seria indicador da insustentabilidade inerente desses sistemas.
As terras nessa condição somavam, na Região Norte, no ano do Censo, 3,4 milhões de hectares,
representando 76% de todas as capoeiras e 6% das terras apropriadas total.
Demonstramos acima que é possível explicar 42% das áreas informadas pela categoria
“Terras Úteis não Utilizadas”, do IBGE, como resultado de intensificação do uso do solo pela
100
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

introdução de culturas permanentes. Convergindo para um conjunto de estudos que mostram


ser esse um fenômeno observado em toda a Região Norte, sendo detectado na mesorregião
Nordeste paraense já nos anos oitenta (Costa, 2000a), em Rondônia (Maciel, 2004), nas
mesorregiões Sudeste e Sudoeste paraenses (Solyno Sobrinho, 2004; Michelloti, Rodrigues,
2002) e Baixo e Médio Amazonas e Alto Solimões (Costa, Inhetvin, 2006) nos anos noventa e
na presente década, essas áreas estimadas de capoeira-reserva parecem resultar de inovações
que fundamentam movimento ascendente (e não descendente, como se cogitou) da evolução de
um parcela da agricultura na Amazônia.
Trata-se de constatação importante, porque explicita a existência de trajetória
tecnológica consistente, que se revelará plenamente no Capítulo 6, resultante de padrões
adaptativos e evolucionários que têm se mostrado eficientes na resolução de problemas da
shifting cultivation – i.e., a busca de soluções para as crises desse padrão produtivo levando a
que um número relevante de estabelecimentos camponeses configurem novos padrões baseados,
dependendo da região, em sistemas diversificados de fruticultura e commodities industriais de
cultivo perene ou semiperenes. Por outro lado, trata-se de trajeto consistente porque tem se
ancorado em mercados urbanos regionais de grande significado e rápido crescimento, bem
como na expansão do mercado nacional e internacional de produtos regionais e na articulação
com uma indústria de processamento local (óleos, cosméticos, fitoterápicos, etc.) que cresce,
diversifica e moderniza a rápidas taxas (Costa, Inhetvin, 2006; Costa, Andrade, Silva, 2006;
Santana, 2004; Lopes, Santana, 2005; Santana, Gomes, 2005).
Do lado das empresas e fazendas, que explicam em torno de 1/3 das capoeiras-
reserva, duas questões devem ser ressaltadas: que a implantação de culturas permanentes tem
apresentado maior dependência de recursos institucionais de crédito e que, em muitas regiões,
plantios com permanentes não têm se mostrado lucrativos. Temos chamado a atenção para o
fato de que isso pode estar associado às dificuldades gerais de plantios homogêneos de grande
escala na Amazônia (Costa, 1993; Costa, 2005a). A ação dos fundamentos específicos da base
natural amazônica tem levado a que a agricultura em geral e, em particular, a agricultura de
grande escala, evolua na região sob o peso de dificuldades de ordem técnica: os sistemas
agronômicos intensivos, de composição botânica homogênea, mediante a fortíssima pressão
da biodiversidade tropical, favorecida pelo clima quente e úmido, sofrem ataques de um sem
número de fungos e bactérias, que elevam a probabilidade de predação, e de um sem número
de plantas invasoras, cuja concorrência limita o desenvolvimento das poucas variedades
utilizadas. Tais condicionantes reduzem os ciclos de vida das culturas, a vida útil dos elementos
de capital físico e a resiliência produtiva do capital natural, encarecendo relativamente ou,
mesmo, impossibilitando sistemas produtivos na razão direta da sua frequência e extensão.
São essas mesmas limitações, aliadas à lixiviação do solo produzida pela elevada
pluviometria própria da região, que – levando à perda intensa tanto dos nutrientes naturais
quanto dos insumos químicos industriais – têm fundamentado, em última instância, o caráter
até então necessariamente extensivo da pecuária de corte, a que nos referimos anteriormente.
101
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Não obstante, a pecuária de corte na Amazônia é atividade rentável, tanto mais quanto lhe
favoreçam as conjunturas de mercado, tanto mais, por outra parte, quanto lhe seja possível,
estrutural e sistematicamente, formar capoeira-sucata. Os sistemas patronais voltados às
culturas permanentes e os de pecuária de corte serão objeto de escrutínio, respectivamente, nas
seções 6.7.1 e 6.7.2.
Na dinâmica que produz capoeiras-reserva associadas à intensificação da agricultura
por culturas permanentes encontramos o principal vetor de formação de capacidade de sequestro
de CO2 – e portanto, de basear processos negentrópicos – do setor rural da Amazônia. Na
dinâmica que produz capoeiras-sucata associadas à pecuária de corte, encontramos o principal
vetor de emissão de carbono: o principal vetor de entropia.
Com efeito, entre os anos iniciais da década de noventa e meados do atual decênio, as
emissões de carbono do setor rural na Amazônia (baseado na relação de propriedade encontrada
em 1995) multiplicaram por 9,6, chegando a um total de 3.313 Gt. Contudo, arrastada pelas
dinâmicas que formam copeiras-reserva, a capacidade de sequestro cresceu em ritmo próximos,
atingindo -749 Gt.
Tomados em conjunto, esses resultados permitem indicar, para o que está se configurando
como uma nova economia política associada à institucionalidade em formação em torno das
mudanças climáticas, que há fundamentos, na economia agrária da Amazônia, para uma política
abrangente de contra-arrestação à evolução do balanço líquido de emissão do setor, por dois
encaminhamentos:

1. Confrontando o principal vetor de emissão, a pecuária de corte. A tarefa poderá


ser facilitada porque a atividade central, a pecuária de corte, não obstante rentável,
mostra-se vulnerável por ter o payoff facilmente contestável – o que representa, em
outra ótica, baixo custo de oportunidade na reorientação dos recursos, em particular
da terra, na direção de atividades com balanços líquidos de emissão de carbono
favoráveis.

2. Fortalecendo os sistemas que sequestram carbono, os florestais, mais frequentemente


mencionados, e os propriamente agrícolas. Há trajetórias em andamento que
demonstram habilidades endógenas nessa perspectiva, mostram capacidades
próprias na formação de redes e ambientes que as fortalecem e consolidam. Tais
fundamentos devem ser objetos de atuação estratégica de grande abrangência e
penetração.

Adicionalmente, os balanços produzidos contribuem:


•• Na criação de bases para um cálculo de virtuais perdas e ganhos sociais (para o país,
para a região) associados à eventual existência de um mercado mundial de carbono.
A título de ilustração, de 1990 a 2005 as emissões acumuladas de 4.517 Gt, em um
102
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

mercado cujo poder de compra30 permitisse meros US$ 1,00/t, equivaleria a uma
perda de US$ 4,5 bilhões. Adicionalmente, supondo que o poder de compra do
mercado de carbono eleva o preço da tonelada para US$ 10,00, a perda seria de
US$ 45 bilhões. Explicita-se, aqui, os tradeoffs em relação às alternativas – o custo
de oportunidade social à minimização dessas perdas – orientando a reflexão sobre
condições e necessidades institucionais que poderiam torná-los menos limitantes a
um ideal de sustentabilidade.
•• Na criação de bases para um cálculo que permita visualizar uma injustiça distributiva
de fundamento ambiental e refletir sobre as possibilidades de sua correção. Se,
digamos, vigorasse o preço de US$ 1,00/t de CO2 e os emissores fossem obrigados
a pagar para os que produzem o bem ambiental “sequestro de carbono”, os primeiros
teriam sido obrigados a transferir, nesse meio tempo, US$ 0,749 bilhão para os
segundos. Em uma visão invertida, isso quer dizer que nas condições atuais (em
que existe a necessidade e que ela corresponderia, se existisse o mercado, a US$
1,00 de poder de compra por tonelada de carbono) o fato desse mercado não existir
estaria permitindo um ganho indevido de US$ 0, 749 bilhão por parte dos emissores
e uma perda equivalente por parte dos produtores de bens e serviços ecosistêmicos:
estaria havendo uma transferência de renda destes para aqueles (mediada pelas
relações com a natureza). Ademais, a obrigação de pagar, imputada aos emissores,
garantiria, para além da correção da injustiça em relação aos sequestradores de
carbono, uma formação de recursos sociais de US$ 3,8 bilhões, os quais poderiam,
por exemplo, ser aplicados na mitigação da entropia produzida pelos emissores e na
formação do conhecimento que fortalecesse as atividades sequestradoras.

Esses são pontos que demandam discernimento em todo o seu significado (e, para
tanto, esforços sistemáticos de pesquisa) para que, no bojo das novas institucionalidades em
construção ao redor das mudanças climáticas, estabeleçam-se os fundamentos institucionais
que, garantindo ao agente a liberdade de mudar de posição no que se refere à sua relação com
os fundamentos naturais – da condição de gestor de atividades que emitem para a de gestor de
atividades que sequestram carbono e outros gases deletérios; de atividades que reduzem, para
atividades que elevam biodiversidade – garantam, para todos, novas e mais sustentáveis bases
de desenvolvimento.

30 Tal “poder de compra” é determinante do preço que se venha a formar no mercado de bens e serviços ecosistêmicos, mas é
determinado por decisões não econômicas – políticas e éticas. É esclarecedor, nesse ponto, o comentário de Herman Daly com
relação à formação de preços de bens e serviços ecosistêmicos: “A distiction should be made between ‘price-determined’ and ‘price-
determining’ decisions. The criteria underlying the collective setting of the agregate constraints are ecolgical and ethical. These
ecological and ethical decisions are price-determining, not ‘price-determined’. (Daly, 1999:98).

103
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Capítulo 4
Dinâmica recente: relações economia e natureza - entropia

As extensões de uso, não uso e reuso do solo na produção rural não são suficientes
para explicitar toda relação da economia rural com a natureza envolvida. Cada movimento de
transformação da base natural para a produção implica desmonte de matéria estruturada em
energia dissipada na forma de gases ou matérias degradadas inúteis para produzir trabalho. Como
enunciado geral, parece incontroverso que o processo econômico, em sua dimensão física se
submete às leis da termodinâmica, sendo processo de transformação irreversível de matérias
de baixa entropia em matéria de alta entropia (Georgescu-Roegen, 1971; Furtado, 1974). Na
produção e no consumo, se produz maior ou menor nível de entropia (ε) – maior ou menor
desestruturação e dissipação dos fundamentos da reprodução da vida, isto é, da natureza naquilo
que tange à humanidade. A desestruturação de biomas é parte do processo, implicando, pois, a
noção de entropia, a redução da biodiversidade. Os modelos de análise econômica usuais têm
sonegado a possibilidade de observar mais de perto essa relação.

Gráfico 4-1 – Evolução do estoque de áreas degradadas e de emissão líquida de CO2 do Setor
Rural na Região Norte, 1990 a 2007 (Médias trianuais)
8.000.000
7.000.000
Gt 1,0 e Ha 1.000

6.000.000
5.000.000
4.000.000
3.000.000
2.000.000
1.000.000
0
1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Estoque de CO2 (Emissão menos Seqüestro acumulado em Gt): 2,1% a.a.


Estoque de Área Degradada (Ha): 1,5% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor.


Notas Metodológicas:
1. Para o cálculo das áreas degradadas ver 3.2.1
2. Utilizamos o mesmo modelo do Capítulo 3, ligeiramente alterado para considerar os estoques no primeiro ano da
série.
3. Taxas de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em
relação ao tempo medido em anos.

104
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 4-2 – Evolução das emissões líquidas acumuladas de CO2 por hectare (Entropia Inerente
Iε a partir do balanço de carbono) e rendimento por tonelada de CO2 (COSε e COPε a partir do
balanço de carbono) no Setor Rural na Região Norte, 1990 a 2007 (Médias trianuais)
200 1,6
1,4

t
150 1,2
1,0
Gt

100 0,8
0,6
50 0,4
0,2
0 0,0
199 0 199 1 199 2 199 3 199 4 199 5 199 6 199 7 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Balanço de CO2 (Bc)/Área Trabalhada (At) (Ie): 0,07% a.a.


Balanço de CO2 (Bc)/Área em Operação (Ao) (Ie): -0,1% a.a.
VBPR/Emissão Líquida de CO2 (COSe): 2,3% a.a.
Renda Líquida/Emissão Líquida de CO2 (COPe): 3,7% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor conforme metodologia apresentada em notas dos Gráficos 1
ao 7. Taxas de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em
relação ao tempo medido em anos.

Gráfico 4-3 – Evolução da proporção das áreas degradadas (capoeiras-sucata) por área utilizada
(Entropia Inerente Iε a partir da degradação da biodiversidade) e rendimento por áreas degradadas
(COSε e COPε a partir da degradação da biodiversidade) no Setor Rural na Região Norte, 1990 a
2007 (Médias trianuais)
5,0 10%
4,5 9%
4,0 8%
3,5 7%
R$ 1.000,00/Ha

3,0 6%
5%

%
2,5
2,0 4%
1,5 3%
1,0 2%
0,5 1%
0,0 0%
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

VBPR/Estoque de Capoeira-Sucata (Acs) (COSe ): 3,20% a.a.


Renda Líquida/Estoque de Capoeira-Sucata (Ac s) (COPe): 4,4% a.a.
Estoque de Capoeira-Sucata (Acs)/Área T rabalhada (At) (Ie): -1,0% a.a.
Estoque de Capoeira-Sucata (Acs)/Área em Ope ração (Ao) (Ie): -1,1% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor conforme metodologia apresentada em notas dos Gráficos 1
ao 7. Taxas de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em
relação ao tempo medido em anos.

105
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

A introdução desses novos elementos permite refazer a expressão (2.3-1) pela


decomposição do seu termo Y/A – expressão da eficiência da terra em perspectivas econômicas –
de modo que:
Y Y ε  A
= . . (4-1)
T  ε A T
para Y sendo a somatória do valor de mercado dos produtos do setor, A e T representando
respectivamente as variáveis terra e trabalho, como já esclarecido no Capítulo 2, e ε representando
o vetor entrópico associado ao processo que gerou Y.
A expressão (4-1) enuncia que a eficiência do trabalho (Y/T), que depende da eficiência
monetária do uso da terra (Y/A), resulta do valor obtido por cada unidade de ε (Y/ε: custo de
oportunidade dado pela produção rural à entropia expressa no vetor ε), do peso desse vetor por
unidade de área (ε/A: grau da entropia inerente à tecnologia subjacente ao processo produtivo em
questão) e da extensão dessa área (A/T). Dito de outro modo: a eficiência de um sistema baseado
na rentabilidade monetária do trabalho (Y/T) – que pressupõe o uso da natureza suportada por uma
área A – depende do custo de oportunidade criado por esse sistema para a entropia (Y/ε), da entropia
inerente à tecnologia utilizada nessa produção (ε/A) e da relação de propriedade (relação fundiária)
que subjaz à possibilidade de emprego dessa tecnologia (A/T).
Introduzimos no capítulo precedente dois modos de avaliar a dimensão entrópica da
economia (ε) do setor rural na Região Norte: pela mensuração das áreas degradadas, que equivalem
às “capoeiras-sucata”, definida no Capítulo 3, expressão concreta da redução da capacidade de
reprodução da vida expressa na biodiversidade, em dada área, em função do seu uso social anterior,
e pela explicitação dos termos, e o saldo, do balanço de carbono associados aos seus sistemas e
processos produtivos em operação.
Se na equação (4-1) temos em Y o VBPR e em ε, (vetor de produção de entropia) a
emissão líquida de carbono (Bc), a relação Y/ε = VBPR/Bc expressa um Custo de Oportunidade
Social da Entropia ( COS Bc 
) a partir do CO2. Se Y é RLP, então Y/Bc = RLP/Bc é o Custo de
Oportunidade Privada da Entropia ( COPBc ) a partir do CO2. Se em lugar de Bc, tivermos como
vetor de produção de entropia, ε, Acs (área com capoeira-sucata, ver 3.1.2) teremos COSCs ou

COPCs . Do mesmo modo, temos uma Entropia Inerente ( I ) que pode derivar tanto de Bc (
 

I Bc

) como de Acs ( I Cs

) – da poluição por emissões e sequestro de CO2 ou da degradação do
ecosistema, um indicador da redução da biodiversidade.
As metodologias apresentadas no Capítulo 3, combinadas com as do Capítulo 2, nos
permitiram modelar como variáveis do BD-C, esclarecido nas notas metodológicas do Gráfico
2-1, a evolução das diversas formas de capoeiras, inclusive as capoeiras sucatas, e o balanço de
carbono para todo o setor rural na Região Norte, entre 1990 e 2006. O estoque de áreas degradadas
(capoeira sucata) cresceu, como mencionado anteriormente, a 1,5% a.a., de 2,4 para 3,0 milhões
de hectares no período. Nos intervalos tratados, as taxas foram de -1,8%, 3,2% e 6,6% a.a. (ver
Gráfico 4-1).
106
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Por seu turno, no mesmo período, o estoque líquido de CO2 associado às atividades rurais
cresceu ao ritmo de 2,1% a.a., de 5,0 mil Gt nos três primeiros, para 7,1 mil Gt, em média nos três
últimos anos da série. Nesse caso, as variações nos três períodos foram de -0,5%, 2,8% e 4,4%
a.a (ver Gráfico 4-1). Observe-se que, diferentemente dos valores apresentados no Capítulo 3,
Tabela 3-4 e Gráfico 3-2, cujo primeiro ponto da série do total acumulado de CO2 era o balanço
líquido do ano de 1990, a partir do qual se formaram nos demais anos os saldos acumulados, esses
resultados incorporam o saldo acumulado naquele primeiro ano da série – de 4,6 mil de Gt.
Apresentamos no Capítulo 2 as expressões empíricas de Y/T no setor rural da Região
Norte, a produtividade e a rentabilidade do trabalho, e também as expressões empíricas da relação
terra/trabalho. Agora, temos no Gráfico 4-2 Entropia Inerente (a partir do balanço de carbono:
I Bc

) - grau de sujeira das tecnologias aplicadas – em relação a duas bases. Se considerarmos a Área
Trabalhada (AT), e, portanto, as capoeiras, inclusive as capoeiras sucatas ou áreas degradadas –
I Bc

se mostra estável em torno de 160; se considerarmos exclusivamente as Áreas em Operação
(AO), em torno de 180 toneladas de CO2 por hectare. Por seu turno, tanto o VBPR, quanto a
RLP por emissão líquida de CO2 vêm crescendo a taxas anuais significativas, respectivamente
a 2,3% e 3,7% a.a., incrementando o COS Bc propiciado pelo setor na Amazônia ao CO2, de R$

1,03/t para R$ 1,27/t no período estudado; o COPBc , por sua vez, saiu de R$ 0,60 para R$ 0,83

por tonelada de carbono (ver Gráfico 4-2).


A I Cs

(proporção de capoeira-sucata na AT ou AO) vem caindo levemente, a,
respectivamente, -1,0 e -1,1% ,a.a. Já a COSCs 
e COPCs crescem a 3,2 e 4,4% a.a. – ritmo
superior ao verificado para o custo de oportunidade do CO2 (ver Gráfico 4-3). A entropia, em
qualquer dos componentes aqui considerados, vem proporcionando ganhos crescentes, mais aos
agentes diretamente envolvidos na produção do que ao conjunto da sociedade; mais no que trata
a degradação do solo e da biodiversidade do que no que tange às emissões de gases deletérios.

107
Parte II

Fundamentos estruturais da dinâmica


agrária na Amazônia: Modos de Produção
e Trajetórias Tecnológicas
Capítulo 5
Diversidade estrutural, INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

A realidade agrária amazônica deve ser tratada considerando a diversidade estrutural


(Costa, 1989; Costa, 2000a; Costa, 2005a). Nos capítulos precedentes apresentamos fenômenos
que indicam, a partir do Censo Agropecuário de 1995-96, em toda a Região Norte, notáveis
diferenças nas combinações entre fundamentos de trabalho, de capital físico e de capital natural
associados a formas de produção fundamentais, como as camponesas e as patronais. O Capítulo
1 mostrou que nas formas camponesas, as quais explicavam naquela ocasião 65% do Valor Bruto
da Produção Rural, 87% do Pessoal Ocupado e 33% da Área Apropriada da região, a dominância
da força de trabalho familiar combinada com a prevalência da propriedade de reduzida escala
associa-se a menos uso de capital físico (mecânico-químico) e mais manejo do capital natural
(formações florestais primárias e secundárias); nas patronais, que representavam 35% do VBP,
13% do pessoal ocupado e 67% da Área Apropriada, ocorre precisamente o inverso: a dominância
do trabalho assalariado em propriedades maiores associa-se a mais uso de capital físico e parco
manejo, ou uso claramente destrutivo, do capital natural. Por outro lado, os sistemas de produção
respectivos divergiam também notavelmente, os primeiros bastante diversos, os segundos,
especializados. Além disso, o capítulo indicou diferenças no acesso de recursos institucionais no
que se refere aos estabelecimentos agrupados por formas de produção que, não obstante, sensíveis
a mudanças de contexto, apresentam rigidez considerável. O Capítulo 2 expõe, em primeira
leitura, o sentido desses fenômenos na dinâmica das variáveis que organizam a economia rural
da região como um todo. Nessa análise ressalta a consistênca das combinações de recursos na
perspectiva privada que, em última instância, as justificam. O Capítulo 3 trabalha os aspectos
centrais dessas combinações, expondo diferenças substantivas na fenomenologia que expressa as
condições respectivas das relações entre trabalho e natureza: notam-se, já ali, distintos potenciais
de impacto sobre os balanços de biodiversidade e da emissão de gases deletérios, correlatos com
os rendimentos privados tendecialmente crescentes deles derivados.
Essas diferenças não são triviais quando postas em evidência as controvérsias em torno do
desenvolvimento da Amazônia – quando se enfatizam os efeitos impactantes do uso do fogo, dos
insumos químicos e mecânicos e dos sistemas homogêneos para o acervo de biodiversidade da
região e sua capacidade de prestação de serviços ambientais de estabilização do clima global. As
discussões têm ressaltado esses usos dos fundamentos primários que ameaçam o que se poderia
obter de uma utilização mais qualificada das suas características naturais e dos seus atributos
locacionais. A conclusão ressalta o caráter padoxal da dimensão social e política da região por
realizar-se destruindo, em nome dos ganhos presentes de poucos, alguns preciosos trunfos para
um futuro melhor para todos (Costa, 2005a:132).
É propósito desta parte do trabalho explicitar as bases para a interpelação de tal noção –
base da consciência do mundo sobre a Região, fundamento de relações com o Brasil, de governos
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

e de organizações de sociedades civis em todo o mundo. A tarefa primordial deste capítulo será
a de dar um passo na qualificação teórica e metodológica da diversidade estrutural já indicada.
Num segundo momento faremos avaliações dos processos em curso na Região, apontando para
atributos parcamente percebidos pela visão reinante.

5.1 O desenvolvimento como dinâmica complexa de inovação – indicações de grandes


convergências

Os fenômenos aportados até aqui sugerem a necessidade de modelos teóricos que


permitam tratar de modo integrado e relacional as disposições diversas dos agentes em
contextos institucionalmente estruturados, operando suas razões com a mediação de uma base
natural específica – no caso da Amazônia – especialmente distinta posto que dela faz parte o
bioma amazônico.
Estabelecer tais modelos não é tarefa simples. Pois um atributo exigido, o de que
ofereça uma heurística de tratamento da relação ação-estrutura, questão-chave das ciências da
sociedade, é um de seus antigos dilemas epistemológicos, cujas dificuldades de enfrentamento
conduziram a ortodoxias que, ou bem reduziram a sociedade à condição de expressão agregada
de subjetividades-padrões, ou bem a conduziram à expressão da transcendência irrecorrível das
estruturas.
Para a sociologia contemporânea, parece estabelecido que a sociedade é uma interação
complexa e indeterminada entre os indivíduos, condicionados por forças que tornam suas
ações atos conformados, e as estruturas que os constrangem. Tais indivíduos, tornados
agentes configurados por habitus próprios do campo em que atuam (Bourdieu, 1983 e 1996),
portadores de uma razão técnica (Habermas, 1995) ajustada às necessidades reprodutivas da
estrutura em que se encontram, agem, não obstante, com os graus de liberdade permitidos por
uma reflexividade crescente (Giddens, 1991), que pode tanto tomar a forma de consciência
progressiva, associada à ação comunicativa que permite melhorias incrementais nas relações
prevalecentes (Habermas, 1995), quanto, ao contrário, constituir força de subversão dessas
relações – manifestas nas instituições que os programam, parametrizam, induzem.
Para a economia como disciplina, a consideração da relação ação-estrutura produziu
noções correlatas do desenvolvimento como resultado da mútua determinação, por interação
sistemática, entre duas grandes fontes de poder criativo dos sistemas sociais: a capacidade de
cada componente refletir sobre o futuro incógnito à luz do passado e as condições que tornam
a ação presente um ato socialmente objetivado, ou de subjetividade socializada, evento da
dinâmica que delineará o futuro. Este é um resultado de convergências entre dois trajetos de
pensamento a considerar.
Um trajeto resulta dos avanços resultantes da inclusão da incerteza nos enunciados
econômicos e das instituições como seu corolário. Nessa matéria, observam-se as mais
112
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

importantes críticas e mudanças no campo neoclássico que aqui nos importam em geral, mais
particularmente no que se refere ao desenvolvimento de base primária. A isso dedicaremos o
próximo subcapítulo (5.2).
Outro trajeto, com balizamentos teóricos de notável envergadura a compor uma
heterodoxia de importância inegável, persegue a compreensão mais ampla, que inclui a anterior,
das determinações sociais e históricas das razões – i. e. da socialização da subjetividade. Se nessa
objetivação prevalece a alienação que induz à repetição e à rotina que conformam a acomodação
dos fluxos circulares de Schumpeter (1982), mesmo em equilíbrio subótimo (Keynes, 1970),
ou a alienação que conduz à mudança por reação compulsiva da razão mecânica do capitalista
de Marx (1978), se prevalece, pois, o poder das estruturas que configuram o status quo, de
reafirmarem-se em cada ação individual que, por isso objetivada; ou se cada ação virá a ser
objetivada por uma vontade tornada praxis pela consciência que exige a mudança (para Marx,
consciência possível apenas para a vanguarda dos sujeitos subordinados; para Schumpeter e
Keynes, consciência possível apenas para a vanguarda dos sujeitos dirigentes) – eis como se
demarcaram campos e se propuseram soluções.
Criaram-se, nesse processo de convergências, nodulações fortes – que empolgaram
programas de pesquisa significativos e continuados e que disso se nutriram. É o caso do estudo
das inovações e de aglomerações maduras. Não obstante, as teorias que mais de perto nos
interessam são as que enfatizam a historicidade e a territorialidade das formações sociais – pois
nos é exigido, ao expandir os esclarecimentos, radicalizar a consideração das especificidades
das condições de existência dos aglomerados locais na Amazônia, qualquer que seja seu nível
de maturidade e sistematicidade. Aqui ressaltam interstícios de conhecimento a preencher,
parte dos quais serão delineados teoricamente nos subcapítulos 5.3 ao 5.6, deste capítulo, para
tratamento empírico nos capítulos seguintes. O preenchimento de outras lacunas aguardarão a
Parte III do livro.

5.2.Dinâmica agrária e inovação – contribuições de uma crítica interna à tradição


neoclássica

Sobre inovação, já no início dos anos sessenta, Hicks (1963) apresentou uma perspectiva
ao mesmo tempo nova e antiga. Baseado na ideia de desenvolvimento (processo em que o todo
sofre alteração na qualidade) como resultado da atitude de agentes que buscam maximizar
“cotidianamente” oportunidades de mercado, esse autor reafirmou a prevalência dos sujeitos.
Todavia, distanciava-se da concepção neoclássica tradicional de função de produção, na qual as
possibilidades de substituição entre os fatores de produção seriam contínuas e, por serem ergódicas,
poderiam incorporar instantaneamente novas técnicas escolhidas em um portfólio preexistente
com todas as combinações possíveis. Sua noção de progresso técnico induzido compreendia uma
sequência de procedimentos tecnológicos adotados pelas firmas, resultantes da substituição de
113
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

fatores de produção orientada pelos estímulos derivados de mudanças nos respectivos preços
relativos. Tais sequências se expressariam: a) em alteração no processo produtivo através de
procedimentos e tecnologias que poupam o fator que se tornou escasso (portanto, mais caro) e
intensificam o uso do fator que se tornou relativamente abundante (portanto, mais barato) e b)
através de mudanças na composição da produção das unidades produtivas, sendo substituídos os
produtos para cuja obtenção se requer o fator mais escasso por aqueles cujo fabrico exige mais
intensamente o fator mais abundante. Adicionalmente, como evento paralelo e exógeno, haveria
estímulos à pesquisa de novos métodos produtivos poupadores do fator que se tornou escasso,
nisto consistindo o progresso técnico induzido, propriamente.
Hayami e Ruttan (1971:43-63), impondo a necessidade de tratar a mudança técnica
como endógena ao processo de desenvolvimento da agricultura, criticam esse modelo porque
se restringe às razões das firmas, através das quais diferenças nos preços dos fatores afetam sua
atividade inventiva ou seu comportamento inovativo. Apontam, por outra parte, forte limitações
na perspectiva de Hicks para a compreensão do desenvolvimento agrícola, posto que não logra
explicar endogenamente como as diferenças nas dotações de recursos afetam a alocação dos
esforços de pesquisa no setor público. De modo que se impunha a extensão para o setor público
da teoria da inovação induzida que Hicks desenvolvera para o setor privado. Nas suas próprias
palavras:

“A major extension of the traditional argument is that we base the innovation


inducement mechanism not only on the response to changes in the market prices
of profit maximizing firms but also on the response by research scientists and
administrators in public institutions to resource endowments and econommic
change” (Hayami e Ruttan, 1971:57).

Trata-se de esforço importante e pioneiro. A percepção dos autores de que o


desenvolvimento na agricultura resulta de uma interação entre as razões dos produtores, com a
dos pesquisadores e administradores do setor público e, ainda, a de que tal interação é mais efetiva
quando os primeiros se organizam em associações locais e regionais, antecipa aspectos importantes
dos desenvolvimentos teóricos atuais do crescimento e do desenvolvimento endógeno.
Todavia, o particular apego à hipótese de que “a mudança técnica é guiada ao longo do
caminho mais eficaz pelos sinais dos preços no mercado” (Hayami e Ruttan, 1971:57), reafirmando
os pressupostos neoclássicos de maximização e equilíbrio nas empresas e nos mercados, limita
o alcance da proposta porque iguala as condições de acesso das firmas à dotação de fatores
prevalecentes em um mesmo mercado e, assim, torna as possibilidades futuras excludentes e
necessariamente dominadas pela melhor.
O pressuposto da isonomia dos agentes em um mesmo mercado, a rigor, os homogeneíza:
condição difícil de conciliar, sobretudo nos setores rurais, com a vigência de expressivas diferenças
entre pessoas e firmas resultantes de heranças históricas marcadas por processos de cunho mais
114
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

político – como processos de “acumulação primitiva” (Marx, 1978:828-882) ou de “nivelamento”,


tais como regras de herança (Shanin, 1982; Costa, 2005b, Costa, 2007a), políticas de reforma agrária
(Veiga, 1991a) ou existência de fronteira agrícola em terras novas (Velho, 1976; Costa, 1989) – do
que econômico. Ademais, tais diferenças iniciais de dotação de fatores tangíveis cumulam com as
diferenças de conhecimento, de capacidade de maximizar e de sorte (Nelson e Winter, 1982:203).
De modo que a exclusividade teleológica, induzida pelo mercado, do melhor caminho de mudança
técnica na agricultura (Hayami e Ruttan, 1971:53-54)1, que daí se deriva, é presunção a ser testada.
Pois, se de um lado permitiu eficácia em demonstrar diferenças fundamentais na produtividade
de fatores entre os países, por outro, é responsável pela negligência no tratamento das diferenças
verificadas nas condições de evolução das firmas numa mesma região e entre regiões de um mesmo
país (Nelson, 1996:24-29). Este um desafio que nos diz respeito.

5.3. Paradigmas e Trajetórias Tecnológicas – noções que articulam o abstrato e o concreto,


a ação e a estrutura na dinâmica da inovação e do desenvolvimento

Dosi define paradigma tecnológico “... como um ‘modelo’ ou um ‘padrão’ de solução de


problemas tecnológicos selecionados, baseado em princípios selecionados, derivados das ciências
naturais e em tecnologias materiais selecionadas. (...) Ao mesmo tempo, paradigmas tecnológicos
definem também alguma ideia de progresso” (Dosi, 2006:22 e 23). Um paradigma tecnológico
constitui-se, assim, a) de uma “perspectiva” de definição de problemas relevantes à luz de uma
noção de progresso e b) de um conjunto de procedimentos – heurísticas – para resolver tais
problemas, do que faz parte de modo decisivo o estado do conhecimento sobre a natureza. Por
outro lado, um paradigma oferece uma possibilidade entre outras na organização da reprodução
social, sendo sua existência concreta (histórica) c) resultado de mecanismos de seleção c.1)
associados à dimensão econômica e c.2) a outras dimensões da vida em sociedade, em particular
à cultura, à política e à ciência.
Trajetórias tecnológicas são formas reais-concretas de realização de um paradigma.
Nessa perspectiva, são padrões usuais de atividades que resolvem, com base em um paradigma
tecnológico, os problemas produtivos e reprodutivos que confrontam os processos decisórios
de agentes concretos em contexto específico nas dimensões econômica, institucional e
social (Dosi, op. cit. 22-23). As particularidades do contexto econômico se estabelecem nos
critérios econômicos “... que agem como seletores definindo mais ou menos precisamente o
trajeto concreto seguido no interior de um conjunto maior de possibilidades” (Dosi, idem:23).

1 Para Duncan Foley, proeminente pensador da New School, a perspectiva da teoria da inovação induzida chega a tal resultado porque
é aberta no método mas fechada para as suas consequências. “The theory of induced bias in technical change is a striking example
of the way in which self-organizing tendencies of complex system can manifest themselves in concrete historical developments.
[However] the theory explains observed regularities in capitalist economies without claiming to explain the specific path of technical
innovation, or the particular types of new methods of production that emerge along that path”. (Foley, 2003:54).

115
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Considerando o elevado nível de incerteza que cerca a adoção de tecnologias (no contexto
de uma trajetória específica, os padrões de soluções para a obtenção de um item do conjunto
de necessidades da reprodução social), o ambiente institucional assume particular relevância
na configuração de trajetórias tecnológicas, desde o interesse econômico das organizações,
passando pelas respectivas histórias e acúmulos de expertise, até variáveis institucionais strictu
sensu, como agências públicas e interesses geopolíticos (Dosi, idem: 24-25).

5.4. Os Paradigmas Tecnológicos e o lugar da natureza – a técnica para além do


laboratório, a inovação para além da ciência – a cultura

Dosi (idem: 23 a 25) realça os condicionantes econômicos, sociais e políticos, “...


como os fatores prováveis a operar como forças focais na delimitação das direções que toma o
desenvolvimento tecnológico, este baseado em princípios selecionados derivados das ciências
naturais...”. Pressupõe-se na noção de trajetória uma relação com a natureza na medida em
que esta é tratada pelas ciências – isto é, como realidade pontual, tratada laboratorialmente
de modo analítico. É necessário sublinhar aqui o contexto ecológico – o papel da base natural
como totalidades, como sistema ecológico, na configuração de paradigmas tecnológicos e
suas trajetórias. E, assim procedendo, estabelecer de modo definitivo o lugar e sua cultura
como elementos decisivos do desenvolvimento.
Os problemas a que se refere um paradigma tecnológico são, por suposto, problemas
tecnológicos, i.e., problemas da relação entre trabalho humano, objetivado por um modo de
produção, e seu objeto último, a natureza. Nos processos industriais, a natureza está presente
dominantemente como natureza morta. Mas há inúmeras atividades produtivas que se
realizam em interação com a natureza viva. Nesse caso, a capacidade produtiva da natureza
codetermina o resultado do processo produtivo. Como matéria-prima, a natureza é objeto
inerte do trabalho humano; como uma força produtiva, capacidade ativa e, como tal, um
capital: o capital natural.
A natureza vista como matéria-prima é tratada na sua condição mediata, como
matéria genérica intercambiável e substituível – nesse caso, não é a capacidade produtiva das
relações próprias e localizáveis de suas manifestações, como biomas ou ecossistemas, mas os
componentes dessas relações individualmente, como matéria-prima, como matéria genérica,
que entra nos processos produtivos. Nesse caso se igualam: a) a madeira que é retirada de um
bioma e b) o solo que se usa apenas como suporte de uma fórmula química que se integra sob
controle com um clima de estufa, ou um pacote tecnológico fechado.
Como capital, força produtiva, a natureza é meio de produção imediato pela qualidade
impar das suas manifestações originárias, é dizer, pelas particularidades de uma natureza
(para si, na tradição hegeliana, encampada por Marx) que possam constituir valores de
uso próprios, por seus atributos únicos. Isso acontece quando certa configuração das
116
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

relações entre elementos vitais da natureza, configuração essa espacialmente delimitada e


intransportável, é utilizada em um processo produtivo particular. Nesse caso, pode ser vista
a) como um ecossistema originário, um bioma, que, por preservado em sua complexidade,
produz com exclusividade valores de uso capazes de atender necessidades humanas ou b)
como um ambiente edafo-climático, isto é, uma certa interação particular entre solo e clima
a permitir a produção alternativa e excludente de valores de uso em sistemas simplificados
(agrícolas, pecuários, silviculturais) com o propósito de maximizar a produção de biomassa
por unidade de tempo/espaço.
A presença imediata da natureza como força produtiva faz a principal diferença entre
a agricultura, ou melhor, entre os setores da produção rural, e a indústria. Isso tem sido de
grande importância no tipo de dinâmica tecnológica que o desenvolvimento da sociedade
capitalista vem produzindo nesses setores, pois à razão industrialista (industrial-capitalista)
importa reduzir essa presença e controlar o seu significado. Tal esforço é central e em
torno dele tem se organizado o paradigma da modernização da agricultura, enquanto sua
industrialização. Goodman, Sorj e Wilkinson (1988) demonstram duas grandes trajetórias
de industrialização do rural: a representada por um conjunto de soluções tecnológicas que
se sucedem como esforço industrial de apropriação de papéis desempenhados pela natureza
e outra por um conjunto de soluções que buscam substituir produtos da natureza viva por
produtos inorgânicos e obtidos em laboratório (i.e., industrialmente). Haiamy e Ruttan
(1971), por seu turno, observam que nesses processos a mecânica e a química têm papéis
destacados, sendo a primeira o fundamento das soluções onde há abundância de terra e a
segunda onde esse fator é limitado.
Em qualquer dos casos, domina, em nível global, um paradigma ou padrão tecnológico,
que se afirma por conjuntos de soluções selecionadas pela eficiência demonstrada no controle
da natureza para que corresponda às necessidades industriais e capitalistas. Tais soluções
sucedem-se, compondo trajetórias tecnológicas marcadas pelo uso intensivo da mecânica e da
química e pela formação dos sistemas botânicos e biológicos homogêneos para isso necessários.
Tal paradigma “global” está presente na realidade amazônica em dois universos: o da
produção de bens, controlado pelos agentes produtivos mediante seus critérios próprios de
decisão, e o da gestão das políticas públicas, em que se destacam aquelas que condicionam
a produção e difusão de conhecimento científico e tecnológico. Está, portanto, na prática
produtiva e reprodutiva dos que operam os processos de uso da natureza, de que faz parte
um conhecimento tácito difuso e culturalmente conformado; na prática dos que operam as
organizações de produção de conhecimento codificado (manualizado) e de transmissão das
soluções tecnológicas daí derivadas, além de incorporado aos meios de produção gerados
com conhecimentos obtidos alhures.
Em tal perspectiva, a natureza (a base natural) é vista e tratada na condição de matéria-
prima em dois estágios – no inicial, quando se desmonta o ecossistema para comercializar
suas partes; e no final, quando a terra é um suporte descartável. A natureza é vista e tratada,
117
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

também, como um capital natural, quando incorporada na condição de sistema edafo-climático


para a produção agropecuária.
Todavia, não está sozinho, na configuração da realidade agrária da Amazônia, esse
que chamaremos aqui de “paradigma agropecuário”. Há formas de utilização da base natural
da região que pressupõem a manutenção da natureza originária e configuram, por isso, um
paradigma tecnológico – que trataremos como “paradigma extrativista” –, porquanto perspectiva
particular do uso social dos recursos e de resolução dos problemas a isso afetos. Nesse caso,
formou-se um conhecimento impossível de ser separado da cultura, de manejo e utilização
da base natural como ecossistemas – como totalidade de relações que envolvem diferentes
subsistemas referidos ao bioma amazônico com capacidades produtivas próprias. Derivam daí
soluções, produtivas e reprodutivas, que conformam trajetórias tecnológicas as quais, tal como
as associadas ao “paradigma agropecuário”, nos obrigamos a delimitar e compreender.

5.5. Trajetórias tecnológicas como tecnologias concorrentes – a centralidade do agente na


derivação do contexto institucional

Arthur (1994a:13-32), em estudo publicado em 1983, desenvolve um modelo que


apresenta a economia como sistema derivado das interações entre agentes heterogêneos, em
trajetórias concorrentes de que fazem parte instituições em um processo aberto, isto é, histórico
e evolucionário, de desenvolvimento. A instituições são visíveis nos seus efeitos sobre os
ganhos dos agentes individuais e a heterogeneidade dos agentes é posta no marco de um modelo
evolucionário, no qual a decisão de um agente é influenciada pelas decisões dos outros, dada
a hipótese de retornos crescentes produzidos por externalidades – e, portanto, incorporando
de modo explícito o papel das instituições: organizações e normas. Tais fundamentos levam
à visualização da dinâmica econômica de um modo completamente indeterminado, no qual
a história tem lugar na forma da consideração endógena dos eventos passados, na forma de
objetivação de ações presentes com vistas a necessidades historicamente contextualizadas,
necessidades observadas por agentes diferentes, relacionados de modos também diferentes
com o ambiente, e na forma de possibilidades futuras em aberto.

Os principais destaques do modelo são os seguintes2:


1. Os agentes movem-se por procedimentos path-efficient, a partir dos quais, em
qualquer tempo t, se há duas tecnologias A e B, uma escolha pela tecnologia A, que
se estabelece na variante m com payoff VA(m), enquanto a tecnologia B se situa na
variante k<m, se fará enquanto VA(m) ≥ Maxj {VB(j)} para k ≤ j ≤ m;

2 Licha (1996) apresentou criativa e didaticamente o modelo de Arthur (1994a) com as incorporações de Heiner (1988) de que
adiante trataremos. Muito devemos aqui aos seus esforços.

118
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

2. Existem dois procedimentos A e B (tecnológicos, com os institucionais que os


suportam) e um número grande (infinito!) de agentes econômicos que podem escolher
entre os dois procedimentos;
3. Existem dois tipos de agentes, R e S, com preferências diferentes e o número de cada
tipo de agente é igual;
4. O retorno monetário, para um agente, ao adotar um procedimento é dado pela estimação
de valor presente líquido do seu resultado num horizonte temporal apropriado;
5. As expressões nA e nB representam o número de adotantes de, respectivamente, A e B e
n = nA + nB, o número total de adoções realizadas;
6. Os agentes R e S conhecem o número de adoções realizadas de cada procedimento;
7. Os retornos de escolher A e B para cada agente, já consideradas as adoções anteriores,
correspondem aos valores demonstrados na seguinte tabela de payoffs:
Agente \ Ação A B
R V = aR + r.nA
R A R
VB = bR + r.nB
S V = aS + s.nA
S A S
VB = bS + s.nB

8. aR e bR são os retornos provenientes da aplicação das ações/tecnologias/procedimentos


A ou B, respectivamente, pelos agentes R;
9. aR > bR sendo a diferença da medida de uma preferência “natural” de R por A;
10. aS e bS são os retornos provenientes da aplicação das ações/tecnologias A ou B,
respectivamente, pelos agentes S e
11. aS < bS, sendo a diferença d a medida de uma preferência “natural” de S por B;
12. r e s são ganhos ou perdas derivados de externalidades que se refletem nos payoffs dos
agentes – efeitos derivados de localização e do ambiente institucional, apropriados
privadamente respectivamente pelos agentes R e S.
13. Com r > 0 e s > 0 caracterizar-se-ia um ambiente de retornos crescentes para ambos
os procedimentos. Com r = 0 e s = 0 ter-se-ia um ambiente de retornos constantes e
com r < 0 e s < 0 um ambiente de retornos decrescentes.
14. Sejam:
xA = nA/n a participação da ação A no total e dn = nA – nB o valor da diferença entre as
adoções. Considerando que a sequência dos dois tipos de agentes é desconhecida, dn
segue um passeio aleatório de modo que na n-ésima escolha xA = 0,5 + dn /2n3.

5.5.1. As limitações do modelo diante dos setores agrários – as restrições do espaço e da natureza

O modelo de Arthur, contudo, carece de ajustamentos consideráveis em dois aspectos:


primeiro, necessita de tratamento para as implicações interdependentes da limitação do

3 Seja 2xA= [(1-(nB/n)]+( nA/n) e 2xA = [1+( nA - nB)/n]. Logo, xA = [0,5+( nA - nB)/2n] e xA = 0,5+dn/2n.

119
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

número e da diferenciação dos agentes no que se refere a sua representação como unidade em
n e, segundo, para que as incertezas sejam consideradas.
Haver-se-ia que considerar de algum modo o grau de monopólio de cada agente
– a capacidade respectiva de controle de mercado de insumos ou produto. Com isso,
particularidades cruciais dos setores rurais, como as associadas às relações fundiárias,
poderão ser contempladas. Postas as condições cruciais derivadas da relação de propriedade,
ressaltam as dimensões decisivas das configurações institucionais e das incertezas a que se
referem. Isso tem importância sempre, sendo, porém, como se verá, no caso da Amazônia,
centrais.
Para que expresse melhor os setores rurais se deve estabelecer, de início, o lugar da
natureza na noção de tecnologia que se está operando. Convém tratar tecnologias no sentido
lato utilizado por Arthur, “as pure method or pure information; or they may be embbodied
in physical plant or machinary” (Arthur, 1994b:15), realçando, entretanto, a condição
necessária de que se trata de relação entre trabalho humano, objetivado por um modo de
produção, e seu objeto último, a natureza. Como já mencionado, nos processos industriais, a
natureza está presente, dominantemente, como natureza morta. Na produção rural, todavia,
as atividades produtivas se realizam numa interação da disposição humana com a natureza
viva. Nesse caso, a capacidade produtiva da natureza codetermina o resultado do processo
produtivo. Como matéria-prima, a natureza é objeto inerte do trabalho humano; como uma
força produtiva, capacidade ativa e, como tal, um capital: o capital natural.
A natureza é central, também, como espaço, como res extensa, impondo-se, por um
lado, na definição do esforço logístico associado à circulação dos pressupostos da produção e
reprodução da vida rural; por outro lado, na definição das operações políticas e das fronteiras
da gestão pública, da territorialidade, pois, dos setores agrários.
Isto posto, é necessário que se combine o pressuposto 2 do modelo – segundo o qual
existe um número muito grande (infinito!) de agentes, compatível com a noção, prevalecente
na discussão do desenvolvimento endógeno, da capacidade de crescimento indeterminado
dos setores urbanos, que Krugman (1998, 1995 e 1991), reiteradamente, tem chamado de
setores “sem raízes” – com a condição finita dos recursos não renováveis e da territorialidade
que a isso se associa, em particular em relação à terra e aos recursos que suporta, peculiar aos
setores rurais, “com raízes” porque presos a lugares.
A centralidade do capital natural e a geopolítica da produção rural (Becker, 2007a)
têm implicações nos dois componentes das equações de payoff do modelo: no propriamente
tecnológico e no institucional.
Os componentes tecnológicos, a e b, devem expressar uma necessária relação entre
produtividade e disponibilidade da terra, pois há uma parcela da remuneração aí expressa
resultante da condição de acesso e uso produtivo dos recursos naturais, enquanto fator que
privadamente é usado intensiva ou extensivamente, como se viu no capítulo 3. A avaliação
desses elementos recomenda recorrer a funções de produção do tipo proposto por Hayami e
120
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Ruttan (1971). Os componentes locacionais e institucionais do payoff, r e s, por seu turno,


devem se referir ao número de agentes e suas capacidades respectivas de controlar a terra e os
recursos naturais que ela suporta como ativo social limitado. Tal incorporação é necessária,
porque há vantagens locacionais e externalidades derivadas desse controle, privadamente
apropriáveis, e tais rendas são significativas no Brasil e na Amazônia.
De modo que toda a tabela de payoffs deve ser reescrita, assim como os tópicos que a ela
se seguem:
1. Os retornos associados a A e B para cada tipo de agente, já consideradas as adoções
anteriores, correspondem aos valores demonstrados na seguinte tabela de payoffs:
Agente \ Ação A B

R V = aR + r.(nA. WA ) onde
R A R
VB = bR + r.(nB. WB ) onde
aR = RyA. RwA.RLA bR = RyB. RwB.RLB

S V = aS + s.(nA. WA ) onde
S A S
VB = bS + s.(nB. WB ) onde
aS = SyA. SwA.RLA bS = SyB. SwB.RLB

Onde:
2. aR e bR são as parcelas do payoff derivadas estritamente dos procedimentos
tecnológicos, nos quais, RyA e RyB são os retornos por unidade de área e RwA e RyB são
as relações terra/trabalho aplicadas pelos agentes de tipo R nos montantes de trabalho
L e RLB, conforme as ações-tecnologias-procedimentos A ou B, respectivamente.
R A
3. aR > bR, sendo a diferença da medida da preferência de R por A (preferência não
natural, mas condicionada por diferenças na disponibilidade de terras e na capacidade
de controle e aproveitamento dos recursos naturais que elas suportam, com destaque
para o conhecimento tácito e codificado);
4. aS e bS são as parcelas do payoff derivadas estritamente dos procedimentos tecnológicos,
no quais SyA e SyB são os retornos por unidade de área provenientes da aplicação pelos
agentes de tipo S dos montantes de trabalho SLA e SLB sob as condições técnicas
que permitem as relações terra/trabalho SwA eSwB, próprias das ações-tecnologias-
procedimentos A ou B, respectivamente;
5. aS < bS,sendo a diferença da medida da preferência de S por B (preferência não natural,
mas condicionada por diferenças na disponibilidade de terras e na capacidade de
controle e aproveitamento dos recursos naturais que elas suportam, com destaque
para o conhecimento tácito e codificado);
6. Com r > 0 e s > 0 caracterizar-se-ia um ambiente de retornos crescentes para ambos os
procedimentos – o que refletiria as condições em que os ganhos derivados dos efeitos de
aglomeração que a expansão de um procedimento produz, somados aos ganhos que os
aperfeiçoamentos institucionais e organizacionais (ou, simplesmente, o incremento da
capacidade de definição dessas instituições e organizações) resultantes dessa expansão
121
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

superam o incremento dos custos globais da pressão sobre os fatores daí derivada. Com
r = 0 e s = 0 ter-se-ia um ambiente de retornos constantes e com r < 0 e s < 0 um
ambiente de retornos decrescentes.
7. Sejam:
xA = nA.W A / (nA.W A + nB.W B ) a participação da ação A na utilização do total das
disponibilidades de recursos não renováveis (W A a disponibilidade média de cada
agente, nA.W A o total apropriado de terras, WA , pelos que adotam a tecnologia A; W
B
a disponibilidade média, nB.W B o total apropriado de terras, WB , dos que adotam a
tecnologia B) e dn = nA.W A - nB.W B o valor da diferença entre as disponibilidades de
terras orientadas (ou passível de orientação) para as diferentes adoções. Considerando
que a sequência dos dois tipos de agentes é desconhecida dn segue um passeio
aleatório de modo que na n-ésima escolha,
dn
x A = 0, 5 +  (5.5.1-1)
2.W
em que W é o total de terras apropriadas por todos os atores.

Uma importante nota final: o que se representou por W, a relação fundiária, pode ser
substituída para outras expressões da relação entre os agentes e seus ambientes de operação.
Por exemplo, W poderá expressar a estrutura de mercado de bens finais observada, por exemplo
por market shares da receita total ou do valor bruto da produção, como faremos em diferentes
momentos adiante. Ou, ainda, W poderá expressar a disponibilidade de mão de obra. Exploraremos
exaustivamente este assunto no Capítulo 7.

5.5.2.O modelo e sua perspectiva

Especificado o modelo de modo apropriado, que perspectiva ele nos oferece? Mais
detalhadamente, considerando que os agentes R e S, não obstante suas preferências iniciais
condicionadas por seus atributos e dotações, podem escolher livremente entre as ações/
procedimentos/tecnologias A e B, como será a estrutura final de longo prazo: será dominada por
A ou por B; a dominante, A ou B, é a melhor; ou será dividida entre as duas, em que proporções?
Para responder a isso é necessário esclarecer sob que condições os agentes mudam. Uma
primeira resposta é: os agentes de tipo R, por exemplo, estarão dispostos a mudar sua preferência
de A para B se a adoção de B resulta em payoff final tal que RVB > RVA, o que, substituindo os
valores da tabela anterior, leva a
bR + r. nB. W B > aR + r. nA. W A,
e, portanto, a

122
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

r. nA. W A – r. nB. W B < bR - aR e, finalmente, a

(bR − aR )
dn < (5.5.2-1)
r
Ou seja, há um valor de dn, isto é, da diferença entre a capacidade de controle dos recursos
naturais pelos que adotam A e a capacidade de controle dos recursos naturais pelos que adotam B,
a partir do qual se adotará sistematicamente a tecnologia B.

Por razões equivalente, os agentes de tipo S mudam sua escolha de B para A sistematicamente
se aS + s. nA. W A > bS + s. nB. W B e, portanto,
(bS − aS )
dn > = (5.5.2-2)
s
Os segundos termos das desigualdades (5.5.2-1) e (5.5.2-2) resultam no número de
novas adoções, no primeiro caso, de B, no segundo, de A, necessárias para que os rendimentos
(feed backs) positivos das externalidades, alcançados pelos que adotam, respectivamente,
aquela e esta tecnologias, superem as eventuais vantagens tecnológicas da rival. A partir desse
ponto, uma escolha path efficient será sempre em favor de B e A, respectivamente. Há, assim,
duas barreiras representadas pelas diferenças no número e na capacidade de controle coletivo
dos recursos pelos agentes adotantes das tecnologias e procedimentos em disputa. Aquela
na qual começa a desigualdade descrita em (5.5.2-1) e aquela na qual começa a descrita em
(5.5.2-2). Chamemos esses valores, respectivamente, de DB e DA. Distinguem-se, a partir daí,
três regiões em um plano (dn,n) que representamos na Figura 5-1: há a região II que se situa
abaixo de DB e compreende os pontos da desigualdade (5.5.2-1), a região III que se situa acima
de DA e compreende os pontos da desigualdade (5.5.2-2) e, ainda, há o campo i que fica entre
DA e DB. Nas regiões II e III os valores DA e DB funcionam como barreiras de absorção; no
campo i eles funcionam como barreiras de reflexão de dn.
Se r e s são negativos ou nulos, isto é, se prevalecem rendimentos constantes ou
decrescentes, então dn vagueará pela região I, sem jamais ultrapassar as barreiras DB e DA.
Em tal contexto, considerando a pressuposição enunciada no item 13, a estrutura de longo
prazo seria caracterizada por uma divisão na qual a produção será repartida à base de
50% para cada tecnologia (Arthur, 1994a:22). Nessa circunstância, em que prevalecem os
pressupostos básicos da teoria neoclássica, haveria flexibilidade, de modo que intervenções
de política econômica poderiam corrigir, pela intervenção em r e s, eventuais distorções pela
movimentação das barreiras. Qualquer movimentação, nesse caso, implicaria recolocação dos
parâmetros decisórios, podendo afetar as escolhas. Aqui, posto que a ergodicidade pressuposta
garante path-efficiency nos processos, também se tornaria fácil demonstrar que venceria a
tecnologia mais eficiente ou elas compartimentam a estrutura em condições tais que seus
resultados se igualam.
123
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Em ambientes de rendimentos crescentes, entretanto, r e s são positivos e o dn romperá


uma das barreiras com probabilidade 1 (Arthur, 1994a:22), de modo que prevalecerá, ao final,
ou o procedimento/tecnologia A ou a B – a participação de A será necessariamente 1 ou 0
quando B for 0 ou 1. O processo é indeterminado porque, por ser não ergódico e dependente
de trajetória, depende dos (porque não os esquece) eventos históricos e condições iniciais.
Como resultado, tem-se a possibilidade de aprisionamento, lock-in, do sistema em situações
(as regiões II e III) em que se perde flexibilidade de ajustamento, tanto mais quanto mais o
sistema tenha se afastado das barreiras DB ou DA. Em tais situações, perde-se flexibilidade de
ajustamento porque as necessidades de incremento de r e s para a reposição dos parâmetros
em nível capaz de influenciar as decisões crescem sem limites. Ademais, em contexto de
rendimentos crescentes, a eficiência de trajetória não é garantida. Isto é, o sistema pode se
tornar dominado pela tecnologia menos eficiente. Nesse tipo de situação, se o sistema estivesse
aprisionado na região III, em que prevalece exclusivamente A, os agentes R não sofreriam
perdas – os agentes S, entretanto, teriam uma perda, de vez que teriam tido um ganho (bs-as) se
sua tecnologia preferencial tivesse sido “...igualmente desenvolvida e colocada à escolha. Em
resumo, uma corrida de agentes de um certo tipo, os quais preferem inicialmente a opção de
desenvolvimento mais lento, pode aprisionar o mercado nessa opção inferior, enquanto igual
desenvolvimento da tecnologia excluída no longo prazo teria remunerado melhor ambos os
agentes”. (Arthur, 1994a:24).

5.5.3. Introduzindo a incerteza

No modelo de Arthur, os agentes têm limitado poder de discernimento porque não podem
prever os “pequenos eventos históricos” (Arthur, 1994a:17). Eles são, contudo, bem informados
relativamente aos procedimentos disponíveis para adoção – eles saberiam o que sobre isso
interessa e utilizariam perfeitamente o que sabem. As informações podem ter um custo – uma
vez adquiridas, porém, não apresentariam problema na utilização, não se presumindo erros no
seu emprego. Heiner (1988:148) propõe, em complemento, que a competência do agente de
tomar decisões usando informações não é sempre, necessariamente, suficiente para responder
adequadamente, não importando o grau de dificuldade dos seus problemas decisórios, nem se
há ou não custo de obtenção da informação. Com isso, levanta uma questão que nos interessa de
perto: a de que há uma dimensão especial de incerteza derivada de um gap entre a “competência”
em usar informações e a “dificuldade” própria do seu problema decisório. Crescendo esse gap,
isto é, variando a competência relativamente à dificuldade do problema que envolve a decisão,
o agente tende a se tornar progressivamente conservador, relutando em mudar, mesmo que fosse
para uma posição otimizadora (Heiner, op. cit.:149).
Aumentando o gap de Heiner, crescendo a incerteza associada à confiabilidade e à
dificuldade da informação necessária à mudança, internaliza-se, no processo decisório do agente,
a certeza de que há uma probabilidade de erro diferente de zero. Os erros se expressarão nos
124
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

diferentes payoffs das quatro situações decisórias possíveis para cada agente. Para o tipo de agente
R, já acima apresentado:
a) payoff será aR + r.nA.. W A se ele se mantiver no procedimento A e se verifique a
previsão de que A domine;
b) payoff será bR + r.nB. W B se ele mudar para B e se verifique a previsão de que A
domina;
c) payoff será a’R + r.nA. W A se ele se mantiver no procedimento A e se verifique a
previsão de que B domine;
d) payoff será b’R + r.nB. W B se ele mudar para B e se verifique a previsão de que B
domine.

Dada a preferência de R por A, semelhantemente ao que já consideramos em 5.5.2, aR>


bR e a’R> b’R . Contudo, tal preferência, agora, dependendo do número de adoções e do poder de
controle da base natural dos adotantes, pode produzir, concretamente, ganhos ou perdas. A avaliação
que o agente pode fazer da sua posição de ganho, do payoff total esperado por adotar A, depende
da suposição que faz quanto à probabilidade de obter o payoff descrito em “a”. Considerando que
essa probalidade seja pA e que pA = nA. W A /(nA. W A +nB.W B), isto é, que os agentes processam
os registros que têm sobre os eventos passados, criando elementos de orientação para o futuro
incerto, então a probabilidade de que ele erre obtendo o payoff descrito em “c” é de 1-pA. De
modo que o payoff total previsto pelo agente R por adotar A pode ser descrito, agora, considerando
a imperfeição das informações, pelo seguinte equação:
V = π A .(aR + r.nA .WA ) + (1− π A ).(aR' + r.nA .WA )
R A (5.5.3-1)
Adotando B, a sua vez, o payoff total seria
V = (1− π A ).(bR' + r.nB .WB ) + π A .(bR + r.nB .WB )
R B (5.5.3-2)
Para adotar uma ação de mudança, de A para B, por exemplo, os agentes do tipo R
consideram as informações que lhes permitem avaliar as chances que podem vir a ter de ganhar
ou perder com a mudança. A probabilidade de mudar de um procedimento A para um B depende,
assim, do número de vezes que se apostou ou que se viu apostar (agentes circunstantes em B) e
se ganhou ou se viu ganhar (BB), ponderados pela respectiva capacidade média de controle dos
elementos em torno dos quais se dá a concorrência, como, por exemplo, dos recursos naturais, ou de
outros recursos-chave, (W BB ), relacionado com o número total de apostas em B (nB) multiplicado
pela capacidade média de controle de recursos ( W B ) e do número de vezes que se apostou ou se
viu apostar em B e se viu perder (BA) ponderados pela respectiva capacidade média de controle de
recursos ( W BA ) relacionado com nB. W B . Sejam tais procedimentos suficientemente descritos por:
qB  BB .WBB / nB .WB

125
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

u B  BA .WBA / nB .WB

em que qB é a probabilidade subjetiva de mudar corretamente e uB a probabilidade subjetiva de


mudar erradamente.
O retorno esperado de B por um agente de tipo R que considera essas possibilidades de
erro seria, assim, a equação (5.5.3-2) reescrita de modo que:

V = (1− π A ).[qB (bR' + r.nB .WB ) + (1− qB ).(aR' + r.nA .WA ) A ] + π A .[u B (bR + r.nB .WB ) + (1− u B ).(aR + r.nA .WA )]
R B

(5.5.3-3)

Como já estabelecido acima, haverá mudança de A para B se

R
VB > RVA ou RVB - RVA > 0

Subtraindo, pois, (5.5.3-1) de (5.5.3-3) e operando, tem-se


(bR − aR ) (bR' − aR' ) (5.5.3-4)
d n < π A .u B . + (1− π A ).qB .
r r
Na equação acima, se há previsão perfeita, então uB=0 e pA = 0, levando a que a
equação (5.5.3-4) expresse precisamente a desigualdade representada em (5.5.2-1), proposta por
Arthur.
Seguindo trajeto semelhante, reescreveríamos a equação (5.5.2-2 de modo que
(bS − aS ) (bS' − aS' )
d n > π B .u A . + (1− π B ).q A . (5.5.3-5)
s s
As equações (5.5.3-4) e (5.5.3-5) descrevem o caso geral da trajetória de escolha entre
dois procedimentos, em que se explicitam os termos da influência da incerteza sobre o campo
decisório: torna-se claro que, sendo uB diferente de zero, isto é, havendo incerteza, o dn que
torna a desigualdade (5.5.3-4) verdadeira é menor que o dn (a diferença no número de adoções
do procedimento A e do B e suas implicações na ocupação e controle do espaço físico e seus
conteúdos) que torna a desigualdade (5.5.2-1) verdadeira. Por razões semelhantes, o dn que
torna a desigualdade (5.5.3-5) verdadeira é maior do que o que torna a desigualdade (5.5.2-2)
verdadeira. A incerteza afasta, portanto, as barreiras DB e DA em relação ao zero do sistema –
tornando mais longínquas as regiões de lock-in (na Figura 5.5.3-1, supondo ser as barreiras
D*B e D*A as bordas das Regiões II e III para contexto de informação perfeita, uma situação
incerta, em que uA e uB são diferentes de zero, levaria aquelas bordas para as posições DB e DA,
respectivamente). Em termos teóricos, isso significa que sob condições de incerteza há uma
maior inércia dos agentes em mudar, uma maior tendência a manter procedimentos conhecidos,
a resguardar posições conservadoras. E os deslocamentos nas barreiras serão tanto maiores,
126
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

quanto mais cresçam uA e uB – quanto mais sejam os casos de conhecimento de insucesso dos
procedimentos sob julgamento.

Figura 5.5.3-1 – Diferenças na adoção de procedimentos em competição: trajeto aleatório com


barreiras de absorção em movimento, em função de r e s
dn
Região III em que só A é escolhida

bS aS
dn
s
DA

D *A

0
Região I
D B*
DB

bR aR
dn
r
Região II em que só B é escolhida

5.5.4. Lock-In e política

Em contexto de rendimentos crescentes, por força de externalidades nas quais a ação


institucional é decisiva, como o mercado de terras, o mercado de trabalho e, em futuro não tão
remoto, o das novas commodities ambientais, um procedimento eficiente pode ser excluído
por perder a concorrência para outro menos eficiente. Um certo padrão produtivo que poderia
se constituir em diferencial para estratégias de construção do futuro, por não ter o tempo de
demonstrar suas virtudes, poderá ser varrido do portfólio de possibilidades de desenvolvimento
de uma dada sociedade. Os agentes que a ele se associavam, ou virão a se transformar em
operadores do seu concorrente, ou a desaparecer. Se temos critérios e modelos de demonstração
de uma eficiência que só se revelará no futuro, se, eventualmente, podemos estabelecer que o
procedimento B será melhor que um outro, digamos A, o que deveríamos fazer, considerando
as possibilidades indicadas de desenvolvimento endógeno e rendimentos crescentes, para que B
prevaleça sobre seu concorrente? No caso da Amazônia, se avançamos em estabelecer as condições
de desenvolvimento sustentável, se o temos como desejável, como fazer os procedimentos a ele
compatíveis prevalecerem sobre os concorrentes?
Para todos os casos, a resposta é imediata: tornar a barreira de absorção do procedimento
B (o procedimento bom, digamos, porque preserva a diversidade e tudo que ela pode representar
em uma nova heurística – na perspectiva de Page (2007) – de desenvolvimento para a região)
127
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

o mais próximo possível do centro do sistema e afastar a barreira de absorção do procedimento


A, seu concorrente, o máximo possível do centro do sistema. A prevenção é a chave, pois
se o procedimento indesejável entrar em lock-in, o sistema, como se viu, perde flexibilidade,
tornando-se rígido à reorientação – o que significa que, ou ele vai às últimas consequências da
ineficiência incorporada no procedimento dominante, ou, redirecioná-lo por vontade política
custa muito caro.
Isso implica quatro blocos de providências estratégicas:
a) As que elevem as vantagens ou reduzam as desvantagens iniciais da tecnologia B em
relação a sua concorrente – no modelo apresentado, as que reduzam a diferença entre os
retornos diretamente associados às tecnologias, a qual justifica a preferência inicial do
agente de um certo tipo (as que aumentem a diferença bR-aR às vistas do agente R). Pelo
que nos indica a metafunção de produção de Haiamy e Ruttan, isso exigirá estratégias
de intensificação do uso da terra e/ou elevação da capacidade de cada unidade de
trabalho mobilizar recursos naturais.
b) As que elevem a eficiência do ambiente institucional no que se refere a B e reduzam
a eficiência de seus concorrentes – no modelo, as que elevem r e reduzam s. Ajustar
as tecnologias genéricas indicadas em “a” às diferenças de natureza (fortes) do agente
“inclinado” às tecnologias concorrentes constitui exemplo do que se pode fazer a
respeito. Assim como adequar fontes de financiamento, ajustar técnicas de fomento
e difusão tecnológica e pesquisar métodos de gestão do processo produtivo e de
estratégias de mercado.
c) As que reduzam a incerteza em relação a B e aumentem a incerteza em relação a
seu concorrente – as que reduzam uB e as que elevem uA. Pesquisas que reduzem os
problemas de mensuração e levem a normas que reduzam o oportunismo e a taxa de
desconta dos benefícios futuros de B seriam tópicos fundamentais de uma agenda
nessa perspectiva.
d) As que aumentem o poder de controle dos que adotem B sobre a base natural e reduzam
o poder de controle de seus concorrentes sobre esses recursos. É que os movimentos de
redução de dn em (5.5.3.-4) e seu aumento em (5.5.4-5), necessários para aumentar as
chances de um desenvolvimento baseado em B, se W B = W A, isto é, se há equilíbrio
nas relações de propriedade e acesso aos recursos naturais, dependem do aumento de
nB em relação a nA, como no modelo original de Arthur para os setores urbanos. Uma
desigualdade notável W B < W A, por seu turno, reduz a probabilidade de um lock-in em
B – desejado – e, ao mesmo tempo, aumenta as chances históricas de um lock-in em
A – indesejado. Uma política fundiária, de reordenamento, redistribuição e garantias,
aqui, ganha um novo sentido estratégico.

128
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

5.6. Trajetórias tecnológicas e regimes de crescimento - indicações experimentais

O modelo discutido deriva a eficiência dos agentes de uma combinação entre ganhos
propiciados pela eficiência produtiva da tecnologia que adota e de externalidades derivadas dessa
adoção. Com tal argumento, enfatiza a apropriação privada de ganhos sistêmicos e as preferências
desses agentes como chave de uma evolução que, sob concorrência orientada por rendimentos
crescentes, poderá eliminar padrões eficientes ao tempo que elege formas subótimas de produção.
Parece-nos razoável mobilizar tal perspectiva para a análise da dinâmica rural na Amazônia,
conduzida que é por distintas razões, cujas propostas podem resguardar hierarquia quando
confrontadas com visões de futuro pautadas em perspectivas sustentáveis de desenvolvimento –
algumas poderão ser defensáveis, pois superiores nessa ótica, outras não.
Não obstante o interessante do enunciado, há questões relevantes para o funcionamento
da metáfora de Athur não totalmente explicitadas em seu modelo. Uma delas diz respeito à
produtividade do ambiente, absorvida pelos agentes como rendimento ou perda; outra diz respeito
aos mecanismos ou regras de apropriação – seja eventualmente por seletividade que habilita certas
unidades produtivas privadas a acessarem ganhos de externalidades inacessíveis a outras, seja por
regras ou mecanismos de proporcionalidade.
Nossa crítica e complementação do modelo atende a essa última questão, uma vez
que traz a possibilidade de considerar distinções dos agentes no que se refere, para além das
“preferências” em relação às tecnologias, traço subjetivo suficiente para Arthur, as dotações
diferenciadas de fatores objetivos: o acesso a elementos da natureza, as disponibilidades
sociais de trabalho, a propriedade de acervos intangíveis de conhecimento, o controle
logístico de fatias de mercado, etc. Nas dotações de recursos fundamentais ou na formação e
manutenção de graus de monopólio em mercados finais ou intermediários se estabeleceriam
as condições de distribuição dos ganhos de externalidades. Quanto à formação destes ganhos,
há a proposição de Kaldor-Verdoorn (Setterfield, 2010), segundo a qual produtividade
crescente deriva de economias de escala dinâmicas. Isto é, formam-se ganhos sistêmicos em
uma economia sempre que sua expansão absoluta permite criar uma capacidade produtiva
nova ou expandir a existente sob condições de maior produtividade do que se verificava
antes – quando se importava o produto ou se o produzia em menor escala. O crescimento em
tamanho aprofundaria a divisão social do trabalho com efeitos sobre a produtividade – em
dinâmica, aliás, já apontada por Adam Smith em A Riqueza das Nações. Kaldor (1966) aduz
como fator de formação de ganhos de externalidade o aprendizado difuso que se faz como
decorrência das oportunidades associadas a uma expansão.
Essses princípios vêm sendo retomados em esforços recentes de tratar a dinâmica econômica
com ênfase em categorias e modelos keynesianos a partir da noção de regime de crescimento,
desenvolvido pela Escola da Regulação Francesa (ERF) (Boyer, 1988; Boyer e Petit, 1991). Pós-
keynesianos sugerem como princípios condicionantes de um regime de crescimento três elementos:
1) o regime de demanda (RD), que descreve os determinantes dos componentes da demanda; 2) o
129
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

regime de produtividade (RP), que explicita os determinantes do progresso técnico e da acumulação.


Os RD e RP ocorrem mediante 3) um regime institucional que expressa a interação, naquele tempo e
lugar, entre as formas institucionais que organizam as necessidades preponderantes do capitalismo e
as formas de produção que ali se reproduzem (Amitrano, 2011).
Note-se que a ERF usa o conceito de regime de crescimento para economias por inteiro.
Este também é objeto tradicional dos pós-keynesianos. Recentemente, porém, se tem procurado
discutir crescimento regional nessa perspectiva (Setterfield, 2010; Roberts, Setterfield, 2006;
Lourenço, Bezerra, Pereira, 2011). Retornaremos a essa discussão no capítulo 8, referência
teórica da parte III do livro. Neste momento utilizaremos essa noção para tratar as trajetórias
tecnológicas, eis que os atributos principais do conceito aplicam-se a esse objeto claramente: a
categoria garante a descrição do processo de crescimento da renda considerando path and space
dependency – um regime de crescimento se explica necessariamente em seu contexto, histórica e
institucionalmente delimitados.
Na Parte III do trabalho, as observaremos em relação a outras estruturações, como
arranjos produtivos e economias locais, que lhes proporcionarão maior funcionalidade heurística
e capacidade explanatória na observação de territórios bem (de)limitados.

Capítulo 6
Diversidade estrutural e Trajetórias Tecnológicas:
uma delimitação empírica

Apresentamos até aqui aspectos que entendemos relevantes de uma convergência teórica
particularmente fértil. Já observada para tratamento de múltiplas questões por autores diversos, trata-
se de aproximações entre elementos da tradição schumpeteriana e da tradição keynesiana (apontada
por Possas, 2001), com elementos importantes da tradição marxista, através de Kalecki (também
Possas, bem antes, 1999) e da Escola da Regulação Francesa (Boyer, 1988), com abordagens
da Nova Economia Institucional, do Crescimento Endógeno e do Desenvolvimento Endógeno
(apontados em Castro, 2004; detalhados em Conti, 2002 e Barquero). Os resultados oferecem
perspectivas inteiramente novas na observação da dinâmica das relações ação/agente-estrutura/
agência. Os desenvolvimentos dessa heterodoxia que destacamos acima, de uma perspectiva, ao
considerar endogenamente os constrangimentos institucionais, permitem fugir da racionalidade
padrão e substantiva do agente que fundamenta a tradição neoclássica (Prado, 1993), da qual a crítica
da inovação induzida (ver 5.2) é ligeiro desvio. De outra, ao garantir aos agentes graus de liberdade
que os tornam sujeitos na construção do mundo – na configuração de suas estruturas e manifestações
institucionais – limitam os arroubos teóricos que atribuem poder absoluto às estruturas.
Do esforço, têm emergido programas de pesquisa orientados pelas mesmas hipóteses que
aqui nos norteiam: a conformação de uma dada realidade social tem um momento fundamental
130
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

na combinação dos meios disponíveis para produção e para a gestão da produção em tecnologias
geradas e difundidas em processos nos quais agentes heterogêneos, caracterizados por racionalidades
distintas e limitadas, no sentido (forte) de Simon (1983) e de Vernon Smith (2010), tomam decisões
no interior de estruturas que se movem em ambientes de incerteza, no sentido (radical) de Keynes
(1970), marcados a) por dinâmicas competitivas cujo estado dominante é o do desequilíbrio entre as
forças decisivas e, a ele associado, b) por uma considerável complexidade e diversidade institucional
(Nelson e Winter, 1982). Em tal contexto, c) decisões de mudança e inovação associam-se a processos
de aprendizado que “...podem ser vistos como competição dinâmica entre diferentes hipóteses ou
crenças ou ações” (Arthur, 1994a: 133) – materializadas em trajetórias tecnológicas.
Nos próximos segmentos deste capítulo trataremos operacionalmente enunciados
decisivos nessa construção. Em um primeiro momento, discutindo a operacionalidade do conceito
de diversidade de agentes e heterogeneidade das estruturas que articulam; num segundo, situando
tal distinção na delimitação e qualificação de trajetórias tecnológicas do setor rural na Amazônia.

6.1. Agentes heterogêneos e seus modos de produção

À heterogeneidade de agentes corresponde uma heterogeneidade estrutural. A diversidade


de agentes e estruturas que conformam a dinâmica agrária na região resulta das especificidades de
razões e processos decisórios (racionalidades) que, por uma parte, emergem de relações sociais
próprias, por outra, conformam relações técnicas particulares, marcadas pela diversidade de
fundamentos naturais e institucionais que, por seu turno, formam o piso e o entorno de suas
existências. O modelo relacional que nos orienta nessas distinções está esquematizado na Figura
6.1-1. Dois tipos básicos têm prevalecido.
As empresas camponeses caracterizados pela centralidade da família nos processos
decisórios, seja como definidora das necessidades reprodutivas, que estabelecem a extensão e a
intensidade do uso da capacidade de trabalho de que dispõe, seja como determinante no processo
de apropriação de terras nas sagas de fronteira, para os quais a eficiência reprodutiva (perspectiva
de avaliação da eficiência produtiva pelo ótica do atendimento das necessidades da família, conf.
Costa, 1995; Costa, 2005; Costa 2007a; Costa, 2007c e Costa, 2007d; 2012a) não elimina, mas
subordina a eficiência marginal do capital (Keynes, 1970; Prado, 1993) nas decisões econômicas
fundamentais.
As empresas patronais, as quais dependem do trabalho assalariado e, por isso, do grau
de desenvolvimento do mercado de trabalho, resultam de processos de apropriação da terra e
dos recursos da natureza definidos pelo poder econômico de seus titulares, que se comportam
orientados dominantemente por avaliações da eficiência marginal do capital (decisões pautadas
na expectativa de renda líquida descontada por taxa de rendimento alternativo).
Agentes camponeses e patronais têm modelos próprios de avaliação da consistência
intertemporal e interespacial de suas decisões, que os diferenciam intrinsecamente em seus modos
131
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

de produzir, a par das capacidades respectivas de acesso a instituições e ao conhecimento: de acesso


ao capital natural (como propriedade, contestável ou não), ao capital físico e ao capital humano
e social. Mutuamente determinadas, essas diferenças estabelecem modos próprios de ver e usar
a natureza: se como matéria-prima ou como força produtiva – na condição de relações edafo-
climáticas ou na condição de bioma florestal.

Figura 6.1-1 – Fundamentos da diversidade de agentes no setor rural da Amazônia


Agentes: Racionalidade (genérica) Natureza: percepção social Instituições: acesso à
e e características objetivas natureza e a capital
Características (específicas) da reprodução tangível e intangível

Accesso a
“Eficiência Terra -
capital
Reprodutiva” Consistência Firme
C Natureza Morta, “Property dinheiro
subordina Inter-temporal
a natureza como Rights” Accesso a
“Eficiência das decisions
m Marginal do matéria prima Garantidos conheci-
(sim/não) Várzea
p Capital” mento
o (decisões codificado
n pautadas e multi- Accesso a
e critério, tradeoff Terra -
capital
média/variança Consistência Firme
s Natureza viva, dinheiro
da renda, da Inter-espacial Status de
e natureza como Accesso a
oferta/segurança das decisões Fronteira
s força produtiva conheci-
alimentar, etc.) (sim/não) Várzea
mento
codificado
Accesso a
Terra -
capital
Consistência Firme
Natureza Morta, “Property dinheiro
P Inter-temporal
Rights”
“Eficiência das decisions natureza como Accesso a
a matéria prima Garantidos
Marginal do (sim/não) conheci-
t Várzea
mento
Capital” (renda
r líquida codificado
o descontada) Accesso a
n subordina Terra -
capital
a “Eficiência Consistência Firme
Natureza viva, dinheiro
i Reprodutiva” Inter-espacial Status de
natureza como Accesso a
s das decisões Fronteira
força produtiva conheci-
(sim/não) Várzea
mento
codificado

Fonte: Desenvolvimento do autor.

Fizemos uma delimitação empírica da presença dessas diferenças na Amazônia na


seção 1.2.3, na qual apresentamos os fundamentos produtivos e os resultados da produção de
443.570 estabelecimentos rurais da Região Norte, dos quais 93% são camponeses e 7% patronais.
Evidenciou-se, ali, que tais diferenças caracterizam dois “projetos” de desenvolvimento de
base rural na Amazônia, os quais, dispondo de suportes institucionais distintos, diferenciam-se
nas formas de tratamento do capital natural (cuja referência primordial é o bioma da floresta
132
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

amazônica) e nas proporções de uso de capital físico e de trabalho. Aprofundamos essa percepção
no Capítulo 3, quando detalhamos os sistemas de produção próprios de cada modo de produção
e observamos os diferentes impactos entrópicos indicados pelos respectivos balanços de CO2.
Nessas condições, esses dois conjuntos de empresas e seus modos de produção parecem
constituir expressões concretas dos agentes diferenciados por “preferências tecnológicas”
associadas a “dotações distintas de recursos” que, com Arhur, e criticando-o, tratamos teoricamente
nas seções 5.3.1 e 5.3.2. Colocamo-nos, então, duas questões: a) Podemos, com os dados que nos
são disponíveis, decompor tais “projetos” em trajetórias tecnológicas? b) Se logramos delimitar
trajetórias, podemos situá-las na perspectiva mais ampla dos paradigmas tecnológicos que
fundamentam o desenvolvimento do industrialismo capitalista? e c) Podemos imbricar nessas
categorias as questões relevantes de conhecimento e de política? Nos próximos segmentos nos
dedicamos a responder a esses quesitos.

6.2. Trajetória Tecnológica como um conceito operacional

O “paradigma agropecuário”, como perspectiva de progresso ou desenvolvimento e


conjunto de procedimentos que pressupõem a transformação industrial da natureza originária
no atendimento de necessidades reprodutivas da sociedade, desenvolve-se, na Amazônia,
por um antagonismo de fundo com o “paradigma extrativista”, que pressupõe a manutenção
dessa mesma natureza originária. Eles se desenvolvem em concorrência, protagonizada por
atores privados e organizações.
No interior de cada paradigma, confrontam-se trajetórias também em concorrência
materializada no embate entre as estruturas que gerenciam os processos produtivos e suas
instituições de suporte, as que lhes são fonte de recursos intangíveis de conhecimento e
inovação e tangíveis de terra e trabalho.
Os critérios privados, mesmo ganhadores na disputa entre trajetórias, não desembocam
necessariamente nos melhores resultados para o conjunto da sociedade. A divergência
poderá crescer mediante uma perspectiva de progresso e modernidade balizada por máxima
esperança de sustentabilidade ecológica e equidade social. Faz-se necessária a antecipação de
tais inconsistências, a verificação das suas causas e a inquirição das condições institucionais
que as superem.
Para tanto, partindo da premissa de que há uma relação íntima e indissociável entre sujeito
e objeto do conhecimento tecnológico, se deve investigar, de uma parte, as estruturas produtivas que
operam tal conhecimento; de outra, os espaços institucionais que os elaboram. Colocados no campo
de visão os resultados de tal empreitada, poder-se-á proceder a um julgamento das convergências e
divergências mediante uma perspectiva de progresso social, moderna porque dominada pelo ideário
do desenvolvimento sustentável. Esta tem sido nossa orientação em um trajeto já longo de pesquisa
(ver síntese em Costa, 2012a), do qual este capítulo é um passo adicional.
133
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Amparados na explicitação da diversidade de agentes e estruturas que fundamentam


a produção rural na região, procuraremos delinear trajetórias tecnológicas no limite oferecido
pelas estatísticas disponíveis. É importante sublinhar esse ponto porque as restrições de
dados determinaram em grande medida a estratégia de trabalho adotada, a qual privilegia
a observação das relações entre as trajetórias e seus produtos – levando bem longe a
compreensão de que produtos são fenômenos de trajetórias. Passo a passo, observando as
características econômicas da produção, as interações que se fazem entre os grupos de produtos
e a distribuição espacial de sua ocorrência, a relação que apresentam com as instituições e a
forma como se desenvolvem no tempo, configuraremos nas próximas seções as trajetórias
tecnológicas fundamentais na Amazônia. Isto feito, teremos condições de visualizar como os
paradigmas tecnológicos podem ser divisados na região.

6.2.1 Os dados disponíveis e a noção de trajetória: o ponto, seu entorno, seu trajeto mais provável

Temos dois tipos de dados que cobrem o setor rural da totalidade da Região Norte: os censos
agropecuários, com mais de duas centenas de variáveis sobre relações de propriedade, relações
sociais e técnicas, estruturas de produção e venda, etc. e os acompanhamentos conjunturais, com
periodicidade anual (Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção
Pecuária Municipal, etc.
Os Censos são as mais amplas pesquisas de que dispomos, com metodologia uniforme
em cada edição, e os acompanhamentos anuais, por sua vez, os mais amplos e sistematicamente
levantados indexadores de algumas das variáveis constantes dos censos. Os dados de um censo
referem-se, para cada variável, a pontos de trajetos percorridos pelos estabelecimentos. Sabemos
que tais caminhos são conformados por ajustamentos contínuos naquela variável, processados
no passado, que definirão tendencialmente seus próximos momentos. Mas, para aquela variável
específica, só vemos o ponto. A questão metodologicamente relevante é: podemos dizer algo
mais, além daquilo que vemos no ponto? Podemos dizer algo sobre o caminho do qual este ponto
é uma passagem, como se exige a partir das ideias apresentadas na introdução deste segmento?
A resposta a essa pergunta tem duas partes. A primeira depende do próprio Censo, a
segunda da relação entre o Censo e os acompanhamentos conjunturais. Se Xt é uma variável
do Censo, com t representando o ano de levantamento, do mesmo modo que XPt e XFt o são,
a primeira informando sobre o passado de X e a segunda sobre seu futuro, então podemos
dizer algo sobre a trajetória de X: ele está vindo de um provável Xt-n informado por XPt, e,
passando por Xt, indo para um provável Xt+m, informado por XFt, onde n e m são lapsos de tempo
indefinidos, porém reais. Por outra parte, se Xt, no Censo, tem em xt, levantada em pesquisa
conjuntural, porém sistemática, uma proxy, pode-se considerar – com margem de erro que
depende da qualidade da pesquisa – que Xt-n = Xt.(xt-n/xt) e Xt+n = Xt.(xt+n)/(xt), sendo n um lapso
de tempo definido e real.
Usaremos exaustivamente essas possibilidades metodológicas.
134
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

6.3. Delimitando Trajetórias Tecnológicas

Seguindo orientação teórica já detalhada, a noção de paradigma tecnológico aplicada


à produção rural na Amazônia está aqui referida às atitudes fundamentais mediante a base
natural da região: num extremo, as formas de produção que pressupõem a manutenção da
natureza originária (o bioma florestal amazônico); em outro, as formas de produção que
pressupõem a transformação da natureza originária. Entre o primeiro, que “chamamos
paradigma extrativista”, e o último, que chamamos “paradigma agropecuário”, há posturas
intermediárias que conformariam um “paradigma agroflorestal”.
De tais posturas derivam as soluções técnicas e institucionais (os conjuntos de
procedimentos que se constroem no tempo em concatenações próprias de trajetórias, em
que as decisões passadas influem no presente e, as do presente, condicionam o futuro) para
os processos produtivos realizados em condições particulares que, ao tempo que suprem
as necessidades sociais de um conjunto dado de produtos rurais, são soluções moldadas
para atender aos anseios privados dos agentes que gerenciam esses processos produtivos.
E, modelos complexos demonstram que, quanto mais um conjunto particular de soluções
torna-se importante como supridor das necessidades sociais, tanto mais, portanto, venha ele a
ocupar o espaço social do suprimento dessas necessidades, maior a capacidade de realização,
por parte dos agentes envolvidos, de rendimentos adicionais (crescentes) provindos do
ambiente institucional e outras externalidades (Arthur, 1994a). Essas interações dinâmicas
entre necessidades sociais e privadas, de um lado, e procedimentos técnicos e institucionais,
de outro, realizadas nos processos produtivos de produtos particulares, se fazem, assim,
em confronto concorrencial entre as trajetórias tecnológicas, estas as formas particulares e
concretas de realização de um paradigma tecnológico – de realização de uma ontologia de
relações da sociedade com a natureza.
Um resultado desse entendimento, de considerável valor experimental, é o de que
toda produção se faz como parte de alguma trajetória, portanto, produtos são fenômenos de
trajetórias. Por isso, qualificar a produção (para o que temos um número considerável de
variáveis bem informadas no Censo e nas estatísticas anuais) pode ser caminho para chegar à
compreensão das trajetórias que lhes são subjacentes (as quais não se deixam ver a olho nu).
Como corolário, três noções importantes para este trabalho. Primeiro, a relevância de um dado
produto ou conjunto de produtos4, nas variações da produção total revela a sua importância,

4 Daqui por diante essa será uma referência recorrente. Com ela pretendemos designar o conteúdo empírico do tipo de informação
relativa à produção disponível no Censo Agropecuário, que é o valor agregado da produção classificada por origem: se produção
animal ou vegetal, e, no interior da primeira, se da pecuária de grande, de médio e pequeno porte; no interior da segunda, se de plantios
de culturas temporárias, permanentes, silvicultura, etc. Não seria errado presumir, desde o início, que debaixo desses conjuntos de
produtos sob essas classificações encontram-se sistemas ou subsistemas de produção – presumimos, portanto, sistematicidades a priori
desses conjuntos de produtos, per si, a serem integradas nos sistemas maiores pelas trajetórias que pretendemos delinear. Todavia, não
explicitaremos tal presunção até darmos outros passos na investigação que nos permitam qualificar melhor os grupos de produtos e,
por essa via, aprender mais sobre natureza e forma dos sistemas que eventualmente representem ou integrem.

135
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

e por essa via a relevância social (para o todo da economia em questão) da trajetória que lhe
é subjacente – seu peso na configuração da divisão social do trabalho. Segundo, a capacidade
de um dado conjunto de produtos de compensar os gestores dos processos produtivos revela
sua eficiência e, em consequência, a eficiência da trajetória de que participa na realização
subjacente dos anseios privados – sua relevância microeconômica privada. Deve-se notar
que esses dois pontos podem guardar relação dinâmica. Terceiro, se um grupo de produtos
revela-se fonte de investimentos, ele é base da capacidade de expansão da trajetória que lhe
é subjacente.
Conhecidas a relevância social e privada dos grupos de produtos, bem como se os mesmos
constituem-se fonte de investimentos, oito combinações lógicas são possíveis, as quais permitem
inferências na qualificação dos modos como participam das trajetórias que as fundamentam, tal
como indicadas na última coluna da Tabela 6.3-1. Essas combinações constituem interesse para
análise em maior detalhe, o que faremos nas próximas seções.

Tabela 6.3-1 – Classes dos grupos de produtos e expectativa quanto às formas respectivas de
participação nas trajetórias tecnológicas subjacentes
Atributos dos grupos de produtos Classe do
produto ou
grupo de Expectativa quanto ao modo de participação
Possibilidades Socialmente Compensação Fonte de produtos na trajetória subjacente
relevante privada positiva investimento quanto aos
seus atributos
Posição principal, influenciando na expansão de
1 Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro G1 modo consistente e com capacidade endógena de
desenvolvimento
Posição principal, influenciando na expansão de modo
2 Verdadeiro Verdadeiro Falso G2 consistente, porém sem capacidade endógena de
desenvolvimento
3 Verdadeiro Falso Falso G3 Posição principal, porém inconsistente e decadente
4 Falso Falso Falso G4 Decadente ou ad hoc ou experimental
Emergente com capacidade endógena de
5 Falso Verdadeiro Verdadeiro G5
desenvolvimento
6 Falso Falso Verdadeiro G6 Subordinado, podendo se constituir financiador
7 Verdadeiro Falso Verdadeiro G7 Principal, inconsistente ou subordinada como financiador
Emergente, sem capacidade endógena de
8 Falso Verdadeiro Falso G8
desenvolvimento

Fonte: Desenvolvimento do autor.

6.3.1 Sobre a relevância social (macro) dos grupos de produtos

As formas de produção prevalecentes no agrário da região amazônica, assentadas sobre


peculiares relações sociais (trabalho familiar e trabalho assalariado) distinguem-se entre si por
seus fins e pelos meios utilizados para alcançá-los. Estruturam-se em combinações próprias das
136
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

suas disponibilidades (as quais derivam de eventos históricos em que mediações institucionais
outras, que não apenas o mercado, têm fundamental importância) e ofertam, como resultado dessas
configurações, produtos diferentes. As interações trabalho-natureza, mediadas por conhecimentos
e por meios materiais de produção, constituem os fundamentos técnicos das formas de produção.
As diferentes composições de produtos que formam o valor da produção final, por seu turno,
expressam as formas como tais combinações de disponibilidade se justificam socialmente – como
as formas de produção participam da divisão social do trabalho organizada por mercados amplos
– locais, regionais, nacional e mundial.

As diferentes composições de produtos agregadas pelas formas de produção fundamentais


para toda a Região Norte serão expressas aqui por funções do tipo genérico:
Y Y Y Y Y Y Y Y Y Y
YB = β BPC .YPC + β BPL .YPL + β BPM YPM + β BPP .YPP + β BCP .YCP + β BCT .YYCT + β BCH .YCH + β BCS .YCS + β BFM .YFM + β BFN .YFN
(6.3.1-1)

Onde a variável dependente é:


YB = Valor Bruto de Produção (VBP) total da forma de produção em questão (R$)

e as variáveis independentes são:


YPC = Valor Bruto da Produção (VBP) da pecuária bovina: boi em pé (R$)
YPL = VBP da pecuária bovina: leite e venda de matrizes e outros produtos (R$)
YPM = VBP da pecuária de médios animais: basicamente suínos (R$)
YPP = VBP da pecuária de pequenos animais: basicamente aves (R$)
YCP = VBP das culturas permanentes (R$)
YCT = VBP das culturas temporárias (R$)
YCH = VBP dos hortigranjeiros (R$)
YS = VBP da silvicultura (R$)
YFM = VBP do extrativismo vegetal: madeira em tora (R$)
YFNM = VBP do extrativismo vegetal: produtos florestais não madeireiros (R$)

Os coeficientes b descrevem o modo como cada grupo de produtos e, consequentemente,


o subsistema de produção a ele subjacente, participam na variação da produção total yB de um
modo de produção: são indicações de sua relevância social, macro. Nossa análise distinguirá
dois modelos lineares derivados de (6.3.1-1), o primeiro para os estabelecimentos com o atributo
de “camponês” no banco de dados já apresentado (a regressão resultante refere-se ao modo de
produção camponês na Região Norte), caracterizado pelo conjunto de coeficientes {  ZC } e outro
para os estabelecimentos com atributo de “patronal” (a regressão resultante refere-se ao modo de
produção patronal na Região Norte), caracterizado pelo conjunto de coeficientes {  ZP }, onde  ZC
e  ZP são os coeficientes padronizados (Standardized Regression Coefficients) das regressões
137
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

lineares derivadas de (6.3.1-1) expressas em z-scores, isto é, não no seu valor original, mas sim,
no número de desvios-padrão em torno da média (Bühl e Zöfel, 1996: 197-98; Backhaus et al ,
2000:18-19; Hair et al, 1998: 147).
C
Por exemplo,  BPC corresponde ao número de desvios-padrão que  BC varia em torno de
C
sua média para uma variação de 1 desvio-padrão em YPC em torno da sua própria média, enquanto
C C
que a soma de todos os coeficientes  em YB representaria o número de desvios padrão que
a variável dependente variaria em torno da sua média quando todas as variáveis independentes
C
variassem 1 desvio-padrão. Assim, os  podem ser comparados diretamente na explicação do
que ocorre em YBC .

6.3.2 Influência dos grupos de produtos na rentabilidade: sua relevância privada

A composição da produção, tal como a encontramos no momento do Censo, expressa


ajustamentos processados cumulativamente para atender às necessidades sociais, como
argumentamos acima. Contudo, a composição da produção também reflete finalidades das formas
de produção na ótica privada, isto é, na perspectiva de seus gestores. Isto quer dizer que se espera
uma indução no processo de mudança que se faz referido também às razões dos agentes e às
condições objetivas a partir das (e sobre as) quais operam. Tais condições são internas a cada
unidade produtiva, isto é, legadas pela vivência particular de cada uma em processos históricos
da formação social da região; ou são externas, relacionando-se com cada unidade por iniciativa
de seus controladores, mas pela via do mercado ou de outras instituições. Ajustada pela interação
desses vetores, a composição da produção que reflete as necessidades privadas dos gestores dos
processos produtivos pode ser expressa pela função:
Y Y Y Y Y Y Y Y Y Y
YL = β LPC .YPC + β LPL .YPL + β LPM YPM + β LPP .YPP + β LCP .YCP + β LCT .YYCT + β LCH .YCH + β LCS .YCS + β LFM .YFM + β LFN .YFN
(6.3.2-1)

Na função (6.3.2-1), os valores das variáveis independentes são os mesmos da função


(6.3.1-1), enquanto a variável dependente - yL - corresponde à Renda Líquida (VBP total
menos Custo da Produção Total), i.e., a remuneração privada dos agentes controladores
dos estabelecimentos considerados. Assim especificada, a função (6.3.2-1) é uma função de
desempenho, cuja regressão nos moldes apresentados descreve a forma como os grupos de
produtos considerados atuam na remuneração dos gestores. Enquanto a função (6.3.1-1),
uma função de produto, expressa o resultado social (total) de uma divisão social do trabalho,
a função (6.3.2-1) expressa de que modo os resultados que importam aos agentes privados,
suas remunerações, dependem de tal estruturação. A mesma variável independente yPC, que
Y
na regressão da função (6.3.1-1) influencia  BPC na variação da produção total, mediante
Y
a regressão da função (6.3.2-1) influencia LPC na variação da rentabilidade líquida dos

estabelecimentos.
138
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

6.3.3 Influência dos grupos de produtos nos investimentos: fontes endógenas e exógenas

Os investimentos fundamentam a dinâmica das formas de produção e das trajetórias que


organizam – garantem sua expansão.
Os investimentos podem ser analisados pela ótica da sua fonte. Isto é, por um lado,
como uma função da renda gerada na economia em questão; por outro, como uma função das
disponibilidades exógenas representadas por outras fontes de financiamento. Considerando
que a renda é diretamente correlacionada com o Valor Bruto da Produção e, por isso, forma-
se basicamente orientada pelo que se descreveu na relação (6.3.1-1) e, ainda, que os créditos
bancários indiquem a participação das fontes exógenas de financiamento, tem-se:
I I I I I I I I I I
I F = β FPC .YPC + β FPL .YPL + β FPM YPM + β FPP .YPP + β FCP .YCP + β FCT .YYCT + β FCH .YCH + β FCS .YCS + β FFM .YFM + β FFN .YFN + β FCI .CI
(6.3.3-1)

em que IF é o volume de investimentos observado em função dos grupos de produtos de (6.3.1-1) e


(6.3.2-1) e do volume de crédito para investimentos obtido (CI). Mantido o método já apresentado,
os coeficientes b das variáveis Y nas regressões resultantes são medidas da participação dos grupos
de produtos nas oscilações de investimentos (uma medida da participação de Y na variação do
investimento); da variável CI, medida da participação do crédito nessas variações. A esta função
denominaremos investimento-fonte.

6.3.4 Qualificação dos grupos de produtos

Os coeficientes das regressões discutidas acima, obtidos a partir da base de dados


apresentada nas notas metodológicas da Tabela 1.2.3-1, na seção 1.2.3 do Capítulo 1, separada
em dois sets em razão da forma de produção, compõem duas matrizes de valores de [  zijP ] e [
 zijC ], correspondendo, respectivamente, à forma de produção patronal (primeira parte da Tabela
6.3.4-1) e à forma camponesa (segunda parte da Tabela 6.3.4-1). Nessa notação, i denota um
grupo de produtos que compõe a produção total da forma de produção e j um dos três tipos
de função, conforme especificado na Tabela 6.3.4-1. Usamos esses valores para estabelecer os
atributos dos grupos de produtos, de acordo com o indicado na Tabela 6.3.4-1: quanto ao peso
e importância na variação da produção total – relevância social; quanto à rentabilidade privada
e quanto à endogeneidade das fontes de recursos para investimento. Os atributos resultaram das
seguintes condições:
a) Para qualificar um grupo de produtos segundo o atributo “Socialmente relevante”
(ver a sexta coluna na Tabela 6.3.4-1), utilizamos o seguinte critério: se β iP1 > 0,1
(i=1...10) então “Verdadeiro”; de outro modo, “Falso” (assinalados na Tabela 6.3.4-
1 por, respectivamente, “V” e “F”). Arbitramos, portanto, que serão considerados
de relevância macro (social) os grupos de produtos cujos VBP variam na mesma
139
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

direção que o VBP total5 e em intensidade relativa (número de desvios-padrão)


correspondente a pelo menos 10% daquela variação. Sete grupos de produtos entre
os estabelecimentos patronais e seis entre os camponeses apresentaram-se como
relevantes, com destaque para a pecuária de corte, silvicultura e culturas temporárias,
entre os primeiros, e culturas temporárias, culturas permanentes e pecuária de leite,
entre os últimos.
b) Para qualificar um grupo de produtos conforme o atributo “Compensação privada
positiva”, procedemos ao seguinte teste: se ( β iP2 / β iP1 ) > 0 então “Verdadeiro”, de
outro modo, “Falso”. Na Tabela 6.3.4-1 os valores βi2/βi1 estão entre parêntesis e as
condições designadas por “V” e “F”). Dado que  iP1 é sempre positivo37, isso significa
que serão considerados consistentes com os fins privados os grupos de produtos cujos
VBP influem positivamente na variação da Renda Líquida total (a variação da sua
produção influi de modo diretamente proporcional na rentabilidade total). Significa,
também, que mais que a medida absoluta da influência na variação da renda líquida,
importa sua expressão relativa mediante a influência que o mesmo grupo de produto
exerce na variação do VBP total. Esse resultado diz muito sobre a força de expansão
e sobre a consistência da relevância social com os anseios privados. Quatro são, pois,
as situações a considerar:
1) Os grupos de produtos inconsistentes na perspectiva privada, quando se
expandem, reduzem a rentabilidade privada, de modo que ( β iP2 / β iP1 ) < 0
. Dos produtos relevantes, este é o caso das culturas temporárias e
permanentes entre os estabelecimentos patronais e da silvicultura entre
os camponeses.
2) Valores de ( β iP2 / β iP1 ) ≅1 indicam situações em equilíbrio e expansão com
rendimento constante. É o caso dos produtos da pecuária de corte e da
avicultura entre os estabelecimentos patronais e da pecuária leiteira entre
os camponeses.
3) Valores 0 < ( β iP2 / β iP1 ) <1 indicam situações fora do equilíbrio, nas quais
o VBP do grupo de produtos varia com maior intensidade que a renda
líquida total dele derivada, o que aponta para expansão com rentabilidade
decrescente. Tanto mais próximos de zero, maior a inconsistência da
rentabilidade privada diante da relevância social que esses valores revelam e
menor a força de expansão do grupo de produtos em questão. Enquadram-se
nesse caso os produtos provindos da silvicultura entre os estabelecimentos
patronais e das culturas permanentes entre os camponeses.
P P
4) Valores ( β i 2 / β i1 ) >1 , ao contrário, indicam situações fora do equilíbrio, nas

5 A rigor, as regressões especificadas pelas funções de tipo (7-1) produzirão betas necessariamente positivos dado que os valores
estatísticos da variável dependente são totalizações das variáveis independentes.

140
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

quais a influência da variação do VBP do grupo de produtos na rentabilidade


total é maior que no VBP total, o que indica rentabilidade crescente associada
ao grupo de produtos. Tanto maior o valor, maior a inconsistência da
rentabilidade privada diante da relevância social que esses valores revelam e
maior a força de expansão do grupo de produtos em questão. Esse é o caso do
extrativismo madeireiro e do extrativismo não madeireiro, tanto entre formas
patronais como camponesas de produção. Para estes últimos, é também o caso
dos produtos provindos de culturas temporárias.

c) Para a qualificação, segundo o atributo “Fonte de investimento”, procedemos


ao seguinte teste: se β iP3 > 0 então “Verdadeiro”, de outro modo, “Falso”. Isso
significa que se o grupo de produtos se expande, ele contribui para a ampliação do
investimento global do modo de produção – ele é, portanto, fonte de investimentos
do modo de produção. Dos grupos de produtos relevantes, entre os estabelecimentos
patronais, esse é o caso dos produtos das culturas temporárias, da pecuária de leite
e da silvicultura; entre os camponeses, da pecuária de corte e leiteira, das culturas
permanentes e da silvicultura.

Quando combinados, esses resultados chamam a atenção para os grupos de produtos


da classe G1 (conf. Tabela 6.3.4-1), que combinam os três atributos: são relevantes em termos
macroeconômicos, apresentam rentabilidade privada e constituem fonte de investimento. Eles
são, entre os estabelecimentos patronais, pecuária leiteira e silvicultura; entre os camponeses,
pecuária de corte, pecuária de leite e culturas permanentes. Eles mostram uma capacidade
de expansão consistente, endogenamente patrocinada, fonte de acumulação de capacidade
produtiva.
Os resultados combinados chamam a atenção, também, para os grupos de produtos
qualificados como G2: que combinam como verdadeiros os dois primeiros atributos – de
relevância macro e consistência micro – sem apresentar interferência nos investimentos. Sobre
eles pode se dizer que mostram força de expansão, porém não são objetos de acumulação
de capacidade produtiva. É o caso da pecuária de corte, do extrativismo madeireiro e da
avicultura, entre os estabelecimentos patronais, e, entre os camponeses, do extrativismo
madeireiro e não madeireiro.
Os grupos de produtos qualificados como G7, são os que apresentam relevância macro e
condição de fonte ou lócus de investimento, porém com rentabilidade contestável. É o caso dos
produtos das culturas temporárias e das culturas permanentes entre os patronais.
O que podem representar essas diferentes características dos grupos de produtos para
as trajetórias que lhes são subjacentes? Ou, visto de outro modo, como se combinam tais
diferenças na definição das trajetórias que lhes são subjacentes? A isso nos dedicaremos no
próximo segmento.
141
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 6.3.4-1 – Coeficientes b das regressões, atributos associados de qualificação


dos grupos de produtos, cargas fatoriais das combinações de grupos de produtos relativos às
estruturas camponesas e patronais na Região Norte
Atributos dos gru- Cargas fatoriais (primeiros cinco fatores
Coef. Variáveis Dependentes pos de produtos1 ou componentes principais)
b
YB YL I Classe

privada positiva1
do

Compensação
Grupos de produtos:

investimento
Socialmente
Grupo de
C1 C2 C3 C4 C5

relevante1
j Produtos

Fonte de
1 2 3
i

Forma de Produção Patronal


Ext. não madeireiro 1 0,025a 0,079a -0,038b F V (3,16) F G8
Ext.madeireiro 2 0,111a 0,170a -0,035c V V (1,53) F G2 0,407 -0,183 0,119 -0,712 0,525
Cult.Temporárias 3 0,363a -0,105a 0,651a V F (-0,29) V G7 0,459 -0,206 0,051 0,489 0,304
Pec. Suínos 4 0,012a -0,039c -0,019a F F (-3,25) F G4
Pec. Corte bovina 5 0,548a 0,507a -0,054a V V (0,93) F G2 0,756 -0,284 -0,002 0,112 -0,032
Pec. Leite e matrizes 6 0,119a 0,308a 0,492a V V (2,59) V G1 0,774 0,120 0,032 0,105 -0,336
Cult. Permanentes 7 0,145a -0,189a 0,069a V F (-1,30) V G7 0,342 0,664 0,141 -0,315 -0,318
Silvicultura 8 0,516a 0,280a 0,031c V V (0,54) V G1 -0,148 -0,083 0,977 0,097 -0,33
Hortigranjeiros 9 0,004a 0,095b -0,020c F V (23,75) F G8
Pec. Aves 10 0,287a 0,262a -0,016c V V (0,91) F G2 0,072 0,715 0,021 0,289 0,053
Crédito para Investimento 0,273a
%
R2 1,000a 0,682a 0,862a Variância 24,2 16,13 14,2 13,8 12,6
(80,8%)
Forma de Produção Camponesa
Ext. não madeireiro 1 0,156ª 0,186ª -0,079a V V (1,19) F G2 0,275 0,746 -0,009 0,607 -0,011
Ext. madeireiro 2 0,178ª 0,200ª -0,038a V V (1,12) F G2 0,067 0,580 0,737 -0,334 0,014
Cult.Temporárias 3 0,478ª 0,581ª -0,082a V V (1,22) F G2 0,674 0,393 -0,440 -0,296 0,320
Pec. Suínos 4 0,022ª 0,017b 0,210a F V (0,77) V G5
Pec. Corte bovina 5 0,152ª 0,085ª 0,258a V V (0,56) V G1 0,788 -0,408 0,267 0,155 0,219
Pec. Leite e matrizes 6 0,215ª 0,223ª 0,416a V V (1,04) V G1 0,810 -0,386 0,282 0,125 -0,061
Cult. Permanentes 7 0,225ª 0,194a 0,184a V V (0,86) V G1 0,845 0,149 -0,223 -0,199 -0,399
Silvicultura 8 0,005ª -0,005c 0,065a F F (-1,00) V G6
Hortigranjeiros 9 0,058ª 0,045a -0,026b F V (0,78) F G8
Pec. Aves 10 0,097ª 0,008c 0,020c F V (0,08) V G5
Crédito para Investimento 0,111ª
%
R2 1,000a 0,994a 0,905ª Variância 42,1 23,2 15,6 10,8 5,2
(96,9)
Fonte: Censo Agropecuário 1995-96.
Notas metodológicas:
1. a Significativo a 0%; b Significativo a 5%; C Não significativo.
2. Para regressões com R2 = 1, os valores F e t são muito altos e a significância em consequência 0.
3. Nos testes de multicolinearidade o VIF máximo foi de 3,2, quando se aceita até 10 e as distribuições de erro são
normais. Os plots das variáveis independentes em relação às respectivas dependentes não mostram nenhuma
discrepância em relação aos testes F, t e alfa.

6.3.5 Interação entre os diversos produtos ou grupos de produtos

Até agora estudamos grupos de produtos, como fenômenos que nos são apresentados
pelas estatísticas do Censo. Qualificamo-los isoladamente mediante atributos: se têm peso
elevado, se são rentáveis, se fundamentam investimentos, essas são suas qualidades como
142
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

grupos de produto. Como sabemos que esses grupos de produtos são expressões de trajetórias,
inferimos que eles subsidiarão as trajetórias de que fazem parte com esses seus atributos que
nos foram revelados pela análise precedente. Mas isso não é suficiente para reconhecermos
que trajetórias são essas. Isso porque as trajetórias (estruturas em reprodução evolutiva em
contexto econômico e institucional específico, as quais emitem sinais em seu percurso)
podem se expressar em mais de um grupo de produto – podem emitir diferentes sinais de seu
movimento. Isto posto, precisamos verificar se há combinações de sinais que possam, como
um sistema de fenômenos, dizer mais sobre os processos e aparatos produtivos subjacentes:
as trajetórias.
Assim, qualificados os grupos de produto quanto ao papel que podem desempenhar
nas trajetórias de que fazem parte, as questões que se colocam são: em que medida e de que
modo esses produtos ou grupos de produtos relacionam-se entre si? Caracterizam tais relações
interdependência sistemicamente justificáveis, inteligíveis na perspectiva evolucionária que
caracterizam as trajetórias?
Dois tipos de relações podem ocorrer de modo a caracterizar interdependência e,
assim, indicar participação em uma mesma trajetória: relações de sucessão e relações de
concomitância entre grupos de produtos diferentes. No primeiro, um grupo de produtos evolui
nutrindo-se, por assimilação – e, portanto, anulação – do outro; na segunda evolui nutrindo-se,
por sinergismo – e, portanto, mútuo fortalecimento –, do outro. Há uma terceira relação – a
de concorrência, em que um evolui concorrendo pelo espaço (físico ou de mercado) do outro.
Nesse caso, os produtos ou grupo de produtos pertenceriam a trajetórias diferentes.
Verificar a interdependência ou concorrência entre os grupos de produtos e avaliar o
significado no delineamento das trajetórias, propriamente, será a tarefa deste segmento. Para
tanto, é necessário observar as estruturas de correlações existentes entre os dados de produção
dos grupos de produtos. A análise fatorial constitui ferramenta importante para esse tipo de
tarefa. Trata-se de técnica de análise estatística multivariada que visa identificar estruturas
subjacentes em um conjunto de variáveis observadas, permitindo dois tipos de resultados: a
sumarização e a redução de dados (Backhau, Erichson, Plinke,Weiber, 2000:252-327).
Nos processamentos de sumarização, são explicitadas as variáveis latentes (os fatores)
pelos padrões de variabilidade das variáveis manifestas (reais) e as cargas fatoriais de cada
variável em relação ao fator. Um fator é um construto, uma entidade hipotética, uma variável
não observada cuja realidade reside apenas no fato de explicar a variância de variáveis
observadas. As cargas fatoriais obtidas são coeficientes que expressam o quanto uma variável
observada está carregada ou saturada em um fator.
Em processamentos de redução, os fatores podem ser transformados em variáveis
inteiramente novas que podem ser incluídas em análises subsequentes. (Hair, Anderson,
Tatham, Black, 1998:95)
Submetemos à análise fatorial o VBP dos grupos de produtos que se mostraram, na
análise anterior, socialmente relevantes para a produção total: 7 grupos da produção patronal
143
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

(Extrativismo Madeireiro, as Culturas Temporárias e as Permanentes, a Pecuária Bovina de


Corte e a de Leite, a Silvicultura e a Avicultura) e 6 da produção camponesa (o Extrativismo
Madeireiro e o Não Madeireiro, as Culturas Permanentes e as Temporárias, a Pecuária de Corte
e a de Leite). Como nas regressões já apresentadas, aqui também usamos para processamento
o SPSS (Bühl, Zöfel,1996: 369-376), condicionando o cálculo a 25 interações e a um número
máximo de 5 fatores por análise. Cada fator indica uma interação entre grupos de produtos, que
pode revelar uma trajetória; a relevância empírica do fator deverá se expressar na proporção
da variância total que explica. As cargas fatoriais dos grupos de produtos nos fatores – os
respectivos graus de importância e o sentido, se positiva ou negativamente, como cada grupo
compõe o fator ou componente principal – encontram-se nas cinco últimas colunas da Tabela
6.3.4-1.
Além das cargas fatoriais, utilizamos os resultados do processamento de redução que
atribui, a cada elemento do conjunto de dados original, pesos (scores) para cada um dos cinco
fatores analisados: o peso de cada fator se torna uma variável do conjunto de dados. O fator de
maior peso foi utilizado para qualificar o elemento, criando-se assim uma outra variável nova,
agora discreta, cujos elementos designam esses fatores dominantes. De modo que assinalamos,
no conjunto de dados, a que combinação de grupos de produtos (que chamamos adiante de
“Combinações C de Grupos de Produtos”), que podem caracterizar uma trajetória, cada unidade
de informação (estabelecimentos em um mesmo estrato de área em uma microrregião) pertence.
Cruzando a variável “Combinações C de Grupos de Produtos” com a localização geográfica
(mesorregião nos estados) dos estabelecimentos e formas de produção, utilizando o VBT total
como variável descritiva, ganhamos informações preciosas sobre a geografia das interações
(ver resultados na Tabela 6.3.5-1); cruzando com as formas de produção e tendo como variável
descritiva o VBP dos grupos de produtos, adquirimos informações importantes sobre a estrutura
da produção que estão atrás dessas “combinações” (ver resultados na Tabela 6.3.5-2).
Combinando o que já sabemos sobre os grupos de produtos per se (suas classes de
atributos G) e o que aprendemos sobre suas interações nos processamentos mencionados,
podemos caracterizar as combinações C de modo a avançarmos na percepção de como
participam das trajetórias das quais são, de algum modo, expressão. Assim:
1. Combinação Patronal.C1 (o fator explica 24,2% da variância total na análise fatorial).
Considerando-se as cargas fatoriais (Tabela 6.3.4-1, coluna C1, forma de produção
patronal), podemos supô-la correspondendo a, ou participando de, uma trajetória
comandada pela pecuária de corte, complementada pela produção de leite e matrizes
e por culturas temporárias (estas últimas como fontes de investimentos, de acordo com
o que indica sua classe G7) e pela extração madeireira (como suporte de rentabilidade
– indicada pela classe de atributos G2). Tal combinação, cujo VBP representava 17%
do VBP agropecuário total da região Norte em 1995 (ver Tabela 6.3.5-1), desenvolve-
se de modo altamente concentrado nos estados de Tocantins (50% de seu VBP,
dominantemente na mesorregião Ocidental do Tocantins – 47%) e Pará (41% do VBP,
144
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

dominantemente no Sudeste Paraense – 31%). Conforme a Tabela 6.3.5-2, a estrutura


da produção média dos estabelecimentos aí posicionados, em toda a região, é composta
por 66% da pecuária de corte, 14% da de leite e matrizes, 10% de culturas temporárias.
As culturas permanentes, com 3%, e a produção de madeira, com 2%, são produções
residuais.
2. Combinação Patronal.C2 (explica 16,1% da variância total na análise fatorial) –
Comandada por culturas permanentes, de rentabilidade contestada, complementada
por avicultura e pecuária bovina, desenvolve-se dominantemente no Pará, onde realiza
67% do seu produto, a metade do que na região Metropolitana de Belém. Manifesta-se,
também, no Amazonas e em Rondônia – com 10% do VBP que produz. A estrutura da
produção do estabelecimento médio aí detectado assenta-se em proporções iguais nas
culturas permanentes (30% do VBP) e na produção de aves (30%), além de pecuária
bovina de corte (17%) e leite (11%).
3. Combinação Patronal.C3 (14,2% da variância total) – Comandada por silvicultura.
Desenvolve-se no Amapá (82%) e no Pará (18%). A produção é, nesse caso, especializada,
100% centrada em silvicultura.
4. Combinação Patronal.C4 (13,8% da variância total na análise fatorial) – Comandada
por culturas temporárias relativamente isoladas, ou compondo em parte com a
avicultura (milho para ração) ou com a pecuária de corte. Nessa condição, poderia ser
um estágio primário da Combinação Patronal.C1, uma vez que se desenvolve, como
nas mesmas regiões desta, principalmente, no Tocantins (38%, dos quais 25 pontos
na mesorregião Tocantins Ocidental) e no Pará (26%, dos quais 20 pontos no Sudeste
Paraense). A impressão de que se trata de um estágio inicial da Combinação Patronal.
C1 é reforçada pelo fato de que as estruturas de produção, não obstante apresentarem
a maior participação de culturas temporárias entre todas da produção patronal (29% do
VBP), mostram grande concentração em pecuária de corte (50%).
5. Combinação Patronal.C5 (explica 12,6% da variância total na análise fatorial) –
Extração de madeira relativamente isolada ou compondo com culturas temporárias.
Aqui também, parece tratar-se de um estágio inicial de Combinação Patronal.C1, posto
que se manifesta particularmente nas mesmas regiões do Pará (62%, sendo 33 pontos no
Sudeste Paraense). Mas, também se manifesta em Rondônia (21%). A estrutura produtiva
média dos estabelecimentos corrobora a impressão de que se trata aqui também de um
estágio inicial da Combinação Patronal.C1 uma vez que, apesar de apresentar a maior
dependência de extração madeireira, (17%) de todas as combinações encontradas na
forma de produção patronal, apresenta, como no caso anterior, elevada concentração em
pecuária de corte (46%).
6. Combinação Camponês.C1 (explica 42,1% da variância total da análise fatorial).
Este fator parece expressar uma trajetória comandada pela combinação de culturas
permanentes e da pecuária de leite, ambas com atributo G1 – expansão com rendimento
145
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

constante e investimento endógeno. A pecuária para carne e as culturas temporárias


mostram-se importantes na combinação, porém complementares. Essa combinação,
cujo VBP representava 24,6% do VBP agropecuário total da região Norte em 1995
(ver Tabela 6.3.5-7), desenvolve-se nos estados de Rondônia (35% de seu VBP) e Pará
(24% do VBP, dominantemente no Nordeste Paraense (13%), mas também no Sudeste
Paraense (7%)). Conforme a Tabela 7-4, a estrutura da produção média, em toda a região,
é conformada por culturas permanentes (23%), leite (16%) e culturas temporárias (34%).
7. Combinação Camponês.C2 (explica 23,2% da variância total) – Uma das duas combinações
ancoradas em extrativismo não madeireiro, cujo atributo G2 indica consistência quanto
ao significado e rentabilidade, sem, contudo, representar lócus ou fonte de investimentos
– tem presença e sentido, mas não base para expansão. Tem expressão bastante difusa,
com manifestação mais acentuada sob as condições particulares da sub-região estuarina
da mesorregião Nordeste Paraense (26%) e nos campos de Marajó (17%), mas também
no Sudeste Paraense (13%) e região Metropolitana de Belém (6%), no Pará (63%); no
Amazonas (33%), sobretudo na mesorregião Centro Amazonense (15%). A estrutura da
produção média para toda a região assenta-se nas culturas temporárias (47%), culturas
permanentes (19%), extrativismo não madeireiro (15%) e extrativismo madeireiro (9%).
8. Combinação Camponês.C3 (15,6% da variância total) – Combina extrativismo
madeireiro, pecuária de corte e de leite, esta última apresentando atributo G1, constituindo
objeto e fonte de investimentos e acumulação de capacidade produtiva. Ocorre
fundamentalmente no Marajó (44%) e no Baixo Amazonas (17%), no Pará, (74%), e em
Rondônia (11%). No estabelecimento médio, a produção madeireira representa 42% do
VBP, a de culturas temporárias, 18%; a produção de culturas permanentes e de pecuária
leiteira representam, respectivamente, 9% e 10%. As características da combinação
indicam a possibilidade de ser estágio inicial da combinação Camponês.C1.
9. Combinação Camponês.C4 (10,8% da variância total) – Trata-se da combinação em
que o extrativismo não madeireiro apresenta maior participação, com interações tênues
com a pecuária de corte e de leite. Ocorre principalmente no Sudeste Paraense (18%),
também no Marajó (14%) e na sub-região estuariana do Nordeste Paraense (14%).
Expressa-se de modo importante no Acre (7%) e difuso no Amazonas (9%). A estrutura
da produção se esteia em 26% de produtos do extrativismo não madeireiro, em outros
26% de culturas temporárias, em culturas permanentes e na pecuária de leite (12% e 8%,
respectivamente) e 10% de pequenos animais.
10. Combinação Camponês.C5 (explica 5,2% da variância total) – Representada por
interações pouco significativas entre culturas temporárias e pecuária de corte. Manifesta-
se particularmente no Pará (21%, dos quais 15% no Sudeste Paraense e 6% no Nordeste
Paraense) e em Tocantins (20%). A estrutura da produção é concentrada em culturas
temporárias (52%), pecuária de corte (15%), pecuária de leite e culturas permanentes
(12% e 8%, respectivamente).
146
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Tabela 6.3.5-1 – Distribuição geográfica de ocorrência das combinaçãoes C de grupos de produtos


observada pela distribuição percentual do VBP por mesorregiões e estados
Combinações (fatores) por forma de produção:
Localização Geográfica
Patronal Camponês Total
Estado Mesorregião C1 C2 C3 C4 C5 C1 C2 C3 C4 C5
Vale do Acre 3% 3% 4% 3% 6% 5% 3%
Acre Vale do Juruá 1% 1% 1 2%
Norte do Amapá 2% 1% 1% 0%
Amapá
Sul do Amapá 5% 82% 1% 3% 5% 3% 3%
Centro Amazonense 1% 11% 2% 3% 13% 15% 3% 2% 14% 9%
Amazonas Norte Amazonenense 8% 3% 1% 1%
Sudoeste Amazonenense 3% 4% 5% 2% 6% 3%
Sul Amazonense 1% 5% 4% 2% 11% 3%
Baixo Amazonas 1% 5% 18% 1% 3% 1 17% 3% 3% 5%
Marajó 3% 3% 17% 44% 14% 5%
Metropolitana de Belém 35% 7% 2% 6% 1 4%
Pará
Nordeste Paraense 2% 14% 3% 12% 13% 26% 14% 6% 10%
Sudeste Paraense 31% 11% 20% 33% 7% 13% 8% 18% 15% 16%
Sudoeste Paraense 5% 2% 2% 6% 1 5% 2% 4%
Leste Rondoniense 7% 1 1 19% 33% 1% 8% 5% 4% 13%
Rondônia
Madeira-Guaporé 1% 3% 2% 2% 1% 3% 1% 1% 2%
Norte de Roraima 2% 12% 1% 2% 4% 3% 2%
Roraima
Sul de Roraima 1% 2% 1% 1% 1% 1%
Ocidental do Tocantins 47% 25% 2% 5% 14% 12%
Tocantins
Oriental do Tocantins 4% 13% 2% 2% 6% 3%
Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: IBGE-Censo Agropecuário 1995-96. Processamentos especiais do autor.

Tabela 6.3.5-2 –Composição da produção oriunda das combinaçãoes C de grupos de produtos


observadas pela distribuição percentual do VBP por grupos de produtos e atividades
Combinações (fatores) por forma de produção:
Patronal Camponês
Grupos de Total
Atividade C1 C2 C3 C4 C5 Total C1 C2 C3 C4 C5 Total
Produtos
Corte 65,7% 17,3% 0,0% 50,0% 45,8% 50,3% 10,9% 0,8% 6,2% 5,0% 15,4% 9,6% 23,7%
Pecuária
Leite 14,0% 10,7% 0,0% 14,5% 7,0% 11,9% 15,8% 1,0% 10,3% 7,6% 11,8% 11,0% 11,3%
Permanentes 3,5% 30,2% 0,0% 1,7% 2,2% 6,3% 23,4% 18,6% 8,5% 11,5% 7,5% 15,7% 12,5%
Culturas
Temporárias 10,4% 6,8% 0,0% 29,3% 8,4% 12,3% 33,6% 46,6% 18,0% 26,1% 52,1% 38,9% 29,7%
Madeireiro 2,0% 1,7% 0,0% 0,4% 17,5% 3,8% 1,2% 8,9% 41,7% 2,7% 1,1% 5,5% 4,9%
Extrativismo
NãoMadeireiro 1,4% 1,7% 0,0% 0,8% 1,6% 1,3% 3,1% 14,8% 8,0% 26,6% 3,9% 8,1% 5,8%
Silvicultura 0,0% 0,0% 100,0% 0,0% 0,1% 5,4% 0,1% 0,1% 0,0% 0,3% 0,0% 0,1% 1,9%
Pequenos animais (avicultura) 2,0% 30,1% 0,0% 1,9% 16,2% 7,6% 7,4% 6,3% 3,7% 10,5% 5,6% 6,8% 7,1%
Outros
1,1% 1,4% 0,0% 1,4% 1,1% 1,1% 4,6% 3,1% 3,5% 9,7% 2,6% 4,3% 3,2%
Outros
Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: IBGE-Censo Agropecuário 1995-96. Processamentos especiais do autor.

6.3.6 Atuação institucional e “Combinações C de Grupos de Produtos”

Reiteramos a noção que as trajetórias desenvolvem-se, confrontando-se, em concorrência


materializada no embate entre as estruturas que operam os processos produtivos e suas instituições de
suporte. Os modos como o ambiente institucional age sobre as estruturas produtivas e é influenciado
por elas são, assim, determinantes na concorrência entre as trajetórias, fundamento no diferencial
de rendimentos que as qualificam nessa concorrência (Dosi, 2006; Arthur, 1994a e b; ver também
subcapítulo 5.3).
147
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Para tratar essa questão, as informações relativas ao crédito agropecuário no Censo têm
significado especial, pois expressam bem mais do que recursos de empréstimo. É que, na agricultura,
o crédito é fundamentalmente crédito de fomento e, como tal, mecanismo de política. De modo que,
em torno dele, movimentam-se outras políticas – suas instituições e organizações mediadoras – sendo
as mais notórias as de pesquisa tecnológica e as de assistência técnica (ver capítulo 1, especialmente
as seções 1.2.4 e 1.2.6). Ademais, o crédito reflete o estado geral do ambiente institucional nas áreas
rurais. Pois, onde há políticas de ordenamento territorial, há crédito; onde as relações de propriedade
da terra são dúbias, não há crédito; ou, se existe apesar disso, há algum tipo de organização ou arranjo
institucional que o garante. Desse modo, a variável crédito pode ser vista como proxy das relações
institucionais dos agentes e suas formas produção. Ademais, quando o Censo Agropecuário realizou-
se, em 1995, a política de crédito baseada nos Fundos Constitucionais vigia há sete anos, sendo o
FNO a mais importante política rural em andamento na região (Costa, 2005a e 2008e).
Adotamos, por isso, um Índice de Densidade Institucional (IDI) a partir do crédito, o qual
resulta da divisão entre participação percentual das “Combinações C de Grupos de Produtos” no
crédito (% que acessaram do crédito total) e a participação respectiva no VBP rural (% do VBP
rural). Na Tabela 6.3.6-1, estão os resultados desse procedimento, considerando a ocorrência da
“Combinação C” no espaço. Se o valor do IDI for maior que 1 significa que a combinação C acessou
mais crédito do que sua importância econômica, permitindo inferir que teve um ambiente institucional
que a favoreceu na razão direta do valor do IDI.

Tabela 6.3.6-1 – Índice de densidade institucional1 das combinaçãoes C de grupos de produtos por
mesorregiões e estados
Localização Geográfica Combinações (fatores) por forma de produção:
Patronal Camponês Total
Estado Mesorregião C1 C2 C3 C4 C5 C1 C2 C3 C4 C5
Vale do Acre 0,00 1,27 0,00 0,96 0,68 1,16 0,88
Acre
Vale do Juruá 4,11 1,32 0,02 0,27 0,33
Norte do Amapá 0,67 0,00 0,07 0,26 0,00 0,35
Amapá
Sul do Amapá 0,00 1,02 0,27 0,00 0 , 0 4 0,05 0,03 0,61
Centro Amazonense 0,40 1,00 1,96 15,17 0,23 0,11 0,24 0,14 0,21 0,52
Amazonas Norte Amazonenense 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Sudoeste Amazonenense 0,55 0,36 0,01 0,13 0,15 0,44 0,22
Sul Amazonense 0,00 1,03 0,06 0,00 1,11 0,68 0,55
Baixo Amazonas 3,38 2,44 0,00 0,52 0,39 0,50 0,25 0,22 0,03 0,51
Marajó 0,18 0,31 0,04 0,02 0,08 0,06
Metropolitana de Belém 0,30 - 0,65 0,43 0,26 0,33
Pará
Nordeste Paraense 0,57 1,29 0,03 11,73 0,39 0,57 0,07 0,10 1,12
Sudeste Paraense 0,89 18,44 1,83 0,33 0,89 1,61 0,53 0,59 0,87 1,44
Sudoeste Paraense 1,87 0,78 1,79 0,38 1,90 0,38 0,34 1,62
Leste Rondoniense 0,56 1,14 0,81 0,73 0,61 0,05 0,47 0,16 0,84 0,64
Rondônia
Madeira-Guaporé 1,58 0,57 3,65 6,44 0,77 0,95 0,26 1,86 3,21
Norte de Roraima 2,44 1,44 - 0,63 1,44 0,47 0,65 1,02
Roraima
Sul de Roraima 0,16 1,13 8,11 2,37 1,51 0,57 6,19 2,26
Ocidental do Tocantins 1,77 2,75 4,17 0,22 1,30 1,76
Tocantins
Oriental do Tocantins 2,63 1,92 2,30 2,01 0,68 0,71 1,59
Total 1,39 2,67 0,83 1,75 2,34 0,83 0,43 0,23 0,30 0,67 1,00

Fonte: IBGE-Censo Agropecuário 1995-96. Processamentos especiais do autor. – Participação relativa do crédito 1

obtido dividido participação relativa do VBP.

148
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Alguns resultados devem ser sublinhados:


•• Das cinco combinações patronais, 4 apresentam IDI maior que 1, devendo-se
sublinhar os seguintes:
»» A Patronal.C2 se destaca com IDI=2,67. Trata-se da combinação dominada por
culturas permanentes, com rentabilidade contestada, objeto demonstrado de
investimento, cuja fonte agora explicita-se melhor.
»» Acima indicamos três combinações patronais que seriam provavelmente
sucessivas – momentos distintos da evolução de um único trajeto –, duas delas,
a Combinação Patronal.C4 e Combinação Patronal.C5 confluindo para a outra,
a Combinação Patronal.C1. Pois bem, essas três combinações destacam-se na
sequência: a Patronal.C5, com IDI=2,34, a Patronal.C4, com IDI=1,75, e a
Patronal.C1, com IDI=1,39. Essa curiosa hierarquia no IDI é particularmente
verdadeira nas duas mesorregiões já mencionadas do Tocantins e na Madeira-
Guaporé, em Rondônia. Mas ocorre também parcialmente no Sudoeste e Sudeste
do Pará e em Roraima.
»» Por seu turno, a Patronal.C3, comandada por silvicultura – uma das duas patronais
com atributos classe G1 – apresenta IDI menor que 1.
•• Todas as combinações camponesas têm IDI menores que 1, com as seguintes
diferenças a considerar:
»» A mais relevante é que a Combinação Camponês.C1, na qual destacam-se as
culturas permanentes e a pecuária leiteira, ambos os grupos de produto com
atributo G1, apresenta a maior IDI (0,83).
»» A segunda maior expressão do IDI foi o da Combinação Camponês.C5 (0,67):
dominada por culturas temporárias e pecuária de corte.
»» O mais baixo IDI foi a do Combinação Camponês.C3 (0,23), a qual se indicou
acima como provavelmente preliminar à Combinação Camponês.C1.
»» Também são muito baixos os IDI da Combinação Camponês.C2 (0,43) e da
Combinação Camponês.C4 (0,30): as duas combinações ancoradas em produção
extrativa não madeireira.

6.3.7 Evolução das “Combinações C dos Grupos de Produtos” por uma década

As trajetórias evoluem em concorrência, cujo andamento se expressa na diferença nos


ritmos de expansão que demonstram. As relações dinâmicas entre relevância social, nível de
compensação privada e capacidade de acumulação, por uma parte, e ambiente institucional e
base produtiva, por outra; as interações, pois, que transformam externalidades em rendimentos
crescentes privadamente apropriados – tanto maiores tais rendimentos em favor de um procedimento
tecnológico, quanto mais dominante ele seja no conjunto – referidas a cada trajetória, expressam-
se, como síntese, na sua capacidade de expansão.
149
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Para analisar esse ponto, avançando a ideia de que às “Combinações C de Grupos de


Produtos” subjazem trajetórias, obtivemos as taxas anuais de expansão de cada uma dessas
combinações pelo seguinte procedimento: a) Calculamos as taxas anuais de crescimento dos
grupos de produtos com base no produto real do agregado. Uma série de valores de produto
real constitui indicador da flutuação das quantidades agregadas de produtos de natureza
diferente, sendo cada ponto a soma do produto das quantidades no ponto (no ano) por um vetor
de preço fixo para todos os pontos (no nosso caso a média dos preços de 1994 a 1996). b) As
taxas de crescimento dos grupos de produto relativas a um mesmo ano (ver Tabela 6.3.7-1)
foram ponderadas pelas proporções com que os grupos respectivos participam na combinação
C (conf. Tabela 6.3.6-2), resultando na sua taxa de crescimento agregado. Enunciando de outro
modo, as taxas de incremento anual das composições Ci são os elementos do vetor coluna Ti =
(Sij).(rj), em que os elementos da matriz Sij são as participações relativas dos grupos de produtos
j nas composições Ci e os do vetor coluna rj são as taxas de crescimento do grupo de produtos
j. Os resultados estão na Tabela 6.3.7-1 e nos Gráficos 6.3.7-1 e 6.3.7-2). Calculamos as taxas
de crescimento médio anual das “Combinações C” de modo a captar as flutuações no tempo.
Assim, as taxas de crescimento anual r foram obtidas por regressão das séries contínuas a partir
da logaritimazação da fórmula At=A0.(1+r)t, para At sendo os números índices da evolução da
“Combinação C” e t a variável de tempo (os resultados estão entre parêntesis na legendas dos
gráficos citados).

Tabela 6.3.7-1 – Números Índices da evolução do Produto Real dos grupos de produtos – Região
Norte, 1995 a 2004 ( 1995=1)
Grupos de Produtos 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Pecuária de Corte 1,00 0,96 1,03 1,12 1,19 1,31 1,46 1,62 1,81 2,13
Pecuária Leiteira 1,00 0,70 0,80 0,88 0,93 1,00 1,03 1,28 1,39 1,56
Culturas Permanentes 1,00 0,92 0,85 0,86 1,05 1,09 2,74 3,02 3,16 2,77
Culturas Temporárias 1,00 0,86 0,96 0,96 1,11 1,11 1,15 1,18 1,51 1,50
Produtos Madeireiros 1,00 0,87 0,91 0,90 1,07 1,06 1,03 1,06 1,19 1,23
Produtos Não Madeireiros 1,00 0,83 0,89 0,98 1,04 1,06 1,30 1,34 2,16 1,90
Silvicultura 1,00 0,99 0,87 1,95 1,83 1,82 1,80 1,92 2,12 2,53

Fonte: IBGE, Estatísticas Agrícolas Municipais (PAM), Estatísticas Pecuárias Municipais (EPM), Produção Extrativa
Vegetal, Pesquisa Pecuária Municipal.
Notas metodológicas:
1. Todos os estados da região Norte.
2. Produto Real é o um indicador do movimento de quantidades agregadas obtido pela multiplicação das quantidades
de todos os anos por um vetor de preço fixo, no nosso caso a média dos preços de 1994 a 1996. Para Culturas
Permanentes, Culturas Temporárias, Produtos Madeireiros e Não madeireiros e Silvicultura: consideraramos todos
os produtos acompanhados pelo IBGE nos respectivos grupos. Para Pecuária Leiteira consideramos o número de
vacas ordenhadas. Para Pecuária de Corte, consideramos o rebanho total menos o número de vacas ordenhadas.

150
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 6.3.7-1 – Evolução do Produto Real das combinações C de grupos de produtos da forma
de produção patronal – 1995-2004 (números índices, 1995=100)
3

2,5
Números Índices (1995 = ')

1,5

0,5

0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Patronal.C1 (8,7% a.a.) 1 0,91 0,98 1,05 1,13 1,22 1,38 1,54 1,74 1,96
Patronal.C2 (11,0% a.a.) 1 0,92 0,94 0,99 1,1 1,16 1,73 1,88 2,03 2,05
Patronal.C3 (11,1% a.a.) 1 0,99 0,87 1,95 1,83 1,82 1,8 1,92 2,12 2,53
Patronal.C4 (8,0% a.a.) 1 0,89 0,97 1,03 1,12 1,19 1,32 1,45 1,68 1,85
Patronal.C5 (6,6% a.a.) 1 0,92 0,98 1,02 1,11 1,17 1,27 1,37 1,53 1,67

Fonte: Tabela 7-3 e Tabela 7-5. Ver esclarecimentos metodológicos no texto.

Gráfico 6.3.7-2 – Evolução do Produto Real das “Combinações C de Grupos de Produtos” da


forma de produção camponesa – 1995-2004 (números índices, 1995=100)
2,5

2
Números Índices (1995 = 100)

1,5

0,5

0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Camponês.C1 (10,0% a.a.) 1 0,88 0,92 0,95 1,07 1,11 1,53 1,66 1,91 1,92
Camponês.C2 (9,2% a.a.) 1 0,88 0,93 0,95 1,08 1,09 1,46 1,52 1,9 1,82
Camponês.C3 (6,9% a.a.) 1 0,87 0,92 0,94 1,07 1,08 1,26 1,33 1,56 1,58
Camponês.C4 (8,4% a.a.) 1 0,88 0,93 0,97 1,06 1,08 1,36 1,43 1,81 1,75
Camponês.C5 (7,6% a.a.) 1 0,87 0,95 0,98 1,09 1,12 1,29 1,38 1,66 1,7

Fonte: Tabela 7-3 e Tabela 7-5. Ver esclarecimentos metodológicos no texto.

151
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Ressaltam os seguintes resultados: A Combinação Patronal.C3 (r=11% a.a.) e


Combinação Patronal.C2 (r=11% a.a.) destacaram-se em crescimento. A primeira corresponde
à expectativa de que combinações dominadas por grupos de produtos com classe de atributo
G1, tenderiam a prevalecer pela consistência de seus fundamentos. A segunda corresponde à
expectativa derivada da sua grande densidade institucional. Por sua vez, as três combinações que
parecem sucessivas, crescem de formas semelhantes, contínuas, a taxas crescentes, obedecendo,
contudo, a uma hierarquia que indica liderança da Combinação Patronal.C1 (r = 8,7% a.a.),
seguida da Combinação Patronal.C4 (8% a.a.) e da Combinação Patronal.C5 (6,6% a.a.).
Correspondendo à expectativa, a Combinação Camponês.C1, com a maior densidade
de grupos de produtos com atributo G1 e a maior densidade institucional entre os camponeses,
apresenta um crescimento sustentado à maior taxa média de crescimento na forma de produção
(10% a.a.). As segunda e terceira taxas de crescimento são as relativas à Combinação Camponês.
C2 (9,2% a.a.) e Combinação Camponês.C4 (8,4% a.a.), nas quais, note-se, o extrativismo não
madeireiro apresenta relevância. A menor de todas as taxas de crescimento é o da Combinação
Camponês.C3 (6,9% a.a.), a combinação que parece ser estágio anterior à Combinação Camponês.
C1. A segunda menor taxa verificada foi a da Combinação Camponês.C5 (7,6% a.a.), que compõe,
com notável exclusividade, pecuária de corte e culturas permanentes.

6.4. As trajetórias tecnológicas reveladas

Qualificada a produção quanto à relevância social, à efetividade na compensação


privada e ao desempenho no investimento; verificada, ademais, a estrutura das relações que seus
componentes guardam entre si – o nível em que se constituem produções interdependentes – visto,
enfim, como essas combinações sofrem a interveniência das instituições e como sua produção
física tem evoluído no período 1995-2004, permitimo-nos indicar os grandes movimentos que,
resultantes de processos adaptativos conduzidos por agentes, de busca e seleção de possibilidades
produtivas e reprodutivas, nos quais se incluem recursos institucionalmente distribuídos,
conformam as trajetórias: a sequência de eventos estruturalmente coerentes que configuram o
agrário da Região Norte. Indicamos 6 trajetórias, 3 patronais e 3 camponesas, cujas características
(apresentadas na Tabela 6.3.4-1) passamos a discutir.
Importante esclarecer que no conjunto de dados, criamos uma nova variável discreta chamada
“Trajetórias Reveladas”, em que assinalamos, com o atributo da trajetória correspondente ( Trajetória-
Patronal.T4, por exemplo), todos os casos das “Combinações C” que compõem a trajetória em questão
(no caso da Trajetória-Patronal.T4, citada como exemplo, os casos em que na variável “Combinações
C de Grupos de Produtos” estão assinalados com os atributos das combinações Patronal.1, Patronal.4
e Patronal.5). Em seguida cruzamos a nova variável “Trajetórias Reveladas” com as variáveis
indicativas das condições econômicas e técnicas dos estabelecimentos, já disponíveis, e obtivemos as
características das trajetórias apresentadas na Tabela 6.4-1 e comentadas a seguir.
152
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Tabela 6.4-1 – Características das Trajetórias Tecnológicas prevalecentes no setor rural da Região
Norte
Trajetórias
Trajetórias/
Camponês Patronal
Características
T1 T2 T3 T4 T5 T6 1995
Número de Estabelecimentos 171.292 130.593 109.405 27.831 4.444 3 443.568
Camponês.C1 1.521.615 - - - - - 1.521.615
Camponês.C2 634.457 - - - - 634.457
Camponês.C3 292.826 - - - - - 292.826
Combinações C

Camponês.C4 - 453.377 - - - - 453.377


Camponês.C5 - - 1.139.178 - - - 1.139.178
Patronal.C1 - - - 1.071.027 - - 1.071.027
Patronal.C2 - - - - 277.534 - 277.534
Patronal.C3 - - - - - 115.333 115.333
Patronal.C4 - - - 365.745 - - 365.745
Patronal.C5 - - - 310.176 - - 310.176
Valor Bruto da Produção (R$
VBP

29% 18% 18% 28% 4% 2% 6.181.269 (100%)


1.000)
Disponibilidade Pessoal Ocupado (TrbEq) 38,6% 26,8% 23,3% 9,6% 1,6% 0,1% 1.873.234 (100%)
Área Total (Ha) 16,7% 5,4% 12,2% 59,7% 3,8% 2,2% 55.774.533 (100%)
de fatores Área da Agropecuária (Ha) 12,7% 2,6% 12,3% 69,1% 2,8% 0,5% 26.611.920 (100%)
Por Trabalhador (R$/TrbEq) 2.509,45 2.165,35 2.615,07 9.673,40 9.498,42 48.499,93 3.299,78
Produtividade Por Área da Agropecuária
194,48 361,48 167,33 52,48 132,14 92,93 110,83
(R$/Há)
Relação Terra/Trabalhador (Ha/TrbEq) 12,90 5,99 15,63 184,31 71,88 521,89 29,77
Terras (R$ 1.000) 14% 3% 9% 73% 2% 0% 163.281 (100%)
Animais (R$ 1.000) 18% 3% 13% 63% 2% 0% 530.723 (100%)
Máquinas (R$ 1.000) 11% 3% 7% 55% 14% 10% 59.993 (100%)
Investimentos

Plantio de Permanentes (R$


49% 16% 11% 18% 6% 0% 52.792 (100%)
1.000)
Plantio de Silvicultura (R$
7% 39% 4% 30% 2% 18% 12.626 (100%)
1.000)
Outros (R$ 1.000) 27% 5% 14% 48% 6% 0% 424.104 (100%)
Total (R$ 1.000) 21% 5% 13% 57% 4% 1% 1.243.519 (100%)
Taxa de investimento (% da renda líquida) 7% 3% 7% 36% 19% 8% 12%
Área degradada associada à produção
10% 3% 14% 71% 2% 0% 2.281.531 (100%)
(terras produtivas não utilizadas)
Fonte: IBGE-Censo Agropecuário 1995-96; levantamentos anuais de produção agrícola. Processamentos especiais do
autor.

•• Trajetória-Patronal. T4 = Patronal. [C5  C4  C1(  PecCorte  )  C5...].


A fórmula acima indica o que segue: há uma trajetória a que chamamos de Trajetória-
Patronal.T4 liderada pela Combinação Patronal.C1, a qual entendemos constituir
ponto de chegada da Combinação Patronal.C4 e esta ponto de chegada da Combinação
Patronal.C5. Na Combinação Patronal.C1, o grupo de produtos da pecuária de corte
constitui o centro. E, dela, se originam os agentes que restabelecem a Combinação
Patronal.C5, fechando um ciclo que requer sempre novos espaços. Trata-se da
forma concreta como a lógica exposta em 3.3.1 opera. Seguem as características da
Trajetória-Patronal.T4.
»» Em 1995 atuavam na Trajetória-Patronal.T4 27.831 estabelecimentos (ver
primeira linha da Tabela 6.4-1), os quais, controlando 33,3 milhões de hectares
153
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

com 18,4 milhões deles transformados em pastagens, produziam, naquele ano,


28% do VBP do setor rural da Região Norte.
»» Os procedimentos tecnológicos subjacentes são extensivos em terra (ver
fundamentos econômicos em 3.3.1), com uma produtividade por trabalhador de
R$ 9.673,40 (valores do VBP corrigidos para 2005) e por área R$ 52,48/ha, para
uma relação terra/trabalhador de 184,31 hectares por trabalhador.
»» Como implicação dessa característica tecnológica, 71% das áreas degradadas
(capoeiras-sucata, como tratadas no capítulo 3) por atividades agropecuárias
na região foram geradas por essa trajetória (1,6 milhões de hectares em 1995):
aproximadamente 1/10 da área por ela utilizada, pois, é descartado a cada ano,
requerendo substituição. Por isso, a trajetória explica 73% dos investimentos
declarados em terras na região, a partir de agentes já nela estabelecidos, que
continuamente retornam, da Combinação Patronal.C1, à posição inicial da
Combinação Patronal.C5 (veremos os fundamentos institucionais disso em
7.3.1).
»» O Índice de Intensidade Institucional (IDI) de 1,63 é alto (ver Tabela 6.36-1),
demonstrando um correspondente poder da trajetória de configuração das políticas
públicas em seu favor. O que explica, em parte, a elevada taxa de investimento de
36% da renda líquida, em que, além dos já mencionados investimentos em terras,
incluem-se 63% de todos os investimentos do setor na aquisição de animais e
55% das inversões em máquinas (já tratamos do que subjaz a isso no capítulo 1
e voltaremos a detalhar a matéria em 7.3.2).

•• Trajetória-Patronal.T5 = Patronal.C2(  Permanentes+Avicultura  )


Representa a Combinação Patronal.C2, baseada em culturas permanentes e avicultura.
»» A avicultura realiza-se na região como momento de uma trajetória de maior
abrangência, em relação à qual as especificidades regionais apresentam pouca
interveniência – os problemas das plantas de produção não se distinguem muito
dos de plantas industriais que aqui se instalam.
»» Quanto às culturas permanentes, há questões particulares à sua implantação na
região que, criando problemas particulares a exigir soluções próprias, configuram
trajetória autônoma. Na perspectiva patronal, a implantação de tipo de cultura
tem assumido na Amazônia características de “plantation” – grande extensão
de plantio homogêneo. O resultado é uma recorrente inconsistência em termos
de lucratividade – que nossa análise aqui também detectou – comprometendo a
capacidade de expansão e afirmação da trajetória. A isso retornaremos em 6.6.2.
»» Em 1995 eram 4.444 estabelecimentos produzindo 4% do VBP rural da região.
Ocupando 29,2 mil trabalhadores equivalentes, dispunham de uma área total de
2,1 milhões de hectares, dos quais utilizavam 755 mil deles.
154
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

»» Com produtividade monetária por trabalhador, equivalente à trajetória anteriormente


discutida, a rentabilidade por área é 2,5 vezes maior e, com 71,9 ha/trabalhador, a
menor relação terra/trabalho de todas as trajetórias patronais. O resultado disso é que
se associam a ela 36 mil hectares de áreas degradadas, um valor relativamente baixo.

•• A Patronal.T6 = Patronal.C3(  Silvicultura  )


Representa a combinação Patronal.C3, especializada em silvicultura.
»» São apenas 3 os estabelecimentos que em 1995 atuavam nessa alternativa
tecnológica, produzindo 2% do VBP rural da região, ocupando 2,4 mil pessoas
em uma área de 1,2 milhões de hectares, dos quais 137,4 plantadas.
»» A produtividade monetária por trabalhador é mais do que cinco vezes a das demais
trajetórias patronais e por área é relativamente baixa, de modo que a relação terra/
trabalho é a maior de todas. A participação no estoque de áreas degradadas é, por
sua vez, zero.

•• Trajetória-Camponesa.T1 = Camponês.[C3  C1(  CultPerm+Leite  )].


Liderada pela Combinação Camponês.C1, a qual se constitui ponto de chegada da
Combinação Camponês.C3. Na Combinação Camponês.C1, para a qual converge a
Combinação Camponês.C3, funcionam como atrator (centro de convergência) as
culturas permanentes e a pecuária de leite, ambas atividades com a consistência que a
classe de atributo G1 permite derivar.
»» Baseada nesses fundamentos, a trajetória teve uma taxa de investimento de 7%
da renda líquida em 1995.
»» Em processos produtivos organizados por 171.292 estabelecimentos, a trajetória
absorveu próximo de 50% de todos os investimentos feitos em culturas
permanentes na região – confirmando sua característica de fixidez espacial, a
trajetória deságua em espaços dados – e 18% da aquisição de animais.
»» Por outro lado, controlando 9,3 milhões de hectares dos quais utiliza pouco
mais que 1/3, constituindo o restante parcela fundamental das capoeiras-reserva
discutidas no capítulo 3, os estabelecimentos que protagonizam essa trajetória
mobilizam uma força de trabalho de 723 mil trabalhadores-equivalentes: uma
produtividade monetária de R$ 2.509,45 por trabalhador, produtividade por área
de R$ 104,48 por hectare e uma relação terra/trabalho de 12,9 hectares.
»» Uma característica fundamental da trajetória é a de que induz a uma intensificação
dos processos produtivos por especialização parcial dos sistemas, que, todavia,
mantêm um grau elevado de complexidade.

•• Trajetória-Camponesa.T2 = Camponês.[C4  C2(  ExtratNãoMad+Agri+Silv.  )].


Liderada pela Combinação Camponês.C2, ponto de chegada da Combinação
155
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Camponês.C4, essa trajetória se faz tendo como base o extrativismo não madeireiro
em combinação com agricultura diversa: cujos resultados são sistemas agroflorestais.
Seria expressão de um paradigma – no qual os processos produtivos pressupõem,
em algum nível, a preservação da natureza originária. Convém informar que essa
trajetória não tem sido captada pelas análises que fizemos nos capítulos precedentes.
»» Seguem essa trajetória 130.593 estabelecimentos camponeses na Região Norte
que controlam 3 milhões de hectares – dos quais apenas 1/5 aplicados em uso
agropecuário – e ocupam 502 mil pessoas.
»» A produtividade monetária por trabalhador em 1995 é a menor de todas as trajetórias
protagonizadas por camponeses, mas a produtividade por área é a maior de todas –
posto que, a relação terra/trabalho é de apenas 5,99 hectares por trabalhador. Esta
trajetória terá protagonismos destacado nas análises do capítulo 10.

•• A Trajetória-Camponesa.T3 = Camponês.[C5 (  PecCorte  )  C5...]


Representa a Combinação Camponês.C5, combinação organizada por estabelecimentos
camponeses na qual a pecuária de corte desempenha papel fundamental.
»» A trajetória representava 18% do VBP em 1995.
»» Protagonizada por 109 mil estabelecimentos que detinham quase 7 milhões de
hectares, suas relações técnicas são as mais extensivas no que tange à terra, com a
menor rentabilidade monetária por unidade de área. Não obstante, mostra-se a mais
rentável no que se refere ao trabalho de todas as trajetórias camponesas: rendimento
por trabalhador de R$ 2.615,07, por unidade de área de R$ 167,33 e relação terra/
trabalho de 15,6 ha/trabalhador.
»» Por seu turno, explica 12% do estoque da áreas degradadas.

6.5. Trajetórias e paradigmas tecnológicos da economia rural da Amazônia em 1995

Domina o universo rural do desenvolvimento capitalista um paradigma, ou padrão


tecnológico, que se afirma pela eficiência demonstrada no controle tenso da natureza para que
corresponda às necessidades industrialistas. As soluções sucedem-se compondo trajetórias
tecnológicas que se afirmam, umas por maximizarem ganhos baseados no uso extensivo da
terra e dos recursos naturais, ali onde a relação de propriedade fundiária o permite; outras,
por maximizarem ganhos baseados no uso intensivo da terra e dos recursos naturais, lá onde
os constrangimentos fundiários a isso levam. No primeiro caso, prevalecem as soluções
mecânicas; no segundo as químicas e, mais recentemente, as bioquímicas.
Na Amazônia, esse paradigma “global” está presente, tanto na esfera da produção de
bens, controlada pelos agentes produtivos, mediante seus critérios próprios de decisão, quanto
no universo da gestão das políticas públicas, nas quais se destacam aquelas que condicionam a
156
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

produção e difusão de conhecimento científico e tecnológico. Mas tal “paradigma agropecuário”


manifesta-se aqui por trajetórias particulares, marcadas por forte diversidade dos agentes, no que
tange à razão decisória e às características estruturais, e por diversidade de situações, no que se
refere aos fundamentos naturais e fundiários de suas existências. Por outra parte, a história social
de muitos desses grupos sociais organizou trajetórias outras que não são “agropecuárias”, posto
que pressupõem, em nível relevante, a manutenção da natureza originária. Nesse sentido, elas
configuram um padrão tecnológico que poderíamos designar “paradigma extrativista” – porquanto
perspectiva particular do uso social dos recursos e de resolução dos problemas a isso afetos.
Com efeito, localizamos e caracterizamos, com as estatísticas disponíveis, elementos de
estruturação e dinâmica das grandes trajetórias que realizam tais padrões.

• No contexto de um Paradigma Agropecuário, em que as soluções tecnológicas supõem


transformação profunda da natureza originária (agropecuária) distinguimos:
i) Trajetória (Patronal.T4) conduzida por agentes patronais, marcada por uso extensivo
do solo, homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e formação
intensa de dejetos: na forma de emissões poluentes (pela queima da floresta na
formação de plantações e pastagens) e na forma de áreas degradadas.
ii) Trajetória (Patronal.T6) conduzida por agentes patronais, marcada por uso extensivo
do solo, com homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e baixa
formação de dejetos/impacto poluidor.
iii) Trajetória (Patronal.T5) conduzida por agentes patronais, marcada por uso intensivo
do solo, com homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e baixa
formação de dejetos/impacto poluidor.
iv) Trajetória (Camponesa.T3) conduzida por agentes camponeses, marcada por uso
extensivo do solo, homogeneização da paisagem (alto impacto na biodiversidade) e
formação intensa de dejetos: na forma de emissões poluentes (pela queima da floresta
na formação de plantações e pastagens) e na forma de áreas degradadas.
v) Trajetória (Camponesa.T1 ) conduzida por agentes camponeses, marcada por uso
intensivo do solo, com sistemas diversificados (baixo impacto na biodiversidade) e
baixa formação de dejetos/impacto poluidor.

• No contexto de um Paradigma Extrativista, no qual as soluções tecnológicas supõem


integridade da natureza originária, distinguimos:
vi) Trajetória (Camponesa.T2 ) conduzida por agentes camponeses, marcada por uso
altamente diverso das disponibilidades naturais, com baixíssimo impacto na
biodiversidade e baixíssima formação de dejetos/impacto poluidor.

Delimitadas as seis trajetórias tecnológicas fundamentais, criamos no banco de dados


BD-A apresentado nas notas metodológicas do Gráfico 2-1 a variável “Trajetória Tecnológica
157
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

a que Pertence”, e atribuímos a cada caso a respectiva trajetória. Para todos os procedimentos
posteriores que resultaram no novo banco de dados BD-C, também esclarecido nas notas
metodológicas do mesmo Gráfico 2-1, mantivemos o atributo da variável “Trajetória Tecnológica
a que Pertence” encontrado no BD-A. De modo que, um estabelecimento encontrado em 1995 na
trajetória X foi mantido nessa mesma trajetória para todos os anos modelados.
Isso feito, pudemos decompor a evolução das grandezas da economia agrária da Região
Norte apresentadas no Capítulo 2 pelas trajetórias tecnológicas reveladas, acima apresentadas.
O Gráfico 6.5-1 apresenta um resultado desse exercício: a evolução da macrovariável VBPR
total da Região Norte, apresentada no Gráfico 2-1, agora definida por estruturas diversas em
evolução no fulcro de trajetórias tecnológicas. Assim, nos é dado observar que o ritmo de
crescimento de 4,6% do VBPR que mostramos no Capítulo 2 resulta de diferentes performances
de crescimento das trajetórias distintas delineadas em 6.4:

Gráfico 6.5-1 – Evolução do Valor Bruto da Produção Rural(VBPR) da Região Norte decomposto
pelas trajetórias tecnológicas fundamentais, 1995-2007, Reais constantes de 2005.
10.000.000
9.000.000
8.000.000
7.000.000
R$ 1.000,00

6.000.000
5.000.000
4.000.000
3.000.000
2.000.000
1.000.000
0
1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005
Ano

Trajetória Camponesa.T1: 3,6% a.a. Trajetória Camponesa.T2: 6,1% a.a.


Fonte: DadosTrajetória
básicos doCamponesa.T3:
IBGE. Processamento
6,1% do
a.a.autor. Trajetória Patronal.T4: 4,9% a.a.
Notas metodológicas:
Trajetória Patronal.T5: 2,3% a.a. Trajetória Patronal.T6: -4,5% a.a.
1. No banco de dados BD-A, esclarecido nas notas metodológicas do Gráfico 2-1, foi assinalado para cada caso o
atributo “Trajetória Tecnológica a que Pertence”, de acordo com os procedimentos metodológicos detalhados no
subcapítulo 7.2.
2. Para todos os procedimentos posteriores que resultaram no novo banco de dados BD-C, também esclarecido
nas notas metodológicas do mesmo Gráfico 2-1, foi mantido o atributo “Trajetória Tecnológica a que Pertence”
encontrado no BD-A. De modo que um estabelecimento encontrado em 1995 na trajetória X, foi mantido nessa
mesma trajetória para todos os anos modelados.
3. As séries apresentadas no gráfico acima são médias trianuais das séries resultantes da tabulação dos dados do
banco BD-C.
4. As taxas de crescimento foram calculadas por regressão linear da transformação logarítmica das médias trianuais
da variável em questão em relação ao tempo.

158
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

1. Três delas cresceram acima da média, duas camponesas, a Trajetória-Camponesa.


T2 , resultante da convergência de sistemas camponeses de produção para
sisemas agroflorestais, e a Trajetória-Camponesa.T3 resultante da convergência
de sistemas camponeses para a dominância de pecuária de corte crescendo a
6,1% a.a., e a Trajetória-Patronal.T4, a 4,9%;
2. As outras três, respectivamente a Trajetória-Camponesa.T1 , a 3,6% a.a., a
Trajetória-Patronal.T5 a 2,3% a.a. e a Trajetória-Patronal.T6 a -4,5% a.a., em
ritmo inferior ao conjunto (conf. Gráfico 7-1).

Importa agora tratar das condições sob as quais esses diferentes ritmos se justificam
e, explorando as carracterísticas de cada uma das trajetórias, observar as questões relativas à
eficiência econômica e ecológica para indicar o que representam na qualificação da dinâmica
global. É o que faremos nos próximos segmentos.

6.6. As Trajetórias Tecnológicas fundamentais da Amazônia: gênese e evolução recente

Trajetórias tecnológicas são articulações entre padrões produtivos e reprodutivas


processadas por agentes movidos por razões semelhantes, expressas em heurísticas que se
materializam em combinações particulares de meios e produtos. Tais combinações se organizam
primeiro como sistemas de produção no nível mais elementar dos estabelecimentos – como padrões
de resolução de problemas produtivos por ótica privada -, convergindo os sistemas particulares
para os procedimentos tecnológicos comuns que marcam propriamente as trajetórias como partes
da reprodução social, mecanismos de validação de uma divisão social do trabalho em vigor em
plano, em última instância, global.
A diversidade de formas técnicas (combinação de meios) e de formas de participação na
divisão social do trabalho (combinação de produtos) que diferenciam as trajetórias, depende das
dotações naturais e institucionais que marcam as bases territoriais locais sobre as quais evoluem, o
espaço-tempo das respectivas gêneses e desenvolvimento. Em movimento, as trajetórias retratam
a contemporaneidade do rural na ampla espacialidade da Amazônia. Ao mesmo tempo, elas têm
diferentes gêneses históricas e distintas evoluções.
A Trajetória-Camponesa.T1 , baseada em intensificação agrícola com componente de pecuária
de leite, teve origem na primeira metade dos anos oitenta no Pará e em Rondônia. Ao fenômeno de
sua emergência dedicamos pesquisas sintetisadas em três livros (Costa, 2000a, Costa et alii 2000 e
Costa et alii, 2006). As formas manifestas da Trajetória-Camponesa.T1 , delimitadas nos exercícios
que empreendemos, são, de um lado, fases de um longo trajeto de formação de estruturas camponesas
agrícolas nas regiões do Baixo Amazonas, na Bragantina e na Guajarina, no Pará, formações estas
iniciadas com a absorção de migrantes desmobilizados dos seringais, tanto no final do período áureo,
nos anos vinte e trinta, quanto no encerramento da “batalha da borracha”, nos anos quarenta e cinquenta.
159
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Sob outra perspectiva, são resultados da colonização dirigida nos anos setenta em Rondônia, em áreas
expressivas onde ocorreram assentamentos de reforma agrária no Sudeste do Pará. Por fim, desde início
dos anos noventa, em todas essas regiões, agora impulsionadas pelo crédito do FNO (ver nesta coleção,
Costa, 2012b). Sobre suas características e evolução recente trata a seção 6.6.1.
De todas as trajetórias, a de origem mais remota no tempo é a Trajetória-Camponesa.T2 , à
qual dedicaremos o subcapítulo 6.6.5. A T2 é baseda em sistemas que convergem para agloflorestania
por dois caminhos: a passagem da (quase) exclusiva valorização de bens e serviços do bioma para
uma economia mista com a incorporação crescente de manejo florestal, agricultura e aquicultura, ou o
contrário, de uma atividade (quase) exclusivamente agrícola que incorpora crescentemente elementos
florestais e resconstitutivos de funções do bioma. No primeiro formato, essa trajetória se instalou na
Região na segunda metade do século XVIII, com as reformas pombalinas (ver Costa, 2010 e 2012d).
Isso explica sua forte presença hodierna nas mesorregiões Norte, Sul e Sudoeste Amazonense, bem como
no Médio Amazonas, na Região Tocantina do Nordeste Paraense e na Região das Ilhas do Pará, lugares
de intensa vida colonial. Nos movimentos expansivos importantes que experimentou em diferentes
ocasiões historicamente relevantes, como na fase que segue ao “ciclo da borracha”, em que seringais
se transformaram em economias camponesas extrativas, ou novas economias – como a da castanha do
Pará – se constituíram, a Trajetória-Camponesa.T2 estabeleceu suas bases ainda hoje importantes no
Vale do Acre e no Sudeste Paraense. Mais recentemente, tanto no Sudeste como no Sudoeste Paraense,
cresce a T2 com a abertura de novas áreas que se formam na esteira de infraestruturas produzidas nas
décadas de sessenta e setenta e, por último, como estratégias conduzidas por um número crescente
de estabelecimento camponeses, de regeneração de áreas agrícolas com maior ou menor grau de
degradação.
A Trajetória-Camponesa.T3, que enfatiza a criação de gado para corte, tem dupla origem. A
mais remota refere-se à pecuária de várzea em regiões de colonização muito antiga da Amazônia, em
territórios onde também se faz presente a T2. É o caso do Centro, Sul e Sudoeste Amazonense, do Baixo
Amazonas e do Vale do Acre (conf. 6.6.5 e 6.6.6). Mais recentemente, ela tem se desenvolvido nas
regiões Sudeste Paraense e Ocidental do Tocantins, um tanto geminada à T4. A simbiose entre a T3 e a
T4 é demonstrada, nas regiões novas, pelos trabalhos de Solyno Sobrinho (2004), Reynol, Muchagata,
Topoll, Hebette (1996) e Américo, Vieira, Santos, Veiga (2010). Dedicaremos às condições de evolução
recente da trajetória T2 , a seção 6.6.6.
As Trajetória-Patronal.T4 e Trajetória-Patronal.T6, objetos, respectivamente, das seções
6.6.1 e 6.6.3, emergiram como resultados das políticas dos anos sessenta e setenta de inserção da
região nas dinâmicas da formação brasileira em processo acelerado de modernização agrícola. A
T4, baseada em pecuária de corte por fazendas, é distinta da criação de gado na várzea e também da
pecuária do Marajó. Tanto que tem presença irrelevante no Marajó e no Baixo Amazonas. Por outro
lado, ela também não é um desenvolvimento das estruturas implantadas pela política de incentivos
fiscais da SUDAM, não obstante está com elas relacionada. A T4, como referência estrutural da
dinâmica rural nos anos noventa e seguintes, tem sua gênese nas fazendas que se formaram em
torno dos projetos da SUDAM, em muitos casos por iniciativas de agentes a eles associados – seus
160
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

gerentes e trabalhadores. A esse fenômeno dedicamos parte do livro já citado (Costa, 2000a). Para
a compreensão da gênese dessa trajetória, dois outros trabalhos são aqui de interesse: Fernandes
(1999) e Américo (2010). A Trajetória-Patronal.T6, por seu turno, não obstante ocupar extensas
áreas e apresentar relevância estatística nas variáveis consideradas, se configura em construção ad
hoc. Sua gênese recente, nos anos setenta, se deve à iniciativa de umas poucas empresas visando aos
incentivos então vigentes para reflorestamento.
A Trajetória-Patronal.T5, de plantation empresarial, teve experimentos importantes bem
distantes no tempo, apesar de recentes quando comparados à T2 . A experiência de Henry Ford
no Tapajós, nos anos vinte do século passado, com o intuito de plantar seringueiras, foi pioneira.
A este marcante evento dedicamos estudo publicado em 1991, reedidato nesta coleção (Costa,
1991 e Costa, 2012x). Experiências posteriores de plantio de dendê e de borracha, por incentivos
da política de governo nos anos sessenta e setenta, foram tratadas por nós em outra obra (Costa,
2000a). Mais recentemente, a T5 vem contando com incentivos creditícios à produção de palmas,
como o dendê, a pupunha e o açaí. Sobre as condições hodiernas da T5 tratará a seção 6.6.2.

6.6.1. Trajetória-Patronal.T4: Atributos e mutação na evolução entre 1990 e 2006

O esquema abaixo resume o que concluimos no subcapítulo 6.4 sobre a lógica de formação
e reprodução da Trajetória-Patronal.T4:

[Madeira  Culturas Temporárias (  PecCorte  )  Madeira...]

Detalhadamente: em um primeiro movimento, uma sequência que se inicia com a exploração


de produtos madeireiros, passa em seguida para o plantio de culturas temporárias para desembocar,
finalmente, na pecuária de corte; em um segundo movimento, dessa última atividade, fluem os
elementos que reiniciam a mesma sequência em outro espaço. O grupo de produtos da pecuária de
corte constitui o centro da convergência: ponto de chegada e de partida, posto que dela, originam-se os
agentes que reestabelecem um ciclo que requer sempre novos espaços. A rationale eoconômica dessa
sua característica apresentamos em 3.2.2 e 3.3.1. Os demais atributos da trajetória, em uma leitura com
base no Censo de 1995, podem ser inferidos da Tabela 6.4-1.
Nesse momento, cabe averiguar se a trajetória mantém as mesmas características daquele
momento do Censo, ao longo do período de que trata o Gráfico 6.5-1. Aliás, considerando aspectos
da metodologia aqui aplicada para a observação dinâmica das trajeórias, devemos ser mais estritos
nessa observação. Notamos que, conforme indicado nas notas metodológicas do Gráfico 6.5-1, uma
vez estabelecido, em 6.4, que um caso (a relação entre um estrato de área e uma microrregião), se
encontrava em uma trajetória dada, as metodologias de atualização e indexação dos elementos que
compõem a trajetória mantiveram para os diferentes anos a designação da mesma trajetória. Cabe,
assim, a pergunta: levando em conta as mudanças que se possam observar para cada caso, não será
possível que eles tenham mudado suas características ao ponto em que não mais possam ser entendidos
161
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

como da Trajetória-Patonal.T4, isto é, ao ponto em que poderíamos tê-los como transferidos para outra
trajetória conhecida, porém diferente daquela em que se encontrava em 1995 ou, eventualmente, se
transmutado, de modo a constituir trajetória sequer revelada naquele momento?
Ao observarmos a composição da produção do conjunto dos estabelecimentos assinalados na
Trajetória-Patronal.T4 evidenciaram-se fortes sinais de que esse poderá ter sido o caso: as culturas
temporárias tiveram seu peso praticamente duplicado entre 1995 e 2006, saindo de 14% para 26% na
média de todos os estabelecimentos, ao passo que o extrativismo madeireiro se aproximou de zero
e a pecuária de corte caiu de 59% para 54% no mesmo período. A par disso, o grau de diversidade,
embora baixo, cresceu continuadamente no período – contrariando a expectativa de especialização
(ver Gráfico 6.6.1-1). Alertados por esses sintomas, submetemos todas as linhas do BD-C (cada ano
da atualização de cada caso do BD-A, conf. notas metodológicas do Gráfico 2-1) ao seguinte teste: se
o valor bruto da produção de culturas temporárias for maior que valor bruto da produção de pecuária
de corte, então o caso em tela mudou para outra trajetória, a saber a Trajetória-Patronal.T7, uma nova
trajetória na qual sistemas patronais provavelmente convergiram para culturas temporárias; se menor,
o caso se mantém na Trajetória-Patronal.T4. A emergência do que poderá ser a Trajetória-Patronal.T7
seria compatível com as indicações, por fontes diversas, do crescimento da importância da produção
de grãos, particularmente soja, mas também milho, em diferentes áreas da Região Norte.

Gráfico 6.6.1-1 - Composição da produção dos estabelecimentos Trajetória-Patronal.T4 definidos


pelos dados do censo de 1995, acomponhada a montante e a juzante desse ponto: participação
relativa dos grupos de produtos no Valor Bruto da Produção e Índice de Diversidade, 1990 a 2006
(Médias trianuais)
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Pecuária de carne
Culturas temporárias
Pecuária de leite
Extrativismo madeireiro
Animais de pequeno porte
Culturas permanentes
Extrativismo não madeireiro
Animais de médio porte
Horticultura
0,35 1990
Índice
1995
de 0,372
2000
diversidade 0,383
2006
0,39

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas no Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.

Efetivamente, materializou-se, após 1995, a partir das referências estruturais da Trajetória-


Patronal.T4, a Trajetória-Patronal.T7. Da primeira, deslocaram-se agentes que constituíram a
162
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

segunda. Ou, novos agentes adentraram o setor rural na Região Norte, substituindo, nos mesmos
terrenos, os agentes da T4 por empreendimentos característicos da T7, ou, estes se expandem nas
regiões daqueles – nas microrregiões onde evoluía tradicionalmente a T4, agora se agregam novos
estabelecimentos da T7. Os resultados apresentados no Gráfico 6.6.1-2 são incisivos a respeito
disso. Com efeito, a força de trabalho reduz a -2,5% e a absorção de terras praticamente estagna
na T4, enquanto esses pressupostos da produção cresceram aceleradamente na outra. O VBPR
da nova trajetória cresceu também rapidamente, atingindo R$ 804.271 mil, a preços de 2005, na
média dos 3 últimos anos, representando nesse momento acima de 1/3 do VBPR de R$ 2.124.065
mil atribuível à Trajetória-Patronal.T4 – sua gênese e concorrente. Por outro lado, observadas
isoladamente no final do período, a T4 apresenta uma alta especialização em pecuária de corte,
cujo peso corresponde a 80% do VBPR; na T7, por seu turno, as culturas temporárias se situam
ao redor de 70% do VBPR respectivo. Esses resultados são convergentes.

Gráfico 6.6.1-2 – Evolução da Trajetória-Patronal.T4, dominada por pecuária de corte, com


emergência do Trajetória-Patronal.T7, dominada pelas culturas temporárias (com predominância
de soja), na Região Norte: (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)

A - Trajetória-Patronal.T4 B - Trajetória-Patronal.T7

2.500.000 30.000 1.000.000 6.000


R$ 1.000,00 e Trabalhador

R$ 1.000,00 e Trabalhador

2.000.000 25.000 5.000


750.000
Equivalente

20.000
Equivalente

4.000
1.500.000
1.000 Ha

1.000 Ha
15.000 500.000 3.000
1.000.000
10.000 2.000
250.000
500.000 5.000 1.000
0 0 0 0
1990
1993
1996
1999
2002
2005

1990
1993
1996
1999
2002
2005

Valor Bruto da Produção (VBP): 2,5% a.a. Valor Bruto da Produção (VBP): 24% a.a.
Rendimento Líquido (RL): 4,3% a.a. Rendimento Líquido (RL): 61,7% a.a.
Trabalhadores Aplicados (T): -2,5% a.a. Trabalhadores Aplicados (T): 18% a.a.
Terra Trabalhada (AT): 0,2% a.a. Terra Trabalhada (AT): 19,5% a.a.
Terra em Operação (AO): 0,4% a.a. Terra em Operação (AO): 19,6% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

163
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

A afirmação da nova trajetória baseia-se na diferença da rentabilidade do trabalho – a


produtividade monetária do trabalho da T7 é sistematicamente superior à da T4 e a rentabilidada
líquida por trabalhador daquela, crescendo a taxa bem superior, subrepuja a T4 já a partir de 1998,
ampliando consistentemente o gap até o final do período (ver Gráfico 6.6.1-3, A). Movimentos
semelhantes ocorrem em relação à terra (ver Gráfico 6.6.1-3, B).
Os procedimentos tecnológicos prevalecentes em ambas as trajetórias caracterizam-
se como extensivos em terra, a relação At/T situando-se em torno de 100 ha de área total por
trabalhador. As taxas de crescimento, entretanto, são distintas: a da T7, de 1,3% a.a., menos da
metade da T4, de 2,8% a.a. (conf. Gráfico 6.6.1-4).
As bases tecnológicas fortemente distintas têm implicações importantes nessa questão. As
da nova trajetória baseiam-se no padrão tecnológico da produção de grãos sob o domínio da soja
em todo País. Trata-se de um padrão mecânico-químico nos moldes que discutimos teoricamente
em 6.2, a mecanização possibilitando a cada trabalhador processar cada vez mais terra.

Gráfico 6.6.1-3 – Evolução da Trajetória-Patronal.T4, dominada por pecuária de corte, com


emergência do Trajetória-Patronal.T7, dominada pelas culturas temporárias (com predominância
de soja): Eficiência dos fatores, 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)
A - Produtividade Monetária e Rentabilidade B - Produtividade Monetária e
Líquida do Trabalho Rendatabilidade Líquida da Terra

19.000
17.000 140
(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha

15.000
(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha

120
13.000
100
11.000
9.000 80
7.000
60
5.000
3.000 40
1.000
20
-1.000
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

-3.000 0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

-5.000

Trajetória-Patronal.T4 (VBP/T): 5,1% a.a. Trajetória-Patronal.T4 (VBP/AT): 2,2% a.a.


Trajetória-Patronal.T7 (VBP/T): 4,7% a.a. Trajetória-Patronal.T7 (VBP/AT): 3,2% a.a.
Trajetória-Patronal.T4 (RL/T): 7% a.a. Trajetória-Patronal.T4 (RL/AO): 3,9% a.a.
Trajetória-Patronal.T7 (RL/T): 39,1% a.a. Trajetória-Patronal.T7 (RL/AO): 36,9% a.a.
Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

164
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Os fundamentos tecnológicos da T4 foram apresentadas em 3.3.1, em que demonstramos


que “...na pecuária de corte na Amazônia combinam-se soluções tecnológicas extensivas no uso da
terra, e rentabilidade crescente com a escala (...) dela emana, correspondentemente, uma enorme
tensão de incorporação de novas terras”, implicando a formação de áreas degradadas (capoeiras-
sucata). Em 1995, nada menos que 70,4% das áreas degradadas por atividades agropecuárias na
região foram geradas por essa trajetória (1,6 milhões de hectares em 1995). Aproximadamente
1/10 da área por ela utilizada pois, é descartado a cada ano, requerendo substituição. Por isso,
naquele ano a trajetória explicou 73% dos investimentos em “terras” na região (conf. Tabela 6.4-
1), como parte da ciclicidade descrita no esquema que abriu este subcapítulo. As características
tecnológicas da Trajetória-Patronal.T4 foram responsáveis, também, por 70% do balanço de
CO2 do setor no ano do Censo.

Gráfico 6.6.1-4 – Evolução da Trajetória-Patronal.T4, dominada por pecuária de corte, com


emergência do Trajetória-Patronal.T7, dominada pelas culturas temporárias (com predominância
de soja): Relação Terra/Trabalho, 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)

200
190
180
170
160
(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha

150
140
130
120
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Trajetória-Patronal.T4 (AO/T): 2,9% a.a.


Trajetória-Patronal.T7 (AO/T): 1,3% a.a.
Trajetória-Patronal.T4 (AT/T): 2,8% a.a.
Trajetória-Patronal.T7 (AT/T): 1,2% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

165
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Quanto aos impactos da nova trajetória T7 na formação de capoeiras-sucata, não há como


ser taxativo. O modelo aplicado permite, todavia, indicar que, associadas aos estabelecimentos de
onde emergiu a trajetória T7 haveria 604.644 ha dessas capoeiras – áreas degradadas, portanto –
na média dos três últimos anos da série. Parte disso, cuja medida é difícil precisar, poderá ter sido
herança da trajetória T4, substituída; parte, porém, terá sido sido produzida pela T7, ela mesmo.
Nos anos finais do período, a T4, separada da T7, apresentou um estoque 1,5 milhões de hectares
dessas áreas (71% do total das duas trajetórias discutidas).

Gráfico 6.6.1-5 – Evolução da Trajetória-Patronal.T4, dominada por pecuária de corte, com


emergência do Trajetória-Patronal.T7, dominada pelas culturas temporárias (com predominância
de soja): Decomposição da eficiência econômica da terra em custo de oportunidade da entropia
(Y/CO2) e grau de entropia inerente (CO2/A) , 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de
2005)
A - Custo de Oportunidade Social e Privado B - Entropia Inerente
do CO2 250,0
0,5

0,4
200,0
CO2/ha

0,3
R$/CO2

0,2
150,0

0,1

0,0 100,0
1990

1993

1996

1999

2002

2005

1990

1993

1996

1999

2002

2005
-0,1
Trajetória-Patronal.T4 (VBP/CO2): 2,2%a.a. Trajetória-Patronal.T4 (CO2/AT): 0,03% a.a.

Trajetória-Patronal.T7 (VBP/CO2): 3,1%a.a. Trajetória-Patronal.T7 (CO2/AT): 0,10% a.a.

Trajetória-Patronal.T4 (RL/CO2): 3% a.a. Trajetória-Patronal.T4 (CO2/AO): -0,10% a.a.

Trajetória-Patronal.T7 (RL/CO2): 36,2% a.a. Trajetória-Patronal.T7 (CO2/AO): 0,01% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

No que se refere aos balanços líquidos de CO2, a trajetória emergente T7 foi responsável
por 20% e a T4 80% do balanço líquido total do último triênio considerado. Por outra parte,
166
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

devido às diferenças nas produtividades e rentabilidades respectivas, o Custo de Oportunidade


Social ( COS Bc ) e o Custo de Oportunidade Privado ( COPBc ) das emissões líquidas de CO2 (ver
 

discussão dos conceitos no Capítulo 4) evidenciaram os comportamentos apresentados na parte


A do Gráfico 6.6.1-6: o COS Bc tende a ser maior na T7 do que na T4, com taxas de crescimento

iguais; o COPBc da T7 iniciou abaixo da T4, cresceu porém a taxa muito elevada de modo que
ultrapassou a T4 em 1998, distanciando-se desta desde então. A Entropia Inerente ( I Bc ) da T4,

seja medida em relação à AT ou a AO, é bem superior a da T7, apesar de se verificar uma mudança
de patamar entre 1996 e 2002 (ver parte B do Gráfico 6.6.1-6).

Gráfico 6.6.1-6 – Evolução da Trajetória-Patronal.T4, dominada por pecuária de corte, com


emergência do Trajetória-Patronal.T7, dominada pelas culturas temporárias (com predominância
de soja): Decomposição da eficiência econômica da terra em custo de oportunidade da entropia
( Y ACs ) e grau de entropia inerente ( ACs A ) , 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de
2005)
A - Custo de Oportunidade Social e Privado B - Entropia Inerente
do CO2
20%
600,0

500,0
15%
400,0
R$/Ha de Cs

Cs/A

300,0
10%
200,0

100,0
5%
0,0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005

-100,0
0%
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
-200,0
Trajetória-Patronal.T4 (VBP/Cs): 3,3 a.a. Trajetória-Patronal.T4 (Cs/AT): -1,0% a.a.
Trajetória-Patronal.T7 (VBP/Cs): 4,7 a.a. Trajetória-Patronal.T7 (Cs/AT): -1,47% a.a.
Trajetória-Patronal.T4 (RL/Cs): 5,1% a.a. Trajetória-Patronal.T4 (Cs/AO): -1,2% a.a.
Trajetória-Patronal.T7 (RL/Cs): 35.1% a.a. Trajetória-Patronal.T7 (Cs/AO): -1,6% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

A Trajetória-Patronal.T4 tem maior presença nas regiões Sudeste Paraense (PA) e na


Ocidental do Tocantins (TO) – na primeira, cresce essa presença; na última diminui. (conf. Parte
167
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

A do Gráfico 6.6.1-7). Em segundo plano, destacam-se as mesorregiões Leste Rondoniense (RO)


e Oriental do Tocantins (TO), ambas expressando tendência de expansão. Essa duas mesorregiões
juntas, mais a Leste Rondoniense, abarcam próximo de 80% da T4.
A T7 surge na mesorregião Oriental do Tocantins; chega ao final do período, entretanto,
tendo como seus territórios principais as mesorregiões Sudeste Paraense, Ocidental do Tocantins,
Oriental do Tocantins e Leste Rodoniente: aqui também essas mesorregiões representam, juntas,
em torno de 90% da T7 nos últimos três anos do período considerado (conf. Parte A do Gráfico
6.6.1-7).

Gráfico 6.6.1-7 – Ocorrência territorial da Trajetória-Patronal.T4 e Trajetória-Patronal.T7,


medida pela participação relativa no VBPR, 1990 a 2006
A - Trajetória-Patronal.T4 B - Trajetória-Patronal.T7

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Sudeste Pará Oriental do Tocantins


Ocidental do Tocantins Sudeste Pará
Leste Rondoniense Ocidental do Tocantins
Madeira Guaporé Leste Rondoniense
Sudoeste Pará Metropolitana de Belém
Nordeste do Pará Baixo Amazonas
Vale do Acre Sudoeste Amazonenense
Centro Amazonense Norte de Roraima
Norte de Roraima Norte Amazonenense
Baixo Amazonas Sul Amazonense
Marajó Centro Amazonense
Norte do Amapá Marajó
Sul de Roraima Madeira Guaporé
Sul Amazonense Norte do Amapá
Metropolitana de Belém Vale Do Acre
Oriental do Tocantins Vale do Juruá
Vale do Juruá Sul do Amapá
Sudoeste Amazonenense Nordeste do Pará
Sul do Amapá Sudoeste Pará
Norte Amazonenense Sul de Roraima
1990 1995 2006 1990 1995 2006

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.

6.6.2. Trajetória-Patronal.T5: Sistemas patronais de culturas permanentes – atributos e evolução


entre 1990 e 2006

Distingue a Trajetória-Patronal.T5, em relação às demais, a importância das culturas


permanentes. Isso lhe confere características estruturais a ressaltar: uma relação terra/trabalho que
se situa em 1/5 da T4 e da T7 – a menor relação terra/trabalho de todas as trajetórias patronais;
associada a isso, uma participação relativamente baixa na formação de áreas degradadas e no
168
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

balanço de CO2 (conf. Gráfico 6.6.2-1). De modo que o COS Bc é bem mais elevado e a I Bc bem
 

menor do que os das T4 e T7 (ver partes A e B do Gráfico 6.6.2-1). Também a entropia medida
pelo vetor das áreas degradadas, COSCs e I Cs , mostram esse mesmo padrão – a T5 se mostra
 

menos deletéria que as duas outras já analisadas (ver parte C e D do Gráfico 6.6.2-1).

Gráfico 6.6.2-1 – Evolução do Custo de Oportunidade da Entropia e da Entropia Inerente


da Trajetória-Patronal.T5, na Região Norte, comparativamente à T4 e a T7, 1990 a 2006
(Médias trianuais, R$ constantes de 2005
A - Custo de Oportunidade Social do CO2 B - Entropia Inerente do CO2
3,5 250,0

200,0
2,5
150,0

CO2/ha
R$/CO2

1,5
100,0

50,0
0,5
0,0

1990

1993

1996

1999

2002

2005
1990

1993

1996

1999

2002

2005

-0,5

Trajetória-Patronal.T4 (VBP/CO2): 3,3% a.a. Trajetória-Patronal.T4 (CO2/At): 0,04% a.a.


Trajetória-Patronal.T7 (VBP/CO2): 4,7% a.a. Trajetória-Patronal.T7 (CO2/At): 0,08% a.a.
Trajetória-Patronal.T5 (VBP/CO2): -1,4% a.a. Trajetória-Patronal.T5 (CO2/At): 1,1% a.a.

C - COS das Áreas Degradadas D - Entropia Inerente das Áreas degradadas


5.000,0 0,2

4.000,0
0,2
3.000,0
R$/CO2

CO2/ha

0,1
2.000,0

0,1
1.000,0

0,0 0,0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
1990

1993

1996

1999

2002

2005

Trajetória-Patronal.T4 (VBP/Cs): 2% a.a. Trajetória-Patronal.T4 (Cs/AT): -1,0% a.a.

Trajetória-Patronal.T7 (VBP/Cs): 2% a.a. Trajetória-Patronal.T7 (Cs/AT): -1,47% a.a.

Trajetória-Patronal.T5 (VBP/Cs): 1,4% a.a. Trajetória-Patronal.T5 (Cs/AT): 1,9% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

169
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Seria, assim, compatível com uma perspectiva de desenvolvimento sustentável tê-la como
alternativa às trajetórias patronais com alto impacto entrópico. Ocorre que, os empreendimentos
baseados em culturas permanentes têm assumido na Amazônia características de “plantation” –
grandes extensões de plantio homogêneo. Historicamente, desde as experiências da Ford, da Pirelli,
da Agrisal e outras (ver Costa, 1993 e Costa, 2000a e, nesta coleção, Costa, 2012c e 2012d), tais
tentativas apresentaram recorrente inconsistência em termos de lucratividade, comprometendo
a capacidade de expansão e afirmação da trajetória. Nas estimativas deste estudo, a rentabilidade
apresenta grande volatilidade e mostra-se comparativamente baixa por quase todo o período: a não ser
por um curto período entre 1994 e 1997 (com o ano do Censo no centro do período), a rentabilidade
por trabalhador situa-se em torno da metade da Trajetória-Patronal.T4, com o tempo, parcela cada
vez menor da rentabilidade da Trajetória-Patronal.T7 (conf. Parte A do Gráfico 6.6.2-2).
Compatível com a situação exposta, a Trajetória-Patronal.T5 não se apresenta como
substituta path efficient da T4, alternativamente à T7. Assim, sua taxa de crescimento médio,
medida pelo VBPR, é de 2,5% a.a., equivalente à taxa de crescimento da Trajetória-Patronal.T4
e bem inferior a Trajetória-Patronal.T7 (conf. Gráfico 6.6.2-2).

Gráfico 6.6.2-2 – Evolução do Valor Bruto da Produção Rural da Trajetória-Patronal.T5,


dominada por culturas permanentes, na Região Norte, comparativamente à T4 e à T7, 1990 a
2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)
2.500.000

2.000.000

1.500.000
R$ 1.000,00

1.000.000

500.000

0
2 000
1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Trajetória-Patronal.T4 (VBP): 2,5% a.a. Trajetória-Patronal.T5 (VBP): 2,50% a.a.


Trajetória-Patronal.T7 (VBP): 24% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

A Trajetória-Patronal.T5 concentra-se principalmente nas mesorregiões Metropolitana


de Belém (PA), onde vem ganhando importância, e Sul do Amapá (AP), onde vem perdendo
importância. Destacam-se, ademais, as mesorregiões Nordeste Paraense (PA) e Sudeste Paraense
(PA), Centro Amazonense (AM) e Leste Rondoniense (RO) (ver Gráfico 6.6.2-3).
170
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 6.6.2-3 – Ocorrência da Trajetória-Patronal.T5 medida pelo VBPR, R$ constantes de


1995

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Metropolitana de Belém (PA)


Sul do Amapá (AP)
Nordeste Paraense (PA)
Sudeste Paraense (PA)
Centro Amazonense (AM)
Leste Rondoniense (RO)
Baixo Amazonas (PA)
Vale do Acre (AC)
Sudoeste Paraense (PA)
Norte de Roraima (RR)
Sul de Roraima (RR) 1990 1995 2000 2006

Fonte: IBGE, Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.

Nessa trajetória incluem-se estabelecimentos que praticam avicultura em moldes


empresariais. Essa faceta menor desenvolve-se na Região Norte como momento de uma trajetória
de maior abrangência, em relação à qual as especificidades regionais apresentam pouca relevância
– os problemas das “plantas” de produção não se distinguem muito dos de plantas industriais que
aqui se instalam. Sobre isso temos pouco a discorrer, no presente estudo.

6.6.3. Trajetória-Patronal.T6: Sistemas patronais de silvicultura – atributos e evolução entre 1990


e 2006

São apenas 3 os estabelecimentos que em 1995 atuavam nessa alternativa tecnológica,


produzindo 2% do VBPR rural da Região Norte, ocupando 2,4 mil pessoas em uma área em
operação de 1,2 milhões de hectares (acima de 400 mil hectares por estabelecimento), dos quais
137,4 mil plantados.
As taxas de crescimento do VBPR e do rendimento líquido têm sido negativas e elevadas,
de -4,5% e -11,1 a.a., respectivamente. Todavia, a produtividade monetária por trabalhador,
em 1995, no montante de R$ 32.182,53, era, mais do que cinco vezes, maior que a das demais
trajetórias patronais; mesmo caindo a partir daí, chegando em 2005, em valor real, a mais do que
o triplo das demais trajetórias. Relações semelhantes verificam-se para a rentabilidade líquida
por trabalhador que era R$ 11.852,64 em 1995 e passou para R$ 9.245,49 em 2005 (ver Gráfico
6.6.3-1, parte A e parte B).
171
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 6.6.3-1 – Evolução da Trajetória-Patronal.T6, Silvicultura na Região Norte: Fatores de


produção aplicados, Renda Líquida, Remuneração dos Fatores e Relação Terra/Trabalho, 1990 a
2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)
A - Fatores de Produção e Renda Líquida B - Remuneração dos fatores e relação
Terra/Trabalho
150.000 600
40.000 1000
R$ 1.000,00 e Trabalhador Equivalente

500 35.000 900

(Y/A) em R$/Há e e (A/T) em Ha


800
30.000
100.000 400

(Y/T) em R$ 1.000
700
25.000 600

1.000 Ha
300
20.000 500

15.000 400
50.000 200
300
10.000
100 200
5.000 100
0 0 0 0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
Rendimento Líquido (RL): -11,10% a.a.
(RL/T): -10,90% a.a.
Trabalhadores Aplicados (T): -0,30% a.a. (RL/Ao): -20,20% a.a.
Terra Trabalhada (At): 11,30% a.a. (Ao/T): 11,20% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas de
crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao tempo
medido em anos.

Por seu turno, a formação de área degradada é nula; ao passo que o balanço de carbono
é negativo a maior parte do tempo, ou seja, mais sequestra do que emite (Gráfico 6.6.3-2). A
Trajetória-Patronal.T6 ocorre concentradamente no Sul do Amapá (PA), onde se verificam em
torno de 80% do VBPR, e no Baixo Amazonas (PA) (Gráfico 6.6.3-3). Como a T5, a T6 seria
alternativa desejável às trajetórias patronais deletérias. Não obstante, tem assumido um caráter
experimenta, mostrando um comportamento errádico, portador de risco.

172
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 6.6.3-2 – Evolução da Trajetória-Patronal.T6, silvicultura, na Região Norte: decomposição


da eficiência econômica da terra em custo de oportunidade da entropia, 1990 a 2006 (Médias
trianuais, R$ constantes de 2005)
1.000,0 10
0,0
-1.000,0

1996
1990

1992

1993

1994

1995

1997

2001

2002

2003

2004

2005

2006
1991

1998

1999

2000
-2.000,0 5
-3.000,0
R$/CO2

CO2/Ha
-4.000,0
0
-5.000,0
-6.000,0
-7.000,0 -5
-8.000,0
-9.000,0
-10.000,0 -10

(VBP/CO2): a.a. (RL/CO2): a.a. (CO2/At): a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

Gráfico 6.6.3-3 – Ocorrência da Trajetória-Patronal.T6, silvicultura, medida pelo VBPR, 1995


0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Sul do Amapá (AP)

Baixo Amazonas (PA)

1990 1995 2000 2006

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.

6.6.4. Trajetória-Camponesa.T1 : Sistemas camponeses que convergem para culturas permanentes


e pecuária leiteira – atributos e evolução entre 1990 e 2006

O esquema abaixo descreve de modo simples e direto a Trajetória-Camponesa.T1 :

[Madeira  Culturas Temporárias (  CultPerm+Leite  )]

173
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

A trajetória é liderada por sistemas de produção dominados por, ou orientados para culturas
permanentes e pecuária leiteira, que se constituem ponto de chegada da utilização primária de
produtos florestais madeireiros e de culturas temporárias em formato de shifting cultivation. Apesar
de tender para um grupo definido de produtos, e, assim, evoluir para sistemas de menor diversidade,
os Índices de Diversidade se mantêm elevados: de 0,601 em 1990, passaram para 0,579 em 2006,
com um mínimo de 0,563 em 1995.
Em sistemas produtivos organizados por 171.292 estabelecimentos, com estoque médio
de terra de 54,47 ha em 1995, a trajetória produziu 29% do VBPR e 31% da RLP, utilizando
(apenas) 13% do total da área em operação no setor (conf. Tabela 6.4-1) e explicando 10,2% da
área degradada. Em compensação, produziram nada menos que 37% das capoeiras reservas – i.e.,
das áreas que podem vir a ser florestas secundárias e sequestraram 16% do carbono movimentado
pelo setor – explicando, ao final, 11% do balanço líquido de CO2.
A trajetória expandiu o VBPR de 1990 a 2006 à taxa média de 3,6% a.a., menor que a da
expansão do setor por inteiro e a menor entre todas as trajetórias camponesas (ver Gráfico 6.6.4-1).

Gráfico 6.6.4-1 – Evolução do Valor Bruto da Produção Rural da Trajetória-Camponês.T2,


dominada por Sistemas Agroflorestais, na Região Norte, comparativamente à T1 e a T3, 1990 a
2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005)

3.000.000

2.500.000

2.000.000
R$ 1.000,00

1.500.000

1.000.000

500.000

0
1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Trajetória-Camponês.T1: 3,60% a.a. Trajetória-Camponês.T2: 6,10% a.a. Trajetória-Camponês.T3: 6,10% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

Por seu turno, a renda líquida cresceu a ritmo menor ainda, de 2,5% a.a., levando a que a
participação relativa caísse de 29% nos três primeiros anos, para 24% nos três últimos. O volume
de terra trabalhado, por sua vez, cresce a 4,3% a.a. para um incremento na força de trabalho de
0,7%.
174
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

A produtividade monetária por trabalhador cresceu a 4% a.a. (para um crescimento médio


de 4,4% a.a. no setor por inteiro) e a rentabilidade líquida por trabalhador a 4,3% a.a. (para um
crescimento de 5,9% no setor por inteiro). Ademais, esta variável vem evoluindo consistentemente
abaixo da rentabilidade de todas as demais trajetórias camponesas – conf. Gráfico 6.6.4-2

Gráfico 6.6.4-2 – Evolução da Rentabilidade Líquida do Trabalho e da Relação Terra/Trabalho da


de todas as trajetórias camponesas na Região Norte, 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes
de 2005)
A - Rentabilidade Líquida do Trabalho B - Rendatabilidade Líquida da Terra
2.000
8.000 1.800
(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha

(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha


1.600

6.000 1.400

1.200

1.000
4.000
800

600
2.000 400

200

0 0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004

2006
1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

Trajetória-Camponês.T1 (RL/T): 4,30% a.a. Trajetória-Camponês.T1 (RL/Ao): 0,30% a.a.


Trajetória-Camponês.T2 (RL/T): 12,70% a.a. Trajetória-Camponês.T2 (RL/Ao): 11,40% a.a.
Trajetória-Camponês.T3 (RL/T): 7,6%a.a. Tajetória-Camponês.T3 (RL/Ao): 4,5%a.a.

C - Terra em Operação dastrajetórias camponesas


14
(Y/T) em R$ 1.000 e (A/T) em Ha

12

10

0
1990

1991

1992

1993

1994

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005
1995

1996

1997

1998

2006

Trajetória-Camponês.T1 (Ao/T): 3,90% a.a. Trajetória-Camponês.T2 (Ao/T): 1,10% a.a.


Trajetória-Camponês.T3 (Ao/T): 2,9%a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

175
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

O Custo de Oportunidade da Entropia na Trajetória-Camponesa. T1 é elevado – o


COS aproximadamente 6 vezes, o COPBc , aproximadamente 10 vezes o da Trajetória-

Bc
Patronal.T4, acima discutida, porém relativamente estável (-0,1% a.a. e 0,1% a.a., nos dois
casos). Quando comparado às demais trajetórias camponesas o COS Bc 
da T1 mostra-se apenas
mediano. O mesmo ocorre com balanço líquido de CO2 acumulado por hectare, a Entropia
Inerente a partir do CO2, I Bc

, que é baixo comparativamente à T4 (em torno de 80% da T4).
Quando comparada às demais trajetórias camponesas, entretanto, mostra-se substancialmente
maior que a da T2 , além de crescer lenta, porém positivamente no período (a 0,6% a.a.
quando em relação à AT e 0,2% a.a. quando se trata de AO – ver Gráfico 6.6.4-3). As áreas
degradadas são irrelevantes e, com isso, também irrelevantes os índices de entropia baseada
em Cs.

Gráfico 6.6.4-3 – Evolução da Custo de Oportunidade da Entropia e da Entropia Inerente das


trajetórias camponesas, na Região Norte, 1990 a 2006 (Médias trianuais, R$ constantes de 2005

A - Custo de Oportunidade Social do CO2 B - Entropia Inerente


200,0
20,0

150,0
15,0
CO2/ha
R$/CO2

10,0 100,0

5,0 50,0

0,0 0,0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

Trajetória-Camponês.T1 (VBP/CO2): -0,10% a.a. Trajetória-Camponês.T1 (CO2/At): 0,60% a.a.


Trajetória-Camponês.T2 (VBP/CO2): 9,10% a.a. Trajetória-Camponês.T2 (CO2/At): 0,90% a.a.
Trajetória-Camponês.T3 (VBP/CO2): 10,70% a.a. Trajetória-Camponês.T3 (CO2/At): 0,20% a.a.

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7. Taxas
de crescimento calculadas por regressão da transformação logarítmica das médias trianuais da variável em relação ao
tempo medido em anos.

Os investimentos em culturas permanentes representaram próximo de 50% de todos os


investimentos feitos em culturas permanentes na região, confirmando a busca de fixação espacial
como característica da Trajetória-Camponesa.T1 .
176
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Controlando, no ano do Censo, 9,3 milhões de hectares, dos quais utilizava pouco mais de
1/3, os estabelecimentos que protagonizam essa trajetória mobilizavam uma força de trabalho de
723 mil trabalhadores equivalentes (38% de toda a força de trabalho aplicada no setor), os quais
apresentavam uma produtividade monetária de R$ 2.509,45 por trabalhador, uma produtividade
por área de R$ 104,48/ha e uma relação terra/trabalho de 12,9 hectares.
Espacialmente, a Trajetória-Camponesa.T1 materializa-se difusamente, com ênfase
todavia no Leste Rondoniense (RO) (estável), no Centro Amazonense (AM) (crescente); no Baixo
Amazonas (PA), no Nordeste Paraense (PA), no Sudoeste Paraense (PA) e no Marajó (decrescente),
no Sudeste Paraense (PA) e Sudoeste Amazonense (AM) (crescente) (ver Gráfico 6.6.4-4).

Gráfico 6.6.4-4 –Ocorrência da trajetória T1. Camponês Permanente e Leite medidada pelo
VBPR, 1995 a 2006

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%

Leste Rondoniense (RO)


Centro Amazonense (AM)
Baixo Amazonas (PA)
Nordeste Paraense (PA)
Sudoeste Paraense (PA)
Marajó (PA)
Sudeste Paraense (PA)
Sudoeste Amazonenense (AM)
Vale do Acre (AC)
Madeira Guaporé (RO)
Metropolitana de Belém (PA)
Sul de Roraima (RR)
1990 1995 2000 2006

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.

6.6.5. Trajetória-Camponesa.T2: Sistemas camponeses que convergem para sistemas


agroflorestais – atributos e evolução entre 1990 e 2006

O esquema a seguir descreve a Trajetória-Camponesa.T2 composta de sistemas


convergentes para sistemas agroflorestais:

[ExtratNãoMad  (  ExtratNãoMad+ExtratMad+AgricTemp+AgricPrm+Silv.  )])

177
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Essa trajetória tem por base o extrativismo não madeireiro, muitas vezes combinado
com a pesca, em harmonização com agricultura diversa, de culturas temporárias e permanentes
(conf. Gráfico 6.6.5-1). Os resultados são sistemas agroflorestais, expressão de um paradigma
tecnológico, no qual os processos produtivos pressupõem, em algum nível, a preservação da
natureza originária – a utilização do bioma e ecosistemas primários (ver Costa, 2009d) ou a
composição de sistemas agroflorestais complexos que imitam a natureza originária.

Gráfico 6.6.5-1 – Composição da Trajetória-Camponesa.T2, dominada por sistemas agroflorestais,


na Região Norte: participação relativa dos grupos de produtos do Valor Bruto da Produção e
Índice de Diversidade, 1990 a 2006 (Médias trianuais)
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Culturas temporárias
Ext. não-madeireiro
Culturas permanentes
Ext. madeireiro
Animais de pequeno porte
Horticultura
Pecuária de leite
Pecuária de corte
Animais de médio porte
0,56
Índice
de 0,52
diversidade 0,49
0,512

1990 1995 2000 2006

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.

Segundo o Censo de 1995, seguem e conformam essa trajetória 130.593 estabelecimentos


camponeses na Região Norte que controlam 3 milhões de hectares (aproximadamente 23ha
por estabelecimento). Desses apenas 1/5 são aplicados em uso agropecuário. No conjunto, os
estabelecimentos da T2 ocupam 502 mil pessoas. Em seus traços gerais, trata-se da trajetória na
qual evoluem os sistemas emergentes objeto da análise de Wanderley Messias da Costa (2007).
Naquele ano do Censo representava a terceira mais importante trajetória – 21% do VBPR
da Região Norte –, explicando 3% da área degradada e 2,6% do balanço líquido de CO2 (Tabela
6.4-1). A taxa média de crescimento entre 1990 e 2006 foi elevada, de 6,1% a.a. (ver Gráfico
6.6.4-1), acima da média do setor, a despeito de sua taxa de investimento em 1995 ter sido de 3%
da RLP. Não obstante, notamos que, naquele ano, a T2 explicou nada menos que 39% de todos os
investimentos em silvicultura, e 16% em culturas permanentes na Região.
178
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

A rentabilidade líquida por trabalhador, em 1995, era a menor de todas as trajetórias


protagonizadas por camponeses. Inversamente, a produtividade por área era a maior de todas
– a par de uma relação terra/trabalho de apenas 5,99 hectares por trabalhador. A primeira vem
crescendo a 12,7 % a.a. e a segunda a 11,4% a.a.. Por seu turno, a área em operação vem crescendo
a meros 1,1% a.a. (ver Gráfico 6.6.4-2, parte A, B e C).
O Custo de Oportunidade da Entropia na Trajetória-Camponesa.T2 é o mais elevado do
setor e cresce a 9,% a.a. O balanço líquido de CO2 acumulado por hectare, a Entropia Inerente
a partir do CO2, I Bc

, que é, a sua vez, o mais baixo de todos, crescendo a 0,9% a.a. (ver Gráfico
6.6.4-3). As áreas degradadas são irrelevantes e, com isso, também irrelevantes os índices de
entropia baseada em Cs.
A trajetória evolui, fundamentalmente, pela ordem de importância, no Nordeste Paraense
(PA: com tendência decrescente), no Centro Amazonense (AM, crescente), no Sudeste Paraense
(PA, crescente), no Marajó (PA, decrescente), no Norte Amazonense (AM, crescente) (ver Gráfico
6.6.5-2).

Gráfico 6.6.5-2 – Ocorrência da Trajetória-Camponesa.T2 Agroflorestal medida pelo VBPR, 1995

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%

Nordeste Paraense (PA)


Centro Amazonense (AM)
Sudeste Paraense (PA)
Marajó (PA)
Norte Amazonenense (AM)
Metropolitana de Belém (PA)
Sul do Amapá (AP)
Sul Amazonense (AM)
Sudoeste Amazonenense (AM)
Leste Rondoniense (RO)
Vale do Acre (AC)
Ocidental do Tocantins (TO)
Norte de Roraima (RR)
Baixo Amazonas (PA)
1990 1995 2000 2006

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.

6.6.6. Trajetória-Camponesa.T3: Sistemas camponeses que convergem para pecuária de corte –


atributos e evolução entre 1990 e 2006

O esquema abaixo descreve a Trajetória-Camponesa.T3:

[Madeira  Culturas Temporárias (  PecCorte  )  Madeira...]


179
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Trata-se de trajetória conduzida por 109 mil estabelecimentos camponeses, os quais


representavam 18% do VBP e detinham quase 7 milhões de hectares em 1995. A trajetória segue
encadeamento similar à Trajetória-Patronal.T4, constituindo a pecuária de corte o centro de
convergência. Suas relações técnicas são, por isso, entre os camponeses, as mais extensivas no que
tange ao uso da terra: produtividade monetária por unidade de área de R$ 167,33 e relação terra/
trabalho de 15,6 ha/trabalhador. A produtividade monetária por trabalhador de R$ 2.615,48 era,
porém, a maior de todas as trajetórias camponesas (conf. Gráfico 6.6.4-2). Por seu turno, explicava
12% do estoque das áreas degradadas e 12,5% do balanço líquido de CO2 acumulado, cujo custo de
oportunidade, o mais baixo entre os camponeses, vem crescendo a taxas expressivas e a intensidade
por área, a mais alta, vem se mantendo estável (ver Gráfico 6.6.4-3).
O VBPR da T3 tem crescido a 6,1% (Gráfico 6.6.4-1) e o RLP a 7,8% a.a., possibilitando que
a participação da trajetória tenha se mantido ao longo do tempo. Considerando que o crescimento
do número de trabalhadores tem se feito a uma taxa muito baixa, de 0,1% a.a., a produtividade
monetária e a rentabilidade por trabalhador têm crescido a taxas semelhantes àquelas (6,1 e 7,6%
a.a., respectivamente).
Não obstante, similar à Trajetória-Patronal.T4, a Trajetória-Camponesa.T3 apresenta
diferenças importantes. Em primeiro lugar, a despeito de convergir para pecuária de corte, os
sistemas produtivos da T3 são bem mais complexos e menos especializados do que da T4, com os
Índices de Diversidade espelhando essas diferenças (conf. Gráfico 6.6.6-1).

Gráfico 6.6.6-1 – Composição da Trajetória-Camponesa.T3, convergente para pecuária de corte,


na Região Norte: participação relativa dos grupos de produtos do Valor Bruto da Produção e
Índice de Diversidade, 1990 a 2006 (Médias trianuais)
0% 10% 20% 30 % 4 0% 50% 60 %
Culturas temporárias
Pecuária de corte
Pecuária de leite
Culturas permanentes
Extrativismo Não Madeireiro
Animais de pequeno porte
Animais de médio porte
Extrativismo madeireiro
Horticultura
0,484
Índice
de 0,436
diversidade 0,432
0,491

1990 1995 2000 2006


Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.

180
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

A ocorrência da T3 se faz, pela ordem de importância do VBPR (conf. Gráfico 6.6.6-2)


nas mesorregiões Centro Amazonense (AM, tendência indeterminada), Sul Amazonense (AM,
crescente), Sudeste Paraense (PA, crescente) e Ocidental do Tocantins (TO, decrescente).

Gráfico 6.6.6-2 –Ocorrência da Trajetória-Camponesa.T3: Pecuária de corte medida pelo VBPR, 1995
0% 5% 10% 15 % 2 0% 25 %

Centro Amazonense (AM)


Sul Amazonense (AM)
Sudeste Paraense (PA)
Ocidental do Tocantins
Vale do Juruá (AC)
Nordeste Paraense (PA)
Oriental do Tocantins (TO)
Sudoeste Amazonenense
Leste Rondoniense (RO)
Vale do Acre (AC)
Baixo Amazonas (PA)
Norte de Roraima (RR)
Norte Amazonenense (AM)
Madeira Guaporé (RO) 1990 1995 2000 2006

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.

6.6.7. Confronto das trajetórias projetadas com os resultados do Censo de 2006

Projetamos as trajetórias até o ano de 2006, quando realizou-se o último Censo


Agropecuário. Qual a convergência dos resultados com os do Censo?
Há dois conjuntos de dados derivados do Censo de 2006. O primeiro são dados tornados
públicos em dezembro de 2007 na condição de preliminares. São poucas as variáveis – as relativas
à utilização das terras, ao pessoal ocupado, ao efetivo e produção animal – agregadas por unidades
geográficas. Tais dados foram utilizados nos modelos de estimação que adotamos (ver notas do
Gráfico 2-6 e 2-7). A publicação dos resultados definitivos do Censo de 2006 deveriam encerrar
o uso desses dados. Todavia, uma confrontação dos dados definitivos com as estimativas acima
modeladas nos leva a outras considerações.
Com os dados definitivos do Censo construímos um outro banco de dados que designaremos
daqui por diante de BD-2006, o qual submetemos aos procedimentos metodológicos apresentados
em 6.3 e 6.4. Emergiram daí 6 trajetórias, cinco delas equivalentes às delimitadas para 1995.
A exceção foi a Trajetória-Patronal.T6, que, nas projeções que fizemos (ver 6.6.3), mostra-se
declinante, atingindo nos últimos anos uma posição relativa muito baixa no conjunto do setor: em
torno de 2% do VBPR. No lugar da T6, revelou-se com os dados do Censo de 2006 uma outra, a
Trajetória-Patronal.T7, cuja emergência também detectamos com nosso modelo em 6.6.1.
181
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

O Gráfico 6.6.7-1 confronta a estrutura relativa estimada do setor baseada em trajetórias


com a obtida a partir dos dados definitivos do Censo Agropecuário de 2006. Os seguintes pontos
devem ser observados:
1. O Censo corrobora o surgimento da trajetória patronal T7, como já assinalamos, cuja
proporção no total do setor no Censo, apesar de próxima (nesse sentido os resultados
convergem), é 2 pontos percentuais acima do que o que obtivemos por estimativas:
respectivamente 8% e 10%. A razão da diferença pode estar no fato de que os modelos
de estimação só captam, para a trajetória, os casos nos quais ela já se mostrava,
mesmo que embrionária, em 1995. O Censo, por seu turno, abrange todos os casos
verificados em 2006.
2. A patronal T5 revelou proporções convergentes, não obstante menor a do Censo, 3%,
que a das estimativas, 4% – esta, a mesma proporção que mostrava no ano do Censo
de 1995, conf. Tabela 6.4-1.
3. A patronal T4 apresenta a maior discrepância entre uma e outra proporção – na
estrutura estimada ela teria 24%, na dos resultados do Censo, 6%. A participação da
trajetória na estrutura relativa do Censo de 1995 era de 28%.
4. Verifica-se forte redução também na camponesa T3 – de 19% para 11%, quando fora
18% em 1995.
5. Os 26 pontos percentuais abatidos na T4 e T3 levam a grandes variações inversas nas
participações das camponesas T1 e T2 , respectivamente, de 24% para 36% e de 22%
para 34% entre as estimativas e os dados do Censo. Em 1995 a primeira partipava
com 29% e a segunda com 18%.

Gráfico 6.6.7-1 – Confronto das estruturas relativas do VBPR, baseadas nas trajetórias tecnológicas
do setor rural na Região Norte, resultantes dos dados definitivos do Censo Agropecuário de 2006
e das estimativas

40% 36%
34%
29% 28%
30%
24% 24%
20%
18% 18% 19%
20%
11% 10%
8%
10% 6%
4% 4%
3% 2%
0%
Camp onê sa T2

Pa tronal T7
Camponê sa T3

Pa tronal T4

Pa tronal T5

Pa tronal T6
Camp onê sa T1

1995 Censo
2006 Censo
2006 Estimativa

Fonte: IBGE, Censo de 2006. Processamentos do autor. Notas metodológicas do Gráfico 2-1 ao Gráfico 2-7.

182
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Justifica-se a recomposição inferida dos resultados do Censo de 2006? A resposta é não.


As proporções resultantes das estimativas são mais acuradas nessa matéria que as do Censo – no
caso da T4 e da T3, este não suporta os dados de rebanho e preço conhecidos por outras fontes
de acurácia inconstestável, por exemplo, os da campanha por erradicação de aftose, de resto
encampada pelo próprio IBGE, nas suas séries conjunturais por município por nós utilizadas
nos modelos de estimação. Na verdade, o problema parece estar na não consideração, na versão
final do Censo de 2006, dos estabelecimentos que se encontravam em áreas de reserva e terras
indígenas. Isso criou uma série de inconsistências: os números finais divulgados se referem, na
Região Norte, a 475.775 estabelecimentos com um volume de terras total de 54.787.297. Numa
primeira divulgação, porém, em dezembro de 2007, que, como já mencionamos, contemplava
umas poucas variáveis, mas incluía os estabelecimentos em áreas indígenas, como fizeram
os Censos anteriores, mencionava-se 479.158 estabelecimentos com 67.461.295 de hectares
apropriados ou, se quisermos, com 66.320.439 com utilização declarada. A diferença, próxima
a 13 milhões de hectares, corresponderia aos estabelecimentos nas áreas especiais mencionadas.
Por outro lado, uma menção aos números que deveriam justificar a diferença refere-se a 30.022
estabelecimentos com 10.974.133 ha em terras indígenas, que haviam sido corrigidos para,
respectivamente, 30.016 e 3.266.343 na versão final (ver nota 4 na pg. 100 e Tabela 7 e Tabela
2.1.1, pg. 519 de IBGE, 2009).
Seja como for, o resultado é que o volume de terras apropriadas nos números finais do
Censo de 2006 são menores que os 55.774.533 ha do Censo realizado há mais de uma década.
Isso, não inviabiliza, mas recomenda atenção e critério na utilização do gigantesco acervo
constituído pelos dados do Censo. Parece-nos claro que o procedimento mencionado está na
base de uma subnotação das trajetórias mais presentes nas áreas suprimidas: precisamente a
patronal T4 e a camponesa T3. Substimadas essas trajetórias, as demais sofreram valorização
relativa correlata.

Capítulo 7
Trajetórias Tecnológicas na Amazônia: Regimes de
Crescimento, Padrões de Concorrência e Institucionalidade

Detivemo-nos na observação das características das trajetórias tecnológicas que


conformam o rural na Amazônia. O esforço descritivo justifica-se porque as características
do desenvolvimento rural na Região são expressões das características dessas trajetórias.
O peso de uma trajetória na determinação das características do desenvolvimento rural da
Região será por nós designado capacidade de prevalência no processo de concorrência. As
combinações de fundamentos dessa capacidade, em períodos dados, qualificam seus regimes
de crescimento - noção que se utilizará, aqui, experimentalmente.
183
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

O peso específico importa porque, como aponta o modelo de Arthur (ver Cap. 5), na
concorrência há a possibilidade de uma trajetória prevalecer em tal grau sobre as demais que
aprisiona todo o sistema de trajetórias – estabelece uma situação de lock-in, na qual o seu
poder tende a ser absoluto. Para isso, a trajetória não precisa ser tecnologicamente superior
– ela só precisa apresentar rendimentos superiores e crescentes por um tempo suficiente para
alcançar o patamar a partir do qual não terá mais concorrentes que possam superá-la em
atração aos agentes (ou, visto de ótica mais estrutural, aos fluxos de capitais em movimento
na busca de valorização). E, quanto maior seu peso, mais rapidamente um tal ponto será
atingido.
Os diferenciais de rendimento podem ter fontes diversas, desde atributos locacionais e
especificidades logísticas e transacionais, até ganhos de externalidades difusas associadas aos
lugares onde se desenvolvem as trajetórias. Nisso se incluem as possibilidades oferecidas por
estratégias de cooperação entre trajetórias. A essa complexa relação entre as trajetórias, que
depende ao mesmo tempo das condições de evolução do conjunto e do regime de crescimento
de cada uma delas, os dois processos mediados por fundamento territoriais, chamaremos
padrão de concorrência.
Por um lado, há a possibilidade de trajetórias portadoras de riscos sociais e ambientais
dominarem a dinâmica rural da Região Norte, bastando para isso que elas apresentem regimes
de crescimento com rendimentos crescentes. Nesse caso, vigorariam padrões de concorrência
deletérios na perspectiva do desenvolvimento sustentável, eis que contrariariam esperança
de equidade social, contemporânea e intergerações, e de equilíbrio ambiental. Há, também,
a possibilidade de que trajetórias compatíveis com um desenvolvimento com esperança
de sustentabilidade possam apresentar regimes de crescimento virtuosos por seus méritos
originais ou por resultados derivados do ambiente institucional – da política (ver 5.5.4). Esses
dois possíveis desenvolvimentos tornam esta uma discussão de particular interesse quando se
trata da Amazônia. Exige-se, para o discernimento dos atributos do desenvolvimento, expor
os fundamentos espúrios ou virtuosos dos regimes de crescimento e, por via de consequência,
qualificar os padrões de concorrência que marcam a Região Norte e seus territórios.
Neste capítulo, reuniremos indicações sobre os regimes de crescimento das
trajetórias e seus padrões de concorrência em cinco abordagens. Em uma, serão realçadas as
capacidades de prevalência das trajetórias, avaliadas pelo poder de definição que demonstram
no contexto da concorrência com todas as demais que fazem uma economia, em um dado
período de tempo – essa ótica foca no poder de determinação que a “dimensão” – o tamanho,
a escala – assumida pela trajetória apresenta. Em outra perspectiva, o peso é relativizado para
que se observem, uma a uma, as trajetórias, em seus resultados e fundamentos dinâmicos,
os movimentos condicionados por atributos que definem a “qualidade” da capacidade de
permanência demonstrada – aqui se expressarão seus regimes de crescimento, como se verá
em 7.1. Em uma terceira perspectiva, serão observadas, em 7.2, as indicações que podem
organizar padrões de concorrência, tendo como referência as interações entre as trajetórias
184
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

marcadas a um só tempo por competição e cooperação, dada uma delimitação territorial. Em


7.3, será focalizado o ambiente institucional em vigência em sua relação com os regimes de
crescimento das trajetórias; e os padrões de concorrência.

7.1. Regimes de crescimento - ensaios metodológicos

Como enunciado geral podemos estabelecer que as trajetórias evoluem condicionadas


por regimes de crescimento, e seus estados presentes são resultados da capacidade de prevalência
que cada uma apresentou ao longo do tempo, sobre as demais. O modelo de Arthur sugere que
podemos observar a conformação estrutural do resultado do processo de concorrência pela
relação (5.5.1-1), discutida em 5.5.2: o sistema de trajetórias apresentará, a cada momento, uma
estrutura relativa, com a participação da frequência de cada trajetória sobre o total, resultando das
variações de dn (a diferença entre o número de optantes por uma trajetória e os optantes de suas
concorrentes) tal que na enésima posição xi = 0,5+dn/2n. A explicitação de dn na determinação
de xi permite discutir os movimentos da composição relativa mediante as possibilidades de lock-
in associadas às relações entre dn < (br-ar)/r ou dn > (bs- as)/s, conforme as relações (5.5.2-1) e
(5.5.2-2), respectivamente. O termo n representa o total de agentes em questão, cuja mobilidade
entre as trajetórias, orientada pelos ganhos líquidos, constitui um mecanismo de concorrência
intertrajetórias. Nessa perspectiva, cada agente, em qualquer trajetória, tem peso idêntico, isto
é, quando, em busca de ganhos líquidos superiores, se deslocam de uma para outra trajetória, o
fazem com peso igual a 1, i.e. equivalente a todos os demais.
Em relação a isso, deve se considerar que o que tratamos como concorrência em torno
de uma categoria simples, expressa na variável renda líquida, por exemplo, é síntese de múltiplas
formas de concorrência que se realizam em diferentes arenas em torno de diferentes objetos. Com
efeito, no acesso ao mercado de produtos e serviços finais as estruturas do setor rural concorrem
por market shares, como as de qualquer setor; no acesso a fatores elas disputam o controle dos
fundamentos-chaves da produção, no caso, agora sim, os mais decisivos (bioma, terra e trabalho)
enraizados localmente.
No mercado de produtos finais, tem-se como arena as instituições que conformam os
mercados concorrenciais das mercadorias genéricas (as quais concorrem com outras produções
dos mesmos ou de produtos substitutos em diferentes regiões), objetos das trajetórias; no caso
dos recursos fundamentais, trata-se de complexa institucionalidade forjada na disputa por ativos
específicos (biomas e ecosistemas não transportáveis e não reprodutíveis em outros contextos)
e genéricos (terras para lavoura e pastagens, igualmente intransportáveis, porém passíveis de
substituição por equivalentes em outras paragens – nos debruçaremos sobre este ponto adiante,
no Subcapítulo 7.6). No que diz respeito ao trabalho, trata-se de disputa mediada por instituições
muito particulares, do mercado de trabalho em geral e, nos setores rurais, das estruturas produtivas
familiares – as formas camponesas tratadas em 6.1. Assim que, não obstante visar, em última
185
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

instância, a ganhos líquidos, a concorrência se faz referida a diferentes mediações, em relação


a diferentes objetos, cujas formas de incidência podem alterar os pesos respectivos dos agentes
na determinação de ganhos de externalidades (r e s em (5.5.2-1) e (5.5.2-2)), fundamentais, no
modelo de Arthur, na determinação da concorrência, dado que determinante das dinâmicas de
rendimentos crescentes.
Marquemos com mais força este último ponto: agentes rurais, e suas estruturas, que
se caracterizam por controlar parcelas de terra maiores que a média, por exemplo, quando se
deslocam de uma para outra trajetória, o fazem levando consigo esses atributos; considerando a
irrecorrível finitude dos recursos fundiários, essas adesões produzem uma ocupação funcional,
correlata à física, do espaço onde atuam (os territórios onde findam por demonstrar influência
provável em todas as dimensões), correspondentemente maior que as adesões de agentes
acompanhados de glebas que são menores que a média. O mesmo poderá ser, obviamente,
pensado em relação ao marked share – adesões de agentes carregam para as trajetórias de destino
o significado de seus graus de monopólio, ou melhor, dos graus de monopólio que suas cadeias
de produto e valor têm no mercado em que atuam. Também em relação às disponibilidades de
trabalho há distribuição diferenciada entre as trajetórias, seja em função das relações sociais
que permitem, por exemplo, às estruturas camponesas sonegar trabalho a outras estruturas, seja
em função de fricções no mercado de trabalho derivadas de habilidades. Daí que os agentes não
devem ser considerados de pesos iguais, produzindo em seus movimentos efeitos equivalentes
nas condições de concorrência e na estruturação da economia dos territórios. Em consequência,
como sugerimos já no Capítulo 5, deve-se tratar ni (a frequência de adesões por trajetória i)
com ponderações que expressem o poder de controle dos agentes, sobre recursos primordiais e
posições de mercado (os valores W, nas inequações (5.5.2-1) e (5.5.2-2)).

7.1.1. Crescimento e concorrência

Os elementos de ponderação são, por suposto, os objetos da concorrência, cujo


controle por uma trajetória no nível que supere as barreiras discutidas no Cap. 5, produz
lock-in em seu favor. Exercitando esse argumento, façamos uma primeira indagação: olhando
por um ângulo que privilegia as condições de mercado final ou por outro que privilegia as
condições de controle dos fundamentos da produção, observar-se-ia, na dinâmica agrária da
Amazônia, risco de lock-in em relação a uma ou outra trajetória?
Dois exercícios se fazem necessários para responder a essas questões. No primeiro, a
frequência será ponderada pelo Valor Bruto da Produção Rural (VBPR), a proxy da receita bruta da
trajetória, logo, a um só tempo, da sua posição no mercado final (regulado pela demanda) e de seu
tamanho (escala); no segundo, a ponderação se fará pelo Área Total Agricultada (AT: inclui áreas em
operação e áreas degradadas).
Em ambos os casos, do ponto de vista da operação formal, o movimento de alternância
entre as trajetórias é o descrito na relação (5.5.2-2), só que, aqui, a trajetória em questão seria a A e
186
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

todas as demais entendidas, agregadamente, como B. Isso posto, a lógica decisória se organizaria
pelo algoritmo
aS + s. nA.W A > bS + s. nB. W B ,tal que,
(bS − aS )
(d n = nA .WA - nB .WB ) > .
s
Com os dados de que dispomos (ver esclarecimentos no Cap. 2) podemos calcular a
evolução dos dn de cada trajetória para t trajetórias, a anos e v fundamentos aqui considerados,
desde que:
 t−1  I-I
dnijk = nij .Wijk - ∑ nij .Wijk
 > (7.1.1-1)
 i=1  s
Em (7.1.1-1) i será a trajetória que se observa em relação a todas as demais, i
representa todas as demais trajetórias do sistema que não i, para cada uma das apresentadas
em 6.6. Os anos considerados serão j, n o número de adesões na trajetória e W a média
do fundamento k em questão nas decisões que levaram àquele conjunto n de adesões; I
é o rendimento líquido médio derivado das tecnologias aplicadas pelas trajetórias i , I a
variável equivalente para a trajetória i e s a renda de externalidades da trajetória i. Sabe-se,
pelas propriedades da relação (5.5.1-2), que os valores fronteira da desigualdade (7.1.1-1) de
dn, os quais, ultrapassando-os, as trajetórias com rendimentos crescentes, individualmente,
poderiam aprisionar o sistema, se situam no campo positivo. Assim estão representados em
todas as seções do Gráfico 7.1.1-1, para W representando o VBPR (partes A e B) ou AT
(partes C e D). Note-se que lá estão como delimitações que sabemos existir, para as quais,
entretanto, não nos foi possível estabelecer os valores, as fronteiras dn. As implicações disso
discutiremos adiante.
Do observado, deve-se reter o seguinte:
•• Para todas as trajetórias e ponderações haverá um valor de dn que, ao ultrapassá-
lo, a trajetória aprisionaria o sistema. Pelas propriedades da relação (5.5.1-2),
esse valor estaria no campo positivo do sistema, de modo que o dn de uma
trajetória, para alcançá-lo, teria que se orientar positivamente (nos componentes
do Gráfico 7.1.1-1, para cima). Quando os estabelecimentos das trajetórias
estudadas foram ponderados por VBPR ou por AT, não se verificaram tendências
de lock-in, dado que os dn deslocam-se para baixo.
•• Há, entretanto, diferenças a sublinhar: com qualquer ponderação a Trajetória-
Patronal.T4 se mostrou em posição mais elevada entre as patronais, com o
adendo de que, quando a ponderação se fez pela proxy do domínio fundiário,
ela apresentou-se em posição alta e positiva, não obstante declinante por todo
período, isto é, se afastando e não se aproximando de uma real fronteira de
risco. Isso quer dizer que a temível Trajetória-Patronal.T4 (dados os atributos
187
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

já discutidos mais de uma vez, aqui, em 6.4 e 6.6.1), tendo a referência da região
por inteiro, não apresentou capacidade de produzir um fechamento da economia
rural em seu favor. Isso, entretanto, pode não ser verdadeiro para determinados
sistemas agrários.
•• Desde a segunda metade dos anos noventa a Trajetória-Patronal.T7 destaca-se
das demais trajetórias patronais, sem, todavia, estabelecer inclinação positiva.

Gráfico 7.1.1-1 – Risco de lock-in das diversas trajetórias do setor rural na Amazônia: dn
ponderado por Valor Bruto da Produção Rural (VBPR) e por Área Total Agricultada (AT), 1990
a 2005, médias trianuais
A - Ponderação (W) pelo Valor Bruto da Produção Rural B - Ponderação (W) pelo Valor Bruto da Produção Rural
(VBPR) (VBPR)

3.500.000 3.500.000,0

2.500.000 2.500.000,0
dn > (b-a)/s dn > (b-a)/s

1.500.000 1.500.000,0

500.000 500.000,0
dn
dn

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006
1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

-500.000 -500.000,0

-1.500.000 -1.500.000,0

-2.500.000 -2.500.000,0

-3.500.000 Trajetória-Camponêsa.T1 -3.500.000,0


Trajetória-Camponêsa.T2
Trajetória-Patronal.T5 Trajetória-Patronal.T6
Trajetória-Camponêsa.T3 Trajetória-Patronal.T4 Trajetória-Patronal.T7

C - Ponderação (W) pelo Área Total Agricultada (AT)


D - Ponderação (W) pelo Área Total Agricultada (AT)

40.000
40.000,0

30.000
30.000,0

20.000
dn > (b-a)/s dn > (b-a)/s
20.000,0

10.000
10.000,0
dn

dn

0
0,0
1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

-10.000
-10.000,0

-20.000
-20.000,0

-30.000
-30.000,0

-40.000 Trajetória-Camponêsa.T1
-40.000,0
Trajetória-Camponêsa.T2
Trajetória-Patronal.T5 Trajetória-Patronal.T6
Trajetória-Camponêsa.T3
Trajetória-Patronal.T4 Trajetória-Patronal.T7

Fonte: 7.1.1-1 .

188
Tabela 7.1.1-1 – Evolução das Trajetórias Tecnológicas no setor rural da Região Norte –Valor Bruto da Produção Rural
(VBPR)
Médias trianuais (ano centro da média)
Trajetórias
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Valor Bruto da Produção Rural (VBPR)
TrajetóriaCamponesa.T1 482.314 467.336 524.787 612.499 668.804 669.548 669.947,10 677.332 675.988 668.726 697.848 750.383 800.076 815.932 813.573,59
Francisco de Assis Costa

TrajetóriaCamponesa.T2 356.829 303.925 341.271 384.085 507.811 571.474 672.979,54 673.681 656.686 643.142 687.696 728.462 727.056 672.178 648.902,90
TrajetóriaCamponesa.T3 322.345 270.225 318.968 374.215 448.137 485.943 538.398,35 565.221 582.588 595.729 608.782 630.253 615.019 627.142 621.155,50
TrajetóriaPatronal.T5 86.013 79.198 84.463 95.161 121.848 138.919 149.223,93 127.794 109.441 96.821 100.498 108.354 117.183 127.017 129.495,01
TrajetóriaPatronal.T6 86.153 89.739 83.036 79.829 47.056 49.976 55.172,52 56.083 51.843 45.205 40.437 39.979 43.980 50.673 55.108,86
TrajetóriaPatronal.T4 563.543 565.292 596.707 620.979 586.326 525.717 494.610,19 510.614 556.214 605.050 675.467 700.981 741.223 781.895 823.370,09
TrajetóriaPatronal.T7 22.511 22.881 25.474 32.688 38.075 41.142 57.284,09 90.915 114.167 133.835 140.377 213.225 289.419 322.141 317.279,02
Total VBP 1.919.707 1.798.594 1.974.706 2.199.456 2.418.057 2.482.719 2.637.615,72 2.701.639 2.746.928 2.788.507 2.951.105 3.171.637 3.333.957 3.396.977 3.408.884,97
Renda Líquida
TrajetóriaCamponesa.T1 325.544 308.772 358.340 436.327 487.297 486.552 484.605 485.809 477.736 464.099 483.454 522.947 558.173 561.704 537.233
TrajetóriaCamponesa.T2 252.760 201.255 235.240 279.297 396.612 457.226 548.131 546.297 527.633 512.930 555.624 593.051 589.572 532.601 525.394
TrajetóriaCamponesa.T3 243.924 192.479 237.817 288.238 357.298 391.806 440.638 463.805 477.362 486.659 496.317 514.010 496.480 504.369 509.469
TrajetóriaPatronal.T5 21.151 13.812 17.440 27.525 50.997 68.169 77.962 58.162 39.320 25.594 27.677 33.631 40.610 48.500 52.494
TrajetóriaPatronal.T6 47.663 51.317 46.257 42.589 17.330 16.899 18.506 17.690 14.466 10.513 7.541 7.059 7.749 10.267 13.309
TrajetóriaPatronal.T4 235.681 231.315 258.502 280.775 257.613 209.193 188.067 204.545 241.580 280.515 330.469 352.954 381.974 407.072 414.392
TrajetóriaPatronal.T7 (8.911) (8.228) (6.409) (2.803) 1.078 3.500 12.784 31.593 48.159 63.088 73.829 123.713 179.788 204.509 178.114

189
Total VBP 1.117.812 990.722 1.147.188 1.351.948 1.568.225 1.633.346 1.770.691 1.807.901 1.826.257 1.843.399 1.974.913 2.147.365 2.254.345 2.269.021 2.230.404
Área Trabalhada Total
TrajetóriaCamponesa.T1 3.096 3.238 3.344 3.477 3.524 3.587 3.653 3.838 4.041 4.247 4.493 4.852 5.304 5.733 5.981
TrajetóriaCamponesa.T2 1.215 1.257 1.285 1.174 1.150 1.123 1.218 1.243 1.289 1.327 1.352 1.392 1.474 1.563 1.622
TrajetóriaCamponesa.T3 3.099 3.153 3.187 3.265 3.264 3.301 3.324 3.430 3.596 3.783 3.975 4.124 4.343 4.542 4.630
TrajetóriaPatronal.T5 797 805 794 778 757 765 783 796 817 861 925 1.003 1.074 1.151 1.208
TrajetóriaPatronal.T6 131 141 156 161 190 256 336 380 376 363 359 382 444 503 545
TrajetóriaPatronal.T4 18.034 18.250 18.139 17.943 17.253 16.576 15.997 15.767 16.096 16.488 17.419 17.350 17.955 18.756 19.836
TrajetóriaPatronal.T7 693 693 704 778 797 1.069 1.651 2.477 2.862 3.173 3.113 4.143 5.094 5.578 5.107
Total VBP 27.066 27.538 27.609 27.575 26.934 26.677 26.963 27.931 29.078 30.242 31.636 33.247 35.689 37.825 38.930
Pessoal Ocupado
TrajetóriaCamponesa.T1 482.314 467.336 524.787 612.499 668.804 669.548 669.947,10 677.332 675.988 668.726 697.848 0,93 0,94 0,95 0,94
TrajetóriaCamponesa.T2 356.829 303.925 341.271 384.085 507.811 571.474 672.979,54 673.681 656.686 643.142 687.696 1,07 1,01 0,92 0,88
TrajetóriaCamponesa.T3 322.345 270.225 318.968 374.215 448.137 485.943 538.398,35 565.221 582.588 595.729 608.782 1,05 0,98 0,98 0,95
TrajetóriaPatronal.T5 86.013 79.198 84.463 95.161 121.848 138.919 149.223,93 127.794 109.441 96.821 100.498 0,78 0,81 0,87 0,80
TrajetóriaPatronal.T6 86.153 89.739 83.036 79.829 47.056 49.976 55.172,52 56.083 51.843 45.205 40.437 0,48 0,52 0,61 0,50
TrajetóriaPatronal.T4 563.543 565.292 596.707 620.979 586.326 525.717 494.610,19 510.614 556.214 605.050 675.467 0,92 0,93 0,96 1,00
TrajetóriaPatronal.T7 22.511 22.881 25.474 32.688 38.075 41.142 57.284,09 90.915 114.167 133.835 140.377 2,34 2,62 2,52 2,18
Total 1.919.707 1.798.594 1.974.706 2.199.456 2.418.057 2.482.719 2.637.615,72 2.701.639 2.746.928 2.788.507 2.951.105
Total VBP 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor. Notas Metodológicas: Ver Gráfico 7-3.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

7.1.2 determinantes do crescimento

Conhecidos os dn de uma tajetória A, seu significado num sistema de trajetórias será, como
dn
indicado por nós ao ajustar o modelo de Arthur na relação (5.5.1-1), x A = 0, 5 + . Acresce
2.W
que as trajetórias, por serem path depedent, evoluem no tempo representando em cada ponto o
resultado da capacidade de prevalência de cada qual sobre as demais em relação aos fundamentos
W de suas existências. Em cada momento j, cada trajetória i tem o lugar xij na estruturação do
conjunto de trajetórias, no que se refere ao fundamento k. Tal lugar, por um lado expressa a
capacidade evolutiva e adaptativa demonstrada por cada trajetória individualmente, observando-
se a referência do fundamento em foco. No conjunto, tem-se um estado – uma estruturação – do
sistema de trajetórias em relação, ainda, ao fundamento em questão. Um sistema de trajetórias que
fazem um sistema agrário, ou uma economia, poderá ser descrito a partir de (5-1) e sua aplicação
em (7-1), em relação a cada fundamento, como segue:
dnijk
xijk = 0, 5 + (7.1.2-2)
2.Wijk
O sistema descrito em (7.1.2-2) apresenta estruturações referidas a cada objeto k da
concorrência como “camadas” de uma realidade – o sistema agrário –, a qual, todavia, só existe
concretamente como interações entre esses “layers”. Como tratar tais interações, a rigor os
elementos definidores dos Regimes de Crescimento de cada trajetória e dos Sistemas Agrários
onde elas se desenvolvem?
Iniciemos por adotar a perspectiva de que trajetórias em atuação em um território
mobilizam os recursos conjuntos desse terrítório para produzir excedentes também conjuntos,
os quais, todavia, serão distribuídos, considerando as condições da concorrência, a montante
e a juzante dos processos produtivos. Isso posto, o desfecho de última instância das disputas
concorrenciais se daria na apropriação da Renda Líquida (RL). Para essa mirada, será posto
privilegiado de observação do estado da concorrência entre as trajetórias um índice de prevalência
que informa sobre as condições de formação e distribuição do Rendimento Líquido, de modo que,
em (7.1.2-2), k = RL. Com foco no RL, observa-se uma síntese entre as condições de mercado
que comandam a demanda (se esta varia para mais, maiores os preços dos produtos, o valor da
produção total e em consequência as margens de ganho líquido; se varia para menos, verifica-se o
contrário) e os componentes de custo que oscilam igualmente – alguns, mediante maior demanda,
crescem por efeito de rendimentos decrescentes nas respectivas funções de produção; com outros,
por efeito de economias de escala, ocorre o contrário.
Além desses fatores, há outros associados a externalidades, com implicações na RL
proporcionais ao peso da trajetória em relação aos recursos fundamentais locais. Daí o relevo da
disputa em torno dos fundamentos fundiários, bem como da concorrência em relação a outros
recursos decisivos, como o trabalho ou, mesmo, dos conhecimento técnicos. A proeminência da
190
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

relação fundiária resulta, aliás, do fato de que ela determina as condições de funcionamento do
mercado de trabalho (regula a existência do mercado de trabalho assalariado, dado que quanto
maior o grau de concentração da terra, menor a possibilidade de existência de estruturas baseadas
em trabalho familiar autônomo) e o tipo de tecnologia plausível (se mais ou menos exigente em
terra, se mais ou menos dependente de matas, se mais ou menos intensiva em trabalho).
De um modo ou de outro, na variável RL tem-se a expressão do suporte de primeira
instância do Regime de Crescimento por trás da capacidade de permanência. Assim, xijk para
k=RL seria uma síntese da dinâmica de uma trajetória ou sistema agrário. Com esse resultado,
poderemos dar um segundo passo, qual seja o de decompor xijk em seus fundamentos, como segue:
xij ( kRL ) xij ( kAT )
xij ( kRL )  . .x (7.1.2-2)
xij ( kAT ) xij ( kMO ) ij ( kMO )
ou
 xij ( k=VBPR ) xij ( k=C )  xij ( k=AT )
xij ( k=RL ) = − . .xij ( k=MO ) (7.1.2-3)
 x
 ij ( k=AT ) xij ( k=AT ) 
 xij ( k=MO )

xij ( k=RL )  xij ( k=VBPR ) xij ( k=C )  xij ( k=AT )


= − . (7.1.2-4)
xij ( k=MO )  x
 ij ( k=AT ) xij ( k=AT ) 
 xij ( k=MO )
Se, ademais disso, considerarmos que a leitura permitida pelos resultados de (7.1.2-2), não
obstante acurada na avaliação da posição da trajetória – sua proporção no conjunto a economia rural
constituída de todas as trajetórias –, se reporta ao seu passado; e, também, que trajetórias evoluem
ao longo do tempo por movimentos que as distinguem, por vezes, distanciando-se positivamente,
por vezes negativamente umas das outras, e, por fim, que a leitura desses movimentos realça
as mudanças que informam sobre a capacidade de prevalência de uma trajetória no futuro. Se
consideramos tudo isso, devemos realçar a dinâmica normalizando os resultados da relação de
xikj pela média histórica. Com isso, os pesos (heranças históricas) de todas são igualados a 1 e se
observam apenas as variações em torno deles, tal que:
xijk
x*ijk  (7.1.2-5)
xijk
e
para xijk representando a média histórica de X no ano j em relação ao objeto k.

xijk  x*ij .xijk (7.1.2-6)

Nas relações (7.1.2-2) a (7.1.2-6):

xij ( kRL ) : Índice de prevalência com base na Renda Líquida (resultados nas secções “A” do
191
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 7.1.2-1); para xij* ( kRL ) ), resultados nas secções “B” do Gráfico 7.1.2-1;
xijk : Média de xijk até o ano apontado;
xij ( kVBPR ) : Índice de Prevalência com base no Valor Bruto da Produção Rural (resultados nas
secções “A” do Gráfico 7.1.2-1; para xij* ( kVBPR ) , resultados nas seções “B” do Gráfico
7.1.2-1);
xij ( kC ) : Índice de Prevalência com base no Custo (resultados nas seções “A” do Gráfico 7.1.2-
*
1; para xij ( kC ) , resultados nas seções “B” do Gráfico 7.1.2-1);
xij ( kAT ) : Índice de Prevalência com base no Controle da Terra (resultados nas seções “A”
do Gráfico 7.1.2-1; para xij* ( kAT ) , resultados nas seções “B” do Gráfico 7.1.2-1);
resultados nas seções “A” do Gráfico 7.1.2-1
xij ( kMO ) : Índice de Prevalência com base no Controle da Força de Trabalho; para xij* ( kMO ) ,
resultados nas seções “B” do Gráfico 7.1.2-1;
xij ( kRL ) : Evolução da produtividade do trabalho, resultados nas seções “C” do Gráfico 7.1.2-1;
xij ( kMO )

xij ( kRL ) : Evolução da produtividade da terra, resultados nas seções “C” do Gráfico 7.1.2-1;
xij ( kAT )
xij ( kAT )
: Evolução da relação terra/trabalho, resultados nas seções “C” do Gráfico 7.1.2-1;
xij ( kMO )

192
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 7.1.2-1 – Regimes de Crescimento das trajetórias do Setor Rural da Região Norte:
Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais

A - Trajetória-Camponesa.T1 B - Trajetória-Camponesa.T1 C - Trajetória-Camponesa.T1


0,5
1,3 1,3
0,4
Índice de Prevalência

1,2 1,2

Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
0,3
1,1 1,1
0,2
1,0 1,0
0,1
0,9 0,9
0,0
0,8 0,8
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
IPrl (-2,2% a.a)
IPvbpr (-1% a.a.)
IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPmo (0,2% a.a.) Iprl Ipvbpr
IPta (2% a.a.) IPmo Ipta IPat/IPmo
IPCusto (1% a.a.) IPCusto Linha 7

A - Trajetória-Camponesa.T2 B - Trajetória-Camponesa.T2 C - Trajetória-Camponesa.T2

0,5
1,3 1,3
0,4
Índice de Prevalência

1,2 1,2

Índice de Prevalência
Índice de Prevalência

0,3
1,1 1,1
0,2
1,0 1,0
0,1
0,9 0,9
0,0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

0,8 0,8

1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

IPrl (1,4%a.a)
IPvbpr (1,4%a.a.)
IPmo (0,4%a.a.) IPrl IPvbpr IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPta (-0,6%a.a.) IPmo Ipta IPat/IPmo
IPCusto (0,0% a.a.) IPCusto

A - Trajetória-Camponesa.T3 B - Trajetória-Camponesa.T3
C - Trajetória-Camponesa.T3
0,5
1,3
1,3
0,4
Índice de Prevalência

1,2
Índice de Prevalência

1,2
Índice de Prevalência

0,3
1,1
1,1
0,2
1,0
1,0
0,1
0,9
0,9
0,0
0,8
0,8
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

IPrl (0,9% a.a)


IPvbpr (1,4% a.a.)
IPmo (-0,4% a.a.) IPrl IPvbpr
IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPta (0,4% a.a.) IPmo IPta
IPCusto (1,0% a.a.) IPCusto IPat/IPmo

193
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 7.1.2-1 – Regimes de Crescimento das trajetórias do Setor Rural da Região Norte:
Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais (Continuação)

A - Trajetória-Patronal.T5 B - Trajetória-Patronal.T5 C - Trajetória-Patronal.T5

0,10
2,0 2,0
1,9 1,9
0,08
Índice de Prevalência

1,8 1,8

Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
1,7 1,7
0,06 1,6 1,6
1,5 1,5
1,4 1,4
0,04
1,3 1,3
1,2 1,2
0,02 1,1 1,1
1,0 1,0
0,00 0,9 0,9
0,8 0,8
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
IPrl (-0,6% a.a)
IPvbpr (-2,20% a.a.)
IPmo (1,0% a.a.) IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPrl IPvbpr
IPta (0,4% a.a.) IPmo Ipta IPat/IPmo
IPCusto (-1,3% a.a.) IPCusto

A - Trajetória-Patronal.T6 B - Trajetória-Patronal.T6 C - Trajetória-Patronal.T6

0,06 2,0 2,0

Índice de Prevalência
Índice de Prevalência

Índice de Prevalência

1,5 1,5
0,04

1,0 1,0

0,02
0,5 0,5

0,00 0,0 0,0

1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

IPrl (-17,70% a.a)


IPvbpr (-8,80% a.a.) IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPrl IPvbpr
IPmo (-0,80% a.a.) IPmo Ipta
IPta (8,00% a.a.) IPat/IPmo
IPCusto (-2 20% a a ) IPCusto

A - Trajetória-Camponesa.T4 B - Trajetória-Patronal.T4 C - Trajetória-Patronal.T4

0,8 1,2 1,2


0,7 1,1 1,1
Índice de Prevalência

Índice de Prevalência
Índice de Prevalência

0,6
1,0 1,0
0,5
0,9 0,9
0,4
0,3 0,8 0,8

0,2 0,7 0,7


0,1 0,6 0,6
0,0
0,5 0,5
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

IPrl (-1,50% a.a)


IPvbpr (-2,10% a.a.) IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPmo (-3,00% a.a.) IPrl IPvbpr
IPta (-2,30% a.a.) IPmo Ipta IPat/IPmo
IPCusto (-1,70% a.a.) IPCusto

194
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 7.1.2-1. –Regimes de Crescimento das trajetórias do Setor Rural da Região Norte:
Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais (Continuação)

A - Trajetória-Patronal.T7 B - Trajetória-Patronal.T7 C - Trajetória-Patronal.T7

0,2 6,0 10,0


9,0
5,0
Índice de Prevalência

8,0

Índice de Prevalência
Índice de Prevalência
7,0
4,0
6,0
0,1 3,0 5,0
4,0
2,0 3,0
2,0
1,0
1,0
0,0 0,0
0,0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006

1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
IPrl (37,2% a.a)
IPvbpr (18,40% a.a.) IPrl/IPmo IPrl/IPat
IPmo (17,40% a.a.) IPrl IPvbpr
IPta (16,40% a.a.) IPmo Ipta IPat/IPmo
IPCusto (8,30% a.a.) IPCusto

Fonte: Tabela 7.1.1-1.

Se xij ( kRL ) é crescente, a trajetória i galga, a cada novo ano j, posições no contexto
da concorrência, eis que seu crescimento se faz acima da média do conjunto de trajetórias
que compõem a economia em questão; se o crescimento se faz de tal forma que xij* ( kRL ) > 1,
então a trajetória cresce, superando sua performance histórica (ver relação 7.1.2-6), sua própria
média ao longo do tempo, até o momento presente; se o crescimento se faz de tal modo que
xij* ( kRL ) < 1, então a trajetória está recuperando posições perdidas. Positivamente, o regime de
crescimento dependerá do controle sobre o trabalho (dos movimentos em xij ( kMO ) ) e sobre a terra
(proxy: xij ( kAT ) ). A dinâmica dependerá também positivamente das condições do mercado final,
regime de demanda, expressas no nível e nos movimentos de xij ( kVBPR ) : se xij ( kVBPR ) cresce, será
reforçada, se diminue, deprimida (conf. 7.1.2-5). Manifestam-se, nesse caso, por efeitos expansivos
combinados de escala, da produtividade sistêmica derivada do aprofundamento da divisão social
do trabalho e do aprendizado, a par de ganhos de externalidades do ambiente institucional,
economias de escala dinâmicas que se refletem sobre a rentabilidade dos agentes,validando, por
um lado, a lei Kaldor-Verdoorn; por outro, mediações institucionais como os sistemas regionais
e locais de inovações. Negativamente, o regime de crescimento depende do xij ( kC ) (ver relação
7.1.2-5). Os movimentos em xij ( kC ) são explicados em parte pelos preços dos insumos; em parte,
porém, resultam de movimentos inversos nas variáveis que qualificam o regime de produtividade
da trajetória quanto à intensificação ( xij ( kRL ) / xij ( kAT ) >1) ou extensão do uso da terra pela
mecanização ou outros métodos ( xij ( kAT ) / xij ( kMO ) ).

195
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 7.1.1-2. – Regimes de Crescimento das Trajetórias – Elementos de sínteses


Regime de Crescimento
Variação Variação Regime de
Regime de Produtividade
Tendencial Cíclica Demanda

xij ( kRL ) xij* ( kRL ) xij ( kVBPR ) xij ( kRL ) xij ( kRL ) xij ( kAT )
xij ( kC ) xij ( kMO )
xij ( kMO ) xij ( kAT ) xij ( kMO )
T1 -2% a.a. Desde 96 <1 Desde 97<1 1% a.a. 0,2% a.a. Desde 2000 <1 Desde 96 <1 Desde 1992>1
T2 1,4% a.a. Entre 95-2003 > 1 Entre 95-2003 > 1 →0% 0,4% a.a. Desde 96>1 Desde 96 >1 Desde 1995<1
T3 0,9% a.a. Entre 93-2002 > 1 Entre 93-2002 > 1 1% a.a. -0,4% a.a Desde 96>1 Desde 92≤1 Desde 1992>1
T4 -1,5% a.a. Entre 94-2002 < 1 Entre 94-2004 < 1 -1,7% a.a. -3% a.a. Desde 96<1 Desde 96<1 Desde 97>1
T5 0,6% a.a. Entre 94-98 > 1 Entre 95-97 > 1 1,3% a.a. 1% a.a. Desde 95>1 Desde 95>1 Desde 1992<1
T6 -17,7% a.a. Desde 93 <1 Desde 93 <1 -2,2% a.a. -0,8% a.a. Desde 94 <1 Desde 93 <1 Desde 93 >1
T7 37% a.a Desde 96 >1 Desde 92 >1 8% a.a. 17%a.a Desde 97>1 Desde 97<1 Desde 92>1
Fonte: Elaboração do autor.

Esse esquema analítico organiza a Tabela 7.1.1-2, da qual podemos extrair os seguintes
resultados:
•• Quatro trajetórias, duas camponesas, a T2 e a T3, e duas patronais, a T5 e a T7,
apresentaram ao longo do período estudado tendência linear positiva na capacidade
de prevalência.
»» As duas primeiras demonstraram ciclos bastante longos de alta performance,
com crescimento acima das respectivas médias históricas. Tais ciclos tiveram
correspondência com os respectivos regimes de demanda e, em ambos, com
rendimentos crescentes do trabalho. Os últimos, por seu turno, tiveram fontes
distintas:
◊◊ A T2 teve custo estável e variações superiores a 1 dos rendimentos por área,
a par de variações inferiores a 1 na relação terra/trabalho, o que em última
instância indica intensificação do uso da terra.
◊◊ A T3 apresentou custo crescente e flutuações menores do que 1 do
rendimentos por área, tendo como fonte última da eficiência relativa do
trabalho variações superiores a 1 na extensão da terra por trabalhador.
»» As trajetárias patronais com capacidade de prevalência crescente, no tempo,
apresentam diferenças em dois tópicos:
◊◊ A T5 apresentou volatilidade elevada, com três ciclos bastante curtos,
claramente definidos pelo regime de demanda. Nos dois últimos ciclos,
todavia, obervaram-se rendimentos crescentes, não obstante oscilantes, do
trabalho e da terra, a par de uma redução relativa da relação terra/trabalho.
◊◊ A T7 elevou seu significado em correspondência com o regime de demanda.
Com custos crescentes a uma taxa elevada, apresentou, entretanto, variações
acima de 1 no rendimento do trabalho. Considerando a redução concomitante
no rendimento da terra, tal performance só se fez possível com o crescimento
da relação terra/trabalho: a elevação da extensividade no uso da terra.
196
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

•• Três trajetórias apresentaram tendência linear à perda de capacidade de prevalência:


camponesa, a T1 ; patronais, a T6 e a T4.
»» A T1 apresenta a capacidade decrescente de absorver rendimentos líquidos,
condicionada pelo regime de demanda e por todos os componentes do regime de
produtividade: custo crescente, produtividade do trabalho e da terra decrescentes
– a par de um crescimento na relação terra/trabalho.
»» A T6 apresenta rápida deterioração da capacidade de permanência, por efeito do
regime de demanda e, como no caso da T1 , de todos os componentes do regime
de produtividade.
»» A T4 apresenta um longo ciclo de perda de capacidade de prevalência, todavia,
vem se recuperando nos últimos anos do período. O regime de demanda e o regime
de produtividade determinam a queda. Na recuperação, a demanda apresenta
um retardamento – acompanhou a queda, mas não a recuperação. As variações
no rendimento do trabalho e da terra sofrem inflexão positiva, mas se mantêm
menores que 1. Na base da recuperação encontra-se claramente o crescimento da
relação terra/trabalho.

7.2. Concorrência e cooperação: Padrões “Coopetitivos”

Em 7.1 pressupomos a concorrência como uma competição sistemática das trajetórias


em torno dos fundamentos da produção e reprodução das suas microestruturas. Todavia, as
trajetórias rurais não necessariamente concorrem entre si em todas as arenas e em relação a todos
os objetos mencionados: ou porque não produzem as mesmas coisas, nem coisas substitutas,
ou porque não produzem para os mesmos tipos de mercados, a disputa por mercados finais não
será parte da concorrência entre esta e aquela trajetória, a par de sê-lo para outras tantas. Não
obstante, todas elas poderão estabelecer intensa disputa no acesso e uso da natureza, no território
em que estabeleceram seus processos produtivos. Nesse plano, se por força de bases tecnológicas
distintas, os requisitos de natureza são diferentes – “mais bioma” versus “mais terra” ou “muita
terra” versus “pouca terra” –, disputas poderão se forjar por objetos distintos e excludentes de um
mesmo ponto no território.
O contrário pode ser também o caso, quando há cooperação entre as trajetórias, por
mecanismos de complementaridade: uma trajetória cumpre papéis na cadeia produtiva de outra
(sobre a relação entre cadeias produtivas e trajetórias tecnológicas ver 8.4.6), ou por formação de
escala que viabiliza a produção de insumos diversos, produtos ou serviços tangíveis e intangíveis.
Ou ainda, quando submetidas a diferentes sazonalidades nos processos produtivos, uma pode dispor
do acervo de trabalho pertecente à outra – como o é a força de trabalho das famílias camponesas.
Devemos fazer uma leitura, por parcial que seja, desses aspectos da relação entre as
trajetórias – com isso alargaremos a visão da concorrência entre elas para abrigar, a um só tempo,
197
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

as estratégias de competição e de cooperação. Sobre isso, Nalebuff e Brandenburger (1996:28)


aportam interessante concepção ao comportamento das empresas e agentes que articulam a um só
tempo estratégias de cooperação para atingir determinado objetivo e de competição na repartição
dos resultados. A isso chamam de “coopetição”, procurando enfatizar que a concorrência é mais
que competição porque abriga um complexo jogo de interesses, que inclui níveis de cooperação
entre empresas, clientes, fornecedores, concorrentes e complementadores, os quais atuam numa
cadeia difusa de valor “que representa todos os jogadores e as interdependências existentes entre
eles” (Nalebuff e Brandenburger, 1996:28). Sobre tais perspectivas é preciso refletirmos. As
*
correlações dos componentes cíclicos xijk apresentados nas seções “B” dos Gráficos 7.1.2-1 nos
oferecem uma oportunidade para isso.
Correlações são medidas do grau e de indicação do sentido da interdependência estatística
entre duas variáveis. O Índice de Correlação de Pearson (ICP) entre variáveis é um valor entre 0
e 1. Quando 1, significa que as variâncias respectivas se influenciam em igual intensidade. Se na
mesma direção, então positivo o índice; se em direções simétricas, -1. Quando ICP aproxima-se
*
de zero significa que as variâncias mútuas não se influenciam. Os ICP das séries xijk nos ajudarão
a refletir sobre padrões coopetitivos de quatro modos.
Primeiro, permitindo ver as relações entre trajetórias, duas a duas. Correlação positiva
da variável Área Total Utilizada (AT) de duas trajetórias significa que o crescimento das
necessidades de uma, no que se refere à terra, não levou à redução da disponibilidade desse
fundamento para a outra. Se forte, isto é, próximo de 1 o ICP, é legítimo inferir que de algum
modo a expansão de uma trajetória “coopera” com a outra no sentido de potenciá-la; se negativo,
e forte, indicaria o contrário: ao se expandir, uma trajetória fez minguar as terras disponíveis
para a outra, ou reduziu os recursos que mediavam o acesso a esse recurso, ou, ainda, absorveu
os recursos da outra; em resumo, de algum modo, uma “compete” com a outra no que se
refere à terra. Igualmente, as correlações em torno da mão de obra, se positivas podem indicar
complementaridade e cooperação entre as trajetórias; se negativas, o contrário. A Tabela 7.2-1
apresenta os ICP entre todas as trajetórias baseados em Renda Líquida (RL) e Valor Bruto da
Produção Rural (VBPR) na primeira seção; Área Trabalhada Total (AT) e Mão-de-Obra Total
(MO), na segunda seção.
Segundo, dispondo dos ICP nos é permitido o cálculo de indicadores dos potenciais de
cooperação e competição reinantes entre as trajetórias. Para cada trajetória (i), poder-se-á ter
uma indicação do grau de cooperação (Coop) e competição (Comp) que estabelece com todas
as outras em torno de cada fundamento (k): serão, respectivamente, a soma dos ICP positivos
ou negativos da trajetória em questão com todas as demais, dividida pela número de trajetórias
menos 1. Note que este denominador é igual à soma das correlações máximas possíveis entre
a mencionada trajetória e todas as demais, teto alcançável se houvesse, no caso de Coop, uma
cooperação, no caso de Comp, uma competição total entre elas, no que trata o fundamento k em
questão, reveladas, num caso como no outro, em ICP cujos valores absolutos seriam iguais a
1: o potencial de cooperação seria, assim, as indicações dadas pelos valores dos ICP reais em
198
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

relação a máximos hipotéticos de cooperação ou competição. Os resultados de Coop serão sempre


positivos, menores ou iguais a 1; os valores de Comp serão negativos, menores ou iguais a -1.

Tabela 7.2-1 – Correlações de Pearson entre os IPs das Trajetórias Tecnológicas no setor rural da
Região Norte
Baseado na Renda Líquida (RL)
Trajetória Camponesa. Camponesa. Camponesa.
Patronal. T5 Patronal. T6 Patronal. T4 Patronal. T7
T1 T2 T3
Camponesa.T1 1 -0,2311 -0,3497 0,3487 0,8080 0,0542 -0,7889
Baseado Camponesa.T2 -0,1138 1 0,8479 0,4682 -0,4012 -0,9361 0,0825
no Valor Camponesa.T3 -0,1686 0,9041 1 0,2301 -0,4015 -0,7891 0,2420
Bruto da Patronal.T5 0,6664 0,444 0,2342 1 0,0709 -0,6818 -0,5367
Produção Patronal.T6 0,5472 -0,4815 -0,4944 0,2520 1 0,2509 -0,4563
(VBPR) Patronal.T4 0,2794 -0,99 -0,8670 -0,3176 0,5453 1 0,0387
Patronal.T7 -0,8288 -0,1793 -0,0944 -0,7215 -0,5817 -0,0962 1
Baseado na Área Trabalhada Total (AT)
Camponesa.T1 1 -0,5982 0,2020 0,5923 0,6474 -0,8873 0,8008
Camponesa.T2 0,8166 1 0,0349 -0,4883 0,0592 0,4237 -0,2173
Baseado
Camponesa.T3 -0,9331 -0,9342 1 -0,4584 0,5223 -0,0642 0,2872
na Mão
Patronal.T5 0,9434 0,9097 -0,9719 1 0,0829 -0,6638 0,4407
de Obra
Patronal.T6 -0,9169 -0,8495 0,9463 -0,9775 1 -0,5882 0,7438
(MO)
Patronal.T4 -0,9325 -0,8069 0,9309 -0,9518 0,9678 1 -0,9451
Patronal.T7 0,9400 0,7801 -0,9253 0,9333 -0,9300 -0,9735 1

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamentos do autor.


Notas:
1. Significante a 5%;
2. Significante a 1%.

Assim, seja rijk os ICP das trajetórias i em relação a todas as outras, j, e consigo mesma,
o potencial de cooperação de i no que trata o fundamento k será
m n n
rkij
 (i ≠ j )∧ ( rkij > 0)⇒
Coopki = ∑ ∑ ∑  (7.2-1)
k =1 i=1 j=1
n −1
Esses resultados compõem as células da primeira parte da Tabela 7.2-2. Na segunda parte
encontram-se os indicadores de competição de i, para cada k, calculados assim:
m n n
rkij
 (i ≠ j )∧ ( rkij < 0)⇒
Compki = ∑ ∑ ∑  . (7.2-2)
k =1 i=1 j=1
n −1
Um “saldo”, ou “resíduo”, que podemos chamar de indicador do padrão de concorrência
(PadConc), resulta da agregação das correlações positivas e negativas. Se positivo, o PadConc
indica ser a trajetória “dominada por cooperação”; se negativo aponta para a condição de
“dominada pela competição” da trajetória, em relação ao fundamento k em observação. Os
resultados compõem a terceira parte da Tabela 7.2-2 e foram calculados como segue:
m n n
rkij
PadConci , k = ∑ ∑ ∑ = Coopki + Campki
n
k =1 i=1 j=1
(7.2-3)
199
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 7.2-2 – Indicadores de cooperação, competição e padrão de concorrência das Trajetórias


Tecnológicas no setor rural da Região Norte
Área Trabalhada Ocupações Renda Líquida Valor Bruto da Produção
Trajetórias i Total (Coopi)
Total (AT) Totais (MO) (RL) Rural (VBPR)
Coopki
Camponesa.T1 0,374 0,450 0,202 0,249 0,319
Camponesa.T2 0,086 0,418 0,233 0,218 0,239
Camponesa.T3 0,174 0,313 0,220 0,190 0,224
Patronal.T5 0,186 0,464 0,186 0,260 0,274
Patronal.T6 0,343 0,319 0,188 0,224 0,269
Patronal.T4 0,071 0,316 0,057 0,137 0,145
Patronal.T7 0,379 0,442 0,061 0,000 0,220
Total (Coopk) 0,230 0,389 0,164 0,183
Compki
Camponesa.T1 -0,248 -0,464 -0,228 -0,185 -0,281
Camponesa.T2 -0,217 -0,432 -0,261 -0,282 -0,298
Camponesa.T3 -0,087 -0,627 -0,257 -0,271 -0,310
Patronal.T5 -0,268 -0,484 -0,203 -0,173 -0,282
Patronal.T6 -0,098 -0,612 -0,210 -0,260 -0,295
Patronal.T4 -0,525 -0,449 -0,401 -0,351 -0,431
Patronal.T7 -0,194 -0,471 -0,297 -0,417 -0,345
Total (Compk) -0,234 -0,506 -0,265 -0,277
PadConcki
Camponesa.T1 0,126 -0,014 -0,026 0,064 0,037
Camponesa.T2 -0,131 -0,014 -0,028 -0,064 -0,059
Camponesa.T3 0,087 -0,315 -0,037 -0,081 -0,086
Patronal.T5 -0,082 -0,019 -0,017 0,086 -0,008
Patronal.T6 0,245 -0,293 -0,022 -0,036 -0,026
Patronal.T4 -0,454 -0,132 -0,344 -0,213 -0,286
Patronal.T7 0,185 -0,029 -0,236 -0,417 -0,124
Total (Conck) -0,004 -0,117 -0,101 -0,094 -0,079

Fonte: Elaboração do autor.

Uma terceira possibilidade diz respeito ao cálculo de indicadores agregados para uma
única trajetória, considerando todos os fundamentos e para cada fundamento, considerando todas
as trajetórias. Com efeito:
Para cada trajetória i (resultados nas colunas Total de todas as partes da Tabela 7.2-2):
n m n m n m
Compki Coopki Coopki + Coopki
Compi = ∑ ∑ e Coopi = ∑ ∑ e PadConci = ∑ ∑ (7.2-4)
i=1 k =1
m i=1 k =1
m i=1 k =1
m
Para cada atributo k (resultados nas linhas Total de todas as partes da Tabela ):
m n m n m n
Compki Coopki Coopki + Coopki
Compk = ∑ ∑ e Coopk = ∑ ∑ e PadConck = ∑ ∑ (7.2-5).
k =1 i=1
n k =1 i=1
n k =1 i=1
n
Por fim, se poderá ter uma indicação do Padrão de Concorrência de todo um sistema
agrário, uma vez que:
n m
Compi Compk
Comp = ∑ =∑ ; (7.2-6)
i=1
n k =1
m

n m
Coopi Coopk
Coop = ∑ =∑ e
i=1
n k =1
m

200
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

n m
Coopi + Coopi Coopk + Coopk
PadConc = ∑ =∑ (7.2-7)
i=1
n k =1
m

São os seguintes os resultados a destacar dessa análise:


•• A Trajetória-Patronal.T4, seguida da T7, apresentam Padrões de Concorrência mais
dominados pela competição entre todas as trajetórias. O valor do PadConc da primeira é
-0,286, mais que o dobro da segunda, a T7, que, por seu turno, é cinco vezes a T6 e 15 a
T5 (ver Gráfico 7.2-1).
»» A T4 se mostra particularmente competitiva em relação ao fundamento Área
Trabalhada Total (AT): a indicação à cooperação em relação a este fundamento
é praticamente zero (0,071) e à competição, -0,525. Em uma leitura inicial, isso
significa que, em todas as oportunidade de cooperação que envolveram “terra”,
a T4 utilizou 7%; nas que envolveram competição, 52%: mais da metade das
relações diretas e indiretas mediadas por “terra” tiveram um caráter competitivo,
eis que induziram movimento contrário nas demais trajetórias (ver Gráfico 7.2-1;
Tabela 7.2-2).
»» A T4 se mostra mais competitiva no que trata tanto AT quanto MO com as
trajetória T1 e T5.
»» A T4 se mostra também competitiva em relação à mão de obra, igualmente com
T1 e a T5, além da T2 .
»» A T7 se mostra cooperativa com a T1 e a T5 tanto em relação à AT quanto ao MO
e seu maiores potenciais de competição são com a própria T4.
»» A expansão da demanda da T4, ou da sua rentabilidade (quando seus VBPR e a RL
crescem), não produz impulso positivo em nenhuma outra trajetória: para duas, a T1
e a T7 trata-se de evento indiferente, para as demais, produz impulso negativo. O
contrário parece igualmente possível: sua contração econômica, a par de indiferente
para duas, leva ao crescimento de quatro outras trajetórias.
»» Considerando o que já sabemos sobre o regime de crescimento da T4 – caracterizado
por rendimentos decrescentes da terra e do trabalho (conf. Discutido em 6.6.1 – a
condição competitiva de suas relações envolve certamente situações em que é
absorvedora de recursos e circunstãncias em que, ao revés, tem se constituído fonte
de fundamentos para outras.
•• Duas trajetórias se encontram no espectro inverso à T4: a camponsa T1 e a patronal
T5.
»» Trata-se dos dois maiores PadConc – o primeiro, o único positivo entre todos; o
segundo, aproximando-se de zero.
»» Em relação a dois fundamentos as “disposições” cooperativas da T1 superam as
concorrenciais: em relação a AT e em relação à expansão do mercado; por seu turno,
a T5 apresenta o mesmo atributo apenas em relação a este último fundamento.
201
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

»» O potencial cooperativo da T1 e da T5 são os mais elevados: 0,319 e 0,274 –


consideradas todas as oportunidades de interação, a T1 usou 1/3 e a T5, 27%
positivamente; concorrencialmente, ambas, 28%.
•• As trajetórias camponesas T3 e T2 , não obstante tão distintas e inversas, mostram-se
com elevados potenciais cooperativos no que tange ao crescimento do mercado e da
rentabilidade. No que se refere a AT, a relação parece indiferente; no que se refere à
MO, o que se verifica é um forte potencial competitivo.

Gráfico 7.2-1. Padrões de Concorrência entre as trajetórias em torno dos fundamentos do Setor
Rural da Região Norte:PadConcki Evolução dos determinantes, 1990 a 2006, médias trianuais
(Continua)

Saldo entre potenciais competitivo (-) e cooperativo (+)


0,20
0,10
0,00
-0,10
-0,20
-0,30
-0,40
-0,50
Camponesa.T1

Patronal.T5

Camponesa.T2

Camponesa.T3

Patronal.T7

Patronal.T4
Patronal.T6

Área Total Trabalhada (AT) Ocupações Totais (MO)


0,20
0,20
0,10
0,10
0,00
0,00
-0,10
-0,10
-0,20 -0,20

-0,30 -0,30

-0,40 -0,40
-0,50 -0,50
Patronal.T6

Patronal.T7

Patronal.T5

Patronal.T4

Camponesa.T1

Camponesa.T2

Patronal.T5

Patronal.T7

Patronal.T4

Patronal.T6

Camponesa.T3
Camponesa.T1

Camponesa.T3

Camponesa.T2

Renda Líquida (RL) Valor Bruto da Produção Rural (VBPR)


0,20 0,20

0,10 0,10
0,00 0,00
-0,10 -0,10
-0,20 -0,20
-0,30 -0,30
-0,40 -0,40
-0,50 -0,50
Patronal.T5

Patronal.T6

Patronal.T7

Patronal.T4
Camponesa.T1

Camponesa.T2

Camponesa.T3

Camponesa.T1

Camponesa.T2

Camponesa.T3
Patronal.T5

Patronal.T6

Patronal.T4

Patronal.T7

202
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 7.2-1. Padrões de Concorrência entre as trajetórias em torno dos fundamentos do Setor
Rural da Região Norte:PadConcki (Continuação)

Saldo entre Potencical de Conflito e Cooperação (Total) Trajetória Camponesa T1


0,00
0,20
-0,02 0,10

-0,04 0,00
-0,10
-0,06
-0,20
-0,08
-0,30
-0,10 -0,40
-0,12 -0,50

(VBPR)
Ocupações

Renda Líquida

Valor Bruto da
Produção Rural
Totais (MO)

Renda
Líquida (RL)

Valor Bruto
da Produção
Rural
(VBPR)

Área

Total (AT)

Área Trabalhada

(MO)

(RL)
Total (AT)

Ocupações Totais
Trabalhada

Trajetória Camponesa T2 Trajetória Camponesa T3


0,20 0,20

0,10 0,10

0,00 0,00

-0,10 -0,10

-0,20 -0,20

-0,30 -0,30

-0,40 -0,40

-0,50 -0,50
Renda

Bruto da
Totais

Produção

Trabalhada
Líquida

Rural

Área

Área

Renda
Líquida

Bruto da
Produção
Rural
Trabalhada
Valor

Valor

Totais
Ocupações

Ocupações
(MO)

(RL)

Total (AT)

(RL)
Total (AT)

(MO)
Trajetória Patronal T4 Trajetória Patronal T5
0,20 0,20

0,10 0,10

0,00 0,00

-0,10 -0,10

-0,20 -0,20

-0,30 -0,30

-0,40 -0,40

-0,50 -0,50
Ocupações Totais
Valor Bruto da
Bruto da
Produção
Rural

Renda
Líquida

Ocupações

Área
Trabalhada
Valor

(VBPR)

Renda Líquida
(RL)

Área Trabalhada
Total (AT)

(MO)
Produção Rural
Total (AT)
(VBPR)

Totais (MO)
(RL)

203
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 7.2-1. Padrões de Concorrência entre as trajetórias em torno dos fundamentos do Setor
Rural da Região Norte:PadConcki (continuação)

Trajetória Patronal T6 Trajetória Patronal T7

0,20 0,20

0,10 0,10

0,00 0,00

-0,10 -0,10

-0,20 -0,20
-0,30 -0,30
-0,40 -0,40
-0,50 -0,50

Valor Bruto da
Área

Renda
Líquida

Bruto da
Produção
Rural

Totais
Valor

Ocupações
Trabalhada

Total (AT)

(MO)

(RL)

(VBPR)
Total (AT)

(RL)

(VBPR)

(MO)

Produção Rural
Renda Líquida
Ocupações Totais
Área Trabalhada
7.3. Contexto institucional

Trajetórias tecnológicas são articulações entre padrões produtivos e reprodutivos


resultantes da aplicação, por agentes movidos por razões semelhantes, de heurísticas que se
materializam em combinações particulares de meios e produtos. Tais combinações se organizam
primeiro como sistemas de produção no nível mais elementar dos estabelecimentos – como
padrões de resolução de problemas produtivos por ótica privada –, convergindo os sistemas
particulares para os procedimentos tecnológicos comuns que marcam propriamente as trajetórias
como partes da reprodução social, mecanismos de validação de uma divisão social do trabalho em
vigor no plano, em última instância, global.
A diversidade de formas técnicas (combinação de meios) e de formas de participação na
divisão social do trabalho, (combinação de produtos) que diferenciam as trajetórias, resulta das
capacidades diferenciadas de acesso às dotações naturais e institucionais que marcam as bases
territoriais locais sobre as quais evoluem, e dos nexos (conformados com a mediação destacada
do mercado) que as vinculam a territorialidades mais amplas, nacional e mundial (cadeias de
produto e valor).
As trajetórias desenvolvem-se, assim, em concorrência por apropriação de meios,
tangíveis e intangíveis necessários à realização dos fins sociais e privados que as constrangem e
orientam.
Da apropriação de meios tangíveis faz parte o acesso ao capital natural, que pressupõe
o controle sobre os fundamentos naturais dos territórios, mediante relações de apropriação,
formalmente legítimas ou não; e o acesso ao capital físico, mediado por capital dinheiro, de
204
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

empréstimo ou não. Trataremos em seguida dos arranjos institucionais que especificam as formas
de acesso das diferentes trajetórias aos recursos da natureza mediado pela apropriação fundiária
(seção 7.3.1), a capital dinheiro pela via do crédito (seção 7.3.2).
Da apropriação dos meios intangíveis faz parte o acesso a conhecimentos, sejam os
mediados pelo ambiente cultural que detém os saberes tácitos sobre as especificidades locais,
sejam os mediados pelo ambiente laboratorial das organizações de produção e distribuição do
conhecimento técnico e de gestão dos processos produtivos, ou ainda, por interfaces entre aqueles
e estes, organizadas na forma de assistência técnica, extensão ou fomento rural, governamental
ou não. Aspectos relevantes dessa questão serão tratadas na seção 7.3.3. Em todas as seções
mencionadas teremos a referência territorial da grande Região Norte. Somente na Parte III do
livro nos debruçaremos sobre as distinções que marcam as trajetórias em plano subregional e
local.

7.3.1. Instituições e recursos fundiários

O volume de terras agricultadas em operação (AO) será tomada como uma referência
inicial das necessidades em recursos fundiários: em suas diversas formas de uso pelo conjunto de
trajetórias as áreas nessa condição somavam 27,1 milhões de hectares na média dos três primeiros
anos da década de noventa. Cresceram a 2,6% a.a. desde então até 2005-2007: mais precisamente,
reduziram ligeiramente entre 1990 e 1995 a -0,1% a.a., cresceram a 3,3% nos cinco anos seguintes
e, de 2001 até o final do período aceleraram à taxa de 5,6% a.a. Ao final, considerando a média
dos três últimos anos, algo em torno de 11,9 milhões de hectares, representaram a extensão da
diferença entre a base territorial efetivamente usada, em produção em um momento e no outro
(para estes e os próximos resultados ver Gráfico 7.3.1-1, parte A).

Necessidades operacionais de elementos da natureza como parcela dos recursos fundiários


dos agentes nas trajetórias

Mostram-se muito diferentes as necessidades de terras entre as trajetórias. Na fase inicial


do período que nos ocupa, a Trajetória-Patronal.T4 operava em torno de 69% de todas as terras
agricultadas em operação (AO).
Efetivamente, materializou-se, após 1995, referida de diversos modos às bases da
Trajetória-Patronal.T4, a Trajetória-Patronal.T7, como discutimos em 6.6.1. Da primeira,
deslocaram-se agentes que constituíram, não a totalidade, mas seguramente o grosso da segunda.
Ou, novos agentes adentraram o setor rural na Região Norte provindos de outras trajetórias na
região, ou, mesmo, de outras regiões substituindo, nos mesmos terrenos, os agentes da T4 por
empreendimentos característicos da T7, ou, estes se expandem nas regiões daqueles – mais
precisamente, considerando a nossa metodologia (ver Cap. 2), nas microrregiões onde evoluía
tradicionalmente a T4, agora se agregam novos estabelecimentos da T7. A trajetória emergente
205
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

T7 necessitou sozinha de 4,9 milhões de hectares, ao passo que a velha T4 acresceu precisos
1,8 milhões de hectares nas suas áreas em operação. As correspondências fundiárias dessas
necessidades operacionais serão tratadas em seguida. Agora importa fixar que juntas, essas duas
trajetórias geminadas chegaram, nos últimos três anos do período, representando 64% do total das
AO do setor rural na Região Norte. A T4 propriamente, com 51% do total mantém a condição de
dominante – terá perdido, contudo, 18 pontos percentuais em sua participação nessa grandeza.
Por seu turno, a T7, de inexpressiva no início, atinge 13% do total no final do período (para estes
e os próximos resultados ver Gráfico 7.3.1-1, parte A).
A Trajetória-Camponesa.T1 tem sido a segunda mais importante em volume de terras
agricultadas em operação, acresceu 2,9 milhões de hectares à base produtiva, saindo de 3,1 para
praticamente 9 milhões de hectares. Com isso ganhou importância relativa ao longo do tempo
– representava 11% do total no início, 13% por volta do ano do Censo e 15% no final período.
A Trajetória-Camponesa.T3, por seu turno, iniciando com partipação equivalente à da T1 , tem
se mostrado comparativamente a esta, mais lenta, de modo que elevou sua participação de 11%
do total das terras agricultadas em operação para 12%: crescimento a 3,1% a.a.. Já a Trajetória-
Camponesa.T2 reduziu sua participação de 4,5% para 4,3% das terras agricultadas em operação,
posto que a extensão delas cresceu 2% a.a – a menor taxa de todas. As duas menos representativas
trajetórias no que se refere às terras agricultadas em operação são, pela ordem, a Patronal.T5
(2,8%) e a Patronal.T6 (0,7%).
As áreas agricultadas em operação, todavia, não expressam nem o total dos recursos
naturais associados às trajetórias, nem o total de recursos fundiários dos agentes nas trajetórias.

206
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 7.3.1-1 – Evolução das necessidades de Áreas Agricultadas em Operação (AO) das
diferentes trajetórias do Setor Rural da Região Norte, 1990 a 2006 (médias trianuais)
A - Todas as trajetórias
80%

70%

60%
Participação no total

50%

40%

30%

20%

10%

0%
1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005
TrajetóriaCamponesa.T1 TrajetóriaCamponesa.T2 TrajetóriaCamponesa.T3 TrajetóriaPatronal.T5
TrajetóriaPatronal.T6 TrajetóriaPatronal.T4 TrajetóriaPatronal.T7

B -Trajetórias Camponesas C - Trajetórias Patronais

0,2 0,8
0,7
Participação no total
Participação no total

0,2 0,6
0,5
0,1 0,4
0,3
0,1 0,2
0,1
0,0 0,0
1990

1993

1996

1999

2002

2005
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004

TrajetóriaPatronal.T5
TrajetóriaCamponesa.T1 TrajetóriaPatronal.T6
TrajetóriaCamponesa.T2 TrajetóriaPatronal.T4
TrajetóriaCamponesa.T3 TrajetóriaPatronal.T7

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor. Ver notas metodológicas do Gráfico 2.2-1.

207
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Recursos fundiários e recursos naturais associados às trajetórias

As áreas Agricultadas em Operação (AO), medidas como parcelas da extensão dos


recursos fundiários dos agentes não expressam o total dos recursos naturais associados às
trajetórias. É que, há trajetórias, como as do “paradigma extrativista”, como a Trajetória-
Camponesa.T2 , cujos territórios operacionais, isto é, as áreas que detêm os recursos
naturais manejados pelos seus sistemas produtivos não se limitam à extensão fundiária dos
estabelecimentos: eles invadem funcionalmente as matas, se entrecruzam nos rios, em suas
várzeas e lagos. Tais territórios e os “volumes” de natureza neles mobilizados por essas
formas de produção, não obstante reais e de significado vital, são imensuráveis com as
estatístcas de que dispomos.
Já nas trajetórias do “paradigma agropecuário”, a natureza tomada como capital físico,
“aprisionada” nos processos produtivos como “terra de negócio” ou “terra de trabalho”, para
usar uma perspectiva importante na sociologia agrária brasileira (Martins, 1979), deprecia-se
– retornando à “liberdade” apenas na condição de um dejeto. Aqui temos meio de avaliação
quantitativa como aquilo que designamos de “capoeira-sucata”, para o que desenvolvemos
(Costa, 2009c e 2008a) o modelo apresentado no Capítulo 3.
No primeiro caso, da trajetória do “paradigma extrativista”, o que se vê como extensão
dos recursos fundiários em operação situa-se como um componente em contexto mais amplo
e complexo: tanto menos expressivo tal componente, quanto mais importante o manejo direto
da natureza originária. No segundo caso, das trajetórias agropecuárias, os recursos fundiários
em operação são uma parcela dos recursos naturais associados à evolução das trajetórias,
parte deles natureza degradada, concretamente expressa nas capoeiras-sucatas.
Nessa condição, acumularam-se em torno de 3 milhões de hectares ao longo do
período sob exame, num ritmo de crescimento de 1,4% a.a. (para este e os próximos resultados
ver a parte B do Gráfico 7.3.1-2). Observam-se, entretanto, diferenças na participação e
no ritmo de formação desses terrenos: a Trajetória-Patronal.T4 foi responsável por 63%
dessas áreas até meados da década de noventa, perdendo significado, mas não a majestade,
a partir daí, até atingir 49% no final do período. A Trajetória-Camponesa.T3 responde por
12% com taxa de crescimento de 0,8% a.a. A Trajetória-Camponesa.T2 tem participação
média de 5%, com taxa negativa de -0,5% a.a. A Trajetória-Patronal.T5 com 2% e a T6 com
0%, têm pesos irrelevantes nesse estoque. À Trajetória-Camponesa.T1 se associam 13%
dessas áreas com taxa de crescimento de 1,3%, ligeiramente abaixo da média. No Cap. 3,
demonstramos que a intensificação por cultura permanente, própria da trajetória em questão,
se faz dominantemente sobre “restos” da agricultura itinerante, do que faz parte um legado de
capoeiras-sucata. Não obstante natureza degradada, as “capoeiras-sucata” constituem recurso
fundiário, seja porque objeto de propriedade ou posse dos agentes nas trajetórias, ou porque
legado dessa condição.

208
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 7.3.1-2 – Evolução das necessidades de fundamentos naturais das diferentes trajetórias do
Setor Rural da Região Norte, 1990 a 2006 (médias trianuais)
A - Áreas Agricultadas em Operação (AO)
40.000,0

35.000,0

30.000,0
Índice de Prevalência

25.000,0

20.000,0

15.000,0

10.000,0

5.000,0

0,0
1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005
B -Capoeiras Sucata C - Capoeiras Reserva

1.750 1.750

1.500 1.500
Índice de Prevalência
Índice de Prevalência

1.250 1.250

1.000 1.000

750 750

500 500

250 250

0 0
1990

1993

1996

1999

2002

2005
1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

TrajetóriaCamponesa.T1 TrajetóriaCamponesa.T2 TrajetóriaCamponesa.T3 TrajetóriaPatronal.T5


TrajetóriaPatronal.T6 TrajetóriaPatronal.T4 TrajetóriaPatronal.T7

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor. Ver metodológias no Capítulo 3.

São, igualmente, partes da relação fundiária, as áreas liberadas do uso agropecuário


em boas condições, como resultado de mundança tecnológica que intensificam o uso da
terra. Sob tais condições, tratos de terra retornam à composição e estrutura semelhantes às
das florestas originárias em relativamente pouco tempo. A esse tipo de áreas, chamamos
209
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

no Capítulo 3 de “capoeiras-reserva”, as quais cresceram à taxa de 1,6% a.a., em ritmo


ligeiramente superior, portanto, ao das “capoeiras-sucata”, atingindo um montante em torno
de1,942 milhões de hectares no final do período que focamos. O crescimento foi liderado
pela Trajetória-Camponesa.T1 que, representando ao final do período 41% do total, cresceu
à taxa de 3,1% a.a.. As demais trajetórias camponesas compõem, com participações iguais de
13%, 26% do total dessas áreas em recomposição. As taxas de crescimento são, todavia, da
T2 , como se esperaria dela, praticamente a 0% a.a., da T3 com crescimento de 0,6% a.a. A
Trajetória-Patronal.T5 responde por adicionais 10%, e cresce a 1,5% a.a., ritmo ligeiramente
inferior à média. A velha Trajetória-Patronal.T4 chegou a representar 27%, no final do
período reduziu para 17%; a nova T7, por sua vez, de quase nada, chega a representar 6% no
final do período.
Além das áreas agricultadas em operação e das áreas já utilizadas, porém fora dos processos
produtivos, compõem os recursos fundiários dos estabelecimentos nas trajetórias áreas que nunca
foram utilizadas na agropecuária, dominadas por florestas originárias. Em 1995, as áreas com
florestas originais representavam 89% dos recursos fundiários da Trajetória-Patronal.T6; 66%
da Trajetória-Camponesa.T2 ; 55% da Trajetória-Patronal.T5; 50% da Trajetória-Camponesa.
T1 ; 42% da Patronal T4 e 39% da Trajetória-Camponesa.T3 (Gráfico 7.3.1-3). Para trajetórias
agropecuárias, essas áreas se confundem com reservas de recursos fundiários não utilizados. Para
as trajetórias extrativistas, elas são recursos fundiários ativos nos processos produtivos.

Gráfico 7.3.1-3 – Participação das áreas com floresta originária nos estabelecimentos, por
trajetória, Região Norte (1995-1996)

100%
15% 12% 13%
19% 24%
28%
80% 39% 42%
50% 55%
66%
60%
93%
85% 88% 87%
40% 81% 76%
72%
61% 58%
50% 45%
20% 34%

7%
0%
1995 T1

2006 T1

1995 T2

2006 T2

1995 T3

2006 T3

1995 T4

2006 T4

1995 T5

2006 T5

1995 T6

2006 T7

1995 Não-Florestas 1995 Florestas 2006 Não-Floresta 2006 Floresta

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor conforme as notas do Anexo.

210
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Para avaliar os recursos fundiários das trajetórias, portanto, é necessário conhecer suas
reservas de mata. Não há, todavia, como estimá-las. Precisaríamos recorrer aos dados do Censo
de 2006 para avaliá-las. Discutimos em 6.7.8 as dificuldades encontradas, dado que se detecta
subnotação particularmente em relação às trajetórias patronal T4 e camponesa T3. Acresce,
ademais, problemas associados a mudanças conceituais na definição das áreas não utilizadas,
as capoeiras, de importância já demonstrada: quando abaixo de quatro anos o novo Censo
considerou essas áreas como incorporadas a base de cultivo a que se refere, e as acima de quatro
anos considerou como “matas”. Uma pena.
Não obstante, como já mencionado, submetemos os dados do Censo de 2006 à
metodologia de delimitação de trajetórias que utilizamos em 6.3 para o Censo de 1995. Com
isso criamos a possibilidade de recorrer comparativamente a estruturas de informações para as
quais os problemas acima mencionados podem ser controlados. No caso da expressão das áreas
com florestas originais nos acervos totais em 2006, a Trajetória-Camponesa.T2 mostrou a maior
proporção, 46%, 20 pontos percentuais menos que em 1995 (ver Gráfico 7.3.1-3); seguida da
Trajetória-Patronal.T5, com 43%, 12 pontos menos de dez anos anos; da Trajetória-Camponesa.
T1 , 33%, 17 pontos menos que no primeiro censo; da PatronalT4, 34% (17 pontos menos) e 42%
da Trajetória-Camponesa.T3 (13 pontos a mais, a única que cresceu nessa variável). Em que
medida, porém, essas grandezas estão comprometidas pela subnotação apontada ou pela mudança
de conceito na quantificação das áreas usadas? Não sabemos.

Recursos fundiários e instituições – regras de distribuição e apropriação

Tomados globalmente os recursos fundiários, revelam-se as regras de sua distribuição e


controle. Com efeito, tendo as trajetórias como referências, a distribuição se faz de tal modo que
6% do número de estabelecimentos totais da Região Norte, que faziam a Trajetória-Patronal.T4 em
1995, dispunham de 60% de todos os recursos fundiários (importante lembrar que nesse momento a
T7 não tinha expressão – só existia como embrião), enquanto que os estabelecimentos da Trajetória-
Camponesa.T2 , 29% do total, controlam meros 5% dos recursos. A sua vez, os estabelecimentos da
Trajetória-Camponesa.T1 , 39% do total, controlam 17% e os 25% da Trajetória-Camponesa.T3, 12%
dos recursos fundiários. Utilizando uma medida de concentração que varia de 0 a 1, mediante a qual o
menor valor expressa distribuição totalmente equânime e o maior, concentração absoluta (o Índice de
Gini-Hirshman), a concentração dessa configuração seria de 0,6385 (Gráfico 7.3.1-4).
Sobre as formas que expressam as relações de apropriação dos recursos fundiários, os
dados do Censo são irreais. Por uma interação entre os dados do Sistema Nacional de Cadastro
Rural, obtivemos, apenas para o estado do Pará em 2003, os seguintes resultados: nada menos
que 45% dos 35,6 milhões de hectares cadastrados no estado estão na condição de posse, pouco
mais do que 3 milhões de hectares, 1/5, portanto, seriam posses pressupostamente legitimáveis. As
proporções de áreas de posse nas trajetórias camponesas são, na T1 , 75%, na T2 , 64% e na T3,
67%; nas patronais, a T4 tem 30%, a T5 nada menos do que 80% e a T6 50% (Gráfico 7.3.1-5).
211
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 7.3.1-4 – Estrutura Fundiária da Região Norte a Partir dos dados do Censo Agropecuário
de 1995-96

Índice de Concentração Gini-Hirshman: 0,6385


100%

80%
60%
60%
39%
40% 29% 25%
17%
20% 12%
5% 6% 4% 1% 2% 0%
0%
Trajetória Trajetória Trajetória Trajetória Trajetória Trajetória
Camponês.T1 Camponês.T2 Camponês.T3 Patronal.T4 PatronalI.T5 PatronalI.T6

Volume das terras Número de estabelecimentos

Fonte: Dados básicos do IBGE. Processamento do autor conforme as notas do Anexo.

Gráfico 7.3.1-5 – Condição de acesso ao total de recursos fundiários, Estado do Pará (2003)
100%
80% 30%
65% 50%
60% 75% 67% 80%
40% 70%
20% 35% 50%
25% 33% 20%
0%
TrajetóriaCampon

TrajetóriaCampon

TrajetóriaCampon

TrajetóriaPatronal

TrajetóriaPatronal

TrajetóriaPatronal
ês.T3: Média
ês.T1

ês.T2

I.T5

I.T6
.T4

Proprietários Posse

Fonte: Censo Agropecuário e Fonte: INCRA/SNCR, 2003. Nota metológica: Para a integração do BD com os dados
do Censo e o BD com os dados do SNCR 1) tomamos a base do SNCR que apresenta os dados por 17 estratos de área
para cada microrregião do Pará; 2) Compatibilizamos os 17 estrados de área do INCRA com os 15 do BD da pesquisa
para cada microrregião 3) Integramos os dois BD a partir da variável comum “estrato.microrregião” .

212
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Formação de recursos fundiários, estrutura fundiária e mercado terras

Dinâmicas rurais assentam-se sobre estruturas (regulações) fundiárias – relações de


apropriação, uso e alienação de recursos fundiários. Os recursos fundiários são apropriados
mediante uma institucionalidade articulada por regras sociais de acesso e distribuição e usados
mediante determinações técnicas dos processos produtivos organizados em trajetórias tecnológicas
por modos de produção. Tais determinações qualificam socialmente os recursos fundiários, de um
lado, como base de acumulação patrimonial e riqueza, de outro, como conjunto de ativos distintos
suportados pela terra. Nesta última condição, trata-se de portfolio com ativos genéricos (terras) e
específicos (reservas de florestas originárias).
O grau de especificidade de um ativo define-se pela sua especialização. Tanto mais específico
um ativo, tanto mais seu aproveitamento em outra atividade que não aquela a que originariamente serve
exigirá investimentos específicos, com resultados incertos, por suposto, ou implicará perdas de valor
(Williamson, 1985). Florestas originárias, como recursos fundiários, constituem ativos específicos
de sistemas de produção do “paradigma extrativista”, sua utilização pressupõe conhecimentos e
capacidades especializadas que, ou não disponíveis como conhecimento codificado, passível de
transmissão por manuais, ou de difícil (cara) obtenção. Terras, pelo contrário, são ativos genéricos
– cuja mudança na aplicação tem baixo custo de transação, requerendo, ademais, conhecimentos e
capacidades de fácil (barata) aquisição.
Na Amazônia, o total dos recursos fundiários tornados ativos genéricos na condição de terras
desflorestadas, sob controle dos agentes nas trajetórias, avultou 26,4 e 40,0 milhões de hectares,
respectivamente, nos anos de 1995 e 2006. Como florestas originárias em mãos privadas, existiam
adicionais 25,7 e 26,3 milhões de hectares nos mesmos anos. Ao todo, esses recursos fundiários
representavam em 2006 66,3 milhões de hectares (para o último Censo estamos considerando o
acervo de terras que inclui os estabelecimentos privados, localizados em terras indígenas e reservas,
conf. 6.7.8). Como se formaram esse ativos? De onde provieram? Por que vias?
Para a primeira pergunta, há uma resposta que observa a origem, denominemos assim,
imediata – os próprios estabelecimento nas trajetórias (ou nas suas áreas de ocorrência) são mediações
nessa formação; para a segunda, é exigido o tratamento de intervenções mediatas, a saber, as que
compõem duas vias institucionais: o mercado de terras e os mecanismos de distribuição a pretexto
de reforma agrária.

A mobilidade dos recursos fundiários entre as trajetórias

A Tabela 7.3.1-1 informa sobre importantes aspectos da questão. Notamos que se refere
ao total de 53,5 milhões de hectares considerados na versão final do IBGE e não aos 66,3 milhões
que entendemos ser o total real do acervo, como informado na divulgação preliminar dos resultados
do Censo (ver 6.7.8). É que nos importa aqui verificar não exatamente os valores absolutos, mas a
estrutura dos dados que expõe as relações entre a origem do acervo de terras das trajetórias em 2006,
213
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

considerando as trajetórias, ou as referências das trajetórias a que este acervo pertencia em 1995.
A primeira coluna nomeia as linhas pelas trajetórias existentes em 1995; a última coluna, portanto,
apresenta o total de terras que “passaram” por essas trajetórias. As primeira/segunda linhas nomeiam
as trajetórias em 2006 e a última linha os totais dos seus acervos atuais (em 2006). Na primeira parte da
tabela, estão os valores absolutos (ha), na segunda as proporções de cada célula em relação ao total do
acervo em questão, a terceira relaciona a célula com o total da coluna e a quarta com o total da linha.
Nas duas últimas partes da tabela é possível discernir, respectivamente, na antipenúltima, qual o peso
de cada trajetória de 1995 no “fornecimento” de terra para a trajetória em questão em 2006; e na última
como cada trajetória de 1995 distribuiu seu acervo para as trajetórias em 2006.

Tabela 7.3.1-1- Fontes do asservo de terras (AT) das trajetórias tecnológicas em 2006, considerando
a posição do estabelecimento em 2006
Trajetória onde se Trajetória onde se encontrava o estabelecimento em 2006
encontrava o Camponês. Patronal. Patronal. Patronal.
Camponês.T1 Camponês.T2 Total
estabelecimento em 1995 T3 T4 T5 T7
Volume de terras apropriadas total
Camponesa.T1 5.151.356 2.105.986 1.484.066 161.444 147.577 150.498 9.200.927
Campones T2 1.485.985 1.493.861 487.814 17.002 5.776 313.322 3.803.760
Camponês T3 4.098.180 634.887 1.910.999 153.337 28.232 43.663 6.869.298
Patrona T4 6.870.103 1.146.451 2.854.292 10.023.954 265.425 9.494.991 30.655.216
Patronal T5 582.753 43.381 406.036 600.131 200.186 721.669 2.554.156
Patronal T6 217.074 145.620 42.549 405.243
Total 18.405.451 5.424.566 7.143.207 11.101.488 647.196 10.766.692 53.488.600
Estrutura relativa para total de linhas e colunas = 100%
Camponesa.T1 9,6% 3,9% 2,8% 0,3% 0,3% 0,3% 17,2%
Campones T2 2,8% 2,8% 0,9% 0,0% 0,0% 0,6% 7,1%
Camponês T3 7,7% 1,2% 3,6% 0,3% 0,1% 0,1% 12,8%
Patrona T4 12,8% 2,1% 5,3% 18,7% 0,5% 17,8% 57,3%
Patronal T5 1,1% 0,1% 0,8% 1,1% 0,4% 1,3% 4,8%
Patronal T6 0,4% 0,0% 0,0% 0,3% 0,0% 0,1% 0,8%
Total 34,4% 10,1% 13,4% 20,8% 1,2% 20,1% 100,0%
Estrutura relativa para total de colunas = 100%
Camponesa.T1 28,0% 38,8% 20,8% 1,5% 22,8% 1,4% 17,2%
Campones T2 8,1% 27,5% 6,8% 0,2% 0,9% 2,9% 7,1%
Camponês T3 22,3% 11,7% 26,8% 1,4% 4,4% 0,4% 12,8%
Patrona T4 37,3% 21,1% 40,0% 90,3% 41,0% 88,2% 57,3%
Patronal T5 3,2% 0,8% 5,7% 5,4% 30,9% 6,7% 4,8%
Patronal T6 1,2% 0,0% 0,0% 1,3% 0,0% 0,4% 0,8%
Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Estrutura relativa para total de linhas = 100%
Camponesa.T1 56% 23% 16% 2% 2% 2% 100%
Campones.T2 39% 39% 13% 0% 0% 8% 100%
Camponês.T3 60% 9% 28% 2% 0% 1% 100%
Patrona T4 22% 4% 9% 33% 1% 31% 100%
Patronal T5 23% 2% 16% 23% 8% 28% 100%
Patronal T6 54% 0% 0% 36% 0% 10% 100%
Total 34% 10% 13% 21% 1% 20% 100%
Fonte: IBGE, Censos de 1995 e 2006. Tabulações epeciais do autor.
Nota metodológica:
1. A construção dessa matriz foi possível porque na organização do banco de dados estabelecemos a relação entre um
“estrato de área” e o “município” em que se encontra como a unidade de informação mais elementar de todas as
tabelas. Feita a mesma relação para os dois censos (o que requereu ajustamentos para compatibilizar as diferenças
de estratificação) criamos a chave comum que permitiu estabelecer atributos para variáveis de um censo (com suas
tabelas próprias) com base em variáveis do outro censo: os atributos “trajetória” nas tabelas do Censo de 1995
podem ser atribuídos aos casos das tabelas do Censo de 2006, ao lado de seus próprios atributos “trajetória”, como
atributos “trajetória em 1995”. E vice-versa.

214
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

O maior movimento ocorreu relacinado à T4: ela reteve 1/3 (acima de 90% de tudo que
reteve), distribuiu 1/3 para outras trajetórias patronais (31% para a T7) e 1/3 para trajetórias
componesas (22% para a T1 , 9% para a T3 e 4% para a T2 ). Tratou-se de um processo no qual
ela, como trajetória, perdeu importância relativa de 36,5 pontos percentuais no controle fundiário
da região. Na sua constituição a T7 primordialmente herdou as terras da T4 (88,3% do que dispõe
em 2006 proveio daí) e, secundariamente, da T5, 6,7%, e da Camponesa.T2 (2,9%). Esse resultado
é completamente convergente com a discussão que fizemos em 6.7.1 sobre a gênese dessa nova
trajetória que, de acordo com a segunda parte da Tabela controla em 2006, 20,8% do acervo total
da terras na Região, um pouco acima da sua matriz, a T4.
Das trajetórias camponesas, a T1 duplicou seu significado, de 17,2% para 34,2% das
terras. Individualmente, seria a trajetória com maior acervo de terras na Região.

A formação de recursos fundiários e o mercado de terras

Do que vimos acima, a estrutura fundiária na Amazônia apresenta cinco características


relevantes: expressa alto grau de assimetria distributiva entre os agentes em suas trajetórias,
permite a formação estratégica de estoques de ativos de existência restrita, admite tratamento
indistinto de ativos distintos e, por fim, suporta o uso de recursos públicos por critérios
privados: admite a posse ilegítima de terras públicas. Por razões e mecanismos a serem
detalhados adiante, esses atributos da estrutura fundiária combinam-se como fundamentos do
mercado de terras na região.
Tal mercado expressa-se nos preços e na “natureza” do que movimenta. Pesquisa anual
do Instituto FNP que abrange o período 2001 a 2007 em 241 municípios do Acre, Amapá,
Amazonas e Pará, cujos resultados foram por nós processados, apontam para três grandes
categorias da mercadoria: “Terras com Mata”, “Terras de Pastagens” e “Terras para Lavoura”.
O Gráfico 7.3.1-6 apresenta, na parte (A), as respectivas evoluções dos preços no período, em
valores corrigidos para reais de 2007; na parte (B), as relações entre eles. Os seguintes pontos
se destacam:
Os preços de “Terras com Mata” são parcelas dos demais, em média 43% dos das
“Terras de Pastagem” e 23% dos das “Terras de Lavouras”. O mercado de terras informa,
assim, só reconhecer os preços das “Terras com Mata” como parcelas na formação dos preços
das pastagens e terras agrícolas. Isso pressupõe uma regulação que transforma “Florestas
Originárias” (não mercadoria) em “Terras com Mata” (mercadoria) a preço sistemicamente
controlado de modo a não comprometer, no passo seguinte, a viabilidade da transformação
destas em “Terras de Pastagem” ou “Terras para Lavoura”. De outra perspectiva: pressupõe um
processo de produção de “Terras com Mata”, a partir de “Florestas Originárias”, que estabelece
um “preço de produção” das primeiras compatível com a rentabilidade das trajetórias que têm
como insumos “Terras de Pastagem” ou “Terras para Lavoura”.

215
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 7.3.1-6 – Mercado de terras na Região Norte: evolução e relação dos preços de mata,
pasto e terra agrícola, 2001 a 2007 (preços em R$ corrigidos para 2007)
(A) - Preços médios (taxa de cresciment o na legenda)

1.400,00
1.200,00
1.000,00
800,00
R$/Ha

600,00
400,00
200,00
0,00
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2001 a
2007

Mat a: 2,1% a.a. Past agem: 6% a.a. T erra Agrícola: 1,5% a.a.

(B) - Relação entre preços das terras na agropecuária e preços da mata

50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2001 a 2007

Preço da Mata/Preço de Pasto Preço da Mata/Preço de Terra Agrícola

Fonte: Instituto FNP, Anualpec 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008. Processamento do autor. 1 – O Instituto iFNP
publica desde 2003 preços de terras tipificando-as como “terras com mata”, “pastagens” e “terras agrícolas”, a partir
de pesquisa de campo que cobrem 22 municípios do Acre, 16 municípios do Amapá, 64 do Amazonas e 139 do Pará.
2 – Médias aritméticas simples dos preços corrigidos pelo IGP-DI para 2007 de acordo com tipo de terras. 3 – Taxas
calculadas por regressão das transformações logarítmicas em relação ao tempo.

Os fluxos reais e monetários do mercado de terras

O mercado de terras na Amazônia estabelece preços para três tipos de mercadorias:


“Terras com Mata”, “Terras de Pastagem” e “Terras para Lavoura”. Cabem, então, as perguntas:
a) Quais as quantidades que conformam o jogo de oferta e demanda desses diferentes tipos de
terra? b) Que valores, que expressão econômica o sistema apresenta?
Considerando os dados do Censo de 2006 antes da retirada dos estabelecimentos em
territórios indígenas e áreas de reserva (ver comentários em 6.7.1), a diferença entre os estoques
216
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

totais de terras nos estabelecimentos nos dois censos, em condições claramente assinaladas, avulta
14,2 milhões de hectares em toda a Região Norte. Observando a distribuição dessa diferença pelas
variações nos tipos de aplicação, é possível estabelecer que nos 11 anos em questão, os operadores
dos estabelecimentos adquiriram 5,4 milhões de hectares de “Terras para Lavoura”, 8,2 milhões
de “Terras de Pastagem” e, ademais, 0,5 milhão de hectares adicionais aos seus estoques de
“Terras com Mata” (ver Tabela 7.3.1-2).
Esses “produtos” (os dois primeiros itens constituindo parcelas da formação bruta de
capital fixo do setor; o último, uma reserva de contingência) não existiam, na Região, em 1995,
tendo sido, portanto, produzidos ao longo do período aqui tratado.

Tabela 7.3.1-2 – Mercado de terras na Região Norte entre os 1995 e em 2006


Passagem das
“Terras com Mata”
para a condição de
Estoque de terras
capital físico:
nos estabelecimentos:
”Terra de Pastagem”,
”Terras para Lavoura” e
“Reserva de Mata”
1995 2006 Fluxo Real (Ha) Fluxo Monetário (R$)
(A) (B) (B)-(A)=(C) (C)*Preço Médio
Terras para Lavoura 1.972.056 7.406.786 5.434.730 3.020.839.633
Terras de Pastagens 24.386.621 32.630.532 8.243.911 8.546.530.707
Reserva de Terras com Matas 25.756.634 26.283.121 526.487
Total de Terras Apropriadas 52.115.311 66 320 439 11.567.370.340
14.205.128
Transformação necessária Fluxo Real (Ha) (1.291.375/ano)
de “floresta originária”
Fluxo Monetário 3.384.818.012
em “Terra com Mata”
(R$) (307.710.728/Ano)
Valor total movimentado no mercado de terras 14.952.188.352
(R$) (1.359.289.850/Ano)

Fonte: IBGE, Censo de 1995 e Censo de 2006.

Tal produção se fez pela transformação do ativo específico “Florestas Originárias”,


um bem público, no ativo genérico “Terra com Mata”, tornada, na condição de ativo privado,
“matéria-prima” comum às demais formas de “terras” que circulam no mercado. Intransportável,
a matéria-prima “Terra com Mata” foi ofertada ao longo do período em um montante preciso de
14,2 milhões de hectares.
Abstraindo as formas de produção, ao que retornaremos adiante, e os custos correspondentes
de transformação das “Florestas Originárias” em “Terras com Mata”, de difícil aferição, a
avaliação monetária desse mercado exige a quantificação de um movimento “primário” de vendas
das “Terras com Mata” e de um movimento “derivado” de venda de “Terras para Pastagem” e
“Terras para Lavoura”. No primeiro, foram movimentados R$ 3,4 bilhões e, no segundo, R$ 11,6
bilhões, perfazendo, o total de vendas diretas em torno de R$ 15 bilhões de reais em 11 anos –
aproximadamente R$ 1,4 bilhão por ano.
217
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Quantificado o movimento total do mercado de terras, duas questões adicionais carecem


tratamento: a) Quem compra, isto é, como as trajetórias que analisamos relacionam-se com tal
mercado? b) Quem produziu as “coisas” nele ofertadas?

A demanda de terras pela Trajetória-Patronal.T4 e pela sua geminada a Trajetória-Patronal.T7

Iniciemos pela Trajetória-Patronal.T4 e sua derivada, a Trajetória-Patronal.T7 – as mais


exigentes em terras e, portanto, as que em conjunto apresentam maior capacidade de influir na
estrutura dos dados globais relativos ao uso do solo. As dificuldades com os dados do Censo de
2006, já discutidas, assumem aqui proporções mais significativas. Parece razoável supor que a
subnotação produzida pela supressão das terras indígenas e de reserva afeta drasticamente a T4
– ela avança comumente sobre áreas de floresta (indígenas ou não) e seguramente tem presença
expressiva nas áreas suprimidas, com, provavelmente, proporções acima da média de áreas com
mata. Já a T7 dificilmente se desenvolverá nessas áreas. Logo, para esta última os dados do Censo
condizem com sua realidade. Já para a primeira, as variáveis fundiárias e de reserva de mata são
claramente distorcidas: ambas subestimadas. Assim, para calcular as proporções respectivas entre
reservas de mata e o total apropriado por todos os estabelecimentos da trajetória, consideramos,
no caso da T7, a percentagem encontrada com os dados do Censo a ela relativos, de 33,9%; para
a T4, para minimizar erro, adotamos a média de todos os estabelecimentos, 39,6% . Aplicadas
essas percentagens aos volumes de terra utilizadas em 2006 em pastagem e agricultura, inclusa a
formação de capoeiras dos estabelecimentos na trajetória em questão, foi possível chegar a uma
reserva de mata de 3,3 e 1,1 milhões de hectares na posse dos agentes da remanescente T4 e da
emergente T7 naquele ano (ver Tabela 7.3.1-3 e Tabela 7.3.1-4).

Tabela 3.1-3 – Participação da Trajetória-Patronal.T4 no Mercado de terras na Região Norte


entre os 1995 e em 2006
Passagem das“Terras com Mata”para
Estoque de terras nos
a condição decapital físico:”Terra de
estabelecimentos:
Pastagem”,”Terras para Lavoura”
  e“Reserva de Mata”
Fluxo Monetário
1995 2006 Fluxo Real (Ha)
(R$)(C)
(A) (B) (B)-(A)=(C)
Preço Médio
Terras para Lavouras 398.398 888.629 490.231
Terras de Pastagens 16.854.234 20.797.869 3.943.635
Reserva de TerrasCom Matas 10.909.753 14.216.704 3.306.952
Total de Terras Apropriadas 28.162.385 35.903.203 4.478.902.249
7.740.817
Transformação Necessá- Fluxo Real (Ha)
(703.710/Ano)
ria de “floresta originária
em“Terra com Mata” 1.844.492.901
Fluxo Monetário(R$)
(167.681.172/Ano)
6.323.395.150
Valor total movimentado no mercado de terras
(574.854.104/Ano)
Fonte: IBGE, Censo de 1995 e Censo de 2006.

218
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

É possível concluir com isso, que 7,7 milhões de hectares de “Florestas Originárias” foram
transformados em “terras” para a Trajetória-Patronal.T4 (0,5 milhões destinados a lavouras, 3,9
milhões destinados a pastagens e outros 3,3 milhões, por fim, na forma de “Terras com Mata”). Esse
montante representa nada menos que 54,2% do total observado na Tabela 7.3.1-2, da produção de
terras em toda Região Norte no mesmo período, metamorfose realizada nos mercados, primário
e derivado, de terras. Não obstante a transferência de recursos para a T7, o peso relativo da T4
na estruturação da base fundiária da região continua decisivo, influenciando o estabelecimento
médio com suas características: concentração fundiária e controle, pelos demandantes de “Terras
de Pastagens”, das reservas de “Terras com Mata”.

Tabela 7.3.1-4 – Participação da Trajetória-Patronal.T7 no Mercado de terras na Região Norte


entre os 1995 e em 2006
Estoque de terras nos Passagem das“Terras com Mata”para a condição
estabelecimentos: decapital físico:”Terra de Pastagem”,”Terras
para Lavoura” e“Reserva de Mata”
 
Fluxo Monetário
1995(A) 2006(B) Fluxo Real (há)(B)-(A)=(C) (R$)(C)
Preço Médio
Terras para Lavouras (incluindo capoeiras) 78.696 525.498 446.802  
Terras de Pastagens (incluindo capoeiras) 2.895.639 5.296.016 2.400.377  
Reserva de “Terras com Matas” 1.880.829 2.989.545 1.108.715  
Total de Terras Apropriadas (TA) 4.855.164 9.637.840 2.288.914.120
3.955.895
Transformação necessária Fluxo Real (Ha)      
(359.627 /Ano)
de “floresta originária
Fluxo Monetário 942.616.206
em“Terra com Mata”      
(R$) (85.692.382 /Ano)
Valor total movimentado no mercado de terras 3.231.530.325
     
(R$) (293.775.484 /Ano)
Fonte: IBGE, Censo de 1995 e Censo de 2006.

Utilizando os mesmos critérios, estima-se uma reserva de mata de 1,1 milhão de hectares
na posse dos agentes da emergente T7 em 2006 (ver Tabela 7-13). Disso resulta que 3,96 milhões de
hectares de “Florestas Originárias” foram transformados em “terras” para a Trajetória-Patronal.T7:
0,45 milhões destinadas a lavouras, 2,4 milhões destinados a pastagens e outros 1,1 milhões como
“Terras com Mata”. Esse montante representa nada menos que 34% do total relativo a toda Região
Norte nos mercados de terras, como visto acima. Juntas, a Trajetória-Patronal.T7 e sua matriz, a T4,
absorveram 88% de todas as áreas incorporadas às estruturas do setor através do mercado de terra.
Elas condicionam de modo irrecorrível a estrutura fundiária e as características do desenvolvimento
de base rural na região.
As Trajetória-Patronal.T4 e Trajetória-Patronal.T7 têm condicionantes estruturais à
concentração, por uma parte, porque a pecuária de corte tem dificuldades em intensificar a produção na
região, sua extensividade e produção conexa de terras degradadas (capoeira-sucata – como já discutido
acima) exigindo volumes crescentes de terras que se acrescem ao tamanho dos estabelecimentos;
por outra parte, porque a eficiência econômica dos níveis tecnológicos mais extensivos no uso da
terra cresce com a escala da produção. Demonstramos isso suficientemente em 3.2.2 e 3.3.1, onde
219
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

chegamos a três conclusões: i) a intensificação na pecuária de corte, partindo da escala média dos
estabelecimentos que detêm a metade do rebanho com esse fim, não é path-efficient – não produz uma
trajetória consistente; ii) porém a rentabilidade é crescente com a escala de produção e, portanto, iii) na
atividade se combinam soluções tecnológicas extensivas no uso da terra e rentabilidade crescente com
a escala, produzindo uma forte tensão para incorporação de novas terras.
Por outra parte, a trajetória T7 projeta na Amazônia os fundamentos tecnológicos
intensivos em mecânica e química próprios da cultura da soja no País. Como se verá adiante,
essa trajetória tem ganhos de escala associados à aplicação de recursos mecânicos que dão
eficiência ao uso extensivo da terra. Ademais, se deve anotar novas possibilidades tecnológicas
de desenvolvimento recente que, em última instância, poderá aumentar de modo significativo
sinergias entre a T4 e a T7. Destacam-se os procedimentos conhecidos como “barreirão”, que
alternam uso da terra entre pastagem e grãos, com plantio direto (Valentim e Andrade, 2009).

A demanda de terras das demais trajetórias e sua compatibilidade com o suprimento


institucional do INCRA

Delimitada a participação conjunta da Trajetória-Patronal.T4 e da Trajetória-Patronal.


T7, 11,7 milhões no total de demanda do setor por novas terras, 14,2 milhões, resulta um saldo em
torno de 2,5 milhões de hectares que deveriam corresponder ao suprimento das necessidades de
expansão das demais trajetórias.
Encontramos 2,7 milhões de hectares que terão sido destinados às trajetórias componesas,
ou, através delas, às demais trajetórias patronais, por via institucional distinta do mercado, dado
que esse é o volume de terras desapropriadas entre 1995 e 2002, pelo INCRA, para efeito de
assentamentos, no contexto do Programa Nacional de Reforma Agrária (conf. Gráfico 7.3.1-7).

Gráfico 7.3.1-7 – Terras desapropriadas pelo INCRA para efeito de reforma agrária na Região
Norte (1990 a 2002)
3.000.000 800.000
Hectares acumulados

700.000
2.500.000
600.000
Hectares por ano
2.000.000
2,7 milhões

500.000
1.500.000 400.000
408 mil

1.000.000 300.000
200.000
500.000 100.000
0 0
2002

1990

1991

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002
Até 1994

De 1994 a

Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA.

220
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

7.3.2. Instituições e recursos de crédito

Utilizaremos as relações entre a política de crédito e as trajetórias como proxy da relação


entre estas e o ambiente institucional mais amplo. Privilegiamos as informações relativas ao crédito
agropecuário, entendendo que têm significado especial, pois expressam bem mais que recursos
de empréstimo. Na agricultura, o crédito é fundamentalmente crédito de fomento e, como tal,
mecanismo de política. Na Amazônia, em particular, ele deriva do Fundo Constitucional do Norte
(FNO), fundo com orientação clara às necessidades do desenvolvimento: a rigor, no período aqui
investigado, constituiu a mais importante política rural em andamento na região. No Capítulo
1, apresentamos com algum detalhe essa política de crédito de fomento do desenvolvimento.
Demonstramos que, em torno dela, movimentam-se outras políticas – suas instituições e
organizações mediadoras – sendo as mais notórias as de pesquisa tecnológica e as de assistência
técnica. Além do mais, o crédito reflete o estado geral do ambiente institucional nas áreas rurais.
Pois, onde há políticas de ordenamento territorial, há crédito; onde as relações de propriedade da
terra são dúbias, não há crédito; ou, se existe apesar disso, há algum tipo de organização que o
garante. Desse modo, a variável crédito pode ser vista como proxy das relações institucionais dos
agentes e suas formas de produção no contexto das trajetórias que protagonizam.

Gráfico 7.3.2-1 Evolução do relação entre o crédito rural e o Valor Bruto da Produção Agropecuária
e da Renda Líquida do Setor Rural da Região Norte, 1993 a 2004
50%

45%

40%
Densidade Institucional

35%

30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%
1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

Participação do Crédito no VBP Participação do Crédito na RL

Fonte: Banco Central, IPEADATA e IBGE. Processamentos do autor.

221
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Notas Metodológicas:
1. Valor de crédito referente à agregação do saldo contábil das operações de crédito para custeio das despesas do
ciclo produtivo realizadas pelas agências das intituições financeiras do município em 31 de dezembro.
2. Os valores de crédito fornecidos pelo Banco Central em quatro grupos – “custeio agricultura”, “custeio pecuária”,
“investimento agricultura”, investimentos pecuária” – foram agregados em dois grupos, “crédito para agricultura”
e “crédito para pecuária”, por microrregião.
3. Esses agregados foram divididos, respectivamente, pelo “valor da produção agrícola” e pelo “valor da produção
pecuária”.
4. Os quocientes resultantes foram multiplicados, no primeiro caso, pela produção agrícola; no segundo caso, pela
produção pecuária de cada caso mencionado na nota 3 do Gráfico 1 para produzir a variável “crédito agropecuário”
do banco de dados que processamos aqui.

Pois bem. Com tudo que significa, a nova política projetou-se sobre uma realidade marcada
pelas trajetórias tecnológicas sob análise, interagindo com elas, condicionando-as e por elas sendo
condicionada.
Anote-se que o volume de crédito alocado no setor tem sido significativo. Em 1995, ano
do Censo, representou 14% do Valor Bruto da Produção Rural (VBPR), 22% da Renda Líquida do
Produtor (RLP) e nada menos 73% do valor dos investimentos totais (ver Tabela 6.4-1). A relação
com as duas primeiras variáveis ao longo do tempo saiu de respectivos 23% e 42% em 1993, atingiu
o ponto mais baixo em 1997, com 10% e 11%, voltando a crescer até 19% e 29%, no final da série
(conf. Gráfico 7.3.2-1).
A relação do crédito com as diversas trajetórias é bastante diversa. Para acompanhá-la,
adotamos um indicador a que chamamos de Índice de Densidade Institucional a Partir do Crédito
(IDIC), o qual resulta da divisão entre participação percentual da trajetória no crédito (% que
acessou do crédito total) e a participação respectiva no VBPR (% do VBPR). Se o valor do IDIC
for maior que 1, a trajetória acessou mais crédito do que sua importância econômica, permitindo
aventar que teve um ambiente institucional que a favoreceu na razão direta do valor do IDIC. No
Gráfico 39, encontram-se os resultados para todas as trajetórias para o conjunto da Região Norte,
entre 1993 e 2004. Destacam-se os seguintes pontos:
•• O IDIC da Trajetória-Patronal.T4 – a especializada em pecuária de corte – apresentou
os maiores valores entre todas: sai de 0,9 em 1993 para 2,2 em 1997, reduz a partir
daí para oscilar em torno de 1,7. 6
•• O IDIC da Trajetória-Patronal.T7 parece desmesurado quando a trajetória tem pouco
significado. À proporção que cresce sua importância, o índice reduz, situando-se
todavia em posição máxima, acima da T4 até 2001. A partir daí cai para posição
intermediária, entre a T4 e a T5.

6 No segmento 2.1.1, indicamos que a eficiência econômica dessa trajetória está associada ao crescimento em escala ou à melhoria
do rebanho. Em qualquer dos casos, tais incrementos exigiram recursos de capital e de conhecimento, o que implica observar as
mediações institucionais no provimento dessas necessidades. Já com os dados do Censo de 1995, a Trajetória T4.Patronal apresentava
um IDIC de 1,63, significando que, para cada 1% de sua participação no VBPR do setor, ela recebeu 1,63% de participação no crédito
total nele alocado. Isso explica, em parte, a elevada taxa de investimento verificada naquele ano de 36% da renda líquida: além dos
investimentos em terras, a trajetória era responsável por 63% de todos os investimentos do setor na aquisição de animais e 55% das
inversões em máquinas (ver Tabela 6.4-1).

222
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

•• Os movimentos do IDIC da T4 parecem se fazer inversamente aos da Trajetória-


Patronal.T5 – especializada em culturas permanentes entre os estabelecimentos
patronais – que de 1,3 no primeiro desses anos, passou para 0,7 em 1997, chegando
ao final do período a algo próximo de 1.
•• Inversamente ao que se passa com as trajetórias patronais, que se situam todas, por quase
todo tempo acima de 1 (recebem crédito mais que o proporcional a sua participação na
economia rural) todas as trajetórias camponesas apresentam IDIC flutuando, a maior parte
do tempo, com valores abaixo de 1 (o acesso a esses recursos é menos que o proporcional à
importância relativa na economia rural). Das trajetórias camponesas, a que apresenta maior
IDIC é a TrajetóriaCamponês T1 – a que tende para culturas permanentes e pecuária de
leite. Mesmo assim, apenas durante três anos, de 1997 a 1999, o valor se situou acima de
1, com um máximo de 1,2.
•• Os movimentos do IDIC da Trajetória-Camponasa.T1 , a partir de 1996, são inversos
ao da TrajetóriaCamponês T3 – tendente à pecuária de corte: esta tem apresentado
sistematicamente valores abaixo de 1, não obstante a lenta tendência de crescimento
nos últimos cinco anos.
•• Os menores IDIC são os da Trajetória-Camponasa.T2 – a que tende a sistemas
agroflorestais: de 1,6 no início do período, cai até 1995 para se situar até o final do
período em torno de de 0,3. Nesse caso, o acesso à política de fomento se fez em nível
equivalente a 1/3 do seu significado econômico.
•• Estatisticamente, não foi possível associar crédito à Trajetória-Patronal.T6.

Gráfico 7.3.2-2 –Evolução do Índice de Densidade Institucional a Partir do Crédito (IDIC) para
as diferentes trajetórias do Setor Rural da Região Norte, 1993 a 2004
B - Trajetórias Camponesas C - Trajetórias Patronais

3,0 3,0
2,8 2,8
2,6 2,6
2,4 2,4
2,2 2,2
Índice de Prevalência

Índice de Prevalência

2,0 2,0
1,8 1,8
1,6 1,6
1,4 1,4
1,2 1,2
1,0 1,0
0,8 0,8
0,6 0,6
0,4 0,4
0,2 0,2
1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

Trajetória-Camponêsa.T1 Trajetória-Camponêsa.T2 Trajetória-Patronal.T5 Trajetória-Patronal.T6


Trajetória-Camponêsa.T3 Trajetória-Patronal.T4 Trajetória-Patronal.T7

Fonte: Banco Central, IPEADATA e IBGE. Processamento do autor. Notas Metodológicas: 1 – IDIC é igual à divisão
da participação relativa da trajetória no total de crédito pela participação respectiva no VBP. 2 – VBP obtido conforme
metodologia apresentada em notas dos Gráficos 2-1. 3 – Valor do crédito obtido conforme metodologia apresentada nas
notas 1 a 4 do Gráfico 7.3.2-1.

223
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Comentamos no Capítulo 1 que o FNO indicava possibilidades de uma nova base


de desenvolvimento, que se esperava resultar, consideradas as indicações da nova Carta
Magna propuganada pela Assembleia Nacional Constituinte de 1988, de inequívoca ênfase
nas Trajetória-Camponesa.T1 e Trajetória-Camponesa.T2 e enfática reorientação, no campo
patronal, para o favorecimento das Trajetória-Patronal.T5 e Trajetória-Patronal.T6. Ao
contrário, o que se verifica é que se mantém, não obstante com flutuações, a supremacia da
mais deletéria entre todas, a Trajetória-Patronal.T4, compartindo a posição com a emergente
T7, homogênea e intensiva em mecânica; no extremo inferior, a mais camponesa e diversa
de todas, a Trajetória-Camponesa.T2 . A Trajetória-Camponesa.T1 apresenta momentos de
proeminência, não obstante clara concorrência com a Trajetória-Camponesa.T3 – a congênere
da Trajetória-Patronal.T4 – que, por seu turno, sufoca a Trajetória-Patronal.T5, a trajetória
patronal que mais atributos de sustentabilidade apresenta, congênere patronal da Trajetória-
Camponesa.T1 .
O exercício das relações concertadas pelo FNO reflete, assim, a tensão que há entre
modelos de uso extensivo – excludente, concentrador, redutor extremado da biodiversidade – e
modelos de uso intensivo dos recursos naturais, em particular daqueles baseados na diversidade
botânica e nas capacidades difusas do trabalho camponês. No Capítulo 1, demonstramos que a
taxa de eficiência bancária expressa essa tensão, na medida em que aumenta quando o modelo a
superar prevalece e reduz quando, ao contrário, é o novo modelo que assume a proeminência. Ela
indica, assim, existirem, atuando sobre o FNO, forças que confirmam o que deveria ser negado e
negam o que deveria ser confirmado na perspectiva de um novo estilo de desenvolvimento para
a região.
Trata-se de situação paradoxal produzida por path dependency, cujas forças subjacentes
requerem tratamento, tanto mais quando se considera a importância de tal contexto para a
emergência de novas formas de atuação.

7.3.3. Instituições e recursos de C&T

Logo acima, na seção 7.3.2 observamos a relação das trajetórias em desenvolvimento


no setor rural da Região Norte privilegiando o crédito de fomento. Agora cabe por em relevo
a C&T agropecuária nas suas relações com as trajetórias tecnológicas. Ao mesmo tempo que
objetos da C&T, as trajetórias são o lócus de realização, materialização da finalidade dos
esforços científicos e tecnológicos orientados ao rural. Podemos lançar alguma luz sobre
as características dessas relações pela observação da alocação dos esforços da pesquisa
agropecuária na estrutura da produção e verificação da maior ou menor compatibilidade
existente entre as duas coisas.
Em tais exercícios, esperar-se-ia da pesquisa agropecuária, que se fizesse convergindo
no longo prazo com a importância econômica dos produtos. Por duas vias. Ou porque busca
tornar mais eficiente a estrutura de produção pré-existente e auxilia sua expansão, ou porque,
224
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

contribuindo substantivamente para a sua alteração, torna-se correlata ao crescimento do setor a


partir de novos produtos. No primeiro caso, haveria uma convergência provocada pela adequação
à demanda (demand pull approach) e aos mecanismos de atração de mercado (science push
approach) – a importância ex-ante dos sistemas produtivos e trajetórias de que fazem parte projeta-
se na importância do esforço de pesquisa a ela alocado. No segundo caso, há uma convergência
impulsionada pela ciência: a oferta de bens tecnológicos produziria a expansão das trajetórias
que puderam maximizar as oportunidades neles contidos7, equiparando ex-post sua importância
ao peso do esforço relativo despendido na inovação.
Há algo mais, contudo. A pesquisa tecnológica e suas derivações em P&D, orienta-se
também por estratégias determinadas pelas trajetórias das organizações envolvidas no campo
científico-tecnológico, seus interesses econômicos ou propriamente institucionais, e por “... public
(political) forces” (Dosi, 2006:25). Nesse caso, deve-se esperar que os resultados reflitam tais
tensões, havendo ou não convergência com as necessidades e desafios tecnológicos dos sistemas
produtivos em reprodução na realidade concreta, a depender da medida em que os propósitos
institucionais estabelecidos mostram-se mais ou menos sensíveis a mecanismos de poder, sejam os
controlados por instituições políticas que refletem os grandes constrangimentos e macrorelações,
sejam os que correspondem ao peso das avaliações dos agentes transformado em capacidade de
configuração da agenda de C&T em operação.

A C&T agropecuária na Amazônia com ênfase na trajetória baseada na pecuária de corte

Em trabalhos anteriores (Costa, 1998a; Costa, 1999; Costa, 2000a), que abarcavam
período findo em 1995, constatávamos para a C&T e P&D agropecuária na Amazônia duas
tendências. Uma relativa à divisão do trabalho entre pecuária e agricultura, mediante a qual foi
verificado um crescente envolvimento com a pecuária de corte; outra no interior da agricultura
propriamente, mediante a qual foi averiguada uma forte e crescente divergência entre a
produção dos pesquisadores e a dinâmica real da produção agrícola.
No primeiro caso, constatava-se que a pecuária de corte, que fora objeto de apenas
3% dos trabalhos produzidos pelos antecessores da EMBRAPA até 1970, passou a representar
20% do que se produziu na segunda metade dos anos setenta, 19% de 1980 a 1985, 28% das
publicações de 1986 a 1990 e 52% na primeira metade da década de noventa. A reorientação
observada no início dos anos setenta acentuou-se de tal forma que, ao final, a metade das
energias do CPATU dirigia-se para a pecuária de grande porte: bovina e bubalina. A qual,
enquanto setor ou atividade produtiva, representava, de acordo com os dados dos Censos

7 Essa hipótese pressupõe que no longo prazo as divergências no timing de funcionamento dos mecanismos “science push” e
“market/demand pull”desaparecem. Tais diferenças fundamentam controvérsias quanto ao poder heurístico de ambos os modelos
na explicação dos processos de inovação tecnológica: uma abordagem “demand pull” produziu a teoria da inovação induzida, conf.
Hayami e Huttam (1971), criticada frequentemente pelos neo-shumpeterianos (ver, p. ex. Sales Filho e Silveira, 1990) que enfatizam
o lado da oferta – as disponibilidades tecnológicas – como fundamento das inovações que resultam dos processos de busca e seleção
por parte das empresas (conf. Nelson e Winter, 1982). A querela, não obstante interessante em outras discussões, não nos ajuda aqui..

225
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Agropecuários no Estado do Pará, 24% do Valor Bruto da Produção Agropecuária em 1980,


28% em 1985 e 31,8% em 1995/96.
No que se refere à agricultura, fizemos confrontos da importância relativa para a P&D
das culturas mais e menos importantes do ponto de vista econômico, no Brasil e na Amazônia,
tomando como referência o Estado do Pará: a mais importante e complexa economia agrícola
da região, sede do CPATU, espaço da realização da quase totalidade da pesquisa agropecuária
do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária na Amazônia até aquele momento. Calculamos
um índice de convergência (100 menos a variação absoluta dos desvios da estrutura relativa da
produção de P&D em relação à estrutura relativa da produção agrícola) – tanto mais próximo
de cem, maior a convergência. A convergência da P&D com a dinâmica real da agricultura
na Amazônia demonstrou-se muito baixa, chegando a 38% - a metade do índice calculado da
mesma maneira para o Brasil.
Tais resultados indicavam que a alocação do esforço de pesquisa para a agricultura
na Amazônia desviou-se de forma grave da estrutura da produção: a) porque para a maioria
dos produtos que realmente cresciam de importância econômica não se desenvolveram ou
desenvolveram-se de forma insuficiente pesquisas – o que poderia significar, por uma ótica,
que o desenvolvimento agrícola efetivo havia prescindido, no fundamental, da pesquisa
agropecuária institucional; por outra ótica, que a pesquisa institucional teria sido impermeável às
necessidades desse desenvolvimento – e/ou porque, pelo contrário, b) os produtos para os quais
foi dedicada maior atenção, ou tiveram sua importância reduzida no tempo ou não lograram
consolidar posições econômicas claramente relevantes. Nos dois casos, as determinações
(fossem elas associadas a orientações político-institucionais derivadas de estratégias do poder
central ou local, fossem elas resultantes de avaliações dos próprios pesquisadores e suas práticas
institucionais) dos esforços de pesquisa não levaram a uma produção (oferta) de C&T aderente
às tendências da realidade concreta e, por suposto, não convergiram com as necessidades e
possibilidades (com a demanda, portanto) de suas estruturas econômico-sociais, com particular
significado para a Trajetória-Camponesa.T1 e Trajetória-Camponesa.T2 .
Por outro lado, a grande importância relativa da pesquisa orientada à pecuária de corte
(Trajetória-Patronal.T4) indicava uma convergência da P&D agropecuária com a política do
período militar para a questão agrária da região, a qual se pautava, como apontamos em 2.2.1,
pela noção de que o desenvolvimento econômico seria maximizado ao se basear em uma
função de produção adequada ao desequilíbrio na dotação de fatores peculiares à região; isto
é, conjugasse abundância de terras com escassez de trabalho e capital8. Para tal estratégia, a
pecuária de grande porte mostrava-se, na Amazônia, duplamente positiva: poderia adequar o
uso de grandes extensões de terras com um mínimo de trabalhadores e tolher a expansão da
agricultura tradicional de terras novas (a expansão da fronteira agrícola: um fato estrutural

8 Essa é a conclusão das diversas abordagens neoclássicas sobre desenvolvimento agrícola regional. Elas orientam-se pelas
formulações de Haiaymi e Ruttan (1971).

226
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

relevante do desenvolvimento agrícola e industrial brasileiro desde os anos vinte, uma vez
que central no abastecimento de produtos de mercado interno), garantindo mercado para a
intensificação da produção de arroz, milho, feijão e mandioca em áreas antigas. A grande
plantation ( Trajetória-Patronal.T5) poderia cumprir parte da tarefa. Patenteava-se, contudo,
o limite de ser trabalho-intensiva. Estabeleceu-se, a partir daí, como mecanismo central da
intervenção federal na Amazônia, a política de incentivos fiscais à pecuária extensiva que,
em conjunto com uma política de terras favorecedora de grandes apropriações, imprimiu, a
partir da segunda metade dos anos sessenta, características próprias à fronteira agrícola em
desenvolvimento na região (Costa, 1989), tornando-a campo de disputas sem precedentes em
torno do acesso à terra e aos recursos da natureza entre empresas latifundiárias e fazendeiros de
um lado, camponeses agrícolas, extrativos e ribeirinhos de outro, além dos índios, colocados
muitas vezes em oposição a todos os demais.
Tal dinâmica se impôs sobre a C&T agropecuária na Amazônia, configurando-a: de
um lado, levando-a a produzir cada vez mais para resolver os problemas da grande pecuária
de corte, setor associado ao empresário privilegiado pelas políticas da SUDAM que vem
a corresponder ao que tratamos aqui como a Trajetória-Patronal.T4; de outro, tornando-a
insensível (ou incapaz de atender) às necessidades dos demais fundamentos da produção rural
na região, em particular das trajetórias da forma de produção camponesa, mas também dos
empreendimentos que protagonizam as trajetórias patronais T5 e T6.
Os camponeses, tanto nas áreas novas (de fronteira recente, como no Sudeste e
Sudoeste Paraense e no Leste Rondoniense), quanto nas áreas de colonização mais antiga
(nos diversos macrossistemas das várzeas no Sul Amazonas e no Nordeste Paraense, além dos
antigos sistemas de terra firme na Região Bragantina e Guajarina, no Pará) estiveram, nesse
meio tempo, acossados ou relegados nos planos político e econômico. No plano político, pela
luta pela terra e pelo asfixiamento das representações de classe que a política sindical lhes
impunha; no plano econômico, pela falta de infraestrutura e pelo forte poder de controle que
o capital mercantil detinha na região. Tiveram, destarte, tanto a sua capacidade endógena de
inovar, quanto o poder de reivindicar inovações às instituições de C&T totalmente bloqueados,
de par com o bloqueio mais amplo que a própria política de desenvolvimento colocava, em
particular no que tange aos recursos de incentivos fiscais e crédito subsidiado.
De modo que, até meados dos anos oitenta, não se detectam impulsos provindos
das diversas estruturas produtivas no agrário regional, das classes e segmentos de classe aí
presentes, capazes de (ou dispostas a) alterar o investimento local em C&T e P&D, seja no
que se refere aos esforços privados dos diversos agentes – resultantes do grau de disposição
e necessidade, da capacidade de formulação e do respectivo poder reivindicativo –, seja no
que trata das disposições públicas dos estados locais. Sem mecanismos capazes de tornar os
empreendimentos de produção de conhecimento para a agropecuária na região parte efetiva
da maioria das trajetórias tecnológicas nela em desenvolvimento, reinou absoluta a política de
fortalecimento do grande empreendimento agropecuário.
227
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

A reconfiguração temática da C&T na Amazônia

A C&T agropecuária na Amazônia favoreceu as trajetórias protagonizadas pelas grandes


empresas latifundiárias e grandes fazendas, em particular aquela que apresentava forte presença
em 1995, baseada na produção pecuária bovina de corte: a Trajetória-Patronal.T4. Muito mudou,
desde então. O pleno restabelecimento da ordem democrática criou o ambiente político no qual se
constituíram novos sujeitos, capazes de, pelo caráter e urgência das suas demandas, estabelecerem
as tensões necessárias à formação de novas configurações do campo de C&T na região. Constituía
novidade histórica o fato de que dificilmente os empreendimentos de C&T poderiam em médio
prazo passar ao largo das necessidades subjacentes à reprodução social desses novos sujeitos.
Entre eles, os que apresentaram dinâmicas inovativas inusitadas, nem sempre
compreendidas, foram os camponeses de diversos matizes. Há demonstrações empíricas
robustas que os credenciam como responsáveis por importantes mudanças observadas já nos
anos oitenta, que tendem a se acirrar hoje na agropecuária regional: desde a implantação de
uma fruticultura tropical que começa a ganhar representatividade nacional, até a formação de
uma pecuária leiteira de pequeno porte associada a sistemas de diversidade e (provavelmente)
sustentabilidade elevada (ambos os sistemas partes da Trajetória-Camponesa.T1 apresentada
anteriormente), passando por iniciativas diversas de valorização de produtos de origem tanto
extrativa como agrícola (os sistemas da Trajetória-Camponesa.T2). Esse segmento social,
ao lado da importância econômica que começa a ser capaz de reivindicar, logra se constituir
um ativo e coerente sujeito político, com presença marcante no processo de reconfiguração
institucional que se assiste no campo de poder na região. É parte dessa evolução a incorporação
gradativa da C&T em sua agenda.
Do lado oposto, atores sociais desde sempre influentes nas correlações de forças locais,
estruturam-se em torno de necessidades semelhantes, em si derivadas de nova ambientação que
torna a C&T um centro de convergência de interesses de grande amplitude social: os madeireiros
e silvicultores tensionados pelas necessidades impostas pelas ISOs; os fazendeiros de gado, pela
crise das pastagens; diversos empresários industriais, pelas possibilidades mercadológicas de
produtos locais, etc. Entre essas forças há que se destacar a dos próprios cientistas.
Parte do contexto, a crise ecológica e os novos avanços da biotecnologia marcam, em
plano mundial e local, um momento particular da difícil e contraditória relação de três séculos entre
o industrialismo (se quisermos, modernidade) capitalista e a natureza. A particularidade resulta do
esgotamento do padrão de desenvolvimento social que, do lado prático, associa desenvolvimento
das forças produtivas com homogeneidade cultural e biológica; do lado ideológico, valoriza a
independência do homem em relação aos fundamentos de uma natureza para si, consoante com
a crença na resiliência suficiente desses fundamentos diante da ação humana. A profundidade
e globalidade da crise ecológica vêm rompendo as barreiras ideológicas e tornando suas
manifestações concretos fundamentos de uma pauta política de relevância crescente. Por outro
lado, avanços científicos e tecnológicos materializados na biotecnologia, na engenharia genética
228
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

e na farmacologia reformularam, ampliando, o valor da diversidade originária do planeta. A


Amazônia – e a C&T na Amazônia – tendem a refletir essas novas tendências.
Por fim, a crise fiscal do Estado brasileiro afetou ao longo dos anos oitenta e na década
seguinte a institucionalidades de C&T na Amazônia, alterando de forma consistente suas bases
e fundamentos. A forma mais elementar de tensão desenvolveu-se nas crises orçamentárias das
instituições, com pelo menos dois efeitos principais: elevando a predisposição à parceria, tanto
com instituições internacionais, como com instituições da sociedade civil, e solapando, nas
instituições finalistas, as bases orçamentárias do poder tecnocrático centralizado. Abrem-se, por
essa via, os canais de penetração no ambiente institucional de C&T na região da problemática
do desenvolvimento sustentável tal como formulado a partir da crise ecológica, ao par da
possibilidade de penetração mais profunda da agenda de pesquisa do paradigma tecnológico
mecânico-químico vigente em nível mundial (ver capítulo 6). Ao mesmo tempo, alargam-se os
canais para a introjeção das demandas provindas dos setores produtivos locais e extralocais. Não
são triviais as oposições aí contidas entre os empreendimentos científicos para a preservação e
empreendimentos científicos para o uso dos recursos naturais.

Tabela 7.3.3-1 – Evolução da produção de P&D agropecuária por temática – 1995 a 2005
Pecuária de Pecuária Culturas Culturas Total
SAFS1
Corte1 Leiteira1 Permanentes1 Temporárias1 Acumulado
Produção Acumulada
1995 21 6 48 88 25 187
1996 26 6 64 103 30 228
1997 33 10 92 148 44 327
1998 35 27 122 199 60 442
1999 40 37 165 241 100 583
2000 43 40 200 269 121 673
2001 43 48 236 281 160 768
2002 43 57 325 308 182 915
2003 46 64 388 336 205 1.039
2004 55 72 409 353 217 1.106
2005 56 73 419 358 225 1.131
Incremento anual 9% 28% 23% 14% 24% 19%
Estrutura Relativa da Produção Acumulada
1995 11% 3% 26% 47% 13% 100%
1996 11% 2% 28% 45% 13% 100%
1997 10% 3% 28% 45% 13% 100%
1998 8% 6% 28% 45% 14% 100%
1999 7% 6% 28% 41% 17% 100%
2000 6% 6% 30% 40% 18% 100%
2001 6% 6% 31% 37% 21% 100%
2002 5% 6% 36% 34% 20% 100%
2003 4% 6% 37% 32% 20% 100%
2004 5% 7% 37% 32% 20% 100%
2005 5% 6% 37% 32% 20% 100%
Fonte: Embrapa: Base de Dados da Pesquisa Agropecuária. Notas: 1 – Busca boleana, para cada ano, com os termos
e produtos que caracterizam cada tema em “palavra-chave” e todos os estados da Região Norte em “fonte” e cada ano
da série em ano. 2 – Busca boleana com os termos (“leite”ou “leiteira” ou “laticínio”) e (“pecuária” ou “bovina” ou
“bubalina”) em palavra-chave e (“Amazonas” ou “Pará” ou ... [todos os estados da Região Norte]) em fonte e ([cada
ano da série]) em ano.

229
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Em conjunto, esses desenvolvimentos reformataram a C&T agropecuária da região,


desde então. Tomando a produção científico-técnica acumulada originada na Região (total de
1.131 trabalhos produzidos nos estados da região pelas diversas instituições de pesquisa) e
agrupando-a segundo as temáticas “Pecuária Bovina de Carne”, “Pecuária Bovina de Leite”,
“Culturas Permanentes”, “Culturas Temporárias”, “Sistemas Agroflorestais”, foi possível
verificar (ver Tabela 7.3.3-1), entre 1995 e 2005, uma queda da importância relativa da
pecuária de corte (o que afeta as Trajetória-Patronal.T4 e Trajetória-Camponesa.T3, além da
Trajetória-Patronal.T5 ) a menos da metade, de 11% para 5% do total, não obstante apresentar
um crescimento absoluto de 9 % a.a.. A pecuária de leite, por seu turno, dobrou sua importância
relativa, saindo de incipientes 3% para 6% (um crescimento de 28% a.a., bem acima da média),
e as culturas permanentes viram crescer sua importância em 11 pontos percentuais, com taxa
de crescimento anual de 23%: em princípio, uma inflexão nos esforços de conhecimento
orientados às Trajetória-Camponesa.T1 e Trajetória-Patronal.T2 . Os sistemas agroflorestais,
base da Trajetória-Camponesa.T2 , ganharam 7 pontos percentuais na estrutura da produção
de P&D, saindo de 13% para 20%. As culturas temporárias perderam, a sua vez, quinze pontos
percentuais, caindo de 47% para 32%.

A atrofia da C&T agropecuária na Amazônia

A produção da P&D agropecuária na Amazônia vem crescendo a taxas significativas de


19% a.a. entre 1995 e 2005. Seus quadros, contudo, vêm crescendo a ritmo bem inferior – a rigor,
com uma taxa de crescimento de 0,4% a.a., estagnaram. Como parte do processo, os grandes
centros como o CPTU e CPAA vêm perdendo envergadura, enquanto as unidades menores vêm
ganhando força (conf. Tabela 7.3.3-2).
O descompasso com o crescimento do setor rural, de 5% a.a., torna-se gritante –
estabelece a medida de uma atrofia relativa a se tornar cada vez mais sentida: um grave limite ao
desenvolvimento, tanto mais avultado, quanto mais prevelecer a necessidade de novas formas,
modernas porque sustentáveis de progresso.

Tabela 7.3.3-2 - Os quadros do sistema Embrapa em 1995 e em 2006


Total Total
  Graduados Mestres Doutores Taxa anual
em 2006 em 1995
Embrapa Amazônia Oriental – CPAA  1 31 23 55 57 -0,40%
Embrapa Amapá – CPAF–AP    1 14 6 21 17 2,10%
Embrapa Rondônia – CPAF–RO  0 16 10 26 23 1,20%
Embrapa Roraima – CPAF–RR  3 16 10 29 19 4,30%
Embrapa Amazônia Oriental – CPATU  1 67 54 122 136 -1,10%
Embrapa Acre – CPAF–AC 0 19 13 32 22 3,80%
Total 6 163 116 285 274 0,40%
Fonte: Embrapa.

230
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

7.4. Trajetórias tecnológicas e desenvolvimento sustentável - possibilidades e restrições


para uma estratégia

De 1990 a 2006, o Setor Rural na Amazônia cresceu ciclicamente a taxas médias que,
para todas suas macrovariáveis, situavam-se próximas de 5% a.a.. Nesse ritmo, conforme vimos
no capítulo 2, o Valor Bruto da Produção Rural (VBPR) passou de R$ 5,5 para R$ 9,0 bilhões
de reais, a preços constantes do último ano do período, gerando Valor Adicionado (VA) total
de R$ 16,5 bilhões de reais. Tal dinâmica exigiu terras a um ritmo anual de 2,5% a.a. – esta a
velocidade da transformação do bioma, de sua erradicação para a produção de um estoque de terras
(desmatadas pelo menos uma vez) que cresceu de 31,2 para 42,7 milhões de hectares. Associado
a isso, o estoque de áreas degradadas (capoeira sucata) cresceu, como visto no capítulo 3, a 1,5%
a.a., de 2,4 para 3,0 milhões de hectares, e o estoque líquido (emissão menos sequestro) de CO2
emanado das atividades rurais cresceu ao ritmo de 2,1% a.a., de 5,0 mil Gt, nos três primeiros,
para 7,1 mil Gt nos três últimos anos da série.
Delimitadas para 1995, nos bancos de dados do Censo Agropecuário daquele ano,
as trajetórias tecnológicas rurais, reveladas pela metodologia aplicada no subcapítulo 6.4,
demostraram-se localizáveis no tempo-espaço de suas gêneses e evoluções. Nas origens
históricas apresentadas em 6.6 e nos desenvolvimentos recentes particulares tratados na seção
seguinte, matizam-se as especificidades das trajetórias tecnológicas rurais na Amazônia. Das
diferentes composições de atributos, notamos em 6.7 os seguintes padrões, observáveis no
Gráfico 7.4-1.
1) Trajetórias camponesas, em bloco apresentam baixa produtividade monetária do trabalho e
elevada produtividade monetária da terra; adicionalmente, a par da maior empregabilidade,
baixa emissão líquida de CO2 e elevada diversidade.
2) A baixa produtividade monetária do trabalho dessas trajetórias deve ser encarada
como fundamento de vulnerabilidade a ser tratado em perspectiva de desenvolvimento
sustentável, particularmente quando manifesto em pobreza. Problematizaremos essa
questão no capítulo 10.
3) As trajetórias patronais, em bloco, apresentam relativamente elevada produtividade monetária
do trabalho. A mais importante delas, a T4, se caracteriza por baixa produtividade da terra.
Também é marcante sua baixa empregabilidade e performance ambiental deletéria, tanto no
que se refere ao balanço de CO2, quanto em relação ao impacto na biodiversidade.
4) As trajetórias T5 e a T6 apresentam alta performance ambiental no que se refere ao CO2,
porém se baseam em sistemas homogêneos e de baixa empregabilidade.
5) A recém instalada T7 apresenta performances econômica e ecológica superiores à T4, na
esteira da qual vem se constituindo.

231
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 7.4-1 Características das trajetórias tecnológicas rurais na Região Norte


4 Camponesa.T1 Camponesa.T2 Camponesa.T3 Patronal.T5 Patronal.T6 Patronal.T4 Patronal.T7
3,5
3
2,5
2
1,5
VBPR
1
0,5
0
1990

1995

2006

1990

1995

2006

1990

1995

2006

1990

1995

2006

1990

1995

2006

1990

1995

2006

1990

1995

2006
Ocupação Terra CO2

(B) % do VBPR para 1% na ocupação (C) % do VBPR para 1% de terra

T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7
4,0 40 6,0 20

3,5 29 5,0
3,0 30

4,0 11
2,5
2,0 20 3,0 10

1,5 9 10 2,0 4
1,0 10

1,0 1
0,5
0,0 0 0,0 0
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006

1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
(D) % do terra para 1% na ocupação (E) % do VBPR para 1% de CO2

T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7
9,0 10 8,0 980

8,0 8 7,0 911


7,0 6,0 680

6,0
5,0 678
5,0
4,0 380
4,0
3 2 3,0
3,0
2,0 2,0 80

1,0 1,0
0,0 0 0,0 -220
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006

1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006
1990
1995
2006

(F) Índice de especialização

T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 1

0,9

0,7
0,5

0,5

0,3 0
1990

1995

2006

1990

1995

2006

1990

1995

2006

1990

1995

2006

1990

1995

2006

1990

1995

2006

1990

1995

2006

232
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Notas metodológicas:
1. Os marcadores na parte A medem a relação entre a participação relativa da trajetória na variável em questão e sua
importância econômica no setor medida pela participação relativa no VBPR. Os valores são, portanto, o número
de pontos percentuais da participação da trajetória no total da variável em questão para 1 ponto percentual de sua
participação na economia (no VBPR total). Para cada ponto percentual de participação na economia (VBPR), a
T1 contribui, em 1995, com aproximadamente 1,3 pontos percentuais dos empregos (uma outra maneira de ler
é que contribuiu com o emprego 30% acima do que contribuiu com o VBPR; em 1990 essa diferença era maior,
basicamente a mesma que encontramos em 2006); 0,6 pontos na ocupação das terras (exige 40% menos terras do
que sua participação na economia; essa diferença tem se mantido baixa, porém crescente no tempo); e em torno de
0,4 pontos na emissão líquida de CO2 (isto é, seu saldo de emissão de CO2 é 60% inferior à sua participação na
economia, tem se mantido baixa porém ligeiramente crescente no tempo); a T3, para obter o mesmo percentual de
VBPR, ao par de participação similar na ocupação, exige mais em terras (0,66) e apresenta um saldo em poluição
bem superior (0,67) que a T1; a T2 apresenta, para participação na ocupação similar às outras camponesas; para
produzir o mesmo 1% da economia rural, ocupa 1,3% da força de trabalho (basicamente a mesma contribuição
da T1) e 0,2% de terras (metade da exigência da T1, produzindo 0,1% da emissão líquida de CO2 do setor. As
patronais T4 e T7 apresentam múltiplos dos índices camponeses relativos às necessidades de terras e às emissões
líquidadas de CO2, ao mesmo tempo que frações dos índices relativos ao emprego. No entanto, quanto a esses
últimos quesitos, a última se mostra superior à primeira. As patronais T5 e T6 são similares às camponesas quanto
às emissões e similares às demais patraonais no que se refere ao emprego.
2. Variações na leitura dos resultados que compõem a parte A permitem leituras “enviesadas” em favor de relações
entre os significados das variáveis, realçando aspectos que importam à análise. Ao se dividir, por exemplo, a
linha VBPR (todos os pontos iguais a 1 na parte A do Gráfico) pelo valores da variável “ocupação” em cada
ponto teremos uma proxy da produtividade (monetária) do trabalho – indicador da eficiência na aplicação das
disponibilidades de trabalho. Portanto:
a. A parte B apresenta o resultado dessa operação: para cada unidade percentual de participação na
ocupação são gerados, respectivamente, 0,71 ponto percentual de VBPR na T1, 0,78 na T2 e 0,84 na T3,
entre as trajetórias camponesas; entre as patronais, 2,4 na T4, 3,6 na T5 e 10 na T6.
b. Na parte C se tem uma proxy da produtividade monetária da terra, obtito pela divisão da mesma linha
VBPR na parte A do Gráfico pelos valores relativos à variável AT. A intensidade no uso da terra se
expressaria no fato de que para cada 1% de participação da T1 no total de terras utilizadas no setor rural,
haveria uma contrapartidade 2,2% no VBPR; no caso da T2, 5,1; da T3, 1,4; em relação às patronais, 1,6
para a T5. 3,7 para a T6, 0,4 para a T4 e 0,7 para a T7.
c. Na parte D se tem uma proxy do custo de oportunidade das emissões líquidas de CO2: o quanto por
cento se gera de VBPR por 1%¨de participação na geração de emissões líquidas de CO2. A T1 gera
2,5% da economia rural por 1% de emissão líquida de CO2 que produz; a T2 6,7, a T3 1, 5, a T5 1,7 a
T4 0,39 e a T7 0,7.
d. Na parte E do Gráfico E-1, tem-se a capacidade específica de poluição da base técnica da trajetória – a
proporção de emissões líquidas para 1% das terras utilizadas.
3. A parte E apresenta um índice de especialização/inverso de diversidade (Id), a partir da composição do VBPR das
 VBPRij 2
7 trajetórias j por 10 grupos i de produtos tal que Id =   .
 VBPRj 
4. O Gráfico E-1 apresenta uma síntese das características principais das trajetórias avaliadas mais de uma vez e por
mais de um modo, no curso do livro, principalmente no capítulo 7, por perspectivas que contemplam ideais de
sustentabilidade na combinação equilibrada entre atributos de eficiência econômica e social e prudência ecológica.
Com efeito, o Gráfico E-1 apresenta índices relacionais entre os pesos relativos das trajetórias tecnológicas que
constituem o rural na Amazônia no que se refere a) ao emprego/ocupação (variável de observação: ocupação
total em trabalhadores equivalentes, T), b) à utilização de terras (variável de observação: terra total agricultada,
TA) e c) ao impacto sobre o meio ambiente através c1) da contribuição para o balanço líquido de CO2 (variável
de observação: emissão menos seqüestro de CO2) ou c2) do impacto sobre a biodiversidade (variável, índice de
especialização ou diversidade).

233
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Em termos estáticos, as trajetórias tecnológicas qualificam com os respectivos atributos


o desenvolvimento da Região, na razão direta de seus pesos relativos. Em termos dinâmicos, as
trajetórias qualificam o desenvolvimento por mudanças em extensão (elevação do peso relativo),
resultado dos diferentes ritmos de crescimento das trajetórias – expressões dos seus regimes de
crescimento e padrões de concorrência. As trajetórias qualificam o desenvolvimento também
em conteúdo, por mudanças nos seus atributos. O capítulo 7 discute as formas (os regimes)
que assumem na Amazônia a complexa dialética desses movimentos. É possível verificar que
os regimes de crescimento das trajetórias se baseam dominantemente nos respectivos regimes
de demanda, sendo o regime de produtividade caracterizado por rendimentos decrescentes
compensados, para certas trajetórias, como claramente a T4 e, previsivelmente, a T7, por
ganhos derivados de um ambiente institucional assimétrico – seja no que se refere aos recursos
de crédito, seja fundamentalmente em relação aos recursos fundiários. Isso leva a um padrão de
concorrência – observada a Região como um todo – que resguarda ou deteriora os atributos das
trajetórias, com o substrato de tensões que transbordam o campo econômico, refletindo-se em
tensões políticas e problemas ambientais.
Isto posto, observando o conjunto das trajetórias, seus atributos, pesos e ritmos, fica
evidente que um desenvolvimento com maior esperança de sustentabilidade – por ser socialmente
inclusivo e promotor de capacidades, economicamente consistente e ecologicamente resiliente
– poderia emergir de uma agenda relativamente clara: uma estratégia que fortaleça as trajetórias
camponesas, elevando em todas a produtividade do trabalho; uma atuação sobre a Patronal.
T4, induzindo-a a elevar a produtividade da terra com novas tecnologias de pasto ou por
desenvolvimento e incentivo a sistemas agroflorestais-pecuários mistos, ou orientando-a na
direção da T6 ou da T5 – estas, em si, objeto de fortalecimento.
Não obstante clara, quase de aceitação imediata, por óbvia, a estratégia indicada defronta-
se com desafios de grande envergadura. Constitui obstáculo a superar na sua implementação o
fato de que as trajetórias a serem contidas ou reorientadas, apesar de perderem posição relativa,
mantêm capacidade econômica para se expandir, são agressivas na concorrência (como vimos
em 7.1 e 7.2), eis que demonstram poder de configuração fundiária por um mercado de terras
de grandes dimensões. Isso representa questão particularmente importante, eis que trata-se
de desafio de um ambiente institucional enviesado, cuja cultura institucional e política vem
favorecendo as trajetórias a conter, no seu modo tradicional: ao mesmo tempo, não consegue
garantir às trajetórias a fortalecer os pressupostos de conhecimento e de capital – físico e
natural – necessários à sua capacidade de permanência por ganhos sistemáticos de eficiência,
como demonstrado no subcapítulo 7.3.
Demonstrou-se que tal estado de coisas resulta de intervenções estatais que afirmaram
práticas ambientalmente deletérias e confirmaram na região a assimetria de poder econômico
e político que caracteriza o país. De modo que se fazem necessárias reformas que tornem
o Estado na Amazônia permeável à pluralidade de forças que expressam a diversidade de
razões imersas na heterogeneidade social, cultural e econômica da região. Se compreende ser
234
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

papel intransferível do Estado garantir o melhor ajustamento, por adequação virtuosa entre a
diversidade estrutural e as peculiaridades, potencialidades e limites dos diversos territórios
que compõem a sociedade regional com a mediação do conhecimento arregimentado pelas
organizações e agentes. Aos processos e aparatos institucionais que podem produzir essa
sinergia trataremos como planejamento – o objeto central da próxima parte do livro.

235
Parte III

Fundamentos da dinâmica espacial na


Amazônia: Sistemas Agrários, Arranjos
Produtivos e economias locais
Capítulo 8
A constituição da problemática do espaço na economia:
sua dupla condição de objeto de teorização e de ação, de
ciência e de planejamento

Discutimos até aqui a constituição do setor rural na Amazônia por trajetórias tecnológicas,
observando as características de cada uma delas e as interações entre todas, tendo a referência
espacial da grande Região Norte. Trata-se de exercício em recorte, quando se considera o Brasil e
o mundo. Porém, vista em outra perspectiva, é reflexão de elevado grau de abstração. A referência
da grande região e o nível de abstração que sua análise requereu se justifica pela relativa integridade
que a ela confere o bioma amazônico e a centralidade que este deve assumir na análise.
As especificidades intrarregionais, naturais e histórico-sociais, exigem explicitação. É
que se torna cada vez mais evidente que o desenvolvimento – dinâmica de crescimento com
ampliação de capacidades por alteração qualitativa de um todo social – é resultado de processos
multiescalares e multidimensionais referidos a substratos naturais e culturais específicos. Por
isso, tem na especificidade local uma de suas expressões. Manifesta-se, ademais, o processo de
desenvolvimento, na dependência crescente da reprodução dessa especificidade na generalidade
de um sistema-mundo conformado, de um lado, por realidades extralocais, porém, referidas a
fronteiras nacionais; de outro, como parte da relação entre nacional e global – sob a égide do
capitalismo. Sobre isto trata esta parte do livro: na perspectiva de que a questão amazônica refere-
se a formas de produção e ao desenvolvimento, é mister sublinhar a territorialidade dos processos
a isso afetos.
A abordagem aqui privilegiada colide com a ortodoxia que concebe a economia, i.e. o que
se lê como esfera econômica da sociedade, como sistema único em seu elevado grau de abstração,
cujas regras de operação se aplicam a todos os lugares, em uma globalidade representada como
espaço contínuo, na essência, homogêneo, no qual distinções eventualmente observadas seriam
de forma e grau superáveis, assim, na convergência produzida por forças de mercado, irresistíveis
na equiparação – universalização, homogeneização – de fundamentos, valores e capacidades.
A superação dessa metáfora da sociedade, que a representa como sistema mecânico de
expansão linear, e a exposição dos equívocos que produz quando trata de realidades especiais
como a Amazônia, tem exigido reflexões em três fronts: 1) sobre a descontinuidade espacial como
atributo do desenvolvimento; 2) sobre a heterogeneidade e segmentação estrutural internas aos
elementos espaciais descontínuos e 3) sobre a dinâmica evolutiva – as formas de desenvolvimento
(expansão, retração, superação) dos elementos espaciais descontínuos e suas componentes
estruturais heterogêneas, per se, e como parte de totalidades amplas: locais, regionais, nacionais
e mundial.
O esforço vem produzindo novas metáforas que representam o mundo como convívio
do diverso – onde dominam descontinuidade espacial e heterogeneidade de ordens na regulação
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

do espaço econômico, cuja dinâmica é histórica, isto é, não linear, complexa, aberta, incerta.
Produtos de convergências teóricas diversas, as novas abordagens têm encontrado nas redes e nas
aglomerações produtivas seus meios fundamentais de representação estrutural e na perspectiva
evolucionária dos sistemas complexos o recurso heurístico de tratamento dos respectivos
processos históricos.
As noções de trajetórias tecnológicas, de que nos ocupamos na Parte II do livro, em
relação com categorias que expressam processo de aglomeração, como arranjos produtivos locais,
ganharão destaque daqui por diante, eis que fazem parte desse movimento de ideias. As teremos
como referências privilegiadas por razões que se tornarão claras adiante.
Tais noções vêm ganhando presença no Brasil e no mundo. Todavia, seu trajeto tem
sido marcado, principalmente, não apenas no Brasil, por duas características. Por um lado, tem
sofrido uma orientação dominantemente prática – o acesso às noções parece se fazer, desde o
início, marcado por uma preocupação operacional, levando a que sua consideração se faça sempre
mediante um problema de intervenção – de política. Por outro lado, e como uma decorrência, têm
experimentado abordagens em que operam isoladamente, sem a devida integração com outras
categorias que, com elas, vêm formando uma tradição de pensamento – uma hermenêutica –
heterodoxa, produto das convergências teóricas que introduzimos nas três primeiras seções do
Capítulo 5. A abordagem de arranjos produtivos locais no Brasil, por exemplo, tem quase sempre
mencionado, raramente, porém, considerado, com a organicidade devida, as totalidades que lhes
servem de contexto, ou as estruturações que lhes são subsidiárias. Entendendo que são essas
relações que esclarecem o sentido da presença, a definição da dinâmica e orientação do processo
histórico, nosso receio é o de que, sem tais referências, as noções de APL possam se transformar
em categorias idealizadas a pautar protocolos tecnocráticos e funcionalistas: o objeto da percepção
que entende ser a ação em APL um passo no alcance de uma idealização mimética – imitativa de
uma sociedade autodefinida como ideal.
Não se reividica ser a dimensão “prática” (que desde a introdução vimos tratando como
techné) deva ser despida de significado. Ao contrário. Como veremos adiante, ela deve ser
incorporada como mediação da práxis – isto é, mediação da ação para mudança orientada pela
ciência; da intervenção da volição dos homens em sociedade sobre as forças cegas da evolução
para, controlando-as, orientar sua potência criativa rumo a um devir prenunciado1. A discussão
sobre planejamento que dominará esta parte do livro se ajusta a essa percepção.
Esta parte do livro tem, assim, três pretensões: uma, de discutir, no quadro mesmo do
estabelecimento do problema, os riscos da não demarcação das fronteiras turvas entre conhecimento
que se esforça por ser científico e a utilização da ciência para ação política; outra, a de referir as
noções de trajetória tecnológica e arranjo produtivo local a um quadro teórico operacional para o
tratamento do desenvolvimento – local, regional e nacional; a de apresentar as possibilidades de

1 Eleutério Prado opõe o evolucinismo à dialética. Assim, “... o evolucionismo [é] ciência objetivante das transformações cegas
ou parcialmente cegas e a dialética [...] a ciência crítica inerente à práxis humana que torna possível a transformação consciente da
realidade social” (Prado, 2008:26).

240
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

uma tal construção categorial na construção de uma economia política da Amazônia e, por fim, o
de sugerir formas de instrumentação desse conhecimento em um processo objetivo de mudança
da realidade – na práxis do planejamento.

8.1. O período áureo das ciências regionais e sua crítica

As ciências da sociedade, nos paradigmas que conformam suas diversas disciplinas


como ciências normais, estabelecidas (Kuhn, 1982), distinguem-se de forma radical das ciências
da natureza. Ao contrário do que ocorre nestas, em que o conhecimento sobre a natureza é
propriedade exclusiva de seu sujeito (a sociedade), naquelas não há como distinguir sujeito e
objeto do conhecimento. A sociedade – quer vista como estrutura transcendente aos indivíduos,
quer como resultado da subjetividade destes ou da relação entre isso e aquilo – e sua história –
seja interpretada como dinâmica contraditória, pois evolutiva e volutiva, complexa, portanto, de
condições objetivas, seja vista como evolução linear derivada do progresso gradual do homem
e sua racionalidade, com fim objetivamente pré-determinado – são, respectivamente, o ponto de
partida e de chegada das preocupações das ciências da sociedade e, ao mesmo tempo, o lugar
e o tempo em que elas constroem edificações cumulativas de conhecimentos constantemente
acionados como forças ativas da própria realidade que procuram explicar (Costa, 2006a).
Assim, todo conhecimento que se forma como ciência, logo, é imediatamente passível de
absorção social como techné, constituindo-se em força de determinação da própria história. As formas
como a sociedade absorve o que se compreende dela ou de sua base natural independe da intenção de
quem produziu o conhecimento: o que é visto pelo seu produtor como pura ciência, pode ser, como
techné, mero instrumento de poder ou fazer, negando, por vezes, na prática social resultante, situações
que se pretenderiam afirmar ou afirmando o status quo cuja negação era em princípio a intenção.
As ciências da sociedade atuam cumprindo dupla hermenêutica: é sua tarefa adicional compreender
como, validando que devir, a dinâmica social absorve os conhecimentos, incluindo aqueles por elas
próprias gerado. É função dela, pois, a avaliação crítica do seu próprio papel.
Milton Santos, já há tempos, tinha clareza sobre esse duplo papel do conhecimento
e problematizou a tensão que aí se verifica. Recentemente, Sergio Conti e Paollo Giocaria se
debruçam em torno da mesma questão. Santos, em trabalhos “...voltados à problemática do espaço
considerado como objeto de teorização ou de planejamento” (Santos, 2007:10, grifos meus,
FAC) e, Conti e Giocaria, em reflexões sobre “...two fundamental dimensions in Perroux’s theory,
the analytical and the normative (Conti e Giocaria, 2001:95, grifos no original) focalizaram a
dramática tensão do duplo papel do conhecimento no contexto das três décadas pós-segunda
guerra mundial, um momento particularmente dinâmico em relação ao objeto que aqui nos
interessa de perto – economia e desenvolvimento social referido a território.
Uma compreensão destacada nesses autores sobre essa fase refere-se a que os grandes
programas de pesquisa orientados à compreensão do desenvolvimento (conhecimento como logo),
241
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

então em andamento, patrocinados pela economia (regional) e a geografia (econômica) terminaram


por se subordinar ao planejamento, enquanto estrutura de conhecimento de intervenção (techné)
que se esforçava por se estabelecer como ciência. Como consequência,

“... uma política econômica determinada é (...) imposta à economia política [que
assim] perdeu seu status científico e se tornou simples ideologia, cujo fito é persuadir
Estados e povos das vantagens daquilo que passou a ser chamado desenvolvimento:
a venda da ideologia do crescimento aos Estados, a imposição de uma ideologia de
sociedade de consumo às populações” (Santos, 2007:15).

Para Conti e Giaccaria,

“This transformation of theoretical conceptions into an operational proposition


found full expression in functionalism, a Style of thought whose theoretical and
epistemological premises have had great success in scientific thought and intervention
policies in economic an social systems in the course of the 20th century (p.96).
[With the result] Modernity is represented here by the structural model operating
in advanced capitalist countries, which became the normative frame of reference”
(Conti e Giaccaria, 2001: 96 e 102).

Anote-se que as argumentações se referem ao vasto movimento de ideias que marcou


a fase de prosperidade da economia mundial compreendida pelas três décadas que se seguem
à segunda guerra. Trata-se, ademais, de um momento brilhante para as ciências econômicas
regionais e para a geografia. Nesse fértil período, abundam demonstrações da descontinuidade
espacial e descrições da hierarquia espacial prevalecente no mundo capitalista, num primeiro
momento por modelos gravitacionais que atribuíam as configurações regionais e sua reprodução à
determinação dos fluxos econômicos entre os lugares, diretamente, pelo tamanho das populações,
inversamente, pelas distâncias respectivas; num segundo momento, substituindo, na mesma
construção as populações, pelo poder de compra (Stewart, 1948; Isard, 1956).
Tais metáforas, não obstante a capacidade descritiva, é dizer, o poder de “fotografar” os
objetos em sua disposição, contribuíram pouco para o esclarecimento do processo de constituição
e destino das configurações em questão. A noção de polo de crescimento, introduzida por Perroux
(1965), associada às contribuições de Hirschman (1958 e 1969), expunha os fundamentos da
polarização empiricamente verificável na dinâmica dos efeitos concatenados para frente e para
trás (linkages), de cada impacto produzido por uma capacidade produtiva nova – uma unidade
motriz ou um conjunto de unidades motrizes capazes de exercerem efeitos geradores sobre outro
conjunto econômico territorialmente definido (Perroux, 1965:115). As teses de Myrdal, por
seu turno, ao estabelecerem a recorrência dos eventos que produzem tais efeitos, indicam que
processos de “causação cumulativa” explicam tanto “círculos virtuosos” de riqueza em ponto
242
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

privilegiado, quanto “círculos viciosos” de agravamento da pobreza no restante do país (Myrdal,


1957 e 1972).
Inicialmente, duas posições simétricas se formaram em torno dessas construções
seminais, a que Krugman mais tarde se referirá como High Development Theories. A que defende
a ideia de que desigualdade, tratada como descontinuidade espacial, é condição reversível
espontaneamente e a que advoga que se trata de situação irreversível. Hirschman (1958) indica
a possibilidade de reversibilidade espontânea das diferenças – a ocorrência de convergência por
processos que sintetiza na sua categoria de “contágio”: a noção de que ao efeito de “polarização”,
devida a economias de escala complementadas por externalidades, a que Krugman chama de
complementaridade estratégica (Krugman, 1995), segue um efeito de “contágio”, de modo
que se o crescimento se faz duradouro, a descentralização ocorre. As pesquisas de Williamson
(1965, 1968), que corroboram essa hipótese para os países desenvolvidos, têm seus resultados e
conclusões estendidos por Pederson e Stohr (1969) para todo o mundo.
Na vertente oposta, Norro (1972), Junes (1972) e Friedman (1963) seguem Merhav
(1969: 48-49) ao enunciarem que, nos países subdesenvolvidos, o “...fenômeno não é transitório,
mas constante e estrutural, sendo primordialmente resultante das restrições técnicas que marcam
seus processos de desenvolvimento”.
Santos reconhece essas posições, em relação às quais apresenta uma terceira e, para seus
argumentos, decisiva posição:

“A posição de B. Berry (1971: 139), para quem ‘o crescimento não pode descentralizar-
se espontaneamente’, não é apenas uma posição intermediaria ou simbiótica entre a
daqueles que vêem a macrocefalia como uma tendência irreversível e a daqueles que
a consideram como uma fase dos processos de crescimento. Para Berry, a reversão
da tendência deve ser desejada e planejada.”(Santos, 2007:80. Grifos meus, FAC).

A “Posição de Berry” não é, indica o autor na citação acima, uma mera solução teórica
de enunciados opostos sobre um mesmo objeto – uma síntese construída na antítese das
posições. Trata-se, na verdade, de um desfecho, em dois atos, da tensão entre as condições logo
e techné do conhecimento acumulado pelas ciências regionais – economia e geografia – sobre o
desenvolvimento.
O primeiro ato implica o reconhecimento de que, não obstante com limites, a reversão
das desigualdades no quadro institucional do capitalismo pode ser produto do desejo, da decisão
e da ação política – do planejamento, da disposição planejada, pois; o segundo ato, por seu
turno, implica o entendimento de que na materialização dessa disposição se recorrerá a todo
conhecimento, tanto o que disseca os mecanismos de irreversibilidade, quanto o que esmiúça
causas de situações revertidas.
Vista por outro prisma, a “Posição de Berry”, com o discernimento, exige práxis – isto é,
ação social orientada pela ciência; como tal, é postura que comanda uma releitura do conhecimento
243
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

acumulado como “ciência regional” (logo) numa perspectiva de ação própria a uma “ciência do
planejamento” (techné). O movimento resultará num quadro em que o conhecimento se legitima
quando apropriado como protocolo da práxis. Nesse ponto, poder-se-á cogitar que a dimensão
logo foi subordinada à dimensão téchne de um programa de conhecimento.
Para Conti e Giaccari, esse processo estabelece uma “razão funcionalista”, para a qual:

“The assumption of an adequate social order cannot be separated from the inspiring
principles of strategies and policies aimed at correcting the mode of functioning of
modern society, which finds cohesion in the efficiency of the state, in the Fordist
corporation and in appropriate economic planning activities.” (Conti, Giaccaria,
2001:97).

Nessa perspectiva, o desenvolvimento é expansão do sistema pensado como


“capitalismo organizado” (Lash e Urry, 1987) a demandar uma ordem na qual papéis e funções
podem ser claramente identificados e planejados – ao passo que fatores de perturbação, por
engenharia social adequada, são passíveis de eliminação (Conti e Giaccaria, 2001:97).
O planejamento, como (toda) práxis, envolve sujeito, objeto e processo: ação e
retroação coordenadas e controladas por conhecimento e experiência, orientadas a fins
compatíveis com devir alternativo ao destino (ou à evolução cega). A vasta crítica de Santos
sobre o planejamento no terceiro mundo dos anos setenta abarca todos esses elementos. Por
inferência, suas questões de fundo podem ser assim formuladas: Se o conhecimento científico
resulta legitimado pela práxis, o que legitima esta última? Se a resposta é, como se espera,
a política, a questão é como compatibilizar os objetivos (conhecimento como logo) e regras
de campo daquela (crítica, autonomia, isenção), com os desta última (conhecimento como
techné: protocolo de ação forjado sobre compromisso para controlar danos de dissenso)?
Sobre o sujeito do planejamento no terceiro mundo, Santos indaga sobre a efetiva
condição do Estado em contrariar as forças de expansão do grande capital internacional, de quem
é tributário, para contra-arrestar tendências iníquas, tanto espacial quanto socialmente; sobre o
objeto questiona se, nas sociedades cindidas do terceiro mundo, é possível ao planejamento do
desenvolvimento ter como objeto o conjunto do corpo social. Por fim, sobre o processo, indaga
se é possível que a prática da intervenção planejada produza desenvolvimento efetivo, se
baseada em uma ciência que, por ter-se subordinado à pragmática, se torna incapaz de cumprir
seu dever de bússola na busca de um futuro sem pobreza, livre e harmônico – desenvolvido
(Santos, 2007:32-34).
Não obstante a importância atribuída aos demais, é sobre este ponto que Santos
reflete com vigor. Sua opinião é de que as ciências sociais regionais falharam em seu papel
de desvendamento (logo) quando, objetivamente, se tornaram incapazes de incorporar a
segmentação estrutural que marca a espacialidade dos países do terceiro mundo:
244
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

“Nenhuma das teorias espaciais leva em conta a existência de um outro subsistema


econômico, coexistente com a economia moderna (...). Os economistas ortodoxos
só se interessam pelos mecanismos da economia moderna. Ora, isto impede a
compreensão da economia global e de sua projeção no espaço” (Santo, 2007:81).

Nos espaços diferenciados, segue o autor, “...dois subsistemas, o ‘circuito superior ou


moderno’ e o ‘circuito inferior’, podem ser isolados e identificados” (Santos, 2007:126). O
circuito superior seria resultado direto da modernização tecnológica incorporada a sua referência
estrutural fundamental, os monopólios, cujas relações são supralocais, referidas a planos
nacionais e internacionais. O circuito inferior se faria enraizado nos fundamentos locais, voltado
especialmente para a população pobre e baseado em atividades de pequena escala (op. cit.:126).
A menção às pequenas empresas como fundamento estrutural, entendendo-as como
realidade compatível com o desenvolvimento capitalista e o processo de acumulação, supera
a visão marxista tradicional, para a qual o processo de concentração e centralização é linear e
irrecorrível. E, nisso, converge com Edith Penrose, cuja teoria da convivência duradoura das
pequenas e grandes empresas, apresentada já em 1959 (Penrose, 2006: 319-337), constitui
importante avanço às visões dualistas tradicionais baseadas em individualismo metodológico, as
quais, não obstante, reconhecendo a permanência de segmentos de grandes e pequenas empresas,
atribuíam a estas últimas existência necessariamente passageira, acidente histórico de rápida
superação. De modo que, numa ou na outra perspectiva, se tem segmentações ou dualidades
representadas como imanentes à natureza de uma economia sempre composta por diferentes
setores e atores, cada um desempenhando papéis essenciais para o funcionamento do sistema
econômico.
Sem a consideração desses aspectos e as formas específicas que assumem em cada
situação – mais dramáticas no terceiro mundo, embora importantes, também, em muitos países
industrializados – a “ciência do planejamento”, ou aquilo em que se tornou a “ciência regional”
dos modelos funcionalistas e a práxis que orientou teriam se tornado temeridades, em razão de
persistência e aprofundamento da iniquidade, revés de sua eliminação.
Em relação aos países pobres, a conclusão de Santos é pungente:

“...a lista das causas do subdesenvolvimento e da pobreza no Terceiro Mundo não pode
estar completa antes que se dê a devida ênfase à importância do papel desempenhado
pelo planejamento [...que...] tem sido um instrumento indispensável à manutenção
e ao agravamento do atraso dos países pobres, assim como ao agravamento ou à
exacerbação de disparidades sociais”. (Santos, 2007:13).

No que se refere aos países industriais, a crise iniciada nos anos setenta alongou-se na
década seguinte, revelando de diferentes modos a falência da teoria funcionalista do planejamento.
Para Conti e Gianccari,
245
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

“… it was specially the ‘weakest’ regions which were affected by the general recession
that hit the Western economies [in the seventies]. The outcome of thirty years of
regional policies was clear to the eyes of all: an uninterrupted chain of geographical
and cultural ‘ruptures’ and – from economic point of view – the substantial under use
of the (economic, historical and ecological) potential of the regions involved in the
development programs.” (Conti e Gianccari, 2001:103).

8.2. A problemática espacial do desenvolvimento em contexto sem teoria e sem


planejamento

Até meados do século passado, modelos neoclássicos, denominemos tradicionais, que


relacionavam uma dimensão macro da economia, em equilíbrio geral produzido por ação dos
mecanismos de mercado submetidos à força da lei dos rendimentos decrescentes de todos os
seus componentes, com uma micro dimensão constituída de empresas, no dizer de Edith Penrose
(2006:11), “...sem qualquer conteúdo interior”, e consumidores, ambos agentes dominadas por
racionalidade maximizadora padrão, dominavam a perspectiva regional da economia. A abordagem
considerava irrelevantes as condições objetivas que medeiam tais relações, pois entendia que
eventuais diferenças ou desequilíbrios seriam inevitavelmente eliminados. Como corolário, a
noção de que o desenvolvimento, no que importa, equivale a esse processo de convergência que,
ao fim e ao cabo, instituiria a modernidade do capitalismo.
Nas três décadas que se seguem à segunda guerra mundial, constituiu-se, como se viu, um
campo de estudos do desenvolvimento, com destacados papéis de economistas e geógrafos, cujos
resultados indicavam que as descontinuidades espaciais expressas em polaridades representavam
mais que diferenças de grau em processo histórico linear e teleológico. Considerando o todo
do debate, em que se inclui a crítica que aponta constituições diversas dos polos por dualismos
e segmentações produzidos pela história nos territórios, indicavam-se estruturações diversas e
únicas. Por uma parte, enquanto polaridades resultavam de processos de desenvolvimento nos
quais complementaridade estratégica exercia papel decisivo, surgem economias externas de um
movimento circular no qual decisões de investir em um ponto no espaço ampliam e diversificam o
mercado que, com nova escala, atrai novos investimentos para fazer substituição de importações.
Por outra parte, enquanto formações históricas específicas, essas realidades locais apresentavam
particularidades que, em confronto com as forças de modernização do capitalismo, produziriam
os mais diferentes resultados – configurações, cuja principal marca seria a segmentação estrutural
de totalidades duradouras. Em tal contexto, argumentava-se, a convergência pressuposta nos
modelos tradicionais seria improvável e o desenvolvimento uma expectativa em aberto – uma
história com possibilidades múltiplas, ascendentes e descentes.
Esse movimento de ideias foi contido por um tempo significativo. Primeiro, internamente
ao campo das ciências regionais, desenvolve-se uma perspectiva funcionalista que produziu
246
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

teorias do planejamento, como equivalentes de teorias do desenvolvimento, inspiradas na tese da


“convergência regional”, base do trabalho seminal de Friedman e Alonso (1964). Diferentemente
da tese neoclássica na qual a eliminação dos desequilíbrios regionais seria intrínseca à operação dos
mercados livres, nos modelos funcionalistas o processo de desenvolvimento regional seria guiado
por estratégia política precisa, reservando ao estado funções tanto de estímulo ao dualismo, como
de posterior ajustamento e correção – numa dialética cuja síntese presumida seria a repetição da
história dos países industrializados, em particular, dos Estados Unidos.
A crise das economias capitalistas ocidentais nos anos setenta e oitenta revelou a falácia
dessa presunção, demonstrando, numa prática dolorosa, a inconsistência dos programas de
desenvolvimento de países pobres industrialmente subdesenvolvidos e de regiões pobres de países
industrializados. A dimensão téchne das ciências regionais se viu contestado. Considerando que,
como vimos antes, essa dimensão subordinava todo esse campo de produção de conhecimento, o
conjunto entra em crise, que se mostrou longa.
Ao mesmo tempo, porém, a crise real da economia aguçou e expôs reconfigurações
importantes na geografia econômica dos países industrializados, com regiões tradicionalmente
manufatureiras apresentando sinais graves de declínio, enquanto outras demonstram continuada
vitalidade para manter, ou mesmo ampliar, suas capacidades. E mais: apresentam-se novas regiões
industriais com vitalidade difícil de presumir há apenas algumas décadas. Sob outro ângulo,
tornou-se evidente que as dinâmicas econômicas assentavam-se sobre bases estruturais diversas
– e, em muitos casos, inesperadas por uma perspectiva tradicional – que resultaram, por vezes, de
estratégias empresariais orientadas fundamentalmente em economias de escala que requerem (e
produzem) cenários dominados por grandes empresas ou conglomerados com unidade de direção;
por vezes, de estratégias em que a eficiência das unidades produtivas depende menos (ou mesmo
não depende) do tamanho de cada uma e mais da sua rede de relações, tanto cooperativas quanto
competitivas, situações em que as economias de escala emergem da atuação de um sem número
de pequenas unidades independentes, não obstante disporem, em algum nível, de mecanismos
institucionais de orientação e ação (Amaral, 2001).
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a persistência e aprofundamento das
desigualdades regionais – uma expressão concreta da iniquidade social – reiterava tensões
que repunham continuamente a questão regional em foco, atrelada às possibilidades de
desenvolvimento.
Não obstante, enquanto essas realidades clamavam por abordagens espacialmente
referidas, as “ciências regionais” se retraiam até meados dos anos oitenta. É que as teorias
do desenvolvimento sustentadas em convergência regional – o planejamento como ciência –
já haviam deslocado, ainda nos anos sessenta, suas referências, a teoria linear neoclássica do
crescimento, que nessa tradição se vê como teoria do desenvolvimento, e as teorias complexas
das descontinuidades espaciais e heterogeneidade estrutural, do centro das atenções e interesses
acadêmicos. Com a crise econômica geral, o fracasso do planejamento e contestação do estado do
bem-estar correlatos, não restou mais nada.
247
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Há outros aspectos da mesma questão. Barro e Sala-I-Martinn registram o retraimento da


teoria do crescimento desde meados dos anos sessenta, realçando, como causa, um desenvolvimento
“propriamente” científico dos modelos explicativos das teorias do crescimento em oposição ao
desenvolvimento de um pensamento “prático”, menos formal ou menos formalmente sofisticado,
apenas apropriado “... to give advice to sick countries”. Nas suas próprias palavras:

“… growth theory became excessively technical and steadily lost contact with
empirical application. In contrast, development economist, who are required to give
advice to sick countries, retained a applied perspective and tended to use models
that were technically unsophisticated but empirically useful. The fields of economic
development and economic growth drifted apart, and the two areas became almost
completely separated.”. A partir de então “...probably because of its lack of empirical
relevance, growth theory effectively died as an active research field…” (Barro e
Sala-I-Martin, 1995: 12).

No que se refere ao deslocamento das teorias do desenvolvimento, Krugman (1995:23-


29), após constatar que “...between 1960 and 1980 high development theory was virtualy buried”
(p. 7) e, em seguida, se perguntar “Why did development economics fade away?” (p.23), sugere
duas explicações: uma, que qualifica de cínica, associa o declínio à redução da demanda política
por esses saberes. Nos seus próprios termos, “... the field waned with its funding…” (p.23). O
que equivale a dizer que, desvalorizado como téchne, não resistiu como logo. A outra explicação
é puramente intelectual: a dificuldade de modelar matematicamente as teorias apresentadas nos
anos pós-guerra, geralmente em estilo literário e sem demonstrações formais, teria produzido uma
rejeição crescente pelos praticantes da economia, uma disciplina que cada vez mais investia no
rigor matemático de seus tratamentos como forma de legitimação no campo científico.

8.3. A problemática espacial do desenvolvimento e novas teorias

Nos anos oitenta, questões do próprio campo científico tiveram importância para a crise
das ciências regionais. Há que considerar, porém, outro ponto de vista: as questões regionais,
ao lado da pesquisa sobre os fundamentos mais profundos e os determinantes de longo prazo
do desenvolvimento, tiveram sua importância empalidecida no período porque tornaram-
se subordinadas às visões globalizantes e abstratas da dinâmica social e econômica que
acompanharam, orientando, o curso das reformas políticas liberais que marcaram as décadas de
oitenta e noventa. Poder-se-ia indicar, nessa perspectiva, que a economia regional foi deslocada
da pauta acadêmica, porque deslocada da pauta política de mais elevado nível estratégico.
Em tal contexto, reafirma-se a perspectiva mecânica do equilíbrio geral, segundo a qual
a existência de regiões é fato teoricamente relevante somente quando diferenças marcadas nas
248
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

variáveis de renda, com implicações na renda per capita, são estatisticamente correlacionáveis
a referências espaciais. Todavia, dado que, pelos mecanismos de mercado, os diferenciais de
renda tenderiam necessariamente a desaparecer, as regiões seriam “momentos”, referências
necessariamente transitórias. De modo que, nesse período, a discussão mais acalorada que se
produziu no âmbito da economia regional foi, sintomaticamente, a relativa à convergência da
renda per capita entre as regiões (Barro e Sala-I-Martinn, 1991). A rigor, a economia regional
assim orientada “discutia” o fim do seu objeto.
Nos últimos anos, contudo, as teorias do desenvolvimento vêm acusando o impacto de
dois conjuntos associados de eventos empíricos e teóricos. Empiricamente, mudanças de padrões
de desenvolvimento com implicações territoriais claras têm demandando, tensamente, abordagem
espacialmente referida. A isso já nos reportamos.
O outro conjunto de eventos relevantes refere-se à novidade que, relacionadas a essas
ocorrências empíricas, afloraram novas perspectivas teóricas instrumentadas nas possibilidades
heurísticas da noção de auto-organização, fundamento dos paradigmas de não linearidade na
evolução dos sistemas complexos. Com utilização crescente pelos cientistas naturais nas últimas
décadas, as abordagens complexas e não lineares têm encontrado emprego entre os economistas
por permitir operar metodologicamente com desembaraço a representação de realidades fora do
equilíbrio – as que, por suposto, abrigam os pressupostos de crescimento e desenvolvimento.
Tanto que não tardou a se constatar que,

“... High development theory [ver 8.1] was right. (...): their emphasis on strategic
complementarity in investment decisions and on the problem of coordination failure
did in fact identify important possibilities that are neglected in competitive equilibrium
models” (p.28). De modo que, “...these ideas have had to be rediscovered..” [and]
only recently have changes in economics made it possible to reconsider what the
development theorist said, and to regain the valuable ideas that have been lost” (p.7).

Por outro lado, ao explorar as possibilidades das abordagens não lineares e complexas
os economistas vêm fornecendo um novo conjunto de ferramentas teóricas que subsidiam uma
verdadeira “geographical revenge” (Conti e Giaccaria, 2001:84), no sentido de estabelecer a
dimensão local, com toda sua concretude, como entidade intermediária necessária à compreensão
do desenvolvimento, a par de situar tal dimensão na amplitude de um mundo em redes. Nessa
tarefa, a separação positivista entre as ciências sociais tem sido sistematicamente superada.

8.3.1 As teorias do crescimento endógeno

Os eventos relatados se fizeram como resultado de contribuições, reformulações,


avanços, releituras, provindas de praticamente todas as tradições de pensamento da economia.
Desde a segunda metade dos anos oitenta, assiste-se a uma revisão de grande significado
249
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

das teorias neoclássicas do crescimento econômico, resultando nas teorias do crescimento


endógeno. Para Barro e Sala-I-Martinn (2001), assim como para Romer (1994), a onda inicial de
reformulação foi marcada pelos estudos pioneiros de Romer (1986) e Lucas (1988). Já aqui, uma
grande novidade: a tradição neoclássica de considerar exógeno em seus modelos as variáveis de
progresso técnico, cuja taxa de crescimento determina o crescimento de longo prazo, é rompida
em favor da endogeneização da mudança tecnológica. O resultado mais impressionante é o de
que o crescimento não encontra um teto – poderia continuar indefinidamente, pois os retornos do
investimento em largo espectro de bens de capital, incluindo o capital humano, não se reduziam
necessariamente ao longo do processo de crescimento. De modo que a tendência de rendimentos
decrescentes associada à acumulação de capital parecia relativizada por spillovers marshalianos
de conhecimento entre os produtores e por economias externas à formação de capital humano.
Uma nova geração de estudos, iniciada por Romer (1987 e 1990), incorpora teorias de
mudança tecnológica e imperfeições de mercado e, assim, reforça os resultados anteriores. Além
do mais, considerando relevante na realidade do sistema a concorrência imperfeita e os lucros
extraordinários que proporciona, aceita a indicação schumpeteriana de que tais ganhos tendem a
ser transformados, em proporção maior do que aqueles que resultam de taxa normal de lucro, em
investimentos em P&D capazes de ampliar o conhecimento técnico e gerar economias externas no
sistema. Sob tais condições, onde não se verifica ótimo de Pareto, “... the long-term growth rate
depends on governmental actions (which) therefore has great potential for good or ill through its
influence on the long-term rate of growth” (Barro e Sala-I-Martin, p.13).

8.3.1 As teorias do desenvolvimento endógeno

As teorias do desenvolvimento, a sua vez, evoluíram em paralelo às teorias do crescimento,


sob o impacto de dois trajetos do grande programa de pesquisa do desenvolvimento endógeno, este
orientado pela perspectiva comum de que as economias modernas são sistemas complexos, cujo
desenvolvimento tem sido determinado por dinâmica associada à complementaridade estratégica
escala-diversidade, por desenvolvimento e difusão tecnológica – formação, comunicação,
aprendizado – e por estruturações institucionais de coordenação de concorrência e cooperação.
Um trajeto, que chamaremos de lógico-formal, é representado por um grupo de pesquisas
empenhadas em demonstrar os fundamentos e consequências lógicas das dinâmicas de retornos
crescentes na definição das regiões e aglomerados, testando as propriedades dos sistemas sob
tais regimes de dependência de trajetória (não-ergodicidade), de potencial ineficiência, de
não predicabilidade e de inflexibilidade na explicação da descontinuidade espacial (regiões
polarizadas) e, nestas, das segmentações, segregações e dualidades que as conformam como
economias reais. Um outro trajeto, histórico-estrutural, resultou do empenho em fundamentar a
formação e progresso das forças subjacentes à dinâmica complexa das economias modernas: os
fatores estruturais, tecnológicos e institucionais subjacentes ao crescimento e à transformação das
economias modernas.
250
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

O esforço lógico-formal tem sido intenso (e denso) no afã de unificar, em modelos


formalmente consistentes, enunciados provindos de disciplinas, tradições teóricas e gerações
distintas. Por um lado, os avanços das teorias do crescimento endógeno, não obstante
contemporâneas, precedem e inspiram os esforços para o desenvolvimento endógeno. Para
Krugman, os avanços das novas teorias do crescimento tornaram plausível a hipótese de que
“... increasing returns are in fact a pervasive influence on the economy”; ao mesmo tempo, as
novas teorias do crescimento fizeram o contraponto com a neoclássica tradicional levantando a
hipótese fundamental para o desenvolvimento, a saber, a de que “... these increasing returns give
a decisive role to history in determinig the geography of real economies” (Krugman, 1991:10).
Por outro lado, o mesmo Krugman, assim como Brian Arthur, tiveram alguns dos seus momentos
mais brilhantes demonstrando, com o rigor que entendem necessário, a fertilidade e consistência
das ideias que marcaram a high development theory protagonizada, como já se mencionou, três
décadas atrás por economistas como Perroux, Hirschman e Myrdal, ao lado de geógrafos como
Kristaller (ver 8.1 e Krugman 1995; Arthur, 1994). O primeiro, em companhia de Mahahisa Fujita
e Anthony Venables (1999 e 2000: 41-50), incorporou as contribuições pós-keynesianas dos anos
sessenta da teoria do multiplicador da base, em particular a extensão dinâmica desse modelo
empreendida por Pred (1966). O último, quando tratou dos padrões de localização da indústria, o
fez declaradamente sob influência de Jane Jacobs; quando da sua importante contribuição sobre
tecnologias concorrentes, a qual tratamos no capítulo 6, teve a reconhecida companhia de Paul
David (1975 e 1985) e Rosenberg (1982).
O imenso esforço histórico-estrutural, por seu turno, tem um leito nas pesquisas
de economistas schumpeterianos da economia industrial em convergência com a (nova)
economia institucional (NEI) e a escola da regulação francesa, de orientação althuseriana, e
os pós-keynesianos de Cambridge (Kaldor, etc.). No capítulo 5 recorremos a seus resultados,
que tratam das regularidades sistêmicas em nível elevado de abstração, enfatizando os fatores
tecnológicos, as mediações microeconômicas subjacentes ao crescimento e a transformação das
economias modernas. Estas mesmas orientações, apontando, porém, para as mediações meso,
que articulam agentes e estruturas, marcam os trabalhos de Rosenberg (1982), Nelson e Winter
(1982); Dosi (2006); a explicitação histórica na constituição de valores e regras (formais ou
tácitas) de convivência e permuta tem expressão nos trabalhos seminais de North (1980 e 1991)
e Williamson (1985); a perspectiva marxista de exposição da natureza necessariamente histórica,
marcada por grandes regulações das relações sociais, do sistema capitalista, e suas expressões
objetivas configuram o objeto dos trabalhos de Aglieta (1976) e Boyer (1988 ).
A par de tudo, tributárias do conjunto, avançam as teorias do desenvolvimento endógeno,
com pesquisas orientadas às expressões mais concretas do desenvolvimento – seu plano mais
imediato de realização são a dimensão local e as interfaces entre os diferentes sistemas que a
conformam como espaço de vida. Isso e a forma como tal dimensão se situa no mundo, constituem
as duas faces do objeto inquirido: as diferentes formas em que se expressam as descontinuidades
espaciais e, nelas, as dualidades, segmentações, aglomerações (Berger e Piori, 1980; Taylor e
251
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Thrift, 1982, 1983). Assim que, ganham destaque na observação dos modos objetivos de realização
das dinâmicas de desenvolvimento – localmente referido, por suposto –, na esteira e no entorno
da produção em massa, tanto as formas hieraquizadas que assume a produção concatenada e
reflexiva à grande corporação (Scott, 1988 e Storper e Walker, 1989) quanto, para muito além
desta, as formas de produção sob especialização flexível, dominadas por relações horizontais
difusas (Piori e Sabel,1984; Sabel 1989); as formas como concretamente se constituem essas
aglomerações e quais suas faces organizacionais; as lógicas territoriais precisas que subjazem
às economias externas marshalianas e à formação de capital social e como se estabelecem, que
papéis desempenham na reestruturação subjacente ao desenvolvimento (Conti e Julien, 1989);
por fim, como se constituem tais realidades objetivas e diversas como parte de um único sistema,
ou economia-mundo (Conti, 2005).
De tudo, emerge uma discussão do desenvolvimento endógeno caracterizada por
sugerir que a dinâmica das sociedades contemporâneas apresenta características bem distintas
das que se pressupunha para um mundo estático, descritível pela mecânica do equilíbrio geral.
Eis que:

a) O desenvolvimento de uma economia é um processo multidimensional (economia,


sociedade e natureza) de auto-organização que produz necessariamente agrupamentos
multicêntricos em que se combinam setores baseados em recursos naturais (com
raízes e sem mobilidade espacial) com setores baseados em conhecimento (sem
raízes e com mobilidade espacial), cuja polarização se explica por retornos crescentes
de escala resultantes da combinação de economias internas às empresas, com
externalidades, tanto as de caráter tecnológico quanto as pecuniárias, isto é, aquelas
produzidas por combinação estratégica entre escala das empresas individualmente
ou em agrupamentos especializados, tamanho do mercado e diversidade da produção
total. Tal processo:
a.1) é sensível às condições iniciais, a eventos históricos e ao acaso (historicidade);
a.2) tem referência necessária nas delimitações espaciais (territorialidade), que são
irreprodutíveis e intransportáveis (unicidade);
a.3) apresenta múltiplas possibilidades reprodutivas – estados duradouros – no tempo
(não previsibilidade e potencial ineficiência);
a.4) apresenta múltiplas possibilidades reprodutivas no espaço por segregações
e dualidades articuladas em concorrência ou cooperação (concorrência de
trajetória e inflexibilidade);
a.5) tem complexidade crescente com a relação tamanho-diversidade e com a carga
de conhecimento que cada movimento reprodutivo, feed-back das partes ou do
conjunto, contém e processa (complexidade).
b) As articulações entre essas diferentes estruturações, suas dimensões e escalas, se
deixam representar em alto nível de abstração por noções de rede. Conti (2005: 228-229
252
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

oferece uma representação baseada em dois tipos de redes: redes globais representam
articulações entre agentes por trocas recíprocas numa estratégia de globalização em
um sistema policêntrico, no qual cada centro ou nodo da rede contribui com recursos
específicos; redes locais, por seu turno, representam as relações entre agentes auto-
contidos em um dado lugar entendido como escala geográfica que permite relações face
a face, de reciprocidade e confiança. Com isso, se dispõe de múltiplas possibilidades de
agrupamentos nas interações entre local e global.

8.4. As teorias do desenvolvimento endógeno e suas noções de suporte: trajetória


tecnológica, cadeias produtivas, arranjos e sistemas produtivos e inovativos e economias
locais

No esforço de descrever, explicar e acompanhar a evolução de tal mundo são desenvolvidas


categorias para operar as novas referências, sua estruturação e sua dinâmica. Desenvolvem-se
novas acepções de empresa, da concatenação entre elas e delas com a base natural e o ambiente
social de que fazem parte: empresas como sistemas abertos, cadeias produtivas, trajetórias
tecnológicas, aglomerados produtivos, economias locais. Todas essas noções se constituem no
quadro da teoria dos sistemas complexos, com as propriedades de autopoiesis e dinâmicas de
não equilíbrio, para o todo, o global da economia-mundo, e seus componentes – as nações e
suas economias nacionais, regionais e locais. A metáfora de redes tem sido acionada como a
que mais se ajusta à ideia de que a economia-mundo é melhor representada pela articulação de
múltiplos sistemas heterônomos, com graus variados de autonomia, do que por agregação dos
valores homogêneos de variáveis que expressariam, em diferentes locais, os mesmos conteúdos
e substâncias.
Os elementos que nos permitiriam ver esse mundo de intrínseca complexidade (Potts,
2000), estão, portanto, postos. A vasta gama de resultados de uma pesquisa, hoje já extensa, tem
a virtude de estabelecer os sistemas locais como unidades relevantes de análise, situando-os num
sistema de redes. Ademais, tem demonstrado capacidade de atribuir a essa situação, a dinâmica
do desenvolvimento – este derivaria da competitividade angariada nas interações local-global.
Todavia, na literatura, são notados pontos criticáveis na abordagem (ver Conti, 2005:229-231):
1) tende a reduzir toda propulsão do desenvolvimento a um processo de aprendizagem coletiva
incrustado no próprio sistema local – minimiza, portanto, as fontes de conhecimento e inovação
em outras dimensões; 2) vincula os atores ao sistema por simplificações que desconsideram
processos gerais de desenvolvimento desigual próprios do capitalismo, portanto, 3) obscurece
a dialética entre as diversas escalas de ação e representação e 4) remete o fundamento dinâmico
do desenvolvimento à competitividade de lugares e suas estruturações, criando ambiguidades
importantes e irrecorríveis; 5) tende a reduzir o local a sua expressão urbana – pela via da indústria
e dos serviços.
253
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Trataremos de todas essas questões adiante. Faremos um esforço de integração e


composição categorial nos próximos segmentos e, depois, nos capítulos 10 a 11, um trabalho
de elaboração metodológica para que a integração de categorias a que chegaremos possa ser
operada na compreensão de realidades empíricas particulares como a da amazônica.
Resta uma questão. Possibilitando retratar o mundo de modo complexo, com capacidade
de representá-lo com as diversidades pensadas por Santos – resultante da existência de
outros subsistemas econômicos que coexistem com a economia moderna –, essa abordagem
permitiria reconsiderar as possibilidades do planejamento do desenvolvimento? As teorias
do desenvolvimento endógeno, como logo, sustentaria uma téchne, com a qual pudesse
contar a política para um planejamento que não seja um instrumento para a manutenção e o
agravamento do atraso de regiões pobres e da exacerbação de disparidades sociais?

8.4.1 Empresa como sistema aberto

A noção de empresa como sistema aberto é seminal a tudo mais na elaboração que
segue. A noção de empresa sem conteúdo interior, como reclamava Edith Penrose, unidade
de um universo homogêneo, ao qual se ajusta organicamente por racionalidade única de
maximização de lucro, ou contida por mecanismo de equilíbrio geral, estacionário (como
formula a tradição neoclássica), ou produtora de uma hierarquia piramidal ditada por
concentração e centralização irrestrita (como dita a tradição marxista), imune aos efeitos do
ambiente, seja natural ou social, consumidora incontida de elementos tecnológicos gerados
em qualquer lugar; esta noção de empresa é substituída, na convergência heterodoxa do
desenvolvimento endógeno, pela empresa protagonista da dinâmica de inovação pela interação
contínua – sistêmica – com o entorno na busca de respostas a necessidades concretas da
reprodução social (obtenção de produtos e serviços objetos da divisão social do trabalho),
mediante problemas, condições e oportunidades que emergem em situações concretas – do
ponto de vista institucional e natural - que muito diferem de um lugar a outro (Penrose,
Chandler, Rosenberg, Porter, apud Conti p. 5). Exercitamos essa noção em nosso programa
de pesquisa, com resultados que podem ser avaliados em Costa (2012a e 2012c).
Neste livro importa estabelecer que, como sistemas abertos empresas ganham sentido
quando referidas a contextos – estruturações – sistêmicos: as trajetórias tecnológicas, as cadeias
produtivas e de valor, os aglomerados locais (arranjos produtivos locais), os aglomerados
regionais – economias locais – e as redes pervasivas que integram tudo. Vejamos, uma a uma,
essas noções, observando suas ontologias comuns e, assim, o modo como podem se integrar
compondo uma teoria.

254
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

8.4.2 Trajetórias tecnológicas

As empresas como sistemas abertos fazem suas combinações tecnológicas, seus


sistemas produtivos, absorvendo elementos do ambiente social em convergências orientadas
por trajetórias tecnológicas – cada trajetória indica um rumo evolutivo balizado por um
padrão técnico, uma heurística de soluções. Já vimos isto no capítulo 5. Sublinhemos mais
uma vez: trajetórias tecnológicas são padrões de atividades que resolvem, com base em um
paradigma tecnológico, os problemas produtivos que confrontam os processos decisórios de
agentes concretos no atendimento de necessidades reprodutivas, em contextos específicos
nas dimensões econômica, institucional e social (Dosi, 2006: 22-23; Costa, 2009c). As
particularidades do contexto econômico se estabelecem nos critérios econômicos “... que
agem como seletores definindo mais ou menos precisamente o trajeto concreto seguido
no interior de um conjunto maior de possibilidades” (Dosi, idem:23). Considerando o
elevado nível de incerteza que cerca a adoção de tecnologias, o ambiente institucional
assume particular relevância na configuração de trajetórias tecnológicas, desde o interesse
econômico das organizações, passando pelas respectivas histórias e acúmulos de expertise,
até variáveis institucionais strictu sensu, como agências públicas e interesses geopolíticos
(Dosi, idem: 24-25).
De modo que, trajetórias tecnológicas, a par de se constituírem por sistemas intangíveis
de conhecimento, têm existência tangível (real-concreta) nos sistemas de maior amplitude e
complexidade que integram aqueles (sub)sistemas de conhecimento com as instituições que,
em plano mediato, os legitimam, como o mercado e os sistemas de valorização simbólica que
o acompanha; com as que em plano imediato os difundem, preservam e desenvolvem, e, por
fim, com os agentes que os praticam a ponto de internalizá-los como uma postura (habitus,
rationale) – mobilizando os objetos tecnológicos (e seus produtores) que os incorporam e a
cultura que os precede e absorve.
Tal noção de trajetória tecnológica permeia, em um extremo, a noção de trajetória
tecnológica natural (Conti e Giaccaria, 2001: 7): a direção em que um padrão tecnológico pode
se desenvolver livremente quando (porque) prevalecem condições “normais” de mercado e
progresso técnico “normal” (Dosi, 2006; Elster, 1983). Tal percepção pressupõe dependência
de trajetória, porém sob condições “equilibradas”. A noção de trajetórias concorrentes (Arthur,
1994) sob condições “desequilibradas”, que aqui exploramos, inclui, como condição de
normalidade, os movimentos “anormais” – a produção de lock in’s ascendentes, descendentes
ou estacionários (ver capítulo 5).
Consideradas como referências estruturais, as trajetórias tecnológicas podem ser a base
de representação de uma tecitura da produção social em qualquer escala da economia- mundo,
posto que, por elas, se poderia observar a divisão social do trabalho associada em seu modus
operandi técnico e social – na evolução competitiva e cooperativa de capacidades instaladas e
competências de operação e gestão submetidas à racionalidade dominante.
255
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

As trajetórias tecnológicas têm lugares concretos de operação. Se trajetórias rurais, uma


dessas estruturações é constituída pelos sistemas agrários. Os sistemas agrários são configurações
territoriais delimitadas por concorrência e cooperação dinâmica entre as trajetórias em torno dos
recursos naturais e institucionais ali prevalecentes. No Capítulo 9, apresentaremos sumariamente
os principais sistemas agrários da Região Norte. Dos sistemas agrários fazem parte arranjos
institucionais que determinam como recursos naturais, de conhecimento e de cultura tecnológica
são produzidos e distribuídos, das quais relações fundiárias, regras e mecanismos de acesso a
sistemas de inovação, como o crédito e organizações de assistência técnica, são expressões.

8.4.3 Aglomerados produtivos – Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (ASPIL)

Como sistemas abertos, firmas ganham sentido quando referidas aos contextos em que se
ajustam “...relações entre empresas e entre estas e as demais instituições [na obtenção de produto
específico] dentro de um espaço geográfico definido” (Cassiolato e Lastres, p. 23). Sistemas
regionais, ou regionalizados, têm aqui seu lugar e, neles estabelecida, a noção de Arranjos e
Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (ASPIL).
A categoria ASPIL oferece possibilidades de visualizar a existência e reprodução
social nas relações que integram a sua esfera “propriamente” econômica, com as esferas social
e política (capital humano: nível de cultura e de habilidade dos cidadãos; capital social: nível
das organizações da sociedade civil e sua capacidade de gerar e aplicar novos conhecimentos),
expressas em totalidades referidas a produtos (lugar sistêmico na divisão social do trabalho) e
localidades (lugar geográfico no sistema social) concretos.
Há perspectivas que entendem ser tais arranjos referências estruturais relevantes nas
condições em que reinam processos de especialização flexível, apenas no quadro das realidades
industriais mais avançadas (Porter, 1989). Em relação a isso, Cassiolato e Lastres (1999 e 2003),
seguidos por uma já vasta literatura produzida por integrantes da RedeSist, oferecem a visão mais
geral de que, em qualquer realidade social do capitalismo, intrinsecamente submetida a tensões
para mudar por força de sua participação na divisão social do trabalho por mediação do mercado,
a dinâmica de ajustamento produtivo e reprodutivo que responde a tais tensões pelo uso das
disponibilidades, sempre locais, de capital humano, de capital físico e capital natural implica, isto
é, requer e cria, interações cooperativas entre as unidades mais irredutíveis (unidades produtivas e
de consumo), canais de acesso dessas unidades ao saber codificado ou tácito necessário à inovação
tecnológica ou social, e de elementos de governança (nódulos estratégicos de coordenação), sejam
eles formais ou informais, maduros ou insipientes.
Sobressaem duas condições do ASPIL: ele é uma emergência que se conforma como
mesorrealidade local dinâmica (emerge e se desenvolve); ele é, ao mesmo tempo, componente de
uma divisão social do trabalho organizada nacional e globalmente.
Um ASPIL situado num lugar qualquer, chamemos j, absorve um conjunto de inputs,
processa-os nos sistemas produtivos de suas empresas dando origem a um produto determinado, i.
256
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Denominemos essa estruturação genérica que produz em j, i, de ASPILj,i. Os inputs são produtos de
trajetórias tecnológicas que se originam ou tangenciam o lugar j. Dessas trajetórias tecnológicas
que fornecem pressupostos da produção dos arranjos tratados, há as que operam requerendo
dominantemente ativos específicos locais (trajetórias α) e as que operam com dominância de
ativos genéricos, de controle supralocal (trajetórias β). Trajetórias a montante, α e β, são trajetórias
constituintes dos arranjos α,βASPILj,i (ver ilustração na Figura 1).

Figura 8.4.3-1 – ASPIL e Trajetórias: Trajetórias alfa de base local se relacionam com trajetórias
beta, extra local para constituir um ASPIL. Este é a expressão local de uma trajetória tecnológica
de expressão maior que o local.

 ASPIL de i=l
no lugar j
Constituintes
Trajetórias

Trajetórias
Constituída
(produto i=l
na variante
tecnológica z)


Trajetória Constituinte
ASPIL
Trajetória Constituída

Fonte: Elaboração do autor.

Porque referidas a um lugar, as empresas de um arranjo recebem em iguais condições,


e de modo relativamente passivo, os elementos exógenos das trajetórias β e são compelidas
ao compartilhamento dos elementos produtivos que têm origem nas trajetórias α, levando os
eventualmente diferentes sistemas de produção das empresas a convergirem para um dos Z itens
do portfólio tecnológico z de produção do produto i nesta economia nacional de n lugares. Um
α(1),β(1)
ASPILj(1),z(1),,i(1) seria um arranjo produtivo situado no lugar 1 de uma economia de n lugares,
que participa do atendimento do item 1 do conjunto i = 1...I das necessidades da reprodução
social daquela economia de n lugares, mediante condicionadas originados nas características da
trajetória α = 1, a fornecedora de inputs endógenos entre a trajetórias, e β = 1 entre b trajetórias
exógenas. Tal contexto coloca a alternativa tecnológica z = 1, de Z alternativas, como ponto de
orientação, ou de atração, dos esforços de mudança das empresas de arranjo produtivo, o que faz
dele um constituinte da trajetória z(1) – e esta, uma trajetória constituída pelo α(1),β(1)ASPILj(1),z(1),,i(1),
eis que é um ponto de existência da trajetória z(1) da produção nacional de i(1).
257
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

8.4.4 De ASPIL a Setores: Um movimento teórico-metodológico de transposição vertical de


escala e acesso a sistemas superiores extralocais

Para a realidade supralocal, o α(1),β(1)ASPILj(1),z(1),i(1) é um elemento de um subconjunto de


arranjos que produzem i(1) sob as condições da trajetória tecnológica z(1) em diferentes lugares
dos n existentes na economia, cada um deles articulando elementos de trajetórias constituintes α
e β. Tal subconjunto, que representa a própria existência da trajetória z(1) aplicada a i(1), quando
composta com os demais subconjuntos z(1...Z) que produzem i(1) por diferentes tecnologias,
formam o setor i(1): no nível mais alto de abstração da economia nacional de n lugares, de onde
ela é vista como um único sistema, α(1),β(1)ASPILj(1),z(1...Z),i(1) seria o setor que produz o item 1 da
reprodução social. Em resumo, a agregação de ASPIL de mesma natureza, dado que atendem
mesma necessidade social, constitui um setor.

8.4.5 De ASPIL a Economia Local: Um movimento teórico-metodológico de transposição


horizontal de escala e acesso a sistemas superiores locais

Para a realidade local j(1), o arranjo α(1),β(1)ASPILj(1),z(1),i(1) que discutíamos anteriormente é


um entre outros arranjos que lá articulam suas diferentes trajetórias α com os recursos que obtém
de trajetórias β extralocais por distintas tenologias z. Tal realidade poderá ser descrita como uma
estruturação α(1...a),β(1...b)ASPILj(1),z(1...Z),i(1...I), resultante da operação no mesmo lugar 1 dos diferentes
arranjos que fazem uma Economia Local.
Poderíamos enunciar, pois, que a noção de setor da economia nacional comporta a
agregação de ASPIL, de mesma finalidade (ou natureza), distribuídos em diferentes lugares,
os quais, como economias locais, agregam ASPIL de diferentes naturezas. Com o primeiro
movimento se faz um trajeto que transpõe escalas verticalmente, eis que se transpõem
as referências sistêmicas, do local ao nacional – do aglomerado ao compartimento, com
o que se transpõem níveis de abstração; com o segundo movimento se transpõem escalas
horizontalmente, uma vez que, não obstante se alcançar sistemas mais amplos a requerer
maior abstração, a escala local estabelece, para ambas estruturações, a distância requerida
à observação. A compreensão da realidade econômica exige, portanto, cinco referências
estruturais: empresas como sistemas abertos, trajetórias tecnológicas, ASPIL, setor e a
economia local. Uma via operacional para transitar do nível mais concreto dos ASPIL, para
os níveis mais abstratos, do setor e da economia local, seria, a composição e decomposição
respectivas desses últimos com base no primeiro.
Estas seriam operações formalmente corretas. Contudo, teórica (e praticamente)
insuficientes. Isso porque, um setor, enquanto uma projeção macroeconômica de ASPIL
de mesma natureza em uma delimitação geográfica superior à local, é mais que a soma
dos ASPIL. De uma lado, porque, nesse nível, se estabelecem questões “amenizadas” no
contexto do ASPIL, sobretudo as que resultam das regulações da relação capital/trabalho
258
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

(sindicatos de trabalhadores e patronais se estruturam por setor), da relação do tipo de


atividade, e do produto que disponibiliza (valor de uso) com o conjunto da produção social
– divisão social do trabalho nacional e internacional. Daí afloram questões de governança
e de valoração (formação do valor, relações e regimes de preço, regimes fiscais, regimes
cambiais) com implicações distributivas que só se manifestam compreensivamente enquanto
problemas da reprodução social. Como tal, são passíveis de tratamento apenas no contexto
dos constrangimentos objetivos da realização do conjunto da produção de mesma natureza
(da região, do país, do mundo) em relação com o conjunto da produção de toda natureza (da
região, do país, do mundo). A economia política clássica trata essas relações realçando o
papel da concorrência, intra e entre setores produtivos, mediante a lei do valor trabalho e da
transformação do valor em preço. Nesse nível de abstração, de onde se observam relações
complexas entre empresa e economia, porém com a mediação única do setor, aponta para
tendências com grande força determinística. Tais forças devem ser consideradas, mediante
a condição, porém, de que operam mediadas por estruturações intermediárias, das quais já
tratamos: as trajetórias, os ASPIL, e as economias locais. Devemos agora considerar o papel
das noções de cadeias de produto e valor.

8.4.6 Trajetórias Tecnológicas e Cadeias de Valor: tessituras das redes horizontais e verticais
que articulam ASPILs como nodos de setores das economias regionais e nacional e nodos das
economias locais

Sublinhemos pontos seminais. Vista a empresa como sistema aberto, o foco da


análise deixa de ser a unidade individual fechada, produtiva ou de gestão, e passa a abarcar
as relações entre ela e o ambiente, institucional e natural, de corte local ou extralocal,
imerso no qual atua, tendo a referência de diferentes estruturações sistêmicas interligadas.
As trajetórias tecnológicas constituintes e constituídas dos e pelos ASPIL conformam as
interações primárias as quais, nos contextos particulares das economias locais e no interior
dos setores que fazem a economia nacional, gerem a produtividade com a qual opera a base
produtiva da sociedade.
Importa anotar, isto posto, que as trajetórias se movem por decisões dos agentes
orientados por rentabilidade mediada, em última instância, por cadeia produtiva. Tal noção
– uma outra estruturação sistêmica – seja vista como “cadeia de valor” ou como “cadeia de
produto” (Appelbaum; Gereffi, 1994 a e b), tem em Terence Hopkins e Immanuel Wallerstein
(Hopkins, Wallerstein, 1986:189) seus formuladores seminais. Para eles, uma cadeia produtiva
pode ser definida como “...a network of labor and productin processes whose end result is a
finished commodity”. Colocada desse modo, cadeia não se distinguiria de trajetória, eis que
ambas têm como resultado final um produto socialmente aceitável, isto é, mercantilizável.
Mas há diferenças a considerar. A noção de trajetória tem no como se produz, a
qualificação e fundamento organizador do que se pretende explicitar – diferenciação de
259
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

capacidades expressas em produtividade. Na noção de cadeia, o fundamento técnico da


produção, isto é, o como se estrutura o processo produtivo, a rigor, não importa – o que importa
é a observação da forma como o resultado das capacidades orquestradas pelas trajetórias,
seus produtos homogêneos ou homogeneizáveis, adquirem preço, e as implicações que isso
representa para os diversos agentes envolvidos – as rentabilidades respectivas. As duas
noções já se mostram aqui complementares, visto que as últimas constituem as referências
que atuam como filtros (Dosi), para as decisões que selam os destinos das trajetórias
concorrentes (Arthur). Por isso, trabalhamos na primeira parte do livro (ver Capítulo 6) as
avaliações orientadas por rentabilidade diretamente referidas a trajetórias. Não obstante, são
diferentes trajetórias de cadeias de valor, já porque uma cadeia produtiva pode valorar a
produção de mais de uma trajetória e vice-versa: uma trajetória tecnológica pode ser objeto
de uma ou várias cadeias produtivas. Para nos aproximarmos do nosso objeto. O Açaí, por
exemplo, pode ser produzido pela Trajetória-Camponesa.T2, por manejo florestal, e pelas
Trajetória-Camponesa.T1 e Trajetória-Patronal.T5 em plantações com importantes níveis de
mecanização e quimificação. Essas diferentes trajetórias tecnológicas durante muito tempo
foram valorizadas pela mesma cadeia: produtor, processador artesanal, consumidor local.
Hoje, tanto o açaí extrativo quanto o agrícola têm duas grandes cadeias de valorização:
produtor, processador de primeira linha (polpa), processador de segunda linha (alimentos),
mercado local; ou produtor, processador de primeira linha (polpa), processador de segunda
linha (óleos e nudles), processamento de terceira linha (vários da química fina), produtor final
local e mercado final extralocal. Note a participação, em ambas as cadeias produtivas, do
arranjo produtivo local que garante a passagem da condição de fruta, objeto das trajetórias T2,
T1 e T5, para a condição de polpa, constituinte de trajetórias tecnológica de industrialização
de alimentos ou de cosméticos.
Vistas assim, cadeias poderiam representar uma tessitura da produção social em
qualquer escala, posto que, por elas, se poderia observar a divisão social do trabalho e
monitorar o constante desenvolvimento do sistema produtivo (Hopkins e Wallerstein, op.
cit.:17). Aduzimos, entretanto, que em última instância tal realidade se fundará em trajetórias
tecnológicas. Porque, se numa certa escala, diferentes cadeias podem resultar da evolução de
uma única trajetória na obtenção de um bem – os caminhos que o produto percorre, conforme
sua destinação social ou espacial, estarão nodulados de modo particular, tanto no que se refere
a normas a cumprir, quanto no que trata hábitos e necessidades a atender, objetivas ou não,
tangíveis ou simbólicas. Por outro lado, a observação da realização de uma trajetória pode
implicar a consideração das cadeias produtivas que ela supre ou suporta. Os dois conceitos
tratam, assim, de tessituras distintas, porém articuladas, da produção social, uma organizada
pela formação do valor (produtividade física, associada a condições de produção), a outra
pela realização do valor, em particular do valor excedente, e distribuição (rentabilidade,
associada a condições de transação) (ver ilustração na Figura 8.4.6-1).

260
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Figura 8.4.6-1 –Trajetórias tecnológicas e cadeias de valor

Loca (j) Extra-Locais

 ASPIL de i=l
no lugar j
Constituintes

Cadeias de valor (v1...vn)


Trajetórias

v2
Trajetórias
Constituída
(produto i=l
v1 na variante
tecnológica z)


Trajetória Constituinte
ASPIL
Trajetória Constituída
Cadeia do valor

Fonte: Elaboração do autor.

Por fim, as cadeias de valor comportam três dimensões: uma estrutura de insumo-produto
articulando um conjunto de produtos e serviços numa sequência de atividades de formação de valor;
uma territorialidade que identifica a dispersão ou concentração geográfica da produção de matérias
primas e produtos acabados, bem como a localização de redes de comercialização e exportação; e
uma estrutura de governança – uma dimensão institucional, estruturada hierarquicamente ou em
rede, que determina como os recursos humanos, materiais e financeiros, bem como o lucro, são
alocados e circulam no interior da cadeia (Appelbaum e Geriffi, 1994ª: 42).

8.4.7 As Economias Locais e seus Polos – as cidades, os sistemas de conhecimento, crescimento


e desenvolvimento

As estruturações sistêmicas concretas expressas nos conceitos de trajetória tecnológica


e cadeia de produto e valor fazem a transposição de escalas que levam o local ao global e vice-
versa. Nesse movimento, trajetórias e cadeias se interligam na constituição de ASPILs, os quais,
261
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

em interações espacialmente contidas, conformam as economias locais. Com isso, temos uma
estrutura categorial que permitiria descrever e analisar as redes que articulam esses diferentes
níveis. O que dizer das possibilidades de avaliação, de verificação da direção e sentido apontado
pela dinâmica do conjunto – do desenvolvimento da economia e sociedade? Trata-se de questão
fundamental.
Um ponto de partida para a discussão seria o de que à condição de desenvolvimento se atribui
um processo de crescimento com produtividade crescente: uma dinâmica extensiva, de elevação
de escala e capacidade produtiva associada, seja como causa, seja como efeito, a uma mudança
de qualidade nos fundamentos produtivos da sociedade que se reflita na elevação continuada da
produtividade. Tanto a proposição de Kaldor (Setterfield, 2010), tratada no subcapítulo 5.6, quanto
os modelos de polarização de Krugman (1985), que discutiremos no capítulo 12, têm suposto que
a produtividade crescente deriva de economias de escala dinâmicas: o crescimento em tamanho
aprofundaria a divisão social do trabalho com efeitos sobre a produtividade. Ambos, Kaldor e
Krugman, supõem como fator de formação de ganhos de externalidade o aprendizado difuso que
se faz como decorrência das oportunidades associadas a uma expansão. Tratar-se-ia, no entanto, de
resultado, mecanicamente alcançado – inferido com linearidade cartesiana – de ganhos de tamanho
combinados, no caso de Krugman, com efeitos locacionais derivados dos custos de transporte.
Há que aduzir a estas percepções, de alcance sistêmico, por certo, porém fortemente
pautadas por raciocínio lógico-formal, a noção de que a produtividade crescente que fundamenta
o desenvolvimento resulta, em perspectiva histórico-estrutural, de capacidades concretas, que
emergem, em processos dependentes de trajetória, históricos, portanto, da interação consistente de
agentes e agências, ações e estruturas que se reproduzem em contextos particulares, constituindo
sistemas complexos de conhecimento, regulações e capacidades culturais que forjam a qualidade
dos territórios. A partir do trabalho seminal de Freeman (1988), revelando essa dimensão em
território nacional como sistema nacional de inovação, desenvolveram-se noções correlatas de
sistemas regionais de inovação (Lundval, 2002; Cooke, Morgan, 1998). As noções de ASPILs, que
fundamentam o programa da RedeSist, incorporam essa dimensão no nível mais elementar de sua
ocorrência (Cassiolato, Lastres, 2003).
Todas essas contribuições tratam a formação dessa dimensão dos sistemas produtivos,
essencialmente, como dinâmicas de emergência. Com efeito, observadas as gêneses, constatam-
se estruturações conformadas em trajetórias, cadeias de valor, arranjos produtivos, etc. É que,
tanto as trajetórias, quanto as cadeias organizam governanças e têm suas dinâmicas condicionadas
por fontes de conhecimento referidas a sistemas de produção e difusão de saber tecnológico ou
gerencial, também de diferentes níveis – locais, regionais e nacionais – laboratoriais ou tácitos.
Assim que, as economias locais, em particular, os seus polos urbanos centrais, são mais que a soma
dos ASPIL(s) que as compõem: sobretudo em seus lugares centrais elas abrigam os sistemas locais
de conhecimento, inovações e serviços produtivos que se formam em torno das cadeias de valor e
trajetórias constituintes dos ASPIL, os quais, por seu turno, mobilizam e contêm conhecimentos e
capacidades derivados das trajetórias respectivas por eles constituídas.
262
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Figura 8.4.7-1 – Economias locais e suas transcendências.

Fonte: Elaboração do autor.

Além disso, há transcendências e carências que derivam do conjunto de ASPIL de


naturezas diferentes que fazem as economias locais e seus polos. Registre-se que, nesse nível, o
local, as externalidades, tanto as positivas (o grau de educação, as disponibilidades infraestruturais
de conhecimento, seja de base, como capacidade difusa, habilidades tornadas primárias no lugar,
seja avançado, com ênfase em capacidade de direção e criatividade, ao que se associa poder de
compra, nível de exigência e grau de organização de consumidores, nível de cooperação dos
produtores e de coesão dos trabalhadores), quanto às negativas (efeito da pressão sobre a base
natural, efeitos de congestionamento), manifestam-se em plenitude (ver ilustração na Figura
8.4.7-1). Não obstante, carências há, cujas expressões e correspondentes formas de atendimento
e superação emergem em sistemas extralocais, regionais e nacionais. De um modo ou de outro,
263
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

a existência e o nível de desenvolvimento desses sistemas carecem explicitação na análise


(conhecimento como logo), posto que eles constituem mediações fortes entre expansões em
escala e mudanças qualitativas, tornando incertos e não lineares os caminhos da transformação
do crescimento em desenvolvimento. Em tudo, a possibilidade da interferência política como
parte do próprio processo – da ação objetivada (com o uso desses resultados como techné) ao
potenciamento ou contenção das emergências e estruturações que forjam a dimensão sistêmica
que qualifica os lugares e territórios que formam uma região ou país. A isso retornaremos adiante,
quando tratarmos do planejamento.
Importa agora estabelecer que a avaliação dos processos de desenvolvimento exige duas
abordagens combinadas: uma que trate do crescimento como extensão e outra que trate da qualidade
de seus fundamentos e resultados. Em relação a isso, um primeiro ponto, já tratado parcialmente em
5.6, diz respeito à observação da dinâmica do conjunto desde a observação da dinâmica das partes: o
que se coloca é se, e como, é possível avaliar, resguardando essas exigências, a dinâmica de trajetórias,
de ASPILs e de economias locais, para que se possa avaliar o desenvolvimento das regiões enquanto
sistemas de lugares, bem como observar o desenvolvimento do país como o de um sistema de regiões
e suas redes.
A questão foi encaminhada anteriormente, utilizando resultados da Escola da Regulação
Francesa (ERF) (Boyer e Petit, 1991) em convergência com pós-keynesianos de Cambridge.
Ambos os programas, mirando a avaliação das economias nacionais, sugerem a noção de regime
de crescimento com três princípios condicionantes: 1) o regime de demanda (RD), que descreve
os determinantes dos componentes da demanda agregada; 2) o regime de produtividade (RP),
que explicita os determinantes do progresso técnico e da acumulação. Os RD e RP ocorrem
mediante 3) um regime institucional que expressa a interação, naquele tempo e lugar, entre as
formas institucionais que organizam as necessidades preponderantes do capitalismo e as formas
de produção que ali se reproduzem (Amitrano, 2010).
Recentemente, se tem procurado discutir desenvolvimento regional nessa perspectiva,
em alinhamento com os esteios teóricos do desenvolvimento endógeno: a categoria garante a
descrição do processo de crescimento da renda considerando path and space dependency
– eis que um regime de crescimento se explica necessariamente em seu contexto, histórica e
institucionalmente delimitados (Setterfield, 2010; Roberts, Setterfield, 2006; Lourenço, Bezerra,
Pereira, 2011).
Em princípio, as estruturações que fundamentam os territórios, sejam as trajetórias
tecnológicas e cadeias de valor, sejam os aglomerados de ASPILs e economias locais, se equivalem
no sentido de se constituírem, de um lado, nas relações entre produtores intermediários e finais;
e destes com aparatos e mecanismos de produção e distribuição de capacidades socialmente
(de modo transcendente às empresas) construídas nas interações que formam seus custos de
produção e de transação de um item específico da reprodução social. Vistas assim as estruturações
do desenvolvimento endógeno, seus movimentos são determinados pelas demandas agregadas
(consumo local, nacional, mundial, visto de um modo; consumo das famílias, formação de
264
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

capital e do governo, visto de outro) daquelas mercadorias a que respectivamente se dedicam,


as quais, por seu turno, se expressam nos componentes da renda dos agentes envolvidos – lucros
(dos produtores industriais, dos fornecedores de matérias-primas e dos agentes que controlam
as transações), salários (de trabalhadores formais e informais) e impostos (em diferentes níveis
de governo). O crescimento da trajetória, do ASPIL e da economia local, sua capacidade de
permanência e mudança – ou de mudança para a permanência – portanto, é determinado pela
demanda e o Regime da Demanda (RD) é a descrição compreensiva dessa determinação.
Por outro lado, em qualquer caso a produção resulta da capacidade de processamento
instalada, medida pelo acervo de capital físico que possuem as empresas e da capacidade que
tenham de mobilizar tal acervo considerada a disponibilidade de trabalho e meios de produção.
O crescimento da produção, assim, depende da capacidade de arregimentar recursos para
investimentos produtivos, por acumulação endógena (que depende do lucro e, portanto, de uma
arranjo de partição de resultados, de um lado entre empresa industrial e seus trabalhadores;
de outro entre empresas industriais e seus fornecedores, à montante, entre elas e seus cliente,
à jusante das cadeias em que se encontram) ou por recursos de crédito. Será observado o
crescimento da produtividade por efeito, chamemos, endógeno à própria estruturação, seja
trajetória tecnológica ou aglomerado em qualquer nível, quando o seu crescimento absoluto (em
escala) atuar como fonte de criação (justificação econômica) de novas capacidades produtivas
em processo de aprofundamento da divisão social do trabalho a ela circunscrita. A forma como
se verifica a interação entre crescimento em escala e crescimento em eficiência define o Regime
de Produtividade (RP) que se caracteriza pela consistência e desenvolvimento dos sistemas
de inovação que o baseiam, exigindo focalizar, para além dos tamanhos e escalas, para “...as
articulações entre conjuntos de diferentes atores relevantes, assim como entre atividades conexas
dos diferentes sistemas produtivos e inovativos locais” (Lastres, Cassiolato, 2011: 274).
Tal processo, por suposto, se faz como realização da unidade do diverso: integração das
diferenças condicionadas pelas distinções naturais e institucionais de localidades delimitadas.
De modo que regimes de demanda e regimes de produtividade mantêm relações em contextos
institucionais que, afetando a relação entre unidades produtivas industriais ou rurais, trabalhadores
e fornecedores – e entre todos esses e a base natural, a terra e os recursos que suporta –, estabelecem
os parâmetros que, em última instância, configuram o regime de crescimento.

8.5. As teorias do desenvolvimento endógeno e a necessária revalidação do planejamento


como mediação da ação política

Vimos como teorias do desenvolvimento, operando na perspectiva das ciências regionais,


se tornaram ciências do planejamento do desenvolvimento: como a fusão entre a dimensão logo
e a dimensão techné de um estágio de conhecimento sobre a sociedade capitalista e sua dinâmica
produziu uma perspectiva mecânica da intervenção política para o desenvolvimento – em última
265
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

instância, uma visão teleológica da história. Vimos também a severa crítica que a isso se fez, já
nos anos setenta. Na vanguarda do questionamento, Milton Santos afirmava que entre as causas do
subdensenvolvimento e da pobreza no “terceiro mundo” estaria o planejamento (Santos, 2007:13).
Depois, a posteriori da crise do final da década, debitava-se ao planejamento uma sequência de
rupturas geográficas, culturais e ecológicas nos países industriais do “primeiro mundo” (Conti e
Giaccaria, 2001).
O planejamento pressupõe finalidade (o desenvolvimento: como crescimento, como
capacidade de consumo, como emancipação, como liberdade?), envolve sujeito (a sociedade
em sua dimensão política), objeto (a sociedade em sua dimensão econômica) e processo (ação
e retroação coordenadas e controladas por conhecimento e experiência, orientadas a fins
compatíveis com devir alternativo, pressuposto superior ao destino – seja ele orientado pela
metafísica religiosa, ou pela metafísica do laissez faire. No passado, as críticas se referiam
à temeridade de fins definidos por uma ciência, tida com capacidade iluminista de discernir
razões de última instância, legitimada pela práxis. Sobre isso Santos perguntava: se a práxis
legitima a ciência, quem legitima a práxis? Se a resposta fosse a política, a questão seria como
compatibilizar os objetivos (conhecimento como logo) e regras de campo (Bourdieu: crítica,
autonomia, isenção) da ciência, com os da política (conhecimento como techné: protocolo
de ação forjado sobre compromisso para controlar danos de dissenso). Quanto ao sujeito do
planejamento, as críticas se referiam à dúvida sobre a efetiva condição do Estado de contrariar
as forças econômicas dominantes, da grande corporação e do capital financeiro, de modo a
corrigir iniquidades espaciais e sociais; sobre o objeto. Questionava-se se o planejamento do
desenvolvimento seria capaz de considerar o todo do corpo social, dadas cisões – a realidade
da diversidade da estrutura social e econômica (Santos, 2007:34); por fim, porém não menos
importante, a indagação de se seria possível contar com uma ciência capaz de cumprir seu
dever de bússola na busca de um futuro sem pobreza, livre e harmônico – desenvolvido.
Transcorrido meio século desde as grandes controvérsias, todas as questões sobre o
planejamento voltam a se colocar, iniciando pela mãe de todas elas: os programas de pesquisa
que perseguem as hipóteses de convergência têm corroborado a ideia de que é intrínseca ao
sistema capitalista a capacidade mecânica de eliminação de iniquidades, mesmo a mais absoluta
da pobreza extrema? A rigor, uma questão precede esta: mostra-se o capitalismo liberal, como
organizador do sistema-mundo, capaz de cumprir a promessa da modernidade ocidental – de
liberdade, igualdade e fraternidade para toda a humanidade? Esta é questão seminal porque,
se a resposta é não, e se tem, na visão de futuro, consolidadas ideias-forças transformadoras –
ideias de justiça e capacidade de permanência, princípios modernos de progresso pautado no
ideário do desenvolvimento sustentável, para o qual a sociedade se coloca o dever de equacionar,
sem hierarquia, orientações estratégicas de eficiência econômica, equidade social e equilíbrio
ecológico; se, enfim, se busca “...um futuro sem pobreza, livre e harmônico – desenvolvido”,
como acima formulamos, nos é dado intervir. Cabe, porém, pescrutar sobre os fundamentos de
conhecimento para tanto. A pergunta chave será: o estado do conhecimento sobre a sociedade e
266
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

seu desenvolvimento, cujos avanços reconhecemos anteriormente, possibilita retratar o mundo de


modo a apontar para a diversidade de condições sociais, revelar as que são indignas e degrandantes,
compreender seu sentido sistêmico e abordá-las, ao ponto de apontar caminhos consistentes de
desconstrução – consoante a construção de caminhos emancipatórios? Se a resposta for sim,
neste caso também, nos será exigido intervir, eis que possível fazê-lo minimizando as rupturas
criticadas no passado.
O que faremos nos demais capítulos desta última parte do livro será um esforço de
encaminhamento dessas questões. Num primeiro movimento, o empenho se desenrolará no
subcapítulo 8.6, no qual buscaremos estabelecer, em plano lógico-teórico, as possibilidades que
as teorias do desenvolvimento endógeno demonstram de fundamentar sistemas de planejamento
que correspondam aos princípios evolutivos por elas explicitados: diversidade, historicade,
territorialidade e sustentabilidade. Demonstraremos que para um tal sistema transpor a condição
de exercício lógico, um esforço metodológico se faz necessário para que leituras das realidades
locais sejam possíveis, pois é lá que os problemas a serem corrigidos e as bases de superação dos
obstáculos, a endogenia, portanto, têm seu mais concreto refúgio. A isto serão dedicados os capítulos
9 a 13. Antes, porém, devemos nos alongar sobre as possibilidades de um sistema de planejamento
que, fazendo uso dessas leituras, possa operar na construção de um futuro mais justo e sustentável.

8.6. As possibilidades de constituir um sistema de planejamento do desenvolvimento


endógeno e sustentável da Amazônia com base nas noções do desenvolvimento endógeno

Na Amazônia, o ambiente institucional para o fomento de desenvolvimento com


maior esperança de sustentabilidade é conservador. Como observamos no Capítulo 1, trata-
se de institucionalidade tradicional porque assentada sobre uma razão técnica incapaz, por
viés de visão de mundo, ou por insuficiência das formas de conhecer, de lidar conceitual e
operacionalmente com o “valor” da diversidade (cultural e ambiental) para um desenvolvimento
duradouro na região, desaparelhada para tratar com os agentes capazes de gerir diversidade,
desaparelhada também para lidar com as manifestações e resultados locais dessas habilidades.
Ademais, o tradicionalismo tecnocrático tem estatuto político: alimenta-se e é recompensado,
arregimentando poder, ao corroborar com o status quo, ao atuar validando visões de mundo e
ações que confirmam as formas temerárias e iníquas de desenvolvimento.
Diante de tais desafios, inovações institucionais para um desenvolvimento de novo
tipo na região deverão se fazer, minimizando as contradições que, por uma parte dissociam
desenvolvimento econômico e desenvolvimento social e, por outra, tornam o desenvolvimento
uma ameaça a fundamentos naturais únicos e preciosos. O objetivo deverá ser, pois, o de um
progresso social com equidade intra e intergerações, expresso por uma eficiência econômica
que tenha as especificidades naturais e culturais da região como aliadas e, por isso, seja
sustentável.
267
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Os processos deverão promover a adequação entre as organizações e instituições da


política e as necessidades inerentes a um desenvolvimento moderno, eis que voltado para
a emancipação e inclusão sociais das grandes massas, baseado nos potenciais e limites das
bases naturais e culturais presentes na Amazônia, dependente e formador de capital humano
e social, tecnologicamente baseado no uso denso de conhecimento tácito e codificado dos
recursos naturais regionais. Respeitando-se esses princípios, será possível promover um
desenvolvimento irradiador de capacidades difusas, fundamentos de um progresso amplo e
socialmente enraizado e, por isso, sustentável.
Isto posto, evidencia-se a carência de uma nova institucionalidade, cujo centro
estratégico disponha dos fundamentos e mecanismos que permitam o amplo leque de
possibilidades enfeixadas em quatro grandes competências – as capacidades de um novo
sistema de planejamento para o desenvolvimento regional:
1. capacidade de discernimento macrossocial por visão integrada das dinâmicas
econômicas e sociopolíticas com seus fundamentos naturais – com isso se poderá
devisar e avaliar fins, sopesando os meios de atingi-los;
2. capacidade de mediação das perspectivas de desenvolvimento dos sujeitos sociais –
de internalizá-las, com a qualificação possível a partir do discernimento indicado em
1, como orientação e fundamento de gestão pactuada;
3. capacidade de orientar convergências entre ações de entes privados e públicos no
sentido da orientação pactuada;
4. capacidade de acompanhar impactos e efeitos da ação negociada, processando os feed
backs que garantirão o aprendizado coletivo para contínuo ajustamento de trajetórias
– das empresas, das trajetórias tecnológicas, cadeias de valor, ASPIL e economias
locais.

8.6.1 Capacidade de conhecer de modo complexo – novas leituras de totalidade

Uma institucionalidade nova deverá se basear no melhor conhecimento possível sobre


a sociedade e a economia amazônicas e sua base natural. Para tanto será necessário capacidade
própria, que faculte o diálogo crítico e atualizado com as concepções modernas de desenvolvimento
que hoje pautam a pesquisa de fronteira das ciências da sociedade e das ciências naturais. Destacam-
se as convergências que acima apresentamos sob o pálio das teorias do desenvolvimento endógeno.
Nessa busca encontrar-se-ão as ferramentas para operar, valorizando as economias locais, suas
diversidades, seus diferentes circuitos, discernindo quanto ao “valor” das suas disponibilidades e
sobre o “peso” de suas carências em termos de infraestruturas tengíveis e intangíveis, de capitais
social, humano e natural.
O (re)conhecimento complexo da realidade permitirá, por seu turno, o acompanhamento
eficiente do desenvolvimento regional por indicadores que por uma parte contemplem as esferas
econômica, social e ambiental e, por outra, permitam observar os níveis micro, meso e macrorregional.
268
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

8.6.2 Capacidade de internalizar as perspectivas de desenvolvimento dos sujeitos sociais nos


processos decisórios

Uma nova institucionalidade deverá promover a democratização do processo decisório


que formata a intervenção desenvolvimentista das diferentes instâncias de governo – federal,
estadual e local – na Amazônia. Para tanto, deverá conter mecanismos para uma incorporação
dinâmica e qualificada de demandas dos atores sociais coletivos, por meio das representações
de grupos relevantes no fundamento produtivo (econômico e social) e reprodutivo (econômico,
social, político e cultural) do todo social. Deverá, assim, fazer uma incorporação dinâmica e
qualificada das demandas sociais por mecanismos que considerem as dimensões de tempo e
lugar do desenvolvimento.
Processos de participação dinâmica por permitir, por um lado, aprendizado que oriente
adaptações evolutivas de trajetos de desenvolvimento – para isso o acompanhamento terá
que ser regular e recorrente, efetivando-se em timing apropriado; por outro lado, dado que
as trajetórias de desenvolvimento são espacialmente referidas, deverá se fazer estreitamente
vinculado a lugares e regiões.
Processos de incorporação qualificada de demandas e avaliações, considerando o
melhor conhecimento prévio disponível do ambiente natural, social e econômico de onde
partem as demandas e onde se projetarão os efeitos de seu atendimento, dotando o processo
decisório de recursos de aprimoramento e reversibilidade. É possível, a partir daí, indicar
rumos aos agentes privados e públicos, desenvolvendo tarefas de coordenação, para cuja
efetividade mecanismos adequados de financiamento deverão ser acionados.

8.6.3 Capacidade de coordenar e produzir convergências

Uma nova institucionalidade deverá ter capacidade de prover direção, compatível com
o sentido estratégico de um novo desenvolvimento, para a ação de agentes privados e dos
diversos níveis de governo, inclusive o local, na Amazônia. Mecanismos de financiamente são
importantes para isso. Não obstante, igualmente importante é a capacidade institucional para
formular propostas de referência, ex ante e ex post dos momentos-chave dos processos decisórios
(antes e depois do ano agrícola, antes e depois das estações de pesca, etc.). De propostas
de referência devem constar diagnósticos e prognósticos que apontem consistentemente
para tendências e oportunidades, os quais embasam planos de ação, com estratégias de
financiamento, e exigências de políticas públicas consistentes. No conjunto, esses instrumentos
podem produzir convergência entre o que se sabe sobre o lugar e a forma das ações das quais se
pode esperar derivar o desenvolvimento com esperança de sustentabilidade e os resultados da
incorporação dinâmica e qualificada das perspectivas de desenvolvimento dos sujeito sociais e
suas críticas do já feito. Uma vez produzidas, essas peças de conhecimento techné deverão se
constituir em parte integrante, em momento particular e ativo, tanto da discussão geral sobre
269
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

possibilidades e formas de desenvolvimento de novo tipo, quanto da percepção particular de


cada sujeito social, de cada ator, de cada agente que participa do processo.
Igualmente importante será a capacidade de colocar propostas de referência na
agenda de todos os agentes, não apenas daqueles que participam efetivamente – direta ou
indiretamente – dos processos de sua formulação. Parte constitutiva dessa capacidade é a
difusão dos indicadores, avaliações e estudos intermediários que fundamentam as propostas
de referência. Esse amplo conhecimento é parte do poder orientador das propostas. O papel da
comunicação social é, aqui, central.

8.6.4 Capacidade de produzir e processar feed backs – o aprendizado sistêmico

Não raro se sucumbe à tentação de interpretar o desafio da coordenação da ação de


governo, em particular do governo federal na região, como uma obviedade administrativa, passível
de se fazer a partir de delegação formal, de vontade ou de força política. A história dos órgãos de
desenvolvimento regional no Brasil e no mundo mostra que não basta a “vontade”, a “habilidade”
ou, mesmo, a “força” política para que a coordenação aconteça, dado que há fortes fundamentos
para a descoordenação. De modo que, uma nova institucionalidade para o desenvolvimento da
Amazônia não deve se fundar sobre as ilusões da coordenação formal, derivada de uma hierarquia
normativa, com poucas possibilidades de efetivação. Deve sim, partir do princípio de que a
capacidade de prover direção à ação de política na região deverá ser conquistada pela qualidade
das suas propostas de referência e pelo efeito crítico dos seus mecanismos de monitoramento e
avaliação, pela capacidade desses mecanismos atingirem a menor escala possível, pela criação de
oportunidades formais de confrontação entre o dever (das propostas de referência) e o ser (dos
indicadores de avaliação das dinâmicas econômicas, sociais e ambientais) e pela ampla divulgação
de tudo isso. Dessa capacidade de retroalimentação informacional, resultará o aprendizado
sistêmico que garantirá perseguir rotas de desenvolvimento
Os mecanismos de financiamento são complementares à capacidade efetiva de
coordenação, isto é, são ferramentas da capacidade precedente e superior de coordenar,
devendo estar a ela subordinados. O processo de construção de um projeto moderno de
desenvolvimento exige formas próprias de financiamento, as quais, por suposto, não podem
depender de forças ou razões não modernas, associadas a agentes que não conseguem (por
suas posições objetivas na corpo social ou pela história que delimitou suas subjetividades)
pensar nem agir modernamente.

8.6.5 ASPIL como referência privilegiada do planejamento do desenvolvimento endógeno e


sustentável

Um projeto moderno de desenvolvimento não se realiza com instituições tradicionais.


Uma intervenção do Estado com o propósito de promover um desenvolvimento de novo tipo
270
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

na Amazônia é tarefa exigente, como se viu em 8.6.4: exigente em conhecimento sobre a


realidade (como logo: para o reconhecimento e antevisões; como techné: para orientações
e estratégias de intervenção), em capacidade de interação social (novo planejamento do
desenvolvimento regional), em capacidade de formação de opinião (nova comunicação),
em capacidade de financiamento (inovação institucional rumo à democratização do acesso
a recursos públicos) e em capacidade de condução política (projeto de direção, no sentido
gramsciniano).
Essas capacidades, articuladas, conformam a habilidade social maior que faculta a
ação planejada em consonância com a visão complexa e territorializado do desenvolvimento
endógeno. Para tanto, exigem-se referências de operação para além do agente ou da empresa.
Sugerimos, o ASPIL como elemento central de um planejamento compatível com as
perspectivas do desenvolvimento endógeno e sustentável.
A noção de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (ASPIL), tal como
discutimos em 8.4.3, oferece à razão possibilidades de visualizar a existência e reprodução
social nas relações que integram a sua esfera “propriamente” econômica com as esferas
social e política (capital humano: nível de cultura e de habilidade dos cidadãos; capital
social: nível das organizações da sociedade civil e sua capacidade de gerar e aplicar novos
conhecimentos), expressas em totalidades referidas necessariamente a localidades concretas.
Ademais, em ASPILs se integram trajetórias e cadeias de produto e valor; de ASPIL se
constituem setores e polos – trata-se, pois, de estruturação que é ponto de chegada, ponto de
partida, ponto de passagem, nodo constitutivo de todas as estruturações categorizadas nas
acepções do desenvolvimento endógeno.
A noção é atrativa, assim, como logo, heurística, ciência – como organizadora do
conhecimento sobre a coisa como ela é, com grande poder de síntese real-concreta (uma
expressão inteligível da complexidade – no sentido metodológico – da realidade social, sem
concessões significativas a reduções mecânicas).
Com tais atributos, a noção de ASPIL permite estabelecer o lugar e nomear,
concretamente, sujeito e objeto da dinâmica do desenvolvimento2. Por isso, torna-se
também atrativa como techné: ou seja, como conhecimento para intervenções objetivadas,
tecnologias de controle e coordenação social com vistas a metas estratégicas de devir social,
de desenvolvimento, se quiser, endógeno, se quiser, ainda, sustentável. Porque se (e o sujeito
aqui oculto é sempre coletivo, social), se conhece lugar, sujeito(s) e objeto(s) das formas de
reprodução social, se se vislumbram os nexos que os integram em processos virtuosos que

2 O melhor aproveitamento dessa possibilidade exige a consideração do sentido da relação concreto-abstrato, isto é, da dialética
da construção do “concreto” como produto do pensamento em contexto historicamente delimitado e, assim, a construção do concreto
como “concreto pensado”, tal como já enunciava Marx em seu mais mais denso texto metodológico (Marx, 1968). A atualidade
metodológica dessa “aventura crítica”, o nível de convergência de suas proposições com as questões de complexidade que hoje
emergem dos esforços no tratamento das relações ação-estrutura, como já indicamos em diferentes momentos (sobretudo no Capítulos
5), em que se incluem os programas heterodoxos da economia e os programas mais avançados da sociologia e de outras ciências da
sociedade, pode ser avaliada em Bensaïd (1999).

271
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

transcendem as contradições de última instância (no sentido de Marx, em O Capital), internas a


cada unidade produtiva (antagonismo capital/trabalho) e externas a elas (concorrência e lei do
valor), poder-se-ia atuar sobre eles, fortalecendo-os, suprindo carências objetivas e tornando-
os cada vez mais densos do autoconhecimento produtor da ação comunicativa (Habermas,
1995) que, minimizando os problemas de mensuração/configuração dos contratos, dos pactos
(North, 1981; Williamson, 1985), facilitam a cooperação. Precisamente aqui a noção de
ASPIL ganha suas duas existências, como logo e como techné. Existências necessariamente
associadas, diga-se em adição. Pois, apesar de expressarem timing e premências (tensões)
próprias, as noções condicionam-se mutuamente e legitimam-se uma à outra enquanto saber
normal (Kuhn, 1982) ou instrumental (Habermas, 1995).
Aqui cabe-nos anotar que no Brasil as noções de ASPIL, simplificadas no conceito
de APL (Arranjos Produtivos Locais), ganharam penetração maior entre pesquisadores e
policy makers na condição de techné – pelos seus atributos como referência para a ação.
Daí confusões importantes no uso do conceito, tanto em abordagens acedêmicas, quanto
em abordagens políticas; seja quando o rejeitam ou quando o aceitam. Carleial (2011) faz
a crítica, mais veemente entre os pesquisadores acadêmicos, tanto mais importante, quanto
mais se considere a orientação schumpeteriana da autora. Para ela, a noção é criticável porque
se propõe à exagerada3 generalização; porque, tendo como matriz a categoria de sistema
regional de inovação, não cumpre os princípios (estruturadores) daquela construção4; a falta
de integração com noções correlatas, com as noções de cadeia produtiva e com a noção de
setor, que permitiriam alcance territorial para além do estado federado e alcance sistêmico
para além do local/regional: “Assim, a política (sic) privilegia o estado, como ente federado
[...] fragmenta o território [e] negligencia com as políticas setoriais que também poderiam
auxiliar na melhoria do desempenho de determinas aglomerações produtivas” (Carleial,
2011:128).
O arrazoado, se observado como crítica interna ao campo ciêntífico, carece de
fundamento: há, sim, legitimidade heurística nas noções que apelam à condição sistêmica
e multidimensional dos processos produtivos, em todos os níveis, até o da empresa – como
expusemos acima, a noção de empresa como sistema aberto é base para os grandes progressos
schumpeterianos; por outra parte, é próprio dos arcabouços científicos a generalidade dos
conceitos, tanto mais, a depender do grau de abstração que pretanda alcançar. A categoria
de setor é generalista – se pretende universal, válida a todos os níveis de funcionamento
da economia. Nem por isso, elas são descartáveis. O que dizer de categorias simples como
mercadoria? Ao propor substituir a centralidade e generalidade da categoria setor pela

3 “No limite, se quer fazer crer que todas as atividades econômicas podem ser organizadas sob o formato de APLs, o que nos parece
no mínimo um exagero” (Carleial, 2011: 128).
4 “Na verdade, a banalização do conceito de APL fez com que, mediante metodologias simples de identificação de aglomerações
produtivas fossem definidos “APLs”, mesmo que nenhuma outra das condições discutidas [...do Sistema Regional de Inovação
(SRI)...] estejam presentes” (Caleal, 2011:127).

272
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

centralidade e generalidade da categoria APL, programas de pesquisa subvertem por sugerir


mudança de paradigma – mas não por heresia condenável no campo científico. É precisamente
para esta condição que a crítica aponta quando remete ao que trata como matriz do conceito,
a noção de Sistema Regiona da Inovações (SRI), cobrando inteireza. A qualificação que se
dá é de “SRI tropicalizado”, como uma caricatura teórica, para realidades que não atendem
às condições preconizadas pela matriz. Aqui também há impropriedades, uma vez que a
referência que se aciona é “... proposta de sistema regional de inovação [que] possui um
caráter sistêmico, estruturante [por ser] uma construção deliberada no longo prazo” (Carleial,
2012:128). Ora, como já mencionamos, o SRI como categoria científica, é emergência
sistêmica, é estruturação dependente de trajetória, histórica, portanto. Tal como o APL, aliás.
Ambas as noções comportam a ação política. Mas não se reduzem, a não ser como casos
especiais, por ela. Há um duplo problema na crítica: quando julga o uso científico da noção
de APL (logo) à luz de aplicação política de sua matriz, a SRI (techné); e quando identifica
os problemas de aplicação política da noção de APL (techné) à seu papel como orientação de
programa de pesquisa com pretensões científicas.
Observado como crítica política à política de APLs, à utilização do conceito como
techné, o arrazoado de Carleial ganha sentido. Poder-se-ia, ademais, estender a crítica ao
campo científico, se demonstrado que o uso político criticável resulta de parcialidade ou
inadequação de tratamento. Fizemos esse exercício antes (Costa, 2006), no ensejo de descutir,
como agora, o papel que o conceito poderia assumir num sistema de planejamento baseado
em aglomeração, conhecimento, inovação e governança.
Reiteiramos os resultado de então: as possibilidades da noção de ASPIL fundamentar
um sistema de planejamento regional para o desenvolvimento sustentável da Amazônia são
reais. Não obstante, os rumos tomados pela pesquisa acadêmica e as formas de apropriação
operacional do conceito têm, em processos de mútuo reforço, levado a dois resultados
interligados: 1) o isolamento sistêmico, eis que a noção não é posicionada adequadamente
em estruturações e sistemas mais amplos, como indicamos acima, e 2) a parcialidade
explanatória: pesquisa-se (logo) e atua-se (techné) como se seu papel explicativo ou operativo
não ultrapassasse o local e só comportasse estruturações de baixa escala. Articuladas,
essas carências têm retirado da noção de ASPIL qualquer protagonismo nas dinâmicas de
desenvolvimento – têm subtraído os atributos dinâmicos, de largo alcance, que as análises em
geral de clustering, tributárias e dependentes das teorias de desenvolvimento endógeno, têm
valorizado nos países desenvolvidos.
As exposições que fizemos nas seções 8.4.3 e seguintes situam o ASPIL em estrutura
categorial que garante sua funcionalidade heurística para qualquer nível de observação. Isso,
em teoria, lhe facultaria um papel central em um sistema de planejamento que se baseasse nos
princípios já enumerados. É, entretanto, necessário mais para que cumpra adequadamente o
papel: se faz mister que se disponha de métodos de leitura que o exponha em seu contexto
sistêmico e territorial – que literalmente revele o lugar e a forma de existência do ASPIL. Com
273
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

isso poder-se-á atuar sobre ele, seus elementos e estruturações constituintes e constituídas.
Vejamos isso com mais detalhes.

8.6.6 Problematização e perspectivas para o planejamento do desenvolvimento endógeno e


sustentável – metodologias, diagnósticos e indicações

Para que se possa constituir mecanismos de intervenção objetivada ao desenvolvimento,


para o planejamento, portanto, temos que ter capacidade de responder as questões pertinentes
em relação a fins, meios, sujeito, objeto e processos – de ação e retroação.
Devemos ser capazes de responter, assim, as seguintes questões:
1. Qual o propósito do desenvolvimento?
2. Qual o contexto do desenvolvimento? Se local, quais seus atributos?
3. Se o ASPIL é mesorrealidade local, que microcosmos são a ele subjacentes? Como
impactam tais microfundamentos a realidade do ASPIL?
4. Se o ASPIL é mesorrealidade local, qual a macrorrealidade que lhe corresponde?
Como impacta a dimensão onde opera o ASPIL essa macrorealidade?
5. Como se articulam micro, meso e macrorealidades na dinâmica do desenvolvimento?
Como é possível avaliar esse fenômeno de transcendência mediada por agregados
de ASPIL em Economias Locais – a condição sistêmica de que o todo é mais que
a soma das partes, eis que tem conteúdo vital?

Em relação à primeira, admitimos em 8.5 o valor do ideário do desenvolvimento


sustentável como referência para a ação política na Amazônia: o que se propõe é um
desenvolvimento capaz de superar iniquidades presentes sem comprometer a capacidade
reprodutiva das gerações futuras. Suprimir a pobreza por adequação da capacidade produtiva,
por estratégias que têm na manutenção, ou melhoria, dos fundamentos naturais um pressuposto.
Equacionaremos no Capítulo 10 a problemática do desenvolvimento da Amazônia por esse
prisma.
Em resposta à segunda questão, entendemos que o contexto local constitui o palco de
frente do desenvolvimento sustentável – ali se manterializam os termos objetivos, naturais e
sociais, de cujas relações emergem as estruturações que dão vida ao lugar – que hierarquizam
por atribuição de qualidade seu território. Tais atributos carecem avaliação. Nos ocupamos
disso no Capítulo 9 e no capítulo 12.1, quando, respectivamente, apresentamos os sistemas
agrários e qualificamos o Sudeste Paraense por critérios das teorias do desenvolvimento
endógeno.
Em relação à terceira questão, no Capítulo 8, seção 8.4.3, indicamos o tratamento das
diferentes razões microeconômicas no contexto das trajetórias que as abrigam, constituindo
ASPILs. No Capítulo 10, teremos a oportunidade de tratar como isso ocorre em relação ao
Arranjo Produtivo Local de polpa de frutas, no Nordeste Paraense e Região Metropolitana
274
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

de Belém. No Capítulo 12, demonstraremos como impactam tais fundamentos as economias


locais e extralocais em temas interligados como o mercado de terras e a formação de mercados
de novas commodities – que articulam economia, emissões de gases deletérios (subcapítulo
12.4) e reconstituição florestal (12.5).
À quarta pergunta, encaminhamos resposta teórica na seção 8.4.4 ditada pela percepção
da macroeconomia como um momento da reprodução objetiva da sociedade – como um sistema
de realização da condição de valor de uso das mercadorias, adotando, por assim dizer, a ótica
(da alocação) do produto na definição da escala. No Capítulo 12, abaixo, demonstraremos como
esses processos ocorrem, criando possibilidades internas à economia local (12.3) e, através das
cadeias de produto e valor, constituindo, ao mesmo tempo, mecanismos de distribuição de
excedente entre economias locais e extralocais (subcapítulo 12.3)..
À quinta pergunta, a qual tratamos teoricamente em 8.4.5, dedicaremos o subcapítulo
12.2, cuja principal finalidade é demonstrar a possibilidade de leitura da dinâmica de
crescimento das economias locais e discutir seus fundamentos dinâmicos articulados às
dimensões extralocais, regionais e nacionais.

Capítulo 9
Trajetórias Tecnológicas e Sistemas Agrários

As trajetórias tecnológicas se desenvolvem em espaços concretos. Cada referência


espacial, por sua vez, apresenta configurações próprias, marcadas pelas características das
trajetórias lá em andamento e pelas interações cooperativas (sistêmicas e difusas, diretas e
indiretas entre os agentes na busca de sinergias produtivas ou transacionais) ou competitivas
(seja com a mediação dos mercados, em torno de fatores e produtos, ou por antagonismo
com mediações não econômicas em torno de bens públicos, tangíveis e intangíveis) que lá
processam. Utilizamos a noção de sistemas agrários para designar o resultado dinâmico dessas
relações em delimitação territorial dada.5.
O Gráfico 9-1 apresenta um quadro da diversidade que prevalece nos sistemas
agrários na Amazônia. Ali estão representados doze deles, entre os vinte que podemos divisar,
considerando sua correspondência com as mesorregiões da Região Norte (ver Tabelas 9-1 e
9-2). Apresentados no gráfico por ordem de importância, eles somam, em conjunto, 84,7%
e 85,4% e 86,5%, do VBPR da Região Norte no início, no meio e no final do período em
estudo, respectivamente. As percentagens abaixo dos subtítulos (os nomes da mesorregiões)
referem-se precisamente a esses três momentos: às participações relativas no total da Região

5 As categorias “sistemas agrícolas” e “sistemas agrários” são usadas aqui com conotações semelhantes às empregadas por Mazoyer
(1996), com diferenças metodológicas e teóricas já indicadas em Costa (2006, 2000, 1997, 1998 e 1996) e Hurtienne (2001).

275
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

nos períodos P1=1990 a 1992; P2=1994 a 1996 e P3=2004 a 2006. Proporções próximas a
essas se constatam também em relação a área agricultada, área degradada, emissão líquida de
CO2 e emprego (ver Tabela 9-1). Os cinco mais importantes desses sistemas agrários, por peso
no VBPR, são também expressivos de padrões dominantes nessa variedade.
O sistema agrário da mesorregião Sudeste Paraense apresenta uma configuração de
sistema agrário dominado pela Trajetória-Patronal.T4 (45% do VBPR) que, não obstante,
perde terreno para a T7 e convive com trajetórias camponesas de presença relevante, como
a Trajetória-Camponesa.T3 (17% do VBPR), a Trajetória-Camponesa.T2 (15% do VBPR)
e a Trajetória-Camponesa.T1. A mesorregião Sudeste Paraense, sozinha, representa 21% de
todo o VBP setor rural da Região Norte, constuindo-se, assim, no mais importante sistema
agrário da grande região nesse, como em outros quesitos: representa também 28,7% das terras
desmatadas para a agropecuária, 18,5% das terras degradadas, 30,4% das emissões líquidas de
CO2 e 13,9% do emprego rural naquele período.
O sistema agrário da mesorregião Leste Rondoniense é o segundo mais importante
sistema agrário da Região Norte, caracterizado pela ocupação recente com liderança da
Trajetória-Camponesa.T1, que representando 59% do VBP rural médio de 2004 a 2006
constitui, com folga, a mais importante trajetória ali em evolução. A T4 está presente com 30%
do VBPR, polarizando, desse modo, com a primeira, as duas compondo quase 90% do VBPR.
O Leste Rondoniense, explicando 11% do VBPR da Região Norte, representa 11,9% das terras
desmatadas para a agropecuária, 3,8% das terras degradadas, 12% das emissões líquidas de
CO2 e 13,4% do emprego rural no período considerado.
A mesorregião Centro Amazonense abriga o terceiro mais importante sistema agrário
da Região Norte, marcado por ocupação antiga de várzea sob a liderança da Trajetória-
Camponesa.T2. Esta trajetória, com 35% do VBP, é a mais expressiva do sistema agrário
que se caracteriza por ser dominado por trajetórias camponesas: a Trajetória-Camponesa.T1
detém 33% e a Trajetória-Camponesa.T3 23% do VBPR. Das patronais, apenas a T5, com
5% do VBP, tem alguma expressão. Representando aproximadamente o que pesa o sistema do
Leste Rondoniense, 10,6% do VBPR, o Centro Amazonense representa apenas 1,7% das terras
desmatadas para a agropecuária, 1,5% das terras degradadas, 1,4% das emissões líquidas de
CO2 e 11,5% do emprego rural daquele período.
A mesorregião Ocidental do Tocantins abriga o quarto mais importante sistema agrário
da Região Norte, marcado por ocupação antiga de áreas de terra firme sob a liderança da
Trajetória-Patronal.T4. A Patronal.T4, em cooperação com a Camponesa.T3, tem o domínio
do sistema dado que representando, respectivamente, 63% e 20% dodo VBPR. A T7 vem
ganhando terreno, dado que já representa 14% do VBPR. Resultado de suas características,
o sistema agrário da Ocidental do Tocantins, produzindo 10,3% do VBP, representa 20,2%
das terras desmatadas para a agropecuária, 22,2% das terras degradadas, 21,5% das emissões
líquidas de CO2. Ao lado disso, responde por apenas 5% do emprego rural no período.

276
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 9-1 – Composição das Mesorregião por Trajetórias Tecnológicas (Baseada na média do
VBPR de 2004 a 2006)

Sudeste Paraense (PA) Leste Rondoniense (RO) Centro Amazonense (AM)


P 1:11%;P 2:16%;P 3:11%
P1:8%;P2:12%;P3:11%
P1:17%;P2:16%;P3:21%
70% 70%

60%
70% 60%

50% 50%
50% 40% 40%

30% 30% 30%

20% 20%
10%
10% 10%
-10% 0% 0%
T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7

Ocidental do Tocantins (TO) Nordeste Paraense (PA) Sul Amazonense (AM)


P1:13%;P2:11%;P3:10% P1:9%;P2:9%;P3:7% P1:4%;P2:4%;P3:6%
70% 70%
60% 60%
50% 50% 80%
40% 40% 60%
30% 30%
40%
20% 20%
10% 10% 20%
0% 0% 0%
T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7

Oriental do Tocantins (TO) Baixo Amazonas (PA) Norte Amazonenense (AM)


P1:3%;P2:3%;P3:5% P1:5%;P2:5%;P3:4% P1:2%;P2:3%;P3:3%
70%
60%
50% 70% 100%
40% 80%
50%
30% 60%
30%
20% 40%
10% 10% 20%
0% -10% 0%
T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7

Metropolitana de Belém (PA) Marajó (PA) Sudoeste Para (PA)


P1:2%;P2:3%;P3:3% P1:9%;P2:6%;P3:3% P1:3%;P2:4%;P3:3%
50% 60% 60%
40%
30% 40% 40%
20% 20% 20%
10%
0% 0% 0%
T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7
Fonte: Tabela 9-2.

277
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

O sistema agrário da mesorregião Nordeste Paraense representa o quinto mais importante


sistema agrário da Região Norte. Marcado por duplo processo de ocupação, uma antiga, ainda no
século XVIII, de áreas de várzea sob a liderança da Trajetória-Camponesa.T2, e outra recente, de
áreas de terra firme, sob a liderança da Trajetória-Camponesa.T1, trata-se de sistema agrário com
alto grau de complexidade: as trajetórias camponesas têm o domínio, tanto com a forte presença
da T2, que detém 44% do VBPR, quanto da T1, com 24%. Das patronais, a T4 comparece com
16% e a T5 com 7%. Produzindo 6,6% do VBPR da Região Norte, a mesorregião Nordeste
Paraense representa 3,3% das terras desmatadas para a agropecuária, 9,6% das terras degradadas,
2,7% das emissões líquidas de CO2. Quanto ao emprego, o sistema agrário do Nordeste Paraense
representa 14,5% do emprego rural.
Esses sistemas agrários são representativos para a compreensão das dinâmicas rurais
da Região e, por isso, são importantes para a análise do desenvolvimento. Além disso, como
partícipes de uma divisão social de trabalho local e extralocal, nacional e mundial, os sistemas
agrários são intermediados por estruturas urbanas quando projetam no mundo seus produtos e
serviços e quando dele recebem insumos tangíveis e intangíveis. Tais configurações urbano-rurais
são arranjos produtivos, os quais, por seu turno, são constitutivos das economias locais.
Em formulação mais completa: economias locais – objetos decisivos na discussão do
desenvolvimento – são, de uma parte, resultados das interações das trajetórias rurais entre si, na
constituição dos sistemas agrários, e entre elas e trajetórias industriais na formação de arranjos
produtivos locais enquanto configurações urbano-rurais; por outra parte, as economia locais são
interações entre os arranjos produtivos locais entre si na constituição do tamanho e do escopo das
relações intermediárias de produção e transação, inclusive as que são expressões das cadeias de
produtos e valor que situam (enredam) a produção local na economia-mundo. Nesta parte do livro
estudaremos aspectos fundamentais dessa construção, no Capítulo 11, na apresentação do Arranjo
Produtivo Local (APL) de produção de frutas articulado às trajetórias T1, T2 e T5 no contexto da
economia local que abriga o sistema agrário do Nordeste Paraense. No Capítulo 12, trataremos da
constiuição e dinâmica do Sudeste Paranese como uma Economia Local (EL): a delimitaremos
em12.1, trataremos de sua estruturação e dinâmica em 12.2 e 12.3 e, por fim, faremos com ela
prospecções em 12.4 e 12.5.
Antes, porém, façamos, no próximo capítulo, uma problematização sobre as possibilidades
das diferentes trajetórias em fundamentar processos de desenvolvimento avaliados por uma
perspectiva particular, porém decisiva: a de suas eficiências em garantir a reprodução dos
envolvidos, resguardadas as peculiaridades dos sistemas agrários. A observação desse quadro
indicará problemas substantivos da Região e sua dinâmica recente – com isso, apontará finalidade
ao planejamento de seu desenvolvimento.

278
Tabela 9-1 – Evolução da Estrutura Relativa de Variáveis Fundamentais do Setor Rural por mesorregiões da Região Nortes
Valor Bruto da Pro- Área Área Degradada
Área Trabalhada Balanço de CO2 Emprego
dução priva- (capoeira sucata)
Mesorregiões 90 a 94 a 2004 a tizada 90 a 94 a 2004 a 90 a 94 a 2004 a 90 a 94 a 2004 a 90 a 94 a 2004 a
92 96 2006 em 92 96 2006 92 96 2006 92 96 2006 92 96 2006
1995
16,8% 15,9% 21,0% 20,3% 24,5% 21,2% 28,7% 16,1% 13,7% 18,5% 25,8% 22,1% 30,4% 13,8% 14,1% 13,9%
Francisco de Assis Costa

Sudeste Para (PA)

Leste Rondoniense (RO) 10,8% 11,2% 10,9% 10,7% 8,7% 10,3% 11,9% 2,3% 3,1% 3,8% 8,2% 10,0% 12,0% 14,7% 14,3% 13,4%

Centro Amazonense (AM) 8,6% 11,6% 10,6% 3,2% 1,8% 2,2% 1,7% 2,1% 2,1% 1,5% 1,7% 1,7% 1,4% 9,5% 9,9% 11,5%
Ocidental do Tocantins
12,6% 11,0% 10,3% 19,9% 26,7% 27,5% 20,2% 23,4% 27,5% 22,2% 28,2% 29,2% 21,5% 6,9% 6,3% 5,0%
(TO)
Nordeste Para (PA) 8,5% 9,0% 6,6% 3,7% 3,6% 3,2% 3,3% 9,5% 8,3% 9,6% 2,9% 2,6% 2,7% 14,3% 14,2% 14,5%

Sul Amazonense (AM) 3,9% 4,0% 6,0% 2,0% 0,5% 0,8% 1,1% 0,7% 1,1% 1,7% 0,5% 0,6% 0,9% 3,6% 3,4% 3,0%
Oriental do Tocantins
3,0% 2,6% 4,7% 10,4% 13,4% 13,2% 9,5% 23,8% 23,7% 17,6% 13,9% 13,7% 9,9% 3,7% 3,5% 2,6%
(TO)
Baixo Amazonas (PA) 5,0% 4,7% 3,5% 5,6% 2,6% 2,7% 2,3% 7,1% 6,6% 6,5% 2,4% 2,3% 2,0% 6,5% 6,5% 6,7%

Norte Amazonense (AM) 1,5% 2,7% 3,4% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,2% 0,2% 0,2% 0,0% 0,0% 0,0% 1,3% 1,2% 1,2%
Metropolitana de Belém

279
2,3% 3,2% 3,2% 0,4% 0,5% 0,4% 0,4% 0,7% 0,5% 0,4% 0,4% 0,3% 0,3% 1,8% 1,9% 1,6%
(PA)
Marajó (PA) 8,8% 5,8% 3,2% 4,8% 4,3% 3,9% 2,5% 6,8% 4,5% 2,4% 3,9% 3,6% 2,4% 5,8% 5,8% 5,9%

Sudoeste Pará (PA) 2,9% 3,7% 3,1% 5,6% 2,7% 3,1% 4,4% 1,0% 1,5% 2,7% 2,6% 3,0% 4,5% 5,1% 5,2% 4,9%

Madeira Guaporé (RO) 1,2% 1,3% 2,8% 2,1% 0,8% 1,1% 3,5% 1,6% 2,1% 7,6% 0,7% 1,1% 3,4% 1,4% 1,6% 2,2%

Valedo Acre (AC) 1,8% 2,1% 2,5% 3,9% 1,2% 1,7% 2,5% 0,7% 1,1% 1,7% 1,3% 1,8% 2,7% 2,8% 2,9% 3,3%

Suldo Amapá (AP) 6,0% 4,3% 2,3% 0,6% 1,6% 1,4% 2,1% 1,4% 1,4% 1,4% 0,7% 0,7% 0,5% 0,7% 0,7% 0,6%
Sudoeste Amazonense
2,2% 2,5% 2,2% 0,7% 0,2% 0,3% 0,2% 0,1% 0,2% 0,1% 0,2% 0,2% 0,2% 4,0% 4,2% 5,3%
(AM)
Valedo Juruá (AC) 1,2% 1,6% 1,3% 1,3% 0,4% 0,4% 0,5% 0,3% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4% 0,5% 2,2% 2,2% 2,2%

Norte de Roraima (RR) 1,7% 1,5% 1,2% 3,5% 5,8% 5,6% 4,0% 1,9% 1,6% 1,0% 5,7% 5,6% 4,0% 1,1% 1,0% 1,1%

Sulde Roraima (RR) 0,5% 0,7% 0,7% 1,0% 0,3% 0,4% 0,4% 0,2% 0,3% 0,3% 0,3% 0,4% 0,3% 0,8% 0,7% 0,8%

Nortedo Amapá (AP) 0,4% 0,5% 0,6% 0,4% 0,5% 0,4% 0,4% 0,2% 0,2% 0,2% 0,5% 0,4% 0,3% 0,2% 0,2% 0,3%

Total da Região Norte 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Fonte: Dados básicos do IBGE. Notas metodológicas: ver Gráficos 2-1 ao 2-7.
Tabela 9-2 – Estrutura do Setor Rural da Região Norte considerando as Trajetórias Tecnológicas por Mesorregião (Baseada
na média do VBPR de 2004 a 2006)
% VBPR - Total das colunas = 100% VBPR % - Total das linhas = 100%
Trajetórias Trajetórias
Mesorregião Trajetórias Patronais Trajetórias Patronais
Camponesas Total Camponesas Total
T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7 T1 T2 T3 T5 T6 T4 T7
Sudeste Paraense (PA) 11% 15% 19% 6% 0% 40% 24% 21% 12% 15% 17% 1% 0% 45% 10% 100%
Leste Rondoniense (RO) 27% 1% 3% 13% 0% 10% 10% 11% 59% 2% 5% 5% 0% 22% 8% 100%
Centro Amazonense
15% 19% 13% 13% 0% 1% 0% 11% 33% 35% 23% 5% 0% 3% 0% 100%
(AM)
Ocidental do Tocantins
0% 1% 11% 0% 0% 27% 17% 10% 0% 3% 20% 0% 0% 63% 14% 100%
(TO)
Nordeste Paraense (PA) 7% 15% 3% 12% 0% 4% 0% 7% 24% 44% 9% 7% 0% 16% 0% 100%
Sul Amazonense (AM) 2% 7% 22% 0% 0% 0% 0% 6% 6% 23% 69% 0% 0% 1% 0% 100%
Oriental do Tocantins
0% 1% 6% 0% 0% 0% 38% 5% 2% 4% 23% 0% 0% 1% 68% 100%
(TO
Baixo Amazonas (PA) 9% 1% 2% 8% 16% 1% 2% 4% 58% 5% 9% 9% 8% 6% 5% 100%
Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Norte Amazonenense
0% 15% 2% 0% 0% 0% 1% 3% 0% 87% 11% 0% 0% 1% 1% 100%
(AM)

280
Metropolitana de Belém
2% 6% 0% 33% 0% 0% 3% 3% 15% 35% 0% 41% 0% 2% 7% 100%
(PA)
Marajó (PA) 5% 8% 0% 0% 0% 1% 0% 3% 41% 52% 0% 0% 0% 7% 0% 100%
Sudoeste Para (PA) 7% 1% 0% 3% 0% 5% 0% 3% 55% 3% 0% 4% 0% 38% 0% 100%
Madeira Guaporé (RO) 5% 1% 2% 0% 0% 5% 0% 3% 38% 6% 10% 0% 0% 46% 0% 100%
Vale do Acre (AC) 3% 2% 5% 3% 0% 2% 0% 2% 25% 14% 37% 5% 0% 19% 0% 100%
Sul do Amapá (AP) 1% 2% 0% 6% 84% 0% 0% 2% 8% 19% 0% 10% 62% 2% 0% 100%
Sudoeste Amazonenense
4% 2% 3% 0% 0% 0% 2% 2% 41% 22% 28% 0% 0% 2% 7% 100%
(AM)
Vale do Juruá (AC) 0% 0% 6% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 4% 91% 0% 0% 5% 0% 100%
Norte de Roraima (RR) 1% 1% 2% 1% 0% 1% 2% 1% 11% 16% 37% 4% 0% 20% 12% 100%
Sul de Roraima (RR) 2% 0% 0% 1% 0% 0% 0% 1% 70% 4% 4% 6% 0% 16% 0% 100%
Norte do Amapá (AP) 0% 1% 1% 0% 0% 1% 0% 1% 16% 29% 24% 0% 0% 27% 4% 100%

Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 24% 20% 19% 4% 2% 24% 8% 100%

Fonte: Tabela 9-1.


Francisco de Assis Costa
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Capítulo 10
Trajetórias Tecnológicas, Sistemas agrários e condições
reprodutivas de estruturas e sujeitos da produção rural
– Um problematização do desenvolvimento endógeno,
sustentável e inclusivo da Amazônia

A observação da dinâmica agrária da Amazônia tem-se feito privilegiando duas


frestas fenomenológicas. Uma reduz a dimensão técnica do processo – em última instância,
as mediações que conformam as relações produtivas entre vontade humana socializada e
natureza – ao fenômeno do desmatamento, enquanto a outra realça, na sua dimensão social,
o fenômeno da pobreza. No primeiro caso, evidenciam-se os riscos ambientais associados,
desde a contribuição ao aquecimento global e às tendências de mudança climática, até aos
efeitos deletérios de possível savanização da região. No segundo, demonstra-se a distribuição
desigual dos resultados de tal uso da base natural, em duplo aspecto: enquanto os ganhos
econômicos mostram-se concentrados nos estratos rurais melhor aquinhoados, os prejuízos
ecológicos impactam com maior contundência a grande massa dos mais frágeis.
A par disso, esforços de pesquisa testam a hipótese de que correlacionam positivamente
os dois fenômenos, sendo o desmatamento um dos resultados de uma armadilha da pobreza
(Diniz et alii, 2008): porque empobrecidos em dado contexto, agentes demandam novas áreas cuja
exploração requer a supressão do bioma. Desprotegida, a terra nua logo empobrece e, com ela, os
agentes que a exploraram. Ao fim, os dois fenômenos se retroalimentariam, gestando um futuro
de carências sociais e devastação ambiental, ampliadas. A observação por esse ângulo reforça a
tese que apresentamos no Capítulo 3 que, na Amazônia, a agricultura, em particular a agricultura
camponesa, seria uma impossibilidade: seus sistemas constituir-se-iam em usos insustentáveis da
base natural, só justificáveis para agentes com baixo custo de oportunidade em outras regiões, que
formariam uma “fronteira especulativa” sempre em movimento na região Amazônica (Schneider,
1995; Schneider, Arima, Veríssimo, Barreto, Souza Jr.:2000; Chomitz e Thomas, 2000).
Por outra parte, há os que realçam uma armadilha da preservação, mediante a qual as
populações que mantêm uma relação não transformadora com a natureza originária – eis que
suas economias, extrativas, presupõem sua preservação – seriam (necessariamente) pobres: a
impossibilidade de responder às tensões de mercado por via da intensificação do trabalho por
unidade de área, questões logísticas próprias das áreas com alta densidade florestal e assimetrias
nas cadeias de produto e valor se encarregariam de garantir tal resultado (para uma discussão de
base empírica ver Chomitz, 2007; para uma discussão teórica ver Drumond, 2002).
Outros argumentam com uma armadilha da riqueza representada por uma acumulação
primitiva baseada em padrões diversos de nutrients mining da natureza originária e em padrões
de exploração escorchantes da força de trabalho da região para subsidiar o desenvolvimento de
outras regiões do País (Paula, 2008).
281
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Nessas bases, o desenvolvimento como processo de elevação das condições de vida


dos envolvidos, como elevação nas expectativas de realização das pessoas, como ampliação das
suas capacidades e oportunidades, não teria chances. Muito menos um desenvolvimento com
atributos de sustentabilidade ambiental. Tais hipóteses carecem verificação. Nos capítulos 3 e
5, estabelecemos os fenômenos do desmatamento e a da preservação no quadro das relações
técnicas que fundamentam o setor, caracterizando trajetórias tecnológicas como expressões,
respectivamente, de paradigmas agrícolas e extrativos. Agora examinaremos os nexos,
organizados no contexto produtivo e evolutivo dessas trajetórias – em suas situações reprodutivas
–, de um lado, entre desmatamento e pobreza dos sujeitos da produção, de outro, entre pobreza e
preservação. Em última instância, problematizar, com o recurso de análise baseada em trajetórias
tecnológicas, as possibilidades de desenvolvimento que seja sustentável porque inclusivo e
ambientalmente defensável. Um processo de desenvolvimento é inclusivo quando apresenta
a propriedade de reduzir a pobreza. Para que isso se revele, é necessário que se exponham as
condições reprodutivas dos envolvidos, de pobreza ou não-pobreza, e como evoluem no tempo
(ao que dedicaremos o subcapítulo 10.1) e no espaço (subcapítulo 10.2). No subcapítulo 10.3 se
discurão os determinantes dessas situações.

10.1 Contextualização estrutural da pobreza rural – Questões teórico-metodológicas

Níveis ou situações de pobreza de domicílios rurais associam-se a fundamentos


definidos pelas razões camponesa ou patronal em combinações particulares de recursos, que
refletem as especificidades respectivas e as condições particulares de realização no ambiente
institucional e natural em que se inserem. Associam-se, pois, às trajetórias tecnológicas que
fundamentam os processos produtivos onde atuam.
Níveis de pobreza e carências referidas à produção rural estruturada em bases
camponesas expressam, em primeira instância, as capacidades internas às unidades produtivas
que afetam a produtividade do trabalho e as capacidades que afetam suas relações externas,
no que tange à circulação de seus produtos e à valorização de seus serviços. Nessa forma de
produção, o ganho líquido (excedente criado no processo produtivo, mantido após transações)
é, por inteiro, apropriado pelos trabalhadores diretos, membros da família, definindo de modo
imediato a situação reprodutiva – e os níveis de pobreza e riqueza que dela se podem inferir
– do domicílio correspondente à unidade produtiva.
Quando se trata de empresa patronal, as condições que estabelecem a produtividade do
trabalho definem igualmente o valor do excedente produzido e, assim, estabelecem os limites
do excedente. Não obstante, os rendimentos dos trabalhadores a ela associados dependem dos
contratos de distribuição desse excedente. Assimetrias diversas podem corroborar salários –
rendas do trabalho – não correlacionados com o excedente obtido pelas empresas. A situação
reprodutiva dos domicílios dos trabalhadores, e os níveis de pobreza que dela podem decorrer,
282
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

podem apresentar padrões de ocorrência e evolução distintos daqueles demonstrados pelo


lucro. De modo que são distintas as operações metodológicas para observar pobreza e
carências associadas a essas diferentes formas de produção.
Para os camponeses, uma variável síntese das condições determinantes, incluindo as
referentes à venda dos produtos, seria a rentabilidade líquida do trabalho alocado à produção
rural no estabelecimento, daqui por diante Renda Líquida da Produção [RLP: Valor Bruto
da Produção Rural (preço médio pago ao produtor vezes produção vendida ou consumida)
menos todos os custos (incluindo salários a terceiros e excluindo trabalho familiar)]. Dividida
pelo total de trabalhadores-familiares-equivalentes-ano aplicados nessa produção teríamos a
RLP por trabalhador equivalente, aqui denominado RLPpt. Dividida pelo total de membros da
família, trabalhadores e não trabalhadores, teríamos a RLP per capita, daqui por diante RLPpc.
Essas variáveis foram obtidas nos dois últimos censos agropecuários. Considerando todos os
estabelecimentos-domicílios na Região Norte nos anos respectivos desses levantamentos, 1995
e 2006, separamos os camponeses pelos critérios da proporção da força de trabalho familiar no
total (se superior a 66%, então “camponês”, abaixo disso, “patronal”) e de gestão familiar do
estabelecimento. Esses estabelecimentos-domicílios foram discriminados em 3 grupos, de acordo
com o que chamamos de Situação Reprodutiva dos Camponeses – os que têm RLPpt acima da
média (em 1995, R$ 669,09; em 2006, R$ 3.739,85, ambos rendas anuais a preços correntes), os
que se situam entre a média e a metade da média e os abaixo da metade da média. Chamamos
esses grupos de respectivamente, “Acima da Média”, “Remediado” e “Sob Risco”. Note que
não nos referimos, com tais denominações, a níveis de pobreza. Adiante se tornarão claras as
razões. Por enquanto, basta anotar que o que se expressa estatisticamente sob essas labels “fala”
de situações (status momentâneos, fases) e não de condição de existência (estado, regulação
duradoura) dos sistemas. Com efeito, elas não são indicadores suficientes para atribuir a condição
de pobres ou não pobres dos sujeitos envolvidos. Não obstante, podemos problematizá-las para
que tenhamos, ao final, hipóteses sobre as parcelas do universo camponês que se reproduzem
na condição de pobres, sobre os que, nessa condição, poderão ter sua reprodução social (como
camponeses) interrompida e os que parecem se distanciar de qualquer desses desfechos (muito
provavelmente não pobres).
Para os estabelecimentos patronais, a variável a observar resulta da divisão de Salários
Pagos a Terceiros pelo total estimado de trabalhadores assalariados equivalentes ano, ao que
designamos de Renda Líquida dos Salários – RLS. Os estabelecimentos-domicílios foram
diferenciados em 3 tipos de acordo o que chamamos de Situação Reprodutiva dos (seus)
Assalariados – os que remuneram com RLS acima da média (em 1995, R$ 1.784,11; em
2006, R$ 4.721,29, ambos rendas anuais a preços correntes), os que se situam entre a média
e a metade da média e os abaixo da metade da média. Denominamos esses grupos, igual e
respectivamente, “Acima da Média”, “Remediados” e “Sob Risco”.

283
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

10.1.1 Evolução da situação reprodutiva dos camponeses entre os Censos

Entre os Censos de 1995 e 2006, a RLPpc capita/mês média dos, respectivamente, 411.290
e 422.919 estabelecimentos-domicílios camponeses cresceu em torno de 11% a preços constantes
de 2009, de R$ 155,62 para R$ 172,67 reais (ver Gráfico 10.1.1-1, parte A). Confrontadas com a
linha de pobreza usualmente acatada, de R$ 237,50 per capita/mês no ano de 2009, essas cifras
indicam que, na média, não houve a transposição da barreira. Não obstante, há mais a considerar.
Primeiro, a variação foi muito diferente entre as diversas situações reprodutivas: para os Acima da
Média, a renda per capita multiplicou por 3,2, de R$ 202,9 para R$ 652,8; para os Remediados,
o incremento foi de 70%, atingindo valor de R$ 174,82; os Sob Risco, por seu turno, reduziu em
30% a RLPpc per capita, baixando a R$ 31,49. A par disso, o número dos que se situam Acima
da Média decresceu grandemente, de 223 para 96 mil, como decresceu o número dos Remediados
de 167 para 101 mil. Os Sob Risco, por seu turno, multiplicaram por 10, saltando de 21 para
220 mil estabelecimentos. A rigor, o crescimento lento da RLPpc média esconde, ao lado de um
processo que resultou na ampla superação da linha de pobreza por ¼ dos camponeses, uma forte
polarização da situação reprodutiva (ver Gráfico 10.1.1-1, parte B).
À RLPpc soma-se um adicional de Renda Provinda dos Serviços (RPS: salários e ganhos
por empreita fora do estabelecimento, renda de comércio e demais prestação de serviços; para os
próximos resultados ver o Gráfico 10.1.1-2) totalizando a Renda Líquida do Trabalho (RLTb).
Na formação da RLTb, as rendas provindas dos serviços incrementam a RLP em média 24,6%. A
importância do incremento, entretanto, é variável: a RLTb supera a RLPpc em 16,5% no total dos
estabelecimentos-domicílios camponeses do grupo Acima da Média, em 23% do Remediados e
nada menos do que 75% dos Sob Risco.
Há, ainda, as Transferências (T: aposentadorias, renda de seguros e doações) a considerar
na formação da Renda Líquida do Estabelecimento (RLE). Observado por grupo, o incremento de
T sobre a RLTb dos Acima da Média na formação da Renda Líquida do Estabelecimento (RLE) é
não mais que 2,2%. Percentual que é bem superior quando se refere ao grupo Remediados, 9,6%,
e, ainda, mais importante nos estabelecimentos-domicílios Sob Risco reprodutivo: nesse caso
atinge 19,9%. Na média, as Transferências representam 6,5% da RLTb. Vale notar, entretanto, que
os valores absolutos per capita das transferências são maiores para os Remediados (R$ 20,85),
em seguida para os Acima da Média (R$ 16,5%) e, por último, para os Sob Risco (R$ 10,98).
Resumindo: na formação da RLE do grupo Acima da Média (20% do total de trabalhadores
camponeses) nada menos que 84% provieram da produção, 14% de serviços prestados fora do
estabelecimento e meros 2% de transferência de renda por mecanismos diversos de política. Com
isso a RLE do grupo aproxima-se do quádruplo da renda que delimita a fronteira da pobreza. Para
os Remediados, que contam com 19% dos trabalhadores camponeses, 74% da RLE origina-se da
produção, 17% de serviços e os demais 8% de transferências. A RLE, nesse ponto, iguala-se à
linha de referência. De modo que 37% dos 1.279.421 trabalhadores camponeses e suas famílias
encontravam-se, em 2006, em situação igual ou acima da linha de pobreza. A constatação ganha
284
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

relevo quando se sabe que em 1995, todo o grupo encontrava-se abaixo disso. O outro lado
da moeda na polaridade que se configura é que nada menos que 63% encontrava-se Sob Risco
reprodutivo – situação também simétrica, dado que em 1995 os que se encontravam nesse patamar
não passavam de 5% do total.

Gráfico 10.1.1-1 Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos
camponeses por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009

(A)
900

800 R$ 777

700 R$ 760
R$ 652,83
600
R$ de 2009

500

400

300 R$ 216
R$ 237
200 R$ 201,90 R$ 172,67
R$ 174,81 R$ 44,46
R$ 155,62
100 R$ 106,01
R$ 55
R$ 31,49 R$ 66
0
Acima da Média Remediado Sob Risco Média RLP
Renda Per Capita 1995 Renda Per Capita 2006
Renda Líquida do Trabalho 2006 Renda Líquida do Estabelecimento 2006

(B)
250.000 70%

223.120 226.692
62% 60%
200.000 55%
50%
166.964
150.000
40% 40%

100.585
30%
100.000
95.641
19% 20%
18%
50.000
5%
10%
21.206

0 0%
Acima da Média Remediado Sob Risco

Quantidade Estabelecimentos 1995 Quantidade Estabelecimentos 2006


% do Total de Trabalhadores Familiares 1995 % do Total de Trabalhadores Familiares 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia já
esclarecida.

285
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 10.1.1-2 Composição da Renda Líquida do Estabelecimento em 2006, por situação


reprodutiva (% da Renda Líquida do Estabelecimento)
100% 2%
14% 9% 6%
90% 17%

80% 17% 19%

70%

60% 36%

50%
84%
40%
74%
30% 75% Renda da Produção

20% 48% Serviços


Tranferências
10%

0%
Acima da
Média Remediado
Sob Risco
Média

Fonte: IBGE, Censo de 2006. Tabulações especiais do autor.

10.1.2 Evolução da situação reprodutiva e variações nas médias de renda per capita nas
trajetórias camponesas e as implicações gerais sob um ótica de pobreza

Discutimos a situação média para as formas de trabalho – se trabalho direto familiar camponês
ou assalariado nos estabelecimentos patronais. Insistimos que tal situação resulta da evolução das
trajetórias que conformam o setor rural na região. Precisamos, portanto, situar a relação entre as
situações reprodutivas e suas indicações de pobreza nesse contexto. Neste subcapítulo verificaremos
como evoluíram os componentes de renda das famílias rurais no contexto de cada trajetória e o que
podem indicar as diferenças e convergências. Na subcapítulo seguinte, observaremos a mobilidade
entre as trajetórias nas diferentes situações reprodutivas.
A Renda Líquida da Produção per capita (RLPpc) por membro dos domicílios
camponeses da Trajetória-Camponesa.T1 (a que converge para sistemas de produção intensivos,
relativamente especializados) reduziu entre 1995 e 2006, de R$ 158,08 para R$ 106,61, ambos
valores abaixo da linha de pobreza. Para os estabelecimentos-domicílios Acima da Média, a
RLPpc dobrou, de R$ 251,88 para R$ 534,20: uma grande mudança, menor porém do que a média
acima apresentada para o grupo Acima da Média no total de estabelecimentos. Para os domicílios
Remediados, o crescimento foi de meros 18%; para os Sob Risco, por seu turno, uma redução
perto de 50%. A polarização entre as situações extremas expressa-se na redução de 108 para 36
mil estabelecimentos-domicílios na condição Acima da Média, a par de fortíssima ampliação da
frequência da situação Sob Risco reprodutivo – de 4 para 169 mil estabelecimentos-domicílios
(ver Gráfico 10.1.2-1, partes A e B).
286
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 10.1.2-1 – Renda Média per Capita mensal e proporção no total de estabelecimentos
camponeses na Trajetória-Camponesa.T1, por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009

(A)
700
R$ 613
600
R$ 593
R$ 534,20
500
R$ de 2009

400

300 R$ 213
R$ 251,88 R$ 233
200
R$ 172,92 R$ 158,08
R$ 146,37 R$ 47,88
100 R$ 106,61
R$ 43
R$ 23,57 R$ 55
0
Acima da Média Remediado Sob Risco Média
Renda Per Capita 1995 Renda Per Capita 2006
Renda Líquida do Trabalho 2006 Renda Líquida do Estabelecimento 2006

(B)
180.000 70%
169.413
64%
160.000 64%
60%
140.000
50%
120.000
108.331
100.000 40%
34%
80.000 30%
59.266
60.000 58.710
20%
22%
40.000 14%
20.000
36.350 3% 10%
4.251
0 0%
Acima da Média Remediado Sob Risco

Quantidade Estabelecimentos 1995 Quantidade Estabelecimentos 2006


% do Total de Trabalhadores Familiares 1995 % do Total de Trabalhadores Familiares 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

Padrão semelhante a esse seguiram os estabelecimentos-domicílios na Trajetória-Camponesa.


T3 (a que converge para sistemas com dominância de pecuária de corte): a RLPpc reduziu entre
1995 e 2006, de R$ 173,28 para R$ 114,66, ambos valores abaixo da linha de pobreza. Para os
Acima da Média, a RLPpc mais que dobrou, de R$ 299,56 para R$ 647,97, em proporção, porém
significativamente menor que a média da mesma situação reprodutiva. Para os domicílios Remediados,
287
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

o crescimento foi semelhante ao da T1, do mesmo modo que a redução para o Sob Risco. Também aqui
uma agudização da polarização entre as situações extremas de renda expressa-se na redução de 63,5
para 10 mil estabelecimentos-domicílios na condição Acima da Média, a par de fortíssima ampliação
da frequência da situação Sob Risco reprodutivo – de 3 para 41 mil estabelecimentos-domicílios (ver
Gráfico 10.1.2-2, partes A e B).

Gráfico 10.1.2-2 – Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos
Camponeses na Trajetória-Camponesa.T3, por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009

(A)

900
800 R$ 780

700 R$ 760
R$ 647,97
600
R$ de 2009

500
400
R$ 250
300 R$ 299,56
R$ 227
200 R$ 165,46 R$ 75,51 R$ 173,28
100 R$ 88 R$ 114,66
R$ 140,53
R$ 46,59 R$ 96
0
Acima da Média Remediado Sob Risco Média
Renda Per Capita 1995 Renda Per Capita 2006
Renda Líquida do Trabalho 2006 Renda Líquida do Estabelecimento 2006

(B)
70.000 80%
63.509
60.000 70%
68%

58% 60%
50.000
42.730 41.325
50%
40.000
39% 40%
30.000
30%
20.000
20%
16% 15%
9.332
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com3%
10.000 metodologia em anexo.
10%
9.930
3.166
0 288 0%
Acima da Média Remediado Sob Risco
Quantidade Estabelecimentos 1995 Quantidade Estabelecimentos 2006
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 10.1.2-3 – Renda Média per Capita Mensal e proporção no total de estabelecimentos
Camponeses Na Trajetória-Camponesa.T2, por condição reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009

900
R$ 760
800 R$ 777

700
R$ 725,57
600
R$ de 2009

500
400 R$ 380,89

300 R$ 216
R$ 273,84
R$ 237
200 R$ 180,46 R$ 60,28
R$ 138,43 R$ 137,54
100
R$ 55
R$ 46,01 R$ 66
0
Acima da Média Remediado Sob Risco Média
Renda Per Capita 1995 Renda Per Capita 2006
Renda Líquida do Trabalho 2006 Renda Líquida do Estabelecimento 2006

70.000 60%
65.524
60.000 51% 50% 50%
51.280
50.000
49.361 40%
40.000 39% 33%
31.987 30%
30.000
16%
20%
20.000 11%
13.789
10%
10.000Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em
Fonte: IBGE, 15.954 anexo.

0 0%
No que tange à Trajetória-Camponesa.T2
Acima da Média (a que converge paraSob
Remediado sistemas
Risco agroflorestais),
verifica-se padrão distinto do que até agora se viu: a RLPpc média cresceu fortemente entre 1995
e 2006, de R$Quantidade
137,54Estabelecimentos
(note-se que se 1995 Quantidade
tratava da menor médiaEstabelecimentos
de RLPpc de2006 todas as trajetórias
naquele ano) para R$ 380,89 (agora a maior RLPpc), valor bem acima da linha 2006
% do Total de Trabalhadores Familiares 1995 % do Total de Trabalhadores Familiares de pobreza.
Para os Acima da Média, a RLPpc quase triplicou, de R$ 273,84 para R$ 725,57. Enquanto
289
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

para os domicílios Remediados, o crescimento foi próximo de 1/3, para os Sob Risco verifica-
se uma relativa estabilização. Por outro lado, são mantidas as proporções de estabelecimentos-
domicílios e trabalhadores nas situações extremas (em torno de 50 mil na melhor, em torno de
15 mil da pior), reduzindo praticamente pela metade na situação intermediária, de 65 para 32 mil
estabelecimentos-domicílios. (ver Gráfico 10.1.2-3, partes A e B).

10.2 Mobilidade entre trajetórias camponesas e situações reprodutivas: indicações de


tempo e lugar da pobreza

A Tabela 10.2-1 contém a distribuição dos estabelecimentos-domicílios camponeses


encontrados em 2006 nas trajetórias tecnológicas e situações reprodutivas passíveis de delimitação
no Censo Agropecuário (linha “Total em 2006”), pelas respectivas trajetórias e situações em 1995 –
as células das colunas descrevem essa distribuição para cada relação trajetória tecnológica-condição
reprodutiva encontrada em 2006; a coluna “Total em 1995” apresenta a distribuição (as posições)
dos estabelecimentos-domicílios naquele ano. O resultado é uma matriz quadrada composta de várias
submatrizes que adiante distinguiremos.
Metodologicamente, a construção dessa matriz foi possível porque na organização do
banco de dados estabelecemos a relação entre um “estrato de área” e o “município” em que
se encontra como a unidade de informação mais elementar de todas as tabelas. Feita a mesma
relação para os dois censos (o que requereu ajustamentos para compatibilizar as diferenças de
estratificação) criamos a chave comum que permitiu estabelecer atributos para variáveis de um
censo (com suas tabelas próprias) com base em variáveis do outro censo: os atributos “trajetória”
nas tabelas do Censo de 1995 podem ser atribuídos aos casos das tabelas do Censo de 2006, ao
lado de seus próprios atributos “trajetória”, como atributos “trajetória em 1995”. E vice-versa.
Os elementos da diagonal da Tabela 10.2-1 são as quantidades de estabelecimentos-
domicílios que não sofreram mobilidade entre os censos, nem no que se refere à condição
reprodutiva, nem à trajetória respectiva. No total, apenas 51.296, ou 13% do total de 402.787
estabelecimentos-domicílios camponeses do Censo de 2006, com correspondentes “casos”
em 1995, puderam ser contabilizados nessa condição. Os demais 87% dos estabelecimentos-
domicílios tiveram algum tipo de mobilidade: ou mudaram de trajetória e mantiveram-se na
condição reprodutiva; ou mudaram de condição reprodutiva e mantiveram-se na trajetória ou
mudaram ambas, situação e trajetória.
Em torno da diagonal de nove elementos dos estabelecimentos-domicílios que
permaneceram exatamente na mesma posição de 1995, há três submatrizes 3x3, cuja diagonal
são os estabelecimentos, chamemos, estáticos naquela condição, e os demais elementos são
as quantidades de estabelecimentos-domicílios que mudaram de trajetória mas permaneceram
na mesma condição: uma submatriz relativa à condição Acima da Média (na Tabela 10.2-1, a
primeira submatriz 3x3, de cima para baixo, na diagonal, em fundo cinza); uma submatriz para
290
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Remediados e uma terceira (a última na diagonal), do Sob Risco. Essas submatrizes mostram
posições e movimentos consistentes com a Situação Reprodutiva. Ou, por outro prisma, descrevem
situações reprodutivas estáveis ou estruturalmente consistentes.

Tabela 10.2-1 – Mobilidade Inter-Trajetórias e condição reprodutiva estabelecimentos-domicílios


camponeses entre 1995e 2006 (número absoluto)
Condição Trajetorias Condição Reprodutiva Total Saldo da
% do
Reprodutiva Tecnológicas Acima da Média Remediado Sob-Risco em Mobilidade
Total
1995 em 1995 T1 T2 T3 T1 T2 T3 T1 T2 T3 1995: I II-I
T1 9.502 14.052 2.666 13.120 6.813 4.073 26.671 2.875 5.525 85.297 21% -50.195
Acima da
T2 6.003 11.814 546 4.401 4.544 497 11.487 2.706 939 42.937 11% 4.962
Média
T3 2.383 3.680 2.369 6.793 4.005 2.609 24.246 1.658 10.573 58.316 14% -49.748
T1 3.491 4.435 753 13.501 4.060 934 31.110 848 8.204 67.336 17% -10.178
Remediado T2 6.928 9.566 543 5.701 8.399 364 23.910 2.865 4.902 63.178 16% -31.774
T3 3.032 2.446 1.253 6.925 1.061 613 21.233 7.209 43.772 11% -34.603
T1 1.966 1.837 149 1.513 204 1.581 640 7.890 2% 152.061
Sob Risco T2 1.499 69 289 4.087 1.952 79 16.890 3.517 487 28.869 7% -13.172
T3 298 1.117 366 2.823 588 5.192 1% 32.647
Total em 2006 : II 35.102 47.899 8.568 57.158 31.404 9.169 159.951 15.697 37.839 402.787 100%
% do Total 9% 12% 2% 14% 8% 2% 40% 4% 9% 100%

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

Gráfico 10.2-1 – Saldo da mobilidade entre trajetórias nos estabelecimentos que mantiveram a
situação reprodutiva entre os censos 1995 e 2006, Região Norte (Estabelecimento-Domicílio))

19.073
20.000

15.000
11.183
10.000 7.632

5.000

0
-944
-5.000 -2.851 -2.924

-10.000 -8.332 -6.688

-15.000
-16.149
-20.000
Sob Risco T1

Sob Risco T2

Sob Risco T3
Média T1

Média T2

Média T3
Acima da

Acima da

Acima da

Remediados

Remediados

Remediados
T1

T2

T3

Consistente Acima da Média Consistente Remediados Consistente Sob Risco

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

291
-6.000
-4.000
-2.000
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000

-4.000
-2.000
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
Nordeste Paraense Sudeste Paraense
Ocidental do Tocantins Ocidental do Tocantins
Baixo Amazonas Sudoeste Amazonense
Oriental do Tocantins Vale do Juruá
Leste Rondoniense Sul do Amapá
Vale do Juruá Oriental do Tocantins
Centro Amazonense
Sul Amazonense
Vale do Acre
Centro Amazonense
Metropolitana de Belém
Norte Amazonense
Norte de Roraima
Norte do Amapá
Madeira-Guaporé
Norte de Roraima
Sul Amazonense
Sudoeste Amazonense Madeira-Guaporé
Trajétória Camponês T1

Norte do Amapá Marajó

Trajétória Camponês T1
Sul do Amapá Metropolitana de Belém
Marajó Vale do Acre
Sudoeste Paraense Leste Rondoniense
ordem decrescente em 2006)

ordem decrescente em 2006)


Sudeste Paraense Sudoeste Paraense
Sul de Roraima Baixo Amazonas
Sudoeste Paraense Nordeste Paraense

-4.000
-2.000
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
-2.000
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000

Sul de Roraima
Nordeste Paraense
Sudeste Paraense
Baixo Amazonas
Sudoeste Paraense
Centro Amazonense
Leste Rondoniense
Sudoeste Paraense
Vale do Juruá
Vale do Acre
Sul Amazonense
Sudoeste Amazonense
Madeira-Guaporé
Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Metropolitana de Belém
Norte de Roraima
Sul Amazonense
Sul do Amapá
Marajó

292
Norte do Amapá
Vale do Juruá
Oriental do Tocantins
Oriental do Tocantins
Vale do Acre
Madeira-Guaporé
Sudoeste Amazonense
Norte de Roraima

Trajétória Camponês T2
Metropolitana de Belém
Trajétória Camponês T2

Sudeste Paraense
Marajó
Ocidental do Tocantins
Centro Amazonense
Norte do Amapá
Baixo Amazonas
Norte Amazonense
Ocidental do Tocantins Leste Rondoniense
Nordeste Paraense Sul do Amapá

0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000

-8.000
-6.000
-4.000
-2.000
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000

-500
-1.000

Marajó
Leste Rondoniense
Centro Amazonense
Baixo Amazonas
Madeira-Guaporé
Metropolitana de Belém
Metropolitana de Belém
Marajó
Norte do Amapá
Norte do Amapá
Sudoeste Paraense
Sul do Amapá
Sul de Roraima
Sul do Amapá Sudoeste Paraense

Sudoeste Amazonense Norte de Roraima


Sul Amazonense Madeira-Guaporé
Norte de Roraima Norte Amazonense

1995
1995

Vale do Acre Nordeste Paraense


Vale do Juruá Oriental do Tocantins
Sudeste Paraense
Trajétória Camponês T3

Vale do Acre

2006
2006

Trajétória Camponês T3

Baixo Amazonas Sul Amazonense


Oriental do Tocantins Ocidental do Tocantins
Nordeste Paraense
Sudoeste Amazonense
Leste Rondoniense
Vale do Juruá
Ocidental do Tocantins
Sudeste Paraense
Total

Diferença
Diferença

Centro Amazonense

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
consistentemente Remediados e por Mesorregião, Região Norte, 1995 e 2006 (quantidade, por
Gráfico 10.2-3 – Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
consistentemente Acima da Média por Mesorregião, Região Norte, 1995 e 2006 (quantidade, por
Gráfico 10.2-2 – Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva
Francisco de Assis Costa
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 10.2-4 – Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva


consistentemente Sob Risco por Mesorregião, Região Norte, 1995 e 2006 (quantidade, por ordem
decrescente em 2006)

Trajétória Camponês T1 Trajétória Camponês T2 Trajétória Camponês T3


7.000
8.000
6.000 4.000
6.000
5.000 3.000
4.000 2.000
4.000
2.000 1.000
3.000
0 0
2.000
-1.000
1.000 -2.000
-2.000
0 -4.000 -3.000
-1.000 -6.000 -4.000

Sul Amazonense
Ocidental do Tocantins
Oriental do Tocantins

Baixo Amazonas

Sul de Roraima
Sul do Amapá

Centro Amazonense
Sul de Roraima
Sul de Roraima

Sul Amazonense

Leste Rondoniense
Sudoeste Amazonense

Norte Amazonense

Vale do Acre
Sudoeste Amazonense

Baixo Amazonas

Marajó

Norte de Roraima
Norte do Amapá

Norte do Amapá

Madeira-Guaporé
Vale do Acre

Centro Amazonense

Madeira-Guaporé
Leste Rondoniense

Norte de Roraima
Norte Amazonense
Ocidental do Tocantins
Oriental do Tocantins

Sul Amazonense

Sul de Roraima
Marajó

Nordeste Paraense
Sudeste Paraense
Sudoeste Paraense
Baixo Amazonas

Ocidental do Tocantins
Nordeste Paraense

Sudoeste Paraense
Sudeste Paraense

Vale do Acre

Oriental do Tocantins
Norte Amazonense

Madeira-Guaporé
Centro Amazonense
Norte de Roraima

Leste Rondoniense

Sudoeste Amazonense
Marajó

Sudeste Paraense
Sudoeste Paraense

Nordeste Paraense
1995 2006 Diferença

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

Além desses grupos consistentes (sempre que observados, encontravam-se na mesma


situação) com as respectivas situações reprodutivas, a Tabela 10.2-1 apresenta submatrizes com
os estabelecimentos-domicílios que mudaram de situação reprodutiva – indicando mobilidade
ascendente (à esquerda das submatrizes quadradas 3x3 dos estabelecimentos-domicílios
consistentes na situação reprodutiva; fonte em vermelho) e descendente (à direita da diagonal;
fonte em azul). Na primeira estão anotados as frequências dos estabelecimentos-domicílios
encontrados na condição Remediado em 1995 que se tornaram Acima da Média em 2006, mais
aqueles que estavam Sob Risco no primeiro ano e apareceram ou Acima da Média ou Remediados
no último. A segunda anota movimentos na direção contrária: os estabelecimentos-domicílios
que, Acima da Média em 1995, tornaram-se ou Remediados ou Sob Risco em 2006, mais os que,
Remediados no primeiro, chegaram ao último ano na condição Sob Risco.
Veremos o conjunto dos movimentos e permanências inicialmente agrupados em
5 subconjuntos: 3 dos estabelecimentos-domicílios que não mudaram e 2 que mudaram a
condição de reprodução.
Condição Acima da Média consistente. Entre os estabelecimentos-domicílios que
não mudaram (23.685) e os que mudaram de trajetória (29.330), 53.015 estabelecimentos –
13% do total de estabelecimentos-domicílios camponeses da Região Norte – mantiveram-se
na condição Acima da Média entre os censos de 1995 e 2006. A relação entre os que mudaram
e os que não mudaram é de 1,2 para 1.
293
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Na dinâmica de mudança que permitiu a manutenção da condição Acima da Média


do conjunto, a trajetória T2, com um saldo positivo de 11.483 estabelecimentos, absorveu
8.332 estabelecimentos-domicílios da T1 e 2.851 da T3 (ver Gráfico 10.2-1): visto sob outra
perspectiva, esses estabelecimentos que em 1995 pertenciam, respectivamente, à T1 e à T3,
converteram-se à T2.
Os ganhos da T2 fizeram-se notáveis, pela ordem, no Nordeste Paraense, nas regiões
Baixo Amazonas, Centro Amazonense, no Sudeste Paraense, nas regiões Metropolitana
de Belém, Sul Amazonense e no Marajó. Juntas, as mesorregiões Nordeste Paraense
e Metropolitana de Belém explicam 43% de todo o crescimento. O Baixo Amazonas e o
Sudeste Paraense, no Pará, representam mais 29% dessa expansão complementada com os
21% do Centro, Sudoeste e Sul Amazonense. Nessas regiões, esses movimentos vieram
acompanhados de retração na T1 ou na T3. Com destaques, no caso da primeira, para o
Nordeste Paraense e Baixo Amazonas; no caso da segunda, para a Centro Amazonense e o
Sudeste Paraense (ver Gráfico 10.2-2).
Condição Remediados consistente. Mativeram-se na condição de remediados 41.558
estabelecimentos-domicílios - 10% do total. Desses 22.513 não mudaram de trajetórias,
enquanto 19,045 mudaram, numa relação de 0,8 para 1 entre estes e aqueles.
Os Remediados da T1 – ou a T1 em condição Remediada expandiram-se no Nordeste
Paraense, na Ocidental do Tocantins, no Baixo Amazonas, na Oriental do Tocantins e no Leste
Rondoniense. A T2, nessa condição, cresceu no Sul de Roraima, no Sudeste e no Sudoeste
Paraense – reduzindo significativamente no Nordeste Paraense. A T3, por seu turno, reduziu
em todas as regiões, com exceção do Marajó (ver Gráfico 10.2-3).
Condição Sob Risco consistente. Trata-se de âmbito importante para o que nos
interessa, posto que nele presume-se constituir a pobreza rural grave, por assim dizer,
estruturalmente consistente.
Entre os estabelecimentos-domicílios que não mudaram (meros 5.098) e os que
mudaram de trajetória (21.428), 26.526 estabelecimentos – 7% do total de estabelecimentos-
domicílios camponeses da Região Norte – mantiveram-se na condição Sob Risco entre
os censos de 1995 e 2006. A relação entre os que mudaram e os que não mudaram é de
4,2 para 1: a maior de todas. É possível enunciar, neste caso, que os estabelecimentos-
domicílios do grupo mantiveram-se na mesma e precária condição, apesar dos esforços de
mudança ou em decorrência dessas mudanças, as quais se fizeram pelo reposicionamento de
16.149 estabelecimentos-domicílios da T2 e 2.924 da T3 para a T1, a qual acresceu 19.073
estabelecimentos-domicílios (Gráfico 10.2-1).
A T1 sob condição de risco cresce por toda parte, com destaque para o Nordeste
Paraense, o Sudoeste Amazonense, o Sudeste Paraense, regiões Ocidental e Oriental do
Tocantins. Praticamente nas mesmas regiões ocorre o contrário com a T2 em condição de
risco que, como a T3 no Nordeste Paraense, reduz fortemente. (Gráfico 10.2-4).

294
-5.000
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
45.000
Ocidental do Tocantins
Sudeste Paraense
Oriental do Tocantins

0
40.000
60.000
80.000
100.000

-60.000
-40.000
-20.000
Leste Rondoniense
Nordeste Paraense
Sul Amazonense Acima da
Madeira-Guaporé

20.000 8.535
Centro Amazonense
Média T1
Francisco de Assis Costa

Vale do Juruá
Vale do Acre
Norte Amazonense Acima da

1.316
Sudoeste Amazonense
Média T2
Metropolitana de Belém
Norte de Roraima
Sul do Amapá

Trajétória Camponês T1
Norte do Amapá
Acima da

-3.744
Marajó Média T3
Baixo Amazonas
Sul de Roraima
Sudoeste Paraense
Remediado T1
1.048

-10.000
-5.000
0
5.000
10.000
15.000
Vale do Juruá
Sudoeste Paraense
Remediado T2
-5.453

Sudoeste Amazonense
Sul de Roraima
Norte do Amapá
Marajó
Sul Amazonense Remediado T3
-1.702

Norte de Roraima

Saldo da Mobilidade Ascendente


Sul do Amapá
Vale do Acre

Mesorregião, 1995 e 2006 (quantidade em 2006)


Baixo Amazonas

295
Centro Amazonense
Metropolitana de Belém
Norte Amazonense
Madeira-Guaporé

Trajétória Camponês T2
Oriental do Tocantins
Nordeste Paraense Remediado T1
Leste Rondoniense
Ocidental do Tocantins
-34.763

Sudeste Paraense

Remediado T2

5.000
10.000
15.000
20.000

-10.000
-5.000
0
-9.212

Sudoeste Paraense
Sul de Roraima
Baixo Amazonas
Remediado T3
Saldo da Mobilidade Descendente

Marajó
Metropolitana de Belém
-42.705

Sul do Amapá
Norte Amazonense
Norte do Amapá Sob Risco T1
Norte de Roraima
98.495

Leste Rondoniense
Vale do Acre

1995
Centro Amazonense Sob Risco T2
Madeira-Guaporé
Nordeste Paraense
-20.725

2006
Trajétória Camponês T3

Sudoeste Amazonense
Sudeste Paraense
Vale do Juruá
Sob Risco T3
Oriental do Tocantins
8.910

Sul Amazonense

Diferença
Ocidental do Tocantins
Gráfico 10.2-5 – Grupos nas trajetórias em mobilidade (Número de Estabelecimento-Domicílio)

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
Gráfico 10.2-6 – Estabelecimentos-Domicílios camponeses em Mobilidade Descendente por
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Mobilidade Ascendente. A matriz de mobilidade ascendente refere-se a 47.872


estabelecimentos-domicílios (12% do total). Os movimentos aqui são mais complexos, eis
que a T1 em situação Acima da Média e Remediado (principalmente no Nordeste Paraense, na
Ocidental do Tocantins, no Sudeste Paraense e na Metropolitana de Belém, ver Gráfico 10.2-5) e
T2 em situação Acima da Média (principalmente no Sudeste Paraense, no Centro Amazonense e
Baixo Amazonas) apresentam saldos de, respectivamente, 8.535, 1.048 e 1.316 estabelecimentos-
domicílios provindos da T3 em situação Acima da Média (3.744, principalmente do Nordeste
Paraense, Ocidental do Tocantins e Baixo Amazonas), da T2 em Situação Remediada (5.453,
principalmente do Nordeste Paraense, do Sudeste Paraense, Metropolitana de Belém e Marajó)
e da T3 (1.702, principalmente do Nordeste Paraense, do Ocidental do Tocantins e do Baixo
Amazonas), também em Situação Remediada (ver Gráfico 10.2-6).
O grupo em Mobilidade Descendente. Composto por 233.816 estabelecimentos-
domicílios, este é o maior de todos os grupos, representando nada menos do que 58% do total
de estabelecimentos-domicílios camponeses da RN. Isso significa que o maior contingente de
estabelecimentos-domicílios vive algum tipo de crise. Descrito em detalhe, o movimento crítico
resultou do deslocamento dos saldos de 34.763, 9.212, e 42.705 estabelecimentos-domicílios
de, respectivamente, T1, T2 e T3 em situação Remediada, e de 20.725 da T2 Sob Risco, para a
T1 em situação Sob Risco, que recebeu 98.495 (principalmente nas mesorregiões Ocidental do
Tocantins, Sudeste Paraense, Oriental do Tocantins, Leste Rondoniense e Nordeste Paraense) e a
T3, também Sob Risco, que recebeu no Sudoeste Paraense, no Sul de Roraima e Baixo Amazonas
8.910 (ver Gráfico 10.2-7).

Gráfico 10.2-7 – Estabelecimentos-Domicílios camponeses em condição reprodutiva Mobilidade


Ascendente por Mesorregião, Região Norte, 1995 e 2006 (quantidade, por ordem decrescente em
2006)

7.000 Trajétória Camponês T1 Trajétória Camponês T2 Trajétória Camponês T3


12.000
6.000 3.000
10.000
5.000
8.000 2.000
4.000
6.000 1.000
3.000
4.000
2.000 0
1.000 2.000
-1.000
0 0
-2.000
-1.000 -2.000
-2.000 -4.000 -3.000
Sul Amazonense

Baixo Amazonas
Ocidental do Tocantins
Oriental do Tocantins
Sul de Roraima
Metropolitana de Belém

Sul do Amapá
Centro Amazonense

Leste Rondoniense
Sudoeste Amazonense

Vale do Acre
Norte Amazonense
Marajó
Madeira-Guaporé

Norte de Roraima
Vale do Juruá
Sudeste Paraense

Norte do Amapá
Sudoeste Paraense

Nordeste Paraense
Sul de Roraima
Sul do Amapá

Sul Amazonense

Metropolitana de Belém
Baixo Amazonas

Sudoeste Amazonense
Centro Amazonense

Norte de Roraima
Vale do Acre

Norte do Amapá
Norte Amazonense

Madeira-Guaporé
Oriental do Tocantins

Leste Rondoniense

Ocidental do Tocantins
Sul do Amapá
Sul Amazonense

Sul de Roraima

Vale do Juruá
Metropolitana de Belém

Sudoeste Paraense

Marajó
Baixo Amazonas

Sudoeste Amazonense

Sudeste Paraense
Nordeste Paraense
Madeira-Guaporé
Vale do Acre

Norte do Amapá
Centro Amazonense
Leste Rondoniense

Norte de Roraima
Norte Amazonense
Ocidental do Tocantins

Oriental do Tocantins

Vale do Juruá
Marajó
Sudeste Paraense
Nordeste Paraense

1995 2006 Diferença

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.
296
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

10.3 Determinantes das diferenças nas situações reprodutivas

O setor rural de base camponesa na Amazônia experimentou intensa movimentação no


período intercensitário. Em relação às situações reprodutivas (o contexto situacional no qual se
estabelecem os fundamentos de pobreza e não pobreza) os estabelecimentos-domicílios formavam
cinco conjuntos em 2006, revelando as situações consistentes, positivas e negativas, as quais nos
dois censos são mantidos os níveis reprodutivos, mesmo quando (ou, mesmo, porque) mudam
as trajetórias. Revelam-se, igualmente, grupos que, no período, deslocaram-se entre as diversas
situações, mantendo ou não as respectivas trajetórias.
Para avançarmos, suponhamos uma hierarquia nesses conjuntos, tendo a pobreza como
referência de fundo. O conjunto Acima da Média Consistente (13% do total de estabelecimentos-
domicílios da Região Norte) estaria no topo, dado que apresenta estabilidade relativa em
situação aparentemente longe da pobreza – a hipótese de trabalho, aqui, é a de que, se existem
estabelecimentos-domicílios rurais camponeses aos quais se pode imputar a condição de não
pobres, eles estariam nesse conjunto.
Em segundo lugar, viria o conjunto Em Mobilidade Ascendente com 12% dos
estabelecimentos. A importância desse grupo para a análise é obvia: trata-se dos que, por
ajustamentos incrementais ou mudanças mais ou menos radicais (mudança de trajetória, por
exemplo) vêm logrando novas e mais elevadas situações, por suposto mais distante da condição
de pobreza.
Em terceiro lugar, o conjunto Remediado Consistente (10%), no qual supomos encontrar
os estabelecimentos-domicílios em condição de pobreza remediada. Trata-se do grupo com menos
mobilidade – em uma espécie de lock in, medíocre, porém estável.
Em quarto lugar, o conjunto Em Mobilidade Descendente. Composto por 59% dos
estabelecimentos, esse grupo está, parte a meio caminho de uma situação remediada, parte no
rumo de reprodução sob risco. Dependendo do peso que tenham os primeiros ou os últimos, a
média estará mais longe ou mais próxima da condição de pobreza. Esse conjunto forma o mais
expressivo contingente e, consequentemente, um decisivo peso nos rumos da economia rural da
região.
Por fim, o conjunto Sob Risco Consistente – 6% das unidades camponesas que parecem
estabilizadas em situação da qual supomos derivar a condição de pobreza grave e risco reprodutivo.
Esperamos desse grupo uma empiria privilegiada para tratar a pobreza rural em seu nível mais
evidente.
Com efeito, encontramos diferenças no indicador de Renda Líquida da Produção
por trabalhador familiar (RLPpt) que expressam essa hierarquia. Em seguida exploraremos
as combinações médias das disponibilidades internas aos estabelecimentos-domicílios como
elementos para a justificação e qualificação dessas diferenças. Com esses dados em mãos
analisaremos aspectos do ambiente externo que podem ampliar a compreensão sobre a pobreza
rural e seu contexto estrutural na Amazônia.
297
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

10.3.1 Determinantes internos às unidades produtivas

Vimos que uma importante variável econômica de desempenho na economia camponesa


é o Rendimento Líquido da Produção por trabalhador equivalente (RLPpt), que determina
de modo direto a RLPpc dos domicílios. Essa variável apresenta diferenças notáveis entre os
diversos conjuntos acima indicados. Entre o conjunto consistentemente Acima da Média e o Em
Mobilidade Ascendente, já se verifica uma diferença de 50% (respectivamente, R$ 12,8 e R$ 8,3
mil reais/ano). A renda líquida do terceiro é pouco mais do que 1/3 do segundo. A do quarto, 1/3
a do anterior. Por fim, o último rendimento representa 60% do penúltimo e em torno de 1/20 do
primeiro (ver Tabela 10.3.1-1).

Tabela 10.3.1-1 – Os determinantes internos da RLPpc: dotação de recursos e capacidades dos


grupos de estabelecimentos-domicílios.
Y = r.a r a
Renda Liquida por Unidade
Trabalhador Equivalente

Capital por Unidade de


Capital por Unidade de

de Capital ak= Á/K


Renda Liquida por

Área por Unidade


A/B

Capital Humano

Capital Humano
por Trabalhador
Trabalhador (A)

Área r=i*k=Y/Á
Renda Líquida
Área Utilizada
Capital I=Y/K

a= ak*kt=Á/T
kt=h*ht=K/T
Renda Total/

Trabalhador
por Unidade

Capital Por
Trabalhdor

Área por
Kh=K/H
Ka=K/A

ht=H/T
Y=Y/T

de

Acima da
Média 0,95 13,45 12,84 0,25 1,40 0,34 0,71 73,73 0,71 52,20 37,28
Consistente
Mobilidade
0,95 8,44 8,03 0,32 1,67 0,54 0,60 33,20 0,75 24,88 14,93
Ascendente
Remediado
0,83 3,70 3,05 0,12 2,30 0,27 0,43 34,77 0,76 26,38 11,47
Consistente
Mobilidade
0,71 1,43 1,01 0,03 1,60 0,04 0,63 72,45 0,53 38,59 24,17
Descendente
Sob-Risco
0,76 0,86 0,65 0,03 1,24 0,04 0,81 34,26 0,67 23,08 18,60
Consistente
Total 0,87 3,52 3,07 0,08 1,58 0,13 0,63 62,19 0,60 37,08 23,50

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

A Tabela 10.3.1-1 apresenta os termos das equações (10.3.1-1), (10.3.1-3), (10.3.1-5) e


(10.3.1-7) apresentadas no Box 10.3.1-1, as quais expõem as diferentes relações que explicam Y
(Renda Líquida da Produção por trabalhador), a saber: Renda Líquida por Unidade de Capital,
Capital por Unidade de Área Utilizada, Renda Líquida por Unidade Área, Área por Unidade de
Capital, Capital por Unidade de Capital Humano, Capital Humano por Trabalhador, Capital por
Trabalhdor, Área por Trabalhador.

298
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Destacam-se os seguintes aspectos:


1. Das nove relações entre os recursos e capacidades apresentadas no Tabela 10.3.1-1,
em sete, o grupo Acima da Média apresentou o maior resultado. Todavia, a supremacia
do nível de renda (RLPpc) deve-se, primeiramente, à sua relação terra/trabalho (37,28
hectares por trabalhador), a maior entre todos, e esta, por seu turno, resulta da (também
maior entre todos) relação capital/trabalho (R$ 52,2 mil por trabalhador). Isso se combina
com a, relativamente (segunda maior), elevada intensificação do uso da terra medida pela
rentabilidade da área (R$ 0,34 mil por hectare). Em uma relação, a capital/terra, o grupo
apresentou o menor (1,4) resultado entre todos. Em outra, a relação capital humano/
trabalhador, apresentou resultado intermediário (0,71).
2. O conjunto em Mobilidade Ascendente apresentou melhor performance quanto à
rentabilidade da área, determinada pela rentabilidade do capital. Na relação terra/
trabalho, entretanto, encontra-se em penúltimo lugar (14,93).
3. A baixa rentabilidade do trabalho nos estabelecimentos-domicílios em Mobilidade
Descendente resulta da muito baixa rentabilidade da terra, associada à baixa rentabilidade
do capital. As relações capital/terra e capital/trabalho são, todavia, elevadas, a primeira
(1,6) em nível pouco abaixo do grupo em Mobilidade Ascendente; a segunda (38,59) é a
maior de todas.
4. O Remediado tem valores médios em cinco das nove relações. Destaca-se sua relação
capital/terra e a do capital humano/trabalhador, ambas entre as maiores.
5. O conjunto Sob Risco deve a baixa rentabilidade do trabalho à ínfima rentabilidade
da terra (R$ 0,04 mil por unidade de área), a qual, por sua vez, resulta da baixa
dotação de capital e da baixa rentabilidade respectiva (ambos em torno de 1/10 dos
três grupos de melhor desempenho nesse item). No total, das nove relações, sete
apresentaram os menores valores, com destaque para a relação capital/trabalho de R$
23,0 mil por trabalhador.

O que poderia estar na base de tão graves diferenças? A resposta a essa pergunta exige
considerar dois grupos de determinantes, os internos e os externos aos estabelecimentos-
domicílios.
Por determinantes externos nos referimos às condições da natureza circundante e do
campo institucional, com destaque particular para o mercado e a política. A esses nos dedicaremos
na próxima seção. Por agora importa dizer algo sobre os determinantes internos.
Por determinantes internos entendemos os que derivam das relações entre os recursos
necessários à produção, por suposto, dependentes de trajetória e subsidiárias das razões e competências
que as administram. Assim, não basta observar dotações de trabalho, capital produtivo e capital
humano. É necessário tratá-los relacionalmente – nas interações que subjazem à produção. Com
o intuito de explicitar tais relações, operamos no Box 1 uma série de transformações da chamada
“meta função de produção” de Hayami e Huttan (Hayami, Huttan, 1980).
299
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Box 10.3.1-1 – Relaçoes entre as dotações internas dos estabelecimentos-domicílios camponeses


Dado que Y resulta da interação entre duas outras variáveis, a saber, a rentabilidade da terra
aplicada, que aqui inclui as áreas de floresta explorada, (Y/A = r) e a potência do trabalho em relação
à terra, isto é, a extensão em terras que pode ser trabalhado por uma unidade de trabalhador (A/T =
a), temos:
Y/T = y=r.a (10.3.1-1)
Onde:
y=Y/T: Renda líquida do trabalho na produção
Y: Renda líquida da produção agropecuária;
T: Número de trabalhadores familiares equivalentes
A: Área Aplicada para obtenção de y
A equação (10.3.1-1) apresenta a mais abstrata determinação de y: ele é uma função direta da capacidade
produtiva da terra e da potência do trabalho em relação à terra. Ocorre que a rentabilidade da terra (r)
está condicionada pela rentabilidade do capital (Y/K = i: k = valor monetário do acervo produtivo), ou
melhor, pela eficiência da técnica da qual k é expressão, e pela intensidade de seu emprego na terra (K/A
= ka). De modo que:
r=i.ka (10.3.1-2)

Substituindo (10.3.1-2) em (10.3.1-1) teríamos


y = i.ka.a (10.3.1-3)
Por sua vez, a, a potência do trabalho expressa no montante de terras que cada trabalhador equivalente
pode mobilizar produtivamente, depende da capacidade do capital que esse trabalhador mobiliza no
trabalho da terra (o quanto de terra que pode ser trabalhada com uma unidade de capital, A/K = ak)
e de quanto desse capital é empregado por cada trabalhador (K/T = kt).
Assim, a=ak.kt (10.3.1-4)
Substituindo (10.3.1-4) em (10.3.1-1) temos
y = r.ak.kt (10.3.1-5)
Um passo ainda pode ser dado, de modo que se ponha o capital humano (a habilidade e capacidade
dos trabalhadores) como mediação na relação capital/trabalho. Assim, kt pode ser decomposto em kh
e ht, tal que
kt=kh.ht (10.3.1-6)

para kh=K/H e ht =H/T onde H: Cap


ital humano medido em número de anos de estudos do cabeça de família. Substituindo (10.3.1-6) em
(10.3.1-5) temos
y = r.ak.kh.ht (10.3.1-7)

Com essas relações é possível uma leitura detalhada das determinações internas de y

300
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Podemos, agora, averiguar explicações para as amplas distinções no ganho líquido por
trabalhador equivalente (y), a principal variável de resultado da economia camponesa, a que nos
referíamos no início da seção.

10.3.2 Determinantes externos – relações de mercado

De diferentes modos, demonstrou-se que um vasto processo de mudança aconteceu no


mundo rural amazônico com implicações na condição reprodutiva dos camponeses e, portanto,
com implicações para a análise da pobreza e da não pobreza que ali se produz e reproduz.
Observando os resultados dos movimentos pela hierarquia das posições resultantes,
verificou-se que, independente da trajetória em que se encontrem, os estabelecimentos-domicílios
Sob Risco, ou a caminho disso, apresentam deficiências nas relações internas expressas na baixa
produtividade do trabalho e/ou da terra que em última instância determinam o nível de RLP e a
condição reprodutiva; inversamente, os estabelecimentos-domicílios Acima da Média, ou em vias
disso, apresentam indicadores de eficiência na relação entre suas disponibilidades internas, com
efeitos determinantes sobre a produtividade do trabalho e/ou da terra. Convém observar, agora, as
condicionantes desse estado de coisas que se revelam nas relações externas dos estabelecimentos.
Iniciaremos por restabelecer a relação entre as trajetórias e mobilidade entre as situações reprodutivas.
O Gráfico 10.3.2-1 apresenta uma síntese do processo central: na condição Acima da
Média, a Trajetória-Camponesa.T2 foi a única a apresentar saldo positivo entre as saídas e
entradas que ocorreram entre 1995 e 2006. Ao mesmo tempo, e parte do mesmo processo, o
segmento correspondente à T2 é o único que apresenta saldo negativo na situação Sob Risco. As
demais trajetórias apresentam saldo negativo na primeira (tornam-se menos presentes na situação
superior) e positivo na última (aumentaram a frequência na situação inferior).
Observando em conjunto os dois movimentos (esquecendo por um momento a situação
intermediária), temos duas conclusões interligadas. Primeiro, sublinhemos que a T2 protagonizou,
nesse meio tempo, um processo que reduziu o número de estabelecimentos-domicílios com
alta probabilidade de serem, ou virem a ser pobres, ao tempo que elevou o número dos que
provavelmente são, ou virão a ser não pobres. Segundo, a T1 e a T3 tiveram dinâmica inversa –
produziram estabelecimentos com elevada probabilidade de constituírem domicílios pobres em
detrimento de não pobres. Importa crucialmente entender os dois processos. É o que faremos nos
próximos segmentos.
Para tanto, primeiro verificaremos as mudanças nas relações rural-urbano. A questão é: em que
medida os desenvolvimentos observados na T2 explicam-se por mudanças substantivas nas relações
entre os camponeses e os demandantes de seus produtos? Segundo, averiguaremos em que medida os
desempenhos da T1 e da T3 explicam-se também por mudanças nas suas relações com os mercados.
Por fim, examinaremos o papel da política de crédito nos desempenhos seja da T2, seja da T1 e da T3.
Valeria muito a pena uma análise no sistema de formação de conhecimento técnico. Isso, porém, está
além do escopo do presente trabalho.
301
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 10.3.2-1 –Síntese da mobilidade entre trajetórias e situações reprodutivas

200.000

150.000

100.000

50.000

-50.000

-100.000

Remediado T1

Remediado T2

Remediado T3

Sob Risco T1

Sob Risco T2

Sob Risco T3
Acima da Média

Acima da Média

Acima da Média
T1

T2

T3

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

A industrialização dos produtos da T2: processo difuso

Primeiramente, relembremos as características da T2: trata-se de sistemas


convergentes para combinações de recursos florestais e não florestais (agrícola, pecuária
e pesca), na conformação de sistemas agroflorestais primários e secundários, resultantes,
respectivamente, de duas dinâmicas: os primários resultam de ajustamentos com propósitos
produtivos que se fazem na natureza originária – manejos de ecossistemas com impacto mais
ou menos inócuo sobre as funções florestais e aquáticas a par com sistemas agropecuários
subordinados – e os secundários resultam de reconstrução de áreas (mais ou menos)
profundamente alteradas por sistemas que resguardam elevado nível de diversidade. A
expansão da T2 na situação Acima da Média se fez dominantemente no Nordeste Paraense –
nessa mesorregião o número de estabelecimentos-domicílios da T2 Acima da Média cresceu
43% entre os censos, elevando a esse patamar 35 % dos estabelecimentos-domicílios em
2006.. Se juntarmos as mesorregiões Metropolitana de Belém e Marajó, contíguas à Nordeste
Paraense, teremos 58% dos estabelecimentos-domicílios da trajetória sob exame em situação
Acima da Média (ver Gráfico 10.2-2).
Não por coincidência, precisamente nessa região, polarizada por Belém, desenvolveu-
se, no mesmo período, um parque industrial voltado à produção de polpa e derivados de
frutas tropicais para fins alimentares ou industriais, abastecido dominantemente pela T2, dado
que tem seu carro chefe no açaí e outros produtos de origem florestal primária ou obtidos por
302
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

manejos e, mesmo, por plantio (Costa, 2004; Costa, Andrade, Silva, 2006). A esse processo de
desenvolvimento que denominamos Arranjo Produtivo Local de Processamento de Frutas da
Região Nordeste Paraense Polarizada por Belém (APLFrutas-NePa), ao qual dedicaremos o
Capítulo 10, atribuímos importância central para a mudança de situação da mencionada trajetória.

A industrialização dos produtos da T2: processo orientado por ação de governo ou empresas
líderes

A T2 Acima da Média cresceu também no Baixo Amazonas, no Centro Amazonense, no


Sudoeste Amazonense e Sul Amazonense. Em conjunto, essas mesorregiões representam 21% do
total de estabelecimentos-domicílios da trajetória nessa condição, digamos, superior.
Nessas áreas ocorre um processo a que Wanderly Messias da Costa chama de formação
de “sistemas emergentes” (Becker, Costa, Costa, 2009), igualmente baseados na T2, porém com
atributos distintos do processo que se verifica no APLFrutas-NePa. Este tem caráter difuso, com
diversas empresas industriais concorrendo pela matéria-prima produzida por camponeses, em
alguns casos organizados em cooperativas. Na maioria, entretanto, os contatos ocorrem face a face,
entre representantes de empresas e as famílias camponesas.No processo “sistemas emergentes”,
a mediação comunitária e a presença do governo em inúmeros projetos vão a par com a presença
marcante de empresas líderes, dos setores de cosméticos, fitoterápicos, fármacos e bebidas.
Seja nesse formato, seja no anterior, o que se assiste é o fortalecimento da T2. Tal
fenômeno tem múltiplas determinações, tais como:
a) A ampliação e a crescente sofisticação dos mercados de consumo para os produtos
naturais em geral, os produtos florestais em particular e especialmente para aqueles
oriundos da chamada “biodiversidade amazônica”;
b) A incorporação de novas tecnologias em várias das cadeias produtivas dessas
atividades, processo que pode ser basicamente relacionado à maior conectividade
entre as atividades de C&T e de P&D da Região e de fora dela com esses sistemas
e, adicionalmente, às novas exigências dos mercados de consumo, expressas em
mecanismos diversos de autorregulação, que têm sido adotados para a certificação de
qualidade em geral e especificamente ambiental;
c) As modalidades mais avançadas de produção e de integração, e a nova logística
introduzidas pelas grandes empresas agroindustriais.
O fato é que “...atualmente os setores produtivos não convencionais é que têm
impulsionado a rápida modernização do extrativismo (e do agroextrativismo) florestal, da
produção familiar e da organização comunitária (cooperativas de pequenos produtores), com
destaque para os sistemas bioindustriais relacionados à fruticultura em geral, à produção do
guaraná, do dendê (não florestal e florestal), e especialmente as matérias-primas e aos insumos
semi-processados e processados para as indústrias de fitocosméticos e de fitofármacos da região
e de fora dela.” (Becker, Costa e Costa, 2009: 152).
303
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

A T1 e a T3: Dos sistemas camponeses agropecuários e seus movimentos de intensificação e


especialização

A T1 e a T3, ambas, como já comentamos, reduziram, no contexto situacional, em relação


ao qual se pode cogitar condição de não pobreza, enquanto cresceram ali onde se pode atribuir
elevada probabilidade de prevalência da condição de pobreza.
Mas há diferenças que importam matizar. Para tanto, relembremos as características dessas
trajetórias. Os estabelecimentos de ambas têm em comum o fato de convergirem para sistemas de
produção relativamente especializados – na perspectiva (razão, rationale) inerente ao movimento
das trajetórias forma-se a expectativa, muitas vezes informada pela cultura dos gestores dos sistemas,
valores, aspirações e conhecimento tácito, outras ocasiões informada pelo ambiente institucional que
produz e divulga conhecimento laboratorial, de derivar eficiência da homogeneidade e simplicidade
dos sistemas resultantes. Diferem, porém, nos caminhos evolutivos – nas respectivas trajetórias,
propriamente: os estabelecimentos da primeira (T1) seguem trilhas que, com maior ou menor ênfase,
convergem para uma intensificação da produção (intensidade de trabalho e capital por unidade de
área) baseada em sistemas que combinam culturas permanentes e pecuária de leite; os da segunda
(T3) convergem para sistemas extensivos em terra e dominados pela pecuária de corte. A T1 mobiliza
padrões produtivos que convergem para sistemas relativamente intensivos no uso da terra, podendo se
fazer com graus variados de diversidade e complexidade. Por seu turno, a tendência à especialização
relativa em pecuária de corte na T3, com uma produção leiteira subordinada, é a sua marca.
Essas distinções refletem as diferentes dotações de terra que prevalecem nas trajetórias: a
T1, em geral dispõe de menos terras como condição inicial e se reproduz por definição, exigindo
menos terra que a T3. Com efeito, a primeira dispunha, em 1995, de 54,5 ha, em 2006, de 69,5; a
segunda, de 62,23 e de 117,9 ha nos mesmo anos.
A T1: Dos resultados divergentes
No cômputo geral dos movimentos que marcaram o setor rural da Amazônia nos
anos entre os censos agropecuários, a T1 cresceu com o maior saldo entre todas as trajetórias
camponesas na situação Sob Risco e diminuiu na situação Acima da Média, em proporção,
porém, consideravelmente menor (conf. Gráfico 10.3.2-1). Em complemento a isso lembremos
que, conforme o Gráfico 10.2-2, já comentado, a trajetória em questão apresentou o maior saldo
positivo no grupo de estabelecimentos Em Mobilidade Descendente, bem como o maior saldo
entre os estabelecimentos Em Mobilidade Ascendente, não obstante com um saldo positivo nesta
última que é 1/10 da primeira.
Já aludimos ao fato de que a T1 mobiliza padrões produtivos que convergem para sistemas
relativamente intensivos no uso da terra e do trabalho na terra. A intensificação objetivada na
T1, não obstante, pode se fazer com maior ou menor grau de especialização ou diversidade:
se prevalece composição diversificada de culturas permanentes, ao lado de pecuária leiteira
coadjuvante, ter-se-á baixa especialização; se ocorre o contrário, e a pecuária leiteira tende a
dominar, ter-se-á tendência mais evidente à especialização.
304
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Os resultados apresentados no Gráfico 10.3.2-2, para a T1 em toda a Região Norte no ano


de 2006, sugerem que a situação reprodutiva não é indiferente a uma ou outra dessas escolhas.
Com efeito, o grau de dependência da T1 por especialização na pecuária leiteira parece ditar
inversamente a situação reprodutiva. Assim que, quanto maior a proporção dessa atividade no VBP,
pior a situação reprodutiva. Por outro lado, quanto maior a dominância de culturas permanentes
diversificadas, mais elevada parece ser a situação reprodutiva.
É possível inferir daí que de algum modo a especialização da produção correlaciona
com a situação de crise ou estado de carência reprodutiva do contingente de estabelecimentos-
domicílios da T1 já em, ou a caminho, de situação Sob Risco. Em 2006, este era o caso de
169.413 estabelecimentos-domicílios da T1 na Região Norte. Por outro lado, o contrário
parece ser também verdadeiro: os sistemas agropecuários mais intensivos que lograram estar
na, ou a caminho da situação Acima da Média, foram os que investiram em diversidade: o que
parece ser o caso de 36.350 estabelecimentos da T1 no último Censo.

Gráfico 10.3.2-2 – Relação entre especialização e diversidade, com situação reprodutiva da


trajetórias da T1, Região Norte, 2006

Trajetória Camponês T1
45% 180.000
169.413
40% 160.000
Proporção no VBP Total

35% 140.000
30% 120.000
25% 100.000
20% 80.000
15% 59.266 60.000
10% 36.350 40.000
5% 20.000
0% 0
Acima da Média Remediado Sob Risco

Permanentes Leite Total Número de Estabelecimentos

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

Intensificação e homogeneização

Não nos surpreende tais resultados. De um modo geral, sistemas rurais homogêneos têm
menor resiliência em duas dimensões fundamentais: a econômica e a biológica. Quanto à primeira,
as questões principais são de duas ordens: uma que tem a ver com as relações mediatas da produção
305
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

rural, aquelas determinadas pela dimensão macrossistêmica, anônima, portanto, dos mercados; a
outra tem a ver com as relações imediatas que se travam entre os produtores e elos assimétricos,
muitas vezes interpessoais, com elevado nível de subordinação, que os conectam aos mercados mais
amplos. Em quaisquer dos casos, prevalece um trade off média/variância dos rendimentos que resulta
do fato de que, ao se tentar incrementar a média dos ganhos por simplificação de carteira (aposta no(s)
iten(s) de maior retorno, em dado momento), o empreendimento torna-se mais vulnerável à flutuação
daqueles poucos, ou daquele único item.
Quanto às questões relativas à natureza, temos reiteradamente chamado a atenção,
com argumentos históricos e estruturais, para as dificuldades gerais de plantios homogêneos,
sobretudo, mas não apenas, de grande escala, na Amazônia (Costa, 1993; Costa, 2005). A ação
dos fundamentos específicos da base natural amazônica tem levado a agricultura, em geral,
à evolução na Região sob o peso de dificuldades de ordem técnica: os sistemas agronômicos
intensivos, de composição botânica homogênea, mediante a fortíssima pressão da biodiversidade
tropical, favorecida pelo clima quente e úmido, sofrem ataques de um sem número de fungos e
bactérias, que elevam a probabilidade de predação, e de um sem número de plantas invasoras,
cuja concorrência limita o desenvolvimento das poucas variedades utilizadas. Tais condicionantes
reduzem os ciclos de vida das culturas, a vida útil dos elementos de capital físico e a resiliência
produtiva do capital natural, encarecendo relativamente ou, mesmo, impossibilitando sistemas
produtivos na razão direta da sua frequência e extensão.
Isto posto, voltemos à questão que nos interessa mais de imediato: os estabelecimentos da
T1 em situação Sob Risco, ou a caminho disso, que se observaram no Censo de 2006, encontravam-
se naquela posição por efeito de flutuação conjuntural de mercado, situação a ser superada já em
momento previsível? Ou se trata de situação duradoura, resultante de crise nos fundamentos de
natureza ou nas relações sociais que caracterizam a trajetória, a prenunciar um estado de carência
e pobreza?
Podemos responder apenas parcialmente a essas questões. Primeiro, tratando-as como
condição conjuntural de flutuação de preço. Os resultados apresentados no Gráfico 10.3.2-
3 indicam que a partir de 1995 o preço do litro de leite caiu acentuadamente até 2002/2003.
Importante anotar que essa tendência mostrou-se mais acentuada na Região Norte – o que indica
condições transacionais locais comparativamente desfavoráveis. Entretanto, a partir de 2002 o
preço voltou a crescer, tanto na Região Norte como no Brasil, mais rápido naquela, do que neste.
Até que em 2006, no ano do Censo Agropecuário, ,os preços, praticamente se igualam, seguindo
par a par até o último ano da série. Não há, ao que parece, uma particularidade conjuntural que
possa explicar a situação da trajetória no ano do Censo. Estaríamos então diante de uma condição
estrutural de um trajeto decadente a indicar um horizonte de pobreza pela via da T1 em seu ramo
especializado?

306
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 10.3.2-3 - Evolução do preço do leite na Região Norte, 1995 a 2009, R$ constantes de 2009
1,2

1
Preço por lt em R$

0,8

0,6

0,4

0,2

0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Brasil Norte

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

T1 - Intensificação e diversidade

Vimos que a T1 baseada mais intensamente em culturas permanentes, com uma


pecuária leiteira subordinada, tem se posicionado Acima da Média. Em parte, porque os
estabelecimentos estão atrelados ao processo de industrialização que vem impulsionando a
T2, anteriormente esclarecido: os plantios camponeses de açaí e outras frutas, bem como de
matérias-primas industriais, como dendê e guaraná, que são captados estatisticamente na T1.
Isso explica a importância do Nordeste Paraense e do Sudoeste Amazonense nas situações
Acima da Média e Em Mobilidade Ascendente da T1.
Por outro lado, um vetor atrelado ao mercado crescente com a expansão das cidades
médias na região parece atuar em favor da produção camponesa com as características da T1,
sendo o mais notável o que se passa no Sudeste Paraense. Nessa mesorregião, onde atua a
Vale do Rio Doce, o pujante setor mineral adquiriu uma capacidade de influência considerável
na economia, inclusive sobre a dinâmica das trajetórias camponesas. Adiante, no Capítulo 11,
demonstramos uma situação na qual o crescimento de 1% da produção mineral estabelece
possibilidades de crescimento para os demais setores da economia local de 0,72%, sendo
particularmente digno de nota que as oportunidades para os sistemas camponeses orientados
a atender a demanda da massa de salário resultante direta ou indiretamente da expansão
mineral se fazem na proporção de 0,76% para 1%. Analisaremos em 11.2 que a expansão do
produto mineral se fez no último quinquênio à taxa anual média próxima de 20,4%, criando
oportunidades para um incremento médio da economia camponesa na região de 15,4% a.a.
307
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

T3 – Especialização extensiva

A T3 apresenta, como a T1, saldo negativo na condição Acima da Média e positivo na


Sob Risco. É dizer, ela parece estar envolta em um processo de enfraquecimento no qual reduz
sua presença em situações superiores e aumenta em situações inferiores. Como a T1, ela também
tende a uma especialização relativa – na direção da pecuária de corte extensiva. Quanto maior
essa dependência da pecuária extensiva, porém, pior a situação reprodutiva. Com efeito, o Gráfico
10.3.2-4 demonstra que os estabelecimentos na T3 Acima da Média têm uma dependência de
18%, os Remediados de 20% e os Sob Risco, de 39% em relação à pecuária de corte. Como no
caso da T1, com a especialização, piora a situação reprodutiva – movimento que pôs, em 2006, na
situação Sob Risco nada menos do que 41.325 estabelecimentos-domicílios.
Como fizemos em relação à T1, aqui também cabe a indagação: essa relação crítica
entre a pecuária e a situação reprodutiva deve-se a uma conjuntura, em que, por exemplo, o
preço de mercado da carne explicaria a situação reprodutiva? Ou trata-se de condição estrutural
a esclarecer?
O Gráfico 10.3.2-5 apresenta a evolução do preço da arroba de carne entre 1998 e
2009. O preço da carne apresenta um ciclo lentamente descendente até, exatamente, 2006 -
o que pode ter interferido no resultado dos estabelecimentos-domicílios da T3, tanto mais,
quanto maior a importância da pecuária de corte.

Gráfico 10.3.2-4 – Proporção da pecuária de corte no VBP dos sistemas da T3, Região Norte

45% 45.000
40% 41.325 40.000
Proporção no VBP Total

35% 35.000
30% 30.000
25% 25.000
20% 20.000
15% 15.000
10% 9.930 9.332 10.000
5% 5.000
0% 0
Acima da Média Remediado Sob Risco

Pecuária de corte Número de Estabelecimentos

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

308
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 10.3.2-5 – Evolução do preço de arroba da carne na Região Norte, 1998 a 2009, R$ de
2009

80
70
Preço por arroba em R$

60
50
40
30
20
10
0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Região Norte

Fonte: FNP., Anualpec, diversos anos

Não obstante, há que ter presente as dificuldades tecnológicas da pecuária de corte na


região e, com isso em consideração, avaliar as possibilidades de uma crise estrutural a justificar a
amplitude da situação Sob Risco.

10.3.3 Determinantes externos – fragilidade da base natural

Demonstramos em 3.3.1 que a pecuária de corte na Amazônia tem dinâmica peculiar. A


depender da escala, força o uso extensivo do solo levando ao contínuo esgotamento e crise das
pastagens que, no caso dos fazendeiros, exige inevitável busca de novas terras na razão direta
da degradação. No caso dos camponeses, a crise seria proporcional à participação da pecuária
de corte no sistema do estabelecimento que, baseado em razão camponesa, tenderia a apresentar
maior diversidade do que o sistema dos fazendeiros, no qual, em escala inferior a 500 cabeças, a
rentabilidade do nível mais extensivo (0,64 cab/ha) é a maior possível. À proporção que o nível
tecnológico aumenta (passa para 0,86/cab/ha), as unidades produtivas de menor escala têm menor
eficiência por qualquer indicador de rentabilidade que se use, chegando a proporcionar rendimento
negativo no nível tecnológico mais elevado (1,02/cab/ha). Mostramos, também, que só na maior
escala, com média de 5.000 cabeças, a intensificação volta a apresentar economicidade. Abaixo
dessa escala o ganho possível não é por intensificação, mas por tamanho: quanto maior o rabanho
– mantido o mesmo e baixo nível de carga cab/ha, maior a taxa de lucro.
309
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

10.3.4 Determinantes externos – política de crédito

Mostramos anteriormente a performance positiva da T2 no processo de transferência de


estabelecimentos-domicílios camponeses de situações Sob Risco para situações Acima da Média
e o que isso significa na perspectiva da redução da pobreza.
Indicamos um quadro de dificuldades das trajetórias T1 e T3, no âmbito estrutural da
mobilidade decadente, que tem levado um grande contingente de estabelecimentos-domicílios
camponeses à situação Sob Risco. Duas hipóteses podem ser levantadas para orientar o
esclarecimento dessas circunstâncias: ou se trata de uma crise contornável, gerada por condições
conjunturais, sobretudo de mercado, ou se trata de algo mais duradouro associado, por exemplo,
à orientação da trajetória. Aventamos, nesse ponto, que a especialização, possível horizonte de
ambas as trajetórias, possa estar na base dos problemas que reduzem a eficiência das trajetórias
e, assim, fazem crescer a probabilidade da bancarrota nos estabelecimentos-domicílios por elas
orientados.
Consideramos, desde o início, que as trajetórias têm uma dimensão propriamente
privada, orientada por disposição dos agentes, e uma dimensão institucional, do que fazem parte
fontes organizacionais exógenas de recursos tangíveis e intangíveis e disponibilidades territoriais
endógenas (conf. 2.1). No que se refere aos agentes, há dois níveis e momentos decisórios a
considerar: a decisão de mudar e a forma como se processará a mudança. A decisão de mudar
se expressa na proporção que o esforço de mudança apresenta no excedente – o que poderá
ser lido pela proporção do valor do investimento na Renda Líquida da Produção (RLP) ou do
Estabelecimento (RLE). A forma do investimento, por seu turno, será condicionada pela trajetória
e suas possibilidades adaptativas informadas pelo ambiente natural e institucional (condições
ecossistêmicas, sistema local de inovações e fontes institucionais de crédito). As escolhas não
são determinísticas, podendo enviesar a trajetória para diferentes combinações – ou proporções
dos elementos combinados. A orientação enviesada para uma atividade poderá ser avaliada pela
relação que se verifica em um ponto no tempo, entre a importância do investimento que nela se faz
e o peso respectivo no VBP do sistema produtivo em questão. A leitura dessa relação se fará por
um índice resultado da divisão entre participação relativa da atividade no total do investimento e
a participação relativa dela no valor bruto da produção, ambos no contexto do sistema médio da
referência estrutural considerada no ano do censo.
Todavia, as dimensões privada e institucional das decisões são estreitamente articuladas,
sobretudo porque as decisões dos agentes (orientadas à eficiência reprodutiva) podem ser crucial
e diretamente afetadas pelas orientações institucionais (recursos, normas e conhecimento).
Indicamos, assim, duas perspectivas dessa relação. Uma indica a disposição dos agentes em acatar
as disponibilidades institucionais – de crédito, por exemplo –, a outra a disposição institucional
em induzir a decisão privada. A primeira poderá ser objeto de observação na participação do
crédito no valor do investimento feito pelo agente ou grupo de agentes; a segunda, pela relação
entre a participação relativa do crédito concedido para aquele agente ou conjunto de agentes no
310
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

total de crédito concedido pela política de crédito e a participação relativa dos recebedores de
crédito no VBP. Exercitamos essas noções, com os resultados apresentados nos Gráficos 10.3.4-1,
10.3.4-2 e 10.3.4-3. De uma leitura combinada podemos destacar os seguintes aspectos:
1. A Parte A do 10.3.4-1 informa que, em 2006, a T1 apresenta, no conjunto, a maior
proporção, 30%, entre o valor dos investimentos e a Renda Líquida do Estabelecimento
(RLE: soma da RLP com os salários ganhos por membros da família fora do
estabelecimento e transferências do governo). A menor é a da T2, com pouco mais
de 3% da RLE. A T3 investe 22% da RLE. Ao mesmo tempo, a Parte A do Gráfico
10.3.4-2 informa proporções inversas na busca do crédito para cobrir o investimento,
50% a T1, 62% a T3 e nada menos que 82% a T2.
2. Ao mesmo tempo, ainda a Parte A do 10.3.4-1 mostra que a proporção da RLE
investida cresce inversamente à condição reprodutiva: na condição Sob Risco, em
todas as trajetórias, encontramos as maiores taxas de investimento; a Acima da
Média, as menores e a Remediado, intermediárias.
3. A Parte B do Gráfico 10.3.4-1 apresenta o investimento como proporção da Renda
Líquida da Produção (RLP), variável que dispomos também para 1995. Os resultados
corroboram os já mencionados, acrescendo a informação de que a disposição ao
investimento de todas as trajetórias em condição Sob Risco cresceu entre os dois
censos. Isso quer dizer que na condição Sob Risco, não apenas há um esforço,
digamos, desesperado, de mudar, como essa disposição cresceu entre os censos. Isso
é perfeitamente compatível com a lógica camponesa de investimento sob tensão
reprodutiva de que tratamos em diversos momentos (Costa, 1995 e 2000).
4. A política de crédito, por seu turno, mostra-se particularmente inclinada a favorecer,
pela ordem, a T1– a proporção da participação no crédito em relação à participação
no VBP que era próxima de 1,07:1 cresceu entre os censos, chegando em 2006 a
1,6:1, conforme nos informa a Parte B do Gráfico 10.3.4-2 – e a T3 (1,2:1). A T2,
não apenas é considerada pela política muito abaixo da sua importância, como o
tratamento tem piorado: de 0,5:1 em 1995 cai para 0,23:1 em 2006.
5. Há, conforme os resultados do Gráfico 10.3.4-3, Parte A, um viés em favor da pecuária
em todas as trajetórias e todas as condições reprodutivas. Em 1995 era, em relação
à T1, de 2,6:1; à T3, de 2,3:1; à T2, a maior de todas, de 5,7:1. Em 2006, o esforço
aumentou consideravelmente para a T2 e reduziu ligeiramente para as demais.
6. Em relação às culturas permanentes (conf. Gráfico 10.3.4-3, Parte B) ocorre o
inverso: o viés era de baixa, 0,4. 0,6 e 0,44, caindo para 0,07, 0,47 e 0,16 para,
respectivamente, a T1, a T2 e a T3

311
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 10.3.4-1 – Disposição para mudar nas Trajetórias e Condições Reprodutivas, 1995 e 2006
( Investimentos Totais sobre Renda Líquida, %)
A: Investimento Total (IT) sobre Renda Líquida Total do Estabelecimento B: Investimento Total (IT) sobre Renda Líquida da Produção (RLP)
(RLE)
200% 191%

90% 180%
82%
80% 160%

70% 140%

60% 120%

50% 100%
79%
38% 80%
40%
30%
30% 60%
21% 22% 21% 42%
36% 34%
20% 17% 40% 28%27% 23% 29% 26%
31%
20% 22% 21%
18%
10% 6% 7% 9% 7% 20% 14%
7% 11% 9% 14%10%
9% 6% 9%
2% 3% 3% 4%
0% 0%

T1 Remediado

T2 Remediado

T3 Remediado
T1 Acima da Média

T2 Acima da Média

T3 Acima da Média

Total Total
T1 Sob Risco

T2 Sob Risco

T3 Sob Risco
T1 Total

T2 Total

T3 Total
T3 Remediado
T1 Remediado

T2 Remediado

Total Total
T1 Acima da Média

T2 Acima da Média

T3 Acima da Média

T3 Sob Risco
T1 Sob Risco

T2 Sob Risco

T3 Total
T1 Total

T2 Total

2006 1995 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

Gráfico 10.3.4-2 – Relação da Política de Crédito com os Investimentos nos Estabelecimentos


camponeses, por Trajetória e Condição Reprodutiva, 1995 e 2006
Parte A: Participação do Crédito no Investimento Total (%) Parte B: Participação no Crédito (%) sobre participação no VBP (%)

3,00 2,91

100% 96%
2,50 2,35
90% 88%
81%
80%
72% 2,00
70% 64% 66%
63% 62% 1,57
60% 56% 1,50
1,46
1,39
52% 53% 1,29
49% 50% 1,24 1,19
50% 45% 44%
1,19 1,17
42% 1,07 1,00 0,99
39% 0,95
40% 1,00 0,88
30% 28% 30% 30%
30% 26% 24% 26% 26% 27% 0,67
0,55 0,56
0,48
0,47 0,50
0,44
20% 0,50 0,37
0,30
0,23
0,17
10%
0% 0,00
T1 Remediado

T2 Remediado

T3 Remediado
T1 Acima da Média

T2 Acima da Média

T3 Acima da Média

Total Total
T1 Sob Risco
T1 Total

T2 Sob Risco
T2 Total

T3 Sob Risco
T3 Total
T1 Remediado

T2 Remediado

T3 Remediado
T1 Acima da Média

T2 Acima da Média

T3 Acima da Média

Total Total
T1 Sob Risco
T1 Total

T2 Sob Risco
T2 Total

T3 Sob Risco
T3 Total

1995 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

312
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 10.3.4-3 – Relação da Política de Crédito com os Investimentos camponeses, nas


Trajetórias e Condições Reprodutivas
Parte A: Esforço em favor da pecuária (% no Investimento/% no VBP) Parte B: Esforço em favor de culturas permanentes
(% no investimento/% no VBP)
25
0,90
0,81
20,9 0,80
20
0,70 0,63
0,62 0,61
15,9
0,60 0,55 0,54 0,53 0,54
15
0,50 0,45 0,45 0,47 0,45 0,46
0,42 0,44
0,40
0,38
9,52 0,40
10 8,7 0,30
6,6
0,30
5,25 5,74 5,70
5 3,77
4,7 0,20 0,14
0,16 0,16
0,12
2,70 2,45 2,64 2,41 2,78 2,82 2,5 0,09 0,08 0,10 0,07
1,6 2,1 2,4 1,91 2,13 0,10
1,5 1,0 1,5
1,0
0 0,00

T1 Remediado

T2 Remediado

T3 Remediado
T1 Acima da Média

T2 Acima da Média

T3 Acima da Média

Total Total
T1 Sob Risco

T2 Sob Risco

T3 Sob Risco
T1 Total

T2 Total

T3 Total
T1 Remediado

T2 Remediado

T3 Remediado
T1 Acima da Média

T2 Acima da Média

T3 Acima da Média

Total Total
T1 Sob Risco

T2 Sob Risco

T3 Sob Risco
T1 Total

T2 Total

T3 Total

1995 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

10.4 Assalariados rurais e pobreza

10.4.1 Evolução da situação reprodutiva dos trabalhadores assalariados nos estabelecimentos


patronais entre os Censos e as implicações gerais sob a ótica de pobreza

Em 1995, os estabelecimentos patronais empregavam o equivalente a 109.741 trabalhadores


por ano, passando a 129.440 em 2006. Assumindo que as estruturas demográficas dos domicílios
desses trabalhadores equivalem, em média, às dos camponeses e, portanto, a relação número de
trabalhador equivalentes/número de membros da família é a mesma, é possível ter uma estimativa
acurada do número de domicílios que representam e a Renda Líquida que auferem. O Gráfico
10.4.1-1 apresenta a evolução da Renda Líquida dos Salários – RLS per capita dos domicílios
dos trabalhadores assalariados nos estabelecimentos patronais entre os dois momentos censitários
e apresenta, na segunda parte, o número de domicílios (estimados) e as proporções no total de
trabalhadores em cada situação.

313
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 10.4.1-1 – Renda Média Per Capita Mensal das Famílias dos Assalariados dos
Estabelecimentos Patronais por Condição Reprodutiva, 1995 e 2006, R$ de 2009

1800 35.000,00 90,00%


32.681
1600 R$ 1.604,80
30.000,00 80,00%
77%
1400 70,00%
25.000,00
1200 56%
60,00%
R$ de 2009

1000 20.000,00 50,00%


16.856
800 15.000,00 38% 40,00%
600 11.242 30,00%
R$ 571,03 10.000,00
400 R$ 244,33 R$ 370 18% 20,00%
R$ 152,47 6%
R$ 309 5.000,00 7.455 2.584 10,00%
200 6% 1.806
R$ 260,02 R$ 18,21 0,00 0,00%
0
Acima da Média Remediado Sob Risco
Acima da Média Remediado Sob Risco Média
Quantidade Estabelecimentos 1995 Quantidade Estabelecimentos 2006
Renda Per Capita 1995 Renda Per Capita 2006 Média do Salário 1995 Média do Salário 2006 % do Total de Trabalhadores Assalariados 1995 % do Total de Trabalhadores Assalariados 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

A destacar, também aqui, a prevalência da tendência, já anotada, de polarização


aguda na renda. Enquanto a RLS per capita dos domicílios Acima da Média triplica e a
dos Remediados praticamente se mantém, a dos domicílios Sob Risco decresce de modo
importante. Por seu turno, o número de domicílios cai de 11,2 para 7,5 mil (de 38% para 18%
dos trabalhadores) na melhor situação, de 16,8 para 2,6 na situação intermediária. Na situação
Sob Risco, ao contrário, explode a frequência de 1,8 para 32,6 mil domicílios (de 6% para 77%
dos trabalhadores em questão). Justapondo esse quadro contra a linha de pobreza verifica-se
que os domicílios Acima da Média e Remediados estariam em torno e acima, os Sob Risco
abaixo da linha de pobreza.

10.4.2 Situação reprodutiva de domicílios dos assalariados e as trajetórias patronais

Dos 129 mil assalariados nos estabelecimentos patronais, 79,6% se encontrava Sob Risco,
14,6% Acima da Média e 5,7% Remediado. Dos Sob Risco, 49,2% encontrava-se, em 2006, na T4
e 28,9% na T7 (conf. Tabela 10.4.2-1). Em termos locacionais, esses estabelecimentos-domicílios
sob risco se distribuem concentradamente na Madeira-Mamoré (32%), no Sudeste Paraense
(29%), na Ocidental do Tocantins (13%), no Nordeste Paraense (3%) e no Leste Rondoniense
(5%), que juntos representam 80% do total (ver Gráfico 10.4.2-1).

314
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Tabela 10.4.2-1 - Situação Reprodutiva dos Assalariados por Trajetórias Tecnológica Patronais
Assalariados Acima da Média Remediado Sob Risco Total
PatronalT4 6.518,29 3.190,23 64.371,41 74.079,93
PatronalT5 5.463,16 2.289,88 1.328,65 9.081,68
PatronalT7 6.979,47 1.928,72 37.370,24 46.278,43
Total 18.960,92 7.408,83 103.070,30 129.440,04
% do Total
PatronalT4 5,0% 2,5% 49,7% 57,2%
PatronalT5 4,2% 1,8% 1,0% 7,0%
PatronalT7 5,4% 1,5% 28,9% 35,8%
Total 14,6% 5,7% 79,6% 100,0%
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

Gráfico 10.4.2-1 – Distribuição dos Assalariados nas Mesorregião por Situação Reprodutiva

35.000

30.000

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

So m a d
0

b edi a M
R im
e
R ad é
A
Sudoeste Amazonense
Metropolitana de Belém
Centro Amazonense
Leste Rondoniense

Sudoeste Paraense

Vale do Acre

Norte de Roraima

is o d
Oriental do Tocantins
Nordeste Paraense
Sudeste Paraense

Sul de Roraima
Madeira-Guaporé

Baixo Amazonas

Norte do Amapá
Ocidental do Tocantins

Sul Amazonense
Sul do Amapá
Vale do Juruá
Marajó

co ia
Acima da Média Remediado Sob Risco

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 e 2006. Tabulações especiais do autor, de acordo com metodologia em anexo.

10.5 Dinâmica rural e as possibilidade de desenvolvimento sustentável e inclusivo:


indicações programáticas

Entre os Censos de 1995 e 2006, a RLPpc/mês média dos, respectivamente, 411.290 e


422.919 estabelecimentos camponeses cresceu em torno de 11% a preços constantes de 2009,
de R$ 155,62 para R$ 172,67 reais. Tais estabelecimentos são a base produtiva sobre a qual se
reproduzem domicílios que abrigavam, nos mesmos anos, respectivamente, 2.015.927 e 1.899.746
de pessoas.
315
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

A variação foi muito diferente entre as diversas situações reprodutivas: para os Acima da
Média, a renda per capita multiplicou por 3,2, de R$ 202,9 para R$ 652,8; para os Remediados, o
incremento foi de 70%, atingindo valor de R$ 174,82; os Sob Risco, por seu turno, reduziram em
30% a RLPpc per capita, baixando a R$ 31,49.
O movimento implicou ampla superação da linha de pobreza por ¼ dos camponeses,
a par de uma forte polarização da situação reprodutiva. Considerando toda a RLE, que inclui
salários fora do estabelecimento e transferências, o grupo Acima da Média alcança o quádruplo
da renda que delimita a fronteira da pobreza. Para o grupo Remediado a RLE se iguala a linha
de referência da pobreza. De modo que 37% dos 1.279.421 trabalhadores camponeses e suas
famílias encontravam-se, em 2006, em situação igual ou acima da linha de pobreza, quando em
1995 o grupo sob tal designação se encontrava abaixo disso. Não obstante, o movimento se fez
configurando uma polaridade dado que, no último ano, 63% encontrava-se Sob Risco reprodutivo,
a condição que abriga a pobreza rural na Região; um aspecto notável do processo, eis que em
1995 os que se encontravam nesse patamar não passavam de 5% do total.
A dinâmica que resultou na polaridade divisada se fez por intensa movimentação dos
estabelecimentos-domicílios camponeses entre as situações reprodutivas. Em 2006, havia cinco
conjuntos de estabelecimentos, revelando situações aparentemente estáveis, positivas e negativas,
e grupos que se deslocaram entre as diversas situações. Há grandes e fundamentais diferenças na
eficiência da aplicação dos recursos internos aos estabelecimentos entre os diversos conjuntos,
explicando a hierarquia verificada entre eles no que se refere à Renda Líquida da Produção e seus
rebatimentos sobre carência e pobreza.
A Trajetória-Camponesa.T2 foi a única a apresentar saldo positivo entre as saídas e
entradas na condição Acima da Média entre os anos de 1995 e 2006. Parte do mesmo processo, a
T2 é a única que apresenta saldo negativo na situação Sob Risco. É extraordinária a performance
positiva da T2 no processo de transferência de estabelecimentos camponeses do grupo em situação
Sob Risco, que abriga dominantemente os domicílios em condição de pobreza, para o grupo em
situação Acima da Média – no qual se contabilizam os domicílios provavelmente não pobres. Tal
verificação tem implicações estratégicas que se deve salientar. Em particular, se deve indicar ao
planejamento do desenvolvimento endógeno e sustentável, por suposto, inclusivo, que se enfatize
a formação de conhecimento orientado à T2, cujo acervo de conhecimento laboratorial, como
verificamos no capítulo 7, é incipiente; que se ajuste a política de crédito às necessidades da T2;
que se estabeleça uma assistência técnica para as necessidades tecnológicas e mercantis da T2;
estudos e ações para promover o mercado de serviços ambientais associados às características
dos sistemas camponeses diversos e permanentes. Enfm, que se dê a densidade institucional que
a trajetória carece para avançar em sua performance.
Explica a performance positiva da T2, um dinâmico processo de industrialização de
seus produtos – com efeitos de transferência de renda para o setor rural. Daí que se deve
apontar ao planejamento do desenvolvimento endógeno e sustentável programa de C&T
orientado ao aproveitamento dos produtos da T2; assistência creditícia às indústrias ligadas
316
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

à T2; assistência técnica para as necessidades tecnológicas e mercadológicas das indústrias


ligadas à T2.
As trajetórias T1 e T3 apresentam saldos inversos à T1: tornam-se menos presentes na
situação superior e aumentam a frequência na situação inferior. Nesse sentido, às suas dinâmicas
deve-se o crescimento do número de estabelecimentos Sob Risco, com probabilidade de
aportarem a condição de pobres. Os problemas dessas trajetórias parecem ser, principalmente, de
ordem técnica: suas perspectivas de especialização reduzem as capacidades respectivas de gerir
adequadamente os fundamentos naturais da produção; especializados, os estabelecimentos tornam-
se mais vulneráveis às flutuações de mercado, experimentando crises, tanto mais recorrentes e
profundas, quanto maior a simplificação atingida. Recomenda-se enfaticamente ao planejamento
do desenvolvimento endógeno e sustentável, programa de C&T agropecuária para acrescer o
portfólio de sistemas produtivos agrícolas, emprestando-lhes maior grau de diversisdade;
desenvolvimento e transferência de técnicas de gestão baseada em intensificação policultural;
estudos e ações para promover o mercado de serviços ambientais associados às características dos
sistemas camponeses diversos e permanentes.
Os estabelecimentos, mesmo aqueles Sob Risco, os que correspondem a domicílios mais
próximos à condição de pobreza, se mostram dispostos a mudar – e, no investimento e na mudança
parece estar o cominho para minorar os riscos da transposição à linha da pobreza. De modo
que, precisamente na condição Sob Risco, em todas as trajetórias, encontramos as maiores taxas
de investimento.Verificou-se, ademais, que na condição Sob Risco, não apenas há um esforço,
digamos, desesperado, de mudar, como essa disposição cresceu entre os censos. O planejamento
do desenvolvimento endógeno e sustentável, por suposto, inclusivo, ao considerar uma política
para minimizar a pobreza em contexto de desenvolvimento sustentável deve tirar proveito disso,
na medida em que desenvolva e acione mecanismos (de crédito, de conhecimento, de relações
mercadológicas) compatíveis com as características camponesas ajustadas às diversas trajetórias.
Não obstante, a política de crédito mostra incontornável viés em favor da especialização em curso,
em particular pela pecuária, de leite ou de corte. Prosseguir nesse rumo, entretanto, é avançar no
trajeto que, em última instância, tem elevado à instabilidade e ampliado o risco de crises, de base
ecológica, dos sistemas camponeses. É precisamente por essa via, pois, que se têm estreitado os
nexos que podem vir a tornar verdadeira a correlação entre pobreza e devastação.
Demonstrou-se, por outro lado, uma polaridade entre assalariados rurais: a RLS per
capita dos domicílios Acima da Média triplica, a dos Remediados se mantém e a dos domicílios
Sob Risco cai. Por seu turno, o número de domicílios cai de 11,2 para 7,5 mil (de 38% para 18%
dos trabalhadores) na melhor situação, de 16,8 para 2,6 na situação intermediária e, na situação
Sob Risco, a frequência vai de 1,8 para 32,6 mil domicílios. Isso aponta para o fato de que as
condições de trabalho assalariado nos estabelecimentos patronais na Amazônia piorou entre os
Censos. Indica-se ao planejamento do desenvolvimento endógeno e sustentável que se avance
no validação da institucionalidade formal da relação trabalhista, expandindo a erradicação de
sistemas de compulsão da força de trabalho que perduram na região.
317
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Capítulo 11
Trajetórias tecnológicas, Sistemas Agrários e Arranjos
Produtivos Locais: o apl de Processamento de Frutas da
Região Polarizada por Belém

A região do Nordeste Paraense, a região Metropolitana de Belém e a ilha de Marajó


integram uma área de colonização antiga da Amazônia que se caracteriza por manter um padrão
alimentar com forte presença de recursos da natureza originária, com destaque para as frutas de
ocorrência espontânea na floresta. Associado a isso, tem se desenvolvido ali uma capacidade
de processamento de frutas com raízes históricas e culturais profundas, com base em estruturas
produtivas de escala micro – milhares de pequenos produtores informais de polpa de frutas, os
quais, utilizando dominantemente o trabalho familiar e processando matérias-primas obtidas em
bases extrativistas, organizam-se para atender as demandas locais, delimitadas pelas populações
de um bairro ou, mesmo, um quarteirão. Por outro lado, desde os anos setenta, verificam-se
experiências pontuais de processamento de frutas com base em plantas industriais de larga escala,
geralmente visando atender demandas dos mercados nacional e internacional, industrializando
frutas de espécies exóticas oriundas de plantios homogêneos.
No primeiro caso, a contenção da demanda nos marcos estritamente regionais manteve
um ajuste duradouro entre a produção e sua base natural, dado que um produto de base extrativa
tem, por suposto, limitações de oferta – sua expansão estaria definida pela escala das ocorrências
naturais, que a torna tanto mais inelástica, quanto mais sua dimensão avizinhe-se dos limites da
disponibilidade. Já o acelerado crescimento das populações urbanas das regiões de colonização
antiga do Pará, onde se inclui Belém e sua área metropolitana, tenderia a expor esses limites,
considerada a permanência dos hábitos alimentares tradicionais. Registrar-se-ia uma tensão
entre demanda crescente e oferta limitada às disponibilidades naturais, restrita a ocorrências
espontâneas.
Por sua vez, a agroindustrialização em grande escala, com vistas a demandas consolidadas
em mercados amplos, porém altamente exigentes e competitivos, com destaque para as barreiras
do mercado mundial, tem experimentado dificuldades em estabelecer as bases agrícolas de que
depende. Isso porque, há obstáculos de peso à produção agrícola homogênea na Amazônia. As
restrições são amplamente conhecidas: a pluviometria elevada, as altas temperaturas e os solos
pobres tornam as monoculturas altamente vulneráveis, tanto por aspectos de nutrição, quanto
pelo fácil surgimento e proliferação de doenças e pragas (Costa, 2000). A diversidade parece
ser a chave para uma produção agrícola sustentável na região, e a fruticultura tem se mostrado
uma base importante de diversificação, sobretudo da agricultura em bases familiares, estrutura
amplamente presente no Nordeste Paraense (Costa e Andrade 2003a b c d e; Santana e Amin,
2002). Trata-se sobretudo das trajetórias Camponesa.T1 e Camponesa.T2, como se viu, vigorosas
no sistema agrário do Nordeste Paraense.
318
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Ao que parece, a agroindustrialização tem sofrido reveses nessas áreas por força de uma
incompatibilidade entre o lugar das frutas nas estratégias de diversificação da produção familiar rural
nessas trajetórias, que lá se verifica há tempos (Costa, 2000a), e a inflexibilidade das plantas industriais,
criando dificuldades estruturais que boicotam as relações entre os produtores agrícolas e empresas
industriais: a diversificação levada a efeito em nível micro, para garantir estabilidade agronômica e
econômica de cada estabelecimento, cria dificuldades de organização da produção na formação dos
volumes necessários às escalas que alçariam as empresas industriais para além dos respectivos break
even points. Por seu turno, as empresas industriais tentam compatibilizar suas elevadas escalas e os
elevados níveis de especialização, privilegiando contratos com produtores maiores e especializados.
De modo que, ao final, a grande produção agrícola diversificada não logra acesso à agroindústria
que, com a relativamente pequena produção conjunta de grandes estabelecimento especializados, não
alcança escala sustentável. Ademais, a produção rural concentrada e homogênea tende a apresentar
produtividade rapidamente decrescente, agravando as dificuldades.
Tem se firmado, assim, a impressão de que o potencial de industrialização, associado ao
processamento de frutas, tem limites graves nas condições da produção rural. Tanto uma trajetória
endógena, que se baseasse na afirmação de produtos locais em mercados nacionais e internacionais,
quanto a fundada no atendimento local de necessidades exógenas veem contestado o potencial de
formação de produtividade crescente nos aglomerados urbanos a que se integram pelas condições
que a natureza peculiar da região impõe ao conjunto do processo produtivo. Na perspectiva das
teorias do desenvolvimento, que discutimos no capítulo 8, ter-se-ia, nesse contexto, a capacidade dos
setores industriais, produtores e dependentes de efeitos de aglomerações, de garantirem rendimentos
crescentes, base do investimento para a mudança, sendo decisivamente limitada pela produtividade
dos setores sujeitos às determinações da natureza. Neste capítulo problematizaremos essa questão
com na configuração urbano-rural caracterizada pelo arranjo produtivo local de processamento de
polpa de frutas do Nordeste Paraense e Região Metropolitana de Belém. Trata-se de aglomeração
constituída pelas trajetórias tecnológicas T1, T2 e T3 e constituinte de trajetória tecnologica que
orienta a industrialização de frutas no país.

11.1 O APLFrutas-NePa

Em pesquisa realizada em 2003 (Costa, Andrade, Fiock, 2005), expusemos a existência


de um outro tipo de estruturação industrial diferente das estruturas de processamento de frutas
aqui mencionadas: uma com características tradicional e informal e a outra formal e de grande
porte, voltada, contudo, exclusivamente para mercados externos. Caracterizado por se formar
por empresas formalmente constituídas, maiores que os pontos tradicionais de obtenção de polpa
de açaí, porém dominantemente pequenas, processando produtos exóticos e regionais, tanto de
base agrícola quanto extrativa, com capacidade produtiva em crescimento, esse arranjo emergente
volta-se predominantemente para o abastecimento dos mercados locais e regionais do País.
319
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tomando a Relação de Estabelecimentos, do Sistema Integrado de Produtos e


Estabelecimentos, do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, as empresas listadas da região
Metropolitana de Belém, do Nordeste Paraense e da região do Marajó somavam 33 empresas
multiproduto e 37 uniproduto. Excluímos então: a) as empresas com as quais não foi possível
contato – pressupostamente inexistentes, ou inoperantes temporariamente e b) as empresas
existentes, porém com função estritamente comercial (a exemplo dos supermercados com licença
para processamento de frutas). Chegamos então a 35 empresas, por incompatibilidade de agenda
não conseguimos entrevistar 5, restando uma amostra de 30 empresas. Na entrevista, constatou-
se que uma dela s estava ainda em fase de estruturação de seu parque industrial, sendo por isso,
retirada da amostra.
Das 29 empresas consideradas na amostra, para as quais, entre outubro e novembro de 2003,
foi aplicado o formulário padrão da Rede de Pesquisa em Arranjos e Sistemas Produtivos Locais
(RedeSist), da Universidade Fedral do Rio de Janeiro (UFRJ) acrescido de alguns campos que
permitissem enunciados mais precisos sobre custos e receitas, 14 eram micro com até 19 empregados
e 15 pequenas com até 99 empregados. Não se constataram médias e grandes empresas, considerados
os estratos da RedeSist. Um conjunto de 7 empresas vendeu, em 2002, quase que exclusivamente
para o mercado local e estadual, representando 21% do total da produção do conjunto das empresas
analisadas. As outras 20 empresas restantes venderam primordialmente para as demais regiões do
Brasil, o que correspondeu a 75% do total da produção das empresas pesquisadas. Os demais 4% da
produção se destinou ao mercado externo.
Quanto ao tipo de produto, 18 empresas analisadas são especializadas unicamente na produção
de polpa de açaí, produzindo três padrões: popular, médio e especial. Outras 6 empresas produzem
mix liderados por polpa de açaí, incluindo produtos tipicamente regionais como polpa de cupuaçu,
de bacuri, de taperebá e de muruci, e de produtos agrícolas ditos exóticos como acerola, abacaxi,
caju, cacau, goiaba, graviola e maracujá. Duas empresas produzem polpa da maioria desses produtos,
inclusive do açaí, sem que este seja o líder do negócio; outras 2 empresas produzem combinações
variadas desses mesmos produtos sem incluir o açaí e apenas uma empresa produz exclusivamente
polpa de acerola. Nesse conjunto de empresas deteve-se a pesquisa. A ele nos referiremos como
Arranjo Produtivo de Processamento de Frutas Regionais do Nordeste Paraense – APL Frutas-NePa.
Sua relevância acadêmica e prática queda óbvia: ele pode indicar os rumos de uma agroindustrialização
que dê à produção rural, diversificada e de base permanente, precondições de sustentabilidade impostas
pelas características edafoclimáticas da região e novas possibilidades, garantindo-lhe fundamentos
mais amplos e mais dinâmicos.

11.1.1 Forma de sociedade e origem do capital

Das 29 empresas analisadas, 18, ou 62% delas, são firmas de sociedade limitada. Firmas
individuais são cinco (17%), cooperativas de produtores rurais, 4 (14%) e apenas duas empresas
(7%) são sociedades anônimas.
320
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Não há empresas integradas a grupos ou corporações – todas são independentes, com, em


média, 89,7% dos respectivos capitais de origem local. Um perfil absolutamente regional.
No primeiro ano de vida das microempresas, cerca de 84,1% do capital provinha dos
sócios proprietários, 12,1% foram captados de amigos e parentes e apenas 3,8% emprestados
de instituições financeiras. Nas pequenas empresas, houve um acesso maior a fontes formais
de financiamento, uma vez que 20,5% dos recursos foram captados em instituições financeiras.
Há de se ressaltar que, no período compreendido entre a fundação e o ano de 2002, 58,6% das
empresas tomaram alguma forma de empréstimo, seja de curto ou longo prazo, na maioria, em
bancos oficiais. No ano de 2002, há uma sensível recomposição dos capitais das empresas com
a recuperação pelos sócios de parte dos capitais oriundos de empréstimos. Nas microempresas,
os proprietários passaram para uma posição de 96,4%, e, nas pequenas, de 88,1% do capital
integralizado.

11.1.2 O tempo de formação do APLFrutas-NePa

A implantação das empresas tem uma cronologia de dois tempos. Em uma primeira fase,
a fundação de duas das cooperativas marcam pontos isolados no tempo: a Cooperativa Agrícola
Mista de Tomé-Açu – CAMTA, que surge em 1949, no município de Tomé-Açu, no Nordeste
Paraense, e a Cooperativa Agrícola Mista Amazônica Ltda. – COOPAMA, que se forma em 1977
no município de Castanhal, na mesorregião Metropolitana de Belém (Gráfico 11.1.2-1).

Gráfico 11.1.2-1 – Evolução da implantação das empresas da amostra

7 35
6 30
5 25
4 20
3 15
2 10
1 5
- -
...

...
1949

1977

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

Empresas Implantadas no ano Total de empresas

Fonte: Pesquisa de campo

321
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Na segunda fase, já nos anos noventa, surgem rapidamente unidades produtivas. A partir
de 1993, em todos os anos, instalaram-se indústrias processadoras de frutas na região pesquisada,
destacando-se os anos de 1997, 1999 e 2001. Neste último ano, entre as seis indústrias instaladas,
duas cooperativas: a Cooperativa Agroindustrial de Trabalhadores e Produtores Rurais de Igarapé-
Miri – COOPFRUT e a Cooperativa dos Fruticultores de Abaetetuba – COFRUTA.
Se fizermos o exercício de distribuir a capacidade total instalada em 2003, pelos anos
de fundação e pelo número total de empresas existentes em cada ano, teremos uma aproximação
de como se deu a evolução da implantação do APL FRUTAS-NePa. Da década de setenta até
o ano de 1993, foi mantida a capacidade instalada em torno de 6.340 ton. Entre 1993 a 1995
a taxa anual média de crescimento foi de 3,87%, chegando a 6.840 ton. De 1995 em diante, a
capacidade instalada cresce continuamente, porém em ritmo menor do que o número de empresas,
de modo que o tamanho delas diminui até o final da década – passando de 1.368 ton. para 1.252
ton. A partir do ano de 2000, tem-se crescimento acelerado da capacidade instalada, ao ponto do
tamanho médio das empresas se elevar até atingir 1.850 ton. A taxa média de crescimento anual
da capacidade instalada entre 1995 a 2003 foi de impressionantes 27,31%.

11.1.2 O espaço do APLFrutas-NePa

Da totalidade das empresas analisadas que compõe o APL, 67% delas se concentram
na mesorregião Metropolitana de Belém; outras 27%, no Nordeste Paraense e apenas 6% das
empresas da amostra localizam-se no Marajó. Na primeira mesorregião, as empresas localizam-
se nos municípios de Belém (com 9 empresas instaladas), no município de Castanhal (com 6
empresas), de Ananindeua (com 2 empresas) e os municípios de Santa Bárbara do Pará e Santa
Izabel do Pará (cada um com 1 empresa instalada).
No Nordeste Paraense, destacam-se os municípios de Tomé-Açu (com 3 empresas),
Igarapé-Miri (com 2 empresas) e os municípios de Abaetetuba, Igarapé-Açu e São Francisco do
Pará (cada um com 1 empresa instalada). No Marajó, as empresas localizam-se nos municípios
de Muaná e São Sebastião da Boa Vista. O total da capacidade instalada das empresas localizadas
na mesorregião Metropolitana de Belém é de 35.010 t/ano, correspondendo a 65,25% do total da
capacidade do APL. O Nordeste Paraense responde por 33,22%, ou 17.826 t/ano, e o Marajó por
1,53%, 820 t/ano, respectivamente, da capacidade total de 53.656 t/ano.

11.2. Formação e evolução

A produção de polpa de frutas no APL foi, em 2002, de 8.815 t e, em 2003, de 12.488 t, com
faturamento aproximado de R$ 16.406.288 e R$ 21.538.282, respectivamente. A primeira observação
a fazer seria quanto às elevadíssimas taxas de incremento representadas por tais evoluções: 41,67%
no volume produzido de polpa de frutas e de 31,28% no faturamento. A segunda observação cabível
322
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

seria quanto ao desequilíbrio entre a taxa de expansão da produção e a do faturamento, a primeira 10


pontos percentuais acima da última. Isso pode significar que o APL, mesmo estando em formação e
com amplo espaço de mercado, já evolui sob o peso da rentabilidade decrescente.
O tipo de empresa que mais cresceu em volume de produção foi a empresa individual
de dimensões micro, com expansão elevadíssima de 282% entre 2002 e 2003. Tal dinâmica na
produção física correspondeu, contudo, a uma expansão no faturamento de 175% - mais de 100
pontos percentuais de desequilíbrio, indicando uma queda importante de rentabilidade nesse
grupo. As empresas de sociedade limitada acusam, também, certo desbalanço, apresentando, as
maiores, 27 pontos percentuais de diferença e, as menores, 5 pontos percentuais. Indicam por sua
vez rentabilidade crescente as empresas individuais de maior porte, dado que aumentam 33% da
produção e 41% do faturamento. As cooperativas apresentam também desequilíbrio positivo em
torno de 2 pontos percentuais.
O movimento implicou provável recomposição das participações relativas no total
de faturamento, com uma ampliação agressiva das empresas individuais menores, que teriam
multiplicado em quatro o seu market share, passando de 1% para 4% do faturamento. As empresas
maiores, de sociedade limitada, também teriam aumentado significativamente sua participação,
saindo de 20,32 para cerca de 30%. Os demais grupos de empresas apresentaram ou estabilidade
ou decréscimo na participação do mercado (conf. Gráfico 11.2-1). Indicariam tais elementos uma
situação de mercado em que há uma concorrência predatória entre microempresas individuais e
pequenas empresas de sociedade limitada com as demais, de modo que os desequilíbrios entre
expansão da quantidade vendida e do faturamento indicam agressivo uso da redução do preço de
venda como estratégia competitiva?

Gráfico 11.2-1 Market share dos diversos tipos e tamanhos das empresas do APL Frutas-NePa (%
do faturamento globa)
40,00%
35,00%
30,00%
25,00% 2002
20,00% 2003
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Soc. Limitada
Individual

Individual

Empresa Soc.

Cooperativas

Sociedades
Anônimas
Empresa

Empresa
Pequena

Limitada
Micro

Pequena

Empresa
Micro

Fonte: Pesquisa de campo. Notas: 1. Nas empresas em que não obtivemos dados para o ano de 2003, consideramos
variação igual a zero. Isso aconteceu com 02 cooperativas, uma micro e outra pequena; com 01 microempresa individual;
com 02 microempresas limitadas e 02 pequenas limitadas.

323
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

11.3. Concorrência e competitividade

Observando estritamente o que responderam as empresas pesquisadas, os principais fatores


a influenciar a capacidade competitiva no APL – e, nesse sentido, de explicar as performances
de expansão dimensionadas no item anterior – são, pela ordem, a qualidade da matéria-prima e
do produto final, seguidos pela qualidade da mão-de-obra; pela estratégia de comercialização do
produto; pela capacidade de atendimento aos clientes e de introdução de novos produtos. Esses
fatores parecem estar determinando as estratégias competitivas das empresas do APLFrutas-
NePa, que declaram uma preocupação crescente em selecionar seus fornecedores de matéria-
prima e melhorar suas práticas de seleção e lavagem dos frutos, buscando também melhorias dos
processos produtivos e capacitação da mão-de-obra, tudo com vista à qualidade do produto final.
Com base no mesmo princípio e orientadas pelo conhecimento de que no processamento de
frutas para fins alimentares a rapidez no processamento e congelamento das polpas e a melhoria nos
processos de produção, embalagem, transporte e armazenamento irão reduzir as possibilidades de
deterioração do produto, as empresas garantem estar, estrategicamente, aumentando seus prazos de
validade e garantindo melhores condições de comercialização. A ênfase na qualidade do produto, como
fundamento das estratégias competitivas vigentes, seria coerente com o movimento que aproxima as
fábricas processadoras das fontes de matéria-prima. Esse movimento se faz tanto física (instalações
de indústrias no hinterland) quanto contratualmente, visando tanto reduzir o tempo entre a colheita
do fruto e o processamento da polpa, como reduzir as etapas de intermediação e criar poder de ditar
condições que visem a qualidade de entrega. Em ambos os casos, reduzem-se custos de transação,
além de garantir um produto final de melhor qualidade.
Coerente com o mesmo princípio seria a estratégia de comercialização, mencionada
por algumas empresas, de estabelecer padrões para seus produtos (no caso da polpa integral
congelada), de tal modo que se garanta a manutenção das propriedades nutricionais das frutas,
garantindo-lhes melhores níveis na composição dos elementos sólidos. Informam, também, adotar
melhores padrões de embalagem buscando, assim, evitar a rápida ação dos micro-organismos.
Munidas de produtos com maior qualidade nutricional e fitossanitária, tais empresas
passaram a buscar novos mercados, a exemplo dos de Goiás, Belo Horizonte, Santa Catarina,
Bahia e Ceará, fundamento efetivo da ampliação de seus market shares.
Até aqui, nenhuma menção a formas menos nobres de concorrência. Nesse ponto do thriller,
entretanto, torna-se evidente a existência de outra estratégia não captada pela entrevista fechada,
mas recorrentemente mencionada como contraponto ao caminho da qualidade e diferenciação que
dominantemente se declara: a estratégia da participação no mercado por redução do preço, a qualquer
custo. A menção recorrente é de que se faz uma concorrência espúria e desleal em alguns mercados,
em que vigoram negociações com base em menores preços resultantes de práticas ilícitas, como maior
adição de água e menor composição dos sólidos naturais da fruta. O exemplo mais citado desse tipo
de concorrência predatória é o que teria se verificado no mercado de açaí que se estabeleceu no Rio de
Janeiro, a partir de meados dos anos 90.
324
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Voltamos então, à pergunta que levou a essa digressão: indicariam tais elementos uma
situação de mercado em que há uma concorrência predatória entre microempresas individuais e
pequenas empresas de sociedade limitada com as demais, de modo que os desequilíbrios entre
expansão da quantidade vendida e do faturamento, já detectados, indicam agressivo uso da redução
do preço de venda como estratégia competitiva? Difícil responder conclusivamente. É possível,
todavia formular uma hipótese a ser testada por pesquisas posteriores. Há empresas, micro e
pequenas, individuais e de sociedade limitada, em proporções no momento difícil de precisar,
que se lançam no mercado apoiadas dominantemente em sua disposição em aceitar preços que,
em si, comprometeriam a rentabilidade das empresas que não estão dispostas a correrem o risco
inerente à venda de produto de má qualidade. As primeiras, apoiadas nas margens de lucro médio
ainda elevadas permitidas pelo mercado em ascensão, estreitam as margens das últimas, cujos
procedimentos associam-se, quase sempre, a custos de produção e de transação relativamente
mais elevados, e, ampliando o market share, comprometem a rentabilidade e consolidação do
conjunto. Este seria um problema para a consolidação do APLFrutas-NePa, na medida em que
compromete a capacidade de acumulação do conjunto e, portanto, reduz o seu poder de garantir os
pressupostos necessários ao investimento produtivo e inovativo, acabando por inibir a criação de
eficiências coletivas por processos de aprendizagem e difusão dos conhecimentos, por bloquear os
investimentos em novos processos produtivos, o desenvolvimento de novos produtos, e aquisição
de novas máquinas e equipamentos, embalagem e o treinamento e qualificação da mão-de-obra.

11.3.1 Capacidade instalada, capaciade utilizada e capacidade ociosa

No ano de 2003, a capacidade instalada total do conjunto das empresas era de 53,6 mil
toneladas, quando fora 45,4 mil em 2002. Considerados os já mencionados valores da produção
total de polpa, 8.815 t em 2002 e 12.488 t no ano seguinte, chega-se a um grau de utilização
da capacidade de, respectivamente, 19 e 23% - uma capacidade ociosa elevada, não obstante
decrescente: em 2002 ela foi de 81% e, no ano seguinte, de 77%. A capacidade instalada distribuiu-
se, em 2003, por Belém (39%), Igarapé-Miri (22%), Castanhal (14%), Tomé-Açu (10%), Santa
Bárbara do Pará (6%), Santa Isabel e Ananindeua (3% cada). As instalações de Abaetetuba, São
Francisco do Pará e Igarapé-Açu representam menos de 1% cada da capacidade total instalada, o
mesmo em Muaná e São Sebastião da Boa Vista, no Marajó.
O nível de utilização das plantas tem sido também diferente nesses lugares: as mais baixas
em Igarapé-Miri (10%, capacidade ociosa 90%), Santa Bárbara (17%, ociosidade em 83%), Belém e
Castanhal (20%, ociosas em 80% cada), São Sebastião (30%, ociosa em 70%) e Santa Isabel (43%,
ociosa em 57%); as mais altas são, por seu turno, Abaetetuba (100%), Igarapé-Açu (67%, ociosa em
33%), Ananindeua (62%, ociosa em 38%), São Francisco (52% - ociosa em 48%), Muaná (50%,
ociosa em 50%) e Tomé-Açu (47%, ociosa em 53%). Em linhas gerais, as empresas localizadas
em Belém e seu entorno situam-se nos maiores níveis de capacidade ociosa das plantas e as que
atuam no hinterland, nos menores níveis, com três exceções à regra: Igarapé-Miri e São Sebastião
325
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

da Boa Vista, ambas situadas no hinterland, apresentam altíssima capacidade ociosa e Ananindeua,
pertencente a grande Belém, situa-se entre os menores níveis de capacidade ociosa.
Tamanha capacidade ociosa parece não implicar, contudo, crise de rentabilidade. Quando
perguntados a respeito, 14% dos empresários responderam ter taxas de lucro sobre os custos
totais superiores a 20%, 10% deles responderam entre 15 e 20%, 24% entre 10 e 15% e 35% têm
lucratividade entre 5 e 10%. Apenas uma única empresa (3%) mencionou lucro abaixo de 5%
dos custos totais. Por outra parte, 4 empresas não responderam – o que nos faz presumir lucros
positivos e, possivelmente, altos. De modo que não se alega crise.
A ocorrência de capacidade ociosa constitui, de qualquer modo, um problema porque
implica produtividade abaixo do possível e formação subótima de valor adicionado: lucros e salários.
Indagados sobre suas causas, nenhum dos empresários entendeu que o problema estaria na
demanda dos produtos do APL e apenas três viram na concorrência de outras empresas, alegadamente
as do setor informal, fundamento para o problema; no outro extremo, 27 empresários entenderam
ser a escassez de matéria-prima a razão fundamental da ociosidade de suas empresas, agravada pela
falta de capital de giro (indicada por 10 empresários), pelo limite da capacidade de armazenamento
(com 6 respostas) e pelo alto custo da produção (lembrado em 4 respostas). Esse conjunto de
respostas nos dá um roteiro para uma investigação orientada pelas seguintes perguntas-chave: Há
escassez de matéria-prima? Há, associada a isso, uma apreciação do custo de produção? Constitui,
a falta de capital de giro, um problema? Enfim: em que medida as trajetórias constituintes influem
com suas características o APL? Em que medida ele é influenciado pelo ambiente institucional?

11.3.2 A oferta de matéria-prima do APLFrutas-NePa

Pelas respostas dos empresários, estar-se-ia diante de um APL que, não obstante sua
emergência, já se confronta com uma crise de abastecimento associada ao setor rural. Repetir-
se-iam, aqui, as razões que levaram à falência experiências anteriores de agroindustrialização na
região? Vejamos isso com mais precisão.
Ficou estabelecido até aqui, que a capacidade de processamento de frutas associada ao
conjunto de empresas em estudo vem se formando rapidamente desde a primeira metade dos anos
noventa. Carro chefe da produção, as polpas de açaí representavam, em 2002, 68% do total de
polpas produzidas pelo APL, crescendo para 77% no ano seguinte. De 63%, a participação do açaí
no faturamento total atinge 71% em 2003, o que o coloca como o fundamento principal a explicar
se há limitações de sustentabilidade associadas aos limites de oferta do setor rural no arranjo.
Precisemos esta questão.

A evolução da oferta do açaí

De 1996 a 2001, a produção total de açaí do Estado do Pará tem crescido a uma taxa de
6% a.a., saindo de 189, no primeiro ano, para 423 mil toneladas no último. Um crescimento muito
326
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

acelerado, na base do qual se verificam dinâmicas regionais muito diferentes, pois se baseiam em
reordenamentos produtivos expressos tanto em mudanças no ritmo e intensidade da exploração do açaí
extrativo, quanto na alteração dos fundamentos produtivos , uma vez que a produção agrícola tende a
ganhar cada vez mais espaço em processo claro em que as trajetórias tecnológicas T1, T2 e T5, acima
discutidas, concorrem entre si.
Em síntese, observando a Tabela 11.3.2-1, podemos depreender que: 1) estruturalmente, o
acelerado ritmo de crescimento da produção total de açaí no Estado do Pará se deve mais à produção
originada de plantações (crescimento de 12,5% a.a. – conf. 12ª coluna) do que à produção extrativa
(crescimento de 3% a.a.). Precisamente, 73% da variação total explica-se pelo primeiro tipo e 27%
pelo segundo tipo de produção (conf. 11ª coluna); 2) geograficamente, a forte dinâmica se deve bem
mais às áreas tradicionais, do estuário, do que às áreas novas, fora do estuário. Com efeito, em torno
de 80% da variação total explica-se nas primeiras e apenas 18% nas últimas. 3) Detalhadamente, 57%
da variação é explicada pelos plantios de Cametá, 24% pela expansão extrativa no Marajó e 18% pelos
plantios em áreas novas (Costa e Andrade, 2003d).

Tabela 11.3.2-1 – evolução da produção extrativa, agrícola e total de açaí1, por região, 1996-2001
(em kg)
Produção Variação na Produção
Média Annual % da Taxa de
Variação variação Cres-
Extração 1996- 1999-
1996 1997 1998 1999 2000 2001 C= C -cimento
1998 2001 (B-A) ¸ Anual2
(A) (B) SC
Açaí Extrativo
Cametá 54.862 40.347 45.306 40.916 51.704 47.806 46.838 46.809 (30) -0,03% -0,06%
Marajó 49.598 86.237 94.099 100.401 104.055 106.707 76.645 103.721 27.077 23,34% 5,69%
Tomé Açu 30.354 51.556 53.539 44.997 51.937 51.937 45.150 49.624 4.474 3,86% 3,19%
Belém 4.197 945 1.149 1.005 1.361 1.330 2.097 1.232 (865) -0,75% -5,76%
Outros 5.202 5.185 9.060 9.373 5.036 5.573 6.483 6.661 178 0,15% 0,36%
Total Pará 144.213 184.270 203.153 196.692 214.094 213.354 177.212 208.046 30.834 26,58% 2,99%
Plantio
Cametá 19.861 19.861 35.068 81.665 94.443 96.306 24.930 90.805 65.875 56,79% 18,11%
Marajó 5.222 5.222 5.222 4.701 1.691 12.791 5.222 6.394 1.172 1,01% 1,24%
Tomé Açu 7.017 7.017 168 570 581 928 4.734 693 -4.041 -3,48% -18,38%
Belém 128 128 128 193 926 926 128 682 553 0,48% 22,28%
Outros 12.238 60.784 37.036 28.505 47.985 98.352 36.686 58.281 21.595 18,62% 12,44%
Total Pará 44.467 93.012 77.622 115.634 145.625 209.303 71.700 156.854 85.154 73,42% 12,50%
Total
Cametá 74.722 60.207 80.374 122.581 146.147 144.112 71.768 137.613 65.845 56,77% 8,22%
Marajó 54.820 91.459 99.321 105.102 105.746 119.498 81.867 110.115 28.249 24,35% 5,60%
Tomé Açu 37.371 58.573 53.707 45.568 52.518 52.865 49.883 50.317 433 0,37% 1,55%
Belém 4.325 1.074 1.277 1.198 2.287 2.257 2.225 1.914 (312) -0,27% -1,29%
Outros 17.441 65.969 46.096 37.878 53.021 103.925 43.169 64.941 21.772 18,77% 10,54%
Total Pará 188.679 277.282 280.775 312.326 359.719 422.657 248.912 364.900 115.988 100,0% 6,30%
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1995-96. CD-ROM. IBGE, Produção Agrícola Municipal. IBGE, Produção
Extrativa Municipal. Nota: 1 Utilizamos os valores do Censo para o ano de 1996, calculando os demais anos pelos
Números Índices da PAM e PEM, tomando 1996=100. 2 Encontradas por regressão linear, para captar melhor o efeito
das flutuações (Costa, F. de A. e Andrade, W. D. C, 2003d).
327
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

11.3.3 Evolução da produção e dos preços em nível do produtor - interação entre as cedeias de
valor e de produto associadas às trajetórias de produção de açaí

Os movimentos dos índices de produção e preços do açaí apresentados no Gráfico 4


apresentam dois momentos nítidos. A Primeira Metade dos Anos Noventa, em que a expansão
da demanda – seu crescimento na proporção em que se afirma o conhecimento e o gosto pelo
açaí em nível nacional – pressiona o preço para cima. Tal pressão exerceu-se sobre uma base
produtiva fundamentalmente extrativa e relativamente inelástica, mantendo o preço médio
oscilante, porém tendencialmente elevado. Uma análise da regressão ocorrida nessa fase (Costa
et alii, 2004) mostrou que é necessário que o preço cresça 2,6 pontos percentuais para que a
quantidade se expanda 1%.

Gráfico 11.3.3-1 - Evolução dos índices de preços pagos aos produtores, da produção extrativa e
de pantio do açaí, 1990-1996 (índices para 1996 = 100)
500

450

400

350
Números Índices

300

250

200

150

100

50

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Anos

Produção extrativa Preço Produção de plantio Produção total

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal e Produção Extrativa Municipal, vários anos.

Na Segunda Metade do Período, a produção expande-se rapidamente, impulsionada pela


resposta dos plantios. O preço, em decorrência, cai acentuadamente, estabilizando-se, porém, por
quatro anos. Parece claro que a economia do açaí se caracteriza, nessa fase, por um processo de
ajustamento entre os novos níveis da demanda e os novos níveis da produção que incorpora cada
vez mais a capacidade produtiva dos plantios. Uma análise de regressão demonstra para esse
período se a produção aumenta em 1%, o preço tenderá a diminuir em -0,18%.
328
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

A estabilidade do preço real pago ao produtor nos últimos anos indica que a produção
(oferta) está se expandindo no passo da demanda. Se estivesse acima dela o preço mostraria tendência
de queda, se estivesse abaixo, mostraria tendência de alta, o que esclarece, economicamente, o
descompasso entre o potencial de produção presumido na capacidade instalada dos plantios e a
expansão efetiva da produção que analisamos.
Estabilidade do preço do açaí e a base da rentabilidade do APL
A estabilidade do preço médio do fruto açaí pago ao produtor tem se mantido nos últimos
anos, girando, entre 1997 e 2001, em torno de R$ 0,26 por kg. Esse nível de preço é base para
afirmar o açaí como o produto do APL de maior potencial de rentabilidade.
Se entendermos como sendo um indicador razoável da capacidade de um produto
fundamentar a rentabilidade do conjunto do APL a divisão entre o faturamento obtido por ele
e o respectivo custo médio da matéria-prima, chegamos aos seguintes resultados: os três tipos
de polpa de açaí apresentam os maiores coeficientes entre faturamento e custo da matéria-prima
(variando entre 2 e 3.5) – representando os produtos com maior potencial de rentabilidade.
Excluindo os produtos do açaí, apresentam coeficientes maior que 1 a polpa de goiaba, a polpa
de acerola, a polpa de graviola e de carambola; os demais produtos, dentre os quais se incluem as
polpas de maracujá, de cupuaçu e de abacaxi apresentaram, para o ano de 2003, coeficiente menor
que 1: apresentam-se, pois, como potenciais geradores de prejuízos.
Fica evidente, assim, não haver uma escassez absoluta a explicar o fenômeno da alta
capacidade ociosa do APL. Há, sim, uma forte sazonalidade do açaí entre os meses de fevereiro
e junho. Em Belém, nesse período, a disponibilidade do produto atinge a 30% da média mensal
verificada para todo o ano. Em contrapartida, o preço se eleva até atingir em maio-junho um valor
160% acima da média anual. Em setembro, outubro, novembro e dezembro ocorre a safra do açaí,
chegando a produção a atingir 170% da média anual, levando o preço ao seu ponto mais baixo – o
que ocorre entre os meses de outubro e novembro.

11.4 Os desafios para a consolidação

O arranjo produtivo aqui estudado tem demonstrado agilidade no crescimento e taxas que
parecem elevadas de rentabilidade. Contudo, esse nível de rentabilidade é contido estruturalmente:
1) pelas altas taxas de capacidade ociosa com que atuam as plantas em consequência,
fundamentalmente, da sazonalidade da principal matéria-prima; 2) pelo acirramento da
concorrência entre as empresas do arranjo 2.1) nos mercados extrarregionais e 2.2) nos mercados
locais de produtos e de fatores, entre elas e outras estruturas produtivas ligadas, por suposto,
ao setor tradicional de produção de polpa de açaí; 3) pela baixa capacidade de internalizar o
conhecimento já disponível, ou passível de obtenção na infraestrutura de conhecimento, e de
dinamizar as fontes desse conhecimento.

329
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

A capacidade de tratamento e superação dos problemas que afetam a capacidade


ociosa depende das possibilidades de atuação sobre os fundamentos técnicos da produção
de frutas e do seu processamento industrial para obtenção de polpas – depende, fortemente,
da disponibilidade de fontes de conhecimento e informação tecnológica e da capacidade das
empresas e organizações de transformarem tais conhecimentos em força produtiva. Nesse
caso, a questão chave é a capacidade de cooperação entre as empresas do APL e seu ambiente
institucional. A capacidade de tratamento e superação dos problemas relativos à concorrência
predatória tem a ver mais especificamente com a capacidade de coordenação e cooperação
que o conjunto das empresas que fazem o APL sejam capazes de mobilizar. A pesquisa reuniu
elementos que permitem avaliar os atributos do arranjo nessa perspectiva.

Sazonalidade, capacidade ociosa e inovações

A superação dos problemas derivados da sazonalidade da principal matéria-prima do


APL depende das possibilidades de atuação sobre os fundamentos técnicos da produção de frutas
em geral e do seu processamento industrial depende, pois, do desenvolvimento das trajetórias
constituintos do e constiuída pelo APL. O que, por sua vez, depende da disponibilidade de fontes
de conhecimento e informação tecnológica e da capacidade que tenham empresas e organizações
de transformar tais conhecimentos em força produtiva. A seguir faremos uma breve observação
do itinerário tecnológico do APL e das possibilidades já dadas de melhoramentos que possam
superar o problema central.

As bases tecnológicas do Arranjo: suas possibilidades

O itinerário tecnológico completo a ser considerado na superação da sazonalidade e


suas implicações sobre a capacidade ociosa do arranjo tem, pois, duas fases: a rural (referida
fundamentalmente às trajetórias constituintes alfa, conf. capítulo 8) e a industrial (onde opera a
trajetória da qual o APL é um ponto). No primeiro espectro, para produção de frutas, a superação
dos problemas, exige necessariamente investimentos na melhoria dos conhecimentos sobre os
sistemas botânicos (controle do adensamento das áreas de brotação e manipulação que favoreça a
agroecologia – nutrientes), melhoria dos processos de trabalho; investimento no desenvolvimento
de novos instrumentos de trabalho; pesquisa agronômica de desenvolvimento de variedades e
produtos; desenvolvimento de consórcios sinérgicos com outras variedades de frutas e arbóreas,
aumento da resistência dos sistemas pela diversidade, possibilitando a redução da sazonalidade da
oferta de matérias-primas para a industrialização.
Na segunda fase, a da produção industrial de polpa de frutas, as possibilidades são
de melhorias nos processos de recepção e seleção dos frutos; de lavagem e desinfecção para
diminuir a ação de patógenos que porventura estejam no exterior do fruto – branqueamento
(escaldar as frutas em água fervente) e/ou sulfitagem (contato com dióxido de enxofre gasoso) das
330
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

frutas. No despolpamento constatam-se carências técnicas básicas – necessidade de redução da


manipulação manual dos produtos e de seus resíduos, bem como ampliar as linhas de produção,
tornando-as mais flexíveis e abertas. Quanto ao tratamento de conservação e estocagem são
necessários investimentos na ampliação da capacidade de armazenamento a frio, reduzindo o
custo de estocagem, investimentos em processos e equipamentos para pasteurização, em novas
formas de acondicionamento e embalagem como complemento à pasteurização, o que barateia o
armazenamento. Na linha de produtos exclusivamente naturais, são necessários investimentos em
melhoria das embalagens e das condições de transporte do produto final.

A superação da sazonalidade pela diversificação

A principal abordagem do APL para o problema da sazonalidade parece ser o da


diversificação, tanto de produção, quanto de mercado. Há um movimento de diversificação de
mercados, que busca novos centros consumidores no Brasil e no exterior. Para tanto, fixam-
se novos padrões e buscam-se novos atributos para a produção. Este é o caso dos produtos
orgânicos, que realçam o papel das certificações como parte de uma nova estratégia na
comercialização. Anteriormente, tinha-se a pretensão de produzir sucos tal como se encontram
na maioria dos países desenvolvidos. Hoje, entretanto, percebeu-se que ser “natural” pode vir
a ser um grande negócio para as exportações, desde que mantido o rígido padrão fito-sanitário.
A diversificação do produto final tem sido buscada na variação das dosagens do produto, sendo
que o mercado, principalmente o varejista, tem sinalizado a maior aceitação de polpas com
peso de 100 e 50 gramas, as chamadas “polpinhas” (na maioria das empresas do APL o padrão
é de 1 kg).
A diversificação por excelência tem sido, contudo, a que se refere à variedade de
frutas a serem processadas e postas à comercialização. São diversas as empresas que adotam a
diversificação de produtos: 16 empresas processam dois ou mais produtos; cinco processam 3;
quatro processam 5; uma processa 4, outra 9 e outra, o máximo, 15 produtos.

11.5. Estratégias competitivas e mecanismo de coordenação - os desafios da


multiescalaridade das redes tecidas por cadeias de valor e de produto

A pesquisa reuniu elementos que indicam uma perda de rentabilidade no processo de expansão
do APL, possivelmente associada a práticas competitivas predatórias. Parece haver empresas, em
proporções no momento difíceis de precisar, que se lançam no mercado apoiadas dominantemente
em sua disposição em aceitar preços que, em si, comprometeriam a rentabilidade das empresas que
não estão dispostas a correr o risco (que é a rigor um risco do conjunto das empresas) inerente
à venda de produto de má qualidade. Isso é possível por duas razões: 1) porque o APL não tem
garantido que as regras de padronização de qualidade sejam exercidas igualmente sobre todos quantos
331
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

acessem o mercado no qual atua e, 2) porque as empresas do APL têm sido tomadoras de preço (price
takers) dos agentes que atuam nos mercados consumidores. A superação de ambas as condições exige
mecanismos de regulação.
No primeiro caso, mecanismos que garantam a articulação entre os interesses do conjunto
de empresas e as instituições normativas e fiscalizadoras encarregadas de fazer valer regras comuns,
coibindo os oportunistas (free riders). Aqui são de fundamental importância os organismos
coorporativos e associativos que, ou exerçam eles mesmos as funções de coordenação e controle,
ou possam atuar nas instituições públicas no sentido de que se disponham e façam cumprir as
melhores regras. Essas funções são exercidas pelos sindicatos e associações de produtores.
No segundo caso, mecanismos que relativizem o poder de determinação que, no momento,
o cliente nos principais pontos do mercado nacional tem sobre a processadora do APL. Trata-se,
nesse caso, da constituição de redes horizontais e verticais (a montante), das quais possa emergir
governança capaz de se impor ao poder de determinação vertical (a jusante) da relação atacadista
no mercado nacional-processador de frutas. Várias são as possibilidades que o arranjo apresenta,
várias também são suas limitações nessa matéria.
A primeira, e, ainda, a única instituição dessa natureza, com escopo para coordenação
das relações interempresas, criada a partir das próprias agroindústrias do APL é o Sindicato das
Indústrias de Frutas do Pará – Sindfruta, fundado em 26/12/2000. O Sindfruta surgiu, com
apenas 10 filiadas, em lugar da Associação das Indústrias de Polpa e Sucos de Frutas do Pará –
ASPOLPA (de 1999).
No momento da pesquisa, com 14 associadas, a principal função do Sindicato tem sido a
de discutir caminhos e reivindicar ações de políticas públicas que melhor se ajustem aos interesses
das empresas associadas. Uma das principais reivindicações tem sido o estabelecimento de um
preço mínimo para a polpa de fruta do açaí durante o período da safra, para que ele não seja
aviltado a ponto de inviabilizar as indústrias. Tal como compreendem os membros do Sindicato,
o problema residiria na instalação de batedores de açaí informais durante a safra, que passam
a produzir a polpa de forma improvisada, em “fabriquetas de quintais”, como designam os
empresários. Esses concorrentes clandestinos (seguramente provindos do setor tradicional de
produção de polpa de açaí) venderiam o produto (a preço muito baixo) para os outros estados do
Brasil, sem nenhuma fiscalização fito-sanitária por parte do Governo Estadual e/ou do Governo
Federal. O não cumprimento das exigências fito-sanitárias por parte dessas empresas informais
e clandestinas criaria o diferencial de custos que comprometeria a lucratividade das empresas
com inscrição no Ministério da Agricultura. Ademais, tais atitudes implicariam riscos à saúde
pública, os quais avultariam riscos correspondentes no que se refere à confiança do consumidor
em mercados do resto do Brasil já conquistados.
Não obstante o valor geral das avaliações que fazem seus dirigentes e das ideias que
defendem para fins de ações concretas, os empresários entrevistados parecem não valorizar o
papel do Sindicato. Perguntados sobre sua importância na definição de objetivos comuns para o
arranjo produtivo, na construção de visões de futuro para ação estratégica e na apresentação de
332
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

reivindicações comuns, poucos foram os que lhe atribuíram alta relevância. Faz-se necessário,
entretanto, que se considere as diferenças dos graus atribuídos pelos representantes das pequenas
empresas, bem maiores do que os graus atribuídos pelos representantes das microempresas.
Indicaria isso um viés do Sindicato que não conseguiria incluir em sua perspectiva as necessidades
dos sócios, sobretudo dos menores? Ou indicaria isso um viés dos empresários, cujas estratégias
são incompatíveis com regras e estratégias transcendentes e comuns? Talvez as duas coisas. E,
se assim for, há aqui um obstáculo particularmente difícil de transposição para a consolidação do
arranjo: uma incapacidade para a ação comunicativa concreta.

11.6. A capacidade revelada de cooperar e o poder das relações verticais

Mecanismos que possam se contrapor ao poder de determinação verticalmente exercido


pelos clientes nos principais pontos do mercado nacional sobre as processadoras do APL exigem,
todos, capacidade de cooperação (Cassiolato, J. E. E Lastres, 1999), de modo a tornar possível
a construção de redes horizontais, entre empresas e entre empresas e organizações de seu
campo institucional. Das empresas analisadas, apenas 21% das microempresas declararam ter
realizado alguma forma de cooperação e ou parceria com outros agentes. Das pequenas empresas,
entretanto, 80% (12 delas) responderam já terem realizado alguma forma de cooperação. No total,
52% da amostra já realizou pelo menos uma forma de atividade cooperativa com outros agentes
do arranjo.
Não obstante o destaque que se possa dar ao conjunto maior de parceiros relevantes, em que
aparecem o SINDIFRUTAS (entidade de classe), por uma parte, e os clientes e fornecedores, por outra
– estes últimos principalmente por repassarem às empresas informações sobre tendências de mercado,
como também por capacitarem algumas agroindústrias para utilização de máquinas e equipamentos
de processamento ou de congelamento das polpas assim como prestarem assistência técnica – o que
ressalta são os baixos índices gerais, indicando a correspondente baixa capacidade de cooperação e
coordenação do APL.
É visível, portanto, a maior ênfase das relações de cooperação verticais, em parte
pela dependência das ações do setor público e seus programas (uma decorrência, talvez, da já
mencionada baixa capacidade de poupança privada local levando à contínua necessidade de
recorrer a bancos de fomento, pelas insuficiências infraestruturais da região, etc.) e, também, pela
maior participação das ações de clientes e fornecedores (agentes de outro segmento da cadeia),
em virtude da ampliação da demanda extrarregional pelas polpas de frutas.
Por seu turno, as relações de cooperação horizontais são bastante reduzidas: uma
demonstração da pouca interação entre as empresas do segmento da agroindústria. Os dados da
pesquisa são, a respeito, reveladores: apenas 7% das pequenas empresas, ou 3% do total das
empresas do APL, subcontratam empresas locais, enquanto 14% das empresas do arranjo são
subcontratadas por empresas de fora da região.
333
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Mobilizar em seu favor a infraestrutura do conhecimento e dinamizar as fontes de inovação


e aprendizagem

Há uma intensa movimentação institucional em torno da produção e processamento


de frutas na região do APLFrutas-NePa. Instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária – EMBRAPA, Universidade Federal do Pará – UFPA, Universidade Federal
Rural – UFRA, Secretaria de Agricultura do Estado do Pará – SAGRI, Federação dos Órgãos
de Assistência Social e Educacional – FASE e a Agência de Desenvolvimento da Amazônia –
ADA vêm atuando como articuladoras de demandas das agroindústrias para a promoção científica
e tecnológica, com vistas a buscar soluções para os problemas existentes, tanto na produção
industrial, quanto na agrícola. De modo que, em conjunto com cooperativas e associações de
produtores, geralmente ligadas a Federação dos Trabalhadores da Agricultura – FETAGRI / CUT,
buscam a identificação desses problemas e trabalham a disseminação do conhecimento, para
melhoria de plantios e processos industriais.
A EMBRAPA – Amazônia Oriental, atua no levantamento e encaminhamento de demandas,
que após pesquisadas em seus laboratórios de Fruticultura e de Agroindústria, retornam como
práticas produtivas aos produtores. Por exemplo, o laboratório de Fruticultura da EMBRAPA –
Amazônia Oriental lançou, em 18/05/2004, na IV Exposição Ciência para Vida, em Brasília, a
primeira cultivar de açaí de terra firme do Brasil, resultado do cruzamento de 11 variedades de
açaí coletadas em várias regiões da Amazônia, cuja característica é a precocidade na produção de
frutos. Outro lançamento aguardado é a da cultivar do açaí que apresente produção no período de
entressafra, o chamado açaí “temporão”, que já vem sendo pesquisado.
A Agência de Desenvolvimento da Amazônia – ADA criou em 2004 um fórum de debates,
envolvendo instituições públicas, organizações não governamentais, cooperativas de produtores
e empresários de agroindústrias para viabilizar um plano de ação para o setor da fruticultura.
Todos os agentes deveriam priorizar e realizar ações articuladas visando aos objetivos comuns
ao setor, vislumbrando principalmente a realização de projetos para inter-relação das pesquisas,
das práticas produtivas e da capacitação dos agentes do arranjo para processos inovadores. Com
isso, buscava-se evitar a sobreposição de esforços, hierarquizando prioridades e incentivando as
aplicações de recursos por meio da formação de parcerias.
A Universidade Federal do Pará – UFPA, especialmente, por meio do Projeto Pobreza
e Meio-Ambiente – POEMA, do Núcleo de Ação para o Desenvolvimento Sustentável, atuava,
quando da realização do estudo, na elaboração de projetos para financiamento de agroindústrias,
implantando indústrias junto a cooperativas de produtores, prestando assistência técnica geral,
bem como realizando cursos de capacitação para as associações de comunidades e cooperativas.
O POEMA tem estabelecido cooperação com prefeituras, com a Escola Técnica de Castanhal,
com a EMATER e a EMBRAPA, com comunidades de produtores agrícolas organizadas, com a
agroindústria CAMTA e o Banco da Amazônia para viabilizar a difusão de novas tecnologias já
introduzidas. A intenção é ampliar os Sistemas Agroflorestais – SAFs.
334
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Na UFPA há também o Laboratório de Engenharia Química e de Alimentos – DEQ, que


por meio da Divisão de Alimentos – DIAL vem realizando pesquisas específicas sobre os frutos
regionais. Tem como projetos desenvolvidos o Estudo Pluridisciplinar de Frutas Amazônicas
e seus Derivados, em vista de sua Valorização pelas Organizações Camponesas Existentes
(financiado pela DG XII da Comissão Europeia); Estudos Aprofundados em Bioquímica e
Tecnologias de Frutos da região Amazônica: para apoio ao desenvolvimento microindustrial
regional (financiado pelo FINEP); Valorização dos Frutos do Açaí por Pequenas Empresas do
Estado do Pará, trabalhando a pasteurização do açaí, a fabricação de derivados e a extração de
pigmentos (PADCT III, financiado pelo MICT). Em desenvolvimento está o projeto de Apoio aos
Processos de Verticalização da Produção Familiar pelas Organizações Camponesas do Estado do
Pará, financiado pelo CNPq – Programa de Agronegócios (www.acai.br/producao.htm, 2003).
Também desenvolve projetos agroindustriais para o setor privado que deseje investir no setor
das frutas, visando a obtenção de créditos de agências de fomento. Nesses projetos, a Divisão
de Alimentos tem como principais parceiros: a Escola Superior de Biotecnologia (ESB), da
Universidade Católica do Porto/Portugal; o Instituto das Ciências da Engenharia da Universidade
de Montpellier II, da França; a EMBRAPA/Pará; NAEA/UFPA; a Unidade de Bioquímica da
Nutrição e a Unidade de Economia Rural, da Universidade Católica da Bélgica.
Não obstante, é certo afirmar que apesar de tais iniciativas, a grande parte das empresas
entrevistadas não sentem, em suas avaliações, os efeitos das interações para capacitação produtiva
e inovativa em suas realidades cotidianas. A forma de governança em rede é apenas potencial no
arranjo, haja vista a já enfatizada aglomeração de micro e pequenas empresas locais. Porém, tais
agroindústrias ainda precisam desenvolver capacidade endógena de coordenação das atividades
econômicas e tecnológicas, a exemplo, aliás, do que fazem de forma bem mais organizada e
sistemática os produtores rurais e suas associações.

Capacitação produtiva e inovativa e dinâmica de aprendizagem

Identificadas quais as fontes de informação ao processo produtivo das agroindústrias,


destacaram-se as fontes internas, em particular, a área de produção das agroindústrias,
considerada como a mais importante fonte de informação dentre as micro e pequenas
empresas. Essa fonte de informação recebeu o maior índice em grau de importância no
processo de aprendizagem. Por outro lado, fornecedores, concorrentes e outras empresas
do setor obtiveram, como fontes externas de informação, índices medianos no grau de
importância para a aprendizagem. Entre as microempresas, as universidades e os institutos de
pesquisa tiveram alguma relevância em suas capacitações, porém, no total da amostra, esses
atores ainda são considerados pouco importantes (índices abaixo da média), o que significa a
necessidade de melhores mecanismos de transferência de informações e tecnologias.
Eis o ponto que pretendemos enfatizar: esses indícios revelam, mais uma vez, a pouca
relação horizontal entre as empresas, evidenciando um ambiente que se mostra pouco propício
335
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

às trocas de conhecimento tácito entre as agroindústrias. Nessa categoria, de fontes externas de


informação, o destaque foi dado para as informações repassadas pelos clientes às pequenas firmas
(63%). Isso também vem demonstrar o que anteriormente foi mencionado: as interações verticais
têm sido mais fortes no APL.
No arranjo, a forma mais utilizada de treinamento pelas empresas foi o realizado no
interior das próprias fábricas, segundo ênfasse de 71% das pequenas empresas e de 61% das
microempresas. Treinamentos em cursos técnicos realizados no arranjo e fora dele foram
considerados pouco importantes para a capacitação dos recursos humanos da amostra analisada.
Isso reforça a convicção de que a estratégia de aprendizagem tecnológica das firmas
no arranjo tem sido a voltada para o interior de suas áreas de produção, revelando uma
importante contribuição dos conhecimentos tácitos, obtidos na base do “faça você mesmo”,
para a competitividade das empresas, porém, um baixo grau de compartilhamento nas relações
interfirmas.
Os resultados das ações conjuntas realizadas nos processos de cooperação das empresas,
tanto entre firmas, quanto entre elas e os outros atores do arranjo e fora dele, demonstram
claramente a pouca importância dada aos processos de cooperação vistos como uma forma de
estratégia para a aprendizagem tecnológica. Corroboram, aqui, os métodos de gestão do trabalho
citados na maioria das empresas, como os de polivalência dos trabalhadores nos seus diversos
postos, como formas internas de buscar a capacitação produtiva.

11.7. Inovações e capacidade inovativa

A dinâmica inovativa do arranjo é baixa. Das pequenas empresas apenas 40% introduziram
inovações de processos e 33% realizaram mudanças organizacionais. Tratando-se da introdução
de novos produtos, realizaram-na 27% das pequenas e 14,3% das microempresas do APL.
Os impactos das inovações implantadas sobre a atividade econômica em geral e sobre as
vendas das empresas analisadas não implicaram mudanças de porte nos padrões de vendas. Mas,
têm sido fundamentais para a manutenção da competitividade das empresas do arranjo, sobretudo
pela melhora na qualidade, elemento chave diante da concorrência de empresas de outros estados,
que passaram a atuar inclusive no Pará, em especial na região Metropolitana de Belém. É esse o
caso da Brasfrut – Frutos do Brasil Ltda., de Feira de Santana (Bahia) e da empresa DAFRUTA
(Ceará), que envasa, em embalagens tetra pack, o açaí comprado de empresas do arranjo pela
exportadora SAMBAZON.
Os produtos novos representaram, em 2002, uma participação de apenas 1 a 5% nas
vendas para exportação de 7% das microempresas pesquisadas. Já 40% das pequenas empresas
realizaram vendas a partir do lançamento de produtos novos ou significativamente aperfeiçoados.
No geral, 24% de todas as empresas pesquisadas apresentaram alguma venda oriunda da inovação
de produtos.
336
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Nessa perspectiva, ressalta o potencial do vínculo entre a geração de renda derivada da


capacidade competitiva local e as fontes de inovação, tanto aquelas dominantemente tácitas, que
prevalecem no interior das empresas e no seu entorno imediato, mas também nas interrelações
verticais, em especial de clientes, universidades, institutos de pesquisa e agências de fomento
(Lastres et alli., 1999a; Lastres, Vargas e Lemos, 2003c; Coutinho e Ferraz, 1995).
Das inovações, mesmo que incrementais, procede o aumento da qualidade dos produtos
do arranjo, permitindo a importante manutenção da participação das empresas em seus mercados,
bem como, a possibilidade de abertura de novos, inclusive para exportação, uma vez que foram
possíveis melhores enquadramentos nas regulamentações e exigências mercadológicas.
Os efeitos disso sobre o desenvolvimento local são perceptíveis (Cassiolato, 2003).

11.8. Limites a superar em 2003

O APLFrutas-NePa configura uma situação ímpar em que se tem subutilização do


potencial produtivo, tanto da indústria, quanto da agricultura e do extrativismo,os empresários
na indústria atribuindo o problema ao setor rural. Os agricultores, por seu turno, vêm na indústria
o problema. Na base da controvérsia estão: a) a forte sazonalidade do produto principal, o açaí;
b) as dificuldades verificadas para a rentabilidade dos produtos com sazonalidades distintas da
do açaí e c) insuficiente mecanismos de regulação, coordenação e formação de redes horizontais
que possam, por uma parte, amenizar os riscos da concorrência predatória e constituir anteparo
para a baixa capacidade de investimento do conjunto das empresas do APL, industriais e rurais,
e conseqüente baixa competitividade dinâmica, e, por outro, elevar a conectividade entre as
empresas e as fontes de inovação hoje disponíveis na área do arranjo.
A produção de açaí concentra-se fortemente nos meses de agosto a dezembro, quando
se produz 67% do total anual, havendo uma escassez, com correspondente elevação de preços
nos meses seguintes. A concorrência do consumo local tradicional bloqueia, nessa fase, o
abastecimento das indústrias, as quais procuram, em muitos casos, preencher suas capacidades
com o processamento de outras frutas. Para tanto, constatam-se níveis elevados de flexibilidade
das plantas. No entanto, a rentabilidade das demais polpas parece se situar bem abaixo da do açaí.
Diferentemente desse produto, as demais polpas ou não encontram uma demanda estabelecida
nos mercados, como é o caso do cupuaçu e do taperebá, ou defrontam-se com concorrência
estabelecida, como é o caso da polpa de abacaxi, que tem em vários estados do Nordeste fortes
concorrentes, ou do maracujá, que tem em outros países da América do Sul, como Colômbia e Peru,
antagônicos de peso. Entra em ação mecanismos de concorrência inter-APLs na constituição, por
ação das cadeias de produto e valor, do setor de produção e processamento de frutas da economia
nacional.
Por outro lado, com baixa capacidade de armazenagem do que processam por ocasião da
safra, as empresas tornam-se reféns dos compradores, os quais têm mantido poder relativamente
337
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

elevado de ditar preços e afetar, assim, a rentabilidade e a capacidade de investimento do arranjo.


Acossadas pelas tensões derivadas da concorrência em torno das matérias-primas e dos mercados
consumidores, as empresas não têm, ou pouco têm cogitado das suas próprias possibilidades
de cooperação. Elas têm utilizado pouco, igualmente, as possibilidades de interação com seu
ambiente institucional.
As soluções podem ser pensadas focando o próprio arranjo e sua posição nas trajetórias
e cadeias de valor que constitui, enfatizando, concomitantemente, o açaí e a diversificação.
Focalizando as trajetórias da produção rural constituintes do APL e a produção industrial.
Olhando, simultaneamente, para o curto prazo e para o longo prazo – nesse horizonte, com ênfase
especial na capacidade de acumulação e investimento do arranjo, i.e., nos fundamentos de sua
competitividade dinâmica. Focando o açaí, se careceriam, do lado rural, das soluções para a
expansão da oferta do fruto, para a redução de sua sazonalidade agronômica, para o aumento da
durabilidade do fruto; do lado industrial soluções para ampliar e atualizar tecnologicamente a
capacidade industrial de processamento do fruto e soluções para ampliar a durabilidade da polpa.
Focalizando os outros produtos, são igualmente pertinentes o que já se mencionou para o açaí,
associados à necessidade premente de trabalhar o mercado nacional, tanto dos produtos regionais
em si, quanto o de blends com produtos exóticos que diferenciem a produção local.

11.9. Condições de operação em 2008

Pesquisas recentes dão notícia de como se encontra o APLFrutas-NePa em 2008. O que


se demonstra é um notável processo. Quatro pontos se destacam.
Primeiro, a rapidez do crescimento. Nacif (2009) compara os resultados de sua pesquisa
em 2008 com os apresentados acima. Se demonstra que a produção de polpa de frutas do
APLFrutas-NePa saltou de 4,9 para 51,5 mil toneladas. A produção de polpa multiplicou por
fator maior que 10, portanto. O que exigiu, apenas relativamente à amostra considerada, ao final
do período, um volume de 122.887 t de frutas, das quais 80% de açaí. Note-se que a necessidade
fora de 8.710 t, 5 anos antes.
Um segundo ponto saliente é que o parque industrial do APLFrutas-NePa vem mostrando
produtividade crescente: a produção por trabalhador passou, nas empresas mais antigas (as que já
se encontravam em produção em 2003) de 12,4 para 41,2 t/trabalhador/ano, indicando ter fôlego
para uma dinâmica de longo curso.
O terceiro ponto a ressaltar é que a produção de açaí tem crescido, por incremento das
áreas de açaí plantado e, também, por incremento da produtividade da produção extrativa (Costa
e Andrade, 2003). Porém não na mesma proporção do crescimento da capacidade industrial
instalada: de uma produção de 188.680 t em 1995 a produção de açaí passou para 428.001
t – incremento anual de 8% a.a. De modo que o preço pago ao produtor cresceu no período
intercensitário à rápida taxa de 5% no período.
338
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Um quarto ponto crucial é que, associado ao incremento de preços por tensão da demanda,
tem havido transferência de ganhos para o setor rural. A pesquisa de Nacif (2009) observa que
a participação do valor recebido pelos fornecedores rurais, que em 2003 representava 51% da
receita bruta do APLFrutas-NePa, em 2006 passou a representar 55% entre as empresas “antigas”
no APL, entre as empresas novas, 71%. Tais resultados são completamente compatíveis com
o que apresentamos da evolução da renda da T2 no Capítulo 10. São compatíveis, também,
com os resultados de pesquisa primária no plano dos estabelecimentos-domicílios camponeses
da T2 empreendida em 2008 com uma amostra de camponeses típicos dessa trajetória em
Cametá por Soares (2008). Comparando o nível e composição da renda dessa amostra com
os resultados dos mesmos estabelecimentos-domicílios obtidos por nós em pesquisa de 1999
(Costa, 2000), Soares (2008) detectou que, entre uma pesquisa e outra, as variações na renda, a
preços constantes, total e por família, foi de 180% no total do período, em termos reais, 10,9%
a.a. entre 1999 e 2008. Nesse meio tempo, a renda média por família passa de R$ 4.883,66 em
1999 para R$ 13.694,36 em 2008.

Capítulo 12
Sistemas agrários, Arranjos Produtivos e Economia Local:
estrutura e dinâmica do Sudeste Paraense

12.1. Delimitando a economia local do Sudeste Paraense em meados dos anos noventa

Neste subcapítulo estudaremos a configuração espacial da economia da mesorregião


Sudeste Paraense, verificando, a partir de metodologias que integrem modelos gravitacionais
com elementos das atuais teorias do desenvolvimento regional, as principais aglomerações, a
hierarquia espacial por elas conformada e seus fundamentos agrários e urbanos. De um lado, pois,
procuramos retomar metodologias gravitacionais de hierquização do espaço, de outro, encaminhar
métodos associados de análise de causalidade das polarizações a partir das discussões atuais sobre
desenvolvimento e crescimento endógeno, conforme discutido no capítulo 8. Considerando o
caráter fortemente agrário da região estudada, estabelecemos o ano de 1995 como referência,
posto que data do último Censo Agropecuário.
O subcapítulo tem duas seções. Na primeira, discutimos as possibilidades de integrar
modelos gravitacionais com aspectos relevantes das teorias do crescimento e do desenvolvimento
regional e endógeno. Na segunda expomos os resultados da aplicação da discussão anterior ao
caso concreto do Sudeste paraense, com destaque para a hierarquização econômica de seu espaço
e alguns de seus fundamentos causais.

339
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

12.1.1.Região e desenvolvimento endógeno

Como já comentamos no capítulo 8, para Paul Krugman (1995), os modelos de


desenvolvimento endógeno resultam da integração de três contribuições há muito incorporadas
pela economia e pela geografia: a abordagem do potencial de mercado (Harris, 1954 e Isard,
1956), a noção de causação circular e cumulativa (Myrdal, 1957; Hirschman, 1958) e a teoria
do lugar-central (Christaller, 1933). Mais tarde, o mesmo autor, em companhia de Mahahisa
Fujita e Anthony Venables (1999 e 2000: 41-50), acrescenta como seminais as contribuições pós-
keynesianas da teoria do multiplicador da base, em particular a extensão dinâmica desse modelo
empreendida por Pred (1966).
Uma herdeira direta dos modelos gravitacionais pioneiros, que utilizavam as populações
como as massas, a abordagem do potencial de mercado indica ser o poder de compra, não
simplesmente as populações, o que explica a posição hierárquica dos lugares numa região
(Krugman, 1995:45).
A teoria da causação circular e cumulativa, por seu turno, sugere que as aglomerações
são autoexpansivas ao estabelecerem mercados de larga escala, atraindo com isso novas empresas,
as quais adicionalmente aumentam o mercado. Tal noção indica, ademais, que vantagens iniciais,
dadas por “acidentes históricos”, podem desempenhar papeis importantes na explicação dos
padrões de localização. Há um risco tautológico nessas ideias, o qual é reduzido com a incorporação
das abordagens dinâmicas baseadas no multiplicador da base.
A teoria do lugar-central analisa a disposição dos lugares a partir do papel que
desempenham como centros mercantis e manufatureiros para uma população agrícola dispersa de
forma mais ou menos homogênea. Põe-se em relevo, nesse caso, o trade-off entre as economias
de escala dos centros produtores e os custos de transporte de seus produtos.
As teorias de desenvolvimento endógeno resultaram de um movimento de ideias que
constata o valor da abordagem do potencial de mercado, a qual se entende capaz de apresentar
uma descrição bastante realista da hierarquização econômica dos lugares e, por isso, servir para
descrever o sentido econômico de sua distribuição espacial. Destaca-se, porém, que não dispõe
de elementos para esclarecer como tal configuração se estabeleceu nem, tampouco, para indicar
suas tendências. Para tanto seria necessário recorrer à noção de causação circular e cumulativa
e a teoria do lugar-central: à primeira, porque é razoável supor que a tais tendências subjazem
estruturas de mercado que ao mesmo tempo derivam e permitem rendimentos crescentes como
fundamento dinâmico da aglomeração; à segunda, porque ela põe em consideração o peso dos
custos de transporte na regulação das aglomerações.

Região e polarização

É fato empírico de notável recorrência que, tal como tem ocorrido nas sociedades
contemporâneas, o desenvolvimento é um processo que produz agrupamentos multicêntricos.
340
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Economistas regionais e geógrafos (Reilly, 1929 e Stewart, 1948) há tempos sugerem uma
descrição dessa multipolaridade através da relação entre duas únicas variáveis: a população
dos lugares e a distância entre eles. Por analogia à lei da gravitação universal, sugerem que os
lugares se conformam em centros hierarquizados na razão direta de suas populações, as quais
tratam como “massas” de um sistema gravitacional, e inversa das respectivas distâncias6.
Tal fórmula legitimou-se por oferecer uma leitura, por parcial que fosse, das configurações
espaciais enquanto potencial hierárquico intuído na concentração da população, a variável a
priori da existência social.
Assim proposto, o modelo produz resultados puramente metafóricos e estáticos. Sua
capacidade heurística aumenta, todavia, com a presuposição de Isard (1969) de que seus
resultados estão positivamente correlacionados com as probabilidades com que os lugares,
em um dado momento, produzem atração mútua (intercâmbio) e, assim, com a probalidade
de um lugar ser centro para o outro. Essa probabilidade está correlacionada com a soma das
probabilidades que ambos apresentam, de produzir atração sobre todos os demais lugares do
universo tratado7.
Na formulação de Isard, portanto, os valores obtidos por modelos gravitacionais
indicariam as probabilidades de uma unidade de “massa” do conjunto de aglomerados
orientar-se para um centro diferente de sua origem, quando um desequilíbrio qualquer se
verifica. Tais probabilidades se descreveriam para cada interação pelo valor
Ai . Aj
I ij  G (12.1.1-1)
dijb
Em que:
- Iij indica o grau de interação entre o Centro i e o Centro j;
- Ai, Aj são a dimensão dos aglomerados (população) dos Centros i e j;
- dbij é a medida da distância entre i e j;
- G é a constante semelhante à constante gravitacional numérica;
- b é um parâmetro exponencial.

O modelo de Isard supõe, ainda, que as grandezas relativas a um aglomerado só fazem


sentido como expressões de sua posição em relação a todos os aglomerados de um dado sistema:
as áreas de influência de cada centro dependem da respectiva posição em um sistema amplo de

6 A população constitui, nessa perspectiva, massa de atração porque se supõe que quanto maiores os aglomerados humanos maior
deverá ser a comutação entre eles. Por outro lado, pressupõe-se que o custo e o sacrifício de deslocamento no espaço reduz aquela
comutação na razão direta da distância entre os aglomerados (Ferreira, 1989:528).
7 Com isso, segundo Richardson (1969:98), os modelos gravitacionais passaram a se pretenderem não determinísticos, dado não se
proporem à verificação de posições estabelecidas (ótimas) de uma certa configuração espacializada da relação entre fatores, mas sim
a indicarem o que é provável ocorrer no deslocamento desses fatores numa certa configuração espacial. Eles se referem a interações
esperadas – resultam, isto posto, de um teoria das probabilidades e representam aspectos de teorias do comportamento e não da
maximização.

341
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

gravitação, isto é, em um campo de forças, para cuja representação servem tais valores. E tais
posições se revelariam inicialmente em potenciais P, tais que
n n
Ai . Aj
Pi = ∑ I ij = G ⋅∑ (12.1.1-2)
j=1 J =1
dijb
O potencial Pi de interação de um aglomerado i com o seu campo constituído adicionalmente
pelos aglomerados j é, entretanto, uma grandeza dimensional, uma vez que depende dos tamanhos
das aglomerações. Se, todavia, dividirmos este valor pela massa do aglomerado i teremos a
grandeza adimensional P*, potencial por unidade de massa, do aglomerado. Desse modo
n
I ij n
Aj
Pi * = ∑ = G ⋅∑ (12.1.1-3)
J =1
Ai j=1
dij
Assim, como campo de forças, uma região se descreveria por um conjunto de interações
entre aglomerados, cujos fluxos se orientariam provavelmente pelos centros com maiores
potenciais de atração, definidos, esses potenciais, pelas relações próprias à metáfora gravitacional
(formalmente descritas nas equações 12.1.1-1 a 12.1.1-3).

Cumulatividade, polaridade dinâmica e desenvolvimento

As relações de Isard permitiriam uma descrição das configurações regionais coerente


com a teoria do potencial de mercado. Bastaria que a massa considerada, A, fosse representada
pela renda ou pelo poder de compra dos lugares respectivos. Isso não é, contudo, suficiente para
dar aos modelos gravitacionais poder explanatório, pois tanto a renda enquanto variável, quanto
a polaridade nela expressa são resultados, sobre cujos fundamentos é necessário discernir. Para
tanto, uma primeira tarefa seria a de explicitar as forças produtivas relevantes que subjazem à
polaridade como fenômeno do desenvolvimento. Uma segunda tarefa seria a de discutir as relações
estruturantes que se formam entre essas forças, com foco especial na causalidade complexa de
suas reproduções.
Forças produtivas: a natureza, os artefatos produtivos e o trabalho. As regiões se
desenvolvem marcadas pelas disponibilidades naturais e pelas suas capacidades sociais e culturais
amalgamadas em aparatos produtivos e saberes. São marcadas, portanto:
I. Pelos ditames produzidos por forças definidas pela natureza enquanto qualidade (res
qualitas).
I.1 Como qualidade, a natureza entra nos processos produtivos na condição de meio
de produção imediato. Isso acontece quando uma certa configuração das relações
entre elementos vitais da natureza, configuração essa espacialmente delimitada
e intransportável, é utilizada em um processso produtivo particular. A natureza,
nesse caso, pode ser tanto um ecossistema originário, sobre o qual existiu pouca
ou nenhuma interferência humana, ou, apenas, um ambiente edafo-climático,
342
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

isto é, uma certa interação entre solo e clima. Entre um extremo e outro, há
diversas possibilidades intermediárias. O importante é, em qualquer dos casos, a
condição irredutível de uma especificidade da natureza espacialmente localizável
ser uma força produtiva.
I.2 Como qualidade, a natureza entra nos processos produtivos na condição de
meio de produção mediato, que compõe o acervo do capital social, como um
fundamento infraestrutural. Um bioma que regula ecosistemas e ambientes
edafo-climáticos particulares pode ser pensado nessa condição.
I.3 Como qualidade, ainda, a natureza entra nos processos produtivos na condição
de objeto do trabalho, como matéria-prima. Nesse caso, não é a capacidade
produtiva das relações próprias e localizáveis, mas os componentes dessas
relações individualmente, como matéria-prima, que entram nos processos
produtivos: a madeira que é retirada de um bioma, o solo que se usa como
suporte de uma fórmula química que se integra sob controle com um clima de
estufa, etc. podem ser pensados nessa condição.
I.4 Em suma: como meio de produção a natureza determina a fixação das
atividades econômicas, obedecendo a ditames estritamente geográficos – a
agricultura tende a se organizar espacialmente de acordo com a distribuição das
condições edafo-climáticas e, garantidos os pressupostos da reprodução dessas
condições, essas atividades podem se reproduzir em horizonte de tempo não
delimitado; como objeto de trabalho, a natureza codetermina, juntamente com
as condições que gerem o seu uso, a distribuição espacial das atividades e os
respectivos tempos de duração – ocorrências mineral ou florestal determinam,
junto com a produtividade dos setores que consomem o minério ou madeira, a
distribuição das atividades que durarão precisamente o tempo que durarem as
ocorrências.
II. Pelos ditames produzidos por forças definidas pela natureza enquanto espaço (res
extensa). Nesse caso,
II.1 a natureza manifesta-se enquanto distâncias entre o lócus do processo de trabalho
que utiliza a natureza como meio de produção mediato, imediato ou matéria-
prima e o lócus de realização (utilização) dos seus resultados e
II.2 distâncias entre o lócus do processo de trabalho que utiliza a natureza como meio
de produção imediato ou matéria prima e o lócus da produção das mercadorias
que esse processo de trabalho necessita, ali não disponíveis.
III. Pelos ditames das construções da sociedade – das invenções antrópicas.
III.1 Ditames provindos da esfera propriamente econômica,
III.1.1) como aqueles que definem o acesso aos meios de produção imediatos
que se ajustam à noção de capital físico, isto é, capital produtivo acumulado
na forma de máquinas e equipamentos nas empresas e
343
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

III.1.2) como aqueles meios de produção mediatos, que se ajustam à noção de


capital físico enquanto capital infraestrutural, grandes equipamentos de uso
comum, transcendente às empresas.

III.2 Ditames provindos de esferas difíceis de recortar pelas percepções tradicionais


que seccionam economia e sociedade8. É o caso:
III.2.1) daqueles derivados de capacidades e habilidades difusas atribuídas às
pessoas, o que se procura entender sob a noção de capital humano, ou
III.2.2) daqueles atribuídos às capacidades institucionais, transcendentes aos
agentes, expressão das suas relações objetivas e simbólicas: tais capacidades
têm sido tratadas como o capital social.

Relações estruturantes entre os setores com raízes (dependentes de capital natural) e os


setores sem raízes e o papel do espaço.

Relações estruturantes entre os setores com raízes (dependentes de capital natural) e os setores
sem raízes

Numa perspectiva do desenvolvimento endógeno Krugman (1998, 1995, 1991) e Athur


(1994) têm ressaltado uma dualidade básica da reprodução social, resultado das determinações do
capital natural, as quais fundamentam setores produtivos com raízes físicas, naturais, em relação
com as forças derivadas das diversas formas de capital socialmente produzido, que baseiam setores
sem raízes físico-territoriais. Dessas forças, ressaltam-se as provindas do capital físico, tanto
enquanto acervo das empresas, como na forma de infraestrutura da sociedade. Defende-se, que
dada a necessidade de seguir as indicações da natureza, atividades como a agricultura distribuem-
se espacialmente, espraiam-se. Não carecendo de tais fundamentos, outras atividades poderiam
se alocar espacialmente tanto difusa, quanto concentradamente. O fato de historicamente tais
setores terem se organizado concentradamente explica-se sobretudo por ganhos de escala das
suas unidades produtivas associados aos efeitos de aglomeração. Todavia, dado que ao mesmo
tempo que a concentração das plantas reduz custos, impõe distâncias crescentes entre o lugar da

8 Alfred Marshall, um dos mais importantes teóricos da mecânica neoclássica, foi também pioneiro em apontar os efeitos positivos da
aglomeração. Para ele, tais efeitos se davam porque a) a concentração de firmas de uma mesma indústria em um mesmo lugar permite
um correspondente agrupamento de trabalhadores com as habilidades especiais por ela particularmente requeridas; b) em um centro
urbano, quanto maior e industrializado seja, mais permite a provisão de insumos não comercializáveis – serviços especializados,
cultura, sistema de assistência social, formação técnica, amenidades urbanas, etc. – o que Fujita, Krugman e Venables (2000: 19)
traduziram como a capacacidade das aglomerações produzirem “excesso de conhecimento’ e que c) as informações sobre inovações de
produto e processo fluem com mais facilidade em curtas distâncias – o acesso a technological spillovers é facilitado pela aglomeração
(Marshall, 1982: 231-38). Seus seguidores, contudo, têm considerado esses fatores na designação comum de externalidades, isto é,
como fatores próprios ao ambiente sócio-cultural e político em que funcionam as empresas, mas estranhos ao processo decisório
propriamente econômico e, presumivelmente, alheio a seus resultados. Isso lhes permitiu preservar a metáfora do equilíbrio geral por
garntirem a hipótese dos rendimentos decrescentes. Ver considerações críticas de Arthur (1996).

344
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

produção e o lugar (de parte) do seu consumo: o capital físico na forma infraestrutural tem o papel
de reduzir essas distâncias.
Tais considerações permitem enunciar que, tanto maior a escala de produção, tanto
maiores as distâncias a serem percorridas pelas mercadorias produzidas e, correspondentemente,
tanto maiores as principais implicações econômicas disso: os custos de transporte. O que leva
Krugman (1991:21) a enunciar que se um lugar i tem ganhos de escala num montante Fi, tal que
Fi = y j − yi (12.1.3-4)

onde yj é o custo total da produção no lugar j, para atender suas próprias necessidades, e yi o
custo de produção das necessidades do lujar j se atendidas pelo lugar i de um dado produto, a
concentração pela ampliação da capacidade produtiva daquelo produto em i continuará enquanto
Fi > S j ⋅ X ⋅T (12.1.1-5.a)

onde Sj é a proporção da população do lugar j na população total, T o custo de transporte por


unidade de produto para o lugar j e X a produção total. Quanto maior Fi, os ganhos de escala
obtidos em i, maiores as tensões para polarização em i, as quais são reduzidas na razão inversa da
representatividade da população em j e na razão direta dos custos dos transportes. Se reescrevermos
a relação (12.1.1-5) tal que
Si + S j =1 (12.1.1-5.b)
e
Fi > (1− Si )⋅ X ⋅T (12.1.1-5.c)

em que Si é a proporção da população de i no total da população de i e j, explicitamos uma dimensão


da causação circular e cumulativa de Myrdal: com Fi suficientemente elevado, as decisões de
produção se farão em favor de i, o que incrementará Si por novas contratações diretas e por novas
compras que induzirão a multiplicação do emprego, com efeito crescente na população, etc.;
crescendo a população de i, cresce também Fi e assim por diante.

Ademais, é possível a partir daí constituir Ai, a massa dos modelos gravitacionais de Isard,
na ótica do potencial de mercado. Considerando yi o dispêndio total feito em i para a produção
das necessidades de j, portanto sendo yi correspondente ao valor das compras intermediáriaos
(matérias primas e materiais secundários), fundos de reposição do capital físico, remuneração
da gestão e salários, e tomando um conjunto de n lugares j tem-se que: para todos os lugares
j em que a condição 12.1.1-5) for atendida produzir-se-á uma expansão da massa A do lugar i
correspondente a yi.
n
De modo que Ai = A0 + ∑ yi , sendo A0 um valor associado às necessidades iniciais de i.
j=1

345
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Setores sem raízes e produtividade crescente. A relação (12.1.1-5a) põe em relevo


a tensão que produz a polarização, permitindo, ademais, dimensionar a força dessa tensão:
tanto maior será sua força, quanto maior for a desigualdade. Dessa força resulta o que de
essencial há a produzir “gravidade” (poder de atração) entre lugares. A massa A de um lugar
deverá ser, por isso, uma expressão de seus fundamentos. Sobre eles, sejamos mais explícitos.
Considerando tudo em movimento, a continuidade do processo de polaridade no lugar i ao
longo do tempo dependerá da manutenção ou ampliação das desigualdades que i apresenta
em relação aos outros lugares, aos lugares j. Importa, pois, discutir os fundamentos dessas
diferenças.
Se explicitamos a noção de ganho de escala para um conjunto de produtos k de modo
que se tenha
 w jk   C jk w jk 
y jk = C jk + m + .S . X = S . X .
 + m +  (12.1.1-6)


jk
q jk 

j k j k  S .X
 J k
jk
q jk 

  w   C w 
yik = S jk . Cik + mik + ik . X k = S jk . X k ik + mik + ik  (12.1.1-7)
  qik    Xk qik 

para i e j sendo os lugares, C o custo fixo (depreciação do capital físico e custos de gestão) para
a produção do produto k, m o valor da matéria prima necessária por unidade de produto k, w o
salário pago por umidade de tempo, q a produçãode k por trabalhador por unidade de tempo e
substituindo (12.1.1-6) e (12.1.1-7) em (12.1.1-5) e o resultado em (12.1.1-4) tem-se que:
se
C jk w jk Cik w
+ m jk + > Tij + + mik + ik
(1− Si ). X k q jk Xk qik
então
n m

Ai = A0 + ∑ ∑ yik
j=1 k =1
(12.1.1-8)

Para um conjunto n de lugares j, a acumulação expande concentradamente em um deles,


designemos i, e com ela a concentração e o poder de atração, em função do número de produtos
para os quais apresenta yik>0 e, para cada k
a) diretamente
a.1) com a população do centro de polarização (Si),
a.2) com a escala de produção de k (Xk) e
a.3) com as habilidades dos trabalhadores, tanto maiores essas, maiores também qik,
estreitamente associadas ao seu grau de instrução, treinamento e cultura, isto é, às
disponibilidades de capital humano na forma de habilidades básicas e genéricas, como
346
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

as propriciadas pela formação escolar geral, e na forma de conhecimentos específicos


relacionados à produção de cada k, incluindo-se, nesse caso, os conhecimentos tácitos,
entranhados na cultura e no saber informal – estes, em si, uma forma de capital social,
tanto mais denso, quanto maior o número de produtos k para os quais manifestem-se
habilidades específicas.
a.4) com a redução de C, que resulta do efeito conjunto dos preços dos elementos
do capital físico, amplamente determinados pela desenvolvimento local da indústria,
do comércio e dos serviço, e da eficiência da gestão, esta fortemente associadas às
disponibilidades de capital humano na forma de habilidades básicas e genéricas para
o planejamento e a gestão, como a propriciada pela formação universitária, e na forma
de conhecimentos e know how específicos relacionados à produção de k, incluindo-se,
nesse caso, os conhecimentos tácitos, entranhados na cultura e no saber informal – este,
em si, também uma forma diferenciada de capital social;
b) inversamente
b.1) com os custos de transporte (T) e
b.2) com os preços das matérias primas (mi)
b.3) com o salário real médio (wi).

As variáveis inclusas em a), aquelas que influem diretamente na concentração, são as forças
centrípetas da polarização, dado que fundamentam o processo enquanto resultado de acumulação
dinâmica, assentada em rendimentos crescentes e, por isso, fenômeno do desenvolvimento. Em
conjunto, essas forças podem produzir o que Vázquez-Bartero (2001:29-30) chama de efeito H
associado a um lugar: uma confluência de capacidades derivadas tanto de elementos extensivos da
sua constituição, como o tamanho do mercado trabalho e de produtos, quanto da qualidade desses
mercados, associada ao nível da divisão social do trabalho e ao capital humano e social nele
presentes . De modo que A=A(H), isto é, a massa de um lugar, na metáfora de Isard, determinante
e resultante do seu poder de atração, na perspectiva do desenvolvimento endógeno resultante de
sua capacidade de acumulação dinâmica, é determinada pelo efeito H, pelo sinergismo das forças
centrípetas da polarização.
As variáveis inclusas em b) se caracterizam por serem forças com capacidade limitada para
favorecer a acumulação dinâmica de um lugar. Já se cogitou, na discussão sobre desenvolvimento,
a possibilidade de desenvolvimento com base nas vantagens derivadas de vantagens locacionais
em relação às matérias-primas e, mesmo, em relação ao custo da força de trabalho. Tais vantagens,
associadas à exportação de staple products altamente rentáveis, poderiam produzir efeitos de
aglomeração pela criação, gradativa, de oportunidades de substituição de importações (conf.
Clemente e Higashi, 2000:135-136). Sem negar completamente essa possibilidade, as discussões
atuais tendem a realçar o fato de que tais vantagens são estruturalmente contestadas por se
associarem a processos produtivos de retorno tendencialmente decrescentes. Discutiremos isso
adiante, no capítulo 12.2.
347
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Setores com raízes e produtividade decrescente. Há uma clara determinação provinda dos
setores com raízes – aqueles atrelados ao capital natural: eles tendem a limitar a produtividade
do conjunto, dado que assentados nos limites absolutos da natureza, seja enquanto espaço
(distâncias), seja enquanto substância. Setores como a mineração ou a agricultura poderiam, nessa
perspectiva, fundamentar capacidades iniciais de processos de desenvolvimento, de acumulação
diferenciada de um lugar, criando para ele ciclos de produtividade crescente, mas tenderiam a
se esgotar como fonte de diferenciação. Para Porter, eles seriam, em contraponto aos fatores
superiores das criações culturais do capital humano e capital social, fatores inferiores na formação
da competitividade de um lugar, do seu desenvolvimento. Há uma falha teórica, aqui, sobre a qual
discutiremos longamente adiante. Por enquanto é suficiente dizer que tal compreensão só procede
em contexto em que a natureza entre nos processos produtivos como objeto da produção, como
uma matéria-prima.
Baixos salários e limites a acumulação. A questão dos salários guarda complexidade
própria, com longo estatuto teórico. Importa, nesse momento, o seguinte: se por um lado baixos w
médios elevam a competitividade de um lugar em relação a certos produtos, por outro limitam o
surgimento de novos produtos, tolhendo, destarte, sua expansão – a ampliação de sua capacidade
de atração Ai - por redução do número de k para os quais se mostra capaz de apresentar, para um
número significativo de lugares, mediante a condição (12.1.3-8) yik>0.

12.1.2.Os lugares e seus potenciais no Sudeste paraense

Aplica-se, tal modelo, para a análise do caso do Sudeste paraense? Responder a essa
pergunda exige responder a duas outras:
1. As variáveis mencionadas acima como forças centrípetas manifestam-se na
mesorregião esclarecendo uma conformação multicêntrica?
2. Elas relacionam-se entre si explicando tal conformação como resultado de polaridades
estruturalmente justificáveis e sustentáveis, pois baseada em rendimentos crescentes
e competitividade dinâmica?

Encaminhemos essas questões testando duas hipóteses. Primeiro, as variáveis


empíricas entendidas como proxys daquelas que fazem as forças centrípetas, teoricamente
enunciadas acima e afetas aos setores sem raízes, terão, para suas distribuições espaciais, na
mesorregião, índices estatísticos de concentração elevados; enquanto que aquelas afetas aos
setores com raízes terão índices de concentração baixos. Se verdadeira, essa pressuposição
indica que as forças dadas como centrípetas pelas abordagens do desenvolvimento endógeno
manifestam-se concentradamente na mesorregião, permitindo-nos entender que fundamentam,
ali, processos de polarização. Segundo, as variáveis empíricas entendidas como proxys
daquelas que fazem as forças centrípetas acima teoricamente enunciadas e afetas aos setores
sem raízes correlacionam-se positivamente entre si, explicam-se mutuamente, reforçando-se.
348
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Se verdadeira, essa pressuposição indicaria que na mesorregião as polaridades tenderiam a


se explicar também por um efeito H, por um sinergismo entre as variáveis que promovem o
desenvolvimento por competitividade dinâmica e sistêmica.

Concentração de forças e as variáveis que a expressam

Para o ano de 1995-96, no qual se realizou o Censo Agropecuário e a recontagem do


Censo Demográfico, dispõe-se de uma série importante de variáveis demográficas, do governo
e da economia. Essa será, portanto, nossa referência temporal. Listamos, na Tabela 12.1.2-1,
48 variáveis, ao lado das quais anotamos o tipo de fundamento econômico (se capital físico,
se capital humano, se capital social ou se capital natural) e o tipo de fenômeno (se a extensão
do mercado, se a produtividde crescente, se a industrialização, se a urbanização) aos quais elas
pressupostamente estariam referidas. Na quarta coluna anotamos a expectativa teórica que as
discussões acima nos sugerem em relação a elas, se cumprem processos de polarização. Na
quinta coluna, anotamos o Índice de Gini para aquela variável considerando os 32 municípios
da Mesorregião Sudeste paraense. Como é amplamente conhecido, o Índice de Gini é uma
técnica estatística que calcula a concentração de uma variável. Tal como a aplicamos aqui,
o índice se obtém pela medida da dispersão entre a distribuição de cada variável pelos
municípios e uma distribuição totalmente homogênea, em que a participação relativa de cada
caso (município) é igual a 1 dividido pelo número de casos (32 municípios). Quanto maior a
dispersão encontrada, maior a concentração.
Uma simples leitura da mencionada Tabela 12.1.2-1 informa-nos que a nossa
pressuposição foi basicamente correspondida. As variáveis que são indicativas do potencial
de mercado, da divisão intersetorial do trabalho e do desenvolvimento do comércio, como
Pessoal Ocupado em Transportes, Depósitos Bancários, Pessoal Ocupado na Indústria e
Pessoal Ocupado nos Bancos e Pessoal Ocupado no Comércio, mostram-se nos rankings
mais elevados de Índice de Gini, como se esperava. O mesmo se poderia dizer das
variáveis indicativas de capital humano e prováveis condições para rendimento crescente
(qi crescentes): se esperavam e se verificaram elevadas concentraçöes para as escolaridades
elevadas, como Cabeça de Família com Mais de 14 Anos de Estudo e Pessoas com Mais
de 14 Anos de Estudo, concentração mediana para as escolaridades médias e baixa para
escolaridade em nível fundamental. Para as variáveis indicativas de capital social, na forma
de infraestrutura de serviços públicos, como Pessoal Ocupado na Saúde e Pessoal Ocupado
nos Serviços Públicos, por exemplo, esperava-se alta concentração, tal como se mostrou. A
População Urbana, entretanto, para a qual seria de esperar uma concentração alta, apresenta
Gini mediano.

349
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 12.1.2-1.Variáveis de elevada concentração (Índice de Gini para todos os municípios do


Sudeste Paraense
Expectativa quanto a Índice
Número Nome da Variável Indicador da importância de:
polarização de Gini
1 Pessoal Ocupado na Mineração Capital Natural Altamente Concentrado 0,96
2 VBP da Horticultura Capital Natural/Urbanização Altamente Concentrado 0,88
3 Pessoal Ocupado Educação Capital Social/Produtividade crescente Altamente Concentrado 0,84
4 Pessoal Ocupado Transportes Capital Físico/Potencial de Mercado Altamente Concentrado 0,83
5 Depósitos Bancários Capital Financeiro/Potencial de Mercado Altamente Concentrado 0,80
6 Pessoal Ocupado na Indústria Capital Físico/Industrialização Altamente Concentrado 0,79
7 Pessoal Ocupado nos Bancos Capital Físico/Potencial de Mercado Altamente Concentrado 0,78
8 Pessoal Ocupado na Saúde Capital Social/Produtividade Crescente Altamente Concentrado 0,76
9 Cabeça de família com mais 14 anos de estudo Capital Humano/Produtividade Crescente Altamente Concentrado 0,74
10 Pessoas com mais de 14 anos de estudo Capital Humano/Produtividade Crescente Altamente Concentrado 0,74
11 Quantidade de Bancos Capital Físico/Potencial de Mercado Altamente Concentrado 0,72
12 Pessoal Ocupado no Comércio Capital Físico/Potencial de Mercado Altamente Concentrado 0,71
13 Matrículas no ensino médio Capital Social Medianamente Concentrado 0,70
14 Pessoas entre 12 e 14 anos de estudo Capital Humano Medianamente Concentrado 0,70
15 Orçamento Público Receita Capital Social Altamente Concentrado 0,70
16 Orçamento Público Despesa Capital Social/Produtividade Crescente Altamente Concentrado 0,70
17 VBP da extração de madeira e carvão Capital Natural Medianamente Concentrado 0,70
18 Cabeça de família entre 12 e 14 anos de estudo Capital Humano Medianamente Concentrado 0,69
19 Leitos Hospitalares Capital Social Altamente Concentrado 0,68
20 Pessoal Ocupado no Serviço Público Capital Social Altamente Concentrado 0,67
21 Professores no ensino médio Capital Social Medianamente Concentrado 0,65
22 Cabeça de família entre 9 e 11 anos de estudo Capital Humano Medianamente Concentrado 0,65
23 Pessoas entre 9 e 11 anos de estudo Capital Humano Medianamente Concentrado 0,64
24 ICMS Altamente Concentrado 0,62
25 Quantidade de Indústrias Capital Físico Altamente Concentrado 0,60
26 População Urbana Potencial de Mercado Altamente Concentrada 0,55
27 Crédito Agrícola Capital Financeiro Medianamente Concentrado 0,55
28 Cabeça de família entre 4 e 8 anos de estudo Desconcentrado 0,53
29 VBP das Culturas Permanentes Capital Natural/Capital Físico Desconcentrado 0,52
30 Pessoas entre 4 e 8 anos de estudo Desconcentrado 0,51
31 VBP da Pecuária de Pequeno Porte Capital Natural/Capital Físico Desconcentrado 0,50
32 VBP da Pecuária de Médio Porte Capital Natural/Capital Físico Desconcentrado 0,46
33 VBP das Culturas Temporárias Capital Natural/Capital Físico Desconcentrado 0,44
35 Matrículas no ensino fundamental Desconcentrado 0,42
36 Professores no ensino fundamental Desconcentrado 0,41
37 Cab. De família até 4 anos de estudo Capital Humano Desconcentrado 0,41
38 Pessoas até 4 anos de estudo Desconcentrado 0,41
39 Eleitores Capital Social Desconcentrado 0,40
40 Pessoal ocupado na agricultura Trabalho Desconcentrado 0,40
41 VBP da Pecuária de Grande Porte Desconcentrado 0,38
42 População Rural Desconcentrado 0,37
43 Quantidade de postos de saúde Desconcentrado 0,37
44 Receita da agropecuária Desconcentrado 0,36
45 VBP total da produção animal e vegetal Desconcentrado 0,34
46 Fundo de participação dos municípios Desconcentrado 0,32
47 VBP do Extrativismo de Coleta Desconcentrado 0,25
48 Incremento da população Desconcentrado 0,19

Fonte: IBGE-BIM: Processamento do Autor.

350
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Quanto às variáveis associadas ao capital natural, encontram-se dois tipos de situação.


Primeiro, as variáveis que se associam ao capital natural na produção agropecuária, como
População Rural e os Valores Brutos de Produção dos diversos ramos de produção agropecuária,
para os quais se poderia pressupor maiores probabilidade de utilização do capital natural como
meio de produção, apresentam elevada desconcentração, como se esperava, aliás. Segundo,
aquelas variáveis que associam-se à natureza como matéria-prima, a exemplo de Pessoal
Ocupado na Mineração, de Valor Bruto da Produção da Extração de Madeira e de Carvão
(extrativismo de aniquilamento) apresentam elevado grau de concentração. As razões para a
diferença são óbvias. Tratada enquanto meio de produção, a base natural fornece ao processo
produtivo um fluxo de elementos que é, com participação variada, seu produto, e, como tal, se
renova a cada ano – a natureza é, pois, em combinação com o trabalho, coprodutora desse fluxo,
que se fará pelo tempo que durar a combinação dos elementos naturais que fazem daquele lugar
o espaço da existência daquela combinação particular. Essa porção de natureza pode sofrer
uma depreciação, ou não; a depreciação pode ser mais ou menos rápida – em qualquer dos
casos, contudo, a natureza é coprodutora, determinando duas coisas: por uma lado, uma difusão
das atividades na razão direta da difusão daquelas condições naturais; de outro, uma fixedez
espacial, tanto mais forte, quanto menor a depreciação da base natural – isto é, quanto maior
seja a sustentabilidade do uso dessa base natural. Tratada como matéria-prima, todavia, uma
porção de natureza é um estoque – o fluxo que daí deriva é único e não renovável. A porção de
natureza que o lugar contém, destarte, sendo um dado, dita também duas coisas: a concentração
espacial das atividades na razão direta do estoque e a mobilidade espacial na razão direta da
rapidez da exploração. Eis o que os dados, nesse primeiro momento, o demonstram.

Concentração e efeito H no Sudeste paraense

As variáveis com maior grau de concentração reforçam-se entre si, correlacionam-se


de modo a indicar uma polaridade dinâmica?
Para respondermos a isso exploremos os dados quanto à correlação estatística linear
direta entre cada variável. A Tabela 12.1.2-2 apresenta os Coeficientes de Correlação de
Pearson entre todas as variáveis com Índice de Gini superior a 0,5, ordenadas do canto
superior para o inferior pelas médias dos coeficientes de correlação da variável com todas
as demais variáveis. Assim, quanto mais no alto e na esquerda se encontrar a variável, mais
fortemente ela se correlaciona com todas as demais. A primeira coluna da tabela apresenta
o Índice de Gini, de modo que se pode visualizar, ao mesmo tempo, o grau de concentração
da variável, a média das correlações que apresenta com todas as variáveis e a correlação
particular com cada uma delas. Para respondermos a indagação acima temos que centrar a
atenção nas variáveis que apresentam elevado grau de concentração e/ou elevada média de
correlação com as demais variáveis. São as seguintes as situações a considerar:

351
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

•• As 7 variáveis com mais elevados Coeficientes de Correlação de Pearson com todas


as outras de Índice de Gini acima de 0,5 são as que indicam o nível de educação da
população e dos cabeças de família: as que se associam às disponibilidades de capital
humano. Entre elas, há duas sobre as quais devemos nos deter pois combinam altos
Ginis com altas correlações: Cab. de família com mais 14 anos de estudos e Cab. de
família entre 12 e 14 anos de estudo. Como se viu antes, a expressão concentrada
dessas variáveis indica a capacidade da aglomeração de prover meios para uma
dinâmica de produtividade crescente.
•• Há três outras variáveis com altos Ginis e elevadas correlações, todas relevantes para
questões de desenvolvimento, ou como proxys de infraestrutura social, como Pessoal
Ocupado na Saúde e Pessoal Ocupado Educação, ou do grau de desenvolvimento da
divisão social do trabalho, como Pessoal Ocupado no Comércio. Como discutimos,
essas variáveis são também indicadores de diferencial de produtividade e de potencial de
produtividade crescente.
•• Há duas variáveis também com elevados Ginis, mas com correlações não tão elevadas
como as anteriores, ambas proxys do grau de desenvolvimento da divisão social do
trabalho. São elas Depósitos Bancários e Pessoal Ocupado Transportes
•• A variável População Urbana, de grande significado para a análises do
desenvolvimento regional, dado que proxy importante do potencial do mercado e de
produtividade crescente por ganhos de escala, apresenta Gini mediano e correlações
muito elevadas com as demais variáveis de alta concentração, devendo constituir
alvo das nossas atenções.
•• Há variáveis com alto grau de concentração e com baixa correlação com as
demais. Nessa condição encontram-se VBP da Horticultura, Pessoal Ocupado na
Indústria, Pessoal Ocupado na Mineração e VBP do extrativismo de aniquilamento.
Desprezaremos a primeira pela sua pouca relevância para questões de desenvolvimento
e nos concentraremos, daqui por diante, nas três últimas – pela sua grande relevância
para as condições locais de desenvolvimento.

352
Tabela 12.1.2-2.Coeficiente de Correlação de Pearson das variáveis com Gini superior a 0,5 ordenadas pela média dos
coeficientes com todas as outras variáveis, 1995-96
Gi-
Variáveis 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
-ni
1.Cab. de família entre 4 e 8 0,53 1,00 0,98 0,98 1,00 0,97 0,97 0,96 0,97 0,98 0,96 0,95 0,94 0,94 0,92 0,92 0,92 0,92 0,89 0,87 0,78 0,76 0,76 0,67 0,66 0,66 0,46 0,38 0,38 0,17 0,23
anos de estudo
2.Cab. de família entre 9 e 11 0,65 0,98 1,00 1,00 0,98 0,99 0,99 0,98 0,96 0,96 0,96 0,95 0,96 0,95 0,94 0,93 0,93 0,90 0,93 0,88 0,71 0,80 0,79 0,59 0,68 0,63 0,49 0,31 0,41 0,15 0,16
anos de estudo
3.Pessoas entre 9 e 11 anos
Francisco de Assis Costa

0,64 0,98 1,00 1,00 0,98 0,99 0,99 0,99 0,96 0,97 0,96 0,95 0,98 0,97 0,96 0,96 0,96 0,93 0,94 0,87 0,73 0,77 0,76 0,63 0,62 0,61 0,46 0,32 0,33 0,16 0,16
de estudo
4.Pessoas entre 4 e 8 anos de 0,51 1,00 0,98 0,98 1,00 0,97 0,97 0,97 0,96 0,98 0,97 0,94 0,94 0,95 0,92 0,93 0,93 0,94 0,89 0,86 0,77 0,75 0,74 0,68 0,61 0,66 0,44 0,37 0,33 0,16 0,23
estudo
5.Pessoas com mais de 14 0,74 0,97 0,99 0,99 0,97 1,00 1,00 0,99 0,96 0,94 0,94 0,95 0,98 0,96 0,96 0,94 0,94 0,89 0,94 0,86 0,68 0,78 0,77 0,60 0,64 0,60 0,49 0,28 0,36 0,12 0,17
anos de estudo
6.Cab. De família com mais 0,74 0,97 0,99 0,99 0,97 1,00 1,00 0,99 0,96 0,94 0,93 0,95 0,97 0,96 0,95 0,93 0,94 0,89 0,93 0,86 0,67 0,79 0,78 0,58 0,65 0,62 0,49 0,26 0,37 0,10 0,17
14 anos de e7.studo
7.Cab. de família entre 12 e 14 0,69 0,96 0,98 0,99 0,97 0,99 0,99 1,00 0,95 0,95 0,93 0,94 0,99 0,97 0,96 0,95 0,94 0,89 0,94 0,86 0,68 0,77 0,76 0,60 0,60 0,57 0,49 0,28 0,31 0,18 0,22
anos de estudo
8.Pessoal Ocupado na Saúde 0,76 0,97 0,96 0,96 0,96 0,96 0,96 0,95 1,00 0,94 0,94 0,94 0,93 0,92 0,92 0,89 0,88 0,88 0,85 0,83 0,77 0,71 0,71 0,70 0,70 0,62 0,48 0,41 0,44 0,16 0,21

9.População Urbana 0,55 0,98 0,96 0,97 0,98 0,94 0,94 0,95 0,94 1,00 0,98 0,93 0,94 0,96 0,93 0,95 0,94 0,96 0,91 0,84 0,82 0,70 0,68 0,73 0,54 0,61 0,37 0,43 0,23 0,23 0,15
10.Pessoal Ocupado no Co- 0,71 0,96 0,96 0,96 0,97 0,94 0,93 0,93 0,94 0,98 1,00 0,93 0,92 0,96 0,93 0,95 0,94 0,96 0,91 0,80 0,84 0,65 0,63 0,75 0,55 0,58 0,40 0,48 0,25 0,22 0,08
mércio
11.Pessoal Ocupado Educa- 0,84 0,95 0,95 0,95 0,94 0,95 0,95 0,94 0,94 0,93 0,93 1,00 0,91 0,90 0,88 0,90 0,91 0,86 0,87 0,79 0,79 0,78 0,77 0,64 0,55 0,73 0,36 0,48 0,33 0,19 0,12
ção
12.Pessoas entre 12 e 14 anos 0,70 0,94 0,96 0,98 0,94 0,98 0,97 0,99 0,93 0,94 0,92 0,91 1,00 0,98 0,98 0,96 0,95 0,89 0,96 0,81 0,67 0,71 0,70 0,62 0,55 0,48 0,48 0,28 0,24 0,19 0,19
de estudo
13.Matrículas no ensino mé- 0,70 0,94 0,95 0,97 0,95 0,96 0,96 0,97 0,92 0,96 0,96 0,90 0,98 1,00 0,99 0,98 0,96 0,94 0,96 0,80 0,72 0,63 0,62 0,68 0,53 0,45 0,47 0,32 0,18 0,17 0,09
dio
14.Professores no ensino 0,65 0,92 0,94 0,96 0,92 0,96 0,95 0,96 0,92 0,93 0,93 0,88 0,98 0,99 1,00 0,97 0,95 0,91 0,97 0,78 0,68 0,62 0,61 0,64 0,54 0,39 0,50 0,30 0,21 0,19 0,10
médio
15.Pessoal Ocupado nos 0,78 0,92 0,93 0,96 0,93 0,94 0,93 0,95 0,89 0,95 0,95 0,90 0,96 0,98 0,97 1,00 0,99 0,96 0,97 0,76 0,74 0,63 0,61 0,69 0,42 0,47 0,40 0,38 0,08 0,23 0,08

353
Bancos
16.Depósitos Bancários 0,80 0,92 0,93 0,96 0,93 0,94 0,94 0,94 0,88 0,94 0,94 0,91 0,95 0,96 0,95 0,99 1,00 0,94 0,97 0,75 0,73 0,68 0,66 0,64 0,42 0,52 0,37 0,39 0,09 0,24 0,07

17.Quantidade de Bancos 0,72 0,92 0,90 0,93 0,94 0,89 0,89 0,89 0,88 0,96 0,96 0,86 0,89 0,94 0,91 0,96 0,94 1,00 0,89 0,79 0,77 0,59 0,57 0,74 0,45 0,53 0,35 0,39 0,12 0,19 0,08
18.Pessoal Ocupado Trans- 0,83 0,89 0,93 0,94 0,89 0,94 0,93 0,94 0,85 0,91 0,91 0,87 0,96 0,96 0,97 0,97 0,97 0,89 1,00 0,75 0,62 0,67 0,65 0,56 0,47 0,43 0,43 0,24 0,13 0,16 0,01
portes
19.Pessoal Ocupado no Servi- 0,67 0,87 0,88 0,87 0,86 0,86 0,86 0,86 0,83 0,84 0,80 0,79 0,81 0,80 0,78 0,76 0,75 0,79 0,75 1,00 0,56 0,82 0,82 0,40 0,72 0,61 0,43 0,12 0,54 0,14 0,24
ço Público
20.Quantidade de Indústrias 0,60 0,78 0,71 0,73 0,77 0,68 0,67 0,68 0,77 0,82 0,84 0,79 0,67 0,72 0,68 0,74 0,73 0,77 0,62 0,56 1,00 0,40 0,39 0,85 0,32 0,50 0,14 0,82 0,14 0,51 0,12
21.Orçamento Público Des- 0,70 0,76 0,80 0,77 0,75 0,78 0,79 0,77 0,71 0,70 0,65 0,78 0,71 0,63 0,62 0,63 0,68 0,59 0,67 0,82 0,40 1,00 1,00 0,16 0,61 0,78 0,38 0,08 0,53 0,11 0,26
pesa
22.Orçamento Público Re- 0,70 0,76 0,79 0,76 0,74 0,77 0,78 0,76 0,71 0,68 0,63 0,77 0,70 0,62 0,61 0,61 0,66 0,57 0,65 0,82 0,39 1,00 1,00 0,15 0,64 0,78 0,39 0,07 0,57 0,10 0,27
ceita
23.Leitos Hospitalares 0,68 0,67 0,59 0,63 0,68 0,60 0,58 0,60 0,70 0,73 0,75 0,64 0,62 0,68 0,64 0,69 0,64 0,74 0,56 0,40 0,85 0,16 0,15 1,00 0,16 0,33 0,12 0,69 (0,10) 0,32 0,10

24.VBP da Horticultura 0,88 0,66 0,68 0,62 0,61 0,64 0,65 0,60 0,70 0,54 0,55 0,55 0,55 0,53 0,54 0,42 0,42 0,45 0,47 0,72 0,32 0,61 0,64 0,16 1,00 0,44 0,58 0,01 0,88 (0,10) 0,23

25.ICMS 0,62 0,66 0,63 0,61 0,66 0,60 0,62 0,57 0,62 0,61 0,58 0,73 0,48 0,45 0,39 0,47 0,52 0,53 0,43 0,61 0,50 0,78 0,78 0,33 0,44 1,00 0,14 0,34 0,41 0,06 0,18

26.Crédito Agrícola 0,55 0,46 0,49 0,46 0,44 0,49 0,49 0,49 0,48 0,37 0,40 0,36 0,48 0,47 0,50 0,40 0,37 0,35 0,43 0,43 0,14 0,38 0,39 0,12 0,58 0,14 1,00 (0,10) 0,41 0,02 0,27
27.Pessoal Ocupado na In- 0,79 0,38 0,31 0,32 0,37 0,28 0,26 0,28 0,41 0,43 0,48 0,48 0,28 0,32 0,30 0,38 0,39 0,39 0,24 0,12 0,82 0,08 0,07 0,69 0,01 0,34 (0,10) 1,00 (0,02) 0,64 0,01
dústria
28.Pessoal Ocupado na Mi- 0,96 0,38 0,41 0,33 0,33 0,36 0,37 0,31 0,44 0,23 0,25 0,33 0,24 0,18 0,21 0,08 0,09 0,12 0,13 0,54 0,14 0,53 0,57 (0,10) 0,88 0,41 0,41 (0,02) 1,00 (0,08) 0,23
neração
29.VBP do extrativismo de 0,70 0,17 0,15 0,16 0,16 0,12 0,10 0,18 0,16 0,23 0,22 0,19 0,19 0,17 0,19 0,23 0,24 0,19 0,16 0,14 0,51 0,11 0,10 0,32 (0,10) 0,06 0,02 0,64 (0,08) 1,00 0,15
aniquilamento
30.VBP das Culturas Perma- 0,52 0,23 0,16 0,16 0,23 0,17 0,17 0,22 0,21 0,15 0,08 0,12 0,19 0,09 0,10 0,08 0,07 0,08 0,01 0,24 0,12 0,26 0,27 0,10 0,23 0,18 0,27 0,01 0,23 0,15 1,00
nentes
MédiaDasCorrelações 0,80 0,80 0,80 0,79 0,79 0,79 0,79 0,79 0,78 0,78 0,77 0,77 0,76 0,75 0,75 0,75 0,74 0,73 0,71 0,63 0,63 0,62 0,53 0,52 0,52 0,39 0,33 0,31 0,20 0,19
Tabelas A.1 a A.4. Processamento do Autor.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Como se relacionam essas variáveis no Sudeste paraense? Elas indicam, em sua


articulação, se as aglomerações explicam-se mais pelos serviços e comércio, ou mais
pelas indústrias que a elas se associam? E, o que fundamenta a formação de indústrias?
As dimensões dos mercados representados pelas populações urbanas ou o capital humano
contido nessas últimas? Desempenha o capital social (percebido nas proxys de infraestrutura
social, por exemplo) um papel relevante na polarização?
Para encaminhar tais questões, ajustamos modelos de regressão linear para as
transformações logarítmicas das variáveis acima escolhidas. Para atender a primeira, a
segunda e a última perguntas, tornamos a População Urbana variável dependente de todas
as demais acima escolhidas. Os resultados estão na Tabela 12.1.2-3: na primeira coluna
o nome da variável, na segunda os coeficientes originais da regressão para cada variável
independentes, na coluna seguinte o desvio padrão do parâmetro, na quarta coluna os valores
b (coeficientes estandartizados de modo a permitir a comparação direta entre eles), na quinta
coluna o resultado do Teste t de Studente e, na última, o grau de significância do parâmetro
(a medida da probabilidade de que não haja correlação entre as duas variáveis). Na última
linha, encontra-se o coeficiente de determinação da regressão (R2). O modelo apresentou um
elevado Coeficiente de Determinação Ri2 = 0,962 e resistiu a um teste de multicolinearidade
entre as variáveis dependentes: nenhuma correlação linear simples medida pelo Coeficiente de
Correlação de Pearson elevado ao quadrado situou-se acima do coeficiente de determinação
(nenhum ri2> Ri2 ).

Tabela 12.1.2-3. Resultados da regressão do LN da População Urbana como variável dependente


do LN das demais variáveis escolhidas
Coeficientes Coeficientes
Teste t de
Variáveis Independentes Normalizados Significância
B Desvio Padrão Studente
b
(Constante) 7,697 0,270 28,543 0,000
LN(Depósitos Bancários) 0,025 0,030 0,085 0,823 0,419
LN(Cab. de fam. com mais de 14 anos de escola) 0,030 0,094 0,044 0,317 0,754
LN(Cab. de fam. Entre 12 e 14 anos de escola) 0,338 0,112 0,441 3,011 0,006
LN(Pessoal Ocupado na Saúde) 0,006 0,063 0,010 0,094 0,926
LN(Pessoal Ocupado no Comércio) 0,151 0,083 0,251 1,808 0,084
LN(Pessoal Ocupado na Educação) 0,039 0,053 0,063 0,729 0,474
LN(Pessoal Ocupado na Indústria) 0,132 0,037 0,255 3,521 0,002
LN(Pessoal Ocupado na Mineração) -0,025 0,039 -0,035 -0,621 0,541
LN(Pessoal Ocupado no Transporte) -0,014 0,060 -0,025 -0,231 0,820
LN(VBP Madeira e Carvão) -0,054 0,020 -0,147 -2,738 0,012
Coeficiente de Determinação R2 = 0,962
Fonte: IBGE.Processamento do Autor com o SPSS.

Os resultados correspondem à expectativa teórica do desenvolvimento endógeno.


Olhando apenas os sinais dos coeficientes demonstra-se que as concentrações urbanas no Sudeste
paraense dependem positivamente (isto é, são formadas pela ação cumulativa das concentrações
respectivas) do grau de instrução média e superior da população adulta, do desenvolvimento
354
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

do comércio e da indústria, do desenvolvimento da infraestrutura educacional e de saúde e do


desenvolvimento do mercado financeiro; por outra parte, associa-se, na região, negativamente
à mineração e à produção de madeira e de carvão. Há, entretanto, relativizações a fazer que
muito dizem sobre a natureza das aglomerações na mesorregião. Considerados os valores dos
coeficientes b verifica-se, por exemplo, que a importância relativa da concentração de adultos
(cabeças de família) com formação superior (indicado pelo parâmetro 0,044) é 1/10 da importância
da concentrações de adultos com formação média (parâmetro 0,441) e que, além da concentração
de adultos com formação média, só mais duas variáveis com sinal positivo têm carga elevada,
aproximadamente iguais (0,25): precisamente o pessoal no comércio e na indústria. O peso do
pessoal ocupado na saúde é muito baixo (0,10), o mesmo pode ser dito da saúde e dos serviços
bancários. Por fim, se se considera a significância dos parâmetros e o teste t de Student (valor
crítico de 1,717 para um grau de liberdade de 22, 33 observações para 11 parâmetros), ter-se-ía
robustez apenas para os coeficientes relativos aos adultos com educação média, para o pessoal na
indústria e para o pessoal no comércio.

Tabela 12.1.2-4. Resultados da regressão da Pessoal Ocupado na Indústria como variável


dependente das demais variáveis escolhidas
Coeficientes Coeficientes
Teste t de
Variáveis Independentes Normalizados Significância
B Desvio Padrão Studente
b
(Constant) -21,409 6,046 -3,541 0,002
LN(Depósitos Bancários) -0,015 0,139 -0,026 -0,105 0,917
LN(Cab. de fam. com mais de 14 anos de escola) -0,347 0,421 -0,263 -0,824 0,419
LN(Cab. de fam. Entre 12 e 14 anos de escola) -0,471 0,600 -0,317 -0,786 0,440
LN(Pessoal Ocupado na Saúde) -0,029 0,288 -0,026 -0,102 0,920
LN(Pessoal Ocupado no Comércio) -0,171 0,405 -0,147 -0,423 0,677
LN(Pessoal Ocupado na Educação) -0,065 0,245 -0,055 -0,266 0,793
LN(Pessoal Ocupado na Mineração) 0,059 0,181 0,044 0,328 0,746
LN(Pessoal Ocupado no Transporte) 0,075 0,274 0,070 0,273 0,788
LN(População Urbana) 2,735 0,777 1,412 3,521 0,002
LN(VBP Madeira e Carvão) 0,273 0,086 0,384 3,161 0,005
Coeficiente de Determinação R2 = 0,792
Fonte: IBGE. Processamento do Autor com o SPSS.

O que explica a concentração da indústria, por sua vez, ou a participação da indústria


na formação das aglomerações? Tomando o pessoal empregado na indústria como variável
dependente, chegamos aos resultados da Tabela 12.1.2-4. Com um Coeficiente de Determinação Ri2
= 0,792 , o modelo indica, observando os sinais e os valores dos cficientes b, que, correspondendo
à expectativa teórica, a indústria depende, na região, das próprias aglomerações urbanas – do
tamanho do mercado (coeficiente positivo e muito elevado em relação às população urbana); por
outra parte, depende significativamente da produção de madeira e de carvão. Indica, ademais,
que a indústria que se forma na mesorregião não se associa à existência de capital humano, nem
cria infraestrutura social, dado que os coeficientes de todas as variáveis a isso associadas são
negativos, com as cargas negativos mais expressivas precisamente para os adultos com formação
355
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

média e superior. Mas o modelo apresenta problemas de multicolinearidade entre as variáveis


independentes, de um lado, entre as variáveis população urbana e adultos com nível superior e
médio, de outro, entre as variáveis pessoal na saúde de população adulta com instrução superior.
Se aduzirmos a isso os resultados dos testes t de Studente e de significância, concluímos que o
modelo nos apresenta resultado robusto apenas para os coeficientes relativos à população urbana
e valor da produção de madeira e carvão.
O que dizer da concentração do comércio, por sua vez, ou a participação do comércio
na formação das aglomerações? Tomando o pessoal empregado no comércio como variável
dependente, chegamos aos resultados da Tabela 12.1.2-5. Com um Coeficiente de Determinação
elevado, de Ri2 = 0,923, resistiu a um teste de multicolinearidade entre as variáveis dependentes:
nenhuma correlação linear simples medida pelo Coeficiente de Correlação de Pearson elevado ao
quadrado situou-se acima do coeficiente de determinação (nenhum ri2> Ri2 ). O modelo indica,
observando os sinais e os valores dos cficientes b, que o comércio também depende, fortemente,
das aglomerações urbanas que ajuda a formar, bem como dos adultos com formação média e do
nível de desenvolvimento dos transportes; depende fracamente do valor da produção da mdeira
e do carvão, dos adultos com formação superior e do pessoal ocupado na saúde. Se aduzirmos
os resultados dos testes t de Studente e de significância, concluímos, entretanto, que o modelo
apresenta resultado relativamente robusto (8% de probabilidade de correlação nula) apenas para o
coeficiente relativo à população urbana. Poder-se-ía, com algum risco, incorporar os parâmetros
relativos à população com nível médio de instrução (14,5% de probabilidade de correlação nula).

Tabela 12.1.2-5. Resultados da regressão do Pessoal Ocupado no Comércio como variável


dependente das demais variáveis escolhidas
Coeficientes Coeficientes
Teste t de
Variáveis Independentes Desvio Normalizados Significância
B Studente
Padrão b
(Constant) -5,214 3,811 -1,368 0,185
LN(Depósitos Bancários) -0,003 0,073 -0,006 -0,038 0,970
LN(Cab. de fam. com mais de 14 anos de escola) 0,093 0,223 0,082 0,416 0,681
LN(Cab. de fam. Entre 12 e 14 anos de escola) 0,458 0,303 0,359 1,510 0,145
LN(Pessoal Ocupado na Saúde) 0,005 0,151 0,006 0,036 0,972
LN(Pessoal Ocupado na Educação) -0,123 0,126 -0,120 -0,975 0,340
LN(Pessoal Ocupado na Indústria) -0,047 0,111 -0,055 -0,423 0,677
LN(Pessoal Ocupado na Mineração) -0,009 0,095 -0,008 -0,098 0,923
LN(Pessoal Ocupado no Transporte) 0,154 0,140 0,167 1,096 0,285
LN(População Urbana) 0,859 0,475 0,516 1,808 0,084
LN(VBP Madeira e Carvão) 0,055 0,053 0,090 1,027 0,316
Coeficiente de Determinação R2 = 0,923

Fonte: IBGE.Processamento do Autor com o SPSS.


356
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Polaridade e “Massa” de Gravitação

As aglomerações urbanas no Sudeste paraense resultam de dinâmicas cumulativas


favorecidas pelos serviços de comércio, bancários, educacionais e de saúde e pela presença de
indústrias. A produção industrial na mesorregião, por seu turno, associa-se fortemente à exploração
madeireira e à produção de carvão, que não corroboram a polaridade dinâmica centrada nas
aglomerações urbanas e não formam e nem requerem capital humano, sequer de nível médio,
muito menos de nível superior. As aglomerações de comércio e de serviços, por seu turno, apoiam-
se, como fundamento de trabalho e consumo, dominantemente em um capital humano de nível
médio e secundariamente, em capital humano de nível superior – ambos fortemente concentrados
na mesorregião. De modo que as variáveis escolhidas constituem vetores da multipolaridade
da mesorregião. Se as integramos, podemos estabelecer uma “massa” Ai, cujo poder de atração
impregnaria a metáfora dos campos de força de Isard com o conteúdo, mesmo que parcial, dos
fatores determinantes do desenvolvimento endógeno.
As técnicas de análise fatorial fornecem meios de observar de modo eficiente a
“comunicação de agregados” de variáveis (Ferreira, 1989:531) e a distribuição espacial da
ocorrência dessas agregações. A análise “cria” uma ou várias variáveis, em relação às quais, as
variáveis tomadas inicialmente apresentam máxima correlação. Tais variáveis podem ter seus
valores (scores) calculados para todas as unidades de ocorrência das variáveis primárias – neste
caso aqui, para todos os municípios. Os valores das variáveis artificiais (factors) representam,
assim, a integração das variáveis (reais) que atuam reforçando-se. Para este caso, procedamos
de modo a encontrar algum factor que expresse as interrelações das variáveis que reforçam
sua condição original concentrada (Fedorenko et alii, 1971; Friedrichs, 1980; Brosius, 1989;
Kageyama e Silveira, 1997; Lemos e Assunção, 1997).
Submetemos as 11 variáveis já tratadas a uma análise fatorial. Relembrando, oito delas
são variáveis adequadas para representar proxys das forças centrípetas da acumulação dinâmica:
capital humano (Cabeça de família com mais 14 anos de estudo, Cabeça de família entre 12
e 14 anos de estudo), capital social (Pessoal Ocupado Educação, Pessoal Ocupado na Saúde),
aprofundamento da divisão social do trabalho (Pessoal Ocupado no Comérico, Depósitos
Bancários, Pessoal Ocupado Transportes, Pessoal Ocupado na Indústria) e tamanho de mercado
(População Urbana). Duas delas têm a ver com a exploração de recursos naturais que induzem à
acumulação espacialmente concentrada (Pessoal Ocupado na Mineração e VBP da Extração de
Madeira e Carvão).
Resultaram 2 fatores com eigenvalues maiores que 1 (fronteira, a partir da qual sugere-se
consideração – Hair et alii, 1998: 104-113). O primeiro fator, com eigenvalue de 7,8 explica 71%
da variância total. O segundo, com eigenvalue de 1,56, explica 14,2% da variância total.
Consideremos na nossa análise apenas o primeiro fator, cujas correlações com as diversas
variáveis de origem estão na Tabela 12.1.2-5 ordenadas por valor. O fator apresenta correlações
superiores a 0,9 para sete das oito variáveis proxys daquelas que fundamentam a polarização
357
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

dinâmica. Apresenta baixa correlação com as atividades concentradas, porém notoriamente


atreladas à exploração da natureza como matéria-prima. Chamaremos este de Fator de Polaridade
Dinâmica, por explicitar a interação dominante das variáveis (que representam proxys dos fatores
superiores) de polarização.

Tabela 12.1.2-6. O fator principal da análise fatorial das variáveis básicas do Sudeste Paraense
Coef. De Correlação
Variáveis
com o Fator Principal
População Urbana 0,979
Pessoal Ocupado no Comércio 0,979
Cabeça de família com mais 14 anos de estudo 0,977
Cabeça de família entre 12 e 14 anos de estudo 0,976
Pessoal Ocupado Educação 0,969
Pessoal Ocupado na Saúde 0,967
Depósitos Bancários 0,963
Pessoal Ocupado Transportes 0,934
Pessoal Ocupado na Indústria 0,443
Pessoal Ocupado na Mineração 0,303
VBP da extração de madeira e carvão 0,248
Fonte: Tabelas Dados do IBGE, processamento do autor com SPSS.

Um dos recursos da análise fatorial é verificar em que medida um fator se manifesta para
cada um dos casos estatísticos da análise – os scores do fator para cada unidade de informação.
Em nosso estudo, isso significa que podemos ter uma medida da força da conjunção das variáveis
que fundamentam a polarização dinâmica expressa pelo Fator de Polarização Dinâmica – em
que medida ele se manifesta para cada lugar. Precisamente esse valor poderá ser tomado como
a “massa” A do lugar, na delimitação do campo de forças dos potenciais descritos na relação
(12.1.1-3) – o seu poder estruturante derivado do sinergismo produzido pela interação entre
aquelas variáveis. Tais valores foram encontrados e constam da Tabela 12.1.2-7.
Encontrado o vetor de “massas”, isto é, as grandezas Aj da relação (12.1.1-3),
construimos uma matriz de distâncias correspondente aos 33 municípios, que compõem a
mesorregião Sudeste do Pará. Dividindo cada massa pela distância encontramos a atratividade
de cada par i,j de municípios. O potencial de atração de cada município é a soma da força de
atração desse município em relação a cada um dos outros municípios: o valor do campo de
forças constituído por suas relações. A soma por município do potencial de atração respectiva
em relação a todos os demais é seu potencial de atração. Os cinco municípios de maior potencial
de atração na mesorregião Sudeste paraense, aqueles que potencialmente configuram-se
como seus polos, são, pela ordem de grandeza de P: Marabá (P=6,4), Parauapebas (P=3,35),
Paragominas (P=3,10), Tucuruí (P=2,92), Conceição do Araguaia (P=2,39).
A Tabela 12.1.2-8 apresenta a distribuição das respectivas cargas de atração em relação
a todos os municípios da mesorregião e uma distribuição dos municípios pelas aglomerações
358
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

que apresentaram maior poder de influência. Apresenta, ao final, uma indicação de posição
no polo a partir das cargas potenciais que cada município apresenta em relação aos principais
centros aglutinadores: foi considerado que um município seria tributário de um centro, se o
potencial de atração que apresenta em relação àquele centro fosse maior que o potencial de
atração que apresenta em relação a qualquer centro.

Tabela 12.1.2-7 - Scores dos Fatores Polaridade e Ruralidade para o Sudeste Paraense – Massa
dos Municípios
Scores
Scores
Polaridade
Municípios Polaridade
Dinâmica
Dinâmica
Ajustados
Marabá 4,59379 6,1401
Parauapebas 1,50015 3,0464
São João do Araguaia -0,53269 1,0136
São Domingos do Araguaia -0,48184 1,0644
Itupiranga -0,41601 1,1303
Bom Jesus do Tocantins -0,49303 1,0533
Jacundá -0,07421 1,4721
Tucuruí 1,10113 2,6474
Eldorado dos Carajás -0,49109 1,0552
Curionópolis -0,35782 1,1885
Rondon do Pará 0,11762 1,6639
Abel Figueiredo -0,5124 1,0339
São Geraldo do Araguaia -0,35986 1,1864
Brejo Grande do Araguaia -0,5373 1,0090
Dom Eliseu -0,06088 1,4854
Paragominas 1,37501 2,9213
Breu Branco -0,33886 1,2074
Palestina do Pará -0,52932 1,0170
Goianésia do Pará -0,44176 1,1045
Xinguara 0,01646 1,5627
Redenção 0,74664 2,2929
Água Azul do Norte -0,54628 1,0000
Conceição do Araguaia 0,64112 2,1874
Novo Repartimento -0,42859 1,1177
Ulianópolis -0,37412 1,1722
Rio Maria -0,3376 1,2087
Tucumã -0,22644 1,3198
Ourilândia do Norte -0,40838 1,1379
Pau D’Arco -0,5428 1,0035
Cumaru do Norte -0,52176 1,0245
Santana do Araguaia -0,1672 1,3791
São Félix do Xingu -0,36902 1,1773
Santa Maria das Barreiras -0,54263 1,0037
Fonte: Dados do IBGE, processamento do autor com SPSS. * Tomamos o menor valor igual a 1.
359
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 12.1.2-8 Cargas dos potenciais de atração dos principais centros polarizadores do Sudeste
Paraense
Distribuição dos municípios pelos respectivos polos de
Municípios com maior potencial de atração:
Município atração (função da maior carga de atração)
Marabá Parauapebas Paragominas Tucuruí Conceição Marabá Parauapebas Paragominas Tucuruí Conceição
Marabá 6,14007 0,05203 0,01436 0,03198 0,01263 Marabá
Parauapebas 0,02582 3,04643 0,00668 0,01145 0,01219 Parauapebas
S. J. Arag. 0,02413 0,00685 0,00321 0,00483 0,00307 Marabá
S. Doming. 0,02129 0,00750 0,00323 0,00471 0,00343 Marabá
Itupiranga 0,01700 0,00912 0,00343 0,00715 0,00327 Marabá
Bom Jesus 0,01505 0,00566 0,00390 0,00560 0,00286 Marabá
Jacundá 0,01502 0,00751 0,00564 0,01389 0,00352 Marabá
Tucuruí 0,01379 0,00995 0,00946 2,64741 0,00521 Tucuruí
Eldorado 0,01319 0,02110 0,00230 0,00409 0,00432 Parauapebas
Curionóp. 0,01238 0,03962 0,00275 0,00450 0,00487 Parauapebas
Rondon 0,01223 0,00666 0,00770 0,00800 0,00396 Marabá
Abel Fig. 0,01124 0,00497 0,00401 0,00527 0,00274 Marabá
S. Geraldo 0,00927 0,00802 0,00289 0,00368 0,00530 Marabá
B. Grande 0,00747 0,00567 0,00310 0,00388 0,00325 Marabá
Dom Eliseu 0,00707 0,00450 0,00952 0,00594 0,00312 Paragominas
Paragomin. 0,00683 0,00641 2,92129 0,01043 0,00462 Paragominas
B. Branco 0,00678 0,00451 0,00457 0,06708 0,00240 Tucuruí
Palestina 0,00678 0,00565 0,00304 0,00371 0,00339 Marabá
Goianésia 0,00650 0,00409 0,00489 0,01726 0,00224 Tucuruí
Xinguara 0,00584 0,01421 0,00284 0,00411 0,01101 Parauapebas
Ulianópolis 0,00350 0,00304 0,01429 0,00469 0,00212 Paragominas
N. Repart. 0,00426 0,00543 0,00339 0,01693 0,00252 Tucuruí
São Félix 0,00193 0,00491 0,00177 0,00286 0,00338 Parauapebas
Ourilândia 0,00244 0,00759 0,00190 0,00308 0,00455 Parauapebas
Água Azul 0,00467 0,01000 0,00181 0,00287 0,00490 Parauapebas
Tucumã 0,00277 0,00815 0,00219 0,00351 0,00508 Parauapebas
Cumarú 0,00210 0,00488 0,00154 0,00223 0,00551 Conceição
RioMaria 0,00336 0,00863 0,00209 0,00299 0,00930 Conceição
Pau D’arco 0,00231 0,00528 0,00162 0,00398 0,01091 Conceição
S. M. Barr. 0,00170 0,00198 0,00142 0,00177 0,01287 Conceição
Santana 0,00200 0,00383 0,00175 0,00219 0,01724 Conceição
Redenção 0,00493 0,01071 0,00356 0,00476 0,02796 Conceição
Conceição 0,00450 0,00875 0,00346 0,00431 2,18740 Conceição
Potenciais
6,4182 3,35 3,05959 2,92 2,39
totais

Fonte: Processamento do autor.

A Economia Local do Sudeste Paraense e o Polo Marabá

Na análise anterior, o município de Marabá apresentou-se como Centro de maior


potencial polarizador no Sudeste paraense. Considerando a força de atração representado por
uma massa A, cujo valor resulta da inter-relação de variáveis que indicam tanto possibilidades
de ganhos de escala (como população urbana) como outras que apontam para potencial de
rendimentos crescentes (como as variáveis associadas à escolaridade da força de trabalho,
além da disponibilidade de serviços públicos e privados) e a ação centrífuga das distâncias
entre o Centro e todos os municípios da Mesorregião Sudeste Paraense, estabeleceu-se a
hierarquia de lugares que representam o que qualificaremos nos subcapítulos que seguem
como a economia local do Sudeste Paraense, cujo centro urbano polarizador é a cidade de
Marabá, o Polo Marabá.
360
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

12.2 A dinâmica da economia local do Sudeste Paraense 1990-2007

O Sudeste Paraense9 tem sido uma região de extraordinária dinâmica na Amazônia


brasileira. Do lado da economia agrária, lá se alocaram os grandes projetos pecuários financiados
pela SUDAM desde meados dos anos sessenta, os quais confrontaram frentes de expansão
camponesas, inicialmente espontâneas nos anos cinquenta, sessenta e setenta (Costa, 2000;
Costa, 1989; Ianni, 1979; Ianni, 1978), depois induzidas nos anos oitenta e noventa por dinâmicas
institucionais e econômicas, como assentamentos da reforma agrária (Solyno, 2002; Guerra,
2000) e transbordamento de surtos garimpeiros e de investimentos (Costa, 1993; Costa, 1994).
Ao lado disso, agentes mercantis e extrativistas da economia da madeira e da Castanha-do-Pará
transformaram-se em pecuaristas de médio e grande porte (Emmi, 1988).
Do lado da economia mineral, a região viveu a busca de diamantes nos anos quarenta
e cinquenta (Velho, 1972), a corrida ao ouro de Serra Pelada iniciada nos anos setenta e a
implantação, ao longo dos anos oitenta, da principal área de atuação da Companhia Vale do Rio
Doce no Pará, onde explora seu sistema norte de metais ferrosos com base em Carajás (Monteiro,
2005).
Ao mesmo tempo, desenvolveram-se em passos largos centros urbanos regionais na
logística de integração dessas economias primárias aos mercados nacional e internacional. A
evolução demográfica expressa essa dinâmica. A taxa de crescimento da ordem de 8% a.a. até
início dos anos noventa, reduzindo para 3,3% a.a. ao longo dessa década, levou a que a população
residente total chegasse em 1991 a 889.455 e, em 2000, a 1.192.135 pessoas. Por seu turno, a
proporção da população urbana saltou nesse período de 53% no primeiro, para 64% no último
ano.
A literatura disponível tem produzido hipóteses sobre o andamento da economia local
do Sudeste paraense. No que se refere à extração mineral, ressalta o caráter enclávico dos
empreendimentos e suas notáveis limitações de transbordamento em relação ao território em que
se alojam (Monteiro, 2005 e 2004; Bunker, 2000 e 2004; Silva, 1998; Silva Enriquez, 2007).
Sobre a economia agrária, indica-se uma dinâmica de “boom-colapso”, mediante a qual uma fase
fortemente ascendente por conta de uma exploração madeireira de aniquilamento seguida por
pecuária extensiva daria lugar a uma queda aguda, com estagnação permanente, pois a produção
rural subsequente seria de baixa e decrescente produtividade (Shneider et alii, 2000: 15-25).
Tomadas em conjunto, essas proposições sugerem uma dicotomia profunda entre
os setores da produção primária, a par de relações tênues e altamente reversíveis entre eles e
as configurações urbanas, de modo que a forte tendência de urbanização demonstrada poderá

9 A Mesorregião Sudeste Paraense compõe-se dos seguintes municípios: Marabá, Parauapebas, Curionópolis, Ourilândia do Norte,
Tucumã, Eldorado dos Carajás, Canaã dos Carajás, São Felix do Xingu, São João do Araguaia, Brejo Grande do Araguaia, Bom Jesus
do Tocantins, Palestina do Pará, São Domingos do Araguaia, Pau D’Arco, Redenção, Rio Maria, Xinguara, Conceição do Araguaia,
Paragominas, Tucurui, Jacundá, Itupiranga, São Domingos do Capim, Rondom do Pará, Dom Eliseu, Ulianópolis, Goianésia do Pará,
Novo Repartimento, Breu Branco e Nova Ipixuna.

361
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

não corresponder ao crescimento do “burburinho” de cidades, no sentido apontado por Storper


e Venables (2005): força que tenderia a estabelecer os aglomerados dos quais resultariam os
processos virtuosos de formação de externalidades positivas (de escala, de diversificação, de
transbordamento tecnológico, de complexificação funcional), base para a dinâmica de rendimentos
crescentes e de processos irreversíveis de desenvolvimento. Ao contrário, as grandes populações
urbanas associar-se-iam a um complexo fragmentado (o mineral e o agrário; o urbano e o rural),
precário, fundado em processos economicamente reversíveis de valorização10 (Becker, 2005:
409), com resultados fisicamente irreversíveis de transformação da base natural, o mais distintivo
ativo da economia local.
O esforço que faremos adiante será orientado por essas hipóteses. Buscaremos verificá-
las, entretanto, no contexto de uma discussão em que ressaltam quatro questões teóricas e
metodológicas de importância e atualidade, discutidas teoricamente no capítulo 8. Primeiro, que
se tratem os atores em sua diversidade (Markusen, 2005) a configurar “territórios localizados
(...), lugares reais do espaço socialmente construído” (Lemos, Santos e Grocco, 2005:172:175)
– ao invés de agentes homogêneos a compôr uma “região abstrata” (Martin, 1999). Segundo,
que se observem as relações desses atores em “... nodos (organismos) e ligações que compõem o
engenho de aprendizagem, conferindo-lhe configuração específica” (Conti, 2005:231). Cassiolato
e Lastres (1999, 2003) sugerem que essa necessária estruturação constituiria os Arranjos
Produtivos Locais (APLs) de cuja interação se conformariam, segundo Costa (2006:90-92), as
economias locais. Terceiro, que se verifiquem as indicações de produtividade crescente dessas
economias na integridade das configurações urbana/rural, por uma parte, local/extralocal, por
outra (Fujita, Krugman, Venebles: 2002; Costa, 2006). Que tudo, por fim, se mostre em contexto
de rede que processem a interação com a economia-mundo (Conti e Giaccaria, 2001).
Assim, a contribuição primeira que o capítulo pretende dar é metodológica e refere-
se a formas de mensuração da economia local que possam abrigar as exigências mencionadas:
apresentaremos, para cada ano do período que vai de 1995 a 2004, descrições quantitativas da
economia do Sudeste Paraense que explicitam as posições dos atores relevantes no contexto das
relações sistêmicas que estabelecem entre si – nos APLs que protagonizam – na constituição da
economia local e nas interações que mantêm em contextos mais amplos através das redes que
produzem transposições de escalas, do local ao regional, ao nacional, ao mundo.
Para tanto, construimos matrizes de insumo-produto com metodologia ascendente
(down up), conforme modelo explicitado em 12.2.1 A análise de insumo-produto parte de uma
“fotografia” de uma dada economia, em que se demonstra a interdependência dos seus componentes
na formação do produto final (para consumo local e extralocal, de consumo e de investimento)
e da renda (das famílias, das empresas e do governo). Em uma perspectiva setorial a análise

10 Conti distingue valorização de desenvolvimento: em processo de valorização o sistema regional (local) é suporte passivo para forças
e processos mais ou menos difusos; no caso do desenvolvimento local há envolvimento direto de forças territorialmente imersas. O
primeiro é um processo reversível, exógeno, dependente e baseado em recursos genéricos; o segundo é endógeno, autônomo e baseado
em ativos específicos (Conf. Conti, 2005:231-238).

362
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

produz “... uma visão única e compreensiva do funcionamento da economia, de como cada setor
torna-se mais ou menos dependente dos outros [...permitindo demonstrar que...] devido a natureza
dessa interdependência todos os setores estão interligados, direta ou indiretamente” (Guilhoto e
Sesso Filho, 2005:21). Nosso esforço será dispor esse potencial descritivo e analítico a serviço de
uma perspectiva que valoriza os aglomerados localizados em economia local, ou, em uma ótica
inversa, que descreva a economia local como resultado de dinâmica de aglomeração fundada
em APLs; que estes sejam observados referidos às trajetórias que os constituem à montante e às
cadeias de valor que se formam à juzante deles.
Os principais resultados das matrizes geradas, no que se refere à estruturação da economia,
são apresentados na seção 12.2.1. Dispondo das descrições anuais, procederemos nas seções
seguintes 12.2.2 e 12.2.3 às análises dinâmicas da evolução da capacidade da economia local
de gerar e de se apropriar de externalidades de escala, de especialização e de complexificação
da economia local. Observaremos dois tipos de efeitos: os refletidos no multiplicador da base de
exportação e os refletidos em indicadores de prevalência das forças centrípetas e centrífugas da
economia local.
Para o primeiro tipo de efeitos, será explorada a teoria do multiplicador da base,
segundo a qual uma economia regional cresce como função linear da sua base de exportação,
cujo coeficiente angular corresponde a um multiplicador keynesiano clássico, determinado
pela proporção do consumo endógeno no total da renda. Seria movida, portanto, por forças
exógenas que se expressariam, numa matriz de insumo-produto, nos componentes exógenos
da demanda final, os quais podem sofrer influência de um sem número de fatores que afetam
a demanda extralocal dos produtos locais (Stimson, Stough, Roberts, 2006:161). Contudo,
como defendem Fujita, Krugman, Venebles (2002:43-45) e Romer (1986, 1990), a partir de
Pred (1966), tais economias crescem também determinadas por fatores endógenos associados
ao crescimento do número e importância das concatenações internas que resultam do próprio
tamanho da economia: à medida que o tamanho da economia regional cresce, torna-se lucrativo
produzir uma maior variedade de produtos e serviços localmente e esta relação poderia pôr em
movimento um processo cumulativo de crescimento regional. Num modelo dinâmico, no qual
o multiplicador da base cresce com a expansão da economia, mediante a hipótese de que os
coeficientes de consumo das empresas, das famílias e das instâncias locais de governo tendem a
crescer com o tamanho do mercado, verificaremos em que medida a interação entre economias
de escala e tamanho do mercado endógeno sustentam processos de aglomeração cumulativo.
Intentaremos tal exercício na seção 12.2.4
Para o segundo tipo de efeitos, serão exploradas as possibilidades que a estrutura de
multiplicadores das matrizes inversas de Leontief oferece para observar efeitos de retenção e
transbordamento de capacidades econômicas e, com isso, indicar a prevalência da forças centrípetas
sobre as centrífugas no estabelecimento da capacidade de retenção local de excedentes. Testarmos tais
requisitos será o propósito da seção 12.2.5.
363
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

12.2.1. Especificando o modelo de Contas Sociais Ascendentes Alfa (CSα)

O modelo com que trabalharemos baseia-se nos esquemas de Leontief (Leontief, 1983;
Haddad, Ferreira, Boisier, 1989, Guilhoto e Sesso Filho, 2005), os quais permitem fazer a
contabilidade social de uma economia de k produtos e m agentes ou setores em dada unidade
político-administrava ou geográfica. Eles podem servir igualmente para observar as relações que
se produzem na formação da oferta e na geração da renda social derivada de um único produto.
De modo que a contabilidade social de uma economia pode ser operada como o resultado da
agregação da formação da oferta e geração de renda associada a cada um dos k produtos que a
compõem.
Com base nesses princípios, o modelo opera a partir da inter-relação entre cinco tipos de
matrizes: a matriz de relações intermediárias ou de demanda endógena do sistema produtivo (zij),
um vetor-coluna de demanda final ou autônoma (yi), um vetor-coluna de Valor Bruto da Produção
(xi), um vetor-linha Valor Adicionado (wj) e outro vetor-linha de Renda Bruta (yj), para i = j
representando o número de setores do sistema produtivo.
Cada zij do sistema é resultado do produto da quantidade q transacionada entre o agente
ou setor i e com o agente ou setor j e do preço p verificado nessa intermediação. De modo que
zij  qij . pij (12.2.1-1)
Cada linha i registra, assim, os valores das vendas do agente i para todos os demais
agentes produtivos e para os consumidores finais (yi); cada coluna j registra as compras do setor
ou agente j, sendo seu somatório o valor dos insumos por ele requeridos. Isto posto, podemos
calcular os demais elementos do modelo pois, sendo
n

xi = yi + ∑ zij (12.2.1-2)
j=1
então
n

w j = xi − ∑ zij (12.2.1-3)
i=1
n

y j = ∑ zij + w j (12.2.1-4)
i=1
n n n

X = ∑ ∑ zij + ∑ yi (12.2.1-5)
i=1 j=1 i=1
n n n

Y = ∑ ∑ zij + ∑ w j (12.2.1-6)
j=1 i=1 j=1

tal que X = Y, para X representado o Valor Bruto da Produção Total e Y a Renda Bruta Total da
economia.
364
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Assumindo que os fluxos intermediários por unidade do produto final são fixos, podemos
derivar o sistema aberto de Leontief, que considera a demanda final exógena ao sistema, como sendo
n

xi = yi + ∑ aij x j (12.2.1-7)
j=1
onde

zij
aij  (12.2.1-8)
xi

Cada elemento aij é o coeficiente técnico que indica a quantidade de insumo do setor i
necessário para a produção de uma unidade de produto final do setor j.
Reescrevendo a equação (12.2.1-7) na forma matricial temos:
ax + y = x (12.2.1-9)

Em que A é a matriz de coeficientes diretos de insumos de ordem (n X n); X e Y vetores


colunas de (n X 1). Resolvendo a equação (12.2.1-9) chegamos à produção total necessária para
satisfazer a demanda final. Isto é:
x = ( I − A)−1 y (12.2.1-10)
para ( I  A)1 sendo a matriz de coeficientes diretos e indiretos ou matriz de Leontief.

Os elementos bij da matriz inversa de Leontief B = (I-A)-1 têm características que carecem
explicitação (Haddad, 1989:110):
1. b ij > aij ou b ij = aij - cada elemento da matriz inversa bij é maior ou igual ao respectivo
elemento da matriz de coeficientes técnico aij, uma vez que o primeiro indica os efeitos diretos
e indiretos sobre as vendas do agente i para atender a R$ 1,00 de demanda final do agente j,
enquanto que o segundo indica apenas os efeitos diretos; a igualdade entre os dois coeficientes
ocorre no caso particular em que os efeitos indiretos são nulos.
2. b ij > 0 ou b ij = 0 - uma expansão na demanda final do agente i irá provocar um efeito positivo
ou nulo sobre as vendas do agente j, nunca um efeito negativo; o efeito nulo surgirá se não
houver interdependência direta ou indireta entre os agentes i e j.
3. b ij > 1 ou b ij = 1, se i=j, isto é, os elementos da diagonal principal da matriz inversa serão
sempre iguais a 1 ou maiores do que 1.

Os multiplicadores – impactos e efeitos setoriais

A matriz inversa de Leontief fornece os multiplicadores de renda e de produto de


uma economia. Esses podem ser de dois tipos, dependendo do modo como sejam calculados,
365
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

considerando a renda e o consumo locais (o setor “famílias”) como variáveis exógenas ou


endógenas. Podemos chamar o primeiro de Tipo I, descritos acima como bij, e o segundo de Tipo
II, do qual trataremos adiante como b*ij (Haddad, 1989: 317-318; Tosta et alii, 2004:252).
Neste estudo trabalhamos apenas com os multiplicadores do Tipo II. Assim, foram
calculados tendo o valor adicionado (renda das famílias) como sendo uma linha e o consumo final
local como uma coluna a mais na matriz de coeficientes técnicos. Assim procedendo, são obtidos
multiplicadores com as seguintes características.
1. O elementos b*ij serão sempre maiores do que os valores bij nas mesmas posições
porque enquanto estes últimos, como se viu acima, captam os efeitos diretos e indiretos
de uma elevação na demanda do setor, aqueles captam os efeitos diretos, indiretos e
induzidos pela variação na renda e na demanda final local.
2. Os elementos b*ij da diagonal principal (quanto i=j) captam os efeitos diretos, indiretos
e induzidos que uma elevação da demanda final de um setor produz nele mesmo. A isto
chamaremos de multiplicador de impacto setorial. O multiplicador de impacto setorial,
descrito em 2, é diferente do multiplicador setorial de produto. Este incorpora os efeitos
sobre os outros setores derivados do impacto sobre um dado setor. Assim, resulta dos
efeitos diretos, indiretos e induzidos produzidos no própiro setor por um aumento na
sua demanda final, representado por b*ij quando i=j, mais os efeitos também diretos,
indiretos e induzidos que tal incremento produz nos setores fornecedores. Assim, o
somatório das colunas da matriz [b*nj] fornece os multiplicadores setoriais de modo
n−1

que O j = ∑ bij* , em que Oj representar o multiplicador de produto para o setor j e b*ij o


i=1
elemento da linha i e da coluna j da matriz inversa de Leontief (Tosta et alii, 2004:253).
3. A diferença entre o multiplicador setorial de produto e o multiplicador de impacto
setorial explicita o efeitos de empuxe – a composição dos efeitos indiretos e induzidos
- que um setor produz sobre os demais.
4. Os elementos b*nj, isto é, valores para a última linha n que representam a expansão da renda
gerada pelo acréscimo da demanda final exógena para os diferentes setores que aparecem
nas colunas. Trata-se, pois, de multiplicadores keynesianos de renda desagregados por
setor. Serão, pois, aqui tratados como multiplicadores setoriais de renda.
5. A partir do esclarecido em 5, um multiplicador agregado de renda – que explicite o
efeito no total da economia de R$ 1,00 de acréscimo na sua demanda final exógena total
– será uma média ponderada dos efeitos multiplicadores setoriais de renda (Haddad,
1989:321).
6. Se considerado todo valor adicionado transformado na renda das famílias – ou seja,
que não há vazamento de renda em nenhum setor – os multiplicadores setoriais de
renda serão iguais entre si e iguais ao multiplicador global ou agregado de renda
(Haddad, 1989:320).

366
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Matriz de insumo-produto inter-regional

Expusemos o modelo para n agentes. Todavia, é possível operá-lo a partir da agregação


deles por atributos geográficos ou estruturais. Guilhoto, Sonis e Hewings (1997), Crocomo e
Guilhoto (1998) e Guilhoto e Sesso Filho (2005) demonstram, a partir de Isard (1951), a
possibilidade também de cálculo desagregados.
Considerando dois agrupamentos com fluxos intersetoriais e inter-regionais, a matriz A
pode ser dividida em quatro submatrizes, derivadas de igual número de submatrizes Xij. Assim,
 Amm | Ame 
 
A =−−− | −−−

 Aem | Aee 

Assim, a matriz de Leontief se reescreve de modo que:
B B   ∆ ∆ ∆ ∆ A ∆ 
mm me   mm m mm m me e 
B = ( I − A)−1 = = (12.2.1-11)
B B  ∆ ∆ A ∆ ∆ ∆ 
 em ee   ee e em m ee e 
Onde
−1
∆ m = ( I − Amm )
−1
∆ e = ( I − Aee )
∆ mm = ( I − ∆ m Ame ∆ e Aem )−1
∆ ee = ( I − ∆ e Aem ∆ m Ame )−1
A matriz inversa, agora, pode permitir uma desagregação na Demanda Final (Y) dado que
o produto total (X) é:
 X m   ∆ mm ∆ m ∆ mm ∆ m Ame ∆ e Ym 
 =   (12.2.1-12)
 X e   ∆ ee ∆ e Aem ∆ m ∆ ee ∆ e  Ye 
e, portanto:
 X m   ∆ mm ∆ m DFm + ∆ mm ∆ m Ame ∆ eYe   X mm + X me 
 = =  (12.2.1-13)
 X e   ∆ ee ∆ e Aem ∆ m DFm + ∆ ee ∆ eYe   X em + X ee 
O nível de oferta, em decorrência, pode ser dividido em quatro componentes:
X mm = ∆ mm ∆ mYm
X me = ∆ mm ∆ m Ame ∆ eYe
X em = ∆ ee ∆ e Aem ∆ mYm
X ee = ∆ ee ∆ eYe
367
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Em virtude das mesmas propriedades formais é possível decompor o Valor Adicionado


em grupos de renda em nível regional (Haddad, 1989a:338-340).

Cálculo de impactos por variação da demanda final exógena

Dada a estrutura da economia e seus multiplicadores é possível calcular, para variações


na demanda final exógena, os impactos sobre as variáveis do valor adicionado, o emprego e
outras que se associam ao sistema. Assumida a hipótese de proporcionalidade entre qualquer
dessas variáveis e o valor da produção em todos os setores da economia, podemos estimar as
variações respectivas, diretas, indiretas e induzidas, causadas pela expansão na demanda final de
um determinado setor a partir da relação:
U = (u j )1xn .( I − A)−1 . y (12.2.1-14)

onde U é a variável em questão (o emprego total, por exemplo) e (uj) é o vetor linha (1xn), contendo
os coeficientes respectivos de cada setor “j”, obtidos pela divisão do valor real da variável no setor
pelo seu valor da produção total; Y é o vetor coluna da variação na demanda efetiva.

12.2.2. Operação empírico do modelo CSα

Com base nesses princípios, estrutura-se a Contabilidade Social Alfa (CSα) que adiante
utilizaremos: uma metodologia de cálculo ascendente de matrizes de insumo-produto de equilíbrio
computável (ver Costa, 2002; Costa, 2006; Costa e Inhetvin, 2006; Costa, 2008).
Trata-se de metodologia ascendente porque baseada nos parâmetros e indicadores
de cada produto que compõe os setores originários e fundamentais, obtidas as estatísticas de
produção no nível mais irredutível possível de uma economia local. Tais “setores originais”
são tratados como “setores alfa”: ponto inicial, lugar de partida de tudo o mais. Qualquer
configuração estrutural capaz de ser delimitada no banco de dados pode ser estabelecida como
definidora de um setor alfa. Se, por exemplo, podemos estabelecer nas unidades de informação
do Censo Agropecuário o que diferencia os casos relativos aos camponeses dos relativos aos
estabelecimentos patronais, essas duas categorias de estabelecimentos podem constituir “setores
alfa” se isso, como o é neste capítulo, for conveniente à análise.
O método consiste em identificar a produção de cada agente que pode ser agregado nos
“setores alfa” de certa delimitação geográfica e acompanhar os fluxos até sua destinação final. Nesse
trajeto são definidas parametricamente as condições de passagem pelas diversas interseções entre os
setores derivados (quantidades transacionadas em cada ponto e o markup correspondente), tratados
como “Setores Beta”, os quais são ajustados a três níveis (escalas) diferentes: o nível local (ba), o
nível estadual (bb) e o nível nacional (bc). Para cada produto são estabelecidas computacionalmente
as condições de equilíbrio vigentes no total de cada setor b, de modo que quantidades ofertadas e
demandadas se igualam necessariamente, estabelecendo, os preços médios respectivos.
368
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Isto posto, a CSα constitui algoritmo computacional para obtenção dos valores zij e yi
do modelo de insumo-produto acima apresentado em fluxos inter-regionais. Empiricamente
poderíamos, com base no sistema de Leontief, obter toda a contabilidade social de uma economia
de k produtos, cujos fluxos fazem-se por n agentes agrupados em m+1 posições no sistema
produtivo e distributivo, em que a m+1-ésima posição é a da Demanda Final (y), pela equação
m m+1 k

XÆij = ∑ ∑ ∑ qijv . pijv (12.2.2-1)


i=1 j=1 v=1

em que v é o produto, j, o setor que o compra e i, o setor que o vende e XÆ a matriz cujos elementos
são os valores totais comprados e vendidos entre si pelos setores produtores e, na coluna j=m+1,
dos valores vendidos por cada um deles para o consumo final das famílias ou do governo.

Fazendo vigorar g atributos geográficos e e atributos estruturais, a equação (12.2.2-1)


seria, então, resultado da agregação de um número g.e de submatrizes XÆ, cada uma delas
composta por
g e m m+1 k

XÆsrij = ∑ ∑ ∑ ∑ ∑ qsrijv . psrijv (12.2.2-2)


s=1 r=1 i=1 j=1 v=1

em que r seria o atributo estrutural (camponeses, fazendas e empresas, como possibilidade do setor rural,
por exemplo) e s, o atributo geográfico.

Os elementos das matrizes de totalização para os atributos geográficos seriam


g m m+1 e

XÆsij = ∑ ∑ ∑ ∑ XÆrij (12.2.2-3)


s=1 i=1 j=1 r=1

e , para os atributos estruturais, seriam


e m m+1 g

XÆrij = ∑ ∑ ∑ ∑ XÆsij (12.2.2-4)


r=1 i=1 j=1 s=1

A matriz totalizadora do conjunto seria:


m m+1 g m m+1 e

XÆij = ∑ ∑ ∑ XÆrij = ∑ ∑ ∑ XÆsij (12.2.2-5)


i=1 j=1 r=1 i=1 j=1 s=1

Nas matrizes obtidas em (12.2.2-3), (12.2.2-4) e (12.2.2-5) os valores xi da equação


(12.2.1-2) seriam expressos, respectivamente, por:
m m+1 m m+1 m m+1

XÆsi = ∑ ∑ XÆsij ; XÆri = ∑ ∑ XÆrij e XÆi = ∑ ∑ XÆij (12.2.2-6)


i=1 j=1 i=1 j=1 i=1 j=1

369
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Na matriz (12.2.2-5), a coluna j=1 e a linha i=1, que descrevem os input-output da produção
total da economia em consideração, podem ser “abertas” mediante os valores das colunas j=1 e
das linhas i=1 das matrizes (12.2.2-3) ou (12.2.2-4), de atributos, os quais passam a designar os
setores alfa do modelo (conf. Costa, 2011).

Operação empírica do modelo

Para operar empiricamente o sistema é necessário que se cumpram primeiro os seguintes


requisitos:
a) Sejam obtidas as quantidades básicas q: quanto do produto v foi transacionado por
agentes assentados em s sob a condição estrutural r;
b) Sejam obtidos os preços básicos p: a que preço a quantidade q foi transacionada pelos
agentes assentados em s sob a condição estrutural r;
c) Seja descrita a distribuição de q pelas posições ij: que proporção de q foi transacionada
pelos agentes ij;
d) Seja descrita a formação de preço em cada posição ij: a que preço cada qij foi
transacionada;
e) Sejam obtidos os valores dos inputs provindos de outros setores (setores beta) que
não os originários (setores alfa) e as cadeias percorridas por eles;
f) Sejam verificados a formação de:
• massa de salário;
• massa de lucro;
• valor dos impostos;
• volume de emprego.

Para a matriz que será discutida neste capítulo os procedimentos para o cumprimento de
tais necessidades foram os seguintes:

A obtenção das quantidades e dos preços básicos dos produtos dos setores originários.

Essa operação se faz a partir dos dados de duas matrizes empíricas: em uma matriz estão
os dados de produção e preço; em outra, os atributos geográficos (município, microrregião, etc.) e
estruturais (forma de produção, nível tecnológico, etc.). No caso da agricultura, ambas as tabelas têm
suas linhas identificadas pela relação “estrato de área” / “município”, constituindo essa identidade
a variável-chave na comunicação entre as duas. Em relação a outros setores, variáveis-chaves são
estabelecidas (no caso da mineração, as linhas foram identificadas por empreendimentos). De modo
que todas as indicações estruturais possíveis a partir dos dados de Censo ou da pesquisa primária são
imputáveis ou relacionáveis a cada linha da matriz de produção. Mas o contrário não é verdadeiro:
atributos obtidos a partir da matriz de produção não são imputáveis à matriz de dados estruturais.
370
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Essas duas tabelas são o hard-core de um banco de dados (no caso em tela,
BDSudesteParaense), construído com os dados obtidos do CD-ROM do Censo Agropecuário
do Estado do Pará, disponibilizados pelo IBGE (uma tabela de informações estruturais tem 465
(31 municípios X 15 estratos) “casos”, com 210 variáveis, que cobrem o universo do Censo; uma
tabela de 21 variáveis com os dados de produção de cada “caso”, perfazendo 11.269 linhas); com
os dados da produção mineral fornecidos pelos diversos setores pertinentes da CVRD. Isto posto,
foram obtidos os valores q pelo somatório da variável “quantidade vendida” em uma query em
BDSudesteParaense atendendo às restrições r, s e v; e os valores de p são resultado da divisão
do somatório da variável “valor da produção vendida”, obtido para as mesmas restrições, pelos q
respectivos.

Distribuição das quantidades e atribuição do preço nas relações inputs-outputs dos setores

Para a descrição da distribuição das quantidades e da formação dos preços pelos setores,
foram produzidas, por pesquisas primárias desenvolvidas na região, matrizes de coeficientes para
as relações entre 14 setores e para o consumo intermediário e final de 25 dos principais produtos
da produção rural na mesorregião, os quais compõem acima de 95% do valor da produção do
setor, e de todos os produtos em exploração da produção mineral (para metodologia de construção
dessas matrizes, ver Costa et alii, 2002, 2006). Metodologicamente, trata-se de descrever cadeias
de orientação forward, cujo ponto de partida é a produção primária na economia local, e o ponto
de chegada, o consumidor final em qualquer nível de mercado: local, estadual ou nacional.
Para os demais produtos do setor rural, que representavam 5% do VBP em 1995, foram
utilizadas matrizes-padrão. As matrizes-padrão são as que resultam de atribuições relativamente
arbitrárias na descrição dos fluxos dos produtos em função, em alguns poucos casos, da simples
falta de informações; em outros casos, resultam de hipóteses razoáveis ou altamente prováveis na
descrição do fluxo do produto.
No primeiro caso, encontram-se hortigranjeiros sobre os quais não fizemos pesquisa
primária. Pressupomos que suas cadeias são muito simples, provavelmente constituindo fluxo
direto entre os próprios produtores e os consumidores finais. Nesses casos estruturamos uma
matriz-padrão em que 100% do produto é transacionado pelo produtor diretamente ao consumidor
da economia local.
Para certos produtos consideramos razoável a suposição de que, mesmo quando o dado de
base indica vendas, e não autoconsumo, o fluxo se deu para outros produtores que, com elevada
probabilidade, estiveram entre os recenseados; este é o caso, por exemplo, de “pinto de um dia”,
de todos os animais de trabalho e das matrizes bovinas. Para esses casos, foi construída uma
matriz-padrão produtor-produtor.
As matrizes-padrão foram aplicadas, também, a todos os produtos no que se refere àquelas
parcelas da produção claramente indicadas pelo Censo como não levadas ao mercado. Quando
se trata de retenção no estabelecimento para autoconsumo intermediário (produtivo), como o
371
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

caso do milho, das sementes, etc., consideramos que essas parcelas obedecem ao fluxo da matriz-
padrão produtor-produtor; quando se trata de autoconsumo final, como animais abatidos ou frutas,
consideramos a matriz-padrão produtor-consumidor.
Para os 101 produtos da produção rural levantados pelo Censo, o modelo opera matrizes
descritivas dos fluxos de quantidade, Qvij , e da formação dos preços, Pvij. No setor alfa da economia
mineral consideramos a produção de minério da CVRD.
Para todos os casos, os valores q e p foram obtidos de modo que
qsrijv  qsrv Qijv (12.2.2-7)

psrijv  psrv Pijv (12.2.2-8)

em que Qvij é a matriz dos coeficientes de intermediação e Pvij é a matriz de formação de preço
das relações entre os setores i e j, em relação ao produto v. Os elementos da primeira matriz são
as proporções da quantidade produzida de v que transita pela posição ij, isto é, que se constitui
objeto de transação entre os agentes ou setores ij. Os elementos da segunda matriz são os fatores
que incrementam o preço médio pago aos produtores de v na posição ij, isto é, nas transações
entre os agentes ou setores ij.
As matrizes Qvij têm as seguintes propriedades:
i. Cada Qvij = Vij/∑ V1j , onde ∑V1j é a produção total do produto v distribuída nos setores j e
Vij o volume transacionado em cada relação ij.

ii. A primeira linha Qv1j descreve a alocação setorial direta do setor alfa, de modo que ∑Qv1j
= 1.

iii. Dado que todos os valores são proporções de total dado, todo Qvij < 0 e

iv. Considerando que Qvj a soma das linhas e Qvi a soma das colunas, todo Qvi= Qvj quando
i=j,i variando de 2 a n.

Tais condições garantem que todo produto comprado seja vendido em cada setor e no
conjunto da economia, de modo que as vendas totais sejam precisamente iguais à produção. Nessa
posição, os preços médios setoriais são estabelecidos.
As CSα calibram as matrizes Qvij, para cada ano, a partir de mudanças verificadas na
demanda final local e na demanda intermediária dos setores industriais locais em relação às
variações na produção dos setores alfa. Como segue:
Calibragem a partir de variações na importância relativa no Consumo Final Local. A
cada ano a coluna QviDemandaFinalLocal é incrementada de modo que
372
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

ΨDemandaFinalLocal.QviDemandaFinalLocal (12.2.2-9)

Onde

ΨDemandaFinalLocal = (1+φ +є.y)/(1+z) (12.2.2-10)

para φ sendo a taxa de crescimento da população local (proxy utilizada: variação anual da
população total do Sudeste Paraense), є e z, respectivamente, a elasticidade renda da demanda11
e a taxa de incremento da produção do produto em questão, e Y a taxa de crescimento da renda
da população da economia local (proxy: variação no salário médio da economia local obtido a
partir das estatísticas da RAIS editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego). De modo que se
a demanda local de v varia diferentemente da produção local respectiva, entãoΨ ≠ 1. Nesse caso,
a operação determinada por (12.2.2-9) produz desequilíbrios nos setores, levando a que Qvi≠ Qvj.
Para i,j ≠ 1 as diferenças (entre os novos) Qvi- Qvj. são redistribuídas pela coluna j de acordo com
o princípio de coeficientes fixos de Leontief para as funções de produção dos setores, portanto,
proporcionalmente a Qvij/Qvj.. Normatizados os resultados em relação ao total da linha i=1, todas
as propriedades acima descritas se restabelecem para a (nova) matriz Qvij.

Calibragem em função de variações na importância relativa dos setores industriais


locais. Em relação aos dois setores industriais da economia local que a CSα considera,
ΨIndDeBenefLocal.QviIndDeBenefLocal (12.2.2-11)

ΨIndDeTransfLocal.QviIndDeTransfLocal (12.2.2-12)

ParaΨIndDeBenefLocal e ΨIndDeTransfLocal sendo, respectivamente, o diferencial entre a variação


do emprego na indústria de beneficiamento e na indústria de transformação local do produto em
questão e a variação da produção local desse mesmo produto. Desequilíbrios são produzidos e
equilíbrios refeitos como no item anterior.
Em todos os casos, a construção das matrizes Q segue a recomendação de Considera et alii
(1997:7) para o tratamento de uma única região. Nesses casos, “...consideram-se as informações
estatísticas da região, de tal forma que suas transações externas sejam limitadas ao resto do mundo
e ao conjunto de outras regiões, ou seja, o resto do País, sem detalhar as regiões consumidoras e
fornecedoras de bens e serviços”.

11 As elasticidades utilizadas foram obtidas nos trabalhos “Elasticidade Renda dos produtos alimentares no Brasil e Regiões
Metropolitanas: uma aplicação dos microdados da POF 1995/96”, de Tatiana de Menezes, Fernando Gaiger Silveira, Bernardo
Palhares Campolina Diniz, IPEA-USP, São Paulo, e “Análise da Oferta e da Demanda de Frutas Selecionadas no Brasil para o Decênio
206/2015” de Pierre Santos Vilela, Cláudio Wagner de Castro, Sérgio Oswaldo de Carvalho Avellar, FAEMG, Belo Horizonte. Para
o Pará, em “Renda Familiar e Perspectivas de Crescimento da Demanda de Frutas Tropicais em Regiões Metropolitanas do Norte e
Nordeste do Brasil” de Clóvis Oliveira de Almeida; Ranulfo Corrêa Caldas; Daniel Moreira de Oliveira Souza. Embrapa.

373
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

A estrutura setorial das CSα: setores alfa e setores beta

Ajustando a abrangência para o âmbito nacional e o estadual, os setores i e j nas matrizes


mencionadas (e nas matrizes de totalização parcial ou final) são:
Para a produção e transações intermediárias:
1. Produção (setores alfa: de fundamento primário determinantes da economia local);
2. Intermediação primária;
3. Indústria de beneficiamento local;
4. Indústria de transformação local;
5. Atacado local;
6. Varejo e outros serviços da economia local;
7. Produção primária e primeiro processamento industrial extralocal-estadual;
8. Indústria de transformação extralocal-estadual;
9. Comércio de atacado extralocal-estadual;
10. Varejo e outros serviços extralocal-estadual;
11. Produção primária e primeiro processamento industrial extralocal-nacional;
12. Indústria de transformação extralocal-nacional;
13. Atacado extralocal-nacional;
14. Varejo urbano e outros serviços extralocal-nacional.
Para o consumo final:
15. Consumo final local das famílias;
16. Formação bruta de capital com mediação local;
17. Consumo final extralocal-estadual;
18. Consumo final extralocal-nacional.

A obtenção do valor dos inputs da produção dos setores alfa e dos seus investimentos.

As informações relativas aos insumos materiais e de serviços e as concernentes aos


investimentos de capital obtidos de outros setores para os setores originários (alfa) compõem a tabela
dos atributos geográficos e estruturais, esclarecida anteriormente. Para a produção rural os valores
foram obtidos no Censo Agropecuário (1995/96) e atualizados até 2004 com base na hipótese de que
as relações técnicas mantiveram-se basicamente as mesmas; para a produção mineral consideramos
os valores da logística da CVRD de 2005 para seus empreendimentos na área.

Obtivemos valores para os seguintes tipos de insumos e serviços:


Insumos da Pecuária Bovina (produção rural);
Insumos da Avicultura (produção rural);
Insumos Químicos (produção rural e mineral);
Insumos Minerais (produção rural e mineral);
374
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Insumos Mecânicos (produção rural e mineral);


Insumos Orgânicos e Alimentos (produção rural e mineral);
Insumos importados das demais regiões do Brasil (produção mineral);
Combustível (produção rural e mineral);
Serviços Gerais (produção mineral);
Serviços da Construção Civil (produção rural e mineral);
Serviços de Transporte (produção rural e mineral);.
Serviços Técnicos e Consultoria (produção rural e mineral).

Obtivemos valores de investimento em capital nos seguintes itens:


Máquinas e Equipamentos (rural e mineral);
Veículos (produção rural e mineral);
Animais (produção rural);
Construção e Benfeitorias (produção rural e mineral);
Plantios (plantios).

Para cada item de insumo ou investimento foi reconstituído o trajeto backward de


formação do preço e atribuição de markup (salários mais margem bruta) – dos setores alfa até
o setor “primeiro fornecedor”. Foi considerada, e abatida do valor total, a parcela importada do
resto do mundo, tanto dos insumos, como dos investimentos.
Ademais, como fluxos endógenos da economia, calcularam-se as cadeias backward dos
itens que compõem as seguintes variáveis da economia local:
Consumo dos Salários dos Setores Alfa;
Consumo dos Salários Urbanos da Economia Local;
Consumo de Energia Industrial e Comercial.

O consumo dos salários urbanos e rurais foi modelado considerando os dados da Pesquisa
do Orçamento Familiar (POF), feita pelo IBGE em 2003, cujos resultados indicam a composição
dos gastos segundo a situação do domicílio, se rural ou urbano, e para as grandes regiões do
país, valendo para a pesquisa em questão os dados da região Norte. De modo que, para cada
item de despesa foi gerada uma matriz que, como no caso dos insumos produtivos, considerou as
características estruturais da economia local, seja no que se refere à logística alimentar in natura,
seja no que trata da produção industrial.

Massa de lucros, massa de salários e emprego

As CSα calcula, como agregação do valor adicionado em cada produto, o montante de


valor adicionado, tanto nos Setores Alfa, quanto nos Setores Beta. A partir desses valores foi feita
375
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

uma partição funcional do valor adicionado entre salários e margem bruta do capital, utilizando
o seguinte algoritmo:

Æ
Para todo X i , (de acordo com a relação (9.2-20) a receita total do setor i), sendo i a
produtividade monetária do trabalhador aplicado e i o salário médio do setor i, então:
XÆi
Ei = ; (12.2.2-13)
λi
Si = Ei .ωi (12.2.2-14)

Li = VAj=i − Si (12.2.2-15)

Para Ei sendo o volume de emprego, Si a massa de salários, Li a margem bruta e VAi, o


valor adicionado total do setor i.

Empiricamente, essas grandezas são calculadas na CSα como segue: no caso dos setores
alfa, pelas informações relativas às massas salariais fornecidas pelo Censo Agropecuário para
a produção rural, e pela CVRD, para a produção mineral; no caso dos setores derivados (beta),
utilizamos parâmetros de salários médios obtidos a partir das estatísticas do Ministério do Trabalho
e Emprego, agregadas nos bancos de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS),
disponíveis para todos os anos da pesquisa e todas as delimitações geográficas envolvidas, em
combinação com os parâmetros de receita por trabalhador obtidos a partir das estatísticas da
Pesquisa Anual de Comércio (PAC: dados disponíveis no IBGE para os anos de 1996 a 2004),
na Pesquisa Anual de Serviços (PAS: IBGE, dados disponíveis de 2000 a 2004), na Pesquisa
Industrial Anual (PIA: IBGE, dados disponíveis de 1996 a 2004) e Pesquisa da Indústria da
Construção Civil (PICC: 2001 a 2004).

Impostos

A CSα utiliza para os Setores Alfa as informações relativas aos impostos fornecidas pelo
Censo Agropecuário, no caso de produção rural, e pela CVRD, no caso da produção mineral.
Para os Setores Beta calcula o valor total do impostos ( G j ) considerando a partir do cálculo em
separado dos impostos diretos e indiretos. Os impostos diretos resultam de imputações fiscais
D
sobre Si e Li obtidas a partir das relações (12.2.2-14) e (12.2.2-15). De modo que G ji (total de
impostos indiretos para cada setor) é obtido por
G Dj = g L .Li + g S Si (12.2.2-16)

376
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

para gL e gS expressando respectivamente a carga fiscal sobre os rendimentos do capital e do


trabalho12. Os impostos indiretos são imputados sobre a demanda final, definida acima como DFi,
de modo que:
G Ij  giI .DFi (12.2.2-17)

Para giI representando o parâmetro de incidência de imposto direto na demanda final do


setor i=j13.

Os indexadores do modelo

A metodologia das CSα atualiza os dados de base para qualquer ano. No presente estudo, o
setor que requereu atualização foi o setor rural para o ano de 2004, tomado como base de construção
da matriz de insumo-produto. Para o setor mineral foram utilizados os dados fornecidos pela CVRD
para aquele ano.
Atualização da produção para produtos informados pela PAM ou IPEADATA. Para a
atualização do setor rural foram utilizados indexadores de quantidade e preço baseados nas séries
municipais da Produção Agrícola Municipal (PAM), da Produção Extrativa Vegetal (PEV) e
Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), e, em complemento, as séries de preços dos produtos da
pecuária do IPEADATA.
Metodologicamente, há dois tipos de situação: aquela em que o produto em questão é
levantado sistematicamente e faz parte do acervo de estatísticas conjunturais, acima explicitado,
e aquela em que o produto em apreciação não é levantado sistematicamente.
Na primeira situação, os indexadores de quantidade são os números índices do total das
quantidades do produto v para o conjunto dos municípios que atendem à restrição s, tendo, no
caso da agricultura, 1995, no caso da mineração, 2004, como ano base; e os indexadores de preço
os números índices do preço médio do produto v para os municípios que atendem a restrição
geográfica s, tendo 1995 como ano base. Assim, os números índices são:
qsva
Q
I sva  (12.2.2-18)
qsvAnoBase
e

P psva
I sva  (12.2.2-19)
psvAnoBase
Atualização da produção para produtos sem informação sistemática

12 Foram utilizados os parâmetros publicados Giambiagi (2004).


13 Usamos os parâmetros aos quais chegou o trabalho Siqueira et alii (2001).

377
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Se o produto não for levantado sistematicamente então ele será indexado pela evolução
do conjunto da produção em certa delimitação geográfica. A evolução do conjunto da produção
é observada pelos números índices da evolução do produto real e dos preços implícitos para a
restrição geográfica s.

O Produto Real, em um ano a no espaço s, de um conjunto de produtos é a soma dos


resultados da multiplicação das quantidades de cada produto no ano a pelo preço em um ano
escolhido para fornecer o vetor de preços, no nosso caso, o ano de 1995.
O Preço Implícito, no ano a e atendendo à mesma restrição geográfica s, é a soma do
produto dos preços de cada produto no ano a pela quantidade do mesmo produto no ano escolhido
para fornecer o vetor de quantidade, no nosso caso, o ano de 1995.
De modo que os números índices para as duas grandezas são os seguintes:
g 2004 k

∑ ∑ ∑q sav . ps1995v
Q s=1 a=1995 v=1
I =
sa g k
(12.2.2-19)

e
∑q s1995 v . ps1995v
s=1 v=1
g 2004 k

∑ ∑ ∑q s1995 v . psav
P s=1 a=1995 v=1
I =
sa g k
(12.2.2-20)
∑∑q s1995 v . ps1995v
s=1 v=1

sendo IQsa a série de números índices da Produto Real para cada ano do período de 1995 a 2005,
com 1995 = 100 e IPsa a série equivalente para os Preços Implícitos.

Algoritmo de indexação

Obtemos os valores atualizados até 2004 pela equação


2004 g e m m+1 k

X asrij = ∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑( I Q
avs .qasrijv ).( I avs
P
. pasrijv ) (12.2.2-21)
a=1995 s=1 r=1 i=1 j=1 v=1

ou, se o produto v não dispõe de estatísticas anuais do IBGE ou de outros bancos como os do
IPEADATA e da FNP, por
2004 g e m m+1 k

X asrij = ∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑( I Q
as .qasrijv ).( I asP . pasrijv ) (12.2.2-22)
a=1995 s=1 r=1 i=1 j=1 v=1

378
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

As totalizações seguem, a partir daí, o que prescrevem as equações (12.2.2-3), (12.2.2-4),


(12.2.2-5) e (12.2.2-6). No caso dos insumos industriais, consideramos que as despesas industriais
crescem impulsionadas pelo ritmo da produção da economia agrária do atributo geográfico em
questão e pela elevação dos preços em geral. Desse modo, seus valores são incrementados pelos
indexadores de quantidade IQas para o atributo geográfico s no ano a – e pelo índice geral de
preços. Isso implica a aceitação de que a produtividade física relativa ao produto ou conjunto de
produtos em questão se mantém inalterada de ano para ano.
Com os indexadores obtidos estimamos os valores associados à produção rural até o ano
de 2004, este o último para o qual dispomos de dados para todas as necessidades das CSα e nosso
ano base na presente pesquisa.

A matriz de Insumo-Produto e os multiplicadores da economia do Sudeste Paraense: situação em


1995 e evolução até 2004

Os algoritmos acima são operados pelo programa Netz (Costa, 2002; Costa, 2006; Costa,
2006b). No presente exercício, a economia do Sudeste Paraense foi configurada a partir da
produção de três setores alfa, de produção primária: dois da produção rural e um de produção
mineral.
Como mencionado na introdução, as bases agrárias do Sudeste Paraense resultam de
um processo de apropriação fundiária que se fez por agentes com características sociológicas
distintas, às quais temos associado racionalidades econômicas também diferenciadas (conf. Costa,
2007, Costa, 2005; Costa 2000; Costa, 1995). Tais sujeitos estabeleceram estruturas próprias,
expressas nas trajetórias tecnológicas que discutimos exaustivamente na Parte II do livro. Tais
estruturas resultaram de formas peculiares de privatização da terra e dos recursos da natureza, e
das diferentes relações sociais e técnicas engendradas na exploração da terra e dos recursos da
natureza. De modo que em torno de duas estruturas básicas se organizam a produção e a vida
rurais na região: a unidade de produção camponesa e o estabelecimento patronal.
No que se refere à produção mineral, o banco de dados contém as informações relativas
às plantas da Companhia Vale do Rio Doce, operando na região no ano de 2004 (informações
prestadas pela CVRD).

379
Tabela 12.2.2-1 – Estrutura da Economia de Base Primária do Sudeste Paraense em 1995. Matriz de Insumo-Produto CSα em
R$ 1.000.000 constantes de 2005).
Produção Intermediária Demanda Final
Economia Local Economia do resto do Pará Economia do resto do Brasil
Produção/SetoresAlfa Local
(Setores Alfa)1 Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio

VBP
Total Pará
Total

Resto do

primária
Resto do Brasil7

viços2
viços 2
viços 2
Capital5

Fazendas
Atacado
Atacado
Atacado
Famílias

Mineração
Intermediação

Camponeses
Varejo e ser-
Varejo e ser-
Varejo e ser-
Formação de

Beneficiamento
Transformação4
Transformação 4
Transformação. 4

Beneficiamento 3
Beneficiamento 3
1ª Fazendas 3,8 - - 33,8 112,5 11,3 20,8 55,0 0,3 - 0,4 - - - 0,8 0,0 238,6 168,9 93,9 - - 262,8 501,4
1b.Camponeses - 19,0 - 13,2 57,3 27,6 16,9 37,4 0,5 - 1,8 - - - 4,5 0,0 178,3 220,8 51,3 - - 272,1 450,4
1c. Mineração - - - - 226,8 - - - - - - - 291,4 - - - 518,2 - - - 3.438,2 3.438,2 3.956,3
2.Intermed. Prim. - - - 0,0 193,9 - 5,2 0,0 0,0 - 0,5 0,0 - - 0,0 - 199,6 0,6 - 0,0 - 0,6 200,2
3. IndBenef. - - - - 10,5 28,4 3,0 151,7 0,0 3,8 189,4 92,4 0,0 23,0 146,4 43,3 692,0 2,0 - - 286,0 288,0 980,0
4. IndTransf.
- - - 0,5 - - - 741,5 - - - 5,8 - 38,2 - 35,0 820,9 - - - - - 820,9
Transformação
5. Atacado 1,4 1,7 26,5 0,0 1,1 170,7 11,3 480,5 11,8 3,6 23,6 0,0 2,6 - 14,6 0,0 749,4 3,5 - - - 3,5 752,9
6. Var. e Serv. 60,0 35,1 300,3 0,0 5,1 - 0,5 0,0 - 0,0 0,1 0,0 0,0 - - 0,0 401,1 2.733,5 520,3 0,0 - 3.253,8 3.654,8
7. IndBenef - - - - - - - 1,6 - 107,5 215,5 - - - 0,0 0,0 324,6 - - 0,0 0,0 0,0 324,6
8. IndTransf - - - - - - 32,0 - - - 142,8 37,0 - - 57,6 - 269,5 - - 0,0 0,9 0,9 270,4
Elementos para uma Economia Política da Amazônia

9. Atacado 1,1 1,1 4,5 0,7 33,2 105,3 283,4 627,2 11,0 6,1 4,9 93,2 0,5 - - - 1.172,3 - - 18,1 274,2 292,3 1.464,6
10. Var. e Serv.

380
- - 44,3 - - - - - - - - - - - - - 44,3 232,2 - 196,6 - 428,8 473,1
Serviços
11. IndBenef. - - - - - - - - - 59,2 - - - 2.255,9 0,0 0,1 2.315,2 - - - 0,2 0,2 2.315,5
12. IndTransf. - - - - - 89,7 57,2 328,3 - - 541,2 115,5 - - 1.377,7 91,2 2.600,7 - - - 416,3 416,3 3.017,0
13. Atacado - - 430,1 - - - 246,7 638,3 - - 130,4 1,8 76,5 102,3 6,2 4,0 1.636,3 27,4 - - 256,3 283,7 1.920,0
14. Var. e Serv. - - - - - - - - - - - - - - - - - 0,0 - - 233,7 233,8 233,8
Total Insumos 66,3 57,0 805,7 48,2 640,4 432,9 677,0 3.061,4 23,6 180,2 1.250,6 345,9 371,0 2.419,3 1.608,0 173,5 12.161,0 3.388,8 665,5 214,7 4.905,8 9.174,8 21.335,9
APLFazendas 435,1 - - 118,5 197,6 55,5 10,0 106,1 26,8 22,8 96,1 43,7 137,5 78,5 92,7 35,8 1.456,6
APLCampones - 393,4 - 33,3 111,1 38,4 25,3 102,4 13,0 9,7 37,9 15,6 59,1 47,9 35,6 24,4 947,3
APLMineral - - 3.150,7 0,2 31,0 294,0 40,6 384,9 261,1 57,7 80,0 67,9 1.747,9 471,3 183,7 - 6.771,0
V. Adicionado6 435,1 393,4 3.150,7 152,1 339,6 387,9 75,8 593,4 301,0 90,2 214,1 127,2 1.944,5 597,6 312,0 60,2 9.174,8
Salários6 119,0 58,6 222,2 7,3 81,1 110,2 27,6 402,0 17,4 36,3 53,7 52,0 118,8 411,6 142,7 38,5 1.899,0
Lucros 6b 307,2 334,1 2.403,1 132,9 225,0 270,6 43,7 107,0 281,0 51,9 12,3 56,9 1.764,3 68,6 27,4 2,8 6.089,0
Impostos 8,9 0,7 525,3 11,8 33,5 7,2 4,5 84,4 2,6 2,0 148,0 18,2 61,4 117,4 141,9 19,0 1.186,9
Renda Bruta (r+s) 501,4 450,4 3.956,3 200,2 980,0 820,9 752,9 3.654,8 324,6 270,4 1.464,6 473,1 2.315,5 3.017,0 1.920,0 233,8 21.335,9
Emprego(1.000) 37,3 134,2 11,3 1,0 11,7 12,8 3,6 29,3 1,8 2,9 5,7 3,5 13,1 22,8 12,5 2,2 305,6
APLFazendas 37,2 0,74 5,87 1,96 0,43 4,12 0,21 0,59 1,45 1,25 0,81 2,02 2,06 1,38 60,14
APLCampon. 134,2 0,23 2,66 1,54 0,42 3,22 0,09 0,24 0,61 0,45 0,36 0,95 0,85 0,84 146,61
APLMineral 11,3 0,00 3,20 9,26 2,78 22,00 1,53 2,05 3,63 1,82 11,93 19,82 9,62 - 98,89

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD,
diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no capítulo 1. 1 Setores originais da CSα.
Com base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2 Inclui todas as formas de serviço. 3 Produção primária e primeiro
beneficiamento. 4 Inclui produção de energia. 5 FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a Incluindo encargos, menos
tributos. 6b incluindo importações, menos tributos. 7 Inclui exportações para o resto do mundo. 8 Em 1.000 ocupações.
Francisco de Assis Costa
Tabela 12.2.2-2 - Estrutura da Economia de base primária do Sudeste Paraense em 2004. Matriz de Insumo-Produto CSα em
R$ 1.000.000 constantes de 2005
Produção Intermediária Demanda Final
Economia Local Economia do resto do Pará Economia do resto do Brasil
Produção/Setore-
sAlfa
Local
(Setores Alfa)1 Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio
Francisco de Assis Costa

VBP
Total Total
Resto do Pará
Resto do Brasil7

Fazendas
Mineração
viços2
viços 2
viços 2

Camponeses
Capital5

Atacado
Atacado
Atacado
Famílias

Intermediação primária
Varejo e ser-
Varejo e ser-
Varejo e ser-
Formação de

Beneficiamento.
Transformação4
Transformação 4

Beneficiamento 3
Beneficiamento 3
Transformação. 4
1ª Fazendas 5,2 - - 9,1 186,9 17,8 40,3 71,2 0,2 - 0,6 - - - 1,6 0,0 332,8 266,4 158,2 - - 424,7 757,5
1b.Camponeses - 25,2 - 10,5 78,7 44,4 32,5 41,7 0,2 - 2,3 - - - 9,1 0,0 244,6 266,5 79,3 - - 345,8 590,4
1c. Mineração - - - - 415,5 - - - - - - - 338,8 - - - 754,3 - - - 4.149,0 4.149,0 4.903,3
2.Intermed.Pri-
- - - 0,0 43,4 - 10,6 0,0 0,0 - 0,8 0,0 - - 0,0 - 54,9 0,3 - 0,0 - 0,4 55,2
mária
3.IndBenef. - - - - 19,7 57,2 4,5 161,0 0,0 7,0 41,0 186,1 0,0 45,7 31,7 87,2 641,1 2,7 - - 491,9 494,5 1.135,6
4.IndTransf. - - - 0,3 - - - 910,5 - - - 9,6 - 76,8 - 57,3 1.054,5 - - - - - 1.054,5
5.Atacado 2,3 2,5 32,8 0,0 1,6 210,6 23,0 589,5 23,8 6,8 51,2 0,0 4,6 - 29,0 0,0 977,7 5,1 - - - 5,1 982,7
6.VarejoeServiços 98,4 50,7 372,1 0,0 9,6 - 0,9 0,0 - 0,0 0,2 0,0 0,0 - - 0,0 532,0 3.238,7 658,5 0,0 - 3.897,2 4.429,2
7.IndBenef - - - - - - - 0,8 - 139,5 261,7 - - - 0,0 0,0 402,0 - - 0,0 0,0 0,0 402,0
8.IndTransf - - - - - - 39,3 - - - 173,0 74,5 - - 70,9 - 357,9 - - 0,0 0,4 0,4 358,3

381
9.Atacado 1,7 1,4 5,6 0,2 38,5 130,4 344,6 778,0 13,6 8,4 5,2 119,5 0,9 - - - 1.448,1 - - 42,0 68,8 110,8 1.558,8
10.VarejoServiços - - 54,9 - - - - - - - - - - - - - 54,9 281,1 - 392,5 - 673,5 728,4
11.IndBenef. - - - - - - - - - 72,8 - - - 2.744,5 0,0 0,2 2.817,4 - - - 0,1 0,1 2.817,5
12.IndTransf. - - - - - 110,1 70,5 408,9 - - 670,9 139,7 - - 1.691,5 181,8 3.273,4 - - - 483,3 483,3 3.756,7
13.Atacado - - 533,0 - - - 301,6 781,4 - - 158,7 2,2 93,0 127,4 6,9 8,0 2.012,3 41,5 - - 79,4 120,9 2.133,3
14.VarejoServiços - - - - - - - - - - - - - - - - - 0,0 - - 448,8 448,8 448,8
Total Insumos 107,6 79,8 998,5 20,1 793,8 570,5 867,9 3.743,0 37,8 234,5 1.365,6 531,7 437,3 2.994,4 1.840,7 334,5 14.957,7 4.102,3 896,1 434,5 5.721,6 11.154,4 26.112,2
APLFazendas 649,9 - - 26,4 182,1 71,1 16,0 108,3 26,2 37,4 59,6 83,6 150,8 114,5 37,7 70,1 1.633,8
APLCampon.ês - 510,6 - 8,5 103,1 49,8 48,6 102,5 15,2 14,8 31,0 29,2 72,6 69,4 29,1 44,2 1.128,6
APLMineral - - 3.904,8 0,2 56,5 363,1 50,3 475,3 322,8 71,6 102,5 83,8 2.156,8 578,4 225,8 - 8.392,0
V. Adicionado6 649,9 510,6 3.904,8 35,1 341,8 484,0 114,8 686,2 364,2 123,8 193,2 196,7 2.380,2 762,3 292,6 114,3 11.154,4
Salários6 174,9 75,0 275,4 2,4 72,0 74,3 42,2 372,1 17,2 25,2 67,0 61,2 95,3 292,2 139,4 54,8 1.840,7
Lucros 6b 462,0 434,6 2.978,3 29,2 223,6 396,7 63,3 208,5 342,8 94,0 68,2 97,8 2.185,6 319,9 93,4 21,0 8.019,1
Impostos 13,0 0,9 651,1 3,5 46,2 13,0 9,2 105,6 4,1 4,5 58,0 37,7 99,3 150,1 59,8 38,5 1.294,6
Renda Bruta (r+s) 757,5 590,4 4.903,3 55,2 1.135,6 1.054,5 982,7 4.429,2 402,0 358,3 1.558,8 728,4 2.817,5 3.756,7 2.133,3 448,8 26.112,2
Emprego(1.000) 51,6 138,4 13,9 0,4 12,0 10,5 7,5 51,8 2,2 3,2 11,1 7,3 12,6 24,5 17,6 5,0 369,7
APLFazendas 51,6 0,27 4,65 1,77 0,92 6,99 0,25 0,78 1,74 3,14 0,70 2,40 1,55 3,20 79,99
APLCamponês 138,4 0,15 2,18 1,40 1,12 5,24 0,12 0,31 1,09 1,10 0,35 1,16 1,03 1,81 155,47
APLMineral 13,9 0,00 5,17 7,33 5,45 39,61 1,81 2,16 8,23 3,01 11,51 20,96 15,06 - 134,25
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD,
diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no capítulo 1. 1 - Setores originais da CSα.
Com base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2 Inclui todas as formas de serviço. 3 - Produção primária e primeiro
beneficiamento. 4 - Inclui produção de energia. 5 - FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a Incluindo encargos, menos
tributos. 6b - incluindo importações, menos tributos. 7 - Inclui exportações para o resto do mundo.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

12.2.3 A economia do Sudeste Paraense: seus setores alfa, base de exportação e multiplicadores

Para a Economia de Base Primária do Sudeste Paraense (EBPα-SudestePa) foram


geradas matrizes para todos os anos entre 1995, apresentada na Tabela 1, e 2004, apresentada
na Tabela 2: todas foram atualizadas para valores de 2005. A EBPα-SudestePa engloba os
setores α, de base primária, e seus desdobramentos urbanos em nível local (setores βa), estadual
(setores βb) e nacional (setores βc). A Economia Local do Sudeste Paraense (Economia Local-
SudestePa) é a parte da EBPα-SudestePa constituída dos setores α e dos setores βa (dos setores
de produção primária e dos setores de comércio e indústria local do Sudeste Paraense).
Para cada setor a, as matrizes de insumo-produto descrevem o conjunto de relações
com fornecedores (na coluna respectiva da matriz de produção intermediária) e com clientes
(na linha respectiva da matriz de produção intermediária), com trabalhadores e proprietários
dos recursos de capital e com o estado (na coluna respectiva da matriz de formação de renda)
de um agente, ou conjunto de agentes em uma trajetória particular α – um tipo particular de
empresa que se organiza para a produção de produtos específicos. Em conjunto, são essas
mesmas informações que descrevem os fluxos de valores que circulam diretamente entre os
componentes daquilo que se poderia entender como um ou vários Arranjos Produtivos Locais –
APLs – baseados nos produtos específicos obtidos pelo particular agente, ou trajetória, ou modo
de produção α. Esses APLs integram os diferentes atores que interagem na transformação do
recurso natural específico controlado pelo agente ou trajetória a da Economia Local-SudestePa
em mercadorias e na colocação dessa mercadoria em algum ponto da EBPα-SudestePa. As
interações dos setores β (a, b e c) são derivadas das necessidades criadas ou atendidas pelos
setores a (e, portanto, pelos APLs que representam).
O Valor Adicionado Total (linha V, nas Tabelas 12.2.2-1 e 12.2.2-2) é, nas CSα, resultado
da composição funcional dos salários, lucros e impostos gerados em cada setor (linhas s, l e i,
nas Tabelas 12.2.2-1 e 12.2.2) ou resultado da participação de cada setor a no valor adicionado
de cada setor (linhas X, Y e z, nas Tabelas 12.2.2-1 e 12.2.2-2). Na primeira composição, ressalta
a relação entre atores (trabalhadores, camponeses, fazendeiros, corporação mineral, estado); a
segunda composição explicita a contribuição direta e indireta de cada setor a (e, portanto, dos
APLs que representa) na formação do valor adicionado de cada setor da EBPα-SudestePa.
Nas suas dimensões absolutas, a EBPα-SudestePa gerou, em 1995, um valor adicionado
total (VA a preços constantes de 2005, como já mencionado) de R$ 9,2 bilhões a partir de um
nível global de atividade expresso no valor bruto da produção (VBP) total de R$ 21,3 bilhões
(ver Gráfico 12.2.3-1, parte A).
A taxa de crescimento médio do VA foi de 2,78% a.a., ligeiramente inferior à do VBP,
de 2,86% a.a.. De modo que a relação VA/VBP tem caído ligeiramente ao longo do tempo,
numa demonstração de que dessa economia têm vazado crescentemente recursos nas relações
com os sistemas nos quais se insere. Não obstante, sua componente local, a Economia Local-
SudestePa, apropria em torno de 60%, a do resto do Brasil de 32% e a do resto do Pará de
382
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

8% do total (ver Gráfico 12.2.3-1, parte B) do VA gerado. Essas proporções têm se mantido
relativamente estáveis, apesar de pequenas diferenças nas taxas de evolução das grandezas
subjacentes.
O valor adicionado apropriado pelos agentes da produção rural cresceu entre 1995 e
2004 a taxas médias elevadas, bem superiores à da Economia Local-SudestePa (conf. Gráfico
12.2.3-1, parte C e 1-B, 5,9% e 2,81% a.a., respectivamente) e, nele, o que se refere à produção
patronal cresceu mais rápido do que a camponesa: 6,9% a.a., no primeiro, e 4,7% a.a., no
segundo caso (conf. Gráfico 12.2.3-1, parte D). O valor adicionada da produção mineral, por
seu turno, cresceu a 2,5% a.a. no período e os setores urbanos de comércio e indústria a 1,7%
a.a. (ver Gráfico 12.2.3-1, parte C e 12.2.3-1, parte D)
De modo que, até 2004, o conjunto da produção rural aumenta sua participação relativa
no VA Economia Local-SudestePa de 14% nos três primeiros anos do período para uma média
de 18% nos três últimos; a produção patronal, aí, passa a representar 10%, quando fora 7% no
início do período, e a camponesa de 7% para 8%. A economia mineral e os setores urbanos
reduzem a participação: no primeiro caso de 59% para 57%; no segundo, de 27% para 25%.
Observando na perspectiva de aglomerados, os APLs baseados na produção das
fazendas geraram 16%, os baseados em produção camponesas 12% e os baseados na produção
mineral 72% do valor adicionado da Economia Local-SudestePa e cresceram às taxas de,
respectivamente, 3,75%, 3,28% e 2,54% a.a. no período considerado (desenvolvimentos
demonstrados no Gráfico 12.2.3-1, parte E e 12.2.3-1, parte F).
A ocupação total, de uma média de 300 mil nos três primeiros anos, cresceu a 2,2%
a.a. ao longo do período, atingindo uma média de 347 mil no final do período. A ocupação da
economia local (média de 238 mil no início e de 273 no final da série) evoluiu a 2,05% a.a., a
da economia estadual (de 13 para 20 mil) a 7,11% e a do restante do Brasil (de 48 para 54 mil) a
1,49% a.a. Na economia local, o emprego na produção rural cresceu a 1,6%, na mineral a 2,52%
e nos setores urbanos a 3,15% a.a. (conf. Gráfico 12.2.3-2, parte A, 12.2.3-2, parte B, 12.2.3-2,
parte C e 12.2.3-2, parte D).
O VA cresce mais rapidamente do que o emprego, de modo que a produtividade por
ocupação apresenta tendência de crescimento para o conjunto (0,55% a.a.), assim como para a
economia local (0,7 % a.a.) e para a nacional (1,2 % a.a.). Para a economia estadual relacionada
com a produção do Sudeste Paraense, todavia, a produtividade por ocupação cai a uma taxa
de -3,9% a.a. Importante anotar que na economia local, crescem de modo significativo os
rendimentos por ocupação da produção rural (4,17% a.a.), puxados pelo incremento verificado
na produtividade da produção camponesa (4,2% a.a.). Os rendimentos por trabalhador da
produção mineral apresentam variações mínimas e os dos setores urbanos de indústria e
comércio reduzem a -1,4% a.a. (conf. Gráfico 12.2.3-3, parte A, 12.2.3-3, parte B, 12.2.3-3,
parte C e 12.2.3-3, parte D).

383
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 12.2.3-1 – Evolução do VBP e VA total (A), do VA por economia (B), do VA por setores
da Economia Local-SudestePa (C), do VA por setores alfa da produção rural (D), do VA por APLs
na Economia Local-SudestePa (E) e da participação respectiva na EBPα-SudestePa (F)
(A) (B)

30.000 0,431 8.000

Em R$ 1.000.000
25.000 0,430
6.000
R$ 1.000.000

20.000 0,429
15.000 0,428 4.000
10.000 0,427
2.000
5.000 0,426
0 0,425 0

1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
VBP Total (2,86% a.a.) Economia Local (2,81% a.a.)

VA Total (2,78% a.a.) Economia Estadual (2,92% a.a.)

VA/VBT (-0,08% a.a.) Economia Brasil (2,69%)

(C) (D)

5.000 Em R$ 1.000.000 1.000


Em R$ 1.000.000

4.000 800
3.000 600
2.000 400
1.000 200
0 0 1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004

Produção Rural (5,9% a.a.) Patronal (6,9% a.a.)


Camponesa (4,7% a.a.)
Produção Mineral (2,5% a.a.) Comércio Local (1,2% a.a.)
Com. e Ind. Local (1,2% a.a.) Indústria Local (2,2% a.a.)

(E) (F)

6.000 80%
Em R$ 1.000.000

5.000
60%
4.000
3.000 40%
2.000
20%
1.000
0 0%
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004

1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004

APL - Prod. Fazendas (3,75%a.a.)2 APL - Prod. Fazendas


APL - Prod. Camponeses (3,28%a.a.) APL - Prod. Camponeses
APL - Mineral (2,54%a.a.) APL - Mineral

Fonte: Matrizes de insumo produto geradas pelo autor. Nota metodológica: As taxas de crescimento médio anual foram
calculadas, para cada série, por regressão linear da transformação logarítmica dos valores, em função do tempo. Elas
são os cologaritmos dos coeficientes angulares das regressões, menos a unidade, multiplicados por 100.

384
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Gráfico 12.2.3-2 – Evolução do Emprego total (A), do Emprego por economia (B), do Emprego
por setores da Economia Local-SudestePa (C), do Emprego por setores alfa da produção rural
(D), do Emprego por APLs na Economia Local-SudestePa (E) e da participação respectiva na
EBPα-SudestePa (F)

(A) (B)

400 400

Em 1.000 ocupações
Em 1.000 ocupações

300 300
200 200
100 100
0 0

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004
1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004
Economia Local (2,05% a.a.)

Total (2,2% a.a.) Economia Estadual (7,11% a.a.)


Economia Brasil ( 1,49% a.a.)

(C) (D)

200
Em 1.000 ocupações

Em 1.000 ocupações 150


150
100
100
50 50

0 0
1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Produção Rural (1,61% a.a.)
Patronal (5,48% a.a.)
ProduçãoMineral (2,52% a.a.)
Com. e Ind. Locais ( 3,15% a.a.) Camponesa (0,50% a.a.)

(E) (F)

200 100%
Em R$ 1.000.000

150 80%
100 60%
50 40%
0 20%
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004

1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004

APL - Prod. Fazendas (4,2%a.a.) APL - Prod. Fazendas


APL - Prod. Camponeses (0,6%a.a.) APL - Prod. Camponeses
APL - Mineral (3,8%a.a.) APL - Mineral

Fonte: Matrizes de insumo produto geradas pelo autor. Nota metodológica: As taxas de crescimento médio anual foram
calculadas, para cada série, por regressão linear da transformação logarítmica dos valores, em função do tempo. Elas
são os cologaritmos dos coeficientes angulares das regressões, menos a unidade, multiplicados por 100.

385
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 12.2.3-3 – Evolução do Produtividade total (A), do Produtividade por economia (B),
do Produtividade por setores da Economia Local-SudestePa (C), do Produtividade por setores
alfa da produção rural (D), do Produtividade por APLs na Economia Local-SudestePa (E) e da
participação respectiva na EBPα-SudestePa (F)
(A) (B)

Em R$ 1.000/Ocupação
31 80
Em R$ 1.000/Ocupação

30
29 60
28 40
27
26 20
25
24 0

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004
1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004
Economia Local (0,7% a.a.)

Total (0,55% a.a.) Economia Estadual ( -3,9% a.a.)


Economia Brasil ( 1,2% a.a.)

(C) (D)
40 280,0113 14
Em R$ 1.000/Ocupação

280,0112 12
30

Prod. Rural em R$
280,0111
1.000/Ocupação

1.000/Ocupação
Mineral em R$

10
280,011
20 280,0109 8
10 280,0108 6
280,0107
4
0 280,0106
280,0105 2
1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

280,0104 0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Comércio Local (5,3% a.a.)
Produção Mineral (+-0%)
Indústria Local (-5,1% a.a.) Patronal (1,4% a.a.)
Camponesa ( 4,2% a.a.)
Com. e Ind. Locais ( -1,4% a.a.) Produção Rural (4,1% a.a.)

(D) (F)
150 20
130
120%
Prod. Rural em R$

110 15
1.000/Ocupação

1.000/Ocupação
Mineral em R$

90
70%
70 10
50
20%
30 5
1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

10
-10 0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004

APL - Prod. Fazendas


APL - Mineral ( -1,3%a.a.)
APL - Prod. Camponeses
APL - Prod. Fazendas (-0,4%a.a.)
APL - Mineral
APL - Prod. Camponeses ( 2,7%a.a.)

Fonte: Matrizes de insumo produto geradas pelo autor. Nota metodológica: As taxas de crescimento médio anual foram
calculadas, para cada série, por regressão linear da transformação logarítmica dos valores, em função do tempo. Elas
são os cologaritmos dos coeficientes angulares das regressões, menos a unidade, multiplicados por 100.

386
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

O Multiplicador de Renda e a Base de Exportação da EBPα-SudestePa: indicações de interação


virtuosa

Em que medida as evoluções demonstradas pelos diversos componentes da EBPα-


SudestePa fundamentam apenas crescimento reversível produzido por forças externas, em que
medida indicam elevação da capacidade endógena de retenção cumulativa de externalidades que
possam vir a constituir bases de desenvolvimento?
A teoria da base de exportação, em sua formulação restrita, sustenta que uma economia
cresce como função linear da sua base de exportação, cujo coeficiente corresponde a um multiplicador
keynesiano clássico, determinado por uma proporção de consumo endógeno, a, relativamente estável,
de modo que sendo Y a renda total e X a produção local vendida extralocalmente, então:
1
Y= •X (12.2.3-1)
1− a

As hipóteses que estamos investigando são fortemente influenciadas por essa perspectiva:
ao atribuir caráter fortemente enclávico aos setores que fundamentam a economia em última
instância, a literatura mencionada na introdução pressupõe ser o a baixo e constante; ao afirmar
ser uma economia regida por ciclos radicais, se enuncia que toda variância de Y se explica por X
e que este necessariamente se esgota, tende a zero, e com ele a economia local entra em colapso.
De modo que a economia local funcionaria como demonstrado no Gráfico 12.2.3-4, parte A: seu
destino seria totalmente determinado por X, sendo o multiplicador uma mediação estática.
Entretanto, Pred (1966) criticou tal perspectiva, sugerindo que a expansão da escala
da economia conduzida por X, como variável exógena, não seria neutra no que se refere à sua
conformação estrutural, implicando mudança na proporção de absorção endógena de seu próprio
esforço. Mais recentemente essa posição vem sendo reiteradamente reafirmada por Romer (1986,
1990) e Fujita, Krugman, Venebles (2002:43-45). De modo que entendemos ser
at = α Yt−1 (12.2.3-2)

com α>0: a economia tende a aumentar a importância de suas concatenações internas de consumo
e produção intermediária como função linear direta do nível de renda do período imediatamente
anterior.
Substituindo (12.2.3-2) em (12.2.3-1), a relação entre a renda e a base de exportação de
um dado ano seria dada por:
−αY 2 + Y − X = 0 (12.2.3-3)

com valores no equilíbrio entre X e Y dados por


1± 1− 4α X
Y= (12.2.3-3)
2α.

387
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Esse modelo de base de exportação ampliado (Fujita, Krugman e Venable, 2002), como
o que é apresentado no Gráfico 12.2.3-4, parte B, indica, primeiro, que o crescimento de X
resulta em crescimento mais que proporcional em Y, com equilíbrios altos e baixos. Segundo,
que há um limite crítico dado por ¼α, a partir do qual a economia poderá crescer mesmo que a
base de exportação decresça – com os equilíbrios altos se tornando exeqüíveis pelo crescimento
(descontínuo) do multiplicador.
Contudo, sendo a economia regional necessariamente um sistema aberto, há valores que
estabelecem uma fronteira de a que delimita a região onde os equilíbrios altos fazem sentido: eles
serão significativos abaixo dessa fronteira.
Os valores-fronteira de a que têm sentido econômico são necessariamente históricos,
estabelecidos pelas condições médias que evoluíram ao longo da história da economia em questão.
Pois o valor de a se estabelece com a complexidade da economia: com o número e densidade
tecnológica de suas conexões internas e com a capacidade de consumo de seus membros. Assim,
tais valores expressam níveis alcançados de capacidade estrutural da economia para absorver
externalidades, resultado de uma história de formação de linkages para frente e para trás associados
a fundamentos concretos de produção e consumo, tangíveis e intangíveis.
É necessário, portanto, distinguir duas situações: uma de economias que vão se
formando a partir de “quase nada”, e, por isso, vão construindo seu multiplicador, forjando sua
capacidade estruturalmente delimitada de absorver, na sua própria reprodução, os resultados
do que exporta; outra, de economias, cujas histórias já as levaram a valores de a elevados –
máximos históricos – próximos até da fronteira lógica, a qual a não poderia ultrapassar sem
prejuízos à reprodução do sistema.
Fujita, Krugman e Venebles (2002: 43-48) refletem sobre a superposição desses dois
enredos no modelo apresentado no Gráfico 12.2.3-4, parte C, em que se pode ler o trajeto
como sendo o de uma economia pequena que cresce, ou de uma grande (madura) que decresce.
A primeira ergue-se a partir de zero, em escala, arrastada por sua base de exportação e,
como resultado desse crescimento em extensão, eleva seu mercado endógeno – trata-se de
trajeto permitido pelos equilíbrios baixos da equação (12.2.3-3), pois os equilíbrios altos
são irrelevantes até X = ā(1- ā)/α, uma vez que até aí os valores de Y implicam valores de
a maiores que seu máximo (ā). Entre X = ā(1- ā)/α e X = 1/4α, essa economia poderá ter
três equilíbrios se seu ā for superior ao a implicado em X = 1/4α, na equação (12.2.3-3): os
equilíbrios baixo e alto da equação (12.2.3-3) e o equilíbrio da equação (12.2.3-1) para ā. A
partir de X = 1/4α, ou saltos fortemente descontínuos quando se força o crescimento da base
de exportação, ou contínuos ajustamentos no multiplicador até atingir seu máximo, colocaria
a economia em posição de equilíbrio. A segunda sairia de nível de renda muito alto e, mediada
por seu multiplicador máximo, construído no trajeto primordial de seu crescimento, atinge
um ponto de descontinuidade em X = ā(1- ā)/α.
Não obstante as restrições que se possam a ela formular (Fujita, Krugman, Veneble,
op. cit: 47-48), essa metáfora fornece ideias gerais importantes sobre desenvolvimento regional
388
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

e, na sua primeira versão, a da economia que cresce a partir de condições iniciais muito baixas,
tendendo a zero, indicações úteis sobre as grandes tendências da EBPα-SudestePa:
1. Ideia geral: a economia cresce arrastada pela base de exportação, uma grandeza associada
à outra pelo multiplicador da base, o qual se fundamenta em uma capacidade de absorção
endógena relativamente estável. No caso da EBPα-SudestePa, a regressão linear entre base
de exportação (toda demanda final extralocal em R$ bilhões) como variável independente
e o Valor Adicionado (como proxy da renda, em R$ bilhões) como variável dependente tem
R2 = 0,99922, coeficiente angular (multiplicador da base médio) de 1,81 e correspondente
a = 0,449, significante a 0%.

2. Ideia geral: a interação entre economia de escala e o tamanho do mercado endógeno


pode levar a um processo cumulativo de expansão, resultado da ampliação do número
e densidade das concatenações internas. No caso da EBPα-SudestePa, o valor de a,
mostrado no Gráfico 12.2.3-5, parte D, tem crescido com a renda: utilizando as séries
de Valor Adicionado (em R$ bilhões), como proxy de Y, e a dos valores de a (deduzidos
dos multiplicadores de renda encontrados a partir da matrizes de insumo produto – conf.
Tabela 3 e 4), defasando os valores de a em um ano em relação a Y (como na equação
(33)), a regressão linear (passando pela origem) produziu um valor não padronizado de α
= 0,051319 e, padronizado, de α = 0,9956, significante a 0%, com R2 = 0,991.

3. Ideia geral: a dinâmica das economias, nas quais as economias de escala e o tamanho
do mercado interagem tipicamente, envolve a possibilidade de mudanças descontínuas
e um processo cumulativo relativamente autônomo em relação à base de exportação,
quando os parâmetros fundamentais ultrapassam um valor crítico determinado. Ajustada
a equação (12.2.3-3) para a economia EBPα-SudestePa, esse valor crítico se situaria em
torno de uma base de exportações de R$ 4,96 e renda de R$ 9,92 bilhões – nesse ponto o
multiplicador seria equivalente a 2.

4. Ideia geral: tal descontinuidade será tanto mais forte, quanto mais capaz de reter
endogenamente os efeitos do crescimento, o que se expressa em a, sendo seu máximo, ā,
uma medida do limite do processo de concatenação e desenvolvimento da economia em
questão. O multiplicador médio alcançado pela EBPα-SudestePa foi, como já mencionado,
de 1,81, com máximo de 1,82, o que corresponderia a uma proporção de gastos endógenos
de 0,45 do total. Esse valor está abaixo do ponto crítico mencionado em 3, significando
que não há base nem para descontinuidades (saltos) positivas na renda com o crescimento
da base de exportação, nem para crescimento autônomo daquela, na hipótese de que
venha a reduzir a importância dessa última: os impulsos de desenvolvimento seriam
contidos pelo ritmo (lento) do crescimento de a.

389
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 12.2.3-4 – Modelo de multiplicador da base ampliado

25
30
(A) (B)
25 20

Y=X/(1-a)
20

Y = Renda
15
Y = Renda

15
10 Y=(1± √1-4αX)/2α
10
5
5
1/4α
0 0
0 1 2 3 4 5 6 X 0 1 2 3 4 5 6 X
X = Base de Exportação X = Base de Exportação

30
(C)
25

Y=X/(1-a)
20
Y = Renda

15
Y=(1± √1-4αX)/2α

10

5
a(1-a)/α 1/4α
0
0 1 2 3 4 5 6 X
X = Base de Exportação

Fonte: Desenvolvimento do autor, a partir de Fujita, Krugman e Venebles (2002:3.1).

A análise de a, é a análise do potencial de inflexão qualitativa do desenvolvimento. Tal


análise implica observar as concatenações para frente e para trás da economia em questão – e
os efeitos a elas associados de internalização e transbordamento. No caso da EBPα-SudestePa,
390
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

estudar as tendências dessas concatenações é verificar as tendências dos multiplicadores que as


expressam. A isso nos dedicaremos na próxima seção.

Gráfico 12.2.3-5 – Evolução do VA, da Propensão a Consumir e da Base de Exportação (A)


e equilíbrios entre Base de Exportação e Renda para as equações ajustadas para da EBPα-
SudestePa (B)

(A) 25
(B)

12.000 0,454 20

Y = Renda (VA) em R$
0,452
10.000
0,450
8.000 0,448 15 Y=(1± √1-4αX)/2α

Bilhões
0,446
6.000
0,444
4.000 0,442 10
0,440
2.000 Y=X/(1-a)
0,438
0 0,436 5
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004

a(1-a)/α= R$ 4,91 1/4α = R$ 4,96


0
Base de exportação
0 1 2 3 4 5 6 X
Renda Tatal (Valor Adicionado)
Proporção do consumo endógeno X = Base de Exportação em R$ Bilhões

Fonte: Matrizes insumo-produto e correspondentes matrizes de multiplicadores gerados pelo autor.

12.2.4 Retenção e transbordamento: forças centrípetas e centrífugas

A análise dos multiplicadores setoriais de produto nos permite responder questões diretas
e simples do tipo: i) Se crescem as vendas do setor mineral em R$ 1, em quanto o produto dos
demais setores alfa será afetado? ii) Se cresce a demanda do setor rural patronal, o setor rural de
base familiar será impactado? iii) E o contrário? iv) Quanto de uma expansão de qualquer desses
setores se transformará em venda na economia local? v) Quanto na economia extralocal?
Pela ordem, as respostas presentes na Tabela 12.2.4-1, para o ano de 1995, e na Tabela
12.2.4-2, para 2004, são as seguintes: i) o produto das Fazendas cresceria, arredondado, em R$
0,09 reais em 1995 e em R$ 0,10 em 2004; o dos Camponeses em R$ 0,08 em 1995 e R$ 0,09
em 2004; ii) Sim, em R$ 0,09 centavos para cada R$ 1,00 de crescimento; iii) Em 2004, se
os camponeses crescem em R$ 1, os patronais crescem em R$ 0,10; iv) R$ 1,34 para cada R$
1,00 dos patronais; R$ 1,32 para cada R$ 1,00 dos camponeses; R$ 1,32 para cada R$ 1,00 da
mineração; v) Para o ano de 2004 de R$ 0,38 e R$ 0,98 respectivamente na economia estadual e
nacional, no que se refere ao setor patronal; de R$ 0,37 e R$ 0,93, no que tange aos camponeses
e de R$ 0,39 e R$ 1,20 no que trata do setor mineral.
391
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Não obstante o interesse próprio a tais resultados, há mais a ser visto através dos
multiplicadores. Acima concluímos que dinâmicas complexas, não lineares, produtoras de
bifurcações, se fazem condicionadas pelo valor máximo de a, o multiplicador agregado ou
global de renda de uma economia, com cumulatividade tanto maior, quanto maior a diferença
entre essa fronteira e o valor de a implicado no ponto de inflexão crítica da relação entre escala
da economia e mercado endógeno (conf. discutido em 12.2.3). Os valores de a, por seu turno,
são grandezas médias, resultados, em cada ano, da composição entre as formas diversas como
cada setor processou as receitas provindas dos setores exógenos. A componente “economia
local” da EBPα-SudestePa, que temos chamado aqui Economia Local-SudestePa, participa do
processo de determinação de a através dos seus setores específicos, que processam os respectivos
inputs de receita, retendo parte para si, cedendo parte para seus fornecedores locais e parte
para seus fornecedores extralocais: de outras regiões, as mesmas que no conjunto explicam
a demanda exógena. A capacidade conjunta de todos os setores da Economia Local-SudesteP
de reter ganhos implicados em venda exógena e de ampliar essa retenção resulta daquilo que
os autores do desenvolvimento endógeno chamam de forças centrípetas das aglomerações
locais. A incapacidade do conjunto desses setores; ou, formulado de outro modo, as exigências
imperiosas que os fazem ceder recursos e ganhos resultam das forças centrífugas que operam
em relação a elas.
Tais forças de atração e repulsão atuam sobre cada setor da economia local e expressam-
se nos valores dos multiplicadores setoriais de produto pela oposição entre suas parcelas
constitutivas: entre a parcela que corresponde à retenção local do produto e a que corresponde
aos transbordamentos para o restante da economia estadual e nacional. Como apresentado na
seção 12.2.2, os multiplicadores setoriais de produtos se compõem de multiplicadores de impacto
setorial (nas Tabelas 12.2.4-1 e 12.2.4-2, assinalados por B.1.1) e dos efeitos de empuxe (B.1.2).
Estes últimos podem ser decompostos em empuxe local (B.1.2.1), empuxe estadual (B.1.2.2),
empuxe nacional (B.1.2.3). Se agregarmos, para os setores da economia local, os respectivos
multiplicadores de impacto setorial e os efeitos de empuxe local, obteremos multiplicadores
setoriais de produto locais (B.2.1), cujas proporções, nos respectivos multiplicadores setoriais
de produto, representam os índices de retenção local (C.1, em % dos multiplicadores setoriais
de produto). Os índices de retenção local são medidas das forças centrípetas da economia local
operantes naqueles setores – nas suas relações diretas, indiretas e induzidas com todos os demais
setores (conforme discutido em 12.2.2). Os valores relativos aos efeitos de empuxe estadual e
empuxe nacional representam as forças centrífugas, cujas proporções nos multiplicadores de
impacto setorial (C5 e C6), somadas, perfazem índices de transbordamento. A divisão entre os
índices de retenção local e os índices de transbordamento produz medidas das contribuições
dos setores à dinâmica de aglomeração e cumulatividade da economia local – ao que chamamos
de índice de aglomeração local (um indicador do saldo das forças centrípetas sobre as forças
centrífugas da economia local) (ver valores nas Tabelas 12.2.4-1 e 12.2.4-2).

392
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Tabela 12.2.4-1 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leontief) da Sudeste Paraense com base
na Matriz de Insumo-Produto CSα em 1995
Economia Local Economia Estadual/Regional Economia Nacional
Produção
(Setores Alfa)1
Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio

Inter-mediação primária
Camp-oneses

Trans-forma-ção.4
Bene-ficia-mento3

Bene-ficiame-nto3
Trans-forma-ção4

Trans-forma-ção4
Minera-ção

Bene-ficiame-nto.
Fazendas

Atacado

Atacado

Atacado
Varejo2

Varejo2

Varejo2
1ª Fazendas 1,0930 0,0838 0,0857 0,2513 0,2346 0,1124 0,1253 0,1215 0,0837 0,0852 0,1047 0,1168 0,0815 0,0832 0,0951 0,1151
1b. Camponeses 0,0816 1,1245 0,0816 0,1476 0,1556 0,1248 0,1117 0,1102 0,0808 0,0809 0,0921 0,0971 0,0785 0,0798 0,0880 0,1001
1c. Mineração 0,0589 0,0563 1,0674 0,0524 0,2932 0,0966 0,1250 0,1200 0,0557 0,0874 0,1343 0,1434 0,1814 0,1539 0,1452 0,1443
2.Intermed. Primária 0,0211 0,0202 0,0226 1,0189 0,2210 0,0349 0,0443 0,0422 0,0201 0,0230 0,0488 0,0653 0,0193 0,0213 0,0363 0,0598
3. Beneficiamento 0,1004 0,0961 0,1081 0,0898 1,1110 0,1632 0,1820 0,2008 0,0947 0,1097 0,2384 0,3234 0,0919 0,1023 0,1776 0,2954
4. Indust. de
0,1630 0,1548 0,1552 0,1453 0,1486 1,1436 0,1473 0,3489 0,1382 0,1388 0,1461 0,1576 0,1401 0,1527 0,1495 0,2961
Transformação
5. Comércio de
0,1512 0,1450 0,1484 0,1315 0,1393 0,3467 1,1606 0,3160 0,1640 0,1561 0,1564 0,1410 0,1298 0,1320 0,1400 0,1639
Atacado
6. Varejo e Serviços 0,7777 0,7380 0,7337 0,6816 0,7038 0,6670 0,6703 1,6689 0,6566 0,6593 0,6668 0,6697 0,6656 0,6639 0,6657 0,6696
7. Beneficiamento 0,0500 0,0478 0,0500 0,0446 0,0527 0,0882 0,1398 0,1016 1,0522 0,4500 0,2363 0,1156 0,0437 0,0445 0,0577 0,0522
8. Ind. de
0,0397 0,0381 0,0428 0,0355 0,0412 0,0683 0,1299 0,0784 0,0409 1,0409 0,1402 0,1364 0,0362 0,0372 0,0679 0,0422
Transformação
9. Comércio de
0,2300 0,2197 0,2218 0,2049 0,2452 0,4132 0,5969 0,4739 0,2424 0,2429 1,2256 0,4149 0,1974 0,1998 0,2065 0,2384
Atacado
10. Varejo e Serviços 0,0460 0,0460 0,0573 0,0459 0,0486 0,0464 0,0467 0,0467 0,0460 0,0463 0,0469 1,0470 0,0474 0,0471 0,0470 0,0470
11. Indust. De Benef. 0,2838 0,2709 0,3367 0,2515 0,2875 0,4671 0,6586 0,5848 0,2686 0,4925 0,6291 0,5449 1,2722 1,0350 0,8269 0,6033
12. In. de
0,3679 0,3511 0,4378 0,3259 0,3724 0,6047 0,8427 0,7591 0,3473 0,3537 0,8003 0,6888 0,3535 1,3732 1,0859 0,7940
Transformação
13. Comércio de
0,2404 0,2292 0,3452 0,2116 0,2507 0,3199 0,6220 0,5025 0,2229 0,2320 0,3460 0,2673 0,2564 0,2809 1,2701 0,2781
Atacado
14. Varejo e Serviços 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 1,0000
Multiplicadores
A. Setoriais de
1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918 1,7918
Renda
B. Setoriais de
3,7047 3,6215 3,8944 3,6383 4,3053 4,6972 5,6032 5,4753 3,5140 4,1987 5,0120 4,9291 3,5947 4,4070 5,0594 4,8993
Produto A+B+C+D
B11. Impacto
1,0930 1,1245 1,0674 1,0189 1,1110 1,1436 1,1606 1,6689 1,0522 1,0409 1,2256 1,0470 1,2722 1,3732 1,2701 1,0000
Setorial
B12. Empuxe Total 2,6117 2,4970 2,8270 2,6195 3,1943 3,5536 4,4426 3,8064 2,4618 3,1578 3,7865 3,8822 2,3225 3,0337 3,7893 3,8993
B121. Local 1,3540 1,2942 1,3354 1,4996 1,8960 1,5457 1,4060 1,2595 1,2937 1,3404 1,5876 1,7143 1,3880 1,3892 1,4974 1,8442
B122. Estadual 0,3657 0,3516 0,3719 0,3309 0,3877 0,6161 0,9133 0,7006 0,3293 0,7392 0,4234 0,6669 0,3246 0,3286 0,3790 0,3797
B123. Nacional 0,8920 0,8512 1,1197 0,7890 0,9106 1,3918 2,1233 1,8463 0,8389 1,0782 1,7754 1,5010 0,6099 1,3159 1,9128 1,6754
C. Setorial de
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
produto
C1. Retenção Local 66,1% 66,8% 61,7% 69,2% 69,8% 57,3% 45,8% 53,5%
C2. Retenção
39,3% 42,4% 32,9% 34,8%
Estadual
C3. Retenção
52,4% 61,0% 62,9% 54,6%
Nacional
C4. Transb. p/Local 36,8% 31,9% 31,7% 34,8% 38,6% 31,5% 29,6% 37,6%
C5. Transb. p/
9,9% 9,7% 9,5% 9,1% 9,0% 13,1% 16,3% 12,8% 9,0% 7,5% 7,5% 7,8%
Estadual
C6. Transb.
24,1% 23,5% 28,8% 21,7% 21,2% 29,6% 37,9% 33,7% 23,9% 25,7% 35,4% 30,5%
p/.Nacional
Índice de
1,94 2,01 1,61 2,25 2,31 1,34 0,85 1,15
Aglomeração

Fonte: Tabela 12.2.2-1. Nota: B = B11+B12; C = C1+C2+C3+ C4+C5+C6; C1 = (B11 + B121)/B; C2 = (B11 +
B122)/B; C3 = (B11 + B123)/B; C4 = B121/B; C5 = B122/B; C6 = B123/B.

393
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 12.2.4-2 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leontief) da Sudeste Paraense com base na
Matriz de Insumo-Produto CSα em 2004
Economia Local Economia Estadual/Regional Economia Nacional
Produção

Inter-mediação primária
(Setores Alfa)1 Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio

Trans-forma-ção.4
Bene-ficia-mento3

Bene-ficiame-nto3
Trans-forma-ção4

Trans-forma-ção4
Bene-ficiame-nto.
Camp-oneses

Minera-ção
Fazendas

Atacado

Atacado

Atacado
Varejo2

Varejo2

Varejo2
1ª Fazendas 1,1112 0,1027 0,1036 0,2664 0,2777 0,1378 0,1509 0,1401 0,1026 0,1051 0,1095 0,1481 0,0996 0,1026 0,1062 0,1402
1b. Camponeses 0,0870 1,1303 0,0865 0,2828 0,1670 0,1415 0,1271 0,1169 0,0859 0,0866 0,0911 0,1073 0,0832 0,0855 0,0914 0,1078
1c. Mineração 0,0623 0,0595 1,0696 0,0561 0,4366 0,1058 0,1168 0,1233 0,0588 0,0909 0,1225 0,1863 0,1780 0,1529 0,1403 0,1763
2.Intermed.
0,0046 0,0044 0,0046 1,0041 0,0434 0,0090 0,0167 0,0089 0,0047 0,0053 0,0066 0,0148 0,0040 0,0046 0,0053 0,0125
Primária
3. Beneficiamento 0,0681 0,0652 0,0706 0,0620 1,0851 0,1281 0,0908 0,1289 0,0620 0,0821 0,1003 0,3344 0,0612 0,0754 0,0886 0,2742
4. Indust. de
0,1716 0,1626 0,1620 0,1568 0,1591 1,1522 0,1580 0,3616 0,1442 0,1449 0,1565 0,1673 0,1458 0,1665 0,1623 0,2848
Transformação
5. Comércio de
0,1643 0,1573 0,1598 0,1451 0,1561 0,3564 1,1920 0,3377 0,1989 0,1826 0,1927 0,1593 0,1399 0,1440 0,1585 0,1713
Atacado
6. Varejo e
0,7904 0,7487 0,7359 0,6969 0,7259 0,6726 0,6744 1,6721 0,6590 0,6620 0,6656 0,6787 0,6673 0,6662 0,6663 0,6764
Serviços
7. Beneficiamento 0,0573 0,0547 0,0565 0,0516 0,0616 0,0973 0,1506 0,1150 1,0613 0,4501 0,2701 0,1302 0,0495 0,0508 0,0652 0,0583
8. Ind. de
0,0457 0,0438 0,0488 0,0414 0,0489 0,0749 0,1373 0,0886 0,0486 1,0480 0,1620 0,1662 0,0413 0,0427 0,0771 0,0476
Transformação
9. Comércio de
0,2342 0,2233 0,2228 0,2108 0,2529 0,4050 0,5781 0,4774 0,2516 0,2501 1,2329 0,3896 0,1986 0,2028 0,2091 0,2361
Atacado
10. Varejo e
0,0464 0,0463 0,0576 0,0463 0,0505 0,0468 0,0470 0,0470 0,0463 0,0467 0,0470 1,0477 0,0476 0,0474 0,0472 0,0476
Serviços
11. Indust. De
0,3107 0,2960 0,3636 0,2777 0,3296 0,4905 0,6949 0,6332 0,3006 0,5059 0,7134 0,5322 1,2939 1,0423 0,8976 0,6315
Benef.
12. In. de
0,4125 0,3930 0,4842 0,3686 0,4375 0,6506 0,9130 0,8421 0,3980 0,4011 0,9315 0,6823 0,3908 1,4149 1,2072 0,8507
Transformação
13. Comércio de
0,2524 0,2404 0,3543 0,2243 0,2827 0,3270 0,6192 0,5187 0,2404 0,2462 0,3787 0,2801 0,2640 0,2892 1,2843 0,2905
Atacado
14. Varejo e
0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 1,0000
Serviços
Multiplicadores
A. Setoriais de
1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119 1,8119
Renda
B. Setoriais
de Produto 3,8185 3,7282 3,9804 3,8910 4,5146 4,7956 5,6666 5,6115 3,6630 4,3076 5,1805 5,0246 3,6647 4,4880 5,2066 5,0058
A+B+C+D
B11. Impacto
Setorial 1,1112 1,1303 1,0696 1,0041 1,0851 1,1522 1,1920 1,6721 1,0613 1,0480 1,2329 1,0477 1,2939 1,4149 1,2843 1,0000

B12. Empuxe
2,7074 2,5979 2,9109 2,8869 3,4295 3,6434 4,4746 3,9393 2,6017 3,2596 3,9476 3,9769 2,3708 3,0731 3,9223 4,0058
Total
B121. Local 1,3482 1,3004 1,3230 1,6661 1,9658 1,5512 1,3345 1,2173 1,3162 1,3595 1,4448 1,7962 1,3790 1,3978 1,4188 1,8434
B122. Estadual 0,3836 0,3682 0,3857 0,3502 0,4139 0,6240 0,9130 0,7280 0,3465 0,7469 0,4791 0,6860 0,3370 0,3437 0,3986 0,3896
B123. Nacional 0,9756 0,9293 1,2021 0,8706 1,0498 1,4681 2,2271 1,9940 0,9390 1,1532 2,0237 1,4947 0,6547 1,3316 2,1048 1,7727
C. Setorial de
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
produto
C1. Retenção
64,4% 65,2% 60,1% 68,6% 67,6% 56,4% 44,6% 51,5%
Local
C2. Retenção
38,4% 41,7% 33,0% 34,5%
Estadual
C3. Retenção
53,2% 61,2% 65,1% 55,4%
Nacional
C4. Transb. p/
35,9% 31,6% 27,9% 35,7% 37,6% 31,1% 27,3% 36,8%
Local
C5. Transb. p/
10,0% 9,9% 9,7% 9,0% 9,2% 13,0% 16,1% 13,0% 9,2% 7,7% 7,7% 7,8%
Estadual
C6. Transb.
25,6% 24,9% 30,2% 22,4% 23,3% 30,6% 39,3% 35,5% 25,6% 26,8% 39,1% 29,7%
p/.Nacional
Índice de
1,81 1,87 1,51 2,18 2,08 1,29 0,81 1,06
aglomeração (IA)

Fonte: Tabela 2.2..2-2. Nota: 1 B = B11+B12; C = C1+C2+C3+ C4+C5+C6; C1 = (B11 + B121)/B; C2 = (B11 +
B122)/B; C3 = (B11 + B123)/B; C4 = B121/B; C5 = B122/B; C6 = B123/B. 2 Índice de Aglomeração IA = C1/(C5+C6).

394
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

O Gráfico 12.2.4-1 apresenta a evolução desses índices de aglomeração e dos


multiplicadores setoriais de produto de todos os setores da economia local da EBPα-SudestePa,
sobre os quais convém sublinhar o seguinte:
1. Quanto aos APLs associados à produção primária:
O multiplicador setorial de produto dos APLs em torno da produção mineral é o maior de
todos da produção primária, crescendo, a partir de 3,9 em 1995, a uma taxa anual de 0,18% a.a.. Não
obstante, apresentou a menor contribuição para a aglomeração local, isto é, para a endogenização
local dos seus pressupostos produtivos. Ademais, observando o período como um todo, o índice de
aglomeração tem diminuído à taxa de -0,37% a.a. A rigor, todavia, a evolução se fez em dois estágios:
um que apresenta uma forte queda até 1997, recuperando-se muito lentamente, a partir daí, sem atingir
o nível do início do período.
Os APLs organizados em torno da produção rural patronal têm o segundo maior multiplicador
setorial de produto, o qual cresce à taxa de 0,20% a.a. Seu índice de contribuição à economia local,
entretanto, reduziu, considerando o período como um todo, em ritmo de -0,40% a.a.; como no caso
anterior, houve uma drástica redução nos três primeiros anos da série não compensada pelo crescimento
lento, porém contínuo, da fase restante que se estende até 2004.

a. Os APLs organizados em torno da produção camponesa, a sua vez, apresentam o


menor multiplicador, com o maior índice de contribuição à aglomeração local, o
qual evolui de modo muito semelhante ao já comentado setor patronal.

2. Quanto aos setores urbanos:


Apresentaram os multiplicadores mais elevados da economia local, sendo os de comércio
10% superiores aos da indústria.
No que se refere à contribuição à aglomeração da economia local, invertem-se as posições: a
da indústria situa-se 50% acima da do comércio.

a. Em ambos os casos, diferentemente do que se passa com os setores da produção


primária, o crescimento dos multiplicadores se faz a taxas superiores às taxas de
redução das respectivas contribuições à dinâmica local de aglomeração.

3. Para o conjunto dos setores da Economia Local-SudestePa, teríamos um multiplicador


médio de produto que cresce continuamente a 0,22% a.a., com um índice conjunto de
contribuição à dinâmica de aglomeração que reduziu ao longo do período a -0,25% a.a.,
resultado da já mencionada queda entre 1995 e 1997, contraposta a uma recuperação
muito lenta nos anos subsequentes.

395
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Gráfico 12.2.4-1 – Evolução dos Índices Setoriais de Aglomeração e dos Multiplicadores dos
APLs associados à produção primária (A e B), dos setores urbanos (C e D) e do total da economia
local (E e F)

(A) APLs - Índice de Aglomeração (B) Produção Primária - Multiplicador de Produto


4,0
2,2 3,9
2,0
3,8
1,8
3,7
1,6
1,4 3,6
1,2 3,5

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004
1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004
APL - Prod. Patronal (-0,39%a.a.) Patronal (0,18% a.a.) Familiar ( 0,20% a.a.)
APL - Prod. Familiar(-0,40%a.a.)
APL - Mineral (-0,37% a.a.) Mineral (0,13% a.a.)

(C) Setores Urbanos - Índice de Aglomeração (D) Setores Urbanos - Multiplicadores

2,20 5,50
2,00
1,80 5,00
1,60
1,40 4,50
1,20
1,00
4,00
1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004
Comércio (-0,18% a.a.) Indústria (-0,2%a.a.) Comércio (0,23% a.a.) Indústria ( 0,24%a.a.)

(E) Setores Urbanos - Índice de Aglomeração (F) Setores Urbanos - Multiplicadores


2,20
5,50
2,00
1,80 5,00
1,60
1,40 4,50
1,20
1,00
4,00
1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

Total da Economia Local (-0,25% a.a.) Total da Economia Local (0,22% a.a.)

Fonte: Matrizes de insumo produto geradas pelo autor. Nota metodológica: As taxas de crescimento médio anual foram
calculadas, para cada série, por regressão linear da transformação logarítmica dos valores, em função do tempo. Elas
são os cologaritmos dos coeficientes angulares das regressões, menos a unidade, multiplicados por 100.

396
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Fundamentos da capacidade de aglomeração

O índice de aglomeração varia em função de dois movimentos captados pela metodologia


utilizada. Pela mudança na composição da produção da economia e pela mudança na estrutura das
cadeias dos produtos. A variação no peso relativo dos produtos estabelece, em razão direta, a influência
das cadeias respectivas na definição da estrutura da economia, e essas cadeias mudam ao longo do
tempo.
Na EBPα-SudestePa, no período em estudo, foi verificada uma perda de importância
relativa muito forte da madeira, com um baque acentuado entre 1995 e 1997 (ver Gráfico 12.2.4-
2, A e B). A cadeia desse produto apresenta um componente local relativamente importante, de
modo que tão profunda redução no seu peso relativo influiu na queda dos índices de aglomeração
que comentamos anteriormente. Enquanto a produção de madeira manteve-se estável, embora
em patamar bem mais baixo, a produção agropecuária reposicionou-se no período: a pecuária de
corte, protagonizada especialmente pelas fazendas, assim como a pecuária leiteira e a fruticultura,
protagonizados pelos camponeses, tornaram-se mais importantes (ver Gráfico 12.2.4-2).

Gráfico 12.2.4-2 – Evolução dos principais produtos do setor rural da EBPα-SudestePa

A – Composição do VBP em 1995 e 2004 B- Evolução dos principais produtos


% do VBP % do VBP 2,00
em 1995 em 2004
1,80
Bovinos 50,7% 57,5%
Leite 13,1% 18,5%
1,60
Arroz 6,4% 4,0%
Madeira 5,6% 0,3%
1,40
Mandioca 2,7% 1,1%
Milho em Grão 2,6% 1,9% 1,20
Frango 2,0% 0,4%
Carvão 1,9% 0,3% 1,00
Ovos 1,6% 0,5%
Banana 1,6% 7,3% 0,80
Suíno 1,6% 0,2%
Lenha 0,9% 0,2% 0,60
Feijão 0,8% 0,2%
Abacaxi 0,7% 0,4% 0,40
Manga 0,7% 0,3%
Pimenta 0,6% 0,5% 0,20

Laranja 0,4% 0,1%


0,00
Cacau 0,3% 0,2%
1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

Côco-da-baia 0,2% 0,3%


Café 0,1% 0,1%
Total 94,5% 94,5% Madeira Gado Leite Permanentes

Fonte: IBGE, processamento do autor.

As cadeias desses produtos, por seu turno, sofreram mudanças importantes em favor da
Economia Local-SudestePa: no Gráfico 12.2.4-3, as partes A1 e A2 mostram, respectivamente, a
estrutura da cadeia da pecuária de corte em 1995 e 2004 e a A3 a variação, em pontos percentuais,
ocorrida entre os dois momentos. Notamos que houve um internalização na Economia Local-
SudestePa de processamento industrial antes executado em outros pontos EBPα-SudestePa,
particularmente em outras áreas do Estado do Pará; na parte B3 são observados dois movimentos
397
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

importantes na cadeia do leite – o processamento, antes feito em outras áreas do Estado do Pará,
desloca-se para a Economia Local-SudestePa e, nesta, a transformação industrial torna-se mais
importante do que o simples beneficiamento. Em conjunto, essas variações elevam o índice de
aglomeração.

Gráfico 12.2.4-3 – Variação na estrutura das matrizes Qvij de pecuária de corte e de leite entre
1995 e 2004

(A1) Pecuária de Carne - 1995 (B1) Leite - 1995

70% 70%
60% 60%
50% 50%
40% 40%
30% 30%
20% 13 13
11 20% 11
9 9
10% 7 10% 7
5 5
3 3
0% 1 0% 1
5.Atacado

9.Atacado
1.Produção
3.IndBenef.
4.IndTransf.
6.VarejoeSe

10.VarejoSe
11.IndBenef.

13.Atacado
14.VarejoSe
2.Intermed.P

8.IndTransf

12.IndTransf
7.IndBenef

13.Atacado
11.IndBenef.

14.VarejoSe
1.Produção
3.IndBenef.
4.IndTransf.
5.Atacado
6.VarejoeSe

9.Atacado
10.VarejoSe
2.Intermed.P

8.IndTransf

12.IndTransf
7.IndBenef
(A2) Pecuária de Carne - 2004 (B2) Leite - 2004

70% 70%
60% 60%
50% 50%
40% 40%
30% 30%
20% 13 13
11 20% 11
9 9
10% 7 10% 7
5 5
3 3
0% 1 0% 1
13.Atacado
1.Produção

14.VarejoSe
3.IndBenef.
4.IndTransf.
5.Atacado
6.VarejoeSe

9.Atacado
10.VarejoSe
11.IndBenef.
2.Intermed.P

8.IndTransf

12.IndTransf
7.IndBenef

13.Atacado
11.IndBenef.

14.VarejoSe
1.Produção
3.IndBenef.
4.IndTransf.
5.Atacado
6.VarejoeSe

9.Atacado
10.VarejoSe
2.Intermed.P

8.IndTransf

12.IndTransf
7.IndBenef

(A3) Pecuária de Carne - 2004 - 1995 (B3) Leite - 2004 - 1995

6% 6%
4% 4%
2% 2%
0% 0%
-2% -2%
-4% 13 13
11 -4% 11
9 9
-6% 7 -6% 7
5 5
3 3
-8% 1 -8% 1
1.Produção

13.Atacado
14.VarejoSe
3.IndBenef.
4.IndTransf.
5.Atacado
6.VarejoeSe

9.Atacado
10.VarejoSe
11.IndBenef.
2.Intermed.P

12.IndTransf
8.IndTransf
7.IndBenef

13.Atacado
1.Produção

14.VarejoSe
3.IndBenef.
4.IndTransf.
5.Atacado
6.VarejoeSe

9.Atacado
10.VarejoSe
11.IndBenef.
2.Intermed.P

8.IndTransf

12.IndTransf
7.IndBenef

Fonte: Matrizes de base gerados pelo NETZ, correspondentes às cadeias dos produtos nos anos respectivos.

398
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

12.2.5. A economia local do Sudeste Paraense: síntese do diverso

A Economia Local-SudestePa é produto das ação de agentes heterogêneos articulados em


os Arranjos Produtivos Locais (APL), sendo possível verificar que a produção de minério e todas
as atividades com ela envolvidas, a montante e a jusante, isto é, os APLs articulados em torno
dela, representaram 74% da renda da Economia Local-SudestePa; a produção rural patronal e as
atividades de processamento e logística interligadas nos APLs respectivos representaram 14% da
EL-SudestePa e, no que se refere à produção camponesa, 12% da EL-SudestePa.
Apresentamos, por outra parte, a Economia Local-SudestePa como parte de um sistema mais
amplo da EBPSudestePa, cujo Valor Adicionado cresceu na década que vai de 1995 a 2004 a 2,8%
a.a. A rigor, essa taxa média resulta de um ciclo, com queda nos três primeiros anos e retomada por
todo o período subsequente, com taxas e movimentos semelhantes na componente propriamente
local, EL-SudestePa (média de 2,8% a.a.), no componente estadual (2,9%a.a.) e nacional (2,7%a.a.).
A produtividade da EBPSudestePa, medida pelo valor adicionado total por ocupação,
cresceu no período a 0,6% a.a.. Por seu turno, não apenas a renda cresceu com a base de
exportação, como, também, o multiplicador da base cresceu com a renda por efeito da elevação
das concatenações internas. Há, pois, uma dinâmica cumulativa nessa economia, cuja expansão
alarga mais que proporcionalmente seus fundamentos internos.
Uma questão chave diz respeito a se tal dinâmica favorece a Economia Local-SudestePa ou
tende a transbordar seu principais efeitos – ou, formulada de outro modo, em que medida as forças
centrípetas da Economia Local-SudestePa superam as forças centrífugas na captação desses efeitos.
Observando todo o período, notamos que as forças centrífugas superaram as centrípetas da Economia
Local-SudestePa em relação a todos os APLs. Um olhar mais atento, contudo, que observe essa relação
de forças nos componentes do ciclo, revelou uma história mais complexa: até 1997 o coeficiente de
aglomeração reduziu fortemente posto que associado a uma capacidade espúria, representada pela
força centrípeta efêmera da economia madeireira na região; o que se presencia em seguida é um
crescimento lento, porém continuado da capacidade de retenção dos efeitos de um crescimento da
base de exportação, agora por força de uma dinâmica adaptativa que, por um lado, intensifica a
produção rural camponesa (cuja produtividade cresce a 4,2% a.a.); por outro, complexifica as cadeias
de produtos relevantes de origem rural, inclusive da pecuária extensiva.
Vejamos com mais detalhe as entranhas desse processo – as relações mais íntimas entre os
setores alfa – setor mineral e setores rurais, camponês e patronal – e o que se poderia indicar para
o desenvolvimento da região. Em três subcapítulos. Inicialmente, observando as oportunidades
que poderão advir dos aumentos em escala da base de exportação que resultarão da expansão
mineral. Depois, considerando uma abordagem de política que tenha presente as necessidades
produtivas do desenvolvimento sustentável. Numa vertente, problematizada com a introdução
de mudanças nos fundamentos das trajetórias tecnológicas rurais e seus implícitos resultados nos
ASPIL que fazem a economia local; num outro caminho, indicado em 12.5, pela criação de novas
trajetórias rurais na região, visando estabelecer fundamentos de arranjos futuros promissores.
399
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

12.3 Sistemas Agrários e Economia Mineral: Sinergismo insuspeito

O Sudeste Paraense tem sido historicamente uma região de extraordinária dinâmica na


Amazônia brasileira, como se viu no capítulo precedente. Em anos recentes, na esteira do novo
momento dos mercados de comodities minerais, onde se destaca o efeito do reposicionamento da
China como demandante dessas matérias primas, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) vem
mantendo um arrojada programação de expansão da produção mineral nessa região, associada a
uma agenda correspondente de investimentos (conf. Tabela 12.3-1).
De R$ 3,2 bilhões em 2003 e R$ 4,8 bilhões em 2004, o valor da produção previsto no
momento que procedemos esta pesquisa, a preços de 2005, atingiria R$ 16,8 bilhões em 2010. Por
seu turno, os investimentos planejados até esse ano somavam R$ 22,6 bilhões.

Tabela 12.3-1 – Programação de investimentos e ampliação da produção mineral pela CVRD no


Sudeste Paraense (R$ 1.000 de 2005)
Valor da Produção Mineral
Ano Variação Investimentos
Total Anual
Absoluta Taxa de Incremento
2003 3.251.152,06
2004 4.843.995,89 1.592.843,83 49% 1.240.725,99
2005 7.409.218,21 2.565.222,32 53% 1.998.063,93
2006 9.879.627,60 2.470.409,39 33% 3.741.822,00
2007 10.453.664,80 574.037,20 6% 3.864.650,04
2008 10.876.016,52 422.351,73 4% 4.998.707,18
2009 11.213.125,89 337.109,37 3% 3.707.177,38
2010 11.407.047,60 193.921,71 2% 4.774.004,82
Fonte: CVRD.

Os objetivos principais deste capítulo são dois: 1) calcular os impactos econômicos que a
programação explicitada na Tabela 12.3-1 terá para a economia local do Sudeste Paraense, na qual
se inserem todos os empreendimentos projetados, bem como os transbordamentos para o restante
do território do Pará e do Brasil; 2) produzir tais cálculos por uma metodologia capaz de explicitar
compreensivamente a diversidade estrutural fundamental da região.
Com isso intentamos, por um lado, oferecer à discussão, sobre o papel dos empreendimentos
da mineração industrial no desenvolvimento da Amazônia, os elementos de uma leitura sistêmica
e complexa de variáveis chaves da economia de uma região crítica. Por outro lado, esperamos
dotar a avaliação da capacidade da mineração industrial impulsionar processos de desenvolvimento,
dominada na literatura por uma ótica que privilegia os “linkages fiscais” e os “linkages para frente”
da mínero-metalurgia nas delimitações espaciais do município ou do estado (Monteiro, 2005 e
2004; Bunker, 2000 e 2004; Silva, 1998; Silva Enriquez, 2007), de novas perspectivas que realcem
os “efeitos-renda” difusos e as “linkages para trás” no espaço funcional da economia local e seus
transbordamentos para a economia envolvente.
400
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

De modo que privilegiaremos as seguintes questões: como investimentos tão vultosos


afetarão essa economia marcadamente agrária? Como atingirão seus APLs constituídos por
trajetórias tecnológicas rurais, sejam de base camponesa, sejam de base patronal? Como serão
afetados seus setores urbanos? Como serão impactadas as variáveis do valor adicionado (salário,
lucro e impostos) e o emprego, em cada um e no conjunto desses setores? Em que montante
ocorrerão transbordamentos para as economias estadual e nacional? Tais vazamentos constituirão
perdas evitáveis, i.e. oportunidades desperdiçadas pela economia local?
Para responder essas perguntas utilizaremos a matriz de insumo-produto da economia
do Sudeste Paraense e seus multiplicadores. Usando o modelo CSα chegamos a uma descrição
da economia do Sudeste Paraense, cujas características estruturais mais gerais, bem como sua
dinâmica entre 1990 e 2004 discutimos em 12.2. Para a análise que segue tomamos o último ano
dessa sequência, 2004, cuja matriz I-P está na Tabela 12.2.2-2. Lá se explicitam o setor mineral,
o setor rural de base familiar e o setor rural de base patronal em 2004.

12.3.1 As concatenações locais e extralocais da economia mineral e seus significados

Os multiplicadores da economia estudada estão na 12.2.4-2, onde, nas dez últimas linhas
encontram-se, também, pela ordem, o multiplicador agregado de renda (A), os multiplicadores
setoriais de produto (B) e seus componentes, os multiplicadores de impacto setorial (B11) e os de
efeito de empuxe (B12). Este último foi decomposto em empuxe total local (B121), empuxe total
estadual (B122), empuxe total nacional (B123). Se agregarmos, para os setores da economia local,
os respectivos multiplicadores de impacto setorial e de empuxe local, obteremos multiplicadores
setoriais de produto locais (B21: os quais, adicionados aos multiplicadores de empuxe estadual e
nacional, perfazem os multiplicadores setoriais de produto); para os setores da economia estadual, os
de impacto setorial e empuxe estadual, obteremos multiplicadores setoriais de produto estaduais (B22:
os quais, adicionados aos multiplicadores de empuxe locais e nacionais, perfazem os multiplicadores
setoriais de produto); para os setores da economia nacional, os de impacto setorial e de empuxe
nacionais, obteremos multiplicadores setoriais de produto nacionais (B23: os quais, adicionados aos
multiplicadores de empuxe locais e estaduais, perfazem os multiplicadores setoriais de produto).
O multiplicador agregado ou global de renda é R$ 1,8101: injetando R$ 1 na demanda
efetiva, o valor adicionado do sistema como um todo crescerá R$ 1,8101.
Os demais multiplicadores indicam como cada setor intermediará tais entradas e saídas de
recursos no impacto sobre o valor da produção total e, por essa via, sobre as variáveis de renda e
emprego. No que se refere à produção mineral, o multiplicador de produto é de 3,9 – 1,06 de impacto
setorial e 2,9 de empuxe total, cuja parcela estritamente local é de 2,38. No que se refere ao setor
alfa da produção rural camponesa, para cada unidade a mais ou menos na demanda final multiplica
por 3,73 (1,13 de impacto setorial e 2,60 dos efeitos indiretos de empuxe), com uma parcela local de
2,43; da produção rural patronal, o multiplicador de 3,82 (1,11 de impacto setorial e 2,71 de efeitos
indiretos), com parcela de impacto local de 2,46 (conf. Tabela 12.2.4-2 e Gráfico 12.3.1-1).
401
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Os setores de comércio e serviços apresentam os maiores multiplicadores setoriais de


produto (em torno de 5,6), com impacto local, contudo, em torno da metade disso. Os setores
industriais, por seu turno, apresentam multiplicadores setoriais de produto medianos (4,5 e 4,8,
respectivamente para a indústria de beneficiamento e transformação), porém os mais altos fatores
de impacto local (3,1 e 2,7).
A proporção de um multiplicador setorial de produto que impacta direta e indiretamente a
economia de que faz parte indica o grau de retenção e, como redundância, o de transbordamento para
outras economias. Os transbordamentos de efeitos derivados das variações na demanda final dos setores
da economia local se fazem em direção à economia estadual ou em direção à economia nacional.
O grau de retenção do multiplicador do setor mineral do Sudeste Paraense na economia
local é de 60%, e o efeito de transbordamento de 40%, sendo 10% para a economia estadual e
30% para a economia nacional. Trata-se, entre os setores alfa da economia do Sudeste Paraense,
de menor retenção e maior transbordamento, sobretudo no que se refere à economia nacional.
Nos setores rurais a retenção é de 64% e 65%, respectivamente, para fazendas e camponeses, com
transbordamentos para a economia nacional de 26% e 25% (conf. Gráfico 12.3.1-2).
Por sua vez, quando crescem as demandas dos setores do restante do Pará e do Brasil, há
transbordamentos médios em torno de 1/3 dos respectivos multiplicadores para a economia local.
Das três economias envolvidas, a economia estadual apresenta os menores índices de retenção, ao
lado, também, dos mais baixos índices de transbordamento originados nas outras duas economias
(conf. Gráfico 12.3.1-3).

Gráfico 12.3.1-1 - Multiplicadores Setoriais de Produto da Economia Alfa do Sudeste Paraense,


2004

6,00
Multiplicador Setorial de Produto

5,00

4,00

3,00

2,00

1,00

0,00
11.Beneficiamento

12.Transformação
8.Transformação

9.Atacado

10.Varejo e Serviços

13.Atacado

14.Varejo e Serviços
4.Transformação

5.Atacado

6.Varejo e Serviços

7.Beneficiamento
1a.Fazendas

1b.Camponeses

2.Intermed. Primária

3.Beneficiamento
1c.Mineração

Economia Local Economia Estadual Economia Nacional

Fonte: Tabela 12.2.4-2.

402
Índice de Transbordamento
Índice de Retenção
Francisco de Assis Costa

0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%

0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%

Fonte: Tabela 12.2.4-2.


Fonte: Tabela 12.2.4-2.
1a.Fazendas 1a.Fazendas
Sudeste Paraense, 2004

1b.Camponeses 1b.Camponeses

Economia Local
Economia Local
1c.Mineração 1c.Mineração

2.Intermed. Primária 2.Intermed. Primária

3.Beneficiamento 3.Beneficiamento

Economia Alfa do Sudeste Paraense, 2004


4.Transformação 4.Transformação

5.Atacado 5.Atacado

403
6.Varejo e Serviços 6.Varejo e Serviços

Economia Estadual
Economia Estadual
7.Beneficiamento 7.Beneficiamento

8.Transformação 8.Transformação

9.Atacado 9.Atacado

10.Varejo e Serviços 10.Varejo e Serviços

11.Beneficiamento 11.Beneficiamento

12.Transformação 12.Transformação

13.Atacado 13.Atacado

Economia Nacional
Economia Nacional

14.Varejo e Serviços 14.Varejo e Serviços


Gráfico 12.3.1-3 – Efeito de Transbordamento dos multiplicadores setoriais de produto (%) da
Gráfico 12.3.1-2 – Retenção (%) dos multiplicadores de impacto setoriais da Economia Alfa do
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

12.3.2 Impactos potenciais das variações no investimento e na produção do setor mineral nos
setores alfa e beta da economia local

Dada a estrutura da economia em 2004 e seus multiplicadores, calculamos com base


na fórmula (12.2.1-14) os impactos sobre as variáveis do valor adicionado, o emprego e outras
que se associam ao sistema a partir das variações previstas na setor mineral.
A Tabela 12.3.2-2 apresenta os resultados para o valor bruto da produção, o valor
adicionado desagregado por massa salarial, margem bruta do capital e impostos, e para o
emprego – em todos os casos, considerando, a) os impactos conjunturais dos investimentos
no setor mineral e a expansão da produção decorrente e b) só esses últimos, isto é, os efeitos
duradouros associados à variação na capacidade produtiva do setor mineral.
Os resultados a destacar são os que seguem (conf. Tabela 12.3.2-1).
O setor mineral adquiriu uma capacidade de influência considerável na economia
(alfa) do Sudeste Paraense. As relações estabelecidas com os demais setores, observadas na
composição dos multiplicadores vigentes em 2004 (conforme discutido em 12.2.3), levaram
a uma situação na qual, durante o ciclo de investimentos que nos ocupa, para cada 1% no
crescimento da produção mineral, se estabelecem possibilidades de crescimento para os demais
setores da economia local de 0,81% para as fazendas, de 0,85% para os camponeses e 0,86%
para os setores urbanos. Abstraídos os investimentos, um ponto percentual no crescimento
do produto implicará 0,72%, 0,76% e 0,76% no crescimento dos mencionados setores da
economia local.
Para a economia do restante do Estado do Pará, essas elasticidades seriam, incorporando
os investimentos, 0,80% e, sem eles, de 0,68%. Para a economia do restante do Brasil elas
seriam, respectivamente, de 0,88% e 0,78%.
Isto posto, a expansão do produto mineral a uma taxa anual de 20,4% a.a., como
se programava até 2010, levaria a produção total da economia (alfa) do Sudeste Paraense a
crescer a 15,9% a.a. -- o valor adicionado a 16,6% a.a., a massa de salários a 15,6%, a margem
bruta do capital a 16,8% a.a., os impostos a 17,3% e o emprego a 15,3%a.a.
Para a economia local, isso poderia implicar taxa de incremento de 14,7% a.a. da
produção agrária patronal (atingindo valor adicionado total de R$ 1,7 bilhão, com 115,2 mil
ocupações em 2010 – quando foram, respectivamente, R$ 0,735 milhão e 50,7 mil em 2004)
e 15,4% a.a. da produção camponesa (atingindo valor adicionado total de R$ 1,2 bilhão, com
327 mil ocupações em 2010 – em 2004 esses valores eram, respectivamente, R$ 495,8 milhões
e 138,1). Para a economia urbana de comércio, serviços e indústrias locais, o ciclo poderá levar
a um crescimento de 15,6% a.a., chegando a valor adicionado de R$ 3,8 bilhões e a 195,9 mil
ocupações – quando, em 2004, tais variáveis representaram R$ 1,6 e 82 mil, respectivamente.

404
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Tabela 12.3.2-1 Impactos e efeitos dos investimentos e da expansão do produto do setor mineral
sobre a economia local do Sudeste Paraense e transbordamentos para o resto do Estado do Pará e
do Brasil: 2004 a 2010 (a preços constantes de 2004)
Influência
Valores anuais resultantes dos investimentos Valor considerando
Ano do setor
e da variação do produto mineral só variação do produto
Inicial mineral
2004 Taxa Taxa
2005 2006 2007 2008 2009 2010
Anual1 2010 Anual2 (C)3 (D)4
(A) (B)

Valor Bruto da Produção


Rural Patronal 735,3 1.156,4 1.334,4 1.802,0 1.711,2 1.626,7 1.889,1 14,4% 1.671,86 14,7% 0,81 0,72
Rural Camponesa 574,4 929,2 1.075,0 1.458,8 1.386,9 1.317,3 1.540,8 15,0% 1.360,12 15,4% 0,85 0,76
Mineral 4.843,9 7.573,0 7.803,9 9.508,6 10.608,6 11.710,8 14.972,9 17,7% 14.725,77 20,4% 1,00 1,00
Comércio e Ind. Local 7.543,5 12.566,5 15.196,8 20.467,0 19.240,3 17.584,0 20.979,9 15,3% 17.967,03 15,6% 0,86 0,76
Economia Local 13.697,1 22.225,1 25.410,0 33.236,5 32.947,0 32.238,8 39.382,8 16,1% 35.724,78 17,3% 0,91 0,85
Economia Estadual 3.010,9 4.703,1 5.517,9 7.323,0 7.091,2 6.579,0 7.604,4 14,1% 6.572,48 13,9% 0,80 0,68
Economia Brasil 9.044,1 16.545,4 19.750,7 29.497,7 25.816,9 22.953,1 24.837,4 15,2% 20.140,44 14,3% 0,86 0,70
Total 25.752,1 43.473,7 50.678,5 70.057,3 65.855,1 61.770,9 71.824,6 15,5% 62.437,70 15,9% 0,88 0,78
Valor Adicionado
Rural Patronal 629,9 990,7 1.143,1 1.543,7 1.465,9 1.393,5 1.618,4 14,4% 1.432,24 14,7% 0,81 0,72
Rural Camponesa 495,8 802,0 927,8 1.259,1 1.197,0 1.137,0 1.329,9 15,0% 1.173,90 15,4% 0,85 0,76
Mineral 3.872,4 6.054,1 6.238,7 7.601,5 8.480,9 9.362,0 11.969,9 17,7% 11.772,29 20,4% 1,00 1,00
Comércio e Ind. Local 1.637,5 2.673,6 3.231,2 4.378,3 4.083,5 3.730,2 4.397,7 14,8% 3.764,92 14,9% 0,84 0,73
Economia Local 6.635,6 10.520,4 11.540,7 14.782,7 15.227,4 15.622,7 19.315,8 16,5% 18.143,35 18,3% 0,93 0,90
Economia Estadual 867,1 1.363,2 1.597,3 2.128,6 2.057,3 1.906,6 2.196,4 14,2% 1.894,03 13,9% 0,80 0,68
Economia Brasil 3.505,7 6.240,9 7.434,4 10.944,7 9.660,0 8.627,8 9.406,0 14,8% 7.696,31 14,0% 0,84 0,69
Total 11.008,4 18.124,4 20.572,4 27.856,0 26.944,6 26.157,1 30.918,2 15,8% 27.733,69 16,6% 0,89 0,82
Salários
Rural Patronal 169,1 265,9 306,8 414,4 393,5 374,0 434,4 14,4% 384,43 14,7% 0,81 0,72
Rural Camponesa 72,9 117,9 136,4 185,0 175,9 167,1 195,4 15,0% 172,52 15,4% 0,85 0,76
Mineral 272,0 425,3 438,3 534,0 595,8 657,7 840,9 17,7% 827,03 20,4% 1,00 1,00
Comércio e Ind. Local 554,5 929,5 1.125,5 1.514,3 1.425,6 1.302,2 1.558,8 15,4% 1.334,37 15,8% 0,87 0,77
Economia Local 1.068,5 1.738,6 2.006,9 2.647,8 2.590,8 2.501,1 3.029,6 15,8% 2.718,36 16,8% 0,89 0,83
Economia Estadual 168,6 256,9 298,6 395,1 386,3 360,2 410,6 13,7% 355,92 13,3% 0,78 0,65
Economia Brasil 574,6 1.039,3 1.256,5 1.918,0 1.645,9 1.457,1 1.550,5 15,0% 1.249,43 13,8% 0,85 0,68
Total 1.811,7 3.034,8 3.562,1 4.960,8 4.622,9 4.318,3 4.990,7 15,4% 4.323,71 15,6% 0,87 0,77
Margem Bruta do Capital
Rural Patronal 448,3 704,9 813,4 1.098,5 1.043,1 991,6 1.151,6 14,4% 1.019,16 14,7% 0,81 0,72
Rural Camponesa 422,0 682,7 789,8 1.071,8 1.019,0 967,8 1.132,1 15,0% 999,28 15,4% 0,85 0,76
Mineral 2.957,2 4.623,2 4.764,2 5.804,9 6.476,5 7.149,3 9.140,8 17,7% 8.989,93 20,4% 1,00 1,00
Comércio e Ind. Local 909,1 1.463,0 1.767,8 2.410,4 2.232,2 2.038,2 2.378,6 14,5% 2.035,30 14,4% 0,82 0,71
Economia Local 4.736,5 7.473,9 8.135,1 10.385,6 10.770,8 11.147,0 13.803,1 16,6% 13.043,67 18,4% 0,93 0,90
Economia Estadual 595,5 950,1 1.116,7 1.493,7 1.436,3 1.327,5 1.534,9 14,4% 1.320,15 14,2% 0,81 0,70
Economia Brasil 2.589,4 4.595,4 5.440,1 7.894,0 7.049,2 6.316,9 6.952,5 14,8% 5.718,72 14,1% 0,83 0,69
Total 7.921,4 13.019,3 14.692,0 19.773,3 19.256,3 18.791,3 22.290,5 15,8% 20.082,53 16,8% 0,89 0,82
Impostos
Rural Patronal 12,6 19,8 22,9 30,9 29,3 27,9 32,4 14,4% 28,65 14,7% 0,81 0,72
Rural Camponesa 0,9 1,4 1,7 2,2 2,1 2,0 2,4 15,0% 2,09 15,4% 0,85 0,76
Mineral 643,2 1.005,6 1.036,2 1.262,6 1.408,6 1.555,0 1.988,1 17,7% 1.955,32 20,4% 1,00 1,00
Comércio e Ind. Local 173,9 281,0 337,9 453,6 425,7 389,8 460,2 14,6% 395,26 14,7% 0,82 0,72
Economia Local 830,6 1.307,8 1.398,7 1.749,4 1.865,8 1.974,7 2.483,1 17,0% 2.381,32 19,2% 0,96 0,94
Economia Estadual 103,0 156,2 182,0 239,8 234,7 219,0 250,9 13,7% 217,96 13,3% 0,78 0,65
Economia Brasil 341,7 606,3 737,7 1.132,7 964,9 853,9 903,0 14,8% 728,16 13,4% 0,84 0,66
Total 1.275,3 2.070,3 2.318,4 3.121,9 3.065,4 3.047,5 3.637,1 16,2% 3.327,45 17,3% 0,91 0,85
Emprego
Rural Patronal 50,7 79,7 92,0 124,2 117,9 112,1 130,2 14,4% 115,21 14,7% 0,81 0,72
Rural Camponesa 138,1 223,4 258,4 350,7 333,4 316,6 370,4 15,0% 326,92 15,4% 0,85 0,76
Mineral 13,9 21,8 22,5 27,4 30,5 33,7 43,1 17,7% 42,39 20,4% 1,00 1,00
Comércio e Ind. Local 82,0 136,8 165,5 222,7 209,5 191,5 228,7 15,3% 195,89 15,6% 0,86 0,77
Economia Local 284,7 461,7 538,3 724,9 691,4 653,9 772,4 15,1% 680,42 15,6% 0,85 0,77
Economia Estadual 23,7 36,6 42,7 56,5 55,0 51,2 58,8 13,9% 50,87 13,5% 0,79 0,67
Economia Brasil 59,7 109,6 132,0 200,8 173,1 153,2 163,7 15,2% 131,76 14,1% 0,86 0,69
Total 368,2 607,8 713,0 982,3 919,5 858,4 994,8 15,1% 863,05 15,3% 0,85 0,75

Fonte: Tabela 12.3-1, 12.2.2-2 e 12.2.4-2. Notas: 1 Calculado por regressão logarítmica da série entre 2004 e 2010
em relação ao tempo. 2 Taxa geométrica para o intervalo dos valores de 2004 e 2010. 3 Taxa de crescimento do setor
dividida pela taxa do setor mineral na coluna (A). 4 Taxa de crescimento do setor dividida pela taxa do setor mineral
na coluna (B).

405
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Na hipótese de que os setores da economia local teriam se expandido de modo a manter


a estrutura inicial da economia alfa do Sudeste Paraense em 2004, a expansão do setor mineral no
ritmo programado representará para as economias extralocais, no que se refere ao VBP, crescimento
de 13,9% a.a. para o restante do Pará e 15,9% a.a. para o restante do Brasil. Isso implicará
transbordamentos de valor adicionado em 2010 em montantes de R$ 1,9 bilhão, para o primeiro, e
R$ 7,7 bilhões para o último; no que tange a emprego, o vazamento será, respectivamente, de 50,9
mil p e 131,8 mil para os segundo.
Ao lado disso, derivadas das obras e serviços implicadas nos investimentos do setor
mineral, haveria oportunidades conjunturais para o setor rural patronal de R$ 314 milhões e, para os
camponeses, de R$ 264 milhões por ano, ao longo do ciclo de inversões em tela; e para os setores
urbanos de R$ 1,0 bilhão, correspondendo, respectivamente a 25,3, 73,6 e 52 mil ocupações.
Para a economia do restante do estado tais oportunidades representariam incrementos
médios anuais de R$ 473,1 milhões e para o resto do Brasil R$ 3,0 bilhões – respectivamente, 12,2
mil e 58,2 mil ocupações.

12.3.3 Oportunidades perdidas e possibilidades estratégicas

A metodologia ascendente CSα nos permitiu fazer as diferenciações estruturais necessárias


na geração de uma matriz de insumo-produto mais aderente à complexidade da economia local
do Sudeste Paraense, uma região crítica da Amazônia. Os resultados – compatíveis e, portanto,
comparáveis às estimativas das Contas Regionais do IBGE para o Pará, no mesmo ano – demonstram
dois aspectos fundamentais para a reflexão estratégica. De um lado, evidenciam que o setor
mineral adquiriu uma capacidade de influência expressiva na economia do Sudeste Paraense, com
enredamento de tal ordem que sua expansão cria possibilidades difusas consideráveis de crescimento
para os demais setores da economia local. De outro lado, entretanto, demonstram vazamentos de
vulto – tanto da economia local para seu entorno mais próximo, a economia do restante do Pará,
quanto para o restante do Brasil.
Sobre a capacidade de influência adquirida, constatou-se que, no contexto do programa de
investimentos analisado, para cada 1% de expansão da economia mineral, mantido o mesmo grau de
dependência entre os setores que se verificou em 2004, implicaria a expansão dos setores urbanos de
indústria, comércio e serviços, tomados em conjunto, de 0,86% e, da produção rural, de 0,81%, para
o segmento de fazendas e de 0,85% para as estruturas camponesas. Cessado o ciclo de investimento,
um ponto percentual no crescimento do produto mineral implicará, respectivamente, 0,76%, 0,72%
e 0,76% no crescimento dos mencionados setores da economia local.
Tais proporções resultam dos “linkages para trás” produzidos pela economia mineral,
os quais estabeleceram um índice de retenção de 60%: relação possível pelo nível alcançado de
absorção de inputs produtivos diversos, mas que também sofreu a influência, mediada pelo efeito
multiplicador da expansão do consumo derivado da massa salarial, de demanda sobre os setores da
406
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

produção rural, com derivações sobre os setores de indústria e comércio correlatos,.


Ao mesmo tempo, os vazamentos são significativos. Na contabilidade do ano de 2004,
o valor adicionado que vaza da economia local do Sudeste Paraense representa 13% do valor
adicionado total do Pará. O que vaza para o resto do Brasil, isoladamente, representa 11% daquele
total. O índice de transbordamento do multiplicador do setor mineral, de 40%, reflete os fundamentos
estruturais dessa situação, materializando-se no fato de que o crescimento da economia mineral
no Sudeste Paraense expande o valor do vazamento para o restante do estado, incorporando os
investimentos, 0,80% e, sem eles, de 0,68%. Para a economia do restante do Brasil as taxas são de,
respectivamente, 0,88% e 0,78%.
Tais constatações exigem tratamento abrangente das relações entre o setor mineral e
o desenvolvimento da economia local (e estadual). Além das oportunidades indicadas para os
“linkages para frente”, associados ao processamento da produção mineral, há oportunidades, não
desprezíveis, tanto ligadas à logística de produção, como geradas pela expansão da massa de salários
direta e indiretamente dela derivada, as quais, mantidas as relações estruturais reinantes em 2004, se
apresentarão para os setores da economia local, rural e urbana, e para a economia estadual.
Fundamental esclarecer que tais oportunidades podem não se realizar – não serem
correspondidas – dependendo da capacidade de resposta que a economia local e estadual tenham.
Não se realizando, as oportunidades oferecidas se constituirão transbordamentos para a economia do
restante do Brasil (e do mundo, por suposto). Para os policy makers regionais, a ponderação dessas
possibilidades abre todo um campo de planejamento e ação com vistas ao desenvolvimento, até então
pouco considerado. Há toda uma agenda a cobrir no que se refere às condições de endogenização
dos efeitos do crescimento pelos aglomerados locais: a criação de bases institucionais para reduzir
assimetrias e fortalecer laços de cooperação entre os atores fundamentais (corporação mineral,
gestão pública e representações dos agentes privados da economia local); a formação de fontes de
conhecimento e inovação; capacitação difusa da força de trabalho; formação difusa de capacidade
empresarial; o encaminhamento de pactos territoriais e consolidação do capital social; o acúmulo,
enfim, de capacidades locais forjadas na resolução dos problemas econômicos e sociais próprios das
dinâmicas de crescimento polarizado. Há, por outra parte, tarefas incontornáveis no que se refere à
gestão do uso da base natural – pela minimização dos impactos ambientais correlatos às dinâmicas
de crescimento e pela busca insistente das bases técnicas para uma “intensificação preservadora” da
ecologia peculiar e sensível da região (tal como indicado em Costa, 2005, Costa, 2006 e Costa, 2007).

12.4 Sistemas agrários, Economia Local, Mercado de Terras e Políticas Ambientais


Globais no Sudeste Paraense

A discussão atual sobre a emissão de carbono associada ao uso agropecuário da terra


em prejuízo de florestas ressente-se de uma visão sistêmica na qual o “lugar” e o “sentido” dos
processos em andamento sejam devidamente considerados.
407
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Quando, para o equacionamento das estratégias de mitigação, tratam-se as formas de


contenção ou controle do desmatamento, por exemplo, o foco tem sido microeconômico e
genérico, dominando uma perspectiva de agentes homogêneos, cujas decisões se orientariam
por médias estruturais (dos sistemas e de produção) e espacialmente (das economias – arranjos
produtivos e economias locais) descontextualizadas. De modo que, o que se considera base
de compensação é a remuneração líquida por produto obtida nesse nível de abstração e
formalismo, após descontados do total de receita todos os custos, inclusive os custos do
trabalho. Buscam-se médias de médias, num processo que ao final se roga oferecer expressões
válidas para amplos contextos – regionais e, mesmo, nacionais – em tempo indefinido.
Esse é o procedimento de Grieg-Gran (2006), principal fonte analítica do Stern Review,
quando se refere aos custos de um programa de “contenção” compensada de desflorestamento
em nível mundial.
Dois problemas principais advêm dessa leitura baseada em agente-padrão: a não
consideração, ou a consideração insuficiente dos efeitos meso e macrossistêmicos derivados
do contexto econômico e institucional onde operam e o não tratamento da diversidade de
racionalidades e estruturas relevantes que conformam os fundamentos microeconômicos da
dinâmica em questão.
O próprio Stern (2007) reconhece parte da insuficiência da abordagem – a que
se refere à não consideração de efeitos meso e macroeconômicos da produção “evitada”.
Reconhecendo a falta, contudo, Stern reduz suas consequências: “Research commissioned by
the Review, suggests that the direct yield from land converted to farming, including proceeds
from the sale of timber, are equivalent to less than $1 per tone of CO2 in many areas currently
losing forest, and usually well below $5 per tone. The opportunity costs to national GDP
would be somewhat higher, as these would include value added activities in country and
export tariffs.” (Stern, 2007:607. Grifos nossos).
Mais recentemente, Angelson et alii (2009), avaliando as opções para o programa
internacional Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation (REDD) em
relatório para o governo da Noruega, reconhecem também parte dos fenômenos sistêmicos
– aqueles relativos à transferência de atividades contidas em um ponto do sistema, para
outro: os “vazamentos”. Com efeito, utilizando o OSIRIS (Open Source Impacts of REDD
Incentives Spreadsheet, um processador do modelo de equilíbrio geral de mercado de uma
única commodity em um período, adaptado de Murray, McCarl e Lee (2004)), os autores
fazem uma análise de vazamentos internacionais como peça de avaliação dos riscos das
políticas de REDD, cuja efetividade no plano global poderia ser solapada pela transferência
das atividades contidas em países integrantes, para países não integrantes dos acordos. A
commodity do modelo constitui-se de um índice composto do rendimento líquido da produção
agrícola e madeireira por hectare desflorestado – uma proxy, como no caso do Stern Review,
do custo de oportunidade privado dos usos da terra na fronteira agrícola que afrontam a
floresta.
408
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

A ênfase no custo de oportunidade privado impede, às abordagens citadas, o tratamento


para fenômenos, cuja importância tem sido realçada por longa tradição do pensamento econômico
sobre crescimento e desenvolvimento. Enquanto Stern reduz a um “somewhat”, Angelson e
associados simplesmente desconsideram os efeitos sistêmicos dos impactos multiplicadores
(Keynes, 1976) derivados daquilo que Myrdal (1957), Hirschman (1958) e Perroux (1965)
consagraram na literatura econômica como fenômenos de “causação circular e cumulativa”
próprios às “concatenações para frente e para trás” que mobilizam as economias ao crescimento
e, mesmo, ao desenvolvimento. Maior a falta quando se considera, como fazem hoje os autores do
desenvolvimento endógeno, em particular Romer (1986), Krugman (1995) e Arthur (1994), que
“vazamentos”, tanto quanto “polarizações”, são expressões das interações desequilibradas entre
“forças centrífugas” e “centrípetas” inerentes aos processos de desenvolvimento nas sociedades
modernas, cuja compreensão exige o tratamento de sua dimensão local (Fujita, Krugman,
Venebles, 2002; Diniz, Lemos, 2005).
Por outro lado, a preocupação com a sustentabilidade do desenvolvimento tem sido
introduzida na problemática por viés “nihilista” e “estático”, eis que, em perspectiva política,
saldos negativos dos balanços de CO2 (emissões menos sequestro de carbono) das atividades
agrícolas seriam necessariamente resultados de “não produção”. Torna-se urgente que se
internalizem nos modelos de análise percepções mais complexas dos sistemas agrícolas, que
suportem uma perspectiva “positiva” e “dinâmica” em relação à produção. Tal noção, aliás,
vem ganhando terreno. Antes vistos (quase) exclusivamente sob o ponto de vista da emissão
de poluentes e redução da biodiversidade – i.e., do lado da demanda na formação dos novos
mercados de bens ambientais, na condição de formadores de necessidades de sequestro de carbono
e reposição da complexidade biológica –, sistemas de produção baseados em culturas perenes
e em composições agroflorestais são reconhecidos pelo Stern Review como potencialmente
consistentes com a conservação florestal no contexto de estratégias para reduzir emissões (Stern,
2007: 603-621). Reconhece-se, assim, que tais atividades, reduzindo a pressão sobre as florestas e
criando mecanismo de absorção líquida de carbono, podem expandir a oferta e, em consequência,
baratear o bem ambiental em si – a estabilização ou reversão das mudanças climáticas – tornando
mais custo-efetivas as estratégias de mitigação.
Tais considerações nos levam de imediato a indagar, no ensejo de políticas de contenção
de desmatamento e seus efeitos sobre emissões líquidas de CO2: a) quanto, exatamente, seria
o “somewhat” adicionado nas cadeias a serem desmontadas e, uma vez que a perspectiva de
compensação exclui salários, quais as implicações na demanda efetiva das economias nas quais
operarão os esquemas de “contenção”? b) antes de “vazamentos” internacionais, há “vazamentos”
em nível intranacional, mais precisamente local/regional, por mobilidade de agentes? c) por
outro lado, quão consistentes são as atividades promissoras, na perspectiva das emissões, com
dinâmicas reais de expansão das economias em que se inserem? d) qual o contexto institucional
operante que tem sistemicamente garantido o status quo, o qual a nova política deve confrontar?
Terá ela capacidade para isso?
409
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Essas perguntas, pontuais, nos levam a indagações mais abrangentes, organizadas pelo
estado atual das discussões sobre desenvolvimento, sustentabilidade e configuração espacial – é
dizer, sobre as relações entre economia, sociedade e natureza na Amazônia, que motivam nossos
esforços neste projeto. A indagação principal é: dado que os esquemas de compensação (por não
produção ou para produção limpa) implicam entrada e saída de recursos em contextos econômicos
amplos e sistêmicos, qual o resultado final desses fluxos sobre as condições gerais de reprodução
das economias, sobre suas variáveis fundamentais de renda e emprego, sobre suas relações com a
base natural que a fundamenta e, portanto, sobre sua capacidade endógena de evoluir, superando
as próprias forças que produzem o desmatamento e as emissões? Mais precisamente: a) como tais
políticas poderão, a partir dos setores rurais, afetar a demanda final efetiva, e por essa via, o valor
da produção e as variáveis de valor adicionado de toda a economia? b) como isso pode afetar
sua produtividade macroeconômica? c) como as variações na economia afetam as formas de uso
da base natural e, portanto, o desmatamento e as emissões a elas associadas? d) como essa base
natural é posta à disposição dos agentes – isto é, como o mercado de terras, enquanto mecanismo
institucional chave, atua nesse contexto?
Adiante procuramos respostas para essas questões a partir da análise da economia da
mesorregião Sudeste Paraense, no Estado do Pará, já acima apresentada. Para tanto, utilizaremos
uma matriz de insumo-produto gerada por metodologia de cálculo já discutida, capaz de captar os
fundamentos da economia agrária que subjaz às emissões de carbono e situá-los no contexto amplo
da economia local de base primária, na qual se inclui a produção mineral, e seus desdobramentos
urbanos – industriais e comerciais, por um lado, regionais e nacionais, por outro. De particular
importância para o tratamento adequado das questões que nos importam é a consideração do
mercado de terras que em última instância fundamenta o modo particular como essa economia
tem evoluído.

12.4.1 As trajetórias tecnológicas do setor rural no Sudeste Paraense

No Sudeste Paraense, das trajetórias tecnológicas rurais reveladas a partir do Censo


de 1995, as camponesas perfazem 47% do setor rural – a Trajetória-Camponesa.T1 representa
13%, a T2, 16%, a T3 17%; as patronais, por sua vez, perfazem 53% do setor, a T5 representa
3% e a T4 50% (para estes e os próximos dados ver Gráfico 12.4.1-1 e Tabela 12.4.1-1).
Regredindo as séries a 1990 e acompanhando-as até 2006 (conf. metodologia apresentada
nas notas do Gráfico 2.1), verificou-se nesses dezesete anos um rápido crescimento do setor
rural com o Valor Bruto da Produção Rural (VBPR) expandindo à taxa média de 5,6% ao. As
trajetórias camponesas cresceram, a T1 a 7%, a T2, a 5,8% e a T3, a mais rápida entre elas, a
8,1% ao ano (ver Gráfico 12.4.1-1). Das patronais, a T5 definhou a -1,4% e a T4 cresceu bem
abaixo da média, a 3,2% a.a.. Houve, ademais, entre 1995 e 2006, a emergência da Trajetória-
Patronal.T7, já mencionada, a qual deu saltos depois de 1995. De modo que no final do período
observa-se uma reconfiguração do setor, com a Trajetória-Patronal.T5 caindo para 2%, a T4
410
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

para 49% (ela fora, em 1990, 64%) e a T7, em rápida evolução, chegou a representar 15% em
2003; no fim do período, porém, atinge 6% do VBP do setor rural na mesorregião. Note-se o
peso da T4 bem maior que a média da Região Norte, seja em 1995, seja em 2006; a par disso,
a importância relativa de todas as trajetórias camponesas, não obstante a T1 e a T2 mostrarem,
no Sudeste, peso bem menor do que no restante da Região Norte.

Gráfico 12.4.1-1 – Evolução do Valor Bruto da Produção Rural e das Terras Agricultradas Total
das Trajetória Tecnológicas do Setor Rural no Sudeste Paraense

A - VBPR em R$ de 2009 B - Terra Total Agricultada (Inclui áreas em


descanso, em Ha)
800.000.000

700.000.000 14.000.000

600.000.000 12.000.000

500.000.000 10.000.000

400.000.000 8.000.000

300.000.000 6.000.000

200.000.000 4.000.000

100.000.000 2.000.000

0 0
1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006
Camponesa.T1 (7,0% a.a.) Camponesa.T2 (5,8% a.a.) Camponesa.T1 (11,3% a.a.) Camponesa.T2 (10,3% a.a.)

Camponesa.T3 (8,1% a.a.) Patronal.T5 (-1,4% a.a.) Camponesa.T3 (12,4% a.a.) Patronal.T5 (3,9% a.a.)

Patronal.T4 (3,2% a.a.) Patronal.T7 Patronal.T4 (8,0% a.a.) Patronal.T7

Fonte: Tabela 3.

No que se refere aos requerimentos de terra, a T4 mostra-se extraordinariamente exigente


– no início do período para cada ponto percentual na participação do VBPR requeria 1,2 pontos na
participação do total de terras trabalhadas – e essa característica se acentuou no final, quando para cada
1% no VBPR corresponde a 1,37% no total da necessidade de terras. De modo que a redução no seu
peso relativo no VBPR de 64% para 49% se fez acompanhar por queda em proporção inferior de 77%
para 67% na exigência em terras trabalhadas total no mesmo período. A T7 exige terras em proporções
semelhantes, a T3 em proporção ligeiramente inferior e as demais em proporções bem abaixo de seus
significados econômicos.
411
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 12.4.1-1 – Evolução do Valor Bruto da Produção e das Terras Totais Agricultadas das
Trajetória Tecnológicas do Setor Rural no Sudeste Paraense, 1990 a 2006, em R$ de 2007
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
Valor Bruto da Produção (Em R$ 2007)
Camponesa T1 60.219.705 62.862.412 65.548.038 74.569.945 73.289.736 70.475.646 69.912.267 78.946.011 86.126.534
Camponesa T2 43.353.541 43.590.684 48.904.671 55.354.243 56.924.339 36.059.089 33.466.145 33.958.866 38.559.668
Camponesa T3 140.867.566 149.343.496 151.244.201 161.121.627 152.738.911 155.008.815 146.886.378 162.798.174 173.710.987
PatronalI T5I 20.713.819 19.804.761 21.424.541 24.431.792 24.738.586 10.521.626 9.213.873 10.367.430 10.678.025
Patronal T4 978.098.435 1.017.370.961 1.020.764.575 1.010.111.668 956.905.085 772.160.080 709.334.496 788.505.008 906.229.468
Patronal T7 734.618 706.115 13.909.978
Total 1.243.253.066 1.292.972.314 1.307.886.026 1.325.589.275 1.264.596.657 1.044.225.255 969.547.778 1.075.281.604 1.229.214.660
Terra Total Agricultada (inclui terras em descanso em Há)
Camponesa T1 327.451 340.921 360.306 409.944 406.653 383.382 380.187 426.799 464.088
Camponesa T2 315.761 320.030 361.951 411.894 426.805 259.617 240.902 249.468 272.704
Camponesa T3 726.753 770.284 783.104 838.332 800.522 807.537 772.237 852.752 912.897
PatronalI T5I 126.245 124.681 137.029 149.734 150.111 79.440 72.912 77.196 73.994
Patronal T4 4.938.609 5.135.760 5.156.328 5.113.315 4.851.483 3.921.303 3.608.453 4.005.307 4.594.723
Patronal T7 3.957 3.818 71.495
Total 6.434.819 6.691.677 6.798.719 6.923.219 6.635.574 5.451.279 5.078.647 5.615.340 6.389.901

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006


Valor Bruto da Produção (Em R$ 2007)
Camponesa T1 88.513.357 94.601.609 92.878.946 101.144.249 110.864.828 149.324.207 151.466.865 137.815.908
Camponesa T2 48.441.407 52.201.405 54.872.073 59.264.000 66.921.690 74.233.387 84.960.380 79.731.315
Camponesa T3 183.776.320 227.330.864 238.917.419 246.445.040 254.213.038 332.558.555 324.239.856 298.841.103
PatronalI T5I 15.288.466 16.816.718 17.023.689 17.954.195 18.429.478 16.157.581 17.612.269 17.484.845
Patronal T4 901.277.597 1.024.893.674 1.036.835.046 1.111.836.360 1.079.477.408 1.460.981.446 1.545.247.146 1.418.729.929
Patronal T7 44.308.969 46.084.292 72.777.575 77.117.077 166.419.438 198.137.825 99.922.408 98.372.060
Total 1.281.606.116 1.461.928.562 1.513.304.748 1.613.760.922 1.696.325.880 2.231.393.002 2.223.448.924 2.050.975.160
Terra Total Agricultada (inclui terras em descanso em Há)
Camponesa T1 480.890 513.515 507.411 548.471 602.193 795.625 808.115 743.328
Camponesa T2 352.336 382.790 403.138 434.325 485.014 512.023 580.436 560.628
Camponesa T3 960.789 1.180.700 1.234.645 1.269.634 1.308.887 1.698.640 1.656.040 1.529.137
PatronalI T5I 100.847 108.405 111.744 117.742 124.717 113.598 123.246 125.671
Patronal T4 4.569.999 5.188.742 5.247.112 5.621.024 5.449.131 7.353.382 7.786.360 7.156.369
Patronal T7 226.227 235.220 370.525 392.288 851.204 1.010.085 506.941 499.073
Total 6.691.088 7.609.373 7.874.576 8.383.485 8.821.146 11.483.353 11.461.137 10.614.205

12.4.2. A matriz de Insumo-Produto internalizando o mercado de terras do Sudeste Paraense

No subcapítulo 12.2 desenvolvemos o modelo de Contas Sociais Alfa (CSα). No capítulo


3 sugerimos um modelo de cálculo de emissão e sequestro de CO2 associados às dinâmicas
diferenciadas das estruturas rurais. Fizemos, aqui, uma aplicação combinada desses dois modelos:
adicionamos ao CSα, para a aplicação, nos “setores alfa” ligados à produção rural, o mesmo
algoritmo utilizado para o cálculo do balanço de carbono já mencionado. Não fizemos o mesmo
para o “setor alfa” não-rural (a mineração), nem para os “setores beta”, porque o propósito é focar
os setores mais visados relativamente às emissões associadas ao desmatamento e uso da terra. Na
geração das matrizes de insumo-produto incluimos, à diferença das matrizes obtidas em 12.2, o
mercado de terras, que discutiremos detalhadamente adiante.
412
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

No mais, como nos capítulos anteriores, a economia do Sudeste Paraense foi


configurada a partir da produção de três setores alfa, de produção primária: dois da produção
rural e um de produção mineral. As bases agrárias do Sudeste Paraense resultam de um
processo de apropriação fundiária que se fez por agentes com características sociológicas
distintas, às quais se tem atribuído racionalidades econômicas também diferenciadas. Tais
sujeitos estabeleceram estruturas próprias a partir de formas peculiares de privatização da
terra e dos recursos da natureza e das diferentes relações sociais e técnicas engendradas na
exploração da terra e dos recursos da natureza: as trajetórias tecnológicas, cujos atributos
apresentamos no subcapítulo 6.6. Agrupamos as trajetórias nas formas de produção a elas
subjacentes e compusemos os dois setores alfa da produção rural: o “Fazendas” agrega as
trajetórias T4, T5 e T7 e o “Camponeses” agrega a T1, T2 e T3.
No que se refere à produção mineral, o banco de dados contém as informações relativas
às plantas da Companhia Vale do Rio Doce, operando na Região no ano de 2004 (informações
prestadas pela CVRD ao autor).

A economia do Sudeste Paraense, seus multiplicadores de renda e as emissões líquidas de


carbono

A economia do Sudeste Paraense em 2004, com a inclusão do mercado de terras,


acresceu, em relação aos valores presentes na Tabela 12.2.2-2, no capítulo 12.2, o VA e o
VBP em, respectivamente, 1,81% (R$ 201,89 milhões) e 1,68% (R$ 438,68 milhões). O
número de ocupações, a massa de salários, a margem bruta de remuneração do capital e os
impostos devem, por seu turno, à inclusão do mercado de terras, parcelas correspondentes a,
respectivamente, 1,11% (4,1 mil ocupações), 1,3% (R$ 23,93 milhões), 1,76% (R$ 141,14
milhões) e 1,76% (R$ 23,93 milhões) de acréscimo.
A economia local participou com 61% do VA total: 73% disso nos setores de produção
(setores a) – 16,8% pontos percentuais correspondentes à agropecuária e 56,5% à produção
mineral. Aos setores de comércio, indústria e serviços locais do Sudeste Paraense (setores βa)
coube 27% do VA local, representando16% do total.
Os dois setores da produção rural, ademais, apresentam balanços de carbono bem
diferentes: as fazendas, com 217,8 Gt de CO2 equivalente, geram aproximadamente o triplo
das emissões líquidas de 75,4 Gt de CO2 equivalente das unidades camponesas. Isso leva a
custos de oportunidade social, medidos pela relação Valor Adicionado/Emissão líquida de
CO2, bem diferentes entre as fazendas, de R$ 2,95/t CO2 equivalente, e os camponeses, de R$
6,69/t CO2 equivalente. O mesmo se verifica em relação aos custos de oportunidade privados
– afetos aos proprietários – medidos pela relação Lucro (sem impostos)/Emissão líquida: R$
2,10/t CO2 equivalente e R$ 5,69/t CO2 equivalente.

413
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

12.4.3 Os multiplicadores da economia do Sudeste Paraense incorporando o mercado de terras

A matriz de multiplicadores da economia local do Sudeste Paraense, internalizando o


mercado de terras, está na Tabela 12.4.3-1. O multiplicador agregado ou global de renda é R$
1,84: se retirarmos R$ 1 em produção do sistema econômico, ele reduzirá R$ 1,84 e vice-versa
no valor adicionado agregado. Injetando R$ 1 na demanda efetiva, o valor adicionado do sistema
como um todo crescerá R$ 1,84.
Os demais multiplicadores indicam como cada setor intermediará tais entradas e saídas
de recursos no impacto sobre o valor da produção total e, por essa via, sobre as variáveis de renda,
emprego e emissão de carbono de cada um deles. No que se refere ao setor alfa da produção rural
camponesa, cada unidade a mais ou menos na demanda final será multiplicada por 4,1 (1,1 de
impacto setorial e 3 dos efeitos indiretos), e da produção rural patronal, por 4,3 (1,1 de impacto
setorial e 3,2 de efeitos indiretos) na determinação da variação no valor da produção total.

Variação no Valor Adicionado, no emprego e nas variáveis do balanço de carbono como resultado
de alterações no Valor Bruto da Produção

Dispondo da matriz de multiplicadores, é possível calcularmos as variáveis de valor


adicionado e outras que se associam ao sistema, pelo mesmo raciocínio que permite a determinação
do nível de atividade econômica em cada setor produtivo como uma função da demanda final
efetiva. Assumida a hipótese de proporcionalidade entre qualquer dessas variáveis e o valor da
produção em todos os setores da economia, podemos estimar as variações respectivas, diretas,
indiretas e induzidas, causadas pela expansão na demanda final de um determinado setor a partir
da relação (12.2.1-14) onde U é a variável em questão (o emprego total, por exemplo ou a emissão
de CO214) e (uj) é o vetor linha (1xn) contendo os coeficientes respectivos de cada setor “j”,
obtidos pela divisão do valor real da variável no setor pelo seu valor da produção total; DF é o
vetor coluna da variação na demanda efetiva.

14 Na literatura especializada, encontram-se outros métodos de calcular requerimentos e impactos físicos ambientais da produção
a partir de matrizes Insumo-Produto. Particularmente interessantes e divulgados são os modelos desenvolvidos no Green Design
Institute da Carnegie Mellon University, os quais combinam técnicas de insumo-produto e de análise de ciclo de vida na estimação
endógena de impactos econômicos e ambientais – por matrizes de coeficientes técnicos físico, monetários e mistos operando nas
transações intermediárias, ao invés de coeficientes em relação ao produto final, como fazemos. De modo que encontramos aí uma fonte
de aprimoramento. Não obstante, tais modelos só recentemente vêm sofrendo ajustamento (por partição de matrizes nacionais) para
análises regionais – o forte das nossas CSα. Segundo Georgyi Cicas, cuja tese de doutorado é pioneira nos caminhos de regionalização
da EIOLCA, “While both process LCA and EIO-LCA have been important decision making tools, neither of them have been able do
perform regional and state level analysis accurately and efficiently” (2005:8).

414
Tabela 12.4.3-1 Matriz de multiplicadores (Inversa de Leon-Tief) da Sudeste Paraense com base na Matriz de Insumo-
Produto CSα em 2004, incorporando o mercado de terras.
Economia Local Economia Estadual/Regional Economia Nacional
Produção
(Setores Alfa)1 Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio
Francisco de Assis Costa

Fazendas
Minera-ção
Varejo2
Varejo2
Varejo2

me-nto.
-mento3
me-nto3

Camp-oneses
ma-ção4
ma-ção4

Atacado
Atacado
Atacado

ma-ção.4

Trans-for-
Trans-for-
Trans-for-

Bene-ficia-
Bene-ficia-
Bene-ficia-

Inter-mediação primária
1ª Fazendas 1,1353300 0,1268527 0,1237630 0,1854017 0,2948654 0,1579823 0,1701231 0,1597578 0,1228056 0,1253092 0,1295289 0,1676018 0,1198724 0,1228244 0,1263666 0,1598045
1b. Camponeses 0,1027311 1,1403727 0,0980953 0,1728777 0,1744692 0,1526309 0,1372206 0,1281715 0,0974698 0,0981042 0,1024062 0,1177608 0,0948316 0,0970848 0,1028536 0,1185173
1c. Mineração 0,0700733 0,0657687 1,0692812 0,0550060 0,4381632 0,1064182 0,1173839 0,1208775 0,0587472 0,0909750 0,1225161 0,1867539 0,1781272 0,1530486 0,1404858 0,1766401
2.Intermed. Primária 0,0225416 0,0210234 0,0186950 1,0172424 0,0579027 0,0221584 0,0298094 0,0403078 0,0173854 0,0180421 0,0194746 0,0280112 0,0168311 0,0174155 0,0181148 0,0256604
3. Beneficiamento 0,0758889 0,0715597 0,0703513 0,0609573 1,0866171 0,1286939 0,0913071 0,1265398 0,0619410 0,0821080 0,1003950 0,3349258 0,0610455 0,0753776 0,0886138 0,2745244
4. Indust. de Transfor-
mação 0,1957362 0,1821157 0,1608885 0,1508931 0,1636173 1,1536378 0,1593488 0,3538551 0,1437955 0,1445267 0,1562806 0,1681613 0,1451902 0,1660646 0,1620327 0,2855492
5. Comércio de Ata-
cado 0,1870723 0,1757160 0,1594258 0,1415177 0,1609195 0,3583889 1,1938245 0,3318006 0,1991735 0,1828068 0,1932272 0,1607254 0,1398854 0,1441322 0,1588286 0,1725181
6. Varejo e Serviços 0,9404532 0,8745521 0,7615658 0,7134805 0,7789605 0,7076248 0,7092027 1,7047118 0,6844845 0,6878290 0,6923298 0,7113852 0,6922648 0,6916342 0,6927376 0,7082832

415
7. Beneficiamento 0,0645587 0,0605642 0,0561721 0,0504378 0,0629936 0,0976970 0,1509513 0,1124813 1,0611485 0,4485430 0,2703545 0,1306266 0,0493142 0,0506263 0,0650658 0,0584859
8. Ind. de Transfor-
mação 0,0510226 0,0480790 0,0484450 0,0404289 0,0498045 0,0750215 0,1372165 0,0865502 0,0484100 1,0478112 0,1615614 0,1663988 0,0410498 0,0425226 0,0769044 0,0476412
9. Comércio de Ata-
cado 0,2647665 0,2479018 0,2211046 0,2055733 0,2584562 0,4065038 0,5794498 0,4666382 0,2508166 0,2492256 1,2323376 0,3915665 0,1974950 0,2018936 0,2084353 0,2367471
10. Varejo e Serviços 0,0463658 0,0463176 0,0575487 0,0461971 0,0504853 0,0467725 0,0468952 0,0469343 0,0462390 0,0465997 0,0469527 1,0476716 0,0475751 0,0472944 0,0471538 0,0475584
11. Indust. De Benef. 0,3509237 0,3283569 0,3611585 0,2712606 0,3367521 0,4921387 0,6965543 0,6186093 0,2993074 0,5054211 0,7115447 0,5326242 1,2922320 1,0407204 0,8963486 0,6320382
12. Ind. De Transfor-
mação 0,4662405 0,4361637 0,4809737 0,3601233 0,4471767 0,6528920 0,9154140 0,8228372 0,3962967 0,3994838 0,9291422 0,6828131 0,3886639 1,4130848 1,2058116 0,8515693
13. Comércio de Ata-
cado 0,2859012 0,2672864 0,3524963 0,2195084 0,2889399 0,3291062 0,6221431 0,5070111 0,2396530 0,2454507 0,3790859 0,2813684 0,2628133 0,2882440 1,2836661 0,2912872
14. Varejo e Serviços 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 0,0000005 1,0000005
Multiplicadores Agregados
De renda 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010 1,8406010
Setorial de Produto 4,259606 4,092631 4,039965 3,690906 4,650124 4,887668 5,756845 5,627084 3,727674 4,372236 5,247138 5,108395 3,727192 4,551969 5,273420 5,086825
De Impacto Setorial 1,135330 1,140373 1,069281 1,017242 1,086617 1,153638 1,193825 1,704712 1,061148 1,047811 1,232338 1,047672 1,292232 1,413085 1,283666 1,000001
Efeito de Empuxe 3,124276 2,952259 2,970684 2,673664 3,563507 3,734030 4,563020 3,922372 2,666526 3,324425 4,014800 4,060724 2,434960 3,138884 3,989754 4,086824

Fonte: Processamento do autor usando CSα.


Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

12.4.4 Política de contenção, mercado de terras e economia local: exercícios de predição

Utilizando a fórmula (12.2.1-14), podemos discutir a questão principal que nos colocamos.
Relembrando: dado que os esquemas de compensação para contenção do desmatamento implicam
entrada e saída de recursos, qual o resultado final desses fluxos sobre as variáveis fundamentais
de renda e emprego, sobre suas relações com a base natural que a fundamenta e, portanto, sobre
as próprias forças que produzem o desmatamento?

Tabela 12.4.4-1 – Diversas condições de compensação por redução nas emissões de carbono no
Sudeste Paraense como variações na demanda final de 2004 (em R$ milhões de 20005)
Exercício 1 Exercício 2 Exercício 3 Exercício 4
1ªFazendas -434,591 0,00 -869,184 -434,591
1b.Camponeses -325,361 0,00 869,184 -325,361
1c.Mineração 0,00 0,00 0,00 6.563,053
6.Varejo e Serviços 442,882 442,882 442,882 442,882
Fonte: Tabela 1. Notas: 1 50% do Valor Bruto da Produção das linhas correspondentes na Tabela 1. 2 50% do valor da
linha “Lucros” nos setores alfa “Camponeses” e “Fazendas”. 3 Informação da CVRD (conf. Ceplan, 2006 ). 4 100%
da produção das “Fazendas”, maior poluidora, passa a ser feita nos moldes camponeses, cujo setor cresce na mesma
proporção.

Quatro exercícios, cujos termos básicos se encontram na Tabela 12.4.4-1, nos ajudarão
a refletir sobre essa indagação. O primeiro procura retratar uma situação em que a política de
compensação se faz em contexto idealizado em que se cumprem contratos e não há pressões de
mercado; o segundo discute o efeito do mercado de terras como mecanismo de pressão exógena;
o terceiro reflete sobre pressões endógenas de demanda por produtos; o quarto aponta para outras
perspectivas de política com vistas a interferir no balanço de carbono.

Idealismo tecnocrático

O que ocorreria com a economia e com o balanço de CO2 se um programa de compensação


por redução de emissão lograsse reduzir em 5 anos, 50% da produção que fundamentava o balanço
de carbono verificado em 2004, por justa compensação aos proprietários dos estabelecimentos
rurais no nível verificado de seus ganhos? Para isso, o esquema de compensação remuneraria
os gestores da produção rural em 50% dos seus lucros anuais: por valores, pois, equivalentes
ao custo de oportunidade dos recursos de capital por eles aplicados àquela produção. Na
hipótese de que esses agentes continuem no mesmo lugar15, o movimento precedente resultaria
uma entrada de R$ 442,88 milhões por ano na economia local por compras de bens e serviços
pelos que receberam a compensação em troca da redução em 50% das respectivas produções.

15 A outra hipótese, a de que os agentes que recebem as compensações mudam para lugares mais amenos, poderá ser explorada em
outro momento.

416
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Nisso, tem-se introjetada em contexto sistêmico a remuneração dos agentes responsáveis


diretos pela produção, antes do estabelecimento dos contratos de não emissão. Nesse primeiro
exercício, tais contratos são cumpridos e não há substituição da produção renunciada – o
que se expressa, no modelo, na redução da oferta efetiva em montantes correspondentes a
R$ 434,59 e R$ 325,36 correspondentes a 50% do valor da produção dos setores alfa camponês
e patronal, respectivamente. As variações absolutas resultantes dessa operação encontram-se, na
Tabela 12.4.4-2 e as variações relativas em relação a 2004, na primeira parte do Gráfico 12.4.4-
1: se lograria reduzir as emissões em -53,8%, 3,8 pontos percentuais a mais que o projetado.
Isso, contudo, ao custo de uma considerável redução da economia local (apesar da manutenção
do mesmo nível de produção do setor alfa mineral), cujo valor adicionado reduziria em termos
absolutos R$ 601,33 milhões: uma redução de 8,8%, em relação a 2004; a massa de salários
cairia 11,6%, os lucros 9,6%, os impostos 0,6% e o emprego nada menos que 35,6%. Haveria um
reordenamento na composição da renda em favor das economias estadual e nacional, uma vez que
nesses níveis todas as variáveis se expandiriam, não obstante a baixas taxas.

O mercado de terras como mecanismo de pressão exógena

O exercício anterior corresponde a uma perspectiva presente no debate em andamento


sobre compensações para evitar desmatamento e emissão de CO2. Argumenta-se que dada a
“falha de estado” em coibir os “passivos ambientais” por incapacidade técnica de fazer valer as
restrições formais, tudo dependeria de decisões privadas e da compensação aos “bons empresários”
por não derrubarem suas matas, de acordo com seu custo de oportunidade. Dada, agora, a “falha
de mercado” que não atribui valor “aos serviços ambientais da floresta” como sink de carbono,
por exemplo, ao estado competiria cobrir o ônus da compensação. Nisso consistiria um “pacto
redentor” (Young, 2007; Nepstad, 2008; Veiga, 2007).
Esse raciocínio tem pressupostos que carecem explicitação: 1) por se organizar em torno
da ideia de custo de oportunidade privado, refere-se a um objeto de contrato (“serviço ambiental”
produzido por mata originária) que já (e só) existe na condição de coisa apropriada; 2) essa condição,
por sua vez, refere-se à propriedade ou posse da terra – nesse sentido, o fundamento do objeto último
dos contratos a estabelecer não é a “floresta originária” e o que representa objetivamente (bioma,
ecossistema) como ativo específico face aos seus atributos, mas sim um ativo genérico “terra”.
Ocorre que, como ativo genérico, “terra” é produto de ampla circulação, posto que resulta
de processo de produção acoplado a um mercado: o mercado de terras. Como todo processo
de produção em economia de mercado, a produção de terras se faz continuadamente enquanto
existirem o poder de compra demandando seus resultados e os pressupostos da produção – a
matéria-prima a ser transformada e o engenho humano adequado à transformação.
Tal mercado configura-se em institucionalidade própria (Polanyi, 1992), expressando-se
concretamente nos preços e na “natureza” do que movimenta. Estudamos o mercado de terras na
Amazônia no seção 7.3.1.
417
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 12.4.4-2 – Variações nas variáveis-chaves da economia do Sudeste Paraense produzidas


por operações de compensação por redução de emissão de CO2
Variáveis da Economia (em R$ milhões de 20005) Balanço de CO2 (106)
Nível Valor Balanço
Salários Lucros Emprego Impostos Emissão Seqüestro
Adicionado Líquido
Exercício1(Variação Relativa)
Local -601,33 -126,54 -469,53 -102,96 -5,26 -213,22 -55,37 -157,84
Estadual -0,5 -0,62 0,43 -0,05 -0,31 0 0 0
Nacional 18,22 2,91 13,62 0,31 1,69 0 0 0
Exercício 2 (Variação Relativa)
Local 389,29 108,65 246,27 28,83 34,38 32,84 8,54 24,31
Estadual 89,72 15,47 64,48 2,32 9,77 0 0 0
Nacional 336,15 52,29 253,27 5,52 30,59 0 0 0
Exercício 3 (Variação Relativa)
Local 419,25 30,62 368,44 167,65 20,2 -116,15 -25,41 -90,74
Estadual 83,85 14,5 60,19 2,17 9,16 0 0 0
Nacional 312,06 48,53 235,13 5,13 28,4 0 0 0
Exercício 4 (Variação Relativa)
Local 7.792,24 1.076,23 5.598,43 186,26 1.117,58 162,57 42,27 120,3
Estadual 725,98 131,71 513,17 19,11 81,11 0 0 0
Nacional 2.978,13 479,8 2.221,38 51,22 276,95 0 0 0
Valores em 2004
Local 6.829,83 1.093,46 4.885,26 288,96 851,12 395,99 102,78 293,21
Estadual 866,47 168,32 595,16 23,69 102,99 - - -
Nacional 3.497,40 573,42 2.580,40 59,60 343,57 - - -
Fonte: Elaboração do autor.

Gráfico 12.4.4-1 – Quatro exercícios de impacto de esquemas de compensação para redução da


emissão líquida de CO2 na economia do Sudeste Paraense
(A) (B)

12%
10%
% em relação a 2004
% em relação a 2004

0% 10%

-10% 8%
-20% 6%
-30% 4%
-40% Nacional
Nacional 2% Estadual
-50% Estadual Local
Local 0%
-60%
Adicionado

Salários

Emprego

Balanço
Líquido CO2
Lucros

Impostos
Valor
Adicionado

Salários

Emprego

Balanço
Líquido CO2
Lucros

Impostos
Valor

(C) (D)

140% 50%
% em relação a 2004
% em relação a 2004

120%
30%
100%
80% 10%
60% -10%
40% Nacional -30% Nacional
20% Estadual
Local Estadual
0% -50% Local
Adicionado

Salários

Emprego

Balanço
Líquido CO2
Lucros

Impostos
Valor

Adicionado

Salários

Emprego

Balanço
Líquido CO2
Lucros

Impostos
Valor

Fonte: Tabela 12.4.4-2

418
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Considerando as médias dos preços (agora corrigidos para 2007), entre 1995 e 2006,
foram feitas vendas diretas em torno de R$ 15 bilhões de reais em 11 anos – aproximadamente
um VBP de R$ 1,4 bilhão, possibilitando Valor Adicionado de R$ 1,4 bilhão por ano (ver Tabela
7.3.1-2).
Suponhamos que em 1995 tivesse existido uma política para toda a Região Norte de
contenção do desmatamento à base de remuneração dos proprietários de terras com “reservas de
mata” a um justo preço – ao custo de oportunidade –, tal como propusemos na sessão anterior.
Na verdade, esses proprietários seriam os únicos atores presentes, detentores do único objeto
de contração que essa perspectiva de política pode considerar. Consideremos que, em esforço
máximo da sociedade, tivessem sido feitos contratos cobrindo todos os 25,7 milhões de hectares
(pois o propósito teria sido, digamos, o de “desmatamento zero”), a um preço determinado pela
atividade de menor rendimento, a pecuária extensiva – digamos, a R$ 40,00 p/ha. A política
custaria em torno de R$ 1,0 bilhão de reais a cada ano (aproximadamente a disponibilidade média
real do FNO, nesse período, ver 7.3.2). Em 2006 teríamos nada muito diferente do balanço real
apresentado na Tabela 7.3.1-2. A política teria sido eficiente, posto que as reservas contratadas
estariam intactas, até acrescidas, para regozijo dos policy makers, que provavelmente também
estariam felizes porque os “bons empresários” teriam cumprido seus contratos. Mas, ao lado disso,
teríamos os mesmos 11,6 milhões de hectares adicionalmente transformados de acordo com o que
nos apresenta a realidade do Censo. Com uma diferença, entretanto: a sociedade teria despendido
R$ 11,0 bilhões de reais literalmente para nada – ou melhor, para acréscimo do patrimônio dos
proprietários com reserva de “terras com mata”, tanto mais, quanto mais as possuíssem.
Para a economia do Sudeste Paraense, o mercado de terras foi modelado pelas CSα,
considerando os preços dos três tipos de terras vigentes em 2004 nos municípios da mesorregião
incluídos na pesquisa da FNPi, pressupondo que as necessidades de terras, para explicar a expansão
das atividades, foram determinadas pelos parâmetros tecnológicos vigentes em 1995 e atendidas
necessariamente através do mercado – o que garantiu a preservação das reservas de “terras com
mata” dos estabelecimentos em 1995. Os resultados foram internalizados na economia do Sudeste
Paraense, conforme Tabela 12.4.4-1, já comentada, e permitiram, ademais, estruturar agregados
para a mesorregião num balanço semelhante ao da Tabela 7.3.1-2, só que cobrindo o período de
1995 a 2004 (ver Tabela 12.4.4-3).

419
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Tabela 12.4.4-3 – Estimativa do Mercado de terras no Sudeste Paraense entre 1995 e 2004, a
preços de 2007
Passagem das “terras com Mata” para a
Estoque de terras
condição de capital físico: ”terra de pastagem”,
nos estabelecimentos:
”terras para lavoura” e “reserva de mata”
1995 2004 Fluxo Real (Há) Fluxo Monetário (R$)
(A) (B) (B)-(A)=(C) (C)*Preço Médio
Terras para Lavoura 347.082 446.260 99.178 151.206.899,7
Terras de Pastagens 4.829.473 6.490.670 1.661.198 1.522.398.472,2
Reserva de Terras com Matas 4.992.744 4.992.744 0  
Total de Terras Apropriadas 10.169.298 11.929.674 1.760.376 1.673.605.372,0
1.760.376
Transformação
Fluxo Real (Ha) (195.597,30
necessária de “floresta
/ano)
originária” em “Terra
638.133.132,0 3.384.818.012,0
com Mata” Fluxo Monetário R$)
(70.903.681,3 /Ano) (307.710.728/Ano)
2.311.738.504,0
Valor total movimentado no mercado de terras (R$)
(256.859.833,8 /Ano)
Fonte: IBGE, Censo de 1995 e 2004. Estimativas das CSα.

Ao lado da manutenção dos 5 milhões de hectares das reservas de “terras com matas”, o
mercado de terras na mesorregião teria produzido, entre 1995 e 2004, 1,7 milhões de novas “terras
para pastagem” (o Censo informa 1,6 milhões até 2006) e 99,2 mil hectares de novas “terras para
lavoura” a partir da conversão de um total de 1,8 milhões de hectares de “floresta originária” em
“terras com mata”. O fluxo primário médio de R$ 256,9 milhões por ano expressou-se, no ano de
2004, em R$ 465,4 milhões de VBP e R$ 185,3 milhões de VA, conforme comentários anteriores.
Essa é a história. Conhecendo-a, parece prudente prospectar o futuro, considerando
uma situação na qual o programa de compensação por redução de emissão sob escrutínio
lograsse reduzir 50% da produção que fundamentava o balanço de carbono verificado em 2004,
compensando produtores estabelecidos no nível verificado de seus ganhos, mas, ao mesmo
tempo, novos produtores que venham a se estabelecer, mediados pelo mercado de terras, para o
qual carrearam poder de compra exógeno, repondo a produção dos setores alfa rurais no nível de
2004. Concretamente, o esquema de compensação remuneraria os agentes gestores da produção
rural em 50% dos lucros anuais, o que implicaria uma entrada de R$ 442,88 milhões por ano
na economia local por compras de bens e serviços e não há redução da produção. O resultado
dessa situação encontra-se na segunda parte da Tabela 12.4.4-2 e na parte (B) do Gráfico 12.4.4-
1: as variáveis da economia local cresceriam todas, o valor adicionado expandiria, em termos
absolutos, R$ 419,2 milhões (5,7%) em relação a 2004; os salários e o emprego cresceriam,
respectivamente, 9,9% e 10,0%; os lucros 5% e os impostos 4%, gerando em consequência
uma expansão das emissões líquidas de carbono de 8,3%. A economia estadual expandiria o
valor adicionado em R$ 89,72 milhões (10,4% em relação a 2004) e a nacional em R$ 341,56
milhões (9,6%). O fracasso da política de contenção corresponderia, nesse caso, a um notável
sucesso econômico.

420
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

O mercado local de produtos e os mecanismos endógenos de pressão

Como já demonstrado, o Sudeste Paraense constitui economia complexa, com setores não
rurais de grande capacidade expansiva. Importa indagar, pois, o que ocorreria com a economia
e com o balanço de CO2 se um programa de compensação por redução de emissão lograsse
reduzir, em 5 anos, 50% da produção que fundamenta o balanço de carbono verificado em 2004,
por justa compensação aos proprietários dos estabelecimentos rurais no nível verificado de
seus ganhos. Nesse caso, porém, a produção primária não agrícola se expande fortemente. Isso
significa que um esquema de compensação, exatamente como na primeira situação, remunera os
agentes gestores da produção rural em 50% dos lucros anuais. Na hipótese de que esses agentes
continuem no mesmo lugar, haveria uma entrada de R$ 442,88 milhões por ano na economia
local por compras de bens e serviços, em troca da redução em 50% das respectivas produções
– expressas na redução da demanda efetiva dos valores de R$ 434,59 e R$ 325,36 milhões dos
setores alfa camponês e patronal, respectivamente. Porém, como é o caso da economia estudada,
a mineração mais que dobra sua produção anual, acrescendo aproximadamente R$ 6,6 bilhões,
como constam nos planos e na realidade da Companhia Vale do Rio Doce, como observamos no
capítulo precedente. O resultado dessa operação seria uma explosão nas variáveis econômicas
nos montantes absolutos observados na última seção da Tabela 12.4.4-2 e relativos na parte (C)
do Gráfico 12.4.4-1. Todas as variáveis da economia local cresceriam, o valor adicionado e a
massa de lucros na liderança, cabendo obviamente a maior parte ao setor mineral. Não obstante,
o emprego cresce 64,5% e a massa de salários 98,4%, produzindo um impulso independente nos
setores rurais e urbanos da economia local que faz as emissões líquidas de carbono crescerem em
41% em relação a 2004, apesar da redução obtida. Expansão importante se verificaria, também,
na economia estadual e nacional. A dinâmica da economia local autônoma tornou a política de
contenção, nesse caso, inócua.

Mudanças tecnológicas e capacidade institucional – outras possibilidades de política

Um exercício adicional deve ser ponderado, por fim, considerando a seguinte questão.
O que ocorrerá com a economia e com o balanço de CO2, se um programa de redução de
emissão lograr induzir a conversão da base produtiva, dos sistemas que emitem mais, para
os sistemas que emitem menos, de modo que em 5 anos toda produção fosse feita com base
nos sistemas que em 2004 mostraram-se menos emissores? Recursos de R$ 442,88 milhões
por ano fluirão na economia, em parte aplicados em conhecimentos (C&T), bônus e subsídio
de crédito como forma de remuneração de serviços ambientais produzidos pelos sistemas
produtivos em operação, inclusive e principalmente os baseados no “bioma”. Em parte, esses
recursos fluirão também como resultados de ações do estado para coibir a transformação das
“florestas originárias”, que só existem na condição de ativo público, em “terras com mata”,
atacando o principal mecanismo do mercado de terras – a “grilagem” (Benatti, 2008; Costa,
421
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

2008). Os resultados dessa operação podem ser avaliados na quarta parte da Tabela 12.4.4-2
e na parte (D) do Gráfico 12.4.4-1: Todas as variáveis da economia local cresceriam, o valor
adicionado 6,1% e a massa de salários 2,8%, a massa de lucros 7,5%. Isso ao lado da redução
da emissão líquida de CO2 em 31%. Nesse caso, ocorreria uma situação win-win: uma política
de conversão tecnológica logra reduzir as emissões, ao mesmo tempo que produz dinâmica.

12.4.5 Dinâmica rural, economias de bases primárias e possibilidade de desenvolvimento local


sustentável e inclusivo

Tratando-se de uma economia local real, as características das trajetórias tecnológicas


que fundamentam o seu setor rural, sua configuração macro e suas relações com os sistemas
envolventes da economia estadual e nacional, algumas questões sobre a aplicação futura de esquema
de compensação podem ser discutidas mais acuradamente, numa perspectiva de desenvolvimento
inclusivo baseado em capacidade produtiva. Os exercícios efetuados permitem indicar o seguinte:
1. Há diferenças importantes entre os custos de oportunidade social (refere-se, na matriz
CSα ao total do Valor Adicionado dividido pelo Balanço Líquido de CO2) das emissões
líquidas dos estabelecimentos patronais e dos camponeses. Nos primeiros a presença
dominante da Trajetória-Patronal.T4 confere grande contribuição às emissões líquidas,
limitando o valor a R$ 2,95 por tonelada de CO2 equivalente; nos segundos, os pesos da
Trajetória-Campnesa.T1 e da Trajetória-Campnesa.T2, com suas baixas contribuições ao
balanço de CO2 elevam o valor para R$ 6,69/t CO2 equivalente.
2. Há diferenças importantes, igualmente como resultado dos pesos e atributos das trajetórias,
entre os custos de oportunidade privados (Lucros divididos por Balanço Líquido de CO2) dos
estabelecimentos patronais, de R$ 2,09/t CO2 equivalente, e dos camponeses, de R$ 5,69/t
CO2 equivalente.
3. Os impactos e efeitos derivados de ações exógenas, como os associados a um esquema
de contenção de desmatamento e redução de emissão de carbono, têm medidas precisas
e não são triviais: o multiplicador agregado de renda da economia do Sudeste Paraense é
1,84; o multiplicador setorial de produto da produção rural camponesa, 4,26; da produção
patronal, 4,1.
4. Por conta das mediações sistêmicas que se expressam nesses parâmetros, esquemas de
compensação centrados exclusivamente nos agentes e focados em redução da produção
produzirão perdas sistemáticas para economia local:
a. Porque se compensa, mesmo quando num acordo justo e de valores equivalentes,
apenas parte do valor adicionado perdido pela renúncia à produção.
b. Porque maior número de concatenações é ativado em torno da produção primária
que deixa de existir (indústria de beneficiamento, indústria de transformação,
comércio) do que em torno das mercadorias que entram acabadas (comércio),
levando a um diferencial sistemicamente perdido.
422
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Em tal contexto, formam-se tensões proporcionais às perdas. Desemprego,


redução da taxa de lucro, redução da massa de impostos se fazem sentir e solapam
adesões.
5. Esquemas de compensação para evitar a expansão da produção formam tensões endógenas
para que se amplie a produção. Aqui, também, por duas razões:
a. Porque se forma renda sem produção e
b. porque, mediada pelos multiplicadores, essa renda se amplia, criando demanda
adicional.
A resolução dessas tensões, cuja força resultante variará com a complexidade da
economia, pode resultar em efetiva expansão da produção, sem a quebra dos contratos
estabelecidos com os agentes com vistas à contenção do desmatamento. Isso porque,
outros agentes podem se apresentar para resolver os desequilíbrios, elevando a oferta
de bens pelos mesmos métodos da produção anterior, sem que possam ser interpelados
pelos mecanismos de enforcement do esquema de compensação. Isso poderia criar, nas
economias locais, dois tipos de agentes derivados dos esquemas de compensação: um,
rentista, que não desmata em sua propriedade, e um, produtivo, que desmata para fornecer
o que o rentista precisa e não mais produz. O objetivo almejado, nesse contexto, pode ser
totalmente frustrado.
6. Em casos como o do Sudeste Paraense, em que a economia tem outras bases, cuja
dinâmica amplia a massa de salário e cria concatenações internas por expansão
da demanda intermediária, as tensões discutidas no item anterior se ampliam na
razão do dinamismo – é dizer, diretamente proporcional à sua força de polarização.
Nesses casos, é difícil supor sucesso em uma política centrada em agentes e visando
unicamente a contenção pela não produção. Um amplo programa centrado na elevação
da capacidade produtiva em bases tecnológicas de baixo balanço líquido de emissão
de carbono se torna absolutamente necessário – a chave de novas possibilidades.
7. Esquemas de redução de emissão por alteração na forma de produzir – que favoreçam
os sistemas já existentes com balanços de carbono defensáveis, em detrimento dos que
apresentam maior emissão líquida – parecem constituir base para estratégias win-win:
mediante as quais se reduzirá emissão líquida ao lado de expansão da economia.
8. Por outro lado, tensões exógenas – como preços tendencialmente crescentes de carne
e grãos no mercado externo e brasileiro, não obstante a presente crise – materializam-
se na forma de poder de compra, demandando “terras” que só existem como suporte
de “florestas originária”. A produção de terras que a partir daí tem lugar, o principal
processo por trás dos desmatamentos, é autônoma, e por se basear em métodos que se
situam à margem da institucionalidade formal, está fora do alcance de qualquer esquema
de “evitação” orientada à compensação, pelo Estado, de agentes privados, tornando-se
no mecanismo principal de leaking do conjunto de atividades que se pretende evitar. É
imprescindível, assim, o esforço de contenção do mercado de terras em dois momentos:
423
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

quando da transformação do ativo específico “floresta primária” em “terras com mata” e


no momento da legitimação do produto final – “terras para pasto” e “terras para lavoura”
(Costa, 2009c).
a. No primeiro momento, são exigidas as capacidades formal e técnica do Estado
para proteger os ativos públicos, em particular o bioma, ativo específico e
distintivo da região e do País.
b. No segundo, as formas de titularidade deverão distinguir entre direito fundiário,
relativo estritamente ao ativo “terra”, e o direito aos “ativos ambientais
originários”. Ao não se reduzir o último ao primeiro, ao ente público se reservará,
sempre, o poder de questionar o agente privado quanto ao seu uso e alienação.
No conjunto, esses resultados nos indicam as dificuldades de uma política de contenção
das emissões tratando a) apenas um lado da dialética produção agrícola X manutenção da floresta
e b) apenas uma dimensão do sistema econômico. Pagar aos agentes que controlam a floresta para
que renunciem a produzir não elimina as necessidades que forçam a existência dessa produção.
Estabelecidas, tais necessidades criam os agentes que as correspondem.
Isso nos coloca a necessidade de pensar políticas de contenção de desmatamento ligadas
indissociavelmente, por um lado, a novas institucionalidades que garantam a distinção de direito entre
ativos específicos e públicos representados pelos biomas amazônicos e os ativos genéricos e privados
garantidos pela propriedade da terra; por outro, a políticas de produção – operadas por mecanismos
que façam convergir as decisões dos agentes com perspectivas macro de desenvolvimento: local
(espacialmente configurada), endógeno (culturalmente enraizado) e sustentável (amparado em
conhecimento que permita usar a base natural da Região sem depredá-la). Afortunadamente, as
mais recentes proposições de políticas condensadas nos chamados REDD+ e REDD++ incorporam
notavelmente essa percepção (Conf. Amgelson, Braown, Lpisel, Peskett, Streck, Zarin, 2009)

12.5 O Impacto econômico de um programa de reflorestamento no sudeste paraense – uma


simulação, baseada em CSα, da ausente trajetória tecnológica T616

Anotamos que a Trajetória-Patronal.T6 esteve praticamente ausente do sistema agrário


do Sudeste Paraense até 2006. Seria de interesse visualizar, mesmo que hipoteticamente, suas
possibilidades. Imaginemos um programa, chamemos de ParáFlorestas, que refloreste pastos
degradados com eucalípto em extensão suficiente para a colheita sistemática de 10.714 ha, após
o sétimo e 21.429 ha após o 14º ano da operação. A produção se destinará inicialmente para a
produção de carvão necessário à siderurgia guzeira em desenvolvimento na região. É possível,
a posteriori, converter a produção para fins mais nobres, como uma indústria moveleira a
incentivar. Além disso, o crédito de carbono poderá vir a ser parte das receitas. Não obstante, tais
possibilidades não serão partes dos cálculos que adiante se farão.

16 O exercício contou com a parceria de Wanderlino Castro de Andrade, Economista, Doutorando do PDTU NAEA/UFPa.

424
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

O núcleo geográfico do empreendimento seria formado pelos municípios de Dom


Eliseu, Rondon do Pará e Ulianópolis na microrregião articulada e polarizada pelo município de
Paragominas (Costa, 2005).
O empreendimento requereria investimentos da ordem de R$ 529,0 milhões na primeira
fase e R$ 1,4 bilhão até sua estrutura final (Tabela 12.5-1). Para colheita e replantio sistemático o
Programa operaria com custos anuais de R$ 138,3 milhões na primeira fase e R$ 277,0 milhões,
na segunda. A receita esperada nos dois momentos seria de, respectivamente, R$ 150 milhões e
R$ 314,6 na configuração final.

Tabela 12.5-1 Programação de investimentos e previsão dos custos de operação e receitas para
dois ciclos de implantação do ParáFlorestas
1º. Ciclo (Ano 0 a 6) 2º. Ciclo (Ano 7 a 13)
Investimento Custo e receita anuais1 Investimento Custo e receita anuais1
Formação de Florestas R$ 406.054.583 1.148.180.191
Arrendamento R$ 54.188.868 96.302.074
Colheita e Replantio R$ 138.289.838 277.046.214
Recuperação de Nativas R$ 36.398.254 75.815.400
Outros custos R$ 32.308.931 54.082.267
Investimento Total R$ 528.950.636 1.374.379.932
Produção(m3)/Receita R$2 3.000.000 m3 R$ 150.000.000 6.292.500 m3 R$ 314.625.000
Área colhida/replantada (Ha) 10.714 21.429
Fonte: 1 Preços de 2005. 2 A preço de R$ 50/m3 (2005) estimado pela FNP, Agrianual, 2006, p. 323.

A função de produção do empreendimento (a sua combinação de fatores) tem forte


presença de componentes mecânicos e químicos (próximo de 70% da estrutura de custos remunera
fatores com essas características, com 20 pontos para o primeiro e próximo de 50 pontos para o
segundo componente, conf. Tabela 12.5-1), o fator trabalho apresentando uma participação de
11% na estrutura dos dispêndios. Tais características orientam as “concatenações para trás” e
definem, em muito, o espaço funcional e a intensidade dos impactos do projeto.

Tabela 12.5-2 – Estrutura resumida dos custos de produção do ParáFlorestas para os momentos
intermediário e final da implantação.
Itens 1º.Ciclo 2o.Ciclo
Administração e Inf raestrutura 9.448.531 18.897.061
Veículos e equipamento 27.287.364 54.574.728
Combustíveis 607.915 1.215.830
Pessoal 14.952.052 29.904.105
Insumos Químicos 45.251.347 90.502.694
Insumo Minerais 9.437.406 18.874.813
Insumos Biológicos/Botânicos 9.466.955 18.933.910
Serviços e Consultoria 1.180.133 2.360.266
Arrendamento 19.148.616 38.297.232
Impostos 1.509.519 3.485.576
Total 138.289.838 277.046.214
Fonte: Elaboração do autor, com base em preços médios correntes.

425
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

O propósito deste estudo é calcular os impactos do empreendimento na economia


local, entendida como referente à microrregião em que se insere, e em economias mais
amplas. Isso exige, em primeiro lugar, visualizar a inserção do projeto sobre as estruturas
precedentes de produção e transação que articulam, por um lado, setores rurais e urbanos em
nível local; por outro, a economia local com as economias extralocais – estadual e nacional.
Em segundo lugar, é necessário observar os impactos que tal inserção produz nas variáveis
macroeconômicas de renda (salários, lucros e rendas, impostos) e emprego. O estudo cumprirá
essas necessidades em 3 passos. Primeiro apresentaremos a economia de base agrária da
microrregião em funcionamento antes do ParáFlorestas, num “ano zero” que corresponderia
às condições reais do ano de 2005. Segundo, incorporaremos nesta economia do Ano0, o
empreendimento do ParáFlorestas na sua configuração do Ano6 (início de seu primeiro ciclo
produtivo). Terceiro, integraremos o empreendimento do ParáFlorestas na sua configuração
final do Ano13. Quarto, observaremos, com base na configuração intermediária, os impactos
ad hoc dos investimentos em cada ano da operação.
Para cada um dos três momentos de referência (Ano0, Ano6 e Ano13) apresentaremos
uma matriz de insumo-produto com os detalhes das relações interssetoriais e interespaciais
da produção intermediária e minuciosa descrição da formação de renda, produto e emprego
no nível permitido pela metodologia de Contas Sociais Alfa acima apresentada. Por fim,
discutiremos os três momentos da economia, sublinhando, em cada um, os resultados mais
eloquentes e esclarecedores no que se refere aos propósitos do estudo. Ao final, apresentaremos
considerações que alinharão sucinta e comparativamente os principais achados.

12.5.1. A economia da Microrregião Paragominas e o ParáFlorestas

O Programa ParáFlorestas se incorporaria na economia de base agrária da Microrregião


Paragominas. Convém, pois, visualizar compreensivamente tal economia na configuração mais
recente permitida pelos dados secundários disponíveis. Dadas as necessidades esclarecidas
acima, o ano de 2005 representa esse limite, condicionado pelos principais bancos de dados.
Para a descrição dos fluxos de produtos e formação de preços, fizemos pesquisa primária
para os 35 produtos, listados no Anexo II, que representam acima de 93% da produção rural
da microrregião estudada. A pesquisa constou do levantamento de 1.876 pontos de transação
de agentes situados em posições-chave das diversas cadeias. Os resultados foram tabulados de
modo a ajustar essas transações nas intersecções setoriais com as quais o modelo, no formato
aqui aplicado, trabalha. Foram eles dois setores alfa da produção rural (o da produção familiar
e o da produção patronal de fazendas e empresas), 13 setores beta (5 locais, 4 estaduais e
4 nacionais) e 3 mercados finais (local, estadual e nacional, este último englobando as
exportações).
A economia de base agrária da Microrregião Paragominas está descrita na Tabela
12.5.1-1.
426
Tabela 12.5.1-1 Estrutura da Economia de Base Agrária da Microrregião Paragominas. Matriz de Insumo-Produto CSα em
2005 – Ano0 do ParáFlorestas, em R$ 1.000.000 correntes
Produção Intermediária
Demanda Final
Economia Local Economia Estadual/Regional Economia Nacional
Produção Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio Local
Francisco de Assis Costa

Sudeste VBP
Total
Total

Nacional

Benef.
Benef.
Benef.

Trans.
Trans.
Trans.

Varejo
Varejo
Varejo

Varejo Rural
Urbano
Urbano
Urbano

Atacado
Atacado
Atacado
Famílias

Patronal
Formação
de Capital

Camponesa
Estadual/Regional

1a. ProduçãoCampones 0,66 - 0,00 7,70 1,07 11,13 5,73 29,60 0,42 2,50 - 9,26 - 0,01 - 68,07 172,17 18,05 0,30 - 190,52 258,58
1b. ProduçãoPatronal - 0,82 0,00 2,05 0,67 11,48 1,15 5,88 0,44 4,38 - 1,84 0,48 7,84 - 37,04 92,36 5,41 0,12 - 97,88 134,92
2.Varejo Rural - - - 0,39 - 0,00 0,00 - - 0,00 - - - 0,00 - 0,40 - - - - - 0,40
3. Findust. De Benef. - - - 0,20 0,95 2,22 4,91 0,12 0,13 5,92 0,38 2,43 0,11 12,99 0,00 30,33 2,73 - - 2,13 4,86 35,19
4. Indust. de Transf. - - - - - 3,44 37,61 - 0,18 0,13 0,07 - 1,30 0,28 0,73 43,74 1,48 - - - 1,48 45,22
5. Atacado 0,94 0,37 - 0,05 5,20 0,00 19,37 0,03 1,90 1,33 37,17 0,06 5,05 2,18 - 73,65 0,02 - 0,17 2,16 2,34 75,99
6. VarejoUrbano 21,31 8,58 - - - 0,00 - - - 0,00 - 0,00 - - - 29,89 113,81 26,53 - - 140,34 170,23
7. Findust. De Benef. - - - - - - 0,07 - 2,86 7,07 43,87 - - - - 53,87 - - 39,06 - 39,06 92,92
8. Indust. de Transf. - - - - - 1,86 - - - 6,10 1,10 - - 2,85 - 11,91 - - 5,32 4,16 9,48 21,38

427
9. Atacado 0,43 0,35 0,00 1,19 6,01 9,54 35,90 3,15 2,70 0,31 4,75 0,00 - - - 64,33 - - 21,02 8,91 29,93 94,26
10. VarejoUrbano - - - - - - - - - - - - - - - - 7,73 - 157,48 - 165,21 165,21
11. Findust. de Benef. - - - - - - - - 3,72 - - - 48,27 - 26,20 78,19 - - - 1,94 1,94 80,14
12. Indust. De Transf. - - - - 5,20 1,86 5,63 - - 30,58 3,29 - - 34,78 0,09 81,44 - - - 98,67 98,67 180,11
13. Atacado - - - - - 6,58 24,69 - - 4,60 - 2,59 49,11 0,31 0,22 88,10 0,38 - - 7,31 7,69 95,78
14. VarejoUrbano - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 52,92 52,92 52,92
r.Total de Insumos 23,34 10,12 0,01 11,59 19,10 48,09 135,05 38,78 12,35 62,92 90,63 16,18 104,31 61,24 27,25 660,94 390,68 49,99 223,45 178,20 842,32 1.503,26
x.Campones 235,25 - 0,28 19,88 16,76 15,65 25,23 42,13 6,36 17,51 50,68 44,58 40,56 17,06 21,22 553,14
y.Patronal - 124,81 0,11 3,73 9,37 12,25 9,95 12,02 2,68 13,83 23,89 19,38 35,23 17,48 4,45 289,18
s.Val. Adicionado (x+y) 235,25 124,81 0,39 23,60 26,12 27,90 35,18 54,15 9,03 31,34 74,58 63,96 75,80 34,54 25,67 842,32
x.Salários 46,65 24,76 (0,00) 1,29 2,62 2,02 13,28 2,13 1,33 3,02 10,34 1,69 11,01 5,20 5,41 130,74
y.Lucros 184,69 99,85 0,36 18,98 21,52 22,12 15,45 41,07 5,41 11,55 47,39 59,62 36,81 23,17 14,49 602,48
z.Impostos 3,91 0,19 0,04 3,34 1,98 3,76 6,45 10,95 2,30 16,77 16,85 2,65 27,97 6,17 5,77 109,10
Renda Bruta (r+s) 258,58 134,92 0,40 35,19 45,22 75,99 170,23 92,92 21,38 94,26 165,21 80,14 180,11 95,78 52,92 1.503,26
Emprego (em 1.000) 13,23 15,36 0,00 0,50 0,60 0,63 2,25 0,50 0,19 0,67 1,65 0,36 1,18 0,79 0,59 38,48

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD,
diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no primeiro capítulo . 1. Setores originais da
CSα. Com base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2 .Inclui todas as formas de serviço. 3 Produção primária e
primeiro beneficiamento. 4. Inclui produção de energia. 5. FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a. Incluindo encargos,
menos tributos. 6b incluindo importações, menos tributos. 7. Inclui exportações para o resto do mundo.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

12.5.2 A economia da Microrregião Paragominas no Ano0

Trata-se de uma economia local que gera 32.557 ocupações, das quais 28,5 mil nos
setores rurais, 13,2 mil nas fazendas e empresas e 15,3 mil na produção familiar rural. Os setores
industriais locais envolvidos no beneficiamento e transformação dessa produção abrigam pouco
mais de mil trabalhadores e, os de comércio, o restante dos empregados nos setores urbanos.
Associadas à economia local de base agrária da Microrregião Paragominas, são geradas 3.011
ocupações no restante do Estado do Pará e 2.915 no restante do Brasil, todas em setores urbanos.
A economia local gera (em 2005) R$ 473 milhões de valor adicionado, dos quais R$
90 milhões de salários, R$ 363 milhões em forma de lucro, rendas e remuneração do trabalho
familiar rural (sem abater depreciação, abatidos impostos) e R$ 19,7 milhões de impostos. Outros
R$ 169,0 milhões de valor adicionado, R$ 16,8 milhões de salários, R$ 105,4 milhões de lucros
e R$ 46,9 milhões de impostos são gerados na economia estadual e R$ 200 milhões de valor
adicionado, R$ 23 milhões de salários, R$ 134,1 milhões de lucros e R$ 42,6 milhões de impostos
na economia nacional se associam à economia de base agrária da Microrregião Paragominas.

12.5.3 A economia da Microrregião Paragominas no Ano6

O ParáFlorestas se encontraria integrado a essa economia no Ano6 – após 7 anos de


formação de base produtiva florestal. Modelamos, para descrever essa presença, o ParáFlorestas
nesse estágio como um Setor Alfa da economia de base agrária da Microrregião Paragominas. Para
tanto, contamos com os detalhes da estruturação do empreendimento – tanto de sua implantação,
quanto da operação produtiva nos principais componentes da função de produção.
Ademais, considerou-se que o ParáFlorestas, na venda da produção, não operaria
através das cadeias atualmente em funcionamento na economia local, as quais pesquisamos
detalhadamente. A estrutura atual do mercado de carvão é definida, tanto no roteiro dos fluxos,
quanto na formação de preços, pelo atrelamento dos setores industriais e comerciais às atividades
da agropecuária (limpeza de pasto e de roça) e do setor madeireiro (aparas e resíduos), como
as principais fontes de matéria-prima. Isso tem definido os preços em níveis distintos dos que
deveriam regular o preço de venda da produção do ParáFlorestas. A hipótese é que o programa
alteraria profundamente a estrutura do mercado de carvão na região. Tal alteração foi por nós
modelada considerando 4 aspectos:
• Que a conversão madeira-carvão da produção do ParáFlorestas seria a mesma que
encontramos agora na região, de 2 unidades de madeira para 1 de carvão;
• Que o ParáFlorestas realizaria sua produção ao preço de mercado de R$ 50,00/m3 (conf.
a FNP, em 2005);
• Que seria eliminado um elo da cadeia atual, fundindo a função de produtor de carvão com
a de vendedor em atacado do produto (já existe essa variante de mercado na região; o que
aqui se considera é que ela seria dominante com a presença do ParáFlorestas);
428
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

• Que se mantenha o índice de valor adicionado incorporado no carvão no último elo da


cadeia.
Aceito, assim, que as relações tecnológicas fundamentais se manteriam, que o
ParáFlorestas venderia sua produção a preço do mercado nacional e que os usuários finais
manteriam suas margens de ganho, os markups dos agentes intermediários se ajustariam em níveis
bem mais modestos que os atuais. Considerando isso, chegamos à matriz de insumo-produto
apresentada na Tabela 12.5.3-1.
O emprego da economia local de base agrária cresceria para 40 mil ocupações (22,5% de
incremento), em relação ao ano base. Importante frisar que o crescimento não se deve ao emprego
nos setores alfa, cujos setores da produção rural pré-existentes, por força do modelo, se mantêm os
mesmos.Devem-se, numa parcela, diretamente ao setor ParáFlorestas, que acresce 2,2 mil empregos
diretos; numa parcela maior, contudo, são os setores urbanos da economia local, arrastados pelos
setores industriais que localmente deveriam se associar ao ParáFlorestas no contexto da cadeia de
produção e transação de carvão, o qual acresce 2,8 mil ocupações, ao comércio que, absorvendo a
expansão dos demais setores, acresceria 2,4 mil ocupações.
Observe-se, por outra parte, que a massa de salários cresceria mais que proporcionalmente
ao número de ocupações e à massa de lucros (enquanto a primeira multiplica por 1,5, a segunda e a
terceira multiplicariam por 1,2), refletindo mudança em favor dos salários, tanto derivada de aumento
da participação no valor adicionado, quanto no valor do salário médio.
Os impostos cresceriam, por seu turno, na economia local, em proporção semelhante aos
salários (multiplica por 1,4), alcançando o montante de R$ 28,2 milhões na economia local.
Em nível estadual, o emprego associado à produção da economia local em foco cresceria
para 7,5 mil ocupações e, em nível nacional, para 4,1 mil. Note-se, aqui, que isso não quer dizer
em absoluto que a economia local em questão faria crescer o emprego nessas economias, naqueles
setores associados aos seus produtos. Quer dizer, isto sim, que a produção local ocuparia espaços
(ampliaria seu market share) nos mercados extralocais que corresponderiam a esses novos
volumes de emprego.
Observado pela variável de emprego, ou pelas demais, nota-se que a expansão da economia
local impacta de modo mais contundente à economia estadual que a nacional: o valor adicionado, por
exemplo, em nível estadual multiplicaria por 2,35, em nível nacional por 1,54; a massa de salários na
economia estadual associada à local multiplicaria por 2,56 e a nacional por 1,41.

12.5.4 A economia da Microrregião Paragominas no Ano13

Após 14 anos de formação de base produtiva florestal, o ParáFlorestas se tornaria um


poderoso componente da economia de base agrária da Microrregião Paragominas.
A partir dos mesmos pressupostos metodológicos e considerando os níveis de operação a
serem alcançados, descrevemos a economia de base agrária da microrregião Paragominas no Ano13
na matriz de insumo-produto apresentada na Tabela 12.5.4-1.
429
Tabela 12.5.3-1 – Estrutura da Economia de Base Agrária da Microrregião Paragominas. Matriz de Insumo-Produto CSα no
Ano6 do ParáFlorestas, valores de referência de 2005
Produção Intermediária Demanda Final
Economia Local: Economia Estadual/Regional Economia Nacional
Produção/Setores
Alfa Local
Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio
(Setores Alfa)1
VBP
Total Total
Regional
Nacional7

Estadual/

3
4
3
4

Pará
Vare

Florestas
Capital5

Varejo e
Varejo e

Fazendas
Atacado
Atacado
Atacado
Famílias

serviços2
serviços 2

Camponeses
Formação de

jo e serviços 2

Transformação

Beneficiamento
Beneficiamento

Intermediação primária
Transformação.

Beneficiamento.
Transformação4
1ª Fazendas 0,66 - - 0,00 7,70 1,07 11,13 5,73 29,60 0,42 2,50 - 9,26 - 0,01 - 68,07 172,17 18,05 0,30 - 190,52 258,58
1b.Camponeses - 0,82 - 0,00 2,05 0,67 11,48 1,15 5,88 0,44 4,38 - 1,84 0,48 7,84 - 37,04 92,36 5,41 0,12 - 97,88 134,92
1c. Vale Florestar - - - - - 150,00 - - - - - - - - - - 150,00 - - - - - 150,00
2.Intermed. Primária - - - - 0,39 - 0,00 0,00 - - 0,00 - - - 0,00 - 0,40 - - - - - 0,40
3. Beneficiamento - - - - 0,20 0,95 2,22 4,91 0,12 0,13 5,92 0,38 2,43 0,11 12,99 0,00 30,33 2,73 - - 2,13 4,86 35,19
4. Ind. Transformação - - - - - - 3,44 51,88 - 198,18 0,13 0,07 - 1,30 0,28 0,73 256,00 1,48 - - - 1,48 257,49
5. Comércio Atacado 0,94 0,37 - - 0,05 7,20 0,00 40,48 0,03 1,90 1,33 37,17 0,06 5,05 2,18 - 96,76 0,02 - 0,17 2,16 2,34 99,10
6. Varejo e Serviços 21,31 8,58 100,81 - - - 0,00 - - - 0,00 - 0,00 - - - 130,70 174,40 26,53 - - 200,94 331,64
7. Beneficiamento - - - - - - - 0,07 - 6,94 13,80 43,87 - - - - 64,68 - - 39,06 - 39,06 103,74
Elementos para uma Economia Política da Amazônia

8. Ind. Transformação
- - - - - - 2,57 - - - 17,65 1,10 - - 4,54 - 25,86 - - 5,32 400,16 405,48 431,34
ao

430
9. Comércio Atacado 0,43 0,35 - 0,00 1,19 14,92 20,63 96,60 3,52 16,30 0,58 8,09 0,00 - - - 162,61 - - 21,02 8,91 29,93 192,54
10. Varejo e Serviços - - 1,87 - - - - - - - - - - - - - 1,87 13,96 - 157,48 - 171,44 173,31
11. Indust. De Benef. - - - - - - - - - 9,36 - - - 103,48 - 26,20 139,04 - - - 1,94 1,94 140,98
12. Ind. Transformação
- - - - - 7,20 4,60 27,75 - - 77,85 6,29 - - 60,08 0,09 183,86 - - - 98,67 98,67 282,53
o
13. Comércio Atacado -
- - - - - 13,62 38,95 - - 9,56 - 4,46 52,58 0,41 0,22 119,81 0,68 - - 7,31 7,99 127,79
14. Varejo e Serviços -
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - 52,92 52,92 52,92
r.Total de Insumos 23,34 10,12 102,68 0,01 11,59 182,00 69,68 267,51 39,14 233,68 133,71 96,96 18,05 162,99 88,32 27,25 1.467,03 457,81 49,99 223,45 574,20 1.305,45 2.772,48
x.Fazendas 235,25 - - 0,28 19,88 16,76 15,65 25,23 42,13 6,36 17,51 50,68 44,58 40,56 17,06 21,22 553,14
y.Camponeses - 124,81 - 0,11 3,73 9,37 12,25 9,95 12,02 2,68 13,83 23,89 19,38 35,23 17,48 4,45 289,18
z. Vale Florestar - - 47,32 - - 49,36 1,52 28,95 10,45 188,63 27,49 1,77 58,98 43,75 4,93 - 463,13
s.Val. Adicionado6 235,25 124,81 47,32 0,39 23,60 75,49 29,41 64,13 64,59 197,66 58,83 76,34 122,94 119,54 39,47 25,67 1.305,45
(x+y)
s.Salários6a 46,65 24,76 14,95 (0,00) 1,29 16,59 3,04 26,02 2,49 22,61 6,91 11,01 2,61 17,38 7,41 5,41 209,12
l.Lucros 6b 184,69 99,85 30,86 0,36 18,98 52,23 22,54 29,41 50,83 83,18 34,05 48,43 115,25 70,47 25,86 14,49 881,48
i.Impostos 3,91 0,19 1,51 0,04 3,34 6,66 3,83 8,70 11,28 91,88 17,87 16,90 5,08 31,70 6,20 5,77 214,85
Renda Bruta (r+s) 258,58 134,92 150,00 0,40 35,19 257,49 99,10 331,64 103,74 431,34 192,54 173,31 140,98 282,53 127,79 52,92 2.772,48
Emprego (em 1.000) 13,23 15,36 2,19 0,00 0,50 3,41 0,82 4,38 0,56 3,91 1,37 1,73 0,63 1,84 1,06 0,59 51,57
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD,
diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no capítulo 1. 1. Setores originais da CSα.
Com base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2. Inclui todas as formas de serviço. 3. Produção primária e primeiro
beneficiamento. 4. Inclui produção de energia. 5. FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a.Incluindo encargos, menos
tributos. 6b. incluindo importações, menos tributos. 7. Inclui exportações para o resto do mundo.
Francisco de Assis Costa
Tabela 12.5.4-1 – Estrutura da Economia de Base Agrária da Microrregião Paragominas. Matriz de Insumo-Produto CSα no
Ano13 do ParáFlorestas, valores de referência de 2005
Produção Intermediária Demanda Final
Economia Estadual/
Economia Local: Economia Nacional
Regional
Produção/Setores Local
Alfa Indústria Comércio Indústria Comércio Indústria Comércio
Francisco de Assis Costa

(Setores Alfa)1
VBP
Total

Fazendas
Camponeneses
Pará
Florestas
Intermediação primária
Beneficiamento.
Transformação4
Atacado
Varejo e
serviços2
Beneficiamento 3
Transformação 4
Atacado
Varejo e serviços
2
Beneficiamento 3
Transformação. 4
Atacado
Varejo e serviços
2
Famílias
Formação de
Capital5
Estadual/
Regional
Nacional7
Total

1ª Fazendas 0,66 - - 0,00 7,70 1,07 11,13 5,73 29,60 0,42 2,50 - 9,26 - 0,01 - 68,07 172,17 18,05 0,30 - 190,52 258,58
1b.Camponeses - 0,82 - 0,00 2,05 0,67 11,48 1,15 5,88 0,44 4,38 - 1,84 0,48 7,84 - 37,04 92,36 5,41 0,12 - 97,88 134,92
1c. ParáFlorestas - - - - - 314,63 - - - - - - - - - - 314,63 - - - - - 314,63
2.Intermed. Primária - - - - 0,39 - 0,00 0,00 - - 0,00 - - - 0,00 - 0,40 - - - - - 0,40
3. Beneficiamento - - - - 0,20 0,95 2,22 4,91 0,12 0,13 5,92 0,38 2,43 0,11 12,99 0,00 30,33 2,73 - - 2,13 4,86 35,19
4. Ind. Transformação - - - - - - 3,44 69,17 - 415,49 0,13 0,07 - 1,30 0,28 0,73 490,59 1,48 - - - 1,48 492,08
5. Comércio Atacado 0,94 0,37 - - 0,05 9,62 0,00 63,84 0,03 1,90 1,33 37,17 0,06 5,05 2,18 - 122,54 0,02 - 0,17 2,16 2,34 124,88
6. Varejo e Serviços 21,31 8,58 201,63 - - - 0,00 - - - 0,00 - 0,00 - - - 231,52 248,06 26,53 - - 274,59 506,11
7. Beneficiamento - - - - - - - 0,07 - 11,55 21,55 43,87 - - - - 77,04 - - 39,06 - 39,06 116,10

431
8. Ind. Transformação ao - - - - - - 3,44 - - - 30,53 1,10 - - 6,39 - 41,45 - - 5,32 834,77 840,09 881,54
9. Comércio Atacado 0,43 0,35 - 0,00 1,19 24,94 33,04 160,55 3,94 31,25 0,87 11,82 0,00 - - - 268,38 - - 21,02 8,91 29,93 298,32
10. Varejo e Serviços - - 3,73 - - - - - - - - - - - - - 3,73 21,50 - 157,48 - 178,98 182,71
11. Indust. De Benef. - - - - - - - - - 15,57 - - - 165,24 - 26,20 207,01 - - - 1,94 1,94 208,95
12. Ind. Transformação o - - - - - 9,62 7,50 49,94 - - 127,88 9,93 - - 89,81 0,09 294,78 - - - 98,67 98,67 393,44
13. Comércio Atacado - - - - - - 21,54 56,29 - - 15,14 - 6,56 56,34 0,52 0,22 156,61 1,05 - - 7,31 8,36 164,97
14. Varejo e Serviços - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 52,92 52,92 52,92
r.Total de Insumos 23,34 10,12 205,36 0,01 11,59 361,49 93,78 411,64 39,56 476,75 210,23 104,34 20,14 228,51 120,01 27,25 2.344,11 539,37 49,99 223,45 1.008,81 1.821,62 4.165,74
x.Fazendas 235,25 - - 0,28 19,88 16,76 15,65 25,23 42,13 6,36 17,51 50,68 44,58 40,56 17,06 21,22 553,14
y.Camponeses - 124,81 - 0,11 3,73 9,37 12,25 9,95 12,02 2,68 13,83 23,89 19,38 35,23 17,48 4,45 289,18
z. ParáFlorestas - - 109,27 - - 104,46 3,21 59,28 22,39 395,76 56,74 3,80 124,85 89,14 10,41 - 979,31
s.Val. Adicionado6 (x+y) 235,25 124,81 109,27 0,39 23,60 130,59 31,10 94,46 76,54 404,79 88,08 78,37 188,81 164,93 44,95 25,67 1.821,62
s.Salários6a 46,65 24,76 29,90 (0,00) 1,29 32,05 4,18 39,90 2,93 45,99 11,14 11,79 3,79 24,44 9,98 5,41 294,20
l.Lucros 6b 184,69 99,85 75,88 0,36 18,98 86,74 23,02 43,63 62,00 168,61 57,97 49,62 177,51 105,07 28,75 14,49 1.197,16
i.Impostos 3,91 0,19 3,49 0,04 3,34 11,80 3,90 10,94 11,61 190,19 18,98 16,96 7,51 35,42 6,23 5,77 330,27
Renda Bruta (r+s) 258,58 134,92 314,63 0,40 35,19 492,08 124,88 506,11 116,10 881,54 298,32 182,71 208,95 393,44 164,97 52,92 4.165,74
Emprego (em 1.000) 13,23 15,36 4,38 0,00 0,50 6,51 1,03 6,69 0,63 7,99 2,12 1,82 0,93 2,57 1,36 0,59 65,70

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Produção Agrícola Municipal, Produção Extrativa Municipal, Produção Pecuária Municipal. RAIS/MTE CVRD,
diversos setores. Pesquisa primária. Sistema Netz de Contas Sociais Alfa - CSα. * Os municípios listados no capítulo 1. 1. Setores originais da CSα. Com
base nos seus produtos, um a um, são calculados os valores básicos dos fluxos. 2. Inclui todas as formas de serviço. 3. Produção primária e primeiro
beneficiamento. 4. Inclui produção de energia. 5. FBK dos setores alfa intermediada pelos setores da economia local. 6a. Incluindo encargos, menos
Elementos para uma Economia Política da Amazônia

tributos. 6b. incluindo importações, menos tributos. 7. Inclui exportações para o resto do mundo.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

O emprego da economia local de base agrária cresceria para 47 mil ocupações em


relação ao nível de 7 anos antes, com a colaboração do próprio programa que praticamente
dobra, para 4.380, o número de ocupações. Novamente, se deve sublinhar a contribuição da
produção industrial, que, incrementando aproximadamente 3.000 novas ocupações em relação
ao estágio anterior, se mostra mais ágil que o comércio. A tendência favorável aos salários
deveria se manter, pois a massa dos salários multiplica por fator maior (1,34) que o valor
adicionado (1,25) e o emprego (1,2). Do mesmo modo que a proeminência do crescimento dos
impostos (1,3).
Na economia estadual, as variáveis de emprego (multiplica por 1,7), massa de salários
(por 1,3), valor adicionado (por 1,25) e impostos (por 1,33) crescem em proporções semelhantes,
o mesmo ocorrendo com a economia nacional.

12.5.5 Considerações finais

•• Por uma metodologia que utiliza exaustivamente todas as bases de dados


disponíveis e regionalizáveis ao nível de município geramos matrizes de insumo-
produto para três momentos da Microrregião Paragominas em relação ao Programa
ParáFlorestas: um momento inicial, um momento intermediário, com a entrada
em produção do primeiro módulo reciclável de produção de madeira para carvão,
e um momento em que o projeto estabiliza seu objetivo de produção. Os resultados
apresentados indicam, sucintamente, o seguinte:
•• O valor adicionado da economia local em questão poderia multiplicar por um fator
1,6, em treze anos de atuação do programa. Para este e os próximos comentário,
ver Tabela 12.5.5-1.
•• Esse incremento resulta de crescimentos bastante desbalanceados entre as variáveis:
enquanto o emprego multiplicou 1,5, o valor dos salários multiplicaria 2 e os imposto
cresceriam a um fator 1,9. Isso reflete a posibilidade de correções em distorções
bem conhecidas nessa economia. Sobre isso, considere-se adicionalmente:
»» As ocupações indiretas derivadas do empreendimento nos setores urbanos
crescem mais rapidamente na produção industrial de transformação (multiplica
por 3,2 na primeira fase e por 1,8 na segunda), do que no comércio (1,9 na
primeira fase e 1,5 na segunda).
»» O mesmo deve ser observado em relação aos impostos, na medida em que
multiplicam nos setores industriais locais por 1,7 e 1,5; enquanto nos setores
comerciais por e 0,7 e 1,2, respectivamente, nos primeiro e segundo períodos.
»» Dado que os setores industriais teriam relação direta com o projeto (seriam seus
compradores), cria-se uma oportunidade de formalizar uma parcela importante
da economia.

432
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

Tabela 12.5.5-1 Resumo dos impactos do ParáFlorestas nas variáveis fundamentais da economia
de base agrária da Microrregião Paragominas e seus desdobramentos extra-locais
Nível da Economia
Total
Local Estadual Nacional
Ano0
Valor Adicionado 473.250.537 169.098.187 199.966.770 842.315.494
Salários 90.617.233 16.814.508 23.304.965 130.736.706
Lucros 362.961.126 105.424.234 134.096.516 602.481.876
Impostos 19.672.178 46.859.445 42.565.289 109.096.912
VBP Total 720.539.844 373.777.310 408.942.441 1.503.259.595
Emprego 32.557 3.011 2.915 38.483
Ano6
Valor Adicionado 600.400.014 397.431.418 307.617.875 1.305.449.307
Salários 133.302.981 43.020.715 32.795.002 209.118.697
Lucros 438.921.072 216.481.907 226.073.135 881.476.114
Impostos 28.175.962 137.928.795 48.749.739 214.854.496
VBP Total 1.267.326.718 900.930.083 604.221.841 2.772.478.642
Emprego 39.884 7.563 4.120 51.566
Ano13
Valor Adicionado 749.468.757 647.785.231 424.366.572 1.821.620.561
Salários 178.731.456 71.858.447 43.607.678 294.197.580
Lucros 533.134.719 338.196.852 325.824.706 1.197.156.277
Impostos 37.602.584 237.729.933 54.934.188 330.266.705
VBP Total 1.866.791.498 1.478.665.966 820.278.093 4.165.735.557
Emprego 47.694 12.554 5.454 65.702

Fonte: Tabela 12.5-3 a Tabela 12.5-5.

•• A expansão da economia local refletiria na economia estadual (em parte a partir do


novo market share da economia local, em parte por conta de sua demanda ampliada)
de modo amplificado: o valor adiconado multiplicaria por 3,8, o emprego por 4, a
massa de salários por 4,3 e os impostos por 5,1.
•• O reflexo na economia nacional (resultante da ampliação do market share da
economia local e do incremento da demanda da economia local em relação a esse
nível), seria também expressivo: o valor adicionado associado à economia agrária da
Microrregião de Paragominas multiplicaria por 2,1 a massa de salários, e do emprego,
1,9, e a massa de lucros 2,5, e os impostos 1,3 vezes.
•• Para cada unidade de emprego no ParáFlorestas seriam geradas 3,46 ocupações na
economia local, 2,18 na estadual e 0,58 na nacional: no total, 6,21.
•• Para cada unidade de valor adicinado gerado no ParáFlorestas implicaria R$ 2,53 na
economia local, R$ 4,38 na Estadual e R$ 2,05, na nacional: num total de R$ 8,96.
•• Um último ponto, que deveria ser tratado adequadamente: todos esses indicadores
de impacto melhorariam significativamente se o projeto tivesse um componente
orientado à produção de matéria-prima para a cadeia de madeira e móveis.

433
EPÍLOGO

Por uma economia política para o planejamento do desen-


volvimento sustentável da Amazônia

De 1990 a 2006, o Setor Rural na Amazônia cresceu ciclicamente a taxas médias que,
para todas suas macrovariáveis, situavam-se próximas de 5% a.a.. Nesse ritmo, conforme vimos
no capítulo 2, o Valor Bruto da Produção Rural (VBPR) passou de R$ 5,5 para R$ 9,0 bilhões
de reais, a preços constantes do último ano do período, gerando Valor Adicionado (VA) total
de R$ 16,5 bilhões de reais. Tal dinâmica exigiu terras a um ritmo anual de 2,5% a.a. – esta a
velocidade da transformação do bioma, de sua erradicação para a produção de um estoque de
terras (desmatadas pelo menos uma vez) que cresceu de 31,2 para 42,7 milhões de hectares.
Associado a isso, o estoque de áreas degradadas (capoeira sucata) cresceu, como visto no capítulo
3, a 1,5% a.a., de 2,4 para 3,0 milhões de hectares, e o estoque líquido (emissão menos sequestro)
de CO2 emanado das atividades rurais cresceu ao ritmo de 2,1% a.a., de 5,0 mil Gt, nos três
primeiros, para 7,1 mil Gt nos três últimos anos da série.
No mesmo período verificou-se, como demonstrado no capítulo 1, uma importante
reconfiguração das condições de financiamento do desenvolvimento representada pela redução
da importância e posterior eliminação do Fundo de Financiamento da Amazônica (FINAM), a
institucionalidade comandada pela SUDAM, e a inauguração e consolidação paralela do Fundo
Constitucional de Desenvolvimento do Norte (FNO), como principal fonte de financiamento do
setor rural, e de toda uma nova institucionalidade que, ancorada nesse novo funding, e em torno
do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), se estabelece na Região.
Esses números, e os indicadores correlatos, são lidos e apropriados tecnocraticamente por
amplo espectro de intelectuais, políticos e agentes produtivos, no Brasil e no exterior. A postura
tecnocrática se caracteriza por produzir julgamento da sociedade de um ponto de vista que lhe é
exterior, por critérios que abrigam anseios técnicos, do que seria bom ou mau, melhor ou pior,
com o intuito de sobre ela atuar imputando, mesmo sem a relativização do diálogo – mediação da
compreensão e anuência dos atingidos –, o resultado do julgamento. Tal perspectiva tem levado
a enunciados binários e excludentes sobre a Amazônia e sua relação com o mundo: ou bem as
sociedades amazônicas e as do mundo são igualadas porque agregados de agentes portadores de
razões substantivas e rigorosamente equivalentes, ou são realidades antagônicas porque numas
prevalecem agentes racionais em contraponto inconciliável com os sujeitos irracionais que
compõem as outras.
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Para essa visão tecnocrática, que a um só tempo homogeneíza e cinde o mundo, os


números que relatam a dinâmica rural na Amazônia são medidas ou da força de processos
a serem necessariamente contidos, posto que resultados de irracionalidades; ou do poder de
processos a serem liberados em toda sua potência, posto que grafados pela racionalidade
inerente e única dos sujeitos e, por isso, igualmente submetidos ao julgamento dos mecanismos
infalíveis dos mercados – juizes últimos da equanimidade formal que promete a modernidade.
Quanto à igualdade substantiva, a equidade real nas disponibilidade e acessos a recursos,
espera-se e se tem por certo, como derivação, um (sub)produto nobre, do laise faire. À política
– às instituições – reserva-se o papel de contraforça de anulação do irracional, pela educação
ou pela repressão; no segundo caso, para o funcionamento eficiente dos mercados, o duplo
papel de garantir os direitos de propriedade individual e os mecanismos de livre curso das
mercadorias, deles objetos.
Vernon Smith critica esta visão, que inclui entre as posturas teóricas “construtivistas”
porque “... involves the deliberate use of reason to analyze and prescribe actions judged to be
better then alternative feasible actions that might be chosen” (Smith, 2008:2). As implicações
dessa perspectiva “construtivista” na deturpação, até anulação, da presença e sentido de sujeitos,
razões e estruturas nas sociedades capitalistas têm sido objeto de extensa discussão heterodoxa
na economia.
Demonstramos (Costa, 2012a), ser este o caso em relação à diversidade verificada no
universo rural por todo o mundo, moderno e tradicional, em particular do papel dos camponeses
no constituição do setor rural em contexto capitalista, seja nas sociedades baseadas em
desenvolvimento intensivo, seja em sociedades de desenvolvimento extensivo. Como resultado
do mesmo programa de pesquisa, neste livro seguimos um curso de pensamento crítico às
perspectivas “construtivistas”, tanto as resultantes do individualismo metodológico, quanto as
que se tornaram reféns do estruturalismo. E procuramos operar, teórica e metodologicamente,
supondo a validação de uma “racionalidade ecológica”, a qual, “...refers to emergent order in
the form of the practices, norms and evolving institucional rules governing action by individual
that are part of our cultural and biological heritage and are created by human interactions, but
not by concious human design” (Smith, 2008:2).
A providência inicial para tal propósito foi a de analisar a dinâmica que emerge dos
processos anteriormente enunciados em seus indicadores sintéticos, tendo a referência de
grandes conjuntos de estruturas em movimento, delimitadas nos capítulos 5 e 6 como trajetórias
tecnológicas, parte delas comandada por racionalidade camponesa, parte por lógica patronal.
A noção de trajetória tecnológica tem posição central na análise aqui conduzida porque,
de um lado é capaz de abrigar as convergências que ocorrem em meio à enorme diversidade de
sistemas de produção associados aos estabelecimentos rurais. Como observamos no capítulo
3, os sistemas de produção constituem as bases (relações) técnicas das unidades produtivas,
que, em fusão com os fundamentos (relações) sociais familiares ou assalariados, conformam,
respectivamente, as formas de produção camponesas ou patronais.
436
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

De outro lado, a noção de trajetórias tecnológicas permite um movimento ascendente no


curso da argumentação, por uma parte, de escalonamento em níveis de abstração, ensejando o
movimento que aqui se logrou entre as análises mais descritivas e concretas do capítulo 3 e da seção
6.7 e os esforços de sínteses no capítulo 7; de outra parte, de transposição de escalas, das trajetórias
para a observação das estruturações mais amplas que conformam economias locais e regionais,
como os sistemas agrários (definidas no capítulo 9 como as interações cooperativas, competitivas
e conflitivas entre trajetórias em uma delimitação territorial dada), os arranjos produtivos
locais (tratados no capítulo 11 como estruturações que desempenham o papel de configurações
urbano-rurais resultantes da interação sistêmica entre trajetórias rurais e trajetórias industriais
e de serviços, de origem local ou extralocal) e de economias locais (no capítulo 12, entendidas
como articulações entre os arranjos produtivos locais e suas transcendências aglomerativas, tais
como os sistemas locais de conhecimento e inovação) e, mesmo, de economias regionais (a
articulação entre economias locais e suas trancendências aglomerativas, como sistemas regionais
de conhecimento e inovações).
Observando o conjunto das trajetórias, seus atributos, pesos e ritmos, evidenciam-se
questões que devem ser expostas à reflexão estratégica sobre o desenvolvimento. Primeiro, se
há trajetórias pautadas em desmatamento, eis que sua capacidade de concorrência o requer em
nível avultado – outras há que não desmatam, ou que desmatam pouco, ou, ainda, reconstroem a
mata e daí retiram sua eficiência. Acompanhando esses atributos, elas se caracterizam por emitir,
mais ou menos, ou não emitir, CO2. Segundo, combinado com essas características e, ainda,
relacionado com a longevidade e estabilidade espacial das trajetórias, nos deparamos com o
atributo diversidade da produção. Isso não deve passar desapercebido à análise, pois não se trata
de fenômeno trivial ou neutro em relação ao desenvolvimento: considerando que problemas à
reprodução da vida emergem correlatamente com a homogeneidade dos sistemas que reproduzem
os ciclos vitais da terra e do homem, a entropia física derivada dos sistemas sociais cresce com
a redução da biodiversidade – além de ser também tributária dos desequilíbrios nos balanços
de gases deletérios. Por fim, não deverão ser legítimos em longo curso, nem o que se fizer para
acomodar os processos em níveis adequados de balanço dos fluxos físicos, nem o que se lograr,
articulado com esses, para garantir a resiliência do grande sistema biológico da terra, se com
isso, se produz, se mantém ou se amplia o sofrimento humano. De modo que uma visão de futuro
orientada por critérios de sustentabilidade – pelo ideário que aspira eficiência reprodutiva social
combinada com a ambiental – não pode ser contida pela estreita fresta entre desmatamento e
preservação: deve incorporar manejo, construção e reconstrução. Estas últimas tratam, ao mesmo
tempo, de entropia e seu contrário, a negentropia possível – no que se inclui substituição de
sistemas naturais presumidos inferiores (desertos, mananciais líquidos estéreis, por exemplo),
por sistemas artificiais que se supõe superiores (recobertura biológica, repovoamento animal, por
exemplo). Em tudo, a busca de bases para a elevação das capacidades e da dignidade humanas.
Isto posto, observando o conjunto das trajetórias, seus atributos, pesos e ritmos, fica
evidente que um desenvolvimento com maior esperança de sustentabilidade – por ser socialmente
437
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

inclusivo e promotor de capacidades, economicamente consistente e ecologicamente resiliente,


– poderia emergir de uma agenda relativamente clara: fortalecer as trajetórias camponesas,
elevando em todas a produtividade do trabalho; atuar sobre a Patronal. T4, induzindo-a a elevar
a produtividade da terra com novas tecnologias de pasto ou por desenvolvimento e incentivo a
sistemas agroflorestais-pecuários mistos, ou orientando-a na direção da T6 ou da T5 – estas, em
si, objeto de fortalecimento.
Não obstante clara, quase de aceitação imediata, por óbvia, a estratégia indicada defronta-
se com desafios de grande envergadura. Constitui obstáculo a superar na sua implementação o
fato de que as trajetórias a serem contidas ou reorientadas, apesar de perderem posição relativa,
mantêm capacidade econômica para se expandir e demonstram poder de configuração fundiária,
em um mercado de terras de grandes dimensões. Na outra direção, constitui barreira a transpor o
sentido mais grave da baixa rentabilidade das trajetórias camponesas: a pobreza e as dificuldades
produtivas e reprodutivas inerentes, discutidas no Caítulo 10. Igualmente, trata-se de desafio de
um ambiente institucional enviesado, cuja cultura organizacional e política vem favorecendo as
trajetórias a conter, no seu modo tradicional. Ao mesmo tempo, não consegue garantir às trajetórias
a fortalecer os pressupostos de conhecimento e de capital – físico e natural – necessários à sua
capacidade de permanência por ganhos sistemáticos de eficiência, como demonstrado nas seções
1.3 e 7.3.
Diante das avultadas dificuldades, a perspectiva tecnocrática, do lado ambiental – em
que se destaca um ambientalismo tecnocrático –, construiu propostas de mitigação das emissões
poluentes com base em remuneração a agentes por um custo de oportunidade politicamente criado,
do desmatamento – a não produção remunerada constituiria alternativa à produção, posto que
esta seria diretamente correlacionada com o desmatamento; do lado social, mobiliza meios para
garantir mitigação da pobreza por transferência direta de renda. Na sua melhor retórica, combina
remuneração para não produção com redução da pobreza.
Os argumentos aqui expostos convidam a duvidar da eficácia de tal orientação. Por dois
ângulos: o que se mantém nos termos da proposta e observa as condições dos agentes e o que trata a
questão na perspectiva das relações ação-estrutura e agente-agência, questão matizada no Capítulo
5, privilegiando as estruturações resultantes na constiuição de territórios.
Na primeira perspectiva, há que se considerar que, associados às especificidades das
trajetórias sobre as quais exercem gestão, são bem diferentes, na Amazônia, os agentes pressupostos.
Há aqueles que, no contexto da T2 gerem processos produtivos que usam reiteradamente a “floresta
em pé” e aqueles cujas formas de produzir, no contexto de todas as demais trajetórias, supõem
sistematicamente a disponibilidade de “terra nua”. Para os primeiros, as florestas são meios de
produção com atributos de “capital natural” que, na perspectiva da Nova Economia Institucional
(NEI), constituem ativos específicos, os quais esses agentes dominam, mais pelo conhecimento
que deles têm no contexto mais amplo dos ecossistemas específicos da região, que por controle
fundiário. Para os segundos as florestas só existem como “terras com mata”, sobre as quais exercem
primeiro um domínio fundiário sobre o que consideram suas propriedades. A “terra”, para estes
438
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

últimos, é meio de produção objetivamente percebido como “capital físico”, ativo genérico (NEI)
depreciável e substituível. O uso da “mata”, a qual só conhecem como matéria-prima para a produção
de madeira, é tão somente fase intermediária para chegar à “terra”. Entre essas, há perspectivas e
condições intermediárias que fazem o complexo matiz do agrário na região.
As propostas de remuneração por não desmatamento têm, nesse quadro, significados
correspondentemente diferenciados. Para os gestores da T2, que operam a “floresta em pé”, o custo
de oportunidade do desmatamento (a renda da preservação) não tem lógica: a renda do trabalho já
depende da preservação. Nesse universo, desmatar sem obediência aos critérios técnicos dos sistemas
adaptativamente construídos ao longo de gerações envolve riscos desmesurados, significando,
no limite, a perda do meio de vida. As políticas mencionadas levam, aqui, a uma remuneração
compensatória que não induz a nenhuma inovação – confirmam modos já existentes de produzir na
expectativa de fortalecê-los. Não há, contudo, garantias de que isso venha a acontecer, dado que tais
remunerações podem induzir, antes, a um assistencialismo que transforma produtores em rentistas.
E, assim transmutados, esses agentes, em sua nova dependência, virão a se fragilizar precisamente
no papel de guardiões da floresta, da qual objetivamente se afastarão e simbolicamente se alienarão.
O capítulo 10 revela a capacidade produtiva desses agentes e o momento ascendente que a trajetória
que protagonizam vivencia. Por outro lado, quando se trata dos detentores de “terras com mata”,
carentes de “terra nua” em modalidades legais e ilegais de acesso, os esquemas de compensação
centrados nos agentes e focados na renúncia à produção têm implicações submetidas a escrutínio no
subcapítulo 12.5.4. Mesmo na melhor situação que se pode antever, na qual uma política com esse
escopo pudesse alcançar todos os agentes relevantes e fazê-los cumprir os contratos, os efeitos no
Sudeste Paraense, se tal política lograsse sucesso reduzindo as emissões à metade em cinco anos,
seriam econômica e socialmente indefensáveis. A política seria um sucesso ecológico, ao mesmo
tempo que um rotundo fracasso econômico. Avançando na averiguação, nota-se que, mesmo para
essa que seria a hipótese otimista, a evolução da realidade pode criar contrariedades já por tensões
geradas na própria região. Com efeito, bastaria incorporar na simulação os investimentos da Vale até
2010, seus empreendimentos reais projetados, a dinâmica derivada, ampliando a massa de salários,
de lucros e impostos, e criando concatenações internas por expansão da demanda intermediária,
terminaria por anular os efeitos da política de contenção e expandir o balanço líquido de CO2. Mais
ainda: a situação otimista imaginada sofre contestação das tensões exógenas que se materializam
na região na forma de poder de compra, demandando “terras” que só existem como suporte de
“florestas”. A “produção” de “terras” para corresponder a isso constitui o principal processo por
trás dos desmatamentos, é autônoma, e, por se basear em métodos que se situam à margem da
institucionalidade formal, está fora do alcance de qualquer esquema de “contenção” orientado
à compensação de agentes privados. Funcionando o mercado de terras, serão inexoravelmente
fornecidos os elementos para repor as atividades no nível anterior ao esforço de contenção e, o mais
grave, nas mesmas bases tecnológicas. Nesse caso, não só os efeitos positivos da política seriam
anulados, como cresceriam as emissões líquidas de CO2. Tal fracasso ecológico seria, entretanto,
acompanhado do sucesso econômico, arregimentando vontades e adesões.
439
Elementos para uma Economia Política da Amazônia Francisco de Assis Costa

Na perspectiva que privilegia as estruturações sistêmicas, analisamos no capítulo


11 processos endógenos, como o do APL de polpa de frutas do Nordeste Paraense, que, ao
consolidar relações entre a indústria e o rural com a mediação da produção principalmente da
T2, mas também da T1 e da T5, requalificam o ambiente, reconfigurando toda relação urbano-
rural e, com isso, alterando o curso das trajetórias e sistemas agrários em que elas se relaciona
com trajetórias concorrentes. No capítulo 12, demonstramos no subcapítulo 12.4 que, no
Sudeste Paraense, uma estratégia que injetasse recursos, ao invés de orientados à remuneração
compensatória aos agentes, os destinasse para a produção difusa de conhecimento e para a
implementação de mecanismos que viabilizassem a passagem das formas mais, para as menos
deletérias encontradas concretamente na Região, criaria uma situação de sucesso econômico
e ecológico: o balanço de CO2 se reduziria ao mesmo tempo que as variáveis econômicas
cresceriam. No subcapitulo 12.5, apresentamos possibilidades de reorientação de trajetórias com
ampla reconfiguração territorial do desenvolvimento em bases sustentáveis.
De modo que, poderemos defender seis teses de interesse prático, ao mesmo tempo, uma
pauta techné para a pesquisa e uma agenda para o planejamento do desenvolvimento sustentável:
1) As políticas de contenção de desmatamento deverão ser indissociáveis de políticas
de produção e desenvolvimento. Ao invés de pautada exclusivamente em agentes, deve visar
aos territórios e suas estruturações. O corolário é o de que não são “arranjos (institucionais)
improdutivos”, mas sim “arranjos produtivos locais sustentáveis” que fundamentarão o
desenvolvimento limpo da Amazônia.
2) Políticas de produção devem ser indissociáveis do tratamento das vulnerabilidades e
condições reprodutivas que geram pobreza. No capítulo 10, demonstramos a performance positiva
da T2 no processo de transferência de estabelecimentos camponeses do grupo em situação sob risco
reprodutivo, que abriga dominantemente os domicílios em condição de pobreza, para situações
reprodutivas acima da média, em que se encontram os domicílios provavelmente não pobres.
Por seu turno, os problemas da T1 e T3 são de ordem técnica e institucional: suas perspectivas
de especialização reduzem as capacidades respectivas de gerir adequadamente os fundamentos
naturais da produção e, especializados, os estabelecimentos tornam-se mais vulneráveis às
flutuações de mercado, experimentando crises, tanto mais recorrentes e profundas, quanto maior
o grau de especialização. Questões que resguardam dificuldades, mas não impossibilidade de
superação, uma vez que os estabelecimentos, mesmo aqueles sob risco, os que correspondem a
domicílios mais próximos à condição de pobreza, estão dispostos a mudar, tanto mais, quanto
mais se encontrem em condição sob risco reprodutivo.
3) Políticas de produção para um desenvolvimento rural sustentável na Amazônia
dependem do nível de desenvolvimento de economias locais e produzem seu avanço. Elas
pressupõem, pois, tratamento estratégico nesse nível. O capítulo 12 discute um desses
aglomerados, o Sudeste Paraense, destacando os passos da complexificação dessa economia
(12.2), o sinergismo criado entre dinâmica rural, em todas as suas trajetórias, e o extrativismo
mineral (12.3 e 12.4).
440
Francisco de Assis Costa Elementos para uma Economia Política da Amazônia

4) A economia local, como sistema, com seus constitutivos, os APLs como constiuídos
e constituintes de trajetórias (como esclarecido no Capítulo 8), é o ponto de partida para conduzir
uma economia com base em bioma, baseada em novos produtos e serviços ambientais (de
gases prejudiciais ou da biodiversidade), conhecidos ou a descobrir, em que se incluem formas
de compensações por mercados ou por transações institucionais de governos ou de atores da
sociedade civil. Sobre isso versam, por reflexões entremeadas, os capítulos 11 e 12.
5) Permeia todo o capítulo 11 a ideia de que a eficiência, de qualquer dessas iniciativas
para o desenvolvimento, requer ações decisivas em relação a três prioridades de conhecimento:
conhecimento sobre o bioma e acesso direto a seus produtos e serviços; conhecimento para
transformação e regeneração de baixo impacto de cobertura secundária; conhecimento para a
transformação dos produtos do bioma e dos sistemas rurais de baixo impacto em mercadorias de
alto valor.
6) Por fim, as mediações institucionais (a propriedade fundiária e as formas de acesso
a recursos de capital e conhecimento) têm efeito sistêmico a serem adequadamente observados
se o propósito é a reorientação do desenvolvimento no rumo da equidade social e do equilíbrio
ecológico. A par da insistência na adequação dos aparatos produtores de conhecimento às
necessidades de fortalecimento das trajetórias virtuosas (na perspectiva do desenvolvimento
sustentável) e reorientação ou contençao das trajetórias criticáveis, a adequação do crédito a essa
estratégia e a contenção do mercado de terras, tal como observado nos capítulos 7 e 12, tornam-
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Sempre uma boa impressão

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Impresso nas oficinas da GTR Gráfica e Editora,
em papel AP 75 no miolo e Duo Design 250 na capa.
IMAGEM DE FUNDO - FRACTAIS
O termo fractal foi criado por Benoît Mandelbrot,
matemático francês nascido na Polónia, que descobriu a
geometria fractal, a partir do adjetivo latino fractus, do
verbo frangere, que significa quebrar. Ele usou o termo
para descrever um objeto geométrico que nunca perde
a sua estrutura qualquer que seja a distância de visão.
São produzidos por meio de equações matemáticas que
podem ser interpretadas por formas e cores a partir de
aplicativos usados em ambientes virtuais. Sua principal
característica é a autossimilaridade. Eles contêm,
dentro de si, cópias menores deles mesmos. Essas
cópias, por sua vez, contêm cópias ainda menores e
assim sucessivamente.

IMAGENS DA CAPA
• Frutas da região amazônica
• Imagem ilustrativa de sistema agrícola amazônico
• Habitação de ribeirinhos
• Regatão (barcos típicos do comércio ribeirinho)
ELEMENTOS PARA UMA

Reinaldo Brito
ELEMENTOS PARA UMA ECONOMIA POLÍTICA DA AMAZÔNIA
ECONOMIA POLÍTICA
DA AMAZÔNIA
Historicidade, territorialidade, diversidade, Francisco de Assis Costa nasceu em 1948, em Pedro
Avelino, no Rio Grande do Norte, em cuja Universidade
sustentabilidade Federal graduou-se em Ciências Econômicas em
1971. Após especialização em Matemática (CECINE-
UFPE) e Planejamento (NAEA-UFPA), trabalhou
no Sistema Nacional de Planejamento Agrícola,
sendo coordenador técnico da Comissão Estadual de
Planejamento Agrícola do Pará (1978-1982). Orientado
pela Professora Maria Yedda Linhares obteve título de
Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
pelo Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Agrícola (CPDA) da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro em 1981. Doutorou-se em Economia
pela Freie Universität Berlin em 1988, na Alemanha
Federal. Iniciou carreira docente em 1989 na
Universidade Federal do Pará (UFPA), no Núcleo de
IMAGEM DE FUNDO - FRACTAIS Altos Estudos Amazônicos (NAEA) e no Departamento
O termo fractal foi criado por Benoît Mandelbrot, de História. Foi diretor de planejamento da Agência de
matemático francês nascido na Polónia, que descobriu a Desenvolvimento da Amazônia (2003-2005) e Diretor
geometria fractal, a partir do adjetivo latino fractus, do de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais
verbo frangere, que significa quebrar. Ele usou o termo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA
para descrever um objeto geométrico que nunca perde (2011-2012). É Professor Associado no Programa
a sua estrutura qualquer que seja a distância de visão. de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
São produzidos por meio de equações matemáticas que do Trópico Úmido do NAEA e do Programa de Pós-
podem ser interpretadas por formas e cores a partir de Gradução em Economia da Faculdade de Economia da
aplicativos usados em ambientes virtuais. Sua principal UFPA. É pesquisador ativo da Rede de Pesquisa em
característica é a autossimilaridade. Eles contêm, Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais
dentro de si, cópias menores deles mesmos. Essas (RedeSist, UFRJ) e da Rede Temática de Pesquisa
cópias, por sua vez, contêm cópias ainda menores e em Modelagem Ambiental da Amazônia (Projeto
assim sucessivamente. GEOMA). Bolsista de produtividade em pesquisa
do CNPq, foi Visiting Fellow no Centre for Brazilian
SÉRIE II
FUNDAMENTOS Studies (CBS) da Oxford University, Inglaterra (Hilary
TEÓRICO-
METODOLÓGICOS
e Trinity Terms, 2007). Orientou inúmeras teses e
detém vasta publicação acadêmica. Sua experiência
IMAGENS DA CAPA de pesquisa tem ênfase em economia agrária, história
• Frutas da região amazônica
• Imagem ilustrativa de sistema agrícola amazônico
• Habitação de ribeirinhos
2 SÉRIE II
econômica, desenvolvimento regional e relações entre
economia e sustentabilidade ambiental, destacando
o papel das inovações tecnológicas e institucionais,
• Regatão (barcos típicos do comércio ribeirinho) FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS sobretudo na Amazônia.
Livro 2
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