Você está na página 1de 4

LUIZA NETO JORGE

A magnólia BIOGRAFIA
A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
5 o meu resplendor.

Um diminuto berço me recolhe


Luiza Neto Jorge nasceu em Lisboa
onde a palavra se elide
em 1939 e morreu na mesma cidade em
na matéria — na metáfora —
1989.
necessária, e leve, a cada um
Enquanto estudou na Faculdade de
10 onde se ecoa e resvala.
Letras de Lisboa, fundou o grupo do
Grupo de Teatro de Letras. Fez parte do
A magnólia,
grupo de poetas que se reuniu em torno
o som que se desenvolve nela
do movimento Poesia 61, no âmbito do
quando pronunciada,
qual publicou algumas obras. Foi ainda
é um exaltado aroma
tradutora de obras de poesia, de ficção e
15 perdido na tempestade,
de teatro. Apesar de escassa, a sua obra é
de obrigatória referência.
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.

LUIZA NETO JORGE, Poesia, 1960-1989, organização e prefácio de


Fernando Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim, 2.a edição, 2001.

1. Explique o efeito que a magnólia tem sobre o sujeito poético, segundo as duas primeiras estrofes.
(Cite expressões que atestem as suas palavras.)

2. Interprete os três primeiros versos da segunda estrofe.

3. Identifique a característica da flor que é analisada na estrofe três.


3.1 Interprete o facto de o eu se deter nessa característica da flor.
3.2 Identifique um recurso estilístico presente nesta estrofe e comente o seu valor expressivo.

4. Comente a relação que, no poema, existe entre a delicadeza da flor e a força que emana. (Comece
por dar atenção à última estrofe.)

5. Indique o que pode a magnólia representar e fundamente a sua resposta.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana


Poema quase epitáfio
Violentamente só
desfeito em louco
— nem um gato lunar
te arranha um pouco

5 Morreram-te na família
irmãos mais velhos
Restam retratos de vidro
e espelhos

Entre as fêmeas bendita


10 não te quis
As outras mataste
(nem há sangue que te baste)

O chão do teu país


deu-te água e uma raiz
15 muitas pedras mas prisões

— Senhor demónio dos sós


Quando ele morrer
onde o pões?

LUIZA NETO JORGE, Poesia, 1960-1989, organização e prefácio de


Fernando Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim, 2.a edição, 2001.

1. Caracterize o estado de espírito da personagem de quem se fala e transcreva expressões que atestem
a sua resposta.
1.1 Identifique causas e motivos que expliquem esse estado de alma.

2. Interprete a simbologia dos retratos e dos espelhos na primeira estrofe.

3. Na estrofe três, o poema parece referir opções pessoais que se tomam na vida.
3.1 Interprete os três primeiros versos desta estrofe.

4. Na estrofe quatro há uma caracterização da realidade social em que o sujeito poético vive.
4.1 Interprete o que é dito sobre o seu «país» nesta estrofe.
4.2 Indique um recurso estilístico presente nesta estrofe e comente o seu valor expressivo.

5. Interprete a estrofe final do poema.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana


O poema ensina a cair
O poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
5 queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede

até à queda vinda


da lenta volúpia de cair,
10 quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.

LUIZA NETO JORGE, Poesia, 1960-1989, organização e prefácio de


Fernando Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim, 2.a edição, 2001.

1. Interprete os dois primeiros versos do poema, tendo em conta a globalidade da composição.


1.1 Explicite o sentido da oração «como se perde os sentidos numa / queda de amor» (vv. 4 e 5).

2. Identifique o recurso estilístico presente no verso 7 e comente a sua expressividade.

3. Interprete os dois versos iniciais da segunda estrofe

4. Explicite a referência feita nos dois versos finais do texto.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana


Anos quarenta, os meus
De elétrico andava a correr meio mundo
subia a colina ao castelo-fantasma
onde um pavão alto me aflorava muito
em sonhos, à noite. E sofria de asma

5 alma e ar reféns dentro do pulmão


(como o chimpanzé que à boca da jaula
respirava ainda pela estendida mão).
Salazar, três vezes, no eco da aula.

As verdiças tranças prontas a espigar


10 escondiam na auréola os mais duros ganchos.
E o meu coito quando jogava a apanhar
era nesse tronco do jardim dos anjos

que hoje inda esbraceja, numa árvore passiva.


Níqueis e organdis, espelhos e torpedos
15 acabou a guerra meu pai grita «Viva».
Deflagram no rio golfinhos brinquedos.

Já bate no cais das colunas uma


onda ultramarina onde singra um barco
pra Cacilhas e, no céu que ressuma
20 névoas, águas mil, um fictício arco-

-íris como que é, no seu cor-a-cor,


uma dor que ao pé doutra se indefine.
No cinema lis luz o projetor
e o FIM através do tempo retine.

LUIZA NETO JORGE, Poesia, 1960-1989, organização e prefácio de


Fernando Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim, 2.a edição, 2001.

1. O eu poético fala da sua infância na década de 40 do século XX, em Lisboa.


1.1 Identifique elementos dessa realidade referidos no poema.

2. Há recordações do sujeito poético que são saudosas e nostálgicas.


2.1 Indique três destas recordações e transcreva expressões que a elas se refiram.

3. No entanto, há referências negativas ou desagradáveis a esses tempos passados.


3.1 Aponte aspetos negativos da vida pessoal do eu poético.

4. Interprete uma crítica à realidade social e política em que o sujeito poético vivia.

5. Identifique aspetos da realidade social que sugerem a ideia de artificialidade.


5.1 Interprete o facto de haver referências a essa artificialidade.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana

Você também pode gostar