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PRÁTICAS DE ENSINO

CENTRADAS NO ESTUDANTE:
Pré-requisito para inclusão

Profª Drª Cristina Angélica Mascaro


O sistema educacional e a
sociedade
“A educadora [Mantoan] reforça que “ninguém pode tirar o direito à
educação do aluno”. E lamenta que na leitura feita dos documentos de
inclusão, muitas vezes a interpretação dada para o termo “adaptações
razoáveis” seja entendida como adaptações curriculares. “O documento
fala em adaptações no meio físico, na comunicação, na forma de realizar
as provas, por exemplo. Se um aluno tem deficiência física ou auditiva,
ele pode precisar de um recurso, como uma carteira adaptada ou uma
avaliação em braile. Mas não deve ser confundida com adaptação
curricular”, diz. Segundo ela, os docentes não precisam imaginar
atividades completamente diferentes para o aluno com deficiência, nem
tentar simplificar a realização para evitar problemas. “Nós não temos a
capacidade de fazer ninguém aprender. Temos que dar liberdade para
que o aluno possa aprender e considerar o que ele consegue e o que não
tem interesse em aprender. O bom professor considera o ensino igual
para todos, mas o aprendizado completamente díspar”.” (REVISTA NOVA
ESCOLA, 2018, p.02)

Reportagem “Desafios na inclusão dos alunos com deficiência na escola


pública”. Revista Nova Escola. 29 de março de 2018.
https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1972/desafios-na-inclusao-dos-alunos-
com-deficiencia-na-escola-publica
Lei Brasileira de Inclusão/Estatuto da Pessoa
com Deficiência
Lei nº 13.146/2015

Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar,


desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e
avaliar:

V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em


ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e
social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso,
a permanência, a participação e a aprendizagem em
instituições de ensino; (BRASIL, 2015).
A Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL,
2008) orienta aos estados e municípios a
transformação de seus sistemas
educacionais de modo que se tornem mais
inclusivos.
Necessidades
Educação
Inclusão Especial
Educacionais
Especiais
Educação Especial

Organização Orientação
Didática
escolar Educacional
INCLUSÃO
Didática: Teorias da Aprendizagem, modelos
didático, diferenciação curricular

Organização: Recursos humanos e materiais

Orientação: Ensino diferenciado, avaliação


diferenciada, Estratégias de intervenção pedagógica
individuais e coletivas
Inclusão escolar
requer
acessibilidade
pedagógica!
Acessibilidade
Adaptação
PRECISAMOS NO
CONTEXTO DA ESCOLA
CONTEMPORÂNEA:

-REVISAR PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS
- ARTICULAR
DOCENTES DO ENSINO
COMUM E DA
EDUCAÇÃO ESPECIAL
Desenho Universal na
Aprendizagem
■ Desenho Universal  Concepção de espaços, artefatos
e produtos que visam atender simultaneamente todas
as pessoas, com diferentes características e
antropométricas e sensoriais, de forma autônoma,
segura e confortável, constituindo-se nos elementos ou
soluções que compõe a acessibilidade (BRASIL, 2004).
■ Desenho Universal na Aprendizagem (DUA)  significa o
planejamento de materiais e atividades instrucionais
que tornam as metas de aprendizagem possíveis para
todas as pessoas.
Para pensar:
 Segundo Ron Mace, líder do movimento do Desenho
Universal, repensar como prédios eram configurados
beneficiava a todos os usuários.

 O rebaixamento do meio-fio para usuários de cadeiras


de rodas favorece o trânsito de carrinhos de bebês, ou
alguém que carregue malas pesadas.

 O conceito de Desenho Universal traduz a noção de


“criado com todas as pessoas em mente”!
Como alcançar a prática no princípio do DUA

■ Elaboração de materiais e
atividades curriculares
flexíveis que
proporcionarão
alternativas para alunos
com diferentes
capacidades.
■ Não é mais trabalho e sim
uma forma diferente de
pensar sobre como
planejamos e ensinamos.
O Plano Educacional Individualizado:
estratégia pedagógica para favorecer o processo
de inclusão
Plano de ensino? Como
aprendemos?

Obtemos uma informação e damos algum significado para ela, depois criamos
novas ideias a partir deste significado e as colocamos em prática. Durante este
processo são utilizadas diversas áreas diferentes do córtex cerebral, cada uma
apresentando uma finalidade única.

O aprendizado é uma conexão física que acontece no cérebro, assim como o


significado. Por isso precisamos de exemplos, de associações com o que já temos
conhecimento. Quando a nova informação faz referência a objetos ou eventos já
conhecidos, o cérebro reforça essas sinapses e dá um significado.
Plasticidade Cerebral
O cérebro se modifica em contato com o meio
durante toda a vida

A interferência do ambiente no sistema nervoso causa mudanças anatômicas e funcionais


no cérebro. A quantidade de neurônios e as conexões entre eles (sinapses) mudam
dependendo das experiências pelas quais se passa. Acreditava-se que as sinapses
formadas na infância permaneciam imutáveis pelo resto da vida, mas há indícios de que
não é assim. Em 1980, um estudo pioneiro do neurocientista norte-americano Michael
Merzenich, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, demonstrou que o cérebro
de macacos adultos se modificava depois da amputação de um dos dedos da mão. A
perda do membro provocava atrofia dos neurônios da região responsável pelo controle
motor do dedo amputado. Porém ele observou também que essa área acabava sendo
ocupada pelos neurônios responsáveis pelo movimento do dedo ao lado.
No ponto de vista da neurociência, a aprendizagem é o fortalecimento
e enfraquecimento das conexões neurais em resposta ao meio. Essa
capacidade do sistema nervoso de se transformar diante de estímulos
é chamada de neuroplasticidade. “É como uma argila, que nós
conseguimos moldar. É essa capacidade que permite, por exemplo, a
recuperação motora e os processos de aprendizagem. O cérebro
também tem essa capacidade de alteração na conectividade entre os
neurônios.”
O que é um PEI?

O PEI é uma alternativa que individualiza e


personaliza processos de ensino para um
determinado sujeito.

É um plano de ensino que precisa ter metas


definidas do que se ensinar, ter os recursos
necessários e ser constantemente avaliado
para que os objetivos sejam atingidos.
As necessidades individuais do aluno
são a base para a elaboração de um PEI,
que é um esboço sobre como elas podem
ser atendidas, envolve a priorização das
tarefas e os modos de avaliação.
PEI
É um planejamento deve ser realizado em colaboração
com diferentes atores da escola: professores do ensino
comum, professores especialistas, profissionais de apoio
da escola, familiares e o próprio aluno (quando for
possível) (MASCARO, 2017).
O PEI pode ser utilizado para
ensinar qualquer habilidade ou
conteúdo para os estudantes.
Pode acontecer no âmbito do
ensino especializado, da escola
comum ou no atendimento
educacional especializado.
Independente do local de
aplicação do PEI, a especificação
da responsabilidade de cada
profissional é que delimitará o
papel de cada um no processo.
Sala de
Recurso

PEI
Classe Classe
Especial comum
Informações relevantes para a elaboração
do PEI

Análise
Documental

Entrevista Observação
Etapas para a construção e implementação
do PEI

Planejamento
Resumo Inventários Registro
da vida de de Avaliação
escolar habilidades Atividades
Protocolo Objetivo: Elaborar o PEI
Parte I
1 - Identificação do aluno:
Nome:
Data de nascimento: Naturalidade:
Filiação:
Endereço:
Telefones para contato:
Ano escolar:
Experiência escolar anterior:
2 - Acompanhamentos atuais realizados com especialistas [quem, onde e
contato], quando for o caso:

3 – Informações sobre o aluno (a):


4 - Informações sobre a relação com a escola (é o estudante comparado
aos seus pares):
5 – Visão docente (informações em relação ao estudante e ao trabalho
pedagógico)
6 – Informações familiares:
7- Motivos para a elaboração do PEI:
PEI –
parte II
Período:
HABILIDADES OBJETIVOS OBSERVAÇÕES AVALIAÇÃO
ESCOLARES
Comunicação Oral

Leitura e escrita

Raciocínio Lógico
Matemático
Parte III – Diário de
atividade
Aluna:
Data:
Objetivo:

Atividade:
Desenvolvimento:
Avaliação:

Recursos:

Observação:

Foto: -
Parte 1
• Entrevistas (professores, responsáveis,
aluno)
• Análise Documental
• Avaliação por meio do preenchimento
do Inventário de Habilidades,
• Meta de longo prazo

Parte 2
• Planejamento Mensal: descrição dos
objetivos e estratégias para atingir metas
de curto prazo.
• Avaliação

Parte 3
• Diário de Atividades: planejamento,
descrição do atendimento,seleção de
recursos e avaliação
Atividades Priorizadas
Comunicação Oral

Relatos de acontecimentos, dar recados, uso da linguagem oral,


manutenção de conversas e contextualização do seu discurso.

Leitura e Escrita

Letras do alfabeto, diferença entre letras e números, escrita de


palavras simples, nome próprio e reprodução de histórias.

Raciocínio Lógico Matemático


Relação entre quantidade e número, solução de problemas simples,
conceitos (cor, tamanho forma, lateralidade, posição), cálculos
simples (adição e subtração) com apoio de material concreto,
organização de figuras em ordem lógica.
Resultados

Gráfico 1- Gráfico Leitura e Escrita


(MASCARO, 2017)
Reflexões:

■ A estudante aumentou seu repertório de habilidades


consideradas prioritárias à construção do processo de leitura e
escrita durante o percurso de aplicação do PEI.
■ No ano anterior à pesquisa, ela havia cursado o primeiro ano de
escolarização, durante o qual a maioria dos estudantes são
alfabetizados, porém não alcançou os objetivos desta etapa.
■ Foi promovida para o segundo ano, e o fato de ainda não estar
alfabetizada representava um grande entrave no seu processo de
inclusão no grupo em que estava enturmada.
■ Assim, este objetivo foi considerado prioritário no PEI, inserido a
partir de metas que oportunizassem a experiência de
aprendizado de conceitos que subsidiariam seu desenvolvimento
na área de leitura e escrita.
HABILIDADES OBJETIVOS OBSERVAÇÕES AVALIAÇÃO
ESCOLARES
Comunicação Oral Estimular a linguagem oral Sua comunicação foi bem Realiza sem ajuda
para que se expresse com ampliada, alguma
maior clareza e riqueza de dificuldade percebida faz
detalhes. parte do quadro de paralisia
cerebral.
Leitura e escrita Reconhecer as sílabas Não escreve com lápis, no Realiza com ajuda
formando palavras simples. quadro branco consegue
Escrever seu nome. copiar, utilizando caneta
hidrocor.
Quanto a sílaba, reconhece
caso seja apresentada em
uma contextualização.
Raciocínio lógico- Reconhecer números e Ainda necessita de ajuda Realiza com ajuda
matemático quantidades até 5 . para nomear os números.
Nomear as cores: Azul, Com apoio do material
amarelo, vermelho, verde, concreto consegue informar
rosa, branco, marrom e preto. as quantidades até 5.
Reconhecer os dias da Não reconhece os dias da
semana no calendário. semana.
Relaciona as cores com
muita ajuda, nomeando as
cores de sua preferência:
rosa, preto e vermelho
Diário de Atividade – PEI - Ano:2015
Aluna: Juliana
Data: 14/03/2015 Horário: 12hàs 13h
Objetivo:
Escrever seu nome e palavras simples;
Ouvir história com atenção;
Recontar a história com suporte do livro.
Atividade: Leitura da história, solicitar escrita do nome e de algumas palavras da história no
computador. Recontagem da história
Desenvolvimento:
Leitura para aluna da história “Quem tem medo do ridículo? ” Depois, utilizando o Dosvox no
computador, solicitar a escrita do nome próprio e palavras simples.
Após esse momento, entregar o livro de história para a aluna e pedir que ela reconte.
Avaliação: A aluna mostrou interesse em utilizar a tecnologia Assistiva, o Dosvox, achando
curioso, conforme digitava as letras uma voz reproduzia o som da letra. Mas a aluna não
conseguiu digitar as letras de forma que formasse palavras, somente o seu nome Juliana.
Durante a leitura do livro de história, a aluna identificou no texto a letra "A" e "P". Foi necessário
o apoio da professora verbalizando as letras e aluna procurava as letras no teclado do
computador, também com apoio da professora e formava palavras como: casa, bala, bola e
sapo. Algumas letras conseguia achar como “A”, “O”, “B” e o “P”, pois as letras no teclado do
computador não se encontram na ordem alfabética.
Diário de Atividade – PEI - Ano:2015
Aluna: Juliana

Data: 14/03/2015 Horário: 12hàs 13h


Objetivo:
Escrever seu nome e palavras simples;
Ouvir história com atenção;
Recontar a história com suporte do livro.
Atividade: Leitura da história, solicitar escrita do nome e de algumas palavras
da história no computador. Recontagem da história
Desenvolvimento:
Leitura para aluna da história “Quem tem medo do ridículo? ” Depois, utilizando
o Dosvox no computador, solicitar a escrita do nome próprio e palavras simples.
Após esse momento, entregar o livro de história para a aluna e pedir que ela
reconte.
Avaliação: A aluna mostrou interesse em utilizar a tecnologia Assistiva, o
Dosvox, achando curioso, conforme digitava as letras uma voz reproduzia o som
da letra. Mas a aluna não conseguiu digitar as letras de forma que formasse
palavras, somente o seu nome Juliana. Durante a leitura do livro de história, a
aluna identificou no texto a letra "A" e "P". Foi necessário o apoio da professora
verbalizando as letras e aluna procurava as letras no teclado do computador,
também com apoio da professora e formava palavras como: casa, bala, bola e
sapo. Algumas letras conseguia achar como “A”, “O”, “B” e o “P”, pois as letras
no teclado do computador não se encontram na ordem alfabética.
NÃO HÁ UM
MODELO ÚNICO
PARA
IMPLEMENTAÇÃO
DO PEI!
O PEI surge para atender uma demanda específica
do estudante com necessidade educacional
especial. Os objetivos estarão centrados nas suas
necessidades.
IMPORTANTE

O objetivo é aquilo que o aluno deverá alcançar, e


a meta refere-se à quando e quanto daquele
objetivo o aluno deverá alcançar, ou seja, o foco
da avaliação estará no que foi proposto para ele.
Exemplificando: O objetivo será de que o aluno
seja capaz de ler e escrever; no PEI torna-se
necessário estabelecer metas relativas a esse
objetivo, a partir de uma avaliação individual.
Exemplo:

Se o aluno, ainda não conhece as letras,


poderá ser estabelecido como meta que em
dois meses (quando) o aluno aprenderá as
vogais (quanto). Dentre o universo do
alfabeto, prioriza-se que em dois meses ele
aprenderá cinco letras, ou seja, as vogais.
Avaliação

A organização didática para aplicação do PEI deve


ter como pilar a perspectiva mediadora da avaliação
que segundo Hoffmann (2009, p.32):

[...] significa desenvolvimento máximo possível, um permanente “vir a


ser”, sem limites preestabelecidos, embora com objetivos claramente
delineados, desencadeadores da ação educativa. Não se trata aqui, como
muitos compreendem, de não delinearmos pontos de partida, mas, sim,
de não delimitarmos ou padronizarmos pontos de chegada.
Como Avaliar?

O trabalho com o PEI requer avaliações sistematizadas que


permitam elencar metas prioritárias para se alcançar um
objetivo para determinado aluno.
Podemos dizer que os conteúdos a serem trabalhados
podem ser os mesmos do seu grupo de referência/ano
escolar; o que muda, a partir da aplicação do PEI, é que a
avaliação deste aluno estará em consonância ao que foi
planejado para ele.
No cotidiano....
O grupo referência do
aluno..

O PEI vai favorecer que esse


aluno, de acordo com a sua
capacidade, entenda que
existe um inteiro que pode ser
dividido em partes.
No cotidiano.... O grupo referência do meu
aluno

• O PEI vai permitir que esse aluno possa


construir textos na modalidade oral.
• As atividades deverão beneficiar o
desenvolvimento da concordância verbal,
sequência de pensamento...
Reflexões sobre a proposta do PEI

O PEI surge como um instrumento que


balizará o itinerário formativo do aluno.

A retenção ou promoção vai estar


sempre em consonância com avaliação
do PEI.

O trabalho pedagógico tendo o PEI como fio


condutor auxiliará a transição para a vida
adulta dos alunos.
O Plano Educacional Individualizado como apoio
para o desenvolvimento do trabalho dos professores

• O PEI é um documento que possibilita o


desenvolvimento acompanhamento do
trabalho pedagógico.

• Cada aluno com deficiência poderá


apresentar uma necessidade educacional
específica, e nesse sentido o PEI nos ajuda
a organizar o trabalho específico.

• O PEI nos ajuda em relação ao


planejamento do trabalho pedagógico
como um todo.
Benefícios do PEI para o aluno

• Favorece o desenvolvimento de potencialidades.

• Possibilita uma avaliação dos mesmos voltadas para eles


mesmos.

• Torna possível o planejamento do itinerário formativo.

• Viabiliza a transição para a vida pós-escola.


“Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada
instante”. Paulo Freire

cristinaangelicamascaro@gmail.com

Professora Cristina Mascaro

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