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BALANCEAMENTO DE LINHA DE
PRODUÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
UMA INDÚSTRIA NAVAL
Fabiola Negreiros de Oliveira (UFRN)
fabibi_n@hotmail.com
valeria thalita de medeiros queiroz (UFRN)
val.thalita@gmail.com
Carla Simone de Lima teixeira (UFRN)
carlinha_cslt@yahoo.com.br
Debora Saraiva Ramos (UFRN)
binha_ramos@hotmail.com
ANA BEATRIZ CAMARA SILVA GAMA (UFRN)
anabibi_gama@hotmail.com
1. Introdução
Em um mercado cada vez mais competitivo e exigente, torna-se vital, que as empresas
possuam processos eficientes para geração de planos de montagem em uma linha de produção
ou para o projeto de uma nova linha, que proporcione o máximo aproveitamento dos recursos
disponíveis ou dos que serão adquiridos e posteriormente colocados em funcionamento.
No contexto da Gestão da Produção, uma técnica bastante utilizada é a do balanceamento de
linha de produção que busca otimizar e sincronizar os recursos necessários para o
processamento de um produto ou serviço, de forma a atender a demanda nas quantidades e
datas previstas.
Uma linha de produção consiste num conjunto de Postos de Trabalho cuja posição é fixa e
cuja sequência é ditada pela lógica das sucessivas operações a realizar e descritas na gama
operatória. O balanceamento de uma linha de produção consiste, pois, em distribuir a carga
das várias operações o mais uniformemente possível pelos vários Postos de trabalhos.
Procurar balancear os diferentes postos que compõem uma linha de produção, ajustando-a à
demanda, nem sempre é uma tarefa simples. Os gestores de produção frequentemente
debruçam-se sobre cálculos visando encontrar a quantidade de postos de trabalho que
proporciona um fluxo constante ao processo, reduzindo ao máximo as ociosidades de
equipamentos e pessoas. Ao final, quando a racionalização é conseguida e as perdas evitadas,
a produtividade alcança os patamares almejados, resultando em menores custos.
É importante ressaltar que uma linha de produção desbalanceada pode demandar custos à
empresa, inclusive os de perda de oportunidade, ou seja, aqueles que dizem respeito ao não
atendimento da demanda. Entre os demais custos, pode-se citar ainda o excesso de produtos
estocados e até mesmo o atraso de produção para uma demanda específica.
Quando as ações voltam-se para a redução dos desperdícios e otimização dos recursos, as
organizações ganham poder competitivo, desejo e busca de todas elas. Só assim podem
adquirir maior participação no mercado e garantir os ganhos que possibilitarão novos
investimentos.
O presente estudo foi realizado em uma em uma empresa atuante no setor da indústria naval,
detentora de tecnologia na produção de embarcações de alumínio soldado e rebitado, que,
atualmente, está localizada - em decorrência da realização de um projeto de construção de 150
(cento e cinquenta) lanchas escolares - no estado do Rio Grande do Norte. O estudo possui a
finalidade de aperfeiçoar recursos, reduzindo o tempo de execução do projeto da fabricação
das 60 lanchas que restam para que o projeto seja concluído, através da técnica do
balanceamento de linha.
Para alcance desse objetivo se faz necessário: levantar as etapas do processo de produção das
lanchas, analisando o sequenciamento das atividades; levantar o tempo padrão para cada um
dos elementos de trabalho; elaboração do um fluxograma do processo produtivo,
levantamento do tempo de duração do ciclo e dos recursos humanos despendidos em cada
posto de trabalho.
Além dessa seção de caráter introdutório, é apresentada na sequência, a seção Referencial
teórico, que contempla uma revisão da literatura sobre balanceamento de linha de produção,
seus benefícios e aplicabilidade. O artigo segue com a metodologia da pesquisa realizada; a
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anotações, caneta e cronometro para medir os tempos de operações, já que não foi permitido o
uso de máquina fotográfica e filmadora.
Com os subsídios de informações adquiridos nas visitas seguintes, o grupo de pesquisadores,
através de deliberações em grupo, que propiciaram sessões de brainstorming, estudaram
possíveis formas de balanceamento. Pode-se dizer, pois, que foi utilizada a técnica de um
brainstorming não estruturado (BRASSARD, 2004), como forma de facilitar a
espontaneidade no surgimento das ideias conforme o domínio que cada participante possui do
assunto.
Como a pesquisa objetivou gerar conhecimento para aplicação prática, dirigidos à solução de
problemas específicos, esta pesquisa foi do tipo pesquisa aplicada. ANDER-EGG apud
MARCONI & LAKATO (1992) afirma que “a pesquisa aplicada caracteriza-se por seu
interesse prático”. Foi uma pesquisa exploratória, pois visou tornar explícito o problema e a
construção de hipóteses.
4. Estudo de Caso
4.1 Descrição da empresa
O estudo foi realizado em uma empresa de construção naval, especificamente em uma de suas
filiais que está executando um projeto que consiste na produção de 150 lanchas escolares
similares, como o modelo apresentado na Figura 1, no prazo de 19 meses. O projeto está com
68% de execução e remanescem seis meses e 60 lanchas para a sua conclusão. A empresa
referida tem sede Belém/PA e tem as operações ocorrendo em Natal/RN, nas instalações do
cliente. Para realização da produção em questão foi necessária uma mobilização de recursos
físicos e humanos da sede da empresa para essa filial, o que implica em diversos custos
adicionais assim como, uma “perda momentânea” da mão de obra experiente pela a sede.
REPARO DE SOLDAGEM
SOLDA EXTERNA
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CHAPEAMENTO CASARIA
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Tais processos divergem entre si, desde a necessidade de mão-de-obra, até as operações
envolvidas e em seus tempos de execução. A Tabela 1 abaixo expõe o detalhamento de cada
processo.
Quantidade de postos 1
Os pontos identificados no teste como não-
REPARO DE SOLDA Nº de operários/posto 2 conformes são retrabalhados nessa etapa,
que consiste em soldar novamente o casco.
Tempo/lancha(h) 16
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Tempo/lancha(h) 32
Quantidade de postos 2
São realizadas as operações de lixamento e
PINTURA Nº de operários/posto 2 em seguida a pintura, de acordo com o
projeto, e adesivação da lancha.
Tempo/lancha(h) 16
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de postos por processos e os tempos de execução dos mesmos, obtêm-se o tempo de ciclo
individual de cada um, expostos na Tabela 2:
MONTAGEM
PROCESSO
ENCAVERNAMENTO SOLDAGEM REPARO CHAPEAMENTO CASARIA PINTURA MEC.
Postos 1 1 1 3 3 2 1
Tempo padrão (h) 6 2 16 8 32 32 8
Tempo real (h) 6 2 16 2,67 10,67 16 8
Diante dos tempos das operações, observa-se que o gargalo da produção são os processos de
Pintura e o Reparo da solda, ambos com tempo de execução de 16 para cada unidade de
lancha. Abaixo, segue a Figura 3 com o tempo, em horas, para se produzir uma lancha em
cada um dos processos. A partir dele nota-se o completo desbalanceamento entre os setores de
produção, com uma variação de tempo entre 1,5 e 16 horas para produzir uma unidade em
cada processo.
Embora os processos não estejam balanceados entre si, eles estão balanceados com demanda.
A meta mensal da produção é de 11 unidades e como o tempo de ciclo desse processo é 16,
durante os 22 dias de produção do mês com as 8 horas de trabalho diário, a capacidade
produtiva é de exatamente as 11 lanchas requeridas.
4.3 Problemática
Atualmente a empresa conta com 36 funcionários para produzir 11 lanchas por mês. O tempo
do ciclo da produção, definido pelo processo gargalo (Pintura e reparo), é de 16 horas, ou
seja, a cada 16 horas uma lancha é produzida. Dada uma jornada de trabalho de 8 horas
diárias, o tempo expedição de uma lancha é dois dias.
Como a principal parte da equipe, composta pelos colaboradores mais experientes, é oriunda
de outro estado, a sua permanência em Natal representa altos custos para a empresa, como:
hospedagem, alimentação e transporte. Além disso, a ausência dessa equipe na sede
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representa uma perda produtiva para a mesma, por isso, percebeu-se a vantagem em se
concluir mais rapidamente o projeto, produzindo as 60 lanchas remanescentes em um prazo
menor do que o previsto pelo cronograma de atividade do projeto.
Para reduzir a duração do projeto, torna-se necessário aumentar a produtividade mensal da
empresa, o que pode ser obtido através do balanceamento da linha de produção a nova meta
produtiva definida. Para reduzir pela metade a duração do projeto é necessário duplicar a meta
mensal de produção, ou seja, a nova meta deve ser 22 lanchas/mês.
Como no mês há, em média, 22 dias de produção, a produtividade da empresa deve passar a
ser uma lancha/dia. Como a jornada diária de trabalho são de 8 horas, este deve ser,
exatamente, o novo tempo de ciclo da produção.
Para se conseguir dobrar a produção mensal e se obter uma lancha completa por dia, todos os
processos que estão acima do novo tempo de ciclo necessário (8 horas) terão que receber
novos recursos para que o tempo de operação seja reduzido e a nova capacidade atingida,
resultando em um balanceamento, como mostra a Figura 4 abaixo:
Figura 4 - Tempo de produzir uma lancha em cada etapa do processo após o balanceamento.
PROCESSO
ENCAVERNAMENTO SOLDAGEM REPARO CHAPEAMENTO CASARIA PINTURA MONTAGEM MEC.
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POSTOS ATUAIS 1 1 1 3 3 2 1
POSTOS ADICIONAIS 0 0 1 0 1 2 0
TEMPO (h) 6 2 8 2,66 8 8 8
NEC. MÃO DE OBRA ATUAL 4 1 2 12 12 4 3
Feita a análise dos recursos produtivos necessários a realização desses processos, identificou
que a redução do tempo de ciclo com a criação de novos postos implicaria apenas em novas
contratações, não sendo necessária a aquisição de novos equipamentos ou expansão da área
produtiva. Com a adição dos novos postos, a Figura 5 a seguir mostra o novo fluxograma dos
processos:
Logo, para duplicar a produtividade mensal, a empresa precisa adicionar novos postos de
trabalho, idênticos aos atuais, nos processos de reparo, casaria e pintura, o que implica na
contratação de 10 novos funcionários com habilidades relacionadas a cada processo, assim
como, a aquisição do ferramental individual relativo as necessidades de cada processo, que
são basicamente: serra, trena e equipamentos de segurança.
4.5 Resultados esperados
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REFERÊNCIAS
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Janeiro: Qualitymark Ed., 1994.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodología do Trabalho Científico. São Paulo:
Atlas, 1992.
MARTINS, P.G. & LAUGENI, F.P. Administração da Produção – São Paulo: Saraiva,
2006. 72 72
MOREIRA, D.A.. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 1993.
OLIVEIRA, P. Estudo sobre balanceamento de produção em uma indústria de camisaria que
utiliza sistema vac. 2008. Trabalho de conclusão de curso – FAED, Universidade do Estado
de Santa Catarina, Santa Catarina, 2008.
PEINADO, J.; GRAEML, A. R. Administração da produção: operações industriais e de
serviços. Curitiba: UnicenP, 2007. 750 p
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<http://www.fa7.edu.br/rea7/artigos/volume2/artigos/read3.doc.>
ROCHA, R.P. & OLIVEIRA, C.C. Balanceamento de Linha: Estudo de caso na produção
de Boneless Leg (BL) em um frigorífico de aves. In: ENCONTRO NACIONAL DE
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Iguaçu/PR: Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO). 2007. Disponível
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SLACK, Nigel. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 1999
TUBINO, D.F.. Planejamento e Controle da Produção – Teoria e Prática. São Paulo: Atlas,
2007.
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