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CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA

FACULDADE MARECHAL RONDON


Prof. Dr. JOÃO BATISTA MATOS JUNIOR

RÚMEN
BACTÉRIAS RUMINAIS
Apesar do papel dos protozoários e fungos do rúmen, é claro que são as bactérias
os micro-organismos mais ativos na atividade enzimática, apresentando assim mais de 20
espécies, com uma população entre 1.000.000.000 a 10.000.000.000 de células/g de
conteúdo ruminal. A maioria é composta por bactérias anaeróbicas obrigatórias, podendo
ser encontradas anaeróbicas facultativas (TEIXEIRA, 1991). Usualmente as bactérias são
classificadas de acordo com a atuação de cada grupo no processo fermentativo.
Bactérias celulolíticas têm a habilidade bioquímica de produzir a enzima
extracelular celulase, através da hidrólise da celulose. As celulases da maioria dos micro-
organismos celulolíticos estão associadas às células aderidas firmemente às partículas
fibrosas do conteúdo ruminal. A adesão inicial é feita através do glicocálice, à medida que
a celulase vai degradando a fibra, fragmentos do envelope celular passam a compor a
matriz de glicocálice, dentro da quais as celulases continuam a digerir a celulose
(CHENG; COSTERTON, 1986). Os ácidos graxos de cadeia ramificada são necessários
ou estimulatórios para o crescimento das bactérias celulolíticas (DEHORITY,1987).
As espécies celulolíticas produzem, principalmente, acetato, propionato, butirato,
succinato, formato, CO2 e H2. São liberados também etanol e lactato (HUNGATE, 1966).
Segundo DEHORITY (1987) E SOEST (1982), as principais espécies celulolíticas são
Ruminococcus flavefaciens, Ruminococcus albus, Bacteroides succinogenes e
Butyrivibrio fibrisolvens.
Bactérias Amilolíticas são as responsáveis pela degradação do amido (que se dá
pela enzima amilase), que é fermentado por espécies do gênero Bacteroides, dentre
estas, Bacteroides amylophilus que utiliza amido, mas é incapaz de utilizar glicose ou
outros monossacarídeos. Já Streptococus bovis e Selenomonas ruminantium fermentam
amido e açúcares solúveis produzindo acetato, quando estes carboidratos são
abundantes mudam para acetato, formato e etanol ou acetato e propionato, quando a
concentração de substrato prontamente fermentável decresce. Esta última rota metabólica
maximiza a produção de ATP (RUSSELL, 1988).
Muitas das bactérias Proteolíticas presentes no rúmen são capazes de degradar
proteína. Existem, no entanto, bactérias essencialmente proteolíticas, que utilizam
aminoácidos como fonte de energia primária (Bacteroides amylophilus e Bacteroides
ruminicola). A proteína contida no alimento do animal pode ser degradada pelos micro-
organismos de rúmen, com liberação de amônia e ácidos graxos voláteis. A excessiva
degradação proteica no rúmen causa redução na retenção de N pelo hospedeiro
(TEIXEIRA, 1991; SOEST, 1982).
As Bactérias Metanogênicas (anaeróbias estritas) são organismos capazes de
produzir metano. Estas bactérias são especialmente importantes para o ecossistema
ruminal, pois tem um papel importante na regulação de fermentação pela remoção das
moléculas de H2 (TEIXEIRA, 1991). Praticamente todo o metano é produzido pelas
reações de redução de CO2 acoplada ao fornecimento de elétrons pelo H2. O gênero
Methanobacterium desempenha importante papel no equilíbrio químico no ecossistema
ruminal ao utilizar o H2 presente no meio, contribuindo para a regeneração de co-fatores,
como NAD+ e NADP+ (ARCURI, 1992).

OS PROTOZOÁRIOS DO RÚMEN
Os protozoários foram os primeiros micro-organismos identificados no rúmen. Em
geral, a presença de protozoários aumenta diretamente a digestão da celulose e
hemicelulose (FONDEVILA,1998).
Sua população é de 100.000 a 1.000.000 células/ml de conteúdo ruminal
(TEIXEIRA, 1991). São organismos unicelulares, anaeróbios, não patogênicos, 10 a 100
vezes maiores que as bactérias (HUNGATE, 1966; OGIMOTO; IMAI, 1981.,CITADO POR
ARCURI, 1992). As bactérias constituem a fonte preferida de nitrogênio para os
protozoários (WILLIAMS, 1986). Esta predação reduz significativamente o número de
bactérias no líquido ruminal (HUNGATE, 1966). Uma característica peculiar dos
protozoários é o quimo tactismo, isto é, a capacidade de se locomoverem num gradiente
de concentração de nutrientes, como, açúcares ou glicoproteínas (ARCURI, 1992).
Normalmente, os protozoários encontrados no rúmen são da classe dos Ciliados,
dividindo-se nas subclasses Holotricha e Pirotricha (TEIXEIRA, 1991). DEHORITY;
TIRABASSO (1986) sugerem que a subclasse Holotrica é capaz de se fixar à parede do
retículo e imigrar em direção ao rúmen logo após a alimentação do hospedeiro,
possivelmente em função do aparecimento de açúcares solúveis. Através deste
mecanismo, os holotrica são seletivamente retidos no rúmen, o que permite a estes
organismos sobreviver neste ambiente, uma vez que têm um tempo de geração muito
longo (LENG; NOLAN, 1984).
A predação por grandes populações de protozoários reduz a biomassa bacteriana
livre no líquido ruminal; aumenta a reciclagem intra ruminal e a perda de N pelo
hospedeiro e reduz o fluxo de proteína microbiana para o intestino delgado do hospedeiro,
tanto pela menor população bacteriana quanto pela retenção dos protozoários no rúmen
(LENG e NOLAN, 1984). A defaunação - que nutricionalmente é definida como a
eliminação dos protozoários do rúmen – pode trazer alguns benefícios. Em alguns
programas de alimentação, como em dietas com alta energia e ricas em nitrogênio não
proteico a ausência dos protozoários resulta numa melhoria da performance do animal.
Mas contrapondo a presença de protozoários no rúmen parece ser um fator fundamental
para o processo fermentativo, pois através da ingestão de partículas alimentares e pelo
armazenamento de amido, eles podem controlar o nível de substrato disponível,
uniformizando a fermentação entre os intervalos de alimentação. Os protozoários podem
servir também como uma fonte contínua de nitrogênio para as bactérias após sua morte e
degradação, pois grande parte da proteína do protozoário foi formada a partir da proteína
das bactérias (TEIXEIRA, 1991).

FUNGOS DO RÚMEN
Um grupo de ficomicetos anaeróbios produtores de zoósporos flagelados, antes
considerados, erroneamente, como protozoários flagelados, é parte integrante da
microbiota ruminal de animais alimentados com dietas fibrosas (RUSSELL, 1988).
Segundo (TEIXEIRA 1991), (ORPIN, 1975), foi o primeiro pesquisador a definir a
existência de tais fungos.
Pouco ainda se sabe sobre a importância dos fungos no processo fermentativo,
mas parece que eles estão associados com a degradação da fibra no rúmen e estão
presentes em grande número quando a dieta é rica em forragens. Os zoósporos móveis
aderem-se aos fragmentos das forragens, invadindo os tecidos vegetais através de talos e
rizóides (BAUCHOP, 1981).
A ação dos fungos sobre a parede vegetal diminui a rigidez estrutural das forragens
(BORNEMAN, 1986. CITADO POR FONDEVILA, 1998), e favorece a ruptura das
partículas de forragens, aumentando também a superfície acessível para a ação das
bactérias (FONDEVILA, 1998).

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