A tolerância imunológica é definida como a falta de resposta a um antígeno que deveria ser induzida por ter havido exposição anterior ao mesmo. Quando linfócitos específicos encontram os antígenos, 3 diferentes resultados podem ocorrer: os linfócitos são ativados ou eliminados, induzindo respostas imunes; os linfócitos são inativados ou eliminados, induzindo tolerância; ou o antígeno é ignorado.
Os antígenos que induzem tolerância são chamados
tolerogênicos, para distinguí-los dos imunogênicos, que geram imunidade.
A tolerância aos antígenos próprios, autotolerância, é
uma propriedade fundamental do sistema imune normal. A tolerância imunológica é importante por várias razões:
- os indivíduos normais são tolerantes para seus próprios
antígenos; - antígenos estranhos podem ser administrados de tal modo que podem inibir preferencialmente as respostas imunes induzindo tolerância nos linfócitos específicos; - a indução da tolerância imunológica pode ser explorada como uma abordagem terapêutica para a prevenção de respostas imunes nocivas; - alguns microorganismos podem evadir das respostas imunes por produzirem formas tolerogênicas dos seus antígenos. Características Gerais e Mecanismos da Tolerância Imunológica A tolerância é imunologicamente específica e resulta do reconhecimento dos antígenos pelos linfócitos específicos.
A autotolerância pode ser induzida nos órgãos linfóides
geradores como conseqüência dos linfócitos auto- reativos reconhecerem os antígenos próprios, o que é designado tolerância central, ou nos sítios periféricos como conseqüência dos linfócitos auto-reativos maduros encontrarem os antígenos próprios sob certas condições particulares, fato designado tolerância periférica. Ocorre tolerância central porque todos os linfócitos, durante sua maturação nos órgãos linfóides geradores, passam através de um estágio no qual o encontro com o antígeno(próprio) induz tolerância em vez de ativação. A tolerância periférica é induzida pelo reconhecimento dos antígenos sem níveis suficientes de co- estimuladores que são exigidos para a ativação linfocítica ou por persistente ou repetida estimulação por antígenos próprios nos tecidos periféricos. Os mecanismos principais da tolerância do linfócito são: a morte celular apoptótica, chamada deleção clonal; inativação funcional sem morte celular, chamada anergia clonal; supressão da ativação e das funções efetoras dos linfócitos, por linfócitos reguladores. A tolerância central é devida principalmente à deleção clonal, enquanto que, para a tolerância periférica, contribuem todos os 3 mecanismos.
Alguns antígenos próprios são ignorados pelo sistema
imune, de modo que os linfócitos auto-reativos permaneçam viáveis e funcionais, porém não reajam aos antígenos próprios de modo detectável – ignorância clonal. Tolerância do Linfócito T Tolerância central das células T As células imaturas que reconhecem os antígenos(próprios) com alta afinidade, são deletadas durante sua maturação no timo:
os 2 fatores principais que determinam se um antígeno
próprio em particular poderá induzir ou não seleção negativa de timócitos auto-reativos são a concentração daquele antígeno no timo(sinal prolongado para antígenos estranhos, pq somente para antígenos próprios isso é normal-leva a ANERGIA) e a afinidade dos TCRs dos timócitos que reconhecem os antígenos. Tolerância periférica das células T A tolerância periférica é o mecanismo de tolerância da célula T aos antígenos específicos de tecidos que não estão presentes no timo.
É devida à anergia, deleção ou supressão de células T.
1. Anergia induzida pelo reconhecimento do antígeno sem co-estimulação adequada
Se as células T reconhecerem que os antígenos
peptídicos apresentados pelas APCs são deficientes em co-estimuladores, as células T tornam-se incapazes de responder ao antígeno, mesmo se mais tarde eles forem apresentados por APCs competentes. As APCs que são residentes nos tecidos linfóides periféricos e nos não-linfóides estão normalmente em estado de repouso e expressam pouca ou nenhuma co- estimulação. Por este motivo, as células T que reconhecem os antígenos apresentados por essas APCs podem se tornar anérgicas.
As infecções locais e a inflamação podem ativar as
APCs residentes, induzindo o aumento da expressão dos co-estimuladores, degradação da anergia e reações auto-imunes contra antígenos teciduais. 2. Anergia induzida pelo reconhecimento dos antígenos peptídicos mutados
Se os linfócitos TCD4+ específicos para um antígeno
encontram uma forma mutada na qual os resíduos de AA que fazem contato com o TCR estão alterados, as células podem se tornar anérgicas. 3. Deleção de células T pela morte celular induzida por ativação
A estimulação repetida dos linfócitos T por antígenos
resulta na morte das células ativadas por um processo de apoptose. Esta forma de morte celular regulada é designada morte celular induzida por ativação. 4. Tolerância induzida por linfócitos T supressores
Algumas respostas imunes são inibidas por células
que produzem citocinas, capazes de bloquear a ativação e a função dos linfócitos T efetores. Essas células inibitórias são as células T supressoras ou reguladoras. Diferentes citocinas são capazes de inibir a expansão clonal e as funções efetoras dos linfócitos. 5. Ignorância clonal
Os linfócitos auto-reativos podem deixar de
reconhecer antígenos próprios na periferia, porém as células não morrem nem ficam anérgicas. Fatores que Determinam a Tolerogenicidade dos Antígenos Próprios Tolerância dos Linfócitos B A tolerância dos linfócitos B é necessária para manter a irresponsividade aos antígenos próprios timo- independentes, como os polissacarídeos e os lipídeos. Tolerância Central nas Células B Os linfócitos B imaturos que reconhecem os antígenos próprios com alta afinidade na Medual Ossea são deletados ou mudam sua especificidade.
Tal como ocorre com as células T, os fatores que
determinam se as células B imaturas deverão ser selecionadas negativamente ou não, são a natureza e a concentração do antígeno próprio na MO e a afinidade dos receptores da célula B para o antígeno. Tolerância Periférica das Células B Os linfócitos B maduros, que reconhecem antígenos próprios nos tecidos periféricos na ausência de células T auxiliares específicas, podem se tornar funcionalmente irresponsivos ou excluídos dos tecidos linfóides. Homeostase no Sistema Imune: Terminação das Respostas Imunes Normais A morte e a inativação dos linfócitos são também importantes para a manutenção de um número regularmente constante dessas células por toda a vida, apesar das enormes expansões que podem ocorrer durante as respostas aos potentes antígenos imunogênicos. Essa característica do sistema imune é chamada homeostase. As respostas imunes a antígenos estranhos são autolimitadas e desaparecem à medida que os antígenos vão sendo eliminados e o sistema imune vai retornando ao seu estado basal. - Grande parte do declínio das respostas imunes fisiológicas, ou homeostase, é em razão da morte programada dos linfócitos resultante da perda dos sinais de sobrevivência. - Além deste declínio passivo das respostas imunes, os linfócitos estimulados por antígenos desencadeiam mecanismos reguladores ativos cuja função é terminar as respostas imunes: ...CTLA-4 ...Fas / FasL - Feedback de anticorpos