Você está na página 1de 82

0

ESCOLA DE TERAPIAS ORIENTAIS DE SÃO PAULO

SUSILAINE MORAES AQUINO

ACUPUNTURA CONSTITUCIONAL E O TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR


PSICODIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

São Paulo

2011
1

SUSILAINE MORAES AQUINO

ACUPUNTURA CONSTITUCIONAL E TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR


PSICODIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado ao Curso de Pós-Graduação
Lato Sensu em Acupuntura da Escola de
Terapias Orientais de São Paulo.
Orientador: Prof. Luiz Bernardo Leonelli

São Paulo

2011
2

EPÍGRAFE

A base para o tratamento da doença é


que se deve buscar a raiz... uma vez que
não se sabe como buscar a raiz, então o
tratamento fica tão vago como alguém
que olha fixamente a amplidão do oceano
e não sabe como pedir água.

Yu Chang
3

AGRADECIMENTOS

À Escola de Terapias Orientais de São Paulo – ETOSP, pela


informação, pela formação e pelas oportunidades de troca de
experiências e aquisição de mais conhecimento; em especial a
Prof.a Dr.a Valéria Kim que, com sabedoria, humildade e ética
apontou caminhos e, assim, abriu horizontes.

À Prof.a Dr.a Tereza Kakehashi que, com genuína paciência,


soube orientar e indicar os melhores métodos para
apresentação deste estudo.

À caríssima paciente, L.S., que tanto colaborou durante e


após esta pesquisa.

Aos Sócios-Cooperantes da TEOR – Cooperativa dos


Especialistas em Terapias Orientais – que contribuíram com
as reflexões durante diversas jornadas.

A todos, com destaque aos colegas terapeutas, que direta ou


indiretamente participaram das discussões e colaboraram
com as análises.
4

RESUMO

Este estudo busca correlacionar o Fator Constitucional (FC), ou Fator Causativo,


com a Psicoterapia no tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar – TAB. Acredita-se
que conhecer os Biotipos Constitucionais da Acupuntura Constitucional Universal,
pode auxiliar no psicodiagnóstico e possibilitar a prevenção da forma mais severa do
TAB, o estágio irreversível da doença, cujo tratamento requer intervenções
medicamentosas que causam dependência. Desse modo, transita-se entre a
Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e a Psicologia, de modo a integrá-las, e permitir
diagnóstico mais preciso. Dada a complexidade da existência, não se deve
considerar como definitiva mais essa possibilidade de correlação, espera-se que
seja mais uma oportunidade de observar o indivíduo e desenvolver a mais
apropriada visão prospectiva, para a prevenção de doenças ou para amenizar os
efeitos dos medicamentos em torno da tentativa de curá-las.

Descritores: Acupuntura. Medicina Tradicional Chinesa. Psicologia Clínica.


Transtornos de Humor.
5

Lista de Figuras

FIGURA 1 – Princípio Yin-Yang ................................................................................ 12


FIGURA 2 – Cinco Elementos................................................................................... 14
FIGURA 3 – Relação: horas e meridianos ................................................................ 15
FIGURA 4 – Meia-noite e meio-dia dos meridianos .................................................. 19
FIGURA 5 – Tipos e organização dos transtornos de humor .................................... 36
FIGURA 6 – Ciclo Ke ................................................................................................ 41
FIGURA 7 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 58
FIGURA 8 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 60
FIGURA 9 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 61
FIGURA 10 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 62
FIGURA 11 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 64
FIGURA 12 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 65
FIGURA 13 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 67
FIGURA 14 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 68
FIGURA 15 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 69
FIGURA 16 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 71
FIGURA 17 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 72
FIGURA 18 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento com base nos
desequilíbrios ............................................................................................................ 74
6

Lista de Quadros

QUADRO 1 – Horário de hiperatividade dos meridianos .......................................... 18


QUADRO 2 – Cinco Shen ......................................................................................... 21
QUADRO 3 – Cardápio de acordo com a energia das estações .............................. 26
QUADRO 4 – Mucosidades (Tan) ............................................................................. 29
QUADRO 5 – Humores(Yin) ou com mais frequência Humores de Água ................. 30
QUADRO 6 – Acúmulo de Sangue (Yu Xue) ............................................................ 30
QUADRO 7 – Diferenças entre os transtornos.......................................................... 41
QUADRO 8 – Relação dinâmica entre os elementos ................................................ 40
QUADRO 9 – Ressonância dos Cinco Elementos .................................................... 42
QUADRO 10 – Constituição e manifestações psicossomáticas – Ar ........................ 43
QUADRO 11 – Comparação de tratamentos propostos – Ar ................................... 44
QUADRO 12 – Constituição e manifestações psicossomáticas – Fogo ................... 45
QUADRO 13 – Comparação de tratamentos propostos – Fogo ............................... 46
QUADRO 14 – Constituição e manifestações psicossomáticas – Madeira .............. 48
QUADRO 15 – Comparação de tratamentos propostos – Madeira .......................... 48
QUADRO 16 – Constituição e manifestações psicossomáticas – Água ................... 49
QUADRO 17 - Comparação de tratamentos propostos - Água ................................ 50
QUADRO 18 – Relação dos órgãos em desequilíbrio .............................................. 75

Tabela
TABELA 1 – Porcentagem de parentes em primeiro grau com transtorno de humor 39
7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 12
2.1 Teoria Geral da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) .................................... 12
2.1.1 Conceito Yin-Yang ........................................................................................... 12
2.1.2 Os Cinco Elementos ........................................................................................ 14
2.2 Modelos diagnósticos ....................................................................................... 15
2.2.1 Modelo eletrônico ............................................................................................. 15
2.2.2 Modelo cósmico ............................................................................................... 17
2.2.3 Modelo psicossomático .................................................................................... 20
2.3 Etiopatologia ...................................................................................................... 23
2.3.1 Causas exteriores ............................................................................................ 24
2.3.2 Causas interiores ............................................................................................. 26
2.3.3 Causas mistas .................................................................................................. 27
2.3.4 Diferentes aspectos das emoções: MTC e medicina ocidental ........................ 27
2.4 Produções patogênicas .................................................................................... 29
2.5 Psicologia e Síndrome do Transtorno Afetivo Bipolar .................................. 31
2.5.1 Teoria geral ...................................................................................................... 31
2.5.2 Sintomas .......................................................................................................... 31
2.6 Transtorno Ciclotímico ..................................................................................... 35
2.7 Questões associadas ........................................................................................ 36
2.7.1 Prevalência e idade de início ............................................................................ 36
2.7.2 Fatores demográficos ....................................................................................... 37
2.7.3 Tempo de ciclo ................................................................................................. 37
2.7.4 Mania como sintoma secundário ...................................................................... 38
2.7.5 Investigações psicofisiológicas ......................................................................... 38
2.7.6 Fatores genéticos ............................................................................................. 39
2.8 Acupuntura constitucional dos cinco elementos ........................................... 40
2.8.1 Tratamento pelos pontos elementos. ............................................................... 40
2.9 Tratamento do Transtorno de Humor – medicina ocidental .......................... 50
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 52
8

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 55


4.1 Descrição do sujeito da pesquisa ........................................................................ 55
4.2 Resultados do tratamento em acupuntura........................................................... 74
5 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 79
ANEXO A – DSM-IV ................................................................................................. 80
ANEXO B – CID-10 ................................................................................................... 81
ANEXO C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................. 82
9

1 INTRODUÇÃO

Trata-se de pesquisa sobre a correlação do Fator Constitucional (FC), ou


Fator Causativo, com a Psicoterapia no tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar
(TAB).
O objetivo é correlacionar os Biotipos Constitucionais da Acupuntura
Constitucional Universal para psicodiagnóstico como prevenção à forma mais severa
do Transtorno Afetivo Bipolar, estágio irreversível da doença, cujo tratamento requer
intervenções medicamentosas que causam dependência.
Diversos são os males psicoafetivos, o que gera elevado índice de pacientes,
muitos deles com possível diagnóstico de TAB. Essa demanda requer intervenções
eficientes e eficazes, que evitem agravamento do quadro, por isso considera-se
interessante correlacionar a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) à Psicoterapia.
A Psicoterapia atua em campo delimitado: a mente. Com a interação da MTC,
que abrange o Ser integralmente, será possível diagnosticar de forma mais precisa,
qual a origem do desequilíbrio, ou seja, o FC. Esse fator é o que desencadeia a
síndrome TAB.
Assim, este estudo transitará entre a MTC e a Psicologia. Esses dois estudos
e suas peculiaridades serão descritos, sempre relacionados às possibilidades de
prevenção e tratamento da TAB. Portanto a revisão de literatura focou-se em
aspectos pertinentes às análises e aos diagnósticos de uma e de outra área.
A Metodologia será a melhor composição desses temas, com ênfase no
psicodiagnóstico, a partir dos paradigmas da MTC: conceito dos Cinco Elementos e
suas ressonâncias, os princípios Yin e Yang e os Biotipos Constitucionais, base para
a proposta terapêutica que será apresentada.
O estudo do Transtorno de Humor é importante. Estima-se que, nos próximos
anos, seus sérios sintomas poderão atingir 8% da população. A depressão é o mais
comum e frequente e sua incidência aumenta de forma alarmante. Ainda segundo
Holmes (2007, p.158) “pode acontecer que estejamos saindo da ‘era da ansiedade’
e adentrando a ‘década da depressão’”.
10

Para entender essa alteração de comportamento individual que será a marca


desta sociedade pós-moderna, serão estudadas as condições que geram a
síndrome conhecida como TAB.
11

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Teoria Geral da Medicina Tradicional Chinesa (MTC)

2.1.1 Conceito Yin-Yang

Esse é o conceito fundamental da Medicina Tradicional Chinesa. Tidas como


opostas, mas complementares, essas energias atendem à Lei da Dualidade (LEE,
2002, p.17), na qual uma insere-se e pode transformar-se na outra.

FIGURA 1 - Princípio Yin-Yang


Fonte: Requena (1990, p. 83)

É o que Requena (1990, p.81) identifica como “dinamismo de


complementaridade (macho e fêmea), de alternância (noite e dia) e de
transformação (o excesso de Yang se transforma em Yin e vice e versa)”.
Segundo o Imperador Amarelo:

O Yin corresponde à falta de movimento, e sua energia simboliza a terra; o


Yang corresponde ao movimento, e sua energia simboliza o céu, portanto, o
Yin e o Yang são os caminhos da terra e do céu. Como o nascimento,
crescimento, desenvolvimento, colheita e armazenamento de todas as
coisas são levados a efeito de acordo com a regra de crescimento e declínio
do Yin e do Yang (...). Quando o Yin e o Yang estão em harmonia, o espírito
desabrocha, portanto o Yin e o Yang são as moradas do espírito. (BING,
2001, p.49)
12

Todas as transformações de todas as estruturas (materiais e imateriais) do


universo são realizadas a partir da interação desses princípios.

O Yin determina a matéria, portanto, a substância do corpo humano, o que


está no interior. O Yang é a função, o que se manifesta exteriormente. O Yin
é a base material da capacidade de funcionar, é a esse título que é o
sustentador do Yang. O Yang é a manifestação, no exterior, do movimento
da matéria interna, de onde ser chamado o enviado do Yin. (AUTEROCHE;
NAVAILH, 1992, p.15)

Nessa visão relativista do pensamento chinês, a doença pode ser


considerada desordem na manifestação desses dois aspectos, isto é, quando há
prevalência de um, em decorrência do desequilíbrio na relação.
Com base na MTC, observa-se que o crescimento de um e o consequente
decréscimo do outro são evidenciados durante as mudanças climáticas. Por
exemplo, do inverno à primavera, até chegar ao verão, o clima passa
progressivamente de frio a calor – o Yin decresce, o Yang cresce. Do verão ao
outono, seguidos pelo inverno, a progressão é invertida, o Yin cresce, o Yang
decresce. (BING, 2001, p.34)
A atividade fisiológica passa igualmente por esse processo: para produzir
energia Yang, é necessário consumir matéria nutritiva Yin que, por conseguinte,
decresce para o crescimento de Yang. Para efetivar o equilíbrio relativo, é
necessário o decréscimo de Yang para efetivar o metabolismo da matéria nutritiva
Yin. (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992, p.16)

2.1.2 Os Cinco Elementos

Os gregos já consideravam a importância de Quatro Elementos, aos quais


relacionavam as quatro faculdades humanas: fogo (moral), água (estética e alma),
ar (intelectualidade) e terra (estrutura física). Essa ideia baseou a medicina,
proposta por Hipócrates, da patologia humoral constitucional. Para Hipócrates, “não
há doenças e sim doentes”, sua intervenção é para “tratar o homem e não a
doença”. Para isso correlaciona os quatro elementos: fogo (Bile Amarela), terra (Bile
Negra), água (Fleugma) e ar (Sangue). (LEE, 2002, p.9)
13

Outras correlações apresentadas por filósofos contemporâneos relacionavam


os elementos às qualidades da Criação: fogo (Luz), terra (Solidez), água (Fluidez),
ar (Gás). Exemplo disso é a correlação com os quatro “humores”, proposta por
Galeno, que deram origem aos quatro temperamentos humanos: fogo (Colérico),
terra (Melancólico), água (Fleumático), ar (Sanguíneo); assim como a concepção da
medicina indiana Ayurvédica: fogo (Pitta), terra e água (Kapha), ar (Vatta), descrita
nas escrituras sagradas (Bhagavad Gita). (LEE, 2002, p.9)
De acordo com a medicina chinesa, a Natureza é governada por Yin/Yang e
os Cinco Elementos: fogo, terra, metal, água e madeira, que representam as
qualidades fundamentais de toda matéria no universo.

FIGURA 2 - Cinco Elementos


Fonte: Kwang (s.d.).

A compreensão dos Cinco Elementos é o centro do diagnóstico que


fundamenta a Acupuntura Constitucional dos Cinco Elementos, pois pode possibilitar
ao terapeuta conhecer a vulnerabilidade energética do paciente a partir do “Fator
Causativo” (FC) ou desequilíbrio energético constitucional, ou seja, a compreensão
de sua fisiologia energética por meio de método analítico.
A base teórica, relatada no Nei Jing (aproximadamente 200 a.C.) e
posteriormente no Nan Jing (Clássico das Dificuldades, aproximadamente 200 d.C),
foi influenciada pelo Taoísmo, bem como pelo Naturalismo e o Confucionismo
(HICKS; HICKS; MOLE, 2007, XI).
14

Os conceitos são fundamentados na exploração e na compreensão das


relações dos processos da Natureza e de como eles se manifestam nas pessoas. A
terapêutica medicinal visa à manutenção do equilíbrio energético do paciente.

2.2 Modelos diagnósticos

2.2.1 Modelo eletrônico

A acupuntura explicada pelos antigos chineses, por meio de analogia ao


modelo eletrônico do funcionamento dos sistemas, considera a energia (Qi), como
uma corrente, cujo fluxo energético, polarizado em Yin/Yang, negativo e positivo,
circula, no ritmo da respiração, nos 133 meridianos distribuídos pelo corpo, todos
ligados às funções e aos órgãos (REQUENA, 1990).

FIGURA 3 - Relação: horas e meridianos


Fonte: Requena (1990, p.56)

A fisiologia chinesa corresponde às 12 funções principais dos 12 meridianos


denominados principais (REQUENA, 1990):

- Zu Shao Yang - meridiano da Vesícula Biliar(VB): corresponde à função biliar


do fígado e da vesícula; e relaciona-se à defesa do organismo e ao sistema
ósseo.
15

- Zu Jue Yin - meridiano do Fígado (F): corresponde ao órgão e a todo o seu


metabolismo; acompanha e favorece a circulação das veias dos membros
inferiores e da região pélvica.

- Shou Tai Yin – meridiano do Pulmão (P): corresponde ao órgão que absorve
a energia da respiração; garante a defesa do organismo e relaciona-se com o
sistema e a circulação linfática.

- Shou Yang Ming – meridiano do Intestino Grosso (IG): corresponde ao cólon;


tem a função de exoneração.

- Zu Yang Ming – meridiano do Estômago (E): corresponde ao Estômago; tem


como função a digestão dos alimentos além de extrair a energia pura e fazê-la
circular nos meridianos.

- Zu Tai Yin – meridiano do Baço-Pâncreas (BP): corresponde


anatomicamente aos dois órgãos; refere-se a: digestão, boca, glândulas
salivares, enzimas do Pâncreas, além de atuar na regularização e defesa do
sangue no Baço, ao destruir glóbulos vermelhos velhos. Baço-Pâncreas
ligam-se a: útero (e influenciam a fecundação), corpo amarelo e testículo;
interferem, assim, na formação de espermatozóides.

- Shou Shao Yin - meridiano do Coração (C): corresponde ao Coração, bomba


e músculo cardíaco; governa a circulação; e centraliza emoções.

- Shou Tai Yang – meridiano do Intestino Delgado (ID): corresponde à víscera;


participa da assimilação dos alimentos e regulariza a circulação sanguínea.

- Zu Tai Yang – meridiano da Bexiga (B): corresponde à Bexiga; regulariza a


água do corpo.

- Zu Shao Yin – meridiano do Rim (R): corresponde ao Rim (segrega a urina) e


à glândula endócrina supra-renal além da gônada (testículo no homem) e o
(ovário na mulher); influi principalmente nas secreções hormonais sexuais.

- Shou Jue Yin – meridiano do Mestre do Coração (CS): corresponde ao plexo


cardiorespiratório; é a função do sistema ortossimpático com gânglios e
nervos simpáticos (núcleos simpáticos do bulbo raquidiano).

- Shou Shao Yang – meridiano do Triplo Aquecedor (TA): corresponde à


função dos três centros ou metabolismos (Sanjiao); regula os metabolismos:
16

eliminação urinária, assimilação digestiva e respiratória; relacionados ao


funcionamento global do sistema parassimpático e do nervo pneumogástrico.

O meridiano principal energiza o órgão correspondente, cuja função veicula,


enquanto energiza toda a região por onde atravessa.

O modelo eletrônico nos permite ver que nesse conjunto circula um fluxo,
que os chineses chamam energia, e que é comparável a um fenômeno de
natureza eletromagnética. Elétrica, devido à diferença de potencial que se
pode registrar nos pontos; magnética, torna-se hipotético, mas muito
provável (...) Para saber como funciona esse sistema eletrônico, pode-se
comparar a fisiologia do homem a um posto com transistores. Os órgãos
são: o detector de estações, a regulagem do volume, da tonalidade, o
seletor de ondas curtas ou médias, ou longas, enfim os semicondutores, e o
alto-falante. (REQUENA, 1990, p. 51)

Em caso de alteração no circuito, o que pode ser motivado por agentes


etiopatogênicos, externos ou internos, o equilíbrio e a harmonia serão abalados, o
que constitui a doença funcional. Nesse caso, o acupunturista deverá identificar a
origem do problema e aplicar a técnica mais adequada para restabelecer a
harmonia, seja tonificar ou dispersar, acelerar ou reduzir, desbloquear ou derivar o
fluxo energético, nos locais das perturbações.
A condição desarmônica mantida por longo período causará problemas
irreversíveis no sistema, ou seja, a doença orgânica.
Para o estudo de caso, explanado nesta pesquisa, um dos critérios
diagnósticos foi o Ryodoraku, modelo eletrônico criado pelo médico, Dr. Yoshio
Nakatani, que propôs o método de avaliação e o tratamento.

2.2.2 Modelo Cósmico

“O homem não se limita ao modelo mecanicista e físico” (REQUENA, 1990,


p.84), como propõe o modelo eletrônico. Além dos agentes etiopatogênicos
fisiológicos, é influenciado pelo meio e suas relações, inclusive as de natureza
psíquica. É importante considerar, ainda, que não se trata de modelo estático. O
fluxo de energia, que percorre os meridianos em velocidade proporcional à
respiração – portanto variável – é influenciado pelo meio em seus ritmos biológicos.
17

As condições climáticas, o ritmo do sol (circadiano) e da lua (lunar), das


estações e as diversas influências cósmicas impactam nos sistemas funcionais.
Há cinco condições climáticas, segundo a MTC, que atuam sobre as funções
do corpo, capazes de desequilibrá-lo: Frio, Calor, Umidade, Secura e Vento. O
Coração é sensível ao Calor; o Fígado ao Vento; o Rim ao Frio; Pulmão à Secura, e
Baço-Pâncreas à Umidade.
Além disso, o organismo tem ritmo próprio, regido ora por um, ora por outro
órgão (Figura 4). Para a Medicina Chinesa, uma hora equivale a duas horas
ocidentais, o que explica o fato de cada meridiano apresentar hiperatividade
funcional em determinada hora, quando – devido à plenitude de energia – sua
função atinge o potencial máximo de atividade:

Hora na MTC ÓRGÃO


de 23h à 1h primeira hora chinesa, exatamente à meia noite, primeira hora ocidental,
corresponde ao meridiano(VB), causando insônia nos pacientes
hepáticos
de 1h às 3h evidencia-se a função do Fígado
das 3h às 5h o Pulmão atinge o ponto máximo de atividade, o que intensifica as
crises de bronquite
das 5h às 7h é o cólon que atinge o ápice de energia
das 7h às 9h período mais favorável à digestão, é o Estômago que se encontra em
plenitude
das 9h às 11h Baço-Pâncreas reagem, horário em que a glicemia (controlada pelo
pâncreas) está mal regulada
das 11h às 13h é o período do Coração, o que explica mais incidência de óbito por
cardiopatias
das13h às 15h o Intestino Delgado encontra-se em hiperatividade
das 15h às 17h é o período da Bexiga
das 17h às 19h horário do Rim supra-renal e gônadas
das 19h às 21h do Mestre do Coração, meridiano (CS)
das 21h às 23h do Triplo Aquecedor, após o que reinicia-se o ciclo
QUADRO 1 - Horário de hiperatividade dos meridianos
Fonte: Requena (1990, pp.55-58)

No tratamento de doenças graves e crônicas, o acupunturista escolhe a hora


de plenitude do órgão para regular seu funcionamento, sedar em casos de excesso;
ou, ao contrário, se a indicação for tonificação, escolherá a hora imediatamente
seguinte, método conhecido como: ir ao encontro e em busca. (REQUENA, 1990,
p.56)
18

FIGURA 4 - Meia-noite e meio-dia dos meridianos


Fonte: Requena (1990, p.57).

Há, ainda, uma relação de oposição entre os meridianos, chamada: Meia-


noite-Meio-dia. Nesse caso o recurso consiste em puntuar na hora oposta ao horário
do órgão.
Para o médico chinês, a lua exerce influência comparável à maré dos
oceanos. A acupuntura promove o equilíbrio entre o dinamismo da circulação
sanguínea, arterial e venosa, e a energia dos meridianos, equilibrando essas duas
forças, opostas apesar de complementares. Durante a lua nova, o sangue e a
energia são abundantes, portanto não é indicado tonificar na lua cheia, dispersar na
lua nova e não se deve puncionar durante a lunação. As estações igualmente
influenciam a energia dos meridianos: o Fígado atinge o máximo de sua atividade
durante a primavera; o Coração, no verão; o Baço-Pâncreas na quinta estação –
após 15 de agosto; o Pulmão, durante o outono; e o Rim, no inverno. (REQUENA,
1990, p.58)
Segundo a Medicina e a Astronomia chinesas, há no mínimo 108 estrelas,
planetas ou constelações que influem diretamente o organismo. Suas radiações
magnéticas são estudadas pela cronobiologia climática: periódica, circadiana, anual,
mensal, horária, na fisiologia chinesa.
19

Tudo se passa como se víssemos os meridianos seguir quatro movimentos


diferentes, enchimento, esvaziamento com períodos da lua, um avanço
progressivo com a respiração, enchimento privilegiado de um meridiano,
como uma onda que, sobrepondo-se a da respiração, enche um meridiano,
um após outro, em velocidades diferentes, uma plenitude privilegiada dos
meridianos da estação do ano e do clima. Os pontos se excitam, ou se
acalmam, em relação com as diversas influências. (REQUENA, 1990, p. 59)

Essas influências não são nocivas, a menos que a fisiologia esteja em


desarmonia. De qualquer modo, o psiquismo é o elemento que contribui para o
equilíbrio ou, ao contrário, para a perturbação desse sistema.

2.2.3 Modelo Psicossomático

Na Psicologia, síndromes são desencadeadas por circunstâncias externas


que afetam o organismo, do aspecto mais sutil (mental) ao mais material (biológico).
Entender essa distinção motivou esta pesquisa.
A Filosofia e a Medicina Chinesa consideram corpo e mente, não como
mecanismos, mas como vórtices de Qi (energia) nas diversas manifestações, que
interagem reciprocamente para formar o organismo. Nessa perspectiva, corpo e
mente são formas de Qi, ou seja, são manifestações dessa energia, assim como
todas as substâncias vitais, em diferentes graus de materialidade, do mais denso
(líquidos corpóreos) ao mais imaterial ou sutil (mente – Shen). (REQUENA, 1990)
As substâncias vitais são: energia (Qi); sangue (Xue); essência (Jing); fluídos
corpóreos (Jin Ye); mente (Shen).
Tratados da MTC afirmam que o psiquismo determina a vulnerabilidade. Além
de acidentes (traumatismos e ferimentos), causas hereditárias e epidemias, causas
cósmicas, alimentares e psíquicas.
As influências cósmicas alteram o sistema eletrônico dos meridianos na
superfície que vibra em ressonância com aquelas, o que pode provocar
desequilíbrios internos das funções dos órgãos. É possível verificar que crises de
demência e agitação, registradas em hospitais psiquiátricos, coincidem com
períodos de lua cheia. Isso justifica a adoção do termo “lunático” para indicar
pessoas perturbadas. (REQUENA, 1990, p.60)
20

As causas psíquicas podem provocar a desordem de todo o sistema


energético dos meridianos. A esse respeito, a MTC classifica as tendências
comportamentais que podem desorganizar o sistema, correlacionadas
respectivamente aos órgãos e vísceras mais atingidos (REQUENA, 1990, p.61):

cólera e arrebatamento, que conduz à agressividade – Fígado e Vesícula


Biliar;
excesso de alegria ou euforia - Coração;
excesso de preocupação ou reflexão – Baço-Pâncreas;
tristeza, mágoa ou ressentimento que levam ao abatimento – Pulmão;
temor e medo que geram necessidade de proteger-se – Rim.

Para a fisiologia chinesa, esses mesmos órgãos, considerados os mais


importantes do sistema, controlam cinco funções (tratadas neste estudo
posteriormente). Nutridos por sangue e energia, cada um elabora, além da função
própria, uma energia essencial, pura e fundamental, chamada Jing, que circula nos
12 vasos secundários e, preferencialmente, pelos 8 meridianos específicos.
(REQUENA, 1990, p. 61)
Esse Jing é direcionado ao coração, que por sua vez elaborará uma essência
– de natureza psíquica (“alma vegetativa”, compreensível a partir do conceito de
Shen) – específica para cada órgão:

ÓRGÃO EMOÇÃO FUNÇÃO (que governa)


Fígado – Hun Cólera movimento psíquico de exteriorização
Coração – Shen Alegria emoções
Baço-Pâncreas – Yi Preocupação reflexão
Pulmão – Po Tristeza movimento de interiorização
Rins – Zhi Medo vontade de sobrevivência individual e da
espécie
QUADRO 2 - Cinco Shen
Fonte: Requena (1990, p.63)
21

O conjunto desses cinco Shen (essências psíquicas elaboradas pelo coração)


e das emoções fundamentais, considerados os aspectos quantitativos e qualitativos,
constitui o Shen individual (“alma vegetativa”), controlado pelo coração.
Desse modo é possível entender por que a palavra Psicologia em chinês
associa os ideogramas “origem do coração”, uma vez que estuda a “alma”; e, na
MTC, o Coração é a morada da alma. (REQUENA, 1990, p. 65)
Para os chineses a energia psíquica elaborada pelo Coração é veiculada
pelos meridianos, até o cérebro, o que difere da concepção da fisiologia ocidental,
para a qual tudo se organiza no cérebro.
Apesar disso, essas duas concepções, ocidental e chinesa, não são
necessariamente contraditórias, já que a Acupuntura refere-se a outra estrutura,
uma vez que trata de anatomia energética e não metabólica.
A fisiologia ocidental é anatomopatológica (estuda os metabolismos
bioquímicos, onde se manifestam, ou seja, nos tecidos, nas células; já a fisiologia
chinesa é fisioenergética, ocupa-se do estudo dos fenômenos de fluxo energético
realizados em anatomia imaterial. (REQUENA, 1990)
Por ser o órgão considerado mais importante para a acupuntura, o coração é
considerado o Imperador.

O coração tem a função soberana: prestígio espiritual. O pulmão tem a


função de ministro de Estado: administração. O fígado a do estado maior:
cálculo e reflexão. A vesícula biliar a de um árbitro: decisão. O mestre do
coração tem a função de um delegado ministerial nas alegrias (diríamos
atualmente, ministro do lazer). O baço e o estômago têm a função de
abastecimento. O intestino grosso serve de passagem para os produtos da
digestão. O intestino delgado tem uma função química: a digestão. O rim
tem uma função na ereção e na habilidade de criar. O tríplice aquecedor
tem uma função de irrigação. A bexiga tem função subalterna e local de
retenção de humores e de energia transformada. (REQUENA, 1990, p. 66)

Em acupuntura, a atividade psíquica não se separa da orgânica. De modo


que uma falha em um órgão produzirá alteração no comportamento psíquico
correspondente. E, inversamente, uma tendência psíquica excessiva perturbará a
função orgânica.
Assim, é possível entender a acupuntura como medicina psicossomática por
considerar a origem psíquica, emocional e afetiva das perturbações orgânicas e
funcionais.
22

2.3 Etiopatologia

Para a medicina chinesa o estado de saúde, Qi Correto, depende do equilíbrio


entre o Yin e Yang.
“O desregramento que se produz no Yang é devido ao Vento, à Chuva, ao
Frio, ou o Calor. Aquele que se produz no Yin é de origem alimentar, residencial,
sexual ou afetiva”. (WEN, apud AUTEROCHE; NAVAILH, 1992, p.111)
A doença instaura-se a partir do desequilíbrio entre Yin e Yang, aliado a dois
processos: perda da resistência corporal, devido à diminuição da energia vital
(Zheng Qi) ou Qi Correto; e influência de fator patogênico (Xie Qi) ou Qi Perverso; a
doença é o reflexo da “guerra” entre eles. O Qi Perverso somente aparece na
condição de ausência do Qi Correto.
Em casos de atividade orgânica regular e mente sólida, o Qi Correto rechaça
o Qi Perverso.
Segundo Auteroche; Navailh (1992), a resistência ou fraqueza corporal é
determinada por:
constituição física: qualidades transmitidas hereditariamente;
estado mental: que age imediatamente na atividade funcional do Qi e do
sangue dos órgãos;
mesologia: hábitos desregrados e excessivos perturbam a atividade
fisiológica;
alimentação e exercícios físicos: dieta irracional combinada com
sedentarismo enfraquecerá o sistema de defesa;
resistência adquirida por condicionamento: o que envolve a conservação e a
força do Qi Correto aliada ao afastamento ou preservação quanto ao Qi
Perverso.
23

2.3.1 Causas exteriores

As condições climáticas: Vento, Frio, Fogo, Umidade, Secura e Canícula, não


são consideradas patogênicas, pois é possível adaptar-se a elas. Excessos
climáticos, para Auteroche; Navailh (1992, p.122) são considerados patogênicos, por
apresentarem variações brutais ou anormais tornam-se nocivos, quando há
diminuição da capacidade de resistência do organismo.
Os fatores patogênicos (Xie Qi) – de origem externa – mais comuns são,
segundo Auteroche; Navailh (1992), as doenças relacionadas com o clima da
estação, respectivamente:
primavera - decorrentes do Vento;
verão – oriundas da canícula – Calor do verão;
verão prolongado ou início do outono - causadas pela umidade, após
exposição prolongada a ambientes úmidos;
outono - decorrentes da Secura;
inverno – relacionadas ao Frio.

Os mesmos autores afirmam que esses fatores podem atuar, isoladamente ou


associados: nas gripes há agressão tanto pelo Vento como pelo Frio; nas diarreias
há Umidade e Calor; nos reumatismos o ataque pode ser decorrente do Vento, do
Frio e da Umidade.
Além dessa possibilidade de associação, os fatores podem transformar--se
um no outro; assim, o Frio, que penetra no interior, pode se transformar em Calor; a
Umidade pode se tornar Secura, ferindo o Yin.
São classificadas como Doenças de Origem Externa as que penetram no
organismo pelo nariz, pela boca ou pela pele.
Aliado a isso, também pode ser considerado desencadeante externo o
consumo excessivo de sabores, segundo Maciocia (2010, p.266):
excesso de acidez faz transbordar o Fígado e exaure o Baço;
abuso de sal contrai músculos, cansa ossos grandes e freia Coração;
açúcar sufoca o Coração e desequilibra o Rim, o que escurece a tez;
24

azedo em demasia relaxa músculos e vasos, maltrata a essência e o


espírito;
amargo excessivo resseca o Baço e espessa a emanação do Estômago.

Os sabores têm os respectivos efeitos (MACIOCIA, 2010, p.266):


- o acre e doce (sudoríferos e dispersantes) - Yang;
- o ácido e o amargo (evacuantes, purgativos e estimulantes dos
corrimentos) – Yin;
- o salgado (evacuante e purgativo) – Yin;
- o que é insípido (diurético) – Yang.

Hirsch (2008, p.63) trata, antes, de distinguir os significados de: paladar,


gosto e sabor. Paladar, termo ligado ao palato, relaciona-se a regiões da língua
que, aliadas ao olfato, garantem saber o sabor (termos de mesma origem
etimológica). Gosto, termo subjetivo e abrangente, que não está apenas restrito à
gastronomia. Sabor, por sua vez, refere-se às características dos alimentos.
A autora também afirma que, assim, “saborear ganha o sentido de explorar,
conhecer e saber o sabor”, por função do paladar, cujos efeitos podem ser
(HIRSCH, 2008, p. 63):
- picantes – ativam a circulação de energia e provocam o suor;
- doces – acalmam sensações de desconforto e neutralizam os efeitos tóxicos
(de carnes e peixes);
- ácidos (ou adstringentes) – podem obstruir movimentos e conter diarréias e
suores excessivos;
- salgados – amaciam a rigidez de músculos e glândulas;
- amargos – reduzem calor, drenam fluídos e provocam eliminações
intestinais.

De acordo com Hirsch (2008), o alimento tem ainda: natureza (quente ou


frio), movimento (para cima, para baixo, para dentro ou para fora), elemento
(tendem a reforçar um ou outro dos cinco elementos) e relação efetiva com os
meridianos (quando a pessoa sente certas vontades, isso é manifestação de algum
meridiano).
25

Em relação às estações do ano, a autora apresenta o quadro reproduzido


abaixo, posto que certos alimentos devem ser servidos de acordo com o período em
que são colhidos – como quando a produção de alimentos seguia o ritmo da
natureza.

PRIMAVERA
reduzir normal reforçar reforçar normal
ácido amargo doce picante salgado
VERÃO
reduzir normal reforçar reforçar normal
amargo doce picante salgado ácido
FINAL DO VERÃO
reduzir normal reforçar reforçar normal
doce picante salgado ácido amargo
OUTONO
reduzir normal reforçar reforçar normal
picante salgado ácido amargo doce
INVERNO
reduzir normal reforçar reforçar normal
salgado ácido amargo doce picante
QUADRO 3 – Cardápio de acordo com a energia das estações
Fonte: Hirsch (2008, p. 68)

2.3.2 Causas interiores

São as doenças causadas pelas cinco emoções (Wu Zhi) ou os sete


sentimentos (Qi Qing): Alegria, Cólera, Preocupação, Pensamento, Tristeza, Medo,
Pavor. (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992, p.125)
As reações originadas da percepção de mensagens emocionais não são
consideradas patogênicas. No entanto, quando decorrem de fortes emoções de
estresse, provocam desordem funcional no Qi, Xue (Sangue) ou Zang Fu (Órgãos e
Vísceras), o que provoca as doenças.
Neste estudo, esse tema será retomado em capítulo específico.
26

2.3.3 Causas mistas

Doenças decorrentes da alimentação, da fadiga, das luxações, das fraturas,


das feridas por armas brancas ou pelo ataque de insetos e animais.

2.3.4 Diferentes aspectos das emoções: MTC e Medicina Ocidental

Para a medicina chinesa, conforme afirmam Auteroche; Navailh (1992, p.126),


o excesso emocional agride o órgão correspondente, assim:
a Raiva excessiva resultará na ascensão do Qi; isso acarretará
distúrbio na função de drenagem, e o Qi do Fígado seguirá em ao
contrário, seguido do sangue que levará à perda brutal de sentido;
o excesso de Alegria dissolve o Qi; com a dispersão do Qi do Coração
não é possível se concentrar;
a Tristeza exacerbada reduz o Qi; a depressão do espírito fará diminuir,
até o desaparecimento, o Qi do Pulmão;
o Pensamento excessivo bloqueará o Qi; o excesso de preocupação
desgasta o Qi do Baço que não terá força para efetuar a função de
transporte;
o Medo excessivo fará descender o Qi; diminuirá a solidez do Qi dos
Rins, relaxará os esfíncteres o que resultará na incontinência urinária e
anal.
Por outro lado, a manifestação da emoção revelará o distúrbio (excesso ou
deficiência) que afeta os órgãos (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992, p.126):
o Qi do Baço em estado de vazio: será revelado pela astenia mental,
pela depressão;
o Qi do Baço em estado de plenitude: se manifestará na obsessão, ou
ideia fixa;
o Qi do Rim em estado de vazio: manifesta-se por indecisão,
apreensão;
27

o Qi do Rim em estado de plenitude: revela-se no autoritarismo, na


extravagância;
o Qi do Pulmão em estado de vazio: pela angústia;
o Qi do Pulmão em estado de plenitude: pela superexcitação;
o Qi do Fígado em estado de vazio: pelo medo;
o Qi do Fígado em estado de plenitude: pela raiva;
o Qi do Coração em estado de vazio: por choro;
o Qi do Coração em estado de plenitude: há grave risco de óbito.

O excesso descontrolado das emoções (Alegria, Raiva, Tristeza,


Preocupação e Medo) altera o curso natural do Qi, transforma-se em FOGO o que
fará gerar sintomas: irritabilidade, insônia, amargor na boca, dores torácicas, tosse,
hemoptise (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992, p.127).
Quando o Coração está doente, os sintomas manifestam-se na esfera
neuropsíquica: palpitações, insônia, abundância de sonhos, confusão mental,
agitação desordenada, risos e choros sem causa, perturbações mentais.
A doença do Fígado impossibilitará o descongestionamento ou a drenagem;
como resultado, será expressa por sinais psíquicos acompanhados de sinais físicos:
mente deprimida ou agitação e irritabilidade; garganta apertada; flancos
intumescidos e doloridos, regras irregulares, seios inchados, por vezes com nódulos.
O Baço doente não consegue exercer a função de transformar e transportar o
Jing Qi. Os sinais psíquicos serão seguidos dos sinais físicos: neurastenia, tristeza e
amnésia; inapetência, ou mesmo anorexia, repleção gástrica dolorosa, evacuações
irregulares. Há ainda a possibilidade de doenças combinadas, em que o distúrbio de
um órgão decorre de outro, revelado em sintomas complexos. Desse modo, quando
não há trocas entre o Coração e o Rim, observam-se: nervosismo, insônia, agitação,
temor, vertigens (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992, p.128).
O excesso de pensamentos e reflexões consome o Coração e o Baço, o que
provocará: insônia, taquicardia, abundância de sonhos, amnésia.
A desarmonia, entre Fígado e Baço, decorrente de raiva, manifesta-se por
temperamento irascível, mente deprimida e frequentes suspiros exalados.
28

2.4 Produções patogênicas

Em decorrência do mau funcionamento de órgãos, pode ocorrer a produção


de humores viscosos (Tan Yin) e estagnação de sangue (Yu Xue), o que poderá
agredir as vísceras (Zang Fu) e os tecidos orgânicos, com a interrupção parcial do
metabolismo dos líquidos orgânicos. A condensação desses humores é denominada
mucosidade (Tan) – o que é espesso; e humores (Yin) – o que é fluído
(AUTEROCHE; NAVAILH, 1992, p.128).
Há, ainda, a possibilidade da mucosidade e de os humores viscosos
apresentarem-se de forma imaterial, por meio de: vertigens, ofuscações,
obnubilação mental, náuseas, vômitos, respiração curta, palpitações, demência,
perda de lucidez, confusão mental, mesmo sem sinais exteriores.
A formação de humores e mucosidades deve-se ao consumo de álcool, e de
alimentos condimentados (gordurosos e açucarados), os quais são condensados
pelo Calor. Além disso, um ferimento interno – causado pela ação das emoções –
provocará a estagnação de Qi do Fígado, o que poderá se transformar em Fogo, e
com isso diminuir a concentração dos líquidos corpóreos, e transformá-los em
mucosidades e humores, conforme se pode observar a partir dos quadros.

Região ou Sintomas
órgão
Coração 1. Opressão torácica com dores que podem levar à perda de
consciência, palpitações.
2. Mente confusa, dispersa, demência (loucura agitada).
Pulmão Tosse asmática, expectoração de mucosidades, respiração
sibilante.
Garganta Sensação de garganta bloqueada, não pode nem escarrar,
nem engolir.
Estômago Náuseas, vômitos, sensação de repleção estomacal com, às
vezes, como bolas e acúmulos.
Ossos e 1. Abcesso ósseo, linfangite, gânglios inflamados, adenites,
músculos incluindo as partes genitais.
2. Corrimentos saniosos, incluídas as metrites.
Vasos e Parestesia dos membros, hemiplegia.
colaterais
QUADRO 4 - Mucosidades (Tan)
Fonte: Auteroche; Navailh (1992, p.129).
29

Região ou Sintomas
órgão
Pulmão Tosse, respiração asmatiforme, abundância de humores fluídos
e espumosos, edema no rosto, não pode ficar deitado.
Estômago Peito e flancos intumescidos, palpitações cardíacas, respiração
curta, superficial, vertigens.
Intestino Vertigens, escarros, o bacinete está como contraído, agitação
subumbilical, micção penosa.
Flancos Peito e flancos muito dolorosos, agravado pela tosse que é
produtiva. Polipnéia, não pode ficar deitado de um lado.
Pele Sensação de dores e peso nos membros e no corpo, oligúria,
edemas nos membros.
QUADRO 5 - Humores(Yin) ou com mais frequência Humores de Água (Shui Yin).
Fonte: Auteroche; Navailh (1992, p.130)

As doenças também podem ser provocadas por acúmulos de sangue por


causas externas: ferimentos por golpes, entorses, feridas, fraturas, efusões internas,
ataques por Frio nocivo ou Calor perverso; ou por causas internas, devido à má
circulação do Qi ou de atividade orgânica.

Região ou Sintomas
órgão
Coração 1. Opressão torácica, dores violáceas e irradiando para os
ombros, lábios violáceos.
2. Demência.
Pulmão Dores torácicas com febre, escarros purulentos misturados com
sangue e de cor escura.
Abdômen Sensação de acúmulo, às vezes formando protuberância ou
então perceptível à palpação.
Dor lancinante ou então dor gradativa em parte do abdômen.
Útero Regras irregulares ou amenorréia ou hemorragia uterina. Sangue
menstrual de cor escura ou misturado de coágulos enegrecidos.
Dores lancinantes no abdômen ou então dores com sensação de
distensão. Após os partos, lóquios persistentes ou corrimentos
saniosos.
Pele Hematomas. Na ponta dos membros gangrena seca por
obliteração arterial.
QUADRO 6 - Acúmulo de Sangue (Yu Xue)
Fonte: Auteroche; Navailh (1992, p.132).
30

2.5 Psicologia e a Síndrome do Transtorno Bipolar

2.5.1 Teoria Geral

Qualquer perturbação da saúde é considerada transtorno. Os critérios de


avaliação, indicados neste trabalho, basearam-se no DSM-IV (anexo A) e no CID-10
(anexo B).
Especificamente o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) caracteriza-se, do ponto
de vista clínico, pela presença de dois estados afetivos opostos, ambos extremos: a
depressão (estado de prostração mental, com diminuição da atividade e iniciativa) e
a mania (período de excitação e atividade intensa). Tais estados são alternados e,
geralmente, seguidos de períodos de remissão. Devido a essa alternância de
aspectos, por muito tempo esse estado foi conhecido como Psicose Maníaco-
Depressiva (PMD) (HOLMES, 1997, p.158).
Entre os possíveis transtornos, um dos dois mais frequentes é o de humor;
outro, o Transtorno Afetivo Unipolar (depressão).
Na dinâmica do TAB evidencia-se a fragilidade egóica e o uso de defesas
maníacas como tentativa de contenção da angústia depressiva (HOLMES, 1997,
p.158).

2.5.2 Sintomas

No TAB, a depressão é o sintoma proeminente, que alterna com a mania.


Devido a isso pode desenvolver-se tão intensamente – até se tornar bastante sério –
antes de ser diagnosticado, em especial nos episódios maníacos, porque o indivíduo
apresenta-se: feliz, descuidado, despreocupado em relação aos problemas
potenciais, autoconfiante, aparentemente produtivo e com humor alegre e festivo.
Esse estágio inicial pode ser referido como hipomaníaco (HOLMES, 1997, p.159).
31

2.5.2.1 Sintomas de humor

No aspecto depressivo (HOLMES, 1997, p.159), observam-se dois padrões


de depressão:

- depressão com retardo: mais frequente, quando os pacientes apresentam


movimentos corporais reduzidos e mais lentos, fala arrastada e monótona.
- depressão agitada: os doentes, incapazes de permanecerem sentados,
caminham de um lado para o outro, torcem as mãos e puxam ou friccionam
os cabelos e a pele. Envolve sintomas de ansiedade, o que dificulta a
distinção com a mania. No entanto, o depressivo agitado é triste, enquanto o
maníaco aparenta ser feliz.
A pessoa deprimida sente-se sem esperanças, desencorajada, isolada,
rejeitada e não amada. Além disso, essas sensações podem ser acompanhadas por
ansiedade. Na fase podrômica é difícil distinguir se o indivíduo está no quadro de
depressão ou se sofre de estado de ansiedade. No desenvolvimento da doença, o
nível de ansiedade é reduzido, enquanto o de depressão aumenta.

2.5.2.2 Sintomas cognitivos

Há seis processos cognitivos na depressão (HOLMES, 1997, p.159):

- autoestima muito rebaixada: os indivíduos deprimidos consideram-se


inadequados, inferiores, ineptos, incompetentes, sem valor, além de se
sentirem culpados por seus fracassos;
- pessimismo: acreditam que jamais serão capazes de resolver seus
problemas e que a tendência de tudo é apenas piorar;
- motivação reduzida: por acreditarem que não terão capacidade para
resolver seus problemas, os deprimidos não veem razão para buscar
superá-los;
32

- generalização de atitudes negativas: em decorrência da propagação e


abrangência dos aspectos cognitivos já descritos, essas atitudes
intensificam-se mais do que a causa original da depressão;
- exagero na seriedade dos problemas: o indivíduo, por desenvolver e
manter crenças totalmente errôneas, bizarras e absurdas, pode desenvolver
o delírio;
- processos de pensamento mais lentos: carecem de energia mental, são
incapazes de trabalhar eficazmente; apresentam desempenho intelectual
muito pobre, especialmente em tarefas que requeiram velocidade de
processamento.

2.5.2.3 Sintomas motores

Segundo Holmes (1997, p.161), o sintoma mais proeminente e mais


importante é o retardo psicomotor, que envolve redução ou lentificação do
comportamento motor. Os indivíduos deprimidos sentam-se com postura encurvada
e mantêm o olhar parado; além disso, falam pouco e em tom baixo, comumente
interrompem a fala no meio da frase, porque não têm a energia ou o interesse para
concluir a frase.
Por outro lado, em contraste e menos prevalente, alguns apresentam agitação
psicomotora e são incapazes de ficar parados, permanecem em constante estado de
preocupação e caminham de um lado para outro; suas atividades são aleatórias em
vez de focalizadas; portanto, ineficazes.

2.5.2.4 Sintomas somáticos

Incluem-se alguns padrões (HOLMES, 1997, p.161):

sono perturbado: os acometidos pela depressão apresentam


dificuldade para conciliar o sono, despertam muito cedo e são
33

incapazes de voltar a dormir. Em alguns casos, passam a dormir mais


do que o usual, efeito denominado hipersonia;
alimentação perturbada: perde-se o interesse em comer, e o alimento
deixa de ter sabor; consequentemente a ingestão é reduzida e há falha
na nutrição. Ou, ao contrário, para alguns deprimidos, comer torna-se a
única atividade agradável na vida;
impulso sexual reduzido: perda de libido;
suscetibilidade a várias doenças: angústia e aflição constantes
resultam em influência psicológica disruptiva.

2.5.2.5 Sintomas de humor

Durante o episódio maníaco, predomina a euforia (HOLMES, 1997, p.159). O


paciente apresenta-se excessivamente feliz, emocionalmente expansivo e, devido às
restrições impostas, a fim de limitar o comportamento inadequado, pode aparecer a
irritabilidade.

2.5.2.6 Sintomas cognitivos

Na mania, associam-se autoestima inflada e grandiosidade (HOLMES, 1997,


p.159). Esses pacientes têm crenças irreais sobre o que podem realizar. Outro
sintoma é a distratibilidade e a fragmentação da atenção (fuga maníaca de ideias).
Em decorrência da inabilidade de focar a atenção, e por mudar de tarefa para tarefa,
a maioria dos pacientes maníacos é ineficaz e não consegue resultado positivo.
Devido à fuga de ideias e à confusão dela resultante podem ser erroneamente
diagnosticados como distúrbio do pensamento do tipo esquizofrênico, até porque
alguns pacientes podem apresentar delírios como os da esquizofrenia.
34

2.5.2.7 Sintomas Motores

Ainda segundo Holmes (1997, p.161), a progressão no comportamento motor


dos maníacos se dá na mesma proporção que seu comportamento cognitivo
excitado. Os altos níveis de atividade e autoimportância exagerada podem levar
alguns indivíduos com mania a comportamentos inapropriados, tais como hiper-
sexualidade e o gasto exagerado de dinheiro.

2.5.2.8 Sintomas Somáticos

O sintoma mais consistente, na crise de mania, conforme Holmes (1997,


p.161), é a necessidade reduzida de sono. As pessoas permanecem despertas e em
movimento, ignoram fadiga, dores e outros sintomas que possam realmente existir.

2.6 Transtorno ciclotímico

O estudo do transtorno de humor tem sido intensificado, devido à


variabilidade, desde a depressão profunda à mania descontrolada, e também pelos
números de acometimentos. Estima-se que “8% da população sofrerá de transtorno
de humor em algum momento da vida”. (HOLMES, 1997, p.158)
As muitas possibilidades são divididas em subgrupos (depressivos ou
unipolares; e bipolares):
Em ambos destaca-se a depressão, como sintoma preponderante. A
bipolaridade é assim chamada porque o indivíduo apresenta os dois polos de humor
(antigamente denominado maníaco-depressivo).
35

TRANSTORNOS
DE HUMOR

Transtornos
Transtornos bipolares
depressivos
(sintomas se alternam
(UNIPOLAR)
entre depressão e
(principal sintoma é a
mania)
depressão)

Transtornos distímicos Transtornos


(forma menos severa ciclotímicos
do transtorno (forma menos severa
depressivo) do transtorno bipolar)

FIGURA 5 - Tipos e organização dos transtornos de humor


Fonte: Holmes (1997, p.159).

2.7 Questões associadas

2.7.1 Prevalência e idade de início

A incidência da doença pode variar de intensidade e apresentar sintomas


distintos, por isso os índices consideram em especial os indivíduos mais
severamente acometidos; outro aspecto a se destacar é que a faixa etária dessa
incidência é extensa, o que dificulta a exatidão do diagnóstico.

O transtorno bipolar ocorre em aproximadamente 1% da população (Robins


et al., 1984). Se indivíduos menos severamente perturbados (ciclotímicos)
são incluídos, a porcentagem de indivíduos com transtorno provavelmente
dobra (Fremming, 1951: Helgason, 1961: James & Chapman 1975;
Krauthammer & Klerman, 1979), mas esta ainda não é tão alta quanto a de
outros transtornos maiores, como o depressivo (unipolar) e a esquizofrenia.
(...) Comumente acredita-se que o período de risco para o início estende-se
de aproximadamente 15 a 60 anos de idade, com o início mais freqüente
ocorrendo entre as idades de 25 e 30 anos (Carlson et al., 1974;
Krauthammer & Kleman, 1979; Loranger & Levine, 1978; Winokur et.
al.,1969). Esta idade de início é um pouco anterior àquela para o transtorno
depressivo (unipolar), que mais frequentemente começa no final da década
36

dos 30 e meados da dos 40. O início da mania é às vezes observado em


indivíduos idosos, mas os sintomas nestes indivíduos são provavelmente
decorrentes de outras doenças ou medicações e não do transtorno bipolar
(Yong & Klerman, 1992). (HOLMES, 1997, p.196)

Comumente os episódios maníacos e os depressivos acontecem em ciclos:


maníaco, normal, depressivo, normal, maníaco, normal; e assim sucessivamente.
Sem o adequado tratamento, há redução dos períodos normais e aumento na
duração de episódios. Uma vez estabelecido, o transtorno pode manifestar-se por
muito tempo. (HOLMES, 1997, p.196)

2.7.2 Fatores demográficos

O transtorno bipolar manifesta-se em igual proporção entre homens e


mulheres, assim como nas classes sociais (HOLMES, 1997, p.196).

2.7.3 Tempo do ciclo

Há variação no tempo de duração dos ciclos.

Em um estudo com 919 indivíduos, durante cinco anos, verificou-se que


aproximadamente 35% deles passaram por apenas um ciclo, enquanto
aproximadamente 1% dos indivíduos passou por 22 ciclos –
aproximadamente um ciclo a cada três meses (Coryell et. at., 1992). (...) Em
anos recentes algum interesse foi mostrado em indivíduos que apresentam
ciclos rápidos definidos como quatro ou mais ciclos por ano. (Coryell et.
al., Wehr et. al., Wehr et al.,1988; Wolpert et. al., 1990). Em geral, os ciclos
rápidos tendem mais a ocorrer em mulheres e eles não apresentam um
padrão genético (o transtorno bipolar ocorre em famílias, mas os parentes
que têm o transtorno bipolar não apresentam concordância para ciclos
rápidos). Também os indivíduos que apresentam ciclos rápidos tendem
menos do que outros a recuperar-se no primeiro ou segundo ano de
tratamento, mas são igualmente propensos a recuperar-se depois disto. De
modo geral, então, em vez de refletir um tipo diferente de transtorno bipolar,
os ciclos rápidos provavelmente indicam um caso mais severo ou virulento.
(HOLMES, 1997, p.196).
37

DIFERENÇAS ENTRE OS TRANSTORNOS BIPOLAR E UNIPOLAR


Bipolar Unipolar
Sintomas Mania e depressão Depressão
Incidência Raro (0,75% a 1%) Comum (5%)
Início Precoce (25 a 30) Mais tardio (35 a 45)
Taxa de gênero Igual em homens e mulheres Mais em homens, 2:1
Genética Mais parentes bipolares Menos parentes bipolares
QUADRO 7 - Diferenças entre os transtornos
Fonte: Holmes (1997, p.197)

2.7.4 Mania como sintoma secundário

A mania secundária é o que se poderia considerar como o efeito colateral de


uma droga antidepressiva ou, ainda, resultante de outra doença (HOLMES, 1997,
p.197).

2.7.5 Investigações psicofisiológicas

Ao investigar as causas do transtorno, as explicações psicológicas foram


desconsideradas após constatação de que a droga carbonato de lítio é eficaz no
tratamento (HOLMES, 1997, p.197).
Entre as causas fisiológicas, não há entendimento completo sobre os esses
aspectos do Transtorno Bipolar, tampouco compreende-se a eficácia do carbono de
lítio, embora existam boas hipóteses formuladas, conforme Holmes (1997, p.197).
A alternância entre sintomas de depressão e mania sugere instabilidade
fisiológica (HOLMES, 1997, p.197).

Até o momento, nenhuma inabilidade específica foi definitivamente


identificada, mas há duas possibilidades prováveis: níveis em mudança de
neurotransmissores e mudanças de nível de sensibilidade pós sináptica
(Bunney & Murphy, 1976). (HOLMES, 1997, p.197)

Em decorrência de alterações observadas na membrana pré-sináptica,


responsável por regular a liberação de neurotransmissores. Se a liberação é
excessiva, resulta em alto nível de atividade neurológica e produzirá os sintomas da
38

mania. Ao contrário, se insuficiente a quantidade de neurotransmissores na sinapse,


reduzirá o nível de atividade neurológica, e isso desencadeará os sintomas da
depressão (HOLMES, 1997, p.198).
Outra possibilidade é a alteração na sensibilidade dos sítios receptores pós-
sinápticos. A hipersensibilidade conduzirá ao aumento na atividade neurológica,
portanto ao comportamento maníaco. Em casos de insensibilidade à estimulação,
haverá redução da atividade neurológica e, como consequência, a depressão
(HOLMES, 1997, p.198).
Por meio do metabolismo da glucose (tipo de açúcar), que se produz a
energia necessária para a atividade neurológica. Imagens obtidas com a tecnologia
(Tomografia por Emissão de Pósitron - TEP) permitiram observar que, durante
episódio maníaco, há elevação na taxa de metabolismo de glucose cerebral em
comparação à fase depressiva (HOLMES, 1997, p.198).
Isso, no entanto, não é suficiente para concluir que alterações no
metabolismo da glucose cerebral sejam causa do transtorno bipolar.

2.7.6 Fatores genéticos

Considera-se a possibilidade de que a instabilidade neurológica possa ser


herdada. Quando comparados à taxa na população geral, parentes em primeiro grau
de pessoas com o transtorno bipolar apresentaram taxa superior do transtorno
(HOLMES, 1997, p.199).

Transtorno Transtorno
Estudo Bipolar Unipolar
Winokur et al (1969) 10,2 20,4
Goetzl et al (1974) 2,8 13,7
Helzer; Winokur (1974) 4,6 10,6
Petterson (1974) 4,6 10,6
Gershon et al(1975) 3,8 6,8
James; Chapman (1975) 6,4 13,2
Trzebiatowska-Trzeciak (1977) 10,0 -
Smeraldi et al (1978) 5,8 7,1
Média 6,0 10,6
População geral 1,0 5,0
TABELA 1 - Porcentagem de parentes em primeiro grau com transtorno de humor
Fonte: Adaptado de Perris (1982, p.50), Tab 4.7. (apud HOLMES, 1997, p.199)
39

2.8 Acupuntura Constitucional dos Cinco Elementos

A compreensão da dinâmica dos cinco elementos permite ao terapeuta


conhecer melhor o paciente e sua fraqueza constitucional.

Quando um elemento predomina, por exemplo, em determinados horários


ou estações do ano, é chamado imperador: o mais ativo. O que é nutrido
por ele se chama ministro: está perto, desperto. O que gerou é a mãe:
repousa, esgotada. O controlado por ele é inimigo vencido: não ousa. O que
controla seu poder é conselheiro: modera (HIRSCH, 2008, p.16).

IMPERADOR MINISTRO VENCIDO CONSELHEIRO MÃE


Madeira Fogo Terra Metal Água
Fogo Terra Metal Água Madeira
Terra Metal Água Madeira Fogo
Metal Água Madeira Fogo Terra
Água Madeira Fogo Terra Metal

QUADRO 8 - Relação dinâmica entre os elementos


Fonte: Hirsch (2008, p.16)

2.8.1 Tratamento pelos Pontos Elementos

Os terapeutas da Acupuntura Constitucional dos Cinco Elementos


regularmente utilizam os pontos, com base na indicação do Nei Jing e Nan Jing
(HICKS; HICKS; MOLE, 2007, p.6). Assim, são frequentemente usados os pontos de
“comando”, localizados nas extremidades abaixo dos cotovelos e dos joelhos.
As transferências de Qi de órgãos plenos para os deficitários são realizadas
por meio dos pontos Elementos (tonificação ou sedação). Ou ainda, quando os
pulsos do paciente indicam desequilíbrios acentuados entre os Elementos, pelo ciclo
ke entre os Órgãos Yin.
40

FIGURA 6 – Ciclo Ke
Fonte: Kwang (s.d.).

Os pontos Yuan (fonte), afetam o Yuan Qi, o Jing na forma de Qi e, portanto,


influenciam o equilíbrio constitucional. Por isso são usados para testar o FC, bem
como a resposta ao tratamento de determinado Órgão ou Elemento. (HICKS;
HICKS; MOLE, 2007, p.304).
Em casos de extrema deficiência de Qi, são usados os pontos: Shu dorsais,
os pontos horários e os do Ren Mai (Vaso da Concepção)– “mar dos canais Yin” e
do Du mai (Vaso Governador) – “mar dos canais Yang”. Os pontos de alarme ou Mu
frontais, no dorso, quando doloridos à palpação, indicam desequilíbrio do órgão
associado. (HICKS; HICKS; MOLE, 2007, p.304).
Quando o corpo está relativamente saudável e forte, é apropriado centralizar
o tratamento nele; no entanto, se a fraqueza ou a desarmonia for mental ou
espiritual, subjacentes ao corpo físico, o tratamento deve contemplar o FC, e assim
nutrir a raiz. O acupunturista deverá harmonizar o Céu e a Terra a fim de restaurar o
equilíbrio.
Para compor o diagnóstico, o terapeuta estabelecerá as ressonâncias
principais – ligações energéticas (elementos com a mesma natureza Qi).
As principais ressonâncias, base do diagnóstico do FC são: cor da face, som
da voz, emoção expressa e odor.
Cabe a ele observar ainda as ressonâncias dos Cinco Elementos que,
conforme Hicks; Hicks; Mole (2007, p.7), saber diagnosticá-las “é um dos principais
desafios para o terapeuta da Acupuntura Tradicional dos Cinco Elementos”. Tais
ressonâncias são assim agrupadas por esses autores:
41

MADEIRA FOGO TERRA METAL ÁGUA


Cor verde vermelho amarelo branco azul
Som grito riso canto choro gemido
Emoção raiva alegria preocupação mágoa medo
Odor rançoso queimado aromático podre pútrido
Estação primavera verão verão-tardio outono inverno
Clima vento calor umidade secura frio
Sabor azedo amargo doce picante salgado
Poder crescimento maturidade colheita declínio armazenamento
QUADRO 9 - Ressonância dos Cinco Elementos
Fonte: Hicks; Hicks; Mole (2007, p.7)

Essa harmonização é a mesma citada por Naranjo (2005, p.36) sobre a


necessidade de o indivíduo permitir que a autorregulação organísmica atue para que
“uma coerência e sabedoria mais profunda da mente podem entrar em jogo e curar
as complicações neuróticas da `loucura de controle` egóica”.
Neste estudo, propõe-se correlacionar a TAB (medicina ocidental) com os
fatores predominantes da tipologia constitucional, formulada por Lee (2002).
Conhecer os tipos constitucionais pode auxiliar no diagnóstico e no tratamento
complementar (acupuntura).

2.8.1.1 TIPO I – AR: YANG SUPREMO – TAI YANG

Energia de Metal em excesso (Pulmão – em plenitude) e baixa energia de


Madeira (Fígado – em deficiência). A carência de energia em Madeira, ou seja,
Fígado e Vesícula Biliar, resulta em fraqueza na sustentação de coluna e de pernas,
já que o Fígado governa os músculos e o tecido conectivo. Além disso, a hipofunção
hepática reduz a tolerância a medicamentos, álcool, tabaco, alimentos gordurosos e
proteínas de origem animal (LEE, 2002, p.141).
Devido à baixa energia de Fígado e Vesícula Biliar, cujos sintomas iniciais
são: vista cansada, ressecamento e sensação de retração dos olhos, há ascensão
do Yang do Estômago, o que gera dispepsia (dificuldade de digestão), gastrite
(inflamação do Estômago), esofagite (inflamação do Esôfago) e refluxo (Qi
contracorrente em MTC). Além disso, a baixa energia de Madeira leva à baixa
energia de Fogo (Coração e Intestino Delgado), o que gera: ansiedade, cervicalgia
42

(dor na região de pescoço e nuca) devido a contratura tensional, palpitações súbitas,


arritmias, sustos e irritabilidade constante.
O excesso de energia de Metal manifesta-se pela congestão pulmonar,
brônquica, da laringe, amígdalas, cavidades nasais e, em alguns casos, inflamação.
A dificuldade para inspirar provoca a sensação de sufocamento e angústia
respiratória e, por consequência, leva ao estado de alerta e excitação. Por isso é
frequentemente acometido por gripes ou bronquite crônica.
Características físicas: fronte larga, brilho intenso nos olhos, tórax bem
desenvolvido (devido a hiperplasia do parênquima pulmonar), ombro largo, cintura
proporcionalmente mais fina.
Personalidade: inteligência extraordinária, pensamento criativo, excessivo
orgulho e amor próprio com autoconfiança absoluta em relação aos próprios valores
e ideias. São progressistas que, quando se realizam, podem se tornar grandes
gênios, líderes revolucionários, verdadeiros pioneiros a serem seguidos; porém,
algumas vezes, podem não ser compreendidos pela sociedade convencional. Em
algumas situações, quando não conseguem atingir seus propósitos, ficam
momentaneamente furiosos e revoltados com os outros e consigo.
Essas características, correlacionadas com a Psicanálise, poderiam ser assim
expostas:

Desequilíbrio básico Eixo Metal-Madeira


Caráter Fálico-narcisista da Psicanálise
Comportamento arrojado e audacioso, mas imprudente. Orgulho,
vaidade e presunção
Fixação fase fálica
Personalidade manifestações esquizomorfas ou de quadros de
Paranoia
Propensão desenvolver quadro de Paranoia (Delírio Crônico)
Paradoxo atividade delirante a partir de raciocínio
tendencioso indutivo-dedutivo, decorrente de
juízo desviado, mas com extrema lucidez
Quadro estrutural intuição – sentimento – pensamento – percepção
QUADRO 10 - Constituição e manifestações psicossomáticas - Ar
Fonte: Lee (2002, pp.141-146)
43

Na Acupuntura, os tratamentos propostos são:

EIXO METAL-MADEIRA Acupuntura Acupuntura


TAI YANG Chinesa Constitucional

Hipo-Energia da Fortalecer e alimentar o Tonificar a Madeira do


Madeira do Fígado = Sangue do Fígado: BP6, Fígado:
Síndrome de BP9, BP10, E36, B17, ↑F8, ↑R10
Insuficiência e Estase B18, B20, B21, F13, VG9, ↓F4, ↓P8
de Sangue no Fígado. Yin Tang
Hiper-Energia do Metal Harmonizar e fortificar o Qi Sedar o Metal do
do Pulmão = Síndrome do Pulmão: B13, P1, P7, Pulmão:
do Vazio do Yang Qi do P9, VC6, VC17, IG4, IG18, ↓P5, ↓R10
Pulmão. E36. ↑P10, ↑C8
QUADRO 11 – Comparação de tratamentos propostos - Ar
Fonte: baseado em Lee (2002, pp.58-59)

2.8.1.2 TIPO II – FOGO: YANG RELATIVO – SHAO YANG

Sujeito a hipofunção renal, devido à baixa energia de Rim. Apresenta ainda


diversas complicações genitourinárias, no sistema reprodutor e no excretor. Assim,
são frequentes: cálculos renais, cistites, infecções urinárias (LEE, 2002, p. 50).
Em consequência da baixa energia de Água tem os ossos pouco
desenvolvidos, predisposto a osteoporose, artrose e distrofia. Por esse mesmo
motivo ocorrem nevralgias e neuropatias. Se o desequilíbrio atingir Baço-Pâncreas,
pode desenvolver diabetes melitus (LEE, 2002, p. 50).
Essas deficiências geram desequilíbrios nas emoções, ou seja, o indivíduo
Tipo II é ansioso, tenso e inquieto.
Reitere-se que um elemento em deficiência gera excesso em outro, neste
caso o Fogo (Coração), o que leva a cardiopatias.
44

Esse mesmo excesso pode provocar estado congestivo de Calor no


Estômago, indicado por queixas gástricas, além de rubor facial, “enxaquecas,
zumbidos no ouvido, cefaleia tensional, rigidez na nuca”.

Esse excesso de fogo é responsável por um estado de euforia e alegria


exagerada. Acha-se em um estado simpático-tônico permanente. (LEE,
2002, p.50).

Características físicas: pele clara, seca, não muito macia, brilho nos olhos,
voz clara e aguda, tórax bem desenvolvido, tronco curto, pernas proporcionalmente
compridas.
Personalidade: espontâneo, descontraído, extrovertido e social. Embora seja
alegre, facilmente se deprime já que é emotivo e sentimental. Ativo, agitado,
nervoso, explosivo, impaciente e pouco persistente. Assim, com frequência, larga
algo que tenha iniciado com entusiasmo. Não tolera injustiças, assim como não
guarda raiva, rancor ou mágoa. Devido ao caráter franco, direto e altruísta, costuma
agradar a todos.
Essas características, correlacionadas com a Psicanálise, poderiam ser assim
expostas:

Desequilíbrio básico Eixo Fogo-Água


Caráter Oral
Comportamento prevalência de atitudes de independência e
autossuficiência; não raro reage de forma violenta
à frustração
Fixação fase oral
Personalidade manifestação de comportamentos díspares
Propensão desenvolver quadro neurótico
Paradoxo altruísmo exagerado ou, ao contrário,
mesquinhez acentuada
Quadro estrutural pensamento – percepção – intuição - sentimento
QUADRO 12 - Constituição e manifestações psicossomáticas - Fogo
Fonte: Lee (2002, pp.147-149)
45

Na Acupuntura, os tratamentos propostos são:

EIXO FOGO-ÁGUA Acupuntura Acupuntura


SHAO YANG Chinesa Constitucional
Hipo-Energia da Água Fortificar, nutrir e Tonificar a Água dos
dos Rins = Síndrome de aumentar o Yin dos Rins Rins:
Vazio de Yin dos Rins. e baixar o Fogo: B17, ↑R7, ↑P8
B23, B52, R1, R2, R3, ↓BP3, ↓R3
R6, R7, BP1, BP6, BP8,
F1, F8, VC6, CS6, IG11
Hiper-Energia do Fogo Nutrir o Xue e Yin do Sedar o Fogo do
do Coração = Síndrome Coração e refrescá-lo. Coração e tonificar a
do Vazio do Sangue do C8, CS5, BP9, B15 e Água dos Rins:
Coração / Vazio do Yin VG14 ↑R7, ↑P8, ↑C3, ↑R10
do Coração / O Fogo e ↓BP3, ↓R3, ↓C7
a mucosidade
perturbam o Coração.
Hiper-Energia da Terra Nutrir e umedecer o Yin Sedar a Terra do
do Estômago = do Estômago; Refrescar Estômago:
Síndrome do Vazio do o Estômago e dispersar o ↓E45, ↓IG1
Yin do Estômago/Fogo Fogo: MC6, BP4, VC11, ↑E43, ↑VB41
no Estômago. VC12, E25, E36, E44,
B20, B21
Hipo-Energia dos Rins Nutrir o Yin e fazer Tonificar os Rins e Sedar
não suprime a Hiper- descer o Fogo para o Coração:
Energia do Coração = restabelecer a permuta ↑R7, ↑C3
Síndrome do entre Coração e Rins: ↓C7, ↓R3, ↓BP3
impedimento de trocas VG20, C7, CS8, CS5,
entre Coração e Rins. B15, R3, VC14.
Hipo-Energia dos Rins Umedecer e tonificar o Tonificar os Rins e o
e Hiper-Energia do Pulmão e os Rins: R3, Pulmão e sedar o
Coração causam Hipo- R10, R23, VC3, VC6, P5, Coração:
Energia do Pulmão = P7, P9. ↑R7, ↑P9, ↑C3
Síndrome do Vazio do ↓BP3, ↓C3, ↓P10
Yin do Pulmão e dos
Rins.
QUADRO 13 - Comparação de tratamentos propostos - Fogo
Fonte: baseado em Lee (2002, pp.60-69)
46

2.8.1.3 TIPO III – TERRA: YIN SUPREMO – TAI YIN

Ao contrário do Tipo I, apresenta excesso de energia de Madeira (Fígado), o


que o torna propenso a congestão hepática, além de acarretar a supressão do
Estômago e Baço-Pâncreas e, como consequência, meteorismo, azia, eructação,
gastrites e úlceras (LEE, 2002, p. 52).
Normalmente esse Tipo Constitucional apresenta adequada função digestiva,
bom desenvolvimento muscular e boa resistência articular. No entanto, se excedida
a utilização dessa energia, poderá padecer de artrite reumatóide, hipertonias
musculares e contraturas tensionais. Nos casos em que há aumento do elemento
Fogo (Coração e Intestino Delgado), devido ao excesso de Madeira, identificado
pelos sintomas de hipertensão e alteração no desejo e potência sexual, poderá
evoluir para cardiopatia.
Esse mesmo excesso levará à disfunção pulmonar, o que predispõe a asma
cardíaca, opressão torácica, tuberculose, rinite alérgica, gripes, dermatoses,
obstipação intestinal, hemorróida, periartrite e ombro doloroso (LEE, 2002, p. 52).
Características físicas: pele e musculatura consistentes, muita transpiração,
esqueleto grosso, mãos e pés grandes e úmidos, pescoço desenvolvido, tronco
comprido e pernas proporcionalmente curtas, tórax não muito desenvolvido,
abdomen proeminente, nádegas “arrebitadas”.
Personalidade: persistentes e teimosos, raramente mudam de opinião ou de
atitude, mesmo quando estão errados. Expressão séria e confiável, apesar de,
verdadeiramente, sempre visarem os próprios interesses. Por não serem
espontâneas, tais pessoas não costumam revelar facilmente seus pensamentos e
sentimentos. Com paciência e tática, planejam muito antes de decidir. No
relacionamento pessoal, é do TIPO 8 ou 8000. Quando simpatizam com alguém, são
generosas e compreensivas. Devido a aparência segura e a postura de quem
nasceu para a liderança, exercem, com sucesso, cargos de relacionamento público.
Essas características, correlacionadas com a Psicanálise, poderiam ser assim
expostas:
47

Desequilíbrio básico Eixo Madeira-Metal


Caráter Anal
Comportamento tendência à frugalidade, asseio, correção, teimosia,
pontualidade e atenção a pormenores. Rigorismo e
bloqueio afetivos.
Fixação fase anal
Personalidade Depressivo Constitucional, é pessimista, inseguro e
chora facilmente, apresenta ainda, sintomatologia
hipocondríaca, neurose fóbica (claustrofobia) ou
compulsiva, crises depressivas com manifestações
melancólicas
Propensão quadro de Psicose Maníaco – Depressiva (TAB -
Transtorno Afetivo Bipolar)
Paradoxo tendências sádicas ou, ao contrário, formação reativa
contra o sadismo.
Quadro estrutural percepção – pensamento – sentimento – intuição
QUADRO 14 - Constituição e manifestações psicossomáticas - Madeira
Fonte: Lee (2002, pp.150-154)

Na Acupuntura, os tratamentos propostos são:


EIXO MADEIRA-METAL Acupuntura Acupuntura
TAI YIN Chinesa Constitucional
Hipo-Energia da Madeira Dispersar o Qi do Fígado e Sedar a Madeira do
do Fígado = Síndrome de refrescar o Fogo do Fígado: Fígado/ Vesícula Biliar:
Estagnação do Qi do B17, B18, B19, B51, F2, F3, ↓F2, ↓C8/↓VB38, ↓ID5
Fígado; o Fogo do Fígado F14, VB20, VB34, E18, ↑P8, ↑F4/↑VB44, ↑IG1
inflama a parte superior VB2, E34, CS6, BP6, C5,
do corpo. VC10, VB43, VG20.
Hipo-Energia do Metal do Nutrir o Yin e umedecer o Tonificar o Metal do
Pulmão = Síndrome do Pulmão: P6, P9, P10, R3, Pulmão:
Vazio do Yin do Pulmão. B43, B13, B23, BP6. ↑P9, ↑BP3
↓P10, ↓C8
Hiper-Energia do Yang do Drenar o Fígado e revigorar Sedar o Fígado e tonificar
Fígado suprime Hipo- Baço-Pâncreas: B20, E36, Baço-Pâncreas e o
Energia do Yang do Baço- VC12, F3, F4, IG4, BP9. Estômago:
Pâncreas e Estômado = ↑F4, ↑E41, ↑BP2
Síndrome de Fígado e ↓F2, ↓E43, ↓BP1
Baço-Pâncreas em
discordância/ Fígado e
Estômago em
discordância.
Hiper-Energia do Yang do Refrescar e purificar o Sedar o Fígado e
Fígado e da Circulação- Fígado; dispersar o Circulação-Sexo, além de
Sexo agrava a Hipo- Pulmão: P1, F3, VC22, tonificar o Pulmão:
Energia do Pulmão = O VB41, F2, B18. ↑P9, ↑F4, ↑CS3
Fogo do Fígado lesa o ↓CS7, ↓F2, ↓P10
Pulmão.
QUADRO 15 - Comparação de tratamentos propostos - Madeira
Fonte: baseado em Lee (2002, pp.70-78)
48

2.8.1.4 TIPO IV - ÁGUA: YIN RELATIVO – SHAO YIN

Em oposição ao Tipo II, tem excesso de Rim e deficiência em Coração e


Estômago e seu acoplado. Essa deficiência gera aumento de umidade e
mucosidade, e isso o predispõe a: inflamações no sistema genitourinários,
corrimentos, cistites, nefrite, abscesso renal.
O elemento Água associa-se às emoções, em especial ao medo. Em caso de
deficiência do elemento Fogo (Coração), o que se observará são sintomas
neurastênicos: ansiedade, fobia, palpitação e hipotensão.
Esse Tipo Constitucional é o mais propenso a desenvolver câncer no
estômago e a insuficiência renal.
Características físicas: estatura pequena e proporcional, mãos e pés
pequenos, pele fina e macia, pouca transpiração, sem brilho nos olhos.
Personalidade: introvertidos, calmos, quietos, tímidos, sensíveis e
responsáveis, inteligentes, racionais, lógicos, pensativos, organizados e aplicados.
No entanto, costumam se apegar a pormenores, são ciumentos e vingativos,
guardam mágoa e rancor. Embora saibam agradar aos outros, no fundo são
egoístas e egocêntricas.
Essas características, correlacionadas com a Psicanálise, poderiam ser assim
expostas:

Desequilíbrio básico Eixo Água-Fogo


Caráter Histérico
Comportamento sensibilidade exacerbada, tendência a teatralizar
Fixação fase uretral
Personalidade tendência a: falsificar as relações, mitomania,
sugestionabilidade e patologias sexuais
Propensão desenvolver a neurose histérica
Paradoxo “donjuanismo”/“messalinismo” contrasta com grandes
inibições sexuais, impotência, frigidez ou perversões
Quadro estrutural sentimento – intuição – percepção – pensamento
QUADRO 16 - Constituição e manifestações psicossomáticas - Água
Fonte: Lee (2002, pp.155-157)
49

Na Acupuntura, os tratamentos propostos são:


EIXO ÁGUA-FOGO Acupuntura Acupuntura
SHAO-YIN Chinesa Constitucional
Hiper-Energia da Água dos Aquecer e fortificar o Yang Sedar a Água dos Rins:
Rins = Síndrome de Vazio do dos Rins: VC4, VC6, B23, ↓R1, ↓F1
Yang dos Rins; Excesso de R7, R9, VG4, VG14, VB39. ↑BP3, ↑R3
Yin dos Rins.
Hipo-Energia do Fogo do Nutrir o Qi do Coração, Tonificar o Fogo do
Coração = Síndrome do circular o Yang e dissolver Coração:
Vazio do Qi do as estases: B15, B14, ↑C9, ↑F3
Coração/Vazio do Yang do VC14, VC17, CS6, C5, B17, ↓C3, ↓R10
Coração/Estase de Xue do P4, C9.
Coração.
Hipo-Energia da Terra Aumentar o Qi e revigorar Tonificar Baço-Pâncreas
(Baço-Pâncreas e Baço-Pâncreas: B20, B21, e Estômago:
Estômago) = Síndrome do Qi E21, E36, BP6, BP9, VC4, ↑BP2, ↑E41
do Baço-Pâncreas e F13. ↓BP1, ↓E43
Estômago/Vazio e Frio do
Yang do Baço-Pâncreas e
Estômago.
Hiper-Energia dos Rins Aquecer e nutrir Coração e Tonificar o Coração e
suprime a Hipo-Energia do Rins: B15, B23, B32, VG4, sedar o Rim:
Coração = Vazio do Yang do CS5. ↑C9, ↑r3
Coração e Rins. ↓R1, C3
Hipo-Energia do Baço- Aquecer e nutrir Baço- Sedar Rins e tonificar
Pâncreas não suprime a Pâncreas e Rins: VC12, Coração e Baço-
Hiper-Energia dos Rins = VC4, B23, BP6, B, 54 (em Pâncreas:
Vazio do Yang Qi do Baço- direção ao E28). ↑C9, ↑BP2, ↑R3
Pâncreas e Rins. ↓R1, ↓BP1, ↓C3
Hiper-Energia dos Rins e Nutrir Rins, Coração e Sedar Rins, tonificar
Hipo-Energia do Coração Pulmão: VC22, B23, R3, Coração e Pulmão:
que causam Hiper-Energia VC6, P10, P7, P9, B43, Sedar Rins, tonificar
do Pulmão = Síndrome do B13, E40, C7, C9, E36, Coração e sedar
Vazio do Yang Qi do B15. Pulmão:
Coração e Pulmão/Vazio do ↑C9, ↑R3, ↑P10
Yang Qi dos Rins e do ↓R1, ↓C3, ↓P5
Pulmão/ Rins não recebe Qi.
QUADRO 17 - Comparação de tratamentos propostos - Água
Fonte: baseado em Lee (2002, pp.79-90)

2.9 Tratamento do Transtorno de Humor (Medicina Ocidental)

O tratamento, por meio da contenção do paciente em crise, seja com a


utilização de camisa de força ou fortes doses de sedativos, foi substituído por
terapêutica mais eficaz (uso do lítio), a partir de 1949, na Europa e, segundo Holmes
(1997), somente após a década de 70, nos Estados Unidos.
50

Embora se observe a redução dos sintomas, com a regulação dos processos


de liberação de transmissores e da sensibilidade dos neurônios, ainda não se
conhece como isso funciona. O efeito terapêutico do lítio é eficaz para tratar a
maioria dos pacientes, mas não todos.
Em uma série de estudos nos quais pacientes bipolares receberam lítio ou
um placebo, 62% dos que receberam lítio apresentaram remissão de
sintomas, enquanto apenas 5% dos que receberam o placebo a
apresentaram (Fieve, 1981). Em outra série de estudos os pacientes cujos
sintomas haviam sido eliminados com lítio foram mantidos com a droga ou
trocados para um placebo sem ser informados (Baastrup et al., 1970; Hullin
et al., 1972; Melia, 1970). Os pacientes que permaneceram sob o lítio
apresentaram uma taxa de recaída de apenas 11%, enquanto os pacientes
que tiveram o medicamento substituído pelo placebo apresentaram uma
taxa de recaída de 51%. (HOLMES, 1997, p. 229).

É importante controlar os níveis de lítio durante o tratamento. Se baixo, é


ineficaz; por outro lado, se muito alto, pode ser letal.
Os efeitos colaterais são sede e micção frequente como consequência;
dificuldade de concentração, alteração na memória e coordenação motora; em caso
de níveis mais elevados: tremores musculares; desconforto gástrico e tontura.
Apesar disso, esses efeitos são considerados mínimos, quando comparados com os
sintomas das crises.
A dificuldade em manter o tratamento é que os pacientes o abandonam na
tentativa de reviver a mania, já que na sua ausência instala-se a depressão.
Os tratamentos, orientados segundo a abordagem psicodinâmica, pretendem
desenvolver nos pacientes a condição de administrar perdas necessárias e estresse
e, para isso, oferecem apoio social.
Os terapeutas, que atuam conforme as perspectivas (psicodinâmica, de
aprendizagem ou cognitiva), orientam os pacientes para que aumentem as
gratificações e reduzam as punições, ou seja, substituir as cognições negativas por
positivas (HOLMES, 1997, p.230).
Em casos mais severos de depressão, uma alternativa de tratamento é a
terapia eletroconvulsiva (TEC), que inevitavelmente causa dano cerebral. Enquanto
a intervenção por meio de drogas limita-se ao tratamento, sem garantia de cura
(HOLMES, 1997, p.230).
Quanto aos efeitos, a Psicoterapia favorece as relações interpessoais,
enquanto a terapia com drogas reduz os sentimentos depressivos.
O prognóstico é positivo, especialmente quando o tratamento associa
Psicoterapia e terapia medicamentosa (HOLMES, 1997, p.231).
51

3 METODOLOGIA

A revisão de literatura abarcou: a síndrome TAB, a MTC, a Medicina


Ocidental, a Psicologia e a Psicanálise. Esse conjunto de teorias, no mais das vezes
convergentes, mesmo que analisem a doença por meios distintos, propiciou
aprofundar os conhecimentos, nos vários campos, dada a formação desta
pesquisadora (Psicóloga, Pedagoga e Acupunturista).
Ao destacar a importância do psicodiagnóstico, que deve abranger os
paradigmas da MTC e agregá-los aos demais parâmetros, este estudo correlaciona
a TAB do ponto de vista da medicina ocidental com os fatores predominantes da
Tipologia Constitucional, formulada por Lee (2002).
Parte-se do pressuposto de que conhecer o Fator Constitucional pode ser
essencial no diagnóstico e no tratamento complementar (acupuntura) de diversas
doenças. Se forem observadas em estágio inicial, podem evitar tratamentos
medicamentosos, onerosos e os consequentes efeitos colaterais e dependências.
Assim, foram pesquisados os Biotipos, os Cinco Elementos e suas
ressonâncias, entre renomados estudiosos.
Para este estudo, interessa especialmente a forma menos severa do
transtorno bipolar: o ciclotímico – estágio que merece mais pesquisas, pois ainda
não chega a ser considerado síndrome e pode apresentar resultados positivos com
tratamento complementar, como o da acupuntura.
Por isso, além da revisão de literatura, para este estudo de caso, foi
selecionado o prontuário da paciente L.S., atendida em ambulatório da Escola de
Terapias Orientais de São Paulo (ETOSP), entre maio de 2010 e julho de 2011, num
total de 12 sessões, espaçadas e intercaladas com atendimento particular. O Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo C) foi lido e assinado.
A análise de resultados baseou-se em gráficos, originados de dados obtidos
pelo eletrodiagnóstico Ryodoraku, do já mencionado Dr. Yoshio Nakatani. Ele, em
suas pesquisas, abordou a acupuntura do ponto de vista eletrofísico, motivo pelo
qual descobriu que, entre os pontos distribuídos na superfície corpórea, alguns
ofereciam menos resistência. A esses denominou “Ryodoten” – pontos
hipereletrocondutivos -; à sistematização deles denominou “Ryodoraku”.
52

A terapia Ryodoraku, com base na atuação física, propõe-se a regularizar o


Sistema Nervoso Autônomo. Por meio de estímulo elétrico, térmico ou a ação de
grânulos ionizados (balines), provoca-se a excitação, a qual é carreada por fibras
centrípedas (nervos sensoriais), ao centro nervoso; que por sua vez, e na
sequência, transmite tal estímulo por meio dos nervos eferentes (motores) e
autônomos (simpáticos e parassimpáticos), após o que provocará reflexo na
periferia, o que é clinicamente muito significativo.
A importância da intervenção terapêutica é justificada dadas as funções do
sistema nervoso autônomo (hipotálamo):
regulação dos órgãos internos;
secreção, assimilação e eliminação dos sucos gástricos;
sistema circulatório (com a excitação dos nervos simpáticos os vasos
sanguíneos contraem-se, ao contrário, com a excitação dos
parassimpáticos, dilatam-se; esse processo é invertido quando se trata
da artéria coronária);
metabolismo (relacionado à resistência dos tecidos);
produções das glândulas endócrinas (regulada pela ação da hipófise);
Além de influenciar:
produção de glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas do sangue (há
incremento na produção de glóbulos brancos com a estimulação dos
nervos simpáticos; e de glóbulos vermelhos, quando estimulados os
nervos parassimpáticos);
tônus muscular;
secreção da medula suprarrenal e do pâncreas.
Pesquisas constatam que há 24 pontos, denominados eletropermeáveis
(pontos de tratamento ou terapia regulatória dos nervos simpáticos), localizados em
mãos e pés, por onde a corrente elétrica tem passagem facilitada.
Para cada Ryodoraku há dois pontos: um para Tonificação, outro para
Sedação.
A fim de se mensurar a extensão do desequilíbrio, é utilizado um mapa
especial, no qual se registra o volume elétrico de cada ponto Ryodoraku, em curta
linha horizontal, o que possibilita a identificação de padrão contínuo de corrente
elétrica. Quando há divergência superior a 1,4 cm, entre os valores medidos, ou
53

seja, valores altos ou baixos, isso indicará anormalidade. De acordo com o resultado
da mensuração total, o terapeuta poderá dirigir o curso do tratamento.
Conforme a grade elaborada pelo sistema, a sequência de medição desses
pontos é (ETOSP, 2009, vol.1):
posição 1 – P9 posição 7 – BP3
posição 2 – CS7 posição 8 – F3
posição 3 – C7 posição 9 – R4
posição 4 – ID5 posição 10 – B65
posição 5 – TA4 posição 11 – VB 40
posição 6 – IG5 posição 12 – E42
A regulação básica e essencial das funções do corpo humano, de acordo com
a constituição física, pode ser obtida pela correta estimulação dos pontos
Ryodoraku.
Em caso de desequilíbrio, identificado com a medição total do Ryodoraku,
aplicar-se-á o estímulo, necessário à regulação (excitação ou inibição).
Ao se aplicar a estimulação apropriada sobre o Ryodoraku, o órgão ou os
tecidos a ele relacionados apresentam redução ou eliminação dos sintomas
decorrentes de desequilíbrio energético.
Outra indicação do eletrodiagnóstico é como tratamento auxiliar, fácil e rápido,
denominado Tratamento Localizado de Regulação do Nervo Autônomo, feito por
meio dos Pontos Reacionais Eletropermeáveis – (PREP), por eles é possível
localizar a excitação patológica do nervo simpático, onde será aplicada a
estimulação regulatória.
54

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Descrição do sujeito da pesquisa

L.S., solteira, professora, residente em São Paulo, contava na primeira


consulta 47 anos. No histórico familiar, pai e avó paterna referiram hipertensão. A
avó foi acometida também por diabetes mellitus. À época da consulta, L.S.
apresentava hipertensão (desde 2001) e diabetes (detectada em 2008), controlados
com medicamentos: maleato de enalapril (10mg) e cloridrato de metformina
(500mg), respectivamente. Além disso, toma AAS e algum relaxante muscular (à
base de valeriana).
Em 2001, foi submetida a quadrantectomia, na mama esquerda, e a retirada
de 26 linfonodos. No tratamento pós-cirúrgico foram 21 sessões de radioterapia
(sucessivas) e 6 de quimioterapia (a cada três semanas).
O indivíduo com TAB, no estágio ciclotímico, apresenta sintomas reversíveis,
sem intervenção medicamentosa, conforme relata a paciente L.S., após um ano de
sessões terapêuticas que, embora sem regularidade determinada, resultaram em
quadro positivo de reversão dos sintomas alternados de euforia e depressão.
A paciente, antes das sessões, alternava sintomas de cansaço, ”falta de
vontade”, dificuldades para regular o sono, por exemplo.

CONSULTA INICIAL EM 22.05.2010

Queixas Principais:

Dor em flanco direito, em cólica de fraca intensidade. Ansiedade, poucas


horas de sono, por noite, e sente que é reparador.
55

No interrogatório, foi relatado:


ALIMENTAÇÃO
Café no desjejum, entre 7h30 e 8h; no almoço: arroz, feijão, legumes, carne.
Tem preferência por salgados. Apetite normal e paladar por sabores ácidos e
amargos.
Há dez anos, tinha crises de gastrite.

LÍQUIDOS

Ingere aproximadamente 1,5 litro de água por dia. Sente sede.

SONO

Embora durma poucas horas, às vezes agitadas, acorda descansada.

CALAFRIOS, TRANSPIRAÇÃO, FEBRE

No verão, apresenta sudorese abundante.

CALOR/FRIO
Prefere clima com temperaturas amenas.

FEZES
Evacua duas vezes ao dia, todos os dias, com formato.

URINA
Tem a urina clara e com odor característico, sem excessos.

PROB.GENITO URINÁRIOS
Cistos ovarianos (policístico). Ciclo regular (28 dias), iniciado aos onze anos.
Foi submetida a litotripsia, em 1998. Com recidiva de cálculos em 2005, expelidos
naturalmente.
Câncer na mama esquerda em 2001; feita quadrantectomia seguida de
quimioterapia e radioterapia.
Atividade sexual rara; libido normal.
56

PROB. RESPIRATÓRIO
Faringite, alergia a poeira, perfume e insetos.

PROB. CARDIOVASCULAR
Negado.

PROB. ENDÓCRINO
Dislipidemia, em 2008. Não sabe atualmente, pois não renovou os exames.

PROB.NEUROLÓGICOS/EMOCIONAIS
Ansiosa, somatização para o rim, refluxo gástrico, depressão na TPM.

PROB.OSTEOMUSCULARES
Dor ciática (esquerda) e na clavícula (direita).

PROB.DERMATO FUNC.E ALERGIAS


Alérgica a sol, poeira, perfume, nega alergia alimentar.

ESTUDOS/TRABALHO
Trabalha 18 horas por dia, incluindo finais de semana.

LAZER/ EXERCÍCIOS FÍSICOS


Pouco lazer. Não faz atividades físicas com regularidade.
Durante a inspeção, foram observados: cabelos secos, olhos lubrificados,
vivos (usa lentes corretivas para presbiopia da acuidade visual, no período
menstrual e por causa do diabetes mellitus); lábios róseos, pele seca.

Na inspeção da língua: base alaranjada, estase das veias sublinguais;


carecas na lateral direita; marcas denteadas nas duas laterais; pontos
esbranquiçados (P), petéquias na ponta; língua pálida e úmida.

Na palpação, percebe-se o abdômen globoso.


57

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL 0,1,0; PROFUNDO 0,+1,1
Mão esquerda: PROFUNDO 0,0,+1; SUPERFICIAL 0,0,1

Durante a auscultação/olfação:
PA (Pressão Arterial) 130 x 90mmHg; voz fraca; respiração superficial; negou
tosse, soluços e eructações. Hálito forte, quando em jejum prolongado.

Hipótese Diagnóstica: deficiência de BP, de Xue, estase de Xue, umidade.

A partir do gráfico obtido com o Exame de Eletrodiagnóstico (grade abaixo)


chegou-se à aplicação de magnetos em acupontos – alguns distintos do indicado no
Gráfico Ryodoraku (sistema integrado, idealizado pelo Engenheiro Raul de Moraes
Breves Sobrinho), devido às demais inspeções:

Para esta e demais grades foram utilizadas as siglas:


(d) direito; (e) esquerdo; (ve) ventral; (do) dorsal;
(ms) membro superior; (mi) membro inferior; (c) cabeça.

FIGURA 7 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.
58

Pontos da aplicação:
(c) VG23↓
(ms) (d) IG11, CS6, TA8↑; (e) IG4, P7
(mi) (d) R3, BP5↓,E36; (e) BP6, VB39↑, E40, F2
(ve) VC13↓, VC16↓, BP15↓, Weishang; (do) Yishu

CONSULTA EM 14.07.2010

Queixas Principais:

Relatou vista embaçada; ansiedade, cansaço, estresse, angústia (aperto no


peito).
Intestino funciona 2 x ao dia, em pedaços, às vezes, gases. Urina amarelo-
clara em jato. Paciente ingere 3 copos de água por dia. Como está em férias, tem
feito 3 refeições diárias (apenas café pela manhã; arroz, feijão, carne, verduras e
legumes, no almoço; sopa de pacote, no jantar).
Apresenta unhas encravadas nos dedos grandes dos dois pés; com
latejamento no direito.
Tem sono tranquilo, embora tenha sonhos angustiantes, com os quais acorda
preocupada. Nesse período tem dormido de 6 a 7 horas.
Menstruou no dia 5, com fluxo intenso (duração de 3 a 4 dias), sem coágulo,
com coloração vermelho escuro. Um dia antes sente dor no ciático esquerdo. Tem
chorado com facilidade.
Pele ressecada com pernas edemaciadas.
Continua com os mesmos medicamentos.

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL -2,1,2; PROFUNDO -1,2,1
Mão esquerda: PROFUNDO -1,2,1; SUPERFICIAL -2,-2,0
Durante a auscultação/olfação:
PA 120 x 80.
59

Na inspeção da língua: saburra fina amarelada (TA inferior); saburra branca


nas laterais que também se apresentam carecas, pálidas e denteadas, ponta careca
e rósea.
Hipótese Diagnóstica: Deficiência de BP, umidade, vento, deficiência de
Xue, estase de Xue, calor tóxico, deficiência de Jing, de Yang BP e de Qi geral.

FIGURA 8 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.

Pontos da aplicação:
(ms) (d) IG11, CS6, CS2; (e) IG4, TA3, P9↑
(mi) (d) E36, VB39↑, BP6; (e) F3, R3, BP6
Auriculoterapia: R, Shen Men, SNV, ansiedade, P1 e 2, BP, alegria,
metabólico.
PA 120x80 mmHg.
O tratamento foi realizado com aplicação de sementes.

CONSULTA EM 21.07.2010

Queixas Principais:

Relatou melhora na vista; unha encravada, diariamente cinco horas de sono


tranquilo; acorda descansada. Alimentação irregular. Nesta data, apenas lanche às
16h. Ingere 1 litro de água por dia. Procura reduzir frituras; ingere refrigerantes e
60

sucos naturais. Urina normal em jato, com coloração clara; fezes regulares com
formato em tom marrom claro.

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL 0,+1,+1; PROFUNDO 0,+1,-1
Mão esquerda: PROFUNDO -1,1,+1; SUPERFICIAL 0,-1,0

Durante a auscultação/olfação:
PA 135 x 75.

Na inspeção da língua: saburra branca, lateral denteada, sublingual


alaranjada sem estase; edemaciada; petéquias, ponta avermelhada, com calor;
levemente arroxeada (B).

Hipótese Diagnóstica: Deficiência de Yang BP, calor tóxico, deficiência de


fígado, umidade; deficiência de Qi geral, estase de Xue.

FIGURA 9 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.

Pontos da aplicação:
(ms) (d) IG11, CS3↑; (e) IG4, P7, TA3↑
(mi) (d) F4,E37, R3; (e) BP6, BP9, VB39↑, E40
(ve) VC3↓, Yishu Bilateral
Auriculoterapia: R, Shen Men, SNV, ansiedade, P1 e 2, BP, alegria,
metabólico.
61

CONSULTA EM 28.07.2010

Queixas Principais:

Relatou ter iniciado alimentação mais regular, com café da manhã completo,
pois ainda está em férias. Sente-se ainda angustiada e triste, mas já melhorou
bastante. Nas duas últimas noites demorou a dormir e teve pesadelos. Relata
distensão abdominal. As fezes estão inteiras, com coloração normal e duas vezes ao
dia. Urina amarela clara em jato forte. A paciente relata muita tristeza, mas não quis
falar sobre o assunto. Continua com os mesmos medicamentos.

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL -1,-1,1; PROFUNDO 0,1,2
Mão esquerda: PROFUNDO 0,1,2; SUPERFICIAL -1,-1,1

Durante a auscultação/olfação:
PA 120 x 80.

Na inspeção da língua: saburra amarelada, corpo denteado, inchado,


trêmulo, úmido e arroxeado; lateral pálida e inchada; inchada, arroxeada (P);
esverdeada (C); sublingual avermelhada sem estase.

Hipótese Diagnóstica: umidade geral, vento

FIGURA 10 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.
62

Pontos da aplicação:
(ms) (d) IG11, P3↑; (e) IG4, P3↑
(mi) (d) B60, BP6, Zuxin; (e) VB39, BP9, Zuxin
(ve) VC6↑; Yishu com ventosa e, depois, esferas bilaterais

CONSULTA EM 12.01.2011

Queixas Principais:

Relatou visão nublada, devido a diabetes, intensificada no ciclo menstrual


(período da consulta), quando também sente dores no joelho e no ciático. O ciclo
permanece de 3 a 4 dias, com coágulo e coloração escura. Não reclama de cólica,
mas de depressão antes, durante e depois dele. Depois do Stipper nos pontos do
diabetes, não há mais unhas encravadas.

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL 0,1,1; PROFUNDO 1,1,1
Mão esquerda: PROFUNDO 0,1,1; SUPERFICIAL -1,0,0

Durante a auscultação/olfação:
PA 120 x 70.

Na inspeção da língua: saburra fina amarelada, lateral denteada, fissuras ao


centro e avermelhada (F); pálida e úmida (VB); abaulada entre B e P; mais
avermelhada em C. Sublingual em estase.

Hipótese Diagnóstica: estase, deficiência de Yin R; deficiência de Xue,


umidade.
63

FIGURA 11 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.

Pontos da aplicação:
(c) B2↑ bilateral
(ms) (d) IG11, CS6; (e) IG4, P9↑
(mi) (d) F8, E36, R3, VB39, B58↓; (e) VB34, BP6, F3, Neixiyan
(do) Yishu com esfera bilateral
Auriculoterapia: R, Shen Men, SNV, olhos (anterior e posterior)

CONSULTA EM 19.01.2011

Queixas Principais:

Continua com visão desfocada. Melhora da dor lombar, no ciático e no joelho.


Dormiu pouco, devido a viagem; mas relata sono reparador. Micção pouco
freqüente, mais pela manhã, em cor clara. Ingere 1,5 litro de água/dia; fezes até 2
vezes ao dia, marrom claro, inteiras sem pedaços de alimentos.

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL -1,0,1; PROFUNDO -1,0,+1
Mão esquerda: PROFUNDO 0,1,2; SUPERFICIAL -1,-1,1
64

Durante a auscultação/olfação: PA 120 x 70.

Na inspeção da língua: saburra branca e fina; fissuras ao centro avolumado


(E e B); azulada (TA inferior); careca e denteada (VB); petéquias na lateral (P).
Sublingual rósea com estase.

Hipótese Diagnóstica: calor tóxico, Vento, umidade, deficiência de Yin do R;


deficiência de Yin de Baço, síndrome de Frio, estase de Xue, deficiência de Yin do
Estômago e de Qi.

FIGURA 12 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.

Pontos da aplicação:
(ms) (d) IG11, CS6; (e) IG4, P9
(mi) (d) BP6, R3, F3↓; (e) E36, VB39↑
(ve) E25↑, R16 bilateral, BP15↓, VC3↓, Weishang, VC9↓, VC7↑; (do) Yishu com
esfera bilateral
Auriculoterapia, com caneta magnética: R↑, Shen Men↑, SNV↑, ansiedade↓, E↑, F↓,
VB↑, neurastenia↓
65

CONSULTA EM 26.01.2011

Queixas Principais:

Visão desfocada, turva, condição piorada na menstruação e na hiperglicemia


(é diabética). Trabalha muito com computador e pouco usa os óculos. Sem dor
lombar, no ciático ou no joelho esquerdo. Sono irregular, interrompido, devido a
viagem de trabalho. Teve rinite devido ao ar seco de Brasília, muco transparente,
garganta arranhando. Depois da viagem, melhorou o sono. Alimentação irregular,
fezes presas, pouca quantidade, ressecada, possivelmente devido ao protocolo de
redução de medidas. Fezes não boiam, tom marrom escuro, 2 vezes ao dia.
Sentiu distensão abdominal; ingere 1,5 litro de água/dia. A urina está clara, 2
ou 3 vezes ao dia, com gordura. Passa muito tempo sentada, sente cansaço e visão
falha. Emocionalmente sente-se bem.

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL 0,0,1; PROFUNDO 0,1,1
Mão esquerda: PROFUNDO 0,0,1; SUPERFICIAL 0,0,0

Durante a auscultação/olfação: PA 115 x 75.

Na inspeção da língua: saburra amarelada, laterais pálidas e denteadas,


fissuras em E e BP; petéquias em C. Sublingual alaranjada em estase.

Hipótese Diagnóstica: Calor, umidade em TA inferior; deficiência de Yin


BP/E; calor tóxico TA superior; deficiência de Xue, estase de Xue.
66

FIGURA 13 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.

Pontos da aplicação:
(c) Anmian bilateral
(ms) (d) IG11, CS5↓; (e) IG4, P7
(mi) (d) E36, B65, BP9, R6, F3; (e) VB39↑, E40, BP3, BP6, B58↓
(ve) VC9↓, BP15↑↓ bilateral; (do) Yishu com esfera bilateral

CONSULTA EM 02.02.2011

Queixas Principais:

Visão desfocada, insônia, sensação de torpor na face (boca). Declarou ter


passado a sensação de “estufamento” (estagnação de Qi do Estômago). Fezes, em
pedaços, em tom marrom claro, duas vezes ao dia; urina mais clara – exceto a
primeira do dia – (aumento na frequência de micção), na qual não mais observou
gordura; tem garantido três refeições diárias, mas não a qualidade. Tem tido muitos
sonhos, em sono agitado, acorda cansada, desperta às 7h. Pessoalmente
preocupada; profissionalmente aborrecida.
67

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL 2,0,0; PROFUNDO -2,0,0
Mão esquerda: PROFUNDO -2,0,0; SUPERFICIAL -2,-2,-2

Durante a auscultação/olfação: PA 110 x 80.

Na inspeção da língua: corpo, levemente desviado, arroxeado; saburra fina


esbranquiçada, pálida; língua inchada no TA médio; laterais denteadas; petéquias
em VB. Sublingual com pouca estase.

Hipótese Diagnóstica: Deficiência de Yin BP/E; calor tóxico; deficiência de


Xue, estase de Xue, umidade.

FIGURA 14 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.

Pontos da aplicação:
(c) Anmian e Yiming bilaterais
(ms) (d) IG11, CS6; (e) IG4, P7
(mi) (d) F3, R3, VB44↓; (e) BP6, VB39↑, E40, F4
(ve) VC9↓, VC13↓, BP15↑↓ bilateral; (do) Yishu com esfera bilateral
68

CONSULTA EM 19.02.2011

Queixas Principais:

Sentiu-se bem com Stiper. Diabetes controlada com medicamento, bem como
a pressão arterial. Melhora no sono e no apetite. Dor em peso na cervical e torácica
(trapézio). Reclama enjoo. Levanta-se bem, dorme um pouco à tarde (entre 14h e
16h) e melhora a energia. Fezes, urina e menstruação normais. Alimenta-se mal e
está edemaciada MI(D).

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL -1,-1,+1; PROFUNDO -1,-1,+1
Mão esquerda: PROFUNDO -1,1,-1; SUPERFICIAL -1,-1,-1

Durante a auscultação/olfação: PA 120 x 80.

Na inspeção da língua: saburra branca e pálida; laterais denteadas,


arroxeadas, pequenas fissuras. Sublingual arroxeada, varicosidade e petéquias.

Hipótese Diagnóstica: Calor tóxico; deficiência de Yang, deficiência de Yin


do F.

FIGURA 15 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.
69

Pontos da aplicação:
(ms) (d) IG11, CS6; (e) IG4
(mi) (d) E36, R7↑, VB43↑; (e) BP6, F8↑, B67↑
(ve) VC9↓, VC13, BP15↑↓ bilateral; (do) Yishu com Stiper bilateral

CONSULTA EM 23.02.2011

Queixas Principais:

Sentiu-se melhor na última semana. Percebeu inchaço nos pés e queda de


cabelos. Dorme bem e acorda descansada. Ainda alimenta-se de forma irregular, em
especial à noite. Tem tomado mais água. Fezes e urina características. Sente
cólicas no primeiro dia de menstruação. Não pratica atividades físicas, trabalha
muito frente a computador. Atividade sexual, uma vez por semana.

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL 0,1,1; PROFUNDO 0,1,2
Mão esquerda: PROFUNDO 0,0,2; SUPERFICIAL 0,1,1

Durante a auscultação/olfação: PA 120 x 82.

Na inspeção da língua: saburra espessa e branca; corpo arroxeado; lateral


pálida, denteada, úmida e careca. Ponta seca e denteada. Sublingual
avermelhada,com petéquias.

Hipótese Diagnóstica: Umidade e estase de Xue, deficiência de Xue, Frio no


TA; deficiência de Yin do Rim; deficiência de Yin e de Yang do BP; Calor tóxico do
Coração.
70

FIGURA 16 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.

Pontos da aplicação:
(ms) (d) IG11, CS6; (e) IG4, P9↑
(mi) (d) BP6, R3, E40↓, BP9; (e) E36, R3, VB39↑, BP9, F3
(ve) VC9↓, VC13↓, BP15↑↓ bilateral; (do) Yishu com Stiper bilateral

CONSULTA EM 30.03.2011

Queixas Principais:

Retornou com dores cervicais, na altura do VG14. Reduziu a queda de


cabelo. Tem sonhos tristes, sono agitado, com sensação de queda. Durante o dia,
tem sentido tontura há duas semanas, pois tomou dosagem errada de
hipoglicemiante (metformina). Urina normal em jato. Fezes, regularmente de 1 a 2
vezes, por dia, com formato e tom marrom claro. Alimentação variada, bem como os
horários. Deita-se tarde, em torno de 1h30, e acorda às 5h45 (terças, quintas e
sextas), em compensação pode dormir mais às segundas e quartas. Devido a novo
projeto, está ansiosa e mais cansada. Retorno das unhas encravadas. Esteatose
hepática. Não tomou relaxante muscular (valeriana).
71

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL -2,-1,0; PROFUNDO -2,-1,0
Mão esquerda: PROFUNDO -2,0,0; SUPERFICIAL -1,-1,0

Durante a auscultação/olfação: PA 140 x 95.

Na inspeção da língua: saburra amarelada, seca e pálida, com estase;


laterais denteadas e úmidas; corpo trêmulo. Sublingual alaranjada.

Hipótese Diagnóstica: Síndrome Bi (Frio), estase de Xue, deficiência de Qi


BP, deficiência de Xue, de Yang R.

FIGURA 17 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.

Pontos da aplicação:
(ms) (d) IG11, P3, CS6; (e) IG4, P9↑, TA5, Luozhen
(mi) (d) VB41, F3, F8; (e) E37, R3, BP6
(ve) VC9↓; (do) VB21 bilateral
72

CONSULTA EM 13.04.2011

Queixas Principais:

Relata não sentir dores. A queda de cabelos continua. Tem tido sonhos tristes
com família, após o que acorda assustada. Dorme poucas horas (de 5 a 6 horas),
por isso sente sono à tarde. A urina está amarelo-clara, com jato sem cheiro
específico diferenciado. Fezes regulares, com cheiro mais forte. Relata congestão
nasal, muco branco. Alimentação irregular e de baixa qualidade. Sente-se cansada,
angustiada, triste por coisas do passado e do presente, ansiosa, com saudades de
entes queridos, vivos e mortos.

Na pulsologia, observou-se:
Mão direita: SUPERFICIAL -1,0,0; PROFUNDO -1,1,0
Mão esquerda: PROFUNDO -1,0,-1; SUPERFICIAL -1,-1,0

Durante a auscultação/olfação: PA 130 x 90.

Na inspeção da língua: saburra branca e fina; laterais carecas e denteadas;


corpo edemaciado e arroxeado. Sublingual alaranjada com estase.

Hipótese Diagnóstica: Vento, Calor em C, estase de Xue, deficiência de Qi


do BP e P, deficiência de Yin do R, deficiência de Qi do R, deficiência de Yin do C.
73

FIGURA 18 - Confirmação do diagnóstico e elaboração do tratamento


com base nos desequilíbrios.

Pontos da aplicação:
(c) Anmian bilateral
(ms) (d) IG11, CS4, CS7; (e) IG4, CS2, P7
(mi) (d) E36, F8, E40, R3; (e) BP6, E40, B60, R7
(ve) VC15; (do) Yishu com Stiper bilateral
Auriculoterapia: R, Shen Men, SNV, ansiedade, neurastenia, F, BP, C

4.2 Resultados do Tratamento em Acupuntura

A partir da análise dos atendimentos da referida paciente, pôde-se identificar


os desequilíbrios e as subsequentes aproximações da faixa de equilíbrio, em relação
ao eixo Madeira-Metal, do tipo III, o qual predispõe a episódios de TAB.
Conforme apresentados anteriormente, os gráficos obtidos pela leitura do
eletrodiagnóstico (Ryodoraku) indicavam os órgãos e as vísceras em desequilíbrio,
assim elencados:
74

Consultas Data Órgão em desequilíbrio


1ª 22.05.2010 Levemente em deficiência: TA, IG, R e B
Em excesso: BP; F

2ª 14.07.2010 Em deficiência: ID, TA, IG


Em excesso: BP, F, B
3ª 21.07.2010 Em deficiência: TA, IG, VB (leve)
Em excesso: BP, F, E
4ª 28.07.2010 Em deficiência: ID, TA, IG, VB
Em excesso: P, CS, C, BP, B, E (leve)

5ª 12.01.2011 Levemente em excesso: F, E


6ª 19.01.2011 Em deficiência: ID, TA, IG
Em excesso: F, VB, E
7ª 26.01.2011 Em deficiência: BP, R, B
Em excesso: ID, TA, IG
8ª 02.02.2011 Levemente em deficiência: BP
Levemente em excesso: F
9ª 19.02.2011 Em excesso: TA, C (leve)
10ª 23.02.2011 Em deficiência: B
Levemente em excesso: F, E

11ª 30.03.2011 Em deficiência: P, ID, TA, IG


Em excesso: TA, BP, F, VB
12ª 13.04.2011 Levemente em deficiência: B
QUADRO 18 – Relação dos órgãos em desequilíbrio
Fonte: prontuários do ambulatório da ETOSP. Uso autorizado pela paciente.

Deve-se considerar que, entre alguns intervalos, ainda que sem regularidade,
a paciente recebeu aplicações de auriculoterapia e manteve aplicação de Stiper
(Yishu Bilateral), o que pode justificar que, entre julho de 2010 e janeiro de 2011,
tenha apresentado estabilidade energética, visto que F e E estivessem apenas
levemente em excesso.
Observa-se que com aplicações frequentes (semanais ou quinzenais),
mantém-se o equilíbrio energético.
75

Nos dias em que mais órgãos estavam em desequilíbrio, as queixas principais


referiram aspectos emocionais; ou seja, o Tipo III parece estar mais sujeito a esses
efeitos, em especial no Fígado (Madeira).
Esses aspectos denotam que a paciente insere-se no Tipo III, posto que em
oito das doze consultas (aproximadamente 67%) o elemento Madeira apresentou-se
em excesso e foi sempre o mais acentuado.
Por ser o fator constitucional da paciente, segundo Lee (2002),
independentemente dos fatores etiopatogênicos, o Fígado é o órgão de choque.
Pôde-se chegar a esse resultado, após observar todas as ressonâncias,
conforme propuseram Hicks, Hicks e Mole (2007).
Em depoimento, a paciente confirma algumas dessas observações. Refere
melhora energética, com redução das instabilidades emocionais e fisiológicas.
Passou a dormir e a alimentar-se melhor; tornaram-se mais raros os refluxos e os
sonhos.
Em relação ao diabetes mellitus, verificou ter desaparecido o tom amarelado
das unhas dos pés; quando utilizado Stiper, sente melhora na acuidade visual, sono
reparador e mais disposição.
É fato, que foram combinadas aplicações de sementes nos pontos auriculares
(Ansiedade, Fígado, Estômago, Shen Men, Rim e Anti-depressivo), além de Stipper
nos acupontos homeostáticos (IG11, E36, BP6, IG4), nas consultas extraordinárias,
nos intervalos de ambulatório. O que pode ter tornado mais efetiva a
complementaridade do acompanhamento, uma vez que a paciente mantém
tratamento alopático.
76

5 CONCLUSÕES

Assim como o princípio Yin/Yang, conceito base da MTC, o Transtorno


Bipolar caracteriza-se pela dualidade de aspectos opostos – do estado de euforia à
depressão – em que a predominância de um acarreta a redução do outro.
Muitas vezes, a síndrome sequer é diagnosticada e, quando é percebida, já
está em estágio muito avançado, o que impossibilita a reversibilidade.
A doença nem sempre se manifesta diretamente. Como no caso estudado
nesta pesquisa, a paciente relatava dores e queixas físicas. Antes de iniciar o
acompanhamento com Acupuntura, acreditava somatizar os problemas e as
preocupações concentradamente no Rim direito.
Durante as anamneses passou a observar-se mais e indicar com mais
precisão as causas dos desequilíbrios e os efeitos das aplicações. Percebia mais
claramente as alternâncias entre euforia e irritabilidade,o que também era mais
perceptível para as pessoas mais próximas.
Por não estar em estágio mais severo, o transtorno pode ser considerado
hipomania, característico pela hiperatividade, fala excessiva, em contraste com a
pouca necessidade de repouso e sono, e o aumento de sociabilidade. Nesse
sentido, L.S. pode ser considerada sem síndrome, uma vez que para a sociedade
atual alguns desses comportamentos são desejáveis para as funções que exerce:
docência e coordenação de curso.
Com o tratamento parece ter sido possível evitar complicações e evolução do
estado de hipomania, cujos sintomas (irritabilidade, por exemplo) poderiam
desencadear estágio mais avançado da síndrome de TAB. Mesmo assim, a paciente
relata extravasamento frequente de choro; seja por alegria, seja por tristeza;
motivada por circunstâncias negativas ou positivas.
Esses eventos, segundo ela, sem controle, levam à reflexão de que há muito
a ser estudado ainda, o que demanda tempo, investimentos e mais pesquisa em
torno dessa complexidade que é o ser humano.
A partir deste estudo de caso, foi possível verificar como pode ser efetiva a
intervenção com acupuntura e outras técnicas relacionadas.
Não há dúvidas, então, sobre os efeitos benéficos e consistentes do
acompanhamento com acupuntura, que bem poderia ser acoplado aos tratamentos
77

convencionais, públicos ou privados, pelo amplo espectro de técnicas, com


investimento social bastante acessível.
Outro aspecto positivo a favor da utilização da Acupuntura no tratamento do
TAB é a dificuldade de aderência que alguns pacientes têm ao tratamento com
drogas, as quais – ao eliminar os sintomas do episódio de mania – abrem espaço
para a depressão, cujas consequências são insuportáveis e podem conduzir o
paciente a abandonar o tratamento.
Por fim, não se presta este estudo a reduzir a complexidade e a sofisticação
que é o ser ou a Consciência, em apenas um tipo constitucional. Busca-se contribuir
para intensificar as reflexões e possibilitar novas combinações de tratamentos e,
especialmente, evitar os estados críticos que levam a práticas alopáticas
irreversíveis.
78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUTEROCHE, B e NAVAILH, P. O diagnóstico na Medicina Chinesa. São Paulo:


Andrei, 1992.

BING, Wang. Princípios de medicina interna do Imperador Amarelo. Tradução:


José Ricardo Amaral de Souza Cruz. São Paulo: Ícone, 2001.

CID-10 Centro Colaborador da OMS para a Classificação de Doenças em Português


Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde. São Paulo: EDUSP, 2010.

DSM-IV – Manual de diagnóstico e estatística. Santa Catarina: Artes Médicas, 2000.

ETOSP. Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Acupuntura. São Paulo:


ETOSP, 2009, vol.1.

HICKS, Angela; HICKS, John; MOLE, Peter. Acupuntura Constitucional dos


Cinco Elementos. Tradução: Maria Inês Garbino Rodrigues. São Paulo: Roca,
2007.

HIRSCH, Sonia. Manual do Herói. 12.ed. São Paulo: CorreCotia, 2008.

HOLMES, David S. Psicologia dos transtornos mentais. Tradução: Sandra Costa.


2.ed. Porto Alegre: Artmed, 1997.

KWANG, Wo Tou. Mapa dos 5 elementos. Ribeirão Preto: Center TAO, s.d.

LEE, Eu Won. Acupuntura constitucional universal. São Paulo: Ícone, 2002.

MACIOCIA, Giovanni. A prática da medicina chinesa: tratamento das doenças com


acupuntura e ervas chinesas. Tradução: Ednéa Iara de Souza Martins. 2.ed. São
Paulo: Roca, 2010.

NARANJO, Claudio. Entre meditação e psicoterapia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

REQUENA, Yves. Acupuntura e psicologia. São Paulo: Andrei, 1990.


79

ANEXO A – DSM - IV

(...)

Para melhor entendimento, veja no quadro abaixo a sinópse dos quadros


relacionados aos Transtornos do Humor e, depois, consulte as descrições
específicas.

O Transtorno Depressivo Maior se caracteriza por um ou mais Episódios


Depressivos Maiores (isto é, pelo menos 2 semanas de humor deprimido ou
perda de interesse, acompanhados por pelo menos quatro sintomas adicionais
de depressão).

O Transtorno Distímico caracteriza-se por pelo menos 2 anos de humor


deprimido na maior parte do tempo, acompanhado por sintomas depressivos
adicionais que não satisfazem os critérios para um Episódio Depressivo Maior.

O Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação é incluído para a


codificação de transtornos com características depressivas que não satisfazem
os critérios para Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distímico, Transtorno
de Ajustamento com Humor Deprimido ou Transtorno de Ajustamento Misto de
Ansiedade e Depressão (ou sintomas depressivos acerca dos quais existem
informações inadequadas ou contraditórias).

O Transtorno Bipolar I é caracterizado por um ou mais Episódios Maníacos ou


Mistos, geralmente acompanhados por Episódios Depressivos Maiores.

O Transtorno Bipolar II caracteriza-se por um ou mais Episódios Depressivos


Maiores, acompanhado por pelo menos um Episódio Hipomaníaco.

O Transtorno Ciclotímico é caracterizado por pelo menos 2 anos com


numerosos períodos de sintomas hipomaníacos que não satisfazem os critérios
para um Episódio Maníaco e numerosos períodos de sintomas depressivos que
não satisfazem os critérios para um Episódio Depressivo Maior.

O Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação é incluído para a codificação


de transtornos com aspectos bipolares que não satisfazem os critérios para
qualquer dos Transtornos Bipolares específicos definidos nesta seção (ou
sintomas bipolares acerca dos quais há informações inadequadas ou
contraditórias).

http://www.psiquiatriageral.com.br/dsm4/sub_index.htm
80

ANEXO B – CID10

(...)

F30-F39 Transtornos do humor [afetivos]


F30 Episódio maníaco
F31 Transtorno afetivo bipolar
F32 Episódios depressivos
F33 Transtorno depressivo recorrentes
F34 Transtornos de humor [afetivos] persistentes
F38 Outros transtornos do humor [afetivos]
F39 Transtorno do humor [afetivo] não especificado
81

ANEXO C

Você também pode gostar