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ESTUDO

PATRÍCIA DIAS (COORD.)


RODRIGO QUEIROZ E MELO
FERNANDO ILHARCO
ANDRÉ ILHARCO
CATARINA DUFF BURNAY

C1\T()LIC/\
CEPCEP · CEN'RG DE ESTLDOS JOS "OVOS
ECULlURAS DE EXP~ESSÃO PORTUGL'ESA
Índice
3 Resumo

4 Introdução

9 1. Metodologia

11 2. Resultados e discussão

11 2.1. Caracterização da amostra

13 2.2 . Vivência da dimensão espiritual

19 2.3. Perspetivas sobre o futuro

32 Conclusões

32 Religiosidade e prática religiosa

33 Desafios para q futuro

33 Ser feliz no futuro

34 Como será a vida no futuro

34 Valores

34 Ação

36 Bibliografia

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Resumo
Universidade Católica A Jornada Mundial da Juventude é um convite que o Papa
Portuguesa dirige particularmente aos jovens, mas que é extensível a todas
CEPCEP - Centro de as pessoas, para a reflexão sobre os principais desafios presen-
Estudos dos Povos e
tes e futuros, à luz da fé Católica, e tendo em vista uma ação
Culturas de Expressão
Portuguesa
positiva face a esses mesmos desafios. O presente estudo é
um contributo para essa reflexão.

Estudo JOVENS, FÉ E
A partir de um questionário online, realizado entre abril e
FUTURO outubro de 2022, e contando com 2480 respostas de jovens
entre os 14 e os 30 anos de idade, apresentamos uma caracte-
rização dos jovens portugueses relativamente à sua fé e às suas
Patrícia Dias (coord.)
práticas religiosas, apresentamos a forma como perspetivam
Rodrigo Queiroz e Melo
o futuro, debatendo desafios, riscos que os preocupam e mu-
Fernando llharco danças que consideram necessárias, identificamos os valores
André llharco que são mais importantes para eles, e equacionamos a relação
Catarina Ouff Burnay entre crenças e ação.

O estudo conclui que há desafios transversais a todos


Maio 2023 os jovens, independentemente da sua idade, sexo ou posição
religiosa, mas que há outros que estão diretamente relacio-
nados com a existência ou ausência de fé, e com os valores
subjacentes .

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Introdução
No contexto da Jornada Mundial da Juventude, a decorrer
em Portugal em agosto de 2023, e na sequência da pandemia
covid-19, que tem tido um impacto relevante na forma como
cada um de nós vive a sua vida, o Centro de Estudos dos Povos
e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP) desenvolveu
para a Conferência Episcopal Portuguesa um estudo com o ob-
jetivo de compreender melhor como é que a atual geração de
jovens entre os 14 e os 30 anos vive a dimensão espiritual nas
suas vidas, a religião e a fé, e encara o futuro.
Numa época da história em que somos confrontados com
a necessidade de tomar decisões e mudar comportamentos
que definirão, irreversivelmente, o futuro, quer em termos de
mudanças climáticas e sustentabilidade, quer de modelos eco-
nómicos e políticos, quer ainda na relação que temos com a
tecnologia, é importante conhecer e refletir sobre a vida e as
crenças dos jovens no que se refere a estas mesmas temáti-
cas . Conhecer a visão que os jovens têm de um futuro que é
mais deles do que das gerações mais velhas poderá ajudar-nos
a responder aos grandes desafios que enfrentamos de forma
concertada e intergeracional.
São vários os estudos que foram desenvolvidos desde mea-
dos de 2020, e que procuraram avaliar o impacto da pandemia
covid-19 nas mais diversas dimensões. Estes estudos são mui-
to variados, pois provêm de geografias distintas e usam diferen-
tes abordagens metodológicas, bem como foram realizados em
diferentes momentos da vivência da pandemia, desde períodos
de confinamento obrigatório até estudos já mais recentes, que
incidem sobre a retoma da rotina diária já sem regras de distan-
ciamento ou limitações às atividades sociais. No entanto, no
âmbito das Ciências Sociais, é possível identificar dois grandes
temas que emergem dos estudos que incidiram sobre crianças
e jovens: o impacto da pandemia nas aprendizagens (mais di-
recionados para contextos formais de ensino) e o impacto da
pandemia na saúde mental .

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CEPCEP
Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa Estudo JOVENS, FÉ E FUTURO

Vários autores concordam que as entre estes jovens, foram manter uma ro-
crianças e jovens estiveram particular- tina diária definida, fazer exercício físico e
mente vulneráveis durante este perío- perspetivar a situação e o futuro de forma
do, pois além da sua situação individual, positiva. Uma revisão sistemática da lite-
também estiveram expostos a fatores ratura comparativa sobre a saúde mental
de stress provenientes dos pais (lmran, de crianças e jovens (entre os O e os 24
2020). A perturbação da rotina quotidia- anos) antes, durante e depois da pan-
na, em particular o encerramento tem- demia covid-19 (Kauhanen et ai., 2022),
porário de escolas e o confinamento, que incidiu sobre 21 estudos diferentes,
bem como o medo de ficar doente e o concluiu que houve uma deterioração da
distanciamento social de amigos e pares saúde mental de crianças e adolescen-
resultou num decréscimo do bem-estar, tes, reportando aumento de depressão,
físico e psicológico, das crianças e dos ansiedade e perturbações psicológicas.
adolescentes. Um dos fatores que pa- ·Alguns destes estudos propõem que o
rece ter tido um impacto mais negativo aumento da solidão e de pensamentos
na saúde mental dos jovens foi o tempo negativos estão na origem de uma di-
excessivo dedicado aos ecrãs, que setor- minuição do bem-estar psicológico, mas
naram locus de estudo, de socialização e não demonstram um retorno ao estado
de entretenimento. Sentimentos comuns pré-pandémico apesar de um regresso
detetados entre os adolescentes foram a progressivo a um 'novo normal' no qual
ansiedade, a frustração e o aborrecimen- aprendemos a conviver com a covid-19.
to, pois o isolamento forçado nos anos Por exemplo, foi reportado um agrava-
da pandemia não lhes permitiu terem o mento de perturbações alimentares en-
contacto social necessário para o seu de- tre os jovens, à escala global, desde o
senvolvimento sociopsicológico saudável início da pandemia, que ainda não mos-
nesta fase das suas vidas . Outro estudo, trou sinais de reversão (Katzman, 2021 ).
que envolveu alunos de 56 escolas se- Resultados similares foram apresentados
cundárias na Suíça, mostrou que os par- para outras condições como a depressão
ticipantes que já demonstravam níveis e a ansiedade, e para problemas de saú-
elevados de stress emocional antes da de mental em geral (Correia, 2020; Cost
pandemia foram os que apresentaram et ai., 2021 ). Outro estudo, realizado com
um agravamento mais acentuado duran- alunos do Ensino Secundário e do Ensino
te o período subsequente, independen- Superior, em Espanha, revelou que, em
temente da influência de outros fatores geral, o seu consumo de álcool aumen-
de stress característicos destes tempos, tou durante a pandemia. Uma recolha
como dificuldades económicas, medo pós-pandémica de dados mostrou que
relativamente à própria saúde ou à dos esse consumo diminuiu entre os alunos
entes queridos, e isolamento social (Sha- universitários, mas que se manteve ele-
nahan et ai., 2022). Este estudo revelou vado entre os mais jovens. Além disso,
ainda que as estratégias mais eficazes os jovens com sintomas de depressão e
para preservar a saúde mental durante ansiedade são os mais propensos a con-
os períodos de confinamento obrigatório, sumir álcool, quer durante quer após a

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CEPCEP
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pandemia, entrando num círculo vicioso temos do futuro e a forma como o pers-
de agravamento da sua saúde física e petivamos, dando destaque ao enten-
mental (Vera et ai., 2021 ). Por outro lado, dimento da temporalidade, à abertura a
um outro estudo aponta para a possibili- alternativas, a uma visão sistémica dos
dade de a vivência da espiritualidade, de- fenómenos e acontecimentos, à preocu-
finida como um conjunto de valores de pação com os outros, e à crença na agên-
conexão consigo mesmo, com os outros cia individual (Sools et ai., 2022).
e com o transcendente, ajudou os jovens
São vários os estudos que demons-
a lidar com os desafios que a covid-19 co-
tram que um evento marcante como a
locou à sua saúde mental. O estudo pro- pandemia covid-19, a todos os níveis,
põe ainda que estes valores associados à motivou um questionamento sobre a for-
espiritualidade, bem como um leque de
ma como se vive o presente e uma re-
recursos e competências relacionados
flexão profunda sobre como se pretende,
com a vivência da espiritualidade, não só
ou deve, viver o futuro. Uma revisão da
tornaram os jovens mais resilientes face literatura sobre o tema demonstra que,
à adversidade como os fazem perspetivar após os períodos de confinamento, em
um futuro pós-pandémico de uma forma
paralelo com o abandono de medidas de
distinta (Chirico, 2021 ).
higienização, segurança e distanciamento
Partindo das premissas de que os social, emergiu um discurso sobre o 'novo
jovens tendem a ser mais otimistas em normal', no qual se constata que o perío-
relação ao futuro, um estudo desenvolvi- do pós-pandémico não é propriamente
do no Reino Unido abordou a forma como um regresso ao status quo pré-pandémi-
jovens adultos (entre os 22 e os 29 anos) co, mas sim uma reconfiguração da vida
lidaram com uma crise como a pandemia quotidiana à luz desta experiência tão
covid-19, sobretudo com a sua dimensão disruptiva. Neste discurso sobre o 'novo
económica e financeira e com a questão normal', sobressaem temáticas como a
do desemprego. O estudo revelou que as necessidade de repensar o futuro e de
atitudes relativas ao futuro são determi~ mudar, genericamente associadas ao re-
nadas por uma interação entre recursos conhecimento da importância da adap-
individuais (por exemplo, educação, cul- tabilidade, da inovação e da resiliência,
tura, competências, conhecimento, rede e à reorientação para a sustentabilidade
de contactos) e atitudes individuais. Entre (Ossiannilsson, 2021 ). Esta ideia emer-
estas últimas, o individualismo, entendido ge também no estudo de Chirico (2021 ),
como a crença na capacidade de agência segundo o qual jovens orientados para
individual e a confiança na sua eficácia, valores ligados à espiritualidade e com
é um fator determinante para perspetivar vivência mais intensa da sua dimensão
o futuro com otimismo (Keating e Mellis, espiritual tendem a valorizar a sustenta-
2022). Estes resultados são consistentes bilidade como o objetivo mais importan-
com teorizações prévias sobre o tema, te a atingir no futuro. O caminho para a
que debatem quais são os principais fa- sustentabilidade passa por uma trava-
tores que enquadram a consciência que gem (ou reversão) urgente das mudanças

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CEPCEP
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climáticas e pela consecução dos objeti- transição para uma vida adulta: ter uma
vos para o desenvolvimento sustentável carreira profissional bem paga, fazer parte
propostos pela ONU (2015). A par deste de um casal, e ter filhos. Os jovens com
desejo de promover a sustentabilidade mais escolaridade sentem maior pressão,
e de adotar um modo de vida mais sus- por parte dos pais, de familiares, de pares
tentável, emerge também uma preocu- e da sociedade em geral, relativamente a
pação com o trabalho nos estudos sobre ter sucesso no futuro nestas três facetas
a forma como os jovens perspetivam o da vida, pressão esta que é mais senti-
futuro. Esta preocupação não incide tan- da pelas mulheres do que pelos homens.
to sobre se terão emprego ou forma de Em concreto, cerca de 30% dos jovens
subsistência, mas é mais um questiona- inquiridos consideram que, para atingi-
mento sobre a forma como o trabalho é rem os seus objetivos no futuro, terão
conceptualizado e vivenciado na socieda- de sair de Portugal, pois perspetivam de
de contemporânea, e uma busca de mo- forma negativa o mercado de trabalho na-
delos alternativos que proporcionem um cional. O principal problema identificado
maior equilíbrio entre a atividade laboral e no país é mesmo económico, pois se a
outras dimensões da vida, bem como um pandemia covid-19 motivou uma maior
maior bem-estar (Carbajo e Kelly, 2022). busca de felicidade no trabalho e um
Partindo deste enquadramento ge- maior equilíbrio entre o trabalho e outras
dimensões da vida, cerca de 66% dos jo-
nérico, é interessante considerar o co-
vens portugueses afirmam que o aspeto
nhecimento existente sobre os jovens
portugueses. Um estudo recente da Fun- mais importante no que consideram ser o
dação Francisco Manuel dos Santos, que emprego ideal é "ter um bom salário".
incluiu cerca de 5 000 jovens entre os 15 Avaliando o presente, os jovens sen-
e os 34 anos, explorou como é que eles tem-se muito satisfeitos com as suas
se veem a si próprios, como se compor- relações amorosas, os filhos, com as re-
tam no quotidiano, o que pensam sobre lações familiares e de amizade, e pouco
várias temáticas relacionadas com o seu satisfeitos com a compensação monetá-
futuro, e como se sentem relativamente ria que recebem pelo seu trabalho e com
aos desafios que enfrentam nas suas vi- a sua aparência física. A aparência física
das, ou pensam vir a enfrentar. emerge como um fator determinante,
sobretudo entre as mulheres, para a for-
O estudo apurou que os jovens com
ma como perspetivam um futuro feliz,
mais escolaridade se sentem mais satis-
ou não . Relativamente aos valores que
feitos com as suas vidas no presente, e
consideram mais importantes, os jovens
também são mais confiantes e têm cren-
foram questionados sobre dez valores,
ças mais fortes relativas à sua capacidade
para construírem o futuro que desejam, dando mais importância à lealdade, à
segurança e ao respeito. Relativamente
ou seja, demonstram níveis superiores
de empoderamento . E como é esse fu-
à espiritualidade, 58% dos jovens decla-
turo que desejam? Passa por três facetas ra ter algum tipo de crença religiosa, e
50% da totalidade dos jovens assume-se
essenciais que consideram fazer parte da

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CEPCEP
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Católico, embora apenas 18% se assuma discernimento vocacional, o Papa Fran-


como praticante (participa em serviços cisco convidava os jovens a "sair"; a par-
religiosos pelo menos uma vez por mês). tir ao encontro de uma "sociedade mais
Embora o estudo proponha uma tipologia justa e fraterna", lembrando que a mu-
com seis perfis de jovens relativamente dança nasce nos corações daqueles que,
à forma como perspetivam o futuro, os segundo as suas palavras, não podem e
valores e as crenças religiosas não se re- não querem submeter-se à "cultura do
velam determinantes para a variação de descartável, nem ceder à globalização
perfis. da indiferença". A ideia de movimento
Há maior unanimidade relativamente subjacente ao ato de sair está patente
às questões climáticas, que são a princi- nos temas da última Jornada Mundial da
Juventude - «Jovem, Eu te digo, levan-
pal preocupação relativa ao futuro para
ta-te!» (cf. Lc7, 14); «Levanta-te! Eute
os jovens portugueses, e cerca de 65%
acredita que a sua agência individual constituo testemunha do que viste» (cf.
pode fazer a diferença. No entanto, não At 26, 16) e «Maria levantou-se e partiu
revelam ter muitos hábitos sustentáveis apressadamente" (cf. Lc 1, 39) -, esta
- por exemplo, a grande maioria escolhe última, mote da mensagem para a XXX-
o automóvel individual para a sua mobi- VII Jornada Mundial da Juventude a rea-
lidade - e têm também níveis baixos de lizar-se este ano em Portugal. Tal como
participação cívica e ativismo - apenas Maria, o Papa Francisco interpela os jo-
cerca de 15% dos jovens declara partici- vens a envolverem-se e a viverem "uma
par em atividades deste género. pressa boa", capaz de os levar ao en-
contro do outro, a superar as distâncias
Partindo deste enquadramento, e num
e a construir memória, evidenciando o
ano em que a Jornada Mundial da Juven-
seu papel na construção da unidade por
tude decorre em Portugal, a Conferência
oposição à fragmentação que carateriza a
Episcopal Portuguesa, em parceria com
humanidade.
o CEPCEP da Universidade Católica Por-
tuguesa, lançou um inquérito aos jovens Estes temas ecoam também as
portugueses com idades compreendidas ideias fundamentais e fundacionais do
entre os 14 e os 30 anos (público-alvo da Santo Padre patentes nas encíclicas
Jornada). Conhecer as suas crenças, os Laudato Si' (2015) e Fratellí Tutti (2020).
valores que regem a sua conduta, a for- O cuidado com a casa comum mostra-
ma como perspetivam o futuro mostram- -se uma preocupação crescente entre os
-se objetivos determinantes para melhor jovens, tendo estes o poder de sonhar
compreender e acompanhar os jovens no "como uma só humanidade, como via-
seu· caminho da espiritualidade e da fé jantes feitos da mesma carne humana,
(religiosa ou não). como filhos desta mesma terra que aco-
lhe todos nós, cada um com a riqueza de
Em janeiro de 2017, numa carta
sua fé ou convicções, cada um com sua
aos jovens por ocasião da apresentação própria voz, todos irmãos!"
do documento preparatório do Sínodo
dos Bispos intitulada Os jovens, a fé e o

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1. Metodologia
Este estudo tem os seguintes objetivos:
i) Compreender como é que os jovens vivem a dimensão es-
piritual das suas vidas, incluindo vivências e crenças diver-
sificadas, incidindo particularmente na religião Católica;
ii) Conhecer as perceções dos jovens dos 14 aos 30 anos de
idade sobre os pri_ncipais desafios para o futuro (ex. susten-
tabilidade, alterações climáticas, economia, política, saúde,
tecnologia, trabalho, exploração do espaço);
iii) Explorar relações e padrões entre crenças, valores e priori-
dades para o futuro e a vivência religiosa dos jovens;
iv) Conhecer o grau de envolvimento dos jovens na constru-
ção do futuro, e compreender até que ponto acreditam que
a sua ação pode fazer uma diferença importante.
Para dar resposta a estes objetivos, a abordagem adota-
da foi a quantitativa, assente na realização de um inquérito por
questionário a uma amostra representativa deste grupo popula-
cional em Portugal .
O desenvolvimento do questionário assenta numa revisão
da literatura científica sobre os temas em análise. Foram desen-
volvidas duas versões do questionário, com a mesma estrutu-
ra, mas com ligeiras adaptações da linguagem e também com
formas diferentes de disseminação. A versão A do questionário
foi desenvolvida para os jovens dos 18 aos 30 anos, e a ver-
são B corresponde a uma adaptação da primeira para jovens
dos 14 aos 17 anos, incluindo uma linguagem mais informal e
explicações adicionais sobre alguns termos . Participaram neste
estudo 2480 jovens, tendo os questionários sido disseminados
através de um email com link-convite ou OR code para 827 ins-
tituições de ensino (escolas e instituições de ensino superior) e
667 associações dedicadas aos jovens, como associações de
estudantes, associações culturais, ONG, redes jovens, grupos
de escuteiros e associações desportivas.

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CEPCEP
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Todos os partIcIpantes foram infor- importantes, a perceção do impacto da


mados acerca dos objetivos do estudo e agência individual no futuro, e o que mu-
foi-lhes dado conhecimento de que todas dariam no futuro . Por fim, a terceira parte
as respostas seriam inteiramente volun- recolhe cinco indicadores sociodemográ-
tárias e anónimas, não sendo possível ficos: idade, sexo, zona de residência (por
identificar o autor das respostas a partir distrito), habilitações (no caso da versão
dos dados recolhidos. Os dados foram A, dos 18 aos 30 anos) ou ano de escola-
recolhidos entre abril e outubro de 2022. ridade (no caso da versão B, dos 14 aos
17 anos) e, por fim, rendimento individual
Ambas a$ versões do questioná-
bruto (no caso da versão A, dos 18 aos 30
rio são compostas por 23 perguntas
anos) ou rendimei:1to do agregado familiar
fechadas, organizadas em três partes.
bruto (no caso da versão B, dos 14 aos 17
Inicialmente, o estudo é apresentado e
anos).
é solicitado o consentimento informado
dos participantes (no caso dos menores Antes da disseminação do questio-
de idade, foi obtido o consentimento do nário, foi realizado um pré-teste com es-
encarregado de educação previamente à tudantes de licenciatura da Universidade
apresentação do questionário ao respon- Católica Portuguesa, em contexto de sala
dente), e apenas após a sua obtenção é de aula, o que permitiu otimizar a lingua-
que o respondente avança para o preen- gem usada.
chimento do · questionário. A primeira
A seleção da amostra e a distribuição
parte incide sobre a vivência da dimen-
de ambas as versões do questionário fo-
são espiritual da vida, e conta com 12
ram da responsabilidade do CESOP- Cen-
questões, sendo que algumas não são
tro de Estudos e Sondagens de Opinião
mostradas a todos os participantes, em
da Universidade Católica Portuguesa.
função de respostas anteriores. As ques-
tões versam sobre a posição perante a
religião, participação em práticas religio-
sas, motivação para participar ou para não
participar em práticas religiosas, impacto
da fé ou da falta de fé na sua vida, discri-
minação devido à religião, conhecimento
sobre as Jornadas Mundiais da Juventu-
de e intenção de participação na edição
de 2023. A segunda parte aborda a for-
ma como os respondentes perspetivam
o fu"turo. Conta com seis questões, que
incidem sobre o que mais os preocupa
relativamente ao futuro, a conceptualiza-
ção da felicidade, as expectativas relati-
vamente à sociedade em que viverão no
futuro, os valores que consideram mais

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2. Resultados e
Discussão
2.1. Caracterização da amostra
Relativamente ao universo do nosso estudo, os Censos
realizados em 2021 revelam que a população total residente em
Portugal é de 10.343.066 pessoas. Os grupos etários conside-
rados apenas nos permitem quantificar a população jovem re-
sidente entre os 15 e os 29 anos, que é de 1.629.876, ou seja
15,8% da população total.
A amostra é composta por 2480 jovens. No entanto, para
minimizar as desistências, nem todas as questões eram de
caráter obrigatório, pelo que nem todos os participantes res-
ponderam ao questionário na sua totalidade, havendo também
algumas questões que só eram apresentadas em função de
respostas prévias . Assim, indicamos sempre o número de res-
postas obtidas em cada uma das questões analisadas . Houve
um número considerável de inquiridos (686, ou seja, 27,7%)
que, tendo respondido às outras questões, optaram por não res-
ponder acerca dos seus dados pessoais, o que explica que, na
caracterização da amostra, o número de respostas seja apenas
de 1794 (72,3% da amostra total). Apresentamos, na Tabela 1,
uma caracterização sociodemográfica geral da nossa amostra.

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica geral da amostra.

Variável n Média Moda Desvio-Padrão Mínimo Máximo


Idade 1794 18,53 16 3,75 14 30

A amostra é equilibrada relativamente aos dois grupos


etários considerados, correspondendo 46% das respostas aos
jovens entre os 14 e os 17 anos, e 54% ao grupo entre os 18 e
os 30 anos.

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CEPCEP
Centro de Estudos dos Povos e Cu lturas de Expressão Portuguesa Estudo JOVE""S FE E Fl_; TURO

Na Tabela 2, apresentamos uma caracterização mais detalhada das variáveis sexo,


zona de residência, nível de educação e nível de rendimentos.

Tabela 2. Caracterização sociodemográfica detalhada da amostra.

Variável n %
Sexo ~
1794
Masculino 678 37,8%
Feminino 1063 59,3%
--
Prefiro não responder 53 3,0%

Zona de Residência 1794


Aveiro 45 2,5%
- --
Beja 3 0,2%
-
Braga 153 8,5%
Bragança 8 0,4%
Castelo Branco 24 1,3%
Coimbra 46 2,6%
Évora 12 0,7%
Faro 21 1,2%
Guarda 23 1,3%
Leiria 60 3,3%
Lisboa 773 43,1%
Portalegre 7 0,4%
Porto 156 8,7%
- -
Santarém 143 8,0%
Setúbal 118 6,6%
Viana do Castelo 8 0,4%
Vila Real 24 1,3%
Viseu 143 8,0%
Região Autónoma dos Açores 10 0,6%
Região Autónoma da Madeira 17 0,9%
- - -
Resido fora de Portugal o 0,0%

Nível de Educação 1794


Ensino Básico 259 14,4%
9º Ano 258 14,4%
Ensino Secundário 1057 58,9%
1Oº Ano 264 14,7%
11 º Ano 266 14,8o/<!.
12º Ano 224 12,5%
Licenciatura
~
365 - -
20,3%
Mestrado 112 6,2%
Doutoramento 1 0,1 %

Nível de Rendimento 782


Não tenho rendimentos 483 61,8%
Menos de 700 euros
~-
124 15,9%
Entre 1000 e 1300 euros* 94 12,0%
-
Entre 1300 e 2500 euros 32 4,1%
- - -
Acima de 2500 euros 14 1,8%
Não sei responder 35 4,5%

* Um erro impediu de considerar o intervalo entre 700 e 1000 euros.

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CEPCEP
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Quanto ao sexo, a amostra conta com Por fim, quanto aos rendimentos, e
mais mulheres (59,3%) do que homens como também é expectável para estas
(37,8%). faixas etárias, 61,8% declaram não ter

De modo a obter o equilíbrio pre- ainda rendimentos próprios.

tendido relativamente às faixas etárias


consideradas, foi necessário, numa fase 2.2. Vivência da dimensão
final de recolha de dados, procurar mais espiritual
jovens numa faixa etária específica, ten-
do esta angariação sido feita diretamen- A Figura 1 apresenta a posição dos
jovens inquiridos relativamente à religião.
te, em várias zonas públicas da cidade de
Um pouco mais de metade (56%) da
Lisboa. Por este motivo, a amostra final
tem uma sobrerrepresentação de partici- amostra afirma ter religião, embora ape-

pantes residentes no distrito de Lisboa, nas cerca de um terço da amostra (34%)


· se considere praticante. A percentagem
que constituem 41,3% da amostra. Ainda
de crentes e de praticantes é mais eleva-
assim, há respondentes residentes em
da entre os mais jovens (14-17) do que en-
todos os distritos de Portugal.
tre os mais velhos (18-30). A religião com
O nível de educação reflete, em ter- maior percentagem de praticantes é o Ca-
mos gerais, o correspondente às idades
tolicismo, 88% dos crentes, o que signifi-
dos inquiridos. Observamos que 58,9% da
ca que sensivelmente metade dos jovens
nossa amostra já concluiu o Ensino Secun- portugueses (49,28%) são Católicos.
dário, e 20,3% já concluiu a licenciatura.

Figura 1. Pos ição dos jovens relativamente à relig ião, po r grupo etário.

Qual é a tua posição atual relativamente à religião?*

40
. Total . 14-17 . 18-30
35
30
25
17% 18% 16%
20
20%
15 ..

10
5
o A B e D E F
A Sou crente e pratico uma religião B Sou crente, mas não pratico uma religião C Sou agnóstico D Sou ateu
E Otema é-me indiferente F Não tenho uma posição definida sobre o tema

* As opções de resposta estavam formuladas de modo diferente para os jovens 14-17. Para estes, as opções foram: "Acredito numa reli-
gião e participo em atividades religiosas (como rezar, celebrações); Acredito em Deus (ou noutra forma de divindade). mas não participo
em atividades religiosas; Não tenho posição sobre se Deus (ou outra forma de divindade) existe ou não (sou agnóstico); Tenho a certeza
de que Deus (ou outra forma de divindade) não existe (sou ateu); Não me interesso por esse tema; Não tenho opinião sobre o tema" .

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CEPCEP
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Seguidamente, questionamos os jovens que se manifestaram como tendo cren-


ças religiosas sobre essas mesmas crenças. Os resultados obtidos são mostrados na
Tabela 3.

Tabela 3. Religião dos crentes (em percentagem).

Religião Frequência % crentes % total amostra


(n=1389) (n=2480)

Catolicismo 707 50,90% 28,51 %

Evangélica/ religião cristã protestante 45 3,23% 1,81 %

Testemunha de Jeová 7 0,50% 0,28%

Mórmon 2 0,14% 0,08%

Islamismo 2 0,14% 0,08%

Judaísmo 1 0,07% 0,04%

Hinduísmo 1 0,07% 0,04%

Budismo 3 0,22% 0,12%

Outra. Qual? 24 1,73% 0,97%

Prefiro não responder 597 24% 40%

Não crentes - - e-7, 67%

Apesar de o nosso questionário ter com a sua prática religiosa . Se 55% dos
sido distribuído predominantemente crentes praticantes reza regularmente,
através de instituições públicas não as- essa percentagem é mais elevada entre
sociadas a nenhuma religião, como é o os mais velhos (65%) do que entre os
caso das escolas e das universidades mais novos (46%). Este padrão repete-se
públicas, e de termos também angariado em todos os aspetos medidos com ex-
respostas aleatoriamente na via pública; ceção da aprendizagem da religião, mais
observamos que a nossa amostra é pre- elevada entre os mais novos .
dominantemente Católica (representam
Em resposta a uma outra pergunta,
50,9% dos crentes), mas são várias as 11 % dos crentes praticantes afirmaram
religiões representadas.
participar também em atividades de ou-
Seguidamente, questionamos os que tras religiões . Quando o fazem, fazem-no
se declararam praticantes sobre a forma principalmente porque encontram paz in-
como praticam a sua religião, sendo os terior (4%), para acompanhar familiares
resultados apresentados na Figura 2. ou amigos (3%) ou porque se sentem
Apesar de a percentagem de crentes ser bem acolhidos (3%).
maior entre os mais jovens, os resultados
das respostas à pergunta "Como praticas
a tua religião?" sugerem um maior grau
de compromisso dos mais velhos para

14
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Figura 2. Prát ica relig iosa dos crentes , por grupo etário.
Como praticas a tua religião? (Podes escolher várias opções)

80
e rotal e ,4-17 18-30
70 55% 46% 65%

60
43%39%46%
50
40 30%26%33%

30
20 13% 1-0% 16%

10 3%
o A B e D E F G
A Rezo regularmente B Medito regularmente C Participo em cultos/celebrações religiosos regularmente
D Estou integrado na minha comunidade religiosa (ex. grupo de jovens, escuteiros, etc.)
E Recebo formação (ex. catequese, leitura, pesquisa) F Desempenho tarefas específicas na minha comunidade
religiosa (ex. leitura, voluntariado, coro, etc.) G Outra

Quisemos também saber os motivos Procurando conhecer melhor a posição


dos jovens que declaram ter uma religião dos jovens relativamente à religião, pro-
para não serem praticantes. Em geral, pusemos algumas afirmações e questio-
destaca-se a "falta de compromisso e namo-los sobre a sua concordância com
empenho". No entanto, observam-se al- as mesmas, numa escala de 1 a 5, em
gumas diferenças entre os dois grupos que 1 significa "discordo totalmente" e 5
etários considerados, pois se os jovens significa "concordo totalmente". É inte-
mais novos estão alinhados com esta ressante observar a concordância de me-
resposta (44%) e indicam também "falta tade da amostra, em ambos os grupos
de tempo" (33%), o principal motivo para etários, com a afirmação "Existe verdade
a não-prática entre os jovens mais velhos em todas as religiões", mostrando aber-
(44%) é o "desacordo com algumas das tura para a discussão de ideias e tolerân-
normas da prática religiosa", revelando cia face à diferença.
uma reflexão mais aprofundada sobre a Na página seguinte pode ver-se a
sua posição relativamente à dimensão Figura 4. Concordância com afirmações
espiritual da vida . referentes à posição relativamente à re-
Na página seguinte pode ver-se a ligião, por grupo etário (14 aos 17 anos e
Figura 3. Razões dos crentes para a não- 18 aos 30 anos).
-prática religiosa, por grupo etário (14 aos
17 anos e 18 aos 30 anos).

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Figura 3. Razões dos crentes para a não-prática religiosa, por grupo etário.
Se tens uma religião, mas não participas em atividades religiosas, porque não o fazes?
(Podes escolher várias opções)*

50
e rotal . 14-17 18-30 29% 16% 44% 39%44% 34%

40
,-....
21% 14% 28% I.(")
N
30 li
g

z
C:S:i
20 · 00
N
li~

z
10 ...,,.,-
Ln
2% 1% 4%

ZB
li
.
o A B e D E F G H

A Falta de tempo B Observo demasiadas atitudes e comportamentos negativos noutros praticantes C Falta de con-
dições para te deslocares ao locar de prática religiosa O Acontecimento pessoal motivou a desistência da prática (ex.
doença, sofrimento) E Meio social (amigos, colegas) desfavorável à prática religiosa F Meio familiar desfavorável à
prática religiosa G Desacordo com algumas das normas da prática religiosa H Falta de compromisso e empenho

* As opções de resposta estavam formuladas de modo diferente para os jovens 14-17. Para estes, as opções foram: "Não tenho tempo;
Observo atitudes negativas noutros praticantes; Tenho dificuldade em deslocar-me ao local da prática religiosa; Aconteceu algo na
minha vida que me fez desistir das atividades religiosas (ex. doença, dúvidas de fé, sofrimento, etc.); Os meus amigos e colegas não
apoiam a minha participação em atividades religiosas (criticam, gozam, etc.); A minha família não apoia a minha participação em ativi-
dades religiosas (não participa em atividades religiosas, não te ajuda com o transporte, etc.; Não estou de acordo com normas da prática
religiosa; Falta-me compromisso e empenho" .

Figura 4. Concordância com afirmações referentes à posição relativamente à religião, por


grupo etário.

Qual das seguintes frases descreve melhor a tua posição relativamente à religião?

60
51% 51% 51% . Total . 14·17 18-30
50
N
m
40 Ln
li
29% 32% 25% g
~
z
30 à:,-
,-....
co
li
20
13% 12% 14% z
7% 5% 10% e:,'
,-....
10 ~
li

ZE
o A B e D
A Existe verdade em todas as religiões B Há muitas religiões que contêm, mas eu prefiro a minha
C Há algumas verdades noutras religiões, mas a minha é mais verdadeira D Só a minha religião é verdadeira

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A Figura 5 mostra o grau de concor- concorda com esta afirmação (60%) bem
dância dos jovens com a possibilidade de como com o facto de a sua fé/crença reli-
a fé ou crença religiosa ter impacto na giosa aumentar o seu desejo de ajudar os
sua forma de ser e perspetivar o futuro. outros (50%) e reforçar o valor que dão
É interessante observar que quase meta- à família (44%). Entre os mais jovens,
de da amostra (49%) considera que a sua consideram que a fé/crença religiosa con-
fé/crença religiosa os ajuda a compreen- tribui para a seu desejo de aperfeiçoa-
der o "sentido da vida". É mais elevada a mento pessoal (43%) e também para o
percentagem de jovens mais velhos que desejo de ajudar os outros (42%) .

Figura 5. Concordância sobre o impacto da fé/crença religiosa em várias dimensões da vida


dos jovens, por grupo etário.

Achas que a tua fé ou crença religiosa faz com que te sintas diferente dos outros
a respeito de algumas dimensões da tua vida?
Seleciona aquelas em que consideras que sim*

60
.,,. .,,.o *o
**
a,
u:, *.,,. *.,,. *o
Ln N
Ln
e rotal e 14-17 e 18-30
50
N
cn
40 Ln
li

* *r- *
Ln
N N
M
N
si
30

20

10

o A B e D E F G H

A Sentido da vida B Desejo de ajudar os outros C Desejo de aperfeiçoamento pessoal D Valor que dou à família
E Respeito pelos emigrantes e refugiados F Ética profissional (ou nos estudos) F Honestidade G Participação na
vida cívica e política H Outra

* As opções de resposta estavam formuladas de modo diferente para os jovens 14-17. Para estes, as opções foram: "Sim, faz com que
para mim a vida tenha mais sentido; Sim, faz com que para mim seja importante ajudar os outros; Sim, faz com que esteja sempre a
tentar ser a melhor pessoa que posso ser; Sim, faz com que para mim a família seja muito importante; Sim, faz com que fique sen-
sibilizado/a com as dificuldades que os emigrantes e refugiados enfrentam; Sim, faz com que, como estudante, procure agir sempre
corretamente (ex. não copio, não me aprove ito do trabalho de outros colegas, respeito os professores); Sim, faz com que para mim seja
muito importante ser honesto/a; Sim, faz com que para mim seja importante ser um cidadão ativo (ex. votar quando tiver idade para o
fazer, defender causas como a proteção do ambiente ou outras); Outra".

Questionámos também os jovens preocupantes entre os jovens mais ve-


sobre a possibilidade de terem sido dis- lhos, em que 25% já foi discriminado
criminados devido à sua posição religiosa. devido à sua posição religiosa, maiorita-
A Figura 6, na página seguinte, mos- riamente entre amigos (18%) e na escola
tra que essas situações não são mui- ou universidade (15%).
to frequentes, embora sejam mais

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Figura 6. Situações em que os jovens foram discriminados devido à sua posição religiosa, por
grupo etário .

NÃO 82%
.
Total
,.
Alguma vez sofreste alguma discriminação por causa da tua posição religiosa?

► NÃO 87%
14-17 -
NÃO 76%
18-30 <:t
Ln
Ln
li
~
A
4% 3% .,
6%
z
~
1% 6% 18% <:t
(O
B li
0% ' 4% :
e 2%'
±
D 9% ' ~·-·- 15% : z
0% 0% 1% : é,;;,'
E ~
3% 2% 4% ~

F li
G
1% 0% 1%
ZE

o 2 4 6 8 10 12 o 2 4 6 8 10 o 5 10 15 20

A Na família B Entre amigos C No trabalho D Na escola / Universidade E No hospital ou unidade de saúde


F Num local público G Outra

Por fim, quisemos avaliar o conheci- intenção de participação é baixa, sendo


mento dos jovens sobre a Jornada Mun- que apenas 13% declararam certeza re-
dial da Juventude, a decorrer em Lisboa lativamente à sua participação, e 22%
em agosto de 2023, e a sua intenção consideram que "provavelmente" irão
de participação, mostradas na Figura 7. participar. A intenção de participação é
Observamos que a maioria tem conhe- ligeiramente mais elevada entre os mais
cimento deste evento (58%), sendo a jovens (15%), apontando para a possibili-
percentagem ligeiramente mais elevada dade de um maior conhecimento sobre o
entre os mais jovens (59%) do que en- tema motivar a intenção de participação.
tre os mais velhos (56%). No entanto, a

Figura 7. Conhecimento dos jovens sobre a Jornada Mund ial da Juventude e intenção de
participação, por grupo etário.
Sabes o que são as Jornadas Mundiais da Juventude?
Pretendes participar na JMJ em Lisboa, em 20237

A
42,~
.: Total

13%
NÃO •

4~
14-17

15%
18-30

11 % ,
N
N
N

z
,_
llg

é,;;,'
o
7% 9% 5% '
B li~

e 15% 21 % · 10% ±
z
17% 20% 14% é:i
D o
CV)
16% 14% 17% N
E li

F
: 32% 21% , 43%
zs

O 5 1O 15 20 25 30 35 O 10 15 20 25 O 1O 20 30 40 50 60

A De certeza que sim B Muito provavelmente sim B Provavelmente sim D Provavelmente não
E Muito provavelmente não F De certeza que não

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Na Tabela 4, exploramos a relação entre a religião dos jovens a o seu conheci-


mento sobre as Jornadas Mundiais da Juventude e a sua intenção de participar na
Jornada Mundial da Juventude de 2023, em Lisboa.

Tabela 4. Conhecimento sobre as Jornadas Mundiais da Juventude, por crença religiosa.

Posição Resposta Frequência % face ao Total de Respostas


Sim 828 67,81 %
--
Religiosos
Não 393 32, 19%

Sim 499 46,25%


Não religiosos
Não 580 53,75%

Religiosos praticantes Sim 596 80, 11 %

Religiosos não praticantes Sim 232 48,64%

Sim · 561 85,39%


Católicos
Não 96 14,61 %

Sim 766 46,62%


Não Católicos
Não 877 53,38%

Observamos que, como espectável, mas ainda assim é interessante que mais
os Católicos são o grupo em que mais de metade dos não praticantes - 51, 17%
respondentes têm conhecimento das manifesta intenção de participar, o que é
Jornadas (79,35%). Também é interes- indicativo da capacidade mobilizadora de
sante notar que, entre os não religiosos, eventos desta natureza, e em particular
o conhecimento das Jornadas Mundiais da presença do Papa.
da Juventude é razoável, alcançando
45,65% da amostra. 2.3. Perspetivas sobre o futuro
No que concerne a intenção de par- Com esta secção do estudo, quise-
ticipação na Jornada Mundial da Juven- mos compreender como é que os jovens
tude de agosto de 2023, que se realizará portugueses perspetivam o futuro.
em Lisboa, ao observarmos a intenção de
A Figura 8, na página 21, apresenta
participação expressa agrupando as res-
o seu grau de preocupação, numa escala
postas em "sim" e "não", 75,23% dos
de 1 a 5, em que 1 significa "nada preo-
jovens Católicos manifestam intenção de
cupado" e 5 significa "muito preocupa-
participar, uma percentagem aproximada
do", com diversas dimensões da vida,
da dos que têm conhecimento do even-
no futuro. Observamos considerável
to. Como seria de esperar, 86,41 % dos
uniformidade entre os jovens dos dois
não religiosos não pretendem participar
grupos etários considerados, sendo as
no evento. É interessante observar a dis-
dimensões mais preocupantes para eles
tinção entre religiosos praticantes e não
a guerra (60%) (é de notar que este ques-
praticantes. São mais os praticantes que
tionário foi aplicado depois do início do
pretendem participar no evento-69,96%,
conflito decorrente da invasão da Ucrânia

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pela Rússia, a 24 de fevereiro de 2022), explorarmos eventuais semelhantes ou


as alterações climáticas (55%), a saúde diferenças relativamente aos outros dois
(51 %) (possivelmente ainda no rescaldo grupos. Em termos de sexo, as opiniões
da pandemia covid-19) e a equidade e expressas são relativamente uniformes.
discriminação (51 %) . Tanto os homens como as mulheres
Também questionamos os jovens consideram muito importante serem fe-
sobre o seu grau de concordância com lizes no futuro "terem um trabalho está-
afirmações sobre aspetos que conside- vel" e "terem um trabalho que os faça
ram importantes para serem felizes no felizes". Os homens destacam também
futuro, numa escala de 1 a 5, em que 1 a importância de "encontrarem um par-
significa "discordo totalmente" e 5 sig- ceiro/a para partilharem as suas vidas".
nifica "concordo totalmente". Em linha A maior discordância expressa, embora
com estudos anteriores sobre o contex- de poucos participantes, foi, em ambos
to português, observamos que os jovens os sexos, relativamente à importância de
portugueses consideram essencial para "formarem uma família com um ou mais
a sua felicidade no futuro terem um tra- filhos". Os resultados são os mesmos
balho que os faça felizes (74%). Consi- quando olhamos para a diferença en-
deram também importante a liberdade tre os mais jovens, entre os 14 e os 17
de pressões da família ou da sociedade anos, e os mais velhos, entre os 18 e os
(56%) e contribuírem para que a socieda- 30 anos. Concordam com a importância
de seja mais equitativa e não discrimina- de terem um trabalho que seja estável e
tória (56%). Não se observam diferenças que, ao mesmo tempo, os faça felizes,
relevantes entre os dois grupos etários e não valorizam tanto a importância de
considerados . constituírem família com filhos. Para faci-
litar a leitura da tabela, assinalamos a ver-
Também na página 21 pode ver-se a
de os três fatores mais importantes e a
Figura 9. Grau de concordância dos jo-
vermelho o fator menos importante, para
vens com afirmações sobre aspetos que
cada grupo.
consideram importantes para serem feli-
zes no futuro, por grupo etário (14 aos 17 Quando olhamos para as crenças re-
anos e 18 aos 30 anos). ligiosas, já observamos diferenças entre
os grupos considerados. Comparando
Procurámos padrões e regularidades
o grupo dos que têm crenças religiosas
em função do sexo, da idade, e das cren-
com o dos que não as têm, valorizam os
ças e práticas religiosa, conforme mostra
mesmos fatores - terem um trabalho es-
a Tabela 5 na página 22 . Relativamente
tável, terem um trabalho que os faça fe-
às crenças religiosas, considerámos três
lizes, e contribuírem para uma sociedade
grupos: dividimos a nossa amostra entre
que tenha mais equidade e para que não
quem manifesta ter crenças religiosas,
haja discriminação. Contudo, se para os
de qualquer credo, e quem se afirma ag-
não religiosos não é importante constituí-
nóstico ou ateu . Entre quem tem cren-
rem uma família que inclua filhos, este
ças religiosas, isolámos num grupo os
objetivo é importante para os religiosos,
que são especificamente Católicos, para

20
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Figura 8. Preocupações dos joven s com várias dimensões da vida no futuro, por grupo etário .

Quais das seguintes áreas te preocupam mais quando pensas no futuro?*

80
18-30
70

60
li
50 g

z
40
o
30 li

20
z
c'-J
tj-

N
10 11
...
zs
o A B e D E F G H J K L

A Sustentabilidade B Alterações climáticas C Biodiversidade D Economia E Política F Saúde G Tecnologia


H Trabalho I Família e relações J Equidade e discriminação K Exploração do espaço L Guerra
* Os participantes responderam de acordo com o seu grau de preocupação com cada um destes temas usando uma escala de 1 (Nada
preocupado) a 5 (Muito preocupado). Neste gráfico são apresentadas as percentagens de "Muito preocupados" com o tema.

Figura 9. Grau de concordância dos jovens com afirmações sobre aspetos que consideram
importantes para serem felizes no futuro, por grupo etário.
Que aspetos consideras importantes para seres feliz?*

80
70
53% 55% 52%
60 47%47%47%
cn
<O
o
50 11
~
40
z
r-'
00
cn
30 li

z
20 ci:::i
I.C')

~
10 li
...

o A B e D E F G

A Ter estabilidade no trabalho B Ter um trabalho que me faça feliz C Ter um estilo de vida sustentável
D Encontrar um/a parceiro/a para partilhar a minha vida E Formar uma família com um ou mais filhos
F Fazer as escolhas que quiser, independentemente da pressão da família ou da sociedade
G Contribuir para que a sociedade tenha mais equidade e para que não haja discriminação

* Os participantes responderam de acordo com o seu grau de concordância com cada uma das afirmações usando uma escala de 1
(Discordo completamente) a 5 (Concordo completamente). Neste gráfico são apresentadas as percentagens de "Concordo completa-
mente" com a afirmação.

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Tabela 5. Aspetos que consideram importantes para serem felizes no futuro, consoante o
sexo, a idade e as crenças religiosas.
# A B e D E F G
Homens
Discordo completamente 6 3 8 11 31 12 14
Discordo 11 2 4 16 33 13 21
Indiferente 39 37 68 78 126 14 101
Concordo 312 187 308 235 207 15 284
Concordo completamente 301 445 285 330 266 16 250
Mulheres
Discordo completamente 4 1 3 21 67 17 1
Discordo 4 4 8 22 76 18 3
Indiferente 21 10 64 159 195 19 27
Concordo 387 183 412 349 286 20 285
Concordo completamente 636 859 574 507 427 21 740
Jovens (14-17)
Discordo completamente 7 5 6 14 47 22 8
Discordo 5 1 4 18 51 23 7
Indiferente 34 28 64 134 166 24 59
Concordo 346 186 341 307 266 25 268
Concordo completamente 496 674 482 420 354 26 549
Jovens adultos (18-30)
Discordo completamente 7 3 11 28 83 27 14
Discordo 13 7 11 30 78 28 17
Indiferente 36 28 96 147 211 29 81
Concordo 445 241 470 353 283 30 371
Concordo completamente 554 784 475 500 393 31 575
Católicos
Discordo completamente 2 1 6 4 6 32 8
Discordo 8 3 7 5 9 33 10
Indiferente 17 9 38 51 67 34 39
Concordo 236 127 248 177 165 35 201
Concordo completamente 342 466 306 367 353 36 346

Religiosos
Discordo completamente 7 5 12 12 28 42 13
Discordo 10 5 8 16 37 43 15
Indiferente 39 25 76 122 152 44 78
Concordo 417 235 454 331 322 45 357
Concordo completamente 630 838 557 623 556 46 639
Não religiosos
Discordo completamente 7 3 5 30 102 47 10
Qiscordo 10 3 7 33 92 48 12
Indiferente 33 34 86 165 237 49 69
Concordo 414 213 399 360 255 50 322
Concordo completamente 462 682 441 345 236 51 519
A Ter estabilidade no trabalho B Ter um trabalho que me faça feliz C Ter um estilo de vida sustentável D Encontrar um/a
parceiro/a para partilhar a minha vida E Formar uma família com um ou mais filhos F Fazer as escolhas que quiser, indepen-
dentemente da pressão da família ou da sociedade G Contribuir para que a sociedade tenha mais equidade e para que não
haja discriminação.

22
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que, por seu lado, não valorizam tanto po- Também apresentámos aos Jovens
derem "fazer as escolhas que quiserem, um conjunto de afirmações sobre como
independentemente da pressão da famí- poderá ser a sociedade no futuro, pergun-
lia ou da sociedade". Entre os religiosos, tando-lhes o seu grau de concordância
a pouca valorização da liberdade para fa- numa escala de 1 a 5, em que 1 signi-
zerem as suas escolhas é particularmen- fica "discordo totalmente" e 5 significa
te acentuada entre os Católicos, sendo "concordo totalmente", como apresen-
mesmo o fator menos valorizado. É inte- tado na Tabela 6. Os jovens relevaram
ressante notar que, mais do que a estabi- graus de concordância mais fortes com
lidade no trabalho, valorizam "terem um as seguintes afirmações: "O avanço da
trabalho que os faça felizes" e "encon- ciência na área da saúde permitir-nos-á
trarem um parceiro/a para partilharem as viver mais tempo com mais qualidade de
suas vidas", bem como "formarem uma vida" (80% concordam e concordam to-
família com um ou mais filhos". A dimen- t~lmente); "As alterações climáticas em
são familiar surge, portanto, como uma curso serão irreversíveis e a vida como
dimensão indispensável do que os jovens a conhecemos no nosso planeta degra-
Católicos consideram felicidade. dar-se-á" (73% concordam e concordam

Tabela 6. Aspetos que consideram importantes para serem felizes no futuro, consoante o
sexo, a idade e as crenças religiosas.

-
Q)
e: -
Q)
e:

-
Q) Q)
E Q)
o o E ....
o "' o e: -c2 Q)

-e:,
-Q)
.... ....o
-e:,
....
Q) 'E .... Q) ·-
Q)
-e:,
e:
o e. Q) o o(.) -e. (1) o
(.)
~ E (.) ~
e: e: E o e.
·- o -~ -e:,
o o o
z e
Cl (.) Cl -e: u u (.) '"' (1)

As alterações climáticas em curso serão irreversíveis e a


3% 13% 7% 46% 27% 4%
vida como a conhecemos no nosso planeta degradar-se-á.
-- -- ~

Não haverá recursos suficientes se a população mundial


continuar a crescer. 4% 15% 7% 42% 27% 5%

Encontraremos novos modelos para a economia que


promovam mais a sustentabilidade e a equidade.
2% 10% 11 % 53% 19% 5%

Encontraremos novas formas de organização política que


promovam mais a sustentabilidade e a equidade.
2% 15% 14% 45% 18% 6%

Haverá mais conflitos e guerras. 4% 13% 9% 47% 18% 9%


f- - - --
As pessoas ficarão mais viciadas nas tecnologias digitais e
já não saberão comun icar umas com as outras. 4% 18% 9% 37% 29% 3%
--
Oavanço da ciência na área da saúde permitir-nos-á viver
mais tempo com mais qualidade de vida.
1% 7% 8% 46% 34% 4%

A vida humana será ameaçada por outras pandemias. 2% 6% 12% 48% 24% 8%
Tecnologias como a Inteligência Artificial irão desenvolver-
-se mais, e poderão ameaçar a nossa liberdade. 7% 19% 15% 32% 20% 7%

Será possível explorar recursos de outros planetas ou


4% 12% 17% 41% 15% 11 %
mesmo viver neles.

23
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totalmente); "A vida humana será amea- os jovens antecipam um quadro social fu-
çada por outras pandemias" (72% con- turo complexo e desafiante.
cordam e concordam totalmente); e, A Tabela 7, apresenta as três preo-
numa nota mais otimista, "Encontrare- cupações mais importantes, e as três
mos novos modelos para a economia menos importantes, consoante algumas
que promovam mais a sustentabilidade e variáveis consideradas. A preocupação
a equidade" (72% concordam e concor- com a guerra destaca-se em todos os
dam totalmente). Nem todas as afirma- grupos considerados, certamente decor-
ções acima são de fácil conciliação - por rente do conflito atual entre a Rússia e a
exemplo, "viver com mais qualidade de Ucrânia, bem como as alterações climá-
vida" e "a vida como a conhecemos no ticas . A exploração do espaço e a tecno-
nosso planeta degradar-se-á" - e todas logia também são temas que suscitam
elas, de uma forma mais ou menos inten- menor preocupação aos vários grupos
sa, são contingenciais, o que mostra que
considerados.

Tabela 7. Preocupações mais e menos importantes relativamente ao futuro, consoante o


sexo, a idade e as crenças religiosas.
Muito preocupado Nada preocupado
Homens
1ª Guerra Exploração do espaço
2ª Saúde Tecnologia
3ª Alterações Climáticas Política
Mulheres - -
1ª Guerra Exploração do espaço
2ª Alterações Climáticas Tecnologia
-
3ª Equidade e discrim inação Família e relações
Jovens (14-17)
-
1ª Guerra Exploração do espaço
2ª Alterações Climáticas Tecnologia
3ª Equidade e discrim inação Pol ítica
Jovens adultos (18-30) -

-
Guerra Exploração do espaço
2ª Alterações Climáticas Tecnologia
- -
3ª Saúde Família e relações
Católicos
-
1ª Guerra Exploração do espa ço
-
2ª Saúde Tecnologia
3ª Família e relações Família e relações
Religiosos
1ª Guerra Exploração d~ spaço

-
Saúde Tecnologia
3ª Família e relações Política
Não religiosos
1ª Alterações Climáti cas Explora ção do espaço

--
Guerra Tecnologia
3ª Equidade e discriminação Família e relações

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Relativamente a diferenças, quando Expomos na Tabela 8, na página


consideramos o sexo, observamos que seguinte, a contagem absoluta de cada
os homens se mostram mais preocupa- resposta, indicando o nível de preocu-
dos com a saúde, ao passo que as mulhe- pação de cada inquirido (Muito preocu-
res se preocupam mais com a equidade e pado, preocupado, etc.) sobre cada um
a discriminação. Além disso, os homens dos temas, pelos grupos em análise.
não se preocupam muito com a política, A verde estão assinalados os três valores
ao passo que para as mulheres, a família mais respondidos com "Muito preocu-
e as relações que não lhes suscitam tan- pado" por cada categoria, e a vermelho
ta preocupação. O agrupamento por ida- os três mais respondidos com "Nada
des conduz a resultados semelhantes: os preocupado".
mais jovens mostram preocupação com À pergunta "quais os valores mais
a equidade e discriminação e os mais ve- importantes para ti?", os inquiridos foram
lhos com a saúde; os mais novos preocu- c·onvidados a identificar quais os 5 valo-
pam-se menos com a política e os mais res mais importantes de entre 18 possí-
velhos com a família e as relações. veis (Sabedoria; Coragem; Honestidade;
Quando olhamos para as crenças Liberdade; Amor; Equidade; Solidarieda-
religiosas, há mais diferenças a notar. de; Justiça; Paz; Tranquilidade; Respeito;
Observamos que os Religiosos e o grupo Bondade; Inclusão; Altruísmo; Empatia;
dos Católicos não colocam no seu top 3 Ética; Humildade; Responsabilidade).
de preocupações com o futuro as altera- A Figura 10, na página 27, mostra-nos
ções climáticas, sendo que esta é a prin- quais os valores mais importantes para
cipal preocupação para os Não religiosos. os jovens: o respeito (59%), a liberda-
Por outro lado, a família e as relações são de (57%) e o amor (52%). Estes valores
uma das principais preocupações para os são os mais importantes para ambos os
Religiosos e para os Católicos. Este é um grupos etários, sendo que a ordem entre
dos temas que suscita menor preocupa- eles varia ligeiramente, com os mais jo-
ção aos Não religiosos, mas é curioso que vens a valorizarem mais o respeito (64%)
figure igualmente entre os temas menos e os mais velhos a liberdade (58%).
preocupantes para os Católicos inquiridos. É também interessante notar que o al-
A concomitância deste tema entre os mais truísmo, a inclusão e a tranquilidade são
e os menos preocupantes para este grupo os valores considerados menos impor-
é indicativa da heterogenia de posições re- tantes pela nossa amostra.
lativamente ao mesmo e, por ventura, da
diversidade de entendimentos que levam
a colocar o tema quer nos de maior preo-
cupação quer nos de menor preocupação.

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Tabela 8. Contagem absoluta das respostas para cada uma das categorias consideradas re-
lativamente a afirmações sobre preocupações com o futuro, consoante o sexo, a idade e as
crenças religiosas.
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Muito preocupado 230 279 225 234 221 298 144 260 257 199 103 314
Preocupado 339 286 309 307 221 258 223 290 217 279 192 245
Homens Indiferente 48 53 88-~ 83 148 65 143 73 91 98 190 57
Pouco preocupado 37 36 32 29 33 41 90 32 63 61 80 35
Nada preocupado 16 19 15 12 37 7 66 15 34 29 93 17
Muito preocupado 545 683 487 361 352 608 141 533 526 680 188 737
Preocupado 454 326 459 546 421 374 370 418 323 316 296 272
Mulheres Indiferente 31 23 64 112 208 41 359 56 96 28 321 21
Pouco preocupado 13 13 23 18 36 20 118 32 71 23 105 12
Nada preocupado 6 7 12 12 26 6 55 11 30 6 96 5
Muito preocupado 427 550 409 286 243 527 166 442 460 546 197 640
Preocupado 468 373 451 501 357 360 330 419 311 322 290 27
Jovens (14-17) Indiferente 64 52 87 158 280 65 323 84 118 75 301 37
Pouco preocupado 30 15 30 32 46 35 97 31 62 43 92 21
Nada preocupado 9 12 17 16 59 12 70 17 33 14 85 17
Muito preocupado 518 623 457 452 461 572 183 515 475 519 158 635
Preocupado 501 377 483 526 437 418 404 451 359 422 303 370
Jovens adultos Indiferente 44 48 107 93 147 74 288 80 118 85 333 61
(18-30) Pouco preocupado 34 49 45 26 43 42 158 55 113 57 138 37
Nada preocupado 19 22 23 19 24 10 83 18 50 32 144 15
Muito preocupado 263 321 233 224 218 366 91 301 362 306 103 446
Preocupado 298 235 290 314 230 205 234 246 167 232 172 147
Católicos Indiferente 32 26 59 63 136 29 196 44 44 45 198 9
Pouco preocupado 24 28 25 15 22 19 62 21 29 27 70 11
Nada preocupado 6 12 13 5 14 4 39 7 15 12 59 7
Muito preocupado 682 852 633 514 486 733 258 656 573 759 252 829
Preocupado 671 515 644 713 564 573 500 624 503 512 421 498
Não Católicos Indiferente 76 74 135 188 291 110 415 120 192 115 436 89
Pouco preocupado 40 36 50 43 67 58 193 65 146 73 160 47
Nada preocupado 22 22 27 30 69 18 114 28 68 34 170 25
Muito preocupado 485 600 431 409 384 645 182 551 615 573 205 769
Preocupado 536 410 516 558 414 386 404 451 320 409 319 296
Religiosos 1nd iferente 61 66 122 127 244 71 348 82 95 86 349 32
Pouco preocupado 40 42 41 28 43 29 122 34 68 46 116 23
Nada preocupado 15 22 25 12 45 8 78 19 33 23 107 15
Muito preocupado 460 573 435 329 320 454 167 406 320 492 150 506
Preocupado 433 340 418 469 380 392 330 419 350 335 274 349
Não religiosos Indiferente 47 34 72 124 183 68 263 82 141 74 285 66
Pouco preocupado 24 22 34 30 46 48 133 52 107 54 114 35
Nada preocupado 13 12 15 23 38 14 75 16 50 23 122 17

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Figura 10. Quais os valores mais importantes para os jovens, ambos os gru pos etá ri os .
Quais dos seguintes valores são os mais importantes para ti? Escolhe os cinco mais
importantes.

Respeito 59%
Liberdade 57%
Amor 52%
Honestidade 51%
Justiça 43%
Paz 38%
Equidade 33%
Humildade 27%
Sabedoria 25%
Responsabilidade 23%
Empatia 22%
Coragem 17%
Solidariedade 16%
Ética 13%
Bondade 12%
Altruísmo 8%
Inclusão 8%
Tranquilidade 7%
~ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - -
o 10 20 30 40 50 60

A Tabela 9, mostra uma análise que amostra: Amor; Honestidade; Liberda-


considera 3 categorias - sexo (homens e de; e Respeito. Sublinha-se, também,
mulheres); faixa etária (jovens e jovens a importância para todos os grupos do
adultos); Católicos, religiosos e não re- Respeito na sua hierarquia axiológica. Fi-
ligiosos - para apresentar os 3 valores nalmente, destacamos o papel do Amor
que mais vezes foram referidos os mais para os Católicos (que constituem grande
importantes. Podemos constatar que há parte da amostra).
4 valores muito importantes para esta

Tabela 9. Valores mais importantes, consoante o sexo, a idade e as crenças religiosas.


1º valor 2º valor 3º valor
Homens Liberdade Respeito Honestidade
Mulheres Respeito Liberdade Amor
Jovens (14-17) Respeito Liberdade Amor
Jovens adultos (18-30) Respeito Liberdade Amor
Católicos Amor Respeito Honestidade
Religiosos Amor Respeito Honestidade
Não religiosos Liberdade Respeito Honestidade

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Seguidamente, apresentamos a Ta- Respeito entre todas as categorias con-


bela 10, com uma média de cada valor sideradas. Tanto homens como mulheres
para cada grupo. A média é calculada so- valorizam a Liberdade, mas os homens
mando todas as respostas positivas em elegem a Honestidade ao passo que as
cada valor (1) e dividindo pelo número to- mulheres valorizam o Amor. A idade não
tal dos respondentes em cada categoria. introduz diferenças, todos valorizam,
A verde estão assinalados os três valores além do Respeito, a Liberdade e o Amor.
mais referidos por categoria, e a verme- Olhando para os grupos de Religiosos,
lho os três menos indicados. Católicos e Não religiosos, todos valori-
Observa-se uma grande consistência zam, além do Respeito, a Honestidade.
entre os vários grupos. Os três valores Mas se os Não religiosos valorizam a
menos relevantes são, consistentemen- Liberdade, os Religiosos e os Católicos
te, para todos os grupos, a Tranquilidade, valorizam o Amor, o que é consistente
a Inclusão e o Altruísmo. Seria interes- com as afirmações acima analisadas em
sante compreender porque os jovens que os Não religiosos consideram que
não dão tanta importância a estes valo- terem liberdade será fundamental para
res, sendo que sobretudo as mulheres e serem felizes no futuro, e os Religiosos
os mais jovens afirmaram estarem muito e Católicos consideram importante cons-
tituírem uma família, sendo esta também
preocupados com questões relacionadas
com a equidade e com a discriminação. uma das suas principais preocupações
Também é unânime a valorização do quando pensam no futuro.

Tabela 10. Média das respostas (em %) relativamente aos valores mais importantes, con-
soante o sexo, a idade e as crenças religiosas.

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B 1063 19,10 13,45 50,24 55,97 54,00 37,35 18,06 43,18 38,48 4,99 59,92 10,25 8,28 6,21 24,65 10,1 6 21 ,17 18,34

e 1149 17,49 15,75 41,25 43,86 42,65 33,86 10,01 32,72 30,03 5,22 49,78 8,79 4,35 4,35 12,01 6,61 22,28 18,71

o 1331 17,96 8,94 32,76 39,14 33,21 14,65 13,30 29,68 25,62 5,33 36,74 9,02 6,69 6,76 18,78 11 ,34 16,53 15,40

E • 707 17,68 11,74 41,30 37,06 48,37 21,78 16,69 32,39 33,24 3,96 45,40 9,62 3,82 4,81 13,86 6,93 27,86 17,54

F 1387 15,79 13,27 38,86 36,77 42,75 22,13 13,27 30,21 28,26 4,47 42,32 8,72 3,97 4,61 12,69 7,79 24,30 15,72

G 1093 20,22 10,61 33,94 47,12 31,02 25,34 9,88 32,20 26,90 6,31 43,37 9,15 7,69 6,95 19,40 10,89 12,72 18,48

A Homens B Mulheres C Jovens (14-17) D Jovens adultos (18-30) E Católicos F Religiosos G Não religiosos

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A Figura 11 mostra-nos como é que A Tabela 11, na página seguinte,


os jovens da nossa amostra consideram mostra-nos a distribuição dos que consi-
contribuir para a construção de um fu- deram que através das suas práticas de
turo melhor. São 81 % os que afirmam rezar e/ou meditar contribuem para que
respeitar os direitos humanos, 76% os o futuro seja melhor, distribuídos por
que procuram ser bondosos e agir corre- crença religiosa. É de notar que apenas
tamente no dia a dia, e 73% os que são foi possível realizar este cruzamento de
participativos na sua cidadania (por exem- dados para 1794 respostas, correspon-
plo, votam). São apenas 7% os que acre- dendo este número à quantidade de par-
ditam que a sua ação individual não faz ticipantes que responderam a todas as
diferença. É interessante observar que questões envolvidas nesta análise. Des-
os jovens mais velhos estão ligeiramente tes 1794 respondentes, 65% afirmam-se
mais comprometidos com esta contribui- como Católicos, e 28% descrevem-se
ção para a construção de um futuro me- como religiosos não praticantes.
lhor. É também de notar que estes jovens
Como seria de esperar, são predo-
não são muito participativos em termos
minantemente os que afirmam ter uma
de ativismo (apenas 18% se consideram religião e praticá-la, 71,9% da amostra
ativistas) ou voluntariado (apenas 27%
considerada, que partilham a crença em
declara fazer voluntariado), e que tam-
poderem contribuir para que o futuro
bém são apenas 27% os que acreditam
seja melhor através da oração e/ou da
que a sua prática religiosa, nomeadamen-
meditação.
te através da oração ou meditação, pode
contribuir para um futuro melhor.
Figura 11. Forma como os jovens acham contribu ir para um futuro melhor, por grupo etário

Achas que contribuis para construir um futuro melhor?


100
e rotal e 14-17 e ia-30 73%66%80% 81 %80%82% 76%72%81 %
80
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60 ~
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40 li

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r--

o A B e D E F G H
A Faço voluntariado B Sou ativista de causas em que acredito C Contribuo para campanhas de solidariedade, faço
donativos D Faço o possível para ter um estilo de vida sustentável (ex. reduzir, reutilizar, reciclar) E Sou um cidadão
participativo (ex. vou votar) F Respeito os direitos humanos G Rezo ou medito H Procuro ser bondoso e agir
corretamente no meu dia a dia I A minha ação individual não faz a diferença
Nota: A afirmação "Sou um cidadão participativo (ex. vou votar)" foi reformulada na versão B do questionário para "Serei um cidadão
participativo (ex irei votar)".

29
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Tabela 11. Posição face à religião dos respondentes que consideram que ao rezar e/ou medi-
tar contribuem para um futuro melhor (em percentagem) (n=1794).
Posição Percentagem
Não tenho uma posição definida sobre a religião 2,48%

A religião é-me indiferente 1,24%

Sou agnóstico 5,79%

Sou ateu 3,10%

Sou crente e pratico uma religião 71,90%


Budismo 0,41 %
Catolicismo 57,64%
Evangélica ou outra religião cristã protestante 3,10%
Islamismo 0,21 %
Mórmon 0,21 %
Outra . Qual? 1,86%
Prefiro não responder 0,41 %
Testemunha de Jeová 0,62%

Sou crente, mas não pratico uma religião 15,50%

Total 100,00%

Entre estes, 57,64% são Católicos. No seJa melhor e que realizam com mais
entanto, é de notar que 15,5% dos que frequência, organizadas por sexo, idade
se afirmam crentes, mas que não prati- e crenças religiosas. Comparando relati-
cam uma religião, acreditam no poder da vamente, isto é, dividindo o total de res-
oração. postas positivas por a cada resposta por
classe e dividindo pelo total de respon-
A Tabela 12 mostra as atividades
que os jovens acreditam poderem contri- dentes dessa mesma classe, obteve-se a

buir para que o seu futuro (e de todos) Tabela 12.

Tabela 12. Realização de atividades que os jovens acreditam terem impacto positivo no futu-
ro, consoante o sexo, a idade e as crenças religiosas, em percentagem .

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<x: .!:: (tJ
Homens 22% 14% 19% 55% 68% 72% 23% 70% 11%
Mulheres 30% 20% 32% 63% 75% 85% 30% 79% 3%
Jovens (14-17) 16% 11% 20% 46% 51 % 63 % 20% 56% 7%
Jovens adultos (18-30) 23% 14% 18% 42% 54% 55% 20% 55% 4%
Católicos 30% 12% 30% 48% 57 % 62% 45% 61% 2%
Não Católicos 16% 13% 15% 43% 51 % 58% 10% 53 % 7%
Religiosos 22% 11% 21% 42% 50% 56 % 31% 54% 3%
Não religiosos 17% 16% 17% 47% 57 % 62% 6% 57% 8%

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Destacam-se as mesmas atividades, considerados . Após a preocupação ge-


de modo homogéneo, nas categorias ral com a sustentabilidade do planeta, os
consideradas: ser um cidadão participa- mais jovens tornariam a sociedade mais
tivo, respeitar os direitos humanos, ser equitativa (38%) e melhorariam a saúde
bondoso e procurar agir corretamente no (34%), ao passo que os mais velhos con-
dia a dia . Apesar de não ser das ativida- sideram que são necessárias melhmias
des mais frequentes, que entre os Reli- na educação (48%) e na saúde (34%) .
giosos em geral, quer entre os Católicos, Apesar da grande preocupação já revela-
"Rezar e Meditar" tem mais expressão da com o trabalho, e de este ser conside-
nestes grupos do que entre os Não reli- rado pelos jovens um fator central para
giosos, como seria de esperar. que sejam felizes no futuro, são apenas
Por fim, perguntámos aos jovens, se 9% os que consideram prioritário mudar
pudessem mudar o futuro, o que fariam. a forma como o trabalho e o mercado
Podemos observar na Figura 12, que a laboral funcionam na nossa sociedade.
principal mudança, considerada por 60% Chama também a atenção a grande preo-
da nossa amostra, seria garantir a sus- cupação que os jovens têm com a sus-
tentabilidade do planeta. Relativamente tentabilidade do planeta face a apenas
a esta questão, já se observam algumas 7% deles estarem disponíveis para mu-
diferenças entre os dois grupos etários dar práticas de consumo.

Figura 12. Que mudanças os jovens fariam no futuro, por grupo etário .

Se pudesses mudar o futuro, quais seriam as tuas prioridades? Escolhe as três áreas
que mais achas que necessitam de melhorar
r-- o
cõ .- ('f)

;§ ..;. CX)

Sustentabilidade
do planeta
• ••
60% 64% 56% :
Proteção da
biodiversidade
21% 26% 17%

Economia 20% 17% 22%


Política 23% 19% 27%
Saúde 34% 34% 34%

Educação 41% 34% 48%


Trabalho 9% 8% 10% C')
C')
00
li
Equidade 27% 38% 17%
z"'
ú-,'
Qualidade 28% 29% 28% C')
00
de vida li
Consumo 7% 6% 8%
z
Tecnologia 6% 7% 5%
~-
C')

~
li
Relacionamento 23% 21% 24%
z-"
õ
humano

o 10 20 30 40 50 60 70 80

31
Conclusões
Enquadrado o estudo, explicitada a metodologia e apresen-
tados os dados, é agora tempo de concluir.

Cerca de metade dos jovens portugueses entre os 14 e


os 30 anos de idade afirma-se Católica. Considerando outras
religiões, conclui-se que 56% dos jovens portugueses são reli-
giosos. A religiosidade, por isso, é uma dimensão importante da
vida dos jovens em Portugal, sendo que cerca de 90% dos que
se afirmam religiosos são Católicos, e destes 68% dizem ser
praticantes.

Religiosidade e prática religiosa


O nosso primeiro objetivo era compreender como os jovens
vivem a dimensão espiritual das suas vidas, incluindo vivências
e crenças diversificadas, incidindo particularmente na religião
Católica.

A maioria dos jovens diz-se religiosa (56%), sendo 88%


destes Católicos . Isto significa que 49% dos jovens se afirmam
Católicos. É um valor significativo se considerarmos a perceção,
mais ou menos generalizada, de que vivemos numa sociedade
dessacralizada. Mas é um resultado alinhado com os 50% de
jovens que se dizem Católicos no estudo da Fundação Francis-
co Manuel dos Santos referido na Introdução deste estudo. A
reforçar esta constatação, um terço do total dos jovens (34%)
diz-se não só religioso como praticante, orando regularmente,
participando em celebrações ou estando integrado em grupos
da sua comunidade religiosa. Este valor é superior ao encon-
trado pelo referido estudo da Fundação Francisco Manuel dos
Santos (18%), mas a conjugação dos dois permite-nos dizer
com elevado grau de segurança que um número significativo
de jovens em Portugal são Católicos praticantes. Quanto aos
crentes não praticantes, o principal motivo apontado para a au-
sência de prática religiosa é a falta de compromisso e empenho.

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Contudo, se olharmos para grupo etário desafios para o futuro, as suas preocu-
dos 18-30 anos, os jovens adultos, a pações. Neste campo, sobressaem as
ausência de prática religiosa fundamen- preocupações com a guerra (63%), as al-
ta-se mais no desacordo com algumas terações climáticas (55%) e a equidade
normas dessa prática (44%) . Ou seja, o e discriminação (54%). A economia e a
motivo da ausência de prática religiosa é política são preocupações maiores para
mais de caráter intrínseco - atinente ao os mais velhos (40% e 41 %, respetiva-
sujeito - do que extrínseco - atinente à mente) do que para os mais novos, mas
religião . Curiosamente, a observação de ainda assim, menos preocupantes do
demasiadas atitudes e comportamentos que aquelas três questões.
negativos noutros praticantes, embora
Curiosamente, o trabalho e a família
relevante (21 % nos mais novos e 28%
são preocupações (44% e 45%), mas
nos mais velhos), não é o principal fator
não são as principais . Porém, estas duas
que afasta da prática religiosa . dimensões da vida são as que os jovens
Esta prática religiosa é acompanhada valorizam mais para a sua felicidade futu-
de bastante tolerância em relação a dife- ra, como veremos de seguida .
rentes manifestações de religiosidade.
51 % dos jovens considera haver verdade
em todas as religiões, sendo uma mino- Ser feliz no futuro
ria os que afirmam que só a sua religião O nosso terceiro objetivo era explorar
é verdadeira (5%) ou mais verdadeira do relações e padrões significativos entre,
que as outras (12%). Este dado percebe- por um lado, crenças, valores e priorida-
-se no contexto de uma religiosidade cujo des para o futuro e, por outro lado, a vi-
impacto se manifesta no desejo de aper- vência religiosa dos jovens .
feiçoamento pessoal (43%), de ajudar os Quando observamos o que significa
outros (42%) e dar sentido à vida (40%).
para os jovens ser feliz no futuro, verifi-
Esta última dimensão de impacto da reli- camos que existem diferenças entre gru-
gião - dar sentido à vida - é especialmen-
pos, consoante se considern a presença
te relevante no grupo dos jovens adultos ou a ausência de crenças religiosas .
(60%).
Ambos os grupos valorizam os mesmos
Ou seja, o grupo dos jovens é maiori- fatores de felicidade - ter um trabalho
tariamente religioso, praticante em gran- estável, que os faça felizes, e contribuí-
de medida, e encontra na religião um rem para uma sociedade que tenha mais
benefício de melhoria pessoal e sentido equidade e onde não haja discriminação.
para a vida . Contudo, se para os não religiosos não é
importante constituírem uma família que
inclua filhos, este objetivo é importante
Desafios para o futuro para os religiosos, que, por seu lado, não
O nossos segundo objetivo era co- valorizam tanto poderem fazer as esco-
nhecer as perceções dos jovens dos lhas que quiserem, independentemente
14 aos 30 anos quanto aos principais da pressão da família ou da sociedade .

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Aliás, para os que se afirmam Católicos, são menos preocupantes para os Católi-
este é o fator menos valorizado. Os Cató- cos do que para os restantes. Aliás, os
licos, mais do que a estabilidade no traba- jovens Católicos elegem a temática fa-
lho, valorizam terem um trabalho que os mília e relações, em simultâneo, como a
faça felizes e encontrarem um parceiro/a terceira com a qual mais se preocupam
para partilhar a vida, bem como constituir e como a terceira com a qual menos se
uma família com um ou mais filhos . Adi- preocupam. Este facto sugere a pertinên-
mensão familiar surge, portanto, como cia de futuras investigações para que se
uma dimensão ind ispensável de felicida- possa compreender melhor ambas as po-
de para os jovens Católicos. sições. No âmbito do presente estudo,
constatada esta diversidade, não é pos-
sível avançar com segurança na análise
Como será a vida no futuro deste aspeto .
Esta felicidade futura é projetada
num mundo em que o avanço da ciência
permitirá aos jovens de hoje viver mais Valores
tempo e com mais qualidade de vida Por fim, quanto aos valores que con-
(80%); em que a vida como a conhece- sideram mais importantes na vida, exis-
mos no nosso planeta se degradará por te concordância entre os jovens quanto
força da irreversibilidade das alterações aos mais importantes : o respeito (59%),
climáticas (73%); em que haverá novas a liberdade (57%), o amor (52%) e a ho-
pandemias (72%), mas onde se encon- nestidade (51 %). Mas se os jovens não
trarão novos modelos para a economia, religiosos valorizam a liberdade, os reli-
que promovam mais a sustentabilidade giosos valorizam o amor, o que é consis-
e a equidade (72%). Nem todas estas vi- tente com a afirmação dos não religiosos
sões sobre o futuro são de fácil concilia- de que terem liberdade será fundamental
ção, mas todas denotam que os jovens para serem felizes no futuro, ao passo
antecipam um quadro social futuro com:- que os jovens religiosos dão mais im-
plexo e desafiante . portância a constituírem família. Curiosa-

Olhando para esta visão do futuro a mente, a empatia (22%), a solidariedade


(16%), o altruísmo (8%) e a inclusão (8%)
partir da posição perante a religião, obser-
vamos que os jovens religiosos não colo- estão entre os valores menos destaca-

cam no topo das suas preocupações com dos pelos jovens; o que significa apenas
que dão prioridade a outros valores, po-
o futuro as alterações climáticas , sendo
esta a principal preocupação para os não dendo ou não consideram que a defesa
daqueles valores está mais acautelada.
religiosos. Por outro lado, a família e as
relações são uma das principais preocu-
pações para os religiosos, mas são um
Ação
dos temas que suscita menor preocupa-
ção aos não religiosos. É curioso notar O nosso quarto e último objetivo

que no seio dos religiosos estes temas era conhecer o grau de envolvimento
dos jovens na construção do futuro e

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compreender até que ponto acreditam sua felicidade futura. Se tivéssemos de


que a sua ação pode fazer diferença. A escolher o fator que mais marca a dife-
grande maioria dos jovens afirma procurar rença entre os jovens religiosos e os não
ser bondoso e agir corretamente no dia religiosos seria a família, quer como preo-
a dia (76%), bem como ser participativo cupação, quer como fator de felicidade,
em termos de cidadania (73%). Mas, sur- quer finalmente como núcleo axiológico
preendentemente, a forma como dizem da vida.
mais contribuir para um futuro melhor é
respeitando os direitos humanos (80%).
93% acreditam que a sua ação individual
faz diferença. Porém, é de notar que os
jovens não são muito participativos em
termos de ativismo (15%) ou voluntaria-
do (26%). Contudo, 45% dos Católicos
acreditam que a oração pode contribuir
para um futuro melhor, o que é de salien-
tar considerando que apenas 34 % dos
religiosos se afirmam praticantes. Daqui
parece poder concluir-se que para os jo-
vens Católicos praticantes a oração tem
um importante impacto no mundo .

A terminar o questionário, os jovens


foram questionados sobre qual seria a
sua prioridade se pudessem mudar o
futuro. De forma esmagadora, tratariam
da sustentabilidade do planeta (64%), se-
guidamente dos problemas de equidade
(38%), de saúde (34%) e de educação
(34%) . Mas, no agregado, os dados pa-
recem denotar algum individualismo. Se
cada um agir bem na sua esfera e o nos-
so planeta for protegido, o mundo será
melhor.

Todos os jovens, independentemen-


te da sua idade, sexo ou orientação re-
ligiosa, partilham preocupações comuns
quanto ao futuro. No entanto, do nosso
estudo conclui-se que existem variações
importantes, em função da religiosida-
de, quanto à ordenação das preocupa-
ções ou aos fatores que determinam a

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ESTUDO

MAIO, 2023

CAT()LIC,\
CEPCEP · CENTRO DE ESTUDOS DOS POVOS
ECUL URAS DE EXPRESSA□ PORTUGUESA

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