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UM CONVITE À REFLEXÃO...

A adolescência é um momento de transformações e de-


scobertas, considerado o mais rico período de nossas vi-
das, por ser permeado de decisões e emoções intensas, e
também um dos mais difíceis. Pelo menos achamos isso,
enquanto estamos passando por ela. Não é mesmo?

O tempo todo, fazemos opções e escolhas


constantemente, dentro das possibilidades
que nos são oferecidas.
Se a adolescência é uma fase de experimen-
tar, inconformar-se, e refazer-se, ela é a sínte-
se da própria vida. Convém viver intensamen-
te este período, mas não sem assumir as
responsabilidades que lhe são próprias.
É por meio deste processo que aprendemos a
nos conhecer e a tomar decisões.
Não escolhemos o tempo e o espaço onde
nascemos, nem a família e os grupos sociais
em que estamos inseridos ou a sociedade em
que vivemos. Mas, dentro dessas condições,
podemos construir nossa maneira de agir, de
pensar e de ser.
Não temos critérios garantidos para saber se estamos no melhor caminho,
mas existem alguns instrumentos que nos ajudam a enfrentar as dificuldades e os
desafios com maior segurança e com maior probabilidade de realização pessoal e
de interação social. É sobre isso que vamos refletir aqui.

O que são drogas?


Aqui vamos abordar as “drogas psicotrópicas ou psicoativas”, que são as subs-
tâncias que, ao serem consumidas, atuam diretamente no nosso sistema nervoso
central, cujo principal órgão é o cérebro, modificando seu funcionamento.

Ao atingirem o cérebro, as drogas


modificam a nossa maneira de sentir,
pensar e, muitas vezes, de agir. A mu-
dança pode ser no sentido de fazer o
cérebro funcionar mais devagar, dei-
xando a pessoa mais lenta e desligada
(drogas depressoras), mais depressa,
tornando o usuário mais ativo, ligado,
sem sono (drogas estimulantes) ou
de forma fora de seu normal, pertur-
bando a mente (drogas alucinógenas
ou perturbadoras). (CEBRID, 2004)
Vamos conhecer alguns exemplos dessas drogas?
Drogas depressoras do Drogas estimulantes do Drogas perturbadoras do
sistema nervoso central sistema nervoso central sistema nervoso central
•Álcool •Tabaco •Maconha
•Inalantes ou solven- •Anfetaminas (bolinhas, •Cogumelos e plantas
tes (tintas, colas, rebites, remédios para alucinógenas
éter, removedores, es- tirar o apetite) •LSD 25
malte, etc), •Cocaína (em pó, pasta •Êxtase
•Soníferos (remédios de coca, crack, merla) •Anticolinérgicos (lí-
que provocam o sono) •Cafeína (contida no rio, trombeteira, saia
•Ansiolíticos (remédios café, chá preto, alguns -branca, medicamentos
que acalmam ou dimi- refrigerantes) como Aryane, Bentyl,
nuem a ansiedade) etc)
•Opiáceos ou narcóti-
cos (analgésicos como
morfina, heroína, code-
ína, etc)

O uso de drogas.
Não é de hoje que as pessoas usam
estas substâncias, ou outras seme-
lhantes. Os usos sempre tiveram va-
riados objetivos: diminuição do so-
frimento ou da dor, busca de prazer,
comemorações, confraternização e in-
teração social, ritos religiosos e outros.

A droga é uma substância depresso-


ra do nosso sistema nervoso central
que, após alguns momentos de eufo-
ria, diminui a coordenação motora e o autocontrole e aumenta o sono. Beber e
dirigir veículos ou exercer uma atividade profissional pode ter consequências bem
prejudiciais. No entanto, um adulto saudável que consome algumas poucas doses
de bebida, numa celebração familiar, sem se expor a nenhuma situação que requei-
ra coordenação motora e total lucidez mental, poderá se sentir satisfeito e estará
correndo poucos riscos.

Os remédios ao serem consumidos com


prescrição e controle médicos podem trazer
benefícios para a saúde mas se forem con-
sumidos indiscriminadamente como “auto-
medicação” podem causar danos séri-
os à pessoa.

Não se pode generalizar, condenando qualquer uso de drogas e, menos ainda,


ter preconceitos em relação aos usuários, como se fossem pessoas doentes ou
problemáticas. Mas é importante saber que qualquer uso envolve riscos e pode
acarretar problemas.
Antes dos 18 anos, fase de desenvolvimento físico e mental, é desaconselhável
consumir bebidas alcoólicas. Com mais idade, a lei brasileira permite que elas sejam
vendidas, mas deve-se analisar a quantidade, a situação em que se vai beber e o
que se vai fazer depois.

Sobre o cigarro de tabaco, droga lícita


no Brasil, há suficientes estudos que com-
provam seus efeitos nocivos à saúde.
Outras, além de possíveis danos à saúde,
têm um grande potencial de criar de-
pendência, como o crack e a heroína. O
uso de substâncias ilegais traz consigo os
riscos associados ao contato com o
tráfico e com a criminalidade ou a
violência.
Lembre-se de que todos estes fatores devem ser considerados ao se fazer uma
opção relacionada ao uso de qualquer droga, seja ela lícita ou não.

Nossas escolhas devem ser pautadas pelo bom senso e pelo exame detalhado de
todos os riscos que corremos com as nossas decisões, sejam relacionadas ou não
ao uso de drogas.

Os adolescentes e o uso de drogas.


Pesquisas realizadas em 2011 entre estudantes brasileiros pelo Centro Brasileiro
de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) mostram que a maioria das
pessoas, inclusive os jovens, não costuma exagerar na bebida, não fuma e não
usa drogas ilícitas. Existem muitos casos de abuso de drogas e de dependência
delas, mas esta não é a regra. Se alguém quer se aproximar dos padrões de com-
portamento mais comuns entre seus pares, o caminho não é fazer uso indevido de
drogas.

Vamos ver, em porcentagens, quantos estudantes


já fizeram uso das drogas mais comuns.
Os dados se referem aos alunos brasileiros de ensino fundamental (6º ao 9º ano) e de
ensino médio que já experimentaram cada droga, mesmo que tenha sido apenas uma vez
na vida.

60% dos estudantes já tomaram uma dose inteira de álcool.


Esta é uma droga cujo consumo é até incentivado pela
sociedade e que, quando consumida em excesso ou em
situações impróprias, pode produzir efeitos negativos,
tais como: doenças, especialmente no fígado ou em out-
ros órgãos do aparelho digestivo e no sistema cardio-
vascular, episódios de violência, acidentes de trânsito e
de outras naturezas e desenvolvimento da dependência.
Todas essas decorrências do abuso de álcool acarretam altos sofrimentos para as pessoas
e para a sociedade.

Tabaco, quase 17% dos estudantes dos ensinos fundamental e


médio já fumaram um cigarro inteiro.
Mesmo sabendo que este uso não é constante e, na maioria das vezes não é excessi-
vo, ele é bastante precoce e pode ser muito prejudicial. A ocorrência de diferentes ti-
pos de câncer e de doenças cardiovasculares está associada ao fumo e à nicotina con-
tida no cigarro que tem um forte poder de gerar dependência em seus usuários.
Álcool e tabaco são as mais usadas também
pela população geral do Brasil e do mundo. Am-
bas são lícitas em quase todos os países e são
as que maiores danos causam: o álcool causa
doenças, acidentes e violência e o cigarro causa
doenças físicas. É importante que os adoles-
centes pensem sobre estas informações,
quando se preocupam em construir uma
vida saudável.

Solventes/inalantes já foram usados, alguma vez na vida por 8,7%


dos estudantes.Muitas crianças e adolescentes, e mesmo muitos adultos, não avaliam
os riscos que uma pessoa corre ao cheirar uma substância desse tipo. Uma única experiên-
cia pode acarretar sérias consequências, como: arritmia cardíaca quando associados ao
esforço físico e, com o uso continuado, efeitos tóxicos graves e risco de dependência.

Ansiolíticos (ou calmantes) usa-


dos sem prescrição médica vêm em
quinto lugar entre as substâncias usadas
pelos estudantes, com 5,3% de uso ao
menos uma vez na vida, e as anfetami-
nas, também sem receita, foram consu-
midas por 2,2% deles alguma vez.

Entre as drogas ilícitas, a que maior número de estudantes usou foi a maconha
(5,7%) que ocupa o quarto lugar entre as drogas utilizadas alguma vez. Experimenta-
ram cocaína ao menos uma vez na vida 2,5% dos alunos pesquisados e crack 0,6%.
A maconha é uma droga alucinógena. Seus efeitos dependem, em grande parte da
qualidade do produto e da sensibilidade de quem a usa. Pode causar relaxamento, von-
tade de rir e aumento de apetite, além de distorções na visão de tempo e de espaço e
prejuízos na memória e atenção. Algumas pessoas que a usam em longo prazo podem
perder a motivação para outras atividades e interesses e sofrer interferência na sua ca-
pacidade de aprendizagem.

Já a cocaína e o crack, causam


intenso prazer imediato, seguido de
excitação, hiperatividade e falta de
apetite, entre outros efeitos. Com o uso
intenso e repetitivo, o usuário tem sen-
sações muito desagradáveis, entre as
quais cansaço, depressão e paranoia. O
risco de dependência se deve ao desejo
de repetir a experiência prazerosa, que
muitas vezes não é fácil de controlar.

Entre as drogas experimentadas pe-


los estudantes, destacam-se também
os esteroides anabolizantes,
usados por 1,4% dos estudantes, pelo
menos uma vez. Estas substâncias, in-
geridas para aumento da massa mus-
cular, têm efeitos adversos, como ner-
vosismo, agressividade, problemas
hepáticos e acne, entre outros.

É verdade que se pode construir uma vida alegre, realizadora e saudável sem, neces-
sariamente, fazer uso de substâncias que alterem a consciência. Para isso é preciso de-
scobrir um outro lado da vida: o prazer de uma vida saudável e de uma mente aberta
aos afetos e às aprendizagens.
Como proteger nossa saúde?
As drogas causam efeitos no nosso cérebro. Com a mudança do seu funcionamen-
to, podemos ter condições menos favoráveis para exercer os papéis que desempen-
hamos na nossa vida diária: membro de uma família, estudante, participante de um
grupo de amigos, colega, atleta, parceiro sexual ou cidadão de uma comunidade.

O efeito das drogas em nossa mente pode momentaneamente nos deixar mais
corajosos, confiantes ou relaxados, mas será um efeito artificial e passageiro.
Muito mais interessante e eficaz é procurar encontrar forças em nós mesmos ou
junto às pessoas com quem convivemos para descobrir meios de resolver os prob-
lemas que enfrentamos.

O consumo de drogas traz consequências para a nossa saúde física, mental e


para o nosso relacionamento social.

Quem se arriscaria a atravessar uma rua de olhos vendados? É até possível


que se possa chegar ao outro lado ileso. Mas pode-se chegar machucado leve-
mente, ou gravemente. Ou não chegar. Correr riscos faz parte da vida. Não
é possível viver tão seguramente que tenhamos certeza de tudo. Mas existem
muitos riscos que podem ser diminuídos ou evitados.

No que se refere ao uso de drogas, o que temos que buscar é correr a menor
quantidade de riscos possíveis e reduzir os danos que qualquer consumo
pode acarretar. Para algumas drogas seria o caso de não usá-las. Para outras,
usar com muita moderação e na idade, ocasião e condições adequadas. Isso é agir
com maturidade. Estamos falando de adolescência. É aqui que se constroem os
comportamentos que nos permitirão chegar mais perto da felicidade e da segu-
rança que almejamos para a nossa vida.
Para prevenir riscos e construir uma vida mais saudável, é necessário estar atento
às nossas ações em diferentes áreas da vida, não apenas no que se refere ao uso
de drogas.

Algumas dicas para proteger


sua saúde:

Alimentação saudável Atividade física


- manter dieta equilibrada - praticar esportes e fazer exer-
que inclua frutas, verduras, cícios de acordo com a condi-
legumes e grãos e evitar ex- ção individual e com orientação.
cesso de gorduras e açúcar.

Precauções se for Segurança no


praticar atividade trânsito
- usar cinto de segurança, capa-
sexual
cete para andar de bicicleta ou
- refletir antes de tomar a deci-
moto, utilizar a faixa de segu-
são, prevenir doenças sexual-
rança para atravessar ruas, ser
mente transmissíveis e uma gra-
atento à sinalização, evitar an-
videz indesejada.
dar em veículo cujo motorista
ingeriu álcool ou outra droga.
Internet segura
Ingestão de
- não ficar horas excessivas no
substâncias computador, tomar cuidado com
- evitar o consumo de álcool os contatos feitos pela internet,
antes dos 18 anos, de cigarro seja em sites de relacionamen-
e de outras drogas, não acei- to, seja em outros sites cujos or-
tar bebidas, comprimidos, ganizadores não são confiáveis.
inalantes ou substâncias ofe-
recidos por outras pessoas.

Atividades de
lazer
Z
Equilíbrio entre
atividade física e

Z
repouso
- dormir uma média de 8 horas

Z
- manter-se ocupado, partici- por dia, manter rotinas de ativi-
par de atividades prazerosas dade e descanso.
de seu interesse, integrar-se a
grupos de amigos ou familiares
para prática de esportes, ativi- Poluição
dades culturais, recreativas, so-
ciais, religiosas, comunitárias. - evitar lugares em que haja fu-
mantes ou outros poluentes.
Violência
e acidentes Atendimentos de
- procurar uma convivência pa- saúde
cífica com colegas, vizinhos e
quando tiver algum problema
com as demais pessoas, evitar
físico ou psicológico procurar
envolver-se em brigas, ter cui-
profissionais de saúde, seguir
dado com lugares e objetos
as suas orientações e só tomar
perigosos ou desconhecidos,
remédios com prescrição médica.
não portar armas como faca,
canivete, revólver e outras.

Vamos pensar sobre esta questão em três dimensões apresentadas por


Albertani, (2002):
Período desafiador.
O Brasil é considerado um país de jovens, aproximadamente 18 milhões de
pessoas têm idade entre 15 e 19 anos, ou seja, na fase plena de desejos, parti-
cipação, descobertas e sonhos!
A adolescência é um período desafiador, pois a curiosidade está a “flor da pele”
e as novidades não param de acontecer.

Certamente, você irá se deparar com


acontecimentos muito interessan-
tes e gostosos, mas também se verá
diante de frustrações, raivas, chatea-
ções, momentos de dúvidas, medos
e indecisões... Afinal, você não havia
passado pela adolescência ainda....e
muitas dessas situações você vai pre-
cisar aprender a lidar, na medida do
possível, de uma forma em que você
busque o equilíbrio. Por isso, lembre-
se de que você não está sozinho no
mundo! As pessoas das suas relações
próximas com quem você conversa,
confia e se relaciona são sua rede so-
cial de apoio.
Sabemos que na adolescência as dú-
vidas são inúmeras, não é mesmo?
Sexualidade, autoestima, ficar ou na-
morar, uso de drogas entre tantas
outras...

Neste Curso, temos o proposito de orientá-lo em relação à importância da


sua rede social de apoio no que diz respeito ao uso de drogas tanto lícitas, ou
seja, as que são legais como álcool, cigarro e vários remédios, como também as
ilícitas, ou seja, aquelas cujo consumo e venda são proibidos.

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Mídia.

Você já observou as propagandas


de bebidas alcoólicas?
Apresentam apenas o lado praze-
roso do consumo e estão relaciona-
dos aos temas de diversão: futebol,
praia, lugar bonito etc.. Mas não
mostram que: existe 12% da po-
pulação no Brasil dependente de
bebidas alcoólicas; uma porcenta-
gem significativa de jovens entre 18
e 24 anos morrem em acidentes de
carro após ter consumido demasia-
damente bebida; em uma casa onde
existe um dependente de álcool
duas a cinco pessoas estão dire-
tamente envolvidas no problema.
Desta maneira, o álcool não é uma
substância qualquer.

Não existe uso de nenhuma droga considerado seguro. O interesse em utili-


za-lá está dentro de um contexto em que a pessoa esteja vivendo e, dependendo
da maneira como for consumida, pode ocasionar sérios problemas, muitas vezes
traduzido na frase “o barato que sai caro”. O contexto pode estar relacionado
tanto aos fatores de risco como aos de proteção para o uso, e o desequilíbrio
entre eles pode predispor o adolescente às chamadas vulnerabilidades.

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Fatores de riscos são considera-
dos situações familiares, ambientais e
individuais, desfavoráveis que interfe-
rem negativamente na vida do jovem,
comprometendo tanto suas condições
de saúde física e ou psicológica, suas
relações sociais, seu desempenho no
estudo ou no trabalho.

Fatores de proteção são aque-


les que atuam favoravelmente na
vida do jovem no sentido de que
este seja acolhido, cuidado e prote-
gido tanto nas situações familiares,
ambientais e individuais diminuindo
assim a incidência dos problemas.

Os fatores de risco e proteção não são estáticos, ao contrário são dinâmicos


e variáveis, desta maneira o que pode ser um fator de risco para um adolescente
em um determinado contexto pode ser de proteção para outro. Por exemplo, ter
pais dependentes de drogas pode ser um fator de risco, pois tanto a criança como
o jovem aprende por imitação. Entretanto, esta mesma situação para muitos jo-
vens contribui para afastá-los das bebidas alcoólicas exatamente porque estes
desaprovam a maneira como os pais se comportavam frente a bebida.

Você é o ator principal das suas ações através de uma participação ati-
va e construtiva, seja em relação a garantir seus direitos como jovem seja no
envolvimento de questões sociais da sua comunidade, na escola ou mesmo em
relação aos problemas com o meio ambiente ou do planeta como um todo.

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Procure pessoas que tenham as mesmas preocupações que você tanto em re-
lação ao consumo abusivo de drogas, como nas questões da sua escola, do
seu bairro e comunidade que você acha que pode melhorar. Lembre-se de
que você pode ser um importante agente promotor e multiplicador de
saúde junto aos seus colegas e amigos.

É importante que você identique as várias possibilidades das redes de Apoio


Social que estão próximas a você: Família de Origem (pais, avós, irmãos), família
extensa (tios, primos, cunhados ou família por afinidade); sistemas externos de
apoio; serviços disponíveis na sua comunidade.

Se por algum motivo você não pode contar com sua família de origem ou exten-
sa, não se isole! Procure outras alternativas.

Rede social básica de apoio aos adolescentes.

O apoio social ligado aos vínculos afetivos e culturais auxilia os jovens a au-
mentarem seus recursos para lidar com as situações de desafios e dificuldade em
relação ao enfretamento da vida de maneira criativa e esperançosa.

Você sabia que no Brasil existe uma rede considerável de


apoio social para os jovens?

Comunidade
Escola

Família de origem ou extensa

igreja
vizinhos

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Em muitas situações, a dimensão comunitária constrói para o jovem um espaço
de convivência e apoio quando seus recursos familiares ficaram reduzidos.

O trabalho junto a comunidade contribui para que você possa exercitar sua au-
tonomia, cidadania, protagonismo e sentido de pertencimento.

Muitos jovens se envolvem em situações de risco por inúmeros motivos, tais


como: forte desejo de pertencer a um grupo e/ou por um sentimento de solidão e
exclusão.

Enfrentar e correr riscos, inclusive em re-


lação ao envolvimento com drogas passa
a ser uma forma de lidar com seu senti-
mento íntimo de invisibilidade e “busca de
prazer” transitório como forma paliativa
para o sofrimento interno, frustrações ou
mesmo de privação socioeconômica.

Cultura jovem, mídia e uso de drogas.


Nas revistas, jornais, televisão ou mesmo na internet, é possível observar um
direcionamento da mídia no “significado de ser jovem” ao usar palavras como
teen, piercing, galera, patricinha etc. Esse significado é produzido com a clara fi-
nalidade de que o jovem pertença a alguma “tribo com atitude”. Fique atento, pois
de modo geral, nas mensagens, está implícito o consumo de produtos, bebidas,
roupas, jogos, programas de TV, etc. voltados para o público jovem.

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“Quando observamos o papel da mídia
em relação ao tema sobre drogas, vários
estudos mostram que o jovem é tratado
como alguém ‘indefeso’, desprovido de
opiniões, ‘vulnerável ao grupo’, ou seja,
um jovem passivo submetido ao ‘poder
da droga’”.

Existe uma tendência da mídia de supervalorizar as drogas ilícitas e minimizar as


lícitas, observe, por exemplo, como as “bebidas alcoólicas são apresentadas nas
propagandas em revistas e TV e o conteúdo “devastador do crack”. O que está
implícito nisso ainda que de forma indireta é uma visão de “combate às drogas ilí-
citas” e nenhum controle ou cumprimento da lei em relação às lícitas. A mídia por
sua capacidade de influenciar a opinião de pessoas pode também ter uma tarefa
importante na prevenção dos fatores de risco quando adequadamente preparada
e disposta a exercer a responsabilidade social. Por isso, é importante você anali-
sar de forma consciente o tipo de informação que está sendo transmitida.

Fique ligado em algumas redes de apoio que, se necessário, você pode procurar!
•ANDI - Agência de Notícias Pelos Direitos da Infância - <http://www.andi.org.br>.
•Movimento de Intercâmbio Artístico e Cultural pela Cidadania - <http://www.miac.org.br>.
•Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento ( CPCD) - <http://www.cpcd.org.br>.
•Grupo Interagir -<http://www.protagonismojuvenil.org.br>.
•OBID – Observatório de Informações sobre Drogas –Secretaria Nacional de Políticas So-
bre Drogas-Ministério da Justiça –Brasília. <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/
index.php>.
•Álcool e Drogas sem distorção – Hospital Israelita Albert Einstein <http://apps.einstein.
br/alcooledrogas/novosite/index.htm>.
•Revista Onda Jovem: <http://www.ondajovem.com.br>.
•UNICEF-Brasil: <http://www.unicef.org.br/>.

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1
Após conversarmos um pouco mais sobre drogas e as possíveis redes de apoio
social em nossas vidas, vamos discutir um assunto que muitos de nós já ouviu
falar e até realiza no dia a dia, mas ainda não conhece o histórico de como muitos
jovens ajudaram a construir. Vamos lá.

Você sabe o que é protagonismo? Já ouviu falar?

Liste o que você sabe sobre esse termo.

1 ._______________________________________________________

2._______________________________________________________

3._______________________________________________________

Agora que você já registrou o que sabe ou o que já ouviu falar sobre

protagonismo, vamos conhecer o seu significado literário e prático.

O que é protagonismo?
A palavra protagonismo vem do grego protagnistés, que se refere ao ator principal no teatro grego
ou que ocupa o papel central em um acontecimento. No Brasil, esse termo começa a ser discutido
a partir da reforma do currículo do ensino médio em 1998 e nesse conceito atual, temos, conforme
especificado por Costa (2001),
Protagonismo: refere-se à nossa capacidade de participar e influir no curso dos acontecimentos,
exercendo um papel decisivo e transformador no cenário da vida social.
Protagonismo juvenil: é a participação consciente dos adolescentes e jovens em atividades ou
projetos de caráter público, que podem ocorrer no espaço escolar ou na comunidade.

2
Quando falamos de protagonismo juvenil, nos
o ECA referimos a você jovem e ao seu papel como ator
ec e
ê c onh p art
ir e autor principal, ajudando a construir a vida em
Vo c 8? A em
a CF/8 ovem t sociedade, um sujeito de direitos, exercendo sua
e
s , o j o cidadania. A garantia desses direitos é estabele-
de l e
n t idos
a
gar e ito
e cida pela Constituição Federal de 1988 e nas le-
p l
re s
t e gra gislações que vieram após, como o Estatuto da
n
i d a do i Criança e do Adolescente (ECA) (Brasil, 2000),
cu eu
no s e nto
.
as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensi-
lv i m
e s envo no Médio (DCNEM) (Brasil, 1998) e o Estatuto da
d
Juventude (Brasil, 2010).

No protagonismo juvenil, os jovens vão além de seus interesses pessoais e al-


cançam os interesses coletivos e, juntamente com os educadores nas escolas,
desenvolvem situações para que a sua participação seja de fato efetiva na elabo-
ração de políticas públicas voltadas para a juventude atendendo suas necessida-
des e interesses.

Importância da participação do jovem na política pública do


seu país.
Segundo o IBGE, a população jovem brasileira entre 15 e 24 anos cresceu cer-
ca de 34,1 milhões comparando com a década de 1940 quando eram apenas 8,3
milhões. Esse crescimento da população jovem do país tem importância não só
numérica, mas também de participação nos momentos de acontecimentos histó-
ricos importantes.

Momentos da história do Brasil em que a juventude


brasileira esteve presente significativamente:
Movimento abolicionista: um movimento político e social que defendeu e lutou
pelo fim da escravidão no Brasil, na segunda metade do século XIX.

3
Estudantes e jovens que tiveram projeção nacional como
Castro Alves, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, entre outros, li-
deraram esse movimento.

Castro Alves

Formação da União Nacional


dos Estudantes (UNE): principal
entidade estudantil brasileira. Foi fun-
dada em 1937, no I Congresso Nacional
dos Estudantes, com o objetivo de dis-
cutir temas políticos e sociais. Criou um
canal permanente de contato e discussão
entre os estudantes de todo país, esse mo-
vimento teve importante participação na Manifestação da UNE contra a
fase de ditadura do país na década de 60. ditadura militar.

Há outros momentos históricos mais próximos, que contou com a força do mo-
vimento estudantil e talvez seus pais e professores tenham participado. Pesquise,
você irá se surpreender com a participação do jovens em tantos eventos importante.

Em alguns momentos, os jovens eram vistos como uma ameaça social porque
se mostravam contrários ao momento político de controle. Em outros, eram reco-
nhecidos como sujeitos de direito, como sujeitos ativos socialmente, enfrentando
corajosamente, as dificuldades da sua época.

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Com alguns exemplos, podemos perceber o papel transformador e político da
juventude, como agente de mudança social, influenciando e participando com seu
envolvimento político no exercício da cidadania em diferentes formas de ação na
cena política do momento.

Que tal, refletir um pouco sobre


sua própria história?
Pesquise com seus familiares se houve participação direta de al-
guém da família em momentos históricos, com certeza algum famil-
iar irá se lembrar de algo marcante.

Por que entender e conhecer esses momentos de participação


juvenil?
Porque é por meio deles que resgatamos o jovem como sujeito de direito, atu-
ante e ampliando sua participação pessoal, para além, na sua comunidade. Para
exercer esse papel de sujeito de direito nas ações e projetos de caráter público,
uma ferramenta vem sendo utilizada historicamente: a mobilização social. E o
que é isso?

A Mobilização Social é um processo educativo que pro-


move a participação de muitas e diferentes pessoas em
torno de um propósito comum, é um modo de construir um
país onde todos promovem uma vida digna para todos.

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Considerando que o jovem transmitirá sua experiência para o futuro, não bas-
ta apenas fazer parte, estar presente como se a mobilização fosse apenas um
evento isolado. Sua participação deve ter um envolvimento ou compromisso com
aquele propósito, tornando-se um processo contínuo ao longo do tempo em dife-
rentes lugares, deve ser como um projeto de futuro, fazendo parte do cotidiano
das pessoas envolvidas.

Com a globalização e o avan-


ço da tecnologia, a internet e as
chamadas Novas Tecnologias
da Informação e Comunicação
(NTIC), o processo de mobili-
zação social acontece por meio
de celulares; das Redes Sociais
como Youtube, Facebook ou
Twitter.

Fica evidente a necessidade de atualização e melhoria de recursos nos diferen-


tes segmentos de ações ou projetos com os jovens, para que sua participação e
articulação social seja prazerosa e efetiva nos diferentes momentos de sua vida.
Dessa forma, qualquer tema pode ser discutido por muitas pessoas, reunindo
especialistas no assunto para enriquecer a discussão.

Qual a melhor linguagem quando conversamos com jovens


sobre qualquer tema?
Como os jovens são sujeitos de direitos, porque não usar sua própria linguagem
para uma comunicação mais interativa. O próprio jovem deve ser considerado
protagonista no desenvolvimento, manutenção e disseminação dessa diversida-
de de sistemas de redes sociais.

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A rede social permite que as informações sobre todos os recursos existentes
circulem no espaço da comunidade, permitindo que toda a população seja bene-
ficiada.O jovem tem naturalmente essa comunicação, interesse e uso diário das
redes sociais. Participa tanto nos sistemas públicos quanto nos privados, em to-
das as áreas sociais: saúde, cultura, esporte, lazer, religião e outras que prestam
qualquer tipo de serviço para a comunidade.
Mas, como isso pode acontecer aproveitando a criatividade do
jovem?
Pela cultura, o jovem discute qualquer tema, e através da arte, encontra cami-
nhos e respostas para, com seus pares, enfrentar riscos e desafios como o uso
de drogas. Pense em situações divulgadas pela mídia ou que você conheça de
pessoas com envolvimento e uso de drogas para discutir utilizando os recursos
da arte.
Com quais atividades o jovem mais se identifica? Que tipo de arte utilizaria para
resolver conflitos ou temas complexos como uso de drogas? Como faria isso?

MUSICA

teatro DANÇA

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Utilizar o recurso da arte como ponto de partida para refletir sobre temas com-
plexos como o uso de drogas possibilita a aproximação entre os usuários de dro-
gas, com a mesma linguagem, valorizando a criatividade presente na juventude.

E onde essas atividades podem se realizar?

As atividades culturais e artísticas podem funcionar como ações de prevenção


ao uso de drogas a serem desenvolvidas nas escolas, local onde o jovem passa
a maior parte de seu dia. É importante respeitar as informações da realidade lo-
cal, as oportunidades e formas de lazer, trabalho e convivência, valorizando os
recursos existentes. Essas ações de prevenção devem valorizar a qualidade de
vida, na educação para a saúde, como a alimentação, a higiene, as emoções, os
desejos, os ideais, ou seja, uma vida saudável entendida como bem-estar biop-
sicossocial.

Você já participou de alguma atividade como as descritas? Que tal, propor uma
dessas atividades na sua escola!

Essas atividades são importantes para valorizar o papel ativo dos jovens como
sujeitos de direito no seu próprio processo educacional.

Ações de prevenção ao uso de drogas nas escolas


Aqui estão descritas algumas ações de prevenção ao uso de drogas:

•conhecer o que os alunos pensam; •estimular a construção do conheci-


mento, a expressão de sentimentos e
•considerar a realidade do aluno; opiniões, o interesse do aluno e o sen-
so crítico;
•adequar as ações à faixa etária
e à maturidade dos alunos; •apresentar conceitos realistas sem
preconceitos;
•incentivar a reflexão;
•desenvolver o tema drogas integra-
•desenvolver o autoconhecimento; do ao currículo.

8
Você considera que essas estratégias ocorrem na sua escola? Por que? Apre-
sente suas considerações à coordenação pedagógica da sua escola, contribuindo
assim para que novas ações possam ser ali implementadas.

Com os crescentes problemas sociais ligados aos jovens usuários de drogas e


suas famílias, envolvendo outros segmentos sociais, foram surgindo alternativas
mais eficazes para lidar com a questão. Algumas intervenções inovadoras de
reinserção social, em especial o oferecimento de oportunidades de desenvolvi-
mento profissional para o trabalho de prevenção foram sendo criadas e mantidas.
Vejamos alguns exemplos.

Centro de Integração Empresa/


Escola(CIEE) - é uma instituição fi-
lantrópica, privada, com 48 anos de exis-
tência de assistência social, que trabalha
para os estudantes, oferecendo oportuni-
dades de estágio ou aprendizado, além de
projetos específicos na área de drogas como seminários, eventos artísticos, palestras, en-
tre outras atividades.

Projeto Guri - desde 1995, é considera-


do o maior programa sociocultural brasilei-
ro; oferece continuamente, cursos de inicia-
ção e teoria musical, coral e instrumentos de
cordas, madeiras, sopro e percussão. Com
mais de 51 mil alunos distribuídos por todo
o Estado de São Paulo, sua missão é promo-
ver, a educação musical e a prática coletiva
de música, tendo em vista o desenvolvi-
mento humano de gerações em formação.

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Vamos falar de ESCOLHAS!

Desde que nascemos fazemos escolhas. Mesmo o bebê já é capaz de fazê-las.


Alguns não se adaptam a determinados alimentos, sucos, leites, enfim, muito de
acordo com seu paladar e até mesmo bem-estar. Aos poucos, a mãe vai reconhe-
cendo aquilo que o bebê “gosta” e aquilo que ele “rejeita”.

À medida que o bebê cresce, essas escolhas, que antes se restringiam ao ali-
mento, vão se tornando mais complexas. E a criança já escolhe os amiguinhos,
as roupas que vai usar, do que quer brincar, as disciplinas da Escola que mais
gosta, enfim, a cada dia já pratica a escolha.

Na adolescência, com o aumento dos com-


promissos e responsabilidades, o jovem pre-
cisa desenvolver ainda mais sua habilidade
de fazer escolhas, pois, nesta etapa e daí em
diante, as consequências das suas escolhas
podem ser negativas e irreversíveis.

O adolescente escolhe se quer estudar, ou


não; escolhe alguém para namorar ou sim-
plesmente para ficar numa noite; escolhe os amigos com quem vai compartilhar
coisas importantes de sua vida e de quem irá receber influências (estas são ine-
vitáveis, pois mesmo os adultos tendem a sofrer influências de seus pares); vai
escolher uma profissão, às vezes bem cedo, quando opta por um curso profissio-
nalizante no Ensino Médio; escolhe os lugares onde frequenta; as roupas e aces-
sórios que usa, que muitas vezes transmitem uma imagem à sociedade (natural
nesta etapa que o jovem queira se mostrar pertencente a um grupo específico, as
“tribos”, pois isso lhe confere identidade); irá também fazer escolhas relativas à
sua saúde, como sua dieta alimentar, a prática ou não de esportes, o uso ou não
de álcool e outras drogas.

Aqui, vamos focar nas escolhas relativas à saúde!

2
Quando se é jovem, em geral, a saúde está em dia, com muitas reservas, e a
sensação que se tem é a de que esta estará presente sempre e independente
das ESCOLHAS que se faça. Vale lembrar que quando falamos de saúde, está
incluída nesta a saúde mental, ou seja, a forma como se sente, as ideias que se
tem, a perspectiva de vida que a pessoa cultiva (positivas ou negativas).

Na juventude, é que formamos muitos hábitos. Alguns deles poderão nos acom-
panhar por toda a vida e podem ser decisivos nas nossas escolhas, que por sua
vez irão definir o que seremos no futuro, onde poderemos chegar e o que pode-
remos conquistar.
É na juventude que sonhamos com nosso futuro: uma profissão; nossas con-
quistas materiais; onde iremos morar; estudar; o estilo de vida que pretendemos
levar. Lembre-se, tudo isto irá depender muito de suas ESCOLHAS.

Algumas escolhas nesta etapa afetam muito o desenrolar de nossas vidas es-
pecialmente as escolhas relativas à saúde, à sexualidade e à segurança. Na ju-
ventude, devido a um mecanismo natural desta fase, o chamado pruning (poda),
o jovem tende a querer conhecer e explorar novidades. Isto é muito saudável e,
se bem direcionado, irá contribuir muito para um futuro bacana, cheio de possibi-
lidades boas e conquistas interessantes.

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O que é pruning?

O desenvolvimento do cérebro reflete uma interação complexa entre a genética


e as experiências e desta interação o cérebro será modulado. Tudo o que se pas-
sa no momento em que o cérebro está em formação é muito importante. Desde
os primeiros meses de gestação, passando pelos primeiros anos de vida e até em
torno dos 20 anos de idade. Sim, dos 20 anos!
Entender um pouco disso é importante para chegarmos ao nosso tema principal,
que é o desenvolvimento de habilidades de vida para o enfrentamento de situa-
ções de risco.

O neurotransmissor passa a informação de um neurônio ao outro, fazendo com que a


informação vá passando desde o órgão sensitivo até o cérebro. São mais de 100.000 tri-
lhões de possibilidades de sinapses e este número não é determinado geneticamente. Vai
depender muito dos estímulos do ambiente, que poderão produzir diferenças expressivas
na formação dos circuitos cerebrais.

A nossa capacidade de raciocínio, de resolução de problemas, de


enfrentamento de conflitos está diretamente relacionada à nossa
maturação cerebral. Sempre que entendemos alguma coisa, temos
uma ideia, achamos uma solução, temos o chamado insight.

Durante a adolescência, os circuitos cerebrais começam


a ser destruídos. Esse fenômeno é chamado de pruning.
Ele dará origem às conexões definitivas da vida. Esta fase
de “poda” das conexões cerebrais na adolescência é deter-
minante da estrutura cerebral do adulto. Nesta etapa, as
conexões ficam meio desorganizadas, mas este processo
é essencial para o desenvolvimento cerebral. É mais ou
menos como o jardineiro que poda as plantas para que
elas cresçam mais fortes. Vejamos o que seja isto e como
as drogas e os comportamentos de risco se situam.

4
A chamada crise da adolescência tem um substrato biológico. O retraimento,
o desinteresse pelos estudos, a recusa em frequentar determinados grupos so-
ciais, mudança de hábitos e rotina têm a ver com esta destruição das sinapses.
Embora haja esta poda, por volta dos 11 ou 12 anos, é importante ressaltar que
o cérebro continua a produzir novas sinapses durante a vida e estas são funda-
mentais para os processos de aprendizagem e memória.

Na adolescência, a parte emocional, localizada na parte posterior, progrediu


mais com o pruning, do que a anterior (pré-frontal). Daí mensagens do tipo “faça
isso agora!” costumam se sobrepor ao “espere, pense sobre as conseqüên-
cias” (Winters, 2008).

O que não quer dizer que o adolescente não consegue tomar uma decisão ra-
cional. Mas o adolescente, está mais apto a agir impulsivamente diante de uma
situação de estresse e conflito, sem avaliar as consequências.

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Desenvolvimento do Cérebro e as Drogas
O desenvolvimento das novas sinapses na etapa da adolescência, fruto do pro-
cesso de poda faz com que as mesmas fiquem ávidas por novas experiências.
Os cientistas dizem que elas são “espectadoras de novas experiências” (KOLB;
GIBB, 2011). Esse mecanismo torna o adolescente, muitas vezes, muito aberto
a explorar novidades, sem medir consequências. Os cientistas estão avaliando a
possibilidade da experimentação às drogas ser muito mais frequente entre ado-
lescentes do que entre adultos em função desse mecanismo.

Estudos também comprovam que adolescentes são mais vulneráveis a consu-


mir grande quantidade de álcool porque sofrem menos os efeitos da intoxicação.
Isso se deve ao papel dos hormônios, que também estão a pleno vapor nesta
etapa da vida. Além disso, a experimentação às drogas é uma nova experiência
e aprovada pelos pares, muitas vezes.

A tendência a se comportar de forma impulsiva associada à sensação de con-


forto promovida pela intoxicação diante das dificuldades em socializar-se típicas
desta fase, somadas à baixa sensibilidade aos efeitos negativos da intoxicação
do álcool, podem contribuir para a decisão de usar drogas (WINTERS, 2008).

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A adolescência dura em média 8 ou 9 anos, considerando o início aos 11 anos
e término por volta dos 20 anos. É uma fase bastante decisiva em nossas vidas.
Considerando que a expectativa de vida dos brasileiros hoje é em torno de 73,5
anos de vida, segundo o IBGE (2010). Lembre-se: viva intensamente a fase ale-
gre e curiosa da adolescência, mas saiba que a maior parte do tempo que vive-
mos é na vida adulta e as bases dela são feitas nesse período.

Na adolescência, desenvolver habilidades


para lidar com situações de risco, especial-
mente, o abuso de drogas diz respeito a
contar com ajuda no processo de tomada de
decisão por usar. Como por exemplo, a dis-
ponibilidade de álcool e drogas na adoles-
cência é um fator crucial, pois diante disso,
as chances do adolescente experimentar e/
ou abusar do consumo são grandes. A máxi-
ma que serve ao adulto: “Controle-se”, talvez
não sirva ao jovem, que está ávido por novi-
dades e precisando se sentir inserido social-
mente.

As bebidas alcoólicas são as substâncias psicoativas mais consumidas por adoles-


centes. Este consumo acarreta problemas nos estudos, problemas sociais, praticar
sexo sem proteção, maior risco de suicídio, homicídio e acidentes (FADEN, 2005).

Estudos mostram que jovens que apresentam dependência do álcool têm com-
prometimento não somente funcional, mas anatômico do cérebro, com perdas
algo em torno de 10% do volume de parte importante do cérebro (hipocampo),
responsável pela memória (BROWN et al, 2000). Assim como o jovem que co-
meça a fumar cigarros aos 13, 14 anos terá grande dificuldade em parar, pois
desenvolverá circuitos cerebrais somente para a nicotina.

7
A maconha é a droga ilícita mais usada pelos adolescentes no mundo inteiro.
Segundo pesquisas, o uso da droga, especialmente nesta fase, em razão destas
mudanças cerebrais, afeta as funções do cérebro e o comportamento, e aumenta
o risco para o desenvolvimento de certas doenças neuropsiquiátricas, como a
esquizofrenia (MALONE; HILL; RUBINO, 2010).

Mesmo as drogas prescritas, os medicamentos, podem afetar dramaticamente o


desenvolvimento cerebral nesta etapa da vida. Essas alterações são anatômicas
e por isso comprometem todo o desenvolvimento.

Desenvolvendo Habilidades

É importante que o jovem solicite ajuda ao se deparar com as dificuldades do


cotidiano. Nem sempre o uso de álcool e outras drogas vêm suprir uma deficiên-
cia ou dificuldade. Mas muitas vezes é o que acontece. Observe o que poderia
passar pela cabeça de um adolescente no momento em que lhe fosse apresenta-
da uma oportunidade para usar drogas.

“Se eu usar, vou me sentir mais à


vontade”, “ Se eu não usar, os
colegas vão me criticar”, “Se eu não
usar, vou perder estes amigos ou a
oportunidade de estar com eles”...

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É bastante comum que o jovem pense isso neste momento. Mas, ao invés de se
render ao comportamento de usar, é importante que ele explore outras alternati-
vas e lembre-se de que as drogas podem causar dependência e que ele está em
busca de liberdade neste momento!

Mas observe, nenhuma das ideias apresentadas dizem respeito a uma vontade
propriamente de se entorpecer, e sim atendem à necessidade de se inserir num
grupo.

O adolescente pode procurar a


ajuda de quem realmente pode
ajudá-lo neste processo. Algum
profissional na Escola (psicólogo,
assistente social, pedagogo, edu-
cador físico...) poderá ajudá-lo e
com todo sigilo!

Se, ao contrário disso, as ideias dizem respeito aos seus sentimentos e à neces-
sidade de se sentir melhor...

“Estou me sentindo muito pra baixo e


se usar, ficarei mais animado!”, “Estou
muito agitado e se usar, ficarei mais
calmo!”, “A droga me desinibe e con-
seguirei dançar e me divertir”...

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O adolescente deve procurar ajuda de seus pais ou educadores. Eles talvez
possam avaliar se sua dificuldade é pontual ou se precisa de ajuda de profissio-
nais especializados.

O fato é que o abuso de drogas pode lhe trazer graves consequências e afetar
suas escolhas de vida. Um uso esporádico pode colocá-lo em risco de acidentes,
sexo sem proteção, agressividade etc. E o uso frequente pode lhe causar depen-
dência química, um transtorno que afeta todo seu desenvolvimento.

No caso da bebida alcoólica que é amplamente usada em nos-


sa sociedade, caso opte por beber, fique atento às seguintes
dicas retiradas do livro Drogas: mitos e verdades¹ :

• Caso você saia com um grupo de • Se você realmente pretende limi-


amigos ou familiares, lembre-se de tar a quantidade de bebida, peça
que a pessoa que lhe dará carona ou ajuda a um amigo que não esteja
for dirigir não deverá ingerir bebi- bebendo para avisá-lo discreta-
da alcoólica. mente a hora de parar de beber.
• Se você vai a uma festa, tenha em • Beba menos e divirta-se do
mente quantas horas pretende ficar mesmo jeito: sucos, água e refri-
lá. Caso beba, faça-o moderada- gerantes também são ótimas op-
mente ao longo das horas que ima- ções para acompanhar uma con-
ginou ficar na festa. versa numa festa.

¹MARLATT, B.C. Drogas: mitos e verdades. São Paulo: Ática, 2005.

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• Se você exagerar, lembre-se de
que somente o tempo vai permi-
• Se na hora de voltar para casa tir que seu organismo elimine os
você perceber que não está em efeitos do álcool. Saiba que seu or-
condições de segurança, não arris- ganismo levará uma hora inteira
que: você pode dividir um táxi com para eliminar completamente uma
outros amigos ou telefonar para al- unidade de álcool ingerida. Uma
guém ir buscá-lo. unidade de álcool é, por exemplo,
um copo de chope (200 ml) ou um
copo de vinho (90 ml). Lembre-se
de quanto bebeu e faça as contas.

Concluindo
E então, você conseguiu compreender que no processo de formação de sinap-
ses e na construção de nossa rede neural, o uso de substâncias psicoativas na
adolescência pode causar um impacto negativo? Elas podem comprometer seu
desenvolvimento e sua capacidade de tomada de decisões, seu raciocínio, sua
curiosidade pelas coisas que poderiam auxiliar no crescimento.

As habilidades de vida frente às situações de risco, nesta fase, dependem do


poder público, que deve exercer a fiscalização e o controle, dependem também
da colaboração dos adultos, que podem fazer valer a lei, não disponibilizando be-
bidas e drogas a menores, mas sobretudo dependem de você, jovem, que pode
definir metas e objetivos em sua vida para aproveitar esta fase tão rica e tão apro-
priada para adquirir novos conhecimentos e habilidades (em função do pruning)
e partir para os estudos, a prática de esportes, a aprendizagem de algum ofício.

Você, adolescente, ainda encontra-se com o cérebro em construção e precisa


de ajuda, pois ainda não é capaz de tomar decisões importantes sozinho e torna-
se com isso, muito vulnerável aos riscos.

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