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Conversa

DANIELLA FREIXO DE FARIA

Criança
PRESENÇA-CAMINHO volume 1
Conversa
DANIELLA FREIXO DE FARIA

Criança
com
PRESENÇA-CAMINHO volume 1
CONVERSA COM CRIANÇA – volume 1
Presença-Caminho
Daniella Freixo de Faria

Diagramação e Edição de Arte:


Flavio Soares e Design Company
Preparação de texto:
May Parreira e Ferreira
Ilustrações:
Patricia Auerbach
Revisão:
Rodrigo Cozzato
Gráfica:
Prol

155.412 Faria, Daniella Freixo de.


F224c Conversa com criança: presença-caminho -
volume 1 / Daniella Freixo de Faria. -- São
Paulo: s.n., 2013.
176 p., il.

Bibliografia

1. Psicologia infantil. 2. Educação infantil.


I. Título.

Ficha catalográfica elaborada por Maria Aparecida da Conceição CRB/8ª/7647


Respire profundamente, vá para o seu
coração e boa leitura.
Com carinho,
Dani
CONVERSA COM CRIANÇA – Presença-Caminho
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O PROBLEMA, O SOFRIMENTO
E A CULPA
Assumirmos a responsabilidade por nossas vidas é realmente um
grande desafio. Outro dia ouvi a frase: “A maior parte do nosso so-
frimento é autocriado” (Amma & Baghavan). Frase forte e difícil de
digerir já que normalmente vemos o nosso sofrimento como culpa de
alguém, ou mesmo nossa culpa. Alguém, alguma coisa está me fazendo
sofrer. Pensar em sofrimento autocriado é desafiador, mas muito in-
teressante. Para isso é necessário entendermos a noção de problema e
também de sofrimento. Temos sempre na vida dois lados, o externo e
o interno. Nesse sentido, o componente externo seria o problema, e o
componente interno, o sofrimento.
Quando percebemos nossa própria vida, é possível observar vários
eventos e situações que acontecem fora de nós. O sofrimento nunca está lá
fora, está sempre aqui dentro. O sofrimento é criado pela mente perante uma
situação e, portanto, não existe fora dela. Os sofrimentos que experimenta-
mos são muito maiores que os problemas que temos quando confrontados
com eles. Isso acontece por ansiedade, medo e preocupação.
Os problemas existem, mas são em menor número do que pensa-
mos. Eles parecem bem grandes devido às atividades que criamos ao seu
redor. Imagens horríveis, cenas trágicas. Darei um exemplo rotineiro na
vida de pais e mães. O telefone toca, você atende, é da escola do seu filho.
Pronto, temos um acontecimento, algum problema, mas logo entramos
na onda de um filme trágico e entramos em sofrimento. As escolas, já tão
habituadas, correm em dizer : “Fique tranquila, não é nada grave”. Quase
que na intenção de parar a mente com seus palpites e nosso sofrimento.
Não é assim mesmo?
Sendo assim, fica claro o quanto temos escolha: sofrer ou não sofrer.
Lidarmos com o problema e a direção que ele nos traz ou sofrermos o proble-
ma e ficarmos estagnados, inundados nas projeções da mente e de toda dor
que caminha com ela. Está nas nossas mãos; afinal, quanto maior consciência,
menor o sofrimento.
Daniella Freixo de Faria
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Será mais produtivo, eficaz e menos dolorido se formos em busca de


respondermos a seguinte questão: “O que posso fazer perante o problema que
estou encarando?”.

CULPA
Costumamos ter uma resposta perante um problema. A nossa tão co-
nhecida culpa. Ou culpamos os outros, ou uma situação, ou a nós mesmos.
Quando culpamos os outros, estamos presos aumentando a história e o sofri-
mento, estagnados, empacados. Como que presos numa tempestade de areia
sem enxergar nada, o que nos impede de caminhar e seguir em frente.
Quando nos culpamos como pais e como educadores, acontece algo
ainda mais interessante. Essa culpa é um dos fatores que mais nos atrapalha.
Em vez de nos manter no momento presente, mantendo a responsabilidade
pelo encontro ativada, joga-nos para o grande ciclo vicioso preso ao passado e
nos “des-potencializa” como pais. Afinal, não estamos mais presentes.
Sair do movimento da culpa é extremamente difícil, pois já é uma crença
enraizada. Mais do que isso, temos sempre um juízo de valor, e o que era apenas
experiência, passa a ser uma experiência certa ou errada. Quando certa, senti-
mo-nos maravilhados com a capacidade de sermos ótimos, mas quando consi-
deramos a experiência errada, socorro. Pegamos as chibatas com pontas de ferro
e começamos a nos maltratar, sem dó. Somos pessoas horríveis, feias, erradas.
É importantíssimo percebermos que tanto no julgamento do certo como no
do errado, estamos aprisionados, com uma nuvem de fumaça imensa na frente
dos olhos que nos impede de sermos quem somos, seres humanos aprendizes.
Por isso, quero fazer um convite: vamos nos reconhecer como aprendi-
zes, vamos nos responsabilizar para estarmos sempre disponíveis para apren-
der. Qualquer experiência será o próximo passo ao aprendizado; o que está
numa ótima direção e o que precisa ter seu rumo revisto. Passamos a receber
constantes ajudas na construção dessa jornada única que é a vida, que é estar
aqui e agora.
Em vez de nos culparmos, vamos nos dar amor, colo, aconchego e
calor humano para que possamos investir nossa energia no aprendizado, na
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potência de estarmos, mesmo na dificuldade, aprendendo e assumindo a pre-


sença consciente na nossa vida e dos nossos filhos. Afinal, temos sempre duas
escolhas perante um problema: culpar tudo e todos, incluindo nós mesmos
ou assumirmos a responsabilidade, colocarmos nossa intenção, nossa atenção
em como podemos resolver o problema.

JULGAMENTO
A compaixão por nós mesmos e pelos outros faz perder a importância de
algo muito comum, o julgamento. Quando sentimos culpa, julgamos os outros
e nos julgamos, saímos do lugar do aprendizado, saímos do SER e ficamos
aprisionados ao ego, ao controle, ao medo, ao dedo que aponta os erros e acer-
tos. É o funcionamento natural da mente que nunca desliga, acontece o tempo
todo, a todo momento. Esse lugar, num primeiro momento, parece bastante
confortável, quando pensamos encontrar o que deve ser concertado, no sentido
de que há algo errado. Porém, é nesse mesmo lugar que nos perdemos de nós
mesmos, lugar onde nos colocamos e colocamos os outros como bom ou ruim,
como bem ou mal, certo ou errado. Viver com isso depois é viver a distância,
a solidão, o isolamento do que é mais precioso no processo de aprendizado, a
relação viva com cada pessoa que temos o presente de conviver.
Com a compaixão e o amor que acolhe, podemos perceber que o mo-
mento difícil traz o movimento necessário carregado de novos aprendizados.
Os julgamentos, funcionamento tão comum em nossa forma de viver, pare-
cem claros e límpidos, mas são pura fumaça. Aprisionam e nos deixam sem
novas possibilidades, afinal já está marcado, carimbado, selado. O que se há
de fazer?
O convite que faço a mim e a você é percebermos que somente jun-
tos, presentes, inteiros, com os olhos nos olhos, conseguiremos auxiliar uma
criança, e nós mesmos, no caminho tão importante da vida, poder Ser quem
é, revelar o Ser-essencial. Sair das análises, que no fim são apenas expressões
de nossos próprios valores e necessidades. Colocadas na forma de julgamento,
apenas deixam o outro na defensiva e resistente. Esse mesmo outro que tanto
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nos interessa. Ou podemos até conseguir que a pessoa concorde em agir de


acordo com nosso julgamento, mas sabemos que, quando alguém age por
medo, culpa ou vergonha, em vez de estar de coração aberto, mais cedo ou
mais tarde existirá uma conta a ser paga. Surgem ressentimentos, ou mesmo
autoestima baixa por culpa, vergonha ou medo.
O caminho da confiança, do amor, do encontro, do respeito, da troca,
é possível. É um caminho construído, passo a passo, olhar a olhar, palavra a
palavra, silêncio a silêncio. Não está pronto, não está fora. Está na dança viva,
em cada momento, como oportunidade de Ser, enxergar e encontrar o outro.
O adulto educado não seria mais aquele com todos os títulos, pro-
fissional reconhecido, que frequentou ótimas escolas, um nato cumpridor
de regras e mandatos externos, capaz de reproduzir padrões e tradições.
Falando assim, pareço falar de um homem meio máquina. O adulto edu-
cado deveria ser aquele cidadão consciente, profissional, que expressa sua
vocação, contribui para a sociedade com esse dom, é capaz de reconhecer o
outro também como alguém único, reconhece as semelhanças, diferenças,
é capaz de escutar desde um espaço de profundo respeito, amor e silêncio.
O olhar para o outro é puro reconhecimento de que ali também há um
Ser-essencial.

A MENTE
E SEU FUNCIONAMENTO

Acredito que para vivermos com o nosso Ser-essencial, é importante


demais que entendamos o funcionamento da nossa mente. Quando obser-
vamos a mente, é possível perceber os processos que acontecem e se per-
petuam. A mente é importante para nos ajudar nos cálculos, dirigir carros,
escrever este texto, dentre muitas atividades lógicas e de organização, mas
a mesma mente cresceu e tomou conta de outras áreas que nada têm a ver.
Nosso Ser-essencial está longe da mente e todo o funcionamento da mente
nos coloca longe de nosso Ser-essencial. Para entender seu funcionamento,
já falamos da culpa e do julgamento, atividades naturais da mente. Agora
falaremos de mais aspectos.
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A mente busca controlar, entender e racionalizar as emoções. Quando


alguma forte emoção surge por algo desagradável, a mente tenta entender.
Perdemos tanta energia que acabamos isolados das raízes da situação, man-
tendo a carga emocional da situação aprisionada. O outro funcionamento é o
de se tornar, se transformar. Amar e ser amado são duas necessidades vitais. A
mente sempre busca quais as mudanças temos que fazer em nós para sermos
merecedores desse amor. Tentamos ser outras coisas porque entendemos que
parte de nós não é merecedora do amor. Aí, vemos a mente funcionar a todo
vapor. Ela mesma se julgou, culpou-se, identificou a dor e seguiu em mudar e
transformar para que ela mesma possa se perceber merecedora de amor.
Se todos nós funcionamos assim, ao observarmos nossa mente, sabere-
mos que as crianças também vivem dessa maneira. Podemos falar de nossos
corações, de nosso Ser-essencial. O sofrimento desapareceria, teríamos apenas
os problemas, nossa reponsabilidade e o aprendizado. Afinal, no coração, a
mente não é necessária nem requerida.
A prova disso é que quando estamos bem, felizes, a mente fica em
segundo plano, quase que em silêncio. Quando estamos bem, a tagarela da
mente não aparece contando histórias catastróficas. Se ela aparece gerando
conflitos, o ciclo se inicia. Nosso aprendizado e o que podemos ensinar às
crianças é não embarcarmos na tentativa da mente em gerar conflitos. Existem
três tipos de sofrimento:
Sofrimento Físico: associado ao corpo e às necessidades do mundo ex-
terior, moradia, saúde, dinheiro, segurança.
Sofrimento Psicológico: para amar, quando não conseguimos amar as
pessoas que sabemos que merecem nosso amor, sentimo-nos culpados e nos
condenamos por isso. Para sermos amados, movemo-nos em busca de aceita-
ção e amor e projetamos a perfeição merecedora do amor. Como a projeção
não é real, acabamos sempre na busca de receber amor sem nunca conseguir-
mos receber de fato. Ou por causa de muitos pensamentos negativos, acaba-
mos por viver o medo e o desamparo.
Sofrimento Existencial: sentimento de ausência ou descontentamento
fundamental que há latente em todos nós em busca da pergunta: por que da
vida? Condição inerente ao ser humano. (fonte: Amma&Baghavan)
Diferente do que imaginamos e do que fazemos, fugimos do sofrimen-
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to; a liberação do sofrimento só acontece quando o vemos de frente, acalman-


do a mente que tanto teme a dor e vivendo a alegria do novo aprendizado, que
só aparece quando atravessamos esse momento, esse desconforto. Por tudo
isso o amor, a energia viva do amor, que é livre deve estar assim livre e inde-
pendente de qualquer comportamento ou condição. Quem traz o sofrimento
é a mente, nunca o coração. Com tudo isso, podemos entender o processo de
educação em dois níveis.
O primeiro, superficial, que trata de auxiliar a criança a viver neste
mundo. Ajuda a desenvolver tanto a mente quanto o corpo para que possa
expressar todo o potencial do Ser. A mente, necessária a todos nós, que pos-
sibilita que o Ser-essencial aconteça.
O segundo nível é o profundo, essencial, que cuida para que o dom,
a vocação possa encontrar seu canal de expressão. É na própria vida vivida,
puro movimento, que os dois níveis, importantes e essenciais, caminham.
Nós, pais e mães, podemos ser educados, ao descobrirmos também em nós,
nosso “Ser-essencial”.
Com essa presença, como dizem Theda e Moacir, o amor e a liberdade
estão no começo da jornada e não no fim. Nessa jornada, é com o amor e a
liberdade que os passos acontecem, pois é com essa presença que podemos
realmente viver a magnífica oportunidade que nos foi dada. A oportunidade
de aprender, a oportunidade de amar, de estarmos aqui e agora.
Vamos, nesta conversa, integrar os dois níveis, o superficial e o profundo.
Viver a integração com as crianças, como pais, como educadores, como seres-
-essenciais que somos. Vamos reencontrar nosso eixo vertical, nossa respiração,
nossa conexão, nossa potência como pai, como mãe, como Ser. Nós podemos
crescer com nossas crianças tão queridas, sempre juntos, aprendendo.
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Capítulo 2

O COMEÇO
DO CAMINHO

ESPELHOS
INFALÍVEIS

PRESENÇA

IRMANDADE
CONVERSA COM CRIANÇA – Presença-Caminho
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O COMEÇO
DO CAMINHO
“O indivíduo não pode ser separado do meio ambiente em que aparece
e vive. Cuidar de um é cuidar do outro. É apenas um aparecendo como dois.
Educar é cuidar da totalidade formada pelo meio e pelo indivíduo. O meio
é o campo que condiciona e imprime suas características no indivíduo, e o
indivíduo imprime suas características e modifica o campo” (Theda Basso e
Moacir Amaral).
No encontro, que começa na gestação, já iniciamos o processo de edu-
cação ao cuidarmos de nós, mulheres, na gravidez. O corpo do bebê, depois
de inúmeras transformações, nasce para, aqui fora, continuar o desenvolvi-
mento. Necessita de todo o carinho, acolhimento e alimento. A criança irá
aprender, com nossa ajuda, a usar um instrumento básico, seu corpo. Aprende
a andar, correr, falar ,pensar, comer, sentir.
A criança passará por todas as fases do desenvolvimento, por todos os
sentimentos, emoções. Está inserida em uma cultura, em um mundo repleto
de crenças, valores, pensamentos, ideias e ideais. Sofrerá todas as influências,
receberá todas as marcas.
Nossa oportunidade, nosso presente, nossa missão como educadores,
a cada encontro, a cada gesto de carinho, a cada não, a cada sim, é estarmos
a serviço de algo maior acontecendo. Um indivíduo descobrindo quem real-
mente é, descobrindo seu dom. Alguém que sentirá vibrar dentro de si a vida
viva, podendo e querendo a cada etapa da vida encontrar seu lugar, encarar
com inteireza os fatos, sentir e viver o verdadeiro e perceber o que não é.
Fazer escolhas com consciência, agir em vez de reagir. Uma vida em que o
aprender, o amar, o despertar, faça sentido.
Nós, educadores, somos seus acompanhantes, seus parceiros. E passa-
remos por todos os momentos, podendo conscientemente ajudá-los a realizar
quem são ou aprisioná-los no que nós, a família, a sociedade, a religião, a políti-
ca, as crenças, a mente, a história, queremos, com nossa ignorância, que sejam.
Mesmo vivendo com a criança cada etapa de seu desenvolvimento, vamos estar
conscientes do que também está acontecendo. Assim, o real ato de educar pode-
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rá acontecer tanto no nível profundo, essencial, quanto no superficial.


Vamos refletir de que forma prática, no dia a dia, podemos colaborar
para esse processo durante as etapas? Será possível?
No processo, há um movimento importante que todos desenvolvemos
que chamei aqui de “autoestima” ou “autoimagem” que trata do quanto gos-
tamos de nós mesmos, sobre nosso próprio valor. Como me vejo, o que “sei”
sobre mim. Mais do que isso, esse sentimento passa pela primeira forma de
construção emocional do próprio respeito e amor. Tanto no sentido de amar
quanto no ser amado. Respeitar e também ser respeitado. Podendo sentir o
direito à vida, a gratidão e o respeito pela vida. É de extrema importância para
o desenvolvimento emocional, psíquico e contorno corporal.
Com o reconhecimento, sentimo-nos vivos, acompanhados, e temos
também a condição de nos reconhecermos. Na primeira infância, essa vivência
determina como a criança se sente, como se vê no mundo, o que sente a seu
respeito e o valor que se dá como ser humano. Que fique claro que esse valor
não passa pelo poder, ou arrogância, mas pelo calor que aquece o coração,
pela alegria e gratidão por ser quem é e pela humildade de sempre estar dis-
ponível para aprender.
É importante ressaltar que a descoberta se dá na relação, no momento
presente, a todo momento. Bem diferente de viver em função de modelos de
“como se deve ser”, contrário a vida fluida, rio que segue seu curso natural.
Podemos amplificar essa reflexão quando trazemos a ideia da presença, do
Eu Sou, em letra maiúscula. Muitas vezes, ao respirar, ou quando estamos
em contato com a natureza, sentimos mais facilmente essa presença. Esse Ser
único que se apresenta em cada um de nós, que está em cada uma das crianças.
A Presença-caminho é estar a serviço do eixo vertical, onde o que é, é.
O reconhecimento também é. O fluxo vivo se expressa livre e conscientemen-
te. Estamos despertos para apenas vivermos o fluxo. Podemos olhar para cada
uma das nossas crianças como esse potencial único e saber que com o nosso
encontro, nossa relação, poderemos ajudar a criança a des-velar seu dom, a Ser
o “Um” e o “Todo”.
Esse caminho passa pela certeza de ser amada, de coração para coração.
Nós, pais, a cada dia que passa, entramos cada vez mais em contato com o
nosso amor, mas a criança nesse processo precisa se sentir amada. Talvez mui-
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tos de nós ainda não sintamos esse calor, que acalenta, acalma. Talvez muitos
de nós tenhamos tido uma viagem difícil até aqui. Talvez muitos de nós ainda
vivamos nas armadilhas da mente com sua tagarelice, suas análises, julgamen-
tos e culpas.
Pensando nisso, acredito demais no poder de cura dessa relação; afi-
nal, ao estarmos com nossos filhos, temos a oportunidade única de estarmos
também com a própria criança existente em nós. Dar o que gostaríamos de
ter recebido, percebermos a dificuldade, a facilidade, a vontade, a resistência,
a necessidade. Tudo nos informa, conta-nos a respeito da nossa jornada, que
deve ser aplaudida de pé, respeitada, acolhida. É por meio do amor, primeiro
por nós mesmos, pela nossa criança, que conseguiremos abrir os corações
para amarmos o outro, os filhos, os parceiros de viagem. Oportunidade para
todos. Somos todos aprendizes, não podemos esquecer. Afinal, é nessa relação
que a criança vai descobrir quem é, seu valor, sua luz, seu amor e sua alegria e
que passará a compartilhar. Nós, pais, inseridos no processo de aprendizado,
podemos ter consciência viva do nosso papel nessa formação. Que se dá nessa
constante interação. E mais, conscientes da nossa caminhada rumo ao nosso
próprio dom, podemos, ainda mais conectados, encontrarmo-nos de um ou-
tro lugar com a criança. De Ser pra Ser, de Aprendiz pra Aprendiz. Juntos na
jornada da vida, com o amor, com total consciência dos passos do caminho.
Vamos?
A confiança que a criança tem nos pais, gerada com essa certeza do
amor, faz com que a escuta de ambos aconteça com mais qualidade. Desde
a primeira infância, podemos construir com nossos filhos a confiança de que
sempre podem contar conosco e com nossa escuta amorosa. É maravilhoso
perceber quando um filho tem a certeza de que sempre seus pais buscarão en-
tendê-lo, ajudá-lo e auxiliá-lo. Isso já vem pronto? Não, nunca estará objetiva-
mente pronto e conquistado. Muito pelo contrário, é uma longa jornada sem
mapas claros, mas com a certeza do mais importante: o processo, a caminhada
em si, o que construímos juntos. Pura vida viva.
A comunicação ou a linguagem, aqui entendida como toda a forma que
comunica, leva até a criança uma informação a seu respeito. Como a criança
ainda não tem sua identidade formada, é nessa relação, por meio dos nossos
“olhares”, que ela irá se formar. Temos uma responsabilidade enorme como
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pais, como educadores, mas digo que temos uma oportunidade maior ainda,
de juntos aprendermos, crescermos e vivermos nesse mundo da melhor forma
possível, com amor, respeito e reconhecimento do outro.

ESPELHOS
INFALÍVEIS
No cuidado amoroso rumo ao Ser-essencial que se apresenta, algo me
chama a atenção. Para ilustrar melhor, contarei uma história minha. Lembro-
-me das brigas que eu tinha com minha irmã, dois anos mais velha do que eu.
Brigávamos por motivos variados, mas quase sempre por coisas bobas. Nessas
brigas ela sempre me xingava de “gooooooooorda”. Eu sempre tive um corpo
com estrutura, mas nunca, nunca fui gorda. Ela, como era muito magrinha,
xingava-me com propriedade. Resultado: passei a vida toda, até meus 17 anos,
achando-me gorda, fazendo dietas mirabolantes, sempre aflita, com medo de
que aquela gorda pudesse voltar. Para minha surpresa, depois de algum tempo
em terapia, fui atrás de fotos da minha infância. E, acredite, pude perceber o
óbvio, que antes não era claro: eu nunca fui gorda, muito menos a gorda que
imaginava. Ouvi tanto aquilo que acreditei, e mais: vivi essa realidade.
Vamos imaginar agora o quão fundo penetra a frase de um adulto do
círculo de confiança da criança. Eu costumo dizer que entra direto, carimba
imediatamente. Isso acontece porque a criança está desenvolvendo a identi-
dade nessa fase, ainda não tem condição como nós adultos de responder ou
jogar fora o que o outro disse sobre ela. Se bem que pra muitos de nós, já
crescidos, isso ainda é bem difícil, não é mesmo?
Nós, pais e mães, muitas vezes, na ânsia de querermos ajudar em algu-
ma situação, saímos dando nome e sobrenome aos funcionamentos que perce-
bemos deles. Com toda a boa intenção, pensamos estar na direção certa para
conhecê-los ainda mais. Precisamos saber que esse falatório da nossa parte só
prejudica os filhos e todo o processo de autoconhecimento.
Pensamos estar mais próximos e sabidos, mas estamos mais distantes, e
a criança, ao receber toda essa informação, também estará mais distante de si
mesma. Lá vamos nós levados por mais um funcionamento da mente, anali-
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sar, nomear e buscar entender. Coisa que nos coloca longe de nossos corações
e de nossos filhos também.
Essa imagem que a criança começa a ter de si mesma acontece na rela-
ção com as pessoas, em como percebe seu próprio corpo físico, como funcio-
na com as coisas de seu interesse, com o ambiente, o que gosta, as habilidades,
dificuldades, dentre outros. É um processo vivo, que não para, mas que, mo-
mento a momento, traz novas informações a respeito da pergunta que todos
nós conhecemos: “quem sou EU?”. Essas informações vão sendo armazena-
das e fazem parte da resposta nada objetiva que se movimenta conforme as
relações com o todo e sofre transformações.
Hoje, talvez o nosso desafio como educadores seja não mais rotular,
carimbar, enquadrar a criança em nenhuma característica. Essa atitude deixa
a criança absolutamente presa e sem saída. Nosso maior desafio é enxergá-la
sem o conforto de encaixar, coisa que nos parece tão segura, mas é muito mais
frágil do que somos capazes de imaginar.
As palavras que usamos normalmente vêm carregadas de julgamentos
que reverberam nas crianças. As crianças que, na construção da autoimagem,
veem-se de modo negativo, costumam agir de algumas formas: criam defesas
e camuflam o sentimento de inadequação, confirmam a inadequação, aceitam
e levam uma vida meio apagada, agindo de acordo com essa característica, ou
se refugiam em fantasias em busca de alguma compensação pelo que sentem
na realidade. Normalmente, não percebemos isso acontecer. E sabe por quê?
Porque nós fomos educados dessa maneira. Sempre ouvimos comparações e
sempre fomos caracterizados, seja como tímidos, agitados, diferentes, agressi-
vos, molengas, terríveis e assim por diante. E provavelmente com nossos pais,
avós, aconteceu da mesma forma.
Vamos em busca da segurança racional, mental, saber o que está acon-
tecendo, qual é o problema, não é assim que fazemos? Esse enquadramento
traz o falso alívio, a falsa segurança de que conhecemos os filhos, mas estamos
enganados, estamos muito longe disso. Como se pudéssemos escolher: viver
a vida numa fotografia, parada, que em si contém toda informação, finita e
sem perspectivas, ou viver a vida num filme 4D, vivo, repleto de histórias e
novas possibilidades, cheiros, cores, caminhos, aventuras, alegrias. Filme da
vida viva, construído a cada passo do caminho.
Daniella Freixo de Faria
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Podemos neste momento aprender outro caminho? Se pudermos hoje,


como adultos, lembrarmo-nos dos carimbos que recebíamos quando éramos
crianças, talvez fique mais fácil perceber a tamanha influência que infelizmen-
te segue contaminando outras áreas importantes da vida. E o quanto, mesmo
adultos, muitas vezes ainda nos vemos daquele jeito.
Temos pavor de quando somos rotulados no ambiente de trabalho, ou
na turma de amigos, ou mesmo na família. Quando pensamos nos carim-
bos, logo seguimos para os problemas, para as dificuldades, mas é importan-
te demais ressaltar que os carimbos ditos positivos aprisionam tanto quanto
os negativos. Se quisermos dizer algo sobre nossos filhos, que tal falarmos
do processo, do quanto cada passo é responsável pelo sucesso daquela em-
preitada, qual foi sua atitude, sua ação. Se colocarmos todos os elogios na
criança, existirá uma expectativa e ela passa a evitar situações desafiadoras;
afinal, precisa se manter inteligente, bonita, esperta. Exemplo: uma criança
elogiada pela inteligência entende o seguinte: “Tenho que ser sempre inteli-
gente porque essa é a imagem que os adultos têm de mim”. Agora, manter
um alto nível de inteligência é algo abstrato e difícil de alcançar. A saída é
buscar uma zona de conforto para continuar se percebendo inteligente para
si e perante os outros. Mantém o mínimo esforço, evita qualquer desafio
que possa representar um risco à imagem. Por outro lado, na cabeça da
criança elogiada pelo esforço, o pensamento é outro: se passou por esse de-
safio, pode vencer o próximo; basta tentar. Por isso, o elogio deve ser feito
ao processo e não ao resultado.
Somos Seres únicos, eternos aprendizes, nossa essência: o Amor. Nossa
necessidade: expressá-lo. Somos o que abre, o que expande, infinitas possibi-
lidades que, a cada passo do caminho, aprendem aqui e agora, conectando-se
com toda potência. O processo do espelho não falha e por isso acaba sempre
funcionando do mesmo modo em muitas famílias. É um ciclo vicioso, no qual
pais e filhos, juntos, criam uma nova realidade, normalmente bastante negativa
e difícil. A criança infelizmente não tem como quebrar o ciclo, pois ainda está
descobrindo quem é. Somos nós, os adultos, que já sabemos quem somos, na
maioria dos casos, quem têm condição de virar esse posicionamento familiar.
Podemos, então, sair da foto e irmos para o filme 4D. Pensar isso, devo confes-
sar a você, traz-me um alívio imenso, penso que para você também.
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Estamos livres para pararmos de procurar e nomear os famosos pro-


blemas e realmente nos relacionarmos, encontrarmos o outro. Toda a questão
passa por diferenciarmos a pessoa de seu comportamento ou atitude. Ao igua-
larmos as duas coisas, fechamos, fotografamos. Os comportamentos serão
corrigidos, mas o valor da criança perante o processo está intacto. Estradas
distintas, cada uma cuidando de seu asfalto.
Nossa atenção precisa estar focada em qual é o objetivo e estrada para a
correção da atitude. Quando usamos a palavra “você” seguida de algum subs-
tantivo ou adjetivo que descreva a criança, fotografamos. Quando contamos
o que se passa dentro de nós, o que estamos sentindo com tal atitude, estamos
falando do comportamento.
Começa simples assim: uma vez João, ainda com um aninho de vida,
no colo da mãe, dá-lhe um tapa. Ela imediatamente pensa: “Nossa, como ele
é bravo, agressivo”. Ela começa a olhar para João com essa característica e
expectativa. Aqui vale ressaltar que muitas vezes carimbamos com um olhar,
um suspiro, um pensamento, uma expectativa desastrosa e também com pala-
vras, expressões em alto e bom som. Depois de tudo, novos comportamentos
agressivos de João surgem: ele bate, morde, chuta, e a mãe de João continua
então a comprovar a sua visão sobre ele. Devo confessar que dá um alívio
enorme saber o que está acontecendo; afinal, adoramos ter o controle da
situação, mesmo que seja fictício, mente racional em busca de respostas.
João começa a receber o reflexo sobre quem é vindo desses espelhos, re-
ferências tão importantes, mãe, pai, avós. E novos comportamentos surgem.
Até que João pensa, acredita que ele é assim. O ciclo está fechado e funcio-
nando a todo vapor.
Esses comportamentos começam a acontecer também fora de casa;
então aos dois, três, quatro anos, quando se inicia a vida social, o comporta-
mento agressivo também irá aparecer. Nesse ponto a questão ganha força e a
família normalmente busca ajuda.
Acredito que vale a pena resgatar a importância do amar e ser amado.
Todos nós podemos amar e sermos amados. A criança sente uma necessidade
ainda maior, pois sua referência sobre quem ela é ainda é frágil e está sendo
desenvolvida, alinhando o profundo e o superficial com nossa ajuda. A crian-
ça precisa então existir perante o pai e a mãe, perante a professora, diante do
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adulto que fornece a referência tão importante. Precisa existir para ela mesma,
é o começo da jornada rumo ao despertar.
As crianças são tão inteligentes e precisam tanto de reconhecimento
que, mesmo que existam negativamente, ainda assim existem, melhor do que
não existir. É mais uma vez a mente garantindo sua fictícia tranquilidade e
segurança. Todo reconhecimento é forte e necessário, acredito eu, para conti-
nuar em frente, crescendo.
Acontece geralmente aos cinco anos; a criança já reuniu reflexos sufi-
cientes a seu respeito para poder formar sua primeira autoimagem. Pode não
se sentir bem consigo mesma em todos os momentos, mas, se de modo geral
se sentir amada e reconhecida, sentirá alegria ao perceber quem é. Então toda
vez que usamos a frase “Você é” ou “Nossa, como ele…”, precisamos estar
conscientes de que nossas crianças confiam em nós, acreditam em nós e nunca
questionarão o que estamos contando a elas sobre elas. E nós podemos man-
ter viva nossa missão, a educação, auxiliar a criança a desvelar seu Ser-essencial
e não encaixá-la em rótulos. Podemos, sim, com nosso exemplo e amor, estar
com elas para viver cada situação como aprendizado conjunto. E a partir daí,
encontrarmos novos caminhos, novas possibilidades para lidarmos com dife-
rentes situações.
A vivência profissional nos últimos anos me mostrou o quão forte e
direta é essa influência. As crianças apenas respondem. Nos encontros com
crianças, pude experimentar algo incrível. A prova de que cada relação é única
e de que com crianças somos todos espelhos referenciais. Por isso, quando
nós, adultos, quebramos esse ciclo, os comportamentos também se alteram,
pois a criança se percebe reconhecida de outras formas e está livre, apoiada
para também agir de outras formas. Está feliz, leve, aliviada. Ter um outro
olhar referencial faz com que ela enxergue a si mesma com outras possibilida-
des, outras cores, outros encantos. Esse novo olhar é fruto de coração aberto,
aberto para simplesmente estar presente. Recebendo as informações que ali
estão. Aberto ao novo, ao “não sei” que tanto traz oportunidade da constru-
ção de novos saberes.
O mais importante: ao usar o “Como você é…”, seguimos com as
crianças direto para o comportamento que precisa ser transformado ou que
tanto queremos evitar. Nesse ciclo improdutivo, a criança passa a ter um au-
CONVERSA COM CRIANÇA – Presença-Caminho
38

toconceito negativo, está presa em seus comportamentos também negativos,


que geram o autoconceito negativo, e o ciclo segue assim, vivo em seu fun-
cionamento. A criança que se considera má molda seus atos para que se en-
quadrem nessa concepção. Ela desempenha o papel que lhe foi atribuído. O
ciclo se alimenta a todo vapor; afinal, quanto pior o comportamento, mais ela
é censurada, punida ou rejeitada. E, em consequência, mais profunda se torna
a convicção íntima de que é “má”. Os comportamentos negativos não são
gerados somente assim, mas vejo que grande parte das crianças e suas famílias
encontram-se presas nesse funcionamento. Muitos de nós, adultos, encon-
tramo-nos parados nessa armadilha, a mente brilhante, analisando, julgando,
condenando, culpando e dizendo o quanto não somos merecedores do amar e
sermos amados. Terrível para nós, imagine para as crianças. Temos, portanto,
uma linda oportunidade de, ao vivermos do coração com eles, vivermos do
coração conosco também.
Quando atribuímos uma característica à criança, estamos nada mais
do que fazendo um julgamento a seu respeito. E pensando em julgamento,
fica muito clara a prisão que se estabelece. Se eu, criança, escuto que sou
agressivo ou mole, ou burro, ou tímido, o que me resta a fazer? A autoi-
magem, o conhecimento de si que deveria ser vivo, puro movimento, está
estagnado em uma “verdade” contada por nós. “Verdade” que se tornará
absoluta a cada julgamento repetido depois de cada comportamento repeti-
do, no ciclo fechado.
A pessoa que viveu com carimbos, seja negativo ou positivo, está apri-
sionada à verdade e passa a desenvolver um medo da vida, das mudanças. Cria
uma zona de conforto, na condição que conhece, mesmo que seja limitante e
tão distante do seu potencial, do que pode realizar, dos dons presentes. A zona
de conforto traz a falsa noção de segurança. É a lei do mínimo esforço; afinal,
se eu já sou mesmo mole, inteligente, fraco, agressivo, passivo, o que me faria
pensar em outra possibilidade. Eu sou… Fazer o quê?
Essa conversa me fez lembrar de um momento marcante. Sempre con-
siderada tímida, envergonhada, certinha, fui me sentindo cada vez menor na
época da escola. Se eu pudesse, preferiria ser uma planta a ter que enfrentar as
pessoas, as leituras em voz alta, exercícios de matemática na lousa. Era pânico
e a certeza de que eu não dava conta daquilo. Sofrido. Quando precisei mudar
Daniella Freixo de Faria
39

de escola, lembro-me de um momento de total consciência com meus tão


maduros onze anos. Pensei: “Vou mudar de escola, tenho a oportunidade de
fazer diferente, pois não quero mais viver na escola encolhida. Ou faço algo
diferente aqui na escola nova, onde ninguém me conhece, ou farei o mesmo
e terei o mesmo resultado”. Dá pra acreditar? Nem eu sei como consegui
aquilo. Fiz e minha vida escolar mudou. Minha vida mudou, eu surgi, apare-
ci, antes de fazer isso para alguém, dei conta de fazer para mim. Que alegria
lembrar disso, lembrar das amigas, amigos da escola que nem imaginam, mas
me salvaram. O meu obrigada a eles.
Hoje, olhando para trás, emociono-me com a coragem da minha meni-
na. Outro dia minha madrinha ainda veio me perguntar: “Dani, como foi que
você conseguiu, você mudou, onde foi parar aquela menina tímida, quieta,
medrosa?”. Contei a história e comemoramos, delícia. Mas afinal, qual é o
caminho então para não cair na armadilha?
Antes de qualquer coisa, podemos abrir os corações para compreender
a mensagem ou o pedido contido no comportamento. É uma mensagem,
conta-nos a respeito de algo, de alguma necessidade. Ao estarmos presentes,
temos a oportunidade de fazermos essa virada com nossos filhos. Depois dis-
so, podemos então ajudar a construir uma nova atitude (falaremos disso mais
adiante), saindo completamente do julgamento. Quando acontece, a criança
está livre para comunicar o que necessita de outra forma e corrigir o que não
foi legal.
Exemplo: entendi que você está bravo, que não quer dormir agora,
mas não precisa gritar, eu estou aqui lhe ouvindo, vendo-lhe. A criança en-
tende claramente que o comportamento não foi adequado, e não ela. O mais
importante, percebe a intenção e atenção para ouvi-la, para ajudá-la a se co-
municar de uma forma mais clara. Os comportamentos contam pra nós como
ela está se sentindo, se pudermos olhar o que está atrás perceberemos o real
pedido, a real necessidade.
Podemos e devemos corrigir os comportamentos mostrando para a
criança como ela “está”, o que é muito diferente de como ela “é”. A criança,
nessa experiência, está protegida na certeza do amor e respeito. Nós, com
isso, permanecemos acolhendo o Ser único que se apresenta para o aprender.
E vemos esses momentos como uma grande oportunidade de aprendizado.
CONVERSA COM CRIANÇA – Presença-Caminho
40

Com isso, o reflexo do espelho que cria e que colabora na formação da autoi-
magem dos filhos se torna positivo. Pois o amor, a presença nesse encontro,
está garantida. A criança percebe e consegue aprender novas atitudes de forma
natural e fluida.
Os rótulos, diagnósticos precoces, são preocupantes, podem funcio-
nar como reflexo sobre uma vida inteira. Acredito que todo diagnóstico
deve ser feito com extrema cautela, depois de cuidar de todos os processos
familiares do qual estamos falando até o momento. Nunca me esquecerei
de um menino de sete anos prestes a repetir de ano na escola. Nos encon-
tros com ele e seus pais, pudemos perceber que havia um ciclo instalado.
Nascido numa família em que a mãe tinha um funcionamento ágil e rá-
pido, ouviu desde pequeno que era mais molenga, ou então para tudo
havia um chamado de “Vamos logo, vamos!”. Na escola, nunca conseguia
terminar as tarefas no tempo proposto, além do fato de que não conse-
guir acompanhar a classe. Depois de alguns encontros e muito trabalho,
conseguimos rever os olhares, as falas, a qualidade de presença, escuta e
disponibilidade. Os pais, com toda a clareza e consciência, perceberam a
referência que estavam oferecendo a ele. Com a presença, disponibilidade
para conhecer, encontrar e construir junto a esse menino, o novo caminho
foi surgindo e suas atitudes começaram a mudar. Voltou a aprender, a
prestar atenção; o que era lentidão foi se transformando em ritmo, mais
confiante, e ele desabrochou na escola, em casa, na vida. Foi de fato respei-
tado e visto como único. Passou de ano tranquilo e um dia me disse com
todas as letras: “Hoje eu sou mais feliz”.
Talvez hoje você possa ser você mesmo, em sua jornada de aprendiz,
tendo seus pais também mais felizes, como grandes agentes do importante
passo em estradas tomadas pela confiança, amor, escuta e alegria.
Exemplos de vida e de retomada como esses são muitos, mas o pro-
pósito aqui é cuidarmos antes e não nos afastarmos da missão de educa-
dores aprendizes. Cuidando do profundo e do superficial, cuidando de
como estar nesse mundo e como ajudar um ser humano a desvelar o Ser
que aí está. Ajudar a pessoa a se abrir para o Ser, para o dom e ao mesmo
tempo ensinar e continuar aprendendo na convivência que é tão intensa,
tão presente.
Daniella Freixo de Faria
41

PRESENÇA
Quando acompanho uma família retomar o fluxo da vida, confirmo
o quanto podemos aprender com nossos filhos. O quanto somos aprendi-
zes sempre. A experiência de olhar novamente, respirar, transformar desde a
criança traz para nós a oportunidade de renascer. A oportunidade de revermos
as histórias, nossa criança e despertar como Ser, como pessoa, como vida que
se apresenta, como Presença.
Presença, palavra forte que talvez conheçamos apenas como estar ali, aqui,
será que veio, não veio, está, não está. Ou na chamada da escola: “Daniella?”.
“PRESENTE!”. Presença, fluxo vivo, capacidade de acalmar os pensamentos e ir
ao encontro do silêncio, que, ainda repleto de barulho, encontra uma harmonia,
uma paz gostosa. Presença que somos capazes de sentir, perceber o sutil, o denso,
a essência, a vida pulsando, a alegria, o amor, a ligação do micro e do macro, do
um e de tudo, da unidade e totalidade. Que nos coloca a serviço desse dom, desse
Ser que entregue, caminha pela vida com os outros e consigo mesmo, com a hu-
mildade de aprendiz, vontade de criança e o coração aberto.
Como a música que adoro – Serra do Luar, da Leila Pinheiro –: “A
mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”. Às vezes caminhando
mais firmes, fortes, outras vezes com mais suavidade, sutileza, mas sempre
inteiros, despertos, prontos para essa dança que é estar aqui vivo, fluindo,
dando e recebendo o que há de mais sagrado: o amor. E com nossos pe-
quenos, temos a oportunidade de entrar na escola repleta de oportunidades
de aprendizados, de encontros, reencontros. Temos a real oportunidade de
aprender a amar. Para depois expandir essa possibilidade para todos os nossos
companheiros de viagem.
Nessa relação de abertura, a criança com o Ser acolhido, com o reflexo
positivo, com os comportamentos e atitudes corrigidos, está livre para apren-
der, pois errar passa a fazer parte do grande aprendizado que nunca termina.
Saímos então do julgamento e abrimos o mundo de possibilidades, saímos da
crítica à criança e ensinamos/aprendemos sobre seus comportamentos, novas
possibilidades de comunicar as mesmas coisas, saímos da prisão e chegamos
à liberdade, saímos da dor e chegamos à alegria, saímos do peso e chegamos
à leveza, mas, principalmente, saímos da distância e chegamos ao encontro.
CONVERSA COM CRIANÇA – Presença-Caminho
42

A criança não é agressiva; ela pode estar agressiva e essa agressividade


nada mais é do que um pedido de escuta, de ajuda. Apenas nos informa, con-
ta-nos qual é o próximo passo do caminho. Pode não parecer, mas a diferença
é enorme.
Com os pais presentes e conscientes, qualquer movimento necessário
é percebido naturalmente. A sua participação não está mais atrelada ao certo
e ao errado. Como se isso viesse de fora. A resposta sempre está no “nós”, na
relação, nos olhos nos olhos. E o nosso grande aprendizado é simplesmente
ouvir o coração, ouvir com todos os canais abertos e estar disponível para
aprender com as experiências.

A IRMANDADE
Como é maravilhoso ter irmão, irmã, ou os dois. Crescer com alguém
ao lado é tão especial que talvez só tenhamos consciência quando grandes,
adultos já formados. É importante saber que nosso olhar interferirá direta-
mente na relação entre irmãos, por isso vamos falar disso aqui. Nas obser-
vações de uma palestra que fiz na escola Lourenço Castanho, li: “Não vejo
a hora de ir para casa abraçar e beijar cada um dos meus filhos únicos”. Que
presente sentir quão livre, leve e feliz é essa colocação. Isso mesmo, mesmo
tendo dez filhos, temos dez filhos únicos. Únicos em suas necessidades, em
seu jeito, seu olhar, seu ritmo, seu gosto, suas gracinhas, sua própria vibração,
único em quem é. Sem a comparação como uma forma de resolvermos algo
que não estamos conseguindo lidar.
Lembro-me do quanto eu tinha o olhar da certinha em casa: estudiosa,
tímida; minha irmã ocupava o olhar da preguiçosa, com mais dificuldade nos
estudos, mais “desencanada”. Nós duas nos fixamos, hoje somos grandes ami-
gas e parceiras, mas, para tal, precisamos sair desse lugar. Lugar que, nem de
longe, nossos pais quiseram nos colocar. Esse efeito comparação é bombásti-
co, sempre bombástico. Não vale a pena, nunca. Encaixa, enquadra e distancia
os dois irmãos. É importante que toda a correção aconteça separadamente.
O olhar dos pais para os dois seres que juntos crescerão com desafios
Daniella Freixo de Faria
43

fará toda a diferença em como essa relação se construirá. Ou na competição


em busca de aprovação do fora, ou em colaboração pela certeza do amor que
receberam sendo únicos e respeitados em sua unicidade. Essa é uma questão
muito importante já que será nessa jornada que essa relação fraterna se es-
tabelecerá e refletirá por toda uma vida. Nossa responsabilidade é enorme e
precisamos estar conscientes. Imagine uma criança que com quatro anos ouve
demais comparações com seu irmão e fica sempre com o lado negativo. E olha
que nós nunca faríamos isso se soubéssemos o resultado, não é mesmo? Às ve-
zes, na tentativa de melhorar uma situação, temos a ilusão de que contar que
o outro irmão consegue fazer estamos ajudando, mas não estamos; estamos
fazendo com que a competição inútil surja entre eles. Estamos fazendo com
que um queira existir mais e melhor, para nós, perante o outro.
Quando incluímos o conceito de “melhor”, automaticamente estamos
gerando uma comparação, um julgamento; afinal, sempre é preciso ser me-
lhor do que algo ou alguém. O desafio é olhar para uma pessoa sem precisar
compará-lo a nada nem a ninguém para compreendê-lo ou mesmo admirá-lo.
Quando pensamos no amor junto da palavra comparação, é possível
perceber o quanto essas palavras não se conversam. O amor é comparação?
Dizemos que amamos mais esse do que aquele? Quando temos a comparação
como medida de amor, será que estamos falando de amor realmente? Quando
comparamos, quem está em funcionamento é nosso pensamento, a mente.
O amor não é movimento do pensamento, por isso, quando comparamos o
amor, não se trata de amor, e sim de um pensamento em ação. Desmontar esse
esquema parece bastante complicado, mas não é. Irmãos se amam antes de
tudo, se paramos essas falas e reconhecemos em ambos as qualidades e feitos,
isso tudo se estabiliza. E a irmandade volta a fluir em seu curso natural de
amor, alegria, desafios naturais, apoio e muito companheirismo.
Ao cuidarmos de nossos olhares desde o nascimento, estamos cuidan-
do desde sempre desse relacionamento tão precioso. A única diferença está
em quem chegou primeiro e quem veio depois. Quando o irmão mais velho
percebe o quanto é amado, admirado pelo menor, quando percebe que ali há
mais alguém lhe dando atenção e amor, toda a insegurança inicial termina. E
quando esse irmão que veio depois tem seu espaço legitimado, reconhecido
e respeitado por seu irmão mais velho, esse amor pode ser curtido. E o mais
CONVERSA COM CRIANÇA – Presença-Caminho
44

interessante nessa construção é percebermos como nós, pais, também cresce-


mos no processo.
O primogênito, quando nasce, encontra determinada maturidade; o
segundo e o terceiro filhos encontram pai e mãe mais preparados e experientes
para alguns assuntos; porém, algo novo está no ar, a família está crescendo e
a relação entre os irmãos é a grande novidade. Por isso, muitas vezes vem a
sensação de estarmos diferentes quando temos cada filho; estamos, sim, em
outro momento da espiral de desenvolvimento.
Quando minha filha mais velha nasceu, aprendi a sobrevivência, a mu-
dança de valores, prioridades e como viver o maior amor do mundo. Realiza-
ção total. Quando minha filha mais nova nasceu, já conhecia a sobrevivência
e vi o maior amor do mundo se multiplicar, como se abríssemos mais linhas
telefônicas, com nenhuma perda das linhas já existentes. Com a sobrevivência
garantida, pudemos, com a chegada da segunda filha, cuidar dessa irmandade,
desse direito de existir. A minha pequena me ensinou o sutil, o cuidado legí-
timo do que está dentro de nós. E nossas duas filhotas nos ensinaram como é
maravilhoso dar sem esperar receber nada em troca, ensinaram-nos a alegria
de compartilhar, do viver em nós.
Com irmãos gêmeos, podemos perceber ainda mais a necessidade de
olharmos para as crianças como únicas. Tive a felicidade e a oportunidade
incrível de atender alguns irmãos gêmeos e digo que foi maravilhoso perceber
o quanto, apesar da ligação forte, amorosa, íntegra, existe também uma cons-
tante necessidade de existir. De “Ser” e ser visto como “Um”, vivendo desde
seu próprio referencial. E quando isso acontece, é visível a alegria, a liberdade,
e como faz bem olhar para trás e perceber as próprias evoluções. Poder olhar
para o lado não mais como referencial e, sim, como parceria.
Talvez na família com gêmeos essa questão apareça tão forte que cria-
mos a maior competição já vista na face da Terra. Pais e mães estão sempre
devendo. Explico melhor: se por acaso um dos gêmeos está com a mãe, que
precisou passar no mercado, ela deve dar uma passada no mercado com o
outro filho. Garantir ser visto como único é muito diferente de fazer coisas
no um a um. Fazer coisas separadas ou o dia do filho único não garante que
a criança seja vista e se sinta única, amada. Não garante que um encontro
de qualidade esteja existindo. É uma armadilha frequente, difícil de escapar.
Daniella Freixo de Faria
45

Quando o amor, o encontro e a vontade de estar junto estão garantidos, o


natural da vida pode seguir com dez filhos, filhos únicos, filhos gêmeos etc. O
amor, como disse anteriormente, não é medida; é encontro, experiência, olhos
nos olhos, momento presente.
Outro assunto bastante comum surgiu há muito tempo, desde que nós,
agora pais, éramos crianças, ou ainda quando nossos pais, agora avós, eram
crianças. E não sei para você, mas essa história sempre gerou desconforto,
questionamentos e praticamente nunca obtive uma reposta. Será que há essa
resposta? Muitos de nós até podem ter ficado marcados com a ideia: existe o
“filho preferido?”.
Andei pensando algo interessante tendo como referência minha própria
infância, minha atual maternidade e o rico aprendizado com as famílias que
acompanho. E sabe o que percebi? Que temos, sim, filhos diferentes, aliás,
que bom! Seria muito chato termos filhos iguais em suas atitudes e tempera-
mento. Mas voltando à nossa reflexão, percebo que o filho mais parecido com
o temperamento dos pais parece ter mais afinidade. O que faz com que todo
o processo de educação seja mais tranquilo, já que a comunicação acontece
com mais facilidade. Pelo nosso ponto de vista, um filho parecido conosco
gera muito mais conforto no convívio do que um completamente diferente
de nós. Porém, será com o filho diferente de nós que teremos a grande chan-
ce de vivermos novos aprendizados. Como se pudéssemos dizer: o parecido
conosco gera mais conforto, e o diferente de nós, mais desafios e, com isso,
mais aprendizado.
Vamos rever a crença sobre a possibilidade de alguma preferência para
agora, por que não? Pensarmos nas inúmeras oportunidades, ricas e novas,
que temos tanto com os parecidos quanto com os diferentes de nós. Muitos
também pensam que a preferência acaba recaindo sob o filho mais frágil emo-
cional ou fisicamente. Mas isso também fala de como nós lidamos com nossas
fragilidades. Está certo que ver um filho doente, frágil, não é tarefa fácil, mas
também temos que concordar que nossa postura perante esse fato também
refletirá em como a própria criança lidará com ele.
O fato é que todos nós, pais, mães, filhos, filhas, estamos no mes-
mo barco, aprendendo, crescendo. Sinto que saber dessa real possibilidade de
aprender pode fazer toda a diferença em nossa postura como pais e filhos. O
CONVERSA COM CRIANÇA – Presença-Caminho
46

direito de Ser quem somos sempre, despertos aos inúmeros chamados para
qual é o próximo passo do caminho. Vamos?
Conviver com um irmão ou irmã é o que há de mais especial e sagrado
para uma criança. E o mais lindo é ver quando eles percebem isso. É quando
chega o momento e a criança simplesmente pede mais irmãozinhos. Delícia!
Daniella Freixo de Faria
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CONVERSA COM CRIANÇA – Presença-Caminho
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CONVERSA COM CRIANÇA – Presença-Caminho
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PRESENTE
DE NATAL
No último Natal, as crianças resolveram fazer um presente para o bom
velhinho. Escolheram cantar e dançar. Na escolha da música, uma deliciosa
surpresa. Nunca havia realmente “escutado” a música até a noite de Natal.
Obrigada amados Duda, Malu, Bebel, Gabi, Dudu, Nando, Nina, Carol e
novo amor da família, Gabriel. Que música? Acho que você conhece. Minha
eterna criança agradece imensamente.

Aquarela
(Toquinho/Vinicius de Moraes)

Numa folha qualquer


Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo…
Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva…
Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu…
Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Daniella Freixo de Faria
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Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Brando navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul…
Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar…
Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar…
Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida…
De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo…
Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está…
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
CONVERSA COM CRIANÇA – Presença-Caminho
172

E depois convida
A rir ou chorar…
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá…

Acredito que não descolorirá. E você? Vida viva colorida, pulsando em to-
dos nós. O futuro sendo construído como direta consequência do aqui e agora, de
nossas escolhas conscientes, de nosso Coração. Encontrando o que já “É”, já está.
Sabedoria, contato, encontros, liberdade e muitos convites para vivermos no amor.
Fé no movimento vivo de entrega, confiança, aceitação e imensa grati-
dão. Vida que nos marca e nos traz a imensa possibilidade de crescer, apren-
der, Ser. Despertar! Vida que nos traz o Presente de sermos Pais e Mães eter-
nos Aprendizes!
Sigo como aprendiz, caminhando junto com você. Numa troca viva,
somos pura sabedoria e aprendizado. Talvez por isso, sem ao menos perceber,
toda essa caminhada tenha acontecido no “NÓS”, primeira pessoa do plural.
Sinto, percebo e aceito esse movimento como um grande abraço, um grande
acolhimento seguindo no amor e na certeza de que nunca estivemos nem es-
taremos separados. Receba meu amor e gratidão pela oportunidade e imenso
presente de compartilharmos nossa Luz. Estou e sempre estarei disponível
para aprender com você. Muito obrigada.

GRATIDÃO
Sou agradecida, encantada por cada passo do caminho, que nada seria
sem as pessoas que nele encontrei. Gratidão por cada inspiração e expiração.
Cada olhar, cada palavra, cada encontro repleto de amor e entrega. É mara-
vilhoso sentir o amor por cada risada, cada brincadeira inventada, cada olhar
Daniella Freixo de Faria
173

único, cada história contada por cada criança, Ser ÚNICO de Luz que ao
olhar pra mim também me convida ao encontro comigo mesma.
Vocês, crianças, presentes únicos na minha vida, são e serão meus ver-
dadeiros mestres, com que tive e terei meus mais ricos e profundos aprendi-
zados. Pude reencontrar a minha criança e viver a tal liberdade, o profundo
amor, vida viva, desperta, na Luz, ser APRENDIZ!
Obrigada, amados pais e mães, por tamanha confiança, uma honra,
um presente para mim. Recebam meu carinho e enorme gratidão minha tão
amada família Freixo de Faria Bonfim, vocês são a minha vida. Gratidão aos
amigos queridos que sempre me apoiaram e me fizeram acreditar. Gratidão
a Dina que cuida tão bem de nossa família e casa. Agradecimento especial
aos meus professores que me fizeram apaixonar por esse caminho (Escola
Lourenço Castanho, Pueri Domus, Psicologia da PUC-SP, Cogeae Puc, DEP
– Dinâmica Energética do Psiquismo). Em especial Noeli, Durval e todos os
professores da Psicologia Analítica. Obrigada Lucia Azevedo e Laura Villares
pelos primeiros anos de terapia e supervisão. Eternos agradecimentos à mi-
nha psicóloga, supervisora Kitty Haasz, grande parceira nesta caminhada com
sua escuta tão amorosa. Gratidão eterna à minha madrinha de profissão, que
sempre me apoiou em minha trajetória, Silvana Pepe e a escola Horizontes
Uirapuru que me acolheu no início deste trabalho. E à equipe do Núcleo Ser,
que, com seu incrível trabalho, tanto me ensinou sobre crianças. Gratidão
pela parceria com escolas incríveis e pelas trocas preciosas com orientadoras,
professoras(es) e psicopedagogas que sempre tive o privilégio de encontrar.
Sem vocês, nada disso seria possível!

Daniella
São Paulo, outono de 2013
PARTICIPE DOS ENCONTROS ONLINE AO VIVO TODA SEMANA.

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Para comprar o livro completo acesse: http://www.DaniellaFaria.com.br


Daniella Freixo de Faria
175

Este livro foi produzido através de um financiamento


coletivo (Catarse) com o apoio de cada um de vocês que acreditaram nesse
projeto. Recebam minha gratidão e acreditem, essa foi uma experiência
incrível, vivemos o SOMOS UM. Fizemos e somos capazes de fazer
grandes coisas juntos. Com amor e carinho,
Dani!

Apoio:

Adri Assunção Ana Paula Pereira Rabelo


Adriana Cristina Guimaraes Gomes Analy Corretora
Adriana Gianella Andre Sala
Adriana Pinto da Silva Andrea Barros
Adriana Tommasini Rizk Andrea Gaspar Marcos
Agnes Bordoni Gattai Andrea Lema
Alan Pires Andréa Soares
Aldrin Lucier Mendes Leal Andreia Duboc Pazos
Alessandra Angelina Stringari Andréia Treviso Bison
Alessandra Valadão Torres de Carvalho Angela Xavier
Alexandra Brasil Angélica
Alexandre Jordão Anna Amelia Dias Carcanholo
Aline Patricia Garcia Tillmann Anna Carolina Freitas
Alini Iolanda Chitto de Lima Annelyze Podolan Kloster Albuquerque
Amely Pinheiro Ariadna Freire Freire
Ana Angelica Costa Aryana Faria Calissi
Ana Caroline Gaia Mizoe Bárbara Margareth Menardi Biavo Tognato
Ana Claudia Barbosa Beatriz Gross Bueno de Moraes
Ana Claudia C G Germani Bernardes Bastos Advogados
Ana Claudia Fortunato Santos Bernardo RR
Ana Cláudia Giannotti Bibi
Ana Cristina Albero Tosto Bruna Gueiros da Silva
Ana Cristina Franco de Moraes Bruno Freixo
Ana Maria de Morais Bruno Gonçalves Viana
Ana Maria Dias de Andrade Camila Costa Turbino Fernandes
Ana Maria Gonçalves Furlan Camila Macchiaroli
Ana Paula de Lima Freire Camila Miyazato
Camille Chevrier Elaine Cristine Fraga Bezerra dos Reis
Carlos Eduardo Xavier Eleonora Ramos Gomes
Carolina Cazula Eliana Guttman
Carolina Freixo Eliana Milreu Petroucic
Caroline Dario Vendramin Eliane Cardoso de Albuquerque
Cecília e Luiza Stefanelo Scherer Élina Gonçalves Vieira Paes
Celina Corazza Elisabete Marques
Céu Alves Magalhães C. Valentim Eliseu Costa Junior
Ceyla Brilhante Eloah Lassance Viana
Christiane Barroso Enzo e Pietro Veit Quinan
Christine Saraiva Érica Meriele Ribeiro
Claudia Eid Erilza Faria Ribeiro
Cláudia Moema Zaions Eudóxia de Barros Lacerda
Claus Richard Blau Évelyn
Cleia Lourenço Fabiana Garrido Freixo
Cleonice Souza Fabiana Lopes Megda
Clerisvan Silva Lobo Fabiani Bobbio Nascimento Siqueira
Cristiane Maranho Fabielle Marcovici de Almeida
Cristiano Morales Fábio Reis
Cristina Cavalcante Fábio, Daniel, Matheus e Edna Utima
Cristina Ferreira Coimbra Fátima Major
Daniel Hannun Felipe Pollastrini
Daniela Carajeleoscov Fernanda A Lamego C
Daniela Daher Kury Pizzo Fernanda K Mota
Daniela de Santa Marinha Pastorino de Al- Fernanda Oliveira e Silva (mãe da Bia)
meida da Silva Fernanda Soares Calixto
Daniela Kutner Cordeiro Fernando Rodrigues Palacios
Daniela Ruiz de Mendonça Flávia Baião
Daniela Zimbrao Ferreira Flavia Barros Kudla
Daniella Branco Areias Flávia Kool
Daniella Christina Pereira Negrão Puglia Flavia Lima de Assis Oliveira
Daniella Coutinho Flavia Taleb Valentim
Danielle Cristina Oliveira Dos Santos Francine Aparecida de Souza Laureano
Danielle Fortuna Gabriella Nader Gomes de Carvalho
Débora Leal Geisa Naira Nunes
Débora Mendes Sagueshima Gilberto Pereira da Costa
Debora Nehring Gisela Pugliesi
Deborah Vega Longhi Gisele Lamas Guerra
Denise Faldini Glaucia Samara V. dos Anjos
Denise Ludovico Costa De Castro Graciela Paula Bertolino
Desiree Coelho Grazzyenny Giovanuci Páscoa
Diego Alfa Perez Gui e Lu
Dora Leão de Moura Haline Ornelas
Heliette Silva Luciana Napolitano
Henrique Qr Luciana Zanetti
Iara Garcia Luciana, Lucas e Yuri Mormilho
Jana Strzygowski Luciane Mezzari de Mello
Janice Berro Mezacasa Cavalini Luciano Cristino da Silva do Carmo
Jaqueline Borges Lucilia Ribas Chaves
Jaqueline Duarte Lucineia de Souza Andrade
Jerusa Ganzaroli Koshiyama Lucy Betânia
Jonny Ken Itaya Lucyane Dalmazo
Josemar Kuster Luiz Fernando Furlan
Josilene Varella Ganem M Fernanda Erdocia
Joyce Araújo Mara Gomes Moura de Oliveira
Joyce Braga Marcelo & Gaby Pais da Mc Preciosa
Juliana Benevides Marcia Amparo dos Santos Grego
Juliana Cortez Márcia Cristina dos Santos Fonseca Ozório
Juliana Cristina Bruno Cruz Marcia Regina Bertoni Lauretti
Juliana de Lima Belarmino Oliveira Marcia Regina Bertoni Lauretti
Juliana Juliatti Rodrigues Marcia Turmina de Biagio
Juliana Mele Marcio Fortini
Juliana Minervino Margarete Todescato Bacchi
Juliane Laize Beserra Silva Maria Angélica Thimothy
Juliano Souza Ribeiro Maria Aparecida Calegari
Julyana Vasconcelos de Oliveira Maria Cecilia Oliveira
Karine Germano Furian Maria Clara de Castro Borges
Karol Varela Maria Cristina Hoffmann
Katherine Rodini Vicentim Plazio Maria Gabriela Rossa Drewes
Katia Garcia Maria Gorete da Costa Nagata
Keidy Kaestner Cavalcanti da Silva Maria Inês Menescal Fabricio
Kitty Haasz Maria Izabel Schneider Wiesner
Laila RR. Maria José Rodrigues Paiva
Lais Hirai Maria Luisa Rodrigues Koenigsfeld
Larissa Botura Fonseca Mariana Fischer
Leca Storto Mariana Nolasco de Souza
Leovany Gomes de Azevedo Mariângela RLSR
Lidiane Martins Araújo Marlene
Luana Leonora Baião Marly Martins Macellaro
Luana Rodrigues da Silveira Marta Guerreiro Costa
Luana Speck Burigo Milene Frigo
Luciana Andrade Bemfica Trajano de Oli- Mônica Bastos
veira Monica Machado Storto
Luciana Boal Marinho Neide Caldini
Luciana M. A. Hannud Nelson Luiz Barros Moraes
Luciana Marinho Conte Nina Rizzo Freixo
Olívia e Anita Tabourin Sarti Gonçalves de Rosane de Oliveira Silva
Souza Rosangela Ribeiro
Patricia A. G. Simões Ruth Picchi
Patricia Freitas Sandra Cainelli Bittencourt
Patrícia Waldmann Padin Sara L R Fontana
Paula Costa Sergio Augusto de Andrade
Paula de Alcantara Machado Silvana Pepe
Paula Fernanda Fernandes de Souza Silvia Maria Lucio Gomes
Paula Haddad Rezende Silvia Regina Machado de Paula
Paula Lopes Simone dos Santos Silva Carvalho
Paula Raduan Simone Vianello Bastazini Aguiar
Pauliane Veloso Brizoti Simony Dayane
Pedro & Vicky Baskerville Sonia Maria Moratto Rocco
Pietro Lago Palomba Sonia Moretti Rodrigues Neves
Priscila Kobo Augusto Sonia Neves
Priscila Renata Martins Soraya Almeida Amoedo
Priscilla Barros Moraes Susana Gonzalez
Psicóloga Larissa J. Círico Suzana Natália Guirado Ferreira Fernandes
Raffaella Gonnella , Davi M B Gomes Sylvia Heckler
Rajany Freixo Tamara Berenholc
Raquel de Queiroz Barbara Gebara Tamires Ciardella
Raquel e Raul Tânia Regina Ruivo Braga
Raquel Ribeiro Tatiana Machado Martins
Raquel Stankevicius Afonso Teresa C F Machado
Raquel Wolf Tomoyose Thaís de Melo Silva Oliveira
Red Balloon Tina Toledo Planas
Regina Dias Carvalho Scripilliti Valdenice Freitas
Reis Juliana Valentina dos Santos
Rena Ferreira Valrene Batista Santos
Renata Campos Vanessa Caponi Borges
Renata de Souza Vanessa e Breno Savini
Renata Martins Vanessa Machuca
Renata Munhoz Meirelles Vanessa Tessari Nhani Rezende
Renata Ramos Vânia da Costa Pereira
Renata Souza Oliveira Fustinoni Vera Faria
Renato Aires Vicky Baskerville Santos
Rita de Cássia Carvalho Virgínia Cristina Pereira
Roberta Cintra Amaral Virginia Curiati Freitas Alves
Roberta, Rodrigo e Luca Vital Treinamentos
Rodrigo Zanata Vivien Pickering Tinoco Cabral
Rogério Santos de Mendonça Yara Caruso
Rogério Torres
Conversa
Criança
com

Para quem ama seu filho e busca encontrar uma maneira


positiva de educá-lo.
Para educadores, professores e pais que acreditam que
é em um lugar de muito amor e respeito que a educação
acontece.
Para quem procura melhorar a si mesmo.
Para quem busca se tornar um pai, uma mãe, um
educador com melhores recursos internos para viver a
maior de todas as missões .
Este livro é um convite a uma linda conversa com a
psicóloga Daniella Freixo de Faria sobre o encontro
sagrado, de profundo crescimento, que educar nossos
filhos – nossas crianças – nos proporciona . Educadores,
pais, mães e filhos num encontro verdadeiro, de amor
entre eternos aprendizes.

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