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Rossano Sartori Dal Molin

Organizador

SAÚDE EM FOCO
TEMAS CONTEMPORÂNEOS
- Volume 1

1ª Edição

2020
Copyright© 2020 por Editora Científica Digital

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SUMÁRIO
CAPÍTULO 01........................................................................................................................................... 14

A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PRESTADA À CRIANÇA AUTISTA

Égila Thalia da Silva Mesquita; Ellen Nathalia de Sousa Alves; Kálita Maria Brito Pereira; Bruna Raquely
Araújo de Sousa; Luciane Sousa Pessoa Cardoso

CAPÍTULO 02........................................................................................................................................... 23

A ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA

Letícia Samara Ribeiro da Silva; Karla Janyelle de Sousa da Silva; Claudiane Sousa Miritiba; Otávio
Leles Miranda Neto; Iracema Murada Pessoa; Luciane Sousa Pessoa Cardoso

CAPÍTULO 03........................................................................................................................................... 35

A ATUAÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA DA LITERATURA

Alesson da Silva Lobato; Elson Ferreira Costa; Edilson Sampaio; Luísa Sousa Monteiro Oliveira; Manuela
Lima Carvalho da Rocha

CAPÍTULO 04........................................................................................................................................... 54

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO EM UM SERVIÇO DE DIÁLISE COMPARANDO OS ASPECTOS DAS


DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS

Luciana Mara Rosa Milagres ; Carolina da Silva Caram; Maria José Menezes Brito ; Samantha Vieira
Alves Amaral; Pâmela Malheiro Oliveira; Camila Amurim de Souza ; Samira Alves Barbosa Gonçalves

CAPÍTULO 05........................................................................................................................................... 67

A RELAÇÃO ENTRE O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE (TDAH) E OS


BENEFÍCIOS DOS JOGOS LÚDICOS REALIZADOS NAS BRINQUEDOTECAS COM OS PORTADORES
DESTA CONDIÇÃO

Alex Miller Pereira dos Reis; Ana Paula Cardoso Ferreira; Bruna Fava Reis; Júlia Mata da Costa; Mariana
Sales Moura Santos; Matheus Alves Silveira Diniz Machado; Raissa Valente Costa; Priscila Dayane Vargas

CAPÍTULO 06........................................................................................................................................... 77

A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO EM UMA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NA BUSCA DO BEM-


ESTAR DE PACIENTES ONCOLÓGICOS EM CUIDADOS PALIATIVOS

Francisca Flávia Ramos Sousa

CAPÍTULO 07........................................................................................................................................... 93

A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA NA TERAPÊUTICA DA DEPRESSÃO

Carla de Mendonça Rêgo; Adriny dos Santos Araújo; Anderson Laureth; Heitor dos Reis Barbosa;
Letícia Bianco Gomes de Almeida; Maria Lídia Pereira Cabral Morais; Priscila de Alvarenga Antunes;
Tatiane de Alvarenga Antunes
SUMÁRIO
CAPÍTULO 08......................................................................................................................................... 105

A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE E DA MOBILIDADE PARA SAÚDE DE IDOSOS

Priscilla Cardoso Silva; Débora Pastoriza Sant' Helena; Andréa Kruger Gonçalves

CAPÍTULO 09..........................................................................................................................................117

A INSERÇÃO DE ACADÊMICOS DE MEDICINA NA SALA VERMELHA E A COMPLEMENTAÇÃO


AO ENSINO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Ailton Marques Rosa Filho; Cristiane Vieira Brunetti; Gabriela Rodrigues de Menezes; Liliana Francisco
Silva Japeniski; Marcelo Eidy Fukuda Lins; Rogério Massaru Watanabe

CAPÍTULO 10......................................................................................................................................... 127

A LINGUAGEM NO AUTISMO: AMOSTRAS DE CASOS CLÍNICOS RESPALDADOS NA TEORIA


SOCIOINTERACIONISTA - ESTIMULAÇÃO DE LINGUAGEM NO AUTISMO

José Danillo dos Santos Albuquerque; Alícia Gabriele Freitas Belarmino; Laylla Carolline Ferreira de
Andrade; Lívia Lima do Nascimento Silva; Lívia Vitória Martins Alves; Maria Eduarda Caiana Cavalcanti;
Thiago Emerson dos Santos Ferreira; Flávia Luiza Costa do Rêgo; Ivonaldo Leidson Barbosa Lima

CAPÍTULO 11......................................................................................................................................... 140

A SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM COMO ESTRATÉGIA PARA EFETIVA


ATENÇÃO AO ADOLESCENTE COM ANEMIA FERROPRIVA

Ruth Fernandes Pereira; Sandy Helen de Jesus da Conceição ; Anderson Gomes Nascimento; Amanda
Lisa Amorim Sousa; Igo Alves da Silva; Leah Kemunto Gwaro ; Maria Izânia Duarte Ribeiro; Maria Ivânia
Duarte Ribeiro; Matheus Barros Carvalho ; Natália Caldeira Freitas

CAPÍTULO 12......................................................................................................................................... 153

A VIVÊNCIA DAS MÃES FRENTE A OCORRÊNCIA DE SÍFILIS CONGÊNITA EM SEUS FILHOS

Sara Rodrigues Araujo; Amanda Lima Farias; Denise Soares de Alcântara; Sandra Nara Marroni; Naiana
Mota Buges; Claudia Christina Ribeiro Guimarães Neri de Magalhães; Leandra Cristhyne de Souza
Barros; Andréia Kássia Lemos de Brito; Gisela Daleva Costa; Lorrayne Michele Dantas de Oliveira
Bartholomeu

CAPÍTULO 13......................................................................................................................................... 165

ABORDAGEM DO TABAGISMO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE- REVISÃO INTEGRATIVA DE


LITERATURA

Marcos Aurélio Maeyama; Ana Carolina dos Santos Iserhard; Serlaine Adriana Ledur; Julio Cesar Corazza

CAPÍTULO 14......................................................................................................................................... 186

ACESSO DE PESSOAS TRANSGÊNERO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE: UMA REVISÃO NARRATIVA


SOBRE ASPECTOS HISTÓRICOS, LEGAIS E ATUALIDADES
SUMÁRIO
Victor Hugo Oliveira Brito; Maira Beatrine da Rocha Uchôa; Camila Rodrigues Barbosa Nemer; Darci
Francisco dos Santos Junior; Marlucilena Pinheiro da Silva; Nely Dayse Santos da Mata

CAPÍTULO 15......................................................................................................................................... 196

AÇÕES DA LEDTERAPIA NA IMOBILIZAÇÃO MUSCULAR

Marco Aurélio Serafim Bonvino ; Carlos Alberto da Silva

CAPÍTULO 16......................................................................................................................................... 205

ALTERAÇÕES DA AUTOESTIMA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS SUBMETIDOS AO TRATAMENTO


QUIMIOTERÁPICO

Chrisllayne Oliveira da Silva; Bárbara Mônica Lopes e Silva; Francimar Ribeiro da Silva; Wenderson
Costa da Silva; Raimundo Nonato dos Santos Filho; Francilene Rodrigues de Pinho; Priscila Pontes
Araújo Sousa; Francisco Braz Milanez Oliveira; Tatyanne Maria Pereira de Oliveira; Renan Rhonalty Rocha

CAPÍTULO 17......................................................................................................................................... 220

ALTERAÇÕES ENDOMETRIAIS RELACIONADAS AO USO DO TAMOXIFENO NO TRATAMENTO


DE PACIENTES COM CÂNCER DE MAMA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Katiele Silva dos Santos Lima

CAPÍTULO 18......................................................................................................................................... 227

ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA PERMANECER SUS: ESTUDO


DE CAMPO

Gabriela Oliveira Almeida; Thadeu Borges Souza Santos; Silvana Lima Vieira; Lilian Barbosa Rosado;
Juliete Sales Martins; Joseane Aparecida Duarte

CAPÍTULO 19......................................................................................................................................... 251

ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE INCIDENTES NOTIFICADOS NO AMBIENTE HOSPITALAR DE


UMA MATERNIDADE PÚBLICA

Wenderson Costa da Silva; Hálmisson D’Árley Santos Siqueira; Chrisllayne Oliveira da Silva; Pedro
Gabriel Sobral da Silva; Eduardo Brito da Silva; Thalia Jeovana da Silva Pereira; Karine Costa Melo;
Alanna Nunes Soares; Rafael Andrade da Silva; Rogério Cruz Mendes

CAPÍTULO 20......................................................................................................................................... 273

ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DAS INTERNAÇÕES POR SEPTICEMIA NO BRASIL DE 2008 A 2019

Mariana Carvalho; William Nicoleti Turazza da Silva; Maria Fernanda Prado Rosa; Karen Eduarda de
Souza Custódio; Giulia de Assis Queiroz; Stefan Vilges de Oliveira

CAPÍTULO 21......................................................................................................................................... 289

APLICATIVO PARA RESIDENTES DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA: A TECNOLOGIA A FAVOR


SUMÁRIO
DO APRENDIZADO

Emmanuella Passos Chaves Rocha; Jonatas Brito de Alencar Neto; Ramille Araújo Lima

CAPÍTULO 22......................................................................................................................................... 301

APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO COMO CRITÉRIO DE DIAGNÓSTICO PARA SÍNDROME


METABÓLICA

Alba Clara Vasconcelos Leopoldo Feitosa; Davi Kennedy Bonfim Leal; Kaio Danillo Veloso Leal; Larisse
Stéffany de Oliveira Albuquerque ; Manoel Pereira de Araújo Filho; Raquel Helena Kader Lopes de Sousa;
Thalita da Rocha Cardoso; Vilena Marjana Bezerra Pereira; Kelly Palombit; Carla Maria de Carvalho Leite

CAPÍTULO 23......................................................................................................................................... 318

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO CUIDADOR FAMILIAR DE PORTADORES DE TRANSTORNO


MENTAL

Joyce Cristina Lima Santos; Danielle de Sousa Bastos; Bianca Almeida Mesquita; Luciane Sousa Pessoa
Cardoso; Andressa Arraes Silva

CAPÍTULO 24......................................................................................................................................... 332

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AOS PACIENTES COM DOENÇA DE ALZHEIMER EM CUIDADOS


PALIATIVOS: REVISÃO SISTEMÁTICA

Tânia Maria Rocha Guimarães; Karla Naiara França Silva; Heloíza Gabrielly de Oliveira Cavalcanti;
Ingridy Christian Araújo de Souza; Jacqueline dos Santos Leite; Jeovanna Thamires Bezerra da Silva;
Júlia Rebeka de Lima; Karoline Lupicinio de Andrade; Fábia Maria de Lima

CAPÍTULO 25......................................................................................................................................... 346

ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM EM CRIANÇAS COM CONVULSÃO FEBRIL

Albérica de Cássia da Silva Pereira; Ademilton de Freitas Santos; Tayná Rafaelle Lopes Pereira da Silva

CAPÍTULO 26......................................................................................................................................... 354

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE IDOSO PORTADOR DE ÚLCERA


VENOSA

Aline Pereira Bonfim; Gilvane Teixeira Souza; Márcia Carvalho Pita; Anne Jacob de Souza Araújo

CAPÍTULO 27......................................................................................................................................... 368

AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DE CRIANÇAS DE ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES EM


UM MUNICÍPIO DO INTERIOR PAULISTA

Humberto Tavares de Carvalho Júnior; Miguel Takao Yamawaki Murata; William Cesar Pena Soares da
Silva; Maíra Ferro de Sousa Touso; Roberta Alves Macedo

CAPÍTULO 28......................................................................................................................................... 379


SUMÁRIO
AVALIAÇÃO DA COBERTURA VACINAL DO SARAMPO NO PERÍODO DE 2013-2019 E SUA
RELAÇÃO COM A REEMERGÊNCIA NO BRASIL

Elem Cristina Rodrigues Chaves; Kleber das Neves Trindade Júnior; Beatriz Fernanda Fernandes de
Andrade; Maria Helena Rodrigues de Mendonça

CAPÍTULO 29......................................................................................................................................... 394

AVALIAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO DOS DADOS HEMOGASOMÉTRICOS PRÉ EXTUBAÇÃO E NA


RETIRADA DA VENTILAÇÃO MECÂNICA

Jonas Davi Heiderick Mota; Yuri de Souza Rodrigues; Flávia dos Santos Lugão de Souza

CAPÍTULO 30......................................................................................................................................... 408

AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE A COBERTURA VACINAL CONTRA O HPV EM UM ESTADO


DO BRASIL COM OUTROS INDICADORES DE SAÚDE

Nelmar de Oliveira Mendes; Alexsandro Guimarães Reis; Viviane Sousa Ferreira; Ilka Kassandra Pereira
Belfort; Arissane de Sousa Falcão; Selma Gomes Samineses; Elis Cabral Victor; Marta de Oliveira
Barreiros; Flávia Ferreira Monari; Vanessa Edilene Duarte Martins

CAPÍTULO 31......................................................................................................................................... 425

AVALIAÇÃO DE CUSTO-EFETIVIDADE NAS TERAPIAS ONCOLÓGICAS, EMPREGO DE MODELOS


DE MARKOV: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

José Afonso Corrêa da Silva

CAPÍTULO 32......................................................................................................................................... 445

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DE ALUNOS DE MEDICINA ACERCA DA ENCEFALITE COMO


ETIOLOGIA PARA O PARKINSONISMO POR MEIO DE ABORDAGEM ATIVA

Davi Candeira Cardoso; Yuri Medeiros Gomes; Artur Santos Gadelha; Ronald Bezerra Cavalcante Soares;
Francisco Alves Passos Filho; Amanda Maria Menezes Nogueira; Lucas Candeira Cardoso; Laísa
Bruno Norões; Isabele Moreno de Alencar; Mariana Tomaz Pinheiro

CAPÍTULO 33......................................................................................................................................... 450

AVALIAÇÃO DO PERFIL CLÍNICO E PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS EM IDOSOS DIABÉTICOS,


CADASTRADOS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

Rodrigo Mendes de Freitas; Virna Borém Valle Pereira; Matheus Mendes Cotrim; Eduardo Gonçalves;
Andréa Maria Eleutério de Barros Lima Martins

CAPÍTULO 34......................................................................................................................................... 462

AVALIAÇÃO DOS SINAIS VITAIS EM BEBÊS NO PRIMEIRO ANO DE VIDA SUBMETIDOS À


MASSAGEM SHANTALA

Gerson Pichetti Anziliero; Rossano Sartori Dal Molin


SUMÁRIO
CAPÍTULO 35......................................................................................................................................... 475

AVALIAÇÃO DOS TUBÉRCULOS GENIANOS EM EXAMES RADIOGRÁFICOS E TOMOGRÁFICOS

João Vitor Souza Martins; Wallace de Freitas Oliveira; Amaro Lídio Vespasiano Silva; Flávio Ricardo Manzi

CAPÍTULO 36......................................................................................................................................... 481

AVALIAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E CLÍNICA EM PRÉ-OPERATÓRIO DE CIRURGIAS ELETIVAS


NÃO-CARDÍACAS

Isabella Lima Chagas Reis Batista; Naila Silveira Bezerra; Renata Brito Marinho; Thaissa Nazareno de
Almeida; Nayanna Sousa Carneiro; Ana Lígia Barros Marques

CAPÍTULO 37......................................................................................................................................... 492

AVALIAÇÃO: UM DESAFIO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO (REVISÃO


DE LITERATURA)

Leydiane da Conceição Gomes Ferreira Martins; Luana Frigulha Guisso

CAPÍTULO 38......................................................................................................................................... 501

CAPACITAÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE


EM MUNICÍPIO PIAUIENSE

Ticianne da Cunha Soares; Tamires da Cunha Soares; Ariella de Carvalho Luz; Maria de Fátima Sousa
Barros Vilarinho; Matheus Henrique da Silva Lemos; Dinah Alencar Melo Araujo; Monaliza Sousa
dos Anjos; Gabriel Barbosa Câmara; Valéria Araújo Cassiano

CAPÍTULO 39......................................................................................................................................... 514

CAPACITAÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE PARA IDENTIFICAÇÃO DE CASOS DE


TUBERCULOSE EM UMA UNIDADE SAÚDE DA FAMÍLIA

Gabriella Sousa de Oliveira; Ana Catarina da Paz Holodniak; Bianca Abdelnor Hanna Piqueira Diniz;
Ruan Seguin Azevedo Quaresma; Márcia Gomes Alcântara; Karen Lury Abe Emoto; Gabriela Ladeia
da Silva; Danilo Rocha de Aguiar; Ravena Larissa dos Santos Jardim; Rodrigo Silva Dias

CAPÍTULO 40......................................................................................................................................... 526

CASOS CONFIRMADOS DE ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS NA REGIÃO DO BAIXO


AMAZONAS NO PERÍODO DE 2008 A 2017

Fernanda Novaes Silva ; Wlyana Lopes Ulian ; Alice Hermes Sousa de Oliveira ; Eduardo Henrique dos
Santos Maia ; Caio Vitor de Miranda Pantoja ; João Paulo Mota Lima; Fernando Ferreira Freitas Filho ;
Joyce Ruanne Corrêa da Silva ; Jessica Rayanne Corrêa da Silva; Hipócrates de Menezes Chalkidis

CAPÍTULO 41......................................................................................................................................... 537

COINFECÇÃO DA HEPATITE B E DELTA NA AMAZÔNIA: ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO

Paula Lavigne de Sousa Costa; Monique de Almeida Hingel de Andrade; Victor Vieira Silva; Ana Carolina
SUMÁRIO
Cunha Costa; Ayumi Miura Fialho da Silva; Poliana da Silva Oliveira; Caroline Lobato Pantoja; Ana Paula
Santos Oliveira Brito; Hamilton Cezar Rocha Garcia; Andrey de Almeida Carneiro; Tabata Valéria Leão;
Andrew Silva Matos

CAPÍTULO 42......................................................................................................................................... 551

COMPORTAMENTO DE RISCO PARA ANOREXIA NERVOSA EM UNIVERSITÁRIOS DO CURSO DE


NUTRIÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR EM BELÉM - PA

Sheila Cristina Martins e Silva; Diana Souza dos Santos; Michele de Sousa Carneiro; Ingryd Letícia
Prazeres Carvalho; Christian Nunes Aires

CAPÍTULO 43......................................................................................................................................... 561

CONEXÃO CAVOPULMONAR PARCIAL COMO PRIMEIRO ESTÁGIO NO TRATAMENTO DO


CORAÇÃO UNIVENTRICULAR EM UM CENTRO NA AMAZÔNIA: RESULTADOS IMEDIATOS

Camila Magno Sozinho Pereira; Mauricio Fortuna Pinheiro; Renan Kleber Costa Teixeira; Kathia de
Oliveira Harada

CAPÍTULO 44......................................................................................................................................... 574

CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO UNIVERSITÁRIA SOBRE O USO FARMACOLÓGICO DA CANNABIS


SATIVA

Deyna Francélia Andrade Próspero; Mayla Rosa Guimarães; Priscyla Maria Vieira Mendes; Larissa
Vanessa Ferreira Memoria; Daniele Martins de Sousa Oliveira; Amanda Silva de Sousa; Beatriz Scarleth
Noleto de Souza

CAPÍTULO 45......................................................................................................................................... 585

CONHECIMENTO DAS MULHERES SOBRE MÉTODOS CONTRACEPTIVOS EM UM MUNICÍPIO


DO SUL DO TOCANTINS

Juliana Nascimento da Silva; Edinalva Carvalho Rocha Rodrigues; Denise Soares de Alcântara; , Laís
Fernandes de Oliveira; Cláudia Christina Ribeiro Guimarães Neri de Magalhães; Julliana Dias Pinheiro;
Marília Pantoja Soares da Silva; Mirelly da Silva Ribeiro; Leandra Cristhyne de Souza Barros; Nayara
Pereira de Abreu

CAPÍTULO 46......................................................................................................................................... 596

CONSTRUÇÃO DO MUSEU DE CIÊNCIAS MORFOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA


PARAÍBA: MORFOLOGIA, EDUCAÇÃO E ARTE

Monique Danyelle Emiliano Batista Paiva; Giciane Carvalho Vieira; Vivyanne Falcão Silva da Nóbrega;
Anna Ferla Monteiro Silva; Eliane Marques Duarte de Sousa; José Danillo dos Santos Albuquerque;
Arthur Felipe de Brito Andrade; Marciela Marinalva da Silva; Vytor Lucas Cavalcanti Belarmino; Maria
Caroline Lourenço de Lima

CAPÍTULO 47......................................................................................................................................... 609

CONSUMO DE ÁLCOOL ENTRE ESTUDANTES DE MEDICINA DE UM CENTRO UNIVERSITÁRIO DE


TERESINA - PI
SUMÁRIO
Hiago Véras Araújo Soares ; Matheus Véras Araújo Soares ; Matheus Pimentel Leite Rocha ; Rebecca
Portela Monteiro Freire ; Julie Rocha Porto; Kaique Queiroz Leite ; Adriana Sávia de Souza Araújo

CAPÍTULO 48......................................................................................................................................... 623

COVID-19: IMPACTO EMOCIONAL DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NA LINHA DE FRENTE NO


COMBATE A PANDEMIA

Jéssica Karoline Alves Portugal; Marcelo Henrique da Silva Reis; Évelyn Janaína da Silva Barão; Tanny
Thaylle Gomes de Souza; Ramanda Sena Guimarães; Lucas da Silva de Almeida; Rhuana Maria de
Oliveira Pereira; Nathalie Marinho Freire; Sibele Naiara Ferreira Germano; Marlucia da Silva Garrido

CAPÍTULO 49......................................................................................................................................... 633

CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE ONCOLÓGICO EM TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO


AMBULATORIAL

Flávia dos Santos Lugão de Souza; Ana Carolina Souza Abreu; Darlem Aparecida Pio; Heloise Mota de
Paiva Vieira Sanglard; Naira Agostini Rodrigues dos Santos

CAPÍTULO 50......................................................................................................................................... 650

DESAFIOS ENFRENTADOS POR MÃES NO TRATAMENTO DE FILHOS COM MICROCEFALIA

Andresa Teixeira Santos Correia; Geane de Jesus Tavares; Sheylla Nayara Sales Vieira; Gislene de
Jesus Cruz Sanches

CAPÍTULO 51......................................................................................................................................... 661

DESMAME PRECOCE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Ana Carolina Rocha e Silva; Rafael Pedroso Bastos; Zilma Nazaré de Souza Pimentel

CAPÍTULO 52......................................................................................................................................... 676

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA DISBIOSE: REVISÃO SISTEMÁTICA

Caroline Lobato Pantoja; Ana Carolina Cunha Costa; Paula Lavigne de Sousa Costa; Monique de
Almeida Hingel Andrade; Victor Vieira Silva; Ana Paula Santos Oliveira Brito; Hamilton Cezar Rocha
Garcia; Tábata Valéria Leão Barros; Andrew Silva Matos; Andrey Almeida Carneiro

CAPÍTULO 53......................................................................................................................................... 687

DOENÇAS IDENTIFICADAS NA TRIAGEM NEONATAL AMPLIADA

Cindy Costa Camargo; Graziella Marques de Araújo Fernandes; Kelly Cristina Mota Braga Chiepe

CAPÍTULO 54......................................................................................................................................... 697

EDUCAÇÃO EM SAÚDE BUCAL: ESTUDO DAS ESTRATÉGIAS ADOTADAS NAS UNIDADES DE


SAÚDE DO INTERIOR DO CEARÁ
SUMÁRIO
Téssia Richelly Nóbrega Borja de Melo; Poliana de Santana Costa; Vitor Kelven Arruda Braga; Matheus
de Almeida Germano Diniz; Augusto Garcia de Oliveira Júnior

CAPÍTULO 55......................................................................................................................................... 707

ELABORAÇÃO E VALIDAÇÃO DE DIRETRIZES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA O ENSINO MÉDIO

Icaro Kleysson de Souza Carvalho; Luciana Marques Andreto

CAPÍTULO 56......................................................................................................................................... 725

ELEVAÇÃO DOS NÍVEIS DE CA 19-9 EM PORTADORES DE SÍNDROME DE MIRIZZI NA AUSÊNCIA


DE DOENÇA MALIGNA: UM RELATO DE CASO

Rodolpho Cesar Oliveira Mellem Kairala; Paula Ananda Chacon Inês; Rafaella Gregori Perduca; Bruna
Lima Daher; Bruna Lemos Silva; Afranio Faria Lemos; Danilo Rocha Chavez Zambrana; Caio Cesar
Faciroli Contin Silva; Cláudio Henrique Formigoni Reviriego; Maria Clara Nobrega Pereira

SOBRE O ORGANIZADOR.................................................................................................................... 734


01
“ A assistência de enfermagem
prestada à criança autista

Égila Thalia da Silva Mesquita


UEMA

Ellen Nathalia de Sousa Alves


UEMA

Kálita Maria Brito Pereira


CESB

Bruna Raquely Araújo de Sousa


UEMA

Luciane Sousa Pessoa Cardoso


UEMA

10.37885/200700710
RESUMO

Este trabalho trata-se de uma revisão integrativa que visa reunir, avaliar e sintetizar
o conhecimento sobre transtorno de Espectro Autista (TEA), através da pesquisa
bibliográfica “desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente
de livros e artigos científicos” (GIL, 2002) Através desse estudo, vamos em busca de um
parecer geral sobre o enfermeiro e a assistência prestada visando a melhora do quadro
clinico de desenvolvimento da criança portadora de TEA. É importante enfatizar a questão
do acolhimento a família, em forma de orientações e sistematização do problema onde
por definição, acontece mudanças graves e precoces nos campos de socialização e
comunicação.

Palavras- chave: Transtorno do Espectro Autista; Relações familiares; Diagnóstico;


Enfermagem Psiquiátrica; Equipe de Assistência ao paciente.
INTRODUÇÃO

Sujeitos com Transtorno Autístico e, consequentemente, seus familiares, sofrem com


o preconceito e estigma social da doença, por ser uma síndrome que afeta as áreas de
desenvolvimento psiconeurológico da criança, comprometendo seu desenvolvimento cog-
nitivo, social e comportamental, interferindo diretamente no convívio e no estabelecimento
de relações sociais com outras pessoas, dificultando sua adaptação ao meio em que vive.
As características específicas de comportamento das pessoas com autismo juntamente com
o grau de severidade do transtorno, podem contribuir para o aumento de estressores em
potencial para familiares (SCHMIDT et al, 2003).
Entre tantos distúrbios que surgem na infância, o autismo tem recebido mais atenção
e vem sendo foco de muitos estudos. Não é considerada uma doença única, mas sim um
complexo distúrbio de desenvolvimento, com múltiplas etiologias e graus variados de seve-
ridade. Atualmente, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) e a
Classificação Internacional de Doenças (CID-10) utilizam o termo Transtornos do Espectro
Autista (TEA). O termo espectro é de ampla abrangência de sintomas, desde os mais bran-
dos aos mais graves (DARTORA et al, 2014).
As características do transtorno são descritas em tríades de comportamentos muito
específicos: interações sociais com deficiências graves, dificuldades na comunicação verbal
e não verbal, e ausência de atividades criativas, com a presença de comportamentos repeti-
dos e estereotipados. Crianças com autismo demonstram pouca flexibilidade às mudanças
de rotina, apresentam repertório de interesses e atividades restritas e repetitivas. Dessa
forma, a família cria rotina a uma série de aspectos do funcionamento diário, sendo aplicada
tanto a atividades novas como a hábitos familiares. Nesse momento é preciso que a família
se mantenha em sintonia com a criança, preservando e respeitando sua inflexibilidade às
mudanças (DARTORA et al, 2014).
O profissional enfermeiro pode colaborar de forma positiva para o diagnóstico e acom-
panhamento do TA, através de observações comportamentais de crianças, mediante a
consulta para analisar o crescimento e o desenvolvimento, como também, podem auxiliar
os progenitores dando apoio e informando-os quanto aos desafios e procedimentos assis-
tenciais que os mesmos utilizarão no processo de cuidar da criança com autismo. Se faz
necessário a abertura de espaço para discussão da assistência de enfermeiros a pessoa com
autismo, colaborando para um diagnóstico da realidade local, identificando as fragilidades,
proporcionando a oportunidade de se repensar a prática profissional (SENA et al, 2015).
Como o TEA não tem cura, a busca pelo tratamento específico porta consigo, entre-
tanto, a importância de atenuar os déficits apresentados, pois, alguns tratamentos podem
ser mais eficazes para uns e menos para outros, em função de cada autista apresentar

16 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


um nível de desenvolvimento diferente do outro. Contudo, no que se refere ao tratamento,
ainda a psicoterapia comportamental é a mais preconizada juntamente com o processo de
condicionamento que facilita os cuidados com o autista, tornando-o mais bem estruturado
emocionalmente e organizado (SANTOS et al, 2008).
Independentemente do tipo de intervenção realizada na criança autista seu desfecho
prognóstico leva em consideração três fatores determinantes: a) a idade com a qual é diag-
nosticada, b) o início do tratamento e o c) grau de comprometimento de aspectos como
linguagem, interação social e funcionamento cognitivo. Quanto mais comprometido, pior é
o prognóstico (KLIN, 2006).
Para estar apto a ajudar a família e assistir melhor a criança autista, o profissional neces-
sita de embasamento teórico. A importância de conhecer o tema para discorrer informações
aos pais, observar sintomas e comportamentos, favorecendo assim o encaminhamento a
um local adequado para avaliação de especialistas, contribui para importante diagnóstico
precoce (CARNIEL, 2014). Com isso, faz-se necessário conhecer a percepção dos profis-
sionais da enfermagem acerca da temática, buscando detectar lacunas ou potencialidades
destes profissionais, com o objetivo de alcançar cada vez mais qualidade na assistência ao
autista e sua família (DARTORA et al, 2014).
A atuação dos enfermeiros frente à criança autista e sua família é fundamental, uma
vez que eles têm um importante papel socializador, de aceitação e compreensão da criança,
bem como no estabelecimento de limites, orientação e apoio à família (CARNIEL, 2014).
A imagem do autista geralmente está construída em cada pessoa, inconscientemente.
Uma criança isolada no seu canto, balançando o corpo e olhando incansavelmente para
seus dedinhos a se mexer, é um exemplo clássico. Essa cena até ilustra, em parte, pessoas
com esse tipo de funcionamento mental, mas, como estereótipo, é capaz de deixar marcas
e estigmatizar quem vive e se expressa assim. É possível observar que essa é a percepção,
inclusive, de alguns profissionais da enfermagem (DARTORA et al,2014).
É fundamental nesse caso, em que o profissional tem medo do desconhecido, estreitar
o relacionamento com a família da criança. É necessário que o enfermeiro realize o levanta-
mento de dados, fonte importante para levantar os diagnósticos de enfermagem e prescrever
as intervenções necessárias (DARTORA et al, 2014).
É importante salientar que o autismo apresenta graus variados de comprometimento,
desde um autismo leve, caracterizado por ter um “alto funcionamento” e geralmente não
impedir que a pessoa tenha uma vida relativamente normal e produtiva, até graus severos,
em que há muito comprometimento das funções cognitivas, da comunicação e dos compor-
tamentos (VELOSO, 2014).
As dúvidas quanto a sinais e sintomas da doença geram incertezas e medos que aca-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 17


bam prejudicando a atuação dos profissionais para com as crianças autistas.
De todos os profissionais da saúde envolvidos na assistência, ao enfermeiro cabe o
grande papel de humanização. A presença humanizada e quem cuida poderá representar
ao profissional de saúde a certeza de ter promovido, dentro de suas possibilidades, uma
melhor qualidade de vida e de bem-estar àquele que estava temporariamente sob seus
cuidados (BARBOSA, 2012).
Além da criança autista que precisa ser devidamente assistida, deve-se olhar aten-
tamente para a família, principalmente a mãe, já que é ela quem assume as maiores res-
ponsabilidades no que se refere aos cuidados. Diante disso, cabe aos profissionais criar
estratégias de intervenção que possibilitem a estas mulheres serem escutadas, trocarem
experiências, compartilharem dor, sofrimento, para que de alguma forma tentem amenizar
suas angústias e incertezas (SMEHA, 2011).
O acolhimento e a orientação para as famílias são fundamentais para que elas deixem
de lado crenças errôneas, e não se desgastem com culpas desnecessárias e sem propósitos.
Cuidar dos familiares, especialmente das mães, é tão importante quanto cuidar das próprias
crianças (DARTORA et al, 2014).

DESENVOLVIMENTO

Tratando-se de pesquisa bibliográfica aquela desenvolvida com base em material já


elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, para levantamento dos
artigos foram utilizadas as bases de dados biblioteca eletrônica SciELO, Literatura Latino-
-Americana disponíveis na BVS, utilizando os seguintes descritores: Transtorno do Espectro
Autista, Relações familiares, Diagnóstico, Enfermagem Psiquiátrica, Equipe de Assistência
ao paciente.
Os critérios de inclusão foram: artigos com resumos e completos; em português e
inglês, que estivesse disponível gratuitamente na internet. Os critérios de exclusão foram:
artigos incompletos, não disponíveis gratuitamente. Como tema central: os artigos deveriam
abordar assuntos pertinentes à atuação do enfermeiro perante o desenvolvimento dos sinais
de autismo. A busca dos artigos foi realizada no espaço temporal entre 20 de maio e 03 de
junho de 2019.
Os artigos foram submetidos a releituras, com a finalidade de realizar uma análise
interpretativa, sendo necessário acrescentar ao estudo: as cartilhas, os protocolos e os
manuais públicos preconizados pelo Ministério da Saúde sobre o tema para proporcionar
maior compreensão da perspectiva do assunto em questão.
Concluída a pesquisa o relatório final foi redigido e apresentado no período de 05 de
junho a 20 de junho de 2019.

18 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


O autismo é um dos transtornos invasivos do desenvolvimento mais conhecidos, dentre
estes se encontram várias patologias que, juntas, formam um continuum autístico podendo
variar desde condições que guardam peremptoriamente o retardo mental à condições que
não estão associadas a este (síndrome de Asperger) ou, ainda, condições que podem ou
não estarem relacionadas com déficits cognitivos, como é o caso do próprio autismo e do
TID sem outra especificação (LOPEZ, 2014).
O transtorno autista, por definição, começa antes da idade de três anos. A criança
com TEA apresenta uma tríade singular, a qual se caracteriza pela dificuldade e prejuízos
qualitativos da comunicação verbal e não verbal, na interatividade social e na restrição do
seu ciclo de atividades e interesses. Neste tipo de transtorno, podem também fazer parte
da sintomatologia movimentos estereotipados e maneirismos, assim como padrão de inte-
ligência variável e temperamento extremamente lábil.
O sujeito autista deve preencher ao menos seis critérios para que possa ser realizado o
diagnóstico do Transtorno Autista conforme o DSM-IV-TR5. Dois destes são que o Transtorno
não pode ser melhor explicado pelos Transtornos de Rett e Desintegrativo da Infância, além
de, necessariamente, ter início antes dos três anos de idade. Os quatro critérios restantes
dizem respeito à presença de ao menos dois sintomas relacionados ao comprometimento
da interação social, um relacionado ao comprometimento da comunicação e um expresso
por meio de estereotipias e comportamentos repetitivos, é divido em níveis de acordo com
a sintomatologia apresentada.
Os níveis de gravidade são:
Nível 1 (leve) - Exige apoio Comunicação social: Na ausência de apoio, déficits na
comunicação social causam prejuízos notáveis. Dificuldade para iniciar interações sociais
e exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros.
Pode parecer apresentar interesse reduzido por interações sociais. Por exemplo, uma pes-
soa que consegue falar frases completas e envolver-se na comunicação, embora apresente
falhas na conversação com os outros e cujas tentativas de fazer amizades são estranhas e
comumente malsucedidas. Comportamentos restritos e repetitivos: Inflexibilidade de com-
portamento causa interferência significativa no funcionamento em um ou mais contextos.
Dificuldade em trocar de atividade. Problemas para organização e planejamento são obs-
táculos à independência.
Nível 2 (moderado) - Exige apoio substancial Comunicação social: Déficits graves nas
habilidades de comunicação social verbal e não verbal; prejuízos sociais aparentes mesmo
na presença de apoio; limitação em dar início a interações sociais e resposta reduzida ou
anormal a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa que fala frases
simples, cuja interação se limita a interesses especiais reduzidos e que apresenta comuni-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 19


cação não verbal acentuadamente estranha. Comportamentos restritos e repetitivos: Inflexi-
bilidade do comportamento, dificuldade de lidar com a mudança ou outros comportamentos
restritos/repetitivos aparecem com frequência suficiente para serem óbvios ao observador
casual e interferem no funcionamento em uma variedade de contextos. Sofrimento e/ou
dificuldade de mudar o foco ou as ações.
Nível 3 (grave) - Exige apoio muito substancial Comunicação social: Déficits graves
nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal causam prejuízos graves de
funcionamento, grande limitação em dar início a interações sociais e resposta mínima a
aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de
poucas palavras que raramente inicia as interações e, quando o faz, tem abordagens inco-
muns apenas para satisfazer a necessidades e reage somente a abordagens sociais muito
diretas. Comportamentos restritos e repetitivos: Inflexibilidade de comportamento, extrema
dificuldade em lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/ repetitivos interferem
acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Grande sofrimento / dificuldade
para mudar o foco ou as ações. (DSM V, 2014).
As características específicas de comportamento das pessoas com autismo juntamente
com o grau de severidade do transtorno, podem contribuir para o aumento de estressores
em potencial para familiares. O papel do enfermeiro poderá ser relevante para estas famí-
lias, podendo servir como ponte para uma comunicação efetiva entre a equipe médica e a
família, que nunca deverá ser renegada (NOGUEIRA; RIO, 2011).
De acordo com o Ministério da Saúde (2013) o profissional deverá ter uma postura ética
e humana, além de ser claro conciso e disponível a perguntas dos familiares, é importante
esclarecer que os cuidados serão compartilhados entre o profissional e a equipe responsável
pelo tratamento com a família. É importante fazê-lo notar que não vai está sozinho durante
o processo e que sua autonomia será respeitada na tomada de decisões.
Segundo Nogueira et al (2011), há pouca informação quanto a dar assistência de enfer-
magem aos portadores de autismo e aos familiares. Destacam, também, que a enfermagem
tem um papel importante nas intervenções, porém é necessário ter responsabilidades para
avaliar diagnóstico precoce de autismo, de maneira a diminuir os sofrimentos da pessoa
portadora de autismo e os seus familiares.
A ligação entre o enfermeiro, a criança autista e seus familiares torna-se de funda-
mental importância, uma vez que no desempenhar do trabalho da enfermagem denota-se
um olhar cuidadoso, desprovido de preconceitos, atento às necessidades do outro e ao seu
sofrimento, visto que na maioria das vezes haverá a dificuldade de expressão oral por parte
do autista, cabendo ao enfermeiro a escuta e prestação de assistência diferenciada. É ne-
cessário ler as entrelinhas, olhar além do que é visível aos olhos, pois saber cuidar implica

20 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


em preocupar-se, atentar-se ao outro, sendo essa, a essência da vida humana.
Essa diferenciação da assistência implica em um atendimento multiprofissional que te-
nha por objetivo qualificar o cuidado, através de orientações aos familiares sobre o autismo,
criação de planos terapêuticos que visem à singularidade de cada criança, para que possa
proporcionar uma melhor qualidade de vida a todos os envolvidos.
São de competência do enfermeiro a criação e condução de um ambiente terapêutico,
visto que são os profissionais que passam maior tempo em contato com os pacientes em
relação aos outros profissionais na área da saúde. Dentre os principais objetivos do ambiente
terapêutico tem-se: ajudar o paciente a desenvolver o senso de autoestima e autocuidado;
estimular sua capacidade de relacionar-se com os outros, dando ênfase na construção de
laços inter-relacionais com toda a equipe multiprofissional; ajudá-lo a confiar nas pessoas;
ajudá-lo a voltar à comunidade com mais maturidade e preparado para o trabalho e para a
vida, acolhendo-o de forma integralizada, respeitando seus direitos legais como cidadão e
pessoa com deficiência, entre outros.
Portanto, o enfermeiro tem capacidade de proporcionar uma assistência adequada para
as crianças com autismo, como também perceber as pessoas com necessidades especiais
como parte do mundo, a qual não se deve omitir por medo dos obstáculos. Estes devem
ser enfrentados com perseverança, pois, fica claro a importância do auxílio e participação
dos enfermeiros no processo de prevenção, promoção e reabilitação da saúde, promovendo
melhor qualidade de vida as crianças autistas e seus familiares.

CONCLUSÃO

Concluímos que o conceito de autismo e a assistência de enfermagem direcionada


especificamente para esse tipo de diagnostico ainda apresenta-se de forma generalizada,
devido as várias formas de explicação/conceituação sobre o assunto, não se tem em si
uma ideia definitiva e puramente esclarecedora sobre o que vem a ser o autismo e como o
profissional deve atuar diante dessa criança em desenvolvimento prejudicado. Apesar do
vasto roteiro de conduta apresentado no decorrer do trabalho, a assistência de enfermagem
possui muitas lacunas de conhecimento e muitos estigmas a serem preenchidos antes de
chegar em definitivo à uma assistência completamente eficaz.
Analisou-se, ainda, que há poucas publicações sobre o assunto e o pouco conhecimento
dos profissionais de saúde em diagnosticar o autismo. Para isso, há uma grande necessidade
de novos estudos e investigações que contribuam no desenvolvimento e ampliação do olhar
clínico da assistência de enfermagem a esses pacientes.

REFERÊNCIAS

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 21


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[et al.]. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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SMEHA, L; CEZAR, P. A vivência da maternidade de mães de crianças com autismo. Psicol estud.
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trum disorders with the Strange Stories. Arq. neuro psiquiat. 2013.

22 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


02
“ A atuação da enfermagem em
saúde mental na atenção básica

Letícia Samara Ribeiro da Silva Luciane Sousa Pessoa Cardoso


UEMA
UEMA

Karla Janyelle de Sousa da Silva


UEMA

Claudiane Sousa Miritiba


UEMA

Otávio Leles Miranda Neto


UEMA

Iracema Murada Pessoa


UEMA

10.37885/200700689
RESUMO

Objetivo: Analisar as evidências científicas encontradas na literatura acerca da atuação


da Enfermagem em Saúde Mental na Atenção Básica. Metodologia: Trata-se de uma
revisão integrativa de literatura. Para o levantamento dos artigos, realizou-se busca nas
bases de dados LILACS, SCIELO e BDENF. Foram encontrados 53 estudos, dos quais
10 atenderam aos critérios de inclusão. Resultados/Discussão: A partir da análise das
produções científicas, foi possível verificar que grande parte dos enfermeiros se sente
despreparada para trabalhar na área de saúde mental na atenção primária, ou mesmo os
que diziam se sentir preparados, pouco foram capazes de detalhar esse conhecimento. Os
estudos mostram que não existem atividades específicas voltadas à promoção da saúde
mental, de modo que a assistência de enfermagem se restringe às ações da própria rotina
das unidades básicas de saúde. Conclusão: É imprescindível que o enfermeiro inclua
em sua prática ações de saúde mental para a integralidade da atenção à pessoa com
transtorno mental e o apoio à família. Torna-se necessário que haja desde a graduação
preocupação com o aspecto de sua formação, além da capacitação dos que já estão
inseridos na atenção primária, visando-se a implementação de ações mais eficazes
envolvendo a Saúde Mental na Atenção Básica.

Palavras-chave: Assistência de Enfermagem; Saúde Mental; Atenção Primária à Saúde;


INTRODUÇÃO

A mudança do modelo assistencial em saúde mental, a partir do debate proposto


pela Reforma Psiquiátrica brasileira, no final dos anos 70, consistiu na ruptura do modelo
manicomial ou clínico-psiquiátrico de exclusão e isolamento dos indivíduos acometidos por
transtornos mentais para o modelo de reabilitação psicossocial. Efetivaram-se, com esse
processo, múltiplos serviços de saúde que compõem essa rede de assistência à saúde
mental, qualificando o cuidado por meio do acolhimento e do acompanhamento contínuo, a
chamada Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) (SILVA et al., 2018).
Na RAPS, a incorporação da Atenção Básica como um dos seus componentes es-
senciais estabelece que os serviços de saúde nesse ponto de atenção também tenham a
responsabilidade de desenvolver ações de promoção da saúde mental, prevenção e cuidado
das pessoas com transtornos mentais (BRASIL, 2011).
Conforme Waidman et al. (2012), quando se considera o aumento gradual no número
de pessoas que sofrem de transtornos mentais e que isso representa um problema de saú-
de pública de expansão mundial, é necessário pensar que essa realidade está intimamente
relacionada com o serviço de saúde e, sobretudo, com a Atenção Básica. O autor ressalta
ainda que a Atenção Primária é a principal porta de entrada das pessoas que buscam ter
suas necessidades básicas atendidas, cabendo destacar que essa modalidade de atenção
inclui não apenas a assistência a indivíduos em sofrimento psíquico ou com transtornos
mentais já instalados, mas também o desenvolvimento de ações preventivas e de detecção
precoce, que envolvem tanto o indivíduo quanto a sua família.
De acordo com Azevedo et al. (2014), o cuidado em saúde realizado na atenção básica
é considerado o eixo estruturante do sistema de saúde do país, pois, além de ser a porta
de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), gerencia os encaminhamentos, coordena e
integra o trabalho realizado por outros níveis de atenção e acompanha, de maneira longi-
tudinal, a saúde do sujeito durante a vida. Nessa perspectiva, as práticas de saúde mental
na atenção básica devem estar alicerçadas nos princípios do SUS, como universalidade,
acessibilidade, vínculo, longitudinalidade do cuidado, integralidade, responsabilização, hu-
manização, equidade e participação social (BOLSONI et al., 2015).
Nessa lógica da atenção básica como o primeiro contato dos indivíduos, famílias e
comunidades com o sistema de saúde, a atuação da enfermagem em Saúde Mental na
atenção primária consiste em ações em um campo mais abrangente e com raio de ação
mais ampliado, que não se limita mais aos cuidados dos doentes hospitalizados, passando
a incorporar também a atenção aos sadios nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) dentro da
Estratégia Saúde da Família (ESF), os quais são dispositivos centrais para o funcionamento
da Atenção Básica, visando sua expansão, qualificação e consolidação (SILVA et al., 2018).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 25


É consenso que a equipe de enfermagem realiza o primeiro contato com o paciente,
estabelecendo um vínculo caracterizado pela atitude acolhedora e compreensiva dos seus
valores e anseios. O enfermeiro, como atuante direto nesse serviço e diante de suas respon-
sabilidades e competências, ocupa o papel de agente de atendimento primário em Saúde
Mental. Como afirmam Amarante et al. (2011), o enfermeiro tem que, enquanto atribuições
e levando em conta as reais necessidades da população: planejar, gerenciar, coordenar,
executar e avaliar as ações de saúde, priorizando uma assistência integral.
A articulação entre saúde mental e atenção básica pressupõe um modelo de cuidado
que adota como princípios a noção de território, a intersetorialidade, a reabilitação psicosso-
cial e a interdisciplinaridade com o objetivo de promover a cidadania dos usuários (SILVA et
al., 2018). Com base nessa situação, considera-se uma das atribuições do enfermeiro atuar
na promoção da saúde mental de pessoas e familiares, na transição de uma prática eminen-
temente hospitalar para outra que incorpora o reconhecimento do outro como ser humano.
Levando em consideração que a atenção básica constitui um plano privilegiado para
o cuidado das necessidades em saúde mental, o enfermeiro deve estar preparado para o
atendimento aos portadores de transtornos mentais, promovendo ações de inclusão do pa-
ciente nas diversas formas de organização do serviço e construindo espaços de reabilitação
psicossocial junto à família, o que poderá ocorrer à medida que forem se reformulando as
práticas de cuidado (WAIDMAN MAP, et al., 2012).
Tendo em vista a Atenção Básica como o primeiro nível de atenção ao usuário, propí-
cio para a prevenção e detecção precoce dos transtornos mentais devido ao vínculo com a
comunidade, e levando em consideração que o enfermeiro é o profissional de referência do
cuidado, esta revisão integrativa tem como objetivo geral: Analisar as evidências científicas
encontradas na literatura acerca da atuação da enfermagem em Saúde Mental na Atenção
Básica, e como objetivos específicos: Identificar o trabalho da enfermagem na assistência
em Saúde Mental na Atenção Básica e Verificar a atuação dos enfermeiros na promoção
de ações de saúde mental nesse nível de atenção.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura. Mendes et al. (2008) definem revisão
integrativa como um método de pesquisa que permite a síntese de múltiplos estudos publi-
cados e possibilita conclusões gerais a respeito de uma particular área de estudo.
Na construção desta revisão integrativa foram percorridas as seguintes etapas: defini-
ção do tema; elaboração da questão norteadora; estabelecimento dos critérios de inclusão
e exclusão; definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; análise
crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados; e apresentação da revisão integra-

26 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


tiva. Como orientação desse estudo, formulou-se a seguinte questão norteadora: Quais as
evidências científicas encontradas na literatura sobre a atuação da enfermagem em Saúde
Mental na Atenção Básica?
A busca dos artigos científicos tratando sobre a temática escolhida foi realizada entre
20 e 30 de maio de 2019. Para o levantamento dos artigos na literatura, realizou-se uma
busca nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciên-
cias da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Base de dados de
Enfermagem (BDENF). As estratégias de busca foram guiadas pelos termos retirados dos
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Os termos selecionados foram: Assistência de
Enfermagem, Saúde Mental, Atenção Primária à Saúde.
Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos em português, publicados e
indexados nas referidas bases de dados nos últimos dez anos (2008-2018), disponíveis na
íntegra, com acesso gratuito e relacionados à presente temática com foco na Enfermagem.
Os critérios de exclusão contemplaram todos os artigos que não eram pertinentes ao
tema da pesquisa, artigos de revisão, artigos publicados em outros idiomas, não gratuitos ou
que abrangessem outras categorias profissionais, pesquisas do tipo relato de experiência,
trabalhos de conclusão de curso de graduação, monografias, dissertações, teses e resumos
de eventos.
O cruzamento dos descritores resultou em um total de 53 artigos. Para a seleção dos
estudos, em um primeiro momento, foi realizada a leitura dos títulos resultando na seleção
de 16 publicações e posteriormente feita a análise crítica dos resumos. Após esse segundo
momento, constituiu-se a amostra final desta revisão integrativa com um total de 10 artigos.
O Quadro 1 apresenta o número de artigos selecionados nos dois momentos em cada base
de dados para se chegar à amostra final.

Quadro 1. Critérios para seleção dos artigos segundo bases de dados. Bacabal - MA, 2019.

Critério LILACS SCIELO BDENF


Total localizado 27 8 18
1º Momento: seleção pela leitura do título 6 5 5
2º Momento: seleção pela leitura do resumo 5 4 1
Total selecionado 10 artigos

Para a apresentação dos artigos selecionados, foram elaborados dois quadros: um


contendo título do artigo, autor, base de dados, periódico em que foi publicado e o ano; e
outro com os tipos de estudo, objetivos, resultados principais, conclusões/recomendações.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 27


RESULTADOS

No processo de busca nas bases de dados foram identificados 53 trabalhos. No en-


tanto, na presente revisão integrativa, analisou-se 10 artigos que atenderam aos critérios
de inclusão previamente estabelecidos, sendo cinco na base de dados LILACS, quatro na
SCIELO e um da BDENF.
Os dez artigos que constituem a amostra final desta revisão foram lidos na íntegra,
analisados quanto aos aspectos metodológicos e abordagem da temática levantada, e ca-
talogados no quadro a seguir.

Quadro 2. Análise dos artigos segundo título, autor, base de dados, periódico e ano de publicação. Bacabal - MA, 2019.

Nº Título do artigo Autor Base de dados Periódico Ano

Assistência de enfermagem às pessoas


Waidman MAP, et al. Acta Paulista de
1 com transtornos mentais e às famílias na LILACS 2012
Enfermagem
Atenção Básica.

Saúde mental e enfermagem na estratégia Revista da Esco-


2 saúde da família: como estão atuando os Ribeiro LM, et al. LILACS la de Enferma- 2012
enfermeiros? gem da USP

Revista Eletrôni-
O enfermeiro e as ações de saúde mental Caixeta CC e Mo-
3 LILACS ca de Enferma- 2008
nas unidades básicas de saúde. reno V
gem

Perfil dos enfermeiros da estratégia saúde


Gonçalves RMDA e Revista Ciência,
4 da família e suas habilidades para atuar LILACS 2009
Pedrosa LAK Cuidado e Saúde
na saúde mental.
As estratégias dos enfermeiros para o
Texto Contexto
5 cuidado em saúde mental no programa Amarante AL, et al. LILACS 2011
Enfermagem
saúde da família.
Saúde mental no trabalho do Enfermeiro
Revista Cubana
6 da Atenção Primária de um município no Silva APM, et al. SCIELO 2015
de Enfermería
Brasil
Revista Portu-
Promoção da saúde mental: Ações dos Gonçalves RMDA, guesa de Enfer-
7 SCIELO 2013
enfermeiros inseridos na atenção primária et al. magem de Saúde
Mental
Demandas de saúde mental: percepção
Acta Paulista de
8 de enfermeiros de equipes de saúde da Souza J e Luis MAV. SCIELO 2012
Enfermagem
família

Revista Eletrôni-
Consulta de enfermagem em saúde men-
9 Bolsoni EB, et al. SCIELO ca Saúde Mental 2015
tal na atenção primária em saúde
Álcool e Drogas

Revista da Rede
O trabalho de enfermagem em saúde de Enfermagem
10 Oliveira FB, et al. BDENF 2011
mental na Estratégia de Saúde da Família do Nordeste
(Rene)

28 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


A data de publicação dos artigos variou entre 2008 e 2015. Os estudos foram realiza-
dos com enfermeiros, sendo a maior parcela atuante na Estratégia Saúde da Família (ESF).
Dentre os trabalhos, os mais encontrados eram da região sudeste do Brasil (n=6), seguidos
de dois artigos da região nordeste e dois da região sul. Quanto à natureza metodológica,
a maioria dos estudos analisados era de abordagem qualitativa (n= 8), sendo apenas dois
artigos de abordagem quantitativa.
Tendo em vista os estudos selecionados, obtiveram-se algumas informações para
melhor sintetizar a temática, proporcionando a melhor compreensão do tipo de estudo, seus
objetivos, resultados principais e conclusões/recomendações.

Quadro 3. Análise dos artigos segundo tipo de estudo, objetivos, resultados principais e conclusões/recomendações.
Bacabal - MA, 2019.

Nº Tipos de estudo Objetivos Resultados principais Conclusões/

Conhecer como os enfer-


meiros que atuam na ESF
Exploratório-descritivo, Os enfermeiros não se sentem
percebem sua capacitação Não existem atividades
com abordagem quali- capacitados e as atividades de
1 para assistir a pessoa com voltadas à promoção da
tativa. saúde mental se restringem às
transtorno mental e sua família saúde mental.
ações da própria rotina da UBS.
e identificar as atividades
desenvolvidas por eles.
Descrever as atividades
voltadas para a atenção ao
Não há atividades para o portador
portador de transtorno mental
Analítico, com aborda- de transtorno mental na rede É preciso haver qualifica-
2 na ESF e identificar se os
gem qualitativa. básica, e há falta de capacitação ção profissional.
profissionais estão preparados
dos enfermeiros.
para atender a essa clientela
específica.
Não existe um atendimento
específico em saúde mental. É necessária capacita-
Apreender como os enfer-
Qualitativo descritivo/ As atividades se restringem ao ção e é fundamental o
meiros de unidades básicas
3 exploratório. encaminhamento ao serviço estabelecimento de uma
reconhecem as ações de
especializado em saúde mental interface com as ações
saúde mental.
e orientações sobre o uso da dirigidas à saúde mental.
medicação psiquiátrica.
Descrever o perfil sociode- Para a integralidade da
mográfico dos enfermeiros da A maioria dos enfermeiros se sen- atenção básica, refor-
Quantitativo de caráter
4 ESF e identificar suas habi- te despreparada para lidar com a ça-se a importância de
descritivo e transversal.
lidades para atuar na saúde saúde mental na ESF. desenvolver aperfeiço-
mental. amento em saúde mental.

Ações específicas não


Há dificuldade de identificar a
são planejadas, mas exis-
atenção em saúde mental como
tem estratégias indiretas
parte da operacionalização das
Descrever as estratégias de atenção à saúde
ações no cotidiano da ESF. Os
utilizadas pelos “enfermeiros mental.
Descritivo, com aborda- enfermeiros não sabem detectar
5 da família” no cuidado com O enfermeiro deve buscar
gem qualitativa. problemas mentais, perceben-
pacientes em sofrimento na multidisciplinaridade
do-se seu desconhecimento e
psíquico. a ampliação do nível de
preconceito na assistência ao
saúde das pessoas com
portador de transtorno mental.
problemas psíquicos.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 29


Compreender como se
É preciso maior prepara-
desenvolve a preparação e Os enfermeiros relataram que se
ção dos enfermeiros na
qual o conhecimento que os sentiam preparados para lidar
área de saúde mental, a
enfermeiros que atuam na com seus pacientes e que conhe-
6 Qualitativo exploratório. fim de proporcionar aten-
ESF apresentam sobre Saúde ciam os principais transtornos,
dimento resolutivo aos
Mental para atendimento a mas poucos foram capazes de
pacientes que demandam
pacientes com transtornos detalhar esse conhecimento.
tais cuidados.
psíquicos.
É importante reforçar a
Descrever as ações dos enfer- necessidade do aper-
A maior parcela dos enfermeiros
meiros na promoção em saúde feiçoamento na área
7 Quantitativo se sente despreparada para lidar
mental inseridos na atenção de saúde mental, com
com a saúde mental na ESF.
primária. propostas de educação
permanente.
Não existe um projeto te-
rapêutico específico para
A falta de indicadores no Sistema o atendimento/ acolhi-
Descrever como são identifica-
de Informações da Atenção Bá- mento e acompanhamen-
das e acolhidas as necessi-
Exploratório-descritivo, sica (SIAB) afeta o planejamento to da demanda na área
dades de saúde mental por
8 com abordagem quali- das ações de saúde mental e que de saúde mental.
equipes de saúde da família,
tativa. outras doenças crônicas, como Reconhece-se a ne-
conforme a concepção de
diabetes e hipertensão, são priori- cessidade de educação
enfermeiros.
tárias para as equipes. permanente para ampliar
a clínica das ações na
atenção primária.
A relação entre a atenção
primária e a saúde
Os enfermeiros consideraram mental propõe que o
Compreender a importância a consulta de enfermagem em cuidado seja relacional
Descritivo com aborda- da consulta de enfermagem saúde mental como importante e colaborativo. Porém,
9
gem qualitativa. em saúde mental na Atenção instrumento para o acompanha- há uma fragilidade dos
Primária à Saúde. mento longitudinal da pessoa com enfermeiros em aponta-
transtorno mental. rem saberes que possam
ampliar o conhecimento
nessa área.
As concepções do processo saú-
de-doença mental estiveram fun-
Identificar os cuidados ofe-
damentadas no modelo biológico. A falta de interação entre
recidos pelas enfermeiras da
A visita domiciliar, o encaminha- a ESF e os serviços de
ESF frente às necessidades
Exploratório-descritivo, mento para os serviços de saúde referência em saúde
de saúde mental e avaliar
10 com abordagem quali- mental especializados e a orienta- mental é vista como um
se estes se encontravam
tativa. ção aos agentes comunitários de grande desafio a ser
fundamentados nas noções de
saúde para a realização de busca superado.
integralidade, acolhimento/vín-
ativa são as únicas ações de
culo e escuta do sujeito.
enfermagem desenvolvidas nesta
modalidade de atenção.

DISCUSSÃO

Na sequência da análise das evidências científicas encontradas, considerou-se rele-


vante agrupar as publicações por similaridade dos temas, de modo a sintetizar os resultados
encontrados em um padrão compreensível dos conteúdos enfocados nos estudos.
Os dados relevantes encontrados na amostra foram agrupados em duas temáticas: os
desafios para a atuação dos enfermeiros em Saúde Mental na Atenção Básica e as ações

30 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de enfermagem no cuidado ao portador de transtorno mental nesse nível de atenção.

- Os desafios para a atuação dos enfermeiros em Saúde Mental na Atenção Básica

A partir da análise das produções científicas, foi possível verificar um aspecto negativo
quanto à habilidade dos enfermeiros para atuar em saúde mental. Grande parte desses pro-
fissionais se sente despreparada para trabalhar nessa área na atenção primária, ou mesmo
os que diziam se sentir preparados para lidar com esses pacientes, poucos foram capazes
de detalhar esse conhecimento. Segundo Gonçalves et al. (2013), entre os principais moti-
vos destacam-se a inexperiência, insegurança, falta de conhecimento adequado, formação
ineficiente, falta de cursos de aperfeiçoamento e capacitação, dificuldade na abordagem e
orientação ao portador de transtorno mental. Esses fatores impedem o desenvolvimento
de uma assistência de qualidade e de ações de cuidado voltadas à pessoa com transtorno
mental (WAIDMAN et al., 2012).
Apesar dos estudos apontarem que os enfermeiros enfrentam dificuldades para traba-
lhar com aspectos relacionados à saúde mental na atenção básica, não se pode esquecer
que a necessidade de atendimento do indivíduo com transtorno mental juntamente com
sua família é uma realidade. Diante desse contexto, para superar os obstáculos e limita-
ções encontrados na relação saúde mental/atenção básica, é necessária uma formação e
qualificação apropriada por parte do enfermeiro, com interesse e comprometimento com a
qualidade em saúde mental (GONÇALVES e PEDROSA, 2009).
Nessa perspectiva, a formação dos enfermeiros deve estar pautada nos princípios da
Reforma Psiquiátrica e do SUS desde a graduação, de forma a atender a demanda em con-
formidade com as políticas de saúde, de forma digna e humanizada (AZEVEDO et al., 2014).

- As ações de enfermagem no cuidado ao portador de transtorno mental na Atenção


Básica

Os estudos pesquisados mostram que não existem atividades específicas voltadas


à promoção da saúde mental, de modo que a assistência de enfermagem se restringe às
ações da própria rotina das unidades básicas de saúde. As ações de enfermagem priori-
zadas nesse âmbito são: controle do portador de transtorno mental nos momentos de crise
através do aconselhamento, o encaminhamento ao serviço especializado em saúde mental
e orientações sobre o uso da medicação psiquiátrica (CAIXETA e MORENO, 2008).
Apesar das mudanças propostas pela Reforma Psiquiátrica e dos esforços em integrar
socialmente o indivíduo com transtorno mental, ainda predomina a tendência terapêutica que
privilegia a medicalização do doente, procurando aliviar os sintomas (CAIXETA e MORENO,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 31


2008). Como afirmam Ribeiro et al. (2010), com o despreparo dos enfermeiros para atuar
em saúde mental há a transcrição de medicação sem a devida avaliação clínica, o que leva
à dependência de psicofármacos por parte da pessoa com transtorno mental e, consequen-
temente, limita o cuidado oferecido aos métodos psiquiátricos tradicionais.
Constata-se através desta pesquisa, que a situação não condiz com as diretrizes esta-
belecidas pela Política Nacional de Saúde Mental, que propõe a transformação da assistência
psiquiátrica tradicional em uma atenção aos aspectos psicossociais do sujeito, de modo a
favorecer o processo de inserção social do portador de transtorno mental (BRASIL, 2001).
Dessa forma, para mudar essa realidade, o enfermeiro precisa conhecer as diretrizes da
Reforma Psiquiátrica e estar capacitado para trabalhar com a pessoa com transtorno mental
(WAIDMAN et al., 2012). Segundo Ribeiro et al. (2010), apesar das barreiras enfrentadas
por esses profissionais, as práticas de saúde mental na atenção básica são alicerçadas no
vínculo, na corresponsabilidade, no envolvimento e conhecimento do grupo familiar. O que
se mostra necessário, portanto, é a maior preparação dos enfermeiros nessa área, a fim de
proporcionar atendimento resolutivo aos pacientes que demandam tais cuidados.

CONCLUSÃO

Esta revisão integrativa evidenciou que os enfermeiros, em sua maioria, não se sentem
capacitados para lidar com pessoas portadoras de transtornos mentais. Essa condição jus-
tifica, em grande parte, porque não são promovidas ações específicas em saúde mental na
atenção básica, estando elas restritas às ações da própria rotina da UBS. Foi evidenciado
nos estudos analisados que, apesar das dificuldades enfrentadas, os enfermeiros atuantes
na atenção primária reconhecem a necessidade de educação permanente e continuada no
âmbito da saúde mental para a integralidade da assistência e, sobretudo, para a criação de
projetos terapêuticos singulares na disposição de novos modos de cuidar.
Pensando-se na ampliação da atuação do enfermeiro vinculado à atenção básica, é
imprescindível incluir em sua prática ações de saúde mental na busca da integralidade da
atenção à pessoa com transtorno mental e no apoio à família. Para isso, torna-se neces-
sário que haja desde a graduação preocupação com este aspecto da formação, além da
instrumentalização dos enfermeiros já inseridos na atenção primária, através de capacitação
e utilização de uma metodologia problematizadora que busque articular os saberes produ-
zidos no cotidiano dos serviços com o conhecimento científico. Diante disso, visa-se maior
interação com a comunidade que procura o serviço básico e a implementação de técnicas
mais eficazes envolvendo a Saúde Mental.
Espera-se, com este estudo, incentivar os futuros profissionais enfermeiros e os que
já atuam na Atenção Básica a realizarem pesquisas quanto a essa temática a fim de res-

32 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


paldarem sua prática com maior nível de evidência, o que consequentemente irá contribuir
para a elaboração e a implementação de novas ações que ampliem as atividades em saúde
mental no cuidado às pessoas com transtornos mentais nesse nível de atenção.

REFERÊNCIAS

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necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília (DF) 2011. Disponível
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt3088_23_12_2011_rep.html. Acesso
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Acesso em: 20 mai.2019.

34 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


03
“ A atuação da terapia ocupacional
na atenção básica de saúde: uma
revisão integrativa da literatura

Alesson da Silva Lobato


UFPA

Elson Ferreira Costa


UEPA

Edilson Sampaio
UNAMA

Luísa Sousa Monteiro Oliveira

Manuela Lima Carvalho da Rocha


UFPA

10.37885/200700776
RESUMO

Introdução: A Atenção Básica é o nível primário de atenção à saúde que oferece entrada
em todo o sistema nacional, para atender as necessidades da população, de forma a
organizar, tanto os serviços básicos quanto os mais especializados, direcionados para
a promoção, manutenção e melhoria da saúde. Diante disso, a Terapia Ocupacional se
mostra uma profissão de suma importância neste serviço por suas ações contribuírem
para a prevenção de doenças/agravos e favorecimento da promoção de saúde. Objetivo:
analisar a atuação da Terapia Ocupacional na Atenção Básica através de uma revisão
integrativa da literatura. Método: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, através
das bases de dados: Portal de Periódicos da CAPES, Revista de Terapia Ocupacional da
USP, Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional e Cadernos Brasileiros
de Terapia Ocupacional. Os estudos foram analisados pelo teste de relevância I e II, os
dados foram processados no software IRAMUTEQ e analisados pela nuvem de palavras e
similitude. Resultados/Discussão: A amostra foi composta por 25 estudos, que apontam
que a Terapia Ocupacional na AB deve atuar junto a população com características de
sofrimento mental, deficiências e incapacidades, objetivando intervir na singularidade e
subjetividade do sujeito, sendo que o terapeuta ocupacional apresenta elementos em
sua formação que podem efetivamente contribuir para melhorar a saúde da população.
Ressalta-se ainda a importância de novas publicações a que venha contribuir com a
comunidade cientifica.

Palavras-chave: Terapia ocupacional; Atenção Primária à Saúde; Revisão por Pares.


INTRODUÇÃO

O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro vem sendo construído a partir de um


processo histórico, político e social. Neste contexto, a Política Nacional de Atenção Bási-
ca propõe ações que preconizem a prevenção, recuperação e reabilitação de doenças e
agravos, as quais devem ser ancoradas nos pressupostos de integralidade e qualidade a
assistência, equidade e participação social1. Dessa forma, a Atenção Básica a Saúde (ABS)
é caracterizada como “porta de entrada” nesse sistema para as necessidades de saúde da
população, nos âmbitos individual e coletivo1.
Diante disso, o Ministério da Saúde, criou em 1994, o Programa de Saúde da Família
(PSF), tendo como objetivo identificar as demandas individuais e grupais, e visando o cuida-
do integrado e contínuo. Em 2006 o PSF transformou-se em Estratégia Saúde da Família.
Nessa direção, com o objetivo de expandir e melhorar a atenção, em 2008 foram criados
os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), atualmente Núcleo Ampliado de Saúde
da Família (NASF-AB), constituídos de equipes compostas por profissionais de diferentes
áreas de conhecimento, sobretudo de Terapia Ocupacional, para atuar em conjunto com os
profissionais das ESF2.
A Terapia Ocupacional é definida como o uso terapêutico de atividades diárias ou
ocupações, em indivíduos ou grupos, com o propósito de melhorar ou possibilitar a parti-
cipação em papéis, hábitos e rotinas em diversos ambientes3. Dessa maneira, o terapeuta
ocupacional é um profissional com direto ao título da especialidade profissional em Saúde
da Família, e pode realizar diversas ações nesse campo, a fim de analisar o desempenho
ocupacional e promover a saúde, a independência e autonomia do usuário4. Considera-se,
portanto, que este profissional é importante nas estratégias que atuam diretamente na co-
munidade e em seu cotidiano. Dessa maneira, torna-se relevante discutir as potencialidades
desta profissão na ABS, para uma maior compreensão do processo terapêutico ocupacional
nesse campo e para se legitimar cada vez mais neste campo de atuação. Diante disso, este
estudo objetivou analisar a atuação da Terapia Ocupacional na Atenção Básica, através de
uma revisão integrativa da literatura.

MÉTODO

Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura, com protocolo formado por seis
etapas distintas para a sua elaboração, a saber: identificação do tema; estabelecimento dos
critérios para inclusão e exclusão dos estudos; definição das informações a serem extraídas
dos estudos selecionados; avaliação dos estudos selecionados; elaboração dos resultados; e
por fim, a síntese dos conhecimentos5. Além disso, para melhor rigor metodológico também

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 37


foram aplicados critérios estabelecidos pelo protocolo PRISMA. Este estabelece 27 critérios
que devem ser observados para estabelecer a relevância de uma pesquisa e auxiliar no
aprimoramento dos resultados6.

Descritores

Os descritores utilizados na busca eletrônica foram: “terapia ocupacional”, “terapeuta


ocupacional”, “atenção básica”, “atenção primária à saúde”, “estratégia saúde da família”,
“programa de saúde da família”, “núcleo de apoio à saúde da família”, “núcleo ampliado à
saúde da família”, “consultório na rua”, "unidade básica de saúde", "casa família" e "política
nacional de atenção básica" cruzados entre si.

Critérios para inclusão dos estudos

Utilizou-se como critérios de inclusão: estudos nacionais, publicados em qualquer


idioma; entre os anos de 2008 e 2018, e disponíveis na íntegra para recuperação. Dessa
forma, foram excluídas publicações que por quaisquer motivos não estivessem de acordo
com os objetivos dessa pesquisa, além de estudos que não fossem originais como os de
revisão de literatura.

Busca eletrônica

O período de coleta de dados ocorreu nos meses de setembro a dezembro de 2018,


com busca direta no Portal Periódico da CAPES. Além disso, foram feitas buscas nos pe-
riódicos específicos da Terapia Ocupacional, a saber, Revista de Terapia Ocupacional da
USP, Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional (REVISBRATO) e Cadernos
Brasileiros de Terapia Ocupacional. Ressalta-se que estas três revistas estão contidas no
Portal CAPES, porém esta estratégia foi utilizada para evitar possíveis perdas de documentos.

Seleção dos estudos

A seleção dos estudos, inicialmente aconteceu a partir da leitura do título, seguida


leitura dos resumos, e recuperação em texto completo. Em seguida, realizou-se avaliação
detalhada das publicações, por dois pesquisadores, a partir da leitura na íntegra, e de acor-
do com os Testes de Relevância I e II de Azevedo7. Assim, foram inseridos na pesquisa os
estudos que apresentaram resultado positivo para no mínimo quatro das cinco questões
estabelecidas no Teste I e as quatro do Teste II. Após a aplicação dos Testes de Relevância
I e II, as publicações foram analisadas criticamente e os dados foram coletados pelo Roteiro

38 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de extração dos dados, ilustrado na Figura1, segundo da proposta de Azevedo7.

Figura 1. Teste de Relevância I e II e Roteiro para extração dos dados

Análise dos estudos: IRAMUTEQ

Após a extração dos dados foi elaborado um documento denominado de corpus textual,
o qual contém uma síntese dos resultados dos artigos. Este foi posteriormente analisado
pelo software Interface de R Pourles Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Ques-
tionnaires (IRAMUTEQ). Dessa maneira, foram realizadas análises a partir das categorias
semânticas que emergiram do processamento de dados lexicais, como a Nuvem de Palavras,
Grafo de Similitude e Classificação Hierárquica Descendente (CHD)8.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 39


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização dos estudos

Inicialmente, foram localizadas 190 publicações, das quais 110 foram excluídas pela
análise de título e resumo, restando 45 publicações. A aplicação dos testes de Relevância
desencadeou a exclusão de 20 trabalhos. Portanto, a amostra final foi composta por 25
artigos, conforme Figura 2.

Figura 2. Fluxograma de resultados da seleção dos estudos incluídos na revisão integrativa.

A Tabela 1 apresenta características dos estudos como autor e ano, local que ocorreu
a pesquisa, periódico publicado, objetos e principais resultados.

Tabela 1. Apresentação dos estudos selecionados




Autor Periódico Título
Revista de Terapia Ocupacio- Reflexões sobre a atenção às crianças com
1 Schaik, Souza; Rocha9
nal da USP deficiência na atenção primária à saúde
Ressignificando vidas: reflexões acerca da
construção do cuidado em saúde do consultó-
2 Silva; Tekeiti; Machado10 REVISBRATO
rio na rua (CNAR) - contribuições da Terapia
Ocupacional.
Saúde e redes vivas de cuidado integral na
3 Ferreira; Costa11 REVISBRATO atenção básica: articulando ações estratégicas
no território.
A formação do Terapeuta Ocupacional com
Revista de Terapia Ocupacio-
4 Campos; Barba; Martinez12 ênfase na atenção básica em saúde: o ponto
nal da USP
de vista de docentes.
Reflexões sobre a prática do residente terapeu-
Revista de Terapia Ocupacio-
5 Manho; Soares; Nicolau13 ta ocupacional na estratégia saúde da família
nal da USP
no município de São Carlos.

40 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Revista de Terapia Ocupacio- Terapia Ocupacional na Atenção Básica: a
6 Pimentel; Costa; Souza14
nal da USP construção de uma prática.
Terapia Ocupacional na atenção primária à
7 Folha; Monteiro15 REVISBRATO saúde do escolar visando a inclusão escolar de
crianças com dificuldades de aprendizagem.
Cadernos Brasileiros de Tera- Cuidados paliativos na atenção domiciliar: a
8 Portela; Galheigo16
pia Ocupacional perspectiva de terapeutas ocupacionais.
Concepções da equipe de saúde da família so-
9 Marinho; Barros17 REVISBRATO bre a atenção prestada aos usuários de álcool
e outras drogas.
Núcleo de Apoio à Saúde da Família e Saúde
Bertagnoni; Marques; Muramo- Revista de Terapia Ocupacio- Mental: itinerários terapêuticos de usuários
10
to; Mângia18 nal da USP acompanhados em duas Unidades Básicas de
Saúde.
Diagnóstico situacional de pessoas com defici-
Cadernos Brasileiros de Tera-
11 Rodrigues; Aoki; Oliver19 ência acompanhadas em terapia ocupacional
pia Ocupacional
em uma unidade básica de saúde.
A Terapia Ocupacional em um processo de ca-
Della Barba; Barros; Luiz; Fa- Cadernos Brasileiros de Tera-
12 pacitação sobre vigilância do desenvolvimento
rias; Aniceto; Miyamoto20 pia Ocupacional
infantil na atenção básica em saúde.
Comunidade de prática em terapia ocupacional
Marcolino; Fantinatti; Gozzi; Cadernos Brasileiros de Tera-
13 para o cuidado em saúde mental na atenção
Cid21 pia Ocupacional
básica em saúde: expectativas e impactos.
Ferreira; Carrijo; Silva; Ramos; Contribuições do esporte adaptado: reflexões
14 REVISBRATO
Carneiro22 da terapia ocupacional para a área da saúde.
Terapia Ocupacional em reabilitação na
Revista de Terapia Ocupacio-
15 Rocha; Souza23 Atenção Primária à Saúde: possibilidades e
nal da USP
desafios.
A Terapia Ocupacional na Estratégia de Saúde
Cadernos Brasileiros de Tera-
16 Jardim; Afonso; Pires24 da Família – evidências de um estudo de caso
pia Ocupacional
no município de São Paulo.
A atenção domiciliar como estratégia para
Revista de Terapia Ocupacio-
17 Ferreira; Oliver25 ampliação das relações de convivência de
nal da USP
pessoas com deficiências físicas.
Terapia ocupacional e atuação em contextos de
Cadernos Brasileiros de Tera- vulnerabilidade social: distinções e proximida-
18 Malfitano; Bianchi26
pia Ocupacional des entre a área social e o campo de atenção
básica em saúde.
Cadernos Brasileiros de Tera- Terapeutas ocupacionais na gestão da atenção
19 Furlan; Oliveira27
pia Ocupacional básica à saúde.
Experiência da Terapia Ocupacional no cuidado
Cadernos Brasileiros de Tera-
20 Baissi; Maxta28 familiar em um serviço de Atenção Primária em
pia Ocupacional
Saúde.
Cadernos Brasileiros de Tera- Terapia ocupacional na Atenção Primária à
21 Rocha; Paiva; Oliveira29
pia Ocupacional Saúde: atribuições, ações e tecnologias.
Experiências da terapia ocupacional em um
Araújo; Alves; Lima; Santos; Revista Eletrônica Gestão &
22 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do
Gallassi30 Saúde
Distrito Federal.
Oficinas de teatro como recurso terapêutico
Revista Terapia Ocupacional
23 Silva; Raccioni31 ocupacional em um serviço residencial tera-
USP
pêutico.
Terapia ocupacional no núcleo de apoio à saú-
24 Onório; Silva; Bezerra32 REVISBRATO de da família: um olhar para a especificidade
da profissão no contexto interdisciplinar.
Experiência de um estágio curricular em Tera-
Ruas; Leite; Akerman; Galiar-
25 Revista ABCS Health Sciences pia Ocupacional na atenção primária: foco nas
do33
necessidades em saúde infantil.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 41


 Em relação ao ano de publicação, observou-se que a maioria dos artigos foram publi-
cados nos anos de 2017 (24%), 2013 (20%) e 2015 (16%). Por isso, considera-se eu houve
uma crescente de publicações nos últimos anos, o que destaca o aumento no interesse de
pesquisadores em investigar sobre a Atenção Básica.

Análise Textual

Nuvem de Palavras

O processo de análise pela Nuvem de Palavras agrupa o corpus textual e as organiza


as palavras de forma aleatória, gerando um gráfico a partir das frequências. Neste, quanto
maior o tamanho da palavra, maior a sua representatividade no texto. Nesse sentido, na Fi-
gura 3, as palavras mais evocadas foram: Saúde (N=61), Ação (N=50), Terapia Ocupacional
(N=50), Profissional (N=38) e Atenção Básica (N=32), respectivamente. Dessa maneira, a
Nuvem de Palavras apresentou um apanhado sobre os conteúdos dos artigos desta revisão.

Figura 3. Nuvem de palavras e Grafo de Similitude.

Análise de Similitude

Esta análise baseia-se na teoria dos grafos, através dela é possível identificar as ocor-
rências entre as palavras e a indicação de conexão entre elas, verificada por meio da espes-
sura dos troncos que as ligam, o que auxilia na identificação do conteúdo do corpus textual.
Assim, com base na figura 4, observa-se que os eixos Saúde, Ação e Terapia Ocupacional
se ligam expressivamente. Esses três eixos são conectados a diversos outros termos que
formam núcleos temáticos. Por exemplo, o núcleo formado a partir da palavra Profissional
agrupa termos como formação (formação profissional), NASF, referência (profissional de
referência), vínculo (vínculo profissional), os quais interagem entre si. Já no núcleo Terapia
Ocupacional, nota-se termos que condizem com áreas de cuidado como saúde mental e

42 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


consultório de rua, termos que remetem ao ensino como educação, estágio e universidade,
e termos que se referem à intervenção como atividade, participação e integralidade. Res-
salta-se que tais núcleos serão discutidos na próxima sessão.

Classificação Hierárquica Descendente (CHD)

Essa análise permite que as palavras sejam agrupadas e organizadas graficamente


e textualmente de acordo com a sua frequência e agrupadas em classes. O corpus textual
deste estudo foi formado por 25 textos, separados em 220 segmentos de texto (ST), com
aproveitamento 168 ST (76,36%). Isso significa que emergiram 7.811 ocorrências (palavras,
formas ou vocábulos), sendo 1.336 palavras distintas e 126 com uma única ocorrência. O
conteúdo analisado foi categorizado em três classes: Classe 1, com 43 ST (26,5%); Classe
2, com 53 ST (31,5%); Classe 3, com 72 ST (42,83%), conforme Figura 4.
Ressalta-se que as três classes foram divididas em duas ramificações (A e B). O ramo
A é composto pela Classe 3 (Objetivos da Terapia Ocupacional), já o ramo B, contém os
textos correspondentes à Classe 1 (Olhar da Terapia Ocupacional) e a Classe 2 (Ações da
Terapia Ocupacional). Ressalta-se que as palavras ilustradas abaixo das classes represen-
tam as mais citadas nos estratos.

Figura 4. Classificação Hierárquica Descendente

Objetivos da Terapia Ocupacional na Atenção Básica

Quanto a categoria objetivos da Terapia Ocupacional na Atenção Básica, observou-se


que tais objetivos se aglomeraram em 3 grupos que tratam, respectivamente, da atenção à

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 43


pessoa com deficiência, atenção em saúde mental e a formação acadêmica. Em relação ao
grupo atenção à pessoa com deficiência destacam-se os seguintes objetivos:

Narrar uma experiência de atendimento em grupo, de crianças com alterações


no desenvolvimento e/ou deficiências, por profissionais da Terapia Ocupacio-
nal(Artigo 1).

Analisar diagnóstico situacional de adultos com deficiência, identificados por


uma Unidade Básica de Saúde (Artigo 11).

Discutir a importância das relações de convivência das pessoas com deficiência


e da atenção domiciliar (...) (Artigo 17).

A partir desses objetivos, considera-se que compete ao terapeuta ocupacional na


atenção a pessoa com deficiência, sobretudo, na Atenção Básica, auxiliar o indivíduo a res-
taurar o desempenho ocupacional. Para tanto, este profissional pode utilizar de adaptações
da tarefa e do ambiente e de treino de novas habilidades24. Essas premissas puderam ser
identificadas principalmente nos artigos 1 e 17.
De acordo com a revisão de literatura proposta por Bezerra, Alves e Maia34, a garantia
de qualidade e de acesso aos serviços pelas pessoas com deficiência na Atenção Básica
tem ocorrido em meio a muitas dificuldades, sendo necessárias políticas de educação per-
manente e de infraestrutura que visem melhorar as condições físicas, atitudinais e educa-
cionais dos serviços.
Neste sentido, a Terapia Ocupacional na ABS, pode considerar a reabilitação em seu
sentido mais amplo, e desenvolver, a partir do cotidiano do indivíduo, ações práticas e mu-
danças adaptativas que tem como alvo a promoção da autonomia funcional. Dessa maneira, a
atenção a pessoa com deficiência constitui-se como um campo fértil para o desenvolvimento
de práticas de atenção à saúde da pessoa com deficiência34.

Quanto ao grupo de objetivos referentes atenção em saúde mental, desta-


cam-se:
Problematizar as ações de saúde mental desenvolvidas na Atenção Básica(...)
(Artigo 3).

Conhecer as concepções da equipe da USB(...) em relação à atenção em


saúde prestada aos usuários de álcool e outras drogas (Artigo 9).

Conhecer os itinerários terapêuticos de sujeitos com transtorno mental grave


acompanhados em ações de saúde mental na ABS(...) (Artigo 10).

A partir desses objetivos, considera-se que a Terapia Ocupacional na ABS, deve atuar
junto a população com características de sofrimento psíquico, objetivando sua intervenção
na singularidade e subjetividade do sujeito, na perspectiva da comunidade, cultura e do
território23. O Terapeuta Ocupacional é um dos profissionais capacitados para acompanhar

44 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


e oferecer matriciamento em Saúde Mental no âmbito da Atenção Básica 36. Entretanto,
Marcolino et al.21 colocam que neste campo de atuação profissional ainda perpassam ques-
tionamentos acerca das demandas formativas do TO, tanto na formação inicial quanto na
continuada. Assim, os terapeutas ocupacionais que atuam nesse contexto buscam saberes
de diferentes campos de conhecimento, sendo necessárias ainda, pesquisas que contribu-
am para compreensão das particularidades da prática de Terapia Ocupacional na ABS, em
especial quando o cuidado se dá em ações de fomento à saúde mental.
Por fim, o grupo que se refere formação acadêmica na Atenção Básica.

Descrever possíveis impactos na formação do graduando em Terapia Ocupa-


cional, a partir de sua inserção no contexto do SUS (...) (Artigo 4).

Refletir sobre a prática e inserção dos residentes concluintes de Terapia Ocu-


pacional nas Unidades de Saúde da Família (...) (Artigo 5).

Apresentar uma experiência de estágio curricular de Terapia Ocupacional na


ABS, sua fundamentação, metodologia de ação e resultados preliminares
(Artigo 6).

Apresentar uma experiência de estagiários do quarto ano de Terapia Ocupa-


cional em uma USB (Artigo 25).

De acordo com Oliveira et al.37 a construção do entendimento de competência profis-


sional é um processo difícil e que pode levar tempo. Está relacionada ainda, com a formação
inicial vinculada a um contexto de aprendizagem formal e ao processo de formação conti-
nuada. Esta percepção também é influenciada pelos processos de aprendizagem informal,
pelo ambiente organizacional do campo de atuação e pela própria prática profissional37.
Assim, o olhar dos estudantes e a estrutura curricular deve contemplar disciplinas que
possibilitem a formação para a atuação na ABS. Entretanto, a preparação teórica e prática
ainda tem sido insuficiente para possibilitar uma atuação com segurança nesta área. Isto
pode ser explicado pelo fato de que, no treinamento prático tradicional, o ensino em saúde
segrega teoria e prática, fragmentando o aprendizado38,39. Assim, muitos acadêmicos dos
cursos de graduação da que atuam em prática da ABS, sentem necessidade que ocorra
alguma mudança na estrutura curricular de seus cursos para que haja uma melhor formação
do profissional que irá atuar no SUS40.
No que trata especificamente da TO, as Diretrizes Curriculares Nacionais de Terapia
Ocupacional e as Políticas de formação de profissionais de saúde para o SUS (Pró-Saúde,
Pet-Saúde, Ver-SUS, residências multiprofissionais), tem direcionado para a necessidade
de uma formação voltada para o contexto do SUS, a partir das realidades locais, em servi-
ços de diferentes níveis de atenção, sobretudo na ABS. Dessa maneira, se faz necessário
que os acadêmicos vivenciem na sua formação ações como a formação na tríade ensino,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 45


pesquisa e extensão, e que vivencie práticas oportunizem a aprendizagem de estratégias
de atuação, cuidado, e comunicação com os serviços da ABS41.

Ações da Terapia Ocupacional na Atenção Básica a Saúde

A segunda classe gerada pelo IRAMUTEQ refere-se às ações de Terapia Ocupacional


na ABS e foram divididas em dois grupos, o primeiro trata das ações específicas da TO:

O TO busca possibilidades através da realização de atividades significati-


vas (...) a TO compreende a promoção da saúde com base no desempenho
ocupacional dos usuários e nas suas ocupações significativas nos diferentes
contextos que eles estão inseridos (Artigo 2).

As intervenções visavam a melhorias funcionais necessárias para a conquista


de um objetivo maior que era a participação comunitária e a construção de
projetos de vida (Artigo 6).

A intervenção TO deverá estar centrada em ações que favoreçam a participa-


ção social dos indivíduos do território, do ponto de vista individual, familiar e
coletivo. (...) podem-se destacar a prescrição, confecção, orientação e treino
de equipamentos de ajuda e de tecnologias assistivas; a construção de pro-
jetos de vida; a ressignificação da relação do homem com a ocupação e com
o meio; a reorganização do cotidiano; a orientação, treino e habilitação para
a realização das AVD (Artigo 21).

A partir dos excertos acima observa-se que as principais ações de Terapia Ocupacional
na ABS são condizentes com a de outros estudos28,42,43. No estudo de Neves e Oliveira43
foi verificado que são várias as atividades e potencialidades que os profissionais de saúde
envolvidos na ABS podem desenvolver, tanto em ações coletivas quanto individuais, tais
como atendimentos ambulatoriais, visitas domiciliares, grupos educativos, planejamentos
e reuniões. Já, o estudo de Cabral e Belgrada42 identificou que o terapeuta ocupacional na
ABS pode atuar por meio de ações em grupos e oficinas terapêuticas, visitas domiciliares
e o apoio matricial. Por fim, o estudo de Bassi et al.28 acrescenta que o tipo de assistência
de Terapia Ocupacional que tem sido ofertada no âmbito da ABS tem a finalidade de pro-
porcionar autonomia e a inserção social das pessoas. Destaca-se que tais ações puderam
ser visualizadas nos dados deste estudo. Ressalta-se que todas essas ações e estratégias
foram mencionadas nos estratos acima.
Assim, ao observar os resultados, identifica-se que as ações de prevenção e promoção
da saúde são uma das principais estratégias utilizadas. Tais ações são de grande importância,
e devem estar nas propostas de todos os profissionais envolvidos na ABS13. Dessa manei-
ra, o estudo de Baissi et al. 28
identificou que uma das propostas da Terapia Ocupacional
no Estratégia Saúde da Família é justamente a realização de atividades de Educação em
Saúde que visem os aspectos de prevenção a doenças e agravos e promoção da saúde.

46 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


A segunda categoria de análise desta sessão se refere as ações de Terapia Ocupacional
integradas a equipe multi ou interdisciplinar na ABS, foram destacados os seguintes trechos:

Na relação com os outros profissionais, a TO pode promover diversas ações de


matriciamento com temas relacionados ao desempenho funcional nas ativida-
des da vida cotidiana, participação, independência e autonomia, possibilidades
de intervenção no domicilio, na comunidade, entre outros(Artigo 15).

Na perspectiva da interdisciplinaridade, é possível planejar as atividades que


a TO deverá desenvolver no que se refere às contribuições específicas das
tecnologias da profissão nos cuidados em saúde e projetos terapêuticos sin-
gulares (Artigo 21).

O papel do terapeuta ocupacional neste contexto interdisciplinar também se


caracteriza pelo diagnóstico e intervenção em serviços, domicílios e comunida-
de, em fatores que possam gerar dificuldades no desempenho das atividades
cotidianas ou na participação social (Artigo 24).

A partir dos estratos acima, ficou nítida a importância da atuação conjunta do terapeuta
ocupacional com os demais membros da equipe interdisciplinar, sendo que este trabalho
em equipe é uma das formas de colocar em prática ações especificas da TO. Nessa pers-
pectiva, Manho, Soares e Nicolau13 estabelecem que o trabalho em conjunto da equipe de
referência na rede de atenção é de extrema importância para o favorecimento da autonomia
dos usuários que necessitam de atendimentos da Atenção Básica.
Para Rocha e Sousa23, os terapeutas ocupacionais devem identificar as demandas e,
a partir disso, discutir com a equipe as estratégias a serem desenvolvidas, bem como os
recursos necessários e as formas de implementação. Além disso, não somente na ABS,
mas em todos os níveis de atenção, percebe-se a necessidade do trabalho interdisciplinar,
uma vez que é a partir deste que se almeja alcançar a integralidade44.
Outro aspecto mencionado nesta categoria de análise foi o processo de matriciamento.
Para Barros et al.45 este é um dos principais desafios vivenciados pelos profissionais da ABS,
principalmente do NASF-AB junto as EqSF. Dessa maneira, matriciar implica no diálogo e
no ajuste de expectativas e decisões. Para que isso ocorra é necessário que a hierarquia
e as relações entre os profissionais sejam menos burocratizadas e mais horizontalizadas,
sendo imprescindível que as ações sejam organizadas com a cooperação da equipe. É
fundamental que, no exercício cotidiano do trabalho, haja investimento significativo nos
processos comunicacionais intra e interequipes45.
Portanto, o profissional de Terapia Ocupacional que atua na Atenção Básica de Saúde
tem como objetivo de trabalho promover estratégias para o fortalecimento das redes de su-
porte pessoais e sociais de indivíduos e famílias que se encontram ou vivem em situação de
vulnerabilidade44. Sendo que uma das formas de estabelecer os seus objetivos da Terapia
Ocupacional é por meio do trabalho interdisciplinar.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 47


O olhar da Terapia Ocupacional na Atenção Básica a Saúde

Por fim, a terceira classe de análise gerada pelo IRAMUTEQ foi denominada de olhar
da Terapia Ocupacional.

A TO não aborda apenas os aspectos funcionais, motores ou cognitivos das


crianças, mas traz olhares voltados ao cotidiano, às relações familiares e
sociais e contribui na constituição de possibilidades de inclusão social e de
redes de apoio (Artigo 1).

ATO encontra-se neste cenário com um olhar voltado para o fazer humano,
favorecendo a construção e organização dos significados de vida, potenciais
para a produção de saúde e outras esferas do cuidado (Artigo 2).

O estudante tem desenvolvido o olhar ampliado para as questões de saúde e


o contexto biopsicossocial do usuário. (...) Eles consideraram desde particula-
ridades de história de vida à especificidade e fundamentos da profissão como
fatores que desencadeiam essa visão holística para o usuário/cliente (Artigo 4).

Os trechos dos artigos selecionados destacaram que os profissionais da Terapia Ocu-


pacional que atuam na Atenção Básica devem ter um olhar para o cotidiano e o fazer huma-
no, assim como uma visão ampliada e integral da saúde das pessoas. Essa perspectiva é
semelhante à de estudos anteriores46,47 os quais ressaltam que a Terapia Ocupacional tem
o olhar voltado para a ação, para o fazer humano e para o cotidiano. Isso significa que estes
profissionais devem compreender o ser humano como um ser práxico45.
A revisão sistemática da literatura elaborada por Salles e Matsukura48 investigou o uso
do conceito de cotidiano no campo da Terapia Ocupacional no Brasil. Observou-se que este
conceito estabelece uma relação entre a singularidade da pessoa com o coletivo e social.
Assim, pode-se considerar que as pesquisas encontradas neste estudo apresentam um olhar
do cotidiano nessa mesma perspectiva, associado ao campo da ABS. Nessa perspectiva,
Lima et al.49 (2013) reafirmam a necessidade cada vez maior da inserção deste profissional
nas equipes de Atenção Básica a Saúde, no cuidado as pessoas, grupos e comunidade. Isto
porque o terapeuta ocupacional considera as diversas dimensões que envolvem o sujeito
e o seu cotidiano. Contudo, é necessário refletir sobre a atuação da Terapia Ocupacional
na Atenção Básica de Saúde, observando os pontos positivos e negativos de sua atuação.
Isto é, mesmo que esta atuação ainda seja emergente e de pouco reconhecimentos devem
a cada momento se reestruturar e renovar para acompanhar as transições realizadas na
atualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta revisão integrativa analisou a atuação da Terapia Ocupacional na Atenção Básica

48 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


nos últimos 10 anos. Observou-se que houve um crescente no número de publicações sobre
essa temática e com diferentes aspectos abordados. Por meio do IRAMUTEQ foi possível
identificar alguns dos objetivos, as ações e o olhar dos terapeutas ocupacionais no âmbito
da ABS. De acordo com os estudos analisados, a atuação do terapeuta ocupacional na ABS
é de grande importância, pois suas ações podem prevenir doenças ou agravos e favorecer
a promoção de saúde com práticas que vão desde a educação em saúde às intervenções
de reabilitação, em conjunto com as equipes interdisciplinares.
Dentre os principais objetivos das pesquisas nessa área destacaram-se o processo de
intervenção da TO em duas linhas de cuidado específicas que foram a atenção a pessoa
com deficiência e a saúde mental. Além de investigações que tratam do processo de for-
mação do terapeuta ocupacional em nível de graduação e pós-graduação. Quanto ao olhar
da Terapia Ocupacional, verificou-se que este se direciona especificamente ao cotidiano e
o fazer humano e coletivamente em busca da integralidade do indivíduo.
Este estudo contribuiu ainda, para apresentar o estado da arte de pesquisas nesse
contexto. Além de direcionar os pesquisadores a utilização de novas ferramentas que ajudam
na análise dos dados como o software IRAMUTEQ. Ressalta-se a relevância da realização
de novas pesquisas para refletir e divulgar a prática desse profissional nesse cenário. Por
fim, destaca-se como limitação a falta de rigor metodológico de alguns estudos. Mesmo que
o número de artigos selecionados (N=25) seja considerado satisfatório, observou-se que
algumas publicações não apresentaram estruturas metodológicas claras, que exemplificas-
se a atuação da Terapia Ocupacional na atenção básica de saúde, demonstrando a suas
ações, atividades, entre outros.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 53


04
“ A atuação do enfermeiro em um
serviço de diálise comparando
os aspectos das Diretrizes
Curriculares Nacionais

Luciana Mara Rosa Milagres Camila Amurim de Souza


UFMG UFMG

Carolina da Silva Caram Samira Alves Barbosa Gonçalves


UFMG
UFMG

Maria José Menezes Brito


UFMG

Samantha Vieira Alves Amaral


UFMG

Pâmela Malheiro Oliveira


UFMG

10.37885/200700665
RESUMO

Objetivo: Analisar a atuação do enfermeiro em um serviço de diálise de um Hospital,


confrontando com aspectos das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do curso de
enfermagem. Métodos: Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada em um serviço de
diálise de um Hospital em Minas Gerais, cujos participantes foram 9 enfermeiros. A coleta
de dados foi realizada mediante observação e análise documental das DCN do curso de
Enfermagem. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados:
Percebeu-se que o enfermeiro assume papel de liderança, mas as atividades burocráticas
são realizadas em detrimento da assistência; as tecnologias em saúde precisam ser
articuladas e; o relacionamento interpessoal e o trabalho em equipe multiprofissional
precisam ser valorizados. Conclusão: A realidade demonstra que os enfermeiros nem
sempre agem em consonância com as DCN, sendo importante rever as atribuições do
enfermeiro, visando favorecer a qualidade do cuidado ao paciente e estar em consonância
com o preconizado na formação desses profissionais.

Palavras- chave: Enfermagem, Nefrologia; Educação em Enfermagem; Conhecimentos;


Atitudes e Prática em Saúde.
INTRODUÇÃO

A formação em enfermagem possui premissas básicas para que os profissionais sejam


capazes de atuar com qualidade, efetividade e resolutividade, visando desenvolver a capa-
cidade para ensinar, conhecer, classificar, realizar análise, emitir parecer, realizar registros
e diagnósticos, dentre outras habilidades. Sendo também importante que os profissionais
detenham autonomia, discernimento e pró-atividade na assistência integral do cuidado em
saúde (ADAMY et al., 2018).
A nefrologia tem se desenvolvido e ganhado espaço como especialidade da área
da saúde, evento que se deve, especialmente, ao aprimoramento das técnicas de diálise
e transplante renal. Para os enfermeiros atuarem nessa especialidade eles necessitam
aprender e aperfeiçoar o manejo das tecnologias em busca da melhor maneira de cuidar
daqueles indivíduos acometidos pela doença renal crônica (DRC) (SANTOS et al., 2018).
Nesse sentido, o enfermeiro nefrologista, especialista, adquiri potencial e capacidade para
desenvolver, participar e aplicar pesquisas ou outras formas de produção de conhecimento
que objetivem a qualificação da prática profissional (LEMOS et al., 2015).
O fazer do enfermeiro especialista em nefrologia é mediado por tecnologias de última
geração, sendo desenvolvido dentro de unidades de diálise/hemodiálise com pacientes com
insuficiência renal crônica. A assistência prestada pelo enfermeiro nesse setor é ampla e
envolve a atuação em equipe multiprofissional, além do gerenciamento do cuidado a ser
prestado pela equipe de enfermagem. Nesse contexto, o enfermeiro deve adquirir competên-
cias e habilidades gerais e específicas estabelecidas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCN) (OLIVEIRA NB, COSTA E SILVA FV, ASSAD LG; 2015; VIEIRA MA et al., 2016).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de
1996, institui as DCN como forma de traçar a diretiva das bases educacionais da Educação
Profissional, a qual é baseada no desenvolvimento de competências, habilidades e conheci-
mentos que os profissionais precisam desenvolver na graduação para atuarem no mercado
de trabalho (BRASIL, 1996). Por competências profissionais entende-se a capacidade de
articular, mobilizar, colocar em ação valores, habilidades e conhecimentos necessários para
o desempenho eficaz de práticas requeridas pela natureza do trabalho (BRASIL, 1999).
Na graduação em enfermagem, as DCN previstas na Resolução nº 573, de 31 de janeiro
de 2018, que substituiu a de 2011, versa sobre a formação que possibilite o desenvolvimento
das competências e habilidades gerais dos profissionais enfermeiros com foco na atuação
profissional inserida no Sistema Único de Saúde nas esferas pública, filantrópica e ou privada,
baseada nas políticas públicas vigentes, percebendo a saúde como direito social do cidadão.
A resolução ainda ressalta a pessoa como ser indissociável nas dimensões biológica, psico-
lógica, social, humana, cultural e espiritual. No que diz respeito à integralidade da atenção à

56 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


saúde do ser humano, deve se respeitar as particularidades ambientais, atitudinais, sociais,
de raça, gênero, orientação sexual, e contextos político, econômico e culturais, dos indiví-
duos e coletividades. As DNC ainda apontam que a formação tem por finalidade exercício
profissional de forma autônoma, dotada de rigor técnico- científico, atenção aos aspectos
biopsicossociais e ações em saúde humanas, cujas práticas ocorram baseadas em evidên-
cias e no cuidado ao indivíduo, de forma a inserir as ações terapêuticas de enfermagem no
trabalho interprofissional . (BRASIL, 2018)
Além dessas competências e habilidades específicas previstas pelas DCN o enfermeiro
no âmbito de sua prática no cotidiano do serviço de diálise desenvolve outras habilidades
para sua atuação profissional (OLIVEIRA NB, COSTA E SILVA FV, ASSAD LG; 2015).
Por se tratar de uma especialidade com forte expansão na enfermagem e a aprova-
ção das novas Diretrizes Curriculares Nacionais justifica-se a realização de estudos que
abordem as competências do enfermeiro nos serviços de diálise. O estudo dessa temática
implica o esforço de compreender as competências profissionais do enfermeiro especialista
em nefrologia no desenvolvimento de suas ações e subsidia o planejamento de políticas de
formação de profissionais durante a especialização, sendo fundamental para a qualidade da
assistência prestada e a segurança do paciente. Dessa forma, é relevante conhecer as com-
petências e habilidades específicas mobilizadas pelos enfermeiros na prática em diálise, no
sentido de aprimorá-las, traduzindo em benefícios para os pacientes e para o serviço. Além
disso, pode suscitar questões acerca da formação acadêmica dos enfermeiros que atuam
nos serviços de nefrologia, a fim de possibilitar o desenvolvimento técnico e clínico desses
profissionais e possibilitar a reflexão da prática cotidiana. Visto o exposto, o objetivo deste
estudo foi analisar a atuação do enfermeiro em um serviço de diálise de um Hospital, con-
frontando com as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em enfermagem.

METODOLOGIA

O estudo seguiu uma abordagem qualitativa atenta com dimensões socioculturais que
se expressa por meio de valores, opiniões, formas de relação, comportamentos e práticas.
Reflete, em quantidade e intensidade, as múltiplas dimensões da formação em enfermagem
e busca a qualidade das ações e das interações (MINAYO, 2017).
O cenário do estudo foi um serviço de diálise privado, localizado em um Hospital na
cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. Os participantes foram 09 enfermeiros que atu-
avam no serviço de diálise. Estabeleceu-se como critério de inclusão os enfermeiros que
atuavam na assistência direta ao paciente no serviço de diálise e, que estavam presentes
no momento da coleta de dados.
A coleta de dados foi realizada entre os meses de abril e maio de 2018 mediante obser-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 57


vação orientada para. A coleta foi orientada para o cenário de prática onde os enfermeiros
atuavam, bem como para a atuação e atividades desenvolvidas por eles. Ainda, a coleta
envolveu a análise documental das DCN do curso de enfermagem (BRASIL, 2018).
A observação foi organizada em três etapas essenciais e seguiu um roteiro sistematiza-
do. A primeira etapa consistiu na aproximação do pesquisador com o grupo de enfermeiros
da diálise, na qual foi explicado os objetivos do estudo e apresentado o projeto. A segunda
etapa foi a observação propriamente dita, em que o pesquisador se inseriu no cenário e
buscou captar a visão dos participantes, suas ações, relações e práticas no cotidiano de
trabalho. As observações foram anotadas em diários de campo organizados por local, data
e horário, pelo tipo de atividade observada, a descrição do fato e as impressões do pes-
quisador. A terceira etapa ocorreu após os dados coletados, sendo os mesmos ordenados.
A “ordenação dos dados” das observações anotadas em diários de campo consistiu
na sistematização e organização dos dados, os quais foram então submetidos a uma leitura
exaustiva em que as informações correspondentes às competências e habilidades específicas
para atuação do enfermeiro foram mapeadas e sublinhadas. Assim, as observações foram
codificadas em relação à competência e habilidade disposta pelas DCN mobilizadas ou não
para cada atividade observada. Após a codificação foram criadas categorias temáticas, sendo
elas: Atividades burocráticas e cuidado holístico e humanizado; Competências gerenciais;
Interação com a equipe multiprofissional e éticas nas relações profissionais; Relacionamento
interpessoal e Qualificação profissional e produção do conhecimento no serviço de diálise.
Ressalta-se que a pesquisa foi analisada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesqui-
sa de Seres Humanos da Universidade Federal de Minas Gerais – Parecer nº 682.671 em
conformidade com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/12. Os participantes
foram esclarecidos dos objetivos do estudo, bem como dos riscos e benefícios do mesmo
e, para o acompanhamento das atividades em todas as circunstâncias, foi solicitada a as-
sinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados foram agrupados em torno dos eixos temáticos oriundos das cinco cate-
gorias criadas: Exercício burocrático e assistência humanizada; habilidades para a gestão;
convívio multiprofissional e princípios éticos nas relações de trabalho; Envolvimento interpes-
soal; busca por conhecimento profissional e construção de novas ideias no serviço de diálise.

Exercício burocrático e assistência humanizada

Observou-se que o enfermeiro dedica grande parte do seu tempo de trabalho no ser-

58 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


viço de nefrologia às atividades burocráticas, de organização do serviço e de coordenação
em detrimento da assistência direta ao paciente. Observou-se que o enfermeiro despende
de poucos momentos com o paciente. Foi percebido, também, em diversos momentos, que
os enfermeiros relutaram quando foram solicitados a realizar procedimentos e intervenções
junto aos pacientes.
Ainda nessa temática, nos momentos de atuação dos enfermeiros próximos aos pacien-
tes, não se percebeu a disposição e cuidado do enfermeiro em oferecer assistência integral
e holística. Pelo contrário, a atuação é direcionada para os sinais e sintomas, considerando
a insuficiência renal e o processo dialítico em si, não sendo elaborados planos de cuidado
conjuntos relacionados a outros agravos, patologias decorrentes ou não da terapia dialítica
e na valorização da pessoa humana.
Diante disso, essa situação entra em conflito com os Incisos III, IV, V e VI RESOLUÇÃO
Nº 573, de 31 de janeiro de 2018 são eles:

III - A pessoa como ser indissociável nas dimensões biológica, psicológica,


social, humana, cultural e espiritual.

IV - A integralidade da atenção à saúde do ser humano, considerando-se as


particularidades ambientais, atitudinais, sociais (classe social, geração, raça/
cor, etnia, gênero, orientação sexual, identidade de gênero), políticas, econô-
micas e culturais, individuais e coletivas.

V - A promoção da saúde, da qualidade de vida, do bem-estar, da prevenção,


da recuperação, da redução de danos e a reabilitação como estratégia de
atenção e cuidado em saúde.

VI - Autonomia, rigor técnico-científico, atenção biopsicossocial e humanização


nas ações em saúde, nas práticas baseadas em evidências e no cuidado à
pessoa, como ação terapêutica da enfermagem no trabalho interprofissional
da saúde e como objeto de estudo e de produção de cuidados no exercício
profissional.

Embora seja de conhecimento que o ato de cuidar é influenciado por questões organi-
zacionais e do processo de trabalho, é importante que o enfermeiro desenvolva sua prática
em consonância com os princípios da sua profissão e junto ao paciente. Nesse sentido, o
cuidar é uma atitude, isto é, o cuidar demonstra uma atitude de ocupação, preocupação e
responsabilização com o paciente, sendo necessário que as atividades burocráticas não
sobreponham o cuidado direto, mas que se complementem em prol da assistência segura
e holística (SALVIANO MEM, et al., 2016; MORORÓ DDS, et al., 2017).
Logo a ação do cuidar vai ao encontro do compromisso de manter a dignidade e a
singularidade do ser cuidado. É um momento de preocupação, interesse e motivação, em
que o respeito, a consideração e a gentileza se tornam diferenciais. A consciência do cui-
dado deve abranger a capacidade de decisão, a sensibilidade e o pensamento crítico, para

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 59


diferenciar o cuidado da realização de procedimentos, sendo fundamental que o enfermeiro
desenvolva as competências gerenciais em consonância com a prática do cuidado ao pa-
ciente (SALVIANO MEM, et al., 2016; MORORÓ DDS, et al., 2017).

Habilidades para a gestão

O trabalho do enfermeiro tem como fundamento o cuidado em saúde. Porém, para


concretizá- lo, o profissional também é responsável por planejar a assistência, executar pro-
cedimentos mais complexos, supervisionar os cuidados, coordenar a equipe e desempenhar
atividades burocráticas e administrativas (FERREIRA et al., 2019). Dessa forma, ele precisa
gerenciar o cuidado, sendo a supervisão e a coordenação da equipe atividades importantes
que compõem a atuação do enfermeiro, sendo parte do escopo de trabalho.
Segundo as diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), a área da Gestão e a Gerência
do Cuidado de Enfermagem e dos Serviços de Enfermagem e Saúde deve estar direcionada
para o reconhecimento dos princípios, diretrizes e políticas de saúde vigentes, assim como
para a coordenação das ações de gerenciamento do cuidado em enfermagem, por meio do
exercício das competências.
Os desafios do enfermeiro na atuação gerencial podem estar relacionados à fragilida-
de da formação dele. Na formação, os embasamentos teóricos não são suficientes para o
entendimento gerencial, assim a aprendizagem sobre essa dimensão do trabalho é, muitas
vezes, executada na prática diária (FERREIRA et al., 2019).
Observou-se que o enfermeiro é reconhecido pelos pares como coordenador da equi-
pe, seja pelos técnicos de enfermagem ou pelos pacientes/familiares, sendo considerado
referência no setor. Ainda, percebeu-se que no cotidiano o enfermeiro adequa os cuidados
prestados pela equipe de técnicos de enfermagem às necessidades apresentadas pelos
pacientes e às demandas médicas. Além disso, organiza as diálises que são realizadas em
outros setores do hospital, bem como a escala dos funcionários a fim de prestar os serviços
demandados.
Em face da observação, a prática do enfermeiro é condizente com o que é preconizado
pelos Incisos I, II, III, IV, VII, IX da DCN (BRASIL, 2018).

I - Praticar ações de enfermagem nos diferentes cenários da prática profissio-


nal por meio do processo de enfermagem, da sistematização da assistência
de enfermagem e de um sistema de classificação/taxonomia como tecnologia
do processo de enfermagem, com foco nos processos de viver e morrer, e
nas necessidades de saúde individual, coletiva e de grupos sociais na vida
em comunidade, considerando a legislação e as políticas de saúde vigentes.

II - Utilizar, desenvolver e validar tecnologias que melhoram as práticas do


cuidar em enfermagem.

60 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


III - Reconhecer a saúde como direito social, atuando de forma a promover
condições dignas de vida e garantir a integralidade do cuidado de enferma-
gem, entendido como conjunto de ações articuladas e contínuas dos serviços.

IV - Operacionalizar ações de promoção da saúde, proteção, diagnóstico de


enfermagem, prevenção de riscos, agravos e doenças, proteção e recupera-
ção no processo saúde-doença, reabilitação tanto em nível individual quanto
coletivo, considerando, não só os modelos clínico e epidemiológico, bem como
as vulnerabilidades e complexidade das necessidades da saúde humana.

VII - Desenvolver a prática de enfermagem pautada pelo pensamento crítico,


raciocínio clínico, promovendo o acolhimento e a comunicação efetiva com
usuários, familiares e comunidades;

IX - Desenvolver o processo de enfermagem como uma das dimensões do


cuidado humano, sustentado no raciocínio clínico e no pensamento crítico.

O enfermeiro, nos serviços de saúde, se apresenta como um líder responsável por


desenvolver diversas atividades no âmbito da organização do setor ou da equipe de saúde.
Tais atividades estão relacionadas à função gerencial, a qual é importante para desenvolver
as competências do enfermeiro como liderança, trabalho em equipe, comunicação, rela-
cionamento interpessoal, tomada de decisão, planejamento e organização, dentre outras
(MORORÓ DDS, et al., 2017)
Apesar de o enfermeiro ser a liderança no setor de diálise pesquisado, percebeu-se
que a liderança se encontra atrelada a questões burocráticas do serviço, à organização do
cuidado de acordo com a demanda e ao processo de trabalho de forma geral. Contudo, o
cuidado próximo ao paciente é, muitas vezes, relegado, sendo necessário que o enfermeiro
também assuma essa dimensão de sua atuação. Dessa forma, realizar o cuidado significa
que o enfermeiro precisa ter habilidade de articular o trabalho em equipe e as demandas do
paciente, visando o sujeito cuidado, isto é, atuando como líder (GELBCKE FL, et al., 2009).

Convívio multiprofissional e princípios éticos nas relações de trabalho

A equipe de saúde que compõem o serviço de diálise pesquisado inclui nutricionista,


assistente social, farmacêutico, psicólogo, médico, enfermeiro e técnico de enfermagem.
Entretanto, o trabalho multiprofissional não é efetivado, haja vista que as ações são frag-
mentadas entre as categorias profissionais.
Observou-se que os instrumentos para a coleta de dados dos pacientes não são inte-
grados, o que leva os profissionais a coletarem as informações de forma repetida, tornando o
processo dispendioso tanto para o profissional, que precisa levantar dados relativos à terapia
que estão separados fisicamente por prontuários diferenciados, quanto para o paciente que
verbaliza, várias vezes, as mesmas queixas e situações vivenciadas para os profissionais.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 61


Assim, existe muita perda de informação e falta de eficiência na utilização delas, culminando
com um trabalho pouco integrado em equipe.
Além disso, os profissionais apresentaram conflitos éticos oriundos dos relacionamen-
tos interpessoais, tais como questionar condutas de colegas de trabalho no salão de diálise
durante os turnos de tratamento e queixar do processo de trabalho na presença de pacien-
tes. Presenciou-se diálogos entre enfermeiros sobre condutas e posturas dos técnicos de
enfermagem, pacientes e assuntos pessoais no salão durante as sessões de diálise, sem
o cuidado com a privacidade dos envolvidos.
Diante disso, percebe-se que se fazem necessários esforços por parte da equipe para
a efetivação do trabalho multiprofissional, conforme disposto pelas DCN (BRASIL, 2018).

V - Considerar a Atenção Primária à Saúde e as Redes de Atenção à Saúde


como orientadoras para a atuação num sistema organizado por linhas de cui-
dados em redes, com prioridades definidas pela vulnerabilidade e pelo risco
à saúde e à vida.

VI - Assegurar que a prática da/o enfermeira/o seja realizada de forma inter-


disciplinar e multiprofissional com ações específicas colaborativas e intercom-
plementares em equipes de saúde nas instâncias do SUS.

No trabalho em saúde é indispensável atuar de modo complementar e multiprofissional,


isto é, desenvolver uma prática colaborativa baseada numa abordagem interprofissional, na
qual os profissionais aprendem mutuamente para promover melhorias nos resultados de
saúde (CARAM; REZENDE; BRITO, 2017). Ainda segundo Caram, Rezende, Brito, 2017, a
assistência em saúde baseada na atuação em equipe interprofissional maximiza os pontos
fortes e as habilidades de cada profissional potencializando as ações efetivas por meio de
tomadas de decisões compartilhadas. No caso deste estudo, percebe-se a fragmentação
da atuação dessa equipe, retardando e dificultando o processo de trabalho.
Nesse ínterim, vale ressaltar que dentre as diretrizes elucidadas pela Política Nacional
de Humanização (PNH) a Clínica Ampliada representa uma maneira de enfrentamento, pois
considera que a complexidade do trabalho em saúde necessita da abordagem de uma equipe
multiprofissional. Com isso, espaços onde a fragmentação do processo de trabalho possa
ser discutida possibilitam aos trabalhadores refletirem acerca da compreensão ampliada do
processo saúde-doença, do compartilhamento de diagnósticos e intervenções e do trabalho
em saúde organizado na lógica das equipes de referência e de apoio matricial, efetivando
uma prática colaborativa. O trabalho em equipe multiprofissional representa, dessa forma,
uma maneira de os profissionais atingirem a prática do cuidado humanizado (SANTOS JLG,
et al., 2013).

62 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Envolvimento interpessoal

Os enfermeiros demonstraram ter relação afetiva entre eles, compartilhando vivências


e estreitando os laços no cotidiano de trabalho. Presenciou-se que, nos horários de convi-
vência como, por exemplo, na troca de plantão e no intervalo do lanche, tanto os enfermeiros
entre eles quanto os técnicos de enfermagem discorrem sobre assuntos casuais e pessoais,
demonstrando que as relações ultrapassam a dimensão profissional. Essa relação ultrapassa
os laços profissionais e também são estabelecidos com pacientes/familiares.
Observou-se que os enfermeiros estabelecem vínculo com os familiares, o que de-
mostrou favorecer a confiança do paciente/familiares com eles, potencializando a adesão
dos pacientes às intervenções e às mudanças de terapia, criando um ambiente saudável e
facilitando a assistência.
Entretanto, em alguns momentos, o vínculo prejudicou a atuação do enfermeiro, pois
a intimidade extrapolou a relação paciente-enfermeiro, permitindo que o paciente fizesse
exigências não cabíveis com a realidade do serviço, como por exemplo, pedir para parar a
terapia para montar computador, comer escondido durante a sessão, entrar com acompa-
nhante, reduzir o tempo de diálise, entre outros. Visto o exposto, é possível relacionar as
observações com os Incisos V, VI e VIII das DCN (BRASIL, 2018):

V - Promover a utilização das tecnologias de comunicação e informação para


o planejamento, a gestão e gerenciamento, a organização, a avaliação e o
fortalecimento do trabalho em equipe de enfermagem, e multiprofissional para
a gestão do cuidado e dos serviços de enfermagem e de saúde.

VI - Reconhecer a comunicação e o acolhimento como tecnologias indispen-


sáveis do processo de trabalho da enfermagem, garantindo a privacidade,
confidencialidade, o sigilo e veracidade das informações compartilhadas, na
interação com o usuário, profissionais de saúde e o público em geral.

VIII - Desenvolver ações de liderança da equipe de Enfermagem na horizontali-


dade das relações interpessoais, mediada pela interação e diálogo em respeito
ao outro, promovendo a qualificação da equipe de Enfermagem por meio de
atualização e educação permanente, e a tomada de decisão fundamentada
no Planejamento Estratégico Situacional.

O paciente que frequenta o serviço de diálise, pelo caráter crônico de sua doença e,
assim, pela sua periodicidade no serviço, fica mais próximo do profissional e da equipe.
Portanto, ele precisa ser enxergado em sua extensão social e familiar. Isto é, em situação
de vulnerabilidade o equilíbrio e os papeis de cada membro se alteram, sendo fundamental
atender as necessidades de toda a rede familiar. Logo, o vínculo enfermeiro-paciente-família
é essencial. Um bom relacionamento é potencializador para gerar confiança, a qual facilita
as práticas de educação em saúde (FRAZÃO, CMFQ et al., 2014).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 63


Busca por conhecimento profissional e construção de novas ideias no serviço de
diálise

Os enfermeiros participantes do estudo possuem especialização em nefrologia. Nes-


se cenário, eles são responsáveis pelo acompanhamento de indicadores de enfermagem
relativos à qualidade da assistência e, caso necessário, criam e desenvolvem planos de
ação para adequar a realidade aos índices preconizados, buscando melhorar a assistência
prestada pelo serviço e aplicando o conhecimento especializado na prática. Apesar dessa
iniciativa, no período de realização do estudo, nenhum projeto de pesquisa científica estava
sendo realizado no setor, demonstrando pouca interação entre a academia e a prática. Na
enfermagem, a pesquisa é parte importante do processo de revisão, proposição e testagem
de conceitos, significados, teorias, modelos e processos de cuidar reafirmando a arte e re-
construindo a ciência do cuidado (FERREIRA MA, et al., 2014).
Não se observou a atuação deles em projetos de pesquisa, apesar da unidade de diá-
lise gerar dados passíveis de verificação e, consequentemente, produção de conhecimento.
Porém, percebeu-se que os enfermeiros buscam por qualificação profissional e utilização do
conhecimento adquirido na prática, o que é condizente com os incisos I a V (BRASIL, 2018).

I - Desenvolver uma visão crítica da prática baseada em evidências e da rea-


lidade dos serviços de saúde, entendendo-os como dispositivos importantes
na condução de investigações e pesquisa em enfermagem e saúde orientadas
pela ética em pesquisa, a bioética, o diálogo e parceria enfermeira/o-paciente.

II - Propor, desenvolver e aplicar pesquisas e/ou outras formas de produção de


conhecimento que objetivem a valorização da prática profissional e o cuidado
de enfermagem integral, seguro e de qualidade na atenção à saúde.

III - Elaborar projetos e realizar pesquisas, em parceria com a equipe de en-


fermagem e saúde, com base em necessidades e prioridades individuais e
coletivas e princípios éticos.

IV - Realizar análise crítica de diferentes fontes, métodos e resultados, com


vistas a avaliar evidências e boas práticas de cuidado de enfermagem e saúde,
gestão e gerenciamento e educação em enfermagem e saúde.

V - Responder à necessidade de produção de novos conhecimentos em en-


fermagem, a partir do diálogo inter profissional e pela apreensão crítica da
prática, da produção científica e do desenvolvimento tecnológico disponível.

A participação dos enfermeiros em pesquisa cientifica é uma importante metodologia


para a concretização da enfermagem como ciência e a consolidação das práticas baseadas
em evidências para o enfermeiro nefrologista (OLIVEIRA NB, COSTA E SILVA FV, ASSAD
LG; 2015).

64 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo permitiu analisar a atuação do enfermeiro em um serviço de diálise


de um Hospital a luz das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em
enfermagem. As DCN norteiam a organização dos currículos das Instituições de Educação
superior no Brasil na busca de um perfil profissional que atenda às necessidades da popu-
lação e da equipe nos serviços de saúde. Portanto, é necessário que o enfermeiro se insira
na prática, desenvolvendo tais competências, o que foi observado nesse estudo.
Os resultados suscitam a reflexão sobre a atuação do enfermeiro em seu cotidiano de
trabalho, bem como a mobilização das competências e habilidades que são desenvolvidas
na formação, por meio das DCN, e a realidade da prática profissional no serviço. Dessa
forma, essa pesquisa levanta a necessidade de revisão das atribuições do enfermeiro nos
serviços, haja vista que as exigências, muitas vezes, ultrapassam o previsto na formação,
no sentido de fortalecer uma atuação que favoreça a qualidade do cuidado ao paciente ne-
frológico, bem como a formação desses profissionais em consonância com as competências
e habilidades expostas nas Diretrizes Curriculares Nacionais.

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66 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


05
“ A relação entre o transtorno
do déficit de atenção com
hiperatividade (TDAH) e os
benefícios dos jogos lúdicos
realizados nas brinquedotecas
com os portadores desta condição
Alex Miller Pereira dos Reis Matheus Alves Silveira Diniz Machado
UNIPTAN UNIPTAN

Ana Paula Cardoso Ferreira Raissa Valente Costa


UNIPTAN UNIPTAN

Bruna Fava Reis Priscila Dayane Vargas


UNIPTAN UNIPTAN

Júlia Mata da Costa


UNIPTAN

Mariana Sales Moura Santos


UNIPTAN

10.37885/200700796
RESUMO

Os jogos lúdicos-pedagógicos na esfera da brinquedoteca despontou no Brasil na década


de 1980 como uma proposta de oferecer um aprendizado mais dinâmico, fluido e sem
pressão. Desde então crianças de diferentes idades e condições físicas e mentais têm
se beneficiado deste ambiente como, por exemplo, aquelas portadoras do Transtorno
do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Neste sentido, a presente pesquisa
visa compreender quais são os desdobramentos da brinquedoteca enquanto ambiente
lúdico e pedagógico no comportamento de crianças portadoras de TDAH. Para tanto,
realizou-se uma revisão de literatura, partindo das principais considerações realizadas
nos últimos anos sobre o assunto. Percebeu-se que mesmo sendo necessário mais
pesquisas na área científica desmistificando e esclarecendo o universo das crianças com
TDAH, o espaços dedicados a serem brinquedotecas têm beneficiado o desenvolvimento
comportamental e cognitivo dos portadores desta condição.

Palavras-chave: TDAH; Hiperatividade; Déficit de atenção.


INTRODUÇÃO

Brincar é um aspecto importante do processo psicológico e fonte de aprendizagem.


De acordo com Vygotsky1, o brincar é uma atividade humana criadora, onde fantasia e re-
alidade se misturam na produção de novas interpretações, de expressão e de ação pelas
crianças, assim como uma nova maneira de se relacionar com outras pessoas. As crianças
se baseiam naquilo que conhecem e vivenciam para reinterpretar situações de sua rotina
de vida, criando outras realidades.
Ao imitar outras pessoas, as crianças refletem as suas relações e se conscientizam
sobre si e sobre o mundo, estabelecendo outras lógicas e fronteiras de significação da vida1.
A brincadeira, portanto, é a junção com o que já foi feito e o novo, a experiência, a memória
e a imaginação, permitindo que se passeie entre a realidade e a fantasia.
Vygotsky1 defende que nesse novo plano de pensar, de se expressar e comunicar,
novos significados são elaborados, novos papéis sociais e ações sobre o mundo são dese-
nhados e por sua vez novas leis entre os objetos e os sujeitos são criadas. Falas, gestos,
narrativas e cenários concebidos pelas crianças configuram a dimensão imaginária, revelando
o complexo processo criador envolvido nas brincadeiras.
A brincadeira, segundo o mesmo autor1, cria uma zona de desenvolvimento proximal,
permitindo que a criança ultrapasse o desenvolvimento já alcançado, levando à conquista
de novas possibilidades de compreensão e de ação sobre o mundo. Para ele, “a criança
se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além do seu comportamento
diário; no brinquedo, é como se o sujeito fosse maior que é na realidade”1.
O prazer que a criança sente em brincar muitas vezes é proporcionado pela organi-
zação espacial a ela oferecida. A riqueza dos ambientes, permeados por recursos lúdicos
variados, pela acessibilidade e acolhimento faz com que ela se sinta plena para crescer e
aprender com prazer. O contato com o lúdico amplia as potencialidades humanas convo-
cando os sentidos a criar, experimentar, descobrir e compartilhar as vivências, tornando-as
significativas2.
Dessa forma, a brinquedoteca é um espaço que oferece condições para que o conhe-
cimento seja construído e reconstruído, proporcionando a compreensão da realidade como
um todo. É um espaço, onde as crianças trocam experiências e são capazes de interagir,
compartilhar sentimentos, percepções e ideias2. Assim, a brinquedoteca deve ser organizada
para que a criatividade, a fantasia e o afeto estejam presentes e vivos no ambiente, para
que a criança se sinta feliz e acolhida.
No universo da educação especial, faz-se necessário trabalhar de forma ainda mais
profunda com o sujeito, buscando reconhecer e atender suas particularidades. Neste con-
texto, o mediador tem papel indispensável na construção de atividades, de modo que os

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 69


alunos consigam desenvolver a solidariedade e a tolerância3.
Conforme Cunha3, as crianças que são portadoras de TDAH, por exemplo, não podem
ser negligenciadas nos ambientes educativos, necessitando, assim, de um acompanhamento
especial, haja vista que este tipo de criança dificilmente consegue conter seus impulsos e
instintos.
Desta forma, o presente artigo visa observar o papel da brinquedoteca na esfera das
crianças com TDAH. Neste campo, serão trazidos conceitos e reflexões, a fim de compreen-
der melhor não só a relevância da brincadeira, mas também perceber determinados aspectos
fisiológicos e comportamentais dos indivíduos portadores do transtorno.
Esta investigação segue os parâmetros de pesquisas de revisão da literatura de abor-
dagem qualitativa. Desta forma, o trabalho se orientou em autores que dialogam diretamente
com o tema tratado, de modo que fosse possível compreender tanto os aspectos abrangentes
quanto os específicos de determinados contextos.
Escolheu-se a revisão de literatura como técnica de pesquisa, haja vista que se trata de
um modelo ideal para se responder ao questionamento proposto por este trabalho, ou seja,
quais são os desdobramentos da brinquedoteca enquanto ambiente lúdico e pedagógico no
comportamento de crianças portadoras de TDAH?
Para tanto, como ferramentas de busca, recorreu-se às principais plataformas de pes-
quisas científicas, a saber, PubMed, Scielo, Medline e Google Acadêmicos. No que diz
respeito às palavras-chave, utilizou-se: brinquedoteca; brincadeira e hiperatividade; TDAH;
hiperatividade; crianças hiperativas; crianças com TDAH.
Enquanto critérios de inclusão, optou-se por estudos realizados em língua portuguesa
que tratavam teoricamente da relação da brinquedoteca na área da educação especial e
que se debruçavam em compreender as particularidades de crianças portadoras de TDAH
(independente do sexo).
Já os critérios de exclusão, desconsiderou-se as pesquisas realizadas em idiomas di-
ferentes da língua portuguesa e/ou investigações relacionadas à brinquedoteca fora da área
da educação especial, principalmente as que não tiveram crianças com TDAH como foco.

O PAPEL DA BRINQUEDOTECA NA INFÂNCIA

Conforme Almeida et al.5, a brinquedoteca é um ambiente instrutivo e lúdico onde a


criança pode transpor as barreiras da criatividade de maneira que se torna possível desen-
volver suas habilidades motrizes, imaginativas e cognitivas. Este espaço tem suas origens
no Brasil na década de 1980, fundado sob o objetivo de fomentar momentos prazerosos de
aprendizado5.
O principal intuito de uma brinquedoteca é criar uma atmosfera onde a criança pode

70 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


estimular a concentração e atenção sem se sentir pressionada. A partir deste aspecto, o
ambiente se torna favorável não só para desenvolver a sociabilidade e criatividade, mas
mostra que os brinquedos também pode gerar benefícios para o intelecto6.
Desta maneira, todo o espaço compreendido pela brinquedoteca é concebido para
gerar sensações e emoções para quem usufrui ou apenas visita o ambiente. É importante
ressaltar que este espaço pode ser dividido em vários pequenos ambientes. De acordo com
Almeida et al.5, pode-se ter um canto do “faz de conta”, o canto da pintura e o canto das
invenções. Neste caso, cada núcleo deve receber objetos compatíveis com que se espera
da proposta idealizada.
Quando se constrói um ambiente respeitando a infância da criança e as suas limitações
– como ocorre na educação especial –, outros valores são construídos. Antigamente, não
se considerava importante o desenvolvimento das crianças que necessitavam de atenção
especial, ainda que brinquedos e brincadeiras se fizessem presentes na vida do ser humano
desde os primórdios da humanidade6.
A respeito do aspecto supracitado, os brinquedos eram tratados como mero objetos
sem grandes significados. Em alguns contexto eram vistos como algo fútil, sem muitas
vantagens para a criança, apenas um entretenimento. Quando esta ideia foi perdendo seu
peso e passou a ser reconhecida a importância do brincar na infância, inúmeras pesquisas
surgiram e comprovaram a eficácia do aprender se divertindo5,6.
Segundo Almeida et al.5, existem, pelo menos, sete contribuições da brincadeira em
espaços lúdicos. Estes benefícios estão descritos no Quadro 1:

Quadro 1. Benefícios da brincadeira na infância

As atividades lúdicas possibilitam fomentar a "resiliência", pois permitem


1
a formação do autoconceito positivo;
O brincar possibilita o desenvolvimento integral da criança, já que através
2 destas atividades a criança se desenvolve afetivamente, convive social-
mente e opera mentalmente;
O jogo, brinquedo e a brincadeira são produtos de cultura e seus usos
3
permitem a inserção da criança na sociedade;
Brincar é uma necessidade básica assim como é a nutrição, a saúde, a
4
habitação e a educação
Brincar ajuda a criança no seu desenvolvimento físico, afetivo, intelectual
e social, pois, através das atividades lúdicas, a criança forma conceitos,
5 relaciona ideias, estabelece relações lógicas, desenvolve a expressão
oral e corporal, reforça habilidades sociais, reduz a agressividade, inte-
gra-se na sociedade e constrói seu próprio conhecimento
6 O brincar é essencial para a saúde motriz e mental;
O jogo simbólico permite à criança vivências do mundo adulto e isto pos-
7
sibilita a mediação entre o real e o imaginário.

Fonte: (Almeida et al.5, n.p.).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 71


Quando se pensa na brinquedoteca inserida na educação especial, Chicon et al7. infere
que é indispensável que haja uma reconfiguração dos espaços e da forma de brincar para
que as especificidades das crianças com transtorno ou deficiência sejam atendidas. Este
reajuste se justifica pelas limitações cognitivas e físicas que cada caso pode apresentar.
Na dimensão das crianças que possuem o Transtorno do Déficit de Atenção com Hi-
peratividade (TDAH), cada realidade individual demanda uma atenção especial. A disponi-
bilização de brinquedos, e o sucesso da condução das brincadeiras dependem diretamente
do respeito a essas particularidades que, por sua vez, serão expostas na seção seguinte.

ASPECTOS COMPORTAMENTAIS E FISIOLÓGICOS DE CRIANÇAS POR-


TADORAS DO TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERA-
TIVIDADE (TDAH)

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno hi-


percinético com início precoce, isto é, inicia-se, normalmente, até os dois primeiros anos de
vida8. Para Seno9, a característica mais notável nas populações desse grupo é a falta de
persistência em atividades que exigem a cognição, ou seja, a tendência a não finalizar as
atividades que iniciam.
De acordo com Antony et al.10, o TDAH constitui uma desordem complexa do compor-
tamento que pode levar a criança a vários níveis de comprometimento social, emocional,
escolar e familiar. Como características principais, aponta os distúrbios motores, perceptivos
e, assim como Seno9, distúrbios cognitivos.
Sob outra perspectiva, Gomes et al.11. atribui ao TDAH o caráter de “padrão persisten-
te de desatenção e/ou hiperatividade, mais frequente e em maior grau do que tipicamente
observado nos indivíduos com nível equivalente de desenvolvimento”. Para estes autores, a
constatação dos sintomas deve ocorrer a partir da observação do comportamento da criança
em pelo menos dois ambientes distintos como, por exemplo, na escola e em casa11.
Em linhas gerais, os sintomas clássicos apontados neste estudo11 são: impulsividade,
impaciência, interrupção dos assuntos de outras pessoas, alteração da sociabilidade, labili-
dade emocional, baixa autoestima, comportamento desafiador e, em alguns casos, excesso
de conflitos com a família e com as autoridades escolares.
É importante esclarecer que mesmo que alguns destes comportamentos interfiram
diretamente no desempenho da criança, esta, geralmente, possui grau elevado de inteligên-
cia. Ela está ciente de que certas atitudes não são corretas, no entanto, ainda que queira
ser gentil e cortês, não consegue controlar seus impulsos. Como consequência, sente-se
frustrada, desanimada e envergonhada3.
Posto isto, o TDAH pode ser classificado de quatro formas, como demonstrado no

72 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Quadro 2:

Quadro 2. Classificação do TDAH conforme Seno9

Classificações do TDAH Descrição


Não enxerga detalhes, faz erros por falta de cuidado, apresenta
dificuldade em manter a atenção, parece não ouvir, tem dificul-
Tipo desatento dade em seguir instruções, desorganização, evita/não gosta de
tarefas que exigem um esforço mental prolongado, distrai-se com
facilidade, esquece atividades diárias;
Inquietação, mexer as mãos e os pés, remexer-se na cadeira, di-
ficuldade em permanecer sentada, corre sem destino, sobe nos
móveis ou muros, dificuldade em engajar-se numa atividade si-
Tipo hiperativo/impulsivo
lenciosamente, fala excessivamente, responde perguntas antes
delas serem formuladas, interrompem assuntos que estão sendo
discutidos e se intrometem nas conversas;
Quando o indivíduo apresenta os dois conjuntos de critérios desa-
Tipo combinado
tento e hiperativo/impulsivo;
Quando as características apresentadas são insuficientes para se
Tipo não específico chegar a um diagnóstico completo, apesar dos sintomas desequi-
librarem a rotina diária.

Fonte: (Seno9, n.p.)

Conforme os critérios do DSM-IV, para que esta classificação seja assertiva, a pessoa
deve apresentar seis ou mais dos sintomas de desatenção ou hiperatividade (sendo cerca
de 18 no total10), por no mínimo, um período de seis meses, em um grau que comprometa
a adaptação e seja incompatível com o nível de desenvolvimento.
Sob outra ótica, na dimensão da biologia, a área científica tem considerado duas
principais hipóteses neurológicas para o TDAH. A primeira delas sugere que o transtorno
é resultado de uma disfunção do lobo frontal causada por uma perturbação dos processos
inibitórios do córtex10. Já a segunda está relacionada com um desequilíbrio neuroquímico
nos sistemas neurotransmissores da noradrenalina e da dopamina (níveis inferiores) devido
a uma baixa produção ou subutilização dessas substâncias12.
Já na perspectiva da caracterização sócio-emocional, a maneira como a criação é
conduzida pelos pais de uma criança com TDAH pode ser considerada um fator que altera
o curso do transtorno de modo positivo ou negativo. Neste contexto, Hernandez13 afirma que
há uma hiperatividade de comportamento ou hiperatividade reativa “gerada em ambiente
onde há relacionamentos familiares insatisfatórios e falta de reciprocidade afetiva, sendo a
criança objeto de permanente desvalorização e alvo de crítica”.
Finalmente, Barkley et al.14. considera que há uma relação multidimensional que pode
desencadear o distúrbio, ou seja, ocorre interações multidirecionais, recíprocas e dinâmicas
entre os fatores genéticos, neurais, psicológicos, comportamentais e ambientais que ocorrem
ao longo do desenvolvimento da criança.
Partindo desses pressupostos8-14, o que se pode inferir é que há cada vez mais a

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 73


necessidade de se estudar em profundidade todos os aspectos que orbitam o universo do
Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. Deste modo será possível, na área
da saúde, realizar diagnósticos mais assertivos e, no campo da educação, elaborar plane-
jamentos mais consistentes que englobem as características individuais dos portadores de
TDAH nos brinquedos, nas brincadeiras, nas dinâmicas e nos jogos.

A RELAÇÃO ENTRE A BRINQUEDOTECA E AS CRIANÇAS PORTADORAS


DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE

As práticas pedagógicas e lúdicas nos ambientes da brinquedoteca – sejam em ins-


tituições educacionais ou espaços apropriados para tal – contribuem para o aprendizado,
socialização e cooperação mútua. As atividades desenvolvidas com crianças com TDAH
devem ser desafiadoras para eles no sentido de possibilitar o alargamento dos seus limites,
da criatividade e da participação15.
Nesta altura, já é possível perceber que o lúdico com crianças deste quadro, por exem-
plo, é mais dificultoso devido à baixa concentração e ao excesso de impulsividade. Por isso,
faz-se necessário planejar minuciosamente o espaço da brinquedoteca para que a criança
não se distraia com tanta facilidade, ou seja, com qualquer estímulo do ambiente15.
Para que a relação entre o mediador e a criança seja produtiva, é importante olhar
em profundidade para ela e conduzir as atividades levando em consideração o seu grau de
desatenção, de hiperatividade e do interesse sobre o que está sendo trabalhado. É neste
cenário que despontam os jogos e as dinâmicas, pois são estes que tendem a despertar
maior interesse no grupo de indivíduos com TDAH1,3,15.
A partir do momento que a criança está integrada com o espaço que a cerca e com os
objetos que interage, o lúdico passa a ter foça transformadora no âmbito da superação dos
medos, das angústias e dos traumas, como considera Cunha3. Cada atividade desenvolvida
na brinquedoteca deve ser capaz de diminuir os efeitos da falta de concentração, inquietude
e demais comportamentos inadequados3,15.
Para Barros15, as brincadeiras propostas para os portadores de TDAH só lograrão
êxito se as regras dos jogos forem estabelecidas com o intuito de minimizar as chances de
dispersão, haja vista que, desta forma, as crianças se manterão ocupadas cumprindo os
requisitos das dinâmicas.
O mediador tem papel fundamental nesse processo, especialmente quando se trata
de criar condições suficientes para que, durante os jogos, haja interação com ele e com os
demais participantes pois, como afirma Lopes16, a criação de laços de amizade são impor-
tantes para o desenvolvimento de crianças portadoras desta condição. Quando as crianças
com TDAH não fazem amizades, há um risco grande de desencadearem sentimento de

74 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


rejeição, solidão e quadros de ansiedade3.
Conforme Lima17, dentro da brinquedoteca, o contato direto entre os portadores de
TDAH com as crianças que não possuem esta condição possibilita um aprendizado mútuo de
respeito em relação a outros pontos de vista e ao trabalho em equipe, promovendo, assim,
a saída do egocentrismo original.

CONCLUSÃO

Os teóricos selecionados para esta pesquisa concordam que apenas o brincar dentro
dos espaços da brinquedoteca não é suficiente para resolver todas as demandas relacio-
nadas aos comportamentos das crianças com TDAH. Entretanto, consideram que este é
um dos caminhos mais assertivos para desenvolver as habilidades de cada um e diminuir
substancialmente determinados sintomas e efeitos desta condição.
De qualquer modo, ainda que mais estudos precisem ser realizados sobre o Transtorno
do Déficit de Atenção com Hiperatividade, faz-se necessário promover e investir cada vez
mais em espaços desta ordem, visto que, como apontado neste trabalho, traz benefícios
nas esferas individual, familiar, educacional e social.

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76 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


06
“ A importância do enfermeiro em
uma equipe multiprofissional
na busca do bem-estar de
pacientes oncológicos em
cuidados paliativos

Francisca Flávia Ramos Sousa


FACULDADE UNYLEYA

10.37885/200600553
RESUMO

Este estudo tem como finalidade analisar a importância do enfermeiro em uma equipe
multiprofissional na busca do bem – estar de pacientes oncológicos em cuidados paliativos.
Tendo como base os significados já descritos na literatura que descreve a importância da a
assistência de enfermagem aos pacientes em cuidados paliativos. Um dos objetivos deste
estudo compreender como a assistência do enfermeiro contribui para melhor qualidade
de vida para os pacientes oncológicos em cuidados paliativos. A metodologia utilizada
tem natureza bibliográfica. A técnica de coleta de dados foi através de pesquisa em sites
de google, scielo, teses de dissertação e manual de cuidados paliativos. Foi possível
concluir com este estudo os profissionais de enfermagem tem papel fundamental nos
cuidados paliativos de pacientes oncológicos, o que contribui de forma significativa para
o aumento da qualidade de vida destes pacientes.

Palavras-chave: Cuidados paliativos; Pacientes oncológicos e assistência de enfermagem.


INTRODUÇÃO

A doença oncológica é sem dúvida uma das maiores causas de hospitalizações e boa
parte dos problemas encontrados são complicações decorrentes do câncer em si levando
muitos pacientes a um mau prognóstico ou seja sem chance de cura, colocando-os como
pacientes em cuidados paliativos sendo, portanto de extrema importância que todos os
profissionais envolvidos estejam preparados para atuar na atenção a este tipo de paciente
pois são inúmeras suas necessidades prestando desta forma uma assistência de qualidade
para pacientes com câncer sem possibilidade de cura.
De acordo com Saporetti et al,2012 quando o paciente recebe a notícia de ser portador
de uma doença grave e incurável como é o câncer isto gera uma série de sentimentos de
angústias e incertezas que muitas vezes mexem com a estrutura psíquica do ser humano.
Quanto maior a percepção de ameaça que a doença tal qual é o câncer acarreta e menor
a percepção individual dos tipos de recursos, maior tende a ser o sofrimento do indivíduo.
Os sentimentos implicados neste sofrimento não somente sintomas físicos, mas sim
no significado que paciente e familiares atribuem a todas as vivências decorrentes deste
momento da vida e vinculadas às experiências emocionais anteriores
Portanto ao receber um diagnóstico de câncer o paciente sente-se com o emocional
abalado, são muitas incertezas e questionamentos, haverá cura, como será o tratamento, e
a família como vai reagir, pensamentos acerca da morte, sofrimento, como ficará o sustento
da família quando o doente é o provedor, são várias inquietações que se fazem presentes.
Segundo Silva e Araújo, 2012 independentemente de fatores tais como idade, etnia ou
sexo, alguns pensamentos e sentimentos estão presentes na vida de quem vivencia a termi-
nalidade: a preocupação com os familiares que vão ficar, o medo do desconhecido perante
a morte, do sofrimento intenso no momento da morte e de estar sozinho quando tudo isso
acontecer são frequentes e geram intenso sofrimento emocional para o doente. Reflexões
sobre a sua vida também são constantemente realizados e podem trazer angústias para o
paciente como por exemplo assuntos inacabados ou conflitos a serem resolvidos.
Entretanto o que se percebe é que existe um grande desafio no que diz respeito a
qualificação da equipe como um todo, pois muitos não têm o preparo suficiente para atuar
neste tipo de assistência, portanto este trabalho visa contribuir para que seja dada uma
maior importância na qualificação do profissional enfermeiro para que desta forma possamos
conseguir uma melhor qualidade de vida para pacientes oncológicos em cuidados paliativos.
Para Vasconcelos et. al,2012:

Cuidados paliativos é uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos


indivíduos e familiares na presença de doenças terminais. Seus aspectos
fundamentais são o controle dos sofrimentos físico, emocional, espiritual e

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social. Pode ser oferecido em instituições de saúde, assim como na própria
residência. Quando qualquer indivíduo se aproxima dos últimos momentos
de uma condição de saúde debilitante, a necessidade de cuidados paliativos
aumenta, e neste momento é importante assegurar que seja garantido um
cuidado de qualidade.

Um dos objetivos dos cuidados paliativos é dar qualidade de vida para os pacientes, é
um tipo de abordagem que deve ser iniciada desde o diagnóstico do paciente, e quando o
tratamento não tiver mais um prognóstico positivo em relação a cura, então deve-se inten-
sificar este tipo de cuidado.

De modo geral, os cuidados paliativos representam cuidados totais e ativos


prestados ao paciente cuja doença não responde mais aos tratamentos cura-
tivos e, quando o controle da dor e outros sintomas psicológicos, sociais e
espirituais, tornam-se prioridade. Nesse sentido, toda assistência é concentrada
em permitir que o paciente passe seus últimos dias de vida da maneira mais
confortável possível. (Araújo e Brustein, 2013)

Entendemos que quando um paciente não tem mais possibilidade de cura, ainda tem
muito por fazer em relação aos cuidados destinados a estes pacientes com objetivo de aten-
der as necessidades físicas, emocionais, sociais e espirituais destes pacientes, e manejo
da dor uma vez que esta costuma ser intensa.
Segundo Bossoni et al., 2009 o diagnóstico de câncer representa uma experiência
negativa para a maioria das pessoas, embora, por vezes, possa se constituir em um pro-
cesso de aprendizado e crescimento. Portanto, ele é tido como um desafio para o paciente,
a família e os profissionais da saúde, independentemente da resposta ao tratamento e o
curso da doença, promovendo uma mudança nos valores e crenças.
A vivência com pacientes em cuidados paliativos constantemente nos faz querer com-
preender mais sobre a temática, e com isso se aperfeiçoar melhor e assim poder ofertar
uma qualidade de vida para os pacientes sem perspectiva de cura, ou seja, melhorar o tipo
de atendimento prestado a este tipo de paciente.

No âmbito da Enfermagem, a comunicação representa uma estratégia de suma


relevância para a prática dos cuidados paliativos. E quando subsidiada por uma
relação de atitude, cooperação, sentimento e sensibilidade, este instrumento
é um importante impulsionador da relação entre o enfermeiro e o paciente em
fase terminal. (Andrade et al., 2013.)

Muitos profissionais ainda necessitam de qualificação para prestar cuidados aos pa-
cientes oncológicos, pois a assistência dever ser embasada não somente no cuidado físico,
mas emocional e espiritual, ou seja, de forma holística, sabendo, que no ambiente hospitalar
e na presença de metástases, na finitude da vida, é o momento que eles mais necessitam
de profissionais que os ajude a vivenciar estes momentos difíceis.

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O paciente sob Cuidados Paliativos deseja ser compreendido como um ser
humano que sofre porque, além da dor física, possui conflitos existenciais e
necessidades que os fármacos ou os aparelhos de alta tecnologia não podem
suprir. Assim, além de compartilhar seus medos e anseios relacionando-se
com seus pares, estes pacientes necessitam sentir-se cuidados, amparados,
confortados, compreendidos pelos profissionais de saúde que deles cuidam.
(Silva e Araújo, 2012)

É necessário preparo dos profissionais de enfermagem exemplificando os que cuidam


de pacientes em cuidados paliativos, muitos não têm estrutura para prestar assistência a
este tipo de paciente, muito não tem condições emocionais para prestar cuidados nesta fase
de vida de pacientes oncológicos.
Silva e Araújo, 2012 destacam que a comunicação de notícias difíceis ou más notícias
é uma das tarefas mais difíceis na vida do profissional de saúde. Isto porque os mesmos
aprendem na faculdade a salvar vidas e buscar a saúde, e não a lidar com situações de
perdas de saúde, vitalidade, esperança e morte. Assim, uma das dimensões na qual o
profissional de saúde mais necessita desenvolver habilidades é a comunicação de notícias
difíceis, tais como informar o diagnóstico de uma doença incurável, a piora irreversível do
quadro ou mesmo comunicar a morte para os familiares.
Para compreender melhor este estudo foi definido a seguinte problemática: qual impor-
tância do enfermeiro em uma equipe multiprofissional na busca do bem – estar de pacientes
oncológicos em cuidados paliativos?
Para que pudéssemos nos aprofundar na problemática a ser discutida no presente tra-
balho foram desenvolvidas as seguintes questões que norteiam este estudo: Quais os fatores
que influenciam na qualidade de vida dos pacientes oncológicos em cuidados paliativos?
Qual a importância do papel do enfermeiro no atendimento aos pacientes oncológicos em
cuidados paliativos? Como a assistência do enfermeiro contribui para melhor qualidade de
vida para os pacientes oncológicos em cuidados paliativos?

OBJETIVOS:

• Objetivo Geral: Analisar a importância da atuação do em uma equipe multiprofis-


sional na busca do bem – estar de pacientes oncológicos em cuidados paliativos.

• Objetivos Específicos:

• Identificar os fatores que influenciam na qualidade de vida dos pacientes oncológi-


cos em cuidados paliativos

• Conhecer a importância do papel do enfermeiro no atendimento aos pacientes on-

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cológicos em cuidados paliativos.

• Compreender como a assistência do enfermeiro contribui para melhor qualidade de


vida para os pacientes oncológicos em cuidados paliativos.

METODOLOGIA

O processo metodológico utilizado na pesquisa foi a abordagem bibliográfica, onde


se estudou uma determinada população, procurando aprofundar o conhecimento com base
em outros autores sobre o assunto a ser estudado neste tema. Foram utilizadas fontes tais
como Google, artigos Scielo, teses de dissertação e manual de cuidados paliativos.

DESENVOLVIMENTO

Pacientes Oncológicos

A partir do diagnóstico de câncer fica aberto um longo caminho, o do tratamen-


to, que pode ser incerto, doloroso, prolongado, modificando o pensamento do
paciente e de seus familiares. Um caminho que vai marcar seu corpo, chocar a
família, fazendo com que, muitas vezes, os próprios amigos se afastem. Pode
ocorrer mudança nos planos do paciente e de seus familiares, em especial
diante da possibilidade de morte. (Bossoni et al, 2009)

O câncer resulta através de mutações de células anômalas as quais são capazes de


proliferar para os mais variados tecidos do corpo, podendo se disseminar para todos o cor-
po. O meio pelo qual ocorre o diagnóstico do câncer é através de biópsia, onde uma parte
do material é coletado para realização de análises anatomopatológicas com a finalidade de
detectar se aquelas células são benignas ou malignas, uma vez que o câncer é uma doença
de evolução rápida, este diagnóstico deve ser realizado o quanto antes para que o tipo de
tratamento seja instituído.
Para Cardoso et al. 2013 paliar é uma dimensão do cuidado em saúde e todos os pro-
fissionais devem saber quando os cuidados paliativos serão necessários. Assegurar este
tipo de atenção propicia um cuidado de qualidade, não importando se oferecido em uma
instituição de saúde ou na residência do indivíduo.
Após confirmação diagnóstica, é essencial realizar o estadiamento da doença, ou seja,
identificar a extensão da doença, quais órgãos estão afetados, qual melhor tipo de tratamento,
determinar se o prognóstico para aquele tipo de tumor será bom ou ruim, a existência de me-
tástase.
A conduta da equipe nesta esfera é de busca ativa de sinais e sintomas, já que muitos

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pacientes e familiares acreditam que alguns sofrimentos são inerentes à doença ou ida-
de e não podem ser aliviados ou resolvidos. Sinais e sintomas como dor, náusea/vômito,
obstipação, anorexia, dispneia, ansiedade, depressão, agitação, insônia, confusão, fadiga,
disfagia, lesões orais, úlceras de pressão, e imobilidade devem ser avaliados quanto a pos-
síveis causas, se são primários a doença em questão ou secundários a outros fatores, se
são reversíveis ou não. Ao contrário do que habitualmente se pensa, em Cuidados Paliativos
o diagnóstico adequado é, na maioria das vezes, a melhor forma de conduzir um sintoma.
(Saporetti et al, 2012)
Deve-se estar atento a todo e qualquer sintoma apresentado pelo doente, e procurar
entender a que aspecto este está relacionado, se a doença em si, ao tratamento, ou mes-
mo inquietações sócias, espirituais, ou emocionais, pois sabemos que estes estão sempre
relacionados ao bem-estar do paciente.
Segundo Barros et al. (2012, p. 9) apud Bueno, 2013:
Os cuidados em qualquer momento da vida, particularmente na fase terminal, são
um direito dos cidadãos, devendo os cuidados paliativos constituir em um objetivo para o
sistema de saúde do Brasil funcionar bem. No entanto, a oferta desse tipo de cuidado, que
vem sendo adotado como um indicador da qualidade de saúde em muitos países, torna-se
um elemento crucial, onde o desafio passa a se desenvolver como um modelo apropriado
de cuidados paliativos, que proporcione uma assistência de qualidade, tendo em vista o
indivíduo em sua totalidade e não só em partes enfermas.
Para o tratamento do câncer temos: cirurgia, radioterapia, quimioterapia. Sendo a cirur-
gia a base de tratamento para maioria dos tipos de tumores, a que traz mais possibilidade
de cura, seguida da radioterapia, a qual é ocorre por meio de radiação aplicada diretamente
na área acometida pelo câncer, enquanto a quimioterapia é administração de fármacos
que agem sistemicamente combatendo as células cancerígenas e de certa forma atingindo
também células saudáveis.

Cuidados Paliativos

Segundo Bossoni et al., 2009 cada indivíduo tem uma forma diferenciada de reagir ao
diagnóstico de câncer isso é influenciado por diversos fatores, incluindo o momento de vida
no qual o paciente se encontra. É comum surgimento de sentimentos tais como ansiedade,
raiva, medo, angústia, culpa e depressão e, muitas vezes, tentativas de suicídio como me-
canismo de enfrentamento a doença.
É importante observar a forma como cada paciente recebe a notícia do diagnóstico
de um câncer, pois isso pode influenciar na adesão do mesmo ao tratamento, devendo ser
ofertadas todas as informações pertinentes, e apoio psicológico também é de essencial.

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A família do paciente também vivencia esses momentos com sentimentos di-
versos, dentre os quais choque, incerteza, impotência no sentido de não saber
o que fazer, como reagir na frente do paciente, de modo que se observam
famílias que renovam seus valores e tendem a ficar mais unidas, enquanto que
as mais vulneráveis podem se fragmentar e se desfazer. (Bossoni et al, 2009)

A família sem dúvida como parte integrante do paciente deve receber uma atenção
especial, pois a mesma embora não esteja doente, mas vivencia momentos difíceis ao ver
seu ente querido doente, e em processo de morte, sentimento de impotência muitas vezes
toma de conta de seus pensamentos, portanto necessita de um acompanhamento psicoló-
gico, para melhor enfretamento deste processo de perda.
De acordo com Bossoni et. al 2009 o paciente deve ter assegurado morrer com dig-
nidade, visto que o câncer geralmente lhe concede tempo para que se prepare para a sua
própria morte. Consequentemente, enquanto reflete sobre isso ele também pode expressar
sentimentos de negação em relação ao processo de adoecer e morrer, o que poderá refletir
tanto no tratamento quanto no impacto deste em seu convívio familiar.
Sabemos que a morte é algo que mexe com todo ser humano, uma vez que todos
vivem e não refletem em como vão morrer, até que um diagnóstico como o câncer aparece
para mudar o curso de sua vida, o que os faz vivenciar uma série de sentimentos, questio-
namentos.
De acordo com Vasconcelos et. al, 2012 quando as possiblidades de cura se esgotam,
o objetivo da atenção dado ao paciente é a promoção da qualidade de vida a qual pode ser
alcançada por meio de medidas de conforto, alívio e controle de sintomas, suporte espiritu-
al, psicossocial e apoio no processo de enlutamento para família e paciente. A concepção
de qualidade de vida é algo extremamente importante para paciente e família, portanto o
cuidado paliativo é tido como uma abordagem que procura melhorar essa qualidade de vida
com um cuidado que se aproxima do ideal, por meio de medidas e condutas que respeitem
e compreendam o indivíduo como um alguém com necessidades sociais e individuais, por-
tador de valores, crenças.
Os pacientes em cuidados paliativos necessitam, portanto de atenção especial em re-
lação a suas necessidades, ou seja, um cuidado que mais se aproxime do ideal, respeitando
autonomia, dando suporte necessário à sua família também pois entende-se que esta faz
parte integrante do bem-estar do paciente.

Os princípios do cuidado paliativo, que fundamentam esse modelo assistencial,


podem ser descritos como: Saber quando a morte está chegando; manter o
controle sobre o que ocorre; Preservar a dignidade e a privacidade; Aliviar
a dor e demais sintomas; Escolher o local da morte; Ter suporte espiritual e
emocional; Controlar quem está presente; Ter tempo para dizer adeus;( Witt-
mann- Vieira e Goldin, 2012)

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Deve ser assegurado privacidade ao paciente, como e onde passar seus últimos de
vida, procurando atender suas vontades em relação a alimentação, permitir presença de
familiares todo o período da internação.
Segundo Matos e Pulschen, 2015 o termo qualidade de vida é bastante utilizado. Existe
um conceito de qualidade de vida que tem como meta dar ao paciente possibilidades de ter
uma vida o mais normal possível, enquanto outros conseguem obter experiências emocio-
nais, e adquirem capacidade decisória em relação ao tratamento, podendo ficar em casa e
viver de forma ativa. Entretanto, deve-se compreender que a quantidade de sintomas pode
de alguma forma influenciar no bem-estar físico e emocional do mesmo.
Deve-se ter como base em cuidados paliativos princípios éticos assegurando ao pacien-
te a autonomia de tomar suas próprias decisões em relação ao tipo de tratamento quando
descoberto o câncer e poder de decisão quando também não houver mais possibilidade de
cura, ou seja, como quer viver seus últimos dias, deve ser respeitado como um ser espiritual
social e físico, pois qualidade de vida é algo fundamental ao paciente sem prognóstico para
bom para câncer.
Matsumoto 2012, traz no Manual de Cuidados Paliativos:

1. Promover o alívio da dor e outros sintomas desagradáveis


Aqui se faz necessário o conhecimento adequado para prescrição de medicamentos e
também medidas para o “sintoma total”, termo baseado no conceito de “dor total” de Cicely
Saunders, onde os aspectos biopsicossociais e espirituais sejam adotados para aliviar os
sintomas.

2. Afirmar a vida e considerar a morte como um processo normal da vida


“O CP resgata a possibilidade da morte como um evento natural e esperado na pre-
sença de doença ameaçadora da vida, colocando ênfase na vida que ainda pode ser vivida”.

3. Não acelerar nem adiar a morte


Enfatiza-se desta forma que Cuidado Paliativo nada tem a ver com eutanásia, como
muitos ainda querem entender. Esta relação ainda causa decisões equivocadas quanto à
realização de intervenções desnecessárias e a enorme dificuldade em prognosticar paciente
portador de doença progressiva e incurável e definir a linha tênue e delicada do fazer e do
não fazer.

4. Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente


A doença, principalmente aquela que ameaça a continuidade da vida, costuma trazer
uma série de perdas, com as quais o paciente e família são obrigados a conviver, quase
sempre sem estarem preparados para isto. As perdas da autonomia, da autoimagem, da

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segurança, da capacidade física, do respeito, sem falar das perdas concretas, materiais,
como de emprego, de poder aquisitivo e consequentemente de status social, podem trazer
angústia, depressão e desesperança, interferindo objetivamente na evolução da doença, na
intensidade e frequência dos sintomas que podem apresentar maior dificuldade de controle.
A abordagem desses aspectos sob a ótica da psicologia se faz fundamental

5. Oferecer um sistema de suporte que possibilite o paciente viver tão ativamen-


te quanto possível, até o momento da sua morte
A equipe multiprofissional deve estar preparada para dar o suporte necessário ao pa-
ciente neste momento de tamanho sofrimento, pois são inúmeros os problemas que dificultam
seu bem-estar o que de certa forma implica na sua qualidade de vida

6. Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença


Não pode excluir deste processo de cuidados e suporte da família, uma vez que a
mesma é parte integrante da vida do indivíduo e influencia no seu bem-estar também, ao
mesmo que influencia na vivencia do paciente dos seus últimos dias de vida, também sofre
todo o processo de luto, necessitando, portanto, de acompanhamento mesmo após o óbito.

7. Abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes e


seus familiares, incluindo acompanhamento no luto
Na prática do cuidado ao paciente, frequentemente iremos nos deparar com inúmeros
fatores que atuarão concomitantemente na modificação da resposta terapêutica medicamen-
tosa, na evolução da própria doença e na relação com o paciente e a família. A integração
sugerida pelo Cuidado Paliativo é uma forma de observarmos o paciente sob todas as suas
dimensões e a importância de todos estes aspectos na composição do seu perfil para ela-
borarmos uma proposta de abordagem.

8. Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença


A abordagem holística deve ser importante em cuidados paliativos, pois deve-se ver o
paciente não apenas como um ser físico portador de uma patologia, mas como alguém com
necessidades sociais, emocionais, culturais e espirituais, pois estes fatores estão associados
diretamente a sua qualidade de vida.

9. O tratamento adequado da doença deve ser iniciado o mais precocemente


possível, juntamente com outras medidas de prolongamento da vida e incluir
todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar si-
tuações clínicas estressantes
Uma abordagem precoce também permite a prevenção dos sintomas e de complicações
inerentes à doença de base, além de propiciar o diagnóstico e tratamento adequados de

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doenças que possam cursar paralelamente à doença principal. Uma boa avaliação emba-
sada nos exames necessários, além da definição da capacidade funcional do paciente são
indispensáveis para a elaboração de um plano integral de cuidados, adequado a cada caso
e adaptado a cada momento da evolução da doença.
De acordo com Matsumoto 2012 o Cuidado Paliativo não se baseia apenas em proto-
colos, mas em princípios. Não se usa mais o termo terminalidade, mas doença que ameaça
a continuidade da vida. Indica-se o cuidado paliativo desde o diagnóstico, estendendo este
tipo de cuidado. Não falamos também em impossibilidade de cura, mas na possibilidade ou
não de tratamento que pode modificar o curso da doença. Portanto deve-se realizar também
uma abordagem da espiritualidade dentre as dimensões do ser humano. A família é inserida,
portanto assistida também após a morte do paciente, no período de luto.
O paciente necessita, portanto, de abordagem multidimensional, quando se encontra
em cuidados paliativos, deve-se assegurar uma assistência que tenha como base a melhoria
da qualidade de vida daquele indivíduo, observando o que ele acredita ser o melhor para
ele, priorizando suas necessidades.
Para Maciel, 2012 Cuidados Paliativos e medicina paliativa necessitam de conhecimento
técnico, aliado à percepção do ser humano como sujeito que define sua história de vida e que
influencia no seu próprio curso de adoecer e morrer. Destaca-se a história natural da doença
e de vida, as reações fisiológicas, emocionais e culturais diante do processo de adoecer.
Familiares necessitam compreender a evolução da doença e da gama de acontecimentos
que levará ao evento final o óbito do doente.
Portanto não tem como trabalhar cuidados paliativos em oncologia sem inserir a famí-
lia, uma vez que esta é parte integrante do cuidado ao paciente, e na maioria das vezes é
o motivo de maior inquietação do paciente, devido instabilidade financeira muitas vezes, o
que traz inúmeras preocupações ao doente, e a família bem assistida pela equipe de certa
forma contribui para tranquilidade do paciente.

Assistência de Enfermagem

Para Bossoni et al., 2009 os profissionais de saúde ou cuidadores do paciente também


devem estar preparados técnica e emocionalmente para ajudá-lo nesse momento difícil pelo
o qual ele está passando. Muitas vezes o simples fato de ouvir o que o paciente tem para
contar, se fazer presente, dar atenção/carinho é essencial sendo mais importante do que
outra intervenção terapêutica. Para o indivíduo doente, não se sentir sozinho contribui para
a superação das dificuldades que terá de enfrentar durante o todo o curso da doença.
Portanto percebesse a importância da equipe de enfermagem no processo do cuidar
de pacientes em cuidados paliativos, desenvolvendo uma atenção holística, observando

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 87


o paciente como um todo, desenvolvendo a habilidade do ouvir e estabelecendo uma boa
comunicação obtendo desta forma um vínculo e a confiança do doente.

Os cuidados paliativos baseiam-se em princípios, não em protocolos e neste


sentido, enfatizam a importância de treinamento e de uma equipe multidis -
ciplinar que esteja sempre em comunicação. Como parte integrante dessa
equipe, a enfermagem desempenha papel de grande responsabilidade, visto
que está em contato com o paciente e seus familiares por maior período de
tempo. (Araújo e Brustein, 2013)

Os profissionais que estão em constante contato com o paciente é a enfermagem,


conhecemos de perto as necessidades, anseios, inquietações deste tipo de paciente, ne-
cessitamos, portanto, ter melhor conhecimento de como realizar nossa assistência de forma
a melhorar a qualidade de vida dos mesmos, nos preparar para ajudar paciente e familiares
a lidar com o processo da terminalidade da melhor forma possível.
Incluir a família em ações de saúde exige uma aproximação progressiva entre profis-
sionais de saúde e famílias, a construção conjunta de saberes e decisões, além da troca de
informações sobre crenças, valores, direitos e conhecimentos sobre as responsabilidades de
cada parte. Essa junção possibilita diagnosticar os problemas, definir os objetivos e planejar
as ações, envolvendo o profissional no acompanhamento, na estimulação e no apoio para
buscar as soluções, ao mesmo tempo em que a família descobre sua capacidade para o
cuidado de saúde e recorre aos recursos da comunidade para as ações. (Vasconcelos et
al, 2012)
Na pratica da enfermagem os cuidados paliativos devem considerar o alivio da dor do
paciente, levando em consideração os vários fatores que estão influenciando no aparecimento
ou mesmo na intensidade da mesma, procurando amenizar o sofrimento, ouvindo e estimu-
lando-o a expressar suas preocupações, sentimentos e desejos, procurando compreender
a reação do indivíduo a vivência daquele momento do qual se encontra.

Nessa perspectiva, a comunicação adequada é considerada um método funda-


mental para o cuidado integral e humanizado porque, por meio dela, é possível
reconhecer e acolher, empaticamente, as necessidades do paciente, bem
como de seus familiares. Quando o enfermeiro utiliza esse recurso de forma
verbal e não verbal, permite que o paciente possa participar nas decisões e
cuidados específicos relacionados com a sua doença e, dessa forma, obtenha
um tratamento digno. (Andrade et al., 2013)

O cuidado de enfermagem deve utilizar uma abordagem respeitando as peculiaridades


do paciente, utilizando uma linguagem verbal adequada, demonstrando atenção as suas ne-
cessidades, utilizando o melhor meio de comunicação possíveis, ou seja, expressões corporal
e facial que confortem o paciente, inserindo sempre a família neste processo de cuidado.

Dessa forma, os cuidados paliativos constituem um campo interdisciplinar

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de cuidados totais, ativos e integrais, destinados a melhorar a qualidade de
vida do paciente sem possibilidades de cura e dos seus familiares, por meio
de avaliação correta e de tratamento adequados para o alívio da dor e dos
sintomas decorrentes da fase avançada de uma doença, além de proporcionar
suporte psicossocial e espiritual, em todos os estágios, desde o diagnóstico de
uma doença incurável até o período de luto da família. (Andrade et al., 2013)

Saber ouvir e estar atento ao que é revelado na linguagem não verbal pelo paciente,
deve ser uma tarefa contínua e importante no processo de cuidados paliativos, precisa-se
ter uma boa percepção para identificar quais as necessidades daquele indivíduo embora
ele não possa expressar verbalmente, é necessária sensibilidade para assim desenvolver
melhor a assistência de forma eficaz.

Ao cuidar do paciente em processo de morrer, uma das principais habilidades


de comunicação necessária ao profissional é a escuta. A escuta atenta e
reflexiva é um dos principais instrumentos do profissional de saúde que atua
em Cuidados Paliativos, à medida que permite identificar as reais demandas
dos pacientes. Sentar-se ao lado do paciente, mostrando-se interessado por
sua história e disponível para ouvi-lo e compreendê-lo é uma maneira com-
provadamente eficaz assisti-lo emocional e espiritualmente. Ser ouvido é uma
importante demanda de quem vivencia a terminalidade (Silva e Araújo, 2012)

Por vezes o silêncio se torna importante, para que o paciente consiga expressar seus
sentimentos, o bom humor ´por parte do profissional é primordial, pois isso torna a comunica-
ção mais fácil com o paciente e familiares, o deixando-o com mais confiança para verbalizar
seus anseios, medos, dando oportunidade para que o mesmo consiga extravasar toda sua
angústia.
Devemos levar em consideração os tipos de dores apresentadas pelo paciente, pois só
compreendendo podemos ajuda-lo a amenizá-la, com base nisto podemos citar dois tipos:

Somática Constante, muito bem localizada, que se exacerba com movimentos


e alivia com o repouso. Osteoartrose, artralgias, metástase óssea, infiltração de
tecidos moles visceral. Em aperto ou com sensação de pressão. Frequente-
mente mal localizada e referida Câncer ou metástases abdominais. Infiltração
visceral pós-quimioterapia (cistite hemorrágica, mucosite) (Cardoso, 2012)

Portanto é importante ouvir as queixas do paciente, saber suas inquietações e iden-


tificar a que a dor manifestada está relacionada, uma vez que que sabemos que na dor de
câncer são vários fatores que influenciam na ocorrência da mesma, e cada paciente tem
um limiar de dor diferente, tornando-se desta forma uma avaliação individual criteriosa de
cada indivíduo, para que desta forma possa ser estabelecido a melhor terapêutica para o
controle de dor.
O cuidado paliativo implica, principalmente, a relação interpessoal entre as pessoas
que cuidam e as que são cuidadas, sendo as intervenções técnicas secundárias à relação

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que se estabelece entre equipe multiprofissional e pacientes. Contudo, ao observar a reali-
dade, percebe-se que o processo de cuidar adquiriu características meramente tecnicistas
e reducionistas. (Cardoso et al 2013)
Existe algo importante ao lidar com pacientes em cuidados paliativos, chama-lo pelo
nome, não utilizar como identificação enfermaria ou número de leito, ou mesmo a patologia,
pois isto faz uma grande diferença na assistência, deixa o indivíduo mais seguro, sente-se
acolhido quando é atendido pelo profissional que o chama pelo nome.
A prática de cuidados paliativos visa o controle impecável dos sintomas (físicos, psico-
lógicos, espirituais e sociais), e se estabelece como conduta regular: avaliar antes de tratar,
explicar as causas dos sintomas, não esperar que um doente se queixe, adotar uma estra-
tégia terapêutica mista, monitorar sintomas, reavaliar regularmente as medidas terapêuticas,
cuidar dos detalhes e estar disponível. (Luca et al. 2012)
A disponibilidade da equipe de enfermagem no processo de cuidar é importante devi-
do estes permanecer maior tempo no cuidado ao doente, com isto a inserção da família no
cuidado é primordial, pois esta pode ajudar no tratamento do paciente, uma vez que o elo
de confiança entre equipe de enfermagem, paciente, e família torna-se mais forte, facilitando
desta forma adesão a terapêutica implementada, e procurando atender as necessidades de
ambos com intuito de melhorar a qualidade de vida destes indivíduos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível concluir com base nos dados coletados, que a enfermagem tem um impor-
tante papel, na assistência aos pacientes oncológicos em cuidados paliativos, contribuindo
deste modo para melhorar a qualidade de vida destes pacientes, através de mecanismos tais
como comunicação sendo ela verbal ou não verbal, inserindo a família com o objetivo de me-
lhor compreender o indivíduo, amenizando seus anseios, inquietações, medos e oferecendo
o suporte necessário para que as manifestações sejam elas de origem fisiológica, emocional
possam ser controladas, possibilitando assim uma melhor abordagem neste tipo de cuidado.
Pode-se observar claramente como uma equipe treinada para este tipo de cuidado
pode fazer a diferença na vida destes pacientes, uma vez que tem maior sensibilidade para
lidar com os mais variados tipos de emoções manifestadas.

REFERÊNCIAS
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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 91


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14 mai 2018 16:40

92 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


07
“ A Influência da prática de
atividade física na terapêutica
da depressão

Carla de Mendonça Rêgo Maria Lídia Pereira Cabral Morais

Adriny dos Santos Araújo Priscila de Alvarenga Antunes

Anderson Laureth
Tatiane de Alvarenga Antunes

Heitor dos Reis Barbosa

Letícia Bianco Gomes de Almeida

10.37885/200700740
RESUMO

Introdução: A depressão é um transtorno de humor que exerce um enorme impacto em


diferentes domínios do funcionamento individual, podendo incluir sentimentos como tristeza
e desesperança, além de alterações somáticas, envolvendo o sono, apetite, atividade
motora e função sexual. O exercício físico é cada vez mais reconhecido como uma
intervenção eficaz sobre esses aspectos do indivíduo que se encontram comprometidos.
Objetivo: Analisar a influência da prática de exercícios físicos no tratamento da depressão.
Metodologia: Trata-se de um estudo transversal, de cunho teórico, realizado através
de levantamento bibliográfico e pesquisa de evidências científicas que analisaram a
repercussão do exercício físico na depressão. Resultados: Os principais resultados
demonstraram que o exercício físico pode ser um auxiliar nas terapêuticas tradicionais,
se associando à redução da depressão e exercendo um efeito protetor no surgimento
de sintomas depressivos. Acredita-se que os mecanismos responsáveis pela melhora da
saúde mental estejam relacionados aos aspectos psicológicos, como distração e interação
social, e o estímulo à transmissão sináptica. Entretanto, pesquisas mais aprofundadas
sobre o tema ainda precisam ser realizadas.

Palavras-chave: Atividade Física; Depressão; Saúde Mental.


INTRODUÇÃO

A depressão é um transtorno mental bastante prevalente na população, estimando-se


mais de 300 milhões de pessoas no mundo com esse transtorno. A depressão afeta mais
mulheres que homens e é a principal causa de incapacidade, contribuindo de forma impor-
tante para a carga global de doenças, como as cardiovasculares (OPAS, 2018). Os níveis
de depressão são mais altos em indivíduos do sexo feminino, com média de idade em 45
anos e que residem desde a infância em meio urbano (Vasconcelos-Raposo et al., 2009).
De acordo com o Manual de diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM
- IV-TR) (APA, 2000), a depressão maior é caracterizada por um intervalo de duas semanas
ou mais em que há humor depressivo ou perda de interesse na maioria das atividades do
dia-a-dia do indivíduo, além da experiência de pelo menos um sintoma complementar, como
por exemplo, sentimentos de desvalorização pessoal ou culpa, alterações no sono e apetite,
diminuição da energia ou planos suicidas.
Segundo o Ministério da Saúde (2020), as causas da depressão podem ser: genética,
representando 40% da suscetibilidade para desenvolver depressão; deficiência de neu-
rotransmissores como noradrenalina, serotonina e dopamina; e eventos estressantes em
pessoas com predisposição genética.
Os transtornos depressivos têm como característica o humor triste, vazio ou irritável,
alterações somáticas e cognitivas que repercutem de forma importante no indivíduo (DSM-V,
2014). Algumas das alterações causadas pela depressão são: tristeza persistente; baixa
autoestima; sentimentos de culpa e desesperança; dificuldade de concentração; memória
e raciocínio; irritabilidade, ansiedade e angústia; impulsos suicidas; cansaço físico; dores
inexplicáveis pelo corpo; perda ou ganho de peso; desinteresse sexual; entre outros (SB-
MFC 2010).
Para adultos mais velhos, os transtornos de depressão são problemas psicológicos co-
mumente observados. Em várias revisões de artigos, a prevalência de depressão em idosos
foi numerada em mais de 40%. Entre os típicos fatores de risco para o desenvolvimento de
sintomas depressivos em idade mais avançada são perda de contato social próximo (incluin-
do viuvez), falta de atividades sociais, eventos estressantes da vida, viver em atendimento
institucional, baixa renda e baixo nível de escolaridade, assim como presença de alguma
deficiência (Wegner et al., 2014).
Contudo, a depressão é subdiagnosticada e subtratada. Uma grande proporção de
pacientes não é diagnosticada por médicos da atenção primária a saúde, por exemplo. Esse
fato implica no agravo dos sintomas depressivos ao longo do tempo, com grande compro-
metimento da função do indivíduo. Os pacientes que não têm a depressão diagnosticada e
tratada na atenção primária devem ser tratados com mais cautela, pois 28% deles pensam

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 95


em tirar a própria vida (Rost et al., 1998).
Tradicionalmente, o tratamento inclui três fases: a fase aguda, dois a três primeiros
meses e visa à diminuição dos sintomas depressivos ou mesmo sua total remissão. Fase de
continuação, quatro a seis meses que seguem e o objetivo é manter o resultado obtido na
primeira fase evitando recaída, e ao final desta etapa, se o paciente mantiver a melhora, é
considerado recuperado, e a última fase, a de manutenção, é evitar novos episódios. Essa
última é mais recomendada em pacientes com maior risco de recorrência (pacientes com
episódios prévios, história familiar de transtorno de humor, comorbidades, início tardio e
episódios de difícil controle). Não há duração definida para essa etapa.
É valido pontuar que a dose efetiva do tratamento de continuação, é a mesma dose
usada no tratamento em fase aguda (Fleck MA et al., 2011)
Os pacientes portadores de depressão maior dificilmente são tratados de maneira
apropriada, e quando recebem o tratamento adequado, existe uma alta probabilidade de
continuarem deprimidos ou terem uma recaída após o tratamento de primeira linha (Murri
et al., 2019). A depressão é tratada por médicos de clínica geral, psiquiatras e psicólogos,
que recorrem ao aconselhamento, às intervenções psicológicas e aos medicamentos anti-
-depressivos, como por exemplo, a fluoxetina e a amitriptilina, que são classificadas como
inibidor seletivo da recaptação de serotonina e tricíclico, respectivamente. Porém, a ativi-
dade física têm se mostrado eficaz no tratamento da depressão maior em adultos, idosos e
adolescentes; e de acordo com alguns estudos, a depressão e o exercício físico são duas
variáveis com uma relação inversa, pois quando uma aumenta, a outra sofre uma queda
considerável (Vasconcelos-Raposo et al., 2009).
A psicoterapia e o tratamento com antidepressivo, como por exemplo, os inibidores
seletivos da recaptação da serotonina são intervenções comuns para transtornos depressão
clínica. No entanto, há diversos efeitos colaterais que podem em um primeiro momento des-
virtuar o tratamento, como ganho de peso, aumento da pressão arterial e comprometimento
da função sexual. Diante dessa vertente, surge a necessidade de não apenas drogas e psi-
coterapia serem prescritas, mas também programas de exercício comum. Confiar mais no
exercício e na atividade física a fim de melhorar o bem-estar pessoal também pode ajudar
a reduzir os custos no sistema de cuidados de saúde. Consequentemente, há um crescente
interesse em terapias alternativas cujos programas, incluindo a oferta de atividade física.
Portanto, é de grande interesse atualmente em obter mais informações sintetizadas sobre
o efeito médio de tais programas no tratamento da depressão. (Wegner et al., 2014).

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, de cunho teórico, realizado através de levantamento

96 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


bibliográfico, pesquisa de evidências científicas nas bases de dados indexadoras Scielo e
Medline, na qual foram utilizados os descritores “exercício físico” e “depressão”, com suas
respectivas variações de acordo com o MeSh, além de outros materiais para aprofundamento
do tema. Foram utilizados como critérios de inclusão artigos que analisavam a repercussão
do exercício físico na depressão. Como critérios de exclusão, artigos que abordavam apenas
tratamentos farmacológicos para depressão. A pesquisa limitou-se a artigos publicados nos
anos de 1994 a 2019.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para melhorar a detecção da depressão, é recomendável uma abordagem que inclua


Educação em saúde para os usuários do sistema e educação continuada para médicos sobre
a detecção e tratamento e adoção de diretrizes clínicas para implementação do tratamento
(Anderson et al., 2000).
A depressão é dividida nos seguintes subtipos: (a) Distimia: quadro mais leve e crônico,
que dura por no mínimo 2 anos. Estão presentes queixas de cansaço, desânimo, e senti-
mento persistente de preocupação. Normalmente, inicia na adolescência ou no princípio da
idade adulta; (b) Depressão endógena: sintomas como perda de interesse em atividades,
falta de reatividade do humor, lentidão psicomotora, queixas de esquecimento, perda de
apetite importante e perda de peso, e tristeza; (c) Depressão Atípica: aumento de apetite
com possível ganho de peso, sonolência, sensibilidade exagerada à rejeição; (d) Depressão
sazonal: ocorre no início do outono/inverno e fim da primavera. A prevalência desse subtipo
é maior entre jovens que vivem em maiores latitudes;(e) Depressão psicótica: quadro grave,
com presença de delírios e alucinações;(f)Depressão secundária: síndromes depressivas
associadas ou causadas por doenças medico e/ou medicamentos; (g) Depressão Bipolar:
início normalmente precoce de episódio depressivo que irá se caracterizar como bipolaridade
(Ministério da Saúde 2020).
O tratamento da depressão pode incluir tratamentos psicológicos, como ativação com-
portamental, terapia cognitivo-comportamental e psicoterapia interpessoal ou medicamentos
antidepressivos (OPAS, 2018). O encaminhamento psiquiátrico deve ocorrer em caso de risco
de suicídio, sintomas psicóticos, transtorno afetivo bipolar. O clínico deve avaliar também
para o encaminhamento ao especialista sua experiência em tratamento de depressão ou se
houveram duas ou mais tentativas de tratamento que falharam ou resultaram em resposta
parcial (Anderson et al., 2000).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 97


Segue abaixo um fluxograma da terapêutica da depressão

Fonte: MANSUR, C.G.; DUARTE, L.S. Depressão e mania. Medicina Net. Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/
revisoes/52/depressao_e_mania.htm

Além das formas de tratamento convencionais como psicoterapia e terapia farmaco-


lógica, que demandam um gasto substancial na saúde pública, é possível associar a elas o
exercício físico, com influência positiva no tratamento (Vieira et al., 2007).
Constatou-se por pesquisas que a atividade física colabora para atingir maior bem-estar
psicológico, com evidências mais significativas em mulheres, nos idosos e nos atletas. Indiví-
duos que praticam atividade física regularmente têm menos probabilidade de desenvolverem
depressão. A atividade física está ligada à redução da depressão, contribuindo positivamente
na prevenção e melhora de certas doenças como diabetes, por exemplo, e ajuda a lidar de
forma mais funcional com situações estressantes do cotidiano (Vasconcelos-Raposo et al.,
2009). Ademais, é preciso levar em conta a relação entre o estresse crônico, que é um fator
de risco para depressão, doenças cardiovasculares e metabólicas (Sanches et al., 2016).
Além disso, a prática de atividade física melhora o condicionamento físico, e somada ao

98 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


auxílio na área psicofisiológica, se mostra com considerável importância para o tratamento
da depressão de nível moderado (Vieira et al., 2007). Os exercícios, se forem contínuos
e duradouros, estão também associados de forma importante ao benefício terapêutico em
indivíduos com depressão maior (Vasconcelos-Raposo et al., 2009). Aqueles que adotam
a atividade física como rotina em suas vidas tem auxílio na regulação de seus estados de-
pressivos e também aumentam seus níveis de energia (Vasconcelos-Raposo et al., 2009).
O exercício físico traz uma oportunidade de mudar o foco das atenções diárias de pen-
samentos negativos para pensamentos de criatividade e positividade, além da recuperação
da percepção estética corporal, afetando diretamente a identidade e a auto-estima, permitindo
a superação dos sentimentos de depressão (Amorosi, 2014). Diante de diversos fatores, ele
parece ser o tratamento ideal para a depressão: disponível, acessível, com efeitos colaterais
mínimos. (Leppämäki et al., 2004).
Um aspecto importante a ser destacado é a relação da atividade física com a interação
social. Ela é capaz de oferecer novas possibilidades de relacionamento em grupo, o que pode
se tornar uma oportunidade de reabilitação social, visto que os grupos esportivos podem
satisfazer a necessidade de pertencer, substituindo o grupo familiar primário se ausente ou
quando apresenta problemas. A prática de esportes é uma boa oportunidade de praticar
jogos e se divertir, gerando prazer e bom humor. (Amorosi, 2014). Diversos mecanismos
podem explicar os efeitos do exercício para melhorar o humor: psicológico (maior senso de
autoestima, feedback positivo), social (um aumento nos contatos sociais) e fisiológico (alte-
rações nas concentrações centrais de endorfina e monoamina). Assim, a atividade física é
capaz de induzir mudanças de fase nos ritmos circadianos, tornando possível que o exer-
cício também exerça parte de sua ação sobre o humor, influenciando o relógio circadiano.
(Leppämäki et al., 2004).
O exercício aeróbico é adequado para melhorar significativamente vários parâmetros
relacionados à capacidade cardiopulmonar no Transtorno Depressivo Maior, como aptidão
cardiorrespiratória, capacidade aeróbica e oxigenação, o que pode estar ligado à sua efi-
cácia antidepressiva. Nesse sentido, um estudo demonstrou que o exercício físico é um
valioso tratamento adjuvante durante episódios depressivos, na medida em que o grupo que
realizou um programa regular de exercícios utilizou doses mais baixas de antidepressivo
do que os controles, diminuindo a necessidade de doses altas para alcançar a eficácia do
antidepressivo, e essa correlação indica uma potencial melhora inicial maior no grupo do
exercício. (Siqueira et al., 2016).
O exercício promove uma redução moderada dos níveis de cortisol, o hormônio do
estresse, em indivíduos com Depressão Maior. Entretanto, vale ressaltar, que a redução dos
níveis de cortisol pode ser influenciada por aspectos metodológicos, como tipo de exercício,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 99


frequência semanal e tipo de medida de cortisol. Um efeito maior ocorre com o treinamento
aeróbico, frequência de atividades de cinco vezes por semana e observação do cortisol ao
despertar, cortisol matinal após jejum noturno, e 24 horas de excreção pela urina, uma vez
que mudanças no ritmo diurno de cortisol são observados em alguns casos de Transtorno
Depressivo Maior. (Bezerra et al., 2018).
A associação entre atividade física e nível de sintomas depressivos é bidirecional, sendo
que uma maior frequência de atividade prevê um número menor de sintomas depressivos, o
aumento da atividade de 0 a 3 vezes por semana reduz os sintomas equivalendo a uma
redução de 19% nas chances de depressão. Níveis mais altos de sintomas depressivos se
associam com atividade física menos frequente, contudo, essa relação é mais forte na idade
adulta jovem e diminuiu com o aumento da idade, demonstrando que os sintomas depressivos
antes da meia-idade podem ser uma barreira à prática da atividade física (Pereira, 2014).
Além disso, a atividade física tem a capacidade de estimular o contato positivo com a
natureza e expor os indivíduos aos benefícios dessa relação (ar livre, verde, luz solar, etc.)
fato que estimula a atividade da hipófise e consequente produção de hormônios que pare-
cem frequentemente deficientes na depressão (Amorosi, 2014). A exposição à luz intensa
e o exercício físico, mesmo em combinação, são bem tolerados e eficazes nos sintomas
depressivos, de modo que adicionar exposição à luz ao exercício para o tratamento da de-
pressão e sintomas depressivos, alcançaram efeitos benéficos no humor em ensaios em
populações adultas saudáveis. A exposição natural à luz, com uma hora de caminhada ao ar
livre, também pode ser uma medida eficiente no tratamento de distúrbios afetivos sazonais.
(Leppämäki et al., 2004).
Estudos comparando exercício com medicação como tratamento para depressão mos-
trou que a eficiência do medicamento antidepressivo é comparável aos efeitos da atividade
física elevada (Wegner et al., 2014). Já foi demonstrado que a resposta inicial é mais rápida
com uso da farmacologia de antidepressivos, mas após 16 semanas de tratamento o exercí-
cio é igualmente eficaz. Uma investigação semelhante mostrou que atividade física elevada
e medicação são igualmente eficaz no alívio dos sintomas da depressão (Blumenthal et al.,
2007).
Durante a prática de esportes de resistência moderados, o cérebro sofre “estresse
positivo”, ativa a produção de uma molécula complexa que, subsequentemente, gera a pro-
dução de dois tipos importantes de neurotransmissores: acetilcolina e endorfinas, moléculas
que produzem as sensações de analgesia e de bem-estar. O aumento desses hormônios
é acompanhado de uma diminuição no cortisol contribuindo para despertar a capacidade
natural do cérebro de secretar substâncias antidepressivas e ajudar a controlar o “estresse
negativo” (Amorosi, 2014).

100 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


A atividade física exerce efeitos tranquilizantes rápidos, devido também ao aumento da
temperatura corporal, enquanto o exercício regular reduz a concentração de insulina circu-
lante, estimula a atividade da glândula adrenal e a secreção de noradrenalina, serotonina,
endorfina e dopamina, influenciando na melhora do humor (Sanches, 2016). Os exercícios
físicos, principalmente os de maior intensidade fazem com que o organismo libere endorfina,
que é uma substância opióide relacionada ao bem-estar (Taylor et al., 1994). A atividade
em que o indivíduo se exercita de forma mais intensa faz com que os valores médios de
depressão diminuam, de maneira que o exercício físico contribui na redução ou prevenção
da depressão ou sintomas depressivos (Vasconcelos-Raposo et al., 2009). É significativo
mencionar que a prática de exercícios físicos deve ocorrer com a supervisão de educadores
físicos ou pessoas habilitadas (Vieira et al., 2007).
Distúrbios do sono são comuns em estados depressivos e na população em geral.
Diante disso, luz e exercício são capazes de arrastar os ritmos circadianos, que podem
ser um, mas não o único mecanismo de ação refletido como melhora do sono e do humor.
Problemas com o sono, especialmente insônia inicial, podem presumir uma boa resposta
ao tratamento usando luz e exercícios combinados em homens e mulheres com sintomas
depressivos. (Leppämäki et al., 2004).
Na abordagem do "esporte como antidepressivo", é muito importante a regularidade
e a prática de exercícios físicos moderada, controlada e constante. A prática de atividade
física moderada deve ser o mais diversificado possível, um esporte de resistência, alternando
com um esporte de equipe ou esporte marcial, a fim de não exceder os limiares positivos do
estresse causado por exercícios esportivos que ativam a secreção de hormônios (Amorosi,
2014).
A prática de atividade física não é responsável por suprimir completamente a depres-
são, mas tem influência favorável como um dos componentes no tratamento. Há inclusive
evidências positivas da inclusão de exercícios comparados ao tratamento já estabelecido.
É necessário considerar que a prática de atividades físicas deve ser regular, já que estudos
demonstraram que após 6 meses da interrupção dos exercícios seu efeito positivo não se
mantém (Vieira et al., 2007). Ademais, grupos que não alcançam as práticas de exercícios
físicos recomendados demonstram valores médios de depressão superiores (Vasconcelos-
-Raposo et al., 2009).
A atividade física tem uma importância potencial para prevenir e aliviar os sintomas
depressivos na idade adulta, mesmo níveis baixos de atividade podem proteger contra a
depressão. Desse modo, do ponto de vista clínico, os profissionais que ajudam os pacientes
a se recuperar da depressão podem abordar a atividade dentro de seu plano de tratamento
para fatores do estilo de vida. São fundamentais estratégias para manter e promover a ativi-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 101


dade física em todas as idades, visto que os sintomas depressivos podem ser considerados
uma barreira potencial à atividade (Pereira, 2014).
Apesar da existência de várias evidências que demonstram a importância da prática
de exercícios físicos para melhorar o condicionamento físico, trazer benefícios psicofisio-
lógicos e complementar o tratamento da depressão, ainda há a necessidade de pesquisas
mais aprofundadas sobre o tema. Um aspecto que pode ser levado em conta em estudos
futuros é o controle dos fatores que podem influenciar no tratamento, como ingestão calórica,
hidratação, relacionamento familiar e hábitos de vida (Vieira et al., 2007).
Com o cenário atual em que o Brasil se encontra, considerando o impacto da grave
crise econômica que assola o país nos últimos anos, um número cada vez maior de queixas
relacionadas à saúde mental vem se estabelecendo nos consultórios médicos. Os custos
crescentes associados ao uso de antidepressivos destacam um importante papel das terapias
complementares como a atividade física. Uma metanálise realizada recentemente evidenciou
que o exercício está estritamente relacionado com um tratamento eficaz para pessoas com
depressão. Os benefícios variam desde a diminuição dos sintomas depressivos como também
a melhora das medidas antropométricas, aumento da capacidade aeróbica e elevação da
qualidade de vida. No Brasil, as Diretrizes para tratamento da depressão não estabelecem a
atividade física como uma terapia complementar ou monoterapia, o que acaba por dificultar
a adesão desse tipo de terapia para pacientes com depressão.
Um estudo brasileiro (Schuch et al., 2014) demonstrou que, em pacientes gravemente
deprimidos, houve uma diminuição significativa dos sintomas depressivos quando associado
ao tratamento farmacológico a prática de atividade física, promovendo melhorias na quali-
dade de vida tanto física quanto psicológica.
No entanto, acredita-se que a baixa integração da atividade física como tratamento
complementar nas diretrizes de tratamento da depressão se deve aos estudos que corre-
lacionam essas condições não estabelecerem de que maneira e a intensidade que esses
exercícios devem ser recomendados para um tratamento eficaz na depressão. São necessá-
rios mais estudos que esclareçam a dose ideal de atividade física, além da colaboração de
profissionais como educadores físicos e fisioterapeutas, por exemplo, que, bem treinados e
com conhecimento em psicopatologia, venham ser incorporados às equipes de saúde mental
para um melhor e mais eficaz tratamento da depressão. (Carneiro et al., 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em comparação com o tratamento convencional, com uso apenas de antidepressivos,


os exercícios físicos exercem influência positiva como complemento terapêutico na depres-
são, de forma que, ao aumentar a prática de exercícios, os sintomas depressivos tendem a

102 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


diminuir. Além disso, existe um efeito protetor no surgimento dos sintomas depressivos. A
prescrição ideal do exercício para o tratamento da depressão permanece desconhecida e
a resposta terapêutica necessita ser mais estudada.

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104 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


08
“ A influência do ambiente e da
mobilidade para saúde de idosos

Priscilla Cardoso Silva


UFRGS

Débora Pastoriza Sant' Helena


UFRGS

Andréa Kruger Gonçalves


UFRGS

10.37885/200800874
RESUMO

A restrição de um ambiente adequado aumenta a probabilidade de incapacidade funcional,


problemas de saúde e mortalidade. O objetivo deste trabalho foi demonstrar a influência
do ambiente na mobilidade de idosos. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica.
Para pesquisa foram utilizadas três bases de dados: Lilacs, Pubmed e Scielo. Foram
selecionados artigos científicos publicados no período de 2014 a 2019. Observou-
se que dos seis artigos que tiveram relação com o tema, abordaram o ambiente e a
mobilidade de forma diversificada e diferenciada sobre a perspectiva da mobilidade física
e mobilidade urbana. Ressaltamos a necessidade de novas pesquisas sobre a temática
e de políticas públicas, na busca de adequadas soluções e prerrogativas para prevenção
de enfermidades perante o envelhecimento da população.

Palavras-chave: Mobilidade; Ambiente; Ambiente Construído; Idosos.


INTRODUÇÃO

O envelhecimento humano é um processo universal e natural, caracterizado pela di-


minuição gradual e progressiva das alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, e
nas modificações psicológicas e sociais, estas mudanças determinam a perda das capaci-
dades físicas e cognitivas podendo levar a prejuízos na mobilidade e adaptações ao am-
biente no qual interagem, evoluindo para o aumento de processos patológicos e até a morte
(FERREIRA et al., 2012; FECHINE; TROMPIERI, 2015). A adversidade das alterações do
envelhecimento associados a este aumento de patologias e ao efeito do ambiente sobre a
mobilidade definem o comprometimento ou dependência física dos idosos, fator que atinge
cerca de um terço à metade dos idosos com idade acima de 65 anos (ROSSO; AUCHIN-
CLOSS; MICHAEL, 2011).
Com o crescente aumento populacional de idosos com idade superior a 60 anos, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013) apontou que em 2030 a popu-
lação de idosos será maior que a de crianças com idade até 14 anos, e em 2055, supe-
rará a população com idade inferior a 29 anos de idade, aumentando consideravelmente
o número de idosos no país. Atualmente no Brasil, os idosos são caracterizados pela sua
predominância entre o sexo feminino, etnia/raça branca, e 80% residem nas áreas urbanas,
dados relevantes para o controle e preocupação com os fatores externos relacionados ao
envelhecimento (IBGE, 2013).
Estes fatores populacionais têm influenciado no aumento de pesquisas sobre o ambiente
e a sua influência na forma de viver das pessoas. O ambiente pode ser caracterizado como
o ambiente natural, referente ao clima, vegetação e topografia, no entanto, as característi-
cas do ambiente construído têm sido amplamente estudadas nos últimos anos. O ambiente
construído compreende as construções, espaços e objetos que são criados ou alterados pelo
homem, com objetivo de moradia, comércio, indústria, modificando o transporte, ocupação,
lazer e atividades do lar (HINO; REIS; FLORINDO, 2010). O ambiente construído estruturado
nas cidades diariamente influenciam na manutenção e melhoria da autonomia, bem-estar e
a participação social das pessoas, tendo relação com a utilização e otimização dos recursos
ambientais, como a residência, espaços de convivência e de lazer, incluindo a acessibilidade
e mobilidade (HANS-WERNER; WEISMAN, 2003). A acessibilidade relaciona a pessoa e
o ambiente, representando um encontro entre o idoso com sua capacidade funcional e as
exigências do ambiente físico que se encontra (PETTERSSON et al., 2017).
Segundo as definições de Portugal e Loyola (2014) a mobilidade da pessoa idosa
é definida como a capacidade física que o idoso possui para se movimentar e realizar as
atividades da vida diária, tanto no ambiente domiciliar como no seu ambiente externo. O
comprometimento da mobilidade e a dependência nas atividades de vida diária podem oca-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 107


sionar situações no qual o idoso está sujeito ao aumento do risco de quedas, influenciando
diretamente no seu estado de saúde, pois acabam se tornando dependentes nas suas
atividades físicas, ocasionando em isolamento social, progredindo para uma alteração na
sua saúde mental (OLIVEIRA; GOMES, 2013).
A redução da capacidade funcional ocorre pelo comportamento adotado dos idosos,
afetando o estado geral de saúde e favorecendo a diminuição das atividades físicas e diárias
(LOURENÇO et al., 2012), para alteração deste comportamento se faz importante o estímulo
e, um ambiente desafiador e facilitador para os idosos. Assim a mobilidade urbana difere nas
características pessoais diretas da capacidade física, pois são relativas ao deslocamento
das pessoas e os espaços urbanos, visando toda a infraestrutura de deslocamento no coti-
diano, influenciando nos diversos meios de locomoção e transporte, como a pé, de bicicleta,
automóvel, ônibus, trem e metrô, públicos e privados (PORTUGAL; LOYOLA, 2014). No es-
tudo de Giehl et al., (2012) a importância da presença de calçadas, ruas e demais espaços
públicos de boa qualidade, enfatizam a possibilidade para um deslocamento mais eficaz e
criam um ambiente propício até para a prática de atividade física.
O pesquisador Lawton (1977; 1983), muito citado em estudos, enfatiza a importância
do ambiente e de seus fatores multidimensional, referenciados a critérios intrapessoais e a
critérios sócios normativos comportamentais, sobre a qualidade de vida e o bem-estar inter-
ligando sobre o sistema pessoa-ambiente, e a forma na qual o indivíduo tem competência
para lidar com a combinação de estresse e adaptações ambientais. Estas adaptações ao
ambiente permitem significados e afetos relacionados a vínculos sociais em torno da vida
cotidiana e do ambiente que se vive, permitindo acessibilidade, independência, mobilidade
e relações sociais (SCHEIDT et al., 2006; LIMA, 2011). Estes aspectos são preocupantes
para a assistência e planejamento público, pois não é percebido evolução no planejamento
de um ambiente mais acessível, mesmo frente ao fenômeno do envelhecimento populacional
(GRANBOM et al., 2016).
Visando a carência de atenção aos aspectos ambientais que se encontram os idosos
e na mobilidade que afeta as suas atividades do cotidiano e o seu estado de saúde, torna-
-se uma preocupação para a sociedade e para as políticas públicas, desta forma o objetivo
deste estudo foi demonstrar através de uma revisão bibliográfica a influência do ambiente
na mobilidade de idosos.

METODOLOGIA

Utilizou-se como metodologia a revisão bibliográfica que consiste na procura de refe-


rências teóricas para análise do problema de pesquisa e a partir das referências publicadas
fazer as contribuições científicas ao assunto em questão (LIBERALI, 2011). A estruturação

108 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


da revisão foi baseada nas seguintes etapas: identificação do tema e definição; definição dos
critérios de inclusão e exclusão de artigos; definição das informações a serem extraídas dos
estudos selecionados; leitura na íntegra dos estudos selecionados e análise; interpretação
e discussão dos artigos; e apresentação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A pesquisa foi realizada nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS), National Library of Medicine (PUBMED) e a Scientific Electronic
Library Online (Scielo). Como estratégia de busca em cada uma das bases, envolveu-se a
utilização de palavras-chave na língua portuguesa: "ambiente" OR "ambiente construído"
AND "mobilidade" AND "idosos" OR "envelhecimento".
Os critérios de inclusão utilizados para compor a pesquisa de revisão dos artigos foram:
a) estudos em língua portuguesa; b) estudos com população acima de 60 anos; c) estudos
que identificaram de alguma forma os temas relacionados às palavras pesquisadas; d) estu-
dos publicados no período de 2014 a 2019. Ao longo da pesquisa foram excluídos os artigos
cujo ambiente estava associado à outra patologia, desta forma não sendo possível determinar
de maneira independente os resultados; artigos de revisão sistemática e artigos duplicados.

RESULTADOS

A presente revisão identificou no total 78 artigos potencialmente relevante, dos artigos


listados tiveram seus resumos lidos e, após a aplicação dos critérios de inclusão, os resumos
foram selecionados para leitura do texto completo. A leitura dos artigos na íntegra permitiu
um maior entendimento das informações, de forma que foram filtrados novamente excluindo
os artigos que não abordavam o ambiente e mobilidade, restando seis artigos para compor o
corpus documental desta revisão. As informações relacionadas a este processo de seleção
de artigos estão sumarizados na figura abaixo.

Figura 1. Organograma de estratégia metodológica.

Fonte: autoras

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 109


O quadro 1 (abaixo) apresenta o perfil dos artigos inseridos nestes estudo e as in-
formações mais relevantes. Observa-se que dos seis artigos selecionados, dois estavam
diretamente relacionados aos meios de locomoção, dois tratavam da mobilidade e do am-
biente nas instituições de longa permanência, um estudo de coorte, relata a realidade de
uma comunidade e o espaço, e um estudo que aborda a relação dos idosos com os espaços
públicos de uma cidade.

Quadro 1. Resultados da pesquisa bibliográfica

Artigo Autores e ano Tamanho da amostra (N) Tipo estudo Relevância

Sete (54,0%) referiram dificul-


dades para dirigir, dos quais 5
(71,4%) apresentavam dificul-
Programa de orientação
dades decorrentes da intera-
com ênfase em práticas N=13 idosos (idade Pesquisa de-intervenção
ALMEIDA et al., 2016 ção com o ambiente; 3 idosos
de autocuidado para entre 62 a 82 anos) (entrevista; grupo focal)
(42,9%), com dificuldade emo-
motoristas idosos
cional e 3 (42,9%) obtiveram
dificuldades físicas, sensoriais
e/ou cognitivas.
O conhecimento da bicicleta é
fundamental para a promoção
eficaz de sua utilização em
espaço urbano, para a qual o
A cidade e a bicicleta:
Dados populacionais- planeamento regional e urba-
uma leitura analítica VALE, 2016 Pesquisa documental
portugues no tem um papel fundamental,
VALE, 2016
igualmente ou mesmo superior
ao papel do planeamento de
transportes. A fim de estimular
a prática física.
O efeito de período foi o mais
Efeito da idade, período
importante para as três dimen-
e coorte de nascimento
sões da incapacidade, com au-
na incapacidade de
mento da prevalência no início
idosos residentes na SILVA et al., 2019 N=1,606 idosos Estudo de coorte
do período, seguida de redu-
comunidade: Coorte
ção ao longo do tempo, com
de Idosos de Bambuí
pequenas diferenças em rela-
(1997-2012).
ção ao sexo e a escolaridade.
Para a mobilidade, foi possí-
vel identificar que a maioria
Avaliação do déficit
N= 34 idosos (17 institu- dos idosos institucionalizados
cognitivo, mobilidade e CARNEIRO; VILELA; Estudo transversal de
cio- nalizados e 17 não e não institucionalizados são
atividades da vida diária MEIRA, 2016 abordagem quantitativa
institucio- nalizados independentes sendo essas
entre idosos
diferenças não significativas
(p=0,0210).
O ambiente construído envol-
Ambiente construído,
vente disponibilizar as condi-
saúde pública e políticas
N= 88 idosos (MI= 75 ções suficientes (em termos de
públicas: uma discussão SANTINHA; MAR-
anos) de 11 Instituições Estudo transveral atividades/serviços e acessibili-
à luz de percepções e QUES, 2015
de Longa Permanência. dade) a predisposição dos ido-
experiências de idosos
sos institucionalizados para sair
institucionalizados
é, de uma forma geral, elevada.

110 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


A percepção de dificuldades,
como poucos bancos, falta de
faixas de segurança, tempo
de sinal muito curto para pe-
Percepção dos idosos
destres, degraus muito altos
jovens e longevos Estudo de base popu-
N= 6913 idosos de 59 e mau cheiro dos banheiros
gaúchos quanto aos NAVARRO et al., 2015 lacional, observacional,
cidades. públicos, foi maior entre os ido-
espaços públicos em descritivo e retrospectivo
sos jovens. Os idosos longe-
que vivem
vos perceberam menos esses
fatores, porém, destacaram
menor frequência nos ambien-
tes comunitários.

Fonte: Autoras

CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS

Nos resultados dos estudos trouxeram três vertentes, percebidas através das institui-
ções de longa permanência; preocupação em relação às quedas e a capacidade funcional e;
espaços, transportes e locomoção, correlatados nos desafios ambientais e o envelhecimento.
A perda da capacidade funcional apresenta-se como um dos fatores relevantes na
relação com o ambiente e a mobilidade de idosos, gerando dependência, aumento do medo
e risco de quedas, barreiras na mobilidade provocando complicações ao longo do tempo,
institucionalização, ocasionando o aumento de cuidados e alto custo para os serviços de
saúde, além da morte (CARNEIRO; VILELA; MEIRA, 2016). No estudo dos mesmos auto-
res sobre instituições de longa permanência com 34 idosos (17 institucionalizados e 17 não
institucionalizados) foi possível verificar que 88,24% dos idosos institucionalizados são inde-
pendentes contrapondo aos 70,59% não institucionalizados que apresentam esta condição,
no entanto, não ocorreram diferenças significativas entre a mobilidade e a moradia. Neste
estudo, apesar dos idosos institucionalizados aparentemente possuírem independência, po-
dem desenvolver ao longo de sua estadia diferentes graus de dependência, devido a falta de
motivação, encorajamento e estímulo, característicos dos ambientes asilares (CARNEIRO;
VILELA; MEIRA, 2016).
Em um outro estudo com 11 instituições (Centro-dia e Instituições de Longa permanên-
cia) foram entrevistados 88 idosos de cada instituição, sobre os cinco critérios de mobilidade:
conectividade (transporte público); convivência (caminhos a pé); conforto (deslocamento
pleno e agradável, sensação de calma e acolhimento, mobiliário de descanso); legibilidade
(percursos fáceis e locais de fáceis de encontrar) e convivência (locais atrativos e espaços,
integração social, culturais e riquezas arquitetônicas), estes cinco critérios produzem um
resultado na mobilidade, participação social, qualidade de vida e ambiente urbano, fatores

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 111


relevantes para as políticas públicas de cuidado e acolhimento (SANTINHA; MARQUES, 2015).
Em um estudo brasileiro, Silva et al., (2019) apresentam o estudo de coorte em ido-
sos de Bambuí, no período de 1997-2012, as taxas de perda da mobilidade variaram de
acordo com o aumento da idade, apresentaram 35% na faixa etária de 60 a 62 anos de
idade evoluindo para até 95% entre idosos com idade superior a 102 anos, correlacionando
a mobilidade diretamente ao declínio funcional e a importância de um ambiente adequado
para a execução das atividades diárias e locomoção. A incapacidade nas três dimensões
consideradas, mobilidade, atividades básicas de vida diária e atividades instrumentais de
vida diária, indicam a importância do investimento em saúde nas políticas e programas para
o público idoso (SILVA et al., 2019).
Outro fator alarmante para a saúde pública são as preocupações com as quedas, que
estão diretamente relacionada a perda do nível funcional, a perda de equilíbrio, velocidade da
marcha e ao baixo nível de mobilidade (CARNEIRO; VILELA; MEIRA, 2016), no estudo com
idosos portugueses foram abordados os receios de sofrerem quedas, devido a diminuição
da mobilidade, perda de equilíbrio e capacidade funcional (SANTINHA; MARQUES, 2015).
Desta forma, se faz importante o surgimento de estratégias para estimular a mobilidade e
as atividades de vida diária entre os idosos (CARNEIRO; VILELA; MEIRA, 2016).
Em um estudo o discurso abordado pela maioria dos idosos são as saídas das institui-
ções, para passeios a cafés ou lugares verdes, mas não apresentaram interesse na saída
para a prática de atividade física, no entanto, outros idosos declararam que não viam a
necessidade de se ausentar da instituição, pois o local supria toda as suas necessidades,
podendo ser também justificado pela opinião positiva ao local do estabelecimento, pois a
maioria residia próximo ao local, levando ao aumento da motivação para institucionalização,
ponto de vista positivo geograficamente (SANTINHA; MARQUES, 2015).
O interesse de sair do local onde reside foi apontado no estudo sobre a percepção dos
idosos jovens (60 a 79 anos) e longevos (acima 80 anos) gaúchos, totalizando 6913 entre-
vistados em 59 cidades gaúchas, destes 1378 entrevistados relataram a falta de segurança
como a maior barreira que dificulta a sua saída de casa. A segunda barreira relatada foi a
dificuldade de locomoção, principalmente entre os mais velhos, seguido de falta de motivação,
falta de companhia e dificuldade com o transporte público, sugerindo que o grupo de longevos
apresentam menor mobilidade devido a maiores limitações físicas (NAVARRO et al., 2015).
No estudo de Almeida et al., (2016) com um grupo de idosos, identificaram à influência
de fatores internos (pessoa) e externos (ambiente), sobre a relação do meio de transporte e
a direção veicular, 71,4% dos idosos entrevistados apontaram a interação com o ambiente
um fator de dificuldade ao dirigir. O ato de dirigir exige do idoso multi habilidades, além de
experiência, responsabilidade e discernimento, exige a capacidade de julgar habilidades, se

112 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


adaptar às dificuldades, identificar previamente as alterações de circunstâncias ambientais
favoráveis e tomada de decisão
Deste modo perceberam a importância das orientações/educação perante as condições
relativas ao ambiente físico e social, como a deficiência dos mecanismos de educação no
trânsito, fiscalização e punição às infrações. Ambas mudanças favorecem a mobilidade dos
motoristas e pedestres, para se manter sempre uma direção segura pelo maior tempo possível,
já que muitas vezes são agravados pelo processo de envelhecimento (ALMEIDA et al., 2016).
O meio de transporte apresentado no estudo de Vale (2016) foi a bicicleta, este meio
além de promover benefícios à saúde física e mental, é uma ferramenta de mobilidade urba-
na, muitas vezes utilizada por idosos devido a ser um meio de transporte eficaz, econômico
e de fácil manuseio sendo uma solução importante de acessibilidade para o deslocamento
urbano. Apesar do idoso apresentar uma velocidade inferior a um adulto, 6-8 km/h, em fun-
ção da idade, as condições ambientais influenciam diretamente a sua prática em relação
ao clima, tempo e atratividade cênica da paisagem dificultando ou favorecendo o seu uso
para locomoção.
A utilização deste meio de transporte, a bicicleta, proporciona benefícios coletivos, pela
redução de poluentes, redução de poluição sonora e de espaço físico, favorecendo a aceitação
do encerramento da carteira de habilitação, promovendo bem-estar psicológico, socialização,
independência e melhora da saúde física (ALMEIDA et al., 2016; VALE, 2016). Assim o idoso
se torna um dos fatores relevantes para as alterações de acessibilidade e mobilidade nas
cidades, justificando o acréscimo de ciclovias urbanas, para segurança, visto que os idosos e
as crianças são os grupos mais vulneráveis a acidentes de trânsito (VALE, 2016).
Em relação a mobilidade e o ambiente, os idosos institucionalizados ao tratar do des-
locamento das instituições a pontos de referência foram classificados por dois níveis: no
primeiro nível (distância do estabelecimento de 400/500 metros) metade dos idosos en-
contravam áreas de lazer e consultórios; no nível dois (800m a 1 km) mais da metade dos
idosos encontravam cafés, restaurantes, mercearias, áreas verdes e de lazer, e três quar-
tos encontravam igrejas (SANTINHA; MARQUES, 2015). Nesse mesmo estudo, os idosos
afirmaram que procuravam realizar atividades que possuíam curtas distâncias, ou no caso
de longas distâncias tinham a preocupação desses locais possuírem assentos/bancos e
caminhos com menos barreiras arquitetônicas, apresentaram também o desapontamento ao
utilizarem transporte público, devido a baixa mobilidade física, acesso irregular nos carros,
a escassez de veículos, a própria inexperiência para utilizá-los e a reduzida sensibilidade
por parte da população geral para com as pessoas idosas (SANTINHA; MARQUES, 2015).
Assim preferiam realizar as atividades a pé, mesmo encontrando obstáculos, pelo mau
funcionamento e precária estrutura física nas passarelas, ou até mesmo pela sua ausência,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 113


situações que poderiam contribuir para o aumento dos casos de acidentes (SANTINHA;
MARQUES, 2015). A desatenção ao pedestre e acesso às vias públicas foi uma queixa em
estudo de Santinha e Marques (2015), neste 1181 idosos jovens e 149 longevos relataram
que os automóveis não priorizavam os pedestres e se sentiam inseguros com a falta de
faixas de segurança para pedestres, pelas calçadas não adaptadas e falta de sinalização.
Como visto no estudo de Navarro et al., (2015) a preocupação e a insegurança com
os ambientes públicos surgiu em 26,1% dos entrevistados, o relato de poucos bancos e má
conservação dos mobiliários também foi uma preocupação entre 19,6% dos idosos, relataram
o descaso dos locais (sujeira, sem limpeza) e baixa iluminação, não havendo diferença esta-
tística significativa em relação aos grupos de idosos. A percepção de todas essas dificuldades
foram mais percebidas pelos idosos jovens, porém, para os idosos mais longevos não teve
grande influência sobre eles, pois frequentavam menos ambientes coletivos e comunitários.
A maioria dos estudos enfatizaram que nos ambientes externos e domiciliares, ins-
tituições e órgãos públicos necessitam repensar as estruturas asilares e das cidades nas
questões socioeducativas tornando os espaço acolhedores, melhorando a sua estrutura
física, com estratégias de autonomia, proteção, motivação, encorajamento e acessibilida-
de, favorecendo a uma maior independência, mobilidade e saúde aos idosos (SANTINHA,
MARQUES, 2015; CARNEIRO; VILELA; MEIRA, 2016; VALE, 2016; ALMEIDA et al., 2016)
para que suas interações cotidianas sejam ampliadas e assim seja garantido o direito ao
envelhecimento ativo.
A presente revisão bibliográfica apresentou algumas limitações: a delimitação do idioma
em língua portuguesa, a utilização de apenas três bancos de dados; a exclusão de disserta-
ções e teses e a escassez de produções sobre o tema, restringindo a literatura para análise
e discussão da temática. O objetivo do estudo foi demonstrar a influência do ambiente na
mobilidade de idosos, por ser um tema novo a maioria dos estudos se basearam na capaci-
dade funcional de realizar as atividades de vida diária dentro dos ambientes, na locomoção
urbana, diante seus desafios perante a segurança e o medo de quedas em ambientes não
adaptados para o envelhecimento.

CONCLUSÃO

Este estudo possibilitou relacionar o ambiente e a mobilidade de idosos, retratando


a realidade através de abordagens diferenciadas e diversificadas. A mobilidade por ser a
capacidade de se movimentar pode ser influenciada pelas dificuldades físicas, psicológicas e
sociais, ocasionando ao idoso o isolamento social, dependência e incapacidades funcionais,
desta forma, o ambiente se torna o local, a nível residencial e externo, determinante para a
motivação e interesse do idoso para se locomover e se integrar na sociedade.

114 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Há necessidade de mais discussões sobre o tema, abrangendo o idoso como um dos
pilares da sociedade para definição de estratégias de mobilidade urbana e de políticas pú-
blicas, com o intuito de promover soluções e medidas de prevenção em saúde, necessárias
para o declínio da utilização intermitente dos serviços pela população idosa, facilitando a
mobilidade física e a construção de um ambiente acolhedor e urbanamente funcional para
a longevidade populacional.

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116 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


09
“ A inserção de acadêmicos de
medicina na Sala vermelha e a
complementação ao ensino de
urgência e emergência: relato de
experiência

Ailton Marques Rosa Filho Rogério Massaru Watanabe


UFGD
UFGD

Cristiane Vieira Brunetti


UFGD

Gabriela Rodrigues de Menezes


UFGD

Liliana Francisco Silva Japeniski


UFGD

Marcelo Eidy Fukuda Lins


UFGD

10.37885/200600534
RESUMO

Introdução: Acidentes, envenenamentos e violências constituem as principais causas de


mortalidade na população, entre 15 e 49 anos, das regiões metropolitanas. O atendimento
hospitalar das vítimas descritas inicia-se na sala vermelha, com a avaliação adequada
e a estabilização do quadro. Objetivo: Relatar as experiências vivenciadas, em tais
ambientes, pelos acadêmicos, durante as atividades extracurriculares. Metodologia:
Os estudantes realizaram plantões na área vermelha do Hospital da Vida e da Unidade
de Pronto Atendimento, de Dourados, no período setembro de 2017 a agosto de 2018,
acompanhados pela equipe profissional responsável do setor hospitalar. Resultados:
A vivência na sala vermelha permitiu a realização, pelos discentes, de procedimentos
e técnicas hospitalares no contexto de urgência e emergência, além da obtenção de
conhecimentos acerca das principais ocorrências atendidas. Conclusões: A introdução
acadêmica na sala vermelha contribui para a formação do profissional, sendo importante,
sobretudo, porque médicos recém-formados acabam trabalhando em plantões, seja em
prontos-socorros, unidades de pronto atendimento ou atendimento pré-hospitalar.

Palavras- chave: Sala Vermelha; Urgência e Emergência; Educação Médica; Ligas


Acadêmicas.
INTRODUÇÃO

O trauma leva a óbito, anualmente, 5,8 milhões de indivíduos no mundo, ou seja, 10%
da mortalidade encaixa-se nesse contexto (OPAS, 2019). Segundo a National Association
of Emergency Medical Technicians (2012), somando as mortes provenientes de todas as
doenças, ainda assim, esse número é menor do que os óbitos ocorridos por traumas não
intencionais e violência. Destaca-se que a população mais jovem e ativa está mais exposta
às situações de risco, comprovadamente, indivíduos entre 15 a 29 anos têm como principal
causa de mortalidade os danos provenientes do trânsito, vitimando, no Brasil, anualmente,
41 mil indivíduos, sendo que 284 mil permanecem com sequelas e a soma atinge o montante
de 199 bilhões de reais, custo estimado por pesquisa realizada pelo DPVAT (NATIONAL
ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2012; HOSPITAL SÃO MAR-
COS, 2018).
Nesse contexto, o atendimento pré-hospitalar adequado se destaca como diferencial
e modificador das consequências pós-trauma, atuando positivamente sobre a gravidade do
quadro, diminuindo os impactos econômico, psicológico e social (OPAS, 2019; NATIONAL
ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2012). A abrangência do
trauma configura-se, entre diversas outras causas, situações como envenenamento, afo-
gamento, quedas, queimaduras, suicídio, homicídio, acidentes com veículos motorizados e
armas de fogo, ocupando os dois últimos mais da metade desses óbitos (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2001). Fica claro, também, que muitas dessas causas são evitáveis e passíveis de
prevenção, sendo incontestável a importância de políticas públicas preventivas (NATIONAL
ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2012).
Os prontos socorros são áreas de grande complexidade assistencial dentro das uni-
dades de saúde, são esses locais que recebem as urgências e emergências médicas e,
usualmente, são divididos em alas de acordo com o nível de complexidade das patologias
dos pacientes (MARTINS et al., 2014; GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,
2020). A ala vermelha (ou sala vermelha) é onde ficam os pacientes com estados de saúde
mais comprometidos, que diretamente chegam precisando de estabilização rápida, cuidados
intensivos, terapia medicamentosa apropriada, terapia nutricional, transfusões, fisioterapia
respiratória e suporte ventilatório, necessárias para o aumento da sobrevida (GOVERNO DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2020; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Após manutenção
e controle do quadro clínico dos pacientes, os mesmos podem ser encaminhados para ou-
tros setores hospitalares, segundo a complexidade individual (GOVERNO DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO, 2020; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013; SOBRAL SOARES et al., 2016).
Atuar em um ambiente como esse requer competências profissionais e conhecimen-
tos científicos fundamentais para o manejo rápido e adequado dos pacientes, direcionando

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 119


condutas especificas, identificando a necessidade de transferências e conduzindo a equipe
profissional presente para o melhor atendimento em saúde (SHENVI et al., 2013).
As ligas acadêmicas de medicina são entidades vinculadas às universidades e organi-
zam-se como atividades extracurriculares e complementares à graduação, participando da
manutenção do tripé da formação acadêmica (ensino, pesquisa e extensão) (FERREIRA et
al., 2016). Existentes desde a primeira metade do século XX, com o surgimento da primeira
liga acadêmica ainda em 1920, as mesmas ocuparam espaços importantes na formação do
profissional médico (BOTELHO et al., 2013). Organizadas pelos próprios estudantes, com
a supervisão de docentes e profissionais voluntários, as ligas acadêmicas constituem um
contato maior – e, muitas vezes, inicial – dos estudantes com determinada especialidade
médica, oferecendo-lhes conhecimentos e experiências práticas nas respectivas temáticas
(BOTELHO et al., 2013; CAVALCANTE et al., 2018).
Diante disso, a inserção de acadêmicos de Medicina em áreas de urgência e emergência
hospitalares, através de ligas acadêmicas, consiste em um complemento ao ensino dessa
temática. E, fundamentado na descrição acima, este trabalho busca relatar as experiências
vivenciadas pelos acadêmicos participantes, durante as práticas executadas na sala ver-
melha das unidades de saúde.

METODOLOGIA

Os acadêmicos do curso de Medicina, da Universidade Federal da Grande Dourados,


participantes da Liga Acadêmica Murched Omar Taha de Técnica Operatória e Cirurgia
Experimental, puderam realizar plantões vespertinos e noturnos, com duração de 5 horas,
durante o período de setembro de 2017 até agosto de 2018, na área vermelha do Hospital
da Vida e da Unidade de Pronto Atendimento, em Dourados. Os plantões aconteciam de
segunda-feira até sexta-feira, das 19h até 00h, e de sábado e domingo, das 14h até 19h e
das 19h até 00h, com cada turno ocupado por dois estudantes participantes, de anos dis-
tintos da graduação.
Para a realização das atividades em ambiente intra-hospitalar, os discentes receberam
uma palestra a respeito das normas de biossegurança hospitalar e orientações sobre ética
e postura para profissionais da área da saúde. Além disso, foram realizadas aulas teóricas,
ministradas por docentes voluntários, durante o período descrito, sobre diversos temas apli-
cáveis nos setores de urgência e emergência, por exemplo, traumatismo cranioencefálico,
princípios da anestesiologia, reanimação cardiopulmonar e infarto agudo do miocárdio.
Durante a execução das atividades práticas, os estudantes foram acompanhados e
supervisionados pela equipe profissional responsável pelo setor hospitalar, onde puderam
acompanhar o atendimento e o manejo dos pacientes – trazidos pelo Serviço de Atendimento

120 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Móvel de Urgência, pelo Corpo de Bombeiros ou por fluxo interno da Unidade de Saúde –
que demandavam por atenção hospitalar de urgência e emergência. Além disso, os acadê-
micos presenciaram as discussões clínicas dos pacientes admitidos, realizadas pela equipe
profissional responsável pelo setor hospitalar, e puderam observar a rotina de trabalho local
e o preenchimento dos documentos necessários (prontuários médicos, relatórios técnicos,
admissões intra-hospitalar e solicitação de exames complementares).
Os procedimentos e as técnicas de situações de urgência e emergência puderam ser
executados pelos discentes, desde que os mesmos tivessem conhecimento teórico prévio
e com a supervisão da equipe profissional presente. Para a avaliação das experiências
vivenciadas durante os plantões acadêmicos, os estudantes preencheram relatórios das
atividades executadas, descrevendo os casos acompanhados – sem identificar os pacientes
–, as condutas terapêuticas aplicadas e os procedimentos realizados pela equipe profissional
responsável, as técnicas executadas pelos mesmos e o aprendizado obtido.
Ademais, os acadêmicos puderam discutir e sanar as dúvidas surgidas durante os plan-
tões para com a equipe profissional do setor hospitalar, correlacionando com os conteúdos
já aprendidos na graduação e permitindo o conhecimento dos principais agravos à saúde
considerados de risco iminente de morte. Os discentes participantes foram voluntários, parti-
cipando das atividades descritas por interesse acadêmico próprio, servindo de complemento
à graduação e de contato antecipado aos serviços hospitalares de urgência e emergência.

RESULTADOS

A inserção dos acadêmicos no setor hospitalar de urgência e emergência proporcio-


nou a obtenção de conhecimentos acerca das principais ocorrências atendidas – traumas
fechados e abertos, choque hipovolêmico, acidente vascular encefálico, infarto agudo do
miocárdio, pneumotórax e hemotórax, crise hipertensiva, queimaduras, crise convulsiva,
hipoglicemias e intoxicações –, por exemplo, conceitos das patologias, fisiopatologia das
condições clínicas, quadro clínico das respectivas enfermidades e tratamento das doenças
vistas, através das discussões clínicas, e do funcionamento do serviço (encaminhamentos,
membros profissionais e cuidados para com os pacientes), além de noções sobre classifi-
cação de risco e segurança no atendimento médico.
A vivência na sala vermelha propiciou a realização de procedimentos e técnicas hospita-
lares no contexto de urgência e emergência, com a supervisão da equipe profissional do setor
hospitalar, por exemplo, reanimação cardiopulmonar, acessos venosos central e periférico,
intubação, drenagem torácica e suturas, além de atos médicos gerais, como verificação dos
sinais vitais (aferição da pressão arterial, palpação dos pulsos arteriais, monitorização das
frequências cardíaca e respiratória, aferição da temperatura), medição da glicemia capilar,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 121


escala de coma de Glasgow, sondagem vesical para monitorização da diurese e exame físico
geral. Além disso, os estudantes aprenderam e praticaram a propedêutica clínica, desde a
história clínica até a execução de técnicas propedêuticas direcionadas.
Os discentes conseguiram aplicar conhecimentos adquiridos durante a graduação e
as aulas teóricas complementares organizadas nas atividades práticas vivenciadas na sala
vermelha das unidades de saúde descritas. Os profissionais de saúde presentes, ainda,
explicaram as condutas clínicas, diagnósticas e terapêuticas aplicadas nos pacientes atendi-
dos, sanando as dúvidas dos acadêmicas e estimulando o raciocínio médico no contexto de
urgência de emergência. Além disso, os estudantes observaram a avaliação complementar
dos pacientes, através da solicitação de exames laboratoriais e de imagem, podendo aprender
as alterações presentes de acordo com cada patologia vista e os exames mais apropriados
para avaliação do paciente segundo o respectivo quadro clínico.
Outrossim, as experiências proporcionadas representaram o primeiro contato com o
ambiente hospitalar, sobretudo relacionado à área vermelha, para alguns participantes, como
acadêmicos e futuros profissionais de saúde, permitindo-lhes introduzir práticas médicas nos
primeiros anos da graduação e estimulando o desenvolvimento do raciocínio clínica na sala
de urgência e emergência. Houve, também, a percepção da importância da equipe profissio-
nal unida no atendimento hospitalar inicial dos pacientes trazidos, devido a necessidade de
execução de um tratamento rápido e efetivo para impedir o agravamento do quadro clínico
e a instalação de sequelas.
Com isso, as atividades de extensão na sala vermelha serviram de complemento para
a graduação, trazendo, aos estudantes, maior experiência prática e aplicabilidade na área,
além de atuar como ambiente favorável ao aprendizado de conhecimentos no contexto de
urgência e emergência e possibilitar a antecipação do contato acadêmico com o ambiente
hospitalar e com os pacientes e as patologias associadas.

DISCUSSÃO

A formação médica deve contemplar o ensino de habilidades e competências direcio-


nadas ao atendimento qualificado para os doentes nos diferentes cenários da urgência e
emergência, sobretudo devido aos impactos socioeconômicos proporcionados pelas enfer-
midades encaminhadas à área vermelha hospitalar e às taxas de morbimortalidade relacio-
nadas ao manejo inadequado ou demorado (TEDESCHI et al., 2018). Diante disso, em 2013,
pela Lei nº 12.871, que instituiu o Programa Mais Médicos, presente no inciso 1º do artigo
4º do capítulo III, firma que, no funcionamento dos cursos de Medicina, ao menos 30% da
carga horária do internato médico da graduação serão desenvolvidos na Atenção Básica
e em Serviço de Urgência e Emergência do SUS, respeitando-se, ainda, o tempo mínimo

122 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de 2 anos do ciclo descrito (BRASIL, 2013). Apesar das experiências práticas geradas pelo
internato médico, que são de grande importância para a formação do profissional de saúde,
a carga horária dedicada para as vivências em urgência e emergência é insuficiente para o
aprendizado efetivo e para o treinamento adequado, dada à potencial gravidade dos casos
atendidos e à exigência de competências profissionais específicas (AGUIAR et al., 2011;
FRAGA et al., 2014).
O sistema de graduação é um processo de aprendizagem progressiva que desperta no
estudante um complexo de crescimento que envolve não só o conhecimento em si, mas o
amadurecimento, a formação de caráter, a necessidade de decisões e a segurança frente à
prática médica. Para isso, é preciso se criar empatia sem se envolver demais com situações
de perdas; é preciso ter firmeza, sem ter arrogância; e é preciso ter técnica, sem perder a
humanidade (PINHEIRO DA COSTA et al., 2012). Nesse sentido, as ligas acadêmicas geram
a oportunidade de complementar esse complô de progresso que torna o acadêmico de medi-
cina um bom profissional, na medida em permitem a construção de um ambiente de prática
e de auxílio à comunidade, mostrando o processo de doença além da questão biológica, e
envolvendo também seus aspectos sociais e psicológicos (DE QUEIROZ et al., 2015).
As ligas acadêmicas são reconhecidas por seu importante papel em agregar conheci-
mento e valor à vida do estudante, complementando sua graduação com grande bagagem
e experiência (HAMAMOTO FILHO, 2011). Promove atuação em áreas específicas não
contempladas pelos currículos tradicionais, permitindo aproximação do estudante com as
especialidades (MONTEIRO et al., 2008). Sendo uma atividade da qual o aluno é livre para
participar ou não, torna-se um espaço autônomo em relação às formalidades acadêmicas
(MONTEIRO et al., 2008). Nesse espaço, ele poderá canalizar suas ansiedades e expec-
tativas (experiência médica, integração social, enriquecimento de currículo, ampliação da
prática médica), e também aprenderá por iniciativa própria, num exercício de autogestão de
seu aprendizado – tornando a experiência prazerosa e mudando sua relação com o conteúdo
(HAMAMOTO FILHO, 2008; TORRES et al., 2008). Muitas universidades não possuem ser-
viços especializados em algumas áreas, dificultando o acesso dos acadêmicos às mesmas
(TORRES et al., 2008). Neste parâmetro, a liga acadêmica trabalha para explorar e apro-
fundar o conteúdo defasado na tentativa de complementação de conteúdos em currículos
que não transmitam segurança aos estudantes, podendo atuar em áreas com discussões de
casos clínicos, plantões de dúvidas, capacitações teórico-práticas e convênios com outros
hospitais (PERES et al., 2007).
O atendimento rápido e de qualidade na emergência e urgência já é considerado, há
um bom tempo, um dos mais importantes do sistema de saúde, pelos riscos de sequelas e
altas taxas de morbimortalidade em casos de falha (LEMOS et al., 2011). No entanto, existem

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 123


estudos avaliando que o conhecimento de estudantes da área da saúde nesse assunto nem
sempre é tão bom quanto deveria (FERNANDES et al., 2014). Mas também, há estudos que
indicam que o complemento que as ligas de emergência e urgência proporcionam ao conhe-
cimento estão sendo significativas na visão dos alunos (LEMOS et al., 2011). Isso justifica
ainda mais a necessidade da inserção de acadêmicos nas salas vermelhas dos hospitais,
tendo em vista que a vivência nesses ambientes contribui com o amadurecimento pessoal
e técnico que resultará em profissionais mais seguros e mais humanos para iniciarem suas
carreiras com plantões ou em sistemas de pronto-atendimento (TEDESCHI et al., 2018).

CONCLUSÕES

A importância do aprendizado em urgência e emergência para a formação de profissio-


nais da área da saúde é indubitável, e a introdução antecipada e organizada de estudantes em
ambientes de atendimento e manejo dos pacientes, no contexto de urgência e emergência,
torna-se um complemento ao ensino da graduação e permite um aprendizado acadêmico
prolongado. A participação em ligas acadêmicas possibilita o maior contato dos estudantes
com determinada área médica, possibilitando adquirir conhecimentos e experiências funda-
mentais para a prática profissional. Além disso, a inserção acadêmica na sala vermelha é
importante, sobretudo, porque médicos recém-formados acabam trabalhando em plantões,
seja em prontos-socorros, unidades de pronto atendimento ou atendimento pré-hospitalar.

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126 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


10
“ A Linguagem no Autismo: amostras
de casos clínicos respaldados
na teoria sociointeracionista -
estimulação de linguagem no
autismo

José Danillo dos Santos Albuquerque Maria Eduarda Caiana Cavalcanti


UFPB UFPB

Alícia Gabriele Freitas Belarmino Thiago Emerson dos Santos Ferreira


UFPB UFPB

Laylla Carolline Ferreira de Andrade Flávia Luiza Costa do Rêgo


UFPB UFPB

Lívia Lima do Nascimento Silva Ivonaldo Leidson Barbosa Lima


UFPB UFPB

Lívia Vitória Martins Alves


UFPB

10.37885/200700670
RESUMO

A linguagem humana se manifesta desde a mais tenra infância, seja por meio do
choro, sorriso ou olhar de um bebê, e vai sendo aprimorada à medida que a criança
se desenvolve. Por meio da linguagem a criança terá contato e conhecimento do
ambiente em que está inserida, tornando-se, portanto, um importante instrumento de
aprendizagem e socialização. A literatura aponta várias teorias que procuram explicar
a linguagem e o seu desenvolvimento, dentre elas encontra-se o sociointeracionismo,
defendido por Vygotsky ao afirmar que a linguagem é fruto da interação social, do
diálogo entre os interlocutores e reconhecimento do outro. Porém, algumas alterações
do neurodesenvolvimento podem interferir tanto no processo de aquisição, quanto no
desenvolvimento da linguagem, como o Transtorno do Espectro Autista, caracterizado
principalmente pelas alterações comportamentais, transtornos no desenvolvimento
da linguagem e déficit em interações sociais. Objetiva-se apresentar relato de casos
clínicos vivenciados em um projeto de extensão universitária realizado por acadêmicos
sob orientação de professora coordenadora, em uma clínica-escola de uma instituição
pública de ensino superior. A metodologia empregada foi descrever de forma narrativa
as ações e o tratamento de duas crianças que apresentam o Transtorno do Espectro
Autista e participaram de intervenção fonoaudiológica em linguagem com abordagem
sociointeracionista. Partindo do pressuposto que a linguagem se desenvolve a partir da
interação com o outro, os casos descritos apontam a eficácia da abordagem escolhida,
através da evolução das pacientes acompanhadas.

Palavras-chave: Fonoaudiologia; Linguagem Infantil; Terapia da Linguagem; Transtorno


do Espectro Autista.
INTRODUÇÃO

A linguagem humana é uma atividade interacional e sócio-cognitiva, na qual nossas


capacidades mentais são forjadas, tanto em termos filogenéticos, quanto ontogenéticos (MO-
RATO, 2013). Sua emergência ocorre ao longo do desenvolvimento humano e é resultado
de uma relação imbricada de múltiplos fatores: sociais, emocionais, cognitivos, biológicos,
ambientais, entre outros (LIMA, 2020).
Estes fatores promovem um processo de aquisição da linguagem singular, contínuo,
não-linear e sujeito à variações, que contempla a mudança de estado da criança de não
possuir nenhuma forma de expressão linguística à apropriação da língua de sua comunidade
(SCARPA, 2001).
Neste percurso de desenvolvimento linguístico, as crianças se apropriam de habilidades
relacionadas ao uso dialógico da língua, a funções comunicativas essenciais à interação, a
diferentes significados, palavras e possibilidades de construções frasais, além da aquisição
dos sons e regras fonotáticas da língua.
Por meio da linguagem, a criança tem acesso a valores, crenças e regras, adquirindo
os conhecimentos de sua cultura – antes mesmo de adquirir as primeiras palavras em seu
vocabulário. Ao longo do desenvolvimento infantil, a criança aprimora seu sistema percep-
tual, que a possibilita alcançar um nível linguístico e cognitivo mais avançado, enquanto seu
campo de socialização se estende, principalmente quando tem uma maior oportunidade de
interagir com outros parceiros interativos (BORGES; SALOMÃO, 2003; SILVA, 2018).
Diferentes teorias tentam explicar de que modo ocorre esse processo de aquisição da
linguagem. As mais conhecidas, e consideradas teorias clássicas, são: a abordagem com-
portamental, a qual defende a linguagem como um comportamento que pode ser aprendido
pela criança dentro de uma contingência de estímulos, respostas, reforço e inibição (ABREU;
HÜBNER, 2012). Por sua vez, a teoria inatista acredita que o ser humano é biologicamente
projetado com uma faculdade de linguagem, o que possibilita sua aquisição e uso de uma
língua (BEZERRA; SOUZA, 2013). No que concerne a abordagem construtivista, ela afirma
que a linguagem é construída mediante a interação entre criança e meio, mostrando-se como
um reflexo das capacidades cognitivas infantis e interiorização dos esquemas sensório-mo-
tores produzidos pela experimentação ativa da criança (DIAS, 2010).
Além das supracitadas, há a abordagem sociointeracionista - privilegiada neste estudo e
no projeto que será apresentado a seguir. Alicerçada nos estudos de Vygotsky (1984/1993),
defende que o desenvolvimento da linguagem e do pensamento tem origens sociais, externas,
nas trocas comunicativas entre os dois interlocutores, na interação verbal e no diálogo com
o outro. Essa teoria acredita que a interação com o outro impulsiona o desenvolvimento da
linguagem infantil, que começa antes da emergência das primeiras palavras, por meio da

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 129


troca de olhares e pelo compartilhamento de gestos, sons, expressões e estados emocionais
entre os interlocutores (DEL RÉ, 2006; CAVALCANTE, 2018).
Assim, para Borges e Salomão (2003), as relações da criança com os adultos são
fundamentais para o desenvolvimento de suas habilidades linguísticas, visto que elas se
constituem como um sistema dinâmico, por meio do qual ambos contribuem com suas expe-
riências e conhecimentos para o curso da interação, estabelecendo uma relação recíproca
e bidirecional.
Contudo, algumas crianças podem apresentar dificuldades nesse processo de aquisição
e desenvolvimento da linguagem, por diferentes motivos que podem ser agrupados em dois
amplos grupos: os fatores intrínsecos (alterações de origem do neurodesenvolvimento) e
os extrínsecos ao sujeito, nos quais destaca-se a falta de estimulação parental com uso da
linguagem e comunicação ao longo da infância.
Em uma divisão atual, Dodd (2018) classifica os atrasos de linguagem de acordo
com sua etiologia. Aos atrasos advindos de fatores extrínsecos, como falta de estimulação,
denomina-se “falantes tardios”; aos atrasos advindos de fatores internos, de ordem neuro-
desenvolvimental atípicos, como nos casos de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA),
trata-se de um Transtorno de Linguagem (TL).
Assim é importante acompanhar o desenvolvimento infantil no intuito de promover
melhores situações de interação e uso da linguagem. A criança que apresenta dificuldades
ou atrasos no processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, sinaliza - com esses
sintomas - que precisa de ajuda para superação do problema, uma vez presente em sua
vida. Nesse sentido, o adulto que naturalmente é seu interlocutor, percebendo a possível
defasagem no processo de aquisição e uso da linguagem, deve buscar ajuda terapêutica.
Um profissional importante nesse contexto é o fonoaudiólogo, responsável pela intervenção
nos distúrbios da comunicação humana.

CONCEITO E QUADRO CLÍNICO FREQUENTE NO TRANSTORNO DO


ESPECTRO AUTISTA

O TEA é considerado uma síndrome comportamental decorrente de diferentes fatores


etiológicos ainda não bem especificados, que provocam um distúrbio no desenvolvimento
global, sendo caracterizado por déficit de interação social, considerando-se a pouca habili-
dade desse sujeito em relacionar-se com o outro, conjugando-se ao atraso no desenvolvi-
mento da linguagem e alterações observadas no comportamento (PERISSINOTO, 2004).
A Organização Mundial de Saúde (OMS), na sua classificação internacional das doenças,
coloca o TEA tal qual uma síndrome presente na vida das crianças desde o nascimento,
mas que a manifestação pode aparecer antes dos 30 meses, apresentando conforme al-

130 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


gumas características, respostas anormais a estímulos auditivos ou visuais, como também
dificuldades na compreensão e uso da linguagem (FERNANDES, 2003).
Na década de 1940, o psiquiatra Leo Kanner apresentou para a comunidade científica
“o distúrbio autístico de contato afetivo” que posteriormente foi denominado “autismo”. Kanner
realizou observações em crianças que não se encaixavam em nenhuma das classificações
psiquiátricas existentes na psiquiatria infantil. Ele constatou sobretudo, em seu estudo, que
essas crianças demonstravam ser inteligentes, apresentavam uma excelente capacidade de
memorizar, muita dificuldade de interação social, e o uso da linguagem não acontecia ou sua
manifestação não se preocupava em reconhecer o outro como seu interlocutor (CAVALCAN-
TI; ROCHA, 2007). Além disso, abordou algumas das características comportamentais de
indivíduos com grande dificuldade de interação social, por causa do isolamento do convívio
com as pessoas e realização de movimentos repetitivos.
Nessa primeira publicação, Kanner ressalta que o sintoma fundamental é “o isolamento
autístico”, esse comportamento está presente na criança desde o início da primeira infân-
cia. Ele apresentou casos de onze crianças que tinham em comum um isolamento extremo
desde o início da vida e um anseio obsessivo pela preservação da rotina, a essas crianças
ele chamou de “autistas” ( ALVES; LISBOA; LISBOA, 2010).
O termo Autismo deriva do grego autós, que significa “por si mesmo” e, ismo, “condi-
ção, tendência” (SILVA; GAIATO; REVELLES, 2012). O Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais, em sua 5ª edição, (DSM-V) adota o termo Transtorno do Espectro
Autista (TEA), agrupando várias doenças anteriormente separadas: Transtorno Autista,
Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de Asperger e Trans-
torno Global do Desenvolvimento sem outra especificação (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION, 2014).
O conceito e diagnóstico do TEA também sofreram alterações ou adaptações nos úl-
timos tempos, algumas perspectivas e prognósticos foram modificados desde sua primeira
descrição até o momento atual. Esse fato é de se esperar, uma vez que estudos e pesquisas
avançaram na direção de melhor compreender a síndrome, para que se pudesse intervir
de modo mais apropriado possível (BRASIL, 2013). O termo “espectro” é utilizado devido a
alteração poder se desenvolver em diferentes graus, variando também quanto a intensidade
de seus sintomas e as características apresentadas (SILVA et al., 2017).
Os familiares são, em geral, os que primeiro percebem “que algo não está bem” com
a criança. Isso porque as crianças com TEA, restringem ou atrasam o funcionamento das
habilidades e atividades da vida diária, comparado com crianças neurotípicas. Os sintomas
podem ser singulares, bem como o ritmo do desenvolvimento, ou mesmo, serem mascara-
dos por mecanismos compensatórios (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 131


A estimulação precoce se faz de extrema importância no desenvolvimento, não só
de indivíduos com TEA, mas também com outros transtornos do neurodesenvolvimento. A
visão e promoção do cuidado em saúde sob uma perspectiva interdisciplinar é indispensá-
vel para a evolução de quadros clínicos dos mais leves aos mais severos (DUARTE et al.,
2016; GOMES et al., 2017).
A intervenção fonoaudiológica na promoção da saúde da comunicação da criança obje-
tiva detectar a gravidade da alteração, para promover um diagnóstico e propor a intervenção
com o objetivo de estimular e otimizar todas as possibilidades de uso da linguagem, tanto
oral como escrita e valorizar a interpretação da linguagem não verbal (corporal) empregada
pela criança, colocando-se a seu lado como intérprete e interlocutor natural (GOULART;
CHIARA, 2012).
As dificuldades linguísticas no TEA estão ligadas à dificuldade em formar, adquirir e
usar os conteúdos da linguagem. Por outro lado, o perfil linguístico na criança autista, quase
sempre está relacionado a dificuldades pragmáticas, ou seja, de reconhecer a outra pessoa
como interlocutor, assim como em seguir as regras interacionais e gramaticais da língua. É
usual as crianças autistas não utilizarem a linguagem de forma funcional e apresentarem
atrasos persistentes no desenvolvimento da comunicação (WALENSKI; TAGER-FLUSBERG;
ULLMAN, 2006).
O tópico a seguir, trata de uma ação de extensão, realizada nas dependências da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mais especificamente na Clínica-Escola do De-
partamento de Fonoaudiologia, que busca desenvolver a linguagem de crianças com TEA,
possibilitando um entendimento prático por parte do leitor, de todas as informações teóricas
supracitadas.

PROJETO “TERAPIA DE LINGUAGEM EM CRIANÇAS COM DIAGNÓSTICO


DE AUTISMO”

As ações junto às crianças, inicialmente, aconteceram com a aprovação e durante vi-


gência do edital PROBEX 2013, sob o parecer SIGProj N°: 146378.654.49199.06032013. A
nomenclatura era “Intervenção Precoce: Prevenção do Autismo”, uma parceria entre docente
da área médica com formação em psicanálise, discentes do curso de medicina, docente da
área da fonoaudiologia e discentes como extensionistas voluntários. Com o tempo as ações
de intervenção fonoaudiológica requereu abrir seu próprio projeto mesmo considerando a
parceria com o docente do projeto inicial. Atualmente a denominação do projeto é “Terapia
de linguagem em crianças com diagnóstico de Autismo” (PROBEX - UFPB- Pj 356 -2020).
O projeto, direcionado para o atendimento às crianças autistas, cujo objetivo principal
é estimular a linguagem, fez e faz parte de ações de extensão universitária. Funcionando

132 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


vinculado ao Curso de Graduação em Fonoaudiologia da Universidade Federal da Paraíba,
seus objetivos se voltam para a realização de terapia fonoaudiológica em linguagem nas
crianças com o diagnóstico do TEA, que apresentem atraso no processo de aquisição e
desenvolvimento de linguagem com dificuldades de comunicação.
A faixa etária das crianças assistidas nesse projeto vai de dois a cinco anos de idade.
Fase essa da vida que a criança tem mais potencial para aquisição e desenvolvimento da
linguagem. Mediante esse quadro, o projeto também objetiva manter o diálogo com os fami-
liares das crianças, para orientá-los em como obter as melhores estratégias de comunicação.
É atribuição das ações do fonoaudiólogo, na intervenção em linguagem, ter conheci-
mento dos estágios de desenvolvimento típico da comunicação e da linguagem, de forma
que possa acompanhar o avanço da criança nos aspectos do processo de aquisição e uso
da linguagem para se comunicar com as pessoas nos diferentes ambientes que transitar
(LAMÔNICA, 2008).
O convívio da criança com TEA no espaço da escola também é considerado impor-
tante e necessário para a prática clínica (ALMEIDA, 2019). É na escola que se dá o amplo
processo de aprendizagem e comunicação fora do ambiente familiar (BORSA, 2007). Um
dos objetivos do projeto é também estabelecer a interlocução com a equipe educacional
do qual a criança faz parte e trabalhar em parceria; sendo assim, coordenação do projeto e
extensionistas buscam dialogar com professores das crianças. Assim como, presta-se um
relevante serviço de acompanhamento às crianças com TEA e a suas famílias, orientando-as
nas melhores estratégias para estabelecer comunicação com a criança, respeitando suas
singularidades.
Para apresentar as ações desenvolvidas junto às crianças com TEA, optamos como
metodologia usar o relato de caso clínico. Para tal, adotamos o modelo hermenêutico, que
assume a descrição dos fatos e ações de forma narrativa, nessa perspectiva, “a história clí-
nica é uma re-descrição, uma re-narração da ação que é o tratamento cuja história mesma
é modificada pelo próprio fato de ser narrada” (JERUSLINSKY, apud ZANETTI; KUPFER,
2006).
As sessões são semanais, realizam-se no ambiente da Clínica-Escola de Fonoaudiolo-
gia da UFPB. As intervenções fonoaudiológicas em linguagem visam possibilitar às crianças
autistas serem estimuladas a usarem a linguagem para se comunicarem e interagirem com
seu interlocutor. O projeto conta com a participação de discentes do Curso de Fonoaudiologia,
que atuam como terapeutas, realizam estudos de casos e recebem orientação por parte da
docente do Curso, a qual é responsável por coordenar o projeto. Os alunos extensionistas
também participam ativamente de estudo de casos clínicos, formulam planejamentos de
intervenção, debatem sobre o assunto e podem manter interlocução com ONGs ou institui-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 133


ções que ofereçam assistência à criança autista.
Para a realização dos atendimentos fonoaudiológicos, usa-se as salas de terapia fo-
noaudiológica na Clínica-Escola de Fonoaudiologia, em sessões que duram em média 30
minutos, na presença de dois extensionistas (terapeutas), totalizando um número de três
pessoas na sala. O espaço dos atendimentos é composto de birô, duas a três cadeiras, um
armário, uma pia do tipo lavabo, espelho de tamanho médio na parede e um ar condicionado.
A disposição dos objetos lúdicos varia de acordo com a idade da criança e dos objetivos que
se pretende atingir, conforme o planejamento do atendimento.
Na sala de terapia são disponibilizados brinquedos, tais como: bonecas, materiais de
encaixes, piscina de bolas, estojo para sopro e fazer bolinha de sabão, aparelho de som (para
colocar músicas infantis), lápis de cor, tintas, papel ofício ou cartolina e massa de modelar.
Estes materiais servem para estimular o brincar e facilitar interação entre as crianças e os
terapeutas. A quantidade de brinquedos é pensada de uma forma a não dispersar a atenção
das crianças e oferecer um ambiente, que através da brincadeira, favoreça aos terapeutas
e crianças a se perceberem dentro do espaço da sala e estabelecerem o máximo de con-
tato visual e de comunicação através do uso da linguagem, oral ou gestual. Os objetos são
escolhidos segundo preferências da própria criança, estimulando assim o interesse desta
em participar das ações que serão desenvolvidas.

Figuras 1 e 2: Imagens do setting terapêutico pré (1) e pós (2) atendimento fonoaudiológico

Fonte: Imagens do próprio projeto

Para melhor compreensão das ações desenvolvidas, foram escolhidos dois casos
clínicos, em que as crianças permaneceram sendo acompanhadas por aproximadamente
quatro anos, sendo possível uma visão mais longitudinal do processo de aquisição e de-
senvolvimento da linguagem.
A amostra descrita é de casos clínicos de pacientes atendidas e que houve constatação
de evolução de quadros de aquisição de linguagem. Estas conseguiram superar um estado

134 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de silenciamento e distanciamento do convívio social e aceitaram o trabalho proposto através
da linha teórico prático de viés sociointeracionista. As crianças foram atendidas no projeto,
realizavam sessões individuais, com horários previamente marcados com suas mães. Vale
salientar que todos os pacientes atendidos (não só nessa ação de extensão, mas em todos
os projetos de extensão e estágios obrigatórios) estão cientes e assinam um termo autori-
zando o uso de dados para fins de estudo, pesquisa e publicações desta natureza.

CASOS CLÍNICOS

As crianças “A” e “B”, ambas do gênero feminino, com quatro anos de idade, ficavam
livres para escolherem o brinquedo, dentre os previamente selecionados pelos terapeutas, e
que ficavam expostos na sala. A partir daí, terapeutas buscavam através do uso da linguagem
oral (fala) tentar ao máximo interagir com elas, dirigindo-lhes a palavra e buscando manter
um contato visual. Mediado pelo brincar, as crianças iniciavam com os terapeutas trocas de
olhares, cada vez mais frequentes. Na medida que se adaptavam, permitiam o toque dos
terapeutas em suas mãos, dar abraços, ações essas, importantes para o desenvolvimento
das crianças autistas e o reconhecimento do outro como seu interlocutor.
Quando solicitadas a participar de brincadeiras mais dinâmicas, como cantar e “brin-
car de roda”, elas participavam oferecendo menos resistências, uma vez que a música era
bem aceita pelas crianças. Realizarem e acompanharem movimentos de rodar, agrada as
crianças autistas de uma maneira geral.
Durante esta atividade a “Criança A” tentava cantarolar mais frequentemente por de-
monstrar gostar de música. Embora verbalizasse pouco e, em alguns momentos, buscasse
se isolar dando as costas para os terapeutas. Mesmo assim, as estimulações de linguagem
e uso da música continuavam conseguiram reverter a negação de “A”, cantando canções
infantis que a criança demonstrava gostar.
Observava-se que a “Criança B” verbalizava várias palavras apropriadas ao contexto.
Em outros momentos, emitia vocalizações e, eventualmente, articulava palavras, sendo
estas mais próximas ao contexto com alguma intenção de interagir com os terapeutas. No
desenvolvimento humano, o processo de aquisição e uso da linguagem caracteriza-se pela
interação e variação dos sujeitos envolvidos na interlocução. O fonoaudiólogo reconhece o
objetivo de promover atividades interativas e representativas no contexto social, promovendo
a possibilidade comunicação entre os interlocutores (GOULART; CHIARA, 2012).
A linguagem não verbal era usada por ambas as crianças. Elas levantavam, anda-
vam na sala, pegavam nos brinquedos, usavam os materiais lúdicos algumas vezes sem
atribuir sentido ao seu uso de fato, pegavam para explorar com as mãos a textura, depois
os trocavam por outros, olhavam para os terapeutas e pegavam nas suas mãos, como que

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 135


para solicitar a ajuda para realizarem alguma atividade que não conseguiam sozinhas. Em
ambas notava-se que havia uma atenção reduzida para as brincadeiras, típico em crianças
autistas. Trocavam constantemente de material e a brincadeira ficava algumas vezes sem
uma sequência lógica. Em todos os momentos, as ações não verbais das crianças foram
interpretadas e verbalizadas pelos terapeutas para as crianças, como uma forma de apre-
sentar através da fala a representação de tudo que estava acontecendo.
As músicas infantis usadas nas terapias tinham boa aceitação por parte das duas
crianças. Elas gostavam de ouvir e tentavam cantar. Esse recurso continuou a ser usado
como estímulo para que as crianças, a partir da imitação (reprodução da letra das músicas),
viessem a usar a linguagem oral. Essa ação levou as crianças a usarem maior número de
palavras para nomear objetos ou pedir algo ao terapeuta. Comportamento esse que se es-
tendeu para o ambiente familiar, por intermédio das orientações dadas às famílias.
Através dessa abordagem terapêutica na linguagem as crianças iniciaram comporta-
mentos de passarem a assumir outras formas de se comunicar, não só pelas expressões
corporais e o olhar, mas pelo uso da fala. No movimento do brincar eram geradas possibili-
dades de interação mediada pela linguagem entre a díade adulto e criança. Todas as ações
eram verbalizadas. As crianças tinham espaço para se comunicarem com seus terapeutas, a
singularidade em que essa linguagem vinha se apresentando eram respeitadas, a interação
mediada pela linguagem sempre incentivada. A linguagem emergiu em contextos mais es-
pontâneos e as palavras assumiram sentido contextual, que o outro era capaz de interpretar
e de haver alguma forma de interação mesmo que na ausência de atitudes dialógicas. As
palavras “isoladas” eram interpretadas em seu sentido amplo, possibilitando a comunicação.
Observou-se que a terapia através do brincar e de interações mediadas pela lingua-
gem foi capaz de promover um movimento de troca de olhares, houve melhor captação da
atenção da criança, passou a acontecer o uso dos objetos de maneira funcional, as crianças
passaram a demonstrar mais interesse pelas ações do outro. As brincadeiras, no decorrer
do processo, possibilitaram às crianças iniciarem seu próprio discurso com intenção comu-
nicativa. Atribui-se essa mudança as possibilidades de haver mais espontaneidade por parte
das crianças e de seus terapeutas.
Conforme estudos realizados na área da Psicanálise, o autismo relaciona-se ao de-
sencontro com o outro, uma falha na operação e uma consequente recusa da relação com
o outro. A criança autista sente-se uma parte do corpo da mãe, e não se sentindo um sujei-
to, sente enorme dificuldade em entrar numa relação com outra pessoa. O autista precisa
descobrir o outro, ele consegue fazer isso na relação com as outras pessoas (CRESPIN-
-CUILLÈRE, 2004).
A terapia fonoaudiológica propiciou um cenário favorável ao uso da linguagem. Sendo

136 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


essa linguagem concebida da forma mais ampla, mais que falar, saber reconhecer o outro,
compreender os significados das palavras no contexto e responder mesmo que com lingua-
gem não verbal. As expressões faciais, olhar e movimentos corporais são expressões de
linguagem e tem significados capazes de serem interpretados pelo interlocutor e ganharem
sentido, nesse mesmo processo emergiram as palavras.
É importante também, trazer os desfechos referentes aos casos clínicos. Esse tipo de
conduta é propagável a todos os alunos que fazem algum tipo de atividade que envolva o
atendimento aos pacientes da clínica escola da UFPB. A paciente “A” recebeu alta, por ter
conseguido desenvolver a linguagem de forma funcional, e atingindo os objetivos terapêu-
ticos propostos. Denominamos de Platot, quando pacientes acompanhados em processo
terapêutico atingem marcos involuíveis e indicativos de alta. A referida paciente vinculou-se
a uma orquestra e faz uso da música como atividade, reafirmando a capacidade de pessoas
com TEA de terem uma vida considerada “normal”. Já a criança “B”, por motivos de ordem
pessoal familiar, precisou mudar-se de cidade, abandonando assim o tratamento. Isso nos
leva a refletir que, por mais que nos esforcemos enquanto profissionais, oferecendo todo
o suporte às necessidades dos pacientes, nem sempre a resposta é satisfatória, seja pela
patologia, seja por fatores estritamente extrínsecos, como uma mudança física de residência.

CONCLUSÃO

Diante de todo o respaldo teórico, a metodologia terapêutica proposta e visão dos ca-
sos clínicos supracitados, afirmamos que o trabalho feito com crianças com TEA baseado
na linha teórica sociointeracionista é capaz de oferecer bons resultados para as crianças
e para as famílias que buscam o serviço da Clínica Escola de Fonoaudiologia da UFPB,
principalmente, com a queixa de que “sua criança não se comunica”.
As ações do projeto junto às famílias são voltadas para orientação e estimular a co-
municação, evitando comparações, ou exigências com marcação de tempo para a criança
adquirir e desenvolver a linguagem, uma vez que se respeita como elas processam o de-
senvolvimento da linguagem e são capazes de se expressarem. Concebe-se que todas as
crianças vivem a sua singularidade e superações das dificuldades conforme seu ritmo. Os
marcos do desenvolvimento que venham a aparecer sempre são comemorados no tempo
da criança, tirando a ideia de busca de um resultado linear no processo da aquisição da
linguagem.
O projeto atende um público oriundo da grande João Pessoa e tem potencial para
proporcionar uma experiência muito rica de prática clínica aos discentes vinculados, tendo
merecida visibilidade, em especial no ano de 2019, em que foi premiado em simpósio na área
de conhecimento e divulgado em meios de comunicação como redes sociais e emissoras

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 137


de televisão local, gerando maior conhecimento sobre o autismo e as ações realizadas no
âmbito acadêmico.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 139


11
“ A sistematização da assistência de
enfermagem como estratégia para
efetiva atenção ao adolescente
com anemia ferropriva

Ruth Fernandes Pereira Leah Kemunto Gwaro


Facimp Wyden Facimp Wyden

Sandy Helen de Jesus da Conceição Maria Izânia Duarte Ribeiro


Facimp Wyden Facimp Wyden

Anderson Gomes Nascimento Maria Ivânia Duarte Ribeiro


Facimp Wyden Facimp Wyden

Amanda Lisa Amorim Sousa Matheus Barros Carvalho


Facimp Wyden Facimp Wyden

Igo Alves da Silva Natália Caldeira Freitas


Facimp Wyden Facimp Wyden

10.37885/200700655
RESUMO

Introdução: A adolescência é um estágio de transição da infância para vida adulta, que


abrange a faixa etária de 12 a 18. Segundo o Ministério da Saúde (2018), cerca de 80%
a 85% dos casos de anemia nessa faixa etária são por deficiência de ferro. Devido isso, a
Sistematização de Assistência de Enfermagem (SAE), dispõe de métodos que favorecem
a identificação e a construção de intervenções efetivas, de forma a evitar agravos. Assim
este trabalho, objetiva discorrer acerca da Sistematização da Assistência de Enfermagem
como estratégia para efetiva atenção ao adolescente com anemia ferropriva, especificando
o seu conceito, causas, diagnóstico e intervenções, bem como sobre as vulnerabilidades
e consequências da ADF relacionadas ao período puberal. Metodologia: O presente
trabalho consiste em uma revisão bibliográfica narrativa, com abordagem descritiva
exploratória. Resultados e Discursão: A SAE institui um meio de implementar uma
pratica de um cuidar holístico e organizado, na qual o enfermeiro tem autonomia para
planejar intervenções estabelecidas em metas voltadas a individualidade do usuário
e fatores que o envolve. Já nos adolescentes com anemia ferropriva auxilia em uma
prescrição adequada, avaliando a progressão e a execução das orientações concedidas,
resultando em um plano de cuidado qualificado e eficaz. Conclusão: Portanto, é essencial
a educação em saúde, tanto para os pais como para os adolescentes, de forma a
orientá-los acerca da significância e prevenção da anemia ferropriva. Sendo essencial
a elaboração demais contribuições cientificas e estudos que enfatizam a assistência de
enfermagem ao adolescente e da anemia ferropriva nesse grupo etário.

Palavras- chave: Anemia Ferropriva; Adolescência; Sistematização da Assistência de


Enfermagem.
INTRODUÇÃO

Adolescência é um estágio de transição da infância para vida adulta, evidenciado por


estímulos no desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social e pela dedicação
do indivíduo em alcançar as expectativas culturais da sociedade em que está inserido. A
fase juvenil, que abrange a faixa etária de 12 a 18 anos, inicia-se com as transformações do
corpo através da puberdade e se encerra quando o indivíduo firma seu crescimento e sua
individualidade (BRASIL, 2017).
Porquanto, sendo a adolescência um período de grandes mudanças físicas e meta-
bólicas, relacionadas às alterações corporais e necessidades nutricionais com a maturação
sexual. A anemia ferropriva causada pela deficiência de ferro (ADF), resultante de qualquer
situação onde o consumo de ferro não consiga suprir o suporte de exigência corporal, pode
comprometer o desenvolvimento puberal por ser uma fase de grande necessidade energética,
resultando em um déficit no metabolismo celular, pois o ferro é um elemento imprescindível
na síntese e constituição dos tecidos e na determinação do volume de sangue e da massa
total de hemoglobina (BRASIL, 2017; BRASIL, 2018).
Nessa mesma conjuntura, a anemia por deficiência de ferro classificada como uma das
anemias carências, se destaca como a de maior prevalência entre as causadas por deficiência
de nutrientes essenciais, se posicionando entre os importantes problemas mundiais em ter-
mos nutricionais, pois entre as demais relacionado a diminuição de componentes como folato,
proteínas, vitamina B12 e cobre, a ADF é a causa de 90% dos casos (BEZERRA et al., 2017).
Segundo o Ministério da Saúde (2018), cerca de 80% a 85% dos casos de anemia na
faixa etária da adolescência são por deficiência de ferro. Logo, a enfermagem como uma pro-
fissão que visa a integralidade e que baseia suas ações na prevenção, proteção, promoção,
diagnóstico e recuperação da saúde tem um importante papel na elaborações de cuidados que
venham diminuir as taxas de ADF entre os adolescentes, através da consulta de enfermagem
principalmente no âmbito da atenção primária com a escuta qualificada para a resolução das
suas necessidades, estimulando ao autocuidado por meia da educação e saúde, contribuindo
nas questões nutricionais por meio de orientações e direcionamento (ABREU, 2015)
Assim, nesse mesmo propósito de atender e intervir de forma mais resolutiva o ado-
lescente acometido por essa patologia, a Sistematização de Assistência de Enfermagem
(SAE), que consiste na elaboração de um plano de cuidado holístico e individualizado pelo
enfermeiro, dispõe de métodos que favorecem a identificação e a construção de intervenções
efetivas, de forma a evitar agravos e intervenções muitas vezes desnecessárias, fazendo
assim cumprir os princípios do SUS universalidade, integralidade e equidade seguindo as
seguintes etapas: Histórico, Diagnóstico, Planejamento, Implementação e Avaliação de
Enfermagem (COREN- BA, 2016).

142 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Assim este trabalho, tem por objetivo aplicar a Sistematização da Assistência de En-
fermagem como estratégia para efetiva atenção ao adolescente com anemia ferropriva
especificando o seu conceito, causas, diagnóstico e intervenções, bem como sobre as vul-
nerabilidades e consequências da ADF relacionadas ao período puberal.

METODOLOGIA

O presente trabalho consiste em uma revisão bibliográfica narrativa, com abordagem


exploratória. Para seu desenvolvimento realizou-se a coleta de artigos científicos nas plata-
formas Scielo e Google Acadêmico e de manuais do site do Ministério da Saúde e organi-
zações afins. Para a busca utilizou-se os descritores: ''Anemia Ferropriva'', ''Adolescência ''
e ''Sistematização da Assistência de Enfermagem''.
Em consonância ao objetivo da pesquisa, o método cientifico de revisão narrativa rea-
lizado, nada mais é do que um estudo de análise literária de publicações atuais, escolhidas
por critérios do próprio autor, que irá seleciona-las conforme a relevância, o conteúdo das
suas respostas as indagações ou objetivos preestabelecidos para elaboração da obra, a fim
de filtrar, escolher e fundamentar o trabalho (ROTHER, 2006).
Já a pesquisa exploratória afim de esclarecer ou averiguar certo tema ou ideia, ba-
seia-se na proposta de adquirir maiores conhecimentos acerca de um certo fenômeno pouco
visto ou estudado, favorecendo assim um leque de possibilidade para outros estudos a partir
do primeiro, possuindo um planejamento mais flexível e amplo (GIL, 2008).
Semelhantemente, foram estabelecidos critérios de inclusão dos materiais sendo que,
estes deveriam estar na língua portuguesa, publicados entre os anos de 2010 a 2019, ex-
certo os do Ministério da Saúde e livros. Mediante a coleta dos materiais de apoio, utilizando
os descritores acima mencionados e os critérios de inclusão, fez-se a leitura dos resumos,
na qual ao conter informações relevantes e relação com os objetivos da pesquisa, foi mais
detalhadamente analisado com a leitura completa, sendo por fim escolhido produções cien-
tificas que estavam em sintonia com tema definido.
Com tudo, foram lidos os resumos de vinte cinco artigos, sendo doze escolhidos para
o uso. Do Ministério da Saúde, quatro manuais e uma portarias. Também foram utilizados
três livros e duas lei. Totalizando vinte e um materiais para composição deste trabalho.

REFERÊNCIAL TEÓRICO

Aspectos Gerais da Anemia Ferropriva

Conforme a Organização Mundial da Saúde (2015), a anemia pode ser definida como

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 143


uma patologia em que ocorrem anormalidades relacionadas ao tamanho, forma e quantidade
de células sanguíneas, devido múltiplos fatores. Podendo ainda ser decorrente de uma falha
nutricional, genética ou associada a outras comorbidades.
Dentre os tipos de anemia as mais comuns são aquelas causadas por carências de
nutrientes essências, em especial o ferro, apresentando-se mais frequentemente durante a
infância, adolescência e no período gestacional. Este componente adquirido principalmente
pela alimentação, tem como função auxiliar na fabricação das hemácias e garantir o trans-
porte de oxigênio para os tecidos corporais (BRASIL, 2013).
Segundo o Ministério da Saúde (2013, 2014) a alta prevalência da anemia ferropriva
(ADF) está associado a diversas causas como: baixo nível econômico e educacional; costu-
mes vegetarianos; ingesta excessivas de chá, café, chocolate, refrigerante, leite e derivados
e outros compostos que impedem a absorção de ferro; desnutrição; deficiência de vitamina
C; infecções endêmicas como malária e parasitoses intestinais e as hemorragias
No entanto, referente a etiologia, muitas vezes a ADF pode apresentar-se com causa
multifatorial em um mesmo indivíduo, justificando a necessidade de uma avaliação minucio-
sa para a formação e estabelecimentos de condutas efetivas (BRASIL, 2014). Logo para o
diagnóstico utiliza-se da análise conjunta de dois métodos, a avaliação clínica e a laborato-
rial. Sendo identificadas no primeiro as sintomatologias como fadiga generalizada, apatia,
cefaleia, palpitações, falta de concentração, irritabilidade, palidez cutânea e das mucosas,
unhas e cabelos danificados e quebradiços e em casos graves hemorragias (BRASIL, 2013).
Adicionalmente, para a confirmação diagnostica da anemia ferropriva, a avaliação
laboratorial é necessária, ocorrendo por intermédio do hemograma completo, dosagem de
ferritina e exame de esfregaço sanguíneo. Há ainda outros exames que também podem
sinalizar a ADF, por exemplo, a existência de sangue oculto no exame de fezes (FAILACE;
FERNANDES, 2015; YAMAGISHI, 2017).
No que remete ao tratamento da anemia ferropriva, é orientado a reposição de ferro
por meio da alimentação, através da ingestão de alimentos de origem animal e vegetal com
alto teor de ferro e vitamina C. Caso somente adoção de uma alimentação adequada seja
insuficiente, é feito a prescrição de suplementação medicamentosa por via oral. O sulfato
ferroso é o mais utilizado, por possuir uma capacidade de alta biodisponibilidade e baixo
custo financeiro (YAMAGISHI, 2017). Comumente, a correção da ADF ocorre em cerca de
seis semanas se os métodos terapêuticos forem feitos corretamente, seguindo as orientações
quanto os alimentos e as recomendações acerca da suplementação com sulfato ferroso,
administrando-o antes das refeições e preferencialmente com fontes de vitamina C (BRASIL,
2014; YAMAGISHI, 2017).
Por outro lado, existe a anemia grave por deficiência de ferro em que o tratamento por

144 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


via oral é ineficaz, sendo necessário, a administração por via parenteral, que garante uma
absorção mais eficiente. Os medicamentos são: ferro gluconato, ferro dextran, carboximaltose
férrica, ferro sacarato, entre outros (BRASIL, 2014; YAMAGISHI, 2017).

Vulnerabilidades para a Anemia na Adolescência

A adolescência remete a um período de grande desenvolvimento do indivíduo, que


durante esta fase passa a sofrer influências sociais, culturais e ambientais. Conforme o Es-
tatuto da Criança e do Adolescente (2012), esse estágio é definido como o período da vida
que abrange a faixa etária dos 12 aos 18 anos.
Desse modo, é justamente nesse intervalo de tempo que os mesmos passam a ser
expostos a variados fatores de risco a saúde, necessitando de uma atenção holística. Para
isso, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens (2010) tem
o desafio de elaborar ações e estratégias que atendam integralmente as diligências espe-
cíficas relacionadas as fragilidades na saúde dessa faixa etária.
Além disso, há alguns determinantes da saúde na adolescência importantes dentro
desse contexto a serem ressaltados, como: moradia, salário mínimo mensal da família, es-
colaridade, hábitos de vida, grupo social que está inserido, a forma que se enxerga como
sociedade e como encara suas fragilidades (CHNEIDER et al., 2016).
Segundo Chneider et al. (2016), esses aspectos influenciam de forma grandiosa no
desenvolvimento psicossocial e principalmente na saúde física dos adolescentes. Desta
maneira, as instabilidades em saúde estão diretamente entrelaçadas com os debates acerca
dos direitos da pessoa, do controle social, autonomia e empoderamento.
Ao analisar estudos relacionados às doenças mais prevalentes nessa idade, temos
como um dos destaques a anemia por deficiência do ferro (ADF), mineral este essencial para
o corpo. A sua diminuição está associada a diversas consequências para a adolescência,
com repercussão no atraso do crescimento e desenvolvimento, redução da disposição físi-
ca, distúrbios no comportamento, falhas no sistema imunológico, baixo rendimento escolar
e socialização e retardo na maturação sexual. Estas implicações variam de acordo com a
duração e gravidade, podendo perdurar até mesmo após reparação da ADF (MOREIRA,
2011; YAMAGISHI et al., 2017).
Por conseguinte, ressaltando os problemas que podem desencadear o desenvolvimento
da anemia nesse estágio da juventude, estão principalmente os maus hábitos alimentares
com baixa reposição de nutrientes essenciais e uma alimentação rica em componentes in-
dustrializada (YAMAGISHI et al., 2017). Levando a uma nutrição desequilibrada e uma alta
vulnerabilidade à anemia ferropriva.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 145


Sistematização da Assistência de Enfermagem

Conforme a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) 358/2009 a


Sistematização da Assistência de Enfermagem consiste em um método organizador, que
fundamenta o trabalho do profissional enfermeiro, através da operacionalização do Proces-
so de Enfermagem como instrumento prático e científico para desenvoltura das ações que
compete a essa classe de profissionais (COREN- BA, 2016).
O Processo de Enfermagem proposto pela resolução acima mencionada, reexposto
pelo Guia Prático do SAE do Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (2016) para ser
concretizado deve ser firmando em uma das teorias de enfermagem, respondendo as se-
guintes etapas:

1. Histórico de Enfermagem: composto por anamnese e exame físico que norteia a


obtenção de informações, sobre o indivíduo, família e contexto social, na qual pro-
picia para identificação das necessidades afetadas.

2. Diagnóstico de Enfermagem: correspondendo a primeira etapa, estabelece então


quais são os problemas que afeta a saúde do indivíduo, família ou sua coletividade,
tornando-se base para a terceira etapa.

3. Planejamento de Enfermagem: define-se os resultados desejados, por meio das


intervenções elaboradas a fim de responder ou resolver os diagnósticos evidencia-
dos na segunda etapa.

4. Implementação: efetuação das intervenções estipuladas no Planejamento de En-


fermagem.

5. Avaliação de Enfermagem: meio avaliativo, organizado e continuo, a fim de verificar


se houve resultados satisfatório na execução da etapa anterior (Implementação)
ou se há ainda a necessidade de alterações ou adequações nas etapas anteriores.

Proposta da Sistematização da Assistência de Enfermagem para Anemia Ferropriva


na Adolescência

Segundo a Oliveira et al. (2017), a deficiência do ferro ocasiona manifestações clinicas,


que caracterizam a anemia ferropriva que consiste no déficit anormal desse elemento para
as células sanguíneas (hemácias). Sendo então necessário, a elaboração de um plano de
cuidado, com intervenções especificas para mediar, prevenir e tratar essa condição clínica,
que pode levar a serias complicações para a adolescência.

146 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Em vista do foco central do papel enfermeiro no estabelecimento do SAE, com a apli-
cação do Processo de Enfermagem voltado a um adolescente com anemia ferropriva, uma
das teorias que entrariam em questão como norteadora do plano de cuidado, seria a de
Orem do autocuidado.
A teoria do autocuidado, enfatiza e estimula a autonomia do indivíduo sobre sua própria
saúde. Por meio, da escolha livre e individual e o desejo de melhorar sua qualidade de vida
ou sua condição física, adota a prática das medidas preventivas ou paliativas orientadas
pelo enfermeiro, promovendo a si mesmo o bem-estar (GALVÃO et al., 2013). No caso de
um adolescente com anemia por deficiência de ferro, essa teoria se mostra de grande valia,
pois pode auxiliar na aplicação e efetivação das intervenções estabelecidas, principalmente
referente a ação de uma alimentação rica em ferro e Vitamina C.
Na primeira etapa do Processo de Enfermagem como mostra a tabela 1, algumas in-
formações são essenciais para investigação, detecção, classificação do tipo de anemia e a
gravidade, podendo definir a causa, auxiliando até na diferenciação da anemia ferropriva das
demais. Por meio da anamnese, exame físico e analise dos exames laboratoriais, como o
hemograma completo, há o direcionamento acerca das demais condutas a serem tomadas.

Tabela 1. Histórico De Enfermagem para Anemia Ferropriva em Adolescentes

ANAMNESE ANAMNESE
Sexo
Mais comum no sexo feminino.
Condições Socioeconômicas
Um dos Fatores Determinante se há ou não uma boa nutrição. Risco maior para afeções - ex:
parasitoses.
Queixas
Fadiga, Irritabilidade, Desempenho escolar reduzido, Palpitações, Cefaleia, Sonolência, Cefaleia,
Sincope, Pica. Dispneia aos esforços;
Histórico da Doenças atual
Quando e como os sinais e sintomas apresentaram-se, se teve episódios de perdas sanguíneas de
forma aguda ou crônica (deficiência de ferro).
Histórico Pessoal
- Amamentação exclusiva até os 6 meses;
ANAMNESE
- Ciclo Menstrual (idade da menarca, ciclo regular, quantidade);
- Gravidez;
- Parasitoses, problemas gástricos ou inflamatórias intestinais, diarreia;
- Desnutrição, Sobrepeso, Obesidade, Doença Celíaca, Alergia à proteína do leite;
- Infecções Crônicas (HIV, tuberculose, miocardite, outras);
- Doenças Neoplásicas;
- Anorexia, Bulimia, outras.
-Antecedentes Familiares
Problemas Hematológicos, neoplásicos ou outras Doenças Crônicas,
Hábitos de vida
- Alimentação: composição da dieta e ingesta diária.
- Atividade Física: qual (is), frequência, duração (excesso de atividade física pode levar a deficiên-
cia de ferro).
- Drogas: tipo (os) quantidade, frequência, duração.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 147


EXAME FÍSICO EXAME FÍSICO
Achados que podem sugerir a anemia ferropriva
• Palidez cutânea e das mucosas: conjuntiva, lábios, língua, palmas das mãos.
• Icterícia
• Alopecia
• fâneros danificados: cabelos e unhas fracas/quebradiças
• Lesões orais
• Queilose
• Adinamia
• Esclera Azulada
• Erupções cutâneas/ descamação
• Epistaxe
• Hematúria
EXAME FÍSICO • Sinais de Desnutrição: baixa estatura, atraso da maturação sexual (estágios de Tanner)
• Síndrome das pernas inquietas
• Atrofia das papilas linguais

Avaliação Pondero Estatural:


- Calcular Índice de Massa Corporal (IMC).
- Antropometria: avaliar no gráfico da caderneta Estatura por Idade verificando sua classificação.
Se há:
- Magreza Escore- z < -2 e ≥ -3;
-Magreza acentuada Escore- z <-3.
Sinais Vitais e Alterações
- Frequência Respiratória: dispneia a esforços;
- Aumento da Frequência Cardíaca: sopros, palpitações.
- Queda da Pressão Arterial
- Variação da Temperatura. Febre

EXAMES LABORATÓRIAIS
Para o estabelecimento do diagnóstico ou profilaxia da anemia os exames são:
• Hemograma Completo
Encontra-se parâmetros anormais com diminuição:
- Hematócrito (< 35% - sexo feminino) e (< 40% -sexo masculino);
- Hemoglobina (Hb abaixo de 12 g/dL)
EXAMES LABORATÓRIAIS - VCM
- HCM
• Ferro sérico: sexo feminino - < 60; sexo masculino -<70 .
• Esfregaço Sanguíneo: analise das células sanguíneas.
• Dosagem de Ferritina: melhor indicador da quantia de ferro no corpo (abaixo de 10 a 15 ng/mL
há deficiência de ferro).

Fonte: BRASIL (2007); BRASIL (2014); BRASIL (2017); BRITO et al., (2017); GUARMANI (2018).

Seguidamente, para a efetivação de um plano assistencial realizado mediante ao Pro-


cesso de Enfermagem para anemia ferropriva no adolescente, é indispensável as demais
etapas, contendo os Diagnósticos, o Planejamento e a Implementação de Enfermagem, que
fundamentadas pelas Taxonomias Nanda (2015) e Carpenito (2011), concedem subsídios
para a resolução dos problemas e as queixas apresentadas. Alguns diagnósticos, metas
e intervenções que podem auxiliar nesse plano de cuidado estão dispostos na tabela 2,
baseados nos fatores físicos e psicossociais relacionados a adolescência que acarreta as
manifestações mais comuns da anemia por deficiência de ferro mostrada pelas pesquisas

148 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


bibliográficas realizadas.

Tabela 2. Diagnósticos, Metas e Intervenções de Enfermagem para Anemia Ferropriva em Adolescentes

DIAGNÓSTICOS DE PLANEJAMENTO IMPLEMENTAÇÃO


ENFERMAGEM (Metas) (Intervenções)
Nutrição Desequilibrada: menor
- Realizar avaliação pondero estatural, para verificar anormalida-
do que as necessidade corpo- O indivíduo deverá reestabe-
de, quanto ao peso esperado para idade.
rais, relacionado a ingestão lecer uma nutrição diária con-
- Efetuar interrogatório alimentar.
alimentar insuficiente, eviden- forme o seu nível de atividade
- Solicitar hemograma completo, dosagem de ferritina.
ciado por queixas sugestivas e suas carências metabólicas,
-Determinar exigências alimentares ricas em minerais, especial-
de anemia (perda de apetite, dando fim aos sintomas apre-
mente ferro adequadas as condições socioeconômicas, encami-
fraqueza, fadiga, baixo desem- sentados.
nhando ao nutricionista.
penho escola, sonolência).
- Estabelecer um vínculo de confiança.
- Encaminhar a um atendimento com o psicólogo, nutricionista e
a ida em grupos de apoio.
- Frisar sobre os sérios problemas advindos do distúrbio de autoi-
Distúrbios na imagem corporal magem interligando aos sintomas descritos.
relacionado a alteração na auto O indivíduo deverá implementar - Informar os familiares sobre os riscos e a necessidade do apoio
percepção, evidenciado por al- novos padrões de enfrentamen- dos mesmos no processo terapêutico, orientando sobre a rea-
teração na função corporal com to e verbalizar, demonstrando lização de refeições em conjunto com adolescente, oferecendo
diminuição do apetite, fraqueza, aceitação da aparência e uma a ele alimentos agradáveis com alto teor proteico, calórico e de
emagrecimento, adinamia. boa condição física. minerais em pouca quantidade, pelo menos 6 vezes ao dia.
- Prescrever suplementação de vitaminas e sulfato ferroso se
necessário.
- Acompanhar os resultados laboratoriais e o peso a cada retor-
no.

Troca de gases prejudicada re- - Explicar as causas dos sintomas causado pela anemia.
lacionado a diminuição de ferro - Investigar as causas da diminuição de ferro no organismo.
para o transporte de oxigênio O indivíduo deverá relatar - Receitar reposição por sulfato ferroso a 5 mg/kg/dia em dose
(anemia), evidenciado por exa- melhoras nos sintomas e boa única ou em duas antes das refeições principais.
mes (dosagem de ferritina), disposição para as atividades - Indicar alimentos ricos em ferro e vitamina C (frutas cítricas)
fadiga, aumento da frequência diárias. para uma boa absorção: carne vermelha, peixe, vísceras, hor-
respiratória, dispneia aos esfor- taliças, outras.
ços, sonolência, sincope.
- Identificar e estimular o consumo de alimentos nutritivos que o
Déficit no autocuidado para ali-
adolescente aprecie.
mentação relacionado a falta O indivíduo deverá mostrar in-
- Orientar a adotar o habito de se alimentar em locais agradáveis
de motivação, evidenciado por teresse para uma adequada =
e com pessoas próximas.
ingestão alimentar indevida e alimentação.
- Informar sobre as consequências de uma má alimentação.
pouco nutritiva.

- Encaminhar ao nutricionista.
Integridade Tissular Prejudica- - Explicar a importância de uma alimentação rica em ferro e vi-
da relacionado a anemia, evi- A pele deverá obter uma integri- tamina C concomitante ao tratamento medicamentoso (sulfato
denciado por palidez cutânea e dade tissular íntegra e normo- ferroso).
das mucosas, descamação da corada. -Encorajar a uma boa hidratação, higienização da pele e cavida-
pele, lesões orais, queilose. de oral, para diminuir os riscos de infecção.

Fonte: CARPENITO (2011); BRASIL (2014); NANDA (2015);

Diante do exposto, se pode afirmar que o SAE institui um meio de implementar uma
prática de um cuidar holístico e organizado, na qual o enfermeiro tem autonomia para aplicar
os conhecimentos técnicos e científicos na sua área de atuação. Com isso, ao desenvolver

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 149


um plano assistencial, possibilita meios de identificar as necessidades e causas, para planejar
intervenções estabelecidas em metas voltadas a individualidade do usuário e aos fatores
que o envolve. No que tange as condições do adolescente com anemia ferropriva, assim
como em outras patologias, auxilia em uma prescrição adequada, avaliando a progressão
e a execução das orientações concedidas, resultando em um plano de cuidado qualificado
e eficaz.

CONCLUSÃO

Portanto, mediante a esta revisão literária, concluiu-se que a adolescência é um perí-


odo marcado por grandes mudanças, as quais se perduram desde o início da infância até
o final da puberdade, se fazendo necessário maiores cuidados, principalmente se tratando
da alimentação, o que envolve diretamente os nutrientes que são necessários para que o
mesmo cresça saudável e de forma ordenada, prevenindo o distúrbio nutricionais, como o
hematológico mais comum nessa faixa etário, a anemia ferropriva.
Dessa forma, dando ênfase aos problemas que podem surgir por essa deficiência de
ferro, é de grande relevância um acompanhamento profissional, visando a educação em
saúde, tanto para os pais como para os adolescentes, que deve se perdurar durante toda
a vida adulta, de forma a orientá-los acerca da significância de uma boa alimentação, infor-
mando que esses nutrientes essenciais são de fácil acesso, pois estão biodisponíveis nas
aves, peixes, vísceras e carne de boi.
Por isto, visando às necessidades e a desenvoltura de um plano eficaz de cuidado,
voltado especificamente para a anemia na adolescência, a Sistematização de Assistência
de Enfermagem (SAE), disponibiliza aos profissionais enfermeiros um arsenal de instrumen-
tos para disposição de um atendimento qualificado e resolutivo, auxiliando na prevenção,
no diagnóstico precoce e tratamento da anemia, favorecendo para uma menor prevalência
dessa patologia. Sendo essencial a elaboração, de mais contribuições cientificas e estudos
que enfatizam a assistência de enfermagem ao adolescente e da anemia ferropriva nesse
grupo etário.

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152 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


12
“ A vivência das mães frente a
ocorrência de sífilis congênita
em seus filhos

Sara Rodrigues Araujo Claudia Christina Ribeiro Guimarães Neri


UNIRG de Magalhães
UNIRG

Amanda Lima Farias


Leandra Cristhyne de Souza Barros
UNIRG UNIRG

Denise Soares de Alcântara Andréia Kássia Lemos de Brito


UNIRG UNIRG

Sandra Nara Marroni Gisela Daleva Costa


UNIRG
UNIRG

Lorrayne Michele Dantas de Oliveira


Naiana Mota Buges Bartholomeu
UNIRG UNIRG

Artigo original publicado em: 2/2020


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200600538
RESUMO

Objetivo: Analisar a vivência de mães que tiveram filhos hospitalizados para tratar sífilis
congênita, e a atuação da equipe de enfermagem. Métodos: Estudo qualitativo composto
por uma amostra de 5 mulheres que tiveram filhos hospitalizados para tratar a sífilis
congênita (SC), identificados nas fichas do SINAN (Sistema de Informação de Agravos
e Notificações) em um município localizado ao sul do estado do Tocantins. A pesquisa foi
realizada conforme a resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde sob o parecer
3.486.701 do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Gurupi. Resultados: o
estudo mostrou que todas as mães sofreram com a hospitalização do filho com SC e com
os procedimentos aos quais ele foi submetido, e a maioria demonstrou satisfação com a
equipe de enfermagem que cuidou de seus filhos. Considerações finais: Evidenciou-se
que a atenção e apoio da equipe cuidadora, o diálogo e a confiança são importantes para
tornar essa vivência menos penosa, diminuindo os impactos da internação tanto para o
RN quanto para a mãe e a família.

Palavras-chave: Sífilis congênita; Recém-nascido; Mães.


INTRODUÇÃO

A Sífilis Congênita (SC) é o resultado da disseminação do Treponema pallidum da


gestante infectada, não tratada ou inadequadamente tratada, para o concepto por via trans-
placentária (RODRIGUES ARM, 2016). Segundo a World Health Organization (2013), a sífilis
gestacional causa aproximadamente 300.000 mortes fetais e neonatais por ano. Segundo
dados epidemiológicos do Datasus, nos anos de 2017 e 2018, no Brasil, foram notificados
pelo SINAN (Sistema de Informação de Agravos e Notificações) 24.606 casos de sífilis con-
gênita, sendo que no estado do Tocantins foram notificados 291 casos e, em um município
localizado ao sul do estado de Tocantins, 16 casos.
O pré-natal tem grande importância no diagnóstico, orientação, tratamento e notifica-
ção de agravos da sífilis, sendo uma ferramenta de controle dessa infecção, prevenção e
promoção de saúde materna e infantil. (MAGALHÃES DMS, et al., 2013). Segundo Lima
VC (2016) a transmissão vertical provoca graves consequências ao recém-nascido (RN),
derivadas das falhas que ocorrem na atenção primária, principalmente as relacionadas à
educação em saúde. Assim, ao receber o diagnóstico de SC no seu filho, muitas mães ficam
surpresas, pois, mesmo tendo conhecimento da infecção antes do parto, elas não esperam
que o filho também possa estar contaminado.
Nesse contexto, a enfermagem tem papel fundamental diante da necessidade de hos-
pitalização de um bebê com SC, deve cuidar, assistir e identificar as necessidades de sua
clientela. A equipe precisa reconhecer as dificuldades maternas frente à internação de seu
filho, considerando este, como um momento de fragilidade da mulher que ainda se encontra
no período puerperal (AZEVEDO CA, 2016). Portanto é importante compreender as vivências
de mulheres submetidas à essas situações buscando entender quais são os fatores que
tornam essa experiência tão dolorosa e angustiante, com a intenção propor intervenções
que possam evitar esses casos ou reduzir os impactos negativos na vida de mãe e filho.
Diante disso, este estudo teve por objetivo analisar a vivência das mães frente a ocorrência
de sífilis congênita em seus filhos, identificando a atuação da equipe de enfermagem.

MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, de natureza qualitativa realizada


em um município localizado ao sul do estado do Tocantins. Inicialmente foi realizado um
levantamento dos casos de SC nas fichas do SINAN, da Secretaria Municipal de Saúde de
Gurupi, registrados no período de janeiro de 2017 a maio de 2019.
Foi realizada a seleção das fichas com mães residentes em Gurupi, maiores de 18
anos, que tiveram seus filhos hospitalizados com SC, onde foram encontradas 20 fichas e

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 155


dessas, nove mulheres não foram localizadas, por terem endereço ou contato incorretos.
Após a localização das outras mulheres, cinco se recusaram a participar e uma não era
caso de SC, foi notificada de forma errada. Com as cinco mulheres que se enquadraram
nos critérios de inclusão, procedeu-se as entrevistas nas suas residências.
Os dados foram obtidos por meio de uma entrevista individual, gravada, guiada por
um instrumento semiestruturado previamente elaborado pelas pesquisadoras, contendo os
seguintes questionamentos: “Me conta como foi viver a experiência de ter um filho hospitali-
zado para tratamento de sífilis congênita? ”, “Como foi a assistência de enfermagem a você
durante o período de internação do seu bebê? ” e “Você gostaria de acrescentar mais algum
comentário sobre a temática?”. Cada entrevista durou cerca de 30 minutos. Os dados foram
transcritos na íntegra, de modo a manter as falas originais das entrevistadas.
Para a análise dos resultados foi utilizada a técnica de Bardin. Inicialmente realizou-se
a categorização dos sujeitos da pesquisa, em seguida as falas obtidas foram transcritas na
íntegra, ordenadas e categorizadas de acordo com o referencial teórico utilizado no estudo
(BARDIN ER, 2011). Este estudo foi realizado de acordo com a resolução n° 466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde sob o parecer 3.486.701 do Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade de Gurupi – UNIRG. Todas as entrevistadas foram
esclarecidas previamente acerca do objetivo da pesquisa e assinaram o Termo de Consen-
timento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das mães participantes da pesquisa, 60% tinham idade entre 18 e 20 anos e 40%
entre 20 e 30 anos. Se tratando do nível de escolaridade, 60% possuíam ensino médio
completo e 40% ensino fundamental completo. Em relação ao tratamento do parceiro após
o diagnóstico de sífilis na gestação, 20% tiveram seus parceiros tratados, 60% não foram
tratados e 20% não responderam.
Quanto às mulheres que fizeram o tratamento durante a gestação e, mesmo assim,
transmitiram a doença para o filho, 80% relataram terem sido diagnosticadas e tratadas du-
rante o pré-natal e 20% de diagnóstico e tratamento tardio, realizados somente no momento
do parto. Dados que condizem com outros estudos que mostram uma alta prevalência de
sífilis em mulheres jovens, com bom nível de escolaridade (ANJOS KF E SANTOS VC, 2009;
LAFETA KRG, et al., 2016). Os resultados foram apresentados em quatro categorias a seguir.

Categoria 1 - Vivência das mães frente à ocorrência de sífilis congênita em seus filhos

Brito APA e Kimura AF (2018) afirmam que a mãe, quando é notificada que seu filho

156 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


precisará ser hospitalizado para tratar a SC, apresenta uma reação de sofrimento e decepção,
uma vez que suas expectativas de ter um bebê saudável e levá-lo para casa são frustradas.
No presente estudo foi possível observar que as pesquisadas vivenciaram o adoecimento e
internação de seus filhos com sentimentos variados como medo, pânico, vergonha e choque.
Algumas se consideraram culpadas pelo sofrimento do filho, classificando a situação como
uma experiência muito dolorosa. Como segue nas falas abaixo.

“Pra mim não foi fácil, no primeiro momento que eu recebi a notícia que ia
ficar por 10 dias no hospital né eu fiquei em choque {...} Tive um pouco de
vergonha né” (Mãe 1).

“Receber a notícia que você vai ficar 10 dias com ele no hospital é um baque
muito grande eu chorei bastante, me perguntei bastante por que eu não li esses
exames pra mim ter me cuidado antes né {...} Toda vez que ele perdia a veia
que tinha que furar ele eu chorava muito por que eu sentia como seu eu fosse
culpada por ele está passando por aquilo sabe” (Mãe 2).

“Ver o meu filho nessa situação foi a pior coisa da minha vida, me senti aca-
bada, descobri no pré-natal e fiquei com medo pois eu não sabia o que era
sífilis recebi a notícia de que ele ia ficar internado 10 dias com a pediatra que
ajudou no meu parto ” (Mãe 3).

“Pra mim foi muito difícil, você se sente muito mal {...}, mas o difícil mesmo
foi ver ele na situação que ele tava né, eu chorei muito. É uma experiência
muito dolorosa, que você queria muito que não tivesse acontecido nada com
ele” (Mãe 4).

“ É ruim. É uma situação muito desagradável, muito dolorosa porque ela perdia
muito o acesso aí toda hora tinha que ficar furando. Mas... tem que fazer né,
então levei numa boa” (Mãe 5).

Muitas mães, ao serem informadas sobre diagnóstico da SC em seu bebê, enfren-


tam momentos de tristeza, culpa e algumas atribuem a si próprias a responsabilidade pela
transmissão da doença ao filho, ampliando sua corresponsabilização no cumprimento do
tratamento a ser realizado na criança (LIMA VC, 2016). A hospitalização de um filho recém-
-nascido por SC gera um sofrimento maior e uma experiência mais dolorosa devido ao fato
de ser uma doença transmitida da mãe para o filho, portanto a mulher se sente culpada e
fica se questionando sobre o que poderia ter feito para evitar, se responsabilizando pelo
adoecimento do filho.

Categoria 2 - Tratamento durante o pré-natal

O tratamento adequado da gestante é aquele realizado com Penicilina Benzatina,


e iniciado até 30 dias antes do parto. Gestantes que não fizerem o tratamento com essa
medicação e nesse período de tempo são consideradas como tratadas inadequadamente

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 157


(BRASIL, 2017). Observa-se que 80% das entrevistadas referem ter feito o tratamento du-
rante o pré-natal, porém, foi realizado de maneira inadequada ou ocorreu reinfecção por
meio do parceiro, o que provocou a transmissão da sífilis para o filho.

“Não quis aceitar por que até então achava que eu tinha feito o tratamento
certinho na minha gravidez, que o meu filho não teria né, fiquei em choque
mais é o que eu tinha que aceitar pra melhora do meu filho {...}” (Mãe 1).

“Foi tipo um pânico na hora que deu reagente o dele, primeiro por que o meu
os primeiros exames tinham dado não reagente, depois outro deu reagente e
virou uma bagunça” (Mãe 2).

“Eu tinha feito o tratamento né, tomei as três doses da medicação e tudo, só
que o meu esposo ele não tinha feito, por que quando ele fez o exame ele não
tinha dado reagente né. Então quando chegou lá pra poder ganhar o neném
e tudo, que fez o exame que deu reagente nele, aquela notícia é tipo assim
constrangedora” (Mãe 3).

Uma das entrevistadas referiu ter conhecimento do que estava acontecendo e da ne-
cessidade do tratamento que seu filho iria ser exposto, referindo que estava tranquila em
relação a hospitalização, como constata-se a seguir.

“Pra mim foi muito tranquilo porque eu já tinha consciência que ele ia ficar lá
porque eu fiz o tratamento tardio, porque a médica tinha esquecido de passar
um exame, o teste rápido, e eu fiz o de sangue e não deu nada. Aí quando
ela pediu o teste rápido e eu fiz, já era tarde, quando eu iniciei o tratamento
já era tarde” (Mãe 5).

Dados semelhantes foram encontrados em outros estudos que apresentaram que o


esquema de tratamento da gestante foi inadequado, não realizado ou ignorado em 88,0%
dos casos e o parceiro não foi tratado em 62,9% (CARDOSO ARP, et al., 2018; SARACENI
V, et al., 2017). Observa-se que, no pré-natal das entrevistadas, houveram falhas importantes
como a inadequação do tratamento, falha no rastreamento e tratamento dos parceiros, falta
de comunicação com as gestantes de modo a explicar todos os procedimentos que devem
ser realizados, a respeito da doença e suas consequências para o bebê e para a família.

Categoria 3 - Assistência de enfermagem durante a hospitalização

A confiança no cuidado do profissional vem da certeza de sua disponibilidade, da


segurança das informações recebidas, do interesse e do compromisso com o cliente, do
fato de ser ouvido e ter suas opiniões levadas em consideração, favorecendo vivenciar a
internação da criança de forma menos traumática (GOMES GC, 2015). Para Silva TP, et
al. (2015) ao profissional da enfermagem cabe identificar as angústias, os sentimentos e as
dores da família da criança hospitalizada com SC. A principal ferramenta é o diálogo sendo

158 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


uma forma de apoio e criação de vínculos com a equipe, afim de permitir o estabelecimento
de divisão entre responsabilizações no cuidado. Dialogar significa saber ouvir, escutar, estar
atento ao que o outro diz, pois através da escuta é possível conhecer as necessidades de
cuidado que irão nortear a prática. Em relação à assistência oferecida pela equipe cuidadora,
notou-se satisfação das mães com o atendimento e atenção recebidos e, com o cuidado
dedicado aos seus filhos durante toda a internação. Mostraram confiança e segurança nos
profissionais, nos procedimentos e no tratamento realizado.

“Foram super tranquilos, super prestativos, tem umas meninas lá que eu gostei
bastante, super de boa” (Mãe 5).

“Significou muito, muito mesmo até então por que eu senti que realmente eles
se preocuparam com a saúde do meu filho né, que eles estavam em cima
24 horas por dia fazendo todos os exames, todos os tratamentos, tudo que
fosse possível eles estavam ali ajudando. Pra mim significou muita coisa, o
tratamento dele lá foi ótimo, perfeito” (Mãe 1).

Macedo IF, et al. (2017) mostraram que a equipe de enfermagem visualiza que as
famílias necessitam de acompanhamento psicológico para suportar e aliviar a situação de
hospitalização de um familiar. Com o diálogo ela se sentiu acolhida e respeitada em suas
necessidades emocionais, facilitando assim a interação e favorecendo o cuidado integral e
humanizado.

“O cuidado de alguns enfermeiros foi bom, mais a pediatra me fez sentir muito
mal, pois ela não soube me explicar direito e já tomaram meu filho pra tirar um
líquido da coluna dele, fizeram três tentativas durante vários dias em seguidos,
eu chorei bastante por que elas tomaram e não me explicaram direito, eu queria
tá lá junto com ele e elas não deixaram” (Orquídea).

Houveram questionamentos sobre a falta de informação a respeito do quadro clínico


do RN e sobre os procedimentos a serem realizados. Esse fator influencia muito na relação
entre a mãe e os profissionais, pois ela tem o direito de saber acerca do diagnóstico e pro-
cedimentos para sentir mais confiança no trabalho da equipe de saúde. O diálogo é um fator
de extrema importância, sempre ouvindo e esclarecendo as dúvidas da família, promovendo
assim uma assistência humanizada. Para Gomes GC, et al. (2015), a interação entre os
profissionais e a criança/família facilita a prestação do cuidado e pode diminuir os traumas
causados pela internação, promovendo um cuidado humanizado.

“Nossa têm enfermeiros lá que se eu pudesse levar presente eu levaria {...} não
tenho o que reclamar de nenhuma enfermeira todas as vezes que eu precisei
eu tive resposta, quanto das enfermeiras como das técnicas, não tenho que
reclamar de nenhuma delas {...} Só ficava longe dele quando ia pegar a veia,
eu não aguentava ver ele furado, mais até então eu sempre tive contato com
o meu filho” (Mãe 2).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 159


“Às vezes a gente tinha uns que tratavam muito bem, tive umas duas, umas
três lá que elas foram maravilhosas, meu Deus do céu, cuidaram muito bem,
quando meu filho perdia a punção, que elas tinham que fazer novamente,
pegar a veinha novamente elas iam com todo o cuidado, fazia até luvinha de
glicose e dava pra ele poder ficar chupando” (Mãe 3).

Observa-se que um momento de grande desconforto para as mães é o de puncionar


a veia do bebê, pois é um agente causador de dor para o filho, gerando assim, sofrimento
para elas. Conforme diz Silva JG (2018), uma das principais causas de sofrimento para a
mãe são os procedimentos dolorosos realizados no seu filho hospitalizado. Tem-se, ainda,
a afirmação de que, mesmo reconhecendo o benefício da punção para o tratamento do filho,
a mãe sofre ao ver o sofrimento dele e pensa em desistir da hospitalização.

“Foi dez dias de experiência, tinha umas que você via que não tava ali por
questão do amor, por que é na área da saúde têm que ter amor né {...} mais
eu tive contato com ele durante os dez dias totalmente do lado dele” (Mãe 4).

Houveram, também, relatos de insatisfação com alguns componentes equipe cuidadora,


o que pode gerar dificuldades na relação família-profissional, interferindo diretamente no
cuidado com a criança. Além do conhecimento técnico-científico, a equipe de enfermagem
deve assistir ao binômio criança-família de maneira integral, identificando os aspectos psi-
cológicos e sociais que estão vivenciando durante a internação hospitalar (BRASIL, 2017).
O enfermeiro deve ser empático em relação aos seus cuidados. A equipe de enferma-
gem deve demonstrar empatia com as famílias, compreendendo sua presença como um
direito da criança, trazendo com ela o benefício de minimizar o estresse em um ambiente
estranho e permite a participação da família no cuidado prestado no domicílio (MACEDO
IF, et al., 2017).

Categoria 4 - Opinião das mães

A atenção primária, deve atuar de forma eficiente no pré-natal, solicitando o VDRL


(Venereal Disease Research Laboratory) acompanhando o tratamento e, principalmente,
orientando a gestante sobre a gravidade e consequências da infecção para ela e para o
bebê, mostrando a importância do diagnóstico e tratamento o mais precoce possível, para
evitar a Sífilis Congênita (MORORÓ RM, et al., 2105). Nesse contexto, compreende-se que
o enfermeiro apresenta uma importante atuação como educador, devendo abordar ações
educativas que promovam o conhecimento e a reflexão sobre o processo de saúde-doença.
Nessa categoria as mães ficaram livres para opinar sobre pré-natal, fazer sugestões e críticas
a respeito da temática. Considerações sobre a equipe que as acolheu durante o pré-natal.

“Foram maravilhosos, muito atencioso é sempre dando uma olhadinha, sempre

160 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


verificando alguma diferença no corpo né achei muito bom, foi ótimo, excelente.
” (Flor do deserto).

Os profissionais empenhados e comprometidos com o seu processo de trabalho e que


praticam todo o aprendizado na execução das políticas do Ministério da Saúde, são funda-
mentais para a transformação de recomendações em resultados favoráveis (DOMINGUES
RMSM, et al., 2014). Questionamentos sobre o adoecimento do filho e como evitar.

“Ah mais cuidado, ás vezes a gente pensa que não é nada, que isso não vai
nos afetar em nada mais lá na frente agente recebe meio que um castigo por
isso, eu sofri muito ver meu filho 10 dias tomando antibiótico com o bracinho
enfaixado e toda vez que eu olhava pra ele daquele jeito que ele chorava se
debatia com o bracinho eu me perguntava: Por que eu não me cuidei antes?
Por que não prestei atenção nisso antes? ” (Mãe 2).

Nota-se um sentimento de tristeza, susto e desespero ao ter conhecimento da interna-


ção prolongada do bebê e também por acompanhar o processo doloroso do tratamento na
criança. Oferecer aos pais orientações precoces e adequadas a respeito da SC representa
uma importante estratégia de enfrentamento da doença (MORORÓ RM, et al., 2105). Críticas
a respeito da equipe cuidadora.

“Sim gostaria de acrescentar algo mais, gostaria que durante o início do tra-
tamento da criança que as pediatras ou quem fosse lá informar que a criança
fosse começar o tratamento fosse mais amigáveis tipo por que a minha foi muito
grosseira, não soube me explicar direito, e eu fiquei assim em choque, chorei
muito, eu passei mal e por causa da atitude dela, ela chegou dizendo que ela
tinha direito sobre o meu filho e isso nenhuma mãe gosta de escutar” (Mãe 4).

É de suma relevância para a mãe entender a situação do filho, compreendendo a doen-


ça, o tratamento, os procedimentos e os exames realizados, e, também, a evolução clínica da
criança. E para isso, precisam sentir que os profissionais estão dispostos a esclarecer suas
dúvidas sempre que necessário (FIGUEIREDO SV, et al., 2013). Sugestões para melhorar
o conhecimento das gestantes sobre o pré-natal, sobre as doenças e exames necessários.

“Eu acho que a pessoa tem que se informar mais, pesquisar mais, ficar mais
por dentro do assunto {...} Então eu acho assim que, por exemplo, no dia da
gestante lá que tem no posto de saúde, seria interessante palestra, essas
coisas. Muita gente não sabe como funciona todo o protocolo do pré-natal,
todos os exames que precisa fazer, todos os testes que precisa fazer e nem
o tempo certo que precisa fazer, então é isso ” (Mãe 5).

Nota-se que há diversas falhas importantes, com poder de influenciar o diagnóstico


e o acompanhamento das gestantes, destacando-se o tratamento inadequado das mães e
seus companheiros durante a gestação (CAVALCANTE PAM, et al., 2017).
Foi possível observar que as entrevistadas referiram algumas falhas no pré-natal

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 161


que possibilitaram o acometimento da SC, e essas falhas podem ser corrigidas com mais
educação em saúde, que é a principal ferramenta para difundir conhecimento e evitar o
adoecimento da população. O enfermeiro mostra-se como uma peça fundamental para o
esclarecimento da gestante/mãe nessa difícil etapa do seu diagnóstico, orientando sobre
os sintomas, riscos e prevenção para evitar a contaminação do filho, assim como prevenir a
reinfecção pelo parceiro. Esse deve orientar e enfatizar sobre a importância das testagens
para infecções sexualmente transmissíveis durante o pré-natal, o tratamento da gestante
juntamente com o parceiro, assim como o uso de preservativos durante as relações sexu-
ais. Torna-se fundamental um olhar ético e humanizado ao ofertar assistência ao binômio
mãe-filho, assim como a toda a família (SILVA JG, 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo mostrou que a hospitalização de um filho acometido pela SC, é um momen-
to doloroso para a mãe, gerando sentimentos de culpa, medo, vergonha, pânico, choque,
e questionamentos acerca do que ela poderia ter feito para evitar o adoecimento do filho.
A temática da sífilis congênita é delicada, podendo interferir de forma negativa em toda a
vida materna, pois engloba vários fatores, entre eles fatores sociais, familiares, conjugais,
psicológicos, físicos e comportamentais. Diante disso, destaca-se a importância de uma
assistência de enfermagem de qualidade, buscando sempre a eficiência do pré-natal na
prevenção e no tratamento da sífilis gestacional e, durante a hospitalização por SC, estabe-
lecer uma relação de confiança entre a equipe e a família, buscando ouvir e solucionar os
problemas apresentados pelos seus clientes.

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164 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


13
“ Abordagem do tabagismo na
atenção primária à saúde-
revisão integrativa de literatura

Marcos Aurélio Maeyama


UNIVALI

Ana Carolina dos Santos Iserhard

Serlaine Adriana Ledur

Julio Cesar Corazza

10.37885/200700589
RESUMO

O hábito de fumar preocupa cada vez mais o governo, as autoridades de saúde e a


sociedade como um todo, devido à dependência e aos sérios danos à saúde. Considerando
que o tabagismo tornou-se uma pandemia e que causa milhões de mortes evitáveis ao
ano, este estudo teve por objetivo investigar na literatura a epidemiologia, os fatores
iniciadores e motivadores do hábito de fumar, as ações realizadas pelos profissionais
de saúde referentes ao tratamento não farmacológico e farmacológico e os motivos que
dificultam o abandono do vício. Para o alcance do objetivo proposto, optou-se pelo método
da revisão integrativa, que possibilita sintetizar pesquisas já concluídas e obter resultados
a partir de um tema de interesse. O controle do marketing, as atividades educativas
em escolas, a disponibilidade de tratamento na atenção primária à saúde e controle do
consumo em locais públicos são medidas que colaboraram para reduzir a prevalência
do tabagismo no Brasil. Ainda que as ações promovidas pelo Programa Nacional de
Controle do Tabagismo sejam referências mundiais, o tabagismo continua mostrando-
se como um problema de saúde pública e precisa ser abordado de uma maneira ampla,
singularizando o sujeito tabagista.

Palavras-chave: Tabagismo; Dispositivos para o Abandono do Uso do Tabaco; Atenção


Primária à Saúde.
INTRODUÇÃO

Historicamente, a utilização de substâncias naturais e produtos para obter alterações


psicossomáticas, com o intuito de conferir ao usuário a capacidade de ver, sentir ou pres-
sentir o que outros na sobriedade não conseguem, confunde-se com a evolução natural da
humanidade (MORENO, 2009).
Em relação ao tabagismo, considera-se que é um fenômeno complexo, de múltiplas
facetas. Usado em rituais religiosos e com fins terapêuticos, o tabaco teve seu consumo
vertiginosamente expandido em função da produção industrial e das sofisticadas estratégias
de marketing de grandes empresas multinacionais de cigarro. Através de recursos bastante
sutis, a publicidade veiculada pelas indústrias tabageiras associou o ato de fumar a concei-
tos como luxo, sucesso, conquista, velocidade, juventude, e até mesmo saúde, atingindo
maciçamente grupos como adolescentes, mulheres, faixas economicamente mais pobres
etc. Assim, no século XX, o tabagismo passou a ser visto como um estilo de vida, um com-
portamento social aceitável e charmoso, o que fez a Organização Mundial da Saúde (OMS)
considerá-lo uma doença transmissível pela publicidade (MARTINS, 2011).
Apenas em 1988 o tabagismo foi reconhecido pela comunidade científica mundial
como uma dependência química e, em 1997, a OMS o classificou no grupo de transtornos
mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas, incluindo-o
na décima revisão da Classificação Internacional de Doenças - CID-10. Desse modo, o ta-
bagismo adquire o duplo status: de doença epidêmica propriamente dita e de fator de risco
para inúmeras moléstias, destacando-se as cardiovasculares, o câncer e as respiratórias
obstrutivas crônicas (MARTINS, 2011).
No cenário internacional, a primeira política de saúde globalmente articulada para o
combate ao tabagismo foi a formação da Convenção-Quadro para o controle do Tabaco,
lançado em 2003 pelos países membros da ONU e ratificado pelo Brasil em 2005 (JUNIOR;
VENTURA, 2015). Estes países passaram a assumir o papel de protagonistas na luta contra
os efeitos do uso do tabaco, responsabilizando-se pela construção de ações econômicas e
comerciais que desestimulem o tabagismo no contexto de seus territórios (JUNIOR; VEN-
TURA, 2015).
No Brasil, o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), o qual é conside-
rado como um dos mais abrangentes entre os países em desenvolvimento, foi responsável,
em partes, pela diminuição do consumo do tabaco. Tal programa está focado no tratamento
do tabagismo, na prevenção à iniciação, na proibição da propaganda, na obrigatoriedade
das imagens de advertência nas carteiras de cigarro e nas restrições ao fumo em ambien-
tes fechados de uso coletivo (BARROS et al., 2011). Desde então, diversas medidas vem
sendo tomadas pelo Ministério da Saúde (MS) a fim de ampliar o acesso dos usuários ao

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 167


tratamento contra o tabagismo. Atualmente, há 23.387 equipes de saúde de 4.375 municí-
pios, no âmbito da atenção básica, preparadas para ofertar o tratamento aos que desejam
cessar o tabagismo (INCA, 2014).
Além de todo o prejuízo à saúde, o desgaste econômico decorrente do uso do tabaco é
muito elevado, envolvendo indivíduos, serviços e a sociedade como um todo (DIAS-DAMÉ;
CESAR; SILVA, 2011). Há gastos públicos com o tratamento das doenças associadas ao
tabagismo e com a diminuição da produtividade dos fumantes acometidos por essas doenças,
o que onera drasticamente os serviços de saúde e dificulta o desenvolvimento econômico
(VELOSO et al., 2011; WHO, 2013).
A Atenção Primária à Saúde (APS), definida como o cuidado de primeiro contato,
serve como porta de entrada ao Sistema Único de Saúde (SUS). A coordenação de todas
as necessidades de saúde do usuário ocorre na APS, assumindo a responsabilidade pela
continuidade e pelo acompanhamento individual e integral da pessoa (GUSSO; LOPES,
2012). Dessa forma, suas unidades tornam-se um local estratégico para abordagem e tra-
tamento da pessoa na cessação do tabagismo, através de ações educativas, dialógicas e
organizacionais (PORTES, 2012).
Apesar de haver tecnologias disponíveis para o enfrentamento do problema, ainda
existe bastante dúvida e insegurança no manejo do tabagismo por parte dos profissionais
da Atenção Primária. Desta forma, esta revisão de literatura tem o objetivo de dar suporte
para os profissionais de saúde que lidam com o tabagismo em suas rotinas.

METODOLOGIA

Este estudo de abordagem qualitativa revisou a literatura para identificar a produção


científica relacionada ao tabagismo. Optou-se pela realização de uma revisão integrativa da
literatura, método que tem a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas rele-
vantes sobre um determinado tema, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para
o aprofundamento do conhecimento do tema investigado e dando suporte para a tomada
de decisão e a melhoria da prática clínica (BENEFIELD, 2003).
Conforme Mendes (2008), para a elaboração da revisão integrativa é necessário a de-
finição do tema, com a formulação de questionamentos a serem respondidos ou hipóteses a
serem testadas. Realiza-se então uma busca de artigos relevantes dentro do tema principal.
Após esta etapa, o pesquisador define as características ou informações a serem coletadas
nos estudos por meio de critérios claros, selecionando as pesquisas que serão incluídas na
fase final de revisão. Sistematicamente os dados coletados são analisados e interpretados
e, posteriormente, realiza-se uma discussão.
Realizou-se revisão integrativa sobre o tabagismo, utilizando bases de dados do Lite-

168 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


ratura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS-BIREME), Scientific
Eletronic Library Online (SciELO) e Google Acadêmico. Utilizaram-se os descritores de
pesquisa em saúde (palavras-chave): Tabagismo; Hábito de Fumar; Programa Nacional de
Controle do Tabagismo; Abandono do Uso do Tabaco. Foram selecionados artigos, editoriais,
diretrizes e teses de mestrado que abordam a epidemiologia, fatores de iniciação, causas,
tratamento, sucesso x insucesso e prevenção, referentes ao tabagismo e importantes para
o manejo na APS.
Inicialmente as informações analisadas foram o título da pesquisa, o objetivo do estu-
do e resumo. Os critérios de inclusão foram: artigos disponíveis integralmente, publicação
em português, espanhol e inglês em periódicos nacionais e internacionais e indexação nas
bases de dados referidas no período de 2008 a 2015. A revisão foi ampliada através de
busca em outras fontes, tais como documentos governamentais e não governamentais e
estatísticas de saúde relacionadas ao tabagismo e referências citadas nos artigos obtidos.
O total de artigos obtidos através dessa busca foi de 96, sendo utilizados 54 para a realiza-
ção desta revisão. Posteriormente realizou-se a leitura na íntegra dos artigos incluídos na
revisão, analisando-os detalhadamente de forma crítica. A leitura exaustiva possibilitou a
categorização temática de assuntos que envolvem o entendimento do manejo do tabagis-
mo, sobretudo na Atenção Primária, sendo estes os temas mais abordados: Epidemiologia;
Iniciação / Causa / Fatores Associados; Abordagem da Cessação Tabágica / Tratamento;
Sucesso X Insucesso; e Prevenção.

RESULTADOS

Os resultados foram organizados em cinco grandes blocos: Epidemiologia; Iniciação /


Causa / Fatores Associados; Abordagem da Cessação Tabágica / Tratamento; Sucesso X
Insucesso; e Prevenção.

Epidemiologia

Conforme dados atualizados do INCA, mundialmente existem mais de um bilhão de


fumantes no mundo e aproximadamente 80% deles vivem em 24 países, sendo dois ter-
ços em países de baixa e média renda, no qual a carga de comorbidades e mortes tabaco
relacionadas é maior. Acredita-se que anualmente seja consumido aproximadamente seis
trilhões de cigarros (WHO, 2010).
Os dados, segundo a WHO (2013), são alarmantes: a cada ano, o tabaco mata quase
seis milhões de pessoas, das quais mais de cinco milhões são consumidoras diretas do
produto e mais de 600.000 são não fumantes expostas à fumaça do tabaco. A menos que
se tomem medidas urgentes, a cifra anual de mortes poderá ultrapassar os oito milhões em

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 169


2030 (WHO, 2011).
Em uma análise realizada em 2010, a região que apresentava maior percentual de
tabaco fumado era a Europa com 29,6% no total. Já a região com menor percentual de fu-
mantes era a África com 12,8% no total. Nas Américas o percentual de fumantes era 19%
no total, correspondendo a 24,1% dos homens e 14,2% das mulheres (WHO, 2015).
Em 2013, o IBGE em parceria com MS e a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) rea-
lizou a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), na qual atualizou os dados sobre a prevalência
de adultos tabagistas com 18 anos ou mais e residentes no Brasil. A proporção de fumantes
de tabaco em todo o país foi de 14,7% no total, representando 18,9% de todos os homens
e 11% das mulheres. A região brasileira com maior percentual de fumantes foi a região Sul
com 16,1% no total, enquanto a região com menor percentual foi a Norte com 13,2% no
total (PNS, 2013).
As maiores prevalências de fumo diário no Brasil foram observadas na faixa etária de
40 a 59 anos (19,4%), nos negros (17,8%), em indivíduos com menor nível de escolaridade
e de renda e maior esforço braçal (FERREIRA et al., 2011; PNS, 2013; RODRIGUES, 2013).
Dessa forma, a frequência do consumo de cigarros no país chega a ser duas vezes maior
entre trabalhadores agrícolas, com 21,9%, e da produção de bens e serviços, reparação e
manutenção, com 21,1%, quando comparados com os profissionais qualificados da área de
ciências e artes (9,4%). Além disso, as categorias de trabalhadores manuais tiveram uma
redução pouco significativa do tabagismo comparado com a dos trabalhadores não manuais
(BARROS et al., 2011).
O inquérito nacional da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE), realizado
em 2009 no Brasil, investigou o tabagismo nos escolares, revelando uma prevalência de
fumo diário de 6,3% em escolares de 13 a 15 anos (BARROS et al., 2011). De acordo com
PENSE, a experimentação do cigarro foi maior entre estudantes de escolas públicas (25,7%)
quando comparado aos da escola privada (18,3%), afirmando novamente a relação entre
tabagismo e baixa condição socioeconômica (BARROS et al., 2011).
No Brasil verificou-se redução importante na prevalência do tabagismo desde 1989.
Neste ano o percentual de tabagistas brasileiros com 18 anos ou mais era de 34,8% (RO-
DRIGUES, 2013). De acordo com a Pesquisa Mundial de Saúde, em 2003 obteve-se um
percentual de 22,4%. Segundo dados da pesquisa promovida pelo MS, Vigilância de Fato-
res de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), em 2014,
10,8% dos brasileiros ainda mantinham o hábito de fumar, sendo o índice maior entre os
homens (12,8%) do que entre as mulheres (9%).
Essa tendência de diminuição do tabagismo é vista em todo o mundo, porém, tem
sido mais evidente entre os países de melhor nível socioeconômico, especialmente entre

170 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


os homens. Entre as mulheres, isso também tem ocorrido, mas somente nos países indus-
trializados (DIAS-DAMÉ; CESAR; SILVA; 2011).
Entretanto, conforme a quinta edição do Atlas do Tabaco (2015), o consumo mundial de
cigarro permanece em ascensão, já que as reduções significativas nas taxas de tabagismo
na Austrália, Reino Unido, Brasil e outros países que implementaram rígidas leis de controle
de tabaco, foram compensadas pelo aumento de consumo em um único país: a China.
Rodrigues (2013) ressalta que os maiores decréscimos no uso do tabaco no Brasil
foram observados em pessoas com níveis de escolaridade maiores e que ainda há elevada
prevalência de tabagismo entre mulheres jovens. Segundo a OMS, as mulheres representam
20% de todos os fumantes no mundo, ou seja, quase 250 milhões de tabagistas. As taxas
do sexo feminino estão em ascensão em vários países, enquanto a prevalência de fumantes
masculinos atingiu o pico. As mulheres tornaram-se alvos estratégicos da indústria tabageira,
levando em conta que novos usuários são necessários para substituir os fumantes atuais
que correm o risco de adoecer e morrer precocemente devido às doenças causadas pelo
uso do tabaco.
Mundialmente, o tabagismo é responsável por aproximadamente 6% de todas as mortes
entre as mulheres e 12% entre os homens. De todas as mortes relacionadas ao fumante
passivo, 47% ocorrem entre mulheres, 28% entre crianças e 26% entre homens (INCA, 2015).
Além disso, perto de 71% das mortes por câncer de pulmão, 42% das mortes por
doenças respiratórias crônicas e 10% das mortes por doenças cardiovasculares são atribu-
íveis ao consumo do tabaco. No Brasil, o câncer de pulmão é o que mais mata homens e o
segundo que mais mata mulheres e, em 2008, houve mais de seis mil óbitos por doenças
cardiovasculares e câncer entre não fumantes atribuíveis ao tabagismo passivo (INCA, 2015).

Iniciação / Causas / Fatores associados

Inúmeras causas foram citadas na iniciação, no reforço e na manutenção do uso do


tabaco, tais como as condições econômicas, sociodemográficas, comportamentais, am-
bientais, pessoais, o estresse provocado pela jornada de trabalho dobrada e pelos salariais
desiguais, pela violência doméstica ou até mesmo pela estética imposta pelos padrões de
beleza vigente na sociedade atual (INCA, 2014).
Conforme Rodrigues (2013), a iniciação ao tabagismo foi mais precoce nos indivíduos
com situação socioeconômica desfavorecida. O autor aponta diversos fatores que podem
justificar essa diferença entre as classes sociais: as campanhas de prevenção têm sido mais
eficazes entre os indivíduos com maior escolaridade, indivíduos menos escolarizados são
mais susceptíveis às estratégias de marketing da indústria do tabaco e dispõem de menos
recursos para lidar com o estresse diário.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 171


Assim como o uso de outras drogas aditivas, o tabaco tende a se estabelecer durante a
adolescência. No Brasil, a média de idade de ingresso no tabagismo está entre 17 a 19 anos
(31,9%) (MEIER, 2011). Essa idade precoce para a iniciação ao tabagismo está intimamente
associada à maior probabilidade do indivíduo tornar-se dependente da nicotina, principal-
mente em um grau mais elevado (WÜNSCH FILHO et al., 2010; MEIER, 2011; ABREU et
al., 2011). De fato, o tabaco é a segunda droga mais consumida entre os jovens, no mundo
e no Brasil, e isso se deve à facilidade de experimentação e estímulo para obtenção do
produto, como o baixo custo, além da limitada percepção do risco decorrente do tabagismo
(MEIER, 2012; WÜNSCH FILHO et al., 2010).
Diversos fatores estão associados ao início do tabagismo em adolescentes, como o
hábito de fumar dos pais, amigos e irmãos mais velhos, curiosidade, baixo rendimento e
evasão escolar, trabalho remunerado e alcoolismo (WÜNSCH FILHO et al., 2010). Todos
estes fatores na verdade estão relacionados ao contexto em que cada pessoa está inserida,
devendo, portanto, ser abordado individualmente (ABREU et al., 2011). De acordo com tal
autor, neste período de formação da própria identidade, a família é o principal modelo de
referência, de modo que o tabagismo dos pais torna o fumo mais acessível e aceitável para
os filhos.
Já as condições que aumentam a probabilidade de permanência neste mau hábito
são o desajuste familiar, a separação dos pais, a moradia com outras pessoas que não os
pais biológicos, a baixa autoestima e a depressão (WÜNSCH FILHO et al., 2010). Segundo
Reis (2012), jovens que possuem depressão, na maioria das vezes, recorrem ao cigarro e
desenvolvem intensa dependência à nicotina.
Estimativas apontam que cerca de 30% dos tabagistas podem ter história de depressão.
De fato, a depressão tem um papel relevante tanto na iniciação quanto na manutenção deste
vício. Tabagistas deprimidos podem fumar para aliviar seus sentimentos negativos (angústia,
raiva, medo, vergonha) e como consequência reforçar o hábito de fumar (VIEIRA, 2014).
O estudo realizado por Vieira (2014) constatou que as motivações mais importantes para o
tabagismo foram a dependência física à nicotina, o prazer de fumar e a redução da tensão.

Abordagem da cessação tabágica / Tratamento

A dependência ao tabaco é um processo que envolve a ação farmacológica da nicotina


(dependência física), condicionamentos e processos comportamentais adquiridos (depen-
dência comportamental), fatores relacionados às expressões emocionais, à personalidade,
(dependência psicológica) e também às condições sociais (ROSEMBERG, 2003). Tendo
em vista sua complexidade, o tratamento requer uma abordagem ampla, com integração de
diversos componentes (MEIER; VANNUCHI; SECCO, 2011).

172 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Para Portes (2014), o cenário oportuno para a execução das ações de controle do ta-
bagismo é a APS. Esse nível de atenção à saúde caracteriza-se por um conjunto de ações
de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde,
a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e
a manutenção da saúde. Seu objetivo é desenvolver uma atenção integral e ampliada que
impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicio-
nantes de saúde das coletividades.
O compromisso em ampliar o acesso à abordagem e ao tratamento do tabagismo para a
rede de APS e de média complexidade do SUS foi garantido por Portarias, através das quais
novas diretrizes sobre a adesão ao PNCT, a programação para aquisição da medicação e
as responsabilidades são estabelecidas. A Coordenação Nacional e a referência técnica do
PNCT continuam a cargo do Instituto Nacional do Câncer (INCA), que mantém o contato com
as coordenações estaduais para organização e manutenção do programa (BRASIL, 2013).
A nova portaria define como atribuições da APS as ações de promoção da saúde e de
prevenção do tabagismo de forma intersetorial e com participação popular, a identificação
de tabagistas na população sob sua responsabilidade, a avaliação clínica inicial do usuário,
a assistência terapêutica e acompanhamento individual e/ou coletivo, abrangendo desde a
abordagem mínima até a intensiva, acompanhadas, se necessário, de tratamento medica-
mentoso (BRASIL, 2013).
Além disso, a APS fica responsável por organizar as consultas e grupos terapêuticos,
diagnosticar e tratar precocemente as possíveis complicações decorrentes do tabagismo
e acionar o Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes ou outra estratégia local, sempre
que necessário, para qualificar a atenção prestada (BRASIL, 2013).
Cerca de 80% dos tabagistas desejam parar de fumar, e a maioria consegue abandonar
a dependência sozinha, geralmente após duas ou três tentativas (REICHERT et al., 2008).
Entretanto, grande parcela necessita de tratamento especializado para obter sucesso, muitas
vezes com repetidas intervenções. Além disso, evidências recentes embasam o papel fun-
damental do aconselhamento tanto em intervenção isolada ou em grupo quanto associada
à farmacoterapia (REICHERT et al., 2008).
Atualmente os métodos de tratamento podem ser farmacológicos, não farmacológicos
ou ambos (SANTOS, 2014). A farmacoterapia visa diminuir a dependência nicotínica, com
uso de medicamentos e reposição nicotínica. O não farmacológico abrange técnicas tera-
pêuticas, como a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), escolhido pelo PNCT para ser
a forma preferencial de abordagem ao fumante, podendo ser realizado individualmente ou
em grupo (MESQUITA, 2013).
Para iniciar o tratamento, se faz necessário uma ampla avaliação do fumante, a qual

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 173


deve incluir aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais (MESQUITA, 2013). É importante
conhecer a história tabagística do indivíduo, principalmente por que a pessoa fuma, idade
de início, número de cigarros fumados diariamente, tentativas de cessação, tratamentos an-
teriores com ou sem sucesso, sintomas de abstinência, exposição passiva ao fumo, formas
de convivência com outros fumantes (casa, trabalho), se apresenta alterações funcionais
pulmonares ou doenças relacionadas ao tabagismo. É preciso investigar ainda possíveis
contraindicações e interações medicamentosas durante o tratamento farmacológico da de-
pendência (REICHERT et al., 2008).
Conforme Mesquita (2013) é necessário a identificação do contexto que antecede o
ato de acender o cigarro e das consequências do fumar para aquela pessoa, de forma a
singularizar o manejo e tratamento. De fato, o conhecimento de tais fatores auxilia na ma-
nutenção da abstinência e facilita o entendimento das causas de fumar.
O instrumento mais utilizado para averiguar o grau de dependência nicotínica é o Teste
de Fagerström. Amplamente difundido, tal teste se baseia em dados objetivos e sua aplica-
ção é simples. O MS indica a farmacoterapia em fumantes com Fagerström ≥ 5. Entretanto,
um ponto negativo extremamente importante é que não contempla os aspectos emocionais
e individuais envolvidos na dependência (SANTOS, 2011).
Conforme Pawlina (2014) é imprescindível a avaliação do estágio motivacional logo no
primeiro encontro, pois para iniciar o tratamento é preciso que o fumante esteja motivado.
Prochaska e Diclemente (1983) propuseram um modelo teórico, baseado em um processo
dinâmico de mudanças de comportamento, o qual prevê cinco diferentes estágios:

– Pré-contemplação: não há intenção de parar de fumar.

– Contemplação: há conscientização de que fumar é um problema, porém, há uma


ambivalência quanto à perspectiva de mudança.

– Preparação: prepara-se para parar de fumar (quando o paciente aceita escolher


uma estratégia para realizar a mudança de comportamento).

– Ação: para de fumar (o paciente toma atitude que o leva a concretizar a mudança
de comportamento).

– Manutenção: o paciente deve aprender estratégias para prevenir a recaída e conso-


lidar os ganhos obtidos durante a fase de ação. Nesta fase pode ocorrer a finaliza-
ção do processo de mudança ou recaída.
Ajudar os pacientes a mudar de estágio, orientando-os e fazendo o reforço motivacio-
nal é um passo fundamental para que as taxas de fracasso diminuam (RUSSO; AZEVEDO,
2010). Profissionais que contemplam afetuosidade, respeito e empatia podem influenciar

174 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


positivamente na motivação do tabagista (REICHERT et al., 2008).
O tratamento não farmacológico para o tabagismo de maior eficácia é a TCC e tem
sido oferecido pelo MS à população. Nessa forma de tratamento, o tabagista deve sentir-
-se acolhido pelo médico e equipe de saúde. Não há um “momento ideal” para abandonar
o tabaco. Ainda que na presença de comorbidades incapacitantes, a cessação melhora a
qualidade de vida e a autoestima do fumante (REICHERT et al., 2008).
A entrevista motivacional, também denominada intervenção breve/mínima, é uma téc-
nica de TCC que pode ser realizada por qualquer profissional de saúde, de forma rápida (5
a 10 minutos) em uma consulta de rotina (MAZONI et al., 2008). Tem por objetivo ouvir as
necessidades do da pessoa de forma acolhedora, avaliar, aconselhar e preparar o paciente
para cessar o tabagismo (KAWAGUCHI, 2013). Tal abordagem traz impactos significativos
em termos de saúde pública, já que beneficia um grande número de pacientes (MIRRA et
al., 2011)
Mirra et al. (2011) propõe o aconselhamento telefônico proativo, ligações feitas pelo
profissional de saúde ao usuário, e o reativo, ligações feitas pelos usuários ao serviço de
saúde, como outra alternativa de tratamento, sobretudo em associação à farmacoterapia.
Tal medida tem potencial para fortalecer as intervenções de autoajuda e para planejar a
cessação do tabagismo auxiliando os fumantes na prevenção de recaída durante o período
inicial de abstinência.
A abordagem específica ou intensiva dentro da TCC é reservada para tabagistas com
maiores dificuldades de cessação do tabaco, podendo ser ofertada tanto na esfera individual
quanto coletiva. O número de sessões e seu tempo variam de acordo com cada situação
(KAWAGUCHI, 2013)
O profissional de saúde deve ajudar o paciente a identificar os motivos que o levam a
fumar, independente do estágio motivacional em que se encontra e deve estimular o aban-
dono deste vício. É de extrema importância orientá-los sobre os malefícios do tabaco, os
benefícios de abandonar o vício e os riscos para a saúde daqueles que convivem com eles
(SILVA, 2010).
Reichert (2008) afirma que os fumantes contemplativos devem ser encorajados a marcar
uma data dentro de 30 dias para cessar o tabagismo. Para os pacientes na fase de ação,
deve-ser estimular a definição imediata da data de parada. A partir da data escolhida, o
paciente deve manter distância de tudo que lembre o tabaco (REICHERT et al., 2008). É
interessante que o tabagista desenvolva atividades prazerosas, evitando ficar ocioso, e que
fuja das situações de risco, como a companhia de fumantes, festas (SILVA, 2010). Há ainda
alternativas de gratificação oral e manual, tais como beber líquidos, chupar gelo, mascar
chicletes dietéticos ou cristais de gengibre, escrever, digitar, costurar, pintar (REICHERT et

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 175


al., 2008).
Os tabagistas em manutenção precisam ser acompanhados em relação aos progressos
e dificuldades enfrentadas, através de consultas e/ou contato telefônico para prevenção de
recaída. O paciente deve se conscientizar de que o tabagismo é uma doença crônica e que
não deve acender um cigarro ou dar uma tragada, pois pode voltar ao vício. Caso ocorra
recaída, o profissional de saúde deve aceitar sem críticas, mantendo o vínculo de confiança
e apoio demonstrado anteriormente (NUNES; CASTRO, 2011).
Para Eckerdt e Corradi-Webster (2010), apostar na proposta de atendimento em grupos
educativos, levando em consideração a fala dos participantes, entendendo o significado da
decisão de parar de fumar é de suma importância. As novas propostas de abordagem, que
enfatizam as vivências e experiências, através da metodologia dialógica, abrangem maior
significado e maiores possibilidades de sucesso.
A proposta dos grupos é apresentar caminhos e orientações, propiciando o reforço
da vontade para abandonar o tabagismo. O grupo tem um sentido especial, pois os parti-
cipantes compartilham da mesma vivência e sabem que os demais entendem e enfrentam
dificuldades semelhantes. Para os sujeitos integrantes, os grupos significam uma fonte de
apoio e força (VELOSO, 2011).
Segundo Corleta et al. (2008), a utilização de intervenções de eficácia não compro-
vada, como acupuntura, relaxamento, hipnose, meditação, exercícios físicos entre outros,
não podem ser descartados em um primeiro momento, já que muitas vezes eles auxiliam
no processo de afastamento do cigarro.
A acupuntura é uma terapia tradicional chinesa que utiliza agulhas para estimular pon-
tos específicos do corpo desencadeando uma série de fenômenos bioquímicos culminando
na regulação do equilíbrio energético (MARQUES, 2011; SILVA et al., 2014). De acordo
com Kawaguchi (2013) a acupuntura pode reduzir os sintomas de abstinência. O autor cita
uma revisão sistemática na qual foram incluídos 33 estudos sobre o tema e concluiu que a
acupuntura foi menos eficaz que a TRN.
Outra opção terapêutica não medicamentosa na cessação do tabagismo é auriculote-
rapia (ou acupuntura auricular). Em estudo piloto desenvolvido por meio de ensaio clínico
randomizado com trabalhadores de uma universidade de Minas Gerais em 2014, verificou-se
que a auriculoterapia contribuiu para a diminuição do nível de monóxido de carbono exalado e
do número de cigarros consumidos. Contudo, não houve cessação completa, fato relacionado
pelo autor às características do estudo como o tempo de tratamento (SILVA et al., 2014).
A prática de exercícios físicos regulares, isolados ou em combinação com um programa
de cessação do tabagismo, também foi elencada como uma medida terapêutica comple-
mentar. Kawaguchi (2013) menciona que apenas um dos 15 trabalhos encontrados sobre

176 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


o assunto mostrou evidências de que o exercício ajuda na cessação do tabagismo em 12
meses de acompanhamento. Os outros 14 estudos possuíam amostras pequenas ou foram
incluídos programas de exercício físico considerados leve para atingir o fim desejado. Em
contrapartida, Corleta et al. (2008) considera a prática de exercícios regulares eficaz, uma
vez que auxilia na manutenção da abstinência e adia o ganho de peso.
A farmacoterapia é vista como uma opção eficaz e auxiliar na cessação do tabagismo:
constatou-se que esta dobra as chances de abstinência (FAGUNDES, 2010; MAZONI et
al., 2008; MIRRA et al., 2011). A mais utilizada é a terapia de reposição de nicotina (TRN)
seguida da bupropiona, sendo estes de primeira escolha (FAGUNDES, 2010).
Segundo Mirra et al. (2011), o uso de fármacos está indicado para todo fumante acima
de 18 anos, o qual consome mais de 10 cigarros/dia e que esteja motivado. Neste documento
há a recomendação de cessar o tabagismo ao iniciar a TRN devido ao risco de superdosa-
gem de nicotina, podendo ocorrer náuseas, taquicardia e crise hipertensiva.
Conforme Santos (2014), a TRN tem como objetivo a substituição da nicotina do cigarro
por meio de doses menores e seguras, diminuindo os sintomas de abstinência. Há duas
formas de apresentação da TRN: liberação lenta (adesivos transdérmicos) e rápida (gomas,
pastilhas, spray nasal, inaladores). Mirra et al. (2011) afirma que com o uso desta opção
terapêutica há redução progressiva no consumo de cigarros até a 14ª semana. De acordo
com Reichert et al. (2008), a eficácia das diferentes apresentações é semelhante, porém a
adesão ao tratamento é maior com o adesivo.
Segundo Silva (2010), a bupropiona é um antidepressivo atípico de liberação lenta,
usualmente prescrita por 12 semanas, que simula a ação da nicotina. Tal medicamento é
considerado de primeira linha e o único testado e validade pelo Food and Drug Administra-
tion (FDA). A vareniclina atua diretamente nos receptores nicotínicos, com efeito agonista e
antagonista parcial. Está indicado nos casos de alta dependência à nicotina ou nos casos
de recaídas.
A terapia com a bupropiona ou vareniclina não requer cessação imediata do tabagismo,
entretanto, recomenda-se sua interrupção a partir do 8º dia após o inicio destas (MIRRA et
al., 2011). Para Fagundes (2010), não existe um critério específico para a escolha das medi-
cações consideradas de primeira linha, devendo-se optar pela alternativa mais conveniente
considerando a opinião e vontade do paciente, o custo do tratamento, contra-indicações e
possíveis eventos adversos.
Há ainda a possibilidade de utilização da clonidina e nortriptilina, alternativa nos casos
em que as drogas de primeira linha estejam contraindicadas, embora não tenham aprovação
do FDA e apresentem muitos efeitos colaterais (REICHERT et al., 2008; FAGUNDES, 2010).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 177


Sucesso x Insucesso

Apesar de todo o malefício ocasionado pelo uso do tabaco, a maior parte dos tabagistas
continua fumando devido a três principais mecanismos: o reforço positivo, oriundo da ação da
nicotina no sistema nervoso central, a qual promove a liberação de neurotransmissores que
proporcionam sensações prazerosas, que reduzem o apetite, que aumentam a disposição, o
estado de alerta e de atenção; o reforço negativo, que faz com que o indivíduo mantenha o
vício para evitar os sinais e sintomas da síndrome de abstinência, como ansiedade, disforia,
irritabilidade, dificuldade de concentração, cefaléia, tonturas; e o condicionamento respon-
dente, provocado por estímulos ambientais e emoções positivas e negativas associados ao
hábito de fumar, presentes na vida diária muitas vezes por anos (RUSSO; AZEVEDO, 2010).
Os sintomas de abstinência podem começar em algumas horas após a cessação, tipi-
camente atingindo um pico em um a quatro dias, podendo durar até três ou quatro semanas
(MESQUITA, 2013). Além disso, o aumento do apetite e o ganho do peso frequentemente
persistem por pelo menos seis meses. Todo esse quadro é um grande dificultador tanto na
cessação quanto na manutenção.
É imprescindível que o tabagista aprenda a reconhecer os sintomas e a duração da
abstinência e se prepare para enfrentá-los, sobretudo nos primeiros dias sem fumar. O prin-
cipal deles, a fissura (desejo imperioso de fumar), costuma ceder entre um a cinco minutos,
sendo importante criar uma estratégia substitutiva até que o sintoma passe (REICHERT et
al., 2008).
Pawlina et al. (2014) verificou em seu estudo uma elevada taxa de fracasso na cessação
do tabagismo: 62,5%. Um dos fatores dificultadores identificado foi o baixo nível motivacional,
nas fases pré-contemplação e contemplação. Esse dado reforça a necessidade dos profis-
sionais de saúde em trabalhar o comportamento ambivalente evidenciado pelo fumante, que
ao mesmo tempo em que procura ajuda, não está preparado para parar de fumar.
Conforme o estudo de Veloso et al. (2011), os participantes do grupo antitabagismo
manifestaram um significado ambíguo e paradoxal para o ato de fumar: fonte de alívio e apoio
e, de outro lado, destruição. Evidenciou-se que o insucesso é mais frequente em pacientes
de 20 a 39 anos, quando comparados com os maiores de 60 anos, pois aqueles têm 68%
mais risco de fracasso (PAWLINA et al., 2014).
Para Mazoni et al. (2008), a taxa de sucesso de abstinência pode aumentar em 15 a
30% com a utilização de intervenções psicossociais e farmacológicas. Qualquer que seja a
duração da TCC há um aumento na taxa de abstinência, porém a partir de um tempo total
de noventa minutos não ocorre aumento adicional dessa taxa (BRASIL, 2001).
O aconselhamento dado por qualquer profissional de saúde aumenta as taxas de ces-

178 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


sação do tabagismo (MIRRA et al., 2011). Santos (2011) acredita que conhecer os mitos
envolvidos na cessação e compreender o sucesso obtido por ex-fumantes de uma comuni-
dade pode apontar boas propostas e direcionar as ações para uma determinada realidade.
O estudo realizado por França et al. (2015), o qual analisou 532 prontuários de pa-
cientes atendidos em unidade de referência para cessação do tabagismo em Belém, PA,
constatou que os principais fatores relacionados ao sucesso ou insucesso do tratamento
foram a participação nas terapias de manutenção, as quais parecem favorecer a abstinência.
Já a presença de gatilhos de recaída (qualquer aspecto físico, químico, psicológico ou com-
portamental capaz de propiciar o consumo de cigarros, levando à recaída) e a dependência
química elevada a muito elevada mostraram-se dificultadores deste processo. Ferreira et
al. (2011) corrobora esta informação, já que o principal motivo de impedimento de cessar o
tabagismo elencado pelos participantes de seu estudo foi a dependência nicotínica, seguido
do prazer em fumar, de questões emocionais, da influência de outras pessoas e por último
do uso do cigarro incorporado à sua rotina.
França et al. (2015) observou ainda que aqueles pacientes que realizaram terapias de
manutenção apresentam 27 vezes mais chances de abstinência em comparação com os que
realizaram apenas TCC. É primordial que o paciente seja acompanhado mesmo após cessar
o tabagismo, especialmente na fase inicial, período no qual os riscos de recaídas são maiores.
Na verdade, as recaídas não devem ser encaradas como fracasso, mas sim como um mo-
mento de reflexão e como preparação para uma próxima tentativa (REICHERT et al., 2008).
Outro fator que dificulta a manutenção da abstinência de acordo com Castro et al.
(2008) é a associação entre a dependência nicotínica e a presença de doenças psiquiátricas,
principalmente depressão maior e transtornos de ansiedade. Em seu trabalho, constatou-se
que quanto mais grave a dependência nicotínica, maior o número de sintomas depressivos e
ansiosos. O autor afirma ainda que a diminuição da prevalência do tabagismo não tem sido
observada nessa população. Um dado que chamou a atenção neste estudo foi o fato de a
ansiedade estar relacionada à gravidade da dependência nicotínica em ambos os sexos, e
da depressão só estar associada à gravidade nas mulheres.
Tanto no estudo de Ferreira et al. (2011), quanto no estudo de Russo e Azevedo (2010),
o principal motivo citado para a tomada de decisão de parar de fumar foi a preocupação com
problemas de saúde relacionados ao cigarro. Aproveitando esta constatação, os profissio-
nais de saúde podem utilizar este argumento em suas abordagens como um incentivador,
reforçando a idéia de que parar de fumar a qualquer momento, mesmo após o diagnóstico de
uma patologia relacionada ao tabagismo, acarreta benefícios à saúde (SANTOS; ACHUTTI;
GUTHS, 2013). Outros motivos elencados como decisivos para a iniciativa de cessação do
tabagismo foram: informações sobre os benefícios de parar de fumar, motivação individual

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 179


e influência de pessoas próximas.
Para Meier et al. (2011), o apoio familiar e de pessoas queridas fortalece a decisão
de parar de fumar. Silva (2010) afirma que o suporte social através de amigos e familia-
res é fundamental na resistência ao tabaco. Os ambientes livres de tabaco no trabalho e
em casa, bem como o estímulo para que outros fumantes busquem ajuda para cessação,
contribuem positivamente para fortalecer a recuperação. Por outro lado, os indivíduos que
desejam abandonar o tabagismo e encontram no ambiente social e familiar uma fonte de
desmotivação, parecem estar mais expostos ao fumo e consideram mais difícil deixar de
fumar (PEREIRA; AFONSO, 2014).
Segundo Rodrigues (2013), as tentativas de cessação são menos susceptíveis de
serem bem sucedidas em indivíduos com condição socioeconômica desfavorecida. Os re-
sultados do estudo de Lopes et al. (2013) revelaram importante associação entre a ausência
de exposição à violência e maior incidência de cessação de tabagismo. O autor pondera
que as políticas públicas voltadas para o controle do tabagismo devem incluir a atenção a
ambientes cronicamente violentos.
Os motivos que fazem com que os ex-fumantes permaneçam em abstinência no estudo
de Ferreira et al. (2011) são: a determinação em não voltar a fumar (47,6%), o conhecimento
sobre os malefícios do tabaco (26,7%), o medo de manifestar doenças crônicas ou querer
manter a qualidade de vida (13,3%), a restrição ao uso do fumo em alguns locais (2,2%)
e a influência de pessoas queridas (1,1%). O autor enfatiza que o fato do indivíduo estar
determinado a parar de fumar é fundamental para que a manutenção ocorra.
Em seu estudo, Mesquita (2013) observou que um programa público de tratamento do
tabagismo pode promover uma alta taxa de cessação em curto prazo: 83,5% dos participan-
tes pararam de fumar ao final de 4 sessões. Entretanto o autor ressalta que há um grande
número de abandonos dos programas de tratamento, sendo necessário buscar alternativas
para evitar tal situação, como marcar horários adequados para o atendimento dos pacien-
tes, ligar para avisá-los da sessão, motivá-lo a comparecer a todas as sessões, promover
extenso treinamento aos profissionais que fazem parte dos programas.
Veloso (2011) afirma que o atendimento por um profissional capacitado e a estrutu-
ração em grupos de apoio não são rotina encontrada pelos usuários do SUS. Além disso,
a subutilização das medidas de intervenção por parte dos profissionais de saúde, embora
sejam amplamente disponíveis e acessíveis favorecem o insucesso do abandono tabagístico
(DUARTE et al., 2014).
No que tange à legislação brasileira referente ao controle do tabagismo, são aspectos
importantes a regulação da atividade econômica do setor tabagista, o alerta sobre os perigos
da nicotina e a fixação dos limites para seu consumo (PORTES, 2014). Para Echer (2008),

180 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


as leis de restrição ao fumo, elaboradas no intuito de proteger a saúde da população, têm
contribuído para mudar comportamentos sociais e favorecer o abandono do tabagismo. Tal
autor ainda aponta que quanto mais severa a restrição, maior a propensão para o abandono.
Um expressivo número de instituições tem implantado programas de restrição do ta-
bagismo, como, por exemplo, as políticas de ambiente livre do tabaco. Nesse contexto, a
saúde do trabalhador está vinculada à maior produtividade e a menores custos, com beneficio
tanto para o empregador, que lucra ao ter um funcionário saudável, mais produtivo e menos
dispendioso, quanto para empregado, que se beneficia em ter maior atenção à sua saúde
e sua força de trabalho maximizada (LOPES; PEUKER; BIZARRO, 2013).

Prevenção

A adoção de estratégias populacionais e comunitárias que incluem a proteção das


pessoas da poluição ambiental causada pelo tabaco, através da proibição de fumar em
locais públicos e privados coletivos; a advertência sobre os riscos do fumo nas embala-
gens; a proibição da propaganda do tabaco; a restrição de venda para menores de idade e
o aumento do preço dos cigarros é preconizada pela OMS (SANTOS; ACHUTTI; GUTHS,
2013; SILVA et al., 2014).
O médico da atenção primária deve apoiar essas medidas, difundindo informações que
possam alimentar uma cultura livre do tabaco, seja por meio de ações educativas presenciais,
seja por meios de comunicação (SANTOS; ACHUTTI; GUTHS, 2013).
Conforme Russo e Azevedo (2010), campanhas de prevenção dirigidas e desenha-
das especificamente às crianças e adolescentes são necessárias para que tenhamos um
panorama mais favorável em relação às taxas de tabagismo na população adulta. Além
disso, a organização escolar oferece oportunidades para educação em saúde, e através dos
escolares essas informações são perpetuadas para seus familiares (SANTOS; ACHUTTI;
GUTHS, 2013). Um exemplo desse tipo de intervenção é a parceria do Programa Saúde da
Escola com as Unidades Básicas de Saúde (SILVA, 2014).
Segundo o Relatório da OMS sobre a Epidemia Global de Tabagismo 2015, poucos
países cobram níveis adequados de impostos sobre cigarros e outros produtos de tabaco
e com isso, perdem de salvar vidas e gerar receita para maiores investimentos em serviços
de saúde. O aumento de impostos é comprovadamente uma medida eficaz e de baixo custo
para reduzir a demanda de tabaco.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão de literatura demonstrou certa dicotomia quanto aos achados das causas,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 181


fatores associados e iniciação do tabagismo e as formas de responder ao problema. Por
um lado, considera-se a condição socioeconômica e o aspecto emocional como determi-
nantes no tabagismo. Já o tratamento, tem forte inclinação biomédica colocando a terapia
medicamentosa como centro do processo, e ainda que se considere o emocional, a lógica
é comportamentalista, atribuindo a pessoa tabagista a responsabilidade pelo sucesso no
tratamento.
Ainda que a inclusão do tabagismo nas políticas públicas de saúde tenha tido conside-
rado avanço, especialmente com fornecimento de medicamentos gratuitos pela rede pública,
a abordagem deve incluir a lógica de atenção integral prevista nas próprias diretrizes do
SUS e da Atenção Primária, e, portanto, a referência quanto ao aspecto socioeconômico
atribuído ao tabagismo, ou seja, como as condições de vida interferem no hábito de fumar,
devem ser consideradas singularmente como parte fundamental de cada tratamento.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 185


14
“ Acesso de pessoas transgênero
aos serviços de saúde: uma
revisão narrativa sobre aspectos
históricos, legais e atualidades

Victor Hugo Oliveira Brito Nely Dayse Santos da Mata


UNIFAP UNIFAP

Maira Beatrine da Rocha Uchôa


UNIFAP

Camila Rodrigues Barbosa Nemer


UNIFAP

Darci Francisco dos Santos Junior


UNIFAP

Marlucilena Pinheiro da Silva


UNIFAP

10.37885/200700749
RESUMO

O objetivo desse estudo é sintetizar o percurso histórico da população trans, relacionando-o


com a conquista de direitos e a utilização dos serviços de saúde. Trata-se de uma
revisão narrativa de literatura, a qual partiu da seguinte pergunta: “Qual o percurso
histórico da população trans relacionado com a conquista de direitos e a utilização dos
serviços de saúde”? Após realização de pesquisa em base de dados e aplicação de
filtros para refinamento, 6 artigos foram elegíveis e incluídos neste trabalho. A fim de
sistematizar os resultados, foram criadas três categorias de discussão: 1) População
trans e aspectos histórico-sociais; 2) Integralidade e progresso legal em saúde para
a população trans; e 3) O acesso de pessoas trans aos serviços de saúde. O estudo
possibilitou a percepção o ganho de direitos e representação social, pela população trans,
porém, porém ainda incipientes. Questões sobre a conduta ética de trabalhadores de
saúde, falta de conhecimento e escassez de insumos são aspectos abordados em vários
estudos incluídos nessa revisão.

Palavras-chave: Acesso aos Serviços de Saúde; Integralidade em Saúde; Minorias Sexuais


e de Gênero.
INTRODUÇÃO

Acerca da transgeneridade, é importante ressaltar o conceito abordado pela sociedade


contemporânea, o qual, dependendo do ponto de vista, pode abranger pessoas transexuais
e travestis. Transgênero, então, é interpretado como a pessoa que possui uma identidade
de gênero que difere do sexo que lhe foi atribuído ao nascer, reconhecendo-se a diversida-
de de formas de viver essa identidade (ALTILIO; OTIS- GREEN, 2011). No que se refere
à multiplicidade de autodeterminações e autoidentificações no contexto de formação de
identidade de gênero, esse é um domínio social que vai além de uma política de identifica-
ção, abrangendo o modo de vida dentro dos processos de composição das pessoas trans
(BENEDETTI, 2005; RACON, 2016).
Quando se destaca essa população, individualidades devem ser atentadas, principal-
mente por ser vulnerável, passível de sofrer violência, preconceito e marginalização. Tais
fatores se tornam visíves no decorrer da história da humanidade e exemplificados, a seguir,
com dados de uma pesquisa realizada a nível mundial.
Segundo a Transgender Europe, uma organização não governamental que defende
a proteção dos direitos humanos de pessoas trans, no período que compreende janeiro de
2008 a junho de 2016, foram assassinadas 868 pessoas trans e com diversidade de gênero
no Brasil, colocando o país em primeiro lugar no ranking mundial entre os países partici-
pantes da pesquisa (TGEU, 2016).
Pessoas trans, assim como pessoas cisgênero, necessitam de serviços básicos como
educação, saúde e segurança, além disso, possuem necessidades únicas de saúde e reque-
rem serviços que ofereçam abordagem multiprofissional, atenção à saúde mental, terapias
hormonais e cirurgias múltiplas, observando a especificidade de cada pessoa (COLEMAN
et al., 2012).
Convergente às necessidades em saúde anteriormente apresentadas, a Lei Nº
8.080/1990, em seu artigo 2º, publica que “a saúde é um direito fundamental do ser huma-
no, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício (BRASIL,
1990)”.
Deste modo, torna-se essencial identificar a população trans como usuária dos servi-
ços de saúde, os quais devem atender às suas necessidades se tornando relevante para
a concretização dos direitos de acesso à saúde plena, que proporcionam a discussão de
formas de avaliação e transformação do meio social. Diante do exposto, este estudo obje-
tivou sintetizar o percurso histórico da população trans, relacionando-o com a conquista de
direitos e a utilização dos serviços de saúde.

188 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


MÉTODO

O presente estudo é uma revisão narrativa de literatura, apropriada para discutir o


estado da arte de um determinado assunto, sob o ponto de vista teórico ou contextual. Para
a montagem do estado da arte, a pesquisa partiu da pergunta: “Qual o percurso histórico
da população trans relacionado com a conquista de direitos e a utilização dos serviços de
saúde”?
A busca dos estudos foi realizada nos meses de fevereiro e março de 2020 nas bases
eletrônicas: LILACS, PubMed e BDENF. Para a busca dos artigos, utilizamos os descritores
padronizados pelos Descritores em Ciências da Saúde: 1) Acesso aos Serviços de Saúde;
2) Integralidade em Saúde; e 3) Minorias Sexuais e de Gênero. Não houve recorte tempo-
ral, sendo realizada leitura dos títulos e resumos para posterior inclusão de pesquisas que
tivessem relação com o tema central dessa revisão.
Das 84.788 referências obtidas nas bases de dados mencionadas, foram excluídas
as teses, dissertações e artigos que não se adequavam a temática da pesquisa. Posterior-
mente, todos os artigos selecionados foram lidos na íntegra para análise das características
gerais, tais como ano de publicação, objetivos, metodologia, resultados obtidos e discussão.
Após esse refinamento, seis artigos foram elegíveis e incluídos neste trabalho, com data de
publicação entre 2013 e 2020.

DESENVOLVIMENTO TEXTUAL

População trans e aspectos histórico-sociais

O meio em que vivemos é resultado de um processo de produção e reprodução social,


pois carrega em si valores e significados atribuídos historicamente através das relações
interpessoais na sociedade (COLMÁN; POLA, 2009). A cultura, modos de viver e até pen-
samentos podem ser repassados através de gerações, sofrendo modificações de acordo
com a vivência, individual e coletiva, de cada pessoa.
Adentra-se em sociedades fundadas e perpetuadas a partir do binarismo de gênero,
resultado do entendimento biológico e reducionista: as pessoas são homens (machos) ou
mulheres (fêmeas) ao nascer, portanto, masculinas ou femininas, conceitos estendidos
precipitadamente à construção social e baseados na categorização dos fenômenos como
normais, se assim seguir, ou patológicos, se não o fizer. Desse modo, equivocadamente, as
pessoas trans são consideradas doentes (MODESTO, 2013). Porém, é importante citar que
a identidade de gênero, construída socialmente, independe do sexo biológico, o que refuta

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 189


a colocação supracitada de uma sociedade limitativa e estática.
Movimentos sociais, com o intuito do alcance real da igualdade de todos, vêm ocorrendo
através dos tempos para reparar os preconceitos e crimes sofridos pela população trans.
Um exemplo da expressão dessa luta é a sigla LGBTQQICAPF2K+, que se encontra nessa
conformação após passar por diversas adaptações.
LGBTQQICAPF2K+ é um conjunto de letras que define o movimento político e social
de inclusão de pessoas de diversas orientações sexuais e identidades de gênero, cada letra
representando uma parcela desse contingente: lésbicas, gays, bissexuais, assexuais, queer,
entre outros, assim como as pessoas transexuais (THE GAY UK, 2018). A colocação de
todas as letras, representando cada minoria de gênero e orientação sexual, possibilita maior
visibilidade de cada grupo específico e promove abertura de discussões acerca de temas
pouco abordados em nossa sociedade, trazendo à tona muitas questões de desigualdade,
marginalização, preconceito e falta de oportunidades.
Entretanto, até chegar ao uso dessa sigla, houve muitos marcos e conquistas. Sto-
newall, dito assim em referência ao bar Stonewall Inn localizado na cidade de Nova Iorque,
é conhecido como um dos marcos mais importantes na luta pelos direitos das minorias de
identidade de gênero e orientação sexual. Em 28 de junho de 1969, o estabelecimento foi
arena para uma reação da comunidade a uma intervenção policial de rotina no local, onde
naquela época ser homossexual não era bem aceito socialmente (TERTO; SOUZA, 2015).
Mais recentemente, há outro avanço nos direitos da população trans que pode ser
exemplificado. Instituído pelo Decreto Presidencial Nº 8.727/2016, o Nome Social se refere
à denominação pela qual a pessoa transgênero se identifica e é socialmente reconhecida,
sendo diferente do nome atribuído a ela ao nascer e devendo constar nos registros de sistema
de informação, de cadastros, de programas, de formulários, de prontuários e congêneres no
âmbito da administração pública federal (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL
E AGRÁRIO, 2016).
Após a conquista de direitos dentro da sociedade, percebe-se a crescente importância
da visibilidade da população trans, porém esse deve ser um trabalho contínuo para que o
exercício da cidadania lhe seja atribuído, cada vez mais, plenamente nos anos que se se-
guem, seja no âmbito social, de saúde, educação ou quaisquer outros onde esteja inserida.

Integralidade e progresso legal em saúde para a população trans

De acordo com o Artigo 196 da Constituição Federal Brasileira, “a saúde é direito de


todos e dever do Estado”. Nesse pequeno trecho incluem idosos, crianças, pessoas em
situação de rua, pessoas trânsgenero e todos que precisem de atendimento em saúde
(BRASIL, 1988).

190 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Foi instituído assim o Sistema Único de Saúde, o qual é regulado pela Lei Orgânica de
Saúde, Lei Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Esse modelo de saúde, visando melhor
atendimento, é norteado por três princípios: Universalização, Equidade e Integralidade, este
último entendido como um conjunto de ações e serviços, pessoais e coletivos, exigidos para
cada caso de acordo com o nível de complexidade apresentado (BRASIL, 1990).
A população trans comumente sofre casos de violência física e psicológica, motivadas
por preconceito e violações de seus direitos por pessoas que desconhecem ou ignoram os
preceitos morais e éticos de se conviver em sociedade (Figura 1).

Figura 1. Cartilha para profissionais do SUS “Atenção Integral à Saúde da População Trans”

É preciso dar importância às trajetórias de vida dessas pessoas, que passam por intenso sofrimen-
to, depressão, processos de automutilação e até tentativas de suicídio que, na maioria das vezes,
estão relacionadas aos diferentes tipos de violência e privações a que foram submetidos (as) pela
sociedade ao longo de suas vidas, além da dificuldade de acesso ao Processo Transexualizador.

Fonte: Ministério da Saúde (2011, p. 8).

O que se convencionava até pouco tempo atrás como pessoa transgênero foi resultado
de um contexto histórico de patologização das identidades trans, que teve início nos anos
1900 e perdurou incessante até pouco tempo atrás.
Em 2018, foi divulgado após a publicação da Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11) que as categorias relacionadas
à trans foram removidas do Capítulo sobre Transtornos Mentais e Comportamentais, des-
-psicopatologizando as identidades de gênero relacionadas a elas. Agora passa a compor
um novo capítulo no documento, intitulado "condições relacionadas à saúde sexual", como
"incongruência de gênero". Os esforços para retirada total da identidade trans dessa classifi-
cação persistem atualmente e indicam um objetivo na luta pela igualdade social (OMS, 2018).
Outro ganho às minorias sexuais e de identidade de gênero foi a Política Nacional de
Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), instituída
pela Portaria nº 2.836, de 1° de dezembro de 2011.
Essa política norteia e legitima as especificidades desse grupo, em concordância aos
postulados previstos na Carta dos Usuários do SUS e na Constituição Federal. Alguns dos
objetivos específicos são: qualificar os serviços do SUS para esse cuidado específico; re-
dução de riscos e atenção aos problemas provenientes do uso prolongado de hormônios
para travestis e transexuais, e garantir acesso ao processo transexualizador, conforme
regulamentação (BRASIL, 2011).
No intuito de apresentar de forma mais didática, estão listadas a seguir algumas legis-
lações que referenciam a população transgênero no âmbito social e de saúde (Quadro 1).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 191


Quadro 1. Legislações que referenciam pessoas transgênero.

LEGISLAÇÃO DISPOSTO
Direitos e deveres dos usuários da saúde, incluindo a
Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009
identificação pelo nome social.

Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas,


Portaria nº 2.836, de 1º de dezembro de 2011 Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013 (re-


Redefine e amplia o Processo Transexualizador no
vogou a Portaria nº 1.707, de 18 de agosto de 2008)
Sistema Único de Saúde.

Uso do nome social e o reconhecimento da identida-


de de gênero de pessoas travestis e transexuais no
Decreto nº 8.727, de 28 de abril de 2016
âmbito da administração pública federal.

Classificação Estatística Internacional de Doenças e


Remoção do termo “transtorno de identidade de gê-
Problemas Relacionados à Saúde, 11ª edição (CID-
nero” do referido e inclusão de uma nova classifica-
11)
ção “incongruência de gênero".

Fonte: os autores.

Aos conceitos, argumentos e historicidades aqui colocados, percebe-se a intensa luta,


ganho de direitos, de reconhecimento e legitimação da população trans como cidadã. Não
descartando o que ainda deve ser revisto pela sociedade nesse contexto, dá- se lugar a
discussões inerentes à autopercepção de cada ser humano, entendimento do seu reflexo e
das suas ações com o outro e a responsabilidade no ato de se viver em um conjunto político
e social estruturado.

O acesso de pessoas trans aos serviços de saúde

Por meio do Guia de Acesso a Direitos e Serviços para Pessoas Trans, é disponibili-
zado um meio de veiculação e transformação social através do conhecimento de como as
pessoas trans podem procurar e proceder em equipamentos públicos sobre seus direitos
e deveres. Além de assistência social, justiça, segurança pública, cultura, são abordados
também aspectos sobre a saúde: direitos sexuais e reprodutivos, nome social, processo
transexualizador, ambulatórios de saúde integral para travestis e transexuais (BRASIL, 2019).
A chegada, por qualquer pessoa, em um serviço de saúde é motivada pela busca de
um atendimento, seja relacionado a ações de promoção, proteção ou recuperação da saúde.
Apesar de diferentes, em todas as complexidades da rede de atenção deve haver em comum
a prestação de um acolhimento humanizado, livre de preconceitos e formatações diminutas
de pensamento e baseado no desenvolvimento de relações de confiança e compromisso
entre as equipes de saúde e usuários dentro da sua rede socioafetiva (BRASIL, 2015).
Entretanto, não se observa esse atendimento humanizado em todas as instituições

192 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de saúde. Em um estudo qualitativo acerca do acesso de pessoas trans aos serviços de
saúde, os autores reafirmam alguns empecilhos, entre eles, a dificuldade de diálogo entre
trabalhadores da saúde e usuários trans, e a discriminação, incluindo aqui o desrespeito ao
nome social (ROCON et al., p. 51, 2018).
As pesquisas utilizadas para compor essa revisão quase sempre evidenciam prima-
riamente o acolhimento inadequado, discriminação por parte de trabalhadores de saúde,
déficit no conhecimento específico de saúde de pessoas trans, entre outros. Percebe-se
que as dificuldades apontadas nesse atendimento são modificáveis, portanto, passíveis de
ser reduzidas a partir do desenvolvimento de escuta terapêutica, sensibilização dos profis-
sionais e busca contínua por conhecimento (SPIZZIRRI; ANKIER; ABDO, 2017; OLIVEIRA;
ROMANINI, 2020).
Para tanto, apesar de indicadas algumas falhas nos serviços de saúde no que tange
ao atendimento de pessoas transgênero, pesquisadores apontam que há necessidade de
formação continuada para profissionais da saúde envolvidos no itinerário pela busca por
atendimento em saúde, pautada na promoção da humanização, da dignidade e do respeito
ao nome social e às identidades de gênero (ROCON et al., p. 51, 2018).
Outro estudo ratifica, ademais, que as unidades de saúde precisam ampliar o acesso
da população trans, que pode ser traduzido em “aumento de número de serviços, descen-
tralização do cuidado para outros pontos da rede de atenção à saúde e maior sensibilização
dos profissionais (KRÜGER et al. 2019)”.
Além disso, outros fatores são apresentados como dificuldades em prestar esse atendi-
mento: a ausência da implementação real da Política Nacional de Saúde LGBT; e escassez
de recursos.
Há locais em que a política de atenção não é implementada totalmente, o que atinge
significativamente o serviço disponibilizado, deixando-o carente em questões mais específi-
cas relacionadas a essa população: realização de cirurgias, hormonioterapia, consultas com
especialistas e acompanhamento psicológico. A falta de recursos soma-se aos aspectos
citados pelas mesmas singularidades e reverbera, de forma negativa, no indivíduo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão nos possibilitou a percepção de que a população transgênero cada


vez mais consegue usufruir de seus direitos e ganhar espaço na sociedade, como exemplo
o Nome Social e a despatologização da identidade trans. Porém, há muito a ser repensado,
avaliado e implementado para a maior integralidade em saúde.
Questões sobre a conduta ética de trabalhadores de saúde, falta de conhecimento e
escassez de insumos são aspectos abordados em vários estudos realizados em anos e locais

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 193


diferentes. Concernente a isso, para sensibilização, é sugerido a educação permanente em
saúde, a participação popular trans nos conselhos de saúde para auxiliar na formulação de
políticas e ações específicas e o maior contato profissional-pessoa para entendimento real
das suas necessidades em saúde.
Preconceitos, marginalização, transfobia, suicídio, visibilidade social e integralidade
em saúde são alguns temas altamente significantes a serem levados em consideração na
discussão de direitos e proteção à população trans, tendo como base a máxima de que
todos devem ser respeitados, independentemente da sua orientação sexual ou identidade
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2019.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 195


15
“ Ações da ledterapia na imobilização
muscular

Marco Aurélio Serafim Bonvino


UNIMEP

Carlos Alberto da Silva


UNIP

10.37885/200600554
RESUMO

Objetivo: Analisar em ratos o efeito da LEDterapia em músculos submetidos a


imobilização. Métodos: Foram utilizados ratos Wistar de 2 meses de idade nos grupos
experimentais: Controle (C), Imobilizados com órtese de resina acrílica (I; 7 dias), Controle
tratados com LED (LED; 7 dias de aplicação; 630nm; 500 mW; 8-10 J/cm2 equivalente a
30-40s) e imobilizados tratados com LED (ILED; n=6 grupo). Avaliações realizadas: teste
de tração (com foco no gastrocnêmio, n=4/grupo), conteúdo muscular de glicogênio (GLI)
e relação proteína total/DNA (PT/DNA) dos músculos sóleo e gastrocnêmio. Resultados:
Mostraram que o grupo LED não diferiu do C quanto as GLI, PT/DNA nem as respostas
frente ao teste de tração. Os músculos do grupo I resistiram menos a tração e ainda
apresentaram menores GLI e PT/DNA indicando atrofia, por sua vez, no grupo ILED
as condições GLI e PT/DNA foram significativamente melhores se comparado ao I e
ainda apresentaram maior resistência no teste de tração se comparado ao I não tratado.
Conclusão: A LEDterapia propiciou melhores condições energéticas e possivelmente
estruturais, minimizando eventos da imobilização

Palavras-chave: Imobilização; Músculo esquelético; Fisioterapia.


INTRODUÇÃO

A atrofia do músculo esquelético, gerada pelo desuso, se caracteriza pela redução na


massa muscular em decorrência de expressivas mudanças fisiológicas e morfológicas, neste
sentido, entender os mecanismos envolvidos neste processo é importante para desenvolver
protocolos que minimizem tais alterações e/ou auxiliem na preservação de funções fisioló-
gica (WALL BT et al., 2013; WALL et al., 2014). Entre pesquisadores há o consenso que as
alterações mais significativas ocorrem nos primeiros 7 dias do desuso, onde o conjunto de
modificações histofisiológicas decorre do desequilíbrio entre a síntese e a degradação de
proteínas miofibrilares, redução na eficiência das vias citosólicas reguladoras do metabo-
lismo e disfunções mitocondriais (LIMA et al., 20017; HUGHES et al., 2017; MIRZOEV TM
e SHENKMAN BS, 2018).
Procedimentos fisioterapêuticos, tal como a fotobioestimulação, são utilizados no intuito
de estimular o restabelecimento de funções orgânicas, neste contexto, tem sido destacado
as múltiplas ações inerentes a LEDterapia quer seja estimulando o processo de cicatriza-
ção de feridas ou até minimizando a degeneração do nervo óptico lesionado (GIACCI MK,
2014). No que se refere ao mecanismo de ação da LEDterapia há descrições relatando seu
potencial para estimular o citocromo C mitocondrial aumentando o consumo de oxigênio e a
produção de ATP, promovendo redução na efetividade das vias deflagradas por inflamação
além de promover aumento na expressão de genes que modulam a formação de citocinas
anti-inflamatórias (CAMARGO et al., 2012). Além destas, tem sido observado alterações
significativas na proliferação celular, diferenciação celular ou produção de colágeno (OPEL
DR et al., 2015).
Diante disso, o objetivo foi avaliar as ações ligadas a LEDterapia na condição de imobi-
lização tendo como eixo norteador as reservas musculares de glicogênio, a relação proteína
total/DNA e o teste de tensão máxima deformação, condições impar para a recuperação
funcional do músculo após o desuso.

MÉTODOS

Animais experimentais: Foram utilizados ratos Wistar, com 2 meses de idade (180-
200g/massa) obtidos do biotério da UNIMEP/Piracicaba. Os animais foram alimentados com
ração e água ad libitum e mantidos em ambiente com temperatura constante de 23 ± 2 oC e
ciclo claro escuro controlado de 12 h. Os animais foram distribuídos em grupos experimentais
com N=6/grupo e assim denominados: Controle (C); Tratado com LEDterapia (LED); Imobi-
lizado (I); Imobilizado tratado com LEDterapia (ILED). Teste de tensão: O teste de tensão
foi realizado no dispositivo DL 2000-EMIC-Brasil da faculdade de engenharia mecânica da

198 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


UNIMEP, onde o músculo gastrocnêmio foi mantido na posição longitudinal e a força de
tração aplicada, garantindo com isto o máximo da aplicação da força e sequencialmente o
padrão registrado. (figura 1C). Imobilização: A imobilização foi realizada utilizando uma
órtese de resina acrílica, a qual manteve a articulação do tornozelo em posição de 90o,
permitindo que as articulações do joelho e quadril permanecessem livres (figura 1A). No
tratamento com LED, foi utilizado o aparelho BIOS THERAPY II (BIOS Indústria e Comér-
cio de equipamentos médicos LTDA) de acordo com os parâmetros (7 dias de aplicação;
630nm; 500 mW; 8-10 J/cm2 equivalente a 30-40s). A aplicação da terapia foi pontual, na
qual o feixe emitido incidia no ventre do gastrocnêmio na posição de 90º no intuito de otimizar
a aplicação e acompanhando a indicação descrita no MANUAL BIOS (figura 1 B). A LED
terapia foi aplicada através de uma janela de 0,9x0,9cm aberta na região que corresponde
ao ventre do músculo gastrocnêmio (figura 1B). Análise da concentração de glicogênio:
Foram coletadas amostras dos músculos sóleo e gastrocnêmio e encaminhados para ava-
liação do conteúdo de glicogênio utilizando o método do fenol em meio ácido que consiste
na digestão da amostra em KOH 30%, precipitação em etanol e colorimetria na presença
de ácido sulfúrico (SIU LO , 1970). Avaliação da concentração de proteínas e DNA. Na
avaliação da concentração de proteínas foi utilizado o KIT Protal comercializado pela La-
bcenter enquanto na avaliação do DNA foi utilizado o Kit de extração de DNA (MINI SPIN,
KASVI) seguindo o cálculo de relação proteína total/DNA conforme KUGA et al., (2018). A
análise estatística dos dados foi realizada através do teste de Kolmogorov-Smirnov e nas
amostras que expressaram normalidade foi utilizado ANOVA two way seguido de teste de
Tukey, p<0,05. Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética em Experimentação Animal
protocolo: 09/2018.

Figura 1. Órtese de resina acrílica aplicada no membro pélvico do animal (A) e esquema representativo do procedimento
de aplicação da LEDterapia (B). Em C dispositivo DL 2000-EMIC-Brasil usado no teste de tração.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 199


RESULTADOS

O procedimento de imobilização utilizado para induzir o desuso foi eficiente em promover


redução nas reservas glicogênicas representado por valores 53% e 46%, respectivamente
menores ao analisar o músculo sóleo (S) e o gastrocnêmio (G). Dentro deste mesmo perfil
de análise foi verificado que a terapia com LED não influenciou nas reservas glicogênicas
tanto no músculo S quanto no G na condição de normalidade, no entanto, quando a LED-
terapia foi aplicada no grupo imobilizado (I) foi observado reservas 28% e 44% maiores se
comparado ao grupo I não tratado. Mesmo havendo uma ação significativa da LEDterapia
nas condições metabólicas dos músculos imobilizados, as reservas ainda permaneceram
27% menores se comparados ao controle. (Figura 2).

Figura 2. Concentração de glicogênio (mg/100mg) nos músculos sóleo (S) e gastrocnêmio (G) dos grupos controle (C),
tratados com LEDterapia (LED), imobilizados (I) e imobilizados tratados com LEDterapia (ILED). Os valores correspondem
a média ± dp, n=6. *p<0,05 comparado ao C e #p<0,05 comparado ao I.

A análise da concentração de proteínas (CP) nos músculos S e G tratados com LED-


terapia (LED) não demonstrou diferença estatística se comparado a condição C, por outro
lado, em decorrência da imobilização (I) houve redução de 34% na CP no S e 58% no G,
condição que foi minimizada no grupo ILED, onde as CP do S foram 20% maiores do que o
grupo I, enquanto no G foram 14% maiores, porém, ainda permaneceram 22% e 27% abai-
xo dos valores observados no grupo C, respectivamente aos músculos S e G. (figura 3 A).
Nos mesmos grupos experimentais foram avaliadas as concentrações de DNA (cDNA)
no S e G, e de forma similar ao descrito na CP, os grupos C e LED não diferiram, no entanto,
condição diferenciada foi verificada no grupo I onde a cDNA foi 43% menor no S e 74% no
G se comparados ao C, fato que ocorreu em menor intensidade no grupo ILED onde a cDNA
apresentou valores 100% maiores no S e 33% no G, se comparado a condição I, porém,
ainda 14% e 60% respectivamente menores se comparado a condição C. (figura 3 B).

200 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Após a determinação da CP muscular e a cDNA, faz-se necessário determinar a relação
entre o número e o tamanho dos miócitos, para tal, foi determinado a razão proteína/DNA
(PT/DNA) não sendo observado no músculo S ou G diferença entre C e LED, no entanto,
no grupo I houve redução de 50% na PT/DNA do S e 42% no G, se comparado ao C. Cabe
ressaltar que no grupo ILED, a PT/DNA foi 14% maior no S e 28,5% no G se comparado ao
I e 36% no S e 18% menor no G, respectivamente se comparado ao C. (figura 4).
Por fim, foi aplicado o teste de tensão máxima (TM) com foco no músculo gastrocnêmio,
estando os valores expressos em Kgf. Foi observado que a LEDterapia não influenciou em
parâmetros que indicassem mudança na resposta a TM, uma vez que o grupo C não dife-
renciou de LED. Nos músculos imobilizados a resposta a TM foi 52% menor se comparado
ao C e no grupo ILED, a resposta frente ao teste de TM foi 43% maior se comparado ao I e
31% menor que C. (figura 5).

Figura 3. Em A, concentração de proteína (g/100g) e em B, concentração de DNA (cDNA; g/100g) dos músculos sóleo (S)
e gastrocnêmio (G) dos grupos controle C, tratados com LEDterapia (LED), imobilizados (I) e imobilizados tratados com
LEDterapia (ILED). Os valores correspondem a média ± dp, n=6. *p<0,05 comparado ao C e #p<0,05 comparado ao I.

Figura 4. Relação proteína/DNA (PT/DNA; g/100g) dos músculos sóleo (S) e gastrocnêmio (G) dos grupos controle C,
tratados com LEDterapia (LED), imobilizados (I) e imobilizados tratados com LEDterapia (ILED). Os valores correspondem
a média ± dp, n=6. *p<0,05 comparado ao C e #p<0,05 comparado ao I.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 201


Figura 5. Teste de tensão máxima (Kgf) no músculo gastrocnêmio dos grupos controle (C), tratados com LEDterapia (LED),
imobilizados (I) e imobilizados tratados com LEDterapia (ILED). Os valores correspondem a média ± dp, n=4. *p<0,05
comparado ao C e #p<0,05 comparado ao I.

DISCUSSÃO

Avaliações ligadas ao desuso muscular crônico induzido pela imobilização e o proces-


so de atrofia tem demonstrado que no período agudo de 7 dias, já se observa resistência
à insulina comprometendo o controle da homeostasia metabólica das fibras musculares,
bem como a funcionalidade do tecido muscular (SCHIAFFINO S et al., 1013). Os dados
aqui apresentados indicam que devido ao desuso houve redução expressiva nas reservas
glicogênicas tanto nas fibras tipo I quanto nas fibras tipo II, com maior intensidade nas fibras
tipo I (KASPER CE et al., 2002).
Tem sido consenso em diversos estudos que na fase aguda da imobilização muscular
(7 dias) há redução nas reservas energéticas e na expressão das proteínas AKT e IRS-1,
evidenciando comprometimento na eficiência da sinalização insulínica (KOIKE TE et al.,
2018). Os dados aqui apresentados ao demonstrar redução nas reservas glicogênicas e na
relação proteína/DNA, reforçam a amplitude dos processos desencadeados que culminam
com a atrofia.
Cientistas tem utilizado fototerapia com LED em diferentes protocolos de tratamento,
fundamentado no fato da capacidade da luz em ativar processos fisiológicos celulares (PA-
OLILLO FR et al.,2011; HYATT H et al., 2018) . Uma hipótese aceita índica que as células
apresentam sistemas receptores sensíveis aos fótons, e estes, uma vez estimulados pela
luz, promovem modificações na permeabilidade da membrana celular, nos sistemas transpor-
tadores transmembrânicos além de estimular enzimas mitocondriais, tais como a citocromo
oxidase, promovendo aumento da produção de ATP (BORSA PA et al., 2013; DE FREITAS
LF e HAMBLIN MR, 2016).
Os dados aqui apresentados demonstram que na condição de normalidade a LED-
terapia não promoveu modificação nos parâmetros reservas glicogênicas, proteínas teci-

202 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


duais, quantidade de DNA, nem na relação proteína/DNA, possivelmente na condição de
normalidade, onde os sistemas fisiológicos estão íntegros, a maior sensibilidade os siste-
mas reguladores neurais ou endócrinos, podem ser primários no controle da homeostasia.
Ao analisarmos o mesmo perfil em músculos imobilizados foi verificado que a LEDterapia
minimizou as alterações geradas pela imobilização, uma vez que, os grupos tratados apre-
sentaram significativamente melhores no aspecto metabólico e estrutural se comparado ao
grupo imobilizado não tratado.
Estudos demostraram que a LEDterapia ao exercer potente ação vasodilatadora ar-
teriolar eleva o fluxo sanguíneo no local da aplicação, condição que contrapõe a redução
na capilarização já descrita no desuso, permitindo com isso o maior oferecimento de subs-
tratos metabolizáveis as fibras musculares em desuso (KARU T, 2010). Importante estudo
com atletas submetidos a LEDterapia demonstrou aumento na performance ao realizar um
protocolo de fadiga do quadríceps, tal fato, pode ter relação com o melhor suprimento san-
guíneo para o músculo e estímulo da cadeia respiratória mitocondrial, assim, estes fatores
associados podem ter contribuído para as melhores condições observadas nos músculos
imobilizados tratados e apresentados neste estudo (KARU T, 2010).
Estudos experimentais têm descrito que músculos submetidos a imobilização apre-
sentam redução na síntese do colágeno, quantidade de água e glicosaminoglicano, o que
torna a fibra muscular menos elástica (TIMMER LT, 2018). Estes estudos justificam nossos
resultados que demonstram menor resposta ao teste de tensão apresentado no músculo
submetido a imobilização.
Análises histológicas e histomorfométrica demonstraram que o tratamento com LED
durante 7 dias, promove aumento qualitativo e quantitativo no número de fibroblastos já aos
sete dias de tratamento, propiciando com isso aumento no conteúdo de colágeno tecidual
(JAGDEO J et al., 2018). Cabe destacar que, esta ação pode ter permitido a maior resis-
tência a tração no músculo imobilizado sendo o tratamento significativo para minimizar as
alterações morfofuncionais geradas pelo desuso.

CONCLUSÃO

O tratamento de músculos imobilizados com LED foi efetivo em minimizar a redução nas
reservas glicogênicas, bem como propiciou a manutenção da relação proteína/DNA, fatores
primordiais para a melhora na resposta frente as exigências oferecidas quando submetido
a tensão, estes dados demonstram a importância e a versatilidade da aplicação do LED.

REFERÊNCIAS

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 203


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204 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


16
“ Alterações da autoestima
em pacientes oncológicos
submetidos ao tratamento
quimioterápico

Chrisllayne Oliveira da Silva Francilene Rodrigues de Pinho


UNIFACEMA UNIFACEMA

Bárbara Mônica Lopes e Silva Priscila Pontes Araújo Sousa


UNIFACEMA UNIFACEMA

Francimar Ribeiro da Silva Francisco Braz Milanez Oliveira


UNIFACEMA UNIFACEMA

Wenderson Costa da Silva Tatyanne Maria Pereira de Oliveira


UNIFACEMA UFPI

Raimundo Nonato dos Santos Filho Renan Rhonalty Rocha


UNIFACEMA UFC

10.37885/200700676
RESUMO

Objetivo: Analisar as produções científicas sobre a avaliação da autoestima de


pacientes oncológicos, submetidos ao tratamento quimioterápico. Metodologia: Trata-
se de uma revisão integrativa da literatura, onde foi formulada a seguinte questão PICo
(não-clínica): Quais as evidências cientificas apontam as mudanças na autoestima
dos pacientes oncológicos submetidos ao tratamento quimioterápico? Resultados:
As alterações na autoestima em pacientes oncológicos estão relacionadas a efeitos
adversos da quimioterapia, como a alopecia, e ao estado psicológico baixo associado
à depressão, comprometimento familiar, isolamento social, estresse, e alguns sintomas
como náuseas, vômitos, anorexia, debilidade física, que provocam sentimento de
impotência e desesperança afetando diretamente na autoestima. A produção dos bundles
de intervenção propôs estimular a pratica de atividade física e outras atividades de lazer
em pacientes oncológicos, oferecer um programa de apoio psicossocial integrado para os
pacientes e seus acompanhantes no enfrentamento da doença e mudança na autoestima,
Orientar sobre o surgimento da alopecia durante a quimioterapia, e os efeitos negativos
na autoimagem, Promover atividades de apoio ao retorno ao trabalho e aconselhamento
ocupacional em pacientes oncológicos, Desenvolver atividades de embelezamento e do
uso de adornos em pacientes submetidos a quimioterapia. Considerações Finais: O
tratamento quimioterapico pode ser considerado um fator determinante nas alterações
da autoestima, pois possibilita a ocorrência de inúmeros impactos na vida do paciente
oncológico, tais como, físico, emocionais e sociais.

Palavras-chave: Autoimagem; Pacientes; Neoplasias; Quimioterapia.


INTRODUÇÃO

As neoplasias representam um grande problema de saúde pública e uma das principais


causas de óbitos, pois pode ser ocasionado em qualquer faixa etária, não havendo medidas
de prevenção totalmente definidas, mas que contribuem para diminuir os riscos para o câncer.
Existem diversos conceitos na literatura oncológica sobre o câncer, que pode ser definido
como o crescimento anormal de células que invadem os tecidos do corpo. Se o câncer tiver
início em tecidos do epitélio, como pele e mucosas é classificado como carcinoma, se tiver
início em tecidos conjuntivos como ossos, músculos ou cartilagem é denominado como
sarcoma. Quando o processo ocorre através da disseminação para outras partes do corpo
denomina-se metástase (BRASIL, 2009).
É notório que as neoplasias não ocasionam somente alterações na funcionalidade e
estruturas corporais mas também afetam o psicológico e emocional do paciente, por se tra-
tar de uma patologia de início silenciosa e com evolução que tende a ser de médio a grave
quanto às perdas da funcionalidade orgânica, inclusive em muitos casos podendo levar a
óbito (BRASIL, 2014).
As condutas terapêuticas mais utilizadas no tratamento oncológico são as cirurgias,
radioterapias e a quimioterapia (BRASIL, 2014). A quimioterapia é a forma de tratamento
sistêmico do câncer que usa medicamentos denominados “quimioterápicos” (ou antineo-
plásicos) administrados em intervalos regulares, que variam de acordo com os esquemas
terapêuticos (SILVA J; SILVA MJS, 2017). A indústria farmacêutica vem desenvolvendo
drogas para tratar o câncer, que tenham efeitos tóxicos menos agressivos, os quais além
de bem toleráveis, também são de fácil manejo (MARQUES; PIERIN, 2008).
A utilização da quimioterapia antineoplásica tem se tornando uma das mais importan-
tes para combater o câncer. É importante destacar que o paciente pode ter seu equilíbrio
psicológico ameaçado pelas mudanças que serão necessárias no decorrer da doença e dos
tratamentos, incluindo alterações em sua autoestima (SOARES; SILVA, 2010). Além disso,
os benefícios dos tratamentos de câncer são, em geral, difíceis de definir, em razão de efei-
tos colaterais subjetivos que influenciam na qualidade de vida (SCHMIDT; HAHN, 2014).
Nessa perspectiva, surge a necessidade da equipe de enfermagem se sensibilizar
para as mudanças ocorridas na autoestima dos pacientes oncológicos. A autoestima pode
ser definida como a ausência de afeto positivo que o indivíduo tem de si próprio, sendo de
grande relevância na sua relação com o outro (BORDA, RINCÓN; PEREZ, 2012).
É essencial que os profissionais da saúde venham analisar as mudanças na autoestima
dos pacientes com câncer submetido a tratamentos como a quimioterapia, para assim prestar
uma melhor assistência, bem como avaliar e controlar a eficácia do tratamento (FORONES
et al., 2006).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 207


Não obstante surge a necessidade da equipe de enfermagem de se sensibilizar e
avaliar as mudanças ocorridas quanto à autoestima de pacientes oncológicos, através de
bundles, que consiste em um conjunto de práticas baseadas em evidências com finalidade
contribuir para a melhoria nas práticas de cuidado.
Assim foi definida a questão problematizadora desta revisão sendo: Quais as evidên-
cias cientificas apontam as mudanças na autoestima dos pacientes oncológicos submetidos
ao tratamento quimioterápico? Para tal, o objetivo desta revisão foi analisar as produções
científicas sobre a avaliação da autoestima de pacientes oncológicos, submetidos ao trata-
mento quimioterápico, e elaborar bundles de intervenções para a aplicação na assistência
de enfermagem acerca da problemática.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que é considerado um recurso da


prática baseada em evidência, que resume uma retrospectiva da literatura empírica ou te-
órica, proporcionando uma compreensão mais abrangente de um fenômeno em particular
e identificar as melhores evidências disponíveis sobre o efeito de determinada terapia ou
intervenção, para que dessa maneira os profissionais tenham conhecimento das inovações
e melhorias nas práticas descritas em literatura (BROOME, 2006).
Utilizando os níveis de evidência e graus de recomendação, que é uma proposta de
organização das informações quanto à confiabilidade, qualidade e validade da informação.
Onde os níveis de evidência incluem os tipos de pesquisa sendo numerados de 1-7, sendo o
nível mais alto revisão sistemática (nível 1), o nível de evidência está relacionado a qualidade
da informação. Enquanto que o grau de recomendação é definido em A (resultados que reco-
mendam a intervenção), B (resultados não conclusivos) e C (não recomenda a intervenção),
portanto o grau de recomendação está relacionado a conclusão da pesquisa (BORK, 2011).
Tendo como etapas para sua elaboração: definição do objetivo; estabelecimento de
critérios de inclusão e exclusão para a seleção da amostra; definição das informações a
serem extraídas dos artigos selecionados; análise, e discussão dos resultados. Para nortear
o estudo, foi formulada a seguinte questão PICo (não clínica): Quais as evidências cientificas
apontam as mudanças na autoestima dos pacientes oncológicos submetidos ao tratamento
quimioterápico?
Quanto a construção da questão que conduziu esta revisão integrativa da literatura.
Utilizou-se a estratégia PICo, definindo a inicial (P) para Paciente, (I) para Intervenção, (Co)
para o Contexto, aplicando os descritores indexados nos idiomas português, inglês e espa-
nhol. Onde os descritores foram obtidos a partir do Medical Subject Headings (MESH), dos
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e dos Títulos CINAHL.

208 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


A coleta de dados foi realizada através da busca eletrônica no período de maio de 2018
nas seguintes bases de dados: Bireme (Biblioteca Virtual de Saúde – BVS), PubMed da Na-
tional Library of Medicine e CINAHL(Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature).
Os critérios de inclusão definidos foram: estudos primários, disponíveis em sua totali-
dade, tendo como prioridade artigos publicados nos últimos 05 anos de 2013 até 2018, nos
idiomas Português, Espanhol e Inglês. Foram excluídos da busca inicial capítulos de livros,
resumos, textos incompletos, teses de doutorado, dissertações de mestrados, monografias
e relatos técnicos.
Utilizaram-se os seguintes bancos com seus respectivos descritores:

Quadro 1. Elementos da estratégia PICo e descritores utilizados. Caxias, MA, Brasil, 2018.

Elementos Mesh Decs Títulos Cinahl


“Paciente” “Patients” “Pacientes”
P “Cancer patient”
“Câncer” “Neoplasms” “Neoplasias”
“Autoesti-
I “Self concept” “Autoimagem” “Self concept”
ma”
“Quimiote- “tratamento
Co “Drug therapy” “Drug therapy”
rapia” farmacológico”

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Durante a pesquisa foram utilizados os descritores, e utilizando o operador booleano


“And” combinados nos bancos de dados, resultando em estratégias específicas em cada base:

Quadro 2. Estratégias de busca utilizadas nas bases de dados. Caxias, MA, Brasil, 2018.

Seleciona-
Base Estratégia de busca Resultados Filtrados
dos
tw:((tw:(patient)) AND (tw:(neoplasms)) AND (tw:(self concept ))
Bireme (descritor AND (tw:(drug therapy))) AND (instance:"regional") AND ( full-
86 21 2
es Decs) text:("1") AND year_cluster:("2013" OR "2016" OR "2014" OR
"2015" OR "2017"))
((("patients"[MeSH Terms] OR "patients"[All Fields] OR "patien-
t"[All Fields]) AND ("neoplasms"[MeSH Terms] OR "neoplas-
ms"[All Fields])) AND ("self concept"[MeSH Terms] OR ("self"[All
Fields] AND "concept"[All Fields]) OR "self concept"[All Fields]))
PubMed (descrip- AND ("drug therapy"[Subheading] OR ("drug"[All Fields] AND
345 29 3
to rs MeSH) "therapy"[All Fields]) OR "drug therapy"[All Fields] OR "drug
therapy"[MeSH Terms] OR ("drug"[All Fields] AND "therapy"[All
Fields])) AND ("loattrfree full text"[sb] AND "2013/05/16"[PDat] :
"2018/05/14"[PDat] AND
"humans"[MeSH Terms])
CINAHL (CINAHL
Headings) (cancer patients) AND (self concept) AND (drug therapy) 10 10 3

Fonte: Elaboração dos autores.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 209


RESULTADOS

Os oito estudos incluídos nesta revisão estavam no idioma inglês (100%). A maioria
das publicações foram concentradas no recorte de cinco anos sendo que no ano de 2017
(2/25%), 2013(1/12,5%), 2014(1/12,5%), 2015(1/12,5%), e 2016(1/12,5%) e para uma melhor
delimitação do tema foram incluídos dois estudos fora do recorte temporal que respondiam
a questão norteadora sendo estes no de 2008(1/12,5%) e 2009(1/12,5%), e não houve
predomínio de estudos realizados no Brasil. Em relação à natureza do estudo, houve pre-
valência de estudos epidemiológicos (08/100%). A principal linha de pesquisa investigada
nessa temática versou sobre as alterações da autoestima em pacientes oncológicos, que
estavam submetidos à quimioterapia (Quadro 3).
Os estudos avaliaram as alterações na autoestima de pacientes oncológicos, durante o
tratamento quimioterápico, e como essas alterações afetavam o bem-estar físico e psíquico
desses pacientes (Quadro 4).
Os estudos abordaram as alterações na autoestima em pacientes oncológicos du-
rante o tratamento quimioterápico. A maioria dos estudos teve como enfoque principal as
alterações da autoestima decorrente dos efeitos adversos da quimioterapia (LEMIEUX;
MAUNSELL; PROVENCHER, 2008; CAN et al., 2013; CHANG et al., 2014) e como essas
alterações afetam o bem estar do paciente (ROHDE et al., 2017; PINQUART; FROHLICH,
2009; BACKMAN et al., 2016; CHANG et al., 2014) no convívio social, na sua qualidade de
vida e enfrentamento da doença (SHERIEF et al., 2015).

Alterações na autoestima do paciente oncológico

A autoestima pode ser definida como o afeto positivo que o indivíduo tem de si próprio,
sendo de grande importância na sua relação com os outros. Pacientes com câncer tendem
a passar por várias alterações quanto a autoestima, desde a aceitação do diagnóstico e
adesão aos tratamentos o que pode trazer impactos negativos quanto a sua autoimagem e
bem estar (ROHDE et al., 2017; CHEN et al., 2018; SHERIEF et al., 2015).
É necessário que os profissionais de saúde percebam tais alterações e possam realizar
medidas de apoio juntamente com esse paciente, quanto a orientações, apoio emocional,
e atividades que possam está ajudando esses pacientes a lidarem melhor com a doença,
promovendo o bem estar físico e emocional (PINQUART; FROHLICH, 2009; BACKMAN et
al., 2016; SHERIEF et al., 2015).

Efeitos da quimioterapia na autoimagem

210 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Evidências mostraram que em pacientes oncológicos submetidos a quimioterapia
apresentam baixo nível de autoestima em 84,83% dos pacientes, e em decorrência seus
familiares apresentaram um nível de estresse psicológico significativo. Observou-se que
quimioterapia possui um impacto no estado psicológico dos pacientes independente da faixa
etária, pois crianças em tratamento quimioterápico, apresentaram alta prevalência de baixa
autoestima e consequentemente um alto grau de estresse foram apresentados pelos seus
pais (SHERIEF et al., 2015).
São muito frequentes os efeitos adversos e a gravidade dos mesmos que está relacio-
nado à quimioterapia dentre eles o efeito colateral mais comum é a alopecia de, sua proba-
bilidade está relacionado ao tipo de droga utilizada e sua programação de administração.
A alopecia é frequentemente considerada um efeito colateral inevitável e transitório, mas
que afeta diretamente na imagem corporal (LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008).
As alterações na autoestima podem ocasionar uma condição caracterizada como es-
tado psicológico baixo definido pela ocorrência dos seguintes eventos: o aparecimento de
pensamentos negativos (LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008), Baixo senso de
competência (CHANG et al., 2014), alta restrição (RODHE et al., 2017), depressão (PIN-
QUART; FROHLICH, 2009), má relação com o cônjuge e familiares (BACKMAN et al., 2016)
e altas variáveis de isolamento social (RODHE et al., 2017). E dentre os eventos adversos
que também podem afetar na autoimagem, destacam-se o alto grau de estresse, alguns
sintomas como náuseas, vômitos, anorexia, debilidade física, que provocam sentimento de
impotência e desesperança afetando diretamente na autoestima (CAN et al., 2013; LEMIEUX;
MAUNSELL; PROVENCHER, 2008).

Quadro 3. Distribuição das publicações incluídas segundo o título, ano de publicação, país onde o estudo foi realizado,
delineamento da pesquisa, nível de evidência e grau de recomendação. Caxias, MA, Brasil, 2018.

Autor / Ano Título Base País Delineamento NE GR


Chemotherapy-induced alopecia and ef-
Lemieux et al., Revisão
fects on quality of life among women with CINAHL Canadá 1 B
(2008) Sistemática
breast cancer: a literature review.
Psychosocial resources and subjective Estudo de
Pinquart et al.(2009) CINAHL Germânia 3 A
well-being of cancer patients. Coorte
Experiencing health - Physical activity du-
Backman et al., Estudo de
ring adjuvant chemotherapy treatment for Bireme Suécia 3 A
(2016) Coorte
women with breast cancer.
Can, Gulbeyaz et A comparison of men and women's expe- Quanti- quali-
Bireme Turquia 6 A
al., (2013) riences of chemotherapy-induced alopecia. tativo
Spiritual well-being in patients with the me-
Descritivo e
Rohde et al., (2017) tastatic colorectal câncer receiving Noncu- PubMed Noruega 6 A
qualitativo
rative Chemotherapy: A qualitative study.
Factors associated with healthcare profes-
sional's rating of disfigurement and self- Descritivo e
Chen et al., (2017) CINAHL Taiwan 6 A
perceived body image in female patients qualitativo
with head and neck câncer.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 211


Association between socioeconomic status
and altered appearance distress, body ima- Descritivo e
Chang et al., (2014) PubMed EUA 6 A
ge, and quality of life among breast cancer qualitativo
patients.
Psychological Impact of Chemotherapy for
Descritivo e
Sherief et al., (2015) Childhood Acute Lymphoblastic Leukemia PubMed Egito 6 A
qualitativo
on Patientsand Their Parents.

Legenga: NE = Nível de evidência, GR = Grau de recomendação. Nível de evidência: 1 - Revisão sistemática (Alta confiabilidade
das informações), 2 - Metanálise (informações de ótima confiabilidade), 3 - Estudos de Coorte e 4 - Estudos de Caso e controle (Boa
confiabilidade das informações), 5 - Estudos de casos e 6 - Estudos transversais, exploratórios dentre outros (Certo grau de confiabil-
idade das informações), 7- Opinião de especialista (não há confiabilidade nas informações); Grau de recomendação: A - recomenda o
resultado, B - Resultados não conclusivos e ineficientes, C-Resultado é contraindicado.

Fonte: Elaboração dos autores, 2018.

Quadro 4. Publicações incluídas segundo objetivo principal, perfil amostral e principais resultados. Caxias, MA, Brasil, 2018.

Autor / Ano Objetivo principal Perfil amostral Intervenções/Interesse Principais resultados


Apontar as melhores evidências
A perda de cabelo consisten-
Descrever os Um total de 38 artigos sobre os efeitos da alopecia em
temente está entre os efeitos
efeitos da alope- atenderam aos crité- vários aspectos da QV em pacien-
colaterais mais problemáticos
Lemieux et al., cia na qualidade rios de elegibilidade tes com câncer de mama, incluindo
da quimioterapia, e foi descrita
(2008) de vida (QV) em desta revisão e com- ansiedade e sofrimento, imagem
como angustiante, e pode afetar
mulheres com puseram a amostra corporal, sexualidade, autoestima,
a imagem corporal e a qualidade
câncer de mama. final. funcionamento social, QV global e
de vida.
retorno ao trabalho.
A aplicação dos recursos em
pacientes recentemente diag-
Identificar as mu- nosticados com câncer, mostrou
150 pacientes recen-
danças nos recur- Avaliar as mudanças de recursos melhoria quanto ao bem estar
temente diagnostica-
Pinquart et sos psicológicos psicológicos, e analisar o impacto psicológico, facilitando tanto o
dos com câncer em
al., (2009) de pacientes com dos recursos na adaptação psico- entendimento sobre o diagnos-
duas unidades onco-
câncer durante a lógica ao câncer. tico do câncer, como no enfren-
lógicas.
quimioterapia. tamento aos tratamentos es-
tressantes, com efeitos a longo
prazo.
Explorar como
A atividade física foi percebida
mulheres com
como uma ferramenta que apoia-
câncer de mama Minimizar barreiras para adesão a
va os processos de saúde e dava
experimentam a 16 mulheres diagnos- atividade física durante a doença
Backman et às mulheres uma sensação de
atividade f í s i c a , ticas com câncer de e tratamento; capacitar e motivar
al., (2016) alívio da doença, tendo um im-
durante o trata- mama. para se concentrar na saúde; pro-
pacto positivo na saúde, e na
mento quimiote- mover saúde e independência;
melhora da autoestima.
rápico adjuvante.

Determinar a inci-
A incidência de alopecia parcial
dência de alope-
Avaliar e educar os pacientes atra- ou completa foi maior nas mulhe-
cia, relacionada
201 homens e 204 vés de estratégias diferenciadas, res do que nos homens. Conse-
a quimioterapia e
Can et al., mulheres atenderam para melhoria da autoestima de quentemente a imagem corporal
como afeta a ima-
(2013) aos critérios da pes- pacientes que tiveram alopecia, le- e o bem-estar psicológico dessas
gem corporal e a
quisa. vando em consideração as caracte- mulheres encontravam-se infe-
qualidade de vida
rísticas culturais dos pacientes. riores do que comparado nos
dos pacientes
homens.
com cancer.

212 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Avaliar o bem-es-
Os profissionais de saúde pre-
tar espiritual, em 20 pacientes com Utilizar estratégias para a harmonia
cisam de coragem e disposição
pacientes com câncer de colorretal interior, compartilhar sentimentos,
Rohde et al., suficiente para compartilhar pen-
câncer de color- na fase paliativa, com utilizar a fé como suporte interno
(2017) samentos, crenças, luto, afim de
retal, recebendo idade entre 34 a 75 para lhe da com pensamentos so-
orientar os pacientes para melho-
a quimioterapia anos. bre o final da vida.
rar seu bem-estar espiritual.
na fase paliativa.
Analisar os efei- Os Tratamentos médicos foram
tos adversos da associados à desfiguração de
quimioterapia,ci- pacientes com CCP, causando
Determinar os fatores associados a
rurgias, estágio insatisfação à imagem corporal
105 mulheres com classificação de desfiguração; Ava-
e localização do do paciente auto percebida. O
câncer de cabeça e liar cuidadosamente a aparência de
Chen et al., câncer, associa- uso de intervenções de camufla-
pescoço (CCP), em mulheres com o câncer; Ajudar os
(2017) dos a imagem gem tais como o uso de cosmé-
um grande centro pacientes a lidar com a desfigura-
corporal autoper- ticos, toucas, perucas podem ser
médico. ção e obter uma melhor satisfação
cebida em mulhe- usadas para ajudar a lidar apro-
com sua imagem corporal.
res com câncer priadamente com a desfiguração
de cabeça e pes- e para obter uma melhor satisfa-
coço. ção com sua imagem corporal.
As alterações na aparência ou
Estimar o im- 126 participantes imagem corporal provocam pro-
pacto do status com 18 anos ou mais, Proporcionar aos prestadores de blemas psicossociais, físicos e
socioeconômico com um diagnóstico cuidados meios e estratégias para funcionais. O estado socioeconô-
na autoestima, câncer de mama, que identificar as mudanças e angús- mica também esta associada com
Chang et al., angustia, imagem não tinha evidência tias em pacientes com cancer de alterações da aparência e quali-
(2014) corporal, e qua- de recidiva ou me- mama; fornecer informações es- dade de vida. Foram observados
lidade de vida, tástase, e não tinha pecíficas e apoio psicossocial a que os pacientes que tinham um
entre pacientes problemas psicológi- pacientes socioeconomicamente emprego fixo, e estavam no trata-
coreanos com cos no momento da mais vulneráveis. mento quimioterápico tinham pior
câncer de mama. pesquisa imagem corporal do que os pa-
cientes desempregados.
Utilizar uma escala de autoestima
Avaliar a autoes-
para determinar o estado psicoló-
tima de pacientes A quimioterapia para LLA tem um
178 crianças que es- gico das crianças, e o grau de es-
pediátricos em impacto significativo no estado
tavam em tratamento tresse dos seus pais, através de
tratamento qui- psicológico tanto dos pacientes
Sherief et al., quimioterápico para questionários, e de um sistema de
mioterápico para quanto de seus pais, com alta
(2015) LLA e seus pais fo- classificação e interpretação dos
a leucemia lin- prevalência de baixa autoestima
ram avaliados quanto dados; Determinar um programa
foblática aguda, e em pacientes, e alto grau de es-
ao índice de estresse. de apoio psicossocial integrado e
o estado psicoló- tresse psicológico em seus pais.
multidisciplinar para os pacientes e
gico de seus pais.
seus pais.

Fonte: Elaboração dos autores, 2018.

Principais consequências da quimioterapia no cotidiano do paciente

A quimioterapia está relacionada a diversas alterações na autoestima dos pacientes,


decorrentes não só dos efeitos físicos, mas também psicológicos, tais alterações manifes-
tam-se no cotidiano dos pacientes, prejudicando seu convívio social e aparência (BACKMAN
et al., 2016; LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008; PINQUART; FROHLICH, 2009).
A perda ou desfiguramento de alguma parte ou região do corpo, causa impactos imen-
suráveis quanto a aceitação da autoimagem e enfrentamento da doença (CHANG et al.,
2014; CHENG et al., 2018). E a alopecia que foi considerada um efeito colateral angustiante,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 213


causando conflitos na imagem corporal, pois como o cabelo é parte integrante da identidade
humana, a perda de cabelo pode ter negativas repercussões em vários aspectos da quali-
dade de vida (LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008).
Vários estudos indicam que as alterações na autoestima afetam diretamente no sta-
tus socioeconômico e no retorno e no desempenho no trabalho, pois quando continuam a
trabalhar ou retornam ao trabalho após o tratamento (CHANG et al., 2014), tendem a lidar
com mudanças funcionais, apoio de colegas de trabalho ou olhares críticos dos mesmos
(CHENG et al., 2018), flexibilidade de emprego, segurança e autoconfiança em si mesmo,
e em suas habilidades no trabalho (CHANG et al., 2014; CHENG et al., 2018).
Essas mudanças diminuem o bem estar espiritual dos pacientes, e consequentemente
a baixa Qualidade de Vida, afetando principalmente nos relacionamentos, por exemplo, as
relações com o eu e os outros e a relação entre espiritualidade e religião. Por conta disse
devem ser estabelecidas estratégias benéficas de enfrentamento espiritual que podem con-
tribuir para um ajuste favorável à doença (LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008;
RODHE et al., 2017; CHENG et al., 2018).

Bundles de Intervenções

Elencou-se um conjunto de cinco intervenções de enfermagem necessárias para orientar


o paciente oncológico a compreender as mudanças na autoestima, e auxiliar na adaptação
a essas alterações decorrentes da quimioterapia (Quadro 5).

Quadro 5. Bundles de Intervenções para orientação quanto as alterações na autoestima em pacientes oncológicos,
submetidos a quimioterapia. Caxias, MA, Brasil, 2018.

NÍVEL DE
INTERVENÇÕES
EVIDÊNCIA
Estimular a prática de atividade física e outras atividades de lazer
III
em pacientes oncológicos.
Oferecer um programa de apoio psicossocial integrado para os
pacientes e seus acompanhantes no enfrentamento da doença e III
mudança na autoestima.
Orientar sobre o surgimento da alopecia durante a quimioterapia,
VI
e os efeitos negativos na autoimagem.
Promover atividades de apoio ao retorno ao trabalho e aconselha-
VI
mento ocupacional em pacientes oncológicos.
Desenvolver atividades de embelezamento e do uso de adornos
VI
em pacientes submetidos a quimioterapia.

Fonte: Elaboração dos autores, 2018.

DISCUSSÃO

214 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Os pacientes oncológicos sofrem diversos efeitos decorrentes da quimioterapia, efeitos
estes que afetam significantemente a percepção do indivíduo quanto a sua imagem, em
decorrência dessas alterações se faz necessário estabelecer condutas, que auxiliem o pa-
ciente a lidar com o tratamento e seus efeitos, minimizando os impactos na sua autoestima
e bem estar.
Assim ao analisar os resultados dos estudos, os pesquisadores escolheram cinco inter-
venções para compor o bundle. Onde, o bundle constitui-se pelas seguintes intervenções e
níveis de evidência III e VI: Estimular a pratica de atividade física e outras atividades de lazer
em pacientes oncológicos; Oferecer um programa de apoio psicossocial integrado para os
pacientes e seus acompanhantes no enfrentamento da doença e mudança na autoestima;
Fornecer informações específicas apoio psicológico a pacientes e família; Orientar sobre
o surgimento da alopecia durante a quimioterapia, e o efeitos negativos na autoimagem;
Desenvolver atividades de embelezamento e do uso de adornos em pacientes submetidos
a quimioterapia.

Estimular a prática de atividade física e outras atividades de lazer em pacientes onco-


lógicos

O baixo nível de atividade física em pacientes oncológicos está associado ao tratamento


quimioterápico e seus efeitos adversos, tais como a carga de sintomas, e os ligados a apa-
rência corporal, como por exemplo, cicatrizes cirúrgicas, e a perda de cabelo, são os mais
frequentes a não adesão de atividade física durante o tratamento (BACKMAN et al., 2016).
A prática de atividade física durante o tratamento quimioterápico mostrou-se um com-
ponente importante para o tratamento da doença, apesar dos efeitos adversos decorrente do
tratamento, a atividade física revelou-se como uma medida eficaz para alívios dos sintomas,
e melhora no bem estar físico. Sendo vista como uma ferramenta para manter e recuperar a
saúde física, mental e social, proporcionando envolvimento e responsabilidade pelo próprio
cuidado e pela própria saúde (BACKMAN et al., 2016).

Oferecer um programa de apoio psicossocial integrado para os pacientes e seus


acompanhantes no enfrentamento da doença e mudança na autoestima

O diagnostico de câncer representa uma importante ameaça ao bem-estar subjetivo,


ocasionando reações emocionais nos indivíduos que afetem na compreensão do diagnostico
e na realização terapêutica (PINQUART; FROHLICH, 2009). Os principais estressores para
os pacientes e seus acompanhantes estão relacionados ao tratamento, perda de controle,
ambiente hospitalar, recidivas, o medo de morrer, má imagem corporal, falta de auto-estima
e dificuldades de transição na vida social (SHERIEF et al., 2015).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 215


O apoio psicossocial,pode representar uma fonte importante no tratamento do câncer,
promovendo relações positivas nos papéis pessoais, bem estar e autoestima, que protege
a saúde psicológica, diminuindo os efeitos dos estressores relacionados ao câncer (PIN-
QUART; FROHLICH, 2009). Esse apoio psicossocial deve ser desenvolvido não somente
com o paciente oncológico, mas também com o seus acompanhantes, que direcionam toda
a atenção apenas para o doente e seu acompanhamento integral no tratamento, levando
a mudanças na rotina da vida diária, comprometimento do autocuidado, e conflitos com o
cônjuge ou demais familiares (SHERIEF et al., 2015). Que podem ocasionar distúrbios do
sono e alterações no humor (PINQUART; FROHLICH, 2009).
Um programa de apoio psicossocial integrado para os pacientes e seus acompanhantes
é essencial para ajudá-los a lidar com os estresses que enfrentam, responder suas perguntas,
ouvi-los pacientemente , ajudá-los a expressar suas emoções, dar explicações, conselhos
e apoio (SHERIEF et al., 2015).

Orientar sobre o surgimento da alopecia durante a quimioterapia, e os efeitos nega-


tivos na autoimagem.

A incidência de alopecia é estimada em 65% nos tratamentos quimioterápicos, e é


considerada um dos fatores mais temidos e traumáticos no tratamento de pacientes com
câncer (CAN et al., 2013). A alopecia está associada a uma perda de privacidade, porque
isso torna o ambiente consciente de que a pessoa está recebendo a quimioterapia, e é
também um visível lembrete da doença (LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008).
A natureza visual da alopecia pode afetar a imagem corporal, a qualidade de vida, a
interação social e a sexualidade do paciente. Levando ao sofrimento emocional, problemas
pessoais, sociais e relacionados ao trabalho (CAN et al., 2013). Por conta do sentimento de
estigmatização, e das alterações na identidade do indivíduo de uma pessoa saudável para a
de um paciente com câncer (LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008). É necessário
orientar quanto ao efeito da alopecia, percepções da perda de cabelo, Qualidade de Vida,
angústia psicológica, ansiedade, imagem corporal que podem afetar o paciente, provocando
alterações na autoestima (CAN et al., 2013; LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008).

Promover atividades de apoio ao retorno ao trabalho e aconselhamento ocupacional


em pacientes oncológicos

O sofrimento ocasionado pelos efeitos adversos da quimioterapia resulta em mudanças


que afetem nas mais diversas esferas da vida do paciente, e em diferentes níveis socioeco-
nômicos (CHENG et al., 2018; LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008). O retorno
ao trabalho pode significar em decorrência dos diferentes níveis de alteração na aparência,

216 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


aflição, angústia e baixo rendimento no trabalho para o paciente (CHANG et al., 2014), e
que podem se agravar com a falta de recursos (PINQUART; FROHLICH, 2009), como in-
formação e a falta de apoio social, o que pode dificultar sua capacidade para enfrentar as
barreiras gerenciar o sofrimento (CHANG et al., 2014).
Os profissionais de saúde devem estar atentos para as mudanças e aflições que os
pacientes com câncer (CHANG et al., 2014; CHENG et al., 2018; LEMIEUX; MAUNSELL;
PROVENCHER, 2008). Com isso, é necessário fornecer informações específicas, realizar
intervenções e oferecer suporte psicossocial para pacientes socioeconomicamente vulnerá-
veis, e voltados para o retorno e desempenho no trabalho (CHANG et al., 2014), para que
os pacientes consigam lidar com as mudanças físicas e as aflições emocionais e prosseguir
suas atividades diárias e de trabalho (CHANG et al., 2014; CHENG et al., 2018).

Desenvolver atividades de embelezamento e do uso de adornos em pacientes sub-


metidos a quimioterapia.

Pacientes submetidos a quimioterapia sentem-se mais ansiosos (CHANG et a.l, 2014),


com relação as mudanças na aparência, se sentem menos seguros com relação si mesmo e
em publico, pois acham que os pessoas estão lhe observando, vendo as alterações no rosto
e no corpo decorrente do tratamento (CHANG et al., 2014; CHENG et al., 2018; PINQUART;
FROHLICH, 2009), tentam esconder a alopecia (CHANG et al., 2014), pois todas essas
alterações são vistas como estigma negativo em relação ao paciente com câncer (CHANG
et al., 2018; LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008).
Em decorrência as insatisfação com a imagem corporal em pacientes oncológicos, é
necessário que os profissionais de enfermagem avaliem cuidadosamente as alterações na
aparência dos pacientes, e utilizar estratégias que visem melhorar a satisfação com a ima-
gem corporal, tais como Intervenções de camuflagem, como o uso de perucas, técnicas em
embelezamento, como por exemplo, o uso de cosméticos (CHANG et al., 2018), e a técnica
de resfriamento capilar (LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008), que podem ser
usadas para ajudar a lidar adequadamente com a desfiguração, alopecia, e outras alterações
decorrentes da quimioterapia.
Os profissionais de saúde devem frequentemente realizar a avaliação do estado psi-
cológico dos pacientes assim como observar o aparecimento de sinais e sintomas que
possam indicar alterações na autoestima (LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008),
através dos fatores de riscos relacionados a alterações na autoestima o profissional de saúde
pode estar realizando atividades recreativas e dinâmicas, grupos de discussões e pequenas
ações como elogios, incentivar o uso de adornos, maquiagem no dia a dia dos pacientes
(BACKMAN et al., 2016; CAN et al., 2013; LEMIEUX; MAUNSELL; PROVENCHER, 2008),

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 217


é importante que o profissional estabeleça um vinculo de segurança e confiabilidade com o
seu cliente para que ele se sinta confortável para conversar sobre a sua experiência com o
tratamento, diagnostico, presença de pensamentos negativos ou sensação de tristeza e que
também se sinta apto e confiante a reverter os sinais de alteração na autoestima (CHANG
et al., 2014; CHENG et al., 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tratamento quimioterápico pode ser considerado um fator determinante nas altera-


ções da autoestima, pois possibilita a ocorrência de inúmeros impactos na vida do paciente
oncológico, tais como, físico, emocionais e sociais, que foram descritos detalhadamente no
estudo. Dentre as alterações psicológicas destacou-se mudanças na auto imagem, que afeta
a vida do paciente em vários aspectos, levando ao desenvolvimento de outros problemas
como alterações de humor, isolamento social, e depressão.
Os profissionais de saúde devem estar atentos ao aparecimento de sinais e sintomas
que possam indicar alterações na autoestima, pois a detectarão precoce que pode contri-
buir para intervir de forma significativa na melhora do quadro do paciente, facilitando sua
aceitação frente ao enfrentamento da doença e as alterações apresentadas pela mesma.
As intervenções do bundles trazem medidas que versem sobre as ações assistenciais
que envolvam a melhora na autoestima na vida dos pacientes em tratamento quimioterápico,
bem como ações especificas e individualizadas que devem ser utilizadas pelos profissionais
na aplicação da assistência de enfermagem.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 219


17
“ Alterações endometriais
relacionadas ao uso do
tamoxifeno no tratamento de
pacientes com câncer de mama:
uma revisão de literatura

Katiele Silva dos Santos Lima

10.37885/200700581
RESUMO

Introdução: Atualmente o câncer de mama é um problema de saúde de escala mundial


e encontra-se entre as principais causas de mortalidade no mundo. O tamoxifeno é uma
droga amplamente utilizada no tratamento quimioterápico de pacientes com câncer de
mama. Porém, apesar de o tratamento com o tamoxifeno ser considerado como padrão
ouro para o tratamento do câncer de mama nas últimas três décadas, o uso do mesmo em
terapias prolongadas provocam o surgimento de desordens proliferativas endometriais,
a mais comum delas é o câncer de endométrio. Objetivos: Conhecer as alterações
endometriais relacionadas ao uso do tamoxifeno no tratamento de pacientes com câncer
de mama. Materiais e métodos: Realizou-se uma revisão sistemática das publicações
indexadas nas bases de dados Scielo, MedLine e Lilacs, publicados entre os anos de
2009 e 2017. Resultados e discussão: o tamoxifeno é considerado um dos fármacos
mais positivos em relação a terapêutica do tratamento do câncer de mama, pois o mesmo
apresenta altos níveis responsivos e uma sobrevida livre da doença. No entanto, apesar de
seus efeitos benéficos para o tratamento do câncer de mama, devido ao caráter agonista e
antagonista do tamoxifeno, ao mesmo tempo em que ele trata o câncer de mama e previne
o indivíduo contra recidivas, também pode, em alguns casos, desencadear alterações
endometriais, podendo até mesmo levar ao desenvolvimento de câncer de endométrio.
Conclusão: Assim sendo, é importante que seja feito a monitorização do endométrio
de pacientes em tratamento com o tamoxifeno, para que, através dos achados desse
exame, seja alcançado um maior conhecimento cientifico dos efeitos desse fármaco no
endométrio ao longo dos anos.

Palavras-chave: Hormonioterapia; Tamoxifeno; Alterações endometriais.


INTRODUÇÃO

Atualmente, o câncer é um problema de saúde de escala mundial. Em geral, o câncer


tem atingido uma alta taxa de prevalência e encontra-se entre as principais causas de mor-
talidade no mundo, fazendo-se necessário a preparação dos profissionais de saúde para
intervir de forma eficaz nesta realidade (KALINKE et al., 2011).
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) o câncer de mama é consi-
derado a neoplasia maligna com maior frequência entre as mulheres. Foi estimado no ano
de 2014 cerca de 57.120 novos casos e em 2016, um crescimento dessa estimativa para
57.960 novos casos de câncer de mama (INCA, 2016).
Segundo Moreno e Capobianco (2017), os principais fatores preditores para o câncer
de mama são: histórico familiar, obesidade, menarca precoce, idade, ausência de gravidez,
menopausa tardia e reposição hormonal. Assim sendo, é de grande importância a realização
de exames preventivos na idade adequada e estar sempre atento ao aparecimento de sinais
sugestivos como: vermelhidão, alteração no formato dos mamilos e das mamas, nódulos
nas axilas, pele enrugada como casca de laranja entre outros.
Quando diagnosticada e tratada no seu estágio inicial, a neoplasia mamária apresenta
um bom prognostico, pois diminui as chances de morte e melhora a sobrevida do paciente
(ALBRECHT, 2011).
As primeiras terapêuticas aplicadas no tratamento do câncer de mama tinham como
características principais a baixa eficácia e altas taxas de toxicidade. Com o advento de
novos fármacos mais eficazes e com toxicidades mais aceitáveis, tem-se o uso do tamoxi-
feno, que é um agente anti estrogênico não esteroidal (MORENO E CAPOBIANCO, 2017).
O tamoxifeno é uma droga amplamente utilizada no tratamento quimioterápico de pa-
cientes com câncer de mama. O tamoxifeno foi liberado para uso pela agencia norte ameri-
cana de controle de drogas e alimentos para o tratamento hormonal adjuvante de pacientes
portadores de carcinoma invasivo de mama, tratamento paliativo em carcinomas metastáticos
e como quimioprofilaxia de pacientes de alto risco (ALLRED, et. Al 2012).
Estudos demonstram que o uso do tamoxifeno por cinco anos reduziu as taxas de
recidivas em 41% dos casos e reduziu as taxas de morte por câncer de mama em 34% das
pacientes (PAIK, 2012). além disso, o uso do tamoxifeno no período pós-operatório está
diretamente ligado a um ganho significativo, tanto de sobrevida livre de doença quanto de
sobrevida global (MORENO E CAPOBIANCO, 2017).
Porém, apesar de o tratamento com o tamoxifeno ser considerado como padrão ouro
para o tratamento do câncer de mama nas últimas três décadas, o uso do mesmo em terapias
prolongadas provocam o surgimento de desordens proliferativas endometriais, que podem
incluir uma gama de alterações patológicas tais como: Hiperplasia endometrial, pólipos hi-

222 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


perplásicos e câncer endometrial (NAUFEL, et. Al 2014).
Além dessas alterações endometriais, outros sintomas bastante comuns durante o
tratamento com o tamoxifeno podem ser notados, são eles: ondas de calor, sangramento
vaginal, prurido vulvar, corrimento vaginal e entre outros efeitos gerais já relatados por usu-
árias da medicação (BONMANN E LISSARASSA, 2016).
Ainda segundo Quintela e Prudente (2014), mulheres que fazem uso do tamoxifeno
possuem um risco maior de desenvolver câncer endometrial. Afirmam também que o compro-
metimento endometrial secundário ao uso do tamoxifeno deve ser prontamente diagnosticado.

OBJETIVOS

Conhecer as alterações endometriais relacionadas ao uso do tamoxifeno no tratamento


de pacientes com câncer de mama.

MATERIAIS E MÉTODOS

Realizou-se uma revisão sistemática das publicações indexadas nas bases de dados
Scielo, MedLine e Lilacs, publicados entre os anos de 2009 e 2017. As palavras chaves
utilizadas em várias combinações foram Hormonioterapia, alterações endometriais e Tamo-
xifeno. A pesquisa foi limitada a língua portuguesa e inglesa, com estudos realizados com
humanos adultos. Os critérios de inclusão utilizados foram aqueles estudos que tratavam
diretamente do tema abordado. Foram encontrados 16 artigos que se encaixavam nos cri-
térios. Não foram incluídos na pesquisa resumos de dissertação ou teses acadêmicas

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O câncer de mama é a malignidade que mais comumente atinge mulheres em todo o


mundo, mas já são conhecidas muitas formas de tratamento para este câncer, podendo-se
citar a radioterapia e a quimioterapia, intervenção por meio de cirurgia e a hormonioterapia
(LIMA et al., 2017).
A hormonioterapia caracteriza-se como um tratamento eficiente, que tem como medica-
mento mais conhecido e amplamente utilizado o tamoxifeno. É considerado um dos fármacos
mais positivos em relação a terapêutica do tratamento do câncer de mama, pois o mesmo
apresenta altos níveis responsivos e uma sobrevida livre da doença (LIMA et al., 2017).
No entanto, apesar de seus efeitos benéficos para o tratamento do câncer de mama,
devido ao caráter agonista e antagonista do tamoxifeno, ao mesmo tempo em que ele trata
o câncer de mama e previne o indivíduo contra recidivas, também pode, em alguns casos,
desencadear alterações endometriais, podendo até mesmo levar ao desenvolvimento de

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 223


câncer de endométrio.
Uma atualização do estudo Longer Against Shorter Trial (ATLAS) publicada em 2012,
randomizou mais de 12.000 mulheres para receber o tamoxifeno por um período de 5 a 10
anos. Os resultados revelaram uma redução de cerca de 30% no risco de morte após 10
anos de tratamento com o tamoxifeno. No entanto, em contraste com esses resultados, foi
observado também um aumento acumulativo de câncer de endométrio.
Um importante estudo foi realizado por Naufel et al. (2014), onde é relatado o caso de
uma mulher, com idade de 55 anos, em tratamento com o tamoxifeno por um período de
dois anos. A mesma não apresentava história previa ou mesmo sintomas que sugerissem
quadro de endometriose. No entanto, já no final do tratamento com o tamoxifeno, passou a
apresentar dor lombar esquerda não especifica. A paciente foi submetida a uma ressonân-
cia magnética, o qual diagnosticou uma endometriose. A partir desse achado, optou-se por
suspender o tratamento com o tamoxifeno, a fim de possibilitar uma redução e regressão
do tecido endometriótico, o que de fato aconteceu.
Segundo Quintela e Prudente (2014), mulheres que fazem uso do tamoxifeno possuem
um risco maior de desenvolver câncer endometrial. Afirmam também que o comprometi-
mento endometrial secundário ao uso do tamoxifeno deve ser prontamente diagnosticado.
Moreno e Capobianco (2017) afirmam em seu trabalho que, embora o tamoxifeno esteja
entre os agentes quimioterápicos mais indicados para o tratamento da neoplasia mamária,
esta droga apresenta efeitos colaterais como fogachos, sudorese e secreção vaginal. Em
alguns casos considerados raros, estudos apresentam alguns efeitos adversos, como coá-
gulos sanguíneos, acidente vascular encefálico e câncer endometrial.
Em um trabalho de relato de caso publicado por Naufel, et. AL (2014) o mesmo relata
o acometimento de endometriose retroperitoneal em uma paciente com 55 anos de idade,
com antecedente de câncer de mama e em uso de tamoxifeno por dois anos, sem outras
comorbidades preexistentes ou antecedente cirúrgico.

CONCLUSÃO

Assim sendo, é importante que seja feito a monitorização do endométrio de pacientes


em tratamento com o tamoxifeno, para que, através dos achados desse exame, seja alcan-
çado um maior conhecimento cientifico dos efeitos desse fármaco no endométrio ao longo
dos anos, analisando também a relação entre os achados com a dosagem e o tempo de
utilização do mesmo. além da importância de se diagnosticar de forma precoce a presença
de alterações endometriais aumentando assim, as chances de cura.

REFERÊNCIAS

224 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


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226 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


18
“ Análise da implantação e
implementação do Programa
Permanecer SUS: estudo de
campo

Gabriela Oliveira Almeida Joseane Aparecida Duarte


UNEB ISC-UFBA

Thadeu Borges Souza Santos


UNEB

Silvana Lima Vieira


UNEB

Lilian Barbosa Rosado


ISC-UFBA

Juliete Sales Martins


UNEB

10.37885/200800841
RESUMO

O Programa Permanecer SUS é estratégia da Secretaria de Saúde do Estado da


Bahia (SESAB) que se propõe à implementação dos princípios norteadores da Política
Nacional de Humanização, nas unidades de emergência de grandes hospitais da rede
própria na macrorregião leste de saúde. Neste estudo compreende-se, inicialmente,
o conceito de humanização e das políticas que norteiam o Sistema Único de Saúde
(SUS) e objetiva analisar os fatores intervenientes à implantação e implementação do
Programa Permanecer SUS/SESAB. Trata-se de uma pesquisa de campo, de abordagem
qualitativa, exploratória e descritiva, realizada na Diretoria da Gestão da Educação e do
Trabalho na Saúde (DGETS), que compõe a SESAB. Foi utilizado como instrumento de
pesquisa entrevistas semi- estruturadas. Participaram do estudo: graduandos bolsistas,
diretor e superintendente da DGETS e formulador do programa. Como resultados foram
caracterizados fatores favoráveis e desfavoráveis à implantação e implementação. Dentre
os favoráveis: influência do programa na formação acadêmica; mudança positiva no
perfil das unidades onde o programa está implantado; a conquista da relação com os
profissionais e participação diferenciada na vida do paciente. Quanto aos desfavoráveis:
resistência do profissional para as mudanças; a desvantagem do avanço tecnológico;
relevância do entendimento de que educação não se faz só dentro da escola e falta de
prática de humanização. A partir da análise conclui-se que é de extrema relevância o
ensino aprendizagem em diversos contextos e níveis de atenção à saúde.

Palavras- chave: Humanização; Humanização da assistência; Profissionais de saúde;


Educação; Aprendizagem.
INTRODUÇÃO

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em 1988 e, segundo a Constituição Fe-
deral Brasileira, nasceu com o objetivo de reformular a saúde pública do Brasil e atender
devidamente toda a nação brasileira (BRASIL, 1990). Este sistema implicou em profundas
mudanças na atenção da saúde que, por um lado representaram avanços principalmente
ao acesso da população aos serviços públicos de saúde e por outro configuraram desafios
para a efetiva aplicação de seus princípios (BECK et al., 2009).
Segundo Beck et al (2009), eram diversos os desafios enfrentados pelo SUS, princi-
palmente a falta de humanização na atenção a saúde. Com intuito de efetivar os princípios
deste sistema, o Ministério da Saúde, em 2003, implementou a Política Nacional de Huma-
nização (PNH), o que permitiria a qualificação da saúde pública no Brasil (BRASIL, 2004).
A PNH vista como uma política e não um programa, ressalta princípios relevantes para uma
mudança no quadro na saúde: transversalidade; indissociabilidade entre atenção e gestão;
protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos (BRASIL, 2003).
Algumas diretrizes norteiam esta política, como o acolhimento, gestão participativa e
cogestão, ambiência, clínica ampliada e compartilhada, valorização do trabalhador e defesa
dos direitos dos cidadãos (BRASIL, 2006). As estratégias desta política são baseadas nos
sete seguintes eixos de ação: eixo das instituições do SUS; eixo da gestão do trabalho; eixo
do financiamento; o eixo da atenção; eixo da educação permanente; eixo da informação/
comunicação, e por fim o eixo da gestão da PNH.
Com as tentativas de implementação da PNH com vistas à evolução da qualidade do
SUS, ainda se enfrenta uma série de problemas. Fragmentação do processo de trabalho e
das relações entre os diferentes profissionais; fragmentação da rede assistencial dificultando
a complementaridade entre a rede básica e o sistema de referência; precária interação nas
equipes e despreparo para lidar com a dimensão subjetiva nas práticas de atenção; sistema
público de saúde burocratizado e verticalizado; baixo investimento na qualificação dos tra-
balhadores, especialmente no que se refere à gestão participativa e ao trabalho em equipe;
poucos dispositivos de fomento à co-gestão e à valorização e inclusão dos trabalhadores e
usuários no processo de produção de saúde; desrespeito aos direitos dos usuários; forma-
ção dos trabalhadores da saúde distante do debate e da formulação da política pública de
saúde; controle social frágil dos processos de atenção e gestão do SUS; modelo de atenção
centrado na relação queixa-conduta (BRASIL, 2006).
Todo este processo se desencadeia devido aos desafios que o SUS enfrenta para
seu desenvolvimento. Segundo Paim e Teixeira (2007), existe nós críticos relevantes que
devem ser ressaltados assim como esclarecidos: falta de clareza e insuficiência de consen-
so em torno da imagem- objetivo, o que causa a dificuldade de entendimento da função e

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 229


organização das diversas esferas de governo; insuficiente coordenação interna na direção
nacional do SUS, o que se reflete no debate em torno da necessidade de um "Ministério
Único da Saúde"; dificuldade de comunicação entre os três níveis de governo do SUS; a falta
de gestão profissionalizada; engessamento" do processo de gestão de serviços e recursos
estratégicos, dificuldade de articulação intersetorial entre o sistema de saúde e as demais
instituições gestoras de políticas e programas na área econômica e social.
Diante dos desafios e das dificuldades, a PHN foi estruturada para atender as necessi-
dades dos três níveis de atenção à saúde: atenção básica, urgência/ emergência e atenção
hospitalar, de acordo com cada nível de atenção e sua complexidade, as diretrizes foram
traçadas. A partir da relevante necessidade que a PNH encontrava de ser fortalecida, a Se-
cretaria Estadual de Saúde da Bahia (SESAB), através da Superintendência de Recursos
Humanos (SUPERH), implantou em 2008 um programa de intervenção intitulado Permanecer
SUS. O Programa Permanecer SUS foi criado com o objetivo de acolhimento e de trazer
melhorias no atendimento das emergências dos grandes hospitais da cidade de Salvador,
na Bahia (BRASIL, 2003). Com o intuito de compreender as reais dificuldades de um eficaz
acolhimento e humanização nas unidades de emergência, esse estudo se fundamenta nestes
níveis da assistência, de média e alta complexidade.
O Permanecer SUS é um programa de estágio não obrigatório, que estabelece uma
relação entre a formação, educação e serviço. É desenvolvido em parceria com instituições
de ensino do Estado, envolvendo estudantes do 4º ao 7º semestre dos cursos de: medicina,
enfermagem, psicologia, serviço social e bacharelado interdisciplinar (BRASIL, 2003).
Morais et al (2009), conceituam humanizar como acolher o paciente em sua essência,
a partir de uma ação efetiva traduzida na solidariedade, na compreensão do ser doente em
sua singularidade e na apreciação da vida. É abrir-se ao outro e acolher, solidária e legi-
timamente, a diversidade, tornando o ambiente mais agradável e menos tenso, de forma
a proporcionar ao paciente um atendimento mais seguro, afetuoso e terno. A partir deste
conceito acolhi os pacientes, seus acompanhantes, os profissionais com quem tive contato
e também fui acolhida muitas vezes por meus colegas.
Este programa traz um conceito de humanização inovador, que permite um encontro
eficaz entre profissionais da área de saúde e seus pacientes, e favorece também a relação
profissional-profissional. É uma inovação que vem se desenvolvendo e melhorando a cada
ano. Porém, como já é previsto em todo processo, este programa encontra fatores que fa-
cilitam e outros que dificultam o seu desenvolvimento (BRASIL, 2008).
Santos et al (2012), afirmam que existem fatores intervenientes evidenciados no Pro-
grama Permanecer SUS, e destaca os principais: resistência à função de tutoria e os relacio-
namentos conflituosos dos profissionais de saúde; a resistência dos médicos quanto a nossa

230 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


aproximação e participação no atendimento; a concepção de que atrasamos o andamento
do serviço pelos enfermeiros e técnicos antigos do setor da emergência; o receio de perder
o poder sobre os usuários pelos seguranças e o comportamento inadequado dos maqueiros,
assim como as conversas.
Portanto, a temática humanização da assistência é de grande relevância atualmente,
uma vez que o SUS tem se empenhado, por meio de suas políticas públicas, em aperfeiçoar
o atendimento aos seus usuários em âmbito nacional (MACIAK, SANDRI, SPEAR, 2009).
Durante o estágio vivenciei experiências inovadoras para meu processo acadêmico
e relevantes como futura enfermeira. Atuando na emergência de um Hospital de Salvador,
pude entender o real sentido do termo acolher e praticar a humanização de forma eficaz.
Tenho a plena certeza que todos os dias em que fui para estágio, contribui para a melhora
dos meus pacientes ou dos seus acompanhantes, o que me permitia passar por momentos
únicos e singulares.
Mediante compreensão sobre o projeto de intervenção da SESAB-SUPERH, tem-se
como questão norteadora: Qual o enfrentamento encontrado à implantação e implementa-
ção do Programa Permanecer SUS da SESAB (Secretaria Estadual de Saúde da Bahia)?
Para tento, tem-se como objetivo geral: Analisar os fatores intervenientes à implanta-
ção e implementação do Programa Permanecer SUS da SESAB/SUPERH e como objetivos
específicos: Identificar atores responsáveis pelo desenvolvimento, implantação e implemen-
tação do Projeto Permanecer SUS da SESAB/SUPERH e Reconhecer fatores intervenientes
à implantação e implementação do Programa Permanecer SUS da SESAB/SUPERH.

REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico descrito foi construído baseado na análise e compreensão sobre


uma produção científica que foi produzida através da busca de artigos nas bases de dados
do LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SCIELO (Scien-
tific Eletronic Library Online) e BDENF (Base de Dados de Enfermagem). Foram usados os
seguintes descritores, para essa busca: Acolhimento, Humanização da Assistência, Profis-
sionais de saúde e Programa Nacional de Humanização. Os artigos foram selecionados na
íntegra, tinham que ser relacionados somente a Enfermagem, a humanização e estar na
língua portuguesa.

Influência da Política Nacional de Humanização no Programa Permanecer SUS

De acordo com a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 196, o estado a partir de
políticas públicas, econômicas e sociais deve garantir aos cidadãos o direito a saúde, acesso
universal e igualitário aos serviços destinados para a promoção proteção e recuperação da

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 231


saúde (BRASIL, 1988).
A partir da necessidade de uma política pública que atendesse a situação de saúde
de toda a população brasileira foi instituído o Sistema Único de Saúde (SUS), uma das con-
quistas sociais consagradas nesta Constituição (BRASIL, 2003).
Segundo Barros, Queiroz, Raimundo (2010), para legitimação do SUS, o Ministério
da Saúde através da Lei 8080 vem buscando alternativas para valorizar o usuário e promo-
ver a resolutividade de seus problemas de saúde. E esse objetivo tomou forma a partir da
implantação da Política Nacional de Humanização (PNH). Esta política foi instituída com o
propósito de promover a integralidade das ações de saúde no âmbito da gestão e da atenção,
de forma indissociável, favorecendo a universalidade do atendimento e o aumento da equipe
por meio da utilização de novas tecnologias e especialização de saberes sem desvalorizar
os processos já instituídos (BECK et al., 2009).
O Ministério da Saúde elaborou em 2000, o Programa Nacional de Humanização da
Assistência Hospitalar (PNHAH), que divulga o conceito de humanização para todas as
instituições hospitalares. Essa divulgação é feita por meio da implantação de uma cultura
organizacional diferenciada, que visa o respeito, a solidariedade e o desenvolvimento da
autonomia e da cidadania dos profissionais da Saúde e dos usuários (MACIAK; SANDRI;
SPIER, 2009).
De acordo com o Ministério da Saúde (2004), este foi impulsionado e fortalecido por um
cenário de crise financeira nos hospitais propõe a reforma do sistema de assistência hospi-
talar, introduzindo nas discussões a mudança estrutural do modelo assistencial na saúde,
da qual participa a assistência hospitalar. A reforma hospitalar acontece com o intuito de
garantir os objetivos do SUS: integralidade, universalidade e equidade. Com isso, o papel
do hospital fica redefinido e apoiado sob quatro eixos: garantia de acesso dos usuários, com
melhoria da qualidade dos serviços ofertados; humanização de forma integral; inserção na
rede de assistência; democratização da gestão onde os hospitais devem assumir seu papel
trabalhando de forma transparente e ampliando seus mecanismos de participação social.
O Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar descreve que o pro-
cesso de humanização dos serviços de saúde nos coloca frente a uma dupla tarefa que é
refletir sobre a realidade do sistema de saúde e a particularidade de cada instituição/situa-
ção, criar soluções para enfrentar os desafios e otimizar as oportunidades (BRASIL, 2002).
De acordo com Lima et al (2012), o termo humanização tem sido empregado constante-
mente no âmbito da saúde e é considerado como a base de um amplo conjunto de iniciativas,
na busca da atenção, além da técnica e preocupação com a doença. Maciak, Sandri, Spier
(2009) confirma isso, quando diz que os avanços tecnológicos da ciência permitiram que
perdesse de vista o ser humano, permitindo assim que a assistência à saúde se tornasse

232 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


fragmentada e mecanizada, abandonando valores humanos que necessitam ser resgatados
para que a ciência seja eficiente resolutiva.
O fluxo de usuários para os hospitais ainda é, em sua maioria, determinado pela procura
espontânea, culminando com superlotação das salas de urgência e, consequentemente, com
a percebida baixa qualidade da assistência prestada. A partir desta realidade, os usuários
relatam a dificuldade ao acesso aos recursos do SUS, as enormes filas de espera para
consulta, exames e cirurgias e a falta de vagas para internação, ressaltando ainda a falta de
capacitação dos profissionais. Um dos objetivos da PNH é instruir a população a procurar o
serviço adequado para sua necessidade de saúde, permitindo assim que não se desloquem
diretamente para o nível de maior complexidade, os grandes hospitais (SANTOS et al., 2003).
A partir dessas demandas dos usuários, é perceptível a necessidade de enxergar o ser
humano como alguém que não se resume meramente a um ser com necessidades bioló-
gicas, mas como um agente biopsicossocial e espiritual, com direitos a serem respeitados,
devendo ser garantida sua dignidade ética, é fundamental para começarmos a caminhar em
direção à humanização dos cuidados de saúde (SILVA, 2011).
Contudo, Silva (2011) sustenta que a humanização visa traduzir os princípios do SUS
em modos de operar dos diferentes equipamentos e sujeitos da rede de saúde; construir
trocas solidárias comprometidas com a dupla tarefa de produção de saúde e produção de
sujeitos; oferecer um eixo articulador das práticas em saúde, destacando o aspecto subjeti-
vo nelas presente; contagiar por atitudes e ações humanizadoras à rede do SUS, incluindo
gestores, trabalhadores da saúde e usuários.
A fim de fortalecer esta política, superar os desafios encontrados pelo SUS e tornar
eficaz a humanização da assistência das emergências dos grandes hospitais da rede pública
de Salvador, a SESAB propõe a implantação do Programa Permanecer SUS. Este progra-
ma objetiva a implementação do acolhimento aos pacientes nas emergências de hospitais
públicos da cidade do Salvador/ Bahia (BRASIL, 2008).
O Permanecer SUS é composto por estagiários, que são graduandos da Universidade
Estadual da Bahia (UNEB), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Católica
de Salvador (UCSAL), das áreas de: enfermagem, medicina, serviço social, psicologia e
bacharelado interdisciplinar em saúde. Esses estudantes atuam nas emergências de hos-
pitais públicos de Salvador, acolhendo os pacientes e seus acompanhantes e tentando dar
resolutividade aos seus problemas. Acompanham os casos, mantendo uma postura huma-
nizada, permitindo assim a expansão da humanização nestas unidades (BRASIL, 2008).

Humanização da assistência

Segundo Moura, Lopes, Santos (2009), o desenvolvimento e a valorização do uso de

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 233


tecnologias para a área da saúde, o aumento de leitos hospitalares e uma política voltada
para assistência individual e curativa, permitiu que a assistência ao parto se tornasse um
evento medicalizado. Com isso, o tratamento humilhante nos serviços de saúde, o abuso
na medicalização dos partos, as intervenções cirúrgicas desnecessárias, a falta de acesso
aos leitos e a desinformação passaram a ser considerados como desrespeito aos direitos
reprodutivos e sexuais das mulheres e, por conseqüência violações aos direitos humanos,
passando, também, a serem entendidos como práticas e modelos não humanizados de
assistência à mulher e a sua família.
No campo da assistência ao parto, as discussões sobre a humanização trazem de-
mandas antigas e, nos últimos anos, vários autores e organizações não-governamentais
têm demonstrado suas preocupações com a medicalização excessiva do parto, propondo
modificações no modelo de assistência ao parto, principalmente naqueles de baixo risco
(DIAS; DOMINGUES, 2005).
De acordo com Dias e Domingues (2005), a tentativa de modificar este modelo, foi
iniciada na década de 1990, com a implantação da Política de Humanização do Parto e Nas-
cimento. Uma das estratégias adotadas foi a hierarquização da assistência ao parto, com a
implantação da assistência aos partos de baixo risco por enfermeiras obstetras, seguindo
o exemplo bem-sucedido de alguns países europeus, onde a assistência a esses partos é
prestada por profissionais não médicos. A atuação de enfermeiros nesta área assistencial
causou embate entre estes profissionais e médicos, dificultando a implantação da política
de humanização.
Alguns aspectos da humanização da assistência estão relacionados a uma mudança na
cultura hospitalar com a organização de uma assistência realmente voltada para as necessi-
dades das mulheres e suas famílias; as modificações que transformem o espaço hospitalar
em um ambiente mais acolhedor e favorável à implantação de práticas humanizadoras da
assistência é extremamente relevante. Contudo, a humanização da assistência ao parto
exige que a atuação do profissional respeite os aspectos de sua fisiologia, não intervenha
desnecessariamente, reconheça os aspectos sociais e culturais do parto e nascimento, e
ofereça o necessário suporte emocional à mulher e sua família, facilitando a formação dos
laços afetivos familiares e o vínculo mãe-bebê (DIAS; DOMINGUES, 2005).
Segundo Diniz (2005), o uso irracional de tecnologia no parto, levou ao atual paradoxo,
o que impede os países de reduzir a morbimortalidade materna e infantil. Diante da neces-
sidade da busca pela tecnologia apropriada, iniciou-se um movimento internacional há 25
anos atrás. No Brasil, esse movimento que ressaltava a importância do estreitamento da
relação parturiente e cuidadores, chamou-se humanização do parto.
Dias e Domingues (2005) afirmam que, embora não seja uma garantia de mudança do

234 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


modelo de assistência ao parto, a inclusão da enfermeira obstetra na assistência ao parto
de baixo risco tem mostrado que é medida capaz de reduzir as intervenções médicas des-
necessárias e de oferecer um cuidado mais integral, dando o necessário suporte emocional
à mulher e sua família.
Quando se trata da humanização relacionada a assistência à criança, Monteiro et al
(2012), citam que dar assistência a uma criança não implica em somente compreender que
a saúde da criança é apenas ausência de doença, e sim valorizar o âmbito familiar e o meio
de convívio que ela está inserida. Dessa forma o profissional passa a avaliar a criança com
uma visão integral, o que resultará em uma assistência mais humanizada.
Faquinello; Higarashi; Marcon (2007) confirmam a importância da humanização na
assistência a esse público, quando citam que a hospitalização é uma situação crítica e
delicada na vida de qualquer ser humano, e em se tratando de uma criança a situação fica
mais delicada, pois muda toda a rotina da família.
Ressaltam a importância da presença dos pais, trazendo confiança e segurança a
estes pequenos pacientes, já que a criança fica ansiosa e exposta ao ambiente hospitalar.
Segundo Paulli e Bousso (2003), em um estudo quanto às crenças que interferem na
humanização da assistência na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIp), os profis-
sionais de saúde trazem suas crenças pessoais e profissionais sobre família e doença, para
a prática clínica.
Entretanto, a humanização está associada à capacidade do indivíduo em compreender
o outro antes de condená-lo, e isso se faz a partir de um pensamento que possibilite apre-
ender o texto e o contexto, o ser e o seu meio ambiente, o local e o global, o multidimensio-
nal, em conjunto, permitindo compreender as condições objetivas e subjetivas igualmente
(MONTEIRO et al., 2012).
Diante da relevante necessidade de melhoria no atendimento, a questão do atendimento
humanizado às crianças tem sido pauta das priorizações do governo, e como consolidação
da intenção desta mudança, a Política Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
(PNHAH) foi lançada pelo Ministério da Saúde em 2000 (FAQUINELO; HIGARASHI; MAR-
CON, 2007).
O programa citado prevê a avaliação periódica da satisfação dos usuários e dos pro-
fissionais, envolvendo três aspectos fundamentais: capacitação permanente dos profissio-
nais de saúde e criação de condições para sua participação na identificação das melhorias
necessárias às suas condições de trabalho; criação de condições para a participação ativa
do usuário na avaliação da qualidade dos serviços; participação da comunidade organizada
como parceira dos agentes públicos em ações de apoio e acompanhamento dos serviços
(FAQUINELO; HIGARASHI; MARCON, 2007). Estes mesmos autores concluem que, atra-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 235


vés dos usuários e acompanhantes do seu estudo que as atitudes que conferem um caráter
humanizado no processo de assistir estão relacionadas ao estilo de comunicação adotada.
Ciente que um atendimento não humanizado é traduzido por atitudes que valorizam as regras
hospitalares, a falta de atenção e a baixa empatia por parte dos profissionais.
De acordo com Paulli e Bousso (2003), em estudo na UTIp, a humanização neste setor
é definida pela enfermeira, através da conquista de uma relação sem conflitos entre ela e
os familiares, além de aliviar o estresse do ambiente hospitalar e melhorar a comunicação.
Sendo assim, para uma humanização adequada na UTI, é necessário que se ofereçam ha-
bilidades ás enfermeiras que trabalham com famílias em situações de crise nas diferentes
realidades da prática. Em consequência dessas novas habilidades, essa profissional se
sentirá capaz de oferecer um ambiente sensitivo a fim de reduzir o estresse e o conflito da
família com a equipe.

Humanização como desafio da atenção hospitalar

A rotina diária e complexa que envolve o ambiente da Unidade de Terapia Intensiva


(UTI) faz com que os membros da equipe de enfermagem, na maioria das vezes, esqueçam
de tocar, conversar e ouvir o ser humano que está à sua frente. Apesar do grande esforço
que os enfermeiros possam estar realizando no sentido de humanizar o cuidado em UTI,
esta é uma tarefa difícil, pois demanda atitudes às vezes individuais contra todo um sistema
tecnológico dominante (MAESTRIL et al., 2012).
A UTI é o ambiente ideal para tratamento de pacientes agudos graves recuperados,
porém é um dos ambientes mais agressivos e traumatizantes do hospital. Os fatores nega-
tivos afetam pacientes, familiares e equipe de enfermagem, pois esta convive diariamente
com pacientes graves, pronto- atendimento, isolamento e morte (VILLA; ROSSI, 2010).
É daí que existe a necessidade do acolhimento, e que segundo Villa e Rossi (2010),
acolher se conceitua como: receber, recepcionar, e também aceitar o outro como sujeito de
direitos e desejos, e como corresponsável pela produção da saúde, tanto no ponto de vista
pessoal, quanto no coletivo. Assim, visando este acolhimento aos usuários do Sistema único
de Saúde, o Ministério da Saúde lançou a tão falada PNH (Política Nacional de Humanização).
Silveira et al, 2005, em um estudo em uma Unidade de Terapia Intensiva, confirmam
que uma relação humanizada entre paciente, enfermeiros e a família do assistido é de
extrema relevância, já que influencia na melhora do paciente. Apesar de ter esclarecido
que a admissão de um paciente em uma unidade de terapia intensiva requer uma rápida
intervenção, já que os pacientes que se encontram aí estão em estado grave. Esta forma
de admissão, não permite um contato de imediato com o familiar, tornando assim, a UTI,
um ambiente que predomina a frieza e a atuação desumana e distante.

236 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Maestril et al, 2012 afirmam que o acolhimento expressa uma ação de aproximação,
uma atitude de inclusão que implica, por sua vez, estar em relação com algo ou alguém.
Segundo este autor, é exatamente nesse sentido, de ação de estar com ou estar perto de,
que a PNH afirma o acolhimento como uma das diretrizes de maior relevância do SUS.
Na UTI, segundo Silveira et al, 2005, a humanização é fundamental, não somente com
o paciente, mas também com sua família que se encontra fragilizada e angustiada frente a
possibilidade de morte. Neste setor é de extrema necessidade a percepção do enfermeiro
frente aos sentimentos e emoções presentes, para que possam amenizar a preocupação.
A observação é indispensável para construir uma relação interpessoal com o outro.
Maestril et al, 2002, diante da sobrecarga de trabalho e de emoções, destaca a rele-
vância de reorganizar o cenário de trabalho cujas ações ainda estão centradas no modelo
tecnicista, voltado para a doença e não para o sujeito, e quase exclusivamente para a pes-
soa internada, sem se importar com seu familiar. Se torna um desafio para a enfermagem,
em especial para quem atua em unidades de alta complexidade, como a estudada neste
tópico, a UTI.
Focando na Unidade de Emergência como setor hospitalar de cuidado humanizado,
os artigos lidos e selecionados não retratam muita diferença. Os dois setores são de alta
complexidade, o que exige agilidade e equilíbrio dos profissionais que aí estiverem atuan-
do. Diante deste fato, a humanização em ambos os setores se tona um desafio de extrema
avaliação.
Pai e Lautert (2005) afirmam que as tecnologias avançadas utilizadas no atendimento
a paciente em risco de vida, nas unidades de emergência, não tem garantido uma a quali-
dade da assistência, pois há influência decisiva de fatores relacionados ao objeto e à força
de trabalho neste processo.
Andrade et al, 2009 concorda com o autor acima quando relata que , por seu caráter
de urgência e emergência, os serviços de emergência hospitalar com uma rotina acelerada
de atendimento, tornam-se um ambiente de muita tensão e estresse.
Segundo Pai e Lautert (2005), a tensão é uma característica decisiva nas emergências,
o que não facilita o trabalho da equipe que atua neste ambiente, já que os mesmos já vivem
uma pressão ocasionada pela necessidade do ganho de tempo, pela rapidez e precisão
da intervenção/ atenção, pela elevada demanda de atendimentos e experiências diárias de
morte.
As especificidades deste ambiente induzem os trabalhadores desse serviço a se posi-
cionarem de maneira impessoal, com dificuldade de atuação de forma humanizada. à alta
demanda de atendimento as deficiências estruturais do sistema de saúde como um todo; a
fragmentação do cuidado; a falta de filosofias de trabalho e de ensino voltada para a huma-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 237


nização de maneira efetiva, pelo menos em nossa visão (ANDRADE et al., 2009).
Esta situação desfavorece o paciente que, já se encontram tenso e temeroso, perante
o desconhecido, segundo (Pai; Lautert, 2005). Perante o desconhecido, esses pacientes
terminam se sentindo fragilizados, reagindo, muitas vezes com agressividade.
Tendo em vista a necessidade de intervir na qualidade da assistência, em 2000, o
governo lançou o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH),
que passou a ser denominado Política Nacional de Humanização (PNH) em 2004, com o
desafio de viabilizar os princípios do (SUS) Sistema Único de Saúde. Nesse sentido, um dos
objetivos da PNH foi reestruturar os serviços de EMG, implantando o AACR, que associa
o acolhimento com a classificação de risco, conforme o grau de sofrimento, o potencial de
risco de vida ou agravos à saúde (SHIROMA; PIRES, 2011).
Andrade et al, 2009 citam o cotidiano das emergências, ressaltando que esses são
cada vez mais procurados, no Brasil, o que torna a demanda cada vez maior. Ao conviver
com essa realidade, deparamo-nos com corredores aglomerados de pacientes em macas
sem colchões, sem privacidade, conforto ou segurança, à espera de atendimento e, ainda,
vulneráveis a infecções cruzadas. Nesse ambiente, encontram-se, também, os familiares,
geralmente desinformados quanto aos procedimentos adotados em relação ao paciente e
à própria situação deste.
Segundo Pai; Lautert (2005), diante da perspectiva de Watson, o cuidado, objetivo da
prática da enfermagem, desenvolve-se no encontro com o outro, sendo facilmente reconhe-
cido como uma necessidade nos momentos críticos da existência do ser humano, isto é, o
nascimento, a doença e a morte. Com isso, torna-se um desafio para a enfermagem a cons-
trução de seu fazer, considerando as dimensões- éticas, subjetivas, técnicas e institucionais
- do cuidado e - valores, sentimentos e limites - do ser de cuidado e do ser cuidador, espe-
cialmente quando o cenário laboral é uma unidade de emergência e suas especificidades.
Apesar da real necessidade e da importância do assunto em transformar a assistência
na emergência, de acordo com Shiroma e Pires (2011), a efetivação da mudança proposta
pela política de humanização para a reorganização dos serviços neste ambiente não é algo
tão fácil de ser conseguido. Muitas vezes, vai além dos limites e possibilidades da equipe,
dependendo, também, de vontade política e das mudanças e condições estruturais dos
serviços.
Collet e Rozendo (2003), dizem que humanizar na área de saúde é um processo que
se produz e reproduz nas relações entre usuários e profissionais, tornando-se uma troca.
Troca esta, que repercute na vida pessoal dos profissionais e no seu cotidiano perante o
serviço de saúde.
Diante da relevância da temática humanização, percebemos a falta que faz os estudos

238 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


sobre intervenções que implementem a Política Nacional de Humanização em unidades de
emergência, trazendo especificamente a importância do Programa Permanecer SUS. Con-
siderando que os graduandos que já atuaram e os que ainda atuam serão diferenciados no
mercado de trabalho, é possível afirmar que ocorram mudanças para melhoria da assistência
nesse nível de complexidade. A partir daí encontra-se uma lacuna de conhecimento que
justifica o desenvolvimento da metodologia do seguinte problema: saber o enfrentamento
encontrado à implantação e implementação do Programa Permanecer SUS da SESAB.

Importância da Educação Permanente no Processo de trabalho em saúde

Mendes Gonçalves (1992) retrata a importância das características do trabalhador


para um desenvolvimento eficaz no Processo de trabalho em saúde. A partir deste marco
inicial, o autor desenvolve sua idéia baseada em oito pontos centrais: a) características do
trabalho em saúde; b) diferenciação do trabalho em diversas formas; c) energia exigida
para transformação do campo; d) a necessidade da essência humanizada para a transfor-
mação; e) as necessidades do ser humano; f) a medicina e o ambiente interno e externo;
g) o médico da descoberta da saúde e o dos tempos atuais; h) a importância da prevenção
e recuperação da saúde.
Baseado em seus pontos centrais, Mendes Gonçalves (1992), toma como foco as
seguintes temáticas: relevância da essência “natureza humanizada”; diferenciação dos tra-
balhos em três formas; a forma como a energia é consumida interfere nos resultados; e as
necessidades do ser humano. A partir destes, o autor afirma também que toda a modificação
no processo de trabalho em saúde, depende da atuação do trabalhador e da forma como
ele entende que seu esforço será impactante na sociedade.
Diante da relevante afirmação de Mendes Gonçalves (1992), é possível perceber a
influência da educação permanente para o desenvolvimento do ser humano e de sua di-
ferenciação como trabalhador. Tal afirmativa é reforçada quando Freitag (1986), diz que a
educação é um fator essencial e constitutivo quando é capaz de modificar a natureza do
homem individual em ser social.
Freitag (1986), mostra que o processo educativo é uma troca de equivalentes, onde
o indivíduo e a sociedade se beneficiam. Afirma ainda que as novas gerações tendem a
apresentar maior flexibilidade para assimilar, internalizar, reproduzir os valores, as normas
e as experiências das gerações mais antigas.
Mendes Gonçalves (1992) e Freitag (1988) se consolidam na relação educação no pro-
cesso de trabalho quando o primeiro autor afirma que o indivíduo só contribui na sua função
trabalhista quando se modifica a cada novo aprendizado; o segundo autor consegue ir além
afirmando que a educação é o processo através do qual o egoísmo pessoal é superado e

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 239


transformado em altruísmo.
As diversas formas da educação se continuada vai além das portas da escola, segundo
Freitag (1988), quando afirma que a educação compreendida no sentido mais amplo como
socialização, encontra agentes nas mais variadas formas e instituições, sendo as mais
fundamentais: família, vizinhos, escolas, lugares de trabalho, botecos, partidos, clubes e
sindicatos. Fazendo assim, fortalecidas e reproduzidas, as práticas democráticas.
Segundo Mendes Gonçalves (1992), existem duas idéias gerais e abstratas que en-
caminham à delimitação do conceito de trabalho humano: “energia” e transformação”. Este
autor afirma que, com a energia necessária é possível modificar algo que existia antes em
outro algo.
De acordo com o ponto de vista dos dois autores, é possível perceber a relevância da
educação permanente do processo de trabalho em Saúde, não somente como algo novo a
ser discutido, mas algo que tem um peso histórico e vem sendo refletido.

METODO

Trata-se de uma pesquisa de campo, de abordagem qualitativa, exploratória e descriti-


va. O estudo de campo procura o aprofundamento das questões propostas, e o pesquisador
realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, afirma GIL (2002).
A pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, luga-
res e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada,
procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos
participantes da situação em estudo (GODOY, 1995).
Segundo Gil (2008), um trabalho será de natureza exploratória quando envolver levan-
tamento bibliográfico e entrevista com pessoas que tiveram, ou tem experiências práticas
com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão.
A pesquisa em questão foi realizada na SESAB, no departamento da Diretoria de Gestão
da Educação e do Trabalho na Saúde (DGETS), onde fica alocado o Programa Permanecer
SUS. Este complexo se localiza no Centro Administrativo da Bahia, no município de Salvador.
A população alvo de estudo envolveu os atores responsáveis pela formulação e proces-
so de implantação e implementação do Programa Permanecer SUS, são eles: o Superinten-
dente da SUPERH, Diretor da DGETS, técnicos da gestão da SESAB vinculados a DGETS
que atuaram ou atuam no desenvolvimento do Programa Permanecer SUS e graduandos
bolsistas do Programa Permanecer SUS que já atuaram ou ainda atuam no Programa.
Para a produção de dados adotou-se como instrumento a entrevista semi estruturada
(Apêndice A), com perguntas diretas, que foram respondidas pelos sujeitos da pesquisa. Os
produtos das entrevistas permitiram ao pesquisador descrever categoricamente a perspectiva

240 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de cada grupo de sujeitos da pesquisa separadamente, o que constituiu o corpus para análise
do estudo. As entrevistas foram gravadas, transcritas e sucessivamente realizadas até que
se alcançou a saturação das informações fornecidas por grupos de sujeitos (BARDIN, 2009).
O tratamento dos dados foi sistematizado nas seguintes etapas: gravação das entrevis-
tas, transcrição na íntegra das entrevistas gravadas, leitura superficial que permita adequar
falas conforme eixos categóricos pré-estabelecidos e leitura aprofundada após separação
dos eixos categóricos, de acordo com a matriz do quadro II.
Esta técnica de análise de conteúdo é definida como um conjunto de técnicas de análise
de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens, indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos
às condições de produção/recepção destas mensagens (BARNDIN, 2009).
Após aprovação na Comissão de TCC do CENF/ DCV UNEB CAMPUS I, a pesqui-
sa será cadastrada na Plataforma Brasil e submetida ao Comitê de ÉTICA em Pesquisa
(CEP) da UNEB CAMPUS I. Seguirá as normas da Resolução 466/ 2012 (BRASIL, 2012),
que garante respeito aos princípios bioéticos: respeito ao participante da pesquisa em sua
dignidade e autonomia; ponderação entre riscos e benefícios, tanto conhecidos como poten-
ciais, individuais ou coletivos e garantia de que danos previsíveis serão evitados. Também
atenderá a exigência ética de adotar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
conforme Apêndice B

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A partir da obtenção dos dados, é possível transcrevê-los na íntegra e depois anali-


sá-los conforme as categorias definidas. A amostra estudada foi constituída dos seguintes
sujeitos: Formuladora do Programa Permanecer SUS, Super Intendente, Diretor da DGETS
e Bolsistas do Programa Permanecer SUS.
Conforme as informações dadas pelos sujeitos envolvidos na pesquisa, pode-se consi-
derar dois tipos de categorias de agrupamento: a categoria de eventos favoráveis à implanta-
ção e implementação do Programa Permanecer SUS e a categoria de eventos desfavoráveis
à implantação e implementação deste Programa.
De acordo com a primeira categoria, respectivamente, temos as seguintes afirmativas:
“O programa influência na formação acadêmica do estudante, assim como altera o
perfil da unidade, permitindo que a mesma funcione de forma organizada...” (E9).
Já o (E8) concorda com (E9) e ainda acrescenta “... o programa permite que o estudante
participe de forma ativa e diferenciada na vida do paciente...” Esta fala demonstra o quão
importante o Programa é, tanto para o paciente quanto para o estagiário bolsista.
(E1) Ressalta a relevância do programa e cita: “...O perfil das unidades tem modificado

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 241


constantemente, a cada nova turma do Programa Permanecer, e é de fundamental impor-
tância a influência do Programa na vida acadêmica dos estudantes...”
Segundo (E4) é importante que cada bolsista granduando passe por esse estágio para
que adquira essa experiência ímpar e deslumbrante, além de poder modificar “o tal modelo
de humanização” das unidades.
A fala desse entrevistado, ressalta a relevância da participação, como diz o entrevista-
do acima “...Poder participar deste estágio contribui e contribuirá muito na minha formação
acadêmica. Me fez rever, também, como era a minha participação na vida dos pacientes,
as diferenças positivas que eu causava na vida de cada um deles...” (E2).
“... Me sentia diferenciada e feliz a cada vez que eu sabia que havia participado da
vida dos pacientes, sem avaliar a importância que esse Programa causou em minha vida.
Com toda certeza, hoje, depois de formada, sei que sou bem mais humanizada após o
Permanecer (E5).
“... Influenciou na minha formação acadêmica, na atuação diferenciada da vida do
paciente e aprendi a conquistar uma boa relação com os profissionais, mesmo os mais
fechados...” (E6).
De acordo com (E3) conquistar o espaço do outro e até mesmo o outro, é uma das
características marcantes deste Programa, porém não se pode deixar de citar a mudança
no seu perfil como profissional e como cidadã que o Permanecer causou em sua vida.
A fala da entrevistada seguinte mostra a emoção e comoção que o programa causou
nela “... Chorei diversas vezes ao saber que conseguia resolver os problemas dos pacientes.
Ao fim do estágio percebi a importância que o mesmo causou em minha vida, me via mais
humana e mais capaz de receber o outro...” (E7).
Além dessas afirmações que foram agrupadas na primeira categoria, os entrevistados
relataram fatores que puderam ser agrupados na categoria seguinte: eventos desfavoráveis
á implantação ou implementação do Programa Permanecer SUS.
O entrevistado que formulou o Programa afirma: “... o avanço tecnológico termina se
tornando negativo, muitas vezes, por não permitir que o profissional atue de forma humani-
zada e sim mecânica...” (E9).
Já o Diretor descreve que: “... o Programa passou por desafios administrativos na
capacitação seletiva, e enfrenta até hoje a problemática de pessoas que entendem que
educação só é feita dentro das escolas...” (E1).
Todavia, o entrevistado (E8) aponta outros desafios: “... muitos estagiários relataram
que existia uma enorme resistência profissional em relação a aceitação deles no campo,
em conjunto com a falta da prática de humanização...” (E8).
Os estagiários relatam toda essas informações de forma incisiva:

242 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


“... por muitas vezes me deparei com a resistência profissional e a dificuldade de atu-
ação do campo, o que não me fez desistir, mas me deixava bastante triste...” (E5).
“... além da resistência profissional, me vi muitas vezes, rodeada de pessoas que acha-
vam que eram humanizadas, no entanto não passavam de robôs atuando...” (E3).
A entrevistada a seguir, cita diversos fatores desfavoráveis, porém mostra maior indig-
nação ao falar da resistência profissional, percebida na sua atuação. “... o campo no qual eu
atuava passou por reforma durante meses, o que não facilitava muito a prática do estágio,
mas a resistência profissional era um problema muito mais complicado a se resolver. Nós,
seres humanos, não somos máquinas que quando apresentamos defeitos podemos jogar
fora, ou colocar para consertar e resolve o problema. Mudar o interior de um ser é muito
complexo, cada um traz suas histórias e suas crenças...” (E4).
A estagiária (E2) mostrou também, bastante indignação quanto aos desafios que en-
controu e relatou o seguinte texto: “... muitas vezes, antes de chegar ao estágio, ficava
imaginando quantas pessoas são desumanas e não deveriam estar na área de saúde. Me
questionava por quê tanta resistência em coisas simples que logo poderiam ser resolvidas,
e qual a dificuldade de organizar a assistência para que se tornasse de melhor qualidade...”
“... Minha maior dificuldade foi a resistência profissional...” (E6). Essa entrevistada se
mostrou feliz por ter participado de estágio e disse não ter nenhum outro fator desfavorável
que fosse tão relevante citar a não a resistência profissional. Afirmou isso, porque acha que
a mudança do ser humano é muito mais complexa do que lhe dar com seres inanimados.
“... Tive um desafio enorme que foi mostrar a importância da humanização na unidade
em que estagiei. A resistência profissional era impossível de conduzir, as vezes, mas não
desisti nunca de tentar resolver os problemas que me eram solicitados...” (E7).
Este mesmo entrevistado, ainda afirma “... Não tinha dimensão da relevância deste
programa no momento em que decidi participar da seleção. Graças a Deus que tive essa
oportunidade, e sempre que possível, gostaria de aconselhar os graduandos a participarem
deste estágio. Informando a importância que causa na nossa vida acadêmica, pessoal e
como futuros profissionais” (E7).
A partir das informações citadas e agrupadas nas categorias apresentadas, podemos
sintetizá-las no quadro abaixo da seguinte forma:

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 243


Quadro I. Síntese dos fatores favoráveis e desfavoráveis à implantação e implementação do Programa Permanecer SUS,
por atores:

ATORES

SUPERINTEN-
FORMULADOR DIRETOR BOLSISTA
DENTE
CATEGORIAS-
SUBCATEGORIAS
Influência na
formação acadê- X X X X
mica
Mudança positiva
no perfil da uni- X X X X
FATORES FAVORÁ- dade
VEIS Conquista da
boa relação com X
profissional
Participação dife-
renciada na vida X X X
do paciente
Resistência do
profissional para X X X X
mudanças
A desorganização
X
do campo
A desvantagem
FATORES DESFAVO- do avanço tecno- X
RÁVEIS lógico
A relevância da
educação não
X
ser só dentro da
escola
A falta da prática
X X X
de humanização

Fonte: elaboração própria

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A categoria de fatores favoráveis se inicia sendo contemplada pela fala de um dos en-
trevistados que relata “A influência do Programa Permanecer SUS na formação acadêmica
do estagiário”. Esta fala é contemplada por Freitag (1986), quando afirma que o processo
educativo é uma troca de equivalentes, onde o indivíduo e a sociedade se beneficiam. Afir-
ma ainda que as novas gerações tendem a apresentar maior flexibilidade para assimilar,
internalizar, reproduzir os valores, as normas e as experiências das gerações mais antigas.
Dando continuidade a esta categoria, os entrevistados relatam que o Programa Perma-
necer SUS trouxe como conseqüência mudanças no perfil das unidades onde foi implantado.
Segundo Mendes Gonçalves (1992), existem duas idéias gerais e abstratas que encaminham
à delimitação do conceito de trabalho humano: “energia” e transformação”. Este autor afirma
que, com a energia necessária é possível modificar algo que existia antes e transformar em

244 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


outro algo. Ou seja, a atuação qualificada dos estagiários causou mudanças relevantes e
necessárias nas emergências dos hospitais, fazendo com que o Programa selecionasse
novas turmas a cada ano.
Mendes Gonçalves (1992) afirma também que toda a modificação no processo de tra-
balho em saúde, depende da atuação do trabalhador e da forma como ele entende que seu
esforço será impactante na sociedade. Sendo que esse esforço para uma modificação no
processo de trabalho em saúde, traz como conseqüência uma participação diferenciada na
vida dos pacientes. Essa afirmação é percebida nas falas dos entrevistados quando citam
saber a importância que tiveram na vida dos pacientes e nos entraves científicos.
Como afirmam Barros; Queiroz; Raimundo (2010), que viabilizar a humanização nos
serviços de vai além de produzir saúde apenas voltada para a cura, necessitando de práticas
que visem a satisfação do usuário por um atendimento de qualidade, o acolhimento integral,
permitindo a escuta das dificuldades e a resolutividade.
Para Beck et al (2009), a PNH consegue promover essa melhor atuação, quando
aprimora as relações entre profissionais de saúde e usuário, colocando assim em prática a
humanização.
Além de todos esses fatores favoráveis, os entrevistados ainda citaram a conquista da
relação com os profissionais efetivos dos serviços onde o Programa Permanecer SUS estava
implantado. A conquista desta relação ou até mesmo do espaço é explicada por Backes,
Filho; Lunardi (2005), que falam sobre a organização do trabalho que pode ser vista como
uma forma de aumentar as potencialidades humanas, fazendo produtivos recursos humanos
em fazer as pessoas trabalharem juntas. Dessa forma o autor justifica que humanização
não só contempla a estrutura física, tecnológica, humana e administrativa, mas também
a valorização e o respeito à dignidade da pessoa humana, seja ela paciente, familiar ou o
próprio profissional.
A categoria de fatores desfavoráveis começa a ser descrita pela fala dos entrevistados
que citam que o avanço tecnológico ajuda na cura do paciente, mas termina influenciando
na falta de prática da humanização. Mendes Gonçalves (1992), fala que um dos pontos a
se discutir é a divisão do trabalho, pois cada trabalhador que se individualiza, se faz pela
necessidade histórica de sua peculiar atuação especializada, assim configurando saberes
e ações que lhe são próprios e singulares. Permitindo desta forma, uma reflexão sobre o
desenvolvimento tecnológico e a dinâmica exigida dos profissionais para acompanhar esse
desenvolvimento.
Para Lima et al (2012), quando nos deparamos com o acelerado processo de desen-
volvimento tecnológico na área de saúde, a humanização tende a ficar comprometida, jun-
tamente com a jornada de trabalho e a relevante sobrecarga de trabalho doa profissionais.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 245


Dessa forma, a falta da prática de humanização, que é uma das falas dos entrevistados,
termina sendo justificada por Lima et al (2012) e Collet e Rozendo (2003), que afirmam a
necessidade de avaliar a situação de trabalho desses profissionais e sua jornada trabalhista.
Collet e Rozendo (2003) questionam “como é possível ao trabalhador cuidar de ma-
neira humanizada, se ele próprio não habita em meio humanizado? Essa é uma pergunta
que deve ser refletida e avaliada no âmbito d saúde, e buscando a mesma para o Programa
Permanecer SUS, conseguimos perceber a importância deste para além da fronteira profis-
sional x usuário, alcançando a barreira profissional x profissional.
O processo de humanização no trabalho da enfermagem é uma questão a ser refle-
tida, por conta das diversas situações que os profissionais enfrentam em seu ambiente de
trabalho, como: baixas remunerações, pouca valorização e descaso frente aos problemas
identificados pela equipe (AMOESTOY; SCHWARTZ; THOTEHRN, 2006).
A partir desta afirmação, salientamos a afirmação de Mendes Gonçalves (1992), ao
dizer que o indivíduo em seu ambiente de trabalho necessita aplicar energia suficiente para
modificar o “algo que existia em um novo algo”. O que lhe trará resultados positivos, enalte-
cendo seu trabalho e fazendo- o refletir sobre sua atuação impactante neste meio.
A partir deste questionamento e dessas falas, é possível atribuir mais uma citação dos
entrevistados: a resistência profissional para conhecer o novo. Essa citação consegue ser
contemplada pelos autores acima que citam sobrecarga de trabalho, o avanço tecnológico
que exige um empenho maior dos profissionais e a jornada de trabalho, além da necessi-
dade da educação permanente como afirmam Mendes Gonçalves (1992) e Freitag (1988),
se consolidam na relação educação no processo de trabalho quando o primeiro autor afir-
ma que o indivíduo só contribui na sua função trabalhista quando se modifica a cada novo
aprendizado; o segundo autor consegue ir além afirmando que a educação é o processo
através do qual o egoísmo pessoal é superado e transformado em altruísmo.
O parágrafo acima confirma a necessidade de explanar novos temas para o s pro-
fissionais diversos, principalmente os que são retratados aqui, do âmbito da saúde. Tal
relevância se atribui tanto para a melhoria no processo de trabalho em saúde, quanto para
a realização profissional.
A partir dessa necessidade de uma educação permanente, a fala dos entrevistados
que se refere a não necessidade dessa educação ser sempre nas escolas, é contemplada
por Freitag (1988), que cita, ss diversas formas da educação continuada vai além das portas
da escola, segundo Freitag (1988), quando afirma que a educação compreendida no sentido
mais amplo como socialização, encontra agentes nas mais variadas formas e instituições,
sendo as mais fundamentais: família, vizinhos, escolas, lugares de trabalho, botecos, partidos,
clubes e sindicatos. Fazendo assim, fortalecidas e reproduzidas, as práticas democráticas.

246 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


CONSIDERAÇÕES FINAIS

As implantações e implementações feitas pelo Ministério da Saúde com o intuito de


atender aos princípios do SUS, satisfazem em geral ao conceito da humanização. Assim,
desde a implantação do Programa Permanecer SUS em 2008, é possível perceber, no âmbito
da saúde, uma relevante melhoria. Na produção deste estudo foi possível, também, perceber
a importância da humanização e da implantação deste Programa e as conseqüências posi-
tivas que ele trouxe para as emergências dos hospitais públicos do município de Salvador.
Os atores responsáveis pelo desenvolvimento do Programa demonstram ciência da
necessidade de uma educação permanente para os profissionais de saúde, na tentativa da
melhoria da humanização. É de fácil percepção a importância da educação permanente,
seja dentro ou fora das escolas, principalmente na rotina do trabalhador. Essa educação
continuada permite que o processo em saúde seja modificado a cada dia, e busque uma
melhora centrada no cuidar do paciente.
É relevante, ainda, que se preze por sempre humanizar o prestador de serviço, afim de
evitar o desenvolvimento de um ato mecanicista do cuidar, por conta da sua sobrecarga de
trabalho ou jornada intensa de trabalho. Essa humanização diária do profissional, pode ser
facilitada, também, no momento em que novos assuntos são explanados e compartilhados.
O que permite o momento de reflexão do ser humano, tanto em outros aspectos de vida,
quanto na sua atuação para com o paciente.
Os fatores favoráveis e desfavoráveis, categorizados, permitem uma reflexão das
mudanças que podem ser realizadas para atender as necessidades dos pacientes, maiores
interessados no âmbito da saúde, a partir dos profissionais. A expansão de uma educação
traz como consequência o “efeito cascata”, atinge o estudante, que por sua vez vai atingir
o profissional, que por sua vez vai fazer o bem para o paciente.
Os resultados deste estudo fornecem mais subsídios para discussões e novas investi-
gações voltadas ao Programa Permanecer, afim de um planejamento de mudanças neces-
sárias na educação continuada, para uma reforma centrada na saúde.
A partir da análise conclui-se que é de extrema relevância o ensino aprendizagem em
diversos contextos e níveis de atenção à saúde.

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250 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


19
“ Análise da ocorrência de
incidentes notificados no
ambiente hospitalar de uma
maternidade pública

Wenderson Costa da Silva Thalia Jeovana da Silva Pereira


UniFacema UniFacema

Hálmisson D’Árley Santos Siqueira Karine Costa Melo


UniFacema UniFacema

Alanna Nunes Soares


Chrisllayne Oliveira da Silva
UniFacema
UniFacema

Rafael Andrade da Silva


Pedro Gabriel Sobral da Silva UniFacema
UniFacema

Rogério Cruz Mendes


Eduardo Brito da Silva UniFacema
UniFacema

10.37885/200700641
RESUMO

Introdução: Na última década, o receio com a segurança do cliente nos serviços de


saúde tem-se tornado uma prioridade, aguçando sugestões de políticas internacionais
de saúde e levando aos esforços conjuntos de organizações, profissionais de saúde e
pacientes, a fim de diminuir ou controlar os riscos presentes nos serviços de saúde. Como
seguimento, a meta de qualidade nos diversos serviços oferecidos à sociedade implica
no aprimoramento dos resultados. Objetivo: Determinar a prevalência de incidentes
notificados no ambiente hospitalar de uma maternidade pública. Métodos: Trata-se
de uma pesquisa de análise documental, retrospectiva, do tipo descritiva-exploratória,
com uma abordagem quantitativa, realizada com 166 fichas de incidentes notificados
de uma maternidade pública, localizada no município de Caxias-MA. Resultados: Foi
possível constatar que a maioria dos incidentes foram erros relacionados à identificação do
paciente (22,3%), e nenhum incidente de segurança foi associado à mortalidade. As mães
configuraram como o grupo mais prevalente de casos de incidentes (66,9%), e a fase com
maior acontecimento desses eventos foi durante o período de internação (75,3%). A maior
prevalência de casos notificados se concentrou no período de março de 2018 a fevereiro
de 2019 (68,1%). Conclusão: Os resultados reforçam a necessidade de estratégias, como
de educação permanente da equipe de saúde, capacitação a partir de protocolos e guias
de procedimentos para minimizar seus índices e estimular o monitoramento contínuo e
preenchimento correto das fichas. A gestão hospitalar deve demonstrar apoio aos seus
profissionais, desmistificando que esses incidentes não são um subproduto inevitável da
assistência à saúde, mas passiveis de prevenção, através de uma cultura colaborativa,
sem punição e a valorização dos profissionais que as notificam.

Palavras-chave: Segurança do Paciente; Notificação; Incidentes; Hospital Maternidade.


INTRODUÇÃO

Embora na última década tenha se discutido muito sobre a segurança do paciente, o


pai da medicina Hipócrates, há mais de 2 mil anos propôs que “antes de tudo não causar
dano”, ao cuidar de seus enfermos, e atualmente grande parte dos hospitais fomentam con-
ferências para discutir essa questão. Até poucos anos o erro era considerado um subproduto
inevitável da assistência à saúde ou fragmentos indesejáveis de maus provedores do cuidado
(WACHTER, 2013). A proposição segurança do paciente vem crescentemente sendo disse-
minada dentro das instituições de ensino e de saúde, no que se refere a busca incessante
pela qualidade da assistência e a ocorrência do menor número possível de falhas em saúde
(LORENZINI; SANTI; BÁO, 2014).
São crescentes as determinações para a promoção da segurança e da qualidade na
assistência à saúde em âmbito internacional, com o comprometimento da alta direção das
instituições até seus colaboradores. Como seguimento, a meta de qualidade nos diversos
serviços oferecidos à sociedade implica no aprimoramento dos resultados. A complexidade
dos serviços de saúde e o avanço tecnológico tem sido atribuído a riscos adicionais na pres-
tação do cuidado, todavia, planos estratégicos simples e efetivos podem prevenir e reduzir
riscos e danos nestes serviços (OLIVEIRA et al., 2014).
De acordo com a Classificação Internacional de Segurança do Paciente (CISP) da
Organização Mundial da Saúde (OMS), um incidente é um evento ou situação que poderia
ter causado, ou causou, um dano desnecessário ao cliente. Classificam-se em: Circunstân-
cia Notificável - Incidente com potencial dano ou lesão; Near miss (quase erro) - Incidente
que não chegou a afetar o paciente; Incidente sem lesão - Incidente que atingiu o paciente,
mas não resultou danos; e Evento Adverso (EA) - Incidente que causou danos ao paciente
(WHO, 2009).
Estudos contabilizam que a ocorrência de incidentes associados à assistência à saúde
atinja de 4,0% a 16% de pacientes hospitalizados em países desenvolvidos, o que impactou
sistemas de saúde de diversos países a melhorar a segurança do cliente frente aos serviços
de saúde (BRASIL, 2017). Estima-se que em todo o mundo aconteçam todo ano 43 milhões
de EA, provocando 23 milhões de anos de vida perdidos por incapacidade (ADHIKARI, 2013).
No Brasil, estudo realizado em três hospitais do Rio de Janeiro a incidência de pacientes
com EA foi de 7,6% (84 de 1103 pacientes) (MENDES et al., 2009).
No Brasil, a portaria nº 529 de 1º de abril de 2013 institui o Programa Nacional de Se-
gurança do Paciente (PNSP). Entre os objetivos destaca-se: promover e apoiar a introdução
de ações voltadas à segurança do paciente em diversos setores de atenção, sistematização
e gestão de serviços de saúde, por meio da inserção da gestão de risco e de núcleos de
segurança do paciente nas instituições de saúde (BRASIL, 2013).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 253


Os fatores que contribuem são circunstanciais, ações ou influências que operam papel
na origem ou no desenvolvimento de um incidente, como: não seguir um protocolo da insti-
tuição, imperícia do profissional que cuida, ausência de comunicação entre os profissionais
e dessa com o cliente, entre outros (SOUSA; MENDES, 2014). De acordo com Fassini e
Hahn (2012), cabe aos profissionais detectar os riscos, garantir a segurança dos pacientes,
bem como, evitar ou diminuir as intercorrências durante sua estadia na instituição
Por se tratar de um problema de alta incidência, verificou-se a importância de pesqui-
sar a ocorrência de EA durante a assistência à saúde, tendo em vista que a subnotificação
prejudica a identificação das possíveis falhas existentes no processo. Dessa forma, conhecer
e avaliar a cultura de segurança institucional possibilita discernir as possíveis fragilidades e
suas potencialidades, bem como sensibilizar a equipe de saúde sobre essa temática, permi-
tindo a execução de um diagnóstico amplo do ambiente de trabalho, a partir da percepção da
própria equipe envolvida no processo, identificando as possíveis áreas de melhorias, tendo
em vista a realizar um levantamento dos eventos, para o apropriado planejamento de uma
assistência mais eficaz e segura.
Com base no exposto, traçou-se a seguinte problemática: quais os incidentes ou eventos
adversos mais recorrentes notificados no ambiente hospitalar de uma maternidade?
O objetivo geral dessa pesquisa foi determinar a prevalência de incidentes notificados
no ambiente hospitalar de uma maternidade pública. Especificamente, objetivou-se: identificar
os incidentes mais comuns notificados no ambiente hospitalar da maternidade; determinar
o perfil dos pacientes que sofrem eventos adversos; e identificar a fase da assistência em
que ocorrem os maiores números de casos de incidentes notificados.

MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma pesquisa de análise documental, retrospectiva, do


tipo descritiva-exploratória, com uma abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada em
uma maternidade pública, localizada no município de Caxias-MA. A escolha dessa institui-
ção deveu-se ao fato de ser a única instituição municipal atual hospitalar pública há aderir
ao Programa de Segurança do Paciente (PSP) com um Núcleo de Segurança do Paciente
(NSP) implantado.
O universo do estudo foi composto pelas fichas de notificações de incidentes do núcleo
de segurança do paciente da maternidade em que a pesquisa foi realizada. A coleta de dados
na instituição resultou em um total de 166 fichas de incidentes notificados.
Foram incluídas no estudo todas as fichas de incidentes registrados devidamente
preenchidas e armazenadas, em perfeitas condições, datadas entre o período de março
de 2017 a março de 2019, totalizando 2 anos. Foram excluídos da amostra os documentos

254 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


com problemas no conteúdo, escrita ilegível, rasuras ou por estarem danificados, e a credi-
bilidade das informações neles contidos (se não continham omissões, erros ou distorções),
além daquelas fora do recorte temporal.
O critério que levou à determinação do recorte temporal foi o fato de que o núcleo de
segurança do paciente foi criado em março de 2017, momento quando os casos de incidentes
e eventos adversos passaram a ser notificados.
Os dados da pesquisa foram coletados das fichas de notificações do núcleo de segu-
rança da maternidade, no período de abril e maio de 2019. A ficha de notificação apresenta
as categorias de incidentes relacionados a assistência à saúde, além da opção “outros”. Ao
preencher o documento, é opcional a identificação tanto do paciente como do profissional,
por conseguinte pode ser depositado em uma urna.
A informações dos documentos foram extraídas através de um instrumento de coleta
de dados, contendo questões relativas ao tema do estudo, como: dados sociodemográficos;
data de internação, de notificação e do evento adverso; identificação dos incidentes; fase
da assistência que ocorreu a notificação (admissão, internação e alta); a descrição desses
eventos; as medidas imediatas após o evento; e a categoria profissional que os notificaram.
A análise dos resultados obtidos foi processada por intermédio de cálculos estatísti-
cos, colocados em números absolutos e percentuais, da forma que melhor demonstrasse
a quantidade amostral. Os dados foram armazenados em planilha do programa Microsoft
Office Excel for Windows 2016 e dispostos em tabelas e gráfico de análise descritiva.
O Projeto de pesquisa foi apreciado e devidamente aprovado pela Secretaria Municipal
de Saúde de Caxias – MA. Em seguida, foi submetido à Plataforma Brasil e direcionado ao
Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Ciências e Tecnologia do Maranhão
(CEP/UniFacema). E aprovado com Nº de CAAE 09545019.5.0000.8007. O desenvolvi-
mento do estudo seguiu todos os procedimentos éticos de pesquisa, pleiteando as técnicas
adequadas descritas na literatura para o cumprimento dos preceitos éticos relacionados à
pesquisa com documentos, estabelecidos pela resolução 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS).
Assim sendo, a coleta de dados desse estudo somente foi realizada após ter sido
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

RESULTADOS

A coleta de dados na instituição resultou de um total de 166 fichas de notificações de


incidentes. Quanto ao perfil dos pacientes identificados, a tabela 1 mostra a caracterização
sociodemográfica dos pacientes que sofreram esses eventos. O grupo com maior número
de casos notificados foram as mães, correspondente a 111 (66,9%), sendo 32 (28,8%) delas

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 255


com faixa etária entre 21 a 30 anos. Já os recém-nascidos foram 38 (22,9%) notificações,
sendo que 17 (44,7%) deles eram do sexo feminino e 25 (65,8%) com faixa etária entre um
a sete dias de nascido.

Tabela 1. Número e percentual de pacientes envolvidos em incidentes segundo a caracterização sociodemográficas.


Caxias, MA, Brasil, 2019. (n=166).

Variáveis N %
Grupo/População

Mães 111 66,9


Recém-nascidos 38 22,9
Não identificados 17 10,2
Total 166 100,0
Faixa etária das mães
10 |- 20 anos 23 20,7
21 |- 30 anos 32 28,8
31 – 40 anos 25 22,5
41 |-| 50 anos 4 3,7
Ignorado 27 24,3
Total 111 100,0
Sexo dos Recém-nascidos
Feminino 17 44,7
Masculino 10 26,3
Ignorado 11 29,0
Total 38 100,0
Faixa etária dos Recém-nascidos
1 |– 7 dias 25 65,8
8 |– 14 dias - -
15 |– 21 dias 3 7,9
22 |– 28 dias 1 2,6
Acima de 29 dias 4 10,6
Ignorado 5 13,1
Total 38 100,0

Legenda: N=número; %=percentual.


Fonte: Pesquisa direta, 2019.

Dentre as variáveis analisadas na tabela 2, os erros de identificação do paciente foram


os eventos mais relatados pelos profissionais, correspondendo a 37 (22.3%) do total levan-
tado. Em seguida, outros eventos foram os mais notificados pelos profissionais; estes outros
referiam-se a: omissão (16,9%), quedas em pacientes (10,8%), falta de material médico
hospitalar (8,4%) e flebite (6,6%). Em relação à omissão ao paciente, 60,7% ocorreram por
omissão de dose e 39,3% por omissão de cuidado.
A fase mais prevalente dos acontecimentos dos eventos notificados foi durante o período

256 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de internação (75,3%). Em relação aos setores responsáveis pela análise das ocorrências,
apresentaram maior número de notificações a clínica obstétrica (45,8%), seguida do pré-parto
(19,3%) e a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) (15,1%). Em 62% dos casos, o
turno de maior ocorrência foi ignorado nos registros das fichas. Assim como em 53,0% dos
registros a categoria responsável pela notificação foi ignorada.

Tabela 2. Número e percentual de incidentes, segundo as características, fase da assistência, setor, turno e categoria
profissional. Caxias, MA, Brasil, 2019 (n=166).

Variáveis N %
Incidentes
Erros relacionados a identificação do paciente 37 22,3
Omissão 28 16,9
Quedas em paciente 18 10,8
Falta de material médico hospitalar 14 8,4
Flebite 11 6,6
Evasão de pacientes 9 5,4
Quase Evento 8 4,9
Reações adversas a medicação 6 3,6
Farmacovigilância (medicamentos e saneantes) 5 3,0
Falha a assistência à saúde 5 3,0
Lesão por pressão 5 3,0
Risco relacionado ao ambiente 4 2,4
Extubação Acidental 4 2,4
Sofrimento (físico, social ou psicológico) 3 1,8
Remoção não programada de cateter, sonda, dreno, tubo, etc. 3 1,8
Medicação com desvio de qualidade 2 1,2
Tecnovigilância (material médico hospitalar/equipamento defeituoso 2 1,2
Erro relacionado ao procedimento cirúrgico 1 0,6
Erro relacionado à transfusão de hemoderivado 1 0,6
Total 166 100,0
Omissão
Omissão de dose 17 60,7
Omissão de cuidado 11 39,3
Total 28 100,0
Fase da Assistência
Admissão 21 12,7
Internação 125 75,3
Alta 3 1,8
Ignorado 17 10,2
Total 166 100,0
Setor
Clínica Obstétrica 76 45,8
Pré-parto 32 19,3

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 257


Unidade de Terapia Intensiva Neonatal 25 15,1
Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional 6 3,6
Classificação de risco 3 1,8
Sala de Recuperação Pós-Anestésica 3 1,8
Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru 3 1,8
Alojamento conjunto 2 1,2
Centro Cirúrgico 2 1,2
Ignorado 15 9,0
Total 166 100,0
Turno
Manhã 30 18,1
Tarde 22 13,3
Noite 11 6,6
Ignorado 103 62,0
Total 166 100,0
Categoria profissional
Enfermagem 77 46,4
Médico - -
Nutricionista - -
Fisioterapeuta - -
Psicólogo - -
Assistente social - -
Técnico em enfermagem 1 0,6
Auxiliar em enfermagem - -
Ignorado 88 53,0
Total 166 100,0
Legenda: N=número; %=percentual.
Fonte: pesquisa direta, 2019.

Quanto aos Incidentes maternos e os setores de ocorrência, os erros relacionados a


identificação da paciente (27%) apresentaram um maior percentual, seguido por omissão
(20,7%) e quedas (15,3%). Entre os setores destacam-se a clínica obstétrica (62,1%) e o
pré-parto (28,8%), conforme demonstrado na tabela 3.

Tabela 3. Número e percentual dos Incidentes segundo a ocorrência com as mães. Caxias, MA, Brasil, 2019. (n=111).

Variáveis N %
Incidentes
Erros relacionados a identificação da paciente 30 27,0
Omissão 23 20,7
Quedas em pacientes 17 15,3
Evasão de pacientes 8 7,2
Quase evento 6 5,4
Falha a assistência à saúde 5 4,5

258 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Flebite 4 3,6
Reações adversas a medicação 4 3,6
Sofrimento (físico, social ou psicológico) 3 2,7
Falta de material médico hospitalar 3 2,7
Remoção não programada de cateter, sonda, dreno, tubo, etc. 2 1,8
Tecnovigilância (material médico hospitalar/equipamento defeituoso 1 0,9
Riscos relacionados ao ambiente 1 0,9
Famarcovigilância (medicamentos e seneantes) 1 0,9
Lesão por pressão 1 0,9
Erro relacionado ao procedimento cirúrgico 1 0,9
Erro relacionado à transfusão de hemoderivado 1 0,9
Total 111 100,0
Setor
Clínica Obstétrica 69 62,1
Pré-parto 32 28,8
Classificação de risco 3 2,7
Sala de Recuperação Pós-Anestésica 3 2,7
Alojamento conjunto 2 1,8
Centro Cirúrgico 2 1,8
Total 111 100,0
Legenda: N=número; %=percentual.
Fonte: pesquisa direta, 2019.

Entre os incidentes analisados com os RN e os setores de ocorrência, a tabela 4 ex-


plana os que mais ocorreram, sendo eles os erros relacionados a identificação dos RN e
flebite com 18,4% cada, e omissão (13,2%). As notificações dos eventos lesão por pressão,
extubação acidental e a falta de material médico hospitalar obtiveram o mesmo percentual
de ocorrência, com 10,5% cada. E o setor com maior número de casos notificados foi a
UTIN (65,8%).

Tabela 4. Número e percentual dos Incidentes segundo a ocorrência com os recém-nascidos. Caxias, MA, Brasil, 2019.
(n=38).

Variáveis N %
Incidentes no recém-nascido
Erros relacionados a identificação do paciente 7 18,4
Flebite 7 18,4
Omissão 5 13,2
Lesão por pressão 4 10,5
Extubação Acidental 4 10,5
Falta de material médico hospitalar 4 10,5
Quase evento 2 5,3
Reações adversas à medicação 2 5,3

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 259


Quedas em paciente 1 2,6
Evasão de pacientes 1 2,6
Remoção não programada de cateter, sonda, dreno, tubo, etc. 1 2,6
Total 38 100,0
Setor
Clínica Obstétrica 4 10,5
Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru 3 7,9
Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional 6 15,8
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal 25 65,8
Total 38 100,0
Legenda: N=número; %=percentual.
Fonte: pesquisa direta, 2019.

A tabela 5 apresenta os meses e anos em que ocorreram incidentes notificados no


ambiente hospitalar da maternidade. O ano com maior prevalência de casos notificados foi
o de 2018 (63,3%); o mês mais prevalente foi o de maio (19,0%) e o com menor ocorrência
foi o de setembro (3,8%). Todavia, no ano de 2017, o núcleo de segurança do paciente foi
implantado somente em março, quando oficialmente as notificações já poderiam ser re-
gistradas; e o ano de 2019 ainda não havia sido foi concluído; dessa forma, estima-se um
aumento em sua prevalência.

Tabela 5. Distribuição dos meses e anos em que ocorreram incidentes e eventos adversos notificados na maternidade.
Caxias, MA, Brasil, 2019 (n=166).

Ano de ocorrência
Mês de ocorrência 2017 2018 2019 Total
N % N % N % N %
Janeiro - - 8 7,6 8 36,4 16 9,6
Fevereiro - - 6 5,7 14 63,6 15 12,0
Março - - - - - - - -
Abril - - 8 7,6 - - 8 4,8
Maio - - 20 19,0 - - 20 12,0
Junho 3 7,7 6 5,7 - - 9 5,4
Julho 6 15,4 14 13,3 - - 20 12,0
Agosto 8 20,5 9 8,6 - - 17 10,2
Setembro 1 2,6 4 3,8 - - 5 3,0
Outubro 7 17,9 8 7,6 - - 15 9,0
Novembro 10 25,6 11 10,5 - - 21 12,7
Dezembro 4 10,3 11 10,5 - - 15 9,0
Total 39 23,5 105 63,3 22 13,3 166 100,0
Legenda: N=número; %=percentual.
Fonte: Pesquisa direta, 2019.

260 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


O gráfico 1 mostra o crescimento de incidentes notificados que ocorreram nos anos de
2017 e 2018, entre os meses de março a dezembro de ambos os anos. Foi possível constatar
um aumento no número de notificações, onde em 2017 foi de 39 (30%) e em 2018 de 91
(70%). Houve um aumento de 40% das notificações só em 2018, comparado ao ano de 2017.

Gráfico 1. Distribuição do percentual de incidentes e eventos entre os meses de março a dezembro do ano de 2017 e
2018. Caxias, MA, Brasil, 2019 (n=130).

Fonte: Pesquisa direta, 2019.

Em relação à prevalência dos casos notificados que ocorreram nos últimos dois anos,
observou-se que o número de notificações aumentou com o decorrer dos anos, sendo de
31,9% no primeiro ano de março de 2017 a fevereiro de 2018, para 68,10% do período de
março de 2018 a fevereiro de 2019. Assim, houve um aumento de 36,2% de casos notifica-
dos no período de um ano, conforme observado na tabela 6.

Tabela 6. Prevalência de incidentes que aconteceram nos últimos 2 anos da amostra estudada. Caxias, MA, Brasil, 2019
(n=166).

Ano de ocorrência
Mês de ocorrência 2017-2018 2018-2019 Total
N % N % N %
Março - - - - - -
Abril - - 8 7,1 8 4,8
Maio - - 20 17,7 20 12,0
Junho 3 5,7 6 5,3 9 5,4
Julho 6 11,3 14 12,4 20 12,0
Agosto 8 15,1 9 8,0 17 10,2
Setembro 1 1,9 4 3,5 5 3,0
Outubro 7 13,2 8 7,1 15 9,0
Novembro 10 18,9 11 9,7 21 12,7
Dezembro 4 7,5 11 9,7 15 9,0
Janeiro 8 15,1 8 7,1 16 9,6
Fevereiro 6 11,3 14 12,4 20 12,0

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 261


Total 53 31,9 113 68,1 166 100,0

Legenda: N=número; %=percentual.


Fonte: Pesquisa direta, 2019.

DISCUSSÃO

A coleta de dados na instituição resultou num total de 166 fichas de incidentes notifica-
dos. Com isso, pode-se avaliar o número de notificações de acordo com o tipo de evento le-
vantado durante todo o período analisado. Foi possível constatar que a maioria dos incidentes
foram os erros relacionados à identificação do paciente, e nenhum incidente de segurança
foi associado à mortalidade. O grupo mais prevalente foi o das mães, e a fase com maior
acontecimento desses eventos foi durante o período de internação. A maior prevalência de
casos notificados se concentrou no período de março de 2018 a fevereiro de 2019.
No que tange às fichas analisadas neste estudo, a maioria dos eventos identificados
concentrou-se as mães com faixa etária de 20 a 30 anos. Os achados relacionados às ca-
racterísticas sociodemográficas desta pesquisa corroboram com outros estudos similares.
No estudo realizado por Oliveira (2018), com prontuários em maternidades do estado de
Alagoas, também houve um maior número de casos nesta faixa etária de idade. Esses dados
apresentam similaridades nos achados de Morse et al. (2011).
A literatura Internacional na área também revela essa prevalência. O estudo de Adeoye,
Onayade e Fatusi (2013), conduzido nas maternidades de Hospitais Universitários da Ni-
géria, evidenciou que 41% dos incidentes ocorreram na faixa etária de 20 a 29 anos. Em
Cuba, o estudo conduzido por Furones Mourelle et al. (2015) e em Moçambique por David
et al. (2014), apresentaram resultados semelhantes. Entretanto, esta pesquisa trata-se de
um estudo com delineamento transversal; assim, não foi possível definir uma relação de
causalidade. No entanto, no estudo de Oliveira (2018), as variáveis etnia, trabalho, presença
de companheiro e admissão antes de 37 semanas influenciaram de forma significativa a
ocorrência de EA em gestantes.
No tocante aos incidentes que mais ocorreram com os RN e mães, os resultados
mostram que grande parte das falhas ocorreram durante a identificação do paciente; com
as mães foi seguido de omissão e quedas. No entanto, a literatura cientifica brasileira tem
reportado que os principais incidentes estão associados à cadeia medicamentosa, como no
estudo de Munhoz et al. (2018), realizado em um hospital universitário de grande porte do
Rio Grande do Sul, onde consta que 63.6% estava associado a medicamentos. Resultados
semelhantes ao de Souza, Alvez e Alencar (2018) (29,6%) na cidade de Petrolina, Figuei-
redo et al. (2018) (18,9%) em Montes Claros - Minas Gerais e Silva et al. (2014) (63%) no

262 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Sul de Minas Gerais.
A incorreta identificação do paciente é um problema reconhecido mundialmente e uma
fonte de erros durante a assistência à saúde, principalmente as falhas de medicação, como
observado nos registros das fichas, cujos efeitos são desastrosos ao cliente, profissional e
a instituição de saúde. A pesquisa de Tase, Quadrado e Tronchin (2014), realizada em uma
maternidade, constatou que as gestantes admitidas na unidade obstétrica partilham riscos
para as falhas na identificação, resultantes da semelhança ou grafia idêntica ou na pronun-
ciação de nome ou sobrenome, em conformidade da similaridade do som. Nesse sentido,
reitera-se a indispensabilidade do emprego de outros identificadores.
Além da grafia idêntica ou similaridade do som, de acordo com Tase et al. (2013), os
fatores que contribuem para falhas na identificação são a troca de dígitos no número do
registro do hospital, o uso de etiquetas incorretas ou com dados imprecisos, incompletos
e incompreensíveis. E a prática de identificação das pulseiras do cliente acaba não sendo
realizada, principalmente dos pacientes com extenso período de internação. Segundo Souza
et al. (2014), o maior problema na identificação do paciente vem de cunho institucional, no
qual a ausência de suporte adequado para a identificação correta do paciente na instituição
provoca esses erros. Podem ser citados a ausência de pulseiras de identificação, espaço
físico reduzido, ausência de placa de identificação nos leitos, etc.
No que se refere à omissão ao paciente, 60,7% foram relacionados à omissão de
dose, por adiamento, erro de prescrição médica ou o medicamento não estava disponível
na instituição. Quanto à omissão de cuidados, como a não realização de teste glicemia,
ausência da verificação de sinais vitais, assistência negada, Sistematização da Assistência
de Enfermagem (SAE) não realizada, entre outros, ocorreram em 39,3% dos casos.
De acordo com Anacleto et al. (2010), as falhas de comunicação são fatores importan-
tes de falhas de medicação. As instituições de saúde precisam promover a diminuição das
barreiras de comunicação entre a equipe de saúde, como por exemplo, padronizando formas
de prescrição e demais informações sobre medicamentos, para evitar erros de interpretação.
Segundo a OMS (2017), os erros de medicação provocam pelo menos uma morte dia-
riamente e acometem cerca de 1,3 milhão de pacientes todos os anos apenas nos Estados
Unidos. Globalmente, os gastos associados a falhas de medicação foram estimados em 42
bilhões de dólares a cada ano, representando quase 1% do total das despesas de saúde
global. No estudo de Paranaguá et al. (2014a), evidenciou-se que as causas associadas à
ocorrência de erros de medicação acentuam-se intervenção cirúrgica, período de internação
hospitalar igual ou maior que quatro dias e a prescrição diária de três ou mais medicamentos.
Já os fatores que influenciam a omissão dos cuidados de enfermagem, de acordo com
Valles et al. (2016), são atribuídos especialmente a fatores de recursos humanos, materiais e

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 263


de comunicação, em que os recursos humanos é o fator mais relevante para a administração
de enfermagem no sentido de criar medidas de gestão que permitam consolidar os recursos
humanos dentro das instituições de saúde, com a quantidade e competências especificas
para dispensar uma atenção contínua, de acordo com as necessidades dos clientes, e evitar
o cuidado omitido e o seu impacto nos resultados da atenção.
Esses resultados podem indicar falhas na prescrição, no cuidado ou na gestão da ins-
tituição, relacionadas à previsão e à provisão de medicamentos, além do dimensionamento
insuficiente dos profissionais para atender as necessidades dos pacientes hospitalizados.
No que concerne a quedas em pacientes que ocorreram em 10,8% dos casos noti-
ficados, segundo Sousa (2014), são incidentes que continuam a acontecer com enorme
frequência. Esta é uma realidade que deve ser considerada como um problema de gestão,
e não do cliente, o qual precisa ser gerenciado. O estudo identificou que o índice de quedas
em hospitais de Belo Horizonte foi de 7,2 quedas por 1.000 pacientes hospitalizados. As-
sim, Pasa et al. (2017), escrevem que utilizar ferramentas específicas na identificação de
indivíduos com maior suscetibilidade de cair pode ser uma aliada na prevenção do incidente.
De acordo Almeida et al. (2010), a prevenção de quedas deverá passar por uma rigorosa
avaliação individual do risco, logo no momento da admissão do paciente na instituição. Frente
a esse mesmo risco deverão ser empregadas guidelines que objetivem a sua minimização
ou o controle dos fatores precipitantes. Enfim, terá que ser conduzida uma monitorização
contínua ao longo da internação, notificando e identificando a ocorrência desse incidente, o
aparecimento de novas condições de risco, de forma a adequar e/ou refazer as intervenções
planeadas.
Em relação à falta de material médico hospitalar, foi observado em 8,4% dos eventos
deste estudo. Resultados próximos ao de Paranaguá et al. (2014b), em que 13,8% dos
incidentes estavam relacionados à previsão e provisão de materiais, como a deficiência na
reposição e manutenção tanto de materiais como de equipamentos.
Para assegurar atendimento de qualidade à população, é imprescindível melhor ge-
renciamento na aquisição de insumos, reduzir a falta de alguns e evitar o vencimento de
outros. A necessidade de diminuir o desperdício de materiais de consumo médico-hospitalar.
Compreende-se que uma gestão ineficaz prejudica o desempenho assistencial. Sendo as-
sim, para o sucesso da gestão do processo de abastecimento, é essencial o planejamento,
comunicação eficiente e supervisão contínua (RAIMUNDO; DIAS; GUERRA, 2014).
Quanto ao setor de maior ocorrência de incidentes com as mães, destacam-se a clí-
nica obstétrica e o pré-parto. Segundo Silva et al. (2014), analisar os setores de maiores
ocorrências de notificação de EA torna-se importante por mostrar a gestão hospitalar, os
principais setores que precisam de melhorias assistenciais, através de planos e estratégias

264 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de qualidade de trabalho.
Com relação aos recém-nascidos (RN) do estudo, um total de 38 (22,8%) foi identifica-
do, no qual houve prevalência do sexo feminino; resultados próximos ao de Figueiredo et al.
(2018), em que 30,3% eram recém-nascidos. Boa parte dos incidentes com os RN ocorreram
na UTIN. De acordo com Brasil (2019), a UTIN é um cenário assistencial difícil, com alto
risco aos RN, pela variedade e características dos procedimentos executados pela equipe
de saúde. Além de ser um local bastante estressante, no qual decisões devem ser tomadas
apressadamente e podem significar a sobrevivência do paciente. Além desses fatores, cer-
tamente encontrou-se outros agravantes específicos, como longos períodos de internação.
Segundo Novaretti et al. (2014), alguns fatores são essenciais para colaborar a ocor-
rência de falhas nesses locais, como a complexidade dos casos, a necessidade de medidas
de alto risco de forma rápida, a ausência de informações antecipadas sobre a saúde dos
pacientes, a variabilidade de capacitação dos profissionais de enfermagem e médicos que
atuam nessa área, realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos em frequência
muito elevada, quando comparada a outros setores, e a utilização de um arsenal de me-
dicamentos muito mais complexo em função da maior gravidade do quadro clínico inicial.
No que se refere às falhas que ocorreram com os RN, além da identificação incorreta,
foram encontrados outros incidentes mais frequentes, como flebite, omissão, LPP e extu-
bação acidental. O que diverge do estudo de Lanzillotti et al. (2015); e os 19 estudos inclu-
ídos na revisão sistemática conduzida pelos autores, evidenciaram que os incidentes com
medicamentos como os mais comuns, sendo o grupo mais atingido, os mais vulneráveis:
os RN pré-termo e de baixo peso. Corroborando com os resultados de Hoffmeister, Moura
e Macedo (2019), realizado na cidade de Porto Alegre, onde os principais EA identificados
foram com medicamentos (44,4%) e maior parte dos RN estudados, eram prematuros, nas-
cidos de parto cesariano e possuindo peso ao nascimento inferior a 2500 gramas. Morse et
al. (2011), apresentou resultados semelhantes.
Neste contexto, deve-se priorizar medidas já recomendadas pela OMS para os pacientes
em geral, como: identificação segura, higiene das mãos e prevenção de IRAS, prevenção
e notificação de EA (flebites, quedas, LPP, extubações não programadas, entre outros),
introdução de programas de calibração e manutenção de equipamentos, prevenção de er-
ros de medicação e comunicação efetiva, além da prevenção de outros riscos do cuidado
neonatal (BRASIL, 2019).
A fase da assistência em que mais ocorreram incidentes e EA foi durante a internação
(75,5%). Esse resultado encontra-se em conformidade com estudos prévios, como nos
achados Mendes et al. (2013) realizado em hospitais do Rio de Janeiro (86,2%), Lorenzini,
Santi e Báo (2014) (64,8%) no Sul do Brasil, Figueiredo et al. (2018) (21%) e Göttems et al.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 265


(2016) (11%) no Distrito Federal.
De acordo com Oliveira et al. (2014), no ambiente hospitalar os pacientes estão expos-
tos a riscos de assistência, físicos, clínicos e institucionais. Esses riscos devem ser alvo de
alerta. Essa identificação dos riscos entre a equipe, pode ser considerada a primeira estra-
tégia para a consolidação da cultura de segurança na instituição; dessa forma, evitando-se
a ocorrência de EA evitáveis durante a fase de internação.
Quanto o turno de maior acontecimento de EA, 62% dos profissionais que notificaram
ignoraram esta variável. No entanto, a literatura cientifica tem mostrado o turno em que mais
aconteceram esses eventos, como no estudo de Lima e Barbosa (2015), no qual o turno de
trabalho com maior número de casos notificados foi o noturno (39%), resultado próximo ao
de Figueiredo et al. (2018) (36,8%) e Silva et al. (2014) (40,2%).
De acordo com Silva et al. (2014), os profissionais de enfermagem que atuam em
mais de um emprego por dia encontram-se em condições que podem facilitar para que os
erros sejam acometidos, especialmente, no período da noite. Esses profissionais carregam
posturas cansadas para o desenvolvimento do trabalho e terminam cometendo erros pela
ausência de descanso e atenção.
A notificação nas fichas da instituição era de forma voluntária e anônima, uma vez que
não é necessária autenticação para a equipe do hospital. Embora em 53% das notificações
tenha sido ignorada a categoria profissional, a enfermagem foi a única categoria profissional
que se identificou, pois 46,4% eram enfermeiros e apenas 01 (0,6%) era técnico de enfer-
magem. Esse achado se correlaciona com estudo de Göttems et al. (2016), realizado em um
hospital público de grande porte do Distrito Federal, onde em 60,8% dos casos analisados
não houve registro da categoria profissional responsável pela notificação, e quando avaliada
a categoria, a enfermagem foi a que mais se identificou.
A literatura científica tem reportado que os profissionais de enfermagem são respon-
sáveis pela maioria das notificações. Como no estudo de Souza, Alves e Alencar (2018),
onde observaram que 78% das notificações foram realizadas por enfermeiros. Resultado
semelhante ao de Ramos e Zuniga (2018), em um estudo conduzido na Argentina, tendo
40.7% das notificações sido realizadas por essa categoria profissional e 52.7% em um hos-
pital acadêmico terciário localizado no nordeste da Itália do estudo de Tricarico et al. (2017).
Entretanto, a enfermagem é a classe profissional que mais passa tempo com os pa-
cientes, prestando cuidados e os acompanhando de perto. Nesse sentido, essa categoria
está sujeita a cometer mais falhas ou detectar mais incidentes relacionados à assistência à
saúde. Apesar da existência de represálias que criam sentimentos negativos e ocasionam
subnotificações, o estudo de Claro et al. (2011), evidenciou que a maioria dos enfermeiros
(74,3%) revelou sentir-se seguro, muito seguro e totalmente seguro para notificar um EA.

266 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Dessa forma, contribuindo para a cultura de segurança na instituição.
Já quanto à prevalência de incidentes notificados que ocorreram nos últimos dois anos,
observou-se que o número de notificações aumentou com o decorrer dos anos, e houve um
aumento de 36,2% de casos notificados no período de um ano. Corroborando com o estudo
de Lorenzini, Santi e Báo (2014), o crescimento do número total de casos notificados mos-
trou-se presente nas comparações no decorrer dos anos, havendo um crescimento médio
entre 2008 a 2012 de 25,2%. Figueiredo et al. (2018) apresentou resultados semelhantes.
Entretanto, acredita-se que apesar da evolução temporal das notificações, há existên-
cia da subnotificação, pelo fato da notificação ocorrer de forma espontânea e voluntária.
De acordo com Paranaguá et al. (2014b), os EA ainda são identificados rotineiramente no
ambiente de trabalho. A pesquisa de Claro et al. (2011), realizada no Estado de São Paulo
em Campos do Jordão, evidenciou que a maior parte (71,4%) dos profissionais percebem a
existência de subnotificação de EA. Esses profissionais indicaram 115 motivos para esses
comportamentos. Destacam-se a sobrecarga de trabalho (25,2%), esquecimento (22,6%),
não valorização dos EA (20,0%), sentimentos de medo (15,7%), vergonha (11,3%), entre
vários outros.
A fim de superar as lacunas do conhecimento e expandir o compromisso de notificar e
diminuir as falhas da prática profissional, e para superar as diferentes formas de comunicar
ou omitir um incidente, é fundamental que a gestão hospitalar, juntamente com o apoio de
seus profissionais, assuma condutas que fortaleçam essa cultura, e que possam ser execu-
tadas por meio de liderança comunicativa, sem punições e desenvolvimento pessoal. Estas
são atribuições e competências desenvolvidas pela gestão para melhorar o relato (SIMAN;
CUNHA; BRITO, 2017).
Nesse sentido, há necessidade de maior apoio aos profissionais em relação aos EA
por parte dos líderes, uma vez que, a cultura de segurança pode ser um reflexo de gestão.
Além do mais, o apoio pode significar encorajamento para que os EA possam ser notifica-
dos, analisados e corrigidos, impedindo que aconteçam novamente (SOUZA et al. 2015).
Essa realidade representa a necessidade de estabelecer condutas de controle e pre-
venção de incidentes, encorajar a notificação e extinguir os sentimentos de punição por parte
da equipe envolvida e reconhecer que a instituição do modo de trabalho também pode levar
a ocorrência de incidente, assumindo uma proporção sistêmica (PARANAGUÁ et al., 2014b).
Dessa forma, há necessidade da implementação de ações efetivas, para que os profissionais
envolvidos no processo possam discutir suas preocupações em torno da segurança.
De acordo com Andrade et al. (2018), essas ações que visam melhoria da cultura de
segurança em hospitais devem focar as dimensões “Frequência de EA notificados”, “Co-
nhecimento de segurança”, “Feedback e comunicação sobre EA”, “Resposta não punitiva

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 267


para erros”, “Dimensionamento de profissionais”, “Trabalho em equipe entre unidades” e “
Problemas em alterações de turno e mudanças entre unidades/serviços”, visto que foram
as áreas em que ocorreram os menores percentuais de respostas positivas analisadas pelo
autor.

CONCLUSÃO

O estudo permitiu a avaliação dos incidentes notificados em uma maternidade pública.


Os resultados evidenciaram uma considerável prevalência de incidentes relacionados à
identificação do paciente, omissão e quedas. Revelou-se que a maior parte desses ocorre-
ram com as mães com faixa etária entre 21 a 30 anos, e com os recém-nascidos com faixa
etária entre 1 a 7 dias de nascido, no qual a fase de internação apresentou o maior número
de casos notificados. Situação relevante também foi verificada no aumento do número de
notificações no decorrer do período investigado, onde o número de notificações duplicou
no período de um ano.
Os resultados reforçam a necessidade de estratégias, como de educação permanen-
te da equipe de saúde, capacitação a partir de protocolos e guias de procedimentos para
minimizar seus índices e estimular o monitoramento contínuo e preenchimento correto das
fichas. A gestão hospitalar deve demonstrar apoio aos seus profissionais, desmistificando que
esses incidentes não são um subproduto inevitável da assistência à saúde, mas passiveis
de prevenção, através de uma cultura colaborativa, não punitiva, mas que colabora para a
aprendizagem baseada nos próprios erros e valorização dos profissionais que as notificam.
A atuação de enfermagem é fundamental para garantir a qualidade e segurança aos
pacientes, que são vistas como prioridades da OMS. A enfermagem deve adotar medidas de
prevenção e controle, através da identificação dos grupos de maior vulnerabilidade, uma vez
que essa categoria profissional presta assistência direta e acompanha a clientela de perto,
além do levantamento de um diagnóstico do ambiente de trabalho e as áreas de melhorias,
atentando para os setores de maior ocorrência de incidentes notificados.
O estudo forneceu uma análise dos incidentes em um hospital maternidade. Assim,
espera-se que os resultados favoreçam o conhecimento sobre o tema e permitam a me-
lhoria da prática em saúde, principalmente por meio da conscientização dos profissionais e
gestores sobre a importância da cultura de segurança na instituição, de modo a estimular
o gerenciamento adequado do incidente, auxiliando a instituição na identificação de suas
fragilidades e áreas de melhorias, a fim de dispensar uma assistência mais eficaz e segura

268 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


aos seus pacientes.

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272 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


20
“ Análise epidemiológica das
internações por septicemia no
Brasil de 2008 a 2019

Mariana Carvalho Stefan Vilges de Oliveira


UFU FAMED/UFU

William Nicoleti Turazza da Silva


UFU

Maria Fernanda Prado Rosa


UFU

Karen Eduarda de Souza Custódio


UFU

Giulia de Assis Queiroz


UFU

10.37885/200700704
RESUMO

A septicemia, patologia caracterizada pela resposta inflamatória exacerbada do sistema


imunológico frente a presença de certos microrganismos no corpo, apresenta-se como
uma das doenças com maiores prevalência e incidência, caracterizando-se como
problema de saúde pública importante. Visando aprimorar as linhas de cuidado acerca
da sepse, o presente estudo objetiva estabelecer o perfil epidemiológico das internações
por septcemia no Brasil. Os dados foram coletados segundo o CID para septcemia
registrados nas cinco regiões do Brasil entre 1 de janeiro de 2008 e 31 de dezembro de
2019, nas bases de dados do Sistema de Informação de Morbidade Hospitalar do SUS e
do Departamento de Informática do SUS. Como resultados, observou-se que os casos se
apresentaram em crescente durante os anos. Há prevalência de internações e óbitos entre
o sexo masculino, pacientes acima de 60 anos, com pico na faixa acima dos 80 anos, e
com menos de 1 ano, e indivíduos autodeclarados brancos. Entretanto, a maior taxa de
letalidade é encontrada entre a população autodeclarada preta. Em relação à média de
permanência em leito, destacam-se os pacientes menores de 1 ano, sem prevalência de
sexo; destaca-se as internações por urgência e predominam as notificações realizadas
em serviço público de saúde, tanto em internações quanto em óbitos. Por fim, a região
Sudeste se sobressai como a detentora do maior número de casos de internação e óbitos
do Brasil durante todo o período analisado. Quando comparado a outros estudos, notou-
se que os dados condizem com outras análises brasileiras e que a situação da septicemia
no Brasil apresenta indicadores piores do que os encontrados para o mundo. Logo, estes
dados podem ser utilizados para a melhoria da linha de cuidado referente à tal patologia.
Destacamos as limitações desse levantamento, visto que o sistema de dados pode ser
defasado por falhas nas notificações, reafirmando a necessidade da realização de mais
estudos sobre o assunto que abrangem as especificidades da população brasileira.

Palavras-chave: Epidemiologia; Saúde Pública; Sepse.


INTRODUÇÃO

Septicemia pode ser definida como uma disfunção orgânica causada por infecção,
desencadeada por um patógeno, o qual provoca uma resposta imunológica e inflamatória
desordenada no hospedeiro (SINGER et al., 2016). Em 2016, a Society of Critical Care Me-
dicine (SCCM) e a European Society of Critical Care Medicine (ESICM) adotaram um novo
protocolo, conhecido como Sepsis 3, com novas definições para infecção, sepse e choque
séptico. Assim, o termo sepse grave deixou de existir e a avaliação clínica da disfunção
orgânica passou a ser baseada no score Sequential Organ Failure Assessment (SOFA), no
qual deve variar de 2 ou mais pontos (SINGER et al., 2016; OLIVEIRA et al., 2019).
O SOFA rápido (qSOFA) considera como preceitos clínicos a presença de pressão
arterial sistólica menor ou igual 100mmHg, incursões respiratórias maior ou igual a 22 e
alteração no estado mental avaliada pela Escala de Glasgow com escore menor que 15
(OLIVEIRA et al., 2019). Nesse viés, observa-se que o escore qSOFA é útil enquanto me-
todologia para triagem clínica de septicemia e o escore SOFA é mais usado como critério
clínico de diagnóstico da septicemia (SANTOS; NUNES, 2019). Dessa forma, os critérios
da síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS) deixaram de ser requisitos para
diagnóstico de sepse e o conceito de choque séptico corresponde à hipotensão associada
a lactato maior ou igual a 2mmol/L após reposição volêmica. No entanto, o Instituto Latino
Americano da Sepse (ILAS) não foi favorável a essa mudança, pois ao analisar países com
recursos escassos verificou-se que tais novas definições não contemplavam a necessidade
de diagnósticos precoces. Desse modo, o ILAS compreende o choque séptico como uma
septicemia que evoluiu para hipotensão sem resposta a reposição volêmica independente-
mente de hiperlactatemia (INSTITUTO LATINO-AMERICANO DA SEPSE, 2019).
A septicemia pode ser considerada um grave problema de saúde pública, pois possui
alta prevalência e incidência, haja visto o envelhecimento da população, o crescimento do
número de pacientes imunossuprimidos e de portadores de doenças crônicas, o aumento
da resistência bacteriana e a falta de infraestrutura de atendimento hospitalar (INSTITUTO
LATINO-AMERICANO PARA ESTUDOS DA SEPSE, 2015), além de gerar altos índices de
morbimortalidade e altos custos governamentais. O estudo SPREAD (the Sepsis PREvalen-
ce Assessment Database), conduzido por Machado e equipe, foi do tipo observacional de
227 unidades de terapia intensiva (UTIs) distribuídas por diversos estados brasileiros. Esse
estudo demonstrou alta prevalência, incidência e mortalidade hospitalar de sepse no país
emergente, além de associar a baixa disponibilidade de recursos como um dos principais
fatores vinculados a essa maior mortalidade. Ademais, notou-se que os dados sobre septi-
cemia dos países de renda média ainda são escassos, o que pode acarretar subnotificações
(MACHADO et al.,2017).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 275


Desse modo, para tentar solucionar esse ônus no sistema de saúde é de extrema im-
portância realizar mais estudos epidemiológicos no Brasil devido a sua diversidade territorial
e, consequentemente, diferenças culturais e de recursos distribuídos, como também tentar
identificar o efeito da septicemia nesses locais. Nessa perspectiva, deve-se também esta-
belecer iniciativas de prevenção de infecções associadas à assistência à saúde e melhoria
da qualidade, buscando aprimorar o reconhecimento precoce e a oferta de tratamento mais
adequado para a sepse (MACHADO et al.,2017). Dessa forma, o presente estudo, diante
da dimensão territorial e populacional do Brasil, teve como objetivo analisar os perfis epide-
miológicos de pacientes com septicemia em cada uma das cinco regiões do país, a fim de
que, no futuro próximo, desenvolvam-se políticas nacionais pautadas nas peculiaridades de
cada lugar as quais possam definir prioridades de intervenções e distribuição de recursos
de forma mais eficaz.

METODOLOGIA

Este trabalho se trata de um estudo epidemiológico, descritivo do tipo ecológico, acerca


do número de internações e de óbitos por septicemia ocorridos nas cinco regiões do Brasil
(norte, nordeste, centro-oeste, sudeste e sul), no período compreendido entre 1 de janeiro
de 2008 a 31 de dezembro de 2019. Os dados foram obtidos de notificações disponibilizadas
pelo Sistema de Informação de Morbidade Hospitalar do SUS (SIH-SUS), do Departamento
de Informática do SUS (DATASUS), entre o período de 2008 a 2019, acerca das seguintes
variáveis: número de internações, óbitos por septicemia, taxa de mortalidade, média de
permanência em dias, região, unidade da federação, faixa etária em anos categorizados
(menor de 1 ano; 1 a 4; 5 a 9; 10 a 14; 15 a 19; 20 a 29; 30 a 39; 40 a 49; 50 a 59; 60 a 69;
70 a 79; e 80 ou mais), sexo (masculino e feminino), regime de internação (público, privado
ou ignorado), caráter de atendimento (eletivo, urgência, outros tipos de acidente de trânsito,
outros tipos de lesões e envenenamento por agentes químicos ou físicos), raça/ cor (branca,
preta, parda, amarela, indígena, sem informação).
Segundo estimativas populacionais do Tribunal de Contas da União, em 2008, a popu-
lação estimada para o Brasil era de 189.612.814 habitantes; em 2009, era de 191.446.848;
em 2010, era de 190.755.799; em 2011, era de 192.379.287; em 2012, era de 193.946.886;
em 2013, era de 201.032.714; em 2014, era de 202.768.562; em 2015, era de 204.450.649;
em 2016 era de 206.081.432; em 2017, era de 207.660.929; em 2018, era de 208.494.900;
e, em 2019, era de 210.147.125 habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 2020).
A análise estatística descritiva foi feita por meio de medidas de frequência bruta e
relativa. Para o cálculo da incidência de internações e de óbitos por 100 mil habitantes, foi

276 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


realizada a divisão do número de internações de cada ano (2008 a 2019), pela respectiva
população estimada e a multiplicação do resultado por 100 mil. A letalidade foi calculada pela
divisão do número de óbitos pelo total de internações multiplicados por 100. E a mortalidade
calculada utilizando as mortes divididas pela respectiva população estimada em risco e a
multiplicação do resultado por 100 mil.
Essa pesquisa utilizou apenas dados secundários, não havendo itens que possibili-
tassem a identificação de indivíduos, portanto, não foi necessária a submissão ao Comitê
de Ética em Pesquisa (CEP), de acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde
nº 510, de 7 de abril de 2016. Para os cálculos de incidência, utilizou-se as estimativas
populacionais do Tribunal de Contas da União e a análise dos dados, juntamente com a
construção de gráficos e de tabelas, que foram efetuadas utilizando o programa Microsoft
Excel, versão 2016.

RESULTADOS

No período analisado, o número total de internações por septicemia foi de 1.162.558 e


o número total de óbitos foi 509.031. Ao realizar uma comparação entre o ano inicial e final, o
crescimento dos casos foi de 2,56 e dos óbitos foi de 3,04. A incidência média para o período
foi de 47,72 e a letalidade média foi de 43,20. Nesse sentido, na comparação entre ano final
e ano inicial, o crescimento da incidência foi de 2,33, enquanto da letalidade 1,18 (figura 1).

Figura 1. Número e incidência por 100 mil habitantes das internações por septicemia, segundo o ano, de 2008 a 2019,
Brasil, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIHSUS).

O sexo masculino apresentou maior prevalência tanto em número de casos, o que


corresponde a 610.124 (52,48%) internações, como na quantidade de óbitos, perfazendo
262.014 (51,47%) óbitos; enquanto o sexo feminino, menos prevalente, apresentou o total
de 552.434 (47,52%) internações e 247.017 (48,53%) óbitos. Quanto à faixa etária, o maior
número de internações se concentra na população de 60 a 69 anos, com 204.561 casos, e

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 277


de 70 a 79 anos, com 212.072 casos. Entretanto, observa-se outro pico de internações para
os indivíduos com idade inferior a 1 ano, perfazendo 142.675 casos (figura 2).

Figura 2. Número de internações por septicemia, segundo a faixa etária, de 2008 a 2019, Brasil, segundo dados do
Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIHSUS).

Em relação aos óbitos, curva da mortalidade tem padrão ascendente com a idade,
apresentando o maior pico na população com mais de 80 anos, que representou 141.242
óbitos e taxa de mortalidade de 66,6 casos a cada 100 mil habitantes A única exceção
nesse padrão da curva são as crianças com menos de um ano, as quais representaram
16.776 óbitos, com uma taxa de mortalidade de 11,76%, maior do que nas crianças mais
velhas (figura 3).
Figura 3. Taxa de mortalidade das internações por septicemia, segundo a faixa etária, de 2008 a 2019, Brasil,
segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIHSUS).

Ainda, em relação ao sexo, os homens têm maior média de permanência (12,3 dias)
e menor taxa de letalidade (42,9) para a internação por septicemia, enquanto as mulheres
apresentam taxa de letalidade de 44,7 e permanecem 11,6 dias internadas em média. Já em
relação à faixa etária, há um destaque para as crianças menores que 1 ano de idade que
permanecem aproximadamente 14,4 dias, enquanto outras faixas etárias não ultrapassam

278 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


12,5 dias internadas. A média de permanência geral foi de 12 dias.
Em relação à raça, o número de internações por septicemia é mais alto para a popu-
lação branca, perfazendo 434686 casos, seguidos pela população parda, com 332.187. O
número de óbitos segue a mesma prevalência racial, contando com 195.334 óbitos para a
população branca e 135.456 para os pardos. Entretanto, a maior letalidade ocorreu para
os pretos, representando 47,92 em contraste com 44,93 dos brancos e 40,77 dos pardos
(tabela 1).

Tabela 1. Número de internações e óbitos por septicemia, segundo o critério cor/ raça, de 2008 a 2019, Brasil, segundo
dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIHSUS).

Cor/raça Internações Óbitos


Branca 434686 195334
Preta 42717 20471
Parda 332187 135456
Amarela 13820 6314
Indígena 2020 597
Sem informação 337128 150859
Total 1162558 509031

Em relação ao regime de internações, houve predominância do regime público, com


324.772 internados, em relação ao privado, com 312.649. Entretanto, a categoria ‘‘ignorado’’
contou com 525.137 internações. Em relação aos óbitos, o regime público também lidera com
165.608 internados e letalidade de 50,99, enquanto o privado contou com 105.380 interna-
ções e letalidade de 33,7. Quanto à categoria ‘‘ignorado’’, os óbitos somaram 238.043 com
letalidade de 45,32. Quanto ao caráter de atendimento, houve predominância das urgências
com 1.097.209 (94,37%) internações e 484250 (95,13%) óbitos, seguido pelos eletivos, com
65.276 internados (5,61%) e 24.752 (4,86%) mortes. Por fim, a categoria “outros tipos de
acidente de trânsito” englobou 39 internações e 8 óbitos, enquanto outros tipos de lesões e
envenenamento por agentes químicos ou físicos somou 34 internados e 1 mortes (tabela 2).

Tabela 2. Número de internações e óbitos por septicemia, segundo regime de internação e caráter do atendimento, de
2008 a 2019, Brasil, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIHSUS).

Internações Óbitos
Regime
Público 324772 165608
Privado 312649 105380
Ignorado 525137 238043
Caráter do atendimento
Eletivo 65276 24752
Urgência 1097209 484250
Outros tipos de acidente de trânsito 39 8
Outros tipos de lesões e envenenamento por agentes
34 21
químicos ou físicos
Total 1162558 509031

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 279


Em relação às regiões brasileiras, o maior número de internações por septicemia ocor-
reu na Sudeste com 598.250 (51,46%); seguido da Nordeste, com 227205 (19,54%); seguido
da Sul, como 222716 (19,16%); seguido da Norte, como 62462 (5,37%); e, por fim, pela
Centro-Oeste, com 51925 (4,47%). Já em relação ao número de óbitos por septicemia, a
região Sudeste também se destaca com 288565 (56,69%); seguida pela região Nordeste,
com 91926 (18,06%); seguida pela Sul, com 83908 (16,48%); seguida pela Norte, com 22728
(4,46%); e, por fim, pela Centro-Oeste, com 21904 (4,30%). Embora a região Centro-Oeste
não se destaque nos números brutos, sua letalidade é de 42,18, só ficando atrás da região
sudeste que detém taxa de 48,23 (tabela 3).

Tabela 3. Número e porcentagem das internações e dos óbitos por septicemia, segundo Região e Unidade Federativa do
país, de 2008 a 2019, Brasil, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIHSUS).

Internações Óbitos
Região/Unidade da Federação
N % N %
Região Norte 62462 5,37% 22728 4,46%
Rondônia 8502 0,73% 2451 0,48%
Acre 1343 0,12% 488 0,10%
Amazonas 13570 1,17% 6414 1,26%
Roraima 840 0,07% 311 0,06%
Pará 33210 2,86% 10914 2,14%
Amapá 888 0,08% 347 0,07%
Tocantins 4109 0,35% 1803 0,35%
Região Nordeste 227205 19,54% 91926 18,06%
Maranhão 15599 1,34% 6379 1,25%
Piauí 6037 0,52% 2473 0,49%
Ceará 37795 3,25% 19492 3,83%
Rio Grande do Norte 18295 1,57% 6010 1,18%
Paraíba 24903 2,14% 6669 1,31%
Pernambuco 57981 4,99% 26743 5,25%
Alagoas 15326 1,32% 3965 0,78%
Sergipe 4867 0,42% 2560 0,50%
Bahia 46402 3,99% 17635 3,46%
Região Sudeste 598250 51,46% 288565 56,69%
Minas Gerais 186279 16,02% 64264 12,62%
Espírito Santo 20002 1,72% 5885 1,16%
Rio de Janeiro 97160 8,36% 51298 10,08%
São Paulo 294809 25,36% 167118 32,83%
Região Sul 222716 19,16% 83908 16,48%
Paraná 77840 6,70% 30540 6,00%
Santa Catarina 42092 3,62% 14779 2,90%
Rio Grande do Sul 102784 8,84% 38589 7,58%
Região Centro-Oeste 51925 4,47% 21904 4,30%
Mato Grosso do Sul 6101 0,52% 2650 0,52%
Mato Grosso 18931 1,63% 8217 1,61%
Goiás 15191 1,31% 5648 1,11%
Distrito Federal 11702 1,01% 5389 1,06%
Total 1162558 100% 509031 100%

280 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Durante todo o período, houve aumento no número das internações e dos óbitos nas
cinco regiões do país, sem alterações relevantes na proporção desses indicadores entre elas.
Nota-se a predominância absoluta da região Sudeste ao longo desses anos (figuras 4 e 5).

Figura 4. Número de internações por septicemia por Região, segundo o ano, de 2008 a 2019, Brasil, segundo dados do
Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIHSUS).

Figura 5. Número de óbitos por septicemia por Região, segundo o ano, de 2008 a 2019, Brasil, segundo dados do Sistema
de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIHSUS).

DISCUSSÃO

A septicemia se apresenta como um problema de saúde pública mundial, e como levan-


tado neste estudo, no Brasil, levou a mais de 1 milhão de internações e a aproximadamente
meio milhão de óbitos de 2008 a 2019, variáveis que tem aumentado anualmente. Assim
como o encontrado nesta pesquisa, Neira et al. (2018) também encontrou crescimento nos
casos do país a partir de 2008, com uma taxa de crescimento de 50,5% entre 2006 e 2015.
Taniguchi et al. (2014) demonstrou em seu artigo que a quantidade anual de óbitos por sepse

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 281


tem crescido desde a década anterior, observando um aumento de 16,46% entre 2002 e 2010.
Rosa et al. (2020) demonstrou um crescimento contínuo das internações e das mortes por
septicemia entre 2010 e 2019. Assim como no Brasil, outras nações têm enfrentado aumento
na incidência dos casos e na quantidade de óbitos, como a Espanha (ÁLVARO-MECA et
al., 2018). Nos Estados Unidos, um estudo registrou uma taxa de aumento de 8,7% ao ano
para o número de pacientes sépticos hospitalizados (MARTIN et al., 2003). O aumento no
número de casos envolve diversos fatores, dentre eles o envelhecimento populacional, o
crescente número de internações hospitalares de alto risco em todas as faixas etárias e o
aumento da resistência de patógenos aos medicamentos (RUDD et al., 2018; REINHART
et al., 2013). Em contrapartida, no mundo, os casos de septicemia têm reduzido: segundo
Rudd et al. (2020), entre 1990 e 2017 houve queda de aproximadamente 18% nos casos e
de 29% nos óbitos.
A incidência de internações encontrada se assemelha a dados levantados por
outros estudos nacionais, variando de 31,5 (2008) a 66,3 (2019) (NEIRA et al., 2018; ROSA
et al., 2020). Quando comparada a outros países, a incidência brasileira é menor do que a
registrada na grande maioria das nações do continente africano, entretanto, maior do que a
registrada na maioria dos países norte-americanos, europeus e asiáticos, assemelhando-se
a de outras nações latino-americanas (RUDD et al., 2020). A letalidade média obtida condiz
com a letalidade registrada em outras análises brasileiras, variando de 39 a 46,6 (ROSA et
al., 2020; JÚNIOR et al., 2006; MORELLO et al., 2019), entretanto, é 1,93 vezes maior do
que média a registrada para o mundo (22,49) em 2017 (RUDD et al., 2020). Contribuem
significativamente para a maior taxa de letalidade brasileira a baixa conscientização da po-
pulação e dos profissionais de saúde quanto a essa condição, a falta de recursos financeiros
em saúde e de infraestruturas nas unidades de atendimento hospitalar, principalmente nas
UTIs, além de outros fatores como pobreza, desnutrição, redução da cobertura vacinal e
início tardio do tratamento adequado (RUDD et al., 2018; REINHART et al., 2013).
A predominância de casos entre pacientes do sexo masculino também foi encontrada
em outros estudos brasileiros por Silva et al. (2004), Neira et al. (2018), Júnior et al. (2006) e
Rosa et al. (2020), e em estudos internacionais por Rhee et al. (2019) e Kotfis et al. (2019).
No Brasil, outro estudo, assim como este, demonstrou maior mortalidade entre homens
(ROSA et al., 2020), diferente do padrão mundial, com maior mortalidade entre mulheres
(RUDD et al., 2020).
O mesmo padrão de internações e óbitos brasileiros segundo a faixa etária, com picos
no primeiro ano de vida e entre idosos, é observado no restante do mundo (RUDD et al.,
2020). No Brasil, Neira et al. (2018), Silva et al. (2004) e Taniguchi et al. (2014) encontraram
também encontraram maior mortalidade entre mais idosos. Recém-nascidos e lactentes

282 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


tem um sistema imune mais imaturo e mais suscetível a infecções (RIZZON, 2011; DINIZ;
FIGUEIREDO, 2014), enquanto mortalidade entre idosos pode ser explicada pelo processo
de imunossenescência, o qual ocorre com o envelhecimento, relacionado à involução do timo
e à modulação da população de leucócitos, o que leva à maior suscetibilidade a infecções
e a uma maior morbimortalidade (ESQUENAZI, 2008), o que explica a maior mortalidade
entre crianças mais novas e idosos.
Não houve relação aparente entre média de permanência e taxa de letalidade entre
diferentes sexos e faixas etárias, exceto em crianças menores de 1 ano, que registraram a
maior média de permanência, possivelmente relacionada à imaturidade do sistema imune.
Já em relação à cor e raça dos pacientes, o presente trabalho observou a prevalência
em brancos, seguido pela população parda, de modo que o número de óbitos também segue
tal concordância. No entanto, a letalidade se apresentou maior na população preta. Júnior
et al. (2006) apresentou uma prevalência da raça branca (80,1%), apesar de não trazer
dados sobre as outras populações ou relação entre a cor e a letalidade. Apesar disso, Rosa
et al. (2020), ao abordar a etnia de pacientes internados, constata que a maior parte dos
pacientes são brancos, seguidos por pardos, mantendo a taxa de mortalidade predominante
em indivíduos autodeclarados pretos. Estudos nacionais mostram que a população preta
enfrenta durante a vida marginalização do acesso adequada a serviços e informações de
saúde, o que resulta em maior morbimortalidade para essa população (MARINHO et al.,
2011; SANTOS, 2011).
Sobre as internações, observa-se que o regime público tem maior número quando em
comparação com o particular, liderando também na quantidade de óbitos e na letalidade. Os
casos de urgências seguiram como predominantes causas de internações e óbitos, o que
era esperado, visto que a septicemia é grave e sempre constitui uma emergência médica
(GYAWALI et al., 2019). De acordo com Morello et.al. (2019), existe uma discrepância no
número de óbitos de pacientes com sepse internados em hospitais brasileiros, sendo que a
taxa média de mortalidade é de 34,5% nos hospitais privados, enquanto que nos públicos
é de 55,7%. A discrepância entre hospitais públicos e privados também é constatado em
outros estudos, como relatado em Neira et al. (2018) e Lobo et al. (2019). De acordo com
um estudo multicêntrico desenvolvido pela Instituição Latino-Americana da Sepse (ILAS), os
principais fatores envolvidos nessa disparidade se relacionam a maior demora do sistema
público em diagnosticar e estabelecer um tratamento adequado, sendo a internação em leito
público um fator independente de maior mortalidade quando comparado às internações em
leitos particulares (CONDE et al., 2013).
De acordo com o presente estudo, a região Sudeste apresentou maior letalidade e
número de internações por septicemia, com mais de 50% dos casos, seguida das regiões

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 283


Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste, respectivamente. Além disso, no intervalo de tempo
analisado, o número de óbitos e internações em todo o país aumentou, principalmente na
região Sudeste. A mesma análise se mantém segundo Rosa et al. (2020), de modo que a
região Sudeste apresentou, ainda, porcentagem de óbitos maior que a média nacional, apesar
de várias unidades federativas apresentarem situação preocupante quando comparadas a
dados internacionais (ROSA, et al. 2020).
O país mantém elevados índices de internações e óbitos e ainda, segundo Rosa et al.
(2020), um gasto superior a R$ 3,5 bilhões entre 2010 e 2019 com internações por septice-
mia, sendo cada uma em média R$ 3.513,15. O cenário, portanto, pede por intervenções
que possam não só garantir o melhor atendimento e a redução da mortalidade à população,
como também a redução dos gastos volumosos com o paciente séptico (REINHART et al.,
2013). Estudos indicam que a adoção de medidas de prevenção, como conscientização,
melhorias nutricionais, de higiene e de vacinação, bem como adoção de melhores práticas
hospitalares de lavagem de mãos e esterilidade de procedimentos, podem reduzir a quan-
tidade de casos de septicemia, bem como a adoção de protocolos padronizados que visem
estabelecer diagnóstico e condutas precoces, com treinamento de profissionais e aprimora-
mento da gestão hospitalar podem ter impacto importante na redução da morbimortalidade
das internações (REINHART et al., 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo assim, a partir das informações levantadas pelo presente estudo, foi possível
determinar um perfil epidemiológico das internações e óbitos por septicemia no Brasil e suas
regiões no período de 2008 a 2019. A análise das informações levantadas reafirma que a
septicemia se trata de um problema atual e grave de saúde pública, visto que afeta uma
parcela crescente da população brasileira, atingindo de forma significativa grupos vulnerá-
veis, tanto em relação a fatores sociais quanto fisiológicos. Mesmo que limitados, os dados
obtidos podem ser utilizados para aprimorar as políticas nacionais já estabelecidas sobre
o tema e arquitetar novas, com foco na prevenção, principalmente nas populações mais
acometidas por essa doença, e melhoria do sistema de saúde, com destaque para a rede
pública. Tais ações exemplificam-se por educação populacional acessível sobre a doença,
como essa se manifesta, como prevenir e quando procurar serviço médico de forma precoce
para evitar agravo do quadro; elaboração de novos protocolos que evidenciam e promovem
o diagnóstico precoce e tratamento adequado dos casos, evitando períodos de internações
exacerbados que poderiam ser evitados, assim como uso descontrolado e desnecessário de
antibióticos; e também treinamento permanente de todos os profissionais de saúde envolvi-
dos na linha de cuidado dos pacientes com septicemia, para aplicação correta dos protoco-

284 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


los já desenvolvidos. Ademais, tais dados também podem embasar o desenvolvimento de
novos protocolos, que visem atender melhor as especificidades destacadas da população
brasileira. Além disso, é evidente a necessidade de melhor investimento na infraestrutura
hospitalar, principalmente na rede pública de saúde, visando diminuir a diferença significa-
tiva da quantidade de internações e óbitos encontrada entre esta e a rede privada. Essas
ações, se devidamente implantadas e coordenadas pelos órgãos competentes de saúde
efetivamente, podem auxiliar a diminuir as altas quantidades de casos e óbitos, ajudando o
Brasil a alcançar melhor qualidade de vida para sua população no tangente a essa patologia.
Entretanto, o presente estudo está sujeito às limitações relacionadas as bases de
dados utilizadas, o SIH-SUS e o DATASUS. Por serem fontes de informações secundárias,
estão sujeitos a falhas humanas, como a subnotificação dos casos de septicemia, devido a
possibilidade de internações causadas por essa patologia serem registradas como outras
patologias que não septicemia, e o preenchimento inadequado das fichas de notificação
pelos profissionais de saúde, podendo gerar dados desproporcionais a realidade. Desse
modo, reiteramos a urgência de realização de mais estudos sobre a septicemia no Brasil,
devido ao extenso espectro de análises acerca dessa doença, à sua gravidade enquanto
patologia, e pela deficiência de trabalhos atuais sobre essa temática tão presente em nosso
país. O desenvolvimento destes é fundamental para a elucidação de mais variáveis acerca
dessa enfermidade que influenciam o avanço dessa doença, visando sempre o avanço do
conhecimento nessa área e a consequente melhoria do cuidado em saúde no Brasil.

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288 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


21
“ Aplicativo para residentes de
ortopedia e traumatologia: a
tecnologia a favor do aprendizado

Emmanuella Passos Chaves Rocha


CHRISFAPI

Jonatas Brito de Alencar Neto


IJF

Ramille Araújo Lima


CHRISFAPI

10.37885/200600564
RESUMO

Os aplicativos, quando usados em favor do conhecimento, podem possibilitar o acesso


remoto, como também, o alcance online e imediato à informação. O desenvolvimento
técnico do aplicativo foi direcionado para a plataforma iOS® e Android®, no Laboratório
de Inovações Tecnológicas (LIT), do Centro Universitário Christus (Fortaleza-Ceará), com
a ajuda técnica de um webdesigner e de um programador. O aplicativo, desenvolvido em
língua portuguesa, é gratuito e não vinculado a nenhum website. Para a validação de
aplicabilidade, a ferramenta foi testada em 132 participantes divididos em quatro grupos:
1) estudantes de medicina do Centro Universitários Christus, 2) estudantes de medicina
da Universidade Federal do Ceará; 3) residentes em ortopedia e traumatologia do Ceará;
4) especialistas em Traumatologia e Ortopedia, preceptores da residência médica do
Instituto José Frota. Foi utilizado o questionário validado System Usability Scale (SUS)
para avaliar a praticidade e a exequibilidade do aplicativo como ferramenta adjuvante de
aprendizado. Entre os 132 participantes, 55,3% (73/132) têm como sistema operacional
o iOS®, enquanto 44,7% (59/132) utilizam Android®. Todos os 132 participantes (100%)
disseram já ter utilizado algum aplicativo em seus smartphones, e apenas 6 (4,5%) citaram
nunca ter utilizado aplicativos para fins acadêmicos. Há diferença estatística relevante
quanto ao sistema operacional de preferência entre os quatro grupos (p-valor <0,001).
100% (132) afirmou ser uma tecnologia útil no desenvolvimento teórico do residente,
além dos 93,4% (124) que concordou como método auxiliar de aprendizado em médicos
ortopedistas em geral. O aplicativo obteve escore SUS médio de 84,2 (desvio padrão
10,8) com margem de erro de 1,9 (nota A+). O escore SUS teve variância entre 82,4 e
86,1 (IC 95%). O coeficiente alfa de Cronbach foi 0,797, configurando a amostra com um
bom nível de confiabilidade. O aplicativo desenvolvido obteve êxito nos testes realizados
podendo ser uma alternativa na educação médica na área ortopédica.

Palavras-chave: Ortopedia; Treinamento por simulação; Software; Aplicativo para residentes;


Ensino médico.
INTRODUÇÃO

As Tecnologias da Comunicação e da Informação (TICS) começaram a ser utilizadas


para auxiliar a aquisição de conhecimento e facilitar o processo de ensino-aprendizagem (PE-
REIRA et al., 2016). O uso da tecnologia por meio de dispositivos móveis ou, mobile learning
(m-learning), é referenciado por ofertar inúmeros benefícios, como: o acesso ao conteúdo em
qualquer lugar e qualquer momento, a possibilidade de execução de tarefas e questões e a
anotação de ideias ou consultas de informações na Internet. O ensino por meio do m-learning
possibilita a simulação de sistemas complexos, trazendo consigo o benefício de promover
grande número de perspectivas com uma alta qualidade de visualização e interação (MARCAI
et al., 2014; MARÇAL; ANDRADE; RIOS, 2005). Nesse contexto, as TICS, de acordo com
cada modalidade, podem permitir a criação de novos ambientes de aprendizado, permitindo
o acesso remoto e/ou online, o aumento da comunicação e o ensino à distância.
Um grande aumento na disponibilidade e no uso de aplicativos móveis (Apps) para
smartphones e tablets, com a finalidade de educação médica, tem sido relatado nos últimos
anos, incluindo manuseio de ferramentas de trabalho e cuidados no modo de aprendizagem
(SINGLER et al. 2016). Eles são de grande importância por possibilitar o acesso remoto e
online, de imediato, à informação, permitindo uma maior flexibilização do aprendizado. Os
alunos passam a ter um maior conforto acerca de quando, como e onde estudar, possibilitando
a fuga do tradicional método de ensino em conferências dentro de salas de aula (SHAW; TAN,
2015). Essa alternativa de ensino pode trazer segurança ao paciente atendido pelos futuros
médicos, visto que desafia o aluno em prol da tomada de decisões (JAMAL et al., 2016).
As vantagens do ensino à distância nas ciências médicas, adicionam-se, ainda, o en-
corajamento e o engajamento do aprendizado independente e em grupo, além de flexibilizar
o método de estudo, informatizar o aprendizado e enriquecer o sistema de ensino (JUANES;
RUISOTO, 2015).
Entre as desvantagens, pode ser citada, além do custo de desenvolver a tecnologia, a
falha do método pelo dispositivo móvel, como o acesso a múltiplos conteúdos, oferecendo
distração por meio de outras ferramentas, ou mesmo o aprendizado superficial, a dependência
da bateria do aparelho, o tamanho da tela inadequado e a memória insuficiente Cita-se, ainda,
por Masalimova et al. (2017) a falta de validação e, algumas vezes, evidências científicas de
algumas categorias de aplicativos. Entretanto, com o aprimoramento da ciência, acredita-se
que muitas dessas dificuldades possam ser amenizadas (WALSH, 2015).
Existem vários métodos de treinamento prático para cirurgiões ortopédicos, incluindo
o treinamento prático com ossos sintéticos ou cadáveres e o uso de software e simuladores
em computador para planejamento e simulação de situações em ambientes 3D (AKHTAR
et al., 2015). Isso reduz os custos financeiros e traz melhorias no que tange ao desenvolvi-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 291


mento de habilidades, ao manuseio de instrumentos cirúrgicos, à competência para atingir
a curva de aprendizagem precocemente, a uma melhor avaliação de técnicas adquiridas e,
talvez o mais importante, a maximização na segurança do paciente (ATESOK et al., 2012).
Dentro das modalidades das TICS em função da aprendizagem, a simulação cognitiva
é um dos mais recentes exemplos de inovação no treinamento médico. É o processo pelo
qual os residentes ou acadêmicos avaliam e ensaiam ações dentro de sua mente sem mo-
vimento físico; entre elas, está incluso o treinamento por resolução de questões para treina-
mento teórico-prático. Há a hipótese que os residentes podem melhorar o seu desempenho
intraoperatório e as habilidades cirúrgicas por meio de simulação cognitiva pré-operatória
apropriada, com ou sem preceptores apropriados para ajuda (MASALIMOVA et al., 2017).
O uso de aplicativos de smartphones para treinamento de cirurgiões ortopédicos é
uma ferramenta poderosa para melhorias na qualidade de formação desses profissionais
(SHAW; TAN, 2015). Entre os usuários desses aparelhos tecnológicos, aproximadamente
50% utilizam o sistema operacional Android®, 22,5% utilizam Blackberry® e 18,5% utilizam
iOS/Apple® (AL-HADITHY; GIKAS; AL-NAMMARI, 2012). Entre os cirurgiões ortopédicos,
84% utilizam smartphones, majoritariamente iPhone® (55%) e 53% utilizam na prática clínica.
Existiam 61 aplicativos para ortopedia para a plataforma iOS/IPhone® e 13 aplicativos para
a plataforma Android® (FRANKO, 2011).
Atualmente, 67,1% dos estudantes de medicina acolhem um aplicativo para suas dú-
vidas acadêmicas diárias e 42,2%, utilizam-no para ajudá-los em sua prática profissional
(SANDHOLZER et al., 2016).
Entre os diversos métodos de abordagem ao processo de ensino-aprendizagem pelos
aplicativos móveis, pode ser destacado o conhecimento adquirido por meio da resolução de
diversas questões repetidas vezes, também chamado de retrievial learning, que se mostrou
mais eficaz do que apenas a leitura do conteúdo a ser estudado (KARPICKE, 2008). Foi
realizada uma busca nas principais lojas virtuais de aplicativos para smartphones, Apples-
tore® e GooglePlay® na procura de aplicativos que seguissem essa metodologia de apren-
dizagem, sendo encontradas limitadas e, muitas vezes, incompletas e não validadas fontes
dessa modalidade de Apps.
Nesse sentido, foi desenvolvido este estudo com o objetivo de construir e validar um
aplicativo de perguntas para aprimoramento e treinamento de médicos residentes em orto-
pedia e traumatologia, que possibilite a resolução de questões preparatórias para o TEOT.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo experimental prospectivo quantitativo para a validação do apli-


cativo.

292 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


O desenvolvimento do aplicativo de questões sobre ortopedia e traumatologia para
residentes envolveu as seguintes etapas: revisão de aplicativos de educação e treinamento
em ortopedia disponíveis e comparados com as práticas baseadas em evidências, criação
de um banco de dados inicial de questões baseando-se na bibliografia proposta pelo Comitê
de Ensino e Treinamento (CET) da SBOT, seleção das estratégias de mudança de com-
portamento e diretrizes a serem utilizadas no aplicativo, desenvolvimento das interfaces e
designs do aplicativo, e por fim, seleção participantes a testar a versão beta do aplicativo.
Para realizar a revisão de literatura sobre o desenvolvimento de aplicativos para educa-
ção e treinamento médico em ortopedia foram utilizados artigos publicados nos últimos cinco
anos das bases de dados/plataformas virtuais PUBMED, LILACS e BIREME. Os seguintes
descritores foram utilizados: “mobile applications”, “orthopedics” e “medical education”.
O aplicativo foi desenvolvido em dois sistemas operacionais: iOS® da Apple® e An-
droid® da Google® e denominado Quiz Ortopedia®, tendo sua patente registrada no Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em sistema iOS® com registro 512018000006-1
e em plataforma Android® com registro BR 512018000005-3.
Para o desenvolvimento, utilizaram-se as seguintes ferramentas: a IDE® (Integrated
Development Environment) Android Studio; Biblioteca SDK® (Software Development Kit) do
Android®; o Sistema Emulador do Android® com APIs (Aplication Programming Interface)
da Google; e a biblioteca OpenCV® (Open Source Computer Vision Library), para o desen-
volvimento das funções de processamento de imagens presentes no aplicativo. O aplicativo
permite a personalização do conteúdo das questões dos simulados, a visualização do tempo
decorrido e de acertos e erros com as respectivas referências bibliográficas. Além disso,
pode ser acompanhada a progressão do usuário por meio de um histórico de resultados.
A seleção de participantes foi realizada por randomização por tabelas de números
aleatórios no software Microsoft Excel® (Microsoft®, New York, USA). Eles então foram
divididos em quatro grupos de 33 participantes cada: grupo I, acadêmicos do oitavo período
do Centro Universitário Christus (Unichristus); grupo II, acadêmicos do oitavo semestre da
Universidade Federal do Ceará (UFC); grupo III, residentes de ortopedia e traumatologia do
Ceará; grupo IV, constando de ortopedistas e traumatologistas membros titulares da SBOT,
preceptores da residência médica do Instituto Dr. José Frota. Tendo como base o estudo
de Sandholzer et al. (2016), que observaram que a preferência de extensões de aplicativos
para treinamento em saúde avaliando dois grupos de estudantes, divididos entre aqueles
que desejam usar um aplicativo (69,9%) versus os que não desejam (28,0%); estimou-se
necessário avaliar uma amostra de 33 indivíduos por grupo de estudo a fim de obter uma
amostra que represente com 90% de poder e 95% de confiança a hipótese nula deste tra-
balho (método de Fleiss com correção de continuidade). Os cálculos foram realizados pelo

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 293


Open Epi Stat Calc® (http://www.openepi.com/Menu/OE_Menu.htm).
Os dados foram tabulados no Microsoft Excel® e exportados para o software Statistical
Packcage for the Social Sciences (SPSS) versão 17,0 para Windows®, em que as análises
foram realizadas adotando uma confiança de 95%. Foram calculadas moda, frequência
absoluta e percentual das variáveis estudadas, cruzadas por meio do teste exato de Fisher
ou Qui-quadrado de Pearson.
O questionário foi organizado em quatro sessões: parte 1, relacionada à autorização
e experiência do usuário com aplicativos; a parte 2 foi correspondente ao SUS® (System
Usability Scale), validada em português por Tenório et al. (2011) para quantificar a aplica-
bilidade do aplicativo desenvolvido; a parte 3 contemplou a importância do aplicativo no
aprendizado, sendo desenvolvida baseando-se no Modelo de Aceitação de Tecnologia de
Davis (Davis, 1989) e na escala de respostas Likert, que mensura o nível de praticabilidade
do sistema percebido pelos usuários durante a resolução de questões e avalia a utilidade
de questões específicas sobre ortopedia e traumatologia bem como o aprendizado com o
uso do aplicativo; e a parte 4, que representou as sugestões dos participantes.
Os critérios de inclusão foram: idade acima de 18 anos e participantes que assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram retirados da pesquisa aqueles par-
ticipantes que desejaram descontinuar sua participação no estudo.
Em relação aos aspectos éticos, foram respeitados os princípios básicos da ética em
pesquisa em humanos, como autonomia, justiça, beneficência e não maleficência, orienta-
dos pela Resolução 466/12. O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em
humanos (CEP) do Centro Universitário Christus, protocolo número 65487617.5.0000.5049.
Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi aplicado antes do teste-piloto,
do teste de usabilidade e do teste de efetividade do aplicativo. Não há conflito de interesses
pelos autores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O aplicativo desenvolvido foi denominado Quiz Ortopedia®, tendo sua patente regis-
trada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em sistema iOS® com registro
512018000006-1 e em plataforma Android® com registro BR 512018000005-3.
As imagens de algumas telas representativas do aplicativo podem ser observadas nas
figuras 1 a 3.
Os quatro grupos eram compostos de 33 participantes cada. O grupo III foi dividido
por ano de residência (residentes do 1º ano, residentes do 2º ano e residentes do 3º ano),
representando o total de participantes 8,3% cada subgrupo. Entre todos os participantes,
em relação à parte I do questionário, 55,3% (73/132) tem como sistema operacional o iOS®,

294 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


enquanto 44,7% (59/132) utilizam Android®. Todos os 132 participantes disseram já ter utili-
zado algum aplicativo em seus smartphones, e apenas 6 (4,5%) citaram nunca ter utilizado
aplicativos para fins acadêmicos (Tabela 1).

Figura 1. Telas de login e cadastro de usuário do Aplicativo Quiz Ortopedia®.

Figura 2. Telas da seleção de assuntos, quantidade e tempo das questões do Aplicativo Quiz Ortopedia®.

Figura 3. Telas com questões, resposta e referência da questão e resultados do teste.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 295


Tabela 1. Frequência de resposta dos participantes aos questionamentos da parte I do questionário

n %
Ocupação
Acadêmico Unichristus 33 25,0
Acadêmico UFC 33 25,0
Residente 1º Ano 11 8,3
Residente 2º Ano 11 8,3
Residente 3º Ano 11 8,3
Ortopedista 33 25,0
Sistema operacional
Android 59 44,7
iOS 73 55,3
Usou aplicativo
Sim 132 100,0
Usou aplicativo para fins acadêmicos
Não 6 4,5
Sim 126 95,5

Dados expressos em forma de frequência absoluta e percentual.

Entre o grupo I e II, englobando todos os acadêmicos, 63 (95,5%) já haviam utilizado


aplicativos móveis para fins acadêmicos. Especificamente, no grupo I, somente 2 (6,1%)
nunca utilizaram aplicativos com fins acadêmicos. No grupo II, apenas 1 (3%) nunca utilizou
smartphone com mesmo objetivo. No grupo III, todos já utilizaram o aparelho celular com
mesmo fim e, no grupo IV, 30 (90,9%) utilizaram aplicativos acadêmicos (Tabela 2). O tipo
de sistema operacional (iOS® ou Android®) entre os quatro grupos há diferença estatística
relevante (p-valor <0,001); porém, sem importância quanto ao uso de aplicativos previamente
para fins acadêmicos.

Tabela 2. Análise estatística entre acadêmicos, residentes e ortopedistas do sistema operacional e do uso de aplicativos
para fins acadêmicos

Ocupação

Acadêmico Residente Ortopedista p-Valor


Sistema operacional
Android 32 (48,5%) 18 (54,5%) 9 (27,3%) 0,057
Ios 34 (51,5%) 15 (45,5%) 24 (72,7%)
Usou aplicativo fins acadêmicos
Não 3 (4,5%) 0 (,0%) 3 (9,1%) 0,208
Sim 63 (95,5%) 33 (100,0%) 30 (90.9%)

Dados expressos em forma de frequência absoluta e percentual.

O aplicativo desenvolvido seguiu características para cumprir os objetivos de propor


uma ferramenta auxiliar na preparação de residentes de ortopedia e traumatologia para o

296 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


TEOT seguindo por base o princípio do retrieval learning. Quando questionados sobre a
usabilidade do aplicativo (parte II e III do questionário), a resposta majoritária foi positiva
entre os diversos grupos amostrais.
Podemos inferir a grande aceitação por parte do grupo amostral a praticidade do apli-
cativo, visto que 96,2% (127) dos usuários concordaram com a facilidade do uso, concluindo
com 90,7% dos participantes afirmando que gostariam de utilizar com aplicativo com frequ-
ência. A menor concordância em relação às outras avaliações (85,6%, correspondendo a
113 usuários) foi quando questionado o uso do aplicativo como método de estudo auxiliar
para acadêmicos, entretanto, os acadêmicos não eram o alvo da pesquisa, sendo aceitável
esse nível mais baixo de aceitação. Esse fato pode ser explicado pelo banco de questões
do aplicativo ser muito específica para a formação do médico generalista, mas, ainda sim,
provavelmente cumprindo com sua função idealizada de ser ênfase para residentes de
traumatologia e ortopedia que vão realizar a prova do TEOT.
Em relação à usabilidade, 100% (132) afirmou ser uma tecnologia útil no desenvol-
vimento teórico do residente, além dos 93,4% (124) que concordou como método auxiliar
de aprendizado em médicos ortopedistas em geral. Esses dados proclamam o reconheci-
mento dos usuários da importância de modalidades alternativas de suporte do processo
ensino-aprendizagem, assim como as referências de estudos anteriores, que identificam o
aumento do número de residentes e a limitação das oportunidades para desenvolver habili-
dades cirúrgicas e técnicas. Foram propostas muitas soluções diferentes dentro os centros
de ensino de todo o mundo, incluindo programas de treinamento eletrônico, simulação e
treinamento obrigatório para maximizar as oportunidades de aprendizagem dentro das res-
trições de recursos existentes. (STIRLING; LEWIS; FERRAN, 2014). Nesse contexto, o uso
dos aplicativos de simulações permite aos residentes praticar habilidades em um ambiente
seguro e controlado, demonstrando melhorar a confiança e minimizar o risco do paciente.
A parte II, quando analisadas com os grupos I e II condensados (todos acadêmicos) em
comparação com o grupo III e IV, obtivemos diferença entre tais grupos com relevância esta-
tística nas perguntas 1 (p-valor = 0,018), 7 (p-valor = 0,024) e 8 (p-valor = 0,027). (Tabela 3).

Tabela 3. Análise estatística entre acadêmicos, residentes e ortopedistas da parte II

Ocupação

Acadêmico Residente Ortopedista p-Valor


1) Eu acho que gostaria de usar este sistema frequentemente.
Discordo 1 (1,5%) 0 (,0%) 1 (3,0%)
Indiferente 6 (9,1%) 0 (,0%) 4 (12,1%)
0,018
Concordo 31* (47,0%) 8 (24,2%) 17* (51,5%)
Concordo totalmente 28 (42,4%) 25* (75,8%) 11 (33,3%)
2) Eu achei que as diversas funções neste sistema foram bem integradas.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 297


Discordo 3 (4,5%) 1 (3,0%) 0 (,0%)
Indiferente 5 (7,6%) 0 (,0%) 1 (3,0%)
0,024
Concordo 39* (59,1%) 12 (36,4%) 13 (39,4%)
Concordo totalmente 19 (28,8%) 20* (60,6%) 19* (57,6%)
3) Eu me senti muito confortável em utilizar esse sistema.
Discordo 0 (,0%) 0 (,0%) 1 (3,0%)
Indiferente 7* (10,6%) 0 (,0%) 0 (,0%)
0,027
Concordo 34* (51,5%) 14 (42,4%) 12 (36,4%)
Concordo totalmente 25 (37,9%) 19* (57,6%) 20* (60,6%)

*p<0,05, teste qui-quadrado ou exato de Fisher.

Dados expressos em forma de frequência absoluta e percentual.

Da mesma forma, analisando a parte III, observa-se diferença entre os grupos com
importância estatística em todas as perguntas (0,001-0,032), exceto na pergunta 6 (p-valor
= 0,177) (Tabela 4).

Tabela 4. Análise estatística entre acadêmicos, residentes e ortopedistas da parte III

Ocupação

Acadêmico Residente Ortopedista p-Valor

1) O treinamento por resolução de questões faz parte do aprendizado?


Indiferente 1 (1,5%) 0 (,0%) 0 (,0%)
Concordo 26* (39,4%) 3 (9,1%) 4 (12,1%) 0,003
Concordo totalmente 39 (59,1%) 30* (90,9%) 29* (87,9%)
2) A resolução de questões pode ajudar na preparação para a prova de Título de Especialista em Ortopedia e Traumatologia (TEOT)?
Indiferente 7* (10,6%) 0 (,0%) 0 (,0%)
Concordo 23* (34,8%) 3 (9,1%) 5 (15,2%) 0,001
Concordo totalmente 36 (54,5%) 30* (90,9%) 28* (84,8%)
3) Acredito que a praticidade de um aplicativo para celulares sobre resolução de questões em traumatologia e traumatologia poderá
ajudar na preparação de residentes para o TEOT?
Indiferente 1 (1,5%) 0 (,0%) 0 (,0%)
Concordo 25* (37,9%) 3 (9,1%) 4 (12,1%) 0,005
Concordo totalmente 40 (60,6%) 30* (90,9%) 29* (87,9%)
4) Me parece uma tecnologia útil no desenvolvimento teórico do residente de ortopedia durante sua formação?
Concordo 26* (39,4%) 6 (18,2%) 6 (18,2%)
0,027
Concordo totalmente 40 (60,6%) 27* (81,8%) 27* (81,8%)
5) O aplicativo pode ser utilizado como método auxiliar de aprendizado em acadêmicos de medicina os quais estão cursando a disci-
plina de Ortopedia e Traumatologia?
Discordo 2 (3,0%) 4 (12,1%) 7 (21,2%)
Indiferente 1 (1,5%) 3* (9,1%) 2 (6,1%)
0,032
Concordo 32 (48,5%) 17* (51,5%) 14 (42,4%)
Concordo totalmente 31* (47,0%) 9 (27,3%) 10* (30,3%)
6) O aplicativo pode ser útil como método auxiliar de aprendizado em médicos ortopedistas em geral?
Discordo 1 (1,5%) 0 (,0%) 3 (9,1%)
Indiferente 2 (3,0%) 2 (6,1%) 0 (,0%)
0,177
Concordo 34 (51,5%) 15 (45,5%) 19 (57,6%)
Concordo totalmente 29 (43,9%) 16 (48,5%) 11 (33,3%)

298 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


*p<0,05, teste qui-quadrado ou exato de Fisher.

Dados expressos em forma de frequência absoluta e percentual

Em um futuro recente, precisamos de mais estudos comparativos para consolidar a


eficiência do aplicativo Quis Ortopedia® como adjuvante no ensino e treinamento na resi-
dência médica de ortopedia e traumatologia.
Entre as limitações do estudo, podemos citar a falta de um teste comparativo de efici-
ência entre residentes que utilizam o aplicativo e residentes que estudam apenas por mé-
todos tradicionais. Outra limitação é incluir apenas residentes de uma unidade federativa,
não abrangendo todos os outros Estados.

CONCLUSÃO

Este trabalho demonstrou o desenvolvimento, a utilização e a avaliação, por meio de


um questionário validado no estudo, de um aplicativo para dispositivo móvel nas plataformas
iOS® e Android® para o treinamento para residentes em ortopedia e traumatologia com
base na resolução de questões.
O aplicativo mostrou usabilidade alta com boa variabilidade de amostra ao ser validado
por especialistas em Ortopedia e Traumatologia, bem como entre acadêmicos de medicina
e residentes de ortopedia.
O aplicativo desenvolvido obteve êxito nos testes realizados podendo ser uma alter-
nativa na educação médica na área ortopédica.

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ejhs.v25i4.10.

300 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


22
“ Apneia obstrutiva do sono como
critério de diagnóstico para
síndrome metabólica

Alba Clara Vasconcelos Leopoldo Raquel Helena Kader Lopes de Sousa


Feitosa

Thalita da Rocha Cardoso


Davi Kennedy Bonfim Leal

Vilena Marjana Bezerra Pereira


Kaio Danillo Veloso Leal

Larisse Stéffany de Oliveira Albuquerque Kelly Palombit

Manoel Pereira de Araújo Filho Carla Maria de Carvalho Leite

10.37885/200700791
RESUMO

Atualmente existem evidências de que o sono está intimamente relacionado ao


controle de múltiplas funções endócrinas e metabólicas, como liberação hormonal,
metabolismo de carboidratos, controle de peso e do apetite. Assim, a privação crônica
do sono está diretamente relacionada ao estresse emocional e físico, ansiedade, risco
cardiovascular (dislipidemias e hipertensão), diabetes mellitus e obesidade. A síndrome
da apneia obstrutiva do sono (SAOS) consiste em uma doença crônica caracterizada por
episódios parciais ou completos de colapso das vias aéreas superiores associados ao
sono intermitente, que resulta na dessaturação de oxigênio e fragmentação do sono. O
objetivo do presente estudo é verificar se a SAOS está intimamente relacionada com a
síndrome metabólica (SM). Trata-se de uma revisão de literatura, realizada por meio da
análise de artigos encontrados na plataforma Scielo e Pubmed. Após a análise, setenta
artigos foram selecionados para pesquisa e, desses, quarenta e três foram base para
o estudo. Como resultado, obteve-se que, assim como na SM, um estado inflamatório
leve caracteriza a SAOS: vários estudos relataram um aumento na PCR, IL-6, IL-8 ou
TNF alfa em pacientes com SAOS. A hipóxia intermitente aumenta os níveis de HIF-1
alfa, cuja liberação traz consequências para a permeabilidade vascular. Os níveis mais
elevados de leptina e grelina podem contribuir para a deposição de gordura, bem como
promover a elevação da pressão sanguínea, a agregação de plaquetas e trombose arterial
as quais podem predispor o desenvolvimento da aterosclerose e hipertensão. Portanto,
as evidências atuais mostram que a SAOS contribui para os critérios de diagnóstico da
SM. Entretanto, são necessários estudos longitudinais populacionais para demonstrar
a relação causal da SAOS em relação aos distúrbios metabólicos, bem como estudos
multicêntricos randomizados e bem controlados para a confirmação do efeito.

Palavras-chave: Apneia Obstrutiva do Sono; SAOS; Síndrome Metabólica.


INTRODUÇÃO

A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um distúrbio muito frequente da respiração durante


o sono, de caráter multifatorial e evolutiva. Sua característica principal é a ocorrência de esfor-
ços inspiratórios ineficazes, decorrentes de oclusão dinâmica e repetitiva da faringe durante
o sono, que resulta em pausas respiratórias de 10 segundos ou mais, acompanhadas ou não
de dessaturação de oxigênio. A apneia obstrutiva é a situação mais grave de um espectro
de distúrbios obstrutivos das vias aéreas, que fragmentam o sono, deterioram a qualidade
de vida, aumentam o risco de acidentes automobilísticos e predispõem ao desenvolvimento
de hipertensão arterial e de resistência à insulina, e aumento de risco cardiovascular (SILVA
et al., 2009; DEKON et al., 2020).
A AOS é descrita como uma perturbação dos padrões normais da respiração durante
o sono, caracterizando-se por episódios repetidos de apneia e/ou de hipopneia resultantes
de colapsos das vias aéreas superiores. Nesse contexto, a Síndrome da Apneia Obstrutiva
do sono (SAOS) se caracteriza por obstruções repetidas das vias aéreas superiores que re-
sultam, em sua maioria, em dessaturação de oxigênio e no despertar do paciente, alterando
assim, o padrão do sono (CARNEIRO et al., 2007). Essa divergência do padrão esperado de
respiração durante o sono correlaciona-se com diversas manifestações clínicas, sendo as
mais frequentes o ronco, sono não restaurador, sonolência excessiva, pausas respiratórias,
despertar com sensação de sufocação e fadiga (SILVA et al., 2009).
As manifestações clínicas da SAOS podem causar uma série de prejuízos cognitivos,
como dificuldade de concentração e de memória (PEREIRA, 2007). Ademais, alterações de
humor, como irritabilidade, depressão e ansiedade são também notados. E vale ressaltar
ainda que o ronco e a sonolência diurna são os sinais que mais se destacam (SILVA et al.,
2009). Por outro lado, é importante mencionar que, levando em conta a alta prevalência da
manifestação do ronco na população em geral, esse sinal possui baixo valor preditivo po-
sitivo. Mais ainda, como o ronco caracteriza-se pela leve obstrução do fluxo aéreo, muitas
vezes sem causar obstrução do sono e/ou alterações dos níveis de oxigênio sanguíneo, não
resulta em um grande prejuízo para a qualidade de vida do indivíduo.
Os mais potentes fatores capazes de desencadear a SAOS são obesidade (particular-
mente a adiposidade central), o sexo masculino e a idade avançada. Em relação ao sexo,
as causas possíveis dessa predominância ainda não foram identificadas, sendo sugerido o
papel protetor dos hormônios femininos, particularmente da progesterona (hipótese apoiada
pela prevalência em mulheres após os 40 anos de idade, muitas vezes, quando as pacientes
relatam menopausa), mas existem teorias que associam a predominância nos homens com
a distribuição da gordura corporal e às alterações anatômicas, funcionais e craniofaciais. Já
em relação a obesidade, vale ressaltar que a circunferência da cintura se correlaciona com a

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 303


SAOS mais frequentemente do que o índice de massa corporal, quantidade total de gordura
e circunferência do pescoço. A maioria dos pacientes são obesos, sendo a obesidade um
fator de risco crucial (PEREIRA, 2007; SILVA et al., 2009).
O tratamento da SAOS é multidisciplinar e inclui a perda de peso, principalmente
quando a doença está relacionada com a obesidade, todavia outras medidas são adotadas,
como a abstenção de bebidas alcoólicas e de hábitos tabágicos, bem como de fármacos
com efeitos sedativos. A aplicação por via nasal de uma pressão positiva de ar (CPAP, do
inglês Continuous Positive Airway Pressure) é o meio mais eficaz no tratamento de todos
os sintomas da SAOS, qualquer que seja o seu grau, sendo uma terapia alternativa o uso
de dispositivos para avanço mandibular (BITTENCOURT et al., 2009). Segundo a American
Sleep Disorders Association (1999) a utilização de dispositivos para avanço mandibular está
indicada como método de tratamento alternativo nos casos de SAOS moderada a grave
quando os doentes não toleram o uso do CPAP. O tratamento cirúrgico deve ser entendido
como um último recurso e em casos selecionados.
A SAOS não tratada, a longo prazo, está relacionada com um aumento da resistência
à insulina e com sequelas cardiovasculares. A doença cardiovascular resultante da SAOS
inclui hipertensão arterial sistêmica (HAS), insuficiência cardíaca esquerda, infarto do mio-
cárdio, arritmias e hipertensão pulmonar, podendo culminar com morte súbita. Mais ainda,
é proposto que a SAOS provoca diabetes mellitus (DM) tipo 2 por meio de evidências da
ativação do sistema nervoso simpático (SNS) na SAOS (CARNEIRO et al., 2007).
Atualmente, no Brasil, temos uma realidade preocupante quanto às doenças cardio-
vasculares. Esse grupo de doenças ocupa a quarta posição nas causas de internação
hospitalar, sendo a primeira causa de mortalidade no Brasil (FIGUEIREDO et al., 2020).
Além dos elevados índices de morbimortalidade, afetam, cada vez mais, as faixas etárias
mais jovens. Nesse contexto, é importante ressaltar também o aparecimento cada vez mais
precoce da Síndrome Metabólica (SM) em nossa população, que sabidamente apresenta
níveis elevados e crescentes de obesidade, trazendo esses dois quadros como simultâneos
e correlacionados (SALAROLI et al., 2007). A SM é um transtorno complexo representado
por um conjunto de fatores de risco cardiovascular usualmente relacionados à deposição
central de gordura e à resistência à insulina. É importante destacar a associação da SM
com a doença cardiovascular, aumentando a mortalidade geral em cerca de 1,5 vezes e a
cardiovascular em cerca de 2,5 vezes (IDBDTSM, 2005).
A SM é uma anormalidade crescente e representa um fator de risco importante para o
desenvolvimento de eventos cardiovasculares na população. Para se desenvolver, depende
da predisposição genética bem como de fatores ligados ao estilo de vida, como obesidade,
dieta e sedentarismo. O estudo da SM tem sido dificultado pela ausência de consenso na

304 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


sua definição e nos pontos de corte dos seus componentes, com repercussões na prática
clínica e nas políticas de saúde. Assim, o presente estudo objetiva realizar uma revisão da
literatura para classificar a apneia obstrutiva do sono como um critério diagnóstico para a
síndrome metabólica.

MÉTODOS

Realizou-se uma revisão de literatura por meio da análise de artigos encontrados nas
plataformas Scielo e Pubmed. Os descritores utilizados foram: "apneia obstrutiva do sono",
"SAOS" e "síndrome metabólica". Após a análise, setenta artigos foram selecionados para
pesquisa e, desses, quarenta e três serviram de base para o estudo. Foram incluídos no
estudo artigos que se encaixavam na temática, disponíveis em inglês, português e espanhol,
publicados entre os anos de 2000 e 2020, além de diretrizes e teses que abordavam as
comorbidades que fazem parte da SM. Assim, os artigos e diretrizes que não apresentaram
os princípios propostos foram excluídos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Síndrome Metabólica

Segundo I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica


(IDBDTSM, 2005), a definição de SM ainda não está claramente estabelecida, ela é iden-
tificada como uma associação de fatores de risco que está fortemente associada a uma
elevada morbimortalidade cardiovascular. Nesse contexto, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) e o National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III (NCEP- ATP
III) formularam definições para a SM que têm sido as mais utilizadas na prática clínica. Para
a OMS a resistência à insulina deve ser identificada pela presença de uma das seguintes
alterações do metabolismo glicídio: DM tipo 2, glicose de jejum alterada ou teste de tole-
rância à glicose alterada e, ainda mais, a presença de 2 dos seguintes fatores de risco:
uso de anti-hipertensivos e/ou pressão arterial ≥140/90mmHg, triglicerídeos (TG) ≥150mg/
dL, HDL-colesterol <35mg/dL, índice de massa corporal (IMC) >30kg/m2 ou relação cintura
quadril >0,9 para homens e >0,85 para mulheres, excreção urinária de albumina >20μg/min.
Enquanto, NCEP-ATP III propõe como diagnóstico a presença de 3 dos 5 fatores de risco
(Quadro 1) (IDBDTSM, 2005).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 305


Quadro 1. Componentes da síndrome metabólica segundo o NCEP-ATO III

Componentes Níveis
Obesidade abdominal por meio de circunferência abdominal
Homens > 102 cm
Mulheres > 88 cm
TG ≥ 150 mg/dL
HDL Colesterol
Homens < 40 mg/dL
Mulheres < 50 mg/dL
Pressão arterial ≥ 130 mmHg ou ≥ 85 mmHg
Glicemia de jejum ≥ 110 mmHg

(Fonte: IDBDTSM, 2005).

Pensando no proposto acima citado, vale ressaltar, a importância da divulgação dessas


duas definições para SM com o intuito de melhorar o seu tratamento e prognóstico. Visto
que, geralmente essas comorbidades que fazem parte da SM, na maioria das vezes, são
tratadas individualmente.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) a predisposição genética,
a alimentação inadequada e a inatividade física estão entre os principais fatores que con-
tribuem para o surgimento da SM. Fatores esses que são grandes desafios da sociedade
contemporânea para a prevenção dessa patologia. Logo, quanto mais precoce for a adoção
de um estilo de vida saudável, que inclui uma alimentação equilibrada e prática de exercício
físico, melhor será o índice de SM na população (IDBDTSM, 2005).
Diante disso, a SBC, traz como terapia de primeira escolha a realização de um plano
alimentar para a redução de peso, associado ao exercício físico. Pois, é comprovado que
esta associação provoca a redução expressiva da circunferência abdominal e a gordura vis-
ceral, melhora significativamente a sensibilidade à insulina e diminui os níveis plasmáticos
de glicose. Há ainda, com essas duas intervenções, uma redução expressiva da pressão
arterial e nos níveis de TG, com aumento do HDL-colesterol (IDBDTSM, 2005).

Obesidade

Há diversas evidências de uma ligação bidirecional entre a SAOS e a SM (KUVAT;


TANRIVERDI; ARMUTCU, 2020). Acredita-se que os ciclos de hipóxia-reoxigenação obser-
vados na patologia da SAOS sejam responsáveis pela hiperativação do sistema simpático
(LEPROULT; VAN COUTER, 2010), estresse oxidativo e inflamação pela via do NF-κB. Além
disso, a fragmentação do sono seria capaz de aumentar o cortisol noturno e reduzir o fator
de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1) (LEPROULT; VAN COUTER, 2010),
com tais eventos conduzindo a um aumento de gordura visceral e elevando o risco de SM.

306 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Por sua vez, a obesidade figura como um importante fator de risco para a SAOS, uma
vez que pode produzir alterações nas vias aéreas superiores de indivíduos obesos (PAPA-
NAS et al., 2010). Considera-se que o acúmulo de gordura na região do pescoço traz preju-
ízos à passagem do ar, piorando a qualidade do sono. Técnicas de ressonância magnética
demonstram que as vias aéreas superiores de pacientes com SAOS possuem menor com-
primento do que em pessoas saudáveis (MANCINI; ALOE; TAVARES, 2000). Além disso,
apontam modificações na orofaringe, onde o eixo de maior comprimento é o anteroposterior,
diferentemente do que ocorre em indivíduos normais, onde o eixo látero- lateral é o maior
(MANCINI; ALOE; TAVARES, 2000). Somado a isso, o acúmulo de gordura abdominal gera
um aumento de pressão nessa área, ocasionando redução no volume pulmonar e agravando
o quadro da SAOS (BOREL, 2019).
Sabe-se que a exposição à hipóxia pode promover estimulação pró-inflamatória pela
via do fator 1 induzível por hipóxia (HIF-1) (LEE et al., 2014), caracterizando a SAOS como
um quadro de leve inflamação. Nesse sentido, também é importante considerar a obesidade
como um fator gerador de estado inflamatório, colaborando para a intensidade da SAOS.
Tem sido demonstrado que os adipócitos da gordura visceral podem secretar baixos níveis
de TNF-alfa, que estimulam células endoteliais a produzirem a proteína 1 de quimioatra-
ção de monócitos (MCP-1). Esta, por sua vez, age atraindo macrófagos que irão secretar
citocinas pró-inflamatórias, resultando em aumento nos níveis da proteína C reativa (PCR)
(BOREL, 2019).
Alguns estudos defendem uma relação entre déficits na qualidade do sono e alterações
metabólicas capazes de gerar obesidade (ROMERO; ZANESCO, 2006; CRISPIM et al.,
2007). Os hormônios leptina e grelina estão no centro dessas discussões. A leptina é uma
proteína produzida sobretudo pelo tecido adiposo, com pico de produção durante a noite
e primeiras horas da manhã (ROMERO, ZANESCO, 2006). Age no hipotálamo e sistema
nervoso central regulando a ingestão alimentar e gerando sensação de saciedade. Sabe-se
que em indivíduos com um curto tempo de sono, os níveis de leptina encontram-se menores
do que o normal (CRISPIM et al., 2007). Essa redução na quantidade de leptina pode estar
relacionada à necessidade de maior ganho calórico em vista do maior tempo em estado de
vigília (SPIEGEL et al., 2004a). Outra possível explicação reside no fato de que a ativação
do sistema simpático durante a vigília pode inibir a liberação de leptina, reduzindo-a em
indivíduos com precário tempo de sono, como ocorre na SAOS (SPIEGEL et al., 2004a).
Por sua vez, a grelina é um hormônio produzido majoritariamente pelo estômago, es-
tando envolvido com o estímulo para a ingestão de alimentos (ROMERO; ZANESCO, 2006).
Pesquisas têm demonstrado que os níveis basais de grelina estão aumentados em indivíduos
com restrições de sono. Supõe-se que este achado se relacione ao fato de que a deficiência

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 307


do sono e o maior tempo em estado de vigília demandem maior consumo energético (SPIE-
GEL et al., 2004b). Diante disso, alterações nos níveis de grelina e leptina decorrentes de
mudanças nos padrões de sono são capazes de elevar a sensação de fome e a ingestão
alimentar, podendo culminar em um quadro de obesidade (CRISPIM et al., 2007; ZIMBERG
et al., 2017), que atinge cerca de 70% dos portadores de SAOS (HO; BRASS, 2011).

Diabetes

Sabe-se que há uma estreita relação entre diabetes, obesidade e a AOS. A sociedade
Americana de Diabetes (AAD, 2012) descreve o DM como sendo um conjunto de distúr-
bios metabólicos que se caracterizam pela hiperglicemia como resultado de alterações da
liberação da insulina, da ação da insulina ou de ambas. Essa condição na qual ocorre um
defeito na via da insulina pode ser resultado de processos autoimunes que levam a uma
deleção total ou quase total do hormônio, caracterizando o DM tipo 1, ou de uma diminuição
da resposta periférica ao mesmo hormônio que é resultado principalmente da interação de
fatores genéticos, os quais predispõem o indivíduo à doença, com fatores ambientais, como
sedentarismo e alimentação desbalanceada, caracterizando o DM tipo 2, além de outros
fatores como gravidez e hormônios exógenos (VON HERRARTH; SANDA; HEROLD, 2007).
A OMS ressalta ainda que enquanto nos casos de DM tipo 1 os sintomas ocorrem
a curto prazo, no DM do tipo 2, os pacientes podem apresentam a doença e permanecer
assintomáticos por muitos anos até que ocorra o agravamento da condição. A SAOS está
intimamente ligada ao DM tipo 2, ao qual em 80% dos casos está associado a condições
de obesidade ou sobrepeso. A fisiopatologia desse tipo de diabetes é complexa, pois ao
contrário do que ocorre no tipo 1 no qual ocorre destruição direta das células B das ilhotas
pancreáticas que são responsáveis pela produção do hormônio insulina, nesse tipo ocorrem
interações bioquímicas anormais que resultam na resistência à insulina. Isso se relaciona
a SAOS pela ocorrência de ciclos de ativação simpática ocasionados pela “falta” de glicose
nos principais tecidos corporais (encéfalo e outros) e estresse oxidativo (hipóxia intermiten-
te, hipercapnia e despertares) uma vez que para que ocorra o metabolismo completo da
glicose nos tecidos é necessário além da entrada, sua quebra e o oxigênio é essencial na
etapa final, a cadeia respiratória que ocorre na mitocôndria (GUTHRIE; GUTHRIE, 2004).
Na doença, devido a fatores genéticos e ambientais, há uma grande quantidade de
glicose disponível nos tecidos, levando ao aumento da produção de insulina pelo pâncreas
para gerar a entrada de glicose nos órgãos específicos, como o músculo esquelético e o
tecido adiposo, contudo, devido a repetição de péssimos hábitos, ocorre a fadiga do pân-
creas, gerando defeitos na liberação ou na ação da insulina levando a doença e a diversas
complicações, principalmente envolvendo os tecidos neural e cardiovascular, além disso,

308 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


problemas na degradação ocasionados por condições de falta de oxigênio vindo da res-
piração, como ocorre na OAS, podem atrapalhar o correto metabolismo da glicose e ter o
mesmo efeito (SCHMIDT, 2017).
Segundo o Jornal “Diabetes Care” (2012) a maioria dos pacientes insulino dependen-
tes tem sobrepeso ou são obesos e 60%-80% das pessoas que apresentaram resistência
à insulina apresentam distúrbios do sono afirmando que há uma relação entre todas essas
doenças, além dos fatores cardiovasculares e lipídico. Para diagnóstico de DM tipo 2, é
preciso medir a glicose plasmática ou alguma molécula que esteja envolvida na via desse
monossacarídeo, como a hemoglobina glicada (HbA1C). A AAD considera que pacientes
diabéticos têm glicemia de jejum acima de 126mg/dl, glicemia 2 h após ingestão de glicose
acima de 200mg/dl e HbA1c acima de 6,5%. Também é medida a glicemia “aleatória”, quan-
do está associada com algum sintoma de diabetes, sendo os pacientes diabéticos aqueles
com índice glicêmico acima de 200mg/dl (AAD, 2012).
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) define SM como um
conjunto de doenças cuja base é a resistência à insulina, a qual caracteriza o DM, pois nessa
condição a utilização da glicose para obtenção de energia não é possível, levando a ciclos
de hipoxigenação e hipercapnia, além de lipólise a qual tem como produtos ácidos graxos
livres que no fígado são esterificados à TG e aumento da ação da lipoproteína lipase que
gera diminuição do HDL acarretando em dislipidemia que é outro fator de diagnóstico para
SM, além da DM e obesidade. Há uma íntima relação entre DM e AOS (SAOS), onde estudos
recentes sugerem que pacientes com apneia do sono apresentam níveis mais elevados de
glicemia de Jejum(n=185) quando comparados com pacientes sem AOS (n=85), visto que
a resistência à insulina tem relação intrínseca com a hipoxigenação tecidual que promove a
interrupção de sono durante várias vezes a noite, assim como a exposição crônica à hipóxia
promovida pela interrupção do sono interfere na homeostase da glicose (CARNEIRO et al.,
2007).

Dislipidemia

As dislipidemias são definidas como distúrbios no metabolismo das lipoproteínas, como


o aumento do colesterol total, da lipoproteína de baixa densidade (LDL) e dos TG, e dimi-
nuição da lipoproteína de alta densidade (HDL), sendo desenvolvidas de acordo com a
exposição a fatores genéticos e/ou ambientais (NOBRE; LAMOUNIER; FRANCESCHINI,
2013; BARBOSA; CHAVES; RIBEIRO, 2012).
As alterações no perfil lipídico contribuem para o desenvolvimento da doença arterial
coronariana (DAC), aterosclerose e hipertensão arterial sistêmica (HAS), sendo também se-
cundárias à obesidade, podendo surgir durante a infância e se potencializar durante a vida,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 309


de acordo com a combinação de outros fatores, como o estilo de vida, hábitos alimentares
e histórico familiar (SILVA et al., 2007)
A aterosclerose que corresponde a uma das consequências das dislipidemias, ocorre
por meio da formação de placas lipídicas aterogênicas, que são depositadas na parede ar-
terial, podendo causar obstrução do fluxo sanguíneo (HONORATO et al., 2010). De acordo
com Franca; Alves (2006) essas placas lipídicas podem aparecer na superfície capilar da
aorta a partir dos 3 anos de idade e nas coronárias durante a adolescência.
Ao analisar a relação entre o HDL-colesterol e a SAOS, nota-se que essas duas con-
dições clínicas têm uma forte associação. Sabe-se que o HDL-colesterol é anti- aterogênico
e possui propriedade antioxidante, a sua disfunção já foi relatada em pacientes com DAC e
de acordo com resultados descritos por Tan et al. (2006), o HDL-colesterol também é disfun-
cional na prevenção da formação e inativação de lipídios oxidados em indivíduos com AOS,
uma condição associada ao aumento do estresse oxidativo, e pode contribuir parcialmente
para o aumento do risco cardiovascular.
Ademais, uma meta-regressão de 64 estudos, totalizando 18.116 pacientes, analisou
o perfil lipídico e seus efeitos na AOS, concluindo que esses pacientes têm dislipidemia
aumentada (colesterol total alto, LDL, TG e HDL baixo) (NADEEM et al., 2014). Em termos
de protocolos experimentais, Savransy et al. (2007) investigaram se a hipóxia intermitente
crônica poderia induzir a aterosclerose em camundongos. Alcançando o saldo de nove em
cada dez ratos expostos a hipóxia intermitente e uma dieta rica em colesterol desenvolveram
lesões ateroscleróticas, juntamente com aumentos significativos nos níveis de colesterol total
e LDL-colesterol e uma diminuição nos níveis de HDL-colesterol.

Hipertensão

Sabe-se que existe uma sólida associação causal entre SAOS e HAS. Através de
estudo de coorte, Peppard et al. (2000) demonstraram que portadores de SAOS têm risco
triplicado de desenvolver HAS nos primeiros 4 anos de doença. Essa correlação se baseia
nos efeitos metabólicos dos períodos de apneia durante o sono, de modo que o prejuízo na
capacidade respiratória desencadeia episódios de hipóxia e hipercapnia. Logo, essas desor-
dens na oxigenação afetam a homeostase do organismo, ao passo que tendem a lesionar a
estrutura dos vasos sanguíneos, coração e pulmões (PEDROSA; LORENZI-FILHO, 2009).
Por outro viés, a fisiopatologia da SAOS implica em desordens sistêmicas, como a
exacerbação na atividade do sistema nervoso simpático. Esse processo tende a ativar cons-
tantemente o mecanismo de quimiorreflexo, responsável pelo controle gasoso do sangue,
de maneira que reduz a sensibilidade dos barorreceptores. Assim, há uma hiperativação
simpática durante a apneia, com aumento de frequência cardíaca e pressão arterial. Essa

310 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


alteração pode ser percebida através dos níveis de catecolaminas elevados na corrente
sanguínea dos pacientes com SAOS (GRASSI et al., 2005).
Desse modo, os prejuízos cardiovasculares se instalam de forma lenta e gradativa na
coexistência de SAOS. Drager et al. (2007) demonstraram que pacientes normotensos apre-
sentaram alterações estruturais similares aos danos causados pela hipertensão na mesma
proporção, como maior rigidez arterial e espessamento da parede ventricular esquerda. Nos
pacientes hipertensos, notou-se efeito aditivo dessas alterações.
Logo, a integridade dos vasos sanguíneos é seriamente afetada na presença de SAOS,
uma vez que se percebe disfunções endoteliais nesses pacientes. Esse mecanismo ainda
não é totalmente conhecido, no entanto, detecta-se menor liberação de vasodilatadores
como óxido nítrico, devido ao excesso de processos inflamatórios e espécies reativas de
oxigênio. Outro achado relevante é a maior concentração de substâncias vasoconstritoras,
como a endotelina, que possui ação prolongada no organismo, e associa-se a gravidade da
síndrome ao grau de disfunção no endotélio (ATKESON et al., 2009).
Além disso, a função pulmonar pode ser prejudicada durante os episódios de hipopneia
ou apneia. Nessa situação, as vias aéreas se encontram total ou parcialmente ocluídas,
levando a uma pressão negativa nos pulmões. Logo, os níveis de gás carbônico se elevam
e os de oxigênio decrescem, o que reforça a hiperatividade simpática e vasoconstrição,
sistêmica e pulmonar. Esse desequilíbrio pode desencadear hipertensão pulmonar, além de
elevar a pressão arterial sistólica (PAS). Em pacientes normotensos, a PAS pode atingir níveis
muito altos durante o sono, o que configura o estado de non-dipper (CINTRA et al., 2006).
De acordo com a OMS, mais de 1,13 bilhões de pessoas são portadoras de hiper-
tensão arterial. No Brasil, essa condição afeta mais de 24% da população, de modo que
os hipertensos estão mais vulneráveis a quadros de infarto agudo do miocárdio e acidente
vascular cerebral. No contexto nacional, a alta incidência de HAS culmina em 16 óbitos por
hora ligados a essa patologia.

Apneia Obstrutiva do Sono

A AOS é uma doença de caráter crônico e caracterizada por episódios repetidos de


obstrução completa ou parcial das vias aéreas superiores do paciente, principalmente a nível
de faringe, causando um estado de apneia ou de hipopneia durante o sono, que conduz o
paciente a um quadro de baixa saturação de oxigênio ou até mesmo ao despertar do sono
(DRAGER et al., 2002).
Quanto à prevalência de SAOS, estima-se que esta afeta cerca de 9% a 24% da po-
pulação adulta de meia idade, principalmente homens obesos entre 40 e 60 anos de idade.
Além disso, segundo Sun et al. (2019) em seu artigo “Insulin resistance is associated with

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 311


Sfrp5 in obstructive sleep apnea”, a prevalência de SAOS chega a 22% nos homens e a
17% nas mulheres. Ademais, diversos fatores contribuem para o desenvolvimento de AOS,
entre eles destacam-se: o excesso de peso (sobrepeso e obesidade), o aumento da circun-
ferência do pescoço, hipertensão arterial, hipertrofia das tonsilas palatinas ou das tonsilas
faríngeas, além de histórico familiar, sendo causas genéticas responsáveis por cerca de
40% dos casos de AOS.
Caso a AOS não seja tratada de imediato, culmina com o desenvolvimento da SAOS,
que é definida pela associação da AOS juntamente com sintomas diurnos. Logo, a SAOS
apresenta um quadro clínico com diversos sintomas noturnos e diurnos, como insônia e
hipersonolência, além de hipoxemia, roncos, alterações cognitivas como perda de memória
e de déficit de atenção, alterações da pressão arterial e pulmonar, alterações do ritmo car-
díaco, angina noturna, entre outros sintomas (PEREIRA, 2007).
Em acréscimo a esses sintomas, pacientes com SAOS têm risco aumentado de de-
senvolver resistência à insulina por diversos fatores como a privação do sono, ativação de
fatores pró-inflamatórios e efeitos diretos da hipoxemia que podem estimular a diminuição
da secreção de insulina pelas células pancreáticas. Isso é algo que está diretamente rela-
cionado à SM, o que reforça ainda mais a contribuição da SAOS no desenvolvimento desse
distúrbio metabólico (CARNEIRO et al., 2007).
Com base no que foi exposto acima pode-se pensar que essa resistência à insulina é
causada pela obesidade, já que é um dos principais motivos para a AOS, logo não haveria
uma correlação entre as duas síndromes. Porém, Kono et al. (2007), mostraram que pa-
cientes com SAOS e não obesos eram propícios a desenvolver SM, o que evidencia ainda
mais uma relação entres essas duas comorbidades. Portanto, deve-se estudar a relação
entre elas para que possamos estabelecer a possibilidade de adicionar a SAOS como um
fator importante no diagnóstico e tratamento da SM, sempre visando reduzir a taxa de mor-
bimortalidade dos pacientes acometidos por essas síndromes.
Atualmente a SAOS deve ser diagnosticada pela história clínica associada a um bom
exame físico, sendo necessária a confirmação do diagnóstico através do exame de polis-
sonografia de noite inteira, que, atualmente, é o padrão ouro. Porém, por ser um exame
de alta complexidade de execução, uma alternativa para confirmação de diagnóstico é a
utilização do questionário de Berlim, que é um método de aferição alternativo e que consiste
em um questionário estruturado e autoaplicável. Embasando-se no resultado do exame de
polissonografia, é possível estabelecer a classificação da AOS, baseando-se no índice de
apneia e hipopneia por hora de sono (IAH). A partir do valor do IAH, definem-se 3 classifi-
cações de AOS, são elas: leve (5 ≤ IAH ≤ 15); moderada (15 ≤ IAH ≤30) e grave (IAH ≥ 30)
(ABOCCF, 2012).

312 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Após o diagnóstico confirmado de AOS, é necessário prosseguir para o tratamento
do paciente, o qual deve ser incluído nessa escolha. Existem cinco métodos de tratamento
principais: o Positive Airway Pressure (PAP), que consiste em um compressor de ar silen-
cioso que direciona um fluxo de ar para uma máscara nasal ou nasobucal que fica acoplada
ao paciente durante o sono. O PAP pode ser de dois tipos o CPAP, que é o PAP contínuo
e direciona um fluxo de ar contínuo para o paciente, e o APAP, que é o PAP automático,
ele ajusta automaticamente o fluxo de ar que será enviado para o paciente; o uso de Apare-
lhos Intraorais (AIOs), que podem ser de dois tipos: o de retenção de língua e o de avanço
mandibular, sendo o AIO de avanço mandibular mais efetivo que o de retenção lingual,
porém ainda é menos efetivo que o CPAP. Os AIOs são mais indicados para pacientes
com SAOS leve ou moderada ou pacientes que não conseguiram se adaptar bem ao PAP;
o tratamento não cirúrgico, que não envolve PAPs ou AIOs e consistem em mudanças de
hábitos focados em: terapia posicional (indicada para pacientes que apresentam apneia na
posição de supinação mais intensa que nas demais posições), higiene do sono (indicada
para pacientes que apresentam hábitos que prejudicam a qualidade do sono), perda ponderal
(prescrita principalmente para pacientes obesos), tratamento medicamentoso (são usados
de forma comprovada, com redução do IAH, em pacientes que apresentam com acromegalia
e hipotireoidismo através da supressão de hormônio do crescimento (GH) e pela reposição
hormonal tireoideana), fonoterapia focando em exercícios oro e miofaciais, além de exer-
cícios orofaríngeos que visam o fortalecimento principalmente da musculatura faríngea; o
tratamento nasal, que consiste na reconstrução nasal, porém não apresenta uma redução
significativa de IAH, apresentando apenas melhora na questão de roncos e na qualidade
do sono; há também o tratamento cirúrgico que consiste na modificação de tecidos moles
da faringe ou na modificação de ossos do esqueleto (hioide, mandíbula e maxila), sendo
que a cirurgia de avanço de mandíbula tem sido a que apresentou melhores resultados no
controle da SAOS (ZANCANELLA et al., 2014).

CONCLUSÃO

A similaridade de patologias relacionadas à SAOS com a SM é marcante: hipertensão,


fatores de risco para aterosclerose, inflamação (citocinas), distúrbios hemostáticos, estres-
se oxidativo e defeitos na permeabilidade vascular estão entre as principais características
comuns, bem como distúrbios relacionados à resistência à insulina. Como na síndrome
metabólica, um estado inflamatório leve caracteriza a SAOS, vários estudos relataram um
aumento na PCR, IL-6, IL-8 ou TNF alfa em pacientes com SAOS. A hipóxia intermitente
aumenta os níveis de HIF-1 alfa, embora o HIF-1 possa primeiro aumentar como um me-
canismo de proteção, sua liberação traz consequências para a permeabilidade vascular. A

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 313


regulação da leptina e da grelina também são alteradas na SAOS. Os níveis mais elevados
destas substâncias podem contribuir para a deposição de gordura, bem como promover a
elevação da pressão sanguínea, a agregação de plaquetas e trombose arterial as quais po-
dem predispor o desenvolvimento da aterosclerose e hipertensão. Dessa forma, as evidências
atuais mostram que a SAOS contribui notoriamente para os critérios de diagnóstico da SM.
Entretanto, são necessários mais estudos longitudinais populacionais para provar a relação
causal da SAOS em relação aos distúrbios metabólicos, bem como estudos multicêntricos
randomizados e bem controlados para a confirmação do efeito.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 317


23
“ Assistência de enfermagem ao
cuidador familiar de portadores
de transtorno mental

Joyce Cristina Lima Santos


UEMA

Danielle de Sousa Bastos


UEMA

Bianca Almeida Mesquita


UEMA

Luciane Sousa Pessoa Cardoso


UEMA

Andressa Arraes Silva


UEMA

10.37885/200700725
RESUMO

A aproximação familiar trazida pela reforma psiquiátrica foi uma conquista imprescindível,
mas muitos familiares ainda encontram dificuldades em adequar-se a essa função, visto
que se caracteriza uma experiência de fardo a carregar. Logo, há a necessidade de
apoio aos familiares cuidadores, quanto à educação em saúde para o entendimento da
doença e da situação vivida. Buscou-se, portanto, identificar a sobrecarga sofrida pelo
cuidador familiar de portador de transtorno mental e analisar a atuação do profissional
de enfermagem na assistência ao cuidador familiar e sua relação com o ente PTM. A
metodologia trata-se de uma revisão integrativa de literatura, com caráter teórico-reflexivo,
que sintetiza os estudos disponíveis mais atuais sobre assistência de enfermagem ao
cuidador familiar de portadores de transtornos mentais. Para a busca dos trabalhos foi
utilizada a Biblioteca Virtual em Saúde onde foram pesquisados os descritores “saúde
mental”, “cuidadores” e “enfermagem psiquiátrica. A presença de um portador de
transtorno mental na família implica repercussões tanto nas interações emocionais como
no andamento das atividades domésticas e na situação econômica. Identificou-se que as
famílias não são preparadas durante a hospitalização de seus pacientes e, no momento
da alta, percebiam o futuro do paciente com pessimismo, preocupação e incerteza. A falta
de orientação foi apresentada como uma realidade cotidiana difícil de ser enfrentada,
principalmente em relação aos cuidados. O papel dos enfermeiros é preponderante,
enquanto profissionais de saúde habilitados a transmitir a informação necessária para
a tomada de decisão para o cuidar. Apesar de a enfermagem ser presente na maioria
dos serviços, foi de constatação absoluta um certo despreparo destes profissionais na
potencialização do papel da família como parte integrante do cuidado. É importante
avançar no conhecimento, na participação, no desenvolvimento de atividades e práticas
que capacitem os profissionais de saúde para serviços mais qualificados. O enfermeiro,
como profissional que mais atua diretamente com os pacientes e familiares, deve buscar
progresso na metodologia de serviços de saúde com a inclusão do familiar aos seus
cuidados e atenção, melhorando assim a qualidade de vida de todos os envolvidos.

Palavras-chave: Cuidador familiar; Enfermagem; Portador de Transtorno Mental (PTM).


INTRODUÇÃO

No âmbito da saúde mental, a família, por muito tempo, foi vista como fator desenca-
deante da enfermidade mental do indivíduo ou, no caso inverso, pensada como instituição
que deveria ser protegida da loucura e adoecimento de seu familiar, pois este era entendido
como um modelo exemplar negativo, indisciplinado e responsável pela desordem social.
Deste modo, o doente era afastado de sua família, que permanecia alheia ao tratamento
proposto, o que contribuiu ainda mais para o processo de exclusão social do portador de
transtorno mental (PTM).8,15
Contudo, surgiu na década de 70, o Movimento Brasileiro de Reforma Psiquiátrica
(MBRP) apresentando um novo modelo de atenção psiquiátrica, agora baseado na desinsti-
tucionalização do doente mental, propondo a substituição progressiva do aparato manicomial
por serviços de base territorial. Este movimento se caracterizou por críticas à hegemonia do
saber biomédico no cuidado à saúde mental, bem como às infelizes consequências teste-
munhadas durante anos pela segregação e exclusão social, promovidas a partir do modelo
asilar. 12,15
A nova política buscou a humanização das instituições de atenção à saúde mental e
garantir instrumentos legais, comprometidos com os direitos civis dos pacientes psiquiátricos
e com a inserção da família como parte importante no tratamento. Essa aproximação familiar
foi uma conquista imprescindível, mas muitos familiares ainda encontram dificuldades em
adequar-se a essa função, visto que se caracteriza uma experiência de fardo a carregar,
descrita por mudanças negativas no cotidiano relacionadas ao processo de cuidado, imple-
mentação de hábitos e maiores responsabilidades.3,13
Tornar-se cuidador de um PTM requer que os familiares coloquem suas necessidades e
desejos em segundo plano e reorganizem sua vida em função das necessidades do paciente.
Deixam de lado, na maioria das vezes, a profissão, as atividades de lazer e o autocuidado.
Sobrecargas lhe são impostas pelas mudanças em suas rotinas, gastos financeiros exce-
dentes, além do desgaste físico e emocional. Muitas vezes despreparados, se deparam com
desafios ao assumirem o papel de cuidadores. Queixam-se frequentemente, de depressão,
estresse e ansiedade. 11,15
Por um lado, o contexto do cuidado dá-se em prol da inclusão social do PTM, por outro,
facilita a existência de sobrecarga dos cuidadores, os quais passam a ser atores ativos de
tal processo sem nem entender suas bases, suas motivações. Fica claro que fora das insti-
tuições hospitalares o cuidado é uma atividade que requer muita responsabilidade e, muitas
vezes, dedicação exclusiva, podendo gerar sofrimento aos cuidadores. Além do paciente,
as pessoas que estão ao seu redor tendem a ter maiores desgastes físicos e emocionais,
tornando-se mais frágeis, podendo levar a um período de adoecimento. 5,9

320 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


O cuidador familiar pode auxiliar o ente em sofrimento psíquico nos cuidados que
visem à objetivação de suas atividades cotidianas: o autocuidado, o trabalho, o lazer e a
participação sociocultural ampliada, nos contextos domiciliar e comunitário. Acrescem-se
às suas funções acompanhar regularmente o familiar aos serviços de saúde, administrar
a medicação, fornecer-lhe suporte social, arcar com gastos dos tratamentos e superar as
dificuldades dessas tarefas.11
Desse modo, o ato de cuidar tem sido conceituado como importante fator estressor.
Nessa convivência, em consequência de todos os fatores envolvidos, os familiares que
cuidam da pessoa em sofrimento mental tendem a experimentar sobrecarga física, psicoló-
gica, emocional, social e financeira manifestada nas atividades fora do contexto familiar e
refletindo-se na qualidade de vida de todos os membros. 9,14
Os familiares carecem de esclarecimentos dos profissionais a respeito do transtorno
psiquiátrico e de informações acerca de como lidar com os comportamentos problemáticos
dos pacientes na vida cotidiana e como agir nos momentos de crise. Logo, há a necessidade
de apoio aos familiares cuidadores, quanto à educação em saúde para o entendimento da
doença e da situação vivida. Portanto, o cuidador familiar necessita esclarecer suas dúvidas
e expor suas angústias, pois, dessa forma, é possível a elaboração de ações que o orien-
tem melhor nos cuidados com o paciente1,6,14. Ações estas que são primordiais no alívio da
ansiedade e estresse causados pelo convívio com o portador de transtornos mentais.
A sobrecarga familiar possui duas vertentes, a sobrecarga objetiva e a sobrecarga
subjetiva. A primeira se refere às consequências negativas concretas e observáveis resul-
tantes do papel de cuidador, incluindo a frequência de tarefas cotidianas para cuidar dos
pacientes e supervisionar seus comportamentos problemáticos, as interrupções na vida
social e profissional dos cuidadores e as perdas financeiras. Enquanto a segunda se refere
à reação emocional do familiar em relação ao papel de cuidador, incluindo o sentimento de
incômodo com as tarefas de cuidado e com as mudanças permanentes em sua vida social
e profissional, assim como as preocupações com o paciente.1,3
Existe a necessidade de refletir e observar o problema sob o ponto de vista da família.
No entanto, a atenção à família do paciente psiquiátrico não é um aspecto privilegiado na
formação do enfermeiro, embora constitua uma questão fundamental para a atenção em
saúde mental. Recomenda-se a sensibilização dos profissionais para a inclusão da família
na proposta do cuidado ao cliente que vivencia tal sofrimento. 10,15
É relevante a problematização da sobrecarga familiar para avanços na promoção da
saúde, a fim de que ela possa, adequadamente, ser identificada e trabalhada pela equipe
de saúde nos diferentes momentos em que se apresenta. Essas questões evidenciam a
responsabilidade dos enfermeiros na busca de transformações que propiciem o avanço da

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 321


assistência de enfermagem frente aos novos desafios da reestruturação da assistência em
saúde mental. 6,10

OBJETIVOS

Dada a relevância do tema exposto, este estudo teve como objetivo identificar a sobre-
carga sofrida pelo cuidador familiar de portador de transtorno mental, citar as dificuldades
ditas como fatores para seu possível adoecimento a partir da literatura revisada e analisar
a atuação do profissional de enfermagem na assistência ao cuidador familiar e sua relação
com o ente PTM.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, com caráter teórico-reflexivo, que


sintetiza os estudos disponíveis mais atuais sobre assistência de enfermagem ao cuidador
familiar de portadores de transtornos mentais. Para realização dessa revisão foram esta-
belecidas as respectivas etapas: determinação da pergunta norteadora, determinação dos
critérios de inclusão e exclusão, busca dos estudos, seleção e avaliação e análise.
Como pergunta norteadora utilizamos: como deve ser a relação enfermeiro-cuidador
familiar no fornecimento de cuidado ao portador de transtorno mental (PTM)?
Foram inclusos nesta revisão artigos científicos completos disponíveis nos periódicos
online, dos últimos cinco anos, no idioma português e publicações que citassem ou abor-
dassem sobre a temática escolhida. Foram excluídos os estudos que não portavam de texto
completo disponível online e estudos que não tratavam do tema definido.
Para a busca dos trabalhos foi utilizada a Biblioteca Virtual em Saúde onde foram pes-
quisados os descritores “saúde mental”, “cuidadores” e “enfermagem psiquiátrica”. Esses
descritores foram utilizados para busca nas bases de dados bibliográficos: Scientific Electronic
Library Online (Scielo), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) e
Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Lilacs).
Na etapa de seleção houve a vistoria dos resumos de todos os 1346 artigos encon-
trados e a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, obtendo 62 trabalhos dessa se-
leção. Passou-se então para a avaliação onde foi feita a leitura, na integra, dos 62 artigos
selecionados e a sistematização dos mesmos segundo as seguintes características: ano
de publicação, objetivos, metodologia, resultados e o delineamento do trabalho. Por fim,
os artigos sistematizados foram submetidos a uma análise crítica onde 15 atenderam aos
critérios e foram utilizados nessa revisão.

322 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


RESULTADOS

Pretendendo englobar de forma mais objetiva e concisa a atuação de enfermagem


frente às dificuldades do cuidador familiar e suas sobrecargas, foram utilizados 15 artigos
científicos publicados entre 2010 e 2017. Os quais estão descritos no quadro 1 quanto ao
título, autoria, metodologia e ano de publicação.

Quadro 1. Estudos da amostra da revisão integrativa.

Título Autoria Metodologia Ano

Atendimento ao familiar cuidador em con- GONÇALVES, J.R.L.; LUIS,


Qualitativo 2010
vívio com o portador de transtorno mental M.A.V.
Atenção de enfermagem à família do por-
TAVARES, C.M.M.; MUNIZ,
tador de transtorno mental: contribuições Revisão de literatura 2012
M.P.; ELIAS, A.D.S. et al.
para educação permanente
Família da pessoa com transtorno mental
BESSA, J.B.; WAIDMAN,
e suas necessidades na assistência psi- Qualitativo 2012
M.A.P.
quiátrica
Perspectivas atuais sobre a sobrecarga do
CARDOSO, L.; VIEIRA, M.V.;
cuidador em saúde mental
RICCI, M.A.M. et al. Revisão de literatura 2012
Cuidando do familiar com transtorno men-
KEBBE, LM; RÔSE, LBR;
tal: desafios percebidos pelos cuidadores Qualitativo 2014
FIORATI, R.C. et al.
sobre as tarefas de cuidar
Experiências dos cuidadores de pessoas
com adoecimento psíquico em face à refor- FIRMO,A.A.M.;
Qualitativo 2014
ma psiquiátrica: produção do cuidado, au- JORGE, M.S.B.
tonomia, empoderamento e resolubilidade
Fatores associados à sobrecarga subjetiva
BATISTA, C.F; BANDEIRA, M.;
de homens e mulheres cuidadores de pa- Quantitativo 2014
OLIVEIRA, D.R.
cientes psiquiátricos
A Laços entre família e serviços de Saúde
Mental: COVELO, B.R.S.;
Qualitativo 2014
A participação dos familiares no cuidado MOREIRA, M.I.B.
do sofrimento psíquico
Sobrecarga do cuidador familiar de pes-
ELOIA S.C.; OLIVEIRA, E.Z.
soas com transtorno mental: uma revisão Qualitativo 2014
et al.
integrativa
A atenção ao cuidador de pessoas com SILVA, M.R.O.; MONTEIRO
Qualitativo 2015
transtorno mental C.F.S.; LAGO, E.C. et al.
Sobrecarga no cuidado, estresse e impac-
SOUZA, L.R.; HANUS, J.S.;
to na qualidade de vida de cuidadores do- Quantitativo 2015
LIBERA, L.B.D. et al.
miciliares assistidos na atenção básica
Cuidadores familiares: o que eles necessi- FERNANDES CS; ANGELO
Revisão de literatura 2016
tam? Uma revisão integrativa M.
Participação da Família no Tratamento em
MARTINS, P.P.S; LORENZI,
Saúde Mental como Prática no Cotidiano Qualitativo 2016
C.G.
do Serviço
Sobrecarga de cuidadores familiares de
ELOIA, S.C.; OLIVEIRA, E.M.;
pessoas com transtornos mentais: análise Estudo correlacional 2016
LOPES, M.V.O. et al.
dos serviços de saúde

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 323


Escutando quem cuida: quando o cuidado
GOMES, M.L.P.; SILVA, J.C.B.;
afeta a saúde do cuidador em saúde men- Qualitativo 2017
BATISTA, E.C.
tal

Observa-se que a produção de artigos abordando a temática foi intensa no período de


2012 a 2016, porém demonstra-se também uma carência de trabalhos mais recentes nessa
área, o que revela uma preocupação na atualização de conhecimentos e melhorias de serviço.
Os artigos apresentados são de autoria de estudantes e profissionais de ciências da
saúde como enfermagem, medicina, fisioterapia e psicologia. Destaca-se a característica
qualitativa na maioria dos estudos utilizados, sendo eles nove de quinze trabalhos utilizados,
enquanto outros dois são do tipo quantitativo, três revisões de leitura e um estudo correla-
cional.
Todos os estudos destacam dificuldades enfrentadas no convívio com o portador de
transtorno mental pelos familiares, em especial, o seu cuidador. Dificuldades essas que acar-
retam sobrecargas comumente divididas em sobrecargas objetivas e sobrecargas subjetivas.
É importante ressaltar que as publicações dialogam expressivamente sobre o risco de
adoecimento do cuidador familiar por conta dessa sobrecarga excessiva que os acomete.
Esse risco é aumentado quando aliado a fatores socioeconômicos, suporte familiar precário,
apoio profissional deficiente e falta de preparo físico e psicológico exercer tal tarefa.
Conforme a análise dos dados levantados, abordaremos os assuntos ilustrados na
figura abaixo, em duas categorias temáticas: O impacto do convívio de cuidado ao porta-
dor de transtorno mental e enfim destacar a Atenção de enfermagem às necessidades do
cuidador familiar.

O IMPACTO DO CONVÍVIO DE CUIDADO AO PORTADOR DE TRANS-


TORNO MENTAL

A atual política de saúde mental preconiza a inclusão dos familiares dos portadores de
transtornos mentais graves na assistência. A família é convocada a participar efetivamente
deste processo de reconstrução da dignidade do portador de sofrimento psíquico, ocupando
lugar privilegiado nas discussões das políticas públicas em saúde mental diante da Reforma
Psiquiátrica. Revalorizada, a família deixa a condição de mera informante das manifestações
psicopatológicas, passando a representar o mais importante instrumento na “reabilitação do
indivíduo em sofrimento psíquico15.Tornar a família corresponsável no tratamento do parente

324 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


com transtorno mental é uma tarefa difícil e merecedora de atenção pelo prejuízo que pode
causar ao grupo familiar e ao cuidador referencial.11
Os estudos realizados nessa área buscam avaliar os fatores preditores de sobrecarga,
assim como os graus das mesmas que acumulam tanto impacto no contexto familiar. Assim
serão comentados nessa primeira categoria temática.
A presença de um portador de transtorno mental na família implica repercussões tanto
nas interações emocionais como no andamento das atividades domésticas e na situação
econômica7. Apesar do fato de que toda a família seja afetada pela doença, é o cuidador
primário que assume o cuidado do paciente na assistência física, emocional e até mesmo
financeira14. As dificuldades e conflitos que cercam as famílias de pessoas com transtorno
mental, por ser a doença grave e crônica, impõem estes a exigência de cuidados intensos
e contínuos.13
Os familiares cuidadores têm de garantir as tarefas que a pessoa dependente é inca-
paz de fazer por si mesma, tais como higiene pessoal e mobilidade. No entanto, incorpora
muitas outras atividades destinadas à pessoa sob seus cuidados, como garantir um am-
biente adequado, proporcionar supervisão constante e apoio emocional, gestão de compor-
tamentos difíceis, tomar decisões em seu nome, gestão financeira do cuidado, bem como
assumir cuidados de enfermagem e tarefas terapêuticos. Além destes cuidados específicos
e responsabilidades destinadas ao familiar dependente, os cuidadores têm de continuar a
realizar as tarefas diárias que já eram da sua responsabilidade anteriormente10. Operar todas
essas tarefas simultaneamente gera dificuldade na administração do tempo para realização
destas, pois muitas vezes não recebem auxílio de outra pessoa. Acabam dedicando todo o
seu tempo ao cuidado do ente esquecendo quanto ao seu autocuidado.
Os principais fatores relacionados a sobrecarga foram: comprometimento funcional dos
pacientes, aflição psicológica do cuidador, mudanças no relacionamento devido à doença
aguda, ameaças, incômodos, dedicação diária ao cuidado, mudanças na vida social, carga
financeira, convivência com os sintomas depressivos, comportamentos problemáticos do
paciente, disfunção de papéis ou interrupção da rotina familiar e alta emoção expressa3.
Outro estudo demonstra que a sobrecarga se discorreu acerca das limitações em termos
de oportunidade de emprego, lazer e descanso dos cuidadores; do número de tarefas a
cargo do cuidador, perturbação que resulta na vida profissional; dos encargos financeiros e
da falta de suporte social que também contribuíram para este sentimento de sobrecarga6.
A sobrecarga objetiva é associada à frequência de assistência dada ao paciente na vida
cotidiana, assim como a frequência de supervisões dos seus comportamentos problemáticos
e de alterações na rotina do familiar1. A influência da sintomatologia da doença enquanto
variável relevante à sobrecarga objetiva foi encontrada em outros estudos5, provando o

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 325


quanto o quadro clínico do PTM é capaz de aumentar ou diminuir a demanda de cuidado.
Um paciente com transtorno mental de maior gravidade, por exemplo, necessita de mais
cuidados, com isso maior supervisão, exigindo maior nível de comprometimento do cuidador.
A idade da pessoa que necessita de cuidados também é uma variável influenciadora
na sobrecarga do cuidador, visto que pacientes mais jovens comportam-se de forma mais
dependente dos seus cuidadores. Isso provavelmente porque necessitam de mais ajuda do
cuidador quanto às atividades de vida diária5. A dependência e necessidade de atenção em
tempo integral também é justificava em casos de comportamentos problemáticos. Dessa
forma interfere na rotina, lazer e profissão do familiar cuidador.
Apontaram interferência em sua vida ocupacional, afastando-se do trabalho e do con-
vívio social11. As dificuldades financeiras são ocasionadas pela mudança de vida que o cui-
dado exclusivo exige, trazendo repercussões em todos os campos da vida familiar, afetando
diretamente a qualidade de vida9. A falta de estabilidade financeira também foi identificada
como agravante da qualidade de vida e possibilidade de adoecimento.
Outro fator desencadeado pela atenção em tempo integral foram as interrupções e/ou
qualidade de sono. O sono e sua qualidade estão estreitamente relacionados à saúde mental
e à preservação da liberdade do provedor de cuidado9. Essa experiência pode ser explicada
pelo encargo excessivo de tarefas; por comportamentos perturbadores do paciente durante
a noite1; também por sentimentos de desespero, impotência e angústia pelo adiamento de
planos e mudanças pessoais e profissionais.
A sobrecarga subjetiva é associada ao grau de incômodo sentido pelo familiar ao realizar
tarefas cotidianas de cuidado ao paciente e a supervisão dos seus comportamentos proble-
máticos, o sentimento de peso financeiro, as preocupações com o paciente e as alterações
permanentes ocorridas na vida do familiar1. Além disso, apontaram também como predito-
res de sobrecarga subjetiva: o paciente estar em crise, apresentar mais comportamentos
problemáticos, conviver com crianças em casa e não possuir renda3.
Conviver com o diagnóstico de transtorno mental de um membro da família pode
desencadear diversos sentimentos, como medo, tristeza, piedade e vergonha que surgem
principalmente quando se tornam públicos os comportamentos considerados fora do padrão
de normalidade5. O familiar terá que conviver com situações como sentir medo e a angústia
pela possibilidade de crise, não poder deixar o paciente sozinho, sofrer agressões verbais
e físicas, lidar com as perdas materiais e ter de deslocar-se para a unidade de internação2.
Podemos justificar o adoecimento quanto a estas modificações pela falta de orientação e
preparo do familiar para a assistência em saúde ao PTM.
Foram salientadas as emoções e os sentimentos vivenciados na transição para o papel
de cuidador, pois estes vivenciam sentimentos de desespero, medo e insegurança sobre o

326 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


desconhecido e o futuro a partir daquele momento. O confronto com este novo papel ocorre
no momento em que a pessoa dependente e o cuidador retornam ao domicílio, deparando-se
com novas dificuldades7.Nota-se que, em contexto extra-hospitalar, os cuidadores sentem-se
inseguros e despreparados.11
Identificou-se que as famílias não são preparadas durante a hospitalização de seus
pacientes e, no momento da alta, percebiam o futuro do paciente com pessimismo, preocu-
pação e incerteza5. A desinformação sobre o sofrimento psíquico causa desentendimentos
na família, por ela não entender o comportamento do usuário de saúde mental e cobrar que
ele tenha funções para as quais não se sente apto. Logo, é uma situação que causa sofri-
mento na família4. Dada a frustração em relação ao tratamento e cuidados prestados sem
conhecimento científico e profissional, o cuidador familiar se sente impotente e desgastado.
As pessoas mais propensas ao quadro de estresse são aquelas encarregadas “de cui-
dar”, ou seja, possuem relações diretas com quem é cuidado. No âmbito psicológico do ser
humano, o estresse excessivo produz cansaço mental, dificuldade de concentração, perda
de memória imediata, apatia e indiferença emocional. Dúvidas começam a surgir em virtude
da percepção do desempenho insatisfatório. Crises de ansiedade e de humor depressivo se
seguem14. Esses sentimentos quando prolongados manifestam problemas físicos e psicoló-
gicos no cuidador e consequente diminuição de qualidade de vida e qualidade do cuidado
prestado. Junto a isso, a falta de atividades voltadas ao lazer, também levam o cuidador a
problemas psicoemocionais.
Estudo realizado com cuidadoras mulheres demonstram que a sobrecarga subjetiva
é maior quando: os pacientes não desempenhavam atividades fora de casa; quanto maior
era o número de comportamentos problemáticos do paciente; maior quando os pacientes
apresentavam um outro diagnóstico associado ao diagnóstico principal. Já o estudo realizado
com cuidadores homens demonstram que a sobrecarga subjetiva era maior quando: eles
não moravam com os pacientes e quando possuíam renda; quanto maior o número de filhos
dos familiares cuidadores; os pacientes não possuíam quarto individual; quanto menor era
a idade do paciente; os pacientes apresentavam doenças físicas e quando tomavam maior
quantidade de medicação.1
Por se tratar de um ente em adoecimento, o cuidador é influenciado com o intenso nível
de envolvimento emocional e temporal provocando desgaste psicológico e a presença de
sintomas depressivos no cuidador tiveram relação com a sobrecarga do cuidar de familiares
com transtorno mental6. Uso de medicação psiquiátrica por parte dos cuidadores, nos últimos
anos, tem aumentado significativamente9. Tais informações exemplificam a ocorrência de
sintomas de depressão, ansiedade e entre outros transtornos, demonstrando a importância
de suporte psicossocial terapêutico integralizado também ao cuidador familiar.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 327


ATENÇÃO DE ENFERMAGEM ÀS NECESSIDADES DO CUIDADOR FAMILIAR

A atenção de enfermagem à família é considerada como fim quando esta se constitui


como usuária dos serviços de enfermagem, passando os profissionais a definir um plano
terapêutico para ela15. Neste contexto da atenção ao cuidador ainda carece de maiores
estudos para elucidação de suas necessidades e intervenções por parte de profissionais
e serviços da área3. Apesar de a enfermagem ser presente na maioria dos serviços, foi de
constatação absoluta um certo despreparo destes profissionais na potencialização do papel
da família como parte integrante do cuidado.
É importante avançar no conhecimento, na participação, no desenvolvimento de ativi-
dades e práticas que capacitem os profissionais de saúde para serviços mais qualificados6.
Embora seja visível em alguns estudos o caráter progressivo deste processo7.
Ao trabalhar com a perspectiva da desinstitucionalização, o trabalho terapêutico é vol-
tado para a reconstituição de pessoas, como sujeitos de suas histórias. Fica evidente como
o envolvimento desses familiares com a rede de saúde mental é limitado, já que a maioria
dos familiares desconhece a importância de sua participação e como pode ativar laços com
dispositivos sociais apoiadores no cuidado da pessoa com sofrimento psíquico4. É comum
os profissionais de saúde imporem à família a aceitação e a responsabilização pelo cuidado
do doente, sem oferecer o suporte e as orientações necessárias15. Como consequência, uma
das necessidades prioritárias do cuidador é receber informação e preparação dos profissio-
nais de saúde para adequar a sua tomada de decisão7.
Os profissionais de saúde devem incluí-lo como parte do tratamento, o que pode mi-
nimizar o sentimento de impotência e incentivar o suporte com relação à orientação e aos
encaminhamentos para serviços extra-hospitalares4. Devendo ir ao encontro das necessi-
dades do familiar cuidador e da pessoa que tem ao seu encargo.7
Em análise das principais necessidades do cuidador familiar, se destacaram: adapta-
ção na rotina domiciliar; orientação acerca da patologia e situações de convívio; e vínculo
com o profissional.2
O período de adaptação com o transtorno mental exige mudanças na rotina domiciliar.
A partir daí, verifica-se a falta de preparo para lidar com as novas situações2.
Nesse momento, o apoio de um profissional em saúde mental aos cuidadores é fun-
damental para o avanço e a qualidade do tratamento dos pacientes9. No entanto o que se
observa na maioria dos casos é uma adaptação sem esse apoio2, além de dificuldades de
ajuda informal no ciclo familiar.
Uma vez que, a falta de conteúdo sobre a atenção ao cuidador familiar na graduação
e a dificuldade encontrada pela falta de treinamento13, é comum os profissionais da enfer-

328 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


magem desconhecem o transtorno mental e o modo de lidar com ele, não reconhecem seu
papel no cuidado à pessoa com transtorno mental, ficando muitas vezes a assistência focada
no saber médico2.
O cuidar de um portador de transtorno mental demanda a necessidade de informa-
ções acerca de sua enfermidade e tratamento, assim como indicações para relacionar-se
adequadamente9. O acesso à informação especializada ajuda os familiares na produção de
estratégias cotidianas de cuidado para com o familiar e evitam interpretações errôneas 12,13.
Entretanto, a falta de orientação foi apresentada como uma realidade cotidiana difícil de ser
enfrentada, principalmente em relação aos cuidados2. Estudos indicaram que informações
não foram suficientes para deixá-los seguros ao prestar os cuidados. Manifestaram também
a transmissão de muita informação de uma só vez7 o que contribui para maior confusão e
temores.
O papel dos enfermeiros é preponderante, enquanto profissionais de saúde habilitados
a transmitir a informação necessária para a tomada de decisão para o cuidar. O suporte
desempenha uma função decisiva na adaptação e no exercício do papel de cuidador para
obter apoio emocional num período de grande vulnerabilidade7. A família também se sente
cuidada ao se ver acompanhada por profissionais qualificados, que têm o conhecimento
necessário para sua atuação. Isso gera um sentimento de segurança nos familiares, que
finalmente se sentem amparados12.
A comunicação entre os profissionais de saúde e os cuidadores durante a hospitalização
é determinante, especificamente quando se debate as necessidades do cuidado e prestação
de informações. Este é um processo que torna possível o relacionamento entre a equipe
de saúde e o cuidador, com destaque ao enfermeiro, por ser o profissional que permanece
maior tempo ao lado do paciente durante a hospitalização7.
A enfermagem deve apresentar uma atitude empática para incentivar os cuidadores
a expressar as suas necessidades7. No momento da triagem aproveitam para conhecer
um pouco da história do paciente e como está sendo cuidado em casa, a fim de orientá-los
sobre a doença e a forma de cuidado em casa13. Prestem-se a uma escuta atenta às suas
dificuldades e dúvidas em relação ao enfrentamento do adoecimento de seu familiar e as
ajudem a promover as mudanças necessárias2. Assim, favorecendo o vínculo entre os en-
fermeiros, familiares cuidadores e o portador de transtorno mental10.
Uma abordagem fundamental a ser desenvolvida pelo enfermeiro desenvolver atividades
que ao mesmo tempo permitem trabalhar as ansiedades, fantasias, frustrações, raiva, medo
e outros sentimentos provenientes do adoecimento do familiar portador de transtorno mental
e valorizam as potencialidades de cada indivíduo do grupo familiar15. Como por exemplo,
reuniões familiares, um instrumento poderoso para a autorreflexão, educação em saúde

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 329


mental, e criação de vínculos entre serviço e família2, onde o familiar busca o aprendizado,
valorizando a troca de experiências entre aqueles que vivenciam a mesma situação junta-
mente com as experiências de profissionais da saúde, caracterizando um aprendizado mútuo.
O desenvolvimento de estudos sobre essa temática visa a contribuir para a prática de
profissionais e gestores da saúde mental, bem como qualificar o cuidado aos familiares, com
intuito de diminuir o impacto resultante da tarefa de cuidar4. Voltar a atenção aos cuidadores,
entendendo as barreiras físicas, sociais e emocionais envolvidas no ato de cuidar, torna-se
imprescindível no âmbito da saúde coletiva, tanto para proporcionar maior qualidade de vida
e menor sobrecarga nos cuidadores como para quem é cuidado14.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 331


24
“ Assistência de enfermagem
aos pacientes com Doença
de Alzheimer em cuidados
paliativos: revisão sistemática

Tânia Maria Rocha Guimarães Jeovanna Thamires Bezerra da Silva


UPE-FENSG UPE-FENSG

Karla Naiara França Silva Júlia Rebeka de Lima


UPE-FENSG
UPE-FENSG

Karoline Lupicinio de Andrade


Heloíza Gabrielly de Oliveira Cavalcanti
UPE-FENSG
UPE-FENSG

Fábia Maria de Lima


Ingridy Christian Araújo de Souza UPE-FENSG
UPE-FENSG

Jacqueline dos Santos Leite


UPE-FENSG

Artigo original publicado em: 1/2020


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700659
RESUMO

Objetivo: Realizar uma revisão sistemática de literatura sobre os cuidados de enfermagem


ao paciente com doença de Alzheimer em cuidados paliativos. Métodos: Estudo de
revisão sistemática conduzido conforme a metodologia Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). O recorte temporal foi realizado no
período de cinco anos (2013 a 2017), nos idiomas inglês, português e espanhol. Foram
utilizadas como fontes de informação: Biblioteca Virtual de Saúde, MEDLINE, LILACS,
BDENF e os descritores “doença de Alzheimer”, combinados com “cuidados paliativos” e
“enfermagem”, utilizando o operador booleano “AND”. Resultados: Verificamos escassez
de publicações sobre o tema. Dos 48 artigos selecionados, apenas 6 atenderam os
critérios de inclusão. Verificamos cinco temas principais: diálogo aberto com o paciente
e família; cuidado integral realizado por equipe multidisciplinar de forma humanizada; o
papel do enfermeiro; alívio do sofrimento e da dor para melhorar a qualidade de vida; a
importância da abordagem espiritual. Conclusão: A assistência de enfermagem deve
ser realizada de forma integral e humanizada, atendendo as necessidades físicas,
psicológicas e espirituais do paciente com doença de Alzheimer e de seus familiares.

Palavras-chave: Cuidados paliativos; Doença de Alzheimer; Enfermagem; Envelhecimento.


INTRODUÇÃO

O envelhecimento de uma população caracteriza-se pelo aumento na quantidade de


pessoas com idade maior de 60 anos e a diminuição no número de crianças e jovens. Popu-
lações em todo o mundo estão envelhecendo rapidamente. A proporção de pessoas idosas
está crescendo mais rapidamente que a de qualquer outra faixa etária. Entre 1970 e 2025,
espera-se um crescimento de 223%, ou em torno de 694 milhões, no número de pessoas
mais velhas. Em 2025, existirá um total de aproximadamente 1,2 bilhões de pessoas idosas.
Até 2050 haverá 2 bilhões, sendo 80% nos países em desenvolvimento (WHO, 2015).
Estimativas para 2025 preveem que o Brasil ocupará o sexto lugar mundial com 32
milhões de pessoas idosas. Já em 2060, os idosos representarão 33,7% da população total
(WHO, 2015). A redução da taxa de fecundidade, da taxa de mortalidade infantil e o aumento
da expectativa de vida são determinantes da transição demográfica brasileira. Em função
dessa mudança populacional, o país terá um elevado número de idosos com doenças crô-
nico-degenerativas, e dentro dessa classe estão as demências (SANTOS FH, et al.,2018).
Demência é uma síndrome devida à doença cerebral, de natureza crônica e progres-
siva, na qual há um comprometimento de funções corticais, incluindo memória, raciocínio,
orientação, compreensão, cálculo, capacidade de aprendizagem, linguagem e julgamento.
Com o comprometimento dessas funções corticais. A demência pode trazer modificações na
qualidade de vida e na capacidade funcional dos indivíduos que apresentam essa doença
(ALZHEIMER’S ASSOCIATION, 2018).
A mais comum das síndromes demenciais é a doença de Alzheimer (DA). O acúmulo
do fragmento de proteína beta-amiloide fora dos neurônios dando origem às placas senis
e a hiperfosforilação da proteína TAU nos neurônios, levando a formação de emaranhados
neurofibrilares são duas das várias alterações cerebrais associadas à doença. Acredita-se
que as placas beta-amiloides contribuam para a morte celular, interferindo na comunicação
neurônio-neurônio nas sinapses, enquanto os emaranhados de tau bloqueiam o transporte
de nutrientes e outras moléculas essenciais dentro dos neurônios. À medida que a quanti-
dade de beta-amiloide aumenta, atinge-se um ponto de inflexão no qual a tau anormal se
espalha pelo cérebro (NIH e NIA, 2019).
Habitualmente, a doença é de evolução lenta e pode afetar o indivíduo de diferentes
maneiras. O padrão mais comum de sintomas começa de forma insidiosa, com a piora
gradual da memória, acompanhada de dificuldades na apreensão de novas informações e
perda da habilidade de realizar tarefas da vida diária. À medida que a doença evolui, a de-
terioração é progressiva e as pessoas experimentam dificuldades no gerenciamento da sua
vida, o que as torna dependentes de ajuda para a realização de simples tarefas do dia a dia.
Na fase avançada, além do comprometimento da memória remota, ocorre a necessidade

334 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de supervisão para atividades básicas como tomar banho, se vestir, ir ao banheiro, comer
e outros afazeres da vida diária, além de alterações comportamentais como irritabilidade,
agressividade e alucinações. Na fase final da doença a pessoa perde a capacidade de se
comunicar, deixa de reconhecer seus familiares e amigos, fica restrita ao leito e dependente
de cuidados permanentes em horário integral (ALZHEIMER’S ASSOCIATION, 2018).
Sendo assim, o cuidado paliativo (CP) é visto como ferramenta importante na prática
assistencial para que dessa forma a equipe multiprofissional proporcionem uma assistência
de qualidade, de forma holística, humanizada e singular no tratamento ao paciente terminal
de DA (QUEIROZ RB, et al., 2014).
Dessa forma, o CP é uma tarefa complexa e desafiadora, sendo adotada na moder-
nidade para os cuidados necessários no final da vida, que representam uma alternativa
contemporânea da morte. Nesse âmbito, o ponto de vista terapêutico é voltado para a
qualidade de vida (WHO, 2017). Os cuidados não possuem a finalidade de curar, uma vez
que a doença já se encontra em um estágio progressivo, irreversível e não responsivo ao
tratamento curativo, sendo o objetivo desses cuidados proporcionar qualidade de vida nos
momentos finais (JOHNSON C, 2017).
Assim, é importante reafirmar a importância da vida, considerando a morte como um
processo natural, estabelecendo um cuidado que oferece alívio da dor e de outros sintomas,
integrando os aspectos psicológicos e espirituais, para que a família possa enfrentar a do-
ença e sobreviver ao período de luto (ARAÚJO MMT e SILVA MJP, 2007).
Nesse contexto, compete aos enfermeiros entender os desejos da família, levar em
consideração a posição e a circunstância desse ambiente familiar, o suporte de que o pa-
ciente necessitará, quanto à terapêutica e aos cuidados de enfermagem, assim como um
cuidar holístico, humanizado e singular de um paciente em cuidados paliativos (SILVA RS,
et al., 2011; JOHNSON C, 2017).
Diante do exposto, definiu-se como questão norteadora: Como os profissionais de
enfermagem atuam no cuidado à pessoa com DA em conduta paliativa? Assim, o objetivo
do estudo foi identificar os cuidados de enfermagem ao paciente com doença de Alzheimer
em cuidados paliativos.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de revisão sistemática, conduzido conforme a metodologia


Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (MOHER
et al.,2009). A coleta de dados foi realizada em maio de 2018, a partir das bases de dados
on-line LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e MEDLINE
(Literatura Internacional em Ciências da Saúde) e BDENF (Base de dados de enfermagem),

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 335


contidos na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS).
Os descritores em saúde selecionados foram: Cuidados Paliativos and Doença de
Alzheimer; e Cuidados Paliativos and Enfermagem and Doença de Alzheimer. Todos os
processos de seleção e avaliação de artigos foram realizados por pares. Os filtros seleciona-
dos para busca dos descritores foram: 1. Idiomas (inglês e português); 2. Ano de publicação
(2013-2017); 3. Tipo de documento (artigos). Foram excluídas as crônicas, narrativas, cartas
ao editor, dissertações teses e artigos duplicados e sem resumo.
Uma análise inicial foi realizada com base nos títulos e resumos de todos os artigos
que preenchiam os critérios de inclusão. Após análise dos resumos, todos os artigos sele-
cionados foram obtidos na íntegra e posteriormente examinados.

RESULTADOS

Para os descritores Cuidados Paliativos and Doença de Alzheimer, foram achados


38 artigos, e para Cuidados Paliativos and Enfermagem and Doença de Alzheimer foram
achados 10 artigos, totalizando 48 artigos, descritos na Tabela 1.

Tabela 1. Número de artigos selecionados sobre os cuidados de enfermagem ao paciente com doença de Alzheimer em
conduta paliativa, selecionados conforme cruzamento dos descritores, segundo a Base de Dados, período 2013-2017.

CRUZAMENTO DE DESCRITORES BASE DE DADOS RESULTADOS

MEDLINE 34
Cuidados Paliativos and Doença de
LILACS 3
Alzheimer
BDENF 1
Cuidados Paliativos and Enfermagem and
MEDLINE 10
Doença de Alzheimer
TOTAL 48

Fonte: Guimarães TMR, et al., 2018.

Dos 38 artigos selecionados com os descritores Cuidados Paliativos and Doença de


Alzheimer, 7 não tinham texto completo disponível, 4 estavam indisponíveis de forma gra-
tuita, e 3 foram encontrados em duplicidade, desta forma, 24 artigos estavam disponíveis de
forma completa e gratuita, porém, 12 não abordavam o tema proposto e 6 não eram artigos,
com isso, aplicados os critérios de inclusão foram selecionados 6 artigos.
E para os descritores Cuidados Paliativos and Enfermagem and Doença de Alzheimer,
dos 10 artigos selecionados, 2 não tinham textos completos disponíveis, 3 estavam indis-
poníveis de forma gratuita e 5 foram encontrados em duplicidade com os artigos da busca
anterior, desta forma, nenhum artigo foi selecionado (Tabela 2).

336 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Tabela 2. Critérios de exclusão dos artigos selecionados sobre os cuidados de enfermagem ao paciente com doença de
Alzheimer em conduta paliativa, período 2013-2017.

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ARTIGOS NÃO


CRUZAMENTO DESCRITORES ARTIGOS SELECIONADOS
ARTIGOS SELECIONADOS

12
Não abordavam o tema pro-
7
posto Sem textos completos
Cuidados Paliativos And Doença 6
disponíveis Não se enquadra 6
de Alzheimer 4
como artigo Indisponíveis de
3
forma gratuita Duplicidade

Total 32

Cuidados Paliativos Artigos em duplicidade 5


And Enfermagem And Indisponíveis de forma gratuita 3 0
Doença de Alzheimer Textos completos indisponíveis 2

Total 10

Fonte: Guimarães TMR, et al., 2018.

Depois de aplicados os filtros, 48 artigos foram encontrados nas bases de dados,


porém, a amostra final desta revisão foi constituída por 6 artigos científicos, selecionados
pelos critérios de exclusão previamente estabelecidos e realizada leitura completa dos ar-
tigos (Fluxograma 1).

Fluxograma 1. Seleção dos artigos para análise científica sobre os cuidados de enfermagem ao paciente com doença de
Alzheimer em cuidados paliativos, 2013-2017.

Fonte: Guimarães TMR, et al., 2018.

Os seis artigos selecionados foram organizados de acordo com autor/autores, o ano


de publicação, tipo do estudo, revista, e base de dados, conforme descrito no Quadro 1.
Verificamos que há uma predominância de artigos na modalidade Revisão de Literatura
3 (50%) e que a maioria dos estudos são internacionais 5 (83%) e foi encontrada na base
de dados MEDLINE 5 (83%).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 337


Quadro 1. Artigos sobre os cuidados de enfermagem ao paciente com doença de Alzheimer em conduta paliativa,
selecionados organizados por autor, ano, título, tipo de estudo, revista e base de dados.

Tipo de
Autores Ano Título Revista Base de dados
estudo

Descritivo
Mitchell SL 2015 Advanced Dementia. N Engl J Med MEDLINE
Qualitativo
Palliative care and
quality of life for people
with dementia: medical Revisão de International Psy-
Volicer L, Simard J 2015 MEDLINE
and psychosocial Literatura chogeriatrics
interventions.

Cuidados paliativos e
Descritivo Rev. Enfermagem
Queiroz RB, et al. 2014 Alzheimer: concepções LILACS
Qualitativo UERJ
de neurologistas.
Dying with dementia:
symptoms, treatment,
Journal of Pain and
and quality of life in the Estudo
Hendriks SA,et al. 2014 Symptom Manage- MEDLINE
last week transversal
ment
of life.

Palliative and end of


Primary Health
life care for people with Revisão de
Raymond M, et al. 2014 Care Research & MEDLINE
dementia: lessons for Literatura
Development
clinical commissioners.
Providing quality pallia- American Journal of
Revisão de
Yeaman PA, et al. 2013 tive care in end-stage Hospice & Palliative MEDLINE
Literatura
Alzheimer disease. Medicine®

Fonte: Guimarães TMR, et al., 2018.

Os resultados que trazem os artigos selecionados estão descritos no Quadro 2.

Quadro 2. Resultado dos artigos selecionados sobre os cuidados de enfermagem ao paciente com doença de Alzheimer
em conduta paliativa, 2013-2017.

Título do artigo Assistência prestada ao paciente com Alzheimer em cuidados paliativos

• Educar os pacientes e familiares sobre a doença,


• Envolver os pacientes e famílias no planejamento da assistência.
1 - Advanced Dementia • Prestar cuidado de acordo com as preferências do paciente.
• Promover intervenções e tratamento para sintomas angustiantes.
• As metas de atendimento são conforto ou prolongamento da vida.

• Notificar o diagnóstico e as consequências para a vida futura do indivíduo e


2 - Palliative care and quality assim deixá-lo tomar decisões de fim de vida.
of life for people with demen- • Monitorar sinais não-verbais de dor.
tia: medical and psychosocial • Envolver o paciente em atividades que lhes interessam.
interventions • Prover assistência psicológica e espiritual.
• O cuidado pode mudar caso o paciente rejeite.

338 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


• Entender os desejos da família quanto à terapêutica e aos cuidados de enfer-
magem, assim como um modo de cuidar holístico e humanizado.
• Aliviar a dor, proporcionar suporte psicossocial e espiritual, valorizar o conforto,
o bem-estar, o zelo, a dedicação, a empatia e a atenção.
3 - Cuidados paliativos e • O controle e o alívio da dor são um direito do indivíduo e um dever dos profis-
Alzheimer: concepções de sionais, que devem criar estratégias para diminuir o sofrimento.
neurologistas • Sintomas psicológicos e comportamentais podem ser tratados com terapia,
estimulação multissensorial e cognitiva, exercícios físicos, musicoterapia, recre-
ação e arteterapia.
• O cuidado deve ser pautado na escuta, na percepção, na compreensão e na
identificação das necessidades para, só então, planejar ações.

• O controle dos sintomas é um fator importante na melhoria da qualidade de


4 - Dying with dementia: symp-
vida do paciente.
toms, treatment, and quality of
• Uso medidas não-farmacológicas para o alívio da dor (fisioterapia, terapêutica
life in the last week of life
ocupacional, neuro-estimulação eléctrica, massagem).

• Melhor comunicação entre cuidadores e pessoas com demência pode aumen-


tar o bem-estar dos pacientes.
5 - Palliative and end of life
• Planejamento da assistência, preocupação com o conforto e alívio da dor e
care for people with dementia:
educação beneficiam os cuidados paliativos.
lessons for clinical commissio-
• Tratamentos invasivos devem ser desencorajados.
ners.
• Comunicação, relações sociais positivas e ambientes de cuidados e de apoio
diminuem explosões de agitação e agressividade.

• Os profissionais de saúde precisam discutir as decisões de fim de vida com


os pacientes, cuidadores e familiares logo após o diagnóstico e início do trata-
6 - Providing quality palliative mento.
care in end- stage Alzheimer • Permitir que pacientes com doenças terminais experimentar períodos de luci-
disease. dez e permitir a conectividade com a família como forma de melhorar a qualida-
de da vida, preservando a dignidade.
• Os cuidados paliativos melhoram a qualidade de vida e alivia o sofrimento.

Fonte: Guimarães TMR, et al., 2018.

DISCUSSÃO

O cuidado paliativo preza pela qualidade de vida tanto para o paciente enfermo quanto
para a sua família. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem um papel decisivo na promoção
dessa assistência paliativa humanizada. A organização dos cuidados paliativos deverá ter
como objetivo integrar os cuidados paliativos na rede de atenção à saúde (BRASIL, 2018).
A resolução Nº 41, DE 31 DE OUTUBRO DE 2018 normatiza que o SUS deve ofertar
gratuitamente cuidados paliativos como parte dos cuidados continuados incluído no âmbito
do sistema de saúde, o qual diz respeito ao tratamento e cuidados destinados a toda pessoa
afetada por uma doença que ameace a vida, seja aguda ou crônica, a partir do diagnóstico
desta condição (BRASIL, 2018):

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 339


“Cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe mul-
tidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus
familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção
e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e trata-
mento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”

A partir da leitura e análise crítica dos estudos, puderam-se identificar quatro temas
principais que estão ligados, de forma direta ou indireta, aos cuidados de enfermagem vol-
tados ao binômio o idoso com DA e família, sendo divididos nas seguintes categorias:

Diálogo aberto com o paciente e família sobre os objetivos do cuidado

Os princípios dos cuidados paliativos se aplicam desde o momento do diagnóstico de


DA ou de outras doenças degenerativas progressivas. É importante informar o indivíduo que
recebeu o diagnóstico sobre a natureza do diagnóstico e as consequências para sua vida
futura. O diagnóstico permite o início precoce do tratamento, que pode atrasar a progressão
da doença. As pessoas com esse diagnóstico também podem tomar decisões de fim de
vida, quando ainda conseguem entender e avaliar os benefícios dos tratamentos médicos
quando a demência progride para um estágio avançado (VOLICER L e SIMARD J, 2015).
Portanto, a pessoa diagnosticada com demência irreversível deve ser informada so-
bre a probabilidade de ser incapaz de tomar decisões sobre si mesma no futuro. Portanto,
eles devem ser incentivados a planejar com antecedência suas questões financeiras, local
preferido de residência e aceitação de intervenções médicas quando a demência se tornar
grave. É importante suscitar preferências da pessoa com DA, porque podem ser diferentes
dos desejos dos cuidadores familiares (DENING KH, et al., 2013). Famílias de pessoas com
diagnóstico de demência irreversível, como DA, raramente são informados que esta é uma
doença terminal e os princípios dos cuidados paliativos não são discutidos com eles. CP é
aplicável a partir do momento do diagnóstico da DA, por isso, a maneira como a abordagem
aos familiares é realizada guiará os sentimentos e as atitudes que conduzirão pacientes e
familiares ao enfrentamento da doença, pois, estes, precisarão tomar várias decisões que
virão à tona que direcionarão o binômio saúde e doença (WHO, 2017).
Todos os artigos analisados nesta revisão descreveram a importância de manter o diá-
logo aberto com o paciente e família sobre os objetivos do cuidado, com ênfase na educação
sobre a doença e envolvimento dos pacientes e familiares no planejamento da assistência
e prestação do cuidado de acordo com as preferências do paciente (MITCHELL SL, 2015);
notificar o diagnóstico e as consequências para a vida futura do indivíduo e assim deixá-lo
tomar decisões de fim de vida (VOLICER L e SIMARD J, 2015); os profissionais de saúde
precisam discutir as decisões de fim de vida com os pacientes, cuidadores e familiares logo
após o diagnóstico e início do tratamento (YEAMAN PA, et al.,2013); no início do atendimen-

340 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


to é necessário esclarecer a situação clinicado paciente para os familiares e estabelecer o
cuidado singular baseado no estado do paciente (RAYMOND M, et al., 2014).

A equipe multidisciplinar, assistência humanizada e o cuidado integral

Para idosos com patologias crônicas como a DA, a evolução para a morte sobrevém
quando o paciente se encontra em condição de fragilidade, com declínio das suas funções
biológicas e qualidade de vida. Desse modo há uma necessidade de promover assistência
integral, não só ao paciente, mas também a seus familiares, pois a aproximação da morte
de um ente querido desperta na família um desgaste físico e emocional. Para que se tenha
uma assistência integral é necessário que se tenha uma abordagem holística e humanizada
aos envolvidos, garantindo conforto e alívios dos sintomas (QUEIROZ RB, et al., 2014).
A abordagem multidisciplinar também é essencial para o cuidado, visando uma assis-
tência mais humanizada no final da vida. A equipe deve estar sintonizada, compartilhando
informações e trabalhando cooperativamente, entendendo quais são os objetivos a serem
atingidos nesta fase do cuidar (JOHNSON C, 2017). Neste sentido, a equipe deve oferecer
um tratamento adequado ao paciente com doença de Alzheimer, resgatando a humaniza-
ção do processo de morrer, e compreender a morte como parte da vida (CARDOSO DH, et
al.,2013).
Desta forma, mais do que habilidades técnicas de tratamento, é fundamental que a
equipe de saúde desenvolva uma relação de empatia com os pacientes e familiares, sendo
importante ouvir e ser sensível às necessidades dos mesmos, valorizando suas experiên-
cias, desenvolvendo uma relação baseada na dignidade e respeito de forma a auxiliá-los
no processo de morte (JOHNSON C, 2017).
Considerando a assistência integral na revisão realizada, verificamos que o modo de
cuidar deve ser holístico e humanizado; a importância de proporcionar suporte psicossocial
e espiritual, valorizar o conforto, o bem-estar, o zelo, a dedicação, a empatia e a atenção
ao paciente e familiar; preservar a autoestima do paciente, ter carinho e paciência, incen-
tivo às atividades que estimulem as funções mentais; a importância de prover assistência
psicológica, espiritual e a prestação do cuidado deve ser de acordo com as preferências do
paciente (QUEIROZ RB, et al., 2014; VOLICER L e SIMARD J, 2015).

O papel do enfermeiro na equipe

Os cuidados paliativos devem ser desenvolvidos integralmente, desde o controle de


sintomas, alívio da dor e do sofrimento psicológico. A Enfermagem tem, portanto, a respon-
sabilidade fundamental de reconhecer o seu papel na manutenção dos cuidados paliativos

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 341


em pacientes terminais. As estratégias de cuidados paliativos devem ser individuais, cen-
tradas no paciente, estabelecendo comunicação com a família, visando o cuidado integral
(WHO,2017).
O enfermeiro, integrante da equipe multidisciplinar, deve proporcionar uma abordagem
terapêutica de qualidade no tratamento ao paciente terminal acometido pela DA, trabalhando
com dignidade e respeito, ampliando a integralidade do cuidado (HENDRIKS SA, et al.,2014).
Desta forma, a equipe de enfermagem deve adotar estratégias para promover uma boa co-
municação, sejam elas a verbal e não verbal para subsidiar o cuidar humanizado ao paciente,
de forma a proporcionar apoio, segurança, confiança, transmitir força e esperança, o que é
primordial no contexto dos cuidados paliativos (MITCHELL SL, 2015).
Segundo a revisão realizada, a assistência de enfermagem deve ser planejada com
antecedência, proporcionando conforto, avaliando a nutrição, observando se houve com-
plicações de saúde, se há angústia e alteração de sintomas comportamentais, incluindo
ajuda aos familiares nos dilemas éticos, e nas tomadas de decisão (MITCHELL SL, 2015);
devem ser considerados os aspectos psicológicos e espirituais na assistência ao paciente
e o atendimento de suas necessidades básicas afetadas (VOLICER L e SIMARD J, 2015);
na assistência é imprescindível o conforto do paciente com doença terminal, e o controle de
possíveis sintomas depressivos tornando a assistência ainda mais valorizada e eficiente,
oferecendo qualidade de vida ao paciente e a família; monitorar os sinais não verbais de
dor, que comprometem as atividades da vida diária (QUEIROZ RB, et al., 2014); preocupa-
ção com o conforto e dor do paciente, educação em saúde para beneficiar a prestação de
cuidados paliativos para pessoas com demência (RAYMOND M, et al., 2014).

Alívio do sofrimento e da dor para melhorar a qualidade de vida

Segundo a OMS, “os cuidados paliativos são uma abordagem que melhora a qualidade
de vida de pacientes e suas famílias que enfrentam doenças com risco de vida, através da
prevenção e alívio do sofrimento por meio de identificação precoce, avaliação e tratamento
da dor e outros problemas físicos, psicossocial e espiritual” (WHO, 2017).
Embora a dor não seja uma consequência usual da demência, os pacientes com DA
devem ser cuidadosamente monitorados quanto à presença de dor. Devido a déficits de
memória pessoas com demência são menos propensas a relatar dor e, quando desenvol-
vem afasia, podem não poder informar verbalmente a presença de dor. De forma que gritar
ou rejeitar o cuidado pode ser a maneira de comunicar a dor ou desconforto. Portanto, é
importante monitorar sinais não-verbais de dor (VOLICER, 2009).
Neste contexto, outra prática contemplada nos cuidados paliativos é a sedação paliativa,
que é a administração deliberada de fármacos que reduzem o nível de consciência, com o

342 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


consentimento do paciente ou de seu responsável, que tem como objetivo o alívio dos sin-
tomas refratários, que podem ser físicos como a dor, dispneia, hemorragias e sangramentos
maciços, sejam eles emocionais como angústia e sofrimento existencial intenso e intratável.
Cada paciente deve receber sedativo e dose adequados para paliar o seu sintoma refratário
específico (VOLICER L e SIMARD J, 2015; JOHNSON C, 2017).
A dor mal controlada, não reconhecida e subtratada causa impacto, além do âmbito
físico, incluindo também comprometimento das atividades da vida diária (AVD) e humor,
comportamento inadequado como agitação e aflição, resistência ao cuidado, retraimento
social, processo de pensamento anormal e delírios (QUEIROZ RB, et al., 2014).
Em relação ao alívio da dor e outros sintomas físicos que interferem na qualidade de
vida do paciente com DA, verificamos no nosso estudo que todos os artigos descreveram
a importância do alivio da dor: os cuidados paliativos devem promover intervenções e tra-
tamento para sintomas angustiantes para melhoria da qualidade de vida do paciente (MI-
TCHELL SL, 2015); monitorar sinais não verbais de dor (VOLICER L e SIMARD J, 2015);
o controle e o alívio da dor são um direito do indivíduo e um dever dos profissionais, que
devem criar estratégias para diminuir o sofrimento (QUEIROZ RB, et al.,2014); uso medidas
não-farmacológicas para o alívio da dor (fisioterapia, terapêutica ocupacional, neuro-esti-
mulação eléctrica, massagem) (HENDRIKS SA,et al.,2014); os cuidados paliativos em toda
a trajetória da doença melhoram a qualidade de vida e aliviam o sofrimento (YEAMAN PA,
et al.,2013; JOHNSON C, 2017).

Importância da abordagem religiosa e espiritual em Cuidados Paliativos

A espiritualidade é o refúgio de famílias e pacientes em estado terminal, que necessi-


tam do cuidado paliativo não só para o alívio das dores físicas, mas das dores emocionais
e relacionamentos envolvidos no processo do cuidado. Por conseguinte, é evidente uma
intrínseca relação entre o cuidado paliativo e a espiritualidade, e como esses dois pilares
são essenciais à qualidade de vida do paciente, especialmente ao terminal. Dessa forma,
é importante que a equipe multidisciplinar compreenda e seja sensível às necessidades
espirituais do paciente para promover o cuidado integralizado, que por vezes é ignorado
pelas diretrizes curriculares no modelo cartesiano Flexneriano (SOUZA VCT, et al., 2012).
Neste contexto, é fundamental que a equipe de saúde, que assiste pacientes em cuida-
dos paliativos, tenha conhecimento de suas próprias questões sobre finitude e espiritualidade,
sendo o ponto vital nos cuidados com aqueles que estão partindo, porque a natureza religio-
sa e espiritual do ser humano é ainda pouco abordada pelos profissionais, sendo portanto
crucial que a equipe aceite os diferentes valores religiosos e espirituais, sem julgamentos,
permitindo a participação do paciente e familiares nos planos de cuidados (SAPORETTI LA

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 343


e SILVA AMOP, 2012).
Na revisão realizada, verificamos que apenas dois artigos descrevem a importância
dos aspectos psicológicos e espirituais da assistência ao paciente. Volicer L e Simard (2015)
ressaltam a importância de prover assistência psicológica e espiritual de forma a melhorar a
qualidade de vida, proporcionando apoio emocional ao paciente; e Queiroz RB et al. (2014)
que enfatizam a necessidade de proporcionar suporte psicossocial e espiritual promovendo
conforto e bem-estar do paciente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos artigos analisados, conclui-se que os princípios básicos para os cuidados
paliativos integrais compreendem reconhecer a morte como um processo natural da vida e
incorporar a integração dos cuidados físicos, espirituais, emocionais e sociais na promoção
do conforto dos pacientes. Conforme recomenda a filosofia paliativista, que compreende o
paciente e sua família na sua subjetividade, a equipe de enfermagem deve atender as ne-
cessidades do paciente com doença de Alzheimer oferecendo cuidados de forma integral
e humanizado, permitindo a participação da elaboração dos planos de cuidados, desenvol-
vendo uma relação de empatia baseada na dignidade e respeito de forma a auxiliá-los no
processo de morte.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 345


25
“ Atuação da enfermagem em
crianças com convulsão febril

Albérica de Cássia da Silva Pereira


UFPE / SES/ PE- HBL

Ademilton de Freitas Santos


UFPE / SES/ PE- HBL

Tayná Rafaelle Lopes Pereira da Silva


UFPE

10.37885/200700724
RESUMO

Introdução: Convulsão febril (CF) é definida como crise acompanhada por febre maior
ou igual a 38ºC, que ocorre em crianças de 6 a 60 meses de idade sem evidência
de infecção. As CF não devem ser confundidas com epilepsia. O reconhecimento das
crises febris é clínico, necessitando de diagnóstico diferencial. Objetivo: Revisar na
literatura as características da convulsão febril infantil e aperfeiçoar o conhecimento e a
prática de enfermagem. Metodologia: Foi realizada uma revisão da literatura nacional
baseada na análise de publicações que abordasse a convulsão febril com ênfase em suas
características clinicas, terapêuticas e atuação da enfermagem. No período de novembro
a dezembro de 2019, nas bases de dados SCIELO, LILACS, BVS. Usamos na busca
dos artigos os descritores: convulsão; cuidado de enfermagem; criança; emergência;
febre. Selecionamos 18 artigos, utilizamos 10, disponíveis em texto completo. Foram
inclusos artigos focados na convulsão febril em crianças, condição de urgência, cuidado
de enfermagem. Os que não contemplassem o tema, duplicados e fora da faixa etária
pediátrica foram excluídos. Resultados e Discussão: A maioria dos autores consideram
que as CF podem ocorrer nas primeiras 24 horas do episódio febril, em que há rápida
elevação da temperatura e são benignas. Os autores classificam os tipos de crise febril
e diferenciam as crises convulsivas epiléticas das febris. Sete artigos abordaram a crise
convulsiva como situação de urgência clínica e enfatizam o uso de anticonvulsivantes e
benzodiazepínicos, além de orientação aos pais. Os fatores riscos: idade menor que 18
meses, sexo masculino e antecedentes familiares. A qualificação da equipe é importante,
no tocante a enfermagem, no manejo da crise convulsiva e epiléticas nas emergências
pediátricas. Conclusão: As crises convulsivas são comuns na infância. O atendimento
de urgência é necessário, a fim de garantir uma abordagem rápida, eficaz e livre de
danos ao paciente.

Palavras-chave: Cuidado de enfermagem; Convulsão; Emergência; Criança; Febre;


INTRODUÇÃO

A crise convulsiva infantil está ligada a uma alteração no funcionamento do sistema


nervoso central e sua manifestação difere em grau e intensidade na criança, segundo a faixa
etária, podendo resultar em sequelas por toda vida (NASCIMENTO, 2014).
Convulsão febril (CF) é definida como crise convulsiva acompanhada por febre (tem-
peratura maior ou igual a 38ºC por qualquer método de medida) que ocorre em crianças de
6 meses a 60 meses de idade sem evidência de infecção ou inflamação do sistema nervoso
central (SNC), alteração metabólica e sem história prévia de crise convulsiva. As CFs não
devem ser confundidas com Epilepsia, que é uma doença, não relacionada a insulto agudo
do sistema nervoso central e se caracteriza por crises epilépticas afebris recorrentes, com
manifestação motora, devido atividade neuronal excessiva. Deste modo, tanto as crises
convulsivas, quanto as crises epiléticas possuem manifestação motoras. Assim, a febre
pode ser fator estimulante em alguns eventos epiléticos e a partir disso, confundida como
convulsão simples. Estima-se que 2% a 5% das crianças menores de cinco anos de idade
apresentarão pelo menos um episódio de convulsão em vigência de febre na vida. A crises
convulsivas são consideradas benignas e autolimitadas e classificadas em simples e com-
plexas (ALENCAR, 2015; BRITO, 2017).
De modo geral as convulsões simples ou típicas generalizadas (acomete os dois he-
misférios cerebrais), de curta duração, únicas e sem recorrência em 24h. Já as Crises com-
plexas ou atípicas focais/parciais (acomete determinada área cerebral) com duração maior
que 10 a 15 min podendo ser ou não recorrente nas 24h que a sucedem, acompanhada por
sinais neurológicos transitórios. A observação da manifestação clínica das crises convulsivas
é fundamental para estabelecer a conduta terapêutica no momento, se tônica ou clônica
(apresentam contrações musculares seguidas de relaxamento, com duração de minutos
ou segundos, nas crises simples), Ou se é Tônica-clônica (apresenta contração de toda
musculatura corporal, cianose, apneia e relaxamento esfincteriano nas crises complexas).
Aproximadamente 80% das crises convulsivas febris são do tipo simples. Recentemente foi
sugerida a duração de 5 minutos do episódio convulsivo como o limite para uma intervenção
terapêutica ativa. Esta observação foi feita porque crises que duram mais de 5 min, muitas
vezes não param espontaneamente e tem um maior potencial para induzir lesão neuronal
permanente e ou resistência a drogas (GUARAGNA, 2016; BRITO et al, 2017).
No entanto, estudos clínicos e experimentais demonstram que o cérebro imaturo apre-
senta maior susceptibilidade a convulsões. Os mecanismos fisiopatológicos para a convulsão
febril ainda não foram claramente estabelecidos. Alguns autores acreditam que a condição
de imaturidade do cérebro, a falta de mielina, a diferença de permeabilidade celular e a ati-
vidade elétrica do cérebro da criança são algumas das razões que tornam as crianças mais

348 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


susceptíveis a convulsões febris, quando relacionados à condição adulta, e a etiologia do
processo infeccioso não parece ser determinante para a crise febril. Entretanto, a presença
de febre é essencial, embora não se conheça seu mecanismo de ação (ALENCAR, 2015).
A história familiar para CF constitui importante fator de risco, tanto para a recorrência
do episódio convulsivo, como para o desenvolvimento da epilepsia. Diversos estudos têm
descrito a associação de algumas síndromes epilépticas e a convulsão febril, indicando a
possibilidade de alterações genéticas semelhantes em ambas. Ademais, a idade precoce da
primeira crise, história familiar de crises, temperatura (inversamente proporcional ao grau) e
duração do período febril (quanto menor o período, maior a chance de recorrência) apesar de
não se ter conhecimento do grau de importância desta relação (ALVARENGA et al., 2015).
Em relação as crises febris a abordagem diagnóstica é direcionada, através de anamne-
se e exame clínico cuidadosos, devendo sempre classificar a crise em simples ou complexas
e identificar o possível foco da febre afim de descartar meningite ou encefalite. É necessário
investigar todas as intercorrências no período da gestação, parto ou a presença de qualquer
doença sistêmica concomitante como, por exemplo, cardiopatias, coagulopatias ou distúr-
bios hidroeletrolíticos. Deve-se insistentemente questionar antecedentes de uso de drogas,
traumas ou outras patologias anteriores. A investigação deve ocorrer concomitantemente
ao manejo terapêutico e após estabilização clínica do paciente deve ser aprofundada.
O Diagnóstico diferencial é primordial. Pois, nem todos os pacientes com perda de
consciência, que apresentem tremores ou mesmo liberação de esfíncteres, apresentam
fenômenos epilépticos. Deve-se procurar afastar a possibilidade de outros distúrbios paroxís-
ticos de ordem não epiléptica, como síncopes, eventos enxaquecosos, hiperplexia, distúrbios
metabólicos, reações medicamentosas, entre outras. Em relação ao tratamento, quanto mais
duradoura a crise que o paciente apresenta, maior serão os riscos de sequelas neurológicas,
complicações sistêmicas e maior será a chance da crise se tornar refratária. Vale ressal-
tar que, a forma mais comum de crise convulsiva é por meio de um quadro febril, assim é
desnecessário a investigação ampliada, do mesmo modo, as crianças com diagnóstico já
estabelecido de epilepsia e com uso de medicação anticonvulsivante estão dispensadas de
investigação aprofundada (ALMEIDA, 2018; BRITO et al, 2017; GUARAGNA, 2016).
A classe de drogas de primeira escolha consiste na linha dos Benzodiazepínicos,
como o Diazepam (0,2 e 0,3mg/ kg, via endovenosa ou retal podendo ser repetido até dose
cumulativa de 5mg) e o Midazolam (0,2 a 0,7mg/kg, via endovenosa (EV), intramuscular
(IM) ou retal), para controle de crises convulsivas maior que 5 minutos. Estas medicações
atuam na inibição neural mediada pelo ácido gama-aminobutiríco (GABA) e tem rápida ação
e meia vida curta. Inicialmente após estabilização da crise é necessário a associação de
outro medicamento de meia vida mais longa e se as crises persistem deve ser introduzido

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 349


medicamentos de terceira linha, a exemplo da Fenitoína (25-30mg/kg/, EV) ou fosfenitoína
(25-30 mg/kg). Se paciente pediátrico em uso contínuo de Fenitoína, usar o Fenobarbital 20-
30 mg/kg IV. O tratamento do paciente que está convulsionando deve ser realizado através
das medidas de suporte, terapêuticas e diagnósticas, que são conduzidas praticamente de
modo simultâneo (BRITO et al, 2017; GUARAGNA, 2016).
Como em qualquer situação de emergência, inicialmente, devem ser efetuados cui-
dados com permeabilidade e aspiração de vias aéreas, suporte de oxigenação (cateter
ou máscara), posicionamento lateral, a fim de evitar bronco aspiração, monitorização da
frequência cardíaca, oximetria de pulso, glicemia capilar e um acesso venoso, que servirá
para administração de anticonvulsivantes, que deve ser iniciado após cinco, ou dez minutos
de atividade epiléptica/convulsiva contínua e se necessário coleta de exames laboratoriais.
Fazem-se necessários profissionais capacitados e aptos para atender a demanda na
rede de urgência, realizando procedimentos específicos conduzidos por um atendimento
humanizado e adequado à criança. E diante das especificidades do setor de emergência, o
trabalho em conjunto se torna essencial na condução de cada caso. O profissional de enfer-
magem deve ser uma pessoa tranquila, ágil, de raciocínio rápido, de forma a se adaptar, de
imediato, a cada situação que se apresente à sua frente. (RIBEIRO, 2019; BORRIM, 2018;
ALMEIDA, 2018; CASELLA, 2017; GUARAGNA, 2016).
A atuação dos profissionais em especial a enfermagem nas unidades de emergência
pediátrica é de extrema importância, pois lidam com crianças em risco de vida iminente,
onde o atendimento rápido e eficaz é de suma importância. Neste contexto, a educação
permanente se faz necessária às equipes de saúde em todos os níveis de atenção, atuali-
zando conhecimentos e aperfeiçoando a pratica profissional. A inovação do conhecimento
deve ser uma constante, pois, a falta de preparo técnico e conhecimento científico traz
consequências desfavoráveis à criança e seus familiares ao desfecho da convulsão febril. A
orientação familiar é fundamental neste momento, o cuidador ou os pais devem estar cientes
da possível recorrência da convulsão e os cuidados imediatos que devem ser tomados neste
caso como: lateralizar a cabeça, prevenindo aspiração, folgar as roupas principalmente ao
redor do pescoço, não introduzir objetos na boca e nem as mãos evitando mordeduras, não
oferecer líquidos ou medicamentos. Se crise febril não dar banho gelado ou compressas
com álcool, só banho com água em temperatura ambiente (SOUSA, 2014; BRITO, 2017;
GUARAGNA, 2017; BORRIM, 2018).

OBJETIVO

Revisar os achados na literatura sobre as características da Crise Febril Infantil e


aperfeiçoar o conhecimento e a pratica de enfermagem acerca do tema.

350 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


METODOLOGIA

Realizou-se uma revisão da literatura nacional baseada na análise de livros, tese, dis-
sertações, trabalhos publicados em anais de congressos, artigos científicos que abordam a
convulsão febril, com ênfase em suas características clínicas, epidemiológicas, terapêuticas
e atuação da enfermagem. A busca ocorreu nos meses de novembro e dezembro de 2019,
nas bases de dados Science Direct e Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Virtual de Saúde
do Brasil (BVS), além do repositório de bibliotecas online de universidades públicas do Brasil.
Foi utilizada na busca a intersecção dos seguintes Descritores em Saúde (DESCS):
1) convulsão febril; 2) enfermagem; 3) criança; 4) emergência. A pesquisa bibliográfica é
desenvolvida com base em material já elaborados constituídos principalmente por livros e
artigos científicos (GIL, 2008).
Foram selecionados 18 artigos, sendo 10 utilizados e disponíveis online em texto com-
pleto e resumos. Para a seleção das fontes, foram consideradas como critério de inclusão
aqueles artigos que fossem focados na convulsão febril em crianças, condição de urgência,
cuidado de enfermagem e publicados nos últimos 5 anos. E os artigos que não contem-
plassem a temática acima, artigos duplicados ou não abordassem a faixa etária pediátrica
foram excluídos.
A seguir, é possível observar na figura 1, o fluxograma da triagem dos estudos encon-
trados nas ferramentas de busca em saúde, para direcionar a revisão literária.

Fig. 1. Fluxograma da seleção amostral dos estudos.

Fluxograma da seleção amostral dos estudos incluídos na revisão de literatura:

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A amostra final resultou em dez artigos (NASCIMENTO 2014; ALENCAR 2015; ALVA-
RENGA et al., 2015; BRITO et al 2017; ALMEIDA, 2018, BORRIM, 2018 e CASELLA 2017;

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 351


SOUSA 2014; GUARAGNA, 2017, RIBEIRO, 2019) para compor esta revisão bibliográfica.
Foi realizada a caracterização dos achados quanto ao ano de publicação, periódico em que
foi publicado, título do artigo, em que foi realizada a pesquisa, delineamento do estudo,
e resultados em comum. Em relação ao ano de publicação, os estudos designados são
recentes e compreendem o período inicial a partir de 2015. No que se refere ao periódico,
todos os estudos foram publicados em revistas de saúde e de autoria de profissionais da
área, principalmente professores, mestres, alunos e doutores do departamento de pediatria
e saúde materno-infantil.
Dentre os artigos incluídos na presente revisão a maioria dos autores consideram as
crises febris que ocorrem nas primeiras 24 horas do episódio febril, no período em que há
rápida elevação da temperatura, são vistas como benignas. Em relação aos tipos de crise
febril os autores NASCIMENTO 2014; ALENCAR 2015; ALVARENGA et al., 2015; ALENCAR
2015; BRITO et al 2017; ALMEIDA 2018 BORRIM 2018, ALMEIDA 2018, CASELLA 2017;
BRITO ET AL 2017; SOUSA, 2014) classificam os tipos e diferenciam suas manifestações,
também destacam a influencia de fatores genéticos para ocorrência de tal fato.
De forma unanime, 7 artigos abordam a crise convulsiva como situação de emergência
clínica. A maioria dos autores dos artigos pesquisados enfatizam o uso de anticonvulsivantes
e benzodiazepínicos na situação de urgência como drogas de primeira linha e encaminhara
criança para investigação mais especifica se necessidade de uso continuo. Para Alencar
(2015) alguns fatores de risco são disparadores dos episódios da crise convulsiva/epilepsias
na criança como: idade precoce da primeira crise (considerada menor que 18 meses), sexo
masculino, antecedente familiar de crise febril ou epilepsia, e anormalidade do desenvolvi-
mento neuropsicomotor.
Na visão de Borrim (2018), o tratamento das crises convulsivas/epiléticas devem ocorrer
na fase aguda, de forma preventiva e com orientação aos pais . No tocante às convulsões
simples, desencadear o mal epilético, Brito e outros autores (2017) relatam a importância
do diagnóstico diferencial entre a etiologia da crise aguda ou proveniente de doença crônica
para uma abordagem correta e direcionada da situação de emergência. Vale ressaltar, que
a qualificação da equipe em especial a enfermagem é fator primordial no manejo da crise
convulsiva/epilética na emergência pediátrica de acordo como corroboram Souza (2014) e
Ribeiro (2019).

CONCLUSÃO

Contudo, a crise convulsiva é um evento neurológico comum na infância, com baixa


morbidade, mortalidade e recorrência. O atendimento de urgência é condição premente nesta
situação, devido a necessidade do uso de medicações endovenosa e observação clínica.

352 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Neste contexto, a capacitação da equipe no manejo da criança em crise e no diagnostico
diferencial da convulsão febril simples, ligada à condição aguda ou ligada a doença crônica,
se faz necessário, coma finalidade de garantir um atendimento rápido, eficaz e livre de danos
ao paciente, incluindo nesse atendimento a orientação correta aos pais ou responsáveis.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, S. P. Convulsão febril: aspectos clínicos e terapêuticos. Artigo de revisão. Revista
médica, v.55, n.1, p.38-42, Fortaleza, 2015.

ALVARENGA, R. P. et al. Convulsão febril: estudo de base populacional. Jornal de pediatria, v.


91, p.529-534, Rio de Janeiro, 2015.

BORRIM, C. Revisão bibliográfica: crises epiléticas febris em crianças. Revista uniplar, Disponível
em <http:// revista.uniplar.net>. Acesso em: 23 de nov. de 2019.

BRITO, K. B; VASCONCELOS, M. M; ALMEIDA, S. S. A. Convulsões. Revista Pediátrica SOPERJ,


v.17, supl.1, p.56-72, Rio de Janeiro 2017.

DE ALMEIDA, P. Crises epiléticas na infância. Revista uniplar, Disponível em <http://revista.uniplar.


net>. Acesso em: 23 de nov. de 2019.

GUARAGNA, J. B. A; KLEIN, C. C; VANZELLA, M. F; PEREIRA, A. M. Manejo das crises convul-


sivas na emergência pediátrica. Acta Médica, v.37, supl.7, Porto Alegre, 2016.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. Revista Atlas, ed.10, São Paulo, 2008

MACHADO, M. R; CARMO, A. L. S; ANTONIUK, S. A. Crise febril na infância: Uma revisão dos


principais conceitos. Publicação anual da Sociedade Brasileira de Pediatria. Residência Pediátrica,
v.8, p.11-16, Curitiba 2018.

NASCIMENTO, A. D. Perfil dos casos de crise convulsiva atendidos no pronto atendimento no ano
de 2013. 29 fls. TCC (especialização - Programa de Pós-graduação em Enfermagem. Linhas de
Cuidado em Urgência e Emergência) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014.

RIBEIRO, D. R; MESQUITA, N. A; NASCIMENTO, M. C. F; SOUZA, L. M. C. Atendimento de en-


fermagem na área de urgência e emergência pediátrica. Revista Artigo.com, v.10, 2019.

SOUSA, M. J. Proposta de capacitação para profissionais de enfermagem da urgência e emer-


gência de um hospital público. 35 fls. TCC (especialização - Programa de Pós-graduação em
Enfermagem. Linhas de Cuidado em Urgência e Emergência) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2014.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 353


26
“ Atuação do enfermeiro na
assistência ao paciente idoso
portador de úlcera venosa

Aline Pereira Bonfim


Centro Universitário Jorge Amado

Gilvane Teixeira Souza


Centro Universitário Jorge Amado

Márcia Carvalho Pita


Centro Universitário Jorge Amado

Anne Jacob de Souza Araújo


Centro Universitário Jorge Amado

Artigo original publicado em: 4/2019


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700583
RESUMO

Objetivo: Descrever o perfil clínico dos pacientes idosos portadores de úlcera venosa e a
assistência que vem sendo prestada pelos enfermeiros nas unidades de saúde. Métodos:
Trata-se de uma revisão bibliográfica, que ocorreu na base de dados Biblioteca Virtual
em Saúde, utilizando-se os descritores em saúde “idoso”, “úlcera varicosa”, “cuidados
de enfermagem”, combinados entre si. Foram selecionados 12 artigos que se fizeram
apropriados a esta pesquisa. Resultados: Conhecer o perfil sociodemográfico dos
pacientes e sua relação com a qualidade dos atendimentos prestados pelos enfermeiros
viabiliza um bom prognóstico no tratamento dessas úlceras. Considerações finais:
Percebeu-se que a atividade continuada e a implantação de protocolos são a melhor
estratégia para um bom atendimento evitando assim recidivas.

Palavras-chave: Idoso; Úlcera varicosa; Cuidados de enfermagem.


INTRODUÇÃO

O aumento do número de idosos é notável em todo o mundo. Em 2010, existiam no país


20,5 milhões de idosos, aproximadamente 39 para cada grupo de 100 jovens. Estimam-se
para 2040, mais que o dobro, representando 23,8% da população brasileira e uma propor-
ção de quase 153 idosos para cada 100 jovens. Essa nova realidade demográfica, com um
número cada vez maior de idosos, exige também do sistema de saúde capacidade para
responder às demandas atuais e futuras. Com avanço da tecnologia junto com uma melhor
qualidade de vida, possibilitou ao homem uma expectativa de vida maior, consequentemente,
o aumento da preocupação não só com a saúde física, mas também com a saúde mental
da população com mais de 65 anos de idade. A partir dessa idade surgem doenças típicas
da população idosa somadas à comorbidades pré-existentes (SANTANA RF, et al., 2009;
MIRANDA GMD, et al., 2016).
Segundo o Ministério da Saúde (2008), as doenças associadas à velhice não fazem
parte do processo normal de envelhecimento. Elas ocorrem porque as perdas funcionais
decorrentes do envelhecimento aumentam a vulnerabilidade do idoso ao câncer, às doenças
cardíacas, ao acidente vascular encefálico e outras. E neste contexto, uma das principais
causas que levam idosos à internação hospitalar são as doenças do aparelho circulatório,
perfazendo um total de 27,4% das internações.
As úlceras são mais frequentemente encontradas nos serviços da rede básica de saú-
de, hospitais gerais e especializados e advém da insuficiência venosa crônica (IVC), em um
percentual entre 80% a 85%, e de doença arterial 5% a 10%, sendo o restante de origem
neuropática (usualmente diabética) ou mista (ABBADE LPF e LASTORIA S, 2006).
Estima-se que aproximadamente 3% da população brasileira possuam lesões venosas,
que se elevam para 10% no caso de diabéticos. Dessa população, em torno de quatro mi-
lhões de pessoas possuem lesões crônicas ou têm algum tipo de complicação no processo
de cicatrização (FERNANDES LF, et al., 2013).
As principais causas das úlceras crônicas no idoso são de origem vascular, resultantes
da insuficiência venosa crônica (70 a 90%) e com uma menor frequência de origem neu-
ropática e arterial (10 a 15%). Afetam de forma significativa, a qualidade de vida dos seus
portadores, pois além do seu caráter redicivante, permanecem por muito tempo abertas,
influenciando nas relações sociais, no exercício do trabalho e nas atividades de lazer (SILVA
FAA, et al., 2009).
As pessoas com lesões de qualquer etiologia requerem uma assistência de qualidade
com visão integral do ser humano, dentro do seu contexto socioeconômico, cultural e de saú-
de, e com atuação de equipe multidisciplinar, considerando a complexidade e dinamicidade
que envolve o processo de cicatrização dessas lesões (ABBADE LPF e LASTORIA S, 2006).

356 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


O conhecimento dessas doenças é extremamente importante para o diagnóstico cor-
reto para que medidas terapêuticas específicas sejam adotadas. O diagnóstico incorreto
desencadeará necessariamente uma abordagem incorreta, com atraso na cicatrização da
úlcera e prejuízos ao paciente. Por exemplo, se um paciente com úlcera arterial receber com-
pressão elástica, pois foi erroneamente diagnosticado como úlcera venosa, poderá ocorrer
uma descompensação importante da circulação arterial periférica, causando piora da dor,
aumento e surgimento de novas úlceras e formação de áreas necróticas, levando muitas
vezes à amputação do membro comprometido (MALAGUTTI W e KAKIHARA TC, 2011).
Este trabalho tem como justificativa a importância da assistência sistemática com o
público idoso com úlcera venosa, afim de diminuir o tempo de tratamento, evitar recidivas,
e consequentente, complicações relacionadas a essas lesões. Busca-se o aprimoramento
das técnicas já utilizadas, afim de sistematizar o tratamento.
Diante desse contexto e procurando entender sobre a real situação o estudo tem como
questão norteadora: Padronizar as condutas que deverão ser seguidas pelos enfermeiros
nos cuidados com o paciente idoso portador de úlcera venosa poderá melhorar a qualidade
do atendimento?
O estudo tem como objetivos identificar o perfil clínico dos pacientes idosos portadores
de úlcera venosa e conhecer a forma que a assistência vem sendo prestada pelos enfermei-
ros nas unidades de saúde aos idosos portadores de úlcera venosa.

METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão integrativa de literatura. Teve por finalidade juntar, organi-
zar e avaliar de forma sistemática resultados de pesquisas voltados para uma determinada
temática que permitirá a síntese do conhecimento (OLIVEIRA FP, et al., 2016).
As buscas foram realizadas nos seguintes bancos de dados Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS). A coleta foi realizada utilizando a associação dos seguintes descritores em
Ciências da Saúde (Decs): idoso, úlcera varicosa e cuidados de enfermagem, no período
de fevereiro de 2018.
Dos descritores associados resultaram em um total de 40 artigos. Foram seleciona-
dos os que atendiam aos seguintes critérios de inclusão: artigos com textos completos, em
português, entre 2006 e 2016, e descartados os que atendiam ao seguinte critério de ex-
clusão: artigos que não abordassem a temática do estudo como, artigos de revisão, teses
e dissertações.
Após passar pelos critérios de inclusão e exclusão restaram 34 artigos aos quais foram
lidos os títulos e selecionados os que condiziam com o tema do trabalho, restando 21 artigos.
Após essa seleção foram lidos os resumos de forma minuciosa para identificar os que

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 357


atendiam ao objetivo da pesquisa, de forma que restaram 17 artigos. Foram excluídos repeti-
dos e incompletos 05, restando assim 12 artigos que se fizeram apropriados a esta pesquisa.
Foi realizada a análise do conteúdo, a partir da realização de fichamentos e estrutu-
ração de categorias.
O presente estudo por ser de revisão não foi submetido à avaliação do Comitê de Ética
em Pesquisa de acordo com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), por
se tratar de uma revisão da literatura, porém todos os preceitos éticos estabelecidos serão
respeitados no que se refere a zelar pela legitimidade das informações de acordo com as
normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta revisão bibliográfica foram analisados 12 trabalhos relacionados ao objetivo da


pesquisa. Para facilitar a apresentação e análise destes resultados, elaborou-se uma tabela
com os seguintes dados: autores/as, ano de publicação, título, objetivo da pesquisa (Tabela
1).
A abordagem dos assuntos discutidos nos artigos utilizados, envolvem o perfil socio-
demográfico dos pacientes idosos com úlcera venosa e sua relação com a qualidade dos
atendimentos prestados pelos enfermeiros, visando a importância de se estabelecer um
protocolo de assistência eficaz e da educação continuada e permanente desses profissionais
no exercício das suas funções.
Diante da leitura do material descrito na tabela acima, foi formulada as seguintes cate-
gorias: perfil clínico dos pacientes idosos portadores de úlcera venosa, e características do
atendimento realizado pelo enfermeiro nas unidades de saúde visando melhoria no atendi-
mento do idoso portador de úlcera venosa.

Perfil clínico dos pacientes idosos portadores de úlcera venosa

Benevides JP, et al. (2013), identificou que a maioria dos idosos que possuem úlcera
venosa ou arterial encontram-se numa faixa etária de 69 anos, a maior parte deste são do
sexo feminino e casados. Em relação ao grau de escolaridade, nunca tinham estudado, ou
apenas estudaram cerca de cinco anos em toda a vida.

358 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Tabela 1. Artigos originais selecionados.

Autores/as Ano Título Objetivo(s)

Realizar avaliação clínica de


Avaliação clínica de úlcera de úlceras de perna em idosos
Benevides JP, et al. 2012
perna em idosos. atendidos em um ambulatório
especializado.

O cotidiano do homem que


Compreender o cotidiano do
convive com a úlcera venosa
Silva MH, et al. 2013 homem que convive com a
crônica: estudo fenomenoló-
úlcera venosa crônica.
gico.

Propor um protocolo para


Proposta de protocolo para assistência às pessoas com úl-
Dantas DV, et al. 2013 assistência as pessoas com cera venosa (UV) atendidas em
úlcera venosa. Hospital de referência do Rio
Grande do Norte/RN, Brasil.

Identificar o conhecimento dos


enfermeiros das equipes de
Cuidado às pessoas com saúde da família (ESF) do dis-
úlcera venosa: percepção dos trito III de Uberaba- MG sobre
Reis DB, et al. 2013
enfermeiros da estratégia de os cuidados necessários às
saúde da família. pessoas portadoras de úlcera
venosas e descrever suas
percepções.

Identificar aspectos validados


Protocolo de assistência a
por juízes para elaboração de
Dantas DV, et al. 2013 pessoas com úlcera venosa:
protocolo de assistência a pes-
validação do conteúdo
soas com úlceras venosas.

Influência da assistência e Verificar a influência da assis-


características clínica na quali- tência e das características clí-
Dias TYAF, et al. 2013
dade de vida de portadores de nicas na qualidade de visa de
úlcera venosa pacientes com úlcera venosa.

Comparar os domínios da
qualidade de vida relacionados
à saúde (QVRS) de pessoas
com úlcera venosa (UV) atendi-
Comparação dos domínios da
das no Hospital Universitário
Torres VG, et al. 2014 qualidade de vida de clientes
Onofre Lopes (HUOL), em
com úlcera venosa.
Natal/RN, Brasil, e em quatro
unidades de cuidados de
saúde primários em Évora,
Portugal.

Identificar a prevalência de dor


Prevalência da dor e fatores
e veri- ficar os principais fato-
Salvetti MG, et al. 2014 associados em pacientes com
res associados à dor em pa-
úlcera venosa
cientes com úlceras venosas.

Identificar o perfil sociodemo-


Perfil sociodemográfico e clí-
gráfico e clínico dos pacientes
nico de pacientes com úlceras
com úlceras venosas, acompa-
Eberhardt TD, et al. 2016 venosas acompanha- dos em
nhados no ambulatório de um
ambulatório: estudo transversal
hospital universitário do sul do
descritivo.
Brasil.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 359


Analisar a associação entre
Associação dos fatores so- os fatores socioeconômicos
cioeconômicos e clínicos e o e clínicos e os indicadores do
Medeiros ABA, et al. 2016
resultado integridade tissu- lar resultado de enfermagem Inte-
em pacientes com úlceras. gridade Tissular em pacientes
com úlceras venosas.

Realizar o mapeamento cru-


zado dos termos referentes às
Classificações de intervenções intervenções e aos resultados
e resulta- dos de enfermagem de enfermagem nos prontuá-
Oliveira FP, et al. 2016
em pacientes com feridas: rios dos pacientes com feridas
mapeamento cruzado em comparação às classifica-
ções de intervenções e aos
resultados de enfermagem.

Descrever o cuidado em saúde


Cuidados em saúde de pes- realizado pelas pessoas com
Rizzattil SJS, et al. 2016 soas com úlcera venosa em úlcera venosa em assistência
assistência ambulatorial ambulatorial em um hospital
público da região sul do Brasil.

Fonte: próprios autores, 2018.

A maioria dos pacientes com úlcera venosa tem no membro inferior edema, veias
varicosas, eritema, descamação e prurido, possuem em média, entre um a cinco lesões, e
que o tempo de permanência das mesmas era de 3 anos, apresentava dor de intensidade
variável (EBERHARDT TD, et al., 2016).
As úlceras venosas são encontradas com maior frequência, em idosos, na região mais
distal dos membros inferiores, como por exemplo, o maléolo. As úlceras nessa região estão
intrinsecamente ligadas a deficiência do sistema circulatório (BENEVIDES JP, et al.,2013).
Outro aspecto observado foi que a maioria dos pacientes com úlcera venosa relata-
ram ser portador de hipertensão arterial sistêmica, seguida da insuficiência venosa crônica,
além de fazerem uso contínuo de medicamentos, possuíam alterações significativas nos
índices de massa corporal sendo em média 29,7 kg/m², dados analisados no ambulatório
(EBERHARDT TD, et al., 2016).
A dor em pacientes com úlcera venosa é uma característica predominante, apresen-
tando-se pior à noite, gerando limitação na mobilidade dos membros inferiores afetados. É
evidenciada por muitos pacientes como o maior impacto em sua qualidade de vida (TORRES
GV, et al., 2014).
Devido às restrições nas atividades da vida diária, os portadores de úlcera venosa,
são expostos a uma séria de conflitos desencadeando, consequentemente, ao mesmo o
confinamento e afastamento da sociedade (SILVA MH, et al.,2013).
Estudos comprovam que a qualidade de vida em pacientes portadores de feridas crôni-
cas, afetam seu estilo de vida devido à dor, dificuldade de mobilidade, depressão, perda da

360 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


autoestima, isolamento social, inabilidade para o trabalho e frequentemente altera a imagem
corporal, proporcionando uma diminuição na qualidade de vida. As úlceras crônicas repre-
sentam a problemática típica das lesões crônicas e possui caráter quase sempre recidivo
(CARMO SS, et al.,2007).
Vale ressaltar que idosos possuem úlceras venosas há mais de um ano, que fatores
como infecções tamanho, localização, tipo da úlcera, metabolismo e funcionamento do
sistema circulatório contribuem significativamente para a cicatrização destas úlceras (BE-
NEVIDES JP, et al.,2013).
O domínio da dor relativamente pode estar associado com fatores sociodemográficos
como: gênero, faixa etária, estado civil, escolaridade, profissão e ocupação, renda, doenças
crônicas, sono, etilismo e tabagismo. Pacientes com ocupação profissional evidenciam menor
intensidade da dor, ou seja, os cidadãos que exercem uma atividade laborativa propendem
a enfatizar não mais que a sensação dolorosa (SALVETTI MG, et al.,2014).
As feridas crônicas causam uma diminuição da autoestima nos pacientes, visto que
atingem a vida social, psicológica e emocional destes, levando a um isolamento e abandono
do tratamento causando recidivas. Mudanças nas relações interpessoais, perda significativa
da autonomia, incapacitação para realização de atividades, baixa autoestima, imagem cor-
poral e autoimagem prejudicadas, trazem reflexos no processo de socialização do homem
(TORRES GV, et al., 2014; SILVA MH, et al., 2013).
A úlcera venosa causa inúmeras restrições no cotidiano, afetando a qualidade de vida
relacionada à saúde, por ser uma doença de classificação crônica, evidencia largamente
restrições em uma parte localizada do corpo, que pode se estender às outras áreas do corpo
(DIAS TYAF, et al., 2013).
Existem instruções que o correto gerenciamento da dor contribui realmente para uma
boa cicatrização das úlceras. O controle da dor, ao portador de uma úlcera venosa, melhora
significativamente a qualidade de vida do indivíduo, pois com isso irá gerar melhora no auto
estima, fazendo com que eles fiquem menos predispostos a pensar na dor. A incidência de
dor na úlcera venosa em pacientes com maior faixa etária, menor poder aquisitivo e grau
de instrução é bem maior. Em relação a assistência prestada na úlcera venosa pode-se ob-
servar que o tipo prestado influencia diretamente no grau da dor. O grau da dor pode estar
relacionado também com práticas viciantes como consumo do álcool e do tabaco. Conforme
o tamanho e aspecto da lesão, diminui ou aumenta a intensidade da dor e um impacto nas
atividades diárias (SALVETTI MG, et al., 2014).
Os sinais e sintomas decorrentes da lesão afetam diretamente na vida social gerando
isolamento aos homens portadores de úlcera venosa, a dor crônica, o odor fétido, a lesão
propriamente dita, gera afastamentos. A vergonha e o preconceito inviabilizam a vida a dois,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 361


e essa falta que eles sentem de ter uma companheira, um apoio, interfere diretamente na
sua recuperação (SILVA MH et al.,2013).
A saúde mental de um indivíduo portador de úlcera venosa é severamente compro-
metida, alterando o seu nível de qualidade de vida, limitando-o de apreciar a vida e realizar
suas atividades do dia a dia que requer esforço (TORRES GV, et al., 2014).
Além disso, pessoas portadoras de úlceras venosas desenvolvem um custo adicional
nas suas despesas mensais, com o tratamento farmacológico e materiais para os curativos.
A depender da situação financeira em que o paciente se encontre inserido, a presença da
ferida e os cuidados que esta demanda, cause uma desestabilização na parte financeira que
termina afetando a qualidade de vida desses indivíduos (DIAS TYAF, et al., 2013).
A procura pela assistência nos serviços de saúde para a prevenção dos agravos ocorre
de maneira desproporcional, as mulheres em sua maioria ajudam a compor essa estatística,
enquanto que os homens não comparecem, o reflexo pode ser observado nas intervenções
tardias e na presença de complicações do quadro clínico (EBERHARDT TD, et al., 2016).
Foi feita uma correlação entre a renda familiar e o indicador necrose ao qual apontou
grandes chances de o tratamento ser negligenciado ou ser realizado de forma pouca eficaz
nesses pacientes, aumentando o risco de desenvolver tecidos não viáveis, impedindo assim
o processo de cicatrização (MEDEIROS ABA, et al., 2016).
Relacionado a forma que as pessoas portadoras de úlceras venosas cuidam das mes-
mas, ficou evidenciado a necessidade de aproximação entre o popular e o profissional no
sentindo de favorecer a troca de conhecimentos para uma maior compreensão relacionadas
às alterações que ocorrem na vida das pessoas (RIZZATTI SJS, et al.,2016).
A qualidade de vida do portador de úlcera venosa é drasticamente alterada, princi-
palmente se este for ativo, gerando um aumento do número de atestados, diminuição na
produção de trabalho e até mesmo isola- mento social, por conta da aparência (TORRES
GV, et al., 2014).
O tipo de assistência prestada ao portador de úlcera venosa influencia drasticamente
na sua capacidade funcional. Um atendimento adequado e embasado na parte científica
juntamente com a prática profissional diminui a incapacidade funcional e um menor impacto
da dor na qualidade de vida (DIAS TYAF, et al.,2013).
A avaliação clínica da úlcera de perna deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar
capacitada acerca do assunto. A equipe de enfermagem é responsável pelos curativos tanto
nas unidades básicas quanto no âmbito hospitalar (BENEVIDES JP, et al.,2013).
O tratamento para úlcera venosa é prolongado e requer alto custo, o que gera uma
dependência na terapia. Os pacientes se restringem às atividades cotidiana, devido a cronici-
dade das mesmas, prolongado o tempo de cura dessas úlceras (TORRES GV, et al., 2014).

362 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


O tipo de assistência está correlacionado com as características da lesão o que interfere
na capacidade funcional do paciente. Diante desse contexto espera-se que intervenções
sejam criadas para melhorar a qualidade de vida dos mesmos (DIAS TYAF, et al.,2013).
Visando um estilo de vida baseado nos bons hábitos de saúde, as pessoas com úlce-
ra venosa mudam seus hábitos alimentares, controlando o sal, açúcar, temperos, frituras,
gorduras e carboidratos, assim como ingerindo diariamente frutas, verduras, e cuidando da
higiene dos alimentos e pessoal (RIZZATTI SJS, et al.,2016).
Diante da diversidade acerca do perfil dos pacientes idosos com úlceras venosas fica
evidenciado que estes não têm conhecimento sobre o problema de saúde que os acomete.
Devido à falta de informação e orientação os mesmos têm sua rotina diária alterada em vis-
ta da doença. Fica evidenciado que a falta de conhecimento sobre a patologia pode gerar
diversos agravos à vida social desses pacientes.

Características do atendimento realizado pelo enfermeiro nas unidades de saúde


visando melhoria no atendimento do idoso portador de úlcera venosa

A equipe de enfermagem é responsável pelo cuidado de feridas, seja nas unidades


básicas de saúde como em âmbito hospitalar. O enfermeiro se destaca na avaliação clínica
e na decisão terapêutica adequada, papel de grande relevância no processo de cicatrização
das mesmas (BENEVIDES JP, et al.,2013).
Os enfermeiros surgem como participantes ativos em cuidar de pessoas com feridas
e usar seu conhecimento sistemático para planejar o cuidado. No entanto, para aplicar o
tratamento adequado, precisam de ferramentas eficientes para avaliar as condições de seus
pacientes (SANTOS RC, et al., 2013).
Em estudo realizado por Dantas, et al. (2013), verificou-se que o diagnóstico da úlcera
venosa é extremamente clínico, que inclui uma avaliação minuciosa da lesão e realização
de diversos exames como hemograma completo, glicemia em jejum, albumina sérica, sinais
vitais, cultura de exsudato, Índice Tornozelo Bra- quial (ITB), ecodoppler colorido, flebografia
e pletismografia.
É de grande relevância a importância da atuação do enfermeiro ao considerar os as-
pectos socioeconômicos e clínicos ao avaliar o paciente portador de úlcera venosa, tendo
em vista as repercussões que esse tratamento irá trazer na vida dos pacientes (MEDEIROS
ABA, et al., 2016).
Dois itens se fazem extremamente importantes para o tratamento da úlcera venosa: o
primeiro é a capacitação profissional que engloba vários fatores relacionados ao treinamento
dos profissionais na realização do exame físico, da úlcera, do Índice Tornozelo Braço (TIB)
e da terapia compressiva. O segundo se destaca o resumo clínico dos pacientes, resultados

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 363


de exames, diagnóstico, tratamento, conduta e outras observações relevantes (DANTAS
DV, et al., 2013).
Além disso, objetivando-se um tratamento ambulatorial adequado para os pacientes é
de suma importância que as unidades de saúde tracem um plano de cuidados contínuo com
o objetivo de dar continuidade ao tratamento e acessibilidade aos pacientes para as consul-
tas de enfermagem. Nesse contexto, visando uma qualidade de vida mais satisfatória para
os portadores de úlceras venosas, se faz necessário investir na melhoria dos atendimentos
clínicos, além de uma assistência de qualidade contínua e multiprofissional que visa atender
todos os aspectos afetados pela lesão (OLIVEIRA FP, et al., 2016; DIAS TYAF, et al., 2013).
O tratamento ideal para úlcera venosa requer uma avaliação da lesão, exame físico
completo, implementação de terapia que facilite o retorno venoso, uso de antibióticos, se
necessário, visando um bom processo de cicatrização (REIS DB, et al., 2013).
Dentre os cuidados com a lesão Oliveira, et al. (2016), evidenciou intervenções de
enfermagem segundo a Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC), quais sejam:
o cuidado com as lesões, irrigação de lesões, administração de medicamentos, cuidados
com a pele tratamentos tópicos, monitorização de sinais vitais, controle de hiperglicemia,
controle da hemorragia, controle de medicamentos, supervisão, controle da nutrição, ensino
sobre o cuidado dos pés e promoção do exercício.
Para desempenhar um bom atendimento além de intervenções sincronizadas, um
protocolo com os seguintes itens viabiliza um atendimento de excelência: Avaliação do
paciente e da lesão; Registro e documentação; Cuidado com a ferida e a pele perilesional;
Indicação de cobertura; Uso de antibiótico e tratamento da dor; Tratamento cirúrgico da
IVC; Tratamento medicamentoso; Melhorias do retorno venoso e prevenção de recidiva;
Encaminhamento dos pacientes; Capacitação profissional e Referência e Contra- referência
(DANTAS DV, et al., 2013).
Oliveira, et al. (2016), destaca ainda a assepsia da lesão com solução fisiológica a
0,9%, técnica asséptica, uso de medicamentos específicos, registro da ferida como tamanho
e aspecto são intervenções de enfermagem, assim como não se deve esquecer de avaliar
a drenagem, a cor, o tamanho e odor.
Visando uma melhoria do retorno venoso e a prevenção de recidiva, se faz necessário
englobar diversas informações sobre a técnica e o profissional que aplica a terapia com-
pressiva e estratégias clínicas e educativas para a prevenção. Um outro momento muito
importante, é o encaminhamento desses pacientes para uma avaliação com angiologista,
dermatologista e outros profissionais da equipe multidisciplinar (DANTAS DV, et al., 2013).
Entendendo-se que, não basta o acesso referenciado aos profissionais, faz-se neces-
sário o registro nas fichas contendo resumo clínico, exames realizados, diagnóstico, conduta

364 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


e observações pertinentes a cada caso (BAJAY HM, ARAÚJO IEM, 2006).
Vale ressaltar que o portador de úlcera deve estar atento a todas as orientações que
são passadas, técnica correta para realização do curativo, a cobertura apropriada para a
lesão, dieta que facilite o processo de cicatrização e uso de meias compressivas, evitando
assim recidivas (REIS DB, et al., 2013).
O enfermeiro é responsável pelo diagnóstico dessas lesões, mas a falta de conheci-
mento no momento do diagnóstico acarreta várias consequências para o paciente. A edu-
cação continuada e protocolos instalados nas instituições ainda é a melhor forma para os
profissionais obterem conhecimento acerca da patologia e orientar com discernimento e
coerência os pacientes portadores dessas lesões.

CONCLUSÃO

O presente estudo possibilitou conhecer o perfil sociodemográfico do idoso portador de


úlcera venosa e identificar o atendimento prestado pelo enfermeiro aos mesmos. Percebeu-se
que a maioria deles apresenta um baixo nível de escolaridade, o que compromete a capaci-
dade de entendimento acerca do autocuidado, o que pactua negativamente no tratamento.
O enfermeiro é responsável pelo diagnóstico dessas lesões, acompanhamento e orien-
tação de todo o tratamento prestado a estes. Entretanto, ao apresentar déficit de conhe-
cimento acerca da problemática, ocorre a influência negativa no processo de cicatrização
das lesões, cooperando para a agravamento do sofrimento biopsicossocial do paciente e
seus familiares. Logo, percebe-se que a atividade continuada e a implantação de protocolos
direcionado ao atendimento às pessoas com úlceras venosas é a melhor solução para bom
atendimento evitando assim recidivas.

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366 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 367


27
“ Avaliação antropométrica de
crianças de escolas públicas e
particulares em um município
do interior paulista

Humberto Tavares de Carvalho Júnior


UNIFRAN

Miguel Takao Yamawaki Murata


UNIFRAN

William Cesar Pena Soares da Silva


UNIFRAN

Maíra Ferro de Sousa Touso


UNIFRAN

Roberta Alves Macedo


UNIFRAN

10.37885/200700672
RESUMO

Objetivo: Comparar dados antropométricos, hábitos alimentares e frequência de esportes


em crianças de uma rede pública e particular de ensino. Métodos: Participaram do
estudo 80 crianças, na qual 35 estavam na escola pública e 45 em uma escola particular.
Foram coletados os dados antropométricos peso, altura e calculado o índice de massa
corporal. Posteriormente, foi aplicado um questionário em cada participante sobre a
qualidade de seus hábitos alimentares e prática de esportes. Foi utilizado o teste t de
Student para comparação de dois grupos independentes; e, nos dados em que estiveram
envolvidos mais que dois grupos, foi realizada a Análise de Variância de Fisher (ANOVA)
com pós-teste de Tukey, com nível de significância de 5,0% (α=0,05). Resultados: A
proporção de crianças que praticam esportes (p=0,0060*) e a frequência dessa prática
(p=0,003*) são maiores nos escolares da escola particular; as crianças das escolas
públicas apresentaram maior proporção de refeições frente à televisão (p=0,0026*).
Conclusão: Estes achados demonstram características de hábitos de saúde, relevantes
para o crescimento e desenvolvimento da criança, que apresentam diferenças entre
as redes de ensino pública e particular, ressaltando que a rede pública deve priorizar
mudanças para minimizar possíveis hábitos que podem comprometer o desenvolvimento
da criança pela sua vida.

Palavras-chave: Criança; Desenvolvimento infantil; Antropometria.


INTRODUÇÃO

O estado nutricional de uma criança é consequência de vários fatores que se somam,


de modo a possuir grande influência o meio em que esta vive. Nos países em desenvolvi-
mento, como o Brasil, é necessária uma constante vigilância das condições nutricionais da
população, dada a alta prevalência de distúrbios alimentares, tanto a desnutrição como, mais
recentemente, a obesidade (RINALDI AEM, et al., 2008). A partir disso, é parte crucial do
estudo de uma criança sua avaliação nutricional, pois os primeiros anos de vida são essen-
ciais para o desenvolvimento. Com isso, pode-se observar se o crescimento está afastando
do padrão esperado, devido a condições ambientais desfavoráveis ou a algum processo
patológico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).
O Brasil vive em uma época de transição nutricional na qual as doenças e fatores que
causam desnutrição e baixo desenvolvimento estão dando lugar a doenças e fatores que
causam obesidade infantil e distúrbios metabólicos, devido às mudanças no estilo de vida,
padrão dietético e inatividade física (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). Com o aumento da
urbanização, fator que leva à mudança nos padrões de morbimortalidade, hoje ocorre uma
redução da mortalidade por doenças infectocontagiosas e aumento das doenças crônicas
não transmissíveis (diabetes, dislipidemias e hipertensão arterial sistêmica) (SANTOS DS,
et al., 2019).
No decorrer do tempo, ocorreram mudanças de padrões alimentares no qual a subs-
tituição de alimentos in natura, ou minimamente processados, de origem vegetal por pro-
dutos industrializados prontos para consumo, determinam um desequilíbrio entre a oferta
de nutrientes e a ingestão excessiva de calorias, que, entre outras consequências, ocorre o
aparecimento de doenças crônicas em jovens adultos, adolescentes e crianças, com impor-
tância para as doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2014; CADAMURO SDP, et al., 2016).
Práticas de uma boa alimentação e esportes devem ser incentivadas e aprimoradas,
principalmente na infância, já que muitas das concepções geradas nesta etapa serão le-
vadas para a vida adulta (COLEONE JD, et al., 2017). É sabido que após o processo de
industrialização e urbanização, em conjunto à exposição excessiva de multimídias como
televisores, computadores e jogos eletrônicos, houve diminuição da prática de esportes na
faixa etária pediátrica. O esporte em crianças melhora o perfil lipídico e metabólico, reduz
a prevalência de obesidade na idade adulta, aumenta a probabilidade de tornar um adulto
ativo, tendo como base sólida a diminuição do comportamento sedentário, condicionando
uma melhor qualidade de vida (MITRE RMA e GOMES R, 2004).
A orientação do esporte em crianças tem o propósito de criar o hábito e interesse, sem
visar o desempenho desta. Assim, objetiva à inclusão no cotidiano, valorizando a educação

370 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


física nas escolas através do esporte, que educa e socializa, promovendo sua saúde (MITRE
RMA e GOMES R, 2004). Devido a limitada acessibilidade e a escassez da prática orien-
tada sobre esportes, apenas uma pequena parcela da população as realiza, devendo ser
considerado diferentes fatores sóciodemográficos, ambientais e escolares como principais
influenciadores sobre a prática (SILVA J, et al., 2016).
Além do incentivo à prática de esporte no período infantil, não se pode descartar a
relevância do incentivo ao brincar. Essa fase do desenvolvimento humano é rica de pen-
samentos fantasiosos, manifestados pelas brincadeiras, pois cada criança partilha de uma
cultura lúdica, a qual é formada a partir da introjeção de regras do meio social que a circunda
(COSTA AR, BARROS TES e KUNZ E, 2018). O brincar manifesta-se como uma possibi-
lidade de expressão de sentimentos, preferências, receios e hábitos. Além disso, promove
a interação da criança com seus semelhantes e contribui com o desenvolvimento físico, no
caso de brincadeiras ativas (ANTUNES M e LUÍS H, 2018).
Compreender sobre a influência de fatores socioeconômicos e culturais na alimenta-
ção e prática de esportes das crianças mostra-se essencial, pois vivemos uma transição
epidemiológica onde a obesidade e doenças cardiovasculares são relevantes, onde se faz
necessário o estudo sobre os principais fatores que interferem e influenciam a prevalência
destas desordens. Este estudo tem como objetivo comparar dados antropométricos, hábitos
alimentares e frequência de esportes de crianças em uma rede pública de ensino e em uma
rede particular, para identificar as possíveis implicações na área de saúde, afim de compa-
rar as medidas obtidas entre si, estabelecendo uma relação entre a nutrição e prática de
esportes das crianças nos diferentes níveis sociais.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal, quantitativo realizado em duas escolas de ensino


fundamental, sendo uma escola pública e outra particular. O presente estudo foi encaminhado
ao comitê de ética em pesquisa da Universidade de Franca e, somente após sua aprovação
(CAAE: 99625218.5.0000.5495), os responsáveis pelas crianças, estudantes das escolas,
que concordassem em tê-las participando do estudo assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
Como critérios de inclusão deste estudo foram as crianças com faixa etária de 7 a
10 anos, matriculadas nas escolas participantes. Como critérios de não inclusão foram as
crianças que se recusaram aos testes e aquelas cujos pais não autorizaram a participação.
Desta forma, foram elegíveis para o estudo 35 crianças da escola pública e 45 da escola
particular. Inicialmente, foram averiguados nos participantes os dados antropométricos (peso,
altura e calculado o Índice de Massa Corporal – IMC, peso dividido pela altura ao quadrado).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 371


Após a coleta dos dados antropométricos, foi aplicado um questionário nas crianças,
na qual foi perguntado ao participante sobre seus hábitos alimentares e sua rotina de prática
de esportes. O questionário sobre os hábitos alimentares, elaborado pelos autores, conti-
nha perguntas sobre quais alimentos elas consumiam no café da manhã, lanche, almoço
e jantar, com intuito de definir a qualidade de suas refeições; além, também, de perguntas
à respeito se elas faziam as refeições junto à família e se costumava fazer a refeição em
frente a televisão. O questionário sobre a prática de esportes da criança, também elabora-
do pelos autores, perguntava se os participantes praticava algum esporte (se sim, qual e
quantas vezes por semana) e sobre sua brincadeira preferida, com o intuito de determinar
a influência destes fatores no estado nutricional.
Os dados antropométricos coletados foram analisados de acordo com as curvas de
peso/idade, altura/idade, e cálculo do IMC, presentes na literatura e interpretados em seguida
de acordo com os valores padrão (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). Os dados antropomé-
tricos e as respostas dos questionários foram tabulados em uma planilha eletrônica.
As variáveis numéricas foram caracterizadas pelos parâmetros de média aritmética e
desvio padrão. Em função do teste de D’Agostino e Pearson ter projetado populações de
origem normalizadas, a condução da inferência estatística se fez na perspectiva paramétrica.
Assim, para a comparação de dois grupos independentes foi utilizado o teste t de Student e,
nos casos em que estiveram envolvidos na análise mais do que dois grupos os contrastes,
se fizeram pela Análise de Variância de Fisher (ANOVA) com pós-teste de Tukey. A medida
de associação utilizada no caso de variáveis qualitativas foi a estatística de Qui-quadrado
(χ²). Em todos os testes estatísticos o nível de significância pré-estabelecido foi de 5,0%
(α=0,05). Os cálculos foram realizados no software GraphPad Prism 5.0 e os gráficos des-
critivos, no software Excel do Office 2010 da Microsoft.

RESULTADOS

Participaram deste estudo 80 estudantes, nas quais 44 (55%) eram do sexo feminino e,
destas, 25 (31%) estavam matriculadas na escola particular. Na escola pública, verificou-se
que os estudantes possuíam média de peso de 46kg(±13) e média de pontuação no IMC
de 22(±2.8). Na escola particular, a média de peso encontrada foi de 33kg(±3.5) com média
de IMC 16 (±2.8).
Em relação a qualidade dos alimentos ingeridos pelas crianças durante as refeições, não
foram encontradas diferenças significativas no consumo de carboidratos, proteínas, lipídios
e fibras (p > 0,05) nos contrastes eutrófico x sobrepeso, eutrófico x obeso e sobrepeso x
obeso no pós teste de Tukey, na ANOVA de Fischer, conforme tabela 1. Não há associação
significativa entre escola e perfil antropométrico definido pelo IMC (χ²=1,46; p=0,4820).

372 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Tabela 1. Relação da proporção dos estudantes segundo a classificação do IMC.

Quanto à proporção de crianças que fazem refeições em companhia dos pais, não
houve diferença estatisticamente significativa entre a escola pública (85,7%) e a escola
particular (88,9%) (p=0,3351). A proporção de crianças que faz refeições frente à TV é sig-
nificativamente maior na escola pública (60,0%), comparada a essa proporção na escola
particular (28,9%) (p=0,0026*), conforme tabela 2. A proporção de crianças que pratica es-
porte é significativamente menor na escola pública (65,7%), comparada a essa proporção
na escola particular (88,9%) (p=0,0060*), conforme tabela 2; a frequência semanal média
dessa prática é também significativamente maior entre os alunos da escola particular por
semana 2,80±1,85 contra 1,42±1,32 vezes por semana entre os alunos da escola pública
(p=0,003*), conforme gráfico 1.

Tabela 2. Proporção de estudantes que fazem refeições com os pais e em frente à TV.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 373


Gráfico 1. Frequência média semanal de prática de atividade física.

DISCUSSÃO

A detecção precoce de maus hábitos alimentares e não prática de esportes repercutem


em inadequados índices antropométricos que permitem intervenção precoce, além de mi-
nimizar risco de desenvolvimento de doenças crônicas no futuro. Neste estudo, foi possível
verificar que 38 (47%) dos participantes desta pesquisa são categorizados como eutróficos,
sendo que 42.9% estão na escola pública e 53,5% são matriculados na escola particular.
São dados positivos e condizentes com os achados à respeito da qualidade dos alimentos
que os estudantes ingerem, sendo possível verificar que não houve diferenças significativas
no consumo de carboidratos, proteínas, lipídios e fibras nas comparações entre eutrófico x
sobrepeso, eutrófico x obeso e sobrepeso x obeso.
Esses dados mostram que ações de educação alimentar e nutricional, previstas no
Programa Nacional de Alimentação Escolar, estão sendo reforçadas a fim de promover me-
lhora na situação alimentar e nutricional dos escolares (COLEONE JD, et al., 2017). Estes
achados demonstram que a classe social não é um fator que promove diferença nos hábitos
alimentares das crianças, podendo estar associada a políticas públicas bem sucedidas de
distribuição de renda, erradicação da pobreza absoluta, ampliação do acesso a serviços
básicos de saneamento, educação e saúde, um processo conhecido como transição epide-
miológica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). Deste modo, para verificar estas hipóteses, seria
necessário coletar dados mais direcionados para o tipo de instruções sobre alimentação que
as crianças recebem, tanto na rede pública quanto na rede escolar.
O hábito de ter uma alimentação saudável não é meramente uma escolha individual,

374 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


visto que sofre influência econômica, cultural e social, que pode afetar de maneira negativa
ou positiva na adoção de padrões alimentares. Neste estudo, verificou-se que mais de 80%
das crianças, tanto da escola pública quanto da escola particular, fazem suas refeições na
presença dos pais. Segundo uma atual revisão integrativa da literatura, o ato de se alimentar
oportuniza as interações sociais e que o indivíduo, ao realizar suas escolhas alimentares,
é influenciado por questões afetivas e familiares, mostrando a importância da família estar
sempre unida e fazer uma supervisão mais apurada do que a criança consome (SOUZA AA
e CADETE MMM, 2017).
Um dado interessante desta pesquisa é que houve maior proporção de crianças obesas
na escola pública (25,7%) do que na escola particular (15,5%), não sendo achados esta-
tisticamente significativos. Sabe-se que a obesidade na infância é um importante indicador
de obesidade em adolescentes e, posteriormente, em adultos. Essa relação demonstra a
necessidade veemente de medidas preventivas realizadas pelas autoridades para formulação
de diretrizes para políticas de saúde, para que esse quadro venha ser reduzido (SANTOS
DS, et al., 2019). Esses achados mostram-se diretamente ligados à proporção de crianças
da escola pública que fazem suas refeições em frente a televisão, sendo maior estatistica-
mente que a proporção das crianças da escola particular.
Sousa et al (2018) analisou o papel da mídia na alimentação infantil e os possíveis
impactos ao longo da vida. O excesso de tempo diante da televisão impede que as crianças
desenvolvam sua capacidade de melhor escolha no campo nutricional, pois são facilmente
influenciadas por produtos vinculados a personagens, consequentemente podem ser vicia-
das mais cedo em hábitos não saudáveis. As crianças acabam não sabendo o valor dos
alimentos saudáveis, não associam saúde com uma alimentação saudável e acabam fazendo
a escolha errada. As crianças são receptoras passivas, além de terem uma interatividade
maior com o veículo do que os adultos, são a principais vítimas desse veículo, que possue
um poder de influência grande entre as crianças que estão em formação e são incapazes
de processar as imagens fornecidas pela mídia.
Dentre as estratégias para a melhoria da saúde pública, podem se destacar o incentivo
à prática de esportes, juntamente com a melhora de hábitos alimentares (SANTOS DS, et
al., 2019). Sabe-se que a boa alimentação deve ser o ponto de partida para o melhor desem-
penho em esportes. Os nutrientes ingeridos são utilizados na forma de energia, reparação
de tecidual, fortalecimento do sistema imunológico, formação de enzimas e proteção contra
elevações demasiadas dos radicais livres, culminando na melhora do desempenho geral.
Hábitos alimentares equilibrados e ajustados às necessidades individuais são cuidados
suficientes para praticantes de esportes sem fins competitivos, sendo dispensável o uso de
suplementos e outras estratégias para o desenvolvimento corporal (SOUZA IR e CARGNIN-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 375


-CARVALHO A, 2018; SOARES TC, et al., 2019). Este estudo demonstrou que as crianças
da escola particular praticam mais esportes que as crianças da escola pública. Apesar de
que não houve diferenças significativas entre o tipo de alimento ingerido e a classificação
do IMC, estes achados corroboram com os resultados de que 53,5% que estão na rede
particular são eutróficas.
Queiroz DR, et al (2016) realizou um estudo que avaliou 292 crianças entre 3 e 5 anos
de idade, matriculadas tanto em escolas públicas quanto particulares, para avaliar suas
competências motoras. Os autores concluíram que é necessário um ajuste nos ambientes
físicos e nas oportunidades de prática de esportes em diferentes ambientes escolares, seja
em escola pública ou particular, sendo necessários que os profissionais responsáveis por
esse ciclo de escolarização e seus gestores criem condições estruturais que adequem os
projetos políticos pedagógicos e planos de ensino para o desenvolvimento de habilidades
motoras fundamentais. Essas habilidades potencializam condições indispensáveis para o
engajamento em esportes e o desenvolvimento motor ativo e saudável ao longo da vida.
Neste estudo, foi possível verificar que as crianças, tanto da rede pública quanto da
particular, apresentam peculiaridades em relação à hábitos alimentares e prática de espor-
tes. Essas diferenças podem ser explicadas pelo fato de que foi utilizado uma metodologia
subjetiva, na qual a própria criança responde as questões levantadas pelos pesquisadores,
sendo, portanto, eficiente na identificação precoce de risco nutricional e alterações nutri-
cionais. Por esse motivo, é capaz de detectar sinais de desnutrição que podem passar
despercebidos ao considerar apenas peso, altura e IMC na avaliação nutricional, como no
caso da classificação segundo as curvas da OMS (BARBOSA-SILVA MC e BARROS AJ,
2002; PIMENTA FS, et al., 2018).
Este estudo foi realizado em uma cidade do interior do estado de São Paulo em uma
região que apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,78, considerado alto.
Deve-se lembrar de que o Brasil é um país com uma heterogenia à respeito dos hábitos
alimentares, segundo cada região, e por isso faz-se necessário o acesso da população à
informações confiáveis sobre as características e determinantes de uma alimentação sau-
dável, gerando deste modo a autonomia para escolha de refeições mais benéficas á saúde
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014; COLEONE JD, et al., 2017). Deste modo, este estudo
mostra a importância de futuras pesquisas que tenham abrangência nacional sobre os há-
bitos alimentares de crianças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em relação às medidas antropométricas das crianças, não houve diferenças signifi-


cativas entre as crianças da rede pública em comparação as crianças da rede particular.

376 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


No entanto, este estudo apontou que a proporção de crianças que praticam esportes e
a frequência dessa prática são maiores nos escolares da setor particular, enquanto nas
escolas públicas há um maior número de crianças que se realizam as refeições em frente
à televisão. Estes achados são relevantes por apontarem particularidades nos hábitos de
vida e cuidados da saúde nos diferentes níveis socioeconômicos. Detectar riscos para o
desenvolvimento físico infantil é um passo vital para o planejamento de ações, no âmbito
privado e público, que possam promover cuidados em saúde, conscientização e estímulo à
mudanças de hábitos, os quais repercutirão no curso de suas vidas.

REFERÊNCIAS

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 377


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378 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


28
“ Avaliação da cobertura vacinal
do sarampo no período de
2013-2019 e sua relação com
a reemergência no Brasil

Elem Cristina Rodrigues Chaves


FIBRA

Kleber das Neves Trindade Júnior


FIBRA

Beatriz Fernanda Fernandes de Andrade


FIBRA

Maria Helena Rodrigues de Mendonça


FIBRA

Artigo original publicado em: 1/2020


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700658
RESUMO

Objetivo: Avaliar a cobertura vacinal do sarampo nas regiões do Brasil no período 2013
a 2019, e relacionar com sua reemergência no período de 2018 a 2019. Métodos: Trata-
se de um estudo ecológico, transversal de caráter descritivo, abrangendo uma análise
de séries temporais da cobertura vacinal para tríplice e tetra viral do Brasil. Resultados:
Após análise dos dados, foi observado reemergência do sarampo no período de 2017
a 2019, confirmado mais de 10 mil casos de 2018 a 2019, sendo esses concentrados
na faixa etária menor de 5 anos seguido de 20 a 29 anos. Tal fato decorre das baixas
coberturas vacinais em crianças de 1 a 4 anos, sendo, de acordo com os dados, menores
que a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde para todas as regiões do Brasil, o
qual favorece o atual perfil de surto de alguns estados, como Pará, São Paulo e Rio de
Janeiro. Conclusão: As baixas coberturas vacinais influenciam diretamente no aumento
dos casos de doenças imunopreveníveis, tais coberturas inadequadas decorrem da
crescente desinformação da população referente às vacinas e seus benefícios. Destaca
a importância das avaliações constantes das coberturas vacinais e fortalecimento dos
sistemas de vigilância epidemiológica.

Palavras-chave: Vacina tríplice; Sarampo; Cobertura vacinal.


INTRODUÇÃO

Desde que Edward Jenner demonstrou que a imunização poderia ser alcançada e as-
sim diminuir as mortes causadas por doenças transmissíveis, a sociedades humana investe
nas melhorias ou descobertas de novas vacinas (LOROCCA LM e CARRARO TE, 2000).
No século XVIII, a varíola foi considerada uma das principais patologias que dizimaram a
população mundial, em 1980, a Organização Mundial de Saúde (OMS) conseguiu sua erra-
dicação após vacinação em massa (BRASIL, 2005).
No Brasil, o Programa Nacional de Imunização (PNI), criado em 1973 pelo Ministério da
Saúde (MS), tem como objetivo coordenar as ações de imunizações administradas rotineira-
mente nos serviços de saúde, tentar alcançar as coberturas vacinais e erradicar ou controlar
diversas doenças imunopreveníveis, representando um avanço de extrema importância para
saúde pública, tal programa conta com a respeitabilidade e credibilidade da população e de
grupos científico (MONTEIRO CN, et al., 2018; MIZUTA AH, et al., 2019).
Apesar do seu reconhecido impacto na diminuição da morbimortalidade de doenças
infectocontagiosas, evitando milhões de mortes, a aceitação das vacinas ainda não é uni-
versal (MIZUTA AH, et al., 2019). Essa medida preventiva, frequentemente, vem sendo
questionada e criticada devido aos seus efeitos adversos (WHO, 2015).
Os grupos de recusa vacinal ou antivacinismo têm se tornado mais evidente em diver-
sos países, o receio aos Eventos Adversos Pós Vacinação (EAPV) vem se proliferando em
todo o mundo, aumentando a quantidade de pessoas e grupos que declaram preocupações
com a segurança e a necessidade da aplicação das vacinas (MONTEIRO CN, et al., 2018).
Atualmente, o PNI define um Calendário Nacional de Vacinação que contempla dezes-
sete vacinas distribuídas de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL,
2017).
A vacina tríplice viral, incluída no calendário de vacinação em 1992, trata-se de uma
vacina atenuada que contém vírus vivo do sarampo, rubéola e caxumba (SRC) sem a capa-
cidade de induzir doenças, sendo administradas e duas doses, a primeira aos doze meses
de idade e a segunda aos quinze meses. Tenta-se estabelecer uma ampla imunização de
rotina para que a cobertura vacinal atinja o patamar de 95% (BRASIL, 2014; CVE, 2016;
SBIM, 2017). A tríplice viral é altamente imunogênica, conferindo proteção de 98% contra
sarampo, 99,3% contra rubéola e 96,1% contra caxumba (SVS, 2018).
O sarampo, rubéola e caxumba, são doenças altamente contagiosas e de fácil propa-
gação com predomínio durante a infância, sua transmissão ocorre por vias aéreas através de
tosse e espirros ou contato com a saliva e secreções respiratórias de indivíduos infectados,
tais patologias são capazes de apresentar várias complicações graves (BRASIL, 2003; CVE,
2017). Não há tratamento específico para tais infecções, baseia-se na realização de medidas

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 381


de suporte e utilização de medicamentos sintomáticos, e a melhor forma de prevenção é
através da vacinação (TAVARES W e MARINHO LAC 2005; BRASIL, 2019).
Em 2013, a vacina tetra viral (tríplice viral + varicela) foi introduzida ao calendário de
vacinação substituindo a segunda dose da tríplice viral para crianças de quinze meses. A
vacina foi introduzida com o objetivo de evitar complicações e óbitos por varicela e controlar
e eliminar doenças preveníveis pela tríplice viral (BRASIL, 2014). Embora as vacinas estejam
disponíveis nos serviços públicos de saúde e sua eficácia seja comprovada, a circulação
de informações sem comprovação científica, a exemplo da pesquisa publicada pelo médico
Andrew Wakefield, o qual associava a utilização da tríplice viral ao autismo, fazem com que a
procura pela vacina diminua, mantendo a cobertura vacinal abaixo da meta, tornando assim,
possível a circulação viral (WAKEFIELD AJ, 1999; BRASIL, 2005).
Segundo a OMS, nos últimos anos, casos de sarampo têm sido registrados em diversas
partes do mundo. Até os três primeiros meses de 2019, os números de casos notificados
cresceram cerca de 300% (OMS, 2019).
Brasil registrou, em 2015, os últimos casos de sarampo, no ano seguinte, recebeu o
certificado de eliminação da circulação do vírus, no entanto, o país corre o risco de perder tal
reconhecimento devido às dificuldades em interromper a transmissão dos surtos ocorridos
desde 2017 (BRASIL, 2018).
A continuidade de determinado agente viral na população humana, deriva do quantitativo
de pessoas vulneráveis imunologicamente, sendo a vacinação a única forma de prevenir e
diminuir as possíveis reintroduções virais. Portanto, são necessárias avaliações epidemio-
lógicas ativas (notificação de casos suspeitos em 24 horas, investigação ágil, avaliações
constantes das coberturas vacinais e surtos) para desenvolver estratégias que visem à me-
lhoria e ampliação das medidas de prevenção e controle. Visto isso, é necessária uma boa
investigação epidemiológica e manutenção do sistema de vigilância para essas doenças.
O presente estudo tem como objetivo avaliar a cobertura vacinal do sarampo nas re-
giões do Brasil no período 2013 a 2019, identificando os estados que apresentaram baixa
cobertura vacinal e relacionar com sua reemergência no período de 2018 a 2019.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo ecológico de aspecto transversal, caráter descritivo com abor-


dagem quantitativa, abrangendo uma análise de séries temporais da cobertura vacinal para
tríplice e tetra viral nas regiões do Brasil no período de 2013 a 18/04/2019. Os dados referen-
tes à cobertura vacinal foram extraídos do Sistema de Informação do Programa Nacional de
Imunizações (SI-PNI), a partir do registro dos imunos aplicados e do quantitativo populacional
vacinado no período estudado. Os dados alusivos aos casos de sarampo foram coletados

382 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


através de notas informativas publicadas pelo Ministério da Saúde (MS) referente ao mo-
nitoramento do período sazonal do sarampo no Brasil, segundo faixa etária, no período de
Fevereiro de 2018 a 28 de Junho de 2019 (Figura 1).
Para revisão da literatura, foi utilizado bases de dados online como Scientific Electronic
Library Online (SciELO), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLI-
NE), Pan American Health Organization (PAHO), com os seguintes descritores: sarampo,
cobertura vacinal e vacina tríplice e, além disso, foram utilizadas informações advindas de
boletins epidemiológicos e informes técnicos publicados pelo MS, relatórios e livros.
Para tabulação de dados da pesquisa e elaboração de tabelas e gráficos, foi utilizado
o editor de planilha Microsoft Office Excel plataforma x86 (2016) e o programa GraphPa-
dPrism 6.7. O registro dos dados baseou- se na percentagem das coberturas vacinais de
cada região do Brasil por Unidade Federativa (UF) e total de casos confirmado de sarampo
no período estudado, caracterizando o perfil da cobertura vacinal (Figura 1).

Figura 1. Organograma metodológico referente às aquisições das informações e análises dos dados do artigo.

Legenda: 1Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações. 2Ministério da Saúde.


Fonte: Chaves ECR, et al., 2019.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 383


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Desde 2015 sem registrar casos de sarampo, sendo os últimos ocorridos no estado do
Ceará, São Paulo e Roraima, o Brasil, a partir de 2017, vem enfrentando uma reemergência
viral devido, principalmente, as baixas coberturas vacinais. No período de 2017 a 2018, de
acordo com Informe N° 17|2017/2018 foram confirmados 1.100 casos de sarampo no Brasil.
Após esse período, segundo dados obtidos pelo Informe Nº 37 e 42| 2018/2019, no
período de Fevereiro de 2018 a 28 de Junho de 2019, foram confirmados 10498 casos de
sarampo, desses, os maiores número foram registrados nos estados de Amazonas com
93,47%, Roraima 3,45 % e Pará com 1,50%, seguidos de São Paulo (0,66%), Rio Grande do
Sul (0,44%), Rio de Janeiro (0,30%), Pernambuco (0,04%), Sergipe (0,04%), Bahia (0,03%),
Rondônia (0,02%), Distrito Federal (0,01%), Minas Gerais (0,04%) e Santa Cataria (0,03%).
Atualmente, o estado do Pará, São Paulo e Rio de Janeiro, encontram-se em situação de
surto ativo, as demais unidades federativas (UF), tiveram seus últimos registros no período
de Julho de 2018 a Março de 2019 (Tabela 1).

Tabela 1. Representa a frequência de casos confirmados de Sarampo por Unidades Federativas seguido de seus últimos
registros no período de 06 de Fevereiro de 2018 a 28 de Junho de 2019 no Brasil.

2018/2019*
UF1
N % Último resgistro

Amazonas 9.812 93,47 31/01/2019


Roraima 362 3,45 06/02/2019
Pará** 157 1,50 05/05/2019
São Paulo** 69 0,66 25/05/2019
Rio Grande do Sul 46 0,44 14/09/2018
Rio de Janeiro** 31 0,30 14/05/2019
Pernambuco 4 0,04 30/07/2018
Sergipe 4 0,04 27/08/2018
Bahia 3 0,03 23/09/2018
Rondônia 2 0,02 11/07/2018
Distrito Federal 1 0,01 26/07/2018
Minas Gerais 4 0,04 06/03/2019
Santa Catarina 3 0,03 18/02/2019
Total 10498

Legenda: 1Unidades Federativas. *Dados atualizados em 28/06/2019 e sujeitos a alterações. ** Estados com surto ativo.
Fonte: INFORME Nº 37| 2018/2019; INFORME Nº 42| 2019.

Segundo Tarifa JR e Armani G (2001), todas as estações do ano constituem um im-


portante fator na propagação de doenças, no entanto, baseado em padrões climáticos, o
outono (Março a Junho) favorece tal transmissão, pois ocasiona declínio das temperaturas,
com isso, há tendência da população aglomerar-se em ambientes fechados, contribuindo

384 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


para disseminação do sarampo, visto que sua transmissão ocorre através de gotículas no
ar. De acordo com Informe N°42| 2019, seguindo a curva epidêmica dos casos notificados,
as UF em condição de surto ativo registraram picos de casos no final de Fevereiro a Maio,
coincidindo com o aumento da suscetibilidade da população no período do outono.
No período estudado, todos os casos confirmados são de origem brasileira, exceto
em Roraima que, dos 362 casos registrados, 219 eram venezuelanos, um Guiana e um
da Argentina. Desde 2017 a Venezuela passa por surtos de sarampo e, com a atual crise
sociopolítica-econômica, provoca migração para outros países em busca de proteção. Infor-
mações do governo brasileiro e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(2018), demonstram que cerca de 32.744 venezuelanos requereram refúgio no país e 27.804
obtiveram autorização por vias alternativas.
A fronteira entre Roraima e Venezuela apresenta-se como principal forma de entra-
da dos imigrantes, o estado detém a menor população e a menor participação no Produto
Interno Bruto (PIB) (ITAÚ, 2018). Com isso, estado não possui condições adequadas para
recepcionar um contingente grande de imigrantes, nem tampouco assegurar à atenção pri-
mária básica a saúde, a exemplo, imunização dos imigrantes. De acordo com OMS (2019),
o genótipo encontrado no Brasil refere-se ao D8, o mesmo circulante na Venezuela, esses
dados ratificam que os casos são importados devido ao intenso movimento migratório.
Em uma análise da distribuição de casos confirmados segundo faixa etária, todas as
faixas apresentaram casos. No estado do Amazonas, os casos concentram-se em menores
de cinco anos com 28,34%, seguido de 20 a 29 anos com aproximadamente 25%. Referente
ao estado de Roraima, desconsiderando a nacionalidade, 51,52% apresentam-se em meno-
res de cinco anos; Pará, maiores casos em menores de cinco anos (39,49%) seguido de 20
a 29 (15,29%); São Paulo, concentrou-se na faixa de 20 a 39 (63,77%); no Rio de Janeiro,
com casos distribuídos em menores de um ano, de 1 a 4, 10 a 19, 20 a 29 e maiores de
50 anos, tendo predominância em menores de um ano com 36,36% dos caso, os demais
estados não foram identificados faixa etária (Tabela 2).

Tabela 2. Demonstra a distribuição de casos confirmados de Sarampo segundo faixa etária, registrados no Brasil por
Unidades Federativas no período de Fevereiro de 2018 a 28 de Junho de 2019.

2018/2019*
Faixa Etária
Amazonas % Roraima % Pará % São Paulo** % Rio de Janeiro %

< 1 ano 1699 17.32 85 23.55 32 20.38 7 10.14 4 36.36


1a4 1081 11.02 101 27.98 30 19.11 4 5.80 1 9.09
5a9 423 4.31 55 15.24 15 9.55 1 1.45 1 9.09
10 a 14 465 4.74 36 9.97 13 8.28 2 2.90 1 9.09
15 a 19 2075 21.16 25 6.93 22 14.01 2 2.90 0 -
20 a 29 2451 24.99 35 9.70 24 15.29 31 44.93 2 18.18

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 385


30 a 39 1010 10.30 16 4.43 12 7.64 13 18.84 0 -
40 a 49 423 4.31 7 1.94 5 3.18 7 10.14 0 -
> 50 anos 181 1.85 1 0.28 4 2.55 2 2.90 2 18.18

Legenda: *Dados atualizados em 28/06/2019 e sujeitos a alterações. ** Estados com surto ativo.
Fonte: INFORME Nº 37| 2018/2019; INFORME Nº 42| 2019.

De acordo com os dados, observa-se predominância de casos tanto em crianças,


como jovens e adultos, destacando a importância da imunização em todas as faixas etárias,
onde, sem a devida vacinação, estão propícios a contrair qualquer doença imunoprevení-
vel. A tríplice viral é administrada em duas doses, a partir de um ano de idade, no entanto,
devido aumento de casos na faixa etária não atingida pela vacinação, o MS amplia a faixa
e estabelece que crianças a partir de seis meses devem ser imunizadas com “dose zero”.
Dados divulgados pelo MS (2019) informam quatro óbitos em decorrência da doença,
todos sem imunização comprovada, desses, três ocorreram em crianças menores de um
ano. Fatos esses corroboram a necessidade da vacinação em públicos mais susceptíveis
a casos graves e a óbitos.
Em locais onde há ocorrência de casos de sarampo, as ações de vacinação com ob-
jetivo de interromper a transmissão tem sido intensa, no entanto, mesmo com esse perfil de
surto, as coberturas vacinais para tríplice e tetra viral permanecem abaixo da meta (BRASIL,
2019). Segundo MS (2015), cobertura vacinal para primeira dose (D1) é referente às doses
aplicadas em crianças de 12 meses, com relação à segunda dose (D2), soma-se as segun-
das doses da tríplice e a dose da tetra viral para crianças de 15 meses.
Ao analisar a cobertura vacinal de 2013 a Abril de 2019, foi observada que, para pri-
meira dose da tríplice (D1), todas as regiões apresentaram um decréscimo da cobertura a
partir de 2017, no entanto, a região Norte apresenta diminuição desde 2015. Os estados
do Amazonas, Roraima e Pará, em comparação a São Paulo e Rio de Janeiro, apresentam
os maiores números de casos na faixa etária atingida pela vacinação, de 1 a 4 anos, com
11,02%, 27,98% e 15,24% dos casos, respectivamente. Em uma análise percentual das co-
berturas vacinais para esses estados, Amazonas e Roraima apresentam-se abaixo da meta
de 95% desde 2016, o estado do Pará, a partir de 2015 demonstra oscilação da cobertura
entre 69% a 75% e, mesmo com perfil de surto ativo, atingiu 54% das coberturas em Abril
de 2019 (Gráfico 1).
Com relação a D2, todas as regiões apresentam coberturas muito abaixo da meta, tal
fato demonstra o maior percentual de casos na faixa menor de 5 anos, uma vez que as co-
berturas não estão sendo realizadas de maneira adequada nessa população. O estado de
São Paulo e Rio de Janeiro, os quais demonstraram uma cobertura adequada no período
de 2013 a 2018 para D1, demonstram baixa cobertura para D2 a partir de 2015 (Gráfico 2).

386 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Esses dados ratificam o motivo pelo qual percentual de casos na faixa de 1 a 4 é de 5,8%
em São Paulo e 9,09% para Rio de Janeiro, pois a D1 está sendo realizados, entretanto, sem
a completude das doses, esses indivíduos permanecem susceptíveis e, com isso, mantem
a circulação do vírus e seu atual cenário de surto.
A partir de 2013, a vacina Tetra Viral surge como substituta da D2 ou um reforço para
crianças de 15 meses com vacinação comprovada, contudo, apresenta um padrão mais
baixo para todas as regiões quando comparado a D2 (Gráfico 3).

Gráfico 1. Demonstra a cobertura vacinal para tríplice viral, primeira dose (D1).

Legenda: A: Cobertura para todas as regiões do Brasil no período de 2013 a abril de 2019; B: Cobertura de cada Unidade Federativa
(UF) da região Norte (N); C; Cobertura de cada UF da região Nordeste (NE); D: Cobertura de cada UF da região Centro Oeste (CO); E:
Cobertura de cada UF da região Sudeste (SE); F: Cobertura de cada UF da região Sul (S).
Fonte: Dados do SINAN. Dados atualizados em 18/04/2019 e sujeitos a alterações.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 387


Gráfico 2. Demonstra a cobertura vacinal para tríplice viral, segunda dose (D2).

Legenda: A: Cobertura para todas as regiões do Brasil no período de 2013 a abril de 2019; B: Cobertura de cada Unidade Federativa
(UF) da região Norte (N); C; Cobertura de cada UF da região Nordeste (NE); D: Cobertura de cada UF da região Centro Oeste (CO); E:
Cobertura de cada UF da região Sudeste (SE); F: Cobertura de cada UF da região Sul (S).
Fonte: Dados do SINAN. Dados atualizados em 18/04/2019 e sujeitos a alterações.

Gráfico 3. Demonstra a cobertura vacinal para tetra viral.

388 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Legenda: A: Cobertura para todas as regiões do Brasil no período de 2013 a abril de 2019; B: Cobertura de cada Unidade Federativa
(UF) da região Norte (N); C; Cobertura de cada UF da região Nordeste (NE); D: Cobertura de cada UF da região Centro Oeste (CO); E:
Cobertura de cada UF da região Sudeste (SE); F: Cobertura de cada UF da região Sul (S).
Fonte: Dados do SINAN. Dados atualizados em 18/04/2019 e sujeitos a alterações.

A imunização não é limitada ao público infantil, todavia, é foco para garantir uma bar-
reira de proteção com intuito de conter o vírus. De acordo com os boletins epidemiológicos,
a segunda maior faixa etária acometida pela doença é adulta de 20 a 29 anos. A prevenção
da faixa de 1 a 5 anos, baseia-se na imunização coletiva, a qual confere resistência a um
determinado grupo à disseminação do vírus, aonde pessoas vulneráveis, como os menores
de um ano e de 20 a 29 anos, se beneficiam dessa condição, contribuindo para o controle de
doenças infectocontagiosas, porém, a baixa imunização de rotina favorece a reemergência
viral.
Os benefícios coletivos e individuais advindos da imunização são originados de um
elevado empenho, custos financeiros e grandes estruturas de autoridades sanitárias com
finalidade de garantir segurança das vacinas, no entanto, mesmo com sua eficácia compro-
vada, grupos de recusa vacinal reconhecem as vacinas como insegura e desnecessária.
Tal fato não é recente, no Reino Unido, no século XIX, por exemplo, havia charges contra
vacina da varíola (DUBÉ E, et al., 2015).
De acordo com a OMS (2019), desde 2013 o país vem registrando queda das coberturas
vacinais. Doenças consideradas erradicadas, como a poliomielite, são ameaças à população
devido ao descaso com a medida de prevenção (OMS, 2019). Atualmente, o cenário de surto
ativo de sarampo, considerada erradicada, e as baixas coberturas vacinais para todas as

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 389


regiões, demonstram a enorme influencia dos grupos de recusa ao país.
As vacinas, assim como outros produtos biológicos, podem trazer efeitos adversos ao
indivíduo, efeitos consideravelmente menores aos quais produzidos pela doença que objetiva
proteger e, junto a isso, determinantes de recusa, como fatores socioculturais e pessoais,
as crenças e argumentos de grupos antivacinas, sendo esses divulgados principalmente
através das mídias sociais, devido ao rápido mecanismo de disseminação e a superficiali-
dade de conteúdo, influenciam na confiabilidade e aceitação das vacinas criando bolsões
de indivíduos suscetíveis e, em um grupo desse perfil, apenas uma pessoa infectada poderá
causar surtos de grandes proporções (MACDONALD ME, 2015; SUCCI RCM, 2018). Com
isso, o principal desafio para o país é manter as taxas de coberturas vacinais altas a fim de
controlar e prevenir epidemias.
De acordo com MacDonald ME (2015) a aceitação representa um mecanismo complexo
de decisão influenciado por diversos fatores, considera-se a o modelo dos 3Cs; Confiança
(credibilidade), Complacência (baixo risco) e Conveniência (disponibilidade). Não é correto
definir a recusa como um processo dividido em dois polos (recusa e aceitação) uma vez
que incide de uma série de eventos sequenciais entre as duas situações, os que aceitam
ou recusam todas e os que aceitam umas e recusam outras.
Atualmente, vacinas como da poliomielite, febre amarela, meningocócica C e entre ou-
tras, encontram-se abaixo da média nacional de cobertura (BRASIL, 2018). A maneira pela
qual as informações se disseminam cresceu de forma relevante no sentido à velocidade, a
veiculação rápida na mídia interativa de notícias relacionando a vacinação com complica-
ções graves, a exemplo da associação da tríplice viral com autismo e meningites assépticas,
informações essas não comprovadas cientificamente, fazem com que a procura pela vacina
diminua (SILVA PRV, et al, 2015).
Outro fator importante é referente à completude do esquema vacinal, o abandono e
a desinformação da importância das doses de vacina fazem com que o número de casos
de determinada doença aumente, causando surtos no país, uma vez que a imunização
completa só será realizada a partir da adesão de todas as doses necessárias (SILVA FSS,
et al., 2018). Sendo o sarampo uma doença altamente contagiosa, demonstrando perfil de
óbitos e a vacinação sua principal medida de prevenção, o panorama de surto apenas será
contido incrementando a cobertura vacinal ideal para evitar circulação do vírus.

CONCLUSÃO

A vacinação é uma das principais e a mais eficaz medida de prevenção, tendo como
objetivo controlar e erradicar doenças infectocontagiosas. No entanto, diversos fatores com-
plexos como religião e socioeconômico, podem contribuir para recusa vacinal, aumentando o

390 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


número de doenças. Sendo assim, são importantes às avaliações constantes das coberturas
vacinais, a fim de manter a continuidade, ampliação da cobertura vacinal e, disponibilizar in-
formações aos gestores de saúde e a população. Esse estudo expõe a importância de manter
as coberturas vacinais e fortalecer os sistemas de vigilância epidemiológica em diferentes
territórios, além de reforçar o monitoramento das fronteiras e ações que visem combater
informações sem caráter científico com intuito de controlar doenças e evitar possíveis surtos.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 393


29
“ Avaliação da contribuição dos
dados hemogasométricos pré
extubação e na retirada da
ventilação mecânica

Jonas Davi Heiderick Mota


FAF

Yuri de Souza Rodrigues


FAF

Flávia dos Santos Lugão de Souza


UNIRIO

Artigo original publicado em: 7/2019


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700575
RESUMO

Objetivo: Analisar a importância dos dados gasométricos no processo de extubação e na


retirada da ventilação mecânica de pacientes em uma unidade de tratamento intensivo
de um hospital da Zona da Mata Mineira. Método: Pesquisa documental, retrospectiva
dos meses de agosto a dezembro de 2018, de carácter descritivo. Resultados: Na
amostragem inicial foram analisadas 75 amostras de controle de desmame, sendo
excluídos 20 de pacientes que não passaram no teste de respiração espontânea. Assim a
amostra foi realizada com 55 pacientes em tratamento intensivo, sendo 31 homens (56,4%)
e 24 mulheres (43,6%) com idade mínima de 13 anos e máxima 88 anos. Conclusão:
Foi constatado que os valores de PAO2 e PCO2 da gasometria arterial no processo de
desmame não interferem no sucesso da retirada da VMI. Os dados hemogasométricos
contribuem de forma positiva no processo de desmame e retirada da ventilação mecânica,
fazendo parte da avaliação para a decisão da retirada ou cancelamento do Teste de
respiração espontânea (TRE) e retorno para a ventilação artificial, além de predizer a
necessidade de Ventilação Não Invasiva (VNI) pós extubação nos pacientes retentores
de PCO2 no momento do TRE.

Palavras-chave: Gasometria; Desmame da Ventilação Mecânica; Extubação.


INTRODUÇÃO

A utilização da respiração artificial é um procedimento rotineiro nos centros e unidades


de terapia intensiva (UTI´s), estudos demonstram que 31% a 46% dos pacientes admitidos
nessas unidades utilizam Ventilação Mecânica (VM) em algum momento durante a interna-
ção (PIOTTO RF, et al., 2011).
A maioria dos pacientes submetidos ao suporte ventilatório mecânico pode ser rapi-
damente retirada do ventilador, assim que as condições respiratórias e de base tenha sido
tratada e/ou estabilizada. O prolongamento desnecessário desse processo pode acarretar
o aumento dos custos hospitalares e as complicações associadas à VM (SAUGEL B, et al.,
2018).
Para Laizo A, et al. (2010) cerca de 5% a 30%, dos pacientes tem dificuldade no
desmame, não sendo possível a remoção do ventilador nas primeiras tentativas. Este fato
acontece mais em portadores de doenças pulmonares prévias, cardiopatias, grandes ci-
rurgias abdominais ou torácicas, tempo prolongado de ventilação mecânica, disfunção de
múltiplos órgãos e doenças neurológicas com prognóstico prolongado (PIOTTO RF, et al.,
2011; CASSEL LW e VIEIRA SRR, 2013).
O desmame é definido como uma mudança da ventilação mecânica para a espontânea,
havendo, porém, variação na forma de administrar esse processo, o qual pode ser classificado
como rápido ou prolongado. Este processo é seguido de avaliações clinicas e de exames
complementares para que seja realizado com sucesso Pinto JMA, et al. (2017); Rolim JFC,
et al. (2011) contribuem relatando que a retirada da prótese ventilatória deve ser realizada o
mais precocemente possível, pois longos períodos em ventilação mecânica invasiva podem
gerar complicações graves, como infecções, barotraumas, fraqueza e incoordenação dos
músculos respiratórios.
Portanto, é necessário a utilização de recursos para melhor predizer o sucesso do des-
mame e reduzir os riscos ao paciente, como por exemplo, a avaliação dos gases sanguíneos
e valores hemogasométricos (PAREDES ER, et al., 2013).
Alguns estudos buscam determinar o melhor momento para retirada do tubo. Quando
o suporte ventilatório pode ser retirado, a decisão de extubar deve ser tomada (LAIZO A, et
al., 2010). Entre 5% a 25% dos pacientes extubados têm a probabilidade de retornar para
prótese ventilatória e ser restituída a ventilação mecânica independente da técnica.
A falha na extubação pode prolongar a permanência hospitalar, aumentar a frequência
de traqueostomia e complicações pulmonares, piorar os resultados funcionais e aumentar
a mortalidade, que em pacientes reintubados é alta chegando a 43% e 12% naqueles com
sucesso na extubação (JEGANATHAM N, et al., 2015).

396 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Reis HFC, et al. (2013) cita ainda algumas intercorrências associadas ao processo de
reintubação, como parada cardiorrespiratória, arritmias e pneumonia aspirativa, que podem
ocorrer em até 28% dos pacientes (FREITAS EEC e DAVID CMN, 2006).
Dentre estes pacientes que necessitam de reintubação também há um risco aumen-
tado de desenvolver pneumonia e sepse. Devemos intensificar avaliação a beira do leito e
exames complementares e valores hemogasométricos para que a extubação seja executada
da forma mais segura possível (SILVA GJP, et al., 2010).
Os dados hemogasométricos são colhidos através de um exame de gasometria arte-
rial, um exame invasivo que avalia as pressões parciais de oxigênio (pO2), gás carbônico
(pCO2), e determinação do valor de pH sanguíneo. Com essas dosagens são obtidos outros
parâmetros que são calculados, como bicarbonato (HCO3-), saturação de oxigênio, excesso
de base, entre outros. Estes dados nos fornecem informações essenciais para avaliação e
tratamento de doenças que afetam as trocas gasosas e o equilíbrio ácido-base.
O exame consiste em uma punção de sangue arterial que pode ser obtida pela artéria
radial, braquial ou femoral. O local de punção deve ser esterilizado previamente e puncio-
nado com uma seringa e agulha própria, a fim de obter 2 a 3 mL de sangue, a seringa mais
indicada hoje em dia é a de plástico polipropileno de alta densidade, que são descartáveis,
eliminando assim contaminação cruzada. Além disso, possuem custo menor, sendo mais
convenientes e não correm risco de quebrar (PINTO JMA, et al., 2017; VIESSER L, 2012).
Avaliar os gases sanguíneos e as trocas gasosas está diretamente associado ao des-
mame do paciente em ventilação mecânica invasiva e a sua extubação. Estando assim
indicada para ser realizada antes do procedimento de extubação como um dos parâmetros
que pode predizer o sucesso do mesmo. De acordo com o Manual Prático de Medicina In-
tensiva os valores de referência para a gasometria arterial são: pH: 7,35 a 7,45; pCO2: 35
a 45 mmHg; pO2: 80 a 100 mmHg; BE: +/- 2 mmol/L; HCO3: 22 a 28 mmol/L; Saturação de
O2: >95% (CALDEIRA FM e WESTPHAL GA, 2006).
Tendo em vista o exposto, a seguinte pesquisa documental teve como objetivo avaliar
a contribuição dos dados hemogasométricos pré extubação, em uma unidade de tratamento
intensivo de um hospital da zona da mata mineira, com o intuito de melhorar a atenção ao
paciente no momento da retirada da ventilação artificial, fazendo com que o procedimento
seja realizado com maior segurança, menor risco de reintubação e danos para o paciente.

MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa documental, retrospectiva, de carácter descritivo onde a


coleta de dados foi realizada nos documentos e indicadores da Fisioterapia em um Centro
de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Cezar Leite, na cidade de Manhuaçu (MG).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 397


Foram utilizados artigos dos anos de 2006 a 2018, buscados através das bases de
dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) selecionando artigos do Scielo, Lilacs, Bdenf e
Medline. Foram excluídos os artigos que não abordavam o assunto e aqueles fora do corte
temporal, com isso obtivemos 20 artigos.

Sujeitos da amostra

A pesquisa foi realizada com os pacientes que preencheram critérios de desmame da


ventilação mecânica invasiva, teste de respiração positivo seguido de extubação orotraqueal
ou retirada da VM, sendo excluídos os que não tinham realizado exame de gasometria arterial
e que não passaram no teste de respiração espontânea mais de três vezes.

Instrumentos de coleta de dados

O instrumento para a coleta de dados utilizado no estudo é um documento padrão


preenchido pela equipe de profissionais da fisioterapia que faz parte do procedimento Sis-
têmico PRS.EMA9 para admissão e controle do desmame da ventilação mecânica invasiva.
Todos os pacientes que dão entrada no CTI em VMI ou que são intubados no setor e que
progridem para o desmame da prótese ventilatório TOT ou TQT são preenchidos estes
controles. A liberação destes dados para pesquisa é realizada através da autorização da
direção e coordenação de fisioterapia. Os dados foram coletados no ano de 2018 entre o
período de agosto a dezembro. Os critérios de inclusão: pacientes que foram Intubados no
Setor CTI, provenientes de outras instituições, Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) da
cidade local, internos de outros setores hospitalares e do Pronto Atendimento (PA), destes
foram selecionados todos que estavam em ventilação mecânica e que passaram no o teste
de respiração espontânea, progredindo para extubação orotraqueal ou retirada da ventilação
mecânica (VM).
Não foi realizado exclusão por diferença de diagnóstico ou idade pois não modifica o
objetivo da pesquisa, tendo em vista que todos pacientes foram extubados após passar por
testes e exames complementares. As gasometrias são coletadas pela equipe de enferma-
gem e inseridas no aparelho hemogasômetro GEM PREMIER 3.500 dentro de um tempo
máximo de 5 min, as amostras que ultrapassam esse tempo são descartadas e é colhida
nova amostragem de sangue arterial.
Para a análise da gasometria, a amostra utilizada é sangue total, sendo necessário que
a amostra demonstre ausência completa de coágulos, pois, além de obstruir a passagem
de amostra em analisadores de gases sanguíneos, uma amostra com micro coágulos não
é homogênea, com isso o resultado de sua análise não será exato, podendo ser analisado

398 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


o plasma ou células sanguíneas causando resultados falsos. Assim, a amostra deve ser
avaliada pelos profissionais responsáveis. O teste de respiração espontânea e a extubação
seguem os seguintes critérios:

1. Teste de Respiração Espontânea (TRE)


São avaliados os pacientes 3 vezes ao dia (manhã e tarde e noite) pela equipe de fi-
sioterapia, os que preencherem os critérios de reversão da insuficiência respiratória devem
ser submetidos a um TRE, que deve ser feito colocando uma PSV de 5 a 7 cmH20 ou em
Peça T por um período de 30 min a 120min, se o teste for positivo, colhe-se nova gasometria
arterial, parâmetros normais, Glasgow > 10 seguir com extubação orotraqueal.

2. Extubação Orotraqueal
Verificar se a dieta nasoenteral foi suspensa posicionando o paciente no leito em
decúbito dorsal com cabeceira elevada à 45 graus, após, aspirar o TOT e as vias aéreas
superiores (VAS) do paciente, desinsuflar o cuff com seringa, solicitar ao paciente abrir
cavidade oral e realizar uma inspiração profunda seguida de tosse, retirar o TOT sem ser
abruptamente para não lesionar vias aéreas, instalar o dispositivo de oxigenoterapia eleita
(máscara de Venturi ou cateter binasal de O2), ofertando uma concentração de O2 suficiente
SpO2 ≥ 93%, solicitar uma tosse espontânea, realizar a ausculta pulmonar e das VAS para
descartar laringo espasmos e broncoespasmos, monitorizar os sinais vitais, saturação parcial
de oxigênio (SpO2), padrão ventilatório, expansibilidade torácica e o nível de consciência.

Ética na Pesquisa

A presente pesquisa não necessitou de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas


(CEP), uma vez que, conforme a Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016, em seu parágrafo
único, inciso V, prevê que “pesquisa com bancos de dados, cujas informações são agre-
gadas, sem possibilidade de identificação individual” não serão registradas nem avaliadas
pelo sistema CEP/CONEP.

Tratamento estatístico dos dados

Os dados coletados foram digitados no programa Excel for Windows 10 (Microsoft Office
Professional Plus 2016) e, posteriormente avaliado pelos autores as médias e desvio padrão.
Também foi realizado o teste T de Student em algumas amostras e o nível de significância
estatística adotado para este teste foi de 5%, ou seja, o valor de P igual ou inferior a 0,05
para resultados estatisticamente significativos (p<0,05).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 399


RESULTADOS

Para melhor elucidar os resultados desta pesquisa separamos os dados em dois gru-
pos diferentes:
Grupo 1 - pacientes intubados que progrediram para extubação orotraqueal (n=35),
(63,6% com tubo orotraqueal).
Grupo 2 - pacientes traqueostomizados que progrediram para retirada da VM (n=20),
(36,4% com traqueostomia).
Na amostragem inicial foram analisadas 75 amostras de controle de desmame, sendo
excluídos 20 de pacientes que não passaram no teste de respiração espontânea. Assim a
amostra foi realizada com 55 pacientes em tratamento intensivo, sendo 31 homens (56,4%)
e 24 mulheres (43,6%) com idade mínima de 13 anos e máxima 88 anos.
A realização dos desmames foi de caráter rápido, ou seja, em menos de 24h em 100%
(n=35) dos pacientes do grupo 1. No grupo 2, os desmames de caráter prolongado somaram
100% (n=20).
A utilização da peça T como teste de respiração espontânea prevaleceu em 91,4%
(n=32) no grupo 1, e 80% (n=16) no grupo 2.
Da amostragem total (n=55) a taxa de sucesso da retirada da VM foi de 76,36% (n=42)
(Tabela 1). A taxa de reintubação foi de 14,2% (n=5) nos pacientes do grupo 1, corroboran-
do com a literatura vigente (LIU L, et al., 2012; MABROUK AA, et al., 2015; CASSEL LW e
VIEIRA SRR, 2013; ROLIM JFC, et al., 2011).
Ainda no grupo 1, em 3 dos 5 casos com falha no desmame a reintubação foi neces-
sária devido a disfunções do sistema respiratório: 01 Edema Agudo Pulmonar (EAP), 01
Insuficiência Respiratória Pulmonar Aguda (IRPA) e 01 laringo espasmo, nos outros 02 casos
a reintubação ocorreu devido ao rebaixamento do nível de consciência. Destes pacientes
que retornaram para a VM, 2 foram com menos de 2h, 2 com menos de 12h e 1 com menos
de 24h.
Em média, os pacientes intubados (grupo 1) permaneceram 3,74 dias em VM antes
da tentativa de retirada do respirador artificial.
No grupo 2, os pacientes foram submetidos ao procedimento de traqueostomia entre
7 a 14 dias de TOT, após a realização da traqueostomia a média de tempo de VM foi de
3,45 dias até o ato de retirada. A taxa dos que retornaram para VM foi de 40% (n= 8). Sendo
03 em menos de 2 h, 04 com menos de 12 h e 01 com menos de 24 h. A volta à VM neste
grupo foi devido a esforço respiratório em todos casos (n=8).
Quanto aos dados hemogasométricos colhidos no momento pré-extubação ou retirada
da VM, obtivemos uma média dos valores da gasometria arterial nos grupos estudados.
Subdividimos a média dos valores e desvio padrão nos casos de sucesso e nos casos de

400 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


falha do processo de retirada da VM nos dois grupos (Tabela 1).

Tabela 1. Conjunto de Médias, Desvio Padrão e T-Student dos dados hemogasométricos nos grupos de sucesso e falha
no desmame.

Sucesso n= 42 Falha n=13 Valor de p

PH 7,46 ± 0,06 7,49 ± 0,04 0,04


PaO2 137,35 ± 67,2 144,15±66,2 0,75
PaCO2 41,02 ± 6,90 42,07 ± 8,26 0,70
HCO3 29,61 ± 6,71 32,13 ± 5,35 0,17
BE 5,16 ± 6,05 6,84 ± 3,90 0,24
Lactato 1,15 ± 0,63 1,23 ± 0,36 0,59
FIO2 45,71 ± 6,67 50,0 ± 0 0,0001
P/F 292,3 ± 125,7 288,3± 132,4 0,92

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Podemos observar que os valores médios de BE foram acima do valor de referência (-2
a +2 mmol/L) nos dois grupos estudados, acompanhando os valores do HCO3. Os valores
médios de lactato mantiveram entre 0,96 e 1,36mmol/L colaborando com valores normais
para retirada da VM nas amostras estudadas (Tabela 2).

Tabela 2. Valores máximos e mínimos dos dados hemogasométricos obtidos através da gasometria arterial nos pacientes
com sucesso e falha no desmame:

Max. Mín. Max. Mín.

PH 7.57 7.31 PH 7,6 7,42


PO2 304 57 PO2 299 73
Grupo 1 PCO2 87 30 Grupo 2 PCO2 55 32
HCO3 48,6 16.1 HCO3 48.1 21,4
P/F 608 146 P/F 598 114

Valores máx. e mín. - falha na retirada da VM

Max. Mín. Max. Mín.


PH 7,55 7,45 PH 7,5 7,42
PO2 235 82 PO2 254 85
Grupo 1 PCO2 55 32 Grupo 2 PCO2 58 42
HCO3 38,2 28 HCO3 43 25,9
P/F 470 164 P/F 508 142

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Todos os pacientes com falha no processo de desmame no grupo 1 (TOT) apresenta-


ram valor alcaloide no PH sanguíneo (acima de 7,45). No grupo 2, tanto no sucesso quanto
na falha da retirada da VM não houve nenhum caso em que o PH sanguíneo ficou abaixo
do valor de referência (7,35) (Tabela 3).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 401


Tabela 3. Descrição dos dados hemogasométricos acima e abaixo dos valores de referência nas amostras de sucesso e
falha da retirada da VM. Grupo 1- Pacientes Intubados; Grupo 2 – pacientes traqueostomizados.

VALORES ACIMA DA NORMALIDADE NOS CASOS DE SUCESSO


PH > 7,45 PCO2 > 45 HCO3> 26 PO2 > 100 P/F> 300
N° pacientes 14 6 19 18 10
Grupo 1
% 40% 17% 54% 51% 29%
N° pacientes 8 3 10 8 7
Grupo 2
% 66% 25% 83,3% 67% 58%
VALORES ABAIXO DA NORMALIDADE NOS CASOS DE SUCESSO
PH < 7,35 PCO2 < 35 HCO3< 22 PO2 < 80 P/F< 200
N° pacientes 3 5 1 4 8
Grupo 1
% 9% 14% 3% 11% 23%
N° pacientes 0 3 1 3 2
Grupo 2
% 0% 25% 8,33% 25% 17%
VALORES ACIMA DA NORMALIDADE NOS CASOS DE FALHA
PH > 7,45 PCO2 > 45 HCO3> 26 PO2> 100 P/F> 300
N° pacientes 5 3 5 4 2
Grupo 1
% 100% 60% 100% 80% 40%
N° pacientes 6 1 7 5 2
Grupo 2
% 75% 12,50% 87,5% 62% 25%
VALORES ABAIXO DA NORMALIDADE NOS CASOS DE FALHA
PH < 7,35 PCO2 < 35 HCO3< 22 PO2 < 80 P/F< 200
N° pacientes 0 1 0 0 1
Grupo 1
% 0% 20% 0% 0% 20%
N° pacientes 0 0 0 1 3
Grupo 2
% 0% 0% 0% 12% 37%

Dos 6 pacientes com aumento do PCO2 no grupo 1, todos estavam com valor de HCO3
também aumentado. Dos 3 pacientes no grupo 2, também todos apresentavam valor acima
da normalidade de HCO3.

DISCUSSÃO

A retirada da Ventilação Mecânica Invasiva (VMI) em terapia intensiva é um procedi-


mento rotineiro devido uma grande parte dos pacientes necessitarem de suporte ventilatório
durante o período de internação, a avaliação dos exames e clínica do paciente deve ser
realizada de forma cautelosa e segura. Um estudo com uma amostra de 311 pacientes com
quadro de traumatismo crânio encefálico no Hospital Geral do Estado da Bahia concluiu que
em pacientes com Traumatismo Crânio Encefálico (TCE) a falha na extubação pode prolongar
a permanência hospitalar, aumentar a frequência de traqueostomia, complicações pulmo-
nares, piorar os resultados funcionais e aumentar a mortalidade (REIS HFC, et al., 2013).
Para o início do procedimento de desmame do paciente em VMI devemos avaliar to-
dos os parâmetros possíveis em busca de executar o desmame da ventilação mecânica de
formas mais segura e obter um menor índice de retorno a ventilação artificial (TEIXEIRA C,

402 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


et al., 2012). Alguns estudos mostram que os valores gasométricos mínimos para se iniciar
o desmame são: PaO2 > 60 mmHg; FiO2 ≤ 40%; SatO2 > 90%; pH > 7,30 < 7,60; PaO2/
FiO2 ≥ 200 e Peep < 5 (COLOMBO T, et al., 2007).
Em média as amostras de gasometria arterial deste estudo seguiram os parâmetros
normais para início de desmame e retirada da VMI como PH, PAO2, PCO2, SpO2, PaO2/
FiO2 e PEEP, exceto a FIO2 que a média foi acima do ideal entre 42% e 50% (Tabela 1),
influenciando no valor de P/F da gasometria arterial, porém não foi obtido diferença no re-
sultado do sucesso ou falha da retirada da VMI quanto a relação P/F (p= 0,92).
Os melhores preditores para o sucesso da extubação são os valores do ânion gap sérico
pré-extubação e a relação da pressão arterial parcial de oxigênio (Pao2) / fração inspirada de
oxigênio (Fio2). Além disso, os valores mais baixos de PaO2 / FiO2 foram significativamente
associados à falha de extubação (P = 0,032) (SAUGEL B, et al., 2018).
Os valores de PAO2 em média mantiveram acima da média (120 mmhg) em ambos
os grupos (Tabela 1) não influenciando no sucesso ou falha da retirada da VM (p= 0,75),
porém observamos um excesso do uso de oxigênio no desmame da VM mantendo valores
de PAO2 muito altos chegando até 304mmhg (Tabela 2), como a maioria dos TRE foram
em peça T, poderia ter sido realizado com níveis mais baixos de oxigênio adiantando assim
o seu desmame minimizando efeitos colaterais e obtendo uma relação PAO2/FIO2 mais
confiável. O excesso de oxigênio pode causar toxicidade para as células do organismo hu-
mano e outras repercussões como a dependência e a narcose carbônica tendo assim que
ser utilizado o mínimo necessário para manter uma SPO2 acima de 93% e PaO2 acima de
80mmhg (BARBAS CSV, et al., 2013).
No estudo de Teixeira et al., (2012) foi feita uma pesquisa com 731 pacientes, buscou
observar a eficácia de um protocolo de desmame na taxa de falha de extubação em pacientes
com desmame difícil, obteve um índice de sucesso de extubação de 86,7% em um grupo
com protocolo de desmame e 69,6% no grupo controle. Foi possível observar no estudo
que os valores de PaO2 e PaCO2 não apresentaram diferenças relevantes em suas médias
quando comparadas nos respectivos grupos, os dados obtidos foram estes (Tabela 4).

Tabela 4. Médias de PaO2 e PaCO2 da amostra analisada:

GRUPO PROTOCOLO GRUPO CONTROLE

TODOS SE FE TODOS SE FE

n=533 n=462 n=71 n=198 n=138 n=60


PaO2 80 +-23 79 +- 20 82 +- 26 83 +- 19 82 +- 20 85 +- 16
PaCO2 32 +- 5 31 +- 4 33 +- 6 32 +- 6 31 +- 4 33 +- 5

SE= Sucesso extubação; FE = Falha Extubação.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 403


Ao avaliarmos o HC03 e o BE podemos observar que nos pacientes com sucesso
de desmame no grupo 1, os resultados permanecem levemente alcaloides em 54,2% dos
casos. No grupo 2 cerca de 83,3% dos casos de sucesso mantiveram valores de HCO3 e
BE elevados e 100% nos com falha no desmame mantiveram valores alcaloides moderados
chegando a 48,1mmol/L o HCO3 e 25,9 mmol/L o BE (Tabela 2).
Na Noruega, com uma amostra de 138.523 gasometrias arteriais de pacientes internados
em CTI’s afirmou que o distúrbio ácido-básico mais comum em pacientes de CTI é a alcalose
metabólica. O estudo relata também o aumento rápido nos valores de BE após a admissão
em cerca de 85% das amostras analisadas e ressalta que embora a acidose seja mais co-
mum na admissão no CTI, o bicabornato aumenta com o tempo (MAEHLE K, et al., 2018).
Em um outro estudo que aborda a extubação de pacientes críticos, observou que du-
rante todo o TRE do seu estudo o valor do bicabornato no grupo no qual a extubação falhou
foi significativamente (p<0,05) maior do que no grupo de sucesso na extubação. Colaborando
com os resultados desta pesquisa em que os valores de bicabornato obtidos mantiveram
valores alcaloides em 100% dos pacientes com falha na extubação, apesar do resultado
estatístico não significativo (p = 0,11) (LIU L, et al., 2012; MAEHLE K, et al., 2018).
No grupo 2 por se tratar de amostras de pacientes traqueostomizados que necessita-
ram de maior tempo de ventilação mecânica acredita-se que a elevação do bicabornato foi
influenciada pelo tempo de ventilação mecânica (Tabela 3).
Na insuficiência respiratória crônica hipercápnica e na acidose respiratória, o equilíbrio
químico é interrompido e existem mecanismos fisiopatológicos que elevam os níveis de bicar-
bonato. A acidose respiratória associada ao aumento dos níveis de dióxido de carbono
é compensada pelo aumento da excreção renal de ácido (H +) e retenção de bicarbonato.
Esses mecanismos compensando a acidose respiratória e causando um aumento nos níveis
de bicarbonato podem contribuir para uma redução dos valores do aníon gap sérico com
pacientes em risco de falha na extubação, demonstrando que a hipercapenia pré-extubação
está associada a alto risco de falha na extubação (SAUGEL B, et al., 2018).
Portanto, é importante ressaltar que se observarmos um aumento da PCO2 isso irá
auxiliar a avaliar o uso da ventilação não invasiva após a extubação orotraqueal, principal-
mente em pacientes retentores crônicos de PCO2 como portadores de Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica (DPOC) (LIU L, et al., 2012; MAEHLE K, et al., 2018).
Jeganatham N, et al. (2015) em sua pesquisa de revisão de literatura com o intuito de
otimizar o valor e o desempenho do TRE de pacientes de alto risco para reduzir a taxa de
falha na extubação, ressalta em sua conclusão que a realização de uma análise de gaso-
metria arterial no final do TRE pode ajudar a identificar aqueles que poderiam se beneficiar
da aplicação profilática da VNI imediatamente após a extubação (SAUGEL B, et al., 2018;

404 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


MORTARI DM, et al., 2013).
Ao analisarmos a PCO2 em média os resultados permaneceram em valores normais
e não obtivemos diferença significativa entre os 2 grupos (p= 0,70), assim como falha ou
sucesso de retirada da VM (Tabela 1), no entanto observamos um aumento do bicabornato
nos pacientes que estavam com PCO2 acima do valor de referência (Tabela 3).
Em um estudo realizado com 60 pacientes no Rio de Janeiro que teve como objetivo
avaliar se existe um grupo de parâmetros que podem predizer os pacientes que irão ter o
desmame da VM com sucesso assim como em nosso estudo, não encontrou valores sig-
nificativos nos dados hemogasométricos em grupos de sucesso e insucesso do desmame
(FREITAS EEC e DAVID CMN, 2006). O mesmo estudo ressalta ainda que a diferença em
dias de internação no grupo com sucesso (16,16 ± 11,24) foi significativamente menor que
no grupo com falha no desmame (35,69 ± 20,19; p= 0,0001).
Na comparação de 4 métodos de desmame diferentes apesar de não apresentar valor
estatisticamente significativo o PaO2 foi menor no grupo com menor índice de sucesso (ven-
tilação por SIMV) quando comparados aos demais três grupos. Após o início do desmame,
o maior valor de PaO2, PaCO2, PH foi no grupo NPPV (Non-invasive positive pressure ven-
tilation) respectivamente [(98,92 ± 15,14), (47,2 ± 5,55), (7,41± 0,03)] e o menor valor foi no
grupo SIMV, respectivamente [(89,52 ± 9,77), (49,92 ± 4,79), (7,39 ± 0,03)] (MABROUK AA,
et al., 2015). Ainda neste estudo, outro dado sem diferença estatística relevante, mas com
visível diferença nas médias quando divididos os grupos em falha e sucesso de desmame
são os valores de PaO2 e PaCO2.

Tabela 5. Média e Desvio padrão dos valores de PaO2 e PaCO2 nos grupos de sucesso e falha no desmame da VMI:

Sucesso Falha P value

PaO2 ± DP 137,35 ± 67,29 144,15 ± 66,23 0,75


PaCO2 ± DP 41,02 ± 9,87 42,07 ± 8,26 0,70

Fonte : Dados da pesquisa, 2019.

CONCLUSÃO

Esta pesquisa documental constatou que os valores de PAO2 e PCO2 da gasometria


arterial no processo de desmame não interferiram no sucesso da retirada da ventilação me-
cânica, porém os dados hemogasométricos contribuíram de forma positiva no processo de
desmame, o valor médio de FiO2 no grupo com sucesso foi significativamente menor que
o valor médio de FiO2 no grupo com falha, portanto um valor alto de FiO2 pode influenciar
nas taxas de insucesso do desmame. Dos que falharam todos mantiveram uma alcalose
metabólica moderada demonstrando interferir negativamente no processo de desmame.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 405


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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 407


30
“ Avaliação da relação entre a
cobertura vacinal contra o HPV
em um Estado do Brasil com
outros indicadores de saúde

Nelmar de Oliveira Mendes Selma Gomes Samineses


UFMA CER - São Luís

Alexsandro Guimarães Reis Elis Cabral Victor


Hospital Socorrão I - São Luís UFMA

Viviane Sousa Ferreira Marta de Oliveira Barreiros


UFMA UFMA

Ilka Kassandra Pereira Belfort Flávia Ferreira Monari


UFMA UFMA

Arissane de Sousa Falcão Vanessa Edilene Duarte Martins


UFMA UFMA

10.37885/200600535
RESUMO

Objetivo Avaliar a relação entre a situação da vacinação contra o HPV e os indicadores


relacionados ao câncer de colo de útero. Métodos: O presente estudo é do tipo descritivo
retrospectivo realizado no estado do Maranhão entre 2014 a 2019 com as populações
femininas que são alvo da campanha de vacinação. Também foram avaliadas, outras
faixas etárias com o objetivo de correlacionar a série histórica para alguns indicadores.
Para a tabulação, utilizamos os Sistemas de Informação em Saúde: SIS-PNI, SIH-SUS,
IBGE, SISCAN consistentes no site do DATASUS. Resultados: O estado do Maranhão
ao longo dos anos, não cumpriu as metas, que englobam vacinar 80% da população
alvo, a situação é pior quando foram observadas a administração da segunda dose da
vacina. Essa situação se expressa de forma clara na não modificação da situação dos
exames colposcópicos, gastos hospitalares e quantidade de mulheres internadas para
realização de procedimentos relacionados ao tratamento radical do câncer de colo de
útero. Conclusão: o presente estudo corrobora com os achados de outras pesquisas
que mostra que a não efetividade da vacinação traz como resultados a não modificação
da situação epidemiológica.

Palavras- chave: Papillomaviridae; Avaliação de processos e resultados; Sistemas de


Informação.
INTRODUÇÃO

O Papilomavírus Humano (HPV), é um grupo de mais de 150 tipos virais que infecta as
células epiteliais basais cutâneas ou mucosas e é altamente prevalente na população sexu-
almente ativa. O HPV é assintomático e é classificado de acordo com o risco de desenvolver
o câncer. Os sub-tipos de alto risco mais comuns são os tipos 16 e 18 e estão associados
ao carcinoma de vagina, ânus e colo de útero; os de baixo risco, predominantemente os
tipos 6 e 11, causam desenvolvimento de verrugas acuminados (LETO MGP, et al., 2011;
NAKAGAWA JTT et al., 2010; GIRIANELLI, VR et al., 2010).
Em relação ao câncer de colo de útero os tipos 16 e 18 são os mais perigosos, estão
presentes em cerca de 70% dos casos de cânceres de colo de útero. Entretanto o tipo 16 é
considerado o mais fatal, responsável por 50% dos casos de canceres de colo de útero em
todo o mundo (BRASIL, 2018).
Os tipos 6 e 11 estão associados a 90% da ocorrência de verrugas na região oral e
genital. O Brasil tem similaridade no perfil de prevalência da doença com o restante do mun-
do 53,2% para o HPV 16 e 15,8% para o HPV 18. O câncer do colo do útero é uma doença
preocupante e que pode levar a óbito. A sua alta incidência e altas taxas de mortalidade
justificam a grande preocupação mundial acerca do tema (WHO, 2016).
Com o objetivo de prevenir a infecção e reduzir a incidência de casos de câncer de
colo uterino, foi criada a vacina anti-HPV, o qual há dois tipos que são comercializadas no
Brasil: a quadrivalente e a bivalente. Até onde se sabe, a duração da proteção da vacina é
de mais de 5 anos após esquema vacinal completo, quando a vacina quadrivalente foi im-
plantada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), era necessária a administração de
três doses, havendo posteriormente, sido modificado o esquema vacinal para duas doses
(ZARDO MRI, et al., 2014; RUAS BRB, et al., 2017).
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são esperados 17,11 casos de
câncer de colo de útero para cada mil mulheres no Brasil no ano de 2014. Devido o conheci-
mento prévio da população, qualitativamente incompleto e por vezes equivocado, a adesão
à vacinação se torna insuficiente para atingir a meta de prevenção. Enquanto o Brasil não
avança na imunização, países como a Austrália vão se destacando na erradicação quase
completa do HPV, reduzindo ainda mais as complicações causadas pela doença viral cujo
sucesso consiste na associação dos programas com o ambiente escolar (PEREIRA RGV,
et al., 2016; MOTA CV 2018).
Para que o programa de vacinação contra o HPV seja eficaz é necessário que a po-
pulação seja devidamente informada sobre a enfermidade. Os meios de informação são
diversos, com a criação das equipes de saúde da família, a figura do agente comunitário de
saúde passa a ser fundamental nesse trabalho, existem muitas barreiras para a aceitação

410 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


da vacinação e uma delas é o pensamento dos pais de que a imunização possa ser um
incentivo à uma vida sexual precoce e promíscua, podendo levar ao número de parceiros
sexuais e prática de sexo sem proteção. A questão com a segurança da vacina e dúvidas
quanto à eficácia também é um fator de muita influência dos pais aos filhos para não se va-
cinarem (SOUSA PDL, et al., 2018; GRANDAHL M, et al., 2017; ALBRIGHT K, et al., 2017).
A escolha pela faixa etária de 9 a 14 anos pelo Ministério da Saúde para a população
alvo para a vacinação contra o HPV, se deve primeiramente a costumes relacionados ao
povo brasileiro, nessa idade os pais ainda tem o costume de levar seus filhos para vacinar
e no geral, nessa faixa etária as crianças e adolescentes ainda não iniciaram a sua vida
sexual. Uma justificativa mais fisiológica e imunológica é que nesse período a vacinação
proporciona níveis mais altos de anticorpos se comparado à imunidade natural produzida
pela infecção do HPV (BRASIL, 2018).
O Ministério da Saúde investiu o equivalente a R$ 43,01 por dose de vacina, o objetivo
era que com esse investimento, em pouco tempo o Brasil pudesse contar com diminuições
drásticas na quantidade de casos esperados por ano, em países como a Austrália já se fala
em 6 casos para cada 100mil mulheres no ano de 2020. No total, foram 12 anos de ações
voltadas à vacinação contra o HPV, atualmente quase 2 bilhões de reais são gastos no Bra-
sil com tratamento de canceres, se considerarmos que o câncer de colo de útero é um dos
mais prevalentes, uma campanha bem-sucedida acerca da vacinação contra o HPV geraria
um bom resultado na dispensação de despesas públicas, visto que este está relacionado a
90% dos casos de câncer de colo de útero (BRASIL, 2018).
Os políticas de saúde no Brasil, são fundamentados no cuidado primário em saúde, o
Programa de Saúde da Família estabelece que a saúde da mulher é uma das prioridades e
o cuidado da equipe principalmente da enfermagem garante o cumprimento das metas de
realização de exames citopatológicos e vacinação contra o HPV, com toda essa estrutura
voltada às ações a favor da saúde da mulher as expectativas são que haja uma boa promo-
ção e prevenção dos cânceres de colo de útero (CARNEIRO CPF, et al., 2019).

MÉTODOS

Local, população e desenho do estudo:

Foi realizado um estudo epidemiológico descritivo retrospectivo de abordagem quanti-


tativa. Os participantes do estudo foram principalmente meninas na faixa etária alvo para a
vacinação contra o HPV (09 a 14 anos), outras faixas etárias também foram consideradas
apenas a nível de comparação com a população alvo, todas residentes do estado do Mara-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 411


nhão. O estudo foi feito com recorte temporal do ano de 2014 a 2019, todas as informações
estão presentes no DATASUS nos Sistemas: Sistema de Informação do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), Sistema de Informação em Saúde do Programa Nacional
de Imunização (SIS-PNI) e Sistema de Informação Hospitalar do SUS (SIH-SUS) e Sistema
de Informação de Câncer de Colo te útero e mama (SISCAN).

Variáveis analisadas:

Foram utilizadas como base para avaliação parâmetros de qualidade e informações


que ao longos dos anos de 2014 a 2019 representassem a capacidade do estado do Mara-
nhão em promover um ambiente saudável às mulheres e que pudessem nos dar um retrato
da situação atual do câncer do colo de útero e perspectivas em relação aos gastos com os
principais procedimentos relacionados a essa doença, entendendo que a infecção por HPV
é um dos grandes causadores disso, o período de 2008 a 2013 foi considerado em uma
tabulação para comparação do período principal estabelecido para avaliação nesse estudo.

Os indicadores utilizados para avaliação foram:

– Relação entre a quantidade de meninas residentes no estado do Maranhão na faixa


etária de 09 a 14 anos e a administração da primeira e segunda dose da vacina entre os anos
de 2014 e 2019. Para a elaboração desse indicador foi utilizado o Sistema de Informação
do Programa Nacional de Imunização (SIS-PNI) e dados demográficos do IBGE;
– Relação entre a presença de epitélio metastático na faixa etária de 09 anos, 10 a 14
anos e de 15 a 19 anos em pessoas do sexo feminino e residentes no estado do Maranhão
e sua relação com a administração da primeira e da segunda dose da vacina entre os anos
de 2014 e 2019. Para a elaboração desse indicador foi usada como base os Sistemas de
Informação Hospitalar (SIH-SUS) e dados demográficos do IBGE;
– Presença de epitélio metastásico por faixa etária 9 anos, 10 a 14 anos, 15 a 19 anos
dos anos de 2014 a 2019 na população residente do estado do Maranhão. As tabulações
utilizaram como base o Sistema de Informação do Câncer de Mama e Útero (SISCAN) e
dados demográficos do IBGE;
– Comparação entre as proporções das séries históricas de 2008 a 2013 e 2014 a
2019 de neoplasias e carcinomas em mulheres internada por faixa etária por 10.000 mil
habitantes no estado do Maranhão. Para a realização das tabulações utilizamos as bases
de dados do SIH-SUS;
– Média de gastos ao longo dos anos de 2014 a 2019 com os procedimentos: Histe-
rectomia com anexectomia (uni e bilateral) em oncologia, Histerectomia com ressecção de

412 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


órgãos contíguos em oncologia; Histerectomia total ampliada em oncologia; Histerectomia
total em oncologia de residentes do Maranhão. Todos os procedimentos elencados para
a tabulação estão presentes no Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos,
Medicamentos, Órteses e Próteses do Sistema Único de Saúde (SIGTAP), registrado sob
os números de procedimento, consecutivamente: 04160600-48, 04160600-56, 04160600-64
e 04160600-72;
– Quantidades de Autorizações de Internações Hospitalares (AIH’s) aprovadas ao
longos dos anos de 2014 a 2019 no procedimento Amputação Cônica de colo de útero com
colpectomia em Oncologia e valores gastos com o procedimento na população de mulheres
em geral, o procedimento está presente no Sistema de Gerenciamento da Tabela de Pro-
cedimentos, Medicamentos, Órteses e Próteses do Sistema Único de Saúde (SIGTAP) sob
o código de procedimento 04160600-13, para a tabulação utilizamos como base o Sistema
de Informação Hospitalar (SIH-SUS).
O período da busca de informações e tabulações abrangeu o período de 01/10/2019 a
14/02/2020. Utilizamos os tabuladores: Tabnet, Microsoft Excel, Numbers for Macbook para
construção das tabelas e gráficos. Os dados foram analisados e organizados em forma de
porcentagens, médias e proporções.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Meta de vacinação e relação entre primeira e segunda dose:

No Brasil, adotou-se a vacina quadrivalente que consiste em duas doses aplicadas


com intervalo de três a seis meses. Desse modo, sabe-se que a dose única ainda não é uma
realidade no contexto de saúde pública brasileiro, visto que se sugere que um esquema de
única dose pode ter proteção limitada contra doenças cervicais de alto grau, desencadear
baixos níveis de anticorpos quando comparada à um esquema de 2 e 3 doses e a imunoge-
nicidade de um esquema de dose única não ofereceria segurança suficiente que comprova
a eficácia de proteção a longo prazo, os resultados do presente estudo mostram que um
esquema de dose única seria mais satisfatório, se uma dose apenas pudesse imunizar as
populações, pois há uma dificuldade no retorno das populações alvo para receberem a se-
gunda dose (CAVALCANTI CD, et al., 2019).
A cobertura vacinal satisfatória é um fator fundamental para a erradicação do câncer
de colo de útero. Um dos países que é um bom exemplo disso é a Austrália, o país é líder
em estratégias de vacinação com o objetivo de reduzir dramaticamente a incidência de
câncer cervical. A inserção da vacina no sistema público aconteceu em 2007 e atualmente
ele possui uma das incidências mais baixas de câncer de colo uterino do mundo. No Brasil,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 413


o início das campanhas de vacinação aconteceu mais tarde, porém como mostram os re-
sultados do presente estudo no estado do Maranhão não houve o cumprimento das metas
estabelecidas, isso nos leva a crer que os resultados alcançados em outros países não serão
a nossa realidade nos próximos anos (BRALSFORD KJ e JAMIRSON, 2019).
Mundialmente muitas manifestações foram realizadas contra a vacinação do HPV,
pois muitos acreditavam que a vacina serviria de um estímulo para iniciação da vida sexual.
Bispos católicos em várias cidades se opuseram de forma veemente à vacinação contra o
HPV porque acreditavam que a abstinência era a única opção saudável de prevenir o câncer
cervical, esse pode ser um dos motivos que justifiquem os resultados da gráfico 1 do pre-
sente estudo, considerando que mais da 80% da população brasileira é cristã (GUINCHON
JR, et al., 2013).
As pesquisas mostram que a vacinação contra o HPV não está associada ao aumento
do comportamento sexual de risco em meninas e adolescentes. O status de vacinação não
foi significativamente associado à probabilidade de estreia sexual. Na verdade, as pesquisas
mostram que o início precoce de relações sexuais está mais relacionado a abuso de álcool e
vida desregrada por parte de jovens (DONKEN R, et al., 2018; BROWER, AF, et al., 2019).
A abordagem da população alvo é a vacinação nas escolas, isso tende a melhorar
a aceitação por parte dos pais, porém a captação das pacientes depende mais de fatores
externos. Uma avaliação realizada em uma escola de um município do estado do Tocantins
revelou que dos 119 cartões de vacina avaliados 47,05% encontravam-se com atraso da
vacina contra o HPV. No estado da Bahia os resultados mostram que o problema está na
administração da segunda dose da vacina. O estado alcançou uma cobertura vacinal de
primeira dose no primeiro ano de campanha (2014) de 108,60%, porém somente 47,49% de
segunda dose. Em 2015 nem a primeira dose de cobertura 57,26% nem a segunda dose de
cobertura 31,03% alcançaram a meta de cobertura vacinal de 80% de vacinação do público
alvo. Esses resultados corroboram com os resultados do presente estudo (SINKA K, et al.,
2014; FEITOSA LG, et al., 2019; GONÇALVES LA, et al, 2018).
A população de meninas e adolescentes na faixa etária estabelecida para vacinação no
estado do Maranhão é de 883.386 pessoas. As metas do Ministério da Saúde revelam que
80% da população alvo deveria ser vacinada com a primeira e segunda dose pois somente
assim, seria garantido a imunização. Os resultados encontrados no gráfico 1 mostram que
no ano de 2014 (ano em que a vacinação contra o HPV foi incluída no calendário vacinal)
208.214 meninas receberam a primeira dose da vacina, porém somente 129.345 receberam
a segunda dose da vacina.
Os números decrescem ao longo dos anos, se considerarmos a segunda dose no ano
de 2015 somente 97.653 pacientes foram imunizadas, 44.208 em 2016, o ano de 2017 e

414 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


2018 são os anos em que o número de primeiras e segundas doses mais se aproximam,
representando boa busca ativa porém, bastante distante das metas estipuladas ( 77.350
de primeira dose e 57.550 de segunda dose em 2017 e 49.962 de primeira dose e 45.969
de segunda dose em 2018). O ano de 2019 está representado com os piores resultados
26.562 meninas receberam a primeira dose e 24.588 receberam a segunda dose. No total
399.313 meninas foram imunizadas com a segunda dose da vacina, isso representa apenas
45,20% da população alvo, outro fator agravante é que esse número foi atingido ao longo de
6 anos de intervenção, considerando que a imunização é garantida somente por 5 anos, os
achados mostram que as equipes de saúde precisam melhorar o seu trabalho para garantir
a imunização das populações alvo.

Gráfico 1. Relação entre a quantidade de meninas residentes no estado do Maranhão na faixa etária de 09 a 14 anos e
a administração da primeira e da segunda dose da vacina entre os anos de 2014 e 2019

Fonte: DATASUS, 2020

Relação entre epitélio metastásico no resultado da colposcopia e imunização completa:

O item que mais influencia os resultados da colposcopia é a presença do HPV, este


relacionado diretamente à presença de carcinogênese. A associação passou a ser aceita
a partir da década de 90 e desde 2003 os exames de colposcopia e exame para detecção
de HPV são feitos em conjunto. Por esse motivo o protocolo de rastreamento do câncer de
colo de útero passou a ser de 5 em 5 anos nos EUA, no Brasil o protocolo é a realização
dos exames anualmente (NAM K, 2018).
Pesquisas demonstram que um programa de vacinação de rotina em adolescentes de
12 e 13 anos de idade está associada a uma profunda redução da doença cervical sete anos
depois do seu início, a pesquisa teve como base avaliação de exames de anormalidades

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 415


encontradas em colposcopias. A doença também foi reduzida em mulheres não vacinadas,
possivelmente por causa da “proteção em rebanho” que acontece quando uma determina-
da população é vacinada e acaba protegendo a população de forma geral. As populações
rotineiramente vacinadas também tiveram um risco menor de outras doenças relacionadas
ao HPV. Os resultados demonstram de forma clara que a vacinação oportuna é uma medida
confiável da avaliação do risco de câncer em mulheres e que através da colposcopia pode-se
fazer uma avaliação clara disso (PALMER T, et al, 2019).
Nos resultados obtidos no presente estudo, relacionamos a presença de epitélio metas-
tásico com a situação vacinal das mulheres e pudemos comprovar que o não cumprimento
das metas estipuladas contribuiu para a manutenção e até aumento de resultados negativos
na colposcopia.
Na Austrália, se houver uma manutenção nas campanhas de vacinação a incidência
anual de câncer do colo do útero pode diminuir para somente um novo caso a cada 100.000
mulheres na faixa etária de risco no ano de 2066 porém, se o programa de triagem for des-
continuado, a incidência anual será de aproximadamente três casos por 100.000 mulheres
(HALL MT, et al., 2019).
Os resultados de um estudo de base populacional indicam uma redução no número
absoluto de mulheres jovens encaminhadas à colposcopia quando receberam imunização
completa contra o HPV. O período de tempo da coleta de dados e o tamanho do efeito suge-
rem que isso provavelmente está associado à vacinação contra o HPV. Estudos anteriores
confirmaram a redução nos genótipos do tipo de vacina contra o HPV e o desempenho da
citologia como consequência da imunização (CRUICKSHANK ME, et al., 2017).
Uma pesquisa de coorte realizada na Escócia evidenciou que existe uma redução sig-
nificativa na prevalência de HPV 16/18 e NIC 2 em mulheres de 20 a 25 anos de idade que
fizeram colposcopia no país. Os resultados indicam que o desempenho da colposcopia em
mulheres vacinadas não diminuiu substancialmente. No entanto, a presença de displasia
moderada (NIC 2) foi menor em mulheres vacinadas (embora não em um nível estatistica-
mente significativo) (MUNRO A, et al., 2017).
Atualmente no Brasil a vacina contra o HPV é estendida à homens na faixa etária de 9 a
14 anos. Estudos mostram que a vacina também tem a capacidade de reduzir a prevalência
de HPV por via oral entre jovens, o estudo foi realizado nos EUA, portanto, devido à baixa
captação da vacina os efeitos benéficos não puderam ser plenamente avaliados na população,
no Brasil, existe uma grande dificuldade em cumprir as metas de vacinação na população
feminina como visto na tabela anterior, por isso a presença de alterações histológicas nos
tecidos é permanente e progressiva, fato esse observado a seguir (ANIL K, et al., 2017).
O gráfico 2 representa a presença de epitélio metastásico na população de meninas

416 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de 09 a 19 anos ao longo dos anos de 2014 a 2019. A expectativa é que com o passar dos
anos a quantidade de meninas na faixa etária de risco diminuísse com a inserção da vacina
de HPV no calendário de vacinação, situação que não é observada no gráfico a supra citado.
Foram inseridas na tabulação de “presença de epitélio metastásico” além da população de
09 a 14 nos, adolescentes de 15 a 19 anos porque a população que tinha de 09 a 14 anos
em 2014 atualmente está na faixa etária de 15 a 19 anos de idade. Os anos de 2014 e 2015
representam as menores ocorrências de aparecimento de epitélio metastásico de toda a
série histórica (2014 – 869 casos e 2015 - 865 casos).
Apesar da vacinação iniciada em 2014, a partir do ano de 2016 o gráfico demonstra
uma tendência forte de crescimento da anormalidade histológica revelando 1.200 casos
em 2016, 1.458 em 2017, 1.652 casos em 2018 e 1.769 casos em 2019 o que representa
forte ligação de alterações crescentes aos exames colposcópicos com a insuficiência na
vacinação completa em tempo oportuno.

Gráfico 2. Relação entre a presença de epitélio metastático na faixa etária de 09 anos, 10 a 14 anos e de 15 a 19 anos
em pessoas do sexo feminino e residentes no estado do Maranhão e sua relação com a administração da primeira e da
segunda dose da vacina entre os anos de 2014 e 2019

Fonte: DATASUS, 2020

Apesar da vacina contra o HPV ter como objetivo a diminuição na incidência de novos
casos de HPV e consequentemente cânceres, as pesquisas mostram que ela pode funcio-
nar como um tratamento para aqueles que já contraíram o HPV eliminando verrugas por
exemplo. Pesquisadores comprovaram que tanto na vacinação preventiva como terapêutica
a vacinação contra o HPV apresentou vantagens mesmo em uma infecção recorrente (CHOI
H, 2019).
Em um estudo realizado no estado do Maranhão no ano de 2011 foi demonstrado que
12,5% de todos os exames realizados apresentaram epitélio metaplásico. Somente 18,9%

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 417


dos das mulheres que apresentaram alterações metaplásicas estão na faixa etária de me-
nores de 25 anos de idade (SILVA DSM, et al., 2014).
A tabela 1 revela a frequência dos epitélios metastásicos por faixas etárias. Em todos
os anos o grupo de 15 a 19 anos apresentou os maiores números e de forma crescente ao
longo dos anos, 834 em 2014 e 1.707 em 2019, representando um aumento de mais de
100% ao longo dos anos. A menor incidência foi no grupo de meninas de até 9 anos, pos-
sivelmente porque a realização de exames no grupo é menor.
São poucas as pesquisas que mostram a situação da presença de epitélio metaplásico
nas faixas etárias abaixo de 25 anos, porque o que é preconizado pelo Pacto pela Saúde é
que a faixa etária alvo para a realização do exame é de 25 a 59 anos, porém com os resulta-
dos dessa pesquisa se evidencia a necessidade de um cuidado especial à essas pacientes
especialmente na faixa etária de 15 a 19 anos onde se observou um aumento de mais de
100% de exames alterados em 6 anos de avaliação.

Tabela 1. Presença de epitélio metastásico por faixa etária 9 anos, 10 a 14 anos, 15 a 19 anos dos anos de 2014 a 2019
na população residente do estado do Maranhão

Faixa etária 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Total


Total 869 865 1.200 1.458 1.652 1.769 7.813
Até 9 anos 5 7 10 5 11 4 42
Entre 10 a 14 anos 30 42 38 48 57 58 273
Entre 15 a 19 anos 834 816 1.152 1.405 1.584 1.707 7.498

Fonte: DATASUS, 2020

O gráfico 3 compara duas séries temporais em proporções com o objetivo de avaliar


o risco que a mulher em cada uma das faixas etárias tem de adoecer por carcinoma e ne-
oplasia de colo de útero no estado do Maranhão. Com a intensificação das campanhas de
vacinação em todo o país a partir de 2014 e com a criação do Pacto pela Saúde em 2006,
que tem como uma de suas prioridades a saúde da mulher e da criança o que se esperava
era que os números reduzissem substancialmente. O que se observa no gráfico é o oposto.
Em todas as faixas etárias avaliadas o risco de desenvolver a doença é maior do período de
2014 a 2019. A faixa etária de 60 a 69 anos é a que apresenta a maior disparidade, o risco
atual em comparação ao período de 2008 a 2013 é de quase 7 vezes mais. O risco na faixa
etária de 50 a 59 anos é 5,3 vezes maior.
As faixas etárias de 1 a 4 anos também foram avaliadas e apresentaram os resultados a
seguir: 0,72 para cada 10.000 mulheres na série temporal de 2008 a 2013 e 0,43 por 10.000
de 2014 a 2019. Para as faixas etárias de 5 a 9 anos não houve casos de 2008 a 2013 e de
2014 a 2019 o índice subiu para 0,3 por 10.000 mulheres.
Na faixa etária de 10 a 14 anos no período de 2008 a 2013 o risco era 0,27 por 10.000

418 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


mulheres subindo para 4,4 no período de 2014 a 2019. Na faixa etária de 15 a 19 anos de
2008 a 2013 era de 0,3 por 10.000 mulheres e subiu para 16,5 por 10.000 mulheres.

Gráfico 3 . Comparação entre as proporções das séries históricas de 2008 a 2013 e 2014 a 2019 de neoplasias e carcinomas
em mulheres internada por faixa etária por 10.000 mil habitantes no estado do Maranhão

Fonte: DATASUS, 2020

Série histórica de gastos hospitalares relacionados ao câncer de colo de útero ao


longo dos anos:

Com a imunização bem-sucedida, a vacina quadrivalente pode reduzir o número de


exames de colposcopias e biópsias e a quantidade de tratamentos de lesões precursoras
do câncer de colo do útero. Um dos pontos mais relevantes das políticas públicas de saú-
de é mensurar a eficiência econômica das mesmas em se tratando de custos e benefícios
(SANCHES, 2010; ZAHDI, 2010).
Em uma pesquisa realizada em vários estados do Brasil em 2011, demonstrou-se que
a maior incidência de câncer de colo de útero é no estado do Maranhão. Em contrapartida
os estados que tiveram o menor índice de casos registrados no SUS são Sergipe com 34
casos e o Rio Grande do Norte com 52 casos, a tendência é que quanto mais casos tratados,
maiores os gastos hospitalares atrelados (SILVA DSM, et al., 2014).
Mulheres com baixa escolaridade, baixo nível sócioeconômico e baixa renda familiar
estão mais suscetíveis ao HPV e consequentemente ao câncer de colo de útero, são essa
população de mulheres que deveriam prioritariamente ser alcançadas pelos serviços públi-
cos de saúde, porém não são. O aumento ou permanência nos gastos com procedimentos
radicais revelam ineficiência dos serviços preventivos em alcançar pacientes com perfil de
exclusão e alto risco para o câncer de colo uterino (FONSECA AJ, et al., 2010).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 419


Não foi um objetivo desse estudo traçar o perfil sócioeconômico das pacientes interna-
das com complicações relacionadas ao câncer de colo de útero, porém estudos com essa
abordagem auxiliam a melhorar a situação encontrada no gráfico 4.
A tabulação do gráfico 4 revela a relação aos gastos hospitalares relacionados a pro-
cedimentos gerados a partir dos cânceres de colo de útero, foram selecionados os procedi-
mentos: Histerectomia com anexectomia (uni e bilateral) em oncologia, Histerectomia com
ressecção de órgãos contíguos em oncologia; Histerectomia total ampliada em oncologia;
Histerectomia total em oncologia. Observou-se que o ano de 2017 teve o maior gasto (R$
6.594,34 por paciente). O aumento de gastos hospitalares por paciente é um importante
indicador porque a mesma Autorização de Internação Hospitalar (AIH) pode ser faturada
com o valor mais alto ou mais baixo representando assim que quando há necessidade da
paciente ficar mais tempo internada, mais procedimentos complexos serem adicionados à
essa AIH, portanto, o aumento na média representa maiores despesas individuais o que
revela um ponto negativo. O ano de 2014 representou o menor gasto individual médio por
paciente (R$ 6.142,47) e o ano de 2017 o maior gasto médio (R$ 6.594,34).

Gráfico 4. Média de gastos ao longo dos anos de 2014 a 2019 com os procedimentos: Histerectomia com anexectomia (uni
e bilateral) em oncologia, Histerectomia com ressecção de órgãos contíguos em oncologia; Histerectomia total ampliada
em oncologia; Histerectomia total em oncologia de residentes do Maranhão

Fonte: DATASUS, 2020

Os estudos mostram que quando as mulheres são imunizadas e já tiveram algum con-
tato com o HPV a probabilidade de apresentarem lesões epiteliais de alto grau (NIC 2 e NIC
3) é menor nas proporções de: diminuição de 38% em NIC 3 e de 35% em NIC 2. Quando
um serviço de imunização é efetivo a expectativa é que os casos de cânceres de colo de
útero e gastos hospitalares atrelados a ele praticamente desapareçam, o que se observa no
presente estudo é que acontecem aumentos de forma progressiva (HALL MT, et al., 2019).

420 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


No Brasil os canceres de colo de útero e mama continuam sendo um grande desafio
para o setor saúde por causa do fracasso das campanhas de vacinação, programas de iden-
tificação de forma precoce ocasionam um número exorbitante de internações e altas taxas
de mortalidade, se considerarmos que as mulheres também participam de forma efetiva e
as vezes exclusiva da renda do lar isso afeta não somente o sistema público de saúde mas
a economia das famílias brasileiras (SANTOS RS e MELO ECP, 2010).
A tabela 2 representa a média de AIHs, AIHs aprovadas e valor total do procedimento
amputação cônica de colo de útero em oncologia com colpectomia. Não foram observadas
muitas diferenças em relação ao valor médio de AIH ao longo dos anos. A quantidade de
pacientes internados ao longo dos anos apresentou variação em relação à quantidade de
pacientes que fizeram o procedimento, o ano de 2019 foi o ano que mais houve internações
51 pacientes, seguido do ano de 2018 (27 pacientes). O procedimento é realizado quando
há a necessidade de um procedimento mais sério quando identificado a necessidade de
uma intervenção mais radical em relação ao descontrole do epitélio metastásico.

Tabela 2. Quantidades de Autorizações de Internações Hospitalares (AIH’s) aprovadas ao longo dos anos de 2014 a 2019
no procedimento Amputação Cônica de colo de útero com colpectomia em Oncologia e valores gastos com o procedimento
na população de mulheres em geral

Ano processamento Média AIH AIHs aprovadas Valor total

2014 1.876,96 18 33.785,37


2015 1.942,49 7 13.596,83

2016 1.902,69 4 7.610,76


2017 2.202,42 1 2.202,42

2018 1.843,78 27 49.782,09


2019 1.914,24 51 97.626,58
Fonte: DATASUS, 2020

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As intervenções do Ministério da Saúde no sentido de promover a vacinação contra o


HPV e políticas voltadas à saúde da mulher são de fundamental importância para reduzir os
índices de câncer de colo de útero. O presente estudo corrobora com os achados de outras
pesquisas que mostra que a falência nas estratégias de vacinação e de promoção e preven-
ção não modifica situações epidemiológicas, gastos hospitalares e resultados desfavoráveis
de exames laboratoriais. O estado do Maranhão frente a esses resultados, necessita de
uma intervenção urgente de forma que no futuro a situação seja modificada e as mulheres
possam ter uma perspectiva melhor em relação à doença.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 421


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Artigo original

424 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


31
“ Avaliação de Custo-efetividade
nas terapias oncológicas,
emprego de Modelos de Markov:
uma revisão integrativa da
literatura

José Afonso Corrêa da Silva


UFRGS

Artigo original publicado em: 9/2019


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700688
RESUMO

Objetivo: Revisar a literatura científica que aborda a relação custo-efetividade das


terapias oncológicas, correlacionado com o limitar de disposição de pagar e qualidade
de vida (QALYs). Métodos: Foi realizada uma revisão da literatura através da busca
de publicações nos bancos de dados PUBMED, LILACS e EMBASE, em outubro de
2018. A estratégia de pesquisa consistiu em: termos para "cost effectiveness"; para
"chemotherapy"; para “cancer”; e, associados ao termo “markov model”. Resultados: A
pesquisa resultou em 209 publicações, dos quais ao final, 18 artigos compuseram essa
revisão. Na maioria dos trabalhos, o modelo de Markov foi focado no estadiamento da
doença, dividindo em três ciclos, Estado livre de progressão (PFS), Doença progressiva
(DP) e Morte. Nas avaliações de custo-efetividade poucas terapias apresentaram melhorias
no QALYS e um custo, sendo que as comparações que obtiveram, forma de terapias em
que as drogas padrão já apresentavam um custo elevado, diminuindo o ICER da terapia
inovadora. Conclusão: Os resultados da revisão apontaram uma notável dificuldade de
justificar a inserção de novas terapias através dos estudos de custo-efetividade, assim
como uma grande diferença entre o limite de disposição a pagar dos diferentes países,
o que influencia diretamente na possibilidade de aquisição de novos tratamentos.

Palavras-chave: Custo-efetividade; Antineoplásicos; Modelos de Markov.


INTRODUÇÃO

O câncer é de fato uma grande ameaça à saúde pública, tanto no âmbito social quando
no econômico, contabilizando aproximadamente 596 mil novos casos no ano de 2016 (INCA,
2016), classificando-o como sendo a segunda maior causa de morte no Brasil e no mundo
(WHO, 2015). A alta incidência das doenças é impulsionada principalmente pelo aumento
do envelhecimento da população.
O Fórum Econômico Mundial estimou custos diretos de tratamento de câncer e com-
pareceu a valores de perdas de renda em US$ 290 bilhões em 2010 (BLOOM DE, et al.,
2011), resultando na União Europeia, por exemplo, em custos para o tratamento do câncer
maiores que 126 milhões de euros (LUENGO-FERNANDEZ R, et al., 2013). Dentro os mo-
tivos para o crescimento dos gastos na área, certamente encontramos o investimento em
pesquisa de rastreio avançado, diagnóstico precoce e nas modalidades de tratamento, este
fato, não deixam dúvida de que os custos do câncer só se expandirão (BLOOM DE, et al.,
2011). No Brasil, as despesas com tratamentos de câncer (cirurgia oncológica, radioterapia,
quimioterapia e iodoterapia) cresceu 357% entre os anos de 2000 e 2014 (BRASIL, 2015).
Além disso, a consciência do impacto psicológico para os pacientes e a importância de
manter a saúde relacionada qualidade de vida (QVRS) durante e após a terapia antineoplási-
ca, têm aumentado nas últimas décadas (BOTTOMLEY A, 2002). Nos campos da oncologia
cirúrgica e radiológica, grandes progressos já foram feitos, resultando em tratamentos com
menos efeitos colaterais e sobrecarga do paciente.
As modalidades de tratamento sistêmico estão de certa forma atrasadas neste aspecto
do tratamento. Apesar das evoluções no sentido de quimioterapias com doses mais baixas
e menos tóxicas, imunoterapias direcionadas e a alta frequência desses tratamentos, são
emocionalmente estressantes para os pacientes e interferem com o seu funcionamento
social (HALL M E LLOYD H, 2008).
Neste contexto, é que está inserido a necessidade de desenvolver estudos de custo-
-efetividade (CE), buscando justificativas para aprovação ou revogação de novas terapias,
custosas para os órgãos pagadores e danosas para os pacientes em uso. A avaliação de CE
geralmente ocorre por meio de estudos de modelagem comparando duas ou mais coortes
com intervenções diferentes, que depois de montar ou utilizar dados de ensaios clínicos já
finalizados, é caracterizada e aplicada em uma população hipotética (SECOLI SR, et al., 2010).
Numerosos parâmetros são inseridos no modelos, não se limitando aos custos de
terapia, mas sim, probabilidades de doença remanescente/livre de progressão (usualmente
baseado em dados), probabilidades de toxicidade (com os custos de gestão de acordo), e
os resultados clínicos esperados até a morte (também baseado em dados clínicos e / ou
extrapolação dos mesmos) (SECOLI SR, et al., 2010).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 427


Nesse contexto, os modelos mais empregados, que avaliam a probabilidade de pas-
sagem de um estado de saúde a outro são os modelos de Markov, onde o padrão das tran-
sições de estado permanecem constantes ao longo do tempo (SATO RC E ZOUAIN DM,
2010) e semi-Markov, onde é possível considerar interferentes no tempo de passagem de
um estado a outro (HETTLE R, et al., 2015).
Neste modelo, os custos e resultados são compilados para todos os grupos na dura-
ção dentro de cada fase modelada, finalizando no tempo total de avaliação (referido como
o horizonte de tempo); os braços são comparados para os custos totais, anos de vida ajus-
tados pela qualidade (QALYs), e os custos associados que cada um ano ganhou de QALY
(denominado razão de custo-efetividade incremental “incremental costeffectiveness ratio”
- ICER) (SOAREZ PC e NOVAES HMD, 2017).
A ICER indica quanto o pagamento é necessário para um ano adicional de vida (com
qualidade) e é comparado com um período de tempo pré-determinado. Esse valor é cor-
relacionado com o limiar de “disposição a pagar” (willingness-to-pay-WTP) que difere por
publicação, sociedade, sistema econômico, período de tempo e outros fatores (os limites
mais comuns variam de US$ 50.000 e US$150.000/QALY). A comparação do ICER com o
limiar WTP, conclui se a intervenção é ou não considerado “custo-efetivo” (SOAREZ PC E
NOVAES HMD, 2017).
Sendo assim, essa revisão tem como objetivo, revisar a literatura cientifica, que aborda
a relação custo efetividade das terapias oncológicas, e analisar os valores referentes da
mesma, correlacionado com o limitar de disposição de pagar e qualidade de vida (QALYs).

MÉTODOS

Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, baseada nos itens exigidos para
revisões e meta- análises PRISMA (PRISMA, Reporting Items for Systematic Reviews and
Meta-Analyses) (MOHER D, et al., 2010).

Critérios de elegibilidade

A elegibilidade da primeira fase de pesquisa foi baseada em todos os artigos que


descreveram o emprego de modelos de Markov para a estimativa de custo-efetividade na
comparação de protocolos antineoplásicos, estes foram os critérios de inclusão para a pre-
sente revisão.
Foram excluídos os artigos, que após selecionados na pesquisa inicial, apresentaram
na leitura geral do texto, que apenas citavam o modelo de Markov, ainda, foram excluídos os
artigos que traçavam uma comparação entre métodos não farmacológicos, procedimentos,

428 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


metodologias preventivas, e que faziam avaliações de custo efetividade pela comparação de
doses diferentes, fugindo do escopo principal da revisão. Estudos que analisaram a relação
entre pacientes de países diferentes, ou até de dois ensaios clínicos diferentes, também
foram excluídos.
Visando padronizar os dados para a avaliação de custo-efetividade, foram elegidos
apenas artigos que contemplavam todas as informações quanto ao QALYS, ICER e WTP.
O mesmo se aplica para editoriais, artigos de opinião, discussões e revisões referentes a
iniciativas existentes.
Todos artigos prospectivos randomizados e não randomizados, bem como retrospec-
tivos que analisaram as diferenças no âmbito do custo-efetividade entre terapias farmacoló-
gicas no câncer, foram incluídos na revisão da literatura. Não houve nenhuma restrição de
idioma. Apenas as publicações dos últimos cinco anos foram consideradas para a revisão.

Estratégia de busca

Os dados foram sistematicamente identificados através da revisão eletrônica dos bancos


de dados MEDLINE, através do acesso pelo PubMed (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/),
LILACS (http://lilacs.bvsalud.org/en/) e EMBASE, através do site do Science Direct (https://
www.sciencedirect.com) em outubro de 2018.
A estratégia de pesquisa consistiu em: (1) termos para "cost effectiveness"; (2) termos
para "chemotherapy" (3) termos para “cancer”; (4) associados ao termo “markov model”.
Os termos correspondentes no MeSH (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/mesh), bem como as
consultas que foram feitas, estão descritas no Quadro 1.

Quadro 1. Estratégia de pesquisa.

Cost effectiveness Chemotherapy Cancer


a. Cost-Benefit Analyses
Mesh a. Drug Therapy [Mesh] a. Neoplasms [Mesh]
[Subheading]
b. Cost-Effectiveness Analysis
b. Consolidation Chemotherapy [Mesh] b. Cancer
[Subheading]
c. Cost effectiveness c. Induction Chemotherapy [Mesh]
d. Chemotherapy, Adjuvant [Mesh]
e. Maintenance Chemotherapy [Mesh]
f. Drug Therapy, Combination [Mesh]
g. Antineoplastic Agents [Mesh]
h. Drug Therapy, Combination [Mesh]
i. Drug therapy [Subheading]
j. Chemotherapy
MEDLINE (1) A-C/OR (2) A-J/OR (3) A-B/OR
LILACS (1) C (2) J (3) B
EMBASE (1) A-C/OR (2) A-J/OR (3) A-B/OR

Fonte: Silva JAC, 2018.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 429


A estratégia de busca foi inicialmente criada para o MEDLINE e posteriormente adaptado
para os outros bancos de dados. Os termos com escopo mais amplo, que não se enquadravam
no objeto da pesquisa foram descartados, por fugirem em demasia do assunto abordado. A
estratégia de busca foi focada apenas em estudos humanos e repetida semanalmente durante
a preparação do manuscrito, a fim de identificar e incluir publicações relevantes e potencial-
mente novas. Uma base de dados bibliográfica foi criada manualmente para armazenar e
gerenciar as referências recuperadas através do programa Microsoft Excel 2016.

Avaliação do risco de viés

A avaliação da qualidade dos estudos selecionados foi realizada juntamente com a


extração de dados. A impossibilidade de cegar o pesquisador resultou em um risco de viés
de desempenho, assim como, devido a limitações metodológicas, todos os artigos eram
propensos ao viés de detecção sendo que a análise não passou por revisão de pesquisa-
dores externos. Para alguns artigos, era impossível julgar todos os domínios da avaliação
de risco, pois haviam dados insuficientes disponíveis para permitir julgamento. Ao final, 5
(cinco) artigos foram excluídos, pois o risco de viés foi considerado como sendo significativo.
A qualidade metodológica dos estudos selecionados foi avaliada por um pesquisador,
em caso de dúvida, foi solicitado conselho a um segundo pesquisador. Os estudos selecio-
nados eram heterogêneos em termos de desenho de estudo. Portanto, todos os estudos
incluídos foram avaliados de acordo com o manual de avaliação Cochrane de ECRs (5.1.0)
(HIGGINS JP, et al., 2011).
Os parâmetros incluem: geração de sequência aleatória, alocação e ocultação, ce-
gueira do paciente, pessoal e avaliadores de resultados, resultados incompletos, relatórios
e outros vieses. Foi julgado cada item em três níveis (“1” para um viés baixo, “2” para um
alto risco de vieses e “3” para não claro). Em seguida, foi organizado os artigos pelos níveis
de vieses encontrados, como: baixo risco de vieses (todos os itens foram categorizados em
“Sim”), risco de viés (pelo menos um item foi confirmado como "Não") e risco de viés pouco
claro (pelo menos um item foi classificado como “Pouco claro”). Para aqueles artigos que
avaliaram os parâmetros de custo-efetividade baseando-se em dados de ensaios clínicos
randomizados de fase II e III, foram considerados como de baixo risco de vieses.

Análise de dados

Após a remoção das duplicatas, foram selecionados artigos relevantes com base no
título e resumo. Os artigos selecionados foram selecionados de forma independente da re-
levância, pelo autor principal (J.A.C), de acordo com os critérios de elegibilidade propostos.

430 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Todos os dados relevantes foram tabulados para criar uma síntese descritiva das infor-
mações existentes em cada artigo. Durante a fase de elegibilidade, os estudos tabulados no
programa Microsoft Excel 2016, seguiram os seguintes critérios: autor/ano, país, neoplasia,
terapias comparadas e etapas do moledo de Markov utilizadas, despesas totais por doente
(média), valor o QALYs, valor do ICER e valor de “disposição a pagar”.
Ressalta-se que a qualidade de vida requer dados fechados sobre o sofrimento; an-
siedade ou depressão; bem-estar, atividades diárias e reações adversas da cada terapia,
sendo assim, foram utilizados os valores descritos de cada estudo. Da mesma forma, a
comparação do valor “disposto a pagar” com o ICER de cada estudo, foi relacionada de
acordo com a nacionalidade pesquisa, mantendo a moeda escolhida para a descrição dos
valores monetários.

RESULTADOS

Resultado da pesquisa

A fase de identificação resultou em 209 publicações. Após a retirada das duplicatas


196 artigos foram selecionados para a fase de triagem. Duas publicações foram incluídas na
revisão nesta fase. Sendo assim, 198 artigos passaram pela triagem de título e resumo, dos
quais 50 foram retidos para a revisão do texto completo, na fase de elegibilidade. As principais
razões da exclusão dos textos completos estão listadas no diagrama PRISMA (Figura 1).

Figura 1. Diagrama PRISMA para critérios de exclusão e composição da amostra.

Fonte: Silva JAC, 2018.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 431


Listam-se abaixo: Artigos que obtiverem seus dados de ensaios clínico de fase II/III:
[Zhou K, et al., 2018 - (JCOG0605); Zhen H, et al., 2018 – (BEYOND); Zhang P, et al., 2016 –
(ORIENTAL, EACH); Zhan M, et al., 2017 – (MAPS); Xie J, et al., 2015 - (BOLERO-2); Sarfaty
M, et al., 2018 – (CheckMate 025 e RECORD-1);Saito S, et al., 2017 – (RAINBOW); Rivera
F, et al., 2017 – (PEAK); Miguel LS, et al., 2017 – (KN-006); Matter- Walstra K, et al., 2015
– (ClinicalTrials.gov numbers, NCT01584648 e NCT01597908); Leal L, et al., 2018 – (COU-
-AA-301); Hu X e Hay JW, 2018 – (KEYNOTE-024); Goldstein DA, et al., 2015 –(SQUIRE);
Cohn DE, et al., 2015 – (GOG 218); Carlson JJ, et al., 2017 – (ASCEND I e II); Bohensky
MA, et al., 2016- (CA209066)];Artigo que extraiu os dados para um dos braços do estudo,
de um ensaio clínico de fase III: [Van Kampen RJW, et al., 2017 – (E2100)].

Revisão literária dos resultados de interesse

Ao ler esta revisão, deve-se ter em mente que os modelos e métodos dos estudos abor-
dados em sua grande maioria, baseiam-se em ensaios clínicos randomizados, porém com
avaliações custo efetivas heterogêneos, utilizadas para explorar os desfechos de interesse;
especialmente, em relação as diferentes nacionalidades que cada estudo apresenta, o que
gera mudanças importantes nos critérios econômicos e comparativos. O tamanho amostral
que compõe as avaliações e o horizonte temporal de cada avaliação econômica, não foram
incluídos nesta revisão, devido à grande diferença nos mesmos, sendo que cada estudo
utilizado e neoplasia avaliada carece, nesses dois pontos, de critérios individualizados. Uma
visão geral das conclusões feitas em cada documento, referente relação custo-efetividade
das terapias comparas, é dada nos Quadros 2 e 3.

Modelo de Markov

Na maioria dos trabalhos o modelo de Markov foi focado no estadiamento da doença,


dividindo em três ciclos, Estado livre de progressão (PFS), Doença progressiva (DP) e Mor-
te, utilizando uma semana Miguel LS, et al. (2017) ou um mês para o tempo de passagem
entre cada estado, prazos condizentes a evolução da doença e/ou resposta ao tratamento
(SARFATY M, et al., 2018; ZHEN H, et al., 2018; ZHOU K, et al., 2018).
Em alguns trabalhos o modelo de Markov, foi construído com base em um número
maior de etapas e com tempo de passagem diferente, como de duas semanas Rivera F, et
al. (2017), além disso, alguns autores optaram por configurar o modelo de acordo com a
terapia utilizada, ampliando assim o número de fases (GOLDSTEIN DA, et al., 2015).
Em alguns casos, os autores descreveram que utilizaram softwares para a elaboração
do modelo como TreeAge Saito S, et al. (2017); Zhan M, et al. (2017); Zhou K, et al. (2018)

432 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


ou Microsoft Excel (CARLSON JJ, et al., 2017).

Mensuração dos custos

Os estudos pesquisados avaliaram os custos totais na perspectiva do pagador de


saúde do país de origem, no mesmo foi incluído duas partes: custos médicos diretos e cus-
tos sociais, ou indiretos. O primeiro cobre o custo de medicamentos, da administração dos
mesmos, exames, tratamentos para Eventos adversos (EAs) e hospitalização Casado LF,
et al. (2018); Sarfaty M, et al. (2018); Zhen H, et al. (2018) e custos terminais Xie J, et al.
(2015), enquanto o segundo se referia a taxas de viagem (fixados por viagem ao hospital)
e custos de tempo Zhou K, et al. (2018), assim como os dias em que os pacientes ficaram
sem poder trabalhar (ZHANG P, et al., 2016).
Em algumas situações, foram avaliados apenas os custos médicos diretos Miguel LS, et
al. (2017); Rivera F, et al. (2017); Hu X e Hay JW, (2018), pelo fato de os autores discutirem
a perspectiva de pagamento em saúde por terceiros.

Quadro 2. Identificação dos artigos encontrados quanto a país da pesquisa, neoplasia, terapias e etapas do modelo de
Markov.

Conclusão por “disposição


Despesas totais por
Código Autor Ano QALYs¹ ICER² a pagar” (willingness-to-pay-
doente (Média)
WTP)
Disposição a pagar = <50.000/
Idelalisib+ Ritu- Redução de
Idelalisib+ Rituxi- QALY euros. Considerando o
ximabe (118.254 15.257euros por
A1 Casado LF, et mabe (4.97); Rituxi- limite de disposição para pagar,
A1 euros); Rituximabe QALY para Idelali-
al., 2018 mabe (1.82). a combinação de idelalisib+ritu-
(23.874 euros) sib+ Rituximabe
ximabe é custo-efetivo em 78%
das simulações.
Disposição a pagar =
<100.000/QALY francos suíços.
Dabrafenibe +
É necessária uma redução no
Trametinibe Dabrafenibe + Tra- Incremento de
preço total da terapia combina-
(311.421 francos metinibe (1.54); 385 603 francos
Matter-Walstra K, da para alcançar uma relação
A2 suíços); Vemura- Vemurafenibe suíços por QALY
et al., 2015 de custo-efetividade aceitável.
fenibe (111 773 (1.02). para Dabrafenibe +
Nenhuma das variações testa-
francos suíços) Trametinibe.
das nos principais parâmetros,
resultou numa ICER abaixo de
um limiar de WTP.
Disposição a pagar = <23.970/
QALY dólares. Apesar de apre-
Bevacizumabe + Bevacizumabe + Incremento de
sentar um aumento no QALY a
Paclitaxel-carbo- Paclitaxel-carbopla- 299.155 dólares
associação de Bevacizumabe
Zhen H, et al., platina (112.943 tina (1,07); Pacli- por QALY para
A3 + Paclitaxel-carboplatina,
2018 dólares); Paclita- taxel-Carboplatina Bevacizumabe +
excedeu o limite de disposição
xel-Carboplatina (0,80). Paclitaxel-carbo-
para pagar social aceito, não
(32.171 dólares) platina.
alcançando uma relação de
custo- efetividade aceitável.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 433


A disposição em pagar =
<35.000/QALY dólares. O estu-
Nivolumab (178.612
Nivolumab (2.5); Redução de 30.475 do mostrou que a utilização de
Bohensky MA, et dólares); Ipilimumab
A4 Ipilimumab (1,2). dólares por QALY Nivolumabe é compatível
al., 2016 (138,987 dólares).
para Nivolumabe. com a realidade Australiana,
alcançando uma relação de
custo- efetividade aceitável.
Paclitaxel-carbopla- Paclitaxel-carbopla- A disposição em pagar =
tina (4.044 dólares); tina (1.1); Paclita- <100.000/QALY dólares. O
Incremento de
Paclitaxel-carbopla- xel- carboplatina estudo demonstrou que em
792.380 dólares
tina + Bevacizumab + Bevacizumab nenhuma das terapias, o
por QALY para
(43.703 dólares); (1.13); Manutenção Bevacizumab é um tratamento
Cohn DE, et al., Manutenção com
A5 Manutenção com com Paclitaxel- custo efetivo, mesmo quando
2015 Paclitaxel-carbopla-
Paclitaxel- carbopla- -carboplatina + desconsiderado o impacto na
tina + Bevacizumab
tina + Bevacizumab Bevacizumab qualidade de vida (QV). Dado
+ Bevacizumab.
+ Bevacizumab + Bevacizumab que a inclusão dos escores de
(122.700 dólares). (1.25). QV aumentou o ICER (por mais
de 150.000 dólares).
A disposição em pagar =
<100.000/QALY reais.
Em nenhuma das análises
de sensibilidade os valores
Docetaxel (2.895,32 ficaram abaixo do limite de
Docetaxel (0.763); Incremento de
reais); Docetaxel disposição para pagar. Mesmo
Docetaxel + Abirate- 284.416 reais por
A6 Leal L, et al., 2018 + Abiraterona quando variados simultane-
rona (1.045). QALY para Doceta-
(83.295,02 reais). amente seis parâmetros, os
xel + Abiraterona.
resultados seguiram elevados
não alcançando uma relação
de custo- efetividade aceitável
com a inclusão da Abiraterona
ao tratamento.
A disposição em pagar =
<150.000/QALY dólares.
Incremento de
Ao limitar a duração máxima do
146.532 dólares por
tratamento com nivolumab a 2
QALY para Nivolu-
anos reduziu-se o ICER para
Everolimus (50.935 mabe em compara-
Incremento de 0.34 121.788/QALY dólares. Sendo
Sarfaty M, et al., dólares); Nivolu- ção ao Everolimus
A7 QALY para o Nivo- assim, apesar da análise ser
2018 mabe (101.070 e 226 197 dólares
lumabe. limitada pela baixa disponibili-
dólares). por QALY para
dade de dados, revela-se que a
Nivolumabe em
inclusão do nivolumab é custo-
comparação ao
efetivo quando comparado ao
placebo.
Everolimus, porém não quando
comparado com o placebo.
A disposição em pagar =
<50.000/QALY euros.
De acordo com a análise de
sensibilidade probabilística re-
alizada, o Pembrolizumab está
Pembrolizumabe Pembrolizumabe Incremento de
associado em 75% dos casos
Miguel LS, et al., (156,268 euros); (3.31); Ipilimumab 47.221 euros por
A8 a um custo por QALY inferior
2017 Ipilimumab (110,034 (2.33). QALY para Pembro-
ao disposto a pagar. Conside-
euros). lizumabe.
rando assim que o mesmo é
uma alternativa custo- efetiva
para o tratamento de pacientes
com melanoma avançado em
Portugal.

434 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


A disposição em pagar =
Panitumumabe + <30.000/QALY euros. Os re-
mFOLFOX6 Panitumumabe + sultados da análise mostraram
Incremento de
(57.485 euros); mFOLFOX6 (2.7); que o tratamento de primeira
Rivera F, et al., 16.567 euros por
A9 Bevacizumab + Bevacizumab + linha com Panitumumabe +
2017 QALY para Panitu-
mFOLFOX6 (72.203 mFOLFOX6 (2.1). mFOLFOX6 poderia ser consi-
mumabe
euros). derado uma opção econômica
em comparação ao Bevacizu-
mabe + mFOLFOX6.
A disposição em pagar =
Panitumumabe + <30.000/QALY euros. Os re-
mFOLFOX6 Panitumumabe + sultados da análise mostraram
Incremento de
(57.485 euros); mFOLFOX6 (2.7); que o tratamento de primeira
Rivera F, et al., 16.567 euros por
A10 Bevacizumab + Bevacizumab + linha com Panitumumabe +
2017 QALY para Panitu-
mFOLFOX6 (72.203 mFOLFOX6 (2.1). mFOLFOX6 poderia ser consi-
mumabe
euros). derado uma opção econômica
em comparação ao Bevacizu-
mabe + mFOLFOX6.
Disposição a pagar = <23.970/
Cisplatina + Eto-
Cisplatina + Etopo- Incremento de QALY dólares. A combinação
poside + Irinoteca-
side + Irinotecano 26.720 dólares por de quimioterapia com cisplati-
Zhou K, et al., no,(18.995 dólares);
A11 (0.85); Vs. Topote- QALY para a Cis- na, etoposide e irinotecano não
2018 Vs. Topotecano
cano (0.59). platina + Etoposide foi uma opção de custo-efeti-
(12.008 dólares).
+ Irinotecano. vidade para os pacientes na
China.
Disposição a pagar =
Paclitaxel + Ramu- Incremento de <12.000.000/QALY yen japone-
cirumab (4.491.989 43.010.248 yen ses. A adição de ramucirumab
Paclitaxel + Ra-
Saito S, et al., yen japonês); japonês por QALY a um regime de paclitaxel no
A12 mucirumab,(0.69);
2017. Paclitaxel (621.913 para a Paclitaxel + tratamento de segunda linha do
Paclitaxel (0.60).
yen japonês). Ramucirumab câncer gástrico não apresentou
relação de custo efetividade
favorável.
Exemestano +
Everolimus tiveram
Disposição a pagar =
Exemestano + Eve- um incremento de
<130.000/QALY dólares. O es-
rolimus (258.648 Exemestano + Eve- 139.740 dólares
tudo demonstrou que a terapia
dólares); Exe- rolimus (1.99); em comparação
com Exemestano + Everolimus
mestano (139.740 Exemestano (1.60); com Exemestano;
A13 Xie J, et al., 2015 apresenta relação de custo
dólares); Fulves- Fulvestrant (1.82); 157.749 dólares
efetividade favorável quando
trant (157.749 dó- Tamoxifeno (1.69). em comparação
comparada a monoterapia de
lares); Tamoxifeno com Fulvestrant e;
Exemestano e Tamoxifeno.
(115.624 dólares). 115.624 dólares em
comparação com a
tamoxifeno.
Disposição a pagar = <50.000/
QALY euros. O estudo demons-
trou que o Pembrolizumab
não é rentável no seu preço
Pembrolizumab
Pembrolizumab Incremento de de tabela atual e é necessário
(1.54);
Hu X and Hay JW, (92.833 euros); Qui- 86.913 euros por um desconto de 50% ou mais
A14 Quimioterapia
2018 mioterapia padrão. QALY para a Pem- para que seja rentável em
padrão. (0.71).
(20.368 euros). brolizumab. comparação com a quimio-
terapia comumente prescrita,
sem que com os valores nor-
mas não apresentou relação de
custo efetividade favorável.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 435


Disposição a pagar = <23.970/
QALY dólares. Na análise pro-
babilística da sensibilidade, a
FOLFOX4 Redução de
FOLFOX4 (0.38); probabilidade de FOFLOX4 ser
Zhang P, et al., (6.876 dólares); 934.801 dólares
A15 Sorafenib (0.39). uma opção ótima foi de 100%
2016 Sorafenib (18.748 por QALY para o
com base na
dólares). FOLFOX4.
disposição a pagar chinês,
apresentando uma relação de
custo efetividade favorável.
Disposição a pagar =
Gemcitabina +
Gemcitabina + <100.000/QALY dólares.
Cisplatina. (2.03);
Cisplatina. (50.205 Incremento de A redução do custo do Necitu-
Goldstein DA, et Gemcitabina +
dólares); Gemcita- 49.493 dólares mumab para 350 dólares por
al., 2015 Cisplatina
bina + Cisplatina por QALY para o ciclo, faz com que o mesmo
A16 Van Kampen + Necitumumab e
+ Necitumumab e Necitumumab se o apresente uma relação custo
RJW, et al., 2017 manutenção com
manutenção com custo por ciclo for efetividade favorável, porém
Necitumumab
Necitumumab 350 dólares não apresentou melhoria na
(1.46).
(37.173 dólares). qualidade de vida dos pacien-
tes.
Disposição a pagar = <80.000/
Incremento de QALY euros. De acordo com o
Bevacizumabe + Bevacizumabe +
155.261 euros limiar informal holandês, o be-
Van Kampen Taxanos (125,496 Taxanos (1.79);
A17 por QALY para o vacizumab, além do tratamento
RJW, et al., 2017 euros); Taxanos Taxanos (1.41).
Bevacizumabe + com taxano, não foi considera-
(69,282 euros).
Taxanos do custo- efetivo para o câncer
de mama metastático.
Disposição a pagar =
<100.000/QALY dólares. O es-
tudo mostra que estimadamen-
Alectinibe (255,413 Alectinibe Incremento de
te o custo de 31.180 dólares,
Carlson J, et al., dólares); (1.42); Ceritinibe 31.180 dólares
A18 faz do Alectinibe uma opção
2017 Ceritinibe (241,545 (0.98). por QALY para o
econômica em comparação
dólares). Alectinibe
ao Ceritinibe nos EUA, com
uma relação custo efetividade
favorável.

Legenda: ¹QALYs: anos de vida ajustados a qualidade; ²ICER: relação custo-benefício incremental.

Fonte: Silva JAC, 2018.

Análises de sensibilidade

Diversos estudos utilizaram a Simulação de Monte Carlo (SMC) para descobrir estra-
tégias de incertezas (Rivera F, et al., 2017; Saito S, et al., 2017; Zhan M, et al., 2017) outros
utilizaram curvas de aceitabilidade de custo-efetividade para apresentar os resultados das
análises de sensibilidade probabilística (CARLSON JJ, et al., 2017; VAN KAMPEN RJW,
et al., 2017; CASADO LF, et al., 2018). Para explorar as possíveis influências de diferentes
parâmetros, os autores descreveram os resultados através um diagrama de tornado Saito
S, et al. (2017); Zhen H, et al. (2018); Zhou K, et al. (2018) esta metodologia resultou em
diversos achados.
Demonstrou-se, em alguns estudos, que a fase do modelo de Markov que mais in-

436 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


fluenciou nos custos do tratamento foi a fase de doença progressiva (progressive disease
– PD), Xie J, et al. (2015); Bohensky MA, et al. (2016); Van Kampen RJW, et al. (2017);
Zhou K, et al. (2018), em concordância, no estudo de Zhen H, et al., (2018), foi demonstrado
que o aumento do tempo (20%) na fase livre da doença, representou na redução de quase
metade do ICER, em consonância com outros ensaios Zhang P, et al. (2016); Zhan M, et
al. (2017); Casado L, et al. (2018); Hu X e Hay JW, (2018), demonstrando ser uma parcela
importante nos custos totais (SAITO S, et al., 2017). Hu X e Hay JW, (2018), demonstraram
que a inclusão hipotética de cuidados informais aos custos do paciente, é capaz de impactar
substancialmente no ICER.
Algumas terapias, devido ao custo elevado, influenciaram diretamente o ICER como é
o caso do Bevacizumabe Cohn DE, et al. (2015); Zhan M, et al. (2017); Zhen H, et al. (2018),
Sorafenib Zhang P, et al. (2016), Everolimus Xie J, et al. (2015), Nivolumab Bohensky MA,
et al. (2016); Sarfaty M, et al. (2018), Ramucirumab (SAITO S, et al., 2017).
Outros critérios, em determinadas pesquisas, superaram os gastos com o tratamento
padrão, como é o caso do câncer de pulmão, os custos da internação eram os principais,
bem como os custos do tratamento paliativo ou terminal, ocupando quase 65% do total de
gastos (ZHOU K, et al., 2018). Os custos hospitalares representaram grande importância
para o ICER, em alguns estudos Zhou K, et al. (2018), em contraponto, o mesmo, não apre-
sentou tal característica (ZHAN M, et al., 2017; ZHEN H, et al., 2018;). Da mesma forma,
alguns fatores foram pouco influenciadores no ICER final, como os gastos relacionados aos
EAs de grau 3-4 e os gastos indiretos (SAITO S, et al., 2017; ZHAN M, et al., 2017; ZHEN
H, et al., 2018).

Qualidade de vida e a Razão de custo-efetividade incremental (ICER)

O termo "utilidade" refere-se à qualidade percebida pelos pacientes com base em seu
estado de saúde e recebe um valor entre 1 (saúde perfeita) e 0 (estado de saúde equivalente
à morte) Casado LF, et al. (2018), estes dados, a sobrevivência e o QALY, foram extraídos
pelos estudos revisados de ensaios clínicos randomizados, e foram utilizados associados a
estimativa dos custos globais, na composição do valor de custo-eficácia incremental (ICER)
(ZHEN M, et al., 2018; ZHOU K, et al., 2018). Os dados de efetividade que foram inseridos
em cada ciclo de Markov, a partir dos resultados coletados, seguiram a mesma metodologia
(MATTER-WALSTRA K, et al., 2015; XIE J, et al., 2015; ZHANG P, et al., 2016).
Os ensaios clínicos randomizados utilizados, em alguns casos, avaliavam diretamente
a qualidade de vida (Zhang P, et al., 2016), em outros, utilizavam os valores de pesquisas
anteriores, onde esse critério tinha sido avaliado (GOLDSTEIN DA, et al., 2015; RIVERA F,
et al., 2017; SAITO S).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 437


Dos 18 (dezoito) trabalhos avaliados nessa revisão, apenas 7 (sete) demonstram como
resultado final da análise econômica, um ICER dentro do limite de disposição a pagar, todos,
através da comparação entre terapias imunológicas (RIVERA F, et al., 2017; CASADO LF,
et al., 2018; SARFATY M, et al., 2018).
De maneira geral, os grupos de terapia combinada de quimioterapia e imunoterapia
apresentaram melhor resultado na qualidade de vida, porém não foi demonstrado compa-
tibilidade com o limite de disposição a pagar do estado (VAN KAMPEN RJW, et al., 2017;
ZHAN M, et al., 2017; HU X e HAY JW, 2018; ZHEN H, et al., 2018).
Em diversos estudos a comparação entre as terapias obteve respostas semelhantes
na qualidade de vida, entretanto o braço com esquema quimioterápico demonstrou consi-
derável diminuição do ICER (ZHANG P, et al., 2016). Em outras situações, como no caso
da inserção de imunoterapia, ocorreu o contrário no ICER (SAITO S, et al., 2017).

DISCUSSÃO

Este estudo permitiu um panorama global da produção científica sobre as avaliações


de custo efetividade no tratamento oncológico, através da relação entre avaliação de custo
terapêutico e qualidade de vida dos pacientes. Dentre os 18 (dezoito) artigos que compuse-
ram a amostra, o principal cenário metodológico encontrado, foi a análise econômica, feita
pelos autores, de dados oriundos de ensaios clínicos randomizados de fase II/III, mostrando
o interesse em maiores pesquisas no âmbito do poder de pagamento público e terceirizado
em saúde, associado as novas tecnologias antineoplásicas insurgentes.
A avaliação do curso de uma doença entre os estados de saúde, é construída pelo
trânsito de uma coorte hipotética de pacientes e possibilita a avaliação paralela dos gastos
diretos e indiretos, uma das formas de construir essa avaliação é através de modelos de
Markov, onde o paciente permanece períodos diferentes em cada fase da doença, podendo
progredir entre eles, dependendo do estado de saúde (SATO RG e ZOUAIN DM, 2010).
Esta revisão demonstrou que o tempo de permanência em diferentes fases no modelo
de Markov, podem influenciar nos gastos, como por exemplo o aumento da permanência no
estado de doença progressiva, como apontado por diversos autores Hirschmann A, et al.
(2018), em contraponto ao prolongamento do estado livre de progressão da doença (ZHAN
M, et al. 2017; CHEN HD, et al., 2017). Este resultado está relacionado a gravidade dos
pacientes, ao uso das terapias em doses maiores, comorbidades e reações adversas mais
incidentes, na fase em que a doença está em progresso (HIRSCHMANN A, et al., 2018).
Sendo assim os autores discutem, que quanto maior for a permanência na fase livre de
progressão da doença, menor será o gasto e as intercorrências do tratamento.
É conhecido que a sustentabilidade terapêutica e a qualidade de vida, tornaram-se

438 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


desfechos primários, em ensaios clínicos que avaliam a eficácia do tratamento para câncer,
uma vez que mede o bem-estar geral dos pacientes, particularmente em pacientes com
doenças avançadas (BOTTOMLEY A, et al., 2002). Outro elemento na sustentabilidade (fi-
nanceira) do tratamento do câncer nos sistemas de saúde, é o custo do número crescente
de tratamentos e drogas inovadoras (LUENGO-FERNANDEZ R, et al., 2013). Além disso,
nas avaliações recentes do custo terapêutico real, são apontadas diferenças substanciais de
preço nos medicamentos em diferentes países europeus Vogler S, et al. (2016), assim como
demonstrou essa revisão, através da disparidade dos custos dos fármacos dependendo do
estudo e do WTP utilizado.
Os custos diretos de saúde, como os associados ao diagnóstico, estadiamento da
doença e manejo dos pacientes com câncer, são fatores importante que compõem a fonte
de morbidade e mortalidade da doença Goodwin RJ e Sheperd FA, (2000), os mesmos
estiveram presentes nos estudos revisados, onde foram apontados gastos como custo das
drogas, da administração das mesmas, exames, tratamentos para Eventos adversos (EAs)
e hospitalização (CARLSON JJ, et al., 2017, VAN KAMPEN RJW, et al., 2017).
Já os custos indiretos, apresentam uma dificuldade natural na aproximação do gasto
ao indivíduo, da apropriação correta do custo por paciente, exigindo critérios de atribuição
para serem melhor entendidos. Sendo assim, gastos de transporte, estadia, previdência e
afastamento, dentre outros, ganham importância apenas na perspectiva do pagamento, como
demonstrado nesta revisão, onde todos os artigos que declararam utilizar a perspectiva de
pagamento de terceiros utilizaram apenas gastos diretos, Matter-Walstra K, et al. (2015);
Miguel LS, et al. (2017); Rivera F, et al. (2017); Hu X e Hay JW, (2018), sendo que os únicos
artigos que fizeram menção a gastos indiretos, avaliaram taxas de viagem Zhou K, et al.
(2018) e os dias em que os pacientes ficaram sem poder trabalhar (ZHANG P, et al., 2016).
Nas avaliações econômicas, encontrou-se predominância de ensaios comparativos
entre braços com tratamentos imunoterápico e com quimioterapia padrão Cohn DF, et al.,
(2015); Goldstein DA, et al., (2015); Zhang P, et al., (2016), na tentativa de justificar através
dos ganhos no QALYS, a inserção de terapias inovadoras, do ponto de vista farmacológico,
mas onerosas do ponto de vista do ICER.
Neste ponto, algumas das avaliações econômicas, obtiveram sucesso Rivera F, et
al. (2017); Goldstein DA, et al. (2015), ao demonstrar que, apesar de associar à terapia
padrão, ou até substituir a mesma, por uma nova opção terapêutica, não necessariamente
faz-se presente o aumento do ICER além do limite do WTP, demonstrando uma relação
custo-efetividade favorável.
Entretanto, em sua maioria, a revisão dos estudos demonstrou que ocorre um incre-
mento muito alto por ano de QALY, com a inserção da imunoterapia Cohn DE, et al., (2015);

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 439


Saito S, et al. (2017); Van Kampen RJW, et al. (2017), principalmente, devido ao alto preço
dos medicamentos Cohn DE, et al., (2015); Saito S, et al. (2017); Zhan M, et al. (2017);
Zhen H, et al. (2018), como já publicado na literatura sobre o tema (ZHOU K, et al., 2018).
Diversos estudos demonstraram que os agentes quimioterápicos são os que mais
influenciam nos custos do tratamento, sendo que a introdução de apresentações genéricas
e/ou frascos de tamanho intermediário, são capazes de reduzir o custo incremental (ZHOU
K, et al., 2018). Nenhum artigo pesquisado avaliou esse tipo de mudança, mas sim, altera-
ções no esquema terapêutico, como Hu X e Hay JW, (2018), demonstram que se houvesse
um desconto de 50% no preço da terapia imunológica, a mesma, passaria a deter de uma
relação custo-efetividade favorável ao seu uso.
Goldstein DA, et al. (2015), descreveram que em caso de diminuição o custo do imu-
noterápico em cinco vezes, seria possível uma relação custo-efetividade favorável, assim
como em diversos outros estudos (COHN DE, et al., 2015).
As imunoterapias emergiram rapidamente como ferramentas importantes no arsenal
oncológico. Embora englobando uma diversidade de agentes que atuam no sistema imu-
nológico antitumoral (por exemplo, anticorpos monoclonais, moléculas pequenas, vacinas
e terapias virais ou celulares), as imunoterapias mais utilizadas são o checkpoint imuno-
lógico inibidores (ICIs) (VERMA V, et al., 2018). Esses agentes tornaram- se o padrão de
cuidados em circunstâncias clínicas apropriadas, com base de numerosos ensaios clínicos,
porém existem controvérsias quanto a viabilidade econômica dessas terapias (PRASAD V
e GRADY C, 2014).
A comparação entre terapias imunológicas se fez presente nesta revisão Rivera F, et
al. (2017); Casado LF, et al. (2018); Sarfaty M, et al. (2018) e, neste caso, apresentando
benefícios nos critérios de custo- efetividade, quando comparadas as novas terapias com
as terapias imunológicas já existente, como já presente na literatura (VALENCIA JJV e ES-
QUEDA MEA, 2015).
Várias hipóteses podem ser construídas, sendo que uma terapia padrão onerosa faz
com que o novo medicamento pareça rentável devido a apresentar um ICER relativamente
baixo Bach PB (2015), a exemplo dos casos relatados em nossa revisão, como Sarfaty M, et
al., (2018) que demonstraram custo-efetividade na em comparação a terapia padrão, porém
não ao placebo. Este fato é devido ao alto ICER que a terapia padrão detém, mascarando
o ICER do Nivolumab. O mesmo pode ter acontecido no estudo de Rivera F, et al., 2017,
onde o Panitumumabe apresentou-se com melhor relação custo-efetividade que o Beva-
cizumabe, outro fármaco do alto custo, no estudo de Miguel L et al., 2017, com o fármaco
Pembrolizumab e no estudo de Carlson JJ et al. (2017), com o fármaco Alectinibe.
Além disso, a terapia padrão muda rapidamente, portanto, estudos diferentes para

440 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


a mesma indicação devem ser feitos, antes de qualquer tomada de decisão (PRASAD V
e GRADY C, 2014). Muitos vezes os medicamentos inovadores são aprovados com base
em dados de sobrevida imaturos, mas significativamente superiores, para facilitar o acesso
precoce dos pacientes, extrapolando a sobrevida dos pacientes, baseado em um tempo
de acompanhamento mais curto e, portanto, os resultados podem ser influenciados pelos
pressupostos de um modelo com tempo maior (HU X e HAY JW , 2018).
Métodos diferentes são usados na tomada de decisões de cobertura na saúde pública.
O Reino Unido usa a rentabilidade, assim como o Canadá e alguns outros países da Europa
(GOLDSTEIN DA e SARFATY M, 2016). Notavelmente, nos EUA, a FDA não leva em con-
sideração o custo, a Medicare, por lei, fornece qualquer medicamento aprovado pela FDA,
independentemente do preço.
Boa parte dos autores demonstraram que mesmo a inserção de uma nova opção te-
rapêutica apresentando uma melhora na qualidade de vida dos pacientes, representava um
ICER superior ao limite de custo- efetividade da disposição a pagar do país de estudo, não
apresentando uma relação custo efetividade favorável (COHN DE, et al., 2015; ZHOU K, et
al., 2018; MATTER-WALSTRA K, et al., 2015; ZHEN H, et al., 2018).
Embora, em alguns casos, os mesmos valores de ICER sendo comparados a WTP de
países diferentes, onde a disposição de pagar é maior, pode tornar custo-efetiva uma opção
terapêutica, que em um primeiro momento, era desfavorável economicamente (HU X e HAY
JW, 2018) como no estudo de Sarfaty M, et al., 2018, que demonstrou que o emprego do
Nivolumab na terapia antineoplásica, seria 90% custo-efetivo se tiver aumento na disposição
a pagar para 140.000/QALY dólares. Demonstrando que o preço das terapias e a disposição
a pagar de cada país, ainda são fatores limitantes na sustentabilidade das terapias.

CONCLUSÃO

Em geral, os estudos que integraram a presente revisão abordaram a problemática


comum das publicações sobre custo efetividade nos tratamentos para o câncer. Apesar das
limitações relacionadas aos vieses de seleção, desempenho e detecção, a amostragem re-
presentou um panorama das publicações sobre o tema, emergindo conclusões importantes.
A dificuldade em comprovar através de análise de custo efetividade o emprego de
novas terapias, foi notável, dentre as publicações. O que gerou, o esforço dos autores em
tentar, através de opções diferenciadas no esquema terapêutico e outros fatores, reduzir o
custo das drogas e assim alcançar a sustentabilidade compara com o limite de disposição a
pagar de cada país. O método de composição dos modelos de Markov, como base para as
avaliações econômicas, apresentou certa linearidade, conceituando-se como um mecanis-
mo interessante, para estudos em saúde. Sendo assim, com esses dados, pode-se afirmar

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 441


que são importantes novas revisões, focadas separadamente em cada tipo de neoplasia, a
fim de construir uma base confiável de informações para tomada de decisão terapêutico e
econômica, tanto para o âmbito público como privado.

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444 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


32
“ Avaliação do conhecimento de
alunos de medicina acerca da
encefalite como etiologia para
o parkinsonismo por meio de
abordagem ativa

Davi Candeira Cardoso Amanda Maria Menezes Nogueira


Unichristus Unichristus

Yuri Medeiros Gomes Lucas Candeira Cardoso


Unichristus Unifor

Artur Santos Gadelha Laísa Bruno Norões


Unichristus Unichristus

Ronald Bezerra Cavalcante Soares Isabele Moreno de Alencar


Unichristus Unichristus

Francisco Alves Passos Filho Mariana Tomaz Pinheiro


Unichristus Unichristus

10.37885/200600559
RESUMO

O filme ‘’Tempo de Despertar’’ aborda a vida de um médico neurologista, chamado Malcolm


Sayer, que decide atender em um hospital psiquiátrico, deparando-se com a situação de
diversos pacientes que estão em catatonia, porém ainda conseguem apresentar alguns
movimentos, o que desperta a curiosidade do médico, que descobre que esses pacientes
tinham sido afetados por algum tipo de encefalite que evoluia com parkinsonismo. Como
afirma o Bastide et al (2015), Parkinson é uma doença neurodegenerativa progressiva , na
qual nota-se um efeito muito positivo com uso do medicamento L-dopa. De certa forma, o
Doutor Sayer foi o primeiro a testar a droga com o consentimento da família, obtendo, a
curto prazo, uma evolução excelente dos pacientes acometidos pela encefalite. A doença
que afetou esses indivíduos era pouco conhecida e se tratava de uma encefalite letárgica,
que deixava os pacientes em um estado ‘’adormecido’’, com rigidez axial, perda de
reflexos posturais e tendo a capacidade de raciocínio afetada, fato que trazia um prejuízo
considerável a qualidade de vida desses pacientes .Segundo Dale et al (2004), "Em
1916, von Economo descreveu pela primeira vez a encefalite letárgica (EL), distúrbio do
SNC que apresentava faringite seguida por distúrbio do sono, parkinsonismo e sequelas
neuropsiquiátricas.” De acordo com Hoffman (2017), “após mais de 100 anos do principal
episódio de epidemia, a etiologia permanece desconhecida, embora existam duas teorias:
a ambiental e a infecciosa, sendo mais recentemente sustentado outra teoria , a de
autoimunidade.” Desde a epidemia de 1920, poucos casos foram relatados, no entanto,
atualmente, existem vários casos de infecções faríngeas seguidas por síndromes com
apresentações EL-like, nas quais todos os pacientes apresentam sintomas consistentes
com parkinsonismo. Durante sua fase aguda os pacientes experimentam sonolência
excessiva, distúrbios da motilidade ocular,febre e distúrbios do movimento, o que se
assemelhava bastante com a Doença de Parkinson.

Palavras-chave: Parkinsonismo; Encefalite.


INTRODUÇÃO

O filme ‘’Tempo de Despertar’’ aborda a vida de um médico neurologista, chamado


Malcolm Sayer, que decide atender em um hospital psiquiátrico, deparando-se com a situação
de diversos pacientes que estão em catatonia, porém ainda conseguem apresentar alguns
movimentos, o que desperta a curiosidade do médico,que descobre que esses pacientes
tinham sido afetados por algum tipo de encefalite que evoluia com parkinsonismo. Como
afirma o Bastide et al(2015) Parkinson é uma doença neurodegenerativa progressiva , na
qual nota-se um efeito muito positivo com uso do medicamento L-dopa. De certa forma, o
Doutor Sayer foi o primeiro a testar a droga com o consentimento da família, obtendo, a
curto prazo, uma evolução excelente dos pacientes acometidos pela encefalite. A doença
que afetou esses indivíduos era pouco conhecida e se tratava de uma encefalite letárgica,
que deixava os pacientes em um estado ‘’adormecido’’, com rigidez axial, perda de reflexos
posturais e tendo a capacidade de raciocínio afetada. Então, sabendo que existem inúmeras
formas de transmitir conhecimentos para alunos, a realização do "Cinemed" ao invés de
atividades convencionais,abordou sobre o assunto , por meio do filme. Segundo Sandes et
al(2016) ‘’o cinema é uma experiência educacional de resgate humanístico da medicina,que
nos oferece um sugestivo campo para as reflexões‘’.
Diante disso, tem- se como objetivo discutir patologias neurológicas com base nas
demonstrações do filme “Tempo de despertar”, debatendo sobre algumas enfermidades,
como Encefalite e Doença de Parkinson, estimulando a percepção e reflexão para melhor
compreensão do filme.

REVISÃO DE LITERATURA

Segundo Dale et al (2004), "Em 1916, von Economo descreveu pela primeira vez a
encefalite letárgica (EL), distúrbio do SNC que apresentava faringite seguida por distúrbio do
sono, parkinsonismo e sequelas neuropsiquiátricas.” De acordo com Hoffman (2017), “após
mais de 100 anos do principal episódio de epidemia, a etiologia permanece desconhecida,
embora existam duas teorias : ambiental e infecciosa, sendo mais recentemente sustentado
a teoria de autoimunidade.” Desde a epidemia de 1920, poucos casos foram relatados, no
entanto, atualmente, existem vários casos de infecções faríngeas seguidas por síndromes
com apresentações EL-like, nas quais todos os pacientes apresentam sintomas consisten-
tes com parkinsonismo. Durante sua fase aguda os pacientes experimentam sonolência
excessiva, distúrbios da motilidade ocular,febre e distúrbios do movimento, possuindo em
sua fase aguda sintomatologia semelhante à Doença de Parkinson.
Segundo Foster et al (2004), inicialmente, pelo fato de a EL apresentar os mesmos

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 447


sintomas do parkinsonismo, a L-dopa foi utilizada como primeira opção de tratamento, com
dose inicial de 500mg/dia e, se necessário, com aumento gradual para 6g. Inicialmente, os
pacientes apresentavam relevante melhora, seguida de piora progressiva até voltar ao es-
tado inicial e chegar a óbito. Logo, o tratamento por L-dopa funciona apenas a curto prazo. .

MÉTODOS

O evento "Cinemed" foi realizado pela Liga de Neurociências Unichristus, abordando


a temática do filme “Tempo para despertar”,o qual ocorreu no auditório do térreo do Centro
Universitário Christus no dia 08/05/2018 entre 18:00 e 22:00.
A proposta do "Cinemed" era de apresentar o filme para acadêmicos de Medicina e,
posteriormente, comentar sobre as questões neurológicas abordadas.
Os comentários foram realizados por um Neurologista e o conhecimento prévio dos
estudantes foi medido por meio de um pré-teste de 5 questões, e, ao final do evento, o
mesmo questionário foi aplicado para medir os conhecimentos adquiridos.
Os dados foram analisados por meio do Excel e as variáveis utilizadas foram as per-
guntas, antes e depois da intervenção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO.
Questões Acertos pré-teste Acertos pós-teste Aprendizado
1. - - -
2. 95% (62) 100% (65) 4,8%
3. 86%( 56) 100% (65) 16%
4. 77% (50) 75% (49) -2%
5. 60% (39) 92% (60) 54%

Analisou-se 65 questionários realizados com os alunos de Medicina da Unichristus.


Em se tratando da primeira questão, não houve acertos ou erros, visto que analisava ape-
nas o interesse do alunos em relação à Neurologia. A questão 2, a qual ao aluno tinha que
reconhecer patologias neurológicas de origem viral, citando exemplos como poliomielite,
Síndrome de Guillain-Barré, entre outras, foi respondida de forma incorreta por 3 alunos,
mas no pós teste houve 100% de acertos, demonstrando certa melhoria do conhecimento
de tais aspectos após o filme ter sido transmitido. Já nas questões 3 e 5 que se referem ao
tratamento da doença de Parkinson e o motivo da Encefalite evoluir com parkinsonismo,
respectivamente, foram as questões que tiveram o melhor rendimento, com aumento de
16% de acertos na terceira questão e de 54% na quinta questão. Contudo, na questão de
número 4, por se tratar de uma pergunta um pouco mais específica, não houve melhora
no percentual de acertos. Desta forma, ao avaliar os resultados, percebe-se que houve, de

448 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


certa forma, um aprendizado após a discussão sobre o filme, sendo esta uma excelente
metodologia de ensino. Notamos que apesar da experiência cinematográfica ter melhora o
rendimento nas questões, os alunos possuíam um conhecimento prévio de certos aspectos.
Em se tratando de melhor avaliação de tais rendimentos, seriam necessário aplicações de
mais questionários e com maior número de pessoas participantes.

CONCLUSÃO

Com a colaboração do Dr. Lucas Silvestre, médico neurologista, como palestrante do


Cinemed, e o apoio dos membros da Liga de Neurociências da Unichristus foi possível escla-
recer, efetivamente, a importância dessa campanha. Além disso, o evento pode proporcionar
um abordagem diferenciada sobre alguns temas da área da Neurologia, mostrando, a partir
do filme, informações relevantes sobre distúrbios neurológicos. Dessa forma, foi notório
que o evento trouxe aprendizados importantes para o futuro exercício da profissão dos aca-
dêmicos. Ademais, notou-se que inúmeros acadêmicos possuem interesse na Neurologia,
porém vale ressaltar que os semestres que compuseram esse evento foram praticamente
todos de semestre iniciais.

REFERÊNCIAS

BASTIDE, Matthieu F. et al. Pathophysiology of L-dopa-induced motor and non-motor complications


in Parkinson's disease. Progress in neurobiology, v. 132, p. 96-168, set. 2015.

DALE, Russell C. et al. Encephalitis lethargica syndrome: 20 new cases and evidence of basal
ganglia autoimmunity. Brain, v. 127, n. 1, p. 21-33, jan. 2004.

FOSTER, Harold D.; HOFFER, Abram. The two faces of L-DOPA: benefits and adverse side effects
in the treatment of Encephalitis lethargica, Parkinson’s disease, multiple sclerosis and amyotrophic
lateral sclerosis. Medical Hypotheses,British Columbia, v. 62, n. 2, p. 177-181, fev.2004.

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SANDES, Luiza Fernandes Fonseca et al. Cinema e educação médica: um relato de experiência
através da extensão universitária com o CINEMED. Revista Intercâmbio,Montes Claros. v. 7, p.
pag. 488-495, 2016.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 449


33
“ Avaliação do perfil clínico e
prática de atividades físicas em
idosos diabéticos, cadastrados
na Estratégia Saúde da Família

Rodrigo Mendes de Freitas


UNIFIPMOC

Virna Borém Valle Pereira


UNIFIPMOC

Matheus Mendes Cotrim


UNIFIPMOC

Eduardo Gonçalves
UNIFIPMOC

Andréa Maria Eleutério de Barros Lima


Martins
UNIMONTES

Artigo original publicado em: 5/2020


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200600529
RESUMO

Objetivo: Analisar a percepção da importância e da efetiva prática de atividades físicas


entre idosos com diabetes mellitus, cadastrados na Estratégia Saúde da Família. Métodos:
Trata-se de um estudo descritivo, transversal e de abordagem quantitativa. Utilizou-se o
International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) e autorrelatos para a coleta dos dados.
Estes foram separados em categorias: sedentário, insuficientemente ativo, ativo e muito
ativo. Resultados: Foram envolvidos 198 idosos cadastrados em 6 Estratégias Saúde
da Família, de ambos os sexos, com idades entre 60 e 92 anos. Constatou-se que, dos
198 idosos entrevistados, há uma discrepância entre o número total de pessoas ativas
de forma insatisfatória (Sedentários e Insuficientemente ativos A e B), correspondendo a
85,05% (169), e o número de pessoas com desempenho satisfatório (Ativo e Muito Ativo),
com 14,95% (29), mesmo que 76,3% (151) desses tenham sido atualizados, nos últimos
06 meses, sobre os benefícios das atividades físicas. Conclusão: A maioria dos idosos
foi categorizado como insuficientemente ativo. Logo, praticam atividades físicas durante
a semana regularmente, mas insuficientemente para serem ativos. Portanto, torna-se
necessário aprimorar a cobertura da atenção primária a respeito da prática de exercícios
físicos, visando encorajá-los a exercitar-se, de forma coerente com a capacidade individual
e com o seu estado de saúde.

Palavras-chave: Atividade física; Diabetes mellitus; Idosos; Perfil.


INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus (DM) é um distúrbio metabólico que atinge crianças, jovens, adultos
e idosos (MALTA DC, et al., 2017). O Brasil é o quarto país com maior prevalência da pato-
logia cerca de 14,3 milhões de pessoas foram acometidas pelo DM. A estimativa é que em
2040 o Brasil possua 23,3 milhões de pessoas portadoras da doença. Tal ascensão, pode
ser explicada pelo aumento da exposição das pessoas a fatores de risco, tais como idade
maior que 50 anos, obesidade, hipertensão arterial sistêmica e aumento dos níveis séricos
de colesterol (SANTOS LM, 2017). Ele pode ser classificado como tipo 1 (DM1), no qual as
manifestações ocorrem de forma precoce, geralmente ainda na primeira década de vida, com
a deficiência completa da produção de insulina endógena. Há também o tipo 2 (DM2), que
representa cerca de 90% do total de DM, característico da meia-idade e pode ser inicialmente
tratado com medicações de sensibilização e incremento da produção da insulina (FILHO
CAAD, et al., 2016). Nos idosos, comumente expostos por maior tempo ao DM, observa-se
a perda funcional das células β associada ao aumento da adiposidade central, diminuição
da massa magra, aumento da resistência à insulina (que por si resulta em redução do tecido
muscular) e predisposição a morbidades, que elevam o risco de quedas e fraturas, eventos
cardiovasculares e perda da autossuficiência (RAMOS RSPS, et al., 2017).
Trata-se, portanto, de uma síndrome metabólica de caráter multifatorial, que apresenta
complicações agudas como hipoglicemia; cetoacidose diabética - condição mais prevalente
no DM1-; estado hiperosmolar hiperglicêmico não cetótico - condição mais prevalente no
DM2-; bem como complicações crônicas, que podem ser macrovasculares (doença arterial
coronariana e cerebrovascular) ou microvasculares (neuropatia, nefropatia e retinopatia)
(SANTOS LM, et al., 2017). Nos idosos, o DM associa-se a um risco maior de morte pre-
matura e outras morbidades, principalmente, as grandes síndromes geriátricas, impactando
diretamente na qualidade de vida das pessoas com DM, que terão prejuízo em suas capa-
cidades funcionais, independência e autonomia, repercutindo sobre o sistema de saúde, e
sobre a família das pessoas com DM (VITOI NC, et al., 2015). É uma doença que causa
manifestações complexas e heterogêneas; sua consequência é expressar-se com elevada
morbimortalidade (ISER BPM, et al., 2015). Foi estimado que 5,3% dos óbitos ocorridos
em 2011 no Brasil foram devido à DM, com taxa de mortalidade por volta de 33,7 a cada
100.000 habitantes. Atualmente é a nona causa de morte no mundo, entretanto, até 2030,
o DM pode ir para a sétima posição (FLOR LS e CAMPOS MR, 2017).
O sedentarismo aumenta o risco na prevalência do DM tipo 2, por isso as populações
de risco e as pessoas já diagnosticados devem implantar a prática de atividade física em seu
plano terapêutico como medida de controle glicêmico/diminuição da resistência insulínica,
evitando deste modo complicações do DM e melhorando a qualidade de vida das pessoas

452 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


(DE LADE CG, et al., 2016). Entre idosos, além dos benefícios já citados, a atividade física
é importante para a manutenção da massa magra, ajudando também na prevenção e no
tratamento da sarcopenia, redução do risco de mortes prematuras, de doenças cardiovascu-
lares, do ganho de peso ponderal (diminuindo o risco de obesidade), bem como auxiliando
na prevenção/redução da osteoporose e promovendo bem-estar (MAZO GZ, 2018). Os
exercícios aeróbicos e de resistência, se praticados de forma contínua durante pelo menos
20 semanas, auxiliam no controle glicêmico nas pessoas portadoras de DM, período sufi-
ciente para alterar a glicemia média estimada e a hemoglobina glicada (COLBERG SR, et al.,
2016). Portanto, a atividade física é um pilar importante para o tratamento não farmacológico
do DM, de forma independente da idade, com impacto no controle glicêmico e no controle
das morbidades frequentemente associadas ao DM, como a hipertensão arterial sistêmica,
a dislipidemia e a síndrome metabólica (KER RG, 2018).
Ao observar a relevância das medidas de estilo de vida, a adoção da prática dos
exercícios físicos nas pessoas com DM, principalmente nos idosos, nota-se efetivo controle
glicêmico e controle de morbidades. A abordagem do tema sobre as atividades físicas foi
baseada em sua eficácia e indicação como tratamento coadjuvante entre pessoas com DM,
que devem ser estimuladas a permanecer tão ativas quanto a saúde permitir. Objetivou-se
apresentar descritivamente o conhecimento e a efetiva prática de atividades físicas entre
idosos com DM, bem como o perfil clínico-epidemiológico e sócio demográfico desses ido-
sos, viabilizando assim o estabelecimento de estratégias de controle e intervenção efetiva
na vida das pessoas com DM, à medida que seja estimulada a disseminação da informação
e a prática de atividades físicas de forma adequada.

MÉTODOS

Estudo descritivo com delineamento transversal, de abordagem quantitativa realizado


no período de janeiro de 2017 a dezembro de 2017, em seis unidade de saúde da Estratégia
de Saúde da Família (ESF) em uma cidade do interior de Minas Gerais, após seleção por
método de amostragem aleatória simples das seis unidades dentre as137 unidades de saúde
do município. Foram avaliados198 idosos portadores de DM. O estudo foi submetido e apro-
vado pelo Conselho de Ética da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, sob
o parecer n: 764.743, seguindo os princípios éticos definidos pela Resolução 466/2012, do
Conselho Nacional de Saúde, para realização de pesquisas que envolvem seres humanos.
Os dados foram coletados com por meio de entrevistas e utilização de um questionário
baseado no relato dos idosos com DM, contendo variáveis sociodemográficas, econômicas e
indicadores do nível de conhecimento e da efetiva prática de atividades físicas. A avaliação da
prática de atividade física considerou o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ),

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 453


versão longa, com validação em nível nacional e internacional (MATSUDO S, et al., 2001).
As outras variáveis avaliadas foram: sexo, idade, tipo do diabetes, raça e renda familiar.
Avaliou-se ainda o conhecimento dos idosos frente à importância da prática de atividades
físicas, os meios pelos quais adquiriram as informações referentes à importância da prática
de atividade física e há quanto tempo se atualizaram acerca deste tema.
O IPAQ estabelece o perfil e quantifica, de maneira eficiente e econômica, o nível de
atividade física da população em estudo. Permite estimar o tempo semanal, variando desde
intensidade leve à vigorosa, divididas em 04 sessões que englobam a rotina diária: trabalho;
transporte; atividades domésticas; e atividades de recreação e lazer. Há ainda uma sessão
específica para estimar o tempo despendido em atividades passivas realizadas na posi-
ção sentada. O instrumento é aceito para estudos populacionais, delimitando as atividades
menos e mais ativas (MATSUDO S, et al., 2001). Ao fim da coleta, os dados informados
foram avaliados e dispostos conforme a adaptação brasileira para o IPAQ, proposta pelo
CELAFISCS (Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul),
que classifica os indivíduos em 5 categorias (Quadro 1).

Quadro 1 – Classificação do nível de atividade física pelo IPAQ.

Não realiza nenhuma atividade física em tempo mínimo de 10


Sedentário
minutos contínuos durante a semana.
Tipo (A): Realiza pelo menos 10 minutos contínuos de atividade
física, seguindo ao menos um dos critérios citados:
Frequência – 5 dias /semana
Insuficientemente ativo ou
(divido em 2 subcategorias) Duração – 150 minutos /semana;

Tipo (B): Pratica pelo menos 10 minutos, mas não preenche


nenhum critério supracitado.

Atividade física VIGOROSA: ≥ 3 dias /semana e ≥ 20 minutos /


sessão;
Ativo
(pessoa que preenche 1 dos 3 critérios) Atividade física MODERADA ou CAMINHADA: ≥ 5 dias /semana
e ≥ 30 minutos /sessão;
Qualquer atividade somada: ≥ 5 dias /semana E ≥ 150 min/se-
mana;
Atividade VIGOROSA: ≥ 5 dias /semana e ≥ 30 min / sessão;
Muito ativo
Atividade VIGOROSA: ≥ 3 dias /semana e ≥ 20 min /sessão E
(pessoa que preenche 1 dos 2 critérios)
moderada e/ou caminhada ≥ 5 dias /semana e ≥ 30 min /sessão

Fonte: Freitas RM, et al., 2019. Adaptado de Silva GSF, et al. 2007.

Para a análise final, fez-se uso da estatística descritiva para discorrer acerca do perfil
sociodemográfico e do nível de conhecimento e da efetiva prática de atividades físicas,
relatados pelos idosos. Foi estimada a distribuição percentual da amostra em relação às

454 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


categorias propostas pelo instrumento. Variáveis quantitativas foram apresentadas por meio
das estimativas da média aritmética. Utilizou-se o programa estatístico Statistical Package
for Social Sciences™ (SPSS), versão 21.

RESULTADOS

Para melhor análise dos perfis dos pacientes diabéticos, frente à diversidade encontra-
da entre os 341 pacientes envolvidos, a tabela abaixo foi construída com base em variáveis
para demonstrar as características dos pacientes. Dessa forma, foi selecionado as variáveis
sexo, idade, tipo do diabetes, cor/raça e renda mensal (Tabela 1).

Tabela 1 – Perfil dos idosos com Diabetes Mellitus assistidos pela Estratégia de Saúde da Família, n=198. Montes Claros
– MG, 2017.

Variável n %
Sexo
Masculino 62 31,417
Feminino 136 68,582
Idade
60-65 100 50,50
65-69 39 19,54
70-74 28 14,17
75-79 15 7,27
80-84 12 6,13
85-90 3 1,53
91-95 1 0,51
Cor/Raça
Amarela 2 1,140
Branca 51 26,05
Indígena 1 0,510
Parda 109 55,255
Preta 27 14,171
Sem declaração 8 4,19
Renda em reais
0-1000 90 45,59
1001-2000 65 32,56
2001-3000 25 12,64
3001-4000 10 5,36
4001-5000 7 3,44
5001-10000 1 0,51

Diabetes mellitus *
Tipo 1 9 4,4
Tipo 2 189 95,6
Total 198 100

Legenda: * Dados correspondem às estimativas das Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (DSBD) 2017-2018.

Fonte: Freitas RM, et al., 2019.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 455


Foram analisados ainda os relatos do nível de conhecimento e da efetiva prática de
atividades físicas entre os participantes (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Avaliação do nível de conhecimento e da efetiva prática de atividades físicas entre idosos assistidos pela
Estratégia de Saúde da Família, n=198. Montes Claros – MG, 2017.

Fonte: Freitas RM, et al., 2019.

Dos 198 participantes, apenas 49 possuem trabalho ativo. Dentre os trabalhadores,


a maioria realiza atividades moderadas por pelo menos 10 minutos, de modo que gastam
uma média de 80 minutos ao dia, durante 4,3 dias na semana (Tabela 2).

Tabela 2 – Caracterização da atividade física não recreativa, n=198 entre idosos assistidos pela Estratégia de Saúde da
Família, Montes Claros – MG, 2017.

Variável N % Tempo médio gasto/dia

(01) Pessoas que trabalham

Sim* 49 24,9 --
Não 149 75,1 --
Realizam atividades vigorosas 13 26,15 40,75 min
Realizam atividades moderadas 35 71,42 80 min
Realizam atividades leves 49 100,00 125,50 min

(02) Atividade física como meio de transporte

Total de pessoas que se locomovem 195 98,5 -


Caminhada / bicicleta* 79 38,31 22,15 min
Veículos automotores 179 90,42 -
Sim* 61 30,81 -
Não 137 69,19 -
Realizam atividades vigorosas 14 22,95 27 min
Realizam atividades moderadas e leves 61 100 30 min

Legenda: * Válidos como atividade física, segundo o IPAQ.

Fonte: Freitas RM, et al., 2019.

456 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Quando se avaliou a modalidade dos exercícios físicos (propriamente dita, como lazer
ou atividade de recreação), constatou-se que 78 dos 198 participantes da pesquisa de-
mandam efetivamente um tempo à prática desses. Dentre os praticantes, é válido ressaltar
que 09 praticam mais de um exercício ao longo da semana. A média de prática efetiva de
exercícios físicos foi de 32 min/dia, em 2,3 dias da semana.
Em sua última sessão, o IPAQ estima a quantidade de tempo gasto sentado, em ati-
vidades passivas (como ver televisão, utilizar o computador ou o celular) durante um dia da
semana e nos dias de fim de semana. Dentre os 198 pacientes, 170 (86,20%) afirmaram
permanecer mais de 5 horas/dia sentados, durante a vigília, em um dia de semana. Esse
valor aumenta para 190 (96,16%) quando analisado um dia do fim de semana. A partir da
avaliação das sessões, torna-se possível categorizar os pacientes, conforme proposto pelo
IPAQ, considerando a frequência e a duração de suas atividades (Tabela 3).

Tabela 3 - Categorização, proposta pelo IPAQ, do nível de atividade física praticada, entre idosos assistidos pela Estratégia
de Saúde da Família, n=198. Montes Claros – MG, 2017.

Variável N %

Categoria do nível de atividade física 198 100


Sedentário 3 1,51
Insuficientemente ativo (A) 129 65,15
Insuficientemente ativo (B) 37 18,39
Ativos 25 12,27
Muito ativos 4 2,68

Fonte: Freitas RM, et al., 2019.

DISCUSSÃO

Ao comparar as variáveis encontradas e apresentados com os resultados encontrados


no estudo de Moreschi C, et al. (2015), há uma concordância na predominância de pessoas
acima de 60 anos (60% em 2013) e do sexo feminino (63,7% em 2013). Complementando
com o trabalho de Assunção SC, et al. (2017), manteve-se predominância do sexo feminino
(73,1%), cor de pele parda (53,3%) e idade de 51 a 60 anos (28,4%) e de 61 a 80 anos (50%),
esperado, haja visto que majoritariamente os DM tipo 2, é comumente encontrado em pes-
soas a partir da meia-idade (5ª década de vida, adiante), trazendo proporções compatíveis
entre os estudos citados. Ressalta-se que os dados do tipo do DM foi correspondente aos
das Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (DSBD, 2017), que enfatiza prevalência
do DM tipo 1 em 5 a 10% dos casos de DM no Brasil, com predomínio do diagnóstico em
crianças e adolescentes, e por sua vez, o DM tipo 2, representando 90 a 95%, com diag-
nóstico predominantemente a partir dos 40 anos de idade.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 457


Nos últimos seis meses, 76,3% (151) dos idosos receberam informações adequadas
sobre os benefícios da prática de atividades físicas, seja de profissionais da saúde (médicos,
enfermeiros, cirurgiões dentistas, agentes comunitários de saúde e educadores físicos),
seja por materiais impressos (revista, jornal, outdoor, panfleto, folder, cartaz e cartilha) ou
eletrônicos (internet, vídeo educativo, televisão e rádio). O maior percentual de origem das
informações entre os participantes foi por profissionais da saúde, que correspondeu a 98%
(148), seguido de materiais eletrônicos com 22,6% (34) e, por fim, materiais impressos 6,89%
(10), sendo que a maioria dos participantes recebeu formas combinadas de informações.
Contudo, apesar da cobertura significativa de participantes, apenas 31,15% colocaram em
prática as recomendações que lhes foram repassadas.
De acordo com os resultados encontrados na seção 2 do IPAQ, ‘’Atividade física como
meio de transporte’’, 179 participantes relataram que utilizava veículos automotivos (carro,
ônibus e motocicletas) como meios físicos para se locomover de um local para outro. Hou-
ve o relato de 9 participantes que utilizam da bicicleta, por mais de 10 minutos, como meio
de locomoção, numa frequência de 4,1 dias por 23 minutos/dia, bem como aqueles que se
locomovem pela caminhada, por mais de 10 minutos, correspondendo a 70 participantes,
com média de caminhada de 21 min/dia por 4 dias da semana. É válido ressaltar que 2 dos
198 pacientes são acamados, impossibilitados de se locomoverem.
Conforme resultados da seção 3 do IPAQ, sobre a ‘’Atividade física em casa’’, abran-
gendo o cuidar da casa, as tarefas domésticas e o cuidar da família, dentre os 198 participan-
tes, 61 realizam atividades físicas em casa, dos quais 14 realizam atividades vigorosas no
jardim ou no quintal, como carpir, lavar e esfregar o chão. Foi computado gasto de 2,2 dias
na semana e média de 27 min/dia para as atividades. De acordo com os dados, podemos
ver que 61 participantes realizam atividades moderadas e leves, como carregar pesos leves,
limpar vidros, varrer e rastelar, com tempo total semanal gasto de 61 minutos.
Na população analisada, há uma discrepância entre o número total de idosos ativos
de forma insatisfatória (Sedentários, Insuficientemente ativo (A) e Insuficientemente ativa
(B)) e o número de idosos com desempenho satisfatório (Ativo e Muito Ativo), representada
percentual e respectivamente em 85,05% (169) e 14,95% (29). Ao se considerar todas as
modalidades das práticas de atividade física, apenas um sexto dos participantes as realizam
em tempo ou frequência suficientes. A inatividade física propicia um pior prognóstico, visto
que a atividade física é fator importante para a proteção e controle da progressão do DM
(FLOR LS e CAMPOS MR, 2017).
Uma análise mais aprofundada revela que apenas 78 pacientes dos 198 (38,31%)
organizam um tempo à prática de exercícios físicos, com tempo médio gasto de 73,5 min/
semana. Além da baixa adesão dos idosos com DM avaliados aos exercícios, aqueles que

458 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


os praticam o fazem por tempo inferior ao preconizado pelas Diretrizes da Sociedade Brasi-
leira de Diabetes, que indica exercício aeróbico moderado com duração de 150 minutos por
semana, exercício aeróbico intenso de 75 minutos por semana ou a combinação das duas
intensidades, somados a exercícios de fortalecimento muscular, no mínimo duas vezes por
semana (DSBD, 2017).
Apenas 78 dos 198 idosos (38,31%) entrevistados relatam a prática efetiva de exer-
cícios físicos, o que corrobora com a visualização de valores expressivos (superior a 50%)
de pessoas com DM ainda sedentárias, mesmo diante da eficácia da prática de exercícios
como coadjuvante no controle do DM. Comparando a outro estudo que estimou o nível de
exercícios físicos praticados em pessoas com DM tipos 1 e 2, percebeu-se que 225 pesso-
as somente 85 (37,7%, n = 225) praticavam exercícios físicos regularmente e 87 (38,8%)
realizavam autocuidados como alimentação, alongamento e/ou monitoramento da glicemia
capilar (DUARTE CK, et al., 2012).
Os valores encontrados estabelecem perfil de semelhança, visto que já tenha sido
observado a melhora na glicemia de jejum, na hemoglobina glicada (HbA1c), nos níveis li-
pídios plasmáticos, na frequência cardíaca de repouso e no índice de massa corporal, após
uma sessão aguda de exercício aeróbico, resistido e de flexibilidade (na mesma sessão) em
pessoas com DM tipo 2. E que o efeito hipoglicemiante como resposta do exercício físico em
pessoas com DM tratados ou não com insulina. Explicita-se assim a importância do exercício
físico para as pessoas com DM (SILVA CA e LIMA WC, 2002).
As pessoas com DM tipo 1 necessitam de instrução individualizada, de acordo com
suas necessidades, sendo importante o acesso a carboidrato de rápida absorção, para que
seja consumido em caso de hipoglicemia e aqueles sem outras morbidades que impeçam
a prática de atividade física e que possuam um bom controle glicêmico, estão aptos a rea-
lizar todos os níveis de exercício físico, como de lazer, esporte recreacional e profissional
(GIORELLI GV, et al., 2015).
Dentre os 198 idosos, 151 receberam informações atualizadas (76,3%) sobre os be-
nefícios da prática de exercícios, sendo que entre 148 (98%) essas informações foram
repassadas por profissionais da saúde. Outro estudo evidenciou que pessoas com DM sem
atendimento em Unidades Básicas de Saúde apresentavam pouco conhecimento sobre a
doença, reduzindo o envolvimento destes em seu tratamento, concluindo a necessidade de
mudanças nas atividades de educação em saúde voltadas para motivação das pessoas com
DM e da sociedade em geral (ASSUNÇÃO SC, et al., 2017). Pois, mesmo em um estudo
que se observou que várias pessoas com DM obtiveram bom escore de conhecimento não
modificaram a atitude para enfrentarem a doença de forma mais adequada (RODRIGUES
FFL, et al., 2012), assemelhando-se aos dados registrados entre os idosos, pois somente

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 459


47 (31,15%, n=151) colocaram em prática as recomendações que lhes foram repassadas.
Sendo assim, uma vez que já foi evidenciada a queda de glicemia sérica no período
da prática de exercícios em cerca de 50mg/dl após 45 minutos no trabalho de Marçal DFS,
et al. (2018), torna-se imprescindível a estimulação das pessoas com DM para a efetiva
prática de atividades físicas, respeitando suas individualidades, a fim de incrementar em sua
terapêutica uma medida tão eficaz no controle glicêmico, bem como de outras morbidades
que podem agravar o DM.

CONCLUSÃO

Buscou-se descrever o nível de conhecimentos dos idosos portadores de DM na Aten-


ção Primária acerca da importância e da efetiva prática de atividades físicas, sabidamente
importante como medida profilática e terapêutica ao adequado controle glicêmico, assim
como de outras morbidades dentre elas as principais síndromes geriátricas. Por meio do
IPAQ, avaliou-se a frequência e a modalidade das atividades físicas em diferentes contextos:
no ambiente de trabalho, no transporte, em casa, como recreação e, ainda, o tempo gasto
em atividades passivas. O estudo evidenciou que a maioria dos idosos é insuficientemente
ativa, ou seja, pratica exercícios durante a semana, entretanto com frequência e/ou duração
insuficiente para serem classificados como pessoas fisicamente ativas, ainda que a maioria
relatou ter recebido informações sobre os benefícios das atividades físicas no controle do
DM assim como de outras morbidades. Evidencia-se portanto a necessidade de melhorias
na cobertura por parte da Atenção Primária no que tange ao repasse e à aplicabilidade da
prática saudável de atividade física como estratégia adjuvante do controle glicêmico.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 461


34
“ Avaliação dos sinais vitais
em bebês no primeiro ano de
vida submetidos à massagem
shantala

Gerson Pichetti Anziliero

Rossano Sartori Dal Molin

10.37885/200700766
RESUMO

Objetivo: Avaliar os sinais vitais em lactentes no primeiro ano de vida submetidos


à massagem Shantala. Método: Trata-se de um trabalho descritivo exploratório de
abordagem quantitativa. Participaram da pesquisa 10 lactentes até um ano de idade.
Como critérios de inclusão temos bebês: nascidos a termo de ambos os gêneros; com
peso superior a 2500 gramas; registro de índice de APGAR no quinto minuto maior de
7 e com no mínimo 30 dias de vida. Como critérios de exclusão temos bebês com idade
superior a 12 meses; e/ou que possuam alguma morbidade que impeça a prática da
massagem terapêutica e/ou altere sinais vitais; e/ou bebês que por algum motivo não
aceitem a massagem aplicada. Os dados foram analisados a partir de análise estatística
utilizando o teste t-student, adotou-se uma significância p≤0,05. Todos os aspectos éticos
e legais, envolvendo pesquisa com seres humanos foram observados. Resultados:
Se obteve um grupo formado por 10 lactentes 6 do gênero feminino e 4 do gênero
masculino. Observou-se diferença significativa dos sinais vitais frequência cardíaca e
frequência respiratória (p=0,0001), e não houve diferença significativa para temperatura
axilar (p=0,13). Conclusão: Ficou assim evidenciado que a massagem Shantala exerce
influência nos sinais vitais avaliados exercendo influência no relaxamento do lactente.
Fica ainda a massagem referenciada como aplicável na Enfermagem como intervenção
pelos benefícios que apresenta para o lactente.

Palavras-chave: Cuidados de Enfermagem; Massagem; Período Pós-Parto; Lactente.


INTRODUÇÃO

A massagem para bebês, conhecida como Shantala foi descoberta e difundida inicial-
mente pelo obstetra francês Frédérick Leboyer. Em uma de suas viagens à Índia, Frédérick
observou, enquanto passeava, uma mãe massageando uma criança. Ao retornar para casa
iniciou a divulgar a Shantala. A sequência é composta por dezenove exercícios. Os movimen-
tos beneficiam cada qual, uma parte do corpo, trazendo harmonia para o bebê (LEBOYER,
2004, SOUZA; LAU; CARMO 2011).
Os benefícios fisiológicos incluem os sistemas respiratório, imunológico, musculoesque-
lético e digestivo. Pode-se citar o auxílio no alívio da dor e desconforto na tensão acumulada,
o alívio de cólicas, a melhora no sono, o auxílio no desenvolvimento motor grosso e sensório,
o auxílio inibindo o estresse, o auxílio na redução de cólicas e no desconforto abdominal.
Tendo sido observado em estudos, a substituição dos remédios pela massagem Shantala para
o alívio abdominal (SOUZA; LAU; CARMO, 2011, FARIA et al., 2018, RAMOS et al., 2014).
Temos ainda os benefícios psicocomportamentais relacionados ao vínculo familiar.
A repetição da massagem proporciona o aumento do vínculo familiar e/ou binômio mãe-
-filho, além de passar segurança ao bebê, trazendo à família uma vivência cada dia mais
amadurecida.(CRUZ; CAROMANO, 2007, FORTES; SANTOS; MORAES, 2014) Estudos
que avaliaram o impacto da massagem Shantala na qualidade de vida, através da escala
WHOQOL Bref, comprovaram melhora nos domínios físico, social, ambiental e psicológico
de monitoras que aplicaram a técnica, tendo o melhor resultado no domínio psicológico.
Ficando comprovado os benefícios mútuos da técnica tanto para o lactente quanto para a
pessoa que aplica (FARIA et al., 2018).
A Organização Mundial da Saúde define práticas integrativas e complementares como
um conjunto de saberes que não faz parte da terapêutica médica alopática (AZEVENO et
al., 2019). O Ministério da Saúde incentiva e reconhece a Shantala na Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares, tendo em vista o importante recurso terapêutico
mostrado pela técnica (BRASIL, 2017).
A Shantala faz parte das terapias de intervenção e manejo do recém-nascido até o
segundo ano de vida, um saber multidisciplinar que contempla também a Enfermagem (RA-
MOS et al., 2014). Através da Resolução COFEN nº 581, de 2018, as Terapias Holísticas e
Complementares são reafirmadas como especialidades da Enfermagem. Fica assegurada
a legitimidade deste profissional que, além da utilização das terapias como instrumento de
cuidado, poderá ainda desenvolver estudos nessa área de atuação (BRASIL, 2018).
As prática integrativas e complementares são utilizadas também pelas mães a fim de
tentar curar males na infância (FORTES; SANTOS; MORAES, 2014). Tais recursos terapêu-
ticos constituem um sistema que procura estimular os mecanismos naturais de prevenção

464 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


e manutenção e recuperação da saúde, onde o objetivo é integrar o ser humano na sua
totalidade no meio ambiente e na sociedade (BRASIL, 2015). O Paradigma Vitalista aplicado
nessas terapias complementares visa integrar o ser humano em seu meio social e natural,
desenvolvendo o cuidado, a prevenção e a promoção da saúde (AZEVEDO et al., 2019).
A Enfermagem, através da avaliação do paciente e diagnóstico, resolve problemas
relacionados ao homem, ao grupo familiar ou a comunidade, desenvolvendo respostas ao
processo saúde, doença e equilíbrio de energia, reconhecendo a visão integral do ser hu-
mano. (AZEVEDO et al., 2019, BRASIL, 2009).
Assim a Enfermagem, por se tratar de uma ciência voltada ao cuidado humanístico do
homem, enxerga aplicabilidade das técnicas complementares. O cuidado em Enfermagem
correlaciona-se às Práticas Integrativas e Complementares pela similaridade ao que ambas
se dedicam, não ao tratamento de patologias em si, mas na troca exercida da relação do
homem ao meio natural no processo de diagnóstico de saúde/doença. O processo de ado-
ecimento está relacionado a um possível desequilíbrio em alguma esfera interna ou externa
que exerce influência no espaço físico ou na energia do paciente e na interação desses entre
si (AZEVEDO et al., 2019).
A massagem é uma das intervenções tabuladas na Classificação das Intervenções de
Enfermagem (NIC) (BULECHEK et al., 2016). Fica indicada a massagem em lactentes como
forma de solucionar vários diagnósticos propostos pelos Diagnósticos de Enfermagem NAN-
DA-I como por exemplo dor aguda, constipação, motilidade gástrica disfuncional, insônia,
distúrbio no padrão do sono, fadiga, ansiedade, campo de energia desequilibrado dentre
outros. E para os cuidadores, pais ou monitores de bebês como intervenção, para resolver
os diagnósticos de risco de vínculo prejudicado, disposição para paternidade, maternidade
melhorada, processos familiares disfuncionais, dentre outros (NANDA, 2018).
O objetivo do presente trabalho é avaliar os sinais vitais: Frequência Cardíaca (FC),
Frequência Respiratória (FR) e Temperatura Axilar (TAX), em lactentes no primeiro ano de
vida submetidos à massagem Shantala.

METODOLOGIA

Tipo do estudo

Trata-se se um trabalho descritivo exploratório de abordagem quantitativa.

Participantes da pesquisa

Participaram da pesquisa 10 lactentes até um ano de idade. Como critérios de inclusão

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 465


temos bebês: nascidos a termo de ambos os gêneros; com peso superior a 2500 gramas;
registro de índice de APGAR no quinto minuto maior de 7 e com no mínimo 30 dias de vida.
Como critérios de exclusão temos bebês com idade superior a 12 meses; e/ou que possuam
alguma morbidade que impeça a prática da massagem terapêutica e/ou altere sinais vitais;
e/ou bebês que por algum motivo não aceitem a massagem aplicada.

Local de Estudo

O recrutamento dos participantes ocorreu através de convite em mídias sociais, bem


como exposição em murais e convite aos grupos materno-infantil na cidade de Caxias do
Sul. O desenvolvimento da atividade ocorreu a partir do deslocamento do pesquisador até
a residência dos participantes, local onde se entende que o lactente está familiarizado.

Coleta de dados

Como metodologia de coleta de dados, a massagem Shantala foi realizada em uma


única sessão no turno da manhã, aplicada sempre pelo mesmo pesquisador que teve con-
tato, familiarizando-se com o lactente previamente. A duração foi de 30 minutos e, ao final
deste tempo, realizou-se movimentos de embalo.
Foi adotado um instrumento de coleta de dados, contemplando o perfil dos lactentes
e família e dados objetivos dos sinais vitais. Antes e após a massagem ocorreu a aferição
dos sinais vitais. A FC foi coletada através de Oxímetro Digital, a FR, contando-se quantas
inspirações completas ocorrem em um intervalo de 1 minutos, considerando um ciclo completo
como uma inspiração e uma exalação e a TAX através de termômetro digital aferido na axila.

Análise de Dados

Após coletados os dados, foram tabulados e analisados através do programa estatístico


BioEstat 5.0, por meio do teste t-student (pareado) para verificação, através da compara-
ção entre as médias iniciais e finais, se houve diferença significativa nos sinais vitais finais.
Adotou-se um nível de significância p≤0,05.

Aspectos éticos

O presente estudo possui aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa sob o número de


Parecer 3.832.840 e CAAE 95964818.3.0000.5668, de acordo com a Resolução 466/2012.
Os responsáveis pelos participantes da pesquisa realizaram a assinatura do Termo de Con-
sentimento Livre e Esclarecido.

466 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


RESULTADOS

A amostra é composta por 6 lactentes do gênero feminino e 4 do gênero masculino.


Em relação ao perfil da amostra obtida, o grupo de bebês conta com uma média de idade e
desvio- padrão igual a 5,4 ± 2,8 meses de vida; 9 residem com os pais e 1 reside somente
com a mãe. Antes do estudo, 6 já haviam recebido algum tipo de massagem e 4 nunca
haviam recebido. Em relação ao peso na data da intervenção, a média e desvio-padrão
apresentada foi de 7,230 ± 1,800 kg (Tabela 1).
Todos os bebês apresentaram-se mais calmos após a aplicação de massagem; 9 apre-
sentaram-se sonolentos, 1 em alerta. 9 não apresentaram choro ao término da massagem
e 1 apresentou. Do grupo estudado, 3 dormiram imediatamente após a massagem.

Tabela 1. Caracterização dos participantes do estudo, segundo variáveis de idade, peso, e APGAR no 5° min.

Variável N (%) Média / DP

Faixa Etária:

De 0 a 4 meses 4 40%
De 5 a 8 meses 5 50% 5,4 ± 1,8 Meses
De 9 a 12 meses 1 10%

Peso ao nascer:

Até 3,000 kg 2 20%


De 3,001 a 3,250 kg 5 50% 3,145 ± 0.235 kg
De 3,251 a 3,500 kg 3 30%
Peso ao nascer:
Até 3,000 kg 2 20%
De 3,001 a 3,250 kg 5 30% 7,230 ± 1,800 kg
De 3,251 a 3,500 kg 3 60%

Peso na coleta de dados:

APGAR no 5º minuto:
APGAR 8 2 20% APGAR 8.7 ± 0.5
APGAR 9 8 80%

TOTAL 10 100%

Fonte: Próprio autor. Número de frequência absoluta, % frequência relativa, média e desvio- padrão (DP).

A análise de dados demonstrou diferença significativa p= 0,0001 na FC final, que apre-


sentou média e desvio-padrão iguais a 127,3 ± 16,9 em relação a FC Inicial com média e
desvio-padrão iguais a 141,2 ± 16,2 (Gráfico 1).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 467


Gráfico 1. Distribuição média das Frequências Cardíacas antes e após aplicação de massagem Shantala.

Fonte: Próprio autor. Teste utilizado: t - student (p ≥ 0,05).

A frequência respiratória também demonstrou diferença significativa p= 0,0001. A FR


final apresentou média e desvio-padrão iguais a de 53,4 ± 9,1 e FR inicial média e desvio-
-padrão iguais a 62,7 ± 9,9 (Gráfico 2).

Gráfico 2. Distribuição média das Frequências Respiratórias antes e após aplicação de massagem Shantala.

Fonte: Próprio autor: Teste utilizado: t - student (p ≥ 0,05)

Em relação a TAX a análise estatística não demonstrou diferença significativa, apre-


sentando um p= 0,13. A média da TAX inicial e desvio-padrão foi de 36,30 ± 0,32 e para
TAX final 36,41 ± 0,31 (Gráfico 3).

Gráfico 3. Distribuição das Temperaturas Axilares antes e após aplicação de massagem Shantala.

Fonte: Próprio autor: Teste utilizado: t - student (p ≥ 0,05)

468 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


DISCUSÃO DOS RESULTADOS

A pele é o maior órgão do corpo humano, possuindo ampla gama de receptores sen-
soriais expostos, que interagem com o sistema nervoso central. Os estímulos táteis recebi-
dos durante a massagem são enviados através dos nervos aferentes ao sistema nervoso
central. O hipotálamo controla as glândulas endócrinas do corpo, sendo este o responsável
pela liberação dos mediadores químicos, que ativam o Sistema Nervoso Autônomo (CRUZ;
CAROMANO, 2007).
Como consequência da massagem, através da estimulação cutânea, temos o relaxa-
mento profundo e ativação sistema nervoso autônomo parassimpático (CRUZ; CAROMANO,
2007). Nesse contexto, como indicador da atividade do sistema nervoso autônomo parassim-
pático, em eventos com curta duração, percebemos a variação da FC (SALES et al., 2018).
A ativação do sistema nervoso autônomo parassimpático está relacionada à liberação
de hormônios pelo hipotálamo (CRUZ; CAROMANO, 2007). Nesse período ocorre impor-
tante regulação dos batimentos cardíacos, sendo essa via responsável pelo relaxamento da
musculatura lisa do miocárdio, diminuição da força de contração e redução dos impulsos do
nodo sinoatrial (LINKVIEIUS et al., 2012). Fisiologia que corrobora em elucidar a redução
da FC observada no presente estudo.
Um dos fatores que pode ter relação com a redução da FR, é que a massagem relaxa as
fibras musculares e a rigidez das articulações quando aplicada sobre a caixa torácica, tendo
o potencial de relaxar as articulações costovertebrais e condroesternais, evitando a rigidez.
Isso contribui de forma direta a tornar mais tranquilo o movimento de expansão e retração
pulmonar, ocasionando maior conforto respiratório, tornando mais completa a expansão pul-
monar, com ritmos regulares de inspiração profunda (CRUZ; CAROMANO, 2007).
Outro fator estaria relacionado à estimulação parassimpática e sua relação direta com
o relaxamento, conforme já descrito na FC, pois quanto maior o relaxamento, maior a esti-
mulação parassimpática. Isso gera uma diminuição nos impulsos do sistema nervoso autô-
nomo simpático sobre as ações involuntárias dos músculos da respiração, ocasionando a
contração que possibilita fácil abertura das vias aéreas, reduzindo a Frequência Respiratória
(FR) (CRUZ; CAROMANO, 2007).
A homeostase da temperatura no corpo é controlada por mecanismos de feedback ter-
morreguladores presentes no hipotálamo, e pela vasodilatação e vasoconstrição ocasionados
pelo sistema nervoso autônomo (LINKVIEIUS et al., 2012). Além das influências internas,
outro fator condicionante para a temperatura é o ambiente. O corpo sofre influências do am-
biente para a manutenção da temperatura que ocorre por equilíbrio do meio mais aquecido
para o menos aquecido (CAROMANO; NOWORTNY, 2019).
Os fatores ambientais que contribuem para a manutenção da temperatura nos bebês

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 469


são norteados pelos princípios da física da condução, radiação e evaporação. A condução
ocorre através da colisão de moléculas individuais próximas quando encostadas em super-
fície, ou através das correntes de convenção, quando através do ar; a radiação acontece
através da forma de raios térmicos ou infravermelhos, e a perda de calor através da evapo-
ração. Assim, seria através da evaporação da água presente na pele, por exemplo, o suor
ou o líquido amniótico em recém-nascidos (CAROMANO; NOWORTNY, 2019). Por conse-
quência o lactente despido na hora da massagem, fica exposto a influência do ambiente na
temperatura corporal.
A ativação da circulação sanguínea local e vasodilatação pelo sistema nervoso au-
tônomo, através da massagem, contribui para trazer o calor das partes mais internas para
as extremidades, o que junto aos fatores ambientais de perda de calor, pode causar uma
diminuição da temperatura corporal. Os estudos realizados demonstraram o contrário onde
ocorreu ganho de temperatura após a aplicação da massagem. A hipótese é que a estimu-
lação física do atrito da pele durante a massagem gere calor, contrabalanceando o calor
perdido para o ambiente durante a aplicação (LINKVIEIUS et al., 2012). Pode-se observar,
no presente estudo, que a temperatura se manteve não tendo apresentado diferença esta-
tística significativa.
Em revisão de literatura, a pesquisa corrobora que o óleo utilizado durante a massagem
contribuiria para formar uma película sobre a pele e nutrir o tecido, isolando as glândulas
sudoríparas; a hipótese é que isso auxilie a segurar a perda de temperatura para o ambiente
por evaporação (no caso do suor) e por condução (VERONESSE; GROSSI, 2016).
Estudo semelhante a este já foi realizado anteriormente por Linkevieius et al. (2012)
com um grupo de 9 lactentes, demonstrando diferença significativa relacionada à redução
da FC e FR com p= 0,01; em relação à TAX não houve diferença significativa, obtendo um
p= 0,3; as médias de idade entre o grupo foi de 10,22±1,3 meses de vida. As médias dos
sinais vitais para FC e FR apresentadas no estudo de Linkevieius et al. (2012) possuem re-
sultados iniciais e finais menores dos apresentados aqui. Essa diferença pode ser atribuída
a idade na data da intervenção, pois no presente estudo, obteve-se um grupo com média
de 5,4 ± 2,8 meses de vida, fisiologicamente bebês com menos idade apresentam na FC e
FR maiores dos que se aproximam dos 12 meses de vida.
Linkevieus et al. (2012) coletou os dados em uma creche, diferente do atual estudo
onde os dados foram coletados no domicílio do lactente na presença e ao lado das mães.
Estudos apontam que o vínculo materno exerce influência positiva ao acolher e acalmar
seus filhos, minimizando o estresse do cuidado, o que pode ter influência na ativação do
sistema nervoso parassimpático e relaxamento geral das crianças, contribuindo assim para
a redução da FC e FR apresentadas aqui (FORTES et al., 2014, RONCALLO; MIGUEL;

470 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


FREIJO, 2015).
Sales et al. (2018) em revisão sistemática da literatura avaliou pesquisas relacionadas à
prática de massagem infantil. Não encontrou na literatura diferença significativa relacionada
ao sinal vital FC. No estudo, a massagem infantil ficou referenciada também como benéfica
ao acalmar o bebê e como recurso modificador da atividade do sistema nervoso central.
Vale a pena salientar que o estudo se diferencia do atual por avaliar um grupo amostral di-
ferente formado por recém- nascidos pré-termo internados em unidade de terapia intensiva,
o mesmo não faz referência à técnica específica da Shantala e sim da massagem infantil
como um todo. Assim neste grupo avaliado pode-se perceber bebês prematuros e por ve-
zes descompensados do ponto de vista cardíaco e respiratório, nos levando a crer que a
fisiologia pode se comportar de forma diferenciada.

LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Como limitações do estudo, podemos citar a falta de controle na temperatura ambiente


no local de coleta de dados, uma vez que a perda de calor do ambiente pode ter contribuído
para resultados não significativos relacionados à variação da TAX. Ocorre que parte das
coletas de dados foram realizadas na estação do verão e parte no inverno gaúcho.

CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO PARA A PRÁTICA

O livro da Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC) traz massagem de


forma genérica não especificando qual o tipo, se em bebês, se por motivo de conforto em
um adulto, ou outro. Deixa, por consequente, ao Enfermeiro o julgamento de qual tipo de
massagem aplicar em seu processo de Intervenção (BULECHEK et al., 2016).
Por meio desse estudo, pode-se perceber que a massagem em lactentes possui influên-
cia nos sinais vitais FC e FR, corroborando para a lógica de que exerce influência no sistema
nervoso parassimpático responsável pelos estados de relaxamento. Assim, acredita-se que
o estudo contribui referenciando a prática da massagem Shantala com resultados positivos,
podendo os Enfermeiros aplicarem como Intervenção específica de massagem aos bebês.
Estudos sobre a atenção básica demonstraram a necessidade de se desenvolver profis-
sionais de Enfermagem, capazes de atuar no Sistema Único de Saúde com os princípios que
norteiam a política de atenção básica, local onde técnicas eficazes e de baixo custo podem
ser muito úteis (FÉLIX; MAIA; SOARES, 2019). A Shantala mostra-se como ferramenta de
intervenção aplicável na Enfermagem pelos benefícios que possui para o lactente e para a
puérpera. Trata-se de um procedimento barato e o ensino do mesmo à puérpera pode ser
ensinado facilmente em curto período de tempo (RAMOS et al., 2014).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 471


CONCLUSÃO

Ficou evidenciado que a massagem exerce influência fisiológica positiva na diminuição


da FC e FR, demonstrando diferença estatística significativa nos sinais vitais finais relacio-
nados aos iniciais, correlacionando assim os dados com a fisiologia relacionada ao sistema
nervoso central. Em relação à TAX não houve resultado estatístico significativo, demons-
trando que a temperatura se manteve igual.
A massagem Shantala, um saber multidisciplinar, fica referenciada como efetiva ao
acalmar o lactente, na função de Intervenção de Enfermagem. Através da avaliação das
necessidades humanas básicas a Enfermagem pode aplicar a massagem procurando es-
tabelecer e complementar os tratamentos convencionais. Esse cuidado humanístico fica no
presente estudo sugerido como benéfico para acalmar o lactente, induzir ao sono e relaxar
o corpo através da ativação do sistema nervoso parassimpática comprovada pela relação
de diminuição fisiológica da FR e FC.
Salienta-se a importância de se desenvolver mais estudos relacionados a esse tema
com mais participantes e mais sessões de massagem, podendo garantir maior confiabilidade
aos resultados.

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474 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


35
“ Avaliação dos tubérculos genianos
em exames radiográficos e
tomográficos

João Vitor Souza Martins


UNIFIPMOC

Wallace de Freitas Oliveira


FUNORTE

Amaro Lídio Vespasiano Silva


PUC/MINAS

Flávio Ricardo Manzi


PUC/MINAS

10.37885/200700609
RESUMO

O objetivo do estudo foi determinar a identificação, morfometria e análise volumétrica


dos tubérculos genianos em exames radiográficos e tomográficos. Aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa, parecer nº 2.704.516, 15 mandíbulas humanas secas foram
submetidas a quatro etapas. Na primeira etapa as amostras foram submetidas à realização
de exames radiográficos periapicais e oclusais digitais e tomografia computadorizada de
feixe cônico – TCFC. Na segunda, foram realizados os mesmos exames com os tubérculos
genianos evidenciados com Sulfato de Bário. Na terceira, uma agulha gengival foi inserida
na foramina lingual adentrando no canal lingual para a realização dos exames. Na etapa
final, os tubérculos genianos foram removidos para a realização dos exames. Como
resultado das radiografias periapicais, não foi observada alteração das imagens iniciais
e finais nas mandíbulas, demostrando que aquela imagem radiopaca projetada não se
refere ao tubérculo geniano e sim às corticais ósseas do canal lingual da mandíbula. Nas
imagens radiográficas oclusais foram observadas modificações, uma vez que, pela posição
da mandíbula na realização do exame, as projeções dos tubérculos genianos ficam bem
evidentes, sendo o exame bidimensional ideal para avaliação dessas estruturas. A TCFC
possibilita, com superioridade, avaliação tridimensional de área, volume e forma dos
tubérculos. Pode-se concluir que a radiografia periapical dos incisivos inferiores evidencia
o canal lingual, a radiografia oclusal evidencia os tubérculos genianos e a tomografia
é o exame que apresenta condições para diferenciar essas estruturas com riqueza de
detalhes sem sobreposição de imagens.

Palavras-chave: Anatomia; Tubérculos Genianos; Diagnóstico por Imagem.


INTRODUÇÃO

Os tubérculos genianos, também denominados de espinha mentoniana, são saliências


ósseas localizadas na linha média mandibular, na face lingual, abaixo dos incisivos inferiores
e acima da borda inferior da base da mandíbula; são subdivididos em tubérculos superior e
inferior (Jindal et al., 2015; Nejaim et al., 2017; Kim et al., 2019).
Radiograficamente, os tubérculos genianos são bem observados na radiografia oclusal
total de mandíbula como uma projeção lingual de forma piramidal. Nas radiografias periapicais
dos incisivos inferiores, estas estruturas são observadas de maneira variada, desde uma
massa radiopaca na linha média abaixo dos incisivos inferiores até como um anel radiopaco
que circunda a foramina lingual (Nejaim et al., 2017).
Devido às limitações apresentadas pelo exame radiográfico, a tomografia computadori-
zada de feixe cônico (TCFC) apresenta a propriedade de nos fornece imagens tridimensionais
com riqueza de detalhes, livre de sobreposições de imagens. Desse modo, conseguimos
avaliar área, volume e forma dos tubérculos genianos nas imagens tomográficas (Chin,
2012; Lee et al., 2016).
O conhecimento da morfometria e localização dos tubérculos genianos possui grande
importância na prática clínica uma vez que servem como guia para avaliação de etiologia,
diagnóstico e/ou tratamento de várias condições clínicas como estresse, assimetria mandi-
bular – sua localização é utilizada como reparo anatômico estável, atrofia mandibular; além
de direcionar o estudo da anatomia craniofacial e de constituírem estruturas anatômicas
importantes na construção de um bom planejamento e plano de tratamento integral, quando,
por exemplo, da indicação de cirurgia pré-protética ou tratamento da apneia obstrutiva do
sono (Chin et al., 2012; Elizabeth et al., 2007; Júnior et al., 2007; Kolsuz et al., 2015; Lee et
al., 2016; Park et al., 2017; Schendel, 2011; Song et al., 2017).
Desta maneira, o objetivo deste estudo foi determinar a morfologia, morfometria e
identificação dos tubérculos genianos em radiografias periapicais digitais dos incisivos in-
feriores, radiografias oclusais digitais totais de mandíbula e tomografias computadorizadas
de feixe cônico.

DESENVOLVIMENTO TEXTUAL

Para realização deste estudo foram utilizadas 15 mandíbulas humanas secas do arquivo
de crânios da Radiologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
– Brasil (Figura 1). O estudo foi devidamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
sob o Nº do Parecer 2.704.516.
Para a realização do estudo foram realizadas radiografias periapicais digitais dos inci-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 477


sivos inferiores, radiografias oclusais digitais totais de mandíbula e tomografias computado-
rizadas de feixe cônico de todas as 15 mandíbulas secas incluídas na amostra. O aparelho
intraoral Kodak 2200® (Eastman Kodak Company, Rochester, NY, USA) foi utilizado para a
obtenção das radiografias periapicais e oclusais. As tomografias computadorizadas foram
adquiridas por meio do aparelho CS9000-3D® (Carestream Dental, Atlanta, USA). Todas
as imagens foram adquiridas no formato DICOM (Digital Imaging and Communication in
Medicine). As mandíbulas foram posicionadas com o plano sagital mediano perpendicular
e o plano oclusal paralelo ao solo. Para simulação da absorção e atenuação dos raios X, a
mandíbula foi mergulhada em um recipiente cúbico com água permanecendo por 24 horas.
O estudo foi conduzido em 4 etapas, sendo que na primeira etapa da pesquisa foram
realizadas radiografia periapical dos incisivos inferiores, radiografia oclusal total de mandíbula
e tomografia computadorizada de feixe cônico de cada uma das mandíbulas para a obtenção
de imagens inicias sem qualquer tipo de intervenção. Na etapa 2, foram realizadas as radio-
grafias intraorais e tomografia computadorizada das mandíbulas com os tubérculos genianos
evidenciados com Sulfato de Bário que é um material de contraste radiográfico utilizado para
evidenciar as estruturas estudadas e não solúvel em água. A etapa 3 foi caracterizada pela
introdução de uma agulha gengival na foramina lingual adentrando para o interior do canal
lingual, previamente a realização dos exames, com a finalidade de evidenciação do canal
lingual. Já na etapa 4, a final, foram removidos, por meio de uma lixa, todos os tubérculos
genianos, para a realização das radiografias e tomografias. As estruturas anatômicas foram
removidas com o auxílio de uma folha de lixa seca com gramatura 225mm x 275mm. Essas
imagens foram comparadas com as imagens da etapa 1 para avaliações de diâmetro, com-
primento, largura, área, volume e forma.
Dois especialistas em Radiologia Odontológica analisaram as imagens obtidas de ma-
neira independente. As imagens radiográficas digitais foram analisadas em um monitor de tela
plana de 22 polegadas, utilizando o software Kodak Dental Imaging® 6.14.7. Os avaliadores
podiam utilizar todas as ferramentas de manipulação de imagens do próprio software. As
tomografias computadorizadas foram analisadas usando o software CS 3D Imaging® (Ca-
restream Dental, Atlanta, EUA). A avaliação consistia na evidenciação da localização dos
tubérculos genianos e sua representação morfológica em cada tipo de exame. Para avaliação
morfométrica, foram utilizadas as tomografias computadorizadas iniciais de cada mandíbula.
Com o mesmo software, os avaliadores realizaram as medidas anteroposterior, laterolateral
e superoinferior de todos os tubérculos genianos, conforme demostrado na figura 1.

478 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Figura 1: Reconstrução Axial (A) e Reconstrução Sagital (B) da tomografia computadorizada da mandíbula demonstrando
a realização das medidas anteroposterior, laterolateral e superoinferior dos tubérculos genianos.

Fonte: Arquivo pessoal.

A análise volumétrica dos tubérculos genianos, foi realizado com o modo semiauto-
mático do software (gratuito) de segmentação ITK-SNAP 3.0® (Cognitica, Filadélfia, PA). As
análises foram feitas por um único examinador, cirurgião-dentista radiologista, o qual possuía
conhecimento prévio sobre o funcionamento do software e sobre anatomia tomográfica.
Vinte dias após a conclusão de todas as medições nos tubérculos genianos, 100%
da amostra foi reavaliada e o coeficiente de correlação intraclasse (ICC) foi calculado para
determinar concordância intra e interexaminadores. ICC foi interpretado de acordo com o
sistema de categorização de Cicchetti (1994), ou seja, <0,40 concordância fraca, 0,40-0,59
concordância moderada, 0,60-0,74 boa concordância e 0,75-1 concordância excelente.

CONCLUSÃO

Nos exames radiográficos bidimensionais, os tubérculos genianos são visualizados


nitidamente apenas na radiografia oclusal total de mandíbula. As imagens das radiografias
periapicais dos incisivos inferiores são se modificaram com a remoção dos tubérculos ge-
nianos, comprovando que a imagem evidenciada na radiografia periapical é a cortical óssea
interna do canal lingual, quando se observa o anel radiopaco, ou a protuberância mentoniana
quando se observa uma sombra radiopaca na região mediana da sínfise.
A TCFC é o exame ideal para avaliação completa dos tubérculos genianos, uma vez que
apresenta a propriedade de evidenciar imagens sem sobreposição e fornecer reconstruções
tridimensionais. Assim, é possível avaliar área, volume e forma dos tubérculos genianos,
além diferenciar estas estruturas com o canal lingual e protuberância mentoniana.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 479


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A Systematic Review and Meta-Analysis. The Laryngoscope, v.127, n.1, p. 984-992, Apr 2017.

480 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


36
“ Avaliação epidemiológica e
clínica em pré-operatório de
cirurgias eletivas não-cardíacas

Isabella Lima Chagas Reis Batista Ana Lígia Barros Marques


UFMA
UFMA

Naila Silveira Bezerra


UFMA

Renata Brito Marinho


UFMA

Thaissa Nazareno de Almeida


UFMA

Nayanna Sousa Carneiro


UFMA

10.37885/200700671
RESUMO

Introdução: A avaliação pré-operatória deve ser capaz de estimar possíveis riscos


decorrentes do procedimento cirúrgico em cada paciente e, se possível, orientar condutas
que possam minimizá-los. A solicitação desnecessária de exames gera uma série de
impactos, não só pelo custo, mas também pela necessidade de acompanhamento
de uma anormalidade sem relevância clínica. Além disso, quanto maior a quantidade
de exames solicitados, maior a chance de exames falso-positivos, resultando em
adiamentos e cancelamentos de cirurgias. Por isso, pacientes beneficiados com exames
complementares pré-operatórios são aqueles que apresentam dados de história ou exame
físico que levantem uma hipótese diagnóstica específica. Objetivos: Analisar o perfil das
avaliações pré-operatórias de cirurgias não-cardíacas eletivas em uma cidade de médio
porte do Maranhão. Métodos: Realizou-se estudo observacional, analítico, transversal e
prospectivo, de 400 indivíduos adultos submetidos à avaliação pré-operatória de cirurgia
não-cardíaca eletiva, em cidade de médio porte. Foram coletados dados relativos a 400
avaliações cardiovasculares pré-operatórias, com a amostra sendo estatisticamente
representativa da população de indivíduos em estudo (o município de Imperatriz possui
uma população de 254.569 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística – IBGE). Resultados: A idade média dos pacientes foi de 55 anos, com 62%
do sexo masculino. Todos assintomáticos do ponto de vista cardiovascular, sendo 32,5%
hipertensos e 16,0% diabéticos. As principais cirurgias propostas foram: intraperitoneal
(colecistectomia e/ou herniorrafia), que respondem por 27,5% do total. Os escores de
avaliação pré-operatória cardiovascular predizem que 90% dos pacientes apresentam
baixo risco de complicações. A avaliação perioperatória foi solicitada desnecessariamente
para 72 (18,0%) pacientes. Eletrocardiograma, hemograma completo, creatinina e
glicemia de jejum foram realizados desnecessariamente em 6,0 a 19,0% dos pacientes.
Conclusão: Detectou-se taxa considerável de solicitação desnecessária de avaliação
pré-operatória, sobretudo para os pacientes com menos de 40 anos, ASA 1, que foram
submetidos à cirurgias de baixo risco intrínseco.

Palavras- chave: Doenças cardiovasculares; Assistência Perioperatória; Procedimentos


cirúrgicos eletivos.
INTRODUÇÃO

A avaliação pré-operatória deve ser capaz de estimar possíveis riscos decorrentes


do procedimento cirúrgico em cada paciente e, se possível, orientar condutas que possam
minimizá-los. Esta estimativa de risco é crucial para oferecer aos binômios, cirurgião-equipe
e paciente-família, informações sobre possíveis benefícios e malefícios do procedimento
em cada caso.
Na avaliação pré-operatória, a solicitação desnecessária de exames gera uma série
de impactos, não só pelo custo, mas também pela necessidade de acompanhamento de
uma anormalidade sem relevância clínica. Além disso, quanto maior a quantidade de exa-
mes solicitados, maior a chance de exames falso-positivos, resultando em adiamentos e
cancelamentos de cirurgias. Por isso, pacientes beneficiados com exames complementares
pré-operatórios são aqueles que apresentam dados de história ou exame físico que levan-
tem uma hipótese diagnóstica específica. Sendo assim, a investigação deve ser relevante
e possibilitar tratamento que minimize a morbimortalidade peri e pós-operatória.
Esta pesquisa foi elaborada com o objetivo de analisar se a avalição pré-operatória em
cirurgias não-cardíacas eletivas está em adequação às recomendações vigentes na litera-
tura, a partir do conhecimento do perfil epidemiológico e clínico dos pacientes submetidos
à cirurgia não-cardíaca eletiva na cidade de Imperatriz-Maranhão.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo observacional, analítico, transversal e prospectivo, baseado na


anamnese dirigida, exame físico e na coleta de dados dos prontuários, a partir de uma ficha
protocolo utilizada na avaliação do risco cardiovascular pré-operatório.
O estudo contemplou os pacientes com proposta de serem submetidos à cirurgia
não-cardíaca eletiva, que compareceram ao ambulatório de cardiologia do Centro de Espe-
cialidades Médicas de Imperatriz e/ou que estiveram internados no Hospital Municipal de
Imperatriz-Maranhão, para avaliação cardiovascular pré-operatória, entre Janeiro de 2017
e Outubro de 2017.
Neste período, foram coletados dados relativos a 400 avaliações cardiovasculares
pré-operatórias, com a amostra sendo estatisticamente representativa da população de indi-
víduos em estudo (o município de Imperatriz possui uma população de 254.569 habitantes,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE). Sendo assim, ao
estimar-se uma taxa de realização de cirurgias não-cardíacas eletivas de 3,5%, uma amostra
de 369 indivíduos permite inferir dados com intervalo de confiança de 95,0% e um nível de
significância em todos de 5,0% (p < 0,05).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 483


Os critérios de inclusão adotados foram: 1) indivíduos com idade igual ou superior a 18
anos; 2) submetidos à cirurgia não-cardíaca eletiva; 3) que realizaram a avaliação do risco
cardiovascular pré-operatório.
Foram excluídos do estudo os pacientes menores de 18 anos e aqueles submetidos
à cirurgia de emergência.
Dos pacientes selecionados para o estudo, foi preenchida uma ficha protocolo no Epi
Info, que incluiu dados demográficos, clínicos, de exames complementares e de escores de
predição de risco cardiovascular.
Nos dados demográficos, foram descritos idade, sexo e procedência (Imperatriz ou
outras cidades). A idade foi estratificada em quatro faixas: 20-40 anos; 41-60 anos; 61-80
anos; > 80 anos. Posteriormente, em ≤ 40 anos e > 40 anos.
Para as características clínicas pré-operatórias, os pacientes foram questionados sobre
sintomas cardiovasculares - dispneia (classificação da New York Heart Association - NYHA);
dispneia paroxística noturna; ortopneia; dor precordial; síncope e palpitações – e sobre as
principais comorbidades que incrementam risco cardiovascular: os pacientes que apresen-
taram histórico de hipertensão e/ou estiveram em uso regular de medicamento(s) anti-hiper-
tensivo(s) foram considerados portadores de hipertensão arterial sistêmica (HAS). Foram
considerados diabéticos os pacientes com duas medidas de glicemia de jejum ≥ 126mg/
dL ou que faziam em uso de hipoglicemiantes orais e/ou insulina. Considerou-se dislipidê-
mico o paciente com “high density lipoproteins” (HDL) - colesterol abaixo de 35 mg/dL e/ou
“low density lipoproteins” LDL-colesterol acima de 130 mg/dL e/ou triglicerídeos acima de
150mg/dL. Pacientes com história de tosse crônica, associada ou não à expectoração e à
dispnéia, e com espirometria que demonstrasse a razão do volume expiratório forçado no
primeiro segundo (VEF1) sobre a capacidade vital forçada (CVF) < 70% foram considerados
portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Já os pacientes com creatinina
elevada e em terapia de substituição renal foram considerados portadores de doença renal
crônica (DRC) dialítica.
Todos os pacientes foram submetidos ao exame dos aparelhos cardiovascular, res-
piratório e abdominal. Além disso, foi avaliada a necessidade de solicitação de avaliação
pré-operatória e de exames complementares (laboratoriais, eletrocardiograma, radiografia de
tórax, eco-doppler-cardiograma, teste ergométrico e/ou cintilografia, e cineangiocoronariogra-
fia), de acordo com as recomendações da II Diretriz Brasileira de Avaliação Peri-operatória
da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), de 2011.
Quanto aos dados da cirurgia proposta, foram levantados: o tipo de cirurgia, bem como
o risco intrínseco da cirurgia – alto (>5% de chance de complicações cardiovasculares),
intermediário (entre 1 e 5%), baixo (< 1%).

484 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Por fim, foi realizada a estimativa do risco de complicações cardiovasculares (morta-
lidade dentro das 48h pós-operatórias; infarto do miocárdio, edema pulmonar e de arritmia
ventricular maligna – fibrilação ou taquicardia ventriculares – dentro de até 6 dias pós-opera-
tório), de acordo com: a classificação ASA (American Society of Anesthesiologists); o Índice
de Risco Cardíaco (Goldman); o algoritmo da American College of Cardiology (ACP); e o
Índice Cardíaco Revisado de Lee.
A análise descritiva para as variáveis qualitativas foi feita por meio da distribuição das
frequências absoluta e relativa. A análise para as variáveis quantitativas foi feita por meio
de média e desvio-padrão.
A fim de avaliar estatisticamente a associação entre as duas variáveis qualitativas, foi
utilizado o teste qui-quadrado ou o exato de Fisher, quando indicado (célula com n<5). O
teste t de Student foi utilizado para comparar a média das variáveis quantitativas nos grupos
dos pacientes.
Todas as análises estatísticas referidas foram efetuadas com os programas Epi Info TM
(versão 7) e SPSS para Windows (versão 22.0.0.0; SPSS Inc.), sendo adotado o intervalo de
confiança de 95,0% e um nível de significância em todos de 5,0% (p < 0,05) em todos os testes.
O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Fa-
culdade de Imperatriz (FACIMP), sob o protocolo 022-1/2017, de acordo com os princípios
contidos na Declaração de Helsinki e no Código de Nurenberg. Todos os pacientes (ou seus
responsáveis legais) assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, segundo a
Resolução CNS 466/12.

RESULTADOS

Tabela 1. Características demográficas na população estudada

Variáveis Geral (n = 400)


Idade (anos)
Geral 55±18
Sexo masculino 58±17
Sexo feminino 49±17
Faixa etária (anos)
20 - 40 102 (25,5%)
41 - 60 116 (29,0%)
61 - 80 158 (39,5%)
≥ 81 24 (06,0%)
Sexo
Masculino 248 (62,0%)
Feminino 152 (38,0%)
Procedência
Imperatriz 273 (68,3%)
Outra cidades 127 (31,7%)

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 485


Na população em estudo, a idade média dos pacientes foi de 55 ± 18 anos, com variação
de 20 a 89 anos. De modo geral, as mulheres foram mais jovens (média de 49 ± 17 anos),
enquanto os homens tinham em média 58 ± 17 anos, diferença estatisticamente significativa
(p <0,001). A maior parte das cirurgias ocorreu em pacientes com até 60 anos (54,5%). Dos
pacientes estudados, 248 (62%) eram do sexo masculino e 273 (68,3%) eram procedentes
de Imperatriz, sendo que praticamente um terço advinha de cidades vizinhas (Tabela 1).

Tabela 2. Características clínicas e prevalência dos fatores de risco cardiovasculares clássicos na população estudada (n
= 400)

Variáveis n (%)
Sintomas cardiovasculares 00 (00,0%)
Comorbidades 174 (43,5%)
HAS 130 (32,5%)
DM 64 (16,0%)
HAS + DM 30 (07,5%)
Dislipidemia 36 (09,0%)
DAS 04 (01,0%)
DRC 04 (01,0%)
DPOC 24 (06,0%)

Todos os pacientes estavam assintomáticos do ponto de vista cardiovascular, embora


174 (43,5%) fossem portadores de alguma comorbidades de impacto cardiovascular: 130
(32,5%) hipertensos, 64 (16,0%) diabéticos, 36 (9,0%) apresentavam dislipidemia, 24 (6,0%)
DPOC, enquanto apenas 04 (1,0%) pacientes eram portadores de DAC ou de DRC. Trinta
(7,5%) pacientes eram hipertensos e diabéticos concomitantemente, dois deles portadores
de doença arterial coronariana (Tabela 2).

Tabela 3. Taxa de tratamento das comorbidades (n=174), na população estudada

Variáveis n (%)
Uso de medicamentos / Comorbidade 111 (63,7%)
Anti-hipertensivo / HAS 49 (37,7%)
Hipoglicemiante oral / DM 38 (59,3%)
Estatina / Dislipidemia 20 (55,5%)
Antiagreganteplaquetário / DAc 04 (100,0%)

Do total (174) de indivíduos com alguma comorbidades, 111 (63,0%) faziam uso de algum medicamento: 49 (37,7% dos hipertensos) em
uso de anti-hipertensivo, 38 (59,3% dos diabéticos) em uso de hipoglicemiante oral, 20 (50,5% dos portadores de dislipidemia), em uso de
estatina, com a observação de que todos portadores de doença arterial coronariana, faziam uso de antiagregante plaquetário (Tabela 3).

Tabela 4. Dados relacionados ao tipo de cirurgia realizada e estimativa do risco de complicações cardiovasculares (n = 400)

Variáveis n = 400
Tipo de cirurgia
Vascular 06 (01,5%)
Cabeça e pescoço 14 (03,5%)
Intraperitoneal (Colecistectomia e/ou herniorrafia) 110 (27,5%)
Ortopédica 16 (04,0%)

486 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Urológica 74 (18,5%)
Ginecológica 22 (05,5%)
Procedimentos endoscópicos 02 (00,5%)
Cirurgias superficiais 18 (04,5%)
Facectomia 58 (14,5%)
Ambulatorial 56 (14,0%)
Plástica 24 (06,0%)
Risco Intrínseco da Cirurgia
Alto (>5%) 04 (01,0%)
Intermediário (entre 1 e 5%) 240 (60,0%)
Baixo (˂ 1%) 156 (39,0%)
ASA (AmericanSocietyofAnesthesiologists)
1 226 (56,5%)
2 158 (39,5%)
2 16 (04,0%)
Índice de Risco Cardíaco Revisado (LEE)
I (0,4%) 186 (46,7%)
II (0,9%) 206 (51,7%)
III (6,6%) 06 (01,6%)
IV (11,0%) 00 (00,0%)
Índice de Risco Cardíaco (Goldman)
Classe I (0,7% complicação / 0,2% óbito) 360 (90,0%)
Classe II (5,0% complicação / 2,0% óbito) 36 (09,0%)
Classe III (11,0% complicação / 17,0% óbito) 0,4 (01,0%)
Classe IV (22,0% complicação / 56,0% óbito) 00 (00,0%)

As principais cirurgias propostas foram: intraperitoneal (colecistectomia e/ou herniorra-


fia), que respondem por 27,5% do total, seguidas das cirurgias urológicas (18,5%), facectomia
(14,5%) e cirurgia ambulatorial (14,0%). Observados os escores de avaliação pré-operatória
cardiovascular (ASA / Goldman / LEE / ACP), pondera-se que em torno de 90% dos casos,
por quaisquer dos escores, a estimativa do risco de complicações cardiovasculares perio-
peratórias foi baixa (Tabela 4).

Tabela 5. Exames complementares solicitados quando não havia necessidade de solicitação de avaliação cardiovascular
pré-operatória (n = 72)

Exames Complementares n (%)


ECG 72 (100,0%)
Radiografia de Tórax 12 (16,6%)
Hemograma Completo 56 (77,8%)
Glicemia de Jejum 44 (61,1%)
Creatina 44 (61,1%)
Coagulograma 26 (36,1%)

A avaliação peri-operatória foi solicitada desnecessariamente para 72 (18,0%) pacientes


e, a partir disto, foram gerados os seguintes exames complementares: eletrocardiograma (72
pacientes), hemograma completo (56 pacientes), glicemia de jejum e creatinina (44 pacientes,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 487


cada), seguidos da realização de 26 coagulogramas e de 12 radiografias de tórax (Tabela 5).

DISCUSSÃO

A avaliação clínica pré-operatória cuidadosa é, indiscutivelmente, importante para


conhecer o paciente e, dessa forma, oferecer o menor risco possível de complicações car-
diovasculares peri-operatórias. Apesar dos grandes avanços tecnológicos na propedêutica
complementar, um bom exame clínico ainda é insuperável, já que quando feito meticulo-
samente é suficiente para diminuir em até 60% a quantidade de exames pré-operatórios.
Neste contexto, a solicitação desnecessária de exames gera uma série de impactos, não
só pelo custo dos exames, mas também pela necessidade de acompanhamento de uma
anormalidade pequena que seja detectada, e que pode nem ser reproduzida em exames
subsequentes, ou ainda, não ter qualquer relevância clínica.
Neste trabalho, a média de idade de pacientes submetidos às cirurgias eletivas foi de
55 anos (58 anos no sexo masculino e 49 anos no sexo feminino), semelhante à série do
hospital universitário na cidade de Curitiba, cuja média geral da idade foi de 48 anos, com a
média de 46 anos no sexo feminino e de 49 anos no masculino. No primeiro trabalho, o sexo
masculino representou 62,0% dos indivíduos, enquanto no segundo o sexo feminino foi mais
prevalente, representando 52,0%. Em ambos os estudos, houve uma amostra representativa
da população em estudo (n = 400 e 443, respectivamente). De modo geral, na maioria dos
estudos as mulheres são submetidas às cirurgias em idade mais precoce por conta da maior
prevalência de colecistopatias e de cirurgias ginecológicas, enquanto a maioria dos homens
são submetidos às cirurgias urológicas na sexta década de vida.
Nesta série, 45,5% das avaliações pré-operatórias foram de pacientes com mais de
60 anos. Por outro lado, num estudo realizado em um hospital universitário de São Paulo,
apenas 17,4% dos pacientes eram idosos. Destaca-se diferenças metodológicas, posto
que o último trabalho incluiu crianças e adolescentes, que juntos representaram 16,9% dos
pacientes. Smetana et al ressaltam que o risco cirúrgico eleva-se com a idade, aumentan-
do de 1,3% para menores de 60 anos em uma cirurgia eletiva, para 11,3% para pacientes
entre 80 e 89 anos, daí a importância em se estratificar corretamente estes pacientes na
avaliação pré-operatória.
Em relação às comorbidades que incrementam o risco cardiovascular, no presente
estudo houve 43,5% de prevalência, com 32,5% de indivíduos hipertensos e 16,0% de
pacientes diabéticos. Neste mesmo sentido, na pesquisa realizado em Curitiba, 44% eram
portadores de alguma comorbidade, com 53,0% de hipertensos e 9,9% de diabéticos. No
outro extremo, um trabalho que avaliou o risco cardiovascular pré-operatório de idosos com
70 anos ou mais, identificou uma prevalência de hipertensão arterial de 60,0%. Tais dados,

488 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


ao se considerar a média de idade dos pacientes em cada um dos estudos, demonstram
que quanto maior a idade do paciente, maior a prevalência de hipertensão, conforme me-
ta-análise de estudos realizados no Brasil incluindo 13.978 indivíduos idosos, que mostrou
68% de prevalência de hipertensão arterial. Além disso, é salutar a baixa adesão ao trata-
mento da hipertensão identificada na casuística de Imperatriz – MA, pois apenas 36,0% dos
pacientes hipertensos faziam uso de anti-hipertensivo. Este fato é corroborado por outros
levantamentos, que demonstram adesão de 11,4% a 77,5%.
A amostra deste trabalho identificou que 27,5% das cirurgias foram intraperitoneais
(colecistectomia e/ou herniorrafia), que também foram maioria em Curitiba. Grande parte
da avaliação pré-operatória está centrada nos riscos de eventos cardiovasculares, que são
os eventos que mais contribuem para a mortalidade peri-operatória durante cirurgias não
cardíacas. Na amostra analisada em Imperatriz, os escores de avaliação pré-operatória
cardiovascular (ASA / Goldman / LEE / ACP) estratificaram o paciente como baixo risco de
complicações cardiovasculares em mais de 90% dos casos, resultado semelhante ao traba-
lho realizado em um hospital universitário de Santa Catarina (ASA e Goldman) e do Rio de
Janeiro (ASA, apenas). Tal dado corrobora que a maioria dos pacientes tem baixo potencial
de complicações pós-operatórias, de modo que para muitos deles não seria necessária a
solicitação de avaliação pré-operatória. Inclusive, a casuística do presente estudo, revela
que a maioria dos pacientes para os quais esta avaliação foi solicitada desnecessariamente,
apresentava idade inferior a 40 anos, ASA 1, eletrocardiograma normal e foram submetidos
à cirurgia de baixo risco intrínseco, corroborando de maneira estatisticamente significativa
a recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, de que neste perfil de paciente, a
cirurgia pode ser realizada mesmo sem exames pré-operatórios.
Além disso, em pacientes assintomáticos os testes pré-cirúrgicos de rotina costumam
ter valores preditivos muito baixos e alta incidência de falso-positivos, podendo gerar preo-
cupações e atrasos desnecessários, além de aumentarem os custos sem que isso implique
necessariamente em alteração na conduta. Neste sentido, Moro et al identificaram uma
taxa de 52,0% de exames complementares solicitados desnecessariamente, principalmente
provas de hemostasia e uréia. Relataram, ainda, que 25% dos exames estavam alterados,
mas não houve mudança na conduta. No trabalho em Imperatriz, os principais exames com-
plementares solicitados desnecessariamente foram: eletrocardiograma, radiografia de tórax,
provas de hemostasia, glicemia de jejum e creatinina (em até um quarto dos pacientes).

CONCLUSÃO

Na população estudada, observou-se que a maioria dos pacientes tem baixo risco
cardiovascular pré-operatório. Além disso, detectou-se taxa considerável de solicitação

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 489


desnecessária de avaliação pré-operatória, sobretudo para os pacientes com menos de 40
anos, ASA 1, que foram submetidos a cirurgias de baixo risco intrínseco (como cirurgias
ambulatoriais/superficiais). Assim como foi observada realização de exames complementares
que eram totalmente dispensáveis. Tal fato aponta para a necessidade de sistematização –
baseada em evidências – da avaliação pré-operatória e dos exames complementares, a fim
de evitar custos adicionais, a incidência de falsos-positivos e preocupações desnecessárias,
principalmente porque estudos demonstram que ocorre baixa incidência de alteração de
conduta médica final decorrente das alterações dos exames complementares.
Vinculação Universitária: Este artigo representa parte do Trabalho de Conclusão do
Curso de Medicina de Naila Silveira Bezerra, pela Universidade Federal do Maranhão.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 491


37
“ Avaliação: um desafio no processo
de ensino-aprendizagem na
educação (revisão de literatura)

Leydiane da Conceição Gomes Ferreira


Martins

Luana Frigulha Guisso


FVC

10.37885/200700782
RESUMO

Objetivo: Revisar na literatura científica diferentes concepções à novas formas


de mensuração e classificação de resultados, com práticas avaliativas voltadas
ao desenvolvimento do educando e às suas inúmeras capacidades e habilidades,
em que as dificuldades sejam consideradas como início de um processo de ensino-
aprendizagem. Métodos: Apresentar estudo de cunho bibliográfico, de como a avaliação
da aprendizagem é vivenciada no contexto escolar, propondo nova concepção de
avaliação da mesma. Utilizou-se livros e materiais como base teórica para responder
tais indagações. Resultados: Mostrar que o ato de avaliar é indispensável ao processo
de ensino-aprendizagem, especialmente, considerando que a avaliação tende a subsidiar
a construção desse processo. Nota-se a necessidade de entender e discutir mais sobre
a avaliação da aprendizagem no contexto escolar, por professores e alunos, sobre a
definição de conceitos, teoricamente, fundamentados. Considerações finais: O conceito
de avaliação da aprendizagem, embora indefinido, apresenta interpretações que divergem
da real função dela no processo de ensino-aprendizagem. Muitos professores, alunos
e profissionais de educação ainda não compreendem o real significado da avaliação,
atribuindo a ela valor punitivo, de ameaça, voltado exclusivamente para uma classificação,
sem debater mais, e, assim, contribuir de fato para a melhoria do processo de ensino-
aprendizagem.

Palavras-chave: Avaliação; Ensino-aprendizagem; Práticas avaliativas.


INTRODUÇÃO

Por muito tempo a avaliação da aprendizagem significou meramente a análise do “erro”


do educando. Hoje, embora ainda com essa concepção, a avaliação, no âmbito educacional,
tem sido utilizada a serviço da aprendizagem e na verificação da qualidade do ensino no
país. A avaliação, tem como objetivo um ensino-aprendizagem significativo, o que quer dizer,
avaliar de forma expressiva é desenvolver práticas educativas, levando em consideração os
conhecimentos prévios dos alunos; diagnosticando as defasagens metodológicas, tanto das
práticas avaliativas, quanto do sistema de ensino, com conteúdo que auxilie a aprendizagem
do aluno e não apenas a memorização (LUCKESI, 2011).
A avaliação, precisa ser processual e contínua. O aluno precisa ser avaliado durante
todo o ano letivo, em todas as suas potencialidades, permitindo diagnosticar os avanços e as
dificuldades no cotidiano da prática pedagógica, e não ao final de cada trimestre. É realizada
por meio de análise, síntese e pesquisas do conhecimento construído pelo aluno. A partir dos
resultados, permite reformular novos caminhos e reorganizar novas práticas educativas para
que o aluno consiga reestruturar a própria construção do conhecimento (LUCKESI, 2011).
Todavia, tornou-se válido pensar na seguinte problemática: O que é possível acre-
ditar e fazer para mudar, transformar conceitos, romper paradigmas, reconstruir padrões
alicerçados como corretos e eficientes, repensando novas práticas educativas para o ensi-
no-aprendizagem do aluno?
Desse modo, como objetivo, é importantíssimo perceber a necessidade de buscar
formas de mensuração e classificação de resultados, com práticas avaliativas voltadas ao
desenvolvimento do educando e às suas inúmeras capacidades e habilidades, em que as
dificuldades sejam consideradas como início de um processo de aprendizagem.
O objetivo deste estudo foi revisar na literatura científica diferentes concepções à no-
vas formas de mensuração e classificação de resultados, com práticas avaliativas voltadas
ao desenvolvimento do educando e às suas inúmeras capacidades e habilidades, em que
as dificuldades sejam consideradas como início de um processo de ensino-aprendizagem.

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM : APORTES TEÓRICOS CONCEITUAIS

De acordo com o histórico da legislação educacional brasileira, o conceito da avaliação


da aprendizagem, é um termo que passou a ser utilizado recentemente. Até então, se abor-
dava “verificação do aproveitamento ou rendimento escolar”, e se tratando da aprendizagem,
sequer era mencionada, tão pouco concebida como um processo em que o educando fazia
parte. No entanto, com a criação das Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em 1961, é que
ficou assegurada a exclusividade da avaliação e a formulação de questões e julgamento ao

494 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


professor (BRASIL, 1961). Contudo analisando o Parecer nº 102, de junho de 1962 (BRASIL,
1962), do Conselho Federal de Educação (CFE), com a proposta de uma interpretação em
relação ao artigo 39 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), documento este, que propõe que
a avaliação não seja realizada apenas com a aplicação de exames e provas isoladamente,
mas que a aprendizagem do aluno seja verificada e observada, por meio de um processo,
ao longo de todo o ano letivo (BRASIL, 1962).
Originado do latim, verificare, se dá o termo verificar, que significa averiguar, certificar-
-se, confirmar, examinar, analisar o teor da verdade de alguma coisa, uma vez confirmada
a veracidade o processo da verificação se conclui. O termo avaliar, também de origem do
latim, a-valere, que significa determinar ou atribuir o valor de, reconhecer a grandeza, a força
ou a intensidade, apreciar-se, calcular e julgar, avaliar é um processo de constatação e ação
após o resultado (DICIONÁRIO ONLINE DA LINGUA PORTUGUESA, 2018).
Sobre essa perspectiva, Luckesi (2011) considera que os significados da verificação e
a avaliação são bem diferentes, pois a segunda requer uma continuidade no processo, não
podendo ser dado o resultado como algo acabado ou concluído. Contudo, percebe-se que
as escolas, têm mantido a utilização do ato de verificar o rendimento escolar do educando
(LUCKESI, 2011).
Aprender a avaliar, é aprender os conceitos teóricos do que é avaliação. Não bas-
tante, é preciso mais do que isso, é preciso exercer no cotidiano da prática escolar, atos e
atitudes (LUCKESI, 2011). Quanto a isso, o pesquisador posiciona a necessidade de uma
reflexão constante, em relação à prática avaliativa docente, num processo permanente de
questionamento.
De acordo com Hoffmann (2005), deve-se lembrar que questionar e refletir, são ações
que precisam se perpetuar na postura do professor, refletindo a realidade dele e a do edu-
cando, na construção significativa do conhecimento. Isso por que, avaliar vai além do ato
de aprender, está associado ao ato de ensinar, pois o professor não leva em consideração
as próprias práticas e habilidades enquanto aprende e ensina. Já aluno, por sua vez, não
compreende que a aprendizagem dele precisa ser um processo em construção do conhe-
cimento, e se detém apenas às formas como o ensino é transmitido em sala de aula (HO-
FFMANN, 2005).
Segundo Libâneo (2004), a avaliação possibilita também examinar o trabalho do pro-
fessor, esse processo de resultados permite fazer inferências nas ações do ensino, onde o
professor observará como está sendo realizado a sua prática avaliativa, é na avaliação que se
percebe suas qualidades. Com tudo, é necessário por parte do professor flexibilidade, força
de vontade, adaptação e criatividade aliadas à sua prática docente e avaliativa (HADJI, 2001).
Assim, Vasconcellos (2002), enfatiza que esse processo avaliativo vem orientar o pro-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 495


fessor e o aluno, quanto ao seu trabalho, num objetivo de crescimento, se redirecionando
a aprendizagem do aluno. O aluno é obrigado a refletir através do processo avaliativo, se
conscientizando do seu próprio estágio de desempenho (RAMOS, 2000).
Afim de que haja uma relação ensino-aprendizagem no processo avaliativo, é preciso
existir um freedback, integrando professor e aluno, sendo assim, o desenvolvimento da
aprendizagem se torna muito mais propicio a acontecer; onde a troca de conhecimento tenha
um retorno recíproco entre as partes envolvidas. (HAYDT, 1988).
Na concepção de Luckesi (2011) a avaliação da aprendizagem precisa cumprir seu
verdadeiro papel, que é o de auxiliar o crescimento do aluno. O autor enfatiza que o profes-
sor deve deixar de utilizar a avaliação de forma autoritária, e se detenha à construção da
aprendizagem do educando.
Luckesi (2000), afirma que a avaliação é um ato amoroso, por isso, a importância do
processo de ensino-aprendizagem no contexto escolar. Para a relação professor e aluno
funcionar bem, ambos precisam assumir uma postura de reciprocidade, e, este ato reflete
no processo avaliativo da aprendizagem (LUCKESI, 2000).
Contudo, as práticas avaliativas estão arraigadas ao ato de examinar, numa visão de
que avaliar significa o mesmo que notas, exames e resultados satisfatórios e não satisfatórios.
O ato de examinar, não se restringe ao fato que todos aprendam com qualidade, possuindo
uma função classificatória. Diferentemente disso, o ato de avaliar, tem a função investigativa,
considera a qualidade da aprendizagem e do ensino e prossegue com uma intervenção com
a finalidade de mudanças e melhoria dos resultados (LUCKESI, 2011).
Portanto, é válido afirmar que o ato de avaliar, se acentua numa investigação de possí-
veis diagnósticos, na tentativa de solucionar as dificuldades, e, esse processo requer coletas
de dados para verificar os motivos de o educando não ter aprendido, considerando todas
as variáveis possíveis e não colocando só a responsabilidade do fracasso no aluno. Assim,
pondera ainda que é preciso que a escola passe do ato de examinar para o ato de avaliar,
num processo de metanoia, isto é, mudanças de conceitos e modos de agir que não mais
contribuem com o prosseguir das práticas profissionais (LUCKESI, 2011).
Diante desse cenário, vale destacar a importância de romper com conceitos e práticas
que ao longo dos anos fizeram da avaliação um processo sistematizado e classificatório,
e se assumir novas apreciações sim, mas que sejam fundamentadas no agir das práticas
avaliativas do cotidiano escolar.

A AVALIAÇÃO E O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO COTI-


DIANO ESCOLAR

O processo de ensino-aprendizagem no Brasil, por décadas define uma relação, pela

496 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


qual vêm demonstrar a atuação da escola, em que o professor é o instrumento de ensino e
o aluno absorve esse conhecimento. Assim, é função da escola certificar que o ensino e a
aprendizagem aconteçam e que esse conhecimento sistematizado seja recebido na socie-
dade, por meio do mercado do trabalho (SAVIANI, 2000).
Mediante a concepção do autor esse processo é fragmentado. Foi necessária uma
compartimentação das disciplinas para que houvesse uma especialização dos profissio-
nais para atender a sociedade industrial, e, assim, facilitar a aquisição do conhecimento.
Atualmente, essa separação se estende, em geral, ao contexto escolar, uma vez que tanto
o ensino quanto as escolas são classificados em públicos e particulares. A avaliação da
aprendizagem é feita por meio do rendimento escolar e de notas ou médias, classificando
os alunos, mantendo uma separação entre o ensino e a aprendizagem (SAVIANI, 2000).
A sociedade capitalista exige do indivíduo uma formação que esteja sempre à frente da
exigência do mercado de trabalho o colocando num teste de aprovação/reprovação. Essa
cultura de avaliação já está arraigada no processo de ensino-aprendizagem que é reprodu-
zido na realidade das escolas. A escola não perpetua a sua função, à medida em que não
cumpre com o seu papel de transformador social do cidadão. Ela trabalha com a finalidade
de conservação e reprodução da sociedade (LUCKESI, 2011).
Sobre a forma como a avaliação tem sido utilizada no desenvolvimento do processo de
ensino-aprendizagem, o autor Luckesi (2011) evidencia que a avaliação da aprendizagem no
cotidiano escolar está distanciada da relação professor-aluno. A relação entre ambos, precisa
estar fundamentada na confiança, no respeito mútuo, no diálogo e na cumplicidade. Assim,
para ele, mesmo que surjam dificuldades na aquisição da aprendizagem, e seja necessária
a reavaliação, essa relação não ficará comprometida (LUCKESI, 2011).
Essa forma de avaliação, faz com que o professor assuma um papel de detentor do
saber, aquele preparado para o ensino, então atribuída a ele a função de avaliar seus alunos
pelas notas e não a partir de um ensino e aprendizagem significativos. Há uma relação de
poder, num processo em que deveria haver trocas de saberes (LUCKESI, 2011).
Contextualizando essa troca de conhecimento, ensinar é mais. Vai além de transferir
conhecimentos e conteúdos. Ensinar não existe sem aprender, em que também o aprender
não acontece sem o ensinar; e, historicamente, esse processo vem se concretizando na
educação e na vida (FREIRE P, 2011).
O escritor e filósofo ressalta que o processo de ensino-aprendizagem é indissociável,
pois ambos, professor e aluno, precisam se colocar um no lugar do outro. No entanto, o pro-
fessor tem estabelecido uma relação de poder, já que ele usa de forma autoritária a avaliação,
como mecanismo disciplinador de condutas sociais, de forma ameaçadora (LUCKESI, 2011).
Logo, nota-se que o aluno passa a ser reprimido por suas atitudes ou comportamentos por

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 497


meio da aplicação e dos resultados de testes e provas.
Os PCN’s abordam o tema avaliação da aprendizagem numa concepção de que ela
é parte de um processo de ensino-aprendizagem, não se restringindo ao julgamento de
um fracasso escolar do aluno, mas, oferecendo subsídio de uma intervenção pedagógica,
orientando a reflexão da prática docente e as possibilidades do educando, e, ainda, definindo
para a escola, as prioridades e as ações que mais demandam soluções (BRASIL, 1997).
Diante das discussões e dos pensamentos dos autores, deve-se ponderar aqui que
esse processo de ensino-aprendizagem, considera que tais personagens desse processo,
professor e aluno, precisam exercer a curiosidade e o diálogo. O professor precisa ter a
curiosidade de tudo que envolve seu aluno, permitindo uma busca de informações, estimu-
lando o diálogo e a troca de experiências. É importante, escutar os alunos, as dificuldades,
os sonhos, os anseios deles, aprendendo, então, a ouvi-los (FREIRE P, 2011).

DISCUSSÃO

Atualmente, se fazem necessárias mudanças que contribuam para a construção de uma


educação de qualidade. Tal cenário em que remete está a educação, que exige transforma-
ção e novas práticas educativas no contexto escolar. Assim, tornou-se possível entender
que é necessário que o professor assuma uma curiosidade, uma vontade, que emana de
si próprio em busca de novos conhecimentos, numa interação dialógica entre o ensinar e
o aprender. Isso, porque ensinar exige pesquisa e o professor, na prática docente, precisa
sempre pesquisar para conhecer o que ainda não sabe (FREIRE P, 2011).
Sendo assim, Hoffman (2005), considera que a avaliação é algo indefinido. De tal modo,
tornou-se possível afirmar que conhecer e entender o que é e como precisa ser aplicada
a avaliação no contexto escolar é fundamental ao professor, caso contrário, a avaliação
continuará sendo usada de forma classificatória, não auxiliando nos resultados almejados,
como uma aprendizagem significativa para o aluno.
Igualmente, notou-se que a avaliação utilizada em sala de aula, sem se preocupar se
é a melhor forma e se estão assumindo uma função comprometida com a aprendizagem do
aluno, isso parte pelos professores, pela gestão escolar ou pelo sistema educacional. Com
isso, há de se pensar em novas perspectivas, é necessária uma avaliação que compreenda
os estágios de aprendizagem do aluno, seus avanços e defasagens (LUCKESI, 2011).
Observa-se que o professor é quem precisa perceber esses momentos, agir e retro-
ceder de acordo com as percepções em relação ao seu aluno. Isso mostra a necessida-
de de mudanças, além dessa proposta de avaliação formativa, mudanças no sistema, na
educação, na escola, partindo de uma avaliação qualitativa que, de fato, sobreponha os
aspectos quantitativos dos testes e exames que são consolidados no cotidiano da sala de

498 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


aula (PERRENOUD ,1999) .
Sendo assim, Rabelo (1998) considera que o educador, principalmente, tem a respon-
sabilidade, por meio das práticas avaliativas mudar o contexto do cotidiano escolar, transpor
de uma avaliação com a função classificatória, para a função diagnóstica, contínua e proces-
sual, na intenção de aprendizagem significativa com promoção qualitativa (RABELO, 1998).
Compreende-se que o ato de avaliar é algo indispensável ao processo de ensino-apren-
dizagem, especialmente, considerando que a avaliação assume a característica de subsidiar
a construção desse processo. Nota-se, portanto, a necessidade de mudanças de postura
e práticas avaliativas que assumam o diagnóstico como começo, meio e fim no processo
avaliativo utilizados na educação como um todo (LUCKESI, 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, concluiu-se que o conceito em relação a avaliação da aprendizagem, é algo


indefinido, já que os sujeitos apresentaram interpretações que divergem, em sua maioria,
da real função da avaliação no processo de ensino-aprendizagem. A partir desse estudo,
percebeu-se que muitos professores, alunos, coordenadores pedagógicos e outros profis-
sionais de educação, ainda não compreendem o real significado da avaliação. Com isso,
acabam atribuindo a ela o valor de um instrumento punitivo, de ameaça, voltado exclusiva-
mente para uma classificação, sendo que a real necessidade é a de debater, conversar mais
sobre o conceito de avaliação, pesquisar e aprender cada vez mais, e, assim, contribuir de
fato para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. É necessária uma avaliação
de qualidade, pautada nos verdadeiros e significativos objetivos, caso contrário, como sa-
ber o quanto o aluno avançou na aprendizagem ou está em defasagem em determinados
conteúdos. Por fim, compreendeu-se aqui que o professor é o protagonista principal desse
processo, independente da imposição do sistema escolar, das diversas formas de avaliar e
dos inúmeros instrumentos avaliativos escolhidos. A concepção, o planejamento, a prática
e as escolhas desse profissional é que tornarão a avaliação significativa para o processo
de ensino-aprendizagem na construção do conhecimento do aluno.

REFERÊNCIAS

AVERIGUAR. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2018. Disponível em:
https://www.dicio.com.br/averiguar/. Acesso em: 27/04/2019.

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cretaria da Educação Fundamental, 1997.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 43ª.ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2011.

HADJI, C. A avaliação desmistificada. Porto Alegre: Artmed, 2001

HAYDT, RCC. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. São Paulo: Ática, 1988

HOFFMANN, J. Avaliação – Mito e desafio: uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Media-
ção, 2005.

LIBÂNEO, JC. Organização e gestão da escola: teoria e prática/José Carlos Libaneo. 5. ed. revista
ampliada – Goiânia: Editora Alternativa, 2004.

LUCKESI, CC. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22ª ed.São Paulo:
Cortez, 2011

LUCKESI, CC. O que é mesmo o ato de avaliar a aprendizagem? Pátio, Rio Grande do Sul, n. 12,
p. 6-11, fev/mar. 2000.

PERRENOUD, P. Avaliação da excelência à regulação das aprendizagens: entre duas lógicas.


Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. SANT´ANA, Ilza Martins. Porque avaliar? Como avaliar?
Critérios e instrumentos, 9ª edição. Petrópolis. Editora Vozes: 1999.

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SAVIANI, D. Pedagogia histórico‐crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados,


2000.

500 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


38
“ Capacitação de agentes
comunitários de saúde de uma
Unidade Básica de Saúde em
Município Piauiense

Ticianne da Cunha Soares Dinah Alencar Melo Araujo


UFPI UFPI

Tamires da Cunha Soares Monaliza Sousa dos Anjos


UFPI
UFPI

Gabriel Barbosa Câmara


Ariella de Carvalho Luz UFC
UFPI
Valéria Araújo Cassiano
Maria de Fátima Sousa Barros Vilarinho UNIFACISA

UFPI

Matheus Henrique da Silva Lemos


UFPI

10.37885/200700590
RESUMO

O presente artigo objetivou capacitar os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para


preencher os formulários do sistema e-SUS e conhecer os desafios que esta atividade
gera. Trata-se de um relato de experiência vivenciado por profissionais e realizado em
uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) de município da região central do Piauí. Esse
projeto foi desenvolvido através de três reuniões com seis ACSs, onde foram realizadas
capacitações referentes ao preenchimento de fichas preconizadas pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), visitas domiciliares e levantamento epidemiológico. Para o
desenvolvimento deste trabalho, utilizou-se a metodologia de Charles Maguerez. Os
resultados da pesquisa evidenciaram a falta de conhecimento da população e das ACS
sobre a relevância dos dados gerados pelas fichas do e-SUS e como estas contribuíram
negativamente para consolidação do sistema e a assistência de saúde. Conclui-se que
após esta intervenção houve a capacitação necessária, onde os ACS reconheceram
a grande missão e importância que lhes é dada, para ajudar a manter e proporcionar
qualidade de vida a comunidade.

Palavras- chave: Agentes comunitários de saúde; Sistemas de informação; Estratégia


saúde da família.
INTRODUÇÃO

A implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) pelo Ministério


da Saúde (MS) possui por finalidade promover, bem como reorientar o modelo assistencial
a nível municipal e questões relacionadas à atenção primária, prestadas a população. Deste
modo, este novo arranjo assistencial é adotado como padrão substitutivo da forma de trabalho
tradicional na rede básica de saúde (Speroni, Fruet, Dalmolin, & Lima, 2016).
O agente comunitário de saúde (ACS) tem a sua construção de identidade observada
através de situações vividas no seu trabalho, como a criação de vínculo com as pessoas da
sua área, nas relações de trabalho com os integrantes da equipe de saúde e os agentes que
compõem os serviços dispostos na rede. Este, deve assumir responsabilidades de levantar
as necessidades de saúde do local onde reside ou onde atua profissionalmente e procurar
medidas de intervenção junto à equipe multiprofissional para melhorar a qualidade de vida
e as condições de saúde da população de sua abrangência (Speroni et al., 2016).
Suas atribuições são diversas, entretanto, de acordo com Tomaz (2002) estas podem
ser resumidas em desenvolver atividades que identificam as situações de risco; realizar a
orientação das famílias e da comunidade; e o encaminhamento dos casos e das situações
de risco por eles identificados aos demais membros da equipe de saúde. Dentre essas,
merece destaque o cadastramento das famílias e a visita domiciliar. O cadastramento das
famílias por micro área no território de atuação realizado com o preenchimento de fichas
específicas e a visita domiciliar que consiste na atividade mais importante do processo de
trabalho do ACS (Brasil, 2009).
Dessa forma, o trabalho do ACS contribui com o planejamento e implementação de
ações em saúde tanto a nível local, ao conduzir as informações do seu território de cobertura
para a Estratégia Saúde da Família (ESF), quanto a nível nacional, ao alimentar os dados dos
sistemas de informação do MS, o que configura a importância de seu papel na maximização
e consolidação da atenção primária à saúde (APS) (Rodrigues, Santos, & Assis, 2010).
Em seu trabalho, atuam como mediadores entre a equipe e a comunidade, desenvolve
ações em três dimensões: técnica, operando com saberes da epidemiologia e clínica; política,
utilizando saberes da saúde coletiva; e de assistência social, possibilitando o acesso com
equidade aos serviços de saúde, o que lhe confere uma condição especial.
O presente artigo objetivou capacitar os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para
preencher os formulários do sistema E-SUS e conhecer os desafios que esta atividade gera.

METODOLOGIA

Trata-se de um relato de experiência vivenciado por profissionais e realizado em uma

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 503


ESF de município da região central do Piauí. Esse projeto foi desenvolvido através de três
reuniões com os ACS em que se realizou capacitações referentes ao preenchimento de
fichas preconizadas pelas OMS, visitas domiciliares e levantamento epidemiológico.
Para o desenvolvimento deste trabalho, utilizou-se a metodologia de Charles Maguerez,
conforme ilustra a figura 1. Este tipo de metodologia constitui um rico caminho para estimular
o desenvolvimento de saberes diversos pelos seus participantes, essa riqueza está em suas
características e etapas, mobilizadoras de diferentes habilidades intelectuais dos sujeitos,
demandando, no entanto, disposição e esforços pelos que a desenvolvem no sentido de
seguir sistematizadamente a sua orientação básica para alcançar os resultados educativos
pretendidos (Colombo & Berbel, 2007).

Figura 1. Arco de Maguerez (Berbel, 1998).

O Arco de Maguerez consistem em 5 etapas, conforme ilustra a figura 1. Berbel


(2012) descreve essas etapas como: 1 - Observação da realidade: Diz respeito ao momento
de observar e registra a realidade, dados e/ou informações a serem utilizadas nas etapas
posteriores; 2 - Pontos – chave: É o momento que se realiza a síntese da realidade, onde
se elegem os elementos cruciais para resolução do problema em questão; 3 - Teorização: É
onde se investiga e se estuda sobre o problema, com base nos pontos-chaves; 4 - Hipótese
de solução: É a etapa em que se elabora, com base no que se foi estudado, as possíveis
ações (solução) de intervenção da realidade observada; 5 - Aplicação à realidade: Imple-
mentação das ações propostas na realidade que se observa.

Primeira etapa - Observação da realidade

Durante a estadia na referida UBS, foi possível observar a dinâmica do trabalho da equi-
pe, as atividades desenvolvidas e a execução dos principais programas preconizados pelo
MS. A identificação do problema se deu após a participação de uma reunião semanal com

504 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


os ACSs, na qual evidenciou-se uma deficiência na realização de suas atividades básicas,
enfatizada pela preocupação da enfermeira em relação a problemas como: ausência de da-
dos valorosos para o preenchimento correto das fichas de notificação do SINAN, incompleta
caracterização da população para o levantamento epidemiológico e a falha no repasse de
informações para a comunidade sobre os dias específicos para cada tipo de atendimento,
evidenciando a necessidade da capacitação desses profissionais.

Segunda Etapa - Pontos Chaves

Após identificação do problema, elencou-se como os pontos chaves: não completude


das fichas; ausência do levantamento epidemiológico; e abordagem domiciliar deficiente.

Terceira Etapa - Teorização

Para desenvolver suas atividades legalmente como profissão, o ACS tem suas ações
legitimadas pela Lei Federal nº 11.350, de 5 de outubro de 2006 (Brasil, 2006). Desse modo,
o ACS exerce, sob a supervisão do enfermeiro, ações de prevenção de doenças e promoção
da saúde por meio de visitas domiciliares ou comunitárias para monitoramento de situações
de riscos das famílias, de forma individual ou em âmbito coletivo, em concordância com as
diretrizes do SUS (Speroni et al., 2016).
O ACS, por suas características próprias de vínculo com a comunidade e com a equipe
de saúde, é considerado o principal elo entre esses dois elementos, possibilita o fortaleci-
mento do vínculo entre os profissionais de saúde e a família e proporciona a aproximação
das ações de saúde ao contexto domiciliar (Cardoso & Nascimento, 2010; Filgueiras & Sil-
va, 2011; Santos, Saliba, Moimaz, Arcieri, & Carvalho 2011). Além disso, o ACS tem papel
protagonista no que se refere à relação de trocas de experiências, aos saberes populares
de saúde e à identidade com a cultura, linguagem e costumes de sua própria comunidade
(Costa & Ferreira., 2012; Santos et al, 2011).
Acredita-se assim, que o ACS represente um elemento essencial na reorganização
dos serviços de saúde (Bezerra, Espírito Santo, & Batista Filho, 2005; Cardoso et al., 2010;
Peres, Caldas, Silva, & Marin, 2011). O ACS representa um recurso humano central e es-
tratégico na implantação de ações de promoção da saúde, envolvendo as pessoas, seus
conhecimentos e entornos (Pedraza, Rocha, & Sales, 2016).
A construção da identidade do ACS é observada em situações vividas no seu trabalho
como na construção do vínculo com os indivíduos da sua comunidade, nas relações de tra-
balho com os integrantes da equipe de saúde e demais agentes que compõem os serviços
dispostos na rede. Ao desenvolver seu trabalho, o ACS convive com algumas situações como

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 505


a responsabilidade pela transformação do modelo biomédico para um modelo onde o foco
da atenção é a própria comunidade, a incorporação de outros profissionais nas equipes de
saúde, acarretando em um trabalho em equipe fragmentado (Speroni et al., 2016).

Fichas do E-SUS

Sistema de Informação Atenção Básica (SIAB) é um software desenvolvido pelo DATA-


SUS em 1998, cujo objetivo centra-se em agregar, armazenar e processar as informações
relacionadas à Atenção Básica (AB) usando como estratégia central a Estratégia de Saúde
da Família (ESF), e é por meio dessas informações que o MS toma decisões de gestão da
AB em nível nacional. Entretanto, o SIAB não deve ser compreendido e utilizado somente
para esse fim.
Este sistema é parte necessária da estratégia de SF, pois contém os dados mínimos
para o diagnóstico de saúde da comunidade, das intervenções realizadas pela equipe e os
resultados sócio sanitários alcançados. Dessa forma, todos os profissionais das Equipes
de Atenção Básica (EAB) devem conhecer e utilizar o conjunto de dados estruturados pelo
SIAB a fim de traçar estratégias, definir metas e identificar intervenções que se fizerem
necessárias na atenção da população das suas respectivas áreas de cobertura, bem como
avaliar o resultado do trabalho desenvolvido pela equipe (Brasil, 2017).
O SIAB foi desenvolvido com o propósito de dar suporte operacional e gerencial ao
trabalho de coleta de dados da ESF, gerar informações para os gestores, auxiliar e agilizar
o processo de tomada de decisões, baseando-se nas necessidades da população. Este
sistema de informação é diferente de outros sistemas, caracterizando-se por ser um sistema
territorializado. Por meio do SIAB, é possível descrever a realidade socioeconômica, sina-
lizar a situação de adoecimento e morte na população, avaliar a adequação dos serviços e
ações de saúde, além de contribuir para o monitoramento da situação de saúde em áreas
geográficas definidas (Carreno, Moreschi, Marina, Hendges, Rempel, & Oliveira, 2015).

Levantamento epidemiológico

A epidemiologia pode ser definida como o estudo da distribuição e dos determinantes


de estados ou eventos relacionados à saúde em populações especificas. Os estudos epi-
demiológicos podem ser muito úteis no enfretamento e controle dos problemas de saúde.
O uso da epidemiologia como ferramenta para o conhecimento da realidade da distribuição
das doenças na população é de extrema relevância para o planejamento de ações e orga-
nizações de saúde (Duarte & Barreto, 2012).
A Vigilância Epidemiológica é definida pela Lei n° 8.080/90 como “um conjunto de

506 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos
fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de
recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. A partir
de tais ações há o realojamento de recursos e ações para determinada área.

Visitas domiciliares

Uma das atividades intrínsecas à ESF é a visita domiciliar, que proporciona ao pro-
fissional adentrar o espaço familiar e assim identificar suas demandas e potencialidades.
Portanto, a visita domiciliar enseja ampla visão das condições reais de vida da família e
possibilita a interação em ambiente familiar e social, através do conhecimento do cotidiano,
cultura, costumes e/ou crenças de uma determinada sociedade, o que torna essa vivência
enriquecedora para ambos (Drulla, Alexandre, Rubel, & Mazza, 2009).
Algumas dificuldades têm sido mencionadas como fatores importantes para o desempe-
nho profissional dos ACSs, inclusive para o desenvolvimento da visita domiciliar. O excesso
de atribuições, o alto número de famílias a serem acompanhadas, a falta de valorização
profissional, a baixa remuneração e a falta de apoio de outros profissionais da equipe foram
fatores citados como obstáculos por ACSs em diferentes localidades do país (Pedrosa &
Teles, 2001; Ferraz & Aerts, 2005; Ávila, 2011; Galavote, Prado, Maciel, & Lima, 2011; Ke-
bian & Acioli, 2014). O domínio desses fatores em municípios de maior complexidade pode,
talvez, implicar maiores dificuldades no exercício do trabalho do ACS. Percebemos ainda
que esses fatores são desfavoráveis aos desafios impostos aos ACSs, o que pode repercutir
negativamente nas relações recíprocas entre os membros da equipe de saúde da família, os
ACSs e as famílias, bem como na satisfação dos ACSs com o trabalho (Pedraza et al., 2016).

Quarta Etapa - Hipóteses de solução

• Realização de atividades práticas sobre as fichas a serem preenchidas pelos ACSs;

• Elaboração de fichas e estimulação no seu preenchimento para o levantamento


epidemiológico;

• Realização de rodas de conversa para promoção da autonomia da equipe, ressal-


tando sua importância para o funcionamento das atividades da unidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 507


Durante a primeira parte da capacitação, foram apresentadas aos ACSs as fichas do
e-SUS, onde eles deveriam realizar o preenchimento completo dos campos. A primeira
ficha apresentada foi a de “Visita Domiciliar”, que busca por meio de sua estrutura coletar
as informações sobre a realização de visitas domiciliares do ACS e passam a ter o registro
individualizado da comunidade. Os agentes mostraram não ter dúvidas com relação ao
preenchimento dos campos necessários, porém relatam que devido à grande demanda de
famílias, a qualidade dos dados coletados e a frequência das visitas podem ter interferências
negativas.
Lima, Corrêa, & Oliveira (2012), afirmam que o cotidiano do Agente Comunitário de
Saúde é permeado por atividades variadas, que vão desde a assistência direta a indivíduos e
famílias até o apoio educativo e tarefas de cunho burocrático, como o cadastramento familiar.
Para isso, o ACS realiza o preenchimento de instrumentos para diagnóstico demográfico e
sociocultural da comunidade; o registro de nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à
saúde para fins exclusivos de controle e planejamento das ações de saúde e visitas domici-
liárias periódicas para monitoramento de situações de risco à família. As fichas preenchidas
devem permanecer em poder do próprio ACS durante o ano, para o acompanhamento dos
usuários da sua microárea de abrangência.
Mensalmente, devem preencher o consolidado desse acompanhamento juntamente com
o enfermeiro para o fechamento do Relatório da Situação e Acompanhamento das Famílias
na Área/Equipe. O ACS responsável pela microárea deve manter consigo uma via. Todas
essas fichas devem ser atualizadas sempre que necessário, ou seja, quando há ocorrência
de eventos como nascimento ou morte de algum membro da família e inclusão de parente
ou agregado no grupo familiar (Lima et al., 2012).
Em seguida, foi explanada a ficha de “Cadastro Domiciliar” que identifica as caracte-
rísticas sócio sanitárias dos domicílios no território das equipes de AB. Este cadastro busca
identificar, ainda, situações de populações domiciliadas em locais que não podem ser con-
siderados domicílio (situação de rua, por exemplo), no entanto devem ser monitorados pela
equipe de saúde.
Não apresentaram dúvidas sobre as informações repassadas, confirmaram ser um
formulário bastante simples. Porém, relatam que os indivíduos da área ainda ficam um
pouco apreensivos com relação a pontos abordados como: orientação sexual, histórico ou
a presença atual de doenças negligenciadas, como a Hanseníase e Tuberculose, mesmo
havendo grande afinidade entre eles. Outro ponto negativo é a ausência dos domiciliados
no momento da visita, fato que tem ligação com o trabalho destes, levando muitas vezes os
ACSs a trabalharem durante os finais de semana para conseguirem acesso a essa população.
Para Drulla et al., (2009), visita domiciliar é indicada como método adequado para

508 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


iniciar o trabalho com indivíduos, família e comunidade, pois facilita conhecer suas práticas
assistenciais e as dinâmicas familiares. Essa, pode ser realizada de duas formas. A primeira
é chamada visita domiciliar Fim, que tem objetivos específicos de ação na atenção domiciliar
terapêutica e visita aos pacientes acamados. A segunda é a visita domiciliar Meio, onde se
efetua a busca ativa da demanda reprimida e a promoção e prevenção da saúde efetiva
mediante educação em saúde de forma individualizada. Estas duas interpelações constituem
um método ativo e dinâmico, viabilizando sua implementação na população alvo, suscitan-
do seu interesse por questões de saúde, orientações ligadas às formas de organização do
serviço, resolução de problemas, anseios e temas gerais de saúde.
A explicação da ficha de “Cadastro Individual” consistiu em repassar que a mesma
identifica as características sóciodemográficas, problemas e condições de saúde dos usuá-
rios no território das equipes de AB. Após a discussão sobre o assunto, pontos importantes
surgiram com relação à fidelidade dos dados coletados, quando os indivíduos são indagados
sobre a renda familiar ou ocupação atual, já que muitos recebem auxílios do governo e tem
a visão de que podem perder o benefício se repassarem as informações corretas, acabam
ocultando informações. Além disso, muitos moradores apresentam resistência em repassar
as informações referentes a outros dados pessoais como Registro Geral (RG) e Cadastro
de Pessoa Física (CPF).
A ficha de cadastro individual indica as características sociodemográficas, anseios,
problemas e condições de saúde dos clientes no território da equipe de AB. Tem por objetivo
compreender as informações sobre os clientes que estão registrados na área da equipe de
AB. Ressalta-se que toda vez que o ACS realizar um cadastro individual, terá de preencher
esta atividade também na Ficha de Visita Domiciliar (Brasil, 2014).
O outro instrumento mostrado foi a “Ficha de Atividade Coletiva”, usada para registrar
ações administrativas, reuniões da equipe, ações de saúde, atividades coletivas de promo-
ção de saúde ou ainda atendimento em grupo. As agentes informaram que reconhecem a
relevância do registro das reuniões, pois são vários os encontros entre si e com a enfermeira
da equipe para organizar os dados referentes ao trabalho, sendo um registro do que estão
desenvolvendo em relação à comunidade, bem como em relação às atividades em grupo,
realizadas muitas vezes no ambiente de espera para as consultas, em que há um espaço de
comunicação com as ACSs que estão na unidade, onde tiram dúvidas sobre atendimentos,
serviços etc.
A ficha de atividade coletiva é utilizada para registrar as ações desenvolvidas pela
equipe de acordo com as demandas do território e a capacidade da equipe de planejar as
ações. É nessa ficha que devem ser apontadas as ações estruturantes para o planejamento
e organização dos métodos de trabalho da equipe, tais como reuniões de equipe, reuniões

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 509


com outras equipes e/ou outros órgãos, e as ações em saúde direcionadas a população,
como atendimentos e avaliações em grupo, atividades de educação em saúde e mobiliza-
ções sociais (Brasil, 2014).
Na segunda parte da capacitação referente ao Levantamento Epidemiológico, após ter
sido abordado a importância de fazê-lo, evidenciou-se algumas dificuldades em preencher
um instrumento simples oferecido pela enfermeira, que abordam pontos como o número de
diabéticos, hipertensos, gestantes, crianças menores de dois anos, idosos, além de outras
informações relevantes ao conhecimento da população, além da importância epidemiológica,
justifica-se pelo fato de ter começado a trabalhar há pouco tempo na unidade, de modo a
requerer mais informações sobre o seu território de trabalho.
Conforme refere Rouquayrol & Silva (2013), o perfil epidemiológico é um indicador
observacional das condições de vida, do processo saúde-doença e do estágio de desen-
volvimento da população. De acordo com a Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90, a saúde
tem fatores determinantes e condicionantes, como a alimentação, a moradia, o saneamento
básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer, entre outros,
e esses fatores embasam o estudo do perfil de uma comunidade, o qual deve se compro-
meter com uma análise verossímil das condições de saúde da população, construindo o
desenvolvimento de um sistema de saúde.
Há uma preocupação no conhecimento do perfil epidemiológico dos pacientes a serem
atendidos para a adequação das práticas de saúde como afirma Carvalho, Pinho, & Garcia
(2017). Portanto, compreender as necessidades da atenção primária de saúde na rede pública
se tornou um exercício necessário, para o gerenciamento, programação e planejamento em
saúde. Ao final, mesmo com todas as divergências apresentadas pelos agentes, frisou-se
a relevância de procurarem através de estratégias na abordagem direta com a população,
a contribuição para formação do levantamento epidemiológico.
Outro ponto abordado foi à importância de visitas regulares a comunidade para per-
petuar informações sobre horários dos atendimentos, exames, e a rotina do serviço, prin-
cipalmente referente aos programas de saúde da mulher, o qual foi informado que há uma
grande deficiência em relação à realização do rastreamento do câncer de colo do útero, pois
antigamente o profissional de Enfermagem era do sexo masculino, isso causava um pouco
de receio nas mulheres da comunidade.
No que se refere às visitas domiciliares, na maioria das vezes ocorrem corretamente,
com pessoas colaborativas e dispostas a escutar e apoiar o trabalho dos agentes, um vín-
culo de confiança foi estabelecido na área, porém se faz necessário à abordagem correta
e explanação da importância de repassar as informações para completude dos dados refe-
rentes à área.

510 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Vilela, Silva & Jacson Filho (2010) declaram que as visitas domiciliares são atividades
indispensáveis para o estabelecimento da relação entre ACS e a população, configuran-
do-se, também, como o principal instrumento que possuem para a promoção da saúde da
população assistida. Sob outra perspectiva, as visitas domiciliares são ações valorosas que
somam como produção da unidade.
Com relação ao preenchimento dos formulários, foi perceptível o entendimento dos
agentes com relação aos campos a serem preenchidos, porém não reconheciam ao certo o
seu papel na consolidação destes dados e na importância que representam para unidade,
deixando claro a necessidade da educação permanente, capacitações e reciclagens para o
grupo, autores como Lima et al., (2012) já abordaram a relevância destas ações para o e-sus.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após este estudo foi possível entender a importância do Agente Comunitário de Saúde
para consolidação dos dados SISAB e da efetivação da Vigilância Epidemiológica no terri-
tório. Suas ações permeiam um protagonismo incomum em outros profissionais da rede de
serviços, onde suas atitudes repercutem em toda a população assistida por este profissio-
nal. Ponderado isso, vale ressaltar que tal dinamicidade do ACS junto ao serviço de saúde
será possível quando os gestores, trabalhadores do SUS e o próprio usuário atuarem em
conjunto, objetivando a melhoria dos fatores condicionantes à saúde.
A demais, encontrou-se certa resistência quanto a alimentação do sistema e-SUS,
contudo a equipe da referida UBS estava aberta para contribuir com a melhoria do serviço.
Conclui-se que o presente estudo possibilitou a ampliação do conhecimento sobre o trabalho
desenvolvido pelos ACS, como também, os ACS reconheceram a grande missão e impor-
tância que lhes é dada para ajudar a manter a qualidade de vida da comunidade.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 513


39
“ Capacitação de agentes
comunitários de saúde para
identificação de casos de
tuberculose em uma unidade
saúde da família

Gabriella Sousa de Oliveira Karen Lury Abe Emoto


UNIFAMAZ UNIFAMAZ

Ana Catarina da Paz Holodniak Gabriela Ladeia da Silva


UNIFAMAZ UNIFAMAZ

Bianca Abdelnor Hanna Piqueira Diniz Danilo Rocha de Aguiar


UNIFAMAZ UNIFAMAZ

Ruan Seguin Azevedo Quaresma Ravena Larissa dos Santos Jardim


UNIFAMAZ UNIFAMAZ

Márcia Gomes Alcântara Rodrigo Silva Dias


UNIFAMAZ UNIFAMAZ

Artigo original publicado em: 5/2020


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700596
RESUMO

Objetivo: Capacitar os Agentes Comunitários de Saúde de uma ESF de Belém, para o


reconhecimento de pacientes suspeitos de tuberculose. Métodos: Estudo quantitativo,
descritivo, transversal e analítico, realizado em uma Estratégia de Saúde da Família
(ESF) da cidade de Belém – PA. A aplicação do trabalho ocorreu em três momentos:
aplicado o questionário como pré-teste, palestra sobre tuberculose ministrada pelas
pesquisadoras e reaplicação do instrumento de coleta como pós-teste. As variáveis
quantitativas foram avaliadas por meio do teste T-Student (p < 0,05). Resultados: Na
aplicação do pré-teste, evidenciou que todos os participantes possuem domínio nos eixos
temáticos no que tange à definição, modo de transmissão, quadro clínico e prevenção
da tuberculose. Nos demais tópicos, identificou-se uma discrepância no conhecimento
prévio entre os participantes e os eixos com maior dificuldade de conhecimento foram
relacionados ao tratamento diretamente observado (TDO) em 55,5% (n=5) e etiologia da
TB com 44,4% (n=4). Os resultados obtidos no pós-teste constatam uma equivalência nos
conhecimentos adquiridos possuindo significância estatística (p valor = 0,027, Média ±
1,77; DP ± 1.98). Conclusão: A maioria ACS da ESF estudada mesmo com relatos verbais
de que possuiam muitas dúvidas em relação ao tema, os resultados desta intervenção
são considerados satisfatórios.

Palavras-chave: Agentes comunitários de saúde; Conhecimento; Tuberculose.


INTRODUÇÃO

A tuberculose é descrita como uma das patologias mais antigas que se tem notícia
na história, no entanto, o termo tal como se descreve a doença só começou a ser utilizado
no ano de 1839. No contexto mundial, cerca de 10,4 milhões de pessoas adoeceram por
tuberculose no ano de 2015, com 1,4 milhão de mortes pela doença (LEÃO RNQ, 2013).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, aproximadamente, um terço da
população mundial tenha infecção latente por bactérias pertencentes ao complexo Myco-
bacterium tuberculosis. Deste grupo, 8 a 10 milhões de casos de tuberculose surgem a cada
ano, e dentre esses, cerca de 50% dos casos são caracterizadas como formas infectantes
da doença (BRASIL, 2017).
As regiões mais endêmicas no mundo incluem as nações insulares do Pacífico (exceto
Japão), a Ásia, o subcontinente indiano, a África subsaariana e a América Latina, a Rússia
e as antigas Repúblicas Soviéticas. Por conta de tratamento obsoleto, inadequado ou não
disponível, 2 a 3 milhões de pessoas por ano morrem devido à tuberculose (GOLDMAN L,
et al., 2005; BRASIL, 2015).
O Brasil faz parte do grupo dos 30 países de alta carga priorizados pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e estes países concentram 87% dos casos de tuberculose no
mundo, sendo que o Brasil ocupa a 16ª posição em número absoluto de casos. No país,
no período de 2005 a 2014 foram diagnosticados 73 mil casos novos de tuberculose, e no
ano de 2015, foram identificados 69 mil casos novos de tuberculose, com 4,5 mil mortes em
decorrência desta patologia, caracterizando a TB como a terceira causa de morte por doença
infecciosa na população geral e a primeira causa de morte entre doenças infecciosas nas
pessoas que convivem com HIV/Aids (BRASIL, 2017).
A região Norte aparece como destaque com 67.000 casos, e possui cerca de 6000 mil
novos casos notificados a cada ano. Dentro desta região, destaca-se o Estado do Pará, e
mais especificamente a cidade de Belém, apresentando cerca de 1.300 novos casos novos
de tuberculose pulmonar a cada ano, o que representa 45% do número total de notificações
no país (SAMPAIO SN, et al., 2013).
Uma das problemáticas relacionadas à TB é a não captação de todos os casos pelos
sistemas de vigilância epidemiológica. O número total de casos que ocorre a cada ano é
estimado globalmente, assim como para as regiões e países, gerando dúvidas quanto a
seguridade das informações de carga da doença. As ausências de notificações podem ser
atribuídas às pessoas que não procuram o serviço de saúde ou procuram atendimento, no
entanto, não recebem o diagnóstico adequadamente (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2012). Para reduzir esse déficit de informação de diagnóstico, notificação e incidência, re-
comenda-se o fortalecimento do acesso, diagnóstico e vigilância.

516 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


É imprescindível que todos os portadores de baciloscopia positiva sejam tratados e
acompanhados mensalmente de modo a avaliar a evolução da sua situação de saúde, bem
como minimizar os riscos de transmissão. Durante o período de atividade da doença, um
paciente pode infectar dez outros indivíduos, em média, o que permite a perpetuação da
cadeia de transmissão da tuberculose na comunidade (OLIVEIRA GP, et al., 2010).
Para atender a esta demanda, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de
Controle da Tuberculose (PNCT) que está contido na Estratégia Saúde da Família – ESF, e
que com o auxílio Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), trabalham para a
expansão das ações de controle da TB no território (BERALDO AA, et al., 2012).
É de suma importância que as equipes de saúde da família estejam qualificadas para
reconhecer os possíveis pacientes sintomático respiratórios, e que esta equipe conte também
com um bom suporte laboratorial para atender a demanda da sua área de cobertura, prin-
cipalmente aquelas lotadas em níveis periféricos da rede de atenção de saúde (ROGERIO
WP, 2015).
No contexto da busca ativa dos casos, a figura do agente comunitário de saúde – ACS
caracteriza-se como um elo entre a comunidade e os demais membros da equipe da ESF na
implementação de ações de promoção e vigilância em saúde. Por residirem na localidade
em que atuam, conhecem a situação local e possuem proximidade com as famílias de suas
micro áreas, agindo de modo a construir pontes entre os serviços de saúde e a comunida-
de, identificando prontamente os problemas desta, e facilitando o trabalho de prevenção de
doenças e a promoção da saúde (FAÇANHA MC, et al., 2009).
De acordo com o Ministério da Saúde, é papel do ACS divulgar para sua comunidade
a tuberculose como importante problema de saúde pública atual e as ações de controle no
combate à TB precisam estar inseridas no planejamento das equipes de saúde do território.
Dessa forma, cabe ao ACS, durante a interação comunidade e principalmente durante
a visita domiciliar, orientar a população quanto ao modo transmissão da doença e sobre as
medidas de que podem ser adotadas para prevenir a TB, bem como a identificação de pa-
cientes sintomáticos respiratórios, fazendo o devido encaminhamento destes até a unidade
de saúde, devendo ser uma estratégia priorizada pelos ACS (ROGERIO WP, 2015).
No município de Belém existem 678 ACS em exercício registrados no Cadastro Na-
cional de Estabelecimentos de Saúde, segundo dados de dezembro de 2017 Estes agentes
atuam na realização de atividades de prevenção de doenças e na promoção de saúde. Para
o exercício profissional é pré-requisito residir na área da comunidade na qual trabalha, ter o
Ensino Fundamental completo e possuir o curso introdutório de formação inicial e continuada
(ROCHA GSS, et al., 2015).
Das habilidades e conhecimentos exigidos à atuação do ACS, destaca-se a capacidade

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 517


de articulação entre os saberes técnicos e populares. Desse modo, o conhecimento sobre
a tuberculose e o modo como estes profissionais podem agir para promover o controle da
doença, resulta na execução das tarefas dos ACS de forma satisfatória (BRASIL, 2018).
No intuito de orientar os agentes comunitários de saúde sobre a TB, o Ministério da
Saúde, em parceria com a Secretaria de Políticas de Saúde, elaborou uma cartilha que
contém orientações diversas e extremamente importantes na identificação e controle da
doença, facilitando o trabalho dos ACS no seu território e esclarecendo dúvidas durante a
visita domiciliar de forma objetiva (ROGERIO WP, 2015).
É valido ressaltar que foram evidenciados poucos estudos nacionais que tentam men-
surar o conhecimento de profissionais de saúde em relação à TB ou mesmo que evidenciem
a importância do ACS na busca do paciente sintomático respiratório, a falta do treinamento
adequado para o reconhecimento dos casos configura-se como um entrave para a identifi-
cação dos casos suspeitos (SCATOLIN BE, 2014).
Conforme os dados estatísticos apresentados pelo Ministério da Saúde, deve-se dar
importância na capacitação do agente comunitário de saúde para o auxílio na identificação
de pacientes sintomáticos respiratórios, visto que a tuberculose ainda é doença muito preva-
lente em nossa realidade. Vale ressaltar que o diagnóstico precoce e o correto seguimento
do tratamento propiciam ao paciente a cura completa e a quebra da cadeia de transmissão,
por sua vez, diminuindo as chances de recidiva e as possíveis complicações decorrentes
da falta ou seguimento inadequado do tratamento ao paciente com tuberculose (SAMPAIO
SN, et al., 2013).
Em dias atuais, a tuberculose – TB ainda continua preocupando as autoridades sani-
tárias, apesar dos conhecimentos científicos abrangentes disponíveis sobre a doença e o
desenvolvimento de estratégias de controle na saúde pública.
O Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN é o principal instrumento
nacional para coleta e análise dos dados de TB. Entretanto, há limitações que dificultam o
conhecimento real da doença, como a subnotificação, a baixa completude dos dados e a
precariedade das informações relacionadas ao encerramento dos casos de TB, principal-
mente dentro das unidades saúde da família, dificultando a execução de atividades que
busquem o controle da patologia.
Diante desta realidade, o presente trabalho se propôs em realizar a capacitação de
agentes comunitários de saúde para identificação de casos de tuberculose em uma Unidade
de Saúde da família, situado na periferia do município de Belém-PA, visando o auxílio na
identificação de novos casos, estabelecendo o diagnóstico precoce e tratamento adequado,
consequentemente, quebrando a cadeia de transmissão e reduzindo os óbitos causados por
esta patologia. Além de fornecer melhoria na alimentação dos dados epidemiológicos sobre

518 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


tuberculose na referida Unidade de Saúde.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, transversal e analítico, realizado em


uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) da cidade de Belém – PA, no período do mês de
maio de 2018. A população alvo foi composta pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS)
lotados na ESF escolhida, tendo em sua totalidade o número de 10 (dez) ACS. A amostra foi
selecionada a partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
no qual, 9 (nove) ACS aceitaram participar do trabalho. O instrumento de coleta de dados
utilizado, foi um questionário acerca da tuberculose, elaborado pelos pesquisadores, com
base na cartilha do Ministério da Saúde “Tuberculose: informações para agentes comuni-
tários de saúde”, ano 2017.
O referido instrumento possuiu 14 perguntas de múltipla escolha, com apenas uma
assertiva correta. As questões versavam sobre definição, etiologia, modo de transmissão,
quadro clínico, diagnóstico, tratamento, tratamento diretamente observado (TDO), orienta-
ções aos contactantes, medidas de prevenção e atribuições dos ACS.Após aprovação pelo
Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos, sob o nº do parecer 2.626.336 e CAAE:
87988718.0.0000.5701, foi executada a capacitação dos agentes comunitários de saúde
(ACS) sobre o tema “tuberculose”.
A aplicação do instrumento de pesquisa e intervenção ocorreu em três momentos:Ini-
cialmente foi aplicado o questionário pré-teste com o objetivo de quantificar o conhecimento
prévio dos ACS;Após o preenchimento, as autoras ministraram uma capacitação sobre tu-
berculose, com utilização de material didático apoio, onde foram sanadas todas as dúvidas
acerca da temática;Por conseguinte, o questionário foi reaplicado e intitulado como pós-teste,
com intuito de avaliar os conhecimentos adquiridos após a explanação.
As informações obtidas, foram tabuladas e inseridas no banco de dados do programa
Microsoft Excel; posteriormente, através do programa BioEstat 5.0. As variáveis quantitativas
foram avaliadas por meio do teste T-Student e expressas sob a forma de média ± desvio
padrão e representadas em gráficos.
As informações obtidas somente foram utilizadas nesta pesquisa, não sendo divulga-
da qualquer informação que possa levar a identificação do participante. A privacidade dos
pesquisados, bem como os dados coletados, permanecem mantidos em sigilo, conforme
as normas da Resolução 466/12 do CONEP. Nenhum material biológico foi coletado e os
questionários foram arquivados com os pesquisadores em local seguro e serão incinerados
após 5 anos da finalização da pesquisa.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 519


RESULTADOS

Foram avaliados o conhecimento sobre tuberculose de nove (09) agentes comunitá-


rios de saúde, sendo 88,8% (8/9) do sexo feminino e 11,1% (1/9) do sexo masculino, com
idades idade variando de 28 a 49 anos, e a prevalência de escolaridade foi o nível superior
incompleto (n=3) (Tabela 1).

Tabela 1. Características demográficas dos Agentes Comunitários de Saúde de uma Unidade Saúde da Família, Belém, 2018.

Variáveis N %
Sexo
Feminino 8 88,8
Masculino 1 11,1
Total 9 100
Idade
20 - 30 anos 2 22,2
31 - 40 anos 3 33,3
41 - 50 anos 4 44,4
51 - 60 anos - -
Total 9 100
Escolaridade
Ensino fundamental incompleto - -
Ensino fundamental completo 1 11,1
Ensino médio incompleto 2 22,2
Ensino médio completo 2 22,2
Ensino superior incompleto 3 33,3
Ensino superior completo 1 11,1
Total 9 100

Fonte: Oliveira GS, et al., 2020.

A análise do conhecimento prévio dos ACS na aplicação do pré-teste, evidenciou que


todos os participantes possuem domínio nos eixos temáticos no que tange à definição, modo
de transmissão, quadro clínico e prevenção da tuberculose, representando em 100% (n=9)
do número de ACS. Nos demais tópicos, identificou-se uma discrepância no conhecimento
prévio entre os participantes.
Sobre a atribuição dos ACS na prevenção de TB e as orientações aos contactantes,
88,8% (n=8) responderam corretamente o quesito proposto, bem como o tratamento da TB
com 77,7% (n=7) de acerto e sobre o conhecimento do diagnóstico da doença com 66,6%
(n=6) de acerto. Os eixos com maior dificuldade de conhecimento foram relacionados ao
tratamento diretamente observado (TDO) em 55,5% (n=5) e etiologia da TB com 44,4%
(n=4) (Gráfico 1).

520 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Gráfico 1. Conhecimento dos agentes comunitários de saúde sobre tuberculose no Pré-Teste de acordo com os eixos
temáticos.

Legenda: ACS: agente comunitário de saúde; TDO: tratamento diretamente observado.


Fonte: Oliveira GS, et al., 2020.

Os resultados obtidos no pós-teste constatam uma equivalência nos conhecimentos


adquiridos dos agentes comunitários de saúde após a capacitação sobre tuberculose, de
modo que nos quesitos sobre tratamento da TB e orientações aos contactantes houveram
acerto de 88,8% (n=8) do número total de ACS participantes (Gráfico 2).

Gráfico 2. Conhecimento dos agentes comunitários de saúde sobre tuberculose no pós-teste de acordo com os eixos
temáticos.

Legenda: ACS: agente comunitário de saúde; TDO: tratamento diretamente observado.


Fonte: Oliveira GS, et al., 2020.

A comparação do desempenho individual dos ACS na aplicação do pré-teste e pós-teste


possui significância estatística (p valor = 0,027, Média ± 1,77; DP ± 1.98), o que evidenciou
que a capacitação sobre tuberculose oferecida aos ACS foi satisfatória. Dessa forma, os
agentes comunitários de saúde estão aptos para o reconhecimento de pacientes sintomá-
tico-respiratórios suspeitos de tuberculose (Gráfico 3).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 521


Gráfico 3 - Comparação de desempenho individual dos agentes comunitários de saúde no pré e pós-teste.

Legenda: ACS: agente comunitário de saúde. Fonte: Oliveira GS, et al., 2020.

DISCUSSÃO

O perfil sociodemográfico dos ACS está em conformidade com outros trabalhos que
avaliaram a mesma categoria profissional. A maioria da população deste estudo é do sexo
feminino 88,8% (n=8), fato que é corroborado por demais estudos realizados com a mesma
categoria (FAÇANHA MC et al, 2009).Sobre o nível de escolaridade, observou-se na amostra
pesquisada, que os ACS possuíam idade entre 20 e 50 anos, sendo que o perfil etário mais
prevalente se situou entre 41 e 50 anos, 44,4% (n=4).
A formação escolar mais prevalente ente os agentes comunitários foi o ensino supe-
rior incompleto, correspondendo a 33,3% (n=3) do total de entrevistados. Este é um fato
de extrema relevância na amostra, pois de acordo com a comparação em nível nacional, é
possível observar que os ACS apresentam, majoritariamente, nível de escolaridade superior
ao exigido para o cargo segundo a legislação vigente (FAÇANHA MC et al, 2009).
Num estudo realizado, foi evidenciado que a maioria (69%) dos participantes possuíam
o ensino médio completo (SCATOLIN BE et al, 2014). O maior grau de escolaridade parece
estar associado a uma maior capacidade do ACS de incorporar novas informações, bem
como transmitir o conhecimento para as famílias adscritas à sua microárea.
Ainda que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estime que, aproximadamente, um
terço da população mundial tenha infecção latente por bactérias pertencentes ao complexo
Mycobacterium tuberculosis e que o Brasil esteja entre os países de maior incidência em
casos de tuberculose, estudos recentes apontam para uma desaceleração, tanto no número
de diagnósticos quanto na mortalidade de pacientes tuberculose (BRASIL, 2018).
A partir de mudanças ocorridas nos últimos anos, no âmbito da atenção básica, o Agen-
te Comunitário de Saúde passou a ser componente fundamental na promoção de ações de
vigilância em saúde e sua atuação no combate e controle da tuberculose tornou-se impres-

522 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


cindível. A capacitação de agentes comunitários contribui para melhorar a busca de sinto-
máticos respiratórios e consequentemente promover o aumento do número de notificações.
Na primeira fase deste estudo foi evidenciado que apesar da maioria dos ACS apresen-
tarem conhecimento a respeito da doença, ainda havia a necessidade da implementação de
medidas intervencionistas para a ampliação da abrangência de conhecimento dos mesmos.
Essa pesquisa verificou que, no primeiro eixo, 100% (n=9) dos agentes possuíam co-
nhecimento sobre definição da patologia, modo de transmissão, quadro clínico e prevenção;
todos considerados elementos importantes que necessitam ser de conhecimento prévio dos
ACS.
Este trabalho encontrou valores superiores aos observados em outra pesquisa, que
avaliou o conhecimento de um grupo de agentes comunitários e evidenciou 81% de acertos
de perguntas sobre tuberculose e 84,1% referente ao eixo de medidas de controle (ROCHA
GSS et al, 2015). Tal resultado evidenciou relativa discrepância entre os estudos analisados
e os encontrados em outras pesquisas; fato que pode ser relacionado à diferença amostral
entre os respectivos estudos, como exemplo, onde o trabalho supracitado apresentou maior
quantitativo de participantes.
No segundo eixo da investigação foram evidenciadas respostas parcialmente satisfa-
tórias. No que diz respeito à atribuição do ACS acerca da prevenção da tuberculose junto à
comunidade, o acerto do quesito foi de 88,8% (n=8); sobre as orientações dadas em relação
aos contactantes, o número de respostas corretas foi de 77,7% (n=7), e sobre o conheci-
mento do diagnóstico da doença foram obtidos 66,6% (n=6) de acertos.
É possível observar o desconhecimento dos atores do estudo acerca dos métodos
diagnósticos, que vão além da baciloscopia de escarro e raio x de tórax. Métodos auxiliares
como o histopatológico configuram-se como uma alternativa aos casos difíceis, em que é
necessário lançar mão de métodos alternativos para se conseguir fechar o diagnóstico da TB.
Ainda no pré-teste, o eixo em que os ACS demonstraram maior dificuldade de co-
nhecimento está relacionado ao tratamento diretamente observado (TDO) 55,5% (n=5) e
etiologia da TB, com 44,4% (n=4) de acertos. Constatou-se que no pré-teste, uma parcela
dos participantes assinalou a alternativa que se referia a um vírus como o agente etiológico
da tuberculose.
Após a capacitação dos atores do estudo, na qual foram fornecidas informações gerais
sobre a doença, o número de respostas corretas ao item no pós-teste representou 100%
(n=9) de acerto pelos participantes, comprovando a efetividade da capacitação neste quesito.
No tocante ao TDO, o resultado obtido neste trabalho foi similar ao de outro estudo,
que encontrou 59,4% de acertos neste eixo12. Parte significativa dos ACS acreditavam
que o TDO poderia ser realizado por familiares, no entanto, esta prática deve ser realizada

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 523


exclusivamente por profissionais de saúde, para fins de notificação.
O desconhecimento a respeito do TDO indicou uma falha por parte dos agentes co-
munitários, que pôde ser sanada com a capacitação e avaliada no pós-teste. Assim, com a
correta implementação do TDO, será possível, no futuro, observar melhora do desfecho e
diminuição das taxas de abandono do tratamento (ROCHA GSS et al, 2015).
Sobre a identificação de pacientes sintomático-respiratórios (SR), foram verificadas
deficiências no pré- teste, onde foi evidenciada uma taxa de acertos de 66% (n=6). Neste
quesito, o presente estudo contrasta com os dados obtidos por uma pesquisa, que apresen-
taram escores satisfatórios na identificação dos SR de TB na comunidade e na investigação
a partir dos casos índice (SCATOLIN BE et al, 2014). É valido ressaltar que a busca ativa
de sintomáticos respiratórios deve ser uma atitude permanente e incorporada à rotina de
atividades dos agentes comunitários.
Sobre os demais quesitos, o pré e pós-teste evidenciaram resultados semelhantes,
evidenciando um conhecimento prévio dos sujeitos sobre tais assertivas. Como limitação
deste estudo, encontra-se o fato deste ter sido conduzido utilizando-se um questionário não
validado para avaliar o conhecimento sobre TB.

CONCLUSÃO

No presente estudo, a maioria dos ACS da ESF estudada, compareceram e mostraram-


-se interessados no assunto. Mesmo com relatos verbais de que possuíam muitas dúvidas
em relação ao tema, os resultados desta intervenção são considerados satisfatórios e evi-
denciam que houve melhoria do nível de conhecimento dos ACS, logo, os mesmos encon-
tram-se aptos para o reconhecimento de pacientes sintomático-respiratórios suspeitos de
tuberculose.Espera-se que futuramente este estudo sirva de subsídios para implementação
de políticas públicas voltadas para a mudança de realidade local, que hajam mais capaci-
tações em diversos temas para os ACS, visando melhora na atuação de seu papel como
promotores de saúde e disseminadores de conhecimento junto a população em que atua.
Além de, propiciar a realização de novas pesquisas relacionadas a importância da atuação
do ACS na saúde pública. Diante disto, considera-se que a abordagem deste estudo seja
uma ferramenta para traçar novas estratégias e promover novas capacitações para melhoria
da atuação dos ACS.

REFERÊNCIAS

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Ribeirão Preto, São Paulo. Ciênc. Saúde coletiva, 2012, 17(11): 10-20.

524 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


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maio 2020. Artigo original.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 525


40
“ Casos confirmados de acidentes
por animais peçonhentos na
Região do Baixo Amazonas no
Período de 2008 a 2017

Fernanda Novaes Silva João Paulo Mota Lima


UEPA UEPA

Wlyana Lopes Ulian Fernando Ferreira Freitas Filho


UEPA UEPA

Joyce Ruanne Corrêa da Silva


Alice Hermes Sousa de Oliveira
UEPA
UEPA

Eduardo Henrique dos Santos Maia Jessica Rayanne Corrêa da Silva


UEPA UEPA

Caio Vitor de Miranda Pantoja Hipócrates de Menezes Chalkidis


UEPA UEPA

10.37885/200700730
RESUMO

Introdução: Os acidentes com animais peçonhentos vêm se tornando cada vez mais
frequentes na América Latina. Nesse viés, a mesorregião do Baixo Amazonas, no
noroeste do estado do Pará, interior da Amazônia, apresenta grande quantidade de
casos notificados devido à confluência de ecótonos, ocupação urbana desordenada
e expansão do agronegócio, reduzindo o habitat dessas espécies. Objetivo: Analisar
os casos confirmados de acidentes por animais peçonhentos na mesorregião do Baixo
Amazonas, Pará. Método: Estudo descritivo, feito com base em dados recolhidos do
SINAN presentes no DATASUS, relativos ao período de 2008 a 2017 da região do Baixo
Amazonas, dispostos e analisados no programa Microsoft Office Excel 2007. Resultados:
No período analisado, foram notificados no SINAN 12863 casos de acidentes por animais
peçonhentos na região do Baixo Amazonas, onde o maior número registrado ocorreu
no ano de 2013, 1456 casos (11,31%) e o menor em 2008, 1081 casos (8,40%). Além
disso, percebeu-se um aumento de 22,14% no número de casos entre os anos de 2010
a 2013, um decréscimo de 22% entre 2014 a 2016, com conseguinte aumento de 14,51%
entre 2016 e 2017. Ademais, a faixa etária mais atingida, foi a de 20 a 39 anos (37,45%) -
período de maior produtividade laboral – seguido de 40 a 59 anos (23,97%) e de 15 a 19
anos (11,16%). Outrossim, o tipo de acidente mais comum foi o ofídico (47,92%), seguido
dos escorpionicos (40,58%). Conclusão: Assim, apesar do leve aumento do número
de notificações entre os anos de 2010 a 2013 e 2016 a 2017, foi vista uma melhora no
número de casos entre 2014 e 2016, visto o decréscimo de 22%. Percebeu-se também,
um leve aumento de 14,96% do número de casos da faixa etária mais afetada entre 2016
e 2017, assim como uma diminuição de 16,45% no número de acidentes por serpentes
entre 2015 e 2017. Entretanto, acredita-se que ainda existam muitas subnotificações na
região analisada, por se tratar do interior do estado, na região amazônica, principalmente
nas áreas mais precárias e afastadas da capital.

Palavras-chave: Acidentes; Animais peçonhentos; Baixo Amazonas; Pará; Amazônia.


INTRODUÇÃO

Os acidentes com animais peçonhentos - animais que possuem glândulas especiali-


zadas em produzir e secretar peçonha e apresentam um mecanismo para inoculação - vem
se tornando cada vez mais frequentes na América Latina. O ofidismo representa um dos
principais acidentes por animais peçonhentos, sendo que, a ocorrência desse evento é
considerada uma doença tropical negligenciada pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
desde 2009, especialmente em países tropicais e subtropicais e/ou em desenvolvimento
(SALOMÃO, LUNA, MACHADO, 2018).
Existem cerca de 62 espécies de serpentes peçonhentas conhecidas no país e os aci-
dentes ofídicos são classificados em quatro grupos principais, de acordo com o gênero da
serpente inoculadora, são eles: Botrópico (Gêneros Bothrops e Bothrocophias - jararacas;
responsáveis por 86,23% dos casos); Crotálico (Gênero Crotalus - cascavéis; responsáveis
por 9,17% dos casos); Laquético (Gênero Lachesis - surucucu-pico-de-jaca; responsáveis
por 3,72% dos casos); Elapídico (Gênero Micrurus - corais-verdadeiras; responsáveis por
0,86% dos casos) (SILVA, BERNADE, ABREU, 2015).
As vítimas desses acidentes em geral são representadas por populações rurais, que
possuem um contato maior com o habitat desses animais e também dificuldade de acesso
aos serviços de saúde nessas regiões. A etiologia dessa realidade pode ser explicada pelas
mudanças ocorridas no ambiente ocasionadas pelo homem moderno. Dessa forma, tais
ações promovem alterações no habitat tornando-o desfavorável para esses animais, pro-
movendo assim uma relação íntima e contínua entre os animais e seres humanos (SILVA,
SANTOS, PALERMO, 2018).
Os acidentes por animais peçonhentos constituem um importante problema de saúde
pública, considerando suas altas taxas de incidência e mortalidade. No Brasil os envenena-
mentos por serpentes representam aproximadamente 29.000 casos por ano e uma média
de 125 óbitos. Nesse aspecto, a maior incidência de casos por habitante é na Região da
Amazônia, refletindo a grande biodiversidade do local. Entretanto, apesar de representar
grande parte dos casos de acidentes ofídicos no Brasil, a maioria dos estudos epidemioló-
gicos sobre o ofidismo ocorre na Região Sudeste do país, demonstrando a importância de
estudos que discutam a realidade da Região Norte (BERNARD; GOMES, 2012).
O perfil do paciente acometido por acidentes ofídicos em sua maioria descreve-se como
homens trabalhadores e residentes em zona rural, na faixa etária de 20 a 49 anos. Esse
contingente afetado corresponde a quase toda a população em atividade laboral remunera-
da do campo. Tal fato deixa evidente que o dano na saúde do paciente se dá não só pela
lesão mas pela incapacidade gerada em prover recursos financeiros para seu tratamento
e para sua família. Essa incapacidade pode ser momentânea por efeito tóxico e internação

528 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


hospitalar ou por danos permanentes como pela inoculação das toxinas de botrópicos e la-
quéticos com propriedades de necrose tecidual e amputação de membros. (BRASIL, 2016).
De forma paradoxal, mesmo com a maioria dos estudos epidemiológicos concen-
trados na região sudeste, Norte e Nordeste despontam como os principais focos dessas
intercorrências, sendo Pará e Bahia responsáveis por mais de 20% de todos os casos do
país, superando isoladamente as mesorregiões do Centro Oeste, Sudeste e Sul. Tal fato se
deve pela interiorização da população, áreas de floresta derrubada com escassez de habitat
natural e o clima com cheias e secas sazonais, explicando o período de maior número de
casos durante a cheia dos rios, quando esses animais acabam buscando refúgio nas áreas
elevadas povoadas ou dentro dos domicílios suspensos (BRASIL, 2016).
Além das variáveis naturais, as implicações políticas territoriais, de concentração de
centros de saúde e do sistema de notificação também são barreiras para o um bom atendi-
mento e planejamento nas áreas mais afetadas. Sendo o estado do Pará com maior número
de casos e a região do Baixo Amazonas com a maior parte deles, a maior extensão territorial,
maior quantidade de regiões de difícil acesso a centros de saúde e “ilhas cegas” do sistema
SINAN, permitem que ocorram falhas no planejamento e na distribuição de recursos para o
tratamento e manejo das vítimas no estado, tornando mais evidente a necessidade de artigos
e estudos nesse local para melhor tratamento de sua população (SILVA, 2019; LOPES 2017).

METODOLOGIA

A metodologia usada nesse trabalho compõe-se de um estudo descritivo quantitativo,


com os dados recolhidos no SINAN presentes no DATASUS, correspondentes ao período
de 2008 a 2017, com base na literatura científica com o foco em análise, correlação e estudo
do material publicado disponível para subsidiar o tema proposto para a pesquisa.
As informações coletadas são de bancos de dados online, disponibilizados pelo Mi-
nistério da Saúde, dispostas e analisadas no programa Microsoft Office Excel 2007, tendo
como foco os casos confirmados de acidentes por animais peçonhentos na região do baixo
amazonas.
Os critérios de exclusão foram os artigos científicos, cartilhas e materiais do Ministério da
Saúde que não contemplem os objetivos específicos da temática abordada no presente estudo.
Os riscos do trabalho caracterizam-se pelos possíveis erros numéricos e de cálculos
que podem ocorrer, os quais podem confundir a população. Entretanto, por ser uma pesquisa
relacionada a base de dados, não haverá contato com os usuários. Sendo, dessa forma,
considerado um estudo de pouco ou baixo risco.
Esse trabalho visa: analisar os casos confirmados de acidentes por animais peçonhen-
tos na mesorregião do baixo amazonas, no interior do estado do Pará, identificando a maior

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 529


prevalência de casos entre os anos analisados, faixa etária e tipo de acidente. Os resultados
trarão melhorias para gestão em saúde, no sentido de conhecer de maneira mais efetiva a
realidade da população de estudo na questão desses acidentes e disseminando informações
de suma importância para a comunidade acadêmica e profissional na área da saúde.
O estudo em questão utiliza apenas dados de domínio público, assim, não precisando
passar pela análise do Comitê de Ética e Pesquisa, apesar disso, os conteúdos analisados
pela pesquisa têm os direitos autorais dos documentos utilizados respeitados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Animais peçonhentos são aqueles que possuem glândulas produtoras de peçonha, um


material venenoso, e mecanismo inoculatório, que pode ser através de dentes, ferrões ou
outra estrutura. Sendo assim, a sua classificação envolve diversas classes animais. Alguns
dos principais representantes desse grupo são algumas espécies de serpentes, aranhas,
escorpiões, abelhas e centopeias (BARROSO et al., 2001; FUNED, 2015).
A serpente é o animal responsável pelo maior número de casos de acidentes dentre
os animais peçonhentos (PINTO e ANDRADE, 2019). Estima-se que 45.793 dos casos es-
tão relacionados a acidentes por serpentes, 22.596 por escorpiões e 16.474 por aranhas.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). No que se refere aos acidentes ofídicos por serpentes
brasileiras, quatro gêneros possuem importância para a prática médica: Bothrops, Crotalus,
Lachesis e Micrurus, ocorrendo especialmente em áreas florestadas ou rurais. Sendo a maior
prevalência de acidentes pelo gênero bothrops, representando 85% dos casos. Em relação
aos escorpiões, os acidentes são provocados, em sua maioria, pelo gênero Tityus e as
aranhas, pelos gêneros Loxosceles, Phoneutria, Latrodectus. (LOPES et al., 2017; MATOS
e IGNOTTI, 2020). Ademais, as abelhas africanas (I) e as centopeias do gênero Lonomia,
merecem destaque visto sua importância médica e severidade envolvendo seus acidentes
(FUNED, 2015; TAVARES et al., 2020).
As atividades humanas e mudanças nos habitats evidenciam como a atividade antrópi-
ca vem afetando as espécies e viabilizando a maior recorrência desses acidentes. O Brasil
é um país que possui diversos biomas contendo uma rica variedade em fauna e flora. Em
especial, o bioma amazônico abriga uma grande quantidade de espécies, e pelo seu cená-
rio atual esses acidentes são de extrema importância na região (DE ALMEIDA LIMA et al.,
2020). Áreas florestadas ou áreas rurais, ainda vastas no bioma amazônico, são locais que
favorecem os acidentes ofídicos, ademais, essas regiões acabam sendo muito afastadas das
áreas urbanas, aumentando o tempo de atendimento em caso de acidentes, assim elevando
os riscos de sequelas e até a taxa de mortalidade (CÂMARA et al., 2020).
Segundo Silva, Bernarde e Abreu (2014), nos acidentes ofídicos observou-se a maior

530 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


proporção de casos relacionados ao sexo masculino, entre a faixa etária de 20 a 59 anos.
Isso relaciona-se ao fato de que o homem é o maior envolvido em áreas de setores agrí-
colas, desenvolvendo suas atividades laborais no campo (LOPES et al, 2017). Nos aciden-
tes ocasionados por aranhas e escorpiões, a diferença entre homens e mulheres não foi
importante, evidenciando a associação de que esses tipos de acidentes, principalmente,
os ocasionados por envenenamento de aracnídeos ocorreram em áreas urbanas (SILVA,
BERNARDE E ABREU, 2014).
Acidentes com animais peçonhentos já foram classificados, segundo a OMS, como uma
doença tropical negligenciada. Por esse motivo, esses tipos de acidentes são considerados
como emergência clínica. No Brasil, no período de 2007-2017 foram registrados mais de
95 mil casos de acidentes de trabalhos por animais peçonhentos em pessoas que exercem
suas atividades laborais rurais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).
As regiões mais atingidas pelos acidentes por animais peçonhentos são o Norte e
Nordeste (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). Segundo dados divulgados pelo SINAN e IBGE
(2017), a incidência de acidente por envenenamento por serpentes é maior nas regiões
Norte, Nordeste e Centro Oeste. Enquanto que, na região Sudeste e no Sul observou-se
maior incidência de acidentes por escorpiões e aranhas, respectivamente.
O coeficiente de mortalidade por acidente de trabalho por animais peçonhentos, para
o Brasil, cresceu de 0,83/1 milhão em 2007 para 1,78/1 milhão em 2017. Notou-se também
aumento da letalidade em 24%, a qual passou de 0,18% em 2007 para 0,22% em 2017. Os
estados que apresentaram maior incidência em 2017 foram Espírito Santo (463,2/100 mil),
Amapá (251,1/100 mil), Amazonas (207,9/100 mil) e Roraima (204,6/100 mil). Os maiores
coeficientes de mortalidade foram estimados para os estados do Amazonas (10,9/1 milhão),
Goiás (10,6/1 milhão) e Piauí (6,8/1 milhão) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).
Os acidentes com serpentes no ano de 2017 tiveram sua maior incidência registrada no
Amazonas (168,8/100 mil), Roraima (167,7/100 mil), Amapá (145,0/100 mil), Espírito Santo
(93,2/100 mil) e Pará (90,3/100 mil). Já os estados que tiveram mais casos com escorpião
foram Espírito Santo (295,1/100 mil), Amapá (99,0/100 mil), Minas Gerais (57,1/100 mil), To-
cantins (48,2/100 mil) e São Paulo (36,5/100 mil). E as aranhas, tiveram sua incidência maior
em Santa Catarina (74,9/100 mil), Paraná (41,0/100 mil), Espírito Santo 36,8/100 mil), Minas
Gerais (35,1/100 mil) e Rio Grande do Sul (27,1/100 mil) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).
Dessa forma, por serem considerados, um problema de saúde pública, os acidentes
por animais peçonhentos, no Brasil, são incluídos nos sistemas de informação como noti-
ficação compulsória (BENÍCIO; CARVALHO; FONSECA, 2019; DE ALMEIDA LIMA et al.,
2020). As informações acerca de acidentes ofídicos começaram a ser coletadas no Brasil
em 1986, após uma crise na produção de soro no país, e em 1988 os acidentes envolvendo

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 531


escorpiões e aranhas também passaram a ser informados, dando início a notificação desse
vasto grupo de acidentes (BOCHNER e STRUCHINER, 2002).
Atualmente, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) recolhe
dados de diversas doenças de notificação compulsória, além de quatro agravos de interes-
se nacional, sendo um desses agravos os acidentes por animais peçonhentos (FISZON e
BOCHNER, 2008). Apesar da obrigatoriedade de notificação desses agravos, o sistema de
informação em questão ainda presenta impasses, principalmente em áreas mais remotas do
país, onde há um grau de subnotificação dos casos, além da não alimentação do banco de
dados e até mesmo a classificação errônea das fichas de notificação por equipes de saúde
não treinadas (FISZON e BOCHNER, 2008; DA GRAÇA SALOMÃO; DE OLIVEIRA LUNA;
MACHADO, 2018).
O estado do Pará, possui hoje uma área de 1.245.870,798 km², sendo considerado
em extensão o segundo maior estado do Brasil. Nesse vasto território coberto pelo bioma
amazônico, adotaram-se divisões administrativas que deram origem as mesorregiões para-
enses. Segundo o Governo do Estado, a mesorregião do Baixo Amazonas está localizada
a oeste da capital, Belém, abrigando 13 cidades e ocupando uma área de 315.000 km²
(NAVEGAPARÁ, 2018; DA SILVA et al., 2019; IBGE, 2019).
A partir dos dados presentes no SINAN divulgados pelo DATASUS, foi possível realizar
uma análise acerca dos acidentes ofídicos informados na região do Baixo Amazonas. Primei-
ramente, foram analisados os casos confirmados nos anos de 2008 a 2017, contabilizando
um total de 12863, em que o ano de 2013 apresentou o maior número de acidentes, 1456
(equivalente a 11,31% do total) e o ano de 2008 apresentou o menor número, 1081 (8,40%
do total). Ademais, a partir do quantitativo avaliado em cada ano, foi possível determinar um
aumento de 22,14% no número de casos entre os anos de 2010 e 2013; um decréscimo de
22% entre 2014 e 2016 e um subsequente aumento de 14,51% nos acidentes entre 2016
e 2017.
Bochner e Struchiner (2003), ao analisar o Brasil nos últimos 100 anos, perceberam que
a faixa etária mais atingida por acidentes ofídicos (um tipo específico de acidente por animal
peçonhento) foi entre 15 e 49 anos. Nesse contexto, as informações analisadas nesse estu-
do puderam concluir uma similaridade com essa realidade, visto que as faixas etárias mais
atingidas pelos acidentes por animais peçonhentos no Baixo Amazonas encontram-se nessa
faixa mais ampla. As idades entre 20 e 39 anos foram as prevalentes, com o equivalente de
37,45% do número total de casos, evidenciando que o problema está presente no período
da vida de maior atividade laboral, seguido da faixa etária de 40 a 59 anos, com 23,97%
e 15 a 19 anos, com 11,16%. Além disso, foi possível avaliar um aumento de 14,96% no
número de casos na faixa etária mais afetada (20 a 39 anos) entre os anos de 2016 e 2017.

532 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Corroborando com a conclusão do estudo de Barroso (2001) - que ao analisar a cidade
de Belém concluiu a prevalência de acidentes por serpentes, seguidos dos acidentes por
escorpiões e logo atrás os por centopeias - a região paraense avaliada no presente estudo
também apresentou os acidentes ofídicos com maior número, equivalendo a 47,92% do to-
tal, seguido pelos acidentes escorpionicos com 40,58%, o que demonstra a similaridade de
incidência desse tipo de acidente no mesmo padrão territorial. Dentre os acidentes ofídicos
prevalentes, houve uma diminuição de 16,45% no número de casos entre os anos de 2015
e 2016.
Apesar das informações encontradas no DATASUS, minuciosamente analisadas, é
preciso levar em consideração a dificuldade de notificação desses acidentes e assim, des-
sas informações, principalmente em regiões interioranas, rurais e florestadas que levam a
subnotificação do agravo e divergência entre os dados reais e os dados publicados pelo
sistema de informação em questão (BOCHNER; STRUCHINER, 2002; DA SILVA et al.,
2019; CÂMARA et al., 2020).

CONCLUSÃO

O mecanismo inoculatório e as glândulas produtoras de peçonha são o que caracterizam


os animais peçonhentos. Entre esses animais, foi possível notar o protagonismo da serpente
no número de casos. Além das serpentes, as abelhas africanas, as aranhas, os escorpiões
e as centopeias merecem destaque devido sua letalidade e importância médica. Acidentes
com animais peçonhentos eram, segundo a OMS, uma doença tropical negligenciada e
considerados como emergência clínica.
Com relação aos fatores de risco, atividades antrópicas e alteração nos hábitats natu-
rais viabilizam ainda mais a recorrência de acidentes. Áreas rurais e florestadas aumentam
o risco de ocorrência desses. No Brasil, de 2007-2017 foram registrados mais de 95 mil
casos de acidentes de trabalho por animais peçonhentos em pessoas que exercem ativida-
des laborais, no estudo pôde-se observar que o maior número de acidentes ofídicos estava
relacionado ao gênero masculino entre 20-59 anos, uma vez que os homens são mais
envolvidos em setores agrícolas. Como agravante, essas áreas de risco são, geralmente,
distantes, o que aumenta o tempo de atendimento, elevando assim, o risco de sequelas e
a taxa de mortalidade.
No Brasil, o coeficiente de mortalidade por acidente de trabalho por animais peço-
nhentos cresceu de 0,83/1 milhão em 2007 para 1,78/1 milhão em 2017, tendo aumentado
também a letalidade em 24%. Norte e Nordeste são as regiões mais acometidas por aci-
dentes envolvendo animais peçonhentos. Nas áreas mais ao norte do país, regiões Norte,
Nordeste e Centro Oeste, é maior a incidência de acidente por envenenamento por serpentes

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 533


enquanto que, nas áreas mais ao sul, regiões Sudeste e Sul, observou-se maior incidência
de acidentes por escorpiões e aranhas.
Apresentaram maior incidência de acidentes por animais peçonhentos no ano de 2017
os estados de Espirito Santo, Amapá, Amazonas e Roraima. Estimou-se que Amazonas,
Goiás e Piauí foram os estados com os maiores coeficientes de mortalidade. No ano de
2017 os estados que registraram maior incidência de acidentes envolvendo serpentes foram
Amazonas, Roraima, Amapá e Espirito Santo. Os estados que obtiveram maior incidência
de acidentes com escorpião foram Espírito Santo, Amapá, Minas Gerais, Tocantins e São
Paulo. Quanto aos acidentes envolvendo aranhas, a incidência foi maior em santa Catarina,
Paraná, Espirito Santo, Minas Gerais e Rio Grande Do Sul.
A mesorregião do Baixo Amazonas, localizada a oeste de Belém, apresentou 12863
casos de acidentes ofídicos no intervalo de 2008 a 2017. O maior quantitativo de registros
ocorreu no ano de 2013, com 1456 ocorrências que correspondem a 11,31% dos casos
totais. O ano com menor número notificado foi 2008, quando houveram 1081 casos, o que
representa 8,40% da totalidade.
Entre os intervalos de 2010 a 2013 ocorreu um acréscimo de 22,14% nos índices de
notificação, seguido por um decréscimo de 22% no período entre 2014 e 2016. No entanto,
no ano subsequente os casos retomaram crescimento de 14,51%. Conforme tais registros
realizados pelo SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) referentes a me-
sorregião do Baixo Amazonas no período retratado, a faixa etária mais prevalente encontra-se
entre 20 e 39 anos, seguidos pela faixa de 40 a 59 anos e depois pelo grupo etário de 15
a 19 anos, correspondendo respectivamente a 37,45%, 23,97% e 11,16%. Em vista disso,
conclui-se que o estudo em questão alcança o padrão etário de acidentes encontrado em
outros artigos, que configuram a fase de vida laboral com o maior risco. Dentre as principais
formas de acidentes com animais peçonhentos, os acidentes ofídicos representam a maior
parcela dos incidentes regionais (47,92%), seguidos pelo escorpionismo (40,58%).
Acidentes por animais peçonhentos são considerados, no Brasil, um problema de saúde
pública, por assim serem, os incidentes devem ser incluídos nos sistemas de informação
como notificação compulsória. Atualmente os dados correspondentes a acidentes por animais
peçonhentos são recolhidos pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN),
mas o sistema ainda apresenta falhas no registro devido problemas de subnotificação, não
alimentação do banco de dados e classificação errônea das fichas de notificação por equipes
de saúde não treinadas.
Os estudos em questão foram minuciosamente analisados, contudo é importante res-
saltar a possibilidade de subnotificação em decorrência de empecilhos como a grande área
territorial do estado, a distância entre os grandes centros e as zonas interioranas, a dificul-

534 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


dade de transporte, fatores esses que dificultam o acesso à resolução dos incidentes com
animais peçonhentos.

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536 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


41
“ Coinfecção da hepatite B e
Delta na Amazônia: artigo de
atualização

Paula Lavigne de Sousa Costa Caroline Lobato Pantoja


UNIFAMAZ UNIFAMAZ

Monique de Almeida Hingel de Andrade Ana Paula Santos Oliveira Brito


UNIFAMAZ
UEPA

Victor Vieira Silva


Hamilton Cezar Rocha Garcia
UNIFAMAZ
UEPA

Ana Carolina Cunha Costa


UNIFAMAZ Andrey de Almeida Carneiro
CESUPA

Ayumi Miura Fialho da Silva


UNIFAMAZ Tabata Valéria Leão

Poliana da Silva Oliveira Andrew Silva Matos


UNIFAMAZ

Artigo original publicado em: 2/2020


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700765
RESUMO

Objetivo: Discutir os achados na literatura referentes a coinfecção Hepatite B e Delta


na Amazônia. Métodos: Os dados foram coletados mediante revisão da literatura com
base no PRISMA, a partir dos descritores “Coinfecção”, “HBV”, “Hepatite B”, “Hepatite D”
e “Amazônia”, publicados no Scielo, Lilacs, MedLine e Pubmed. O estudo foi realizado
mediante a análises de artigos originais e de revisão on-line nos idiomas português,
espanhol e inglês nos últimos 5 anos. Como critério de exclusão foram estabelecidos
artigos repetitivos, além de artigos não pertinentes à busca dos descritores. Resultados:
Coletou-se 30 artigos científicos, nos quais 12 estavam dentro dos critérios de exclusão
e 18 trabalhos nos de inclusão. Os quais apontam que ambos os vírus são transmitidos,
principalmente, por via sexual. Quanto à variabilidade genética, o HBV possui oito
genótipos bem característicos. A clínica é variada, havendo a necessidade de o HDV ter
a presença do HBV para o curso da doença. O interferon peguilhado é a melhor escolha
terapêutica. Além disso, novos medicamentos estão sendo desenvolvidos visando um
tratamento mais acessível e eficaz. Conclusão: A literatura brasileira acerca da co-
infecção do vírus da hepatite B e D carece de estudos de melhor evidência, evidenciando
a necessidade de novas pesquisas.

Palavras-chave: Coinfecção; HBV; Hepatite B; Hepatite D; Amazônia.


INTRODUÇÃO

O vírus da hepatite B (VHB) foi caracterizado em 1971 e em 1977 foi descoberto um


novo antígeno no núcleo das células hepáticas infectadas pelo VHB, sendo este denomi-
nado de antígeno Delta (OLIVEIRA MS, et al., 2015; LORENC B, et al., 2017). O Vírus da
hepatite D (VHD) é considerado um vírus incompleto, pois requer a presença do antígeno
de superfície do VHB (HBsAg) para a montagem de partículas virais infecciosas, já que este
fornece moléculas que servem de invólucro e proteção para o VHD (VILLA DI FILIPPO D,
et al., 2015; GHADIR MR, et al., 2012).
Atualmente, as infecções por vírus B e D constituem um grave problema de saúde
pública mundial. Na América do Sul, predominantemente na Bacia Amazônica, casos de
hepatite grave e insuficiência hepática têm sido geralmente associados à infecção VHD
e, no Brasil, apresentam indicadores elevados na região Amazônica, concentrando-se na
Amazônia Ocidental.
De 1999 a 2017 foram notificados no SINAN, 587.821 casos confirmados de hepatites
virais sendo 37,1% de Hepatite B e 0,7% de hepatite D. A região Norte acumula 75% do total
de casos de hepatite D no Brasil. Em 2017 foram notificados 159 casos no país sendo 87
(54,7%) na região Norte onde a maioria dos casos foi no sexo masculino e a forma crônica
foi a que apresentou maior percentual na classificação clínica dos casos notificados (VILLA
DI FILIPPO D, et al., 2015; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Sua origem de diversidade
genética tem relação com uma área isolada geograficamente. Até o momento, 8 genótipos
foram identificados e classificados como HDV-1 a HDV-8 (CRISPIM MAE, et al., 2014; BO-
TELHO-SOUZA LF, et al., 2017).
O HBV é um vírus de DNA (Ácido desoxirribonucleico), pertencente à família Hepad-
naviridae e sua partícula viral é envolvida por um envelope lipoproteico que contém suas 3
formas de antígenos: o HBcAg, localizado no núcleo; HBsAg, localizado na superfície; e o
HBeAg, antígeno presente durante os processos replicativos do vírus. Enquanto o HDV é
membro da família Deltaviridae com genoma RNA (ácido ribonucleico), capaz de infectar
também vegetais, que possui também um envelope bilípidico com as 3 formas do HBsAg,
dos quais do HDV depende para continuar seu ciclo reprodutivo. A única proteína codificar
essencialmente por esse vírus é o HDV-Ag (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015; ZHANG, 2018).
Quanto ao seu ciclo replicativo, o HBV infecta células hepáticas, sendo internalizado
por endocitose. Após a liberação de seu genoma, este será incorporado à célula e utilizado
para produção de novas partículas virais (CHABROLLES, et al, 2018). Já o HDV se liga
com células hepáticas por meio de uma proteína de superfície do HBsAg e um receptor de
membrana, adentrando o complexo celular, de modo que o HBV é necessário para o contato
inicial entre o HDV e o hospedeiro, para então iniciar a formação de novas partículas virais

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 539


(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015).
O quadro clínico das hepatites virais agudas é diversificado, variando de forma assinto-
mática à insuficiência hepática aguda grave. Predominam sintomas inespecíficos, iniciados
3 a 7 dias depois da infecção, como fadiga, anorexia e náuseas. Também podem ocorrer
sintomas típicos de síndromes hepáticas, como colúria, acolia fecal e icterícia. A forma crô-
nica da hepatite costuma ser assintomática, causando sintomas apenas quando atingem
níveis mais avançados, como carcinoma hepatocelular e cirrose hepática (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2015; FARCI P e NIRO GA, 2012).
A coinfecção do HBV e HDV é capaz de levar a infecção crônica com complicações
como: poliartrite, glomerulonefrite, polimialgia reumática, crioglobulinemia, especialmente
cirrose hepática e carcinoma hepatocelular (CHC) devido a circulação de imunocomplexos
de mais de uma classe de imunoglobulinas. A possibilidade de coinfecção deve ser sempre
pensada nos pacientes que apresentarem boa resposta ao tratamento anti-HBV com baixa
replicação do vírus, mas, mesmo assim, apresentam inflamação ativa e progresso hepático
negativo (LORENC B, et al., 2017). Desse modo, este artigo objetiva apresentar, discutir e
revisar os achados da literatura referentes a coinfecção Hepatite B e Delta na Amazônia.

MÉTODOS

Tal revisão foi elaborada de acordo com o método PRISMA (Principais itens para Relatar
Revisões sistem[áticas e Meta-análises), anteriormente denominado QUORUM (Qualidade
dos Relatos de Meta- análises), o qual é constituído por um check list de 27 itens, os quais
buscam padronizar o processo de escrita de revisões sistemáticas, conforme sintetizado
pelos autores desse trabalho no (Quadro 1) (GALVÃO TF, et al., 2015).
Os dados foram coletados mediante revisão de literatura utilizando descritores do DECs
(Descritores em ciências da Saúde) e MeSH (Medical Subject Headings), como: ”Coinfecção”,
“HBV”, “Hepatite B”, “Hepatite D”, “Amazônia”.
Como base de dados foram usadas: Scielo, Lilacs, MedLine, Pubmed. Como critérios
de inclusão foram estabelecidos artigos originais e de revisão sistemática, desde que publi-
cados integralmente on-line nos idiomas português, espanhol e inglês no período de 2014
a 2019, utilizando os descritores já citados acima nos idiomas previamente selecionados.
Também foram incluídos artigos fora do período supracitado, desde que possuíssem
grande pertinência para elaboração deste trabalho. Como critérios de exclusão desconsi-
derou-se artigos publicados fora do período estabelecido, artigos que não tratavam direta-
mente da Hepatite B e Delta. Dissertações, capítulos de livros e manuscritos também foram
excluídos, assim como trabalhos que não apresentaram no título, resumo ou texto acerca
assunto chave desta revisão.

540 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


A seleção dos artigos a partir dos descritores citado foi realizada nas seguintes etapas:

– Exclusão inicial dos artigos com base apenas nos seus títulos e nos critérios de in-
clusão e exclusão definidos pelos autores no processo metodológico.

– Exclusão secundária dos artigos selecionados na etapa anterior com base nos seus
resumos, também comparando aos critérios de inclusão e exclusão elaborados
pelos autores.

– Leitura integral dos artigos restantes das etapas anteriores e manutenção apenas
daqueles que se adequaram aos critérios de exclusão e inclusão e foram conside-
rados pertinentes para construção desse trabalho.

Quadro 1. Simplificação dos principais itens do Check list PRISMA.

Seção do trabalho
Descrição do item

O título deve deixar claro o tipo de artigo em questão, seja ele revisão sistemática e/
Título
ou metanálise.
O mesmo deve ser estruturado e possuir todos os tópicos encontrados dentro do arti-
Resumo
go, destacando os principais pontos dele.
Discursar acerca do assunto a ser abordado, dados atualizados dos mesmos e a im-
Introdução
portância da realização de uma revisão de literatura sobre o tema.
Esclarecer que será feita discussão e análise dos artigos selecionados pelos autores
Objetivo
como pertinentes disponíveis na literatura médica.
- Esclarecer se foi seguido um protocolo de construção de revisões sistemáticas e
oferecer referências para o acesso do mesmo pelos leitores.
- Definir os descritores de pesquisas utilizados e as plataformas de pesquisas de
dados que foram escolhidas.
- Delimitar as características dos artigos a serem selecionados, como anos de publi-
Metodologia cação, revistas, tipos de estudos, idioma.
- Selecionar critérios para exclusão de artigos que possam interferir negativamente ou
que não se adequam à construção desse artigo.
- Descrever todas as etapas sequenciais realizadas pelos autores, desde leitura de
títulos, resumos e íntegra do estudo e como foi feita a análise deles por meios dos
critérios de inclusão e exclusão.
- Apresentar o número total de artigos encontrados e o número dos incluídos nessa
Resultados
revisão em cada etapa do processo de seleção.
- Sumarizar os principais resultados e sua força de evidência, conforme disponibili-
dade.
- Tratar da importância dos achados de acordo com grupos específicos, como profis-
Discussão
sionais da saúde, usuários do sistema de saúde e para formulação de novas políticas
públicas.
- Discutir limitações e vieses na elaboração da revisão sistemática
Relatar interpretação geral dos resultados e discussão supracitados e destacar re-
Conclusão/Considerações finais
levância do estudo em questão.
Descrever fontes de financiamento e suporte para construção da revisão sistemática,
Financiamento
se houverem os mesmos.

Fonte: Costa PLS, et al., 2019.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 541


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os autores delimitaram o total de 35 artigos de acordo com a metodologia anterior-


mente citada, dentre estes apenas 26 foram mantidos com base na aplicação dos critérios
de exclusão e inclusão.

Quadro 2. Artigos utilizados para confecção dessa revisão sistemática.

Autores Ano Revista Objetivo Principais resultados


Reportar os resultados de Myrcludex B foi bem tolerado, sem efeitos
um estudo piloto em pacien- colaterais. Obteve excelentes resultados na
Bogomolov P, et al. Journal of Hepa- tes com infecção crônica por redução sérica do HDV RNA e normalizou
2016
(2016) tology hepatite D tratados com myr- as dosagens de ALT quando comparado à
cludex B, inferferon alfa pe- monoterapia.
guilhado ou sua combinação.
Há falta de uma medicação efetiva no trata-
mento da hepatite delta. Porém, há relatos
Revisar e reunir os principais
Botelho-souza LF, et al. Virology Journal de sucesso terapêutico com diminuição dos
2017 aspectos clínicos e virológi-
(2017) níveis de HDV e HBsAg, além de normali-
cos da hepatite delta
zação de ALT, em pacientes tratados com
IFN-peguilhado.
Futuros ensaios clínicos devem considerar
Avaliar os dados existentes
as interações virais entre HBV e HDV. Den-
acerca do tratamento da in-
tre as substâncias estudadas, o myrcludex
fecção por HDV e sugerir
Yurdaydin C, et al. Journal of hepa- B é o que apresenta melhor resposta e esta
2019 metas de tratamento que
(2019) tology é progressiva de acordo com a duração te-
possam ser usadas no segui-
rapêutica. Enquanto o Lonafarnib tem res-
mento de diferentes ensaios
postas virais precoces mais profundas.
clínicos

Em Queensland, os pacientes com HDV sé-


Investigar a epidemiologia,
rico positivo são nascidos no exterior, parti-
International Jour- características clínicas e des-
cularmente na África. Além disso, infecção
Coghill S, et al. (2018) 2018 nal of Infectious fechos da infecção pelo vírus
por HDV está associado com redução da
Diseases da hepatite delta em Queens-
viremia pelo HBV e doença hepática mais
land, Austrália.
avançada.
HBV/A prevaleceu, sendo seguido pelo HB-
Descrever os genótipos de V/D e F. Sendo que o HBV/A predominou
Crispim MA, et al. BMC Infectious
2014 HBV e HDV circulantes na em doadores de sangue. Apenas o genótipo
(2014) Diseases
região amazônica brasileira. 3 do HDV foi detectado, sendo predominan-
te HBV/F-HDV/3 e HBV/D-HDV/3.
O HDV tem alta patogenicidade e a hepa-
tite D crônica gera grande dificuldade para
Farci P, Nigo GA. Seminars in liver Descrever as características
2012 terapia antiviral. A falta de uma vacina es-
(2012) disease clínicas da hepatite D
pecífica para o HDV seria o único meio de
eliminar o risco de superinfecção.
A prevalência de infecção por hepatite D na
Determinar a prevalência de
Província de Qom é de 0,03%. Sendo que
hepatite D na população da
a prevalência de hepatite D em pacientes
Ghadir M, et al. (2012) 2012 província de Qom e o fator de
Hepat Mon HBsAg positivos foi de 2%. Não houver sig-
risco potencial para adquirir
nificância da relação de hepatite D com ta-
HDV.
tuagens, histórico cirúrgico e dentário.
Mostrar que o RNA do HDV é A inibição da replicação do HDV é real, po-
Han Z, et al. (2011) 2016 Plos One apenas parcialmente inibiado rém pouco eficiente, necessitando de con-
pelo uso do interferon. centrações maiores de interferon.

542 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Determinar os efeitos do ini- Tratamento do HDV crônico com lonafarnib
bidor de prenilação lonafar- reduziu significativamente os níveis do vírus
Koh C, et al. (2015) 2015 The Lancet mib nos níveis de HDV RNA circulante. Sendo que essa redução foi dire-
em pacientes com hepatite D tamente relacionada com os níveis séricos
crônica. da droga.
Infecção por HDV deve ser considerada em
Clinical and pacientes com HBV minireplicação. Aultos
Apresentar 2 casos de infec-
Lorenc B, et al. (2017) 2017 Experimental níveis de aminotransferases e progressão
ção por Hepatite B, C e D
Hepatology da doença hepática invés de uma boa res-
posta à terapia para hepatite B.
Estimar a prevalência de
Infecção por HDV entre pa-
Journal of Infec- cientes com HBsAg positivo
Makhlouf NA, et al. 43% dos pacientes com HBsAg positivo fo-
2019 tion and public no alto egito e determinar
(2019) ram soropotivos para anti-HDV..
health características clínicas, labo-
ratoriais e virológicas dos pa-
cientes com hepatite D.
Ministério da Saúde – Prestar informações acerca A região Norte acumula 75% do total de
Boletim epidemio-
Secretaria de vigilância de dados epidemiológicos re- casos de hepatite D no Brasil. Em 2017 fo-
2018 lógico – Hepatites
em Saúde. (2018) ferentes às hepatites em todo ram notificados 159 casos no país sendo 87
virais
território nacional brasileiro. (54,7%) na região Norte.
Ampliar as possibilidades de
Ministério da saúde –
Manual técnico diagnóstico das hepatites vi-
Secretaria de
para diagnóstico rais e orientar profissionais O quadro clínico das hepatites virais é di-
vigilância em saúde. 2015
das hepatites da saúde nos passos neces- versificado.
(2015)
virais sários à realização do diag-
nóstico das hepatites virais.
Protocolo clínico
Promover instrução de profis-
Ministerio da saúde – e diretrizes
sionais da saúde, fortalecer Uso de marcadores sérico de imunidade
Secretaria de vigilância terapêuticas para
2017 a promoção à saúde, vigilân- (anti- HBs), verificar a presença do antígeno
em saúde. (2017) Hepatite B
cia, prevenção e controle dos na superfície do HBV (HBsAg).
e coinfecções
agravos.

Há maiores evidências apontando a trans-


Reunir e discutir os princi-
missão sexual do vírus. O tratamento atual
pais achados literários que
para o HDV é baseado no IFN, mas novos
Noureddin M. e Gish R. Current gastroen- envolvem a epidemiologia,
2014 estudos apontam sobre o uso de outros me-
(2014) terology reports o diagnóstico e o manejo da
dicamentos. São necessários mais estudos
hepatite D após 36 anos de
internacionais e consciência populacional
sua descoberta.
acerca da infecção por HDV.
Revista de Correlacionar aspectos clí-
epidemiologia e nicos, bioquímicos e soroló- O grupo com infecção associada ao vírus D
Oliveira MS, et al.
2015 controle de gicos entre pacientes com apresentou pior prognóstico do que o grupo
(2015)
infecção infecção por VHB e superin- com moninfecção pelo vírus B.
fecção por VHD.
Hepatite D continua um problema médico
Cold Spring Har- Discutir os principais pontos comum em usuários de drogas injetáveis,
Rizzeto M. (2015) 2015 bor perspectives epidemiológicos da hepatite assim como imigrantes vindos de áreas en-
in medicine D. dêmicas, os quais acabam por reintroduzir
a infecção no continente europeu.
O mecaniso que envolve as transformações
Dissertar acerca dos meca-
malignas que culminam no hepatocarcino-
nismos fisiopatológicos asso-
Shirvani- Dastgerdi E, Current opinion in ma permanecem não entedidos, parcial-
2016 ciados com o desenvolvimen-
et al. (2016) virology mente devido à falta de modelos experi-
to de hepatocarcinoma por
mentais adequadas para dissecção in vivo
hepatite B, C e D.
do processo da doença.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 543


Revisar o conhecimento atual
do manejo da monoinfecção Tratamento precoce da infecção crônica por
Siederdissen HCZ e
2016 Visceral medicine por HDV e da co-infecção por hepatite B e D é importante para prevenir as
Cornberg M. (2016)
HBV/HDV com ênfase espe- complicações da cirrose.
cial na cirrose.
Destaque-se a importância da avaliação
Revisar os aspectos clínico-
diagnóstica, da instituição da terapêutica
-epidemiológicos, diagnósti-
Revista Brasileira adequada e do emprego das medidas pre-
Silva ALS, et al. (2012) 2012 cos, terapêuticos e profiláti-
de Clínica médica ventivas para tais infecções, elementos que
cos das infecções virais por
devem ser solidamente conhecidas pelo
tais agentes.
clínico.
Apresentar aos profissionais
Sociedade Brasi- de saúde as principais reco- Indica-se terapia análogos de nucleotídeos
SBH (2015) 2015 leira de Hepato- mendações da SBH acerca e IFN para pacientes VHB e HDV-RNA po-
logia do diagnóstico e tratamento sitivos por 48 semanas.
da hepatite B e D
As terapias atuais atuam primariamente al-
cançado a supressão viral e mais raramen-
Deutsche medizi- te negativando o HBsAg. Novas estratégias
Descrever o tratamento atual
Tackle F. (2019) 2019 nische wochens- e novos medicamentos têm sido desenvol-
e futura para hepatite B e D
chrift vidos em ensaios clínicos, a exemplo do
Myrcludez que é um inibidor potencialmente
usado no futuro próximo.
Identificar os casos de HDV
e/ou HBV assintomáticos en- Foi encontrado uma alta frequência de ca-
tre ameríndios do estado do sos no estado do Amazonas e na Colômbia.
Villa, et al. (2015) 2015 Virology Journal Amazonas, sudeste da Co- A circulação de HDV 3 e HBV-F1B sugere
lômbia, e descrever os genó- que a circulação destes genótipos decorre
tipos virais circulantes nessas da interação de ambas as populações.
populações.
Liver Internatio-
O estudo destaca a heterogeneidade das
nal: oficial Journal Descrever as características
características dos pacientes e dos desfe-
of the Internatio- clínicas e virológicas dos pa-
chos clínicos em diferentes regiões do mun-
Wranke A, et al. (2018) 2018 nal Association cientes com HDV e o trata-
do. Há uma necessidade urgente de opções
for mento em diferentes regiões
terapêuticas para o tratamento da infecção
the study of the ao redor do mundo.
por HDV.
Liver.
A replicação ativa do HDV induz uma res-
posta pelo IFN alfa e beta, a qual é predo-
Caracterizar a ativação do
minantemente mediada pelo MDA5. Essa
Journal of Hepa- IFN pelo HDV e avaliar o
Zhang Z (2018) 2018 resposta do IFN e o tratamento IFN exóge-
tology efeito do IFN na replicação
no gera um efeito moderado na replicação
do HDV.
do HDV in vitro, indicando a adaptação do
vírus.
A terapia atual reduz a viremia, mas não
Tratar sobre as múltiplas fun-
Chabrolles H, et al., Medecine scien- retira o vírus dos hepatócitos, por isso há
2018 ções da proteína core do ví-
(2018) ces: M/S necessidade urgente de desenvolver novos
rus da hepatite B
fármacos.

Fonte: Costa PLS, et al., 2019.

A partir dos artigos evidenciou-se que ambos os vírus são transmitidos, principalmente,
por via sexual. Mas também podem ser por via vertical, transfusional e parenteral (SILVA ALS,
et al., 2013; RIZZETO M, 2015; COGHILL S, et al., 2018). Diferentes autores mencionaram
que fatores socioculturais como, densidade populacional, realização de tatuagens, ativida-

544 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de sexual são importantes na transmissão. Além de que fatores de constituição genética
da população amazônica são prováveis mediadores da resposta imunológica favorecendo
a manutenção do estado de portador do VHB nessa região (BOTELHO SOUZA LF, et al.,
2017; RIZZETO M., 2015; WRANKE A., et al., 2017).
Quanto à variabilidade genética, afirmou-se que o HBV possui alta variabilidade, a qual
compreende oito genótipos bem característicos, A ao H, além de mais dois novos genótipos
propostos, I e J, com apresentação distinta de acordo com a distribuição geográfica variável,
além de influenciar nas manifestações clínicas. A Amazônia brasileira (delimitando as áreas:
bacias dos rios Juruá, Solimões e Purus, no estado do Amazonas) é considerada uma região
com alta endemicidade para o HBV e HDV, em que o quais representam importantes pro-
blemas de saúde pública com casos graves de hepatite aguda e crônica por HDV (CRISPIM
MAE, et al., 2014). O genótipo A do HBV prevalece no Brasil, seguido dos genótipos D e F,
o mais recente. Sendo que o genótipo F é mais encontrado em tribos indígenas isoladas da
sociedade. Quanto ao HDV, predomina no Brasil o genótipo 3. A diferença de genótipo pode
implicar no resultado do tratamento. Estudos revelam que pacientes portadores de HBV com
os genótipos A e B possuem uma melhor resposta a terapia baseada no interferon quando
comparados aos portadores do genótipo C e D (CRISPIM MAE, et al., 2014).
A apresentação clínica pode variar conforme a forma em que a infecção ocorreu e é
descrita de maneira bem variada na literatura. A maioria dos autores dividem em superin-
fecção, que corresponde à doença em que o paciente já possuía o vírus da Hepatite B e
posteriormente adquiriu o HDV; e coinfecção, que corresponde ao paciente que adquiriu os
dois vírus ao mesmo tempo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015). A coinfecção, cursa como uma
hepatite aguda, a qual pode ser monofásica ou bifásica, sendo a primeira fase dependente
do HBV e a segunda apenas do HDV. Enquanto a superinfecção desenvolve uma hepatite
fulminante com maior risco de cirrose carcinoma hepatocelular. Os pacientes que possuíam
hepatite B assintomática passam a desenvolvê-los nesse momento e os pacientes sintomá-
ticos possuem somente exacerbação dos sintomas (BOTELHO-SOUZA LF, et al., 2017).
O curso da hepatite D é extremamente dependente do HBV. No caso da coinfecção,
o paciente cursa com uma hepatite B e D agudas com tempo de incubação dependente
do título do inóculo inicial e progressão autolimitada. Os sintomas surgem em 3 a 7 dias e,
dentre eles, destaca-se: fadiga, anorexia, náuseas e icterícia. Apenas 5% dos pacientes
evoluem à forma crônica. Enquanto a superinfecção ocasiona uma hepatite aguda grave
com incubação curta e cronificação em 80% dos casos. O indivíduo pode desenvolver uma
hepatite fulminante ou crônica severa, evoluindo com mal prognóstico. A evolução para a
cirrose ocorre cerca de 2 anos após a infecção. A mortalidade é cerca de dez vezes maior
nessa superinfecção que na hepatite B isolada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 545


Desse modo, o momento em que a doença é adquirida e a correlação com infecção
prévia ou não pelo HBV influencia diretamente na história natural da doença, curso clínico
e possíveis complicações, conforme ressaltado no Quadro 3.

Quadro 3. Dados que diferenciam a superinfecção e a coinfecção.

SUPERINFECÇÃO COINFECÇÃO

O paciente já era portador do HBV quando contraiu o HDV; O paciente contrai os 2 vírus ao mesmo tempo;
Hepatite aguda fulminante; Hepatite aguda monofásica ou bifásica;
Tempo de incubação curto; Tempo de incubação variável;
Grande tendência à cronificação; Pouca tendência à cronificação;

Fonte: Costa PLS, et al., 2019.

Não foi encontrado na literatura pesquisada discordância à cerca do diagnóstico da


coinfecção HVB/HVD. Desta forma, o primeiro passo para o diagnóstico do HDV foi o de-
senvolvimento de sorologias específicas, como o anti-HDV IgM e IgG, em pacientes com
positividade para HbsAg e com elevação de aminotransferases, e carga viral do HBV < 2.000
UI (unidades). Se o paciente apresentar algum destes positivos, é necessário a realização
do HDV-RNA, para determinar se a presença do anticorpo reflete uma infecção ativa ou
não e também qual o genótipo infectante. Se o mesmo der negativo, é recomendando que
o exame seja repetido (SBH, 2015; SHIRVANI-DASTGERDI E., 2016). Se necessário, tam-
bém pode ser realizada a biópsia hepática com histopatologia, esta é capaz de estabelecer
um diagnóstico definitivo, associada a métodos bioquímicos inespecíficos como ALT/AST
(Alanina aminotransferase/Aspartato aminotransferase). Além disso, esses pacientes devem
ser pesquisados para outros vírus, como o vírus da hepatite C (BOTELHO-SOUZA LF, et
al., 2017). É imprescindível distinguir qual o tipo de infecção (co-infecção ou superinfecção),
já que o manejo para cada tratamento é diferente (SBH, 2015).
Para o Ministério da saúde, as recomendações de diagnóstico consistem na presença
do HBsAg ou Anti- HBcIgM ou HBeAg reagentes associados a 1 ou mais marcadores soro-
lógicos que confirmem a hepatite delta, são eles: Anti-HDV total reagente e/ou Anti-HDV IgM
(imnunoglobulina M) reagente. Lembrando que é recomendado que todo paciente HBsAg
positivo seja investigado para hepatite D, se morar em área endêmica ou tiver viajado para
tal (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015; NOUREDDIN M, et al., 2014). Como forma de observar
o comportamento infecioso são utilizados a mensuração de vírus presente no sangue (carga
viral/HBV-DNA), uso de marcadores sérico de imunidade (anti-HBs), examinar do antígeno
presente na superfície do HBV (HBsAg). Conforme a depleção do HbsAg e da carga viral,
juntamente ao surgimento do anti-HBsAg, sugerem solução da infecção pelo HBV, em sua
maioria. Pontualmente, há a possibilidade de evolução da doença para sua forma crônica,

546 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


ainda que haja o perfil viral e sorológico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
Histopatologicamente, a hepatite aguda por HDV se apresenta com necrose e inflama-
ção hepatocelular com injúria focal, porém não é um achado específico de hepatite D, entre-
tanto, são achados de caráter mais intenso nessa doença. No caso da hepatite D crônica,
os achados são iguais aos da aguda, acrescentando- se somente o aparecimento de áreas
fibrosadas. Por outro lado, o HDAg é encontrado em quantidade reduzida na forma crônica
da doença e na forma aguda é encontrado em grande quantidade (BOTELHO- SOUZA LF,
et al., 2017).
A hepatite B e C frequentemente levam à cirrose, fibrose e carcinoma hepatocelular
como complicações.18 A coinfecção HBV/HDV aumenta ainda mais o risco para o desen-
volvimento deste câncer, ainda que a replicação do HBV seja suprimida pelo HDV (SHIR-
VANI-DASTGERDI E., et al., 2016; MAKHLOUF NA, 2019). Além disso, a progressão da
doença hepática torna-se muito mais rápida, devido ao maior estímulo ao sistema imune,
que, na tentativa de eliminar o vírus, degrada progressivamente o tecido hepático (SHIR-
VANI- DASTGERDI E, et al., 2016 e YURDAYDIN C, et al., 2019).
Infecções de longo tempo pelo HDV gera aumento do estresse oxidativo nos hepatóci-
tos, inflamação imunomediada, mutações e câncer. Enquanto o HBV contribui para o desen-
volvimento do câncer por meio da hipo e hipermetilação do DNA, aumentando os riscos de
mutações. (SHIRVANI-DASTGERDI E., et al., 2016). Comparando com as outras hepatites
virais, o HDV é o maior responsável por essa evolução desfavorável citada. Também são
citados outros fatores que relacionados a essa coinfecção aumentam significativamente o
risco de cirrose e CHC (Carcinoma hepatocelular), são eles: níveis muito elevados do HBV
RNA, idade avançada, gênero masculino, níveis muito elevados de ALT, grande quantidade
de HBsAg e HBV genótipo C (FARCI P, et al., 2012). No Brasil, o escore de MELD-PELD
(Model For End-Stage Liver Disease – Pediatric End-Stage Liver Disease) e o Child-Pugh
(Classificação de Child-Turcotte-Pugh) são recomendados para estabelecer o prognóstico
do paciente e determina quais necessitam de transplante hepático (NOUREDDIN M., et al.,
2014).
Quanto ao tratamento, suas indicações seguem recomendações em que haja a cirrose
ausente ou presente, no indício de agressão hepatocelular (aumento de aminotransferases,
fibrose, outros) e replicação viral relevante (HBV> 2000 UI/mL – Unidades por mL). Nesse
sentido, o BEA score (baseline-event-antecipation) constitui um complemento muito útil nos
pacientes infectados com hepatite D, pois ajuda na decisão de quais pacientes precisam ser
tratados imediatamente (FARCI P e NIRO GA, 2012).
De acordo com o Ministérios da saúde brasileiro (MS), todos os pacientes portadores de
hepatite Delta são candidatos à terapia composta por alfapeguinterferona 2a e/ou um análogo

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 547


de nucleosídeo (tenofovir ou entecavir) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). O interferon pegui-
lhado constitui a melhor forma de terapia atual contra a coinfecção B e delta, havendo boa
eficácia em 40% dos pacientes, dos quais 25% passam a ter o RNA HDV negativo após 48
semanas (LORENC B, et al., 2017). Enquanto que análogos de nucleosídeos e nucleotídeos
são considerados ineficazes contra o HDV, porém são úteis na infecção isolada do HBV,
sendo sua terapia padrão (TAKLE, 2019). Após 1 ano de tratamento monoterápico espera-se
HDV RNA negativo, caso contrário é indicado o acréscimo do segundo ano de tratamento
(SILVA ALS, 2013). Além disso, destaca- se que o interferon é totalmente contraindicado em
pacientes com cirrose descompensada. Para o controle de cura é analisada a negativação
dos níveis de HDV RNA e normalização dos níveis de transaminases (BOTELHO-SOUZA
LF, et al., 2017).
Seja qual for o tratamento, ele deve ser suspenso, caso haja: efeitos colaterais impor-
tantes; não aderência ao tratamento, situações em que há contraindicação do modelo de
tratamento (ex.: gestação e alfapeguinterferona); reconhecimento de causa que necessita
substituir o tratamento (ex.: insuficiência hepática). Entretanto, deve destacar que no meio
científico a maioria dos autores consideram que o interferon atua melhor nas fases iniciais,
quando o HDV ainda está entrando nos hepatócitos, sendo menos eficazes quando o mesmo
já se encontra no meio intracelular (ZHANG, 2018; HAN Z., et al., 2011).
Por isso, novos medicamentos têm sido desenvolvidos, como o inibidor de entrada do
HBV Myrcludex, inibidor de prenilação, interferon lambda e polímeros de ácido nucleico (TAK-
LE F, 2019; BOGOMOLOV P., et al., 2016; KOH C, et al., 2015). Destaca-se que as terapias
atuais atingem principalmente a supressão viral, mas raramente a perda do antígeno, que
é considerada uma cura funcional. Dentre as terapias atuais mais estudadas, destaca-se o
Myrcludex B, o qual apresenta é muito bem tolerado e praticamente não apresenta efeitos
colaterais, além de que seus efeitos supressores têm caráter progressivo, de modo que pode
e deve ser usado em longa duração. Outro medicamento com bons resultados em ensaios
clínicos é o lonafarnib, o qual apresenta vantagens em relação ao Myrcludex B, pois seus
efeitos apresentam resultados mais intensos de maneira mais precoce e possui resultados
significativos até mesmo no tratamento da hepatite D crônica (YURDAYDIN C, et al., 2019;
BOGOMOLOV P, et al., 2016; KOH, et al., 2015) A doença pode ser reativada em situações
de imunodepressão, exigindo uma terapia antiviral profilática (TAKLE F, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, vislumbra-se que é fundamental a realização de mais estudos acerca


da coinfecção hepatite B e Delta, principalmente na região amazônica, devido sua grande
prevalência. Os autores declaram terem encontrado limitações em relação a pouca quantida-

548 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de de artigos atuais e cientificamente relevantes acerca do assunto. Por meio deste estudo,
acredita-se que o meio científico será estimulado à produção de mais conhecimento acerca
desta patologia, o que a longo prazo culminará no desenvolvimento de novas formas de
prevenção e diagnóstico, assim como medicações mais eficazes e consolidação de novos
fármacos que já estão em fase de teste. Além de proporcionar um prognóstico mais favorável
aos pacientes, reduzindo o risco de desfechos negativos.

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550 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


42
“ Comportamento de risco
para anorexia nervosa em
universitários do curso de
nutrição em uma instituição de
ensino superior em Belém - PA

Sheila Cristina Martins e Silva


FIBRA

Diana Souza dos Santos


FIBRA

Michele de Sousa Carneiro


FIBRA

Ingryd Letícia Prazeres Carvalho


FIBRA

Christian Nunes Aires


FIBRA

Artigo original publicado em: 12/2018


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200600544
RESUMO

Objetivo: Identificar os fatores de risco em adultos jovens do ensino superior para o


desenvolvimento de anorexia nervosa em uma faculdade particular de Belém – PA.
Metodologia: A população estudada foi constituída por 58 discentes matriculados no
curso em graduação em nutrição do 3º ao 8º período. Para a obtenção dos dados foram
utilizados avaliação antropométrica, questionários: sociodemográfico, EAT e escala de
silhuetas corporais. Resultados: Foram achados percentuais elevados de risco para
o desenvolvimento de Transtornos Alimentares (TA) (39,65%), segundo alteração de
percepção de imagem, insatisfação corporal e estado nutricional na população estudada,
sendo que este risco foi maior entre os acadêmicos que apresentam eutrófia. O fato
de a maioria dos universitários eutróficos apresentarem insatisfação de imagem por
excesso de peso ou por desnutrição grau I é extremamente preocupante e indica que
estes universitários, apesar de terem um IMC adequado, querem reduzir ainda mais
suas silhuetas. Conclusão: Ao associar os resultados obtidos nos quatro instrumentos
utilizados, a maioria dos avaliados se apresentou com risco para desenvolver TA como
anorexia.

Palavras-chave: Transtorno alimentar; Anorexia Nervosa; Adolescente.


INTRODUÇÃO

A alimentação é caracterizada por ser um fenômeno de grande complexidade que


envolve vários aspectos: psicológicos, biológicos, fisiológicos, sociais, econômicos, científi-
cos, políticos e culturais fundamentais na dinâmica da evolução das sociedades. No ato de
alimentar-se está inserido a história de cada indivíduo, suas lembranças, sentimentos, con-
flitos, estado emocional e social, e sua relação de forma ampla com o alimento (CANDIDO,
et al., 2010; PROENÇA, 2010; SILVA, 2013).
Apesar da alimentação acarreta inúmeros benefícios a saúde, a relação que o indivíduo
estabelece com o alimento está relacionado com o desenvolvimento de doenças, no qual vem
sendo associada com transtorno alimentar (TA). O desenvolvimento de TA está relacionado
com dietas extremamente restritas, consumo alimentar inadequado, insatisfação corporal,
comportamento compulsivo, ansiedade e medo de engordar, compensação de problemas
emocionais com a comida e radicalismo com as escolhas dos alimentos e calorias (CARAM
e LAZARINE, 2013; NUNES et al., 2017).
Os TA são desordens psiquiátricas que ocorrem, na maioria das vezes em adolescentes
e adultos jovens do sexo feminino, cerca de 90% dos afetados, e podem levar a grandes
prejuízos biológicos e psicológicos e ao aumento de morbidade e mortalidade. Eles são de
origem multifatorial como anteriormente citados. Estes aspectos determinam as dimensões
necessárias para o diagnóstico e o tratamento, devido à complexidade da condição clínica,
exige-se uma abordagem integral e multiprofissional, ou seja, uma equipe formada por mé-
dico, psicólogo, nutricionista, psiquiatra, enfermeiro, dentre outros (SILVA e MURA, 2014).
Desta forma, a presente pesquisa tem como objetivo identificar os fatores de risco para
o desenvolvimento de transtorno alimentar em universitários do curso de nutrição, de acordo
com o transtorno alimentar conhecido como anorexia nervosa.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo descritivo transversal, com adultos jovens dentro de uma
faixa etária de 18 a 23 anos de idade do 3º ao 8º semestre do curso de nutrição, matriculados
regularmente em uma faculdade particular, Belém - PA. Para a elaboração do referencial
teórico foi r ealizada pesquisa em livros, artigos científicos na base de dados da Scielo
(Scientific Electronic Library), Biblioteca Virtual de Saúde, ABESO (Associação Brasileira
para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), WHO (World Health Organization), IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e DeCS (Descritores em Ciências da Saúde).
Foi adotado um método quantitativo em função de verificar as variáveis pré-determina-
das, buscando verificar sua existência, relação ou influência sobre outra variável (TERENCE

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 553


e FILHO (2006).

Seleção da Amostra

A pesquisa foi realizada na Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA), no qual foi
desenvolvida com adultos jovens de ambos os sexos, na faixa etária entre 18 e 23 anos,
matriculados do 3º ao 8º semestre de 2018, período matutino, no mês de abril, acadêmicos
do curso de nutrição.
O número total de alunos matriculados nesta Instituição de Ensino Superior (IES) era
de 201 indivíduos. Desta forma, aceitando-se uma margem de erro de 5%, com um nível
de confiança de até 95%, a amostra para esta pesquisa foi de 58 indivíduos, número este
baseado na fórmula de cálculo de (SANTOS, 2016).
Fórmula de cálculo:

Onde:
n - amostra calculada N - população
Z - variável normal padronizada associada ao nível de confiança p - verdadeira proba-
bilidade do evento
e - erro amostral
Inicialmente, para a seleção da amostra, foi utilizada uma lista fornecida pela secretaria
acadêmica, onde o número de alunos matriculados, até aquela data, era de 201, dispostos
por período, nome do aluno, sexo e data de nascimento, onde foi possível estabelecer os
alunos que participaram da pesquisa de acordo com a idade preconizada (entre 18 e 23
anos), onde então, foi elaborada uma nova listagem somente com os alunos previamente
selecionados, para facilitar a identificação deles onde foi dado prosseguimento à entrega de
um Termo de Consentimento e Livre Esclarecimento (TCLE), posteriormente, ao recebimento
deste termo devidamente assinado pelos pesquisados, para então ser dado prosseguimento
à coleta de dados.
Foram inseridos os dados através dos questionários e codificados para serem inclusos
em tabela Excel, e realizado a estatística descritiva.

Aspectos Éticos

O projeto foi encaminhado ao CEP, com o objetivo de cumprir o disposto na Resolução


nº466/12 do Conselho Nacional de Saúde, aprovado, e posteriormente se deu continuida-

554 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de ao mesmo. Onde foi apresentado o TA para cada participante da pesquisa. A pesquisa
foi realizada de acordo com a resolução nº 466/12, do conselho nacional de saúde, após
aprovação pelo comitê de ética em pesquisa da faculdade integrada brasil Amazônia em
BELEM-PA, sob o parecer nº 2.582.440.

RESULTADOS

Foram analisados 58 universitários onde prevaleceu o sexo feminino com 84%, a faixa
etária da pesquisa que predominou 72% de 21 a 23 anos, e o período que predominou foi o
3º período 36% de acordo com a Tabela 1, onde utilizou-se o questionário sóciodemográfico.

Tabela 1. Frequencia absoluta e relativa dos gêneros, faixa etária e períodos dos alunos de nutrição de uma faculdade
particular Belém/Pará.

Gênero N %

Masculino 9 16%
Feminino 49 84%
Total 58 100%

Faixa etária N %

18-20 16 28%
21-23 42 72%
Total 58 100%

Período dos universitários N %

3º período 21 36%
5º período 5 9%
7º período 16 28%
8º período 16 28º
Total 58 100%

Fonte: Protocolo de pesquisa, 2018.

Constatou-se sobre o questionamento sócio demográfico com a seguinte pergunta:


“você pratica exercício físico”, nessa variável obteve-se a maioria 52% (n=30); dos acadê-
micos que não praticam exercício físico,e obteve-se segundo a variável “ tenho medo de
engordar ou ficar mais gordo”, obteve-se a predominância de 71% (n=41), que disseram
ter medo de engordar, e conforme a variável “ percepção com o físico te leva a fazer dieta”,
obteve-se a predominância de 60% (n=35), disseram que sim, tem preocupação em fazer
dieta, de acordo com a Tabela 2.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 555


Tabela 2 Frequência absoluta das repostas do questionário sócio demográfico.

“ Você pratica exercício fisico” N %


Sim 28 48%
Não 30 52%
Total 58 100%
“Você tem medo de engordar” N %
Sim 41 71%
Não 17 29%
Total 58 100%
“Você se preocupa em fazer dieta” N %
Sim 35 60%
Não 23 40%
Total 58 100%
“Você se sente insastifeito com seu corpo” N %
Sim 31 53%
Não 27 47%
Total 58 100%

Fonte: Protocolo pesquisa, 2018.

De acordo com o questionário sociodemográfico verificou-se segundo a variável “atu-


almente como você se sente”, predominou 44% (n=18), acadêmicos abaixo do peso, de
acordo com o (Gráfico 1).

Gráfico 1. Atualmente como você se sente.

Fonte: protocolo pesquisa, 2018.

A antropometria foi utilizada para identificar o estado nutricional dos universitários, ser-
vindo como um bom diagnostico através do IMC, portanto segundo a variável de avaliação
nutricional, verificou-se a predominância de 72% (N=42) de eutrófia. E segundo a avaliação
de percepção da imagem corporal predominou com 28% (N=16) com sobrepeso, de acordo
com o gráfico 2.

556 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Gráfico 2 – Percepção e relação da imagem corporal e IMC.

Fonte: Protocolo da pesquisa, 2018.

Segundo os dados do EAT (teste de atitudes alimentares), o resultado da amostra foi


39,65% (n=23), portanto, EAT positivo. Dentre os 58 questionários, obteve-se 23 acadêmi-
cos com resultado maior que 20, que é o ponto mínimo para ser considerado como fator de
risco de anorexia. Fato que justifica os resultados do estado nutricional de acordo com IMC,
que se obteve 72% (n=42) com eutrofia; e o resultado das silhuetas com apenas 16% (n=
9) que se veem com eutrofia.

DISCUSSÃO

Os transtornos alimentares são distúrbios psiquiátricos relacionados ao comportamento


alimentar com consequências nutricionais muito graves e de forte impacto na saúde dos
indivíduos. Os resultados obtidos nesta pesquisa são importantes indicadores de fatores
predisponentes de anorexia nervosa na população estudada.
Foram avaliados 58 universitários, do período do 3º, 5º, 7º e 8º semestre, sendo assim
a maioria possuiem conhecimento para identificar fatores de risco para TA, Anoreia nervosa
– NA, semelhante ao encontrado no estudo de Kirsten et al. (2009) e Reis e Soares (2017),
que obteve como resultado que os indivíduos que tem alguma preocupação com o controle
do peso e com a imagem corporal, optam pelo curso de nutrição e talvez este seja um dentre
vários motivos, que justifiquem os elevados percentuais de risco para o desenvolvimento
de TA.
Em relação à classificação do IMC a maioria se encontra com estado nutricional eu-
trofico, obtiveram resultados de sobrepeso e magreza grau I, II e III, estes achados foram
parecidos com os resultados de Minzon (2010), Souza et al. (2010), onde 75% dos estudados

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 557


apresentam eutrófia e 16,9% sobrepeso, 0,7% com magreza I, II, III. É importante ressaltar
que o Índice de Massa Corporal (IMC) não reflete o estado nutricional do adulto de forma
isolada, visto que pode subestimar a massa gorda e a massa magra.
Quando questionados “se pratica exercício físico”, a maioria dos participantes não
praticam exercício físico e são mais insatisfeitos com a imagem corporal comparados com
os ditos sedentários, corroborando com o estudo de Laus et al. (2006), desta forma, ressal-
ta-se a importância da prática de exercício físico para melhorar ou manter a qualidade de
vida em todas as faixas etárias de idade, como enfatiza os estudos de Silva, et al., (2010).
De acordo com o elevado percentual de eutrofia 72%, o mesmo não reflete os dados
de insatisfação com a imagem corporal, que obteve 16% apenas se vêm com eutrofia, nem
o Teste de Atitude Alimentar – EAT positivo 39,65%, o que pode ser confirmado através das
pesquisas realizadas por Batista e Bailão (2016), Reis e Soares (2017), onde 71,73% dos
pesquisados foram classificados como eutróficos pelo IMC e 38,8% EAT.
Em relação “a fazer dieta” 60%, dos pesquisados faziam dieta o que pode se relacio-
nar com a percepção da imagem que resultou em 22% de desnutrição. Outros estudos com
universitários apontam para a insatisfação corporal avaliada através da escala de silhueta
variando de 61,2% a 78,8%, na presente pesquisa o resultado foi de 94% o que corrobora
com os estudos de Reis e Soares (2017).
Dos acadêmicos pesquisados sobre “o medo de engordar”, a maoria relatou ter medo
de engordar e apresentavam estado nutricional eutrofico, porém quando foram questionados
“de como se sentia atualamente”, descreveram estar abaixo do peso, contrapondo-se ao
resultado de eutrofia na avaliação antropométrica, como constatado nos estudos de Minzon
(2010) sobre este questionamento.
A amostra de que foi objeto desta pesquisa descreveu uma realidade concordante com
o presumido inicialmente sobre os fatores de risco para TA - AN. A prevalência de indicativo
de TA foi de 39,65%, e apesar da maioria da amostra estar com IMC eutrofico, houve um
percentual alto (53%) de insatisfação corporal, valores similares ao identificado no estudo
Reis e Soares (2017), que foi possível observar um perfil preocupante entre os acadêmicos
do curso de nutrição IMC 72,7%, EAT 23,7% a 31,1% e insatisfação corporal 69,7%.

CONCLUSÃO

Ao associar os resultados obtidos nos quatro instrumentos utilizados, 23 universitários


apresentaram risco para desenvolver TA como anorexia nervosa, sendo que esta associa-
ção pode ser interessante na triagem de indivíduos suscetíveis ao desenvolvimento destes
transtornos. Os resultados deste estudo reafirmam a necessidade da realização de medidas
de conscientização e prevenção de TA com estudantes de Nutrição, bem como a realização

558 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de novos estudos que investiguem mais profundamente o tema em questão. A alimentação
tem um papel importante no desenvolvimento e manutenção de TA, trata-se de doenças
complexas e que precisa de um tratamento multiprofissional efetivo, e o nutricionista é o
único profissional qualificado a executar estratégias nutricionais visando à recuperação do
estado nutricional desses pacientes, orientando e aconselhando sobre uma dieta adequada.
O acompanhamento nutricional tem como objetivo desmistificar hábitos alimentares inade-
quados e constituir uma relação adequada com o alimento. Sendo assim o nutricionista está
inserido em qualquer esfera de apoio a esses pacientes, desde a prevenção até o tratamento.

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560 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


43
“ Conexão cavopulmonar
parcial como primeiro estágio
no tratamento do coração
univentricular em um centro na
Amazônia: resultados imediatos

Camila Magno Sozinho Pereira


FHCGV

Mauricio Fortuna Pinheiro


FHCGV

Renan Kleber Costa Teixeira


FHCGV

Kathia de Oliveira Harada


UFPA

Artigo original publicado em: 10/2019


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200600542
RESUMO

Objetivo: Analisar a eficácia da conexão cavopulmonar parcial como paliação primária


no tratamento do coração univentricular em pacientes com mais de três meses.
Métodos: Foram avaliados retrospectivamente os prontuários de pacientes portadores
de cardiopatias congênitas com fisiologia univentricular submetidos à conexão
cavopulmonar como primeiro estágio. Foram avaliados os seguintes parâmetros: idade,
sexo, diagnóstico anatômico, cardiopatias associadas, tempo de circulação extracorpórea,
tempo de intubação, tempo de internação hospitalar, complicações pós-operatórias,
saturação periférica de oxigênio e da pressão sistólica da artéria pulmonar pré e pós-
operatória. Resultados: Foram identificados 11 casos de crianças submetidas a conexão
cavopulmonar parcial como paliação primária. A média de idade foi 10,54 meses, com
leve prevalência do sexo feminino (54,54%). As principais características anatômicas das
cardiopatias foram Atresia tricúspide e Ventrículo Único tipo esquerdo. Houve aumento
na saturação de oxigênio variando de uma média de 74,46% para 88,27% (p<0,01), com
adequação da pressão sistólica de artéria pulmonar de 20,80mmHg para 17,80mmHg
(p<0,05). Ocorreram dois casos de paresia frênica e um caso de quilotórax os quais
foram corrigidos cirurgicamente. Não houve óbitos na amostra. Conclusão: A conexão
cavopulmonar parcial como paliação primária no tratamento do coração univentricular
teve resultados imediatos satisfatórios quando realizada após os três meses de idade.

Palavras-chave: Cardiopatias congênitas; Anormalidades congênitas; Canal arterial.


INTRODUÇÃO

Cardiopatia congênita é uma anormalidade na estrutura ou função cardiocirculatória,


ocorrente desde o nascimento, mesmo que diagnosticada posteriormente. Pode resultar em
morte intraútero, na infância ou na idade adulta. Foi responsável por 6% dos óbitos infantis,
no Brasil, em 2007 (PINTO VC, et al., 2015).
Uma metanálise sobre a prevalência global das cardiopatias congênitas que incluiu
114 estudos, com uma população de 24.091.867 nascimentos demonstrou que a taxa de
prevalência estimada de 9,1 cardiopatias congênitas para cada 1.000 nascimentos perma-
nece estável nos últimos 15 anos. Isso corresponde a 1,35 milhão de recém-nascidos com
cardiopatias congênitas cada ano (VAN DER LINDE D, et al, 2011).
Variam em gravidade, ocorrendo desde comunicações entre as cavidades cardíacas
que podem até regredir espontaneamente até as malformações complexas, como o Co-
ração Univentricular, que requerem vários procedimentos cirúrgicos e ou hemodinâmicos.
Clinicamente manifestam-se principalmente de sob três formas: cianose, arritmia ou insufi-
ciência cardíaca (dispneia as mamadas, ganho ponderal deficiente, infecções respiratórias
de repetição) (GO AS, et al., 2013).
No âmbito das cardiopatias congênitas complexas, o manuseio cirúrgico do coração
univentricular corresponde a estratégia desafiadora, associada a elevado risco de mortali-
dade consequente a baixa expectativa de correção anatômica. Neste sentido resta a opção
de tratamento da hipóxia (correção fisiológica), onde o fluxo sanguíneo arterial pulmonar é
desconectado cirurgicamente de sua via anterógrada ventricular, pulsátil e natural, através
do redirecionamento de fluxo do retorno das veias sistêmicas do coração para as artérias
pulmonares, denominada cirurgia de conexão cavopulmonar parcial ou Glenn bidirecional
(BG) (HAUCK A, et al., 2017; ZAHR RA, et al., 2016).
Considerando a superfície corpórea e vasos ainda pequenos, bem como a elevada
resistência vascular pulmonar do recém-nascido, a conexão cavopulmonar não é realizada
no período neonatal, fazendo-se necessário o estadiamento cirúrgico da doença, através
da realização de 3 cirurgias cardíacas até alcançar o desvio sanguíneo venoso sistêmico
completo (HAUCK A, et al., 2017; ZAHR RA, et al., 2017).
Na fase neonatal, quando a manifestação clínica de hipóxia é severa e na impossibi-
lidade de realização de conexão cavopulmonar parcial, faz-se necessário a confecção de
um shunt sistêmico pulmonar (SASIKUMAR N, et al., 2017).
Em contrapartida, existem circunstâncias onde não há restrição ao fluxo sanguíneo
pulmonar e a insuficiência cardíaca é preponderante, sendo necessária realização da técnica
de cerclagem da artéria pulmonar (SASIKUMAR N, et al., 2014).
Posteriormente, após ganho de estatura, peso e sobretudo quando as pressões de

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 563


artéria pulmonar estão em níveis mais baixos, normalmente entre os 6 e 12 meses de ida-
de, indica-se a correção cirúrgica fisiológica da hipoxemia: a conexão cavopulmonar parcial
ou cirurgia de Glenn Bidirecional (BG) e habitualmente entre 1 e 5 anos de idade a última
intervenção, a conexão cavopulmonar total ou cirurgia de Fontan (HAUCK A, et al., 2017;
ZAHR RA, et al., 2016).
Apesar de estes procedimentos fazerem parte do estadiamento cirúrgico padronizado
na maioria dos centros de cirurgia cardiopediátrica, sabe-se que a mortalidade se mostra
mais elevada entre o primeiro e o segunda estágio cirúrgico, ou seja, antes da confecção da
derivação cavopulmonar parcial (BG) (HAUCK A, et al., 2017; SASIKUMAR N, et al.,2014).
Não obstante, identifica-se ao nascimento que algumas variações anatômicas podem
apresentar um certo balanço de fluxos entre a circulação sistêmica e pulmonar, com níveis
de hipoxemia toleráveis, sem sinais exuberantes de insuficiência cardíaca, permitindo que
evoluam com ganho ponderal satisfatório. Nestes casos opta-se pela vigilância clínica ob-
servacional até idade ideal para realizar-se a conexão cavopulmonar parcial (BG) (HAUCK
A, et al., 2017; ZAHR RA, et al., 2016).
Em contrapartida, condições socioeconômicas adversas no Brasil, as quais supõe-se
restringir o diagnóstico pré e pós-natal, propiciam atendimentos e diagnósticos tardios, onde
o planejamento terapêutico não foi realizado e eventualmente a descompensação cardíaca
e risco de morte são imprevisíveis (TANOUE Y, et al.,2007).
Ademais, o centro de coleta de dados deste estudo é o único centro de referência em car-
diopediatria de nosso estado, onde muitos pacientes são atendidos tardiamente e em caráter
emergencial para a primeira cirurgia cardíaca com corações univentriculares. Portanto surge
o questionamento para esta pesquisa: É seguro a abordagem com conexão cavopulmonar
parcial (BG) como tratamento cirúrgico inicial na condição de hipóxia e coração univentricular?
Sendo assim, o objetivo deste estudo foi analisar a eficácia da cirurgia de conexão
cavopulmonar parcial (BG) como paliação primária no tratamento do coração univentricular,
através avaliação da saturação de oxigênio e pressão de artéria pulmonar, bem como os
aspectos clínicos e epidemiológicos dos pacientes operados.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo retrospectivo e observacional, onde foram analisados os pron-


tuários de pacientes de um centro cardiológico público no Estado do Pará, portadores de
cardiopatia congênita com morfologia univentricular e submetidos a tratamento cirúrgico de
conexão cavopulmonar parcial bidirecional (GB) como primeiro estágio.
Realizou-se uma análise dos prontuários dos pacientes submetidos a cirurgia cardíaca
no período de setembro de 2011 a setembro de 2017. Sendo identificados inicialmente aque-

564 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


les com morfologia univentricular que haviam sido submetidos a GB como primeiro estágio.
Foram incluídos os pacientes portadores de cardiopatia congênita com morfologia uni-
ventricular, cuja a idade variou entre 3 meses a 3 anos de vida, e abordados em condição
eletiva ou de urgência hipoxêmica.
Foram excluídos os pacientes que não foram submetidos a cirurgia de conexão ca-
vopulmonar parcial como paliação primária ou aqueles tratados inicialmente por terapêuticas
endovasculares.
Foi utilizado o software BioEstat© 5.4 para a realização da análise estatística. Foi utili-
zado o teste T de student para a comparação da variação da saturação periférica de oxigênio
e da pressão da artéria pulmonar comparando-se a fase pré e pós-operatória.
Foi adotado um p-valor menor que 0,05 para rejeitar a hipótese de nulidade. Esse
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 18888.619.8.0000.0016).

RESULTADOS

Entre setembro de 2011 a setembro de 2017 foram operados 11 pacientes com cardio-
patia congênita de morfologia univentricular, submetidos à técnica de conexão cavopulmo-
nar parcial de BG como primeiro estágio. Desse total, 6 foram meninas (54,54%), a média
de idade na admissão hospitalar foi de 10,54 meses variando de 3 meses a 2 anos e onze
meses. As características anatômicas das cardiopatias foram: atresia tricúspide (5 casos –
45,45%), ventrículo único tipo esquerdo (5 casos – 45,45%) e ventrículo único tipo direito
(1 caso – 9,09%) (Tabela 1).

Tabela 1. Características Anatômicas dos Cardiopatas da Amostra.



Morfologia Principal Pacientes %
Atresia tricúspide IA 2 18,18
Atresia tricúspide IB 3 27,27
Ventrículo Único Tipo Esquerdo 5 45,45
Ventrículo Único Tipo Direito 1 9,09
Total 11 100%

Legenda: IA: atresia tricúspide com concordância ventrículo arterial e atresia pulmonar; IB: atresia tricúspide com concordância
ventrículo arterial e estenose pulmonar.
Fonte: Pereira CMS, Pinheiro MF, Teixeira RK, et al (2019).

Em relação a técnica cirúrgica empregada, o acesso ao coração foi obtido através de


toracotomia e esternomia mediana, seguida de dissecção e preparo da artéria pulmonar
direita e veia cava superior. Foi cateterizado previamente a artéria pulmonar direita no ato
intraoperatório e aferida a sua pressão sistólica. Após secção e ligadura do coto atrial, foi
utilizada a técnica de anastomose com sutura contínua da porção terminal da veia cava
superior, conectando-a lateralmente artéria pulmonar direita (Figura 1).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 565


Quanto a realização de procedimentos intracardíacos associados, foi utilizado pinça-
mento temporário da aorta, não realizando infusão de solução cardioplégica.

Figura 1. Aspecto intraoperatório: antes da cirurgia (1) – depois da confecção da anastomose cavo pulmonar bidirecional
(2), aspecto da angiografia da artéria pulmonar após a cirurgia.

Legenda: VCS: veia cava superior – APD: artéria pulmonar direita – AD: átrio direito – VU: ventrículo único – AO: aorta.
Fonte: Pereira CMS, Pinheiro MF, Teixeira RK, et al., 2019.

O desfecho primário avaliado foi a variação da saturação periférica de oxigênio e da


pressão da artéria pulmonar comparando-se a fase pré e pós-operatória. Os demais dados
avaliados foram: sexo, idade, diagnóstico da cardiopatia (obtido através de ecoDopplercardio-
grama transtorácico pré-operatório), caráter da cirurgia (eletiva x urgência), técnica operatória,
tempo de intubação, tempo de circulação extracorpórea e anóxia, complicações operatórias,
tempo de internação na unidade de terapia intensiva, permanência hospitalar e óbito.
As cardiopatias associadas ao diagnóstico principal foram: comunicação interventricular
(11 casos – 100,00%), comunicação interatrial (8 casos – 72,72%), persistência do canal arterial
(4 casos – 36,36%), estenose da artéria pulmonar (9 casos – 81,81%), hipoplasia de artérias
pulmonares (4 casos – 36,36%), atresia pulmonar (2 casos – 18,18%), transposição das gran-
des artérias (2 casos – 18,18%), cortriatriatum (1 caso – 9,09%), obstrução via saída ventrículo
único (1 caso – 9,09%) e veia cava superior esquerda persistente (1caso – 9,09%) (Tabela 2).

Tabela 2. Cardiopatias Congênitas Associadas.

Cardiopatias Associadas Quantidade %

C.I.A 8 72,72%
C.I.V 11 100%
P.C.A 4 36,36%
Estenose pulmonar severa 9 81,81%
Atresia Pulmonar 2 18,18%
Cortriatriatum 1 9,09%
Transposição das Grandes Artérias 2 18,18%
Hipoplasia de Artérias Pulmonares 4 36,36%
Obstrução Via Saída Ventrículo Único 1 9,09%
Veia Cava Superior Esquerda Persistente 1 9,09%

Legenda: CIA: Comunicação interatrial, CIV: comunicação interventricular, PCA (persistência do canal arterial).
Fonte: Pereira CMS, Pinheiro MF, Teixeira RK, et al., 2019.

566 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Três pacientes (27,27%) foram submetidos a cirurgia em caráter de urgência por hipó-
xia refratária, sendo os demais abordados em caráter eletivo. Além da realização da Cone-
xão Cavopulmonar Bidirecional Parcial (GB) foram realizados os seguintes procedimentos
associados: Bandagem de Artéria Pulmonar (8 – 72,72%); Ligadura do canal arterial (6 –
54,54%); Ampliação da comunicação interatrial (4 – 36,36%); Ampliação da comunicação
interventricular (1 – 9,09%); Correção de Cortriatriatum (1 – 9,09%); e Ampliação artéria
pulmonar esquerda (1 – 9,09%). Sete pacientes necessitaram de realização de circulação
extracorpórea associada a hipotermia.
Foi mantido o fluxo pulmonar anterógrado nativo na artéria pulmonar em 8 pacientes
(72,72%), efetuando a bandagem do tronco artéria pulmonar com retalho de politetrafluoro-
etileno após efetivação do BG.
O tempo médio de circulação extracorpórea (CEC) foi de 51,87 ±18,19 (variando de
35 a 90 minutos). O tempo de pinçamento aórtico variou de 4 a 10 minutos (média de 6,25
±2,63 minutos). Houve um aumento significativo da saturação periférica de oxigênio quando
comparado o pré com o pós-operatório (pré- operatório: 74,46 ±11,81% vs pós-operatório:
88,27 ±3,97%; p=0,0020).
Além disso, houve uma redução estatisticamente significante nos valores da pressão
sistólica da artéria pulmonar (pré-operatório: 20,80 ±2,89mmHg vs pós-operatório: 17,80
±1,98mmHg; p=0,0174), sendo observado essa redução apenas nos pacientes submetidos
a bandagem de artéria pulmonar (n=8; pré-operatório: 22,28 ±1,88mmHg vs pós-operatório:
17,85 ±2,41mmHg; p=0,0060). Nos demais casos não houve alteração nos níveis pressó-
ricos (Gráfico 1 e 2).

Gráfico 1 - Evolução da Saturação Periférica de Oxigênio.

Legenda: Variação da saturação de oxigênio comparando-se a fase pré-operatória (vermelho) e pós- operatória (amarelo). Teste T de
student e p<0,05*.
Fonte: Pereira CMS, Pinheiro MF, Teixeira RK, et al., 2019.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 567


Gráfico 2 - Evolução da Variação da Pressão Sistólica da Artéria Pulmonar.

Fonte: Variação da Pressão Arterial Pulmonar comparando-se a fase pré-operatória (vermelho) e pós- operatório (amarelo). Teste T
de student e p<0,05*
Fonte: Pereira CMS, Pinheiro MF, Teixeira RK, et al (2019).

O tempo de intubação orotraqueal variou de quatro a 456 horas (média: 79,72 ±137,54
horas, mediana: 16,00 ±72,00 horas), sendo os maiores valores encontrados nos pacientes
que evoluíram com complicações.
Não houve óbitos na amostra analisada, entretanto ocorreram 2 episódios de paralisia
frênica direita (18,18%), sendo necessário realização de plicatura diafragmática cirúrgica; no
paciente com veia cava esquerda persistente ocorreu quilotórax (9,09%) com necessidade
de pleurodese e drenagem pleural de longa permanência. Ocorreu um caso de síndrome da
resposta inflamatória sistêmica pós CEC (9,09%), sendo conduzido com suporte inotrópico
e diálise peritoneal. A permanência de internação hospitalar a partir do dia da realização do
procedimento cirúrgico variou de 10 a 41 dias (média de 16,9 dias (Tabela 3).

Tabela 3. Evolução dos Pacientes na Fase Hospitalar (até 30 dias após cirurgia).

TEMPO DE
SATO2 SATO2 PAP PRÉ PAP PÓS
CEC TEMPO-
DEPINÇA- TEMPO DE
COMPLICAÇÕES
MENTO IOT
PACIENTE (minutos) PRÉ % PÓS % (mm Hg) (mmHg)
(minutos)

1 45 0 70 80 18 18 4 HS BCP
2 0 0 75 92 20 17 4 HS QUILOTÓRAX
3 0 0 80 88 22 20 12 HS
4 0 0 90 95 24 20 1H
PARESIA FRÊ-
5 40 4 47 88 18 18 19 DIAS
NICA
6 50 0 70 90 * * 24 HS
7 90 10 80 90 23 18 12 HS
8 60 5 91 88 16 17 6 DIAS SIRS
PARESIA FRÊ-
9 35 0 72 85 22 13 7 DIAS
NICA

568 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


10 0 0 70 85 20 19 16 HS
11 55 6 75 90 25 18 12 HS

Legenda: *Valores não encontrados no prontuário. CEC (Circulação Extracorpórea), SATO2 PRE (Saturação de Oxigênio Pré-operatória),
SATO2 POS (Saturação de Oxigênio Pós-Operatória), PAP PRE (Pressão de Artéria Pulmonar Pré Operatória); PAP PÓS (Pressão de Artéria
Pulmonar Pós-Operatória); IOT (Intubação Oro traqueal); BCP (Bronco Pneumonia); SRS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica).

Fonte: Pereira CMS, Pinheiro MF, Teixeira RK, et al., 2019.

O ecoDopplercardiograma pós-operatório evidenciou fluxo laminar normal na anasto-


mose cavopulmonar em todos os pacientes, sem estenoses ou trombose. Nos pacientes em
que houve ampliação da comunicação interatrial o tamanho variou de 6,7 a 13mm (média:
8,52mm). A função contrátil do ventrículo único esteve preservada em todos os casos va-
riando de 50% a 88% (média: 62,45%). Nos casos com hipoplasia das artérias pulmonares,
esta foi considerada discreta e a presença do fluxo anterógrado permitiu manutenção de
saturação de oxigênio em níveis satisfatórios.

DISCUSSÃO

Desde a primeira cirurgia de conexão cavopulmonar parcial (BG) realizada em 1958


por William Glenn com a técnica unidirecional, passando a seguir para a estratégia bidire-
cional, as vantagens do ponto de vista hemodinâmico desta cirurgia estão bem definidas.
Ocorre aumento do fluxo pulmonar sem causar sobrecarga volumétrica ventricular, levando
a melhora imediata na saturação sistêmica oxigênio, além de melhorar a performance do
ventrículo único devido diminuição da pré-carrega. No mais, serve como excelente paliação
de preparo com intenção de conexão cavopulmonar total (HAUCK A, et al., 2017; ZAHR RA,
et al., 2016; SASIKUMAR N, et al., 2014; FRIEDMAN KG, et al., 2011).
Considerando o posicionamento geográfico da instituição onde foi realizado este estudo
e sua condição de único centro em cardiopediatria cirúrgica do estado, com a peculiaridade
de acolher todos os pacientes cardiopatas em idade pediátrica, eventualmente sem o devido
preparo e planejamento terapêutico, ganha destaque ausência de mortalidade nesta série de
casos quando comparado com achados de 2,5 a 15% em revisões de literatura (HAUCK A,
et al., 2017; ZAHR RA, et al., 2016; ALSOUFI B, et al., 2018; FRIEDMAN KG, et al.,2011).
A idade mínima para realizar cirurgia de Glenn Bidirecional é controversa na literatura.
Em estudo multicêntrico com de seguimento de longo prazo (19 anos) observou-se que a
realização do Glenn antes dos 3 meses de idade aumentava significativamente a taxa de
mortalidade e ainda que a distorção das artérias pulmonares e o padrão aumentado da re-
sistência pulmonar (maior que 3 unidades Wood/m2), inerente aos lactentes jovens, foram
considerados fatores de risco para o aumento de mortalidade (NICOLAS RT, et al.,2005).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 569


Em contrapartida, outra análise abrangendo grupo expressivo de pacientes (169 casos),
avaliaram comparativamente a cirurgia de Glenn bidirecional realizada em idade precoce
(abaixo de 3 meses) com grupo etário superior. O tempo de permanência na UTI, tempo de
ventilação mecânica e período de internação hospitalar foram maiores quando comparados
ao grupo menor que 3 meses de idade. Entretanto a mortalidade precoce e tardia, bem
como o tempo para realização da cirurgia de Fontan foram semelhantes entre os grupos
(PETRUCCI O, et al., 2010).
No presente estudo, A idade mínima dos pacientes operados foi de 3 meses, correspon-
dendo a 18% da amostra (2 pacientes). O tempo de intubação foi superior quando comparado
ao grupo com faixa etária menor que 3 meses. Todavia relaciona-se este fato a ocorrência
de paralisia frênica, pois esta aumentou a média de tempo de ventilação mecânica de 1,1
dias para 13 dias. Preconiza-se a plicatura diafragmática precoce em crianças abaixo de
dois anos, pela alta morbidade da impossibilidade de extubação ventilatória (WATANABE
T, et al., 1987).
É recomendável manutenção de baixas pressões na circulação pulmonar em asso-
ciação com o BG para que não ocorra síndrome de veia cava superior, trombose venosa e
falência da técnica (HAUCK A, et al., 2017; ZAHR RA, et al., 2016; ALSOUFI B, et al.,2018;
AGARWAL A, et al., 2018). Fluxo sanguíneo pulmonar insuficiente e sem hipertensão arterial
pulmonar, são condições indispensáveis para admissibilidade da técnica do BG (HAUCK A,
et al., 2017; ZAHR RA, et al., 2016; PETRUCI O, et al., 2010; FRIEDMAN KG, et al.,2011).
Há controvérsias na literatura acerca da manutenção do fluxo pulmonar anterógrado na
ocasião da cirurgia de BG. Em análise de grupo de 246 pacientes submetidos a cirurgia de
Glenn bidirecional com fluxo pulmonar anterógrado e sua capacidade de utilização como
paliação temporária ou definitiva em patologias de coração univentricular, observaram que
esta estratégia pode ser excelente paliação temporária ou como terapia definitiva em casos
de doentes em condições clínicas não ideais (CALVARUSO DF, et al., 2008).
Outro estudo que avaliou a repercussão do fluxo pulmonar adicional mantido em pa-
cientes submetidos ao BG, considerou valor de pressão de artéria pulmonar ideal como
18mmHg realizando bandagem em tronco de artéria pulmonar ou limitação de fluxo no shunt
sistêmico-pulmonar caso ficasse acima do valor esperado. Neste sentido concluíram que o
fluxo pulmonar adicional permitiu melhor desenvolvimento do tamanho das artérias pulmo-
nares, sem sobrecarga de volume e beneficiando a progressão para a cirurgia de Fontan
(SUZUKI Y, et al., 2010).
Em contrapartida, observou-se que a preservação do fluxo pulmonar anterógrado não
conferiu aumento relevante no diâmetro da artéria pulmonar no seguimento de longo prazo.
Além disso, não proporcionou benefício adicional na evolução clínica de pacientes subme-

570 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


tidos à cirurgia de Glenn bidirecional e Fontan (GRAY RG, et al., 2007; ABDULLAH AA,
2015). Observou-se ainda que a ausência de fluxo pulmonar adicional não comprometeu
a evolução favorável dos pacientes submetidos a cirurgia de BG mesmo em fase precoce
(CLEZIOU J, et al., 2008).
A cirurgia de BG realizada sem circulação extracorpórea é segura, além de evitar os
efeitos indesejáveis do desvio cardiopulmonar, sugerindo ainda ser mais viável economica-
mente (HUSSAIN ST, et al., 2007).
Estudos comparando a cirurgia de BG sem utilização de CEC com pacientes operados
com desvio cardiopulmonar, observaram que ambas as abordagens são seguras em relação
à morbidade e mortalidade. Entretanto a utilização de ultrafiltração modificada associada
à CEC mostrou-se ferramenta fundamental no resultado desta cirurgia quando o desvio
é utilizado (CROTI UA, et al., 2007). Neste estudo, o tempo de hospitalização, tempo de
extubação, incidência de complicações neurológicas e derrame pleural foram semelhantes
entre os dois grupos. Outra análise mostrou ser possível realizar técnica de BG sem CEC
com minitoracotomia direita, sem realizar a clássica esternomia (GUIDA M, et al., 2015).
No atual estudo a realização da cirurgia de BG sem a utilização de circulação ex-
tracorpórea conferiu a estes doentes menores tempos de intubação orotraqueal, quando
comparados aos pacientes em que a realização do desvio cardiopulmonar foi necessária. A
amostra deste estudo não permitiu análise comparativa estatisticamente significante entre os
grupos com e sem CEC, sobretudo devido o número de casos sem desvio cardiopulmonar
ter sido pequeno (4 pacientes).
Merece destaque o fato de que neste estudo retrospectivo de série de casos não foram
incluídos pacientes submetidos a procedimentos paliativos prévios ao BG, excluíram-se
habitualmente circunstâncias anatômicas com elevada mortalidade, tais como prematuri-
dade, baixo peso, síndrome do coração esquerdo hipoplásico, síndromes genéticas com
anomalias extra cardíacas, bem como defeitos do arco aórtico. Portanto o grupo de coorte
selecionado no presente estudo interferiu na avaliação de mortalidade, impondo eventual
viés, considerando-se sobretudo que grupos de grave associações patológicas necessitam
de cirurgia emergencial e cuja mortalidade pode ultrapassar 10% (ALSOUFI B, et al., 2018).
Outros fatores anatômicos foram descritos como relacionados a maior mortalidade, a
qual variaria de 5 a 15%, tais como como síndrome heterotáxica, drenagem anômala de veias
pulmonares, anomalias anatômicas em artérias pulmonares, hipertensão arterial pulmonar
e ventrículo direito sistêmico (MANUEL V, et al., 2019; TANOUE Y, et al., 2007).
Os pacientes desta amostra não tinham na sua apresentação clínica os fatores de mau
prognóstico descritos anteriormente, o que confere a estes, candidatos cirúrgicos com melhor
prognóstico a curto prazo segundo a literatura pesquisada. O que contribuiu para ausência

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 571


de mortalidade encontrada na presente amostra no período estudado.

CONCLUSÃO

A análise das crianças tratadas no presente estudo não contempla a fase de evolução
a médio e longo prazo. Não obstante, mesmo sem realizar análise comparativa das cirurgias
de GB com grupo controle de pacientes submetidos à cirurgia de shunt sistêmico pulmonar,
constatou-se bom nível de saturação pós- operatória com excelente desempenho hemodi-
nâmico. Após correlacionar os resultados desta série de casos deste com as publicações
em grandes centros mundiais, nota-se que houve benefício em realizar o BG como primeiro
estágio, entretanto supõe-se que as condições hemodinâmicas relacionadas a cardiopatia da
amostra avaliada permitiram estabelecer a tática cirúrgica, sendo eventualmente esperado
como conduta mais recomendada não confeccionar shunt sistêmico pulmonar nestes pa-
cientes. Os resultados deste estudo sugerem que a confecção da anastomose cavopulmonar
parcial (BG) como paliação primária no tratamento do coração univentricular tem resultados
imediatos satisfatórios quando realizada acima dos três meses de idade e em associação
com estenose ou atresia pulmonar.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 573


44
“ Conhecimento da população
universitária sobre o uso
farmacológico da Cannabis sativa

Deyna Francélia Andrade Próspero Amanda Silva de Sousa

Mayla Rosa Guimarães Beatriz Scarleth Noleto de Souza

Priscyla Maria Vieira Mendes

Larissa Vanessa Ferreira Memoria

Daniele Martins de Sousa Oliveira

10.37885/200700727
RESUMO

Objetivo: avaliar o conhecimento da população universitária sobre o uso farmacológico


da Cannabis sativa. Método: A pesquisa foi realizada utilizando-se um questionário
sobre a planta Cannabis sativa destinado a população universitária, através do aplicativo
Google forms, enviado aos participantes da pesquisa através do aplicativo whatsapp.
Foram incluídas na pesquisa respostas completas, coerentes e de universitários. Foram
excluídas as respostas incoerentes e das demais pessoas que não eram universitários.
O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/UNIFSA n° 3.241.269).
Resultados: A pesquisa mostrou que mais de 50% dos pesquisados já usaram algum
tipo de droga e 20% destes já fizeram uso da maconha. Dos entrevistados, 67% e 61%
responderam que conheciam a planta e sua importância, e 33%, 39% responderam que
não, respectivamente. 63% conhecem alguma patologia tratada pela Cannabis e 37%,
não. Apenas 15% disseram que a droga age diretamente no SNC, discordandando da
maioria (75%). Cerca de 40% dos entrevistados afirmam que a maconha é uma droga
leve e 58% disseram que não. Uma média 77% dos universitários acham que a planta
causa dependência/crise de abstinência. Discordando dos demais. 80% acreditam que a
droga cause quadros depressivos/transtornos psicológicos. Conclusão: Diante dos dados
da pesquisa conclui-se que os universitários ainda carecem de mais conhecimentos com
relação às ações farmacológicas da Cannabis sativa, uma vez que foram observados
apenas conhecimentos superficiais sobre o seu uso.

Palavras-chave: Cannabis sativa; Ação Farmacológica; Δ 9 - tetraidrocanabinol.


INTRODUÇÃO

A Cannabis sativa é um espécime herbáceo que pertence à família das Canabiáceas


que, além da sativa, ainda apresenta outras duas espécies, aindica e ruderalis (SOUZA,
2017). Segundo Pacievitch T (2010), a Cannabis sativa já era usada desde a antiguidade para
diversos fins, inclusive na medicina popular. Há relatos de que os médicos que tratavam da
rainha Victória usavam a Cannabis para curar diversas enfermidades, se destacando como
um dos fármacos mais estimados daquela época (HORNE, 2017).
A Cannabis sativa é a droga de abuso mais utilizada em todo o mundo, ela chegou
ao Brasil no período da escravidão, trazida principalmente da região da Angola e logo seu
uso foi difundido entre jovens de todas as classes sociais, cerca de 20% dos jovens fazem
uso da planta (DIEHL A, et al. 2010; GONÇALVES GAM, et al., 2014). A maconha, como a
Cannabis é conhecida no Brasil, possui uma composição química complexa, apresentando
uma variedade de sustâncias que podem ser classificadas em dois grupos; os canabinóides
psicoativos, onde se encontra o Δ9- tetraidrocanabinol (Δ9-THC) e o Δ8-tetraidrocanabinol
(Δ8-THC) e os não psicoativos que são o Canabinol (CBN) e o Canabidiol (CBD) constituindo
cerca de 40% das substâncias ativas da planta (ILAN AB, et al., 2005; FERNANDES, 2013).
Os canabinóides são as substâncias responsáveis pelos efeitos psicoativos, atividades
farmacológicas e correspondem a 16% dos compostos da planta (ELSOHLY MA, 2007;
RIBEIRO JAC, 2014; MATOS RLA, et al. 2017).
Segundo Mechoulam R, et al. ( 2007), os efeitos farmacológicos da CBD são diferen-
tes e muitas vezes opostos aos da Δ9-THC. Diversas pesquisas apoiam a ideia de que o
CBD possui uma vasta gama de possíveis efeitos terapêuticos, entre eles destacam-se as
propriedades ansiolíticas e antipsicóticas (ZUARDI AW, et al., 2006; GUIMARÃES FS, et
al.,1990), anticonvulsivo (CARLINI EA e CUNHA JM, 1981) e neuroprotetoras (HAMPSON
AJ, 1998). Apesar das doses efetivas não terem sido claramente estabelecidas e os meca-
nismos de ação totalmente elucidados, os CBD apresentam efeitos ansiolíticos comparável
aos medicamentos padrões utilizados para tratar ansiedade (RESSTEL LB, et al., 2006).
Embora antes considerado sedativo, estudos clínicos confirmaram que o CBD age ativando
o sistema nervoso central – (SNC) e que ele contraria os efeitos sedativos do THC (NICHOL-
SON NA, et al., 2004).
Estudos mostraram que o THC é 10 vezes mais potente na ligação aos receptores
CB1 do que Receptores CB2. Evidencias mostram que o CBD pode se comportar como
antagonista ou agonista inverso no receptor CB1, apesar de ainda haverem muitas dúvidas
sobre sua atividade intrínseca (THOMAS BF, et al., 1998; PETITET F, et al., 1998). Algumas
pesquisas realizadas com o CBD no sistema serotonérgico sugerem que ele inibe a recapta-
ção de serotonina (5-HT) e, em geral, atenua a neurotransmissão de 5-HT (PERTWEE RG,

576 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


2004; HERSHKOWITZ M, 1978). Além de evidencias mostrarem que ele tenha atividade em
outros sistemas neurotransmissores como a dopamina, GABA e o sistema opióide endógeno
(PERTWEE RG, 2004).
Sabendo das atividades psicoativas e farmacológicas dos componentes da Cannabis
sativa e de sua importância como fonte de substancias potencialmente útil para o desen-
volvimento de diversos fármacos, este trabalho tem por objetivo avaliar o conhecimento da
população universitária sobre o uso farmacológico da Cannabis sativa.

MÉTODOS

Esta pesquisa trata-se de um estudo descritivo, quantitativo com delineamento trans-


versal baseado em fonte de dados documentais encontrados na literatura científica e no
conhecimento popular dos universitários sobre o uso farmacológico da Cannabis sativa. A
pesquisa foi realizada utilizando-se um questionário sobre a planta Cannabis sativa destinado
a população universitária, através do aplicativo Google forms, enviado aos participantes da
pesquisa através do aplicativo whatsapp. Foram incluídas na pesquisa respostas completas,
coerentes e de universitários. Foram excluídas da pesquisa as respostas incoerentes e das
demais pessoas que não eram universitários. O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário Santo Agostinho (CEP/UNIFSA parecer de n° 3.241.269).
O trabalho foi desenvolvido através de levantamento de dados e ferramentas tecnológicas
(Google forms), os riscos do trabalho são remotos e estão relacionados à divulgação de
informações da identidade dos participantes, no entanto, a pesquisa será mantida em sigilo
quanto à identidade dessas pessoas, podendo também haver implicações relacionadas com
a manipulação das ferramentas de informática. Quanto aos possíveis benefícios do trabalho
está na análise do conhecimento popular dos universitários sobre o uso farmacológico da
Cannabis sativa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Cannabis sativa é um arbusto de origem asiática e pertence ao gênero Cannabis que


apresenta mais duas espécies, indica e ruderalis. Essas espécies diferem entre si principal-
mente no teor de seus constituintes químicos, que em parte são influenciados pela forma em
que são cultivados (MATOS RLA, et al. 2017). A planta pode atingir alturas iguais ou inferio-
res a 5 m, são dioicas, pois apresentam espécies machos e fêmeas. Após a polinização os
espécimes machos morrem, além de apresentarem diferenças morfológicas com relação ao
tamanho (menores) e a quantidade de folhas quando comparadas com as fêmeas. Portanto,
as espécimes fêmeas são mais ricas em substâncias ativas que os machos (SOUZA, 2017).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 577


Como comentado anteriormente, a Cannabis sativa foi difundida no Brasil há bastante
tempo e segundo pesquisas realizadas por estudiosos da Universidade Federal de São
Paulo – Unifesp (2016), em 2012, o mercado ilegal movimentou aproximadamente 300 bi-
lhões de dólares por ano, mostrando que a maconha é a droga ilegal mais consumida em
todo mundo. Ao questionarmos se os entrevistados já fizeram uso de drogas e em caso de
resposta positiva, qual seria essa droga, a pesquisa revelou que mais de 50% dos pesqui-
sados já usaram algum tipo de droga e 20% destes já fizeram uso da maconha. A droga é
consumida na forma de cigarros, através do fumo é mais comum, e também por via oral. O
Δ9-THC funciona como um pró-fármaco, substancia que precisa ser metabolizada para que
se torne ativa, e ao sofrer ação da queima (cigarro) ele sofre um processo de descarboxila-
ção expondo organismo a substancia ativa que irá gerar os efeitos psicóticos (ALCHIMIA,
20018) (Figura 1).

Figura 1. Percentual dos entrevistados que já fizeram uso de drogas e qual (ais).

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019.

As propriedades físico-químicas do Δ9-THC fazem com que ele seja rapidamente ab-
sorvido pelos pulmões, sendo distribuído para os tecidos de maior perfusão como o cérebro,
fígado, coração (GONÇALVES, 2014). Quando fumado, o Δ9-THC apresenta efeitos psicóticos
mais rápidos e de rápida duração, aproximadamente 1 hora e 30 minutos (FERNANDES,
2013). Quando consumida por via oral ou associada a alimentos, a absorção do Δ9-THC é
retardada e desigual, delongando o período para atingir altos níveis sanguíneos devido a
vários fatores, entre eles o efeito de primeira passagem (fígado) que pode reduzir a absorção,
reduzindo assim os efeitos psicoativos. Contudo, apesar da lenta absorção, os indivíduos
podem passar até 4 com essas sustâncias ativas no organismo, prolongando a sensação
de prazer que a droga provoca (GONÇALVES GAM, et al, 2014).
Ao perguntarmos se o entrevistado (a) conhecia a planta da Cannabis sativa, 67%
responderam que sim e 33% responderam que não conheciam (Figura 2 – A). Sobre a im-
portância farmacológica da Cannabis sativa, 61% dos pesquisados responderam que sabiam

578 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


dessa utilidade da planta e 39% disseram que não sabiam (figura 2 – B). O canabinóide Δ9-
THC é usado pela planta como um protetor natural contra perda de água e reações químicas
(MATOS RLA, et al. 2017). O Δ9-THC apresenta atividades farmacológicas como analgesia,
anti-inflamatória e antitérmica. O Δ8-THC é usado para controlar o glaucoma (RIBEIRO, 2014).
Já no quesito se conhece alguma patologia que precisa de uso das drogas da Can-
nabis sativa, 63% disseram que sabiam e 37% disseram que não, (Figura 2 – C). O THC,
por via oral, é administrado em pacientes com câncer após sessões de quimioterapias para
alívio da dor, náuseas e vômitos (CONRAD C, 2001), seu efeito analgésico chega a ser
comparado com o da morfina (COUTINHO MDPDL, 2004). O THC reage com receptores
canabinóides CB1 e geram diversas atividade farmacológicas, tais como, redução da pressão
ocular, estimulação o apetite (devido à xerostomia – boca seca) promovendo sensação de
bem estar ao se alimentar, ação ansiolítica, controle dos sintomas do reumatismo, malária,
reduz cefaléis e vômitos (FONSECA BM, 2013; FLORIDOS D, 2018). O Canabidiol tem pro-
priedades sedativas e anticonvulsivantes e o Canabinol têm propriedades anti-inflamatórias
(ELSOHLY, 2007).
Estudos realizados por Abuhasiraa R, et al., (2018) utilizando uma população de 2.736
idosos, maiores de 65 anos que foram tratados com cannabis para o tratamento da dor
(66,6%) e câncer (60,8%) mostraram que após seis meses de tratamento, 93,7% dos entre-
vistados relataram melhora em sua condição e o nível de dor relatado foi reduzido de uma
mediana de 8 em uma escala de 0-10 para uma mediana de 4. Após seis meses, quase 20%
dos pacientes deixaram de usar analgésicos opióides ou reduziram a dose. Esses resulta-
dos mostram que uso terapêutico de cannabis pode diminuir o uso de outros medicamentos
prescritos, incluindo opioides, e é seguro e eficaz para população idosa.

Figura 2. Análise do conhecimento, importância e uso da Cannabis sativa em alguma patologia.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019.

De acordo com a pesquisa, os universitários acham que a maconha é a droga ilícita


mais usada em nosso meio (Figura 3). Uma matéria publicada pela Unifesp (2016) relatou

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 579


que o crime organizado lucrou mais de 300 milhões de dólares só no ano de 2012 e que a
proibição do uso da maconha, limita apenas o crescimento cientifico, pois a lei julga diferente
os chefões que vendem e os usuários. Sendo tendenciosa a aplicar penas sobre usuários
menos informados e baixos níveis socioeconômicos. Dados da United Nations Office on Dru-
gs and Crime (UNODC), mostraram que no ano de 2014, aproximadamente 190 milhões de
pessoas fazem uso da maconha em todo mundo, sendo as Américas os lugares com maio-
res incidência de apreensão da droga comparada aos outros continentes (UNODC, 2016).
Ao questionarmos se a maconha tem ação sobre o SNC, apenas 15% disseram que a
droga age diretamente no SNC, discordandando da maioria (75%) que acham que não (Fi-
gura 3). Mostrando que a população pesquisada desconhece o fato de que os canabinóides
agem no organismo se ligando a receptores específicos chamados receptores canabinóides
(CB) localizados nos neurônios onde desempenham ações no SNC (GONÇALVES, 2014).
Estudos revelaram com o CBD em doses baixas (entre 2 e 10 mg/Kg) tem ação ansiolítica
em ratos e que os mecanismos através dos quais a CBD atua para diminuir ansiedade vem
sendo pesquisados em roedores (GUIMARÃES FS, et al. 1990). MOREIRA FA, et al., (2006),
mostraram que o CBD tem mecanismo de ação independente dos receptores benzodia-
zepínicos, comprovados quando os animais forma tratados com flumazenil, um antagonista
desses receptores. Há chances mostrando que a ação ansiolítica do CBD tem envolvimento
com o sistema serotoninérgico. Isso foi demonstrado quando Campos AC e Guimaraes FS,
(2008) fizeram o tratamento dos animais que receberam o CBD com uma injeção do WAY-
100635 (WAY), um antagonista do receptor 5-HT1A, e houve a antagonização dos efeitos
ansiolíticos do CBD em teste ansiolíticos em ratos. Estudos mostraram também que a ação
ansiolítica do CBD via receptor 5-HT1A tem participação dos receptores vaniloide tipo 1
(TRPV1) (BISOGNO T, et al., 2001).

Figura 3. Pesquisa sobre o conhecimento dos universitários sobre a Cannabis sativa.

SIM NÃO

Você acha que a maconha é a droga ilícita mais usada em nosso meio? 58% 42%

A maconha possui ação direta no sistema nervoso Central? 15% 75%


A maconha pode ser considerada uma droga leve? 42% 58%
A maconha produz dependência? 66% 24%

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019.

Cerca de 40% dos entrevistados afirmam que a maconha é considerada uma droga
leve e 58% disseram que não. Dados da literatura mostram que o Δ9-THC age como ago-
nistas em receptores CB1 ativando a liberação de neurotransmissores excitatórios como o
glutamato e dopamina, e possui efeitos inibitórios sobre o ácido gama-aminobutírico (GABA)

580 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


no cérebro (CARVALHO, 2014).
O envolvimento dos mecanismos centrais do Δ9-THC podem provocar desordens no
SNC, o que pode ser prejudicial para a saúde mental dos usuários (PAMPLONA, 2014). O
que nos leva a crer, que apesar dos efeitos brandos, em comparação aos de outras drogas
como cocaína, a maconha não pode ser considerada uma droga inofensiva ou leve (Figura 3).
Com relação à indução de dependência da droga, 66% dos universitários responderam
que sim e apenas 24% responderam que a maconha não causa dependência. A dependência
da maconha pode ser comparada à dependência de outras drogas. As diferentes formas
de consumo da droga, cigarro ou via oral, interferem na quantidade das substancias ativas
que são absorvidas, sendo assim, não foram formalizadas doses potenciais causadoras de
dependência. Acredita-se que quanto maior for o tempo e a quantidade do consumo, maiores
serão as chances de desenvolver a dependência. Há relatos de pessoas que já consumiram
a maconha por muito tempo e decidiram suspender o uso, sem quaisquer indícios de de-
pendência. Mas, ainda há uma parcela da população que desenvolve o desejo compulsivo
pela maconha, parecido com o comportamento induzido por outras drogas (ROSENBERG
MF E ANTHONY JC; 2001) (Figura 3).
Segundo os dados da pesquisa, 81% dos entrevistados responderam sim para per-
gunta se a maconha causa crise de abstinência quando seu uso é reduzido ou cessado, e
19% disseram que a maconha não provoca crise de abstinência (Figura 4). A dependência
a maconha pode gerar um quadro de sintomas quando o individuo reduz ou deixa de usar
a droga, que são conhecidas como crise de abstinência. Estudos realizados por Ofir e co-
laboradores (2019), na Universidade de Columbia nos Estados Unidos, mostrou que 12,1%
dos indivíduos que usam a maconha frequentemente apresentam sinais de abstinência ao
ficar sem a droga, conhecido como síndrome de abstinência. Segundo o estudo, os sinto-
mas mais comuns de abstinência foram nervosismo/ansiedade (76%), hostilidade (71,9%),
dificuldade para dormir (68%) e humor deprimido (59%). A Síndrome de abstinência de can-
nabis foi associada com incapacidade significativa (p <0,001), e com transtornos de humor,
transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade e história famíliar de depressão,
mas não história pessoal de outros transtornos por uso de substâncias ou histórico familiar
de problemas de uso de substâncias. Além disso, foram evidenciados também dores de
cabeça, tremores e sudorese, porém esses em uma proporção menor (OFIR et al., 2019).

Figura 4. Pesquisa sobre o conhecimento dos universitários sobre os efeitos psicoativos da Cannabis sativa.

SIM NÃO

Indivíduos dependentes da maconha podem ter abstinência da droga quan- 19%


81%
do diminuem ou param de usar?
O uso da maconha pode desencadear depressão e outros transtornos de
80% 20%
humor, ansiedade e psicótico?

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 581


A maconha produz prejuízos cognitivos (memória, atenção, funções execu-
15% 75%
tivas)?

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019.

Sobre o consumo de a maconha desencadear quadros depressivos ou outros transtor-


nos psicológicos, 80% dos entrevistados confirmaram a informação e 20% negaram (Figura
4). Os canabinóides provocam déficits motores, tais como redução da capacidade de dirigir
carros ou operar qualquer outro equipamento que requeira atenção; e cognitivos tais como
falhas na memória recente, inconstância emocional, fantasias e até delírios (ATAKAN, 2012).
Contudo, a população universitária ao desconhecer a farmacologia da cannabis acre-
dita que a mesma não causa prejuízo para aqueles que fazem seu uso, como pode ser
observado na figura 4. Um total de 75% dos universitários acreditam que a maconha não
traz prejuízos físicos ou psicológicos, tampouco cognitivos (memória, atenção e funções
executivas) e 15% discordam destes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos dados da pesquisa conclui-se que os universitários ainda carecem de mais
conhecimentos com relação às ações farmacológicas da Cannabis sativa, uma vez que fo-
ram observados apenas conhecimentos superficiais sobre o seu uso. Isso pôde ser notado
quando a maioria respondeu que sabe que a maconha causa dependência e não sabem
onde ela atua e tampouco souberam opinar corretamente quanto à crise de abstinência. Por
esta razão, é importante que os universitários, principalmente os da área da saúde, estejam
inteirados sobre informações técnicas e farmacológicas da Cannabis sativa.

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584 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


45
“ Conhecimento das mulheres
sobre métodos contraceptivos
em um Município do Sul do
Tocantins

Juliana Nascimento da Silva Julliana Dias Pinheiro


UnirG UnirG

Edinalva Carvalho Rocha Rodrigues Marília Pantoja Soares da Silva


UnirG UnirG

Denise Soares de Alcântara Mirelly da Silva Ribeiro


UnirG
UnirG

, Laís Fernandes de Oliveira


UnirG
Leandra Cristhyne de Souza Barros
UnirG

Cláudia Christina Ribeiro Guimarães Neri


de Magalhães Nayara Pereira de Abreu
UnirG UnirG

Artigo original publicado em: 4/2020


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700702
RESUMO

Objetivo: Analisar o conhecimento sobre métodos contraceptivos de mulheres


cadastradas no Programa de Planejamento Familiar de três Unidades Básicas de Saúde
em um município da região Sul do Tocantins. Métodos: Realizou-se um estudo descritivo,
exploratório com abordagem qualitativa. A amostra consistiu em 16 mulheres, entre 18
a 40 anos de idade. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada,
entre os meses de setembro e novembro de 2019. Os resultados foram analisados
pela técnica de análise de conteúdo. Resultados: A maior parte das entrevistadas era
casada, possuía filhos, conhecia e já havia utilizado algum tipo de método contraceptivo,
relatou maior segurança no uso da pílula e preservativo masculino. Conclusão: O estudo
mostrou a necessidade constante de esclarecer a população feminina sobre métodos
contraceptivos, assim como cada uma de suas particularidades, para que possam escolher
e planejar o momento ideal para o nascimento de seus filhos.

Palavras-chave: Saúde da mulher; Conhecimento; Anticoncepção; Planejamento familiar.


INTRODUÇÃO

O cuidado à Saúde da Mulher vem sendo edificado, no Brasil, com base em diversas
políticas públicas de saúde. Até meados de 1970, a saúde da mulher era vista apenas em
uma proporção procriativa, enfatizando-se apenas a atenção voltada ao ciclo gravídico-
-puerperal. A saúde pública defendia o natalismo e a medicina fortalecia a naturalização
das desigualdades entre os sexos, reforçando o olhar da mulher como mãe (BRASIL, 2011).
Diante da recorrência dos altos índices de adoecimento das mulheres no Brasil, em
1984, foi elaborado pelo Ministério da Saúde (MS) o Programa de Assistência Integral à
Saúde da Mulher (PAISM), com a finalidade de melhorar a atenção à saúde da mulher, que
incluía ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando
a assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré- natal, parto e puerpério, no climatério,
em planejamento familiar, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), câncer de colo de
útero e de mama, entre outros que fossem necessários para atender as individualidades
das mulheres (BRASIL, 2011).
Segundo Domingues RM (2013), o PAISM consistiu em um importante divisor, inovando
as políticas públicas, no que se refere a integralidade e equidade para com a saúde da mu-
lher, visando um tratamento de maneira holística, abrangendo todas as fases do ciclo vital, e
não somente o ciclo gravídico-puerperal, como era o enfoque antes da criação do programa.
A partir desse novo modelo, o planejamento familiar passou a garantir o livre acesso
ao atendimento nos serviços de saúde, sendo dada plena liberdade de decisão ao casal
quanto aos métodos de contracepção, pertencendo ao Estado o dever de apenas ofertar e
garantir as orientações aos métodos contraceptivos e todo o acompanhamento necessário
(SILVA CD, et al., 2013).
Hoje, encontra-se uma variedade de contraceptivos no mercado. Alguns demandam
da mulher um entendimento sobre o seu corpo, como os métodos comportamentais, sendo
eles a “tabelinha”, o método de Ogino-Knous, o método de observação do muco cervical
e o método de temperatura. Há também outros, como o coito interrompido, que requerem
um maior controle por parte do homem. Porém, são métodos pouco incentivados devido à
elevada chance de falha.
Os mais usados e encorajados pelo Planejamento familiar são os métodos de barreira,
podendo ser o preservativo masculino e feminino, o diafragma e espermicidas. Dispõe-se
ainda de métodos hormonais: anticoncepcionais orais, injetável mensal e trimestral, e pílulas
de progestogênio.
Outro método é a contracepção de emergência, que previne gravidez indesejada após
o ato sexual desprotegido. Contudo, este meio não exclui a probabilidade de um aborto,
principalmente quando utilizado sem orientação e de forma repetitiva. E, para aqueles casais

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 587


que não desejam ter mais filhos e que se enquadram dentro dos critérios estabelecidos pelo
Ministério da saúde, são indicados métodos definitivos e irreversíveis, sendo eles a vasec-
tomia para o homem e a laqueadura para a mulher (BARROS SMO, 2009).
Garantindo a oferta de anticoncepcionais, o direito de eleição do contraceptivo passou
a ser primordial em relação a saúde e controle da fecundidade. Nesse contexto, o planeja-
mento familiar tem como propósito geral garantir aos casais o direito básico à cidadania e
à escolha de ter ou não filhos (BURATTI CB, et al., 2011).
É importante enfatizar que o Programa de Planejamento familiar não se restringe
somente ao fornecimento de medicamentos necessários à contracepção, há ainda, como
fator indispensável, o esclarecimento sobre os eixos dessa política, para que as mulheres
possam ser protagonistas da própria saúde, construindo seu bem-estar característico, o que
acarretará melhores condições de vida em sociedade (ANDRADE EC e SILVA LR, 2009).
Além disso, ampliar o acesso de mulheres e homens às informações sobre as opções
que existem dos métodos contraceptivos e suas vantagens e desvantagens é essencial para
que suas escolhas sejam assertivas dentro de suas necessidades e realidades. Assim, essa
ampliação possibilita a obtenção de conhecimento acerca dos métodos contraceptivos que
são cientificamente comprovados e disponibilizados, tendo plena liberdade de escolha pelo
que melhor atenda suas particularidades (OSIS MJD, et al., 2006). Para tanto, os profissio-
nais de saúde juntamente com os serviços de saúde precisam assegurar que cheguem até
as mulheres informações adequadas e acesso aos métodos de contracepção eficazes e
seguros, permitindo a escolha do método mais apropriado (PENAFORTE MCL, et al., 2010)
Mediante essas informações, o objetivo deste estudo foi analisar o conhecimento sobre
métodos contraceptivos das mulheres cadastradas no Programa de Planejamento Familiar
de três Unidades Básicas de Saúde em um município da região Sul do Tocantins, visando
contribuir com os profissionais de saúde para melhora na qualidade da assistência à saúde
da mulher.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório com abordagem qualitativa, realizado


em três Unidades Básicas de Saúde (UBS) em um município do Sul do Tocantins. Foram
escolhidas três UBS, todas localizadas na área urbana. A coleta de dados ocorreu nos meses
de setembro a novembro de 2019 nos dias de atendimento do Programa de Planejamento
Familiar das UBS.
A amostra constitui-se de 16 mulheres de 18 a 40 anos, adscritas nas respectivas
UBS, que estiveram em conformidade com os critérios de inclusão da pesquisa, dos quais
eram: mulheres cadastradas no Planejamento Familiar, com idade entre 18 a 40 anos, e que

588 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


aceitassem participar livremente da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido. Foram excluídas da pesquisa mulheres histerectomizadas, que possuíam
algum tipo de déficit cognitivo e aquelas que não aceitaram participar do estudo.
A coleta de dados foi executada pelas próprias pesquisadoras por meio de uma en-
trevista semiestruturada, gravada por um gravador. Foram feitos questionamentos sobre
conhecimento dos métodos contraceptivos, dúvidas e receios sobre o uso desses métodos
e o profissional envolvido na obtenção das respectivas informações. Cada entrevista durou
cerca de 10 minutos. Para análise dos dados utilizou-se a técnica de análise de conteúdo
(BARDIN L, 2011).
Foi realizada, primeiramente, a caracterização dos sujeitos da pesquisa, em seguida
as falas obtidas foram transcritas na sequência, ordenadas, categorizadas e discutidas de
acordo com o referencial teórico. A categorização resultou em três grupos: conhecimento
sobre os métodos contraceptivos, dúvidas sobre o uso dos métodos contraceptivos e infor-
mações sobre os métodos contraceptivos.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa sob o parecer n°
3.549.422. Todas as entrevistadas foram previamente esclarecidas acerca da pesquisa e em
seguida foram assinados os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido. Para garantir o
sigilo da identidade das participantes estas foram identificadas por flores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 16 mulheres entrevistadas, 25% tinham idade entre 18 e 20 anos, 56,25% tinham
idade entre 20 e 30 anos, e 18,75% entre 30 e 40 anos. Em relação ao estado civil, 43,75%
eram casadas, 37,5% solteiras e 18,75% em união estável. Quanto ao número de filhos,
75% das mulheres tinham de 1 a 2 filhos, 12,5% de 3 a 4 filhos e 12,5% não possuíam fi-
lhos. Quando questionadas se já haviam utilizado algum tipo de método contraceptivo em
algum momento de suas vidas, quinze (15) mulheres afirmaram que sim, e apenas uma (1)
relatou que não.
A partir da análise das falas, estas foram agrupadas em três categorias: conhecimento
sobre os métodos contraceptivos, dúvidas sobre o uso dos métodos contraceptivos e infor-
mações sobre os métodos contraceptivos. A seguir, apresentaremos as considerações das
entrevistadas.

Categoria 1: conhecimento sobre os métodos contraceptivos

Os métodos contraceptivos são recursos que podem ser comportamentais, medica-


mentosos ou cirúrgicos. Há métodos de uso específico feminino e masculino e dentre eles
são classificados em métodos reversíveis e não reversíveis (BRANDÃO ER, 2017).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 589


Nas respostas, a seguir, é possível observar que a maioria das mulheres questionadas
conhece os principais tipos de contraceptivos como pílula, Dispositivo Intrauterino (DIU),
preservativo, anticoncepcional injetável e até métodos definitivos.

“Conheço injetável, pílulas e preservativo” (Flor 1).


“Sei que tem o DIU, a injeção, os anticoncepcionais e o preservativo” (Flor 2).
“Anticoncepcional, DIU e camisinha” (Flor 3).
“Tem a camisinha, DIU, o remédio e a injeção” (Flor 4).
“Camisinha masculina, feminina, anticoncepcional em comprimido, vacina,
DIU” (Flor 5).
“Sei do DIU, anticoncepcionais, laqueadura e preservativo” (Flor 6). “Conheço
a pílula, camisinha e o DIU” (Flor 7).

O preservativo masculino e feminino são os métodos mais conhecidos, embora o


masculino tenha maior destaque (VASCONCELOS VN, 2019 e DIAS AR, 2018). Andrade
EC e Silva LR (2009) expõem que o preservativo masculino e anticoncepcional oral foram
os métodos mais citados pelas usuárias. Dados semelhantes são encontrados no presente
estudo. Silva CD, et al. (2013) destacaram em sua pesquisa que, mesmo diante do avanço
das informações, ainda há um desconhecimento acentuado em relação à variedade de
contraceptivos existentes, sendo que os mais citados foram os anticoncepcionais orais e
preservativo masculino.
Observa-se que, neste estudo, assim como nos dados apresentados por Penaforte MC,
et al., (2010), o preservativo masculino está entre os métodos mais conhecidos e utilizados.
Tal fato pode ser justificado devido ao seu baixo custo. Deve-se considerar que, além de
método contraceptivo, o preservativo masculino e feminino é o meio de prevenção para
infecções sexualmente transmissíveis (IST), o qual deve ter o uso amplamente incentivado
(BRASIL, 2017). Nota-se ainda que, em nenhum momento, foi citado por alguma das parti-
cipantes os demais métodos existentes sendo eles comportamentais, cirúrgicos ou mesmo
contraceptivos de emergência, o que leva a inferir que elas não conhecem ou não recebem
esclarecimentos sobre estes, logo há uma escolha limitada.
Sendo assim é imprescindível que a mulher seja melhor orientada quanto a todos os
tipos de contraceptivos disponíveis no mercado, bem como indicações, contraindicações,
vantagens, riscos e benefícios de cada um. Devem ser levados em conta alguns fatores,
como a decisão da mulher, do casal ou mesmo do homem, bem como suas particularidades,
aliados às condições individuais e circunstanciais dos utilizadores do método (SANTOS AA,
et al., 2015). Medeiros TFR, et al. (2016) relatam em seu estudo que nenhuma das entre-
vistas mencionou a vasectomia como método contraceptivo, sendo este um procedimento
cirúrgico reversível realizado em homens. Resultado semelhante pôde ser observado nessa
pesquisa. Esses achados demonstram que ainda nos tempos de hoje há uma sobrecarga da
mulher como a principal responsável pela contracepção. Fato este que pode ser mais bem

590 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


esclarecido pelos profissionais de saúde no Programa de Planejamento Familiar.

Categoria 2 dúvidas sobre o uso dos métodos contraceptivos

Foi verificado se as entrevistadas apresentavam dúvidas ou receios sobre o uso dos


anticoncepcionais e obtiveram-se as seguintes respostas:

“Só de dois. O DIU por conta da infecção e os comprimidos que são feitos de
farinha, porque estraga o útero. Não tenho nenhum receio não, só em relação
a esses que falei, mas o uso sei como usar corretamente” (Flor 5).
“Sim e não, já usei anticoncepcional, mas ele me deu miomas e não me sinto
bem com ele porque me fez mal. Já usei a camisinha também” (Flor 8).
“Sim. O único receio que tenho é que eu sei que se usar de má forma ele
causa doenças né? ” (Flor 1).
“Hoje não. Eu não uso por motivo de autoestima mesmo, prazer” (Flor 2).
“Mais ou menos. Tenho do anticoncepcional, tem muita conversa dos efeitos
colaterais, de quando parar de tomar e querer engravidar e aí pode acontecer
algum problema nesse intervalo” (Flor 3).
“Tem vez que sim, tem vez que não, tenho mais medo por causa da camisinha,
os comprimidos tenho segurança com eles” (Flor 9).
‘“... vejo que são eficazes se a mulher usar direitinho. Se for remédio, confio
sim. Dúvidas até que não, tenho mais é receio mesmo” (Flor 6).

O contraceptivo precisa apresentar aspectos que garantam sua eficácia, aliada a ha-
bilidade de proteger contra gravidez indesejada e a segurança capaz de amparar ou não
causar danos à saúde de quem o utiliza (POLI ME, 2016).
No estudo de Silva IC (2018), a maior parte das mulheres relatou não ter nenhuma
dúvida quanto ao uso dos métodos contraceptivos e se sentem seguras quanto ao uso
desses métodos. Como pode ser observado no presente estudo, as participantes apresen-
taram receio quanto a efetividade do método que faziam uso, devido aos efeitos colaterais,
e informações inadequadas sobre as ações dos métodos. Observou-se ainda que apesar
dessas participantes relatarem não ter nenhuma dúvida, os informes apresentados por elas
não são coerentes. Estes achados remetem a uma certa fragilidade de conhecimento, o
que leva, na maioria das vezes, a não utilização dos contraceptivos ou até mesmo o uso de
maneira errônea.
Vale ressaltar que a mulher precisa se sentir bem com o método escolhido e que o
anticoncepcional citado pela maioria das entrevistadas é, muitas vezes, usado sem nenhuma
prescrição, orientação ou acompanhamento por profissional de saúde, obtidos com recursos
próprios, o que facilita a presença de falha e consequentemente aumento de efeitos adversos
(ANDRADE EC e SILVA LR, 2009). Achados semelhantes foram encontrados no estudo
de Paz EC e Ditterich RG, (2009), no qual as mulheres entrevistadas sabiam da existência
dos métodos contraceptivos, porém tinham informações bem confusas em relação às ca-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 591


raterísticas destes.
As dúvidas e receios podem ser minimizados se as usuárias forem mais orientadas
quanto a todos os aspectos que envolvem os métodos contraceptivos. Além disso, é impor-
tante que as mulheres busquem se informar mais sobre o assunto e que os profissionais de
saúde intensifiquem suas ações educativas no Programa de Planejamento Familiar. É preciso
também desmistificar o real objetivo do Programa, que é não só assegurar a assistência à
anticoncepção, mas promover ações educativas para que a mulher e/ou o casal possam de-
cidir e planejar com segurança o momento ideal para ter ou não seus filhos (BRASIL, 2008).
Nota-se que há uma boa aceitação em relação ao uso dos contraceptivos, ainda que
essas mulheres tenham algum tipo de dúvida ou receio, o que pode ser sanado intensificando
as orientações, evitando uma gravidez não planejada e infecções sexualmente transmissíveis.
Vale salientar que o ensino de boa qualidade tem como resultado mulheres bem
esclarecidas, maior adesão e continuidade quanto ao uso desses métodos e, ainda, um
aumento de sua eficácia.

Categoria 3: informações sobre métodos contraceptivos

O planejamento sexual e reprodutivo é condição importante para a saúde de homens


e mulheres. Dessa forma, todos têm o direito à atenção e ao planejamento reprodutivo, ou
seja, acesso aos métodos de anticoncepção e concepção, bem como às informações e ao
acompanhamento por um profissional de saúde em um contexto de escolha livre e informada
(RAMOS LA, 2018).
Quando questionadas se já tinham recebido orientações quanto aos métodos contra-
ceptivos e sobre a fonte dessa informação, a maioria afirmou serem enfermeiros e médicos
os principais informantes. Algumas ainda destacaram os agentes de saúde, a escola e
estudantes de enfermagem.

“Enfermeira e a médica complementou o que a enfermeira falou” (Flor 10).


“Agente de saúde, enfermeiro” (Flor 8).
“Sim, por enfermeiros, médicos” (Flor 1).
“Na escola sempre tinha palestras, aqui no posto de saúde nunca recebi orien-
tação” (Flor 3).
“Sim, ginecologista” (Flor 11).
“Já recebi por enfermeira e médico” (Flor 4).
“Sim, por médico, enfermeiro, pesquisa particular minha mesmo” (Flor 5).
“Já, por enfermeiro, estudantes de enfermagem, aqui no postinho já teve pa-
lestras” (Flor 6).
“Sim, enfermeiro” (Flor 12).

Silva IC (2018) apresenta em sua pesquisa que a principal fonte de informação para
as mulheres sobre os métodos contraceptivos é o médico, em seguida os enfermeiros e,

592 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


ainda, havia aquelas que relataram não ter recebido orientação alguma.
Andrade EC e Silva LR (2009) exibem o relato de mulheres que obtiveram informações
através da amiga, vizinha, parente, conhecido e marido, e, em uma segunda proporção,
citaram os médicos. Fator este bastante preocupante, pois é o profissional de saúde que
pode melhor orientar em relação a este assunto.
No presente estudo, observa-se que o enfermeiro foi predominante no processo de
transmissão do conhecimento. Isso mostra o quão importante é a atuação dessa classe, visto
que, em geral, é o profissional que possui o convívio mais próximo e direto com o indivíduo,
a família e a comunidade.
Sendo assim deve ser um profissional, sempre pronto a ouvir e acolher, aberto ao di-
álogo, de forma a estabelecer um vínculo de confiança para com a usuária, e, deste modo,
fazer com que ela se sinta livre para escolher e interrogar se assim julgar necessário. O
comportamento do profissional de saúde na assistência à anticoncepção deve englobar não
só aconselhamento, mas, principalmente, ações educativas e práticas clínicas (PAZ EC e
DITTERICH RG, 2009).
Para Poli ME (2016), é de suma importância que a equipe de saúde se prepare para
atender e acolher a mulher, mediante as características clínicas de cada paciente, possibili-
tando o entendimento de todos os métodos contraceptivos, bem como suas características,
efeitos, riscos, benefícios e eficácia.
Apesar dos serviços oferecerem cada vez mais equipes completas para atendimento
nas Unidades Básicas de Saúde, esta pesquisa revelou que algumas entrevistadas não
receberam nenhum tipo de orientação sobre os métodos contraceptivos, o que leva inferir
que possam estar usando de maneira inapropriada, expondo-se a uma gravidez indesejada.

“Eu acho que não” (Flor 2).


“Não” (Flor 7).
“Não” (Flor 9).

Destaca-se aqui a importância de explorar mais sobre este assunto de modo a escla-
recer melhor as usuárias, permitindo que se sintam seguras quanto ao método escolhido e,
ainda, o utilizem de maneira adequada, diminuindo, assim, as chances de falha e os danos
à saúde.
Em geral, os profissionais devem estar continuamente empenhados junto aos propósi-
tos do Planejamento Familiar para que haja modificações no comportamento das usuárias,
resultando em excelentes marcadores de saúde, tal como melhora na qualidade de vida
das mulheres.
O planejamento familiar é um território a ser trabalhado por esses profissionais que, se
qualificados para desenvolver tais atividades propostas, podem assumir com autossuficiência

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 593


o domínio deste Programa (ZUNTA RSB e BARRETO ES, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização deste estudo, constatou-se que as mulheres pesquisadas conhe-


cem sobre os principais tipos de métodos contraceptivos disponibilizados na rede pública
de saúde. A maioria já havia recebido algum tipo de esclarecimento sobre os métodos
contraceptivos, embora ainda apresentassem dúvidas e receios sobre estes. Verificou-se
que profissionais de saúde envolvidos no Programa de Planejamento Familiar realizam
orientações sobre os métodos. Porém, percebeu-se a indispensabilidade de intensificar e
ampliar as informações oferecidas sobre o assunto, tratando-o de forma clara e objetiva, a
fim de que as mulheres possam se sentir seguras na escolha do método de contracepção
e o utilizem de maneira adequada e consciente.

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594 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


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LHÃES, C. C. R. G. N.; PINHEIRO, J. D.; SILVA, M. P. S. DA; RIBEIRO, M. DA S.; BARROS, L.
C. DE S.; ABREU, N. P. DE. Conhecimento das mulheres sobre métodos contraceptivos em um
município do sul do Tocantins. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 44, p. e3026, 2 abr. 2020.
Artigo original.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 595


46
“ Construção do museu de ciências
morfológicas da Universidade
Federal da Paraíba: morfologia,
educação e arte

Monique Danyelle Emiliano Batista Paiva José Danillo dos Santos Albuquerque
UFPB UFPB

Giciane Carvalho Vieira Arthur Felipe de Brito Andrade


UFPB UFPB

Vivyanne Falcão Silva da Nóbrega Marciela Marinalva da Silva


UFPB UFPB

Anna Ferla Monteiro Silva Vytor Lucas Cavalcanti Belarmino


UFPB UFPB

Eliane Marques Duarte de Sousa Maria Caroline Lourenço de Lima


UFPB UFPB

10.37885/200700576
RESUMO

As Ciências Morfológicas integram áreas do conhecimento fundamentais ao entendimento


da estrutura e funcionamento dos organismos. Seu estudo é básico para os cursos
das áreas biológicas e da saúde, além de fundamental para todo cidadão que busca
conhecer o seu próprio organismo. Museus de ciências morfológicas são espaços,
geralmente vinculados a universidades e instituições de ensino, e buscam, a depender
de sua vinculação institucional, repassar conhecimento ao público. O Museu de Ciências
Morfológicas da Universidade Federal da Paraíba (MCM-UFPB) iniciou seu processo
de formação no ano de 2018 e segue em construção e estruturação. Neste capítulo,
buscamos mostrar a dinâmica de condução do processo, a importância da implementação
desse projeto, além de um levantamento dos museus pelo Brasil, convidando o leitor a
refletir sobre os desafios encontrados e os benefícios esperados.

Palavras-chave: Anatomia; Museus; Conhecimento; Difusão de inovações.


INTRODUÇÃO

A origem da palavra Morfologia vem do grego morphé, que significa “forma”. O conceito
biológico da Morfologia foi desenvolvido pelo escritor alemão Johann Wolfgang Von Goethe,
em 1790, e confirmado pelo anatomista e fisiologista alemão Karl Friedrich Burdach, em 1800.
As Ciências Morfológicas incluem três áreas que são: Anatomia, Histologia e Embriologia.
O termo Anatomia vem do grego anatemnō que significa cortar em partes. Objetiva o
estudo da forma, disposição e inter-relação das estruturas corporais. A Histologia (do grego
hystos = tecido + logos = estudo) é a parte das ciências morfológicas que estuda as células e
os tecidos do corpo, como essas estruturas se organizam para formar os órgãos, bem como
suas interações morfofuncionais. A Embriologia é a ciência que estuda o desenvolvimento
embrionário dos organismos vivos, ou seja, o processo de formação do embrião a partir de
uma única célula, o zigoto, que originará um novo ser vivo.
Museus de Ciências Morfológicas, geralmente, buscam oferecer ao público/comunidade
em geral, uma amostra didática e adaptada das descobertas em Anatomia, Embriologia e
Histologia, de uma forma clara e dinâmica.
O Museu de Ciências Morfológicas da Universidade Federal da Paraíba (MCM – UFPB)
oferecerá ao público uma viagem ao corpo humano possibilitando a aquisição do conheci-
mento sobre sua origem, observação da macro e microestrutura, além de comparação com
outros organismos do reino animal. O acervo contará com a exposição de peças anatômicas
reais e sintéticas, visualização de células, tecidos e órgãos em microscópios ópticos (de luz),
além de embriões e fetos em diferentes estágios de desenvolvimento.
O ambiente será um importante espaço de integração entre a comunidade e a Uni-
versidade Federal da Paraíba (UFPB), favorecendo, principalmente, os alunos do ensino
fundamental e médio das escolas públicas e privadas do Estado da Paraíba, além da pos-
sibilidade do desenvolvimento de vários projetos pelos alunos da própria instituição.
Esse capítulo tem por objetivo apresentar a proposta de um Museu em construção,
sediado no Departamento de Morfologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal da Paraíba (DMORF – UFPB), mostrando suas ações, proposições e posicionan-
do-o socialmente, diante das demandas regionais e mediante ações de outros museus de
ciências. O referido museu apresenta uma comissão formada por docentes das três áreas
da Morfologia e tem sua implantação executada com a participação dos extensionistas co-
ordenados por uma das docentes. A seguir teremos a apresentação de todas as linhas de
trabalho e suas constatações.
Todos os dados aqui relatados tem por base os projetos submetidos nos editais FLUEX/
UFPB em 2019 e PROBEX/UFPB em 2020, intitulados “Museu de Ciências Morfológicas da
UFPB: da concepção à formação do corpo humano”, assim como os resumos apresentados

598 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


e publicados nos anais do ENEX/UFPB 2019 (Encontro Nacional de Extensão).

APRESENTAÇÃO DAS LINHAS DE TRABALHO

Dissecação cadavérica: integração teórico-prática como estratégia de aprendizagem

A Anatomia Humana por muito tempo representou o desconhecido e levantou vários


questionamentos, os quais levaram à antiga prática da dissecação. Esta se iniciou próximo
ao século V a.C, sendo realizada em animais para que o conhecimento obtido pudesse ser
ampliado para à espécie humana. No decorrer do tempo,houve obstáculos para a continui-
dade desta prática, principalmente por motivos religiosos e éticos.
A utilização de cadáveres humanos era proibida. Entretanto, mesmo com essas proi-
bições, os estudos realizados em animais contribuíram de maneira significativa e avançada
para a época. No século V, os estudos de Anatomia foram completamente proibidos sendo
considerados repulsivos e horripilantes. Tal proibição durou cerca de 700 anos, mas com a
abertura da primeira universidade de Medicina foram trazidos estudos anatômicos anterior-
mente realizados e as práticas foram legalizadas. Atualmente são utilizados métodos para
conservação dos cadáveres, mas antigamente a dissecação precisava ser realizada em até
48 horas após o óbito devido à inexistência desses métodos.
A prática do estudo anatômico avançou de modo indubitável, uma vez que ela não era
exclusivamente de interesse médico, mas também de artistas da época como Leonardo da
Vinci que queriam representar a Anatomia Humana com precisão. A dissecação tem sido
um método de fixação do conteúdo, já que o aluno pode pôr em prática os ensinamentos
que foram adquiridos em suas experiências teóricas. Destarte, facilita a propagação do co-
nhecimento, pois as peças são produzidas com intuito de dispor às estruturas anatômicas
para o estudo e exposição no futuro Museu de Ciências Morfológicas.
Além de ser uma técnica de unificação do saber, a dissecação ajuda também os exten-
sionistas a desenvolverem competências que diminuem a sobrecarga que é proporcionada
pela extensa carga horária dos cursos de Ciências Biológicas e da Saúde. O objetivo do
presente trabalho foi realizar um treinamento de dissecação com os extensionistas do projeto
e a preparação de peças anatômicas para o acervo do museu. A atividade foi realizada por
alunos dos cursos de Biomedicina, Ciências Biológicas, Fonoaudiologia e Odontologia nos
laboratórios de Anatomia do DMORF-UFPB.
A dissecação foi iniciada com a distribuição dos alunos em grupos com número de
quatro a seis integrantes. Em seguida, foram apresentadas as normas de biossegurança e o
instrumental a ser utilizado. Além disso, os discentes aprenderam a manusear o instrumen-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 599


tal, de forma a prevenir acidentes e aproveitá-los da melhor forma na técnica e cada grupo
recebeu as orientações e planejamento quanto a peça que iria dissecar. As práticas foram
supervisionadas e auxiliadas por professores e técnicos do departamento, sendo divididas em
etapas e realizadas durante horários propostos pelos integrantes de cada grupo. A técnica
foi realizada em cadáveres previamente conservados em solução fixadora de formaldeído
a 10%, obtendo-se um total de 8 peças produzidas, dentre as quais, membros superiores,
membros inferiores, parede anterior do abdome e dorso.
As atividades de dissecação foram de extrema importância para a formação dos alunos
participantes. Além de terem contribuído significativamente para a fixação dos conteúdos de
Anatomia por meio das experiências visual e tátil, as práticas colaboraram para o desenvol-
vimento da capacidade de observação, agilidade, precisão e destreza manual. Sendo assim,
essas atividades proporcionaram aos alunos extensionistas participarem da confecção das
peças anatômicas que serão exibidas em exposições didático-científicas no MCM, as quais
servirão para a desmistificação do uso do corpo humano no ensino e a ampliação das opor-
tunidades educacionais para alunos do ensino fundamental e médio.

A glicerinação como técnica de conservação de fetos e anexos embrionários.

As técnicas anatômicas são utilizadas para manter peças cadavéricas conservadas,


pois seu uso é indispensável para o ensino, contribuindo com a melhora das habilidades
aplicativas, assimilativas e compreensivas de disciplinas de Anatomia. Estas são geralmente
usadas em conjunto, conforme determinados métodos. Deste modo, uma peça pode ser
conservada com a utilização de duas ou mais técnicas. Além da formolização, uma outra
técnica utilizada é a glicerinação, que tem como característica, desidratar e ao mesmo tempo
manter a integridade celular.
Estudos demonstram que a glicerinação é uma técnica que propicia uma melhor pre-
servação das peças, evidenciando melhor as estruturas anatômicas. Ademais, pelo fato da
glicerina se tratar de substância menos agressiva, reduz a eliminação de vapores prejudiciais
à natureza e aos manipuladores. Além disso, é uma substância inodora e, por conseguinte,
não irrita as mucosas, não é uma substância cancerígena e oferece um nível de contami-
nação muito inferior ao do formol no que concerne ao meio ambiente.
A técnica da glicerinação envolve etapas que vão desde a formolização e a preparação
da peça anatômica à glicerinação propriamente dita, que se constitui nas seguintes etapas:
desidratação; clareamento; impregnação da glicerina a 98% e escoamento. A desidratação
tem duração em média de 07 (sete) dias, nessa etapa as peças são imersas em álcool etílico
a 70% em caixas com tampas a temperatura ambiente. O clareamento das peças se dá por
meio da submersão em água oxigenada a 3%, e depois são novamente armazenadas em

600 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


caixas com tampas a temperatura ambiente. Após essa etapa, as peças são imersas em
Glicerina a 98%.
O objetivo do presente trabalho foi preparar peças anatômicas do acervo da Embriologia
para o Museu de Ciências Morfológicas utilizando a técnica de glicerinação. Para a realização
da técnica, foram selecionadas peças anatômicas tais como fetos, placentas e encéfalos
de fetos pertencentes ao acervo didático do Departamento de Morfologia do CCS/UFPB.
Na etapa inicial, as peças foram formolizadas, utilizando-se formol a 10%. A etapa
seguinte consistiu na técnica de glicerinação que compreendeu: 1 - Desidratação que con-
sistiu na imersão das peças anatômicas em álcool etílico a 70% durante aproximadamente
7 (sete) dias, 2 - Impregnação das peças anatômicas em solução de glicerina a 98% por
um período de aproximadamente 45 dias e 3 - por último o escoamento. Não foi realizado
o clareamento das peças com água oxigenada preconizada pela técnica modificada de
glicerinação, com receio de que as peças ficassem frágeis com a submersão na solução.
Mediante a metodologia empregada foi possível a obtenção de 02 placentas, 01 feto com
cordão umbilical e placenta, 1 feto com a medula espinal dissecada, 01 feto não dissecado
com aproximadamente 20 semanas de desenvolvimento e 01 encéfalo fetal envolto pela
dura-máter.
Verificou-se que, após a realização da técnica, as peças glicerinadas são bem mais
fáceis de armazenar e manusear. Outra característica importante a considerar é que, ao
contrário do formol, a glicerina é inodora e atóxica. Além disso, a glicerina apresenta um
ponto extremamente favorável, quando comparada ao formol, posto que essa substância
não escurece a peça anatômica destacando melhor as estruturas. Os resultados obtidos
nesse estudo permitem inferir que a técnica de glicerinação é eficiente no que diz respeito à
conservação de fetos e anexos embrionários. Destarte, apresenta muitas vantagens, princi-
palmente no que concerne aos resultados estéticos, morfológicos, e no tocante a facilidade
no manuseio das peças e menor toxicidade.

Pintura de Ossos: Facilitando a compreensão do visitante do Museu de Ciências


Morfológicas

O objetivo desta atividade foi realizar a pintura de ossos do crânio e da face com dife-
rentes cores, para tornar clara a visualização dos limites e localização dos mesmos. Essa
atividade foi dividida em 03 partes: 1 a) visualização dos limites ósseos do crânio a ser
pintado; 2 a) eleição das cores com ajuda de um atlas anatômico e 3 a) pintura em si. Com
auxílio de um atlas de Anatomia Humana, foram retiradas as ideias e principais cores que
poderiam ser utilizados em cada osso, ficando assim estabelecido: azul céu para o osso
frontal; laranja para os ossos zigomáticos; vermelho para os ossos nasais; azul petróleo

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 601


para as maxilas; lilás para os ossos lacrimais; rosa goiaba para os ossos temporais; roxo
para o osso occipital; verde para os ossos parietais; cinza para os ossos palatinos e tam-
bém etmoide; azul claro para o vômer. Apenas a mandíbula e as conchas nasais inferiores
permaneceram com suas cores naturais.
Modelos didáticos permitem a experimentação, dando oportunidade aos estudantes
de correlacionarem a teoria com a prática, propiciando a compreensão dos conceitos, o
desenvolvimento de habilidades e competências. Visto que o estudo da Anatomia Humana
se dá por meio da visualização de peças anatômicas, nota-se a importância na elaboração
de meios didáticos, pois estes auxiliam de forma eficaz no processo de ensino e aprendiza-
gem. Foi obtido um total de 02 crânios pintados com 10 cores diferentes, um se encontra no
ossário do Departamento de Morfologia e o outro será levado para o MCM do Departamento
de Morfologia da UFPB.
Diante disso, o modelo didático de crânios com ossos pintados tem como objetivo au-
xiliar na compreensão de sua disposição, dando enfoque aos ossos da cabeça, utilizando
modelos visuais. Pode-se destacar também quão valiosa para o extensionista foi a realiza-
ção desta atividade, aprimorando o conhecimento e a gratidão de poder colaborar com o
aprendizado de Anatomia Humana.

O corpo humano em desenhos e pinturas: expressões artísticas do Museu de Ciências


Morfológicas da UFPB

O objetivo do presente trabalho foi representar de forma plural o conhecimento anatô-


mico por meio de artes plásticas, pintura e desenho. As obras foram confeccionadas a partir
da observação dos corpos humanos do acervo anatômico de peças cadavéricas formolizadas
e a partir de outras referências, como atlas de Anatomia.
Utilizou-se para a confecção das obras: lápis de cor, lápis grafite 2B, 4B, 6B e 8B, tintas
acrílicas de cores variadas, papel do tipo casca de ovo branco de 180g/m2 de 210mmx297mm,
papel Canson branco de 200 g/m² de 297mmx300mm, papel branco comum de 75 g/m² de
210mmx297mm e telas de tecido branco de 60x40cm, onde foram realizados desenhos e
pinturas à mão livre. Mediante a metodologia empregada foi possível a obtenção de dois
desenhos em grafite (do osso esfenoide e de uma vespa), cinco telas que formam um de-
senho do corpo de uma mulher e cinco telas representando os órgãos dos sentidos (visão,
audição, tato, olfato e paladar) para exibição no salão de exposição permanente do museu.

MUSEUS DE CIÊNCIAS MORFOLÓGICAS PELO BRASIL

No Brasil existe o MCM (Museu de Ciências Morfológicas) da UFMG (Universidade


Federal de Minas Gerais) que mostra, por meio de exposições didático-científicas perma-

602 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


nentes, peças anatômicas, esculturas em gesso e resina, fotomicrografias de células e
tecidos aos microscópios de luz e eletrônicos, embriões e fetos em diferentes estádios de
desenvolvimento, além de equipamentos de áudio e vídeo, que facilitam o trabalho didático
e de divulgação científica realizados no Museu. O ambiente focaliza ainda a integração entre
ensino, pesquisa e extensão. Projeto pioneiro na divulgação científica e educação para a
Ciência nesta área, o MCM foi aberto ao público em 1997 e tem como objetivos ampliar e
difundir o conhecimento da estrutura e funcionamento do organismo humano, como forma
de despertar, em cada cidadão, a consciência da necessidade e da importância do cuidado
e da preservação da vida com qualidade.
A UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) conta também com um Museu
de Ciências Morfológicas (2009), o qual possui um importante acervo de Anatomia Humana
com representações de peças de todos os sistemas do corpo humano, bem como o desen-
volvimento embrionário. Possui ainda uma sala com o acervo de Anatomia Comparada, com
importantes animais da fauna do Estado, organizados evolutivamente e ainda, uma sala com
o Museu do Mar, constituído por diferentes animais marinhos, desde invertebrados até gran-
des cetáceos. Além disso, nele são desenvolvidos diversos projetos de extensão. O estado
conta ainda com o Museu de Anatomia da UNI-RN que apresenta rico acervo, ressaltando
o estudo da Anatomia Comparada.
No Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo) encontra-se
o Museu de Anatomia “Prof. Alfonso Bovero” (MAH) que foi gradativamente formado a partir
de 1914. Além de peças anatômicas dos diversos sistemas do corpo humano, preparadas
por dissecação, diafanização, injeção e corrosão, o museu conta com uma coleção de crâ-
nios. No Instituto de Ciências Biológicas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
existe um Museu de Anatomia, inaugurado em 2017 e, em Brasília, na UNB, o qual foi aberto
à visitação pública em 1986.
Há também outros museus de Anatomia com exposições temporárias e periodicidade
anual como o da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre).
E museus virtuais como o Museu de Anatomia Humana da Faculdade de Medicina da Uni-
versidade de Brasília (UNB), que é disponibilizado em mídia digital desde 2013.

A IMPORTÂNCIA DOS MUSEUS DE CIÊNCIAS

Diferentemente dos museus históricos, que buscam ter um grande acervo para pre-
servação de bens culturais ou coleções já existentes, os museus de ciências têm como
objetivo montar exposições que valorizem o processo de ensino e aprendizagem. Portanto,
são compostos por coleções didático-científicas e interdisciplinares, que buscam facilitar o
entendimento do público sobre determinados assuntos da ciência (RIBEIRO, 2005).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 603


Os museus de Ciências se caracterizam como espaços de produção, educação e
divulgação do conhecimento, tendo como objetivo principal ampliar a cultura científica na
população, oferecendo variadas formas de acesso a esse saber (MARANDINO, 2001).
Para Silva e Carneiro (2006), os museus de Ciências estão relacionados ao ensino,
extensão e pesquisa universitária que se constituem no tripé de sustentação e avanço das
instituições de ensino. Por meio deles, o público alvo pode ter acesso ao conhecimento
científico adquirido nesses ambientes que se encontra em exibição.
Faria et al. (2011) referem que as escolas buscam cada vez mais por visitas sistema-
tizadas dos estudantes aos museus e Grinspum (2012), que os professores levam cada
vez mais alunos aos museus, afirmando ainda a existência de uma tendência a utilização
reprodutora do espaço dos museus pela escola e uma expectativa do museu que a escola
utilize-o de forma dinâmica e diferenciada.
Para que haja a efetividade de um dos objetivos do Museu, que é a popularização da
ciência, os professores têm um papel essencial. Eles podem, por meio de suas ações pe-
dagógicas, promover visitações e interações com o espaço do museu, proporcionando essa
popularização e aproximação da ciência com aquele público escolar. Para isso, os docentes
precisam conhecer e acreditar no potencial educativo do museu, o que pode ser iniciado
ainda nos cursos de formação de professores (SANT’ANA et al., 2011).
Silva, Campos e Mateus (2013) citam o reconhecimento dos museus de Ciências pelos
professores, como locais de aprendizagem e como ambientes facilitadores para a apren-
dizagem escolar. Esses autores desenvolveram um estudo com o objetivo de identificar a
contribuição de um museu de Ciências para o processo de ensino e de aprendizagem em
Ciências e Biologia, a partir da análise de professores do ensino básico. A avaliação dos
professores se deu em relação a dois aspectos: atividades realizadas no Museu, envolvendo
as seguintes dimensões: aspectos gerais; linguagem; metodologia utilizada; aula (teórica
e prática); monitores; espaço físico/acervo e contribuição da visita para a formação dos
alunos. A potencialização do processo de aprendizagem que ocorre nas visitas a museus
fica evidente nessa pesquisa que aponta que 96,3% das respostas afirmam que Museu de
Anatomia contribuiu para aprendizagem dos alunos, sendo que 45,5% indicaram a contri-
buição do museu para a aprendizagem (38,8% conhecimento; 25% relação com conteúdo
escolar; 11,1% esclarecimento de dúvidas; 11,1% formação como cidadãos; 8,3% motiva-
ção; 2,7% outros) e 68,3% indicaram que os elementos presentes no museu contribuíram
para a aprendizagem (46,4% visualização e contato visual com materiais concretos; 26,8%
contato com materiais – espaço diferente da escola; 26,8% vivência e articulação de teoria
e prática). Pelos dados obtidos, foi verificado a avaliação dos professores sobre o Museu
e a contribuição da visita para a formação dos alunos foi bastante positiva, explicitando a

604 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


relação entre o Museu e a aprendizagem escolar.
O interesse das escolas em visitar o museu tem uma relação direta com o programa de
ciências que elas desenvolvem. Geralmente o professor do ensino fundamental e médio que
procura o museu está interessado em conteúdos diretamente relacionados com a matéria
que ele está dando em aula. Este tipo de anseio se justifica, pois uma visita extra-escolar
deve apresentar algum vínculo com o que é desenvolvido em aula (MARANDINO, 2001).
Para o museu, a relação entre o currículo formal e os conteúdos abordados em suas
exposições é vista de uma forma particular, diferente da perspectiva da escola. O museu
não organiza, necessariamente, seus conteúdos a partir do currículo formal, apesar dos
conceitos apresentados nas exposições guardarem relação com as temáticas científicas
universais. Em linhas gerais, pode-se dizer que os museus trabalham com o saber de
referência tanto quanto a escola, porém dão a estes uma organização diferenciada, além
de utilizarem linguagens próprias. Sob essa ótica, o museu se diferencia da escola não só
quanto a seleção e amplitude dos conteúdos abordados, como também em relação à forma
de apresentação deles. Os museus de Ciências pretendem assim ampliar a cultura científica
dos cidadãos, promovendo diferentes formas de acesso a este saber. Através de variados
estímulos oferecidos ao público, diferentes daqueles da escola, o processo de aquisição do
conhecimento se torna particular nesses espaços (MARANDINO, 2001).
Os Museus, na atualidade, tornaram-se, uns dos principais meios de interação entre
a ciência e a sociedade. Por meio deles há a popularização, a divulgação e aprendizagem
não formal da ciência, baseados sempre na interatividade do público com as peças da ex-
posição (CHINELLI et al., 2008).
Nos tempos atuais tem se tornado cada vez mais evidente uma crescente expansão
dos espaços não formais para as práticas de ensino e aprendizagem, sobretudo os Museus
e Centros de Ciências (FERREIRA, 2015).
A experiência da visita ao Museu, sob o ponto de vista do tema da aprendizagem,
pode abrir espaço para a participação de alunos que geralmente não se manifestam na sala
de aula e dar oportunidade para que outros conteúdos, além dos formais, possam surgir e
ganhar legitimidade (MARANDINO, 2001).
Back et al. (2017) compreendem que se deve incitar os processos de educação em
espaços não formais de ensino como forma de despertar os olhares para o contexto do
aluno, ampliando o espaço da sala de aula e os diálogos estabelecidos num movimento de
motivação e complementação ao processo de aprender Ciências.
Ademais, os Museus e Centros de Ciências estimulam a curiosidade dos visitantes.
Esses espaços oferecem a oportunidade de suprir, ao menos em parte, algumas das ca-
rências da escola como a falta de laboratórios,recursos audiovisuais, entre outros (VIEIRA

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 605


et al., 2005).
Os Museus de Ciências também promovem a interdisciplinaridade, ou seja, a integração
das áreas do conhecimento que contemplam o ser humano em sua totalidade. Não incentiva
a população a possuir um conhecimento vago e fragmentado, mas sim, alicerçado e com o
envolvimento de todas as áreas (PIRES, 1998).
Lima e Pereira (2010) ressaltam a importância da participação de alunos monitores e
extensionistas nas práticas cotidianas do museu e referem que esse processo de capacita-
ção de estudantes de graduação, tendo como metodologia o contato direto com o material,
proporciona o autoconhecimento das suas próprias potencialidades,caráter imprescindível
para o desenvolvimento pessoal e profissional. A experiência com o museu de Anatomia
Humana e Comparativa tem sido de grande contribuição à formação profissional desses
estudantes com um enfoque mais social e cidadão, pelo contato direto com o material, pela
troca de conhecimento e de experiências. Com isso, os mesmos são transformados em
agentes de transformação por meio do conjunto acadêmico adquirido.
Cabe ressaltar também, que as atividades dos Museus são baseadas em metodologias
ativas, ou seja, os discentes são protagonistas na busca pelo conhecimento através do ma-
nuseio das peças do Museu, bem como, cotidianamente, a interação com o público faz com
que eles possam adquirir conhecimento de maneira ampliada e integrada, como também,
de uma forma diferente da habitual, em que, muitas vezes, é baseada na pedagogia de
transmissão e tem-se a ocorrência de uma educação fragmentada (MACEDO et al., 2018).

JUSTIFICATIVA E BENEFÍCIOS ESPERADOS

É de suma importância a criação de um Museu de Ciências Morfológicas para a Uni-


versidade Federal da Paraíba já que não dispomos de outro museu com essa finalidade,
constituindo-se então em um projeto pioneiro na instituição e no Estado da Paraíba. Ele
se configurará em um espaço de disseminação de conhecimento nas áreas de Histolo-
gia, Embriologia e Anatomia Humana e Comparada com um público alvo externo bastante
abrangente, incluindo, especialmente, estudantes do ensino fundamental e médio da rede
pública de ensino, além de um público interno que incluirá os docentes, discentes e servi-
dores técnico-administrativos da UFPB.
A multidisciplinaridade, envolvendo as três áreas de conhecimento, a interatividade por
meio de outros projetos de extensão que nele funcionarão como o de vídeo-aulas, o de artes
manuais e o de metodologias ativas para portadores de necessidades especiais (deficientes
visuais) beneficiarão não só o extensionista, que será peça chave nesse processo; a equipe
técnica, que poderá expor seus conhecimentos em um ambiente não formal de ensino; mas,
principalmente, o público externo que certamente se encantará com essa viagem que irá

606 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


desde a concepção até a formação do corpo humano.

CONCLUSÃO

Com previsão para inauguração em novembro de 2020, o MCM-UFPB vem buscando,


em todo o seu planejamento e construção, atender e abraçar uma demanda existente na
sociedade paraibana. Especificamente, busca disseminar o conhecimento acerca da forma
e funcionamento do corpo humano, tendo uma função educativa e social. Permitirá que os
visitantes tenham uma visão ampla sobre o corpo humano, proporcionando não só o seu
conhecimento, mas também os seus aspectos micro e macroscópicos de sua formação.

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espaço não-formal de educação na percepção de professoras de ciências. Rev. Ensaio. v.13, n.1,
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608 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


47
“ Consumo de álcool entre
estudantes de medicina de um
Centro Universitário de Teresina - PI

Hiago Véras Araújo Soares Kaique Queiroz Leite


UESPI UESPI

Matheus Véras Araújo Soares Adriana Sávia de Souza Araújo


UFPI
UNINOVAFAPI

Matheus Pimentel Leite Rocha


UNINOVAFAPI

Rebecca Portela Monteiro Freire


UNIFACID

Julie Rocha Porto


UNIFACID

10.37885/200700643
RESUMO

O estudo objetivou analisar o consumo de álcool entre estudantes de medicina de um


Centro Universitário. Trata-se de um estudo descritivo-quantitativo. Amostra composta
por 256 estudantes de medicina do 1º ao 8º período. Utilizou-se um questionário
sociodemográfico e o AUDIT. Os resultados evidenciaram: 53,5% sexo masculino;
idade média 21,96 anos; 96,5% solteiros; 76,2% começaram a beber entre 15-20 anos;
sentimento de culpa ou remorso se acentua com o aumento da frequência de consumo de
álcool; 71,1% nunca foram questionados por pessoas próximas a respeito de bebedeiras;
65,2% não deixaram de realizar as atividades nos últimos 12 meses; 24,2% causaram
prejuízos a si mesmos ou a terceiros; 49,6% apresentaram “uso de baixo risco”. Os
resultados demonstram a necessidade de implementação no âmbito universitário de
medidas de prevenção e combate ao uso do álcool.

Palavras-chave: Bebidas Alcoólicas; Alcoolismo; Medicina.


INTRODUÇÃO

O álcool, substância psicoativa mais consumida no mundo (NELSON e McNALL, 2016),


enquanto substância neurotóxica, é capaz de provocar várias alterações no processamen-
to das informações pelo cérebro, prejudicando as funções visuoespaciais e executivas, o
desempenho visual e motor, a velocidade psicomotora, a memória e a tomada de decisões
(BACHETTI et al, 2017). Aliado a isso, o grande potencial para a dependência física e psi-
cológica gera um importante prejuízo para a saúde individual e coletiva.
Para Barbosa et al (2013), a permissividade do consumo na maioria das culturas e
sociedades, aliada ao estresse da educação médica tornam os estudantes vulneráveis ao
uso crônico e excessivo de álcool. Não obstante, a exposição nociva acarreta prejuízo no
desenvolvimento e na estruturação de habilidades cognitivo-comportamentais e emocionais
entre estudantes de medicina.
Soma-se a isso a instabilidade do período relativo ao ingresso na universidade. Novos
círculos de relacionamento, carga horária excessiva, privação do contato familiar e do lazer
são fatores que podem desencadear situações de crise e busca de estratégias para enfren-
tar esse período probatório. Portanto, a ingesta de álcool por vezes é caracterizada como
lúdica, propiciando um momento de integração entre universitários.
O impacto do uso de bebidas alcoólicas incide ainda na formação do profissional mé-
dico. Sabe-se que o médico influencia direta e indiretamente a saúde pública por meio da
habilidade diagnóstica e curativa, além de servir de modelo para a sociedade (BARBOSA et
al, 2013). Dessa maneira, apesar do conhecimento dos efeitos da autointoxicação por álcool
o consumo é socialmente aceito, e por muitas vezes estimulado, nesse grupo.
Cabe ressaltar que a existência de conotação moral na avaliação do envolvimento
com o uso nocivo empobrece o enfrentamento e relativiza a estatística deste agravo. Os
números já chegam a 2 bilhões de consumidores de bebidas alcóolicas no mundo, havendo
76,3 milhões de pessoas diagnosticadas com desordens decorrentes da ingesta em questão
(ROCHA et al, 2011).
Em função da importância e relevância do consumo de álcool entre jovens brasileiros,
particularmente estudantes de medicina, este estudo avaliou o consumo de álcool por es-
tudantes de medicina de um Centro Universitário de Teresina-PI, caracterizou quanto aos
dados sociodemográficos e descreveu o padrão de consumo de álcool entre os estudantes.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa e delineamento trans-


versal. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 611


de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí - UNINOVAFAPI, sob o parecer
N°83037618.0.0000.5210.
A população do estudo foi composta por 256 estudantes do curso de medicina de um
Centro Universitário de Teresina-PI, de ambos os sexos, devidamente matriculados, cursando
entre o primeiro e o oitavo período, sendo 43 alunos do 1º período, 43 do segundo período,
49 do terceiro período, 24 do quarto período, 28 do quinto período, 21 do sexto período, 26
do sétimo período e 22 do oitavo período.
Foram excluídos os estudantes de medicina que não consumissem bebidas alcoóli-
cas, estivessem com a matrícula trancada ou que estivessem ausentes da sala de aula no
momento da coleta dos dados.
A coleta de dados foi realizada de maio a junho de 2018, pelos próprios pesquisadores.
O agendamento do horário e coleta de dados foi realizado em acordo com os líderes de
turmas. A coleta foi feita em sala de aula dos respectivos períodos, nos horários que antece-
diam uma aula teórica. Precedendo a coleta, os estudantes foram devidamente esclarecidos
sobre os objetivos, metodologia, bem como riscos e benefícios. Os que aceitaram participar
do estudo assinaram, em duas vias, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Para obtenção dos dados foram utilizados dois questionários: um para a identificação
dos dados sociodemográficos e o Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT), que tem
como finalidade identificar precocemente clientes com necessidade de reduzir ou abster-se
do uso de bebidas alcoólicas. O referido teste é composto por 10 questões pontuadas com
valores entre zero e quatro pontos. O somatório dos valores atribuídos a cada questão gera
um escore que pode variar de 0 (zero) a 40 pontos. Através deste teste é possível classificar
o consumo alcoólico em quatro categorias: “uso de baixo risco” (zero a sete pontos), “uso
de risco” (oito a 15 pontos), “uso nocivo” (16 a 19 pontos) e “provável dependência” (20 ou
mais pontos) (DE MICHELI, FORMIGONI, RONZANI, 2008).
As variáveis do estudo foram: características sócio demográficas (idade, sexo, situação
conjugal, renda familiar, semestre em curso, idade durante a primeira ingesta de bebidas
alcoólicas e uso das mesmas por familiares) e uso de álcool (frequência e dose).
Os dados coletados foram organizados em tabelas do Excel® e, posteriormente, foi
feita interpretação, sendo apresentados em tabelas e gráficos, utilizando-se variáveis ordinais
por meio de frequência absoluta e frequência percentual.

RESULTADOS

A amostra estudada foi composta por 256 estudantes, sendo 53,5% (137) do sexo
masculino e 46,5% (119) do sexo feminino. A média de idade foi de 21,96 anos; 32% (82)
possuem renda familiar média entre 10 e 15 salários mínimos e 96,5% (247) deles são sol-

612 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


teiros, como demonstrados na Tabela 1.

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica dos estudantes de medicina de um Centro Universitário. Teresina – PI, Brasil.
2018.

Disposição quanto ao sexo Frequência %

Masculino 137 53,5


Feminino 119 46,5
TOTAL 256 100
Faixa etária Frequência %
15 a 19 anos 35 13,7
20 a 24 anos 185 72, 3
25 a 29 anos 27 10,5
30 a 34 anos 8 3,1
35 a 39 anos 0 0
40 a 44 anos 1 0,4
MÉDIA 21,96 -
TOTAL 256 100
Renda familiar Frequência %
Alta (superior a 20 salários mínimos) 50 19,5
Média Alta (entre 15 e 20 salários mínimos 58 22,7
Média (entre 10 e 15 salários mínimos) 82 32
Média Baixa (entre 5 e 10 salários mínimos) 47 18,4
Baixa (1/2 a 2 salários mínimos) 19 7,4
TOTAL 256 100
Estado civil Frequência %
Casado (a) 4 1,6
Solteiro (a) 247 96,5
Divorciado (a) 1 0,4
Outros 4 1,6
TOTAL 256 100

Fonte: SOARES et al.; 2018.

A Tabela 2 demonstra que 76,2% (195) dos estudantes de medicina começaram a


ingerir álcool na faixa etária de 15-20 anos.

Tabela 2. Frequência da idade em que os estudantes de medicina de um Centro Universitário começaram a beber e
número de vezes em que não fizeram o que era esperado nos últimos 12 meses pelo consumo de álcool de acordo com
o semestre em curso. Teresina – PI, Brasil. 2018.

Idade Frequência %

8 a 14 anos 51 19,9
15 a 20 anos 195 76,2
21 a 26 anos 10 3,9
MEDIA 16,38 -
TOTAL 256 100

Vezes nos últimos 12 meses que não fez o que era esperado pelo consumo de álcool

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 613


Menos que uma vez Uma vez por
Nunca
por mês mês
1º 25 (15,3%) 11 (16,7%) 4 (19,%)
2º 23 (14,1%) 16 (24,2%) 4 (19,0%)

Semestre 3º 29 (17,8%) 13 (19,7%) 5 (23,8%)


em curso 4º 14 (8,5%) 9 (13,6%) 1 (4,8%)
5º 22 (13,5%) 4 (6,1%) 2 (9,5%)
6º 14 (8,6%) 6 (9,1%) 1 (4,8%)
7º 20 (12,3%) 3 (4,5%) 2 (9,5%)
8º 16 (9,8%) 4 (6,1%) 2 (9,5%)
Total 163 66 21

Fonte: SOARES et al.; 2018.

Pode-se verificar na Tabela 3 que, dos que ingeriram álcool uma vez por mês ou menos,
61,5% (56), nunca sentiram remorso, 36,2 % (33) sentiram remorso menos que 1 vez por
mês. Quando a frequência foi de 2- 4 vezes por mês, 33,5% (43) nunca sentiram remorso,
50% (64) sentiram remorso menos que 1 vez por e 16,5% (21) sentiram uma vez por mês.
Em relação ao número de doses de álcool consumidas em um dia normal, observou-se
que 47,5% (65) dos estudantes do sexo masculino e 48,7% (58) do sexo feminino ingerem
de 0 a 1 dose de álcool. Observa-se que as mulheres ingerem um número maior de doses
que os homens: 24,4% (29) ingerem de 2-3 doses de álcool e 21,8% (26) ingerem de 4-5
doses em um dia normal.

Tabela 3. Frequência de consumo de álcool associado ao sentimento de culpa ou remorso em estudantes de medicina
de um Centro Universitário e doses diárias de álcool por sexo. Teresina-PI, 2018.

Vezes nos últimos doze meses que sentiu culpa ou remor-
so após ter bebido
Menos que uma Uma vez por
Nunca
vez por mês mês
Nunca 1 1 (100%) 0 0
Uma vez por mês ou menos 56 (61,5%) 33 (36,2%) 2 (2,3%)
2-4 vezes por mês 43 (33,5%) 64 (50%) 21 (16,5%)
Frequência de consumo
2-3 vezes por semana 9 (33,3%) 10 (37%) 8 (29,7%)
4 ou mais vezes por
0 2 (100%) 0
semana
Total 109 109 31
Sexo
Masculino Feminino
0-1 65 (47,4%) 58 (48,7%)
Doses de álcool consumidas 2-3 16 (11,7%) 29 (24,4%)
em um dia normal 4-5 27 (19,7%) 26 (21,8%)
6-7 18 (13,1%) 2 (1,7%)
8 ou mais 11 (8,0%) 4 (3,4%)
Total 137 (100%) 119 (99,97%)

Fonte: SOARES et al.;2018.

614 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


No que concerne à frequência de preocupação de pessoas próximas aos estudantes
de medicina com o consumo de álcool, foi verificado que destes 71,1% (182) nunca demons-
traram preocupação. Quanto à frequência de danos causados por eles após o consumo
de álcool, 66,0% (169) dos estudantes nunca se envolveu em situações que trouxessem
prejuízos a si mesmo ou a terceiros devido ao álcool, como mostrado na Tabela 4.

Tabela 4. Frequência de preocupação de pessoas próximas com o consumo de álcool pelos estudantes de medicina de
um Centro Universitário e frequência de danos causados por eles após o consumo de álcool. Teresina-PI, 2018.

Vezes em que alguém se preocupou com o fato de o estudante beber ou suge-
riu que ele parasse de beber
Não no último
Nunca No último ano TOTAL
ano
17 a 19 anos 23 (12,6%) 3 (10%) 9 (20,4%) 35 (13,8%)
20 a 23 anos 123 (67,6%) 19 (63,3%) 29 (65,9%) 171 (66,8%)
Idade 24 a 27 anos 23 (12,6%) 6 (20,0%) 4 (9,1%) 33 (13,0 %)
28 a 30 anos 11 (6,0%) 1 (3,3%) 1 (2,3%) 13 (5,1%)
32 a 41 anos 2(1,1%) 1 (3,3%) 1 (2,3%) 4 (1,6%)
Total 182 (71,1%) 30 (11,7%) 44 (17,2%) 256 (100%)
Vezes em que causou prejuízo a si mesmo ou a terceiros devido ao álcool
Nunca 169 (66,0%)
Não no último ano 55 (21,5%)
No último ano 32 (12,5%)
Total 256 (100%)

Fonte: SOARES et al.; 2018.

De acordo com a Tabela 5, quando se refere ao padrão de consumo de bebida alcoólica


dos estudantes de medicina, é possível inferir que 49,6% (127) fazem “uso de baixo risco”,
43% (110) tem “uso de risco”, 3.5% (9) fazem “uso nocivo” da bebida e 4% (10) apresentam
“provável dependência” pelo uso continuo e prolongado.

Tabela 5. Padrão de consumo de álcool entre os estudantes de um Centro Universitário

RESULTADOS Frequência Porcentagem


0 a 7 pontos 127 49,6 %
8 a 15 pontos 110 43 %
16 a 19 pontos 9 3,5 %
20 ou mais pontos 10 4%
TOTAL 256 100 %

Fonte: SOARES et al.; 2018.

DISCUSSÃO

A literatura científica tem demonstrado que os estudantes universitários são mais vul-
neráveis ao consumo de bebidas alcoólicas, pela oferta demasiada de festas e locais de

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 615


lazer com venda livre de bebidas alcoólicas (PELICIOLI et al, 2017; PADUANI et al, 2008)
considera que a experiência universitária é única, pois os estudantes muitas vezes veem a
oportunidade de uso, pois estão sem a supervisão familiar, tornando-os mais vulneráveis,
percebem no álcool o objeto de interação social.
O presente estudo evidenciou que 53,5% (137) dos estudantes eram do sexo masculino
com idade média de 21,96 anos; a maioria absoluta, 96,5% (247) solteiros e 74,2% (190)
com renda familiar 10-20 salários mínimos.
Em se tratando de sexo e ingestão de álcool, este estudo encontrou dados divergentes
dos registrados pela pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças
Crônicas por Inquérito Telefônico - VIGITEL realizada em 2016, em que a frequência do
consumo abusivo de bebidas alcoólicas é cerca de duas vezes maior em homens do que
em mulheres. Em ambos os sexos, a frequência de consumo abusivo de bebidas alcoóli-
cas tendeu a diminuir com a idade a partir dos 35 anos e a aumentar com a escolaridade
(BRASIL,2017). No estudo de Pinheiro et al. (2017), dos 392 alunos entrevistados do início
do curso, 329 (83,9%) já haviam consumido alguma bebida alcoólica em algum momento
da vida, sem diferença significativa entre os sexos e estado civil.
No que concerne à idade, os dados são semelhantes aos encontrados por Tostes,
Campos e Pereira (2016), com estudantes do primeiro ao sexto ano e Abreu et al. (2018),
com estudantes do primeiro ao décimo período, ambos em universidades de Minas Gerais.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2014), 38,3% das pessoas
com idade de 15 anos ou mais consomem algum tipo de bebida alcoólica no mundo em
uma quantidade média de 17,2 litros de álcool puro por pessoa por ano. Observa-se que,
quanto mais precoce o uso do álcool, maior a propensão para se estabelecer dependência
(ROCHA et al, 2011). Em algum momento durante a vida, de acordo com Kaplan (2017),
90% da população nos Estados Unidos consomem álcool, sendo que a maioria começa a
ingeri-lo entre o início e a metade da adolescência. Até o fim do ensino médio, 80% dos
estudantes consomem álcool, e mais de 60% ficam intoxicados, sendo que a prevalência
mais elevada de consumo de álcool vai da metade para o fim da adolescência, ou do fim da
adolescência até a metade da faixa dos 20 anos.
A posição socioeconômica mais elevada tem sido associada ao abuso de álcool, o
que pode ser explicado pela facilidade financeira de acesso às bebidas, maior frequência
a festas, entre outros fatores importantes para o maior consumo neste estrato populacional
(SILVA, MALBERGIER, STEMPLIUK, ANDRADE, 2006).
Os dados de renda familiar observados neste estudo são semelhantes aos encontrados
por Pinheiro et al. (2017), onde 61,8% apresentavam renda familiar acima de dez salários
mínimos.

616 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Quando se trata da idade com que iniciaram a ingestão de álcool, neste estudo, foi
observado que 76,2% dos estudantes o fizeram na faixa etária de 15-20 anos com média
de idade de 16,38 anos; este dado supera a média de idade de estudos como o de Tostes,
Campos e Pereira (2016) que estimaram um início mais precoce de consumo em estudantes
do mesmo curso, em torno de 14 anos.
Muitos fatores influenciam a decisão de beber, o surgimento de dificuldades temporárias
relacionadas ao álcool durante a adolescência e na faixa dos 20 anos e o desenvolvimento
de dependência de álcool. O início da ingestão de álcool provavelmente depende, em grande
parte, de fatores sociais, religiosos e psicológicos, embora características genéticas também
possam estar presentes. (KAPLAN, 2017).
Apesar do consumo durante a graduação existir, o fato é que os acadêmicos iniciam o
curso já tendo experimentado alguma bebida alcoólica, pois, é um comportamento cultural
advindo da sociedade destes adolescentes de provarem bebidas licitas cada vez mais cedo,
como forma de reafirmação de identidade, e isso, portanto, acaba resultando em taxas cada
vez mais frequentes de ingestão de bebidas durante a graduação médica (GOMES et al,
2018).
Com relação à interferência do álcool na realização das atividades diárias dos estudan-
tes de medicina, pode-se observar que 26,4% deixaram de realizar as atividades previstas
menos de uma vez por mês nos últimos doze meses, principalmente os que estão no 2º
semestre da graduação. Esse achado é bastante preocupante quando comparado a outros
estudos como o de Rocha et al (2011) onde apenas 2,7% dos alunos comprometeram suas
atividades em virtude do uso de álcool.
Silva et al (2006), mostraram que os alunos que utilizam substâncias como álcool e
outras drogas frequentam menos a sala de aula e as bibliotecas das universidades. Por ou-
tro lado, os estudantes usuários dessas substâncias estão mais envolvidos com atividades
desportivas e com centros acadêmicos.
Quando avaliada a frequência de consumo de álcool e o sentimento de culpa ou re-
morso, ficou evidente que quanto maior o consumo de bebida, maior o sentimento de culpa
ou remorso dos estudantes. Para Gomes et al (2018) este fato pode estar relacionado à
dificuldade de resolver as tarefas do dia a dia e por vezes até praticar atos violentos após
o consumo.
Além disso, o consumo de bebidas (binge drinking) leva ao aumento proporcional de
risco como de acidentes de trânsito, intoxicação, violência e abuso sexual, sexo desprotegido,
problemas acadêmicos na aprendizagem e por vezes até no comportamento e, por fim, os
problemas legais relacionados à embriaguez, todos podendo ser minimizados desde que se
invista em programas de prevenção (BRASIL, 2010), demonstrando, dessa forma, o risco

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 617


ao qual o estudante de medicina pode estar exposto a depender da frequência de consumo.
Um percentual significativo da amostra desta pesquisa (56,2%) sentiu remorso ou
culpa pelo menos 1 vez após beber, Machado et al (2017) em seu estudo identificou que
apenas 35,6% dos estudantes tiverem esse sentimento, 38,4% relataram não lembrar dos
acontecimentos durante a embriaguez e 8,2% referiram ter ferido ou prejudicado alguém.
Com relação à quantidade de doses de álcool ingeridas, percebe-se que 48% dos
estudantes de medicina consomem nenhuma ou uma dose de álcool por dia, o que repre-
senta a maioria deles, tanto se tratando do sexo masculino quanto do feminino, dados estes
corroborados por Silva e Tucci (2016). O sexo masculino predomina entre os que ingerem
entre 6-7 doses e 8 ou mais doses diariamente, tendo sido demonstrada a mesma situação
por Andrade et al (2012), Oyama (2010) e Ringwalt, Paschall e Gitelman (2011).
As mulheres tem o costume de beber menos doses do que os homens que frequen-
temente bebem pelo menos 2 vezes por semana, no entanto, quando o número de doses
aumenta a distinção por sexo diminui mostrando que o padrão de consumo de bebidas pode
levar a um incremento importante em cada estudo (TOSTES,CAMPOS E PEREIRA, 2016).
Gomes et al (2018) perceberam que embora o consumo de álcool seja elevado entre
os universitários e haja uma prevalência de homens esse fato pouco tem valor estatístico,
visto que, ambos os sexos tem um padrão de consumo que se altera mais em relação ao
risco, sendo que, as mulheres são consideradas de baixo risco na ingestão de bebida.
O abuso e a dependência de substâncias químicas, tais como o álcool, ameaçam
valores políticos, econômicos e sociais, sendo um indicador negativo de desenvolvimento.
Além de onerar gradativamente os gastos com tratamento e internação hospitalar, elevam
os índices de acidentes de trânsito, de violência urbana, de anos de vida potencialmente
perdidos e de mortes prematuras. (PELICIOLI, 2017).
No Brasil a idade mínima para venda de bebidas é de 18 anos, no entanto, segundo
dados do I Levantamento de drogas usadas por universitários no ano de 2010, o primeiro
contato com álcool acontece antes dos 16 anos e sendo, deste total, 49% no intervalo entre
14 e 16 anos, dados esses corroborados nesta pesquisa. Uma das principais conclusões
do fato verificado é que o uso precoce de substâncias como o álcool leva à dependência e
afeta o processo de maturidade e formação de identidade (BRASIL, 2010).
Os dados observados neste estudo em relação à preocupação das pessoas próximas
aos estudantes de medicina com o fato de ingerirem álcool diferem do que foi evidenciado
por Rocha et al (2011), onde 23,6% dos estudantes de medicina foram questionados por
pessoas próximas nos últimos 12 meses a respeito de bebedeiras, quando entre os estu-
dantes desta pesquisa apenas 17,2% demonstraram essa preocupação no último ano.
O alcoolismo está entre os transtornos psiquiátricos mais comuns observados no mundo

618 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


ocidental. Problemas relacionados ao álcool nos Estados Unidos contribuem para 2 milhões
de ferimentos a cada ano, incluindo 22 mil mortes. O abuso de álcool pode produzir sinto-
mas psicológicos temporários graves, incluindo depressão, ansiedade e psicose. Em longo
prazo, níveis cada vez maiores de consumo de álcool podem produzir tolerância, bem como
adaptação do corpo tão intensa que a interrupção do uso pode precipitar uma síndrome de
abstinência normalmente caracterizada por insônia, evidência da hiperatividade do sistema
nervoso autônomo e ansiedade. (KAPLAN, 2017).
No que se refere ao envolvimento em situações que trouxessem prejuízos a si mesmo
ou a terceiros devido ao álcool, a maior parte dos estudantes de medicina (66%) referiu
nunca ter passado por essa experiência, entretanto, 12,5% passou por essa situação no
último ano. Tal fato ocorre porque o consumo de bebidas alcoólicas leva a comportamentos
perigosos, como uso de outras drogas, sexo sem preservativo e direção sob o efeito de
álcool (PASCHALL, 2003). De acordo com estudo feito por Pereira et al (2008), 18,5% dos
estudantes universitários admitem dirigir após a ingestão de álcool, além disso, 5,5% deles
relatam já ter se envolvido em brigas após a ingesta de bebidas alcoólicas.
Quando questionados sobre consumo de álcool por meio do teste AUDIT, 49,6% dos
estudantes apresentaram “consumo de baixo risco”, 43% tem “uso de risco”, 3.5% fazem
“uso nocivo” da bebida e 4% apresentam “provável dependência” pelo uso continuo e pro-
longado. Dados contrastantes foram encontrados por Martinez et al (2018) em estudo com
acadêmicos de medicina de Jundiaí e Abreu et al. (2018) com acadêmicos de medicina de
uma universidade pública do centro-oeste de Minas Gerais, que verificaram “consumo de
baixo risco” em 71,3% e 73,3% dos estudantes, respectivamente.

CONCLUSÃO

Os resultados encontrados possibilitaram traçar um perfil do consumo de álcool entre


estudantes de medicina de um Centro Universitário de Teresina – PI, tendo sido demonstra-
do que dos 256 estudantes, 137 são do sexo masculino; com idade média de 21,96 anos;
a maioria absoluta é de solteiros; possuem renda familiar média entre 10 e 15 salários
mínimos; 195 começaram a beber entre 15-20 anos; o sentimento de culpa ou remorso se
acentua com o aumento da frequência de consumo de álcool; 163 nunca foram questionados
por pessoas próximas a respeito de bebedeiras; 169 nunca se envolveram em situações
que trouxessem prejuízos a si mesmo ou a terceiros devido ao álcool; 109 não deixaram
de realizar as atividades nos últimos 12 meses; as mulheres ingerem um número maior de
doses que os homens. Quando se refere ao padrão de consumo de bebida, 127 fazem “uso
de baixo risco”, 110 tem “uso de risco”, 9 fazem “uso nocivo” da bebida e 10 apresentam
“provável dependência” pelo uso continuo e prolongado.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 619


Ainda que metade dos estudantes tenha apresentado “consumo de baixo risco” e a
maioria absoluta nunca se envolveu em situações que trouxessem prejuízos a si mesmo
ou a terceiros devido ao álcool, é premente a necessidade de implementação de medidas
preventivas e de promoção de saúde desta população no âmbito universitário, uma vez que
43% destes faz “uso nocivo” de álcool.
Acredita-se que a inserção de práticas educacionais visando à conscientização sobre
os riscos e consequências do uso de álcool, associada a políticas públicas que limitem o
acesso e a oferta de bebidas alcoólicas possam ser importantes estratégias para reduzir o
consumo dessa substância.
O estudo teve como limitação as dificuldades geradas por se tratar de um estudo
transversal onde há a possibilidade de viés de informação, decorrente do viés de memória
ou da causalidade reversa.

REFERÊNCIAS

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622 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


48
“ COVID-19: impacto emocional
da equipe de enfermagem na
linha de frente no combate a
pandemia

Jéssica Karoline Alves Portugal Lucas da Silva de Almeida


UFAM UFAM

Marcelo Henrique da Silva Reis Rhuana Maria de Oliveira Pereira


UFAM UFAM

Évelyn Janaína da Silva Barão Nathalie Marinho Freire


UFAM UFAM

Tanny Thaylle Gomes de Souza Sibele Naiara Ferreira Germano


UFAM UFAM

Ramanda Sena Guimarães Marlucia da Silva Garrido


UFAM UFAM

10.37885/200700760
RESUMO

Objetivo: Relatar a percepção da equipe de enfermagem de um hospital em um município


Coari no interior do estado do Amazonas, diante da pandemia de Coronavírus, expondo
os principais medos e anseios frente as incertezas do novo cenário mundial e os desafios
vindouros. Relato de experiência: Este relato é baseado na vivencia da equipe de
enfermagem diante da pandemia do coronavírus, demonstrando seus medos e anseios e
como os atuais acontecimentos no Brasil e no mundo podem afetar significativamente as
condições psicológicas dos profissionais de saúde, uma vez que possuem maior risco de
contaminação devido o contato direto com pacientes infectados. Desta forma, observou-
se que as equipes de enfermagem têm atuado com constate pressão psicológica, podendo
causar ansiedade e até mesmo depressão. Considerações finais: Os profissionais
sofrem as mesmas pressões psicológicas, principalmente pelo medo diante da incerteza
das condições futuras, tendo em vista a proporção da pandemia. Portanto, é preciso que
os profissionais de saúde sejam atendidos em suas inquietações e desamparos, visto
que a regressão da pandemia depende disso.

Palavras-chave: Infecções por Coronavírus; Enfermagem; Saúde mental.


INTRODUÇÃO

No final de 2019, uma notícia espalhou-se pelo mundo trazendo medo a todas as
nações. A descoberta de um vírus altamente contagioso colocou as principais lideranças
políticas em estado de alerta. Em janeiro de 2020, este assunto passou a ser o principal
tópico em todos veículos de informações. A partir de então, todos tiveram conhecimento do
novo Coronavírus, causador da doença nomeada como COVID-19 (LUIGI R e SENHORAS
EM, 2020).
O COVID-19 foi descoberto em 31 de dezembro de 2019 em Wuhan, China e dissemi-
nou-se rapidamente tornando-se uma pandemia (USHER K, et al., 2020). O vírus é altamente
patogênico e causa infecções do trato respiratório como a Síndrome Respiratória Aguda
Grave (SRAG) e pode levar ao óbito (GUIMARÃES HP et al., 2020, FIORATTI C, 2020).
É transmitido através de contato direto com gotículas de saliva produzidas através da
fala, tosse e espirros de um indivíduo contaminado. Além disso, pode-se contrair o vírus ao
tocar o rosto (olhos, nariz e boca) após o contato com superfícies e objetos contaminados
(FRANCO AG, et al., 2020).
Na maioria dos casos os sintomas podem ser brandos ou até mesmo imperceptíveis.
No entanto, os indivíduos sintomáticos podem apresentar sintomas comuns, como: febre,
tosse e dificuldade de respirar. Os sintomas graves apresentam quadros de pneumonia
grave (TUÑAS ITC, et al., 2020), acometendo principalmente pacientes idosos, portadores
de doenças pré-existentes, como hipertensão, diabetes, doenças respiratórias crônicas e
pessoas imunocomprometidas (CARVALHO AP, et al). Porém, o coronavírus não faz dis-
tinção de classe econômica, fronteiras, idiomas e ideologias, pois tem o poder de afetar a
todos, seja direta ou indiretamente (DALTRO M e BARRETO SEGUNDO JD, 2020).
O vírus pode ficar incubado por até 14 dias no hospedeiro humano, aumentando suas
chances de transmissão mesmo antes de aparecer os primeiros sintomas. Além disso, após
a morte da pessoa infectada, o vírus pode permanecer ativo por vários dias (BRASIL, 2020).
Neste contexto, a maior preocupação em relação ao vírus está relacionada ao seu alto
poder de disseminação, pois os números de pessoas infectadas podem crescer gradativa-
mente em poucos dias (MACEDO YM, et al., 2020).
No Brasil, o primeiro caso de COVID-19 foi identificado em 26 de fevereiro de 2020. O
paciente era procedente da cidade de São Paulo e havia retornado de uma viagem na Itália
dias antes do diagnóstico. Em poucos dias outras pessoas foram diagnosticadas, demons-
trando a rapidez de transmissão da doença. (MACEDO YM, et al., 2020).
Em 13 de março de 2020 foi registrado o primeiro caso de COVID-19 no estado do
Amazonas. Embora o governo tenha adotado medidas restritivas para prevenção da infec-
ção da doença, em 13 de abril, um mês após o surgimento do primeiro caso, o Amazonas

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 625


já registrava um total de 1.206 casos e 62 mortes. Entre os casos positivos diagnosticados
até 13 de abril de 2020, haviam 193 pacientes internados, sendo 82 em Unidades de Te-
rapia Intensiva (UTI). Além disso, outros 406 pacientes internados estavam aguardando
confirmação do diagnóstico como casos suspeitos, sendo 351 em leitos clínicos e 55 em
UTI (DINIZ C, 2020).
Em Manaus, capital do Amazonas, o hospital de referência para tratamento de pacien-
tes com COVID-19-19 já havia atingido sua capacidade máxima em poucas semanas e o
governo anunciou o risco de colapso dos serviços de saúde por falta de leitos, profissionais
e equipamentos (DINIZ C, 2020b). Com o acelerado aumento dos números de casos, o
Ministério da Saúde declarou que o Amazonas estaria entre os estados de maior transição
para a descontrolada transmissão de coronavírus (DINIZ C, 2020)
Poucas semanas após a descoberta do primeiro caso de coronavírus no mundo, a Or-
ganização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de emergência em saúde pública de
relevância internacional (FERNANDES EG, et al., 2020; FRANCO AG, et al., 2020). Diante
deste cenário mundial, algumas medidas passaram a ser adotas. Na tentativa de reduzir a
propagação do vírus, diversos países iniciaram campanhas de isolamento social, restringindo
a população em diversas áreas da vida cotidiana (USHER K, et al., 2020).
A nova realidade passou a fazer parte do cotidiano de milhares de pessoas espalha-
das por todos os continentes. No entanto, enquanto o mundo se recolhe, existem aqueles
que encaram diariamente o novo “inimigo” neste combate. São os profissionais de saúde
que vão para os hospitais e se colocam na linha de frente no enfrentamento da COVID-19,
arriscando suas vidas e vivenciando situações adversas que vão desde desgastes físicos
devido às altas cargas de trabalho, até desgastes psicológicos em decorrência do medo
de adquirir a doença, além de lidar com a perda de pacientes e colegas de profissão (THE
LANCET, 2020).
Os profissionais de saúde estão em alto risco de adquirir COVID-19 devido à exposição
a pacientes e principalmente pela disponibilidade limitada de Equipamentos de Proteção
Individual (EPI), falta de treinamento adequado para o enfrentamento de surtos de doenças
altamente infecciosas (CHIEN CC e CHI CY, 2020) e uso inadequado de EPI (COOK TM,
2020).É imprescindível ressaltar que muitos profissionais de saúde foram infectados e vários
perderam a vida desde o início da pandemia (LIMA CKT, et al.,2020).
Diante destes acontecimentos, as equipes de saúde estão sob constante pressão
psicológica (CHEN Q, et al., 2020). Entre esses profissionais, destacam-se as equipes de
enfermagem, tendo importante papel na saúde pública no controle e prevenção de infecção.
Em todo mundo, a enfermagem tem trabalhado sob constante pressão, combatendo não
apenas o vírus, mas diversas dificuldades impostas sobretudo pelo risco de infecção e pela

626 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


escassez de proteção (SMITH GD, et al., 2020).
Diante do exposto, o objetivo deste estudo é relatar a percepção da equipe de enfer-
magem de um hospital do município de Coari no interior do estado do Amazonas, diante da
pandemia de Coronavírus, expondo os principais medos e anseios frente as incertezas do
novo cenário mundial e os desafios vindouros.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Diante do surto mundial de COVID-19, a administração pública do município adotou


medidas de contingenciamento já implementadas em vários territórios nacionais, determi-
nando o fechamento de estabelecimentos comerciais não essenciais, como academias,
centros de ginásticas e transporte de passageiros por via fluvial, além das suspensões das
atividades escolares por tempo indeterminado.
No entanto, mesmo com todas as cautelas possíveis, no dia 10 de abril foi diagnostica-
do o primeiro caso de COVID-19 no município de Coari. Segundo informações, o paciente
teria recentemente chegado de Manaus em uma embarcação. No dia seguinte, outro caso
foi identificado no município. Desta forma, o risco que era iminente, passou a ser realidade
entre a população coariense, gerando medo e incerteza sobretudo entre os profissionais de
saúde, devido à insegurança e o despreparo diante da nova ameaça.
Antes da confirmação dos casos, a secretaria municipal de saúde já preparava as
equipes assistenciais para o adequado manejo de pacientes diagnosticados com COVID-19,
disponibilizando treinamento, esclarecendo dúvidas acerca da doença e orientando quanto
ao uso racional de equipamentos de proteção. Porém, conforme registrado em vários locais
do planeta, a escassez de EPI também se tornou um dos principais problemas enfrentados
entre as equipes de saúde do município.
Entre as equipes de enfermagem atuantes no hospital, pode-se observar um consi-
derável aumento na utilização de equipamentos de proteção. Porém, com a redução de
distribuição desses materiais para diversos estados brasileiros, os profissionais de saúde,
sobretudo enfermeiros e técnicos de enfermagem, passaram a sentir o impacto causado
pelo coronavírus mesmo antes de sua chegada.
Diante disto, o medo e insegurança que antecederam a chegada do vírus, colocaram
as equipes de enfermagem em estado de alerta, em que muitos levantaram o seguinte
questionamento: Estamos preparados para enfrentar um inimigo de tamanha magnitude?
Desta forma, a grande preocupação diante dos novos acontecimentos no Brasil e no
mundo trouxe uma nova rotina para as equipes de enfermagem do serviço hospitalar, pois
além de buscarem alternativas para se protegerem frente a escassez de EPI, também de-
veriam estar atentos para minimizar os riscos aos pacientes e acompanhantes dentro das

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 627


unidades de internação.
Neste contexto, o cuidado com a limpeza dos setores passou a ser redobrado, a uti-
lização de máscaras, gorros, aventais e óculos de proteção que anteriormente eram utili-
zados apenas durante a realização de procedimentos, passaram a ser utilizados de forma
ininterrupta, causando desconforto e irritação nos profissionais.
Porém, as equipes de enfermagem não passaram por mudanças apenas na sua rotina
de trabalho. Pode-se observar que o medo relacionado ao risco de contágio hospitalar, levou
muitos profissionais a adotarem medidas severas de cuidados pessoais no ambiente familiar.
A maioria dos profissionais ressaltam que o maior receio seria uma possível transmissão do
vírus para pessoas da família.
Diante disto, a rotina familiar desses profissionais também foi alterada drasticamente,
levando- os a se adaptarem a nova realidade de forma abrupta, evitando contato com pai,
mãe, esposo (a) e filhos. Além disto, a única pausa do isolamento domiciliar passou a ser a
rotina de trabalho hospitalar, onde deveriam lidar com conflitos maiores referentes ao controle
de infecção e contato com pacientes com alto potencial de contágio.
Todas essas mudanças nos modos de vida tornaram esses profissionais mais ansio-
sos e inseguros, pois não se sabe quais proporções o vírus poderá atingir e o quanto isso
irá afetar o município. Essa é uma preocupação relacionada não apenas ao número de
pessoas que podem ser contaminadas, mas também quanto a segurança dos profissionais
diante do enfrentamento da doença, uma vez que precisam atuar com proteção reduzida
pela escassez de material.
Outro ponto importante, diz respeito ao preparo dos profissionais quanto à assistência
a pacientes diagnosticados com COVID-19, pois muitos afirmam despreparo diante da nova
doença e sentimento de incapacidade, visto que o tratamento é incerto e o risco de morte é
elevado a depender o perfil do paciente. Portanto, o estado psicológico desses profissionais
foi afetado significativamente, visto que passaram a experimentar situações adversas em seu
ambiente de trabalho e convívio familiar em decorrência do novo e desconhecido problema
enfrentado mundialmente.
Diante do exposto, nota-se que mesmo havendo poucos casos no município, a pan-
demia tem atingido consideravelmente a saúde de profissionais de assistência hospitalar,
principalmente no que diz respeito aos aspectos psicológicos, devido as chances de expo-
sição ocupacional, falta de equipamento de proteção, mudanças nas rotinas de trabalho e
familiar e despreparo na assistência a pacientes infectados. Desta forma, é possível que
pressão psicológica possa causar danos maiores do que o vírus propriamente dito.
Portanto, diante da grande turbulência emocional vivenciada pelas equipes de enfer-
magem, é necessário que sejam oferecidas medidas de proteção adequadas para esses

628 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


profissionais, tendo em vista a redução da ansiedade ocasionada pelo medo de se conta-
minar. Além disso, o suporte psicológico é uma estratégia que pode ser implementada no
hospital, a fim de minimizar a sobrecarga emocional nesse momento crítico.

DISCUSSÃO

Diante dos problemas emocionais enfrentados pelos profissionais durante a pandemia,


Li Z, et al. (2020) explicam que os surtos de doenças infecciosas podem causar sentimentos
de angústia e ansiedade, além de traumatização direta e indireta entre os profissionais de
saúde, devido às altas cargas de trabalho e falta de dispositivos de proteção.
Quanto aos Equipamentos de Proteção Individual, existem dois problemas principais:
Escassez e uso inadequado (COOK TM, 2020). Além de trabalhar em situações inseguras,
esses profissionais sentem-se angustiados pela incerteza do tratamento clínico associada
a imprecisão de informações a respeito da trajetória da pandemia e os resultados obtidos
em curto e longo prazo (SMITH GD, et al., 2020).
Quanto ao desconforto relacionado ao uso constante de EPI, foi identificado que em
vários lacais esse tem sido um problema comum. Em Wuhan, China, foi realizada uma pes-
quisa entre profissionais de saúde atuantes em hospitais de tratamento de COVID-19, onde
houve relatos de reações adversas decorrentes do uso de EPI, destacando-se as dermatites,
reações alérgicas, suor excessivo causado pelo uso prolongado de roupas e maceração
na face. Além disso, muitos profissionais na China recorreram a métodos radicais, como
uso de fraldas para reduzir as retiradas dos equipamentos diante as necessidades de ida
ao banheiro e muitas enfermeiras cortaram o cabelo para permitir a colocação e retirada de
roupas com mais facilidade, diminuindo os riscos de infecção (FABER M, 2020).
Em uma entrevista realizada com uma equipe médica de um hospital na China, muitos
profissionais demonstraram sinais de irritabilidade, angustia e excitabilidade. Informaram que
a maior preocupação não era serem infectados, mas sim levar uma possível infecção para
suas famílias. Além disso, relataram que a faltam de colaboração por parte dos pacientes
estava lhes causando maiores sofrimentos psicológicos, pois muitos não respeitavam as
medidas preventivas de disseminação do vírus, consequentemente aumentando as chan-
ces de sobrecarregarem as unidades hospitalares. As equipes também informaram suas
preocupações quanto a disponibilidade de material de proteção e a sensação de impotência
diante de pacientes graves (CHEN Q, et al., 2020).
Lima CKT, et al. (2020), afirmam que a maioria dos profissionais de saúde que trabalham
em unidade de isolamento não possuem treinamento adequado para lidar com problemas de
saúde. Este fato corrobora com uma das aflições observadas nas equipes de enfermagem
de Coari em relação ao despreparo profissional frente a gravidade dos pacientes.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 629


Na Itália, também é possível observar os impactos psicológicos causados pela pande-
mia, demonstrando altos níveis de estresse entre a população, ocasionado pela incerteza
quanto ao tempo de progressão do surto, o medo de morrer e perder seus familiares nesse
processo (LIMA CKT, et al., 2020).
Com o aumento de desgaste psicológico, é possível que sintomas psiquiátricos sejam
intensificados em indivíduos com doença mental pré-existente (KELVIN DJ e RUBINHO S,
2020). Diante disto, é provável que as taxas de suicídio aumentem entre os profissionais de
saúde em 2020. Segundo Goyal K, et al. (2020), foram identificados alguns casos de suicí-
dios entre profissionais de saúde na Índia e na Itália que estavam infectados por COVID-19,
comprovando que as consequências emocionais em decorrência da pandemia devem ser
analisadas para adoção de estratégias que minimizem tais impactos.
Quanto a mudança drástica na rotina dos profissionais, é possível que cause diver-
sas condições psicológicas. Ornell F, et al. (2020), afirma que além do medo de morrer, a
pandemia pode ocasionar mudanças em vários eixos, incluindo a rotina familiar, rotinas de
trabalho, isolamento e fechamento de estabelecimentos como empresas e escolas. Além
disso, o impacto econômico tem causado grande insegurança, gerando sentimento de de-
samparo e abandono.

CONCLUSÃO

Observa-se que os problemas enfrentados entre os profissionais de saúde durante


a pandemia são semelhantes, independentemente da localização geográfica, da estrutura
física e recursos humanos. Obviamente, não há comparação entre milhares de casos ocor-
ridos na China e dois casos em um município pequeno. No entanto, todos os profissionais
sofrem as mesmas pressões psicológicas, principalmente pelo medo diante da incerteza
das condições futuras, tendo em vista a proporção da pandemia em países desenvolvidos
e no Brasil que possui menos recursos, onde a calamidade nos serviços de saúde já existe
antes do coronavírus. Portanto, é preciso que os profissionais de saúde sejam atendidos
em suas inquietações e desamparos, visto que a regressão da pandemia depende disso.

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632 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


49
“ Cuidados de enfermagem
ao paciente oncológico em
tratamento quimioterápico
ambulatorial

Flávia dos Santos Lugão de Souza


FAF

Ana Carolina Souza Abreu


FAF

Darlem Aparecida Pio


FAF

Heloise Mota de Paiva Vieira Sanglard


FAF

Naira Agostini Rodrigues dos Santos


FAF

10.37885/200700620
RESUMO

Objetivo: Descrever os estudos que abordam os cuidados de enfermagem aos pacientes


oncológicos adultos em tratamento quimioterápico sistêmico ambulatorial. Material e
Método: Revisão da literatura, nos idiomas português e inglês, utilizando bases de dados
eletrônicas, realizada nos dias 15 de maio a 30 de junho de 2018. Resultados: O câncer
abrange um grupo de mais de 100 doenças que possuem em comum a capacidade
de crescimento irregular de suas células que acometem tecidos e órgãos. O tipo de
tratamento ocorre pelo tipo, local e grau específico do câncer. A quimioterapia consiste no
uso de um ou mais compostos químicos (quimioterápicos) para o tratamento do câncer
e de doenças causadas por agentes biológicos, podendo ser administrada concomitante
à cirurgia e a radioterapia. Conclusão: É importante o enfermeiro ter conhecimento
específico para atuar como educador em saúde e prestador da assistência ao paciente em
tratamento quimioterápico ambulatorial e para promoção do relacionamento interpessoal
que proporcionará ao paciente um enfrentamento do tratamento de maneira mais
satisfatória. Essa educação, norteada pela capacidade de compreensão de cada indivíduo,
promove o entendimento correto da doença, tratamento, o manejo dos efeitos colaterais
e vivências dos pacientes.

Palavras-chave: Antineoplásicos; Quimioterapia; Cuidados de Enfermagem.


INTRODUÇÃO

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) (2018), o câncer abrange um grupo


de mais de 100 doenças que possuem em comum a capacidade de crescimento irregular
de suas células que acometem tecidos e órgãos, sendo capazes de atingir outras partes do
corpo. As causas do câncer são diversas, podendo ser classificadas em externas ou internas
ao organismo, estando ambas relacionadas umas às outras.
As causas externas estão ligadas ao meio ambiente e aos hábitos de vida de cada
indivíduo. Já as causas internas, são, na maioria dos casos, genéticas, relacionando-se à
eficácia do organismo de combater as agressões externas. Dos casos de cânceres, 80 a
90% estão ligados a fatores ambientais. O câncer pode surgir dependendo da intensidade
e do tempo de exposição aos fatores que o provocam (INCA, 2018).
De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (2017),
mais de 8,8 milhões de pessoas morrem de câncer no mundo, sobretudo em países de bai-
xa ou média renda. Estima-se que no Brasil, no biênio de 2018-2019, a incidência seja de
600 mil novos casos de câncer, para cada um dos anos, exceto para o câncer de pele não
melanoma (170 mil) (INCA, 2017).
Os cânceres com maior incidência são os de próstata (68 mil) em homens e mama
(60 mil) em mulheres. Na região sudeste do país, foram estimados para 2018 cerca de 135
mil novos casos de câncer em homens e 137 mil em mulheres, dos quais em torno de 29
mil casos em homens e 28 mil em mulheres são no estado de Minas Gerais (INCA, 2017).
O tratamento do câncer consiste em três modalidades: cirurgia, radioterapia e quimiote-
rapia. Podem ser empregadas simultaneamente para o tratamento das neoplasias malignas,
diferenciando-se apenas na sua indicação e na importância de cada uma (BRASIL, 2016).
A preferência pelo tipo de tratamento para o câncer ocorre pelo tipo, estágio e grau
específico do câncer. Os objetivos do tratamento são a de cura da doença maligna, sobre-
vida e controle das células neoplásicas, e diminuição dos sintomas relacionados à doença
e melhoria na qualidade de vida. Não se inicia o tratamento até que o diagnóstico do câncer
seja comprovado, além do esclarecimento de seu estadiamento e sua gradação, que está
relacionado com a classificação das células tumorais (HINKLE JL e CHEEVER KH, 2017).
A quimioterapia consiste no uso de um ou mais compostos químicos (quimioterápicos)
para o tratamento do câncer e de doenças causadas por agentes biológicos, podendo ser
aplicada concomitante a cirurgia e a radioterapia. A quimioterapia pode ser classificada em:
curativa, onde se consegue a eliminação completa do tumor; adjuvante, que se segue à
cirurgia, a fim de eliminar células residuais e possíveis metástases; neoadjuvante, como
complemento da cirurgia e/ou radioterapia, para redução parcial do tumor antes de uma
cirurgia; paliativa, utilizada para melhora da qualidade de vida do paciente, quando não há

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 635


possibilidade de cura do mesmo (INCA, 2018).
Grande parte dos antineoplásicos age de forma inespecífica, impactando tanto as cé-
lulas normais como as células de câncer. Dessa forma, células em divisão celular acelerada
sofrem, em consequência da quimioterapia, com mais intensidade. Os efeitos colaterais da
quimioterapia variam de acordo com a classe quimioterápica, sua dose e o intervalo de tempo
entre os ciclos, dentre outros fatores (RODRIGUES AB e OLIVEIRA PP, 2016).
Alguns dos efeitos colaterais que podem ocorrer são a fraqueza, diarreia, perda de
peso, aumento de peso (edema), feridas na boca (mucosite), queda de cabelos (alopecia)
e outros pelos do corpo, enjoos, vômitos e tonteiras (INCA, 2018).
Conforme o Artigo 11, da Lei nº 7.498 de 25 de junho de 1986, com relação às ativida-
des e atribuições dos Enfermeiros, compete a este, privativamente todos os cuidados diretos
aos pacientes com gravidade que gere risco de morte, executar intervenções complexas,
que necessite de entendimento científico, e a aptidão em resolver questões de forma rápida.
Além disso, de acordo com a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN)
(1998), é de competência do Enfermeiro que trabalha com quimioterápico antineoplásico
administrá-lo, elaborar protocolos para prevenção, tratamento e diminuição de efeitos co-
laterais nos pacientes em uso de quimioterapia, além de proporcionar ações de prevenção
de riscos e agravos, através da educação dos pacientes e familiares, a fim de garantir maior
qualidade de vida para o paciente.
A assistência de enfermagem especializada é de extrema importância para a melhoria
biopsicossocial- espiritual de um paciente oncológico. A implementação dos cuidados ao
paciente com câncer exige do enfermeiro a pluralidade de conhecimento e flexibilidade na
atuação e, quando estão associadas a uma boa sistematização da assistência, as ações de
enfermagem ao paciente são determinantes para uma gerência de boa qualificação (GUI-
MARÃES RCR, et al., 2015).
A enfermagem faz-se de grande importância durante todo o tratamento quimioterápico,
sendo os profissionais que acompanham continuamente o paciente e que fornecem orien-
tações relacionadas ao tratamento a todos os envolvidos. Esta orientação é essencial na
compreensão destes pacientes e familiares, sendo possível sanar as dúvidas e possibilitar
uma melhor aderência ao tratamento quimioterápico e no enfrentamento diante da patologia
(CUNHA FF, et al., 2017).
Portanto, o objetivo deste trabalho foi descrever os estudos que abordam os cuidados
de enfermagem aos pacientes oncológicos adultos em tratamento quimioterápico sistêmico
ambulatorial.

636 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


MÉTODOS

O presente estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa, que é definida como
uma forma de construir uma análise vasta da literatura, compreender sobre um assunto de
acordo com pesquisas anteriores, bem como permitir o pensamento sobre uma pesquisa
futura (MENDES KDS, et al., 2008).
Iniciou-se a pesquisa realizando um levantamento do acervo referente ao tema estudado
a partir de publicações nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO),
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (LILACS). Os Descritores em Ciências da Saúde (DECS) da BVS selecionados
foram: antineoplásicos; cuidados de enfermagem. Esses descritores conectados pelo ope-
rador booleano AND, nortearam a busca pelos estudos científicos, orientados pela seguinte
pergunta de pesquisa: “Quais os cuidados de enfermagem necessários ao paciente oncoló-
gico adulto em tratamento quimioterápico sistêmico ambulatorial?”.
Foi utilizado na SCIELO, português e inglês como filtro, e na BVS e LILACS, texto com-
pleto disponível, português e inglês. A coleta de dados e a análise dos resultados foram feitas
nos dias 15 de maio a 30 de junho de 2018. Para inclusão dos artigos foram estabelecidos
os seguintes critérios: publicações em português e inglês, com texto completo disponível,
voltadas para o cuidado de enfermagem ao paciente oncológico adulto em tratamento qui-
mioterápico sistêmico ambulatorial, sem utilizar um intervalo de tempo específico.
Os critérios de exclusão adotados foram: artigos que não atendessem o objetivo do
estudo, voltados para pediatria e geriatria e direcionados a quimioterapia oral.
Após busca realizada e a seleção conforme os critérios de inclusão e exclusão tivemos
a composição da amostra para o estudo. Foram selecionados para essa revisão integrativa
17 artigos. Os dados foram coletados, sintetizados e organizados a fim de que pudéssemos
atingir o objetivo proposto em questão. Para maior clareza, segue Fluxograma 1 abaixo com
os detalhes mencionados.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 637


Fluxograma 1. Processo metodológico sintetizado para seleção dos artigos científicos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

RESULTADOS

Seguem no Quadro 1 abaixo os artigos selecionados com base nos critérios de inclusão
e exclusão adotados nesse estudo.

Quadro 1. Seleção dos estudos para revisão integrativa.

Título Base Periódico Qualis Tipo de pesquisa Ano

Enfermagem à mulher em tratamento qui-


Revista Brasileira de Pesquisa de campo:
mioterápico - uma análise compreensiva do BVS A2 1998
Enfermagem Qualitativa
assistir.
Revista Mineira de Enfer-
Quimioterapia antineoplásica: revisão da
LILACS magem B1 Revisão da literatura 1999
literatura
(REME)
A existencialidade da pessoa com neoplasia Acta Scientiarum- Health Pesquisa de campo:
LILACS B2 2003
em tratamento quimioterápico Sciences Qualitativa
Monitoramento e avaliação dos efeitos co- Revista Latino- Americana Pesquisa de campo:
laterais da quimioterapia em pacientes com LILACS de Enfermagem A1 Quantitativa 2004
câncer de cólon
Pesquisa de campo:
Quimioterapia antineoplásica e nutrição: uma Revista Eletrônica de
LILACS B1 Quantitativa 2008
relação complexa Enfermagem

638 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


A relação humana no cuidado de enfermagem
Acta Paulista de Enfer- Pesquisa de campo:
junto ao cliente com câncer LILACS A2 2008
magem Qualitativa
submetido a terapêutica antineoplásica
Desenvolvimento de instrumento de coleta de
dados de enfermagem para pacientes com Escola Anna Nery- Revis- Pesquisa de campo:
LILACS B1 2008
câncer de pulmão em quimioterapia ambula- ta de Enfermagem Qualitativa
torial
Assistência de enfermagem a portadores de
Online Brazilian Journal of
linfoma de hodgkin submetidos à quimiotera- LILACS B1 Revisão integrativa 2012
Nursing
pia: revisão integrativa
Aspectos a serem abordados por enfermeiros Pesquisa de campo:
Revista de
na consulta a pacientes em uso de quimiote- BVS B2 Quantitativa 2011
Enfermagem UFPE online
rápicos potencialmente neurotóxicos
Síndrome mão-pé induzida por quimioterapia: Revista Brasileira de
LILACS A2 Relato de caso 2012
relato de um caso Enfermagem
Náuseas, vômitos e qualidade de vida de
Revista Gaúcha de Enfer- Pesquisa de campo:
mulheres com câncer de mama em tratamento LILACS B1 2013
magem Quantitativa
quimioterápico
Perfil sociodemográfico e clínico de pessoas
Revista Eletrônica de Pesquisa de campo:
em tratamento quimioterápico: subsídios para LILACS B1 2013
Enfermagem Quantitativa
o gerenciamento em enfermagem
The Effects of Education on Anxiety Levels in
Clinical Journal of Oncolo-
Patients Receiving Chemotherapy for the First BVS A1 Revisão integrativa 2014
gy Nursing
Time: An Integrative Review
The Patient Remote Intervention and Symptom
Management System (PRISMS) – a Telehe-
Estudo randomiza do
alth mediated intervention enabling real-time
BVS Trials Journal B1 controlado 2015
monitoring of chemotherapy side- effects in
patients with haematological malignancies: stu-
dy protocol for a randomized controlled trial
Nursing Intervention to Enhance Outpatient
Chemotherapy Symptom Management: Estudo randomiza do
BVS Câncer B1 2015
Patient-Reported Outcomes of a Randomized controlado
Controlled Trial
A gerência do cuidado de enfermagem à
Texto & Contexto - Enfer- Pesquisa de campo:
mulher com câncer de mama em quimioterapia SCIELO A2 2016
magem Qualitativa
paliativa
Implementation of educational manuals in nur-
Journal of Nursing UFPE Pesquisa de campo:
sing consultation: opinion of patients submitted BVS B2 2017
online Qualitativa
to antineoplastic chemotherapy

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

A base de dados LILACS obteve dez artigos (58,83%), revelando maior relevância no
que tange o número de artigos encontrados. Com seis artigos (35,29%) esteve a BVS, e a
SCIELO com um artigo (5,88%).
Ao avaliar o número de artigos publicados em cada revista, observaram-se duas pu-
blicações (11,78%), na Revista Brasileira de Enfermagem e duas publicações (11,78%), na
Revista Eletrônica de Enfermagem.
As demais revistas, Texto & Contexto - Enfermagem, Clinical Journal of Oncology
Nursing, Revista de Enfermagem UFPE online, Journal of Nursing UFPE online, Trials Jour-
nal, Cancer, Revista Mineira de Enfermagem - REME, Acta Scientiarum - Health Sciences,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 639


Revista Latino-Americana de Enfermagem, Acta Paulista de Enfermagem, Escola Anna
Nery - Revista de Enfermagem, Online Brazilian Journal of Nursing e Revista Gaúcha de
Enfermagem, apresentaram cada uma, uma publicação (5,88%).
Relacionado ao qualis dos periódicos, seis deles (40%), apresentaram qualis B1, en-
quanto três (20%), qualis A1, três (20%), qualis A2 e três (20%), qualis B2. Segue abaixo o
Gráfico 1 com a distribuição dos periódicos relacionados ao qualis.

Gráfico 1- Representação do qualis dos periódicos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Gráfico 2. Número de estudos por ano de publicação.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Quanto a localização dos periódicos, dois eram do Rio de Janeiro (13,33%), dois de
Pernambuco (13,33%), dois de São Paulo (13,33%), um de Minas Gerais (6,67%), um de
Santa Catarina (6,67%), um do Paraná (6,67%), um do Rio Grande do Sul (6,67%), um do
Distrito Federal (6,67%), um de Goiás (6,67%), um da Pensilvânia (6,67%), um de Londres
(6,66%) e um da Geórgia (6,66%). Quanto ao tipo de pesquisa, seis artigos (35,29%) eram
pesquisas qualitativas, cinco (29,41%) quantitativas, duas (11,76%) revisões integrativas,
duas (11,76%) estudos randomizados controlados, uma (5,89%) revisão da literatura e uma
(5,89%) relato de caso. A distribuição dos estudos por ano de publicação é apresentada a
seguir no Gráfico 2.

640 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


De acordo com o gráfico, pode-se perceber que os artigos selecionados se encontraram
no período de 1998-2017, com ausência de publicações nos anos 2000, 2001, 2002, 2005,
2006, 2007, 2009 e 2010. Apenas uma publicação nos anos 1998, 1999, 2003, 2004, 2011,
2012, 2014, 2016 e 2017. Duas publicações em 2013 e 2015 e quatro publicações em 2008,
ano mais relevante quanto ao número de publicações.

DISCUSSÃO

Importante ressaltar que a maior parte dos periódicos (40%), apresentaram qualis
B1, e o qualis mais baixo foi B2, demonstrando que os artigos selecionados possuem uma
qualidade notável. O sistema que classifica os trabalhos científicos de programas de pós-
-graduação publicados possui como denominação qualis- periódicos. Anualmente ocorre a
atualização das classificações, onde A1 indica qualidade mais elevada, posteriormente se
seguem as demais: A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C que indica qualidade zero (BRASIL, 2018).
A região sudeste brasileira apresentou maior número de publicações, totalizando cinco
artigos (29,41%). Há uma centralização da produção nas regiões Sudeste e Sul (SIDONE
OJG, et al., 2016). Além disso, no presente estudo, o câncer de mama foi o mais prevalente,
detectado em oito artigos (47,05%) e, segundo o INCA, esse câncer é o mais predominan-
te no mundo, sendo entre as mulheres mais frequente, especialmente na região Sudeste
(ALVES KR, et al., 2011).
Segundo Maruthappu M, et al. (2016) foi descoberto que a crise econômica global ocor-
rida na época obtinha relação com o excesso de óbitos por câncer entre 2008 e 2010. Isso
demonstra que em 2008 houve um aumento do número de câncer de forma excessiva, sendo
o ano de maior número de publicações desse estudo, totalizando quatro artigos (23,53%).
A fim de organizar as informações e facilitar no entendimento, discutimos as informações
relevantes em nosso trabalho, que compreendem o objetivo, em dois tópicos: Importância
das orientações de enfermagem durante o tratamento quimioterápico e Cuidados de enfer-
magem ao paciente oncológico em tratamento quimioterápico.

Importância das orientações de enfermagem durante o tratamento quimioterápico:

O enfermeiro é peça fundamental na educação dos pacientes e seus familiares, pois


possui significativo papel que se facilita por conta da proximidade com o paciente (CIRILO
JD, et al., 2016). Dessa forma, ele se responsabiliza pelas informações quanto ao tratamento,
sobre os medicamentos específicos que serão utilizados e os possíveis efeitos colaterais
por conta da quimioterapia.
Segundo Alves KR, et al. (2011) as informações fornecidas pelo enfermeiro geram
um desvendar do tratamento e doença, um cuidado conduzido de forma certa e a instrução

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 641


direcionada do paciente. Os pacientes e familiares com a orientação de enfermagem po-
dem ter a capacidade de se responsabilizar pelas atitudes que promovem o enfrentar das
dificuldades resultantes do tratamento.
Vasques CI, et al. (2008) destacam a importância do papel do enfermeiro na educa-
ção ao paciente e familiar, as dúvidas relacionadas à doença, efeitos colaterais, controle
da toxicidade, infecções e os impactos decorrentes do tratamento. Há relatos ainda, que as
atividades educacionais ao paciente devem ser individualizadas, além de serem responsá-
veis pelo plano de cuidados.
De acordo com Silva MM, et al. (2013) uma orientação bem realizada promove êxito
no tratamento e previne maiores malefícios, sendo preciso avaliar a forma como as pessoas
vivem, sua escolaridade, o que conhecem, conforme os ditos populares, para que compre-
endam o que é o tratamento, os efeitos esperados e os não esperados, assim, minimizando
a carência do saber e maximizando a chance de domínio do regime de tratamento.
Para isso, a comunicação entre os profissionais de enfermagem e os pacientes é
essencial para a boa adesão ao tratamento quimioterápico e esclarecimento de dúvidas.
Conforme Cirilo JD, et al. (2016) a comunicação deve valorizar os meios verbais e não
verbais. Dessa forma, cabe ao enfermeiro avaliar a forma de comunicação com o paciente.
Três artigos (17,65%) relataram como prevalência, entre os pacientes, o ensino fundamental
incompleto. Assim sendo, a linguagem deve ser adequada para um entendimento melhor
das intervenções propostas (ALVES KR, et al., 2011).
De acordo com Gozzo TO, et al. (2013) a educação deve ser feita com uma linguagem
que se possa compreender. Além disso, a conversa com o paciente pode se dar através de
telefonemas. Segundo Breen S, et al. (2015), a telessaúde ajuda os enfermeiros no cuidado
aos pacientes, pois em seu estudo estes relataram como satisfatórias as ligações. Portanto,
o diálogo com o paciente promove uma vivência melhor do tratamento.
Conforme Cruz FOAM, et al. (2017), o enfermeiro se comunicar com o paciente é es-
sencial. Esse relacionamento interpessoal minimiza tensões enfrentadas pelo paciente em
tratamento quimioterápico (CIRILO JD, et al., 2016). Um bom relacionamento promove calma
e possibilidade de vencer obstáculos, o que gera leveza no dia-a-dia. Para diminuição do
estresse vivido pelo paciente, o enfermeiro é essencial (VASQUES CI, et al., 2008).
Essa aproximação com o enfermeiro é importante para o paciente. Como relatou Sa-
les CA, et al. (2003) o portador de neoplasia procura ações de boa vontade que envolvem
o seu estado de doença e não somente a intervenção à doença e ao corpo. A relação do
profissional enfermeiro com o paciente necessita de manifestações de afeto, para que haja
uma construção de confiança entre eles. A amizade, respeito, carinho, entre outros, durante
a quimioterapia produzem a confiança (FONTES CAS e ALVIM NAT, 2008).

642 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Além do relacionamento interpessoal com o paciente, é necessário o contato com o
familiar. É importante o enfermeiro determinar o suporte ao paciente e o estabelecimento do
cuidador que ajudará o paciente nas situações que ele não conseguirá enfrentar sozinho,
mediante o tratamento e progressão da doença (ALVES KR, et al., 2011). Após o tratamen-
to ambulatorial, os efeitos colaterais são enfrentados pelo paciente e seu familiar (CRUZ
FOAM, et al., 2017). É essencial a família interagir para encarar as dificuldades decorrentes
da doença (SALES CA, et al., 2003). Assim, o enfermeiro precisa considerar a família como
colaboradora na efetuação dos cuidados (SILVA MM, et al., 2013).

Cuidados de enfermagem ao paciente oncológico em tratamento quimioterápico:

Antes da realização da quimioterapia, a consulta de enfermagem deve ser implemen-


tada, pois é a partir da avaliação do paciente que o enfermeiro será capaz de identificar
os problemas e realizar os cuidados de enfermagem. Conforme Alves KR, et al. (2011) o
enfermeiro da área oncológica se responsabiliza pelos efeitos da quimioterapia causados
ao paciente quanto a identificação, intervenções, avaliações e monitoramento, através da
consulta de enfermagem que é direcionada a todos os pacientes. Estes serão acolhidos
dispondo dados para que o diagnóstico de enfermagem seja realizado, bem como as inter-
venções necessárias. Durante a consulta o enfermeiro avalia se será preciso o encaminha-
mento a outros profissionais.
De acordo com Cirilo JD, et al. (2016) durante a consulta, o enfermeiro deve dar atenção
às lamentações da paciente, levantando os cuidados necessários, promovendo o autocui-
dado, principalmente no que tange as reações adversas, bem como promovendo qualidade
de vida. É necessário que se monitore continuamente o paciente e avalie se as intervenções
estão sendo eficazes no domínio dos efeitos (ALMEIDA EPM, et al., 2004).
Para isso, é imprescindível para a prática clínica em enfermagem, o conhecimento. É
importante que os profissionais de enfermagem compreendam as características da patolo-
gia e dos indivíduos por essa acometidos, os mecanismos da doença, suas manifestações
clínicas, seus efeitos colaterais e tratamentos, tal como as intervenções de enfermagem
que podem ser realizadas (VASQUES CI, et al., 2008). Segundo Silva MM, et al. (2013) é
necessário gerenciar o cuidado de forma humanizada, individual e integral.
Assim, durante a consulta de enfermagem, é necessário que o enfermeiro leve em
consideração as necessidades dos sexos por gênero, para melhor aplicação de cuidados
durante o tratamento. Tendo em vista que no presente estudo, doze artigos (70,59%) obti-
veram predomínio do sexo feminino, o enfermeiro deverá elaborar medidas que não preju-
diquem as ações realizadas pela mulher referentes ao lar, ao trabalho e à família. Quanto
aos pacientes do sexo masculino, o enfermeiro deve levar em consideração a sexualidade,

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 643


o fisiológico e a posição do homem na sociedade (ALVES KR, et al., 2011).
Além disso, de acordo com Salvadori AM, et al. (2008) os pacientes que recebem
quimioterápicos possuem necessidades físicas e emocionais, dúvidas relacionadas ao tra-
tamento, que conforme Garcia S (2014), a ansiedade quanto a essas questões pode ser
diminuída através da educação ao paciente. Segundo Alves KR, et al. (2011) é necessário
que o enfermeiro, identifique os problemas psicossociais, físicos, mentais e espirituais e
proponha cuidados que melhorem a vida dos pacientes.
O enfermeiro deve ser capaz de observar as limitações físicas de seus pacientes,
como as pessoas em estágio evoluído do câncer, para que ele providencie um ambiente
confortável, avaliando a necessidade de a pessoa manter-se em cadeira de rodas ou maca
enquanto está no ambulatório (SILVA MM, et al., 2013).
Além da consulta de enfermagem, é necessária a realização da triagem antes da ad-
ministração do quimioterápico, pois dessa forma, o enfermeiro é capaz de observar tudo
aquilo que possa impossibilitar a administração no dia marcado. Porém, esse impeditivo deve
ser avaliado com cuidado, pois o paciente acredita que irá receber o tratamento e, uma vez
que ele não se trata, os sentimentos negativos podem aparecer (CIRILO JD, et al., 2016).
Para que o paciente esteja apto para dar início à quimioterapia, é necessário que ele
atenda a determinados requisitos, devendo possuir perda de peso inferior a 10%, tolerar
clinicamente as medicações quimioterápicas, não possuir infecção ou que esta esteja con-
trolada, e estar com as células sanguíneas e dosagens séricas dentro do padrão aceitável
(RIUL S e AGUILLAR OM, 1999).
Além disso, a avaliação do paciente é feita conforme os índices de Zubrod e Karnofsky,
que se relacionam aos sintomas apresentados. Com relação às contraindicações absolutas
dos quimioterápicos aos pacientes oncológicos, elas se destinam a pacientes em fase ter-
minal, ou com infecções graves, os que estão em coma e gestantes no primeiro trimestre. É
relativo receber o quimioterápico, pacientes com idade menor que três meses e maior que
80 anos, metástase cerebral com impossibilidade de cirurgia ou que não responda a radio-
terapia, comprometimento grave de outros órgãos vitais, falta de colaboração do paciente
em aderir ao tratamento, o que o impossibilita de recebê-lo e os casos em que o tumor não
reage as medicações quimioterápicas propostas (RIUL S e AGUILLAR OM, 1999).
Além de conhecer os critérios para se administrar a quimioterapia, o enfermeiro necessi-
ta conhecer os antineoplásicos. Nesse estudo, sete artigos (41,18%) citaram antineoplásicos,
sendo mais mencionado o fluorouracil (Flusan®), em cinco destes artigos. De acordo com
Vasques CI, et al. (2008) o enfermeiro precisa conhecer as modalidades de tratamento para
que se desenvolva a intervenção de enfermagem aos pacientes.
Durante o tratamento quimioterápico, o enfermeiro precisa orientar o paciente a se

644 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


abster de substâncias que possam prejudicar o tratamento, como o tabaco e o álcool. Se-
gundo Alves KR, et al. (2011), o tabaco é uma das causas de várias doenças, como as
cardiovasculares, respiratórias e o câncer. Além disso, Salvadori AM, et al. (2008) referiram,
em seu estudo sobre câncer no pulmão, que a maioria (95%) dos participantes, declararam-
-se tabagistas ou já terem sido. Conforme Alves KR, et al. (2011) o uso do álcool durante o
tratamento antineoplásico é impactante, uma vez que atinge os nervos periféricos, sendo
necessário alertar os pacientes quanto ao álcool na fase de tratamento.
O enfermeiro deve atentar quanto à gravidez das pacientes em tratamento. Nesse estu-
do, doze artigos (70,59%) abordaram pacientes do sexo feminino e quatro artigos (23,53%)
apresentaram mulheres com possibilidade de engravidar, onde um deles apresentou a idade
de 37 anos, um com intervalo de 29-50 anos e dois com intervalo de 41-50 anos. Conforme
Alves KR, et al. (2011) é importante orientar a mulher em tratamento quimioterápico a evitar
a gravidez, uma vez que existem mulheres que podem engravidar e fazem quimioterapia.
Os autores Riul S e Aguillar OM (1999) e Salvadori AM, et al. (2008) descreveram a
importância de orientar quanto à fertilidade e métodos de contracepção e a importância da
necessidade de se evitar a gravidez durante o tratamento quimioterápico, por conta dos
efeitos teratogênicos dos antineoplásicos e possíveis abortos que os antineoplásicos podem
ocasionar.
Além desses cuidados necessários de serem realizados pelo enfermeiro, conhecer os
efeitos que o tratamento quimioterápico gera nos pacientes é de suma importância para o
estabelecimento dos cuidados de enfermagem. Uma vez que a enfermagem identifica os
problemas dos pacientes, sua assistência pode gerar minimização dos sintomas (SALVA-
DORI AM, et al., 2008).
Uma das situações que impactam o paciente em tratamento quimioterápico é a licença
médica, pois pode atingir seu fator econômico e da família, visto que o valor recebido pela
previdência é menor que o recebido no trabalho anterior. Essa condição pode colaborar na
ansiedade, diminuição da qualidade de vida e comprometimento na adesão aos cuidados
(ALVES KR, et al., 2011).
Três artigos (17,64%) apresentaram a condição socioeconômica dos pacientes. A
licença médica, o trabalho doméstico e o baixo nível socioeconômico foram apresentados
cada um em um desses artigos. Assim, torna-se evidente o cuidado que o enfermeiro deve
prestar ao paciente mediante tal situação. O enfermeiro pode apresentar atividades laborais
e biblioterapia para a melhora do emocional e da saúde mental (ALVES KR, et al., 2011).
Conforme Silva MM, et al. (2013) a prática laborativa ajuda na autoestima. Outra situação
vivenciada pelo paciente é a rede venosa danificada. A quimioterapia prejudica as veias (AL-
MEIDA EPM, et al., 2004). Por esse motivo há necessidade do aumento da ingesta hídrica

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 645


para essa situação. Assim, torna-se necessário orientar o paciente a aumentar a ingesta
hídrica. Camargo TC e Souza IEO (1998) descreveram que o enfermeiro deve verificar a
necessidade de uso de acessos venosos centrais, levando em consideração o PICC como
solução.
A alimentação do paciente é outro fator que deve ser considerado, uma vez que no
estudo de Ferreira NMLA, et al. (2008) foi detectado a diminuição do consumo de alimentos,
priorização pelos pacientes por aqueles mais macios e líquidos, descartando feijão, massas,
carnes, leite e derivados, optando por sucos, verduras, vegetais e frutas. No estudo de Sales
CA, et al. (2003) foi verificado que a quimioterapia colabora na mudança alimentar.
Almeida EPM, et al. (2004) apontaram a necessidade de informar quanto ao tipo de
alimentos indicados e não indicados, a dieta e limpeza dos alimentos. É importante que o
enfermeiro observe o paciente quanto a indícios de alterações nutricionais evidenciadas na
pele e mucosas, como o ressecamento e desidratação (FERREIRA NMLA, et al., 2008).
O vômito é outro problema decorrente do tratamento quimioterápico. Almeida EPM, et
al. (2004) declararam que os antieméticos estão no protocolo, porém o paciente decide se
irá usá-lo, mas é necessário orientar para que não se agrave a situação, pois isso pode levar
o paciente a não continuar com o tratamento. O profissional enfermeiro necessita conceder
os antieméticos de forma que o paciente utilize o tanto necessário no momento mais com-
plicado e deve investigar a capacidade do paciente em usar a medicação. Orientar quanto
a alimentos frios, pois possuem maior aceitação, uma vez que os alimentos quentes pos-
suem um odor que incomoda o paciente, orientando, ainda, quanto à ausência de gorduras
(VASQUES CI, et al., 2008).
Outro efeito colateral gastrintestinal é a diarreia, que pode ser vivenciada pelo paciente
em tratamento de quimioterapia, porém, o antidiarreico não é prescrito como medicação
profilática. Assim, a enfermagem necessita orientar quanto a ingesta hídrica e determinado
tipo de dieta, a fim de diminuir esse efeito. Além disso, há a necessidade de higienização das
regiões perianal e perineal (ALMEIDA EPM, et al., 2004). Vasques CI, et al. (2008) apresen-
taram a medicação kaopectato (KAOPECTATO 197.2 MG/ ML + 4.4 MG/ML SUSPENSÃO
ORAL) como um apoio para o manejo da diarreia. Esses mesmos autores relataram outro
efeito colateral relacionado ao sistema gastrintestinal, a constipação, onde uma alimentação
abundante em fibras se torna eficiente contra esse efeito. Segundo Gozzo TO, et al. (2013)
informar quanto ao tratamento e a forma de lidar com seus efeitos indesejáveis é importante
para administrar as toxinas do trato gastrintestinal.
A alopecia, caracterizada pela queda de cabelo, é muito abordada pelos pacientes,
por prejudicar o relacionamento com as pessoas (SALES CA, et al., 2003). Nesse sentido,
Vasques CI, et al. (2008) declararam que o enfermeiro precisa orientar o paciente que o

646 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


cabelo crescerá novamente, recomendando o corte mediante as quedas de cabelo e uso de
perucas. Caso o paciente queira permanecer com seu cabelo, o torniquete de pressão ou
capa gelada podem ser usados, mas, esclarecer quanto à alopecia, pode conduziro paciente
a vivenciar a situação da melhor maneira.
Outro efeito colateral que o paciente em tratamento com quimioterápico pode viven-
ciar é a síndrome mão- pé. Conforme Simão DAS, et al. (2012) os pacientes em tratamento
quimioterápico com mãos e pés com edema, vermelhidão e referindo dor, podem receber o
diagnóstico da síndrome. O enfermeiro deve orientar quanto ao uso do creme de aloe vera
neutro, aplicado três vezes por dia, manipulado segundo o retorno venoso, associado a uma
alimentação de três em três horas com alimentos de cores vastas, e ingesta hídrica de, no
mínimo, dois litros por dia, o que promove a melhora da síndrome.
Além desses efeitos, Vasques CI, et al. (2008) relataram que o risco de infecção
quando há a manifestação de mucosite e estomatite, pode ser minimizado ao usar escovas
macias, uso de antibióticos e antifúngicos de forma certa, bem como enxaguante bucal com
ausência de álcool, sendo de clorexidina. Além disso, os mesmos autores declararam que a
quimioterapia pode levar a fibrose pulmonar, sendo necessário realizar a ausculta do pulmão,
radiografias e avaliar o padrão respiratório.

CONCLUSÃO

Foi identificada a necessidade de o enfermeiro buscar conhecimento aprofundado sobre


a área oncológica, uma vez que nesse estudo verificou-se a relevância deste profissional
enquanto educador em saúde no tratamento quimioterápico. Além disso, o enfermeiro deve
realizar um cuidado individualizado avaliando as necessidades próprias de cada paciente,
segundo os sintomas revelados. Por fim, foi percebida na pesquisa a ausência de cuidados
de enfermagem quanto a outras questões como: intervenções relacionadas ao fluxo mens-
trual da mulher, fraqueza, tonteira, cuidado ao fazer a barba e a unha, que são necessários.
Assim, é preciso mais estudos sobre os cuidados de enfermagem aos pacientes oncológicos
em tratamento ambulatorial.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 649


50
“ Desafios enfrentados por mães
no tratamento de filhos com
microcefalia

Andresa Teixeira Santos Correia

Geane de Jesus Tavares

Sheylla Nayara Sales Vieira

Gislene de Jesus Cruz Sanches

10.37885/200700731
RESUMO

Objetivo: conhecer os desafios enfrentados por mães no tratamento de filhos com


microcefalia. Métodos: trata-se de estudo descritivo-exploratório de natureza qualitativa,
realizado com mães de filhos microcefálico em uma cidade de médio porte no sudoeste
da Bahia. A população do estudo foi constituída de 07 mães de crianças com microcefalia
de sexo e idade diferentes, cujos dados foram coletados por meio de entrevista
semiestruturada, gravada com auxílio de gravador e analisada através da análise do
discurso do sujeito coletivo. Resultados: os dados coletados permitiram a construção
de discursos coletivos que representam o entendimento das mães sobre os desafios
enfrentados no tratamento de filhos com microcefalia. A partir das ideias temáticas dos
discursos analisados que responderam ao objetivo proposto, surgiram três categorias para
a reflexão: “o entendimento das limitações físicas dos filhos”, “dificuldade enfrentada para
o atendimento com equipe multiprofissional” e a “garantia de atendimento especializado
pelo SUS”. Conclusão: Diante dos resultados encontrados, fica evidente que é necessário
o surgimento de estratégias para que os desafios sejam enfrentados, como fortalecimento
do SUS, uma rede apoio eficaz e assistência aos pacientes acometidos, para que os
usuários não peregrinem dentro do sistema, também realizar uma capacitação de
profissionais de saúde para lidar com a situação.

Palavras-chave: Educação em saúde; Reabilitação;Vírus zika.


INTRODUÇÃO

A microcefalia é uma má formação que apresenta alterações de estrutura e função do


sistema neurológico, caracterizada pela medida do perímetro cefálico, realizada logo após o
nascimento da criança, onde se considera um resultado menor que o esperado para o sexo
e idade gestacional. Não é propriamente uma deficiência, mas pode acarretar no surgimento
de uma deficiência física como consequência da agressão ao cérebro; as alterações podem
ocorrer porque o cérebro precisa de espaço para se desenvolver, mas o crânio restringe
(OLIVEIRA MC e SÁ SMA, 2017).
A condição da microcefalia repercute negativamente no desenvolvimento da criança,
a evolução neuropsicomotora desta costuma ser lento, o comprometimento intelectual na
maioria dos casos é severo e o comportamento dessas crianças costuma ser atípico, podendo
evidenciar a presença de choro e irritabilidade contínua, entre outros acometimentos, O que
leva os pais a ser principal agente do cuidado à criança com deficiência ou com necessidades
especiais (BERTUOLI N e OLIVEIRA AKC, 2016).
No que se refere à sua etiologia, a microcefalia é subdividida em dois grupos principais:
a microcefalia primária e a microcefalia secundária. A microcefalia primária está presente no
nascimento, com a identificação do baixo perímetro cefálico do bebê, como consequência
de uma diminuição na espessura do córtex cerebral, malformações ou outras alterações
neurológicas significativas Já à microcefalia secundária, está relacionada a causas secundá-
rias, variando a gravidade da malformação, as funções cerebrais são pouco desenvolvidas
devido a um grande número de agentes nocivos que atingem o feto no útero ou o lactente
durante os períodos de rápido crescimento cerebral (BERTUOLI N e OLIVEIRA AKC, 2016).
No Brasil, no período de 2010 a 2014, uma média de 156 casos de microcefalia era
registrada anualmente, no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). Porém,
ao final do ano de 2015, surgiram os primeiros relatos de várias crianças nascidas com mi-
crocefalia em Unidades de Saúde do Estado do Pernambuco, na região Nordeste do Brasil,
onde em 2016 após estudos investigativos foi concluído que o vírus zika seria o principal
responsável dessa epidemia que não se limitava mais só na região nordeste, mas em todo
Brasil (REIS JC, et al, 2018).
Até 27 de fevereiro de 2016, foram notificados 5.909 casos de microcefalia, sendo 641
confirmados para microcefalia ou alteração do SNC sugestivos de infecção congênita, dos
5.909 casos, 139 evoluíram para óbito fetal ou neonatal e 96 permanecem em investigação,
31 foram confirmados para microcefalia e 12 foram descartados (SOUSA PSA, et al, 2016).
Frente ao número elevado de casos notificados abruptamente, foi observado em todo
país, mães e famílias completamente impactadas sobre o que fazer como cuidar e onde
procurar auxílio médico para suas crianças nascidas com microcefalia, pois o sistema de

652 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


saúde não estava preparado para atender toda essa demanda (VEIGA SA, et al, 2017).
A população brasileira, assim como o sistema de assistência à saúde de uma maneira
geral, encontra-se diante de um grande desafio, que e o de entender o potencial do novo
teratógeno e desvendar os mecanismos patogênicos do ZIK-V (vírus zika), para o enfrenta-
mento preventivo e reconhecimento amplo e espectro de manifestações clínicas, principal-
mente o impacto no desenvolvimento cognitivo-comportamental, para assim poder elaborar
programas de intervenção visando o melhor cuidado das crianças e das famílias envolvidas
(BRUNONI D, et al., 2016). Frente ao exposto e considerando-se os altos índices de inci-
dência de infecções pelo vírus zika no Brasil e a sua relação com casos de microcefalia em
recém-nascidos, objetivou-se conhecer os desafios enfrentados por mães no tratamento de
filhos com microcefalia.

MÉTODOS

O estudo possui abordagem qualitativa e caráter descritivo-exploratório. Aconteceu


nas residências de mães de crianças com microcefalia cadastradas no centro de referência
localizada na zona urbana de um município do sudoeste da Bahia, no período de julho a
agosto de 2017, após a análise de prontuários médicos de crianças acompanhadas no centro
de referência da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE).
As pesquisadoras convidaram as mães a participarem do estudo na própria unidade e
nas residências, ficando acordado entre as pesquisadoras e mães, entre as residências e
unidade o melhor local para acontecer o estudo. A amostra foi composta de mães de crian-
ças com diagnóstico clínico de microcefalia associada à infecção materna por vírus Zika.
As visitas foram previamente agendadas pelas pesquisadoras. Ressalta-se que foram
excluídos os participantes que não compareceram nas unidades para o agendamento da
visita na residência. Assim, o estudo teve como amostra 7 mães que atenderam aos critérios
de inclusão e que aceitaram participar da pesquisa, assinando os Termos de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) com autorização de gravação e uso de áudio.
Utilizou-se como método de investigação e coleta de dados às entrevistas e um roteiro
semiestruturados. As entrevistas foram norteadas pelo roteiro composto por duas partes: a
primeira, com questões objetivas referentes ao perfil sócio demográfico das participantes; e a
segunda, com questões abertas. Todos os dados relevantes dos discursos eram armazena-
dos através de recursos de áudio em gravação e em diários de campo para análise posterior.
Para a análise e interpretação dos dados, foi utilizada a técnica do Discurso do Sujeito
Coletivo-DSC. O diferencial da metodologia do DSC é que a cada categoria estão associados
os conteúdos das opiniões de sentido semelhante presentes em diferentes depoimentos, de
modo a formar com tais conteúdos um depoimento síntese, redigido na primeira pessoa do

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 653


singular, como se tratasse de uma coletividade falando na pessoa de um indivíduo (LEFE-
VRE F e LEFEVRE AMC, 2014). O estudo seguiu as determinações éticas da Resolução nº
466/12 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As mães entrevistadas se caracterizam por terem idade entre 24 e 35 anos. No que


diz respeito ao estado civil, 57,14% convivem com os companheiros, sendo solteiras ou
divorciadas 42,86%. O grau de instrução variou de ensino fundamental completo ao Ensino
Médio completo. Apenas 28,57% das mães trabalham. A renda média mensal variou entre 1
a 3 salários mínimos e 71,42 % possuem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que
é tida como uma renda de um salário-mínimo que os idosos e deficientes recebem quando
os mesmos não têm condições de se manterem sozinho ou não podem ser mantidos pela
família. Em relação aos números de filhos por mães variou de três a quatros filhos. Os de-
poimentos evidenciaram mães não tabagistas, consume bebida alcoólica socialmente e não
pratica atividade física.
Os dados coletados permitiram a construção de discursos coletivos que representam
o entendimento das mães sobre os desafios enfrentados no tratamento de filhos com micro-
cefalia. A seguir foram apresentadas as ideias centrais retiradas das falas das entrevistadas
e os discursos construídos a partir destas.
As respostas permitiram a construção de seis discursos, nos quais se busca entender
os desafios encontrados diariamente pelas mães no tratamento de seus filhos.

Limitações físicas: saberes e desconhecimentos de mães

Quando questionadas sobre o conhecimento que as mães têm sobre as patologias dos
seus filhos as falas apresentaram discursos dicotômicos.
Discurso 1 – Conhecimento e desconhecimento das limitações físicas e cognitivas dos
filhos

[..] sim, vai passando o tempo e vou conhecendo essas limitações físicas dele,
claro que a gente ver que se meu filho for se relacionar com uma criança de 2
anos que não tem a micro, é bem diferente, tudo nele é mais lento[...]

O coletivo das mães demonstra que as mesmas possuem conhecimento sobre as


limitações que seus filhos apresentam como consequência a microcefalia, e expressam
que reconhecem as barreiras existentes no que tange o relacionamento de seus filhos com
outras crianças da mesma faixa etária, que não possuem a comorbidade.
Os familiares entram em contato com a temática da deficiência de diferentes maneiras.

654 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Durante o prénatal, por exemplo, o médico pode encontrar indícios clínicos de que algo não
está bem. Por um lado, são comuns, nessa fase, indicativos médicos que levantam a sus-
peita de malformações, infecções ou síndromes que levam à deficiência ou em consultas
subsequentes com outros profissionais (LEVANDOWSKI M e CARRILHO L, 2014).
Entretanto ao longo da pesquisa uma pequena parcela das mães desconhecia as
limitações que a patologia dos seus filhos apresenta, relacionado ao seu crescimento e
desenvolvimento, e referirem que não entendem sobre a comorbidades, como está sendo
demonstrado na fala abaixo.

[...] não entendo, não sei quase nada [...].

Pois compreendemos que uma grande parte dos profissionais da saúde, principalmente
os médicos, em geral, não são capacitados para lidar com a deficiência, principalmente quan-
do se defrontam com um bebê com suspeita diagnóstica de alguma patologia ou síndrome.
Os médicos raramente esclarecem ou informam aos familiares sobre as possibilidades de
desenvolvimento da criança, a possibilidade de superação das dificuldades ou sobre os locais
onde os recursos são oferecidos (SANCHES LAS e FIAMENGHI-JR GA, 2011).
As mães precisam de ajuda, orientação, informação e compreensão, para que pos-
sam ajustar-se e realizar satisfatoriamente a sua função materna. É imprescindível que a
família estabeleça conhecimentos sobre as necessidades especiais de seus filhos, construa
padrões de enfrentamento dos sentimentos e das necessidades como um todo, na tomada
de decisões e na busca dos recursos para o bem-estar da criança e da família (SANTOS
LS, et al., 2017).
Os casos de microcefalia em sua maioria têm associado aos seus sinais e sintoma as
alterações motoras e cognitivas que alteram de acordo com o grau de acometimento cerebral.
O comprometimento varia para cada paciente pois depende muito da área e da extensão do
cérebro que foi lesionado pela doença, podendo a criança apresentar diversas dificuldades
como um declínio no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), pode apresentar também
déficits auditivos, físicos, intelectuais, cognitivos e visuais o que leva a compreensão das
dificuldades enfrentadas pela família no tratamento e reabilitação dos seus filhos (NORBERT
AAF, et al., 2016).
As alterações mais comumente associadas à microcefalia estão relacionadas ao déficit
intelectual e outras condições, que incluem: irritabilidade; convulsões; epilepsia; paralisia
cerebral; atraso no desenvolvimento de linguagem e/ou motor; desordens oftalmológicas,
cardíacas, renais e do trato urinário; entre outras (SÁ FE, et al., 2017).
No geral, as crianças que tem microcefalia apresentam atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor com acometimento motor e cognitivo relevante e, em alguns casos as

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 655


funções sensitivas (audição e visão) também são comprometidas e o sistema respiratório
também é acometido devido às alterações do tônus muscular, gerando uma pobreza dos
movimentos e um enfraquecimento dos músculos ventilatórios, promovendo um déficit nas
trocas gasosas (SOUSA ETC, et al., 2017).

Os impasses vivenciados durante o atendimento com a equipe multiprofissional

No discurso, que versa sobre o serviço de atendimento multiprofissional e intervenção


precoce com crescimento e desenvolvimento das crianças, os discursos parentais referen-
ciam o desejo de melhores condições de saúde transporte e atendimento de profissionais
com especialidades como demonstra os discursos a seguir.
Discurso 3 – Atendimento com a equipe multiprofissional: Facilidades e dificuldades

[...] acho que não tem nenhuma dificuldade lá na APAE, eu não falo nada de lá,
atendem muito bem eu nunca tive problemas lá, todos os exames que preciso
marcam inclusive médico. [...]

O coletivo das mães acima relata que não possuem dificuldades no processo de aten-
dimento de seus filhos, e descreve as facilidades presentes durante o atendimento nas
instituições a qual são direcionadas.
O discurso demonstra que às facilidades encontradas pelo coletivo, em relação ao
atendimento das crianças acometidas pela microcefalia está intimamente relacionada a uma
assistência prestada por instituições não governamentais.
A participação expressiva de instituições não governamental objetiva a complementação
e aprimoramento da assistência prestada à população, bem como a condição e a natureza do
cuidado prestado a crianças com necessidades especiais, e mesmo com as dificuldades, a
formação de uma rede de apoio voltada para a inclusão e a acessibilidade da criança, auxilia
na aquisição de sua independência, qualificando o seu viver (PINTANEL AC, et al, 2013).
A Constituição Federal estabelece que a “família é à base da sociedade” (Art. 226) e
que, portanto, compete a ela, juntamente com o Estado, a sociedade em geral, “assegurar
à criança e ao adolescente o exercício de seus direitos fundamentais” tais como promoção
e proteção dos direitos humanos e apoio às crianças e aos adolescentes com deficiência
(BRASIL, 2006).
Sabe-se que o acompanhamento adequado contribui para a geração de indivíduos com
maior senso crítico, aptos a enfrentarem dificuldades, tornarem-se adolescentes, jovens e
adultos sadios e socialmente produtivos (SIMIÃO CKS, et al., 2017).
Entretanto a coletividade também expressa a as diversas dificuldades que as mães
enfrentam na busca pelo atendimento com a equipe multiprofissional que os filhos necessi-

656 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


tam, e relatam tais dificuldades, sobre o transporte oferecido, o atendimento pela fisioterapia
que é deficiente e a falta de médicos nas diversas especialidades.

[...] Sim, há uma falta de transporte, deficiência da prefeitura e do estado em


oferecer uma, eco terapia, sendo que se for é particular, tinha que ter uma
parceria com a prefeitura, uma hidroterapia, que não tem, e o que oferecido na
fisioterapia é muito pouco, se não tiver outros recursos nossos filhos sempre
vão ficar para traz sem algumas especialidades médicas, como: pediatria,
fonoaudióloga que não encontro, entre todas as dificuldades, a mais difícil é
encontrar um neurologista pediatra. [...]

O discurso demonstra um entendimento sobre a necessidade de atendimento dife-


renciado e especializado para os filhos, no entanto esbarram em socioeconômicas, onde a
grande maioria das famílias encontra dificuldades no custo dos transportes e mantimentos
das crianças.
O atendimento especializado para estimulação precoce possui sessões reduzidas que
não ocorrem conforme a orientação dos protocolos e manuais vigentes, acorrendo atendi-
mentos uma vez por semana, enquanto o recomendado é três vezes semanal, e a falta de
profissionais capacitados dispostos a trabalhar com patologias específicas relacionadas ao
Neurodesenvolvimento.
A família encontra, de maneira geral, dificuldades para encontrar apoio social. Para ela,
a medicina salvou a vida de sua criança, mas a sociedade não está preparada para acolhê-la.
No que diz respeito à saúde, não é fácil obter os recursos de que a criança precisa e nem
sempre a cidade os oferece, tendo a família de buscar tratamento e acompanhamento fora
do município (ANDRADE MB, et al, 2011).

O SUS e suas demandas diante da microcefalia

Sabe-se que, as crianças acometidas por microcefalia possuem necessidades espe-


ciais, assim necessitam de cuidados direcionados e qualificados. Muitas das famílias que
possuem filhos acometidos pela patologia em questão são usuários do Sistema Único de
Saúde – SUS.
Diante disso faz necessário políticas direcionadas e cuidados especializados ofertados
por esse sistema de saúde. Nesse sentindo questionou-se sobre o atendimento prestado
pelo SUS a crianças diagnosticadas com microcefalia. Do questionamento emergiu dois
discursos, que seguem.
Discurso 5 – Satisfação e insatisfação no atendimento especializado

[...] sim, desde a época que ela nasceu, eu uso o SUS, no posto eles a atendem
mensalmente, em outros estabelecimentos, dia de segunda, duas vezes por
semana, todo mês, o serviço é de qualidade. [...]

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 657


O discurso acima descreve a satisfação do coletivo relacionada ao atendimento ofer-
tado pelo SUS aos seus filhos. E especifica os dias de atendimento estabelecidos. Sobre o
atendimento prestado pelo sistema único de saúde - SUS, apesar da satisfação demonstrada
pelas mães, é compreensivo que as mesmas não reconheçam ou encontrem dificuldade na
reabilitação dos seus filhos, pois é visto que os pais precisam receber informações a res-
peito do estado de saúde do filho, diagnóstico, tratamento e prognóstico, os quais afirmam
que as informações fornecidas pelos profissionais parecem estar sendo suficientes, mas
algumas mães não dispõem de conhecimentos sobre a patologia e/ou deficiência tornando
a compreensão, mas difícil no que se refere o atendimento prestado.
A equipe multidisciplinar, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais,
médicos, psicólogos e enfermeiros exercem um papel fundamental, pois por meio das in-
formações que eles transmitem para a família elas passam a buscar informações, aprender
por meio de outras fontes, devido à necessidade de conviver com a criança. Pois existem
protocolos de atendimento específicos, todas as crianças com microcefalia deverão manter
consultas de puericultura nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Também deverão ser acompanhados em serviços especializados para estimulação
essencial, já que a criança tem a lesão e há o quadro neurológico. É necessário estimular
as percepções sensoriais, os movimentos e o posicionamento da criança, a coordenação
motora, o brincar, a socialização e a cognição (BRASIL, 2016).
Quanto mais precoce e objetiva for essa intervenção, maior e melhor serão as chances
da criança se desenvolver em suas potencialidades e com menor déficit residual. Contudo,
a estimulação é necessária para melhorar a condição de vida o que leva a necessidade da
busca por melhores tratamentos, que possa contribuir com desenvolvimento (WAJNSZTEJN
R, 2016).
Durante a entrevista o coletivo cita as insatisfações que existe com o atendimento
prestado, e especifica as falhas existentes. Em decorrência da recente epidemia dos casos
de microcefalia no cenário brasileiro, entende-se como necessário e urgente conhecer as
necessidades presentes no dia-dia das crianças, assim como a importância dos profissionais
na compreensão e atuação na dinâmica familiar, com olhar para as diferentes necessida-
des maternas vivenciadas em sua rotina diária junto à criança, para assim poder oferecer
um tratamento adequado a cada criança de acordo com suas necessidades, mostrando as
possibilidades positivas, e não somente os aspectos negativos.

[...] uma coisa que o prefeito e o secretário de saúde, deveriam olhar com um
olhar diferenciado, para esses casos de microcefalia, que são casos novos, os
profissionais deveriam tomar cursos, para atender essas crianças, justamente
porque, não sei, acho que falta muito ainda pra fazer pelos nossos filhos. [...]

658 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Para que assim possa promover autoconfiança e proporcionar apoio adequado para um
melhor desempenho do dia a dia familiar podendo intensificar o empoderamento dos pais,
propiciando bem-estar, o enfrentamento saudável da condição de vida, melhora no acesso
e no apoio aos serviços necessários e facilidades na prestação de melhores serviços para
as famílias (SOUZA SEP, 2017).
Pois todas as crianças acometidas com microcefalia ao nascer podemos considerar
que é especial e única, e sua a avaliação e tratamento deve ser holística e criteriosa tendo
como base o que deve ser estimulado para que assim seja possível diminuir a probabilidade
de ocorrer atrasos no seu desenvolvimento neuropsicomotor (NORBERT AAF et al., 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados encontrados, verificou-se que os desafios encontrados pelas


mães de crianças com microcefalia para o tratamento de seus filhos, estão na dificuldade de
transporte para encaminhamento nos dias de consultas e terapias, profissionais com especia-
lidades e conhecimento técnico cientifico sobre a patologia, dificuldade de agendamento para
atendimento especializado conforme o apregoado pelos protocolos do Ministério da Saúde.
Sendo assim, para que esses desafios sejam enfrentados, cabem algumas propostas,
entre elas fortalecimento do Sistema Único de Saúde – SUS, reforço de uma rede apoio
e assistência aos pacientes acometidos, para que os usuários não peregrinem dentro do
sistema, investir de forma arrojada no controle de vetores, e capacitação de profissionais
de saúde e participação da família.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 659


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660 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


51
“ Desmame Precoce: uma revisão
sistemática

Ana Carolina Rocha e Silva


UEPA

Rafael Pedroso Bastos


UEPA

Zilma Nazaré de Souza Pimentel


UEPA

Artigo original publicado em: 8/2019


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700680
RESUMO

Objetivo: Investigar os principais fatores que levam ao desmame precoce em crianças


menores de 6 meses de idade. Métodos: Trata-se de uma revisão sistemática, com
abordagem qualitativa, baseada nas “Diretrizes Metodológicas: Elaboração de revisão
sistemática e metanálise de estudos observacionais comparativos sobre fatores de
risco e prognóstico” disponibilizada pelo Ministério da Saúde. Foram selecionados 14
artigos principais que seguiam os critérios de elegibilidade estabelecidos. Para compor
a discussão foi necessário extrair os dados dos 14 artigos em questão, através de uma
ficha de extração de dados Resultados: Dentre os fatores encontrados após análise,
obtiveram-se: mãe acreditar que possuí leite fraco ou insuficiente; trauma mamilar; voltar
ao trabalho ou estudos; interferências externas sejam elas por conta de algum profissional
da área da saúde ou familiar; depressão pós-parto; questões socioeconômicas; etnia e
baixo peso da criança. Conclusão: A pesquisa foi de suma importância para a comunidade
científica tendo em vista a importância da amamentação da criança para a saúde e bem-
estar populacional. Dessa forma, pode-se sugerir a realização de políticas públicas que
reduzam o desmame precoce ou rastreamento precoce no pré- natal das mulheres que
possuem esse risco.

Palavras-chave: Aleitamento materno; Desmame precoce; Fatores de risco.


INTRODUÇÃO

O novo guia de orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das


Nações Unidas para a Infância (UNICEF), “ Proteger, promover, apoiar o aleitamento materno
em estabelecimentos que prestam serviços de maternidade e recém-nascidos: uma revisão
do Hospital amigo da criança”, afirma que a amamentação exclusiva durante os 6 primeiros
meses de vida do bebê fornece toda a nutrição e energia essenciais para o crescimento e
desenvolvimento neurológico (WHO, 2017).
Além disso, o Ministério da Saúde brasileiro ainda destaca outros pontos referentes
as vantagens para a criança como: reduzir a chance de obesidade, alergias, hipertensão,
colesterol alto e diabetes, como também, estimula o melhor desenvolvimento da cavidade
bucal na criança (BRASIL, 2015). Assim, as taxas de morbidade e mortalidade diminuem
em crianças que são amamentadas por mais tempo quando comparadas àquelas que foram
desmamadas precocemente (VICTORA CG, et al., 2016).
Ademais, para mulher são muitos os benefícios do aleitamento materno na primeira hora
de vida, porque ele ajuda nas contrações do útero reduzindo a hemorragia e ainda fortalece o
vínculo de afeto entre mãe e filho (UNICEF BRASIL, 2018). A longo prazo, também se pode
citar a redução do risco de desenvolver câncer de mama para a mãe que amamentou seu
bebê (OPAS/OMS BRASIL, 2018). Como também, reduzir o risco de uma nova gravidez nos
primeiros seis meses, pois a amamentação tem um papel fundamental, de eficácia de até
98%, como anticoncepcional se estiver ocorrendo aleitamento exclusivo e a mulher ainda
não tiver menstruado (BRASIL, 2015).
Entretanto, diversos fatores podem afetar o aleitamento materno exclusivo (AME) até
os 6 meses de idade do bebê, como também o tempo de duração da prática do amamentar.
Nesse contexto, destacam-se fatores como: o núcleo em que as mulheres estão inseridas,
as condições de educação, a inserção no mercado de trabalho, e o desempenho dos ser-
viços de saúde. Tendo em vista a importância do aleitamento materno, o desmame deve
ser realizado quando a criança estiver em condições adequadas para aceitá-lo, não sendo
somente uma opção da mãe (TOMA TS e MONTEIRO CA, 2001).
Infelizmente, ainda que a amamentação seja considerada única, tanto para a saúde da
mãe e do bebê, são poucas as mulheres que amamentam no continente americano, mesmo o
início sendo quase universal, sua duração como alimentação exclusiva é baixa (OPAS/OMS,
2018). Quando se tem em vista o contexto brasileiro é triste observar que apesar dos esforços
nacionais e internacionais para o estímulo do aleitamento, as taxas ainda estão longe do espe-
rado ainda mais quando se tem em vista o aleitamento de maneira exclusiva (BRASIL, 2015).
Haja vista, o desmame precoce tem uma relação direta com a morbimortalidade in-
fantil, assim, esse fato expressa elevada importância na determinação de políticas que

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 663


auxiliem a prática do aleitamento materno. Pesquisas mostram que esta ação pode atuar
como prevenção de seis milhões de mortes de crianças menores de doze meses no mundo
(MONTRONE VG e ARANTES CI, 2000).
Nesse contexto, outra pesquisa em 2010, pelo Instituto de Saúde da Secretaria Estadual
de São Paulo (SES/SP), avaliou que a prevalência do AME em menores de seis meses era
de 41% no total das capitais brasileiras. Dentre todas as regiões analisadas, a Região Norte
do Brasil obteve um índice de 45,9% (BRASIL, 2010).
Dessa forma, é de caráter ímpar e de extrema importância a amamentação infantil
correta a fim de evitar possíveis complicações. Entretanto, a duração e a forma da amamen-
tação está sendo um problema, pois mesmo que o início dela seja praticamente universal,
a continuidade dela não está dentro dos parâmetros desejados. Portanto, é necessário
conhecer os fatores que levam a esse desmame precoce para então conseguir preveni-los
ou identificá-los de forma a evitar que ele ocorra antes da criança estar preparada para o
desmame.
Com essa visão, esse trabalho busca, por meio de uma revisão sistemática, identificar
quais são esses fatores que levam ao desmame antes do tempo recomendado, para assim
alertar os profissionais da área da saúde e a população em geral a ficarem atentos a respeito
dos mesmos com a finalidade de melhorar a saúde materno-infantil.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão Sistemática de estudos observacionais baseada nas “Diretrizes


Metodológicas: Elaboração de revisão sistemática e metanálise de estudos observacionais
comparativos sobre fatores de risco e prognóstico” do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014).
Para a identificação dos artigos sobre o tema, a pesquisa foi realizada nas bases de
dados eletrônicas: LILACS, via BVS; MEDLINE, via PubMed e SciELO. Utilizou-se artigos
nos idiomas português, inglês e espanhol com o período de publicação de 2013 a 2017.
Como critério para considerar o estudo, instituiu-se uma questão norteadora da pesqui-
sa: “Quais os fatores que levam ao desmame precoce em crianças menores de 6 meses de
idade?”; na qual se estabeleciam o tipo de participante (binômio mãe-filho); tipo de exposição
(fatores que levam ao desmame precoce); tipo de controle (desmame em tempo adequado);
e tipo de desfecho (desmame precoce).
A coleta e análise de dados foi feita em estudo duplo-cego, em que se foram avalia-
dos de maneira independente os títulos, resumos e artigos completos que preenchiam, os
critérios de elegibilidade, através de um Formulário de Elegibilidade, padronizado pelos
próprios autores.
Após isso, foi realizada uma reunião, e foram selecionados 14 artigos em destaque

664 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


(Tabela 1), e que norteavam a presente revisão sistemática.
Em seguida, através de uma Ficha de Extração de Dados, retirava-se as informações
dos artigos (população pesquisada e quantidade; estudo metodológico empregado; período
de realização do estudo; objetivo do estudo; principais fatores que influenciam no desma-
me precoce; resultados e conclusão do estudo), que eram gerenciados pelo Formulário de
Elegibilidade, que caracterizava os artigos analisando seus tipos de estudos, participantes,
exposição e desfecho. O fluxograma (Figura 1) a seguir mostra o processo de triagem.

Figura 1. Fluxograma da seleção dos artigos para a revisão sistemática

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

RESULTADOS

A revisão sistemática do tema proposto encontrou variáveis que tendem a explicar a

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 665


ocorrência do desmame precoce. Elas são importantes quando se tem em vista o objetivo
proposto pela pesquisa.
Após analisar os artigos e escolhê-los de acordo com a metodologia proposta, tem-se
a citação dos principais fatores encontrados que levam ao desmame precoce.
Estes são: dúvidas por parte da mãe sejam elas por insegurança, inexperiência ou falta
de conhecimento; acreditar que possuí leite fraco ou insuficiente; trauma mamilar; voltar ao
trabalho ou estudos; interferências externas sejam elas por conta de algum profissional da
área da saúde ou familiar; depressão pós-parto; questões socioeconômicas; etnia; baixo
peso da criança e mãe tabagista.
Os artigos selecionados pelos critérios de elegibilidade, com seus respectivos autores,
data de publicação, objetivos, tipo de estudo, principais resultados e revista publica estão
organizados na Tabela 1.

Tabela 1. Artigos selecionados pelos critérios de elegibilidade da revisão sistemática.

Revista /
Autor / Ano Título Objetivo Tipo de Estudo Principais Resultados
Publicação
Identificar o padrão de AME Os fatores que contribuíram para
Hospital Amigo da Criança: pre- nos primeiros seis meses de o desmame precoce foram: tra-
Pesquisa com Revista Esc
Figueiredo SF, valência de aleitamento mater- vida de crianças nascidas um balho fora de casa, mães que
uma coorte Enfermagem
et al. (2013) no exclusivo aos seus meses s Hospital Amigo da Criança e não aumentaram anteriormente
prospectiva USP
e fatores intervenientes os fatores que contribuíram e a presença de intercorrências
para o desmame precoce mamarias.
Das entrevistas, quanto a defini-
ção de amamentação exclusiva,
Identificar que as gestantes 25 (55,6%) responderam que ela
e lactantes afirmam sobre o Estudo des- consiste apenas no leite mater- Revista
Conhecimento de gestantes
Maciel VB, et que é o aleitamento materno critivo com no; 5 (11,1%) em leite materno, Brasileira em
e lactantes sobre aleitamento
al. (2013 exclusivo, qual a sua duração abordagem água e chá; e 12 (26,7%) não co- Promoção da
materno exclusivo
e quais o benefícios para a quantitativa nheciam o significado do termo. Saúde
mãe e o bebê. Sobre os benefícios, 16 (35,7%)
afirmaram o aumento do vinculo
com o filho
O peso foi um dos fatores rela-
cionadas ao desmame precoce.
Avaliar a teoria do investimen- Crianças com maior peso ao
Wander K e The evolutionary ecology of to parenteral em tempo de ris- nascer tiveram menor probabili- Proceedings
Estudo Longitu-
Mattison S. early weaning in Kilimanjaro, co para desmame antes dos dade de desmame precoce em of the Royal
dinal
(2013) Tanzânia dois anos de idade em crian- relação aquelas que nasceram Society
ças de Kilimanjaro, Tanzânia. com baixo peso. Não foram ob-
servadas relações com fonte de
leite suplementar (gado)
Fatores sociodemográficos (ida-
The role of support and other de, materna, etnia, pais de nas-
Investigar a associação entre
factors in early breasfeeding estudo retros- cimento, privação, escolaridade) BMC Preg-
Oakley L, et al. o apoio pós-natal e a interrup-
cessation: na analysis of data pectivo quanti- e alimentação pré-natal, foram nancy &
(2014) ção da amamentação aos 10
from a maternity survey in en- tativo. associados a interrupção da Chidbirth
dias e seis semanas no bebê.
gland amamentação aos 10 dias e 6
semanas de vida do bebê.

666 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Os fatores associados ao des-
mame precoce foram: gravidez
Conhecer a prevalência do após técnicas de reprodução
Factores associados al aban-
Aleitamento Materno durante assistida, tabagismo materno,
Rius Jm, et al. dono precoz de la lactância Estudo pros- Anales de
os primeiros 12 meses pós- expectativas durante a lactação,
(2014) materna en una región del este pectivo Pediatria
-parto e analisar os fatores uso rotineiro de chupeta no pri-
de España.
associados ao seu abandono. meiro mês pós parto, mãe com
estudos universitários e sensa-
ção materna de leite insuficiente.
Verificar o tempo médio do
aleitamento materna exclu-
sivo (AME) de crianças nas-
Foram notadas dificuldades no
cidas em Hospital Amigo da
Dificuldades no aleitamento aleitamento, como: crença de Revista
Roccil E, et al. Criança (HAC) e correlacio- Estudo de
materno e influencia no des- leite fraco ou pouco leite, volta Brasileira de
(2014) nar o tempo com as variáveis: Coorte
mame precoce ao trabalho ou estudo, trauma Enfermagem
estado civil, idade materna,
mamilar.
peso do bebê, dificuldades na
amamentação e orientações
recebidas.
A prevalência de lactação inter-
rompida foi de 12 por 1000 mu-
Quantificar a prevalência e
lheres durante o primeiro ano de
Prevalence and Risck Factors identificar os fatores de risco
vida do filho. Dentre os fatores
Stuebe AM, et for Early, Undesired Weaning para o desmame precoce e Estudo longitu- Journal of Wo-
da chance de ruptura da lacta-
al. (2014) Attributed to Lactation Dysfuc- indesejado que as mães atri- dinal men's Health
ção, considera-se mulheres com
tion buem às dificuldades imunoló-
sobrepeso ou obesas, além de
gicas como a amamentação.
sintomas de depressivos mater-
nos.
Fatores socioeconômicos como
Identificar quais fatores socio-
trabalho fora do lar, menor nú-
demográfico estão associa-
meros de filhos, baixa escola-
dos ao desmame precoce e
Banco de leite humano: apoio ridade, incentivo inadequado, Journal of
Figueiredo comparar a duração do alei-
à amamentação e a duração Estudo Trans- exercem influencia negativa na human Growth
MC, et al. tamento materno exclusivo
do aleitamento materno exclu- versal duração do aleitamento materno and Develop-
(2015 entre mães que receberam
sivo exclusivo. Porém, a não exis- ment
orientações sobre aleitamen-
tência de cônjuges acaba por
to matem e mães que não
reduzir a chance da pauta da
receberam.
amamentação
Os principais fatores para o des-
mame precoce foram: déficit de
Conhecer a vivencia de mães
conhecimento, inexperiência/
Amamentação e as intercor- em relação á amamentação e Revista
Oliveira CS, et Estudo descriti- insegurança, banalização das
rências que contribuem para o as intercorrências que contri- Gaúcha de
al. (2015) vo exploratório angustias, maternas, intercorrên-
desmame precoce buem para o desmame pre- Enfermagem
cias da mama puerperal, inter-
coce.
ferências familiares, leite fraco/
insuficiente e trabalho materno.
Sobre os motivos que levaram
Estudo descriti-
Identificar os fatores que leva ao desmame precoce estavam:
Amamentação e desmame vo exploratório Revista
Teter MS, et ao desmame precoce em uma 18,33% se devem ao pouco lei-
precoce em lactantes de Curi- com analise Espaço para a
al. (2015) unidade de saúde localizada te; 18,33% retorno ao trabalho;
tiba quantitativa das Saúde
no município de Curitiba 10% referiu que o leite secou e
variáveis
6,67% referiram cansaço.
Estavam em aleitamento mater-
no 60,6% das crianças. Em me-
Aleitamento Materno em crian- Analisar o aleitamento mater-
Estudo des- nores de 6 meses o AME esteve Acta paulista
Maciel VB, et ças indígenas de dois municí- no de crianças indígenas de
critivo do tipo presente em 35% das crianças. de enferma-
al. (2016 pios da Amazônia Ocidental zero a dois anos e os fatores
transversal A única associação do desma- gem
Brasileira associados ao desmame
me precoce comas variáveis foi
a etnia.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 667


Hospital não Amigo da Criança,
mãe que trabalha fora do lar e
escore de Dimburgo se mostra-
ram como fatores de risco para
Margotti E, et fatores de risco para o desma- Determinar os fatores de risco Estudo de
amamentação exclusiva aos 2 e Revista Rene
al. (2016) me precoce para o desmame precoce coorte
3 meses de vida do bebê, e mu-
lheres com tendencias depres-
sivas tiveram predisposição ao
desmame.
Dentre os fatores relacionados
a uma amamentação expressa
Analisar o aleitamento ma-
estavam: etnicidade chinesa,
Direct vc Expresse Breast Milk terno direto e expresso e sua Estudo
Pang WW, et educação terciaria, primiparida-
Feeding: Relation to Duration influencia no tempo de ama- retrospectivo Nutrients
al. (2017) de e emprego. A amamentação
of Breastfeeding mentação em um população quantitativo
expressa teve a maior probabili-
asiática multiétnica.
dade de desmame precoce em
relação a amamentação direta.
A amamentação exclusiva foi ob-
servada em 50,8% das crianças
e 11,8% das mulheres apresen-
Association between pstpartum Verificar a associação entre a taram sintomatologia indicativa
Silva CS, et al. depression and the practice of depressão pós-parto e a ocor- Estudo de coor- de depressão pós-parto. Além J Pediatr (Rio
(2017) exclusice breastfeending in the rência do aleitamento materno te transversal disso o abandono do AME tam- J)
first. exclusivo bém foi relacionado a mulheres
menor renda per capita e que
iniciaram seu pré-natal tardia-
mente.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

DISCUSSÃO

Conhecimento sobre o aleitamento materno

O leite materno é a melhor fonte de alimento para o lactente, pois possui a nutrição
necessária que serve de proteção e promoção de saúde das crianças, além de possibilitar o
crescimento e desenvolvimento das mesmas, devido ao alto poder nutricional e propriedades
imunológicas (SALUSTIANO LP, et al., 2017).
Dessa forma, é importante, aproveitar tais benefícios com a prática do aleitamento ma-
terno exclusivo até os seis meses de vida do bebê, e somente depois, complementar o leite
materno com outros tipos de alimentos até os dois anos de idade ou mais, como preconiza
a Organização Mundial de Saúde (OMS) (WHO, 2016).
Assim, o conhecimento das mães sobre o aleitamento materno é fundamental segundo
o estudo de Maciel VB, et al. (2013) e como a falta de informação sobre a importância do
leite materno pode ser um fator para o desmame precoce. A pesquisa de Oliveira CS, et al.
(2015) também confirma tal fato e aborda um ponto muito importante: as dúvidas maternas.

668 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Essas indagações podem ser por insegurança, inexperiência ou falta de conhecimento da
mesma.

Banalização das dúvidas maternas

É importante salientar nesse aspecto que esses problemas de entendimento a respeito


da amamentação podem ser por diversas causas, a exemplo do início do pré-natal tardio de
acordo com Lima AP, et al., (2018), como também, “hospitais não amigo da criança” como
diz Margotti E, et al. (2016), além da banalização por parte da equipe de saúde sobre as
dúvidas maternas, muitas vezes devido a suposição errônea de que a mulher “saberá como
fazer” (OLIVEIRA CS, et al., 2015).
Essa banalização por parte do profissional foi mostrada no estudo de Fialho FA, et al.
(2014) como um dos principais pontos que levavam as mulheres a abandonar a amamen-
tação. Dessa forma, pode-se compreender que a continuidade de ocorrência e geração de
dúvidas, levarão as mães a suprir sua falta de conhecimento com ideias ou conhecimento
empírico, o que pode levar muitas vezes a erros com relação a amamentação e assim oca-
sionar um desmame antes do tempo adequado.

Crença do “leito fraco”

Esse fato tem relação com os estudos de Oliveira CS, et al. (2015), Rius JM, et al.
(2015), Roccil E, et al. (2014) e Teter MS, et al. (2015) que afirmam que um dos mitos ex-
tremamente comum é a crença materna de produzir uma menor quantidade de leite, “leite
fraco”, ou que o mesmo não é suficiente para nutrir o bebê. Essa relação é pontuada por
Oliveira CS, et al. (2015) por algumas questões. De início pela ideia de que o leite da mãe
é muito ralo, ou desconhecer aspectos fisiológicos do próprio organismo o que leva a mãe
a pensar que esse alimento não é suficiente para sua prole. Além disso, outro aspecto im-
portante e que muitas vezes reforça a ideia de “leite fraco” é o choro infantil constante, que
leva a mulher a associar tal comportamento com fome, entretanto, nem sempre é verdade.
Esse fato entra em concordância com o estudo de revisão bibliográfica publicado por Fialho
FA, et al. (2014), que observou que esse entendimento sobre o choro infantil e leite fraco é
uma das principais causas para o desmame.
Também concorda com a ideia da “falta do leite” a publicação com o título “A prática do
aleitamento materno e os fatores que levam ao desmame precoce: uma revisão integrativa”
de Lima AP, et al. (2018) na qual afirma que esse fator é um ponto que gera o desmame,
pois, essa crença errônea, além de ser citado em vários dos artigos por eles pesquisados,
leva a nutriz a ter insegurança e acrescentar outros alimentos na dieta infantil antes do tem-
po, como chás, água e outros líquidos.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 669


Influência familiar
Assim, é interessante o destaque de que muitas vezes essa decisão de acrescentar
outros alimentos na dieta é tomada por meio da influência familiar, o que se percebe nas
pesquisas da presente revisão sistemática, principalmente no que diz respeito a avó materna.
A figura da avó possui a herança da sua própria experiência como mãe e tem, na maioria
das vezes, como base o senso comum o que acaba por convencer a nutriz de adicionar
outros produtos na alimentação (OLIVEIRA CS, et al., 2015).
Esse tema é abordado também no Caderno de Atenção Básica, Saúde da criança:
aleitamento materno e alimentação complementar, e afirma que a prática da amamentação é
fortemente influenciada pelo meio em que o binômio mãe-filho se encontra, assim, a opinião
das avós é de grande importância para a mulher. Entretanto, segundo o estudo de Deus
MD e Dias AC (2016), o conhecimento das avós pode ter um lado negativo, em relação a
falta de estimulação da prática do aleitamento materno exclusivo, pela inserção de outros
alimentos complementares na dieta do bebê.

Trauma mamilar

Entre outros fatores para o desmame precoce, tem-se o trauma mamilar (OLIVEIRA
CS, et. al, 2015; ROCCIL E, et al., 2014; FIGUEIREDO SF, et al., 2013). Tais estudos con-
cordam com a revisão realizada por Lima AP, et al. (2018) onde se aponta que os machu-
cados na mama são questões de risco para a pausa na amamentação pela extrema dor que
a mãe sente na hora da alimentação do infante. É importante salientar nesse ponto como
tais situações podem ser evitadas, já que, através de uma orientação adequada a respeito
da pega correta da criança no momento da amamentação esses ferimentos poderiam ser
reduzidos, entretanto, infelizmente essa orientação muitas vezes não é contemplada pelos
fatos já citados aqui (OLIVEIRA CS et al., 2015).

Uso de chupetas

O uso de chupetas também é considerado como fator de risco para desmamar pre-
cocemente de acordo com Rius JM, et al. (2015), o que corrobora com o artigo de revisão
publicado por Lima AP, et al. (2018), no qual aponta, que apesar dos bicos artificiais sirvam
de acalento para o bebê, nos primeiros dias, eles podem gerar uma menor quantidade de
mamadas por parte da criança, e como nesse período inicial o organismo feminino está se
acostumando com a quantidade de leite necessárias a ser produzida, essa situação pode
gerar uma diminuição de vezes que ocorre a sucção o que leva a uma menor quantidade

670 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de leite produzido devido as frequências reduzidas da amamentação.

Retorno da mãe ao trabalho

O retorno as atividades laborais ou aos estudos é outro fator extremamente citado


pelos autores Figueiredo SF, et al. (2013), Figueiredo MC, et al. (2015), Margotti E, et al.
(2016), Oliveira CS, et al. (2015), Rius JM, et al. (2014), Roccil E, et al. (2014), Teter MS, et
al. (2015), que concordam com o artigo de revisão publicado por Lima AP, et al. (2018) onde
aponta que a independência da mulher faz com que exista a necessidade, por parte dela, de
voltar ao mercado de trabalho o que é fator para que não haja estimulação adequada dos
seios diminuindo a quantidade de leite materno.

Depressão

A depressão pós-parto também é um quesito muito relatado dentre os artigos encon-


trados como o de Margotti E, et. al (2016), Silva CS et al. (2017) e Stuebe AM, et al. (2014).
Dessa forma é importante a investigação da saúde mental da mãe pela equipe que a acolhe
tanto no pré-natal quanto no pós-natal.

Equipe de saúde no pré-natal

As recomendações por meio de profissionais da saúde também são um ponto preo-


cupante em relação ao desmame precoce que, às vezes, pode ser gerado por falta de ca-
pacitação de pediatras no manejo da amamentação, pois algumas vezes indicam leite em
formas suplementares (ROCCIL E, et al., 2014).
Esse dado concorda com o exposto em uma revisão realizada por Fialho FA, et al.
(2014), que sugere que algumas recomendações realizadas por pediatras nos primeiros me-
ses de vida, por exemplo, introduzir alguns alimentos de maneira desnecessária, interferem
na amamentação exclusiva do bebê.
Esse fato pode gerar uma menor sucção da criança ao seio materno e diminuir a quan-
tidade de leite produzida como já exposto anteriormente.

Presença do parceiro da mãe

A presença do parceiro da mãe foi algo extremamente interessante observado na pes-


quisa, pois de acordo com Figueiredo MC, et al. (2015) a não existência de um companheiro
reduzia a chance da mulher de abandonar a amamentação.
O artigo publicado por Fialho FA, et al. (2014) traz questões importantes para a discus-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 671


são desse ponto, pois de acordo com ele, mesmo que existam parceiros que estimulam o
processo de amamentação, outros, por aspectos de ciúmes, disfunção sexual, ansiedade e
rejeição, podem levar a mãe a querer abandonar a prática, assim, a equipe de saúde deve
ficar atenta a esse aspecto e não só trabalhar com a conscientização da mãe, mas também
do seu núcleo familiar.

Etnia

O fator “etnia” também foi considerado nos estudos da revisão, com base nas publica-
ções de Maciel VB, et al. (2016), que trata da relação da amamentação em povos indígenas
e Pang WW, et al. (2017), que estuda, a prevalência de aleitamento materno e direto em
uma cidade na China.
Nos dois estudos, a etnia era considerada como um fator para o desmame precoce,
com base em análises quantitativas. Poucos estudos fazem relação com a amamentação e
etnias, e não se sabe ao certo a influência da praticas da amamentação sobre a etnicidade.

Peso da criança

A questão do peso da criança também é um fator relevante. Segundo os estudos de


Wander K e Mattison S, (2013), quanto menor o peso do bebê ao nascer, maior a probabi-
lidade do desmame precoce.
É visto, dessa forma, que as baixas taxas de Aleitamento materno em bebês prematuros
se devem pela dificuldade em amamentá-los, devido a fatores como coordenação sucção-
-deglutição-respiração, hospitalização prolongada e estresse materno em decorrência do
sentimento de incapacidade em amamentar o filho.

Fatores sociodemográficos

Por último, é importante salientar os aspectos socioeconômicos no qual as mulheres


se encontram, pois, eles influenciam de maneira direta na amamentação infantil.
De acordo com os artigos selecionados podemos destacar: mulheres mais jovens,
citado por Silva CS, et al. (2017), menor renda per capita também citado por Silva CS, et
al. (2017) e Figueiredo MC, et al. (2015), escolaridade mais baixa e menor quantidade de
filhos (FIGUEIREDO MC, 2015).
Haja vista, uma suposição plausível é que tais grupos se encontram em uma situação
com menor informação que explica o porquê de acabarem deixando de amamentar cor-
retamente, afinal, a falta de conhecimento é um ponto crucial para a realização desmame
precoce, como já citado, concordando com o encontrado por Fialho AP, et al. (2014), que

672 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


observou que aquelas com menor grau de escolaridade ou que são primíparas tem menos
conhecimento e retiram mais cedo a amamentação da criança.

CONCLUSÃO

Ao final dessa revisão foi possível observar quais os principais fatores que influenciam
no desmame precoce sendo eles: acreditar que possuí leite fraco ou insuficiente; trauma
mamilar; voltar ao trabalho ou estudos; interferências externas sejam elas por conta de algum
profissional da área da saúde ou familiar; depressão pós-parto; questões socioeconômicas;
etnia e baixo peso da criança.
Esses dados são de suma importância para a comunidade cientifica tendo em vista
a importância da amamentação da criança para a saúde e bem-estar populacional. Dessa
forma, pode-se sugerir a realização de políticas públicas que reduzam o desmame precoce
ou rastreamento precoce no pré-natal das mulheres que possuem esse risco.

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674 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 675


52
“ Diagnóstico e tratamento da
disbiose: Revisão Sistemática

Caroline Lobato Pantoja Ana Paula Santos Oliveira Brito


UNIFAMAZ
UNIFAMAZ

Ana Carolina Cunha Costa


UNIFAMAZ Hamilton Cezar Rocha Garcia
UNIFAMAZ
Paula Lavigne de Sousa Costa
UNIFAMAZ
Tábata Valéria Leão Barros

Monique de Almeida Hingel Andrade


Andrew Silva Matos
UNIFAMAZ

Andrey Almeida Carneiro


Victor Vieira Silva
UNIFAMAZ

Artigo original publicado em: 9/2019


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700781
RESUMO

Objetivo: Revisar a literatura a fim de reunir informações atualizadas quanto ao diagnóstico


e às condutas terapêuticas disponíveis na disbiose intestinal. Métodos: Foram utilizadas
informações obtidas a partir de buscas feitas nas bases de dados BIREME, LILACS,
MEDLINE e PUBMED, utilizando como descritores os termos “Disbiose”, “Transplante
de microbiota fecal” e “Síndrome disabsortiva”, com as opções em inglês, português,
espanhol e francês, tendo sido empregado o boleano AND. Além disso, foram excluídos
do trabalho os artigos publicados há mais de 6 anos, tendo sido encontrados 20 artigos
aptos para serem abordados. Vale ressaltar que 18 artigos foram publicados nos últimos
5 anos e apenas 2 artigo foi publicado nos últimos 6 anos. Resultados: Foram coletados
20 artigos em que 9 autores discutiram sobre o tratamento com probióticos, 5 discutiram
sobre o tratamento por meio do transplante da microbiota fecal, 5 autores discutiram
sobre o tratamento da disbiose com prebióticos, 3 abordaram sobre o tratamento com
antibióticos e 3 explicaram sobre o tratamento por meio da suplementação de glutamina.
Conclusões: São necessárias maiores pesquisas e estudos sobre o tratamento utilizado
na disbiose intestinal para que se tenha uma padronização da técnica.

Palavras-chave: Disbiose; Transplante de microbiota fecal; Probióticos.


INTRODUÇÃO

O intestino humano saudável é colonizado por 30 a 400 trilhões de microorganismos e


a sua formação inclui bactérias, fungos e vírus. Ao nascer, o trato digestivo humano é estéril,
sendo colonizado por determinantes pré-natais, como o modo de parto (principalmente o
normal, por ter contato direto com a microbiota fecal da mãe), a idade gestacional, a die-
ta, o uso de antibióticos, a idade e os microorganismos do trato digestivo materno. Dessa
forma, a microbiota intestinal atinge a sua composição adulta cerca dos 3 anos de idade,
permanecendo estável por anos, até que alterações no sistema imunológico, fatores gené-
ticos do hospedeiro e fatores ambientais – alimentos, higiene e medicamentos – possam,
ocasionalmente, desequilibrar a sua composição (DE OLIVEIRA GLV, et al., 2017; HO KJ
e VARGAS J, 2017; PEREIRA IG e FERRAZ IAR, 2017).
A disbiose consiste em um estado mal-adaptativo do microbioma por haver desequilíbrio
entre o número de bactérias protetoras e agressoras, tornando o trato gastrointestinal mais
vulnerável (PEREIRA IG e FERRAZ IAR, 2017; SIDHU M e VAN DER POORTEN D, 2017).
Esse fato pode provocar aumento na permeabilidade intestinal, resultando na passagem
ascendente de lipopolissacarídeo (LPS) para a circulação sistêmica, gerando uma endo-
toxemia metabólica e desenvolvimento de um estado inflamatório crônico (DOS SANTOS
MORAES M, et al., 2018).
Essa instabilidade, principalmente em pacientes de UTI, tem sido associada ao au-
mento da incidência de sepse e morte, uma vez que estudos mostraram que 60-70% dos
pacientes da UTI recebem antibioticoterapia, o que impulsiona a disbiose intestinal. Além
disso, muitas doenças gastrointestinais têm sido associadas com alterações no microbioma
intestinal, assim como distúrbios metabólicos, doenças hepáticas, distúrbios neurológicos e
do humor, artrite, condições imunológicas, a obesidade, doenças cardiovasculares e o câncer
colorretal (BRUNEAU A, et al., 2018; MORROW LE e WISCHMEYER P, 2017; SIDHU M e
VAN DER POORTEN D, 2017; VANDENPLAS Y, et al., 2015).
A disbiose pode ser desenvolvida por diversos motivos, entre eles está o uso indiscri-
minado de antibióticos, anti-inflamatórios hormonais e não hormonais e laxantes; a idade
avançada do paciente, pois o expõe por mais tempo a fatores externos; o pH intestinal; a
disponibilidade de material fermentável; o estado imunológico do hospedeiro e a má diges-
tão. Desse modo, cabe ressaltar que a disbiose provocará um quadro clínico marcado por
gases, diarreia, constipação (DOS SANTOS MORAES M, et al., 2018).
É existente uma pandemia de obesidade atualmente. Sendo importante destacar que
mais da metade da população obesa mundial desenvolve a síndrome metabólica, uma doença
inflamatória crônica. Desse modo, o processo metabólico na microbiota intestinal é alterado e
desequilibrado na vigência dessa síndrome por conta do estímulo à inflamação. Sendo assim,

678 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


cabe considerar que a população bacteriana é alterada nos indivíduos obesos, provocando a
disbiose, mas é possível que o próprio desequilíbrio da microbiota seja um fator-chave para
desencadear a obesidade (CHANG C e LIN H, 2016; VIEIRA CR, et al., 2016).
Ademais, em casos extremos de obesidade, é indicada a cirurgia bariátrica que consiste
na retirada parcial ou total do estômago, dependendo do método utilizado. A consequência
é uma qualidade de vida melhor para o paciente e reeducação alimentar, melhorando, con-
sequentemente, a disbiose (DA SILVA MARTINS N, et al., 2018).
Devido às influências de fatores ambientais na microbiota intestinal, diversos métodos
são utilizados no tratamento da disbiose intestinal. As mudanças dietéticas podem afetar a
composição bacteriana da microbiota intestinal, como o consumo de prebióticos e probióti-
cos, ou a combinação de ambos (simbióticos).
Além disso, o transplante da microbiota fecal vem sendo apresentado como uma nova
abordagem terapêutica (SIDHU M e VAN DER POORTEN D, 2017; VANDENPLAS Y, et al.,
2015; GALLEGO CG e SALMINEN S, 2016).
Assim, esse estudo objetivou revisar a literatura a fim de reunir informações atualizadas
quanto ao diagnóstico e às condutas terapêuticas disponíveis na disbiose intestinal.

MÉTODOS

Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, com intuito de capturar artigos
que apresentassem em seus desenhos de estudo correlação com o tema. As informações
foram obtidas a partir de buscas feitas nas bases de dados LILACS, MEDLINE e PUBMED,
utilizando como descritores os termos “Disbiose”, “Transplante de microbiótica fecal” e “Pro-
bióticos”, com as opções em inglês, português, espanhol e francês, tendo sido empregado
o boleano AND. Além disso, foi utilizado como critério de inclusão os artigos que possuíam
boa confiabilidade e abordava e explanava o tema de forma adequada. Já os critérios de
exclusão do trabalho foram os artigos publicados antes de 2014, artigos com amostras in-
compatíveis e artigos incompleto (Figura 1). Assim, foram encontrados 20 artigos aptos para
serem abordados, sendo que 18 artigos foram publicados nos últimos 5 anos e apenas 2
artigos foram publicados nos últimos 6 anos.

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 679


Figura 1. Fluxograma das etapas da revisão sistemática.

Fonte: Pantoja CL, Costa ACC, Costa PLS, et al., 2019.

RESULTADOS

Após aplicados os critérios de elegibilidade, 20 artigos foram identificados no período


do estudo, publicados a partir de 2013, sendo 15 destes, publicados a partir de 2016, de-
monstrando que o tema ainda é atual. Ademais, dos artigos coletados, 5 relataram os sinais
e sintomas presentes na disbiose intestinal, bem como fatores de grande importância clínica
no quadro da doença.
São explanados artigos incluídos na revisão de acordo com autor, ano de publica-
ção e tratamento abordado. Dessa forma, pode-se notar que 9 autores discutiram sobre
o tratamento com probióticos, 5 discutiram sobre o tratamento por meio do transplante da
microbiota fecal, 5 autores discutiram sobre o tratamento da disbiose com prebióticos, 3
abordaram sobre o tratamento com antibióticos e 3 explicaram sobre o tratamento por meio
da suplementação de glutamina (Quadro 1).

Quadro 1. Artigos incluídos na revisão de acordo com autor, ano de publicação e tratamento abordado. Belém- PA, 2019.

Transplante da
Suplementação de Tratamento com
Prebióticos Probióticos microbiota fecal
Glutamina antibiótico
(TMF)
AÏT‐AISSA A e
- SIM - - -
AÏDER M, 2014.
BINDELS LB, et al.,
SIM - - - -
2016.
BRUNEAU A, et al.,
- - SIM - -
2018.
CHOI HH e CHO Y,
- - SIM - SIM
2016

680 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


COSTELLO SP, et
- - SIM - -
al., 2015.
DE OLIVEIRA GLV,
- SIM - - -
et al., 2017
DOS SANTOS
MORAES M, et al., - SIM - SIM -
2018.
GALLEGO CG
e SALMINEN S, SIM SIM - - -
2016.
HO KJ e VARGAS
- - - - SIM
J, 2017.
HOLECEK M, 2013. - - - SIM -
MORROW LE e
WISCHMEYER P, - SIM - - -
2017.
PAIXÃO LA e DOS
SANTOS CASTRO, SIM SIM SIM - -
FF, 2016
PEREIRA IG e
- - - SIM -
FERRAZ IAR, 2017.
SAAD N, et al.,
SIM SIM - - -
2013.
SIDHU M e VAN
DER POORTEN D, - SIM - - SIM
2017.
VANDENPLAS Y,
et al., 2015. - SIM SIM - -
VIEIRA CR, et al.,
SIM - - -
2016.

Fonte: Pantoja CL, Costa ACC, Costa PLS, et al., 2019.

DISCUSSÃO

A manifestação clínica da disbiose é representada, frequentemente, por diarréia, es-


teatorréia, distensão abdominal, gases, cólicas e constipação, sendo o diagnóstico estrita-
mente clínico e correspondente ao quadro clínico da síndrome disabsortiva (LOPES CLR,
et al., 2017).
Pode-se destacar um fator importante na contribuição para o desequilíbrio da microbiota
intestinal, tal como a má absorção, pois o estômago produz ácido suficiente para extinguir
as bactérias patogênicas ingeridas nos alimentos. Além disso, outros fatores que também
têm importância clínica são o abuso do laxante, o consumo excessivo de alimentos crus,
exposição com frequência a toxinas ambientais, disponibilidade de material fermentável e o
estado imunológico do hospedeiro (PAIXÃO LA e DOS SANTOS CASTRO, FF, 2016)
Desse modo, deve haver uma investigação criteriosa a respeito do tipo de alimentação
do indivíduo, serem destacados os fatores de risco e analisados criteriosamente todos os

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 681


sinais e sintomas presentes para se realizar o diagnóstico. Sendo assim, é importante frisar
que o mau hábito alimentar, a atividade física reduzida ou ausente, o uso constante e desre-
gular de antibióticos e suplementos nutricionais podem corroborar com o desenvolvimento de
doenças crônicas como alergias, obesidade e doença inflamatória intestinal. Essas doenças
afetam diretamente o microbioma, provocando condições clínicas negativas para o paciente
(PEREIRA IG e FERRAZ IAR, 2017; HOLECEK M, 2013).
Dessa forma, para o tratamento não ser agressivo nem invasivo, pode-se iniciá-lo por
meio de manipulação dietética, incluindo a suplementação de Glutamina (GLN), um aminoá-
cido, por auxiliar na funcionalidade das barreiras da mucosa intestinal e por ser fundamental
para o bom desenvolvimento de tecido muscular intestinal. (PEREIRA IG e FERRAZ IAR,
2017; HOLECEK M, 2013).

Tratamento com antibióticos

O microbioma intestinal representa um ecossistema dinâmico que pode ser moldado


por vários fatores, inclusive pelo uso de antibióticos (HO KJ e VARGAS J, 2017).
Na antibioticoterapia, é realizada a administração de metronidazol ou vancomicina e
a remoção do antibiótico desencadeador das alterações no microbioma (SIDHU M e VAN
DER POORTEN D, 2017).
Essas medidas são utilizadas no tratamento da infecção por Clostridium difficile, a qual
está associada a disbiose intestinal, tendo como terapia padrão a vancomicina 500 mg por
via oral quatro vezes por dia durante 14 dias.
No entanto, tem se mostrado ineficiente nos casos de pacientes que possuem múlti-
plas recidivas, uma vez que a eficácia estimada do uso de vancomicina para uma primeira
recidiva é de 60% (CHOI HH e CHO Y, 2016).

Utilização de Probióticos

Os probióticos são definidos como bactérias vivas ou leveduras que, quando admi-
nistradas em quantidades adequadas, beneficiam a saúde do consumidor. Os probióticos
bacterianos mais conhecidos são os Lactobacillus, Bifidobacterium e Lactococcus, enquanto
a levedura mais utilizada é Saccharomyces boulardii (CHOI HH e CHO Y, 2016; DOS SAN-
TOS MORAES M, et al., 2018; MORROW LE e WISCHMEYER P, 2017).
Eles proporcionam efeitos benéficos na dor abdominal global, escores de inchaço e
flatulência, mas podem visar além do trato gastrointestinal como: o trato respiratório, o trato
urinário, a pele e a vagina, por exemplo, justamente por serem desenvolvidos para melhorar as
doenças fisiológicas em diferentes áreas do corpo (MORROW LE e WISCHMEYER P, 2017).

682 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Os mecanismos de ação dos probióticos contra patógenos consistem, principalmente,
em: competição por nutrientes e sítios de acesso, produção de metabólitos antimicrobianos,
mudanças nas condições ambientais e modulação da resposta imune do hospedeiro (PE-
REIRA IG e FERRAZ IAR, 2017).
Essas ações ocorrem por meio do aumento da barreira intestinal natural, da estimu-
lação da secreção de IgA, da síntese de vitaminas, do aprimoramento do trânsito intestinal,
o que aliviam intolerâncias à lactose, reduzem inchaço e promovem regulação negativa da
produção de citocinas inflamatórias (SAAD N, et al., 2013; VANDENPLAS Y, et al., 2015).
Podem ser administrados em indivíduos saudáveis e doentes, tendo efeitos de natureza
preventiva e curativa. No entanto, apesar de serem uma forma de tratamento segura para
a maioria dos indivíduos, pode haver casos de infecção oportunista devido à interferência
com a microflora comensal, particularmente em adultos criticamente doentes e neonatos
(SAAD N, et al., 2013; VANDENPLAS Y, et al., 2015).

Suplementação de Glutamina

A glutamina (GLN) ajuda na potencialização dos efeitos dos probióticos no tratamento


da disbiose intestinal. A GLN, aminoácido essencial e mais abundante no corpo humano,
tem papel importante no metabolismo e transporte de nutrientes, funções imunes e integri-
dade intestinal. Portanto, uma dieta enriquecida com GLN pode aumentar as atividades de
transporte de borda em escova, além de melhorar o desempenho dos enterócitos (PEREIRA
IG e FERRAZ IAR, 2017; HOLECEK M, 2013).
É possível destacar também a capacidade de auxiliar no processo de desenvolvimento
e crescimento de massa muscular. Além disso, a suplementação de GLN reduz sintomas de
doenças associadas à disbiose intestinal, como a síndrome do intestino irritável, doenças
hepáticas e doença de Crohn (PEREIRA IG e FERRAZ IAR, 2017).

Prebióticos

Os prebióticos consistem em um ingrediente fermentado que possibilita mudanças na


composição e na atividade da microbiota gastrointestinal, o que permite benefícios ao bem-
-estar e saúde do hospedeiro. A maioria desses benefícios está associada ao aumento da
expressão ou à mudança na composição de ácidos graxos de cadeia curta, ao aumento do
peso fecal, à redução do pH do cólon luminal, à diminuição nos produtos finais nitrogenados
e enzimas redutoras e à modulação do sistema imunitário (BINDELS LB, et al., 2016; SAAD
N, et al., 2013).
Os prebióticos no intestino tem se mostrado benéfico por promoverem o aumento de

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 683


bifidobactérias e lactobacilos ou inibição de várias cepas de bactérias patogênicas huma-
nas e animais, como Clostridium sp. e E. coli. Exemplo disso, é o fato da oligofrutose e / ou
galacto-oligossacarídeos mostrarem ter um efeito sobre a recidiva da diarréia associada ao
Clostridium difficile. Além disso, uma combinação de prebióticos, como polidextrose e lactitol
tem aumentado a secreção de imunoglobulina A (IgA) (SAAD N, et al., 2013).
A maioria dos estudos sobre prebióticos tem se concentrado em frutanos, como os
frutanos do tipo inulina, os galactooligossacáridos (FOS), os frutooligossacarídeos (FOS) e a
lactulose. A aplicação dos prebióticos tem sido estudada, também, na prevenção de câncer,
uma vez que as frações de fermentação do sobrenadante inulina apresentam efeitos inibido-
res de crescimento e indutivos de apoptose significativos no humano. Além disso, estudos
recentes demonstraram interesse pelo efeito sob o metabolismo lipídico, adsorção mineral
e efeito imuno-modulatórios dos prebióticos (AÏT‐AISSA A e AÏDER M, 2014; GALLEGO CG
e SALMINEN S, 2016; SAAD N, et al., 2013).

Transplante da microbiota fecal (TMF)

O TMF funciona por meio da infusão de fezes de um indivíduo doador no trato gastroin-
testinal de um paciente com, por exemplo, infecção por Clostridium difficile, a fim de restaurar
a diversidade da microbiota intestinal. As fezes doadas são misturadas com solução salina
/ glicerol estéril e podem ser frescas ou congeladas, sendo que as fezes congeladas a –80
° C são viáveis e cultiváveis cerca de seis a dez meses. O transplante pode pela via sonda
naso-jejunal ou no ceco na colonoscopia, sendo considerado um procedimento seguro. ocor-
rer Procedimento realizado, principalmente, em condições de difícil tratamento de situações
nas quais se sabe que a microbiota fecal é anormal (CHOI HH e CHO Y, 2016; COSTELLO
SP, et al., 2015; SIDHU M e VAN DER POORTEN D, 2017).

CONCLUSÃO

A microbiota intestinal influencia diretamente na saúde do hospedeiro, sendo importante


frisar que as bactérias podem ser patogênicas, mas também são essenciais à vida, devendo
haver uma simbiose entre o hospedeiro e as bactérias, uma espécie de mutualismo, a qual
ambos se beneficiem em prol da saúde do hospedeiro. Assim, a partir das informações
reunidas da literatura, pode-se destacar que o diagnóstico da disbiose é puramente clínico
e se faz necessária uma análise criteriosa dos sintomas e fatores desencadeadores da do-
ença. Assim, entre as terapias utilizadas para essa doença, incluem uma alimentação rica
em prebióticos e probióticos desde a infância e o uso de metronidazol e vancomicina de
forma racional, equilibrando a microbiota do hospedeiro e prevenindo doenças intestinais

684 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


de crianças, adultos e idosos. Ademais, o transplante da microbiota fecal também é uma
forma terapêutica utilizada, mas é indicada em casos de difícil tratamento em infecção por
Clostridium difficile ou em pacientes recidivantes.

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686 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


53
“ Doenças Identificadas na
Triagem Neonatal Ampliada

Cindy Costa Camargo


UNESC

Graziella Marques de Araújo Fernandes


UNESC

Kelly Cristina Mota Braga Chiepe


UNESC

10.37885/200700622
RESUMO

A triagem neonatal, mais conhecida como teste do pezinho, é um exame laboratorial


simples, considerado a maior ação de saúde pública quanto à prevenção do agravo das
doenças. O estudo objetiva apresentar as doenças identificadas na triagem neonatal
ampliada e a importância da realização do exame, para prevenir ou tratar precocemente
essas doenças. Realizou-se um estudo de abordagem exploratória qualitativa, adotando
uma revisão integrativa da literatura, que contribuiu para o processo de sistematização
e análise dos resultados, visando à compreensão do tema, a partir de outros estudos
independentes. A estratégia de identificação e seleção dos estudos foi a busca de
publicações indexadas em bases de dados de acesso livre, adotando os seguintes
critérios para seleção: artigos originais, com resumos e textos completos disponíveis
para análise, publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, entre os anos
2001 e 2017, e artigos que contivessem em seus títulos e/ou resumos os seguintes
descritores em ciências da saúde (DeCS): ῾῾triagem neonatal᾿᾿; ῾῾triagem genética᾿᾿;
῾῾recém-nascido᾿᾿. Foram excluídos os artigos que não atendiam aos critérios de inclusão
mencionados. Após análise dos estudos selecionados, contatou-se que o exame de
triagem neonatal apresenta papel fundamental desde os primeiros dias de vida do recém-
nascido identificando diversas patologias precocemente como hipotireoidismo congênito,
fibrose cística, anemia falciforme, fenilcetonúria, hiperplasia congênita da supra-renal,
hemocistinúria, hiperfenilalaninemia, deficiência de globulina ligadora de tiroxina (TBG)
entre outros e, assim, intervir na patologia detectada, possibilitando mais rapidamente
o processo de cura.

Palavras-chave: Triagem Neonatal; Triagem Genética; Recém-Nascido.


INTRODUÇÃO

A triagem neonatal, também conhecida como teste do pezinho, é responsável por


detectar doenças congênitas e metabólicas após 48 horas de vida do bebê. Essa triagem é
dividida entre básica e ampliada, sendo a primeira (disponível no Sistema Único de Saúde
- SUS) responsável por detectar quatro tipos de doença: hipotireoidismo congênito, anemia
falciforme, fibrose cística e fenilcetonúria e a segunda (não disponível no SUS) por detectar
as doenças do teste básico e ainda outras quatro: hiperplasia congênita da supra-renal;
deficiência de globulina ligadora de tiroxina (TBG); hemocistinúria e hiperfenilalaninemias.
O objetivo desse artigo é analisar o processo de identificação, os tipos de doenças
detectadas na triagem neonatal ampliada e a influência do diagnóstico precoce no prognós-
tico. Para a ocorrência dessa análise, foi utilizada uma abordagem exploratória por meio
do levantamento bibliográfico com o uso do manual técnico do Ministério da Educação, do
artigo sobre triagem neonatal como método de rastreio, do artigo laboratorial sobre o teste
do pezinho, e do artigo de revisão sobre o que os pediatras deveriam saber sobre a triagem
neonatal.

TRIAGEM NEONATAL AMPLIADA

O exame de Triagem Neonatal do teste do pezinho compreende uma coleta de uma


pequena amostra de sangue colhida do calcanhar do recém-nascido. Este exame é feito
em laboratório, de forma simples, e detecta doenças genéticas, metabólicas e infecciosas
antes do período sintomático surgir, facilitando o tratamento precoce específico, podendo
diminuir ou erradicar de vez as sequelas que estão relacionadas a cada doença, garantindo
a criança uma maior qualidade de vida e longevidade (BRASIL, 2013).
O teste é método preventivo de diagnóstico de inúmeras doenças congênitas, e faz o
diagnóstico especifico para o hipotireoidismo congênito, fibrose cística, anemia falciforme,
fenilcetonúria, hiperplasia congênita da supra-renal, hemocistinúria, hiperfenilalaninemia e
deficiência de TBG (CRUZ, 2014).

Quando e como são realizados os exames

Segundo o Hospital das clínicas de Ribeirão Preto (2011), o “Teste do Pezinho” deve
ser colhido em todo recém-nascido (RN) com 3 a 5 dias de vida, de preferência no 3o dia.
Apesar de ele poder ser realizado mais tardiamente, é de extrema importância a divulgação
para o público o período ideal de coleta do exame, evitando assim que muitas crianças
percam o período de diagnóstico e tratamento precoces e não se beneficiem da prevenção

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 689


de sequelas, principalmente neurológicas, que é o objetivo do teste. Este tempo é ainda
mais importante no caso de crianças que tiveram sua primeira coleta devolvida como mal
colhida. Vale ressaltar que o teste, idealmente, não deve ser colhido antes de a criança ter
pelo menos 48 horas de vida.
É necessário fazer uma coleta de sangue no calcanhar da criança, já que o pé é uma
região bastante irrigada do corpo conforme o site do Ministério da Saúde.
Primeiramente é feita a assepsia com álcool 70%, massageia-se bem o local ativando
a circulação. Após a secagem completa do álcool, a punção é realizada em uma das laterais
do calcanhar, devido à baixa probabilidade de atingir o osso.
Na realização da punção retira-se a primeira gota de sangue com gaze ou algodão pois
ela pode conter fluidos que podem interferir. Encosta-se o papel-filtro na nova gota formada
fazendo movimentos circulares com o cartão até o total preenchimento da demarcação do
cartão evitando que o sangue coagule no papel ou no pé do bebê.
Após a coleta e preenchimento do papel-filtro em todas suas delimitações do exame,
o profissional confere se a coleta foi adequada e faz um curativo comprimindo levemente
o local da punção com algodão ou gaze até que o sangramento cesse segundo o Manual
Técnico do Ministério da Saúde.

A triagem neonatal trata-se de uma ação preventiva que permite fazer o diag-
nóstico, o mais precocemente possível, de diversas doenças congênitas ou
infecciosas, assintomáticas no período neonatal. Busca-se com a Triagem
Neonatal interferir no curso da doença, permitindo, desta forma, o tratamento
precoce específico e a redução ou eliminação das sequelas associadas a cada
doença (MENDES et al., 2017, p. 476).

Doenças identificadas na triagem neonatal ampliada

• Hipotireoidismo Congênito:
Segundo Stranieri e Takano o hipotireoidismo congênito (HC) é uma doença causada
pela deficiência ou ausência da ação dos hormônios tireoidianos nos vários tecidos do orga-
nismo. Tal hormônio, é essencial para a maturação e o funcionamento de diversos órgãos
do corpo, principalmente do SNC (Sistema Nervoso Central) e do tecido esquelético.
“O HC quando não tratado tempestiva e adequadamente contribui para retardo mental,
disfunções do crescimento e do desenvolvimento neuropsicomotor da criança” (RAMALHO
et al., 2008, p. 623).

• Fibrose Cística:
Para Mocelin et al. (2017), a fibrose cística (FC) é uma das doenças genéticas autossô-
micas recessivas limitadoras da vida mais comuns. Essa doença é decorrente de mutações

690 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


no gene CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator) que expressa a
proteína CFTR. A CFTR atua como um canal de cloro, e sua ausência ou função insuficiente
ocasiona perda da homeostasia iônica e de água nas superfícies epiteliais.

• Anemia Falciforme:

A anemia falciforme é uma doença de caráter genético originada por uma mu-
tação no cromossomo 11 que resulta na substituição de um ácido glutâmico
pela valina na posição 6 da extremidade N-terminal na cadeia ß da globina,
dando origem à hemoglobina S. Os eritrócitos cujo conteúdo predominante
é a hemoglobina S assumem, em condições de hipóxia, forma semelhante à
de uma foice daí o nome falciforme (DI NUZZU e FONSECA, 2004, p. 347).

Ainda segundo Di Nuzzo e Fonseca (2004), as manifestações clínicas da anemia fal-


ciforme são a necrose avascular da medula óssea, osteomielite, síndrome torácica aguda,
priaprismo, acidente vascular encefálico, acometimento renal e icterícia.

• Fenilcetonúria:
Stanieri e Takano (2009) explicam que a fenilcetonúria (PKU) é um erro inato no
metabolismo do aminoácido fenilalanina (FAL). É uma doença genética, causada por uma
mutação no gene que codifica a enzima, a fenilalanina hidroxilase, que é ativada no fígado
e responde pela transformação da fenilalanina em tirosina. A elevação da fenilalanina no
sangue permite a sua passagem em quantidade excessiva para o sistema nervoso central
(SNC), no qual o seu acúmulo tem efeito tóxico.
De acordo com Santos e Haack (2012), o erro no metabolismo da fenilalanina, impede
o metabolismo do triptofano e da tirosina, prejudicando assim a formação da melanina, sero-
tonina e outros neurotransmissores. Além disso, o acúmulo desse aminoácido nos tecidos,
forma o ácido fenilpirúvico que deixa a urina com cheiro forte e estranho.

• Hiperplasia Congênita da Supra-Renal:


Conforme Rodrigues (2017), a Hiperplasia Congénita da Supra-Renal (HCSR) engloba
um conjunto de patologias de transmissão autossômica recessiva, que resultam de defeitos
enzimáticos da biossíntese do cortisol, na glândula supra renal.

• Hemocistinúria:
Conforme Silva et al. (2001), na hemocistinúria há um erro no metabolismo da metionina
de transmissão autossômica recessiva e sua partenogênese está relacionada à deficiência
de uma enzima chamada cistationa beta-sintase, resultando em altos níveis plasmáticos de
homocisteína, metionina e cisteína.

• Hiperfenilalaninemia:

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 691


Segundo Bravo et al. (2015), as hiperfenilalaninemias são definidas por níveis do ami-
noácido fenilalanina superior a 2 mg/dl.

• Deficiência de TBG:
Segundo Maciel (2016), a globulina carreadora de tiroxina (TBG) é a principal proteína
transportadora dos hormônios tireoidianos em humanos. Anormalidades hereditárias que
comprometem a estrutura e função da proteína resultam em deficiência completa (TBG-CD)
e parcial de TBG (TBG-PD).
Ainda de acordo com Maciel (2016), a alteração dessa proteína pode alterar a dosagem
dos hormônios tireoidianos, podendo causar doenças relacionadas com tais hormônios,
como o hipotireoidismo e o hipertireoidismo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de estudo de abordagem exploratória qualitativa, para a identificação de pro-


duções sobre o tema “doenças identificadas na triagem neonatal ampliada”, publicados
entre 2001 e 2017. Adotou-se a revisão integrativa da literatura, uma vez que ela contribui
para o processo de sistematização e análise dos resultados, visando a compreensão de
determinado tema, a partir de outros estudos independentes.
A revisão integrativa da literatura propõe o estabelecimento de critérios bem definidos
sobre a coleta de dados, análise e apresentação dos resultados, desde o início do estudo,
a partir de um protocolo de pesquisa previamente elaborado e validado. Para tanto, foram
adotadas as seis etapas indicadas para a constituição da revisão integrativa da literatura:
1) seleção da pergunta de pesquisa; 2) definição dos critérios de inclusão de estudos e
seleção da amostra; 3) representação dos estudos selecionados em formato de tabelas,
considerando todas as características em comum; 4) análise crítica dos achados, identifi-
cando diferenças e conflitos; 5) interpretação dos resultados e 6) reportar, de forma clara,
a evidência encontrada.
A estratégia de identificação e seleção dos estudos foi a busca de publicações inde-
xadas na base de dados The Lancet, no mês de junho de 2018, sendo acessada através
do link disponibilizado pela Biblioteca Ruy Lora, do Centro Universitário do Espírito Santo
– UNESC e nas áreas da base de dados livres.
Foram adotados os seguintes critérios para seleção dos artigos: todas as categorias
de artigo (original, revisão de literatura, reflexão, atualização, relato de experiência); artigos
com resumos e textos completos disponíveis para análise; aqueles publicados nos idiomas
português, inglês e espanhol, entre os anos 2001 e 2017, e artigos que contivessem em
seus títulos e/ou resumos os seguintes descritores em ciências da saúde (DeCS): ῾῾triagem

692 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


neonatal᾿᾿; ῾῾triagem genética᾿᾿; ῾῾recém-nascido᾿᾿. Foram excluídos os artigos que não atendiam
aos critérios de inclusão mencionados.
Dos 21 artigos obtidos, procedeu-se à leitura minuciosa de cada resumo/artigo, desta-
cando aqueles que responderam ao objetivo proposto por este estudo, a fim de organizar e
tabular os dados. Na tabulação os autores organizaram um quadro com o autor e o ano da
publicação, o título do artigo, a metodologia utilizada, os resultados obtidos e as conclusões.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Seguindo os critérios de inclusão, 04 estudos foram selecionados para análise, os quais


são referenciados no presente texto e apresentados no quadro a seguir:

Quadro 1. Seleção dos artigos analisados

Autor(es) Título do Artigo Metodologia Resultados Conclusões


Hiperplasia Con- Estudo de revisão biblio- O tratamento é realizado
O diagnóstico é realizado apenas
gênita da Supra- gráfica através de base de de acordo com a idade e o
Rodrigues pela via laboral por intermédio do
-Renal: a propó- dados eletrônica MEDLINE sexo do paciente pela admi-
(2017) doseamento basal de 17-OHP e de
sito de um quadro de artigos publicados entre nistração de glicocorticoides
testes com estimulação com ACTH.
clínico. 1990-2013. ou pílulas estroprogestiva.
A fibrose cística é uma doença he-
reditária autossômica recessiva, na O desenvolvimento de no-
qual as manifestações clínicas resul- vas técnicas diagnósticas e
tam da disfunção da proteína CFTR a implantação da triagem
Estudo de revisão de litera- encontrada na membrana apical de neonatal permitem um diag-
Fibrose cística: tura em base de dados de células do trato respiratório (além de nóstico precoce da fibrose
Pessoa et aspectos gené- artigos científicos como Pub- outros sítios) que pode levar à uma cística, facilitando uma in-
al. (2015) ticos, clínicos e med, Science Direct, Scie- condição grave de doença pulmonar tervenção multidisciplinar
diagnósticos. lo,Scirus e Lilacs publicados progressiva entre outras patologias. efetiva e consequentemen-
nos últimos dez anos. Seu diagnóstico é identificado em te melhor prognóstico e
70% dos casos, no primeiro ano de aumento da sobrevida dos
vida, pelo rastreio neonatal visando pacientes.
avaliar a gravidade da doença e o
planejamento terapêutico.
Rastreio neonatal
Estudo envolvendo amostras
da hemocistinúria Três doentes apresentaram índices
de sangue e urina de portu- A determinação da homo-
clássica revela muito elevados de homocisteína e
gueses e de povos da Galiza cistinúria permite a especi-
Marcão et uma elevada fre- metionina, por isso fazem dieta com
entre o 3º e 6º dia de vida, ficidade e sensibilidade do
al. (2016) quência da defici- restrição de metionina e suplementa-
para efetuar cromatografia rastreio neonatal de defici-
ência em MAT I/III ção com betaína, vitamina B12 e
de aminoácidos e dosea- ência de CBS.
na Penísula ácido fólico.
mento de hemocistina.
Ibérica.
Estudo foi realizado com
84% dos pacientes foram classifica-
crianças e adolescentes
dos como tendo hiperfenilalaninemia
Triagem neonatal nascidos entre 1986 e 2003. O controle bioquímico da fe-
transitória, 13,9% foram diagnostica-
Karam et al. para hiperfenilala- Foi realizada uma análise de nilalanina depende da idade
dos como portadores de hiperfeni-
(2012) nine mia: um estu- dados pelo programa Stata dos pacientes e não da pre-
lalaninemias e 2,1% não retornaram
do de coorte. e o Teste do Qui-quadradro cocidade do diagnóstico.
para a coleta da segunda amostra.
para comparar proporção e
análise das médias.

Foram utilizados 21 artigos para elaboração do referencial teórico do trabalho. Desses

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 693


21 artigos, 04 foram selecionados e apresentados no Quadro 1. Após a análise dos artigos
selecionados, foram detectados os pontos principais, de acordo com cada doença, com foco
naquelas que são identificadas na triagem neonatal ampliada. Percebe-se que o exame de
triagem neonatal ampliada apresenta papel fundamental desde os primeiros dias de vida do
recém-nascido, pois, por meio desde procedimento, é possível identificar diversas patologias
precocemente, favorecendo um diagnóstico antecipado e intervenção na patologia detectada,
possibilitando mais rapidamente o processo de cura.
Desses 04 artigos, 03 deles apresentam um inquestionável beneficio para o doente
quando seu diagnostico e tratamento são feitos de maneira prévia. Isso é perceptível no
artigo de Rodrigues (2017) sobre hiperplasia congênita da supra-renal, quando a mesma
afirma que “nos países em que se implementou o rastreio verifica- se que também os meni-
nos com a forma virilizante simples obtêm vantagens com o diagnóstico precoce. De outra
forma seria provável que estas crianças só fossem diagnosticados quando apresentassem
uma rápida maturação óssea, possivelmente já com compromisso da sua estatura final” .
Já que segundo ela, no sexo feminino pode haver a virilização dos órgãos sexuais externos
e no sexo masculino pode ocorrer casos de criptoquirdismo, aumento do pênis e hiperpig-
mentação escrotal caso não tenha um diganóstico eficaz e um tratamento adequado.
Tal benefício também é verificado no estudo de Pessoa et al. (2015), sobre fibrose
cística ao afirmar que “o desenvolvimento de novas técnicas diagnósticas e a implantação
da triagem neonatal permitem um diagnóstico precoce da fibrose cística, facilitando uma
intervenção multidisciplinar efetiva”. A fibrose cística apresenta amplas manifestações,
dentre elas, doença pulmonar progressiva, disfunções gastrointestinais, doença hepática,
infertilidade masculina, desnutrição e elevadas concentrações de eletrólitos no suor. Porém
foi verificado que a intervenção precoce reduziria principalmente a disfunção canalicular
acometida no pulmão, a qual era o maior desafio entre as complicações.
Além desses, constata-se tal importância no estudo sobre hemocistinúria, de Mar-
cão I(2016), no qual se observa que o “início precoce do tratamento consequentemente o
seu diagnostico precoce é inquestionavelmente benéfico para o doente”. Esse tratamento
realizado apenas com a suplementação de betaína, vitamina B12 e ácido fólico reduz as
manifestações clínicas como a miopia, subluxação do cristalino, atraso mental, alterações
esqueléticas (síndrome de Marfan) e eventos tromboembólicos.
Entretanto, não obstante do diagnostico antecipado resultar em uma agilidade no trata-
mento, o estudo de hiperfenilalaninemia afirma que “apesar do diagnostico precoce resultar
em uma agilidade no tratamento, houve uma discreta tendência, nos últimos anos (desde
2000) em se fazer o diagnóstico mais precocemente, mas esta diferença não foi estatistica-
mente significativa para o diagnóstico, sendo que a precocidade desse não foi relacionada

694 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


a um melhor controle bioquímico posterior nos pacientes”. Percebe-se, então, que a preco-
cidade da diagnose não interferirá em um melhor tratamento, segundo Karam et al. (2016).
Porém o tratamento deve se iniciar antes dos 30 dias de vida para prevenir o retardo mental
e deve manter-se ao longo de toda a vida, além de manter uma dieta com restrição do uso
desse aminoácido segundo Bravo et al. (2015).

CONCLUSÃO

O Programa Nacional de Triagem Neonatal vem realizando melhores resultados a cada


ano, desde sua implantação é possível compreender que o programa só tem avançado,
auferindo proporções ainda melhores enquanto resultados precoces.
Na interpretação do exame, destaca-se a atuação do pediatra, que irá atuar na pro-
pagação de informações acerca da importância da realização do exame na data correta,
atuando desde o pré-natal da gestante até todo período puerperal.

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696 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


54
“ Educação em saúde bucal:
estudo das estratégias adotadas
nas unidades de saúde do
Interior do Ceará

Téssia Richelly Nóbrega Borja de Melo


FIP

Poliana de Santana Costa


FIP

Vitor Kelven Arruda Braga


FIP

Matheus de Almeida Germano Diniz


FIP

Augusto Garcia de Oliveira Júnior


FIP

Artigo original publicado em: 8/2019


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200600537
RESUMO

Objetivo: Analisar as ações de promoção e proteção em saúde bucal realizadas pelos


Cirurgiões Dentistas (CD) das Equipes de Saúde da Família no interior do Ceará. Métodos:
Tratou-se de um estudo quantitativo, de natureza descritiva, através da utilização de
questionário, com aplicação de entrevista. A amostra foi composta por todas as Equipe
de Saúde Bucal (ESB) do município (n=16). Os dados foram registrados no programa
SPSS (Statistical Package for Social Sciences); e descritos pelo programa Excel 2007
for Windows. Resultados: Os resultados demostraram que em 100% das unidades eram
realizadas atividades de educação em saúde, escovação supervisionada, fornecimento
de escova dental e pasta fluoretada. As ações eram desenvolvidas pelos CD e Técnicos
em Saúde Bucal (TSB) (58,8%); seguidos de 29,4%, CD e o Auxiliar de Saúde Bucal
(ASB); 5,9%, pelo TSB; e 5,9%, por toda a ESB; sendo 58,8%, em escolas e creches;
35,3% em escolas, creches e domicílio; e 5,9% em unidades de saúde. Quanto aos
recursos, 76,5% utilizavam vídeos educativos; 17,6 % álbum seriado; e 3,5 nenhum
recurso. Conclusão: As ações de promoção e proteção em saúde bucal estão sendo
desenvolvidas de acordo com o que preconiza a Política Nacional de Saúde Bucal,
proposta pelo Ministério da Saúde.

Palavras-chave: Saúde Bucal; Promoção em Saúde; Saúde Pública.


INTRODUÇÃO

Historicamente, a promoção de saúde foi conceituada pela primeira vez por Winslow
CEA, em 1920, e Sigerist HE, em 1946. Esses autores conceituaram quatro diretrizes básicas
das ciências médicas: promoção da saúde, prevenção às doenças, recuperação e reabilitação
da saúde. No ano de 1965, Leavell HR e Clark EG, relataram um parâmetro para descrição
da história das enfermidades, que englobou três níveis de prevenção: primário, secundário
e terciário. Dentre esses níveis, a atenção primária, refere-se à manutenção da saúde, evi-
tando-se o acometimento dos indivíduos por enfermidades (BUSS P, 2000; BUISCHI YP,
2003; SILVA RCL et al., 2006; PAULA IC e SANTOS MS, 2018).
A promoção de saúde deve acontecer em qualquer espaço da comunidade, e não
somente nos postos de saúde. Associações, igrejas, praças e principalmente nas escolas,
devem ser desenvolvidas atividades que visem a melhoria das condições de saúde e bem-
-estar da comunidade. A escola deverá receber atenção especial, visto que se pode alcançar
vários grupos sociais: alunos, famílias, além de professores e funcionários, ou seja, a escola
é um caminho para se abranger grande parte da comunidade (ANQUILANTE AG et al., 2003;
SÁ LO e VASCONCELOS MMVB, 2009).
A inserção dos programas de saúde nas comunidades escolares tem abrangência
inigualável, e pode ser ainda mais ampliada através do envolvimento dos gestores em
saúde e líderes locais e comunitários. Um trabalho coletivo, com engajamento social am-
plo, possibilita uma maior efetividade das políticas de saúde. As atividades desenvolvidas
devem ser planejadas de maneira a focar o público alvo, utilizando materiais adequados às
idades escolares, e aos adultos que participarão das ações. Dessa forma haverá um maior
engajamento da sociedade nas políticas de prevenção e promoção à saúde (BRASIL, 2004;
BALDINI MH et al., 2003; PAULA IC e SANTOS MS, 2018).
Um dos princípios fundamentais da promoção de saúde é o desenvolvimento de ações
destinadas às necessidades da população alvo. Neste sentido, o pré-requisito indispensá-
vel para o sucesso é o conhecimento da epidemiologia das doenças bucais, a realidade de
cada uma das pessoas, como se organizam na comunidade e solucionam os problemas
individuais e coletivos, o modo de vida, as crenças, os valores, anseios, enfim, estratégias
essências para se conhecer o grupo e então promover ações em saúde adequadas à rea-
lidade (BARROS SG e CHAVES SCL, 2003; PIVEZAM G et al., 2005).
Para Buishi YP (2003), a promoção de saúde é uma ação muito mais ampla do que
simplesmente repassar informações às pessoas. Orientar os pacientes de saúde bucal, sobre
a forma correta de realizar a escovação dental ou a importância da utilização dos dentifrícios
fluoretados durante esse processo não se traduz, sozinha, em promoção de saúde. Essa
promoção deverá ser uma ação global que tenha como objetivo a melhoria das condições

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 699


de vida e bem-estar dos indivíduos e/ ou da comunidade.
Nesse sentido, a inserção do cirurgião dentista nas equipes de saúde da família, através
da implantação das equipes de saúde bucal, objetivou tornar a o serviço odontológico mais
acessível aos cidadãos brasileiros, bem como quebrar o paradigma curativista estabelecido
ao longo dos anos na odontologia. Para isso, as estratégias educativas, através das ativi-
dades de educação em saúde bucal, sejam nas unidades de saúde, sejam nas escolas de
abrangência dessas unidades, são fundamentais para que se estabeleça uma nova saúde
pautada na prevenção dos agravos à saúde bucal (BRASIL, 2004; VENÂNCIO DR et al.,
2011; PAULA IC e SANTOS MS, 2018).
Frente ao exposto, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar as ações de promoção
e proteção em saúde bucal, realizadas pelos cirurgiões dentistas das equipes de saúde da
família do interior do Ceará – CE.

MÉTODOS

Tratou-se de uma pesquisa do tipo quantitativa, de natureza descritiva e transversal,


na qual foram avaliadas as ações de promoção e proteção em saúde bucal, realizadas nas
equipes de saúde da família pelos Cirurgiões-Dentistas das Equipes de Saúde Bucal, per-
tencentes ao interior do estado do Ceará.
O universo foi composto de 20 unidades de saúde da família, que compunham a rede
municipal de saúde, sendo a amostra 16 unidades de saúde, selecionadas por serem for-
madas pela equipe de atenção básica juntamente à equipe de saúde bucal (16 cirurgiões
dentistas).
Foram incluídos na pesquisa todos os cirurgiões-dentistas atuantes nas equipes de
saúde da família da cidade de Brejo Santo- CE, que aceitaram participar desse estudo e que
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos os cirurgiões-
-dentistas atuantes em setores administrativos das equipes de saúde da família e/ou nos
Centros de Especialidades Odontológicas – CEO; e aqueles que se recusaram a assinar o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Após a realização da coleta de dados, os dados foram registrados no banco de dados
do programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences) para Windows, versão 20.0.
Seguidamente, as informações tabuladas foram analisadas por meio de estatística descritiva
no programa Excel 2007 for Windows.
A presente pesquisa foi submetida aprovação do Comitê de Ética de Ética em Pesqui-
sas das Faculdades Integradas de Patos no estado da Paraíba, sendo obedecidos todos
os critérios prescritos pela Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a
qual versa sobre a ética em pesquisas com seres humanos.

700 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Foi utilizado, como instrumento de coleta de dados, um questionário específico para
esta pesquisa, baseado no trabalho de Almeida GCM e Ferreira MAF (2008), com pergun-
tas estruturadas, em que os Cirurgiões-Dentistas foram entrevistados sobre as ações de
promoção e prevenção em saúde bucal, que são realizadas em suas unidades (Figura 1).

Figura 1. Instrumento para Coleta de Dados (baseado no estudo de ALMEIDA GCM e FERREIRA MAF, 2008).

Fonte: Dados do autor (2017).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 701


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas tabelas que se seguem, estão descritos os resultados referentes a todas as vari-
áveis estudas na presente pesquisa.

Tabela 1. Distribuição das variáveis: educação em saúde; escovação supervisionada; incentivo dos gestores; atividades
educativas/ preventivas em grupos específicos; acesso à escova e pasta fluoretada; campanhas preventivas.

VARIÁVEIS N %
Realização de Educação em Saúde 16 100
Realização de Escovação Supervisionada 16 100
Recebimento de Incentivo dos Gestores 16 100
Realização de atividades educativas/ preventivas em grupos específicos (como idosos,
16 100
gestantes, hipertensos, diabéticos e trabalhadores)
Acesso à escova dental e pasta fluoretada 16 100
Realização de campanhas preventivas (Câncer Bucal, Tabagismo, Prevenção da Cárie 15 97

Fonte: Dados do autor (2017).

Tabela 2. Periodicidade de realização de escovação supervisionada e atividades de educativas em Saúde Bucal.

VARIÁVEIS/ FREQUÊNCIA ESCOVAÇÃO SUPERVISIONADA EDUCAÇÃO EM SAÚDE BUCAL


Semanalmente 11,8% 11,8%
Quizenalmente 23,5% 23,5%
Mensalmente 58,8% 41,2%
Bimestralmente 5,9% 4,5%

Fonte: Dados do autor (2017).

Tabela 3. Distribuição dos profissionais que realizam a escovação supervisionada e as atividades de educação em saúde
bucal.

PROFISSIONAIS QUE REALIZAM A PROFISSIONAIS QUE REALIZAM


VARIÁVEIS/ FREQUÊNCIA
ESCOVAÇÃO SUPERVISIONADA A EDUCAÇÃO EM SAÚDE BUCAL
CD 64,7% 58.8,8%
CD e ASB 29,4% 29,4%
CD e TSB 3,5% 41,2%
TSB Não se aplica 5,9
Equipe de Saúde Bucal Não se aplica 5,9

Fonte: Dados do autor (2017).

Tabela 4. Distribuição das variáveis: local de realização da atividade educativa; e recurso utilizado para educação em saúde.

Escolas e Creches Escolas, Unidades de Saúde e Domicílio Unidades de Saúde
Local de realização da Atividade Educativa 58,8% 35,3% 5,9%
Recurso utilizado para Educação em Saúde Álbum Seriado 17,6% Vídeo 76,5% Nenhum 3,5%

Fonte: Dados do autor (2017).

O processo ensino aprendizagem é essencial para que as políticas de educação em

702 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


saúde atinjam a abrangência desejada, pois a promoção de saúde vai muito além da cura
de enfermidades, almeja, principalmente, o bem-estar geral e a melhoria das condições de
vida das pessoas. Programas que visam a comunidade escolar tendem a alcançar uma boa
“fatia” da comunidade, assim como sensibilizar e influenciar no comportamento das pessoas
(AQUILANTE AG et al., 2003; ALMEIDA GCM e FERREIRA MAF, 2008; PEREIRA GDS et
al., 2017; PAULA IC e SANTOS MS, 2018; SILVA AH et al., 2018).
A compreensão de que a saúde bucal é parte integrante e inseparável da saúde geral,
é fator indispensável para o sucesso das políticas de saúde. A infância é o período ideal para
intervenções educativas, pois as crianças, em processo de formação de suas personalidades,
absorverão de forma natural as ações de educação em saúde bucal, tornando os bons hábitos
de higiene oral uma rotina durante seu período de crescimento (SÁ LO e VASCONCELOS
MMVB, 2009; PORTO LC et al., 2015; CARVALHO IVC e CASTRO JGD, 2018).
Na primeira parte do questionário, observa-se que as equipes de Saúde Bucal estão
corretamente inseridas na Estratégica de Saúde da Família. É possível também constatar
o compromisso dos profissionais em participar das reuniões que são realizadas periodica-
mente, onde são discutidas ações de promoção e proteção em saúde, corroborando com
os trabalhos de Porto LC et al., 2015; e Carvalho IVC e Castro JGD, 2018.
Vale ressaltar que os Agentes Comunitários de Saúde se desenham como um dos
principais profissionais atuantes, uma vez que, conhecem profundamente a comunidade
onde atuam, em razão das visitas. Entretanto, não participam de forma expressiva dessas
atividades de educação e promoção em saúde bucal, assim como relataram Carvalho IVC e
Castro JGD (2018), que enfatizaram que os ASBs são os profissionais que mais participam
dessas atividades.
A maioria dos entrevistados, realizam atividades educativas com periodicidade regular
(mensalmente, quinzenalmente, semanalmente ou bimestralmente); e sempre apenas com
os integrantes da equipe de saúde bucal: a maioria com o cirurgião dentista e técnico em
saúde bucal. Observa-se, portanto, que os ACSs e demais profissionais das Estratégias de
Saúde da Família, não se integram a essas atividades, corroborando com os achados de
Carvalho IVC e Castro JGD (2018). Esse fato pode ser avaliado como fator negativo, visto
que todos os membros da equipe de saúde devem estar integrados para o desenvolvimento
das ações preventivas, sejam elas em saúde bucal ou em saúde geral.
Entretanto, em relação à equipe de saúde bucal, pode-se constatar que todos os
profissionais participam e/ou desenvolvem atividades de educação em saúde. Esse dado
configura um avanço considerável para a odontologia no SUS, visto que denota a mudan-
ça no perfil dos profissionais, através da adoção de medidas educativas e/ou preventivas,
sobrepondo-se ao método intervencionista e curativista, corroborando com os estudos de

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 703


Anquilante AG et al. (2003), Barros SG e Chaves SCL (2003), e Venâncio DR et al. (2011);
Pereira GDS et al., 2017; Carvalho IVC e Castro JGD (2018); Paula IC e Santos MS (2018);
Silva AH et al. (2018).
Para que as ações educativas surtam efeito, faz-se necessário motivar os participantes
e despertar neles o interesse em adquirir ou renovar seus conhecimentos (PORTO LC et
al., 2015).
Para isso, uma das estratégias utilizadas pelos profissionais, são os recursos tecno-
lógicos, como vídeos, álbuns seriados e materiais lúdicos, corroborando com Paula IC e
Santos MS (2018). Assim como no estudo de Venâncio DR et al. (2011), o presente trabalho
investigou a utilização desses recursos lúdicos nas atividades de educação em saúde bucal;
tendo os profissionais relatado o uso de vídeos (76,5%) e álbuns seriados (17,6%).
No Brasil, as escolas aparecem como principal local social para troca e aquisição de
conhecimentos, não havendo, portanto, lugar mais adequado às ações promovidas em edu-
cação preventiva (CARVALHO IVC e CASTRO JGD, 2018; SILVA AH et al., 2018).
O público presente nestas instituições não deve limitar-se somente aos estudantes,
mas também a toda a comunidade do entorno escolar, pois é de fácil acesso a pais, alunos,
professores, enfim, toda a comunidade escolar. Os conhecimentos adquiridos pelos parti-
cipantes das atividades educativas e preventivas são disseminados por seus detentores e
alcançam proporções que por si só recompensam a escolha destes locais (ANQUILANTE
AG et al., 2003; BRASIL, 2004; BARROS SG e CHAVES SCL, 2003).
Quanto ao incentivo dos órgãos governamentais, todos os profissionais afirmaram
contar com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde. Percebe-se, portanto, que há um
comprometimento tanto do profissional, quanto dos órgãos governamentais em manter a
população informada, investindo na educação em saúde e, consequentemente, priorizando
a prevenção de agravos à saúde bucal (BARROS SG e CHAVES SCL, 2003).
Dentre as ações desenvolvidas pelas equipes de saúde bucal, destacaram-se as cam-
panhas preventivas abordando as temáticas de Câncer Bucal, Tabagismo e Prevenção da
Cárie. Além disso, a escovação supervisionada foi citada como uma das principais ações,
realizada por todos os profissionais entrevistados, e de forma periódica. O acesso à escova
dental foi relatado por todos os entrevistados. Observou-se, portanto, que se repete, em
sua maioria, a periodicidade mensal na ocorrência dessas atividades. Este fato poderia ser
revisto, uma vez que, quanto mais frequentemente as ações forem realizadas, em especial
as preventivas, mais positivos serão os resultados em relação à prevenção dos agravos à
saúde bucal. Portanto, se faz necessária uma maior frequência nas atividades em saúde.
Além disso, as ações educativas foram realizadas, em sua maioria, em escolas e cre-
ches. Este dado corrobora com a pesquisa de Venâncio DR et al. (2011) que ressalta que

704 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


a maior capacidade de aprendizado da criança se dá no período desde o nascimento até o
sexto ano de vida. Neste período o cérebro passa por grande parte de seu desenvolvimento.
Percebe-se, portanto, que a promoção da saúde em pré-escolares, é um ato relevante em
creches e escolas, na medida em que as crianças são capazes de adquirir conhecimento
e incorporar hábitos saudáveis precocemente, sendo que tais hábitos podem se prolongar
ao longo de sua existência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os critérios e dados descritos e discutidos no presente trabalho, pode-


-se concluir que: todos os cirurgiões dentistas entrevistados nas Estratégias de Saúde da
Família realizam ações de promoção em Saúde Bucal, com frequência média mensal; as
ações de promoção e proteção em saúde bucal das equipes de saúde bucal são realizadas,
em sua maioria, pelo cirurgião dentista com auxílio do técnico em saúde bucal. As ações de
educação em saúde bucal são desenvolvidas, em sua maioria, utilizando-se recursos audio-
visuais como vídeos educativos e álbuns seriados; além da educação em saúde bucal, as
escovações supervisionadas são realizadas, predominantemente, em escolas e creches; as
ações educativas, campanhas e as escovações são apoiadas integralmente pelos gestores
de saúde do município.

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706 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


55
“ Elaboração e validação de
diretrizes de educação em saúde
para o ensino médio

Icaro Kleysson de Souza Carvalho


IFSertão

Luciana Marques Andreto


FPS

Artigo original publicado em: 4/2020


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200700572
RESUMO

Objetivo: Elaborar e validar diretrizes de Educação em Saúde para estudantes do


Ensino Médio. Métodos: Trata-se de estudo metodológico de elaboração e validação.
A primeira etapa consistiu na elaboração de diretrizes de Educação em Saúde para o
Ensino Médio do Instituto Federal de Educação do Sertão Pernambucano. A segunda
consistiu na validação das diretrizes por 15 juízes para verificar o nível de concordância
das afirmações. E a terceira, consistiu na validação semântica das diretrizes. O método
Delphi foi utilizado para validação. Resultados: na primeira etapa do estudo foram
construídos 79 itens distribuídos em nove eixos. Na etapa de validação de conteúdo,
45 desses itens, distribuídos em oito eixos, foram validados pelos juízes. O Eixo Saúde
Bucal não foi validado. Nesta etapa, o instrumento Diretrizes de Educação em Saúde
para o Ensino Médio foi validado com 91% de concordância dos Juízes especialistas. Na
última etapa de validação semântica, a população alvo analisou os aspectos semânticos
do instrumento e validaram com 96% de consenso. Conclusão: Este instrumento pode
tornar a prática e ações dos profissionais de saúde dos Institutos Federais de Educação,
no planejamento da Educação em Saúde, mais segura e com base científica.

Palavras-chave: Educação em saúde; Serviços de saúde escolar; Estudos de validação;


Diretrizes.
INTRODUÇÃO

A Educação em Saúde mostra-se como um importante meio de assistir o estudante e a


relevância dessa temática foi ratificada pelo Governo Brasileiro e por políticas e programas
internacionais através da criação, execução e investimentos nas Escolas Promotoras de
Saúde, no Programa Saúde na Escola (PSE), além de estar presente em projetos e artigos
científicos que versam sobre a Educação em Saúde no contexto escolar (ROGERS R, et
al., 2017; GUETERRES ÉC, et al., 2017; MCISAAC JLD, et al., 2016).
No âmbito mundial, após a criação da Rede Latino-Americana de Escolas Promotoras
de Saúde durante o Congresso de Saúde Escolar no Chile, em 1995, ocorreram importantes
sistematizações e direcionamentos na Educação em saúde no contexto escolar. A estraté-
gia da criação dessa rede representa a opção para a institucionalização e conformação de
políticas públicas de saúde escolar incentivada pela Organização Pan-Americana de Saúde
(MONT’ALVERNE DGB e CATRIB AMF, 2013; CARDOSO V, et al., 2008).
Escolas promotoras de saúde são estratégias de promoção da saúde no âmbito escolar
e um mecanismo articulado de esforços e recursos multissetoriais, focado nas condições de
saúde e bem-estar, ampliando assim as oportunidades para um aprendizado de qualidade
e o desenvolvimento humano sustentável, para todos os integrantes das comunidades edu-
cativas (CARDOSO V, et al., 2008).
No Brasil, em 1971, a Lei número 5.692, revogada pela Lei nº 9.394 de 20 de dezembro
de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional veio introduzir formal-
mente, no ambiente escolar, a temática da saúde. Em paralelo ao currículo formal escolar,
a programação dos temas relacionados à saúde deveria ser trabalhada não no formato de
disciplina, mas de forma continuada (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS SAÚ-
DE, 1997).
Nacionalmente, o Programa Saúde na Escola tem como finalidade contribuir para a
formação integral dos estudantes da rede pública de educação básica por meio de ações
de prevenção, promoção e atenção à saúde. Constitui estratégia para a integração e a arti-
culação permanente entre as políticas e ações de educação e de saúde, com a participação
da comunidade escolar, envolvendo as equipes de saúde da família e da educação básica
(BRASIL, 2007).
Em 2007, foi criado o Programa de Restruturação e Expansão das Universidades Fe-
derais, entre seus objetivos, destaca-se a diminuição das taxas de evasão dos estudantes,
para isso, seria necessário criar uma política de assistência estudantil voltada para esse
propósito (BLEICHER T e OLIVEIRA RCN, 2016).
Nessa perspectiva, foi instituido o Programa Nacional de Assistência Estudantil que
prevê a atenção a saúde em áreas que deverão ser desenvolvidas ações da assistência es-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 709


tudantil nas universidades e Institutos Federais de Educação (BRASIL, 2010). Os Institutos
Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFEs) são instituições de educação superior,
básica e profissional, pluricurriculares e multicampi, especializados na oferta de educação
profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino (INSTITUIÇÃO, 2019).
Mesmo com a criação do decreto do Programa Nacional de Assistência Estudantil, não
houve um programa de capacitação dos técnico-administrativos em educação quanto aos
mecanismos de consecução dos objetivos da política. Alguns profissionais de saúde dos
institutos Federais de Educação ainda apresentam dificuldades de trabalhar Educação em
Saúde no contexto escolar (BLEICHER T e OLIVEIRA RCN, 2016).
Uma vez, que a função de profissionais de saúde no espaço escolar é algo novo e
incipiente na realidade brasileira, pesquisas levam a acreditar que as equipes de técnicos-
-administrativos em educação dos Institutos Federais de Educação e Universidades Federais
não embasam suas ações por meio de pesquisas acadêmicas (BLEICHER T e OLIVEIRA
RCN, 2016).
As instituições de ensino devem proporcionar uma formação voltada para o desenvol-
vimento integral do ser humano e fornecer igualdade de condições para que o estudante
consiga permanecer até a conclusão do curso (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1997).
A elaboração e validação de diretrizes são consideradas práticas que fornece direção
de alto nível e recursos dentro das jurisdições escolares. As diretrizes de educação em saúde
para estudantes do Ensino Médio representam uma forma científica de promoção de saúde
que contempla uma população específica do contexto escolar (JONES SE, et al., 2015).
Sendo assim, o objetivo desse estudo foi elaborar e validar diretrizes de educação em
saúde para estudantes do ensino médio do Instituto Federal de Educação do Sertão Per-
nambucano como um instrumento para realizar educação em saúde nesse contexto escolar
tornando a prática e ações dos profissionais de saúde nesse ambiente mais segura e com
base científica.

MÉTODOS

Trata-se de estudo metodológico de elaboração e validação de diretrizes de educação


em saúde para o Ensino Médio (SANTOS FC, 2016; ALEXANDRE NM e COLUCI MZ, 2011;
PILATTI L, et al., 2010; LIKERT RA, 1932; BOND KS, et al., 2016).
As etapas de elaboração e validação ocorreram no período entre maio de 2018 a julho
de 2019.
A primeira etapa consistiu na elaboração de diretrizes de educação em saúde voltada
para o contexto escolar do Ensino Médio em um Instituto Federal de Educação. Para isso
foram pesquisadas literaturas científicas entre o ano 2014 e 2018 que apresentaram os

710 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


descritores “educação em saúde” e “serviços de saúde escolar” ou descritores similares nas
seguintes bases de dados: ERIC, BIREME, EBSCO e portal periódicos da Capes.
Também foram pesquisados documentos oficiais nacionais do Ministério da Saúde e
do Ministério da Educação, além de documentos oficiais do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Sertão Pernambucano como o relatório gestor (ano 2016 e 2017) e o
relatório do primeiro fórum discente da assistência estudantil que apresentaram os temas
“educação”, “saúde escolar” e “educação em saúde no contexto escolar”.
A segunda etapa, a validação de conteúdo utilizou-se o Método Delphi (BOND KS, et
al., 2016). Nesta etapa foram selecionados de forma aleatória e proporcional dois Institutos
Federais de Educação por região do Brasil, totalizando 10 Institutos e para a seleção dos
juízes foram aplicados os critérios de elegibilidade: ser profissional de saúde atuante na
promoção de educação em saúde nos Institutos Federais de Educação, ter no mínimo dois
anos de atuação e possuir titulação de Mestrado ou Doutorado em Educação ou Ciências
da Saúde. Participaram da validação de conteúdo 15 juízes.
Para compor o grupo de juízes para validação de conteúdo e o grupo de profissionais de
saúde (população-alvo) para a validação semântica, foi enviado um instrumento por correio
eletrônico, contendo explicações quanto aos objetivos, riscos e benefícios desse estudo. Após
a leitura e consentimento eletrônico do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
foi iniciada a pesquisa. Cada conteúdo presente nas diretrizes de educação em saúde para
o ensino médio foi avaliado segundo os critérios adaptados da escala de Likert: “não deve
ser incluído” (1), “pouco importante” (2), “parcialmente importante” (3), “muito importante”
(4) e “indispensável” (5) (LIKERT RA, 1932).
A validação semântica do conteúdo foi realizada por profissionais de Saúde do IF-
Sertão-PE. Os profissionais de saúde responderam um instrumento contendo perguntas
sobre o perfil acadêmico e profissional e apontaram o nível de compreensão dos conteúdos
apresentados em uma escala de pontos variando de 1 a 5, sendo os valores igual ou supe-
rior a 4, a correta compreensão do item. Os profissionais de saúde analisaram os aspectos
semânticos dos itens quanto a inteligibilidade, clareza, pertinência e aparência (SANTOS
FC, 2016; ALEXANDRE NM e COLUCI MZ, 2011; PILATTI L, et al., 2010; LIKERT RA, 1932;
BOND KS, et al., 2016). Para a análise do conteúdo e análise semântica, calculou-se o ní-
vel de concordância dos juízes e profissionais de saúde através do Índice de Validade de
Conteúdo (IVC). Considerou-se o índice de aceitação do conteúdo igual ou superior a 80%
como critério de decisão sobre a pertinência do item no instrumento, ou sua modificação
(SANTOS FC, 2016; ALEXANDRE NM e COLUCI MZ, 2011).
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Pernam-
bucana de Saúde – CEP-FPS sob o número de CAAE 01117618.0.0000.5569, número de

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 711


parecer 3.033.534 e seguiu a resolução número 466/2012 do Conselho de Nacional de
Saúde (BRASIL, 2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa na literatura científica e documentos oficiais resultou em um instrumento


contendo 79 itens distribuídos em nove eixos. Para o processo de validação, participaram 15
juízes especialistas profissionais de saúde com no mínimo 2 anos de atuação na promoção
de educação em saúde nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia no ambto
do Ensino Médio, Mestre e/ou Doutor em Educação ou Ciências da Saúde.
Foram seis enfermeiros, cinco psicólogos, dois odontólogos, um nutricionista e um
assistente social. A média de idade foi de 35,8 anos ± 6,5 anos. Quanto à qualificação pro-
fissional 66,7% (10) eram mestres e 33,3% (5) eram doutores. Ressalta-se que 33,3% (5),
eram profissionais de saúde da região nordeste; 20% (3), da região norte; 20% (3), da região
sul; 13,3% (2), da região sudeste e 13,3% (2), da região centro-oeste.
Na Tabela 1, observa-se que 38 conteúdos apresentaram índice de validade com
concordância maior ou igual a 0,80 (IVC≥0,80). Nesta rodada, foi sugerida a reformulação
de dois itens: reeducação alimentar para educação alimentar e nutricional e para o tema
alergias alimentares para transtornos alimentares.
Ainda como sugestão, os juízes solicitaram a inclusão dos temas: desperdícios de
alimentos, atividades físicas (alongamentos, caminhada e esportes), doença periodontal,
bruxismo, halitose, câncer de boca, escalpelamento, doenças transmitidas por alimentos,
terapias complementares (yoga, meditação, reiki e florais) e controle do estresse.
A Tabela 2 observou-se que do total de 52 conteúdos (novos itens e itens que não
obtiveram consenso na primeira rodada do método), sete itens apresentaram IVC maior ou
igual a 0,80 (IVC≥0,80). Os itens que obtiveram IVC<0,80 foram excluídos e os itens que
apresentaram IVC≥0,80 permaneceram, compondo os conteúdos das Diretrizes de Educa-
ção em Saúde para o Ensino Médio. Nesta segunda rodada, teve a participação de todos
os juízes que participaram da primeira rodada e entre os conteúdos que tiveram IVC≥0,80, o
item atividades físicas (alongamentos, caminhada e esportes) adicionado na primeira rodada
apresentou índice de validade com concordância unanime (IVC=1,00).
Percebe-se que na Tabela 3, todos os itens do Eixo sexualidade e reprodução foram
avaliados como indispensável por 100% dos juízes. Além desses, os itens saúde corporal,
saúde mental, violência, ansiedade, direitos humanos, inclusão e diversidade vacinas e ati-
vidades físicas (alongamentos, caminhada e esportes) também tiveram avaliação de 100%
dos juízes como itens indispensáveis para compor as Diretrizes de Educação em Saúde
para o Ensino Médio.

712 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Tabela 1. Avaliação dos juízes sobre os conteúdos das diretrizes de educação em saúde para profissionais de saúde que
atuam no contexto do ensino médio calculado pelo índice de validade de conteúdo (1ª rodada método Delphi). Recife-PE,
2019.

Conteúdo IVC*

Eixo I – temas gerais

Saúde do homem 0,93


Saúde da mulher 0,93
Saúde da gestante 0,67
Saúde corporal 1,00
Saúde mental 1,00
Saúde auditiva 0,67
Saúde ocular 0,67
Eixo II – nutrição
Saúde nutricional/alimentação saudável/hábitos alimentares 0,93
Reeducação alimentar 0,73
Alergia alimentares 0,27
Obesidade e sobrepeso 0,87
Desnutrição 0,40
Anorexia 0,67
Anemia por deficiência de ferro 0,53
Eixo III – sexualidade e reprodução
Saúde sexual, reprodutiva e planejamento familiar 1,00
Gênero e sexualidade 1,00
Doenças sexualmente transmissiveis (dst’s) e ist’s 1,00
Aids/hiv 1,00
Eixo IV – segurança física e do meio ambiente
Saúde e segurança na escola 0,80
Primeiros socorros 0,80
Combate a incêndio 0,87
Educação ambiental 0,87
Ergonomia 0,87
Eixo V – atividade física
Musculação 0,33
Anabolizantes 0,13
Eixo VI – saúde bucal
Cárie dentária 0,73
Fluorose dental 0,47
Eixo VII – psicossocial
Relacionamento abusivo 0,93
Violência 1,00
Depressão 0,93
Suicídio 0,93
Bulling 0,87
Comportamentos auto-mutilantes 0,87
Vida/pressão familiar e social 0,87
Ansiedade 1,00
Auto-estima 0,93
Bulimia 0,80
Direitos humanos 1,00
Discriminação racial 0,93
Drogas (lícitas e ilicitas) 0,93

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 713


Cidadania 0,93
Inclusão e diversidade 1,00
Estatuto da criança e do adolescente 0,87
Abuso sexual e exploração de crianças e adolescentes 0,93
Atendimento educacional especializado 0,80
Eixo VIII– doenças, afecções, infecções e transtornos
Doenças cardiovasculares 0,53
Hipertensão arterial sistêmica 0,53
Combate ao colesterol 0,47
Diabetes 0,53
Câncer (geral) 0,47
Câncer de mama 0,53
Tuberculose 0,27
Hanseníase 0,27
Parasitoses intestinal 0,47
Leptospirose 0,33
Doenças crônicas não transmissiveis (dcnt) 0,47
Tabagismo 0,73
Autismo 0,47
Epilepsia e transtornos convulsivos 0,33
Asma 0,27
Infecções de garganta 0,13
Resfriados e gripe 0,27
Bronquites 0,13
Infecções de ouvido 0,13
Pediculose (piolhos) 0,13
Impetigo 0,13
Escoliose 0,20
Queimaduras 0,33
Infecções de pele 0,27
Furúnculos 0,13
Úlcera 0,20
Contusões 0,27
Imunodeficiência 0,40
Eixo IX – prevenção e promoção
Combate ao aedes aegypti 0,93
Vacinas 1,00
Doação de sangue 0,87
Luta antimanicomial 0,60
Educação sanitária 0,93
Autocuidado 0,93

Legenda: *Índice de Validade de Conteúdo.


Fonte: Carvalho IKS, Andreto LM, 2020.

714 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Tabela 2. Avaliação dos juízes sobre o conteúdo das diretrizes de educação em saúde para profissionais de saúde que atuam no contexto
do ensino médio calculado pelo índice de validade de conteúdo (2ª rodada método Delphi). Recife-PE, 2019.

Conteúdo Ivc*

Eixo I – Temas gerais


Saúde da gestante 0,53
Saúde auditiva 0,60
Saúde ocular 0,60
Eixo II – Nutrição
Educação alimentar e nutricional 0,93
Intolerância e alergia alimentares 0,47
Desnutrição 0,53
Anorexia 0,80
Anemia por deficiência de ferro 0,33
Transtornos alimentares 0,87
Desperdícios de alimentos 0,87
Eixo V – Atividade física
Musculação 0,27
Anabolizantes 0,60
Atividades físicas (alongamentos, caminhada e esportes) 1,00
Eixo VI – Saúde bucal
Cárie dentária 0,67
Fluorose dental 0,40
Doença periodontal 0,53
Bruxismo 0,40
Halitose 0,60
Câncer de boca 0,47
Eixo VIII – Doenças, afecções, infecções e transtornos
Doenças cardiovasculares 0,67
Hipertensão arterial sistêmica 0,73
Combate ao colesterol 0,67
Diabetes 0,73
Câncer (geral) 0,60
Câncer de mama 0,67
Tuberculose 0,40
Hanseníase 0,27
Parasitoses intestinal 0,40
Leptospirose 0,40
Doenças crônicas não transmissiveis (DCNT) 0,60
Tabagismo 0,80
Autismo 0,53
Epilepsia e transtornos convulsivos 0,47
Asma 0,40
Infecções de garganta 0,33
Resfriados e gripe 0,40
Bronquites 0,20
Infecções de ouvido 0,20
Pediculose (piolhos) 0,27
Impetigo 0,27
Escoliose 0,33
Queimaduras 0,40
Infecções de pele 0,13

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 715


Furúnculos 0,13
Úlcera 0,13
Contusões 0,40
Imunodeficiência 0,40
Escalpelamento 0,20
Doenças transmitidas por alimentos (DTA) 0,47
Eixo IX – Prevenção e promoção
Luta antimanicomial 0,53
Terapias complementares (yoga, meditação, reiki e florais) 0,73
Controle do estresse 0,80

Legenda: *Índice de Validade de Conteúdo.


Fonte: Carvalho IKS, Andreto LM, 2020.

Tabela 3. Diretrizes de educação em saúde para profissionais de saúde que atuam no contexto do ensino médio validado
pelos juízes especialistas – validação de conteúdo. Recife-PE, 2019.

Conteúdo IVC*

Eixo I – Temas Gerais


Saúde do Homem 0,93
Saúde da Mulher 0,93
Saúde corporal 1,00
Saúde Mental 1,00
Eixo II – Nutrição
Saúde Nutricional/Alimentação saudável/Hábitos alimentares 0,93
Educação alimentar e Nutricional 0,93
Obesidade e Sobrepeso 0,87
Anorexia 0,80
Transtornos alimentares 0,87
Desperdícios de alimentos 0,87
Eixo III – Sexualidade e reprodução
Saúde Sexual, Reprodutiva e Planejamento Familiar 1,00
Gênero e Sexualidade 1,00
Doenças Sexualmente Transmissiveis (DST’s) e IST’s 1,00
AIDS/HIV 1,00
Eixo IV – Segurança física e do meio ambiente
Saúde e Segurança na Escola 0,80
Primeiros Socorros 0,80
Combate a incêndio 0,87
Educação Ambiental 0,87
Ergonomia 0,87
Eixo V – Atividade física
Atividades físicas (alongamentos, caminhada e esportes) 1,00
Eixo VI – Psicossocial
Relacionamento abusivo 0,93
Violência 1,00
Depressão 0,93
Suicídio 0,93
Bulling 0,87
Comportamentos auto-mutilantes 0,87
Vida/pressão Familiar e Social 0,87

716 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Ansiedade 1,00
Auto-estima 0,93
Bulimia 0,80
Direitos Humanos 1,00
Discriminação racial 0,93
Drogas (lícitas e ilicitas) 0,93
Cidadania 0,93
Inclusão e diversidade 1,00
Estatuto da Criança e do Adolescente 0,87
Abuso sexual e exploração de Crianças e Adolescentes 0,93
Atendimento Educacional Especializado 0,80
Eixo VII – Doenças, afecções, infecções e transtornos
Tabagismo 0,80
Eixo VIII – Prevenção e promoção
Combate ao Aedes aegypti 0,93
Vacinas 1,00
Doação de sangue 0,87
Educação Sanitária 0,93
Autocuidado 0,93
Controle do estresse 0,80
Índice de Validade de Conteúdo Global 0,91

Legenda: *Índice de Validade de Conteúdo


Fonte: Carvalho IKS, Andreto LM, 2020.

Estes achados corroboram com os Parâmetros Curriculares Nacionais em Saúde que


nesse contexto escolar traz a saúde sexual e reprodutiva como um tema de destaque. A
higiene corporal é tratada nesse documento como condição para a vida saudável, a ativi-
dade física na puberdade e adolescência é apontada desempenhando papel importante
não só do ponto de vista orgânico, mas psíquico também. A vacina, violência, diversidade
e a saúde mental também são temas tratados e tidos como importantes nesse documento
(MONT’ALVERNE DGB e CATRIB AMF, 2013).
O Programa Saúde na Escola atua na avaliação clínica, nutricional, oftalmológica,
auditiva, psicossocial, da higiene bucal, promoção da alimentação saudável, atualização
e controle do calendário vacinal, redução da morbimortalidade por acidentes e violências,
prevenção e redução do consumo do álcool, prevenção do uso de drogas, promoção da
saúde sexual e da saúde reprodutiva, controle do tabagismo e outros fatores de risco de
câncer, educação permanente em saúde, atividade física e saúde, promoção da cultura da
prevenção no âmbito escolar e inclusão das temáticas de educação em saúde no projeto
político pedagógico das escolas (MONTEIRO PHI e BIZZO N, 2014). Essas temáticas acima
corroboram parcialmente com o resultado desta pesquisa, uma vez que o eixo saúde bucal,
assim como os itens saúde ocular, saúde auditiva e câncer não foram validados pelos juízes
especialistas.
Estes resultados discordaram parcialmente de um estudo de revisão integrativa sobre

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 717


a atuação de enfermeiros nas práticas de educação em saúde no contexto escolar que traz
a saúde auditiva, saúde ocular e saúde da gestante como importantes práticas de saúde na
escola. Já no que se refere ao Eixo II – Nutrição (que contempla os itens Saúde Nutricional/
Alimentação saudável/Hábitos alimentares, Educação alimentar e Nutricional, Obesidade e
Sobrepeso, Anorexia, Transtornos alimentares e Desperdícios de alimentos), Eixo III - Se-
xualidade e reprodução (que contempla os itens Saúde Sexual, Reprodutiva e Planejamento
Familiar, Gênero e Sexualidade, Doenças Sexualmente Transmissiveis (DST’s) e IST’s e
AIDS/HIV) e aos itens violência e drogas do Eixo VI - Psicossocial e tabagismo do Eixo VII
– Doenças, afecções, infecções e transtornos, os resultados corroboraram (GUETERRES
ÉC, et al., 2017).
Nesse mesmo estudo de revisão integrativa foi apresentado que 70% dos escolares
apresentavam dentição comprometida. Este estudo supracitado salienta a importância do
Eixo Saúde Bucal que não foi validado nesta pesquisa (GUETERRES ÉC, et al., 2017).
Um estudo relacionado aos cuidados de saúde na escola realizando comparações
internacionais de casos na Austrália, Canadá e Estados Unidos da América apontaram ba-
sicamente as mesmas necessidades de saúde dos escolares: cuidados e rastreios de rotina,
cuidados emergentes, doenças agudas, doenças crônicas, saúde mental, questões sociais,
educação sanitária e necessidade de promoção (SEIGART D, et al., 2013).
Enfermeiros, professores e administradores nesses três países citados anteriormente
relataram um aumento em crianças com condições crônicas, como asma, diabetes, autismo,
distúrbios convulsivos e necessidades especiais relacionadas à deficiência de desenvolvi-
mento. Eles também relataram doenças comuns, incluindo infecções na garganta, resfriados,
gripes, bronquites, infecções de ouvido, infecções de pele, contusões, piolhos, impetigo,
doenças sexualmente transmissíveis, necessidades de aconselhamento, necessidades de
promoção da saúde e saúde bucal ruim (SEIGART D, et al., 2013).
Em relação a essas temáticas foram validados os itens saúde e segurança na escola,
primeiros socorros, combate a incêndio, tabagismo, saúde mental, educação sanitária, além
do Eixo VI - Psicossocial e Eixo VIII - Prevenção e promoção. Entretanto, houve, apenas,
a validação do item tabagismo dentro do Eixo Doenças, afecções, infecções e transtorno
discordando desse estudo que aponta a importância de temas relacionados a doenças crô-
nicas e agudas nessa população (SEIGART D, et al., 2013).
Quando comparado a outro estudo americano, os resultados dessa pesquisa também
divergiram em relação aos itens e temas como diabetes, asma, alergias alimentares e outras
condições crônicas de saúde. Os itens diabetes, intolerância e alergias alimentares, e os
itens do Eixo VII - Doenças, afecções, infecções e transtorno (com exceção do item tabagis-
mo) não foram avaliados com IVC≥0,80 pelos juízes especialistas. Sendo assim, não foram

718 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


validados (JONES SE, et al., 2015).
Conforme exposto acima, temas considerados importantes por outros estudos cien-
tíficos, não obtiveram a classificação como item indispensável ou muito importante para a
educação em saúde no contexto escolar do Ensino Médio quando utilizado o ponto de corte
de IVC≥0,80. É possível que o valor do ponto de corte recomendado pela literatura e utilizado
pode ter influenciado no resultado, assim como a formação acadêmica e profissional dos
participantes desse estudo. A visão e o entendimento da educação em saúde no contexto
escolar do Brasil por parte dos profissionais de saúde que atuam nos Institutos Federais
de Educação também pode ter influenciado nesse resultado (ALEXANDRE NM e COLUCI
MZ, 2011).
No entanto, estudo de Alexandre NM e Coluci MZ (2011) aponta o ponto de corte
mínimo de 0,80, recomendado na literatura em relação ao IVC para verificar a validade de
novos instrumentos de uma forma geral.
O Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (FONA-
PRACE) - e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) têm sido atores políticos
fundamentais para a construção de uma política de saúde para o estudante do ensino fede-
ral criando em 2012 durante o I Seminário de Atenção à Saúde do Estudante, um grupo de
trabalho nacional de saúde do estudante com objetivo de discutir os princípios e diretrizes
da assistência (BLEICHER T e OLIVEIRA RCN, 2016).
No relatório do FONAPRACE que trata do perfil de saúde dos estudantes de instituições
federais foram identificados os seguintes temas de especial atenção para os estudantes:
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, necessidade de intervenções em saúde
mental, dependência química e programas de prevenção em saúde oral. Com a exceção do
tema saúde bucal que não foi validado pelos juízes, os resultados dessa pesquisa corroboram
com o relatório supracitado (BLEICHER T e OLIVEIRA RCN, 2016).
A validação semântica do conteúdo foi realizada por nove profissionais de saúde do
IFSertão-PE. Quanto ao perfil acadêmico e profissional 88,9% (8) dos profissionais de saú-
de foram do sexo feminino, a idade média foi de 38,4 anos ± 9,5 anos. Quanto a formação
acadêmica, 33,3% (3) são formados em Enfermagem, 22,2% (2) em Psicologia, 22,2% (2)
em Serviço Social, 11,1% (1) em Nutrição e 11,1% (1) em Medicina, com tempo de expe-
riência profissional com a média de 13,4 anos. Todos possuíam pós-graduação, 66,7% (6)
possuíam Mestrado Stricto Sensu.
A Tabela 4 apresenta os 45 itens que obtiveram a validação de conteúdo pelos juízes
especialistas no tema na 2º etapa deste estudo e mostra o resultado da primeira rodada do
método Delphi quanto a análise semântica realizada pelos profissionais de saúde (popula-
ção-alvo).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 719


Nesta etapa, 42 itens apresentaram índice de validade com concordância maior ou
igual a 0,80 (IVC≥0,80) e três tiveram IVC<0,80. Os itens que não obtiveram consenso na
primeira rodada foram: saúde corporal com IVC=0,67, saúde e segurança na escola com
IVC=0,78, e Educação ambiental com IVC=0,78.
Na segunda rodada foi solicitado aos profissionais de saúde para reescrever o item
conforme seu entendimento e embasamento científico ou reavaliar novamente sua respos-
ta da primeira rodada, do item que não obteve consenso, caso quisesse reconsiderar sua
avaliação.

Tabela 4. Avaliação dos profissionais de saúde (população-alvo) sobre os aspectos semânticos das diretrizes de educação
em saúde para profissionais de saúde que atuam no contexto do ensino médio calculado pelo índice de validade de
conteúdo (1ª rodada método Delphi). Recife-PE, 2019.

Conteúdo IVC*
Eixo I: Temas gerais
Saúde do homem 0,89
Saúde da mulher 1,00
Saúde corporal 0,67
Saúde mental 0,89
Eixo II: Nutrição
Saúde nutricional/alimentação saudável/hábitos alimentares 1,00
Educação alimentar e nutricional 0,89
Obesidade e sobrepeso 1,00
Anorexia 1,00
Transtornos alimentares 1,00
Desperdícios de alimentos 1,00
Eixo III: Sexualidade e reprodução
Saúde sexual, reprodutiva e planejamento familiar 1,00
Gênero e sexualidade 0,89
Doenças sexualmente transmissiveis (DST’s) e IST’s 1,00
AIDS/HIV 1,00
Eixo IV: Segurança física e do meio ambiente
Saúde e segurança na escola 0,78
Primeiros socorros 0,89
Combate a incêndio 0,89
Educação ambiental 0,78
Ergonomia 0,89
Eixo V: Atividade física
Atividades físicas (alongamentos, caminhada e esportes) 0,89
Eixo VI: Psicossocial
Relacionamento abusivo 0,89
Violência 1,00
Depressão 1,00
Suicídio 1,00
Bulling 1,00
Comportamentos auto-mutilantes 1,00
Vida/pressão familiar e social 1,00
Ansiedade 1,00
Auto-estima 1,00
Bulimia 1,00

720 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Direitos humanos 1,00
Discriminação racial 1,00
Drogas (lícitas e ilicitas) 1,00
Cidadania 1,00
Inclusão e diversidade 1,00
Estatuto da criança e do adolescente 1,00
Abuso sexual e exploração de crianças e adolescentes 1,00
Atendimento educacional especializado 0,89
Eixo VII – Doenças, afecções, infecções e transtornos
Tabagismo 1,00
Eixo VIII – Prevenção e promoção
Combate ao Aedes aegypti 1,00
Vacinas 1,00
Doação de sangue 1,00
Educação sanitária 1,00
Autocuidado 0,89
Controle do estresse 1,00

Legenda: *Índice de Validade de Conteúdo. Fonte: Carvalho IKS, Andreto LM, 2020.

Tabela 5. Abaixo, mostra-se o resultado da segunda rodada que teve a participação de cinco dos nove juízes participantes
da primeira rodada, sendo assim, nesta rodada, tive-se a perda de 45,5% (4) dos profissionais de saúde do grupo inicial
selecionado para realizar a validação semântica.

Conteúdo IVC*
Eixo I: Temas gerais
Saúde corporal 0,60
Higiene corporal (em substituição ao item saúde corporal) 0,40
Eixo IV: Segurança física e do meio ambiente
Saúde e segurança na escola 1,00
Educação ambiental 1,00

Legenda: *Índice de validade de conteúdo. Fonte: Carvalho IKS, Andreto LM, 2020.

Observa-se, na Tabela 5, o IVC=1,00 para os itens Educação ambiental e Saúde e


segurança na escola que foram reavaliados e não tiveram sugestões de reescrita, porém o
item saúde corporal não obteve consenso novamente tendo o IVC=0,60. O termo Higiene
corporal foi incluído para avaliação dos juízes por estar presente nos Parâmetros Curricula-
res Saúde, sendo posto em substituição ao item saúde corporal, mas também não obteve
consenso, tendo o IVC=0,40. Os juízes não apresentaram sugestão de reescrita para o item
saúde corporal.
Dessa forma optou-se, de forma análoga ao estudo de Santos FC (2016), por manter a
escrita dos itens educação ambiental, saúde e segurança na escola e saúde corporal no ins-
trumento, mesmo sem o consenso deste último, pois não foram apontadas outras sugestões
de reescrita para o item saúde corporal. A Tabela 6 apresenta os conteúdos validados seman-

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 721


ticamente e seus respectivos Índices de Validade de Conteúdo, assim como o IVC Global.

Tabela 6. Diretrizes de educação em saúde para profissionais de saúde no contexto do ensino médio calculado pelo índice
de validade de conteúdo – validação semântica. Recife-PE, 2019.

Conteúdo IVC*
Eixo I: Temas gerais
Saúde do homem 0,89
Saúde da mulher 1,00
Saúde corporal 0,60
Saúde mental 0,89
Eixo II: Nutrição
Saúde nutricional/alimentação saudável/hábitos alimentares 1,00
Educação alimentar e nutricional 0,89
Obesidade e sobrepeso 1,00
Anorexia 1,00
Transtornos alimentares 1,00
Desperdícios de alimentos 1,00
Eixo III: Sexualidade e reprodução
Saúde sexual, reprodutiva e planejamento familiar 1,00
Gênero e sexualidade 0,89
Doenças sexualmente transmissiveis (DST’s) e IST’s 1,00
AIDS/HIV 1,00
Eixo IV: Segurança física e do meio ambiente
Saúde e segurança na escola 1,00
Primeiros socorros 0,89
Combate a incêndio 0,89
Educação ambiental 1,00
Ergonomia 0,89
Eixo V: Atividade física
Atividades físicas (alongamentos, caminhada e esportes) 0,89
Eixo VI: Psicossocial
Relacionamento abusivo 0,89
Violência 1,00
Depressão 1,00
Suicídio 1,00
Bulling 1,00
Comportamentos auto-mutilantes 1,00
Vida/pressão familiar e social 1,00
Ansiedade 1,00
Auto-estima 1,00
Bulimia 1,00
Direitos humanos 1,00
Discriminação racial 1,00
Drogas (lícitas e ilicitas) 1,00
Cidadania 1,00
Inclusão e diversidade 1,00
Estatuto da criança e do adolescente 1,00
Abuso sexual e exploração de crianças e adolescentes 1,00
Atendimento educacional especializado 0,89
Eixo VII – Doenças, afecções, infecções e transtornos
Tabagismo 1,00

722 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


Eixo VIII – Prevenção e promoção
Combate ao Aedes aegypti 1,00
Vacinas 1,00
Doação de sangue 1,00
Educação sanitaria 1,00
Autocuidado 0,89
Controle do estresse 1,00
Índice de Validade de Conteúdo Global 0,96

Legenda: *Índice de Validade de Conteúdo Fonte: Carvalho IKS, Andreto LM, 2020.

CONCLUSÃO

Este estudo elaborou e validou os conteúdos das diretrizes de Educação em Saúde


para o ensino médio que obteve um IVC Global de 0,91 em relação à validação de conteúdo
e um IVC Global de 0,96 em relação a validação semântica. Desse modo, o produto desse
estudo consiste em um instrumento contendo 45 itens distribuídos em oito eixos que pode-
rá ser utilizado como instrumento de orientação aos profissionais de saúde dos Institutos
Federais de Educação.

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2020. Artigo original.

724 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


56
“ Elevação dos níveis de CA 19-9
em portadores de Síndrome de
Mirizzi na ausência de doença
maligna: um relato de caso

Rodolpho Cesar Oliveira Mellem Kairala Afranio Faria Lemos


FSCMF HGA

Paula Ananda Chacon Inês Danilo Rocha Chavez Zambrana


UNI/FACEF HGA

Rafaella Gregori Perduca Caio Cesar Faciroli Contin Silva


UNI/FACEF SCML

Bruna Lima Daher Cláudio Henrique Formigoni Reviriego


FSCMF FSCMF

Bruna Lemos Silva Maria Clara Nobrega Pereira


FSCMF FSCMF

Artigo original publicado em: 5/2020


Revista Eletrônica Acervo Saúde - ISSN 2178-2091
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/200600556
RESUMO

Objetivo: Descrever o caso raro de elevação dos níveis de CA 19-9 na presença de


Síndrome de Mirizzi, uma afecção benigna do trato biliar, sem relação com a presença
de doença maligna. Relato de caso: Mulher, 61 anos, admitida ao serviço de emergência
com história de dor abdominal em epigástrio, com irradiação para hipocôndrio direito
e dorso, associada a episódios de náuseas e vômitos, além de quadro de icterícia
com colúria e acolia fecal. Durante investigação diagnóstica apresentava CA 19-9 de
8.962U/mL, foi realizada colangioressonância, a qual evidenciou imagem sugestiva de
síndrome de Mirizzi. Paciente submetida a colecistectomia videolaparoscópica associada
a colangiopancreatografia retrógrada com passagem de dreno plástico intra-colédoco,
apresentando intensa drenagem de conteúdo biliar para duodeno. No seguimento, paciente
permaneceu sem intercorrências ou evidências de doença maligna, com redução dos
níveis séricos de CA 19-9 para 28,9U/mL após 12 semanas da cirurgia. Considerações
finais: A síndrome de Mirizzi, ainda que pouco frequente, é uma das possibilidades
etiológicas para a elevação do marcador tumoral CA 19-9. É um diagnóstico benigno para
situações que cursam com elevação do antígeno carboidrato de superfície celular, que
tem seu valor de referência normalizado após tratamento cirúrgico do processo obstrutivo.

Palavras-chave: Síndrome de Mirizzi; Antígeno CA-19-9; Hiperbilirrubinemia.


INTRODUÇÃO

A síndrome de Mirizzi é uma afecção que decorre de um cálculo biliar impactado no


ducto cístico ou no colo da vesícula biliar, ocasionando inflamação e obstrução do ducto
hepático comum ou do ducto colédoco por uma compressão extrínseca. História de icterícia
recorrente, presença dos elementos que compõem a tríade de Charcot (icterícia, dor no
hipocôndrio direito e febre com calafrios) associados a quadros de náuseas e/ou vômitos, a
persistência de níveis elevados de enzimas canaliculares, principalmente a fosfatase alca-
lina, associados a achados ultrassonográficos, como vesícula biliar contraída, constituem
os elementos sugestivos desta síndrome, porém o seu diagnóstico é feito no pré-operatório
em apenas 5% dos casos (GIBOR U, et al., 2015; LEITE LMC e COELHO JF, 2006; SHAH
OJ, et al., 2001; SILVA JB, et al., 2016).
A pesquisa diagnóstica deve incluir exames como ultrassom de abdome, tomografia
computadorizada de abdome, colangiografia transparietohepática ou colangiopancreatogra-
fia endoscópica retrógrada (CPRE). O tratamento cirúrgico é complicado e controverso na
literatura, pois a inflamação vesicular e perivesicular, resultante da impactação de cálculos
no ducto cístico ou infundíbulo vesicular, dificulta a identificação das estruturas anatômicas,
implicando maior risco de lesão iatrogênica da via biliar durante o ato cirúrgico, por isso o
diagnóstico pré-operatório da síndrome de Mirizzi se faz tão importante (JUNIOR EVM, et
al., 2015; ENGLAND RE e MARTIN DF, 2017).
A colecistectomia, convencional ou videolaparoscópica – a depender da experiência
do cirurgião, é usualmente resolutiva na ausência de fístula. Caso haja fístula, o tratamento
cirúrgico deve incluir o reparo das lesões e, em certos casos, o uso de próteses biliares, que
podem ser aplicadas por cirurgia aberta – coledocotomia – ou via CPRE (JUNIOR EVM, et
al., 2015). A CPRE é a técnica de eleição para estabelecer o diagnóstico de fístula, permi-
tindo uma boa definição anatômica da via biliar, além disso, pode ser também terapêutica,
permitindo uma abordagem não cirúrgica, particularmente importante nos maus candidatos
cirúrgicos e nos casos de colangite, em que a descompressão prévia da via biliar é essen-
cial. Contudo, a resolução completa da síndrome de Mirizzi sem recurso à cirurgia é rara
(ENGLAND RE e MARTIN DF, 2017).
Pablo Luis Mirizzi, em 1948, foi o primeiro a descrever a síndrome de Mirizzi a partir da
observação de situações que poderiam causar colestase extra-hepática em grupos determi-
nados de portadores de colelitíase. No início dos estudos, Pablo justificou a fisiopatologia da
síndrome com a existência de mecanismo esfincteriano presente no hepatocolédoco. Nos
dias de hoje já se tem o conhecimento de que não há esfíncter, contudo, mesmo depois
que descoberto a real causa, manteve-se o epônimo da síndrome como Mirizzi (LAI ECH e
LAU WY, et al., 2006).

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 727


A síndrome de Mirizzi é uma complicação obstrutiva benigna e rara da colecistolitíase.
Por meio de estudos epidemiológicos já foi constatado uma maior prevalência no sexo femi-
nino com idade entre 21 e 90 anos, o que pode ser justificado pela preponderância de litíase
biliar neste grupo. Além disso, sabe-se que há uma prevalência de 0,05% a 4% de ocorrência
da síndrome de Mirizzi em portadores de colelitíase, sendo considerada uma complicação
de colecistolitíase de longa data (IBRARULLAH M, et al., 2008; LACERDA PS, et al., 2014).
Atualmente subdivide-se a patologia de acordo com o grau de compressão que a mes-
ma exerce no ducto hepático ou a presença de fístulas e o diagnóstico diferencial deve ser
feito com doenças como coledocolitíase e doenças periampulares, incluindo o câncer de
pâncreas, patologias que também ocasionam quadros de icterícia obstrutiva (GIBOR U, et
al., 2015). A nova classificação da síndrome de Mirizzi é baseada em tipos enumerados de
I a V, sendo que nesta última há subdivisão em A e B. No tipo I é detectado uma compres-
são extrínseca do ducto hepático comum/colédoco por cálculo no colo vesicular ou ducto
cístico; a medida que se tem a presença de fístula colecistobiliar de diâmetro inferior a 1/3
da circunferência do ducto hepático comum/colédoco, tem como classificação tipo II; se o
diâmetro da fístula for superior a 2/3 da circunferência classifica-se como tipo III; e se esta
fístula envolver toda a circunferência já é tipo IV. A partir do momento em que a fístula se
torna colecistoentérica, a classificação passa a ser tipo V, podendo ser subdividida em A
se não houver íleo biliar ou B se tem a presença de íleo biliar (CSENDES A., et al., 2008).
Em grande parte dos casos, para a diferenciação de afecções benignas das afecções
malignas, como o câncer de pâncreas, é utilizada a análise do antígeno carboidrato 19-9
(CA 19-9), um antígeno de carboidrato sérico identificado por um anticorpo monoclonal,
sendo descrito inicialmente seu aparecimento contra células de uma linhagem do carcinoma
colorretal (FONTES PRO, et al., 2012).
É um marcador tumoral comumente utilizado para diagnóstico e acompanhamento
de doenças malignas do trato gastrointestinal, especialmente pancreático-biliar, todavia a
presença de hiperbilirrubinemia torna-se um fator de confusão significativo, visto que sua
síntese acontece por células epiteliais normais das vias biliares e células tumorais, sendo
excretado na bile, possibilitando o aumento dos níveis de CA 19-9 em casos de obstrução
biliar benigna e maligna, uma vez que ocorre refluxo deste para a corrente sanguínea se-
cundário a estase biliar, contudo valores de CA 19-9 superiores a 1.000 U/mL são raros
em doenças benignas (BALLEHANINNA UK e CHAMBERLAIN RS, 2012; GIBOR U, et al.,
2015; ROBERTSON AG e DAVIDSON BR, 2007).
O presente estudo tem como objetivo relatar um caso raro em que um paciente do
sexo feminino apresentou uma elevação dos níveis de CA 19-9 na presença de Síndrome de
Mirizzi, uma afecção benigna do trato biliar, sem relação com a presença de doença maligna

728 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


e realizar uma breve e importante revisão de literatura sobre o assunto.

RELATO DO CASO

Paciente do sexo feminino, de 61 anos, foi admitida ao serviço de emergência, da


equipe de cirurgia geral da Fundação Santa Casa de Misericórdia de Franca, com história
de dor abdominal em região epigástrica, com irradiação para região de hipocôndrio direito e
dorso, iniciada há quatro dias da procura por atendimento médico. A dor era classificada pela
paciente como moderada à forte intensidade, associada a episódios de náuseas e vômitos,
além de quadros de icterícia progressiva com colúria e acolia fecal. Ao exame físico apre-
sentava icterícia moderada, com abdome doloroso à palpação de epigástrio e hipocôndrio
direito sem sinais de irritação peritoneal, sinal de Murphy – o qual consiste em provocar dor
pela palpação da vesícula biliar, durante a inspiração profunda - negativo e ausência de
visceromegalias ou massas palpáveis.
Durante admissão foram realizados exames laboratoriais (Tabela 2) que permitiram
confirmar o diagnóstico sindrômico de síndrome colestática, afastando a possibilidade de
pancreatite biliar devidos resultados de amilase e lipase normais.

Tabela 2. Resultados laboratoriais coletados na admissão.

EXAMES REFERÊNCIAS RESULTADOS


Hemoglobina (Hb) – g/dL 11,5 – 14,9 12
Hematócrito (Ht) – % 35,9 – 44,6 33,8
Plaquetas (Pq) – /mm3 150.000 – 450.000 230.000
Leucócitos (Lc) – /mm3 4.400 – 11.000 11.900
Bastonetes (Bt) – % ~3 4
Segmentados (Sg) – % ~ 56 77,2
Linfócitos (Lf) – % ~ 34 10,3
Bilirrubina total (BT) – mg/dL 0,3 – 1 11
Bilirrubina Direta (BD) – mg/dL ≤ 0,4 7,7
Gama Glutamil-transferase (GGT) – U/L 8 – 41 366
Fosfatase Alcalina (FA) – U/L 50 – 120 235
Transaminase glutâmico-oxalacética (TGO) – U/L 15 – 30 164
Transaminase glutâmico-pirúvica (TGP) – U/L 8 – 35 238
Amilase – U/L 20 – 300 44
Lipase – U/L < 200 58,6
Creatinina (Cr) – mg/dL ≤ 1,1 1,3
Uréia (Ur) – mg/dL 15-36 31

Fonte: KAIRALA RCOM, 2019. Adaptado de ROSENFELD LG et al., 2019.

Após 4 dias de internação foram realizados novos exames (Tabela 3), evidenciando
progressão do quadro colestático. Dos exames realizados, foi dado uma importância maior
ao CA 19-9, o qual apresentou um valor consideravelmente elevado, sugestivo de neoplasia

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 729


periampular.

Tabela 3. Resultados laboratoriais coletados durante internação.

EXAMES REFERÊNCIAS RESULTADO


Hb – g/dL 11,5 – 14,9 11,8
Ht – % 35,9 – 44,6 33
Pq – /mm3 150.000 – 450.000 390.000
Lc – /mm3 4.400 – 11.000 15.100
Bt – % ~3 14
Sg – % ~ 56 63,2
Lf – % ~ 34 12,4
BT – mg/dL 0,3 – 1 17,7
BD – mg/dL ≤ 0,4 12,7
GGT – U/L 8 – 41 545
FA – U/L 50 – 120 354
TGO – U/L 15 – 30 188
TGP – U/L 8 – 35 229
Cr – mg/dL 20 – 300 1,0
Ur – mg/dL < 200 27
Antígeno Carcinoembrionário (CEA) – ng/dL 0–3
Tabagistas: 3,8 – 5,5 3,11
Alfa-fetoproteína – ng/dL < 15 1,5
Antígeno Carboidrato 19-9 (CA 19-9) – U/mL < 37 8.962

Fonte: KAIRALA RCOM, 2019. Adaptado de ROSENFELD LG et al., 2019.

Diante da hipótese de tumor periampular, foram solicitadas ultrassonografia (US) de


abdome total e tomografia computadorizada (TC) de abdome, que identificaram dilatação
das vias biliares extra e intra-hepáticas, com colédoco medindo 1,0 cm, além de vesícula
biliar com paredes espessadas, contendo cálculos. Após os resultados dos exames de
imagem, realizou-se endoscopia digestiva alta (EDA) para avaliação da papila duodenal,
que não demonstrou alterações em região periampular, e colangioressonância (CR), a qual
evidenciou cálculo em topografia da junção do ducto cístico com o terço médio/proximal do
colédoco, determinando pequena a moderada dilatação das vias biliares extra e intra-hepá-
ticas à montante, sugestivo de Síndrome de Mirizzi.
Por meio dos achados da CR, optou-se por realizar colecistectomia videolaparoscópica
associada a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) com passagem de
prótese biliar plástica intra-colédoco, devido presença de fístula colecistobiliar tipo II. Após
passagem de prótese, observou-se intensa drenagem de contraste e conteúdo biliar para
duodeno.
Paciente evoluiu bem no pós-operatório, com redução dos marcadores de colestase.
No seguimento paciente permaneceu em bom estado geral, sem intercorrências ou evidên-
cias de doença maligna. O relatório anatomopatológico de vesícula biliar não evidenciou
malignidade, sendo identificado apenas colecistite crônica inespecífica, paciente também

730 Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1


apresentou, após 8 semanas de pós-operatório, redução dos níveis séricos de CA 19-9 para
28,9 U/mL, atingindo a normalidade. Paciente seguiu em acompanhamento médico mensal
até o sexto mês de pós-operatório, se mantendo assintomática, sem alterações clínicas ou
laboratoriais.

DISCUSSÃO

A síndrome de Mirizzi foi descrita primeiramente no ano de 1948 por Pablo Luis Mirizzi.
Atualmente é classificada em cinco tipos, sendo usado como parâmetros a compressão do
ducto hepático ou a existência de fístula colecistobiliar ou colecistoentérica e o diâmetro
desta. Este tipo de acometimento pode ser sugerido através de alguns exames, como os
de imagem da via biliar, contudo há uma dificuldade no diagnóstico pré-operatório e muitos
pacientes acabam não sendo diagnosticados e desta forma correndo maior risco de lesão
da via biliar, de forma iatrogênica, durante o ato cirúrgico (LAI ECH e LAU WY, et al., 2006;
PRINCIPE A, et al., 2003; CSENDES A., et al., 2008).
A compressão extrínseca da via biliar devido à impactação de cálculos no ducto cístico
ou no infundíbulo da vesícula, cursa geralmente com um quadro de dor abdominal associada
a icterícia e colangite. Além desses sintomas, o paciente pode apresentar náuseas, vômitos,
colúria, acolia fecal, prurido e hepatomegalia, sendo que o diagnóstico é dado na maior parte
dos casos, através de exames de imagem (LIN CL, et al., 1997; FONTES PRO, et al., 2012).
A alteração de exames como o CA 19-9 em portadores de doenças benignas possui
relatos na literatura e pode surgir em pacientes com doenças biliopancreáticas ou em outros
locais do trato gastrointestinal, todavia, a elevação em níveis muito altos é incomum nas
patologias benignas. A síndrome de Mirizzi apresenta-se como uma das condições raras
que podem ter essa elevação dos níveis de CA 19-9, sendo está a situação aqui relatada
(FONTES PRO, et al., 2012).
Muitos casos benignos que apresentam elevação dos níveis do CA 19-9 surgem diante
de um quadro de hiperbilirrubinemia secundária à obstrução biliar e os valores deste antígeno
tem como característica decrescerem ou até normalizarem depois que se tem a resolução
do quadro colestático. Este fato foi evidenciado no quadro da paciente aqui relatada, a qual
já apresentava normalização desse marcador após 8 semanas de pós-operatório (MANN
DV, et al., 2000; ROBERTSON AG e DAVIDSON BR, 2007).
Hodiernamente, sabe-se que o antígeno marcador CA 19-9 é um produto produzido
pelo epitélio da via biliar e secretado por meio da bile. Desta forma, diante de uma obstrução
em um ponto da via biliar, tem-se como consequência uma diminuição da excreção deste
produto e, consequentemente, aumento na sua absorção, o que contribui para o seu achado
alterado nos exames laboratoriais. Em patologias benignas, após melhora do quadro, seus

Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 731


valores tender a se normalizar devido ao retorno da fisiologia normal da via biliar, o que é
raro nas doenças malignas, uma vez que a neoplasia existente que é a responsável pela
produção do antígeno (MANN DV, et al., 2000).
Por meio de todas evidências científicas, sabe-se que a elevação do marcador CA
19-9 não indica de maneira absoluta a malignidade ou a benignidade de uma patologia e,
portanto, não pode ser usado como indicador único para diferenciação entre essas duas
entidades. A síndrome de Mirizzi apresenta-se como um exemplo das patologias benignas
que precisam ser lembradas para se fazer o diagnóstico diferencial. Contudo, sabe-se que
diante de paciente com elevação dos níveis de CA 19-9 e quadro clínico de síndrome co-
lestática, o primeiro diagnóstico que deve ser investigado é o de malignidade, para que este
seja confirmado ou descartado e assim, neste último caso, iniciar a investigação dos demais
diagnósticos (SANCHEZ M, et al., 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A síndrome de Mirizzi, ainda que uma afecção pouco frequente, é uma das possibili-
dades etiológicas, descritas na literatura, para a elevação do marcador tumoral CA 19-9, e
mesmo sendo encontrado até então, um número muito pequeno de relatos médicos, é um
diagnóstico benigno para situações que cursam com elevação do antígeno carboidrato de
superfície celular, que tem seu valor de referência normalizado após tratamento cirúrgico
do processo obstrutivo. Dessa forma, ressalta-se a importância da descrição do caso aqui
discutido.

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relato de caso. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 48, p. e2882, 14 maio 2020. Artigo original.

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SOBRE O ORGANIZADOR

Prof. Dr. Rossano Sartori Dal Molin


Possui Graduação em Enfermagem pela Universidade de Caxias do Sul, Especialização
em Enfermagem Obstétrica, Especialização em Gestão do Trabalho Pedagógico,
Especialização em Anatomia Funcional e MBA em Gestão de Instituições de Ensino
Superior, sendo esse último com estágio na University of Turku na Finlândia, onde
desenvolveu estudos acerca da pedagogia da inovação e o uso de indicadores na gestão
universitária. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul -
UFRGS, na linha de pesquisa intitulada Estudos e Práticas da Saúde da Mulher, Criança
e Adolescente. Doutor em Pediatria e Saúde da Criança pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, onde desenvolveu pesquisas na temática da asma
infantil. Têm experiência em enfermagem, especialmente na área da saúde da mulher,
recém-nascido, criança, fundamentos de enfermagem, saúde coletiva e gestão. Ainda,
experiência em gestão pedagógica, assim como processos educacionais, construção
de currículos e projetos de cursos, nos diferentes níveis de formação profissional.
Atualmente é professor da FSG Centro Universitário, na área da Saúde da Mulher e da
Criança e Coordenador de Ensino e Pesquisa do Hospital Pompéia de Caxias do Sul.
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