PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA (PROLING)
Docente: Dra. Vera Lúcia
Discente: Marcos Ramos
FICHAMENTO COMENTADO:
ORIGEM EXCERTO COMENTÁRIO
“É minha tarefa, aqui, demonstrar isso. Demonstrar que a teoria linguística conhecida genericamente como gramática gerativa (a par com vários outros nomes que recebe em diferentes momentos) é um Programa de investigação Científica, extremamente coerente, que começa a ser construído em meados do século XX e que se torna, já nos primeiros anos de existência, um modo de entender a estrutura da linguagem humana que pode ser contestado – o que é próprio das teorias científicas – mas que não pode ser ignorado”. pp. 93-94; §. 2 da p. 93.
“Proliferação, em Lakatos, significa que é
desejável que haja teorias em competição. SEÇÃO: A Para ele a história da ciência tem sido, e é METODOLOGIA DE assim que deve ser, uma história de LAKATOS programas de investigação em competição”. p. 94; §. 5. “Tenacidade, para Lakatos, significa que o cientista não abandona uma teoria que foi SEÇÃO: A falseada, como quer Popper, mas, ao METODOLOGIA DE contrário, faz o possivel e o impossível LAKATOS para mantê-la, desconhendo os contraexemplos ou realizando-os de modo a transformá-los em evidências corroboradas da teoria”. pp. 94-95; §. 6.
“[...] A heurística é uma espécie de
“política de desenvolvimento” do programa, ou seja, uma seleção e 1. SEÇÃO: A ordenação de problemas, um plano que METODOLOGIA DE conduz à sofisticação progressiva dos LAKATOS modelos explicativos”. p. 95; §. 3. “A ideia que tenho defendido há já algum 2. GG: UM PROGRAMA tempo é a de que a GG é um PIC e não uma DE INVESTIGAÇÃO “teoria” linguística. Não vou tentar CIENTÍFICA justificar aqui essa posição [...]”. p. 96; §. 4. 2.1. O PIC “[...] os comportamentos linguísticos CHOMSKIANO: efetivos (enunciados) são, ao menos NÚCLEO E parcialmente, determinados por estados da HEURÍSTICA mente/cérebro; [...]”. p. 96; §. 7. “[...] a natureza dos estados da 2.1. O PIC mente/cérebro, parcialmente responsáveis CHOMSKIANO: pelo comportamento linguístico, pode ser NÚCLEO E captada por sistemas computacionais que HEURÍSTICA formam e modificam representações”. p. 97; §. 1. “[...] o objetivo geral da linguística chomskiana tem sido notavelmente consistente nesses anos todos. Podemos 2.1. O PIC dizer, em linhas gerais, que Chomsky CHOMSKIANO: persegue obsessivamente um mesmo NÚCLEO E objetivo por 50 anos, embora HEURÍSTICA periodicamente substitua o mecanismo teórico concebido para realizar a tarefa maior de sua concepção de linguística”. p. 97; §. 4. “No fundo, o que a GG pretende é a construção de um mecanismo 2.1. O PIC computacional capaz de formar e CHOMSKIANO: transformar representações, que “simule” o NÚCLEO E conhecimento linguístico de um falante de HEURÍSTICA uma língua natural, “registrado” em sua mente/cérebro”. p. 97; §. 5. “Em primeiro lugar, o objeto de estudos do estrututuralismo era a língua, entendida 2.2 A PRIMEIRA como “a totalidade dos enunciados que PROPOSTA DE podem ser feitos numa comunidade GRAMÁTICA linguística, segundo Bloomfield (1926, p. GERATIVA: LSLT E SS 47). Cabia ao lingusista descrever essa língua, e isso era feito a partir da coleta de um “corpus representativo”, que era descrito minunciosamente com o instrumental fornecido pelos “procedimentos de descoberta”. O que chama a atenção de Chomsky é a necessidade de se supor a existência de algo anterior à língua dos estruturalistas: a capacidade que os falantes tem de produzir exatamente os enunciados que podem ser feitos”. p. 99; §. 4. “[...] Para Chomsky, a comunidade 2.2 A PRIMEIRA linguística possui um conhecimento PROPOSTA DE compartilhado sobre os enunciados que GRAMÁTICA podem e os que não podem ser produzidos, GERATIVA: LSLT E SS e é justamente este conhecimento que precisa ser descrito e explicado pela teoria linguística”. p. 99; §. 4. “[...] Enquanto as teorias estruturalistas 2.2 A PRIMEIRA eram, em geral, explicitamente descritivas, PROPOSTA DE a teoria de SS, se pretendia explicativa, no GRAMÁTICA sentido de que os fenômenos deviam ser GERATIVA: LSLT E SS deduzidos de um conjunto de princípios gerais”. p. 100; §. 2. “A língua é um sistema extremamente complexo. A teoria linguística tenta reduzir esta imensa complexidade e proporções 2.2 A PRIMEIRA controláveis pela construção de um sistema PROPOSTA DE de níveis linguísticos, cada um dos quais GRAMÁTICA possuindo um certo aparato descritivo para GERATIVA: LSLT E SS a caracterização da estrutura linguística. Uma gramática reconstrói a complexidade total da língua em etapas, distinguindo a contribuição de cada nível linguístico (Chomsky 1955c, p 63)”. p. 101; §. 3. “Em outras palavras, a gramática deve associar a cada sentença uma 2.2 A PRIMEIRA representação formal (uma “expressão” da PROPOSTA DE linguagem em que se escreve o sistema GRAMÁTICA computacional), em cada um dos níveis GERATIVA: LSLT E SS linguísticos, que represente (simule, modele) as propriedades da sentença referentes àquele nível”. p. 102; §. 1. “Nossa principal conclusão será que a teoria conhecida [o estruturalismo 2.2 A PRIMEIRA americano] tem apenas uma adequação PROPOSTA DE limitada – i.e. ela está tentando conseguir GRAMÁTICA muito com pouca bagagem teórica. (...) GERATIVA: LSLT E SS Nós vamos demonstrar que o remédio para essas deficiências não se encontra na extenção da base distribucional da teoria linguística de modo a incluir significado, contexto situacional, etc., nem, aparentemente, na introdução de conceitos probabilísticos e estatísticos. Em vez disso, propõe-se um novo nível de análise transformacional como o nível mais alto da estrutura linguística. Vai-se mostrar que a teoria da análise transformacional pode ser formulada nos mesmos termos completamente distribucionais que são requeridos nos níveis mais baixos, e que um grande e importante conjunto de problemas que surgem, com a aplicação rigorosa da teoria linguística conhecida desaparecem quando ela é estendida para incluir a análise transformacional (Chomsky, 1955c, p. 64)”. p. 105; § 2. 2.2 A PRIMEIRA “A noção de transformação de Harris Harris chega a esta noção pela PROPOSTA DE repousa na noção de forma sentencial”. p. definição de variáveis que têm por GRAMÁTICA 106; § 2. domínio classes de palavras (a GERATIVA: LSLT E SS variável N “O homem pensa é mais aceitável do que A pedra pensa, embora ambas pertençam à 2.2 A PRIMEIRA mesma forma sentencial. Cada forma PROPOSTA DE sentencial, então, possui uma gradação de GRAMÁTICA aceitabilidade para os valores de suas GERATIVA: LSLT E SS variáveis e tal graduação caracteriza propriamente a forma sentencial”. p. 106; § 3. “Para Chomsky, uma transformação tem 2.2 A PRIMEIRA um domínio (ou “condição estrutural” e um PROPOSTA DE efeito (ou “mudança estrutural”). O GRAMÁTICA domínio indica a classe de expressões GERATIVA: LSLT E SS linguísticas que podem sofrer a transformação e é especificado por uma sequência de símbolos”. p. 107; § 4.
“O domínio nos diz que expressões podem
2.2 A PRIMEIRA sofrer transformação (a sentença Pedro viu PROPOSTA DE Maria, por exemplo, está no domínio da GRAMÁTICA transformação); o efeito nos diz que são as GERATIVA: LSLT E SS mudanças que a sentença de partida (digamos, Pedro viu Maria) deve sofrer para que obtenhamos a sentença de chegada”. p. 108; § 1. “Encontramos a GG, então, nesses Não é de se estranhar, então, que primeiros anos, às voltas com uma logo que se façam alterações no incosistência que, embora não fosse modelo descritivo pela assunção de percebida como tal à época, vai exigir novas teorias auxiliares. 2.2 A PRIMEIRA profundas modificações na forma da PROPOSTA DE teoria: a proposta do programa é distinta da GRAMÁTICA proposta do programa do estruturalismo, GERATIVA: LSLT E SS mas as ferramentas de análise disponíveis são essencialmente as mesmas. Ou seja, há um descompasso entre o que se aprende fazer e o que, na verdade, acaba sendo feito”. p. 110; § 2. “Os primeiros dez anos de gramática Por volta dos anos de 1960, já gerativa foram os “anos heroicos” em que poderia ser considerado que a o combate com as forças do estruturalismo batalha estava ganha: o programa americano dominou a cena. A teoria de SS gerativista era claramente vai tendo seus pressupostos explicitados e dominante na línguística norte- 2.3 A GRAMÁTICA alguns de seus mecanismos teóricos americana e começava seu GERATIVA DOS ANOS alterados ou substituídos para que se estendimento até para outros DE 1960: A TEORIA- consiga, em melhores condições, a lugares, por motivo da conquista de PADRÃO realização da tarefa que a teoria se novos adeptos fora dos limites da impunha, ou seja, a descrição do sistema América do Norte. computacional capaz de definir, gerativamente, as línguas naturais”. p. 110; § 4. Esta nova teoria altera significativamente o modelo descritivo e explicita uma série de postulados que, na teoria anterior, 2.3 A GRAMÁTICA “[...] Chomsky desenvolve uma nova permaneciam supostos de forma GERATIVA DOS ANOS configuração para sua gramática: o modelo relativamente obscura ou decorriam DE 1960: A TEORIA- que ficou conhecido pelo nome de teoria- dos pressupostos mas não eram PADRÃO padrão”. p. 110; § 5. apresentados de forma clara. É nesse período, por exemplo, que surge a questão do inatismo como hipótese de trabalho, como consequente psicologização forte da gramática. “Não é de se estranhar, também, que boa Para a teoria-padrão, a forma da parte das discussões tenha como objeto o gramática, que de certa forma comportamento transformacional do representa a imagem que se tem da modelo de análise. Dado um conjunto de época do funcionamento do fenômenos linguísticos, se o que distingue conhecimento linguístco que o uma análise gerativista da análise feita por falante tem registrado em sua um estruturalista é a presença de mente/cérebro, apresenta-se transformações, nada mais óbvio que a organizada perante três 2.3 A GRAMÁTICA heurística determinar o aprofundamento componentes maiores: um GERATIVA DOS ANOS dessa noção com vistas a resolução dos componente sintátco, que é DE 1960: A TEORIA- problemas formais que aí poderiam gerativo, na medida em que é o PADRÃO aparecer”. p. 111; § 1. único componente que constrói representações, e dois componentes interpretativos, o componente semântico e o fonológico (aonde que a diferença entre um componente gerativo e um interpretativo está na propriedade em que o componente gerativo tem de criar novas representações, enquanto que os componentes interpretativos apenas associam (pareiam-se, ou se relacionam) as relações entre si mesmas.
O subcomponente de base contém
(1) um conjunto de regras de reescrita (chamado, vez ou outra, de componente categorial), que “O processo de geração das sentenças se quando aplicadas ao axioma inicial inicia no componente sintático que tem a S, gera estruturas em árvore seguinte estrutura interna: um “etiquetadas” com símbolos de 2.3 A GRAMÁTICA subcomponente de base (ou simplesmente categorias concujos nós terminais GERATIVA DOS ANOS BASE), que é o responsável pela geração não são preenchidos; e (2) um DE 1960: A TEORIA- das estruturas profundas (EP) e um léxico, que insere itens lexicais nos PADRÃO subcomponente transformacional, que nós que ficam no fim da árvore. A converte as Eps em estruturas superficiais entrada (input) da BASE é o axioma (ES)”. p. 111; § 3. S e a saída (output)são estruturas profundas. O componente capaz de transformar recebe as estruturas profundas, como entrada, e por meio de regras transformacionais, converte-as em estruturas superficiais. A EP deve conter todos os componentes que sejam úteis para a “O componente sintático gera pares interpretação semântica da sentença ordenados <EP, ES> e os dois enquanto a ES deve conter as 2.3 A GRAMÁTICA componentes intrepretativos associam informações para a sua leitura GERATIVA DOS ANOS representações aos elementos dos pares: o fonética. Uma gramática é entendida DE 1960: A TEORIA- componente semântico associa como “um sistema de regras que une PADRÃO interpretações semânticas às EPs, e o os sinais fonéticos às interpretações componente fonológico associa semânticas” (Chomsky, 1966, p. 12) interpretações fonéticas às ESs”. p. 112; § ou como Chomsky vai repetir em 1. outros lugares, um sistema capaz de unir sons a significados. “Com a teoria-padrão o programa da GG São multiplicadas as análises de chega ao fim de uma etapa. Aparentemente novos fatos da língua inglesa e há um bom modelo de análise linguística também não deixam de se para dar sustentação às exigências da multiplicar as análises de fatos de 2.3 A GRAMÁTICA heurística. Os mecanismos sintáticos outras línguas. O sucesso dessas GERATIVA DOS ANOS parecem ser suficientemente poderosos análises reforça a sensação de que se DE 1960: A TEORIA- para permitir a descrição adequada das chegou a se conseguir chegar a uma PADRÃO estruturas linguísticas; as teorias auxiliares teoria adequada do conhecimento e um teoria geral dos mecanismos linguístico dos falantes. O objetivo gerativos (teor formal da gramática) maior do Programa, desta maneira, parecem dar suficiente sustentação às se não chegou a ser atingido, chegou descrições e explicações obtidas pela GG”. próximo disto. p. 113; § 2. A principal área de conflito, na “No final de 1965 começaram a aparecer, época, era o grau de abstração das 2.3 A GRAMÁTICA no interior mesmo do gerativismo, as estruturas linguísticas sbjacentes. O GERATIVA DOS ANOS primeiras críticas às prospostas de ponto em disputa era a distância DE 1960: A TEORIA- Chomsky”. p. 113; § 3. entre as Eps e as Ess e a distância PADRÃO entre as Eps e as representações semânticas. “A afirmação de Chomsky de que o [...] componente sintático especifica um Esse procedimento levou à conjunto infinito de objetos formais postulação de EPs cada vez mais abstratos, cada um dos quais incorpora abstratas e mais próximas das 2.3 A GRAMÁTICA toda a informação relevante para uma representações semânticas (ou seja, GERATIVA DOS ANOS interpretação única duma frase particular de fórmulas que são expressões da DE 1960: A TEORIA- (Chomsky, 1965, p. 97), induziu os linguagem do sistema formal que se PADRÃO gerativistas a procurarem soluções supunha representarem sintáticas para os problemas semânticos e a adequadamente os significados das buscarem EPs que representassem todos os expressões das línguas naturais). aspectos do significado das sentenças sob análise”. p. 113; § 4. É importantemente necessário existir o destaque referente aos “Uma série de análises e uma série de “abstracionistas”, pelo motivo de argumentos empíricos e teóricos foram que eles se mantiveram 2.3 A GRAMÁTICA levantados pelos “abstracionistas”, todos rigorosamente no interior da teoria- GERATIVA DOS ANOS levando a uma mesma conclusão: é padrão e, em consequência, no DE 1960: A TEORIA- necessário postular EPs mais abstratas, que interior do programa da GG, o que PADRÃO consigam representar mais diretamente as pode explicar a aceitação quase relações semânticas presentes nas geral de suas análises pela sentenças”. p. 114; § 1. comunidade gerativista, ao menos por um certo período de tempo. Os “abstracionistas” tentam – de forma desordenada – reunir as suas ideias no que se chegou a ser “Com a expansão da postura considerado na época a um novo abstracionista, chega-se a uma “paradigma”, que recebeu o nome 2.3 A GRAMÁTICA descaracterização quase completa da noção de semântica gerativa (não se chega GERATIVA DOS ANOS EP, tal como imaginado por Chomsky, não a ser possível se fazer uma análise DE 1960: A TEORIA- fazendo mais nenhum sentido teórico que possa considerada como mais PADRÃO distinguí-las das representações detalhada desse período, em um semânticas”. p. 114; § 3. simples comentário. As Obras de Referências recomendadas são: Newmeyer (1980); Borges Neto (1991) e Harris (1993) para maior desdobramento. “A reação de Chomsky não se faz esperar Como o próprio nome indica, TPE e, em 1967, ele propõe algumas alterações não é entendida como uma nova na teoria padrão para impedir a abstração teoria. Trata-se apenas da velha desenfreada. A reação chomskyana tem teoria-padrão que recebe algumas 2.3 A GRAMÁTICA algumas consequências. Em primeiro novas teorias auxiliares, a mais GERATIVA DOS ANOS lugar, o rompimento com os importante das quais é a Teoria X- DE 1960: A TEORIA- “abstracionistas” torna-se inevitável, e barra. O papel do léxico também é PADRÃO surge um primeiro grupo de linguístas alterado: os itens lexicais passam a “criados” no interior do programa da GG ser tratados como feixes de traços, que se lançam à tarefa de construção de por exemplo, e muitos fenômenos novos programas de investigação. Em que eram tratados via segundo lugar, um novo modelo de análise transformações passam a ser linguística é estabelecido. Este novo tratados a partir de relações lexicais. modelo ficou conhecido como teoria- No geral, entretanto, a teoria padrão entendida (TPE)”. p. 114; § 5. permanece a mesma.
FICHAMENTO: ILARI, Rodolfo. O Estruturalismo Linguístico: alguns caminhos. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (Org.). Introdução a linguística. São Paulo, SP: Cortez, 2011. 3 v. cap. 2, p. 53-92.