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Ford além da garagem

Empresas brasileiras vão produzir fogões, ferros de passar


roupa e ferramentas com a marca americana
02/08/13 - 21h00 - Atualizado em 19/12/16 - 10h26

A Ford é dona de uma marca centenária cujo valor de mercado supera os US$ 7 bilhões,
segundo a consultoria Millward Brown. O emblema azul com inscrições prateadas, com
o nome da família fundadora e até hoje controladora da companhia, é
internacionalmente conhecido e pode ser encontrado nas estradas e ruas espalhadas
pelos quatro cantos do mundo. No que depender dos planos da montadora americana,
criada por Henry Ford em 1903, esse símbolo da indústria automobilística passará a
frequentar outros cômodos das casas de seus consumidores, em especial a cozinha. A
empresa está licenciando sua marca para a carioca NKS, fabricante de eletrodomésticos,
que vai produzir fogões, geladeiras, liquidificadores, ferros de passar, entre outros
produtos, que estamparão a marca Ford.

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Mão na ferramenta: Daian (à esq.) e Dedivitis venderam 20 mil itens em apenas dois
meses

Até dezembro, a brasileira pretende colocar à venda no mercado cerca de um milhão de


eletrodomésticos com a marca. “Tudo está sendo feito junto com a Ford, desde a
identidade até a qualidade dos produtos”, afirma Felipe Nabuco, presidente da
NKS. Além do Brasil, a empresa será responsável pela venda dos produtos em 30
países, entre eles Alemanha e Estados Unidos. “Teremos de cuidar de toda a estrutura
necessária, desde o fornecedor até o pós-venda.” Parte dos produtos, como
liquidificadores e batedeiras, sairá das fábricas da NKS, em Queimados (RJ) e Salvador
(BA). Os demais serão importados da China, dos Estados Unidos e da Alemanha. A
NKS já trabalha com produtos licenciados.

Ela produz, por exemplo, uma linha de equipamentos de higiene e beleza assinada pelas
apresentadoras de tevê Ana Maria Braga e Angélica. Para ganhar o aval da Ford, a
empresa precisou negociar por cerca de um ano e meio. “Até a solda passou pela
aprovação deles”, afirma Nabuco. O cuidado da montadora com a escolha do parceiro
se justifica. O lançamento desses itens para o lar faz parte da estratégia global de vendas
da Ford, elaborada no ano passado, quando a empresa recuperou o controle de sua
marca, que tinha sido dada como garantia a credores em 2006. Naquele ano, a empresa
de Detroit enfrentou uma grave crise e quase foi à falência. Para não quebrar, ela
precisou recorrer ao socorro do governo dos EUA, que fez um aporte de US$ 23,5
bilhões.
Piloto na cozinha: Nabuco, da NKS, tem planos

de vender produtos em 30 países

“Esse produtos vão permitir que os atuais proprietários de carros da Ford tenham uma
experiência positiva contínua e mais contato com a marca”, afirma John Nens, gerente
global de licenciamento e identidade corporativa da Ford. Segundo Nens, o mercado
varejista global vendeu US$ 1,4 bilhão em produtos com o nome Ford no ano passado.
A NKS não é a única empresa brasileira a ganhar com a marca Ford. No ano passado, a
importadora paulista Nine negociou uma licença para comercializar ferramentas
elétricas e manuais com o símbolo da montadora. A operação é realizada pela Etilux, de
São Paulo, que também atua com a marca Western. Segundo o sócio da importadora,
Gustavo Dedivitis, a aceitação dos produtos foi muito acima do esperado.

“Trouxemos 20 mil itens que acabaram em dois meses, quando a previsão era para um
ano”, afirma Dedivitis. No lançamento, a empresa contava com 100 produtos Ford.
Hoje, são cerca de mil com o nome da fabricante de veículos, que concorrem com
marcas consagradas como Bosch, Makita e Tramontina. A expectativa é de chegar a um
faturamento de R$ 120 milhões em três anos no Brasil, de acordo com David Daian,
sócio da Etilux. “Já iniciamos também a operação em outros países, como Uruguai e
Chile, e estamos indo para a Europa, Oceania, Ásia e os Estados Unidos”, diz Dedivitis.
Ao associar sua marca a outros produtos, e não somente a carros, a Ford busca estar
presente no dia a dia dos consumidores.

“Se há relação diária com a marca, na hora de escolher o próximo carro, é muito mais
fácil decidir por um Ford”, diz Maximiliano Tozzini Bavaresco, sócio da consultoria
Sonne Branding, especializada na gestão de marcas. “É uma forma de transcender a
compra racional de um veículo.” Essa mesma estratégia é utilizada por outras
fabricantes de veículos, como Harley-Davidson, Porsche e Ferrari, que licenciam desde
relógios e perfumes até celulares e jogos de videogame. São casos inspiradores, mas
difíceis de serem copiados. “A Ford é diferente de uma Harley-Davidson, cuja marca é
uma filosofia de vida”, afirma Marcos Vinicius Cardoso, professor de gestão de marcas
da faculdade Anhembi Morumbi. “Se quiser transformar a iniciativa em vendas de
carros, a montadora terá de gerar mais emoção.” Se conseguir, a Ford irá conquistar
também os pilotos de fogão.

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