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A IMPORTÂNCIA DA RESSURREIÇÃO

I Coríntios 15.35-50

Certamente a área de maior especulação religiosa ao longo da história tem


sido a questão da vida após a morte. Isto porque o futuro é uma incógnita para
muitos. Nem mesmo cristãos professos escapam às especulações de como será a
realidade futura, sobretudo, de como serão os corpos dos que ressuscitarão. Com
os coríntios não era diferente. Especialmente, porque estavam sendo influenciados
pela filosofia grega, que afirmava a imortalidade da alma e a finitude do corpo.
Assim, como que dizendo: “digamos que acreditemos na ressurreição, como seria
então, o corpo dos que ressuscitam?” (35 ver). Sem se deixar intimidar, Paulo
responde a seus possíveis interlocutores, que longe de ser alguma espécie de
aberração ou absurdo, a ressurreição é demonstrada dia a dia, na própria natureza
e ele então, usa símiles para demonstrar tal realidade (36-37 ver).

O termo grego traduzido aqui como insensato, significa literalmente, tolo. E


como diz Simon Kistemaker, “os tolos deixam de pensar mesmo quando todos os
fatos são autoevidentes e claros. Desprezam a sabedoria, distorcem a verdade e
mostram indiferença a Deus e sua revelação”. E os coríntios estavam sendo tolos
ao negarem a ressurreição. Para Paulo, o princípio é simples, “o que semeias não
nasce, se primeiro não morrer”. Para que alguém um dia ressuscite, primeiro
precisa experimentar a morte. E uma verdade de fundamental importância que está
implícita na argumentação paulina é que a responsabilidade de plantar a semente
é nossa, mas Deus é aquele que dá vida, que transforma e traz o homem a uma
nova realidade, jamais imaginada.

Na sequência de sua argumentação, Paulo mostra que assim como a


semente que ao morrer dá lugar a um novo corpo, assim também somos nós;
quando morremos, descemos à sepultura em um corpo fraco e em processo de
decomposição. Isso porque começamos a morrer, no dia em que nascemos. Mas,
a morte não é o fim, pois como uma pequena semente dá lugar a uma árvore, por
vezes, frondosa e frutífera, nosso singelo e frágil corpo físico, dará lugar a um novo

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corpo; agora espiritual e glorioso. E Paulo mais uma vez, usa a criação para
fundamentar seu argumento (38-41 ver). A ideia aqui, é que como cada ser criado
tem um corpo adequado para o meio no qual está inserido, assim também, nosso
corpo físico é apropriado para a realidade presente, mas não para a futura.
Entretanto, o novo corpo que receberemos, será absolutamente habilitado para a
herdar o reino de Deus. Mas, é preciso ressaltar que assim como existe
continuidade entre a semente e a planta que dela nasce; haverá continuidade entre
nosso corpo presente e o corpo futuro. Nosso corpo não será aniquilado para em
seu lugar recebermos outro, numa espécie de reencarnação. Não, não! Ele será
transformado, conforme a vontade de Deus. Decreto Divino

Conquanto isto já fosse suficiente para dar um vislumbre desta realidade


escatológica, mediante o estabelecimento de um contraste entre o corpo presente
e o futuro, Paulo ainda que de relance, mostra a grandeza deste (42-44 ver). Para
o apóstolo, o corpo que agora temos, está sujeito à corrupção e degradação,

A morte
devido ao pecado, mas na ressurreição ele estará livre de toda sorte de males.
Perceba que a sepultura dá visibilidade à maldição de Deus sobre o homem, mas
a ressurreição liga os holofotes do esplendor Divino, ao nos conceder um corpo
que jamais experimentará o pecado e seus efeitos maléficos. Na sepultura somos
completamente despidos de toda dignidade, mas quando formos ressuscitados o
seremos em glória, pois a corrupção do pecado já não terá poder sobre nós, pois
nosso corpo será semelhante ao do nosso Senhor (Filipenses 3.20-21 ver). Além
disso, Paulo usa os termos gregos σωμα ψυχικον para se referir ao corpo natural,
a um corpo que é dominado por seus impulsos e vontades naturais, em contraste
com σωμα πνευματικον que alude a alguém que é guiado pelo Espirito Santo. Paulo
então, liga o σωμα ψυχικον (corpo natural) ao primeiro Adão, que conforme o verso
45, foi feito alma vivente. Enquanto que o σωμα πνευματικον (corpo espiritual) é
ligado ao último Adão, Cristo, espirito vivificante. E o fundamento de Paulo aqui,
permanece o mesmo do início deste capítulo, as Sagradas Escrituras. E é olhando
para elas, sobretudo para Gênesis 2.7, que ele afirma que o primeiro Adão foi feito
alma vivente. A ideia aqui, é a de alguém que precisou receber vida, pois não a

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tinha. Em contrapartida, o último Adão, Cristo, é espirito vivificante, ou seja, aquele
que não apenas tem vida em si mesmo, mas também a concede a outros. Este
contraste entre Adão e Cristo, fica mais claro nos versos 46-50 (ver).

Perceba que Paulo ainda está pensando na ilustração que fizera da semente,
ao mostrar que assim como é necessário primeiro ser semeada a semente para
depois vir a planta, igualmente vem primeiro o natural, o corpo físico e somente
depois o espiritual, o corpo transformado. Contudo, não devemos pensar que
nosso corpo será de alguma forma transcendente ou imaterial, visto que mesmo
após sua ressurreição, Cristo foi tocado pelos discípulos e ainda se alimentou com
os pães que tinham (Lucas 24.36-44 ver).

Fechando sua linha de raciocínio, Paulo ressalta no verso 50: “Isto afirmo,
irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a
corrupção herdar a incorrupção” (50). Ou seja, um corpo mortal, sujeito ao pecado
e à degradação, não poderá entrar no reino celestial, por essa razão nossos corpos
serão transformados e serão semelhantes ao de Cristo, livres das limitações que
no momento presente trazem consigo. Ou como esclarece Anthony Hoekema, “o
que Paulo está dizendo aqui é que, para nós, é impossível em nosso presente
estado, em nossos corpos atuais, fracos e perecíveis como são, herdar a plenitude
das bênçãos da vida por vir. Tem de haver uma transformação”. Transformação
que somente pode ser operada pelo Trino Deus.

Aplicação

Caminhando para o fim e frente às verdades do Texto Sagrado, precisamos


fazer algumas aplicações práticas para nossas vidas.

 Não devemos temer a morte, pois ela não é o fim.


 Precisamos valorizar, cuidar e santificar nossos corpos, pois são templo
do Espirito Santo e serão transformados naquele grande dia.
 Devemos nos alegrar sobremaneira com o fato de que nossas lutas,
tristezas e sofrimentos, um dia cessarão e não mais poderão nos atingir,
pois estaremos para sempre com o Senhor.
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