Você está na página 1de 4

Dispondo nosso coração para Deus

Esdras 7.1-10

Um dos mais fabulosos crentes do Antigo Testamento, foi sem dúvidas,


o sacerdote e escriba, Esdras. Alguém que dedicava tempo ao estudo e
interpretação da Lei de Deus. Eis a razão porque, conforme o verso 6, ele era
“versado na Lei de Moisés, dada pelo Senhor, Deus de Israel”. Contudo, é
preciso ressaltar que sua habilidade com a Sagrada Escritura, não provinha
de uma análise fria e desinteressada, mas era resultado de um coração
disposto a conhecê-la, objetivando um melhor serviço ao Senhor, seu Deus.

Esdras viajara por quatro longos meses, enfrentando os perigos e


incertezas das estradas pelas quais passava; suportou o sol causticante
durante o dia e um frio cortante durante a noite; seguindo para Jerusalém nos
desconfortáveis lombos de um animal, pois ele havia disposto seu coração...
‫ּכּון‬
Determinar,
decidir, preparar
1. Para estudar a Palavra de Deus (10a)

É interessante perceber que o texto nos diz que “Esdras tinha disposto
o coração para buscar a Lei do Senhor”. E ao contrário do que possa parecer,
não se trata de um estudo desinteressado ou mesmo mera religiosidade, pois
a palavra hebraica ‫דָּ ַרׁש‬, aqui traduzida como “buscar”, significa literalmente
“estudar”, e seu tempo verbal na língua hebraica (hifil), denota um grande
esforço da parte de Esdras no estudo do Texto Sagrado. Não foi algo natural,
ele precisou condicionar sua mente e coração a isso. Ele teve que vencer o
comodismo para se dedicar ao estudo das Escrituras. Neste sentido ao tratar
sobre este texto, o Dr. Mauro Meister, um dos maiores especialistas em
Antigo Testamento no Brasil, ressalta que “no Reino de Deus não existe lugar
para indolência; no Reino de Deus não existe lugar para preguiça”.

1
Assim como Esdras precisou lutar contra sua natureza, para que
pudesse estudar e apreender a verdade da Sagrada Escritura, igualmente,
cada um de nós, deve empreender um grande esforço no seu estudo diário e
sistemático, pois a soberania de Deus e a responsabilidade humana
caminham lado a lado nas Escrituras, sem haver qualquer oposição entre si.
Isso significa que, embora Deus mova nosso coração para buscá-lo, é nossa
a responsabilidade de fazê-lo.

Nossas igrejas estão cheias de pessoas que tem se perdido nos seus
muitos conceitos, levadas por um experiencialismo religioso fútil e desprovido
da verdade, sendo assim, assaltadas no seu serviço e extorquidas na sua fé.
E a razão disso não é outra, senão que tem abandonado as Escrituras para
seguir o engano de seus corações. Destarte, aquele que deseja ser realmente
integro, dispõe a essência de todo o seu ser para o Senhor. Neste sentido,
quando nos dispomos para Deus, entregamos a ele tudo o que somos e tudo
o que temos. Nossas prioridades passam a ser aquilo que é prioridade para
Deus, pois nossos olhos estão postos nos céus.

2. Para cumprir a Palavra de Deus (10b)

O que percebemos neste texto é o fato de que Esdras não apenas


estudou, mas principalmente, aplicou em sua vida pessoal o ensino da
Sagrada Escritura. Ele não se contentava com a mera informação, era preciso
pôr em prática o que havia aprendido. Era necessário ser exemplo para o
povo, demonstrar na sua vida o que ensinava no púlpito. Ser um mero teórico
não o satisfazia, era preciso haver coerência entre sua ortodoxia e sua
ortopraxia. Ou seja, não era suficiente pregar corretamente, era imperativo
viver corretamente. Isso implica em dizer que, se o conhecimento que temos
das Escrituras, não redunda em obediência a Deus, o que temos não é
conhecimento verdadeiro, mas mera presunção. Destarte, nada expressa
2
melhor a nossa fé e o conhecimento que temos de Deus, que a submissão
absoluta à sua vontade revelada. Por isso, o apóstolo João, esclarece que
conhecer a Deus, implica em obedecê-lo (ver I João 2.3-7).

Ao ser interpelado por uma mulher que declarava o quanto sua mãe era
bem-aventurada, o Senhor Jesus replicou: “Antes, bem-aventurados são os
que ouvem a palavra de Deus e a guardam!” (Lucas 11.28). A questão é que
precisa haver coerência entre nosso discurso e nossa prática. Neste sentido,
Tiago afirma que é imprescindível ser mais que mero ouvinte da Palavra (ver
Tiago 1.22-25). Assim, Warren Wiersbe escreve acertadamente que “é na
obediência à Palavra de Deus - e não em sua leitura - que experimentamos
suas bênçãos”. “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos
mando?”, disse o Senhor Jesus aos que o seguiam (Lucas 6.46).

3. Para ensinar a Palavra de Deus (10c)

O povo havia sido restaurado à sua terra, mas ainda não estava
restaurado na sua vida. Suas emoções, conceitos e religiosidade, precisavam
passar por um processo de transformação. Transformação essa, que ocorre
somente pela intervenção da Palavra de Deus. E esta, precisava ser ensinada
ao povo. Esdras sabia disso, e a sequência seguida por ele, é não apenas
lógica, mas necessária. Primeiro, ele estuda a Palavra; depois, ele aplica a
Palavra à própria vida e por fim ele ensina a Palavra de Deus ao povo.

Esdras entendia que como sacerdote e escriba, não poderia sonegar a


Palavra de Deus, não poderia trancafiá-la em seu coração, pois ela é
poderosa, viva e eficaz, não pode ficar reclusa com ninguém; precisa ser
anunciada e proclamada a todos, indistintamente.

O esforço empreendido por Esdras no ensino da Sagrada Escritura foi


registrado em Neemias 8.1-8 (ver). O que fica evidente aqui, é que Esdras

3
amava não apenas a Palavra de Deus, mas amava o Deus da Palavra e por
isso, ele a ensina de tal forma que ao aprendê-la o povo se volte para Deus.

O amor pelas Escrituras, demonstrado por Esdras revela como deve ser
a vida de todo verdadeiro servo de Deus, pois é ele mesmo quem prescreve
como devemos viver, ensinando-nos por meio de sua Palavra. Como diz John
Piper: “nós somos um povo do Livro. Nós conhecemos a Deus através do
Livro. Nós nos encontramos com Cristo no Livro. Nós vemos a cruz no Livro.
Nossa fé e nosso amor são despertados pelas gloriosas verdades do Livro.
Nós experimentamos a divina majestade da Palavra e somos persuadidos
que o Livro é inspirado por Deus e sua revelação escrita, infalível. Portanto,
o que o Livro ensina, importa”. Importa para nós e importa para outros. Assim,
devemos ensinar suas verdades quer seja oportuno, quer não, como diz o
apóstolo Paulo em II Timóteo 4.2. O fato é que a verdade das Escrituras deve
ser ensinada a todos, mesmo que no processo desagrade a alguns.

Conclusão

Caminhando para o fim, percebemos que Esdras foi um grande líder.


Ele não apenas conhecia a Palavra de Deus, antes a aplicou à sua vida
pessoal e se dedicou a ensiná-la àqueles que voltaram do cativeiro
babilônico. Ele literalmente dispôs seu coração para Deus.

Certamente, uma das grandes questões da vida cristã hodierna, diz


respeito às intenções e disposições do nosso coração, visto que o coração
humano é totalmente depravado. Assim, conhecimento, ação e reprodução,
são algumas das necessidades mais urgentes da igreja, hoje. Como bem
afirmou J.I. Packer: “A credibilidade do cristianismo exige que a verdade não
seja meramente defendida, mas também praticada; não só discutida, mas
também vivida”.

Você também pode gostar