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Rio de Janeiro
Junho de 2009
i
UM MÉTODO MECANÍSTICO EMPÍRICO PARA A PREVISÃO DA
DEFORMAÇÃO PERMANENTE EM SOLOS TROPICAIS CONSTITUINTES DE
PAVIMENTOS
Aprovada por:
________________________________________________
Prof. Laura Maria Goretti da Motta, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Jacques de Medina, L.D.
________________________________________________
Prof. Washington Perez Nuñes, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Alexandre Benetti Parreira, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Liedi Légi Barianni Bernucci, D.Sc.
ii
Guimarães, Antonio Carlos Rodrigues
Um Método Mecanístico Empírico para a Previsão da
Deformação Permanente em Solos Tropicais Constituintes
de Pavimentos. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2009.
XV, 352 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Laura Maria Goretti da Motta
Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2009.
Referencias Bibliográficas: p. 344-352.
1. Mecânica dos Pavimentos. 2. Deformação
Permanente. 3. Teoria do Shakedown. I. Motta, Laura
Maria Goretti da. II. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Civil. III.
Titulo.
iii
“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas
um hábito”.
Aristóteles
iv
DEDICATÓRIA
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço a meu pai José Carlos e minha mãe Maria Helena por terem me ajudado em
tudo na vida e em especial nessa mais recente, e bastante exaustiva, jornada que foi a
realização do doutorado.
Agradeço em especial à professa Laura Motta por todo apoio e orientações a mim
dedicados durante os quase dez anos de amizade e trabalhos em conjunto, ao Exército
Brasileiro pela oportunidade de realização deste curso em três anos de dedicação
integral e pela confiança depositada, e ao professor Jacques de Medina pelas críticas,
sugestões e orientações, mas principalmente pelo exemplo de vida e dedicação à
pesquisa.
Aos professores Alexandre Benetti Parreira, Liédi Bariani Bernucci e Washington Perez
Nuñes pelas preciosas contribuições para aperfeiçoamento do trabalho, e a Eduardo
Penha Ribeiro pelas importantes orientações.
São vários os colegas que de alguma forma me ajudaram a concluir o presente trabalho.
Colegas de trabalho da COPPE: Sandra Oda, Álvaro Dellê, Gustavo Lima, Ricardo Gil,
Bororó, Carlinhos, Ben-Hur, Beto Rôlo, Sandro Guedes, Gustavo Hermida, Anna
Laura, Verônica Callado, Wallen Medrado, Prepedigna, Luciana Nogueira, Ana Souza,
Washington, Thiago, Helena Motta e Cescyle. Do IME: Vasconcellos, Marcelo Reis,
Ferro, Marcelo Leão, Moniz de Aragão, Carneiro, Álvaro Vieira, Salomão Pinto,
Silveira Lopes, José Renato, Ester Marques. Do exército: Ian Salles, Daniel Dantas,
Adriano Inácio, José Amaral, Mattos. Do exterior: Lélio Brito, Andrew Dawson, Ingo
Hoff, Patrapa Ravindra, Sabine Werkmeister, Greg Arnold, Erick Lekarp, Niclas
Odermatt, John Small. De outros lugares: Loiva Antonello, Cláudio Limeira, Helena
Polivanov, Vanessa Canto, Rick Flório, Ísis, Beatriz Costa, Mônica Nicola.
vi
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)
Junho/2009
vii
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)
June/2009
viii
SUMÁRIO
2.4.1 – Introdução.................................................................................51
ix
2.5 – Lateritas ou Pedregulhos Lateríticos..............................................................74
2.5.1 – Conceituação............................................................................74
2.5.3 – Caracterização..........................................................................83
x
CAPÍTULO 5 - LATERITAS DE RONDÔNIA
xi
CAPÍTULO 7 – AREIA ARGILOSA DO ESPÍRITO SANTO
xii
8.6.3 Módulo Resiliente Após Deformação Permanente................256
xiii
CAPÍTULO 11 – AREIA FINA DE CAMPO AZUL/MG
12.1 Introdução..............................................................................................320
xiv
13.2 Pesquisa do Shakedown.........................................................................336
14.1 Conclusões.............................................................................................341
xv
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
O estudo da deformação permanente deve ser feito para a gama das cargas que solicitam o
pavimento incluindo-se os veículos pesados.
Neste país atenção especial deve ser dada aos pavimentos de baixo custo, especialmente
aqueles relacionados à metodologia MCT (Miniatura Compactado Tropical), nos quais
1
geralmente a espessura do revestimento é pequena, com conseqüente aumento das tensões de
trabalhos das camadas inferiores, geralmente constituída de solos naturais.
2
Há três idéias básicas que foram consideradas no desenvolvimento do modelo: a acurácia da
modelagem matemática dos resultados de ensaios de laboratório, a viabilidade prática de
implementação no método mecanístico-empírico e o fato de ser fundamentado no estudo do
comportamento de solos tropicais.
No presente estudo, será mostrado que no caso de solos finos, o comportamento laterítico é
determinante para o surgimento da condição de shakedown, para os níveis de tensões
utilizados.
3
Esta tese teve como objetivos principais e secundários os seguintes itens:
- Definição de uma metodologia de ensaios triaxiais de cargas repetidas de longa duração para
a avaliação da deformação permanente em solos e britas, para diferentes estados de tensões.
- Proposição de um modelo de comportamento e de previsão de contribuição de cada material
para o afundamento de trilha de roda do pavimento,
- Entendimento da teoria do shakedown aplicada a pavimentos, incluindo pesquisa de
ocorrência utilizando ensaios de cargas repetidas e estudo comparativo com resultados
encontrados na literatura,
- Comparação do comportamento de solos tropicais típicos com materiais britados ou não
tropicais sob o ponto de vista da deformação permanente,
- Pesquisar se a classificação MCT se aplica à previsão do comportamento quanto à
deformação permanente,
- Observar o efeito das aplicações de carga após número de ciclos elevado no valor de módulo
resiliente do material, em especial em busca da identificação de um certo enrrijecimento nos
solos lateríticos finos ou pedregulhosos.
Para atingir estes objetivos foram realizados 113 ensaios de deformação permanente de longa
duração considerados válidos para 14 tipos de solos, incluindo 8 tipos de lateritas diferentes, e
uma brita graduada, a vários níveis de tensão que representam as condições esperadas de
atuação dos pavimentos, numa condição de axissimetria (vertical passando pelo centro de área
de carregamento).
Capítulo 2: Revisão bibliográfica que trata dos principais fatores que afetam a deformação
permanente em solos e britas, principais modelos e estudos realizados, a experiência
brasileira, e a teoria do shakedown aplicada a pavimentos flexíveis.
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Capítulo 4: Apresentam-se peculiaridades da ocorrência de solos no Acre, características
geotécnicas e resilientes de uma laterita típica da região, e um solo fino denominado tabatinga
(que em Tupi quer dizer “Barro Branco”), análise dos resultados obtidos para os ensaios de
deformação permanente realizados, incluindo pesquisa da influência do estado de tensões e
determinação dos parâmetros do modelo de Monismith, pesquisa de ocorrência do shakedown
através da análise da taxa de acréscimo da deformação permanente a cada ciclo de aplicação
de cargas e utilizando o modelo de Dawson e Wellner, análise da variação da deformação
elástica, ou resiliente, ao longo dos ensaios de cargas repetidas e determinação dos parâmetros
\i do modelo de previsão da deformação permanente proposto no presente trabalho.
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É apresentada uma análise dos resultados obtidos para os ensaios de deformação permanente
realizados, incluindo a determinação dos parâmetros do modelo de Monismith, pesquisa de
ocorrência do shakedown através da análise da taxa de acréscimo da deformação permanente
a cada ciclo de aplicação de cargas e utilizando o modelo de Dawson e Wellner, análise da
variação da deformação elástica, ou resiliente, ao longo dos ensaios de cargas repetidas e
determinação dos parâmetros \i do modelo de previsão da deformação permanente proposto
no presente trabalho.
6
pedregulhoso residual não laterítico, denominado de cascalho Corumbaíba, amplamente
utilizado em obras de pavimentação na região. É apresentada uma análise dos resultados
obtidos para os ensaios de deformação permanente realizados, incluindo pesquisa da
deformação permanente total acumulada e determinação dos parâmetros do modelo de
Monismith, pesquisa de ocorrência do shakedown através da análise da taxa de acréscimo da
deformação permanente a cada ciclo de aplicação de cargas e utilizando o modelo de Dawson
e Wellner, análise da variação da deformação elástica, ou resiliente, ao longo dos ensaios de
cargas repetidas e determinação dos parâmetros \i do modelo de previsão da deformação
permanente proposto no presente trabalho.
Capítulo 11: São apresentados aspectos da geologia da região norte do estado de Minas
Gerais, incluindo a região de Campo Azul/MG na qual foi coletada uma amostra de areia fina
bastante comum na região, denominada no presente trabalho de areia fina de Campo Azul.
São apresentadas característica geotécnicas do material e mostrados resultados de ensaio de
módulo resiliente para variadas energias de compactação. É apresentada uma análise dos
resultados obtidos para os ensaios de deformação permanente realizados, pesquisa de
ocorrência do shakedown através da análise da taxa de acréscimo da deformação permanente
a cada ciclo de aplicação de cargas e utilizando o modelo de Dawson e Wellner, análise da
variação da deformação elástica, ou resiliente, ao longo dos ensaios de cargas repetidas e
determinação dos parâmetros \i do modelo de previsão da deformação permanente proposto
no presente trabalho.
Capítulo 12: São apresentadas características geotécnicas de uma laterita de Porto Velho/RO e
resultados de ensaios de deformação permanente, sendo avaliada a deformação permanente
total. Mostra-se a pesquisa de ocorrência do shakedown realizada com o material, incluindo a
obtenção de uma expressão matemática para o limite do shakedown.
Capítulo 13: Apresenta-se uma breve análise conjunta dos resultados obtidos para a
deformação permanente acumulada, pesquisa de ocorrência do shakedown, deformação
resiliente e parâmetros \i do modelo proposto. São feitas, também, as conclusões e sugestões
para novas pesquisas.
7
Capítulo 14: São apresentadas as conclusões dos estudos realizados bem como as sugestões
para novas pesquisas, incluindo a possibilidade de obtenção dos parâmetros de
deformabilidade permanente em pesquisas fututos sobre solos constituintes de pavimentos.
8
CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Categoria 1
Ocorre quando o afundamento é gerado por uma pós-compactação da camada granular, ou de
base, sendo ilustrado na figura 2.1.1 Normalmente, a compactação da camada durante a fase
construtiva é considerada suficiente para evitar afundamentos futuros.
Agregado
Solo
Neste caso, a camada de base aumenta de densidade com o tempo, aumentando também sua
rigidez e, consequentemente, melhorando a condição estrutural do pavimento. O afundamento
tende a se acomodar com o tempo, não sendo observadas grandes deformações.
9
Categoria 2
Ocorre em materiais granulares fracos quando a superfície da camada final do pavimento, seja
base granular ou revestimento asfáltico, apresenta deformações causadas por esforços
cisalhantes provocados pela ação da carga de roda. A figura 2.1.2a e 2.1.2b ilustram o caso.
Agregado
Solo
Categoria 3
Ocorre quando o pavimento como um todo afunda, sendo comum mesmo nos casos que a
qualidade do agregado é boa. A deformação das camada é de natureza cisalhante, tal como no
caso da categoria 2, porém o cisalhamento envolve toda a camada e o subleito e não apenas a
superfície. As figuras 2.1.3a e 2.1.3b ilustram a situação.
10
Agregado
Solo
Da análise das figuras é possível constatar que, à medida que o subleito se deforma, a camada
granular ou de base acompanha esta deformação. No exemplo da figura 2.1.3b a camada
granular foi sendo recomposta a medida que o subleito afundava.
Categoria 4
Ocorre quando algum tipo de dano nas partículas, tais como atrito e abrasão, podem contribuir
para o afundamento de trilha-de-roda, apresentando as mesmas característica da categoria 1.
Na figura 2.1.4 é ilustrada tal situação
Nível Acima da Referência
11
2.2 Fatores que Afetam a Deformação Permanente em Solos e Britas
Em geral, os fatores que causam uma diminuição da resistência ao cisalhamento de solos e
britas tendem a aumentar a deformação permanente quando o material é submetido à ação do
tráfego de veículos.
Pesquisas anteriores indicaram que os principais fatores que afetam a deformação permanente
em solos são os seguintes:
Uma restrição feita para o equipamento triaxial de cargas repetidas se refere à sua
impossibilidade de simular a inversão das tensões principais que ocorre em um elemento de
solo submetido à ação da carga de roda em movimento, bem como a indução de tensões
cisalhantes, conforme ilustrado na figura 2.2.1. Durante a First International Conference on
Transportation Geotechnics em 2008, realizada em Nottingham (UK), foi apresentado um
12
trabalho por pesquisadores japoneses que estão desenvolvendo um equipamento que permita
tal a inversão de tensões supra-citada.
Figura 2.2.1: Rotação das Tensões Principais Provocadas Pela Ação da Carga de Roda.
Outros estudos foram conduzidos de tal forma a considerarem o efeito da razão entre a tensão
13
solos argilosos, siltosos e arenosos quanto maior a razão
V1
V 3 maior é a deformação
permanente.
LASHINE et al (1971, apud LEKARP et al 1999), realizaram ensaios triaxiais com rocha
britada na condição parcialmente saturada e drenada, constatando que a deformação
permanente axial (vertical) tendia a um valor constante e diretamente relacionado à razão
entre a tensão desvio e a tensão confinante. Segundo os autores resultados similares foram
obtidos por outros pesquisadores.
Existe uma nítida tendência de alguns autores de tentarem associar a deformação permanente
total do material à máxima tensão cisalhante obtida em ensaios triaxiais estáticos, tal como
observado em PAUTE et al (1996).
História de Tensões
O comportamento de um solo quanto à deformação permanente está relacionado à história de
tensões a que foi submetido, isto é, para o caso de pavimentos, à seqüência de aplicação do
carregamento. Existem poucas referências sobre este assunto na literatura.
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SEED e CHAN (1958) estudaram a influência da história de tensão na deformação
permanente de uma argila siltosa e uma areia fina, através de ensaios triaxiais de cargas
repetidas. Dois corpos-de-prova idênticos foram submetidos, inicialmente, a um baixo nível
de tensão, sendo que em seguida aumentou-se a tensão desvio de 5,6 lb/pol2 para 7,1 lb/pol2.
Os dois ensaios diferem entre si pelo número de aplicação de cargas, N, no qual se variou a
tensão desvio. No primeiro caso com 100 ciclos e no segundo caso com 10.000 ciclos. No
primeiro caso a deformação permanente foi muito superior à do segundo caso, ou seja,
quando o corpo-de-prova foi submetido por mais tempo a um nível baixo de tensões a
deformação permanente foi menor. Isso para o caso da argila siltosa, porque para a areia fina
a diferença foi insignificante.
Resultados similares foram obtidos por MONISMITH et al (1975). De modo geral, seus
resultados indicaram que uma série de aplicações de cargas na argila siltosa pode produzir um
considerável efeito de enrijecimento do material, com conseqüente aumento da resistência à
deformação permanente. Estes autores também estudaram a influência da seqüência de
carregamento na deformação permanente de uma argila siltosa e observaram que a amostra
submetida a uma seqüência crescente de carregamento, no caso 3o 5 o10 (lb/pol2)
apresentou menor deformação permanente total do que as demais realizadas com seqüência de
carregamento decrescente, sendo que a amostra que foi submetida ao maior nível de tensão
desvio logo no início do ensaio, foi a que apresentou maior deformação permanente total.
Entretanto, outros pesquisadores, citados por ODERMATT (2000), mostraram que a história
de tensões não exerceu nenhuma influência na deformação permanente total dos materiais por
eles estudados (no caso um solo do tipo A-6).
15
Por ora, ainda não se fixou, no método de ensaio, o número de ciclos de aplicação de cargas
para o término no ensaio, como ocorre com o ensaio de módulo resiliente, pela sua própria
natureza.
Alguns ensaios se limitaram, quando muito, a dez mil ciclos de aplicação de carga. Este
procedimento não parece ser muito adequado, porque nos primeiros ciclos de aplicação de
carga a forma da curva de deformação permanente é muito distinta daquela apresentada no
restante dos ciclos, no qual, geralmente, se observa uma tendência à acomodação, tal como
mostrado em GUIMARÃES (2001).
MOTTA (1991) indica que deve ser observada a taxa de acréscimo da deformação
permanente, e quando este valor se tornar próximo a zero o ensaio pode ser paralisado.
No caso de materiais granulares, MORGAN (1966 apud LEKARP 1999), realizou ensaios
triaxiais de cargas repetidas com número de aplicação de cargas superior a 2.000.000 de
16
ciclos, observando que a deformação permanente ainda apresentava crescimento ao fim do
ensaio.
Por outro lado, BROWN e HIDE (1975 apud LEKARP 1999), investigando o comportamento
de uma brita de granito bem graduada observaram o surgimento de um estado de equilíbrio a
partir de aproximadamente 1.000 ciclos de carregamento.
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A explicação anterior de caráter físico-químico e a atual predominantemente físico não
atendem ao ponto de vista químico. Alguns solos tropicais, em especial as lateritas
pedregulhosas, são constituídas de óxi-hidróxidos de Fe e Al, tais como a hematita e a
gibbsita, que possuem propriedades cimentantes. Há rochas sedimentares, como os arenitos,
nas quais os agentes cimentantes são exatamente estes minerais, e este efeito cimentante pode
influir na deformabilidade, embora haja dúvida se estas reações são suficiente rápidas para se
desenvolver ao longo do período de ensaio de deformação permanente, em geral dois dias
com freqüência de 1Hz.
Há, ainda, a possibilidade de que os efeitos supracitados ocorrem de maneira não excludente.
Logo, a influência do tempo de repouso após a compactação do corpo-de-prova é um assunto
que requer estudos específicos. No presente trabalho, na fase experimental, optou-se por
ensaiar o material imediatamente após a compactação, fato que minorou a possibilidade do
desenvolvimento de tensões tixotrópicas ou de sucção.
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ação de uma pressão (tensão) confinante, elimina-se a possibilidade de secagem e
conseqüente acréscimo de tensões de sucção.
2.1.3 Umidade
O teor de umidade de um solo de camadas de subleito, reforço do subleito, sub-base e base,
depende de:
x umidade de compactação,
x variação da umidade após compactação.
As normas técnicas brasileiras, em especial do DNIT, admitem uma variação de dois pontos
percentuais no entorno da umidade ótima, ou seja, aceita-se o teor de umidade contido no
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intervalo ݄௧ିଶΨ ݄ ا௧ ݄ اାଶΨ , independente da natureza do solo considerado. Tal fato
deve ser revisto porque o efeito da adição ou subtração de dois pontos percentuais absolutos
em solos predominantemente argilosos, com umidade ótima elevada (por exemplo, 20%), é
bem distinto do que em solos arenosos finos ou pedregulhosos (por exemplo 10%).
Além disso, nos ensaios de deformação permanente realizados para a presente pesquisa
observou-se que no caso de solos argilosos, ou areias argilosas, a variação de umidade
admitida supracitada gerou uma diferença de valores de deformação permanente acumulada
até cinco vezes superiores. Observou-se, também, que a mesma variação de umidade gera
uma diferença bem menos intensa quando se considera o ensaio de módulo resiliente.
Um outro fator que influencia o teor de umidade de uma camada de solo se refere à situação
na qual a umidade do material já previamente compactado na umidade ótima, ou similar,
perde ou adquire umidade do meio no qual está inserido. Obviamente a variação de umidade
depende das condições de drenagem do pavimento e de fatores climático-ambientais locais.
Em geral, no país se considera que a umidade de equilíbrio é a umidade ótima da camada ou
ligeiramente inferior.
No caso de solos granulares não saturados o aumento do teor de água gera maior
“lubrificação” dos grãos e aumento da deformação permanente. De acordo com THOM e
BROWN (1987 apud LEKARP 1999), um pequeno acréscimo no teor de água pode causar
um elevado acréscimo na taxa de deformação permanente.
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O comportamento tensão versus deformação de materiais granulares pode ser
significativamente alterado pelas condições de drenagem, seja em laboratório, seja no campo.
DAWSON (1990 apud LEKARP 1999), constatou que a porcentagem de deformação
permanente pode ser cerca de seis vezes superior na condição não drenado, relativamente à
condição drenada em ensaios triaxiais de cargas repetidas..
No caso de solos tropicais, existe uma tendência, baseada em uma analogia com as condições
de campo, de se pesquisar a influência da secagem na deformabilidade dos materiais. Corpos-
de-prova de solos são moldados na condição de umidade ótima, e energia de compactação
pré-definida, e deixados secar ao ar, sendo sucessivamente pesados até adquirirem um peso
que se equivale à umidade desejada. Porém, em tais estudos dá-se maior ênfase à
deformabilidade resiliente, ou elástica, tal como observado em BERNUCCI (1997) e
TAKEDA (2004), entre outros.
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2.1.4 Características Geotécnicas
Massa Específica e Método de Compactação
A massa específica aparente seca, Js ou MEAS, e o grau de compactação exercem importante
influência no comportamento de solos submetidos à ação de cargas repetidas. A resistência à
deformação permanente de solos constituintes de pavimentos aumenta com a massa específica
do material do material.
ALLEN (1973 apud LEKARP, 1999), constatou uma redução de 80% na deformação
permanente total para um calcáreo britado, e redução de 22% para um cascalho, quando a
compactação mudou do ensaio Proctor Normal para o ensaio Proctor Modificado.
HOLUBEC (1969 apud LEKARP, 1999), sugere que a redução da deformação permanente
devido ao aumento da massa específica do material é particularmente maior para agregados
angulares, sendo pouco significante para o caso de agregados arredondados.
A principal razão para a redução da deformação permanente total com o aumento da MEAS é
o maior contato entre as partículas que constituem o material, e seu inter-travamento
(interlock).
22
Figura 2.2.3: Efeito da Densidade na Deformação Permanente de Uma Argila Siltosa, N =
10.000. (BEHZADI e YANDELL, 1996, apud ODERMATT, 2000).
Analisando a figura 2.2.3 verifica-se que a máxima tensão vertical utilizada foi de 210 kPa,
que é bem mais elevada do que tensões usualmente existentes em subleito de pavimentos
brasileiros, na ordem de até 50 kPa, conforme verificado em alguns artigos técnicos que
utilizaram simulação numérica com o programa FEPAVE.
As peculiaridades dos solos tropicais devem ser consideradas, como exposto por NOGAMI e
VILLIBOR (1995) e BERNUCCI (1995). Por exemplo, um aspecto a ser considerado é que a
porcentagem de finos obtida através do ensaio de granulometria por sedimentação, pode
apresentar-se distorcida pela capacidade dos solos tropicais de formarem grumos ou micro-
concreções ferruginosas.
Assim, no campo o solo pode apresentar-se num estado de agregação diferente da amostra
obtida por destorroamento em laboratório antes da preparação dos corpos-de-prova.
24
Limites de Consistência do Solo
No caso de estudos com solos tropicais não faz sentido que se busque uma correlação com
parâmetros tais como o índice de plasticidade e o limite de liquidez.
Segundo PINTO (2000), a expressão “bem graduada” expressa o fato de que a existência de
grãos com diversos diâmetros confere ao solo, em geral, melhor comportamento sob o ponto
de vista da resistência ao cisalhamento. Por exemplo, quanto maior o coeficiente de não
uniformidade, mais bem graduada é a areia ou pedregulho.
Se o coeficiente de não uniformidade, CNU, indica a amplitude dos tamanhos dos grãos, o
coeficiente de curvatura detecta o formato da curva granulométrica e permite identificar
eventuais descontinuidades, ou concentrações muito elevadas de grãos mais grossos no
conjunto.
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O sistema unificado de classificação de solos considera que um pedregulho é bem graduado
quando seu CNU é maior do que 4, e que uma areia é bem graduada quando seu CNU é maior
do que 6. Além disso, é necessário que o coeficiente de curvatura, CC, esteja entre 1 e 3.
Um análise conjunta dos dados obtidos na literatura permite verificar que há, claramente, uma
dificuldade em modelar adequadamente a deformação permanente dos solos, pois são
apresentadas várias formulações matemáticas distintas que incluem um conjunto de variáveis,
nem sempre as mesmas em cada caso.
Os modelos de Monismith e Uzan adotam parâmetros que podem tanto ser obtidos na
literatura, por comparação, quanto gerados a partir de ensaios triaxiais de cargas repetidas, ou
seja, estes modelos são “abertos” a novas contribuições a partir de novos ensaios
tecnológicos. Ao contrário, o modelo de Tseng e Lytton, que foi todo montado a partir de um
banco de dados, é “fechado” não permitindo a adição de novas contribuições, mas, por outro
lado, servindo como instrumento de comparação de resultados.
O modelo proposto por Monismith, descrito em MONISMITH et al. (1975), tem sua
expressão matemática e dada pela equação seguinte:
Hp A.N B (2.4)
Onde:
İp - deformação específica plástica
A e B - parâmetros experimentais
N - número de repetições de carga
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Os resultados são obtidos através de ensaios triaxiais de cargas repetidas, sendo os parâmetros
A e B calculados com auxílio de algum programa básico de estatística. Os estudos
encontrados nas referências bibliográficas geralmente adotaram um número de aplicação de
ciclos de carga, número N, quase sempre inferior a 100.000 ciclos.
Analisando-se a formulação adotada por Uzan verifica-se que, por hipótese, a deformação
elástica deve ser constante ao longo do ensaio de deformação permanente. Somente nesta
condição obter-se-á um valor de ȝ igualmente constante, porém já foi demonstrado, por
exemplo por GUIMARÃES (2001) e MALYSZ (2004), que esta hipótese não é verdadeira,
sendo sua variação estatisticamente significativa ao longo do ensaio. Dessa forma, o modelo
de Uzan mostra-se bastante limitado.
28
Outro modelo especialmente importante é o apresentado por TSENG e LYTTON (1989)
desenvolvido a partir de uma abordagem mecanístico- empírica, e cuja expressão matemática
corresponde a expressão seguinte:
E
§U·
H 0 ¨© N ¸¹
G a N .e .H v .h (2.6)
Hr
Onde:
įa (N) - deslocamento permanente da camada
N – número de repetições de carga
İ0, ȡ, ȕ – propriedades dos materiais
İr – deformação específica resiliente
İv – deformação específica vertical média resiliente
h – espessura da camada
Para os materiais das camadas de base e de sub-base têm-se as equações de 2.10 a 2.12.
H0
Log ( )=0,80978–0,06626.Wc – 0,003077.ıș + 0,000003.Er (2.10)
Hr
29
R2 = 0,60
Log(ȕ)=-0,9190+0,03105.Wc+ 0,001806. ıș – 0,0000015.Er (2.11)
R2 = 0,74
Log(ȡ) = -1,78667 + 1,45062. Wc + 0,0003784.ı T2 - 0,002074. W c2 .ıș – 0,0000105. Er
R2=0,66 (2.12)
Onde:
Wc – umidade do material %
ıș – tensão octaédrica, em lb/pol2
ıd – tensão desvio em lb/pol2
Er – módulo resiliente da camada em lb/pol2
Ainda no que se refere à aplicação deste aos solos tropicais já foi demonstrado,
(GUIMARÃES, 2001), que este modelo tem uma forte tendência em majorar a previsão da
deformação permanente de solos lateríticos.
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Em MOTTA (1991) diversos modelos para materiais granulares são apresentados:
Brown(1974), Barksdale (1984), Paute (1983), Lentz e Baladi (1980), Khedr (1985), Pappin
(1979), Shaw (1980), Bouassida (1988), Travers et al (1988), Paute et al (1988).
Recorda-se aqui que, há dois tipos de deformação nos pavimentos quando submetidos a ação
de cargas repetidas: a deformação resiliente, associada à vida de fadiga do revestimento; e a
deformação permanente associada ao afundamento de trilha-de-roda.
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Para previsão de desempenho de um pavimento é fundamental saber se o pavimento
apresentará sucessivos acréscimos de deformação permanente ou se as deformações
permanentes irão apresentar acomodamento.
q n.q / S ½
H 1, p H 0,95 S . ln(1 ) 0,15 ® ¾. ln( N ) (2.13)
S ¯[1 m.(q / S )] ¿
Onde:
H1,p = deformação permanente acumulada após N ciclos
H0,95S = deformação estática a 95% da resistência estática
q = tensão desvio (V1 - V3)
S = resistência estática
N = número de ciclos de cargas
m = parâmetros de regressão, que variam com a tensão confinante.
Os autores obtiveram uma boa correlação entre os valores medidos e os calculados, porém
acrescentam que os resultados foram obtidos para um único solo arenosos de subleito, e,
portanto, outras pesquisas devem ser realizadas.
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Correlação Entre o Comportamento Resiliente e Plástico
Uma relação entre as deformações permanentes e resilientes é proposta por VEVERKA
(1977), através da seguinte expressão:
H 1, p a.H r .N b (2.13)
Onde:
Hr = deformação específica resiliente
a e b: parâmetros do material
H1,p = deformação specífica permanente
LEKARP e DAWSON (1998a) consideram essa formulação muito simplista, não tendo sido
observada por outros pesquisadores.
Onde:
Kp (N) = módulo de compressão associado à deformação permanente
Gp (N) = módulo de cisalhamento associado à deformação permanente
Hv,p(N) = deformação permanente volumétrica para N > 100
Hs,p (N) = deformação cisalhante para N > 100
p = média das tensões principais
q = tensão desvio
N = número de ciclos de aplicação de carga.
33
ciclos. Seus estudos indicaram que a deformação permanente axial acumulada ao longo do
ensaio foi proporcional ao logaritmo do número N de aplicações de cargas:
H 1, p a b. log( N ) (2.16)
Lekarp e Dawson consideram que essa expressão 2.16 não traduz de maneira eficaz a
dependência do estado de tensão.
SWEERE (1990) conduziu ensaios com um número N superior a 106 ciclos e observou que a
referida expressão 2.16 não conduz a uma boa aproximação, sugerindo uma abordagem do
tipo log-log para ensaios com um grande número de aplicações de cargas, e utilizando a
expressão:
H 1, p a.N b (2.17)
WOLFF e VISSER (1994) modificaram essa expressão a partir de resultados obtidos com o
simulador HVS (Heavy Vehicle Simulator) realizados em verdadeira grandeza e conduzidos a
vários milhões de ciclos de aplicação de carga. Observaram que a deformação permanente
apresentou um comportamento que pode ser dividido em duas fases. Até 1,2 milhões de ciclos
de aplicação de cargas foi observado um rápido desenvolvimento da deformação permanente,
porém com uma diminuição constante da taxa de acréscimo. Na segunda fase, foi observado
que a deformação permanente era muito pequena e a taxa de acréscimo apresentava um valor
constante.
KHEDR (1985) utilizou ensaios triaxiais de cargas repetidas para estudar a deformação
permanente de uma rocha calcárea britada e chegou à conclusão que a taxa de acúmulo de
34
deformação permanente decresce logaritimicamente com o número de aplicações de cargas,
de acordo com a expressão:
Hp
A.N m (2.19)
N
Onde “m” é um parâmetro do material, “A” é um parâmetro do material e do estado de tensão
e “N” é o número de ciclo de aplicação de cargas, não se encontra nenhuma outra verificação
dessa expressão na literatura, segundo LEKARP e DAWSON (1998a).
A. N
H 1*, p (2.20)
N D
Onde:
H 1*, p = deformação permanente adicional após os primeiro 100 ciclos de carga
A e D = parâmetros de regressão
Em um estudo mais recente PAUTE et al propuseram uma outra expressão, dada por:
B
§ N ·
H *
1, p A.¨1 ¸ (2.21)
© 100 ¹
Onde A e B são os parâmetros de regressão.
Ambas as equações propostas por estes autores indicam que a deformação permanente possui
um valor limite, dado por “A” na segunda equação, para o qual tende a deformação
permanente quando N tende ao infinito.
35
Deformação Permanente Associada ao Estado de Tensão
Alguns pesquisadores já mostraram que o estado de tensão tem importante influência na
deformação permanente de solos e britas constituintes de pavimentos. O comportamento da
deformação permanente parece estar relacionado à razão de tensões.
PAPPIN (1979) realizou ensaios com tensão confinante variável em uma brita de calcáreo
bem graduada, afirmando que a deformação permanente cisalhante pode ser dada pela
seguinte expressão:
2 ,8
§ 0 ·
¨q ¸
H s, p ( fn.N ).L.¨ ¸ (2.23)
¨ p0 ¸
© ¹ max
Onde:
Hs,p = deformação permanente cisalhante acumulada
fn.N = fator de forma
36
q0 = tensão desvio modificada = 2 / 3.q
LEKARP e DAWSON (1998b) realizaram ensaios com cincos materiais granulares distintos,
usualmente empregados como camada de sub-base de pavimentos. Uma programação de
ensaios foi estabelecida com o objetivo de analisar a variação da deformação permanente a
partir do número de aplicação de cargas e do estado de tensão. Os autores analisaram através
dos resultados de ensaios a validade de alguns modelos de deformação permanente da
literatura técnica, obtendo em muitos casos um excelente coeficiente de correlação para o
modelo de Paute (1990), citado anteriormente.
Os autores alertam que não havia na literatura nenhum modelo que relacionasse
satisfatoriamente a deformação permanente ao estado de tensão, e propuseram a seguinte
expressão:
H 1, p ( N ref )
b
§q·
a.¨¨ ¸¸ (2.24)
L © p ¹ max
Onde,
H1,p(Nref) = deformação permanente acumulada para N>100
L = comprimento da trajetória de tensões
q = tensão desvio
p = média das tensões principais
a, b = parâmetros de regressão.
37
O modelo para a previsão da deformação permanente da Universidade Técnica de Dresden,
citado por WERKMEISTER et al (2003), e de solos granulares, é dado por:
§ N ·
B
§ D1000
N
·
H 1p ( N ) A.¨ ¸ C ¨ e 1¸
© 1.000 ¹ ¨ ¸
© ¹ (2.25)
Onde:
H 1p : deformação permanente vertical (x10-3 mm)
A, B, C, D: coeficientes
N: número de ciclos de aplicação de carga
Os coeficientes A e B são definidos por:
a1 a 2 .V 1 3 a 4 .V m
a a5
A (2.26a)
b3
§V ·
B b1 b2 .¨¨ m ¸¸ b4 .V 1b5
© V1 ¹ (2.26b)
38
2.3.4 Modelos Para Solos Argilosos
MAJIDZADEH et al. (1976) desenvolveram relações entre os parâmetros A e m, do modelo
apresentado por GUIRGUIS (1974) citado por estes, e o módulo dinâmico, E*, do solo.
İp/N = A(D,w).N-m (2.27)
Onde:
İp - deformação permanente
A(D,w) - interseção da linha reta (İp/N x N) com o eixo İp/N
m - valor absoluto do coeficiente angular da mesma reta
N - número de ciclos.
O estudo foi desenvolvido com solos siltosos e solos argilosos, ambos com fração granular,
oriundos do estado de Ohio/EUA. Os autores concluem que o parâmetro “m” varia
normalmente entre 0,82 e 0,95, podendo, em casos excepcionais, ser menor que 0,57. Para
solos com módulo dinâmico maior que 40 MPa, “m” pode ser considerado constante. O
parâmetro A é função da umidade, densidade, tensão desvio e estrutura do solo.
s
A = K. E * (2.29)
39
O módulo dinâmico mostrou ser um parâmetro apropriado do solo, segundo os autores,
refletindo os efeitos da umidade, densidade seca e estrutura do solo, todos associados à
deformação permanente. Apresentou-se constante para todas as tensões aplicadas superiores a
55 KPa.
O parâmetro “m” mostrou-se constante para cada tipo de solo e com valores entre 0,85 e 0,90,
não existindo variação estatística significativa antes e após saturação.
O parâmetro “A” foi estabelecido em função do E * , de acordo com a equação 2.30, que
mostra a variação do parâmetro “A” com o tipo e estrutura do solo e o nível de tensão.
A = R. E * -c.exp(ıapl/ ıapl) Equação 2.30
Onde:
ıapl - tensão aplicada
ıapl - resistência à compressão, não confinada
R, C - constantes do material.
Os autores citados definiram nível de tensão (qr) como a relação entre a tensão desvio e a
resistência obtida num ensaio triaxial convencional, ou estático, com taxa de deformação
constante de 0,5 %/min.
40
Os resultados indicaram a existência de um nível de tensão limite (“threshold stress level”)
abaixo do qual a deformação acumulada tende a se estabilizar, e acima da qual ocorrem
deformações progressivas e até mesmo a ruptura. Esta tensão limite está associada ao limite
do shakedown que será detalhada na sequência da presente pesquisa.
Foi verificado que para uma dada tensão confinante, massa específica aparente seca e
condição de compactação (energia, umidade), a deformação de ruptura é relativamente
independente da história de carregamento, podendo ser determinada em ensaios triaxiais
convencionais (estáticos).
O modelo proposto leva em conta o nível de tensões qr. Se qr for superior ao crítico tem-se a
equação seguinte:
Ha
qr= (2.31)
a l s l . log( N )
41
E
§V ·
¸¸ .H z
D J
H pz A.N .¨¨ z (2.34)
© p ¹
Onde:
Hpz = deformação permanente vertical acumulada na profundidade z
Hz = deformação elástica na profundidade z
Vz = tensão vertical na profundidade z
p = tensão de referência (MPa), tensão atmosférica 0,1 MPa
A, D, E, J = constantes experimentais.
ODERMATT (2000) afirma que muitos dos serviços de manutenção nas rodovias da Suécia
se devem ao afundamento de trilha-de-roda (rutting), e por isso é especialmente importante
pesquisar a deformação permanente nas camadas do pavimento. Quando o autor comparou os
resultados de deformação permanente obtidos com o equipamento HVS (Heavy Vehicle
Simulator) e os obtidos de ensaios triaxiais de cargas repetidas, verificou que a deformação
permanente acumulada se desenvolveu mais rapidamente na fase inicial dos ensaios triaxiais,
tendo, também, atingido um estágio de acomodamento mais rapidamente. Como
conseqüência, as curvas que representam a deformação permanente total apresentaram formas
diferentes.
Para que se pudesse obter uma boa acurácia com o modelo do DTU fez-se necessário que o
estado de tensões utilizado fosse efetivamente o atuante no campo, durante o ensaio com o
equipamento HVS, e medição com células de carga. O cálculo das tensões através de
programas específicos não possibilitou um bom enquadramento no modelo. Ainda, os ensaios
triaxiais para a avaliação da deformação permanente não foram suficientes para descrever o
comportamento dos materiais submetidos à ação do equipamento HVS.
QUEIRÓZ (1984) apresenta a versão brasileira da referida tese, utilizando dados do PICR,
para analisar fatores relacionados ao desempenho e à deformação permanente em pavimentos
brasileiros. Observa-se, através da tabela 2.3.2, que a deformação permanente medida em 45
trechos atingiu valor máximo de 7,4 mm e média de 2,53 mm, muito abaixo do valor máximo
admissível em geral, como, por exemplo, o de 12,7 mm adotado pela FAA, órgão
aeroportuário dos EUA.
Constata ainda Svenson que a variação do intervalo entre aplicações de carga (0,86 a 2,86),
para umidades próximas à ótima, pouca influência tem nos valores dos coeficientes A e B.
CARDOSO (1987) ensaiou dois solos lateríticos da região de Brasília/DF. O solo nº 1 foi
classificado de argila com alta plasticidade e o solo nº. 2 de argila com baixa plasticidade,
ambas do tipo A-7-6, pela classificação da AASHTO. O solo 1 apresentou cerca de 30% de
sua massa com partículas de diâmetros superiores a 0,42 mm (nº. 40), portanto foi
considerado como solo fino com significativa fração granular. A maioria dos corpos-de-prova
foi compactada na energia modificada, e algumas poucas na energia normal; a umidade variou
entre a condição mais seca e a mais úmida que o teor ótimo. Aplicou-se pressões confinantes
de 3, 5, 8.3, 10, e 15 lb/pol2 e tensão desvio de 5, 9, 15 e 25 lb/pol2 . Os ensaios foram
conduzidos na condição drenada.
44
Já o parâmetro Į varia mais com um tipo de material, tendo pouca influência das tensões
desvio e confinante. Para os solos estudados os parâmetros Į variaram de 0,748 a 0,955 para
as várias condições de ensaio enquanto ȝ variou bastante para cada um deles.
De maneira geral, o efeito dos principais fatores na deformação permanente foram relatados a
seguir, na pesquisa de CARDOSO (1987).
45
O nível de deformação plástica cresceu 263% para o solo granular e 150% para o solo fino,
quando a tensão desvio variou de 15 lb/pol2 para 50 lb/pol2, numa condição de umidade ótima
e 8,3 lb/pol2 de pressão confinante.
No estudo do efeito da umidade verificou-se que no caso de solo granular a amostra mais seca
apresentou maiores níveis de deformação permanente do que as amostras moldadas próximas
à umidade ótima. Para o solo fino, as amostras mais secas apresentaram menores níveis de
deformação permanente do que as outras.
No estudo da influência da relação (ı3/ıd) verificou-se que para ambos os solos analisados por
Cardoso a deformação plástica decresceu com o acréscimo de ı3/ıd até um valor entre 0,5 e
0,6. Além desse valor a deformação plástica tende a crescer. Foi observado que esse efeito é
mais significativo para o solo fino do que o granular, em termo de deformação permanente.
SANTOS (1998) fez uma pesquisa sobre solos lateríticos pedregulhosos do Mato Grosso,
incluindo ensaios de deformação permanente realizados no equipamento triaxial de cargas
repetidas. Foram ensaiados corpos-de-prova de 10 x 20 cm na energia do ensaio Proctor
Intermediário para bases e sub-bases e Proctor Normal para subleito, todos na umidade ótima.
Dentre os vários ensaios realizados são apresentados dois, referentes a material de base de
pavimento, e mostrados no gráfico da figura 2.3, juntamente com resultados obtidos por
MOTTA (1991) para uma amostra da laterita de Roraima (RR), todas com mesmo nível de
tensões aplicado.
Observa-se uma razoável dispersão dos resultados, peculiaridade dos solos lateríticos
concrecionados, já demonstrada em relação ao comportamento resiliente, conforme observado
por VERTAMATTI (1987) entre outros.
46
No gráfico da figura 2.3.4 são mostradas as curvas de acúmulo da deformação permanente em
função do número de ciclos de aplicação de cargas para duas lateritas de bases de pavimentos
do Mato Grosso, coletadas nas estacas E-100 e E-200, respectivamente. Os resultados são
comparados com aqueles obtidos por MOTTA (1991) para uma laterita de Roraima. Os
parâmetros A e B do modelo de Monismith, e respectivos coeficientes de correlação R2, são
apresentados na tabela 2.3.4.
1
Deformação Permanente (mm)
0.1
Santos
0.01
Motta (1991)
0.001
0.0001
1 10 100 1,000 10,000 100,000
Número de Ciclos (N)
Laterita Mato Grosso (E-100) Laterita Mato Grosso (E-200) Laterita Roraima
47
com o material ensaiado desenvolveria uma deformação permanente de apenas 1,4 mm,
portanto sem comprometimento do desempenho estrutural do pavimento.
0,006 MR
V v ,máx (2.35)
1 0,7 log( N )
Além de considerar um valor médio de módulo resiliente, que não é recomendável para solos
cujo módulo dependa do estado de tensão, a formulação proposta pelos autores citados
concentra todo o problema da deformação permanente no subleito do pavimento, excluindo a
contribuição das demais camadas.
Apesar das limitações da expressão proposta por HEUKELOM e KLOMP, esta equação tem
sido bastante usada por projetistas de pavimentos no Brasil, quando se resolve adotar uma
abordagem mecanística. Porém, é fácil criticar, hoje, um trabalho de 1962 e o devido mérito
deve ser reservado aos autores, que são, sem dúvida, pioneiros da engenharia rodoviária
mundial.
A limitação da tensão vertical que atua no topo do subleito é um dos critérios utilizados para
o projeto de pavimentos, uma vez que se supõe sempre que o subleito é a camada de menor
resistência ao cisalhamento, visto ser o material local e, portanto, o mais sensível às
deformações plásticas (MOTTA, 1991).
48
FRANCO (2007) cita o método de dimensionamento da Shell Oil no qual são adotadas as
equações listadas a seguir, sendo os parâmetros experimentais do modelo definidos para
diversos níveis de confiança.
ߝ௩ ൌ ܣǤ ܰ (2.36)
ଵ మ
ܰ ൌ ݇ଵ Ǥ ቀ ቁ (2.37)
ఌೡ
Onde:
Hv: deformação vertical limite no topo do subleito
A, B ou ki: parâmetros experimentais obtidos em ensaios de laboratório
N: número de aplicações de carga no laboratório.
Alguns autores têm proposto valores limites para deformação permanente admissível através
do limite da deformação elástica no subleito. Trata-se de uma maneira indireta de se
considerar a influência da tensão atuante no topo do subleito, Vsl, na qual é adicionado o efeito
do módulo resiliente do material, E, e que pode ser mensurado com maior facilidade do que a
tensão atuante.
Tem-se que:
ఙೞ
Se ߪ௦ ൌ ܧ௦ Ǥ ߝ௭ então, ߝ௭ ൌ
ாೞ
Diversos centros de pesquisas adotam valores limites para a deformação elástica do subleito.
SANTOS (1998) cita alguns exemplos:
49
PINTO E PREUSSLER (1984) propõem um limite de tensão normal vertical no subleito igual
a 15% da tensão desvio de ruptura determinada em ensaio estático do tipo UU no solo do
subleito, para carregamento igual ao da carga padrão.
VERSTRAETEN (1989, apud SANTOS, 1998), indica uma deformação permanente máxima
de 16 mm como padrão na Bélgica.
Onde:
İcvs - Deformação específica vertical de compressão no topo do subleito
THEYSE (1997, apud SANTOS 1998), apresenta uma modelagem para dados de
afundamento de trilha de roda na África do Sul , em trechos reais com a passagem do
equipamento HVS.
50
Trata-se de um modelo composto de uma parte linear e outra exponencial. A parte
exponencial modela o rápido decréscimo da deformação permanente e a parte linear uma
tendência à estabilização.
Com base nesse modelo da equação 2.48 e em medições de dezenas de trechos, Theyse
sugere:
PD=e. Ns.( eB.ıv –1) (2.49)
c, s , B - parâmetros experimentais.
2.4.1 Introdução
O termo inglês shakedown pode apresentar alguns significados distintos quando traduzido
para a língua portuguesa, porém no estudo de pavimentos asfálticos este termo ainda não
possui uma tradução consagrada, podendo ser interpretado como o acomodamento das
deformações permanentes, ou plásticas, que um material ou estrutura de pavimento
desenvolve quando submetido à ação de cargas repetidas.
Considerou-se que a degradação total do pavimento foi alcançada para PSI d 1,5 e o
shakedown foi detectado através da estabilização do valor de PSI após certo número de
aplicações de carga. A figura 2.4.1 ilustra a ocorrência do acomodamento das deformações
permanentes, ou shakedown, nos pavimentos correspondentes às estacas 581 e 333.
51
Numeração das
Estacas
PSI
“N”
Figura 2.4.3. Variação do Valor de PSI dos Pavimentos (Estacas) Analisados na Pista
Experimental da AASHO. Extraído de SHARP e BOOKER (1984).
52
THOM (2008) afirma que a essência da definição de um Unbound Material é o fato de não
possuir binder, ou elemento ligante, e isto significa que possuem resistência à tração nula,
embora possam resistir ao cisalhamento.
Uma das primeiras linhas de pesquisa consiste no cálculo do shakedown estrutural, ou seja,
consideram-se todas as camadas dos pavimentos simultaneamente e discretizados em
elementos finitos, em geral, sendo necessário o estudo dos efeitos das tensões devido à ação
da carga de roda combinado com uma modelagem das tensões residuais. Busca-se a carga de
53
shakedown, ou o menor carregamento tal que todos os elementos de um pavimento não
apresentem acréscimo nas deformações permanentes a partir de um número N de aplicação de
cargas. São destaques nesta área os trabalhos de RAAD et al (1988, 1989a e 1989b), além
alguns trabalhos conduzidos na Universidade de Sidney, Austrália, sob orientação do
professor John Small.
54
Figura 2.4.4: Comportamento Clássico de Materiais Submetidos à Ação de Cargas Repetidas
de Acordo com a Teoria do Shakedown. JOHNSON (1986, apud WERKMEISTER 2004).
A situação de shakedown elástico pode ser considerada mais comum para materiais de
pavimentação, pois significa que o material apresenta deformações permanentes até certo
número de aplicações de cargas, a partir do qual esta deformação torna-se constante e o
material assume um comportamento totalmente elástico
Não há registro deste comportamento para os materiais de pavimentação, mas esta pode ser a
situação apresentada pelas fundações de plataformas de exploração de petróleo, nas quais a
55
ação das ondas do mar corresponde ao carregamento cíclico, que muda de sentido
periodicamente.
Ao longo do presente trabalho serão mostrados resultados de estudos mais recentes utilizando
especificamente materiais de base, sub-base e subleito de pavimentos conduzidos na
Universidade de Nottingham, Inglaterra, e de Dresden na Alemanha, entre outros lugares.
Tais estudos atestaram que o modelo de Johnson não descreve muito bem o comportamento
destes materiais, quando submetidos a ensaios triaxiais de cargas repetidas com níveis de
tensões similares ao observado em pavimentos, tendo sido necessário estabelecer novas
formulações.
56
Teoremas Fundamentais do Shakedown
A seguir serão apresentados os teoremas fundamentais da teoria do shakedown, bem como
princípios pertinentes, todos extraídos de FARIA (1999).
Princípio Estático
Se as tensões estáticas violarem o limite elástico do material, deformações plásticas irão
ocorrer conduzindo a uma redistribuição das tensões, sendo que estas tensões podem ser
expressas pela soma das tensões elásticas ( V i,e j ) e outro campo de tensões, chamado de
tensões residuais ( U i, j ).
As tensões residuais conduzem a tensões permanentes que irão atuar no corpo mesmo após o
descarregamento elástico. Então, o campo de tensões residuais corresponde a um
carregamento externo nulo e forma um sistema auto-equilibrado, satisfazendo condições de
equilíbrio durante o processo completo de carregamento.
Após a ocorrência do shakedown as tensões residuais não mais sofrerão variações, porque não
ocorrem mais deformações plásticas em um corpo em shakedown.
tempo, satisfazendo a equação (2.4.1), de tal forma que a equação (2.4.2) seja satisfeita para
todas as possíveis variações de carregamento:
f [V ie, j ( xi , t ) U i , j ( xi )] d K ( xi ) (2.4.2)
contido no domíno \ .
De maneira alternativa, se um campo de tensões residuais puder ser encontrado tal que o
correspondente limite de carregamento elástico inclua o domínio de todos os possíveis
carregamentos, então o shakedown irá ocorrer durante o processo de carregamento.
57
A condição para a ocorrência do shakedown definida pela equação (2.4.1) pode também ser
expressa em termos de parâmetros de carregamento Ol . Como as tensões elásticas são funções
lineares dos parâmetros de carga, podem ser escritas:
V ie, j Ol (V ie, j )l l = 1,2,..., r (2.4.3)
Onde:
V i,e j : denota o campo de tensões elásticas independente do tempo e os parâmetros de carga Ol
são funções do tempo. Substituindo-se na equação (2.4.2), tem-se:
f [Ol .V ie, j ( xi , t ) Ui , j ( xi )] d K ( xi ) (2.4.4)
Princípio Cinemático
Considere-se um corpo linear elástico-perfeitamente plástico submetido a um carregamento
múltiplo quase-estático atuando em sua superfície e admita que os deslocamentos são nulos.
todo 0 d t d T , que é caracterizada pela propriedade de, para qualquer intervalo de tempo T a
deformação plástica, conforme (2.4.2), constitui um campo de tensões cinematicamente
admissível juntamente com o campo de deslocamentos, equação (2.4.3), os quais ao mesmo
tempo satisfazem a condição de fronteira 'u ik 0 em S u .
T
'Hij ( xi ) ³ H
k
ij ( xi , t ).dt (2.4.5)
0
T
'uik ³ u .dt
0
i (2.4.6)
58
e tal que a equação (2.4.7) seja satisfeita.
T T
Tensões Residuais
O termo tensão residual é usado para denominar tensões existentes em estruturas na ausência
de carregamentos externos. As tensões residuais constituem um campo auto-equilibrado de
tensões.
59
shakedown no Brasil. A discussão que se segue é baseada nos manuscritos de MEDINA
(1999) e nos de RAAD et al (1988).
60
f [(V ij ) o (V ij ) s D .(V ij ) a 'V ij ] d 0 (2.4.10)
61
A capacidade de acomodamento calcula-se por métodos numéricos através de uma série de
iterações. Admite-se que a resposta sob determinado estado de tensões repetidas num dado
ponto do pavimento se estabilize e permaneça elástica desde que estas tensões não
ultrapassem a resistência ao cisalhamento definida pelo critério de Mohr-Coulomb. A série de
interações utilizando-se a análise de elementos finitos é conduzida de tal modo que cada
elemento satisfaça a relação de módulo resiliente em função das tensões.
Figura 2.4.3. Fluxograma Utilizado por RAAD et al (1988) para Cálculo da Carga de
Shakedown.
62
assente no subleito. A figura 2.4.4 apresenta a influência das características dos materiais na
carga de shakedown.
A camada superficial tem coesão C1 = 100 lb/pol2 (0,69 MPa) e C2 = 500 lb/pol2 (3,45 MPa),
coeficiente de Poisson, Q = 0,25, e ângulo de atrito interno, I = 35q; o subleito fraco, com
módulo resiliente, E1 = 3000 lb/pol2 (20,6 MPa), c1 = 3 lb/pol2 (0,021 MPa), I = 0q; o subleito
resistente, E2 = 20.000 lb/pol2 (137,8 MPa), c2 = 20 lb/pol2 (0,114 MPa), Q2 = 0,47.
63
Mostraram RAAD et al (1988) que no caso de camada cimentada, de espessuras de 10 cm a
37,5 cm, assente num subleito fraco (E2 = 20,6 MPa, Q2 = 0,47, c2 = 0,021 MPa e I2 = 0q) o
início do trincamento dá-se sempre aquém da carga de acomodamento. Quanto à propagação
das trincas até a superfície (ruptura por fadiga) esta pode se dar aquém ou acima da carga de
acomodamento, dependendo, também, das condições de interface , com ou sem atrito.
Nos trabalhos de RAVINDRA e SMALL (2004, 2008a e 2008b) são apresentados resultados
de um estudo experimental para a pesquisa do shakedown estrutural de pavimentos a partir de
um dispositivo tipo simulador de tráfego, figura 2.4.5, sendo que o estudo envolveu, também,
uma abordagem teórica do shakedown estrutural, tendo sido possível comparar os resultados
experimentais e numéricos.
Para a pesquisa foi construído um aparato experimental que constituiu de um tanque com
algumas seções de pavimentos, e um sistema de aplicação de carga de rodas semelhantes aos
utilizados em simulador de tráfego, no qual a carga de roda pode variar entre 0 e 1,4 kN, com
uma velocidade entre 0 e 7,2 km/h, pneus de largura 45 mm e diâmetro 220 mm. Cada seção
de teste foi construída com 1,4 metros de comprimento e 0,5 metros de largura, sendo o
comprimento total do tanque de teste de 12,15 metros, com máxima profundidade de 0,8
metros, conforme indicado na figura 2.4.5.
64
Figura 2.4.5: Aspecto Geral do Aparato Experimental de RAVINDRA e SMALL (2008a).
Cada seção foi constituída de duas camadas: uma base granular composta de agregados de
concreto de cimento reciclado e subleito constituído de areia silicosa fofa, com 100% passante
na peneira de 4,75 mm e apenas 0,15% passante na peneira de 0,15 mm de abertura.
A segunda malha está associada à distribuição das tensões residuais e do cálculo do limite do
shakedown, para o qual são utilizadas as tensões geradas pela primeira malha e um critério de
escoamento plástico, no caso do critério de Mohr-Coulomb. Além de elementos finitos
também é utilizada a técnica de programação linear.
65
Figura 2.4.6: Fluxograma para Cálculo do Limite do Shakedown. RAVINDRA e SMALL
(2008a).
espessura da base, coeficiente de Poisson e ângulo de atrito das camadas. A letra “b” se refere
à camada de base, “s” ao subleito.
Nas figura 2.4.7a e b os autores apresentam a deformação permanente vertical, para diversas
distâncias horizontais, considerando profundidades distintas e diversos ciclos de aplicação de
cargas. Na figura 2.4.7a a carga aplicada (de 80 N) foi superior à carga de shakedown para a
seção de pavimento analisada (5 N). Cada curva da figura representa a medida do
afundamento para um mesmo número de ciclos de aplicação de cargas.
Verifica-se que à medida que os ciclos de aplicação de cargas foram aumentando, as curvas
foram se afastando da curva inicial (zero ciclos), fato que indica um aumento da deformação
permanente no pavimento. Ou seja, o pavimento não entrou em shakedown quando solicitado
por carga de roda superior à carga de shakedown.
67
Os autores utilizaram o programa desenvolvido e o conceito de vida de serviço do pavimento,
ou PSL (Pavement Serviciablity Life), que pode ser definida como o carregamento de tráfego
acumulado, expresso em ESAs (Equivalent Standart Axles), para verificar a importância do
conceito do shakedown em Mecânica dos Pavimentos.
Seis diferentes perfis de pavimentos de New South Wales, Austrália, tiveram sua vida de
serviço comparada com suas respectivas cargas de shakedown, conforme mostrado na figura
2.4.9. Os parâmetros dos pavimento econtram-se em SHARP e BOOKER (1983). A figura
mostra claramente que quanto maior a carga de shakedown, maior foi vida de serviço do
pavimento.
68
permanente, denominados níveis A, B e C, representados na figura 2.4.10 e cujas
peculiaridades são comentadas na sequência do presente trabalho.
69
da deformação permanente por ciclo de carga deve ser da ordem de 10-7 metros por ciclo de
aplicação de carga. Neste caso, diz-se que o material entrou em shakedown.
O nível C – Colapso
Neste nível ocorrem sucessivos incrementos de deformação permanente para cada ciclo de
carregamento e a resposta do material é sempre plástica. O material pode apresentar ruptura
por cisalhamento ou atingir níveis de deformação tal que o torne inservível para constituir um
pavimento. Na figura 2.4.10 observa-se que:
O nível B
Corresponde a um nível de resposta intermediária, ou seja, não se pode afirmar que o material
entrará em colapso, nem que ele entrou em shakedown. Nos ciclos iniciais de aplicação de
cargas a taxa de acréscimo da deformação permanente é muito elevada, mas esta vai
decrescendo, conforme ilustrado na figura 2.4.11, tornando-se muito pequena, próxima a um
nível constante.
Ensaios com até 700.000 ciclos de aplicação de cargas indicaram que o material pode
apresentar um repentino acréscimo na deformação permanente próximo ao fim do ensaio.
70
Figura 2.4.11: Taxa de Acréscimo da Deformação Permanente em Função do Número de
Ciclos de Aplicação de Cargas para o Nível B. WERKMEISTER et AL (2004).
No gráfico da figura 2.4.10 tem-se que para o nível B as curvas tendem a serem paralelas ao
eixo horizontal, indicando que a taxa de acréscimo da deformação permanente tende a se
estabilizar, porém não atingindo valores na ordem de 10-7.
A deformação resiliente também pode ser mensurada durante os ensaios de cargas repetidas,
tendo sido observado, de acordo com a figura 2.4.12, que para os níveis A e B esta
deformação mostrou-se constante ao longo dos ciclos de aplicação de cargas, e sua magnitude
variou de acordo com o estado de tensão utilizado no ensaio.
função desta última variável, conforme ilustrado na figura 2.4.13, na qual tem-se que V1max é a
soma entre a tensão desvio e tensão confinante (Vc).
71
࣌ࢇ࢞
Figura 2.4.13: Variação da Deformação Resiliente em Função da Razão de Tensões ൗ࣌ࢉ
para um Granodiorito. WERKMEISTER (2003).
A partir dos resultados obtidos os autores supracitados puderam estabelecer uma equação
matemática tal que definisse as zonas limites dos comportamentos correspondentes aos níveis
A, B e C. A equação obtida para o granodiorito foi a seguinte:
ఙభೌೣ ఉ
ߪଵ௫ ൌ DǤ ቀ ቁ (2.4.13)
ఙ
Onde:
V1: tensão total axial
Vc: tensão confinante
D, E: constantes do modelo experimentais.
Com esta equação foi possível estender os limites do shakedown para razões de tensões não
ensaiadas através de extrapolação, conforme ilustrado na figura 2.4.14, na qual é possível
observar que o nível A de comportamento, que caracteriza a situação de shakedown, é
associado a baixas razões de tensões.
72
Figura 2.4.14: Limites do Shakedown para o Granodiorito Estudado por WERKMEISTER et
al (2004).
2.5.1. Conceituação
Há pouco mais de dois séculos, mais precisamente no ano de 1807, o inglês Buchanam
sugeriu o termo “Laterita”, em inglês Laterite, relacionado ao termo do latim “Later”, que
significa tijolo, para designar um material avermelhado, apropriado para construções, e
explorado nas regiões montanhosas do Malabar, na Índia, (BIGARELLA, 2007).
Desde o trabalho pioneiro de Buchanam o termo Laterita tem sido utilizado para descrever
materiais bastante distintos, sendo encontrados na natureza em depósitos, ou jazidas, tanto
endurecidos quanto não endurecidos. Assim, não há um consenso para o emprego do termo.
73
Várias ciências estudam as lateritas e os processos de laterização, entre elas a geologia, a
geoquímica, a geomorfologia, a pedologia e a engenharia rodoviária. Evidente que tal fato
contribui para o aumento do conhecimento, mas, por outro lado, também contribui para a falta
de consenso no uso da nomenclatura “laterita”.
Por sua gênese exclusiva do ambiente tropical e pelas propriedades tais como cimentação,
porosidade e existência de finos não expansivos, as lateritas constituem autênticos solos
classificados como tropicais, de acordo com a definição adotada pelo Comitê para Solos
Tropicais da Associação Internacional de Mecânica dos Solos, ISSMFE, na sigla em inglês.
Um material natural, típico da região tropical úmida que contém uma grande porcentagem
de grãos na fração pedregulho na forma de concreções, nódulos, pisólitos, ou formas
semelhantes, todas constituídas essencialmente de óxidos hidratados de ferro ou alumínio,
também podendo conter outros grãos na fração pedregulho tais como quartzo, mas em
pequenas quantidades.
Talvez por sua natureza restrita a ambientes, ou paleoambientes, tropicais, portanto regiões de
terceiro mundo ou de países em desenvolvimento, as lateritas tenham sido relativamente
pouco estudadas e, em alguns casos, até mesmo consideradas como solos problemáticos,
como em MORIN e TODOR (1979).
Tal fato não corresponde à prática da engenharia rodoviária brasileira, mas alerta para a
importância de maior divulgação no meio acadêmico de trabalhos técnicos que versem sobre
as propriedades mecânicas e desempenhos das lateritas como material de pavimentação.
74
A primeira conferência internacional de geomecânica de solos tropicais lateríticos e
saprolíticos, realizada em Brasília e conhecida por Tropicals’85, muito contribuiu para a
conscientização das peculiaridades dos solos tropicais. Entretanto, mesmo passados mais de
20 anos deste evento não é muito difícil encontrar profissionais e até mesmo pesquisadores
formadores de opinião presos a conceitos superados tais como índice de CBR e limites de
consistência como condicionantes para emprego de solos tropicais em pavimentos.
O termo plintita também se refere a tijolo assim como o termo laterita, porém tem origem no
grego (plinthos=tijolo), tendo sido introduzido porque, segundo LEPSCH (2002), o termo
latossolo freqüentemente se refere a todos os solos desenvolvidos nos trópicos úmidos.
75
No trabalho de RESENDE et al (2005) é possível obter informações a respeito da mineralogia
de solos brasileiros, inclusive os lateríticos.
Tais materiais não devem ser confundidos com os solos finos lateríticos descritos por
NOGAMI e VILLIBOR (1995), também amplamente empregados no Brasil, mas que
consideram solos naturais com granulometria inferior a 2 mm.
O termo Lateritos é utilizado por COSTA (1987) como um sinônimo para lateritas, sendo
descritos como materiais incoesos ou compactados resultantes da ação de intenso
intemperismo químico sob condições tropicais, sendo constituídos de óxido e hidróxidos de
ferro (Fe), alumínio (Al), manganês (Mn) e titânio (Ti), em quantidades variadas, bem como
de fosfatos de Fe e Al e de argilominerais do grupo da caulinita. Do ponto de vista químico
são pobres em silício (Si), potássio (K) e magnésio (Mg) e ricos em Fe, Al, Ti, entre outros,
na parte superior do perfil.
“O termo Laterita é usado para designar rochas formadas, ou em fase de formação, por meio
de intenso intemperismo químico de rochas pré-existentes, inclusive de Lateritas antigas, sob
condições tropicais ou equivalentes.”
Com relação à composição química é comum encontrar na literatura citações que consideram
as lateritas compostas de óxidos e/ou hidróxidos de Fe ou Al, tais como a hematita, goethita e
a gibsita. Entretanto, a maioria das crostas lateríticas contém mais de um óxido metálico,
sendo sua classificação química ou mineralógica relativamente difícil.
Outro aspecto especialmente importante se refere ao grau de evolução e à natureza dos perfis
das lateritas. Neste contexto, COSTA (1991) ao relatar as lateritas da Amazônia considera que
estas podem ser agrupadas em dois grandes grupos: as lateritas imaturas e as lateritas maturas.
COSTA (1997) identificou dois períodos distintos de laterização da região amazônica, sendo
as lateritas maturas formadas no eoceno (54 – 33 ma) – oligoceno (33 – 24 ma), e em alguns
pontos isolados no cretáceo (> 65 ma), e as lateritas imaturas formadas no pleistoceno (< 1,8
ma).
As Lateritas Imaturas estão distribuídas por toda a região e formam o relevo jovem que
predomina na região amazônica. Os perfis de tais lateritas apresentam características típicas
de baixo grau de evolução. A presença de um horizonte concrecionário ferruginoso é clássica.
As Lateritas Maturas estão muito bem representadas na Amazônia, mas não tem a mesma
extensão geográfica das imaturas, restringindo-se a regiões específicas. Em geral, compõem o
relevo mais elevado, sob a forma de platôs ou morros. São lateritas evoluídas, com maior
complexidade dos horizontes, texturas, estruturas, mineralogia, feições geoquímicas e
mineralizações associadas.
77
SALOMÃO e ANTUNES (1998) se referem à Lei de Vant’Hoff para descrever a importância
do fator clima na formação dos solos: para um aumento de 10°C, a velocidade de uma reação
química aumenta de 2 a 3 vezes. Dessa forma, espera-se que no ambiente tropical quente e
úmido as reações químicas de intemperismo, em especial a hidrólise, sejam mais intensas,
fato que resulta em perfis de alteração de rochas muito mais espessos do que o observado nas
regiões temperadas.
Basicamente, a influência do clima pode ser restringida a dois outros fatores básicos:
temperatura e pluviosidade.
A temperatura também está associada à matéria orgânica presente no solo, que em muitos
casos é um fator condicionante de seu comportamento. A temperatura interfere na
proliferação de microorganismos responsáveis pela decomposição da matéria orgânica,
porque em regiões de clima quente há maior quantidade de microorganismos e,
conseqüentemente, menor quantidade de matéria orgânica no solo, sem grande
desenvolvimento de húmus.
78
A influência do fator relevo está associada à interferência que este exerce na dinâmica da
água. Assim, em maciços bem drenados a água pode penetrar no perfil e escoar com certa
facilidade, favorecendo o processo de remoção das bases solúveis, essencial para a formação
de concreções ferruginosas. Por outro lado, em regiões pouco drenadas, como as regiões de
várzeas, a água fica retida no solo favorecendo o processo de gleização do solo, como
observado nas argilas cinzas do Rio de Janeiro.
O material de origem de um solo pode ser tanto a rocha-mãe quanto um depósito sedimentar
de origem variada, sendo que na fase inicial de sua formação o solo preserva muitas
características da rocha ou depósito que lhe deu origem. Entretanto, à medida que se
intensificam as reações de intemperismo, os processos de formação e os processos
pedogenéticos, o material de origem vai sendo substituído paulatinamente por minerais neo-
formados.
Neste ponto entra em questão outro fator que influencia a formação dos solos: o chamado
tempo geológico. A amplitude dos efeitos causados no solo pelas reações químicas associadas
à sua formação depende do tempo de duração dos agentes de intemperismo, especialmente
químico.
Intemperismo Químico
A condição essencial para a atuação do intemperismo químico é a presença de água em
contato com as rochas. A origem da água está associada à existência de chuvas, que possuem
um caráter ligeiramente ácido devido à dissolução de CO2 nas moléculas de água na forma de
vapor e em suspensão no ar.
Tal como descrito por TEIXEIRA et al (2000) as reações químicas do intemperismo podem
ser representadas pela seguinte equação genérica:
Mineral I + Solução de Alteração o Mineral II + Solução de Lixiviação
79
x Hidrólise,
x Oxidação.
Reação de Hidratação
As moléculas de água entram na estrutura do mineral, havendo a formação de outro mineral.
No tradicional exemplo da transformação de anidrita em gipso, tem-se:
CaSO4 + 2 H2O o Ca SO4.2H2O
Reação de Dissolução
A dissolução consiste na solubilização completa e pode ocorrer com alguns minerais, tal
como ocorre com a calcita, representado pela equação:
CaCO3 o Ca+2 + CO3-2
Reação de Oxidação
Um determinado mineral pode apresentar um elemento em mais de um estado de oxidação,
sendo o exemplo mais comum o do elemento Fe. Liberado em solução o Fe se oxida a Fe+3,
precipitando-se como um novo mineral, a ghoetita, que é um óxido de ferro hidratado. A
reação é a seguinte:
2FeSiO3 + 5H2O + ½ O2 o 2 FeOOH + 2H4SiO4
Reação de Hidrólise
Os silicatos constituem o grupo mineral mais abundante na superfície terrestre podendo ser
classificados como sais de um ácido fraco (H4SiO4) e de bases fortes (NaOH, KOH, Ca(OH)2,
Mg(OH)2).
Os silicatos são muito importantes na formação de solos porque quando em contato com a
água sofrem hidrólise, resultando numa solução alcalina, pelo fato de o H4SiO4 estar
praticamente indissociado e as bases muito dissociadas.
80
O íon H+ resultado da ionização da água entra na estrutura mineral do feldspato alcalino,
deslocando os cátions Ca+2 e Mg+2, que são liberados para a solução. A estrutura do mineral
da interface sólido/solução de alteração acaba sendo rompida, liberando Si e Al na fase
líquida. Esses elementos podem se combinar resultando na neoformação de minerais
secundários.
Na hidrólise total 100% da sílica e do potássio são eliminados. A sílica apesar de pouco
solúvel pode ser totalmente eliminada se as soluções de alteração permanecerem diluídas,
características pertinentes às condições de pluviosidade alta e drenagem eficiente dos perfis
tropicais.
Na hidrólise parcial, em função das condições de drenagem menos eficientes, parte da sílica
permanece no perfil; o potássio pode ser total ou parcialmente eliminado. Esses elementos
reagem com o alumínio, formando aluminossilicatos hidratados, os chamados argilominerais.
No caso de hidrólise total, além do alumínio, o ferro também permanece no perfil, tendo em
vista que esses dois elementos têm comportamento geoquímico semelhantes, no domínio
81
hidrolítico. Ao processo de eliminação total da sílica e formação de oxi-hidróxidos de ferro e
alumínio dá-se o nome de alitização ou ferralitização.
2.5.3. Caracterização
A caracterização das ocorrências das lateritas é um aspecto especialmente importante
principalmente porque algumas características geotécnicas e propriedades mecânicas podem
82
variar consideravelmente ao longo de um mesmo perfil, e, como conseqüência, uma amostra
conduzida ao laboratório pode não ser representativa da ocorrência.
Além disso, amostras com composição granulométrica e índices físicos similares, mas de
localidades distintas, podem ter propriedades muito diferentes, tais como: resistência à
abrasão, absorção à água, expansão e composição mineralógica da fração argila.
Assim, o autor da presente pesquisa entende que a melhor maneira de se caracterizar uma
ocorrência de laterita deve incluir todos os estudos disponíveis da região relacionados a
geologia e pedologia, bem como a descrição do perfil realizada de maneira similar àquela
utilizada pela estratigrafia, na qual são representadas as espessuras e granulometrias das
camadas do perfil. Tais informações devem ser adicionadas às características geotécnicas
tradicionais, além dos ensaios físico-químicos, entre outros.
Diversos autores têm dado importantes contribuições para o estudo dos perfis de ocorrências
das lateritas, e segundo BIGARELLA (2007), foi a partir de 1920 que o estudo mundial das
lateritas foi abordado sob critérios pedológicos, baseados na morfologia do perfil, nos
aspectos físicos e na composição química.
83
inicial como elemento essencial para sua caracterização, fato com o qual não é possível
concordar, segundo (BIGARELLA, 2007).
Posteriormente tal relação foi alterada para (SiO2/(Al2O3 + Fe2O3)), a chamada relação sílica
sesquióxidos, que, apesar de consistir em um dado muito mais indicativo do que absoluto, tem
sido utilizada com sucesso por alguns pesquisadores, tal como JOACHIM e KANDIAH
(1941, apud BIGARELLA 2007).
Esta relação é usada pela Norma DNIT 098/2007 – ES para identificação de solo laterítico
(laterita) como material de pavimentação.
De acordo com esta norma são considerados solos lateríticos de granulação graúda aqueles
cuja relação sílica-sesquióxido for menor que 2, e que apresentarem expansão inferior a 0,2%
no ensaio para obtenção do CBR, DNER-ME 049/94. O procedimento para realização do
ensaio para a determinação da relação sílica-sesquióxidos pode visto no Manual de Métodos
de Análise do Solo da EMBRAPA (1997).
Nesse ponto faz-se necessária uma observação importante relativa à rocha que dá origem ao
depósito laterítico. Tal rocha pode ser constituída de arenitos, quartzitos ou veios de quartzo
puro, todos apresentando o mineral quartzo (SiO2) em sua composição, que é altamente
resistente ao intemperismo.
Assim, mesmo que tenha ocorrido um intenso processo de laterização ao longo do perfil de
ocorrência, a análise físico-química das amostras apresentará, possivelmente, um elevado teor
de SiO2, mascarando a relação sílica-sesquióxidos. Assim, a jazida não será considerada como
laterítica, fato que constitui um erro crasso do ponto de vista do autor do presente estudo.
Lateritas do Acre
Os primeiros trabalhos desenvolvidos sobre as lateritas do Acre foram feitos por (GUERRA,
1956, apud COSTA 1985), que analisou algumas lateritas do Acre como solo argiloso de cor
amarelada, com concreções de ferro e elevado teor de Fe2O3. Considerou-as de origem fluvial
e em formação.
84
COSTA (1985) descreveu a composição mineralógica das lateritas acreanas localizadas
próximas à cidade de Rio Branco, através de ensaios de difração de raios-X e microscopia.
Foi observado que o horizonte concrecionário situa-se entre 0,4 e 1,5 metros de profundidade,
possuindo cor marrom-escura típica de óxi-hidróxidos de ferro. As concreções possuem brilho
semimetálico e internamente são marrom-avermelhadas e de brilho fosco. São duras, densas
e, em geral, maciças. O diâmetro varia de 0,2 a 3,0 cm.
Os minerais identificados nos vários horizontes foram: hematita, ghoetita, haloisita, caulinita,
quartzo e ilita. Não foi identificado gibbsita ou qualquer outro hidróxido de alumínio, bem
como a montmorilonita, e foram constatados baixos teor e cristalinidade da caulinita.
Há situações nas quais a fração pedregulho pode apresentar características favoráveis até
mesmo para o emprego com agregado em misturas asfálticas, tal como mostrado por
GUIMARÃES e MOTTA (2000).
Outros trabalhos sobre uso de lateritas em misturas asfálticas em outras regiões do Brasil são:
BRASILEIRO et al (1983) e MACÊDO (1989) para lateritas da Paraíba, CASTRO e SALEM
(1994) para lateritas de Minas Gerais, AMARAL (2004) para lateritas do Pará, e MOIZINHO
et al (2006) para laterita do Distrito Federal.
Outros trabalhos sobre pavimentação elaborados com lateritas do Acre, incluindo ensaios de
módulo resiliente, podem ser vistos em VERTAMATTI (1988) e SEIXAS (1998), entre
outros.
Lateritas da Amazônia
COSTA (1991) apresenta um amplo estudo a respeito das lateritas da Amazônia, sendo
denominadas por ele de “lateritos”. Seus estudos são fundamentalmente geológicos e
abrangem aspectos relacionados às ocorrências destes materiais, destacando a importância do
seu estudo por vários aspectos, entre eles:
85
São materiais ricos em Fe e Al e pobres em Si, K e Mg se comparados à sua rocha-mãe. Sua
coloração varia entre vermelho, violeta amarelo, marrom, e até branca. Sua composição
mineralógica envolve:
- Argilominerais.
Horizonte Feruginoso(petroplintito)
Ocorre na porção superior do perfil e exibe um ou mais das seguintes características:
x nódulos, concreções, esferólitos e fragmentos compostos de óxi-hidróxidos de ferro
em matriz argilosa e terrosa.
x uma crosta composta pelos elementos acima, cimentados por filmes microcristalinos
ou por cimento microcristalino gibbsito-caulinítico.
x Uma crosta formada de oxi-hidróxidos de ferro entrelaçando porções argilosas
amareladas.
86
Nódulos, concreções, esferólitos e plasmas são as estruturas dominantes, seguidas por
colunas, canais em forma de raízes e vermes, entre outras, e aquelas resultantes de lixiviação,
como as cavernosas, esponjosas e porosas.
Horizonte Argiloso
Ocorre logo abaixo do ferruginoso, em contato quase abrupto. É constituído
fundamentalmente de argilominerais e exibe as seguintes feições, estritamente relacionadas
com a natureza da rocha-mãe:
x Zona mosqueada/amarelada (plintito) que constitui a feição mais característica do
horizonte argiloso, quando derivado de rochas ígneas ácidas e intermediárias e de
sedimentares. Trata-se de um horizonte de arguas intempéricas manchadas
irregularmente de vermelho e violeta. Na parte superior do horizonte argiloso as
manchas se transformam em nódulos ou colunas, ou mesmo desaparecem, originando
uma zona nodular amarela ou marrom.
x Zona saprolítica que consiste em um termo empregado para descrever o intemperismo
de rochas cristalinas no estágio de argilominerais no qual aparecem fragmentos de
rochas parcialmente alterada, desde a escala milimétrica no topo a centimétrica na
base.
Figura 2.5.1: Perfil Geológico Simplificado das Lateritas Imaturas Autóctones da Amazônia,
Segundo COSTA (1991).
Os estudos de COSTA sobre os aspectos geológicos das lateritas da Amazônia tem sido uma
referência inicial para diversos pesquisadores na área de engenharia rodoviária, como, por
exemplo, AMARAL (2004), que pesquisou misturas asfálticas com agregados de laterita do
Pará.
Lateritas de Porto Velho
Em um breve trabalho de campo conduzido pelo autor da presente pesquisa na cidade de
Porto Velho/RO, para análise da gênese das jazidas de lateritas locais, foi possível identificar
uma boa relação entre o perfil das lateritas apresentado por COSTA (1991) e as jazidas locais.
Foram estudados diversos afloramentos entre os quais a lavra denominada jazida Coca-Cola,
cujo perfil é ilustrado na figura 2.5.2, e uma jazida junto na Avenida Rogério Weber junto ao
5° Batalhão de Engenharia de Construção, cujos perfis verticais podem ser vistos em detalhe
nos afloramentos resultantes dos cortes executados para a pavimentação da estrada que
margeia o Batalhão. Uma vista geral dos afloramentos é apresentada nas figuras 2.5.2 e 2.5.3.
88
Figura 2.5.2: Vista Geral da Jazida da Coca-Cola em Porto Velho/RO. Altura do Perfil
Aproximadamente 6,0 Metros. Foto do Autor.
Observando a figura 2.5.2 verifica-se que a camada vegetal é relativamente fina, sendo
seguida por uma zona de concreções de espessura aproximada de 2,0 metros e uma zona
colunar de até 4,0 metros de altura, sendo o perfil bastante análogo ao descrito por COSTA
(1991) e esquematizado na figura 2.5.1.
A zona colunar descrita por COSTA (1991) também pôde ser observada nos afloramentos
localizados junto ao 5q BECnst, conforme é mostrado na figura 2.5.3, porém, neste caso as
colunas não são exatamente verticais, apresentando uma inclinação em relação ao plano
normal ao terreno.
89
Figura 2.5.3: Aspecto Colunar da Jazida de Laterita Sobreposto à Zona de Ocorrência das
Concreções Ferruginosas. Jazida do 5° BECnst em Porto Velho/RO. Foto do Autor.
Na figura 2.5.4 é apresentada uma canga laterítica que consiste em concreções ferruginosas
envolvidas por uma matriz argilosa. Neste caso, o conjunto pode ser desmembrado sem
grandes esforços.
No caso do material oriundo da zona colunar foi constatada uma elevada rigidez, sendo
necessário britagem para emprego em camadas de pavimentos. No caso da canga da figura
2.5.4 a matriz argilosa que envolvia as concreções ferruginosas apresentava sinais de
alteração, fato que facilitaria seu eventual desmembramento para uso em pavimentos.
Outras Ocorrências
Laterita Formosa
Em um trabalho de campo na região do entorno do Distrito Federal, na cidade de
Formosa/GO, foi possível, para o autor da presente pesquisa, identificar um perfil de
ocorrência de lateritas típico daquela região do país, que é ilustrado nas figuras 2.5.5 e 2.5.6.
90
Figura 2.5.5: Vista Geral de Uma Jazida de Laterita em Formosa/GO. Foto do Autor.
Constatou-se que uma parte da fração pedregulho desta jazida apresentou pouca resistência ao
impacto do soquete de compactação, quebrando-se mais do que as outras lateritas ensaiadas
no presente trabalho. A composição granulométrica da laterita de Formosa é a seguinte: 34%
pedregulho, 10% areia, 14% silte e 42% de argila. Ou seja, o solo apresenta 56% de sua
fração passante na peneira nq 200.
91
Cascalho Corumbaíba
Em alguns locais do país algumas ocorrências de solos pedregulhosos de coloração variando
do vermelho ao castanho-escuro são freqüentemente denominadas de piçarras, ou lateritas,
mesmo que não sejam compostos de óxidos-hidróxidos de Fe.
Na região de Corumbaíba/GO localizada junto à divisa com o Triângulo Mineiro ocorre uma
situação deste tipo. Um afloramento da região, ilustrado na figura 2.5.7, foi estudado pelo
autor da presente pesquisa e constitui um dos solos cujo comportamento mecânicos foi
analisado no presente trabalho.
92
Em determinados extratos é possível constatar um camada de concreção ferruginosa bastante
rígida, tal como ilustrado nas figuras 2.5.8 e 2.5.9. Uma parte da ocorrência é, efetivamente,
constituída de óxidos e hidróxidos de ferro com elevado teor, constatado de forma visual,
enquanto que em outra ocorrência constatou-se que estes elementos atuam como agente
cimentante de areias quartzosas, formando um arenito. Apesar da similaridade, estes materiais
não devem ser considerados como lateritas e sua aplicação na engenharia rodoviária deve ser
condicionada a estudos futuros.
O caso ilustrado nas figuras constituiu um trecho experimental executado na rodovia BR-
317/AC no ano de 1998 pelo 7qBatalhão de Engenharia de Construção do Exército e sob a
responsabilidade técnica do autor. O objetivo principal era comparar o desempenho de uma
base típica da região, incluindo laterita, com outra base misturada com um agente melhorador
de solos. Maiores detalhes sobre o trecho experimental podem ser verificados em AMARAL
et al (1998).
93
Nos sub-trechos construídos com a laterita natural foi observado que o processo de
trincamento foi iniciado imediatamente após a compactação da base de laterita, atingindo um
padrão bastante elevado ao longo dos dias seguintes, mesmo havendo sido executada uma
imprimação com CM-30.
Embora a base tenha permanecido recoberta apenas pela imprimação durante pelo menos dois
anos subseqüentes foi observado que não houve reabsorção de água, e formação de atoleiros,
apesar das intensas chuvas características da região amazônica não houve absorção de água.
Analisando as trincas apresentadas nas figuras verifica-se uma analogia com o padrão de
trincamento observado em solos lateríticos de granulação fina, tal como ilustrado em
NOGAMI e VILLIBOR (1995), VILLIBOR et al (2000) e VILLIBOR et al (2007), entre
outros.
Outro aspecto físico de interesse para a engenharia rodoviária é a cor, sendo grande parte das
ocorrências registradas como avermelhadas ou castanho escuro. Na figura 2.5.12 são
apresentadas três lateritas de colorações bastante distintas, cujas ocorrências foram
identificadas ao longo de um trecho da rodovia BR-429/RO, no estado de Rondônia.
94
Figura 2.5.12: Colorações Distintas de Amostras de Lateritas Pesquisadas para o Projeto de
Pavimentação da Rodovia BR-429/RO. Foto do Autor.
Com relação à forma dos grãos das lateritas em geral diz-se que os mesmos possuem forma
vesicular, mas em alguns casos uma forma bem arredondada também pode ser verificada. Nas
figuras de 2.5.13 a 2.5.16 são mostradas as formas dos grãos observados em algumas lateritas
estudadas no presente trabalho.
Figura 2.5.13: Forma Vesicular dos Grãos Figura 2.5.14: Forma Vesicular dos Grãos
da Fração Pedregulho da Laterita do Acre. da Fração Pedregulho da Laterita de Porto
Foto do Autor. Velho. Foto do Autor.
95
Figura 2.5.16: Forma Vesicular do
Figura 2.5.17: Forma Vesicular
Agregado Graúdo de uma Laterita de
Arredondada de Uma Laterita de
Rondônia. Foto do Autor.
Rondônia. Foto do Autor.
96
2.5.5. Propriedades Geotécnicas
Diversos trabalhos brasileiros já foram realizados a respeito da utilização das lateritas
ferruginosas em pavimentos, podendo ser citados os trabalhos de VERTAMATTI (1988),
MOTTA (1991), SEIXAS (1997), SANTOS (1998), GUIMARÃES (2001), CHAGAS
(2004), MEDINA e MOTTA (2006), GUIMARÃES e MOTTA (2008a e 2008b), entre
outros.
Blocos de lateritas medindo 40x20x20 cm foram imersos em três tanques distintos, cada um
contendo três soluções aquosas com pH distintos, sendo que em cada tanque foram colocados
seis blocos de lateritas. A cada quinze dias um bloco era retirado de cada tanque para ensaio
de compressão simples, britagem, peneiramento e depois compactação com energia
equivalente ao ensaio proctor normal.
97
Para o caso do tanque com solução de pH 5,0 verificou-se que a massa específica aparente
seca máxima (MEAS) da laterita diminuiu de 1,687 kg/cm3 para 1,393 kg/cm3, após 90 dias
de imersão, sendo obtidos resultados semelhantes para os blocos de lateritas imersos nas
outras soluções preparadas.
O ensaio de compactação padronizado mostrou que a umidade ótima da laterita foi de 11% e a
máxima densidade seca foi de 2.02 t/m3, e os ensaios de CBR indicaram uma faixa de
variação entre 35 e 90%.
OMOTOSHO (2004) relata que as lateritas são comuns na interface entre o solo e as rochas
do embasamento cristalino da região sudoeste da Nigéria, assim como em algumas partes do
delta do rio Niger no sul da Nigéria. O autor analisa a influência da exclusão da fração
pedregulho com diâmetro entre 20 mm e 30 mm nos parâmetros do ensaio de compactação de
uma laterita. O material excluído deve ser substituído por igual massa de solo com diâmetro
inferior a 20 mm, sendo este procedimento conhecido no Brasil como retirada do “escalpo”.
98
O material analisado tem origem deltaica sendo oriundo de uma jazida de empréstimo
localizada junto à Universidade de Port Harcourt, com as seguintes características
geotécnicas: 34,4% passante na peneira nq 200, LL 49,2%, IP 32,8% e Gs igual a 2,59. A
laterita considerada não possui fração granular maior do que 1,0 mm, tendo sido adicionada
fração pedregulho de quartzito arredondado.
Foi observado pelo autor citado que à medida que se aumentou a fração excluída, e reposta
por finos, ocorreu uma diminuição da massa específica aparente seca, para todos os níveis de
pedregulho adicionado.
ܵܣܧܯ
ܵܣܧܯ ൌ
ܵܣܧܯ
ͳ ݔͳ േ ൨
ߛ௪ ܩ
Onde:
MEAScor: máxima massa específica aparente seca corrigida
MEASlab: máxima massa específica aparente seca obtida no ensaio de laboratório.
X: porcentagem de material submetido ao escalpo.
Jw: densidade da água
Geg: densidade real do fração pedregulho excluída.
GAO (1995) afirma que lateritas e solos argilosos lateríticos ocorrem no sul da China, região
caracterizada por possuir clima tropical e subtropical, descrevendo algumas de suas
propriedades geotécnicas. As lateritas propriamente ditas ocorrem em regiões tais como:
Xiamen, Fujian, Guangzhou, Guangdong, Kunmimg e Yunnan. A composição mineralógica
inclui a goethita e hematita. A rocha-mãe pode ser tanto o granito, como nas províncias de
Fujian e Guangdong como o basalto, como na província de Yunman.
99
lateríticos compactados apresentam excelentes resistências ao cisalhamento e valor de CBR.
A porcentagem de argila varia entre 12 e 15%, com predominância do argilomineral caulinita.
100
Figura 2.5.17: Importância Social das Lateritas da Amazônia. Revestimento Primário com
Laterita em Via Urbana de Senador Guiomard/AC. Foto do Autor.
No caso da via ilustrada na figura 2.5.17 a distância de transporte entre a jazida de laterita
explorada ao local gira em torno de quinze quilômetros, sendo que esta mesma jazida fornece
material para obras situadas a mais de cinqüenta quilômetros.
Outro aspecto que merece especial atenção, e já citado anteriormente, é utilização da fração
pedregulho das lateritas para a composição de concretos asfálticos. No Acre, conforme
vivência do autor da presente pesquisa, a experiência de décadas foi bastante satisfatória, mas
perdeu espaço a partir da disponibilidade de britas produzidas no vizinho estado de Rondônia,
cuja importação passou a ser economicamente viável a partir da conclusão da pavimentação
da rodovia BR-364 entre Porto Velho e Rio Branco.
A técnica utilizada para a lavagem de lateritas, cujo aspecto geral pode ser visto na figura
2.5.18, causa danos ambientais, como o assoreamento de cursos d’água à jusante do lavador,
e, por este motivo, foi sistematicamente combatida pelo órgão ambiental daquele estado,
sendo gradativamente abandonada naquela região do país.
101
construção civil cujos passivos ambientais devem ser mitigados de acordo com o previsto em
lei, ou na boa prática ambiental.
Figura 2.5.18: Vista Geral de Uma Parte de um Lavador de Laterita no Acre. Foto do Autor.
102
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Materiais
Como o principal objetivo desta pesquisa é definir modelos de comportamento à deformação
permanente, definindo parâmetros de deformabilidade para cada solo utilizado e pesquisando
a ocorrência do shakedown ou acomodamento das deformações plásticas, procurou-se
diversificar os materiais estudados, mas priorizando os de formação típica laterítica, embora
também tenham sido selecionados não lateríticos para estudo do comportamento.
Uma descrição mais detalhada dos materiais, incluindo aspectos geológicos ou pedológicos
regionais, serão apresentados em cada capítulo apresentado, desde que estejam disponíveis na
literatura. A apresentação dos resultados foi feita para cada material, ou conjunto de materiais
de gênese similar, independentemente porque o autor considera que esta forma é mais
didática, permitindo melhor visão dos resultados obtidos, embora possa parecer um tanto
repetitiva. Além disso, tal medida possibilitou que a análise dos resultado fosse feita
imediatamente após a realização do conjunto de ensaios programados para cada material,
otimizando a elaboração da presente pesquisa. Os materiais estudados foram os seguintes:
103
Figura 3.1: Aspecto Geral de Corpos de Prova de Dimensões 10 cm de Diâmetro e 20 cm de
Altura. Da Esquerda para a Direita: Brita Graduada Chapecó (dois), Laterita Acre e Tabatinga
Acre.
Figura 3.2: Laterita Acre Homogeneizada e Acondicionada em Saco Plástico Pronta para Ser
Encaminhada à Câmara Úmida.
104
Figura 3.3: Corpos-de-prova de Dimensões 10 cm de Diâmetro por 20 cm de Altura de
Lateritas de Rondônia – Jazida S-820 .
Brita Graduada de Chapecó/SC: consiste em uma brita graduada simples de basalto típico da
região sul do país, apresentando bom enquadramento granulométrico, tendo sido utilizada nas
obras de alargamento do acesso à BR-282/SC na cidade de Chapecó/SC.
105
verificado que a perda por imersão da areia argilosa do Espírito Santo foi relativamente baixa,
fato que contribuiu, e em muito, para a classificação do material como de comportamento
laterítico. Na figura 3.6 mostram-se dois corpos-de-prova de dimensões 10 cm de diâmetro
por 20 cm de altura, sendo possível verificar a diferença de coloração entre a areia argilosa do
ES, mais clara, e a argila de Ribeirão Preto.
Figura 3.5: Ensaio de Perda por Imersão Realizado com a Areia Argilosa do Espírito Santo.
Figura 3.6: Coloração Distinta dos Corpos-de-Prova de Areia Argilosa do Espírito Santo
(esquerda) e Argila de Ribeirão Preto/SP.
106
Argila de Ribeirão Preto/SP: consiste na famosa “terra roxa”de ampla ocorrência nos estados
de São Paulo e Paraná, sendo um latossolo que também tem a propriedade de ser fértil, fato
não muito comum. Sua utilização em plantações de café foram importantes para a história do
Brasil, sendo amplamente empregados em pavimentos na região. Na figura 3.7 mostra-se que
durante a fase de desmoldagem dos corpos-de-prova de argila de Ribeirão Preto parte do
material adere fortemente à superfície metálica do molde, característica também observada
em outros solos finos lateríticos, e que pode acarretar na perda do corpo-de-prova.
107
Figura 3.8: Molhagem para Posterior Homogeneização de Amostra de Solo Papucaia.
108
Areia Fina de Campo Azul/MG: trata-se de uma areia final siltosa-argilosa não laterítica a
qual se pretende estudar para utilização em camadas de base de pavimentos de baixo custo no
norte de Minas Gerais, em especial no município de Campo Azul, localizado junto ao Rio São
Francisco. Na figura 3.10 é apresentada uma amostra de areia fina de Campo Azul/MG.
Laterita de Porto Velho/RO: consiste em uma típica laterita ferruginosa da região norte do
país, com boa distribuição granulométrica, e bastante utilizada na cidade de Porto Velho/RO.
O aspecto pedregulhoso do material pode ser observado na figura 3.11.
109
3.2 Metodologia Utilizada
A idéia básica da metodologia utilizada no presente trabalho está esquematizada na figura
3.12, na qual se pode distinguir uma fase de selecionamento de materiais no campo e
realização de ensaios triaxiais de cargas repetidas de longa duração, usualmente superior a
100.000 ciclos, seguida da fase de avaliação dos resultados através de três partes distintas. A
primeira parte diz respeito a avaliação da deformação permanente total, na qual foi
desenvolvido o modelo de previsão propriamente dito; a segunda parte consistiu na pesquisa
de ocorrência do shakedown através da metodologia desenvolvida na universidade de
Nottingham, na qual procurou-se classificar o comportamento do material estudado ou obter o
limite do shakedown e estudos comparativos; na terceira fase pesquisou-se a variação da
deformação resiliente ao longo dos ensaios e realizou-se ensaios de módulo resiliente após o
ensaio de deformação permanente, comparando-se os resultados.
Fase IV
Fase VI
Fase I
Esta fase diz respeito à maneira como os materiais foram obtidos e preparados para o presente
estudo. As amostras de solos foram coletadas em seus perfis de ocorrência natural, como no
caso da areia argilosa do ES e da laterita de Porto Velho, ou diretamente na camada de
110
pavimento rodoviário na qual vinha sendo utilizada, como no caso da argila de Ribeirão Preto,
solo Papucaia e lateritas de Rondônia.
Para cada um dos materiais estudados optou-se por homogeneizar uma a uma amostras de
cerca de 4.000 gramas, adicionando-se água de tal forma a se atingir a umidade ótima
previamente calculada, e depois guardando cada porção em saco plástico fechado. Após a
última amostra ter sido homogeneizada, em geral o número de porções por amostra foi na
ordem de dez, então todos os sacos de plástico foram esvaziados em uma caixa de volume
aproximado de 0,5 m3, sendo o conjunto de porções revolvidas diversas vezes dentro da caixa
até que se garantisse a formação de uma massa única de material. Posteriormente, esta massa
única foi dividida novamente em sacos de 4.000 gramas, que foram fechados e levados à
câmara úmida até a data de realização do ensaio de carga repetida. Um aspecto geral das
porções de amostras acondicionadas em sacos plástico é mostrado na figura 3.13, e de uma
porção de amostra homogeneizada é mostrada na figura 3.14. Isto foi necessário porque não
se dispunha de um misturador automático com capacidade para 40 kg de solo, necessário para
a série de ensaios.
111
Figura 3.14: Aspecto de uma Amostra de Argila de Ribeirão Preto Homogeneizada.
Desejou-se com tal procedimento evitar grande variação de umidade de compactação entre as
porções de amostras homogeneizadas usadas nos vários ensaios, com níveis de tensão
distintos. Na data prevista do ensaio uma porção da amostra era retirada da câmara úmida e
levada imediatamente para compactação mecânica em cilindro tri-partido de dimensões de 10
centímetros de largura e 20 centímetros de altura, com energia de compactação variando, de
acordo com a finalidade da amostra, entre a equivalente à normal e à equivalente à
modificada. Um aspecto do corpo-de-prova obtido após compactação mecânica, e em fase de
desmolde para posterior ensaio de cargas repetidas é apresentado na figura 3.15.
112
Fase II
Consistiu na realização dos ensaios triaxiais de cargas repetidas propriamente dito, para
diversos estados de tensões, sendo um exemplo apresentado na tabela 3.1, e de maneira a
englobar as possíveis combinações de tensões as quais o material poderá ser solicitado no
pavimento. O número de ciclos de aplicação de cargas, N, variou bastante, sendo quase
sempre superior a 100.000 ciclos. As figuras 3.16a, b e c ilustram o equipamento triaxial de
cargas repetidas utilizado nos ensaios e suas características de automação e de instrumentação
podem ser vistas em VIANNA (2004).
Tabela 3.1: Exemplo de Relação de Tensões Utilizadas nos Ensaios Triaxiais de Cargas
Repetidas para a Avaliação da Deformação Permanente em Solos.
Ensaio Tensão (kPa) N
ıd ı3
1 40
2 80 40
3 120
4 80
5 160 80 150.000
6 240
7 120
8 240 120
9 360
A quantidade de ensaios prevista na tabela 3.1, total de nove ensaios por amostra de solo, é
aquela considerada mínima para uma eficaz modelagem da influência do estado de tensão na
deformação permanente, porém sua implementação prática em pesquisas futuras é passível de
questionamentos devido ao tempo necessário para realização do ensaio, quando se aplica um
carregamento com freqüência de 1 Hz, o que é a praxe nos ensaios de módulo de resiliência.
Além disso, os estados de tensão mostrados na tabela 3.1 não garantem que o limite do
shakedown, ou o estado de tensão que divide os comportamentos do tipo A e do tipo B, fique
bem definido. Isto acontece porque as tensões que geram acomodamento das deformações
permanentes em solos lateríticos, em especial os pedregulhosos, podem ser maiores do que
aquelas listadas na tabela 3.1. Portanto, os dados da tabela 3,1 devem ser considerados como
dados iniciais e sujeitos a alteração na medida em que as interpretações dos resultados forem
sendo elaboradas.
113
Com relação à realização do ensaio triaxial propriamente dito ao invés de se descrever em
detalhes o procedimento de ensaio torna-se mais viável analisar as diferença entre o ensaio de
deformação permanente utilizado no presente trabalho e os ensaio de Módulo Resiliente
adotado na COPPE/UFRJ, e comuns aos laboratórios brasileiros e internacionais, que consiste
em uma fase de condicionamento seguida de uma fase de ensaio propriamente dita que
consiste em se aplicar variados pares de tensão Vd e V3. Detalhes podem ser visto por exemplo
em FERREIRA (2007).
Como sempre existe algum tipo de folga entre a haste de aplicação de carga e seu encaixe no
“Top Cap” convencionou-se que um primeiro e único golpe deve ser aplicado no corpo-de-
prova, para corrigir esta situação e evitar que seja feita uma primeira leitura errônea de
deformação permanente.
Portanto, o primeiro golpe aplicado no corpo-de-prova e cuja deformação foi registrada nos
LVDTs foi, na verdade, o segundo. A partir daí o próprio programa registra as leituras de
deformação permanente automaticamente em um intervalo previamente fixado de modo a
melhor caracterizar o acúmulo das deformações, tanto permanentes quanto resilientes, ao
longo do ensaio.
114
Figura 3.16a: Vista dos Transdutores de Deslocamento (LVDT’s) Conectados ao Top Cap e
ao Corpo-de-Prova.
115
Figura 3.16c: Programa de Controle do Equipamento Triaxial de Cargas Repetidas da
COPPE/UFRJ.
Fase III
Consistiu na pesquisa da influência das tensões desvio e confinante através da elaboração de
gráficos de variação da deformação permanente acumulada em função do número N de
aplicação de cargas, considerando-se apenas ensaios com a mesma tensão desvio (e variadas
tensões confinantes) e vice-versa. Assim, pôde-se verificar mais detalhadamente a influência
do estado de tensões. Na tabela 3.1 para um mesmo nível de tensão confinante são realizados
Fase IV
Esta fase consistiu na obtenção do modelo de previsão da deformação permanente
propriamente dito, e objetivo desta tese, a partir dos resultados obtidos nos ensaios de
deformação permanente, e cuja expressão matemática é dada pela equação 3.1, tendo sido
utilizado para cálculo dos parâmetros a técnica de regressão não-linear múltipla realizada com
o programa Statistica 8.0. Os parâmetros \i serão doravante denominados de parâmetros de
deformabilidade permanente.
116
V3 \ Vd \ \
H p (%) \ 1 ( ) ( ) N
2 3 4
(3.1)
U0 U0
Onde:
Hp(%): Deformação Permanente Específica;
\1, \2, \3: parâmetros de regressão;
V3: tensão confinante em kgf/cm2;
Vd: tensão desvio em kgf/cm2;
U0: tensão de referência, considerada com a pressão atmosférica igual a 1 kgf/cm2;
N: número de ciclos de aplicação de carga.
Convém esclarecer que várias formulações matemáticas, sendo muitas citadas na revisão
bibliográfica, foram testadas logo após o conjunto de ensaios de cargas repetidas conduzidos
com a laterita do Acre. Somente após várias tentativas é que se chegou à expressão 3.1, cujas
unidades de tensão foram expressão em kgf/cm2 para que houvesse compatibilidade com a
unidade das tensões de ensaio.
Na fase inicial da presente pesquisa foi considerado que a expressão 3.1 representou bem o
comportamento quanto à deformação permanente da laterita do Acre, entretanto esperava-se
que para outros tipos de materiais a expressão matemática que melhor representasse a
variação da deformação permanente acumulada assumisse formas distintas. Porém, a
expressão 3.1 revelou-se adequada para todos os materiais estudados.
Fase V
Consiste na pesquisa de ocorrência do shakedown que seguiu o modelo de comportamento
desenvolvido por WERKMEISTER-DAWSON, já citado anteriormente. Ou seja, pesquisou-
se o nível de resposta o material, por exemplo, nível A, B ou C.
Para tanto foi utilizada a apresentação dos resultados na mesma forma gráfica desenvolvida
por DAWSON e WELLNER (1999 apud WERKMEISTER 2003), na qual o eixo “x”
corresponde à deformação permanente vertical, em metros. O eixo “y” corresponde à taxa de
Hp
deformação permanente, ou razão , dividida por 103.
N
117
A idéia básica foi verificar se o comportamento do material ensaiado corresponde ao tipo A
através de uma analogia com os comportamentos observados por WERKMEISTER (2003),
para que seja considerado que o material entrou em shakedown. A título ilustrativo desta fase
mostra-se a figura 3.17 na qual são mostrados os comportamentos obtidos por
WERKMEISTER (2003), em um gráfico que relaciona a deformação permanente vertical
acumulada à taxa de acréscimo desta deformação ao longo de cada ciclo de aplicação de
carga.
Permanente (x10-3 m/ciclo de aplicação de
Fase VI
Ao longo dos ensaios triaxiais de cargas repetidas foi observado que a deformação resiliente
tende a diminuir caso sejam utilizadas tensões de ensaios relativamente baixas, ou
compatíveis com as tensões de trabalho da camada de material no campo. Esta fase objetivou
analisar a deformação resiliente do material e pode ser resumida nas seguintes etapas:
118
CAPÍTULO 4 - LATERITA DO ACRE
Uma classificação pedológica dos solos do Acre foi apresentada no projeto de Zoneamento
Econômico-Ecológico, ZEE (1999), segundo o qual a princípio admitiu-se que os solos do
Acre seriam um dos melhores para a exploração agropecuária de toda a região amazônica.
119
x Restrições químicas: baixo conteúdo de fósforo, baixa capacidade de reter cátions e
alto nível de acidez.
As características pedológicas dos solos do Acre têm origem no elevado grau de lixiviação
dos solos em regiões tropicais, associados às reações de hidrólise total, ferralitização e
alitização, ou hidrólise parcial, caso de monossialitização, nos quais são formados óxidos-
hidróxidos de Ferro e Alumínio, tais como a goethita e hematita, e argilominerais do grupo da
caulinita de estrutura 1:1.
Na tabela 4.1 é apresentada a distribuição percentual em área das principais classes de solos
existentes no Acre, de acordo com a classificação antiga, sendo possível constatar que
predominância de Argissolos, Cambissolos e Gleissolos. As lateritas encontram-se no grupo
dos latossolos ocupando no máximo 1,9% da área do estado.
Tabela 4.1: Distribuição em Área e Percentual das Classes dos Solos. Classificação
Pedológica, ZEE Acre (1999).
120
Os argissolos (64%) são caracterizados no campo por possuir certa cerosidade, característica
que diminui bastante sua aptidão para uso em camadas de pavimento, apresentando, por
exemplo, baixo valor de CBR.
Os cambissolos constituem solos que apresentam uma mudança relativamente brusca entre os
horizontes A e C, com horizonte B reduzido ou incipiente. Logo, a possibilidade de
apresentarem comportamento laterítico é reduzida.
Em outras palavras, a maior porcentagem dos solos do Acre não possui pedogênese ideal para
a aplicação em obras de pavimentação, fato que aumenta a importância de pesquisas com
lateritas pedregulhosas e solos finos lateríticos.
O horizonte concrecionário situa-se entre 0,4 e 1,5 metros de profundidade, possuindo cor
marrom-escura de óxi-hidróxidos de ferro. As concreções possuem brilho semimetálico e
internamente são marrom-avermelhadas e de brilho fosco. São duras densas e, em geral,
maciças. O diâmetro das partículas varia de 0,2 a 3,0 cm.
De acordo com a experiência do autor da presente pesquisa as lateritas do Acre possuem uma
grande porcentagem de finos (passante na peneira nq 200), geralmente entre 50% e 70%,
expansão menor que 2% na energia normal e ISC na faixa de 25% ± 5%.
121
SEIXAS (1997) apresenta resultados de ensaios de módulo resiliente (MR) em dois tipos
diferentesde lateritas do Acre, compactada com energia relativa ao ensaio Proctor Modificado,
obtendo os valores de Módulo Resiliente (MR) como função da tensão desvio pelo modelo da
equação 4.1, cujos valores das constantes estão indicados na tabela 4.2.
K 1 .V d
K2
MR (4.1)
Tabela 4.1: Valores dos Coeficientes K para a Laterita do Acre para Dados em kgf/cm2.
SEIXAS (1997).
Material K1 K2
Jazida 1 3100 -0,43
Jazida 2 3784,2 -0,35
A prática de engenharia local revela que as lateritas usualmente empregadas têm composição
granulométrica semelhante à da jazida Quinari, com 70% de material passante na peneira nq
200, sendo o município de Senador Guiomard, vulgo Quinari, caracterizado por possuir várias
jazidas de laterita exploradas para a pavimentação em Rio Branco.
122
É importante considerar que, para atender às especificações de utilização como material de
base em pavimentos deveria ser previsto um ajuste em sua granulometria, com a adição de
agregado graúdo, solução muito cara. Há dois aspectos a considerar:
100
90
80
Porcentagem Passante
70
60
50
40
30
20
10
0
0.074 0.42 2 4.8 9.5 50.8
0.01 0.1 1 10
Abertura das Peneiras (mm)
123
COSTA e MOURA (2001) realizaram uma pesquisa pioneira de ocorrência de solos finos de
comportamento laterítico do Acre, a partir do estudo de três sítios localizados na BR-364/AC.
Os dois primeiros sítios estão localizados a dez quilômetros de Rio Branco, no sentido de
Porto Velho, portanto com possível aplicação na cidade de Rio Branco e vizinhanças. O sítio
3 localiza-se próximo à cidade de Sena Madureira, distante cerca de 145 quilômetros de Rio
Branco.
A espessura das camadas dos solos em questão nas jazidas 1 e 2 varia de 0,20 m a 2,70 m. Os
autores observaram certa dispersão nas características dos solos ao longo dos furos, o que
pode inviabilizar a exploração. No sítio 1 foram coletadas 19 amostras apresentando um
comportamento predominante LA’ e no sítio 2 foram coletadas 17 amostras apresentando o
mesmo comportamento.
Tabela 4.3: Correlação entre Módulo Resiliente e Classificação MCT. NETO et al (1998).
Módulo Resiliente (MPa) e Coeficiente
Solo Estrutural
Classificação MCT Base (100% PI) Fundação (100%PN)
Grupo Tipo MB KB MF
LG' - 100 0,78 90 - 160
LG' I 200 0,98 110 - 220
LA' I 220-300 1,01 - 1,13 160 - 220
LA' II 220-300 1,01 - 1,16 -
LA' III 270 1,09 170
LA IV 240 1,05 -
LA - - -
[Obs: PI, Proctor Intermediário; PN, Proctor Normal, MB, Módulo da Base; MF, Módulo da Fundação
(Subleito)]
De acordo com a tabela 4.3 um solo com classificação LA’ na condição de base do pavimento
pode ter módulo resiliente variando entre 220 a 300 MPa. Assim, supõe-se que os solos
estudados por COSTA e MOURA (2001) podem apresentar módulo resiliente nesta ordem de
grandeza.
124
4.2. Materiais Estudados
Para o presente estudo foram selecionados dois solos provenientes do estado do Acre: o
primeiro solo é um cascalho laterítico, ou laterita, coletado em uma jazida de empréstimo no
município de Senador Guiomard/AC, distante cerca de 20 quilômetros da capital Rio Branco.
Nas figuras 4.2, 4.3 e 4.4 estão mostrados aspectos físicos da amostra de laterita do Acre
usada na presente pesquisa.
O segundo solo é conhecido localmente como Tabatinga, mas não deve ser confundido com o
material sedimentar de coloração branca, constituído predominantemente de caulinita e
amplamente utilizado na indústria cerâmica, e que possui a mesma nomenclatura em certas
regiões brasileiras. Um aspecto da amostra de tabatinga usada neste estudo, antes do
destorroamento, está mostrado na figura 4.5.
CARDOSO (1987) relata a dificuldade de se trabalhar na prática com esse tipo de material.
Quando seco, seja ao ar livre ou em estufa, desenvolve uma elevada resistência à compressão
e ao impacto do martelo, sendo freqüentemente confundido com rocha como ilustra a figura
4.5. Nas figuras 4.2, 4.3 e 4.4 mostra-se o aspecto granular da laterita do Acre,em contraste
com a tabatinga após destorroamento.
Corpos-de-prova de laterita tabatinga e brita graduada são mostrados lado a lado e na figura
4.8 são mostradas cápsulas de tabatinga retiradas no ensaio de perda por imersão e levadas
para a estufa para secagem por mais de 10 horas.
125
Figura 4.2: Aspecto Geral da Laterita do Figura 4.5: Aspecto Geral da Tabatinga do
Acre. Acre.
Figura 4.3: Vista Geral da Laterita do Figura 4.7: Cápsulas Contendo Tabatinga
Acre. Após Secagem em Estufa do Material
Perdido no Ensaio de Perda por Imersão.
Na tabela 4.4 são apresentados os limites de consistência destes materiais, e nas figuras 4.9 e
4.10 as curvas granulométricas do cascalho laterítico e do solo tabatinga, respectivamente,
sendo apresentadas resumidas na tabela 4.5.
126
Tabela 4.4: Limites de consistência dos Solos Estudados.
Material LP LL IP (%)
Argila Tabatinga do Acre 9,8 23,8 14,0
Cascalho Laterítico do Acre 13,6 34,5 20,9
90
80
0
70
Porcentagem que Passa
10
60
20
Porcentagem Retida
50 30
40 40
CASCALHO 50
30
LATERITICO
ACRE 60
20
70
10
80
0
0.001 0.01 0.1 1 10
Diâmetro dos Grãos (mm)
100
90
80
0
70 10
Porcentagem que Passa
20
60
Porcentagem Retida
30
50 40
40 50
TABATINGA 60
30 ACRE
70
20 80
90
10
100
0
0.001 0.01 0.1 1 10
Diâmetro dos Grãos (mm)
127
Tabela 4.5: Resumo da Composição Granulométrica dos Solos do Acre Estudados.
Composição Granulométrica (%) – Escala da ABNT
Material Argila Silte Areia Pedregulho
Fina Média Grossa
Cascalho Laterítico do 19 11 21 8 1 40
Acre
Argila tabatinga do Acre 22 63 10 2 3 0
Os ensaios com a laterita do Acre foram os primeiros a serem realizados na presente pesquisa
e serviram como “teste” da metodologia inicialmente pensadas, considerada então a primeira
fase da pesquisa sobre deformação permanente e shakedown que compõe o presente trabalho.
O universo de variação dos estados de tensões não estava bem definido, tendo sido realizado
uma espécie de sondagem do comportamento a cada ensaio. Pode-se afirmar que esta amostra
de laterita do Acre foi um ponto de partida do aperfeiçoamento da metodologia e que foi ( e
será sempre) evoluindo.
Nos ensaios com a laterita do Acre o primeiro golpe foi sempre aplicado com tensão
confinante e desvio iguais a 70 kPa.
129
Tabela 4.6: Relação de ensaios de deformação permanente para diversos estados de tensão
realizados com a Laterita do Acre.
Parâmetros do Ensaio
Tensão
CP nº. Ensaio Vd (kPa) V3 (kPa) Umidade (%) Hp 10.000 Hp 100.000
1 Lat AC 01 105 11,03 0,22 0,22
2 Lat AC 02 210 11,04 0,635 0,635
105
3 Lat AC 03 315 10,68 0,864 0,952
4 Lat AC 04 158 10,90 0,719 0,734
5 Lat AC 05 300 10,80 0,735 0,76
6 Lat AC 06 100 11,84 0,832 0,824
7 Lat AC 07 200 150 10,20 0,501 0,534
8 Lat AC 08 400 10,57 0,656 0,816
9 Lat AC 09 100 10,26 0,316 0,328
10 Lat AC 10 050 9,50 0,116 -
50
11 Lat AC 11 100 9,80 0,225 0,236
12 Lat AC 12 400 150 10,56 0,619 -
14 Lat AC 14 157,5 105 10,49 0,581 0,598
Na tabela 4.6 também constam valores da deformação permanente acumulada até 10.000
ciclos, ߝଵǤ , e até 100.000 ciclos de aplicação de cargas, ߝଵǤ . Observou-se que em
casos como nos ensaios 2 e 6 que a deformação acumulada até 10.000 ciclos permaneceu
constante até 100.000 ciclos (ensaio 2), ou diminuiu ligeiramente como no caso do ensaio 6,
que passou de 0,832 para 0,824.
130
valor de tensão desvio (157,5 kPa), sendo constatado que a deformação permanente
acumulada diminuiu de valor, tornando-se inferior àquela obtida no ensaio 2.
Os estados de tensões correspondentes aos ensaios 6 e 8 foram ensaiados novamente,
resultando nos ensaios 9 e 12 respectivamente. O ensaio 6 foi realizado novamente porque se
considerou que a umidade de compactação estava acima da ótima, e o ensaio 8 foi realizado
novamente porque o pistão de aplicação de cargas se desconectou do top cap durante os
primeiros ciclos de carregamento, e isto poderia ter influenciado no valor da deformação
permanente acumulada, porém a nova deformação permanente obtida no ensaio 12 foi da
mesma ordem de grandeza do que a obtida no ensaio 8.
Estas opções de representação se devem ao fato de que para um grande número de ciclos (N)
de aplicação de cargas, com o uso da escala aritmética os resultados tendem a se tornar linear,
tal como representado na figura 4.10, havendo uma ocultação dos resultados obtidos para os
ciclos de cargas iniciais, nos quais a taxa de acréscimo da deformação permanente é
geralmente mais elevada do que para os ciclos finais de carregamento.
Na figura 4.10 observa-se que o maior valor de deformação permanente obtido foi de 1,018
mm, para o ensaio 12 no qual se utilizou uma tensão desvio de 400 kPa e tensão confinante de
150 kPa. Este estado de tensões pode ser considerado alto para uma situação de campo na
qual se adotasse uma base desta laterita do Acre, em relação ao eixo padrão de carregamento.
Em outras palavras, mesmo quando se utilizou um estado de tensões elevado a laterita do
Acre apresentou um valor de deformação permanente baixo, indicando tratar-se de um
material de elevada resistência à deformação permanente.
131
1,200
1,000
Deformação Permanente (mm)
0,800
0,600
0,400
0,200
Número de Ciclos
0,000
0 50000 100000 150000 200000 250000
Figura 4.10: Deformação Permanente Total (mm) para a Laterita do Acre. Ensaios até
250.000 Ciclos de Carga.
De todos os ensaios apresentados na figura 4.10, o ensaio 12 foi o único em que não foi
possível identificar uma situação clara de acomodamento da deformação permanente, devido
exclusivamente a um número reduzido de ciclos de aplicação de carga (72.658). Nos demais
ensaios se observa uma nítida tendência de acomodamento da deformação permanente total,
ou acumulada, à medida que se prolonga o número de ciclos de aplicação de cargas.
132
1,000
0,900
0,800
Deformação Permanente (mm)
0,700
0,600
0,500
0,400
0,300
0,200
0,100
Número de Ciclos
0,000
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000
Figura 4.11: Deformação Permanente Total (mm) para a Laterita do Acre. Ensaios até 10.000
Ciclos de Carga.
tensão confinante (105 kPa) e tensão desvio variando de tal maneira que a razão
Vd
V3
assumiu os seguintes valores:1;1,5; 2 e 3.
Para os ensaios 1, 14, 2 e 3 listados na tabela 4.7 a deformação permanente inicial representa
respectivamente as seguintes porcentagens da deformação permanente total: 57,4%, 46%,
52,7% e 36,9%. Ou seja, tem-se que a deformação permanente inicial girou em torno da
133
metade do valor da deformação permanente para 100.000 ciclos de aplicação de carga, exceto
para a tensão desvio de 315 kPa com 36,9%.
Analisando-se novamente os dados da tabela 4.7 pode-se constatar que o valor de deformação
permanente total, H 100
p
.000
, variou entre 0,223 e 0,952, ou seja, a deformação permanente para
Vd igual a 315 kPa foi 4,26 vezes superior à deformação obtida para Vd igual a 105 kPa,
evidenciando a influência da tensão desvio na deformação permanente total.
Aliás, considerando-se os demais ensaios, paras razões Vd/V3 de 1,5; 2 e 3, o valor de H 100
p
.000
aumenta na seguinte proporção: 2,68, 2,99 e 4,26, indicando tratar-se de uma relação não-
linear e mais sensível ao valor mais elevado de tensão desvio Vd.
As curvas relativas aos ensaios 1, 2, 3 e 14, todas obtidas com V3 = 105 kPa, representadas na
figura 4.12, possuem formatos semelhantes. Observa-se que existe um crescimento
exponencial entre os ciclos iniciais até os 10.000 primeiros ciclos, e depois as deformações
permanentes tenderam a ser constantes, ou seja, um comportamento assintótico.
134
1,200
1,000
Deformação Permanente (mm)
0,800
0,600
0,400
0,200
Número de Ciclos
0,000
0 50000 100000 150000 200000 250000
Figura 4.12: Influência da Tensão Desvio na Deformação Permanente Total da Laterita Acre.
Tensão Confinante = 105 kPa.
Outra seqüência de ensaios para pesquisa da influência da tensão desvio foi realizada, de
acordo com o listado na tabela 4.8. Dessa vez, porém, adotando-se a tensão confinante de 150
kPa.
Observa-se na tabela 4.8 que a deformação permanente no primeiro golpe, H pInicial , não seguiu
a mesma tendência anterior, obtendo-se 0,307 mm, para uma tensão desvio de 200 kPa, e um
valor inferior, de 0,244 mm, para a tensão desvio superior de 300 kPa.
Deve-se salientar que a deformação obtida no primeiro golpe depende muito do modo de
moldagem. Constitui parte integrante do processo de moldagem a raspagem da parte superior
135
do material com régua biselada, para que se garanta o nivelamento do corpo-de-prova. Neste
processo, porém, pode haver arrancamento de parte da fração pedregulho do material, com
eventual prejuízo na avaliação na deformação permanente apresentada durante o ensaio de
carga repetida.
ao ensaio 9 aumenta na seguinte proporção: 1,62 e 2,31, logo o aumento da tensão desvio gera
aumento na deformação permanente total, conforme observado na primeira seqüência de
ensaios.
No caso específico do ensaio 7 a deformação permanente inicial, de 0,307 mm, não foi
considerada muito elevada a ponto de se repetir o ensaio. Além disso, comparando-se o ensaio
7 com o ensaio 5 verifica-se que a deformação permanente acumulada neste segundo ensaio,
com maior tensão desvio, foi superior ao primeiro ensaio.
As curvas relativas aos ensaios 9, 7 e 5 com tensão confinante de 150 kPa estão mostradas na
figura 4.13, sendo possível observar a mesma tendência de crescimento exponencial até os
10.000 ciclos iniciais de carga, e comportamento assintótico a partir deste número, o mesmo
observado na figura 4.12.
136
1,200
1,000
Deformação Permanente (mm)
0,800
0,600
0,400
0,200
Número de Ciclos
0,000
0 50000 100000 150000 200000 250000
Figura 4.13: Influência da Tensão Desvio na Deformação Permanente Total da Laterita Acre.
Tensão Confinante = 150 kPa.
Na tabela 4.9 são apresentadas as tensões usadas nos ensaios e as principais deformações
permanentes selecionadas para estudo comparativo. Observa-se que o ensaio 9 realizado com
maior nível de tensão confinante, V3 igual a 150 kPa, apresentou maior deformação
permanente total, e deformação H 100
p
.000
cerca de 1,4 vezes superior aquela obtida no ensaio
Sabe-se que nos solos granulares a deformação resiliente diminui com o aumento da tensão
confinante, ou seja, o aumento da condição de confinamento do material aumenta sua
137
resistência à deformação resiliente. Entretanto, com relação à deformação permanente são
poucas as referências sobre o assunto.
Vale lembrar, porém, que as lateritas são materiais bastante peculiares, porque apesar de
pedregulhosos possuem uma fração fina, siltosa ou argilosa, que lhe confere coesão. Assim, o
aumento da deformação permanente com o aumento da tensão confinante poderia ser
explicado pelo aumento da razão V1/V3.
Tabela 4.9: Resultados de Ensaios de Deformação Permanente para Tensão Desvio Constante.
Ensaio Vd (kPa) V3 (kPa) H pInicial H 10p .000 H 100
p
.000
0,500
0,450
0,400
0,350
Deformação Permanente (mm)
0,300
0,250
0,200
0,150
0,100
0,050
Número de Ciclos
0,000
0 50000 100000 150000 200000 250000
Ensaio 09 Ensaio 11
138
4.4.4 Parâmetros do Modelo de Monismith.
O modelo de Monismith, ߝ ൌ ܣǤ ܰ , como citado anteriormente, é relativamente simples, de
fácil aplicação, e bastante difundido, tornando-se especialmente interessante o estudo de seus
parâmetros. Na tabela 4.10 são apresentados os parâmetros A e B do modelo de Monismith,
assim com o coeficiente de regressão R2, para todos os ensaios conduzidos com a laterita do
Acre.
Os resultados mostrados na tabela 4.10 ilustram que modelo de Monismith não é adequado
para representar com níveis variados de tensões. Uma saída seria tentar estabelecer uma
equação matemática através de regressão tal que os parâmetros A e B fossem expressos em
139
função das tensões V3 e Vd, utilizadas nos ensaios. Entretanto, para os ensaios realizados com
a laterita do Acre, uma relação deste tipo não seria estatisticamente válida porque o
coeficiente de correlação (R2) obtido em alguns dos ensaios foi insatisfatório, ou seja, inferior
a 0,85, como visto acima.
1.00E-01
1.00E-02
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
1.00E-08
Deformação Permanente Vertical Acumulada (x0,001mm)
Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Ensaio 4 Ensaio 5 Ensaio 6
Ensaio 7 Ensaio 9 Ensaio 10 Ensaio 11 Ensaio 12 Ensaio 14
Da análise da figura 4.15a verifica-se que todos os ensaios conduzidos com a laterita do Acre,
exceto o ensaio 12, apresentaram um típico comportamento de nível A, ou seja, mostraram o
acomodamento plástico (shakedown), conforme o modelo proposto por WERKMEISTER
(2003). A caracterização do nível A de comportamento se dá tanto pela forma da curva,
aproximadamente paralela ao eixo vertical, quando pelo fato da taxa de acréscimo da
deformação permanente e ter atingido a ordem de grandeza de 10-7 (x10-3 m/ciclo de carga).
Ou seja, nos ciclos finais de aplicação de carga o corpo-de-prova teve sua deformação
permanente aumentada em apenas 10-7 mm a cada novo ciclo.
140
No caso do ensaio 12 observou-se que o mesmo apresentou um comportamento do tipo
intermediário, ou nível B, porque o número de aplicação de ciclos de carga, de 72.658 ciclos,
foi significativamente inferior aos demais. Não houve tempo para que a deformação
permanente apresentasse valores significativamente reduzidos.
Com as tensões adotadas nos ensaios não foi possível a obtenção da expressão do limite do
shakedown para a laterita do Acre porque os valores são muito concentrados (figura 4.15b).
Porém, foi possível fazer um comparativo entre estes valores e a expressão obtida por
WERKMEISTER (2003) para um granodiorito, mostrado na mesma figura.
1000.00
900.00
800.00
TensãoV1(kPa)
700.00
600.00
500.00
400.00
300.00
200.00
100.00
0.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8
RazãodeTensões(V1/V3)
LimitedoShakedownGranodiorito LateritaAcre
Figura 4.14b: Comparação Entre o Limite de Shakedown para um Granodiorito Obtido por
WERKMEISTER (2003) e os Valores Obtidos para a Laterita do Acre.
Na figura 4.15b três pontos correspondentes a ensaios com a laterita do Acre estão localizados
acima do limite de shakedown para o granodiorito. Isto significa que o limite do shakedown
para a laterita do Acre é superior ao do granodiorito, ou seja, a laterita do Acre pode ser
solicitada com estado de tensões mais elevado do que o granodiorito e apresentar a condição
de acomodamento das deformações permanentes, ou shakedown.
141
4.6. Análise dos Resultados – Deformação Elástica
Durante os ensaios triaxiais de cargas repetidas a deformação elástica, ou resiliente, também
foi medida, sendo sua variação ao longo dos “N” ciclos de aplicação de cargas apresentadas
na figura 4.16, para todos os ensaios realizados com a laterita do Acre.
Vd
Também, foi possível calcular o valor de módulo resiliente, MR, MR
H R , onde HR é a
deformação resiliente específica.
Neste último caso tem-se que o módulo resiliente varia com o número N de aplicação de
cargas, sendo os resultados apresentados na figuras 4.17 e 4.18, a seguir.
Observa-se que a deformação elástica variou bastante com o estado de tensão adotado em
cada ensaio, conforme era de se esperar considerando-se uma analogia com o ensaio de
módulo resiliente convencional.
142
0,250
Deformação Elástica (mm)
0,200
0,150
0,100
0,050
0,000
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
Número de Ciclos (N)
Figura 4.16: Variação da Deformação Elástica ao Longo dos Ensaios de Cargas Repetidas
para a Laterita do Acre.
Esta tendência também foi verificada anteriormente por MALISYS (2004) para Brita
Graduada e GUIMARÃES (2001) para um solo argiloso e uma laterita pedregulhosa de
Brasília. No trabalho de WERKMEISTER et al (2004) foi constatado, para uma brita de
granodiorito, que a deformação resiliente variou muito pouco, podendo ser considerada como
constante após um pequeno número de ciclos de aplicação de cargas, quando o material
apresentava comportamento do tipo A ou B, porém esta deformação apresentou variação
significativa para o caso de comportamento do tipo C.
Assim foi realizada uma regressão múltipla para os dados de deformação elástica obtidos com
a laterita do Acre e com a ajuda do software Statistica 8.0, excluindo-se os chamado outliers,
de tal forma a se obter a equação 4.2 com excelente coeficiente de correlação. A relação
expressa a variação do módulo resiliente com o estado de tensão com número de aplicação de
cargas deste estado.
Onde:
Foram realizados dois ensaios de módulo resiliente tradicionais com a Laterita do Acre, sendo
os resultados apresentados nas figuras 4.16 e 4.17 para o caso de variação do módulo
144
resiliente com a tensão desvio, que corresponde à situação de melhor enquadramento. Os
valores médios obtidos foram 585 MPa e 566 MPa, respectivamente.
10000
y = 188,9x-0,4829
Módulo Resiliente (MPa)
R 2 = 0,7514
1000
100
0,010 0,100 1,000
Tensão Desvio (MPa)
Figura 4.16: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Desvio para a Laterita do Acre.
Dados em MPa. Ensaio 1.
10000
y = 361,06x -0,1859
R2 = 0,3663
Módulo Resiliente (MPa)
1000
100
0,010 0,100 1,000
Tensão Desvio (MPa)
Figura 4.17: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Desvio para a Laterita do Acre.
Dados em MPa. Ensaio 1.
145
4.7. Análise dos Resultados – Parâmetros do Modelo de Deformação Permanente
Proposto
Com os resultados de ensaios de deformação permanente realizados foi possível obter,
utilizando-se regressão múltipla, uma correlação entre a deformação permanente, a tensão
confinante e desvio e o número N de aplicações de cargas, obtendo-se os parâmetros \i do
modelo proposto, indicado no capítulo 3, equação 3.1, e reproduzido a seguir.
Onde:
H esp
p : deformação permanente específica (em porcentagem),
O primeiro passo para análise dos resultados dos ensaios por regressão consistiu em se
considerar o modelo representado pela equação 4.3 utilizando regressão linear múltipla, com
auxílio do software Statistica 8.0.
Foi montada uma tabela incluindo todos os ensaios de deformação permanente realizados e
considerados válidos, totalizando cerca de 460 itens.
O valor de R2ajustado final obtido foi de 0,913, restando 394 pontos para a continuação da
análise dos resultados, que consistiu em se considerar a mesma equação 1, porém utilizando-
146
se o módulo de regressão múltipla do Statistica 8.0. Tal procedimento é considerado mais
preciso estatisticamente.
H esp
p 0,105.V 30,839 .V d0, 014 N 0, 041 (R2 de 0,939) 4.4
Observa-se, de acordo com a tabela 4.11, que apenas o valor de \3, que na tabela é
denominado K3, não possui significância estatítica.
Não obstante o fato do valor do coeficiente de correlação ter encaixado no intervalo entre 0,9
e 1,0, para que o modelo seja considerado como satisfatório do ponto de vista estatístico
outros parâmetros devem ser analisados, conforme será mostrado na seqüência.
147
igualdade, indicando se tratar de uma distribuição normal, fato que corrobora o bom
enquadramento estatístico do modelo.
148
Figura 4.20: Distribuição de Freqüência dos Resíduos.
A distribuição dos resíduos comparativamente aos valores previstos com o modelo é ilustrada
nas figuras 4.21 e 4.22 e constituem objeto de análise da qualidade estatística do modelo
utilizado. Em ambas as situações o ideal é que não seja verificada uma tendência de
comportamento entre os valores residuais e os valores previstos (figura 4.21), e entre os
valores observados e previstos (figura 4.22). Esta linha de tendência pode ser uma expressão
matemática que represente com razoável enquadramento os pontos dos gráficos das figuras
4.21 e 4.22.
Conforme pode ser observado nestas figuras a distribuição dos pontos ao longo dos gráficos é
bem dispersa, indicando que o modelo estatístico adotado é de boa qualidade.
149
Figura 4.21: Valor Previsto Versus Observado para os Resíduos da Expressão 4.4 para a
Laterita do Acre.
Figura 4.22: Valores Observados Versus Previstos da Expressão 4.4 para a Laterita do Acre.
150
4.8 Deformação Permanente para a Tabatinga
O solo tabatinga foi submetido a três ensaios de cargas repetidas conforme apresentado na
tabela 4.12, sendo dois ensaios (1 e 3) realizados em condição de umidade ótima de
compactação e o terceiro (2) com umidade acima da ótima.
Tabela 4.12: Ensaios de Deformação Permanente Realizados com a Tabatinga Nesta Pesquisa.
Ensaio Vd V3 N
1 105 105 406.212
2 100 100 443
3 25 25 147.564
151
1000
y = 7.6481x-1.324
R² = 0.7868
10
0.01 0.1 1
Tensão Desvio (MPa)
Entretanto, na condição de umidade acima da ótima (hot + 2%) por ganho de umidade o
corpo-de-prova de tabatinga apresentou grande deformação permanente atingindo 11,84 mm
no ciclo de número 443. O ensaio não pode ser continuado porque foi ultrapassado o limite de
leitura dos transdutores de deslocamentos (LVDT’s). Isto configura uma ruptura em termos
práticos.
Para se ter uma idéia mais detalhada da deformação permanente obtida no ensaio 2 considere
que se um pavimento fosse construído sobre um subleito de tabatinga, de tal forma que o
estado de tensões fosse similar ao adotado no ensaio 2 (Vd=V3=100 kPa), só a deformação
permanente gerada no subleito seria suficiente para tornar todo o pavimento inservível antes
de 500 ciclos de aplicação de cargas ou tráfego de veículos equivalente.
152
12
Deformação Vertical Permanente (mm)
10
0
0 50000 100000 150000
Número N de Ciclos de Aplicação de Cargas
A elevada taxa de acréscimo da deformação permanente obtida no ensaio 2 pode ser vista na
figura 4.25 com a utilização do modelo de DAWSON e WELLNER, citado anteriormente.
Nesta figura observa-se que os resultados do ensaio 2 tendem a ser paralelos ao eixo
horizontal, e este comportamento é mais compatível com o nível C proposto por
WERKMEISTER (2003), que equivale à situação de ruptura.
153
0 5000 10000 15000
1.00E+04
Taxa de Acréscimo da Deformação Permanente
1.00E+03
(x001 mm/ciclo de carga)
1.00E+02
1.00E+01
1.00E+00
1.00E-01
1.00E-02
1.00E-03
Deformação Permanente Vertical Acumulada (x0,001 m)
1.2
1
Deformação Elástica (mm)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000
N
Ensaio 01 Ensaio 02
154
A avaliação da deformação permanente total a partir de corpos-de-prova com umidade acima
da ótima, induzida por capilaridade, mostrou ser pesquisa bastante interessante, porém
altamente sujeita ao fracasso, por causa da grande deformação apresentada pelos corpos-de-
prova já nos ciclos iniciais. Diversas tentativas forma feitas para que se pudesse obter os
resultados apresentados.
O problema principal observado foi que os corpos-de-prova quando atingem umidade bem
acima da ótima, condição saturada ou quase saturada, se tornam muito deformáveis, havendo
casos nos quais o corpo-de-prova atingiu a deformação limite (do equipamento)
imediatamente após o primeiro golpe com perda total do ensaio.
155
CAPÍTULO 5 – LATERITAS DE RONDÔNIA
Ao conjunto de amostras de cascalhos lateríticos que foram coletados por uma empresa para o
projeto de pavimentação de parte da rodovia BR-429/RO, e posteriormente submetidos a
ensaios de cargas repetidas de longa duração para compor o presente trabalho, foi dado o
nome genérico de lateritas de Rondônia.
Em geologia o termo Cráton é utilizado para identificar grandes regiões que não sofreram
ação de processos orogenéticos recentes, tais como dobramentos, falhamentos e intrusões em
grande escala. Ou seja, são áreas pouco suscetíveis a processos geológicos endógenos, como
vulcanismo e sismicidade, e, por isso, geralmente são compostas por rochas muito antigas, ou
do chamado embasamento cristalino brasileiro. No Brasil há pelo menos dois Crátons, o do
São Francisco e o Amazônico, do qual o estado de Rondônia faz parte. Sobre as rochas
antigas que compõem o embasamento podem ocorrer depósitos sedimentares de origens e
idades diversas, inclusive os depósitos aluvionares quaternários (até 1,8 m.a).
156
denominada de Faixa Orogênica Policíclica Guaporé e são descritos detalhadamente aspectos
pertinentes à concepção de sua coluna litoestratigráfica.
157
Figura 5.2: Mapa Geológico da Sub-província Madeira e Parte do Traçado da Rodovia BR-
429/RO. Modificado de AMARAL et al (1977).
Figura 5.3: Parte do Mapa Rodoviário de Rondônia Incluindo Parte da Rodovia BR-429/RO.
158
5.2. Materiais Estudados
Conforme citado anteriormente, para o presente estudo foram utilizadas 6 amostras de
lateritas oriundas de jazidas pesquisadas pela empresa responsável pelo projeto de
pavimentação da rodovia BR-429/RO, e cujos resultados de ensaios de módulo resiliente
também foram utilizados por FERREIRA (2007).
Na tabela 5.1 são apresentadas características pertinentes à granulometria dos materiais, sendo
possível identificar o aspecto predominantemente pedregulhoso das lateritas de Rondônia. Os
materiais das jazidas S787 e S784 são aqueles que apresentam a maior porcentagem de
material passando na peneira de 0,075 mm.
159
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
% Passante
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos Grãos (mm)
A quantidade de ensaios realizados para cada jazida ficou restrita à quantidade de material
disponível no laboratório de geotecnia da COPPE, resultando em um mínimo de três e
máximo de cinco ensaios. Para cada ensaio de cargas repetidas foram separados cinco
quilogramas de solo, que foram, posteriormente, umedecidas nas umidades constantes da
160
tabela 5.3, e deixadas em repouso devidamente condicionadas em câmara úmida por um
período nunca inferior a 12 horas.
Os estados de tensões utilizados nos ensaios constam da tabela 5.3, sendo que procurou-se
ensaiar cada material com tensões bastante distintas entre si devido aos poucos números de
cps disponíveis. Ou seja, foram aplicadas tensões baixas, tal como nos ensaios de número 1
(ıd= ı3 = 40 kPa), assim como tensões relativamente altas, mesmo para camadas de bases de
pavimentos, caso dos ensaios 5 (ıd = 420 e ı3 = 100 kPa).
161
Tabela 5.2: Relação de Ensaios Realizados com as Lateritas de Rondônia Nesta Pesquisa.
Material Ensaio Tensão (kPa) wcap (%) wcp (%) Ȗw (g/cm3) Ȗs (g/cm3)
ıd ı3
1 40 40 11,9 10,5 2,229 2,017
2 120 40 10,8 11,5 2,177 1,953
S786 3 150 100 11,9 11,9 2,217 1,981
4 250 100 11,1 10,8 2,231 2,015
5 100 100 12,8 12,6 2,315 2,055
1 40 40 13,0 12,9 2,175 1,927
2 120 40 13,2 12,3 2,167 1,915
S820 3 150 100 12,8 13,1 2,129 1,883
4 250 100 12,5 13,3 2,162 1,909
5 420 100 12,8 13,7 2,195 1,929
1 70 70 13,6 14,3 2,295 2,008
2 70 70 13,8 13,1 2,293 2,027
S787 3 70 70 16,4 14,6 2,264 1,975
4 70 70 15,6 - 2,269 1,922
5 70 70 15,7 - 2,287 1,976
1 40 40 9,5 9,6 - -
2 120 40 9,7 9,5 2,378 2,171
S785 3 150 100 10,1 9,5 2,400 2,192
4 250 100 9,7 10,2 2,367 2,147
5 420 100 7,9 7,9 2,290 2,123
1 40 40 12,7 - 2,157 1,914
2 120 40 - - - -
S782 3 150 100 13,6 12,8 2,205 1,955
4 250 100 13,1 13,2 - -
1 40 40 14,4 14,5 2,274 1,986
S784 2 120 40 14,2 13,2 2,243 1,982
3 150 100 15,1 14,3 2,250 1,968
162
Em todos os ensaios fica evidenciada a forte influência do estado de tensão, sendo que no
caso da laterita da jazida S786, figura 5.5, o aumento da tensão desvio entre os ensaios 3 e 4,
ou seja, de ıd = 150 kPa para ıd = 250 kPa, representou um aumento da deformação
permanente total de 0,471 mm para 0,930 mm, que corresponde a um acréscimo de 102%.
Para a laterita da jazida S786, no ensaio 1 conduzido com um nível de tensão muito baixo
(ıd=ı3=40 kPa) a deformação permanente total observada foi de 0,189 mm após 156.000
ciclos de aplicação de carga. Já no ensaio 2 manteve-se a mesma tensão confinante e
aumentou-se em três vezes a tensão ıd, aumentando a deformação permanente total para
0,452 mm, ou seja, um acréscimo de 139%.
Ainda para a laterita da jazida S786, tem-se que os ensaios 2 e 3 foram conduzidos com um
nível de tensão desvio muito próximo e tensão confinante bastante diferente, ı3=40 kPa no
ensaio 2 e ı3=100 kPa no ensaio 3. Observa-se que as curvas que representam as deformações
permanentes são muito similares, quase superpostas, indicando que a tensão confinante possui
reduzida influência na deformação permanente total daquele material, para o universo de
variação de tensão confinante adotado. Tal tendência também foi observada nas lateritas das
jazidas S786 e S820.
1,2
1,0
0,8
Ep (mm)
0,6
0,4
0,2
0,0
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000
N
Figura 5.5: Variação da Deformação Permanente Total para a Laterita da Jazida S786.
163
No caso da laterita da jazida S820, cuja variação da deformação permanente total é mostrada
na figura 5.6, foi possível realizar um ensaio a mais do que para a jazida S786. Trata-se do
ensaio 05, conduzido com tensão ıd=420 kPa e tensão confinante ı3=100 kPa, sendo
observada uma deformação permanente total de 2,843 mm para 160.000 de aplicação de
cargas. Neste caso convém ressaltar que a tensão de ensaio é bastante elevada se comparada
com a tensão de 560 kPa induzida por uma carga padrão de 8,2 tf no topo do revestimento de
um pavimento qualquer.
Ou seja, em uma situação real o revestimento asfáltico estaria submetido a um nível de tensão
mais próximo de 560 kPa, enquanto que às camadas de base ou sub-base restariam tensões
mais baixas usualmente inferiores às tensões utilizadas no ensaio.
Desejando-se uma aplicação direta dos resultados, tem-se que o ensaio 05 indica uma
contribuição de uma camada de base de 20 cm desta laterita na ordem de 2,843 mm, para o
afundamento total da trilha-de-roda, cujo valor admissível pode ser considerado como 12,5
mm. Ou seja, o material mesmo em condições desvantajosas apresenta boa resistência à
deformação permanente, para condição de umidade ótima de compactação e energia de
compactação equivalente à energia do ensaio proctor intermediário.
2,5
2
Ep (mm)
1,5
0,5
0
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000
N
Ensaio 05 Ensaio 01 Ensaio 03 Ensaio 04 Ensaio 02
164
Resultados similares foram obtidos para as lateritas das jazidas S782 e S784, indicando tratar-
se, igualmente, de materiais de excelente resistência à deformação permanente.
No caso da laterita da jazida S787, figura 5.7, os ensaios tiveram como objetivo pesquisar a
influência da umidade de compactação na deformação permanente total do material, sendo
todos os ensaios conduzidos com o mesmo estado de tensão (ıd=ı3=70 kPa)
Analisando-se a figura 5.7 é possível observar que as curva obtidas tendem a ficar paralelas
entre si, à medida que se aumenta o número de aplicação de cargas. Além disso, as
deformações permanentes totais aumentaram com o acréscimo das umidades de compactação
dos corpos-de-prova, embora não sejam diretamente proporcionais. Com valores absolutos de
umidade de compactação variando de 13,1%, 14,3 %, 14,6% e 15,6% obteve-se deformação
permanente total de 0,437 mm, 1,992 mm, 3,298 mm e 3,427 mm, respectivamente.
Nestes ensaios, ao contrário dos demais, a deformação permanente total para condição de
umidade de compactação acima da ótima atingiu valores que podem ser considerados como
elevados, nos casos dos ensaios 3 e 4, embora tendendo ao acomodamento.
3,5
2,5
Ep (mm)
1,5
0,5
0
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000
Ensaio 01 Ensaio 02 N
Ensaio 03 Ensaio 04
Como já visto, este modelo não se enquadra bem para a maioria dos ensaios especialmente
quanto maior o número de ciclos melhor definida a situação de acomodamento das
deformações plásticas, ou shakedown.
166
5.5. Análise dos Resultados – Pesquisa do Shakedown
Quando se considera um material de engenharia submetido à ação de cargas repetidas tem-se
que a estabilização da deformação permanente, depois de determinado número de ciclos, é
denominada de shakedown ou acomodamento.
O mesmo modelo foi adotado no presente trabalho para que se pudesse comparar os
resultados com os obtidos por aqueles autores, sendo mostrado na figura 5.8 a pesquisa de
ocorrência do shakedown para a laterita da jazida S786.
Observa-se, da análise da figura 5.8 que todos os ensaios realizados conduziram à situação de
shakedown, ou acomodamento das deformações permanentes, representada pela tendência das
curvas se tornarem paralelas ao eixo vertical. Os corpos-de-prova foram moldados na
umidade ótima e energia equivalente à do ensaio proctor intermediário.
167
0 200 400 600 800 1000
Taxa de Acréscimo da Deformação Permanente 1.00E+00
1.00E-01
(x0,001 m/ciclo de carga)
1.00E-02
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Tal característica é, obviamente, do interesse dos projetistas rodoviários, haja visto que o
afundamento de trilha-de-roda é um dos principais problemas estruturais a serem enfrentados.
Porém, a determinação do conjunto de estados de tensões que possibilita o shakedown não é
tarefa fácil, sendo a realização de ensaios triaxiais de cargas repetidas uma possibilidade.
Um comportamento análogo ao da laterita da jazida S786 foi obtido para a laterita da jazida
S782, mostrado na figura 5.9, tendo sido utilizado um procedimento similar de preparo das
amostras e moldagem dos corpos-de-prova.
Entretanto, os resultados indicam apenas que os estados de tensão utilizados nos ensaios
pertencem ao conjunto de estados de tensão que gera o shakedown nos respectivos materiais,
não tendo sido possível estabelecer os limites superior ou inferior do conjunto destes estados
de tensão, pelo pequeno número de ensaios realizados.
168
0 500 1000 1500 2000
1.0E+00
1.0E-02
1.0E-03
1.0E-04
1.0E-05
1.0E-06
1.0E-07
Deformação Permanente Vertical Acumulada (mm)
No caso da laterita da jazida S820 foi possível realizar um total de cinco ensaios, com
diferentes estados de tensão. Assim pôde-se ter uma idéia um pouco mais abrangente da
influência do estado de tensão no surgimento do shakedown do material ao longo da aplicação
das cargas repetidas no ensaio triaxial. Os resultados são apresentados na figura 5.10.
Da análise da figura 5.10 verifica-se que os ensaios 2 e 3, conduzidos com níveis de tensão
próximos, geraram curvas praticamente superpostas. Nos ensaios 4 e 5, conduzidos com
maiores níveis de tensão desvio, pode-se observar que as curvas apresentaram duas fases de
comportamento distintas, cujo valor limítrofe parece estar situado em um ponto tal que a
Hp
razão .1000 se situa entre 1 e 10.
N
Na medida em que se diminuiu o estado de tensão, caso dos ensaios 1, 2 e 3, fica menos nítida
a tendência das curvas dos resultados apresentarem dois comportamentos distintos.
169
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Taxa de Acréscimo da Deformação Permanente 1.00E+00
1.00E-01
(x0,001 m/ciclo de carga)
1.00E-02
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Deformação Permanente Vertical Acumulada (x0,001 mm)
Para a pesquisa de ocorrência do shakedown da laterita da jazida S787 deve ser levado em
consideração que todos os ensaios foram realizados com o mesmo estado de tensão, ıd =ı3=
70 kPa, porém com diferentes umidades de compactação, ainda que muito próximas da
umidade ótima, a tal ponto de permitir que se molde um corpo-de-prova de dimensões 10 cm
por 20 cm.
Observa-se, de acordo com os resultados apresentados na figura 5.11, que todos os corpos-de-
prova entraram em shakedown. Ou seja, a laterita da jazida S787 mesmo quando compactada
com umidade cerca de 2 pontos percentuais acima da ótima, caso dos ensaios 4 e 5,
apresentou uma nítida tendência ao acomodamento das deformações plásticas, para o nível de
tensão adotado nos ensaios.
Embora o estado de tensão adotado nos ensaios com a laterita da jazida S787 seja considerado
relativamente baixo, este não é muito distinto daquele esperado para uma camada de sub-base
de um pavimento típico brasileiro, tal que inclua base e sub-base de laterita e uma camada de
revestimento asfáltico tipo CBUQ de 5,0 centímetros de espessura.
170
Trata-se, portanto, de uma observação bastante interessante que, se repetida em outros ensaios
desta natureza, pode contribuir para confirmar a boa qualidade da laterita como material de
pavimentação, em especial no que diz respeito ao acomodamento das deformações plásticas,
ou permanentes, ao longo da aplicação de cargas repetidas.
1.00E-01
1.00E-02
(x0,001 m/ciclo de carga)
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
1.00E-08
Deformação Permanente Vertical Acumulada (x0,001 mm)
Além disso, todos os corpos-de-prova ensaiados entraram em shakedown, tal como obtido
para a laterita da jazida S787, corroborando a tendência previamente observada de
171
acomodamento da deformação plástica (permanente), o chamado shakedown, mesmo para
umidades de compactação ligeiramente acima da ótima.
1.00E-01
Permanente (x0,001 mm)
1.00E-02
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Deformação Permanente Vertical Acumulada (x0,001 mm)
Ensaio 01 Ensaio 02 Ensaio 03 Ensaio 04 Ensaio 05
172
atingido no caso do ensaio 4 realizado com tensões mais elevadas (Vd=250 e V3=100kPa). No
caso dos ensaios 2 (Vd=120 e V3=40kPa) e 3 (Vd=150 e V3=100kPa) a diferença entre os
estados de tensões foi bem inferior de modo que o patamar de deformação resiliente de
equilíbrio observado atingiu valores aproximados.
0,250
0,200
0,150
Ee (mm)
0,100
0,050
0,000
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
N
Ensaio 01 Ensaio 02 Ensaio 03 Ensaio 04
Figura 5.13: Variação da Deformação Elástica da Laterita Jazida S786 Durante o Ensaio de
Deformação Permanente.
10.000
8.000
MR (kgf/cm2)
6.000
4.000
2.000
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
N
Após os ensaios de cargas repetidas também foram realizados ensaios de módulo resiliente
similar ao ensaio de MR tradicional, mas sem fazer os passos usuais de condicionamento do
corpo-de-prova. Os resultados são apresentados nas figuras 5.15 a 5.19.
1000 1000
y= 209.21x-0.462
Módulo Resiliente (MPa)
y = 526.55x0.0237
R² = 0.0173
100 100
0.010 0.100 1.000 0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa) Tensão Desvio (MPa)
Figura 5.15: Módulo Resiliente para a Figura 5.17: Ensaio de Módulo Resiliente
Laterita da Jazida S786. Umidade de da Laterita S786 Realizado Após Ensaio 2
Compactação 12,6%. Ensaio de Deformação Permanente.
Convencional.
1000
1000
Módulo Resiliente (MPa)
Módulo Resiliente (MPa)
y = 481.34x-0.031
y= 270.19x-0.302 R² = 0.0131
R² = 0.7397
100
100
0.010 0.100 1.000
0.010 0.100 1.000 Tensão Desvio (MPa)
Tensão Desvio (MPa)
Na figura 5.19 é apresentada a variação da deformação elástica ao longo dos ensaios de cargas
repetidas para a laterita da jazida S820, na qual se pode verificar a mesma tendência de
decréscimo acentuado das deformações elástica até o ciclo de número 1.000
(aproximadamente), sendo que a partir daí estas deformações atingem o patamar de
deformação resiliente de equilíbrio.
0,3
0,25
0,2
Ee (mm)
0,15
0,1
0,05
0
0 50000 100000 150000 200000
N
Figura 5.19: Variação da Deformação Elástica Laterita da Jazida S820 Durante os Ensaios de
Deformação Permanente.
Aplicando-se a definição de módulo resiliente para os resultados da figura 5.19 foi possível
obter os resultados da figura 5.20, na qual se pode observar que o valor de módulo resiliente
varia entre 400 e 1.000 MPa, que são valores compatíveis com valores de MR de lateritas
pedregulhosas e da laterita da jazida S786, citada anteriormente.
175
12.000
10.000
8.000
MR (kgf/cm2)
6.000
4.000
2.000
0
0 50000 100000 150000 200000
N
Considerando-se os valores de módulo resiliente, figura 5.21, tem-se que o valor do módulo
resiliente final atinge 500 MPa para a maioria dos ensaios, exceto para o ensaio 5 que atingiu
valores acima de 600 MPa.
176
0,2
0,18
0,16
0,14
0,12
Ee (mm)
0,1
0,08
0,06
0,04
0,02
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
N
7.000
6.000
5.000
MR (kgf/cm2)
4.000
3.000
2.000
1.000
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
N
Figura 5.21: Variação do Módulo Resiliente da Laterita da Jazida S787 Durante os Ensaios de
Deformação Permanente.
A laterita da jazida S785 foi compactada com energia equivalente à do proctor modificado,
sendo a variação da deformação elástica ao longo dos ensaios de cargas repetidas apresentada
na figura 5.22, na qual se pode verificar, tal como observado para as lateritas das jazidas S786
e S820, que a deformação elástica decresceu rapidamente atingindo um patamar de equilíbrio
177
em todos os ensaios de deformação permanente realizados. Ou seja, a mudança de energia de
compactação não influenciou o padrão de comportamento da deformação elástica.
0,14
0,12
0,1
Ee (mm)
0,08
0,06
0,04
0,02
0
0 50000 100000 150000
N
Ensaio 01 Ensaio 02 Ensaio 03 Ensaio 04 Ensaio 05
25.000
20.000
MR (kgf/cm2)
15.000
10.000
5.000
0
0 50000 100000 150000
N
Figura 5.23: Variação do Módulo Resiliente da Laterita da Jazida S785 Durante os Ensaios de
Deformação Permanente.
178
1000
100
0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 5.24: Módulo Resiliente da Laterita da Jazida S785 Após Ensaio 4 de Deformação
Permanente.
0,3
0,25
0,2
Ee (mm)
0,15
0,1
0,05
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
N
Ensaio 01 Ensaio 03 Ensaio 04
Figura 5.25: Variação da Deformação Elástica Laterita da Jazida S782 Durante os Ensaios de
Deformação Permanente.
179
10.000
9.000
8.000
7.000
MR (kgf/cm2)
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
N
Ensaio 01 Ensaio 03 Ensaio 04
Figura 5.26: Variação do Módulo Resiliente da Laterita da Jazida S782 Durante os Ensaios de
Deformação Permanente.
A variação da deformação elástica ao longo dos ensaios de cargas repetidas para a laterita da
jazida S784 é apresentada na figura 5.27, considerando os três ensaios realizados. Verifica-se,
também para este material, o decréscimo rápido desta deformação até atingir um patamar de
equilíbrio que é função do estado de tensões aplicado no ensaio.
Considerando-se a variação do módulo resiliente, figura 5.27, tem-se que este atingiu valores
na ordem de 400 MPa para os ensaios 2 e 3, e valor de 1.600 MPa para o ensaio 1. Uma das
razões levantadas para a obtenção deste elevado valor no ensaio 1 foi o fato do corpo-de-
prova não ter sido submetido à ação de tensões elevadas durante o ensaio, havendo, assim,
uma falsa rigidez do mesmo, de acordo com PARREIRA (2008).
180
0,18
0,16
0,14
0,12
Ee (mm) 0,1
0,08
0,06
0,04
0,02
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
N
Figura 5.27: Variação da Deformação Elástica Laterita Jazida S784 Durante os Ensaios de
Deformação Permanente.
18.000
16.000
14.000
12.000
MR (kgf/cm2)
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
N
Figura 5.28: Variação do Módulo Resiliente da Laterita da Jazida S784 Durante os Ensaios de
Deformação Permanente.
181
CAPÍTULO 6: BRITA GRADUADA DE CHAPECÓ/SC
Na figura 6.1 é apresentado um mapa geológico das regiões oeste dos estados de Santa
Catarina e Paraná, na qual o município de Chapecó encontra-se inserido. A maior parte da
região é composta por rochas da Formação Serra Geral com idade de 133,4 m.a, que possuem
coloração cinza escura a negra e granulação muito fina a média sendo hipocristalinas, maciças
ou vesiculares. Mais ao norte ocorrem sedimentos pós-vulcânicos. Duas unidades ácidas
também estão presentes: Membro Chapecó e Membro Palmas.
Uma parte deste material foi enviada à COPPE/UFRJ para servir de banco de dados para a
presente tese de doutorado. Está sendo mostrado na tabela 6.1 e figura 6.2 a composição
granulométrica do material, cuja referência para enquadramento é a Norma do Departamento
de Estradas de Rodagem de Santa Catarina.
A brita graduada simples oriunda da pedreira supracitada foi utilizada como camada de base e
sub-base no novo trevo de acesso ao bairro do Belvedere, localizado no acesso Plínio de Nês.
182
Na figura 6.3 mostram-se aspectos variados do material em laboratório e um aspecto geral da
camada de base de brita graduada no local citado, construído em 2005.
Figura 6.1: Mapa Geológico da Região Oeste do Paraná e Santa Catarina Incluindo as Rochas
Vulcânicas da Província Magmática do Paraná e Disposição das Unidades Ácidas. Fonte:
NARDY et al (1997).
183
Tabela 6.1: Granulometria da Brita Graduada de Chapecó/SC Estudada na Presente Pesquisa.
Peneiras Abertura (mm) Granulometria
3/4" 19,1 100
1/2' 12,7 92,0
3/8’ 9,52 89,6
nq 4 4,760 65,2
nq 10 2 33,2
nq 40 0,425 12,7
nq 80 0,180 8,9
nq 200 0,075 6,2
Distribuição Granulometrica
100.0
90.0
80.0
70.0
Granulometria
60.0
50.0
40.0
30.0
20.0
10.0
0.0
0.010 0.100 1.000 10.000
Nas figuras de 6.3a à 6.3e são apresentados aspectos das amostras de brita graduada de
Chapecó e corpos-de-prova em laboratórios, e por fim uma vista da obra em andamento.
184
Figura 6.3d: Vista Aproximada do Topo de
Figura 6.3a: Aspecto do Corpo-de-prova um Corpo-de-prova de Brita Graduada de
de Dimensões 10 cm x 20 cm de Brita Chapecó na Qual se Destaca o Aspecto
Graduada de Chapecó Utilizado no Granular do Material.
Presente Trabalho.
Figura 6.3c: Aspecto dos Transdutores de Figura 6.3f: Camada de Base de Brita
Deslocamento Vertical (LVDT’s). Graduada de Chapecó/SC no Trevo do
Belvedere - Acesso à BR-282/SC.
185
6.3. Metodologia Utilizada
A metodologia utilizada no presente capítulo foi similar à apresentada no capítulo 3, sendo
que porções da amostra de brita graduada de Chapecó foram homogeneizadas com umidade
alvo equivalente à ótima e compactadas em cilindro tri-partido de dimensões 10 u 20
(cmucm) com energia equivalente à do ensaio proctor modificado. Todo o material necessário
para produzir os corpos-de-prova foi homogeneizado simultaneamente e as amostras
separadas em frações de cinco quilogramas cada.
Cada corpo-de-prova obtido após compactação no molde cilíndrico tri-partido foi submetido a
um único ensaio triaxial de cargas repetidas para medida da deformação permanente, sem
condicionamento prévio, e com as tensões ilustradas na tabela 6.2, na qual também são
apresentadas as umidades dos corpos de prova. Foram fixados três níveis distintos de tensão
Tabela 6.2: Relação de Ensaios Triaxiais Realizados com a Brita Graduada de Chapecó.
Ensaio Tensão (kPa) wcap wcp Ȗw Ȗs
ıd ı3 (%) (%) (g/cm3) (g/cm3)
1 50 3,4 - 2,340 2,263
2 100 50 4,9 4,5 2,384 2,281
3 150 4,5 4,7 2,250 2,149
4 80 5,1 5,1 2,387 2,271
5 160 80 4,6 4,8 - -
6 240 4,5 5,0 2,389 2,275
7 105 4,7 4,9 2,419 2,306
8 210 105 4,6 4,9 2,388 2,277
9 315 3,7 - 2,372 2,289
10 105 70 4,3 4,8 2,381 2,272
11 105 170 4,2 4,9 2,433 2,318
186
O monitoramento da deformação permanente possibilitou a pesquisa de ocorrência do
shakedown, ou acomodamento das deformações plásticas, que será comentado na seqüência.
De acordo com os resultados apresentados na figura 6.4 é possível notar que as curvas que
descrevem a deformação permanente acumulada ao longo dos ciclos de aplicação de cargas
apresentam uma elevada taxa de crescimento nos ciclos iniciais, e nos demais ciclos
apresentam uma taxa bem menor de crescimento, porém não nula, a partir de um número N de
aplicação de cargas entre 1.000 e 5.000, dependendo do ensaio realizado.
Observa-se que nos ensaio 6 e 9, realizados com os níveis mais elevados de tensão, a
deformação permanente acumulada atingiu um valor de 1,4 mm, que pode ser considerado
como relativamente elevado para 20 centímetros de altura.
187
1,600
1,400
1,200
1,000
Ep (mm)
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
0 20000 40000 N 60000 80000 100000
Figura 6.4: Deformação Permanente Acumulada ao Longo dos Ciclos de Aplicação de Cargas
para a Brita Graduada de Chapecó em Ensaios Triaxiais de Cargas Repetidas. Corpos-de-
Prova de dimensões 10 cm x 20 cm.
Nestes ensaios as curvas tendem a ser assintóticas a uma paralela ao eixo horizontal, a partir
de um número de ciclos de aplicação de cargas superior a 10.000. Em outras palavras a taxa
de variação da deformação permanente tende a ser nula com o acréscimo de N. Nos demais
ensaios a taxa de acréscimo da deformação permanente diminui bastante, porém não se torna
nula.
188
Tabela 6.3: Valores de Deformação Permanente Acumulada Durante os 50.000 Ciclos Iniciais
de Aplicação de Cargas para A Brita Graduada de Chapecó. Corpos-de-prova de 20 cm de
Altura.
Ensaio Tensão (kPa) Umidade (%) Deformação Permanente
Vd V3 ࢿǤ
(mm) ࢿǤ
ሺΨሻ
1 50 3,4 0,255 0,13
2 100 50 4,9 0,255 0,13
3 150 4,5 0,971 0,49
4 80 5,1 0,491 0,25
5 160 80 4,6 0,784 0,39
6 240 4,5 1,319 0,66
7 105 4,7 0,270 0,14
8 210 105 4,6 1,175 0,59
9 315 3,7 1,368 0,68
Isto indica que se este material for usado como base de 20 cm de espessura, e submetido
àquelas tensões, então se pode considerar que somente esta camada vai contribuir com 1,4
mm em 7,0 x 104 ciclos de carga para o afundamento de trilha de roda. Trata-se de um valor
muito baixo se comparado ao valor admissível de 12,5 mm usualmente considerado em
projetos de rodovias.
De acordo com o formato das curvas apresentadas na figura 6.4 fica claro que a deformação
permanente tende a tornar-se constante ou apresentar uma taxa de acréscimo muito pequena.
Assim, para valores de N superior a 7,0 x 104 ciclos tem-se que a deformação permanente
deverá ser uma pouco superior a 1,4 mm, mas ainda muito baixa se comparada à admissível.
Da análise da figura 6.5 observa-se que a variação da tensão confinante, de 50 kPa para 80
kPa, exerceu pouca influência na deformação permanente específica, sendo representada no
189
gráfico por uma superposição de curvas interpoladas aos resultados. Quando se aumenta para
105 kPa já se nota influência significativa.
Por outro lado, para uma mesma tensão desvio, representada por uma reta paralela ao eixo
horizontal, a deformação permanente específica diminui com o aumento da tensão confinante,
tal como constatado por BARKSDALE (1972) em estudos com uma areia siltosa.
0,350
Tensão
Confinante =
0,300 50 kPa
Tensão
Tensão Desvio (MPa)
0,250 Confinante =
80 kPa
0,200 Tensão
Confinante =
0,150 105 kPa
Potência
0,100 (Tensão
Confinante =
50 kPa)
0,050 Potência
(Tensão
Confinante =
0,000 80 kPa)
0,00 0,20 0,40 0,60 Potência
(Tensão
Deformação Permanente Específica (%)
190
1,400
1,200
1,000
0,800
Ep (m m )
0,600
0,400
0,200
0,000
0 10000 20000 30000 N 40000 50000 60000 70000
De acordo com o observado na figura 6.6a, tem-se que para 50.000 ciclos de aplicação de
cargas a deformação permanente acumulada varia entre 0,5; 0,78 e 1,3 mm, seguindo a razão
de tensões supracitada. Tal fato indica uma significativa suscetibilidade da brita graduada de
Chapecó quanto à razão de tensões, conforme pode ser observado de maneira análoga nas
figuras 6.6b e 6.6c.
1,400
1,200
1,000
Ep (mm)
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
0 20000 40000 N 60000 80000 100000
191
Para o caso de tensão confinante constante e igual a 50 kPa, ilustrado na figura 6.6b, os dois
primeiros ensaios, conduzidos com razão de tensões ıd/ı3 de 1 e 2 respectivamente,
apresentaram resultados muito semelhantes. No ensaio 2 as deformações permanentes nos
ciclos iniciais são menores do que no ensaio 1, conduzidos com menor tensão. Porém, tal fato
se deve a uma deformação permanente maior no primeiro ciclo de carga, esta, por sua vez,
associada a alguma peculiaridade na moldagem no corpo-de-prova.
1,400
1,200
1,000
Ep (mm)
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
0 20000 40000 N 60000 80000 100000
No conjunto de ensaios realizados com tensão confinante constante e igual a 105 kPa,
mostrados na figura 6.6c, verifica-se que para razão de tensão igual a 1, caso do ensaio 7, a
deformação permanente acumulada ao longo do ensaio além de mostrar-se muito baixa
apresentou taxa de acréscimo da deformação permanente praticamente nula.
192
Por outro lado, para os casos de razão de tensões de 2 e 3 a deformação permanente
acumulada foi muito superior à observada no ensaio com razão de tensões igual a 1, e da
ordem de 1,4 mm. Além disso, as formas das curvas destes ensaios, ilustradas nas figuras
6.6c, mostram uma taxa de acréscimo da deformação permanente não-nula.
No caso dos ensaios com a brita graduada de Chapecó os menores pares de tensão,
correspondentes aos ensaios de 1 a 4, foram conduzidos com um número N de aplicação de
cargas inferiores a 90.000 ciclos, portanto insuficiente para influenciar negativamente na
obtenção dos parâmetros do modelo.
193
Nestes níveis baixos de tensões a pesquisa mais detalhada do shakedown, que será vista
adiante, mostrou que estas tensões estavam abaixo do chamado limite do shakedown, ou seja,
o material apresentaria taxa de acréscimo nula da deformação permanente, a partir de um
número N de aplicação de cargas.
No caso das lateritas o limite do shakedown parece ser superior ao da brita graduada de
Chapecó, indicando que o material entrou em shakedown em maior número de ensaios, ou de
níveis de tensão, e, por conseqüência, prejudicando o enquadramento no modelo de
Monismith.
194
permanentes, B o escoamento plástico e C a ruptura. A diferençiação entre os níveis dá-se
pela forma das curvas obtidas.
1.00E-01
1.00E-02
(x0,001 m/ciclo de carga)
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Deformação Permanente Vertical Acumulada (x0,001 mm)
Ensaio 01 Ensaio 02 Ensaio 03 Ensaio 04 Ensaio 05 Ensaio 06
Ensaio 07 Ensaio 08 Ensaio 09 Ensaio 10 Ensaio 11
A partir dos resultados foi possível estabelecer um comparativo entre os valores do limite do
shakedown obtidos por WERKMEISTER (2003) e os limites obtidos para a brita graduada de
Chapecó do presente trabalho, conforme apresentado na figura 6.8. Na figura se pode
observar que quase todos os ensaios (exceto um) foram realizados em estado de tensões
195
inferiores ao do limite do shakedown do granodiorito. Ou seja, pelo menos para o mesmo
universo de tensões nos quais a brita graduada de Chapecó foi ensaiada a curva que define o
limite do shakedown para o granodiorito parece mesmo ser um limite superior, sendo que
ensaios com níveis mais elevados de tensões e outras razões de tensões deveriam ter sido
utilizados na presente pesquisa.
1000.00
900.00
800.00
700.00
TensãoV1(kPa)
600.00
500.00
400.00
300.00
200.00
100.00
0.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8
RazãodeTensões(V1/V3)
Granodiorito BritaGraduadadeChapecó
Figura 6.8: Comparação Entre o Limite de Shakedown para o Granodiorito Estudado por
WERKMEISTER (2003) e os Valores Obtidos para a Brita Graduada de Chapecó/SC.
196
A deformação resiliente da brita graduada de Chapecó apresentou um comportamento similar
em todos os ensaios realizados, caracterizado por um rápido decréscimo até cerca de 4.000
ciclos de aplicação de cargas, mantendo-se praticamente constante a partir daí.
O maior nível de deformação elástica foi observado para o ensaio 9, realizado com o maior
estado de tensão (Vd = 315 kPa e V3 = 105 kPa), enquanto que o menor nível de deformação
elástica foi verificado para o ensaio com menor nível de tensão (Vd = 50 kPa e V3 = 50 kPa).
0,250
0,200
0,150
Ee (mm)
0,100
0,050
0,000
0 20000 40000 60000 80000 N 100000
Figura 6.9: Variação da Deformação Elástica com N para a Brita Graduada de Chapecó/SC
Durante Ensaios de Deformação Permanente.
Observa-se, ainda, na figura 6.9 que a deformação resiliente mostrou-se bastante influenciada
pelo estado de tensão utilizado nos ensaios, o que é esperado para este tipo de material.
Utilizando a definição de módulo resiliente, ou seja, MR = ıd/Hr, foi possível ter uma idéia dos
valores de módulo resiliente apresentados pelos materiais principalmente para as fases finais
do ensaio de deformação permanente, conforme ilustrado na figura 6.9.
197
6.000
5.500
5.000
4.500
MR (kgf/cm2)
4.000
3.500
3.000
2.500
2.000
1.500
1.000
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000
Figura 6.10: Variação do Módulo Resiliente a Partir da Definição ao Longo dos Ensaios de
Deformação Permanente para a Brita Graduada de Chapecó.
De acordo com a figura 6.10 o maior valor de módulo resiliente obtido da maneira supracitada
foi da ordem de 500 MPa, para o ensaio 11, e ocorreu uma grande variação dos resultados não
sendo possível identificar uma associação entre as tensões utilizadas nos ensaios e o módulo
resiliente.
Para tanto, o módulo resiliente medido na forma tradicional (MEDINA e MOTTA, 2005) foi
comparado com o módulo resiliente realizado após a longa ação do carregamento dos ensaios
de deformação permanente, para alguns dos corpos-de-prova, e conforme ilustrado na figura
6.11.
198
1000
0,3935
MR Tradicional = 913,17x
2
R = 0,624
0,4382
MR (Após 4) = 803,2x
2
R = 0,7797
0,5283
MR (Após 8) = 1208,5x
2
R = 0,8522
100
0,01 0,1 Tensão Confinante (MPa) 1
Figura 6.11: Módulo Resiliente Tradicional da Brita Graduada de Chapecó Comparado com
Módulo Resiliente Realizado Após Alguns Ensaios de Deformação Permanente Sob Cargas
Repetidas.
Optou-se por representar o valor de módulo resiliente em função da tensão confinante porque
observou-se um melhor enquadramento, se comparado com o modelo em função da tensão
desvio, o que é compatível com o observado por vários autores para solos granulares, entre
eles MEDINA e MOTTA (2005).
De acordo com o ilustrado na figura 6.11 observa-se que os valores de módulo resiliente
obtidos da maneira tradicional e após o ensaio 1, realizado com o menor estado de tensão, são
bastante semelhantes.
Porém, os valores de módulo resiliente obtidos após os ensaios com estados de tensões mais
elevados, caso dos ensaios 4 e 8, mostraram-se inferiores aos demais, indicando que o longo
período de carregamento não contribuiu para o enrrijecimento do material, conforme
observado nas lateritas.
Embora o valor de módulo resiliente tenha diminuído quando o corpo-de-prova foi submetido
a tensões mais elevadas, caso dos ensaios 4 e 8, o enquadramento no modelo representativo
199
torna-se cada vez maior mostrando aumento da não linearidade, comprovada pelo aumento no
valor de R2.
Na figura 6.12 é apresentada uma comparação entre o valor de módulo resiliente da brita
graduada de Chapecó, objeto do presente estudo, e britas corridas do Rio de Janeiro,
estudadas por RAMOS e MOTTA (2004), de uso frequente na cidade do Rio de Janeiro.
1000
Módulo Resiliente (MPa)
100
0,01 0,1 Tensão Confinante (MPa) 1
Figura 6.12: Comparação Entre o Valor de Módulo Resiliente de Britas de Diversas Origens.
Para a comparação mostrada na figura 6.12 foi considerada a equação do módulo resiliente
tradicional da brita graduada de Chapecó, bem como das outras britas da referência citada.
Observa-se, da análise da figura 6.12 que os valores de módulo resiliente são muito próximos,
sendo que os da brita graduada de Chapecó são praticamente iguais aos da pedreira Vigné, e
ambos ligeiramente superiores às demais.
200
1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)
100 100
0.01 0.1 1 0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa) Tensão Confinante (MPa)
Figura 6.13: Módulo Resiliente Após Figura 6.15: Módulo Resiliente Após
Ensaio 1. ࡹࡾéࢊ =324 MPa Ensaio 3. ࡹࡾ±ࢊ =317 MPa
1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 545.91x0.1863
R² = 0.4461 y = 803.2x0.4382
R² = 0.7797
100 100
0.01 0.1 1 0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa) Tensão Confinante (MPa)
Figura 6.14: Módulo Resiliente Após Figura 6.16: Módulo Resiliente Após
Ensaio 2. ࡹࡾéࢊ =326 MPa Ensaio 4. ࡹࡾéࢊ =242 MPa
201
1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)
100 100
0.01 0.1 1 0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa) Tensão Confinante (MPa)
Figura 6.17: Módulo Resiliente Após Figura 6.19: Módulo Resiliente Após
Ensaio 5. ࡹࡾéࢊ = 357 MPa Ensaio 7. ࡹࡾéࢊ = 343 MPa
1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 742.85x0.2313
y = 1208.5x0.5283
R² = 0.1723
R² = 0.8522
100 100
0.01 0.1 1 0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa) Tensão Confinante (MPa)
Figura 6.18: Módulo Resiliente Após Figura 6.20: Módulo Resiliente Após
Ensaio 6. ࡹࡾéࢊ = 409 MPa Ensaio 8. ࡹࡾéࢊ = 286 MPa
202
1000
1000
y = 478.44x0.0493
y = 979.02x0.4026 R² = 0.024
R² = 0.4895
100
100 0.01 0.1 1
0.01 0.1 1 Tensão Confinante (MPa)
Tensão Confinante (MPa)
1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 714.96x0.1702
R² = 0.158
100
0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa)
203
obtidos os parâmetros \i do modelo proposto. Para a regressão foi utilizado o software
Statistica 8.0.
H esp
p \ 1 .V \3 .V dZ N \
2 3 4
(6.1)
Onde:
H esp
p : deformação permanente específica (em porcentagem),
A expressão obtida para a brita graduada de Chapecó foi a 6.2 e o enquadramento do modelo
de regressão foi satisfatório, tendo sido utilizada para este fim o mesmo procedimento
adotado no capítulo 4 para a laterita do Acre. Na tabela 6.5 são apresentados os parâmetros do
modelo proposto, que correspondem à letra w, sendo que o p-level muito baixo (0,00) indica
que todos estes parâmetros têm significância estatística para o cálculo da variável dependente.
H esp
p 0,105.V 30,839 .V d0, 014 N 0, 041 (R2 = 0,939) (6.2)
204
Figura 6.24: Relação Entre os Valores Previstos pelo Modelo de Deformação Permanente
Proposto e os Valores Observados Para a Brita Graduada de Chapecó.
Figura 6.25: Relação Entre os Valores Residuais Previstos e Observados pelo Modelo de
Deformação Permanente Proposto Para a Brita Graduada de Chapecó.
205
No caso da figura 6.26 a idéia é verificar a condição dos resíduos, sendo que quanto mais
próximos da reta de igualdade mostrada, melhor será o enquadramento do modelo, indicando
que os resíduos se distribuem normalmente em torno da média. Para a brita graduada de
Chapecó, figura 6.26, também foi verificado um bom enquadramento quanto a este item.
De todos os itens avaliados no modelo proposto pode-se concluir que este possui boa acurácia
para a previsão da deformação permanente da brita graduada de Chapecó.
Figura 6.26: Verificação da Condição de Normalidade dos Resíduos para a Brita Graduada de
Chapecó.
206
CAPÍTULO 7: RESULTADOS OBTIDOS – AREIA-ARGILOSA DO ES
7.1 Introdução
O solo fino denominado areia-argilosa do Espírito Santo que será analisado no presente
capítulo foi coletado no horizonte B de um afloramento localizado ao longo da rodovia BR-
101/ES, junto ao novo Posto Fiscal, e constitui um típico exemplo de solo fino laterítico. Na
figura 7.1 está mostrada a localização aproximada do local de coleta da amostra.
A utilização de solos finos na pavimentação rodoviária é uma prática que vem crescendo
continuadamente, principalmente no caso de pavimentos de baixo custo para baixo volume de
tráfego. Porém, para utilização em rodovias de elevado volume de tráfego geralmente os solos
finos ficam restritos ao subleito, tendo os principais estudos se limitado aos ensaios de
módulo resiliente.
O forte intemperismo químico característico das regiões tropicais úmidas resulta na formação
de espessas massas de solos sobre os maciços rochosos naturais que constituem a paisagem
denominada de “mar de morros” típica da região do rift continental do sudeste do Brasil, que
se estende entre Rio e São Paulo atingindo o Espírito Santo.
Em geral, perfis de solos cujos horizontes B possuem elevada espessura (maior do que dois
metros), bem drenados e de coloração avermelhada se enquadram como latossolos. Tais solos
são compostos de areia média a fina, pouco silte e significativa fração de argila, geralmente
207
composta de argilominerais do grupo da caulinita e óxidos hidróxidos de ferro (Fe) e
Alumínio (Al), tais como a hematita e a gibbsita.
Na figura 7.2 é apresentada uma parte do mapa geológico do Rio de Janeiro, incluindo parte
da divisa com o Espírito Santo na qual o local de coleta da amostra está inserido.
Ponto de Coleta
Figura 7.2: Mapa Geológico da Região de Coleta da Amostra de Areia Argilosa do ES.
208
Na direção sudoeste junto à região de falhamento ocorre a Suíte Angelim (Ny2a) composta de
granada-hornblenda-biotita tonalito a granito com textura porfirítica e forte foliação
transcorrente. Suíte mista envolvendo domínios peraluminosos de granito tipo S, ricos em
granada e domínios metaluminosos, ricos em hornblenda. Idade proterozóica recente (mais de
560 m.a).
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
% Passante
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos Grãos (mm)
O material foi coletado pelo autor da presente pesquisa em um trabalho de campo conduzido
ao longo da rodovia BR-101/ES, no local do novo posto fiscal do Espírito Santo, ilustrado na
figura 7.3. O ponto exato de coleta foi em um talude que serviu de jazida de empréstimo para
os trabalhos de terraplenagem e reforço do subleito, sendo ilustrado na figura 7.3a e 7.3b.
Uma vista geral do material em laboratório é apresentada nas figuras de 7.3c a 7.3f.
210
Figura 7.3.d: Aspecto dos Corpos-de-prova
Figura 7.3.a: Vista Geral das Obras do
de Areia Argilosa do ES.
Novo Posto Fiscal da BR-101/ES.
211
Características Resilientes
Nas figuras 7.4 e 7.5 são apresentados os resultados do ensaio de módulo resiliente realizados
com amostras de areia argilosa do ES homogeneizada na umidade ótima, 18%, e compactadas
em molde cilíndrico de dimensões 10 cm por 20 cm com energia equivalente a do ensaio
proctor normal.
Da análise das figuras é possível observar que ocorreu melhor enquadramento no modelo de
módulo resiliente função da tensão desvio, indicando que o elevado teor de argila influencia
significativamente o comportamento do material, mas o expoente do modelo com V3 não é
desprezível, expressando a presença da areia.
1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 70,72x -0,4196
R2 = 0,51
100
0,01 0,1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 7.4: Variação do Módulo Resiliente da Areia Argilosa do Espírito Santo com a Tensão
Confinante. Dados em MPa.
Utilizando na equação mostrada na figura 7.5 o valor de 0,2 MPa para a tensão desvio, tem-se
que o valor de módulo resiliente será de 176 MPa, compatível com valores usuais de módulo
resiliente para este tipo de solo.
1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 89,21x -0,422
R2 = 0,7195
100
0,010 0,100 1,000
Tensão Desvio (MPa)
Figura 7.5: Variação do Módulo Resiliente da Areia Argilosa do Espírito Santo com Tensão
Desvio. Dados em MPa.
212
Nos estudos mais recentes sobre módulo resiliente tem-se preferido expressar o valor de
módulo resiliente através do modelo composto, ou combinado, para o qual é feito uso tanto da
tensão confinante quanto da tensão desvio. Para a areia argilosa do Espírito Santo foi obtida a
equação 7.1, mostrada na sequência e, graficamente, na figura 7.6.
Figura 7.6: Variação do Módulo Resiliente com o Estado de Tensões para a Areia Argilosa do
ES. Modelo Composto. Dados em MPa.
Analisando a figura 7.6 se pode observar que quando o valor da tensão confinante tende a
zero o valor de módulo resiliente também tende a zero, por outro lado, quando o valor da
tensão desvio tende a zero, o valor de módulo resiliente atinge um valor da ordem de 400
MPa.
No procedimento para obtenção da umidade são retiradas duas ou três cápsulas de material,
dependendo da quantidade disponível, do saco que contém a parte da amostra homogeneizada
213
e deixada em repouso na câmara úmida que não é aproveitada para moldagem do corpo-de-
prova.
Assim, o mais correto mesmo é considerar a umidade do corpo-de-prova, porém neste caso
convém lembrar que este permaneceu de dois a três dias, em média, submetido à ação de
carga repetida, apresentando deformação permanente em um ensaio drenado. Logo, a
umidade pôde variar ainda que minimamente e a umidade do corpo-de-prova, citada nas
análises presente trabalho, está sempre associada à umidade deste após o ensaio de
deformação permanente.
Um grande número de ensaios de deformação permanente foi conduzido com a areia argilosa
do Espírito Santo, porém, somente foram considerados como válidos aqueles cuja umidade de
compactação atingiu os valores prescritos no estudo utilizando planejamento fatorial, ou na
condição de umidade ótima, para obtenção dos parâmetros \i do modelo de previsão da
deformação permanente proposto.
O planejamento fatorial é uma técnica muito utilizada quando se tem duas ou mais variáveis
independentes (fatores), permitindo uma combinação de todas as variáveis em todos os níveis,
obtendo-se, assim, uma análise de uma variável sujeita a todas as combinações das demais.
214
Segundo CALADO e MONTGOMERY (2003) o usual é realizar um planejamento com dois
níveis, no máximo três, pois o uso de mais níveis aumentaria de sobremaneira o número de
pontos experimentais, fato esse que se quer evitar quando se propõe um planejamento de
experimentos.
No caso de planejamento fatorial com dois níveis usualmente tem-se que os mesmos
representam os valores máximos e mínimos que um fator poderá assumir.
Uma visão mais detalhada sobre planejamento fatorial pode ser vista em CALADO e
MONTGOMERY (2003) já citado anteriormente, ou em BARROS NETO (2003).
Para tanto, optou-se por um estudo do tipo planejamento fatorial com duas variáveis e dois
níveis sendo necessários quatro ensaios, em quatro situações diferentes, e uma réplica de cada
ensaio, totalizando oito ensaios. A viabilidade da aplicação da técnica de planejamento
fatorial necessitou de algumas simplificações, que serão comentadas na seqüência.
Para a elaboração da pesquisa com planejamento fatorial foi utilizado o software Statistica 8.0
e as instruções para utilização do programa e interpretação dos resultados contidos em
CALADO e MONTGOMERY (2003).
215
A tensão confinante foi mantida constante em todos os ensaios no valor de 70 kPa, e,
portanto, a pesquisa só tem validade para esta condição de tensão confinante, fato que
constitui, sem dúvida, uma importante simplificação. A consideração da variação da tensão
confinante implicaria a adição de mais uma variável dependente, que aumentaria o número de
ensaios para 18.
Na tabela 7.3 são mostrados os ensaios realizados com areia argilosa do ES para a presente
pesquisa, sendo que os quatro primeiros ensaios correspondem a corpos-de-prova
compactados na umidade ótima, de 18,0%, para um nível de energia equivalente ao ensaio
proctor normal. As dimensões dos corpos-de-prova foram de 10 cm de diâmetro e 20 cm de
altura. Os valores de H 10
p
.000
correspondem à deformação permanente acumulada nos dez mil
Tabela 7.3: Relação de Ensaios de Cargas Repetidas Realizados com a Areia Argilosa do ES.
Corpos-de-prova de 20 cm de Altura e 10 cm de Diâmetro.
Condição de Ensaio Tensão (kPa) H 10p .000 (mm) H 50
p
.000
(mm)
Compactação Vd ı3
1 70 70 0,634 0,645
h = 18,0 (%) 2 210 70 5,094 5,168
3 210 70 3,334 3,447
4 70 70 0,591 0,612
5 70 70 1,599 1,623
h = 19,0 r 0,5 6 70 70 3,448 3,475
(%) 7 210 70 8,972 9,041
8 210 70 6,204 6,270
216
Tabela 7.4: Relação dos Ensaios Triaxiais Realizados com a Areia-Argilosa do ES para A
Definição do Modelo de Deformação Permanente Proposto.
Ensaio Tensão (kPa) wcap wcp N
ıd ı3 (%) (%)
10.2 40 17,3 17,2 250.000
11 80 40 18,1 18,1 230.000
12 120 19,0 18,7 147.782
4 70 18,5 18,5 236.950
9 140 70 18,9 18,3 142.800
2 210 18,5 18,4 170.000
13.2 120 120 18,5 18,2 415.000
14 240 18,4 18,8 140.000
Na seqüência serão apresentadas as saídas obtidas com o programa Statistica 8.0 para os
dados constantes da tabela 7.3, ou matriz de planejamento, com os comentários pertinentes.
Todas as análises que serão mostradas só são válidas para a argila amarela do ES, submetida a
uma tensão desvio tal que 70kPa d V d d 210kPa , umidade de compactação tal que
18,0 d h(%) d 19,5 , tensão confinante constante tal que V 3 70 KPa , sendo H 50
p
.000
a
deformação permanente total obtida em ensaios triaxiais de cargas repetidas para corpos-de-
prova de 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura.
Na tabela 7.5 são apresentados os dados da análise das variáveis, ou ANOVA, para o
planejamento fatorial utilizado, sendo possível constatar que as variáveis tensão desvio e
umidade de compactação foram estatisticamente significativas na variável dependente
deformação permanente total, ao contrário do fator combinado, ou de interação, entre as
variáveis independentes (fator 1by2 da tabela 7.5).
217
Os efeitos são definidos como a mudança na variável dependente quando se move do nível
mais baixo para o mais alto uma variável independente, podendo ser classificado como efeitos
principais e efeitos de interação. O efeito principal permite definir qual o efeito médio da
variável examinada sobre as condições das demais variáveis.
Na tabela 7.6 é apresentada a estimativa dos efeitos de cada uma das variáveis independentes,
umidade de compactação e tensão desvio, bem como do efeito de interação entre ambas. A
significância estatística é analisada através do valor de p, ou p-level, apresentado na tabela, na
qual se pode observar que o p-level para a variável tensão desvio é de 0,99 % e para a
umidade é de 4,84%. O fato de ambos serem inferiores a 5% indica que ambas as variáveis
são significantes estatisticamente em termo de influência na variável dependente deformação
permanente acumulada.
Entretanto, para o efeito combinado o valor do p-level foi de 47,9%, portanto muito superior
aos 5%, indicando que o efeito combinado não tem significância estatística na variável
dependente. Tal observação é especialmente importante porque indica que a influência de
cada efeito pode ser analisada separadamente.
218
O programa Statistica permite obter uma expressão matemática que relacione a variável
dependente com as variáveis independentes, cujos coeficientes são mostrados na tabela 7.7.
Embora o coeficiente de correlação tenha sido relativamente elevado, de 0,88, uma expressão
mais adequada pode ser obtida para um universo maior de ensaios de laboratório, de maneira
que sua abrangência seja superior ao universo de estado de tensões analisados neste item.
O valor absoluto dos efeitos pode ser também analisado através do gráfico de Pareto,
mostrado na figura 7.7, donde é possível observar que uma linha vertical traçada a partir do
p-level equivalente a 5% corta os diagramas associados aos valores das variáveis dependentes.
Valores à direita do p-level equivalente a 5% indicam que a variável é estatisticamente
significativa.
219
Na figura 7.8 são apresentadas as médias marginais das deformações permanentes totais
associadas à tensão desvio e à umidade de compactação.
Observa-se que em ambas as situações de umidade ótima (18,0%) e ótima + 1,5% (19,5%), o
aumento da tensão desvio de 70 kPa para 210 kPa gera um significativo aumento da
deformação permanente total da areia argilosa do ES. Além disso, para um mesmo nível de
tensão desvio a deformação permanente total foi maior quando o corpo-de-prova foi moldado
com umidade mais elevada.
Figura 7.8: Gráfico das Médias Marginais para o Presente Planejamento de Experimento.
220
Figura 7.9: Superfície de Resposta para os Dados Obtidos.
Uma das maneiras de analisar o efeito de interação é através da análise das curvas de nível
mostradas na figura 7.10. Uma mesma curva de nível indica as possíveis combinações de
umidade de compactação e tensão desvio que podem gerar a mesma deformação permanente
total, e quanto maior a tendência de paralelismo entre estas curvas menor será a influência do
efeito de interação.
221
Outra ferramenta fornecida pelo programa Statistica 8.0 é a possibilidade de comparação entre
os valores previstos e efetivamente observados no modelo que relaciona as variáveis, ilustrado
na figura 7.11, no qual se pode observar que os valores previstos e observados são muito
próximos à reta de igualdade.
Figura 7.11: Valor Observado Versus Previsto para o Planejamento Fatorial Realizado.
Diante dos resultados obtidos pode-se afirmar que ambos os efeitos, umidade de compactação
e tensão desvio, são marcantes e na mesma direção na deformação permanente total da areia
argilosa do ES, sendo o efeito devido à tensão desvio mais significativo do que o da umidade
de compactação, considerando os domínios de variação das variáveis independentes testados.
Pelo cálculo do efeito secundário nota-se que o efeito da tensão desvio e da umidade de
compactação podem ser analisados separadamente. Tal constatação é especialmente
importante porque o modelo de deformação permanente proposto no capítulo 3 não considera
os efeitos de interação entre as variáveis dependentes.
Em geral as normas técnicas do DNIT prevêem no trabalho com solos e britas uma variação
aceitável de dois pontos percentuais em torno da umidade ótima de compactação,
independente da natureza do material. Assim, uma brita com umidade ótima de 6% será aceita
no campo de sua umidade de compactação variar entre 4% e 8%, da mesma maneira um solo
222
argiloso de umidade de compactação 25% será aceito se sua umidade no campo variar entre
23% e 27%.
Esta conclusão será estendida para os demais solos finos estudados no presente trabalho, cuja
previsão da deformação permanente incluindo o efeito do aumento da umidade de
compactação deverá ser objeto de pesquisas futuras.
Tabela 7.8: Deformação Permanente Total para os Ensaios Realizados com a Areia Argilosa
do ES.
Ensaio Tensão (kPa) wcp N Hp (mm)
ıd ı3 (%)
10.2 40 17,2 250.000 0,197
11 80 40 18,1 230.000 1,137
12 120 18,7 147.782 5,236
4 70 18,5 236.950 0,648
9 140 70 18,3 142.800 3,750
2 210 18,4 170.000 5,262
13.2 120 120 18,2 415.000 2,621
14 240 18,8 140.000 10,177
223
O primeiro e mais importante aspecto a ser observado a partir destes resultados de ensaios é a
elevada deformação permanente apresentada pelos corpos-de-prova em alguns ensaios, que
pode ser considerada como muito alta. Até o presente momento da tese somente materiais
granulares haviam sido ensaiados e o nível máximo de deformação permanente acumulado
observado foi ligeiramente superior a 1,0 mm, em condições de umidade ótima de
compactação.
De acordo com os dados da tabela 7.8 as deformações permanentes totais da areia argilosa do
ES atingiram valores frequentemente superiores a 1,0 mm e até da ordem de 10,0 mm, neste
caso aproximadamente dez vezes superior.
Nesse ponto da pesquisa vale ressaltar que alguns ensaios de deformação permanente
conduzidos com a areia argilosa do ES não foram considerados válidos, porque a condição de
umidade de compactação gerou corpos-de-prova bastante deformáveis. Nestes casos o corpo-
de-prova não resistiu sequer aos dez primeiros ciclos de aplicação de cargas, tendendo
rapidamente à ruptura.
Por outro lado, para os três níveis mais baixos de tensões a deformação permanente tornou-se
inferior a 2,0 mm. Estes ensaios são os seguintes: 10.2 (Vd = 40 kPa e V3 = 40 kPa) , 4 (Vd =
70 kPa e V3 = 70 kPa) e 11 (Vd = 80 kPa e V3 = 40 kPa). Caso uma camada de pavimento
constituída de areia argilosa do ES esteja submetida a um estado de tensão semelhante a estes
então a contribuição da camada para o afundamento total de trilha-de-roda seria muito baixa.
Nos demais ensaios se observou que a deformação permanente variou entre 2,62 mm no
ensaio 13.2 (Vd = 120 kPa e V3 = 120 kPa) e 10,17 mm no ensaio 14 (Vd = 240 kPa e V3 = 120
kPa), esse último correspondente ao maior estado de tensão utilizado para a pesquisa com a
areia argilosa do ES.
Verificou-se, também, que ensaios conduzidos com estados de tensão mais elevados seriam
inviáveis, devido à elevada deformação permanente observada, podendo haver ruptura dos
corpos-de-prova dentro da câmara de ensaio.
224
10,0
8,0
Ep (mm)
6,0
4,0
2,0
0,0
N
0 50000 100000 150000 200000 250000
Ensaio 04 Ensaio 09 Ensaio 11 Ensaio 12
Ensaio 13.2 Ensaio 14 Ensaio 02 Ensaio 10.2
Observa-se que as formas das curvas apresentadas na figura 7.12 são bastante semelhantes,
com um rápido crescimento nos ciclos iniciais de aplicação de cargas seguidos de uma
tendência ao acomodamento da deformação permanente nos restantes dos ciclos. A diferença
básica entre o grupo de curvas obtidas está na alta taxa de acréscimo da deformação
permanente nos ciclos iniciais de carregamento, porque à medida que o número N de
aplicação de cargas aumentou, a taxa de acréscimo da deformação permanente, representada
por uma tangente à curva de deformação permanente total, tendeu a zero.
Vale lembrar que em alguns trabalhos identificados durante a revisão bibliográfica constatou-
se que alguns autores como LEKARP e DAWSON (1998) chegam a eliminar, para o estudo
da deformação permanente acumulada, os quinhentos ciclos iniciais de carregamento,
alegando um efeito de pós-compactação. Se tal procedimento fosse aplicado aos resultados
obtidos com a areia argilosa do ES certamente a deformação permanente final seria muito
baixa e o material seria classificado como satisfatório, porém para o autor da presente tese
ficou clara a fragilidade desde material quanto à deformação permanente para estado de
tensões médio a alto, principalmente por causa da nítida tendência à ruptura por variações de
225
umidade verificada nos ensaios considerados como não válidos realizados mas não incluídos
nesta pesquisa. Assim, optou-se pela manutenção dos valores de deformação total obtidos.
Outro aspecto que merece comentário sobre a deformação permanente é a relação campo
laboratório, nem tanto pelo estabelecimento de um shift-factor, mas pela associação entre as
forma das curvas de deformação permanente acumuladas. ODERMATT (2000), observou em
estudos com simulador de tráfego no campo na Dinamarca que a taxa de acréscimo da
deformação permanente foi bem inferior nos ciclos iniciais do que aquelas observadas em
laboratório através de ensaios triaxiais de cargas repetidas.
Não obstante as peculiaridades dos solos tropicais em relação aos solos de subleito estudados
por ODERMATT, os estudos indicam que a condição de ensaio de laboratório parece ser mais
rigorosa do que a de campo.
No caso do gráfico da figura 7.13 são mostrados resultados de três ensaios realizados com a
Porém, no caso do ensaio 12 (Vd = 120 kPa) a deformação permanente total atinge valor
superior a 5,0 mm, considerado como bastante elevado. Tal fato mostra a significativa
226
7,0
6,0
5,0
Ep (mm)
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
N
0 50000 100000 150000 200000 250000
Procedimento análogo ao anterior foi adotado para a elaboração do gráfico da figura 7.14,
porém, neste caso, a tensão confinante aumentou para 70 kPa, sendo que os resultados
indicam que no ensaio 4 (Vd = 70 kPa) a deformação permanente total atingiu valor inferior a
1,0 mm, e nos demais ensaios, ensaios 9 e 2, atingiu valores de 3,75 e 5,26, respectivamente.
227
7,0
6,0
5,0
Ep (mm)
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
N
0 50000 100000 150000 200000 250000
Tabela 7.8: Parâmetros do Modelo de Monismith para a Areia Argilosa do ES Desta Pesquisa.
Ensaio Tensão (kPa) A B Nfinal R2
Desvio Confinante
10.2 40 0,15 0,02 250.000 0,74
11 80 40 0,78 0,04 230.000 0,78
12 120 3,45 0,04 140.000 0,70
4 70 0,40 0,04 230.000 0,90
9 140 70 2,61 0,03 140.000 0,78
2 210 2,59 0,07 150.000 0,79
13.2 120 120 1,53 0,05 415.000 0,72
14 240 3,77 0,09 140.000 0,72
Observa-se na tabela 7.8 que o parâmetro “A” variou entre 0,15 e 3,77 e o parâmetro B variou
entre 0,02 e 0,09, apresentando menor dispersão em torno de seu valor médio. Além disso, a
228
maioria dos coeficientes de correlação R2 atingiu valores de 0,70, considerado apenas
razoável para efeito de aplicação na engenharia.
1.00E+00
1.00E-01
1.00E-02
Cargas)
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Deformação Permanente Vertical Acumulada (x 0,001 mm)
Ensaio 02 Ensaio 04 Ensaio 09 Ensaio 11
Ensaio 12 Ensaio 13.2 Ensaio 14 Ensaio 10.2
Na maioria dos ensaios realizados até o momento para a presente tese ficou bem definido que
ocorreu o acomodamento das deformações permanentes ao longo dos ciclos de aplicação de
cargas, embora não tenha sido possível obter uma expressão matemática que descrevesse o
limite de shakedown, por causa da dificuldade em realizar ensaios com elevado estado de
tensões.
229
No caso da areia argilosa do ES a situação é distinta porque foi observado um comportamento
do tipo AB, no qual a taxa de acréscimo da deformação permanente mostrou-se muito elevada
no início e tendeu a zero nos ciclos finais de aplicação de cargas.
Na figura 7.16 é apresentada uma comparação entre o limite do shakedown obtido para o
Granodiorito estudado por WERKMEISTER e os ensaios realizados com a areia argilosa do
ES, incluindo os casos de comportamento AB.
1000.00
900.00
800.00
700.00
TensãoV1(KPa)
600.00
500.00
400.00
300.00
200.00
100.00
0.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8
RazãodeTensões(V1/V3)
Granodiorito AreiaArgilosadoES ComportamentoAB
Figura 7.16: Comparação Entre o Limite de Shakedown para o Granodiorito Estudado por
WERKMEISTER (2003) e os Valores Obtidos para a Areia Argilosa do ES.
230
Assim, parece haver uma faixa intermediária de estados de tensões entre os limites de
comportamentos A e B tradicionais quando se analisa solos finos, cuja veracidade será
estudada para os demais materiais finos estudados na presente tese.
0,6
0,5
0,4
Ee (mm)
0,3
0,2
0,1
0
0 50000 100000 150000 N 200000
Ensaio 02 Ensaio 04 Ensaio 09 Ensaio 11
Ensaio 12 Ensaio 13.2 Ensaio 14 Ensaio 10.2
Esta mesma variação da deformação resiliente pode ser expressa em termos de módulo
resiliente, tal como ilustrado na figura 7.18, na qual é possível observar que este valor atinge
cerca de 350 MPa, no caso mais elevado, e 120 MPa, aproximadamente, no caso de valor
mais reduzido.
231
450
400
350
300
MR (MPa)
250
200
150
100
50
0
0 50000 100000 N 150000 200000
Ensaio 02 Ensaio 04 Ensaio 09 Ensaio 11
Ensaio 13.2 Ensaio 14 Ensaio 10.2 Ensaio 12
Figura 7.18: Variação do Módulo Resiliente Obtido Através da Definição ao Longo dos
Ensaios de Deformação Permanente para a Areia Argilosa do ES.
Nas figuras de 7.19a a 7.19h são apresentados os valores de módulo resiliente em função da
tensão desvio obtidos após a realização de cada ensaio de deformação permanente, nas quais
pode-se observar que o valor médio de módulo resiliente variou entre 162 MPa (ensaio 12) e
284 MPa (ensaio 14), que são valores compatíveis com os observados no ensaio de módulo
resiliente convencional.
1000 1000
y = 212.25x-0.091
Módulo Resiliente (MPa)
Módulo Resiliente (MPa)
R² = 0.2327
y = 91.003x-0.4
R² = 0.7056
100 100
Figura 7.19a: Módulo Resiliente Após Figura 7.19b: Módulo Resiliente Após
Ensaio 2. Vd= 210 MPa e V3=70 MPa. Ensaio 4. Vd= 70 MPa e V3=70 MPa.
MRmédio= 263 MPa. MRmédio= 232 MPa.
232
1000 1000
y = 205.31x-0.094
Módulo Resiliente (MPa)
100 100
0.010 0.100 1.000 0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa) Tensão Desvio (MPa)
Figura 7.19c: Módulo Resiliente Após Figura 7.19e: Módulo Resiliente Após
Ensaio 9. Vd= 140 MPa e V3=70 MPa. Ensaio 11. Vd= 80 MPa e V3=40 MPa.
MRmédio= 256 MPa. MRmédio= 239 MPa.
1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 116.05x-0.305
R² = 0.7702 y = 116.91x-0.136
R² = 0.3317
100 100
0.010 0.100 1.000 0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa) Tensão Desvio (MPa)
Figura 7.19d: Módulo Resiliente Após Figura 7.19f: Módulo Resiliente Após
Ensaio 10.2. Vd= 40 MPa e V3=40 MPa. Ensaio 12. Vd= 120 MPa e V3=40 MPa.
MRmédio= 240 MPa. MRmédio= 162 MPa.
233
1000 1000
y = 194.32x-0.146 y = 183.07x-0.186
Módulo Resiliente (MPa)
100 100
0.010 0.100 1.000 0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa) Tensão Desvio (MPa)
Figura 7.19g: Módulo Resiliente Após Figura 7.19h: Módulo Resiliente Após
Ensaio 13.2. Vd= 120 MPa e V3=120 MPa. Ensaio 14. Vd= 240 MPa e V3=120 MPa.
MRmédio= 265 MPa. MRmédio= 284 MPa
H esp
p \ 1 .V \3 .V dZ N \
2 3 4
(7.1)
Onde:
H esp
p : deformação permanente específica (em porcentagem),
234
A expressão 7.2 obtida para a areia argilosa do Espírito Santo e o enquadramento do modelo
de regressão foi satisfatório, tendo sido utilizada para este fim o mesmo procedimento
adotado no capítulo 4 para a laterita do Acre. Na tabela 7.9 são apresentados os parâmetros do
modelo proposto, que correspondem à letra w, sendo que o p-level muito baixo (0,00) indica
que todos estes parâmetros têm significância estatística para o cálculo da variável dependente.
Nos gráficos das figuras 7.20 e 7.21 são apresentados mais dois aspectos relacionados à
verificação da acurácia do modelo de previsão da deformação permanente proposto, sendo no
caso da figura 7.20 a verificação da condição de normalidade dos desvios. Nesta deseja-se,
como efetivamente observado, que os pontos do gráfico se aproximem da reta de igualdade
porque esta situação indica que os resíduos realmente se distribuem normalmente.
Figura 7.20 Verificação da Condição de Normalidade dos Resíduos para a Areia Argilosa do
ES.
236
No caso da figura 7.21 é apresentada uma relação entre os valores previstos pelo modelo e
efetivamente observados experimentalmente, tendo sido obtido uma boa correlação.
Figura 7.21: Relação Entre os Valores Previstos pelo Modelo de Deformação Permanente
Proposto e Observados Experimentalmente para a Areia Argilosa do ES.
237
CAPÍTULO 8: RESULTADOS OBTIDOS – ARGILA RIBEIRÃO PRETO
Na figura 8.1 é apresentado um mapa rodoviário da região de Ribeirão Preto/SP, no qual pode
ser identificada a rodovia SP-333, na figura 8.2 o mapa geológico do entorno e nas figuras
8.3a a 8.3f são apresentadas diversas características do local de coleta das amostras.
Figura 8.1: Mapa Rodoviário de São Paulo Junto ao Município de Ribeirão Preto, no Qual
Pode Ser Identificada a Rodovia SP-333.
Na figura 8.2 é apresentado um mapa geológico da região de Ribeirão Preto/SP no qual pode
ser observado que ao longo da rodovia SP-333 ocorrem exclusivamente rochas magmáticas
extrusivas da Formação Serra Geral, caracterizada por vulcanismo fissural-basaltos toleíticos
e diques de diabásios, intercalados com arenitos eólicos: o chamado arenito Botucatu.
238
Figura 8.2: Mapa Geológico da Região de Ribeirão Preto/SP.CPRM (1998) – Projeto Mogi-
Pardo Carta Geológica Compilada e Simplificada. Escala 1:500.000.
A argila de Ribeirão Preto é um latossolo, sendo que este termo é usado para designar uma
classe da categoria de ordem na moderna classificação pedológica brasileira, e a sua maior
parte é enquadrada como oxisols pela taxonomia de solos dos Estados Unidos.
Segundo WERKMEISTER (2001) devem ser usadas tensões mais baixas do que as usuais
para pesquisa de ocorrência do shakedown em solos argilosos, porque estes possuem,
teoricamente, menor resistência à deformação permanente do que os materiais granulares.
Porém, antes de se tentar prever o comportamento de solos tropicais deve-se ter em mente
suas peculiaridades favoráveis, expostas principalmente em NOGAMI e VILLIBOR (1995).
240
Figura 8.3a: Vista Geral do Corpo de Figura 8.3d: Vista Geral da Base de Solo
Aterro e Sub-base do Pavimento da Brita na Rodovia SP 333 Próximo a
Rodovia Onde o Solo Estudado foi Ribeirão Preto.
Empregado.
Figura 8.3b: Aspecto da Camada de Base Figura 8.3e: Amostra de Argila Vermelha
deste Solo com Brita Utilizada na de Ribeirão Preto Umedecida na Umidade
Pavimentação da Rodovia SP-333. Ótima e Devidamente Homogeneizada.
Figura 8.3c: Trincamento Típico dos Solos Figura 8.3f: Corpo-de-prova de Argila
Finos Lateríticos Observado na camada de Vermelha de Ribeirão Preto/SP, de
Sub-base de Argila Vermelha de Ribeirão Dimensões 10 por 20 cm, Moldado em
Preto. Molde Cilíndrico Tri-partido.
241
8.2 Características Geotécnicas e Físico-Químicas
A Argila de Ribeirão Preto/SP apresentou umidade ótima (hot) de 24,0 % com respectiva
máxima densidade seca (Js) de 1,665 g/cm3, para o ensaio proctor normal. Na tabela 8.1 é
apresentado o resultado da análise físico-química da Argila de Ribeirão Preto/SP, na qual
pode ser observado um valor de Ki de 1,1 indicando tratar-se de um material submetido a um
elevado grau de intemperismo e composto por argilominerais de estrutura dita 1:1 ou óxidos
hidróxidos de Fe ou Al.
A presença de 4,2 % de Óxido de Titânio (TiO2) é significativa, sendo que a réplica da análise
físico-química revelou a mesma ordem de grandeza deste material.
Um fato que merece citação é a forte tendência de adesão do material às partes metálicas do
molde cilíndrico tri-partido durante o processo de preparo dos corpos-de-prova, houve em
geral dificuldade para desmoldagem dos mesmos.
242
devidamente homogeneizada, sendo posteriormente acondicionadas em sacos plásticos
fechados.
A seguir todas as dez amostras foram colocadas em uma caixa plástica de grande capacidade
e misturadas simultaneamente, até que o material se tornasse totalmente homogêneo. Depois,
foram retiradas amostras de 4,0 kg cada e acondicionadas em sacos plásticos fechados e
levadas para a câmara úmida do laboratório, onde permaneceram até a realização do ensaio.
Foram realizados ensaios de módulo resiliente para o material compactado com energia
equivalente à do ensaio proctor normal e intermediário, e ensaios de deformação permanente
com material compactado com energia equivalente ao ensaio proctor normal, e com variados
estados de tensão, conforme ilustrado na tabela 8.3. A freqüência de aplicação do
carregamento foi de 1 Hz e o número de aplicação de ciclos foi maior ou igual a 150.000.
Na tabela 8.3 são mostrados os ensaios e respectivos estados de tensões nos quais foram
realizados os ensaios de deformação permanente com a Argila de Ribeirão Preto/SP. Para três
níveis distintos de tensão confinante, 40 kPa, 80 kPa e 120 kPa, foram utilizadas tensões
desvio tais que a razão entre estas e a tensão confinante fosse 1, 2 e 3. O número mínimo de
ciclos de aplicação de cargas foi de 150.000 e o máximo de 390.000 ciclos, tendo sido
observado que a deformação acumulada atingiu estágio de acomodamento em todos os níveis
de tensão utilizados.
243
Tabela 8.3: Relação dos Ensaios Realizados ou Previstos com a Argila de Ribeirão Preto.
Tensão (kPa) Razão de N
Ensaio Desvio Confinante Tensões
1 40 1 160.000
2 80 40 2 230.000
3 120 3 150.000
4 80 1 230.000
5 160 80 2 240.000
6 240 3 169.000
7 120 1 390.000
8 240 120 2 257.000
9 360 3 340.000
1 40 1 160.000 0,281
2 80 40 2 230.000 0,663
3 120 3 150.000 1,152
4 80 1 230.000 0,425
5 160 80 2 240.000 1,214
6 240 3 169.000 1,856
7 120 1 390.000 0,628
8 240 120 2 257.000 2,030
9 360 3 340.000 3,351
Verifica-se, de acordo com a figura 8.4, que todos os corpos-de-prova apresentaram uma
nítida tendência de acomodamento das deformações permanentes ao longo dos ciclos de
aplicação de cargas, representada pelo fato das curvas terem se tornado praticamente paralelas
ao eixo horizontal. A principal diferença de comportamento entre os ensaios ocorre na fase
inicial de carregamento, até cerca de 5.000 ciclos, na qual a taxa de acréscimo da deformação
permanente é tão mais elevada quanto maior foi o estado de tensão aplicado no ensaio.
244
A máxima deformação permanente observada foi de 3,4 mm para o ensaio 9 conduzido com
tensão desvio de 360 kPa e confinante de 120 kPa. Esta seria a contribuição para o
afundamento total da trilha-de-roda de uma camada de pavimento constituído de 20 cm de
Argila de Ribeirão Preto/SP e, considerando-se um valor admissível de 10 mm, a contribuição
percentual seria de 34%.
Os estados de tensão adotados nos ensaios permitem uma avaliação mais detalhada da
influência da tensão desvio, para os casos em que a tensão confinante permaneceu constante.
Por exemplo, para o caso dos ensaios 7, 8 e 9, conduzidos com a mesma tensão confinante
(V3=120 kPa), as deformações permanentes totais foram 3,4 mm, 2,0 mm e 0,6 mm,
correspondentes as tensões desvio de 360 kPa, 240 kPa e 120 kPa, respectivamente. Assim,
mantida a tensão confinante constante tem-se que a deformação permanente será tão mais
elevada quanto maior for a razão de tensões Vd/V3. Tal tendência também pode ser observada
nos demais estágios de tensões.
Outro aspecto importante a ser observado na figura 8.4 é o fato de que para os ensaios 1, 2, 3,
4, 5, e 7 as deformações permanentes totais observadas são inferiores a 1,0 mm, fato que
tornaria muito pequena a influência da Argila de Ribeirão Preto/SP em um eventual
afundamento de trilha-de-roda de um pavimento ao qual pertencesse.
245
3,5
2,5
Ep (mm)
1,5
0,5
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000 350000
N
ARP 01 ARP 02 ARP 03 ARP 04 ARP 05 ARP 06 ARP 07 ARP 08 ARP 09
Figura 8.4: Deformação Permanente Total para a Argila de Ribeirão Preto/SP. Corpos-de-
prova de 10 cm de Diâmetro e 20 cm de Altura.
Da análise da figura 8.5 verifica-se que a ordem de grandeza das deformações permanentes da
Argila de Ribeirão Preto/SP e da brita graduada de Chapecó/SC são similares para os níveis
mais baixos de tensões. Há, porém, uma tendência de acréscimo mais acentuado da
deformação permanente na Argila de Ribeirão Preto/SP à medida que se aumenta o estado de
tensão do ensaio, podendo haver uma diferença de até 42% na deformação permanente total
no nível mais elevado de tensão.
246
2
1,8
1,6
1,4
1,2
Ep (mm)
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 20000 40000 60000 80000 100000
N
Figura 8.5: Comparação Entre a Deformação Permanente Total Apresentada pela Argila de
Ribeirão Preto/SP e uma Brita Graduada. Tensão Confinante de 80 kPa e Corpos-de-prova de
10 cm de Diâmetro e 20 cm de Altura.
Ou seja, embora o enrijecimento típico de solos finos lateríticos seja uma propriedade
favorável à sua utilização em camada de pavimentos, principalmente me termos de valores de
módulo resiliente, no caso da avaliação da deformação permanente o aspecto pedregulhoso da
brita e os estados de tensões utilizados foram mais significativos na obtenção de menores
valores de deformação permanente acumulada. É por isso que a prática em São Paulo de
misturar este tipo de solo com brita (tal como feito para a camada de base para a obra em
questão da rodovia SP-333) mostra-se adequada para rodovias de maior volume de tráfego, do
que as tradicionais de baixo volume onde tipicamente se usam argilas lateríticas somente.
247
No caso da figura 8.6a, a deformação permanente acumulada variou cerca de 100%, passando
de 0,5 mm para 1,0 mm, considerando-se a variação da tensão desvio de 80 kPa para 160 kPa.
No caso da figura 8.6c a deformação permanente acumulada variou entre 0,5 mm para 2,0
mm, que corresponde a 400%, quando a tensão desvio mudou de 120 kPa para 240 kPa, em
um nível constante de tensão confinante de 120 kPa.
3.5
2.5
2
Ep (mm)
1.5
0.5
0
0 100000 200000 300000
N
ARP 01 ARP 02 ARP 03
3.5
2.5
2
Ep (mm)
1.5
0.5
0
0 100000 200000 300000
N
ARP 04 ARP 05 ARP 06
248
3.5
2.5
2
Ep (mm)
1.5
0.5
0
0 100000 200000 300000
N
ARP 07 ARP 08 ARP 09
1.4
1.2
1
Ep (mm)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 100000 200000 300000
N
ARP 02 ARP 03 ARP 04 ARP 07
249
De acordo com a figura 8.7 verifica-se que a deformação permanente foi mais elevada no caso
de menor tensão confinante, em ambos os casos analisados, sendo a diferença entre os ensaios
3 e 7 mais expressiva do que entre os ensaios 2 e 4.
Observa-se de acordo com a tabela 8.5 que em alguns casos o coeficiente de correlação foi
muito baixo, como no caso do ensaio 10. Além disso, tanto o parâmetro A quanto o parâmetro
B variaram muito em função do estado de tensões adotado no ensaio, indicando que para este
solo o modelo de Monismith não é adequado, certamente porque tendem ao acomodamento.
250
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
1.00E-02
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Deformação Permanente Vertical Acumulada (x0,001 mm)
ARP 01 ARP 02 ARP 03 ARP 04 ARP 05 ARP 06 ARP 07 ARP 08 ARP 09
No caso dos ensaios 8 e 9 foi possível identificar que ocorreu o comportamento tipo AB
também identificado para a areia argilosa do ES, que corresponde à uma situação mista de
comportamento entre os tipos A e B. Ou seja, nos ciclos iniciais de carregamento o corpo-de-
prova parece apresentar comportamento tipo B, caracterizado por escoamento plástico bem
definido, porém, à medida em que se aumentam os ciclos de aplicação de cargas, a taxa de
acréscimo da deformação tende a ser nula e o comportamento passa a ser, então, do tipo A. E
como as deformações acumuladas inicialmente são relativamente elevadas estas não podem
ser desprezadas.
Na figura 8.9 é mostrada uma comparação entre os limites de shakedown obtidos por
WERKMEISTER (2003) e os ensaios realizados com a argila de Ribeirão Preto/SP, sendo
que a linha cheia do gráfico representa a trajetória de tensões, de ensaio para ensaio, utilizada
nos experimentos. A opção pela varredura de um espaço de tensões compatíveis com as
tensões de trabalho no campo impediu a definição de um limite matemático de
comportamento para o material estudado, mas o estudo comparativo permite concluir que as
tensões utilizadas nos ensaios de 1 a 7 de fato correspondem a estados de acomodamento
plástico, ou shakedown. Ressalte-se, mais uma vez, que comparam-se aqui um material
granular com um argila, fato impensável talvez para solos não tropicais.
251
1000.00
900.00
800.00
700.00
TensãoV1(kPa)
600.00
500.00
400.00
300.00
200.00
100.00
0.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8
RazãodeTensões(V1/V3)
Figura 8.9: Comparação Entre o Limite de Shakedown para o Granodiorito Estudado por
WERKMEISTER (2003) e os Valores Obtidos para a Argila de Ribeirão Preto/SP.
De acordo com a figura 8.10a verifica-se que o material é fortemente influenciado pela tensão
confinante, podendo gerar um acréscimo de até 100% neste valor quando se varia a tensão
confinante do menor para o maior valor de ensaio, explicada pela porcentagem de 38% de
areia presente.
Por outro lado, a influência da tensão desvio no valor de módulo resiliente é bem menos
expressiva além de ter sido obtido um valor de coeficiente de correlação muito baixo,
conforme apresentado na figura 8.10b, mesmo sendo um material argiloso pelos ensaios
convencionais. No entanto, a agregação dos óxidos de ferro faz com que na natureza estes
grãos de argila estejam agregados em tamanho de areia.
252
Para o caso de corpo-de-prova compactado com energia equivalente ao proctor intermediário
os resultados obtidos são apresentados nas figuras 8.11a e 8.11b, sendo que neste caso o valor
de módulo resiliente médio é de 275 MPa. Os coeficientes de correlação muito próximos a
zero indicam que o valor de módulo resiliente tende a ser constante.
1000 1000
y = 410,77x0,1664
R 2 = 0,1151
100
100
0,01 0,1 1
0,01 0,1 1
Tensão Confinante (MPa)
Tensão Confinante (MPa)
Figura 8.10a: Variação do Módulo Resiliente Figura 8.11a: Variação do Módulo Resiliente
em Função da Tensão Confinante. Argila de em Função da Tensão Confinante. Argila de
Ribeirão Preto/SP. Energia Proctor Normal. Ribeirão Preto/SP. Energia Proctor
Intermediária.
1000
1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 302,67x0,0753 y = 263,23x-0,0154
Módulo Resiliente (MPa)
2
R = 0,1878 R2 = 0,01
100
0,010 0,100 1,000 100
253
Na figura 8.12 pode-se analisar o efeito simultâneo da tensão desvio e confinante, onde é
possível verificar que o valor de módulo resiliente é da ordem de 150 MPa para o nível mais
baixo de tensão confinante, crescendo rapidamente com o acréscimo da tensão confinante, até
atingir o valor de 350 MPa, bastante elevado para um solo fino compactado na energia
equivalente ao ensaio proctor normal.
Ainda de acordo com a figura 8.12 verifica-se que a tensão desvio exerce influência pouco
significativa no módulo resiliente do material. As equações 8.1 e 8.2 expressam o modelo
combinado.
ALVAREZ NETO et al (1998) obtiveram valores de módulo resiliente para camadas de base
e subleito (fundação) de solos finos lateríticos através de estudos de retroanálise de
pavimentos existentes do estado de São Paulo, sendo que alguns resultados são apresentados
na tabela 8.6, juntamente com os valores obtidos no presente estudo e em laboratório, para o
módulo resiliente da Argila de Ribeirão Preto/SP.
Verifica-se, de acordo com a tabela 8.6, que o valor de módulo resiliente da Argila de
Ribeirão Preto/SP, compactada com energia equivalente ao ensaio proctor intermediário, é
compatível com os valores obtidos por ALVAREZ NETO et al (1998) para solos do tipo LA e
254
LA’. Com relação aos solos utilizados como camada de fundação (subleito) o valor de módulo
resiliente da Argila de Ribeirão Preto/SP foi significativamente superior. A classificação
MCT da argila de Ribeirão Preto é LG’, com e’= 1,08 e c’= 1,81.
Tabela 8.6: Relação Entre Módulo Resiliente e Classificação MCT. NETO et al (1998).
Solo Módulo Resiliente e Coeficiente Estrutural
Classificação MCT Base (100% PI) Fundação (100%PN)
Grupo Tipo MB KB MF
LG' - 100 0,78 90 - 160
LG' I 200 0,98 110 - 220
LA' I 220-300 1,01 - 1,13 160 - 220
LA' II 220-300 1,01 - 1,16 -
LA' III 270 1,09 170
LA IV 240 1,05 -
Argila Ribeirão Preto/SP - 275 (valor médio) 258 (valor médio)
100
0,01 0,1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 8.13: Comparação Entre o Valor de Módulo Resiliente da Argila de Ribeirão Preto/SP
e Algumas Britas Graduadas. Módulo Resiliente Variando com a Tensão Confinante.
255
Analisando-se a figura 8.13 verifica-se que o valor de módulo resiliente da Argila de Ribeirão
é mais elevado do que os valores de todas as britas nos dois níveis de tensão confinante mais
baixo, 21 kPa e 34 kPa, respectivamente.
0,5
0,45
0,4
0,35
0,3
Ee (mm)
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
0 50000 100000 150000 200000
N
ARP 01 ARP 02 ARP 03 ARP 04 ARP 05 ARP 06 ARP 07 ARP 08 ARP 09
De acordo com os resultados mostrados na figura 8.14 vê-se a deformação resiliente diminui
rapidamente nos ciclos iniciais entrando, posteriormente, em um nível estável de deformação.
256
Figura 8.15a: Módulo Resiliente da Argila de Figura 8.15b: Módulo Resiliente da Argila de
Ribeirão Preto Após Ensaio 01. Ribeirão Preto Após Ensaio 02.
Figura 8.15c: Módulo Resiliente da Argila de Figura 8.15d: Módulo Resiliente da Argila de
Ribeirão Preto Após Ensaio 03. Ribeirão Preto Após Ensaio 05.
Figura 8.15e: Módulo Resiliente da Argila de Figura 8.15f: Módulo Resiliente da Argila de
Ribeirão Preto Após Ensaio 04 Ribeirão Preto Após Ensaio 06.
257
Figura 8.15g: Módulo Resiliente da Argila de Figura 8.15h: Módulo Resiliente da Argila de
Ribeirão Preto Após Ensaio 08. Ribeirão Preto Após Ensaio 11
258
Na tabela 8.7 são apresentados os parâmetros do modelo de módulo resiliente em função das
tensões confinante e desvio, bem como os respectivos coeficientes de correlação obtidos. Não
foi possível realizar o ensaio de módulo resiliente para o corpo-de-prova correspondente ao
ensaio 7.
De acordo com tabela 8.7 tem-se que o parâmetro k1 variou entre 199 e 492, o parâmetro k2
entre 0,11 e 0,39 e o parâmetro k3 entre -0,07 e -0,40, tendo sido obtidos excelentes
coeficientes de correlação adequados em quase todos os ensaios.
Tal planilha foi posteriormente exportada para o software Statistica 8.0 no qual foi possível
executar a regressão não-linear múltipla, tal como ilustrado no capítulo 3.
A expressão 8.3 é a resultante dos cálculos realizados, tendo sido obtido um valor de
coeficiente de correlação (R2) de 0,986, indicando uma excelente acurácia para a modelagem
utilizada. No caso da expressão 8.3 os parâmetros \i são, respectivamente: \1 = 0,206, \2 = -
0,24, \3 = 1,34, e \4 = 0,038
259
0,206.V 3 .V d . N
0 , 24
H esp
p (%)
1, 34 0 , 038
(R2 = 0,986) (8.3)
260
A relação entre os valores previstos e observados também pode ser vista no gráfico da figura
8.17, na qual se pode constatar que estes valores são muito próximos entre si, confirmando a
hipótese citada anteriormente.
Figura 8.17: Valores Previstos Versus Observados para o Modelo de Previsão de Deformação
Permanente Obtido para a Argila de Ribeirão Preto.
Uma análise análoga à anterior pode ser feita considerando os resíduos, porém, neste caso, o
fator comparativo a ser analisado é a forma da curva obtida com os pontos do gráfico da
figura 8.18. Esta forma não pode representar alguma função conhecida, pois os resíduos
devem se espalhar aleatoriamente em um bom modelo de regressão. No caso da figura 8.18 é
até possível imaginar certa tendência de comportamento, a priori, porém isto de fato não
ocorre, pois a forma do gráfico é resultado da análise de um grande número de pontos
utilizado no modelo. Logo o modelo também é satisfatório com relação à distribuição dos
resíduos.
261
Figura 8.18: Valores Residuais do Modelo de Previsão de Deformação Permanente Obtido
para a Argila de Ribeirão Preto.
262
CAPÍTULO 9: RESULTADOS OBTIDOS - SOLO PAPUCAIA
263
Na figura 9.2 é apresentado o mapa geológico da região do município de Papucaia/RJ no qual
é possível distinguir algumas formações geológicas predominantes.
Figura 9.2: Mapa Geológico da Região de Papucaia/RJ. Mapa Geológico do Estado do Rio de
Janeiro, CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Escala 1:500.000
De acordo com a figura 9.2 são quatro as principais formações geológicas que englobam o
município de Papucaia, a saber:
266
Um aspecto especialmente importante constatado no solo Papucaia foi a presença de macro
cristais de micas bem visíveis a olho nu, conforme mostrado na figura 9.4. A presença de
mica, que é um mineral pouco resistente ao intemperismo indica que se trata de um solo
residual jovem, que ainda preserva parte dos minerais primários da rocha que lhe deu origem.
Figura 9.4: Fração do Solo Papucaia Retida na Peneira nq 4 na Qual se Observam Cristais de
Mica (Muscovita).
Além disso, solos com presença de mica em significativa quantidade podem possuir elevado
módulo de resiliência por causa da forma planar do mineral que interfere na resposta do
material quando submetido à ação de cargas repetidas.
267
Tabela 9.3: Relação de Ensaios Realizados com o Solo Papucaia.
Ensaio Tensão (kPa) Razão Umidade Umidade Nf
Desvio Confinante de Cápsula Cp (%)
Tensões (%)
1 40 1 14,3 14,1 250.000
2 80 40 2 14,1 14,3 240.000
3 120 3 12,6 12,2 340.000
4 80 1 12,2 12,6 165.000
5 160 80 2 11,8 12,1 330.000
6 240 3 12,0 - 244.000
7 120 1 12,8 11,0 428.000
9 360 120 3 12,0 11,5 284.345
Na tabela 9.4 são apresentados os valores de deformação permanente acumulada para cada
ensaio, bem como o número de ciclos de aplicação de cargas utilizados, sendo possível
constatar que as deformações permanentes acumuladas foram efetivamente baixas (inferiores
a 1,0 mm) apenas nos ensaios 1 e 4, sendo consideradas relativamente elevadas nos demais
ensaios.
Tabela 9.4: Valores de Deformação Permanente Acumulada ao Término de Cada Ensaio para
o Solo Papucaia.
Ensaio Tensão (kPa) Razão Umidade N Hp (mm)
Desvio Confinante de
Tensões
1 40 1 14,1 250.000 0,424
2 80 40 2 14,3 240.000 1,199
3 120 3 12,2 340.000 1,475
4 80 1 12,6 165.000 0,840
5 160 80 2 12,1 330.000 2,050
6 240 3 12,0 244.000 2,359
7 120 1 11,0 428.000 1,739
9 360 120 3 11,5 284.345 7,353
268
A deformação permanente acumulada obtida no ensaio 9, para Vd = 360 kPa e V3= 120 kPa,
totalizando 7,353 mm foi muito elevada, significando que se o solo Papucaia constituísse uma
camada de 20 cm de pavimento e estivesse submetido ao estado de tensões utilizado no
ensaio, então somente esta camada de solo Papucaia seria responsável por aproximadamente
70% da deformação admissível do pavimento. Logo, esta situação deve ser evitada em uma
estrada real.
De acordo com a figura 9.5a tem-se que a deformação acumulada no ensaio 9 foi muito mais
elevada do que nos demais ensaios, além disso a forma da curva indica, claramente, que esta
deformação acumulada tendia a crescer continuadamente, ao contrário do acomodamento
verificado na maior parte dos ensaios até o presente.
8
Deformação Permanente Acumulada
5
(mm)
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
Número de Aplicações de Carga (N)
Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Ensaio 4
Ensaio 5 Ensaio 6 Ensaio 7 Ensaio 9
269
contínuo da deformação permanente acumulada, tais como os ensaios 2, 3, 4, 5 e 6, porém
com menor valor final.
1.5
0.5
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
270
muito mais elevada do que os demais. Por isso, para uma mais acurada interpretação do
comportamento do solo Papucaia nos demais ensaios o traçado conjunto de todas as curvas
compromete a interpretação, por isso foi necessário elaborar a figura 9.6b, na qual foi
excluído o resultado do ensaio 9.
1.00E-01
1.00E-02
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Deformação Permananente Vertical Acumulada (x0,001mm)
Dessa forma pode-se constatar que o solo Papucaia possui grande tendência de apresentar
deformações permanentes, possuindo tensões limites de shakedown de baixa intensidade.
Portanto, sua utilização em pavimentos merece maiores cuidados quanto à contribuição para o
afundamento de trilha de roda.
Até este ponto da presente pesquisa quatro tipos de solos finos foram estudados quanto à
deformação permanente e ocorrência do shakedown, sendo duas argilas lateríticas com
271
classificação LG’(areia argilosa do ES e argila de Ribeirão Preto), uma argila não laterítica
NG’(tabatinga do Acre) e o solo Papucaia, que possui classificação NS’. Embora tenham sido
pouco os materiais estudados até o presente, parece que o comportamento laterítico, obtido
para a classificação MCT do solo, é determinante para descrever o comportamento do
material, porque os solos lateríticos apresentaram acomodamento da deformações permanente
– tipo A – enquanto que os não lateríticos apresentaram no caso de ensaios com os níveis
mais altos de tensões comportamento tipo B.
1.00E-01
1.00E-02
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Deformação Permananente Vertical Acumulada (x0,001mm)
Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Ensaio 4
Ensaio 5 Ensaio 6 Ensaio 7
Na figura 9.7 é apresentado um gráfico comparativo dos resultados obtidos para o solo
Papucaia e para o granodiorito estudado por WERKMEISTER (2003), sendo divididos os
estados de tensões de acordo com o comportamento apresentado (tipo A ou B).
O estudo comparativo entre os valores indica que o limite de shakedown, que separa os
padrões de comportamento A e B, para o granodiorito são mais elevados do que o limite para
o solo Papucaia, porque mesmo para ensaios realizados com estados de tensões inferiores ao
limite de shakedown do granodiorito, representados na figura por pontos situados à esquerda
da curva de limite de shakedown do granodiorito, foi observado escoamento plástico do solo
Papucaia.
272
1000.00
900.00
800.00
700.00
TensãoV1(kPa)
600.00
500.00
400.00
300.00
200.00
100.00
0.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8
RazãodeTensões(V1/V3)
Figura 9.7: Gráfico Comparativo do Limite do Shakedown para o Granodiorito Estudado por
WERKMEISTER (2003) e os Valores Obtidos para o Solo Papucaia.
No ensaio de módulo resiliente convencional o valor médio obtido foi de 197 MPa, sendo as
variações em função da tensão confinante e desvio apresentadas nas figuras 9.8a e 9.8b, nas
quais é possível verificar que ocorreu um melhor enquadramento no modelo do módulo
função da tensão desvio, apesar da composição predominante da fração areia no solo
Papucaia.
273
1000
100
0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 9.8a: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Confinante para o Solo Papucaia.
Corpos-de-prova de Dimensões 10 cm x 20 cm.
1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 132.18x-0.166
R² = 0.389
100
0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa)
Figura 9.8b: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Desvio para o Solo Papucaia.
Corpos-de-prova de Dimensões 10 cm x 20 cm.
274
O ensaio com corpo-de-prova de dimensões 15 por 30 cm revelou-se bastante trabalhoso no
que diz respeito à compactação deste, que tem sido feita de forma manual, ao contrário dos
corpos-de-prova de dimensões 10 por 20 cm cuja compactação é feita com equipamento
mecânico. O ensaio foi realizado com o objetivo de verificar a influência das dimensões do
corpo-de-prova no módulo resiliente do material, fazendo parte de uma outra pesquisa da
COPPE, tendo sido aproveitado no presente trabalho.
Para o caso da figura 9.9 a equação obtida é a 9.1, sendo o coeficiente de correlação superior a
0,9.
Figura 9.9: Modelo Combinado para o Módulo Resiliente do Solo Papucaia. Corpos-de-prova
de Dimensões 10 cm x 20 cm.
275
Figura 9.10: Modelo Combinado para o Módulo Resiliente do Solo Papucaia. Corpos-de-
prova de Dimensões 15 cm x 30 cm.
Para o caso do ensaio da figura 9.10 a equação obtida foi a 9.2, também com coeficiente de
correlação acima de 0,9, tendo sido utilizado o software Statistica 8.0 para obtenção dos
resultados.
Aplicando o estado de tensões V3 = 0,08 MPa e Vd = 0,14 MPa nas fórmulas 9.1 e 9.2 são
obtidos, respectivamente, os valores de 189 MPa e 148 MPa, indicando que existe pequena,
porém significativa, variação do valor de módulo resiliente dependendo da dimensão do
corpo-de-prova utilizado no ensaio, no caso do solo Papucaia. MEDINA e MOTTA (2005)
chamam a atenção sobre este fato também observado em outros ensaios, comentando que os
volumes de material ensaiados são bem distintos.
No ensaio 8 a leitura da deformação resiliente foi muito superior ao razoável e, além disso,
mostrou-se bastante dispersa, sugerindo algum problema no registro, sendo os dados gerados
excluídos do presente estudo.
276
1
0.9
Deformação Resiliente (mm) 0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
Número de Ciclos de Carga (N)
ߪௗ
A variação do módulo resiliente, tomado a partir da definição do mesmo, ܴܯൌ ൗߝ ,
também foi analisada e é apresentada na figura 9.12, donde se pode observar que o valor de
módulo resiliente atingiu o valor máximo de 400 MPa, no caso do ensaio 1; variou muito ao
longo do ensaio 7; e manteve-se em um nível aproximadamente constante nos ciclos finais
dos demais ensaios realizados.
277
450
400
350
Módulo Resiliente (MPA)
300
250
200
150
100
50
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
Número de Ciclos de Aplicação de Carga (N)
Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Ensaio 4
Ensaio 5 Ensaio 6 Ensaio 7 Ensaio 9
Figura 9.12: Variação do Módulo Resiliente Obtido pela Definição ao Longo dos Ensaios de
Deformação Permanente Conduzidos com o Solo Papucaia. Corpos-de-prova de 10 cm de
Diâmetro por 20 cm de Altura.
Nas figuras de 9.13a a 9.13h são apresentados resultados de ensaios de módulo resiliente em
função da tensão desvio realizados após cada ensaio de deformação permanente, e respectivas
médias. A menor média obtida foi de 131 MPa no ensaio 9 e a máxima de 281 MPa no
ensaio 7, sendo os coeficientes de correlação muito ruins em todos os ensaios, menos no
ensaio 1.
278
1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)
100 100
0.010 0.100 1.000 0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa) Tensão Desvio (MPa)
1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 140.64x-0.107 y = 135.04x-0.074
R² = 0.2101 R² = 0.0876
100 100
0.010 0.100 1.000 0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa) Tensão Desvio (MPa)
279
1000 1000
y = 308.66x0.046
R² = 0.0566
Módulo Resiliente (MPa)
100 100
0.010 0.100 1.000 0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa) Tensão Desvio (MPa)
1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 127.36x-0.075 y = 149.64x0.0624
R² = 0.0862 R² = 0.1149
100 100
0.010 0.100 1.000 0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa) Tensão Desvio (MPa)
280
obtidos os parâmetros \i deste modelo de deformação permanente proposto. Para a regressão
foi utilizado o software Statistica 8.0.
H esp
p \ 1 .V \3 .V dZ N \
2 3 4
(9.1)
Onde:
H esp
p : deformação permanente específica (em porcentagem),
A expressão obtida para o solo Papucaia foi a 9.4 e o enquadramento do modelo de regressão
foi satisfatório, tendo sido utilizada para conclusão o mesmo procedimento adotado no
capítulo 4 para a laterita do Acre. Na tabela 6.5 são apresentados os parâmetros do modelo
proposto, que correspondem à letra w, sendo que o p-level muito baixo (0,00) indica que
todos estes parâmetros têm significância estatística para o cálculo da variável dependente.
Alguns parâmetros obtidos através de saídas do programa Statistica 8.0 são utilizados para
avaliação da acurácia do modelo obtido. É possível verificar a condição de normalidade dos
resíduos, figura 9.14, a relação entre os valores previstos pelo modelo e observados e a
relação entre os valores previstos e observados para os resíduos.
281
No gráfico da figura 9.14 mostra-se que a condição de normalidade dos desvios é obtida
porque os pontos do gráfico se aproximam da reta de igualdade; no gráfico da figura 9.15
mostra-se que existe uma boa relação entre os valores previstos pelo modelo e efetivamente
observados; no gráfico da figura 9.16 mostra-se que não é possível observar relação entre os
resíduos previstos e observados, conforme é desejável para boa acurácia do modelo.
Figura 9.15: Relação Entre os Valores Previstos pelo Modelo de Deformação Permanente
para o Solo Papucaia e os Valores Observados.
282
Figura 9.16: Relação Entre os Valores Previstos e Observados dos Resíduos do Modelo para o
Solo Papucaia.
283
CAPÍTULO 10: RESULTADOS OBTIDOS – CASCALHO CORUMBAÍBA
Na figura 10.1 é apresentada uma parte do mapa rodoviário ilustrativo do estado de Goiás,
sendo a cidade de Corumbaíba localizada na quadrícula central da extremidade inferior do
mapa.
Trata-se de material residual e resultante da alteração de pelo menos dois tipos distintos de
rochas: quartzito e xisto, ambas rochas metamórficas com elevada idade.
Na maior parte dos afloramentos o xisto encontra-se total ou parcialmente alterado, gerando
uma matriz areno-argilosa, de coloração variando entre o vermelho e o castanho. Na condição
de parcialmente alterado o xisto é facilmente quebrado com as mãos.
285
A camada vegetal, ou horizonte A, também é constituída de fragmentos de quartzitos na
fração pedregulho, confirmando a elevada resistência ao intemperismo, e aos processos
pedogenéticos em geral.
A região de coleta do material situa-se cerca de 0,5 a 1,2 km da margem original do rio
Paranaíba, que divide o estado de Goiás de Minas Gerais, e cujo barramento à jusante do
ponto de coleta – próximo à Itumbiara/GO – produziu uma vasta superfície de inundação.
Nesta condição, afloramentos semelhantes aos estudados foram identificados junto ao espelho
d água, estando parcialmente inundados.
Também, foram identificadas várias amostras de rochas na fração matacão, tanto de xisto
quanto de quartzitos, provavelmente resultantes de uma extração pretérita daquele material
para fins de terraplenagem.
As figuras 10.3a a 10.3g mostram aspectos da região de coleta desta amostra denominada
cascalho Corumbaíba, neste estudo. A área de ocorrência deste material abrange grande parte
da região de Corumbaíba, sendo possível observá-lo ao longo de afloramentos junto as vias da
região.
286
Figura 10.3c: Aspecto Granular do Figura 10.3d: Vista Aproximada do
Cascalho Corumbaíba no Afloramento. Afloramento 2 no Qual Podem Ser
Observados Fragmentos de Xisto e
Quartzitos.
287
A rodovia que corta a região estudada no município de Corumbaíba é a GO-139 que continua
no estado de Minas Gerais com outra denominação, seguindo na direção do município de
Uberlândia/MG na região do Triângulo Mineiro.
Figura 10.4: Acostamento da Rodovia GO-139 Indicando que a Base do Pavimento desta Via
na Região Pesquisada é Constituída de Cascalho Corumbaíba.
Foi constatado, também, que quase todas as ruas não pavimentadas na região próxima à
barragem utilizam o cascalho Corumbaíba como revestimento primário, conforme ilustrado na
figura 10.5. Assim, este material adquire especial importância para a pavimentação naquela
região do país, justificando sua inclusão neste estudo, além de ser contraponto para os
cascalhos lateríticos estudados.
288
Figura 10.5: Aspecto de uma Estrada Vicinal Revestida com o Cascalho Corumbaíba.
Corumbaíba/GO.
289
Tabela 10.2: Relação de Ensaios de Deformação Permanente Realizados com o Cascalho
Corumbaíba.
Ensaio Tensão (kPa) Razão Umidade
Desvio Confinante de (%) Nfinal
Tensões
1 40 40 1 9,9 155.000
2 80 40 2 12,1 250.000
3 120 40 3 10,7 255.000
4 80 80 1 10,4 160.000
5 160 80 2 10,9 237.000
6 240 80 3 10,9 248.000
7 120 120 1 10,9 155.000
8 240 120 2 10,9 162.000
9 360 120 3 10,7 240.000
Tais valores podem ser considerados como baixos e indicam que o Cascalho Corumbaíba
constitui um bom material de pavimentação com relação a este item, apesar do valor de
módulo resiliente ter sido relativamente baixo, conforme será mostrado na sequência.
Tabela 10.3: Deformação Permanente Acumulada aos Longos dos Ensaios com o Cascalho
Corumbaíba.
Ensaio Tensão (kPa) Razão Umidade Nfinal Hp (mm)
Desvio Confinante de (%)
Tensões
1 40 40 1 8,2 155.000 0,234
2 80 40 2 12,1 250.000 0,399
3 120 40 3 10,7 255.000 0,745
4 80 80 1 10,6 160.000 0,633
5 160 80 2 11,1 237.000 0,838
6 240 80 3 9,8 248.000 1,801
7 120 120 1 10,1 155.000 0,636
8 240 120 2 162.000 1,255
9 360 120 3 240.000 1,404
290
Observa-se, também, que mesmo número de ciclos de aplicação de cargas elevadas em pouco
contribuiu para a obtenção de deformação permanente total elevada.
2.5
1.5
Ep (mm)
0.5
0
0 50000 100000 150000 200000 250000
N
CC 01 CC 02 CC 03 CC 04 CC 05 CC 06 CC 07 CC 08 CC 09
Para os valores iniciais de tensão desvio dos dois primeiros níveis de tensão confinante a
influência da tensão desvio foi muito pequena, fato representado nos gráficos pelas
proximidades das curvas de deformação permanente acumulada. Para o terceiro e mais
elevado nível de tensão confinante utilizado, 120 kPa, os dois maiores valores de tensão
desvio geraram deformação permanente bem superior ao primeiro nível.
291
1.2
0.8
Ep (mm)
0.6
0.4
0.2
0
0 50000 100000 150000 200000 250000
N
CC 01 CC 02 CC 03
2
1.8
1.6
1.4
1.2
Ep (mm)
1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 50000 100000 150000 200000 250000
N
CC 04 CC 05 CC 06
292
1.8
1.6
1.4
1.2
Ep (mm)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 50000 100000 150000 200000 250000
N
CC 07 CC 08 CC 09
293
10.5 Análise dos Resultados – Pesquisa do Shakedown
Na figura 10.8 são apresentados os resultados da pesquisa de ocorrência do shakedown a
partir da análise da taxa de acréscimo da deformação permanente, tal como proposto por
WERKMEISTER (2003). Os resultados indicam que quase todos os ensaios, exceto o de
número 6, atingiram a taxa de acréscimo na ordem de 10-7 metro por ciclo de aplicação de
carga, fato que caracteriza a ocorrência do shakedown.
Assim sendo, todos os estados de tensões utilizados nos ensaios corresponderam a uma
situação de acomodamento das deformações permanente, ou shakedown, seja comportamento
tipo A, conforme proposto por WERKMEISTER (2003).
1.00E+00
Total (x 0,001 mm/ciclo de carga)
1.00E-01
1.00E-02
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Deformação Permanente Vertical Acumulada (x0,001 mm)
294
A análise comparativa entre os estados de tensões utilizados nos ensaios com o Cascalho
Corumbaíba e o granodiorito de WERKMEISTER (2003) é apresentado na figura 10.9, na
qual pode ser verificado que alguns pontos estão localizados a direita da curva do
granodiorito. Tal fato indica que provavelmente o Cascalho Corumbaíba possui limite de
shakedown, que separa os comportamentos do tipo A e B, superior ao granodiorito.
Além disso, caso as tensões de trabalho de um pavimento real composto por Cascalho
Corumbaíba forem similares nesta camada às utilizadas nos ensaios do presente trabalho, ou
pertencerem ao domínio de tensões deste, esta camada não contribuirá de maneira pouco
efetiva para o afundamento de trilha-de-roda do pavimento, porque estará em shakedown.
1000
900
800
700
TensãoV1(kPa)
600
500
400
300
200
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
RazãodeTensões(V1/V3)
Figura 10.9: Comparação Entre o Limite de Shakedown para o Granodiorito Estudado por
WERKMEISTER (2003) e os Valores Obtidos para o Cascalho Corumbaíba.
295
enquadramento do que em função da tensão desvio, tendo sido obtido valor de módulo
resiliente médio de 237 MPa. Tal valor pode ser considerado baixo para camada de bases de
pavimentos se comparados com valores de cascalhos lateríticos, tais como os apresentados
nesta pesquisa, embora existam algumas britas corridas com módulos inferiores.
Utilizando a expressão mostrada na figura 10.11, tem-se que para a maior tensão confinante
utilizada de 140 kPa o valor de módulo resiliente será de 274 MPa, que continua sendo baixo.
1000
y = 395.51x0.1856
Módulo Resiliente (MPa)
R² = 0.3568
100
0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 10.10: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Confinante. Ensaio Padrão.
296
0.8
0.7
0.6
0.5
Ee (mm)
0.4
0.3
0.2
0.1
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000 350000
N
CC 01 CC 02 CC 03 CC 04 CC 05 CC 06 CC 07 CC 08 CC 09
Ainda de acordo com a figura 10.11, e de maneira análoga ao observado para os ensaios
realizados com outros materiais no presente estudo, foi possível constatar uma grande
influência do estado de tensões no valor da deformação resiliente de equilíbrio, para todos os
ensaios realizados.
297
1000 1000
y = 392.46x0.1885 y = 288.18x0.0039
Módulo Resiliente (MPa)
100 100
0.01 0.1 1 0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa) Tensão Confinante (MPa)
1000 1000
y = 332.3x0.0759
Módulo Resiliente (MPa)
R² = 0.1052
y = 81.379x-0.261
R² = 0.3938
100 100
0.01 0.1 1 0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa) Tensão Confinante (MPa)
298
obtidos os parâmetros \i deste modelo proposto. Para a regressão foi utilizado o software
Statistica 8.0.
H esp
p \ 1 .V \3 .V dZ N \
2 3 4
(10.1)
Onde:
H esp
p : deformação permanente específica (em porcentagem),
Alguns parâmetros obtidos através de saídas do programa Statistica 8.0 foram utilizados para
avaliação da acurácia do modelo obtido. É possível verificar a condição de normalidade dos
resíduos, figura 10.13, a relação entre os valores previstos pelo modelo e observados, figura
10.14, e a relação entre os valores previstos e observados para os resíduos, figura 10.15.
299
No gráfico da figura 10.13 mostra-se que a condição de normalidade dos desvios é observada
porque os pontos do gráfico se aproximam da reta de igualdade; no gráfico da figura 10.14
mostra-se que existe uma boa relação entre os valores previstos pelo modelo e efetivamente
observados; no gráfico da figura 10.15 mostra-se que não é possível observar que relação
entre os resíduos previstos e observados, conforme é desejável para boa acurácia do modelo.
Figura 10.14: Relação Entre os Valores Previstos pelo Modelo de Deformação Permanente
para o Cascalho Corumbaíba e os Valores Observados.
300
Figura 10.15: Relação Entre os Valores Previstos e Observados dos Resíduos do Modelo para
o Cascalho Corumbaíba.
301
CAPÍTULO 11: RESULTADOS OBTIDOS – AREIA FINA CAMPO AZUL/MG
O mapa geológico da figura 11.1 inclui a região da cidade de São Francisco, próxima de
Campo Azul/MG, onde foram coletadas as amostras. O mapa geológico de Minas Gerais é
um derivativo da carta geológica do Brasil ao milionésimo executada pelo Serviço Geológico
do Brasil-CPRM, tendo sido executadas algumas modificações pertinentes.
302
Figura 51.1: Mapa Geológico da Região de São Francisco, Norte de Minas Gerais. Fonte
CPRM (2003).
A cidade de Campo Azul na qual o trecho experimental está incluído localiza-se próxima à
cidade de São Francisco, que pode ser identificada no mapa da figura 10.1, sendo que ambas
situam-se próximas ao Rio São Francisco e fazem parte da província geológica do São
Francisco.
Existem também coberturas detríticas quaternárias (NQd), portanto de idades até 1,75 ma,
com parte colúvio-eluviais e, eventualmente, lateríticas, nas quais as amostras coletadas para
o projeto parecem se enquadrar melhor. Há, ainda, depósitos detríticos indiferenciados (Qdi) e
aluviais (Qa), todos quaternários.
Um mapa pedológico da região é ilustrado na figura 11.2 (IGA, 1982), no qual podem ser
distinguidos as areias quartzosas distróficas e um latossolo vermelho amarelo distrófico,
303
sendo que de acordo com a classificação atualizada da Embrapa as areias quartzosas recebem
o nome de neossolo quartzarênico.
Nas figuras 11.3a até 11.3d mostram-se aspectos do local da coleta de amostras deste estudo,
e do trecho atual de estrada que será pavimentada no programa PROACESSO.
304
Figura 11.3a: Vista Geral do Trecho no Figura 11.3c: Vista Geral do Trecho em
Qual Será Executado o Trecho Seção de Corte. Fotografia de Wallen
Experimental. Fotografia de Wallen Medrado.
Medrado.
A areia fina argilo-siltosa que constitui a amostra S-1070, de acordo com o código do
Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ, constitui um depósito sedimentar quaternário, de
provável origem fluvial, sendo recoberto por uma camada orgânica que constitui o horizonte
A dos perfis analisados.
305
Na atual classificação brasileira de solos são denominados neossolos quartzarênicos, sendo
relativamente comuns em outras regiões do país.
O solo foi coletado no furo de número 380 da região de Campo Azul, tendo recebido o
registro de S-1070 na COPPE, foi ensaiado com três níveis distintos de energia no laboratório
do DER/MG, sendo os resultados apresentados na tabela 11.2. O equivalente de areia
observado foi de 8%, confirmando o caráter muito fino da maior parte da areia deste solo.
306
apresentou melhor enquadramento no modelo de variação do módulo resiliente em relação à
tensão confinante do que em relação à tensão desvio. Tal observação está de acordo com o
observado por MEDINA e MOTTA (2005) para solos granulares e pode ser verificada nos
gráficos das figuras 11.4 a 11.7.
O valor de módulo resiliente médio obtido nos ensaios foi de 306 MPa, 401 MPa, 305 MPa e
278 MPa, para energias de compactação internormal, intermediária e intermodificada e
normal respectivamente. Constata-se que a energia de compactação exerceu pequena
influência no valor do módulo resiliente médio do material.
Energia Internormal
1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 784,88x 0,3406
R2 = 0,6876
100
0,01 0,1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 11.4: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Confinante. Amostra S-1070.
Energia Internormal.
Energia Intermediária
1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 921,65x 0,4005
R2 = 0,8121
100
0,01 0,1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 11.5: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Confinante. Amostra S-1070.
Energia Intermediária.
307
Energia Intermodificada
1000
100
0,01 0,1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 11.6: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Confinante. Amostra S-1070.
Energia Intermodificada.
Energia Normal
O valor do módulo resiliente médio obtido para a amostra S-1070 compactada na energia
normal foi de 278 MPa.
1000
y = 840,71x 0,4038
R2 = 0,8196
Módulo Resiliente (MPa)
100
0,01 0,1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 11.7: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Confinante. Amostra S-1070.
Energia Normal.
308
As diversas energias de compactação utilizadas nos ensaios de módulo resiliente têm a ver
com a necessidade de se obter parâmetros de laboratório para o caso de um trecho
experimental, a ser realizado pelo DER/MG. Entretanto, os ensaios prévios realizados
indicaram que a energia intermediária já é suficiente para que se obtenham bons resultados,
tanto de módulo resiliente como de deformação permanente. O conjunto de estado de tensões
utilizado variou em relação aos ensaios realizados até o presente, conforme ilustrado na tabela
11.3, associados aos respectivos números N de ciclos de aplicação de cargas.
Tabela 11.3: Relação dos Ensaios Realizados com a Areia Fina de Campo Azul. Energia
Intermediária.
Ensaio Amostra Vd (kPa) V3 (kPa) Nfinal
1 S-1070 80 80 153.000
2 S-1070 160 80 500.000
3 S-1070 240 80 165.731
4 S-1070 360 120 245.000
5 S-1070 240 120 155.000
6 S-1070 120 120 420.000
7 S-1070 200 200 240.000
8 S-1070 400 200 160.000
No caso da areia fina de Campo Azul a forma da curva de variação da deformação acumulada,
figura 11.8, parece ser mais importante do que o valor final obtido, porque se observa uma
nítida tendência de crescimento em alguns ensaios, por exemplo ensaios 3, 4 e 5.
309
Tabela 11.4: Resultados de Deformação Permanente Total Realizados com a Areia Fina de
Campo Azul Deste Estudo.
Ensaio Vd (kPa) V3 (kPa) N Hp (mm)
1 80 80 153.000 0,58
2 160 80 500.000 0,699
3 240 80 165.731 1,635
4 360 120 245.000 2,271
5 240 120 155.000 1,341
6 120 120 420.000 0,309
7 200 200 240.000 0,583
8 400 200 160.000 0,582
Observando a figura 11.8 tem-se que os ensaios 3,4 e 5 apresentaram formas de curvas bem
distintas dos demais, que atingiram situação de acomodamento. Neste caso, mais uma vez, a
análise dos resultados através da variação da taxa de acréscimo da deformação permanente
permitirá melhor compreensão do comportamento deste material quando submetido à ação de
cargas repetidas.
2.5
Deformação Permanente Acumulada (mm)
1.5
0.5
0
0 100000 200000 300000 400000 500000
310
11.5.2 Parâmetros do Modelo de Monismith
Os parâmetros A e B do modelo de Monismith obtidos para a areia fina de Campo Azul nos
ensaios realizados são apresentados na tabela 11.5, sendo possível observar enquadramento
razoável a bom em quase todos os ensaios, exceto no ensaio 8, cujo enquadramento foi muito
ruim.
Em termos práticos, a utilização do modelo de Monismith para solos pouco deformáveis, tais
como os lateríticos, ou para materiais, solos ou britas, com tensões tais que entrem em
shakedown, poderá haver uma tendência à majoração da deformação permanente acumulada
prevista pelo modelo.
Tabela 11.5: Parâmetros do Modelo de Monismith para a Areia Fina de Campo Azul/MG
(Amostra S1070). Corpos-de-prova de 10 cm de Diâmetro e 20 cm de Altura.
Ensaio Vd (kPa) V3 (kPa) A B R2
1 80 80 0,29 0,05 0,81
2 160 80 0,09 0,13 0,90
3 240 80 0,669 0,07 0,94
4 360 120 0,963 0,06 0,90
5 240 120 0,582 0,06 0,94
6 120 120 0,08 0,05 0,82
7 140 140 0,27 0,05 0,82
8 200 140 0,25 0,06 0,37
Ainda, pode-se comentar que os parâmetros B obtidos foram bastante semelhantes, exceto no
caso do ensaio 2, enquanto que os parâmetros A variaram bastante para os ensaios realizados.
311
11.6 Análise dos Resultados – Pesquisa do Shakedown
A pesquisa de ocorrência do shakedown através da análise da taxa de acréscimo da
deformação permanente, tal como apresentada por WERKMEISTER (2003), é apresentada na
figura 11.9, sendo possível constatar que as curvas relativas aos ensaios 3, 4 e 5 são bem
distintas das demais, apresentando comportamento do tipo B clássico; enquanto as demais
curvas apresentaram comportamento do tipo A, ou seja, entraram em shakedown.
1.00E-02
(x0,001 m/ciclo de Aplicação de Carga)
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Deformação Permanente Vertical Acumulada (x0,001 mm)
Na figura 11.20 são comparados os valores obtidos para a areia fina de Campo Azul com a
curva que define o limite de shakedown para um granodiorito, sendo indicados, também, os
ensaios de comportamento B. Da análise da figura constata-se que o limite de shakedown da
areia fina de Campo Azul são inferiores aos obtidos para o granodiorito.
312
1000.00
900.00
800.00
700.00
TensãoV1
600.00
500.00
400.00
300.00
200.00
100.00
0.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8
RazãodeTensões(V1/V3)
Granodiorito AreiaFinaCampoAzul
Figura 11.10: Comparação Entre o Limite de Shakedown para o Granodiorito Estudado por
WERKMEISTER (2003) e os Valores Obtidos para a Areia Fina de Campo Azul.
0.35
0.3
Deformação Resiliente (mm)
0.25
0.2
0.15
0.1
0.05
0
0 100000 200000 300000 400000 500000
Número de Ciclos de Aplicação de Cargas (N)
Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Ensaio 4
800
700
600
Módulo Resiliente (MPa)
500
400
300
200
100
0
0 100000 200000 300000 400000 500000
Figura 11.12: Variação do Módulo Resiliente Obtido pela Definição com o Número de Ciclos
de Aplicação de Cargas para a Areia Fina de Campo Azul/MG . Corpos-de-prova de 10 cm de
Diâmetro e 20 cm de Altura.
314
elevado), o que parece contraditório com a “estabilização’ da deformação resiliente ao longo
dos ensaios de deformação permanente.
Neste caso vale lembrar que para o ensaio de módulo resiliente realizado após deformação
permanente foi aplicado o período de condicionamento do corpo-de-prova, tal como no ensaio
convencional.
1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 2164.6x0.6753
R² = 0.8019
100 100
0.01 0.1 1 0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa) Tensão Confinante (MPa)
Figura 7.13a: Ensaio de Módulo Resiliente Figura 11.8c: Ensaio de Módulo Resiliente
da Areia Fina de Campo Azul Após Ensaio da Areia Fina de Campo Azul Após Ensaio
1. 4
1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 2565.6x0.7512
R² = 0.9137
y = 2839.9x0.6779
R² = 0.8879
100 100
0.01 0.1 1 0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa) Tensão Confinante (MPa)
315
11.8 Parâmetros do Modelo de Deformação Permanente Proposto
Com os resultados de ensaios de deformação permanente obtidos foi possível obter,
utilizando-se regressão não-linear múltipla, uma expressão que relaciona a deformação
permanente específica, apresentada em porcentagem, a tensão confinante, a tensão desvio,
ambas em kgf/cm2, e o número N de aplicações de cargas, através da expressão 11.1, sendo
obtidos os parâmetros \i do modelo proposto. Para a regressão foi utilizado o software
Statistica 8.0.
H esp
p \ 1 .V \3 .V dZ N \
2 3 4
(11.1)
Onde:
H esp
p : deformação permanente específica (em porcentagem),
A expressão obtida para a areia fina de Campo Azul foi a 11.2 e o enquadramento do modelo
de regressão foi satisfatório, tendo sido utilizada para este fim o mesmo procedimento
adotado no capítulo 4 para a laterita do Acre. Na tabela 6.5 são apresentados os parâmetros do
modelo proposto, que correspondem à letra w, sendo que o p-level muito baixo (0,00) indica
que todos estes parâmetros têm significância estatística para o cálculo da variável dependente.
316
Alguns parâmetros obtidos através de saídas do programa Statistica8.0 são utilizados para
avaliação da acurácia do modelo obtido. É possível verificar a condição de normalidade dos
resíduos, figura 11.14, a relação entre os valores previstos pelo modelo e observados, figura
11.15, e a relação entre os valores previstos e observados para os resíduos, figura 11.16.
No gráfico da figura 11.14 mostra-se que a condição de normalidade dos desvios é obtida
porque os pontos do gráfico se aproximam da reta de igualdade; no gráfico da figura 11.15
mostra-se que existe uma boa relação entre os valores previstos pelo modelo e efetivamente
observados; no gráfico da figura 11.16 mostra-se que não é possível observar relação entre os
resíduos previstos e observados, conforme é desejável para boa acurácia do modelo.
317
Figura 11.15: Relação Entre os Valores Previstos pelo Modelo de Deformação Permanente
para a Areia Fina de Campo Azul e os Valores Observados.
Figura 11.16: Relação Entre os Valores Previstos e Observados dos Resíduos do Modelo para
a Areia Fina de Campo Azul.
Este solo mostrou-se adequado para uso em pavimentos sob os aspectos de deformação
elástica e plástica, especialmente para rodovias de baixo volume de tráfego. No entanto, seu
caráter não laterítico e a sua granulometria típica de areia muito fina com baixa coesão (pouca
318
fração argila) pode resultar em outros tipo de problema em pavimentos, tal como a erosão de
borda.
Na figura 11.17 está mostrado o ensaio de perda por imersão desta amostra que permite
ressaltar o grande problema previsto para o uso deste material em pavimentação, que é a
possibilidade real de erosão de borda, especialmente em plataforma estreitas e sem
acostamento revestido, como em geral acontece em rodovias de baixo volume de tráfego.
Uma solução possível para esta questão é a estabilização química ou granulométrica.
Na figura 11.18 está mostrado outro aspecto também preocupante deste solo que foi a ruptura
ocorrida de um corpo-de-prova moldado com umidade de 3,5% e, portanto, no ramo seco,
durante o período de condicionamento do mesmo (2° estágio), tendo sido observado em pelo
menos mais duas situações semelhantes. Tal situação se verificada no campo pode dar origem
a irregularidades no pavimento.
Figura 9: Ensaio de Perda por Imersão Figura 10: Ruptura Apresentada por um
para a Amostra S-1070. Observe a grande Corpo-de-prova da amostra S-1070
perda de massa apresentada pelos corpos- Durante o Período de Condicionamento do
de-prova. Material. Umidade muito Abaixo da
Ótima.
319
CAPÍTULO 12: RESULTADOS OBTIDOS – LATERITA DE PORTO VELHO/RO
12.1 Introdução
Em novembro de 2007 por ocasião da participação do autor no Simpósio de Geologia da
Amazônia realizado na cidade de Porto Velho, no estado de Rondônia, foi possível
estabelecer contatos com geólogos e engenheiros locais, especialmente da secretaria de Obras
daquele município e da Companhia Brasileira de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM).
Foram coletados cerca de 100 (cem) quilogramas do material da jazida, que será denominado
na sequência do presente trabalho de Laterita Porto Velho, sendo que alguns aspectos da
jazida e do material são apresentados nas figuras de 12.1 a 12.1d. Um estudo geológico do
estado de Rondônia já foi apresentado no capítulo 5.
320
Figura 12.1c: Aspecto Concrecionário da Figura 12.1d: Aspecto do Perfil Vertical da
Jazida de Laterita de Porto Velho/RO. Jazida de Laterita Porto Velho/RO.
Com a amostra de Laterita de Porto Velho foi possível realizar um ensaio de compactação
conjugado com ensaios de módulo resiliente, cujos dados são apresentados na tabela 12.1.
A umidade ótima assim obtida foi de 12,6%, porém, mesmo para teor de umidade de um
ponto percentual abaixo do ótima a massa específica aparente seca é muito próxima da
equivalente à ótima, pois as diferenças de densidades observadas foram muito pequenas.
321
Tabela 12.1: Dados do Ensaio de Compactação Realizado com a Laterita de Porto Velho/RO.
Corpo-de- Água Umidade do MEAS MR médio
prova Adicionada Corpo-de-prova (g/cm3) (MPa) Situação
(ml) (%)
CP 01 400 10,7 2,029 948 Seco
CP 02 450 11,7 2,105 485 Seco
CP 03 480 12,4 2,140 439 Seco
CP 04 500 12,6 2,156 419 ótima
A equação 12.1 representa o valor do Módulo Resiliente da Laterita de Porto Velho obtido
para corpo-de-prova de dimensões 10 cm por 20 cm e compactado com energia equivalente
ao ensaio proctor intermediário e umidade ótima de compactação.
ࡹࡾ ൌ ࣌ǡ
࣌ࢊ
ିǡ
MPa (R2 = 0,77)
(12.1)
Nas figuras de 12.2a a 12.2f são apresentados gráficos de variação do módulo resiliente em
função das tensões confinante e desvio separadamente, para cada um dos corpos-de-prova
listados na tabela 12.1.
322
material, porém sabe-se que o modelo composto gera, quase sempre, um melhor
enquadramento e, em conseqüência, deve ser utilizado para fins práticos.
10000
y = 626.31x-0.127
R² = 0.0677
Módulo Resiliente (MPa)
1000
100
0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 12.2a: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Confinante. Laterita de Porto
Velho CP 01.
10000
y = 469.24x-0.288
R² = 0.5283
Módulo Resiliente (MPa)
1000
100
0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa)
Figura 12.2b: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Desvio. Laterita de Porto Velho
CP 01.
323
1000
y = 761.26x0.1646
R² = 0.2702
100
0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 12.2c: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Confinante. Laterita Porto Velho
CP 02.
1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 480.41x0.0046
R² = 0.0003
100
0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa)
Figura 12.2d: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Desvio. Laterita Porto Velho CP
02.
324
1000
y = 1016.5x0.3056
R² = 0.535
100
0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 12.2e: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Confinante. Laterita de Porto
Velho CP 03.
1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 535.92x0.1033
R² = 0.0927
100
0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa)
Figura 13: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Desvio. Laterita de Porto Velho CP
03.
325
1000
y = 757.94x0.221
R² = 0.2382
100
0.01 0.1 1
Tensão Confinante (MPa)
Figura 12.2g: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Confinante. Laterita de Porto
Velho CP 04.
1000
Módulo Resiliente (MPa)
y = 400.35x-0.003
R² = 6E-05
100
0.010 0.100 1.000
Tensão Desvio (MPa)
Figura 12.2g: Variação do Módulo Resiliente com a Tensão Desvio. Laterita de Porto Velho
CP 04.
12.3. Metodologia
O estudo conduzido com a laterita de Porto Velho não seguiu exatamente a mesma
metodologia adotada para os demais materiais estudados. Embora todo o procedimento de
preparo de amostras e confecção de corpos-de-prova tenha sido o mesmo, a ênfase da presente
pesquisa foi a determinação do limite do shakedown do material. Para tanto, se fez necessária
a adoção de estados de tensões semelhantes aos utilizados por WERKMEISTER (2003).
326
Entretanto, as tentativas de ensaios com as tensões mais elevadas utilizadas pela citada autora
esbarraram na impossibilidade do equipamento de ensaio triaxial de cargas repetidas da
COPPE atingir níveis elevados de tensões, principalmente, tensão confinante. Foi constatado
que quando a tensão confinante adotada era superior a 200 kPa ocorria um retorno do pistão
aplicador da tensão desvio, fato que inviabilizava o ensaio.
Tabela 12.2: Condição dos Ensaios de Deformação Permanente Realizados com a Laterita de
Porto Velho Desta Pesquisa.
Ensaio Tensão (kPa) Tensão Razão N Hp (mm)
Desvio Confinante V1 V1/V3
(kPa)
1 400 100 500 5 156.000 1,225
2 200 200 400 2 214.000 1,289
3 160 80 240 3 180.576 0,382
4 280 140 420 3 417.000 0,828
5 360 180 540 3 180.000 1,166
7 300 100 400 4 336.000 0,721
8 160 40 200 5 153.000 0,768
9 240 60 300 5 250.000 0,542
10 125 25 150 6 250.000 0,413
327
deformações indicam uma influência clara do estado de tensões, conforme constatados nos
demais ensaios realizados na presente tese.
A máxima deformação permanente observada, de 1,28 mm no ensaio 2, pode ser considerada
baixa para uma camada de base de pavimento incluindo a laterita de Porto Velho.
2
Deformação Permanente Acumulada (mm)
1.8
1.6
1.4
1.2
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 50000 100000 150000 200000 250000 300000
Figura 12.3: Variação da Deformação Permanente Total da Laterita de Porto Velho ao Longo
dos Ciclos de Aplicação de Cargas.
328
0 500 1000 1500
1.00E+00
1.00E-02
1.00E-03
1.00E-04
1.00E-05
1.00E-06
1.00E-07
Deformação Permananente Vertical Acumulada (x0,001mm)
Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Ensaio 4
Ensaio 5 Ensaio 6 Ensaio 7 Ensaio 9
Na figura 12.5 os estados de tensões utilizados na pesquisa com a laterita de Porto Velho são
comparados com o limite do shakedown para o granodiorito ensaiado por WERKMEISTER
(2003). Constata-se que a laterita de Porto Velho possui limites de shakedown superiores ao
granodiorito, ou seja, a laterita de Porto Velho pode ser solicitada com tensões um pouco mais
elevadas do que o granodiorito e, ainda assim, entrar em shakedown.
1000.00
900.00
800.00
700.00
TensãoV1(kPa)
600.00
500.00
400.00
300.00
200.00
100.00
0.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8
RazãodeTensões(V1/V3)
Granodiorito LateritadePortoVelho
ఙ
ߪଵ ൌ ʹͺʹǡͻ ቀ భ ቁ (kPa) (12.2)
ఙయ
700
600
500
400
300
200
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
RazãodeTensões(V1/V3)
LateritadePortoVelho Granodiorito
Figura 12.6: Equação que Define o Limite do Shakedown Aproximado para a Laterita de
Porto Velho.
H esp
p \ 1 .V \3 .V dZ N \
2 3 4
(9.1)
Onde:
H esp
p : deformação permanente específica (em porcentagem),
A expressão obtida para a laterita de Porto Velho foi a 12.2 e o enquadramento do modelo de
regressão foi satisfatório, tendo sido utilizada para este fim o mesmo procedimento adotado
no capítulo 4 para a laterita do Acre. Na tabela 12.3 são apresentados os parâmetros do
modelo proposto, que correspondem à letra w, sendo que o p-level muito baixo (0,00) indica
que todos estes parâmetros têm significância estatística para o cálculo da variável dependente.
331
Tabela 12.3: Parâmetros do Modelo de Previsão da Deformação Permanente Obtidos para a
Laterita de Porto Velho.
Alguns parâmetros obtidos através de saídas do programa Statistica 8.0 são utilizados para
avaliação da acurácia do modelo obtido. É possível verificar a condição de normalidade dos
resíduos, figura 12.7, a relação entre os valores previstos pelo modelo e observados, figura
12.8, e a relação entre os valores previstos e observados para os resíduos, figura 12.9.
No gráfico da figura 12.7 mostra-se que a condição de normalidade dos desvios é observada
porque os pontos do gráfico se aproximam da reta de igualdade; no gráfico da figura 12.8
mostra-se que existe uma boa relação entre os valores previstos pelo modelo e efetivamente
observados; no gráfico da figura 12.9 mostra-se que não é possível observar relação entre os
resíduos previstos e observados, conforme é desejável para boa acurácia do modelo.
Figura 12.9: Relação Entre os Valores Previstos e Observados dos Resíduos do Modelo para a
Laterita de Porto Velho.
333
CAPÍTULO 13: ANÁLISE CONJUNTA DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES
No presente capítulo apresenta-se uma análise conjunta dos resultados dos ensaios de cargas
repetidas realizados no presente trabalho, que abrange a avaliação da deformação permanente
total, a pesquisa de ocorrência do shakedown, avaliação da deformação resiliente e análise do
modelo de previsão da deformação permanente proposto.
O problema principal constatado com o equipamento triaxial de cargas repetidas foi o fato de
que quando a tensão confinante foi maior do que 140 kPa e a tensão desvio superior a 400
kPa, ocorreu um forte retorno do pistão de aplicação da carga, inclusive com perda de contato
entre este e o top cap, inviabilizando o ensaio. Inicialmente, foi testada a possibilidade de
colocação de um sobre peso, junto à haste que aplica as cargas, mas tal procedimento foi
descartado porque a calibração do equipamento não foi feita nestas condições.
334
Foi desenvolvido recentemente na COPPE/UFRJ outro equipamento triaxial de cargas
repetidas semelhante ao existente, mas com a opção de ajuste da freqüência de carregamento
em 1, 2 ou 3 Hertz, que agilizaria os procedimentos de ensaios de deformação permanente.
Vários ensaios foram realizados pelo autor com este novo equipamento, em um período de
aproximadamente quatro meses, inclusive com amostras constantes do presente trabalho, mas
os resultados não foram considerados confiáveis até o momento, e, portanto, não foram
incluídos no trabalho. O equipamento continua sendo otimizado e em breve estará em plenas
condições, consistindo em uma importante ferramenta para viabilização dos ensaios de longa
duração devido à redução de tempo de ensaio.
O procedimento adotado para preparo das amostras, com homogeneização manual isolada de
cada amostra de 4.000 gramas, seguido de mistura de todas as porções amostras em uma
mesma caixa de grande capacidade, foi considerado como satisfatório para a garantia de
umidade de compactação similar entre as amostras, e, posteriormente, dos corpos-de-prova
moldados. Este é um aspecto que deve ser preservado em ensaios futuros para se minimizar o
efeito da indesejável variação da umidade de compactação principalmente dos solos finos.
Outra alternativa é utilizar misturadoras mecânicas que permitam preparar de uma só batelada
uma quantidade de solo suficiente para vários corpos-de-prova.
Obviamente, existe uma grande diversidade de solos na natureza e mesmo para o pequeno
universo de materiais estudados no presente trabalho foi possível observar que estes materiais
têm constituição bem distintas, embora em alguns casos apresentarem comportamento
mecânico similares. Dessa forma fica difícil dividir a análise dos materiais em grupos para
tentar compreender seu comportamento, mas doravante arriscar-se-á uma subdivisão entre
pedregulhos, que incluem as lateritas, o cascalho Corumbaíba e a brita graduada de Chapecó;
e solos finos que incluem a areia fina de Campo Azul, o solo Papucaia, a areia argilosa do ES
e a argila de Ribeirão Preto.
335
um acúmulo elevado das deformações permanente nos ciclos iniciais de carregamento,
seguido de acomodamento desta deformação à medida que se aumentou o ciclo de aplicação
de cargas; ou, como no caso de alguns ensaios da areia fina de Campo Azul, não foi
verificado este acomodamento, sendo a deformação permanente acumulada sempre crescente,
porém longe da situação de ruptura.
Na análise da deformação permanente total ficou claro que nos ensaios realizados com estado
de tensões baixos e umidade ótima de compactação a deformação permanente acumulada
sempre foi baixa, usualmente inferior a 0,5 mm em corpos-de-prova com dimensões de 10 cm
de diâmetro e 20 cm de altura. Tal deformação se transferida para uma situação prática
resultaria em uma contribuição ínfima, de uma camada com esta espessura e sujeita aos
estados de tensões usuais nos ensaios, para o afundamento de trilha-de-roda do pavimento.
Com o objetivo de associar os resultados obtidos no presente trabalho com aqueles obtidos
por WERKMEISTER (2003) associados às pesquisas da universidade de Nottingham foi
introduzido nesta pesquisa o comportamento denominado AB, no qual a deformação
336
permanente acumulada nos ciclos iniciais de carregamento apresentou-se elevada, não sendo
possível o descarte desta informação.
Para os solos finos efeito semelhante foi verificado quando se ensaiou solos de
comportamento laterítico pela classificação MCT, ao contrário do observado para solos de
comportamento não laterítico, como a areia fina de Campo Azul. Portanto, a classificação
MCT do solo parece ser um bom parâmetro para se verificar se um solo fino poderá
apresentar enrijecimento durante ensaios triaxiais de cargas repetidas de longa duração.
ୣୱ୮
ɂ୮ ሺΨሻ ൌ ɗଵ ሺɐଷ ሻநమ Ǥ ሺɐୢ ሻநయ Ǥ ሺሻநర (13.2)
337
Mesmo no caso de poucos ensaios realizados, por exemplo para apenas três estados de tensões
distintos, o modelo descreve bem comportamento do material, conforme verificado em
alguns testes realizados pelo autor e não incluídos na tese. Porém, um número mínimo de
ensaios recomendados é de 6 (seis), desde que os valores das tensões sejam bem espaçados
entre si, de modo a abranger um universo bem amplo de possíveis tensões atuantes no
material quando camada de pavimento submetido à carga de roda padrão.
Quanto ao número de ciclos de aplicação de cargas é desejável que este seja sempre superior a
100.000, de tal forma a caracterizar bem a situação de acomodamento das deformações
permanentes, no caso de comportamento do tipo A.
Para a utilização das equações do modelo proposto deve ser feita a simulação numérica do
comportamento estrutural do pavimento, utilizando-se um software tal como o Fepave2 ou o
Elsym5, de modo a se obter o estado de tensões atuantes em todos os elementos nos quais o
pavimento foi discretizado, conforme ilustrado na figura 13.1. A contribuição de cada
elemento pode ser calculado a partir da definição das tensões Vd = V1 - V3 e V3 e do número de
ciclo de repetição de cargas N, lembrando que o modelo está expresso em termos de
deformação específica, logo a contribuição de cada um deve ser multiplicada pela espessura
do elemento.
338
Tabela 13.1: Parâmetros do Modelo de Previsão da Deformação Permanente Obtidos Para os
Materiais Estudados no Presente Trabalho.
ࢋ࢙
ࢿ ሺΨሻ ൌ ࣒ ሺ࣌ ሻ࣒ Ǥ ሺ࣌ࢊ ሻ࣒ Ǥ ሺࡺሻ࣒
Item Material Classificação \1 \2 \3 \4 R2
revestimento
base
V1
'z=hi V3 Gp = Hp (N).'z
i i
sub-base
subleito
339
A deformação permanente total das camadas do pavimento, excluindo-se o revestimento
asfáltico, será dada pela soma da contribuição de todos os elementos, representada pela
expressão 13.2.
n
total
G p = ¦i=1 H p . hi
(i)
(13.2)
Tal processo não é inexeqüível, mas com certeza é muito trabalhoso e pouco produtivo.
Assim, a substituição deste procedimento pelo método proposto representa vantagens para os
projetista de pavimentos porque a bateria de ensaios é realizada de uma única vez, sendo a
deformação permanente expressa em função do estado de tensões do material, permitindo,
ainda, que se façam estudos prévios da deformação permanente acumulada no pavimento
utilizando parâmetros de deformabilidade de solos similares disponíveis no banco de dados.
Com relação ao modelo de Monismith verificou-se que este não descreve bem as situações
nas quais ocorre acomodamento das deformações permanentes, além de não considerar o
estado de tensões como variável independente. Na primeira situação, o uso do modelo de
Monismith pode gerar superdimensionamento de estruturas de pavimentos, para evitar-se uma
contribuição inexistente de deformação permanente. Na segunda situação, a aplicação do
modelo é muito mais restrita do que no caso do modelo proposto no presente trabalho.
340
CAPÍTULO 14 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS
14.1 CONCLUSÕES
A presente tese teve como objetivo principal desenvolver um método de análise de
deformação permanente de solos e materiais de pavimentação com a proposição de um
modelo de previsão que incluísse as tensões atuantes visando contribuir para o
aperfeiçoamento do método de dimensionamento mecanístico. Também visou-se
compreender e detectar o mecanismo de shakedown dos materiais de pavimentação de forma
a garantir a escolha adequada de solos, por critérios mecanísticos, que não contribuam de
forma acentuada para o afundamento de trilha de roda, que permitam otimizar o uso de solos
alternativos ou ainda que ajude na definição das espessuras das diversas camadas de
pavimentos.
Os resultados dos estudos bibliográficos e experimentais realizados permitiram as seguintes
conclusões principais:
ୣୱ୮
1) O modelo de deformação permanente proposto, ɂ୮ ሺΨሻ ൌ ɗଵ ሺɐଷ ሻநమ Ǥ ሺɐୢ ሻநయ Ǥ ሺሻநర ,
mostrou ser adequado para a previsão da contribuição dos materiais pesquisados, de ampla
faixa de origem e características, no afundamento de trilha de roda de pavimentos, para
umidade de compactação em torno da umidade ótima.
341
4) Por causa da falta de acurácia em casos de verificação do acomodamento das deformações
permanente, o modelo de Monismith deve ser descartado e substituído pelo modelo proposto
no presente trabalho.
342
materiais a serem ensaiados, em novas pesquisas, e estudos sobre a viabilidade da
implementação desta expressão para o dimensionamento de pavimentos flexíveis.
343
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