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POLÍTICAS DO LIVRO DIDÁTICO E O MERCADO EDITORIAL

FURTADO, Andréa Garcia – UTP


agf_andrea@yahoo.com.br

GAGNO, Roberta Scrocaro – UTP


rsravaglio@hotmail.com

Eixo 1 – Políticas Públicas e Gestão da Educação


Agência Financiadora: Não contou com financiamento

Resumo

O significado e dimensão do Livro Didático (LD) pode ser compreendido por meio das
políticas públicas educacionais referentes à sua produção. Para tanto, devem se estabelecer
objetivos para analisar tais políticas públicas e discuti-las com as políticas do mercado
editorial. A pesquisa encontra-se em fase desenvolvimento e compreende consultas
bibliográficas e análise de documentos que fazem parte da proposta governamental. A
importância deste recurso didático na educação é demonstrada pela necessidade de sua
utilização, que exigiu medidas de consolidação a regulamentação legal do livro didático com
o Decreto nº 91.542, de 19/8/1985, que implementou o Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD). A duração do programa é de três anos, e tem como objetivo oferecer aos estudantes
e professores das escolas públicas do ensino fundamental de todo país livros didáticos
gratuitos de qualidade. E com o intuito de almejar a qualidade mencionada, em 1996, iniciou-
se o processo de avaliação pedagógica dos LDs, visto que as obras aprovadas pelo PNLD
passaram a compor o Guia do Livro Didático, sendo que este material auxilia equipe
pedagógica-admininistrativa e professores no processo de escolha do LD a ser adotado na
escola. Verifica-se que o livro corresponde, para além de características puramente
pedagógicas, a uma dimensão político-econômica relacionada ao Governo Federal e às
editoras. Nota-se que os livros didáticos aprovados no PNLD e se adotados nas escolas, visam
à margem de lucro em todo território nacional.

Palavras-chave: Livro didático. Políticas públicas. Mercado editorial.

Introdução

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) é um programa do Governo Federal,


o qual tem como objetivo oferecer livros didáticos gratuitos aos estudantes das escolas
públicas do ensino fundamental de todo país em um período de três anos. A regulamentação
legal do livro didático se consolidou com o Decreto nº 91.542, de 19/8/1985, o qual
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implementou o PNLD. Ressalta-se que a responsabilidade pela política de execução do PNLD


é do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Em março de 1990, o Brasil participou da Conferência Mundial sobre Educação para
Todos, realizada em Jomthien, na Tailândia, e recebeu como uma das tarefas construir o Plano
Decenal de Educação para Todos (1993-2003). E uma questão que mereceu destaque foi o
livro didático, por ser considerado um dos maiores insumos da instituição escolar,
formularam-se estratégias para um melhor aproveitamento no processo de ensino
aprendizagem:

Uma nova política do livro começa a ser formulada, a partir da definição de padrões
básicos de aprendizagem que devem ser alcançados na educação fundamental. Além
dos aspectos físicos do livro, passarão a ser asseguradas a qualidade do seu conteúdo
(fundamentação psicopedagógica, atualidade da informação em face do avanço do
conhecimento na área, adequação ao destinatário, elementos ideológicos implícitos e
explícitos) e sua capacidade de ajustamento a diferentes estratégias de ensino
adotadas pelos professores. (BRASIL, 1993, p.25)

A sugestão proposta visa medidas relacionadas a qualidade do livro didático onde


possam atender clientela (professor e aluno) da melhor maneira possível, ou seja, os
conteúdos curriculares são reavaliados e os professores são enquadrados neste recurso
pedagógico conforme sua metodologia.

Políticas do livro didático

O LD por ser considerado um recurso que auxilia professores e alunos no processo de


ensino-aprendizagem, precisa apresentar características pedagógicas onde professor e aluno
sejam críticos e reflexivos em relação aos conteúdos ali abordados. Segundo Cassiano,

[...] no mesmo ano da publicação do Plano Decenal de Educação para Todos, o


MEC constituiu uma comissão para analisar a qualidade dos conteúdos
programáticos e dos aspectos pedagógico-metodológicos dos livros que vinham
sendo comprados por este ministério para as séries iniciais do ensino fundamental.
Tal comissão analisou os dez livros de cada disciplina mais solicitados pelos
professores das escolas públicas. Este estudo demonstrou que o MEC vinha
comprando e distribuindo para a rede pública de ensino livros didáticos com erros
conceituais, preconceituosos e desatualizados no tocante aos conteúdos. Como
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conseqüência, a partir de 1996 o MEC passou a submeter os livros didáticos a uma


avaliação, cujos resultados são divulgados nos Guias de Livros Didáticos,
distribuídos nacionalmente para as escolas, com o objetivo de orientar os professores
na escolha do livro didático. (CASSIANO, 2004, p.36).

O caráter político sobre a produção do livro didático evidenciou-se em toda a sua


significação com as regras estabelecidas pelos organismos internacionais para a educação,
demonstrando a poderosa influência do capital estrangeiro nos alicerces educacionais. O
Banco Mundial fornecia base financeira para o sustento da educação básica de países
periféricos de modo a garantir interesses estrangeiros diversos relacionados à globalização.
Neste sentido, a Secretaria de Educação Básica (SEB) passou a coordenar o processo
de avaliação pedagógica sistemática das obras inscritas pelas editoras no PNLD, desde 1996.
Esse processo é realizado em parceria com universidades públicas que se responsabilizam
pela avaliação de livros didáticos nas seguintes áreas: alfabetização, língua portuguesa,
matemática, ciências, história e geografia. (BRASIL, 2007)
Ao final de cada processo de avaliação dos livros didáticos é elaborado o Guia do
Livro Didático, no qual são apresentados os princípios, os critérios, as resenhas das obras
aprovadas e as fichas que norteiam a avaliação dos livros. Os livros didáticos que não
contemplam os critérios de cada disciplina são excluídos do Guia do Livro Didático. Todos os
livros aprovados pelo MEC devem conter na capa o selo do PNLD, sendo esta uma forma de
evitar fraudes no mercado editorial. A avaliação e a elaboração do guia do livro didático
permitem que livros com erros conceituais, entre outras questões relacionadas à elaboração do
LD sejam suprimidos gradativamente, além dos critérios de seleção que são aperfeiçoados a
cada programa.
Este guia é enviado às escolas como instrumento de apoio aos professores no
momento da escolha dos livros didáticos. E segundo a publicação do MEC “Programa de
Formação Continuada de Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental” em
2007 (Pró-Letramento), as avaliações realizadas nos livros têm como objetivo orientar os
professores e professoras na escolha dos mesmos.
A seleção dos livros didáticos ocorre por coleção, isto é, acontece por série/área do
conhecimento, sendo que para cada opção é necessário que sejam de editoras diferentes, pois
a negociação com as editoras é feita por meio de preço, tiragem mínima e prazo de entrega.
Sendo assim, notam-se fortes interesses editoriais em relação à melhor produção/consumo do
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LD. Verifica-se neste âmbito o livro didático, além de ser um recurso no processo de
aprendizagem do aluno, passa a ser um bem de consumo para as editoras, pois abre um
mercado relacionado ao investimento e empreendorismo, visto que as editorias aumentam sua
produção e geram lucro, onde atingem um desenvolvimento econômico, ou seja, a Educação
contribui para que a base da economia esteja diretamente relacionada às empresas privadas.

O livro didático e o mercado editorial


l
Durante a história da educação brasileira medidas e políticas de pseudo-eqüidade
ocorreram, e o livro didático engloba um conjunto de políticas públicas para a educação, que
estão implementadas na Constituição Brasileira de 1988, (art. 208, I) descritas na Lei 9394/96
- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Portanto, é um direito do estudante
freqüentar uma escola pública que esteja preparada para atendê-lo nas suas peculiaridades e
nas suas necessidades básicas como a distribuição gratuita do livro didático para todos os
alunos.
Parte integrante do PNLD é o Sistema de Controle e Remanejamento de Reserva
Técnica (SISCORT), elaborado pelo FNDE/MEC, e tem como objetivo auxiliar as escolas e
as secretarias estaduais e municipais da educação no gerenciamento virtual em relação à
distribuição e ao remanejamento dos livros didáticos. Estas Secretarias recebem do FNDE 3%
de Reserva Técnica de livros para garantir o atendimento integral as escolas e a estudantes
novos. Entretanto, esses livros didáticos são os dois títulos mais escolhidos no Estado, neste
sentido, se a escola verificou nas unidades cadastradas do SISCORT as sobras do título
desejado e não encontrou o estudante conseqüentemente ficará sem o livro alvo.
Neste caso, percebem-se dúvidas em relação à finalidade do PNLD em relação: “livros
didáticos para todos os alunos”. O termo “todos” dissolve-se em contradição na medida em
que nem todos os alunos são contemplados com os livros escolhidos. É importante destacar
que os livros distribuídos pelo FNDE são enviados às escolas na quantidade relacionada ao
censo anterior do ano de escolha, conseqüentemente, o número de matrículas no ano que os
livros chegam à escola é, em geral, superior. Ex.: PNLD/2007, ano do processo de escolha,
2006, livros enviados pelo censo de 2005 para serem utilizados em 2007.
Ao examinar estes dados, observa-se uma possível pré-condição ao utilizar livros
disponibilizados na reserva técnica, ou seja, ou a escola fica sem livro, ou utiliza o livro
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didático que não optou por questões consideradas pertinentes pelo corpo docente da escola no
momento de adotar a coleção por área do conhecimento. Ou seja, percebe-se que o processo
de escolha do livro didático conta com a participação de três instâncias: antes de ser escolhido
pelo professor, foi escolhido por um corpo docente universitário e esta escolha foi referendada
pelo Governo Federal.
Submetido posteriormente a licitação, o mercado editorial passa a ser um objeto do
mercado editorial, ocorrendo uma tensa disputa entre as editoras para conseguir fornecer o
“melhor” LDs e que o mesmo seja aprovado no guia do livro didático e escolhido pelas
escolas, pois a coleção mais adotada no Estado é a que vai para a reserva técnica, ou seja, a
editora escolhida terá garantido o lucro sobre a produção, pelo menos nos próximos três anos.
Segundo Höfling, a forte presença de setores privados – no caso, os grupos editoriais – na
arena de decisão e definição da política pública para o livro didático pode comprometer a
natureza, a própria conceituação de uma política social, com contornos mais democratizantes.
(HÖFLING, 2003, p. 163).
Os livros são classificados em consumíveis e não-consumíveis, sendo consumíveis
somente os livros didáticos de alfabetização e os livros indicados como volume um. Estes
livros são enviados às escolas nos três anos de programas, pois os alunos escrevem nos
mesmos. Então é necessário, realizar um trabalho de conscientização com estudantes e pais
para a manutenção dos LDs não-consumíveis, para que o mesmo permaneça em bom estado
de uso durante o PNLD, pois a complementação enviada pelo FNDE/MEC provavelmente
não será suficiente para grandes perdas e danos.
Para Bittencourt,

As pesquisas e reflexões sobre o livro didático permitem apreendê-lo em sua


complexidade. Apesar de ser um objeto bastante familiar e de fácil identificação, é
praticamente impossível defini-lo. Pode-se constatar que o livro didático assume ou
pode assumir funções diferentes, dependendo das condições, do lugar e do momento
em que é produzido e utilizado nas diferentes situações escolares. Por ser um objeto
de “múltiplas facetas”, o livro didático é pesquisado enquanto produto cultural;
como mercadoria ligada ao mundo editorial e dentro da lógica de mercado
capitalista; como suporte de conhecimentos e de métodos de ensino das diversas
disciplinas e matérias escolares; e, ainda, como veículo de valores, ideológicos ou
culturais. (BITTENCOURT, 2004, p.471).
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Neste sentido, o LD pode ser analisado ao menos, sob três perspectivas: conteúdo,
políticas públicas que determinam sua escolha e participação de editoras em processos de
licitação. Ressalta-se, que os estudantes do Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos
também recebem livros didáticos pelo Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino
Médio (PNLEM) e o Programa Nacional do Livro Didático para Alfabetização de Jovens e
Adultos (PNLA) que são executados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE). E que a partir de 2001, o PNLD ampliou o atendimento, de forma gradativa, aos
educandos com deficiência visual distribuindo livros em Braille.
Nesta perspectiva, segundo o FNDE, gastam milhões na compra de livros didáticos,
porém ainda é possível verificar que ocorre falta de livros nas escolas, em sentido qualitativo
e quantitativo. Vale lembrar que o livro didático é um material de aprendizagem dos
estudantes e não uma mercadoria como é tratado.
Ao mesmo tempo em que ocorrem avanços na política de execução do livro didático,
como a avaliação e a elaboração do guia dos livros didáticos, observa-se que o controle para
realizar esta avaliação é do Governo Federal, e que os conhecimentos, a difusão da cultura
que são abordados nas escolas e que adentram os lares dos estudantes podem ser sugeridos via
este material didático. Neste sentido, a questão está diretamente relacionada aos conteúdos
abordados nos livros didáticos, já que o LD também pode ser considerado difusor de cultura,
o governo “precisa” direcionar a cultura a ser transmitida aos estudantes/comunidades nas
escolas públicas de todo o país.
E em relação às editoras, segundo Cassiano,

[...] a presença das editoras nas escolas justifica-se porque a venda do livro didático
só se concretiza por meio da adoção que é feita, geralmente, pelo professor, pois
dificilmente algum leitor irá a uma livraria para escolher um livro didático para ler
ou para presentear alguém. Ele se comprará se este tiver sido adotado por alguma
instituição escolar, salvo raras exceções. (CASSIANO, 2005, p.282).

A produção dos livros deve estar de acordo com as regras impostas pelo governo, caso
contrário, os livros são excluídos do PNLD. Depois do processo de escolha nas escolas,
ocorre a compra de livros do governo para com as editoras. O gasto é alto, existe uma
burocracia e editora e governo esforçam-se por defender seus interesses para produzir e
colocar nas escolar um material com custos reduzidos.
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Pode-se dizer então que o processo de escolha do livro didático sugere ter se
estruturado em anos recentes, da seguinte maneira: governo - editora – autor - editora –
governo - avaliador – editora – professor – editora – governo – editora – professor - estudante.
E para que a política do livro didático se efetive como um meio a melhorar a formação
básica dos estudantes, ela precisa estar vinculada a maneira como a proposta está sendo
discutida e desenvolvida na escola tomando como prioridade o desenvolvimento pedagógico
em detrimento aos demais.

Considerações parciais

O livro didático, além de ser tratado como mais um entre outros recursos pedagógicos
no processo de ensino-aprendizagem, é principalmente, um recurso cultural que insere o
estudante em um determinado contexto histórico-político. A sua eficiência está relacionada
diretamente a forma como o professor conduz este material de apoio no seu planejamento.
Destaca-se que neste âmbito, a escola pode ser compreendida como um veículo onde a cultura
pode ser disseminada no entorno escolar por meio do livro didático. Sendo assim, esse
material pode ser um instrumento de condução de idéias com valores éticos, morais, sociais e
culturais.
É necessário que a escola ao organizar reuniões para análises e reflexões para adotar
um livro/coleção da lista estabelecida no guia do livro didático, tenha clareza que este recurso
pedagógico precisa atender as necessidades específicas e culturais as quais estará inserido nos
próximos três anos. Conhecimentos relacionados a uma cultura popular do professor devem
ficar neutros no momento de escolha, para tanto, é necessário uma visão crítica do contexto
sócio-cultural e da clareza de como e para quê este livro didático está sendo adotado. A
reflexão engloba ainda a adequação dos conteúdos à Proposta Pedagógica da escola e às
Diretrizes Curriculares do seu município.
Destaca-se que o professor, ao realizar o planejamento, desenvolverá estratégias para
superar possíveis limitações do livro didático.
Para Gramsci,

O significado da dialética só pode ser concebido em toda a sua fundamentalidade se


a filosofia da práxis for concebida como uma filosofia integral e original que inicia
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uma nova fase na história e no desenvolvimento mundial do pensamento enquanto


supera (e, superando, integra em si os seus elementos vitais) tanto o idealismo
quanto o materialismo tradicional, expressões das velhas sociedades. Se a filosofia
da práxis não é pensada senão como sendo subordinada a uma outra filosofia, é
impossível conceber a nova dialética na qual aquela superação se efetua e expressa.
(GRAMSCI, 1978)

Nesta perspectiva, não é possível desmembrar teoria e prática, de modo que não se
pode aceitar a proposição do LD descontextualizada ou distante da realidade de estudantes e
vice-versa. A reflexão sobre a prática não ocorre de forma paralela, mas como fluido vital da
ação consciente, seja ela por parte do corpo docente, seja por parte do corpo discente. O LD,
na concepção dialética, corresponde ao objeto e sujeito. Não há espaço para dualismo, teoria e
prática formam a filosofia da práxis trazendo vida e significado ao que se poderia deixar cair
em estado de “letras mortas”. Neste contexto, é que o professor poderá realizar escolhas
conscientes, incluindo o LD em sua prática docente.
Do mesmo modo, ao considerar-se o livro didático como objeto de estudo, não se pode
contemplá-lo de forma absolutamente neutra como indicado pelo Positivismo, de modo que se
faz necessário considerar as variáveis sócio-político-econômico-culturais existentes de forma
absolutamente não lineares em nosso contexto histórico. Este fato não deve inibir que o
processo de escolha e tratamento dos livros didáticos seja efetivamente científico. Devem-se
lançar mãos dos recursos existentes para que o processo de escolha seja de um processo onde
todos possam contribuir para a um ensino de qualidade, comprometido com a formação do
cidadão crítico e reflexivo.
Segundo o Guia do Livro Didático 2007 (Matemática) a escolha do livro didático é um
momento de muita responsabilidade, pois se decide sobre um interlocutor que vai dialogar
com o professor e com seus alunos durante o ano letivo inteiro. Cabe ao professor fazer dele
um material ativo, que possibilite uma interlocução com o pensamento historicamente
produzido., principalmente porque esse material continuará presente em sua escola por três
anos, no mínimo.
As Diretrizes Curriculares do Município de Curitiba o livro didático deve ser
escolhido segundo o ponto de vista conceitual e metodológico. Esta visão conceitual e
metodológica deve basear-se na Proposta Pedagógica da escola, que por sua vez deve
sedimentar-se nas Diretrizes Curriculares do Município de Curitiba. (CURITIBA, 2006) O
LD deve apresentar a evidente preocupação com a integridade física dos estudantes e com o
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tratamento dado à diversidade cultural. O livro deve ser um apoio efetivo tanto para o
professor quanto para os estudantes, oferecendo informações corretas e adequadas à realidade
e à fase de desenvolvimento em que estes se encontram.
Conforme aponta Kosik,

A dialética trata de uma coisa que não se manifesta diretamente no homem, mas sim,
capta e fixa aspectos fenomênicos da realidade. Facilmente se presume que a atitude
primordial e imediata do homem, em face à realidade é a de um abstrato sujeito
cognoscente, isto é, de uma mente pensante que examina a realidade
especulativamente. Contudo, a mente de um ser que age objetiva e praticamente, de
um indivíduo histórico que exerce a sua atividade prática no trato com a natureza e
com os outros homens. Esta ocorre com base na consecução dos próprios fins e
interesses, dentro de um determinado conjunto de relações sociais. (KOSIK,1976,
p.13).

Sugere-se que o LD pode fazer parte de tal essência dialética. Neste sentido, destaca-
se que a educação é um dever do Estado, da sociedade e da família, como consta na
Constituição Federal, a partir da LDB. Porém, sendo a escola uma das protagonistas na
formação de cidadãos críticos, o professor deve utilizar o livro didático com responsabilidade
e comprometimento. É imprescindível refletir em relação aos conteúdos explorados em sala
de aula, verificar as possibilidades e limites do livro didático no processo de ensino-
aprendizagem.
Portanto, na pesquisa que está em desenvolvimento, faz-se necessário analisar as
políticas públicas educacionais do livro didático no Ensino Fundamental – Anos Iniciais. Para
tanto, os objetivos específicos propostos são:
a) Examinar as políticas públicas educacionais na Educação Básica – Ensino
Fundamental – Anos Iniciais;
b) Compreender as políticas públicas do livro didático;
c) Identificar as articulações das políticas públicas educacionais no processo de
escolha do livro didático.
Para alcançar tais objetivos serão necessários na realização desta pesquisa,
procedimentos de revisão de literatura bibliográfica e documental sobre o objeto de estudo a
ser investigado – as políticas públicas do livro didático. A abordagem consiste basicamente
em contextualizar o tema, verificar as forças políticas que interagem na sua construção e
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explicitar as relações conjunturais que o mantém. A leitura crítica assim realizada permitirá
vislumbrar possibilidades de solução. Essa abordagem permite mostrar que o processo de
escolha do LD pelo professor indica ser a ponta de um conjunto de relações que acontecem
entre o governo que estabelece as políticas públicas, interesses políticos, editoriais, as
licitações, etc. que determinam a lista de livros composta no guia do livro didático no
processo de escolha.

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