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O texto vai abordar em um primeiro momento diversos conselhos de benevolência dados

aos confessores. Segundo Gerson, cabe o confessor ter cuidado para que não demonstre
qualquer atitude severa e exigente. Cabe a ele, primeiramente, mostrar-se amável, mesmo
que a natureza dos pecados exija uma severidade, até que seja estabelecida uma confiança
recíproca. Santo Antonino, por sua vez, aconselha com firmeza o confessor a ser um
“inquisidor diligente” e obter confissões com sabedoria e destreza. Aconselha também a
benevolência, a doçura, a afeição e a piedade com outrem. Ainda, segundo ele, é
aconselhável ao padre que se envolva na confissão do pecador, que ele partilhe do
sofrimento se quiser partilhar da alegria.
Uma carta de São Francisco Xavier ao padre Gaspard Barzé, em 1549, continha conselhos
úteis e necessários aos confessores. A carta dizia basicamente que quando a vergonha e a
quantidade de pecados comprimem o coração do pecador, não se deve agravar a situação,
é preciso, pelo contrário, encorajar as almas desses pecadores.
Pierre Milhard, Valére Régnault, Francisco de Sales (inspirou-se no anterior), Jaime de
Corella, Leonard de Port-Maurice, Santo Afonso de Ligório, entre outros, compartilham de
uma linha de pensamento semelhante às ideias centrais tratadas até agora, ou seja, a
maneira de tratamento aos pecadores. Ambos sabem que o sacramento não é instituído
aos devotos, mas sim aos pecadores, e por isso devem mostrar caridade com as almas
mais vinculadas ao pecado.
Ressalta-se que “doce” e “benevolente” são adjetivos que remetem as recomendações de
são Tomás de Aquino aos confessores. Um dos deveres dos confessores é a sua função de
“pai”. Porém, sua insistência ainda recai sobre sua necessária caridade.
Posteriormente, a obra Manipulus Curatorum, de Guy Montrocher será citada. Na obra em
questão, o confessor, declara Guy como um médico espiritual que acolhe um doente da
alma. Primeiro ele o toca de leve, compadece de seu sofrimento, adapta-se a seu paciente,
o motiva com palavras, promete a cura, a fim de que o paciente ganhe confiança e lhe
revele a extensão de seu mal e a intensidade de sua dor. Esta é a maneira que um médico
da alma deve agir. Se o interlocutor não quiser confessar, então se devem apresentar os
terrores do julgamento, as penas do inferno, mostrando que Deus não pune aos que
querem penitência. Ou seja, há certamente uma tática, por parte dos padres para obter a
confissão.
Apóstolos das índias e do Japão fazem do confessor uma espécie de advogado pleiteando
em favor de seu cliente. Esse artifício, porém, não basta para superar a vergonha da
confissão. Nesse contexto, restam duas alternativas ao confessor. A primeira, assegurar ao
penitente que existem almas mais criminosas e perdidas que a dele. A segunda gira em
torna da ideia do confessor admitir ao penitente todas as suas próprias misérias, o que
poderia haver de mais difícil de confessar. Essa segunda alternativa fará com que a troca
seja recíproca, que um seja transparente perante o outro e os dois dialogarão na mesma
altura. Francisco Xavier, devido a sua experiência da confissão, compreendeu essa
necessidade de reciprocidade.
Por sua vez, alguns nomes como os de são João Eudes, Nicolas Turlot e o franciscano
Jaime de Corella vão preconizar, basicamente, as mesmas linhas de conduta já citadas
anteriormente, apenas algumas características não discrepantes serão adicionadas em
suas teorizações a respeito do tema.
É preciso estar atento, porém, que o pecador pode ter a necessidade de ser repreendido,
até mesmo remetido a uma confissão ulterior para obter a absolvição. Mas, prefere-se que a
conversão termine sempre sobre o signo de clemência.
Por fim, começar com perguntas sabiamente graduadas, ajudar, encorajar e sustentar o
pecador ao longo da confissão, e, mesmo que preciso adiar a absolvição, despedi-lo
sempre com doçura. Estes são os momentos principais dessa “obstetrícia espiritual” –
expressão comum a Gerson e a Francisco Xavier.

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