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1. INTRODUÇÃO
1
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. São Paulo:
RT, 2006.
2
DELMANTO, Roberto, DELMANTO JÚNIOR, Roberto, DELMANTO, Fábio M. De
Almeida. Leis Penais Especiais Comentadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
Na jurisprudência, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais já decidiu que o
Termo de Compromisso acarreta a extinção da punibilidade e conseqüente
falta de justa causa para a ação penal: dirigentes da Câmara de Lojistas de
Belo Horizonte foram denunciados pelo art. 63 da Lei 9.605/98 porque
colocaram na sede do prédio duas placas publicitárias, sem a prévia licença
dos órgãos competentes, sendo que o local está no perímetro urbano da Praça
da Liberdade. Os dirigentes firmaram Termo de Compromisso de Ajustamento
de Conduta com o Ministério Público e passaram a cumpri-lo fielmente, mas
oito dias após foram denunciados pelo crime mencionado. O TJ/MG decidiu
então que:
3
PASSOS de FREITAS, Vladimir; PASSOS DE FREITAS, Gilberto. Crimes Contra a
Natureza. 7. ed. São Paulo: RT.
pelo legislador, desde que, diante de um fato, não
haja mais interesse por parte do Estado na punição
do agente. E aqui, a nosso ver, está a resposta à
indagação feita de início, ou seja, de se reconhecer
a reparação do dano ambiental como causa extintiva
de punibilidade. Consoante prelecionam Antonio
Scarance Fernandes e Henrique Duek Marques: ‘a
jurisprudência, como fonte mediata do direito penal,
já antecipa uma tendência para extensão da
reparação do dano ambiental como causa de
extinção da punibilidade, afastando a pena privativa
de liberdade naqueles delitos que perdem
substância com a reparação espontânea do agente.
Assim, com relação ao meio ambiente, a adoção de
idêntica causa seria muito importante, não só pelo
que em si representa, como e, principalmente, para
solucionar uma questão que vem causando grande
polêmica, ou seja, quando o agente cumpre o
acordo firmado no compromisso de ajustamento de
conduta firmado para reparar o dano, reparando-o
integralmente e assim mesmo tem de ser submetido
ao processo criminal. De todo o exposto, resulta a
necessidade de uma alteração legislativa que,
partindo da importância da reparação do dano
ambiental prevista na Constituição Federal de 1988
e considerando o princípio da obrigatoriedade da
ação penal, proceda à adequada conjugação das
soluções consagradas em nosso ordenamento
jurídico e a consagrar, preveja como causa de
extinção da punibilidade a reparação integral do
dano ambiental antes do recebimento da denúncia,
assim como a suspensão do prazo prescricional
para os casos em que a reparação do dano
demande certo tempo”4.
4
O autor menciona vários exemplos de reparação do dano como causas extintivas de
punibilidade, já existentes em nosso ordenamento jurídico, como o pagamento do tributos, nos
delitos de sonegação fiscal, de apropriação indébita tributária, de peculato culposo etc.
5
FALEIROS, José Luiz de Moura. Crimes Ambientais. Disponível em:. Acesso em 02 abr 2008.
Lei 7.347/85, ou no art. 79-A da Lei 9.605/98, que
preveja a integral reparação do dano ou a completa
regularização da atividade perante os órgãos
licenciadores gera efeitos, não apenas na seara do
Processo Penal, mas também no campo do Direito
material. Isto porque, para a caracterização de um
fato como antijurídico não basta a sua mera
subsunção à norma, através de uma análise fria e
formal da realidade. A antijuridicidade há de restar
concretamente demonstrada, assim como a lesão ou
a ameaça de lesão há de ser socialmente relevante.
Vale dizer: há que se perquirir o porque da conduta
irregular e, ainda, quais as possíveis e prováveis
consequências para o ambiente dessa mesma
conduta. Um exemplo: no caso concreto, que uma
atividade, ainda que não-licenciada, não provoca
dano ambiental nem gera risco de lesão ao ambiente
e, ao mesmo tempo, que a atividade já está em
processo de regularização, mediante o cumprimento
das cláusulas do Termo de Ajustamento de Conduta
firmado e que o empreendedor está tomando todas
as providências tendentes a cumprir as exigências
do Poder Público, não haveria, em tese, ilicitude
material da conduta. Já nos casos dos crimes de
resultado, como, por exemplo, o de poluição, a
existência de um acordo firmado na área cível ou
administrativa com os agentes públicos competentes
e que assegure a integral recuperação do ambiente
degradado também pode constituir forte argumento
para a improcedência da ação penal, uma vez que
nesta hipótese, a finalidade última dessa esfera de
responsabilização ambiental já terá sido alcançada.
Com efeito, o reconhecimento de causas supralegais
de exclusão da ilicitude, que se excedem ao rol
exemplificativo do artigo 23 do Código Penal, a
exemplo da reparação do dano, viabilizada através
de um acordo entre o agente responsável e o
Ministério Público, é um imperativo dos tempos
modernos (...). Em síntese, a legislação ambiental
tem por vocação a prevenção e a reparação do
dano, que são exatamente o objeto do chamado
Termo de Ajustamento de Conduta. Este
instrumento, ao estabelecer condicionantes técnicas
e cronograma para a execução de determinadas
obrigações, definidos mediante as negociações que
se realizam entre o órgão ambiental e o
empreendedor, garante a regularização das
atividades e, ao mesmo tempo, a sua continuidade.
E a forma legal de conciliação entre a preservação
ambiental e o desenvolvimento econômico, que se
traduz exatamente no ideal do desenvolvimento
sustentável, que busca crescer sem destruir.
Quando essa situação se apresenta, a conduta tida
abstratamente como delituosa perde, no caso
concreto, seu caráter de antijuridicidade”.
6. NOSSA POSIÇÃO
6
Crime ambiental: reparação do dano e extinção da punibilidade. Revista de Direito Ambiental,
n. 43, p. 347-351. São Paulo: RT, jul-set 2006.
Se a pessoa passa a construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer
funcionar um estabelecimento, obra ou serviço potencialmente
poluidor contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes tal
conduta subsume-se perfeitamente ao disposto no art. 60 desta Lei. Mas se
depois firma Termo de Compromisso com o Poder Público justamente para
“promover as necessárias correções” e as promove, cumprindo, integralmente,
o compromisso ajustado (as exigências impostas), não há razão (interesse)
para a responsabilização penal. Falta justa causa para a ação penal (enquanto
o TAC ou TCA está sendo cumprido).