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Medicina de Tráfego

Brasília-DF.
Elaboração

Danielle Porcari Alves

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE ÚNICA
MEDICINA DE TRÁFEGO......................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
O QUE É MEDICINA DE TRÁFEGO.............................................................................................. 9

CAPÍTULO 2
DIRETRIZES MÉDICAS............................................................................................................... 15

CAPÍTULO 3
MEDICINA DE TRÁFEGO CURATIVA: APH.................................................................................. 17

CAPÍTULO 4
MEDICINA DE TRÁFEGO LEGAL: PERÍCIAS E AVALIAÇÕES......................................................... 26

CAPÍTULO 5
MEDICINA DE TRÁFEGO OCUPACIONAL.................................................................................. 29

CAPÍTULO 6
MEDICINA DE TRÁFEGO PREVENTIVA....................................................................................... 32

CAPÍTULO 7
MEDICINA AEROESPACIAL....................................................................................................... 35

CAPÍTULO 8
MEDICINA DE TRÁFEGO SECURITÁRIA...................................................................................... 49

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 54
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da
área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que
busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica
impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Abordaremos neste caderno de estudos os conceitos referentes à Medicina de Tráfego, por
meio da apresentação do significado desta especialidade na medicina e suas respectivas
áreas de atuação no mercado de trabalho. A Medicina de Tráfego consiste em uma
especialidade da ciência médica responsável por manter o bem-estar físico, psíquico e
social de qualquer indivíduo que se desloque, independente do meio de transporte que
utilize para a sua locomoção. Este ramo de atuação surgiu pela observação dos médicos
peritos e legistas, na década de 1960, do elevado índice de tragédias ocorridas no tráfego
com o objetivo de suprir as necessidades que surgiam naquele momento.

Sendo assim, teremos a oportunidade de discutir e refletir nestas páginas, todo o


conteúdo pertinente à medicina do tráfego, bem como compreender a necessidade do
surgimento desta especialidade.

Bom estudo a todos!

Objetivos
»» Apresentar os conceitos da Medicina do Tráfego.

»» Esclarecer e discutir os campos de atuação da especialidade Medicina do


Tráfego.

»» Compreender a importância desta área de atuação na Ciência Médica.

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UNIDADE
MEDICINA DE TRÁFEGO ÚNICA

CAPÍTULO 1
O que é medicina de tráfego

Leiam os textos a seguir. Não são textos com contexto acadêmico, porém servem
como base de reflexão para iniciarmos a introdução à medicina do tráfego e
já entendermos a necessidade e importância de atuação desta especialidade
médica.

O pensador lança-se à tarefa de desembaraçar o enrolado novelo que o mundo


lhe apresenta, mostrando como todo o fio não é mais do que a ligação entre dois
extremos, o da eternidade e o do tempo, o da substância e o do acidente, o de
Deus e o do homem. E neste trabalho de desenrolar o novelo se lhe vai a vida.

Agostinho da Silva

[...] a colocação de sinais de tráfego nas ruas, e na maioria das circunstâncias, a


construção das próprias vias públicas, não pode ser paga pelos seus usuários
individualmente.

Frederick Hayek

BIBI FON FON

Carro cachorro louco


Late, buzina, avança!
Um rosnando para o outro
Feito briga de criança.
Pra que isso, minha gente?
Paz é mais inteligente!
Na estrada ou na rua
O caminho vai e volta.
Passa a vida das pessoas,
Passa o sol, passa a paisagem.
Passam carros coloridos,

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UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

O destino na bagagem.
“Quem fica parado é poste”,
Como diz José Simão.
Para o trânsito dar certo,
Tem a sinalização.
Eu vou, tu vais, ele vai.
Nós vamos, vós ides, eles vão.
Cada um tem seu caminho,
Mas não vale contramão!
Se eu pego a contramão,
Passo no sinal fechado,
Está feita a confusão.
É encrenca pro meu lado.
Vai falar no celular,
Ou mudar de estação?
Então é melhor parar!
Dirigir pede atenção.
Pra que serve tanta placa?
Tem até uma com vaca.
Menino, montanha, “E” com “X”...
Tem flechinha pra cá e pra lá...
Eu pergunto e meu pai diz:
“Serve para organizar”.
Evelyn Heine

Definição
A medicina é uma área do conhecimento que está diretamente relacionada à restauração
e manutenção da saúde, atuando em grande amplitude com a prevenção e a cura de
enfermidades humanas e animais.

A palavra medicina é originária do latim ars medicina que significa a arte da cura.
O conceito da medicina está ligado aos conhecimentos e abordagens aplicados
individualmente ou combinados com o objetivo de diagnosticar, prevenir e tratar
doenças visando à manutenção do bem-estar, em um único indivíduo ou em um grupo
de pessoas (coletividade).

A medicina do tráfego consiste em um ramo de atuação da ciência médica, que atua


na manutenção do bem-estar físico, psíquico e social do indivíduo que se locomova
em qualquer que seja o meio de transporte utilizado, como também promove o
cuidado das interações destes deslocamentos e os mecanismos que os asseguram
objetivando o equilíbrio entre o homem e o ambiente em que ele vive. Atua também

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MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

nas causas relacionadas ao acidente de tráfego, a fim de preveni-lo ou minimizar


suas consequências.

Além disso, esta área da medicina contribui com subsídios técnicos para a elaboração
do ordenamento legal e modificação do comportamento do usuário do sistema de
circulação viária.

Esta especialidade é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina – CFM, bem


como pela Associação Nacional de Residência Médica e pela Associação Brasileira
de Medicina. A medicina do tráfego estuda as causas dos acidentes de tráfego com
objetivo de minimizar suas consequências. Também é uma especialidade que promove
a elaboração de materiais técnicos para a mudança comportamental do usuário dos
sistemas viários e o ordenamento legal. Além disso, promove atendimento adequado ao
paciente acidentado como também formas de prevenção minimizando as consequências.

Histórico

A especialidade surgiu no ano de 1960 quando num Congresso de Medicina Legal em


Nova Iorque, médicos legistas de todo o mundo, inclusive brasileiros, impressionados
com o volume de pacientes vítimas de acidentes de tráfego, mais variados possíveis,
e gravemente feridos, eram encaminhados para atendimento. Assim sensibilizados,
estes profissionais decidiram se reunir em San Remo (Itália) e formaram a Associação
Internacional de Acidentes de Tráfego (IAATM), sendo o primeiro congresso realizado
no ano de 1963 na cidade de Roma.

No Brasil, a medicina do tráfego surgiu pelo interesse e esforço dos médicos peritos
realizadores de exames de aptidão física e mental dos condutores de veículos, já que neste
exame, com avaliação médica adequada, pode-se permitir o afastamento temporário ou
definitivo de um motorista ou candidato a esta profissão, já que alguma doença que
coloque em risco o trânsito pode ser diagnosticada neste tipo de exame. Sendo assim,
foi compreendida a importância desta especialidade médica no Brasil.

Áreas de atuação

A medicina do tráfego consiste, como citado anteriormente, em uma ciência que lida
com a manutenção do bem-estar físico, psíquico e social do indivíduo que se locomove
por qualquer tipo de meio de transporte. Estuda as causas dos acidentes ocasionados
nestes meios com o objetivo de prevenir ou minimizar as consequências. As áreas de
atuação para a medicina do tráfego são: curativa, legal, ocupacional, preventiva, de
viagem, aeroespacial, securitária e aquaviária.

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UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

O campo de atuação do médico de tráfego é amplo, assim, as aptidões esperadas dos


médicos formados nesta especialidade consistem em:

»» realizar o Exame de Aptidão Física e Mental para condutores e candidatos


a condutores exigido pelo Código de Trânsito Brasileiro;

»» atuar no atendimento pré-hospitalar de vítimas de acidentes de tráfego;

»» atuar em empresas (públicas, privadas, autarquias ou sindicatos) de


transporte terrestre, marítimo ou aéreo, na área de segurança de tráfego
e saúde ocupacional;

»» atuar como orientadores de viagens;

»» atuar em perícias securitárias de vítimas de acidentes de trânsito;

»» orientar, analisar, realizar pesquisas e contribuir na organização


educacional e legal do trânsito.

A área da medicina do tráfego curativa atua no atendimento imediato em locais de


acidentes com vítimas e no transporte das mesmas ao hospital (Atendimento pré-
hospitalar – APH e Resgate, respectivamente). A área legal consiste em realizar perícias
e avaliações, colaborando com a elaboração de mecanismos legais no sistema de trânsito.

Na medicina do tráfego ocupacional objetiva-se a prevenção de enfermidades dos


motoristas que possuem esta atividade como profissão, como também estuda as
condições de segurança do tráfego e a normatização dos exames os quais estes
profissionais devem ser submetidos. Previne doenças tais como perda auditiva, surdez,
zumbido, problemas respiratórios, osteomusculares, neuroses, fobias e distúrbios
comportamentais. Assim, faz-se avaliações de acordo com os riscos e realiza-se
periodicamente exames admissionais, periódicos e demissionais.

A área preventiva divulga índices de mortalidade, morbidade, e o número de


incapacidades produzidas pelos acidentes de trânsito. Já a medicina de viagem
consiste numa área de atuação bastante ampla e promissora dentro da medicina do
tráfego visto que estuda os acidentes decorrentes dos deslocamentos humanos tais
como doenças infectocontagiosas, planejamento da viagem, acidentes com animais no
percurso de deslocamento ou destino do viajante, imunização em território nacional
ou internacional, enfermidades ocasionadas por variações climáticas ou geográficas,
dentre outras questões.

Em 12 de junho de 2008, o CFM reconheceu a medicina aeroespacial e a perícia médica


como duas novas áreas de atuação da medicina do tráfego. A medicina aeroespacial atua
em duas áreas da medicina: clínica médica e medicina do tráfego. Esta especialidade
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MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

estuda as alterações do corpo humano e modelagem do sistema fisiológico em altitude e


em microgravidade, tais como, alterações do sistema visual, cardiovascular, de equilíbrio
e osteomuscular. Este ramo do conhecimento da ciência médica é imprescindível para
qualquer profissional formado em medicina, independente da sua especialidade, pois
todos os pacientes, saudáveis ou não, estão sujeitos a viagens aéreas, até mesmo sendo
socorridos após um acidente, e para cada uma dessas situações distintas, existe um
protocolo específico a ser seguido que indicam ou não a viagem aérea daquele paciente
naquela situação momentânea. A medicina aeroespacial engloba a medicina de aviação,
do viajante, transporte aeromédico, UTI aérea, medicina hiperbárica e de mergulho e
medicina espacial.

O que se espera de um médico especialista de medicina do tráfego é ter conhecimentos


sobre os seguintes temas: medicina de tráfego preventiva; epidemiologia; grupos de
risco em acidentes de tráfego; álcool e direção veicular; medicamentos, drogas e direção
veicular; distúrbios do sono e direção veicular; medidas e equipamentos de segurança
ativa e passiva para veículos automotores terrestres; transporte veicular de crianças;
comportamento do condutor; engenharia, rodovias e fatores ambientais como causas de
acidentes; o estado de saúde dos motoristas; medicina do tráfego legal; perícia médica;
medicina do tráfego curativa; medicina de tráfego ocupacional; medicina do viajante;
medicina de tráfego aeroespacial e medicina de tráfego aquaviário.

Além disso, espera-se que o profissional médico desta especialidade esteja apto a:

1. Abordar as questões decorrentes dos acidentes de tráfego e atender as


necessidades dos setores públicos e privados na resolução da problemática
situação atual, tornando mais produtivas e eficientes as ações médicas
sistemáticas de educação, prevenção, assistência, perícia e planejamento.

2. Orientar, analisar, realizar pesquisas e contribuir na organização


educacional do trânsito. Identificar os fatores etiológicos, definir os
grupos de alto risco para acidentes de trânsito e estabelecer programas
de prevenção.

3. Atuar em empresas (públicas, privadas, autarquias ou sindicatos) de


transporte terrestre, marítimo ou aéreo, na área de segurança de tráfego
e saúde ocupacional.

4. Cuidar da prevenção das doenças dos motoristas profissionais, como


a perda auditiva, surdez, zumbido, problemas respiratórios, doenças
osteomusculares, neuroses e distúrbios comportamentais entre outros.

5. Cuidar dos aspectos ergonômicos no exercício da profissão de motorista.

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UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

6. Atuar nas condições inseguras do tráfego e nos procedimentos médicos a


serem implementados por ocasião dos exames admissionais, periódicos
e demissionais de motoristas.

7. Orientar o planejamento de viagens.

8. Identificar as doenças infectocontagiosas e os acidentes com animais


peçonhentos prevalentes no percurso ou destino de interesse do viajante.

9. Orientar a imunização para o viajante nas viagens dentro do território


nacional e para outros países, diagnosticar e tratar patologias relacionadas
com o meio de transporte e com as mudanças geográficas como a altitude
e o clima.

10. Realizar perícias, avaliações e colaborar com o Poder Público na


concepção, elaboração e aplicação de uma legislação adequada e eficiente
relativa à medicina e à segurança de tráfego.

11. Realizar o exame de aptidão física e mental para condutores e candidatos


a condutores exigido pelo Código de Trânsito Brasileiro.

12. Realizar exames para avaliação de aptidão médica de candidatos a


obtenção de licença para voo ou exames periódicos para Renovação da
Habilitação.

13. Realizar exames para a obtenção da habilitação certificada pelo representante


da autoridade marítima para Segurança do Tráfego Aquaviário para operar
embarcações de esporte e/ou recreio, em caráter não profissional.

O nível de remuneração em Medicina de Tráfego é variável, uma vez que o médico pode ser
funcionário público, empregado de uma grande empresa ou profissional liberal. Ele pode
ter, por exemplo, uma clínica credenciada pelo DETRAN para fazer exames de aptidão
física e mental para condutores ou candidatos a condutores de veículos automotores.

Pesquise artigos científicos que estejam relacionados às áreas de atuação da


medicina do tráfego. Esta pesquisa irá enriquecer seus conhecimentos sobre
esta especialidade médica, esclarecendo a sua grande importância.

Visite o site: <http://www.apm.org.br/noticias-conteudo.aspx?id=8895>

A medicina do tráfego é uma especialidade bastante promissora e relativamente


nova no Brasil. Sugiro atenção nesta área e maiores pesquisas sobre este
interessante assunto.

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CAPÍTULO 2
Diretrizes médicas

Definição
Diretriz significa objetivo, meta ou algo que se quer atingir, assim, diretrizes médicas são
metas que se objetivam prevenir, diagnosticar ou tratar uma determinada doença com
a finalidade do bem-estar humano. O Projeto Diretrizes é uma iniciativa do Conselho
Federal de Medicina (CFM) juntamente com a Associação Médica Brasileira (AMB)
com o objetivo de conciliar as informações da área médica padronizando condutas que
auxiliem os profissionais na tomada de decisões.

As informações deste projeto são submetidas à avaliação do médico responsável pela


tomada de decisões e conduta escolhida em função do estado clínico de cada paciente.
Apresentam assim, grau de recomendação e a força da evidência científica e preservam
a autonomia do profissional médico.

O Projeto Diretrizes apresenta uma listagem em ordem alfabética contendo todas as


diretrizes e condutas em auxílio aos médicos de acordo com cada tipo de abordagem a
ser realizada em cada situação problema apresentada. Estas diretrizes foram elaboradas
baseadas em estudos clínicos de sucesso como também em pesquisas extensivas na
literatura científica publicada com ênfase para revisões sistemáticas.

A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (ABRAMET) elabora diretrizes


relacionadas à saúde e direção veicular, as quais são incorporadas a AMB e ao CFM,
sendo elas: avaliação de condutores e candidatos a condutores com epilepsia, o uso de
cinto de segurança, diabetes mellitus e risco na direção veicular, segurança no transporte
veicular de crianças e alcoolemia e direção veicular segura. Alguns consensos foram
estabelecidos para direcionar o médico perito examinador: avaliação de condutores
portadores de possíveis cardiopatias, hipertensão arterial, deficiência física, apneia do
sono e perda auditiva.

Na medicina do tráfego, existe um manual técnico de orientação às condutas médicas


a serem tomadas e protocolos de atendimento ao usuário para realização do exame de
aptidão física e mental para obtenção ou renovação da carteira nacional de habilitação.
A razão da existência destes protocolos é permitir uma maior organização e precisão do
sistema, uniformizando os procedimentos e valorizar o exame e o trabalho do médico.

Sabe-se que do resultado do exame de aptidão física e mental do candidato avaliado


pelo médico do tráfego, dependerão outras vidas que cruzarão o caminho diário deste
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UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

indivíduo em ruas e estradas, o que reforça a importância do exame, como demonstra


os protocolos e caracterizando-o como um ato médico e não como mero procedimento
burocrático.

Para maior aprofundamento sobre o projeto diretrizes, inclusive em outras


especialidades da medicina, consulte o site: <http://www.projetodiretrizes.org.
br/novas_diretrizes_sociedades.php>

“Cuidado quando você atravessar a rua!”; “Olha o carro!”; “Obedeça ao sinal!”.


Com certeza, você já ouviu alguma dessas frases! Afinal, desde pequenos,
aprendemos com a nossa família que o trânsito é perigoso. No início prestamos
atenção. No entanto, na medida em que crescemos, vamos nos acostumando com
os perigos. Então, nos descuidamos e passamos por alguma situação de risco ou
até sofremos um acidente. É, não podemos ficar desatentos! No entanto, também
não devemos considerar normal a violência no trânsito. Temos de abrir espaço, no
vaivém de carros, pedestres, ciclistas ou motociclistas, para a paz e a solidariedade!

Extraído da Revista Ciência Hoje das Crianças, no 124.

O papel de cada um
Como você pode perceber, no trânsito existem muitas regras, como obedecer ao sinal
vermelho, respeitar o limite de velocidade, usar o cinto de segurança e dirigir apenas
quando tiver mais de 18 anos e carteira de motorista (leia Ao volante). Cada uma dessas
normas tem como principal objetivo preservar a vida. Entretanto, há quem pense que
as leis de trânsito foram feitas apenas para punir e obedecem a elas somente para não
serem multados.

A segurança no trânsito depende de cada um de nós. Todos somos responsáveis pelos


acidentes e suas consequências. Portanto, precisamos nos esforçar para tornar o
trânsito mais seguro, obedecendo às leis de trânsito. Não porque vamos ser punidos,
mas porque disso depende a sobrevivência de motoristas, ciclistas e pedestres.

Você ainda não dirige, mas também pode ajudar. Passe adiante o que sabe sobre como
prevenir acidentes de trânsito. Fique de olho no que seu pai, sua mãe ou seu irmão mais
velho faz ao volante e dê um puxão de orelha sempre que eles infringirem alguma regra. E
nunca esqueça o que você aprendeu sobre o trânsito. Assim, você evita acidentes, preserva
a sua vida e a de muitas outras pessoas, além de colaborar para um trânsito mais solidário.

Eloir de Oliveira Faria

Programa de Engenharia de Transportes, Coordenação de Programa de Pós-graduação em


Engenharia – UFRJ

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CAPÍTULO 3
Medicina de tráfego curativa: APH

Definição
A medicina do tráfego curativa cuida do atendimento da vítima no local do acidente e do
transporte até o hospital, ou seja, seu resgate. A medicina curativa, neste caso, entra como
o atendimento de suporte imediato, sendo extremamente importante e fundamental para
salvar muitas vítimas em casos de acidentes de trânsito de forma imediata.

O APH (atendimento pré-hospitalar) consiste no conjunto de procedimentos técnicos


realizados no local da emergência e durante o transporte da vítima até o hospital. O
objetivo deste atendimento é manter a vítima com vida e em situação mais próxima
possível da normalidade até sua chegada à unidade de atendimento. Também consiste
em um trabalho psicológico com a vítima, caso esteja consciente, como também com a
família da mesma. Como exemplo destes procedimentos ligados ao socorro imediato,
podemos citar: controle da hemorragia, imobilização de fraturas, manter vias aéreas
livres etc.

O resgate envolve um grupo de tomada de decisões, ou seja, providências técnicas a serem


definidas caso a caso, para a retirada da vítima de locais de onde não conseguem sair
sozinhas, ou em procedimentos normais sem risco. Como exemplo de resgate, podemos
citar casos de incêndio, vítima presa nas ferragens, quedas bruscas em penhascos etc.

Em muitas situações, como o APH e o resgate são procedimentos realizados em


conjunto, são confundidos em suas definições e assim mesclando seus procedimentos
ou sendo sinônimos para muitas pessoas e até mesmo para estudantes de medicina.
Assim, o APH nada mais é que o atendimento emergencial em ambiente extra-
hospitalar, sendo um dos elos do atendimento de vítimas. Já o resgate consiste
no grupo de providências técnicas tomadas para a retirada de vítimas de locais de
onde não conseguem sair sozinhas e sem risco, como exemplo: vítima presa nas
ferragens de um veículo, vítima em edifício em chamas, vítima que caiu em poços
profundos etc.

Um atendimento de vítima de trânsito, que compõe a medicina do tráfego curativa,


nada mais é que o local onde se encontram diversos profissionais em prol de uma
única causa: socorrer a vítima. É um ponto de encontro entre médicos, enfermeiros,
bombeiros, socorristas, instrutores e dos interessados em atendimento pré-hospitalar,

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UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

resgate, emergências, medicina de tráfego e primeiros socorros. O mais interessante e


importante é que estes profissionais devem se respeitar e aceitar a multidisciplinaridade,
pois para que o trabalho ocorra com sucesso, depende da experiência profissional de
cada um sem exceção.

O APH pode ser realizado por diversos serviços tais como: corpo de bombeiros, Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU, ambulâncias de hospitais particulares
(equipe de empresas particulares) e concessionárias e empresas particulares de suporte
rodoviário. Estes profissionais são altamente treinados e capacitados e são subdivididos
em equipes: equipe de salvamento, equipe de suporte básico à vida (SBV) e equipe de
suporte avançado à vida (SAV).

Existem distintos protocolos de APH a nível mundial, mais como destaque temos,
os protocolos francês e o norte-americano. No primeiro, destaca-se ofertar o
atendimento médico no local do acidente até que a vítima esteja estável (stay and
play). Já no segundo, o foco é chegar ao local e ter acesso à vítima o menor tempo
possível, realizar as manobras necessárias para a sua estabilização e direcioná-la
rapidamente ao hospital (hora de ouro), com registro do ocorrido impresso ou vídeo,
se possível.

No Brasil, o protocolo adotado foi um sistema misto onde se estabelecem unidades de


suporte básico (equipe não composta por médico) treinados em APH e unidades de
suporte avançado nas quais se encontra o médico presente.

O objetivo das manobras de salvamento realizadas é retirar a vítima da situação de


perigo que ela se encontra realizando a remoção da mesma para local seguro onde se
possa iniciar os procedimentos de SBV, sem a realização de manobras invasivas, que só
podem ser realizadas no Brasil por médicos.

Protocolo de atendimento inicial do paciente


traumatizado

O PHTLS (Prehospital life support) é um curso que foi criado há mais ou menos 25
anos voltado para o atendimento pré-hospitalar do paciente traumatizado. O Comitê
de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões (ACS/COT) juntamente com a
Nacional Association of Emergency Medical (NAEMT) formaram este curso, sendo o
primeiro ministrado em 1983, ano este que o primeiro livro sobre este assunto também
foi publicado.

Assim, este curso foi expandido para mais de 37 países e atualmente representa o
padrão internacional do atendimento ao paciente traumatizado. No Brasil, este curso foi

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MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

ministrado pela primeira vez no ano de 1997 e teve a colaboração de instrutores de Belo
Horizonte. O primeiro núcleo PHTLS foi então formado no estado mineiro composto
por médicos e enfermeiros do antigo resgate, do SAMU e dos principais hospitais de
atendimento ao trauma.

O objetivo do atendimento inicial da vítima consiste na identificação pelo socorrista


em ação das situações que coloquem a vida em risco deste paciente, de forma rápida e
que demandem atenção imediata da equipe de atendimento. Para assegurar maiores
chances de sobrevida deste acidentado, é necessário que a equipe consiga agir de forma
organizada, rápida e eficiente, tomando decisões adequadas quanto ao atendimento
e transporte. As etapas que devem ser seguidas são: controle da cena, abordagem
primária, abordagem secundária e por último, verificação de sinais e escalas de coma
e trauma.

O atendimento ao trauma se divide em duas etapas distintas: o BLS (basic life suport)
e o ATLS (advanced trauma life suport). O BLS é o atendimento inicial prestado
normalmente por socorristas, bombeiros e paramédicos no local de um acidente,
sendo medidas direcionadas para que a vítima seja capaz de sobreviver e possa ser
transportada ao hospital ou clínica onde receberá seu atendimento definitivo. O ATLS
consiste no atendimento definitivo recebido pelo paciente para garantir que o mesmo
seja estabilizado e que reduza seus riscos de vida.

Ambos os atendimentos contam com protocolos padronizados, esquematizados pelas


letras: ABCDE. A abordagem primária é definida pelas letras ABCD e convencionou-
se chamar de “ABCD” do trauma. Já o atendimento secundário é definido pela letra E
que consiste em procurar possíveis lesões na vítima, sendo a abordagem secundária
iniciada somente depois de finalizada todas as etapas do atendimento primário.

Existe a abordagem primária rápida da vítima, que consiste em avaliar circulação,


respiração e nível de consciência em no máximo 30 segundos e a abordagem primária
completa, a qual aborda todas as letras do ABCD do trauma. O objetivo da abordagem
rápida é a identificação dos riscos de morte, iniciar suporte básico de vida e desencadear
recursos de apoio (médico local, transporte e hospital).

A letra A (airway – vias aéreas com controle cervical) visa manter as vias aéreas livres,
sem nenhum tipo de obstrução, havendo alguma, procedimentos de desobstrução podem
ser realizados no local. Para garantir as vias aéreas livres é necessária a estabilização da
coluna cervical e coluna, o que pode ser feito por meio de um colar cervical.

A letra B (breathing – respiração) tem como objetivo garantir a ventilação pulmonar


adequada por meio da observação da respiração da vítima. Caso a vítima não esteja

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UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

respirando o socorrista pode lançar mão da respiração boca a boca ou ventilação


artificial com máscara. Na letra C (circulation – circulação com controle de hemorragia)
observa-se a manutenção da circulação, faz-se a avaliação do coração e pulso carotídeo
ou femoral do paciente para verificar se está batendo, caso não esteja é realizada a
massagem cardíaca. Havendo sangramento, o mesmo deve ser estancado da melhor
forma possível caso a caso.

A letra D (disability – estado neurológico e nível de consciência) significa a avaliação do


nível de consciência do acidentado.

E, por fim, a letra E (exposure – exposição e procura de lesões) corresponde à


exposição da vítima, cortando suas vestimentas para visualizar e avaliar todas
as possíveis lesões. A letra E, consiste numa abordagem secundária e é realizada
separadamente, pois requer um nível de vigilância bastante importante da vítima, caso
ela esteja inconsciente. A avaliação do nível de consciência do acidentado é feita pelo
método AVDI, de acordo com as respostas aos estímulos: A – vítima acordada e com
resposta ao ambiente; V – vítima adormecida com olhos abrindo mediante estímulo
verbal; D – vítima com olhos fechados os quais se abrem apenas mediante estímulo
doloroso (estimulação do músculo trapézio) e I – vítima não reage a qualquer tipo
de estímulo.

Ao chegar ao local do acidente, é fundamental que a equipe de salvamento sempre


verifique a segurança do local do acidente antes de iniciar o atendimento propriamente
dito, a fim de garantir sua própria condição de segurança, a das vítimas e a dos demais
presentes. De nenhuma forma qualquer membro da equipe deve se expor a um risco
com chance de se transformar em vítima, o que levaria a deslocar ou dividir recursos de
salvamento disponíveis para aquela ocorrência.

Assim, pode-se prosseguir para iniciar o atendimento inicial e abordagem da vítima,


lembrando que esta não deve ser deslocada da sua posição inicial, salvo em situações
que envolvem demais riscos (explosão, incêndio, choque elétrico, desabamento etc.).

Figura 1. Abordagem da vítima em decúbito dorsal. Aproximação pelo lado em que a face está voltada.

Fonte: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuWQAD/atendimento-inicial>

20
MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

Figura 2. Abordagem da vítima em decúbito ventral Aproximação pelo lado em que a face está voltada.

Fonte: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuWQAD/atendimento-inicial>

Figura 3. Verificação do tempo de preenchimento capilar da vítima e avaliação da presença de corpos


estranhos nas vias respiratórias e cavidade oral.

Fonte: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuWQAD/atendimento-inicial>

Figura 4. Verificação da respiração da vítima.

Fonte: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuWQAD/atendimento-inicial>

Figura 5. Verificação do nível de consciência da vítima.

Fonte: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuWQAD/atendimento-inicial>

21
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

Tempo resposta no APH

Quando se pensa no atendimento pré-hospitalar de uma vítima, o tempo é um fator


de extrema importância, sendo muitas vezes o que vai definir a vida ou a morte do
paciente. Minutos a mais na chegada do atendimento de emergência pode permitir a
evolução de uma situação como irreversível.

Como exemplo, no caso de uma hemorragia, esta com a demora no atendimento pode
atingir níveis críticos. Em situações de hipóxia pode rapidamente evoluir para lesar
o cérebro em definitivo. Em cada minuto que se retarda o atendimento, mais graves
as situações se tornam. Quanto mais se pode abreviar o socorro, mais vidas podem
ser salvas, e sequelas podem ser reduzidas, permitindo um custo final menor desde o
atendimento da vítima até o tratamento e recuperação hospitalar.

O APH depende de diversas variáveis para ter um bom resultado no socorro da vítima,
porém o tempo é considerado uma das mais importantes destas variáveis, já que quanto
maior o tempo decorrido em prestar-se o socorro imediato, mais lenta será a recuperação
do paciente. Assim, o serviço de APH é interpretado como eficiente de acordo com o
tempo que leva para prestar o atendimento, quanto menor o tempo, melhor o serviço
de APH. Esse espaço de tempo é uma variável conhecida como tempo-resposta, sendo
interpretado de forma distinta em diversos países.

O tempo-resposta é definido como um indicador de estratégia administrativa e não


apenas está relacionado ao tempo que a equipe leva para chegar até o local do acidente.
É uma ferramenta de análise, das mais simples às extremamente complexas. A análise
desta ferramenta de forma criteriosa tem fornecido os melhores instrumentos para a
tomada de decisão na busca de um sistema cada vez mais eficiente. Com o resultado
das análises do tempo-resposta, pretende-se fornecer cada vez mais uma visão crítica
das etapas envolvidas em todo o APH e assim sugerir melhorias e formas de reduzi-lo
sempre mais.

Assim, o tempo-resposta para a maioria dos profissionais e serviços é identificado


como o intervalo de tempo entre o momento em que a central de comunicação recebe
a notificação do acidente e a chegada da equipe de atendimento pré-hospitalar ao local
da emergência.

Já uma avaliação do significado do tempo-resposta real para a fisiopatologia e evolução


das lesões no paciente acidentado, o tempo que mais importa é o transcorrido entre a
instalação do agravo à saúde e o início das ações de socorro junto à vítima. Assim não
se deve avaliar o tempo-resposta apenas como a solicitação da central e chegada da
equipe, mas com o momento do acidente e a ocorrência das lesões, somado ao pedido

22
MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

de socorro e chegada da equipe, até o início do socorro e estabilização da vítima para


encaminhamento à unidade de atendimento.

Esta soma é que define se a assistência foi prestada em um tempo suficiente para permitir
seu real socorro. Em uma emergência traumática, o momento de instalação do agravo é
facilmente identificado, mas em uma clínica, por vezes a instalação é lenta, dificultando
qualquer afirmação sobre o momento em que a emergência se iniciou. Como exemplo:
Caso Verídico – A última vítima a ser resgatada no acidente de trem foi um policial que
acompanhava alguns detentos. Apesar de as equipes de socorro terem chegado ao local
seis minutos após o acidente, o policial ficou preso entre as ferragens por mais de uma
hora. Só após a liberação da enorme ferragem retorcida é que a equipe de socorro pode
prestar-lhe o primeiro atendimento (policial sobreviveu).

Outra variável importante a ser influenciada no APH é o tempo global, muito estudado
pelos administradores. O tempo global pode ser definido como o comprometimento da
ambulância e da sua equipe. Ele é contado do início do acionamento da ambulância até
a informação de que a tripulação está pronta para uma nova ação. Esta análise é crítica
para o dimensionamento e avaliação da eficácia e eficiência de um sistema. Quanto
maior for o tempo de comprometimento, mais ambulâncias e equipes serão necessárias
para cobrir uma mesma região.

Como exemplo, pode-se citar: “O serviço respondeu rapidamente ao socorrer uma


vítima com suspeita de infarto. Após 20 minutos ela já estava no hospital. Entretanto,
a demora na liberação da ambulância pelo médico do serviço de emergência fez com
que não tivéssemos unidade disponível para socorrer um atropelado na mesma região.
Outra ambulância foi acionada, vindo de outro lado da cidade, mas o tempo-resposta
acabou sendo demasiadamente longo.”

O tempo-resposta é composto no sistema APH por 19 etapas, com algumas variações


de acordo com a equipe administrativa de cada sistema. Cada sistema deverá analisar
criteriosamente cada uma destas etapas a fim de decidir as melhores e mais eficientes
que irão garantir a redução deste tempo.

Assim, os tempos, etapa por etapa são:

1. da instalação do agravo à saúde até sua identificação;

2. da identificação da emergência ao início do contato feito com um serviço


de APH;

3. do início do contato à conclusão da anotação dos dados (triagem da


informação, coleta dos dados necessários para o despacho, endereço etc.);

23
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

4. da conclusão da anotação dos dados à sua transferência para as mesas de


despacho;

5. do recebimento pela mesa de despacho à identificação da ambulância


disponível mais próxima;

6. da identificação ao contato com a ambulância disponível mais próxima;

7. do início do contato à conclusão da passagem dos dados;

8. da passagem dos dados para a equipe da ambulância, ao início do


deslocamento;

9. do início do deslocamento (e saída da base) à chegada ao local da emergência;

10. da chegada ao local ao primeiro acesso a vítima;

11. do início ao final do atendimento no local (ambulância pronta para partir);

12. do início do transporte até a chegada ao hospital de destino;

13. da chegada ao hospital até a passagem da vítima para a equipe médica;

14. conclusão dos relatórios ainda no hospital (uma via ficará junto ao
paciente);

15. liberação da equipe;

16. reposição dos materiais usados ou espera para receber o que está com a
vítima;

17. preparo da ambulância (higienização, reordenação dos materiais e


equipamentos) com a ambulância ainda no hospital;

18. da ambulância pronta até a informação à central de que está disponível


para outra ocorrência;

19. tempo de retorno à base.

Assim, o principal objetivo é a redução total do tempo de atendimento, selecionar as


ações mais significativas e que devem ser as prioritárias, visando à rápida colocação
de uma equipe de atendimento capaz e bem equipada junto à vítima, seu transporte
seguro e uma perfeita integração com os hospitais que deverão recebê-la.

Portanto, o tempo-resposta, não significa apenas a velocidade da ambulância em chegar


ao local do acidente, até porque sabemos que a velocidade excessiva do veículo de APH
pode colocar em risco a vida da equipe de socorro e também da própria vítima a ser
socorrida. O tempo-resposta reflete uma série de estratégias técnicas administrativas
24
MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

que permitem a avaliação do estágio de desenvolvimento do atendimento pré-hospitalar


no Brasil.

<http://www1.dnit.gov.br/emergencia.htm>

A grande maioria das situações de acidentes poderia ser evitada; porém, quando
elas ocorrem, alguns conhecimentos simples podem diminuir o sofrimento,
evitar complicações futuras e até mesmo salvar vidas.

O fundamental é saber que, no momento da emergência, deve-se manter a calma


e ter em mente que a prestação dos primeiros socorros não exclui a importância
de uma equipe especializada para o atendimento. Além disso, certifique-se de
que há condições seguras o bastante para a prestação do socorro sem riscos
para você. Não se esqueça que um atendimento de emergência mal feito pode
comprometer ainda mais a saúde da vítima. Entretanto, a pessoa que chama por
socorro especializado, por exemplo, já está prestando e providenciando socorro.

Os momentos após um acidente, principalmente as duas primeiras horas, são os


mais importantes para se garantir a recuperação ou a sobrevivência das pessoas
feridas.

Todos os seres humanos são possuidores de um forte espírito de solidariedade,


e é este sentimento que nos impulsiona para tentar ajudar as pessoas em
dificuldades. Nestes trágicos momentos, após os acidentes, as vítimas são
totalmente dependentes do auxílio de terceiros. Porém, somente o espírito de
solidariedade não basta. Para que possamos prestar um socorro de emergência
correto e eficiente, precisamos conhecer técnicas de primeiros socorros.

Algumas pessoas pensam que na hora da emergência não terão coragem ou


habilidade suficiente, mas isso não deve ser motivo para deixar de aprender as
técnicas, porque nunca sabemos quando teremos que utilizá-las.

Manual do Socorrista

Gostaria de aproveitar a oportunidade para refletir a questão: como está


caminhando o APH no Brasil dentro do contexto político atual? Será que o
programa Mais Médicos tem facilitado e melhorado o tempo-resposta?

25
CAPÍTULO 4
Medicina de tráfego legal:
perícias e avaliações

Definição
A Medicina Legal é uma especialidade médica e jurídica que utiliza conhecimentos
técnico-científicos da Medicina para o esclarecimento de fatos de interesse da Justiça.
Seu praticante é chamado de médico legista ou simplesmente legista. A perícia médica
é uma especialidade médica na qual o perito após avaliar o paciente emite um parecer
técnico conclusivo sobre a capacidade do examinado.

“É a contribuição da medicina e da tecnologia e ciências afins às


questões do Direito, na elaboração das leis, na administração judiciária
e na consolidação da doutrina” (GENIVAL VELOSO DE FRANÇA).

A Medicina de Tráfego Legal é o campo de atuação da medicina do tráfego que realiza


perícias e avaliações, auxiliando o poder público na concepção, elaboração e aplicação
de uma legislação adequada e eficiente relativa à medicina e segurança do trânsito.

A palavra “Perito” deriva do latim: Peritus e significa sábio, experimentado, hábil,


prático em uma ciência ou arte. O Perito deve ser uma pessoa qualificada e que possui
conhecimentos especiais, cujo conhecimento é requerido para ilustrar ou assessorar os
juízes, advogados ou para as questões administrativas.

A medicina legal é dividida nas seguintes áreas: medicina legal profissional (dicielogia
médica e deontologia médica), medicina legal social (medicina legal do trabalho ou
ocupacional, medicina previdenciária, medicina securitária) e medicina legal judiciária
(traumatologia médico legal, tanatologia médico legal, toxicologia médico legal,
asfixiologia médico legal, antropologia médico legal, sexologia médico legal, hematologia
médico legal e psicopatologia ou psiquiatria médico legal).

Nesse campo de atuação o profissional médico pode atuar em perícias ocasionadas por
acidentes de trânsito como também na realização dos exames para liberação ao usuário
da carteira nacional de habilitação (CNH).

Ainda existe a participação do médico perito na regularização de sinistros em seguros


de vida, sendo fundamental a sua atuação. O médico nesta função deve estar capacitado
para correlacionar as informações médicas apresentadas com as cláusulas contratuais

26
MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

que regem a garantia reclamada no seguro, recomendando a concessão do que deva


ser concedido ou a recusa às pretensões ilegítimas, sempre atento aos aspectos ético-
profissionais que regem o exercício da profissão médica.

Na elaboração das resoluções do Conselho Nacional de Trânsito, houve a ampla


colaboração dos especialistas da área de medicina do tráfego da Associação Brasileira
de Medicina de Tráfego (ABRAMET). Assim, foi elaborado o manual de medicina de
tráfego, que contém os protocolos para a realização do exame de aptidão física e mental
aos usuários para obtenção ou renovação da carteira nacional de habilitação. Estes
protocolos foram criados com o objetivo de uniformizar os procedimentos, tornando o
sistema mais preciso e assim valorizando o objetivo do exame e do trabalho do médico.

Como o tipo de veículo influencia diretamente nos aspectos do acidente, é muito


importante para o perito conhecer um pouco melhor sobre os tipos de veículos como
também o porte dos mesmos (pequeno, médio e grande), já que são inúmeros os tipos
de acidentes de trânsito, dentre eles: colisões veiculares com obstáculo fixo, biveiculares
entre veículos semelhantes e diversos, com interceptações dentre outros.

De acordo com a Resolução no 14/1998 do CONTRAN, existem alguns tipos de veículos,


tais como: automotores, ônibus elétrico, reboques, semirreboques, ciclomotores,
motonetas, motocicletas, triciclos, quadriciclos, tratores de rodas e mistos, tratores de
esteiras, utilitários, caminhões-trator e caminhões.

As causas que vão determinar os acidentes de trânsito diretamente podem ser:


mediatas ou circunstanciais e imediatas ou diretas. As causas mediatas são subjetivas
(fadiga, distração, imperícia etc.), questões que não se podem mensurar no momento
do acidente. As causas imediatas são possíveis de serem constatadas pela presença de
vestígios e estes podem estar relacionados ao condutor do veículo ou passageiros (ao
homem), ao veículo, ou ao meio ambiente.

Do exame de aptidão física e mental – CNH

De acordo com a Resolução no 267 de 15 de fevereiro de 2008 do CONTRAN (Conselho


Nacional de Trânsito), dispõe sobre o exame de aptidão física e mental, a avaliação
psicológica e o credenciamento das unidades públicas e privadas do Código de
Trânsito Brasileiro.

Na Resolução no 80 de 19 de novembro de 1998, já havia a descrição das exigências para


o exame de aptidão física e mental para obtenção da CNH, sendo os exames exigidos
para obtenção da permissão para dirigir: exame clínico geral (avaliação oftalmológica,
otorrinolaringológica, neurológica, cardiorrespiratória, aparelho locomotor e exames

27
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

complementares e especializados a critério médico). No caso da renovação, os mesmos


exames são exigidos com acréscimo da avaliação psicológica a critério médico.

Na Resolução no 267 de 2008 foram acrescidas mais algumas exigências nos exames,
tais como: anamnese, exame físico geral (avaliação de comportamento e atitude,
tipo morfológico e estado geral), exames específicos (avaliação oftalmológica,
otorrinolaringológica, cardiorrespiratória, neurológica, aparelho locomotor e distúrbios
do sono – no caso de renovação, adição e mudanças para categorias C ,D e E) e exames
complementares ou especializados a critério médico. Na avaliação psicológica serão
exigidos: entrevistas diretas e individuais, testes psicológicos (de acordo com o Conselho
Federal de Psicologia – CFP), dinâmicas de grupo e escuta e intervenções verbais.

Somente as clínicas e médicos credenciados poderão realizar o exame para aptidão


e retirada da CNH e para realização dos exames, deve haver no estabelecimento
credenciado, ao menos um médico e um psicólogo responsável técnico.

Para maiores informações sugiro a leitura da legislação. Consultar as Resoluções


nos 51/1998; 80/1998 e 267/2008.

28
CAPÍTULO 5
Medicina de tráfego ocupacional

Definição
A medicina ocupacional ou medicina do trabalho é uma especialidade médica que atua no
ramo das relações entre a saúde dos trabalhadores e o seu meio de trabalho, onde o foco
principal desse ramo é a prevenção e o tratamento de doenças e ferimentos ocasionados
no ambiente empregatício. Além desse cargo chefe, a Medicina Ocupacional também
efetua a promoção da melhora da saúde e da qualidade de vida dos trabalhadores com
incentivo que seja capaz de equilibrar a saúde física e mental e interagir entre o campo
pessoal e profissional de forma saudável e qualitativa.

A medicina do tráfego ocupacional é uma área de atuação que pertence tanto


à medicina do tráfego como também a medicina do trabalho, visto que atua na
prevenção e avaliação de enfermidades dos motoristas que possuem esta atividade
como profissão como também atua nas condições de segurança do tráfego. O médico
então atua nas avaliações e realiza periodicamente exames admissionais, periódicos
e demissionais específicos para estes profissionais e emite o atestado de saúde
ocupacional (ASO).

Entre as várias funções da medicina ocupacional ou medicina do trabalho, o ato de


buscar a conservação e a salubridade do local do trabalho são uma das atividades
de acompanhamento e fiscalização das condições dos funcionários no ambiente de
trabalho, tanto de forma física como de forma psicológica, sendo avaliados por uma
equipe multidisciplinar de profissionais qualificados (médicos, enfermeiros, auxiliares
e técnicos).

O profissional médico que se dedica à especialidade da medicina ocupacional precisa


ter uma excelente formação em clínica médica como também o domínio dos conceitos
de saúde pública, devendo correlacionar o meio ambiente (local do trabalho) e o que
ocorre nele, desde os aspectos tecnológicos e demográficos, aos sociológicos e políticos.

A saúde no trabalho é um direito garantido por lei que responsabiliza o empregador


(a empresa) como também os funcionários pelo cuidado, assiduidade e segurança no
ambiente de trabalho (Lei no 6.514 de 1977). Os governos federal, estadual e municipal
também são responsáveis pela saúde dos trabalhadores através da fiscalização e
investimento em melhorias nas condições de trabalho.

29
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

O Programa de Controle de Saúde Ocupacional – PCMSO é um programa criado


desde 1994 o qual torna obrigatório o cuidado com a saúde do trabalhador em seu
ambiente de trabalho por meio de avaliações periódicas para acompanhamento da
saúde do empregado evitando o surgimento de enfermidades relacionadas às funções
desenvolvidas pelo mesmo no local de trabalho e realização de exames tanto no
momento da contratação quanto na demissão do funcionário.

Assim, o médico do tráfego ocupacional, estará trabalhando da mesma maneira que


os demais profissionais médicos atuantes na medicina do trabalho, respeitando as
mesmas leis relacionadas a qualquer outro trabalhador em seu ambiente de trabalho,
a diferença é que suas avaliações clínicas e exames solicitados serão específicos para a
categoria de profissionais atuantes no trânsito.

Para os motoristas profissionais o uso do álcool e uso de medicamentos pode ser


extremamente perigoso. O uso do álcool já é proibido para qualquer motorista, pois
já produz naturalmente seus efeitos nocivos e, além disso, a nossa legislação de trânsito já
atua nesta questão. Alguns medicamentos, tais como anti-histamínicos e ansiolíticos
que produzem efeito sedativo, não devem ser usados por estes profissionais, caso
sejam associados ao álcool pior se torna o efeito, visto que se potencializa o efeito
sedativo dos mesmos.

Recentemente entrou em vigor a Lei no 12619 de junho de 2012, sendo um marco para os
motoristas profissionais e empresas do setor de transporte. Esta lei é uma consolidação
trabalhista para os motoristas do transporte rodoviário de cargas e passageiros. Um
exemplo é a regulamentação dos períodos de descanso durante viagens longas –
aquelas nas quais o motorista profissional permanece fora da base da empresa por
mais de 24 horas. Nessas viagens, a cada quatro horas ininterruptas de direção haverá
um descanso extraordinário de 30 minutos. O tempo de direção e de descanso pode
ser fracionado (uma parada de 15 minutos a cada duas horas, por exemplo), mas o
motorista, salvo casos excepcionais, não pode permanecer mais de quatro horas
dirigindo. Outra questão importante que passa a vigorar nesta lei é a obrigatoriedade
de o motorista profissional se submeter a teste de controle de uso de drogas e bebidas
alcoólicas instituído pelo empregador. Essa medida visa não só a prover segurança nas
estradas, mas, principalmente, assegurar a saúde e a segurança do trabalhador.

Os exames admissionais normalmente exigidos para um profissional motorista


compõem: exames admissionais gerais para qualquer cargo ou função e, além disso,
variável também de acordo com a empresa contratante: apresentação da CNH profissional
atualizada, raio-X de coluna (cervical, dorsal e lombar) PA e perfil, audiometria, testes
de acuidade visual, teste de campimetria, teste ergométrico, eletroencefalograma e
marcadores virais para hepatite B e C.
30
MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

Para maiores informações consulte o site: <http://www.ricardomattos.com/


legisla.htm> e o Manual Legislação em Segurança e Medicina do Trabalho
(disponível para download em: <http://www.fiesp.com.br/indices-pesquisas-e-
publicacoes/manual-legislacao-em-seguranca-e-medicina-do-trabalho/>).

31
CAPÍTULO 6
Medicina de tráfego preventiva

Definição
A medicina preventiva, como seu próprio nome a define, é a especialidade médica que
visa prevenir as doenças e não curá-las ou tratá-las, visando melhorar a qualidade de
vida dos usuários. Existe uma grande confusão entre a medicina preventiva e a saúde
pública, de maneira geral e simplificada, os profissionais da saúde pública fazem
medicina preventiva, porém possuem acesso a dados epidemiológicos e trabalham
no controle de agravos de maior transmissibilidade e gravidade. Já os profissionais
privados que atuam na área preventiva, possuem a perspectiva de identificação precoce
por meio de exames preventivos de rotina capazes de permitir uma intervenção para
minimizar o dano da prática médica denominada muitas vezes de medicina de família
mas não atrelado às questões políticas e sociais.

Esta especialidade médica ganhou mais evidência a partir de 1980 e daí por diante
vem inserindo grande papel na saúde pública. O trabalho realizado pelo médico reflete
nas condições gerais de saúde do paciente, reduzindo gastos com medicamentos,
aumentando a produtividade, reduzindo o absenteísmo e a melhora no convívio familiar.

A medicina do tráfego de caráter preventivo atua em todos os agravos causados nos


acidentes de trânsito, realizando o levantamento dos índices dos acidentes e suas
principais causas, divulgando dados de morbimortalidade a fim de minimizar novos
acidentes. Este profissional atua nos órgãos públicos com levantamento e análise de
dados epidemiológicos e divulgação dos mesmos. Também trabalha com a capacitação
de profissionais (treinamento de motoristas) quanto à educação, segurança e ética no
trânsito, e direção defensiva, podendo atuar em empresas particulares.

Estatísticas de acidentes no Brasil

As estatísticas dos acidentes de trânsito são realizadas pelos profissionais do Ministério


da Saúde e alimentadas na base de dados do programa DATASUS (departamento
de informática do sistema único de saúde do Brasil), que compõem as informações
sobre as vítimas de acidentes de trânsito no Brasil. Além do DATASUS, o Ministério
da Saúde também produz as Publicações Saúde Brasil e as Publicações Mapas de
Violência, que incluem a análise da situação da saúde e análises detalhadas dos dados
do DATASUS referentes às vítimas de acidentes de trânsito. Outro mecanismo de
32
MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

informação importante base de dados são: estatísticas do seguro DPVAT e estatísticas


do DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito.

A partir de 2007 entrou em operação o RENAEST, novo sistema nacional de estatística


de acidentes de trânsito. O CONTRAN resolveu substituir o Sistema Nacional de
Estatísticas de Trânsito – SINET pelo Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de
Trânsito – RENAEST . A decisão foi objeto dos seguintes documentos regulamentares:
Resolução CONTRAN no 208, de 26/10/2006 e Portaria DENATRAN no 82 de
16/11/2006. O objetivo é a implantação de uma base nacional de estatísticas que possa
subsidiar estudos e pesquisas necessárias à melhoria da segurança viária no país.

De acordo com informações do Ministério da Saúde, em 2011 foram identificados 43.250


óbitos, 179.000 hospitalizados em 2012, 54.800 indenizações por morte e 444.000 por
invalidez em 2013 (DPVAT), por acidentes de trânsito no Brasil.

O gráfico a seguir mostra a evolução do número de óbitos registrados pelo Ministério da


Saúde de 2002 a 2011, com crescimento de 40% no período.

Gráfico 1.

Fonte: <http://www.vias-seguras.com/os_acidentes/estatisticas/estatisticas_nacionais>. Ministério da Saúde

Entre 1980 e 2011, foram registrados perto de um milhão de óbitos nos diversos tipos
de acidentes de trânsito acontecidos no país. O SIM/MS contabilizou, nesse período,
exatas 98 0.838 mortes em acidentes nas vias públicas.

Nos anos finais da década de 1990, foi registrada uma inflexão na evolução da
mortalidade por acidentes de trânsito que permite caracterizar três grandes períodos.
Até 1997, o SIM registra fortes aumentos no número de mortes, principalmente entre
1993 e 1997. A partir do novo Código de Trânsito, promulgado em setembro de 1997,
e até o ano 2000, os números caem com o rigor do novo estatuto e as campanhas que
gerou. Mas, a partir do ano 2000, é possível observar novos e marcados incrementos,

33
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

da ordem de 4,8% ao ano, fazendo com que os quantitativos retornassem, já em 2005,


ao patamar de 1997, para continuar depois crescendo de forma contínua e sistemática.

O número de mortos em acidentes de trânsito no país cresceu 38,3% no período de 2002


a 2012, de acordo com dados do Mapa de Violência 2014. Considerando o aumento
populacional no período, o crescimento foi de 24,5%. O crescimento das mortes por
acidentes de transporte no país em 2012 frente a 2011 foi de 2,5%. A taxa vem crescendo
gradativamente desde o ano 2000. Os Estados de Paraíba, Pará, Maranhão e Rondônia
tiveram crescimento superior a 10% em 2012, enquanto que Amapá e Distrito Federal
conseguiram reduzir suas taxas em 18% e 13%, respectivamente. Roraima tem a maior
taxa de mortes no trânsito por 100 mil habitantes: 42,4, frente 23,7 da média nacional.
O Amazonas possui o menor índice, com 14,2. Já em 2010, o SIM registra perto de 43 mil
mortes no trânsito, superado a seguir com os números de 2011. E o mais preocupante do
caso é que a tendência evidente na série a partir do ano 2000 é de continuar crescendo
com um ritmo elevado: 3,7% ao ano em média.

34
CAPÍTULO 7
Medicina aeroespacial

Definição
A medicina aeroespacial, também chamada de medicina da aviação foi desenvolvida
com o objetivo de estudar as alterações fisiológicas que possam ocorrer no corpo
humano em decorrência de um voo, ou seja, quando submetido a grandes altitudes e
mudanças atmosféricas, condições distintas das que este indivíduo já está acostumado.

O estudo desta especialidade médica é fundamental para pilotos, astronautas, toda


a tripulação que trabalha voando diariamente e todo e qualquer passageiro destas
aeronaves, visto que no voo muitas alterações infrequentes a vida rotineira humana
ocorrem, e assim precisa-se estar preparado.

A medicina aeroespacial tem o intuito de conhecer as camadas da atmosfera, conhecer os


males que a altitude pode causar ao ser humano, observar as leis que agem sobre o corpo
humano provocando alterações fisiológicas durante o voo e confirmar a importância da
medicina na aviação. O ser humano procura sempre manter um equilíbrio em seu corpo
(homeostase) e isto varia em função do tempo de exposição ao meio, e aspectos pessoais
de cada indivíduo, podendo estar relacionado ainda com aspectos psicossociais.

Esta especialidade tem como foco principal as elevadas altitudes, sendo um meio que
não é comum ao ser humano visto que, aborda-se questões como grandes variações de
pressão atmosférica e, velocidades e acelerações, diferentes daquelas em que estamos
acostumados. Portanto para falarmos sobre os efeitos do nosso corpo nas grandes
alturas e atividades de voo temos que primeiro conhecer um pouco sobre o meio em
que trabalharemos.

O ar que respiramos na altitude do mar tem uma correlação de gases de 78% de


nitrogênio e de 21% de oxigênio, sendo 1% de outros gases. Essa relação é mantida
sempre constante. Acontece que ao subirmos o ar fica cada vez mais rarefeito e, portanto,
com menor quantidade de partículas desses gases. Iniciando-se após determinadas
altitudes alguns quadros graves ao aeronauta e o desencadeamento de doenças e males
relacionados à altitude, pressão velocidade, entre outros.

Com a altitude, à medida que subimos a pressão barométrica diminui, diminuindo


também a temperatura e o oxigênio, que, embora mantenha seu percentual constante,
se apresenta com menor número de moléculas disponíveis. Assim, discute-se algumas

35
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

leis que agem no organismo humano quando exposto às condições do ambiente externo
de voo.

O corpo humano é composto de algumas áreas e órgãos com ar em seu interior, e


por este motivo estão sujeitos às ações e reações das leis dos gases. Existem três leis
importantes que causam alterações fisiológicas no organismo humano: Lei de Boyle,
Lei de Henry e Lei de Dalton.

A Lei de Boyle, chamada de lei da expansão dos gases, explica a distensão gasosa de
acordo com as mudanças de pressão atmosférica, ou seja, quanto maior a altitude,
menor será a pressão do ar e maior será o volume de um gás. No crânio existe ar nos seios
da face: paranasais frontal, etmoidal, esfenoidal e maxilar. O ar se distende quando se
diminui a pressão, dando lugar às dolorosas baro-sinusites ou aereosinusobaropatias
(infecção dos seios paranasais) devido à queda da pressão barométrica que acompanha
a ascensão da aeronave. Às vezes, o ar sai e não consegue voltar ao seio paranasal,
formando um vácuo, que também resulta em forte dor.

A lei de Henry foi descoberta em 1801, pelo químico britânico William Henry (1775-
1836). De acordo com esta lei, a uma temperatura constante a massa de um gás dissolvido
num líquido em equilíbrio (solubilidade) é diretamente proporcional à pressão parcial
do gás. Esta lei aplica-se apenas a gases que não reajam com o solvente. Assim,
quando um indivíduo se submete a uma alteração de pressão, indo de uma pressão
maior para uma pressão menor (subindo), os gases contidos no sangue e tecidos se
desprendem das células ocasionando assim a chamada doença da descompressão. Esta
enfermidade, também chamada de mal da descompressão, embolia gasosa, paralisia
dos mergulhadores, ocorre quando os gases dissolvidos no sangue e nos tecidos formam
bolhas que obstruem a passagem do sangue, levando a dor ou outros sintomas. Estas
bolhas também podem se formar quando alguém se desloca de um ambiente de alta
pressão para outro de baixa pressão, o que acontece ao subir de uma imersão ou decolar
uma aeronave despressurizada com uma razão de subida maior que as normais.

A lei de Dalton descreve explica que, embora a percentagem de oxigênio do ar permaneça


constante em todas as altitudes razoáveis, a deficiência de oxigênio se instala como uma
decorrência da queda da tensão parcial do oxigênio em razão direta da queda da pressão
atmosférica. Diminuindo a tensão parcial de O2 no ar ambiente, diminui também o ar
alveolar e consequentemente, sobrevêm a epóxi (baixo teor de oxigênio). Assim, “Em
uma mistura gasosa, a pressão de cada componente é independente da pressão dos
demais, a pressão total (P) é igual à soma das pressões parciais dos componentes”.

A atmosfera é dividida em quatro camadas: troposfera (nível do mar ate 11 km),


estratosfera (11 km ate 100 km), ionosfera (100 km até 222 km) e exosfera (acima de 222

36
MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

km). As divisões da atmosfera são primariamente de natureza física ou meteorológica,


o que não é utilizada pela medicina aeroespacial de maneira geral, assim foram criadas
novas divisões que são as zonas dando uma ideia melhor da problemática do voo: zona
fisiológica ou indiferente, zona fisiológica deficiente e zona equivalente ao espaço.

A zona fisiológica é a aérea que vai do nível do mar até cerca de 10.000 pés. Apenas
problemas fisiológicos menores podem ocorrer quando se voa nessa zona, como, por
exemplo, uma dificuldade de equalização na orelha media. A zona fisiológica deficiente
se estende de 10.000 pés (3 km) até 50.000 pés (15 km) de altitude. O que torna o voo
possível nessa área é a pressurização, pois acima de 10.000 pés (3 km), a suplementação
de oxigênio já se faz necessária. Já a zona equivalente ao espaço, está localizada acima
de 50.000 pés (15 km). Nessa zona o voo só é possível em cabines seladas e com trajes
pressurizados devido à baixíssima densidade do ar. Somente as cabines pressurizadas
não são efetivas para manter a vida nessa zona, já que esta zona se refere ao que
conhecemos como espaço propriamente dito.

Para maiores informações, consulte o site: <http://www.infoaviacao.com>

Cartilha de Medicina Aeroespacial – Doutor, posso viajar de avião?

Problemas de saúde durante os voos

A hipóxia significa baixo teor de oxigênio nos tecidos orgânicos de um determinado


indivíduo, sendo sua ocorrência ocasionada por fatores distintos. Pode estar relacionado
por alterações em qualquer mecanismo de transporte de oxigênio, desde uma obstrução
física do fluxo sanguíneo em qualquer nível da circulação corpórea, anemia ou
deslocamento para áreas com concentrações baixas de oxigênio no ar. As células cerebrais
são extremamente sensíveis à privação de oxigênio. Algumas células cerebrais começam a
morrer na verdade, menos de 5 minutos após o seu suprimento de oxigênio desaparecer.
Como resultado, hipóxia cerebral pode rapidamente causar a morte ou graves danos
cerebrais. Como a hipóxia é causada pela redução da pressão do oxigênio é fácil concluir
que o tratamento baseia-se em sua reposição. Na aviação comercial utilizam-se de alguns
meios para combater a hipóxia, como por exemplo: cabines pressurizadas e/ou sistemas
de oxigênio complementar (máscaras de oxigênio). Alguns dos principais sinais e sintomas
de hipóxia consistem: sonolência, dor de cabeça, tontura, distúrbios visuais, mãos e pés
cianóticos, alteração na respiração, sensação de euforia, hilaridade, convulsões, palidez
da pele, incoordenação dos movimentos e espasmos musculares.

A aerodilatação significa expansão gasosa nas cavidades corporais devido à queda da


pressão barométrica que acompanha a ascensão da aeronave. Esta expansão gasosa pode

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UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

ocorrer nos seios da face, na cavidade dentária, no ouvido médio e no sistema digestivo,
acompanhada de sintomas que podem provocar desconfortos ou incapacitar a pessoa
que esteja sofrendo deste agravo. Nos voos comerciais a pressurização da aeronave
é, em geral, suficiente para equalizar as pressões interna e a externa do organismo,
porém, se houver qualquer alteração das vias aéreas superiores (fossas nasais, faringe e
laringe) e esta equalização for ineficiente ou insuficiente, acontece a expansão dos gases
nestas regiões.

A hiperventilação é o aumento da quantidade de ar que ventila os pulmões, seja pelo


aumento da frequência ou da intensidade da respiração, o contrário da hipóxia. A
causa mais comum da hiperventilação é a ansiedade, mas exercícios físicos, febres e
doenças respiratórias também costumam levar a esse estado. A hiperventilação pode
estar associada a ataque de pânico, histeria e outros transtornos de ansiedade, segundo
a classificação CID-10. Também é um quadro muito comum na aviação comercial, mas
poucas vezes detectado. A consequência metabólica da hiperventilação é a hipocapnia,
isto é: a diminuição do teor de dióxido de carbono dissolvido no sangue. Como o dióxido
de carbono é transportado no sangue como ácido carbônico, a hiperventilação eleva o
pH sanguíneo, fenômeno conhecido como alcalose respiratória. Os sinais e sintomas
comuns da hiperventilação são: dores no peito, sensação de flutuação, parestesia em
locais distintos do corpo, taquicardias, palpitações e tremores musculares.

Já a doença da descompressão ocorre quando a despressurização acontece de forma


muito brusca, isto é, promovida por um retorno rápido, com a formação de bolhas de
nitrogênio, que podem atingir órgãos vitais do corpo ocasionando rupturas bruscas.
Quando as bolhas atingem músculos e articulações, causam dores intensas e se
forem formadas no cérebro, podem causar sequelas. Quando se formam no coração,
podem causar uma parada cardíaca, podendo levar a óbito, no caso de um profissional
mergulhador.

Assim, após a apresentação das alterações que o corpo humano pode enfrentar em
altitudes elevadas, concluímos o quanto é importante o estudo da medicina aeroespacial,
a qual vários profissionais capacitados vêm dedicando seu tempo e aprimoramento cada
vez maior, até mesmo para que o homem possa alcançar objetivos cada vez maiores em
relação às expedições espaciais, viajando cada vez mais com rapidez e segurança.

Outras áreas de atuação

Medicina hiperbárica

A medicina hiperbárica é uma das áreas de atuação da medicina aeroespacial, consiste


em uma modalidade terapêutica na qual o paciente é submetido à oxigenoterapia

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MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

(inalação de oxigênio puro) em uma pressão maior que a pressão atmosférica (2 a 3


atm) em uma câmara hermeticamente fechada (câmara hiperbárica). Essas câmaras
são, em essência, cilindros metálicos resistentes à pressão (estanques), dotados de
vigias ou janelas.

A Medicina Hiperbárica é o ramo da medicina responsável pelo estudo e implementação


das normas técnicas e de segurança em ambientes pressurizados, aplicados para
o tratamento das patologias causadas pelas variações de pressão sobre o organismo
humano. É também responsável pelo estudo e estabelecimento de protocolos de
tratamento para todas aquelas patologias para as quais o oxigênio sob pressão tem a
função de potente ferramenta auxiliar de tratamento.

Existem dois tipos de câmara hiperbárica: individuais (monopacientes) e coletivas


(multipacientes). Ambas permitem o uso de ventiladores mecânicos (respiradores),
bombas para infusões venosas, transfusões, e outros procedimentos feitos por
equipamentos especialmente projetados para funcionamento em ambiente hiperbárico.

Algumas câmaras projetadas para tratamento individual são construídas com acrílico
transparente resistente à pressão, o que permite contato visual com o paciente e
minimiza a incidência da ansiedade em portadores de claustrofobia. Para segurança e
conforto do paciente, as câmaras hiperbáricas são dotadas de um sistema de rádio que
mantém a comunicação entre o paciente e equipe fora da câmara.

As câmaras individuais utilizam compressão direta de oxigênio puro, o que permite a


administração deste gás ao paciente através da inalação da atmosfera que o circunda,
sem necessidade do emprego de máscaras e capuzes. O paciente fica deitado durante a
sessão. A grande vantagem da câmara monopaciente é a individualização do tratamento,
ou seja, o paciente recebe o esquema de tratamento ideal para sua doença, sem ser
limitado pelos esquemas de outros pacientes. As sessões da câmara monopaciente
são mais curtas, durando 90 minutos (1hora e 30 minutos). Câmaras monopaciente
são compatíveis com o tratamento de pacientes graves. Permite o uso de ventilação
mecânica e monitorização contínua, incluindo: eletrocardiograma, pressão arterial etc.

As câmaras multipacientes permitem a entrada de duas ou mais pessoas simultaneamente,


permitindo a entrada de acompanhante (técnico, enfermeiro ou médico). Para que os
acompanhantes não sejam afetados pelo tratamento, esse tipo de câmara é pressurizado
com ar comprimido, sendo o oxigênio fornecido para os pacientes através de máscaras
ou capuzes específicos.

Durante a oxigenioterapia hiperbárica conduzido em câmaras multiplace, um técnico


de enfermagem especialmente treinado, enfermeiras hiperbaristas ou mesmo o médico

39
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

hiperbarista (sendo assim chamados de “guias internos”), acompanham os pacientes no


interior da câmara durante a sessão, assistindo-os diretamente na colocação das máscaras
ou capuzes ou administrando medicamentos. Estas câmaras tem a grande vantagem de
permitir a entrada de macas e outros equipamentos úteis no tratamento de pacientes
críticos. As sessões costumam durar 120 minutos (2 horas). Câmaras multiplace permitem
a monitoração de sinais vitais de pacientes graves durante o tratamento.

Há indicação de se utilizar a oxigenioterapia hiperbárica para tratamento de


enfermidades descompressivas (relacionadas ao mergulho); embolia arterial gasosa
(por mergulho, iatrogênica ou idiopática); deiscências e complicações de cirurgias,
pancreatites e isquemias pós-transplantes; traumas com lesões por isquemia-
reperfusão, com infecção secundária ou com abrasões; infecções de partes moles,
como erisipelas, celulites e fasciites necrosantes, feridas refratárias (de difícil
cicatrização); enxertos ou retalhos comprometidos; doenças arteriais obstrutivas
e vasculites, doenças venosas e linfáticas, osteomielites e infecções em próteses,
necrose asséptica de fêmur; queimaduras; lesões actínicas (originadas pela exposição
à radiação ionizante); e infecções odontológicas.

Medicina do mergulho

Para se ter segurança durante a atividade do mergulho deve-se primeiramente


compreender os efeitos do mesmo (pressão) no organismo humano e as enfermidades
e riscos que o mergulho proporciona. É fundamental aprender o que se pode ou não
fazer em determinadas situações, com a finalidade de obter segurança contra acidentes
e doenças decorrentes desta atividade: doença descompressiva, barotrauma, embolias
traumáticas pelo ar e outros tantos problemas relacionados ao mergulho.

A prática de mergulho deve estar relacionada em sempre seguir as normas de segurança


correta tanto para os mergulhadores como para a manutenção dos equipamentos
utilizados e estas preocupações são passadas pelos instrutores aos aspirantes nas
práticas durante a certificação.

É importante saber como funciona e associar-se a Divers Alert Network (DAN). A DAN
é uma organização médica e de pesquisa sem fins lucrativos, dedicada à segurança
e à saúde de mergulhadores recreativos. Foi fundada em 1980, e vem proporcionar
informação especializada e orientação para o benefício do público mergulhador. A
DAN é a organização mais reconhecida e confiada no mundo nas áreas de segurança
do mergulho e nos serviços de emergência, saúde, pesquisa, e educação para seus
membros, instrutores, patrocinadores e para a comunidade de mergulho em geral.

As pessoas que desejam praticar mergulho devem ter no mínimo:

40
MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

»» um exame médico recente e/ou uma renúncia que sua condição não
mudou a cada ano;

»» se menor de 35 anos, repetir o exame médico é de cinco em cinco anos


e com declaração anual (uma renúncia que sua condição não mudou a
cada ano);

»» se mais de 35 anos é necessário repetir o exame médico a cada três anos


e com declaração anual (uma renúncia que sua condição não mudou a
cada ano).

Algumas condições especiais e exames:

»» raio-X tórax como parte do seu primeiro exame médico;

»» ECG como parte do seu primeiro exame médico se clinicamente indicado,


porém necessária aos mergulhadores com idade de 50 anos ou mais,
podendo ser repetido a cada cinco anos;

»» um hemograma completo com plaquetas e grupo sanguíneo com fator Rh


como parte do seu primeiro exame médico;

»» uma glicemia de jejum como parte do seu primeiro exame médico.

»» Teste Ergométrico se houver critérios clínicos:

›› aos 30, um Teste Ergométrico deve avaliar a condição cardíaca;

›› na ausência de problemas, o exame ergométrico pode ser repetido a


cada cinco anos;

›› após os 40 anos, o exame ergométrico pode ser repetido a cada dois


anos.

»» Ecocardiograma se houver critérios clínicos:

›› a partir dos 35, um Ecocardiograma deve avaliar a condição cardíaca;

›› na ausência de problemas, o exame ergométrico pode ser repetido a


cada cinco anos.

Como os mergulhadores respiram ar sob pressão, isto pode resultar em uma sobrecarga
pulmonar (aumento de pressão) e causa de acidentes. Sendo assim, não se recomenda
que pessoas com doenças pulmonares (cistos, bolhas, asma etc.) realizem a prática de
mergulho, já que aumentam os riscos de agravos.

41
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

A asma é uma doença que pode ser induzida por exercício, como também pode ser
provocada por exposição ao frio. Antigamente o paciente asmático era proibido da
realização da prática de mergulho, pois aumentava o risco de afogamento, o que mudou
atualmente com o desenvolvimento da tecnologia. No caso da asma induzida por exercício,
recomenda-se um bom preparo físico. Já no caso da doença induzida pelo frio, é sugerido
que a atividade seja realizada em locais de águas mais “quentes”, para que o iniciante
primeiramente possa se acostumar à temperatura da água antes do mergulho.

Já se o indivíduo apresentar como patologia um pneumotórax, por exemplo, seja ele


primário ou secundário, é totalmente contraindicada a realização de mergulho. A
equalização da pressão ocorre nos seios nasais e no ouvido médio, quando esta manobra
não é realizada, ode causar barotraumas. Nos casos mais graves, leva à dor intensa e a
ruptura do tímpano. Os mergulhadores profissionais devem ter uma mordida normal,
para que possam manusear o regulador (bocal) de forma correta e não fadigante. O ouvido
externo, médio e orelha interna devem estar sempre livres de qualquer tipo de patologia.

Há relatos descritos na literatura que os gases aprisionados no intestino podem causar


súbita ruptura das alças intestinais, porém a chance é muito pequena. Já no estômago, os
gases aprisionados podem causar vômito, que pode evoluir para o afogamento. Hérnias
da parede abdominal devem ser corrigidas antes de mergulhar, visto que obstruções do
intestino delgado, fístulas, divertículos e hérnia hiatal podem causar aprisionamento
dos gases. Não é permitido mergulhar quando se está em tratamento de úlceras. Em
casos de doença crônica inflamatória intestinal (doença de má absorção), ocorre uma
queda de aptidão do mergulhador durante a atividade.

Durante a gestação o mergulho é absolutamente contraindicado, pois não existem tantas


informações relacionadas na literatura sobre a relação entre a gravidez e o mergulho.
Porém, uma questão muito importante é que mulheres gestantes possuem maior risco
de apresentar doença descompressiva, além da incidência de náuseas e vômitos durante
a gravidez ser maior que em situações normais, o que pode evoluir para afogamento.

Além disso, existe uma maior fragilidade emocional em uma mulher gestante, assim o
estresse do mergulho pode desencadear reações de pânico e somatizações.

No caso de doenças cardiovasculares, desqualifica-se para o mergulho todo e qualquer


condição que leva a diminuição da tolerância ao exercício. As principais categorias são
descritas da seguinte forma:

1. Doença arterial coronariana – evidência clínica de doença arterial


coronariana, uma história de angina, infarto do miocárdio ou doença da
artéria coronária pós-cirurgia.

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MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

2. Arritmas – disritmias, condução defeitos, bloqueios de segundo grau ou


terceiro.

3. Doença valvular cardíaca – estenose aórtica ou mitral ou regurgitação


significativa, bem como a presença de válvulas protéticas e/ou uso de
medicamento anticoagulante.

4. Doença cardíaca congénita – defeitos septais, shunt e/ou Coartctation da


aorta são contraindicações absolutas ao mergulho.

5. Hipertensão – aqueles com evidências de hipertensos com lesão de órgãos


alvos devem ser excluídos do mergulho.

6. Drogas – qualquer medicação que prejudica a resposta cardíaca ao


exercício ou stress é absolutamente contra mergulhadores.

7. Outros – insuficiência cardíaca congestiva e cardiomiopatia irá desqualificar


também ao mergulho.

Quanto às anormalidades do sistema nervoso, onde o nível de consciência está sujeito a


alterações que colocam efetivamente o mergulhador em risco de um incidente dentro da
água, um erro de julgamento que pode levar não só o próprio mergulhador bem como sua
dupla a acidentes. Um mergulhador deve possuir capacidade mental e emocional normais
para que o mergulho possa ser considerado seguro. Porém, as condições neurológicas que
afetam um mergulhador da capacidade para realizar exercícios, devem ser consideradas
e avaliadas individualmente por um médico. São contraindicações absolutas:

»» história de convulsões;

»» recente ferimento grave na cabeça;

»» lesão da medula espinhal;

»» história do TAA ou AVC;

»» história do SNC descompressão doença;

»» severa deficiência visual;

»» recente cirurgia ocular;

»» enxaqueca severa ou enxaqueca durante ou após um mergulho;

»» ativa psicose ou neurose;

»» dependência de drogas ou alcoolismo;

»» uso de medicação psicotrópica.


43
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

<http://www.hiperbarica.com.br/?system=news&eid=150>

<http://www.diversalertnetwork.org/p/about/index.asp>

Medicina do viajante

Uma viagem é algo que deve sempre ser planejado cuidadosamente, independente
do seu motivo. Complicações de saúde neste período podem levar a sérios prejuízos
pessoais, profissionais e econômicos. A medicina do viajante (ou Serviço de Orientação
ao Viajante) se preocupa com a prevenção, tratamento e diagnóstico preciso e ágil das
doenças infecciosas adquiridas em outras regiões geográficas, entre outros agravos. É a
área de atuação que consiste em orientar quem se desloca para diversas áreas geográficas
com finalidades distintas: turismo, intercâmbio cultural, negócios, ecoturismo, trabalho
voluntário, pesquisas ou passeio em áreas remotas e exóticas, entre outras.

Incluem-se nas diversas orientações para os viajantes medidas preventivas específicas,


como a vacinação contra agentes infecciosos específicos do local do destino e medidas
inespecíficas, tais como o uso de repelente, protetor solar, consumo de água e alimentos,
cuidados no caso de acidentes com animais e picada de insetos, orientações em áreas
geográficas de grandes altitudes e outras medidas pessoais de proteção, como cuidados
e exercícios a serem realizados em percursos prolongados, importantes para tornar a
viagem segura e agradável.

As vacinas a serem utilizadas são indicadas de acordo com os locais a serem visitados,
o tipo de viagem, de hospedagem e das atividades a serem desenvolvidas. A utilização
das vacinas indicadas deve ocorrer no mínimo duas semanas antes da data programada
para a viagem (tempo necessário para que o nível de anticorpos esteja adequado
para a proteção, quando da chegada ao local de destino). Alguns viajantes, como
grávidas, idosos, crianças pequenas ou portadores de doenças imunossupressoras
têm condições de saúde que oferecem risco em situações potencialmente seguras para
outras pessoas. Cada caso precisa ser avaliado de acordo com o viajante, seu destino
e meio de locomoção, para prevenir surpresas desagradáveis que comprometam a
viagem. Além disso, ao voltar de uma viagem, algumas vezes aparecem alguns sintomas
que podem expressar sinais de doenças que não tiveram tempo de se manifestar
durante o período da viagem e devem ser diagnosticadas e tratadas adequadamente o
quanto antes.

O objetivo desta área de atuação é a prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças


relacionadas à viagem com propostas de medidas preventivas muitas vezes simples,
avaliação médica individualizada em situações de maior risco, bem como orientações

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MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

para sinais de alerta nas situações de mal-estar ou doença que surjam durante o período
de viagem ou após o retorno.

As principais doenças relacionadas ao viajante são: cólera, dengue, malária, doença


meningocócica, encefalite japonesa, esquistossomose, febre amarela, hepatite A,
hepatite B, hepatite C, HIV/AIDS, leishmaniose cutâneo-mucosa, leishmaniose visceral,
peste bubônica, poliomielite, raiva e tuberculose.

Transporte aeromédico

O transporte aeromédico consiste no translado ou na remoção de pacientes em estado


grave, por meio do transporte aéreo, helicópteros ou aeronaves, de um ponto para
outro B. Também é um transporte utilizado em situações que o paciente precise de uma
transferência entre unidades hospitalares, e que seja mais adequado por via aérea de
acordo com o estado clínico do doente. Este tipo de transporte pode ser considerado
bastante seguro e por ser muito rápido, proporciona uma assistência imediata aos
pacientes, sendo primordial em situações de resgate, já que pode salvar muitas vidas.

O resgate aeromédico, não consiste simplesmente em retirar a vítima do local do


acidente, é uma atividade mais complexa. Esta ação visa à busca, localização e resgate
de pessoas em situação onde são vitimas de agravo a saúde ou em risco de sofrer agravos
(inundações, incêndios, quedas de aeronaves, naufrágios etc.), em locais remotos ou de
difícil acesso, onde as ambulâncias convencionais não conseguem agir.

Os profissionais que atuam no resgate aeromédico também estão capacitados a trabalhar


no transporte aeromédico, porém o contrário nem sempre ocorre, visto que para atuar
no transporte aeromédico há a exigência apenas de conhecimentos mais técnicos
como o controle dos pacientes durante o voo e procedimentos de segurança básicos da
aeronave. Já para atuação no resgate aeromédico, os profissionais precisam estar mais
capacitados, com treinamentos mais complexos e mais abrangentes, já que envolve
conhecimento técnico em resgate vertical, salvamento aquático, em locais confinados,
combate a incêndios, sobrevivência na água, sobrevivência na mata e preparação e
condicionamento físico.

No Brasil, são realizados em torno de cinco a sete mil transportes aeromédicos em


média. Já nos Estados Unidos, cerca de 16 mil. Em Portugal, até ao ano de 2007, cerca
de 4562 mil transportes aeromédicos (INEM, 2007).

O transporte aeromédico compreende duas modalidades básicas: o resgate e a remoção.


O resgate, também chamado como transporte primário, é definido como o transporte
dos pacientes desde o local da ocorrência até à unidade de saúde mais próxima. Esse

45
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

transporte é feito através de equipamentos e de equipe especializada. Ocorre nas


seguintes situações:

»» locais de difícil acesso a ambulâncias;

»» colisões frontais fora da localidade;

»» encarceramentos em veículos;

»» acidentes de viação a velocidades superiores a 30 km/h;

»» quedas superiores a 6 (seis) metros ou ao terceiro andar de prédios;

»» morte de algum ocupante;

»» explosões;

»» afogamentos ou acidentes de mergulho;

»» exposições a produtos tóxicos;

»» inalações ou queimaduras graves;

»» lesões penetrantes na cabeça, pescoço ou tronco;

»» fraturas na coluna vertebral, do fémur ou da pélvis (bacia);

»» comatoso;

»» pressão arterial sistólica inferior a 95 mm Hg ou pulsação superior a 120


batimentos por minuto;

»» perdas de sangue superiores a 1(um) litro;

»» dificuldades respiratórias.

Quando a equipe chega ao local do acidente, o atendimento do doente ocorre no local


até a sua estabilização. Segue-se então com o preparo e transporte da vítima para uma
unidade de saúde ou hospital próximo, previamente contatada pelo médico e sua equipe
a bordo para estar devidamente preparada à continuidade dos procedimentos médicos.

Já a remoção, que pode ser denominada de transporte secundário, é o transporte


realizado entre unidades de saúde, quando o local onde se encontra o paciente não tem
recursos suficientes para dar prosseguimento ao tratamento, e desde que o paciente
apresente condições para ser deslocado entre unidades. A remoção é um procedimento
de responsabilidade do médico que acompanha o caso e o paciente, envolvendo diversos
aspectos, nomeadamente, éticos, logísticos, financeiros, técnicos, operacionais e legais.
Para que o doente seja transportado este deve autorizar a sua remoção, caso esteja

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MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

consciente, ou seu representante legal (familiares), estando todos cientes dos riscos
e benefícios deste transporte. Lembrando que para que o paciente seja removido, seu
prognóstico em hipótese alguma deve ser comprometido.

UTI aérea

Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) ou Unidade de Cuidados Intensivos (UCI)


consiste em uma estrutura em unidade hospitalar que se caracteriza como um centro
complexo, dotado de sistema de monitorização contínua para receber pacientes
graves que tenham a possibilidade de se recuperar. O profissional que se dedica a esta
modalidade de atendimento chama-se intensivista.

O conceito de UTI iniciou-se a partir da necessidade de suporte avançado a pacientes


com enfermidades agudas que possuíssem prognóstico de sobrevivência. É um local de
alta complexidade, destinado a internação de pacientes com instabilidade clínica e em
estado grave, com monitorização completa e vigilância 24 horas dos internos.

Os quadros clínicos que levam os pacientes à UTI são bastante variados, mas as
situações que podem desencadear os mecanismos de óbito são poucos e comuns a todas
as enfermidades. O médico intensivista é capaz de atuar nos mecanismos de morte
mudando o prognóstico do paciente, tirando-o de um estado crítico a uma condição que
possibilite a continuidade do tratamento.

A UTI aérea significa uma Unidade de asa fixa (avião) ou rotativa (helicóptero) equipada
com monitor cardíaco, ventilador mecânico, desfibrilador e bomba de infusão. Tem
objetivo de transportar pacientes graves ou potencialmente graves, com equipe
especializada de intensivistas, de onde vai direcionar este paciente, do local do acidente
posteriormente a uma UTI fixa em uma unidade hospitalar (transporte primário) ou
entre unidades hospitalares (transporte secundário).

Medicina espacial

O início da medicina espacial ocorreu como parte da Operação Paperclip (também


chamada de operação Overcast – código de operação realizada pelo serviço de
inteligência militar dos EUA para levar da Alemanha aos EUA, cientistas especializados
em operações com foguetes) em que o médico ex-nazista Hubertus Strughold (1898-
1987), foi levado para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial.

Este médico deu origem ao termo medicina espacial em 1948 e foi o primeiro professor
de medicina espacial da Faculdade de Medicina de Aviação (FMA) na Base da Força
Aérea de Randolph, Texas. Hubertus, no ano de 1949 tornou-se diretor do Departamento

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UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

de Medicina Espacial no EMA (Escola da Força Aérea norte-americana de Medicina


Aeroespacial). Ele desenvolveu o traje pressurizado usado pelos astronautas americanos,
tendo um papel muito importante no desenvolvimento da área espacial. Em 1958 a
NASA foi fundada e em 1960, por meio do Sputnik V, foram enviadas ao espaço as
cachorras Belka e Strelka, os primeiros seres biológicos que regressaram a Terra depois
de 18 voltas em torno dela. Já o primeiro voo no entorno da Terra feito por um ser
humano, Gagarin, ocorreu em 1961.

A medicina espacial é a especialidade médica que atua na saúde dos astronautas no


espaço exterior, para assegurar que estes profissionais trabalhem num ambiente
seguro. Esta área da medicina é bastante desafiadora e promissora, pois visa descobrir
por quanto tempo as pessoas podem sobreviver às condições extremas do espaço e com
saúde adequada, e além disso, o quão rapidamente estes profissionais podem se adaptar
às condições do nosso planeta após retornar das suas missões. Algumas patologias
como consequências de voos tripulados têm sido diagnosticadas, tais como a cegueira e
a osteoporose, porém é uma área que necessita ainda de muitas pesquisas.

Às vezes me pergunto como pôde ter acontecido de eu ter sido o único a


desenvolver a Teoria da Relatividade. A razão, creio eu, é que um adulto normal
nunca para para pensar sobre problemas de espaço e tempo.

Albert Einstein

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CAPÍTULO 8
Medicina de tráfego securitária

Definição
A medicina securitária está inserida dentro da especialidade de medicina legal social,
a qual engloba também a medicina legal trabalhista e a medicina legal preventiva. A
medicina securitária ainda não é considerada uma especialidade médica, somente
recentemente surgiu no Brasil um movimento para transformá-la oficialmente em uma
especialidade, por isso, diferente de outros países desenvolvidos, ainda é uma atividade
de caráter embrionário em nosso país. Sua função é buscar a verdade e a justiça, um
princípio relacionado à atividade pericial.

A atuação do chamado médico de seguro está alicerçada fundamentalmente sobre


a análise de documentos médicos apresentados pelo segurado e/ou beneficiário. De
modo a facilitar tal análise, as companhias seguradoras desenvolveram formulários
próprios e específicos para cada tipo de cobertura securitária, sendo estes formulários,
até então preenchidos pelos médicos assistentes, o principal objeto de análise do
médico de seguro.

O conhecimento profundo em uma determinada matéria, como ocorre com um


especialista em alguma área médica, não o qualifica para responder questões periciais e,
mais especificadamente, às questões da medicina de seguros, pois outros conhecimentos
que não somente a questão médica terapêutica se impõe. A despeito de seu conhecimento
sobre a prática do consultório ou cirúrgica, é provável que desconheça por completo as
questões relativas sobre o que é IPD, IPA, seus critérios, o que é SUSEP, qual a última
circular a determinar os critérios pertinentes à conclusão de um laudo etc.

Quando ocorre uma indenização indevida, tanto a Seguradora é lesada, como também
todos os componentes do fundo integrado que compõem o seguro, pois, como se sabe,
todos os segurados respondem pelo sinistro.

Assim, no caso da atuação do médico de seguros, não adianta conhecer absolutamente


tudo sobre uma determinada patologia e sua evolução clínica, pois a questão a ser
trabalhada vai estar relacionada, por exemplo, em que estágio desta doença o segurado
é considerado inválido. São muitas as questões e conhecimentos específicos exigidos na
elaboração de um laudo médico pericial e o profissional que não é capacitado nesta área
da medicina não saberá como proceder.

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UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

Desta forma, e devido à escassez de profissionais nesta área de formação, muitos dados
irreais são recebidos na forma de atestados ou declarações médicas, por doença ou
acidente pelas seguradoras, por médicos especialistas clínicos. Porcentagens absurdas
são atribuídas, sem critério algum, às lesões.

Pode-se alegar, portanto, a seguinte hipótese: de que adianta o médico ser especialista
na área de seguros e não entender de determinada especialidade? Qualquer médico, em
sua formação acadêmica, aprende a técnica de realização de coleta de dados, histórico
e anamnese do paciente, e exame físico. Ele estuda a base de todas as especialidades
médicas adquirindo conhecimento necessário para a realização da perícia e examinar o
periciado a fim de coletar dados relativos aos sinais e sintomas apresentados e realizar
sua correta correlação com os dados fornecidos pelo médico assistente e subsidiar um
posicionamento frente a todos os dados coletados e interpretá-los à luz dos conceitos
periciais securitários.

Desta forma, o médico perito direciona seu trabalho em como as doenças evoluem,
avaliando seu prognóstico, e os recursos terapêuticos existentes para o seu tratamento,
diferindo do trabalho do especialista assistente, que foca no diagnóstico e tratamento
da patologia O perito faz a interface entre a patologia e as questões administrativas
pertinentes.

Qualquer profissional médico, após aprovação em concurso público, recebe treinamento


específico na área pericial e fica habilitado como perito médico-legista a atuar em
qualquer perícia na área médico-legal. Há legistas com diversos tipos de especializações,
sem que haja a correlação entre a patologia apresentada pelo periciado e a especialidade
do médico.

Apostila Concursos Judiciários: Introdução à medicina legal. Disponível em:


<http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1
7&ved=0CFgQFjAGOAo&url=http%3A%2F%2Fportal.mec.gov.br%2Findex.
php%3Foption%3Dcom_docmar>

Medicina de tráfego aquaviária

Definição

A medicina do tráfego aquaviária é a área que estuda as causas e consequências de


acidentes que podem ocorrer pelo meio de transporte hidroviário, a fim de contribuir
na prevenção e tratamento das vítimas.

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MEDICINA DE TRÁFEGO │ UNIDADE ÚNICA

O transporte aquático, aquaviário ou hidroviário consiste no transporte de mercadorias


ou de passageiros por meio de barcos, navios ou balsas, através de corpos de água,
podendo ser oceanos, mares, lagos, rios ou canais. Este meio de transporte engloba
tanto o transporte marítimo em mares abertos, como o transporte fluvial em lagos ou
rios. Como o transporte marítimo representa a grande maioria do transporte aquático,
muitas vezes é usada esta denominação como sinônimo.

A título de curiosidade, o marinheiro é um profissional que opera embarcações ou


assiste à sua operação, manutenção ou serviço. O termo aplica-se aos profissionais das
marinhas de comércio e pesca, aos militares das marinhas de guerra e aos profissionais
e amadores certificados da náutica de recreio. Além desta definição, nas marinhas de
guerra, o termo “marinheiro” designa, em sentido restrito, uma ou mais graduações
dentro da categoria dos praças. Igualmente, na marinha mercante, o termo “marinheiro”
refere-se a uma ou mais categorias profissionais do pessoal do convés, dentro escalão
da marinhagem. Em Portugal, todos os profissionais da marinha mercante, de todos
os escalões, categorias e carreiras são designados, genericamente, por “marítimos”. No
Brasil, todos os profissionais da marinha mercante são globalmente designados como
“aquaviários”, os quais se dividem em vários grupos, entre os quais o dos “marítimos”,
o dos “fluviários” e o dos “pescadores”.

Neste campo de atuação, o profissional médico pode atuar na saúde de profissionais


embarcados, tanto na área civil em empresas particulares, tais como a Petrobrás até na
área militar, naval operativa, por exemplo. Também pode atuar na área de segurança
e saúde do trabalhador em portos. Atuando na área militar, em muitas situações a
medicina aquaviária será designada medicina naval, embora o termo que classifica
medicina naval seja muito mais amplo, visto englobar outras áreas além do cuidado
com os profissionais operacionais embarcados. A NR 30 é uma instrução normativa
que objetiva regulamentar e proteger, por exemplo, as condições de segurança e saúde
dos trabalhadores aquaviários.

<http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr30.htm>

<http://www.transportes.gov.br/conteudo/764>

“Mais vale cairmos nas mãos de um médico feliz do que um médico sabedor.”

(BONAVENTURE Des PÉRIERS)

“O melhor médico é aquele que recebe os que foram desenganados por todos
os outros.”

(ARISTÓTELES)

51
UNIDADE ÚNICA │ MEDICINA DE TRÁFEGO

“No caso de a competência ser igual, é mais útil que o médico seja um amigo do
que um estranho.”
(CELSO)

“Nem sempre depende do médico que o doente se restabeleça: algumas vezes


o mal é mais forte que a ciência.”
(OVÍDIO)

“Não é o diploma médico, mas a qualidade humana, o decisivo.”

(CARL GUSTAV JUNG)

“O que diz respeito aos médicos, só os médicos tratam; de ferragens cuidam os


ferreiros.”
(HORÁCIO)

“Muitos médicos já são de opinião que existe algo além de bisturis e pílulas para
curar seus pacientes.”
(BERNIE SIEGEL)

“Os médicos acusam a natureza, os enfermos aos médicos.”

(MARQUÊS DE MARICÁ)

52
Para (não) Finalizar

Sugiro maiores pesquisas e aprofundamento sobre o assunto. A medicina do tráfego,


como pode ser observada nos capítulos, é uma especialidade com uma grande
variedade e campos distintos de atuação, portanto bastante promissora e em constante
crescimento.

Maiores informações podem ser verificadas em diversos sites e órgãos de apoio


como ABRAMET <http://www.abramet.com.br/>, <http://urbana-pe.com.br/o-
que-e-medicina-de-trafego>, CFM <http://portal.cfm.org.br/> etc.

53
Referências
ADURA, F.E. Medicina de tráfego: o exame de aptidão física e mental para condutores
e candidatos a condutores de veículos automotores. 1. ed. São Paulo: ABRAMET, 2011.

ADURA, F. et al. Medicina de tráfego. Revista de Medicina. pp. 14-15, v. 91 (1). São
Paulo. 2012.

ALCOOLEMIA E DIREÇÃO VEICULAR SEGURA. Projeto diretrizes. Associação


Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. 2008.

ALVES JÚNIOR, D.R. Manual de saúde do motorista profissional. São Paulo:


ABRAMET; 2009.

AMERICAN HEART ASSOCIATION. 2010 International Consensus on


Cardiopulmonar. Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science
with Treatment Recommendations. Circulation. 2010; 122 (16, suppl 2) pp.
S250-S275. Available from: <http://circ.ahajournals.org/content/vol122/16 suppl_2>
Filho CG. Fisiologia aeronáutica e da altitude. Duque de Caxias: UNIGRANRIO; 2004.

APOSTILA PARA CONCURSOS PÚBLICOS. Introdução à medicina legal.


Disponível em: <www.concursosjuridicos.com.br>. 2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA DE TRÁFEGO [Internet]. Diretrizes da


Medicina de Tráfego. São Paulo [citado em 2011 Jan. 10]. Disponível em: <www.
abramet.org.br/Site/Pagina.aspx?ID=373&MenuID=50&lang=pt_BR>.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA DE TRÁFEGO [Internet]. Revista


ABRAMET On-line. São Paulo [citado em 2011 Jan. 10]. Disponível em: <http://
www.abramet.org.br/Site/Pagina.aspx?ID=698&MenuID=56&lang=pt_BR>.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS [Internet]. Normas Técnicas.


São Paulo, c2006 [citado em 2011 Jan. 10]. Disponível em: <www.abnt.org.br>.

ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA [Internet]. Diretrizes da Medicina de


Tráfego. São Paulo, c2008 [citado em 2011 Jan 10]. Disponível em: <http://www.
projetodiretrizes.org.br/>

ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA, CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA


[Internet]. Livros Projeto Diretrizes. v. III, IV e VIII. [citado em 2011 Jan. 10].
Disponível em: <http://www.projetodiretrizes.org.br/livro.php>.

54
REFERÊNCIAS

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Conselho Federal de Medicina. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São
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MELO JORGE, M.H.P.; KOIZUMI, M.S. Acidentes de trânsito no Brasil: um atlas


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MOREIRA, F.D.L. Medicina do transporte. Rio de Janeiro: Arquimedes; 2010.

VIANA, Rubens Moreira. Perícia física de acidente de trânsito. Monografia para


conclusão de curso de graduação em licenciatura plena em física. Departamento de
Física da Universidade Federal de Rondônia. Ji-Paraná, Rondônia. 2009.

SEGURANÇA NO TRANSPORTE VEICULAR DE CRIANÇAS PARTE I. Projeto


diretrizes. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. 2006.

SEGURANÇA NO TRANSPORTE VEICULAR DE CRIANÇAS PARTE II. Projeto


diretrizes. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. 2006.

55
REFERÊNCIAS

USO DE CINTO DE SEGURANÇA DURANTE A GRAVIDEZ. Projeto diretrizes.


Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. 2003.

Sites
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<http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr30.htm>

<http://www.cives.ufrj.b>

<http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Medicina+Naval&lang=3>

<http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Medicina-Na-Avia%C3%A7%C3%A3o-
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aquavi%C3%A1ria/0>

<http://www.infoaviacao.com>

<http://www.web.ccead.puc-rio.br>

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<http://www.projetodiretrizes.org.br/novas_diretrizes_sociedades.php>

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<http://www.diversalertnetwork.org/p/about/index.asp>

<http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1
7&ved=0CFgQFjAGOAo&url=http%3A%2F%2Fportal.mec.gov.br%2Findex.
php%3Foption%3Dcom_docmar>

56
REFERÊNCIAS

<http://www.transportes.gov.br/conteudo/764>

<http://www.abramet.org.br/Site/Pagina.aspx?ID=373&MenuID=50&lang=pt_BR>

<http://circ.ahajournals.org/content/vol122/16>

<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuWQAD/atendimento-inicial?part=2>

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