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Portanto, das dezoito características da evangelização que Bosch elabora,

dezesseis destas ajudam a ilustrar a necessidade de ampliar nossa noção da


evangelização.

1. Dimensão essencial: “a evangelização pode ser vista como uma ‘dimensão


essencial de toda a atividade da igreja’” (1992, p. 493). Efetivamente esta
perspectiva exige a rejeição do conceito de evangelismo no Pacto de
Lausanne, como um de dois segmentos da missão, o outro sendo a ação
social. Este ponto de vista do próprio Bosch apoia a tese que apresentei acima, Commented [CL1]: Professor, você poderia explicar melhor
este ponto?
sobre como a sua distinção entre evangelização e missão é forçada.

2. Testemunho: “a evangelização envolve o testemunho daquilo que Deus tem


feito, está fazendo, e fará”. Encontramos nesta afirmação a influência da
teologia reformada na missiologia de Bosch. “A evangelização [...] não é uma
chamada para realizar algo, como se o reino de Deus se inaugurasse pela
nossa resposta ou se frustrasse pela ausência de tal resposta” (1992, p. 493).
Aliás, nem se deve entender a evangelização ou missões como o alvo último
da igreja. Um dia a missão da igreja se acabará, mas não a adoração a Deus e
o louvor da Sua glória. Missões ou evangelismo são teologicamente
penúltimos, mesmo que sejam cruciais a um fim maior.

3. Resposta: “mesmo assim, a evangelização tem por fim uma resposta” (1992,
p. 494). O apelo para o arrependimento e a conversão permanece básico à
evangelização.

4. Convite: a evangelização sempre é convite a ser comunicado com alegria,


nunca com coerção ou ameaças.

5. Testemunha, e não juiz: precisamos nos lembrar de que “aquele que


evangeliza é uma testemunha, não juiz” (1992, p. 494). Jamais somos capazes
de avaliar perfeitamente quem aceita e quem rejeita o nosso testemunho, muito
menos julgar quem, ao rejeitar nosso testemunho, está rejeitando Cristo.

6. Um ministério indispensável: ainda que “a evangelização permanece um


ministério indispensável” (1992, p. 494), devemos ser modestos a respeito do
caráter e eficácia do nosso testemunho. Não é um ministério periférico, nem
tampouco opcional.

7. Comunidade: “a evangelização somente é possível quando a comunidade


que evangeliza — a igreja — é uma manifestação radiante da fé cristã e exibe
um estilo de vida atraente” (1992, p. 495). Ser e fazer na evangelização são
inseparáveis. O testemunho de vida da igreja possui significância evangelística,
positiva ou negativa. Tal “personalidade” evangelística, e não somente
“atividade” evangelística, está ligada firmemente a uma das “marcas”
essenciais da igreja: a sua apostolicidade.

8. Responsabilidade: o dom da salvação não é apenas privilégio. Antes, é


responsabilidade. Para Bosch:
“A evangelização oferece às pessoas a salvação como um dom presente
e junto com isso, a segurança de bênção eterna [...]. Entretanto, o gozo
pessoal da salvação nunca foi um tema bíblico central [...]. É
praticamente incidental. Somos chamados para sermos cristãos não
simplesmente para receber a vida, mas para dá-la” (1992, p. 495)

9. A evangelização não é proselitismo: a tentação da construção de impérios


denominacionais tem que ser evitada na evangelização. A evangelização visa
ganho para o reino de Deus através da adesão ao povo de Deus, mas não o
engrandecimento de qualquer estrutura denominacional ou local.

10. A evangelização não é sinônimo da extensão da igreja. Durante alguns


anos, eu estudei princípios e estratégias para o crescimento da igreja e apreciei
o seu valor diagnóstico e pragmático para a avaliação do desempenho do
ministério de igrejas específicas. Ao mesmo tempo, concordo com Bosch que
“o enfoque da evangelização deveria estar não na igreja, mas na introdução do
reinado de Deus” (1992, p. 496).

11. Crescimento: “distinguir entre a evangelização e o recrutamento de


membros não significa, porém, sugerir que ambos estejam desconectados”
(1992, p. 497). O crescimento numérico é importante, mas mais importante
ainda é o crescimento encarnacional.

12. Dimensão pessoal: “na evangelização, ‘somente pessoas podem ser


desafiadas, e somente pessoas podem responder’” (1992, p. 497). Aqui, Bosch
defende a dimensão pessoal da evangelização, mas uma distinção entre
“pessoal” e “individual” teria sido útil. Enquanto a evangelização desafia
pessoas e entidades pessoais, tais pessoas são tratadas não apenas
individualmente, mas corporativamente também, de acordo com suas diversas
associações sociais e culturais. Creio que isto seja a perspectiva de Jesus e
também dos profetas.

13. Contextualidade: “a evangelização autêntica sempre é contextual” (1992, p.


498). E por “contextual,” Bosch se refere às estruturas macro-éticas de uma
dada sociedade humana. Neste sentido, ele nos traz interrogações
inquietantes:
[...] qual é o critério que decide que o racismo e a injustiça social são
questões sociais enquanto a pornografia e o aborto são (questões)
pessoais? Por que se evita a política, declarando-a fora da competência
do evangelista, a não ser quando favorece a posição dos privilegiados
na sociedade? Por que pregadores, que parecem se interessar somente
pelo destino ultra-mundano dos seus ouvintes, podem ser inteiramente
mundanos no seu etos e seus métodos? (1992, p. 499).

14. Justiça: como consequência do ponto anterior, “a evangelização não pode


ser divorciada da pregação e da prática da justiça [...]. Evangelismo é uma
chamada ao serviço” (1992, p. 499-500).

15. “A evangelização não é um mecanismo para apressar o retorno de Cristo”


(1992, p. 500). Embora a preocupação de Bosch esteja com movimentos que
conjuguem estratégias de evangelismo global com expectativas escatológicas,
como o movimento no final do século XIX liderado por A. T. Pierson, A. B.
Simpson e H. G. Guinness, e centenas de outros movimentos semelhantes ao
longo da história, sua observação é melhor entendida como um corolário
necessário da sua segunda observação acima, de que a evangelização é uma
atividade divina antes de ser uma atividade humana.

16 Vivência: “A evangelização não é somente proclamação verbal”, embora


possua uma dimensão verbal inescapável. Não existe uma única maneira de
testemunhar das boas novas sobre Cristo, por isso nunca se pode divorciar a
palavra da vivência.

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