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COUSAS POLITICAS
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RIO DE JA EIRO
TYPOGRAPHIA DA GAZETA DE NOTICIAS
72 RUA SETE DE SETEMBRO 72 A,
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BIBLlonCA DO SfNA~~ F[ofRAl
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COUSAS POLITICAS
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19 de Março
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do ministcl'io P;\.rf\Il:I,!!lI(\,-rntcl'rr~l1o,-Espcl'n·"c
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Hasta esta sabia previsão para que cada j U1Z faça o que
lhe aprouver. O governo nada tem que ver com isso. Quando
so pel~gunta ao Sr. presidente do conselho se a lel de 1831,
que prohibiu o trafico de africanos, ainda é lei do imperio,
Sganarello responde:-P6do ser que slm, póde ser que não.
E esta phrase-foi bom que üvessemos 'tido um minis-
tro homem de 1ettras para proferíl-a - tem em S1 a mora-
lida Le de toda a nossa politica. O Sr. Lafayette deu curso
á phrase; mas nâo se póde g'abar de ter inventado o
systema.
Nós já tinhamos d'isso por cá ha muito tempo; nom
valia a pena quebrar o compromisso que tomou, assignando
o manifesto republicano, nem valia a pena ser primeiro
ministro, tendo como ntrada de jogo a expectativa anti-
pathica de um povo que não se enthusiasma pelos revira·-
mentos subitos de opinião, para chegar a este resultado.
Mudar para progredir, muito bem; mudar para dei-
xar tuQ.o na mesma, não é caso para applausos.
E é esta a posição em que parece querer collocar-se o
Sr. Lafayette. Nem se l'egosijeo poder judiciarlo com este
respeito que o presldente do conselho apregoa pela sua
independencia; amanhã, ou hoje mesmo, se um juiz tocar
em cousa que ntenda com a guarda nacional, ou com qual-
quer outra roda do grando machinismo por onel se sobe
para S. Christovão, não ha constituição que lhe valha; ou
antes hav rá na consütuição algum artigo qu não .este, que
agora s invoca, e a cavallo n'esse artigo o Sr. Lafayette
entrará pelo poder judiciario como em paiz conquistado.
Vê-se que n;Lo é a lei que o guia, porque o caminho
que ella aponta é manif()stamente outro; o que o guia, o
que tem guiado os seus antecessores, é a convenção taclta
que fizeram todos os nossos poliücos com a conveniencia,
não a conveniencia que póde aproveitar ao paiz, mas a que
aproveita aos homens e ao parüdo no poder. ,
O que os assusta, não é a ruina do paiz, nem o seu
descredito, nem o descalabro ele suas finanças, nem os
grandes problemas que reclamam solução .prompta; o que
os assusta, o que os aterra, é o adversario, que está á s-
preita, que discute, o1;Jserva. e·censura, porque suspira pela
sua vez, porque tem a sua divisa:-Tira-te d'abi que éu
quero ritrar.
Seria um estudo curioso, se a physiologia já estivesse
ba tante adiantada, o examina~' a organisél-ção cerebral
d'estes homns, que a politica arrasta na sua correnteza.
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Pessoalmente são honestos; o acto mais simples, que
tenha apenas a apparencia de indelicadeza, repugna-lhes;
são bons pais de familia, são escrupulOsos em suas re-
lacões sociaes; mas em se tratando de conveniencias
põliticas, as mesmas cellula cerebraes que segregavam o
bem, dissoram a sanie do ma].
N'uma questão como esta dos escravos, só vêm o que
elles chamam o direito de propriedade; e são leg'istas, e
não vêm que não ba direito possivel que assente sobre
um abuso; que não póde ser legal o que partiu da ille-
galidade; que, se o primeiro attentado era punivel, a
continuação d'elle é uma revolta contra todos os principios .
da justiça.
E' evidentemente uma questão infeliz, esta do elemento
servil; a lei de 1831 está ofticialmente condemnada; a lei
de 28 de setembro, que alguma cousa podia fazer, apezar
dos seus def itos, é a cada momento illudida e trucidada, e
está servindo alu escandalosamente para satisfaz r a ga-
nancia de alguns senhores.
O Sr. senador Christiano ottoni demonstrou-o ha dias
com a irrefutavel eloquencia dos algarismos. Ao passo que
no mercado o preço do escravo baixa, porque a propaganda
abolicionista e a iniciativa individual têm estragado a fa-
zenda, os Shylocks acolhem-se á nova feira-o fundo de
emancipação-e abi fazem o melhor do seu negocio. Arran-
ja-se casamentos para incluir escravos imprestaveis nas
classes favorecidas pela lei; faz-se passar o velho, o aleijado,
o cego, o paraljrtico, e quando o senhor tem recebido o di-
nheiro d'essa traficancia, dá a carta de liberdade ao escravo,
para que vá morrer aonde e como puder.
Em Campinas, paga- se pelo fundo de emancipação
escravos a dous contos de reis e mais! Vão dizer isto ao
Sr. Lafayette, e S. Ex. encontrará na constituição algu m
artigo que demonstre que os senhores d'esses escravos são
ainda muito generosos, vendendo-os ao estado por um preço
que mais ninguem lhes daria.
Vão perguntar ao Sr. Lafayette o que faz dos artigos
da constituição que garantem soccorros publicos e a ins-
trucção primaria e gratuita a todos os cidadãos; o que faz
.d'elles em relação aos ingenuos, que a lei de 28 de setembro
constituiu cidadãos, e que continuam a ser escravos, e que
continuam a ser vendidos em hasta publica. por esse mesmo
poder judiciario, essa arca santa em que o Sr. Lafayette não
quer tocar, porque por ora não lhe conveio fazeI-o. S. Ex.
- no -
Qchal'ú t;:un bem lia ·otl..:titJ I i;i:i UIl1 m'tigo applic<.lYd <.lU
ca o. E' tcrriY 1 te l'abub ue '. Chl'isto'i"ilo. e ~. :'Ir. o
ImperQclor sal) bem Q quem ntn'g;a ê.l dir (').0 da sua
clúcana.
Ma taml)um Iodem 'stW' certos ambos. tanto o de-
mandi ta como o 'eu procul'aaol', que o seu nome.' ÜCêW I
no autos.
Afamado mOnal'clla sal)io 'illustrQuo ~ UIU cêl:,;tello elll
Hospanha e não r sistirá QO tompo; na proximQ viagem [~
Europa, em yez dos écos da lei de . 8 do sC'tembro. (lue d~
outra vez cheo-aram lá como indicio de umQ gl'Q11l1e Qcçilo
generosa, chegará ag-ora esta triste ,-erdado, que não só nada
se fez no presente para melhor'tl' a sorte dos escra,-o . mas
que se calca diariamente aos pés, com plena sciencia 1
ua Mage tad o Imperador, a lei de ]831. ompromisso
olemne que tomámos perante o mundo ci,ilisado.
Não falt:1rú quem diga na Europa. que o monarcha
que visita Victor Huo-o e manda telegrammas á A adeltlia do
Sciencias, é um ~enhor de escravos. e que seus feitores COII-
tinuam a ter por norma o direito da for. a. Esta idéa scrú
avigorada, quando sesouberquo este paiz nada faz ho,jopara
chamar a i o colono europ u, quando tanto precisa de tra-
balhadores mas este'Í. fazendo tudo para obter o chim,
porque alimenta a grata esperançr de fazer do filho do Co-
lesto Imperio o continuador do africano.
Brutalisar o trabalhador para aproyeitar o trabalho é
urna regra que pela insensatez deve caminhar de par com
outra que tem sido adoptadQ o que consi te em corromper
para governar.
Quanto ao Sr. Lafayette, talvez S. Ex. tenha razão em
se não preoccupar com o juizo da historia quo h:l. de s r
bem ditfrrcnt do dos corOIl is da guarda nacional. Con-
tinuando no caminho que "ai seguindo. S. Ex. não figurará
em logar á parte, e, portanto. o brilho d'a estrella que se
accendeu no dia em que foi assignado o manifesto r publi-
cano não terá necessidade de otruscar o das outras constcl-
lações, que se compraz cm cont mplar o astronomo da Im-
perial Quinta.
. Ex.. irá para a valJa commum, qu cau'a tanto honor
ao r. ilveira 1\1artin ,qu tambem lá irá ter. E a sim é
melhor para S. Ex., porque não haverá logar para se lhe
gra.var opithaphio, em que se teria de dizer que S. Ex.
trahill uma cau~a: sem dar ao meno. ao paiz o consolo de
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ter tirado algum proveito da traição. Pelo contrario) como
republicano, S. Ex. seria completamente inoffensivo, por-
que nem é bastante enthusiasta para fazer uma revolução,
nem bastante tenaz para levar de vencida uma lenta pro-
paganda; ao passo que, tornando-se monarchista, e tendo
nas mãos o poder, S. Ex. coopera para a obra de anniqui-
lamento que já vai tão adiantada.
8 de Julho
I
1.0 de SetemuTO
SJ~mAluo.-EncerraIllento
das camaras.-Inventario.-Palavl'as, palavras,
palavras.-A alfandega de Pelotas'- Um jornal amigo do governo.
I'
22 ele Outubro
"
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Ainda mais: para achar um cidadão que quizesse acei-
tar o penoso encargo de que aquelle se exonerara, foi pre-
ciso tomar com elle um compromisso prévio e de immediata
realisação, porque o Sr. Tito de Mattos bem viu o que acon-
teceu ao Sr. Belarmino, que se fiára em promessas.
De modo que, aqui ha um certo tempo, exercer o cargo
de chefe de policia da côrte era um sacrificio que o go-
verno recompensava com um bom logar na alta magis-
tratuta; mas o Sr. Prisco aperfeiçoou o systema, e agora
a recompensa é dada adiantadamente, porque ninguem se
fia no governo, justamente' como as patentes de guarda
nacional, que servem de premio antecipado aos que pro-
mettem votos.
Será preciso insistir sobre o papel de ministro de paz
que n'esta emergencia tem desempenhado o Sr. ministro da
guerra? Seria cruel augmentar a a:fflição ao affiicto. E'
mais humano deixaI-o ser o que quer ser. Pax vobzs ..
N'esta questão não tiveram papel especial os Srs. mi-
nistros dos estrangeiros, da marinha e da agricultura, como
não o teve tambem o Sr. ministro do imperio. Dos dous
primeiros pôde-se dizer que em todo o tempo de sua ad-
ministração não têm ,dado que fallar de si, deveutl0-se
mesmo reconhecer que o Sr. ministro da marinha, na unica
questão em que chamou a attenção para a suapessoa--a
do fornecimento de viveres - procedeu de um modo cor-
recto, como aliás era de esperar de um homem sizudo,
que já vai longe dos sonhos da mocidade.
Do Sr. ministro da agricultura é que se pôde dizer
que tem conseguido fazer alguma cousa digna de applauso;
mas S. Ex. tem, como os seus collegas da marinha, es-
trangeiros e imperio, a parte de responsabilidade que a
todos cabe pela tibieza do governo, que não conseguiu
impedir a perpetração de um crime, e que não consegue
punir os crimino.sos. '
Isto é pouco mais ou menos o transumpto do que se
pensa sobre o actual governo. Não são opiniões indivi-'
duaes nossas, qne queiramos incutir a quem quer que seja,
pois que é escusado querer dirigir e encaminhar aquillo
que se fôrma 'e vai por si, tal é a evidencia dos factos.
Diz-se tambem alguma cousa do papel que para si
reservou o grande irresponsavel; mas estampaI-o aqui seria
satisfazer-lhe a curiosidade, sem proveito algum para a
causa publica. A imprensa n'este paiz é um grande re-
porter, que informa S. Christovão, e tão bem acolhida é a
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que fana de .politica, a que discute as questões sociaes, os
interesses geraes, como a que noticia os escandalos da vida
privada, ou mesmo os inventa. Por conseguinte, poupe-
mos-nos a trabalhos inuteis.
Um beno dia, quando a gente menos pensar, o Sr. La-
fayette voltará da Imperial Quinta mais cedo que de cos-
tume, e, em vez de ir directameute .para sua casa, passará
por casa do Sr. Sinimbú. Haverá então um grupo que du-
rante alguns dias, por-se-ha de cócaras a entoar hosannas
á admiravel sabedoria da corôa e ao acrisolado patriotismo
com que véla pelo regular 1unccionamento das instituições
que felizmente nos regem.
26 de Novembro
.....
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