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Estruturas de Edificações

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ESTRUTURAS DE EDIFICAÇÕES

As edificações (ou seja, as construções relativamente


permanentes que construímos sobre um terreno para
fins habitáveis) se desenvolveram ao longo da história,
partindo de abrigos rudimentares feitos com galhos de
árvores, adobe e pedra até chegar às construções so-
fisticadas atuais, construídas em concreto, aço e vidro.
No decorrer da evolução da tecnologia da construção,
algo que tem permanecido constante é a presença
permanente de algum tipo de sistema estrutural capaz
de suportar as forças da gravidade, do vento e, com
6.500 a.C.: Mehrgarh (Paquistão).
frequência, dos terremotos.
Casas de adobe compartimentadas.
Os sistemas estruturais podem ser definidos como con-
juntos estáveis de elementos projetados e construídos
para agir como um todo no suporte e na transmissão
seguros de cargas aplicadas ao solo, sem exceder os
esforços permissíveis dos componentes. Ainda que as
formas e os materiais dos sistemas estruturais tenham
evoluído conforme os avanços tecnológicos e culturais,
sem falar nas lições aprendidas a partir dos inúmeros
colapsos estruturais, eles ainda são fundamentais para
a existência de todas as edificações, independentemen-
te de sua escala, contexto ou uso.

A breve retrospectiva histórica que segue ilustra o


desenvolvimento dos sistemas estruturais com o passar
5.000 a.C.: Banpo, China. Casas
do tempo, desde as primeiras tentativas de se atender
7.500 a.C.: Catal Hüyük (Anató- em forma de cabana que usam pi-
à necessidade humana fundamental de abrigo contra
lia). Casas de adobe com pare- lares grossos para sustentar suas
o sol, o vento e a chuva, até chegar aos grandes vãos
des internas rebocadas. coberturas.
estruturais, às grandes alturas e à complexidade cada
vez maior da arquitetura moderna.
5.000 a.C. Idade do Bronze

O período neolítico teve início com o advento da agricul-


tura (cerca de 8.500 a.C.) e entrou na primeira Idade do
Bronze devido ao desenvolvimento das ferramentas de
metal (cerca de 3.500 a.C.). A prática de utilizar cavernas
como abrigo e moradia já existia há milênios e continuou
a se desenvolver como uma forma arquitetônica, variando
de extensões simples das cavernas naturais até templos
e igrejas escavados na rocha, bem como cidades inteiras
escavadas nas laterais das montanhas.

9.000 a.C.: Göbekli Tepe (Turquia). Os tem-


plos de pedra mais antigos do mundo.

Era Neolítica: China, província do norte de Sha-


anxi. As habitações em cavernas permanecem
até hoje.

3.400 a.C.: Os sumérios inven-


tam o tijolo de barro cozido.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

1.500 a.C.: Templo de Amon em Karnak, Egito. O


Salão Hipostilo é um perfeito exemplar de cons-
trução arquitravada em pedra (coluna e lintel).

2.500 a.C.: Grande Pirâmide de Quéops,


Egito. Até o século XIX, essa pirâmide de
pedra era a estrutura mais alta do mundo.

2.600 a.C.: Harappa e Mohenjo-daro, Vale do In- Século XII a.C.: Arquitetura da Dinastia
dus, atualmente Paquistão e Índia. Tijolos cozidos Zhou. As mísulas salientes dos capitéis
e falsos arcos. ajudam a sustentar os beirais.

2.500 a.C. 1.000 a.C. Idade do Ferro

Ainda que as habitações em cavernas permaneçam


em várias formas e em diferentes partes do mundo,
a maioria da arquitetura é criada através da reunião
de materiais para definir os limites espaciais, além de
fornecer abrigo, acomodar atividades, celebrar eventos
e representar algo. As primeiras habitações consis-
tiam em estruturas rústicas de madeira com paredes
de adobe e coberturas de fibras vegetais (sapé). Às
vezes, as casas eram escavadas no subsolo para se
obter aquecimento e proteção adicionais; em outras
ocasiões, as habitações eram elevadas sobre palafitas
para melhorar a ventilação em climas quentes e úmidos
ou para serem construídas junto às margens de rios e
lagos. O uso da madeira pesada para a sustentação de
paredes e coberturas continuou a ser desenvolvido com
o passar do tempo e chegou a um estado de refinamen-
to principalmente na arquitetura da China, da Coreia e
3.000 a.C.: Alvastra 1.000 a.C.: Capadócia, Anatólia.
do Japão.
(Escandinávia). Casas de Escavações extensas formavam
palafita. casas, igrejas e monastérios.

3.000 a.C.: Os egípcios misturam pa- 1.500 a.C.: Os egípcios trabalham 1.350 a.C.: A dinastia Shang (China) de-
lha com lama para reforçar o adobe. com o vidro fundido. senvolve técnicas avançadas de fundição
de bronze.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

447 a.C.: Partenon, Atenas. O Templo de Atena Niké


é considerado um paradigma da ordem dórica.

Século III a.C.: A Grande Estupa de Sanchi,


Índia. Monumento budista de pedra cinzelada.

70 d.C.: Coliseu, Roma,


Itália. Anfiteatro de
concreto-massa e
alvenaria de tijolo
revestido de pedra.

Século IV a.C.: Os etruscos desenvol-


vem os arcos e as abóbadas de alve-
naria. Porta Pulchra, Perúgia, Itália.
500 a.C. 1 d.C.

10 a.C.: Petra, Jordânia. Tú-


200 a.C.: Índia. Numerosos exem-
mulos do palácio parcialmen-
plos das arquiteturas budista, jai-
te escavados na rocha.
nista e hindu escavados na rocha.

Século V a.C.: Os chineses fun- Século IV a.C.: Os babilônios Século III a.C.: Os romanos fazem
dem o ferro. e os assírios usam o betume concreto com pozolana.
como argamassa de alvenaria
de tijolo e pedra.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

Século III d.C.: Tikal, Guatemala. Cidade


maia com pirâmides e palácios de pedra.

125 d.C.: O Panteon, Roma, Itália.


Cúpula de concreto-massa com
caixotões, a maior do mundo até Século VII d.C.: Arquitetura da dinastia Tang.
o século XVIII. Estrutura de madeira resistente a terremo-
tos, com colunas, vigas, terças e uma diver-
sidade de mísulas salientes.

800 d.C.

532-37 d.C.: Santa Sofia, Istambul, Turquia. Cúpula central


sobre pendentes que permitem a transição da cúpula redonda
para a planta quadrada. O concreto foi usado na construção
das abóbadas e dos arcos dos pavimentos inferiores.

460 d.C.: Cavernas Yungang, China. Templos


budistas escavados em penhascos de arenito.

752 d.C.: Todaiji, Nara, Japão. O templo budista


que é a maior construção de madeira do mundo. A
reconstrução atual tem dois terços do tamanho do
Século II d.C.: O papel é inventado na China. templo original.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

Século XI: Igreja da Abadia de Saint Philibert, 1163-1250: Catedral de Notre Dame, Paris, França.
Tournus, França. Colunas cilíndricas desadorna- A estrutura de pedra aparelhada utiliza arcobotan-
das com mais de 1,2 metro de espessura para tes de pedra externos para transmitir o empuxo
sustentar a nave central espaçosa e leve. para baixo e para fora da cobertura e das abóbadas
para um contraforte.
1056: Pagode Sakyamuni, China. Pagode de
madeira mais antigo e edificação de madeira
mais alta do mundo, com 67,0 metros de altura.
1100: Chan Chan, Peru. Muros da cidadela
feitos de adobe revestido de estuque.

900 d.C.

Sempre que havia pedras disponíveis, elas eram usadas


primeiramente para estabelecer barreiras de defesa,
mas serviam também como paredes portantes para
sustentar os componentes horizontais de madeira dos
pisos e coberturas. As abóbadas e as cúpulas de alve-
naria possibilitaram elevações mais altas e vãos maio-
res, enquanto o desenvolvimento dos arcos apontados,
das colunas fasciculadas e dos arcobotantes permitiu a
criação de estruturas de pedra mais leves, mais abertas
e independentes das vedações externas.

1100: Lalibela, Etiópia. Conjunto


de igrejas monolíticas escavadas
na rocha.

1170: O ferro fundido é produzido na Século XV: Filippo Brunelleschi desenvol-


Europa. ve a teoria da perspectiva linear.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

Século XIII: Catedral de Florença, Itália. Filippo Brunelleschi projetou


a cúpula com duas cascas apoiada sobre um tambor, de forma a
permitir uma construção sem a necessidade de um cimbre apoiado
no chão.

1506-1615: Basílica de São Pedro, Roma, Itália, Donato


Bramante, Michelangelo e Giacomo della Porta. Até
recentemente era a maior igreja já construída, cobrindo
uma área de 23 mil metros quadrados.

1400 d.C. 1600 d.C.

Já no início do século VI d.C., as principais arcadas de


Santa Sofia, em Istambul, incorporaram barras de ferro
como tirantes. Durante a Idade Média e a Renascença,
o ferro foi usado em elementos tanto decorativos como
estruturais (como tarugos, grampos e tensores), para
reforçar as estruturas de alvenaria. Somente no século
XVIII, porém, os novos métodos de produção permitiram
a manufatura de ferro forjado e fundido em quantidades
suficientes para que fossem usados como materiais
estruturais nas estruturas em esqueleto de estações fer-
roviárias, mercados e outras edificações de uso público.
Das paredes e pilares de pedra maciça se passa para as
estruturas mais leves de ferro e aço.

1638: Galileu publica seu primeiro livro, Os Discursos e as Demons-


trações Matemáticas Relacionados a Duas Novas Ciências, sendo
que as duas ciências em questão se referem à resistência dos mate-
riais e à dinâmica dos objetos.

Início do século XVI: Os alto-fornos são 1687: Isaac Newton publica Princípios Matemáticos da Filosofia Na-
capazes de produzir grandes quantidades tural, que descreve a gravitação universal e as três leis da dinâmica,
de ferro fundido. lançando as bases da mecânica clássica.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

1653: Taj Mahal, Agra, Índia. Mausoléu de mármore com cúpula 1797: Tecelagem de linho Ditherington, Shrews-
branca jônica, construído em memória de Mumtaz Mahai, esposa bury, Inglaterra, William Strutt. A edificação com
do Imperador mogol, o Xá Jahan. estrutura de aço mais antiga do mundo, com
estrutura independente de pilares e vigas de
ferro fundido.

1700 1800

Final do século XVIII e início do século XIX: A Re- A calefação central foi adotada de maneira generalizada
volução Industrial provoca mudanças significativas no início do século XIX, quando a Revolução Industrial
na agricultura, na manufatura e no transporte, resultou no aumento das edificações usadas para fins in-
alterando o ambiente socioeconômico e cultural da dustriais, residenciais e de serviços.
Grã-Bretanha e outras regiões do mundo.

1777-1779: Ponte de Ferro de Coal-


brookdale, Inglaterra. T. M. Pritchard.

1711: Abraham Darby produz um ferro de alta 1801: Thomas Young estuda
qualidade fundido com coque e moldado em areia. a elasticidade e dá seu nome
ao módulo de elasticidade.

1735: Charles Maria de la Condamine 1778: Joseph Bramah patenteia


descobre a borracha na América do Sul. uma bacia sanitária prática.

1738: Daniel Bernoulli associa a 1779: Bry Higgins patenteia o cimento hi-
velocidade e a pressão dos fluidos. dráulico para uso em rebocos externos.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

1851: Palácio de Cristal, Hyde Park, 1868: Estação Saint Pancras, Londres, Inglaterra, William
Londres, Inglaterra, John Paxton. Barlow. Arcos treliçados com tirantes abaixo do pavimento
Unidades pré-fabricadas de ferro for- térreo para resistir ao empuxo para fora.
jado e vidro foram usadas para criar
um espaço de exposições com mais
de 90 mil metros quadrados.

1860

Há evidências de que os chineses usaram uma mistura A manufatura de aço moderna teve início em 1856, quando
de cal e cinzas vulcânicas para construir as pirâmides Henry Bessemer descreveu um processo relativamente barato
de Shaanxi há milhares de anos, mas foram os romanos para a produção do aço em larga escala.
que desenvolveram o concreto hidráulico com uma
cinza vulcânica (pozolana) semelhante ao concreto
moderno feito com cimento Portland. A formulação
do cimento Portland por Joseph Aspdin em 1824 e a
invenção do concreto armado, atribuída a Joseph-Louis
Lambot em 1848, estimularam o uso do concreto em
estruturas arquitetônicas.

1850: Henry Waterman inventa o elevador.


1853: Elisha Otis introduz o elevador de
segurança para evitar a queda da cabina
em caso de rompimento do cabo. O pri-
meiro elevador Otis foi instalado em Nova
York em 1857.

1824: Joseph Aspdin paten- 1827: George Ohm formula sua lei que 1855: Alexander Parkes patenteia 1867: Joseph Monier pa-
teia a manufatura do cimento relaciona a corrente, a voltagem e a o celulóide, o primeiro material de tenteia o concreto armado.
Portland. resistência. plástico sintético.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

1889: Torre Eiffel, Paris, França, Gustave Eiffel.


A torre substituiu o Monumento a Washington
como a estrutura mais alta do mundo – título que
reteve até a construção do Edifício Chrysler em
Nova York, no ano de 1930.

1884: Edifício Home Insurance, Chicago, 1898: Piscina Coberta Pública, Gebweiler,
Estados Unidos, William Le Baron Jenney. França, Eduard Züblin. Estrutura abobadada
A estrutura de aço e ferro fundido com de concreto armado que consiste em cinco
10 pavimentos sustenta a maior parte do pórticos indeformáveis com cascas finas
peso dos pisos e das paredes externas. conectando cada pórtico.

1875 1900

1896: Pavilhão da Rotunda, Exposição Industrial e Artística de Toda a


Rússia, Nizhny Novgorod, Vladimir Shukhov. A primeira estrutura ten-
sionada em malhas de cabo de aço do mundo.

1881: Charles Louis Strobel padroniza os per-


fis laminados de ferro forjado e os vínculos
rebitados.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

443 m

1903: Edifício Ingalls, Cincinnati, 1922: Planetário, Jena, Alemanha, Walter 1931: Edifício Empire State, Nova York, Estados
Ohio, Estados Unidos, Elzner & Bauerfeld. Primeira cúpula geodésica con- Unidos, Shreve, Lamb e Harmon. O edifício mais
Anderson. Primeiro arranha-céu temporânea, derivada de um icosaedro. alto do mundo até 1972.
de concreto armado.

1940

1913: Jahrhunderthalle (Salão do Centenário), Breslau, Alemanha, Max Berg. Com o advento dos aços aperfei-
Estrutura de concreto armado, incluindo uma cúpula com 65 metros de diâ- çoados e das técnicas de análise de
metro, que influenciou o uso do concreto no fechamento de grandes espaços esforços computadorizadas, as estru-
para uso público. turas de aço se tornaram mais leves
e seus vínculos mais complexos,
permitindo uma grande variedade de
formatos estruturais.

1903: Alexander Graham Bell faz experimentos com as formas 1919: Walter Gropius 1928: Eugène Freyssinet inven-
estruturais espaciais, levando ao desenvolvimento posterior das funda a Bauhaus. ta o concreto protendido.
treliças espaciais por Buckminster Fuller, Max Mengeringhausen e
Konrad Wachsmann.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

1960: Palazzo dello Sport (Palácio do Esporte), Roma, Itália,


Pier Luigi Nervi. Cúpula de concreto armado nervurada com
100 metros de diâmetro, construída para os Jogos Olímpicos
de Verão de 1960.

1961: Arena Olímpica, Tóquio, Japão, Kenzo Tan- 1972: Arena Olímpica de Natação, Munique, Alemanha, Frei Otto. Os
ge. A maior estrutura de cobertura suspensa do cabos de aço foram combinados com membranas de lona para criar
mundo na época da construção; seus cabos de uma estrutura extremamente leve, capaz de vencer grandes vãos.
aço são suspensos por dois pilares de concreto
armado.
1950 1975

1943-59: Museu Guggenheim, Nova York, Estados Unidos, Frank Lloyd Wright.

1955: Desenvolve-se o uso comercial de compu- 1973: A elevação dos preços do petróleo estimula a
tadores. pesquisa de fontes alternativas de energia, fazendo
com que a conservação de energia se torne um elemen-
to importantíssimo para o projeto de arquitetura.

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UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA

750 m
Início em 2004: Burj Dubai, Emirados Árabes
Unidos, Adrian Smith & SOM. É atualmente o
edifício mais alto do mundo.

600 m
2004: Taipei 101, Taiwan, C. Y. Lee & Partners.
Um edifício com estrutura de concreto e aço
que utiliza um atenuador
dinâmico de massa
450 m sintonizado.

300 m

150 m

1998: Torres Petronas, Kuala Lumpur, Malásia,


Cesar Pelli. Os edifícios mais altos do mundo até a
construção do Taipei 101, em 2004.

2000

1973: Casa de Ópera de Sydney, Austrália, Jørn Utzon. Suas famosas cascas de coberturas consistem em ner-
vuras de concreto pré-fabricadas e solidarizadas por uma capa de concreto moldado in loco.

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ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS

A retrospectiva histórica apresentada nos dá uma ideia


não apenas da evolução dos sistemas estruturais, mas
da importância que eles tiveram, e continuam a ter,
para o projeto de arquitetura. A arquitetura engloba
qualidades estéticas inefáveis, porém sensíveis, que
resultam da união do espaço, da forma e da estrutura.
Ao fornecer a sustentação para outros sistemas de uma
edificação e para nossas atividades, um sistema estru-
tural viabiliza o formato e a forma de uma edificação e
de seus espaços – assim como nosso esqueleto dá for-
ma ao nosso corpo e sustenta nossos órgãos e tecidos.
Logo, quando falamos de estruturas arquitetônicas,
estamos nos referindo aos elementos que se unem com Corte
a forma e com o espaço de maneira coerente.

Portanto, o projeto de uma estrutura arquitetônica


envolve mais do que o dimensionamento adequado de
qualquer elemento ou componente único, ou mesmo
o projeto de qualquer vínculo estrutural específico.
Não se trata simplesmente de equilibrar e solucionar
os esforços. Pelo contrário: exige-se a maneira pela
qual a configuração e a escala geral dos elementos
estruturais, dos vínculos e das conexões encapsulam
uma ideia arquitetônica, reforçam a forma estrutural e
a composição espacial de um projeto proposto, e per-
mitem sua construtibilidade. Isso, então, demanda uma
compreensão da estrutura como um sistema de partes
interconectadas e inter-relacionadas, e um entendimen-
to dos tipos genéricos de sistemas estruturais, além
da análise da capacidade de certos tipos de elementos
estruturais e de seus vínculos. Planta baixa do
pavimento térreo
Edifício do Parlamento, Chandigarh, Índia, 1951-63, Le Corbusier.

O terreno e o contexto Esquema da estrutura

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ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS

Para que possamos compreender o impacto dos siste-


mas estruturais no projeto de arquitetura, devemos ter
ciência de como eles se relacionam com o conceito,
com a experiência e com o contexto da edificação.

• A composição formal e espacial.


• A definição, a escala e as proporções dos volumes e
dos espaços.
• As características das configurações, formas,
espaços, luz, cor, textura e padrões.
• A organização das atividades humanas conforme sua
escala e dimensão.
• O zoneamento funcional dos espaços de acordo com
Iluminação natural a atividade-fim e o uso.
• A acessibilidade e as rotas de circulação horizontais
e verticais dentro da edificação.
• A consideração das edificações como componentes
integrais dentro do ambiente natural e construído.
• As características sensoriais e culturais do lugar.

As próximas seções deste capítulo descrevem em


linhas gerais os principais aspectos dos sistemas es-
truturais que sustentam, reforçam e, em última análise,
dão forma a uma ideia de arquitetura.

Diagrama compositivo

Estrutura de sustentação da organização espacial Estrutura de sustentação da ideia formal

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ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS

Intenção formal
O sistema estrutural pode se relacionar ao projeto
arquitetônico de três maneiras fundamentais. Essas
estratégias fundamentais são:

• Exposição da estrutura
• Ocultação da estrutura
• Destaque da estrutura

Exposição da estrutura
Historicamente, os sistemas com paredes portantes
de alvenaria de pedra e tijolo dominaram a arquitetura
até o advento da construção em ferro e aço, no final Corte
do século XVIII. Esses sistemas estruturais também
funcionavam como os principais sistemas de vedação
externa, e, consequentemente, expressavam a forma da
arquitetura – em geral, de maneira objetiva e direta.

As modificações formais que eram feitas geralmente


resultavam da modelagem ou do entalhe do material
estrutural, de maneira a criar elementos por adição,
vazios por subtração ou relevos no interior da massa da
estrutura.

Até na era moderna há exemplos de edificações que


exibem seus sistemas estruturais (sejam eles de ma-
deira, aço ou concreto) e os utilizam de maneira eficaz
como os principais “criadores” da forma arquitetônica.

Planta baixa

Igreja de São Sérgio e São Baco, Istambul, Turquia,


527-36 a.C.. Os otomanos converteram essa igreja
ortodoxa oriental em uma mesquita. Essa igreja inclui
uma planta com cúpula centralizada, e muitos acredi-
tam que tenha servido como modelo para Santa Sofia.

Centro Le Corbusier / Pavilhão Heidi Weber, Zurique, Suíça, 1965,


Le Corbusier. Uma estrutura de aço em forma de guarda-sol paira
sobre uma estrutura independente de aço modulada, com late-
rais compostas por painéis e vidros de aço esmaltado.

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ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS

Ocultação da estrutura
Nessa estratégia, o sistema estrutural é ocultado ou obs-
curecido pelo revestimento externo e pela cobertura da
edificação. Algumas razões para a ocultação da estrutura
são práticas (como o revestimento dos elementos estru-
turais para torná-los resistentes ao fogo) ou contextuais
(quando a forma externa desejada difere das necessida-
des espaciais internas). No último caso, a estrutura pode
organizar os espaços internos, enquanto a forma da pele
externa responde ao terreno ou a outros condicionantes.

O projetista talvez opte pela liberdade de expressão


Corte quando se trata da pele, sem considerar como o sis-
tema estrutural possa ajudar ou afetar as decisões
formais. Por outro lado, o sistema estrutural pode ser
obscurecido por pura negligência, e não de maneira in-
tencional. Em ambos os casos, surgem questões legíti-
mas sobre o projeto, pois não se sabe se ele resulta de
uma intenção, se é acidental, proposital ou, em último
caso, se decorre da falta de cuidado.

Orquestra Filarmônica, Berlim, Alemanha, 1960-63,


Hans Scharoun. Um exemplo do movimento expres-
sionista, essa sala de concertos tem uma estrutura
assimétrica com cobertura de concreto semelhante
a uma tenda e um palco centralizado em relação às
arquibancadas. Sua aparência externa é subordinada às
exigências acústicas e funcionais da sala de concertos.

Museu Guggenheim, Bilbao, Espanha, 1991-97, Frank


Gehry. Uma novidade quando concluído, esse museu de
arte contemporânea é famoso por suas formas escultóri-
cas revestidas de chapas de titânio. Ainda que seja difícil
compreendê-lo nos termos da arquitetura tradicional, a
definição e a construtibilidade das formas aparentemente
Planta baixa do nível inferior aleatórias se tornaram possíveis devido ao uso dos apli-
cativos CATIA, uma suíte integrada do CAD (Computer
Aided Design, ou Projeto Assistido por Computador), CAE
(Computer Aided Engineering, ou Engenharia Assistida
por Computador) e CAM (Computer Aided Manufacturing,
ou Manufatura Assistida por Computador).

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ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS

Destaque da estrutura
Em vez de ficar meramente exposto, o sistema estrutu-
ral pode ser explorado como uma característica do pro-
jeto, celebrando a forma e a materialidade da estrutura.
O aspecto geralmente exuberante das estruturas em
casca e membrana faz com que elas sejam as candida-
tas mais adequadas para essa categoria.

Também existem estruturas que dominam pela força


pura utilizada para expressar a maneira como lidam
com os esforços que agem sobre elas. Esses tipos de
estruturas geralmente se tornam ícones devido à sua
imagem impressionante. Dentre os exemplos, desta-
cam-se a Torre Eiffel e a Ópera de Sidney.

Para determinar se uma edificação tira partido ou não


de sua estrutura, precisamos diferenciar com cuidado
a expressão estrutural das formas expressivas que não
são realmente estruturais, mas apenas aparentam ser.

Capela da Academia da Força Aérea, Colorado Springs,


Colorado, Estados Unidos, 1956-62, Walter Netsch/
Skidmore, Owings e Merril. A estrutura ascendente,
composta por 100 tetraedros idênticos, desenvolve a
estabilidade através da triangulação das unidades estru-
turais individuais, além dos volumes triangulares.

Los Manantiales, Xochimilco, México, 1958, Félix


Candela. A estrutura de concreto em casca é for-
mada por uma série de paraboloides hiperbólicos,
interseccionados numa planta baixa radial.

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ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS

Terminal Principal, Aeroporto Internacional Dulles, Chantilly,


Virgínia, Estados Unidos, 1958-62, Eero Saarinen. Cabos em
catenária, suspensos entre duas longas colunatas inclinadas
para fora e com colunas de seção variável, sustentam uma
bela casca de concreto curva que nos remete à ideia de voar.

Banco HSBC, Hong Kong, China, 1979-85, Norman Foster. Oito


grupos de quatro colunas de aço revestidas de alumínio se
erguem e sustentam cinco megatreliças planas em forma de
cabide, às quais estão atirantadas as lajes de piso de todos os
pavimentos.

Elevação e planta baixa esquemática da estrutura Planta baixa parcial

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ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS

Composição espacial
A forma de um sistema estrutural e o padrão de seus ele-
mentos de transferência de cargas e cobertura podem se
relacionar com o leiaute espacial e com a composição do
projeto de duas maneiras fundamentais. A primeira trata
da correspondência entre a forma do sistema estrutural e
a forma da composição espacial. A segunda consiste num
encaixe menos rígido, no qual a forma e o padrão estruturais
permitem mais liberdade ou flexibilidade no leiaute espacial.

Correspondência
Quando há uma correspondência entre a forma estrutural e a
composição espacial, o padrão dos sistemas de transferên-
cia de cargas e cobertura talvez determine a disposição dos
espaços no interior de uma edificação, ou o leiaute espacial
talvez sugira um tipo específico de sistema estrutural. O que
vem primeiro no processo de elaboração do projeto?

Em casos ideais, consideramos que tanto o espaço como a


estrutura determinam a forma arquitetônica. No entanto,
a composição dos espaços conforme as necessidades e os
desejos costuma preceder a reflexão referente à estrutura.
Por outro lado, às vezes a forma estrutural pode ser a força
motriz do processo de elaboração do projeto.

De qualquer maneira, os sistemas estruturais que determi-


nam um padrão espacial com tamanhos e dimensões espe-
cíficos, ou mesmo um padrão de uso, talvez não viabilizem
a flexibilidade necessária para usos ou adaptações futuros.

Diagramas estruturais e espaciais na planta baixa e no corte. Casa do Fascismo, Como, Itália, 1932-35, Giuseppe Terragni.

20 Sistemas Estruturais Ilustrados

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ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS

Contraste
Sempre que há uma falta de correspondência entre a
forma estrutural e a composição espacial, qualquer um
dos fatores pode ser o dominante. A estrutura talvez seja
grande o bastante para proteger ou abarcar uma série de
espaços dentro de seu volume, ou a composição espacial
talvez domine uma estrutura internalizada. Um sistema
estrutural irregular ou assimétrico é capaz de criar uma
vedação externa para uma composição espacial mais regu-
lar; por outro lado, uma grelha estrutural talvez forneça um
conjunto ou uma rede uniforme de pontos contra os quais
uma composição espacial mais livre pode ser calibrada ou
contrastada.

Uma distinção entre o espaço e a estrutura talvez seja


necessária para fazer com que o leiaute seja flexível, para
permitir o crescimento e a ampliação, para tornar visível a
identidade dos diferentes sistemas e instalações da edifi-
cação, ou para expressar as diferenças entre as necessida-
des, os desejos e as relações internas e externas.

Sala Sinopoli, Parque da Música, Roma, Itália, 1994-2002,


Renzo Piano. Uma estrutura secundária sustenta a cober-
tura revestida de folhas de chumbo e projetada de forma a
reduzir o ingresso de ruídos externos no auditório, enquan-
to a estrutura principal sustenta as superfícies internas em
cerejeira, que podem ser reguladas para melhorar o desem-
penho acústico do espaço.

1 – Estruturas de Edificações 21

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SISTEMAS ESTRUTURAIS

Os sistemas podem ser definidos como um conjunto


de partes inter-relacionadas ou interdependentes que
formam um todo mais complexo e unificado, servindo a
um fim comum. As edificações podem ser vistas como
uma materialização de vários sistemas e subsistemas
que precisam, necessariamente, estar relacionados, co-
ordenados e integrados entre si, e também com a forma
dimensional e com a organização espacial do prédio
como um todo.

O sistema estrutural de uma edificação, em particu-


lar, é formado por um conjunto estável de elementos
estruturais, projetados e construídos para sustentar e
transmitir as cargas impostas até o solo de maneira

Superestrutura
segura, sem exceder os esforços permissíveis de seus
elementos. Cada elemento estrutural possui caracterís-
ticas únicas e se comporta de maneira única sob cargas
impostas. Contudo, antes que os elementos e compo-
nentes estruturais possam ser isolados para fins de es-
tudo e resolução, é importante que o projetista entenda
como o sistema estrutural acomoda e sustenta, de
maneira holística, as formas, os espaços e as relações
programáticas e contextuais do projeto arquitetônico.

Independentemente do tamanho e da escala da edifi-


cação, seu sistema estrutural contém sistemas físicos
Subestrutura

de estrutura e vedação que definem e organizam suas


formas e espaços. Esses elementos, por sua vez, podem
ser divididos em subestrutura e superestrutura.

Subestrutura Solo ou rochas de sustentação


A subestrutura é a divisão inferior de uma edificação
(suas fundações), construída parcial ou completamen-
te abaixo da superfície do solo. Sua função primária
consiste em sustentar e ancorar a superestrutura, além
de transmitir suas cargas para o solo com segurança.
Uma vez que funciona como um vínculo crítico para a
distribuição e a resolução das cargas da edificação, o
sistema de fundações (mesmo que, em geral, não fique
à vista) deve ser projetado para acomodar a forma e o
leiaute da superestrutura, e também para responder
às condições variáveis do solo, das rochas e da água
subterrâneas.

As principais cargas impostas sobre a fundação con-


sistem numa combinação das cargas mortas (peso
próprio) e das cargas acidentais (ou de serviço), que
agem verticalmente sobre a superestrutura. Além disso,
o sistema de fundação deve ancorar a superestrutura
contra oscilações provocadas pelo vento, tombamento
e pressões ascendentes ou sucção do vento suportar
movimentos súbitos do solo em caso de terremoto e de
resistir à pressão imposta pela água do lençol freático e
pela massa do solo lateral sobre as paredes do subsolo.
Em alguns casos, o sistema de fundação precisa resistir
também ao empuxo das estruturas tensionadas ou com
arcos.

22 Sistemas Estruturais Ilustrados

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SISTEMAS ESTRUTURAIS

O terreno e o contexto de uma edificação influenciam o tipo de


subestrutura selecionada e, consequentemente, o padrão espacial
projetado.

• Relação com a superestrutura: O tipo e o padrão dos elementos


de fundação exigidos influenciam, ou até determinam, o leiaute
dos apoios da superestrutura. Para a eficiência estrutural,
sempre que possível é preciso manter a continuidade vertical
na transmissão de cargas.
• Tipo de solo: A integridade da estrutura de uma edificação Sapatas corridas
depende, em última análise, da estabilidade e da resistência
sob carregamento do solo ou rocha sob a edificação. A
capacidade de carregamento do solo ou rocha pode, portanto,
limitar o dimensionamento de uma edificação ou exigir
fundações mais profundas.
• Relação com a topografia: As características topográficas
de um terreno possuem implicações e consequências tanto
ecológicas como estruturais, exigindo que todas as implantações
considerem os padrões de escoamento naturais, as condições
que podem acarretar o alagamento, a erosão ou o recalque, e as
providências a serem tomadas para a proteção do hábitat.

Fundações superficiais Radiers


As fundações superficiais são usadas sempre que um solo estável
e com capacidade de carregamento adequada estiver relativa- Sapatas
mente perto da superfície. Elas são colocadas diretamente sob a
parte mais baixa de uma subestrutura, e transferem as cargas da
edificação diretamente para o solo de apoio, por meio da pressão
vertical. As fundações superficiais podem assumir uma das for-
mas geométricas a seguir:

• Pontuais: sapatas
• Em linha: muros de arrimo e sapatas corridas
• Planas: radiers – lajes de concreto espessas e extremamente
armadas, que atuam como uma única sapata monolítica para
vários pilares ou uma edificação inteira – são usados sempre
que a capacidade de carregamento permissível de um solo de
fundação é baixa em relação às cargas da edificação, e quando
as sapatas dos pilares internos se tornam tão grandes que é
mais econômico fundi-las numa laje única. Os radiers podem ser
enrijecidos por meio de uma grelha de nervuras, vigas ou paredes.

Fundações profundas
As fundações profundas são formadas por tubulões ou estacas
cravadas que descem em um solo inadequado para transferir as
Fricção do solo

cargas da edificação até um estrato rochoso com capacidade de


carregamento mais adequada, ou areias densas e pedras bem O tamanho de uma sapata é
abaixo da superestrutura. determinado por sua carga e pela
capacidade de carregamento do
solo de apoio.

Apoio direto
Fundações profundas

1 – Estruturas de Edificações 23

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SISTEMAS ESTRUTURAIS

Superestrutura
A superestrutura, ou o comprimento vertical da edificação
acima das fundações, é formada pelas vedações externas
e pela estrutura interna que define a forma da edificação,
bem como por seu leiaute e sua composição espaciais.

Pele
A pele ou vedação externa de uma edificação (composta
pela cobertura e pelas paredes externas, janelas e portas)
fornece proteção e abrigo para os espaços internos da
edificação.

• A cobertura e as paredes externas protegem os espaços


internos contra os rigores do clima, e também controlam
a umidade, o calor e o fluxo de ar através das diversas
camadas de uma construção.
• As paredes externas e a cobertura também reduzem os
ruídos e proporcionam segurança e privacidade para os
usuários da edificação.
• As portas possibilitam o acesso físico.
• As janelas fornecem o acesso da luz, do ar e das vistas.

Estrutura
O sistema estrutural é necessário para sustentar a pele da
edificação, bem como seus pisos internos e paredes exter-
nas e internas; além disso, transfere as cargas impostas
para a subestrutura.

• Os pilares, as vigas e as paredes portantes sustentam as


estruturas do piso e do telhado.
• As estruturas de piso são as bases planas e niveladas
do espaço interno que sustentam nossas atividades
internas e o mobiliário.
• As paredes estruturais internas e as paredes internas
não portantes subdividem o interior da edificação em
unidades espaciais (cômodos).
• Os elementos que resistem aos esforços laterais são
lançados para fornecer estabilidade lateral.

No processo de construção, a superestrutura se eleva


a partir da subestrutura, seguindo o mesmo caminho
utilizado para transmitir suas cargas.

24 Sistemas Estruturais Ilustrados

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SISTEMAS ESTRUTURAIS

A intenção formal de um projeto de arquitetura pode


ser sugerida ou determinada pelo terreno e pelo con-
texto, pelo programa e pela função, ou pelos objetivos e
pelo significado. Além de considerar as opções formais
e espaciais, também devemos contemplar nossas
opções estruturais (a palheta de materiais, os tipos de
apoios e elementos horizontais, e os sistemas de re-
sistência aos esforços laterais). Essas escolhas são ca-
pazes de influenciar, sustentar e reforçar as dimensões
formais e espaciais de um projeto.

• Tipo de sistema estrutural

• Leiaute e padrão dos apoios


• Vãos vencidos e proporções

• Tipos de sistemas de vencimento de vãos

• Sistemas de travamento lateral (contraventamento)

• Palheta de materiais estruturais

Numa etapa posterior do processo de elaboração do


projeto, também será preciso investigar a forma e a
dimensão dos componentes estruturais, além dos deta-
lhes das conexões. Porém, as decisões de larga escala
supracitadas vêm em primeiro lugar, uma vez que deter-
minam a direção e estabelecem os parâmetros para o
desenvolvimento do projeto e dos detalhes.

1 – Estruturas de Edificações 25

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SISTEMAS ESTRUTURAIS

Tipos de sistemas estruturais


Considerando uma atitude específica em relação à função
expressiva do sistema estrutural e da composição espacial
desejada, é possível fazer escolhas adequadas para um
sistema estrutural desde que entendamos os atributos
formais que os vários sistemas desenvolvem ao responder
aos esforços impostos e ao redirecionar essas solicitações
para suas fundações.

• As estruturas de massa ativa redirecionam as forças


externas principalmente através do volume e da
continuidade do material, como vigas e pilares.

• As estruturas de vetor ativo redirecionam as forças


externas principalmente através da composição dos
elementos de tração e compressão, como uma treliça.
• As proporções dos elementos estruturais (como paredes
portantes, lajes de piso e de cobertura, abóbadas e
cúpulas) nos fornecem evidências visuais de suas
funções dentro do sistema estrutural, bem como da
natureza de seu material. Uma parede de alvenaria, que
é resistente à compressão, mas relativamente fraca
em termos de flexão, será mais espessa do que uma
parede de concreto armado exercendo a mesma função.
Um pilar de aço é mais fino do que um pilar de madeira
suportando a mesma carga. Uma laje de concreto
armado de 10,0 centímetros, por exemplo, vencerá um
vão superior ao vencido por um tablado de madeira com
a mesma espessura.

• As estruturas de superfície ativa redirecionam as forças


externas principalmente ao longo da continuidade de uma
superfície, como uma estrutura em lâmina ou casca.

• As estruturas de forma ativa redirecionam as forças


externas principalmente através da forma de
seu material, como um sistema em arco ou cabo.
• Para fins de estabilidade, as estruturas dependem
menos do peso e da rigidez dos materiais, e mais de sua
geometria, como ocorre com as estruturas em membrana
e as treliças espaciais. Nesse caso, os elementos ficarão
cada vez mais finos até perder sua capacidade de gerar a
escala e a dimensão de um espaço.

26 Sistemas Estruturais Ilustrados

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SISTEMAS ESTRUTURAIS

Análise e projeto da estrutura


Antes de se passar para a discussão do projeto da estru-
tura, talvez seja útil estabelecer uma distinção entre o
projeto estrutural e a análise estrutural. A análise estru-
tural busca determinar a capacidade de uma estrutura,
ou qualquer dos elementos que a constituem, sejam eles
existentes ou pressupostos, de transmitir com segurança
um determinado conjunto de cargas sem sobrecarregar
os materiais ou provocar deformações excessivas, consi-
derando o arranjo, o formato e as dimensões dos elemen-
tos, os tipos de vínculos e apoios utilizados e os esforços
permissíveis dos materiais utilizados. Em outras palavras,
a análise estrutural ocorre somente com uma estrutura
específica e com certas condições de carregamento.

O projeto de estruturas, por outro lado, se refere ao


processo de distribuir, conectar, dimensionar e propor-
cionar os elementos de um sistema estrutural, de forma
a transferir com segurança um determinado conjunto
de cargas sem exceder os esforços permissíveis dos
materiais utilizados. Similarmente a outras atividades
de projeto, o projeto da estrutura deve operar num am-
biente de incertezas, ambiguidades e arredondamentos.
Ele é a busca por um sistema estrutural que atenda à
demanda das cargas, mas que também aborde o projeto
arquitetônico, de urbanismo e as questões do programa
de necessidades em questão.

O primeiro passo no processo de projeto da estrutura


talvez seja estimulado pela natureza do projeto arquite-
tônico, pelo terreno e pelo contexto, ou pela disponibili-
dade de determinados materiais.
Análise estrutural • A ideia por trás do projeto de arquitetura talvez gere
um tipo específico de configuração ou padrão.
• O terreno e o contexto podem sugerir um
determinado tipo de resposta estrutural.
• Os materiais estruturais talvez sejam determinados
pelas exigências impostas pelo código de obras, pelo
Projeto de estruturas fornecimento dos materiais, pela disponibilidade de
mão de obra ou pelos custos.

Assim que o tipo de sistema estrutural, sua configu-


ração ou padrão e a palheta de materiais estruturais
forem projetados, o processo de projeto poderá passar
para o dimensionamento e para a proporção dos víncu-
los e dos elementos individuais, além dos detalhes das
conexões.

O projeto de estruturas e a construção


da edificação geralmente operam do solo
para cima, enquanto a análise estrutural é • Por questões de clareza, os elementos que resistem
feita de cima para baixo. aos esforços laterais foram omitidos. Veja o Capítulo
5 para os sistemas e estratégias de resistência aos
esforços laterais.

1 – Estruturas de Edificações 27

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SISTEMAS ESTRUTURAIS

Detalhamento das conexões


A maneira como as forças são transferidas de um ele-
mento estrutural para outro e como o sistema estrutural
funciona como um todo dependem, em grande parte, dos
tipos de vínculos e conexões utilizados. Há três maneiras
de conectar os elementos estruturais entre si.

• As juntas de topo permitem que um dos elementos


seja contínuo, e, em geral, exigem um terceiro
elemento mediador para fazer a conexão.
• As juntas sobrepostas permitem que todos os
elementos conectados passem uns pelos outros e
atuem de maneira contínua ao longo da junta.
• Os elementos de conexão também podem ser
moldados ou configurados de maneira a formar uma
conexão estrutural.
Juntas de Juntas sobrepostas Juntas de encaixe
topo

Também é possível categorizar as conexões estruturais


conforme uma base geométrica.

• Pontuais: conexões parafusadas


• Em linha: conexões soldadas
• Planas: conexões coladas

Pontuais: conexões para- Em linha: conexões sol- Planas: conexões coladas


fusadas dadas

Existem três tipos fundamentais de conexões estruturais.

• As juntas de pino permitem a rotação, mas resistem


à translação em qualquer direção.
• As juntas articuladas com roletes permitem a
rotação, mas resistem à translação numa direção
perpendicular para dentro ou em direção contrária à
sua face.
• As juntas rígidas mantêm a relação regular entre
Juntas de pino Juntas articuladas com Juntas rígidas
os elementos conectados, impedem a rotação e a
roletes
translação em qualquer direção e fornecem tanto
força como resistência a momentos fletores.
• Os suportes em cabo, ou ancoragens, permitem a
translação, mas resistem à translação somente na
direção do cabo.

Ancoragem com cabos e suportes

28 Sistemas Estruturais Ilustrados

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PLANEJAMENTO ESTRUTURAL

No processo de projeto, costumamos pensar primeiro


no padrão holístico mais amplo antes de considerar as
unidades estruturais elementares que compõem o todo
maior. Portanto, quando estabelecemos estratégias
para desenvolver a planta baixa estrutural de uma
edificação, é preciso considerar tanto a natureza da
composição arquitetônica como o tipo e a configuração
dos elementos estruturais. Isso leva a uma série de
questões fundamentais:

Projeto da edificação
• Existe uma forma geral obrigatória ou a composição
arquitetônica é formada por partes articuladas? Em
caso positivo, essas partes devem ser ordenadas de
maneira hierárquica?
• Os principais elementos arquitetônicos são planos ou
lineares por natureza?

Programa de necessidades
• Há relações obrigatórias entre a escala desejável e
a proporção dos espaços do programa, a capacidade
de vencimento de vãos do sistema estrutural e o
leiaute resultante e os espaçamentos dos apoios?
• Há alguma razão espacial que justifique o uso de
sistemas horizontais unidirecionais ou bidirecionais?

Integração das instalações


• Como é possível integrar os sistemas mecânicos e as
demais instalações do prédio ao sistema estrutural?

Exigências dos códigos de obras


• Quais são as exigências dos códigos de obras para o
uso previsto, a ocupação e a escala da edificação?
• Quais são os tipos de construção e materiais de
construção necessários?

Viabilidade econômica
• Como a disponibilidade de materiais, os processos
de fabricação, as exigências de transporte, as
exigências de mão de obra e equipamentos e o
tempo de execução influenciam a escolha do sistema
estrutural?

• É necessário prever a ampliação e a expansão, seja


horizontal ou verticalmente?

1 – Estruturas de Edificações 29

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PLANEJAMENTO ESTRUTURAL

Condicionantes legais
Existe uma relação regulamentada entre o tamanho
(altura e área) da edificação e o uso previsto, o nível de
ocupação e o tipo de construção. A compreensão da
escala projetada para a edificação é importante, já que
o tamanho da edificação está associado ao tipo de sis-
tema estrutural necessário e aos materiais que podem Tipo de construção
ser usados na estrutura e na construção.

Uso e ocupação

Altura e área da edificação

Regulamentos municipais de ocupação dos


terrenos
Os regulamentos municipais de ocupação de terrenos
delimitam o volume permitido (altura e área) e o formato
da edificação com base em sua localização no município
e sua posição dentro do terreno, geralmente mediante a
especificação de vários aspectos do dimensionamento.

• A parcela do solo que pode ser coberta por


uma estrutura e a área de piso total que pode
ser construída costumam ser expressas como
percentuais da área do terreno.
• A largura e a profundidade máximas de uma
edificação podem ser expressas como percentuais
das dimensões do terreno.
• Os regulamentos municipais também podem
especificar a altura do prédio para uma área específica,
de forma a garantir a luz, o ar e o espaço adequados,
além de melhorar o ambiente urbano e para os
pedestres.

O tamanho e a forma da edificação também são con-


trolados indiretamente através da especificação das
distâncias obrigatórias mínimas entre a edificação e as
divisas do terreno, fornecendo ar, luz, acesso solar e
privacidade.

• Divisas
• Recuos frontal, lateral e de fundos

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